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Ma cr oe co no mi a Au la 05 - Ela st ici da de s e Es tr ut ur as d e M er ca do 53Faculdade On-Line UVB Anotações do Aluno uvb Aula 05 - Elasticidades e Estruturas de Mercado Nesta aula trabalharemos as habilidades necessárias para que o aluno possa: - Compreender as elasticidades, que medem a intensidade da resposta da Oferta e Demanda aos fatores que as influenciam, para cada produto ou mercado; - Entender as diversas estruturas de mercado, nas quais as condições de concorrência são diferentes, seja para os produtores/vendedores, seja para os consumidores/compradores. Introdução Depois de ter conhecido o equilíbrio de mercado a partir do estudo da Oferta e da Demanda, você está apto a analisar dois temas relacionados a estes fatores. Primeiramente, estudaremos as elasticidades, que medem a intensidade da resposta da Oferta e da Demanda aos fatores que as influenciam para cada produto ou mercado. Em seguida, apresentaremos as diversas estruturas de mercado, nas quais as condições de concorrência são diferentes, seja para os produtores/vendedores, seja para os consumidores/compradores. Desenvolvimento Elasticidades Você já sabe qual é o impacto das mudanças nos principais fatores determinantes da Oferta e da Demanda. O impacto principal é enunciado pela Lei da Oferta e pela Lei da Demanda: quantidade e preço variam em sentido direto, no primeiro caso, e inverso, no segundo. Ma cr oe co no mi a Au la 05 - Ela st ici da de s e Es tr ut ur as d e M er ca do 54Faculdade On-Line UVB Anotações do Aluno uvb Mas será que a quantidade demandada de tomate e a de CD Players, por exemplo, sofrem a mesma queda quando seus preços sobem? Se o tomate custar 20% a mais e o CDP tiver a mesma elevação percentual no preço, ambos sofrerão queda da mesma intensidade na quantidade desejada pelos consumidores? Obviamente, não. Sabemos apenas que ambos os produtos serão menos procurados, mas não sabemos automaticamente em quanto essa procura cairá em cada caso. Chamamos de elasticidade a medida da magnitude (ou intensidade) da resposta dos consumidores e dos produtores às mudanças nos fatores da Oferta e da Demanda. Em primeiro lugar, medimos a intensidade da resposta às variações de preço; no caso da Demanda, mede-se também – quando for o caso – a resposta às mudanças na renda do(s) consumidor(es). Elasticidade - Preço da Demanda Chamamos de elasticidade-preço da Demanda a medida da intensidade da mudança da quantidade demandada a cada mudança de preço. É a resposta à pergunta feita mais acima: se o kg de tomate e a unidade de CD Player aumentarem 20%, qual será a queda da quantidade demandada para cada um dos produtos? O cálculo da elasticidade é simples: dividimos a porcentagem da queda na quantidade demandada pela porcentagem do aumento no preço. O inverso também ocorre: calcular o aumento da quantidade demandada no caso de queda de preços. A divisão é a mesma, embora os sinais estejam invertidos. Em outras palavras, estamos medindo a intensidade da Lei da Demanda para cada produto em particular. Ou seja, como o comportamento do consumidor varia de um produto para outro, em relação às mudanças de preços. A regra geral, dada pela Lei da Demanda, não se manifesta com a mesma intensidade para todos os bens e serviços; ao contrário, existe uma Ma cr oe co no mi a Au la 05 - Ela st ici da de s e Es tr ut ur as d e M er ca do 55Faculdade On-Line UVB Anotações do Aluno uvb elasticidade-preço da Demanda para cada um deles. Como a relação entre preço e quantidade, dada pela Lei da Demanda, obedece sempre à regra geral (mudam em sentido inverso), as duas porcentagens que estaremos