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Segundo Birman &Costa (1994) possivelmente a psiquiatria clássica desenvolveu uma crise teórica e pratica, que ocorreu principalmente pelo fato de acontecer uma mudança do objeto desta, que deixa de ser tratamento da doença mental para se tornar promoção da saúde mental. E no contexto dessa crise que surgiram novos experimentos sobre o funcionamento da mente, as novas psiquiatrias. Existem dois grandes períodos em que são redimensionados os campos teórico-assistenciais da psiquiatria, no primeiro período acontece uma crítica a estrutura asilar e a questão central desse período se encontra na crença positivista de que o manicômio é uma instituição de cura, fazem então uma reforma interna da organização psiquiátrica. Essa crítica inicial percorre um longo percurso, iniciado no interior do hospício até atingir sua periferia. O segundo período é marcado pela extensão da psiquiatria ao espaço público, que se organiza com objetivo de prevenir e promover a ‘saúde mental’. Essa periodização se apresenta como diversas estratégias para atingir o mesmo fim, sendo dois movimentos difusos que propõe fins diferentes somente na superfície, pois nas profundezas esses fins se encontram. A mesma estrutura que efetiva uma psiquiatria institucional é a que torna possível também a psiquiatria comunitária e as duas tem como visão o mesmo objetivo que é a promoção da Saúde Mental, sendo essa alcançada como um processo de adaptação social. A terapêutica deixa de ser individual para ser coletiva, passa de assistencial para preventiva. A psiquiatria passa a construir um novo projeto social, que tem consequências políticas e ideológicas muito importantes. O Holocausto Brasileiro aconteceu na cidade de Barbacena em Minas Gerais no Hospital Colônia Barbacena, fundado em 1903 e projetado para ser um hospital psiquiátrico. Naquela época exceto quem tivesse formação na área não sabia como lidar com as diversas doenças mentais. A proposta desse hospital era dar uma esperança as famílias sobre o tratamento da doença dos pacientes. Em pouco tempo o hospital virou uma referência pois procura era muito grande pela sociedade. O hospital prometia ajudar pessoas com problemas psiquiátricos e doenças mentais, porem o que era para ser a princípio um refúgio para a saúde mental dos pacientes, começou a virar o destino de desajustados na sociedade: homossexuais, militantes políticos, mães solteiras, alcoólatras, mendigos, negros entre outros. O pior de tudo era que a medicina com uma ideia higienista justificava essa varredura de pessoas para fora da sociedade “normal”. As pessoas que eram mandadas para os hospícios na grande maioria eram pessoas desajustadas Qualquer um podia ser mandado para o hospital sem muito esforço. Era muito fácil conseguir diagnostico de loucura e ser mandado para aquela verdadeira tortura, mais de 70% dos residentes do hospital/abatedouro não eram pessoas com problemas mentais. A teoria Eugenista que sustentava a ideia de exclusão de elementos indesejados da sociedade a fim de “melhorar“ a população, ajudou a fazer uma limpeza social e fortaleceu o hospital de certa forma “justificando” os abusos. O objetivo maior tornou-se a livrar a sociedade da escoria desfazendo-se dela onde, de preferência a visão não pudesse alcançar, ou seja, qualquer pessoa diferente ou que ameaçasse a ordem pública era mandada diretamente para o Barbacena, pessoas que não tinham doença alguma chegavam pelo “trem dos loucos” todos os dias. Em 1930 o lugar que foi projetado para abrigar cerca de 200 pessoas tinha mais de 5000 pacientes residindo com 70% de pessoas sem nenhuma doença. Normalmente as pessoas chegavam mandadas de trem com uma passagem somente de ida, e a maioria delas nem sabia para onde estava sendo mandado. Com a superlotação do local e a falta de recursos que certamente eram desviados, pois nos registros o hospital recebia muito dinheiro para seu funcionamento, foram necessárias medidas drásticas, como colocar capim no chão para as pessoas que estavam sem local para dormir “descansarem”. As condições das pessoas eram muito precárias, havia desnutrição, falta de higiene e até faltavam roupas para os prisioneiros do hospital. Quando os pacientes chegavam no Barbacena eram separados por sexo, idade e características físicas, eram obrigados a entregar todos os pertences e até mesmo as roupas que usavam. Muitas mulheres começavam a chorar quando chegava por constrangimento de ter que ficar nuas em frente a muitas pessoas, após isso iam para o banho coletivo, geralmente gelado, todos os homens tinham seus cabelos raspados. Inclusive a colônia era gigantesca e tinha 16 pavilhões e cada um tinha um setor diferente, cada um ia para seu setor e tinha até trabalho escravo, as mulheres eram encaminhadas para o departamento A conhecido como assistência, onde tinham seus nomes trocados pelos funcionários e perdiam sua história deixando de ser mães, filhas e esposas e se tornando apenas um número na contagem de pacientes. Qualquer pessoa diferente que ameaçasse a ordem pública era mandada para o hospital, gente sem doença alguma ia para o hospital para ficarem longe da sociedade higienista, soberba e elitista. O hospício era uma espécie de hospedaria de todo tipo de “marginais”: prostitutas, ladroes, loucos vagabundos, enfim todos que ameaçassem a lei e ordem social. A medicina da época meio que justificava esse tipo de chacina nos hospícios. Criticar essa sociedade que foi conivente com um ato desumano desses é necessário e não nos faz fazer menos parte dessa sociedade problemática, nos faz ter uma noção de que as coisas são MUITO absurdas quando as pessoas não se encaixam nos padrões que os outros procuram/impõem. Os pacientes eram constantemente torturados, sendo amarrados na cama, usavam tratamento de eletrochoque, muitos não aguentavam e faleciam e outros ficavam com ferimentos muito graves, o tratamento com eletrochoque era extremamente comum juntamente com os medicamentos e serviam muito mais para intimidar as pessoas do que como um tratamento mesmo, davam banho com agua fervendo. Os pacientes eram agredidos diariamente e os que se revelavam eram colocados em celas minúsculas, úmidas e sem nenhuma forma de se agasalhar, como castigos as vezes alguns pacientes eram obrigados a tomar banho de mergulho em uma banheira com fezes e urina. Eram tratados como lixo e sem dignidade nenhuma, pacientes morriam todos os dias e chegou uma época que isso era tão comum que as pessoas nem ligavam mais. Os funcionários tinham noção de que o que era feito não era o certo, mas nunca denunciavam. Esse terror se seguiu por muitos e muitos anos, e 1961 o fotografo Luiz Alfredo da revista Cruzeiro foi mandado a Barbacena para cumprir uma pauta e encontrou fezes e coco por todo o hospício, mulheres nuas à mercê de um estupro, falta de comida e agua. Na reportagem ele disse que “Eram cenas de um Brasil que reproduziam menos de duas décadas depois da Segunda Guerra Mundial o modelodos campos de concentração nazistas” a reportagem ganhou 5 páginas na revista e ocorreu uma grande movimentação política e o povo se comoveu bastante. Porém o tempo se passou e tudo continuou igual. O Brasil é um pais cheio de culturas etnias e povos diferentes e é isso que faz o pais ser lindo da forma como é, com todas as suas diferenças. As imagens que existem do hospital são extremamente chocantes. Pessoas nasceram, cresceram e morreram no hospital colônia sem conhecer a liberdade, até mesmo as pessoas que foram libertas não sabiam como reagir com o mundo afora, pois estavam acostumadas somente com torturas e maus tratos dos diversos tipos.
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