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Bioética em saude - Unidade II

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Unidade II
Unidade II
5 DILEMAS ATUAIS EM BIOÉTICA
Antes de começar a falar sobre a Bioética no mundo atual frente aos avanços tecnológicos e das 
ciências, vamos prestar atenção nos direitos fundamentais do indivíduo, de acordo com DUDH.
Alguns dos direitos fundamentais de todo ser humano que o progresso da ciência e da tecnologia 
deve ampliar são, segundo Garrafa (2012):
•	 acesso a cuidados de saúde de qualidade e a medicamentos essenciais;
•	 acesso à nutrição adequada e à água de boa qualidade;
•	 melhora das condições de vida e do meio ambiente;
•	 eliminação da marginalização e da exclusão de indivíduos por qualquer que seja o motivo;
•	 redução da pobreza e do analfabetismo.
O fundamento ético que devemos construir em nossa formação é tão importante quanto a estrutura 
de um prédio. Se essa estrutura não está bem fundamentada, o prédio corre o risco de rachar ou, no caso 
da Bioética, de não enfrentar de maneira adequada os desafios éticos que a profissão de pesquisador 
pode trazer. Entretanto, uma vez que essa estrutura esteja bem consolidada, não é preciso lembrar dela 
a todo instante, ela fica incorporada ao desenvolvimento do trabalho dando a base para a tomada de 
decisão (JUNQUEIRA, 2011).
Mas qual é esse fundamento?
Trata‑se de reconhecer que somos diferentes uns dos outros sem, com isso, assumir que uma pessoa 
seja melhor que a outra. Apesar de sermos pessoas diferentes, com diferentes ideias, culturas e crenças, 
somos todos iguais no que se refere à dignidade.
Dessa forma, lembrando mais uma vez que beneficência quer dizer fazer o bem e não maleficência 
significa evitar o mal, sempre que alguma sugestão for proposta a alguém, esse profissional que o 
faz deve reconhecer a dignidade do paciente e considerá‑lo em sua totalidade, sob os aspectos físico, 
psicológico, social e espiritual, oferecendo‑lhe o melhor (JUNQUEIRA, 2011).
O segundo princípio que devemos utilizar como ferramenta para o enfrentamento de questões 
éticas é o princípio da autonomia, que significa dizer que a pessoa tem liberdade de decisão sobre sua 
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BIOÉTICA EM SAÚDE
vida, possui o poder de decidir o que é melhor para si e o quanto ela pode gerenciar sua própria vontade, 
livre da influência de outras pessoas. Para que o respeito à autonomia seja possível, duas condições são 
fundamentais:
•	 liberdade: ser livre para decidir, estando livre de pressões externas (pressão ou subordinação);
•	 informação: ter plena ciência de fatos relevantes a fim de que seja possível ao indivíduo decidir 
conscientemente.
As pessoas podem, em algum momento, ter dificuldade ou estar impossibilitadas de se expressar. 
Nesses casos, dizemos que sua autonomia está limitada.
O terceiro princípio (justiça) se refere à igualdade de tratamento e à justa distribuição das verbas 
do Estado para a saúde e a pesquisa, por exemplo. Por esse princípio, o direito de cada um deve ser 
respeitado (JUNQUEIRA, 2011).
Como vimos durante nossos estudos sobre a Bioética, esse direcionamento ético das pesquisas não 
surgiu arbitrariamente. Infelizmente, muitas pessoas sofreram para que pudéssemos chegar ao que 
temos atualmente em termos de resoluções, discussões e proteção das pessoas envolvidas. A seguir, 
vamos relembrar alguns fatos que marcaram a história da humanidade e que foram fundamentais para 
o crescimento da Bioética e pela consideração que temos pelo ser humano nos dias de hoje (embora, 
apesar dos avanços históricos, essa consideração, em muitas situações, ainda esteja longe de ser ideal).
O primeiro fato digno de nota é o Caso Tuskegee, quando um grupo de 600 negros portadores 
de sífilis foi observado durante 50 anos sem que fosse realizado qualquer tratamento. A intenção era 
apenas saber como ocorria o desenvolvimento natural da doença. O maior problema foi que, durante 
esse período, a penicilina (medicamento utilizado no tratamento da doença) foi descoberta e mesmo 
assim essas pessoas não foram tratadas (REVERBY, 2000).
No Brasil, destaca‑se a pesquisa sobre malária coordenada pela Universidade da Flórida e patrocinada 
pelo National Institutes of Health (NIH), dos EUA. Nesse estudo, conforme informa Lorenzo (2012), 
integrantes de comunidades negras ribeirinhas no Amapá foram submetidos a picadas de 100 anófeles 
do ambiente por dia, propositalmente, em áreas endêmicas com alto índice de infectividade, sabendo‑se 
que não havia tratamento disponível.
A biotecnologia, anos depois, entrou no mercado e criou a indústria da saúde, com consequências 
positivas e negativas. Ao mesmo tempo que as empresas farmacêuticas investem tempo e dinheiro 
em pesquisas para o desenvolvimento de novas moléculas na intenção de que elas se transformem 
em drogas poderosas e eficientes, grande parte desses estudos está sujeita à ganância, o que muito 
frequentemente leva a comportamentos pervertidos, criminosos e fraudulentos geralmente aplicados 
em países em desenvolvimento. Podemos considerar fraude inclusive a propaganda enganosa que ocorre 
mesmo quando os medicamentos ainda não passaram por todas as etapas de pesquisa sobre eficácia e 
segurança (ATLAN, 2012). A seguir, incluímos exemplos desse tipo de situação:
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Unidade II
•	 Caso Willowbrook: injeção deliberada do vírus da hepatite em centenas de crianças 
residentes em Willowbrook (instituição para portadores de deficiência mental em Nova York). 
Os pesquisadores defenderam a pesquisa, alegando que a grande maioria das crianças, dadas 
as condições de higiene e superlotação, adquiririam o vírus da hepatite de qualquer forma 
(SAKAGUTI, 2007).
•	 O estudo da cárie dental de Vipeholm: 436 deficientes mentais, internos de um hospital da 
Suécia, receberam com frequência variável uma dieta rica em açúcar com dosagens diferentes, 
sem consentimento. O estudo iniciou‑se em 1945 e durou 8 anos, provando que a cárie dentária 
é originária da ingestão da sacarose. O estudo foi encomendado pelo próprio Governo da Suécia 
(SAKAGUTI, 2007).
•	 Câmeras com baixa pressão atmosférica: experimentos em Dachau, de março a agosto de 1942, 
no campo de concentração da Força Aérea Alemã, objetivando investigar os limites da resistência 
humana em altitudes extremamente elevadas. Os indivíduos eram colocados na câmara de baixa 
pressão e, daí em diante, a altitude ali simulada era elevada (DELLA‑ROSA, 2011).
•	 Congelamento: experimentos de agosto de 1942 a maio de 1943, também realizados em Dachau, 
com intuito de investigar os meios eficazes de tratar pessoas que tinham passado por um frio 
intenso ou sofrido um congelamento grave. Em uma série de experimentos, os indivíduos foram 
forçados a permanecer em um tanque de água gelada por períodos de até três horas. Em outra 
série de experimentos, os indivíduos foram mantidos despidos ao ar livre durante muitas horas a 
temperaturas abaixo de 0°C (DELLA‑ROSA, 2011).
•	 Experimentos com tifo (febre maculosa): ocorridos de dezembro de 1941 a fevereiro de 1945, 
nos campos de concentração de Buchenwald e Natzweiler, para investigar a eficácia da vacina 
contra a febre maculosa. Nesses experimentos, inúmeros internos sadios foram deliberadamenteinfectados com o vírus da febre maculosa para manter o vírus vivo. Mais de 90% das vítimas 
morreram (DELLA‑ROSA, 2011).
•	 Experimentos com sulfanilamida: de julho de 1942 a setembro de 1943, foram realizados 
para investigar a eficácia da sulfanilamida no campo de concentração de Ravensbrueck, onde 
os prisioneiros tinham seus ferimentos infectados com bactérias. Para interromper a circulação 
do sangue, atavam‑se os vasos sanguíneos em ambas as extremidades do ferimento para criar 
uma condição semelhante àquela de um ferimento em campo de batalha. A infecção era tratada 
com sulfanilamida e outras drogas a fim de determinar sua eficácia. Alguns indivíduos morreram 
em consequência desses experimentos e outros sofreram lesão grave, além de intensa agonia 
(DELLA‑ROSA, 2011).
•	 Experimentos com veneno: de 1943 a 1944 foram conduzidos experimentos no campo de 
concentração de Buchenwald para investigar o efeito de vários venenos nos seres humanos. Os 
venenos foram secreta e experimentalmente administrados em pessoas por meio de sua comida 
(DELLA‑ROSA, 2011).
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BIOÉTICA EM SAÚDE
5.1 Bioética, Biodireito
Segundo Diniz (2010), a Bioética, num sentindo mais amplo, deveria tratar não só dos problemas éticos 
relacionados com as situações advindas da ciência (sejam eles do âmbito da saúde ou das tecnociências 
biomédicas) como também dos decorrentes da degradação do meio ambiente, desequilíbrio ecológico e 
do uso de armas químicas.
