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PRÁTICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES Possibilidades e desafios na Saúde Pública RICARDO HUGO GONZALEZ ORGANIZADOR PRÁTICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES: Possibilidades e desafios na Saúde Pública AVALIAÇÃO, PARECER E REVISÃO POR PARES Os textos que compõem esta obra foram avaliados por pares e indicados para publicação. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Bibliotecária responsável: Aline G. Benevidez CRB-1/3889 E26 Práticas integrativas e complementares: possibilidades e desafios 1. ed. na saúde pública [recurso eletrônico] / [org.]. Ricardo Hugo González. – 1.ed. – Curitiba-PR, Editora Bagai, 2024. 175p. Recurso digital. Formato: e-book Acesso em www.editorabagai.com.br ISBN: 978-65-5368-312-9 1. Saúde Pública. 2. Terapias Complementares. 3. Atenção Primária à Saúde. I. Gonzalez, Ricardo Hugo. 10-2023/78 CDD 796 Índice para catálogo sistemático: 1. Saúde Pública - 613 R https://doi.org/10.37008/978-65-5368-312-9.24.11.23 Proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização prévia da Editora BAGAI por qualquer processo, meio ou forma, especialmente por sistemas gráficos (impressão), fonográficos, microfílmicos, fotográficos, videográficos, repro- gráficos, entre outros. A violação dos direitos autorais é passível de punição como crime (art. 184 e parágrafos do Código Penal) com pena de multa e prisão, busca e apreensão e indenizações diversas (arts. 101 a 110 da Lei 9.610 de 19.02.1998, Lei dos Direitos Autorais). Este livro foi composto pela Editora Bagai. www.editorabagai.com.br /editorabagai /editorabagai contato@editorabagai.com.br PRÁTICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES: Possibilidades e desafios na Saúde Pública Ricardo Hugo Gonzalez Organizador 1.ª Edição - Copyright© 2023 dos autores Direitos de Edição Reservados à Editora Bagai. O conteúdo de cada capítulo é de inteira e exclusiva responsabilidade do(s) seu(s) respectivo(s) autor(es). As normas ortográficas, questões gramaticais, sistema de citações e referencial bibliográfico são prerrogativas de cada autor(es). Editor-Chefe Cleber Bianchessi Revisão Os autores Diagramação Lucas Augusto Markovicz Imagens da capa Ana Soraya Santos Adequação da capa Brenner Silva Conselho Editorial Dr. Adilson Tadeu Basquerote – UNIDAVI Dr. Anderson Luiz Tedesco – UNOCHAPECÓ Dra. Andréa Cristina Marques de Araújo - CESUPA Dra. Andréia de Bem Machado – UFSC Dra. Andressa Graziele Brandt – IFC - UFSC Dr. Antonio Xavier Tomo - UPM - MOÇAMBIQUE Dra. Camila Cunico – UFPB Dr. Carlos Alberto Ferreira – UTAD - PORTUGAL Dr. Carlos Luís Pereira – UFES Dr. Claudino Borges – UNIPIAGET – CABO VERDE Dr. Cledione Jacinto de Freitas – UFMS Dra. Clélia Peretti - PUCPR Dra. Daniela Mendes V da Silva – SEEDUCRJ Dr. Deivid Alex dos Santos - UEL Dra. Denise Rocha – UFU Dra. Elnora Maria Gondim Machado Lima - UFPI Dra. Elisângela Rosemeri Martins – UESC Dr. Ernane Rosa Martins – IFG Dra. Flavia Gaze Bonfim – UFF Dr. Francisco Javier Cortazar Rodríguez - Universidad Guadalajara – MÉXICO Dra. Geuciane Felipe Guerim Fernandes – UENP Dr. Hélder Rodrigues Maiunga - ISCED-HUILA - ANGOLA Dr. Helio Rosa Camilo – UFAC Dra. Helisamara Mota Guedes – UFVJM Dr. Humberto Costa – UFPR Dra. Isabel Maria Esteves da Silva Ferreira – IPPortalegre - PORTUGAL Dr. João Hilton Sayeg de Siqueira – PUC-SP Dr. João Paulo Roberti Junior – UFRR Dr. Joao Roberto de Souza Silva - MACKENZIE Dr. Jorge Carvalho Brandão – UFC Dr. Jorge Henrique Gualandi - IFES Dr. Juan Eligio López García – UCF-CUBA Dr. Juan Martín Ceballos Almeraya - CUIM-MÉXICO Dr. Juliano Milton Kruger - IFAM Dra. Karina de Araújo Dias – SME/PMF Dra. Larissa Warnavin – UNINTER Dr. Lucas Lenin Resende de Assis - UFLA Dr. Luciano Luz Gonzaga – SEEDUCRJ Dra. Luísa Maria Serrano de Carvalho - Instituto Politécnico de Portalegre/CIEP-UE - POR Dr. Luiz M B Rocha Menezes – IFTM Dr. Magno Alexon Bezerra Seabra - UFPB Dr. Marciel Lohmann – UEL Dr. Márcio de Oliveira – UFAM Dr. Marcos A. da Silveira – UFPR Dra. María Caridad Bestard González - UCF-CUBA Dra. Maria Lucia Costa de Moura – UNIP Dra. Marta Alexandra Gonçalves Nogueira - IPLEIRIA - PORTUGAL Dra. Nadja Regina Sousa Magalhães – FOPPE-UFSC/UFPel Dra. Patricia de Oliveira - IF BAIANO Dr. Porfirio Pinto – CIDH - PORTUGAL Dr. Rogério Makino – UNEMAT Dr. Reiner Hildebrandt-Stramann - Technische Universität Braunschweig - ALEMANHA Dr. Reginaldo Peixoto – UEMS Dr. Ricardo Cauica Ferreira - UNITEL - ANGOLA Dr. Ronaldo Ferreira Maganhotto – UNICENTRO Dra. Rozane Zaionz - SME/SEED Dr. Stelio João Rodrigues - UNIVERSIDAD DE LA HABANA - CUBA Dra. Sueli da Silva Aquino - FIPAR Dr. Tiago Tendai Chingore - UNILICUNGO – MOÇAMBIQUE Dr. Thiago Perez Bernardes de Moraes – UNIANDRADE/UK-ARGENTINA Dr. Tomás Raúl Gómez Hernández – UCLV e CUM – CUBA Dra. Vanessa Freitag de Araújo - UEM Dr. Willian Douglas Guilherme – UFT Dr. Yoisell López Bestard- SEDUCRS APRESENTAÇÃO Esta obra é fruto de um trabalho coletivo que tive o privilégio de conduzir na disciplina Tópicos Especiais em Saúde Pública do pro- grama de Pós-graduação em Saúde Pública da Universidade Federal do Ceará. A primeira turma presencial após o distanciamento da pandemia do COVID-19. Foi muito bom se conhecer pessoalmente e vivenciar algumas práticas durantes a aulas. Os capítulos foram elaborados a partir de reflexões e as vivências profissionais, revisões e investigações sobre as Práticas Integrativas e Complementares. A Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares continua oportunizando a mapear, apoiar, incorporar e implementar experiências desenvolvidas na rede pública de saúde dos municípios e estados brasileiros. Tais práticas terapêuticas buscam o bem-estar de indivíduos e coletividades através de uma perspectiva holística. Assim promover a recuperação da saúde e melhor qualidade de vida. Ressalta-se que as PICS não substituem o tratamento tradicional, mas atuam de forma conjunta e complementar. O uso dessas práticas tem crescido de forma global. E sua utilização proporciona a visão ampliada do processo saúde-doença, assim como propicia aos indiví- duos o desenvolvimento de maior autonomia sobre sua própria saúde, contribuindo para a promoção do autocuidado. É com grande satisfação que apresentamos essa obra aos nossos leitores e desde já fazemos votos que todos tenham uma ótima leitura. Prof. Dr. Ricardo Hugo Gonzalez Instituto de Educação Física e Esportes Programa de Pós-graduação em Saúde Pública Universidade Federal do Ceará PREFÁCIO Inicialmente quero falar da alegria pelo convite para prefaciar esta obra. A alegria vem em parte por ver essa temática se expandir nos espaços acadêmicos, mas também de reencontrar nesta escrita muitas pessoas com quem pude conviver em minhas andanças no campo da saúde, da educação, dos movimentos sociais e populares. Vem ainda de perceber que sujeites que caminham em campos diversos se encon- tram para refletir sobre o vivido, sobre o que Freire (1987) nomeou de saber-de-experiência-feito. Freire considerou essa categoria como fun- dante da construção do conhecimento nos lembrando da potência das experiências no sentido de lançar luzes sobre os processos e vislumbrar possibilidades coletivas de superação. Essa alegria se manifesta ainda na boniteza de perceber que a saúde coletiva passa a ser considerada como tarefa de todes e não apernas de pessoas que trilharam a formação no campo da saúde. Que ela se faz na escola, na comunidade, nas relações cotidianas. Essa obra nos convida a trilhar pelo cuidado em saúde olhan- do-o em uma perspectiva mais ampla como nos ensina Boff (1999) como essência humana, como relação amorosa para com a realidade orientada na defesa da vida, das relações solidárias e pacíficas entre os seres humanos e com os demais seres da natureza. Nos remete a incluir dimensões como a espiritualidade, a solidariedade, a cordialidade e a convivialidade estreitando as relações. Ao colocar práticasinseridas em uma política do SUS, que, embora criada em 2006 ainda caminha sem um lugar bem definido, sem finan- ciamento e sem uma proposta efetiva de formação dos trabalhadores, os textos aqui reunidos nos lembram da importância que essas práticas vêm assumindo no cotidiano de serviços de saúde e para além deles, no sentido de contribuir para a efetivação de um dos princípios centrais da nossa política de saúde que é o da integralidade. Sabemos que apesar da integralidade se constituir princípio ético do SUS, ainda vivenciamos muitas contradições na organização dos serviços de saúde que se pauta hegemonicamente pela racionalidade biomédica e que, mesmo com as medicinas tradicionais dos povos origi- nários, tendo sido incluídas no arcabouço teórico da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares(PNPIC), elas seguem excluídas, invisibilizadas e não reconhecidas