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Instituto de Ciências Biomédicas USP Bactérias geneticamente modificadas em Biotecnologia 1. Contexto histórico 2. Ferramentas da Engenharia Genética 2.1. DNA-ligase 2.2. Enzimas de restrição 2.3. Métodos para Transformação genética bacteriana (E. coli) 2.4. Construção de recombinantes bacterianos 2.5. Seleção e Análise dos clones recombinantes construídos 3. Como funciona a técnica CRISPR-CAS9 4. Inovações: Alguns produtos derivados da Engenharia Genética bacteriana 5. Questões Profa. Elisabete Vicente. bevicent@usp.br 1. Transferência do material genético - Contexto histórico Em 1928, Frederick Griffith um pneumologista inglês observou pela primeira vez a TRANSFORMAÇÃO GENÉTICA BACTERIANA Ele tinha 2 cepas da bactéria que ele chamava Diplococcus pneumoniae (atualmente melhor denominada Streptococcus pneumoniae): - A cepa lisa S (tinha cápsula) viva, quando injetada em camundongo, levava a sua morte; - A cepa rugosa R (NÃO tinha cápsula) viva, quando injetada em camundongo, não causava a sua morte. Então, - Inoculou no camundongo cepa lisa S inativada pelo calor, e também observou que não causava sua morte; - Inoculou uma mistura da cepa lisa S inativada pelo calor + cepa rugosa R viva. Esta mistura causava a morte do camundongo. Conclusão de Griffith: Há alguma coisa que é transferida da “cepa rugosa” para a “cepa lisa” que promove a sua TRANSFORMAÇÃO. Streptococcus pneumoniae - cepa lisa S A natureza do material genético é o DNA 1944: Avery, MacLeod, McCarty 1. Transferência do material genético - Contexto histórico Em 1943, as técnicas da Bioquímica já haviam avançado, permitindo aos pesquisadores Avery, MacLeod e McCarty realizarem a separação do lisado bacteriano chamado de “Principio Transformante” em frações de macromoléculas: - Lipídeos - Polissacarídeos - Proteínas - Ácidos Nucléicos Experimento: - Eles incubaram bactérias com cada uma destas frações. Verificaram que apenas a Fração que continha Ácidos Nucléicos (DNA e RNA) promovia a “Transformação Genética: bacteriana. Conclusão de Avery, MacLeod e McCarty A natureza do material genético é o DNA. Em 1946, Lederberg e Tatum perceberam que estavam diante de um novo mecanismo de transferência de material genético entre bactérias. Eles trabalhavam com dois mutantes auxotróficos da bactéria E. coli. Mutantes auxotróficos crescem em meio completo, pois estes contêm hidrolisado de proteínas; e somente crescem em em meio mineral quando estes são suplementados com os devidos aminoácidos. Experimento: Incubaram os dois mutantes auxotróficos juntos em um único tubo que continha meio completo. Após o cultivo, semearam uma alíquota em meio mineral. Surpreendentemente, observaram crescimento de algumas colônias. O que fizeram para entender o que estava ocorrendo? Resposta: Experimento do Tubo em U. --> Premio Nobel ! - Construíram um “Tubo em U” (este foi o “equipamento”) com uma membrana semipermeável no fundo, que permita a passagem de DNA, mas não permitia a passagem de células bacterianas que são bem maiores; -Os dois mutantes foram semeados em meio liquido completo, cada um deles de um lado do “Tubo em U” ; -Após o cultivo, alíquotas de ambos os lados do tubo foram semeadas em meio mínimo sólido. Resultado: -Alíquotas coletadas de nenhum do “Tubo em U” originaram colônias em meio mínimo sólido. Não foi observada qualquer transferência de material genético. Conclusão de Lederberg e Tatum Para que ocorra este tipo de transferência de material genético entre bactérias é necessário o contato intimo entre ambas as células bacterianas. Chamaram este novo mecanismo de “CONJUGAÇÃO BACTERIANA” . A Conjugação NÃO ocorre A Conjugação ocorre Fig.: Bactérias realizando conjugação. Para que ocorra a conjugação bacteriana é necessário que haja contato intimo entre duas bactérias e que estas estejam viáveis. Posteriormente se verificou: - que bactérias capazes de fazer conjugação têm plasmídeos conjugativos; - Somente alguns plasmídeos são conjugativos. Assim, as clonagens realizadas em “Engenharia Genética” busca-se trabalhar com plasmídeos não conjugativos, visando a sua não distribuição pelo meio ambiente. 