Logo Passei Direto
Buscar
Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.
left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

Prévia do material em texto

Diálogos entre mito, 
Arte e Filosofi a
CAPÍTULO
Estudaremos neste capítulo:
21
Rupturas entre mito e 
Filosofi a
A voz dos poetas
Mito e tradição
Mito: uma concepção de mundo
2
Habilidades da BNCC:
EM13CHS101 EM13CHS104 EM13CHS106 EM13CHS202 EM13CHS203 EM13CHS204 EM13CHS303 EM13CHS501
Narciso, de Caravaggio, 1594-1596. Óleo sobre tela de 112 cm 3 92 cm.
R
e
p
ro
d
u
ç
ã
o
/G
a
le
ri
a
 N
a
c
io
n
a
l 
d
e
 A
rt
e
 A
n
ti
g
a
 d
o
 P
a
la
c
io
 B
a
rb
e
ri
n
i,
 R
o
m
a
, 
It
a
lia
 
Observe a imagem da abertura deste capítulo e responda:
1. Serão os mitos meras histórias fantasiosas sem um sentido real? 
2. Como essas histórias sobrevivem por tantos séculos?
Quando Narciso morreu, o seu lago de prazer passou de uma taça de doces águas para um cálice de lágrimas 
salgadas, e as Ninfas dos Montes lamentaram-se, enquanto atravessavam os bosques, no seu dever de cantar ao 
lago e reconfortá-lo. E quando elas viram que o lago tinha mudado de uma taça de doces águas para um cálice de 
lágrimas salgadas, soltaram as tranças verdes dos seus cabelos e choraram para o lago, dizendo-lhe: 
— Não estamos admiradas que mergulhes dessa maneira no luto por Narciso, tão belo ele era… 
— Mas, o Narciso era belo? perguntou o lago. 
— Quem o poderá saber melhor do que tu? responderam as Ninfas.
— Por nós passou ele sempre passou, mas foi por ti que procurou e se deitou nas tuas margens e olhou para 
ti. E foi no espelho das tuas águas que re� etiu a sua própria beleza. 
E o lago respondeu: — Mas eu amei Narciso porque enquanto ele se alongava sobre as minhas margens e 
olhava para mim, em baixo, no espelho dos seus olhos, eu vi sempre a minha beleza re� etida.
WILDE, Oscar. Poema em prosa. Trad. Possidónio Cachapa. Lisboa: Cavalo de Ferro, 2002.
O mito está ligado às tradições 
dos povos, constituindo as 
referências fundamentais que 
lhes conferem uma identidade, 
pois traduz a sua primeira 
compreensão de mundo, 
ajudando-os a compreender e 
ordenar o cosmos, dando-lhe 
um sentido. O nascimento da 
Filosofi a provoca uma ruptura 
nessa concepção de 
pensamento. Ao fazerem da 
Razão (em grego, Logos) e não 
mais do Mito (Mythos) o 
fundamento de sua 
compreensão e interpretação 
dos fenômenos, foi criada uma 
nova concepção de ciência e 
de pensamento.
1. Os mitos fazem parte das 
tradições dos povos, 
constituindo as referências 
fundamentais que lhe confere 
uma identidade. Suas histórias 
e seus personagens 
sobrenaturais não são uma 
ilusão ou mentira, mas arquivos 
históricos das crenças coletivas 
acumuladas pelas culturas e 
transmitidas pela oralidade, 
que traduzem sua primeira 
compreensão de mundo, aquilo 
que os ajuda a ordenar o 
cosmos, dando-lhe um sentido.
2. As histórias narradas 
pelos mitos representam o 
imaginário humano de 
diferentes épocas, 
denunciando medos, desejos, 
sentimentos e violências 
enraizados na consciência 
humana. O mito dirige-se ao 
interior do humano que, 
identifi cando-se com suas 
lendas e histórias criadas e 
organizadas pela memória 
coletiva, sente-se tocado 
profundamente.
5P_PIT_EM_1S_C1_FILO_CA_CAP2.indd 21 08/09/20 08:04
2222
Mito: uma concepção de mundo
Neste capítulo, você vai estudar o universo do pensamento 
mítico e suas especificidades como forma de conhecimento. Não 
se pretende aqui esgotar os mitos gregos, descrevendo cada um, 
em suas características e funções. O trabalho exigiria uma quan-
tidade tão grande de informações, que nenhum livro teria espaço 
suficiente. Mas é possível afirmar, com inspiração em Sócrates 
(você se lembra?), que a quantidade de informações não é sufi-
ciente para a compreensão da essência do mito como forma de 
conhecimento. Porque o mito é, acima de tudo, formação, e qual-
quer forma de traduzi-lo, a partir de um acúmulo de informações, 
reduziria a significância dessa forma de saber. 
Inicialmente, é necessário compreender como se processa a 
leitura do mundo por meio do mito. Para isso, aqui está presente 
aquilo que funda o mito como forma de saber, com orientações co-
muns a todos eles. Esta é uma das importantes funções do filoso-
far: olhar o tema em sua totalidade e filtrar, do seu conhecimento, 
aquilo que é de fato relevante. Ao estudar mitologia grega, primei-
ramente, é preciso se despojar de determinadas ideias preconcebi-
das, com base nos modelos disponíveis atualmente. Não é possível 
medir a importância do pensamento mítico comparando-o a outras 
formas de conhecimento, mas compreendê-lo como uma forma de 
saber em suas especificidades que nada deixam a desejar, em ter-
mos de profundidade e de inteligência, a outras formas de saber. 
Entre milhares de histórias da mitologia, todas relevantes em 
suas expressões, foi escolhido o mito de Narciso, considerando 
seus múltiplos significados, suas releituras e sua atualidade, sendo 
um dos signos mais representativos do indivíduo contemporâneo. 
Por meio dele, pela sua história e representações antigas e atuais, 
você conseguirá compreender um pouco sobre o conhecimento 
mítico, essa produção cultural milenar sobre a condição humana.
Espelho: o lago de Narciso
O espelho, traduzido no mito grego como o lago de Narciso, é 
um tema muito presente nos contos e mitos de diferentes culturas. 
Entre os temas e reflexões que esse objeto promove, um dos mais 
significativos se refere à questão do conflito entre ocultamento
e revelação da identidade. O espelho possui uma dualidade: ele 
tanto pode refletir uma identidade com o real, como encobrir e, 
até mesmo, deformar essa realidade, traduzindo um olhar oposto 
ao do sujeito que está à sua frente. 
O texto de abertura deste capítulo é uma releitura do mito de 
Narciso num poema do irlandês Oscar Wilde. Em síntese, o mito 
original é a história de um belo rapaz que, todos os dias, ia con-
templar seu rosto num lago. Era tão fascinado por si mesmo que, 
certa manhã, quando procurava admirar-se mais de perto, caiu na 
água e morreu afogado. Do lugar de onde caiu, nasceu uma flor, 
que recebeu seu nome. Wilde agregou ao mito uma maneira dife-
rente de terminar a história. Antes de continuar, reflita com seus 
Foco no tema
colegas sobre os diferentes finais das duas versões do mito – a 
original e a de Wilde – com base nos seguintes questionamentos:
Que consequências a paixão pela própria imagem se reflete na solidão 
do lago de Narciso? De que forma a contemplação da vida, expressada na 
visão de Narciso refletida no lago e do lago refletido em Narciso, dificulta 
o acesso à vida real?
Agora, o mito será apresentado em outra forma de lingua-
gem: a pintura. Observe como esse personagem atravessou o 
tempo e como é referenciado e expressado de diferentes formas 
e em diversos períodos da História, ao mesmo tempo que man-
tém suas especificidades. Ou seja, embora sua representação 
agregue conotações diferentes de acordo com a época em que 
é traduzido, o mito original se mantém intacto, sem perder sua 
raiz fundamental.
Narciso, de Caravaggio, 1594-1596. Óleo sobre 
tela de 112 cm 3 92 cm. 
R
e
p
ro
d
u
ç
ã
o
/G
a
le
ri
a
 N
a
c
io
n
a
l 
d
e
 A
rt
e
 A
n
ti
g
a
 d
o
 P
a
la
c
io
 B
a
rb
e
ri
n
i,
 R
o
m
a
, 
It
a
lia
 
A metamorfose de Narciso, de Salvador Dalí, 1937. Óleo sobre tela 
de 51,1 cm 3 78,1 cm.
A
la
m
y
/F
o
to
a
re
n
a
 ©
 S
a
lv
a
d
o
r 
D
a
li,
 G
a
la
-S
a
lv
a
d
o
r 
D
a
li 
F
o
u
n
d
a
ti
o
n
/
D
A
C
S
, 
L
o
n
d
re
s
 2
0
2
0
5P_PIT_EM_1S_C1_FILO_CA_CAP2.indd 22 08/09/20 08:04
23
F
il
o
s
o
f
ia
A primeira representação de Narciso foi produzida no contexto da estética barroca, no final do sé-
culo XVI. Caravaggio apresenta o personagem como um belo jovem, com traços físicos e contornos bem 
definidos, debruçado sobre o lago e mirando sua própria imagem refletida no lago. Os elementos selecio-
nados pelo artista e seus detalhes é uma expressão fiel à sua narração pela mitologia grega. 
Já a segunda imagem, produzida no século XX, embora respeite o contextooriginal com seus elemen-
tos primordiais – o personagem debruçado sobre o lago –, representa o personagem de forma figurada, 
no contexto da arte surrealista, numa releitura do mito grego que descarta a necessidade de imitação do 
real. A obra se compõe numa duplicidade de personagens, cada uma representando, o que Salvador Dalí 
denominou A metamorfose de Narciso. A tela se compõe por dois personagens: de um lado, em amarelo, 
admirando seu reflexo no lago; acompanhado por uma espécie de sombra, a figura em branco, simboli-
zando a mutação de Narciso, após a sua morte, transformado em uma flor.
Na atualidade, depois de tantas releituras pela literatura, pela psicanálise e pelo cinema, a profundi-
dade sobre o conteúdo desse mito se alarga, agregando-lhe novos elementos. 