pela grande maioria dos que pensam e executam a política em seu cotidiano. Nesse sentido é importante lembrar que, apesar da importância inquestionável das práticas da biomedicina ofertadas à população, não podemos negar outros itinerários terapêuticos que as pessoas trilham cotidianamente, na sua busca de recuperação da saúde e superação dos agravos vivenciados (DANTAS, 2020). Sem dúvida a criação da PNPIC e a inclusão de novas práticas ao arsenal de opções proposto mais recentemente, representam avanços fundamentais, especialmente no contexto da Estratégias Saúde da Famí- lia, da Saúde Mental, no que diz respeito às possibilidades de repensar os rituais de cuidado e promoção à saúde considerando as pessoas em sua totalidade e o respeito às peculiaridades, necessidades e identidades culturais das comunidades e de interagir e aprender com os sujeitos populares suas vivências de cuidado. Em um país de dimensões continentais como o nosso, algumas dessas práticas conseguem apontar possibilidades de interfaces com a formação acadêmica e com a produção de saberes sobre o cotidiano do trabalho em saúde e educação, como alguns dos textos contidos neste livro de modo a ampliar a perspectiva dos profissionais sobre a realidade dos territórios onde atuam. No contexto dessa produção, algumas das práticas tomadas como foco de reflexão, além de chamarem à dimensão da integralidade vendo os sujeitos em sua inteireza Dantas (2020), trazem experiências e con- tribuições de culturas locais e chamam a dimensão da integralidade vendo os sujeitos em sua inteireza. Calcadas em uma compreensão do adoecer que incorpora a intuição, a espiritualidade, a cultura tendo como centralidade a saúde. Temos preferido nomeá-las como práticas populares de cuidado porque reconhecem e legitimam crenças, valores, conhecimentos, desejos e necessidades das classes populares, refletindo sua leitura do mundo, estando no geral, referenciadas na ancestralidade, nas experiências e condições de vida, no contexto sociocultural. Oriundas de territórios, países e até continentes diferentes, vão apontando possibilidades de diálogos interculturais e de construção da interação entre serviços de saúde, movimentos sociais e academia. Desde as genuinamente cearenses como a Terapia Comunitária Integrativa e as Farmácias Vivas, passando pela Biodança originalmente nascida no Chile, práticas de medicinas tradicionais orientais como a Medicina Tradicional Chinesa, e a maravilhosa Shantala criação de uma mãe Indiana em cuja homenagem assim é nomeada, a leitura dessa bela produção nos leva a refletir e sobre a importância dessas práticas no contexto de políticas públicas, não apenas no Brasil mas também na Centro-América e as possibilidades que a partir delas se delineiam no cuidado de crianças, idosos e outros grupos etários. Nos remete a pensar na perspectiva de construção de formas coletivas de cuidado e promoção da saúde que rompam com a medica- lização e se pautem na interação na visibilização de saberes populares e tradicionais e que apontem possibilidades de construção de autonomia nos processos de cuidar abrindo lugar para dimensões como a amoro- sidade e a corresponsabilidade dos(as) sujeitos(es). Dessa leitura e suas potencias também emergem reflexões para seguirmos problematizando sobre a importância da implementação e fortalecimento das práticas integrativas no SUS com o cuidado para que não sejam capturadas pela lógica hegemônica da biomedicina, muitas vezes produtora de dependência e alienação do cuidado por parte de cidadãos (ãs) que buscam o cuidado. Que ampliem os diálogos e a interação com as dinâmicas popu- lares coletivas que em geral não cabem nos protocolos assistenciais dos serviços de saúde, mas que apontam para a reinvenção nos modos de cuidar e produzir saúde, de tecer redes que se movimentam. Que as evidências tão requeridas sobre essas práticas possam ampliar possibilidades de se pensar ciência não apenas sob a ótica car- tesiana, eurocêntrica mas considerando a perspectiva de que apren- demos, produzimos conhecimentos considerando o nosso ser inteiro “sentipensante como propõe o colombiano Orlando Fals Borda em que sujeites partícipes de processos de produção de conhecimento possam ser considerados seres “sentipensantes”, e que os olhares singulares experenciados pelos diversos sujeitos/as/es possam ser levados em conta no percurso da produção de conhecimento. De uma ciência não fragmentadora da realidade, e que possa ser inclusiva e propulsora de um pensar que se faz crítica de forma inte- gral e integrada, acolhendo, razão pensamento, emoção, sensibilidade, amorosidade, espiritualidade, para analisar crítica e cooperativamente situações-limite e sonhar nossos inéditos viáveis Que inclua aspectos como a criatividade, a arte como possibili- dades de expressar e gerar conhecimentos para um cuidado em rede como expressão de amorosidade e compromisso com a defesa da vida. Por fim fazendo um convite a você leitor(ra) a se debruçar sobre os escritos aqui colocados, penso que nos lembram de que trabalhadores e trabalhadoras da saúde e da educação ao comporem essa coletânea, expressam reflexões produzidas em um espaço acadêmico mas que traz implícitas as experiencias vividas em seus cotidianos o que nos remete ao que nos aponta Oscar Jara Holliday (2006) sobre a possibilidade de construir reflexões por meio de um processo dialético, que considera a historicidade, a criticidade para efetivação de uma prática transformadora. A rica produção desse coletivo de sujeites sobre o tema das prá- ticas integrativas nos faz mover-nos em esperança e nos leva ao encon- tro de Paulo Freire a nos dizer: É preciso ter esperança, mas ter esperança do verbo esperançar, porque tem gente que tem esperança do verbo esperar. E esperança do verbo esperar não é esperança, é espera. Esperançar é se levantar, esperançar é ir atrás, esperançar é construir, esperançar é não desistir! Esperançar é levar adiante, esperançar é juntar-se com outros para fazer de outro modo (FREIRE, 2002). Professora Dr. Vera Lúcia De Azevedo Dantas Espaço Ekobé – Pró-Reitoria de Extensão Universidade Estadual do Ceará https://www.uece.br/proex/category/espaco-ekobe/ SUMÁRIO A SHANTALA COMO FERRAMENTA DO CUIDADO DE LACTENTES E CRIANÇAS ............................................................................................................ 13 Tayná Vieira da Silva | Marcos Roberto Figueira Ferreira | Gabriela Nogueira Cavalcante | Ricardo Hugo Gonzalez APLICAÇÃO DA AROMATERAPIA EM CRIANÇAS: UMA REVISÃO INTEGRATIVA .......................................................................................................23 Gabriela Nogueira Cavalcante | Tayná Vieira da Silva | Marcos Roberto Figueira Ferreira | Ricardo Hugo Gonzalez ARTETERAPIA E PSICOMOTRICIDADE RELACIONAL NA ESCOLA: RELAÇÃO DE SENTIMENTOS, EMOÇÕES E EXPRESSIVIDADE .....33 Shirleibergue Feijó Moreira Sousa | Francisca Yara de Oliveira | Ana Soraya Santos | Kelen Gomes Ribeiro EXPERIÊNCIA DA TERAPIA COMUNITÁRIA INTEGRATIVANA ESCOLA PÚBLICA DE FORTALEZA ..............................................................43 Francisca Yara de Oliveira Mota | Ana Soraya Santos | Shirleiberg Feijó Moreira Sousa | Ricardo Hugo Gonzalez O CORPO GORDO E A PRÁTICA DO YOGA: BENEFÍCIOS, DESAFIOS E POTENCIALIDADES ........................................................................................57 Vanessa Siebra de Mesquita | Kelen Gomes Ribeiro DANÇAR A VIDA: BIODANÇA NO CONTEXTO DA SAÚDE .................. 71 Ana Soraya Santos | Francisca Yara de Oliveira Mota | Shirleiberg Feijó Moreira Sousa | Ricardo Hugo Gonzalez DANÇAS CIRCULARES COMO PRÁTICAS INTEGRATIVAS COMPLEMENTARES ...........................................................................................83 José Helder Diniz Junior OSTEOPATIA E QUIROPRAXIA.......................................................................95 Vyna Maria Cruz Leite FITOTERAPIA COMO PRÁTICA INTEGRATIVA E COMPLEMENTAR NO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE ................................................................... 111 Kelly Rose Tavares Neves | Karisia Caldas Tavares | Álvaro Jorge Madeiro Leite PRACTICAS INTEGRATIVAS Y COMPLEMENTARIAS EN SALUD: ACUPUNTURA ..................................................................................................... 127 Marco Tulio Gerardo Solano García PUBLICIDADE E PRÁTICAS INTEGRATIVAS: COMO LEVAR O REIKI AO PÚBLICO GERAL E PROFISSIONAIS DE SAÚDE .............................141 Marcelo Giacomini OZONIOTERAPIA - A TERAPIA COM O GÁS OZÔNIO: O CÉNARIO NO ANO DE 2023 ..................................................................................................161 Marcos Roberto Figueira Ferreira | Gabriela Nogueira Cavalcante |Tayná Vieira da Silva Ricardo Hugo Gonzalez SOBRE O ORGANIZADOR ............................................................................... 