Novas tecnologias, como clonagem, reprodução assistida e alimentos transgênicos, entre outras, 
acabam suscitando questões relacionadas à segurança biológica e aos valores morais. Nessas situações, 
a Bioética é ideal para avaliar os benefícios, desvantagens e consequências que esses avanços poderiam 
causar para a humanidade (PEREIRA et al., 2013).
A Bioética possui postulados máximos que revelam aspectos da moralidade atual. Esses postulados 
são conhecidos como princípios.
 Lembrete
Lembre‑se dos quatro princípios básicos da Bioética: autonomia, 
beneficência, não maleficência e justiça. Eles são de vital importância.
Os princípios são normas, diretrizes, que objetivam expressar valores importantes para a sociedade. 
Huxley (2009) salienta que os princípios não seguem a ideia de tudo ou nada, como ocorre com as 
regras. Quando existe um embate entre dois princípios, a solução possível de ser aplicada pode, inclusive, 
desconsiderar um desses princípios em detrimento do outro. No caso de uma regra, mesmo quando ela 
não é aplicada, não deixa de existir e continua apta a solucionar outra situação.
O Biodireito surge como um estudo sistemático, diretamente interligado à Bioética, que objetiva 
a criação de normas para regulamentar as condutas humanas geradas a partir do crescente avanço 
técnico‑científico e biotécnico‑ cientifico. O Biodireito possui princípios autônomos, assim como regras, e 
leva em consideração as normas constitucionais brasileiras, por fazer parte do ordenamento jurídico pátrio.
Assim como a Bioética, o Biodireito possui, conforme explicam Pereira et al. (2013), quatro princípios:
•	 Princípio da precaução: limita a ação do profissional, que deve estar atento aos riscos da atividade 
exercida e, frente a um risco grave ou irreversível, deve tomar todas as medidas necessárias.
•	 Princípio da responsabilidade: está relacionado ao dever jurídico de cumprir os termos acordados. 
Essa responsabilidade acontece junto ou separadamente nos âmbitos administrativo, penal e/ou cível.
•	 Princípio da autonomia privada: a pessoa tem a autonomia, a liberdade de decidir por si, de 
modo a definir seu próprio comportamento.
•	 Princípio da dignidade da pessoa humana: garantia do total desenvolvimento do ser humano, 
tanto no âmbito psíquico como no físico.
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Unidade II
6 BIOTECNOLOGIA X BIOÉTICA
Como a Bioética implica novas maneiras de lidar com doenças e interferências genéticas, a vida no 
planeta Terra também acaba sendo profundamente atingida por essa ciência.
Embora os avanços biotecnológicos proporcionem evoluções nas áreas da saúde, do meio ambiente, 
da industrialização de alimentos e da agropecuária, ocasionam também dilemas bioéticos. Um exemplo 
disso é o desenvolvimento da tecnologia do DNA recombinante (engenharia ou manipulação genética), 
em 1953, provavelmente o fato de maior impacto na área da Bioética. Em decorrência deles, várias 
questões de difícil solução surgiram:
•	 utilização do teste de identidade pelo DNA;
•	 produção de alimentos transgênicos;
•	 clonagem;
•	 reprodução assistida.
Isso, apenas para citar alguns exemplos. Para lidar com todas essas questões, que são novas, o 
Conselho Nacional de Saúde criou as resoluções específicas para determinadas áreas de conhecimento, 
como as RDC nº 340/2004, que regulamenta a pesquisa em genética humana, e a RDC nº 347/2005, 
sobre a utilização de material biológico humano em pesquisa. Todas essas resoluções foram elaboradas 
pelo Ministério da Saúde e pelo Conselho Nacional da Saúde na Resolução nº 196/1996, que se manteve 
vigente até agosto de 2013, quando foi substituída pela Resolução nº 466/2012.
6.1 Paciente terminal
O Brasil está repetindo a tendência da maioria dos países, nos quais a pirâmide populacional está se 
invertendo. As projeções feitas para 2050 mostram que o planeta abrigará 21,1% de pessoas idosas, sendo 
que em nosso país a estimativa é de que 23,6% desses idosos permaneçam no convívio social (SIQUEIRA, 
2011). Portanto, discussões, ensinamentos e experiências sobre a morte, terminalidade, cuidados paliativos 
e todos os dilemas bioéticos em que esses assuntos são envolvidos devem ser passados aos futuros 
profissionais da área da saúde, em especial àqueles que enfrentarão essas situações cotidianamente.
No decorrer dos anos, houve uma mudança bastante grande em relação à maneira como lidamos com a 
morte. De acordo com Araújo (2011), “somos o único ser vivo a pensar a própria existência e, consequentemente, 
na morte, o que justifica as mudanças encontradas nos rituais e nos mitos ao longo dos anos”.
6.1.1 A morte, as crenças e a modernidade
Na cultura hindu é praticada a incineração crematória. Os mortos são cremados em uma pira aberta, 
acesa pelo filho mais velho do falecido. As cerimônias fúnebres representam um rito de passagem para 
o absoluto, o eterno, o nirvana e a paz. Os hindus, assim como os espíritas, creem na reencarnação.
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O cristianismo abrange todas as religiões que professam os preceitos deixados por Jesus Cristo, o 
que inclui os católicos, os evangélicos, os pentecostais, os ortodoxos e os espíritas. Os rituais de morte e 
luto dos cristãos são similares; fazem parte dos ritos: unção, velório, enterro e orações (cultos e missas).
Os judeus e os cristãos veem a morte como uma passagem para a vida eterna, com a presença de 
Deus (GIACOIA JÚNIOR, 2005). De qualquer modo, as religiões acabaram se tornando um tipo de refúgio 
da morte. Independente da crença, as religiões trazem a ideia de uma vida pós‑morte.
Foi a partir da era industrial (séculos XIX a XXI) que o poder tecnológico e científico começou a sedesenvolver. Os homens foram se distanciando dos ciclos naturais da vida. A morte passou a ser uma 
inimiga a ser combatida e sua chegada, a ser temida com mais angústia (COMBINATO; QUEIROZ, 2006).
O local da morte também mudou. Antes os doentes eram tratados em casa e a morte, 
consequentemente, ocorria no ambiente familiar. Por conta disso, todas as pessoas que conviviam com 
o doente acabavam compartilhando essa experiência, inclusive as crianças. A morte era vista como 
a finalização de um ciclo. Atualmente, por outro lado, a morte (ou parte desse processo) ocorre em 
hospitais, que em sua grande maioria são ambientes frios, isolados, com luz artificial e onde as visitas 
são monitoradas e restritas, segundo nos informa Boccatto (2007). Isso acaba tendo como efeito isolar 
o paciente no momento final da vida, afastando‑o do convívio familiar – e a morte, então, passa a ser 
vista como uma falha dos tratamentos médicos, gerando revolta na população, que passa a exigir a cura 
como se isso fosse fácil de ser conseguido.
Portanto, podemos notar que houve uma grande mudança com relação à morte e ao modo de 
encará‑la. As pessoas passaram a temer esse fato e fugir dele. Como consequência, os homens, a todo 
custo, querem permanecer jovens e, para tanto, fizeram muitos avanços no campo da ciência. A morte e 
o processo de envelhecimento estão ficando cada vez mais distantes de nosso cotidiano, o que faz com 
que o ser humano pare de enxergar esse processo como um ciclo natural da vida.
Segundo Kübler Ross (1989), o processo de morrer passa por cinco fases, que não ocorrem de forma 
ordenada e não são excludentes, visto que podem se misturar e ter períodos de duração diferentes sem, 
contudo, que uma seja mais importante que a outra. São elas:
1 – Negação e isolamento: são mecanismos de defesa temporários do 
ego contra a dor psíquica diante da morte. A intensidade e duração 
desses mecanismos de defesa dependem de como a própria pessoa 
que sofre e as outras pessoas ao seu redor são capazes de lidar com 
essa dor. Em geral, a negação e o isolamento não persistem por muito 
tempo.
2 – Raiva: a raiva normalmente surge devido à impossibilidade do 
isolamento. Os relacionamentos se tornam problemáticos e todo o 
ambiente é hostilizado pela revolta de quem sabe que vai morrer. 
Junto com a raiva, também surgem sentimentos de revolta, inveja e 
ressentimento.
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3 – Barganha: tendo deixado de lado a negação, o isolamento e a raiva, 
a pessoa entra na fase da barganha. A maioria dessas barganhas é 
feita com Deus e, normalmente, mantidas em segredo.
4 – Depressão: normalmente ocorre quando o paciente toma consciência 
de sua debilidade física, quando já não consegue negar suas condições 
de doente, quando as perspectivas da morte são claramente sentidas. 
Evidentemente, trata‑se de uma atitude evolutiva. Surge então um 
sentimento de grande perda.
 Observação
Nesses casos, a depressão assume um quadro clínico característico: 
desânimo, desinteresse, apatia, tristeza, choro.
5 – Aceitação: nesse estágio, o paciente já não experimenta o 
desespero e nem nega sua realidade. Esse é um momento de repouso 
e serenidade que ocorre quando a pessoa reconhece sua mortalidade 
e a proximidade do fim.
