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AULA 3 DESAFIOS DA INDÚSTRIA 4.0 INTRODUÇÃO Uma tecnologia que não é recente, mas ganhou amplo espaço com o advento da indústria 4.0 é a Inteligência Artificial. Suas técnicas estão sendo amplamente utilizadas para as mais diversas aplicações: manutenção preditiva, análise de indicadores, sugestões de melhorias, entre outros. Esta aula tem como objetivos: • Apresentar o conceito de Inteligência Artificial • Elencar as principais motivações para o uso de Inteligência Artificial na indústria • Apresentar o conceito de Gêmeos Digitais • Apresentar exemplos de uso de Gêmeos Digitais TEMA 1 – O QUE É INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL? A expressão inteligência artificial tem sido bastante usad nos últimos anos em função do avanço da tecnologia (a capacidade de processamento dos computadores melhorou de forma significativa) entretanto, esse termo foi adotado pela primeira vez em 1956 por John McCarthy nos Estados Unidos (Silva et al. (2018). Mas afinal, o que significa Inteligência Artificial? Uma atividade dedicada a tornar inteligentes as máquinas e a inteligência é a qualidade que permite que uma entidade funcione adequadamente e com capacidade de previsão em seu ambiente. Nos primeiros anos, os métodos de Inteligência Artificial eram aplicados a problemas mais simples porque os computadores ainda eram muito primitivos e por ser uma área nova. 2 Figura 1 – Primeiro computador digital eletrônico (ENIAC): 1946 Créditos: Everett Historical/Shutterstock. No início da década de 1970, Edward Feigenbaum e outros pesquisadores da Universidade de Stanford iniciaram as pesquisas focadas em sistemas especialistas. Esses sistemas foram implementados com sucesso em diversas áreas ao longo da década de 1980. Com o avanço dos sistemas computacionais na década de 1990, a Inteligência Artificial evoluiu consideravelmente, proporcionando o surgimento de novas técnicas e envolvimento de profissionais de outras áreas além da computação. Existem dois tipos de abordagem em Inteligência Artificial: • Abordagem simbólica: enfatiza processos racionais e intelectuais. Exemplo: sistemas especialistas. • Abordagem conexionista: enfatiza sistemas que pensam e agem como humanos. 3 Figura 2 – Tipos de abordagem em I.A. Fonte: Aoki, 2019. A IA pode ser dividida em vários métodos: • Aprendizado de máquina (Machine Learning – ML): são algoritmos que fazem a análise de dados, identificando padrões e, com isso, passam a aprender a executar uma determinada tarefa, sem que haja a necessidade de implementação de um código específico dessa tarefa no software. 4 Figura 3 – Aprendizado de máquina no reconhecimento facial c Créditos: Zapp2Photo/Shutterstock. • Sistemas especialistas: baseados em algoritmos com regras estabelecidas e bem definidas geradas por especialistas (engenheiros etc.). • Visão Computacional: são algoritmos capazes de extrair informações de imagens, por exemplo: detecção de face, identificação de placas de automóveis, entre outros. • Algoritmos Genéticos (A.G.): são utilizados em problemas de otimização e busca e se baseiam na teoria de seleção natural e evolução de Charles Darwin. 5 Figura 4 – Funcionamento de um AG Fonte: Ikeda. • Redes neurais artificiais: simulam o funcionamento do cérebro, por meio da interligação dos neurônios. Nas redes neurais, esses neurônios estão organizados em camadas. A rede neural artificial cria camadas de aprendizado (Figura 5), nas quais ocorrem a propagação de dados e conexão entre os neurônios. São utilizadas para detecção de padrões em dados brutos. 6 Figura 5 – Redes neurais artificiais para detecção de magens Créditos: BreezyVector/Shutterstock. • Deep learning: é uma otimização do uso de redes neurais artificiais usando milhões de dados como entrada. Requer alto grau de processamento e é usada em aplicações complexas, tais como carros autônomos. TEMA 2 – MOTIVAÇÕES PARA A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL NA INDÚSTRIA O uso de técnicas de IA na indústria tem crescido cerca de 50% ao ano, devido aos seguintes fatores: • As soluções que usam técnicas de IA têm a possibilidade de escalabilidade, o que se torna uma vantagem em relação à outras soluções. • Há uma redução considerável nos custos operacionais (matéria-prima e utilidades) da planta. • Há um aumento nos indicadores de desempenho (KPIs) da planta. • Como a Inteligência