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As 48 Leis do Poder - Robert Greene - 752 paginas

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Prévia do material em texto

Para Anna Biller, e meus pais
 
R.G.
Para Pat Steir, Andreas Landshoff e Mien Elffers
 
J.E.
 
A Treasury of Jewish Folklore, Nathan Ausubel. Copyright ©1948, 1976 by Crown Publishers,
Inc. Reedição autorizada por Crown Publishers, Inc.
The Chinese Looking Glass, Dennis Bloodworth. Copyright © 1966, 1967 by Dennis
Bloodworth. Com autorização de Ferrar, Straus and Giroux.
The Book of the Courtier, Baldesar Castiglione, tradução para o inglês de George Bull; Penguin
Books (Londres). Copyright © George Bull, 1967.
The Golden Dream: Seekers of El Dorado, Walker Chapman; Bobbs-Merrill. Copyright © 1967
by Walker Chapman.
The Borgias, Ivan Cloulas, tradução para o inglês de Gilda Roberts; Franklin Watts, Inc.
Copyright © 1987 by Librairie Artheme Fayard. Translation Copyright © 1989 by Franklin Watts,
Inc.
Various Fables from Various Places, organizado por Diane Di Prima; Capricorn Books / G. P.
Putnam’s Sons. © 1960 G. P. Putnam’s Sons.
Armenian Folk-tales and Fables, tradução para o inglês de Charles Downing; Oxford University
Press. © Charles Downing, 1972.
The Little Brown Book of Anecdotes, organizado por Clifton Fadiman; Little, Brown and
Company. Copyright © 1985 by Little, Brown and Company (Inc.).
The Power of the Charlatan, Grete de Francesco, tradução para o inglês de Miriam Beard.
Copyright © 1939 by Yale University Press. Com autorização de Yale University Press.
The Oracle: A Manual of the Art of Discretion, Baltasar Gracián, tradução para o inglês de L. B.
Walton; Orion Press.
Behind the Scenes of Royal Palaces in Korea (Yi Dynasty), Ha Tae-hung. Copyright © 1983 by
Ha Tae-hung. Com autorização de Yonsei University Press, Seul.
The Histories, Herodotus, tradução para o inglês de Aubrey de Sélincourt, revista por A. R. Burn;
Penguin Books (Londres). Copyright © the Estate of Aubrey de Sélincourt, 1954. Copyright © A.
R. Burn, 1972.
Hollywood, Garson Kanin (Viking). Copyright © 1967, 1974 by T. F. T. Corporation.
Fables from Africa, coletadas por Jan Knappert; Evan Brothers Limited (Londres). Collection ©
1980 Jan Knappert.
The Great Fables of All Nations, selecionadas por Manuel Komroff; Tudor Publishing Company.
Copyright © 1928 by Dial Press, Inc.
Selected Fables, Jean de La Fontaine, tradução para o inglês de James Michie; Penguin Books
(Londres). Translation copyright © James Michie, 1979.
The Romance of the Rose, Guillaume de Lorris, tradução para o inglês de Charles Dahlberg;
Princeton University Press.
The Complete Essays, Michel de Montaigne, tradução para o inglês de M. A. Screech; Penguin
Books (Londres). Translation copyright © M. A. Screech, 1987, 1991.
A Book of Five Rings, Miyamoto Musashi, tradução para o inglês de Victor Harris; Overlook
Press. Copyright © 1974 by Victor Harris.
The New Oxford Annotated Bible with the Apocrypha, versão standard revista, organizada por
Herbert G. May and Bruce M. Metzger; Oxford University Press. Copyright © 1973 by Oxford
University Press, Inc.
Makers of Rome: Nine Lives, Plutarch, tradução para o inglês de Ian Scott-Kilvert; Penguin Books
(Londres). Copyright © Ian Scott-Kilvert, l965.
The Rise and Fall of Athens: Nine Greek Lives, Plutarch, tradução para o inglês de Ian Scott-
Kilvert; Penguin Books (Londres). Copyright © Ian Scott-Kilvert, l960.
Cha-no-yu: The Japanese Tea Ceremony, A. L. Sadler; Charles E. Tuttle Company. © 1962 by
Charles E. Tuttle Co.
Amoral Politics: The Persistent Truth of Machiavellism, Ben-Ami Scharfstein; State University of
New York Press. © 1995 State University of New York.
Caravan of Dreams, Idries Shah; Octagon Press (Londres). Copyright © 1970, 1980 by Idries
Shah.
Tales of the Dervishes, Idries Shah. Copyright © Idries Shah, 1967. Usado com autorização de
Penguin Putnam Inc. and Octagon Press (Londres).
The Craft of Power, R. G. H. Siu; John Wiley & Sons. Copyright © 1979 by John Wiley & Sons,
Inc.
The Subtle Ruse: The Book of Arabic Wisdom and Guile, tradução para o inglês de Rene R.
Khawam; East-West Publications. Copyright © 1980 tradução inglesa East-West Publications
(U.K.) Ltd.
The Art of War, Sun-tzu, tradução para o inglês de Thomas Cleary; Shambhala Publications. ©
1988 by Thomas Cleary.