A obra de René Magritte também se refere ao duplo no espelho. Os elementos da tela refletidos no 
espelho (o homem e o livro) são contraditórios, sugerindo que a imaginação engana o espelho, desloca 
o real, nega a identidade do sujeito. O título da obra, A reprodução proibida, já fala por si só. O espelho 
reflete apenas a aparência. A imagem não é o Ser. O mesmo não acontece com o livro, que ali se reflete 
na sua forma real.
Embora preserve elementos do mito grego, como o sentimento de solidão, marcante do Narciso origi-
nal, totalmente absorvido pelo lago e seus efeitos, este apresenta-se agora envolvido em outro contexto, 
no qual a tecnologia se sobrepõe ao lago como espelho, gerando novos desdobramentos e preocupações, 
como pode-se perceber na figura abaixo. O centro do indivíduo situado na cultura narcisista é a necessi-
dade do espelho, das imagens. Quando se sente só, sua insegurança aumenta, pois ele precisa de plateia; 
depende do espelho dos outros para validar sua debilitada autoestima. Ao analisar a relação dos indiví-
duos com suas imagens refletidas nas redes sociais, produtoras da realidade virtual, verifica-se a contínua 
repetição do mito de Narciso. O espelho (rede social), ao refletir uma imagem idealizada, irreal e, portanto, 
inalcançável, produz um abismo cada vez maior entre o ideal da imagem e o ser do indivíduo que, identi-
ficando-se com a imagem, vai se afastando de si, até perder-se completamente. Este afastamento de si se 
adequa, também, à leitura do espelho de Magritte.
Nesse contexto, a forma como são utilizados os instrumentos disponibilizados pela tecnologia, embora 
esta não seja a causadora, provoca o empobrecimento das relações, devido à priorização das relações virtuais 
sobre as relações reais, gerando uma negação dos conflitos que dificulta a convivência do homem consigo 
mesmo e com os outros.
A reprodução proibida (retrato de Edward James), de 
René Magritte, 1937. Óleo sobre tela de 79 cm 3 65,5 cm. 
Museum Boymans-van Beuningen, Roterdã.
R
e
p
ro
d
u
ç
ã
o
/M
u
s
e
u
 B
o
y
m
a
n
s
-v
a
n
 B
e
u
n
in
g
e
n
, 
R
o
te
rd
ã
,H
o
la
n
d
a
 A obra de Caravaggio em uma releitura contemporânea digital.
P
a
w
e
l 
K
u
c
zy
n
s
k
i/
A
c
e
rv
o
 d
o
 a
rt
is
ta
5P_PIT_EM_1S_C1_FILO_CA_CAP2.indd 23 08/09/20 08:04
2424
Ecos de Narciso
A partir desse título, analisado sob o olhar de algumas disciplinas, pode-se produzir um roteiro interessante para 
a realização de uma peça teatral. Cada disciplina contribui com sua análise sobre o tema, aliada à utilização de 
elementos materiais (cenas curtas de filmes, projeção de pinturas, poemas, músicas) e imateriais (teorias e ideias):
Literatura: a versão do mito contada e cantada nos poemas, canções e contos de diversas épocas.
Arte: a versão do mito na pintura de diferentes contextos históricos, edição de cenas de filmes que o retratam.
Sociologia: a versão contemporânea do mito nas redes sociais, na sociedade do espetáculo e na cultura de consumo.
Filosofia: análise da versão do mito na tradição filosófica de origem. 
Produzam um roteiro e a montagem da peça teatral articulada aos elementos da pesquisa.
Conexões
Mas, independentemente dos contextos, seja há 3 mil anos como representação do pensamento gre-
go, seja no período Barroco, na estética surrealista do século XX ou atualmente, nas redes sociais ou em 
peças publicitárias de relevância, a essência do mito de Narciso continua viva e presente, eternizando-se 
e validando a sua contribuição como conhecimento e autoconhecimento da condição humana no mundo.
1. 
No fundo, o erro mortal do narcisismo não é querer amar excessivamente a si mesmo, mas, ao contrário, no momento de escolher entre si 
mesmo e seu duplo, dar preferência à imagem.
ROSSET, Clèment. O real e seu duplo. Porto Alegre: L&PM, 1988. p. 77-78.
Relacionando o texto ao mito de Narciso, explique de que forma o conhecimento mítico contribui para o autoconhecimento 
do indivíduo.
Autoconhecimento, ou conhecimento de si, não é algo que possa ser alcançado pela aquisição de um volume de informações. A ideia inicial é 
promover a prática da indagação dando início ao movimento do pensar chamado conhecimento, um saber por si próprio que abrirá portas para 
a compreensão do que se busca. O problema é que as informações, sem uma articulação entre si, são vazias e sem sentido. E o movimento 
do pensar ocorre a partir de um choque entre duas contradições exigindo uma solução. Quem pensa, está buscando alguma resposta. Se já 
tem todas as respostas, não precisa pensar. O mito desperta para o conhecimento porque fala do misterioso, da identidade desconhecida, 
da humanidade para o bem ou para o mal, desvela as sombras que não se quer reconhecer, provocando um confl ito entre o ser e o aparecer, 
convidando a buscar uma solução.
Parada obrigatória
A função original do mito 
é ser espelho, promover o 
entendimento do mundo e de 
si mesmo por meio de suas 
significações. O mito desperta 
conhecimento por que reflete 
o misterioso, a identidade 
desconhecida, a humanidade 
(para o bem ou para o mal). 
Ao desvelar as sombras que 
não queremos reconhecer, ele 
provoca um conflito interior, 
entre o ser e o aparecer, nos 
inquietando e nos convidando 
a buscar uma solução. Essa é 
a sua essência.
De olho
5P_PIT_EM_1S_C1_FILO_CA_CAP2.indd 24 08/09/20 08:04
25
F
il
o
s
o
f
ia
1. Analise a obra de René Magritte para resolver as questões.
A reprodução proibida 
(retrato de Edward 
James), de René 
Magritte, 1937. Óleo 
sobre tela de 
79 cm 3 65,5 cm. 
Museum Boymans-van 
Beuningen, Roterdã.
R
e
p
ro
d
u
ç
ã
o
/M
u
s
e
u
 B
o
y
m
a
n
s
-v
a
n
 B
e
u
n
in
g
e
n
, 
R
o
te
rd
ã
,H
o
la
n
d
a
a) Com base nos elementos representados na tela, relacione a 
expressão o “duplo no espelho” ao título da obra de Magritte.
b) Explique de que forma o mito re� ete essa duplicidade do 
espelho.
2. (PUC-RS) Para responder à questão, leia o seguinte trecho 
do conto “O espelho”, do livro Primeiras Estórias, de Guima-
rães Rosa, e as afirmativas, preenchendo os parênteses com 
V (verdadeiro) ou F (falso).
Sim, são para se ter medo, os espelhos.
Temi-os, desde menino, por instintiva suspeita. Também os 
animais negam-se a encará-los, salvo as críveis exceções. Sou do 
interior, o senhor também; na nossa terra, diz-se que nunca se 
deve olhar em espelho às horas mortas da noite, estando-se sozi-
nho. Porque, neles, às vezes, em lugar de nossa imagem, assom-
bra-nos alguma outra e medonha visão. Sou, porém, positivo, um 
racional, piso o chão a pés e patas. Satisfazer-se com fantásticas 
não explicações? – jamais. Que amedrontadora visão seria então 
aquela? Quem o Monstro?
Sendo talvez meu medo a revivescência de impressões atávi-
cas? O espelho inspirava receio supersticioso aos primitivos, aque-
les povos com a ideia de que o re� exo de uma pessoa fosse a alma.
( ) O narrador demonstra conhecer crenças antigas a respei-
to do perigo de se mirar em um espelho.
( ) Segundo essas histórias populares, nem sempre os es-
pelhos projetam a imagem de quem se mira, podendo 
refletir seres assombrosos.
( ) Por ser racional e realista, o narrador sente-setranquilo 
em olhar-se no espelho, ciente de que não irá flagrar al-
guma visão medonha.
( ) De acordo com as crenças, há certas horas perigosas para 
refletir-se no espelho, sobretudo quando se está só.
A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de 
cima para baixo, é:
a) F – V – F – F 
b) V – F – F – V
c) V – V – F – V 
d) V – F – V – F
e) F – F – V – V
Parada complementar
Verifi que as respostas no Manual do Professor.
Teste seu conhecimento: 1 e 2
Mito e tradição
Agora já é possível traçar algumas conclusões sobre o tema. 
O mito é um conhecimento em forma de alegoria, um fenômeno 
coletivo, construído pelas comunidades para explicar o desco-
nhecido, tranquilizando as pessoas diante do mundo imprevisível 
e assustador. São narrativas em forma de metáforas e símbolos; 
sem intenção de explicar racionalmente a origem das coisas e 
a realidade. O mito não fala ao intelecto, mas ao sentimento; 
dirige-se ao interior do indivíduo que, identificando-se com suas 
lendas e histórias criadas e organizadas pela memória coletiva, 
sente-se tocado profundamente. Suas histórias traduzem o ima-
ginário humano, denunciando medos, desejos, sentimentos e 
violências enraizados na sua consciência. 
Os mitos estão ligados às tradições de um povo, constituindo 
as referências fundamentais que lhe conferem uma identidade. 
Seus enredos e seus personagens sobrenaturais não são uma 
ilusão ou mentira, mas arquivos históricos das crenças coletivas 
acumuladas pelas culturas e transmitidas pela oralidade, tradu-
zindo a sua primeira compreensão de mundo, aquilo que os ajuda 
a ordenar o cosmos, dando-lhe um sentido. 
Esse conjunto de saberes da tradição era transmitido de for-
ma oral, especialmente pelas mulheres, em seus lares, que os 
reproduzia às crianças através dos contos e histórias que rece-
beram de suas mães e avós. Aos poucos, essas narrativas iam 
compondo o quadro mental com que, por exemplo, os gregos 
imaginavam e pensavam o divino e o mundo. Posteriormente, a 
tarefa de transmissão dessa concepção de mundo passou a ser 
realizada pela voz dos poetas ou aedos, que, acompanhados de 
música, se apresentavam publicamente em eventos, banquetes 
ou jogos, diante da admiração e respeito dos participantes. 
