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HISTÓRIA E LEGISLAÇÃO DA EDUCAÇÃO FÍSICA Prof. Me. PEDRO HENRIQUE RODRIGUES Reitor Márcio Mesquita Serva Vice-reitora Profª. Regina Lúcia Ottaiano Losasso Serva Pró-Reitor Acadêmico Prof. José Roberto Marques de Castro Pró-reitora de Pesquisa, Pós-graduação e Ação Comunitária Profª. Drª. Fernanda Mesquita Serva Pró-reitor Administrativo Marco Antonio Teixeira Direção do Núcleo de Educação a Distância Paulo Pardo Coordenadora Pedagógica do Curso Inserir nome da coordenadora responsável Edição de Arte, Diagramação, Design Gráfico B42 Design *Todos os gráficos, tabelas e esquemas são creditados à autoria, salvo quando indicada a referência. Informamos que é de inteira responsabilidade da autoria a emissão de conceitos. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem autorização. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela Lei n.º 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal. Universidade de Marília Avenida Hygino Muzzy Filho, 1001 CEP 17.525–902- Marília-SP Imagens, ícones e capa: ©envato, ©pexels, ©pixabay, ©Twenty20 e ©wikimedia G915b Sobrenome, Nome autor Titulo Disciplina [livro eletrônico] / Nome completo autor. - Marília: Unimar, 2020. PDF (XXX p.) : il. color. ISBN XXX-XX-XXXXX-XX-X 1. palavra 2. palavra 3. palavra 4. palavra 5. palavra 6. palavra 7. palavra 8. palavra I. Título. CDD – 610.6952017 Introdução Olá, aluno, seja bem-vindo a esta disciplina! Gostaria de apresentar a você, de forma resumida, os objetivos deste material e quais os conteúdos que iremos trabalhar ao longo das aulas. O objetivo desta disciplina é apresentar a relação entre homem e o movimento corporal, objeto de estudo da área em que você está se inserindo, junto ao entendimento do processo histórico e evolução da Educação Física no mundo e no Brasil, para que possamos refletir e entender sobre a área e suas possibilidades de atuação no mercado de trabalho, nos dias de hoje, observando também a legislação vigente que regulamenta a profissão para a proteção da sociedade e do profissional devidamente graduado e registrado no Conselho de Educação Física. Primeiramente entenderemos por que estudar a história. Assim, você verá que é uma ciência que estuda a vida do homem ao longo do tempo e investiga o que a humanidade fez, pensou e sentiu enquanto seres sociais. Nesse sentido, o conhecimento histórico ajuda na compreensão do homem enquanto ser que constrói seu tempo. Dessa forma, é o entendimento do processo histórico da Educação Física que vai nos dar a compreensão das áreas de atuação hoje em dia, junto às abordagens de exercício da profissão e seu renome na sociedade atual. No segundo capítulo, apresentaremos um panorama das áreas de atuação na Educação Física atual, e para isso, conheceremos as formações em Licenciatura e Bacharelado, definindo as formas e locais de atuação de ambas. A partir daí, começaremos a olhar para o processo histórico, vendo a importância dos movimentos corporais nas diversas civilizações antigas, com o uso voltado à sobrevivência, preparação para a guerra, ritos e cultos, jogos e práticas atléticas. Antes de começarmos a falar da história da Educação Física do Brasil, entraremos primeiro no início da Idade Contemporânea, que foi marcada pelo surgimento da ginástica localizada, tendo quatro grandes escolas como responsáveis: a alemã, a nórdica (escandinava), a francesa e a inglesa. As quatro grandes escolas de ginástica tiveram papel crucial para a evolução da Educação Física, trazendo a prática dos exercícios físicos com direcionamentos para diversos objetivos, como: militar para a preparação a guerra, pedagógica dentro das 3 escolas, médica voltada à higiene e saúde, preparação física dos trabalhadores e também estética. Mas, foi o surgimento da Calistenia que abriu caminho para grande avanço da Educação Física moderna, com parâmetros base para o que temos atualmente. Observando a história da Educação Física no Brasil, veremos várias tendências ideológicas direcionando a área, com intuitos e objetivos diferentes, em que podemos destacar o Higienismo, Militarismo, Pedagogicismo e Esportitivismo. A partir da década de 80, começaremos a observar várias abordagens pedagógicas na área que se mantém na Educação Física atual, como a Psicomotricidade, Desenvolvimentista, Construtivista, Saúde Renovada, Crítico-superadora, Critíco-emancipatória e Parâmetros curriculares nacionais. Junto a essa evolução da área, abriremos espaço para discussões acerca da evolução dos cursos de formação em Educação Física, assim como todo o processo que levou a regulamentação da Profissão de Educação Física, no ano de 1998. A partir deste marco, você verá que, felizmente, a área ficou restrita para a atuação de profissionais graduados e com registro nos Conselhos Regionais (CREFs) e Federal de Educação Física (CONFEF). Por fim, conheceremos as atuações do CONFEF e CREFs, junto aos documentos norteadores da profissão, como a Carta Brasileira de Educação Física, Código de Ética do Profissional de Educação Física e Documento de Intervenção do Profissional de Educação Física. Nestes capítulos você entenderá a importância dos Conselhos e destes documentos para a solidez e maior reconhecimento da profissão perante a sociedade. Assim, convido-o a caminhar comigo pela história da Educação Física, para aprofundarmos os entendimentos a respeito desta bela área que você está escolhendo como profissão. Bons estudos! 4 006 Aula 01: 017 Aula 02: 024 Aula 03: 035 Aula 04: 046 Aula 05: 054 Aula 06: 060 Aula 07: 068 Aula 08: 077 Aula 09: 086 Aula 10: 094 Aula 11: 102 Aula 12: 109 Aula 13: 116 Aula 14: 122 Aula 15: 130 Aula 16: Por que Estudar a História? A Educação Física como Profissão O Surgimento da Educação Física A Idade Contemporânea e as Grandes Escolas de Ginástica Educação Física no Brasil: Tendência Ideológica Higienista Educação Física no Brasil: Tendência Ideológica Militarista Educação Física no Brasil: Tendência Ideológica Pedagogicista Educação Física no Brasil: Tendência Ideológica Esportitivista Abordagens Pedagógicas na Educação Física Atual A Construção e Evolução dos Cursos de Graduação em Educação Física no Brasil O Processo da Regulamentação da Educação Física no Brasil Conselho Federal de Educação Física Conselhos Regionais de Educação Física Carta Brasileira de Educação Física Código de Ética dos Profissionais de Educação Física A Intervenção do Profissional de Educação Física 01 Por que Estudar a História? 6 Caro aluno, Antes de iniciarmos nossas discussões a respeito da disciplina, quero que você pense por alguns instantes sobre o significado da palavra “história”. Pensou? Agora reflita sobre a importância de se estudar a história nos diversos contextos da sociedade. Conseguiu? Então, vamos lá! O que a História Representa? O dicionário Aurélio da língua portuguesa define “história” como: Narração metódica dos fatos notáveis ocorridos na vida dos povos, em particular, e na vida da humanidade em geral; Conjunto de conhecimentos adquiridos através da tradição e/ou por meio dos documentos, relativos à evolução, ao passado da humanidade; [...] Estudo das origens e processos de uma arte, de uma ciência ou de um ramo do conhecimento [...] (FERREIRA, 2020). Etimologicamente, história é uma palavra com origem no antigo termo grego ἱστορίαι (historíai) que significa “investigação”, "pesquisa", "conhecimento através da investigação". A palavra tem sua origem nas investigações de Heródoto, um geógrafo e historiador grego (485 a.C..- 425 a.C..) que foi o autor da história da invasão persa à Grécia nos princípios do século V a.C.., conhecida como “As histórias de Heródoto”. Por ser o primeiro a conceber um método histórico capaz de reconstituir e explicar a história do seu tempo, Heródoto é considerado o pai da história (SILVA, 2015). 7 Estátua de Heródoto Fonte: Pixabay. Os historiadores organizam a passagem do tempo etapas e para isso estabelecemos fatos acontecidos antes da invenção da escrita e o que ocorreu depois. O anterior é a pré-história e o posterior é propriamente a história, da qual se desenvolve em um sentido cronológico em diferentes períodos: Antiguidade (de 4.000 a.C.. até 476 d.C.., com a queda do Império Romano), Idade Média (de 476 d.C.. a 1453, com a conquista de Constantinopla pelos turcos otomanos), Idade Moderna (de 1453 a 1789, quando ocorre a Revolução Francesa) e Idade Contemporânea (de 1789 até os dias atuais) (BORGES, 1996). 8 Saque de Roma, 455 d. C. Fonte: Wikipedia. Mesquita em Istambul, antiga Constantinopla Fonte: Freepik. 9 A queda da bastilha na Revolução Francesa Fonte: Wikipedia. Assim, história é a reunião e análise de informações e conhecimentos sobre o passado e o desenvolvimento da própria humanidade, em suas diversas manifestações. A história é uma ciência que estuda a vida do homem através do tempo. Ela investiga o que a humanidade fez, pensou e sentiu enquanto seres sociais. Nesse sentido, o conhecimento histórico ajuda na compreensão do homem enquanto ser que constrói seu tempo (MELO, 2006). E é a contribuição que ela pode trazer para a explicação da realidade em que vivemos que nos leva a ver como fundamental sua divulgação fora das universidades e das escolas onde ela está prisioneira há longos anos. Essa divulgação se torna importante na medida em que se acredita que a história, ajudando a explicar realidade, pode ajudar ao mesmo tempo a transformá-la (BORGES, 1996). Sintetizando este conceito, é por meio do estudo histórico que se obtém um conjunto de informações sobre processos e fatos ocorridos no passado que contribuem para a compreensão do presente. Há de se ter a consciência que sofremos e interferimos diretamente na história, e que seu estudo é vivo e tem impacto em nossas vidas. 10 Então, para compreendermos o momento atual, em todas as áreas do conhecimento, precisamos estudar e entender as circunstâncias e eventos construídos ao longo do tempo. Por que Estudar a História da Educação Física? Por que estudar a história da Educação Física? Gostaria que você pensasse por alguns minutos sobre esta pergunta antes de seguirmos com a disciplina. Pensou? É possível que esta pergunta já tenha sido diversas vezes pronunciada entre os estudantes e professores dos diversos cursos superiores ligados à formação em Educação Física por todo o país. Mas afinal, em que o estudo da história contribuiria na formação do futuro Profissional de Educação Física? A graduação deve dar condições, por meio de uma preparação teórica aprofundada, para que o aluno possa recriar constantemente sua atuação, a partir da compreensão da realidade que o cerca, dos valores em jogo, das especificidades da atuação e das possibilidades de que pode dispor para alcance de seus objetivos. A graduação estaria preocupada em preparar o aluno para pensar/repensar sua atuação, entendendo que há a necessidade de uma compreensão teórica por trás de toda atuação, que nunca é só prática, mais indissociadamente teórico-prática (MELO, 1997). O fato de buscarmos uma crítica do presente através do conhecimento histórico não significa que ela deva se submeter às compreensões apenas ideológicas. A História tem um caminho para contribuir na compreensão da sociedade que se diferencia e deve se diferenciar, de outros campos do conhecimento. Dessa forma, é o entendimento do processo histórico da Educação Física que nos vai dar a compreensão das áreas de atuação hoje em dia, junto às abordagens de exercício da profissão e seu renome na sociedade atual. É o conhecimento histórico da área que vai nos conscientizar sobre a importância de se ter um conselho profissional regulador, orientador e fiscalizador para proteção jurídica da atuação e solidez na Educação Física. 11 Atualmente, a Educação Física visa a formação integral das pessoas, sejam crianças, jovens, adultos ou idosos, desenvolvendo estilo de vida ativo com práticas de atividades corporais, promovendo saúde e contribuindo para melhor qualidade de vida da população. O Profissional de Educação Física exerce suas atividades por meio de intervenções, utilizando-se de métodos e técnicas específicas de avaliação, de prescrição e de orientação de sessões de atividades físicas e intelectivas, com fins educacionais, recreacionais, de treinamento e de promoção da saúde (CONFEF, 2000). Mas, historicamente sempre foi assim? E o futuro da profissão? Seria possível planejar o futuro a partir do exercício histórico? Se o estudo do passado guarda uma relação relativa com o presente, mais relativa ainda é sua relação com o futuro. O máximo que podemos fazer a partir do estudo histórico é levantar algumas tendências, apresentar algumas possibilidades, mas de forma alguma afirmar com exatidão os acontecimentos futuros (MELO, 2006). Os homens fazem sua própria história, mas não fazem como querem, não a fazem sob a circunstância de sua escolha e sim sob aquelas que se defrontam diretamente, ligadas e transmitidas pelo passado (MARX, 1974). Esta afirmação de Marx aponta uma reflexão importante para olharmos e entendermos a Educação Física hoje. A reflexão de que o passado também estabelece condições que temos de nos reportar no presente, situações construídas no decorrer do tempo, assim, o estudo da história nos ajuda a entender melhor essas condições que nos cercam. 12 O filósofo Karl Marx (1818 – 1883) Fonte: Wikipedia. História é a reunião e análise de informações e conhecimentos sobre o passado e o desenvolvimento da própria humanidade, em suas diversas manifestações. O passado também estabelece condições que temos de nos reportar no presente, situações construídas no decorrer do tempo, assim, o estudo da história nos ajuda a entender melhor essas condições que nos cercam. Dessa forma, é o entendimento do processo histórico da Educação Física que nos vai dar a compreensão das áreas de atuação hoje em dia, junto às abordagens de exercício da profissão e seu renome na sociedade atual. 13 Como a História Trouxe Você até a Educação Física? Todos nós temos um passado que de alguma maneira influencia diretamente em nossas ações presentes. Você já parou para pensar na sua história de vida e como você chegou ao curso de Educação Física? Eu, professor Pedro Henrique Rodrigues, hoje profissional de Educação Física, contarei, brevemente, como a história me trouxe até a Educação Física. Sempre gostei da prática de modalidades esportivas diversas, sendo sempre muito participativo nas aulas de Educação Física na escola. Sempre “respirei” Educação Física, mas eu nunca havia sido apresentado ao curso e dessa forma, não pensava em cursá-lo. Eu não conhecia o que era a profissão e muito menos quais eram as possibilidades de atuação. Assim, prestei vestibular para um outro curso da área da saúde. Na mesma época, antes das aulas iniciarem, me inscrevi para um programa de bolsas estudantis no curso de Educação Física. Pois bem, a história se encarregou de me direcionar para esta tão bela área. Conseguindo a bolsa, minha ideia era tentar a transferência para outro curso. Mesmo assim, iniciei a graduação em Educação Física e já na primeira semana me apaixonei pelo curso e pela área, e hoje não me imagino fora dela. Atualmente tenho o privilégio de trabalhar com aquilo que sempre amei durante a infância e juventude, e espero que você também se apaixone por esta área logo nas primeiras aulas do curso, assim como eu me apaixonei. Escolha um trabalho que você ame e não terás que trabalhar um único dia em sua vida. (CONFÚCIO) 14 Estátua do pensador chinês Confúcio (551 a.C.. - 479 a.C..) Fonte: Freepik. Mas e você? Como você conheceu a área da Educação Física e o que te trouxe ao curso? Quais seus objetivos e expectativas durante a graduação e após graduado em Educação Física? Compartilhe sua história e anseios dentro da área, com outros alunos na atividade em fórum na plataforma. Eu mencionei, nesta aula, que nunca havia sido apresentado à profissão e ao curso de Educação Físicaaté iniciar a graduação. Dessa forma, esse será o nosso assunto para a próxima aula: “A Educação Física como profissão”. Aguardo você! 15 Acesse o link: Disponível aqui Conforme vimos nesta aula, conhecer história ajuda a entender o momento atual. A Educação Física já passou por diversos momentos até ganhar o reconhecimento e importância que tem hoje dentro da sociedade. Em uma reportagem para o “Portal da Educação Física”, Fabiano Braun, profissional de Educação Física e Mestre em Ciências do Movimento Humano, destaca a importância do profissional para a sociedade. “Não há dúvidas que os profissionais de educação física são extremamente importantes à nossa sociedade. Ainda mais, nos dias atuais, em que sedentarismo, consumo de alimentos de baixa qualidade e sobrepeso imperam. Mas será que a única função desses profissionais é cuidar da saúde das pessoas?” Vale a pena ler esta reportagem na íntegra. Acesse lá! 16 https://www.educacaofisica.com.br/noticias/a-importancia-da-educacao-fisica-para-a-sociedade/ 02 A Educação Física como Profissão 17 Você Conhece a Educação Física? Caro aluno, Você agora entende que a importância de estudar a história da Educação Física tem como objetivo refletir o momento atual da profissão, observando os processos e acontecimentos ao longo do tempo. Desta forma, começaremos olhando para o momento atual e mercado de atuação do Profissional de Educação Física, para então voltarmos na história e entender os fatos importantes que possibilitaram a abertura para tantas possibilidades que temos hoje. Através do Profissional de Educação Física, esta área visa a formação integral das pessoas, sejam crianças, jovens, adultos ou idosos, desenvolvendo estilo de vida ativo com práticas de atividades corporais, promovendo saúde e contribuindo para melhor qualidade de vida da população. O Profissional de Educação Física exerce suas atividades por meio de intervenções, utilizando-se de métodos e técnicas específicas de avaliação, de prescrição e de orientação de sessões de atividades físicas e intelectivas, com fins educacionais, recreacionais, de treinamento e de promoção da saúde (CONFEF, 2000; LOZADA, 2017). Desta forma, o profissional atuará em diversas áreas da sociedade, distinguidos entre os cursos de Bacharelado ou Licenciatura na universidade. Então, para entendermos as possibilidades de atuação, precisamos entender primeiro como funciona a formação do profissional de Educação Física nos dias de hoje. Os cursos de formação devem abordar o conjunto de conceitos, teorias e procedimentos empregados para elucidar problemas teóricos e práticos, relacionados à esfera profissional e ao empreendimento científico, na área específica das atividades físicas, desportivas e similares. Mas quais são as diferenças entre duas opções de formação? 18 https://portal.unimar.br/site/cursos/graduacao/educacao-fisica-bacharelado https://ead.unimar.br/cursos/educacao-fisica/ https://www.unimar.br/site/ A Educação Física tem objetivo de formação integral das pessoas, estimulando um estilo de vida ativo com práticas de atividades corporais, promovendo saúde e contribuindo para melhor qualidade de vida da população, e, através do Profissional de Educação Física exerce intervenções por meio de avaliação, prescrição e orientação das atividades físicas, com fins educacionais, recreacionais e de promoção da saúde. Quais Diferenças Entre Bacharelado e Licenciatura? A Licenciatura e o Bacharelado são dois tipos de graduação. Na Educação Física, ambos trabalham com objetivo de ensino de promover saúde e educação em saúde através das práticas corporais, porém, com atuações em locais diferentes. O licenciado em Educação Física tem a atuação exclusiva em escolas de educação básica, interagindo com as outras disciplinas na composição do currículo escolar, trabalhando com crianças e adolescentes com o objetivo de desenvolver habilidades motoras, atitudes, valores e conhecimentos, procurando levá-los a uma participação ativa e voluntária em atividades físicas e esportivas ao longo de suas vidas. Embora tenha práticas esportivas e jogos em seu conteúdo, o objetivo é educacional e não reproduzir o esporte de competição e rendimento, atendendo a princípios socioeducativos (CONFEF, 2000). Além das disciplinas voltadas às áreas biológicas, atividades esportivas e recreativas, o estudante de licenciatura em Educação Física tem inclusas, em sua matriz curricular, disciplinas que abrangem o campo da educação, como por exemplo: história da 19 https://ead.unimar.br/cursos/educacao-fisica/ https://portal.unimar.br/site/cursos/graduacao/educacao-fisica-bacharelado educação no Brasil, psicologia da educação, didática geral, didática da Educação Física, métodos de ensino e processos de avaliação, entre outras (LOZADA, 2017). Já o bacharel em Educação Física tem sua atuação em clubes esportivos e de lazer, centros de reabilitação, postos de saúde, em academias como instrutor de musculação, personal trainer, professor de modalidades aquáticas e de ginástica geral, praças, parques e condomínios com assessoria de corrida e treinamento funcional, entre outros (CONFEF, 2000). O bacharel tem o propósito de prestar serviços que favoreçam o desenvolvimento da saúde, contribuindo para o desempenho e condicionamento físico das pessoas, visando o bem-estar, a qualidade de vida, a prevenção de doenças, problemas posturais e distúrbios funcionais, contribuindo ainda, para a autonomia, da autoestima (CONFEF, 2002). Além das disciplinas voltadas às áreas biológicas, o estudante de Bacharelado em Educação Física tem inclusas em sua matriz curricular disciplinas como: fisiologia do exercício, avaliação e prescrição do exercício físico, biomecânica, treinamento resistido (musculação), teoria do treinamento físico desportivo, entre outras. 