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BENIGNA ARAUJO TEIXEIRA MAIA TERESA CRISTINA FERREIRA DE OLIVEIRA ORGANIZADORAS O DIREITO NO MERCADO DA MODA ESTUDOS TRANSDISCIPLINARES Londrina/PR 2021 Diagramação e Capa: Editora Thoth Revisão: Ana Clara Teixeira Editor chefe: Bruno Fuga Coordenador de Produção Editorial: Thiago Caversan Antunes Diretor de Operações de Conteúdo: Arthur Bezerra de Souza Junior Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Índices para catálogo sistemático 1. Direito Civil : 342.1 Proibida a reprodução parcial ou total desta obra sem autorização. A violação dos Direitos Autorais é crime estabelecido na Lei n. 9.610/98. Todos os direitos desta edição são reservados pela Editora Thoth. A Editora Thoth não se responsabiliza pelas opiniões emitidas nesta obra por seus autores. © Direitos de Publicação Editora Thoth. Londrina/PR. www.editorathoth.com.br contato@editorathoth.com.br O direito no mercado da moda: estudos transdisciplinares. / Organizadoras: Benigna Araujo Teixeira Maia, Teresa Cristina Ferreira de Oliveira. – Londrina, PR: Thoth, 2021. 229 p. Inclui bibliografias ISBN 978-65-5959-211-1 1. Direito Civil. 2. Propriedade Intelectual. 3. Empresarial. 4. Direito da Moda. I. Título. CDD 342.1 ORGANIZADORAS BENIGNA ARAUJO TEIXEIRA MAIA Doutoranda em Direito Processual pelo UniCEUB, mestre, professora de graduação e pós -graduação. Coordenadora de Especialização, membro da associação brasileira de Direito processual - ABDPro. autora de livros e artigos jurídicos. TERESA CRISTINA FERREIRA DE OLIVEIRA Doutora e Mestre em Família na Sociedade Contemporânea pela ( Ucsal), Especialista em Direito Civil (Ufba) Especialista em Relações Familiares (Ucsal), Professora de Graduação e Pós Graduação. Advogada e Mediadora Extrajudicial. Coordenadora da Pós em Psicologia Jurídica e Mediação de Conflitos ( Ucsal) Pesquisadora de Família, autora de livros e artigos científicos. Membro do grupo de pesquisa Gestão Social Sustentável Família e Sociedade ( UEFS/ Cnpq). AUTORES ANA BEATRIZ BARBOSA PONTE Professora, Advogada graduada pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Masters of Laws pela New York University. LL.M em Direito Societário e de Mercado de Capitais no IBMEC Especialista em Direito de Empresa pela CEPED UERJ. Tem cursos de especialização em Técnico Contábil pela INE e Versões e Traduções pela Daniel Brito, bem como de cursos online Cursos Online da Escola Nacional de Administração Pública – ENAP, incluindo sobre a Lei Geral de Proteção de Dados e de Contratos pela Harvard University. ANA ÚRSULA DA COSTA SILVA Bacharel em Direito pelo Centro de Ensino Unificado de Teresina - CEUT, pós graduada em Direito e Processo Tributários, pela Universidade de Fortaleza - UNIFOR. Advogada empresarial. Consultora de Negócios de Moda. AMANDA OLIVEIRA DA CÂMARA MOREIRA Mestre em Direito Constitucional (UFRN). Especialista em Direito Constitucional (UNI-RN). Professora substituta da UFERSA e da graduação da UNINASSAU Natal. Professora convidada da pós graduação e MBA da UnP, de capacitação da ESA/PE e do Curso de Direito da Moda do SeuFuturo.com. Advogada. Presidente da Comissão de Direito da Moda OAB/RN. Membro consultivo da Comissão de Direito da Moda OAB/PE. Membro da Comissão Especial de Cultura e Arte do Conselho Federal da OAB. Membro CDD e CORECON da OAB/RN. Representante brasileira do Portal Fashion Law Latam. Autora e coautora de obras jurídicas. BÁRBARA VEIGA GÓES Advogada. Pós-Graduanda em Direito Digital pela Universidade Salvador (Unifacs). Graduada em Direito pela Universidade Católica do Salvador (Ucsal). BEATRIZ FERNANDES GENARO Professora, escritora, palestrante e advogada especialista em Fashion Law pela Faculdade Santa Marcelina (FASM-SP), Membro convidada da Comissão de Propriedade Intelectual da OAB/PE e do Comitê Técnico e Científico da Sviluppo & Cooperazione Italia Brasile (DIB), articulista do Portal Fashion Law Latam, cofundadora do canal @fashionlawlives e coorganizadora do Fashion Law de A a Z. E-mail: beatriz@fernandesgenaro.com.br. BENIGNA ARAÚJO TEIXEIRA MAIA Doutoranda em Direito Processual pelo UniCEUB, mestre, professora de graduação e pós -graduação. Coordenadora de Especialização, membro da associação brasileira de Direito processual - ABDPro. autora de livros e artigos jurídicos. BRUNA KOPP Advogada. Presidente da Comissão de Direito da Moda da OAB/DF; Pós- Graduada em Direito Civil e Processo Civil pelo Instituto Elpídio Donizetti; Pós-Graduada em Direito da Moda – Fashion Law pela Universidade Unicesumar; Pós-Graduada em Direito Empresarial - Faculdade Legale. Formada em Propriedade Intelectual e Industrial pelo INPI – Instituto Nacional de Propriedade Industrial; Professora de Direito da Moda da ESA-/ DF Escola Superior da Advocacia do DF. Palestrante. CAMILE SERRAGGIO GIRELLI Advogada, Escritora e Professora Universitária. Doutoranda em Direito pela Universidade do Rio dos Sinos - UNISINOS. Mestre em Direito pela Universidade de Passo Fundo - UPF. Pós-Graduada em Direito Processual Civil pela Universidade Anhanguera-Uniderp. Membro do Comitê Técnico e Científico da Sviluppo & Copperazione Italia Brasile (DIB). Vice-presidente da Comissão de Direito da Moda da ABA/RS. Coordenadora Acadêmica do Grupo de Fashion Law da Law Talks. Co-fundadora do @justamoda_ ISADORA CASTELO BRANCO SOLON COSTA Advogada. Especialista em Direito e Planejamento Tributário pela Universidade Estácio de Sá. Pós-Graduanda em Direito e Processo do Trabalho pela Faculdade Educacional da Lapa-FAEL. CLÁUDIA MARTINS MOTA DE CARVALHO Mestra em Direitos Humanos, Cidadania e Violência pelo Centro Universitário Unieuro. Servidora do TJDFT. DAYANE NAYARA DA SILVA ALVES Mestra em Direito Econômico e Desenvolvimento pela UCAM. Especialista em Direito Fiscal pela PUC-RJ. Especialista em Fashion Law pela FASM-SP. Extensão em Fashion Law pela UERJ. GRACIELE NETO CARDOSO LINS DUTRA Doutora e Mestre em Direito Público pela Universidade de Coimbra - Portugal. Graduada em Direito pela Faculdade de Direito de Franca – SP. Professora Universitária. Membro de corpo editorial da Revista Jurídica Virtù: Direito e Humanismo. Docente avaliadora para credenciamento e recredenciamento de Universidades do SINAES - MEC. Palestrante, colaboradora, instrutora, conteudista e docente nas seguintes temáticas: Direito Público, Constitucional, Ética no serviço público, Assédio Moral, Governança, Democracia, Direitos Fundamentais e temas correlatos. JOÃO PEDRO FRAGA DE CASTRO Advogado do escritório João Fraga de Castro & Associados. Membro APORT – Advogados Portugueses em Consórcio. LARISSA PIETRA ROCHA ARAUJO Bacharel em Direito, Pós graduanda em Direito Público – Faculdade CERS. Assistente de Contratos no Instituto de Gestão e Humanização – IGH. LÍVIA BARBOZA MAIA Doutoranda e Mestre em Direito Civil pela UERJ. Especialista em Direito da Propriedade Intelectual pela PUC-Rio. Professora nos cursos de Pós- Graduação lato sensu na PUC-Rio. Membro da Comissão de Direito da Moda e da Comissão de Direito Civil da OAB/RJ. Sócia de Denis Borges Barbosa Advogados NAYARA SOARES SANTANA Assessora legislativa na Câmara dos Deputados. Atua no gabinete da Deputada Edna Henrique-PSDB/PB. Função: Elaboração de Projetos de Lei, Emendas e outras proposições. Presta assessoria nas Comissões e em Plenário. Orientação de votos e consultorias. Elaboração de textos e discursos. Jornalista- registrada sob o nº 0012935/DF. Advogada -registrada sob o nº 42.724-DF. Atua nas áreas cível e Direito de Família. Professora de História do Direito, Direito Civil, Oficina Jurídica. Especialista em Direito Público. Mestra em Direitos Humanos Cidadania e Violência -Área base: Ciência Política. Autora de artigo científico publicado nos EUA. Autora do livro “Cidadania Ambiental”. Autora do Livro “Direitos Humanos. Perspectiva Contemporânea dos Direitos Fundamentais”. SILVIA LUISA EIFERT HAAS Graduadaem Direito pela Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC). Extensão universitária em aperfeiçoamento em Direito pelo Centro de Estudos Jurídicos (Cejur). Extensão em Direito da Moda (Fashion Law) pela Faculdade de Direito de Santa Maria (Fadisma). Extensão universitária em Compliance IPA/ABA pelo Centro Universitário Metodista e Associação Brasileira de Advogados. TEILA ROCHA Mestra em Relações Sociais e Novos Direitos pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Mestra em Políticas Sociais e Cidadania pela Universidade Católica do Salvador (UcSal). Especialista em Direito do Trabalho e Processo do Trabalho pela UFBA. Professora de Direito