169 SOBRE OS AUTORES ......................................................................................... 170 ÍNDICE REMISSIVO .......................................................................................... 173 13 A SHANTALA COMO FERRAMENTA DO CUIDADO DE LACTENTES E CRIANÇAS Tayná Vieira da Silva Marcos Roberto Figueira Ferreira Gabriela Nogueira Cavalcante Ricardo Hugo Gonzalez O presente capítulo tem como objetivo mostrar como a Shantala pode ser utilizada para promover o vínculo materno com seu filho e auxiliar no desenvolvimento infantil da criança devido aos estímulos realizados durante o momento em que as técnicas são aplicadas. O estudo justifica-se pela falta de conhecimento dos usuários acerca das técnicas de aplicação da Shantala e da necessidade de implantação dessa prática para promoção da saúde da criança e fortalecimento do vínculo com seu(s) cuidador(es) como forma de transmitir segurança, acon- chego, carinho, alívio, dentre outras sensações ao bebê. O toque é um mensageiro importante no processo de reconhecimento e a Shantala permite além dele uma troca de energia e olhar entre o bebê e cuidador, podendo ser utilizada sempre que desejado e até como rotina de cui- dados. Justifica-se essa discussão pela contribuição que a Shantala tem no processo de desenvolvimento da criança e na formação de vínculo com o seu meio social, podendo ser aplicada não apenas no contexto de Atenção Primária e devendo ser ensinada, por profissionais capacitados para a execução correta das técnicas, beneficiando pais e filhos a partir do fortalecimento de vínculos e auxílio no desenvolvimento infantil. O VÍNCULO COMO FATOR DE DESENVOLVIMENTO O desenvolvimento infantil é um processo gradual no qual o indivíduo aprende, a partir dos estímulos externos, aspectos socioemo- cionais e da linguagem, a evoluir constantemente (FERNANDESet al., 2020). Tais evoluções são interdependentes, mas estão inter-relacionadas 14 não apenas com a própria evolução natural do ser, mas também com o meio no qual vive, condições socioeconômicas, nutricionais, estimu- lação cognitiva por meio dos familiares, suporte e instrução familiar, acompanhamento profissional durante a primeira infância, dentre outros aspectos (BLACK et al, 2017; VILLAR et al, 2019). A gestação traz consigo muitas transformações e novos atribu- tos sociais para a família que está se formando, sendo o vínculo uma formação necessária de amparo tanto para o bebê quanto para a mãe que sofre diversas alterações psíquicas, físicas, emocionais e sociais (SIMAS et al, 2013). A rede de apoio dessa mulher torna-se fundamen- tal nesse novo ciclo, influenciando diretamente na relação mãe-bebê, nos cuidados maternos e no desenvolvimento da criança ao longo dos tempos (FREITAS; MARQUES, 2022). Assim, é possível perceber como o vínculo é capaz de estabelecer conexões necessárias para o binômio mãe-bebê, a fim de ofertar inúme- ros benefícios, como troca de afeto, olhares, gestos e cuidado mútuo, a ambos. Isso perdura durante a vida de ambos, refletindo no cuidado e no desenvolvimento da criança no decorrer dos anos, ofertando a mãe uma maior segurança dos cuidados prestados. Uma rede de apoio é fundamental nos momentos iniciais, pois há uma adaptação de toda a nova rotina que está sendo criada, porém é fundamental para ambos esses momentos de cuidado para além do vínculo formado durante os momentos de amamentação. É válido ressaltar que a Shantala pode ser ofertada por demais membros da família, como o pai e os avós. A formação de vínculo entre a mãe e o bebê ocorre desde o momento intrauterino, quando, na gestação, essa mulher tem seus momen- tos íntimos com o novo ser que vem sendo gerado, como conversas entre ambos, músicas cantadas para o bebê, massagens e/ou toques no ventre e até a interação entre mãe, pai e bebê em um momento mais intimista. No momento extrauterino, esses vínculos se fortalecem através do cuidado físico, da compreensão de estímulos e sensações, do acalanto 15 ao choro, da amamentação e até mesmo no momento do banho e de ninar para dormir (CARLETTO, 2019). É nesse processo de formação de vínculo extrauterino e trazendo mais um momento de conexão entre a mãe e o bebê que se pode incluir a Shantala na rotina do binômio mãe-filho. Esta Prática Integrativa e Complementar em Saúde (PICS) oriunda da Índia e é própria para ser aplicada em bebês e crianças, não apenas com a finalidade de estreitar os laços, mas também de melhorar o relaxamento, sono, cólicas e outras necessidades fisiológicas do bebê, além de ajudar no seu desenvolvi- mento infantil (LEBOYER, 2009). A partir do exposto, é vista a necessidade de promoção do vín- culo entre o binômio mãe-filho e como a Shantala pode auxiliar nesse processo, além de trazer uma gama de benefícios à saúde do bebê. Assim, é necessário estimular a formação de profissionais direcionada para a aplicação e a orientação das técnicas dessa massagem aos pais dentro do seu contexto de atuação de cuidados à família, propagando o uso dessa técnica e fomentando o cuidado através do toque, trazendo melhorias para o seio familiar e para o desenvolvimento da criança em um aspecto biopsicossocial. SHANTALA: APLICABILIDADE E REFLEXOS NO CUIDADO INFANTIL Frédérick Leboyer, em 1976, médico e obstetra francês, observou na cidade de Calcutá, Índia, mulheres massageando seus bebês sempre com os mesmos movimentos e aquilo o deixou encantado. Resolveu então colocar o nome dessa técnica de Shantala, devido a uma mulher paraplégica, que foi acolhida juntamente com seus filhos por freiras em um albergue e para recompensar aquele ato de caridade, cuidado e amor resolveu aplicar as técnicas de massagens nos bebês que ali se encontra- vam. A partir disso, o médico produziu um filme com a demonstração da sessão de massagem Ayurveda adaptada para bebês que vem sendo difundida no decorrer dos anos e, em especial no Brasil, a partir de 1986, 16 por meio da publicação de um livro de Leboyer no qual ensina essas técnicas (LEBOYER, 2009; LEBOYER, 2010). Esta técnica indiana se aplicana superfície corporal do bebê atra- vés do toque executado pela mãe. É composta por um passo a passo de técnicas sendo elas: preparação do ambiente; deslizamento em “X” no tronco e abdômen do bebê; torcedura de braços e punhos; deslizamento com polegares em sentido horário no abdômen; torcedura em pernas e tornozelos; em decúbito ventral, realizar o deslizamento das mãos em toda região dorsal, incluindo nádegas e pernas; retornar o bebê para o decúbito dorsal e fazer técnicas de deslizamento com a ponta dos dedos em toda a superfície facial; realizar alongamento de braços e pernas – favorecendo o estímulo dos movimentos dos membros e os reflexos já existentes – e o momento pode ser finalizado com um banho relaxante (LEBOYER, 2009). É válido ressaltar que o bebê é quem conduz o momento e mostra se está sendo prazeroso e saudável para ele. A Shantala é considerada uma das terapias mais antigas e tradicio- nais e atua não somente como terapia, mas como modo de reconheci- mento do bebê à diferença do ambiente interno e externo ao útero. Tais técnicas auxiliam principalmente nesse período de transição e, em sua aplicabilidade, deve-se utilizar óleos essenciais aquecidos com a fricção das mãos, preparar o ambiente para realizar o momento e haver uma orientação prévia e adequada para aplicação das técnicas promovendo, assim, relaxamento e bem-estar ao bebê e/ou criança, auxílio do desen- volvimento dos sistemas circulatório, respiratório, digestivo, linfático e cognitivo. Esta terapia também contribui na regulação da pressão arterial, aumentando a distribuição de sangue para órgãos e tecidos e no sistema imunológico, favorecendo o funcionamento metabólico (CAMPADELLO, 2006; CARNEIRO et al, 2020). A Shantala consiste em técnicas benéficas para pais e filhos, pro- porcionando uma maior qualidade de vida, redução de estresse, cólicas abdominais e reforçando o vínculo afetivo, mostrando a beleza da comu- nicação com a troca de olhares, sorriso e amor, sendo este um método 17 de baixo custo e, por isso, seu uso deve ser mais estimulado e ensinado (CANAÃ et al, 2021), corroborando com as afirmativas Bowden e Grenn- berg (2019), que afirmam que a massagem integra o campo de ações que buscam auxiliar no manejo da dor através do estímulo, com base em uma descarga sensorial positiva promovendo a circulação sanguínea. No Brasil, a Shantala passou a ser implantada nos serviços de saúde do Sistema Único de Saúde (SUS), por meio da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC), através da Portaria GM n° 849/2017, que descreve como uma técnica de massagem para bebês e crianças, composta por séries de movimentos pelo corpo, permitindo despertar e ampliar o vínculo do cuidador com o bebê, promovendo a saúde integral e reforçando vínculos afetivos, confiança, criatividade, dentre outros, além de harmonizar e equilibrar os diversos sistemas cor- póreos como circulatório, respiratório e linfático. Os estímulos também reforçam o movimento das articulações e musculatura, auxiliando no desenvolvimento motor e em movimentos como rolar e andar. Um estudo realizado em 2021 afirma a potência existente nessa técnica no que tange a tranquilidade e a recepção ao toque, mostrando que, na sua amostragem, cerca de 31% das mães afirmam que os bebês se tornaram mais tranquilo, dos quais, cerca de 16% apresentaram uma melhora no padrão do sono e 8% na recepção do toque e melhora da atenção. É também revelada uma melhora do funcionamento intestinal em 6,2% e de 12,5% da habilidade motora (CUNHA, 2021). Outro estudo, realizado por Anziliero e Dal Molin (2020), mos- tra os efeitos da Shantala na redução da frequência cardíaca do bebê em cerca de 14 batimentos por minuto e 9 incursões respiratórias por minuto após ser submetido às técnicas de massagem, evidenciando o relaxamento e a influência direta da Shantala no sistema nervoso parassimpático. Ressalta-se ainda que essa é uma intervenção que pode ser realizada tanto pelo profissional de saúde dentro de um ambiente hospitalar quanto pelo cuidado e ou/pais do bebê, promovendo uma melhora do estado geral e agitação. 