Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
CARDIOLOGIA - PRISCILA DUTRA - 8º PERÍODO CARDIOPATIAS CONGÊNITAS → É importante entender a diferença entre Cardiopatia Congênita e Doença Genética. A primeira acontece durante a Embriogênese e afeta a estrutura do Coração. Já a Doença Genética pode não ter sinais ao nascer, mas pode surgir mais tarde devido a uma mutação. → A Cardiopatia Congênita ocorre em cerca de 8 em cada 1.000 recém-nascidos e pode ter causas: • Genéticas; • Fatores Extrínsecos Maternos: Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) e Diabetes Mellitus (DM) etc. • Infecções; • Drogas: Álcool, Talidomida, Ácido Retinóico... As Cardiopatias Congênitas podem ser divididas de forma didática em dois grupos principais: "Acianóticas" e "Cianóticas". As Acianóticas são mais comuns e não causam Cianose inicialmente, mas podem evoluir para isso sem tratamento. Elas geralmente ocorrem devido a desvios de sangue da circulação arterial para a circulação venosa ou por obstruções nas vias sanguíneas. Se o fluxo sanguíneo se inverter, ou seja, se o sangue começar a fluir na direção oposta, é quando uma Cardiopatia Acianótica pode se tornar Cianótica, e aí os sintomas se tornam mais evidentes. 1. Cardiopatias Congênitas Acianóticas • Hiperfluxo Pulmonar - Comunicação Interatrial (CIA); - Comunicação Interventricular (CIV); - Persistência do Canal Arterial (PCA); - Janela Aortopulmonar; - Canal Atrioventricular. • Lesões Obstrutivas de Câmaras Esquerdas - Estenose Aórtica (EAo); - Coarctação da Aorta (CoAo). - Estenose Mitral Congênita; • Lesões Obstrutivas de Câmaras Direitas - Estenose Pulmonar (EP) COMUNICAÇÃO INTERATRIAL (CIA) → 3º Cardiopatia Congênita mais frequente. → Assintomática em grande parte da população. → Mais comum no sexo feminino. → Pode ser associada a Síndromes Genéticas. Ex: Síndrome de Down etc. → Sua classificação anatômica depende de onde está o orifício: • Ostium Primum - Associado a Síndromes Genéticas; - Como se fosse um coração dividido ao meio. • Ostium Secundum - Mais comum; - Pode fechar no primeiro ano de vida, sem estar associado a Síndromes Genéticas. • Seio Venoso - Infrequentes. - A nível da Veia Cava Superior ou a nível da Veia Cava Inferior. • A nível do Seio Coronário Em relação ao Fluxo Sanguíneo, se há uma comunicação entre os Átrios, o sangue geralmente flui da esquerda para a direita, mas em casos de CIAs grandes, as Pressões podem se equalizar e causar um fluxo da direita para a esquerda. A direção e a magnitude do fluxo sanguíneo dependem do Tamanho do Defeito e das Pressões nos Átrios. No caso do Ostium Secundum, é possível que o defeito se feche até um ano de idade, então apenas observamos se ele for muito grande ou se o bebê tiver sintomas. A maioria dos pacientes não apresentam sintomas, mas os adultos podem ter Dispneia aos esforços, Palpitação e em alguns casos, o paciente pode desenvolver Tromboembolismo, especialmente durante mudanças bruscas de altitude ou pressão, como paraquedismo ou mergulho, o que pode causar uma reversão aguda do Fluxo Sanguíneo e resultar em Coágulos Sanguíneos. Se essa reversão do fluxo causar Pressão alta nos Pulmões (Hipertensão Arterial Pulmonar), o paciente pode desenvolver Insuficiência Cardíaca Direita. EXAME FÍSICO → Desdobramento amplo e fixo de B2: Isso ocorre porque o sangue flui do Átrio Esquerdo para o Átrio Direito, resultando em um aumento do volume sanguíneo no Átrio Direito. Como consequência, mais sangue é direcionado para o Ventrículo Direito, prolongando o tempo de Sístole e causando o desdobramento fixo da Segunda Bulha Cardíaca. → Sopro Sistólico Ejetivo em área Pulmonar: devido ao aumento do fluxo sanguíneo através do Ventrículo Direito, que pode ser interpretado como uma “Estenose relativa”. → Conforme a doença progride, outras complicações podem surgir, como: a inversão do fluxo, desaparecimento desses sinais e o desenvolvimento de sinais de Hipertrofia Ventricular e Hipertensão Pulmonar. EXAMES COMPLEMENTARES • ECG: normal a depender do tamanho, magnitude e outros fatores. Com a progressão da doença, pode haver Sobrecarga