The Art of War, Sun-tzu, tradução para o inglês de Yuan Shibing. © 1987 by General Tao
Hanshang. Usada com autorização de Sterling Publishing Co., Inc., 387 Park Avenue South,
Nova York, NY 10016.
The History of the Peloponnesian War, Thucydides, tradução para o inglês de Rex Warner;
Penguin Books (Londres). Translation copyright Rex Warner, 1954.
The Thurber Carnival, James Thurber; HarperCollins. Copyright 1945 by James Thurber.
The Court Artist: On the Ancestry of the Modern Artist, Martin Warnke, tradução para o inglês de
David McLintock. Translation © Maison des Sciences de l’Homme and Cambridge University
Press, 1993. Com autorização de Cambridge University Press.
The Con Game and “Yellow Kid” Weil: The Autobiography of the Famous Con Artist conforme
relatada a W. T. Brannon; Dover Publications. Copyright © l948 by W. T. Brannon.
AGRADECIMENTOS
Primeiro gostaria de agradecer a Anna Biller, que me ajudou na edição e
nas pesquisas necessárias para este livro, e cujas ideias inestimáveis foram
essenciais na definição da forma e do conteúdo de As 48 leis. Sem ela,
nada disto teria sido possível.
Tenho que agradecer também ao meu querido amigo, Michiel Schwarz,
responsável por me incluir na escola de arte Fabrika, na Itália, e lá me
apresentar a Joost Elffers, meu sócio e produtor de As 48 leis do poder.
Foi no mundo intrigante de Fabrika que Joost e eu vimos a
intemporalidade de Maquiavel e, de nossas discussões em Veneza, na
Itália, nasceu este livro.
Gostaria de agradecer a Henri Le Goubin, que durante anos me
abasteceu com muitas histórias maquiavélicas, particularmente no que se
refere aos inúmeros personagens franceses cujo papel é tão importante
neste livro.
Gostaria também de agradecer a Les e Sumiko Biller, que me
emprestaram a sua biblioteca sobre os japoneses e me ajudaram com a
parte da Cerimônia do Chá. Igualmente, devo agradecer a minha boa
amiga Elizabeth Yang, que me assessorou a respeito da história da China.
Um livro como este dependia em grande parte da pesquisa do material
disponível e sou particularmente grato à Biblioteca de Pesquisa da UCLA;
passei vários dias prazerosos percorrendo suas incomparáveis coleções.
Meus pais, Laurette e Stanley Greene, merecem o meu eterno
agradecimento pelo apoio e paciência.
E não devo esquecer de prestar uma homenagem ao meu gato, Boris,
que me fez companhia nos dias intermináveis em que passei escrevendo.
Finalmente, das pessoas que na minha vida foram tão hábeis no jogo do
poder manipulando, torturando e me fazendo sofrer por anos a fio, não
guardo rancor e agradeço a elas por me terem dado inspiração para As 48
leis do poder.
Robert Greene
Além disso, gostaríamos de agradecer a Susan Petersen e Barbara
Grossman, editoras da Penguin, por acreditarem neste livro; a Molly Stern,
editora de texto, por supervisionar todo o projeto para a Viking Penguin. A
Sophia Murer, por seu design clássico e inovador. David Frankel, por
editar o texto. A Roni Axelrod, Barbara Campo, Jaye Zimet, Joe Eagle,
Radha Pancham, Marie Timell, Michael Fragnito e Eng-San Kho.
Robert Greene
 
Joost Elffers
SUMÁRIO
Para pular o Sumário, clique aqui.
 
PREFÁCIO
 
LEI 1
NÃO OFUSQUE O BRILHO DO MESTRE
Faça sempre com que as pessoas acima de você se sintam confortavelmente
superiores. Querendo agradar ou impressionar, não exagere exibindo seus
próprios talentos ou poderá conseguir o contrário – inspirar medo e
insegurança. Faça com que seus mestres pareçam mais brilhantes do que são
na realidade e você alcançará o ápice do poder.
LEI 2
NÃO CONFIE DEMAIS NOS AMIGOS, APRENDA A USAR
OS INIMIGOS
Cautela com os amigos – eles o trairão mais rapidamente, pois são com mais
facilidade levados à inveja. Eles também se tornam mimados e tirânicos. Mas
contrate um ex-inimigoe ele lhe será mais �el do que um amigo, porque tem
mais a provar. De fato, você tem mais o que temer por parte dos amigos do que
dos inimigos. Se você não tem inimigos, descubra um jeito de tê-los.
LEI 3
Õ
OCULTE AS SUAS INTENÇÕES
Mantenha as pessoas na dúvida e no escuro, jamais revelando o propósito de
seus atos. Não sabendo o que você pretende, não podem preparar uma defesa.
Leve-as pelo caminho errado até bem longe, envolva-as em bastante fumaça e,
quando elas perceberem as suas intenções, será tarde demais.