18 A partir de um estudo, realizado em 2020, aplicando técnicas de massagem em cinquenta crianças hospitalizadas também foi possível evidenciar uma diminuição da dor, frequência cardíaca e respiratória em números consideráveis, principalmente, no que tange a categoria dor leve. Apesar da existência de tecnologias leves, essas pouco são aplicadas dentro do ambiente hospitalar, sendo evidenciadas por meio das prescrições nas quais o único meio descrito para alívio da dor era uso de analgésicos quando necessário (SILVA et al, 2020). É percebendo as evidências científicas produzidas que podemos observar os diversos meios de proporcionar conforto e vínculo à criança sem que sejam utilizados medicamentos ou objetos e máquinas. A Shantala vem para promover uma interação da criança com o seu cuidador, dan- do-lhes intimidade e podendo ser utilizada nos mais diversos ambientes do cuidado, seja em domicílio, no contexto da AB ou nos serviços de atenção secundária e terciária. Sua aplicabilidade está diretamente ligada ao contexto no qual o usuário e sua rede de apoio está inserida, sendo total- mente adaptável às necessidades inerentes naquela determinada ocasião. FORMAÇÃO DE PROFISSIONAIS PARA O ENSINO DA APLICABILIDADE DA SHANTALA A formação de profissional para aplicação das PICS é algo escasso quando se é associado à oferta de cursos de capacitação pelo Ministério da Saúde ou pelas prefeituras municipais. Relatos mostram que, quando essas formações ocorrem de modo gratuito, elas são rápidas, de curta duração e muitas vezes, ao final, não se sente seguro para aplicar as téc- nicas devido ao pouco tempo de prática vivenciado. Os cursos de maior duração partem de um investimento particular realizado pelos profis- sionais e seu interesse em aprender acerca das PICS (SILVA et al, 2021). Estudos sobre a atenção básica demonstraram a necessidade de se desenvolver profissionais de Enfermagem capazes de atuar no Sistema Único de Saúde com os princípios que norteiam a Política de Atenção Básica, local onde técnicas eficazes e de baixo custo podem 19 ser muito úteis (FÉLIX; MAIA; SOARES, 2019). Corroborando com a ideia, Camilo (2022) traz a reflexão que grande parte dos acadêmicos dos cursos de enfermagem tem receio na atuação de novas diretrizes e que o modelo biomédico é limitante, fazendo com que a formação acadêmico-profissional também seja. Desse modo, as PICS não constam como disciplina da grade curricular das universidades ou estão como disciplinas optativas e que a maioria dos acadêmicos têm conhecimento das práticas devido a saberes populares (CAMILO, 2022). Uma experiência exitosa para a formação de profissionais foi testada em Recife, no ano de 2018, quando surgiu a necessidade de se ampliar a formação de profissionais e de oferta das PICS em um deter- minado território, sendo essa necessidade identificada através de registros das conferências municipais e congressos acadêmicos. Assim, surgiu o Projeto Salutar que tinha como objetivo ampliar os pontos de cuidados integrativos, sendo uma parceria da Universidade de Pernambuco com a Prefeitura de Recife, e capacitaram 141 pessoas entre profissionais na AB e do NASF, alunos da graduação e residentes. Foram ofertadas onze modalidades de PICS, dentre elas, a Shantala, através de oficinas que variavam de vinte a cem horas aula (NASCIMENTO et al, 2020). Diversas experiências acerca da formação dos profissionais em PICS podem ser encontradas na literatura como nos mostra Barboni (2023), Nunes et al (2022), Carrer et al (2022) e Silva et al (2019), que realizou um estudo em que foram entrevistados vinte profissionais acerca da sua formação e capacitação para aplicação das PICS em seu cenário de atuação, sendo evidenciado que apenas dois profissionais aplicavam Shantala e não possuíam curso específico. Issomuito preocupa, pois, enquanto nas outras PICS eram ofertados cursos de curta duração sendo presenciais ou online, a modalidade Shantala não possuía nenhuma das opções, mostrando uma fragilidade de pessoas capacitadas para o ensino da técnica. Persistiram nesse estudo os relatos da necessidade de se ter cursos com uma carga horária mais abrangente e de modo presencial 20 e que o conhecimento inicial acerca das PICS não foi na graduação ou em outro espaço formativo e sim por meio da internet, livros e revistas. Percebe-se, assim, que os usuários que têm acesso às PICS afirmam a necessidade de ampliá-las e com o êxito dos cursos e das aplicações das práticas é necessário investimento das Prefeituras Municipais para capaci- tar de profissionais que possam executar as PICS. Um dos investimentos seria parcerias com Universidades que possuem projetos com as PICS, que utilizam dela no meio acadêmico e contribuindo para um dos tripés da universidade que é a extensão. Salienta-se a necessidade de um investi- mento financeiro para a aquisição de materiais necessários não só para o ensino das práticas, mas também a execução delas no ambiente desejado. CONSIDERAÇÕES FINAIS A concreta implantação das PICS dentro do SUS deve ser repensada dentro de uma premissa da real valorização da aplicação dos cuidados nos usuários, sendo destinados recursos financeiros próprios para se propor- cionar ambiente e material adequado para realização de cursos e oficinas com os pacientes que frequentam o espaço e se interessam pela temática. A partir do presente estudo foi percebida a influência que a Shan- tala tem para melhorar efetivamente o vínculo do cuidador com o bebê além de influenciar diretamente no processo de desenvolvimento infantil e amenizar desconfortos, como as cólicas, comuns nessa fase de adaptação com o meio externo. Apesar de ser uma técnica que pode ser utilizada em diferentes ambientes, ainda se faz necessária a qualificação de profissionais para orientar corretamente os pais/cuidadores a realizar as técnicas de Shan- tala de modo eficiente e que não venha a causar desconforto ou demais danos ao bebê. Desse modo, é necessário investimento público para a realização de cursos presenciais ou mistos com carga horária suficiente para que haja uma boa compreensão dos profissionais acerca das técnicas que são utilizadas na Shantala. 21 REFERÊNCIAS ANZILIERO, G. P., DAL MOLIN, R. S. Avaliação dos sinais vitais em bebês no primeiro ano de vida submetidos à massagem Shantala. Saúde em Foco: temas contemporâneos – Volume 1. Cap 34, p. 462 – 474. 2020. BARBONI, Viviana Graziela de Almeida Vasconcelos. Panorama e perspectivas teóri- co-metodológicos das práticas integrativas e complementares em saúde (PICS) na formação profissional em educação física em universidades públicas brasileiras. 2022. Dissertação (Mestrado em Estudos Socioculturais e Comportamentais da Educação Física e Esporte) - Escola de Educação Física e Esporte, University of São Paulo, São Paulo, 2022. DOI:10.11606/D.39.2022.tde-21122022-173614. Acesso em: 2023-07-24. BLACK, M. M., WALKER, S. P., FERNALD, L. 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A OMS e a Organização Pan- -Americana de Saúde (OPAS) formularam um manual com estratégias para o enfrentamento dessas doenças mais prevalentes (OPAS, 2022). Esse manual, chamado Atenção Integrada das Doenças Preva- lentes na Infância (AIDPI), é uma metodologia utilizada para reduzir a mortalidade infantil no Brasil, por meio do auxílio a profissionais de saúde da Atenção Primária à Saúde (APS) no atendimento às crianças nos primeiros 5 anos de vida (OPAS, 2022). Tendo em vista o cuidado à saúde no contexto da APS, o AIDIPI fornece recomendações de simples execução para uma resposta ágil ao processo saúde-doença, com foco da atenção de um olhar mais com- plexo e integrado para o conjunto de doenças de maior prevalência na infância (OPAS, 2022; BRASIL, 2017). 