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ser j gente criando o futuro Presidente do Conselho de Administração Janguiê Diniz Diretor-presidente Jânyo Diniz Diretoria Executiva de Ensino Adriano Azevedo Diretoria Executiva de Serviços Corporativos Joaldo Diniz Diretoria de Ensino a Distância Enzo Moreira Autoria Mariana de Arruda Soares Projeto Gráfico e Capa DP Content DADOS DO FORNECEDOR Análise de Qualidade, Edição de Texto, Design lnstrucional, Edição de Arte, Diagramação, Design Gráfico e Revisão. © Ser Educacional 2021 Rua Treze de Maio, nº 254, Santo Amaro Recife-PE - CEP 50100-160 *Todos os gráficos, tabelas e esquemas são creditados à autor ia, salvo quando indicada a referência. In formamos que é de inteira responsabilidade da autor ia a emissão de conceitos. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem autorização. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela Lei n.0 9.610/98 e punido pelo art igo 184 do Código Penal. Imagens de ícones/capa:© Shutterstock 1 ASSISTA Indicação de filmes, vídeos ou similares que trazem informações comple- mentares ou aprofundadas sobre o conteúdo estudado. 1 CITANDO Dados essenciais e pertinentes sobre a vida de uma determinada pessoa relevante para o estudo do conteúdo abordado. 1 CONTEXTUALIZANDO Dados que retratam onde e quando aconteceu determinado fato; demonstra-se a situação histórica do assunto. 1 CURIOSIDADE 1-L------ - -··- --••-'- -1-- ..J -----L--º .J- - • -•-------•- --L-- - ____ __ ,1,_ ' ,, \ I I IIIUIIIIO\-OU t.tUt: lt.VtõlO a1yu Utõ.;)\,Ulllltõ\,IUV t: llllt.lt,:.;).;)Olllt: .;)UUlt: U Q.:);;')UlllV tratado. ,, ' 1 DICA Um detalhe específico da informação, um breve conselho, um alerta, uma informação privilegiada sobre o conteúdo trabalhado. 1 EXEMPLIFICANDO Informação que retrata de forma objetiva determinado assunto. 1 EXPLICANDO Explicação, elucidação sobre uma palavra ou expressão específica da área de conhecimento trabalhada. Unidade 1 - Bases filosóficas e antropológicas da ética Objetivos da unidade ........................................................................................................... 12 Bases filosóficas e antropológicas da ética .................................................................. 13 Bases antropológicas ..................................................................................................... 13 Abordagens filosóficas ................................................................................................... 17 Etica: campo e conceituação ............................................................................................. 22 Ética e campos de abrangência ................................................................................... 23 Problemas éticos e morais ................................................................................................. 24 Sintetizando ........................................................................................................................... 29 Referências bibliográficas ................................................................................................. 30 Unidade 2 - Fundamentos regulamentares da psicologia Objetivos da unidade ........................................................................................................... 34 Leis e normas fundamentais sobre a psicologia ............................................................ 35 Marco legislatório da profissão .................................................................................... 35 Atribuições profissionais do psicólogo ....................................................................... 45 Ética profissional na atualidade ....................................................................................... 50 Reflexões sobre o processo de profissionalização do psicólogo ........................... 50 Princípios basilares da bicética .................................................................................... 53 Sintetizando ........................................................................................................................... 56 Referências bibliográficas ................................................................................................. 57 Unidade 3 - Sistematização sobre ética e psicologia Objetivos da unidade ........................................................................................................... 61 Códigos de ética profissional ............................................................................................ 62 Surgimento do código de ética profissional .............................................................. 62 Finalidade do código de ética profissional ................................................................. 63 Interfaces entre a ética e a psicologia ............................................................................ 65 Ética na formação e nos campos de práticas do psicólogo .................................... 65 Ética na atuação profissional do psicólogo ................................................................ 74 Reflexões sobre ética no contexto de atuação do psicólogo .................................... 76 A ética no contexto da avaliação psicológica ........................................................... 76 Reflexões sobre ética e psicologia da saúde ............................................................. 78 Sintetizando ........................................................................................................................... 81 Referências bibliográficas ................................................................................................. 83 Unidade 4 - Resoluções orientadoras da atuação em psicologia Objetivos da unidade ........................................................................................................... 86 Código de ética profissional do psicólogo ...................................................................... 87 Princípios do código ....................................................................................................... 87 Responsabilidades fundamentais do psicólogo ......................................................... 89 Produção de documentos e especialidades em psicologia ........................................ 97 Resoluções sobre a produção de documentos psicológicos ................................ 106 Sintetizando ......................... ................................................................................................ 113 Referências bibliográficas ............................................................................................... 114 Olá, aluno. Com satisfação, iniciamos um ciclo elementar de estudos para sua formação profissional. Por meio de um arcabouço teórico, abordaremos conteúdos fundamentais, os quais possibilitarão a construção de conhecimen- tos essenciais para uma reflexão crítica sobre o tema. Inicialmente, contextualizaremos a ética em seus fundamentos históricos e filosóficos, considerando as diferentes abordagens teóricas. Posteriormente, re- fletiremos sobre a ética e embasaremos nosso conhecimento acerca dos funda- mentos da Psicologia, o que possibilitará uma articulação entre os conteúdos. Por conseguinte, compreenderemos a função das normas e códigos de ética profissionais, bem como suas implicações no campo da psicologia. Concluindo nosso estudo, explanaremos sobre a delimitação do campo de atuação do psi- cólogo, as especificidades do código de ética e os regulamentos da profissão. Tendo em vista que as atribuições do psicólogo envolvem competências in- trínsecas à responsabilidade social, a relevância do conteúdo abordado cons- truirá bases para uma reflexão crítica com embasamento teórico e que tem por característica principala promoção da credibilidade do profissional. Vamos juntos na construção dessa jornada! ÉTICA E PSICOLOGIA - A professora Mariana de Arruda Soares é especialista em nível de resi- dência em interiorização da atenção à saúde com ênfase em saúde da família pela Universidade Federal de Pernam- buco (2021) e em saúde mental, saúde pública e dependência química pela Fa- culdade de Ciências Humanas - ESUDA (2018). Graduada em Psicologia pelo Centro Universitário da Vitória - UNI- VISA (2016). Em sua trajetória profissio- nal, atuou como preceptora voluntária do Projeto PET-Saúde interprofissiona- lidade CAV/UFPE (2019 a 2021). Discen- te voluntária no projeto de extensão "Superação: espaço terapêutico para mães de recém-nascidos hospitaliza- dos e de apoio ao aleitamento materno exclusivo (ANO VI e VII)" (2019 a 2020). Currículo Lattes: http://lattes.cn pq. br/5877413785815278 Dedico esse trabalho aos alunos em processo de formação profissional, mestres que contribuíram no desenvolvimento de meus conhecimentos, amigos que são fonte e compartilhamento de vivências e, principalmente, a