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CAMPUS VENDA NOVA DO IMIGRANTE CURSO DE LICENCIATURA EM LETRAS - PORTUGUÊS ERLIMAR CRISTO DA SILVA A ABORDAGEM DA VARIAÇÃO LINGUÍSTICA NOS LIVROS DIDÁTICOS DE LÍNGUA PORTUGUESA NO ENSINO FUNDAMENTAL II VENDA NOVA DO IMIGRANTE-ES 2021 ERLIMAR CRISTO DA SILVA A ABORDAGEM DA VARIAÇÃO LINGUÍSTICA NOS LIVROS DIDÁTICOS DE LÍNGUA PORTUGUESA NO ENSINO FUNDAMENTAL II Monografia apresentada à Coordenadoria do Curso de Licenciatura em Letras com habilitação em Português do Instituto Federal do Espírito Santo, Campus Venda Nova do Imigrante, como requisito parcial para a obtenção do título de Licenciado em Letras com habilitação em Português. Orientadora: Prof.ª. Drª Mayelli Caldas de Castro VENDA NOVA DO IMIGRANTE-ES 2021 3 Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP) (Biblioteca do Instituto Federal do Espírito Santo – Campus Venda Nova do Imigrante) S586a Silva, Erlimar Cristo da. A abordagem da variação linguística nos livros didáticos de língua portuguesa no Ensino Fundamental II / Erlimar Cristo da Silva. – 2021. 75 f. : il. ; 30 cm. Orientadora: Mayelli Caldas de Castro. Monografia (Graduação) – Instituto Federal do Espírito Santo, Curso de Licenciatura em Letras Português, Venda Nova do Imigrante, 2021. 1. Língua portuguesa – Estudo e ensino. 2. Variação linguística. 2. Livros didáticos – Ensino fundamental II. 3. Análise. I. Castro, Mayelli Caldas de. II. Instituto Federal do Espírito Santo. III. Título. CDD 23 – 469 Elaborada por Adriana Souza Machado – CRB-6/ES – 572 3 ANEXO IV FORMULÁRIO DE AVALIAÇÃO DE TCC II Aluno(a): Erlimar Cristo Da Silva Professor(a) Orientador(a): Mayelli Caldas De Castro Título do Projeto de Pesquisa: A Abordagem Da Variação Linguística Nos Livros Didáticos De Língua Portuguesa No Ensino Fundamental II TRABALHO ESCRITO ITE M PARÂMETROS PONTUAÇÃO (0 – 70) 1 Relevância do tema para área de estudo 70,0 2 Clareza e objetividade 60,0 3 Coerência 70,0 4 Desenvolvimento 50,0 5 Originalidade 50,0 6 Conteúdo científico 60,0 7 Atendimento às normas da ABNT 60,0 MÉDIA (Somar as notas e dividir o resultado por 7). 60,00 APRESENTAÇÃO ORAL ITEM PARÂMETROS PONTUAÇÃO (0 – 30) 1 Qualidade do texto 30,0 2 Postura acadêmica do estudante 30,0 3 Domínio do assunto e sequência da apresentação 30,0 4 Uso de recursos audiovisuais 30,0 5 Postura na apresentação 30,0 6 Expressão oral (volume, velocidade, clareza e pausa) 30,0 7 Uso de termos técnicos 30,0 8 Conclusão 30,0 9 Obediência ao tempo previsto na apresentação 30,0 10 Habilidade e conhecimento para responder as perguntas 30,0 MÉDIA (Somar as notas e dividir o resultado por 10). 30,0 NOTA FINAL: 90,00 Somar as médias do texto escrito e da apresentação oral. Venda Nova do Imigrante, 12 de agosto de 2021 Assinatura do(a) Avaliador(a) ANEXO V 3 FORMULÁRIO DE PARECER DA APRESENTAÇÃO FINAL DO TCC II O(A) discente Erlimar Cristo Da Silva Apresentou a versão final do TCC com o título A Abordagem Da Variação Linguística Nos Livros Didáticos De Língua Portuguesa No Ensino Fundamental II ao Curso de Licenciatura em Letras-Português do Instituto Federal de Educação do Espírito Santo – Campus Venda Nova do Imigrante, como requisito para aprovação no componente curricular Trabalho de Conclusão de Curso. O trabalho obteve nota 90,0, com o seguinte parecer: ( X ) Aprovação, sem reservas, do Trabalho de Conclusão de Curso. ( ) Aprovação somente após satisfazer as exigências pré-determinadas, no prazo fixado pelo Regulamento (não superior ao término do período letivo). ( ) Reprovação o Trabalho de Conclusão de Curso. Assinatura do(a) Orientador (a) ............................................................................................................ Assinatura do Avaliador (a) I* ............................................................................................................ Assinatura do Avaliador (a) II* * Preencher somente se houver banca examinadora. Venda Nova do Imigrante, 12 de agosto de 2021. 3 AGRADECIMENTOS A Deus, por sua infinita bondade, amor e por me acompanhar nesta jornada tão importante em minha vida, aliás, sem ele, este sonho de cursar a faculdade não seria possível, já que devo a ele minha vida. Agradeço imensamente a Deus por todo seu amor e força dirigido a mim nesta etapa. Aos meus pais, em especial minha mãe Delzeni que me acompanha até os dias de hoje e me encoraja a ser mais forte. Ao meu pai Francisco (In memoriam), que mesmo não estando presente fisicamente, sempre me encorajou a ir além e sempre me dizia: “você ainda vai longe”. À minha orientadora, Prof.ª Drª Mayelli Caldas de Castro, por sua atenção, disponibilidade, encorajamento e compaixão, e por confiar neste discente que ainda tem muito o que aprender nesta jornada no mundo da Educação, sem sua ajuda nada disso seria possível. Aos meus professores do Instituto Federal do Espirito Santo – IFES, Campus Venda Nova do Imigrante, pois sem eles o nosso conhecimento não seria possível, pois cada um deles possibilitou que fosse possível o planejamento, a execução e, principalmente, a realização deste sonho de concluir este curso. Ao Instituto Federal do Espirito Santo-IFES, Campus Venda Nova do Imigrante, por oportunizar e proporcionar uma estrutura física, e por possibilitarem o acesso à educação superior através de muito esforço e uma luta incansável para que a educação continue sendo acessível a todos. À vida, pois com tantas dificuldades, anseios, dúvidas e questionamentos, me ensinou que é possível lutar e vencer. Aliás, são grandes lutas que forjam grandes vencedores e possibilitam grandes vitórias. [...] a educação jamais é uma dádiva, uma doação de uma pessoa que sabe àqueles que não sabem, mas algo que se apresenta como um desafio para educador e educando, um desafio que é a própria realidade composta de situações-problema, de inquietações, de angústias e de aspirações do grupo. Isto constitui a matéria-prima do processo educacional (OLIVEIRA, 1989, p. 31). RESUMO Com o passar dos anos, o ensino em sala de aula e a educação passaram por diversas mudanças, dentre elas a implementação do Livro Didático como uma ferramenta de apoio ao professor em sala de aula. Mediante esta realidade, tornou-se de suma importância a criação de programas e formas de análise destes materiais que serão disponibilizados aos alunos. Esta pesquisa possui como principal objetivo analisar como o tema da Variação Linguística é abordado nos Livros Didáticos selecionados para esta análise, e se a real concepção deste tema é abordada dentro destes materiais pelos autores. Esta pesquisa tem como principal base teórica os estudos de Bagno (2004), Faraco (2002), Geraldi (1997), Bortoni-Ricardo (2004), Travaglia (1997), Antunes (2009) e Cunha (2009), através da análise qualitativa/interpretativa. Esta pesquisa possui sua base como uma pesquisa documental e a leitura destes materiais, e análise das atividades dispensadas, verificou-se como os autores das obras estudadas abordam o tema. Como resultado final, após as análises dos materiais propostos por esta pesquisa, tornou-se possível chegar à conclusão de que os materiais analisados, embora apresentem um conteúdo significativo sobre o tema proposto, ainda necessitam de uma visão mais clara sobre a VariaçãoLinguística e principalmente sobre como tratar esse assunto com os educandos através dos Livros Didáticos. Desta forma, com base nos teóricos que reportam esta pesquisa, o objetivo foi de proporcionar ao leitor deste trabalho, ou professores em formação, formas de verificar como a Variação Linguística é abordada nos Livros Didáticos de Língua Portuguesa pelos autores, enfatizando a necessidade de realizar uma análise prévia destes materiais antes de disponibilizá-los aos educandos. Palavras-chave: Livro Didático; Variação Linguística; Ensino; Língua Portuguesa; ABSTRACT Over the years, Education and the teaching system have had several changes, including the implementation of the Textbook as a support tool for the teachers in the classroom. Due to this factor, it became extremely important to create programs and forms of analysis of these materials in order to make them available to the students. This research has as main objective to analyze how the theme of Linguistic Variation is approached within the Textbooks selected for this analysis, and if the real conception of this subject is approached within these materials by the authors. This research has as its main theoretical basis the studies of Bagno (2004), Faraco (2002), Geraldi (1997), Bortoni-Ricardo (2004), Travaglia (1997), Antunes (2009) and Cunha (2009). Through qualitative/interpretative analysis. This research has its basis as a documentary research the reading of these materials and analysis of the activities provided, it was verified how the authors approach the subject. As a final result, after the analysis of the materials proposed by this research, it became possible to reach the conclusion that the analyzed materials, although they present a significant content on the proposed theme, still need a clearer view on Linguistic Variation and especially on how to deal with this issue with students through Textbooks. Thus, after carrying out the analysis of these materials, some notes were made about the results found, based on the theorists cited on this research, in order to provide the reader of this work, or teachers in training, with ways to verify how the Linguistic Variation was addressed in Portuguese Language Textbooks by the authors, besides to emphasizing the need to carry out a prior analysis of these materials before making them available to students. Keywords: Textbook; Linguistic