24 Para a garantia de saúde integral da criança é importante que se utilize estratégias viáveis e acessíveis para todos, considerando as características socioeconômicas. Por exemplo, a Medicina Tradicional (MT) é geralmente de baixo custo e de fácil acesso e manipulação. A MT tem sua origem em crenças culturais de determinados povos, carac- terizadas por práticas que atravessaram gerações e permanecem vivas até a atualidade (OPAS, 2023). Ao longo das últimas décadas, as MT estão sendo muito incen- tivadas nos sistemas de saúde, especialmente na APS. No Brasil, a regulamentação das práticas da MT está contida na Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PNPICS) (BRA- SIL, 2006; BELTRÃO et al, 2020). As Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) contemplam sistemas médicos complexos que buscam estimular os mecanismos naturais de prevenção de agravos e recuperação da saúde por meio de tecnologias eficazes e seguras (BRASIL, 2006). Dentre as PICS, a aromaterapia pode ser utilizada para o cui- dado ao público infantil. Caracteriza-se como prática terapêutica secular que consiste no uso de concentrados voláteis extraídos de vegetais, os óleos essenciais (OE), a fim de promover ou melhorar a saúde e o bem-estar (BRASIL, 2018). A despeito do uso da aromaterapia no público pediátrico, Ghaderi e Solhjou (2020), ao aplicarem OE de lavanda em crianças de sete a nove anos para alívio do estresse e da percepção de dor, encontraram redução do cortisol salivar, diminuição da frequência respiratória e cardíaca. O presente estudo foca na melhora do nível de conhecimento sobre a aplicação de aromaterapia em crianças, pois essa prática pode auxiliar na atenção ao público infantil, incluindo as doenças prevalentes. Diante de tais motivações, o objetivo do presente estudo é realizar uma revisão integrativa de literatura sobre o tema aromaterapia para analisar a aplicabilidade desta prática de cuidado no campo da saúde pediátrica, a 25 fim de auxiliar a prática de profissionais de saúde e os familiares enten- derem os benefícios da aromaterapia para o público infantil. METODOLOGIA Trata-se de uma revisão integrativa, que se caracteriza pela reu- nião e síntese de resultados de estudos acerca de determinado tema ou objeto, de forma ordenada, seguindo um delineamento. É uma meto- dologia mais abrangente, pois permite a inclusão simultânea de tipos de estudos como quase-experimentos, diferente da revisão sistemática, tornando mais ampla a compreensão do objeto ou tema investigado (CAVALCANTE; OLIVEIRA, 2020). A construção da revisão integrativa percorre seis etapas: identifica- ção do tema e elaboração da questão de pesquisa; estabelecimento dos cri- térios de inclusão e exclusão para seleção dos estudos; definição das infor- mações a serem extraídas dos estudos selecionados; avaliação dos estudos incluídos na revisão integrativa; interpretação dos resultados; e apresen- tação da síntese dos resultados (CAVALCANTE; OLIVEIRA, 2020). Foi definida como pergunta de pesquisa: Qual o uso de aromate- rapia em crianças e quais os seus efeitos? Para resolver esse problema, foi utilizada a estratégia de busca construída em blocos temáticos deno- minada PIC. Esse é um acrônimo onde P é a população abordada, I é a intervenção ou fenômeno de interesse e C é o contexto (ARAÚJO, 2020). No presente estudo, P- crianças, I- aromaterapia, C- efeitos do uso da aromaterapia em crianças. Essa ferramenta foi importante para a seleção dos descritores para realizar a estratégia de busca nas bases de dados. Foi buscado na PubMed, Bdenf e Lilacs, com os descritores “Criança” e “Aromaterapia” de acordo com o DeCS/MeSH (Descritores em Ciência da Saúde), nos idiomas inglês, português e espanhol. Ao buscar nas bases de dados, foram utilizados os descritores mencionados, nos três idiomas, com os operadores booleanos AND e 26 OR, da seguinte forma: Aromaterapia OR Aromatherapy OR Aromatera- pia AND Criança OR Child OR Niño. Os critérios de inclusão foram artigos disponíveis na íntegra, nos idiomas português, inglês e espanhol e data de publicação de 2019 a 2023, com o objetivo de coletar dados mais atualizados, dos últimos cinco anos. O critério de exclusão foi artigos que não respondem a pergunta de pesquisa. A busca foi realizada por apenas um pesquisa- dor, no dia 18 de maio de 2023. Para coleta e organização dos dados foi utilizado o programa Excel do Microsoft Office Profissional Plus 2016, com as seguintes questões de pesquisa: título do artigo, autor, periódico publicado, banca de busca, ano da publicação, tipo de publicação, local da pesquisa, amostra dos estudos, objetivo da pesquisa e resultados referentes às perguntas uso da aromaterapia e seus efeitos. RESULTADOS Foram identificadas um total de 58 publicações com a estraté- gia de busca mencionada na plataforma Nacional Library of Medicine (MEDLINE/PUBMED), sendo que sete atenderam aos critérios de inclusão. Na Base de dados da Enfermagem (BDENF), 24 foram encon- trados, mas nenhum foi selecionado. Enquanto na Literatura Latino- -Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), 21 artigos, sendo dois selecionados. Totalizando, o total de nove artigos para leitura aprofundada e caracterização da revisão integrativa, conforme quadro 1. Sobre os periódicos, três foram da área temática da odontologia, três da área pediátrica e os demais de revistas e jornais multiprofis- sionais conforme demonstrado no quadro abaixo. Quanto ao ano de publicação, houve uma concentração maior no ano de 2021, com três, seguido de 2020, com duas, e as demais, com uma publicação para cada ano de 2018, 2019 e 2023. 27 Dois estudos são transversais, dois cortes, dois estudos descriti- vos, um estudo qualitativo, uma revisão de literatura e um ensaio clínico randomizado, com o nível de evidência avaliado segundo a escala Gra- ding of Recommendatons Assessment Development and Evaluaton (GRADE) discriminado no quadro abaixo (BRASIL, 2014). A despeito do uso da aromaterapia em crianças, em dois estudos foi realizada a intervenção para ansiedade relacionada a procedimento odon- tológico. Além disso, foi relatado o uso para epilepsia, bruxismo, redução de dor, infecções agudas do trato respiratório, erro inato do metabolismo, doenças reumáticas, febre, problemas de sono, tosse, entre outros. 28 Q ua dr o 1- P ub lic aç õe s o rg an iz ad as d e a co rd o co m o s a ut or es , t ítu lo , a no d e p ub lic aç ão , p er ió di co /á re a e b as e d e d ad os . F or tale za , C ea rá , Br as il, 2 02 3. R ef er ên ci a T ítu lo d e pu bl ic aç ão Pe rió di co T ip o de p ub lic aç ão N ív el d e ev id ên ci a L oc al d o E st ud o Pr in ci pa is a ch ad os JA M E S, J. et a l., 2 02 1 E ff ec tiv en es s of A ro m at he ra py a nd M us ic D is tr ac tio n in M an ag in g Pe di at ric D en ta l A nx ie ty : A C om pa ra tiv e St ud y In te rn at io na l J ou rn al o f C lin ic al Pe di at ric D en tis tr y E st ud o tra ns ve rs al de sc rit iv o M od er ad o Ín di a D im in ui çã o da an sie da de re lac io na da a pr oc ed im en to o do nt ol óg ico , d im i- nu içã o do ri tm o ca rd íac o e r es pi ra tó rio , a um en to d a s at ur aç ão d e o xi gê ni o. H E IJ D E N , M . J. D .E . V . D .et al. , 2 02 2 A ro m at he ra py m as sa ge s ee m s ef fe ct iv e in cr iti ca lly il l c hi ld re n: a n ob se rv at io na l b ef o- re -a fte r s tu dy Pa ed ia tri c an d N eo na ta l P ai n E st ud o co or te p ro sp ec tiv a M od er ad o Á fri ca d o Su l M el ho ra d a an sie da de e m el ho ra d o co nf or to , m as n ão fo i p er ce bi do po r t od as a s c ria nç as p ar tic ip an te s d a pe sq ui sa . N I R M A L A , K .; K A M A TH A M , R ., 20 21 E ff ec t o f A ro m at he ra py o n D en ta l A nx ie ty an d Pa in i n C hi ld re n U nd er go in g Lo ca l A ne st he tic A dm in ist ra tio ns : A R an do m iz ed C lin ic al T ria l Jo ur na l o f C ar in g Sc ie nc es E ns ai o cl ín ic o ra nd om iz ad o A lto Ín di a M el ho ra d a an sie da de c om O E d e lav an da a pl ic ad o at ra vé s do m od o ne bu liz aç ão e O E d e l ar an ja da s d ua s f or m as , n eb ul iza da e co m in ala do re s. Z H U, Z . e t a l., 2 02 3 U se o f In te gr at iv e, C om pl em en ta ry , an d A lte rn at iv e M ed ici ne in C hi ld re n w ith E pi lep sy : A G lo ba l S co pi ng R ev ie w C hi ld re n Re vi sã o de e sc op o Ba ix o C ol ôm bi a D im in ui çã o da fr eq uê nc ia e d ur aç ão d as c on vu lsõ es . A lé m d e m el ho ra da q ua lid ad e de v id a. TA O , J . e t a l., 2 02 0 U se o f co m pl em en ta ry a nd a lte rn at iv e m ed i- ci ne in p at ie nt s w ith in bo rn e rr or s of m et a- bo lis m : A si ng le -c en te r s tu dy Jo ur na l o f In he