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Apostila Obras Literarias VR 2023-07-08

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@vestibularesumido
7
 Basílio da Gama 
 
Escrito em 1769 por Basílio da 
Gama (1741- 1795), membro
da arcádia romana, O Uraguai é 
uma epopeia composta de cinco 
cantos, nos moldes dos ideais 
pombalinos, e ataca a atuação dos 
jesuítas com relação aos indígenas 
brasileiros. A história é ambientada 
na Guerra Guaranítica, ocorrida 
na década de 1750 no Rio Grande 
do Sul. Em uma Missão administrada 
pelo padre espanhol Balda, vivia um 
casal de indígenas exemplares, 
Cacambo (homem forte e valente) e 
Lindoia (esposa bela e virtuosa). Para 
assumir o comando da comunidade, 
Balda, que pretendia casar seu filho 
bastardo, Baldeta, com Lindoia, 
manda Cacambo para a guerra. 
Depois de incendiar o acampamento 
das tropas inimigas, o indígena é 
atraído e envenenado pelo padre. 
Após a morte de seu amado, Lindoia 
é destinada a se casar com Baldeta, 
mas, durante os preparativos do 
casamento, foge para a mata com o 
intuito de morrer. Adormecida 
pelo cansaço, ela é morta por 
uma serpente que se 
enroscar em seu corpo. Esse 
incidente é um dos episódios 
mais dramáticos da epopeia 
árcade.
Que toca o peito de Lindoia, e fere
A serpente na testa, e a boca e os dentes
Deixou cravados no vizinho tronco. 
Açouta o campo com a ligeira cauda O 
irado monstro, e em tortuosos giros 
Se enrosca no cipreste, e verte envolto 
Em negro sangue o lívido veneno. Leva nos 
braços a infeliz Lindoia
O desgraçado irmão, que ao despertá-la 
Conhece, com que dor! no frio rosto Os 
sinais do veneno, e vê ferido
Pelo dente sutil o brando peito.
Os olhos, em que Amor reinava, um dia, 
Cheios de morte; e muda aquela língua 
Que ao surdo vento e aos ecos tantas 
vezes 
Contou a larga história de seus males.
Nos olhos Caitutu não sofre o pranto, 
E rompe em profundíssimos suspiros, 
Lendo na testa da fronteira gruta
De sua mão já trêmula gravado
O alheio crime e a voluntária morte.
E por todas as partes repetido
O suspirado nome de Cacambo.
Inda conserva o pálido semblante
Um não sei quê de magoado e triste, Que 
os corações mais duros enternece 
Tanto era bela no seu rosto a morte! [...]
[...] 
Revia-se em Baldeta o santo padre; 
E fazendo profunda reverência,
Fora da grande porta, recebia
O esperado Tedeu ativo e pronto,
A quem acompanhava vagaroso
Com as chaves no cinto o Irmão Patusca, De 
pesada, enormíssima barriga.
Jamais a este o som da dura guerra Tinha 
tirado as horas do descanso.
De indulgente moral e brando peito,
Que penetrado da fraqueza humana
Sofre em paz as delícias desta vida,
Tais e quais no-las dão. Gosta das cousas, 
Porque gosta, e contenta-se do efeito,
E nem sabe nem quer saber as causas. [...] 
Não faltava,
Para se dar princípio à estranha festa, 
Mais que Lindoia. Há muito lhe preparam 
Todas de brancas penas revestidas 
Festões de flores as gentis donzelas. 
Cansados de esperar, ao seu retiro
Vão muitos impacientes a buscá-la.
Estes de crespa Tanajura aprendem
Que entrara no jardim triste e chorosa,
Sem consentir que alguém a acompanhasse. 
Um frio susto corre pelas veias
De Caitutu, que deixa os seus no campo;
E a irmã por entre as sombras do arvoredo 
Busca com a vista, e teme de encontrá-la. 
Entram enfim na mais remota e interna 
Parte de antigo bosque, escuro e negro, 
Onde ao pé de uma lapa cavernosa
Cobre uma rouca fonte, que murmura, 
Curva latada de jasmins e rosas.
Este lugar delicioso e triste,
Cansada de viver, tinha escolhido
Para morrer a mísera Lindoia.
Lá reclinada, como que dormia,
Na branda relva e nas mimosas flores,
Tinha a face na mão, e a mão no tronco
De um fúnebre cipreste, que espalhava 
Melancólica sombra. Mais de perto 
Descobrem que se enrola no seu corpo 
Verde serpente, e lhe passeia, e cinge 
Pescoço e braços, e lhe lambe o seio. 
Fogem de a ver assim, sobressaltados,
E param cheios de temor ao longe;
E nem se atrevem a chamá-la, e temem 
Que desperte assustada, e irrite o monstro, 
E fuja, e apresse no fugir a morte.
Porém o destro Caitutu, que treme
Do perigo da irmã, sem mais demora 