de Átrio Direito, Intervalo PR prolongado, Bloqueio de Ramo Direito e o paciente pode desenvolver Fibrilação Atrial. • Radiografia de Tórax - Normal; - Aumento das Câmaras Direitas, Dilatação da Artéria Pulmonar e aumento da Trama Pulmonar. • Ecocardiograma com Doppler - Fácil diagnóstico. • Ecocardiograma Transesofágico: realizado apenas em algumas situações específicas, como quando o paciente é muito obeso e a visualização é difícil. • Cateterismo Cardíaco: opção muito rara, geralmente reservada para pacientes com Hipertensão Pulmonar para avaliar o momento cirúrgico. TRATAMENTO • Diuréticos: para aliviar a sobrecarga do Ventrículo Direito e tratar a Embolia Paradoxal. • Cirurgia: Se o paciente tiver Hipertensão Pulmonar com resistência inferior a dois terços da resistência sistêmica, pode ser considerada a Cirurgia. Fora dessas condições, o paciente pode não ser elegível para Cirurgia e o tratamento é eletivo, podendo ser adiado conforme a idade do paciente. • Tratamento Percutâneo: para Ostium Secundum com diâmetro menor que 38 mm e bordas maiores que 5 mm, exceto em relação à Aorta. Para os casos que não se enquadram nesses critérios, o Tratamento Cirúrgico é considerado. PROGNÓSTICO → Prognóstico normalmente é bom. Uma vez tratado, a cura é geralmente alcançada. COMUNICAÇÃO INTERVENTRICULAR (CIV) → Cardiopatia Congênita mais comum, se isolada. → Assintomática dependendo do grau de acometimento. → É classificada anatomicamente em: • Perimembranosa (80%); • Muscular; • Subarterial. O Tamanho do Defeito do Septo e as relações entre as Resistências Vascular Pulmonar e Sistêmica determinam a direção e a magnitude do fluxo sanguíneo. O sangue flui do Átrio Esquerdo para o Direito devido à diferença de Pressão, principalmente nos Ventrículos onde as Pressões são mais altas. EXAME FÍSICO → Sopro Sistólico: durante a Sístole que o sangue flui de um Ventrículo para o outro através do defeito no septo. Quando Auscultado no Dorso, o Sopro é mais audível em casos de orifícios menores, nos quais há maior Pressão de um lado para o outro. → Nas Pequenas Comunicações Interventriculares, é comum ouvir um Sopro Cardíaco nas primeiras semanas de vida, mas geralmente o crescimento e desenvolvimento são normais, e o fechamento do defeito pode ocorrer espontaneamente. No entanto, é importante destacar que qualquer ponto onde há turbilhonamento do sangue pode representar um risco aumentado de Endocardite Infecciosa. Em casos de Comunicações Moderadas, pode ocorrer Dilatação das Câmaras Cardíacas Esquerdas, embora isso seja raro. Já nas Grandes Comunicações Interventriculares, os sintomas podem ser mais pronunciados e incluir Insuficiência Cardíaca nas primeiras semanas de vida, Dificuldade de Mamar, Taquipneia, Taquicardia, Baixo Peso, Pneumonias frequentes, aumento da Resistência Pulmonar na pequena circulação, Inversão do Fluxo, Cianose e Síndrome de Eisenmenger. EXAMES COMPLEMENTARES • ECG: normal ou Sobrecarga de Átrio Esquerdo, Sobrecarga Ventricular Esquerda e pode ocorrer Hipertrofia Ventricular Direita. • Radiografia de Tórax - Normal; - Variável, com aumento da Área Cardíaca. • Ecocardiograma com Doppler - Define o diagnóstico! • Cateterismo Cardíaco: avaliar a extensão e a localização da CIV, bem como medir as Pressões Cardíacas e avaliar a circulação sanguínea. TRATAMENTO • Crianças Assintomáticas: observação. • Cirurgia. • Tratamento Percutâneo: p/ CIV Membranosa. PROGNÓSTICO → O Prognóstico é geralmente excelente quando o tratamento é realizado precocemente. PERSISTÊNCIA DO CANAL ARTERIAL (PCA) → Na Persistência do Canal Arterial (PCA), um canal entre a Aorta e a Artéria Pulmonar permaneceaberto após o nascimento. Em bebês prematuros, esse canal pode persistir. Os Sintomas variam de acordo com a magnitude do fluxo que passa pelo canal. Um Sopro característico pode ser ouvido durante a Ausculta, parecido com o som de uma locomotiva, sendo Sistólico e Diastólico. A Pressão Arterial muitas vezes é divergente devido à presença desse canal. O Tratamento é geralmente realizado de Forma Percutânea, fechando o canal com um dispositivo que o