Civil e Direito do Consumidor da UcSal. Professora substituta da UFBA. Membro dos grupos de pesquisa Privacidade e Proteção de Dados na Era Digital e Conversas Civilísticas, ambos da UFBA. Advogada. Parecerista. TERESA CRISTINA DE OLIVEIRA Doutora e Mestre em Família na Sociedade Contemporânea pela ( Ucsal), Especialista em Direito Civil (Ufba) Especialista em Relações Familiares (Ucsal), Professora de Graduação e Pós Graduação. Advogada e Mediadora Extrajudicial. Coordenadora da Pós em Psicologia Jurídica e Mediação de Conflitos ( Ucsal) Pesquisadora de Família, autora de livros e artigos científicos. Membro do grupo de pesquisa Gestão Social Sustentável Família e Sociedade ( UEFS/ Cnpq). PREFÁCIO A cadeia produtiva da moda, também chamada de fashion design chain, vivencia mudanças não previsíveis. Nos anos 2000, por exemplo, o acesso à internet e à informação rápida proporcionou uma verdadeira revolução que promoveu a sazonalidade intensa, diante do fácil acesso às tendências nas mídias sociais, assim como a mudança dos padrões de consumo, especialmente nas sociedades ocidentais. O aumento do consumo promoveu movimentos como o Fashion Revolution, diante dos elevados custos sociais decorrentes de grupos econômicos que promoveram o low cost e o fast fashion1. Discussões sobre sustentabilidade, direitos humanos, proteção marcária, propriedade intelectual, cadeias globais de valor, concorrência desleal, entre outros, passaram a ser cada vez mais frequentes diante da importância do setor. Contudo, 2020 tornou-se um marco para a indústria e para toda cadeia produtiva da moda. Não há dúvidas sobre as dificuldades do setor, especialmente considerando a queda do consumo – e da renda, em geral - no período inicial da pandemia sendo que as marcas dependentes do fast fashion foram impactadas de maneira relevante. Consequentemente, grandes conglomerados entraram em falência (tais como Century 21, J.Crew, Neiman Marcus etc.), o que demonstra a relação de interdependência do varejo com o comportamento do consumidor (que deixou de consumir). Esse cenário também evidenciou como operam as cadeias globais de valor tão comuns na indústria de fashion design2 e as dificuldades impostas pelo fechamento de fronteiras para o abastecimento e funcionamento das empresas relacionadas à cadeia da moda. 1. SAAD-DINIZ, Eduardo; DOMINGUES, Juliana Oliveira. Fashion law: a nova moda entre o penal e o econômico. Boletim IBCCRIM, São Paulo, v. 24, n. 287, p. 5, 2016. 2. Neste sentido, veja-se: OECD (2021). Global Value Chains Efficiency and risks in the context of covid. Disponível em: https://www.oecd.org/coronavirus/policy-responses/global- value-chains-efficiency-and-risks-in-the-context-of-covid-19-67c75fdc/ Acesso em: 21 de julho de 2021. Portanto, as relações jurídicas e sociais da sociedade de consumo merecem uma análise transversal e holística. Este tem sido o foco dos estudos do Fashion Law no mundo e, também, no Brasil. Assim, é digno de nota o trabalho da Dra. Benigna Teixeira e a Dra Teresa Oliveira ao trazer a temática do Fashion Law para um livro de fôlego, com autores e autoras que enfrentam temas que vão desde uma introdução ao Direito aplicado à moda, até mesmo a temas que estão conectados com os efeitos da pandemia de coronavírus, passando para métodos preventivos e autocompositivos de resolução de conflitos (tais como o compliance e a mediação nos contratos de Fashion Law). Tal como já defendi em artigo sobre o tema no Brasil, em uma cadeia produtiva dinâmica como é a da moda: “[...] alternativas mais inteligentes do que a via sancionadora deveriam estar disponíveis, até mesmo no sentido de apresentar uma “resposta econômica” aos problemas que não se resumem à via punitiva. Entender a dinâmica da indústria da moda passa a ser fundamental para que respostas jurídicas mais qualificadas possam ser desenhadas. Nesse sentido, não se pode deixar de pensar o problema dentro de um contexto multidisciplinar, atentando para a lógica industrial e para os hábitos de consumo.3” Nesta obra, o leitor também encontrará temas alinhados com ESG, como a sustentabilidade da moda e o e-commerce social ligado ao tema do contrato para digital influencers. O livro também traz artigos com abordagem constitucional, sem deixar de tratar da importância das formas alternativas de financiamento empresarial, de um regime empresarial mais competitivo e favorável. O leitor, ou leitora, também encontrará questões importantes atinentes aos direitos de personalidade e artigos que tocam na importância do valor da marca, das repressões às infrações ao Direito Marcário e do Combate às Falsificações na Indústria. Portanto, trata-se de uma obra robusta, transdisciplinar – tal como o título sugere- e muito útil aos operadores do Direito e a todos que atuam na cadeia produtiva da moda. Assim, eu renovo meus cumprimentos à Dra. Benigna Teixeira e Dra Teresa Oliveira pelo trabalho de fôlego e às autoras e autor dos artigos pela qualidade dos textos. São iniciativas exitosas como a deste livro que promovem pesquisas que fortalecem os estudos no Fashion Law, evidenciando que existe uma miríade de possibilidades diante dos desafios e fenômenos jurídicos 3. SAAD-DINIZ, Eduardo; DOMINGUES, Juliana Oliveira. Fashion law: a nova moda entre o penal e o econômico. Boletim IBCCRIM, São Paulo, v. 24, n. 287, p. 5, 2016. Veja-se também: DOMINGUES, Juliana Oliveira (coord). Fashion Law: o Direito está na Moda. São Paulo: Singular: 2019. que permeiam toda cadeia produtiva de um dos setores mais criativos e dinâmicos da nossa sociedade: a moda. Desejo boa leitura a todos e todas! Brasília, julho de 2021 Juliana Oliveira Domingues Professora Doutora de Direito Econômico da Universidade de São Paulo - FDRP/USP, líder do Grupo de Direito Inovação e Fashion Law da Universidade de São Paulo. Secretária Nacional do Consumidor do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP). SUMÁRIO ORGANIZADORAS .......................................................................................7 AUTORES ..........................................................................................................9 PREFÁCIO ......................................................................................................13 CAPÍTULO 1 MEDIAÇÃO NOS CONTRATOS DO DIREITO DA MODA ..........23 Introdução ......................................................................................................23 1 Visão conceitual da mediação de conflitos ............................................24 1.1 Marcos regulatórios da mediação de conflitos no Brasil ..................26 1.2 A mediação no Código de Processo Civil de 2015 ...........................28 2 Os conflitos nos contratos comerciais e empresariais do mercado da moda ...............................................................................................................30 3 Vantagens de utilizar a mediação nos contratos do Direito da Moda ...............................................................................................................32 Considerações finais .....................................................................................34 Referências .....................................................................................................35CAPÍTULO 2 FASHION LAW: O DIREITO APLICADO À MODA .........................37 Introdução ......................................................................................................37 1 Breve histórico sobre moda .....................................................................38 2 Fashion Law ...............................................................................................40 2.1 No mundo ...............................................................................................40 2.2 No Brasil ..................................................................................................41 3 Inspiração ou cópia: como distinguir isso no mundo da moda? ........43 4 Métodos de proteção da propriedade intelectual..................................44 4.1 Patente ......................................................................................................44 4.2 Direito autoral .........................................................................................46 4.3 Desenho industrial .................................................................................46 4.4 Marca ........................................................................................................47 5 Moda e a proteção por meio do Fashion Law .........................................49 