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Projeto paisagístico Apresentação Paisagismo não é sinônimo de cultivar jardins. Trata-se de uma ciência multidisciplinar que atua na qualificação dos espaços exteriores de diferentes escalas para uso humano, seja contemplativo, seja utilitário, envolvendo princípios estéticos, de conforto ambiental e de recuperação ecológica, entre outros. Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai saber mais sobre a importância do projeto de paisagismo, começando por aspectos de representação gráfica, desde o desenho à mão livre, passando pelo uso das cores, até as perspectivas. Também vai aprender a respeito da elaboração de um inventário de projeto, que consiste em um minucioso levantamento de dados que subsidiarão sua construção. Por fim, será introduzido às etapas que compõem o desenvolvimento de um projeto de paisagismo: o estudo preliminar, o anteprojeto e o projeto executivo. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Reconhecer a importância das projeções paisagísticas.• Descrever os processos de levantamento de dados ambientais.• Identificar as etapas de um projeto paisagístico.• Desafio As praças são elementos de encontro intencional das pessoas, de permanência, de acontecimentos, de práticas sociais e de manifestações de vida urbana e comunitária. Sua forma pode ser quadrangular, triangular, circular, etc. O que importa é conferir a elas qualificação e significado funcional. Sendo assim, responda: a) Em sua análise, por que a praça não atraiu o interesse da população do bairro? b) Como poderá resolver essa situação? Infográfico Como um projeto de paisagismo consegue cumprir o seu papel? Várias respostas são possíveis: quando é funcional, belo, adaptado ao bioma local, etc. Mas para Benedito Abbud (2010), é quando consegue aguçar os sentidos. Desse modo, estes são responsáveis pela capacidade de interpretar o ambiente, ou seja, captar diferentes estímulos e percepções ao redor. Sem eles, não seria possível perceber as variações do meio ambiente. Neste Infográfico, você verá como o corpo humano se comporta em um espaço vegetado em relação aos cinco sentidos principais: visão, olfato, paladar, audição e tato. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://statics-marketplace.plataforma.grupoa.education/sagah/c9eb54b2-9e16-4091-a0ba-bf4b8bfb4360/e88d31a4-1bad-493f-b662-81c7764af69a.jpg Conteúdo do livro Projeto paisagístico é um documento que contém a representação gráfica de uma idealização de qualificação de determinado espaço exterior. Nele constam todas as informações necessárias que orientarão a execução do projeto, de modo que os envolvidos no trabalho saibam interpretá-lo. No capítulo Projeto paisagístico, base teórica desta Unidade de Aprendizagem, você vai aprofundar seus conhecimentos sobre a importância da representação gráfica para o processo criativo de elaboração do projeto paisagístico e sua posterior execução. Também verá as principais informações que devem ser colhidas para iniciar um projeto e identificará as etapas que o compõem: o estudo preliminar, o anteprojeto e o projeto executivo. Boa leitura. FLORICULTURA E PAISAGISMO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM > Reconhecer a importância das projeções paisagísticas. > Descrever os processos de levantamento de dados ambientais. > Identificar as etapas de um projeto paisagístico. Introdução O projeto paisagístico é definido como a qualificação de determinado espaço exterior aos edifícios que pode ser direcionado para áreas de propriedade pri- vada ou de propriedade pública. A complexidade de um projeto de paisagismo não se deve apenas a seu tamanho, mas, sobretudo, às expectativas dos clien- tes e ao uso que se fará do espaço. No entanto, qualquer que seja o tamanho do empreendimento, as fases de planejamento e projeto não são diferentes: para desenvolvê-lo, precisamos seguir uma metodologia. Neste capítulo, vamos explicar a importância do desenho à mão livre e do uso das cores ao representar as ideias, destacando como trabalhar as texturas com lápis de cor, combinando cores e técnicas