Artificial faz parte da digitalização das plantas (indústria 4.0), as empresas se tornam mais competitivas. A implementação e a escolha de qual técnica deve ser adotada depende muito da aplicação e do resultado desejado. É primordial que haja a coleta de dados do chão de fábrica, conforme Figura 6: 7 Figura 6 – Passos necessários para a implementação de IA Ação Extração das informações Aquisição e armazenamento de dados Sensores Alguns exemplos de processos no quais a IA pode ajudar: • Indicadores de desempenho (KPIs) • Manutenção preditiva • Análise de falhas em equipamentos e máquinas • Predição e estimação de variáveis TEMA 3 – INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL NA INDÚSTRIA A adoção da IA na indústria requer alguns pré-requisitos: • Identificar o problema que deve ser resolvido • Possuir uma quantidade de dados suficiente para análise e treinamento do algoritmo • Compreender e interpretar os resultados obtidos 3.1 Gerenciamento de sensores A complexidade das plantas industriais cresce à medida que novas tecnologias são adotadas. Um bom exemplo é a Internet das Coisas (IoT), que demanda cada vez mais sensores instalados para a coleta de dados. Outro fator que contribui para essa expansão no uso de sensores é que seu custo tem diminuído e a sua implementação se tornou mais fácil. 8 Em indústrias mais modernas, o número de sensores pode chegar a milhares, portanto, há a necessidade de realizar seu gerenciamento. Nesse caso, o uso de IA pode auxiliar a: • Identificar oscilações • Avaliar medições fora da faixa estabelecida • Identificar valores fora do padrão (espúrios) Figura 7 – Sensor de proximidade c Créditos: Matee Nuserm/Shutterstock. 9 3.2 Válvulas de controle Essas válvulas são muito utilizadas em indústrias de processo e têm a função de controlar a vazão e, indiretamente, afetam temperatura, pressão, nível de tanques, colunas de destilação etc. Devido a sua importância, causam grande impacto no desempenho operacional das plantas. Um grande desafio para a manutenção é a detecção do agarramento (atrito entre as partes móveis da válvula). Para esse caso, o uso de IA auxiliará: • Detecção de agarramento • Manutenção preditiva • Oscilações, cavitação, histerese, entre outros Figura 8 – Válvula de controle Créditos: Navin/Shutterstock. 3.3 Transporte e logística A manutenção de elevadores é crucial, principalmente pela segurança. Quando um elevador falha, a detecção do problema deve ser rápida e os técnicos devem ter acesso à reposição de peças de forma imediata. Um exemplo de aplicação de manutenção preditiva para elevadores combina o uso de Inteligência Artificial, IoT e realidade aumentada. 10 Os dados dos elevadores são enviados para uma plataforma na qual um algoritmo realiza o diagnóstico e prevê falhas com antecedência. Assim, os técnicos podem atuar antes mesmo que o problema ocorra e evitam que haja a parada do elevador. 3.4 Bombas e compressores industriais As bombas industriais têm a função de aumentar a pressão ou velocidade de um fluido com o intuito de escoá-lo de um ponto para outro. Os compressores aumentam a pressão de um fluido em estado gasoso. Assegurar um bom desempenho desses equipamentos contribui de forma significativa para a eficiência operacional da planta. O uso da IA pode contribuir para: • Analisar os consumos de energia, vazão • Avaliar o desvio em relação à eficiência do equipamento • Estimar tempo de vida útil (manutenção preditiva)• Estimar tempo de reparo • Identificar desvios de performance em geral TEMA 4 – GÊMEOS DIGITAIS (DIGITAL TWINS) Uma tecnologia ainda incipiente no Brasil, mas de grande importância para a Indústria 4.0, é o uso de modelos digitais chamados de Gêmeos Digitais (em inglês, Digital Twins). Trata-se de uma tecnologia que replica (uma cópia) de produtos, processos ou equipamentos. O uso de Gêmeos Digitais só é possível graças à combinação de no mínimo, três tecnologias (algumas já vistas em aula): • Internet das Coisas (IoT) • Inteligência Artificial • Computação em Nuvem O Gêmeo Digital recebe os dados reais do objeto ou processo do qual será feita a cópia e posteriormente a simulação. 