comparando terão sempre sinal trocado: ou uma queda de preço (-) e um aumento de quantidade (+), ou um aumento de preço (+) e uma redução da quantidade (-). Por essa razão, costuma- se ignorar o sinal na operação descrita acima, já que ela seria sempre negativa. Assim, a elasticidade é um número puro (não é expresso em porcentagem, nem em valores monetários, nem em volumes) e, no caso da Demanda, com sinal trocado a fim de ser sempre positivo. Exemplos 1) O kg do tomate aumenta de R$ 5,00 para R$ 6,00. Os consumidores diminuem suas compras de 10 toneladas (demanda de mercado) para 7 toneladas. Calculando as variações percentuais, fazemos: [(7 ton – 10 ton) ¸ 10 ton] x 100 = - 30% [(R$ 6,00-R$ 5,00) ¸ R$ 5,00] x 100 = 20% Ignorando os sinais, fazemos: 30% ¸ 20% = 1,5 Neste caso, a elasticidade-preço da Demanda de tomate é 1,5. Este é um número puro: nem porcentagem, nem reais, nem toneladas. 2) O modelo mais comum de CD Player cai de R$ 300,00 para R$ 225,00. As compras mensais aumentam de 100 mil unidades para 120 mil. Calculando as variações percentuais, fazemos: Ma cr oe co no mi a Au la 05 - Ela st ici da de s e Es tr ut ur as d e M er ca do 56Faculdade On-Line UVB Anotações do Aluno uvb [(120.000 – 100.000) ¸ 100.000] x 100 = 20% [(R$ 300,00 – R$ 225,00) ¸ R$ 300,00] x 100 = - 25% 20% ¸ 25% = 0,8 (novamente ignoramos os sinais) Observações Elasticidades superiores a um (1,0) indicam que a variação na quantidade (para mais ou para menos) é mais intensa que a variação nos preços (para menos ou para mais, respectivamente). Produtos cujos consumidores apresentem esse comportamento são denominados como elásticos. Elasticidades inferiores a um (1,0) indicam variação na quantidade menos intensa que a variação nos preços. São chamados de produtos inelásticos. Nos exemplos acima, o tomate é elástico e o CD Player, inelástico. Há a possibilidade de uma variação idêntica na quantidade e no preço (exemplo: + 10% e – 10%). Estes casos são denominados de elasticidade unitária. Não são muito comuns, mas estudos empíricos sugerem que a demanda por moradia nos EUA tenha este tipo de comportamento. Uma observação importante é que a elasticidade geralmente sofre alterações no mesmo ponto quando medimos aumento ou queda. Na verdade, isso se deve ao fato de que as porcentagens são sempre calculadas a partir da quantidade antiga e do preço antigo. Assim, tomando o caso acima do tomate, suponha que o movimento seja oposto, com os mesmos preços e quantidades: o preço cai de R$ 6,00 para R$ 5,00 e a quantidade demandada sobe de 7 para 10 toneladas. Se você refizer o cálculo, terá a surpresa de ver uma elasticidade diferente da anterior (em que o preço subia e a quantidade caía), usando os mesmos valores: Ma cr oe co no mi a Au la 05 - Ela st ici da de s e Es tr ut ur as d e M er ca do 57Faculdade On-Line UVB Anotações do Aluno uvb [(R$5,00 – R$ 6,00) ¸ R$ 5,00] x 100 = - 16,7% (a seguir, o sinal será ignorado) [(10 ton – 7 ton) ¸ 7 ton] x 100 = 42,8% 42,8% ¸ 16,7% = 2,56 Para evitar este problema, costuma-se adotar o ponto médio dos preços e o das quantidades (somando-se as duas medidas e dividindo cada soma por 2). Em seguida, calcula-se a variação ocorrida em relação à média. Assim, para o caso do tomate (considerando a última situação citada – preço cai, quantidade sobe), fazemos: {(10 ton – 7 ton) ¸ [(10 ton + 7 ton) ¸ 2]} x 100 = 35,3% {(R$ 5,00 – R$ 6,00) ¸ [(R$ 5,00 + R$ 6,00) ¸ 2]} x100 = - 18,2% 35,3% ¸ 18,2% = 1,94 Agora, se voltarmos à primeira situação, citada mais acima (alta de preço e queda de quantidade), o cálculo será o seguinte: (7 ton – 10 ton) ¸ [(7 ton + 10 ton) ¸ 2] = - 35,3% (R$ 6,00 – R$ 5,00) ¸ [(R$ 