a fim de apresentar seus estudos com personalidade. Nesse sentido, veremos o quão importante é a perspectiva humanizada para dar ênfase aos principais pontos de interesse de um projeto. Também apresentaremos os fundamentos do levantamento de dados, que visa a subsidiar o início e o desenvolvimento do projeto, etapa também chamada de “inventário de projeto”. Por fim, descreveremos as etapas de um projeto de paisagismo: o estudo preliminar, o anteprojeto e o projeto executivo. Projeto paisagístico Lucas Martins de Oliveira A representação do paisagismo Assim como ocorre em tantos outros campos do conhecimento, é fundamental, ao agrônomo paisagista, desenvolver a habilidade de desenhar com determi- nação e rigor, com a mesma prática constante que um músico aprende a tocar um instrumento, por exemplo. De fato, a ênfase na rapidez e na eficiência das ferramentas computacionais não pode desconsiderar o amadurecimento intelectual resultante do exercício de desenho à mão livre. Por mais que a tecnologia aplicada ao projeto paisagístico avance a pas- sos largos, o desenho à mão livre, ou croqui, encoraja a observação cuida- dosa e permite maior entendimento das dimensões de projeto e da área de intervenção: é o que chamamos de “apreensão do lugar”, ou genius loci. Nas palavras de Hutchison (2011, p. 11), “O croqui não é um desenho dis- pensável, mas um material de projeto que representa a individualidade do ambiente na perspectiva criativa”. Hutchison (2011) recomenda termos um caderno de croquis (Figura 1), que consiste em um espaço para o exercício de desenho de valor incalculável, não importando se o desenho é “bom” ou “ruim”. O que importa é a dedicação ao registro de ideias, listas, combinações de cores, captura de visadas interes- santes, sempre com o intuito de conduzir às soluções de projeto que serão determinadas em etapas posteriores. É especialmente fundamental em um projeto de paisagismo, em que partimos sempre da conversão de um lugar existente em um lugar mais bem qualificado. Figura 1. Esboços no caderno de croquis do arquiteto inglês Edward Hutchison. Fonte: Adaptada de Hutchison (2011). Projeto paisagístico2 Conforme Wilson (2016), para os paisagistas, a comunicação gráfica das ideias de um projeto permite que se trabalhe com mais rapidez e eficácia, sejam desenhos à mão livre ou desenhos técnicos. Para o cliente, desenhos à mão livre são compreendidos e interpretados mais rapidamente. Geral- mente em forma de esboço, eles parecem mais realistas, transmitindo, talvez, o estado espírito ou a atmosfera de um jardim com mais eficiência. Segundo Abbud (2010), devemos prestar muita atenção às intenções, dúvidas e expectativas do cliente, seja ele particular ou público. Quando apresentarmos as possibilidades de projeto, devemos passar confiança, demonstrando que somos os profissionais certos para o trabalho. “Geralmente, o cliente de residência traz mais dúvidas e ansiedades do que o empreende- dor ou contratante público, especialmente sobre quanto custará o projeto e a implantação para ter certeza de que poderá pagá-los” (ABBUD, 2010, p. 164). Fotografias do lugar também são fontes importantes de registro, que antecedem e auxiliam no desenvolvimento dos estudos preliminares. Porém, os croquis nos conectam à área de estudo de maneira incomparável. Diferen- temente das lentes de uma câmera fotográfica, nosso cérebro faz constantes reavaliações enquanto desenhamos. Fotografias registram fatos; croquis registram ideias. Lembre-se de que os desenhos não pretendem representar a paisagem de forma realista, mas esquemática (HUTCHISON, 2011). No contexto do paisagismo, os desenhos à mão livre contêm informações selecionadas. De outra maneira, são desenhos com foco na essência de um contexto ou de um problema a ser solucionado. Assim, aspossíveis dúvidas iniciais de projeto devem ser capturadas em croquis que serão utilizados na criação de alternativas projetuais, as quais, por sua vez, poderão ser aprofundadas pelas ferramentas computacionais de representação gráfica. O diálogo entre as duas técnicas, os croquis e os desenhos digitais, permite