20 Olhando Para a Atuação da Educação Física A profissão é constituída pelo conjunto dos graduados e habilitados pelo Conselho Federal e pelos Regionais de Educação Física (CONFEF/CREFs), para atender às demandas sociais referentes às atividades físicas nas suas diferentes manifestações, constituindo-se em um meio efetivo para a conquista de um estilo de vida ativo dos seres humanos (CONFEF, 2000). O Profissional de Educação Física utiliza diagnóstico, define procedimentos, ministra, orienta, desenvolve, identifica, planeja, coordena, supervisiona, leciona, assessora, organiza, dirige e avalia as atividades físicas, desportivas e similares, sendo especialista no conhecimento da atividade física/motricidade humana nas suas diversas manifestações e objetivos, de modo a atender às diferentes expressões do movimento humano presentes na sociedade, considerando o contexto social e histórico-cultural, as características regionais e os distintos interesses e necessidades, com competências e capacidades de identificar, planejar, programar, coordenar, supervisionar, assessorar, organizar, lecionar, desenvolver, dirigir, dinamizar, executar e avaliar serviços, programas, planos e projetos, bem como, realizar auditorias, consultorias, treinamentos especializados, participar de equipes multidisciplinares e interdisciplinares, informes técnicos, científicos e pedagógicos, todos nas áreas das atividades físicas, do desporto e afins (CONFEF, 2002). O Profissional de Educação Física é especialista em atividades físicas, nas suas diversas manifestações, dentre elas, as ginásticas, os exercícios físicos, desportos, jogos, lutas, capoeira, artes marciais, danças, atividades rítmicas, expressivas e acrobáticas, musculação, lazer, recreação, reabilitação, ergonomia, relaxamento corporal, ioga, exercícios compensatórios à atividade laboral e do cotidiano e outras práticas corporais (CONFEF, 2002). 21 Fonte: Freepik. O propósito do profissional de Educação Física é prestar serviços que favoreçam o desenvolvimento da educação e da saúde, contribuindo para a capacitação e restabelecimento de níveis adequados de desempenho e condicionamento físico- corporal dos praticantes (CONFEF, 2000).Esta importante área visa acima de tudo o bem-estar, a qualidade de vida, a prática correta do movimento, a prevenção de doenças, da autoestima, da cooperação, da solidariedade, da integração, da cidadania e das relações sociais. Assim, a profissão tem importante papel na sociedade, levando os preceitos de responsabilidade, segurança, qualidade técnica e ética no atendimento individual e coletivo (CONFEF, 2015). Agora que você já tem uma visão geral sobre as possibilidades de atuação e importância da Educação Física na sociedade atual, na próxima aula começaremos a falar da história do homem e do movimento corporal, e consequentemente, dos primórdios da Educação Física. Aguardo você! 22 Acesse o link: Disponível aqui Nesta aula, vimos que a atuação da Educação Física tem grande importância na sociedade. Mas será que está importância reflete boa perspectiva de mercado de trabalho no futuro? Uma reportagem do site Você S/A intitulado “Estes são os profissionais que serão muito cobiçados nos próximos anos”, aponta boas perspectivas para a Educação Física. “Com sessentões, setentões e oitentões trocando remédios e hospitais por diversão e bem-estar, além dos empreendedores, ganham relevância diversos profissionais. Vanessa Cepellos, professora de gestão de pessoas da Fundação Getulio Vargas, diz que serão altamente valorizados psicólogos, geriatras, gerontólogos, personal trainers para a terceira idade, fisioterapeutas, agentes de turismo e até especialistas em aconselhamento para aposentadoria. Haverá demanda na área da saúde e em setores como alimentação, estética, finanças, moradia, entretenimento e tecnologia.” Confira esta reportagem na íntegra. Acesse lá! 23 https://vocesa.abril.com.br/geral/estes-sao-os-profissionais-que-serao-muito-cobicados-nos-proximos-anos/ 03 O Surgimento da Educação Física 24 Caro aluno, Nas aulas anteriores abordamos a importância de se estudar a história e o mercado da Educação Física atualmente. Pois bem, a partir de agora voltaremos no tempo para tentar entender como o movimento corporal esteve junto ao homem desde os primórdios, e não se desvincula da história e evolução do próprio homem – lembrando que, dependendo da época ou civilização, veremos que o movimento corporal tinha determinada finalidade e importância específica. A Evolução da Educação Física ao Longo dos Tempos Por serem os principais objetos de estudo da área, adotaremos aqui como sinônimos os termos “Educação Física”, “movimento corporal”, “exercício físico” e “ginástica” para então apresentarmos uma linha do tempo envolvendo a importância da área na história do homem. Desde a pré-história, a Educação Física vem sendo influenciada pela sociedade. Nessa época as atividades físicas, que são todos movimentos corporais do cotidiano não sistematizados, tinham finalidade de defender-se e atacar através dos movimentos naturais na luta pela sobrevivência. Mas como se tem informações deste período da história do homem? Para desenvolver estudos sobre esta época, os pesquisadores se baseiam principalmente nos tipos de objetos utilizados, como pedras trabalhadas e rudimentares, fósseis de animais e de humanos, pinturas rupestres nas paredes de cavernas e, um pouco mais tarde, objetos e monumentos de bronze e ferro, câmaras mortuárias, estradas, dentre outros. 25 Representação da Estátua “Discóbolo de Mirón”, símbolo da Educação Física Fonte: Wikimedia. O homem primitivo deslocava-se de um lugar para outro a procura de alimentos, andando, subindo em árvores, escalando penhascos, nadando, saltando e lançando as suas diferentes armas de arremesso. Assim o homem executa os seus movimentos corporais mais básicos e naturais desde que se colocou de pé. Pela repetição contínua desses exercícios, na luta pela sobrevivência, aperfeiçoava as funções, educando-as gradativa e inconscientemente (BAGNARA, LARA e CALONEGO, 2010). Todo este contexto apontado até agora retratam movimentos naturais e cotidianos do ser humano. A Educação Física propriamente dita, ou mais próxima do modelo que temos hoje, tardou a aparecer na história. Mas, você perceberá durante esta aula que todos os tipos de exercícios e atividades físicas são provenientes de quatro grandes causas humanas: luta pela existência; ritos e cultos; preparação para a guerra; jogos e práticas atléticas. 26 O Papel da Educação Física em Diversas Sociedades Em cada sociedade, veremos que a Educação Física apresentava focos diferentes objetivos e utilização. Na China, por exemplo, a Educação Física era praticada para preparação para guerra, além da finalidade terapêutica e higiênica, ou seja, voltada à saúde (BAGNARA, LARA e CALONEGO, 2010). Já na Índia, a prática de exercício físico era vista como uma doutrina de foco fisiológico e com necessidades militares indispensáveis. Foi lá que o Yoga e exercícios ginásticos com técnicas de respiração e foco medicinal, tiveram origem. Segundo conta a história, no budismo, os exercícios físicos representam o caminho da energia física, pureza dos sentimentos, bondade e conhecimento das ciências para a suprema felicidade (RAMOS, 1983). No Japão, a Educação Física possuía fundamentos médicos, higiênicos, filosóficos, morais, religiosos e voltados para a guerra. Nesta sociedade, os samurais são exemplos de guerreiros feudais originados da prática de exercícios físicos. Já no Egito, os exercícios que englobam as ginásticas, formaram um modelo de prática voltada ao 27 equilíbrio, força, flexibilidade e resistência. A existência da ginástica egípcia foi descrita por pesquisadores através das descobertas de pinturas nas paredes de tumbas (RAMOS, 1983). Entre todas as civilizações antigas, é na Grécia que encontramos as maiores contribuições para a Educação Física. Foi lá que surgiram os grandes pensadores que contribuíram com vários conceitos filosóficos, que ainda nos dias de hoje são aceitos pela Educação Física e pela pedagogia. Grandes artistas, pensadores e filósofos como Mirón, Sócrates, Hipócrates, Platão e Aristóteles criaram conceitos como o de equilíbrio entre corpo e espírito ou mente, citados por Platão. Também nasceram na Grécia os termos halteres, atleta, ginástica, pentatlo, e a própria olimpíadas. Na música a simplicidade torna a alma sábia; na ginástica dá saúde ao corpo (SÓCRATES). O nome Academia, que se usa comumente hoje para designar os centros de prática de exercícios físicos, originou-se do filósofo Platão (427-347 a.C.), que fundou sua escola de filosofia e a intitulou com nome de um lendário herói grego, Academos. Nesta época, era o local de ensino e aprimoramento de filosofia, matemática e ginástica (GAARDER, 1995). 28 A Academia de Platão em Atenas, mosaico em Pompéia, século I Fonte: Wikipedia. Após a tomada militar da Grécia (146 a.C.), Roma absorveu a cultura desta civilização, porém a Educação Física se caracterizou por uma visão voltada para a preparação dos soldados e da população para a guerra. Foi no período romano que surgiu a famosa frase “Mens sana in Corpore Sano” (Mente sã em corpo são). Esta é uma citação em Latim, derivada da Sátira X do poeta romano Juvenal (século I e II d.C.). (GODOY, 1996). O cristianismo marcou a Idade Média (476-1453 d.C.) com sua doutrina. Mesmo assim, estudantes continuavam a seguir a filosofia de Aristóteles (385-323 a.C.), enriquecendo o campo dos conhecimentos por influência de Tomás de Aquino (1225- 1274 d.C.), frade católico opositor a muitas correntes da igreja da época. Nesta época floresceu a arte gótica e surgiram as primeiras universidades. Este período ficou conhecido também como “a Idade das Trevas”, em que o culto ao corpo foi considerado pecado e com isso, houve uma grande decadência na prática de exercícios físicos (RAMOS, 1983). 29 Tomás de Aquino Fonte: Wikipedia. No período da Renascença, entre meados do século XIV e o final do século XVI, a Educação Física deu um salto em busca do seu próprio conhecimento. Neste período, a cultura física ficou mais em evidência, trazendo a admiração e dedicação pelabeleza do corpo, retratado inclusive por grandes artistas como Leonardo da Vinci (1432-1519 d.C.) e Michelângio Buonarroti (1475-1564 d.C.). O estudo da anatomia, a escultura de estátuas e a criação de regras proporcionais do corpo humano, foram de grande contribuição para a Educação Física e a Medicina (RAMOS, 1983; PEREIRA e MOULIN, 2006). A introdução da Educação Física na escola, tendo a mesma importância das outras disciplinas tidas como intelectuais, se deve nesse período a Vittorino da Feltre (1378- 1466 d.C.), religioso pedagogicista que em 1423 d.C. fundou a escola “Casa Giocosa” (casa da alegria) na Itália, que utilizava métodos completamente opostos aos que caracterizaram a educação monástica nos mosteiros da Idade Média. O conteúdo programático incluía exercícios físicos e as atividades lúdicas como, lutas, corridas, saltos, esgrima, jogos com bolas, entre outros. Para ele, o caminho da educação era impossível sem a Educação Física (PEREIRA e MOULIN, 2006). 30 Estátua de Leonardo da Vinci em Milão, Itália Fonte: Freepik. Vittorino da Feltre Fonte: Wikimedia. 31 Jean-Jacque Rousseau / Johann Heinrich Pestalozzi Fonte: Wikipedia. O Iluminismo (1715-1789 d.C.) na Inglaterra era contra o abuso do poder no campo social, trazendo assim novas ideais para a sociedade. Dois grandes nomes têm destaque para a Educação Física neste período: Jean-Jaques Rousseau (1712-1778 d.C.) e Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827 d.C.). Rousseau propôs a Educação Física como necessária à educação física infantil, introduzida nas escolas. Ao mesmo tempo, Pestalozzi foi o precursor da escola primária, sendo o primeiro educador a chamar a atenção para dois elementos fundamentais na prática dos exercícios físicos: a posição e a execução correta, sem os quais os praticantes não conseguiriam os objetivos visados (PEREIRA e MOULIN, 2006). A Idade Contemporânea (1789 d.C. até os dias atuais) foi marcada pelo surgimento da ginástica localizada, tendo como referências quatro grandes escolas: a alemã, a nórdica (escandinava), a francesa e a inglesa. Mas esse será tema para nossa próxima aula. Aguardo você para darmos continuidade nesta viagem através da história da Educação Física. Forte abraço! 32 A história da Educação Física sempre esteve atrelada à história do próprio homem, em que os movimentos corporais foram utilizados com finalidades específicas dependendo da civilização ou sociedade. De modo geral, percebe-se que todos os tipos de exercícios e atividades físicas são provenientes de quatro grandes causas humanas: luta pela existência; ritos e cultos; preparação para a guerra; jogos e práticas atléticas. 33 Acesse o link: Disponível aqui Nesta aula você percebeu que a Educação Física sempre esteve ligada à história do homem e evoluiu junto dele nas diversas civilizações, deixando mais forte ainda o entendimento da importância desta área para a sociedade. Neste sentido, o site “Centro de Referências em Educação Integral” publicou reportagem intitulada “Escolas ativas defendem a importância do corpo para a aprendizagem”, que traz conteúdo sobre a importância da Educação Física na escola, no sentido que continha na “Casa Giocosa” (casa da alegria), fundada em 1423 d.C pelo religioso pedagogicista Vittorino da Feltre, na Itália. Na reportagem, Fabio D’Angelo, coordenador do projeto sobre escolas ativas, comenta: “Tudo parte da pergunta: qual o lugar do corpo na escola? Ser criança é ser corpo em movimento, e essa linguagem corporal possibilita sua comunicação com o mundo”. Juliana Soares, do Programa das Nações Unidas pelo Desenvolvimento, constatou nos resultados do Projeto “Escolas e Comunidades Ativas”, desenvolvido desde 2014, que não só os professores gostaram da interação entre conteúdo e movimento, mas principalmente as crianças, e comenta: “Isto porque alguns dos elementos-chave de uma escola ativa são a diversão, a conexão com o conteúdo, a interação com a Educação Física e que a escola dê tempo para o brincar”. Confira a reportagem completa! 34 https://educacaointegral.org.br/reportagens/escolas-ativas-defendem-a-importancia-do-corpo-para-a-aprendizagem/ 04 A Idade Contemporânea e as Grandes Escolas de Ginástica 35 Caro aluno, Dando continuidade aos nossos estudos sobre a história da Educação Física, entraremos agora na Idade Contemporânea (1789 d.C. até os dias atuais), que foi marcada pelo surgimento da ginástica localizada, tendo quatro grandes escolas como responsáveis: a alemã, a nórdica (escandinava), a francesa e a inglesa. A Evolução da Educação Física Através das Grandes Escolas de Ginástica A Alemanha, com o pedagogo e educador Johann Bernard Basedow (1723-1790), a partir dos princípios orientadores de Rousseau, impulsionou a ginástica e criou em 1775 no seu “Philanthropicum” (escola filantropina), na cidade de Dessau, o pentatlo, constituído por provas de corrida, saltos, transporte, de equilíbrio e de escalar. Este pedagogo defendia que o exercício físico deveria fazer parte dos programas das escolas primárias (TESCHE, 2001). Em 1784, Christian Gotthlif Saltzmann (1744-1811), pedagogo e educador, abre outro "Philanthropicum" em Schneppenthal, em que conservou o ideário de formar homens sadios, cultos, bons e felizes. Esse estabelecimento merece destaque, pois foi nele que em 1785, Johann Christoph Friedrich Guts-Muths (1759-1839), professor e educador considerado o "pai" da ginástica pedagógica, concretizou sua primeira sistematização, dando inicio a um novo conceito de ginástica. As ideias filantrópicas e os conteúdos pedagógicos de Guts-Muths tiveram eco nos países da Europa, especialmente na Suécia, Dinamarca e França (TESCHE, 2001). As crianças hão de brincar não apenas para descansar dos trabalhos escolares: os exercícios devem fazer parte de sua educação geral e se acham e m ligação intelectual, moral e estética dos educandos. Chegou a hora em que o corpo, até agora descuidado, deve exercitar- se ao ar livre, com vento e chuva, para fortificar-se contra a influência do tempo, robustecer seus pulmões por meio de exercícios 36 Alunos suecos durante aula de ginástica localizada Fonte: Fonte aqui Disponível aqui como andar, correr, atirar, alentando em seu espírito os germes do valor, da perseverança e da reflexão (SILVA, 1998). No princípio do século XIX, surge um novo conceito de ginástica na Alemanha com Friedrich Ludwig Jahn (1778-1852). Além de criar aparelhos e novas formas gímnicas, fundou, em 1811, o primeiro ginásio ao ar livre de Hasenheide, Berlim. Daí nasceu o termo "Turnkunst" (arte da ginástica alemã) pelo qual ele substitui a palavra "Gymnastik" (palavra grega de caráter universal para ginástica). A ginástica de Jahn, com um conteúdo mais patriótico, cujo lema era “vive quem é forte”, rapidamente superou as ideias pedagógicas de Guts-Muths, tendo por objetivo formar homens fortes para defender a pátria. Jahn também inventou a barra fixa, as barras paralelas e o cavalo, dando origem à Ginástica Olímpica (PEREIRA; MOULIN, 2006). O sistema de ginástica de Jahn não era destinado especificamente para a escola. Sua preocupação era com uma Educação Física comunitária e popular que pudesse envolver todo o povo alemão. No turnkunst de Jahn, os exercícios físicos eram elaborados a partir de situações de guerra: a marcha, o desempenho no cavalo, a “luta braço a braço”, exercícios de esquiva, de equilíbrio e a desenvoltura na superação dos obstáculos. Todas as atividades colocavam o praticante em condições 37 https://sites.google.com/site/historiaeducacaofisica/conteudos/conceito-contemporaneo-do-esporte Friedrich Ludwig Jahn, o pai da ginástica / Ginástica Olímpica Fonte: Wikipedia. que lhe exigiam coragem, vigor e habilidades guerreiras. Além dos exercícios físicos, os alunos escutavam nos intervalos palestras do professor sobre temas que enaltecesse a pátria e que desafiasse a juventude para a guerra (SILVA, 1998). Já na escola nórdica, tendo a Suécia como referência, houve a grande influência da ginástica filantropina alemã. É necessárioobservar que a sistematização pedagógica da ginástica sueca foi apenas um protótipo do movimento ginástico escandinavo que abrangia os países da Dinamarca, Noruega, Finlândia, Islândia e Estônia-Letônia. A Suécia é destacada dentre os país es nórdicos, porque esse país foi palco de uma das maiores sistematizações pedagógicas da educação física escolar no século XIX (PEREIRA; MOULIN, 2006). É possível inclusive afirmar que o ideário filantropino se desenvolveu mais na Escandinávia do que na Alemanha, e tudo isso devido ao trabalho de Fue Franz Nachategall (1777-1847), que fundou em 1799 um Instituto de Ginástica em Copenhague nos moldes filantropinos, o grande destaque foi o sueco Pehr Henrik Ling (1776-1839), que teve de lutar com energia e tenacidade ao procurar estabelecer ramos científicos aos exercícios físicos, levando para a Suécia as ideias do alemão Guts Muths (PEREIRA; MOULIN, 2006). 38 A prática de exercícios em grupo: herança sueca Fonte: Wikipedia. Pehr Henrik Ling então dividiu sua ginástica em quatro partes, sendo: Pedagógica, voltada para a saúde evitando vícios posturais e doenças; Militar, incluindo o tiro e a esgrima; Médica, que era baseada na pedagógica, evitando também as doenças; Estética, preocupada com a aparência do corpo. Os exercícios eram estabelecidos com um critério localizado, analítico, enfocados sobre uma articulação e o acionamento do grupo muscular que a mobilizava. As demais partes do corpo mantinham-se na posição inicial, fixando-a e evitando todo movimento, afim de assegurar assim a máxima localização (DALLO, 2007). Assim, a ginástica nórdica foi o grande trampolim para tudo o que se conhece como ginástica atualmente (PEREIRA; MOULIN, 2006). 39 Antigo ginásio onde se treinava a escalada Fonte: Wikipedia. Já na escola francesa, temos como referência principal Francisco Amorós y Ondeano (1770-1848), professor e militar espanhol, naturalizado francês. Ele dividiu a ginástica em civil, industrial, militar, médica e cênica. Há de se destacar outros nomes importantes dentro da escola de ginástica francesa. O Dr. Fernand Lagrange (1845-1909) aplicou-se em estudar e divulgar os efeitos fisiológicos e higiênicos dos exercícios físicos. Já o Dr. Philippe Auguste Tissié (1852- 1935) dedicou-se a defender e implantar as ideias de Ling (ginástica nórdica) na França com objetivos higiênicos (SILVA, 1998). Outro nome importante foi o Dr. Georges Demeny (1850-1917), responsável por uma consistente elaboração pedagógica para a Educação Física escolar da segunda metade do século XIX, aprofundando a área prática dos exercícios ginásticos, contribuindo para a sistematização de uma Educação Física científica para a escola pública na França (SILVA, 1998). O método conhecido como ginástica natural teve um francês como seu desenvolvedor em 1906. O tenente de navio Georges Hébert (1875-1957) defendia que a Educação Física deveria preconizar os movimentos naturais do ser humano, como: correr, escalar, nadar, saltar, empurrar e puxar (PEREIRA; MOULIN, 2006). 40 Por sua vez, a escola Inglesa baseava-se nos jogos e nos esportes, tendo como precursor Thomas Arnold (1795-1842), considerado pai da pedagogia do esporte. Ele reconhecia na sua concepção de esportes, três características principais: um jogo, uma competição e uma formação. As duas primeiras já caracterizavam o esporte na antiguidade, mas para a questão da formação, o criador do esporte moderno dava um sentido diferente da visão do filosofo Platão (427-347 a.C..), que entendia o corpo e a alma unificados. Arnold, porém, acreditava que o corpo era um meio para a moralidade, definindo o esporte como um auxiliar do corpo (TUBINO, 1999). Thomas Arnold, quando esteve a frente do Colégio Rugby, na Inglaterra, no período entre 1828 e 1842, incorporou as atividades físicas praticadas pela burguesia e pela aristocracia inglesas ao processo educativo, deixando que os alunos dirigissem os jogos e criassem regras e códigos próprios, numa atmosfera de fairplay, termo que significa a atitude cavalheiresca na disputa esportiva, respeitando as regras, os códigos, os adversários e os árbitros (TUBINO, 1999). Com a propagação das ideias destas quatro grandes escolas pelo mundo, a Educação Física passou a ser mais estudada, organizada e reconhecida, conquistando seu espaço e ganhando cunho científico, tornando-se indispensável na vida das pessoas de todas as idades e com os mais variados objetivos. A Importância da Calistenia para a Educação Física Moderna Observando a história da Educação física, podemos dizer que a calistenia foi o verdadeiro marco do desenvolvimento da Educação Física moderna com fundamentos específicos e abordagens destinadas a diversos públicos tais como obesos, crianças, sedentários, idosos e mulheres. 