6,00 + R$ 5,00) ¸ 2] = 18,2% 35,3% ¸ 18,2% = 1,94 Dessa forma, utilizando o cálculo pela média, evita-se o problema de duas elasticidades distintas para o mesmo ponto, caso o preço suba ou caia. Fatores explicativos da elasticidade-preço da Demanda Podemos listar algumas causas de um bem ou serviço apresentar elasticidade-preço da Demanda alta ou baixa. Os principais são: • Essencialidade do bem/serviço (supérfluos são mais elásticosque os essenciais); • Peso no orçamento do consumidor (quanto maior o peso, maior a elasticidade); • Existência de substitutos no consumo (bens insubstituíveis são mais Ma cr oe co no mi a Au la 05 - Ela st ici da de s e Es tr ut ur as d e M er ca do 58Faculdade On-Line UVB Anotações do Aluno uvb inelásticos). Exemplos muito utilizados são o sal, que possui característica essencial para grande parte das pessoas, tem peso reduzido no orçamento familiar e não possui praticamente substituto; e jóias, que são um produto de luxo, o oposto do essencial (embora para algumas pessoas, de alto poder aquisitivo, representem um atributo indispensável de status), que exerce um peso muito expressivo no orçamento dos consumidores, mesmo os de alta renda (já que milionários, para quem o custo de adquirir jóias é indiferente, são minoria na própria camada social que se costuma designar como de alta renda). Evidentemente, o sal é muito inelástico: pode dobrar ou triplicar de preço, mas o impacto imediato nas compras será muito limitado, a não ser que a consolidação dessa alta de preços a longo prazo leve ao surgimento de algum substituto próximo, cuja pesquisa e desenvolvimento hoje sobre determinados produtos nem sempre pode ser benéfico para o próprio governo: se o bem for elástico, o Tesouro perderá receita. Já no caso de bens inelásticos esta opção traz resultados imediatos (obviamente, muitos outros aspectos devem ser considerados, mas o reforço de caixa do governo sempre é um benefício a ser levado em conta). Elasticidade - Preço da Oferta Elasticidade-preço da Oferta Aqui, medimos a intensidade da Lei da Oferta para cada produto ou mercado em particular. Sabemos, genericamente, que preços mais altos provocam elevações nas quantidades ofertadas. Mas como o produtor de café e o fabricante de celulares, por exemplo, reagem à alta de preços? Qual a magnitude dessa reação? O cálculo da elasticidade-preço da Oferta é feito da mesma forma que o da Demanda, com a vantagem de não ser preciso trocar um dos sinais, já que preço e quantidade têm uma relação direta (lei da Oferta). A elasticidade-preço da Oferta também é expressa por um número puro. Ma cr oe co no mi a Au la 05 - Ela st ici da de s e Es tr ut ur as d e M er ca do 59Faculdade On-Line UVB Anotações do Aluno uvb Exemplos 1) Os produtores de café reagem ao aumento do preço de R$ 200,00 para R$ 250,00 a saca de 60 kg, aumentando a produção de 100 mil para 130 mil toneladas. Calculamos as variações percentuais: [(130.000 – 100.000) ¸ 100.000] x 100 = 30% [(R$ 250,00 – R$ 200,00) ¸ R$ 200,00] x 100 = 25% 30% ¸ 25% = 1,2 Neste exemplo, a produção de café em grão se mostra elástica em relação ao preço, com um indicador pouco superior a 1,0. 