Deus, que me sustenta com seu amor e me concede força e esperança. ÉTICA E PSICOLOGIA • UNIDADE -------------------------- ~ -----_ ....... _______ _ ser educacional Objetivos da unidade Apresentar os fundamentos históricos da ética; Refletir sobre conceitos e campo de abrangência da ética; Abordar as problemáticas no campo da ética e da moral. Tó icos de estudo Bases filosóficas e antropológicas da ética Bases antropológicas Abordagens filosóficas Ética: campo e conceituação Ética e campos de abrangência Problemas éticos e morais ETICA E PSICOLOGIA • •• Bases filosóficas e antropológicas da ética De acordo com Oliveira (2015), as bases fundamentais da ética se pautam nos princípios antropológicos e filosóficos, os quais possibilitam reflexões sobre normas e valores relacionados aos pensamentos e comportamentos, sejam eles individuais ou grupais, dos campos pessoais, sociais, culturais ou profissionais. A ética é um conceito amplo e abrangente, que envolve relações humanas e está presente em todas as sociedades. Portanto, vale a pena compreender as reflexões históricas dos grandes teóricos e filósofos acerca do tema. •• Bases antropológicas Moore (1975) aponta que a palavra ética tem origem grega: vem de ethos, que significa "propriedade do caráter, valores, princípios e costumes que orien- tam o comportamento humano". Para o autor, essas significações deram ori- gem à tradução do termo para o latim mos, ou, no plural, mores, que se refere à moral e se relaciona com o comportamento em si, isto é, com o modo de ação, baseado nas regras e costumes estabelecidos por cada sociedade. Figura 1 Estátua de mármore do grande filósofo grego, Sócrates Fonte Shutterstock. Acesso em: 1 S/08/2021 ÉTICA E PSICOLOGIA • Sócrates (470 - 399 a.C.), filósofo ateniense, viveu durante o período clássi- co na Grécia Antiga. Precursor da filosofia ocidental, incentivava as pessoas a formarem seus próprios conceitos de pensamento sobre a ética por meio de seu método dialético. O filósofo trabalhava em locais públicos, como praças, ruas e ginásios, disseminando seus ensinamentos através do diálogo com a população. Para ele, sabedoria e conhecimento eram virtudes essenciais do ser humano. Além disso, acreditava que o indivíduo só alcança o conhecimento pleno se seguisse um método consistente de dois momentos: Ironia: ao debater sobre esse tema, vale a pena considerar o exemplo de dois indivíduos, A e B, dialogando. A faz uma pergunta, simulando não saber a resposta, e B expõe sua opinião. A, então, contrapõe os argumentos, o que faz com que B perceba a ilusão da sabedoria que julga ter. Assim, B reflete sobre seu próprio conhecimento; Maiêutica: Zen e Segarbi (2018) consideram-na um estímulo investigativo dos saberes, o qual conduz o interlocutor a realizar novos questionamentos para alcançar o conhecimento através de suas próprias reflexões. Ao considerar a ética como um modo de entendimento de princípios carre- gados de valores positivos, Sócrates acreditava que o homem age de maneira correta quando conhece e pratica o bem. A ação ou comportamento que resulta de seus princípios éticos fazem com que o homem se sinta dono de si e, por conseguinte, alcance a felicidade. Para o filósofo, o conheci- mento, a bondade e a felicidade estão relacionados estreiramente (VÁZQUEZ, 1968, p. 231). Para o filósofo, o conhecimento do homem sobre si mesmo é uma virtude. Diante desse pensamento, seu discípulo, Platão (2008), postulou suas clássicas frases: Conhece-te a ti mesmo e Sei que nada sei. Inspirado pelas ideias de Sócrates, o filósofo e matemático, que viveu entre 427 e 347 a.e., também considerava a dialética em seus ensina- mentos e entendia a ética como um objetivo último da busca pela felicidade. Constituiu toda uma teo- ria do conhecimento, sob a qual referia que dois momentos eram necessários para que o homem alcançasse o conhecimento total da realidade: ETICA E PSICOLOGIA • Doxa: refere-se ao conhecimento sensível. Platão (2008) reflete criticamen- te sobre os sentidos humanos (tato, olfato, paladar, visão e audição) e afirma que são imperfeitos. O ser humano, portanto, não pode basear seu conheci- mento nesses sentidos nem confiar completamente nas percepções deles ad- vindas, pois não são fontes seguras, são limitados e produzem conhecimento superficial da realidade concreta; Episteme: Zen e Secarbi (2018) afirmam que, para o filósofo, esse momento diz respeito ao conhecimento inteligível, isto é, fundamentado na razão. Na sua visão, é possível alcançá-lo diretamente pelo pensamento. Assim, o ser huma- no só alcançaria o verdadeiro conhecimento se saísse do campo dos sentidos e adentrasse no campo das ideias, lugar onde reside a verdadeira essência de todas as coisas. Figura 2 Estátua de PlatJo. Fonte. Shutterstock Acesso em: 20/0812021 É possível ver o cristianismo como uma base histórica da ética, visto que a religião firmou a noção de livre arbítrio durante a Idade Média. Sob sua ótica, o divino (Deus) é o caminho do bem, enquanto que a existência do mal é condi- ção das escolhas de cada pessoa. A ética cristã, então, busca a espiritualidade entendida como ações baseadas no amor e na fraternidade. ÉTICA E PSICOLOGIA • Santo Agostinho, filósofo ocidental que viveu entre 354 e 430, é um dos prin- cipais pensadores do cristianismo. Sua teoria permeava o "problema do Mal" envolvido nas "confissões". Apesar de o mundo ser uma criação de um ser de bondade, isto é, Deus, a existência do mal é inegável. Ele desenvolveu o con- ceito de mal moral, que resulta do livre arbítrio, ou seja, das ações e comporta- mentos humanos. Em outras palavras, nós criamos o mal, não Deus. Para Agos- tinho, o ser humano escolhe o mal por conta de um desvio de conduta, por de- sobedecer a Deus e, consequentemen- te, privar-se das leis divinas. Sob essa Figura 3 Pintura da imagem de Santo Agost inho. Fonte FERRARI, 2008. visão, a ética é uma ação voltada para o bem e embasada nos propósitos divinos. Já na visão sobre ética e agir humano de São Tomás de Aquino, filósofo e teó- logo do cristianismo que viveu entre 1225 e 1274, a filosofia moral política é muito importante, pois é a política que regula as ações da polis, ou seja, da sociedade. Para ele, o homem, quando em comunidade, faz parte de um grupo e nele se apoia para construir o seu sustento e viver bem. Apesar de a sociedade evidenciar as desigualdades entre os seres humanos, o filósofo teorizava que, perante ao criador ou à lei divina, todos são iguais; tudo ocor- re de acordo com a vontade de Deus e todo indivíduo é um fim em si mesmo. Por entender que o Criador fez o homem à sua imagem, São Tomás de Aquino chegou a conclusões peculiares para a época, comoa ideia de que ninguém é instrumento de outro e de que não há diferença de natureza intelectual entre os gêneros. A partir dessa noção de igualdade, ele introduz o Código de Direitos Humanos, ancorado na lei natural de sua teoria. Divide esses direitos em três classes: Autopreservação: comungada entre todos os seres vivos, refere-se ao direito à vida; Preservação da espécie: ideia ligada ao matrimônio e à constituição de família; Inclinação ao bem: remete ao conceito de racionalidade, isto é, ao conhecimen- to da verdade relacionada a Deus e ao meio social. De acordo com Boni (2018), São Tomás de Aquino afirma que a rela- ção entre o homem e Deus é mútua e recíproca. Existem, portanto, duas leis: a humana, entendida como a boa relação entre os homens, e a divina, que se refere à relação de amizade e proximidade do homem com Deus. Os aspectos éticos f undamentais postu- lados pelo fi lósofo se relacionam ao amor ao próximo. Tal sentimento, em sua visão, é genuíno, envolto de verda- de, entrega e ação conduzida ao bem. Abordagens filosóficas ETICA E PSICOLOGIA • Figura 4 SJo Tomas de Aquino. Fonte AdobeStock. Acesso em; 25/08/2021. •• As correntes filosóficas que abordam a ética possuem diferentes origens, mas se complementam no sentido amplo. Aristóteles, discípulo de Platão que vi- veu entre 384 e 322 a.e., foi o primeiro a estruturar o termo. Entretanto, diverge das ideias de seu mestre. Ele não desconsidera a percepção pelos sentidos, mas acredita que o mundo sensível reflete o real. Em outras palavras, a essência das coisas reside nelas próprias. Tudo que existe no mundo possui uma multiplicida- de de significados, que se encontram no ousía, isto é, na substância das coisas. ue acorao com Len e ::iegaro1 (LUHSJ, Anstote1es postulou a teona oo ato e potência, que determina que todos os seres existem em ato, ou seja, o estado atual do ser, e potência, que representa o estado futuro, o que o ser poderá se tornar. Cabe ressaltar que os dois estados coexistem ao mesmo tempo. Desse modo, o ser humano não "é", mas "está", e, além disso, possui potencial de se tornar outra coisa. EXEMPLIFICANDO Tomemos um estudante de Psicologia como exemplo: esse estado de "estudante" é o seu ato, sua condição atual como pessoa. No