LEI 4
DIGA SEMPRE MENOS DO QUE O NECESSÁRIO
Quando você procura impressionar as pessoas com palavras, quanto mais você
diz, mais comum aparenta ser, e menos controle da situação parece ter. Mesmo
que você esteja dizendo algo banal, vai parecer original se você o tornar vago,
amplo e enigmático. Pessoas poderosas impressionam e intimidam falando
pouco. Quanto mais você fala, maior a probabilidade de dizer uma besteira.
LEI 5
MUITO DEPENDE DA REPUTAÇÃO – DÊ A PRÓPRIA VIDA
PARA DEFENDÊ-LA
A reputação é a pedra de toque do poder. Com a reputação apenas você pode
intimidar e vencer; um deslize, entretanto, e você �ca vulnerável, e será
atacado por todos os lados. Torne a sua reputação inexpugnável. Esteja sempre
alerta aos ataques em potencial e frustre-os antes que aconteçam. Enquanto
isso, aprenda a destruir seus inimigos minando as suas próprias reputações.
Depois, afaste-se e deixe a opinião pública acabar com eles.
LEI 6
CHAME ATENÇÃO A QUALQUER PREÇO
Julga-se tudo pelas aparências; o que não se vê não conta. Não �que perdido
no meio da multidão, portanto, ou mergulhado no esquecimento. Destaque-se.
Fique visível, a qualquer preço. Atraia as atenções parecendo maior, mais
colorido, mais misterioso do que as massas tímidas e amenas.
LEI 7
FAÇA OS OUTROS TRABALHAREM POR VOCÊ, MAS
SEMPRE FIQUE COM O CRÉDITO
Use a sabedoria, o conhecimento e o esforço físico dos outros em causa própria.
Não só essa ajuda lhe economizará um tempo e uma energia valiosos, como lhe
dará uma aura divina de e�ciência e rapidez. No �nal, seus ajudantes serão
esquecidos e você será lembrado. Não faça você mesmo o que os outros podem
fazer por você.
LEI 8
FAÇA AS PESSOAS VIREM ATÉ VOCÊ – USE UMA ISCA, SE
FOR PRECISO
Quando você força os outros a agir, é você quem está no controle. É sempre
melhor fazer o seu adversário vir até você, abandonando seus próprios planos
no processo. Seduza-o com a possibilidade de ganhos fabulosos – depois ataque.
É você quem dá as cartas.
LEI 9
VENÇA POR SUAS ATITUDES, NÃO DISCUTA
Qualquer triunfo momentâneo que você tenha alcançado discutindo é na
verdade uma vitória de Pirro: o ressentimento e a má vontade que você
desperta são mais fortes e permanentes do que qualquer mudança momentânea
É
de opinião. É muito mais e�caz fazer os outros concordarem com você por suas
atitudes, sem dizer uma palavra. Demonstre, não explique.
LEI 10
CONTÁGIO: EVITE O INFELIZ E AZARADO
A miséria alheia pode matar você – estados emocionais são tão contagiosos
quanto as doenças. Você pode achar que está ajudando o homem que se afoga,
mas só está precipitando o seu próprio desastre. Os infelizes às vezes provocam
a própria infelicidade; vão provocar a sua também. Associe-se, ao contrário,
aos felizes e afortunados.
LEI 11
APRENDA A MANTER AS PESSOAS DEPENDENTES DE
VOCÊ
Para manter a sua independência você deve sempre ser necessário e querido.
Quanto mais dependerem de você, mais liberdade você terá. Faça com que as
pessoas dependam de você para serem felizes e prósperas, e você não terá nada
o que temer. Não lhes ensine o bastante a ponto de poderem se virar sem você.
LEI 12
USE A HONESTIDADE E A GENEROSIDADE SELETIVAS
PARA DESARMAR A SUA VÍTIMA
Um gesto sincero e honesto encobrirá dezenas de outros desonestos. Até as
pessoas mais descon�adas baixam a guarda diante de atitudes francas e
generosas. Uma vez que a sua honestidade seletiva as desarma, você pode
enganá-las e manipulá-las à vontade. Um presente oportuno – um cavalo de
Troia – será igualmente útil.
LEI 13
AO PEDIR AJUDA, APELE PARA O EGOÍSMO DAS
PESSOAS, JAMAIS PARA A SUA MISERICÓRDIA OU
GRATIDÃO
Se precisar pedir ajuda a um aliado, não se preocupe em lembrar a ele a sua
assistência e boas ações no passado. Ele encontrará um meio de ignorar você.
Em vez disso, revele algo na sua solicitação, ou na sua aliança com ele, que o
vá bene�ciar, e exagere na ênfase. Ele reagirá entusiasmado se vir que pode
lucrar alguma coisa com isso.
LEI 14
BANQUE O AMIGO, AJA COMO ESPIÃO
Conhecer o seu rival é importantíssimo. Use espiões para colher informações
preciosas que o colocarão um passo à frente. Melhor ainda: represente você
mesmo o papel de espião. Em encontros sociais, aprenda a sondar. Faça
perguntas indiretas para conseguir que as pessoas revelem seus pontos fracos e
intenções. Todas as ocasiões são oportunidades para uma ardilosa
espionagem.
LEI 15
ANIQUILE TOTALMENTE O INIMIGO
Todos os grandes líderes, desde Moisés, sabem que o inimigo perigoso deve ser
esmagado totalmente. (Às vezes, eles aprendem isso da maneira mais difícil.)