2) Os fabricantes de celulares reduzem a produção de 500 mil para 450 mil unidades/mês, em resposta a uma queda no preço, de R$ 600,00 para R$ 500,00. Calculando as variações percentuais, fazemos: [(450.000 – 500.000) ¸ 500.000] x 100 = - 10% [(R$ 500,00 – R$ 600,00) ¸ R$ 600,00] x 100 = - 16,7% - 10% ¸ - 16,7% = 0,6 Observa-se no exemplo que a produção de celulares é inelástica em relação ao preço. Cálculo pela Média Também no caso da Oferta, o cálculo da elasticidade-preço pela média evita o desconforto de termos duas elasticidades diferentes caso o preço suba ou caia. a) Faça você mesmo: apenas para comprovar, tome os exemplos acima no sentido oposto, fazendo os preços variarem ao contrário do que foi apresentado e calculando as respectivas elasticidades-preço da Oferta. Ma cr oe co no mi a Au la 05 - Ela st ici da de s e Es tr ut ur as d e M er ca do 60Faculdade On-Line UVB Anotações do Aluno uvb Assim, podemos tomar o caso do café e calcular a elasticidade pela média: {(130.000 – 100.000) ¸ [(130.000 + 100.00) ¸/ 2]} x 100 = 13% {(R$ 250,00 – R$ 200,00) ¸ [(250,00 + 200,00) ¸ 2]} x 100 = 11,1% 13% ¸ 11,1% = 1,17 b) Faça você mesmo: Experimente fazer por si mesmo(a) o cálculo pela média no caso de queda do preço e da quantidade, com os mesmos valores, para certificar-se de que a elasticidade-preço da Oferta será a mesma. Elasticidade - Renda da Demanda Utiliza-se também com freqüência a medida de intensidade da variação da Demanda às mudanças na renda dos consumidores. Normalmente, aplica- se a bens normais (reveja a Aula 2). Mas também pode ser calculada para os bens inferiores. A fórmula também é simples: divide-se a variação na quantidade demandada de um bem ou serviço pela variação na renda dos consumidores. Exemplo O segmento do mercado habitualmente consumidor de automóveis teve uma queda de renda média no último ano, de R$ 65 mil anuais (13 salários) para R$ 58,5 mil. As vendas de automóveis caíram de 1,5 milhão de unidades para 1,4 milhão no mesmo período. Calculamos as variações: [(1.400 – 1.500) ¸ 1500] x 100 = - 6,7% [(R$ 58.500,00 – R$ 65.000,00) ¸ R$ 65.000,00] x 100 = - 10% - 6,7% ¸ - 10% = 0,67 No caso, a demanda de automóveis mostrou-se relativamente inelástica em relação à renda, uma vez que a queda na quantidade demandada foi menor que a queda de renda. Isto indica que os consumidores destinaram Ma cr oe co no mi a Au la 05 - Ela st ici da de s e Es tr ut ur as d e M er ca do 61Faculdade On-Line UVB Anotações do Aluno uvb uma parte maior de sua renda para a compra deste bem, sacrificando parcialmente outros gastos. Embora trate-se apenas de um exemplo hipotético, é possível que a ausência de alternativas viáveis de transporte de massa (coletivo) nas grandes cidades brasileiras provoque um efeito desse tipo no mercado automobilístico. Elasticidade cruzada da Demanda Este índice mede o impacto das variações de preço de um bem sobre a demanda de outro bem, substituto ou complementar. Relembrando: Vá até a Aula 2 e verifique o tipo de efeito causado pelos bens substitutos e complementares (são diferentes) na demanda de um determinado bem ou serviço. Neste caso, basta dividir a variação percentual da quantidade do bem X pela variação percentual do preço do bem substituto ou complementar. Exemplos 1 - O preço do Toddy caiu de R$ 5,50 para R$ 4,80 e a quantidade vendida de Nescau reduziu-se de 600 mil latas para 500 mil latas na semana em que durou a promoção do Toddy. Calculando as variações, fazemos: [(500.000 – 600.000) ¸ 600.000] x 100 = - 16,7% [(R$ 4,80 – R$ 5,50) ¸ R$ 5,50] x 100 = - 12,7% -16,7% ¸ -12,7% = 1,31 Este exemplo, se ocorresse na realidade, mostraria uma forte elasticidade cruzada entre o Toddy e o Nescau (bens substitutos), já que a quantidade demandada de um cai com maior intensidade que o preço do outro, causador daquela queda. 