41 A palavra “calistenia” tem origem nas palavras gregas kallos, que significa “beleza” e stehnos, que significa “força”, e começou a ser difundida em 1822 tanto na França como na Inglaterra pelo suíço Phoktion Heinrich Clias (1782-1854), tendo sua origem nos princípios da ginástica Nórdica e apresentada com uma divisão de oito grupos de exercícios localizados (CLERK, CRENN e LISTELLO, 1964). Em 1827, Marian Mason, que era discípula de Clias, publicou o livro “On the utility of exercise” na Inglaterra, que descrevia as vantagens do exercício calistênico (CLERK, CRENN e LISTELLO, 1964). Em 1829, Clias publicava o livro “Kallisthenie - Exercises for Beauty and Strength”, a partir do qual a calistenia foi denominada como exercício físico de forma ritmada, usando apenas o do peso corpo e sem nenhum tipo de equipamento ou apoio (ALIJAS e TORRE, 2015). Nos EUA, a difusora da calistenia foi a americana Catherine Beecher (1800-1878), com a publicação do livro “Physiology and Calisthenics for schools and families”. A partir disso, a calistenia ganhou força nos EUA com o movimento “Saúde, Educação Física e Recreação”, que utilizou a prática de atividade física para promover a saúde na população da época. Basicamente, o movimento estimulava a prática da calistenia para toda a população, independente de sexo e/ou nível de condicionamento. Além do treinamento físico proposto pelos exercícios calistênicos, o movimento também tinha um foco de sociabilização, uma vez que todos participavam juntos (MACHADO, 2017). Porém, foi através do Dr. Dio Lewis (1823-1886) e da Associação Cristã de Moços (ACM) que a Calistenia se propagou pelo EUA, pois passou a ser encarada como um sistema de treinamento, praticada em clubes e associações, sendo introduzida nas escolas americanas em 1860. As aulas de Calistenia eram elaboradas levando em consideração seis princípios (AMARAL, 1965), sendo: Princípio da seleção: utiliza os exercícios que mais se adaptam aos objetivos propostos; Princípio da precisão: os movimentos devem ser executados com a mecânica correta para evitar possíveis lesões; Princípio da totalidade: os movimentos devem envolver grandes músculos nas sessões de treinamento; Princípio da progressão: aumento do número de exercícios e da intensidade em função dos objetivos; Princípio da unidade: os exercícios deveriam ser selecionados a partir de uma estratégia, para evitar sobrecarga e Princípio da adaptação: os estímulos devem ser fortes para promoverem adaptação de forma individual nas sessões de calistenia. 42 Agachamento com peso corporal Fonte: Wikipedia. Os exercícios foram divididos em oito grupos, organizados a partir da seleção de objetivos e considerando a prescrição das sessões de treino (ALIJAS e TORRE, 2015). Os grupos eram divididos em: Braços e pernas; Região posterior-superior do tronco; Região posterior-inferior do tronco; Região lateral do tronco; Equilíbrio; Região abdominal; Gerais do ombro e Saltos e corridas. A partir da influência das grandes escolas de ginástica e da prática da Calistenia, a Educação Física ganhou forte importância na sociedade e se propagou pelo mundo, sendo introduzida também no Brasil. E este será o foco da nossa próxima aula. Aguardo você! 43 Asquatro grandes escolas de ginástica (alemã, nórdica, francesa e inglesa) tiveram papel crucial para a evolução da Educação Física, trazendo a prática dos exercícios físicos com direcionamentos para diversos objetivos, como: militar para a preparação a guerra, pedagógica dentro das escolas, médica voltada à higiene e à saúde, preparação físico dos trabalhadores e também estética. Mas foi o surgimento da calistenia que abriu caminho para grande avanço da Educação Física moderna, com parâmetros base para o que temos atualmente. 44 Acesse o link: Disponível aqui Nesta aula observamos a importância e evolução da ginástica para a Educação Física. Neste sentido, uma reportagem do site globoesporte.com intitulada “Projeto de ginástica geral em Petrolina desenvolve e difunde a modalidade”, traz a importância de um projeto que introduziu no ambiente escolar a prática da ginástica. “Com a proposta de promover o lazer saudável, e com isso o bem-estar físico, psíquico e social, a Ginástica para Todos (GPT) preza pelo respeito ao indivíduo, já que ela não impede que qualquer pessoa, independente da idade, sexo ou capacidade física, pratique o esporte. A modalidade é reconhecida pela Federação Internacional de Ginástica (FIG) e utiliza dos princípios de ginásticas como rítmica, artística, acrobática, além de dança e folclore.” Gostou do assunto? Então confira a reportagem completa! 45 http://globoesporte.globo.com/pe/petrolina-regiao/noticia/2015/11/projeto-de-ginastica-geral-em-petrolina-desenvolve-e-difunde-modalidade.html 05 Educação Física no Brasil: Tendência Ideológica Higienista 46 Caro aluno, Nós já observamos a história da Educação Física em várias sociedades e aprofundamos as informações em algumas escolas de ginástica que tiveram papel importante para a evolução desta área. A partir desta aula, olharemos para a introdução e evolução da Educação Física no Brasil, dando destaque aos diversos períodos e tendências ideológicas ao longo dos tempos. Você verá que basicamente falaremos da Educação Física escolar, já que as graduações voltadas ao bacharelado são mais recentes. Para compreendermos o papel da Educação Física no Brasil, é necessário resgatarmos a história da disciplina e seus respectivos períodos. A história da Educação Física no país dependeu inteiramente das transformações na história do Brasil. Assim, vamos contextualizar sempre o período histórico em que o país se encontrava para que você consiga entender o processo da evolução desta área. Começamos então pelo Brasil colônia, que data a partir do ano de 1500, em que há relatos relacionados à Educação Física, descritos por Pero Vaz de Caminha, que em uma de suas cartas, relatou indígenas dançando, saltando, girando e se alegrando ao som de uma gaita tocada por um português. Certamente esta foi a primeira “aula de ginástica e recreação” relatada no Brasil (RAMOS, 1983). De modo geral, sabe-se que as atividades físicas realizadas pelos indígenas no período do Brasil colônia estavam relacionadas a aspectos da cultura primitiva, como já foi descrito na aula 3, tendo características elementares de cunho natural (brincadeiras, nado, escalada e locomoção), utilitário (aprimoramento das atividades agrícolas, de caça, pesca, outros), guerreiras (proteção de suas terras), recreativo e religioso (como as danças, agradecimentos aos deuses, festas, encenações, etc.) (GUTIERREZ, 1972). Posteriormente, ainda no período colonial (1500-1822), surge a capoeira por influência dos escravizados africanos, sobretudo no Rio de Janeiro e na Bahia, sendo uma atividade criativa e rítmica (RAMOS, 1983). Desta forma, podemos destacar que no Brasil colônia, as atividades físicas realizadas pelos povos indígenas e escravizados africanos, representaram os primeiros elementos da Educação Física no Brasil. 47 Aquarela “A luta dos negros”, de Augustus Earle, 1842 Fonte: Wikimedia. Apesar destes primeiros elementos, o desenvolvimento cultural da Educação Física no Brasil ocorreu no período do Brasil império (1822-1889), em que surgiram os primeiros tratados sobre a área. O método alemão de ginástica foi o primeiro a se instalar no Brasil, praticado desde o início do século XIX tanto pelos imigrantes quanto pelos militares. No sul do país, a ginástica patriótica do alemão Jahn funcionou para os imigrantes e seus descendentes como uma forma de preservação da identidade cultural. A influência da ginástica sueca foi posterior à da ginástica alemã, localizando-se inicialmente no meio civil do Rio de Janeiro. Sua transferência não ocorreu através de imigrantes ou militares, mas resultou do processo político-civilizador de formar uma sociedade nacional “independente”, racional e higiênica. Em 1823, Joaquim Antônio Serpa (1825-1900) elaborou o “Tratado de Educação Física e Moral dos Meninos”, entendendo que a educação moral auxiliava na Educação Física e vice-versa, apontando que a educação englobava a saúde do corpo e a cultura do espírito, considerando que os exercícios físicos deveriam ser divididos em duas categorias, sendo aqueles que exercitavam o corpo, e aqueles que exercitavam a memória (GUTIERREZ, 1972). 48 O Início da Educação Física escolar no Brasil, inicialmente denominada Ginástica, ocorreu oficialmente com a reforma do ensino de 1851, feita por Luís Pedreira do Couto Ferraz (1818-1886). Porém, foi somente em 1882 que Rui Barbosa de Oliveira (1849-1923), ao lançar o parecer sobre a “Reforma do Ensino Primário, Secundário e Superior”, denota importância à Ginástica na formação do brasileiro. Nesse parecer, Rui Barbosa relata a situação da Educação Física em países mais adiantados politicamente e defende a Ginástica como elemento indispensável para formação integral da juventude (RAMOS, 1983). O projeto de Rui Barbosa buscava instituir uma sessão essencial de Ginástica em todas as escolas de ensino normal e estender a prática obrigatória para ambos os gêneros, uma vez que as meninas não tinham obrigatoriedade em fazê-la. Rui Barbosa propõe também inserir a Ginástica nos programas escolares como matéria de estudo, além de buscar a equiparação em categoria e autoridade dos professores de Ginástica em relação aos professores de outras disciplinas. No entanto, a implementação da Ginástica nas escolas ocorreu inicialmente apenas em parte do Rio de Janeiro e nas escolas militares (DARIDO e RANGEL, 2005). Em 1890, inicia-se a primeira fase do Brasil república (1890-1930). Podemos destacar que a ginástica francesa foi a última a ser introduzida no país e a que efetivamente tornou-se obrigatória no território brasileiro. Sob um vínculo militar, a ginástica com o método da escola de Joinville-le-Pont (escola de uma pequena comunidade francesa) foi introduzida inicialmente em São Paulo, em 1906, através da missão militar francesa que foi contrata da para instruir a Força Pública do Estado de São Paulo, a fim de capacitá-la para controlar os movimentos operários reivindicatórios. A partir de 1920, outros estados da Federação, além do Rio de Janeiro, começaram a realizar suas reformas educacionais e a incluir a Ginástica na escola (BETTI, 1991). Além disso, ocorre a criação de diversas escolas de Educação Física, que tinham como objetivo principal a formação militar (RAMOS, 1983). Dentro de todo esse período histórico do Brasil descrito nesta aula, predominavam na Educação Física ideias influenciadas pela medicina e pela eugenia, com enfoque higienista. Essa concepção possuía a preocupação principal com os hábitos de higiene e saúde, valorizando tanto o desenvolvimento físico quanto o moral, a partir do exercício físico (DARIDO e RANGEL, 2005). A Educação Física desta época, tendo profissionais da área médica, possuía como característica a utilização da Calistenia, não havendo interação entre professores e alunos durante as aulas. Os mais fracos e doentes eram excluídos das aulas e não 49 havia nenhuma interação com as questões pedagógicas da escola (SOARES, 2004). O tema saúde era uma preocupação da elite da época, que temendo contaminações,utilizou a Educação Física como um meio de doutrinar as classes mais baixas, no sentido de fiscalizar e promover a assepsia corporal. Tal fiscalização era realizada no início das aulas quando era realizada a inspeção, momento em que os alunos deveriam mostrar aos professores a limpeza corporal – unhas, cabelos, pescoço, braços e pernas. Alunos com qualquer tipo de doença eram eliminados das aulas, aqueles que estivessem demonstrando qualquer tipo de impureza – roupa suja, unhas a fazer, etc., eram sumariamente excluídos. As blusas do uniforme da prática de Educação Física deveriam ser brancas, fato até hoje usualmente corriqueiro nas aulas da disciplina, tal cor foi admitida por representar a pureza e a limpeza (AZEVEDO, 1920). Olhando para a sociedade da época, havia a superioridade do sexo masculino e uma submissão da mulher, logo, no modelo higienista, o programa de exercícios físicos era diferente entre homens e mulheres. Mulheres fortes e sadias teriam mais condições de gerarem filhos saudáveis e estes estariam mais aptos a defenderem e construírem a Pátria, no caso dos homens, e de se tornarem mães robustas, no caso das mulheres (CASTELLANI FILHO, 2003). 50 Alunos em fila no ambiente escolar após prática de educação física Fonte: Disponível aqui Além disso, as crianças eram educadas e disciplinadas pelas mães, que ao dominar o conjunto de medidas e normas médicas, eram peça fundamental nas estratégias para a domesticação da classe operária. Nessa perspectiva, a Educação Física denominada higienista, visaria à preparação para o trabalho da população (SOARES, 2004). O modelo eugênico higienista de encarar a saúde pode ser considerado os precursores da pedagogia da Educação Física escolar, baseada na apologia ao estilo de vida ativo adquirido pela exercitação mecânica, cujos fundamentos refletem ainda nos dias de hoje naqueles que não seguem os direcionamentos impostos no que diz respeito à aparência física (SOARES, 2004). A busca por indivíduos fortes, a preocupação com os aspectos posturais, a influência médica e a boa aparência eram as metas dos programas de Educação Física da época, e que ainda persistem em alguns aspectos ainda nos dias atuais. Apesar disso, as instituições médicas favoreceram a compreensão da Educação Física como sinônimo de saúde e criação de hábitos higiênicos que afastassem a possibilidade de doenças e agravos de saúde, assim como um caminho para a promoção da eugenia, ou seja, o melhoramento da raça. Portanto, a medicina contribuiu para a construção de uma Educação Física com bases biológicas, desconsiderando questões que fugissem aos aspectos anatômicos e de rendimento físico (MOTA, 1992). 51 https://miro.medium.com/max/580/1*P2hWYe5dNZohVzJ8r2_CXg.jpeg A tendência higienista encerra seu ciclo em 1930, pois o mundo não estava mais preocupado com o desenvolvimento da medicina, mas sim com a possibilidade de uma guerra mundial (GHIRALDELLI JUNIOR, 1998). A partir de então, instala-se na Educação Física a tendência Militarista, e este será o assunto da nossa próxima aula. Espero você! Observando a história do Brasil, até 1930, a tendência ideológica predominante na Educação Física era a Higienista, tendo à frente profissionais da área médica que se baseavam na preocupação principal aos hábitos de higiene e saúde, valorizando tanto o desenvolvimento físico quanto o moral, a partir do exercício físico. O tema saúde era uma preocupação da elite da época, que temendo contaminações, utilizou a Educação Física como um meio de doutrinar as classes mais baixas, no sentido de fiscalizar e promover a assepsia corporal. De modo geral, a medicina contribuiu para a construção de uma Educação Física com bases biológicas, desconsiderando questões que fugissem aos aspectos anatômicos e de rendimento físico. 52 Acesse o link: Disponível aqui Nesta aula vimos a tendência ideológica Higienista que tinha o foco direcionado à promoção da saúde. As contribuições da medicina para a Educação Física trouxeram conceitos que temos até hoje, e uma reportagem do programa “Bem Estar” da globo.com, intitulado “Atividade física combate insônia, depressão e problemas cardíacos”, trouxe justamente este direcionamento da área. “Além de emagrecer, o exercício físico melhora a qualidade de vida em vários aspectos: autoestima, melhora do sono e da respiração, por exemplo. A atividade física também pode ser um remédio para depressão, diabetes, colesterol alto, insônia e osteoporose.” Explicou o médico do esporte e consultor Gustavo Magliocca. Confira a reportagem na íntegra! 53 http://g1.globo.com/bemestar/noticia/2016/01/atividade-fisica-e-remedio-para-insonia-depressao-diabetes-e-colesterol.html 06 Educação Física no Brasil: Tendência Ideológica Militarista 54 Caro aluno, Na última aula, conversamos a respeito da história da Educação Física no Brasil, e pudemos observar a influência da área médica direcionando a tendência higienista. Essa tendência predominou durante o Brasil império e início da república, mas a partir de 1930, os olhares e objetivos da sociedade estavam voltados à eminente guerra mundial, que acontece nove anos mais tarde. A partir de 1930, chamamos de segunda fase do Brasil república, com Getúlio Vargas assumindo o “governo provisório”, após golpe de Estado que impediu Júlio Prestes de assumir a presidência mesmo eleito por voto popular. Nesta época, após a criação do Ministério da Educação e Saúde, a Educação Física começa a ganhar destaque perante aos objetivos do governo. Nessa época, a Educação Física é inserida na constituição brasileira e surgem leis que a tornam obrigatória no ensino secundário (Ramos, 1983). Como já tratado na aula anterior, na intenção de sistematizar a ginástica dentro da escola brasileira, surgem os métodos ginásticos oriundos das escolas sueca, alemã e francesa, que conferiam à Educação Física uma perspectiva eugênica, higienista e militarista, na qual o exercício físico deveria ser utilizado para aquisição e manutenção da higiene física e moral (Higienismo), preparando os indivíduos fisicamente para o combate militar (Militarismo) (Darido e Rangel, 2005). O higienismo e o militarismo estavam orientados em princípios anátomo-fisiológicos, buscando a criação de um homem obediente, submisso e acrítico à realidade brasileira. Totalmente biologicista, esta tendência expressa a forma como os professores compreendiam os alunos, considerando-os de forma homogênea (DAOLIO, 1995). A saúde dos indivíduos e a saúde pública, presentes na Educação Física Higienista de inspiração liberal, são relegadas em detrimento da ‘saúde da Pátria’. (GHIRALDELLI JÚNIOR, 1988). Com a implantação do Estado Novo (1937), a escola passa a sofrer transformações nos programas das disciplinas, em que os professores de Educação Física começaram a atuar recorrendo a filosofia da militarização, institucionalizando os corpos de seus alunos e renegando o aspecto educacional da prática (GUEDES, 1999). 55 A Educação Física Militarista passa a ser influenciada pelas questões bélicas, tendo preocupações com eventuais guerras e o envolvimento do país nestes conflitos. Para entendermos melhor as circunstâncias, o período militarista se configura entre o final da Primeira e a Segunda Guerra Mundial, portanto, uma época de conturbações políticas (GHIRALDELLI JUNIOR, 1998). Havia a necessidade de preparar futuros jovens para possíveis envios de tropas à guerra, assim o governo brasileiro encara a Educação Física como um meio de treinamento para os alunos. As aulas passam a ser ministradas, em sua maioria, por militares. Exercícios como polichinelo, abdominal, flexão de braço, corridas, defesa pessoal, instruções militares e ginásticas passam a configurar como conteúdos da Educação Física escolar (GHIRALDELLI JUNIOR, 1998). A relação aluno-professor abandona a postura paciente-médico, como era considerada na tendência Higienista, e passa a vigorar como recruta-sargento, não havendo diálogo entre ambos. Os fundamentos do nazismo e do fascismo, em ascensão na Europa,também são marcantes na aplicação da Educação Física, em que é incorporado o nacionalismo exacerbado por meio de hinos e canções de amor à pátria, a preocupação com a limpeza da raça (eugenia), o racismo, o culto ao belo e a exclusão dos ditos inferiores, sendo situações frequentes nas aulas (FERREIRA, 2009). As aulas de Educação Física nas escolas eram ministradas por instrutores físicos do exército, que traziam para essas instituições os rígidos métodos militares da disciplina e da hierarquia (SOARES et al.,1992). O tema saúde era abordado somente quanto a construção de futuros soldados, fortes e doutrinados, capazes de representar a pátria em combates, o que acabou acontecendo em 1944, durante a Segunda Grande Guerra. Nas aulas de Educação Física havia a exclusão dos mais fracos e incapazes, pois a eugenia ainda era preconizada como meio de seleção dos melhores (FERREIRA, 2005). 56 A tendência ideológica militarista foi instituída durante o governo do presidente Getúlio Vargas, enquanto os olhares e objetivos da sociedade estavam voltados a eminente guerra mundial, em que havia a necessidade de preparar futuros jovens para possíveis envios de tropas à guerra, assim o governo brasileiro encara a Educação Física como um meio de treinamento para os alunos. As aulas de Educação Física nas escolas eram ministradas por instrutores físicos do exército, que traziam para essas instituições os rígidos métodos militares da disciplina e da hierarquia Assim, a Educação Física serviu como uma ferramenta ideológica para alienação social, favorecendo aos interesses do ideário dominante da ditadura de Getúlio Vargas. As mulheres começaram a ser incluídas de forma mais forte nas aulas de Educação Física, porém separadas dos homens. Esta separação ocorria, pois os exercícios masculinos eram mais rigorosos e a ginástica feminina era mais calma. O objetivo desta inclusão mais marcante era favorecer a saúde feminina, porém com a real preocupação em preparar as futuras mães. Assim, a Educação Física feminina se preocupava em preparar o corpo de suas alunas para uma boa gestação, tendo o pensamento voltado ao nascimento de brasileiros puros e saudáveis, apontando mais uma vez para a ideia da eugenia (GHIRALDELLI JUNIOR, 1998). Apesar disso, a absorção de instrutores militares pelo âmbito educacional foi apenas um dos fatores para a concretização da área da Educação Física na escola. (CAPARROZ, 2005). As disciplinas de Educação Física e Educação Moral e Cívica eram elos de uma mesma corrente, articuladas no sentido de darem à prática educacional a conotação almejada pelos responsáveis da política de governo. Assim, a Educação Física serviu como uma ferramenta ideológica para alienação social, favorecendo aos interesses do ideário dominante da ditadura de Getúlio Vargas (CASTELLANI FILHO, 2003). 