Variation; Teaching; Portuguese language; LISTA DE QUADROS LISTA DE FIGURAS Figura 1:Sumário da obra “Projeto Teláris” 48 Figura 2:Atividade e imagem sobre o texto “O bisavô e a dentadura” 49 Figura 3:Atividade e imagem sobre o texto “O bisavô e a dentadura” 49 Figura 4:Nota de apoio direcionada ao professor 50 Figura 5:Atividade do livro Projeto Teláris – Língua Portuguesa 51 Figura 6:Atividade do livro Projeto Teláris – Língua Portuguesa 52 Figura 7: Texto de apoio 53 Figura 8: Quadro reflexivo 54 Figura 9: Sumário da obra Português – Linguagens 55 Figura 10: Sumário da obra Português – Linguagens 56 Figura 11: Atividade do livro Português – Linguagens 56 Figura 12: Atividade do livro Português – Linguagens 57 Figura 13: Texto de apoio do livro Português – Linguagens 58 Figura 14: Texto de apoio do livro Português – Linguagens 59 Figura 15: Tirinha do livro Português – Linguagens 59 Figura 16: Atividade do livro Português – Linguagens 60 Figura 17: Texto de apoio do livro Português – Linguagens 61 Figura 18: Tirinha Chico Bento do livro Português – Linguagens 61 Figura 19: Texto de apoio do livro Português – Linguagens 62 Figura 20: Texto de apoio do livro Português – Linguagens 62 Figura 21: Texto de apoio do livro Português – Linguagens 63 Figura 22:Atividade com o gênero textual E-mail do livro Português – Linguagens 64 Figura 23: Sumário (Parte 1) da obra Português - Coleção para Viver Juntos 65 Figura 24: Sumário (Parte 2) da obra Português - Coleção para Viver Juntos 66 Quadro 01: Livros Didáticos analisados 42 Quadro 02: Imagens das capas das obras analisadas nesta pesquisa 43 Quadro 03: Critérios de análise com base no estudo de Carvalho (2012) 44 Quadro 04: Comparação entre as obras analisadas 71 Figura 25: Sumário (Parte 3) da obra Português - Coleção para Viver Juntos 66 Figura 26: Texto de apoio do Livro Português-Coleção para Viver Juntos 67 Figura 27: Texto de apoio do Livro Português-Coleção para Viver Juntos 67 Figura 28: Texto de apoio para atividade do Livro Português-Coleção para Viver Juntos 68 Figura 29: Atividade do livro Português-Coleção para Viver Juntos 69 Figura 30: Texto de apoio atividade do livro Português-Coleção para Viver Juntos 70 Figura 31:Proposta de atividade do Livro Português-Coleção para Viver Juntos 70 Figura 32: Proposta de atividade do Livro Português-Coleção para Viver Juntos 71 Figura 33: Atividade do Livro Português-Coleção para Viver Juntos 72 SUMÁRIO AGRADECIMENTOS 6 RESUMO 8 ABSTRACT 9 LISTA DE QUADROS 10 SUMÁRIO 12 1. INTRODUÇÃO 13 2. REFERENCIAL TEÓRICO 18 2.1 A VARIAÇÃO LINGUÍSTICA E A NORMA PADRÃO 18 2.2. SOBRE O PRECONCEITO LINGUÍSTICO 24 2.3. A VARIAÇÃO LINGUÍSTICA NO CONTEXTO ESCOLAR 29 2.3.1. O ENSINO NA CONTEMPORANEIDADE E O LIVRO DIDÁTICO 32 3. A VARIAÇÃO LINGUÍSTICA EM LIVROS DIDÁTICOS DE LÍNGUA PORTUGUESA 35 4. METODOLOGIA 43 4.1 CRITÉRIOS PARA SELEÇÃO DO CORPUS 43 4.2 TÍTULOS ANALISADOS 44 4.3 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DE PESQUISA 45 5. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 47 5.1. LIVRO DIÁTICO- PROJETO TELÁRIS 47 5.2 LIVRO DIDÁTICO- PORTUGUÊS LINGUAGENS 55 5.3 LIVRO DIDÁTICO-PORTUGUÊS-COLEÇÃO PARA VIVER JUNTOS 65 5.4 CONSIDERAÇÕES SOBRE AS OBRAS ANALISADAS 73 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS 74 7. REFERÊNCIAS 75 13 1 INTRODUÇÃO Com o passar dos anos, e com o surgimento de novos estudos sobre o funcionamento e o ensino/aprendizagem da Língua Portuguesa, surgem novas inquietações em relação aos materiais didáticos utilizados pelos professores. Hoje, com o aumento da demanda por materiais que auxiliem o professor em sala de aula, utilizam-se frequentemente os livros didáticos. Eles são utilizados como um material de apoio para o professor no processo de ensino, com suporte e sugestões de atividades propostas nos mais diversos contextos, porém é relevante que o conteúdo, organização e forma de abordagem desses conteúdos nesses materiais sejam avaliados, no sentido de verificar a adequação das propostas com os contextos de aprendizagem de cada situação de ensino. No que tange à questão da abordagem da variação linguística pelos livros didáticos, essa avaliação é pertinente, pois, em muitos casos, este material pode privilegiar somente a língua formal e não abordar outras variações existentes na Língua Portuguesa. Desde a colonização do Brasil, pelos Portugueses, tivemos inserido na sociedade o senso do “bom português”, do correto e do aceitável em relação ao uso da nossa língua materna. Mas, com o passar dos anos, a sociedade e diversos grupos sociais foram criando a sua fala, a sua comunicação e a sua identificação social pela fala e, assim, surge na Língua Portuguesa o que conhecemos por variação linguística, adaptações que aconteceram, e acontecem, mediante o contexto sociocultural, histórico e geográfico. Segundo Faraco (2011 p.102) “[...] essa norma, no entanto, profundamente dissociada das variedades cultas efetivamente praticadas no Brasil, nunca se tornou de fato funcional. No entanto, tem servido, por mais de um século, de instrumento de violência simbólica e exclusão sociocultural”. Esta fala exemplifica o que chamamos de preconceito linguístico, pois além de distanciar educandos uns dos outros, ele se torna um instrumento de exclusão sociocultural. Considerando esse contexto, éimportante enfatizar o que afirma Bagno (1999) sobre a ênfase e o privilégio que se vê nos livros didáticos dados à língua formal: [...] Esse círculo vicioso se forma pela união de três elementos [...] a gramática tradicional, os métodos tradicionais de ensino e os livros didáticos. Como é que funciona esse círculo? Assim: a gramática tradicional inspira a prática de ensino, que por sua vez provoca o surgimento da indústria do livro didático, cujos autores – fechando o círculo – recorrem à gramática tradicional como fonte de concepções e teorias sobre a língua (BAGNO, 1999, p. 93-94). 14 É perceptível que, devido à imensa composição social, histórica e humana da nossa sociedade brasileira, a Língua Portuguesa sofreu modificações, variações e adaptações pelos seus falantes, não somente em solo brasileiro, mas em outros países do mundo que falam este mesmo idioma. Tais adaptações e modificações foram sendo impressas na sociedade, que assimilou novas formas de fala, e que ao longo dos anos passaram a ser marcas tão reconhecidas que concederam reconhecimento aos povos de determinadas regiões. Assim, torna-se importante citar Marcuschi (2008, p. 14): [...] entendemos como domínio discursivo uma esfera da vida social ou institucional (religiosa, jurídica, pedagógica, política, industrial, militar, familiar, lúdica, etc.) na qual se dão práticas que organizam formas de comunicação e respectivas estratégias de compreensão. Tantas adaptações e modificações na Língua Portuguesa, com o tempo, acabaram tornando-se “inimigas” da norma-culta e passaram a não serem vistas com “bons olhos” pelos falantes da língua. Segundo Faraco (2002, p.38), “[...] os grupos sociais se distinguem pelas formas de língua que lhes são de uso comum. Esse uso comum caracteriza o que se chama de norma linguística.” O uso comum, em muitos casos, é feito por determinado grupo social, pois os mesmos não conhecem ou não tiveram acesso à outra visão da língua, neste caso a norma padrão. Já no âmbito escolar, estes grupos podem sofrer preconceito linguístico ou serem deixados de lado, pois muitos alunos e professores podem desconhecer o tema e considerar aquela forma de fala “incorreta”. Segundo Soares (2001, 211-212), “[...] assim, ensinar português era levar ao conhecimento (ou reconhecimento) dos alunos as regras gramaticais, de funcionamento dessa variedade linguística de prestígio”. Este fragmento exemplifica o que já ocorre dentro das escolas há muito tempo, um ensino privilegiado e voltado apenas para uma variedade linguística de prestígio, e este tipo de mentalidade ainda ocorre em algumas escolas nos dias atuais. Por causa disso, tornam-se ainda mais necessárias pesquisas voltadas à variação linguística, sobre seu ensino e a sua abordagem nos livros didáticos. Perante a infinidade de variações conhecidas, e que ainda estão sendo descobertas pelos pesquisadores da Língua Portuguesa, tornou-se necessário o estudo e a compreensão de como é realizado o ensino e a abordagem das variações dentro de sala de aula e nos livros didáticos. Visto que a sala de aula é formada pela diversidade, o ensino não deve ser pautado apenas em uma norma linguística, mas em todas as possibilidades e abordagens compreendidas pelos alunos e professores. Segundo Faraco (2002): 15 Como a respectiva norma é fator de identificação do grupo, podemos afirmar que o senso de pertencimento inclui o uso da forma de falar característica das práticas e expectativas linguísticas do grupo. Nesse sentido, a norma, qualquer que seja, não pode ser entendida apenas como um conjunto de formas linguísticas; ela é também (e principalmente) um agregado de valores socioculturais articulados com aquelas formas (FARACO, 2002, p. 39). Há valor sobre a variação linguística e sobre a identificação de grupos sociais por sua fala característica, e este valor social precisa ser compreendido pelos alunos, porém estas questões precisam ser abordadas em sala de aula e nos materiais de apoio ao professor, visto que a norma-padrão deve ser ensinada, compreendida e assimilada pelos alunos, e a variação também deve ser abordada de maneira concernente ao uso da norma-padrão. Na perspectiva dessas reflexões, tão pertinentes ao uso real da língua portuguesa, e considerando o contexto escolar de ensino dessa mesma língua e a ênfase que se dá ao livro didático no processo de ensino, esta pesquisa investigou e analisou como é feita a abordagem da variação linguística em livros didáticos de língua portuguesa para os 6º anos do Ensino Fundamental II. Para que esta análise fosse realizada, este estudo foi direcionado por questionamentos pontuais, a saber: 1. Como é trabalhada a variação linguística nos livros didáticos de Língua Portuguesa do 6º ano do Ensino Fundamental II? 2. O tema da variação linguística é amplamente abordado nos livros didáticos utilizados pelas turmas analisadas? 