Se restar uma só brasa, por menor que seja, acabará se transformando numa
fogueira. Perde-se mais fazendo concessões do que pela total aniquilação: o
inimigo se recuperará, e quererá vingança. Esmague-o, física e
espiritualmente.
LEI 16
USE A AUSÊNCIA PARA AUMENTAR O RESPEITO E A
HONRA
Circulação em excesso faz os preços caírem: quanto mais você é visto e escutado,
mais comum vai parecer. Se você já se estabeleceu em um grupo, afastando-se
temporariamente se tornará uma �gura mais comentada, até mais admirada.
Você deve saber quando se afastar. Crie valor com a escassez.
LEI 17
MANTENHA OS OUTROS EM UM ESTADO LATENTE DE
TERROR: CULTIVE UMA ATMOSFERA DE
IMPREVISIBILIDADE
Os homens são criaturas de hábitos com uma necessidade insaciável de ver
familiaridade nos atos alheios. A sua previsibilidade lhes dá um senso de
controle. Vire a mesa: seja deliberadamente imprevisível. O comportamento que
parece incoerente ou absurdo os manterá desorientados, e eles vão �car
exaustos tentando explicar seus movimentos. Levada ao extremo, esta
estratégia pode intimidar e aterrorizar.
LEI 18
NÃO CONSTRUA FORTALEZAS PARA SE PROTEGER – O
ISOLAMENTO É PERIGOSO
O mundo é perigoso e os inimigos estão por toda a parte – todos precisam se
proteger. Uma fortaleza parece muito segura. Mas o isolamento expõe você a
mais perigos do que o protege deles – você �ca isolado de informações valiosas,
transforma-se num alvo fácil e evidente. Melhor circular entre as pessoas,
descobrir aliados, se misturar. A multidão serve de escudo contra os seus
inimigos.
LEI 19
SAIBA COM QUEM ESTÁ LIDANDO – NÃO OFENDA A
PESSOA ERRADA
No mundo há muitos tipos diferentes de pessoas, e você não pode esperar que
todas reajam da mesma forma às suas estratégias. Engane ou passe a perna
em certas pessoas e elas vão passar o resto da vida procurando se vingar de
você. São lobos em pele de cordeiro. Cuidado ao escolher suas vítimas e
adversários, portanto – jamais ofenda ou engane a pessoa errada.
LEI 20
NÃO SE COMPROMETA COM NINGUÉM
Tolo é quem se apressa a tomar um partido. Não se comprometa com partidos
ou causas, só com você mesmo. Mantendo-se independente, você domina os
outros – colocando as pessoas umas contra as outras, fazendo com que sigam
você.
LEI 21
FAÇA-SE DE OTÁRIO PARA PEGAR OS OTÁRIOS –
PAREÇA MAIS BOBO DO QUE O NORMAL
Ninguém gosta de se sentir mais idiota do que o outro. O truque, portanto, é
fazer com que suas vítimas se sintam espertas – e não só espertas, mas mais
espertas do que você. Uma vez convencidas disso, elas jamais descon�arão que
você possa ter segundas intenções.
LEI 22
USE A TÁTICA DA RENDIÇÃO: TRANSFORME A FRAQUEZA
EM PODER
Se você é o mais fraco, não lute só por uma questão de honra; é preferível se
render. Rendendo-se, você tem tempo para se recuperar, tempo para atormentar
e irritar o seu conquistador, tempo para esperar que ele perca o seu poder. Não
lhe dê a satisfaçãode lutar e derrotar você – renda-se antes. Oferecendo a
outra face, você o enraivece e desequilibra. Faça da rendição um instrumento
de poder.
LEI 23
CONCENTRE AS SUAS FORÇAS
Preserve suas forças e sua energia concentrando-as no seu ponto mais forte.
Ganha-se mais descobrindo uma mina rica e cavando fundo, do que pulando
de uma mina rasa para outra – a profundidade derrota a super�cialidade
sempre. Ao procurar fontes de poder para promovê-lo, descubra um patrono-
chave, a vaca cheia de leite que o alimentará durante muito tempo.
LEI 24
REPRESENTE O CORTESÃO PERFEITO
O cortesão perfeito prospera num mundo onde tudo gira em torno do poder e da
habilidade política. Ele domina a arte da dissimulação; ele adula, cede aos
superiores, e assegura o seu poder sobre os outros da forma mais gentil e
dissimulada. Aprenda e aplique as leis da corte e não haverá limites para a
sua escalada na corte.
LEI 25
RECRIE-SE
Não aceite os papéis que a sociedade lhe impinge. Recrie-se forjando uma nova
identidade, uma que chame atenção e não canse a plateia. Seja senhor da sua
própria imagem, em vez de deixar que os outros a de�nam para você. Incorpore
artifícios dramáticos aos gestos e ações públicas – seu poder se fortalecerá e sua
personagem parecerá maior do que a realidade.