6 Fashion Law e os tribunais .........................................................................52 7 Mediação está na moda? ...........................................................................53 Considerações finais .....................................................................................54 Referências .....................................................................................................56 CAPÍTULO 3 O COMPLIANCE COMO INSTRUMENTO PARA APRIMORAR AS RELAÇÕES DE TRABALHO NA INDÚSTRIA DA MODA ............61 Introdução ......................................................................................................61 1 As relações de trabalho na indústria da moda .......................................62 2 O compliance na indústria da moda ...........................................................70 Considerações finais .....................................................................................74 Referências .....................................................................................................78 CAPÍTULO 4 ASPECTOS CONSTITUCIONAIS DO FASHION LAW: EFICÁCIA HORIZONTAL DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS .........................81 Introdução ......................................................................................................81 1 Direito contemporâneo ............................................................................82 1.1 Neoconstitucionalismo ..........................................................................83 1.2 Fashion Law e a Constituição Federal .................................................83 1.3 A eficácia dos direitos fundamentais nas relações privadas .............84 2 Conflitos de direitos fundamentais .........................................................85 2.1 Solução do conflito e a teoria da ponderação ....................................87 2.2 Direitos fundamentais nas relações do Fashion Law ..........................88 Considerações finais .....................................................................................91 Referências .....................................................................................................91 CAPÍTULO 5 OS DIREITOS DE PERSONALIDADE À LUZ DO FASHION LAW ...................................................................................................................93 Introdução ......................................................................................................93 1 Método ........................................................................................................94 2 Discussão ....................................................................................................95 Considerações finais ...................................................................................103 Referências ...................................................................................................104 CAPÍTULO 6 O VALOR DA MARCA PARA A INDÚSTRIA DA MODA E O MERCADO DE LUXO ...............................................................................107 Introdução ....................................................................................................107 1 A proteção marcária na indústria da moda ..........................................108 1.1 A proteção conferida pela marca .......................................................108 1.2 Como se adquire a titularidade de uma marca .................................111 1.3 A marca na indústria da moda ............................................................111 2 O que representa uma marca em termos de valores ..........................114 2.1 O valor de uma marca .........................................................................114 2.2 Como calcular o valor de uma marca ................................................116 3 Posicionamentos vinculados à marca e o impacto em seu valor ......118 3.1 Como o posicionamento pode influir no valor da marca ..............118 Considerações finais ...................................................................................120 Referências ...................................................................................................120 CAPÍTULO 7 OS EFEITOS DA PANDEMIA DA COVID-19 NA INDÚSTRIA DA MODA: DO “NOVO” CONSUMO AOS CONTRATOS ...................125 Introdução ....................................................................................................125 1 Aspectos gerais das mudanças no perfil do consumo e jurídicos relacionados à pandemia ............................................................................127 2 A necessidade de readaptação às relações tradicionais do varejo ...132 2.1 Das “novas” relações de consumo ....................................................133 2.2 Das alterações contratuais e do contrato do marketplace .................135 3 O que podemos esperar do “novo”? ....................................................137 Considerações finais ...................................................................................138 Referências ...................................................................................................139 CAPÍTULO 8 SUSTENTABILIDADE NA MODA: TINGIMENTO TÊXTIL COM CORANTES NATURAIS ...........................................................................143 Introdução ............................................................................................... ....143 1 Sustentabilidade na indústria têxtil ........................................................144 2 Tingimento têxtil e tipos de corantes ...................................................146 2.1 Corantes sintéticos e seu impacto ambiental ...................................147 2.2 Corantes Naturais .................................................................................148 2.2.1 Corante extraído da castanha de baru e a fotoproteção...............149 Considerações finais ...................................................................................150 Referências ...................................................................................................151 CAPÍTULO 9 PROPRIEDADE INTELECTUAL E RESPONSABILIDADE CIVIL NO MUNDO DA MODA ..........................................................................153 Introdução ....................................................................................................153 1 Direito no mundo da moda ...................................................................154 2 Propriedade intelectual e direitos autorais ...........................................155 3 Responsabilidade civil no Fashion Law ..................................................1584 Perspectiva jurisprudencial acerca dos direitos autorais e responsabilidade civil na moda .................................................................160 Considerações finais ...................................................................................162 Referências ...................................................................................................163 CAPÍTULO 10 REPRESSÕES ÀS INFRAÇÕES AO DIREITO MARCÁRIO E COMBATE ÀS FALSIFICAÇÕES NA INDÚSTRIA DA MODA ....165 Introdução ....................................................................................................165 1 Moda e propriedade industrial: um breve panorama na história......166 1.1 Propriedade intelectual na legislação .................................................168 1.1.1 Violação ao direito marcário.............................................................170 2 Aspectos da contrafação na moda ........................................................172 3 A moda, contrafações e a Corte ............................................................174 Considerações finais ...................................................................................179 Referências ...................................................................................................180 CAPÍTULO 11 REGIME TRIBUTÁRIO COMPETITIVO PARA O SETOR TÊXTIL E DE CONFECÇÃO ...................................................................................183 Introdução ....................................................................................................183 1 Evolução histórica e notas conceituais da indústria da moda: segmentos têxtil e de confecção ...................................................................................185 1.1 Conceito de moda ................................................................................185 