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Prévia do material em texto

Título 
CR7 Os segredos da máquina
Autores 
Luís Miguel Pereira e Juan Ignacio Gallardo
Foto de capa 
Ángel Rivero/MARCA 
Design e paginação 
Arco da Velha
Impressão 
Cafilesa
1.ª edição 
Maio de 2014
ISBN 
978-989-655-212-1
Depósito legal 
375280/14
Todos os direitos reservados
© 2014 Luís Miguel Pereira, Juan Ignacio Gallardo e Prime Books
www.primebooks.pt
5
CR 7
PRIME 
BOOKS
LUIS
MIGUEL 
PEREIRA
Juan 
Ignacio 
Gallardo
Aos que aceitaram partilhar conhecimentos 
relevantes sobre Cristiano Ronaldo, 
e dessa forma contribuíram para 
a construção de uma obra que decisivamente 
acrescenta pontos à história. 
Às minhas Quicas, ao meu Tomás 
e ao meu Martim, o meu staff indispensável 
para que cada capítulo tenha sempre um final feliz. 
Luís Miguel Pereira
A todos os que contribuíram com testemunhos 
valiosos, e tempo precioso, para a conceção deste livro.
À Elena, Daniel e Alicia, como sempre.
Juan Ignacio Gallardo
INDICE
FÍSICO 13
POTÊNCIA 15
RESISTÊNCIA 26
VELOCIDADE 29
VADEBEBAS 41
LESÕES 43
MENTAL 61
AUTOCONFIANTE 76
RESILIENTE 82
ULTRACOMPETITIVO 102
AMBICIOSO 107
LÍDER 111
EQUILIBRADO 119
PROFISSIONAL 131
TÉCNICO 157
DRIBLE 168
FINALIZAÇÃO 181
REMATE 188
CABECEAMENTO 196
TÁTICA 201
ESTÉTICO 209
BIBLIOGRAFIA 227
AGRADECIMENTOS 228
De que forma a bisavó negra influenciou a sua capa-
cidade física?
Qual o plano de treinos que lhe transformou o corpo 
em Manchester?
Como treina a capacidade aeróbia na piscina e na 
‘máquina da NASA’ que tem em casa?
Que truques usa para recuperar após os jogos?
Qual o osso raro que apenas ele e 10% da população 
têm?
Como aconteceu toda a história que o levou ao bloco 
operatório, com apenas 15 anos, para uma interven-
ção ao coração?
CAPÍTULO 1
13
C 
ristiano Ronaldo privilegiou sempre o físico em 
detrimento do intelecto. “Preguiçava um bo-
cadinho, esquecia-se um pouco do trabalho de 
casa”, relembra a religiosa Irmã Graça, professora de Pri-
meiro Ciclo no Externato São João do Funchal. “Recordo-
me dela sim, puxava-me a orelha e dava-me uma palmada 
na mão”, graceja Cristiano Ronaldo. 
Longe de ser um aluno brilhante, mesmo assim ultra-
passou a primeira fase académica com sucesso. Impossível, 
no entanto, era arrancar-lhe mais do que o estritamente 
necessário: “Tínhamos uma guerra cada vez que era preci-
so levá-lo para a sala de estudo, porque ele preferia gastar 
esse tempo no ginásio ou no campo a treinar”, recorda 
Nuno Naré, Encarregado de Educação de Ronaldo quando 
o madeirense chegou ao Sporting com 12 anos. 
Tinha uma antipatia indisfarçável para com a explicadora 
e a psicóloga contratadas pelo Sporting, “porque elas eram 
as portadoras das más notícias”, afirma Luís Martins, seu 
treinador no escalão de juvenis. 
A Irmã Graça atesta a paixão de Ronaldo pelo físico 
logo nos primeiros tempos de escola. “O que ele gostava 
mais era de educação física, via-se nitidamente. O movi-
mento, toda a leveza daquela criança... Isso até se refletia 
nos olhos dele. E era selecionado para as atividades que 
exigiam maior coordenação”, confirma a religiosa. “Uma 
vez confrontei-o com a necessidade de ele se aplicar mais e 
melhorar as notas na escola. Ele respondeu-me: ‘Mas Mis-
14
ter, eu tenho notas boas àquilo que interessa, que é Edu-
cação Física’. E de facto tinha sempre 5”, admite o técnico 
Luís Martins. 