É importante compreender que essas atividades não eram vivi-
das apenas como forma de lazer ou divertimento; aos poucos, elas 
instituíam nas pessoas uma cultura comum, uma referência, uma 
espécie de memória social com a qual elas se identificavam e que 
5P_PIT_EM_1S_C1_FILO_CA_CAP2.indd 25 08/09/20 08:04
2626
lhes conferia uma identidade como povo. Essas representações religiosas, com seus deuses e heróis, grada-
tivamente, fundam uma comunidade composta de pessoas unificadas entre si por crenças e valores comuns.
Caos e cosmos: uma concepção sacralizada de mundo
Todo espaço humano se constitui por um conjunto de representações simbólicas. Entre esses símbolos, 
alguns se referem à religiosidade do indivíduo ao distinguirem determinado espaço, transformando-o em 
um espaço sagrado. Embora sob diferentes concepções, em todas as épocas, e para todos os povos, essa 
necessidade da presença divina é um ponto comum. 
Narra o poeta Hesíodo: “No princípio era o Caos. O abismo cego, escuro e ilimitado. A total ausência, 
um vazio primordial”. O homem das sociedades arcaicas, tradicionais, tema deste estudo, é um homem 
religioso. Para o homem religioso, o Caos é o nada. Esse espaço profano lhe causa medo, por ser um espaço 
desconhecido, sem orientação, sem um sentido prévio dado pelos deuses. 
A cosmogonia (origem do mundo) destaca-se como o modelo exemplar de toda construção humana. 
Quando o homem assume a responsabilidade de “criar o mundo” que decidiu habitar, ele se desloca do 
Caos em direção ao Cosmos e, ao mesmo tempo, sacraliza, santifica o seu Cosmos, tornando-o semelhante 
ao mundo dos deuses. Sacralizar significa consagrar; nesse processo, o fato ou objeto é retirado do domínio 
humano, sendo considerado sacrilégio toda forma de violação da coisa consagrada.
A construção de uma casa é sempre a fundação de um cosmos num caos e, por isso, a casa é uma imagem do 
mundo na sua totalidade. […] A organização humana do espaço é, pois, a repetição de um ato dos tempos primi-
tivos: “a transformação do caos em cosmos por meio do ato divino da criação”. A morada humana é o microcos-
mos que o homem constrói imitando a criação-arquétipo dos Deuses. Para o homem arcaico, há uma homologia 
entre a criação do mundo e a construção da casa, porque, “organizando um espaço, se reitera a obra exemplar dos 
Deuses”. Cosmi� car é consagrar e consagrar é repetir ritualmente a cosmogonia.
SARAIVA, J. Francisco. Mircea Eliade: a Casa como Imago Mundi, Desenredos, ano III, n. 8, jan.-mar. 2011. 
Disponível em: www.desenredos.com.br/8_ens_saraiva_258.html. Acesso em: 20 mar. 2020.
O homem religioso das sociedades tradicionais sente necessidade de pertencer ao mundo divino 
como parte do universo, pois acredita que foi assim no começo e que continuará sempre assim. Essa 
crença o motiva a se deslocar deste caos desorganizado para fundar o seu lugar no mundo, o cosmo, 
uma forma simbólica de organização de um lugar sagrado, fundamento norteador de suas ações futuras. 
A manifestação do sagrado orienta, assim, a criação do mundo – cosmogonia – sugerindo um centro, o 
ponto de referência que vai orientar e dar sentido à existência.
O sentido da vida é algo que se experimenta emocionalmente, sem que se saiba explicar ou justi� car. É uma 
transformação de nossa visão de mundo, na qual as coisas se integram como em uma melodia, o qual nos faz 
sentir reconciliados com o universo ao nosso redor, possuídos por um sentimento oceânico…, sensação inefável 
de eternidade e in� nitude, de comunhão com algo que nos transcende, envolve e embala, como se fosse um útero 
materno de dimensões cósmicas.
ALVES, Rubem. O que é religião? São Paulo: Loyola, 2005. p. 120.
Quarto de Vincent em Arles, de Vincent van Gogh, 1889. 
Óleo sobre tela de 73 cm 3 92 cm. The Art Institute of 
Chicago, Chicago.
R
e
p
ro
d
u
ç
ã
o
/I
n
s
ti
tu
to
 d
e
 A
rt
e
 d
e
 C
h
ic
a
g
o
, 
Il
lin
o
is
, 
E
U
A
 O cosmos representado em Casa com telhado de palha, de 
Vincent van Gogh, 1890. Óleo sobre tela de 73 cm 3 92 cm. 
Musée d’Orsay, Paris.
R
e
p
ro
d
u
ç
ã
o
/M
u
s
e
u
 d
’O
rs
a
y,
 P
a
ri
s
, 
F
ra
n
ç
a
5P_PIT_EM_1S_C1_FILO_CA_CAP2.indd 26 08/09/20 08:04
27
F
il
o
s
o
f
ia
Assim, a revelação de um espaço sagrado, seja uma árvore, a casa, o quarto, a aldeia ou a cidade, fun-
da e orienta o mundo, ordenando o caos. Esse ponto em que o mundo é fundado passa a ser a referência 
por meio da qual o homem vai orientar todas as suas ações, o local primordial, originário, onde os deuses 
se manifestaram. Ele está no centro do mundo, não de forma física e material, mas de forma espiritual e 
existencial. O homem religioso vê além das formas, sabe que tudo tem um significado, daí a importância 
da ritualização do ambiente.
Vem alguém à minha propriedade e fala: “Aqui é muito pobre. Só tem algumas pedras, algumas árvores e al-
gumas cabras”. Ele não viu a minha propriedade. Aquilo era só o território. O principal estava invisível. O que faz 
minha propriedade é aquilo que não se vê e que liga as pedras, as árvores e as cabras e me liga a tudo.
Antoine Saint-Exupéry citado em BUZZI, Arcângelo R. Introdução ao pensar: o ser, o conhecimento e a linguagem. Petrópolis: Vozes, 2006. p. 11.
A história sagrada é aquela surgida nos tempos primordiais, protagonizada pelos deuses ou heróis, 
podendo ser reatualizada e vivida novamente por meio dos rituais religiosos. Nas comunidades tradi-
cionais, esse processo se dá pelas festas populares anuais, que recriam a cosmogonia. Pelas festas po-
pulares e seus rituais, as pessoas se inserem na história sagrada revelada pelos mitos e, seguindo seus 
modelos exemplares, vão construindo a sua existência.
Visto que o tempo sagrado eforte é o tempo da origem, o instante prodigioso em que uma realidade foi criada, 
em que ela se manifestou, pela primeira vez, plenamente – o homem esforçar-se-á por tornar a unir-se periodica-
mente a esse tempo original. Essa reatualização ritual da cosmogonia está na base de todos os calendários sagrados: 
a festa não é a comemoração de um acontecimento mítico (e portanto religioso), mas, sim, a sua reatualização.
ELIADE, Mircea. O sagrado e o profano. Trad. Rogério Fernandes. Lisboa: Edição Livros do Brasil, 1975. p. 93.
 Dança de casamento de camponeses, de Pieter Bruegel, o Velho, c. 1566. Têmpera em pergaminho aplicado em 
madeira de 119,3 cm 3 157,4 cm. Detroit Institute of Arts, EUA.
R
e
p
ro
d
u
ç
ã
o
/I
n
s
ti
tu
to
 d
e
 A
rt
e
 d
e
 D
e
tr
o
it
, 
M
ic
h
ig
a
n
, 
E
U
A
Dessa forma, a cada ritual do ano-novo ocorre, simbolicamente, um recomeço do mundo. Essa consa-
gração é considerada o gesto divino de instauração do cosmos que estabelece a ordem em razão da qual 
se desenrolam as relações concretas dos homens, garantindo o sentido das coisas. 
Para o homem das sociedades arcaicas, conhecer os mitos de origem e seus rituais é aprender o se-
gredo da origem das coisas e, conhecendo essa origem, o homem é capaz de repetir o ato criador sempre 
que se fizer necessário. O mito narra um acontecimento, mas, além disso, o mito trata do mistério, das 
respostas que a razão humana não é capaz de compreender.
5P_PIT_EM_1S_C1_FILO_CA_CAP2.indd 27 08/09/20 08:04
2828
Esta questão apresenta as festas populares como rituais carregados de sentido. O tema tratado se refere à recriação da cosmogonia 
nas comunidades arcaicas, que ocorria anualmente por meio de rituais religiosos e festas populares. 
A cada ritual do ano-novo ocorre, simbolicamente, um recomeço do mundo. Essa consagração é considerada o gesto divino de instau-
ração do cosmos que estabelece a ordem em função da qual se desenrolam as relações concretas dos homens, garantindo o sentido 
das coisas. Essa reatualização do mito ocorre por meio 
a) da criação poética dos aedos em suas andanças diárias.
b) da recriação da cosmogonia pelos rituais religiosos e festas populares.
c) da divulgação dos saberes populares nas populações campesinas.
d) do desvelamento e revelação do mundo pela razão humana.
e) da compreensão objetiva dos fenômenos da natureza.
Resolução:
Apesar de o texto de abertura sugerir algumas informações, o tema é complexo e vago, exigindo conhecimentos prévios, como saber como o 
mito funda o mundo e como esse mundo se reatualiza na concepção mítica. Não é possível responder à questão se você não possuir informações 
sobre o tema. É preciso analisar cada uma das alternativas. 
a) Falsa. A poesia, embora contribua nesse contexto, não é capaz por si só de fazer a reatualização do mito. Não é essa sua função; ela 
descreve, traduz o fato.
b) Verdadeira. A reatualização do mito ocorre pela recriação da cosmogonia por meio das festas populares e dos rituais religiosos. A cada 
ritual, celebra-se a repetição do gesto dos deuses de instauração do cosmos no tempo primordial, ocorrendo, simbolicamente, um 
recomeço do mundo.
c) Falsa. A divulgação de saberes a um grupo especí� co tem a mesma função da poesia, não sendo su� ciente para promover essa atuali-
zação.
d) Falsa. O mito não é racional, é uma crença fundamentada na fé e na autoridade do narrador, sem necessidade de comprovação.
e) Falsa. O mundo não pretende uma objetividade; dirige-se ao sentimento, à fé e às emoções dos participantes.