obstrui, mas também pode ser Cirúrgico. Bom prognóstico. DEFEITO DO SEPTO ATRIOVENTRICULAR (DSAV) → Defeito do Septo Atrioventricular (DSAV), no qual o paciente não tem um Septo Atrial - geralmente um Ostium Primum, que é um Óstio perto da Mitral, na base do Septo - e também tem uma Comunicação no Septo Ventricular. Isso forma como se fosse um defeito único. É frequentemente associado à Síndrome de Down. O paciente nem tem o Septo Atrial nem o Ventricular. Muitas vezes, as crianças precisam passar por reconstituição das Duas Válvulas, em uma Cirurgia realizada em 2 tempos. Geralmente, há um Sopro Sistólico, mas às vezes nem Sopro está presente. Em alguns casos residuais, após a reconstituição das Válvulas, pode ocorrer Insuficiência Mitral Residual; isso resulta em um Sopro Sistólico da Mitral e pode exigir reoperação, na grande maioria das vezes em 2 tempos cirúrgicos. Prognóstico variável. ESTENOSE AÓRTICA (EAO) → Geralmente em nível valvar, 3-6% das Cardiopatias Congênitas, Valva Aórtica Bicúspide comum, 20% associa-se a outras Cardiopatias Congênitas (CIV, PCA ou Coarctação da Aorta). O Tratamento pode ser Clínico ou Cirúrgico, dependendo da gravidade. O Sopro da Estenose Aórtica (EAO) é Sistólico Ejetivo, pois ocorre durante a ejeção do sangue através da Válvula Aórtica estreitada. Esse Sopro é audível de forma característica nas Artérias Carótidas e é descrito como um "Sopro em diamante". COARCTAÇÃO DA AORTA (COAO) → Estreitamento após a Subclávia Esquerda. Causa uma diferença de Pulso! É mandatório, especialmente em casos de Hipertensão. O Tratamento pode ser feito através de Dilatação ou Ligadura da Artéria afetada. Esse estreitamento ocorre abaixo da emergência da Artéria Subclávia Esquerda e representa cerca de 4-6% das Cardiopatias Congênitas. Frequentemente está associado à Valva Aórtica Bicúspide em 50% dos casos, bem como a outras Cardiopatias e doenças genéticas como a Síndrome de Turner. O quadro clínico pode variar e incluir Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS). O Tratamento pode ser realizado de Forma Percutânea ou Cirúrgica, dependendo da gravidade e das características do paciente. ESTENOSE MITRAL CONGÊNITA → A principal causa de Estenose é a Doença Reumática, mas também pode ocorrer Estenose Mitral Congênita. Na Ausculta, durante a Diástole, quando o sangue passa do Átrio Esquerdo para o Ventrículo Esquerdo, se a Válvula Mitral está estenosada, haverá dificuldade nesse momento, o que resulta em um Sopro Diastólico. Embora seja rara quando isolada, a Estenose Mitral Congênita apresenta um quadro clínico variável. O Tratamento geralmente é Cirúrgico. ESTENOSE PULMONAR (EP) → 10% das Cardiopatias Congênitas são representadas pela Estenose Aórtica. Cerca de 2% dos casos são familiares, com uma prevalência ligeiramente maior no sexo feminino. Pode estar associada a síndromes genéticas, como a Síndrome de Noonan. O quadro clínico varia conforme a gravidade da Estenose: casos leves podem ser Assintomáticos, enquanto casos graves podem apresentar Cianose. Na Ausculta, é característico um Sopro Sistólico Ejetivo. O Tratamento pode ser Percutâneo ou Cirúrgico, dependendo da gravidade da condição. 2. Cardiopatias Congênitas Cianóticas TETRALOGIA DE FALLOT → Nesse caso, a Cianose pode ocorrer devido a diversas causas, como Desvio do Sangue da Direita para a Esquerda, Obstrução ao Fluxo Pulmonar, mistura do Sangue Venoso Sistêmico com o Arterial Oxigenado e alterações fisiológicas graves, incluindo a Circulação em Paralelo. → Cianótica, mais comum após o primeiro mês de vida, representa cerca de 10% das Cardiopatias Congênitas, afetando ambos os sexos. Suas principais características incluem: • Estenose Pulmonar. • Comunicação Interventricular (CIV); • Cavalgamento Aórtico sobre a Crista do Septo Interventricular; • Hipertrofia do Ventrículo Direito p/ compensar a Estenose Pulmonar. A gravidade da Cianose depende do grau de Estenose Pulmonar, sendo mais grave quanto mais estreita a via de saída do Ventrículo Direito, resultando em uma menor oxigenação do sangue. Se houver Sopro Auscultado, é comum que seja um