A paixão pelo futebol e o brio com o físico, revelados 
desde muito cedo, dotaram Cristiano Ronaldo de um co-
nhecimento profundo do próprio corpo. Juan Carlos Her-
nández, médico do Real Madrid durante uma década, ex-
plica que, hoje, Ronaldo é um futebolista que não necessita 
de atenções especiais por parte do corpo clínico. “Cristiano 
conhece muito bem o seu corpo e os seus músculos. Sabe 
perfeitamente o que necessita em cada momento, se de 
uma massagem ou uma de atenção médica pontual… Por 
vezes até é ele que coloca as suas próprias ligaduras”, re-
vela aquele que era o chefe dos serviços clínicos merengues 
quando Cristiano chegou a Madrid. “O nosso trabalho com 
ele consistia fundamentalmente em manter os seus múscu-
los super-lubrificados, se me permitem a comparação, já 
que Ronaldo é como um Formula 1”, conclui Hernández.
Por tudo isto Juan Carlos Hernández tem dificuldade em 
destacar uma qualidade física em Cristiano: “Tem força, 
potência, velocidade… tudo!” Carlota Castrejana, especia-
lista no triplo salto, salto em altura e salto em comprimen-
to, sintetiza Cristiano numa frase: “É um atleta puro, um 
desportista total.”
Manu Sainz, o jornalista espanhol que melhor conhece 
Cristiano Ronaldo, usa uma imagem curiosa para definir a 
capacidade atlética de CR7. “Quando Cristiano te abraça 
parece que estás a abraçar uma rocha.”
FISICO
15
POTÊNCIA
Quando representava o Nacional da Madeira, com ape-
nas 10 anos de idade, a débil silhueta de Cristiano Ronal-
do não fazia adivinhar o superatleta em que se haveria de 
tornar. O madeirense era magro. De tal forma que a mãe, 
Dolores, tinha medo que lhe partissem uma perna. O pai, 
Dinis, tranquilizava-a, garantindo que ele era mais rápido 
que os outros, por isso nunca conseguiam acertar-lhe. 
Foi com este corpo, sem muito “recheio”, com que Ro-
naldo chegou ao Sporting. “Seco e magro”, lembra Leonel 
Pontes, então seu tutor. “Se nessa altura existisse o tes-
te de avaliação maturacional, seguramente que ele estaria 
abaixo da média de desenvolvimento de maturação”, ga-
rante Paulo Cardoso, então treinador do Sporting.
No clube leonino encontrou as primeiras condições ob-
jetivas para crescer. Ao lado do Centro de Estágio, situado 
no interior do estádio Alvalade, havia um ginásio à dispo-
sição das modalidades amadoras. O equipamento estava 
longe das condições ideais, mas, mesmo assim, Cristiano 
Ronaldo usava e – muitas vezes sem autorização – abusava 
das máquinas. Fazia musculação e corria na passadeira. 
A partir dos 13/14 anos tomou consciência dos efeitos 
estéticos, mas principalmente desportivos, proporcionados 
pelo fortalecimento muscular. Em férias, na Madeira, per-
corria grandes distâncias com sacos de areia presos às per-
nas. Mas foi em Manchester que fisioterapeutas e prepara-
dores físicos traçaram um plano demolidor que marcou e 
definiu Ronaldo para o futuro.
16
Hoje é consensual reconhecer que a força física de CR7 
contribui de forma significativa para o seu desempenho. 
No entanto, ao contrário do que se possa pensar, o cra-
que não é obcecado pelo ginásio e pelo exercício. A forma 
de Ronaldo não se mantém apenas com pesos: “As pes-
soas associam logo o ginásio à musculação, mas eu faço 
muitas outras coisas: força, flexibilidade, prevenção da pú-
bis, etc.”, explica Cristiano Ronaldo. É um trabalho sem 
agenda rígida. Tudo está intimamente ligado ao calendá-
rio de jogos. Ronaldo reage aos sinais que o corpo lhe vai 
transmitindo. Se tem um jogo a meio da semana, prefere 
trocar uma sessão no ginásio pelo descanso, por exemplo. 
“O descanso para mim é o mais importante”, esclarece. 
Sangue negro 
Francisco Filho, o franco-brasileiro tutor de Cristiano Ro-
naldo no Manchester United, já o definiu como um puro-
-sangue. “Teria sido um grande saltador com vara. Exce-
lente. Tem velocidade, potência, flexibilidade. É um atleta 
Com a bola controlada num jogo do campeonato de juvenis (2001)
FISICO
17
perfeito. Ao contrário dos outros, ele levanta-se quando 
lhe dizemos que se deve baixar. Ele é único.”