Sobre a dificuldade comum de lidar com a morte, é muito ilustrativo o trecho de um poema de Mario 
Quintana (2005, p. 44) sobre a morte:
Esta vida é uma estranha hospedaria,
De onde se parte quase sempre às tontas,
Pois nunca as nossas malas estão prontas,
E a nossa conta nunca está em dia.
Nesse momento você deve estar se perguntando: mas o que é que esse assunto de morte tem haver 
com a Bioética?
Bom, estamos chegando ao ponto... Um pouco mais de paciência.
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BIOÉTICA EM SAÚDE
6.1.2 Paciente terminal x Bioética
Figura 15 – Imagem de necrotério
É imprescindível relacionar os quatro princípios da Bioética com os pacientes terminais, mas antes 
de fazê‑lo é necessário ter esse último conceito bem claro. O paciente terminal é aquele cuja condição é 
irreversível, independentemente de ser tratado ou não. Esse paciente apresenta uma alta probabilidade 
de morrer num período relativamente curto de tempo.
Como, conforme já discutido, todos devem ser respeitados no que expressam os quatro princípios da 
Bioética, vale a pena examinar melhor como eles definem esses direitos no caso dos doentes terminais. 
A beneficência prevê a importância de evitar intervenções que resultassem em um sofrimento maior do 
que o eventual benefício ao paciente, enquanto a não maleficência assevera que, para essa população, 
devem ser evitadas intervenções que de algum modo possam causar desrespeito à dignidade do paciente 
como pessoa. Já a autonomia fica restrita às possibilidades do paciente, que nem sempre está em 
condição de fazer escolhas; devido a isso, a autonomia pode acabar sendo tratada de forma secundária 
em relação à beneficência ou não maleficência. Por fim, a justiça define que deve ser respeitado o 
principio da equidade e disponibilizados para o paciente todos os tratamentos pertinentes ao seu caso, 
de acordo com as decisões tomadas por ele ou por seu representante legal.
6.1.3 Eu posso escolher como morrer?
Etimologicamente, a palavra eutanásia se origina do grego eu, que significa bom, e thanatos, que 
significa morte, o que quer dizer boa morte, termo que remete a um óbito sem sofrimento.
A eutanásia foi muito realizada na antiguidade e era considerada uma prática natural para com as 
pessoas que nasciam com problemas físicos ou mentais. Essas pessoas eram mortas para que não sofressem.
No entanto, após a Segunda Guerra Mundial, a eutanásia passou a ter uma conotação negativa, 
visto que foi responsável pelo extermínio de 80.000 a 100.000 pessoas.
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Sobre o assunto, é emblemática a figura de um médico muito famoso, Dr. Jack Kerkorkian, que 
ficou conhecido como Doutor Morte. Esse patologista americano estava convencido de que o suicídio 
assistido deveria ser liberado e passou sua vida lutando por esse direito.
 Saiba mais
Para saber mais sobre a vida do Dr. Morte, assista ao filme:
VOCÊ não conhece o Jack. Dir. Barry Levinson. EUA: HBO, 2010. 134 
minutos.
A eutanásia é uma prática permitida na Holanda, Bélgica, Suíça e no Oregon (EUA), desde que siga 
alguns critérios. Para que a eutanásia possa ser efetivada, o paciente deve:
•	 reafirmar o pedido várias vezes;
•	 ser adulto;
•	 estar mentalmente capaz;
•	 apresentar dor e sofrimento intolerável, tanto físico quanto psiquicamente;
•	 é necessária a presença de dois médicos para garantir a legitimidade do sofrimento e a 
irreversibilidade do quadro.
Existem algumas práticas que acabam sendo confundidas com a eutanásia. Vamos definir cada 
uma delas e veremos também quais são os códigos (leis) que tratam dessas situações. A distanásia tem 
origem grega: dis (duas vezes) e tánatos (morte), ou seja, “morte dupla”. Ela acabou se tornando um 
problema ético de primeira grandeza. À medida que os progressos científicos interferem nas fases finais 
da vida humana, uma reflexão ética passou a ser exigida, jáque o homem traz para si a responsabilidade 
de não conseguir curar e ter que manter a vida a todo custo.
A distanásia também é conhecida como obstinação terapêutica ou rotulada como futilidade médica. 
Nessa situação, os médicos (e familiares) não conseguem aceitar a morte do paciente e continuam 
mantendo‑o vivo com o uso de aparelhos e, às vezes, são solicitados exames e outros procedimentos 
que, além de não beneficiar em nada o paciente, são dispendiosos, desconfortáveis e não resgatam a 
saúde (PARKIN; BRAY; DEVESA, 2001).
Já a ortotanásia vem do grego órtos (certo) e tánatos (morte): morte correta. A ortotanásia também 
é conhecida como eutanásia passiva. Nessa prática, os médicos oferecem apoio profissional e afetivo 
para o paciente terminal, permitindo que a morte ocorra com tranquilidade (KOVÁCS, 2003).
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A especialidade médica que cuida de pacientes nessa fase é a Medicina Paliativa, que oferece ao 
doente todos os recursos necessários a fim de evitar o sofrimento.
6.1.4 A terminalidade e as legislações
Como vimos até agora, muita coisa mudou com relação à morte, ao local onde ela ocorre e até 
mesmo com relação às formas de morrer. Com tantas mudanças, as legislações competentes também 
precisaram se adaptar, conforme veremos a seguir.
Em 2009, a Medicina brasileira ganhou um novo Código de Ética Médica: a Resolução CFM nº 
1.931/2009, com 25 princípios, que entrou em vigor em 13 de abril de 2010. O último código de ética 
médica datava de 1988 e, como se pode esperar, um código mais adaptado à nova realidade era essencial 
(PESSINI; HOSSNE, 2010).
A principal mudança no Código de Ética Médica (CEM), nesses anos, ocorreu na relação entre médico 
e paciente, que passou a ser mais de parceria e menos de paternalismo. O paciente pode e deve emitir 
sua opinião e o médico deve orientá‑lo sobre os melhores tratamentos que existem para que ele possa 
escolher. O indivíduo passa a ser o eixo central, com direito a uma sobrevida que, dure o tempo que for, 
deve ter a melhor qualidade possível (PESSINI; HOSSNE, 2010).
Além disso, o paciente passa a ser visto integralmente, com todos os sentimentos e expectativas que 
lhe são característicos, e não apenas como um órgão que precisa ser tratado ou uma doença que precisa 
ser curada.
 Lembrete
Nas pesquisas clínicas com seres humanos, aconteceu algo parecido. Foi 
depois de 1964 (Declaração de Helsinki) que o participante passou a ser o 
principal foco dos estudos.
O código de ética médica de 2009 deve ser norteado pelos princípios bioéticos que estão incorporados 
a ele, ou seja: a autonomia, a beneficência, a justiça, e a não maleficência.
Pelo código, é vetado ao médico:
•	 deixar de obter consentimento do paciente ou de seu representante legal sobre o procedimento 
que será realizado. Esse consentimento só deverá ser obtido após o médico esclarecer ao paciente 
todas as dúvidas que houver. Caso o doente se encontre em caso de risco iminente de morte, a 
obtenção do consentimento deixa de ser prioridade (CFM, 2009);
•	 deixar de garantir ao paciente o exercício do direito de decidir livremente sobre sua pessoa ou 
seu bem‑estar. O doente passa a ter o direito inclusive de não querer mais se submeter aos 
tratamentos e, nesse caso, o médico tem a obrigação de continuar cuidando dele da melhor 
maneira possível e evitando o sofrimento (CFM, 2009);
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Unidade II
•	 abandonar o paciente sob seus cuidados. “O médico não abandonará o paciente por ser este 
portador de moléstia crônica ou incurável e continuará a assisti‑lo, ainda que para cuidados 
paliativos, salvo por motivo justo comunicado ao paciente ou aos seus familiares” (CFM, 2009);
•	 abreviar a vida do paciente, ainda que a pedido deste ou de seu representante legal. Nos casos de 
doença incurável e terminal, cabe ao médico oferecer todos os cuidados paliativos disponíveis a 
seu paciente sem empreender ações diagnósticas ou terapêuticas inúteis ou obstinadas, levando 
sempre em consideração a vontade expressa do paciente ou, na sua impossibilidade, a de seu 
representante legal (PESSINI; HOSSNE, 2010);
•	 a eutanásia, prática pela qual se abrevia a vida de um enfermo incurável, de maneira controlada 
e assistida por um especialista. Pelo novo código, a eutanásia ainda é considerada crime, mas o 
documento introduz a ideia de que na impossibilidade de cura, a oferta de cuidados paliativos 
deve ser feita tendo o paciente como foco e ele tem o direito de escolher se quer ou não ter uma 
sobrevida com mais qualidade mesmo que por menos tempo (PESSINI; HOSSNE, 2010);
•	 a distanásia, prática pela qual se prorroga, por meios artificiais e desproporcionais, a vida de um 
enfermo incurável, conhecida também como obstinação terapêutica;
•	 a ortotanásia, termo utilizado pelos médicos para definir a morte natural sem interferência da 
ciência, permitindo ao paciente morte digna, sem sofrimento, deixando a evolução e o percurso 
da doença serem cumpridos. Dessa forma, os métodos extraordinários de suporte à vida, como 
medicamentos e aparelhos em pacientes incuráveis, passou a ser legalizado desde que o CEM, 
em 2006, publicou que “na fase terminal de enfermidades graves e incuráveis é permitido ao 
médico limitar ou suspender procedimentos e tratamentos que prolonguem a vida do doente, 
garantindo‑lhe os cuidados necessários para aliviar os sintomas que levam ao sofrimento, na 
perspectiva de uma assistência integral, respeitada a vontade do paciente ou de seu representante 
legal” (CFM, 2006).