2 - As vendas de impressoras HP aumentaram de 55 mil para 80 mil unidades Ma cr oe co no mi a Au la 05 - Ela st ici da de s e Es tr ut ur as d e M er ca do 62Faculdade On-Line UVB Anotações do Aluno uvb por mês depois que foi noticiada a queda no preço dos cartuchos, de R$ 50,00 (média) para R$ 30,00. Calculamos as variações: [(80.000 – 55.000) ¸ 55.000] x 100 = 45% [(R$ 30,00 – R$ 50,00) ¸ R$ 50,00] x 100 = - 40% (ignorando o sinal, continuamos) 45% ¸ 40% = 1,125 Nesta hipótese, a demanda de impressoras da HP é elástica em relação ao preço dos cartuchos de tinta, mostrando elevação na quantidade demandada mais intensa do que a queda de preço daquele componente. Estruturas de Mercado Até agora, todas as alterações no mercado ignoraram as condições da concorrência entre os agentes (produtores ou compradores). Tanto na lei da Oferta e na lei da Demanda quanto nos casos em que outros fatores variam (exceto o preço do produto), estamos sempre partindo de um modelo ideal de mercado. Está na hora de explicitarmos esse modelo, uma vez que ele não é único nem é o mais importante na economia real. Em outros tipos de mercado (outras estruturas), os fatos ocorremde maneira um pouco diferente, especialmente as condições do equilíbrio para cada um dos agentes. 1. Concorrência Perfeita O modelo ideal de que estamos falando é chamado de concorrência perfeita ou pura. Aqui, supomos um conjunto de condições no funcionamento do mercado: • O número de produtores (vendedores) e o de compradores é muito grande, impossibilitando que qualquer um deles individualmente imponha preços no mercado (o vendedor não pode elevar impunemente seus preços, pois perderá a clientela para os concorrentes; o consumidor não tem condições Ma cr oe co no mi a Au la 05 - Ela st ici da de s e Es tr ut ur as d e M er ca do 63Faculdade On-Line UVB Anotações do Aluno uvb de “pechinchar”, pois há uma multidão de outros interessados); • O produto, em cada mercado, é homogêneo, sem diferenças significativas entre o que um ofertante e o outro oferecem ao comprador: tomate é tomate, impressora é impressora e assim por diante; • Ambos os lados do mercado dispõem do mesmo nível de informações sobre o produto e o mercado, sem que nenhum deles possa levar vantagem sobre o outro com base em informações privilegiadas. Não é todo dia que participamos de um mercado desse tipo. Na verdade, eles existem em número limitado. Um caso que talvez se assemelhe é o das hortaliças, frutas e legumes – especialmente se estiver próximo ao centro de consumo e não houver grandes atacadistas e transportadores entre o produtor e o consumidor. Bares comuns (“botecos”), armazéns e armarinhos, bancas de jornal, salões de cabeleireiros comuns em bairros (veja uma exceção em III.4) são outros possíveis exemplos. 2. Monopólio A situação oposta à concorrência perfeita é o monopólio. Neste caso, um único produtor abastece todo o mercado. Os consumidores não têm escolha: compram do monopolista ou renunciam ao produto. Neste caso, é fácil imaginar que as condições do equilíbrio são diferentes para cada um dos lados: o monopolista pode buscar o máximo de lucro, impondo preços e quantidades, de forma que o preço de monopólio seja sempre superior ao preço de concorrência perfeita e a quantidade seja inferior àquela que existiria naquele mercado. A qualidade também pode sofrer conseqüências negativas. No caso de uma redução da demanda, o monopólio pode preferir reduzir a produção, mantendo os preços (na concorrência perfeita isso seria impossível, pois cada produtor individual correria atrás dos consumidores oferecendo preços melhores, tentando evitar prejuízos). Dessa forma, ele pode compensar no aumento da margem de lucro de cada unidade de produto a queda na quantidade vendida. Ma cr oe co no mi a Au la 05 - Ela st ici da de s e Es tr ut ur as d e M er ca do 64Faculdade On-Line UVB Anotações do Aluno uvb Mas, por que existem mercados assim? São muitos os motivos. Primeiramente, existe o que chamamos de monopólio natural. Algumas