Portanto, a alternativa correta é a b.
Como fazer
2. 
Como um artesão fabricante de instrumentos de cordas agencia, uma a uma, as múltiplas peças de madeira que compõem o objeto sonoro 
para que todas entrem em harmonia umas com as outras (e se a alma do instrumento, isto é, a pequena barra de madeira branca que liga o dorso 
e o bojo do violino for mal colocada, ele não soará bem, deixando de ser harmonioso), nós devemos, como Ulisses em Ítaca, encontrar nosso local 
de vida e alcançá-lo, sob pena de não estarmos aptos a cumprir nossa missão no coração do grande todo do universo e, assim, sermos infelizes: é 
esta uma mensagem que a � loso� a grega, pelo menos a maior parte dela, conseguiu tirar da mitologia.
FERRY, Luc. A sabedoria dos mitos gregos: aprender a viver II. 
Rio de Janeiro: Objetiva, 2012. p. 23.
Explique de que forma essa proposta da mitologia difere de outras formas de conhecimento.
Os mitos são narrativas em forma de metáforas e símbolos; sem intenção de explicar racionalmente a origem das coisas e a realidade. 
O mito não fala ao intelecto, mas ao sentimento, dirige-se ao interior do homem que, identifi cando-se com suas lendas e histórias criadas 
e organizadas pela memória coletiva, sente-se tocado profundamente. O mito não visa à objetividade nem à realidade enquanto tal. Sua 
intenção é oferecer signifi cados à existência humana, dando-lhe um sentido, interrogando-lhe sobre o que pode ser uma vida boa num 
universo ordenado, harmonioso e justo. A ideia fundamental aqui é que nessa ordem cósmica, cada um de nós tem seu lugar, seu “lugar 
natural”. Nessa perspectiva, a justiça e a sabedoria consistem fundamentalmente no esforço que fazemos para nela nos integrarmos.
Parada obrigatória
5P_PIT_EM_1S_C1_FILO_CA_CAP2.indd 28 08/09/20 08:04
29
F
il
o
s
o
f
ia
3. (Uece) A utilização de sentimentos humanos para a compreensão dos fenômenos da natureza é própria do conhecimento 
a) cientí� co.
b) � losó� co. 
c) tecnológico. 
d) mitológico.
Parada complementar
Verifi que a resposta no Manual do Professor.
Teste seu conhecimento: 3 e 4
A voz dos poetas
Como trabalhado anteriormente, o mito, como forma de conhecimento, é uma concepção de mundo, 
de natureza e de homem. Sendo uma crença, não pode ser comprovado e é acessível pela intuição e pela 
fé na autoridade do narrador, que é, em geral, um poeta ou aedo, considerado escolhido pelos deuses. 
Sua palavra é sagrada porque se acredita ser derivada de uma revelação divina. Suas lendas e crenças 
relatam a vida dos heróis e dos deuses, estabelecendo diferenças e, ao mesmo tempo, aproximando o 
mundo natural (natureza), o mundo humano (cultura) e o mundo divino (sobrenatural), por meio das 
interações cultivadas pela imaginação mítica. 
As obras dos poetas Homero e Hesíodo são as maiores expressões do mundo mítico que antecede 
o nascimento da razão grega e da filosofia. Nos mitos relatados por ambos, encontra-se algo comum: 
os personagens em busca da excelência huma na, expressão dos modelos exemplares e ideais a serem 
utilizados na formação dos cidadãos gregos. Agora, você vai ter a oportunidade de conhecer mais sobre 
o pensamento desses dois poetas.
Homero: elogio aos heróis e suas virtudes
A época histórica do poeta Homero é questionável entre vários autores; possivelmente ele viveu 
entre os séculos VIII e IX a.C. São a ele atribuídos os poemas Ilíada e Odisseia, dois clássicos sobre a 
famosa Guerra de Troia, que apresentam um universo governado por deuses criadores do mundo e con-
troladores do destino dos homens. Homero é reconhecido como o educador do homem grego, sendo 
sua obra considerada a semente da história da educação ocidental, um registro das histórias populares 
sobre a origem e o sentido das coisas, que eram transmitidas na cultura grega oralmente, de geração 
em geração.
Ulisses e as sereias, de John William Waterhouse, 1891. Óleo sobre tela de 100,6 cm 3 202 cm. Collection National 
Gallery of Victoria Blue Pencil.
R
e
p
ro
d
u
ç
ã
o
/G
a
le
ri
a
 N
a
c
io
n
a
l 
d
e
 V
ic
to
ri
a
, 
M
e
lb
o
u
rn
e
, 
A
u
s
tr
á
lia
5P_PIT_EM_1S_C1_FILO_CA_CAP2.indd 29 08/09/20 08:04
3030
Essas histórias, denominadas mitos, faziam parte daquela civilização como crenças, constituindo a 
cultura do povo helênico. Numa época em que não existiam leis ou normas escritas, nota-se, na obra 
de Homero, uma intenção educativa: por meio de suas histórias, orientavaos comportamentos a serem 
seguidos ou repelidos, projetados na figura do herói, e de suas virtudes, ensinadas pelos pais aos fi-
lhos. Como em um espelho, os heróis projetavam as características fundamentais de ser humano ideal, 
um modelo que deveria ser imitado.
Os poemas refletem, especialmente, o contexto histórico em que viviam os poetas. No poema Ilía-
da, a força bruta é predominante, e o guerreiro e suas atitudes são os temas centrais. As ideias e os 
valores retratados refletem o tipo de vida da época, um período em constantes guerras, migrações e 
lutas entre povos. Nesse cenário cultural, o que determina a virtude é a bravura, a coragem e a leal-
dade do herói. 
Na Odisseia, esse cenário se modifica. O herói Odisseu (em grego, na mitologia grega) ou Ulisses 
(em latim, na mitologia romana) não é apenas o rei, mas o marido e o pai tentando retornar ao seu 
reino e à sua morada. Cerca de vinte anos após o início da Guerra de Troia, vive-se um novo momento 
histórico, no qual o mundo grego já está consolidado, deslocando a figura do herói de guerra para um 
homem e sua morada, sua terra e suas tradições. A transição para esse novo contexto é expressada por 
Homero ao ressaltar as características do herói: na Ilíada, como força bruta e a força física, representa-
das na figura de Aquiles; e na Odisseia, como astúcia e inteligência, representadas na figura de Ulisses 
ou Odisseu. Essas características definem o herói e, ao mesmo tempo, a sociedade em dois momentos 
e contextos diferentes, assim como o ideal de homem específico em cada momento.
A Odisseia não é uma narrativa de aventuras, nem uma epopeia literária, mas o itinerário filosófico de 
um homem, Ulisses, que vai da guerra à paz, do ódio ao amor, do exílio à volta para casa, do caos à harmo-
nia – em resumo, da vida má à vida boa. Ele busca a solução da questão da qual derivará toda a filosofia: 
existe uma vida boa para os mortais? E ele nos dá a primeira grande resposta: para se chegar à vida boa, é 
preciso vencer os medos e fugir da nostalgia do passado, da esperança de um futuro melhor, a fim de viver no 
presente. Como Ulisses em Ítaca, o sábio se ajusta ao cosmo como uma pequena peça de um quebra-cabeça 
que se integra ao quadro formado. Ora, como o cosmo é eterno, o próprio sábio se torna um fragmento da 
eternidade. É uma mensagem grandiosa que atravessa os séculos: a vida boa é a harmonia do homem com a 
harmonia do mundo.
Luc Ferry em entrevista a CÁRCERES, André. Luc Ferry: A grande mensagem dos mitos gregos para o mundo atual, Fronteiras 
do Pensamento, 11 nov. 2019. Disponível em: www.fronteiras.com/entrevistas/luc-ferry-a-grande-mensagem-dos-mitos-gregos-
para-o-mundo-atual. Acesso em: 20 jan. 2020.
Um detalhe importante a se destacar é que a educação, na época de Homero, se referia apenas à 
nobreza. A virtude demonstrada pelas atitudes dos heróis era chamada de areté; o ideal de cavaleiro 
que reunia o refinamento do comportamento da aristocracia com a força e a bravura do guerreiro, sem 
conotação moral. Os nobres sabiam que sua posição só se justificava pela areté, pelo compromisso com 
os ideais de luta e de vitória. O domínio físico sobre o adversário, aliado a uma rígida disciplina consigo 
mesmo, era, para o homem nobre, a verdadeira prova na busca do reconhecimento de seu valor e de sua 
honra. A virtude e a honra garantiam-lhe o pertencimento ao estamento dos nobres.
Hesíodo: elogio ao trabalho e à justiça
Agora, será destacada a inegável importância da obra do poeta Hesíodo, datada do século VIII a.C., 
que, embora posterior a Homero, compõe, com ele, o ideal de formação do homem grego. Sua obra se 
constitui por uma narrativa sobre a origem do cosmos e dos seres humanos em seus poemas: Teogonia
e Os trabalhos e os dias. Enquanto a obra de Homero trata de personagens e valores da nobreza, das 
tradições e dos heróis guerreiros; Hesíodo, sendo um homem simples, do campo, desloca a atenção para 
outra realidade daquela cultura: a vida do campo e dos trabalhadores rurais, priorizando outros valores, 
em especial, uma acentuada preocupação com os conceitos de trabalho e justiça.
Em Hesíodo revela-se a segunda fonte de cultura: o valor do trabalho. […] O heroísmo não se manifesta só 
nas lutas em campo aberto, entre os cavaleiros nobres e seus adversários. Também a luta silenciosa e tenaz dos 
trabalhadores com a terra dura e com os elementos tem o seu heroísmo e exige disciplina, qualidades de valor 
eterno para a formação do homem.
JAEGER, W. Paidéia: a formação do homem grego. Trad. Artur M. Parreira. 
São Paulo: Martins Fontes, 1986. p. 85.
Assista ao filme:
Dersu Uzala. Direção de 
Akira Kurosawa. Japão, 1975.