1.2 Indústria têxtil e seus precedentes históricos ...................................186 1.3 Indústria de confecção .........................................................................187 1.4 Indústria de facção ...............................................................................187 1.5 Indústria da moda.................................................................................188 2 Panorama da indústria têxtil e de confecção nacional e regime tributário competitivo favorável .................................................................................189 2.1 Breves noções acerca da indústria têxtil e de confecção no cenário nacional .........................................................................................................189 2.2 Modelo competitivo de tributação .....................................................191 Considerações finais ...................................................................................195 Referências ...................................................................................................196 CAPÍTULO 12 FORMAS ALTERNATIVAS DE FINANCIAMENTO EMPRESARIAL NA INDÚSTRIA: OS MODELOS DE ORGANIZAÇÃO PÚBLICA E PRIVADA .......................................................................................................199 Introdução ....................................................................................................199 1 Modelos de organização de natureza pública ......................................199 1.1 Sociedades de Investimento Mobiliário para Fomento da Economia (SIMFE) .......................................................................................................200 1.1.1 Contributo da IFD (Instituição Financeira de Desenvolvimento, S. A.) na economia e os FEEI (Fundos Europeus Estruturais e de Investimento)...............................................................................................200 1.1.1.1 Fundo de Coinvestimento 200M – DL n.º 126-C/2017 ..........201 1.1.1.2 Fundo de Capital & Quase Capital - DL n.º 225/2015 (doravante designado por FC&QC)..............................................................................201 1.1.1.3 Fundo de Dívida e Garantias – DL n.º 226/2015.....................201 1.1.1.4 Fundo de Inovação, Tecnologia e Economia Circular – DL n.º 86-C/2016....................................................................................................201 Considerações finais ...................................................................................202 2 Modelos de organização de natureza privada: joint ventures agreement, business angels e capital de risco ...................................................................202 2.1 Crowdfunding: financiamento colectivo ...............................................202 Considerações finais ...................................................................................205 2.2 Regime jurídico do capital de risco e da Sociedade de Capital de Risco (SCR) ..................................................................................................205 Considerações finais ...................................................................................208 2.3 Empreendedorismo social e investimento especializado.................208 Considerações finais ...................................................................................209 2.4 Business angel .......................................................................................209 Considerações finais.................................................................................... 211 2.5 Joint venture agreement e outras formas de organização empresarial 211 Considerações finais ...................................................................................212 2.5.1 Consórcio.............................................................................................213 Considerações finais ...................................................................................214 2.5.2 Agrupamento Complementar de Empresas (ACE)......................214 2.5.3 Agrupamento Europeu de Interesse Económico (AEIE) ..........216 Considerações finais ...................................................................................216 Referências ...................................................................................................216 CAPÍTULO 13 A IMPORTÂNCIA DA FORMALIZAÇÃO DOS CONTRATOS DE PARCERIA COMERCIAL DO DIGITAL INFLUENCER ..............219 Introdução ....................................................................................................219 1 Os contratos do digital influencer .........................................................220 1.1 O digital influencer ...............................................................................220 1.2 Conceito e princípios dos contratos ..................................................220 1.2.1 Alguns dos princípios fundamentais aplicados aos contratos.....222 2 A importância da formalização dos contratos realizados entre o digital influencer e as empresas ............................................................................223 3 Publicidade nas redes sociais .................................................................227 Conclusão .....................................................................................................228 Referência bibliográfica ..............................................................................229 CAPÍTULO 1 MEDIAÇÃO NOS CONTRATOS DO DIREITO DA MODA BENIGNA ARAÚJO TEIXEIRA MAIA Doutorando em Direito Processual no Centro Universitário de Brasília - Uniceub. Mestra em Direitos Humanos e Cidadania. Especialista em Direito Civil. Professora de Direito Civil e Processual Civil de Graduação e Pós-Graduação. Mediadora judicial no TJDFT e Extrajudicial com certificação ICFML. Coordenadora de Pós-Graduação em Mediação e Arbitragem no Advogada cível. Membro da Associação Brasileira de Processual (ABDpro) e da Associação Brasiliense de Processo Civil (ABPC). Associada ao Global Collaborative Law Council. Palestrante e Conferencista.Autora de obras jurídicas. E-mail: benigna.adv@gmail.com. INTRODUÇÃO O Direito da Moda, conhecido também como Fashion Law, não é um ramo do direito autônomo, mas, sim, um segmento do Direito que cuida de assuntos referentes ao mercado da moda, como a indústria têxtil, de calçados, joalheria e acessórios. Assim, suas questões estão entrelaçadas ao Direito Civil, Trabalhista, Tributário, Empresarial, Ambiental, Penal, Propriedade Intelectual, entre outros. Nesse sentido, procura-se responder no presente artigo à seguinte indagação: é mais vantajoso utilizar a mediação para resolver conflitos relativos a contratos do mercado da moda, ao invés de socorrer ao Judiciário? A mediação nos contratos do Direito da Moda justifica-se em razão do dinamismo que o mundo da moda exige do profissional do Direito para oferecer soluções de conflitos de forma rápida e eficaz. Em outras palavras, em muitas questões desse segmento específico, não há tempo hábil para aguardar um processo judicial que, na maioria dos casos, permanece longos O DIREITO NO MERCADO DA MODA ESTUDOS TRANSDISCIPLINARES 22 anos em trâmite no Judiciário até ser finalizado de um modo com o qual nem sempre as partes terminarão satisfeitas. O objetivo geral deste trabalho é demonstrar que a mediação pode ser um meio mais adequado, benéfico e célere para que aqueles envolvidos em conflitos relacionados a contratos da moda possam resolver seus contratos de forma satisfatória e até mesmo confidencial. Assim, o estudo apresentará como primeiro objetivo específico a abordagem conceitual da mediação e dos marcos regulatórios para o desenvolvimento da prática da mediação no Brasil. O segundo objetivo específico consiste em analisar os conflitos derivados dos contratos comerciais e empresariais do mercado da moda. Por fim, o terceiro objetivo específico é demonstrar os possíveis benefícios da mediação nos conflitos decorrentes dos contratos do Direito da Moda. A metodologia da presente pesquisa constitui-se de revisão bibliográfica dogmático-instrumental, qualitativa e documental. 