3. Os exercícios e os manuais do livro didático propõem a abordagem das diferentes visões da Língua Portuguesa, sem incitar o preconceito linguístico? 4. As atividades sobre variação linguística propostas pelo livro didático têm qualidade? 5. Os livros abordam ou mencionam o preconceito linguístico? Se sim, como? 6. Qual a concepção de variação linguística abordada pelos livros didáticos analisados? Quais as referências utilizadas para essa abordagem? Desse modo, este estudo tem motivação nos questionamentos levantados acima e, para que estas perguntas encontrassem respostas, esta pesquisa realizou uma análise de materiais didáticos, utilizados pelos professores do 6º ano do ensino fundamental II, em uma escola pública, que atua com o Ensino Fundamental II. A escolha destas obras foi baseada pela avaliação da credencial e confiabilidade dos autores destes materiais, que embora haja outros 16 autores qualificados, a maioria das obras é de autoria de Willian Cereja e Thereza Cochar. Buscando compreender como é abordada a variação linguística pelos livros didáticos de Língua Portuguesa, seria interessante o contato direto com alunos e professores dentro da sala de aula para compreender e analisar o tema. Porém, tendo em vista o momento em que vivemos em relação à pandemia da Covid-19, isso não foi possível. Sendo assim, a análise deste material será pautada na compreensão e visão do tema a partir da análise das atividades dos livros didáticos. Esta pesquisa possui um caráter qualitativo/interpretativo, baseando-se na análise documental dos materiais propostos para análise. A presente pesquisa investigou e analisou como é abordada, nos livros didáticos de Língua Portuguesa da 6º série do Ensino Fundamental II, o tema da Variação Linguística. Por meio desta análise, e partindo do embasamento teórico abordado aqui neste trabalho, tem-se por objetivo confrontar estas informações para verificar se o que é trabalhado nestes materiais condiz com a realidade do tema. Com o intuito de tentar encontrar respostas para todas as perguntas norteadoras deste estudo, e para melhor compreender como a variação linguística está inserida e é trabalhada nas aulas de Língua Portuguesa do 6º ano do ensino fundamental II, a partir da análise dos livros didáticos utilizados, propõem-se aqui os seguintes objetivos específicos: • Verificar como é trabalhada a variação linguística em livros didáticos de Língua Portuguesa, do 6º ano do Ensino Fundamental II; • Constatar se o tema da variação linguística é amplamente abordado pelos livros didáticos nas turmas analisadas; • Identificar se os exercícios e os manuais do livro didático propõem abordagens das diferentes visões da Língua Portuguesa, sem incitar o preconceito linguístico; • Verificar e avaliar se há qualidade das atividades sobre variação linguística propostas pelo livro didático; • Verificar e descrever se o livro didático aborda oumenciona o preconceito linguístico; • Relatar a concepção de variação linguística abordada pelo livro didático, bem como relacionar as referências utilizadas para a concepção mencionada no material estudado. 17 Além disso, essa pesquisa analisou a forma como o tema da variação linguística é proposto e trabalhado nos exercícios, textos de apoio e conteúdos abordados nestes materiais. A compreensão sobre variação linguística é extremamente necessária para os alunos, pois precisamos compreender e assimilar que a língua é viva, heterogênea e acessível a todos os povos. Diante do imenso número de livros didáticos que surgem no mercado editorial, com foco nas escolas, torna-se cada vez mais necessário a análise minuciosa dos temas e atividades propostos pelos autores nestes materiais. Para a realização desta pesquisa, este estudo baseou-se, principalmente, em Bagno (2004), Faraco (2002), Geraldi (1997), Bortoni-Ricardo (2004), Travaglia (1997) e Antunes (2009). Certamente, a verificação do tratamento dispensado a este tema possibilita que professores, alunos e futuros docentes possam refletir sobre o conhecimento e usos da variação no cotidiano escolar. Trabalhar este tema na escola possibilita ao aluno identificar a norma culta e conhecer as variedades da Língua Portuguesa, transitando entre elas, visto que a língua sofre variações e adaptações, principalmente ortográficas. O conhecimento deste tema pelo aluno permite uma visão mais ampla, que inclui a norma-padrão, mas, ao mesmo tempo, coloca-o diante de novas visões que vão além do que é considerado e julgado como correto. Segundo Biderman (1899), a língua é responsável por transmitir a herança cultural de um povo. Sabemos que o livro didático, embora nos dias atuais já aborde muitos conteúdos e temas mais modernos, e tenha passado por muitas mudanças, ainda precisa de análises e verificações em relação à forma como esses conteúdos e temas estão sendo abordados, pois este material é algo que irá acompanhar e direcionar a vida escolar dos alunos por cerca de 3 anos. Por isso, e tendo em vista que a variação linguística é algo presente no ambiente escolar, um estudo que vise este tipo de análise torna-se relevante e útil. Assim, este estudo se justifica por poder contribuir com uma proposta de reflexão e debate acadêmico sobre o tratamento e abordagem da variação linguística nos livros didáticos, utilizados nas turmas do 6º ano do Ensino Fundamental II. Este estudo pode contribuir com aspectos ainda não apontados por estudos anteriores e/ou enfatizar pontos já apontados por outros estudos, fortalecendo, assim, o debate acerca de um tema tão necessário e importante no ensino de Língua Portuguesa. O estudo aqui apresentado está dividido em 6 capítulos, sendo: introdução; referencial teórico; um capítulo sobre a variação linguística em livros didáticos de Língua Portuguesa; metodologia; análise e discussão de resultados; considerações finais e referências. 18 2 - REFERENCIAL TEÓRICO Embora já pesquisado por diversos teóricos, ainda se torna necessário compreender como é dado o tratamento da variação linguística nos livros didáticos de LP do Ensino Fundamental II. A variação linguística é extremamente presente na nossa língua e principalmente dentro do ambiente de sala de aula. Assim, esta monografia visa possibilitar e propor uma análise sobre este tema, mediante concepções e visões já abordadas por teóricos e estudiosos acerca dessa temática. Desse modo, esse capítulo foi dividido em três subcapítulos para organizar estudos que abordaram sobre: 2.1) variação linguística e norma padrão; 2.2) preconceito linguístico e 2.3) a variação linguística no contexto escolar. 2.1 - A VARIAÇÃO LINGUÍSTICA E A NORMA PADRÃO Ao falar o indivíduo não está somente equalizando sons através das suas cordas vocais, e balbuciando palavras, há toda uma composição deste ato, entre o tom de voz, o ritmo da fala, o uso de marcadores na sua pronúncia, entre outros componentes. Ocorrem diversos fatores que tornam a sua fala pertencente ao seu grupo social, sendo assim, o que conhecimentos como Variação Linguística, que não pode ser definida como um falar “errado”. Segundo Antunes (2003) “A gramática reflete as diversidades geográficas, sociais e de registro de língua”. Desta forma, podemos perceber como a língua possui um papel de possibilitar além da comunicação e inserção social, a identificação geográfica a qual o indivíduo pertence. Sendo assim, a língua vai muito além de ser um mero conhecimento, ela é forma de conceder um lugar de fala aos diversos grupos que formam a nossa sociedade. A tradição gramatical da Língua Portuguesa sempre foi voltada para uma visão normativa sobre a língua materna, e principalmente sobre qualquer forma de falar que estivesse além do que era considerado correto e ideal dentro da sociedade. Segundo Castilho (2000), a língua é uma atividade social, ou seja, ela é desenvolvida plenamente mediante o contato com a sua comunidade de fala e com a sociedade. Sempre houve, e ainda há, uma visão fechada sobre qualquer forma de comunicação fora da gramática normativa, em que muitos fatores que conduzem o aluno a este uso não são levados em conta, ou muito menos analisados e compreendidos por parte dos professores. Perante todos os fatores internos e externos à língua materna, e com a evolução dos meios de comunicação, e mediante a adaptação da Língua Portuguesa perante a sociedade, o 19 aluno vive em meio a dois mundos, onde o que ele já possui internalizado sobre a língua, na sua comunidade de fala, entra em choque ao chegar à escola e deparar-se com a gramática- normativa. Segundo Labov (1972): A comunidade de fala não se define por nenhum acordo marcado quanto ao uso dos elementos da língua, mas sobretudo pela participação num conjunto de normas compartilhadas; tais normas podem ser observadas em tipos de comportamento avaliativo explícitos e pela uniformidade de padrões abstratos de variação que são invariantes em relação a níveis particulares de uso (LABOV, 1972, p.120-121). Sendo assim, o educando pode sentir dificuldades ao deparar-se com um mundo totalmente diferente em relação a sua realidade, pois em uma comunidade de fala os participantes apresentam diferentes