Fique por dentro
5P_PIT_EM_1S_C1_FILO_CA_CAP2.indd 30 08/09/20 08:04
31
F
il
o
s
o
f
ia
A poesia de Hesíodo mostra que a formação grega não se deu apenas a partir da nobreza, demons-
trando a importante contribuição das camadas populares, adicionando a elas os valores do homem rural 
e a importância daquele que, na vida dura e disciplinada do campo, produz com o fruto de seu trabalho 
aquilo que é essencial para a cidade: o alimento que lhe sacia a fome.
As quatro estações: Verão, Pieter Bruegel, o Velho, 1568. Óleo sobre painel de 42,5 cm 3 57,5 cm. 
R
e
p
ro
d
u
ç
ã
o
/ 
M
u
s
e
u
 M
e
tr
o
p
o
lit
a
n
o
 d
e
 A
rt
e
, 
N
o
v
a
 Y
o
rk
, 
E
U
A
.
Conta-se que Hesíodo passava por um problema pessoal quando escreveu Os trabalhos e os dias. Seu 
pai havia feito a divisão de terras que deixou como herança para ele e seu irmão Perses, mas, devido a 
uma trapaça, o irmão ficou com todos os bens, deixando Hesíodo na pobreza. Sentindo-se injustiçado 
e desencantado com a justiça dos homens, fez um apelo à justiça divina em forma de reflexões e ques-
tionamentos sobre aspectos culturais e morais de sua época: os limites da essência humana, os valores 
da honestidade, do trabalho e da justiça, a possibilidade e limites das escolhas humanas perante os 
poderes divinos. O que era um desabafo tornou-se uma grande obra, cujas ideias serão os embriões das 
investigações feitas posteriormente pela Filosofia.
Os poemas não demonstram revolta, mas traduzem o sentimento humano diante da injustiça que, ao 
contrário do que se espera, se transforma em valorização da essência humana dotada de possibilidades 
de ação perante a natureza, o divino e os outros homens pela capacidade de escolha. No seio de uma 
sociedade que desprezava o trabalho, este ganha um novo significado, exaltado como boa luta, sinal de 
prosperidade e realização pessoal. Algo louvável, que dignifica o homem, que o torna bom, honesto e 
justo. Assim também ele mostra a justiça, que acredita ser um valor intrínseco à essência humana e que 
exalta como o maior bem, considerando um crime irreparável qualquer ofensa a ela. 
Embora as ideias de Hesíodo, problematizadas na obra Os trabalhos e os dias, possivelmente não tive-
ram, para ele, a percepção da sua profundidade reflexiva, tal como é percebida hoje – devido ao contexto 
em que ele viveu e o alcance na sua época sobre a importância de temas como o trabalho e a justiça –, mas 
ele inaugurou, sem dúvida, na sua simplicidade e possibilidades, um elogio ao direito diante da injustiça, à 
honestidade diante da trapaça, à inclusão diante da exclusão, à possibilidade de escolha diante do destino, 
à esperança diante do desencanto, a valores idealizadores de uma sociedade melhor para todos.
Diké e hybris: entre a justiça e a desmedida
Hesíodo nos apresenta o humano analisado à imagem e semelhança de si mesmo; o homem situa-
do entre o animal e o divino, com seus limites, imperfeições e necessidades, mergulhado no constante 
desafio da escolha pela justiça ou pela injustiça, e sua responsabilidade na construção do que eles de-
nominavam a vida boa.
5P_PIT_EM_1S_C1_FILO_CA_CAP2.indd 31 08/09/20 08:04
3232
E o que seria a vida boa nesse contexto? A vida em harmonia com a ordem cósmica. Para que isso 
acontecesse,segundo Hesíodo, a justiça – em grego, diké – foi afirmada como princípio fundante e 
garantidor da ordem do cosmos. Diké e hybris, presentes lado a lado, oferecem ao homem duas opções 
igualmente possíveis de escolha. A esse princípio ficam submetidos os deuses e os mortais, sob pena 
de severa punição em caso de transgredi-la. Hesíodo busca essa harmonia em um ensinamento inspi-
rado no Mito das Raças, que ele assimilou e repassou a Perses e a outros, a partir da seguinte fórmula:
 … escuta a justiça (diké), não deixes aumentar a desmedida (hybris).
Diké é a deusa grega encarregada de trazer a justiça do céu para a terra, sendo afirmada como princí-
pio fundante e garantidor da ordem do cosmos. Essa ordem cósmica não é linear, mas cíclica, e, de vez em 
quando, vê-se ameaçada por hybris (excesso), aqui compreendido como tudo que ultrapassa a medida, 
uma espécie de retorno das forças obscuras do caos, anterior à criação do cosmos. 
A hybris é descrita como uma tendência natural ao orgulho e à desmedida, que leva os seres mortais e 
imortais a ultrapassarem o seu limite na ordem universal, como ocorre, por exemplo, no mito de Narciso, 
expressada na questão da individualidade como condição humana, objeto sobre o qual gira a história 
desse personagem. 
Como toda característica da condição humana, a individualidade tem peso e medida, e sua tendência 
ao extremo ou à falta pode trazer prejuízos à vida do indivíduo e da sociedade. Agora, acompanhe como 
se desenrola esse tema no mito em questão.
A individualidade é uma conquista da liberdade humana, faz parte da nossa essência, da nossa de-
terminação perante a possibilidade de ser o que desejamos, de poder fazer escolhas e de se posicionar 
como pessoa única entre as outras. A falta dessa habilidade não permite ao indivíduo que se posicione e 
desenvolva uma personalidade, ficando diluído na massa, sem uma identidade que o determine. 
O individualismo, seu excesso, por outro lado, exclui o outro das nossas necessidades, não permitin-
do o desenvolvimento de valores fundamentais ao convívio entre as pessoas, como a empatia, a solida-
riedade e a resiliência. No contexto atual de produção capitalista, em que as preocupações materiais são 
priorizadas sobre “o ser”, o indivíduo torna-se cada vez mais centrado em si mesmo, a individualidade 
tende ao individualismo, tornando-se, aos poucos, insensível à liberdade do outro e gerando sérias con-
sequências, como o egoísmo e as formas mais variadas de exclusão – as doenças do nosso século.
A hybris, representada pelo individualismo, é a principal lição refletida no mito de Narciso.
No fundo, o erro mortal do narcisismo não é querer amar excessivamente a si mesmo, mas, ao contrário, no 
momento de escolher entre si mesmo e seu duplo, dar preferência à imagem. O narcisista sofre por não se amar: 
ele só ama a sua representação. Amar-se com amor verdadeiro implica uma indiferença a todas as suas próprias 
cópias, tais como podem aparecer para os outros e, pelo viés dos outros, a mim mesmo, se presto muita atenção 
a eles. Este é o miserável segredo de Narciso: uma atenção exagerada ao outro. Esta, aliás, é a razão por que ele é 
incapaz de amar alguém, nem o outro nem ele mesmo, já que o amor é um assunto importante demais para que 
se delegue a outro a responsabilidade de negociá-lo.
ROSSET, Clèment. O real e seu duplo. Porto Alegre: L&PM, 1988. p. 77-78.
3. (FCC-MG)
Do mito das raças, Hesíodo tira um ensinamento que dirige mais especialmente ao seu irmão Perses, um pobre tipo, mas que vale tam-
bém para os grandes da terra, para aqueles cuja função é regulamentar as querelas por arbitragem, para os reis. Hesíodo resume este ensina-
mento na seguinte fórmula: escuta a justiça, Diké, não deixes aumentar a desmedida, Hybris.
(VERNANT, Jean-Pierre. Mito e pensamento entre os gregos. Edusp, 1973, p. 11)
Na passagem acima, Vernant vê no mito uma clara relação com a
a) metafísica. b) religião. c) ciência. d) política. 
Parada obrigatória
5P_PIT_EM_1S_C1_FILO_CA_CAP2.indd 32 08/09/20 08:04
33
F
il
o
s
o
f
ia
4. (UFSC)
Com efeito, a história conta a sucessão das diversas raças de homens que, precedendo-nos na Terra, apareceram e depois desapa-
receram alternativamente. Em que uma tal narrativa é suscetível de exortar à Justiça? Todas as raças, as melhores e as piores, tiveram 
do mesmo modo que deixar a luz do sol, no momento chegado. E entre aquelas que os homens honram com um culto desde que a terra 
os recobriu, há raças que se ilustraram aqui na terra por uma espantosa Hybris. […] Assim, o mito parece querer opor a um mundo 
divino, em que a ordem é imutavelmente fixada desde a vitória de Zeus, um mundo humano no qual a desordem se instala pouco a 
pouco e que deve acabar virando inteiramente para o lado da injustiça e da morte.
(VERNANT, Jean-Pierre. Mito e pensamento entre os gregos. 2. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2002, p. 28.)
Considerando a posição sustentada por Vernant no texto e suas informações sobre mito, é INCORRETO afirmar que:
a) nas narrativas míticas, há um humanismo que � xa a ideia de que o homem não é somente um “animal homem”, mas tampouco é 
um deus. 
b) o conjunto das narrativas míticas conjuga uma série de elementos formadores de uma ideia de condição humana, marcada por 
ambiguidades e excessos. 
c) o jogo tenso da relação entre a Hybris e a Díke marca o contexto das diversas contradições que compõem a antropologia das narra-
tivas míticas. 
d) no mito hesiódico, a quinta raça, a raça de ferro, é a que experimenta as duras ambiguidades da vida e enfrenta o trabalho para a 
sobrevivência, a vida e a morte. 
e) a vida humana é condicionada pelos deuses. No mito, diversamente das tragédias, a Hybris exprime o alinhamento da ordem divina 
e humana.
5. (Unicentro-PR)
Os poemas homéricos têm por fundamento uma visão de mundo clara e coerente. Manifestam-na quase a cada verso, pois colocam em 
relação com ela tudo quanto cantam de importante – é, antes de mais nada, a partir dessa relação que se de� ne seu caráter particular. Nós cha-
mamos de religiosa essa cosmovisão, embora ela se distancie muito da religião de outros povos e tempos. Essa cosmovisão da poesia homérica 
é clara e coerente. Em parte alguma ela enuncia fórmulas conceituais à maneira de um dogma; antes se exprime vivamente em tudo que sucede, 
em tudo que é dito e pensado. E embora no pormenor muitas coisas resultem ambíguas, em termos amplos e no essencial, os testemunhos 
não se contradizem. É possível, com rigoroso método, reuni-los, ordená-los, fazer lhes o cômputo, e assim eles nos dão respostas explícitas às 
questões sobre a vida e a morte, o homem e Deus, a liberdade e o destino (…).