 Observação
Em 2006, quando a ortotanásia passou a ser prevista no CEM, houve 
muita contestação judicial, pois essa prática foi confundida com eutanásia.
É responsabilidade do médico (CFM, 2012a):
•	 não definir diretivas antecipadas de vontade, como o conjunto de desejos, prévia e expressamente 
manifestados pelo paciente, sobre cuidados e tratamentos que quer ou não receber, no momento 
em que estiver incapacitado de expressar, livre e autonomamente, sua vontade;
•	 garantir que as diretivas antecipadas do paciente prevalecerão sobre qualquer outro parecer não 
médico, inclusive sobre os desejos dos familiares;
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BIOÉTICA EM SAÚDE
•	 registrar, no prontuário, as diretivas antecipadas de vontade que lhes foram diretamente 
comunicadas pelo paciente.
Não sendo conhecidas as diretivas antecipadas de vontade do paciente, nem havendo representantes 
disponíveis, o médico recorrerá ao Comitê de Bioética da instituição, caso exista, ou, na falta deste, à 
Comissão de Ética Médica do hospital ou ao Conselho Regional e Federal de Medicina para fundamentar 
sua decisão sobre conflitos éticos, quando considerar tal medida necessária e conveniente.
Convém ainda falar de documentos que têm papel importantíssimo na condução apropriada de uma 
situação de conflito ético:
•	 diretiva antecipada de vontade ou testamento vital: o documento permite que a pessoa 
transmita decisões sobre cuidados em fim de vida quando ainda estiver possibilitada e consciente 
para isso.
Em alguns países, dois documentos garantem aos pacientes o respeito a seus desejos:
•	 testamento vital:documento em que a pessoa determina, de forma escrita, os tratamentos 
que deseja ou não receber. No Brasil, a legitimidade desse documento também passou a ser 
reconhecida pelos médicos;
•	 mandato duradouro: o paciente escolhe uma pessoa para decidir em seu nome.
Esses documentos respeitam a autonomia dos pacientes, possibilitando um final de vida mais digno. 
O Estado de São Paulo, em 1999, apresentou uma legislação pioneira que versava sobre os direitos dos 
usuários dos serviços e das ações de saúde. A Lei Estadual nº 10.241 estabelece que o usuário tenha 
direito à autonomia sobre seu tratamento, podendo “consentir ou recusar, de forma livre, voluntária e 
esclarecida, com adequada informação, procedimentos diagnósticos ou terapêuticos” (BRASIL, 1999).
6.1.5 Casos famosos
No decorrer da história, alguns casos famosos sobre eutanásia, distanásia e ortotanásia repercutiram 
publicamente, o que levou a sociedade a refletir sobre o assunto e a cada vez exigir melhores legislações 
sobre essa temática tão delicada. Na sequência serão citados alguns dos casos mais conhecidos.
6.1.5.1 Terri Schiavo
Um dos casos mais recentes de eutanasia é o de Theresa Marie (Terri) Schindler‑Schiavo, de 41 anos. 
Em 1990 ela teve uma parada cardíaca, o que a privou por pelo menos cinco minutos de fluxo sanguíneo 
cerebral, deixando‑a em estado vegetativo.
O marido de Terri entrou na justiça pedindo que os aparelhos que mantinham a esposa viva fossem 
desligados (sonda de alimentação e hidratação). Os pais e familiares de Terri eram contrários a tal medida e 
recorriam à Justiça toda vez que o marido de Terri conseguia obter a autorização para desligar os aparelhos.
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Unidade II
Somente em 19 de março de 2005 a sonda pôde ser retirada de Terry, que permaneceu sem ela até 
o momento de sua morte, 12 dias depois.
Quando esse caso foi relatado na imprensa leiga, foi caracterizado como uma situação de eutanásia, 
entretanto, pode ser facilmente enquadrado como sendo uma suspensão de medida terapêutica.
6.1.5.2 Eluana Englaro
A italiana sofreu um grave acidente automobilístico em 1992 e sua família teve de atravessar uma 
longa e ruidosa batalha na Justiça. O caso chegou a gerar uma crise política na Itália. Além de se recusar 
a assinar o decreto‑lei criado por Berlusconi para impedir a eutanásia de Eluana, aprovada em novembro 
pela máxima corte de Justiça italiana, o presidente Giorgio Napolitano taxou a atitude do colega de 
inconstitucional.
Em seu pedido à Justiça, a família afirmou que levar Eluana à morte atenderia a vontade da paciente, 
que morreu em 9 de fevereiro de 2009, aos 38 anos, 17 dos quais passados em estado vegetativo.
Exemplo de aplicação
Já nos ensinavam os mais velhos que “só é bom o que é bom para todos”. Relacionando essa ideia 
com aquilo que acabamos de ver, podemos pensar primeiramente que os avanços da biotecnologia, pelo 
menos por enquanto, estão favorecendo poucas pessoas.
De acordo com a ONU, 23% da humanidade vive (será que essa é a palavra mais indicada?) em 
estado de pobreza absoluta. O que essa população, quase um quarto da total, tem interesse de saber se 
a eutanásia está ou não liberada e se o médico vai ou não retirar os aparelhos? Essa população não deve 
nunca sequer ter conhecido um médico. Fazemos, então, uma pergunta para que você possa refletir a 
respeito:
Será que é correto investir tanto em tecnologia quando muitos não têm acesso ao básico? Note que 
o básico a que aludimos situa‑se no sentido mais fundamental da palavra, como o acesso à água, por 
exemplo.
7 CLONAGEM
A definição de “clone” é população de moléculas, células ou organismos provenientes de uma única 
célula, idênticas à original. Portanto, a clonagem é uma cópia de células e de organismos feitos a partir 
de um que já existe.
O caso mais famoso de clonagem foi o da ovelha Dolly, quando a clonagem de um mamífero se 
tornou possível, abrindo a possibilidade de clonagem do ser humano. Desde então, o médico cientista 
Salvatore Antinori assombra o mundo falando em clonar um ser humano (DELLA‑ROSA, 2011).
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Resumidamente, vejamos as etapas de uma clonagem:
•	 isolar uma célula;
•	 retirar o núcleo;
•	 adicionar uma segunda célula;
•	 multiplicar essa célula repetidamente até que seja constituído um novo organismo.
No estudo da Bioética atual, dois tipos de clonagem são considerados: a reprodutiva e a terapêutica. 
A primeira tem o objetivo de gerar cópias de outros seres. Nesse caso, um óvulo enucleado, (com o 
núcleo que contém o material genético que se quer clonar) acaba se comportando como um zigoto, 
que ao ser inserido no útero (barriga de aluguel) formará um ser com as mesmas características físicas. 
Quando essa técnica é aplicada a humanos, é condenada quase que unanimemente pelos cientistas.
Já a clonagem terapêutica tem o objetivo de fabricar tecidos ou órgãos apenas. O processo é 
semelhante ao da clonagem reprodutiva, mas em vez de a célula ser inserida no núcleo, ela é colocada 
em uma placa de vidro para ser cultivada. Essas células acabam se multiplicando e gerando muitas 
outras iguais e totipotentes que podem ser implantadas em tecidos e órgãos para regenerá‑los ou 
mesmo para gerar um novo tecido ou órgão. Essa prática não gera tanta rejeição quanto a primeira.
 Observação
Células totipotentes possuem a capacidade de gerar todos os tipos 
de células e tecidos do corpo, incluindo tecidos embrionários e extra 
embrionários (como a placenta, por exemplo).
A clonagem humana está sujeita a todas as observações éticas e 
jurídicas que a condenaram amplamente, pois é uma manipulação do ser 
humano (biológica e pessoal).
7.1 Últimas notícias sobre clonagem
Os avanços recentes em clonagem reprodutiva permitem quatro conclusões importantes:
•	 a maioria dos clones morre no início da gestação;
•	 os animais clonados têm defeitos e anormalidades semelhantes, independentemente da célula 
doadora ou da espécie;
•	 essas anormalidades provavelmente ocorrem por falhas na reprogramação do genoma;
•	 a eficiência da clonagem depende do estágio de diferenciação da célula doadora.
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A clonagem reprodutiva a partir de células embrionárias tem mostrado uma eficiência 10 a 20 
vezes maior do que nas células‑tronco não embrionárias, provavelmente porque os genes que são 
fundamentais no início da embriogênese estão ainda ativos no genoma da célula doadora.