concepções em relação à língua e à gramática e formam assim novos dialetos. Diante deste fator, torna-se cada vez mais necessário que professores compreendam os estigmas e prestígios relacionados à Língua Portuguesa e, principalmente, o que pode ser feito e proposto em sala de aula, para que preconceitos e estigmas sobre o falar sejam quebrados. A interação social, como forma de comunicação, torna-se extremamente necessária, pois é através dela que formamos indivíduos e estes constituem suas subjetividades e impressões sociais. Quando falamos em Variação Linguística dentro do contexto escolar, fazemos menção a todos os avanços que a Sociolinguística proporcionou em relação às pesquisas sobre este tema no contexto escolar. A Sociolinguística, segundo Mollica (2010), é uma das subáreas da Linguística e ela realiza pesquisas com o objetivo de compreender como se dá a variação e seu uso nas diversas comunidades de fala. Como indivíduos sociais, nós somos múltiplos, e desta forma também acontece o processo da Variação Linguística onde, por fatores sociais, históricos e culturais, os falantes fazem o uso de palavras, expressões, e tonalidades vocais diferentes de região para região do Brasil. Dentro dos pontos de pesquisas propostos pela Sociolinguística está a investigação da variação com os aspectos linguísticos e sociais, ou seja, busca-se compreender qual é a formação deste processo de fala. No ambiente escolar há um contato direto do aluno com toda norma padrão, e principalmente com diversos tipos de variações presente dentro deste ambiente,pois a sociedade a qual vivemos é formada por diversos grupos sociais que possuem suas marcas na fala, suas particularidades e vivências. Sendo assim, conforme aponta Cagliari (1996), cabe a escola respeitar esses dialetos e principalmente levar ao aluno a pensar sobre a importância dessas variedades linguísticas e como elas funcionam. Assim: 20 Chegamos agora a um ponto importante. A escola deve respeitar os dialetos entendê-los e até mesmo ensinar como essas variedades da língua funcionam, comparando-as entre si; entre eles devem estar incluídos o próprio dialeto de prestígio, em condições de igualdade linguísticas. A escola também deve mostrar aos alunos que a sociedade atribui valores sociais diferentes aos diferentes modos de falar a língua e que esses valores, embora se baseiem em preconceitos e falsas interpretações do certo e do errado linguísticos, têm consequências econômicas, políticas e sociais muito sérias para as pessoas (CAGLIARI, 1996, p.83). Devido à constituição social e histórica do Brasil, não podemos acreditar ou supor que todos falem da mesma forma, e façam uso da normatividade. Segundo Bagno (2004, p.15): Esse mito é muito prejudicial à educação porque, ao não reconhecer a verdadeira diversidade do português falado no Brasil, a escola tenta impor sua norma linguística como se ele fosse, de fato, a língua comum a todos os 160 milhões de brasileiros, independentemente de sua idade, de sua origem geográfica, de sua situação socioeconômica, de seu grau de escolarização, etc. Ao encontrar a escola impondo sua norma linguística, em sua perspectiva prescritiva, estamos diante de um impasse, onde a Variação Linguística se encontra com a norma padrão, tornando-se assim um caminho, em muitos casos, trilhado pelos professores sem o menor conhecimento do tema e isso impossibilita que os alunos identifiquem, analisem e compreendam o funcionamento da Língua Portuguesa. Torna-se necessário que o aluno, além de compreender a Língua Portuguesa, desenvolva seu senso crítico e analítico perante os fatores que moldam a forma da língua materna. Possibilitar este caminho, e essa visão, torna- se possível mediante o real conhecimento sobre o que é a norma padrão e a variação linguística por parte dos professores. A escola e principalmente os professores devem estar atentos ao conteúdo que é trabalhado em sala de aula e, principalmente, como este conteúdo é proposto aos alunos, tomando por base que a escola possui um papel de oportunizar e proporcionar uma visão sobre a língua e, sendo assim, esta visão pode conceder uma visão errônea sobre a língua. Segundo Geraldi (1997): Se o objetivo das aulas de língua portuguesa é oportunizar o domínio do dialeto padrão, devemos acrescentar outra questão: a dicotomia entre ensino da língua/ensino da metalinguagem. A opção de um ensino da língua considerando as relações humanas que ela perpassa (concebendo a linguagem como lugar de um processo de interação), a partir da perspectiva de que na escola se poder oportunizar o domínio de mais de outra forma de expressão, exige que reconsideremos ‘o que’ vamos ensinar, já que tal opção representa parte da resposta do ‘para que’ ensinamos (GERALDI, 1997, p. 45). O papel da escola é reconhecer a importância dos dialetos e das variações linguísticas 21 que formam a sociedade em que vivemos, sendo assim, torna-se de suma importância que este reconhecimento seja feito com base em fatos verídicos sobre a língua, para que assim não haja atos de discriminação contra as variantes e seus falantes. Há diversos fatores sociais, formativos e históricos que proporcionam tais atos, segundo Mattos e Silva (2006): Os professores de português, por necessidades exigidas por nossa sociedade discriminatória, têm de explicitar a seus estudantes que certos usos variáveis são censurados em certas situações socioculturais. [...] (o professor) se tiver uma boa formação linguística, especificamente sociolinguística, deverá demonstrar, por exercícios, o valor social das variantes de um elemento variável no português do Brasil (MATTOS E SILVA, 2006, p. 282). Segundo Faraco (2002, p.40), quando se trata de norma padrão, temos como significado aquela que está carregada de preconceitos em relação às demais variedades. Seu objetivo principal é a padronização da língua, ou seja, todas as formas de falar fora deste padrão são consideradas como erradas. Sendo assim, o falante estaria preso à norma padrão na sua fala, na sua escrita e na sua oralidade. Percebe-se que, para este tipo de norma, o ensino teria um caráter mais padronizado, ou seja, sem sair do que é considerado ideal e padronizado para os alunos. Torna-se viável analisar como é realizado o ensino em sala de aula, visto que, embora haja uma predominância do ensino voltado à norma padrão, sem considerar as variedades linguísticas existentes, tomando por base que se o ensino é padronizado, qualquer variedade não seria percebida em sala de aula ou muito menos analisada. Segundo Geraldi (1997, p.45): Se o objetivo das aulas de língua portuguesa é oportunizar o domínio do dialeto padrão, devemos acrescentar outra questão: a dicotomia entre ensino da língua/ensino da metalinguagem. A opção de um ensino da língua considerando as relações humanas que ela perpassa (concebendo a linguagem como lugar de um processo de interação), a partir da perspectiva de que na escola se poder oportunizar o domínio de mais de outra forma de expressão, exige que reconsideremos ‘o que’ vamos ensinar, já que tal opção representa parte da resposta do ‘para que’ ensinamos (GERALDI, 1997, p. 45). A linguagem é concebida mediante a interação social e as suas práticas, sendo assim, a norma padrão em contraste com as variedades linguísticas precisa ser definida e compreendida dentro do ambiente escolar. Perante todo o histórico de ensino da Língua Portuguesa, pautado na exploração da gramática normativa, e sempre com o intuito de prescrever regras e normas tanto para o uso oral quanto escrito da língua, sempre visando à padronização e um ensino preso aos manuais de gramática, é de suma importância que outras vertentes possam adentrar a sala de aula, sem a visão voltada apenas para a norma, para a 22 regra e o padrão prescritivo. Vale ressaltar que, o ensino em sala de aula, deve ser voltado para todas as vertentes de modo que o aluno possa compreender a importância da gramática para seus conhecimentos sobre a língua, mas também compreenda como se dá a formação de outras variações linguísticas. Em relação à Variação Linguística, para Bagno (1999): É preciso garantir, sim, a todos os brasileiros o reconhecimento da variação linguística, porque o mero domínio da norma culta não é uma fórmula mágica que, de um momento para outro, vai resolver todos os problemas de um indivíduo carente (BAGNO, 1999 apud RODRIGUES, 2011, p. 70- 71). Em suma, a Variação Linguística, embora seja formada por diversos fatores que moldam o conhecimento linguístico do falante, sejam eles sociais, de prestigio ou históricos, essa vertente da Língua Portuguesa precisa ser compreendida e inserida com mais fervor dentro do ambiente escolar e da sala de aula, e não somente nestes ambientes, mas principalmente dentro do Livro Didático, onde este material figura como um dos principais meios de suporte ao professor e aos alunos. Segundo Bortoni-Ricardo (2004, p.36): Nas últimas décadas, os educadores brasileiros, com destaque especial para os linguistas, têm feito um trabalho importante, apontar que é pedagogicamente incorreto usar a incidência do erro do educando como uma oportunidade para humilhá-lo. Ao contrário, uma pedagogia que é culturalmente sensível aos saberes dos educandos está atenta às diferenças entre a cultura que eles representam e a da escola, e mostra ao professor comoencontrar formas efetivas de conscientizar os educandos sobre essas diferenças O ensino em sala de aula de forma efetiva é um fator de suma importância para a aprendizagem e principalmente para a internalização do conteúdo, e assim o desenvolvimento do pensamento crítico dos alunos sobre as variedades linguísticas e sobra a norma-padrão. Segundo Bortoni-Ricardo (2004, p.47): O professor deve incluir dois componentes: a identificação e conscientização [...] é preciso conscientizar o aluno quanto às diferenças para que ele possa começar a monitorar seu próprio estilo, mas esta conscientização tem de dar-se sem prejuízo do processo de ensino/aprendizagem, isto é, sem causar intervenções inoportunas [...]