1 VISÃO CONCEITUAL DA MEDIAÇÃO DE CONFLITOS A mediação de conflitos é conhecida como um dos métodos adequados de soluções de conflitos. Trata-se de um meio de acesso à justiça de que o cidadão poderá se valer para buscar a resolução de uma determinada questão. A fim de compreender melhor seu conceito, vale revisar algumas definições propostas. No entendimento de Maria Nazareth Serpa (1997, p. 20): [...] mediação é o desenvolvimento da negociação de interesse, assistido por terceiro (mediador), o qual é encarregado pelo Estado a facilitar os passos do processo, cabendo a ele, desta forma, administrar os fatos e conduzir as pessoas a uma solução que pacifique o conflito e atenda as necessidades de ambas as partes. A mediação é compreendida também como uma forma de solução de conflito na qual: [...] um terceiro intervém em um processo negocial, com a função de auxiliar as partes a chegar à autocomposição. Ao terceiro não cabe resolver o problema, como acontece na arbitragem o mediador/conciliador exerce um papel de catalisador da solução negociai do conflito. Não são, por isso, espécies de heterocomposição do conflito; trata-se de exemplos de autocomposição, com a participação de um terceiro. (DIDIER JR, 2015, p. 276). 23Mediação nos contratos do direito da moda De um modo geral, entende-se que a mediação é a possibilidade de uma terceira pessoa intervir em uma questão que pode ser negocial de âmbito empresarial ou de um conflito específico entre pessoas físicas, a qual é apresentada pelas partes envolvidas, sendo que esse terceiro tem o papel de facilitar um acordo. Portanto: [...] a mediação é geralmente definida como a interferência em uma negociação ou em um conflito de uma terceira parte aceitável, tendo um poder de decisão limitado ou não-autoritário, e que ajuda as partes envolvidas a chegarem voluntariamente a um acordo, mutuamente aceitável com relação as questões em disputa.(MOORE, 1998, p. 28). O autor citado logo acima analisa quatro elementos importantes do conceito, quais sejam: aceitabilidade, intervenção, ajuda e voluntariedade. Esses aspectos conceituais demonstram a essência da mediação. Depreende-se de aceitabilidade, segundo Moore (1998), a aquiescência da presença do mediador para auxiliar as pessoas envolvidas a encontrar uma solução na disputa. As partes devem aceitar o mediador e estar dispostas a ouvi-lo, seguindo corretamente o processo de mediação. O próximo elemento é a intervenção, que compreende a intromissão de alguém alheio ao conflito em um relacionamento contínuo, sendo então capaz de alterar-lhe a dinâmica. Dessa forma, influencia crenças e comportamentos, “[...] proporcionando conhecimento ou informação, ou usando um processo de negociação mais eficiente” (MOORE, 1998, p. 28). Ademais, a intervenção do mediador deve ser entendida como uma forma de aproximar as pessoas que apresentaram o conflito, ou seja, o mediador terá a missão de provocar as partes a dialogar, pois de modo algum poderá impor acordo. De acordo com Moore (1998, p. 30): “Um mediador, via de regra, tem um poder de tomada de decisão limitado ou não-oficial; ele não pode unilateralmente mandar ou obrigar as partes a resolverem suas diferenças e impor a decisão”. Esta, aliás, é uma das diferenças entre o mediador e o magistrado. Geralmente, o juiz é o terceiro imparcial investido de jurisdição estatal e tem o poder de impor sua decisão aos particulares, desde que pronunciamento judicial esteja pautado em leis e jurisprudências. Por sua vez, na mediação, as próprias partes dialogam para identificar um ponto em comum e estabelecer um acordo. O terceiro elemento é a ajuda, que, na atividade da mediação, está vinculada aos diversos papéis que o mediador desempenha para auxiliar os particulares (MOORE, 1998). Aqui, ele deve ter a sensibilidade de verificar nos casos os tipos de conflitos, a fim de direcionar mais adequadamente a sessão de mediação. É uma de suas funções, por exemplo, auxiliar na comunicação entre as partes. O DIREITO NO MERCADO DA MODA ESTUDOS TRANSDISCIPLINARES 24 O quarto e último elemento da definição de mediação é a voluntariedade, que significa a liberalidade dos envolvidos em construir acordo: “Voluntário refere-se a uma participação por livre escolha e a um acordo realizado livremente. Os litigantes não são obrigados a negociar, mediar ou fazer acordo influenciados por nenhuma parte interna ou externa à disputa” (MOORE, 1998, p. 31). Observa-se que, no elemento da voluntariedade, os conflitantes não estão obrigados a fazer acordo, haja vista que o mediador não tem o poder de fazê-lo. Além do mais, nota-se que a voluntariedade está relacionada à aceitação das partes em participar do processo de mediação. O efeito esperado pela mediação é de gerar respeito e confiança entre os mediandos, de forma que estes poderão continuar a se relacionar ou até mesmo desfazer o relacionamento de um modo menos oneroso. Compreendido o conceito de mediação, percebe-se que essa prática poderá existir em diversas áreas do campo jurídico, contanto que o direito em disputa seja disponível, isto é, transacional. Assim, a mediação pode, por exemplo, ser aplicada nos contratos de Fashion Law cujos direitos discutidos, em muitos casos, permitem a transação. No entanto, é necessário entender que a técnica da mediação recebeu regulamentação própria há poucos anos. Ela ainda está sendo experimentada e conhecida no mundo dos negócios da moda. 1.1 MARCOS REGULATÓRIOS DA MEDIAÇÃO DE CONFLITOS NO BRASIL No Brasil, a prática da mediação de conflitos ocorreu antes de qualquer regulamentação sobre o processo de mediação, mas foi a partir da Lei 9099/95 que se iniciaram as práticas consensuais de soluções de disputas – a conciliação, que abriu no Judiciário uma nova forma de resolver conflitos de menor complexidade. O Poder Judiciário,com passar dos anos, recebeu muitas demandas, a ponto de a estrutura judicante não corresponder com celeridade na prestação jurisdicional. Fez-se necessária, com isso, a realização da política pública judiciária, na esperança de responder com eficiência e reeducar a sociedade sobre as maneiras de soluções de conflitos. A política pública judiciária evidenciada na Resolução 125/10 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) foi criada com base nos estudos da Rede de Pesquisas Internacionais em ADR (Resolução Alternativa de Conflitos) da Universidade de Saint Thomas (UST) e no modelo do Sistema Multiportas, previsto na justiça norte-americana. 25Mediação nos contratos do direito da moda Neste cenário, a rede de pesquisas internacionais sobre Alternative Dispute Resolution da Universidade de Saint Thomas tem o seguinte objetivo: [...] é um programa de pesquisa destinado a criar modelos inclusivos de resolução de problemas que utilizam técnicas de capital social e de construção de consenso (isto é, processos de resolução de conflitos que levam em consideração as opiniões de todas as partes envolvidas, em especial os integrantes sem direito de opinião de uma comunidade). (CRESPO, 2012, p. 25). Importa esclarecer que o sentido de capital social é o de substâncias tangíveis, como boa vontade, solidariedade, entre outros: O conceito de capital social foi empregado pela primeira vez por L. J. Hanifan, supervisor estadual das escolas rurais do Estado de West Virginia em 1916. Hanifan invocou o conceito de capital social como argumento para um maior envolvimento da comunidade no sistema escolar: “as substâncias tangíveis [que são] mais importantes para a maioria das pessoas no seu dia a dia — boa vontade, companheirismo, solidariedade e relações sociais entre as pessoas e as famílias que constituem uma unidade social”. O indivíduo é socialmente desamparado quando está sozinho. Ao entrar em contato com seus vizinhos, e estes com outros vizinhos, haverá uma acumulação de capital social que poderá atender de imediato as suas necessidades sociais e criar um potencial social suficiente para que ocorra uma melhoria considerável das condições de vida no interior de toda a comunidade. (PUTNAM apud CRESPO, 2012, p. 25). Ainda sobre o modelo do Sistema Multiportas, sabe-se que foi conceituado pelo professor Frank Sander, da Faculdade de Negociação e Direito de Harvard. Segundo Crespo (2012, p. 27): Em 1976, lançou o documento de sua autoria denominado Varieties of dispute processing (Variedades do processamento de conflitos), na Pound Conference. Nele o professor Sander lançou o conceito do Tribunal Multiportas — modelo multifacetado de resolução de conflitos em uso atualmente em vários setores dos Estados Unidos e outros países. Para o professor Sander, o conceito do Tribunal Multiportas parte da ideia inicial de examinar as diferentes formas de resolução de conflitos: mediação, arbitragem, negociação. De forma lúdica, a expressão multiportas decorre da seguinte metáfora: “[...] seria como se houvesse um átrio do fórum em que tivesse várias portas; a depender do problema apresentado, as partes seriam encaminhadas