LEI 26
MANTENHA AS MÃOS LIMPAS
Você deve parecer um modelo de civilidade e e�ciência: suas mãos não se sujam
com erros e atos desagradáveis. Mantenha essa aparência impecável fazendo
os outros de joguete e bode expiatório para disfarçar a sua participação.
LEI 27
JOGUE COM A NECESSIDADE QUE AS PESSOAS TÊM DE
ACREDITAR EM ALGUMA COISA PARA CRIAR UM
SÉQUITO DE DEVOTOS
As pessoas têm um desejo enorme de acreditar em alguma coisa. Torne-se o foco
desse desejo oferecendo a elas uma causa, uma nova fé para seguir. Use
palavras vazias de sentido, mas cheias de promessas; enfatize o entusiasmo de
preferência à racionalidade e à clareza de raciocínio. Dê aos seus novos
discípulos rituais a serem cumpridos, peça-lhes que se sacri�quem por você. Na
ausência de uma religião organizada e de grandes causas, o seu novo sistema
de crença lhe dará um imensurável poder.
LEI 28
SEJA OUSADO
Inseguro quanto ao que fazer, não tente. Suas dúvidas e hesitações
contaminarão os seus atos. A timidez é perigosa: melhor agir com coragem.
Qualquer erro cometido com ousadia é facilmente corrigido com mais ousadia.
Todos admiram o corajoso; ninguém louva o tímido.
LEI 29
PLANEJE ATÉ O FIM
O desfecho é tudo. Planeje até o �m, considerando todas as possíveis
consequências, obstáculos e reveses que possam anular o seu esforço e deixar
que os outros �quem com os louros. Planejando tudo até o �m, você não será
apanhado de surpresa e saberá quando parar. Guie gentilmente a sorte e ajude
a determinar o futuro pensando com antecedência.
LEI 30
FAÇA AS SUAS CONQUISTAS PARECEREM FÁCEIS
Seus atos devem parecer naturais e fáceis. Toda a técnica e o esforço necessários
para sua execução, e também os truques, devem estar dissimulados. Quando
você age, age sem se esforçar, como se fosse capaz de muito mais. Não caia na
tentação de revelar o trabalho que você teve – isso só despertará dúvidas. Não
ensine a ninguém os seus truques ou eles serão usados contra você.
LEI 31
CONTROLE AS OPÇÕES: QUEM DÁ AS CARTAS É VOCÊ
As melhores trapaças são as que parecem deixar ao outro uma opção: suas
vítimas acham que estão no controle, mas na verdade são suas marionetes. Dê
às pessoas opções que sempre resultem favoráveis a você. Force-as a escolher
entre o menor de dois males, ambos atendem ao seu propósito. Coloque-as num
dilema: não terão escapatória.
LEI 32
DESPERTE A FANTASIA DAS PESSOAS
Em geral evita-se a verdade porque ela é feia e desagradável. Não apele para o
que é verdadeiro ou real se não estiver preparado para enfrentar a raiva que
vem com o desencanto. A vida é tão dura e angustiante que as pessoas capazes
de criar romances ou invocar fantasias são como oásis no meio do deserto:
todos correm até lá. Há um enorme poder em despertar a fantasia das massas.
LEI 33
DESCUBRA O PONTO FRACO DE CADA UM
Todo mundo tem um ponto fraco, uma brecha no muro do castelo. Essa
fraqueza em geral é uma insegurança, uma emoção ou necessidade
incontrolável; pode também ser um pequeno prazer secreto. Seja como for, uma
vez encontrado esse ponto nevrálgico, é ali que você deve apertar.
LEI 34
SEJA ARISTOCRÁTICO AO SEU PRÓPRIO MODO; AJA
COMO UM REI PARA SER TRATADO COMO TAL
A maneira como você se comporta em geral determina como você é tratado: a
longo prazo, aparentando ser vulgar ou comum, você fará com que as pessoas o
desrespeitem. Pois um rei respeita a si próprio e inspira nos outros o mesmo
sentimento. Agindo com realeza e con�ança nos seus poderes, você se mostra
destinado a usar uma coroa.
LEI 35
DOMINE A ARTE DE SABER O TEMPO CERTO
Jamais demonstre estar com pressa – a pressa trai a falta de controle de si
mesmo, e do tempo. Mostre-se sempre paciente, como se soubesse que tudo
acabará chegando até você. Torne-se um detetive do momento certo; fareje o
espírito dos tempos, as tendências que o levarão ao poder. Aprenda a esperar
quando ainda não é hora, e atacar ferozmente quando for propício.
LEI 36
DESPREZE O QUE NÃO PUDER TER: IGNORAR É A
MELHOR VINGANÇA
Reconhecendo um problema banal, você lhe dá existência e credibilidade.
Quanto mais atenção você der a um inimigo, mais forte você o torna; e um
pequeno erro às vezes se torna pior e mais visível se você tentar consertá-lo. Às
vezes, é melhor deixar as coisas como estão. Se existe algo que você quer, mas
não pode ter, mostre desprezo. Quanto menos interesse você revelar, mais
superior vai parecer.