. A consciência sobre a norma padrão e as variedades linguísticas deve ser oportunizada pelo professor em sala de aula, embora a escola enfrente barreiras para um ensino voltado ao respeito às diversidades linguísticas, ainda há uma imposição da norma- culta por parte do ensino tradicionalista e voltado para a norma. Ainda conforme Bortoni- Ricardo (2005, p.15): 23 No caso do Brasil, o ensino da língua culta à grande parcela da população que tem como língua materna – do lar e da vizinhança – variedades populares da língua tem pelo menos duas consequências desastrosas: não são respeitados os antecedentes culturais e linguísticos do educando, o que contribui para desenvolver nele um sentimento de insegurança, nem lhe é ensinada de forma eficiente a língua-padrão. Em relação à variação, vale ressaltar que privilegiar um ensino, o considerado “correto”, em detrimento a outras formas de comunicação desconsidera o conhecimento que o aluno possui em relação à fala e às suas especificidades, em muitos casos advindas do meio em que ele está inserido e, principalmente, contribuiu para que haja a internalização de que “a Língua Portuguesa é muito difícil”. Segundo Bagno (1999): É preciso garantir, sim, a todos os brasileiros o reconhecimento da variação linguística, porque o mero domínio da norma culta não é uma fórmula mágica que, de um momento para outro, vai resolver todos os problemas de um indivíduo carente (BAGNO, 1999, p.37). Torna-se de suma importância mencionar o que é a Variação Linguística segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs, visto que este documento é uma das bases que norteiam o ensino. Segundo os PCNs: A variação é constitutiva das línguas humanas, ocorrendo em todos os níveis. Ela sempre existiu e sempre existirá independente de qualquer ação normativa. Assim, quando se fala em “Língua Portuguesa” está se falando de uma unidade que os constitui de muitas variedades. Embora no Brasil haja relativa unidade linguística e apenas uma língua nacional, notam-se diferenças de pronúncia, de emprego de palavras, de morfologia e de construções sintáticas, as quais não somente identificam os falantes de comunidades linguísticas em diferentes regiões, como ainda se multiplicam em uma mesma comunidade de fala (BRASIL, 1998, p. 29). Tomando por base a afirmação do documento, torna-se compreensível que é de suma importância que o educando se sinta inserido dentro do ambiente escolar e possa compreender que a sua forma de fala é legitima e não pode ser desrespeitada. A escola deve sempre ser um ambiente aberto à diversidade de ideias e principalmente às diversas formas de fala, conforme afirma Travaglia (1997). Cunha (2008) afirma que “a língua não se apresenta uniforme e única, ela apresenta variações. Sendo assim, o ambiente escolar torna-se cada vez mais plural e diversificado, pois é neste campo que a pluralidade social e linguística fica cada vez mais em evidência. Segundo Antunes (2009): 24 Em qualquer língua, de qualquer época, desde que em uso, ocorreram mudanças, em todos os estratos, em todos os níveis, o que significa dizer que, naturalmente, qualquer língua se manifesta num conjunto de diferentes falares que atendem às exigências dos diversos contextos de uso dessa língua (ANTUNES, 2007, p. 22). Cabe aos professores compreenderem como acontece a manifestação da variação dentro de sala de aula e nos livros didáticos, visto que em comunidades interioranas há a predominância de dialetos específicos, e que nem sempre estão presentes no livro didático ou são abordados pelos professores. Segundo Bagno (2002): [...] é interessante estimular nas aulas de língua materna um conhecimento cada vez maior e melhor das variedades sociolinguísticas para que o espaço de sala de aula deixe de ser o local para estudo exclusivo das variedades de maior prestígio social e se transforme num laboratório vivo de pesquisa do idioma em sua multiplicidade de formas e usos (BAGNO, 2002, p. 134) Evidencia-se a necessidade da abertura por parte do sistema de ensino, e principalmente de Livros Didáticos, no tratamento à Variação Linguística, pois ela é parte de nossa sociedade e possui o seu valor social e principalmente histórico na composição da nossa língua. Na língua nada é transparente, nada é compreendido apenas com o uso de afirmações como “certo” ou “errado”, o ensino da língua ocorre quando o educando está inserido e sente- se pertencente à sala de aula, ou seja, quando falamos de variação linguística, ou dialetos específicos de comunidades interioranas, torna-se extremamente necessário que o professor tenha um tratamento e estratégias de ensino voltadas para uma pedagogia que inclua o uso das variações do cotidiano, isto é, a língua para ser compreendida precisa das interações sociais e principalmente em sala de aula, sem prestigiar ou denegrir nenhuma forma de uso da língua. Tornar possível em sala de aula a reflexão sobre este tema, possibilita uma melhor compreensão e assimilação do conteúdo, compreendendo assim a importância da norma padrão e da variação linguística. 2.2 – SOBRE O PRECONCEITO LINGUÍSTICO Acima de tudo ressaltamos nesta pesquisa a importância do trabalho com a Variação Linguística em sala de aula, primordialmente nos Livros Didáticos, e a necessidade de mudança de ótica que muitos professores ainda possam possuir, em suma, de forma errônea sobre este tema. Estas concepções errôneas dão lugares a diversos atos de intolerância contra qualquer 25 forma de fala que seja divergente da norma-padrão. Assim, evidenciando que ainda precisamos de muitos debates e formações sobre o preconceito linguístico, Leite (2008) afirma que: [...] em relação à língua, pode-se falar tanto de preconceito quanto de intolerância [...] O preconceito é a discriminação silenciosa e sorrateira que o indivíduo pode ter em relação à linguagem do outro: é um não-gostar, um achar feio ou achar-errado um uso (ou uma língua), sem a discussão do contrário, daquilo que poderia configurar o que viesse a ser bonito ou correto. É uma não gostar sem ação clara sobre o fato rejeitado. A intolerância, ao contrário, é ruidosa, explícita, porque, necessariamente, se manifesta no discurso metalinguístico calcado em dicotomias, em contrários [...] (LEITE, 2008, p. 24). Embora, nos tempos atuais, este tema já tenha sido discutido e seja alvo de pesquisas, ainda se torna de suma importância a discussão sobre preconceito linguístico alinhado com a escola e à importância que ela possui no desenvolvimento do aluno em sala de aula. Segundo Houaiss e Villar (2001), o preconceito linguístico pode ser definido conforme abaixo: [...] (preconceito linguístico é) qualquer crença sem fundamento científico (grifo meu) acerca das línguas e de seus usuários, como, p.ex., a crença de que existem línguas desenvolvidas e línguas primitivas, ou de que só a língua das classes cultas possui gramática, ou de que os povos indígenas da África e da América não possuem línguas, apenas dialetos (HOUAISS e VILLAR: 2001, verbete). A norma-padrãoa qual conhecemos possui sua importância e a sua função. Mas, de certo modo, devemos estar atentos à forma e às restrições que acabamos impondo sob a língua, e assim gerando uma exclusão dos demais grupos sociais que não fazem uso da norma-padrão. Segundo Orlandi (2002, p.8), o preconceito linguístico é compreendido como um processo de discursividade que se encontra em manutenção pelas instancias de poder. Desta forma, vemos que há um valor de prestígio social concedido à norma-padrão, enquanto para os falantes que usam de algumas variantes regionais ou culturais são considerados à margem da Linguagem culta e padrão. Segundo Bagno (2007): A língua é lugar e meio de conflito, porque a sociedade em que vivem os seus falantes também é conflituosa. Embora o linguista diga que NÓS VAI e NÓS VAMOS são variantes, isto é, “duas formas diferentes de dizer a mesma coisa”, o uso de cada uma delas comunica coisas que não são “as mesmas” para quem ouve a construção gramatical A e a construção gramatical B – comunica a origem social de quem fala A ou B, seu status socioeconômico, seu prestigio ou desprestigio na hierarquia da comunidade, sua inserção maior ou menor na cultura letrada, sempre mais valorizada que a cultura oral... Por isso, o discurso do linguista não pode dispensar o discurso do sociólogo, do antropólogo, do filósofo, do psicólogo, do pedagogo para dar conta do que realmente acontece quando a gente abre a boca para falar ou quando se põe a escrever... (BAGNO, 2007, p. 83). 