rit ed M et ab ol ic D ise as e E st ud o tra ns ve rs al M ui to b ai xo C an ad á 66 % d as c ria nç as e m tr at am en to u til iz am P IC S, d en tre e ss as , 3 0% u til i- za m a ro m at er ap ia , t ra ze nd o re la to s de e fe ito s be né fic os e m re la çã o ao tra ta m en to d e er ro s i na to s d o m et ab ol ism o. LU C A S, S . e t a l., 2 01 9 Pa re nt u se o f co m pl em en ta ry m ed ic in e re m ed ie s an d se rv ic es f or th e m an ag em en t of r es pi ra to ry tr ac t i nf ec tio n in c hi ld re n: a qu al ita tiv e st ud y Jo ur na l of M ul tid is ci pl in ar y H ea lth ca re E st ud o qu al ita tiv o Ba ix o A us trá lia D en tre as P IC S ut ili za da s p ar a t ra ta m en to d as in fe cç õe s a gu da s d o tra to re sp ira tó rio , a a ro m at er ap ia fo i a m ai s u til iz ad a, 65 % d os p ar tic ip an te s re la ta ra m o se u us o. E C K E RT , M . e t a l., 2 01 8 In te gr at iv e P ed ia tr ic s: Su cc es sf ul Im pl em en ta tio n of I nt eg ra tiv e M ed ic in e in a G er m an H os pi ta l S et tin g- C on ce pt a nd Re al iz at io n C hi ld re n E st ud o de sc rit iv o Ba ix o A le m an ha A a ro m at er ap ia é ut iliz ad a co m b as tõ es ro ll-o n, em fo rm a de b an da ge ns e ca ta pl as m as . E nv ol tó rio s e ca ta pl as m as s ão u sa do s em c om bi na çã o co m ól eo s ar om át ico s na te ra pi a in te ns iv a pa ra re cé m -n as cid os n a un id ad e de cu id ad os in te rm ed iár io s e n as en fe rm ar ias em p ac ien te s c om d oe nç as re u- m át ica s, an sie da de , f eb re , d or es n as a rti cu laç õe s, pr ob lem as d e so no , d or ab do m in al e t os se , e nt re o ut ro s. LE M O S, M .B .S .et a l., 2 02 2 C on ec ta nd o so rr iso s: re la to d e ex pe riê nc ia em u ni da de d e as sis tê nc ia à c ria nç a au tis ta Re vi st a da A ss oc ia çã o Br as ile ira de E ns in o O do nt ol óg ic o E st ud o de sc rit iv o Ba ix o Br as il A ro m at er ap ia e m c on ju nt o co m m us ic ot er ap ia a ux ili ou n a re du çã o da an sie da de e m re la çã o ao tr at am en to d e br ux ism o. V IL LA R, B .B . e t a l., 2 02 1 Té cn ic as al te rn at iv as p ar a a g es tã o co m po rt a- m en ta l e m o do nt ol og ia p ed iá tri ca R ev is ta d e od on to pe di at ri a la tin oa m er ic an a E st ud o co or te re tro sp ec tiv a M od er ad o E sp an ha O s O E m ai s u til iz ad os fo ra m la va nd a e ca m om ila . Fo nt e: A ut or ia p ró pr ia . 29 DISCUSSÃO A presente revisão de literatura tratou de tema importante para a atenção à saúde da criança. A aromaterapia mostrou-se ferramenta no tra- tamento de crianças. Lucas et al (2019), em estudo na Austrália, demonstrou que a aromaterapia é utilizada no cuidado às doenças prevalentes, como a Infecção Respiratória Aguda (IRA), que está como uma das responsá- veis pela mortalidade de crianças de zero a cinco anos (BRASIL, 2017). O AIDIPI, manual criado para o enfrentamento das doenças prevalentes na infância, orienta sobre a importância da utilização prefe- rencial de medidas caseiras em relação aos medicamentos convencionais. Dentre essas medidas caseiras, está a oferta de mel de abelha e efusão de plantas medicinais, por exemplo (BRASIL, 2017). Essas medidas caseiras citadas são exemplos de PICS, como a aromaterapia, prática que pode contribuir com o Sistema Único de Saúde, não somente por trazer benefícios aos pacientes, como também colaborar com a economia de gastos da instituição pública. A prática reduz custo, pois a matéria-prima utilizada possui custo relativamente baixo em comparação com suas vantagens (BRASIL, 2018). A mortalidade infantil é um indicador de saúde que expressa as condições de vida de uma população (BRASIL, 2021). Portanto, é necessário que seu cuidado seja transversalizado na Rede de Atenção à Saúde, com atenção multiprofissional. Os OE são utilizados por profissionais de diferentes áreas, como enfermeiros, psicólogos, fisioterapeutas, médicos, veterinários, terapeutas holísticos, naturistas, dentre outros (BRASIL, 2018). Porém, nessa revi- são, houve mais publicações na odontologia, demonstrando que esses profissionais estão trabalhando com aromaterapia para o público infantil. É importante relatar que, na base de dados da enfermagem, não foi encontrado estudo da aromaterapia aplicado ao público infantil, embora tenham sido achadas muitas pesquisas com aplicação da prática voltada para a saúde do trabalhador da enfermagem. É preciso que seja 30 incentivada a pesquisa e a atuação multiprofissional na aromaterapia, o ganho é do público infantile seus familiares. A redução da ansiedade relatada no estudo de Nirmala e Kama- tham (2021), na Índia, traz um nível de evidência alto, pois se trata de um ensaio clínico randomizado, com bom desenho metodológico, demonstrando que a aromaterapia pode ser utilizada para crianças (APÓSTOLO, 2017). Efeito que já é visto na literatura, como o estudo de Ghaderi e Solhjou, com intervenção de estresse e percepção de dor relacionada a procedimentos odontológicos no Irã. Ademais, outras condições de saúde precisam ser mais estudadas, pois ainda existem poucas pesquisas, como bruxismo, epilepsia e erro inato do metabolismo, que, no presente estudo, evidenciou-se os OE como ferramentas no seu tratamento. A despeito da aromaterapia, algumas situações de saúde são tra- balhadas mais, como a ansiedade, mas através dessa revisão integrativa é possível perceber que há outros campos de atuação dessa prática. Apesar da contribuição desse estudo para familiares de crianças e profissionais da saúde no uso da aromaterapia, o delineamento dessa revisão integrativa apresenta uma limitação de produzir evidência científica com baixa qualidade, por isso é necessário que sejam realizadas revisões sistemáticas com metanálise para garantir a força das recomendações dos achados de pesquisa, incentivando a ampliação das PICS no Brasil. CONCLUSÃO Os conhecimentos e evidências na literatura sobre a aromaterapia na atenção à saúde da criança podem ser utilizados na ansiedade rela- cionada a procedimento de saúde, devido a qualidade das evidências de um ensaio clínico randomizado. Sobre a ansiedade, através da melhora nos sinais vitais, foi possível visualizar os efeitos biológicos dessa prática, por exemplo, a redução do ritmo cardíaco e aumento da saturação de oxigênio. Ademais, estu- 31 dos qualitativos com maior rigor metodológico também podem ter força de recomendação importante. A aromaterapia mostrou ser utilizada em várias situações de saúde, sobretudo no cuidado às doenças prevalentes, como estratégia para a redução da mortalidade infantil. Porém, a literatura trouxe outros usos da prática que precisam ser estudados com melhor delineamento. Por exemplo, a respeito de algumas condições de saúde, devido ao número reduzido de artigos e alguns com desenho metodológico que não pro- duzem bom nível de evidência científica, como o bruxismo, erro inato de metabolismo, epilepsia, dentre outros citados. As PICS são recursos terapêuticos acessíveis para o enfrentamento de diversas condições de saúde que atingem as crianças, por isso devem ser realizadas pesquisas com a temática para incentivar o conhecimento da população sobre os seus benefícios e a capacitação multiprofissional para disseminação dessas práticas com cuidado de saúde. REFERÊNCIAS APÓSTOLO, João Luís Alves. Síntese Da Evidência No Contexto Da Translação Da Ciência. 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Altera a Portaria de Consolidação nº 2/GM/MS, de 28 de setembro de 2017. Brasília, DF: Editora Ms, 2018. 32 BRASIL. Ministério da Saúde. Boletim Epidemiológico. Mortalidade infantil no Brasil. Secretaria de Vigilância em Saúde. Brasília, v.52, 15 p., out. 2021. CAVALCANTE, Lívia Teixeira Canuto; OLIVEIRA, Adélia Augusta Souto de. Métodos de Revisão Bibliográfica nos Estudos Científicos. Psicologia em Revista, Belo Horizonte, v. 26, n. 1, p. 83-102, abr. 2020. GHADERI, Faezeh; SOLHJOU, Neda. The effects of lavender aromatherapy on stress and pain perception in children during dental treatment: A randomized clinical trial. Complementary Therapies In Clinical Practice, Irã, v. 40, n. 1, p. 1-5, 28 abr. 2020. MATTOS, S. et al. Elaboração e validação de um instrumento para mensurar Autopercepção de Saúde em adultos. Saúde Debate, p. 366–377, jun. 2021. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). 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Acesso em: 1 jun. 2023. 