A expressão “puro-sangue” assume ainda mais proprie-
dade se olharmos para o ADN do craque madeirense. Ro-
naldo tem raízes negras, fundamentais quando pretende-
mos explicar a força e a potência física do atleta. 
A chave da questão chama-se Isabel Rosa Piedade, bisa-
vó paterna de Cristiano Ronaldo. Dona Isabel nasceu na Ci-
dade da Praia, Ilha de Santiago (Cabo Verde). O flagelo da 
fome fê-la abandonar a terra natal, com apenas 16 anos, e 
tentar a sorte noutra ilha do oceano Atlântico, a Madeira. 
Conseguiu emprego no Funchal, como empregada do-
méstica,e na capital insular conheceu José Aveiro, um jo-
vem nascido no Santo da Serra, uma freguesia do concelho 
de Santa Cruz. Casaram e tiveram um filho, Humberto, que 
mais tarde haveria de trocar alianças com Filomena. Hum-
berto e Filomena – avós de Cristiano Ronaldo – constituí-
ram uma família numerosa de seis filhos: Dinis (pai de Ro-
naldo), António José e José Adriano – já falecidos –, José, 
João Carlos e Ana Paula. O pedaço mais recente da história 
é conhecido. Dinis casou com Dolores – natural do conce-
lho de Machico – e da união nasceram quatro filhos: Hugo, 
Elma, Kátia e… Cristiano Ronaldo.
Esta condição de afrodescendente habilitou Ronaldo 
com uma predisposição genética incomum nos indivíduos 
de raça branca. Pode explicar também a razão pela qual o 
corpo do jogador resistiu a tantos excessos de força física, 
em idades desadequadas. “Muitas vezes dizia para mim 
próprio: isto é um bicho!”, admite João Couto, treinador 
de CR7 no escalão de juniores. 
18
Um segredo chamado ‘Mick’ 
Mick Clegg chegou ao Manchester United em fevereiro 
de 2000. Até aí, a única ligação com os Red Devils residia 
no facto de dois dos quatro filhos (Michael e Steven) jo-
garem no clube. Mick, um fanático do fitness, era quem 
cuidava do físico dos rapazes, num ginásio da família em 
Ashton-under-Lyne (Greater Manchester). Não gostava es-
pecialmente de futebol, mas adorava o culto do corpo e 
acreditava que as duas modalidades podiam casar-se. 
O filho Michael ainda chegou à primeira equipa do 
Manchester United, mas Steven não passou das reservas. 
Nem um nem outro eram especialmente dotados do ponto 
de vista técnico. Mas ambos impressionavam fortemente 
pelo poder físico que ostentavam, tornando-se verdadei-
ros exemplos no futebol de base. 
Os responsáveis do United quiseram saber a quem se 
devia o treino muscular daqueles dois miúdos. Chegaram 
ao patriarca. E Rob Swire, chefe de departamento de fisio-
terapia do Manchester United, desafiou Mick Clegg a fazer 
um trabalho semelhante com os jogadores da academia 
dos Devils. Foi apenas o início de uma ligação que durou 
11 anos e meio.
Mais tarde ajudou, por exemplo, Roy Keane, então ca-
pitão de equipa, a recuperar de uma lesão. Introduziu a 
musculação e o boxe (uma paixão de ambos) no plano de 
treinos do irlandês e caiu nas boas graças do plantel prin-
cipal. Steve McClaren, então assistente de Alex Ferguson, 
percebeu o talento de Mick e ofereceu-lhe um contrato 
parcial, que logo se tornou permanente. 
O técnico revolucionou a rotina de treinos dos jogadores 
do United através de uma teoria simples: aumentar a força 
e a potência de um futebolista, com métodos específicos e 
FISICO
19
sistemáticos, pode trazer ganhos incríveis no jogo. O clube 
até teve dificuldades em rotular aquela atividade inovado-
ra: chamou-lhe “treinador de força e condicionamento”; 
ele preferia “treinador de desenvolvimento de potência”. 