1951: criação do termo “Engenharia Genética” (“Genetic Engineering”) por Jack Williamson (1908- 2006), em sua novela ficcional “Gragon’s Island” 1. Transferência do material genético - Contexto histórico A dupla dupla hélice do DNA Em 1955, Watson e Crick propuseram que a molécula do DNA tem estrutura em dupla hélice A teoria foi construída com base em 3 conhecimentos: 1. Transferência do material genético - Contexto histórico 1) Conhecimento dos blocos construtores do DNA Contém três tipos de componentes químicos: - o fosfato, - um açúcar (desoxirribose) e Fig. - quatro bases nitrogenadas (adenina, timina, citosina, guanina) 3. Os resultados de difração de Raios X de Rosalind Franklin Raios-X foram disparados nas fibras de DNA purificado. A analise da dispersão destes raios nas fibras foram captadas em um filme fotográfico. Neste filme, os raios formam pontos e a interpretação da dispersão destes pontos pode ser analisada empregando-se cálculos matemáticos. Esta dispersão forma um ângulo e fornece informações sobre a posição de um ou de um grupo de átomos na molécula de DNA. Conclusão permitida por esta técnica: O DNA é uma molécula helicoidal, longa e fina, contendo duas partes similares que são paralelas e correm ao longo da molécula. 2) Regras de Chargaff Erwin Chargaff havia relatado que a quantidade de nucleotídeos apresenta uma proporção numa mesma espécie. Assim, - o número de timinas (T) é aproximadamente o mesmo de adeninas (A) e - O numero de citosinas (C) é aproximadamente o mesmo de guaninas (G). - Mas a quantidade de A+T não é necessariamente igual à quantidade de C+G e essa proporção varia nos organismos diferentes: - Ex.: No DNA humano, há 30% de adenina, 30,3% de timina; e. 19,5% de guanina e 19,9% de citosina. - Ex.: No DNA do rato há 28,6% de adenina, 28,4% de timina; e 21,4% de guanina e 21,5% de citosina. Rosalind Franklin Foto da difração de raios-X de uma molécula purificada de DNA mostrando padrões que permitiram a determinação das distâncias entre as bases A,T,C,G constituintes A dupla dupla hélice do DNA Em 1955, Watson e Crick propuseram que a molécula do DNA tem estrutura em dupla hélice A teoria foi construída com base em 3 conhecimentos: 1. Transferência do material genético - Contexto histórico 1) Conhecimento dos blocos construtores do DNA Contém três tipos de componentes químicos: - o fosfato, - um açúcar (desoxirribose) e Fig. - quatro bases nitrogenadas (adenina, timina, cianina, guanina) 3. Os resultados de difração de Raios X de Rosalind Franklin Raios-X foram disparados nas fibras de DNA purificado. A analise da dispersão destes raios nas fibras foram captadas em um filme fotográfico. Neste filme, os raios formam pontos e a interpretação da dispersão destes pontos pode ser analisada empregando-se cálculos matemáticos. Esta dispersão forma um ângulo e fornece informações sobre a posição de um ou de um grupo de átomos na molécula de DNA. Conclusão permitida por esta técnica: O DNA é uma molécula helicoidal, longa e fina, contendo duas partes similares que são paralelas e correm ao longo da molécula. 2) Regras de Chargaff Erwin Chargaff havia relatado que a quantidade de nucleotídeos apresenta uma proporção numa mesma espécie. Assim, - o número de timinas (T) é aproximadamente o mesmo de adeninas (A) e - O numero de citosinas (C) é aproximadamente o mesmo de guaninas (G). - Mas a quantidade de A+T não é necessariamente igual à quantidade de C+G e essa proporção varia nos organismos diferentes: - Ex.: No DNA humano, há 30% de adenina, 30,3% de timina; e. 19,5% de guanina e 19,9% de citosina. - Ex.: No DNA do rato há 28,6% de adenina, 28,4% de timina; e 21,4% de guanina e 21,5% de citosina. Esquema de uma dupla fita de DNA, sendo replicada. https://books.google.com.br/books?id=CESjmRQtfrUC&printsec=frontcov er&source=kp_read_button&redir_esc=y&hl=pt-BR#v=onepage&q&f=false1972 – Criação da PRIMEIRA MOLÉCULA DE DNA RECOMBINANTE: Paul Berg realizou a primeira experiência bem sucedida onde foram ligadas duas cadeias genéticas diferentes: - uma cadeia de DNA do fago λ junto ao óperon da galactose de Escherichia coli, com - o DNA do vírus SV40 (Simian vírus 40). Criação das Ferramentas da Engenharia Genética 1. Transferência do material genético - Contexto histórico O experimento histórico de Paul Berg e col. envolveu inserção de DNA do bacteriófago lambda no DNA do vírus de símio SV40, cujo hospedeiro natural é o macaco. O DNA de ambos os vírus ocorre em “loops” fechados. - 1ª Etapa: os loops foram cortados pela enzima de restrição