entanto, ele possui pleno potencial para se formar em Psicologia. Portanto, sua potên- cia consiste em "ser um psicólogo", uma condição diferente de estudante. ETICA E PSICOLOGIA • Para Aristóteles (1984), a felicidade é o objetivo da base ética da vida humana. Para alcançá-la, o indivíduo deve sempre buscar a justa medida, a mediana. Figura 5. Estátua de Aristóteles. Fonte: AdobeStock. Acesso em: 20/08/2021 O filósofo cunhou esse termo para representar o estado ideal da vida, o qual entendia ser a busca pelo meio-termo. Em sua visão, os extremos não passam de vícios e o ser humano deve viver na busca pelo equilíbrio, a verdadeira virtude da vida. Portanto, agir eticamente significa orientar-se em ações morais virtuosas, promotoras de felicidade. Já no utilitarismo, a ética prioriza o bem co- letivo. Nessa visão, a ação ética é aquela cuja con- sequência é a utilidade. Nessa corrente, Stuart Mill (2020) considera que, antes de realizar alguma coisa, é preciso analisá-la e verificar que seu objetivo moral é produzir o maior benefício ao maior número de pes- soas possível. o \ ETICA E PSICOLOGIA • CURIOSIDADE De acordo com Koerich, Machado e Costa (2005), essa corrente filosófica embasou um dos princípios da bioética, a beneficência, que diz respeito a uma ação que minimiza o dano e beneficia o maior número de pessoas possível. Figura 6. Stuart Mill Fonte: SKOBLE, 2020. Na corrente humanista, destaca-se o filósofo judeu, Emanuel Lévinas, que viveu durante o período da Segunda Guerra Mundial e criticou o pensamen- to ocidental enfatizando que este se opõe à ética, transmite uma postura de poder e dominação e, ainda, reflete ações desumanas. Conforme Nascimento (2015), o filósofo acreditava que a ética deve ser um princípio anterior a todas as ações humanas. É importante que ela traduza uma relação de encontro com o outro, pautando-se na responsabilidade e no humanismo ético. A este princí- pio, Lévinas deu o nome de ética da alteridade. ÉTICA E PSICOLOGIA • Figura 7. Emmanuel Levmas. Fonte CARNEIRO, 2014. Na corrente existencialista, Kierkegaard (2003) baseia seus escritos em suas vivências e entende a ética como um modo de existência humana. Considera que a filosofia e o "existir concreto" são inseparáveis: só é possível compreen- der a vida real a partir de uma reflexão interior subjetiva de cada pessoa. Figura 8 Estátua de S0ren Kierkegaard Fonte: Shutterstock. Acesso em: 20/08/2021 ÉTICA E PSICOLOGIA • Michael Foucault, filósofo e psicólogo, interpreta a ética como um "modo de ser" entendido como a relação do "ser consigo mesmo" em uma busca constan- te da constituição de si. De acordo com Rajchman (1993), Foucault denominou essa relação ethos, que significa a constituição de si enquanto sujeito. O indi- víduo, então, se inquieta e reflete criticamente sobre seus próprios valores e comportamentos com o objetivo de tomar consciência e problematizá-los em uma elaboração ética de si mesmo. lmmanuel Kant (2013) elaborou a corrente deontológica. O filósofo alemão entende que, para que uma ação humana seja ética, deve seguir um dever pauta- do na verdade e em normas morais. Conforme Finkler, Caetano e Ramos (2013), estudiosos sobre o tema, a deontologia trata dos deveres. Ela determina o que devemos fazer e orienta que é preciso realizar ações conforme o permitido e por meio de posturas que estejam de acordo com códigos e normas estabelecidos. Figura 10. lmmanuel Kant. Fonte: AdobeStock. Acesso em: 20/08/2021. ÉTICA vem do grego ethos; propnedade do caráter, valores e pnncipros que orientam o comportamento humano. latim mos/mores ; moral comportamento, regras, costumes. Figura 11, Resumo das bases filosóficas da ética. ÉTICA E PSICOLOGIA • •• Ética: campo e conceituação O entendimento dos pressupostos filosóficos e históricos favorece a com- preensão dos conceitos relacionados à ética nos diversos campos que envol- vem o tema. Reflexões sobre os conceitos relacionados à ética As teorias éticas enfatizam o caráter, ou o "jeito de ser", como um modo au- tônomo de pensamento de cada pessoa diante do mundo. Para Singer (1994), a ética é um conjunto de valores, princípios e modos de pensar que antece- dem e orientam as ações sociais dos indivíduos. Em outras palavras, a ética é o conjunto de constructos que o indivíduo considera como correto. O autor entende que essa coleção de crenças, aprendida social- ........ ,... ................ • .................... ... 1· --. .... ..J ............. 1 ......... ',....,..J·, . ; ,.J , ...... ,.. ,,.. .............. ,,.,,,... ........ ,,... 11 IIÇI ll,.IÇ C 1111.CI I IOIILOUO t,JCIV..::t li IUI V IUUV..::t, ..::tCI vii;:: \,.UI I IU uma base que orienta a conduta e o comportamen- to; a ela, chamou de moral. Uma maneira simples de entendê-la envolve enxergá-la como o modo de agir das pessoas; diz respeito ao caráter ou ao "jeito de ser" do indivíduo. ÉTICA E PSICOLOGIA • Koerich, Machado e Costa (2005) afirmam que um indivíduo é ético quando suas atitudes se baseiam nos princípios de respeito, justiça, direito comum e responsabilidade. Este último, por sinal, deve estar presente em todos os âm- bitos e se relacionar aos aspectos da ética da responsabilidade individual, isto é, o comportamento singular de cada pessoa. Esses aspectos são: responsabili- dade pública, que se refere ao papel e deveres do Estado para com os cidadãos; e responsabilidade planetária, que fala do compromisso das pessoas frente à preservação do planeta. Donzelli (2016) entende a moral como um conceito geral, que avalia todas as situações e circunstânciaspor meio de códigos e condutas inflexíveis, ou seja, que independem da situação. Já a ética, em sua visão, avalia as situações de modo singular; o indivíduo considera cada contexto ao refletir sobre a maneira adequada de agir. Acha e Piva (2013) ressaltam que a moral não é um conceito estático: cada cultura e sociedade a entende de diferentes modos. O que parece correto ao americano pode sofrer repressão do asiático, por exemplo. Também é possível ver a moral como um constructo variável subjetivamente, pois diferentes indi- víduos, mesmo que pertencentes à mesma sociedade ou cultura, entendem-na do seu próprio jeito. ASSISTA Para uma reflexão mais aprofundada sobre os conceitos de ética e moral, vale a pena conferir uma discussão so- bre o tema através dos pensamentos do professor Clóvis de Barros e do filósofo Mário Cortella. •• Ética e campos de abrangência Camargo (1999) diz que a ética, no campo pessoal, corresponde aos princí- pios e valores de cada pessoa, dado que eles são singulares e se constroem ao longo da vida. Estes preceitos são a base das ações e do comportamento, pois guiam suas atitudes em todas as circunstâncias e relações interpessoais. Já Filho e Trisotto (2003) dizem que não se pode ver a conduta ética de uma maneira sim- plista, reduzida apenas à vontade do indivíduo. Afinal, os padrões socialmente estabelecidos influenciam o modo como as pessoas conduzem suas ações. ETICA E PSICOLOGIA • Portanto, é necessário reconhecer que a amplitude do campo social influen- cia as questões éticas quase que intrinsecamente. No âmbito social, embora a ética abranja as relações e condutas em socieda- de, também é possível entendê-la de maneiras diversas conforme cada cultura, tempo e local. Valls (2000) aponta que a ética é uma condição situacional, que diz respeito aos hábitos e comportamentos socialmente aceitos em determinado espaço e tempo. Nesse sentido, a ética é uma construção variável, que apresenta mudanças. Já Passos (2004) diz que a ética profissional corresponde às normas morais que orientam a prática e postura de um profissional em todas as esferas de atuação. A filosofia deontológica se relaciona com a atuação ética no campo profis- sional, como afirmam Finkler, Caetano e Ramos {2013). Entretanto, é importan- te ressaltar que essa vertente da ética deve se pautar em valores, padrões e normas éticas correspondentes aos direitos humanos e disposições estabelecidas nos códigos de ética pro- fissional, elaborados pelos conselhos profissionais de classe. Estes contribuem na orientação da ade- quada relação de cada profissional tanto com seus pares quanto a sociedade. Problemas éticos e morais •• No cotidiano, a ética e a moral se complementam, pois são as bases que norteiam as posturas e atitudes humanas, revelando, assim, caráter e virtudes perante as relações e situações. Desse modo, surgem algumas problemáticas envolvidas nesses conceitos. Partindo desse princípio, é possível dividir o tema em dois campos específicos: profissional e social. Campo profissional Peduzzi (2003), aponta que esse campo envolve ações técnicas e éticas que se complementam. A dimensão técnica envolve a real ização de procedimentos e condutas correspondentes às atribuições de cada profissão. Já a dimensão ética envolve posturas que se refletem no relacionamento com os demais membros da equipe, bem como com os usuários e pacientes do