57 Alunos assistem ao hasteamento da bandeira nacional, ca. 1977 Foto: arquivo pessoal. [...] análises que confundem duas questões que logicamente mantêm relação entre si, mas que não podem ser colocadas como idênticas: a obrigatoriedade da educação física em todas as escolas primárias, normais e secundárias, expressa no artigo 131 da Carta Constitucional; a criação de Centros da Juventude, pelo artigo 132, artigo este que se refere a ‘adestramento physico’ mas que não faz menção direta à educação física, ainda que seja possível inferir que tal adestramento seria responsabilidade dessa área (CAPARROZ, 2005). Nesta época, foi fundada a primeira escola de Educação Física do exército e posteriormente, em 1939, foi criada a primeira escola civil de formação de professores da área, a Escola Nacional de Educação Física e Desportos, integrada à Universidade do Brasil, atual Universidade Federal do Rio de Janeiro, tendo o corpo docente composto por instrutores de Educação Física e médicos (SOUZA NETO et al., 2004). 58 Com o final da segunda guerra mundial, em 1945, o pensamento militar também foi colocado de lado, dando início a construção de uma nova Educação Física no Brasil, baseada em conceitos pedagógicos do modelo americano, um dos países vencedores da guerra (GHIRALDELLI JUNIOR, 1998). Começa então a predominar a tendência ideológica Pedagogicista, que será assunto a ser discutido na próxima aula. Aguardo você! Acesse o link: Disponível aqui Nesta aula observamos que a Educação Física foi utilizada dentro da tendência ideológica Militarista para implantar valores objetivados pelo governo da época. Olhando a Educação Física, ainda hoje ela pode ser o caminho para a conscientização e implantação de valores na sociedade. Neste sentido, a reportagem intitulada “Educação Física estimula valores éticos e morais” do jornal eletrônico “Hoje em dia”, nos trás justamente esta perspectiva. “Do ponto de vista social, desde que esteja vinculado ao desenvolvimento e à prática de valores, o esporte tem a capacidade de melhorar a convivência entre os colegas e estimular a cooperação”, explica a professora de pedagogia do esporte da Escola de Educação Física da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Ana Cláudia Porfírio Couto. Assunto bacana, não é? Então confira a reportagem completa! 59 https://www.hojeemdia.c.om.br/horizontes/educa%C3%A7%C3%A3o-f%C3%ADsica-estimula-valores-%C3%A9ticos-e-morais-1.171624 07 Educação Física no Brasil: Tendência Ideológica Pedagogicista 60 Caro aluno, Na última aula você acompanhou a evolução histórica da Educação Física no Brasil entre 1930 e 1945, durante o governo do presidente Getúlio Vargas, em que a tendência ideológica predominante era a militarista. Com o final da segunda guerra mundial em 1945, o pensamento militar também foi colocado de lado, dando início a construção de uma nova Educação Física no Brasil, baseada em conceitos pedagógicos, dando inicio então à tendência ideológica Pedagogicista. O contexto político, social, econômico e histórico do país nas décadas posteriores a guerra conduziram a esta tendência, sendo a concepção que reclamou na sociedade a necessidade de encarar a Educação Física não somente como uma prática capaz de promover saúde ou de disciplinar a juventude, mas de encarar a Educação Física como uma prática eminentemente educativa (GHIRALDELLI JUNIOR, 1994). Com a derrota do nazi-fascismo na Segunda Guerra Mundial, a Educação Física passa a sofrer a influência do liberalismo americano, assim como grande parte do mundo ocidental. Nos Estados Unidos, a Educação Física recorria a jogos e brincadeiras, ginásticas, lutas e esportes, principalmente o basquetebol e o voleibol, conteúdos logo assimilados pela disciplina no Brasil (SESC, 2003). Com o crescimento da escola pública no Brasil, a Educação Física recebe impulsos da ideologia desenvolvimentista do Governo de Juscelino Kubitscheck e passa a se integrar pela primeira vez nas questões pedagógicas, passando a ser o centro vivo da escola. Dentro do processo de implantação da Educação Física na matriz curricular das escolas, buscava-se habilidades consideradas fundamentais para a saúde física e mental, por meio de festas, torneios, gincanas, desfiles, formação de bandas musicais, entre outras, havendo maior preocupação com a inclusão para a participação dos alunos, visando o lazer com o intuito de gerar o controle emocional, o aproveitamento das horas livres e a formação do caráter dos alunos (GHIRALDELLI JÚNIOR, 1998). 61 Aluno participa de competição entre escolas Fonte: Disponível aqui A saúde passa a ser discutida de forma teórica na disciplina e assuntos como primeiros socorros, higiene, prevenção de doenças e alimentação saudável são incorporados às aulas de Educação Física. Entretanto, no período ainda não se notava uma preocupação com a saúde coletiva, e sim individual. Não havia discussões sobre lazer, moradia, emprego e saneamento, condições básicas para a saúde, na visão da Saúde Coletiva (FERREIRA, 2009). Um fato negativo desta época é o início do culto ao corpo de forma consumista, a partir da década de 1960, fortemente apoiado pelo modelo american way of life (modode vida americano), que passa a ser copiado pela sociedade brasileira (COURTINE, 1995). Inversamente a este fato, a tendência Pedagogicista, denominada por alguns como biopsicossocial, foi inspirada no discurso liberal do movimento conhecido com “Escola Nova”, “Escola Ativa”, que buscava uma renovação do ensino para efetivar um caráter mais educacional à Educação Física, que mesmo sustentando o pensamento liberal burguês, foi o primeiro movimento na área que buscou a valorização da Educação Física perante a sociedade (GHIRALDELLI JUNIOR, 1994). 62 https://www.maispajeu.com.br/2016/12/fotos-antigas-dos-jogos-escolares-da.html As introduções de ideias pedagógicas fizeram com que a Educação Física fosse reconhecida como um meio de educação, pois advogava no sentido de explicar que o homem, para ser instruído de forma integral, deveria não somente ser educado cognitiva e afetivamente, mas também no campo físico. Este fato proporcionou aos professores da disciplina substituir os métodos mecânicos da prática por métodos mais lúdicos (GUEDES,1999). A Educação Física Pedagogicista está preocupada com a juventude que frequenta as escolas. A ginástica, a dança, o desporto etc, são meios de educação do alunado. São instrumentos capazes de levar a juventude a aceitar as regras de convívio democrático e de preparar as novas gerações para o altruísmo, o culto a riquezas etc (GHIRALDELLI JÚNIOR, 1998). Assim como os militares da tendência militarista tentaram superar os métodos médicos da tendência higienista, foram os pedagogos que procuraram tomar o lugar dos militares na tendência Pedagogicista, apesar de alguns resquícios da área médica e militar que se mantiveram presentes nas aulas dos professores da época. Mesmo assim, a partir de agora a relação era, enfim, aluno-professor (GUEDES,1999). 63 A tendência Pedagogicista surgiu na Educação Física no Brasil, após o término da Segunda Guerra Mundial, por influência do liberalismo Americano, em que as introduções de ideias pedagógicas fizeram com que a área fosse reconhecida como um meio de educação, pois advogava no sentido de explicar que o homem, para ser instruído de forma integral, deveria não somente ser educado cognitiva e afetivamente, mas também no campo físico. Este fato proporcionou aos professores da disciplina substituir os métodos mecânicos da prática por métodos mais lúdicos, buscando habilidades consideradas fundamentais para a saúde física e mental, por meio de festas, torneios, gincanas, desfiles, formação de bandas musicais, entre outras, havendo maior preocupação com a inclusão para a participação dos alunos, visando o lazer com o intuito de gerar o controle emocional, o aproveitamento das horas livres e a formação do caráter dos alunos. Outro fato extremamente importante para a consolidação da Educação Física Pedagogicista foi quando as disciplinas de “prática de ensino”, “recreação e lazer”, didática”, entre outras com este novo direcionamento, foram incluídas dentro dos currículos das faculdades. Estas disciplinas visavam formar o futuro profissional de Educação Física com um olhar mais direcionado ao ato educativo, levando o professor a pensar a atividade física não só como meio de desenvolver a eficiência e o rendimento (CASTELHANI FILHO, 1988). O aspecto não crítico da Educação Física Pedagogicista elencava alguns fins para os quais a área deveria ser dirigida: Saúde: a Educação Física deveria contribuir para a saúde física e mental; Caráter e qualidades mínimas de um bom membro de família e bom cidadão, no qual a Educação Física serviria para o desenvolvimento do caráter; Preparação vocacional, no qual certos tipos de atividades físicas, especialmente as competições desportivas, desenvolveriam controle emocional 64 e liderança; Uso contínuo das horas livres ou de folga: A Educação Física estaria relacionada com o intuito de ir contra o mau aproveitamento do tempo livre, pois isto poderia destruir a saúde, reduzir a eficiência e quebrar o caráter, além de degradar a vida (GHIRALDELLI JUNIOR, 1994). A Educação Física Pedagogicista seguiu, então, a forma da educação liberal, a qual buscava a formação de um cidadão voltado aos valores da sociedade vigente. E que em um primeiro momento, discutiu uma nova concepção de Educação Física, mas que apesar de sua contribuição, não fugiu a reprodução dos ideais conservadores. Outro marco importante para a Educação Física escolar foi a promulgação da primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional LBD. Nº 4024, em 1961. Na escola primária, a Educação Física teve como objetivo a recreação (individual e coletiva) nos seus variados aspectos, onde era realizada por meio das atividades naturais, jogos, atividades rítmicas, dramatizações, atividades complementares, visando abarcar a totalidade do desenvolvimento do aluno (Programa da Escola Primária de São Paulo, 1967). Durante toda a década de 1960, a Educação Física se preocupou também com a atitude postural adequada, com a coordenação sensório motor, o refinamento dos sentidos, e o aumento da sensibilidade rítmica, favorecendo a coeducação, e o conhecimento de nossos costumes (ARANTES, 1991). Neste período houve por parte governamental e pela iniciativa privada, um significativo esforço para uma escolarização diversificada, podendo ser notada pela criação de inúmeras experiências inovadoras no processo de educação formal tais como os ginásios pluri-curriculares, vocacionais, a unificação em dois níveis dos anos do primário formando apenas dois blocos (ARANTES, 1991). 65 A Educação Física brasileira parecia caminhar a passos largos para uma boa utilização de seus métodos, passando a ter sua aplicação em prol da discussão teórica- educacional. Porém, um fato histórico no Brasil causou um retrocesso tamanho com uma lastimável volta ao biologicismo: a ditadura militar, iniciada com o golpe de 1964, assunto este que será discutido na nossa próxima aula. Aguardo você! 66 Acesse o link: Disponível aqui Nesta aula, você aprendeu que a tendência ideológica Pedagogicista aponta para a importância da Educação Física para a transformação integral dos alunos, para que ele entenda os seus limites e exerça papel como sujeito ativo dentro da escola e na sociedade. Vindo neste mesmo sentido, a reportagem intitulada “A importância da Educação Física na Escola”, publicada pelo site globo.com visitou uma escola na cidade de Sorocaba, interior de São Paulo, e conversou com profissionais sobre o tema: “A escola estimula todos os alunos a participarem das mais variadas atividades esportivas, acreditando sempre que o esporte seja parte integrante do desenvolvimento de importantes habilidades, como a socialização, o trabalho em equipe, o respeito a regras, a cultura corpórea e o aprender a ganhar e, também, a perder.” Gostou do tema? Então confira agora a reportagem na íntegra! 67 https://g1.globo.com/sp/sorocaba-jundiai/especial-publicitario/objetivo-sorocaba/conduzindo-o-melhor-de-voce/noticia/a-importancia-da-educacao-fisica-na-escola.ghtml 08 Educação Física no Brasil: Tendência Ideológica Esportitivista 68 Caro aluno, Observando todo o processo histórico da Educação Física no Brasil, há que se concordar que os maiores avanços para a área no sentido pedagógico e com olhar do aluno como ser integral, aconteceram durante a implantação das ideias da tendência Pedagogicista, sob influência do liberalismo americano. Porém, estes avanços foram interrompidos com o golpe militar de 1964, trazendo para a área ideias retrógradas. A tendência ideológica dominante na Educação Física, a partir de então, foi conhecida como Esportitivista, Competitivista, Mecanicista ou Tecnicista. Com a tomada de poder pelos militares em 1º de abril de 1964, é instalado um governo em que as pessoas com ideias contrárias à ditadura eram rigorosamente punidas com perseguições, cadeia, exílio e morte. A censura passa a ser exercida e ocorrem fiscalização de sindicatos, entidades estudantis e partidárias (FERREIRA, 2009). Nesse período, o Brasil consegueconquistar o tricampeonato da seleção brasileira de futebol, no México em 1970, e o povo comemorava pelas ruas as vitórias brasileiras. O governo percebeu que a população adorava esportes, e que este poderia ser o caminho para direcionar a atenção às disputas, mantendo as pessoas afastadas das discussões políticas (FERREIRA, 2009). O governo militar começou a investir bastante no esporte, fazendo da Educação Física um sustentáculo ideológico, a partir do êxito em competições esportivas de alto nível, para eliminar as críticas internas e deixar transparecer um clima de prosperidade e desenvolvimento (DARIDO e RANGEL, 2005). Assim, o discurso era o de descobrir novos talentos e tentar transformar o Brasil em potência olímpica. Porém, junto a isso havia um objetivo oculto: Incentivar a população a se ocupar com a prática de esportes, e deixar de lado as preocupações com o governo autoritário. Apesar deste direcionamento, o Brasil não se torna uma potência olímpica, obtendo maus resultados em competições internacionais (FERREIRA, 2009). Direcionado aos objetivos traçados, o governo resolve apoiar a prática de esportes na escola através da Educação Física, em que os professores agora deveriam deixar de lado os aspectos sociais, educativos e afetivos e se preocupar somente com o rendimento e o aprimoramento das habilidades esportivas (FERREIRA, 2009). 69 A prática de alguma modalidade esportiva se tornou tão importante sob esse prisma político que justificou a criação, na década de 70, de um programa federal chamado “Esporte Para Todos” (EPT), cujas bases ideológicas assentavam-se justamente na popularização da prática esportiva como uma espécie de analgésico para a consciência das pessoas (CATELHANI FILHO, 1988). Com esta mudança de ideal, a Educação Física passa a passa a ser sinônimo de esportes, estigma que a área carrega até hoje em dia. Neste novo modelo, há uma exclusão generalizada daqueles que não possuíam habilidades para as modalidades, pois a competição passa a ser o objetivo final de todo o processo, modificando a relação professor-aluno, para relação técnico-atleta (FERREIRA, 2009). É nessa época que se desenvolve a ideia do “professor-atleta”, apoiando que o bom profissional de Educação Física deveria ser aquele que já tivesse praticado a modalidade que ensina e quanto melhor o atleta tivesse sido, melhor professor seria considerado. O extremo absoluto dessa ideia de profissional fica expresso nos pré- testes físicos a que os candidatos a cursar uma faculdade de Educação Física deveriam se submeter. Eram provas para testar a condição física e atlética do candidato como: corridas, natação, modalidades esportivas. Aqueles que não obtivessem índices desejáveis eram excluídos do processo de seleção (GHIRALDELLI JUNIOR, 1994). 70 A tendência Esportitivista esteve na Educação Física no Brasil durante a ditadura militar iniciada com o golpe de 1964. O governo resolve apoiar a prática de esportes na escola através da Educação Física, em que os professores agora deveriam deixar de lado os aspectos sociais, educativos e afetivos e se preocupar somente com o rendimento e o aprimoramento das habilidades esportivas, o que resultou em uma exclusão generalizada daqueles que não possuíam destreza motora para as modalidades, pois a competição passa a ser o objetivo final de todo o processo, modificando a relação professor-aluno, para relação técnico-atleta. O discurso era o de descobrir novos talentos e tentar transformar o Brasil em potência olímpica. Porém, junto a isso havia um objetivo oculto: Incentivar a população a se ocupar com a prática de esportes, e deixar de lado as preocupações com o governo autoritário. Apesar deste direcionamento, o Brasil não se torna uma potência olímpica, obtendo maus resultados em competições internacionais. Outro fato importante, nesta época, foi a obrigatoriedade da Educação Física/Esportes no ensino do 3º Grau, por meio do decreto lei no 705/69 (Brasil., 1969), que tinha como propósito político favorecer o regime militar, desmantelando as mobilizações e o movimento estudantil que era contrário ao governo, uma vez que as universidades representavam um dos principais polos de resistência à ditadura (CASTELLANI FILHO, 1998). Desta forma, o esporte era utilizado como um elemento de distração à realidade política da época. Além disso, a Educação Física/Esportes no 3º Grau era considerada uma atividade destituída de conhecimentos e estaca voltada a formação de mão de obra apta para a produção (DARIDO e RANGEL, 2005). A Educação Física, agora como disciplina acadêmica e como política social voltada as demandas de lazer/tempo livre dos universitários, teve uma função ideológica clara, a qual coube à educação física o 71 Alunos jogam basquete em aula de educação física na década de 1970 Fonte: arquivo pessoal. papel de colaborar, por meio de seu caráter lúdico esportivo, com o esvaziamento de qualquer tentativa de rearticulação política do movimento estudantil no contexto universitário. Desse modo, surgiram neste período os Jogos escolares, jogos municipais, jogos abertos, jogos da juventude e todas as demais competições em nível “amador” (CHAGAS e GARCIA, 2011). No ano de 1971 foi implementada a segunda Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional Nº 5692, em que os diferentes graus de escolarização recebiam agora nova organização e unificação vertical. O primeiro segmento denominado Primeiro Grau era composto por oito séries integradas pelo Núcleo Comum e Parte Diversificada. Nomeavam-se “Disciplina” aquelas com orientação teórica e por “Atividade” as de cunho prático, sem reprovação, exceto por faltas (Educação Artística, Inglês e Educação Física) (PAR.CFE. 853/71). O Segundo Grau era composto por três ou quatro séries, de cunho técnico profissionalizante que era oferecido a todos os estudantes. Em São Paulo, durante esta época, deu-se a confecção de um material de apoio e conteúdo obrigatoriamente seguido e desenvolvido por todos os professores da rede pública estadual, conhecido como “Verdão”, que apresentava orientação rígida e 72 estrutural. Em Educação Física, o documento explicava as sequências dos diferentes conteúdos das modalidades ginásticas, atléticas e esportivas (CERHUPE, 1972). As séries primárias eram direcionadas a grandes jogos, com ênfase na competição, em que as crianças de 1ª a 4ª série deveriam participar de jogos e brincadeiras que atuassem sobre todo esquema corporal, visando desenvolver as habilidades básicas para a futura prática de algum Esporte (GHIRALDELLI JUNIOR, 1994). Já de 5ª a 8ª série, as aulas deveriam ser dirigidas aos fundamentos de alguma modalidade esportiva, além de horários exclusivos para o treinamento das “seleções colegiais”, valendo-se do Método da “Desportiva Generalizada”, em que não se previa no processo a inclusão daqueles que fossem menos habilidosos e não se adequassem. No segundo grau, o objetivo era desenvolver mais noções técnicas e táticas, para competir contra outros colégios e/ou cidades (CASTELHANI FILHO, 1988). A ideologia do esporte e a construção do corpo eficiente e dócil permanecem na atuação de inúmeros profissionais, bem como permanece o desporto de alto nível como modelo de atividade física, de espetáculo e de anestésico à consciência social (CHAGAS e GARCIA, 2011). 73 Vôlei feminino em aulas de educação física na década de 1970 Fonte: arquivo pessoal. Ainda neste período, a Educação Física recebe também influências dos discursos econômicos, que preocupados com os problemas de saúde, alertavam para a realização de atividades físicas pela população. O argumento na verdade era o de tornar menos custosa a saúde para os governos. Esse movimento denominado healthism (Estilo de vida que prioriza a saúde) teve sua origem nos Estados Unidos da América e, anos mais tarde no Brasil, passa a se chamar de Movimento da Saúde (SOARES, 2004). O Movimento da Saúde era pautado pelo individualismo, em detrimento das questões sociais, onde as atividades físicas passam a ser medidas dainiciativa privada, diferentemente das tendências Higienista e Militarista, em que a ideologia era voltada para o Estado, com objetivo de conseguir a eugenia e melhoria da raça (GÓIS JÚNIOR; LOVISOLO, 2003). A crescente prática do esporte, desenvolvida em lugares específicos, como nos clubes, nas escolas e nas universidades, ajudou para que essa expressão da cultura fosse sendo regulamentada sob a intervenção do Estado que, por sua vez, passou a assumir a organização esportiva com a criação de políticas. É importante ressaltar também que o crescimento do esporte não teve um caráter 74 de neutralidade, mas de sentidos e significados políticos e ideológicos, de uma determinada estrutura social que produz uma visão de mundo e de sociedade sob a lógica da manutenção e perpetuação das relações capitalistas (CASTELHANI FILHO, 1988). A partir de meados dos anos 1980, a ditadura brasileira começa a perder força para sustentar o poder, e os movimentos democráticos começam a se fortalecer, como, por exemplo, o movimento “Diretas Já”, que pedia eleições democráticas e o fim do regime militar. A Educação Física penetra na era da tendência popular, dominada pelos anseios operários de ascensão na sociedade, com conceitos de inclusão, participação, cooperação, afetividade, lazer e qualidade de vida (FERREIRA, 2009). A força do biologicismo, tão presente em outras tendências da Educação Física, parece, então, declinar. Lesões, traumas, estresse e uso de drogas para aumentar o rendimento direcionam a atenção da população para os efeitos do esportitivismo e de sua busca pelo alto rendimento, criticando a Educação Física pelo predomínio desses conteúdos esportivos (DARIDO e RANGEL, 2005). Atualmente, coexistem na Educação física diversas concepções, modelos, tendências e abordagens que tentam romper com o modelo mecanicista e tradicional, como por exemplo: psicomotricidade, desenvolvimentista, saúde renovada e mais recentemente os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) (BRASIL, 1997). Porém, esses assuntos serão tratados na nossa próxima aula. Aguardo você! 75 Acesse o link: Disponível aqui Dentro do tema da aula, você viu que com a implantação da tendência Esportitivista na Educação Física durante a ditadura militar, o foco era friamente a performance esportiva, o que excluía os alunos com poucas habilidades para as modalidades. Na direção oposta a este ideal, o “Centro de Referência em Educação Integral” traz uma visão atualizada de como o esporte deve ser abordado na escola. A reportagem que leva o título “Alto rendimento não deve ser foco da Educação Física escolar” questiona: “Mas qual deve ser o papel do esporte na escola? Encontrar potenciais atletas? Desenvolver apenas as práticas esportivas mais populares transmitidas na televisão? Como ficam os estudantes que não se enquadram nesse padrão?” A partir desses questionamentos, o diretor geral da Fundação Gol de Letra, Sóstenes Brasileiro, irmão dos jogadores de futebol Raí e Sócrates afirma: “O central na prática esportiva escolar é garantir o desenvolvimento físico, motor e a inteligência corporal. O sujeito só pode ser plenamente desenvolvido a partir disso. Esporte é envolvimento com o outro, entender e respeitar regras, compartilhar regras com amigos e adversários. A Educação Física tem que se preocupar com isso e não em formar atletas de elite”. Tema interessante, não é? Confira a reportagem completa! 