Dobrou as pontas do arco, e quis três vezes 
Soltar o tiro, e vacilou três vezes
Entre a ira e o temor. Enfim sacode
O arco e faz voar a aguda seta,
O URAGUAI
@vestibularesumido
8
Santa Rita Durão (1722-1784) foi uma figura 
completamente antipombalina. Padre agostiniano brasileiro, 
deixou sua atividade de bibliotecário em Roma após ser 
expulso de Portugal na época das reformas do marquês 
depois que D. Maria I ascendeu ao trono, retornando a 
Lisboa para se dedicar à produção literária. Em 1781, 
escreveu a obra Caramuru.
A obra é uma epopeia aos moldes camonianos, 
dividida em dez cantos e de verso decassílabo 
rimado, e narra as aventuras lendárias de um 
navegador português, Diogo Álvares Correia, 
que naufragou na costa da Bahia no século XVI 
e viveu entre os tupinambás. Enquanto se 
acostumava ao modo de vida indígena, Diogo, o 
“caramuru” – homem de fogo ou filho do trovão –, 
auxiliava osindígenas em várias batalhas, e seus atos 
heroicos eram recompensados com o oferecimento das 
filhas dos chefes como suas pretendentes. Quando Diogo 
é finalmente resgatado por um navio francês, escolhe 
Paraguaçu como noiva e parte com ela. Moema, a mais 
bela das indígenas, mergulha no mar e segue o navio desesperadamente, vociferando queixas – sua morte é outra 
cena clássica da literatura colonial brasileira.
A Gupeva entretanto, e Taparica
Dava o último abraço, e à forte Esposa 
A intenção de levá-la significa,
A ver de Europa a Região famosa: 
Suspensa entre alvoroço, e pena fica
Paraguaçu contente, mas saudosa;
E quando o pranto na sentida fuga
Começava a saudade, amor lho enxuga.
É fama então que a multidão formosa 
Das Damas, que Diogo pertendiam,
 Vendo avançar-se a nau na via undosa,
E que a esperança de o alcançar perdiam: 
Entre as ondas com ânsia furiosa 
Nadando o Esposo pelo mar seguiam,
E nem tanta água que flutua vaga
O ardor que o peito tem, banhando apaga.
Copiosa multidão da nau Francesa
Corre a ver o espetáculo assombrada;
E ignorando a ocasião da estranha 
empresa, 
Pasma da turba feminil, que nada:
Uma, que às mais precede em gentileza,
Não vinha menos bela, do que irada:
Era Moema, que de inveja geme,
E já vizinha à nau se apega ao leme.
Bárbaro (a bela diz) Tigre, e não homem... 
Porém o Tigre por cruel que brame,
Acha forças amor, que enfim o domem;
Só a ti não domou, por mais que eu te 
ame: Fúrias, raios, coriscos, que o ar 
consomem, Como não consumis aquele 
infame?
Mas pagar tanto amor com tédio, e asco...
Ah que o corisco és tu... raio... penhasco.
Bem puderas, cruel, ter sido esquivo,
Quando eu a fé rendia ao teu engano;
Com mão já sem vigor, soltando o 
leme, Entre as falsas escumas desce 
ao fundo: 
Mas na onda do mar, que irado 
freme, Tornando a aparecer desde o 
profundo; 
Ah Diogo cruel! disse com mágoa,
E sem mais vista ser, sorveu-se 
n’água.
Choraram da Bahia as Ninfas belas,
Que nadando a Moema 
acompanhavam;
E vendo que sem dor navegam 
delas,
À branca praia com furor tornavam:
Nem pode o claro Herói sem pena 
vê-las, Com tantas provas, que de 
amor lhe davam; Nem mais lhe 
lembra o nome de Moema, Sem que 
ou amante a chore, ou grato gema.
CARAMURU
Nem me ofenderas a escutar-me altivo,
Que é favor, dado a tempo, um desengano: 
Porém deixando o coração cativo
Com fazer-te a meus rogos sempre 
humano, Fugiste-me, traidor, e desta sorte
Paga meu fino amor tão crua morte?
Tão dura ingratidão menos sentira,
E esse fado cruel doce me fora,
Se a meu despeito triunfar não vira
Essa indigna, essa infame, essa traidora:
Por serva, por escrava te seguira,
Se não temera de chamar Senhora
A vil Paraguaçu, que sem que o creia,
Sobre ser-me inferior, é néscia, e feia.
Enfim, tens coração de ver-me aflita,
Flutuar moribunda entre estas ondas;
Nem o passado amor teu peito incita
A um ai somente, com que aos meus 
respondas: Bárbaro, se esta fé teu peito 
irrita,
(Disse, vendo-o fugir) ah não te 
escondas;
Caramuru: Santa Rita Durão
 
Dispara sobre mim teu cruel raio...
E indo a dizer o mais, cai num desmaio. 
Perde o lume dos olhos,pasma, e 
treme, Pálida a cor, o aspecto 
moribundo,

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