atividades exigem um volume de capital imobilizado muito alto. Se não houver garantia de exclusividade do mercado, ninguém irá se dispor a investir, porque o risco de sofrer prejuízos com a concorrência envolve montantes elevados demais de capital. Além disso, o caráter do bem ou serviço nesses casos impossibilita cobrar preços ou tarifas muito altos, pois há uma exigência social de atendimento universal. Só uma escala muito ampla de mercado permite compensar os altos custos do capital envolvido com tarifas módicas. Isso acontece, por exemplo, em determinados serviços públicos como abastecimento de água, saneamento básico (coleta e tratamento de esgotos) e geração e distribuição de energia elétrica. É impossível imaginar um cenário em que os consumidores, a cada dia, escolhem de quem comprarão esses serviços. Outra situação é aquela em que a sociedade, por razões político-estratégicas, manifesta-se a favor da concessão de um monopólio a alguma empresa. Esse é tipicamente o caso da Petrobrás, criada em meio a forte campanha popular sob o mote: “O petróleo é nosso!”. Nos anos 1950, temia-se que as companhias estrangeiras sabotassem o petróleo que se imaginava existir no subsolo brasileiro (escondendo as reservas ou subtraindo o produto da economia nacional). Por isso, exigiu-se que uma empresa pública controlasse a extração e o refino do produto. Apenas duas décadas depois é que se começou a abrir ligeiramente o mercado brasileiro para os “contratos de risco”, em que áreas eram concedidas a empresas privadas, geralmente estrangeiras; e o monopólio, de fato, foi eliminado somente na última década. O fato é que a espetacular arrancada brasileira neste setor, que permite visualizarmos nossa auto-suficiência em petróleo para 2006, deveu-se essencialmente à Petrobrás (críticos e apoiadores do monopólio concordam nisso). Há ainda situações em que empresas mais fortes ou mais espertas deslocam os concorrentes e montam um esquema tão poderoso de controle do mercado que ninguém se arrisca a penetrar nele. O poder financeiro de empresas monopolistas pode permitir-lhes manter preços abaixo de seu custo de produção por tempo suficiente para quebrar um concorrente Ma cr oe co no mi a Au la 05 - Ela st ici da de s e Es tr ut ur as d e M er ca do 65Faculdade On-Line UVB Anotações do Aluno uvb potencial, quando então o preço volta ao nível de monopólio. Uma vez que o monopólio produz danos ao consumidor/comprador, sua existência é invocada para justificar a presença do governo na regulamentação das atividades monopolizadas, impondo regras sobre preços, tarifas, quantidades e qualidade. Atualmente, as agências reguladoras têm essa incumbência diante das empresas prestadoras de serviços públicos privatizados. Já o Cade tem a incumbência de impedir excessiva concentração do mercado, evitando tendências monopolistas (lembrar os casos Nestlé/Garoto, Kolynos e Ambev). Observe-se que o monopólio pode também existir na outra ponta: um único grande comprador para muitos produtores/vendedores. Os danos são simétricos: preços desfavoráveis aos vendedores, exigências de quantidade e qualidade que os sufocam e os põem sob a ameaça de serem incorporados pelo próprio comprador. Esse caso é chamado de monopsônio e também requer a ação do governo para estabelecer regras mais equilibradas nesse mercado. 