um maior dinamismo no raciocínio de ideias, gerando uma economia de energia, pois nos ajuda a “desempacar” diante de travas no processo criativo. Após melhor solucionarmos o projeto, podemos converter os croquis em desenho digital, possibilitando uma maior precisão das formas e dos espaços, legitimando as ideias iniciais ou corrigindo-as. Projeto paisagístico 3 Como afirma Hutchison (2011), no projeto da paisagem, os desenhos devem destacar ideias para a vegetação, é claro, materializando os conceitos iniciais. Características de movimento, textura e formas não são fáceis de se transmitir para o papel, mas são fundamentais para a representação dos estudos. Desse modo, o uso de cores é uma boa alternativa, pois elas evocam a variedade de plantas, tanto nos tons de verde quanto nas cores do tronco, das folhas e da floração. Veja, na Figura 2, o estudo de cores e texturas feito com lápis de cor a ser utilizado em um estudo de paisagismo. Observe a combinação de cores e as técnicas. Figura 2. Estudo de cores e texturas em lápis de cor. Fonte: Adaptada de Hutchison (2011). Para Hutchison (2011, p. 90), “[...] ao criar um novo projeto paisagístico, os paisagistas assumem uma grande responsabilidade: encontrar uma solução que redefina e regenere um lugar”. Portanto, para apresentar as propostas preliminares, os desenhos que transmitirão o projeto precisam de uma cuida- dosa preparação. Na continuidade de nosso aprofundamento, as perspectivas são um ponto importante de análise. Antes do avanço tecnológico propor- Projeto paisagístico4 cionado pelas ferramentas computacionais, os desenhos de perspectivas demandavam uma habilidade considerável e desenhistas sensíveis para representar as soluções de projeto. Embora, nos dias atuais, o computador torne esse trabalho mais fácil, as vantagens de se produzir uma perspectiva à mão livre não deveriam ser subestimadas. A perspectiva com pontos de fuga à mão livre tem a vantagem de se concentrar em uma quantidade limitada de informações, naquilo que re- almente é necessário absorver sobre o projeto. Assim, é possível construir uma perspectiva com capacidade de comunicar diretamente sua mensagem, como, por exemplo, as características morfológicas de uma árvore ou de um material construtivo, ou a relação espacial com o entorno edificado, como ilustra a Figura 3. Figura 3. Perspectiva em cores com ponto de fuga de um estudo preliminar para a área externa de uma edificação, com o acesso arborizado. Fonte: Adaptada de Hutchison (2011). Projeto paisagístico 5 Thorspecken (2014, p. 74) afirma que “[...] somente quando agregamos o elemento humano à representação da paisagem é que conseguimos nos relacionar com ela”. De forma complementar, afirma que o que torna a ve- getação um espaço urbano fascinante é como os paisagistas a moldam ou a deixam intocada. Veja, na Figura 4, um desenho para o estudo preliminar de um jardim, feito em aquarela, que teve como foco a diversidade florística de arbustos e árvores e a relação com as pessoas. Figura 4. Perspectiva em cores com ponto de fuga de um estudo preliminar de um jardim, com foco nas cores das florações. Fonte: Adaptada de Hutchison (2011). Segundo Hutchison (2011, p. 118): [...] o fotorrealismo que usualmente vemos das perspectivas apresentadas pelas empresas de projeto e do ramo imobiliário, que muito nos seduzem, exige um altíssimo grau de informação técnica, sendo que os programas computacionais somente podem produzir uma imagem se forem fornecidas as instruções detalhadas sobre as definições projetuais. Projeto paisagístico6 Como resultado, etapas fundamentais de maturação do projeto paisagístico são “atropeladas”, comprometendo sua qualidade. Há, ainda, a tendência de “pasteurizar” (purificar) o desenho digital, apresentando visões utópicas, como o céu azul excessivo, as pessoas universalmente perfeitas e todo o ambiente adequado de forma ideal. Devemos entender que a atuação do agrônomo paisagista não deve ser restrita ao estudo das espécies vegetais e do solo, mas, também, deve se voltar para uma adequada representação gráfica do projeto paisagístico, a fim de