26 Nos tempos atuais, quando falamos de preconceito religioso, racial e social, em questões financeiras, reconhecemos estas ações de forma ágil e rapidamente conseguimos emitir uma posição perante o que estamos vendo. Embora seja um tema mais pertinente ao campo educacional, este deve se tornar um tema que possa ser de conhecimento de todos para que tais atos de preconceito linguístico não sejam tão constantes em nossa sociedade. Segundo Abraçado (2008): As teorias linguísticas podem contribuir no combate ao preconceito linguístico pelo fato de que elas têm condição de propiciar um conhecimento dinâmico e aberto dos fenômenos que envolvem a linguagem humana. Todavia, elas por si só não têm poder para combater o preconceito linguístico se não evidenciarem que, da forma em que a sociedade está organizada, as discussões que envolvem a linguagem são essencialmente políticas (ABRAÇADO, 2008, p.19). O combate a qualquer tipo de preconceito deve ser realizado com base na informação, na educação e principalmente na formação da sociedade. Nos tempos atuais, há uma tendência, em alguns programas televisivos com tema humorístico em satirizar grupos sociais pelo seu modo de fala e principalmente ridicularizar estes grupos que fazem o uso das expressões regionais que são pertencentes à região a qual eles moram. Não somente em programas televisivos, mas na sociedade ainda ocorrem atos de preconceito linguístico. Segundo Bortoni-Ricardo (2004, p. 49), cabe ao professor no âmbito escolar proporcionar ao aluno a visão adequada sobre a língua e sobre fatores que geram atos de preconceito linguístico: O professor deve incluir dois componentes: a identificação e conscientização [...] é preciso conscientizar o aluno quanto às diferenças para que ele possa começar a monitorar seu próprio estilo, mas esta conscientização tem de dar-se sem prejuízo do processo de ensino/aprendizagem, isto é, sem causar intervenções inoportunas [...] (BORTONI-RICARDO 2004, p. 49). O diálogo em sala de aula é a principal forma de levar conhecimento aos educandos e principalmente internalizar o verdadeiro propósito da Língua Portuguesa, conforme afirma Gomes (2011) “Os seres humanos usam a língua para se comunicar, viver em sociedade e com ela se relacionar”. Para Bagno (2002, p. 13): “Parece haver cada vez mais, nos dias de hoje, uma forte tendência a lutar contra as mais variadas formas de preconceito, a mostrar que elas não têm nenhum fundamento racional, nenhuma justificativa, e que são apenas o resultado da ignorância, da intolerância ou da manipulação ideológica. Infelizmente, porém, essa tendência não tem atingido um tipo de preconceito muito comum na sociedade brasileira: o preconceito linguístico. Muito pelo contrário, o que vemos é esse preconceito ser alimentado diariamente em programas de televisão e de rádio, em 27 colunas de jornal e revista, em livros e manuais que pretendem ensinar o que é ‘certo’ e o que é ‘errado’, sem falar, é claro, nos instrumentos tradicionais de ensino da língua: a gramática normativa e os livros didáticos. O preconceito linguístico fica bastante claro numa série de afirmações que já fazem parte da imagem (negativa) que o brasileiro tem de si mesmo e da língua falada por aqui. Outras afirmações são até bem-intencionadas, mas mesmo assim compõem uma espécie de ‘preconceito positivo’, que também se afasta da realidade.” Primordialmente, torna-se de suma importância que o falante da língua reconheça que a sua cultura, valores sociais e históricos, que possibilitaram a sua formação e concederam a sua identidade, não podem ser menosprezados e muito menos desqualificados por uma mera questão de uma linguagem diferente daquilo que considerados como uma fala correta ou errada. O que ressalto nesta pesquisa, e nesta seção, é que o tema preconceito linguístico deve estar em debate constantemente visto que, dentro da escola, este ato ocorre entre os alunos e tal fato gera na consciência do mesmo um pensamento de que, se não faço uso na norma-padrão, não sou tão capaz de aprender a Língua Portuguesa. Travaglia (2009, p. 14) afirma que “existem um grande número de variedades linguísticas, mas ao mesmo tempo ele reconhece esta variação como um fato”. Devido a esta questão, este fato se torna um motivo para que muitos considerem a variação como uma questão valorativa, ou seja, como algo que conceda um determinado valor a um grupo. Tomando por base esta questão, isso propicia que a sociedade veja qualquer regionalismo e variações com um olhar de “certo” ou “errado”, sendo assim, isso cria mais uma vez a concepção do preconceito ligado à fala. A Língua gera no cidadão uma consciência gramatical, um sentimento de pertencimento, sendo assim, à medida que cometemos qualquer ato de preconceito contra o modo de falar de uma pessoa, estamos destruindo internamente todos os valores sociais, culturais e humanos que existem dentro daquele lugar de fala, daquele modo de fala. Diante destes fatos, cria-se na mente dos alunos diversos mitos em relação à língua, entre eles que o “português é difícil”, e com estes mitos construímos barreiras internalizadas nos alunos que os impede de ver e compreender que a Língua Portuguesa não é algo pertencente somente à elite ou que falar corretamente é um instrumento de ascensão social. Torna-se extremamente necessário que a sociedade entenda que, nos tempos atuais, a construção de uma sociedade igualitária e justa, principalmente dentro do meio educacional, é responsabilidade de todos nós, e isso só pode se tornar possível se cada um de nós conhecermos e valorizamos todos os fatores que nos tornam pertencentes à sociedade, entre eles, o censo de que a Língua Portuguesa não é uniforme, conforme afirma Bagno (2002). Diante de todos os mitos que giram em torno da Língua Portuguesa, inclusive sobre os 28 diversos modos de fala, conforme aborda Bagno (2002) em sua obra: Preconceito Linguístico: o que é, como se faz, estes mitos precisam ser desmistificados, pois são estes fatores que geram um ensino-aprendizagem ineficiente e geram atos de intolerância linguística dentro da escola e em diversos grupos sociais. Cabe aos pesquisadores e educadores, em formação e em atuação, criarem meios para que em suas aulas temas como este sejam disseminados dentro da escola e sejamtrabalhados efetivamente dentro do ambiente escolar e principalmente dentro dos livros didáticos. Diante de todas as teorias linguísticas, difundidas em meados de 1980, é de suma importância que os autores dos Livros Didáticos privilegiem a seleção e o trabalho com gêneros textuais diversificados, conforme aborda Bagno (2000) e Castilho (1998), pois este fato contribui para que o aluno possa analisar e compreender o texto, e assim o ensino pode ser pautado em uma pluralidade de variações linguísticas, e assim o educando passa a construir o seu próprio conhecimento linguístico. Vale ressaltar que, conforme abordado anteriormente, é de suma importância que o Livro Didático trabalhe com uma maior pluralidade de gêneros textuais, cabe ao professor propor esta questão também, mas os autores precisam conhecer o que a variação linguística representa, o que ela é, para que assim não façam uso de textos que concedam ao aluno o pensamento de que o seu modo de fala pode ser menosprezado, como é o caso de diversos materiais que utilizam tirinhas do Chico Bento, com seu falar característico do interior, e geram perante aos alunos dúvidas e em muitos casos chacotas com outros colegas que possuam um falar semelhante ao do personagem. Segundo Bortoni-Ricardo (2005), a variedade rural ou rurbana, realidade de muitas comunidades interioranas, gera sentimentos conforme apontados anteriormente, sentimentos de estigma e desprestígio da sua forma de falar, sendo assim, para estes alunos, quando entram em um ambiente escolar onde a língua de prestígio, valorizada pela escola, choca-se com a sua realidade, acontece neste momento um sentimento de inferioridade e não compreensão do seu falar dentro das suas práticas sociais. Em sua obra: Educação em Língua Materna: A sociolinguística na sala de aula, Bortoni-Ricardo aborda justamente essas questões mencionadas anteriormente, como possibilitar que a escola não seja uma reprodutora de estigmas e preconceitos contra a língua materna e as suas variações presente entre os alunos. Segundo Bortoni-Ricardo (2004, p.25): “O que estamos querendo dizer é que, em todos os domínios sociais, há regras que determinam as ações que ali são realizadas. Essas regras podem estar documentadas e registradas, como nos casos de um tribunal do júri ou de um culto religioso, ou 29 podem ser apenas parte da tradição cultural não documentada. Em um ou outro caso, porém, sempre haverá variação linguística nos domínios sociais. O grau dessa variação será maior em alguns domínios do que em outros. (...), mas em todos eles há variação, porque a variação é inerente à própria comunidade linguística”. Perante o exposto, torna-se importante que, para que haja uma quebra destas raízes internalizadas pelo preconceito linguístico, aconteça uma desconstrução de tudo que possuímos internalizados sobre as variedades linguísticas, pois a sua formação, a sua construção, vai muito além do que conhecemos e acreditamos dar origem a este modo de fala. São questões históricas, sociais e humanas que possibilitaram a formação destas variedades. Cabe a nós, cumprir aquilo que, conforme a Constituição Federal de 1988 promulgou que é a construção de uma sociedade justa e igualitária, sem preconceitos, sem injustiças. Para tal feito, precisamos compreender as diferenças que constituem a nossa sociedade e analisá-las do ponto de vista correto, que em relação à variação linguística e ao preconceito linguístico, somente é possível quando compreendemos que a Língua Portuguesa é plural, significativa, histórica e acima de tudo representa um povo, que venceu através da história e hoje possui a pluralidade e a representatividade e o seu lugar de fala, que conquistamos somente quando compreendemos o poder da comunicação, da Língua Portuguesa e das relações sociais construídas da maneira certa. 