3. Oligopólio Há algumas situações intermediárias entre o monopólio e a concorrência perfeita. A primeira delas é o oligopólio. Trata-se de algo próximo ao monopólio, mas, em lugar de uma, algumas empresas controlam o mercado, repartindo-o entre si e combinando regras de preços, qualidade e quantidade. Alguns exemplos são muito conhecidos: quando se fala das companhias petrolíferas, costuma-se fazer referência às “Sete Irmãs”. Efetivamente, até duas ou três décadas atrás, sete grandes grupos (na maior parte norte-americanos e alguns europeus) comandavam esse mercado. Nas últimas décadas algumas empresas se somaram a esse clube seleto, mas ele não deixou de ser muito concentrado. A indústria automobilística e a produção de cimento (esta, especialmente no Brasil) são outros exemplos sempre lembrados quando se fala em oligopólio. Ma cr oe co no mi a Au la 05 - Ela st ici da de s e Es tr ut ur as d e M er ca do 66Faculdade On-Line UVB Anotações do Aluno uvb O oligopólio segue dois caminhos principais para estabelecer preços: no caso do cartel, as empresas fazem um conluio, um arranjo entre elas, de forma a dividir o mercado e evitar concorrência entre si, fixando preços, quantidades e qualidades, através do(s) território(s) em que atuam (pode ser o mundo inteiro). No modelo de liderança de preços, uma empresa mais eficiente que as outras consegue estabelecer um preço mais baixo (mas sempre superior ao que seria em concorrência perfeita), mantendo altas margens de lucro. As demais empresas seguem a liderança desta, obrigadas a acompanhá-la nospreços, embora tenham margens de lucro mais baixas. (Obs.: O cartel é formalmente proibido em muitos países, incluindo o Brasil). No caso do oligopólio, também é comum as empresas compensarem na margem de lucro as perdas na quantidade quando a demanda cai, reduzindo a produção em lugar de abaixar os preços. O controle do mercado lhes dá esta possibilidade. Há competição entre empresas oligopolistas? Sim, e se trata de uma “guerra de gigantes”. Tecnologia, serviços incorporados ao produto e estratégias de produção e de vendas fazem parte dessa guerra. Uma coisa é certa: é um jogo para poucos. A entrada no oligopólio é extremamente restrita, quase como no monopólio. Evidentemente, o consumidor também sofre danos com o oligopólio, semelhantes àqueles causados pelo monopólio: preços elevados, quantidades mais limitadas, riscos quanto à qualidade. Para isso, mais uma vez, o governo costuma interferir, seja para evitar excessiva concentração do mercado num só grupo, seja para impor regras menos desequilibradas. O papel do Cade no caso brasileiro também é relevante para os setores oligopolizados. A Lei Anti-Truste nos EUA é outro exemplo (embora muitos considerem que seus efeitos a favor do consumidor são limitados, já que os EUA apresentam um forte caráter oligopolizado em setores-chave de sua economia; na verdade, a lei foi relativamente eficaz em impedir monopólios, mas menos no tocante aos oligopólios). Registre-se que também pode haver oligopólio na ponta do consumo, quando são os produtores que sofrem as conseqüências. Chama-se a isso Ma cr oe co no mi a Au la 05 - Ela st ici da de s e Es tr ut ur as d e M er ca do 67Faculdade On-Line UVB Anotações do Aluno uvb oligopsônio. Observamos esse tipo de mercado em um caso conhecido no Brasil: a indústria de suco de laranja, onde três ou quatro empresas absorvem a maior parte da produção de milhares de citricultores, pequenos, médios e grandes. 