Em 15 de maio de 2013, o repórter de ciência e saúde da BBC News, do Reino Unido, divulgou a 
criação de um embrião humano via clonagem. Os pesquisadores americanos disseram ter utilizado 
técnicas semelhantes às aplicadas para criar a ovelha Dolly e afirmam ter criado um embrião humano. 
Essa descoberta foi bastante comemorada na comunidade científica.
O estudo foi publicado em maio de 2013 em uma das revistas mais famosas relacionadas a pesquisas 
celulares, a Cell. Criar células‑tronco a partir de clonagem é mais fácil, barato e especialmente menos 
polêmico do que fazê‑lo a partir de um embrião real.
Para isso, os cientistas retiraram o núcleo de óvulo no qual foi transplantadoo material genético de 
uma célula adulta. Os cientistas induziram os óvulos não fertilizados a se transformar em células‑tronco 
embrionárias e, para isso, foi utilizado um estímulo elétrico.
Ainda segundo os cientistas, as células‑tronco são uma das maiores esperanças da Medicina, por 
serem capazes de se transformar em qualquer outra célula. Na prática, elas podem ser usadas para curar 
os danos causados por um ataque cardíaco ou recuperar um trauma na medula espinhal.
O novo procedimento de utilização de células‑tronco a partir de clonagem também ganhou elogios 
dos mais conservadores, que são contra o uso das células‑tronco embrionárias. Os grupos contra a 
utilização de células‑tronco embrionárias levantam a bandeira de que todos os embriões, sejam eles 
criados em laboratórios ou não, têm o potencial de se transformar em um ser humano e, por essa razão, 
seria imoral realizar experimentos com eles.
Essa descoberta, por isso, demonstra ser bastante promissora, pois as células‑tronco criadas por essa 
técnica são capazes de serem convertidas em diferentes tipos de célula, da mesma maneira que ocorre 
com as embrionárias.
O trabalho, até que essas células possam ser utilizadas como tratamento seguro e efetivo, está 
apenas no começo – mas, ao que parece, o primeiro passo já foi dado (PEREIRA et al., 2013).
7.2 Clonagem x Legislação
A regulamentação da clonagem no Brasil se antecipou à existente na maioria dos países do mundo. 
No Brasil, talvez pela existência de regulamentação sobre esse assunto, o debate parlamentar não tem 
sido abrangente.
A Instrução Normativa 08/97 do CTNBio relata que a geração de embriões apenas para servirem de 
fonte de material biológico para fins terapêuticos é moralmente indefensável. Já a utilização de outras 
linhagens celulares é admissível e desejável.
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BIOÉTICA EM SAÚDE
A clonagem reprodutiva humana, seja por bipartição ou por substituição nuclear, já foi feita. Por questões 
técnicas ou éticas, o desenvolvimento desses embriões não foi levado até estágios além dos iniciais.
A própria denominação de clonagem terapêutica é uma maneira sutil de propor que a finalidade 
de salvar um ser humano doente justificaria a utilização de um embrião como simples fornecedor de 
material biológico.
O Prof. Joaquim Clotet (1997), referindo‑se à questão da proibição da clonagem, afirmou que a 
pesquisa não deve ser evitada ou eliminada, apenas deve ser orientada para o bem comum da humanidade 
– afinal, esse conhecimento é considerado perigoso e, assim como os demais procedimentos, possui 
riscos associados.
A questão da clonagem é um excelente exemplo de aplicação para o princípio da precaução (do 
Biodireito), atual e pouco discutido na Bioética, conforme veremos a seguir.
Exemplo de aplicação
Imagine que você, jovem, brilhante em seu curso e em fase de conclusão, vive em um país que 
não permite a utilização de células‑tronco embrionárias com finalidade terapêutica. Você descobre 
que possui um distúrbio degenerativo muscular que fatalmente lhe levará à morte. No país vizinho, 
com poucas horas de voo e com preço de passagem acessível ao seu orçamento, você descobre que 
eles já estão em fase adiantada com as pesquisas para esse distúrbio e estão buscando pacientes para 
tentar um tratamento gratuito. Qual seria sua posição nessa situação? Será que o que antes não era 
considerado ético por você poderia passar a ser?
7.3 Reprodução assistida
Após o nascimento de Louise Brown, o primeiro bebê de proveta, em 1978, na Inglaterra, o mundo 
deparou com um problema ético até então existente somente na ficção científica. Diversos países 
procuraram criar comitês para tentar impor fronteiras à técnica de reprodução assistida (RA) para 
estabelecer limites éticos e morais para a sua utilização (DELLA‑ROSA, 2011).
No Brasil, a técnica de FIV (fertilização in vitro) teve início em 1984, quando nasceu a primeira 
criança com transferência embrionária.
Procriar, ou reproduzir a espécie, é gerar um ser semelhante com constituição genética diferente 
(reprodução sexuada), mas da mesma espécie. No caso da reprodução assexuada, é gerada uma cópia de 
si mesmo com a constituição genética idêntica.
Há mais de quarenta anos, Bernhard Haering observou que, para novos contextos sociais, ter filhos deixou 
de ser um ato impensado para se tornar ação responsável, planejada. Os motivos que provocaram essa mudança 
foram principalmente a redução da natalidade e a mudança de contexto socioeconômico das famílias – exemplo 
disso é o fato de que os idosos não esperam mais dos filhos a sua aposentadoria (SANCHES, 2012).
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Unidade II
A parentalidade – ou seja, o estado ou condição de quem é pai ou mãe – pode, segundo Sanches 
(2012), se classificar dos seguintes modos, de acordo com o projeto responsável por levar ao nascimento 
dos filhos:
•	 projeto explícito: os casais ou pessoas sozinhas refletem, planejam e decidem ter ou não filhos 
num determinado momento de suas vidas;
•	 projeto implícito: os filhos são aguardados e se inserem nas condições mais amplas do casal e 
em seus projetos de vida;
•	 projeto pós‑fato: os filhos são gerados de modo indesejado e inesperado. Os casais acolhem, 
assumem a parentalidade, mas, nesse caso, não havia um projeto de parentalidade prévio;
•	 negação da parentalidade: infelizmente, crianças surgem em condições em que ou são 
eliminadas por aborto e infanticídio ou crescem sistematicamente rejeitadas.
Atualmente, a parentalidade pode ocorrer de três modos:
•	 reprodução natural;
•	 reprodução assistida (RA);
•	 adoção.
Metaparentalidade, como indica seu prefixo grego “meta”, quer dizer “além de”, ou seja, aponta para 
as transformações que sofre a parentalidade sob o impacto das tecnologias reprodutivas e, portanto, 
envolve a sociedade em três elementos que precisam ser evidenciados no contexto das novas tecnologias 
(SANCHES, 2012):
•	 mudança de cenário da reprodução (o cenário foi para “além da família”);
•	 a reprodução passou a ser viabilizada pela dinâmica tecnocientífica, padronizada por critérios 
tecnocientíficos internacionais, indo para “além das culturas locais”;
•	 a parentalidade passou a fazer parte da economia de mercado.
Para a Bioética, sendo politicamente correta, a autonomia do casal deve ser respeitada. No entanto, 
quando o processo de RA se inicia, os casais se veem prejudicados por um conflito de interesses entre 
seu desejo de ter filhos e o interesse econômico dos médicos, clínicas e companhias, segundo aponta 
Sanches (2012).
As técnicas de reprodução humana assistida (RHA) são procedimentos que auxiliam o processo de 
reprodução humana e podem ser classificadas como:
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BIOÉTICA EM SAÚDE
•	 técnicas de baixa complexidade e de baixo de custo:
— coito programado;
— inseminação intrauterina (IIU).
•	 técnicas de alta complexidade e custo mais elevado:
— fertilização in vitro (FIV);
— injeção intracitoplasmática de espermatozoide (ICSI).
Essa área da ciência mobiliza o interesse da indústria farmacêutica e os aspectos éticos desses 
procedimentos constantemente são analisados.Em 2013, o Conselho Federal de Medicina (CFM) divulgou uma nova resolução sobre esse 
assunto (Resolução 2.013/13), visto que a infertilidade atinge de 15 a 20 por cento dos casais em 
fase reprodutiva.
Convém observar com mais atenção algumas das partes mais importantes da resolução citada:
•	 Artigo 1: “Embriões supranumerários”, ou seja, aqueles produzidos in vitro e que não serão 
implantados para fins de inseminação poderão ter os seguintes destinos:
— ser utilizados para pesquisa e terapia com utilização de células‑tronco embrionárias, desde que 
satisfeitas determinadas condições (Lei 11.105/05);
— ser “criopreservadas”, ou seja, ser congelados (Resolução CFM1358/92).
•	 Artigo 2: fica proibido:
— criar seres humanos geneticamente modificados;
— criar embriões para investigação;
— criar embriões com finalidades de escolha de sexo, eugenia ou para originar híbridos ou 
quimeras.