(OTTO. Os deuses da Grécia: a imagem do divino na visão do espírito grego. 1ª Ed., trad. [e prefácio] de Ordep Serra. – São Paulo: Odysseus Editora, 2005 - p. 11.)
Com base no texto, e em seus conhecimentos sobre a função dos mitos na Grécia arcaica, assinale a alternativa correta.
a) De acordo com os poemas homéricos, os deuses em nada poderiam interferir no destino dos humanos e, assim, a determinação di-
vina (ananque) se colocava em segundo plano, uma vez que era o acaso (tykhe) quem governava, isto é, possuía a função de ensinar 
ao homem o que este deveria escolher no momento de sua livre ação. 
b) As poesias de Homero sempre mantiveram a função de educar o homem grego para o pleno exercício da atividade racional que 
surgiria no século VI a.C., uma vez que, de acordo com historiadores e helenistas, não houve uma ruptura na passagem do mito para 
o lógos, mas sim um processo gradual e contínuo de enraizamento histórico que culminou no advento da � loso� a. 
c) Os mitos homéricos serviram de base para a educação, formação e visão de mundo que o homem grego arcaico possuía. Em seus 
cânticos, Homero justapõe conceitos importantes como harmonia, proporção e questionamentos a respeito dos princípios, das 
causas e do porquê das coisas. Embora todas essas instâncias apresentavam-secomo tal, os mitos não deixaram de lado o caráter 
� ctício e fabular em que eram narrados. 
d) O mito já era pensamento. Ao formalizar os versos de sua poesia, Homero inaugura uma modalidade literária bem singular no oci-
dente. As ações dos deuses e dos homens, por exemplo, sempre obedeceram a uma ordem preestabelecida, a qual sempre revelou 
uma lógica racional em funcionamento. 
e) Os mitos tiveram função meramente ilustrativa na educação do homem grego, pois o caráter teórico e abstrato da cultura grega 
apagou em grande parte os aspectos que se revelariam relevantes na poesia grega.
Parada complementar
Verifi que as respostas no Manual do Professor.
Teste seu conhecimento: 5 e 6
5P_PIT_EM_1S_C1_FILO_CA_CAP2.indd 33 08/09/20 08:04
3434
Rupturas entre mito e Filosofia
Mito e Filosofia, embora sejam leituras diferentes de mundo, constituem formas de conhecimento 
que buscam compreender a realidade, atribuindo-lhe um sentido. Embora ambas estejam ligadas, em 
sua origem, à tarefa de oferecer respostas às inquietações humanas diante do desconhecido, elas se 
diferem quanto aos métodos e respostas a esses questionamentos. Essa inquietação e a necessidade 
de superá-la para sentir-se seguro retiraram o ser humano de seu estado de ignorância, em busca de 
explicações sobre o que percebia e sentia. Essa admiração inicial foi transformada em indagação e, pos-
teriormente, em explicação sobre a realidade, dando-lhe um sentido.
De fato, os homens começaram a � losofar, agora, como na origem, por causa da admiração, na medida em 
que, inicialmente, � cavam perplexos diante das di� culdades mais sim ples; em seguida, progredindo pouco a 
pouco, chegaram a enfrentar problemas sempre maiores, por exemplo, os problemas relativos aos fenô menos 
da lua, do sol e dos astros e, os problemas relativos à geração de todo o universo. Ora, quem experimenta uma 
sensação de dúvida e de admiração, reconhece que não sabe; e é por isso, que aquele que ama o mito é, de certo 
modo, � lósofo: o mito é com efeito, produto de coisas admiráveis. De modo que, se os homens � losofaram para 
libertarem-se da ignorância, é evidente que buscavam o conhecimento em vista do saber e não por alguma 
utilidade prática.
ARISTÓTELES. Metafísica. São Paulo: 
Loyola, 2002. p. 11. v. I.
O mito constrói, assim, uma infinidade de significados ocultos que nos estimula na compreensão do 
que somos, compondo uma diversidade de interpretações das nossas ações. É nisso que reside a sua for-
ça e o seu poder; ele é uma espécie de memória da humanidade, seus significados oferecem diferentes 
respostas às necessidades de todos os homens, de todas as épocas e lugares, conferindo-lhes um caráter 
de universalidade. 
Segundo Jean-Pierre Vernant, essas referências funcionavam como uma espécie de espelho:
[…] enquanto a cidade permaneceu viva, a atividade poética continuou a exercer esse papel de espelho que 
devolvia ao grupo humano sua própria imagem, permitindo-lhe apreender-se em sua dependência em relação ao 
sagrado, de� nir-se ante os imortais, compreender-se naquilo que assegura a uma comunidade de seres perecíveis, 
sua coesão, sua duração, sua permanência através do � uxo das gerações sucessivas.
VERNANT, Jean-Pierre. Mito e religião na Grécia Antiga. São Paulo: 
WMF Martins Fontes, 2006. p. 16.
Com o tempo, no cerne das atividades públicas entre os poetas, manifestaram-se certas inquieta-
ções quanto à veracidade de suas narrativas que, aos poucos, se desdobraram em questionamentos 
aos quais os mitos não eram capazes de responder de forma satisfatória, sendo, por isso, contestados 
e fragilizados no seu status de verdade absoluta. Claro que isso demorou um longo tempo – muitas 
centenas de anos, pois uma mudança cultural não se faz da noite para o dia. Nesse contexto, o surgi-
mento da História e da Filosofia levanta o problema da veracidade ou falsidade dos mitos, apresentan-
do novos argumentos e concepções de interpretação do real.
A ruptura entre mito e Filosofia ocorre a partir daquilo que os distingue enquanto formas de 
conhecimento e leituras de mundo. Enquanto os mitos compõem uma cosmogonia, a Filosofia nasce 
como cosmologia. 
A cosmogonia, história do nascimento do cosmos, é uma teogonia – o mundo é fundado pelo 
nascimento dos deuses e vice-versa. Nela, as explicações sobre as origens do universo são dadas em 
linguagem metafórica, simbólica, que tem significados dentro da cultura que a gerou. Na cosmologia, 
as explicações se afastam dessa visão localizada e de influências religiosas em busca de princípios 
gerais, universais, baseados e estruturados pelo uso da razão. Essa é a diferença entre conhecimento 
mítico e filosófico. A ruptura ocorre pelo uso da razão no processo de conhecimento em contraposi-
ção à crença.
Agora, responda: que encanto possuem essas histórias tão antigas e seus personagens sobrenaturais a ponto de 
sobreviverem tantos anos e se tornarem referências na literatura, na publicidade, no cinema, influenciando até hoje as 
concepções de ser humano, de sociedade e de mundo? O que você pensa sobre isso?
5P_PIT_EM_1S_C1_FILO_CA_CAP2.indd 34 08/09/20 08:04
35
F
il
o
s
o
f
ia
Atualidade do mito
O surgimento da Filosofia no Ocidente e, posteriormente, da ciência moderna são momentos que provo-
caram profundas rupturas na concepção mítica. Essas rupturas representam o surgimento de uma nova visão 
de mundo, onde parecia não ter lugar para mitos. Embora a Filosofia não tenha rompido radicalmente com 
a mitologia, o novo contexto traduzia os mitos como visão ingênua e fantasiosa da realidade, desmerecendo 
sua importância histórica e banalizando-os como fonte de conhecimento humano.
No entanto, mentes mais sutis e observadoras não os deixaram cair no esquecimento, imortalizando-os. 
E o mito continua fortemente presente: seja nas histórias e expressões do senso comum, seja no teatro, na 
literatura, na publicidade, no cinema, na pintura, na música, seja no pensamento de estudiosos brilhantes 
como Friedrich Nietzsche, Sigmund Freud, Roland Barthes, entre tantos outros, que se utilizaram das suas 
narrativas como instrumentos de trabalho, tornando-se cada vez mais significativos como referência e fon-
te inesgotável de reflexão sobre a condição humana.
 Campanha publicitária de uma 
marca de motocicletas inspirada na 
escultura de Hermes.
R
e
p
ro
d
u
ç
ã
o
/h
tt
p
s
:/
/p
t.
s
lid
e
s
h
a
re
.n
e
t/
1
9
5
0
/a
rt
e
-p
ro
p
a
g
a
n
d
a
 Medusa estampa a capa da revista 
Bravo! de agosto de 2012.
R
e
p
ro
d
u
ç
ã
o
/E
d
it
o
ra
 A
b
ri
l
Por outro lado, a natureza dos elementos mitológicos e das obras de arte, abordados constantemente 
pela mídia, reforça que seus elementos se relacionam com os níveis mais profundos do imaginário huma-
no. Heróis e mitos formam imagens universais existentes nos seres humanos, incrustadas na sua mente, 
por muitas gerações, formando um tecido que é sempre familiar, porque transmite segurança e possui for-
te apelo às emoções e afetividade humanas. Daí a sua importância como apelo publicitário na atualidade.
O problema é que essa exposição do mito e da obra de arte pela mídia desloca-os de seu contexto ori-
ginal, gerando interpretações equivocadas. A utilização estereotipada dos mitos e heróis retira deles o seu 
caráter originalmente contestatório, revelador da verdade, promovendo um processo de desmitologização e 
empobrecimento do símbolo. Isso significa que, nesse processo, os aspectos ori-
ginais do símbolo são abandonados, e, pior, são descaracterizados para serem 
direcionados a um objetivo fora dele – no caso, o consumo. 
Nessa apropriação da cultura popular pela mídia, os mitos, a obra de 
arte e seus significados originais ficam banalizados, sobrepostos pelo ime-
diatismo da mensagem publicitária. Nesse contexto, essas formas de co-
nhecimento, arte e mito, que possuem um papel libertador, de movimento, 
de atividade, são utilizadas para promover a passividade do indivíduo,esti-
mulando-o ao aspecto meramente contemplativo, uma vez que a intenção é 
fazer dele um consumidor. 