EcoRI, originando 2 moléculas lineares; - 2ª Etapa: para unir as extremidades dessas duas moléculas lineares, usando um procedimento desenvolvido pelos colegas de Stanford; - 3ª Etapa: os dois DNAs foram misturados, onde se reuniram em “loops” de tal maneira que os novos “loops” combinavam os DNA de cada fonte. O experimento de Berg resultou no primeiro “DNA recombinante” produzido pelo homem, como essas moléculas hibridas passaram a ser chamadas. A cerimônia de entrega do Prêmio Nobel de Química de Berg em 1980, compartilhada com Walter Gilbert e Frederick Sanger, destacou este trabalho. Fonte: ftp://atenas.cpd.ufv.br/DBG/material%20curso%20bioinfo/Leitura %20B%E1sica/Biochemical%20Method%20for%20Inserting%20 New%20Genetic%20Information%20Into%20DNA%20of%20Simi an%20Virus%2040%20-%20Circular%20S.pdf 1. Transferência do material genético - Contexto histórico 1973 - Criação do PRIMEIRO OGM (ORGANISMO GENETICAMENTE MODIFICADO) pelos labs de Herbert Boyer e Stanley Cohen Genes de Resistência foram inseridos em um plasmídeo da bactéria Escherichia coli. criação das Ferramentas da Engenharia Genética Bactérias geneticamente modificadas em Biotecnologia 2. Ferramentas da Engenharia Genética 2.1. DNA-ligase 2.2. Enzimas de restrição 2.3. Métodos para Transformação genética bacteriana (E. coli) 2.4. Construção de recombinantes bacterianos 2.5. Seleção e Análise de clones recombinantes construídos 2.1. DNA-ligase DNA ligase do bacteriófago T4 O fago T4 é um bacteriófago que infecta Escherichia coli que é capaz de sofrer um ciclo de vida lítico. Ao contrário da DNA ligase de E. coli, que utiliza como cofator o NAD, ela utiliza o ATP. A DNA ligase de fago T4 é a DNA ligase mais utilizada em biologia molecular, porque ela pode ligar vários tipos de extremidades de DNA. - Extremidades abruptas de DNA, e, - Extremidades coesivas (geradas pela ação de enzimas de restrição, que veremos a seguir). Fig.: DNA ligase de fago T4: A imagem demonstra como a ligase (oval amarela) catalisa a ligação de duas cadeias de fragmentos de DNA. A ligase une os dois fragmentos de DNA para formar uma fita mais longa de DNA, colando-os juntas. 1967: DNA ligase é descoberta - trabalhos com bacteriófagos lambda (Martin Gellert). A enzima DNA ligase Todos os organismos possuem a enzima DNA ligase que catalisa a ligação de duas fitas de DNA. E para quê? Esta enzima é muito importante pois é necessária durante dois processos básicos celulares: - “Replicação do DNA” , e - “Reparo de lesões que estejam presentes no DNA”. Mecanismo de ação: A DNA ligase catalisa a formação de duas ligações fosfodiéster covalentes entre as extremidades hidroxila 3‘ de um nucleotídeo ("aceitador"), com a extremidade fosfato 5' de outra ("doadora"). Duas moléculas de ATP são consumidas para cada ligação fosfodiéster formada. 2. Ferramentas da Engenharia Genética 2.2. Enzimas de restrição EXTREMIDADES COESIVAS “sticky ends” EXTREMIDADES ABRUPTAS EXTREMIDADES COESIVAS NOMENCLATURA As enzimas de restrição recebem nomes de acordo com a bactéria que a produziu, Ex.: EcoR I Gênero: Escherichia Espécie: coli Ordem de descoberta: 1ª enzima descoberta nesta bactéria 2.2. Enzimas de restrição ENZIMAS DE RESTRIÇÃO Proteínas que reconhecem e clivam o DNA em pontos específicos, geralmente em sequências de 4, 6 e 8 bases, palindrômicas (idênticas em ambas as fitas quando lidas 5’ --> 3’) 2.2. Enzimas de restrição Exemplo de uma frase palindrômica: “SUBI NO ONIBUS” SUBINOONIBUS SUBINOONIBUS Enzimas de restrição: reconhecem sequencias palindrômicas GAATTC Você sabe Qual foi a enzima aqui empregada? 2.2. Enzimas de restrição Qual enzima aqui foi empregada? 2. Ferramentas da Engenharia Genética 2.2. Enzimas de restrição reconhecem sequencias palindrômicas Algumas Enzimas de restrição (reconhecem sequencias palindrômicas) extremidades coesivas 5’ (5’ protruding ends”) extremidades abruptas (“blunt ends”) NNGGATCCNN NNCCTAGGNN NNG_AATTCNN NNCTTAA_GNN 2. Ferramentas da Engenharia Genética 2.2. Enzimas de restrição Alguns Exemplos de Enzimas de restrição 2.3. Métodos para Transformação genética bacteriana (E. coli) Transformação genética por eletroporação Transformação genética com CaCl2 Os dois métodos mais utilizados para se realizar a transformação genética da bactéria E. coli são: 1974. Foi o primeiro método de “Transformação genética” de E. coli desenvolvido. É