11 Figura 9 – Etapas para a elaboração do Gêmeo Digital Recebe e armazena dados do sensores da referência física e de seu ambiente Fonte: Adaptado de Nascimento, 2019. Integração e organização dos dados em uma plataforma digital Aplica regras e faz a análise do comportamento A primeira etapa está relacionada ao envio e armazenamento de dados reais para a plataforma digital (geralmente em um ambiente alocado em um servidor na nuvem). A segunda etapa consiste na integração, contextualização e organização dos dados. Em seguida, são aplicadas técnicas de IA que simulam, analisam e sugerem melhorias no processo ou produto em análise. São muitos os benefícios da sua adoção: aperfeiçoamento de processos industriais, elaboração e análise de protótipos, criação de novos produtos de forma mais rápida, otimização dos processos de manutenção, entre outros. De acordo com uma pesquisa realizada pela Gartner (Costello; Omale, 2019) com empresas da China, Alemanha, Índia, Japão, Inglaterra e Estados Unidos: • Com relação às indústrias que já usam IoT em seus processos, cerca de 13% usam plataformas de Gêmeos Digitais e 62% estão em fase de implementação. Produtos: a evolução das tecnologias e a alta competitividade entre as indústrias requer que novos produtos sejam lançados rapidamente. O uso de Gêmeos Digitais pode auxiliar na simulação de peças antes mesmo de serem fabricadas, acelerando as etapas previstas para o novo produto. Como destaques, há a redução de custos e riscos associados a testes físicos. 12 Figura 10 – Uso de Gêmeos Digitais em produtos Créditos: Chesky/Shutterstock. Processos: permite a simulação dos processos industriais, reduzindo custos operacionais, melhorando a eficiência global da fábrica, reduzindo até mesmo acidentes de trabalho. 13 Figura 11 – Uso de Digital Twin na fabricação de carros Créditos: Alexander Tolstykh /Shutterstock. Equipamentos: o uso de Gêmeos Digitais permite a análise de equipamentos remotamente, contribuindo para as atividades da manutenção e antecipação de paradas não desejadas. TEMA 5 – EXEMPLOS DE USO: DIGITAL TWINS Conforme mencionado no tópico anterior, o uso de Gêmeos Digitais pode trazer vários benefícios e são aplicados nos mais diversos processos. A seguir, serão listados alguns exemplos de seu uso: Monitoramento de parques eólicos: é possível criar uma réplica do parque eólico e, com os dados reais obtidos nos últimos meses, é possível simular quais danos podem ser causados nos aerogeradores bem como, prever a quantidade de energia que será gerada. Assista: <https://www.youtube.com/watch? v=E8uB6uzC3as>; <https://www.youtube.com/watch? v=LVwmsAQlKrY>. Aviação: pode ser usado para simular a performance dos motores e turbinas de aviões. É possível simular, por exemplo, um voo de 10 horas e analisar se haverá algum risco de falha. Ele também leva em consideração as condições meteorológicas. Assista: <https://www.youtube.com/watch?v=ZB4Ne0xF1Zc>; 14 <https://www.youtube.com/watch?v=QUpHVuXEYA0>. Saneamento: é possível simular a rede de distribuição de água e de esgoto, com a análise dos resultados que servem de suporte para o planejamento das ações operacionais. Figura 12 – Ilustração de tratamento de água Créditos: Unitone Vector/Shutterstock. 15 REFERÊNCIAS ANSYS, I. Optimize MRO for aviation using digital twins. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch? v=ZB4Ne0xF1Zc>. Acesso em: 4 dez. 2019. AVIATION, G. How GE’s predix is taking aviation productivity to new levels. GE Aviation. Disponível em: <https:// www.youtube.com/watch?v=QUpHVuXEYA0>. Acesso em: 4 dez. 2019. COSTELLO, K.; OMALE, G. Gartner survey reveals digital twins are entering mainstream use. Disponível em: <https:// www.gartner.com/en/newsroom/press- releases/2019-02-20- gartner-survey-reveals-digital-twins-are-entering-mai>. Acesso em: 4 dez. 2019. DIGITAL, G. How does a digital twin work?: Minds + Machines Europe. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch? v=E8uB6uzC3as>. Acesso em: 4 dez. 2019. MEDEIROS, L. F. de. Inteligência Artificial Aplicada: uma abordagem introdutória. Curitiba: Editora Intersaberes, 2018. NASCIMENTO, R. Digital twin: a virtualização como driver de transformação da indústria. Disponível em: <https:// www.cpqd.com.br/internet-das-coisas-iot/digital- twin-a- virtualizacao-como-driver-de-transformacao-da-industria/>. Acesso em: 4 dez. 2019. SILVA, E. et al. Automação & sociedade: Quarta Revolução Industrial, um olhar para o Brasil. 1.. ed. 2018. SACOMANO, J. B. et al. Indústria 4.0: conceitos e fundamentos. Blucher, 2018. TWIN, D. Digital twin for wind energy. Disponível em: <https:// www.youtube.com/watch?v=LVwmsAQlKrY>. Acesso em: 4 dez. 2019. 16