que suas ideias sejam bem compreendidas na fase de execução. O levantamento de dados para o projeto Antes do ato de projeto, devemos elaborar um inventário, que se trata do levantamento de informações preliminares. Nesse momento, fazemos uma ampla pesquisa de campo, analisando o máximo de informações, sejam cedidas pelo contratante (cliente, empresa privada ou poder público), sejam levantadas pelo próprio paisagista por meio de visitas técnicas, ato que cha- mamos de “levantamento in loco”. Reunimos essas informações para melhor entender as características do lugar, seus aspectos morfológicos, ambientais e sociais. São itens que compõem o inventário de pesquisa (NIEMEYER, 2011): � o levantamento planialtimétrico e cadastral, junto ao Poder Público, da área objeto de projeto, contendo todos os elementos preexistentes (curvas de nível, vegetação, edificações, cursos d’água, afloramentos de rochas, etc.); � o mapeamento das sombras, caso a área seja limitada por edifícios; � as restrições legais de âmbito municipal, estadual e federal; � a análise do solo (granulometria, fertilidade e pH), visando a possíveis correções e adaptações de espécies vegetais a serem inseridas; � as condições climáticas (temperatura média, direção dos ventos, regime de chuvas, etc.); � as condições biológicas (flora e fauna a serem preservadas ou recu- peradas), em caso de intervenção em áreas protegidas; � os estudos de impactos possíveis; � as particularidades da paisagem, visadas interessantes, enquadra- mentos, etc. Projeto paisagístico 7 É importante consideramos as particularidades da paisagem do entorno para que possamos valorizar o lugar que estamos projetando como um ponto privilegiado de observação. Nesse sentido, o projeto de paisagismo deve contribuir com essa qualidade, e não a prejudicar. Na Figura 5, observe que Roberto Burle Marx valorizou o ponto de visada para a paisagem carioca incluindo palmeiras que não obstruem o olhar. Figura 5. Parque do Flamengo, Rio de Janeiro. As palmeiras no terreno emolduram a contem- plação da paisagem ao fundo. Fonte: Upper ([20--?], document on-line). O processo de projeto paisagístico exige que tenhamos um conhecimento amplo sobre a insolação, sobre as possibilidades topográficas e sobre as características das espécies vegetais. No que concerne à insolação, devemos saber as necessidades das plantas em relação ao sol: se são de sol pleno, meia sombra ou sombra total. Por exemplo, se especificarmos uma planta de meia-sombra em uma área que recebe insolação o dia todo, causaremos sérios prejuízos, pois essa espécie não é adaptada ao nível de exposição. “Procedemos à especificação vegetal em função de seu fotoperiodismo e das características botânicas pertinentes: se heliófitas (adaptadas ao sol pleno) ou umbrófitas (as que preferem níveis de sombra)”, afirma Niemeyer (2011, p. 70). Projeto paisagístico8 � Sol pleno: espécies que precisam de incidência mínima e direta de 3 a 4 horas de sol diariamente. � Meia-sombra: espécies que tendem a não suportar a permanência ao sol entre 10h e 17h. � Sombra: espécies que não suportam o sol direto, devendo ser aloca- das em espaços de luminosidade indireta, protegidas sob a copa de árvores ou estruturas artificiais. É o caso da maioria das espécies de orquídeas, por exemplo. Com o inventário feito, é necessário elaborar o programa de necessidades, que consiste na identificação dos desejos dos habitantes a respeito da área em projeto. É imprescindível que oprograma seja elaborado com a participação das pessoas diretamente envolvidas, aquelas que habitarão o espaço ou dele usufruirão com frequência, como no caso de um espaço público, por exemplo. Dobry-Pronsato (2016) nos auxilia a entender o desenvolvimento do pro- grama de necessidades a partir do projeto para o Parque Aldeia de Carapi- cuíba, em São Paulo, feito por meio de um processo participativo de projeto de paisagismo entre técnicos, comunidade e estudantes, processo também chamado de “criação coletiva”. Nessa etapa, entendeu-se que o parque, para atender à população de modo eficiente, deveria conter um espaço para ati- vidades