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Literatura Infantil e Juvenil Profa. Dra. Mitizi Gomes

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS 
CENTRO DE EDUCAÇÃO ABERTA E A DISTÂNCIA 
Literatura Infantil e Juvenil 
Profa. Dra. Mitizi Gomes 
ETAPA 1: FORMAÇÃO DO LEITOR 
▪ Estamos na primeira etapa de nosso trabalho. Vamos, aqui, refletir e discutir 
sobre a formação do leitor. Vamos pensar sobre nossa capacidade de realizar 
leituras de diferentes linguagens, nossa trajetória individual de leitura, bem 
como sobre a forma como essa atividade foi trabalhada na escola. Após 
essas reflexões, vamos discutir com os colegas sobre alternativas 
metodológicas de trabalho com a leitura. 
Somos todos leitores, independente de sermos alfabetizados ou não. Isso se deve ao 
fato de que não lemos apenas linguagem verbal, já que o mundo se apresenta a nós através 
de diversas linguagens. Dessa forma, quando nascemos, somos expostos a várias formas de 
comunicação, desde a verbal, gestual, imagética, enfim, várias linguagens que aparecem 
misturadas. Assim que abrem os olhos, as crianças já se acostumam com a rapidez da troca 
de imagens da televisão, agregadas ao som, às cores, aos signos. 
Além de ler o explícito, logo aprendemos a ler o que não está dito, ou a ler silêncios, 
pois, para que a comunicação seja o mais eficaz possível, é preciso que os indivíduos 
conheçam os mecanismos das linguagens. Mas isso não se aprende na escola, já que 
precisamos realizar essas atividades com pouca idade. Na escola, temos a oportunidade de 
brincar com essas linguagens. A escola, então, teria o papel de nos auxiliar no treinamento 
de nosso olhar para essa leitura ampla, que abarca o mundo. 
Precisamos apurar nossa capacidade de leitura já que as diferentes formas artísticas 
têm suas próprias linguagens. Assim, a linguagem teatral se difere da linguagem fílmica, 
assim como a música e as artes plásticas têm suas próprias formas de se comunicar. Para 
dar conta dessas leituras, lançamos mão de nossos sentidos, de nossos sentimentos, de 
nossas capacidades cognitivas, de nossa bagagem cultural. Nenhum conhecimento, nesse 
processo, é descartado. Nós somos o que vemos, o que ouvimos, o que sentimos, o que 
tocamos... isso nos constitui enquanto sujeitos nessa teia de informações. 
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“Leitura, enquanto uma forma de participação, somente é possível de ser 
realizada entre os homens. Os signos impressos, registrando as diferentes 
experiências humanas, apenas medeiam as relações que devem existir entre os 
homens – relações estas que dinamizam o mundo cultural” 
(Theodoro da Silva, 1981, p.41). 
Linguagens diversas 
É por meio da linguagem que todo indivíduo se reconhece como ser humano, 
cidadão participante da sociedade. Assim, conhecer os mecanismos que compõem as 
linguagens torna-se uma condição para o indivíduo interagir com o mundo. Segundo 
Fischer (2006), a linguagem visual está presente em nosso dia-a-dia de forma tão intensa 
que não há quem não conheça minimamente sua sintaxe. 
A maioria da LV [linguagem visual] surge em textos tradicionais – letras, 
números, pontuação e sinais conhecidos (como !, ?, + e > –) a serem “lidos” 
como linguagem visual, não como texto falado. Essa combinação de ambos os 
sistemas permite ao leitor compreender uma enorme quantidade de dados 
quase de modo instantâneo, o que é hoje a principal tarefa da LV. Atualmente, 
pesquisadores estão investigando a extensão dessa novidade para incluir 
comunicações mais extensas de maior complexidade, como instruções de 
montagem, diretrizes de procedimentos e até inferências conceituais. A LV 
ainda é deficiente quanto a detalhes e precisão. E, como jamais será capaz de 
transmitir o pensamento humano em toda a sua amplitude, a LV não 
representa ameaça à escrita tradicional. Contudo, já é um complemento 
poderoso, oferecendo uma nova dimensão à capacidade de leitura, cujo 
potencial, em tese, é ilimitado (FISCHER, p.290-1). 
Vamos encontrar, então, diariamente, linguagem verbal, linguagem não-verbal e 
linguagem mista (quando ambas aparecem simultaneamente), e temos que dar conta de 
entendê-las. 
▪ Observe as imagens a seguir e classifique-as quanto a sua natureza. 
 
 (livro) ................... ......................... (ícone) ............... 
 2
 
 (HQ)................................. (Língua de sinais).............................. 
 
(filme)................... (partitura)..................... (outdoor)................................ 
 
 (ícone)...................... (aula)....................... (telefone)................ 
 