serviço ou instituição. Além disso, ela considera responsabilidades que vão além do saber técnico. ÉTICA E PSICOLOGIA • Arroyo (2008) considera como ética a postura do profissional que respeita a dignidade humana, dado que cada pessoa pertence a um contexto territorial, familiar, educacional, econômico e, em sentido mais amplo, social e cultural. Tudo isso envolve a condição de existência de cada pessoa e impacta sua con- dição pessoal, bem como sua saúde física e psicológica. Durante o processo de promoção de cuidado, os profissionais devem considerar tais determinantes. Em conjunto com seus colaboradores, Montenegro (2016) aponta que o pro- cesso de trabalho, quando pautado na ética, possibilita a evolução harmoniosa e promotora de cuidado. Quando os profissionais são capazes de enfrentar os conflitos de maneira equilibrada, por meio de competências e habilidades promotoras de relações respeitosas, dinâmicas e que preservam a autonomia, é possível considerar as funções e hierarquias existentes nos serviços como espaços promotores de relações profissionais pautadas no r igor ético. No entanto, apontam os autores, problemas podem surgir nesse campo e se relacionarem a questões de postura profissional no campo de atuação. Des- tacam-se as situações que envolvem o processo de tomada de decisão diante de casos específicos. Tais divergências entre as categorias profissionais se rela- cionam a uma postura de hierarquia de saberes. Em outras palavras, diante de demandas que envolvam decisões de todos os envolvidos no caso, alguns pro- fissionais julgam ter mais conhecimento que os demais. É importante ressaltar, porém, que essa situação pode culminar em problemas éticos. Arroyo (2008) também colabora na discussão das atitudes dos profissio- nais. Para ele, os que agem sobre bases éticas devem considerar que, em alguns casos, seus saberes e habilidades técnicas não são sufi- cientes para efetivar um cuidado resoluti- vo e eficaz. Desse modo, é preciso levar em consideração os conhecimentos de outras categorias de profissionais. Jamais se deve con- siderar tal colaboração como evidência de uma insuficiência de saberes. Em outras palavras, um profissional não deve julgar a si mesmo incapaz por solicitar ajuda de outro independentemente da demanda. ÉTICA E PSICOLOGIA • Nesse sentido, Ford e seus colaboradores (2008) destacam o trabalho em equipe baseado no modelo de cuidado interdisciplinar. Pautado em uma abor- dagem sistêmica, ele considera o indivíduo em sua condição ampliada de "su- jeito inserido em contextos que perpassam sua capacidade individual". O mo- delo também envolve a reflexão entre os profissionais sobre a importância e eficiência de uma atuação compartilhada e com olhares de diferentes perspec- tivas. O contexto vai além de uma complementação técnica; envolve um com- partilhamento de valores morais e éticos concernentes aos profissionais. Dada a importância de uma visão ampliada do indivíduo e de uma prática pautada no compartilhamento de saberes, é importante estimular a discussão sobre a importância da interdisciplinaridade desde a formação acadêmica. Conflitos de ordem ética surgem em todos os contextos profissionais. De acordo com Kemp e seus colaboradores (2008), eles normalmente se relacio- nam com posturas profissionais que não consideram certos princípios, como: • Pautar-se na verdade e respeitar as necessidades e autonomia dos pacien- tes, entendendo que eles são sujeitos de direitos; • Evitar danos, isto é, comprometer-se com o cuidado seguro, pautado na prevenção de riscos e danos; • Avaliar os limites de sua categoria profissional, realizando procedimentos e atuando conforme as competências concernentes à sua profissão e evitando uma atuação que extrapole suas atribuições; • Identificar e alertar posturas impróprias de outros profissionais, tendo em V ISld d reSJJUflSdUIIIUdUe euca. Nesse sentido, Bettinelli, Waskievicz e Erdmann (2003) consideram como não humanizados as práticas ou ambientes onde o profissional não reconhece a autonomia e corresponsabilidade do usuário/paciente no seu cuidado. Nessa visão, ele se torna passivo às prescrições profissionais, que podem se distan- ciar de suas reais necessidades. ASSISTA No vídeo O SUS e a humanização da saúde, Júlia Rocha, médica de família e comunidade, expõe um relato de sua experiência e aborda a importância de práticas huma- nizadas em saúde como promotoras da autonomia e efetivação éticado cuidado garantidor da integralidade da assistência. ÉTICA E PSICOLOGIA • Conforme a política nacional de humanização de 2013, práticas humaniza- das de cuidado no campo profissional refletem posturas éticas e responsáveis quanto aos pacientes. Elas englobam estratégias de acolhimento e o uso de tec- nologias em saúde; mais precisamente, a tecnologia leve que compreende a pro- moção de vínculo e possibilita um melhor entendimento das demandas. Por sua característica transversal, o acolhimento pode ocorrer em todos os âmbitos de promoção de cuidados; não apenas no setor de saúde. Campo social A sociedade antecede o indivíduo. Conforme Constantino e Malentachi (2014), a realidade social já existe quando nascemos. Portanto, somos inseridos em uma cultura preexistente. Os autores afirmam que o meio social envolve o cotidiano e as relações interpessoais estabelecendo uma relação simbiótica entre ambos. O processo de globalização, porém, transforma a sociedade atual. De acordo com Constantino e Malentachi (2014), as pessoas experimentam novos modos de vida, os quais apontam para uma valorização de aspectos materiais e indi- viduais em detrimento de relações pessoais humanos e solidárias. Os autores ainda destacam a cultura da hiperabundância, o hipercapitalismo, a individuali- dade, a ausência de significações e o excesso do "ter" e o vazio do "ser". Em meio a essa lógica, os indivíduos se veem em meio a uma abundância de objetos e infinidade de serviços que possibilitam o ilimitado. Nesse contexto, a fragilidade ética se torna marcante. Afinal, quando os indi- víduos facilitam o consumo sem limites, a abundância de objetos e a infinidade de serviços, a ideia de "se tornar ético" fica em segundo plano. As pessoas ex- perimentam novos modos de vida, os quais apontam para uma valorização de aspectos materiais e individuais em detrimento de relações pessoais humanas e solidárias. Outro ponto que perpassa a ética diz respeito ao preconceito contra indiví- duos, grupos ou culturas. Para compreender o preconceito, é necessário enten- der o conceito de "atitude", baseado na psicologia social. "Atitude" corresponde a um sistema relativamente estável que compreende experiências e comporta- mentos relacionados a um objeto ou evento específico. Para cada atitude existe um componente cognitivo, afetivo e comportamental, ou seja, de crenças, ideias e sentimentos, valores e afetos associados que levam a tendências comporta- mPnt;:iic:: ;:i nrPrlic::nnc::irf\pc:; ETICA E PSICOLOGIA • O preconceito se forma pela atitude negativa do sujeito em relação a um de- terminado grupo, cultura, raça ou religião. Trata-se de um fenômeno histórico, observado em todas as sociedades e relacionado à ética e à mo- ral. O exemplo mais evidente é o racismo: os racistas acreditam que os membros de determinados grupos são inferio- res do ponto de vista cognitivo, social e biológico, portanto, merecedores de hostilidade. Situações que envolvem racismo seguem para além de uma questão ética e moral; envolvem o entendimento irracional e a criminalidade. ÉTICA E PSICOLOGIA • Sintetizando • Os fundamentos históricos da ética advêm etimologicamente da sociedade grega e perpassam por bases filosóficas introduzidas por diferentes correntes e teóricos. A ética possibilita a compreensão dos princípios e valores que an- tecedem e determinam o comportamento de indivíduos diante da sociedade e das relações interpessoais em todos os campos do cotidiano. Sócrates introduziu o conceito de ética na filosofia. Por meio de seu método de diálogo, ele incentivava as pessoas a construírem seu pensamento ético. Seu discípulo, Platão, considerava o método dialético e entendia que a finali- dade de toda conduta ética é a felicidade. Considerando os vários pensadores sobre o tema, surgiram diversas correntes e abordagens filosóficas que tratam sobre a ética. As principais abordagens são: teleologia, que entende o tema como uma conduta virtuosa que busca a fel icidade como a finalidade; utilitarismo, que prioriza o bem coletivo e a utilidade como princípios éticos; humanismo, onde a ética só pode ser construída na relação com o outro, ou seja, nas relações in- terpessoais; existencialismo, que compreende a ética como um modo de exis- tência humana; e deontologia, que diz que toda ação ética deve considerar a verdade e as normas morais estabelecidas socialmente. No campo pessoal, a ética se constrói ao longo do tempo e traduz os va lores e princípios singulares de cada pessoa. Já o campo socia l reflete os hábitos e comportamentos aceitos como corretos e virtuosos, mas reconhece que eles mudam de acordo com o tempo e local. No campo profissional, além dos valo- res dispostos no campo individual e social, a ética também deve prezar pelas normas estabelecidas nos códigos de ética profissional de classe. Vale salientar que problemas éticos podem surgir nesse campo, os quais se relacionam ao processo de trabalho e às relações entre equipe e usuário/paciente. ÉTICA E PSICOLOGIA • Referências bibliográficas • ACHA, J.; PIVA, S. Antropologia filosófica. v. 2. Batatais: Claretiano, 2013. ARISTÓTELES. Ética a nicômaco. Coleção os pensadores. trad. Leonel Vallandro e Gerd Bornhein. São Paulo: Abril Cultural, 1984. ARROYO, F. Reflexiones eticas en la practica de la cirugia. Revista Chilena de Ci- rugía, Santiago, v. 60, n. 4, p. 352-356, 2008. Disponível em: <https://www.scielo. cl/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0718-40262008000400017>. Acesso em: 20 set. 2021 . BRASIL. Política nacional de humanização. Brasília, 2013. Disponível em: <ht- tps://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_humanizacao_pnh_ folheto.pdf>. Acesso: 20 set. 2021. BETTINELLI, L.; WASKIEVICZ, J.; ERDMANN, A. Humanização do cuidado no am- biente hospitalar. 