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1 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS CAMPUS DE MARINGÁ DISCIPLINA: CONTABILIDADE E ANÁLISE DE CUSTOS Métodos de Custeio: Absorção x Variável Professor Nilson Facci nfacci2@uem.br Maringá – PR 2023 Referencias utilizadas: BRAGA, Roberto. Análise avançada do capital de giro. Caderno de Estudos FIPECAFI. São Paulo, v. 3, n. 1 : 1-34, set.1991 BRUNI, Adriano Leal, FAMÁ, Rubens. Gestão de Custos e Formação de Preços. São Paulo: Atlas, 2004. GITMAN, Lawrence J. Princípios de administração financeira. 10ª ed. São Paulo: Pearson, 2004. MARTINS, Eliseu. Contabilidade de Custos. São Paulo: Atlas, 2010. MEGLIORINI, Evandir. Custos. São Paulo: Makron Books, 2012 PEREZ, José Hernandez e outros. Gestão Estratégica de Custos. São Paulo: Atlas, 2003. ROCHA, Welington e MARTINS, Eliseu. Métodos de Custeio Comparados: Custos E Margens Analisados sob Diferentes Perspectivas. 2 ed. São Paulo: Atlas, 2015. 2 MÉTODOS DE CUSTEIO Existem diversos métodos de custeio, cada um com uma metodologia própria, com suas vantagens e desvantagens de aplicação. Vamos estudar basicamente o Método de Custeio por Absorção e o Método de Custeio Variável. Por método de custeio, podemos entender como sendo a definição dos critérios a serem utilizados na apuração de custos de um determinado produto. Dependendo do método de custeio adotado, os elementos de custos terão diferentes destinações, portanto teremos diferentes custos para um mesmo produto. Custeio por Absorção O custeio por absorção é o método derivado da aplicação dos princípios de contabilidade geralmente aceitos. Consiste na apropriação de todos os custos de um determinado período aos bens elaborados. Assim, todos os gastos relativos aos esforços de fabricação são distribuídos para todos os produtos feitos. Por enquanto, o esquema básico é: a) separação entre Custos e Despesas; b) apropriação dos Custos Diretos diretamente aos produtos ou serviços; c) rateio dos Custos Indiretos. Figura 1: Esquema básico do custeio por absorção Fonte: Contabilidade de Custos, Eliseu Martins, p. 38 No método de custeio por absorção são apropriados todos os custos de produção, quer fixos, quer variáveis, quer diretos ou indiretos, e tão somente os custos de produção, aos produtos elaborados. 3 Segundo os críticos deste método, não há, normalmente, grande utilidade para fins gerenciais no uso de um valor em que existam custos fixos apropriados. Três grandes problemas concorrem para isso: Primeiro: Por sua própria natureza, os custos fixos existem independentemente da produção ou não desta ou daquela unidade, e acabam presentes no mesmo montante, mesmo que oscilações (dentro de certos limites) ocorram no volume de produção. Tendem os custos fixos a ser muito mais um encargo para que a empresa possa ter condições de produção do que sacrifício para a produção específica desta ou daquela unidade. Os custos fixos são necessários muito mais para que a indústria possa operar, ter instalada sua capacidade de produção, do que para produzir uma unidade a mais de determinado produto. Exemplo: Uma indústria do setor de confecções tem capacidade para produzir mensalmente 30.000 unidades. Esta capacidade produtiva foi calculada em função da capacidade de produção de suas máquinas, pois o processo de fabricação foi quase que totalmente mecanizado. O contador apurou os seguintes custos fixos: aluguel, salário do gerente da fábrica, depreciação das máquinas (calculada de acordo com a legislação fiscal), etc. Estes os custos fixos não irão se alterar em função das variações na quantidade produzida, desde que a mesma permaneça dentro da capacidade produtiva da empresa. Estes custos são também denominados de Custos Estruturais, pois são relativos aos investimentos necessários para