(pintura)................... (escultura).................... 
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■ Construção do eu leitor 
 
Já sabemos da necessidade de compreendermos 
os mecanismos das linguagens para sermos leitores 
competentes. Entretanto, podemos fazer uma 
pergunta aparentemente simples, mas que as 
possíveis respostas podem nos fazer refletir 
longamente sobre o assunto: como se dá a formação do 
leitor? 
Ezequiel Theodoro da Silva (1983, p.54) destaca 
dois elementos importantes para que se dê a inserção 
do sujeito no universo da leitura, quais sejam, a 
família e a escola. Talvez, lembrar dessas entidades 
seja demasiado óbvio, mas o que fica implícito é a 
necessidade de formar o leitor o mais cedo possível, já que a família e a escola, 
tradicionalmente, são os primeiros núcleos sociais de que o indivíduo participa. 
Theodoro nos fala que a aprendizagem da criança se dá também através da observação 
do comportamento de outras pessoas. Assim, é importante ter modelos ou exemplos de 
leitura na família para auxiliar nesse desenvolvimento, já que “o processo de formação do 
leitor está vinculado, num primeiro momento, às características físicas (dimensões 
materiais) e sociais (interações humanas) do contexto familiar, isto é, presença de livros, de 
leitores e situações de leitura, que configura um quadro específico de estimulação 
social” (SILVA, 1983, p.56). 
 