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Desde então, esses profissionais contribuem para o entendimento geral sobre o com- portamento humano. A psicologia possui caráter de responsabilidade social perante indivíduos, contextos e relações. Dentre as competências concernen- tes à categoria, há um caráter científico e atribuições pautadas em fundamen- tos tanto teóricos quanto técnicos, os quais embasam as intervenções e pro- movem credibilidade no meio profissional. O conhecimento de todo o contexto histórico e arcabouço legal é de fun- damental importância no processo formativo dos psicólogos. Ainda, é preciso conhecer os regulamentos sobre a profissão. •• Marco legislatório da profissão Seja qual for o contexto de análise, é necessário compreender a dinâmica de hierarquias associadas às normas e leis do país. Entendê-las ajuda o pro- fissional a identificar e reconhecer a finalidade de cada regulamento disposto. Doravante, ele se torna capaz de compreender o contexto normativo promotor da organização social. Nesse sentido, a teoria de Hans Kelsen (1881-1973), muito discutida no âm- UllU uu l.Jllt::llU, t,JU::>::>IUIIILCI UIII t::lllt::IIUllllt::lllU UIUCHILU UCI UIUt:IICl)'"CIU ue::,::,e1 u1- nâmica regulamentar. O referido teórico buscou fundamentar a validade das normas jurídicas dentro da perspectiva teórica do juspositivismo. Para tanto, explicitou, por meio da ilustração de uma pirâmide, a hierarquia das regula- mentações vigentes existentes no Brasil. EXPLICANDO O juspositivismo é uma temática filosófica do âmbito do Direito. Os juspositivistas, como são chamados, defendem que as leis escritas pelo Estado, isto é, União e Federa- ção, são a fonte única do Direito. Ainda, ele se caracteriza como um conjunto de normas e leis, com caráter coer- civo, que o Estado impõe à coletividade. Para Almeida (2017), esses recursos legais são suficientes para fazer cumprir a manutenção da justiça social. ETICA E PSICOLOGIA • Hans Kelsen desenvolveu sua teoria no início do século XX, período em que o pensamento científico se encontrava em ascensão, principalmente no que tange à ideologia positivista, a qual se originou no período do Iluminismo e teve como precursor o filósofo Augusto Comte durante o século XIX. EXPLICANDO De suma importância para o desenvolvimento do pensa- mento científico, o Iluminismo era uma corrente filosófica que considerava a razão em detrimento do pensamento religioso. Conforme Kury (2007). estimulava-se o questio- namento como uma maneira de compreensão das coisas. Figura 2 , Ilustração de Augusto Comte. Fonte: CIVITA. 1978, p. 8, ÉTICA E PSICOLOGIA • De acordo com Guimarães e Coelho (2001), o positivismo entende que todo o conhecimento se embasa na ciência. Para essa corrente ideológica, as meto- dologias sem bases científicas não possuem credibilidade. Kelsen (2009), por- tanto, postula que a evolução da sociedade se dá somente por meio da inte- ligência humana, que deve se embasar no conhecimento científico existente. Para Kelsen (2009), a vontade do Estado impõe a ordem jurídica. Em suas palavras:Se o Direito é concebido como uma ordem normativa, como um sistema de normas que regulam a conduta de homens, surge a questão: O que é que fundamenta a unidade de uma pluralidade de normas, por que é que uma norma determinada pertence a uma determinada ordem? E esta questão está intimamente relacionada com esta outra: Por que é que uma norma vale, o que é que const itui o seu fundamento de va lidade1 (KELSEN, 2009, p. 215). O teórico busca entender os fundamentos da ordem jurídica que preser- vam o Direito como ciência, validando, assim, uma normatização universal. Em outras palavras, o Direito é a única forma de entender a ordenação da hierar- quia das regulamentações impostas pelo Estado. Na visão do autor, é possível entender a norma fundamental, que se encontra no topo da hierarquia das normas regulamentares existentes, como a noção essencial de cada pessoa em estar consciente de seu dever ético, como cidadão, de obedecer e agir confor- me os princípios promotores da ordem pública social. Kelsen (2009) ainda infere que a Constituição Federal (CF) é a norma su- perior que valida todas as outras normas do ordenamento jurídico de um país. É possível considerá-la como a instância de mais elevada autoridade legal, que rege a ordem social de um Estado e que possui credibilidade para validar todas as outras normas, leis ou resoluções que o país desenvolva posteriormente. o \ CURIOSIDADE Também se denomina a Constituição Federal do Brasil como Carta Magna ou Constituição Cidadã. Esta última se deu pelo fato de que a CF de 1988 foi a primeira a contar com a participação da população, que, na época, lutava pela retomada dos direitos sociais fundamentais que lhe eram restritos, dados atos militares que governavam o Brasil. Ao entrar em vigor, a CF, além de garantir os direitos sociais fundamentais, estabeleceu o processo de redemocratização do País. ÉTICA E PSICOLOGIA . Figura 3. Assembleia Const1tu1nte de 1988. Fonte. CYSNE, 2008. [s.p.J. Desse modo, Gonçalves (2018), baseado na teoria de Kelsen, aponta que o dever individual e coletivo dos seres humanos deve se pautar fundamen- talmente em seus próprios valores éticos e estar de acordo com os princípios existentes na Constituição Federal de um país, dado que ela é o elemento ofi- cial de maior da ordem jurídica, administrativa e social de uma nação. Partindo desse entendimento, reconhece-se que as normatizações vigentes seguem uma ordem hierárquica, como ilustra a Figura 4. Pirâmide de Kelsen Norma Fundamental------- ir----- Constituição Federal / TIDH Leis Complementares Leis Ordinárias / MP's / Tratados Figura 4 Pirâmide de Kelsen, hierarquia das normas. Fonte· SANTOS, 2017 [s.p.]. (Adaptado). ÉTICA E PSICOLOGIA • Entende-se, portanto, que o ordenamento jurídico oficial do Brasil provém da CF. Ressalta-se, porém, que é possível com- plementar, alterar ou modificá-la por meio de emendas cons- titucionais. Estas permitem que a CF se adapte às mudanças do contexto social. Ainda, reconhece-se as leis complementa- res como dispositivos legais que complementam a Carta Magna. Já as leis ordinárias regem o arcabouço jurídico nos diversos contextos da sociedade. Em âmbito federal, os parlamentares da • Câmara dos Deputados (deputados federais) e do Senado Federal (senadores) aprovam as leis. No âmbito estadual, os deputados estaduais aprovam as leis nas assembleias legislativas. Por fim, na esfera municipal, os vereadores apro- vam as leis na Câmara Municipal, também denominada Câmara dos Vereadores. Uma autoridade legalmente constituída, com poderes para determinar o cumprimento de uma ordem, estabelece os decretos. São emanados por: che- fe do poder executivo, na esfera federal, ou seja, o presidente da república; governaaor, na esrera estaaua1; e prere1to, na esrera m unic1pa1. I\Jota-se que o decreto deve estar de acordo com a Lei. Reconhece-se as resoluções como atos de efeito interno de caráter político, processual, legislativo ou administrativo. Destaca-se as resoluções adm inistra- tivas, pois elas se caracterizam como uma ordem estabelecida pelo respon- sável de um serviço público. Considerada como uma norma de cumprimento obrigatório, ela se limita ao contexto do serviço correspondente. Geralmente, formula-se uma resolução administrativa com objetivos específicos. Por exem- plo: para que se faça cumprir uma função ou atribuição em consonância com o que a lei estipula. Por fim, têm se as portarias, documentos referentes aos atos administrati- vos por qualquer autoridade pública. Seu conteúdo pode se referir a: recomen- dações; normas de execução