proporcionar a capacidade produtiva da empresa. Segundo: Por não dizerem respeito a este ou àquele produto ou a esta ou àquela unidade, os custos fixos e indiretos são quase sempre distribuídos à base de critérios de rateio, que contêm, em maior ou menor grau, arbitrariedade. A maior parte das apropriações é feita em função de fatores que, na verdade, não vinculam efetivamente cada custo a cada produto, porque essa vinculação é muito mais forçada do que costumamos acreditar. O fato de se apropriar de uma forma pode alocar mais custo em um produto do que em outro, e, se alterarmos o critério de rateio, talvez façamos o inverso. Portando, dependendo do procedimento de distribuição de custos fixos, pode-se fazer de um produto lucrativo um não lucrativo (aparentemente), ou transformar um superavitário em deficitário. 4 Exemplo: Vamos supor que uma empresa produza três produtos (SOFA, CAMA E POLTRONA) e que tenha as seguintes características: Custos Fixos de Produção: $3.500.000,00 Demais informações por produto: Custo Variável por unidade produzida $ Quantidades produzidas e vendidas Preço de Venda por Unidade $ SOFA 1.000,00 2.500 1.800,00 CAMA 800,00 2.000 2.000,00 POLTRONA 500,00 2.600 1.500,00 A direção da empresa pretende melhorar seu lucro. Para tanto, ela decidiu aumentar as vendas do produto que possui a melhor lucratividade. Por isso o diretor da empresa solicitou ao contador (você) para auxiliá- lo nesta tarefa. Para isto, o setor de produção passou as seguintes informações: Quantidade de horas de MOD para cada unidade produzida Valor da MOD para cada unidade produzida SOFA 2,0 $ 100,00 CAMA 2,5 $ 300,00 POLTRONA 1,5 $ 250,00 A partir destes dados, pede-se: a) Calcule qual o produto que tem a melhor lucratividade, utilizando o Custeio por Absorção, rateando os Custos Fixos de acordo com a Quantidade de horas de MOD. b) Calcule qual o produto que tem a melhor lucratividade, utilizando o Custeio por Absorção, rateando os Custos Fixos de acordo com o Valor da MOD. Obs.: A lucratividade por produto, de acordo com o método de Custeio por Absorção é calculada da seguinte forma: Lucro Bruto por unidade = Preço de Venda por unidade – Custo Unitário – Despesa Variável por unidade Sendo o Custo Unitário obtido da seguinte forma: Custo Unitário = CVu + CFu a) Rateando os Custos Fixos de acordo com a Quantidade de horas de MOD QTD QTD MOD POR UNID SOFA 2.500 X 2,0 5.000 CAMA 2.000 X 2,5 5.000 POLTRONA 2.600 X 1,5 3.900 QUANTIDADE DE MOD TOTAL 13.900 CF 3.500.000,00 / 13.900 = $251,80 CF POR HORA 5 Cálculo do Custo Fixo por Unidade. CF POR HORA QTD MOD CF POR UNIDADE SOFA $251,80 X 2,0 $503,60 CAMA $251,80 X 2,5 $629,50 POLTRONA $251,80 X 1,5 $377,70 Cálculo do Custo Unitário de cada produto CVu + CF u = Custo Unitário SOFA $1.000,00 + $503,60 = $1.503,60 CAMA $800,00 + $629,50 = $1.429,50 POLTRONA $500,00 + $377,70 = $ 877,70 Lucro Bruto por Unidade PVu - Custo Unitário - Despesa Variável = Lucro Bruto SOFA $1.800,00 - $1.503,60 - 0 = $296,40 CAMA $2.000,00 - $1.429,50 - 0 = $570,50 POLTRONA $1.500,00 - $877,70 - 0 = $622,30 Produto com maior lucratividade é a Poltrona e com a menor lucratividade é o Sofá. b) Rateando os Custos Fixos de acordo com o Valor das horas de MOD Cálculo do valor total da MOD (critério de rateio do CF) QTD VLR MOD POR UNID SOFA 2.500 X $100,00 $250.000,00 CAMA 2.000 X $300,00 $600.000,00 POLTRONA 2.600 X $250,00 $650.000,00 VALOR DA MOD TOTAL $1.500.000,00 CF 3.500.000,00 / 1.500.000,00 = $2,33 CF POR UM REAL DE MOD Cálculo do Custo Fixo por Unidade. CF POR CADA UM REAL DE MOD VLR MOD CF POR UNIDADE SOFA $2,33 X $100,00 $233,33 CAMA $2,33 X $300,00 $700,00 POLTRONA $2,33 X $250,00 $583,33 Calculo do Custo Unitário de cada produto CVu + CF u = Custo Unitário SOFA $1.000,00 + $233,33 = $1.233,33 CAMA $800,00 + $700,00 = $1.500,00 POLTRONA $500,00 + $583,33 = $1.083,33 Lucro Bruto por Unidade PVu - Custo Unitário - Despesa Variável = LucroBruto SOFA $1.800,00 - $1.233,33 - 0 = $566,67 CAMA $2.000,00 - $1.500,00 - 0 = $500,00 POLTRONA $1.500,00 - $1.083,33 - 0 = $416,67 Produto com maior lucratividade é a Sofá e com a menor lucratividade é a Poltrona 6 Terceiro: O valor do custo fixo por unidade depende ainda do volume de produção: aumentando-se o volume, tem-se um menor custo fixo por unidade, e vice-versa. Se o administrador for tomar qualquer decisão com base em custo, é necessário associar-se sempre ao custo global o volume que se tomou como base. Se a empresa estiver reduzindo um item por ser pouco lucrativo, pior ainda ficará sua posição, devido à diminuição do volume; ou, se um produto estiver com baixo lucro, o aumento de preço com base em seu alto custo poderá provocar uma diminuição de sua procura, e, conseqüentemente, reduzir seu volume, e assim aumentar ainda mais o custo de produção, num círculo vicioso. Pior do que tudo isso, o custo de um produto pode variar em função da alteração de volume de outro produto, e não da sua própria; ao se aumentar a quantidade dos outros bens elaborados, o montante a ser transferido para um determinado produto será diminuído, já que os custos fixos globais serão agora transferidos mais para aquele item, cuja quantidade cresceu. O custo de um produto pode, então, variar em função não de seu volume, mas da quantidade dos outros bens fabricados. Exemplo: Uma empresa teve em um determinado período um valor de Custos Fixos de $10.000,00. Neste período a empresa fabricou 100 unidades do produto X e 200 unidades do produto Y. Estes produtos tiveram os seguintes Custos Variáveis: PRODUTO Material Direto por Unidade Mão de Obra Direta por Unidade X $ 5,00 $6,00 Y $ 3,00 $4,00 Como a empresa utiliza o método de Custeio por Absorção e tem como critério de rateio dos custos fixos a quantidade produzida no período, têm-se os seguintes custos unitários: Rateio dos Custos Fixos. $10.000,00 / (100+200) = $33,33 (CFu). Calculo do Custo Unitário: Produto MDu + MODu + CFu = Ct. Unit. X $ 5,00 + $ 6,00 + $ 33,33 = $ 44,33 Y $ 3,00 + $ 4,00 + $ 33,33 = $ 40,33 A mesma empresa pretende projetar o valor do custo unitário de seus produtos caso aumente a produção do produto X para 300 unidades. Veja o cálculo da projeção dos custos unitários: Rateio dos Custos Fixos. $10.000,00 / (300+200) = $20,00 (CFu). Cálculo do Custo Unitário de cada produto Produto MDu + MODu + CFu = Ct. Unit. X $5,00 + $6,00 + $20,00 = $31,00 Y $3,00 + $4,00 + $20,00 = $27,00 A variação do custo unitário do produto Y foi em função da variação da quantidade fabricado do produto X. 7 Por tudo isso, chegou- se ao ponto de indagar: se todas essas desvantagens e riscos existem em função da apropriação dos Custos Fixos aos produtos e se são eles muito mais derivados da necessidade de se colocar em condições de operar uma produção, muito pouco estando de fato vinculados a este ou àquele produto ou unidade, e, além disso, se são na maioria, senão na totalidade, repetitivos a cada período, por que não se deixar de apropriá-los aos produtos, tratando-os como se fossem despesas (encargos de período)? Devido aos problemas vistos com relação à dificuldade trazida pela apropriação dos custos fixos aos produtos, nasceu uma forma alternativa para custeamento. Método de Custeio Variável Com base no Custeio Variável, só são alocados aos produtos os custos variáveis (matéria-prima, mão-de- obra direta, custos indiretos variáveis), ficando os fixos separados e considerados como despesas do período, indo diretamente para a apuração do resultado do período. Para os estoques só vão, como conseqüência, custos variáveis. Desta forma percebe-se que o custeio variável não é