76 https://educacaointegral.org.br/reportagens/alto-rendimento-nao-deve-ser-foco-principal-da-educacao-fisica-escolar-dizem-especialistas/ 09 Abordagens Pedagógicas na Educação Física Atual 77 Caro aluno, Como vimos até a aula passada, a Educação Física no Brasil teve uma história cheia de transformações ao longo dos tempos, com influências da área médica, militar, pedagógica e esportiva. Após 1985, com o final da ditadura militar, diversas concepções e abordagens, que tentam romper com o modelo mecanicista e tradicional, surgiram e se mantém na área atualmente. Na década de 1980, iniciou-se um amplo debate sobre os pressupostos e a especificidade da Educação Física, resultando em várias abordagens pedagógicas para a área, como a Psicomotricidade, Desenvolvimentista, Construtivista, Saúde Renovada, Crítico-superadora e Critíco-emancipatória, entre outras (DARIDO, 2003). A Educação Física passa então a realizar importantes mudanças em sua estrutura, reformulando a matriz curricular, conteúdos desenvolvidos para a escola e reflexões críticas que fazem a área romper com o biologicismo reinante (RAMOS e FERREIRA, 2000), avançando para a ampliação de seus conteúdos e percepção do corpo e do movimento, voltando-se então para a compreensão da cultura corporal (BRACHT, 1996). A Educação Física deve preocupar-se com a formação do cidadão que irá usufruir, partilhar, produzir, reproduzir e transformar as formas culturais da atividade física (BETTI, 1992). A Psicomotricidade foi o primeiro movimento a se articular, a partir da década de 1970, como uma abordagem da Educação Física Escolar, em que seus princípios extrapolam a ordem biológica e de rendimento corporal, inserindo na prática o conhecimento de ordem psicológica (DARIDO, 2001), visando o desenvolvimento integral do aluno, estimulando os aspectos motores, cognitivos e afetivos (SOARES, 1996). Seu grande difusor foi o francês Jean Le Boulch (1924-2001) que preconizava a educação psicomotora através de movimentos espontâneos com o intuito de favorecer a imagem do corpo, que seria, segundo ele, o núcleo central da personalidade (LE BOULCH, 1986). 78 A Psicomotricidade desenvolve fatores como a noção de corpo, tonicidade, equilíbrio, estrutura espaço-temporal, lateralidade, coordenação motora global e coordenação fina. Nesta abordagem, a saúde é vista de forma indireta como resultado do desenvolvimento dos fatores psicomotores, afetivos e cognitivos (FERREIRA, 2001). Esta concepção pedagógica foi divulgada inicialmente em programas de escolas voltadas para o atendimento de alunos com deficiência motora e intelectual (DARIDO e RANGEL, 2005). Já o Construtivismo se baseia na abordagem do Sueco Jean Piaget (1896-1980), sofrendo influências também da Psicomotricidade, no sentido de valorizar aspectos psicológicos, afetivos e cognitivos no desenvolvimento do movimento humano. Dentro desta complexidade, a construção do conhecimento se dá através da interação sujeito-mundo (DARIDO, 2001). Em complemento, esta abordagem proporciona ao aluno condições para que seu comportamento motor seja desenvolvido, oferecendo-lhe experiências de movimentos adequados às diferentes faixas etárias, cabendo ao professor observar sistematicamente o comportamento dos alunos, no sentido de verificar em que fase de desenvolvimento motor eles se encontram, localizando os erros e oferecendo informações relevantes para o aprimoramento (DARIDO e RANGEL, 2005). 79 Paulo Freire (1921-1997) foi o responsável pela introdução desta abordagem na Educação Física Escolar, tendo seu livro “Educação de Corpo Inteiro” como obra de referência no contexto construtivista. Para o autor, a criança é uma especialista no jogo, no brincar e no brinquedo, e possui um conhecimento prévio que deve ser respeitado, considerando o erro como um processo para a aprendizagem (FREIRE, 1991). O tema saúde na abordagem construtivista é, assim como na psicomotricidade, compreendido de forma indireta. Na abordagem desenvolvimentista, a preocupação é com o desenvolvimento das habilidades motoras básicas, entre elas as habilidades locomotoras, de manipulação e de estabilização. No Brasil, o autor Go Tani é representante esta abordagem, explica que a Educação Física deve se preocupar com o crescimento e desenvolvimento motor, pois para esta abordagem defende que o movimento é o principal meio e fim da Educação Física. Sendo mais biologiscista, a abordagem Desenvolvimentista possui um conceito de saúde indireto, se preocupando com a aprendizagem das habilidades motoras, pois é através delas que os seres humanos se adaptam aos problemasdo cotidiano (DARIDO, 2001). Opondo-se ao tecnicismo da Educação Física escolar, alguns autores elaboram uma proposta de mudanças para a área regida pelo marxismo, sendo as abordagens críticas, também denominadas progressivas, exigem do professor de Educação Física uma visão da realidade de forma mais política, combatendo a alienação dos alunos e defendendo uma postura de superação das injustiças sociais, econômicas e políticas. Dentre essas abordagens podemos citar a Crítico-superadora e a Crítico- emancipatória (DARIDO, 2001). Na abordagem Crítico-superadora, representada no livro “Metodologia do Ensino da Educação Física”, instiga a reflexão sobre questões de poder, interesse, esforço e contestação, analisando que não se deve apenas explicar como ensinar, mas, sobretudo, como se adquire conhecimento, respeitando os aspectos sócio-culturais dos alunos e considerando a realidade dos operários (DARIDO, 2001). Já a abordagem Crítico-emancipatória, proposta pelo autor Elonor Kunz, segue as diretrizes da Escola alemã de Frankfurt e busca no ensino através da Educação Física a libertação de falsas ilusões, interesses e desejos criados por uma mídia com interesses capitalistas, envolvendo discussões sobre a saúde direcionada mais para as questões de justiça social (DARIDO, 2001). 80 Nessas visões críticas, a Educação Física é entendida como uma disciplina que trata do conhecimento denominado cultura corporal, que tem como temas, o jogo, a brincadeira, a ginástica, a dança e o esporte, apresentando relações com os principais problemas sociais e políticos vivenciados pelos alunos (DARIDO e RANGEL, 2005). A partir da década de 1990, ocorre a existência de uma abordagem da Educação Física Escolar voltada diretamente para as questões da saúde, não apenas repetindo os conceitos da tendência Higienista, mas ampliando a discussão, denominada de Saúde Renovada. Essa abordagem é considerada renovada pois incorpora os preceitos positivos do Higienismo, descarta soluções negativas, como o eugenismo e recorre a um enfoque mais sociocultural que biológico (DARIDO, 2003). Nahas (1989) e Guedes e Guedes (1996) passam a defender a ideia de uma Educação Física escolar dentro da perspectiva biológica para explicar as causas e fenômenos da saúde, entretanto não se afastam das questões sociais. Começa-se então a discutir o sentido de qualidade de vida e bem estar, alertando para as preocupações com a incidência de distúrbios orgânicos associados ao sedentarismo. A prática da atividade física através da Educação Física Escolar, na infância e adolescência, pode estimular uma vida saudável na fase adulta, para tanto o hábito da vida saudável deve ser ensinado na escola, sugerindo a reformulação dos programas, agora como um meio de educação e promoção da saúde (GUEDES e GUEDES, 1996). 81 Nahas (1989) aponta que o objetivo da Educação Física Escolar é ensinar conceitos básicos da relação atividade física-saúde e incluir todos os alunos nesta perspectiva, como sedentários, obesos, portadores de baixa aptidão física e especiais. A compreensão de saúde e o entendimento dos benefícios que a atividade física produz no organismo são informações que não se resumem apenas à prática costumeira dos esportes, mas conceitos que devem ser assimilados e incorporados à rotina, produzindo futuros adultos conscientes dos hábitos saudáveis ao longo da vida (NAHAS, 1989; GUEDES e GUEDES, 1996). A compreensão de saúde deve envolver temas como: estresse, sedentarismo, doenças hipocinéticas, problemas cardíacos, entre outros, compreendendo saúde como a capacidade do indivíduo desfrutar a vida com bem estar, e não apenas ausência de doença. Devemos considerar que a saúde não é um estado estável e sim mutável, que é construído individualmente ao longo da vida, e para isso, a Educação Física escolar é fundamental (GUEDES e GUEDES, 1996; NAHAS, 1997). Na década de 1990, o Ministério da Educação e do Desporto, inspirado no modelo educacional espanhol, convidou um grupo de pesquisadores de várias áreas do conhecimento, entre elas a Educação Física, para a construção dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs). As propostas dos PCNs para Educação Física 82 apresentavam avanços, sendo relevantes o princípio da inclusão, as dimensões de conteúdo atitudinais, conceituais e procedimentais, e os temas transversais (DARIDO, 2001). Com a reformulação dos PCNs em 1996, é ressaltada a importância da articulação da Educação Física entre o aprender a fazer, o saber por que se está fazendo e como relacionar-se nesse saber, trazendo as diferentes dimensões dos conteúdos e propondo um relacionamento com grandes problemas da sociedade brasileira, sem no entanto, perder de vista o seu papel de integrar o cidadão na esfera da cultura corporal, devendo ser trabalhada de forma interdisciplinar, transdisciplinar e através de temas transversais, favorecendo o desenvolvimento da ética, cidadania e autonomia (BRASIL, 1997). Os PCNs se atrelam a um conceito de saúde que supera o paradigma biológico e informativo. No documento são considerados os diversos enfoques que formam a composição do cenário da saúde, incluindo os aspectos sociais, econômicos, culturais, afetivos e psicológicos (BRASIL, 1998). O texto introdutório dos PCNs-Saúde apresentou o desafio de educar para a saúde, no que se refere a hábitos e atitudes de vida (BRASIL, 2000). Os PCNs buscam um modelo de compreensão de saúde mais abrangente, que não excluem as questões biológicas, mas defendem o fenômeno social como fator decisivo do entendimento de saúde, sendo a abordagem que mais se aproxima dos ideais da saúde coletiva, por abordar e considerar fatores externos, e não somente a prática de exercícios, como indicadores de saúde (BRASIL, 2000). Observando todas as abordagens predominantes na Educação Física através dos tempos, há de se discutir agora a evolução da formação de professores e os cursos de graduação na área. Mas este será assunto para nossa próxima aula. Aguardo você! 83 Na década de 1980, iniciou-se um amplo debate sobre os pressupostos e a especificidade da Educação Física, resultando em várias abordagens pedagógicas para a área, como a Psicomotricidade, Desenvolvimentista, Construtivista, Saúde Renovada, Crítico-superadora, Critíco-emancipatória e Parâmetros curriculares nacionais. Todas essas abordagens buscaram confrontar à visão tecnicista e mecanicista antes predominante na área. O objetivo agora, resumindo as abordagens atuais na Educação Física, é incluir todos os alunos no processo educacional, com foco no desenvolvimento motor e saúde, levando em consideração os aspectos socioculturais. 84 Acesse o link: Disponível aqui Nesta aula, você viu que nas abordagens pedagógicas na Educação Física a partir da década de 1980 tinham foco na inclusão e todos os alunos. Neste sentido, a reportagem intitulada “A Educação Física mudou para melhor: agora ela é de todos”, do site Nova Escola, discute justamente o processo histórico e apresenta a prática atual na área, como descreve o professor Marcelo Barro Jabu: “A partir desse momento, foi feito um grande esforço de criação e sistematização de uma proposta metodológica que conseguisse, por assim dizer, democratizar o acesso dos alunos, de TODOS os alunos, aos processos de aprendizagem com êxito. Foram muitas as mudanças e os avanços construídos pelos educadores da área. Com muitos erros e acertos, ajustes e reajustes, foi possível constituir e aplicar uma proposta metodológica que transformasse a chamada Educação Física tradicional em uma nova Educação Física escolar. Diga-se em tempo: o que norteou essa busca foi justamente a garantia de acesso à aprendizagem da dimensão corporal dos conteúdos da disciplina, ainda que outros aspectos também passassem a ter um mesmo grau de importância.” Gostou deste trecho da reportagem? Então confira na íntegra! 85 https://novaescola.org.br/conteudo/767/a-educacao-fisica-mudou-para-melhor-agora-ela-e-de-todos 10 A Construção e Evolução dos Cursos de Graduação em Educação Físicano Brasil 86 Caro aluno, Nas últimas aulas, conversamos a respeito das abordagens e tendências pedagógicas dentro da Educação Física no Brasil. Você percebeu o quanto a área foi dinâmica em relação às mudanças de pensamento e ideias? A partir disso, você deve estar se perguntando: “E a graduação em Educação Física? Como foram as mudanças na formação dos professores?” Pois bem. Nesta aula, discutiremos justamente a construção e evolução dos cursos de graduação em Educação Física no Brasil. É importante pensarmos que na sociedade contemporânea, as exigências de mercado que influenciam as reformas e mudanças no sistema educativo, com o objetivo de acompanhar o desenvolvimento da sociedade em seus diversos domínios e adaptar-se à concepção de ser humano que se busca construir. A formação de professores não pode considerar-se um domínio autônomo de conhecimento e decisão, muito pelo contrário, é um domínio profundamente determinado pelos conceitos de escola, ensino e currículo, prevalecentes em cada época (GÓMEZ, 1992). A história dos cursos em Educação Física no Brasil inicia-se com a criação do primeiro curso provisório de Educação Física do Exército em 1910, em que participava a área militar, tendo como professores médicos e ex-atletas, com duração de cinco meses (FIGUEIREDO, 2005). Os primeiros cursos civis foram criados em São Paulo em 1934, incorporados à Universidade de São Paulo (USP) tempos depois, e no Rio de Janeiro, em 1939, na Universidade do Brasil, atual Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) (FIGUEIREDO, 2005). O curso da Universidade do Brasil foi criado pelo decreto de lei 1212, de 17 de abril de 1939, que tinha como objetivo ser a escola padrão na formação de Educação Física no Brasil, apesar de naquela ocasião já existissem outras escolas de formação na área pelo país. Esta outorgava diferentes títulos com diferentes durações (FIGUEIREDO, 2005): Licenciado – 2 anos; Normalista especializado em Educação Física – 1 ano; 87 Diploma de Educação Física da Universidade do Brasil, atual UFRJ, de 1951 Fonte: Disponível aqui Técnico desportivo – 1 ano; Treinador e Massagista desportivo – 1 ano; Médico especializado em Educação Física e desporto - 1 ano. É importante refletirmos que na sociedade contemporânea são as exigências do mercado de trabalho que influenciam nas reformas e mudanças no sistema educacional, com o objetivo de acompanhar o desenvolvimento da sociedade em seus diversos domínios e adaptar-se à concepção de ser humano que se busca construir. Assim, não se pode considerar a formação de professores como um domínio autônomo de conhecimento e decisão, mas sim, como um domínio profundamente determinado pelos conceitos de escola, ensino e currículo, prevalecentes em cada época. 88 https://www.capadocialeiloes.com.br/peca.asp?ID=1316804 No ano de 1969, o currículo de formação em Educação Física ganha o status de nível superior após a resolução CFE de nº 69/69 que aumentou a carga horária para um mínimo de três anos e 1800 horas, levando título de Licenciatura Plena e uma possível complementação de duas disciplinas para a obtenção do título de Técnico desportivo (TOJAL, 2005). Houve então uma preocupação com a formação educacional com o aumento das disciplinas da área, com a inserção de disciplinas obrigatórias, subdivididas em “básicas” e “profissionais”, compondo um modelo chamado de “currículo mínimo” em todos os cursos do Brasil. As disciplinas eram as seguintes (TOJAL, 2005): Básicas: Biologia, Anatomia, Fisiologia, Cinesiologia, Biometria e Higiene. Profissionais: Socorros Urgentes, Ginástica, Rítmica, Natação, Atletismo, Recreação e as matérias pedagógicas de acordo com o parecer nº 672/69 (Psicologia da educação, Didática, Prática de Ensino através de Estágios Supervisionados e Estrutura de Ensino de 1º e 2º grau). Muitas críticas foram feitas ao currículo mínimo por levar em consideração as diferenças regionais em que os cursos estavam inseridos. Outro problema era o fato de algumas instituições não adicionarem em seus currículos nenhuma disciplina complementar, ficando o currículo mínimo como currículo pleno. Com essas questões levantadas e o aumento da área de atuação do profissional no mercado de trabalho, uma terceira proposta curricular foi aprovada em 16 de Outubro de 1987. (TOJAL, 2005). Feita através da Resolução nº 03/87, esta proposta decretava o fim do currículo mínimo, substituindo-o por áreas de conhecimento, conteúdo identificador da área e conteúdo de natureza técnico-científica, com a ampliação da carga horária mínima para 2880 horas e tempo mínimo de integralização de quatro anos. Foi criada também a titulação de Bacharel em Educação Física, visando atender exclusivamente o mercado não escolar que estava em crescente expansão na década de 80, principalmente por conta da ginástica de academia (TOJAL, 2005). Apesar de constar na resolução nº 03/87 como possibilidade de titulação, o Bacharelado em Educação Física foi oferecido por poucas instituições no Brasil, pois a Licenciatura Plena, além de permitir a atuação na área escolar, também o fazia em relação ao outros espaços, tirando o sentido de existência do Bacharelado naquele momento (NOZAKI, 2004). 89 Em adição, nas matrizes curriculares do Bacharelado e da Licenciatura Plena, não se percebia uma diferenciação na formação, o que aumentou o desinteresse das instituições de ensino em oferecer uma modalidade de formação que possibilitava menos campos de atuação ao egresso (NOZAKI, 2004). Entretanto, após as discussões da década de 90 e pelas exigências do modelo socioeconômico vigente, o Ministério da Educação resolveu novamente reformular os currículos dos cursos de Licenciatura, o que acontece em 2002 com as Resoluções CNE\CES 01 e 02 de 2002. Os pontos principais que estes documentos abordavam dizem respeito ao aumento da carga horária de estágio que passou a ter 400 horas, além de mais 400 horas de Práticas Curriculares, totalizando a carga horária mínima de 2800 horas e tempo de integralização mínimo de três anos(BRASIL, 2002). Havia a possibilidade, inclusive, do aluno cursar três anos de Bacharelado e mais um de complementação com disciplinas pedagógicas para a obtenção do título de Licenciado. Ou seja, tornando a Licenciatura em apenas um apêndice do Bacharelado. Essa característica, apesar de ter sido a formatação curricular dominante no Brasil nas diversas áreas que possuíam Licenciatura e Bacharelado, quase não foi utilizada nos cursos de Educação Física do país (BRASIL, 2002). Diante dessa nova organização curricular para a formação de professores, diversas comissões foram criadas para determinar os diferentes conteúdos dos cursos de Licenciatura e Bacharelado para a delimitação das diversas áreas de atuação. Foi criada uma comissão de especialistas com professores universitários de Educação Física de diversas regiões do país para que se encaminhasse ao Conselho Nacional de Educação uma proposta de formação (TOJAL, 2005). 