LEI 37
CRIE ESPETÁCULOS ATRAENTES
Imagens surpreendentes e grandes gestos simbólicos criam uma aura de poder –
todos reagem a eles. Encene espetáculos para os que o cercam, repletos de
elementos visuais interessantes e símbolos radiantes que realcem a sua
presença. Deslumbrados com as aparências, ninguém notará o que você
realmente está fazendo.
LEI 38
PENSE COMO QUISER, MAS COMPORTE-SE COMO OS
OUTROS
Se você alardear que é contrário às tendências da época, ostentando suas
ideias pouco convencionais e modos não ortodoxos, as pessoas vão achar que
você está apenas querendo chamar atenção e se julga superior. Acharão um
jeito de punir você por fazê-las se sentir inferiores. É muito mais seguro juntar-
se a elas e desenvolver um toque comum. Compartilhe a sua originalidade só
com os amigos tolerantes e com aqueles que certamente apreciarão a sua
singularidade.
LEI 39
AGITE AS ÁGUAS PARA ATRAIR OS PEIXES
Raiva e reações emocionais são contraproducentes do ponto de vista
estratégico. Você precisa se manter sempre calmo e objetivo. Mas, se conseguir
irritar o inimigo sem perder a calma, você ganha uma inegável vantagem.
Desequilibre o inimigo: descubra uma brecha na sua vaidade para confundi-lo
e é você quem �ca no comando.
LEI 40
DESPREZE O QUE VIER DE GRAÇA
O que é oferecido de graça é perigoso – em geral é um ardil ou tem uma
obrigação oculta. Se tem valor, vale a pena pagar. Pagando, você se livra de
problemas de gratidão e culpa. Também é prudente pagar o valor integral –
com a excelência não se economiza. Seja pródigo com seu dinheiro e o mantenha
circulando, pois a generosidade é um sinal e um ímã para o poder.
LEI 41
EVITE SEGUIR AS PEGADAS DE UM GRANDE HOMEM
O que acontece primeiro sempre parece melhor e mais original do que o que vem
depois. Se você substituir um grande homem ou tiver um pai famoso, terá de
fazer o dobro do que eles �zeram para brilhar mais do que eles. Não �que
perdido na sombra deles, ou preso a um passado que não foi obra sua:
estabeleça o seu próprio nome e identidade mudando de curso. Mate o pai
dominador, menospreze o seu legado e conquiste o poder com a sua própria luz.
LEI 42
ATAQUE O PASTOR E AS OVELHAS SE DISPERSAM
A origem dos problemas em geral pode estar num único indivíduo forte – o
agitador, o subalterno arrogante, o envenenador da boa vontade. Se você derespaço para essas pessoas agirem, outros sucumbirão a sua in�uência. Não
espere os problemas que eles causam se multiplicarem, não tente negociar com
eles – eles são irredimíveis. Neutralize a sua in�uência isolando-os ou
banindo-os. Ataque a origem dos problemas e as ovelhas se dispersarão.
LEI 43
CONQUISTE CORAÇÕES E MENTES
A coerção provoca reações que acabam funcionando contra você. É preciso
atrair as pessoas para que queiram vir até você. A pessoa seduzida torna-se
um �el peão. Seduzem-se os outros atuando individualmente em suas
psicologias e pontos fracos. Amacie o resistente atuando em suas emoções,
jogando com aquilo de que ele gosta muito ou teme. Ignore os corações e as
mentes dos outros e eles o odiarão.
LEI 44
DESARME E ENFUREÇA COM O EFEITO ESPELHO
O espelho re�ete a realidade, mas também é a ferramenta perfeita para a
ilusão. Quando você espelha os seus inimigos, agindo exatamente como eles
agem, eles não entendem a sua estratégia. O Efeito Espelho os ridiculariza e
humilha, fazendo com que reajam exageradamente. Colocando um espelho
diante das suas psiques, você os seduz com a ilusão de que compartilha os seus
valores; ao espelhar as suas ações, você lhes dá uma lição. Raros são os que
resistem ao poder do Efeito Espelho.
LEI 45
PREGUE A NECESSIDADE DE MUDANÇA, MAS NÃO
MUDE MUITA COISA AO MESMO TEMPO
Teoricamente, todos sabem que é preciso mudar, mas na prática as pessoas são
criaturas de hábitos. Muita inovação é traumático, e conduz à rebeldia. Se
você é novo numa posição de poder, ou alguém de fora tentando construir a
sua base de poder, mostre explicitamente que respeita a maneira antiga de
fazer as coisas. Se a mudança é necessária, faça-a parecer uma suave melhoria
do passado.
LEI 46
NÃO PAREÇA PERFEITO DEMAIS
Parecer melhor do que os outros é sempre perigoso, mas o que é perigosíssimo é
parecer não ter falhas ou fraquezas. A inveja cria inimigos silenciosos. É sinal
de astúcia exibir ocasionalmente alguns defeitos, e admitir vícios inofensivos,
para desviar a inveja e parecer mais humano e acessível. Só os deuses e os
mortos podem parecer perfeitos impunemente.