feita uma cultura de bactéria E. coli bem fresca. Quando esta cultura está no meio da fase exponencial, as células são tratadas com uma solução CaCl2, e a incubação e feita com os tubos mergulhados em gelo picado. Uma alíquota das células tratadas é incubada com uma alíquota de plasmídeo que será empregado na transformação genética. Apos a incubação, as células são semeadas em meio completo solido contendo antibióticos. Os clones recombinantes serão as colônias crescidas nas placas contendo meio solido com antibiótico. Posteriormente, foi desenvolvida uma nova técnica que permite a obtenção de transformantes com maior eficiência. Ou seja , a obtenção de mais transformantes com menor quantidade de DNA plasmidial. Ao invés de fazer o tratamento com CaCl2, a mistura das células bacterianas + plasmídeo é submetida a uma corrente elétrica em um equipamento chamado “Eletroporador”. Equipamento Eletroporador e Cubeta de incubação 2.3. Métodos para Transformação genética bacteriana (E. coli) Transformação genética com CaCl2 Os dois métodos mais utilizados para se realizar a transformação genética da bactéria E. coli são: Atualmente, protocolos completos, derivados destes originais podem ser encontrados em Sambrook, J., Fritsch, E.F., and Maniatis, T., Molecular cloning: a laboratory manual. New York: Cold Spring harbor laboratory press, 1989. Também podem ser obtidos em vários sites, como: https://www.sigmaaldrich.com/technical-documents/protocols/biology/competent- cells.html?gclid=EAIaIQobChMIn-OSq_- n6gIVjISRCh3JlQAGEAAYASAAEgIGqPD_BwE Transformação genética por eletroporação 1973. COHEN E BOYER Constroem o primeiro OGM - Organismo geneticamente modificado Qual foi a sequencia de eventos ? • Organismos vivos podem ser portadores de genes de outros organismos; • Enzimas de restrição clivam DNA e, com estes fragmentos, é possível construir DNA recombinante; • Fragmentos de DNA isolados de um organismo podem ser manipuladas e inseridas outro organismo 1º OGM Atualmente, nos preocupamos com: quais serão as Etapas que serão empregadas para CONSTRUIR o OGM ? a Segurança! - Qualidade desejada (o que queremos obter afinal?) - Fonte do DNA: DNA total, cDNA, PCR, Síntese in vitro, Bibliotecas metagenômicas, outras possibilidades - Que técnica empregar para Construir o DNA recombinante desejado: Clonagem dos fragmentos em vetores, diferentes tipos de vetores, CRISP-CAS9, - Qual será o hospedeiro da molécula recombinante construída 2. Ferramentas da Engenharia Genética 2.4. Construção de recombinantes bacterianos Construção de uma molécula de DNA recombinante 1. Enzimas de restrição 2. DNA-ligase de fago T4 2. Ferramentas da Engenharia Genética 2.4. Construção de recombinantes bacterianos 1ª Etapa: Construção in vitro de uma molécula de DNA recombinante Mas, estas etapas são realizadasem microtubos (do tipo “Eppendorf”), e como fazer para amplificar o número destas moléculas de DNA recombinante? 2. Ferramentas da Engenharia Genética 2.4. Construção de recombinantes bacterianos Hospedagem do plasmídeo recombinante Emprego do plasmídeo recombinante em TRANSFORMAÇÃO GENÉTICA da bactéria E. coli Clivagem com enzima de restrição Ligação covalente pela DNA ligase DNA exógeno Transformação Genética (inserção em bactéria) Plasmídeo . Clivagem com enzima de restrição Seleção dos clones bacterianos recombinantes Semeadura em Meio sólido contendo antibiótico 2.4. Construção de recombinantes bacterianos 2ª Etapa: - Enzimas: enzimas de restrição - DNA ligase de fago T4 Vetores de clonagem ( tamanhos de insertos permitidos) : - Plasmídeos (0,1 a 10 Kb) - Fago λ (0,1 a 18 Kb) - Cosmídeos, combinam vantagens de plasmídeos e de fagos) (20 a 50 Kb) - BAC (“bacterial artificial chromossomes”), permitem a clonagem de fragmentos de DNA ainda maiores, que depois podem ser sub-clonados em plasmídeos. Insertos: - Fragmentos de DNA digeridos por Enzimas de Restrição - Fragmentos de DNA amplificados por PCR - cDNA (DNA complementar sintetizado a partir de um mRNA) Hospedeiros finais: - E. coli - Levedura (Saccharomyces cerevisiae e outras ) - Células animais, - Células vegetais 2. Ferramentas da Engenharia Genética 2.4. Construção de recombinantes bacterianos Algumas ferramentas usadas para obter um OGM Obs: mesmo quando o hospedeiro final não seja E. coli, esta bactéria é sempre empregada na primeira Etapa de clonagem