de serviços; nomeações; demissões; e punições, entre outros. Entender a pirâmide de Kelsen, que ilustra a hierarquia das regulamenta- ções oficiais que regem a dinâmica social de um país, auxi lia a compreensão tanto das normatizações existentes quanto da autoridade que cada ordena- mento exerce no contexto social em questão. Ainda, promove-se uma reflexão que parte da esfera ampla para o contexto profissional dos psicólogos. ÉTICA E PSICOLOGIA • A psicologia se constituiu oficialmente como profissão no Brasil no início da década de 60, por meio da Lei 4.119, de 27 de agosto de 1962. Tal marco legislativo dispõe sobre os cursos de formação em psicologia e regu lamenta a profissão do psicólogo. DICA A psicologia perpassa por diversos contextos e âmbitos da sociedade. Considerando uma postura ética e a hie- rarquia jurídica do país, o profissional deve fundamentar a prática de acordo com o âmbito legal. Assim, recomen- da-se a consulta das leis e regulamentações em sites oficiais sempre que necessário. Ainda, quando for preciso a consulta de um marco legislativo, isto é, leis, orienta-se a pesquisa no endereço eletrônico oficial. De acordo com a Lei 4.119/1962, a formação em psicologia se dá nas faculda- des de filosofia, por meio das modalidades bacharelado, licenciado e psicólogo. Os requisitos para início do curso de bacharel são: idade mínima de 18 anos e conclusão no ensino secundário, isto é, ensino médio. Ao formando que con- cluir o curso nessa modalidade, concede-se o título de bacharel em psicologia. Para o ingresso na modalidade de licenciatura e psicólogo, exige-se o diploma de bacharel em psicologia. Concede-se, então, os diplomas de licenciado em psicologia e psicólogo no ato da formação. Ressalta-se que, independentemen- te da modalidade de formação, deve-se registrar o diploma no Ministério da Educação e Cultura (MEC) a fim de efetivar o profissional. Conforme essa lei, os bacharéis em psicologia são capazes de ensinar em cursos de nível médio.Já ao licenciado, cabe o direito de lecionar psicologia. O psicólogo, por sua vez, pode tanto ensinar psicologia nos diversos cursos quan- tn t>vt>rrt>r :'l nrnfic:c:.':in As funções do profissional psicólogo se referem à utilização de métodos e técnicas psicológicas que objetivam: diagnóstico; orientação e seleção, seja profissional ou psicopedagógica; solução de problemas de ajustamento; e co- laboração com outras ciências no tocante a assuntos relacionados à psicologia. Ainda, a referida lei observa quanto aos serviços clínicos, também conhecidos nas instituições de ensino como clínica escola. Tais serviços, obrigatórios nas facul- dades que ofertam cursos de psicologia e orientados e dirigidos pelo Conselho dos ÉTICA E PSICOLOGIA • cursos superiores, aplicam-se à educação e o trabalho, sendo abertos ao público na condição gratuita ou remunerada às pessoas que solicitarem o serviço. Posteriormente, promulgou-se o Decreto 53.464, de 21 de janeiro de 1964, que regulamenta a Lei 4.119/1962. Suas principais complementações se refe- rem à determinação de que o exercício da profissão se realiza livremente em todo o País, desde que observadas as disposições legais. Em outras palavras, torna-se necessário que a atuação profissional do psicólogo esteja deacordo com a regulamentação. Podem exercer a profissão de psicólogo no Brasil: • Quem possui diploma de psicólogo expedido por faculdade de filosofia oficial; Diplomados em psicologia em outros países, desde que tenham seus diplomas validados conforme a legislação brasileira em vigor; • Portadores de diploma ou possuidores de certificado de especialista reconhecidos legalmente; • Doutores em psicologia, psicologia educacional, filosofia, educação, pedagogia, que tenham defendido tese sobre assuntos relacionados a psicologia. Ainda, pessoas que se enquadravam em certas condições antes de 5 de setembro de 1962, data em que a Lei 4.119/1962 entrou em vigor, também po- diam exercer a função de psicólogo no Brasil. São elas: • Funcionários públicos efetivos promovidos a cargos ou funções com denominação de psicólogo, psicologista ou psicotécnico; • Militares portadores de diploma conferido por curso criado pela Por- taria 171, de 25 de outubro de 1949, do antigo Ministério da Guerra; e • Pessoas que exercem atividades profissionais de psicologia aplicada por mais de cinco anos. Ressalta-se que os profissionais psicólogos podem: dirigir ser- viços de psicologia em órgãos públicos ou privados; lecionar dis- ciplinas de psicologia nos diversos níveis de ensino existentes; supervisionar profissionais e alunos no campo da psicologia; realizar assessoramento téc- nico em órgãos e estabelecimentos públicos ou pri- vados; e efetuar perícias e pareceres psicológicos. ÉTICA E PSICOLOGIA • A Lei 5.766, de 20 de dezembro de 1971, foi outro importante marco legal. Ela criou o Conselho Federal de Psicologia (CFP) e os Conselhos Regionais de Psicologia (CRP). Dotados de personalidade jurídica de direito público, pos- suem autoridade administrativa e financeira e autonomia para orientar, disci- plinar e fiscalizar o exercício profissional da categoria, zelando pelos princípios éticos e disciplinares da profissão. Dentre as atribuições concernentes ao CFP, reconhece-se a elaboração de regimento próprio e a aprovação dos regimentos dos CRPs. Ainda, destaca-se as funções de expedir resoluções necessárias referentes às competências e atribuições do psicólogo e em conformidade com as leis vigentes; e elaborar e aprovar o código de ética profissional da referida categoria. Ainda, o CFP exerce poder consultivo e de tribunal superior de julgamento sobre condutas éticas e recursos deliberativos advindos dos CRP e divulga os relatórios das atividades realizadas pelo órgão, bem como a relação dos psicólogos registrados. Aos conselhos regionais competem atribuições equivalentes ao conselho federal. Entretanto, a jurisprudência regional se insere em sua respectiva área de competência, ou seja, na região em que exerce sua função. Para a atuação profissional, exige-se como pré-requisito a inscrição do psicólogo no conselho de classe, realizada por meio do CRP estabelecido no território que abrange a área de atuação do profissional. O psicólogo deve comprovar sua formação profissional por meio de documentação emitida por instituição de ensino superior, bem como as demais exigências constantes na Lei 4.119/62. Ainda, deve provar que não está impedido de exercer a profissão e goza de boas reputação e conduta pública. No tocante ao poder fiscalizatório dos conselhos, esses versa- rão sobre as infrações cometidas pelos profissionais. São elas: transgressão ao código de ética profissional; atuação profissio- nal mesmo quando impedido por quaisquer motivos legais ou éticos; conceder benefícios ao cliente de maneira ilíci- ta; praticar, durante o exercício profissional, contraven- ções ou atos criminosos; e estar inadimplente. As pu- nições para tais infrações incluem: advertência; multa; censura; suspensão; ou cassação do exercício profissional, concedida mediante aprovação do CFP. ÉTICA E PSICOLOGIA • Em 17 de julho de 1977, o Decreto 79.822 entra em vigor regulamentando a lei discutida anteriormente. Dente as principais alterações, o decreto vinculou os conselhos federal e regional ao Ministério do Trabalho. Torna-se possível, então, a proposição de alterações da legislação do exercício profissional do psi- cólogo e da instituição ou modificação do modelo da carteira de identidade profissional da categoria. Expede-se os registros profissionais nas categorias de psicólogo e psicólogo especialista. O profissional que atua em mais de uma jurisdição deve se inscrever em ambas. Tomemos o exemplo de um psicólogo atuante no estado de Pernambu- coe inscrito no conselho regional do estado que iniciará seus atendimentos no estado da Paraíba. Ele deverá solicitar sua inscrição no CRP do estado da Paraí- ba. Ao psicólogo devidamente inscrito no conselho regional de sua respectiva jurisdição competirá o pagamento de anuidade, com prazo máximo até o últi- mo dia do primeiro trimestre de cada ano, sendo a primeira anuidade paga no ato da inscrição no CRP. No dia 25 de setembro do ano de 2008, promulgou-se a Lei 11.788, que dis- põe do estágio de estudantes e dá outras providências. Considerado como ato educativo e de caráter supervisionado no ambiente de trabalho, a finalidade do estágio é a preparação dos estudantes para o aprendizado das competências e práticas concernentes à atividade profissional. O estágio supervisionado é aquele que dispõe do acompanhamento de um professor orientador vinculado à instituição de ensino, bem como um supervisor no campo prático vinculado ao serviço em que ocorre a atividade. O estágio se configura como componente no projeto pedagógico dos cursos superiores e pode ser obrigatório ou não. Em conformidade com as diretrizes curriculares do curso, o estágio obrigatório é aquele requisitado como carga