90 Alguns defendiam a proposta da manutenção da divisão entre Licenciatura e Bacharelado com currículos voltados para a consolidação de competências diferentes para campos de atuação distintos: a área escolar para a Licenciatura e o não escolar para o Bacharelado (KUNZ, 1998). Entretanto, este modelo tem como críticas principais o fato de que um único curso de bacharelado também poderia não dar conta de atender ao mercado de trabalho em constante expansão, além de desconsiderar o principio da atuação da Educação Física que é a prática docente (KUNZ, 1998). Em contrapartida, outra proposta defendia a criação de uma “Licenciatura ampliada” que garantisse todo o conhecimento da Educação Física, independente do campo de atuação. A grande crítica a esta proposta foi justamente o fato de que o aumento de disciplinas que atendessem a área não escolar, acabaria por descaracterizar a Licenciatura, não possibilitando a formação das competências para a atuação na escola (KUNZ, 1998). Depois de muitas discussões prevaleceu a primeira propostamaterializada no Parecer CNE/CES 58/2004 e homologada pela Resolução CNE/CES nº 07/2004. Esse documento veio a substituir a antiga Resolução 03/87 da educação física, sendo a principal balizadora da formação profissional da graduação em Educação Física no Brasil (TAFFAREL, 2005). Em 2018, através da Resolução do CNE/CES, de nº 06 de 91 dezembro, foi instituída nova atualização das Diretrizes Curriculares Nacionais dos cursos de Educação Física, fixando prazo de dois anos para a implantação nas universidades em todo o país. A partir desta atualização, o curso terá Etapa Comum e Específica para a formação nos cursos de Licenciatura e Bacharelado. Nos quatro primeiros semestres, não há distinção entre Bacharelado e Licenciatura, sendo designado apenas de graduação em Educação Física, compondo o núcleo comum de estudos de formação geral e identificador da área, com carga horária total de 1600 horas (CONFEF, 2019). A partir de então, o aluno decide se cursará a etapa específica do Bacharelado ou da Licenciatura em Educação Física, na qual o graduando terá acesso aos conhecimentos específicos de cada vertente, totalizando 1600 horas em quatro semestres para cada uma (CONFEF, 2019). As novas Diretrizes Curriculares Nacionais definem que para cada formação será obtido um diploma específico. Ainda de acordo com a Resolução nº 06/18, não há aproveitamento de nenhuma disciplina da etapa Específica, impedindo abreviamentos e/ou atalhos. O estágio supervisionado agora conta com carga horária de 640 horas para os cursos de Licenciatura e bacharelado (CONFEF, 2019). O Conselho Federal de Educação Física (2019) apontou que o intuito desta atualização nos currículos é pela permanente e necessária qualidade do exercício profissional em Educação Física, condição indissociável da formação superior em nível de graduação. E por mencionar a questão de qualidade na área, outro fato histórico que é considerado uma grande conquista para a Educação Física é a Regulamentação da profissão. Mas este é assunto para a próxima aula. Espero você! 92 Acesse o link: Disponível aqui Nesta aula, você viu os aspectos importantes da evolução da graduação em Educação Física, o que resultou nos cursos de Bacharelado e Licenciatura que temos atualmente. A reportagem do site globo.com, intitulada “Maioria dos diplomas em educação física são da licenciatura, mas procura pelo bacharelado tem crescido mais”, dá um panorama da área a partir do Censo da Educação Superior de 2015. "Tradicionalmente, a formação da educação física se deu principalmente pela licenciatura. A ascensão do bacharelado foi maior na última década, nos últimos 15 anos, após as últimas diretrizes de 2004. Entre os cursos mais antigos, tradicionais, a maioria das instituições tinha licenciatura e algumas abriram bacharelado. Outras ficaram só com licenciatura. Essa expansão [dos cursos de bacharelado] se dá principalmente pelas faculdades privadas. Elas acompanham mais a demanda do mercado, de forma mais rápida. O interesse do mercado prevalece bem mais", aponta o professor Roberto Pereira Furtado, da Universidade Federal de Goiás (UFG). Confira a reportagem na íntegra! 93 https://g1.globo.com/educacao/guia-de-carreiras/noticia/maioria-dos-diplomas-em-educacao-fisica-sao-da-licenciatura-mas-procura-pelo-bacharelado-tem-crescido-mais-veja-o-raio-x.ghtml 11 O Processo da Regulamentação da Educação Física no Brasil 94 Caro aluno, A regulamentação da profissão em Educação Física foi de extrema importância para maior valorização e crescimento da área, pois garantiu por lei, a exclusividade de atuação apenas de profissionais graduados, o que não acontecia anteriormente. Apesar de a regulamentação ter se concretizado em 1º de Setembro de 1998, os movimentos em prol destes objetivos iniciaram no final da década de 1940 (NETTO, GENARI e GOBBI, 2019). Podemos dividir a história da regulamentação da profissão de Educação Física no Brasil em três fases: A primeira relacionada aos profissionais que manifestavam ou escreviam a respeito desta necessidade da regulamentação, porém, sem desenvolver ação nesse sentido; A segunda na década de 1980 quando tramitou o projeto de lei relativo à regulamentação sendo vetado pelo Presidente da República, José Sarney. A terceira, vinculada ao processo de regulamentação aprovado pelo Congresso e promulgado pelo Presidente da República Fernando Henrique Cardoso em 1º de setembro de 1998 (CONFEF, s/d). Todo o processo da regulamentação da profissão de Educação Física se deve a iniciativa das Associações dos Professores de Educação Física (APEFs), localizadas no Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo, que juntas fundaram a Federação Brasileira das Associações de Professores de Educação Física (FBAPEF) em 1946 (STEINHILBER, 1998). As APEFs promoveram diversos Congressos com o objetivo era discutir os rumos da disciplina e da profissão, apontando a necessidade de consolidar e conquistar a regulamentação, recebendo aprovação em todos os estados. Um exemplo desses eventos foi o III Encontro de Professores de Educação Física, organizado pela APEF da Guanabara, na cidade do Rio de Janeiro, em 1972, apresentando uma proposta de criação dos Conselhos Regionais e Federal de Educação Física (CONFEF, s/d). Contudo, somente na década de 80 que são efetivamente identificadas as ações para a apresentação do projeto de regulamentação da profissão ao poder legislativo. Em 22 de novembro de 1983, na reunião entre os diretores, professores e estudantes de Escolas de Educação Física, realizada em Brasília-DF, cujo propósito foi discutir sobre a problemática da atuação profissional em Educação Física, visando a criação de 95 um órgão orientador, disciplinador e fiscalizador do exercício profissional, coordenada pelo Prof. Benno Becker, membro da Comissão de Pesquisa em Educação Física e Desportos do MEC, apresentou um projeto elaborado, tendo como base os projetos de conselho regionais e federais da psicologia e medicina. Após discussão e debate, o projeto de lei foi aperfeiçoado (CONFEF, 1983). Chegaram ao acordo de que a proposta seria de criação de Conselho dos Profissionais de Educação Física, alertando a todos os presentes a respeito da tramitação que o projeto teria na Câmara dos Deputados e da necessidade de cada um mobilizar os representantes políticos de cada estado, para a defesa e o acompanhamento do projeto. Assim, os Professores Benno Becker e Antônio Amorim foram designados para o encaminhamento do projeto de lei ao poder legislativo (CONFEF, 1983). Do ano de 1984 em diante, as ações concretas foram iniciadas de fato para a regulamentação da profissão. No II Congresso de Esporte Para todos (EPT), na cidade de Belo Horizonte, em julho de 1984, o Prof. Dr. Inezil Penna Marinho propõe que seja modificado o nome designatório da atividade profissional para “Cineantropólogo”, “Antropocinesiólogo”, Kinesiólogo” ou “Antropocineólogo”. No entanto não houve concordância para a mudança do termo (NETTO, GENARI e GOBBI, 2019). Culturalmente e tradicionalmente, a designação do profissional nas intervenções na área dos exercícios físicos e desportivos, é Professor de Educação Física. A partir disso, surgiu a proposta, aceita posteriormente, de designarmos o interventor como “Profissional de Educação Física”. Desta forma, passou-se a defender a regulamentação do Profissional de Educação Física (NETTO, GENARI e GOBBI, 2019). Paralelamente, em 1984 foi apresentado o Projeto de Lei 4559/84, pelo Deputado Federal Darcy Pozza à Câmara dos Deputados, que dispunha sobre o Conselho Federal e os Regionais dos Profissionais de Educação Física, Desporto e Recreação, sendo oficialmente o primeiro projeto de regulamentação da profissão (CONFEF, s/d). O PL 4559/84 foi aprovado pelo Congresso Nacional, em dezembro de 1989, sendo vetado pelo, então, Presidente da República, José Sarney. Isso ocorreu no início do ano de 1990, baseando-se em parecer emitido pelo Ministério do Trabalho (CONFEF, s/d). No começo do ano de 1994, alguns grupos deestudantes de Educação Física, preocupados com o crescente aumento de pessoas sem formação atuando no mercado emergente, como em academias, clubes, condomínios, entre outros, procuraram a APEF do Rio de Janeiro (NETTO, GENARI e GOBBI, 2019). 96 A APEF então reafirmou a posição de que para impedir tal ilegalidade, fazia-se necessário um instrumento jurídico que determinasse serem os graduados em Educação Física, os profissionais responsáveis pela dinamização das atividades físicas (NETTO, GENARI e GOBBI, 2019). Dessa forma, era requerida para regulamentar a profissão, um novo movimento e mobilização da categoria, junto com a adesão de algum político para apresentar o projeto de lei e encarar o desgaste que representaria todo o tramite na Câmara de Deputados e no Senado Federal (CONFEF, s/d). Em prol da regulamentação, os Professores Jorge Steinhilber, Sergio Kudsi Sartori, Walfrido Jose Amaral e Ernani Contursi, decidem lançar um Movimento em Prol da Regulamentação. Assim, em Janeiro de 1995, durante o congresso da Federação Internacional de Educação Física (FIEP) em Foz do Iguaçu, o “Movimento pela regulamentação do Profissional de Educação Física” foi lançado na abertura do evento, dando posse solene dos membros conselheiros do 1º Conselho de Educação Física (STEINHILBER, 1998). A partir disso, várias ações foram iniciadas para a difusão do movimento, como por exemplo, o envio de correspondência às direções das Instituições de Ensino Superior de Educação Física, informando a respeito da importância e necessidade de regulamentarmos a profissão, apresentação do movimento e abertura de possibilidade da adesão ao mesmo, solicitando que a questão fosse amplamente divulgada, promovendo discussões e debates junto aos docentes e discentes (STEINHILBER, 1998). 97 Símbolo do movimento pela regulamentação da profissão em Educação Física Fonte: Disponível aqui A apresentação formal do projeto de lei relativo à regulamentação da profissão na Câmara dos Deputados foi feita pelo então Deputado Federal Eduardo Mascarenhas, através da PL de nº 330/95. Neste mesmo ano, 1995, o projeto foi analisado pela Comissão de Educação, Cultura e Desporto, consultando instituições de ensino, órgãos públicos relacionados com a área e notórios profissionais de Educação Física, sendo todos favoráveis à regulamentação (CONFEF, s/d). No início do ano de 1996, o projeto foi para na Comissão de Trabalho, Administração e Serviço Público, em que teve o Deputado Federal Paulo Paim como relator. Após um longas discussões, ajustes e substituições do projeto de lei, naquele ano não houve tempo hábil para ser apreciado na Comissão, devido ao recesso de final de ano (CONFEF, s/d). Em 1997, o trâmite foi lento, pois houve a troca de relator e entraves por conta de dúvidas por parte do Ministério do Trabalho. Assim, foi levado o projeto junto ao Secretário Executivo do Ministério do Trabalho, onde foram tiradas as dúvidas do Ministério, que por fim, deu “sinal verde” para o projeto ser incluído na pauta da Comissão (CONFEF, s/d). 98 https://www.confef.org.br/imagens/regulamentacao.ja.gif Imagem 13 - Diário Oficial da União com a sanção da lei 9696/98, que regulamentou a Profissão em Educação Física Fonte: Disponível aqui Em 22 de outubro de 1997, o projeto é aprovado por unanimidade em reunião ordinária e remetido para a Comissão de Constituição e Justiça e de Redação, sendo analisado até o dia 09 de junho de 1998, quando é considerado constitucional e aprovado por unanimidade (CONFEF, s/d). Na sessão plenária de 30 de junho de 1998 da Câmara dos Deputados, o projeto de lei 330/95 é debatido, apreciado e aprovado com parecer favorável de todos os oradores. A partir de primeiro de julho de 1998, o projeto de lei passa a ser analisado e apreciado então, pelo Senado Federal (NETTO, GENARI e GOBBI, 2019). No dia seguinte, 13 de agosto de 1998, o projeto foi incluído na ordem do dia do Senado, e após algumas manifestações dos parlamentares, o texto foi aprovado por unanimidade e encaminhado à sanção presidencial (NETTO, GENARI e GOBBI, 2019). Em 1º de Setembro de 1998, o Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, sanciona a lei 9696/98, publicada no Diário Oficial da União em 02/09/98 (CONFEF, s/d). 99 https://www.confef.org.br/imagens/DO_G.jpg%20Descri%C3%A7%C3%A3o:%20Di%C3%A1rio%20oficial%20da%20Uni%C3%A3o%20do%20dia%2002%20de%20setembro%20de%201998,%20com%20a%20lei%209696/98 A regulamentação foi ponto crucial para a defesa do Profissional de Educação Física, tendo a ideia principal de limitar quem poderia ou não atuar na área, afirmando que apenas podem operar os profissionais registrados nos Conselhos Regionais de Educação Física, colocando o critério de ingresso no exercício profissional sob fiscalização e decisão do Conselho (NETTO, GENARI e GOBBI, 2019). A regulamentação da profissão também foi importante para a sociedade porque protege os usuários das atividades físicas, pois, a partir de 1998, ele saberia que necessariamente uma pessoa regulamentada estaria promovendo aquela atividade (REPPORT FILHO, 2003). É importante destacar que apenas são inscritos nos quadros dos Conselhos Regionais de Educação Física os profissionais possuidores de diploma obtidos em cursos de Educação Física, oficialmente autorizado ou reconhecido. O inciso III, art. 2º da Lei também possibilitou as pessoas sem graduação que já exerciam atividades próprias dos Profissionais de Educação Física, antes da promulgação, recebessem do Conselho Federal de Educação Física (CONFEF) uma autorização com algumas particularidades, para trabalhar especificamente com aquilo que já faziam anteriormente (CONFEF, s/d). Esta emenda possibilitou a transição de um estado jurídico para outro, respeitando o direito adquirido, instituto constitucionalmente assegurado, e também, promoveu uma adaptação daqueles que exerciam a atividade sem nenhum tipo de conhecimento formal sobre o assunto. Estes registros são denominados de provisionados (CONFEF, s/d). Você percebeu que a lei 9696/98, além de regulamentar a profissão, também criou o CONFEF, órgão regulador, regulamentador, orientador e fiscalizador da atuação profissional. E na próxima aula falaremos sobre como funciona este órgão, apontando a devida importância para a solidez da profissão. Aguardo você! 100 As discussões pela regulamentação da profissão em Educação Física tiveram início na década de 40, com movimentos de professores por todo o país. A primeira tentativa de regulamentação foi vetada em 1989 pelo Presidente José Sarney. As discussões foram retomadas em 1994 com movimentos estudantis e discussões com as associações de professores. Um novo projeto de lei foi então apresentado em 1995 e discutido por longos anos, até ser sancionado em 1º de Setembro de 1998, pelo então Presidente da República Fernando Henrique Cardoso. A regulamentação trouxe para a profissão maior solidez, garantindo o direito dos graduados e protegendo a saúde dos praticantes de exercícios físicos. Acesse o link: Disponível aqui Nesta aula você viu o longo caminho que foi percorrido na luta pela regulamentação do Profissional de Educação Física, protegendo o direito dos graduados e garantindo maior segurança a sociedade. Sobre este assunto, o CONFEF fez um vídeo institucional falando de todo o processo que discutimos aqui, junto a outras informações importantes a você aluno de Educação Física. Confira então, a íntegra deste vídeo institucional! 101 https://www.youtube.com/watch?v=j6h7mbw00Z8 12 Conselho Federal de Educação Física 102 Caro aluno, Na aula anterior, você observou que a lei 9696/98, além de regulamentar a profissão, através de seu artigo 4º, também criou o CONFEF, órgão regulador, regulamentador, orientador e fiscalizador da atuação profissional. A criação deste foi de extrema importância para solidez da profissão, pois a partir de 1º de setembro de 1998 ficou instituído que apenas profissional devidamente registrado no Conselho da classe, está habilitados para a atuação, protegendo,acima de tudo, a sociedade. A intenção de se criar uma Ordem ou um Conselho ocorreu durante a década de 50, em que os professores Inezil Penna Marinho, Jacinto Targa e Manoel Monteiro apresentaram esta ideia e defendiam sua importância, fazendo paralelo sempre com as demais profissões regulamentadas, citando como exemplo a Ordem dos Advogados ou o Conselho dos Médicos (CONFEF, s/d). Como você acompanhou na última aula, após a longa trajetória pela regulamentação e criação do Conselho de Educação Física, em 08 de novembro de 1998, na cidade do Rio de Janeiro, a Federação Brasileira das Associações de Profissionais de Educação Física (FBAPEF) elegeu os primeiros membros do Conselho Federal de Educação Física (CONFEF), eleitos pelas Associações de Professores de Educação Fisica (APEFs) e Instituições de Ensino Superior em Educação Física (CONFEF, s/d). Na ocasião, o Professor Jorge Steinhilber, então presidente do Movimento Nacional pela Regulamentação do Profissional de Educação Física, apresentou a chapa dos Conselheiros, sendo aprovada por todos os presentes (CONFEF, s/d). A posse solene dos primeiros membros do CONFEF foi realizada no dia 10 de janeiro de 1999, na abertura do 14º Congresso Internacional de Educação Física da FIEP, em Foz do Iguaçu-PR, como agradecimento ao apoio da Federação ao Movimento da Regulamentação, presenciado por cerca de 1.500 congressistas (CONFEF, s/d). Desde então, o CONFEF é caracterizado como pessoa jurídica de direito público interno sem fins lucrativos, com sede e Foro na cidade do Rio de Janeiro/RJ e abrangência em todo o Território Nacional, tendo autonomia administrativa, financeira e patrimonial (CONFEF, 2010 ). O CONFEF hoje é composto de 28 Conselheiros, dos quais 20 são efetivos e oito são suplentes, com mandato de quatro anos, eleitos pelo Presidente de cada Conselho Regional de Educação Física (CREF) e pelo último ex-Presidente que tenha cumprido integralmente o mandato (CONFEF, 2010 ). 103 A missão do Sistema CONFEF/CREFs é garantir à sociedade que o direito constitucional de ser atendida na área de atividades físicas e esportivas seja exercido por profissionais de Educação Física (CONFEF, 2010). Os valores pregados pelo CONFEF são a Tradição, Legitimidade, Comprometimento, Cooperação, Tolerância, Democracia, o Saber profissional, Responsabilidade social e a Solidariedade. O Conselho tem poder delegado pela União para normatizar, orientar, disciplinar e fiscalizar o exercício das atividades próprias dos Profissionais de Educação Física e das pessoas jurídicas (academias, estúdios, etc), cuja finalidade seja a prestação de serviços nas áreas das atividades físicas e desportivas, em prol da sociedade (CONFEF, 2010 ). Criado em 1º de setembro de 1998, junto a regulamentação da profissão através da lei 9696/98, o Conselho Federal de Educação Física (CONFEF) tem atribuições de órgão regulador, regulamentador, orientador e fiscalizador, garantindo à sociedade o direito constitucional de ser atendida na área de atividades físicas e esportivas, exclusivamente por profissionais de Educação Física, prezando pela qualidade técnica, científica, pedagógica e compromisso ético. A regulamentação e a criação do próprio CONFEF, conferiram à Educação Física maior solidez e reconhecimento perante a sociedade brasileira. 104 A inscrição no CONFEF é feita através do registro nos Conselhos Regionais de Educação Física (CREFs), precisando atender aos seguintes critérios: Possuir diploma obtido em curso de Educação Física, oficialmente reconhecido pelo Ministério da Educação; Possuir de diploma em Educação Física expedido por instituição de ensino superior estrangeira, convalidado na forma da legislação em vigor; Ter comprovação de que, até dia 01 de setembro de 1998, tenha exercido atividades próprias dos Profissionais de Educação Física, nos termos estabelecidos em Resolução pelo CONFEF(CONFEF, 2010 ). Destaca-se que todo Profissional poderá solicitar a qualquer momento a baixa do registro ou o cancelamento dos quadros dos CREFs, mediante requerimento. Inclusive academias, estúdios, clubes desportivos, entre outros, na forma de pessoas jurídicas, obrigatoriamente precisam registrar-se no CREF em cuja área de abrangência territorial esteja incluída, que lhes fornecerá a certificação oficial. O registro dos centros de oferta das atividades próprias da Educação Física garantem parametrizações em prol da qualidade e segurança, junto à facilitação da fiscalização do exercício legal da profissão (CONFEF, 2010 ). Cumprindo com suas atribuições, compete ao CONFEF exercer a função normativa superior, baixando os atos necessários à interpretação e execução de suas normativas, assim como a disciplina e fiscalização do exercício profissional. Cabe ao CONFEF também zelar pela dignidade, independência, prerrogativas e valorização da Profissão de Educação Física e de seus Profissionais, fazendo levantamentos, estudos e análises, visando à reciclagem e atualização na área, bem como incentivar o aprimoramento técnico, científico e cultural dos Profissionais de Educação Física (CONFEF, 2010 ). Em complemento, o CONFEF normatiza os documentos da profissão, como por exemplo, o código de ética, documento de intervenção do profissional, carta brasileira de Educação Física. O mesmo se comunica com a sociedade e com os profissionais através de notas e manifestos, se posicionando referente aos diversos assuntos que influenciam direta e indiretamente na área (CONFEF, 2000; CONFEF, 2002; CONFEF, 2015). 