Ainda no Artigo 2, fica estabelecido que:
— as técnicas de reprodução assistida (RA) podem ser utilizadas desde que exista probabilidade 
efetiva de sucesso e não se incorra em risco grave de saúde para a paciente ou o possível 
descendente. A idade máxima das candidatas à gestação de RA é de 50 anos;
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Unidade II
— o número máximo de embriões a serem transferidos é de 2 para mulheres com até 35 anos, 3 
para aquelas com idade entre 36 e 39 anos e 4 para as candidatas entre 40 e 50 anos;
— em situação de doação de óvulos e embriões, considera‑se a idade da doadora no momento da 
coleta dos óvulos;
— a idade limite para a doação de gametas é de 35 anos para a mulher e 50 anos para o homem;
— embriões criopreservados com mais de 5 (cinco) anos poderão ser descartados se esta for a 
vontade dos pacientes.
Na Inglaterra, anualmente cerca de 50 gestações de RA são interrompidas a pedido da mãe. Esse 
dado foi revelado em junho de 2011. Existem vários motivos que podem levar a esse pedido, como:
•	 separação do casal;
•	 medo da maternidade;
•	 malformações fetais;
•	 Síndrome de Down.
A partir dessa decisão, podemos pensar em diversas questões éticas:
•	 o respeito à autonomia das pessoas, passa, necessariamente, pelo reconhecimento da 
possibilidade de reconsiderarem suas decisões e pelo direito ao arrependimento. No entanto, 
essa decisão está associada à morte de um feto, cujos direitos já existem, embora ele não 
possa exercê‑los;
•	 o alto custo gerado ao sistema de saúde público de um procedimento solicitado e, logo depois de 
atendido, revertido por um indivíduo ou casal (como no caso da Inglaterra);
•	 quanto à doação de gametas ou embriões:
— não deve ter caráter lucrativo ou comercial;
— os doadores não devem conhecer a identidade dos receptores e vice‑versa (o sigilo deve ser 
mantido);
— a idade limite para a doação de gametas é de 35 anos para a mulher e 50 para o homem;
— as clínicas, centros ou serviços que empregam a doação devem manter um registro de dados 
clínicos de caráter geral;
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— na região de localização da unidade, o registro dos nascimentos evitará que um(a) doador(a) 
tenha produzido mais que duas gestações de crianças de sexos diferentes, numa área de um 
milhão de habitantes;
— a escolha dos doadores é de responsabilidade da unidade e deve garantir, dentro do possível, 
que o doador tenha a maior semelhança fenotípica e imunológica e a máxima possibilidade de 
compatibilidade com a receptora;
— é permitida a doação voluntária de gametas.
•	 quanto à criopreservação de gametas ou embriões:
— as clínicas, centros ou serviços podem criopreservar espermatozoides, óvulos e embriões e 
tecidos gonádicos;
— o número total de embriões produzidos em laboratório será comunicado aos pacientes, para 
que decidam quantos embriões serão transferidos a fresco, devendo os excedentes viáveis 
serem criopreservados;
— no momento da criopreservação, os pacientes devem expressar sua vontade, por escrito, quanto ao 
destino que será dado aos embriões criopreservados em caso de divórcio, doenças graves ou falecimento 
de um deles ou de ambos. Também fica registrada a informação de quando desejam doá‑los;
— os embriões criopreservados com mais de cinco anos poderão ser descartados, se essa for a 
vontade dos pacientes, conforme previsto na Lei de Biossegurança.
•	 quanto à reprodução assistida post‑mortem:
— ela é possível desde que haja autorização prévia específica do(a) falecido(a) para o uso do 
material biológico criopreservado, de acordo com a legislação vigente.
Apesar de o tema estudado nesta etapa ser a RA (reprodução assistida), não podemos deixar de 
mencionar o aborto, prática diretamente relacionada a princípios bioéticos fundamentais, como autonomia 
da mulher sobre o seu corpo e planejamento familiar, lembrando que assim como ocorre no caso de 
descarte de embriões, para que esse direito possa ser exercido, é necessário que um ser vivo morra.
O aborto é, dentre a totalidade das situações analisadas pela Bioética, a de que mais se tem escrito e 
que mais tem sido debatida. A maior problemática para essa questão é discernir quais são os argumentos 
filosóficos, religiosos e científicos.
Apesar disso, essa questão ainda suscita muitas divergências dentro do debate ético. O tema aborto 
não pode e não deve ser discutido como uma questão para a qual se tem simplesmente que encontrar 
uma resposta assertiva ou negativa; é necessário que cada caso seja discutido do ponto de vista médico, 
legal e também que seja considerada a autonomia reprodutiva do casal ou da mulher.
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Unidade II
Atualmente, no Brasil, o aborto é tratado como um problema criminal (Código Penal Brasileiro de 
1940), exceto nas situações de estupro ou gravidez causadora de risco para a vida da mãe.
Muitos sustentam a tese de que o feto é pessoa humana desde o momento da fecundação, 
transferindo para ele os direitos e as conquistas sociais de um cidadão. Outros defendem a tese de que 
o feto é pessoa humana em potencial, sendo assim apenas a possibilidade de uma pessoa humana e, 
portanto, podendo ser eliminado (DELLA‑ROSA, 2011).
Independente do que se acredita, o fato é que todas essas situações, sejam do âmbito do RA ou do 
aborto, precisam ser contextualizadas. Se o princípio da autonomia está sendo infringido em muitas 
das situações que foram destacadas anteriormente e se para ter autonomia é essencial que tenhamos 
informação – o que pode ser considerado educação – podemos perceber que precisamos, antes mesmo 
de discutir o que é ou não Ética, educar e informar as pessoas para que elas mesmas possam argumentar, 
discutir e escolher o que é melhor para si. Afinal, as situações são únicas e intransferíveis e devem ser 
tratadas como tal.
7.4 Organismos geneticamente modificados (OGM)
No Brasil, existem muitas leis e resoluções sobre os alimentos transgênicos ou geneticamente 
modificados. Nessa temática específica, a Bioética pode contribuir na compreensão das polêmicas que 
surgem na sociedade sobre esse tema (ARANTES, 2012).
Figura 16 – Pimentão lidera lista dos alimentos com mais resíduos de agrotóxicos. A Vigilância Sanitária 
encontrou problemasem mais de 90% das amostras do alimento analisadas em 2010
As primeiras regulamentações brasileiras datam de 1995 e foram criadas pelo Conselho Nacional 
de Biossegurança (CNBS). A Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) é uma instância 
colegiada multidisciplinar, integrante do Ministério da Ciência e Tecnologia. Essa é a comissão responsável 
pela elaboração das diretrizes relacionadas ao assunto e também pela liberação do cultivo de plantas 
transgênicas.
A primeira liberação para comercialização de uma planta transgênica no Brasil ocorreu em 1998, 
mas pouco depois, por meio de uma liminar impetrada pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor 
(Idec) e pelo Greenpeace, essa liberação precisou ser retirada.
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Depois disso, o Governo não chegou a um consenso sobre as decisões que deveriam ser tomadas – 
ocorreram, inclusive, diferentes posturas entre os ministérios. Como resultado, no mundo, 557 cultivos 
de alimentos transgênicos estão disponíveis, sendo que, no Brasil, temos apenas 36 (SILVEIRA, 2012).
A posição dúbia do Governo prejudica, em primeiro lugar, a pesquisa agrícola brasileira, 
majoritariamente desenvolvida nas instituições públicas, desfavorecendo a busca por autonomia de 
produção de alimentos (ARANTES, 2012).
Os desafios para a segurança alimentar podem ser resumidos, segundo Arantes (2012), em:
•	 aumento gradual da produção global de alimento;
•	 otimização do acesso às tecnologias e biotecnologias agrícolas que permitam aumento de 
produtividade entre todos os agricultores;
•	 redução do desperdício;
•	 conservação dos recursos naturais;
•	 melhora dos hábitos alimentares.
Existe uma rede mundial que busca encontrar como ensinar os caminhos para que os resultados 
das pesquisas agrícolas sejam seguros. O Fórum Mundial sobre Pesquisa Agrícola (Global Forum on 
Agricultural Research – GFAR) tem como objetivo a mobilização de parceiros, da ciência, do Governo e 
da sociedade, visando aos avanços dos sistemas de pesquisa e extensão em todo o mundo.
Antes de continuarmos identificando como a Bioética pode contribuir com esse setor, observemos 
algumas definições de conceitos:
•	 perigo: caracterizado pelo agente nocivo, físico, químico ou biológico capaz de causar efeitos 
adversos;
•	 risco: função da probabilidade de ocorrência daquele perigo (ARANTES, 2012).
A análise de risco da produção de alimentos geneticamente modificados é composta por 
avaliação do risco e manejo do risco. Por sua vez, a comunicação de risco é a troca de informação 
e opinião sobre fatores relacionados com o risco e a percepção do risco entre todos os envolvidos 
(AGOSTINI, 2003).
A Food and Agriculture Organization (FAO) recomenda que a comunicação esteja presente em todas 
as fases da análise de risco. A Bioética entra nessa questão atuando como uma ponte entre ciência e vida 
e tenta conseguir estimular a responsabilidade da participação dos envolvidos: sociedade, indústrias e 
Governo (ARANTES, 2012).