e seleção dos vetores recombinantes. Somente após esta Etapa, DNA recombinante analisado e isolado/purificado em quantidade suficiente é empregada para realizar a Transformação genética do hospedeiro final. Etapas anteriores: Foram construídos in vitro dos plasmídeos recombinantes, a mistura de ligação foi empregada na transformação genética de E. coli., e células bacterianas transformadas foram semeadas em meio solido contendo antibiótico. Fig.: (a) Semeadura da mistura de ligação em (b)meio solido contendo antibiótico 2. Ferramentas da Engenharia Genética 2.4. Seleção e Análise de clones recombinantes construídos (a) (b) Nesta Etapa: Seleção das colônias bacterianas que crescem em meio sólido com antibiótico e que contem o inserto desejado. Como deve ser feita depende do tipo que plasmídeo que foi empregado na construção in vitro. Quando e empregado plasmídeo do tipo pBR322 (meto mais antigo, mas ainda em uso) 1) Plasmídeo + inserto são digeridos com a mesma Enzima, por Exemplo, com BamHI; e é feita a ligação de ambos com T4- DNA ligase (a) ; Os plasmídeos nos quais ocorrer a inserção de DNA no sitio BamHI sofrerão interrupção do gene de resistência a Tetraciclina (tet). 2) A mistura de ligação (a) é empregada na transformação genética de E. coli; 3) Após a transformação genética, realiza-se a semeadura das células em meio sólido contendo Ampicilina (Amp) (b); 4) Um a um, usando um “Grid e palitos esterilizados: (c) os clones que crescerem em meio solido com Amp são semeados em em duas placas com meio sólido: uma com com Ampicilina e outra com Tetraciclina (tet). Os clones que não conseguirem crescem em Tetraciclina serão aqueles que contem insertos. (c) Meio completo + Amp Meio completo + tet Colônias que aqui crescem e aqui não crescem Contêm plasmídeos com insertos 2. Ferramentas da Engenharia Genética 2.4. Seleção e Análise de clones recombinantes construídos Fig.: Seleção de clones recombinantes construídos com o plasmídeo pBR322 2. Ferramentas da Engenharia Genética 2.4. Seleção e Análise de clones recombinantes construídos Quando e empregado plasmídeo do tipo “Bluescript” como PUC19 ou pBluescript SK ETAPAS: - Após a transformação genética de E. coli, realiza-se a semeadura das células bacterianas em meio sólido contendo Ampicilina (Amp) + Xgal (após ação da - Galactosidase origina substância de cor azul) + IPTG (indutor do óperon lac); - As colônias bacterianas que contiverem plasmídeos cresceram (AmpR) e serão: - Azuis (sem insertos), ou - Brancos (com insertos). Explicação: A inserção de DNA no sitio de clonagem do plasmídeo resulta na interrupção do gene codificador de β-Galactosidase e, assim, os clones bacterianos não produzirão esta enzima. (b) Plasmídeos “Bluescript” assim são chamados porque permitem a seleção direta dos clones que contêm plasmídeos com insertos (clones brancos). 1) Eles contêm o promotor e parte do gene estrutural codificador da β-Galactosidase de E. coli. 2) Para que o sistema de seleção Bluescript funcione, é necessário o emprego de linhagens especiais E. coli que capazes de fazer a α-complementação; 3) Possuem um múltiplo sitio para clonagens de DNA. A inserção de DNA neste sitio resulta na interrupção do gene β- Galactosidase a não produção da Enzima cuja produção pode ser detectada com X-GAL + IPTG. 2.4. Seleção e Análise de clones recombinantes construídos Fig.: Seleção de clones recombinantes construídos com o plasmídeo pUC19 Colônia Branca = Transformante com inserto (o gene codificador de -gal foi interrompido) Colônia Azul = Transformante sem inserto Identificação visual de colônias recombinantes que contem insertos (colônias brancas = receberam plasmídeos onde o gene lacZ foi interrompido) Óperon lac Fig.: Confirmação e estocagem de clones recombinantes E. coli contendo plasmídeos “Bluescript” com insertos (a). Utilizando um gabarito (“grid”) e palitos estéreis, as colônias brancas podem ser transferidas para novo meio completo contendo Ampicilina + XGal + IPTG. Em todas as placas, deve-se sempre repicar em um ponto o Controle (b) (E. coli recombinante que recebeu o plasmídeo sem inserto) que deverá apresentar cor azul, para garantia de que há IPTG + X-Gal no meio. 2. Ferramentas da Engenharia Genética 2.4. Seleção e Análise de clones recombinantes construídos Controle (E. coli / pPUC19 Transformantes E. coli obtidos com a mistura