para a porta da mediação, ou conciliação, ou da arbitragem ou da própria justiça” (CUNHA, 2018, p. 1). O DIREITO NO MERCADO DA MODA ESTUDOS TRANSDISCIPLINARES 26 Considerando esses aspectos, a Resolução 125/2010 do CNJ determinou a criação de Núcleos Permanentes de Métodos Consensuais de Solução de Conflitos (NUPEMECs) para atender os órgãos judiciários e os Centros Judiciários de Solução de Conflitos e Cidadania, conhecidos como os CEJUSCs, responsáveis por realizar as sessões de conciliação e mediação no âmbito do Poder Judiciário (BRASIL, 2010, online): Art. 7º - Os tribunais deverão criar, no prazo de 30 dias, Núcleos Permanentes de Métodos Consensuais de Solução de Conflitos (Núcleos), coordenados por magistrados e compostos por magistrados da ativa ou aposentados e servidores, preferencialmente atuantes na área, com as seguintes atribuições, entre outras. (Redação dada pela Emenda nº 2, de 08.03.16). Art. 8º - Os tribunais deverão criar os Centros Judiciários de Solução de Conflitos e Cidadania (Centros ou Cejuscs), unidades do Poder Judiciário, preferencialmente, responsáveis pela realização ou gestão das sessões e audiências de conciliação e mediação que estejam a cargo de conciliadores e mediadores, bem como pelo atendimento e orientação ao cidadão. (Redação dada pela Emenda nº 2, de 08.03.16). 1.2 A MEDIAÇÃO NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015 O Novo Código de Processo Civil (CPC), regulamentado pela Lei 13.105 de 16 de março de 2015 e tendo entrado em vigência um ano após sua publicação, sedimentou a política judiciária prevista na Resolução 125/10 do CNJ, consagrando os métodos consensuais de resolução de conflitos na prestação dos serviços do Judiciário, a saber, a conciliação e a mediação. A propósito da conciliação e da mediação, a saudosa professora Ada Pellegrini Grinover (2015, p. 2) explicou que ambos os métodos “[...] utilizam um terceiro facilitador para que as próprias partes cheguem à solução do conflito e à pacificação completa”. Interessa destacar que esse movimento de retirar das mãos do Estado o poder de decidir toda e qualquer controvérsia já estava presente no Brasil na Constituição de 1824, em seu art. 160: “Nas civeis, e nas penaes civilmente intentadas, poderão as Partes nomear Juizes Arbitros. Suas Sentenças serão executadas sem recurso, se assim o convencionarem as mesmas Partes.” (BRASIL, 1824, online). Verifica-se, pois, que o Brasil já adotou há tempos um método de resolução de conflitos. De certa forma, foi um “[...] precursor desse movimento, quando determinou, na Constituição Imperial, que nenhuma causa seria submetida ao Poder Judiciário, se antes não se tentasse a conciliação” (GRINOVER, 2015, p. 2). 27Mediação nos contratos do direito da moda Em contrapartida, tal disposição acabou por se perder, possivelmente, em razão de duas situações naquela época: “[...] ou o momento não era oportuno, ou foi infeliz a atribuição do encargo aos juízes de paz, que se transformaram rapidamente em autoridades celebrantes de matrimônios” (GRINOVER , 2015, p. 2). Mas, certo é que esses meios adequados de solução de disputas estão presentes hoje na América e na Europa, tendo em vista que foram estudados e experimentados em diversos países, entre os quais o Brasil. Uma das grandes mudanças trazidas pelo CPC/15 foi determinar que todos os processos passíveis de negociação distribuídos na Justiça tenham seus direcionamentos para a conciliação ou mediação, que serão conduzidas por um terceiro facilitador – mediador ou conciliador – devidamente capacitado: CPC/15, art. 334 - Se a petição inicial preencher os requisitos essenciais e não for o caso de improcedência liminar do pedido, o juiz designará audiência de conciliação ou de mediação com antecedência mínima de 30 (trinta) dias, devendo ser citado o réu com pelo menos 20 (vinte) dias de antecedência. § 1o O conciliador ou mediador, onde houver, atuará necessariamente na audiência de conciliação ou de mediação, observando o disposto neste Código, bem como as disposições da lei de organização judiciária. (BRASIL, 2015a, online). Dessa maneira, a lei processual prevê que a conciliação ou mediação é uma fase pré-processual. Isso significa que, antes da decisão do juiz, é possível que os cidadãos dialoguem para buscar um acordo da questão que foi encaminhada para o Judiciário. Caso não haja acordo, o processo seguirá para o juiz decidi-la. Importa salientar que a Lei n. 13.105/15 reproduziu parte da Resolução n. 125/2015, a qual determina que a conciliação e mediação devam ser realizadas no CEJUSC, responsável por receber as demandas judiciais das Varas Cíveis e Juizados Especiais Cíveis. Além disso, no mesmo ano, foi editada a Lei da Mediação n. 13.140/2015, para regulamentar especificamente sobrea prática da mediação no Brasil e complementar o CPC/15. Sua abrangência inclui disciplinar “[...] a mediação entre particulares e a autocomposição de conflitos no âmbito da Administração Pública” (CUNHA, 2018, p. 2). Observa-se que o CPP/15 reforça a Resolução 125/2010 e estabelece, em geral, a necessidade de apanhar a melhor forma adequada de resolver os conflitos, isto é, que não seja necessariamente por meio de decisão do Poder Judiciário. CAPÍTULO 13 A IMPORTÂNCIA DA FORMALIZAÇÃO DOS CONTRATOS DE PARCERIA COMERCIAL DO DIGITAL INFLUENCER BRUNA MARIA SOARES KOPP Especialista em Direiro da Moda e Direito Civil e Processo Civil – brunakopp.adv@gmail.com INTRODUÇÃO O Direito da Moda, Fashion Law, está crescendo cada vez mais no Brasil, e com isso vem buscando regulamentar diversas questões no mundo da moda. Entre elas está a profissão do Digital Influncer. A influência digital está em ascensão, porém não possui regulamentação própria, e assim, os profissionais deste segmento e as empresas que tem interesse em contratá-los, acabam ficando desprotegidos ao fechar um acordo comercial, visto que não conhecem a legislação aplicada a relação. Sendo assim, o presente artigo científico tem o objetivo de trazer o conhecimento de como devem ser realizados os contratos de parceria comercial entre o Digital Influencers e as Empresas. Desta forma, será abordado o conceito de Digital influencer e a importância da formalização dos contratos para a realização de parceria, as principais clásulas que devem conter no instrumento, bem como as consequencias jurídicas ocasionadas pela falta do contrato nas relações comerciais, buscando proporcionar maior segurança para as parcerias digitais. O DIREITO NO MERCADO DA MODA ESTUDOS TRANSDISCIPLINARES 218 1 OS CONTRATOS DO DIGITAL INFLUENCER 1.1 O DIGITAL INFLUENCER O Digital Influencer é um profissional que atua diretamente nas redes sociais e que consegue influenciar milhares de pessoas, com possibilidade de alcance de mais consumidores do que a televisão, a rádio, o outdoor e outros meios de comunicação. O Digital Influencer realiza uma conexão de identidade, costumes e crenças com os seus seguidores que acabam se espelhando no “blogueiro” e no seu estilo de vida. Quem nunca seguiu um influenciador digital e começou a querer consumir os produtos e serviços que o mesmo indicava? Com certeza a maior parte desta resposta é sim. Isso acontece porque pessoas se conectam com pessoas. Tal comportamento começou a ser observado pelas empresas, fazendo as mesmas verificarem que ter aquele influenciador divulgando a sua marca poderia levar o seu produto a mais pessoas e, além disso, ao seu público direto, aqueles que se identificam com a marca. As marcas começaram a contactar os influenciadores digitais, enviando os seus produtos e pedindo como “retribuição” que o influencer divulgasse o “presente” que recebeu. Esta prática se tornou comum e foi além. As marcas começaram não somente oferecer a permuta, mas também a pagar o blogueiro pela divulgação. Ocorre que tais práticas podem ocasionar diversos problemas jurídicos, pois entre as partes esta sendo estabelecida uma relação contratual verbal, sem nenhum respaldo para ambos. Importante ressaltar que o ambiente digital não é um lugar sem lei, e em que pese o Digital Influencer ainda ser uma profissão sem regulamentação, a sua contratação deve obsevar alguns direitos e deveres para que ocorra o devido cumprimento da parceria comercial. 1.2 CONCEITO E PRINCÍPIOS DOS CONTRATOS O contrato é um acordo bilateral de vontades com o fim de criar, modificar ou extinguir uma relação jurídica de direitos e deveres. 