33 ARTETERAPIA E PSICOMOTRICIDADE RELACIONAL NA ESCOLA: RELAÇÃO DE SENTIMENTOS, EMOÇÕES E EXPRESSIVIDADE Shirleibergue Feijó Moreira Sousa Francisca Yara de Oliveira Ana Soraya Santos Kelen Gomes Ribeiro INTRODUÇÃO Cada vez mais percebe-se, no âmbito educacional, discurssão e estu- dos sobre a necessidade de efetivar um modelo de educação que considere o sujeito como um ser completo, que não possa ser tratado, corpo, mente e emoções como aspectos isolados. De acordo a BNCC tem demonstrado de forma mais evidente a prioridade que é o desenvolvimento da saúde emocional de alunos no ambiente escolar. O documento se apresenta especificando 10 “Competências Gerais da Educação Básica”. A oitava competência, se refere a: “Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, com- preendendo-se na diversidade humana e reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas.” (BRASIL, 2017, p. 10). Diante desta confirmação, podemos afirmar que a proposta da Psicomotricidade Relacional tem uma relação com o conceito no documento oficiail da BNCC. Segundo Vieira, Bellaguarda e Lapierre ( Vieira; Batista; Lapierre, 2005). A Psicomotricidade Relacional é um método de trabalho que proporciona um espaço de legitimação dos desejos e dos sentimentos no qual o indivíduo pode se mostrar na sua inteireza, com seu medos, desejos, fantasias e ambivalências, na relação consigo mesmo, com o outro e com o meio, potencializando o desenvolvimento global, a aprendizagem, o equilíbrio da personalidade, facilitando as relações afetivas e sociais. 34 Portanto, para que as crianças vivenciem situações que sejam capazes de realizar seu papel ativo, faz-se necessário a existência de ambientes que propiciem o desenvolvimento de habilidades para enfrentar desafios e resolver problemas, construindo significados. Na Base Nacional Comum Curricular, fala-se que a interação durante o brincar caracteriza o cotidiano infantil, possibilitando aprendizagens diversas e potenciais para o desenvolvimento integral das crianças. É possível observar na convivência das crianças entre si e com os adultos a troca de afetos, a mediação das situações de frustração, conflitos e a regulação das emoções (BRASIL, 2018). A partir desse contexto, me veio o desejo de relatar minha expe- riência vivenciadana sala (setting) da psicomotricidade relacional na escola e descrever a relevância da mediação feita com arteterapia, por meio do movimento e do corpo, como forma de ajudar as crianças a se expressarem livremente, seus registros de memórias. A temática da arteterapia na escola é pouco discutida, ainda se limita ao campo da Psicologia. A inclusão da arteterapia não é para um tratamento terapêutico, mas para ajudar as crianças que sentem dificuldades em falar no coletivo, de expressar seus sentimentos livremente de maneira espontânea e intuitiva sem interferência dos adultos. Para a criança, desenhar é uma brincadeira prazerosa e tem sentido simbólico. Sendo assim, sem perceber, a criança, através do desenho, sinaliza seus sentimentos como: alegrias, angústias, medos, dificuldades, entre outros. “A emoção é movimento, a imaginação dá forma e densidade à experiência de perceber, sentir e pensar, criando imagens internas que se combinam para representar essa experiência” (BRASIL, 2017, p. 30). A arteterapia, por estar presente em todos os âmbitos sociais, edu- cacionais e na saúde, é uma importante alternativa para ser utilizada dentro das sessões da psicomotricidade relacional, pois ambos têm a mesma con- formidade: cuidar da saúde mental do indivíduo. Nesse sentido, a expressão corporal é um dos canais expressivos da arteterapia e as interfaces entre corpo, movimento e arte são essenciais para a formação do ser integral. 35 Por fim, esse relato pretende viabilizar, no âmbito escolar, que a junção da Psicomotricidade Relacional com a Arteterapia não é só um momento de recreação para preencher tempo na rotina escolar, e sim contribuir para pro- cessos de ensino-aprendizagem das crianças em uma interdisciplinaridade com movimento, corpo e arte, uma construção da criatividade e expressividade. PSICOMOTRICIDADE RELACIONAL E ARTETERAPIA NO AMBIENTE ESCOLAR A Psicomotricidade “é um termo empregado para uma concepção de movimento organizado e integrado, em função das experiências vividas pelo sujeito cuja ação é resultante de sua individualidade, sua linguagem e sua localização” (ABP, s/a). A Psicomotricidade Relacional (PR) é uma das vertentes que, segundo Batista (2021, p. 6), [...] favorece a expressão espontânea de conteúdos conscien- tes e inconscientes por meio da via corporal, evidenciados no jogo espontâneo. Há, inclusive, o conceito de que, na abordagem da Psicomotricidade Relacional, um dos prin- cipais diferenciais consiste na participação ativa da criança na atividade proposta em grupo. A Prática da PR na escola tem finalidade preventiva, dentro de uma perspectiva inclusiva que visa potencializar o equilíbrio emocional, a socia- lização e o desenvolvimento cognitivo. De acordo com a CIAR - Centro Internacional de Análise Relacional, a Psicomotricidade Relacional (PR) consiste em um método inovador que permite acessar motivações incons- cientes que modulam o comportamento humano. Dessa forma, a PR tem o objetivo de provocar autoconhecimento que possibilita a regulação das emoções e ajustes para uma melhor convivência da pessoa consigo, com os outros e com o meio em que vive (CIAR, 2022). O atendimento da PR em uma escola pública de Fortaleza é feito em uma sala, chamada de setting, com crianças dos 1º e 2º anos, uma vez por semana. Cada sessão tem no primeiro grupo, no máximo, 12 crianças, e a outra metade fica com a professora do ensino regular em sala de aula para 36 serem atendidos no segundo tempo. Este combinado é realizado em comum acordo entre a professora. Tal divisão é feita para auxiliar no sentido de que a professora alfabetizadora possa dar um acompanhamento mais específico na leitura e na escrita das crianças. O setting é organizado, configurando a sessão com início, meio e fim, com duração de 1:15min., contendo as seguintes características: Ritual de entrada: Verbalização inicial no tapete (construção de regras) – significado simbólico da casa, local de segurança, proteção e acolhimento; O brincar (jogo simbólico): com duração máxima de 40 minutos, o jogo simbólico é feito com materiais clássicos da Psicomotricidade Relacional (toda sessão exige um material diferente, a escolha depende da necessidade do grupo); Relaxamento: a volta à calma, momento em que a criança relaxa e reflete sobre o que vivenciou na sessão; Tempo para organização dos materiais; Verbalização final no tapete: o tempo de escuta e o tempo de fala sobre sua vivência; e Momento final: registro da sessão através do desenho. Em relação aos materiais utilizados, estes são compostos por: bolas de vinil infláveis de cores e tamanhos distintos; bambolês de diferentes diâmetros e cores; cordas de espessuras, cores e tamanhos diversificados; tecido de cores, texturas e padrões diversos; bastões de espumas, cores e tamanhos diversos; caixas de papelão de vários tamanhos e jornais. Esses materiais assumem valor simbólico e sua finalidade é inter- mediar a relação corporal e facilitar projeções de conteúdos simbólicos que mostram indícios importantes para leitura e decodificação dos dizeres inconscientes dos participantes. O registro feito após a sessão é um momento no qual a criança materializa em seu desenho imagens que criou internamente para dar conta das suas emoções, reconhecendo, organizando e elaborando suas emoções. “Desenhar não é apenas um momento de prazer. Por meio da expressão artística do desenho infantil, as crianças conseguem compreender suas próprias emoções, desejos e medos. É pelo desenho que os pequenos compreendem o mundo ao seu redor também, já que ainda não dominam a linguagem escrita” (PEDAGOGIA AO PÉ DA LETRA, 2021). 37 No entanto, a arteterapia após a sessão tem como objetivo trabalhar os traços da subjetividade, mas, também as fases do desenvolvimento cognitivo, psicomotor, socioemocional, oralidade, expressão e criatividade. Alguns Registros de Memórias Figura 1 - Desenho Fonte: Aluno do 2º ano. Escola Municipal José Carlos da Costa Ribeiro. Nessa sessão com caixas, que simbolizam a casa, espaço de segurança, aconchego, útero ou berço, o aluno se expressa com sentimento de alegria, saindo de casa a caminho da escola, fazendo um elo entre sua escola e sua casa, lugares que lhe fazem feliz: “Amo vir pra escola, ela é minha segunda casa”. Figura 2 – Desenho Fonte: Aluna do 1º ano. Escola municipal José Carlos da Costa Ribeiro. 