No centro de treinos de Carrington, Mick desenvolveu 
fatores tão importantes como potência, velocidade, resis-
tência, condicionamento e as capacidades cognitivo-reati-
vas. Tudo baseado em padrões de treino tecnologicamente 
avançados. Por ali passaram as maiores estrelas do United 
dos últimos anos: Ryan Giggs, David Beckham, Paul Scho-
les, Wayne Rooney, Dwight Yorke, Daren Fletcher e, claro, 
Cristiano Ronaldo. 
Ronaldo chegou a Old Trafford no verão de 2003, ou 
seja, no auge da influência dos métodos implementados 
por Mick Clegg. Os 18 anos do jovem prodígio pediam toda 
a sabedoria de Clegg e Ronaldo tinha tudo para dar. Eram 
(e são) ambos apaixonados pelo físico. Deu-se a simbiose 
perfeita! Prova maior é a frase que ainda hoje Mick Clegg 
repete com convicção: “Cristiano Ronaldo foi o maior atle-
ta que treinei no Manchester United.”
Foram cinco anos de trabalho diário em conjunto. Afi-
nal, um trabalho não muito diferente daquele que Mick 
fez com os quatro filhos – e com excelentes resultados: 
Michael e Steven jogaram no United, Marcos teve uma im-
pressionante carreira no halterofilismo e Shaun é um dos 
melhores jovens britânicos nessa modalidade. 
Trabalhador incansável 
No seu site pessoal, Seed of Speed, Mick Clegg confessa 
toda a admiração pelo atleta português. “Há apenas um 
jogador que eu posso dizer que superou Ryan Giggs na 
20
dedicação ao trabalho com o objetivo de se tornar no me-
lhor: Cristiano Ronaldo”, diz Mick. “Ele atingiu um novo 
nível de dedicação total ao treino, porque queria ser o me-
lhor jogador do mundo”, conclui o técnico inglês. 
Ronaldo não era apenas dedicado, trabalhava com mé-
todo: “Vi jogadores treinarem-se no chão porque tinham 
pouca informação. No entanto, Ronaldo era mais inteligen-
te: treinava no duro mas sabia ouvir os especialistas, o ma-
nager e os jogadores que estavam à sua volta.” O atleta 
português tinha os objetivos bem definidos na cabeça. Ob-
servava, escutava e praticava, obstinado, em busca da meta. 
O centro de treinos de Carrington, onde Mick Clegg tinha 
a sua base de trabalho, foi testemunha da abnegação evi-
denciada por Ronaldo. “Ele era o primeiro a chegar, sempre 
cedo. Ficava no ginásio comigo, realizando o core (treino de 
solicitação dos músculos abdominais e lombares, que se situ-
am na região central do nosso corpo, o centro de gravidade), 
depois fazia a ativação e só mais tarde seguia para o treino 
convencional com os restantes colegas. No final, quando a 
maioria já tinha ido para casa, Cristiano voltava à academia 
para fazer trabalho de potência de pernas. Só depois ia para 
casa, alimentar-se corretamente e dormir. Tenho a certeza 
que sonhava com futebol”, descreve Mick Clegg.
Este “trabalho de potência de pernas”, sublinhado por 
Mick, foi uma preocupação sempre presente em Cristiano 
Ronaldo. Para percebermos melhor, vale a pena contar uma 
história ocorrida durante a temporada 2002/03. Seria a úl-
tima época de CR7 no Sporting e a segunda em que bene-
ficiou em pleno da modelar Academia leonina, então re-
cém-inaugurada. O futebol de formação e o futebol sénior 
tinham ginásios separados. Apesar de já estar integrado em 
pleno no plantel principal, era comum ver Ronaldo na ala 
FISICO
21
juvenil. “Ele ia às escondidas para o ginásio da formação 
porque no futebol profissional só podia fazer os programas 
pré-definidos pela equipa técnica, ao passo que ali ninguém 
o chateava com restrições”, conta Carlos Bruno, responsá-
vel pelo ginásio do futebol de formação leonino. 
É aqui que entra o “trabalho de potência de pernas”. 
Nos dois ginásios, o da formação e o do futebol sénior, 
existiam prensas – máquinas em que o atleta empurra uma 
plataforma horizontal com as plantas dos pés – para tra-
balhar globalmente os membros inferiores. Ambas tinham 
uma carga máxima de 250 quilos. No entanto, Cristiano 
Ronaldo rapidamente atingiu a capacidade limite do apa-
relho. Os responsáveis do futebol de formação apercebe-
ram-se e encomendaram mais pesos, chegando aos... 400 
quilos! Por essa razão Ronaldo atravessava todos os dias, 
clandestino, o corredor até ao ginásio dos mais jovens. 