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Unidade II
Segundo os pesquisadores Costa‑Font, Gil e Traill (2008), é primordial que se conheça o processo 
como um todo, para que estratégias e regulações eficientes possam ser adotadas e para que o princípio 
de autonomia (nesse caso, manifestado na opção de escolher ou não um alimento transgênico) seja 
respeitado. Para isso, a informação é essencial.
Já o princípio do benefício/risco, nesse caso, acaba sendo bastante subjetivo, visto que mesmo as 
evidências científicas não conseguem chegar a uma unanimidade. No entanto, o Governo precisa estimular 
a formação da cultura científica, a fim de contribuir com uma maior autonomia na tomada de decisão.
Sobre o assunto, foi realizada uma pesquisa on‑line sobre os temas das plantas transgênicas, dos 
organismos geneticamente modificados (OGM), da biotecnologia e da engenharia genética. Os resultados 
obtidos mostraram uma percepção negativa para os dois primeiros termos e positiva para os outros dois, 
o que reforça a ideia de que sem informação não é possível fazer escolhas adequadamente, por meio de 
um processo da escolha e de tomada de decisão consciente (ARANTES, 2012).
Os avanços da ciência são cada vez maiores. A seguir citaremos alguns dos mais famosos projetos 
que existiram ou existem e que contribuem para discussões (e consequente crescimento) da Bioética.
7.5 Projeto Genoma Humano (PGH)
Na história da civilização ocidental, os avanços tecnológicos frequentemente trazem como 
consequência verdadeiras revoluções sociais e econômicas.
O genoma humano consiste em 3 bilhões de pares de base de DNA distribuídos em 23 pares de cromossomos 
com cerca de 70.000 a 100.000 genes. Cada cromossomo é constituído por uma única molécula de DNA, 
que, por sua vez, é composto por sequências de unidades chamadas nucleotídeos ou bases. As quatro bases 
diferentes – adenina (A), timina (T), guamina (G) e citosina (C) – determinam os genes.
O Projeto Genoma Humano (PGH) surgiu em 1990 com a finalidade de identificar cada um dos 100 
mil genes humanos por meio de mapeamento genético. O mapeamento registra os genes do cromossomo, 
determinando a ordem e a função dos nucleotídeos. A ideia era de que com esse mapeamento a cura e a causa 
de muitas doenças poderiam ser identificadas, visto que o genoma nos fornece o potencial para desvendar o 
mecanismo básico das doenças – o que poderia permitir o desenvolvimento de tratamentos mais direcionados.
Entretanto, o uso indevido dos dados resultantes do projeto pode fazer com que as pessoas percam 
sua individualidade e se tornem vulneráveis. Por exemplo, numa situação de contratação, as empresas 
poderiam passar a exigir para a contratação um exame de DNA detectando futuros problemas médicos 
(que poderiam diminuir ou excluir a chance de contratação).
Muitos profissionais da área de saúde preocupam‑se com o fato de que milhões de pessoas possam 
vir a ser rotuladas por toda vida com os estigmas de doentes pelo simples fato de terem propensão 
genética a apresentar alguma doença. Devido a questões como essa, o PGH está cercado de inúmeras 
incertezas éticas, legais e sociais (ELSI), o que levou aos investidores a dedicarem 10% de seu orçamento 
a discussões como (PENA; AZEVÊDO, 1998):
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•	 privacidade da informação genética;
•	 segurança e eficácia da Medicina Genética;
•	 justiça no uso da informação genética.
Compete aos bioeticistas e aos cientistas moralmente motivados trazerem essas reflexões éticas para 
a sociedade.
O Comitê de Bioética tem estado preocupado em normatizar a participação de indivíduos e populações 
em estudos genômicos, especialmente com a questão do consentimento informado. Por isso, enunciou quatro 
princípios que devem nortear toda a pesquisa sobre o genoma humano, conforme explica Loch (2002):
•	 o genoma humano é parte do patrimônio da humanidade;
•	 as pesquisas devem possuir aderência a normas internacionais de direitos humanos;
•	 deve haver respeito pelos valores, tradições, cultura e integridade dos participantes nos estudos;
•	 é imprescindível que haja aceitação e defesa da dignidade humanae da liberdade.
 Saiba mais
Para saber mais sobre como o mapeamento genético poderia prejudicar 
as pessoas, assista ao filme:
GATACCA. Dir. Andrew Niccol. EUA: Jersey Films, 1997.
A Unesco tem tido um papel importante na coordenação internacional do PGH. O Comitê Internacional 
de Bioética da Unesco aprovou a importante Declaração Universal do Genoma Humano, visando definir 
os direitos, deveres e direcionamento das questões advindas dessa temática (COSTA et al., 1998).
Para o pesquisador Wilkie (1994), tamanha ênfase na constituição genética da humanidade pode 
nos levar a esquecer que a vida é mais do que a mera expressão de um programa genético escrito na 
química do DNA.
8 BIOÉTICA X MEIO AMBIENTE
Durante a década de 1990, a consciência do desafio ecológico cresceu e passou a fazer parte da 
Bioética. Desde então, o horizonte bioético capta a interação entre ser humano e natureza e a inclusão 
de todos os seres vivos e não vivos.
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Potter (1971) se antecipou ao alertar a humanidade com relação ao cuidado e à defesa da vida para 
além do âmbito humano no sentido cósmico e ecológico. Em meados dos anos 1980, especialmente depois 
da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (Cnumad), conhecida 
também como Eco‑92, que aconteceu no Rio de Janeiro, os governos dos países industrializados 
começaram a se mobilizar em razão da crise ecológica instaurada pela exploração predatória da natureza.
O Protocolo de Kyoto (1997) surgiu então para responder à necessidade de preservar o futuro da 
vida na Terra. Esse protocolo foi firmado por 160 países que se uniriam com o objetivo de diminuir a 
emissão dos gases dióxido de carbono (CO2) e metano. Os Estados Unidos, um dos países responsável por 
uma das maiores emissões desses gases, ainda não assinaram o protocolo (dados de 2010).
Mikhail Gorbachev, em sua obra Meu Manifesto pela Terra, de 2003, identificou três principais 
desafios a serem enfrentados pelo ser humano nesse novo século:
•	 a necessidade de manter o mundo em paz, no sentido de os países se unirem contra o terrorismo;
•	 a luta contra a pobreza mundial, já que metade da população do planeta passa fome todos os 
dias, não tem acesso à água potável e nem a condições decentes de higiene;
•	 problemas de defesa do meio ambiente.
Figura 17 – A humanidade é responsável por manter o mundo em boas condições para as outras espécies e para si mesma
Esses três desafios são interdependentes, pois não há paz sem o fim da pobreza ou manutenção 
do meio ambiente. Ao mesmo tempo, se não conseguirmos corrigir os problemas que causamos na 
natureza, nossos esforços para melhorar a vida na Terra terão sido em vão.
Não é necessário ser especialista para compreender a gravidade de todos os problemas que estão 
ocorrendo com o meio ambiente: mudanças climáticas, número crescente de desastres naturais (tufões, 
tormentas, enchentes etc.), consequente desaparecimento de muitas plantas e animais. Entramos em 
sério conflito com nosso próprio habitat (PESSINI, 2010).
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Há uma correlação entre a crise ecológica e a crise do ser humano. Pelo fato de o ser humano 
participar da natureza, ele peca contra si mesmo ao pecar contra ela (ANJOS; SIQUEIRA, 2007).
8.1 Bioética x animais
O que é mais importante? O bem‑estar das cobaias ou o avanço da ciência em benefício da 
humanidade, e, por consequência, o dos próprios animais?
Infelizmente, a ciência ainda não está preparada para avançar sem fazer uso das cobaias animais. 
Esse uso, inclusive, está descrito em resoluções, como no caso das pesquisas clinicas que testam novos 
medicamentos, descrita na parte de pesquisa com seres humanos. Apenas para relembrar, vale dizer que 
um novo medicamento só pode chegar a ser comercializado depois de passar por várias fases de testes, 
inclusive aquela que prevê a utilização de animais.
Entretanto, a utilização de bichos usados em pesquisas vem caindo aceleradamente. Nos últimos 20 
anos, graças a modelos computacionais, ela caiu pela metade.
Atualmente, apenas 10% das experiências são realizadas com animais, mas, mesmo assim, chegam a 
ser utilizadas cerca de 60 milhões de cobaias em todo o mundo. A ideia é, sempre que possível, dispensar 
os animais dos experimentos – e os avanços tecnológicos propiciaram essa possibilidade. Contudo, 
apesar de na indústria cosmética essas experiências terem sido totalmente abolidas, nos tratamentos 
médicos ainda são indispensáveis. A seguir serão citados alguns exemplos:
•	 A insulina, medicamento indispensável à vida de pessoas diabéticas, foi descoberta em 1921 na 
Universidade de Toronto, Canadá, pelo fisiologista Frederick Banting e seu assistente Charles Best 
graças a experimentos realizados em cães.
•	 Medicamentos para pressão alta foram descobertos utilizando cães como cobaias.
•	 O avanço no tratamento da depressão ocorreu graças a experimentos realizados em coelhos.
•	 A melhora dos exames de diagnóstico por imagem é devida aos testes em porcos.