Em relação à escola, podemos dizer que ela deve facilitar 
o acesso aos bens culturais, principalmente quando 
falamos de ensino democrático. Mais do que inserir a 
criança no mundo letrado, é preciso criar condições e dar 
subsídios para que ela não apenas decodifique os signos, 
mas que atribua sentido a eles, tornando-se um leitor 
crítico da própria cultura. Para vencer esse desafio, a 
escola necessita ter um projeto pedagógico que dê condições de acesso a alunos e 
professores à informação, de forma democrática e ampla. Além disso, deve o professor 
conhecer os alunos para propor atividades de leitura que estejam, no mínimo, dentro de 
 4
Leitora em sua casa de campo, 1950 
Boris Mikhailovich Lavrenko 
(Rússia, 1920-2000) - Óleo sobre tela
seus interesses de leitura. A partir disso, deve promover a “aquisição de novas informações 
e a consequente expansão de horizontes decorrentes de leituras ecléticas” para que estas se 
tornem “instigadoras de diálogos mais frequentes e de comunicações mais 
autênticas” (SILVA, 1981, p.41). 
Atividade (Fórum) 
■ Até aqui, vimos alguns pontos sobre a relação do homem com a leitura do mundo. 
A partir do que estudamos, vá ao fórum e dê sua opinião sobre os seguintes 
aspectos: 
Como você definiria o ato da leitura? 
Como se dá a formação do leitor? 
Como você definiria o mediador de leitura? Quem é? Como é? Como se comporta? O que deve fazer 
para que sua interferência seja positiva? 
Como é possível desenvolver o gosto pela leitura na sala de aula? 
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Literatura Infantil e Juvenil 
Profa. Dra. Mitizi Gomes 
ETAPA 1: FORMAÇÃO DO LEITOR (Continuação) 
▪ Nesta etapa, trataremos da relação entre o homem e a leitura; de como essa 
atividade interfere nos rumos da vida daquele. Além disso, falaremos da 
importância da troca de experiências de leitura em sala de aula. Com esses 
assuntose mais algumas atividades, encerraremos a etapa 1. 
Muitos teóricos e críticos falaram sobre a importância da leitura. Dentre eles, 
podemos citar alguns nomes como Chartier, Proust, Barthes, Jouve, Freire, Kleiman, 
Lajolo, Zilberman. Em diferentes abordagens, são unânimes na afirmação de que a leitura 
modifica a realidade do indivíduo. 
 Mas é em Freire que vamos buscar a ideia de “leitura da 
palavramundo”. No texto A importância do ato de ler, Freire nos coloca 
que “a leitura do mundo precede a leitura da palavra” (p.11), fazendo-
nos refletir sobre o fato de que, antes de decodificar o signo, o leitor já 
realiza a leitura do mundo. Considerando a apreensão do código 
escrito por adultos, não devemos esquecer de que esses já lêem sua 
realidade, suas crenças, seus gostos, enfim, o mundo que os rodeia. 
Sabemos que há diferentes vertentes que interpretam e dão sentido ao ato da 
leitura. Ao pensarmos nas questões linguísticas e cognitivas, entendemos a leitura como 
um ato que exige o raciocínio do indivíduo. Sabemos, ainda, que ambas são importantes, 
mas não devemos esquecer de que o ato pode propiciar cidadania ao sujeito. Ao dominar 
a leitura, o homem terá outra possibilidade de ver o mundo, uma vez 
que muitas informações concernentes ao mundo são veiculadas 
através de notícias. Na maioria das vezes, as notícias veiculadas de 
forma escrita são mais completas, mais aprofundadas no que se 
refere ao assunto, o que pode dar mais densidade aos fatos. O 
indivíduo é convidado, pela leitura, a ter maior participação social. 
O trabalho com jovens e adultos na escola requer preparação específica, 
considerando que as características desse público devem ser levadas em conta na 
elaboração de projetos pedagógicos que objetivam trabalhar com EJA. Os sujeitos estão 
inseridos em um processo histórico que envolve constituição familiar, amigos, trabalho, 
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religião, mas estão alijados dos bens culturais por terem pouco acesso a eles e por não 
dominarem as ferramentas necessárias para tal acesso. Para Magda Soares (1999), ao tornar-
se letrado, o indivíduo modifica-se: “a hipótese é que aprender a ler e a escrever e, além 
disso, fazer uso da leitura e da escrita transformam o indivíduo, levam o indivíduo a um 
outro estado ou condição sob vários aspectos: social, cultural, cognitivo, linguístico, entre 
outros” (p.38). A escola passa a ser, então, o espaço que vai propiciar experiências que 
promovam a reflexão sobre o indivíduo e seu estar no mundo, a partir do momento em 
que instrumentalizar o aluno para o desvelar das relações. 
O mediador da leitura, no que concerne ao âmbito escolar 
ou espaço público, não deve prescindir das experiências do 
leitor. Dessa forma, podemos pensar que fomentar e 
difundir a leitura não significa impor certo tipo de texto, 
mas auxiliar o leitor no exercício da leitura crítica. 
Entretanto, sabemos que a difusão da leitura, para se dar 
de forma democrática, deve partir também de políticas públicas (no que diz respeito ao 
Brasil) que propiciem a formação de profissionais especializados nessa tarefa, bem como 
viabilizem a produção e a difusão de material impresso, aparelhando as bibliotecas públicas 
e de escolas, pois são os espaços que estão mais próximas dos cidadãos. 
Ao escrever o texto Leitura & realidade brasileira, no ano de 1983, Theodoro da Silva, 
naquele contexto social e político, nos alertava que: 
Se o “ler” for tomado como um ato de libertação, como uma atividade 
provocadora de consciência dos fatos sociais por parte do povo, então é 
interessante ao poder dominante que as condições de produção da leitura sejam 
empobrecidas ao máximo, ou seja, que o acesso ao livro e a um certo tipo de 
leitura (a crítica-transformadora) seja dificultado ou bloqueado (1983, p.36). 
Passados quase 30 anos, e apesar de estarmos vivendo outro momento de 
desenvolvimento social e político, como a ampla difusão das mídias e a democracia plena, 
não podemos esquecer de que somos diariamente bombardeados pelas mais diversas 
informações que nem sempre propiciam ao cidadão a tomada de consciência, visto que não 
têm esse compromisso. Muitas delas não passam de entretenimento vazio, sem qualquer 
relevância para a emancipação do indivíduo; pelo contrário: inviabilizam o acesso à 
informação importante e necessária para que se dê a efetiva 
inserção do indivíduo na sociedade. 
Assim, cabe ao leitor, e somente a ele, realizar a 
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triagem das informações a que tem acesso, mas, para isso, é preciso que tenha desenvolvido 
seu espírito crítico. 
ATIVIDADE (Fórum) 
■ Após refletirmos sobre o tema, vamos interagir no fórum. Compartilhe com seus 
colegas suas ideias sobre: 
- o leitor crítico na atualidade; 
- a importância da leitura para a formação do cidadão. 
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REFERÊNCIAS 
CERVANTES, Miguel de. El ingenioso hidalgo Don Quijote de La Mancha. Madrid, Austral, 2004. 
COSSON, Rildo. Letramento literário: teoria e prática. São Paulo: Contexto, 2006. 
FISCHER, Steven Roger. História da Leitura. São Paulo: UNESP, 2006. 
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. São Paulo: Cortez, 1984. 
HIGOUNET, Charles. História concisa da escrita. São Paulo: Parábola Editorial, 2003. 
JOUVE, Vincent. A leitura. São Paulo: UNESP, 2002. 
KLEIMAN, Ângela. Oficina de leitura: teoria e prática. Campinas: Pontes, 1996. 
_____. Texto e leitor: aspectos cognitivos da leitura. Campinas: Pontes, 2002. 
MELO, Jeane Maria de. O lugar do texto literário na diversidade imagética dos gêneros textuais. Disponível 
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JEANE_MELO.pdf> Acesso em: 03/02/2010. 
MORAIS, José. A arte de ler. São Paulo: Ed. UNESP, 1996. 
MARTINS, Maria Helena. O que é leitura. São Paulo: Brasiliense, 1983. 
OLSON, David R.; TORRANCE, Nancy. Cultura, escrita e oralidade. São Paulo: Ática, 1995. 
PRADO, Jason; CONDINI, Paulo (Org.). A formação do leitor: pontos de vista. Rio de Janeiro: Argus, 
1999. 
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SILVA, Ezequiel Theodoro da. Leitura e realidade brasileira. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1983 
_____. De olhos abertos: reflexões sobre o desenvolvimento da leitura no Brasil. São Paulo: Ática, 
1991. 
SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 1999. 
ZILBERMAN, Regina (Org.). Leitura em crise na escola: as alternativas do professor. Porto Alegre: 
Mercado Aberto, 1993. 
ZILBERMAN, Regina; RÖSING, Tania M. K(Org.). Escola e leitura: velha crise, novas alternativas. 
São Paulo: Global; ALB, 2009.
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