de ligação realizada com plasmídeo pPUC19 cultivados em meio sólido LB + Amp+ XGAl + IPTG: Clones azuis (sem insertos) e clones brancos (com insertos. (b)(a) Análise dos Plasmídeos recombinantes 2. Ferramentas da Engenharia Genética 2.4. Seleção e Análise de clones recombinantes construídos Etapa anterior: Identificação dos clones E. coli que contêm plasmídeos recombinantes. Nesta Etapa: Deve-se fazer a análise dos fragmentos de DNA contidos nos insertos dos plasmídeos recombinantes. Para isto, será necessário: - Realizar o isolamento e purificação de plasmídeo de vários clones bacterianos recombinantes; - A análise molecular do inserto presente em cada um dos plasmídeos recombinantes, pode ser feita por: - Separação dos fragmentos em Gel de agarose submetido a eletroforese e analise dos padrões da corrida ( este procedimento é MUITO EMPREGADO); - Sequenciamento dos fragmentos de DNA; - PCR Fig,: Análise de fragmentos de DNA em gel de agarose submetido a eletroforese. (a) Cuba de eletroforese; (b) perfis de migração de fragmentos de DNA em gel e agarose observados sob luz Ultravioleta (UV( de 254 nm. (a) (b) CRISPR/Cas9: a NOVIDADE mais recente Cas: “CRISPR-assessorial” é uma endonuclease CRISPR: https://biocienciaforadehora.wordpress.com/2016/03/22/1424/ DNA repetitivo ( R ) nas bactérias geralmente fica ao lado de pedaços de DNA de vírus ou de plasmídeos (S1, S1, S3 ) que atacaram a bactéria Foi demonstrado que Cas9 purificadas são capazes de clivar uma molécula de DNA alvo in vitro quando guiadas por CRISPR RNAs (crRNAs) 3. Como funciona a técnica CRISPR-CAS9 CRISPR/Cas9: https://biocienciaforadehora.wordpress.com/2016/03/22/1424/ Na verdade, CRISPR é um mecanismo de defesa antigo e natural encontrado em diversas bactérias. Nos anos 1980, cientistas observaram um padrão estranho em alguns genomas bacterianos: Uma sequência de DNA poderiaser repetida diversas vezes, com sequências ÚNICAS entre as repetições. Eles chamaram essa configuração estranha de “agrupados de curtas repetições palindrômicas regularmente Inter-espaçadas”, ou CRISPR na sigla em inglês. Conforme a região CRISPR se enche com o DNA de vírus, ela se torna uma galeria das moléculas mais procuradas, representando os inimigos que o micróbio encontrou. O micróbio pode então usar esse DNA viral para transformar as enzimas Cas em ARMAS guiadas com precisão. Depois, o micróbio copia o material genético em cada espaçador (S1, S2, S3, etc ) e o coloca em moléculas RNA. As enzimas Cas deslizam pela célula. Se encontrarem material genético de um vírus que corresponde a um RNA CRISPR, o RNA o prende. As enzimas Cas então cortam o DNA em dois, impedindo a replicação do vírus. RESUMO: Cas9 é uma enzima que corta DNA, e CRISPR é uma coleção de sequências de DNA que diz à Cas9 onde exatamente deve cortar. Tudo o que os pesquisadores precisam fazer é fornecer à Cas9 a sequência correta, chamada RNA guia, e pronto, podem cortar pedaços de sequências de DNA no genoma onde quiserem. 3. Como funciona a técnica CRISPR-CAS9 CRISPR/Cas9: A Cas9 consegue reconhecer uma sequência com até 20 bases, assim pode ser usada para agir em genes específicos. Tudo o que é necessário fazer é projetar uma sequência-alvo usando uma ferramenta online, como a da “Innovative Genomics” (1) e então ordenar para o RNA guia agir. Em questão de alguns dias a sequência-guia chega pelo correio. Possibilidades: Você pode até consertar um gene defeituoso ao cortá-lo com CRISPR/Cas9 e então injetar uma cópia normal na célula. Ocasionalmente, no entanto, a enzina acaba cortando o lugar errado, e esse é um dos principais obstáculos para um uso amplo do sistema. 1. 2. https://innovativegenomics.org/blog/how-to-make-a-guide-rna-for-cas9/ https://biocienciaforadehora.wordpress.com/2016/03/22/1424/ RESUMO: Cas9 é uma enzima que corta DNA, e CRISPR é uma coleção de sequências de DNA que diz à Cas9 onde exatamente deve cortar. Tudo o que os pesquisadores precisam fazer é fornecer à Cas9 a sequência correta, chamada RNA guia, e pronto, podem cortar pedaços de sequências de DNA no genoma onde quiserem. 3. Como funciona a técnica CRISPR-CAS9 Fig.: Esquema da Inserção de um fragmento de DNA usando a técnica CRISPR-CAS9 CRISPR-Cas9 Esta é a mais recente NOVIDADE que permite a inserção (clonagem) De um fragmento de DNA em um vetor. Permite também a alteração de uma sequencia específica de DNA. Podem ser empregadas nesses processos varias células: - bactérias, - leveduras e até - células animais e ate humanas. 