2.3 – A VARIAÇÃO LINGUÍSTICA NO CONTEXTO ESCOLAR Presente em todas as regiões Brasileiras e principalmente nas escolas, a Variação Linguística desperta o interesse e torna-se uma linha de pesquisa para diversos ramos dentro da educação. Para a Sociolinguística, houve grandes avanços com as pesquisas sobre os fenômenos da Língua Portuguesa, embora tais pesquisas não sejam refletidas nos trabalhos dos professores em sala de aula. Torna-se de suma importância compreender como este fenômeno impacta no ensino/aprendizagem. Busse (2015) afirma: [...] entende-se que uma investigação dos processos de formação de uma comunidade a partir da descrição dos fatores prementes nestes movimentos tem a linguagem como fio condutor e pode favorecer a constituição de um quadro de análise e descrição da língua e seus usos pelo grupo (BUSSE, 2015, p. 25). Tal afirmação sucinta a necessidade de investigação e compreensão dos processos de fala e que geram assim a Variação Linguística. Segundo Bagno (2000) e Castilho (1998), o ensino em sala de aula deve ser pautado no ensino de diversas Variedades Linguísticas, 30 tornando possível que o aluno possa construir seu próprio conhecimento linguístico. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais: A variação é constitutiva das línguas humanas, ocorrendo em todos os níveis. Ela sempre existiu e sempre existirá, independentemente de qualquer ação normativa. Assim quando se fala em “Língua Portuguesa” está se falando de uma unidade que se constitui de muitas variedades. [...] A imagem de uma língua única, mais próxima da modalidade escrita da linguagem, subjacente às prescrições normativas da gramática escolar, dos manuais e mesmo dos programas de difusão da mídia sobre “o que se deve e o que não se deve falar e escrever”, não se sustenta na análise empírica dos usos da língua (BRASIL, 2003, p.29). Perante toda a diversidade étnica, social e regional que encontramos no ambiente escolar, assim também é com a Variação. São realidades diferentes e contextos que formam e concedem voz a pluralidade de alunos que formam o ambiente escolar, pois segundo Labov (1976), torna-se necessário fortalecer a consciência da identidade linguística. Bakhtin (1997) concebe a linguagem como um fenômeno social, histórico e ideológico, ou seja, ela é muito mais do que palavras que compõem a oralidade e a escrita, ela representa a resistência e representatividade ao longo dos anos. Para Bronckart (1999), a devida utilização da língua acontece através da forma de enunciados, sejam orais ou escritos, que provem dos domínios que representam a atividade humana. Para isso, cabe aos professores e a escola, como instituição, compreender o processo que a variação representa dentro do ambiente escolar. Não é somente conscientizar os alunos sobre a norma-padrão, mas sim compreender quais fatores estão por trás de todo o processo da Variação Linguística no contexto escolar. Mollica (2009) afirma que as variações linguísticas são consideradas estigmas sociais, e em muitos casos o educador por não compreender este tema, não considera as variantes que os educandos dominam. Sujeitas muitas vezes a estigmas sociais, as variantes estruturais são sempre legítimas e motivadas, pois há fatores sistêmicos, estilístico-sociais, lexicais e psicolinguísticos que as controlam. [...] O educador precisa desses conhecimentos para aceitar as variedades que os alunos dominam e oferecer a variedade standard como opção, tanto na fala quanto na escrita (MOLLICA, 2009, p. 30). No contexto escolar, e em sociedade, precisamos compreender e possibilitar que este aluno, seja da realidade apontada anteriormente ou de outras comunidades de fala, que ele compreenda a importância da sua variedade dentro de suas práticas sociais, da sua cultura, mas que ele também compreenda o papel da norma-padrão. Cabe ao professor possibilitar aos alunos a compreensão do uso e da dominação de diversas variedades linguísticas. Segundo 31Bortoni-Ricardo (2004): Na sala de aula, como em qualquer outro domínio social, encontramos grande variação no uso da língua, mesmo na linguagem da professora que, por exercer um papel social de ascendência sobre seus alunos, está submetida a regras mais rigorosas no seu comportamento verbal e não verbal. O que estamos querendo dizer é que, em todos os domínios sociais, há regras que determinam as ações que ali são realizadas (BORTONI-RICARDO, 2004, p.25). Vale ressaltar, conforme afirma Busse (2013), a necessidade de o professor compreender e respeitar a Variação Linguística, no ambiente escolar, e principalmente no processo de alfabetização. O desafio do professor das séries iniciais do Ensino Fundamental está em reconhecer e valorizar a diversidade linguística presente na fala do aluno e, a partir dela, inseri-lo no mundo letrado. A aprendizagem da escrita e o convívio com as formas escolarizadas da língua não devem prescindir do trabalho com diversidade linguística, devem tomá-la, contudo, como ponto de partida, valorizando e reconhecendo sua face cultural, social e histórica. A variedade linguística dos alunos deve ser respeitada como legítima. Para tal, é preciso que se reconheçam as variedades linguísticas como resultado das interações entre falantes de diferentes línguas, como fases das mudanças linguísticas, e, principalmente, como aspecto que caracteriza os grupos, os situa social e geograficamente. O trabalho com a aquisição da língua escrita deve, portanto, partir da compreensão e do estudo dos fenômenos da fala e, a partir, de uma metodologia que se ampare no conhecimento da língua, nos níveis fonético-fonológico e morfossintático, busque levar o aluno ao domínio da escrita nas diferentes situações de uso (BUSSE, 2013, p. 197). A variação linguística é extremamente presente na nossa língua e, por isso, cabe aos professores compreenderem como acontece a manifestação da variação dentro de sala de aula e nos livros didáticos, visto que em comunidades interioranas há a predominância de dialetos específicos, e que nem sempre estão presentes no livro didático ou são abordados pelos professores. Visto que o ambiente escolar, e não somente ele, é composto por uma pluralidade linguística, o trabalho com a variação na escola possibilita a melhor compreensão do poder que a fala exerce sobre a nossa sociedade. Segundo Monte e Sales (2000): O tratamento da variação linguística envolve questões sociais, políticas e econômicas e requer dos educadores uma nova postura diante de uma concepção de língua, uma vez que o assunto diz respeito à luta por uma educação mais justa, capaz de favorecer a comunicação para transformar a sua realidade social, tornando-se mais letrados e menos excluídos (MONTE e SALES, 2000). Em nossa sociedade, principalmente no âmbito escolar, a Variação Linguística é uma realidade. Neste caso, torna-se necessário que o processo de ensino/aprendizagem seja maios 32 efetivo perante a este tema, e principalmente assertivo com os educandos, para que todos possam compreender a importância e a essência da fala dentro da Língua Portuguesa. 2.3.1 – O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA NA CONTEMPORANEIDADE E A RELEVÂNCIA DO LIVRO DIDÁTICO O PNLD – Programa Nacional do Livro Didático – que surgiu por volta de 1937, mas passou por diversos aperfeiçoamentos no decorrer dos anos, e tornou-se o PNLD que conhecemos hoje por volta de 1995, tem o objetivo de regular a distribuição de livros didáticos pelas escolas Brasileiras. Um dos seus principais objetivos, além da distribuição dos materiais, é levar aos estudantes materiais que sejam adequados ao seu nível de ensino, ou seja, que cumpram e tornem possível a aprendizagem dos conteúdos corretos para a etapa educacional correta. Diversas editoras, que produzem estes materiais, realizam sua inscrição para que suas obras possam ser analisadas, de forma minuciosa, pelo programa e, caso aprovadas, sejam selecionadas pelos professores e assim distribuídas para as escolas. Segundo Batista (2001): A partir de 1995, o MEC passou a desenvolver e executar um conjunto de medidas para avaliar sistemática e continuamente o livro didático brasileiro e para debater, com os diferentes setores envolvidos em sua produção e consumo, um horizonte de expectativas em relação a suas características, funções e qualidade (BATISTA, 2001, p.11). Embora haja diversos setores envolvidos em todo o processo de escolha das editoras, seleção do material, ainda não encontramos discussões que sejam permeadas com o professor e aluno no centro desta temática, pois, ainda que haja grandes profissionais envolvidos em todo o processo, quem vivencia toda a realidade da escola, já recebe em suas mãos, de certa forma, um material já pré-selecionado e isso pode impactar no papel e desempenho que este material pode ter em sala de aula. Segundo Possenti (2004, p. 21) “Para que um projeto de ensino de língua seja efetivo, torna-se necessário que haja uma concepção do que realmente é a língua”. Desta forma, vemos que além da necessidade de análise dos Livros Didáticos, torna-se de suma importância que haja a compreensão dos papeis que a língua representa e dos seus temas que são tão pertinentes e necessários como a Variação Linguística. Torna-se claro que, na contemporaneidade, a escolha destes materiais é baseada se ele irá solucionar a prática pedagógica do professor, e se o Livro Didático irá suprir todas as suas necessidades em sala de aula e principalmente sua demanda de conteúdo. Por isso, tornam-se ainda mais necessárias pesquisas que compreendam o tratamento dispensado a temas como a 33 Variação Linguística nos Livros Didáticos, visto que a escolha destes materiais deve acontecer para suprir demandas que atendam às necessidades das escolas brasileiras. Para acompanhar e dar suporte ao PNLD surgem, em 1998, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) para a Língua Portuguesa. O principal objetivo deste programa é possibilitar parâmetros para que a