horária necessária para a aprovação no curso e obtenção do diploma. Já o não obrigatório pode ser dispensado a depender da intenção do estudante. O estágio não gera vínculos empregatícios de qualquer ordem e tem como requisitos mínimos: comprovação da matrícula em curso devidamente regula- mentado; e celebração de termo de compromisso entre o aluno, a instituição de estágio e a instituição formadora. As atividades desenvolvidas no estágio devem ser compatíveis com as dispostas no termo de compromisso efetivado no ato do acordo, bem como com as atribuições da atividade profissional da categoria. ÉTICA E PSICOLOGIA • Dentre as principais obrigações das instituições de ensino para com a efetivação dos estágios e o compromisso com o estudante, estão: celebração de compromisso de está- gio que esteja em conformidade com as competências e proposta pedagógica do respectivo curso de formação; avaliação das instalações da instituição onde acontecerão as atividades de estágio, tendo em vista que elas devem oferecer condições adequadas de atuação conforme preconiza a Lei; in- dicação de professor orientador que acompanhará e avaliará as • atividades do estudante durante o período de estágio; estipulação de prazo e periodicidade da apresentação de relatório das atividades desenvolvidas no estágio; e elaboração de normas e instrumentos avaliativos das atividades. Dentre as principais obrigações da parte concedente, ou seja, instituição ou serviço público ou privado, onde ocorrerá o estágio, têm-se: celebração de termo de compromisso entre a instituição de ensino e o estudante; instalações adequadas para o desenvolvimento das atividades de aprendizagem; indica- ção de profissional do quadro da instituição que supervisionará as atividades do estudante e deverá possuir formação e experiência correspondente ao curso do estagiário; e contratação de seguro, em favor do estagiário, contra acidentes pessoais ocorridos durante o desenvolvimento das atividades de Das responsabilidades do estagiário: deverá cumprir jornada de atividades e carga horária acordada conforme termo de compromisso; poderá receber bolsa, benefíciosou auxílios conforme acordado entre as partes envolvidas, mas que não caracterizarão vínculo empregatício; aos estágios com duração igual ou superior a um ano, será assegurado ao estagiário período de reces- so de 30 dias, preferencialmente concedidos durante suas férias escolares e permanecendo a remuneração, quando for o caso. No caso de estágios com duração inferior a um ano, os dias de recesso serão proporcionais. De acordo com a Lei 11 .788/2008, em seu art. 15, "a ma- nutenção de estagiários em desconformidade com esta Lei caracteriza vínculo de emprego do educando com a parte concedente do estágio para todos os fins da legis- lação trabalhista e previdenciária". ÉTICA E PSICOLOGIA • DIAGRAMA 1. SÍNTESE DO MARCO LEGISLATÓRIO QUE INSTITUI A PSICOLOGIA COMO PROFISSÃO NO BRASIL ~ Dispõe sobre os cursos de formação em psicologia e regulamenta a profissão do psicólogo. i Regulamenta a Lei 4.119/1962 e dispõe sobre a profissão de psicólogo. i Dispõe sobre a criação do Conselho Federal de Psicologia (CFP) e os conselhos regionais de psicologia (CRP). i Dispõe sobre a regulamentação da Lei 5.766/1971 e vincula os conselhos Federal e Regional de psicologia ao Ministério do Trabalho. i Dispõe do estágio de estudantes e dá outras providências. Atribuições profissionais do psicólogo •• O CFP enviou oficialmente essas atribuições ao Ministério do Trabalho em 17 de outubro de 1992, a fim de integrar a Classificação Brasileira de Ocupações (CBO). O documento na íntegra encontra-se disponível no site oficial do CFP. A CBO representa uma listagem das possíveis profissões reconhecidas pelo Ministério do Trabalho e Emprego. Para cada ocupação, existe um código na- cional específico de identificação. Atualizada periodicamente, essa lista serve como referência para cadastro administrativo das categorias profissionais nos serviços e instituições, sejam públicas ou privadas. O governo utiliza as infor- mações empregatícias relacionadas à CBO do profissional para atribuir bene- fícios, como os de seguridade social, e direitos trabalhistas, quando cabíveis. Pautado no respeito, integridade e dignidade, o psicólogo pode atuar em diversos âmbitos sociais: saúde; justiça; educação; segurança; e organizações empresariais. As atribuições de competência dizem respeito à compreensão do comportamento humano, seja tanto no nível individual ou coletivo quanto no ÉTICA E PSICOLOGIA • contexto pessoal, familiar ou social. Ao aplicar conhecimento técnico e teórico da psicologia, o profissional busca identificar e intervir nos determinantes que influenciam a conduta humana. Quanto à produção de conhecimento científico na área da psicologia, o pro- fissional contribui por meio da observação, análise e descrição dos processos de desenvolvimento cognitivo e comportamental humano. Essas competên- cias auxiliam o tratamento, pois favorecem a produção de intervenções, psico- diagnósticos, aplicação de técnicas, promoção de saúde mental, prevenção de agravos e encaminhamentos para atendimento apropriado. Ainda, incentivam condutas que promovem um cuidado resolutivo conforme a necessidade de cada caso. Ressalta-se, porém, a importância de se considerar a influência de fatores relevantes, como condições hereditárias, psicológicas, sociais ou am- bientais, pois elas se relacionam com o funcionamento intrapsíquico e relacio- nal entre o indivíduo e o meio. A pesquisa científica em entidades devidamente reconhecidas, como insti- tuições acadêmicas e governamentais, permitem ao psicólogo elaborar e adap- tar instrumentos e técnicas psicológicas. Ainda, ele pode compartilhar expe- riências e conhecimentos no campo científico e para a população em geram, visto o compromisso social da profissão. As funções do psicólogo se desenvolvem de forma individual ou com o auxí- lio de equipes, seja no meio público ou privado. Já a atuação profissional evolui especificamente no contexto clínico e nos ambientes de trabalho, trânsito, edu- cacional, jurídico, esporte, social e licenciatura, seja no ensino médio ou superior. A psicologia cl ínica se relaciona à área da saúde e envolve a compreen- são dos processos intrapsíquico e interpessoal, seja em caráter preventivo ou curativo. É possível realizá-la de modo individual ou em equipes multiprofis- sionais. Nessa especialidade de cuidado, o psicólogo deve se fundamentar em uma abordagem teórica que embase tanto suas intervenções quanto todo o processo psicoterapêutico, seja ele individual ou de ordem grupal. Detalhada- mente, as atribuições clínicas envolvem: avaliação e diagnóstico psicológicos; entrevistas; orientação; observação; testes; e dinâmicas. O atendimento psico- terapêutico serve para indivíduos das mais diversas faixas etárias, bem como para famílias, casais e gestantes. Compete ao psicólogo atuar em situações de agravo ou fragilidade emocional, físico ou mental. ÉTICA E PSICOLOGIA • No trabalho em equipes multiprofissionais, o psicólogo participa e colabo- ra nas tomadas de decisão quanto às condutas a serem adotadas interdisci- plinarmente pela equipe. Ele também participa na elaboração de pesquisas, execução, coordenação e acompanhamento de qualificação ou treinamento de equipes, bem como dissemina conhecimento em saúde mental em diversas instituições, sejam elas formais ou informais. Além disso, nota-se que, em con- junto com uma equipe multiprofissional, o psicólogo colabora com o planeja- mento da política de saúde e coordena e supervisiona atividades de estágio na área da psicologia. Ainda, ele também promove atividades culturais, de lazer e de reinserção social de indivíduos egressos de instituições psiquiátricas. Compete ao psicólogo do trabalho atuar nas organizações, individualmen- te ou em equipe multiprofissional. Seu objetivo é compreender as relações intra e interpessoais dos envolvidos a fim de intervir, embasado nos conheci- mentos da psicologia. Esse profissional colabora com as ações administrativas da organização em que atua por meio do planejamento, elaboração e avaliação dos processos de trabalho. Para tanto, ele descreve os comportamentos re- queridos para o desempenho dos cargos e funções existentes na organização. Com seus conhecimentos e técnicas no processo de recrutamento e seleção de pessoal, assessora a administração organizacional na identificação do candida- to que melhor se adeque às competências do cargo. É o psicólogo do trabalho que elabora, executa e avalia treinamentos e ca- pacitações da área de Recursos Humanos. Ele estrutura os instrumentos ava- liativos necessários para o processo de promoção ou construção do plano de carreira dessa área. Além disso, promove programas e projetos organizacionais, define requisitos e critérios de produtividade, remuneração, incen- tivo e que favorecem a identificação de necessidade e promoção de qualidade de