3. Como funciona a técnica CRISPR-CAS9 CRISPR/Cas9: CasX : Uma nova proteína com propriedades bem similares à Cas9 foi identificada mais recentemente, por Jill Banfield e Jennifer Doudna, (Universidade da Califórnia, Berkeley). CasX tem uma grande vantagem de ser consideravelmente menor que Cas9. Considera-se que quando a intenção é infiltrar um editor genético forasteiro dentro de uma célula, quanto menor ele seja será melhor, e mais preciso ele se torna. Fonte: https://biocienciaforadeh ora.wordpress.com/2019 /02/09/descoberto- editor-de-dna-que-pode- ser-ainda-melhor-que-o- crispr/ 3. Como funciona a técnica CRISPR-CAS9 4. Inovações: Alguns produtos derivados da Engenharia Genética bacteriana 1) 1982 – Expressão de Insulina humana em E. coli Foi o primeiro produto comercial obtido pela Tecnologia do DNA recombinante (TDR) e aprovado para uso em humanos em 1982 pelo Departamento FDA Americano (“USA Food and Drug Administration”). Bristow, A.F. Recombinant-DNA-derived insulin analogues as potentially useful therapeutic agents. Trends in Biotechnology 11: 301-305, 1993. Fg.: Representação esquemática de estratégias usadas para produzir insulina para fins terapêuticos. Hormônio Insulina Os diabéticos não possuem insulina, que regula a quantidade de glicose no sangue. Em 1978, a insulina era produzida a partir de pâncreas congelados de porcos e gado. Para isto, uma linha de vagões cheios chegavam a uma fábrica em Indiana/EUA. Para produzir 453 g (1 libra) de insulina, eram necessários 3.630 kg (8.000 libras) de glândulas de pâncreas de 23.500 animais. O fabricante, Eli Lilly precisava de 56 milhões de animais por ano para atender à crescente demanda dos EUA. Então, buscaram uma nova alternativa para a produção de insulina. A Genentech tinha o conhecimento necessário para fabricar insulina humana sintética - em laboratórios, a partir de bactérias, usando sua tecnologia de DNA recombinante recentemente comprovada. 1. 1982 – Expressão de Insulina humana em E. coli. 4. Inovações: Alguns produtos derivados da Engenharia Genética bacteriana Quimosina recombinante Inicialmente, foi construída uma cepa bacteriana não patogênica E. coli K-12 para a produção em larga escala de quimosina. Esta enzima recombinante era idêntica à proteína natural, custa menos e pode ser produzida em quantidades abundantes. Hoje, cerca de 60% do queijo duro dos EUA é produzido com quimosina geneticamente modificada. Em 1990, o FDA Americano (“USA Food and Drug Administration”) concedeu a quimosina recombinante o titulo “Generally Recognized as Safe” - (GRAS), atribuindo à esta proteína recombinante Grau de Segurança para consumo humano. 2. 1990 – Expressão de c-DNA de Quimosina Quimosina – coalho para a produção de queijos Encontrada no coalho, é uma enzima necessária para a fabricação de queijos. Foi o primeiro aditivo alimentar geneticamente modificado usado comercialmente. Tradicionalmente, era obtida do coalho, uma preparação derivada do quarto estômago de bezerros alimentados com leite. Atualmente, a maior parte de coalho (coagulante) utilizada em todo mundo é produzida por leveduras, fungos ou bactérias geneticamente modificadas (OGM), eliminando os problemas de proteólise acentuada de coquetéis enzimáticos mais antigos derivados de microrganismos. Coagulante para queijos contendo 100% de quimosina (100% pura) é produzido por clones recombinantes de bactérias (Escherichia coli, Kluyveromyces lactis), de leveduras (S. cerevisiae, Pichia pastoris), e fungos filamentosos (Aspergillus niger var awamori). Construção de clones recombinantes que expressam quimosina O c-DNA de genes que se expressam a quimosina em estômago de ruminantes foram clonados em vetores de expressão e empregados na transformação genética de microrganismos hospedeiros. Os OGMs são cultivados nos volumes desejados ilimitadamente e a enzima é purificada. Por que foi empregado o c-DNA do gene da quimosina ? - Você sabe o que é c-DNA? É o DNA sintetizado a partir de uma molécula de mRNA (RNA mensageiro) cujos íntrons (sequencias interagências não traduzidas) já foram removidos, ou seja, o mRNA já passou pelo processo de “splicing”. Esta reação é catalisada pela ”enzima transcriptase reversa. - O c-DNA da