Sopro Sistólico Ejetivo devido à obstrução na via de saída. FISIOPATOLOGIA → Na Aorta Cavalgada, há um fluxo sanguíneo proveniente de ambos os Ventrículos, resultando em uma condição em que a Aorta está posicionada sobre ambos os Ventrículos. A presença de Estenose Pulmonar, quanto mais grave, causa um maior Hipofluxo, levando à Hipoxia, que por sua vez estimula a Medula Óssea a produzir mais Glóbulos Vermelhos, resultando em Policitemia. A Policitemia contribui para a Cianose e a Hiperviscosidade Sanguínea, aumentando assim a chance de Fenômenos Tromboembólicos. QUADRO CLÍNICO → As manifestações clínicas da Tetralogia de Fallot dependem do grau de Estenose Pulmonar. Na forma leve, chamada de Pink Fallot, os sintomas podem surgir por volta de 4 a 6 semanas de vida. Na forma grave, pode ocorrer Cianose Neonatal. As Crises de Hipóxia geralmente começam por volta dos 2 a 3 meses de vida e apresentam sintomas como: • Taquipneia; • Hiperpneia; • Aumento da Cianose; • Palidez; • Síncope. Fatores precipitantes das crises incluem o despertar, o choro e a mamada. Na forma Pink Fallot, inicialmente não há manifestações clínicas aparentes, enquanto nas Crises de Hipóxia, a criança pode desmaiar durante a mamada, entre outros momentos. EXAME FÍSICO • Cianose Labial e de Leito Ungueal; • Baqueteamento Digital em crianças maiores; • Palpação do Ventrículo Direito. EXAMES COMPLEMENTARES • ECG: Sobrecarga de Ventrículo Direito com Desvio do Eixo para a Direita. • Radiografia de Tórax - Área Cardíaca normal ou leve aumento com o Ápice do Coração p/ cima. “Coração em bota” • Ecocardiograma: mostra alterações morfológicas. • Cateterismo Cardíaco: avalia a Pressão Pulmonar. TRATAMENTO • Cirurgia p/ correção das malformações congênitas. PROGNÓSTICO → Bom prognóstico. TRANSPOSIÇÃO DAS GRANDES ARTÉRIAS (TGA) → A TGA é responsável por uma proporção significativa das Cardiopatias Cianogênicas detectadas nos primeiros 30 dias de vida (Período Neonatal), enquanto a Tetralogia de Fallot (Fallot) é mais comum após esse período. Os bebês com TGA nascem Cianóticos e, se não forem operados rapidamente, enfrentam risco de morte. É mais prevalente em bebês do sexo masculino e em mães diabéticas. Representa cerca de 3% de todas as Cardiopatias Congênitas e aproximadamente 20% das Cardiopatias Cianogênicas. → Anatomia: • Situs Solitus ou Inversus: refere-se à posição normal (Situs Solitus) ou invertida (Situs Inversus) dos órgãos internos no corpo. • Conexão Atrioventricular Concordante: isso significa que os Átrios estão conectados aos Ventrículos da maneira correta. • Ventrículo Arterial Discordante: refere-se à disposição anormal dos Ventrículos em relação às grandes Artérias. No caso da TGA, o Ventrículo Esquerdo está conectado à Artéria Pulmonar e o Ventrículo Direito está conectado à Aorta, o que é uma discordância. Essa configuração anatômica da TGA resulta em uma circulação sanguínea anormal, levando a problemas de oxigenação e circulação no corpo. FISIOPATOLOGIA → Sangue proveniente das Veias Cavas não se oxigena, e o Sangue proveniente do retorno Venoso Pulmonar não atinge o corpo e retorna aos Pulmões. A sobrevida depende de umShunt Intercirculatório (CIA, CIV ou PCA). QUADRO CLÍNICO • Cianose no 1º dia de vida. Pode ser discreta se CIV ampla! EXAME FÍSICO • Cianose e Taquipneia; • Insuficiência Cardíaca nos primeiros dias; • Sopro não muito evidente; • 2º Bulha pode ser única. EXAMES COMPLEMENTARES • ECG: Normal ou Sobrecarga de Ventrículo Direito. • Radiografia de Tórax - Inicialmente, a silhueta cardíaca pode parecer normal, mas em casos de CIV ampla, pode ocorrer Cardiomegalia devido ao Hiperfluxo Pulmonar. A imagem radiográfica do coração pode apresentar um pedículo estreito, com formato semelhante a um "ovo deitado". • Ecocardiograma - Principal método. - Demonstra a origem das Artérias e a presença dos Shunts. • Cateterismo Cardíaco: limitado a casos de dúvida e para a realização da Atriosseptostomia por Balão. TRATAMENTO • Cirurgia de Jatene: coloca a Aorta para o lado esquerdo e a Pulmonar para o lado direito. PROGNÓSTICO → Bom prognóstico.
Compartilhar