O responsável pelas instalações “tentava ajudá-lo, sem 
nunca lhe castrar o entusiasmo” e até quis ficar com re-
gistos para a posteridade: “Nesse tempo fiz várias fotos 
e vídeos com ele, para usar mais tarde como modelo do 
ginásio, porque era evidente que aquele atleta iria chegar 
longe, queria sempre mais e fazia-o por iniciativa própria”, 
explica Carlos Bruno. 
No ginásio do futebol de formação da Academia do Sporting (2003), 
usando a prensa para fortalecimento muscular dos membros inferiores
22
Plano demolidor 
A flagrante transformação física de Cristiano Ronal-
do ocorreu em Manchester. Transfigurou-se. Em maio de 
2008, antes do Europeu da Áustria e Suíça, nem o discreto 
Darlan Schneider, então preparador físico da Seleção Na-
cional treinada por Luiz Felipe Scolari, resistiu a comentar 
publicamente o que via nos treinos: “Tem grande resistên-
cia e grande potência.” 
Carlos Bruno considerabiologicamente normal que isso 
tenha acontecido: “As grandes diferenças que vemos nele, 
do Sporting para o Manchester United, têm a ver, em pri-
meiro lugar, com questões fisiológicas relacionadas com a 
idade. Por razões endógenas e hormonais, o trabalho de 
força desenvolve-se com mais eficácia depois de o indiví-
duo dar o salto pubertário.” Contudo, o especialista em 
fitness não exclui o mérito de Alex Ferguson e respetiva 
equipa técnica: “Eles não queimaram etapas e deixaram- 
-no crescer, dando-lhe todas as condições”. 
A rotina de fortalecimento físico em Manchester prolon-
gou-se por cinco anos. Ronaldo aprendeu e dominou, re-
petindo vezes sem conta, todos os princípios de potência e 
força definidos pelo especialista Mick Clegg: levantamento 
de pesos, agachamentos frontais, arranques, arremessos e 
outro tipo de exercícios. 
Em outubro de 2013, em entrevista à revista Muscle & 
Fitness, Mick desvendou uma sessão de treino-tipo, que 
normalmente usava com futebolistas profissionais como 
Cristiano Ronaldo:
– Coordenação entre mãos e olhos com utilização do FitLi-
ght (30 segundos)*
– Coordenação entre pés e olhos com utilização do FitLight 
(30 segundos)*
FISICO
23
– Alternar um sprint de 15 metros (mais 1,5 metros para 
parar) com uma corrida de 30 metros numa pista com 
dois escadotes de corda, quatro obstáculos (dois saltos 
com os pés juntos, dois saltos com os pés afastados). Fa-
zer um sprint e, depois, voltar ao início e reiniciar a pista 
de escadotes e obstáculos.
– Alternar um salto lateral sobre uma caixa com um salto 
lateral sem nada e, depois, saltar para cima da caixa.
– Três arranques fortes seguidos de arremesso no suporte.
– Três levantamentos seguidos de agachamento frontal.
* Percorrer o circuito três vezes, com três repetições de 
cada exercício. Utilizar o peso do seu corpo para o levan-
tamento do peso, de forma a reduzi-lo em 25% nos ar-
ranques fortes e em 50% nos arremessos. Para melhorar o 
exercício, aumentar a velocidade a que levanta os pesos e 
não o peso usado.
Mick trabalhou com as maiores estrelas do United dos 
últimos anos. Se tivesse que nomear o extremo oposto de 
Ronaldo, o especialista não hesitaria: Paul Scholes. “Ficava 
doente com facilidade, tinha asma. E eu não o consideraria 
um atleta. Tinha uma capacidade de resistência muito bai-
xa, não era forte, rápido, nem poderoso.”
Segundo Mick, as virtudes de Paul Scholes estavam fun-
damentalmente na cabeça: “Tinha uma visão periférica 
melhor do que qualquer outro atleta, um raro processa-
mento cognitivo que lhe permitia saber exatamente o que 
estava a acontecer à sua volta.” 
Do ponto de vista físico, Cristiano Ronaldo estava no ex-
tremo oposto. Forte, saudável e com uma predisposição 
insaciável para o trabalho, evolução e… perfeição. 
	cr74
	CR7
	CR7-POR
	CR7

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