•	 A erradicação da poliomielite é devida ao uso de macacos (O DILEMA..., 2013).
Um dos frutos mais importantes da luta pela utilização consciente e ética de animais em pesquisas 
e éticas é a Declaração Universal dos Direitos dos animais, que incluímos a seguir.
Declaração Universal dos Direitos dos Animais
1 – Todos os animais têm o mesmo direito à vida. 
2 – Todos os animais têm direito ao respeito e à proteção do homem.
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Unidade II
3 – Nenhum animal deve ser maltratado.
4 – Todos os animais selvagens têm o direito de viver livres no seu habitat.
5 – O animal que o homem escolher para companheiro não deve ser nunca ser 
abandonado. 
6 – Nenhum animal deve ser usado em experiências que lhe causem dor.
7 – Todo ato que põe em risco a vida de um animal é um crime contra a vida.
8 – A poluição e a destruição do meio ambiente são considerados crimes contra os 
animais.
9 – Os diretos dos animais devem ser defendidos por lei.
10 – O homem deve ser educado desde a infância para observar, respeitar e compreender 
os animais.
Preâmbulo:
Considerando que todo o animal possui direitos;
Considerando que o desconhecimento e o desprezo desses direitos têm levado e 
continuam a levar o homem a cometer crimes contra os animais e contra a natureza;
Considerando que o reconhecimento pela espécie humana do direito à existência das 
outras espécies animais constitui o fundamento da coexistência das outras espécies no 
mundo;
Considerando que os genocídios são perpetrados pelo homem e há o perigo de continuar 
a perpetrar outros;
Considerando que o respeito dos homens pelos animais está ligado ao respeito dos 
homens pelo seu semelhante;
Considerando que a educação deve ensinar desde a infância a observar, a compreender, 
a respeitar e a amar os animais,
Proclama‑se o seguinte
Artigo 1º
Todos os animais nascem iguais perante a vida e têm os mesmos direitos à existência.
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Artigo 2º
1. Todo animal tem o direito a ser respeitado.
2. O homem, como espécie animal, não pode exterminar os outros animais ou 
explorá‑los violando esse direito; tem o dever de pôr os seus conhecimentos ao 
serviço dos animais
3. Todo animal tem o direito à atenção, aos cuidados e à proteção do homem. 
Artigo 3º 
1. Nenhum animal será submetido nem a maus tratos nem a atos cruéis.
2. Se for necessário matar um animal, ele deve de ser morto instantaneamente, sem 
dor e de modo a não provocar‑lhe angústia. 
Artigo 4º 
1. Todo animal pertencente a uma espécie selvagem tem o direito de viver livre no 
seu próprio ambiente natural, terrestre, aéreo ou aquático e tem o direito de se 
reproduzir.
2. Toda privação de liberdade, mesmo que tenha fins educativos, é contrária a este 
direito. 
Artigo 5º 
1. Todo animal pertencente a uma espécie que viva tradicionalmente no meio ambiente 
do homem tem o direito de viver e de crescer ao ritmo e nas condições de vida e de 
liberdade que são próprias da sua espécie.
2. Toda modificação deste ritmo ou destas condições que forem impostas pelo homem 
com fins mercantis é contrária a este direito. 
Artigo 6º 
1. Todo animal que o homem escolheu para seu companheiro tem direito a uma 
duração de vida conforme a sua longevidade natural. 
2. O abandono de um animal é um ato cruel e degradante. 
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Unidade II
Artigo 7º 
Todo animal de trabalho tem direito a uma limitação razoável de duração e de intensidade 
de trabalho, a uma alimentação reparadora e ao repouso.
Artigo 8º 
1. A experimentação animal que implique sofrimento físico ou psicológico é 
incompatível com os direitos do animal, quer se trate de uma experiência médica, 
científica, comercial ou qualquer que seja a forma de experimentação.
2. As técnicas de substituição devem ser utilizadas e desenvolvidas. 
Artigo 9º 
Quando o animal é criado para alimentação, ele deve ser alimentado, alojado, 
transportado e morto sem que disso resulte para ele nem ansiedade nem dor.
Artigo 10º 
1. Nenhum animal deve de ser explorado para divertimento do homem. 
2. As exibições de animais e os espetáculos que utilizem animais são incompatíveis com 
a dignidade do animal. 
Artigo 11º 
Todo ato que implique a morte de um animal sem necessidade é um biocídio, isto é, um 
crime contra a vida.
Artigo 12º 
1. Todo ato que implique a morte de grande um número de animais selvagens é um 
genocídio, isto é, um crime contra a espécie.
2. A poluição e a destruição do ambiente natural conduzem ao genocídio. 
Artigo 13º 
1. O animal morto deve ser tratado com respeito.
2. As cenas de violência de que os animais são vítimas devem de ser interditas no 
cinema e na televisão, salvo se elas tiverem por fim demonstrar um atentado aos 
direitos do animal. 
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BIOÉTICA EM SAÚDE
Artigo 14º 
1. Os organismos de proteção e de salvaguarda dos animais devem estar representados 
a nível governamental.
2. Os direitos do animal devem ser defendidos pela lei como os direitos do homem.
Fonte: Unesco (1978).
Desde 1901, 88 dos vencedores dos prêmios Nobel de Medicina tiveram como base de estudos os 
mais diversos tipos de animais. Reconhecendo a importância da utilização de animais em pesquisa, há 
de se reconhecer também que seu manejo deve ser o mais humano possível, sendo realizado somente 
por pesquisadores treinados, e incluir cuidados veterinários. A pesquisa deve respeitar todas as diretrizes 
ou regulamentos promulgados a fim de que os animais sejam tratados com respeito e dignidade.
Exemplo de aplicação
Supondo que você seja um pesquisador já há bastante tempo na universidade. Sua linha de pesquisa 
está relacionada com a cura do câncer e para isso você utiliza ratos em seus experimentos.
Uma de suas pesquisas já está em andamento há mais de 10 anos e você acabou descobrindo que 
uma de suas cobaias possui uma resistência às células de câncer que lhe são aplicadas, sendo peça 
essencial para a continuidade de suas pesquisas.
Esse “super‑rato”, no entanto, não possui descendentes e, antes que esse problema possa ser 
solucionado, um grupo de ativistas contrários ao uso de animais em experimentos invade esse laboratório 
e remove de lá todas as suas cobaias, inclusive o “super‑rato”. Qual a sua posição:
•	 como pesquisador?
•	 quanto à pesquisa com animais?
Por fim, que medida tomaria para dar continuidade a suas pesquisas com o “super‑rato”?
 Resumo
A Bioética no Brasil tem se diferenciado de outras Bioéticas e isso 
ocorre porque alguns dos males que ainda nos assolam não fazem parte do 
quadro sanitário e social dos países desenvolvidos.
A reflexão brasileira pode ser considerada jovem e tardia, mas se 
preocupa em refletir, compreender e resolver antigos e novos desafios 
trazidos pela tecnociência, que afeta a vida e a saúde das pessoas. Portanto, 
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Unidade II
nossos bioeticistas precisam lidar tanto com os problemas persistentes 
quanto com os emergentes.
Nossa Bioética vai, assim, construindo com responsabilidade e 
competência sua identidade e características próprias, imprimindo‑as no 
contexto do movimento bioético mundial, manifestando inegável liderança 
na América Latina (PESSINI, 2010).
Vimos nesta unidade que devido aos avanços das ciências as questões 
Bioéticas são assunto de discussão do nosso cotidiano. Temas como desligar 
ou não os aparelhos, comprar ou não um alimento transgênico, utilizar ou 
não um produto que foi desenvolvido em animais, entre outras questões, não 
possuem um resposta exata. Do mesmo modo como dissemos anteriormente, 
em situações nas quais a Bioética se faz necessária, é preciso considerar os 
casos individualmente, analisando os fatos sobre os prismas da Bioética. Por 
exemplo, no caso da compra de um alimento transgênico, a pessoa deve 
ter direito a decidir por essa compra e, para isso, é preciso que os alimentos 
estejam devidamente rotulados e que haja informação sobre o que é ou não 
transgênico. Esse exemplo deve servir para todas as outras informações.
Para que possamos evoluir no campo da Bioética, é necessário que haja 
informações adequadas e que as discussões sejam públicas para que as 
soluções encontradas favoreçam a sociedade.
 Exercícios
Questão 1. Theresa Marie Schindler‑Schiavo (Terri), de 41 anos, teve seu caso de eutanásia relatado 
em 1990. Ela teve uma parada cardíaca, o que a privou por pelo menos cinco minutos de fluxo sanguíneo 
cerebral, deixando‑a em estado vegetativo. Seu marido entrou na justiça pedindo que os aparelhos que 
mantinham a esposa viva fossem desligados; no entanto, os pais e os familiares de Terri eram contrários 
a tal medida e recorriam na justiça toda vez que o marido de Terri conseguia obter a autorização 
para desligar os aparelhos. Somente em 19 de março de 2005, a sonda pôde ser retirada de Terry, que 
permaneceu sem ela até o momento de sua morte, 12 dias depois.
De acordo com o Código de Ética Médica, no tocante à eutanásia

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