105 Assim, todo profissional deve exercer sua atividade dentro das normas instituídas pelo CONFEF, defendendo dessa forma, a sociedade no seu direito de ser atendida por profissionais de Educação Física e com qualidade nos serviços oferecidos. A regulamentação se fez neste sentido, para que exercícios físicos não sejam ministrados por quem não tem conhecimento técnico, científico, pedagógico e compromisso ético, como nas demais profissões da área de saúde. Aquele que não tem formação e atua como falso profissional de Educação Física, oferece um sério risco à saúde do praticante, além de ser uma Contravenção Penal, sendo caracterizado como exercício ilegal da profissão, podendo ser julgado nas esferas criminais e civis (CONFEF, s/d). Para garantir estes direitos da sociedade, existe a necessidade de um acompanhamento mais próximo nos locais de prática de exercícios físicos para garantir a aplicação das normativas, assim como a necessidade de suporte para os Profissionais de Educação Física. No Brasil, por tamanha extensão territorial e quantidade de profissionais, seria difícil tal acompanhamento. Em agosto de 2020, quase 520 mil (517.116) profissionais constavam como ativos no cadastro CONFEF. Dessa forma, em 1999 foi iniciada a criação dos primeiros seis Conselhos Regionais de Educação Física (CREFs) para garantir as atribuições de regular, orientar e fiscalizar as atividades ligadas a área, cabendo a eles inclusive, a realização dos registros dos profissionais. Para finalizarmos esta aula, eu trouxe algumas curiosidades a respeito da nossa área. Você sabe qual é o Dia Nacional do Profissional de Educação Física? Você sabe qual é o símbolo da Educação Física? O Dia Nacional do Profissional de Educação Física é o 1º de Setembro, fazendo alusão à lei que regulamentou a profissão no Brasil. O reconhecimento desta data foi instituído em 18 de agosto de 2006, através da Lei Federal 11.342, sancionada pelo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ratificando o reconhecimento social da profissão. 106 Imagem 15 - Discóbolo de Mirón Fonte: Wikimedia. Já o símbolo oficial da Educação Física é o Discóbolo de Mirón, que foi escolhido em reunião plenária do CONFEF em 2002, por representar a força e o dinamismo característicos dessa profissão. O conceito vem da representação ideal de um atleta, captando a natureza do movimento como se tratasse de uma fotografia instantânea. 107 Acesse o link: Disponível aqui Nesta aula você pode perceber a importância de um órgão regulador,orientador e fiscalizador para garantir a solidez da profissão. Em relação a este assunto, atualmente corre no Supremo Tribunal Federal (STF) uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) que trata da criação do Conselho Federal e dos Conselhos Regionais de Educação Física, que, se julgada procedente, excluirá o sistema CONFEF/CREF, o que representará grande retrocesso para a Educação Física. “[...] no ano de 2005, a Procuradoria Geral da República entendia que a iniciativa de proposição da Lei 9696/1998 deveria partir do Poder Executivo e não do Poder Legislativo, exatamente como foi feito à época. Ao longo dos últimos 15 anos, por diversas vezes, a ADI nº 3428/2005 foi colocada e retirada da pauta de julgamento do STF. Entretanto, neste ano de 2020, o Sr. Ministro Luiz Fux decidiu pautar esta Ação, que foi incluída em pauta de julgamento virtual no último dia 03 de abril. [...] No último dia de votação, 14/04, o Ministro Gilmar Mendes requereu vista dos autos e, com isso, o julgamento foi suspenso. Até o momento da suspensão, o julgamento seguia indefinido, com 4 (quatro) votos pela inconstitucionalidade dos art. 4º e 5º da Lei Federal 9.696/1998, proferidos pelo Relator Min. Luiz Fux, acompanhado pelos Ministros Edson Fachin, Alexandre de Moraes e Ricardo Lewandowski. [...] Ainda não há previsão para retomada do julgamento.[...] Em qualquer que seja o cenário, o Sistema CONFEF/CREFs seguirá buscando o melhor encaminhamento para a situação apresentada, exercendo a sua missão de defender o direito da Sociedade brasileira ter os serviços em atividades físicas e esportivas prestados por Profissionais de Educação Física, condição imprescindível para garantir os benefícios decorrentes dessas práticas.” Confira na íntegra a notícia do site CONFEF com a descrição detalhada dos fatos! 108 https://www.confef.org.br/confef/comunicacao/noticias/1483 13 Conselhos Regionais de Educação Física 109 Caro aluno, Você acompanhou nas últimas aulas a descrição do processo histórico e a luta pela regulamentação da Profissão em Educação Física. Junto à regulamentação, o Conselho Federal (CONFEF) foi criado com atribuições de regular, orientar e fiscalizar para garantir segurança à sociedade e o direito do profissional graduado na área, dando maior solidez e reconhecimento. Por conta da extensão territorial do Brasil, para garantir as atribuições do CONFEF, em 1999 ao alcançar a marca de 20 mil profissionais registrados, foram criados os primeiros 6 Conselhos Regionais de Educação Física (CREFs) (CONFEF/sd). Em 2020, contamos com 21 Conselhos Regionais espalhados pelo país, sendo: CREF1/RJ-ES; CREF2/RS; CREF3/SC; CREF4/SP; CREF5/CE; CREF6/MG; CREF7/DF; CREF8/AM-AC-RO-RR; CREF9/PR; CREF10/PB; CREF11/MS; CREF12/PE; CREF13/BA; CREF14/GO-TO; CREF15/PI; CREF16/RN; CREF17/MT; CREF18/PA-AP; CREF19/AL; CREF20/SE; CREF21/MA. Os CREFs foram instalados, estruturados e orientados por ato específico do CONFEF e segundo o critério da divisão do país em regiões que, em função do número de Profissionais registrados, tem assegurado à autonomia administrativa e financeira (CONFEF, 2010). Cada regional tem sede e Foro na Capital de um dos Estados da Federação ou no Distrito Federal, exercendo em sua respectiva área de abrangência, as competências, vedações e funções atribuídas ao CONFEF, seguindo as normas estabelecidas na Lei nº. 9.696, de 01 de setembro de 1998. É importante destacar que, como você percebeu acima, alguns CREFs abrangem mais de um estado, visto a quantidade de profissionais registrados, como é o caso do CREF1/RJ-ES, CREF8/AM-AC-RO-RR, CREF14/GO-TO e CREF18/PA-AP (CONFEF, 2010). Os CREFs são compostos de 28 Conselheiros, dos quais 20 são Efetivos e oito Suplentes, com mandato de seis anos. A Diretoria dos CREFs é o órgão que exerce as funções administrativas e executivas, para mandato de três anos, sendo constituída pelo Presidente, 1º Vice-Presidente, 2º Vice-Presidente, 1º Secretário, 2º Secretário, 1º Tesoureiro e 2º Tesoureiro (CONFEF, 2010). Os Membros dos CREFs são eleitos pelo sistema de eleição direta, através de voto facultativo pessoal e secreto dos Profissionais de Educação Física registrados nos respectivos CREFs, em pleno gozo de seus direitos estatutários e com mais de um ano 110 de registro ininterrupto, sendo realizadas a cada três anos (CONFEF, 2010). Para garantir que as funções do Conselho Federal de Educação Física (CONFEF) sejam cumpridas em todas as regiões do país, a partir de 1999 foram criados os primeiros seis Conselhos Regionais de Educação Física (CREFs). Hoje em dia, contamos com 21 CREFs espalhados por todas as regiões do Brasil, onde alguns abrangem mais de um estado. Os Conselhos Regionais tem função de registrar e habilitar o exercício da profissão, fazendo o cadastro e expedindo as cédulas de identidade dos profissionais graduados em suas respectivas áreas de abrangência, assim como o registro das pessoas jurídicas que prestam ou ofereçam serviços nas áreas de atividades físicas e desportivas. Além disso, a fiscalização da atuação profissional também fica a cargo dos CREFs, garantindo o direito do graduados e protegendo a sociedade. Dentre as atribuições dos Conselhos Regionais, assim como consta no Estatuto do CONFEF (2010), podemos destacar: Registrar e habilitar ao exercício da Profissão; Registrar as Pessoas Jurídicas que prestam ou ofereçam serviços nas áreas das atividades físicas, desportivas e similares; Expedir Cédula de Identidade Profissional para os Profissionais e Certificado de Registro de Funcionamento para as Pessoas Jurídicas e entidades que ofereçam ou prestem serviços nas áreas das atividades físicas, desportivas e similares. Quanto à fiscalização da atuação profissional e dos locais de oferta de atividades ligadas à Educação Física, o mesmo estatuto dispõe: 111 Campanha publicitária do CONFEF sobre a Cédula de Identidade Profissional. Fonte: Disponível aqui Fiscalizar o exercício profissional e os serviços ofertados na área de sua abrangência, representando, inclusive, às autoridades e Órgãos competentes, sobre os fatos que apurar e cuja solução ou repressão não sejam de sua alçada. É importante destacar que, todos os profissionais, além de graduados em Educação Física, devem estar registrados no CREF da região em que atua para estar habilitado à atuação prática. Caso um profissional mude de endereço para uma área de abrangência diferente daquela em que se encontra registrado, o mesmo precisa solicitar a transferência, pois o documento de Identidade do Profissional de Educação Física tem validade regional, segundo a normatização prevista na Resolução CONFEF nº 076/2004. Um recurso extremamente importante para que seja assegurado o direto da sociedade em ser atendido por um profissional graduado e registrado, é a área de busca no site do CONFEF, em que qualquer pessoa consegue pesquisar pelo nome, se quem está realizando o entendimento nas áreas pertinentes à Educação Física, é de fato um Profissional. 112 https://www.confef.org.br/ Busca por Profissionais de Educação Física registrados no Sistema CONFEF/CREFs Fonte: Disponível aqui Acessando www.confef.org.br, no canto superior direito do site, consta a busca por registrados. Digitando o nome que se deseja, o sistema apresentará todos os registrados e sua respectiva região de cadastro no CREF, como demonstrado no exemplo abaixo (Imagem 17). Realizando a busca e não identificando o registro de determinada pessoa que esteja exercendo a profissão, deve-se formalizar denúncia de exercício ilegal da profissão através site do CREF da região em que o fato ocorre, para que o Conselho faça a fiscalização. Atualmente com o crescimento dos atendimentos on-line, é cabível denúncia também, quando caracterizado tal exercício ilegal nas redes sociais. Várias pessoas, inclusive famosas, têm sido autuadas pelos CREFs em várias regiões do país. Os Conselhos fiscalizam dentro de sua abrangência regularmente, porém, são as denúncias que aumentam a efetividade das identificações de irregularidadese autuações. É importante destacar também que, estudantes de Educação Física só podem atuar na prática mediante supervisão de um profissional graduado e registrado, estando o estágio oficializado por meio de contrato “empresa-escola”, garantindo direitos ao 113 https://www.confef.org.br/confef/busca/ aluno, de acordo com a Lei Federal de nº 11.788/2008. Segundo o Ministério da Educação (MEC), este vínculo só pode ocorrer a partir da metade do curso de ensino superior, ou seja, a partir do sexto termo. Caso o aluno atue fora destes padrões estabelecidos, o mesmo poderá ser enquadrado no art. 47 do Decreto-Lei 3.688/1941 (Lei de Contravenções Penais) por exercício ilegal de profissão. Nos termos do art. 12 da Lei nº 11.788/2008, a remuneração do estágio não obrigatório é compulsória, através de bolsa ou outra forma de contraprestação que venha a ser acordada, bem como a concessão do auxílio-transporte. Para o estágio obrigatório, realizado no último ano da graduação como parte dos critérios e carga horária do curso de Educação Física, a concessão de bolsa ou outra forma de contraprestação e auxílio-transporte é facultativa. Ainda sobre os CREFs, entrando nas questões financeiras e normativas, o Estatuto do CONFEF (2010) aponta atribuições de: Fixar, dentro dos limites estabelecidos pelo CONFEF, o valor das contribuições, anuidades, taxas, multas e emolumentos, através de Resolução sobre o tema; Arrecadar contribuições, anuidades, taxas, serviços, multas e emolumentos na forma que deliberar o seu Plenário, segundo diretrizes estabelecidas pelo CONFEF; Elaborar e aprovar Resoluções sobre assuntos de sua competência; Cumprir e fazer cumprir as disposições da Lei Federal nº. 9.696, de 01 de setembro de 1998, das disposições da legislação aplicável, do seu Estatuto, do seu Regimento, das Resoluções e demais atos; É importante conhecermos as atribuições do sistema CONFEF/CREFs para que possamos, de fato, cobra-las na prática. Alguns profissionais, ao desconhecer as atribuições legais do órgão, cobram assuntos que não são da competência dos mesmos. Por exemplo, os assuntos ligados aos cursos de ensino superior, são de responsabilidade do Ministério da Educação e de normativas da União. 114 Outro assunto erroneamente cobrado do sistema CONFEF/CREF é referente ao estabelecimento de valores relativos a piso salarial e valor de hora de trabalho, que na verdade é de competência dos Sindicatos dos trabalhadores da categoria no estado, município ou grupo de municípios, que podem, através de acordos ou convenções coletivas de trabalho com o Sindicato Patronal, estabelecer tais valores. O piso salarial também pode ser definido por leis federais e estaduais, podendo variar de acordo com a região do País. Para assuntos que não são legalmente de competência do Conselho, cabe apenas ao mesmo lançar notas e manifestos, apontando o posicionamento e anseios da classe. A respeito dos documentos norteadores da área, podemos destacar três principais: Carta Brasileira de Educação Física; Código de Ética do Profissional de Educação Física; Documento de Intervenção do Profissional de Educação Física. Estes documentos trazem informações extremamente importantes para a atuação profissional de qualidade e para que a sociedade conheça melhor a nossa atuação. Trataremos então, especificamente de cada um desses documentos nas próximas aulas. Espero você! Acesse o link: Disponível aqui Nesta aula você viu as funções dos Conselhos Regionais de Educação Física, assim como sua importância para melhor acompanhar e atender os profissionais e a sociedade como um todo. Sobre este assunto, o CREF/SP fez um vídeo institucional abordando a importância da atuação do Profissional de Educação Física e como o Conselho pode, de fato, atuar. Confira a íntegra deste vídeo institucional! 115 https://www.youtube.com/watch?v=MDddha65A7A 14 Carta Brasileira de Educação Física 116 Caro aluno, Nas últimas aulas você observou a importância da atuação do Sistema CONFEF/CREFs para a solidez da Educação Física, assim como a própria regulamentação da profissão. Deste modo, com o intuito de orientação, o CONFEF lançou vários documentos direcionados aos profissionais e sociedade. Um deles é a Carta Brasileira de Educação Física. A ideia de sua produção se deu no Congresso Mundial FIEP, em Foz do Iguaçu/PR, com o lançado do Manifesto Mundial FIEP de Educação Física no ano 2000. Este Manifesto, a partir do pressuposto do direito de todos à Educação Física, renovou o conceito de Educação Física e estabeleceu as relações da mesma com as outras áreas (Educação, Esporte, Cultura, Ciência, Saúde, Lazer e Turismo) e ainda evidenciou o seu compromisso com os grandes questões da Humanidade, como a exclusão social, países subdesenvolvidos, pessoas com necessidades especiais, meio ambiente e a cultura da paz (CONFEF, 2000). O manifesto também absorveu praticamente todos os documentos da segunda metade do século XX publicados no mundo, o que possibilitou caracterizá-lo como uma síntese dos posicionamentos internacionais declarados. No final de século passado, a Educação Física se propôs a oferecer as pessoas de todas as idades, uma ação comprometida com a melhoria da sociedade, adotando um novo posicionamento no Brasil para a missão de construir a Carta Brasileira de Educação Física, a cargo do CONFEF (CONFEF, 2000). O CONSELHO FEDERAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, durante o Fórum Nacional dos Cursos de Formação Profissional em Educação Física do Brasil (Belo Horizonte/ Agosto/ 2000), pela Legitimidade alcançada com a conquista da Lei nº 9696/1998, que regulamentou o exercício profissional na área de Educação Física no Brasil; Representando os Profissionais brasileiros de Educação Física; Reconhecendo que a nação está necessitando mais que uma Educação Física para a sua população, mas a imprescindibilidade da instalação urgente de um PROCESSO DE QUALIDADE em todas as ações inerentes a esta área, que possa provocar uma renovação nas reflexões e discussões nos próximos anos, na diversidade das várias conjunturas culturais, sociais e educacionais do país; CUMPRE O COMPROMISSO DE APRESENTAR o seguinte texto para a CARTA BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO FÍSICA (CONFEF, 2000). 117 Capa do documento oficial do CONFEF “Carta Brasileira de Educação Física” Fonte: Disponível aqui A carta apresenta à sociedade a importância da área, apontando que os Profissionais de Educação Física no Brasil, devem ser identificados como trabalhadores qualificados e registrados no sistema CONFEF/ CREFs, devendo possuir uma formação acadêmica sólida e permanentemente envolver-se em programas de aprimoramento técnico- científico e cultural (CONFEF, 2000). Acrescenta-se que, para a construção de uma Educação Física de Qualidade, sem distinção de qualquer condição humana e sem perder de vista a formação integral das pessoas, sejam crianças, jovens, adultos ou idosos, as atividades terão que ser conduzida pelos Profissionais de Educação Física como um caminho de desenvolvimento de estilos de vida ativos nos brasileiros, para que possa contribuir para a Qualidade de Vida da população (CONFEF, 2000). Para isso a preparação de Profissionais para uma Educação Física de Qualidade no Brasil deverá ser rediscutida, comparada e ampliada. REDISCUTIDA para que os currículos acadêmicos de preparação se harmonizem com as últimas renovações conceituais ocorridas na 118 https://www.confef.org.br/confef/conteudo/21 Educação Física, incorporando inclusive, perspectivas de Educação Continuada, para que esses profissionais possam acompanhar os avanços técnicos e científicos da área, a cada momento de suas trajetórias de atuação; COMPARADA, através de indicadores efetivos, à preparação de Profissionais de Educação Física de países vizinhos, para que os futuros Tratados de correspondências acadêmicas nos blocos sócio- economicos da América Latina sejam equiparados em padrões considerados de Qualidade; AMPLIADA com a preparação complementada resultante de cursos, eventos, estágios clínicas etc.,oferecidos por organizações de distintas naturezas, desde que se apresentem com o compromisso da Qualidade (CONFEF, 2000). Dentre os parâmetros para o desenvolvimento de uma Educação Física de qualidade, o CONFEF (2000) destaca que a prática de exercícios físicos deve ser entendida como direito fundamental e não como obrigação dos brasileiros, focando no desenvolvimento de habilidades motoras, atitudes, valores e conhecimentos, procurando levá-los a uma participação ativa e voluntária em atividades físicas e esportivas ao longo de suas vidas. Também aponta que as aulas devem ser ministradas com foco na alegria, e que as práticas corporais e esportivas sejam prazerosas, respeitando as leis biológicas de individualidade, do crescimento, do desenvolvimento e da maturação humana, ajudando a todos a desenvolver respeito pela sua corporiedade e os das outras pessoas, através da percepção e entendimento do papel das atividades físicas na promoção da saúde (CONFEF, 2000). Deve-se destacar também que a qualidade da área depende da ação cada vez mais intensa da comunidade acadêmica quanto à pesquisa, intercâmbio e difusão de informações e programas de cooperação técnico-científica. A carta brasileira de Educação Física, aponta grandes importâncias da área para o ambiente escolar também, destacando ser indispensável sua obrigatoriedade no ensino básico (infantil, fundamental e médio), fazendo parte de um currículo longitudinal ao longo da passagem dos alunos pelas escolas. Importante frisar que a 119 Educação Física deve interagir e integrar-se com as outras disciplinas na composição do currículo escolar, sendo dotada de instalações e meios materiais adequados (CONFEF, 2000). A Educação Física deve usar as práticas esportivas e jogos em seu conteúdo sob a forma de Esporte Educacional, não reproduzindo o esporte de rendimento no ambiente escolar, devendo apresentar-se com regras específicas que permitam atender a princípios socioeducativos, possibilitando aos alunos uma variedade considerável de experiências, vivências e convivências no uso de atividades físicas e no conhecimento de sua corporeidade (CONFEF, 2000). O CONFEF (2000), por meio da Carta Brasileira, aponta também as responsabilidades dos governos para o fomento de Educação Física de qualidade, sugerindo a inserção de uma Política de valorização da Educação Física para os cidadãos brasileiros através de programas e campanhas efetivas de promoção das atividades físicas em todas as idades. Reivindica também a valorização da atuação dos Profissionais de Educação Física, solicitando a abertura de concursos e oportunidades de trabalho para atuações em todos os espaços públicos, além da promoção de programas de capacitação. Acima de tudo, os governos devem ter a compreensão da Educação Física como um meio de promoção da Saúde e assim, propiciar ações favoráveis a beneficiar toda a sociedade (CONFEF, 2000). Assim, esses são os aspectos principais levantados pela carta Brasileira de Educação Física, na busca por reconhecimento e qualidade da área. Na próxima aula, falaremos de outro documento que influencia diretamente como a área é vista dentro da sociedade: O Código de Ética do Profissional de Educação Física. Aguardo você! 120 A Carta Brasileira de Educação Física foi criada no ano de 2000 pelo Conselho Federal de Educação Física (CONFEF), sendo uma síntese de vários documentos internacionais, com o intuito de apresentar para a sociedade e importância da área, assim como apontar caminhos para a oferta das atividades com qualidade nos diversos campos de atuação, destacando que a prática de exercícios físicos deve ser entendida como direito fundamental dos brasileiros, focando no desenvolvimento de habilidades motoras, atitudes, valores e conhecimentos, procurando levá-los a uma participação ativa e voluntária em atividades físicas e esportivas ao longo de suas vidas. Acesse o link: Disponível aqui Você acabou de conhecer alguns pontos da Carta Brasileira de Educação Física. Este documento é muito importante para que você entenda verdadeiramente os caminhos para a construção de uma Educação Física de qualidade, como papel primordial na promoção da saúde da sociedade brasileira. Assim, confira na íntegra este documento no site do CONFEF! 