4. Concorrência monopolística 4 - Concorrência monopolística Esta quarta estrutura de mercado também é intermediária, aproximando- se um pouco mais da concorrência perfeita, mas mantendo certas características monopolistas. Trata-se de um tipo de empresa que, por algumas razões, mantém a fidelidade dos clientes, podendo cobrar preços mais altos do que os de concorrência perfeita. Esta vantagem, porém, dura um certo tempo, após o que ela deixa de ter essa possibilidade. Assim, nesse período transitório, a empresa típica do mercado que estamos estudando pode auferir lucros superiores à média do mercado concorrencial (chamamos a isso lucros extraordinários). Quais seriam os casos típicos de concorrência monopolística? Você certamente conhece muitos. Roupas de grife: as pessoas pagam mais para adquiri-las. Salões de cabeleireiros/barbeiros comuns tem uma característica mais concorrencial, porém existem alguns salões famosos que, por razões ligadas à qualidade dos serviços e/ou dos produtos utilizados, acabam tornando-se pontos da moda, freqüentados por “socialites”, empresários, artistas famosos, etc. Obviamente, os preços são bem mais salgados e isso não expulsa a clientela. Algumas empresas fidelizam seus clientes com o atendimento pós-venda. Enfim, diversos expedientes são utilizados para manter a fidelidade dos consumidores, permitindo a prática de preços mais altos do que em um mercado totalmente concorrencial. Em geral, podemos resumir esses expedientes assim: diferenciação do produto – seja na marca, na qualidade, no modelo, na embalagem, no atendimento, na localização do ponto de venda ou na entrega. Em concorrência perfeita – relembrando – os produtos são homogêneos. Ma cr oe co no mi a Au la 05 - Ela st ici da de s e Es tr ut ur as d e M er ca do 68Faculdade On-Line UVB Anotações do Aluno uvb Por que a vantagem é temporária? Isso decorre de outra característica da concorrência monopolística: a entrada de novos produtores é livre. Nisto, ela difere do monopólio e do oligopólio (respectivamente, entrada impossível ou muito difícil). Por isso, o local da moda é passageiro (alguns duram mais, outros menos); as grifes, idem; modelos que eram o “must” do mercado acabam sendo substituídos por outros mais novos ou melhores; e assim por diante. Síntese Nesta aula, você aprendeu como é possível calcular a sensibilidade da Oferta e da Demanda às variações dos preços e também (no caso da Demanda) a outros fatores que a afetam. As elasticidades são o instrumento para medir esta intensidade. Utilizamos com maior freqüência a elasticidade- preço da Oferta, a elasticidade-preço da Demanda (estas duas medem a intensidade das leis da Oferta e da Demanda para cada produto ou mercado), a elasticidade-renda da Demanda e a elasticidade cruzada da Demanda (que medem, respectivamente, a sensibilidade de cada mercado às variações na renda dos consumidores e dos preços de bens substitutos ou complementares). Na segunda parte, vimos que os mercados obedecem a estruturas bastante variadas, em lugar daquele modelo simplificado que vínhamos usando nas aulas anteriores. Esse modelo – a concorrência perfeita – na verdade é bastante restrito nas economias contemporâneas. Ao seu lado, observamos mercados que se organizam como monopólio, oligopólio ou concorrência monopolística. Os dois primeiros casos, especialmente, produzem tantas distorções no funcionamento dos mercados que são usados para justificar a ação dos governos no sentido de criar regras inibidoras da ação dessas empresas no sentido de prejudicar seus respectivos consumidores (ou fornecedores). A próxima aula será a mais avançada no campo da Microeconomia. Podemos agora observar mais de perto a ação das empresas – unidades de produção para o mercado. Veremos como as decisões são tomadas e seus resultados Ma cr oe co no mi a Au la 05 - Ela st ici da de s e Es tr ut ur as d e M er ca do 69Faculdade On-Line UVB Anotações do Aluno uvb na atividade da empresa. Após essa aula, você estará apto(a) a mudar o foco para a Macroeconomia, observando o conjunto dos agentes econômicos em ação. Não perca a próxima aula, esperamos por você! Referências
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