LEI 47
à Ó
NÃO ULTRAPASSE A META ESTABELECIDA; NA VITÓRIA,
APRENDA A PARAR
O momento da vitória é quase sempre o mais perigoso. No calor da vitória, a
arrogância e o excesso de con�ança podem fazer você avançar além da sua
meta e, ao ir longe demais, você conquista mais inimigos do que derrota. Não
deixe o sucesso lhe subir à cabeça. Nada substitui a estratégia e o planejamento
cuidadoso. Fixe a meta e, ao alcançá-la, pare.
LEI 48
EVITE TER UMA FORMA DEFINIDA
Ao assumir uma forma, ao ter um plano visível, você se expõe ao ataque. Em
vez de assumir uma forma que o seu inimigo possa agarrar, mantenha-se
maleável e em movimento. Aceite o fato de que nada é certo e nenhuma lei é
�xa. A melhor maneira de se proteger é ser tão �uido e amorfo como a água;
não aposte na estabilidade ou na ordem permanente. Tudo muda.
BIBLIOGRAFIA
PREFÁCIO
A sensação de não ter nenhum poder sobre pessoas e acontecimentos é, em
geral, insuportável – quando nos sentimos impotentes, ficamos infelizes.
Ninguém quer menos poder; todos querem mais. No mundo atual,
entretanto, é perigoso parecer ter muita fome de poder, ser muito
premeditado nos seus movimentos para conquistar o poder. Temos de
parecer justos e decentes. Por conseguinte precisamos ser sutis –
agradáveis porém astutos, democráticos mas não totalmente honestos.
Este jogo de constante duplicidade mais se assemelha à dinâmica de
poder que existia no mundo ardiloso da antiga corte aristocrática. Em toda
a história, sempre houve uma corte formada em torno de uma pessoa no
poder – rei, rainha, imperador, líder. Os cortesãos que compunham esta
corte ficavam numa posição muito delicada: tinham de servir aos seus
senhores, mas, se a bajulação fosse muito óbvia, os outros cortesãos
notariam e agiriam contra eles. As tentativas de agradar ao senhor,
portanto, tinham de ser sutis. E até mesmo os cortesãos hábeis e capazes
de tal sutileza ainda tinham de se proteger de seus companheiros que a
todo momento tramavam tirá-los do caminho.
Enquanto isso, supunha-se que a corte representasse o auge da
civilização e do refinamento. Desaprovavam-se as atitudes violentas ou
declaradas de poder; os cortesãos trabalhavam em silêncio e sigilosamente
contra aquele entre eles que usasse a força. Este era o dilema do cortesão:
aparentando ser o próprio modelo de elegância, ele tinha ao mesmo tempo
de ser o mais esperto e frustrar os movimentos dos seus adversários da
maneira mais sutil possível. Com o tempo, o cortesão bem-sucedido
aprendia a agir sempre de forma indireta; se apunhalava o adversário pelas
costas, era com luva de pelica na mão e, no rosto, o mais gentil dos
sorrisos. Em vez de coagir ou trair explicitamente, o cortesão perfeito
conseguia o que queria seduzindo, usando o charme, a fraude e as
estratégias sutis, sempre planejando várias ações com antecedência. A
vida na corte era um jogo interminável que exigia vigilância constante e
pensamento tático. Era uma guerra civilizada.
Hoje enfrentamos um paradoxo peculiarmente semelhante ao do
cortesão: tudo deve parecer civilizado, decente, democrático e justo. Mas
se obedecemos com muita rigidez a essas regras, se as tomamos de uma
forma por demais literal, somos esmagados pelos que estão ao nosso redor
e que não são assim tão tolos. Como escreveu o grande cortesão e
diplomata renascentista, Nicolau Maquiavel, “O homem que tenta ser bom
o tempo todo está fadado à ruína entre os inúmeros outros que não são
bons”. A corte se imaginava o pináculo do refinamento, mas sob a
superfície cintilante fervilhava um caldeirão de emoções escusas –
ganância, inveja, luxúria, ódio. Nosso mundo, hoje, igualmente se imagina
o pináculo da justiça, mas as mesmas feias emoções continuam fervendo
dentro de nós, como sempre. O jogo é o mesmo. Por fora, você deve
aparentar que é uma pessoa de escrúpulos, mas, por dentro, a não ser que
você seja um tolo, vai aprender logo a fazer o que Napoleão aconselhava:
calçar a sua mão de ferro com uma luva de veludo. Se, como o cortesão de
idos tempos, você for capaz de dominar a arte da dissimulação,
aprendendo a seduzir, encantar, enganar e sutilmente passar a perna nos
seus adversários, você alcançará os píncaros do poder. Vai conseguir
dobrar as pessoas sem que elas percebam o que você está fazendo. E se
elas não percebem o que você está fazendo, também não ficarão
ressentidas nem lhe oferecerão resistência.
As cortes são, inquestionavelmente, as sedes da polidez e da boa educação; não fosse assim,
elas seriam a sede de matanças e desolação. Os que hoje sorriem e se abraçam, se enfrentariam
e apunhalariam, uns aos outros, se os bons modos não se interpusessem...