vida do trabalhador. Finalmente, ele promove pesquisas, emite pareceres, facilita processos de intervenção em grupo, atua em situações de conflitos e participa nos processos de admissão, qualificação, preparo para apo- sentadoria e desligamento. O psicólogo do trânsito desenvolve pesquisas quan- to ao comportamento humano no trânsito e realiza exa- mes psicotécnicos para indivíduos que se propõem ao processo de ÉTICA E PSICOLOGIA • habilitação automotiva. Ele também participa na elaboração e implantação de sistemas de sinalização de trânsito e atua em equipes multi profissionais a fim de desenvolver estratégias de prevenção de acidentes de trânsito. Além disso, esse profissional elabora projetos promotores de educação no trânsito, avalia os fatores envolvidos em ocorrências de acidentes e sugere estratégias ate- nuantes. Finalmente, também é função sua emitir laudos e pareceres solicita- dos pelo Poder Judiciário. Já o psicólogo educacional atua nas instituições educacionais. Ele colabora com a compreensão comportamentaldo processo de ensino-aprendizagem, tanto de educandos quanto de educadores e auxilia o desenvolvimento das relações intra e interpessoais, considerando as dimensões socioeconômicas, políticas e culturais. Ademais, realiza intervenções, pesquisas, diagnósticos in- dividuais ou grupais e participa na elaboração de planos e políticas educacio- nais que visam à efetivação e qualidade do ensino. /-\U LUI I lfJdl Llll ldl :,eu:, LUI li lt:Lll l lt:I ILU:, Ut: JJ:,ILUIU~ld, u:, JJ:,ILUIU~u:, t:UULdLIU- nais contribuem com os educadores, permitindo-os refletir sobre seus papeis e compromisso profissional de suas próprias competências. Além disso, esses psicólogos promovem estratégias tanto de relações e dinâmicas interpessoais harmônicas no ambiente educacional quanto as preventivas de identificação, orientação e resolução de problemas que interferem no processo de aprendi- zagem, direcionando, assim, as intervenções aos alunos, equipe e familiares. Participar de modo interdisciplinar no planejamento político pedagógico curricular da instituição de ensino também é função desse tipo de psicólogo. Ele direciona seu olhar para os aspectos cognitivos, comportamentais e psicos- sociais do desenvolvimento humano. Além disso, ele desenvolve programas de orientação profissional e diagnostica dificuldades de aprendizagem dos alu- nos, buscando uma articulação com os educadores e realizando encaminha- mentos necessários conforme os casos. Compete ao psicólogo jurídico atuar no âmbito judicial, auxiliando no pla- nejamento e execução de políticas relacionadas aos direitos humanos, bem como na prevenção da violência e promoção da cidadania. Ele também contri- bui com o assessoramento da formulação de leis compartilhando seus conhe- cimentos psicológicos no campo do Direito e avalia condições emocionais e in- telectuais de indivíduos envolvidos em processos de adoção, guarda e crimes. Esse profissional atua como perito judicial, elaborando laudos, relatórios e pareceres que servem de subsídios ao processo judicial nas diversas varas, quando solicitado por autoridade jurídica competente. Ele também participa ÉTICA E PSICOLOGIA • de audiências com vistas a esclarecer aspectos técnicos relacionados a documentos psicológicos existentes nos autos dos processos. Dado o dever do psicólogo de promover saúde mental a quem necessitar, ele poderá atender ou orientar os envolvidos nos processos judiciais, sejam eles vítimas, familiares, réu ou até mesmo detentos. Esse profissional elabora e executa programas e tarefas socioeducativas em estabelecimentos institucio- nais ou penais e assessora autoridades jurídicas. Por fim, também participa no desenvolvimento de políticas penais e treinamento de pessoal que as executa. Já o psicólogo do esporte observa e diagnostica as características psicológi- cas dos esportistas. Ele também desenvolve estratégias e técnicas psicológicas que auxiliam na contribuição de otimização e melhoria do desempenho espor- tivo, técnico e interpessoal. Ademais, orienta e oferece atendimento psicológico, seja individual ou grupal, presta assessoramento e acompanha as variáveis psi- cológicas que possam interferir no desempenho esportivo dos atletas. O profissional também realiza pesquisas e elabora programas e estudos buscando o bem-estar dos esportistas. Além disso, também emite pareceres. Quando necessário, realiza encaminhamento para outros profissionais, dada a complementaridade de intervenções multi profissionais. Por fim, ele poderá mi- nistrar aulas de psicologia no esporte nos cursos de psicologia e educação física. Ao psicólogo social, cabe a compreensão sócio-histórica do indivíduo, promovendo estudos, pesquisas e intervenções em caráter psicossocial. Ele rli.:iP-nnc;tir.:i . nl;:mpi;:i P PXPr11t;:i nrnP-r.:im;:ic; c;nri;:iic; P ;:ic;c;pc;c;nr;:i nrp-;inc; p/011 Pn - tidades públicas ou privadas na elaboração de projetos e programas sociais. Finalmente, para que o professor de psicologia lecione no ensino médio, de- verá possuir no mínimo o diploma de bacharel em psicologia. Caso queira lecio- nar no nível superior de ensino, precisará do diploma em licenciatura ou de psi- cólogo. Independentemente do nível, porém, compete-lhe lecionar conteúdos teórico-práticos relacionados ao campo da psicologia e em conformidade com o projeto pedagógico do curso ao qual leciona. Finalmente, ele também supervi- sionará estágios no âmbito interno ou externo à instituição de ensino superior. ÉTICA E PSICOLOGIA • •• Ética profissional na atualidade O conceito da ética perpassa os contextos pessoal, social e profissional. Ao longo do tempo, promove diferentes modos de reflexão variantes de acordo com os costumes sociais e condutas humanas. Assim, entende-se que o contexto ao qual nos vemos inseridos sofre impactos condizentes tanto com o processo evolutivo quanto o de desenvolvimento científico e tecnológico da atualidade. Portanto, vale a pena promover uma reflexão acerca das condições relaciona- das com o processo profissionalizante do psicólogo desde os primórdios até os tempos atuais, entendendo as condições éticas envolvidas nesse seguimento. Salienta-se que o compromisso ético da psicologia se baseia no que pre- coniza a declaração universal dos direitos humanos. Isso significa que se deve reconhecer: dignidade humana; direitos igualitários e inalteráveis; liberdade; justiça; e respeito. Além disso, dado que uma das atribuições do psicólogo é a realização de pesquisas nos mais variados âmbitos de atuação, vale a pena entender os fun- damentos da bioética, caracterizada como um campo científico intrinsecamen- te relacionado aos processos de pesquisa. Apesar de estabelecida no ano de 1927, com o passar do tempo, a bioética se estabeleceu como essencial na contemporaneidade, pois remete ao caráter de responsabilidade individual, ambiental e coletivo. Reflexões sobre o processo de profissionalização do psicólogo •• O período entre 1833 e 1890 compreende a pré-profissionalização da psi- cologia, visto que a psicologia não era uma prática reconhecida no Brasil. Com a chegada da família real e, posteriormente, a independência do Brasil, o sé- culo XIX trouxe mudanças e evoluções sociais ao País. De acordo com Pessotti (1988), estabeleceu-se o interesse dos estudantes de medicina pelo conheci- mento da psicologia, bem como a aplicação desses saberes nos problemas so- ciais e psiquiátricos. Massimi (1990) aponta que, durante o século XIX, a psicologia se relacionava a outros campos de saberes, como filosofia, medicina e teologia. Além disso, ela ÉTICA E PSICOLOGIA • se vinculava às discussões sobre a subjetividade ou o comportamento humano. Como conta Anastasi (1965), porém, ao final desse século, com o advento dopo- sitivismo, a psicologia se estabelece como ciência no meio internacional e se di- reciona ao método experimental de compreensão dos processos cognitivos, que resultam em descrições gerais, isto é, sem considerar características individuais. Anastasi (1965) ainda afirma que, no início do século XX, constituiu-se o in- teresse pelas diferenças individuais na psicologia. No entanto, as característi- cas da ciência experimental ainda se faziam presente. Surgem, ent ão, os pri- meiros testes e escalas de inteligência e, nos Estados Unidos, cria-se o termo quociente de inteligência (QI). Pereira e Pereira Neto (2003) consideram o período entre os anos de 1906 e 1975 como de profissionalização da psicologia. Para os autores, a educação e a medicina promoveram esse processo no Brasil e, em 1906, criou-se o pri- meiro laboratório de psicologia experimental no Rio de Janeiro, denominado Laboratório da Colônia de Psicopatas do Engenho de Dentro - RJ. Atrelado às atividades do curso de medicina, desenvolvia-se atividades de psicologia expe- rimental, testes e psicoterapia nesse lugar. Ainda, como aponta Penna (1992), ele atendia
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