avaliação destes materiais, principalmente em relação aos conteúdos, seja padronizada e cumprida pelos avaliadores. Este programa surge com o intuito de atender a uma demanda crescente em relação ao que seria necessário estar presente dentro dos Livros Didáticos. Avaliando o que estaria presente ou não, em relação aos conteúdos, os PCNs definem a seguinte concepção sobre o ensino de Língua Portuguesa em sala de aula: Ao invés de organizar o ensino em unidades formatadas em “texto”, “tópicos de gramática” e “redação”, fechadas em si mesmas de maneira desarticulada, as atividades propostas devem considerar as especificidades de cada uma das práticas de linguagem em função da articulação que estabelecem entre si (BRASIl, 1998, p.36). Evidentemente que para realizar uma seleção mais correta, e principalmente assertiva, torna-se necessário definir uma concepção para o ensino em sala de aula, já que se haveria uma concepção para a seleção de conteúdo, também seria necessária uma visão do que é o ensino em sala de aula. Desta forma, surge outra demanda de tornar o livro didático divido em partes que seriam articuladas da seguinte forma: leitura, produção de textos, oralidade e gramática. Mesmo com todas as questões abordas e criadas, conforme mencionado anteriormente, o Livro Didático não se torna um solucionador de problemas dentro da sala de aula, muito menos a resposta para todos os problemas do professor. Cabe ao professor identificar as demandas de ensino/aprendizagem, seja em relação ao conteúdo ou as necessidades dos alunos. Em relação a esta questão, tem-se como base a afirmação abaixo presente nos PCNs: Ao organizar o ensino, é fundamental que o professor tenha instrumentos para descrever a competência discursiva de seus alunos, no que diz respeito à escuta, leitura e produção de textos,de tal forma que não planeje o trabalho em função de um aluno ideal para o ciclo, muitas vezes padronizado pelos manuais didáticos, sob pena de ensinar o que os alunos já sabem ou apresentar situações muito aquém de suas possibilidades e, dessa forma, não contribuir para o avanço necessário (BRASIL, 1998, p. 48). Atualmente, como o tema está sendo amplamente discutido, a BNCC - Base Nacional Comum Curricular -, que faz parte do PNLD, tornou-se um dos temas de amplos debates na esfera acadêmica e educacional. A proposta deste material é propor uma padronização do 34 ensino, de certa forma conduzir em questão de conteúdo, como uma forma de que o aluno não seja prejudicado na sua aprendizagem por haver certa divergência de conteúdo de uma escola para a outra. Com todos os debates em torno deste documento, a sua versão final foi homologada em dezembro de 2017 pelo MEC – Ministério da Educação. Segundo Silva, Neto e Vicente (2015, p.332): O desafio de elaborar uma base nacional comum de currículo situa-se no difícil processo político de encontrar alguns consensos, mesmo que sempre provisórios. É um desafio e não uma impossibilidade, porque é possível conseguir momentos nos quais algumas ideias e processos se tornam hegemônicos e comuns, mesmo que muitos grupos fiquem descontentes ou percam espaços e poderes de regulação e influência nos sentidos das políticas. Perante a este posicionamento, vemos que há uma necessidade de repensarmos como as políticas públicas podem impactar no ensino em sala de aula e principalmente na atuação da escola, pois embora seja um documento que visa regulamentar o ensino dentro das escolas, vemos que ela é capaz de regular disputas, sejam elas na esfera apenas da construção do documento, mas também no embate político e ideológico. Segundo Vygotsky (1984), é de suma importância da dimensão social no processo de formação humana, ou seja, o homem transforma e gera uma transformação através de suas interações sociais. Sendo assim, o ensino da Variação Linguística dentro de sala de aula, e nos Livros Didáticos, devem ser pautados na interação do educando com a Língua Portuguesa, ou seja, de nada adianta processos de ensino que visem apenas a repetição de métodos de ensino, se estes não concedem protagonismo ao aluno e possibilitam o desenvolvimento e a interação com a Língua Portuguesa em sala de aula. Desta forma, torna-se cada vez mais necessário que os verdadeiros protagonistas do ensino nas escolas, que são professores, sejam incluídos na elaboração de documentos de grande porte para a Educação, pois é de suma importância que o ensino seja pautado na visão de quem vivencia a sala de aula dia a dia, pois não há como atingir o sucesso dentro da educação, se o diálogo se torna restrito apenas as autoridades e estas não incluem quem deveria auxiliar na elaboração destes documentos. Em suma, o ensino em sala de aula com temas como a Variação Linguística deve partir do pressuposto que, sem o exercício e a interação da Língua em sala de aula e no meio social que o educando está inserido, este será apenas mais um ensino pautado nas regras e na repetição, e desta forma, o educando não irá atingir a concepção de que a Língua Portuguesa é viva e principalmente representativa. 35 3 - A VARIAÇÃO LINGUÍSTICA EM LIVROS DIDÁTICOS DE LÍNGUA PORTUGUESA Para a presente seção, serão apresentadas, de uma maneira resumida, algumas pesquisas que contribuíram para o estudo da variação linguística em relação aos livros didáticos de Língua Portuguesa. Certamente, estas pesquisas possibilitaram e tornaram possível novos estudos sobre o tema. A fim de compreender como pesquisadores e estudiosos do tema realizaram seus estudos, fez-se aqui um levantamento bibliográfico no Banco de Teses e Dissertações (CAPES), no Repositório da Produção Cientifica e Intelectual (Unicamp), no Repositório Institucional (UFSCar) e no Google Acadêmico. Com base neste levantamento, inúmeros trabalhos relacionados à variação linguística foram encontrados, sobretudo trabalhos enfocando os Livros Didáticos de Língua Portuguesa, alguns com o tema próximo desta pesquisa, mas com vertentes diferentes. Realizando uma consulta de teses e dissertações (CAPES), apenas inserindo os termos “Variação Linguística” e “Livros Didáticos”, o site encontrou um total de 135.041 resultados. Mas, após refinar os termos e realizar uma busca dentro da grande área da Língua Portuguesa, foram encontrados 26.025 resultados. De certo, conforme mencionado anteriormente, poucos trabalhos possuem o mesmo viés desta pesquisa, visto que em sua grande maioria, os temas abordados estão ligados a outros temas. Consultando o Repositório da produção Cientifica (Unicamp), foram encontrados o total de 1.234 resultados para os termos “Variação Linguística” e “Livros Didáticos”, embora diante do número de pesquisas encontradas, poucos resultados estão ligados diretamente à variação linguística dentro da Língua Portuguesa. Já no Repositório Institucional (UFSCar) foram encontrados 13.169 resultados com o termo “Língua Portuguesa”, após refinar o resultado, o site encontrou poucos trabalhos relacionados ou próximos o tema desta pesquisa. Realizando um levantamento no Google Acadêmico, foram encontrados 16.300 resultados, destaca-se que, neste site, o número de trabalho mais próximo ao tema desta pesquisa foi maior. Foram encontradas pesquisas voltadas totalmente para o Ensino Fundamental realizando uma análise de como é o tratamento da variação pelos autores. Foram, então, escolhidos dois trabalhos que se alinharam melhor ao tema de estudo proposto aqui: O primeiro trabalho analisado intitula-se “A variação Linguística nos Livros Didáticos: Ensino Fundamental e a Educação de Jovens e Adultos em Foco”, tese de Doutorado defendida por Carvalho (2012). O segundo trabalho, analisado nesta pesquisa, intitulado: “Os 36 limites e os alcances do tratamento da diversidade e variação linguística em Livros Didáticos de Português”, tese de Doutorado defendida por Morais (2014). O trabalho de Carvalho (2012) possui como objetivo apresentar, em uma perspectiva sociolinguística, o tratamento dispensado à variação linguística nos Livros Didáticos. O destaque principal deste trabalho é a análise dos livros dentro de duas esferas: o ensino fundamental e o EJA. Embora sejam etapas de aprendizagem diferentes, mas com objetivos semelhantes, Carvalho (2012) aborda as semelhanças, divergências e contrastes encontrados nestes materiais. Tendo em vista que sua pesquisa não está ligada apenas com o Ensino Fundamental, este trabalho visa analisar os livros didáticos mencionados de forma panorâmica e constritiva, visto que embora sejam etapas de ensino diferentes, ambas possuem o mesmo objetivo que é capacitar e levar conhecimento ao aluno. De forma clara e objetiva, a autora traça os percursos e percalços que o professor encontra em sala de aula em relação ao uso da variação linguística pelos livros didáticos. Embora seja um tema de conhecimento de diversos professores, muitos não se encontram preparados para atuar diante deste tema. Carvalho (2012) ressalta que a pesquisa parte de um trabalho documental e de campo, sendo assim, torna-se claro que este trabalho não visou apenas uma análise superficial ao tema dispensado, mas apresentou uma análise diretamente onde o tema é mais forte, isto é, no livro didático e na escola. Teixeira (2006) defende que ao fazer uso deste tipo de abordagem, o pesquisador está buscando reduzir a distância entre a teoria e os dados, o contexto e a ação. Sendo assim, percebe-se que este tipo de análise se torna mais viável. Ao realizar todo o trabalho de coleta de dados e entrevistas com professores, a autora realiza uma análise comparativa dos dados encontrados e conclui que perante toda a realidade da variação
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