de turismo gastronômico, espaços culturais, espaços poliesportivos, de capoeira, maracatu, pista de caminhada e estacionamentos (Figura 6). Figura 6. Estudo para o Parque Aldeia de Carapicuíba. Fonte: Adaptada de Dobry-Pronsato (2016). Projeto paisagístico 9 As etapas do projeto paisagístico Tendo como base as informações até aqui coletadas, podemos iniciar a ela- boração do estudo preliminar. Começamos pelo estudo funcional, que traça as primeiras diretrizes de zoneamento para o projeto. Consiste em definir- mos a localização adequada para cada elemento, ou grupo de elementos, do programa de necessidades: áreas de lazer, áreas esportivas, bosques, estacionamentos, área administrativa, etc. Assim, organizamos os espaços de acordo com a funcionalidade. As áreas administrativas e esportivas de parques urbanos, por exemplo, devem estar próximas aos estacionamentos, devido ao público frequente e maior que recebem. Para Wilson (2016), quando paisagistas desenvolvem seu trabalho, o de- senho de vista superior é o foco do processo. Para entendê-lo, devemos imaginar que podemos planar sobre o jardim e olhar para baixo, como um pássaro quando voa nas alturas, o que nos possibilita enxergar o espaço representado como um padrão. Isso é útil porque permite que os objetos sejam dispostos com grande precisão nos limites do projeto, uma consideração importante na transposição do desenho para a realidade. Para o leigo, porém, entender essa imagem muitas vezes é difícil, já que esse não é o modo como uma pessoa normalmente percebe ou vê um jardim. Trata-se de um plano bidimensional, de comprimento e largura, que chamamos de planta baixa. Entretanto, faltam as informações sobre altura, que serão transmitidas nos cortes e nas elevações. Na continuidade do estudo preliminar, no plano de massas, elaboramos a estrutura do espaço de acordo o estudo funcional. Nessa etapa, a liberdade criativa do paisagista deve florescer, pois dela decorrem os estudos de caso, as visitas técnicas e todo o arcabouço projetual que o profissional conhece. Como paisagistas em formação, devemos frequentar os jardins e os espaços públicos, observar limitações e potencialidades, bem como pesquisar projetos significativos, de qualidade reconhecida por outros profissionais. No plano de massas, localizamos os acessos de pedestres e veículos, os equipamentos de lazer, os elementos e espaços simbólicos, as melhores visadas e a volumetria geral básica da vegetação e das possíveis arquitetu- ras que complementarão o projeto. Devem ser elaborados quantos estudos preliminares forem necessários, que serão avaliados pelos contratantes e públicos-alvo. É importante que o material apresentado contenha esquematizações de plantas, cortes, elevações, croquis, perspectivas e até maquetes volumétricas. Observe, na Figura 7, um estudo preliminar para determinada área urbana. Projeto paisagístico10 Analise o uso de cores, a representação da vegetação, dos caminhos, da água e da relação com a volumetria arquitetônica. Não sabemos, ainda, quais materiais serão especificados e quais espécies vegetais serão implantadas, mas já sabemos a estruturação geral do espaço livre. Figura 7. Representação de um estudo preliminar de projeto paisagístico. Fonte: Habitat (c2013, documento on-line). Quando o plano de massas é aprovado, partimos para a elaboração do anteprojeto, que oferece uma clara compreensão do projeto a partir das possíveis correções solicitadas na apresentação do estudo preliminar. Nele, devem constar a localização de cada item do programa, com plantas e de- mais desenhos técnicos dotados de informações que permitam sua correta interpretação, sem deixar dúvidas quanto à estruturação do projeto. Wilson (2016) afirma que os desenhos técnicos têm enorme importância na criação de jardins bem-sucedidos, pois possibilita que o projeto seja mais bem lido e explorado. Conforme Abbud (2010, p. 192), o anteprojeto “[...] é a conclusão do pro- cesso iniciado no estudo preliminar”, e sua meta é mostrar as soluções de projeto já definidas, em termos de funcionalidade, de circulação, de formas e de