219 A importância da formalização dos contratos de parceria comercial do digital influencer Anterior ao Código Civil atual, tinhamos a definição de Maria Helena Diniz1, que afirma ser o contrato uma regulamentação de interesses entre as partes. Vejamos: “Contrato é o acordo de duas ou mais vontades, na conformidade da ordem jurídica, destinado a estabelecer uma regulamentação de interesses entre as partes, com o escopo de adquirir, modificar ou extinguir relações jurídicas de natureza patrimonial.” Ocorre que nos dias atuais, com o advento do Código Civil de 2002, houve um abandono da ideia de que o contrato deve ter sempre um fim patrimonial. Agora, busca-se mais uma função social do contrato, na qual os princípios de maior importância são o da boa-fé objetiva e da justiça contratual. O Contrato, para ser válido precisa observar três pontos muito importantes, quais sejam: • Capacidade contratual; • Objeto Lícito; e • Forma. Capacidade Contratual: É necessário que ambas as partes sejam capazes de contratar. Aqui tratamos da capacidade civil, exigindo-se que as partes sejam maiores de 18 anos (ou se menor, devidamente representada), e de que não sejam portadoras de nenhuma incapacidade relativa ou absoluta nos termos do art. 3º e 4º do Código Civil2. 1. (DINIZ, 2008, p. 30). 2. Art. 3 o São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os menores de 16 (dezesseis) anos. Art. 4 o São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer: (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência) I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; II - os ébrios habituais e os viciados em tóxico; (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência) III - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade; (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência) IV - os pródigos. Parágrafo único. A capacidade dos indígenas será regulada por legislação especial. (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência). O DIREITO NO MERCADO DA MODA ESTUDOS TRANSDISCIPLINARES 220 Objeto Lícito: Que o objeto do contrato não provenha de ilegalidade e esteja de acordo com ordenamento jurídico. Forma: O contrato pode ser formal ou Informal, conforme a previsão legal. Pode ser de livre pactuação, ou de forma prevista em lei. O recomendado é sempre formalizar os contratos, de forma escrita (formal), pois assim a segurança jurídica é maior, e consequentemente serão evitados problemas jurídicos futuros para o seu cliente (empresa ou digital influencer). Importante ressaltar que nos contratos de parceria comercial do Digital Influencer, a forma do contrato é livre, conforme as vontades das partes, visto que para reger essas parcerias comerciais não há uma exigência de uma forma específica prevista na lei. 1.2.1 ALGUNS DOS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS APLICADOS AOS CONTRATOS • Princípio da Autonomia da Vontade: É a liberdade de contratar que as partes possuem. • Princípio da Obrigatoriedade dos Contratos: É o famoso “pacta sunt servanda”, que significa “os contratos devem ser cumpridos”. Dessa forma, o contrato vincula as partes, desde que seja lícito e abrangido pela boa – fé contratual; • Princípio da Revisão dos Contratos ou da Onerosidade Excessiva: Os contratos podem ser revisados caso haja onerosidade excessiva que deixe uma das partes em exarcerbado prejuízo; e. • Princípio da Boa-Fé Contratual: Elencado no artigo 113 e 422 do Código Civil3, diz que os contratos deverão observar a probidade e a boa – fé. A seguir temos a definição de Fábio Ulhoa Coelho4 sobre a boa-fé contratual: “A boa-fé subjetiva corresponde à virtude de dizer o 3. Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração. Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé. 4. COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Civil: contratos. 5. ed., São Paulo: Saraiva,2012, p. 83/84). 221 A importância da formalização dos contratos de parceria comercial do digital influencer que acredita e acreditar no que diz. Tem relevância para o direito das coisas, na qualificação da posse, mas não operacionalizável no direito doscontratos. Já a boa-fé- objetiva é representada por condutas do contratante que demonstram seu respeito aos direitos da outra parte.” Maria Helena Diniz, também fala sobre a boa-fé do contrato, ressaltando que: “(...) da boa-fé objetiva (CC, arts. 113 e 187), intimamente ligado não só a interpretação do contrato, mas também ao interesse social de segurança das relações jurídicas, uma ves que as partes deverão agir com lealdade, honestidade, honradez, probidade (intgridade de carácter), denodo e confiança recíprocas, isto é, proceder com boa-fé, esclarecendo os fatos e o conteúdo das cláusulas, procurando o equilíbrio nas prestações, respeitando o outro contratante,não traindo a confiança depositada, procurando cooperar, evitando o enriquecimento indevido, não divulgando informações sigilosas, etc.”. Dessa forma, esse princípio deve ser à base do contrato. Um contrato pautado na boa-fé contratual dificilmente será objeto de ação judicial. 2 A IMPORTÂNCIA DA FORMALIZAÇÃO DOS CONTRATOS REALIZADOS ENTRE O DIGITAL INFLUENCER E AS EMPRESAS Conforme mencionado nos tópicos acima, é muito importante que seja formalizado um contrato para a realização da parceria com o digital Influencer, para que se tenha uma segurança jurídica na prestação dos serviços pactuados. Para elaborar um bom contrato com o objetivo de resguardar os direitos e deveres do digital influencer e da empresa é preciso ficar atento a muitas peculiaridades que advém dessa relação. O contrato deve ser elaborado de forma específica, delimitando exatamente como será realizada a parceria. Por exemplo: a quantidade específica de posts, vídeos no feed, a quantidade de stories a serem realizados, a frequência da divulgação, entre outros aspectos. Essa parte do contrato é chamada de objeto e se trata de uma das partes mais importantes do instrumento, visto que se o acordado for fielmente cumprido, dificilmente a relação terá algum tipo de problema. Portanto, além do objeto bem descrito, algumas cláusulas são essenciais e prescisam estar formalizadas. Agora passaremos a comentar algumas delas de modo mais analítico. Vejamos: O DIREITO NO MERCADO DA MODA ESTUDOS TRANSDISCIPLINARES 222 - Cláusula de Responsabilidade Civil: O contrato com o Digital Influencer deve conter uma cláusula especificando de quem é a responsabilidade pelos produtos e serviços divulgados. Pode parecer óbvio que é da empresa não é mesmo? Porém, não é bem assim que acontece. Veja: O Código de Defesa do Consumidor é uma lei de ordem pública e que visa à proteção do consumidor em decorrência da sua fragilidade e vulnerabilidade. O artigo 6º da referida lei preleciona quais são direitos básicos do consumidor, in verbis: Art. 6º São direitos básicos do consumidor: I - a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos; II - a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços, asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas contratações; III - a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos que apresentem;(Redação dada pela Lei nº 12.741, de 2012) Vigência. IV - a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços; V - a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas; VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos; VII - o acesso aos órgãos judiciários e administrativos com vistas à prevenção ou reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou difusos, assegurada a proteção Jurídica, administrativa e técnica aos necessitados; VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências; IX - (Vetado); 223 A importância da formalização dos contratos de parceria comercial do digital influencer X - a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral. O parágrafo único do artigo 7º da referida lei aduz que: “Tendo mais de um autor a ofensa, todos responderão solidariamente pela reparação dos danos previstos nas normas de consumo”. O §1º do artigo 25 da mesma lei traz que: “Havendo mais de um responsável pela causação do dano, todos responderão solidariamente pela reparação prevista nesta e nas seções anteriores”. Com isso, é possível observar que a lei 8.078/90 (código de defesa do consumidor), é bem clara quanto a responsabilização civil dos danos causados ao consumidor. Claro é que quando o influencer está divulgando uma empresa/ marca, com uma parceria comercial, ele está induzindo o seu seguidor a comprar aquele determinado produto e serviço e com isso pode sofrer responsabilização. Confirmando o acima exposto, Gasparatto, Freitas e Efing,5 preconizam que: “deve-se atribuir aos influenciadores responsabilidade de reparação frente aos consumidores, em razão da indicação de produtos e serviços. Eis que tais pessoas possuem grande poder de influência, além de contarem com a confiança de seus seguidores”. Dessa forma, caso o Digital Influencer não tenha um contrato indicando de quem é a responsabilidade pelos produtos e serviços divulgados, pode acabar sendo responsabilizado nos termos da legislação brasileira vigente. Importante ressaltar, que essa cláusula limitando a responsabilidade civil deve ser somente pactuada entre a Empresa e o Digital Influencer. Não é possível a isenção da responsabilidade civil perante o consumidor. Assim, havendo uma condenação, ambos irão responder nos limites da lei e do dano causado. A empresa também deve ficar atenta sobre a responsabilidade civil, uma vez que o influenciador estará usando o nome da marca para divulgar os produtos e serviços, e claramente tal divulgação, a depender da forma como é feita, pode ocasionar uma responsabilidade para a marca frente ao consumidor. Destarte, nítida é a importância da especificação da responsabilidade civil dentro do contexto do contrato de parceria, visando resguardar as partes dentro dos limites da sua atuação. 