38 Percebe-se ser uma criança descontraída, alegre, curiosa, que reconhece seu espaço e que tem uma boa relação na família, quando representa desenhando sua casa. Seu desenho com traço elaborados, demonstra ser uma criança com autoestima em construção. Nessa sessão com bolas que representam mãe, cuidado, proteção, maternagem e bastões que estão ligados à agressividade, poder, limite e que fazem referência ao masculino, ao pai. O desenho expressa meninas contra meninos. Lara (de vestido amarelo) gosta de desafios, mas não aceita perder. Quando não consegue o que quer, chora ou fica com birra, nega as frustações. O desenho apresenta uma criança dominante com conotações de controle e domínio sobre as meninas, puxando-as, tentando juntas dominarem os meninos. A professora relata que a mesma em sala de aula, tenta aproxima- ção com seus colegas de sala, mas tem comportamento agressivo, não aceita regras. A maioria dos colegas reclamam de seu comportamento. Nas sessões, foi observado que ela usa os objetos como forma de se aproximar, de construir uma relação entre as crianças. Em sua fala, Laura expressou: “hoje foi muito legal, brincamos de princesas e príncipes”. Na realidade, o que ela gostou foi se sentir aceita no jogo, compartilhando o espaço, os materiais com os mesmos objetivos e aprendendo a compar- tilhar. “A agressividade infantil pode ser encarada como a manifestação da emoção no comando de uma situação que traz certa insegurança na criança frente aos desafios”. (BRITES, 2018). 39 Figura 3 - Desenho Fonte: Aluna do 1º ano. Escola municipalJosé Carlos da Costa Ribeiro. Nas primeiras sessões a aluna apresentava um comportamento apático que revelava insegurança. No decorrer das vivências, ela começou a explorar o espaço, preferindo os cantos, que, simbolicamente, revela a necessidade de contenção afetiva. Aos poucos, a criança reconhece esse espaço como um espaço seguro, onde ela pode ser ela mesma, se ariscando, experimentando novas relações e construído vínculos. O brincar tem um papel fundamental na Educação Infan- til, pois ele expressa a forma como uma criança reflete, ordena, desorganiza, destrói e constrói o mundo a sua maneira. É também um espaço onde a criança pode expressar, de modo simbólico suas fantasias, seus desejos, medos, sentimentos e os conhecimentos que vão cons- truindo, enriquecendo a sua identidade, experimentando as outras formas de ser e pensar, interagindo e elaborando 40 o sentido próprio de moral e justiça. Brincar é mais do que uma atividade sem consequência para a criança. Brin- cando, ela não apenas se diverte, mas recria e interpreta o mundo em que vive, se relaciona com este mundo. Brincando a criança aprende (RYMOVICZ, 2013, p. 7). Ao término de cada sessão ou nos planejamentos dos professores de salas que os alunos são atendidos, é feito um feedback sobre os avanços no processo de desenvolvimento do aluno. A L., que é uma aluna do 1º ano, obteve vários avanços em termos de comportamento, a qual, no começo do ano, foi constatada muita agressividade, inquietações [...] hoje eu posso observar que é uma criança mais calma, alegre, consegue interagir com os colegas e realizar atividades em grupo. A aluna obteve resultados satisfatórios bem significativos (Prof.ª do 1º ano – Escola Municipal José Carlos da Costa Ribeiro - 2022). As aulas estão cada vez melhores, pois a turma aguarda com alegria o dia da Psicomotricidade Relacional. [...] os conflitos estão diminuindo e há um melhor relacio- namento entre os alunos. (Prof.ª do 2º ano – Escola Municipal José Carlos da Costa Ribeiro - 2022). 41 CONSIDERAÇÕES FINAIS É necessário que se pense a arteterapia enquanto política pública, a saber os benefícios que ela traz para os estudantes, por ser uma forma ensino que dá importância não apenas à quantidade que o aluno resulta na sala de aula, mas a qualidade de seu resultado. Dar atenção às emo- ções, sentimentos e criatividade das crianças promove a autoconfiança e a capacidade cognitiva delas, sabendo que todo o corpo está conectado para o melhor funcionamento intelectual, emocional e físico. Foi possível observar que a arteterapia apresenta-se como uma intervenção complementar ao movimento da psicomotricidade relacional. Por meio da produção artística, a criança consegue acessar seus con- teúdos internos, como medo, raiva, autoaceitação, alegria, entre outros. Quando a criança não consegue verbalizar, é importante favorecer um instrumento no qual facilite expressar-se livremente sem forçá-la. As duas práticas, arteterapia e PR, têm um objetivo comum, auxiliar para potencializar os aspectos biopsicossociais. É necessário que se pense enquanto política pública os benefícios que ela traz para os estudantes. Por fim, compreendemos que a maioria das dificuldades cogniti- vas relacionadas à linguagem e à aprendizagem estão ligadas ao campo emocional enfraquecido. Portanto, torna-se fundamental procurar meios para compreender a origem e suas consequências, levando o cuidado e a atenção as suas necessidades, visando uma melhor qualidade de vida. A minha intenção com esse relato é despertar a importância dessas práticas no cotidiano escolar no sentido de contribuir para o processo de educação. Espera-se que as escolas criem um espaço de tempo para os alunos, de forma lúdica e criativa, propício aos jogos e brincadeiras simbólicas, com objetivo de fazer demostrar seus conflitos profundos, viver suas fantasias, expressar sem palavras, de maneira totalmente livre e sem julgamentos, pois há uma necessidade urgente diante dos desafios sociais que estão sendo impostos na sociedade contemporânea. 42 REFERÊNCIAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSICOMOTRICIDADE (ABP). O que é Psicomotrici- dade. Rio de janeiro: ABP, [s/a]. Disponível em: https://psicomotricidade.com.br/sobre/o- -que-e-psicomotricidade. Acesso em: 26 jul. 2023. BATISTA, M. I. B. Curso de Pós-Graduação Lato Sensu Formação Especializada em Psicomo- tricidade Relacional, 2017, Fortaleza-se. Tópico temático da disciplina psicomotricidade relacional: teoria e prática. Fortaleza: CIAR, 2017. BRASIL. Ministério da Educação (MEC). Secretaria de Educação Básica. Base Nacional Curricular Comum (BNCC). Brasília, DF: MEC, 2018a. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/ wpcontent/uploads/2018/06/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf. Acesso em: 24 jul. 2023. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Secretaria de Educação Conti- nuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão. Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica. Conselho Nacional da Educação. Câmara Nacional de Educação Básica. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica. Brasília: MEC, SEB, DICEI, 2013. Acesso: 25 jul. 2023. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: arte. Brasília: MEC/SEF, 1997. 130 p. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/ livro06.pdf. Acesso em: 23 jul. 2023. BRITES, C. Neurociência explica a agressividade infantil. Londrina: Neurosaber, 2018. Disponível em: https://institutoneurosaber.com.br/neurociencia-explica-a-agressividade-in- fantil/. Acesso em: 27 jul. 2023. CENTRO DE FORMAÇÃO CONTINUADA (CIAR). A importância do desenho infantil. Curitiba: CIAR, 2022. Disponível em: https://www.ciar.com.br/formacao-continuada. Acesso em: 16 dez. 2022. PEDAGOGIA AO PÉ DA LETRA. A importância do desenho infantil. Pedagogia ao Pé da Letra, 2021. Disponível em: https://pedagogiaaopedaletra.com/desenho-infantil. Acesso em: 26 jul. 2023. RYMOVICZ, M. T. P. O brincar na educação infantil: a compreensão de pais das crianças de 3 anos do CMEI Pedacinho do céu de São Mateus do Sul – Paraná. 2013. 31 f. Monografia (Espe- cialização em Docência na Educação Infantil), Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2013. SANTOS, H. U. B; JOÃO, R. B., CARVALHO, J. O. A psicomotricidade relacional como propul- sora do desenvolvimento psicoafetivo e da socialização em alunos da educação infantil. R. bras. Ci. e Mov., [S.l.], v. 27, n. 2, p. 83-96, 2019. Disponível em: https://docs.bvsalud.org/bibliore- f/2019/08/1009179/a-psicomotricidade-relacional-como-propulsora.pdf. Acesso em: 14 jul. 2023. VIEIRA, L. BATISTA, M.I.B. LAPIERRE. A. Psicomotricidade Relacional: a teoria de uma prática. Curitiba : Filosofart/Ciar, 2005. 43 EXPERIÊNCIA DA TERAPIA COMUNITÁRIA INTEGRATIVA NA ESCOLA PÚBLICA DE FORTALEZA Francisca Yara de Oliveira Mota Ana Soraya Santos Shirleiberg Feijó Moreira Sousa Ricardo Hugo Gonzalez A Terapia Comunitária Integrativa (TCI) é uma prática de cuidado coletivo em saúde, na qual as pessoas compartilham seus sofrimentos psíquicos e buscam, através do diálogo e dos exemplos de superações dos participantes, encontrar meios de amenizar esses sofrimentos e assim seguirem suas vidas de maneira mais leve. Podemos admitir, diante dessa atual realidade, que a escola além de trabalhar na construção da aprendizagem nas suas mais diversas áreas do conhecimento, também deve ser um espaço promotor de saúde, pois estamos vivendo um tempo em que se faz necessário rever as atuais necessidades que os alunos enfrentam no campo da saúde mental. “[...] assim, constatamos que a educação se centrou, ultimamente, no acúmulo de conhecimento e preparação intelectual e tecnológica tanto dos educandos quanto dos educadores, esquecendo outras dimensões de necessidades do ser humano” (CAVALCANTE, 2006, p. 10). É necessário admitir que a escola também deve ser um espaço de prevenção, promoção em saúde e que o cuidado na
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