Em contraponto, outro fato interessante e contraditório deve ser aqui 
destacado: na sociedade contemporânea, a inesgotável oferta de prazer e a 
aquisição de bens pelo consumo não saciam o desejo humano; aumentando, 
paralelamente a isso, a valorização do mistério, do mítico e da religiosida-
de em busca daquela receita mágica dos antigos, que ajude o indivíduo a 
compreender e construir a tão sonhada vida boa num universo ordenado, 
harmonioso e justo.
Saiba mais sobre a apro-
priação do mito pela mídia e 
suas consequências no livro 
de Malena Segura Contrera, 
O mito na mídia: a presença 
de conteúdos arcaicos nos 
meios de comunicação (2. ed. 
São Paulo: Annablume, 2000).
Fique por dentro
 A série Quarto de Vincent em Arles, de Vincent van Gogh, 1878-
1889, tem um de seus quadros apropriado e transformado em 
peça publicitária para venda de computadores.
R
e
p
ro
d
u
ç
ã
o
/h
tt
p
s
:/
/d
a
b
lio
s
.w
o
rd
p
re
s
s
.c
o
m
5P_PIT_EM_1S_C1_FILO_CA_CAP2.indd 35 08/09/20 08:04
3636
4. (UFU-MG)
A atividade intelectual que se instalou na Grécia a partir do séc. VI a.C. está substancialmente ancorada num exercício especulativo-
-racional. De fato, “[…] não é mais uma atividade mítica (porquanto o mito ainda lhe serve), mas � losó� ca; e isso quer dizer uma atividade 
regrada a partir de um comportamento epistêmico de tipo próprio: empírico e racional”.
SPINELLI, Miguel. Filósofos Pré-socráticos. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1998, p. 32.
Sobre a passagem da atividade mítica para a filosófica, na Grécia, assinale a alternativa correta.
a) A mentalidade pré-� losó� ca grega é expressão típica de um intelecto primitivo, próprio de sociedades selvagens. 
b) A � loso� a racionalizou o mito, mantendo-o como base da sua especulação teórica e adotando a sua metodologia. 
c) A narrativa mítico-religiosa representa um meio importante de difusão e manutenção de um saber prático fundamental para a vida 
cotidiana. 
d) A Ilíada e a Odisseia de Homero são expressões culturais típicas de uma mentalidade � losó� ca elaborada, crítica e radical, baseada 
no logos.
Parada obrigatória
6. (Uece)
É no plano político que a Razão, na Grécia, primeiramente se exprimiu, constituiu-se e formou-se. A experiência social só pôde tornar-se 
entre os gregos objetos de uma re� exão positiva, porque se prestava, na cidade, a um debate público de argumentos. O declínio do mito data do 
dia em que os primeiros Sábios puseram em discussão a ordem humana, procuraram de� ni-la em si mesma, traduzi-la em fórmulas acessíveis 
à sua inteligência, aplicar-lhe a norma do número e da medida.”
VERNANT, J.-P. As origens do pensamento grego. Rio de Janeiro: Bertrand do Brasil, 1989, p. 94.
Com base nessa citação, é correto afirmar que a filosofia nasce
a) após o declínio das ideias mitológicas, não havendo nenhuma linha de continuidade entre estas últimas e as novas ciências gregas.
b) das representações religiosas míticas que se transpõem nas novas representações cosmológicas jônicas.
c) da experiência do espanto, a maravilha com um mundo ordenado e, portanto, belo.
d) da experiência política grega do debate, argumentação e contra-argumentação, que põe em crise as representações míticas.
7. (Uema) No contexto histórico da gênese da Filosofi a, deixando de lado a polêmica sobre a ruptura ou a continuidade entre mito e 
fi losofi a, importa destacar, precisamente, a perspectiva inovadora da fi losofi a nascente. Novidade na fi losofi a é
a) a capacidade de fundamentar, racionalmente, as narrativas teogônicas.
b) a tendência à argumentação racional, generalizada em torno das coisas.
c) o exercício do distanciamento das coisas terrenas pelo pensamento abstrato.
d) o estabelecimento de competências argumentativas com justi� cativas para a política e a religião.
e) a racionalização da compreensão do mundo e o consequente abandono das crenças nos deuses.
Parada complementar
Verifi que as respostas no Manual do Professor.
Teste seu conhecimento: 7
5P_PIT_EM_1S_C1_FILO_CA_CAP2.indd 36 08/09/20 08:04
37
F
il
o
s
o
f
ia
Síntese
Complete o quadro com as informações que aprendeu no capítulo, seguindo os exemplos já preenchidos.
DIÁLOGOS ENTRE ARTE, MITO E FILOSOFIA
Teogonia
origem, genealogia dos deuses.
Cosmogonia 
origem, nascimento do cosmos, 
Universo.
• Primeira compreensão de 
mundo.
• Narrativa sobre a vida 
dos heróis e dos deuses.
• Palavra sagrada, vinda de 
uma revelação divina.
• Diferenças e 
aproximações entre o 
mundo natural (natureza), 
cultural (humano) e 
sobrenatural (divino).
Caos e cosmos: 
uma visão sacralizada de uma visão sacralizada de 
mundo.mundo.
Recriação da cosmogonia Recriação da cosmogonia 
e reatualização do mito.e reatualização do mito.
Espelho: o lago 
de Narciso
• Conjunto de saberes da 
tradição transmitidos pela 
oralidade.
• Crenças coletivas 
construídas para explicar 
o desconhecido.
• Não visa a objetividade 
nem a racionalidade. 
Dirige-se ao sentimento 
e às emoções. Oferece 
signifi cados à existência 
dando-lhe um sentido.
• Propõe “a vida boa” num 
universo ordenado, 
harmonioso e justo.
• Distingue e aproxima o 
mundo natural (natureza), 
humano (cultural) e divino 
(sobrenatural).
• Não é ilusão, mentira ou 
mero divertimento.
• Não visa a informação, 
mas a formação do 
indivíduo.
• O duplo no espelho: 
ocultamento e revelação 
da identidade.
• A solidão consequente 
da paixão pela própria 
imagem.
• A individualidade como 
condição humana.
• O individualidade e seus 
excessos.
• A vida como 
contemplação.
• Empatia e alteridade.
• • Traduzem o imaginárioTraduzem o imaginário
humano: medos, desejos e humano: medos, desejos e 
violências inconscientes.violências inconscientes.
• • Tradições de um povo, Tradições de um povo, 
espécie de memória da espécie de memória da 
humanidade.humanidade.
• • Constituição do quadro Constituição do quadro 
mental com que os gregos mental com que os gregos 
pensavam o mundo e o pensavam o mundo e o 
divino.divino.
• • Instituição de uma cultura Instituição de uma cultura 
comum, memória social, comum, memória social, 
visando uma identifi cação e visando uma identifi cação e 
unifi cação.unifi cação.
Mito e identidade
Mito: uma leitura de mundo A voz dos poetas
Homero: elogio aos heróis 
e suas virtudes.
Hesíodo: elogio ao trabalho 
e à justiça.
Mito e Filosofi a 
continuidade e rupturas
Diké e Hybris: entre a 
justiça e a desmedida
“Escuta a justiça (diké), 
não deixes aumentar a 
desmedida (hybris).”
Hesíodo
A ruptura ocorre a partir A ruptura ocorre a partir 
da cosmologia, oda cosmologia, o uso da uso da 
razão razão no processo de no processo de 
conhecimento em conhecimento em 
contraposição contraposição à crençaà crença. . 
A A cosmologiacosmologia busca busca aa
princípios gerais e princípios gerais e 
universais, estruturados universais, estruturados 
pela razão.pela razão.
Características
5P_PIT_EM_1S_C1_FILO_CA_CAP2.indd 37 08/09/20 08:04
3838
Teste seu conhecimento
1. (UPE) Coloque V para Verdadeiro e F para Falso nas afirmati-
vas abaixo, referentes à consciência mítica.
( ) Os relatos míticos, apoiados em uma "lógica do sensí-
vel", explicam a realidade concreta, conferindo signifi-
cado e ordem a um mundo aparentemente caótico e 
desorganizado. 
( ) Os mitos, embora não sejam estruturas lógicas, se consti-
tuem, se desenvolvem e se transformam segundo regras 
operacionais expressas logicamente. 
( ) Os mitos não expressam a capacidade inicial do homem 
de compreender o mundo. 
( ) Os mitos surgem como modelos explicativos para satis-
fazer a curiosidade e as exigências da mente primitiva, 
embora desprovidos de conteúdo passível de convencer 
a razão humana. 
( ) A consciência mítica, bem como a consciência filosófica, 
é a maneira que o ser humano encontrou para organizar 
um conhecimento sobre a realidade.Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta.
a) V, V, V, V, F. 
b) V, V, F, V, V. 
c) F, V, V, V, V. 
d) F, F, V, V, V. 
e) V, V, F, F, V.
2. (Unifor-CE)
O Homem que se endereçou
Apanhou o envelope e na sua letra cuidadosa subscritou a si 
mesmo: Narciso, rua Treze, no 21. 
Passou cola nas bordas do papel, mergulhou no envelope e 
fechou-se. Horas mais tarde a empregada colocou-o no correio. 
Um dia depois sentiu-se na mala do carteiro. Diante de uma casa, 
percebeu que o funcionário tinha parado indeciso, consultara o 
envelope e prosseguira. Voltou ao DCT, foi colocado numa prate-
leira. Dias depois, um novo carteiro procurou seu endereço. Não 
achou, devia ter saído algo errado. A carta voltou à prateleira, no 
meio de muitas outras, amareladas, empoeiradas. Sentiu, então, 
com terror, que a carta se extraviara. E Narciso nunca mais en-
controu a si mesmo.
BRANDÃO, Ignácio de Loyola. O homem com o furo na mão e outras histórias. 
São Paulo: Editora Ática, 1998.
O conto de Ignácio de Loyola reflete o comportamento do 
homem contemporâneo, por meio da figura mitológica de 
Narciso, retratando, sobretudo,
a) o pessimismo e a perda de sua vaidade.
b) a excessiva vaidade e a arrogância.
c) o medo do desconhecido e a perda de sua identidade.
d) o individualismo e a sua excessiva vaidade.
e) o seu individualismo e a perda da identidade.