121 https://www.confef.org.br/confef/conteudo/21 15 Código de Ética dos Profissionais de Educação Física 122 Caro aluno, Nesta aula discutiremos um documento que parametriza a atuação profissional quanto à conduta e imagem a se passar para a sociedade, adequando todos os profissionais à proposta contida na Carta Brasileira de Educação Física (CONFEF, 2000), que reformulou o conceito da profissão. Antes de tudo, vamos conceituar “ética”. O dicionário Aurélio da língua portuguesa define como sendo: O estudo dos juízos de apreciação que se referem à conduta humana susceptível de qualificação do ponto de vista do bem e do mal, seja relativamente à determinada sociedade, seja de modo absoluto (FERREIRA, 2020). Ou seja, a ética é um segmento da filosofia que se dedica à análise das razões que ocasionam, alteram ou orientam a maneira de agir do ser humano, geralmente tendo em conta seus valores morais. Já no âmbito profissional, o indivíduo atua dentro de um sistema e é necessário que ele respeite a ordem do mesmo, para que possa, com ética, ter sucesso como indivíduo. Cada conjunto de profissionais deve seguir uma ordem que permita a evolução harmônica do trabalho de todos, a partir da conduta de cada um, através de uma tutela no trabalho que conduza à regulação do individualismo perante o coletivo (LOPES DE SÁ, 2001). Assim, o Código de Ética do Profissional de Educação Física tem o intuito de adoção da ética na promoção das atividades físicas, desportivas e similares, mobilizando dos integrantes da categoria profissional para assumirem seu papel social e se comprometerem, além do plano das realizações individuais, com a realização social e coletiva (CONFEF, 2015). Com a regulamentação da Educação Física como atividade profissional, identificou-se a importância do conhecimento técnico e científico especializado junto ao desenvolvimento de competência específica para sua aplicação, possibilitando 123 Capa do documento oficial do CONFEF “Código de Ética do Profissional de Educação Física” Fonte: Disponível aqui estender a toda a sociedade os valores e os benefícios advindos da sua prática. O Código de Ética então se propõe a normatizar a articulação das dimensões técnica e social com a dimensão ética, para garantir a união de conhecimento científico e atitude. Dessa forma, o exercício profissional em Educação Física se baseia nos seguintes princípios: O respeito à vida, à dignidade, à integridade e aos direitos do indivíduo; A responsabilidade social; A ausência de discriminação ou preconceito de qualquer natureza; O respeito à ética nas diversas atividades profissionais; A valorização da identidade profissional no campo das atividades físicas, esportivas e similares; A sustentabilidade do meio ambiente; A prestação, sempre, do melhor serviço a um número cada vez maior de pessoas, com competência, responsabilidade e honestidade; A atuação dentro das especificidades do seu campo e área do conhecimento, no sentido da educação e desenvolvimento das potencialidades humanas, daqueles aos quais presta serviços (CONFEF, 2015). 124 https://www.confef.org.br/confef/resolucoes/381 O Código descreve alguns direitos do Profissional de Educação Física, como exercer a Profissão sem ser discriminado, receber salários ou honorários pelo seu trabalho profissional, participar de movimentos de defesa da dignidade profissional, apontar falhas ou irregularidades nos regulamentos e normas, formalmente, por escrito, aos gestores de eventos e de instituições que oferecem serviços no campo da Educação Física quando os julgar tecnicamente incompatíveis com a dignidade da profissão ou prejudiciais aos beneficiários (CONFEF, 2015). Completa ainda que, referente ao relacionamento com outros colegas de profissão,é vedado ao Profissional de Educação Física oferecer ou disputar serviços profissionais mediante rebaixamento moral de honorários ou concorrência desleal, fazer referências prejudiciais ou de qualquer modo desabonadoras, provocar desentendimento com colega que venha o substituir no exercício profissional (CONFEF, 2015). Fonte: Disponível aqui O Código de Ética do Profissional de Educação Física tem por base a lei 9696/98 e os conteúdos da Carta Brasileira de Educação Física, com o intuito de adoção da ética na promoção das atividades físicas, desportivas e similares, mobilizando dos integrantes da categoria profissional para assumirem seu papel social e se comprometerem, além do plano das realizações individuais, com a realização social e coletiva. Com a regulamentação da Educação Física como atividade profissional, identificou- se a importância do conhecimento técnico e científico especializado junto ao desenvolvimento de competência específica para sua aplicação, possibilitando estender a toda a sociedade os valores e os benefícios advindos da sua prática. Este Código, então, se propõe a normatizar a articulação das dimensões técnica e social com a dimensão ética, para garantir a união de conhecimento científico e atitude do profissional. 125 https://educacao.uol.com.br/disciplinas/portugues/giria-e-jargao-a-lingua-mudaconforme-situacao.htm Com observância na lei 9696/98, o profissional tem papel crucial no auxílio da aplicação e cumprimento da mesma, devendo auxiliar a fiscalização do exercício Profissional, denunciar aos órgãos competentes as irregularidades no exercício da profissão ou na administração das entidades de classe e zelar pelo cumprimento do Código de Ética (CONFEF, 2015). Inclusive, comete infração ética aquele Profissional que tiver conhecimento de transgressão deste Código e omitir-se de denunciá-la ao respectivo Conselho Regional de Educação Física. Qualquer descumprimento do código de ética da classe, o profissional fica sujeito a penalidades, como: Advertência escrita, com ou sem aplicação de multa; Censura pública; Suspensão do exercício da profissão e Cancelamento do registro profissional e divulgação do fato (CONFEF, 2015). As penalidades são aplicadas de acordo como julgar o Tribunal Regional de Ética (TRE), que são de responsabilidade dos Conselhos Regionais de Educação Física (CREFs), que tem função de julgar infrações e aplicar penalidades previstas no Estatuto e em atos normativos baixados pelo CONFEF, conhecendo, processando e decidindo os casos que lhe forem submetidos, adotando as medidas jurídicas legais cabíveis (CONFEF, 2000). Assim, o ideal da profissão define-se pela prestação de um atendimento melhor e mais qualificado a um número cada vez maior de pessoas, tendo como referência um conjunto de princípios, normas e valores éticos livremente assumidos, individual e coletivamente, pelos Profissionais de Educação Física (CONFEF, 2015). Os acadêmicos de Curso de Graduação em Educação Física, devem se conscientizar de que esta é uma profissão que tem como foco principal o desenvolvimento junto à Sociedade de uma cultura de estilo de vida que possa ser suficientemente ativo, permitindo ao cidadão viver e conviver a seu modo e de acordo com seus anseios, necessidades e desejos. Ainda assim, é importante ressaltar que acadêmicos são indivíduos que ainda não preparados de assumir legalmente as responsabilidades profissionais e sociais. 126 Quem aceita prestar serviços sem ter a competência necessária ou sem estar atento para que esta se concretize, comete infração aos princípios da ética, em razão do prejuízo defluente. Desconhecer, como realizar a tarefa ou apenas saber fazê-la parcialmente, em face da totalidade do exigível para a eficácia, é conduta que fere os preceitos da doutrina da moral e da ética (LOPES DE SÁ, 2001). Após levantarmos todos esses aspectos referentes ao código de ética do Profissional de Educação Física, convido vocês, estudantes deste curso com linda importância na sociedade, a ler os juramentos que são proferidos no dia da colação de grau dos cursos de bacharelado e licenciatura, respectivamente. 127 Dessa forma, reflita sobre estes juramentos e, dessa forma, desenhe seus caminhos para um futuro profissional ético e compromissado com a promoção de saúde da sociedade. 128 Acesse o link: Disponível aqui Você sabia que além do Código de Ética do Profissional de Educação Física, o Conselho Federal de Educação Física (CONFEF) elaborou um “Guia de Princípios de Conduta Ética do Estudante de Educação Física”? Este guia serve como alerta sobre a fundamental importância da responsabilidade ética e sobre a necessidade da uma formação de qualidade e continuada. Então, complemente os estudos desta aula, conferindo na íntegra este guia! 129 http://www.listasconfef.org.br/arquivos/2019/com/documentos_fundamentais/guia_do_estudante.pdf 16 A Intervenção do Profissional de Educação Física 130 Caro aluno, Chegamos à nossa última aula desta disciplina. Ao longo do processo, você acompanhou a linha histórica e os fatos que moldaram a nossa Educação Física ao ponto que conhecemos atualmente. Neste último documento norteador da profissão, gostaria de trazê-lo a mais uma reflexão a respeito da forma como você deverá atuar, assim que graduado, conectando com as informações discutidas lá na nossa segunda aula, em que abordamos “A Educação Física como Profissão” e foi apresentado um panorama geral da atuação profissional na sociedade brasileira. Este documento de “Intervenção do Profissional de Educação Física”, tem caráter de descrever e definir as atividades próprias da área, de acordo com a Lei 9696/98, a partir do mercado de trabalho e da pluralidade de competências próprias destes profissionais. É importante afirmar para toda a sociedade que é prerrogativa do profissional graduado em Curso Superior de Educação Física (Licenciatura ou Bacharelado), com registro no Sistema CONFEF/CREFs, a prestação de serviços em todas as atividades relacionadas à prática de exercícios físicos Educação Física e nas suas diversas manifestações e objetivos. Este é um campo profissional legalmente organizado, integrado a área da saúde e da educação, sendo necessário que, em todas as ocupações profissionais da área de Educação Física, se considere esta realidade (CONFEF, 2002). O documento aponta que o Profissional de Educação Física é especialista em atividades físicas nas suas diversas manifestações, como ginásticas, exercícios físicos, desportos, jogos, lutas, capoeira, artes marciais, danças, atividades rítmicas, expressivas e acrobáticas, musculação, lazer, recreação, reabilitação, ergonomia, relaxamento corporal, ioga e exercícios compensatórios à atividade laboral e do cotidiano (CONFEF, 2002). 131 Capa do documento do CONEFEF a respeito da Intervenção do Profissional de Educação Física Fonte: Disponível aqui O profissional tem competências para atividades de desenvolvimento das práticas corporais, tendo como propósito prestar serviços que favoreçam o desenvolvimento da educação e da saúde, contribuindo para a capacitação e restabelecimento de níveis adequados de desempenho e condicionamento fisiocorporal dos seus praticantes, visando o bem-estar e a qualidade de vida (CONFEF, 2002). É importante destacar também que o profissional de Educação Física tem suas atribuições ligadas à prevenção de doenças, de acidentes, de problemas posturais, da compensação de distúrbios funcionais, contribuindo para a autonomia, a autoestima, a cooperação, a solidariedade e a cidadania, observados os preceitos de responsabilidade, segurança, qualidade técnica e ética no atendimento individual e coletivo (CONFEF, 2002). Em sua atuação, o profissional de Educação Física utiliza diagnóstico, define procedimentos, ministra, orienta, desenvolve, identifica, planeja, coordena, supervisiona, leciona, organiza e avalia as atividades físicas, desportivas e similares, sendo especialista no conhecimento do exercício físico e da motricidade humana nas suas diversasmanifestações e objetivos (CONFEF, 2002). 132 https://www.confef.org.br/imagens/documentos/intervencao_profissional.jpg É importante destacar que o profissional deve a atender às diferentes expressões do movimento humano presentes na sociedade, considerando o contexto social e histórico-cultural, as características regionais e os distintos interesses e necessidades, com competências e capacidades de identificar, planejar, programar, supervisionar, dinamizar, executar e avaliar os serviços e projetos (CONFEF, 2002). Entre os serviços do profissional de Educação Física, podemos destacar a realização de auditorias, consultorias, treinamentos especializados, participação de equipes interdisciplinares, informes técnicos, científicos e pedagógicos, envolvendo as áreas das atividades físicas, do desporto e afins (CONFEF, 2002). Podemos inclusive apontar que o profissional de Educação Física exerce suas atividades por meio de intervenções, legitimadas por diagnósticos, utilizando-se de métodos e técnicas específicas de avaliação, prescrição e de orientação de sessões de exercícios físicos, com fins educacionais, recreacionais, de treinamento e de promoção da saúde, sempre fazendo observância da Legislação pertinente e o Código de Ética Profissional, sujeito à fiscalização em suas intervenções pelo Sistema CONFEF/CREFs (CONFEF, 2002). A respeito das intervenções, o profissional utiliza procedimentos diagnósticos, técnicas e instrumentos de medidas e avaliação funcional, motora, biomecânica, composição corporal, assim como a programação e aplicação de dinâmica de cargas 133 de treinamento, técnicas de demonstração, auxílio e segurança à execução dos movimentos, servindo-se de instalações, equipamentos e materiais para estas finalidades (CONFEF, 2002). O Documento de Intervenção do Profissional de Educação Física tem caráter de descrever e definir as atividades próprias da área, de acordo com a Lei 9696/98, a partir do mercado de trabalho e da pluralidade de competências próprias destes profissionais, sendo prerrogativa do profissional graduado em Curso Superior de Educação Física (Licenciatura ou Bacharelado), com registro no Sistema CONFEF/CREFs, a prestação de serviços em todas as atividades relacionadas à prática de exercícios físicos Educação Física e nas suas diversas manifestações e objetivos. Este é um campo profissional legalmente organizado, integrado à área da saúde e da educação, exercendo suas atividades por meio de intervenções, legitimadas por diagnósticos, utilizando-se de métodos e técnicas específicas de avaliação, prescrição e de orientação de sessões de exercícios físicos, com fins educacionais, recreacionais, de treinamento e de promoção da saúde. O documento de Intervenção do Profissional de Educação Física (CONFEF, 2002) descreve algumas capacidades importantes para a atuação, sendo: Compreender, analisar, estudar, pesquisar (profissional e academicamente), esclarecer, transmitir e aplicar os conhecimentos biopsicossociais e pedagógicos da atividade física e desportiva nas suas diversas manifestações, levando em conta o contexto histórico cultural; Atuar em todas as dimensões de seu campo profissional, o que supõe pleno domínio da natureza do conhecimento da Educação Física e das práticas essenciais de sua produção, difusão, socialização e de competências técnico- instrumentais a partir de uma atitude crítico-reflexiva e éticas; Disseminar e aplicar conhecimentos práticos e teóricos sobre a Educação Física (Atividade Física/Motricidade Humana/Movimento Humano), analisando-os na 134 relação dinâmica entre o ser humano e o meio ambiente; Promover uma educação efetiva e permanente para a saúde e a ocupação do tempo livre e de lazer, como meio eficaz para a conquista de um estilo de vida ativo e compatível com as necessidades de cada etapa e condições da vida do ser humano; Contribuir para a formação integral de crianças, jovens, adultos e idosos, no sentido de que sejam cidadãos autônomos e conscientes; Estimular e fomentar o direito de todas as pessoas à atividade física, por vias formais e/ou não formais; Promover estilos de vida saudáveis, conciliando as necessidades de indivíduos e grupos, atuando como agente de transformação social e Conhecer e utilizar os recursos tecnológicos, inerentes à aplicação profissional. Ainda dentro do contexto da atuação profissional, a partir da regulamentação da profissão através da lei 96969/98, cabe ressaltar que atletas não são considerados Profissionais de Educação Física, sendo extensivo este entendimento aos atletas de lutas e de artes marciais, bem como, aos dançarinos e bailarinos. Esta concepção pode ser adotada também em relação ao árbitro esportivo, sendo profissional que faz parte do esporte, exercendo uma função que exige conhecimento e habilidades específicas da modalidade, porém não o caracterizam como Profissional de Educação Física (CONFEF, 2002). 135 Cabe destacar que o profissional de Educação Física não pertence à área da estética, apesar de alguns alunos praticantes buscarem o treinamento físico com esta finalidade. No documento de Intervenção do Profissional, o termo “estética” só se faz presente ao se referir a “estética do movimento”, referindo-se à boa execução dos exercícios. O termo aparece também ao citar os locais onde há a possibilidade das atividades ligadas a Educação Física, podendo ser ofertadas em centros de estética, clínicas condomínios, centros de lazer, academias, clubes, parques, praças, entre outros (CONFEF, 2002), onde o Bacharel em Educação Física é entitulado como profissional da saúde através da classificação de número 2241-40 do ministério do trabalho. Por fim, dada à dimensão e a importância do documento aqui descrito, decorrente da realidade surgida com a regulamentação da profissão, espera-se que o mesmo traduza o entendimento da sociedade brasileira sobre a Intervenção dos Profissionais de Educação Física. 136 Acesse o link: Disponível aqui Você acabou de conhecer alguns pontos abordados no Documento de Intervenção do Profissional de Educação Física. Este documento é muito importante, pois descreve e delimita as atuações próprias da área, assim como os locais, meios de intervenção e capacitação profissional. Confira mais informações pertinentes ao assunto na íntegra deste documento no site do CONFEF! 137 https://www.confef.org.br/confef/conteudo/82 Conclusão Chegamos ao final da nossa disciplina! Nela pudemos acompanhar os principais aspectos históricos que influenciaram as transformações da Educação Física, que culminaram na forma de atuação e importância para a sociedade que presenciamos hoje. Você viu que desde a pré-história, os movimentos corporais, objeto de estudo principal da Educação Física, sempre teve importância na vida do homem com a finalidade de defender-se e atacar através dos movimentos naturais na luta pela sobrevivência. Dentro das civilizações como a grega e a romana, a preparação física tinha a importância voltada para a guerra, questões terapêuticas e higiênicas. Mas foi na renascença e no iluminismo que a Educação Física adquiriu conhecimentos voltados a medicina e filosofia. Entrando na idade contemporânea, as escolas de ginástica alemã, francesa, escandinava e inglesa influenciaram grandemente a área pelo mundo, cujos objetivos eram o militar para a preparação a guerra, pedagógica dentro das escolas, médica voltada a higiene e saúde, preparação físico dos trabalhadores e também estética. Vimos que foi o surgimento da Calistenia que abriu caminho para grande avanço da Educação Física moderna, com parâmetros base para o que temos atualmente. No Brasil, vivemos vários fases distintas, tendo influências da área médica, militar durante os períodos de tendência Higienista e Militarista. A partir de 1945, com o Pedagogicismo, você percebeu que a área escolar avançou grandemente, mas infelizmente foi suprimida com golpe militar de 1964, com a implantação do Esportitivismo como tendência ideológica. Apenas na década de 80 que as tendênciaspedagógicas como a Psicomotricidade, Desenvolvimentista, Construtivista, Saúde Renovada, Crítico-superadora, Critíco-emancipatória e Parâmetros curriculares nacionais, deram maior qualidade e olhar progressista a área. Junto a este processo histórico, você observou as lutas pela regulamentação da profissão que se iniciou na década de 1940, que se concretizou apenas em 1998. A partir disso, a área ganhou grande solidez e importância na sociedade com a criação do Conselho Federal de Educação Física, tendo crescido e ganhado mais espaço, atuando tanto na área escolar como da saúde, com finalidade de transformação social e promoção de hábitos saudáveis na população brasileira, sempre prezando pela ética e qualidade no atendimento. 138 Então, caro aluno, esta disciplina apresentou a você todos os processos e fatos que trouxeram a Educação Física ao patamar atual, cabendo aos novos profissionais a responsabilidade de manter o crescimento e evolução constante, atuando sempre com ética e atenção aos beneficiários das práticas corporais provenientes desta maravilhosa área. Foi um prazer caminhar com você até aqui! Agradeço a companhia e desejo que você se apaixone pela Educação Física a cada dia mais, da forma como eu me apaixonei. Leve sempre consigo esta frase de Confúcio: “Escolha um trabalho que você ame e não terás que trabalhar um único dia em sua vida.” Forte abraço! Prof. Me. Pedro Henrique Rodrigues 139 Material Complementar Livro História da Educação Física no Brasil Autor: Inezil Penna Marinho Editora: Cia Brasil Sinopse: Nesta obra, o autor sinaliza a tentativa de preservar a memória da Educação Física, pois seus trabalhos foram constituídos de maneira a se tornar testemunhos, perpetuando sua produção e sua inserção como autoridade na Educação Física brasileira. Comentário: Este livro te ajudará a entender os primórdios da Educação Física no país, aprofundando os assuntos trabalhados nesta disciplina. Livro Educação Física Progressista Autor: Paulo Ghiraldelli Junior Editora: Edições Loyola Sinopse: Nesta obra, o autor discorre a respeito de tendênciaspedagógicas voltadas ao desenvolvimento crítico e visão social através daEducação Física brasileira. Comentário: Recomenda-se esta obra, visto os assuntosabordados nesta disciplina acerca da história e evolução da Educação Física.Está é será uma oportunidade para você aprofundar seus estudos neste assunto. 140 ALIJAS, R. D. R; TORRE, A. H. D. Calistenia: Volviendo a losorígenes. Emásf, Revista Digital de Educación Física, 2015. 6(33): 87-96. AMARAL, C. R. Calistenia no Plano Geral da Educação Física. Associação dos professores de Educação física do estado da Guanabara, n.6, 1965. ARANTES A. C. Cronograma sobre o atendimento dado às crianças. Pequeno cronograma sobre o processo de escolarização no Brasil: incluindo-se a Educação Física escolar. 2007. AZEVEDO, F. Da Educação Physica. São Paulo: Melhoramentos, 1920. BAGNARA, Ivan Carlos; LARA, Aline de Almeida; CALONEGO, Chaiane. O processo histórico, social e político da evolução da Educação Física. Revista Digital EFDesportes - Buenos Aires - Año 15 - Nº 145 - Junio de 2010. BETTI, M. Educação física e sociedade. 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