o mais adequado para a formação do valor do estoque, pois ele despreza os custos fixos e estes podem representar uma grande parcela do custo de produção. Figura 2: Apropriação dos custos sob Custeio Variável Fonte: ROCHA e MARTINS, 2015, p.65. É importante salientar que no modelo proposto por Rocha e Martins (2015), na figura 2, a Demonstração de Resultados difere do modelo sugerido pelo CPC, pois a despesa variável é considerada juntamente com o custo variável com o objetivo de obter a Margem de Contribuição total da empresa, que será um tema discutido posteriormente. O custeio variável é recomendado para o gerenciamento, quando se trata de planejamento de curto prazo, podendo trazer bons resultados na elaboração do orçamento de produção e de vendas, fixações de preços, decidir se deve produzir ou comprar o produto pronto, planejar o lucro para cobrir os demais custos e despesas e ainda a margem de lucro esperada. O modelo de custeio variável trata a empresa como se fosse uma máquina. Para essa máquina funcionar no período considerado, é necessário “pagar” os custos fixos, independentemente do que for produzido. 8 Os defensores do Custeio Variável também afirmam que as decisões das empresas estão relacionadas a quanto fabricar de cada produto, de modo a tirar o máximo proveito da situação. É por isso que, os únicos custos relevantes são os custos variáveis, pois os custos fixos independem das variações do volume produzido. É possível citar como vantagem do custeio variável a sua agilidade no trabalho de obter o custo de cada produto ou serviço, visto que ele não requer alocações dos custos fixos. Poderá ser desvantagem quando a empresa tiver que ajustar o valor de seus estoques para que seja possível refletir o valor total dos custos que foram efetivamente contabilizados, portanto os relatórios internos serão divergentes dos relatórios externos devido a posição do fisco em não aceitar esse critério para avaliar os estoques. Após analisar os dois métodos de custeio será possível verificar que ambos possuem vantagens e limitações. Desta forma o método a ser escolhido pela empresa dependerá da utilidade prática e das decisões que os gestores dela pretendem tomar. Portanto, com relação ao tipo de custeio, é possível ressaltar que qualquer deles irá gerar informações de custos para tomada de decisões, porém, com menor ou maior grau de detalhamento e arbitrariedade. Por isso é importante que a empresa primeiramente, defina o que se pretende, para em seguida analisar a opção que é mais adequada para ela no momento. Quadro comparativo Absorção x Variável CUSTEIO POR ABSORÇÃO CUSTEIO VARIÁVEL Todos os custos de fabricação são considerados como custo dos produtos Apenas os custos variáveis são considerados como custo dos produtos Os resultados apresentados sofrem influência direta do volume de produção. Os resultados apresentados sofrem influência direta do volume de vendas. É necessário utilizar métodos de rateio, muitas vezes arbitrários, para atribuir os custos fixos aos produtos. Não se utiliza métodos de rateio. Os custos fixos são considerados como despesas do período e não como custo do produto. É possível estabelecer o custo total unitário dos produtos Há um custo unitário parcial, pois considera somente os custos variáveis. Apresenta a Margem operacional – diferença entre as receitas e os custos diretos e indiretos do segmento estudado. Apresenta a Contribuição Marginal – diferença entre as receitas e os custos diretos e variáveis do segmento estudado. Importante para decisões de longo prazo Importante para decisões de curto prazo. Destina-se a auxiliar a gerência no processo de determinação da rentabilidade e de avaliação patrimonial. Destina-se a auxiliar, sobretudo, a gerência no processo de planejamento e de tomada de decisões.