3. (Enem)
A justiça é a primeira virtude das instituições sociais, como 
a verdade o é dos sistemas de pensamento. Cada pessoa possui 
uma inviolabilidade fundada na justiça que nem mesmo o bem-
-estar da sociedade como um todo pode ignorar. Por essa razão, a 
justiça nega que a perda de liberdade de alguns se justi� que por 
um bem maior partilhado por todos.
HAWLS, J. Uma teoria da justiça. São Paulo: Martins Fontes, 2000 (adaptado).
O filósofo afirma que a ideia de justiça atua como um impor-
tante fundamento da organização social e aponta como seu 
elemento de ação e funcionamento o
a) povo.
b) Estado.
c) governo.
d) indivíduo.
e) magistrado.
4. (UEL-PR) Leia os textos a seguir.
Sim, bem primeiro nasceu Caos, depois também Terra de 
amplo seio, de todos sede irresvalável sempre.
(HESÍODO. Teogonia: a origem dos deuses. 3. ed. Trad. de Jaa Torrano. 
São Paulo: Iluminuras, 1995. p.91.)
 Segundo a mitologia ioruba, no início dos tempos havia dois 
mundos: Orum, espaço sagrado dos orixás, e Aiyê, que seria dos 
homens, feito apenas de caos e água. Por ordem de Olorum, o 
deus supremo, o orixá Oduduá veio à Terra trazendo uma cabaça 
com ingredientes especiais, entre eles a terra escura que jogaria 
sobre o oceano para garantir morada e sustento aos homens.
(A Criação do Mundo. SuperInteressante. jul. 2008. 
Disponível em: Acesso em: 1 abr. 2014.)
No começo do tempo, tudo era caos, e este caos tinha a forma 
de um ovo de galinha. Dentro do ovo estavam Yin e Yang, as duas 
forças opostas que compõem o universo. Yin e Yang são escuridão 
e luz, feminino e masculino, frio e calor, seco e molhado.
(PHILIP, N. O Livro Ilustrado dos Mitos: contos e lendas do mundo. Ilustrado por 
Nilesh Mistry. Trad. de Felipe Lindoso. São Paulo: Marco Zero, 1996. p. 22.)
Com base nos textos e nos conhecimentos sobre a passa-
gem do mito para o logos na filosofia, considere as afirmati-
vas a seguir.
 I. As diversas narrativas míticas da origem do mundo, dos 
seres e das coisas são genealogias que concebem o nas-
cimento ordenado dos seres; são discursos que buscam o 
princípio que causa e ordena tudo que existe.
5P_PIT_EM_1S_C1_FILO_CA_CAP2.indd 38 08/09/20 08:04
Teste seu conhecimento
39
 II. Os mitos representam um relato de algo fabuloso que a� r-
mam ter ocorrido em um passado remoto e impreciso, em 
geral grandes feitos apresentados como fundamento e 
começo da história de dada comunidade.
 III. Para Platão, a narrativa mitológica foi considerada, em cer-
ta medida, um modo de expressar determinadas verdades 
que fogem ao raciocínio, sendo, com frequência, algo mais 
do que uma opinião provável ao exprimir o vir a ser.
 IV. Quando tomado como um relato alegórico, o mito é re-
duzido a um conto � ctício desprovido de qualquer cor-
respondência com algum tipo de acontecimento, em que 
inexiste relação entre o real e o narrado.
Assinale a alternativa correta.
a) Somente as a� rmativas I e II são corretas.
b) Somente as a� rmativas I e IV são corretas.
c) Somente as a� rmativas III e IV são corretas.
d) Somente as a� rmativas I, II e III são corretas.
e) Somente as a� rmativas II, III e IV são corretas.
5. (UEM-PR)
 Os antigos, ou melhor, os antiquíssimos, (teólogos), trans-
mitiram por tradição a nós outros, seus descendentes, na forma 
do mito, que os astros são Deuses e que o divino abrange toda a 
natureza… Costuma-se dizer que os Deuses têm forma humana, 
ou se transformam em semelhantes a outros seres viventes … Po-
rém, pondo-se de lado tudo o mais, e conservando-se o essencial, 
isto é, se se acreditou que as substâncias primeiras eram Deuses, 
poderia pensar-se que isto foi dito por inspiração divina …”
(Aristóteles, Metafísica, XII, 8, 1074b, apud Mondolfo, O pensamento antigo, I, 
São Paulo: Mestre Jou, 1964, p.13).
Com base nesse excerto e no conhecimento sobre a questão 
da origem da filosofia, assinale o que for correto.
01) Antes de fazerem filosofia, os gregos já indagavam sobre 
a origem e a formação do universo; e as respostas a esse 
problema eram oferecidas sob a forma de mito, isto é, 
por meio de uma narrativa alegórica que descreve a 
origem ou a condição de alguma coisa, reportando a um 
passado imemorial.
02) Na Teogonia, Hesíodo descreve a gênese do mundo 
coincidindo com o nascimento dos deuses; as forças e os 
domínios cósmicos não surgem como pura natureza, mas 
sim como divindades: Gaia é a Terra, Urano é o Céu, Cro-
nos é o Tempo, aparecendo ora por segregação, ora pela 
intervenção de Eros, princípio que aproxima os opostos.
04) Os primeiros filósofos gregos buscaram descobrir o 
princípio (arché) originário de todas as coisas, o elemento 
ou a substância constitutiva do universo; elaborando 
uma cosmologia, não se contentavam com doutrinas 
divinamente inspiradas, mas tentavam compreender 
racionalmente o cosmo.
08) Os gregos foram pouco originais no exercício do pensa-
mento crítico racional; apropriaram-se das conquistas 
científicas e do patrimônio cultural de civilizações orien-
tais com mínimas alterações.
16) É tese hoje bastante aceita que o nascimento da filosofia 
na Grécia não foi um “milagre” realizado por um povo 
privilegiado, mas a culminação de um processo lento, 
tributário de um passado mítico, e influenciado por trans-
formações políticas, econômicas e sociais.
6. (Unesp-SP)
Aedo e adivinho têm em comum um mesmo dom de “vidên-
cia”, privilégio que tiveram de pagar pelo preço dos seus olhos. 
Cegos para a luz, eles veem o invisível. O deus que os inspira 
mostra-lhes, em uma espécie de revelação, as realidades que esca-
pam ao olhar humano. Sua visão particular age sobre as partes do 
tempo inacessíveis às criaturas mortais: o que aconteceu outrora, 
o que ainda não é.
 (Jean-Pierre Vernant. Mito e pensamento entre os gregos, 1990. Adaptado.)
O texto refere-se à cultura grega antiga e menciona, entre 
outros aspectos,
a) o papel exercido pelos poetas, responsáveis pela transmis-
são oral das tradições, dos mitos e da memória.
b) a prática da feitiçaria, estimulada especialmente nos perío-
dos de seca ou de infertilidade da terra.
c) o caráter monoteísta da sociedade, que impedia a difusão 
dos cultos aos deuses da tradição clássica.
d) a forma como a história era escrita e lida entre os povos da 
península balcânica.
e) o esforço de diferenciar as cidades-estados e reforçar o 
isolamento e a autonomia em que viviam.
7. (Uece)
Como se sabe, a palavra mythos raramente foi empregada por 
Heródoto (apenas duas vezes). Caracterizar um logos (narrativa) 
como mythos era paraele um meio claro de rejeitá-lo como duvi-
doso e inconvincente. […] Situado em algum lugar além do que é 
visível, um mythos não pode ser provado.
HARTOG, F. Os antigos, o passado e o presente. Brasília, Editora da UnB, 2003, p. 37.
Sobre a diferença entre mythos e logos acima sugerida, é 
INCORRETO afirmar que
a) o problema do mythos era limitar-se ao que é visível e, por 
isso, não podia ser pensado. 
b) a � loso� a e a história nasceram, na Grécia clássica, com 
base numa mesma reivindicação do logos contra o mythos. 
c) o mythos não poderia ser submetido à clari� cação argu-
mentativa e à prova – demonstração – discursiva. 
d) em contraposição ao mythos, o logos era um uso argu-
mentativo da linguagem, capaz de criar as condições do 
convencimento.
5P_PIT_EM_1S_C1_FILO_CA_CAP2.indd 39 08/09/20 08:04
4040
Referências
BUZZI, Arcângelo R. Introdução ao pensar: o ser, o conhecimento e a linguagem. Petrópolis: Vozes, 2006. 
ELIADE, Mircea. O sagrado e o profano. Trad. Rogério Fernandes. Lisboa: Edição Livros do Brasil, 1975.
FERRY, Luc. A sabedoria dos mitos gregos: aprender a viver II. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012. Disponível 
em: www.academia.edu/36568226/A_Sabedoria_dos_Mitos_Gregos_-_Ferry_Luc. Acesso em: 
mar. 2020.
HEIDEGGER, M. A origem da obra de arte. Trad. Idalina Azevedo da Silva e Manuel Antônio. São Paulo: 
Edições 70, 2010.
JAEGER, W. Paidéia: a formação do homem grego. Trad. Artur M. Parreira. São Paulo: Martins Fontes, 1986.
PLATÃO. Teeteto. Trad. Carlos Alberto Nunes. Belém: EDUFPA, 2007.
REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofi a. São Paulo: Paulus, 2006. (Coleção História 
da Filosofi a).
SAVATER, Fernando. As perguntas da vida. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
VERNANT, Jean-Pierre. Mito e religião na Grécia Antiga. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2006.
WILDE, Oscar. Poema em prosa. Trad. Possidónio Cachapa. Lisboa: Cavalo de Ferro, 2002.
Referências
PIT_EM_1S_C1_FILO_CA_CAP2.indd 40 9/10/20 4:38 PM
Anotações
41
PIT_EM_1S_C1_FILO_CA_CAP2.indd 41 9/10/20 4:38 PM
Anotações
4242
PIT_EM_1S_C1_FILO_CA_CAP2.indd 42 9/10/20 4:38 PM
Anotações
43
PIT_EM_1S_C1_FILO_CA_CAP2.indd 43 9/10/20 4:38 PM
Anotações
4444
PIT_EM_1S_C1_FILO_CA_CAP2.indd 44 9/10/20 4:38 PM
	FIL_U02

Mais conteúdos dessa disciplina