estética. Representa, assim, o amadurecimento das ideias projetuais em uma linguagem gráfica de fácil compreensão, podendo ter desenhos em cores e perspectivas. Projeto paisagístico 11 Na etapa de anteprojeto, é fundamental que sejam apresentados plantas, elevações e cortes, e é recomendado apresentar os materiais que serão utilizados, a seleção das espécies vegetais, a indicação dos elementos cons- truídos, as movimentações topográficas e, ainda, uma estimativa de custos de execução da proposta. Na Figura 8, vemos um anteprojeto com estudo de áreas de acordo com o material e a vegetação, representado por cores para facilitar a leitura da peça gráfica. Analise os principais espaços: o eixo de pedestres, em vermelho, é tratado com pavimentação em tijolos; o entorno das edificações é forrado com britados sobre células plásticas do tipo nidoplast, que mantém a esta- bilidade do solo, e a grande área vegetada é forrada com grama e árvores pontualmente distribuídas. Figura 8. Anteprojeto de paisagismo utilizando de cores para o entorno de uma edificação escolar. Fonte: Adaptada de Hutchison (2011). Projeto paisagístico12 Sabemos que as plantas são desenhos bidimensionais de largura e compri- mento dos espaços. Já as elevações são projeções usadas para dar suporte ou explicar as dimensões verticais ou alturas. Mudanças de níveis são claramente representadas por uma elevação, como degraus, declives, rampas, muros de contenção, por exemplo. No paisagismo, informamos, ainda, a altura das vegetações (existentes ou estimadas). Os cortes também servem para mostrar alturas, mas são fatias ou recortes explicativos de uma visão de geralmente não temos, por exemplo, fundações de estruturas arquitetônicas, ambientes internos ou detalhes construtivos (WILSON, 2016). A partir do anteprojeto, serão desenvolvidos os projetos complementares, como a luminotécnica, a segurança e a irrigação, por exemplo. No anteprojeto, já devemos ter definidos os materiais que utilizaremos, especialmente para os pisos, os equipamentos e as primeiras especificações do projeto de vege- tação, que serão detalhados na etapa seguinte, do projeto executivo. Nela, elaboramos todo o projeto técnico-jurídico, isto é, com todos os materiais necessários para a aprovação do projeto pelo Poder Público, seguindo todas as normativas pertinentes, e também necessários para a execução do projeto em campo. Devemos apresentar (NIEMEYER, 2011): � o projeto de vegetação, que consiste na composição paisagística da área contendo a locação exata do componente vegetal; � a listagem quantitativa das espécies vegetais, com indicação de as- pectos qualitativos, como portes mínimos e espaçamentos entre os elementos; � as especificações de preparo do solo e de manutenção das áreas ve- getadas (irrigação-drenagem); � os elementos construtivos relacionados ao paisagismo (modelagem do terreno, paginações de piso, materiais, iluminação e mobiliários); � os memoriais. Os memoriais podem ser descritivos ou justificativos: os primeiros descre- vem especificações de materiais de acabamento e formas de manejo (técnicas e critérios de execução, notas de jardinagem de implantação e manutenção, preparo do soloe quantificações); os segundos fazem referência ao estilo do projeto ou às características da obra, justificando o partido tomado (cores, texturas, massas vegetadas e mobiliário). O memorial descritivo é o mais utilizado na prática, sendo que o justificativo mais presente em projetos de grande porte, como praças ou parques, cuja complexidade referencial e conceitual é maior. Projeto paisagístico 13 Um memorial descritivo deve conter, no mínimo, cinco itens: as informações preliminares, as especificações de preparo do solo e das mudas, as condições de plantio e das regas e tutoramento, e, por fim, as garantias dos serviços. Veja-os em detalhes no Quadro 1. Quadro 1. Conteúdo básico de um memorial descritivo de projeto paisagístico Item Caracterização Informações preliminares Apresenta o documento, colocando as informações básicas do contratado e do contratante. Descreve a função do memorial, informando que ele pretende subsidiar