quimosina foi empregado porque: 1) genes de eucariotos multicelulares têm “íntrons” e E. coli não processa “íntrons”, ou seja não faz “splicing”; 2) O m-RNA da quimosina pode ser mais facilmente obtido no estomago dos ruminantes (onde eram expressos), do que seria a seleção de genes do genoma completo deles. Quimosina de bezerros e quimosina microbiana A quantidade de quimosina que se consegue obter de bezerros é sempre inferior às exigências de mercado, e a maioria das proteases presentes em coalhos de origem fúngica não se mostra muito adequada para a fabricação de alguns tipos de queijo, devido à alta atividade proteolítica e pouca especificidade. Os coagulantes são o que há de mais moderno e seguro para coagulação de leite para a produção de queijos. Eles contêm uma substância (enzima, chamada quimosina), capaz de coagular o leite, oferecendo um excelente rendimento na produção de queijos, 4. Inovações: Alguns produtos derivados da Engenharia Genética bacteriana Plantas Transgênicas e algumas Aplicações da TDR em cultivo de Plantas Obs.: Há muita coisa sendofeita tendo como base a proteína cristal de B. thuringiensis (BT): proteção contra insetos, proteção contra congelamento Bacillus thuringiensis é uma bactéria que produz naturalmente uma proteína (toxina Bt) com propriedades inseticidas. A bactéria tem sido aplicada às culturas como uma estratégia de controle de insetos há muitos anos, e essa prática tem sido amplamente adotada na agricultura e jardinagem. Recentemente, foram desenvolvidas plantas que expressam uma forma recombinante da proteína bacteriana, que pode efetivamente controlar alguns predadores de insetos. As questões ambientais associadas ao uso dessas culturas transgênicas não foram totalmente resolvidas. Culturas resistentes aos insetos Pseudomonas syringae P. syringae é uma bactéria que não produz uma proteína de superfície chamada "ice-plus" ("ativa a nucleação do gelo"). Quando ocorre queda de temperatura, este fato incita o desenvolvimento de geadas, levando ao congelando de brotos de plantas. A TDR permitiu a construção de cepas P. syringae “ice-minus”, fornecendo um ambiente menos favorável para a formação de gelo. Isto foi desenvolvido como um produto comercial conhecido como Frostban. Os testes de campo em 1987 foram a primeira liberação de um OGM no meio ambiente. O teste foi muito controverso e levou à formação da política de biotecnologia dos EUA. P. syringae e a bactéria “ice-minus” herbicida glifosato Foram desenvolvidas variedades comerciais de importantes culturas agrícolas (incluindo soja, milho, sorgo, canola, alfafa, algodão) que incorporam um gene recombinante que resulta em resistência ao herbicida glifosato (nome comercial Roundup) e simplifica o controle de ervas daninhas pelo glifosato aplicação. Essas culturas estão de uso comercial comum em vários países. Uma variedade recombinante de arroz que foi projetada para expressar as enzimas responsáveis pela biossíntese de β-caroteno (um precursor da vitamina A), em suas partes comestíveis. Essa variedade de arroz é uma promessa substancial para reduzir a incidência de deficiência de vitamina A na população mundial. O arroz dourado não está atualmente em uso, enquanto se aguarda a resolução de questões regulatórias e de propriedade intelectual. Arroz dourado Instituto de Ciências Biomédicas USP Bactérias geneticamente modificadas em Biotecnologia 5. Questões 1. Como foi demonstrado que o material genético é o DNA? 2. O que são enzimas de restrição? Cite um exemplo. 3.Como podem ser construídas as moléculas de plasmídeos recombinantes? 4.Qual é o mecanismo de transferência de DNA mais empregado para construir clones recombinantes de bactérias? Qual é a bactéria empregada como hospedeira com maior frequência? Como a inserção de plasmídeos recombinantes pode ser feita nesta bactéria hospedeira? 5.Cite um exemplo de um produto hoje em dia no mercado que é produto da Tecnologia do DNA recombinante (TDR). Os produtos derivados da TDR podem ser empregados em várias áreas, como: saúde humana ou animal, melhoramento das condições de cultivos vegetais, etc? Comente, argumentando se Sim ou Não. Argumente se a TDR é (ou não é) muito custosa e, assim, somente é empregada para a obtenção de proteínas recombinantes para uso na área de saúde humana e animal.
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