5. (GASPARATTO, FREITAS e EFING, 2019, p. 79) O DIREITO NO MERCADO DA MODA ESTUDOS TRANSDISCIPLINARES 224 - Cláusula de Exclusividade: A cláusula de exclusividade na parceria comercial é de extrema importância no contrato. Como já retratado a empresa contrata o Digital Influencer para realizar a divulgação dos seus produtos e serviços nas suas redes sociais, buscando alcançar os seus seguidores para aumentar as vendas e a propagação da sua marca. Porém, vamos supor que você seja proprietário de uma marca que fabrica calça jeans e que a sua empresa começa a realizar uma parceria com um Digital Influencer para divulgar o jeans que você produz e acaba percebendo após um tempo que o influenciador está divulgando outra marca também no perfil da rede social. Como fica a questão com o blogueiro que você contratou? Se entre as partes não houver um contrato formalizado que especifique que durante a vigência do instrumento o influencer somente poderá divulgar a sua marca de jeans, a sua empresa simplesmente não poderá reclamar sobre essa questão. Caso houvesse tal cláusula contratual, a empresa poderia requerer os seus direitos inerentes à exclusividade. Portanto, mais uma vez se verifica a grande relevância da formalização contratual nessas parcerias. - Cláusula da Confidencialidade: A importância desta cláusula dentro do contrato de parceriacomercial do Digital Influencer é enorme, visto que visa proteger as informações que as partes desejam que não sejam divulgadas, informações que até poderiam ocasionar uma concorrência desleal com “adversários” mercadológicos. Assim, ter uma especificação de confidencialidade das informações abarcadas pelo contrato é uma forma de aumentar ainda mais a segurança jurídica da relação comercial entre as partes. Ressalta-se que se a confidencialidade prevista em contrato for violada, a parte que não cumpriu o acordo poderá ser responsabilizada, inclusive com o pagamento de indenização. - Uso da Imagem: Outra cláusula de extrema importância que deve conter nestes contratos é a cláusula sobre o uso da imagem do influencer pela marca e vice-versa. O uso indevido e sem autorização da imagem pode também ocasionar indenização, assim deve ser especificado no contrato com detalhes como ocorrerá o uso da imagem e por quanto tempo ele irá perdurar. 225 A importância da formalização dos contratos de parceria comercial do digital influencer Importante dizer que é de extrema importância que também esteja descrito no contrato a previsão de responsabilização civil e criminal, além de multa por difamação, injúria e calúnia entre os pactuantes. Acima foram expostas algumas das cláusulas mais fundamentais do contrato, porém não menos importantes que estas, também devem estar presentes as seguintes cláusulas: • Remuneração; • Vigência; • Indicação de cupom de desconto; • Rescisão Contratual; e • Indicação de que entre as partes não exite nenhum vínculo societário, previdenciário ou trabalhista. Outras cláusulas também podem ser acrescentadas no contrato a depender da relação de parceria que será formada entre as partes, visto que cada relação tem as suas peculiaridades. Um ponto importante a se reiterar é que tais contratos precisam seguir o princípio da boa-fé contratual. O importante é que as empresas e os Digital Influencers comecem a compreender a relevância da formalização do contrato. 3 PUBLICIDADE NAS REDES SOCIAIS Outro ponto importante a ser tratado quando o assunto é o contrato de parceria entre o digital influencer e a empresa é sobre a publicidade das divulgações dos produtos e serviços advindos dessa relação. Como já relatado a internet não é uma terra sem lei e algumas regras devem ser observadas nas divulgações de propagandas em ambientes virtuais. O CONAR – Conselho de Autorregulamentação Publicitária prevê que toda propaganda deve ser sinalizada, seja em meio digital ou não. Portanto, quando o digital influencer for “falar” sobre um produto nas suas redes sociais, que adveio de uma parceria paga, deve indicar que está sendo patrocinado, tratando-se de uma propaganda, ou como se diz nas redes sociais, um publipost. O influencer precisa avisar os seus seguidores quando for indicar uma parceria paga. Indica-se o uso da #Publipost. Essa sinalização visa proteger o consumidor que será alcançado nas redes sociais e sua não observação pode gerar responsabilização civil. O DIREITO NO MERCADO DA MODA ESTUDOS TRANSDISCIPLINARES 226 CONCLUSÃO Pode-se concluir que é fundamental que as parcerias realizadas em ambiente digital entre influenciadores e empresas sejam protegidas por um contrato de parceria, visando à proteção do profissional (digital influencer), da empresa e dos consumidores (seguidores), como forma de melhor desenvolvimento do trabalho de parceria e de estabelecer os limites de responsabilidade entre ambas às partes. Conclui-se também que quando se realiza uma parceria entre um Digital Influencer e uma empresa, é necessária a observação de diversos aspectos para que o acordo seja cumprido da melhor forma, sem trazer nenhum empecilho para ambas às partes, proporcioando um maior respaldo jurídico. É possível concluir que a formalização do contrato evita ruídos na comunicação e, consequentemente, o melhor desenvolvimento da parceria, e de que o contrato deve estar abarcado pelo princípio da boa-fé contratual. Além de ter um objeto bem definido, é essencial que no contrato de parceria sejam observadas outras cláusulas fundamentais para um bom desenvolvimento do trabalho, quais sejam: responsabilidade civil e contratual, vigência, exclusividade, remuneração, confidencialidade, direito sobre a imagem, entre outras. Conclui-se também que a internet não é uma “terra sem lei” e que os aspectos sobre propaganda precisam ser observados na formalização da parceria. O CONAR – Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária deixa bem claro que toda propanga deve ser sinalizada sob a pena de responsabilização. Assim, o influencer que não indicar a #publipost poderá responder perante o CONAR, que inclusive, já condenou diversos influencers nesse sentido. Concluiu-se também que o código de Defesa do Consumidor é uma lei de ordem pública e deve ser respeitada e cumprida em sua totalidade, e o Digital Influencer pode ser responsabilizado por eventuais danos advindos da parceria, caso não esteja protegido por um contrato, assim como a empresa pode acabar respondendo por ações do influencer. Assim, ao final, chega-se a conclusão de que é de extrema importância a formalização do contrato para o bom cumprimento da relação de parceria comercial formada pelo Digital Influencer e pela Empresa/Marca parceira, como uma forma de prevenção de riscos. 227 A importância da formalização dos contratos de parceria comercial do digital influencer REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA Brasil. Lei 8.078/90. Código de Defesa do Consumidor http://www.planalto. gov.br/ccivil_03/leis/l8078compilado.htm. Acessado no dia 21 de julho de 2020. Brasil. Código Civil. Lei 10.406/2002. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ leis/2002/L10406compilada.htm. Acessado no dia 21 de julho de 2020. Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária. http://www.conar.org. br/. Acessado no dia 21 de julho de 2020. DINIZ, HELENA, 2008, p. 30, Curso de Direito Civil Brasileiro. GASPARATTO, Ana Paula Gilio; FREITAS, Cinthia Obladen de Almendra; EFING, Antônio Carlos. 2019. 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