a leitura do projeto paisagístico, com o objetivo de permitir a plena execução da obra. Preparo do solo A área a ser ajardinada deverá ser limpa de entulhos de obra. Em seguida, deve-se trocar a camada superficial do solo por um substrato devidamente adubado, composto conforme a necessidade das espécies implantadas. Mudas e condições de plantio As mudas precisam ter boa formação e o porte indicado no projeto, bem como ser isentas de pragas. Deve-se apontar as necessidades específicas para as forrações, arbustos, árvores e palmeiras. Regas e tutoramento As regas iniciais devem ser intensas no primeiro mês, duas vezes ao dia, no início da manhã e ao final da tarde nos dias quentes. O tutoramento se faz necessário para mudas arbóreas sujeitas à ação dos ventos, fixando-se hastes de madeira. Garantias dos serviços Será de responsabilidade da equipe de execução do jardim a substituição das mudas que pereçam por deficiência técnica de plantio até trinta dias após a entrega do serviço (desde que os procedimentos de manutenção tenham sido executados corretamente). Fonte: Adaptado de Niemeyer (2011). Neste capítulo, especificamos a complexidade que envolve o desenvolvi- mento de um projeto de paisagismo, as formas de representação e a impor- tância das informações que devemos colher antes de desenvolver o projeto; afinal, precisaremos delas para iniciá-lo. Agora você é capaz de compreender as etapas obrigatórias de desenvolvimento de um projeto, desde a criação até a execução. Projeto paisagístico14 Observe, no anteprojeto paisagístico da Figura 9, o diálogo entre a planta baixa da construção e os ambientes exteriores criados pelo projeto de paisagismo: os acessos, os caminhos e as aberturas. Veja que a definição geométrica e morfológica do paisagismo já está solucionada, tanto em relação às vegetações quanto em relação aos pisos, indo além das informações básicas do estudo preliminar. No entanto, falta, agora, a evolução do desenho técnico ao nível executivo. Figura 9. Anteprojeto paisagístico. Fonte: Abbud (2010, p. 194). Referências ABBUD, B. Criando paisagens: guia de trabalho em arquitetura paisagística. São Paulo: Senac, 2010. DOBRY-PRONSATO, S. A. et al. Parque ecológico Aldeia de Carapicuíba: projeto de paisagismo participativo valorizando um patrimônio histórico. Paisagem e Ambiente: Ensaios, nº 37, p. 101-117, 2016. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/paam/article/ view/102043. Acesso em: 20 abr. 2021. Projeto paisagístico 15 HABITAT. Planta do estudo preliminar: paisagismo. c2013. Disponível em: https://www. habitat-acp.arq.br/casa-mirante-rsm-pa?lightbox=i11wxf. Acesso em: 20 abr. 2021. HUTCHISON, E. O desenho no projeto da paisagem. Barcelona: Gustavo Gili, 2011. NIEMEYER, C. A. C. Paisagismo no planejamento arquitetônico. Uberlândia: Edufu, 2011. THORSPECKEN, T. Guia completo de técnicas de desenho urbano. São Paulo: Gustavo Gili, 2014. UPPER. Circuito outdoor. [20--?]. Disponível em: http://academiaupper.com.br/dt_ workouts/circuito-outdoor/. Acesso em: 20 abr. 2021. WILSON, A. O livro das áreas verdes. São Paulo: Senac, 2016. Leituras recomendadas MACEDO, S. S.; SAKATA, F. G. Parques urbanos no Brasil. São Paulo: Edusp, 2010. MAGALHÃES, M. R. A arquitectura paisagista. Lisboa: Estampa, 2001. ROBBA, F.; MACEDO, S. S. Praças brasileiras. São Paulo: Edusp, 2010. Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu funcionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. Projeto paisagístico16 Dica do professor Um projeto de paisagismo para a apropriação humana não é somente composto por vegetação. A escolha de elementos de composição é fundamental e é basicamente pessoal em função das características de projeto, o que exige sensibilidade, critério e adequação deles. Nesta Dica do Professor, você vai aprender mais sobre os elementos utilitários e decorativos que enriquecem e dão sentido de apropriação ao projeto de paisagismo. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/cee29914fad5b594d8f5918df1e801fd/d96b14b4743fd4d719102f98f7e20a6c Exercícios 1) Para a elaboração de projetos de paisagismo, é fundamental entender as normas que balizam os critérios técnicos. Assim, é correto afirmar que as restrições legais no âmbito municipal, estadual e federal são coletadas e analisadas na fase de projeto chamada de: A) levantamentos preliminares ou inventário. B) estudo funcional. C) plano de massas. D) anteprojeto. E) projeto executivo. 2) A elaboração de um projeto é dividida em etapas (ou fases). Não se trata de um processo totalmente linear, já que tais etapas se retroalimentam; entretanto, seu entendimento é importante para organizar o trabalho. É correto afirmar que corresponde(m) à fase de projeto executivo: A) levantamento topográfico e cadastral da área de projeto. B) elenco de espécies de acordo com a sua quantidade. C) granulometria e estudo de fertilidade do solo. D) estudo de fluxo ou fluxograma. E) programa de necessidades básicas. 3) Na cultura ocidental, os projetistas se tornaram cada vez menos inclinados a perder tempo no lugar, seja refletindo sobre o poder inerente ao ambiente, seja entendendo o passado sob uma perspectiva criativa. O conceito que se refere à descoberta sensível dos lugares que as pessoas habitam, tornando-os reconhecíveis, é chamado de: A) drawing. B) criação coletiva. C) observação participativa. D) in situ. E) genius loci. 4) No processo de absorção da paisagem, o projetista pode passar horas desenhando-a, em intensa concentração e liberdade criativa. Na etapa de estudo preliminar, os croquis auxiliam a: A) calcular áreas. B) elaborar desenhos técnicos. C) registrar as ideias. D) especificar materiais. E) determinar soluções. 5) Criar traços com diferentes lápis de cor gera efeitos complexos, formando um sistema de referência que auxiliará na representação de projetos futuros. O uso de cores no estudo preliminar de paisagismo é importante porque: A) remete à diversidade da vegetação. B) representa a natureza de forma abstrata. C) transmite a tridimensionalidade no desenho. D) ajuda a retratar os fatos realisticamente. E) enfatiza a rapidez e eficiência das soluções de projeto. Na prática O projeto paisagístico de equipamento de macroescala, como são os parques urbanos, exige um duplo desafio: a revitalização ambiental da área para cumprir todos os seus serviços ambientais; e a sua qualificação para uso público, capaz de promover lazer e educação ambiental a toda a sociedade. Neste Na Prática, confira como a equipe de paisagistas vencedora do concurso público de projetos para o Parque do Cocó,em Fortaleza (CE), soube trabalhar aspectos de conservação ambiental em meio ao contexto urbano. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://statics-marketplace.plataforma.grupoa.education/sagah/fbd2eadd-3418-4e77-83e7-5804ed5c8c97/d86bf076-4ad1-4778-9f82-20d2c10605db.jpg Saiba + Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja a seguir as sugestões do professor: Um projeto de infraestrutura verde para o Mercadão Neste artigo, você vai conhecer uma proposta de revitalização para o entorno urbano do Mercado Municipal de São Paulo (SP) em um projeto baseado na metodologia chamada infraestrutura verde. Esta se fundamenta em soluções ecológicas de drenagem urbana e arborização urbana, entre outros aspectos. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. Paisagismo é mais uma das atribuições do engenheiro agrônomo Esta matéria, publicada no site do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Paraná (CREA- PR), aborda a atuação do engenheiro agrônomo exemplificada em um projeto de paisagismo executado. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. Paisagismo naturalista: como plantar para o futuro Este artigo explica que os paisagistas têm a responsabilidade de colocar em prática maneiras mais sustentáveis de transformar a paisagem. Assim, o paisagismo naturalista nada mais é do que implantar conceitos ecológicos para projetos adaptados ao seu lugar. https://www.revistas.usp.br/revistalabverde/article/view/113668 https://www.crea-pr.org.br/ws/arquivos/29911 Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://www.archdaily.com.br/br/931906/paisagismo-naturalista-como-plantar-para-o-futuro