LORD CHESTERFIELD, 1694-1773
Para algumas pessoas, a ideia de participar conscientemente de jogos de
poder – não importa se de forma indireta ou não – parece maldade, pouco
social, uma relíquia do passado. Elas acreditam que podem optar por ficar
fora do jogo, comportando-se como se não tivessem nada a ver com o
poder. É preciso cuidado com pessoas assim, pois embora exteriorizem
essas opiniões, com frequência são as maiores especialistas no jogo do
poder. Utilizam estratégias que disfarçam com habilidade a natureza
manipuladora. Tais tipos, por exemplo, costumam exibir a sua fraqueza e
falta de poder como uma espécie de virtude moral. Mas a verdadeira
impotência, sem que haja um motivo de interesse pessoal, não divulga a
sua própria fraqueza para conquistar respeito ou simpatia. Alardear a
própria fraqueza é na verdade uma estratégia muito eficaz, sutil e
fraudulenta, no jogo de poder (ver Lei 22, a Tática da Rendição).
Não é de estranhar que as ovelhas não gostem de aves predadoras, mas isso não é motivo para
culpar as grandes aves predadoras de carregarem as ovelhas. E não há nada intrinsecamente
errado no argumento das ovelhas quando elas sussurram entre si, “Estasaves predadoras são
más, não podemos dizer, portanto, que o oposto de ave predadora deve ser bom?”. As aves
predadoras ficam um tanto intrigadas e dizem, “Não temos nada contra estas boas ovelhas; de
fato, nós gostamos muito delas; nada é mais saboroso do que uma ovelha de carne macia”.
FRIEDRICH NIETZSCHE, 1844-1900
Outra estratégia daquele que se diz fora do jogo é a de exigir igualdade
em todas as áreas da vida. Todos têm de ser tratados igualmente, seja qual
for o seu status ou força. Mas se, para evitar o estigma do poder, você
quiser tratar todos com igualdade e justiça, vai se defrontar com o
problema de que algumas pessoas fazem certas coisas melhor do que
outras. Tratar a todos igualmente significa ignorar as suas diferenças,
elevar o patamar dos menos capazes e rebaixar o daqueles que se
sobressaem. Mais uma vez, muitos dos que se comportam assim estão na
verdade usando uma outra estratégia de poder, redistribuindo os prêmios
da maneira como eles próprios determinam.
Uma outra forma ainda de evitar o jogo seria a total honestidade e
franqueza, visto que uma das principais técnicas dos que buscam o poder é
a fraude e o sigilo. Mas a total honestidade acaba inevitavelmente por
magoar e ofender um grande número de pessoas, e algumas vão querer
pagar na mesma moeda. Ninguém verá a sua declaração honesta como
totalmente objetiva e livre de alguma motivação pessoal. E estarão certos:
na verdade, a honestidade é uma estratégia de poder, cuja intenção é
convencer os outros de que se tem um caráter nobre, bom e altruísta. É
uma forma de persuasão, até uma forma sutil de coagir as pessoas.
Finalmente, os que alegam não serem jogadores afetam um ar de
ingenuidade para se protegerem da acusação de que estão atrás do poder.
Mais uma vez, cuidado, pois a aparência de ingenuidade pode ser um meio
eficaz de enganar os outros (ver Lei 21, Pareça mais bobo do que o
normal). E até a ingenuidade autêntica não está livre das armadilhas de
poder. As crianças podem ser muito ingênuas, mas com frequência agem
por uma necessidade básica de controlar os que estão ao seu redor. Elas
sofrem muito sentindo-se impotentes no mundo adulto, e usam os meios
disponíveis para conseguir o que querem. Pessoas genuinamente inocentes
também podem estar no jogo do poder, e costumam ser terrivelmente
eficazes nisso, visto que a reflexão não é um obstáculo para elas. De novo,
aqueles que fazem alarde ou dão demonstrações de inocência são os menos
inocentes de todos.
Os únicos meios de conseguir o que se quer das pessoas são a força e a astúcia. O amor
também, dizem; mas isso significa esperar que o sol brilhe, e a vida precisa de todos os
momentos.
JOHANN VON GOETHE, 1749-1832
Você pode reconhecer estes supostos não jogadores pela maneira como
ostentam suas qualidades morais, sua piedade, o seu raro senso de justiça.
Mas como todos nós queremos o poder, e quase todas as nossas ações
visam a obtê-lo, os não jogadores estão simplesmente jogando areia nos
nossos olhos, nos distraindo de suas cartadas com seu ar de superioridade
moral. Observando bem, você verá de fato que são eles os mais hábeis na
manipulação dissimulada, mesmo que alguns a pratiquem sem ter
consciência disso. E se ressentem muito de qualquer publicidade que se dê
às táticas que usam todos os dias.
A flecha lançada pelo arqueiro pode ou não matar uma única pessoa. Mas os estratagemas
inventados por um homem sábio podem matar até os bebês no ventre da mãe.
KAUTILYA, FILÓSOFO INDIANO DO SÉC. 3 a.C.
Se o mundo é como uma gigantesca corte fraudulenta e estamos presos
nela, não adianta optar por ficar fora do jogo. Isso só vai deixar você
impotente, e a impotência vai deixá-lo infeliz. Em vez de lutar contra o
inevitável, em vez de ficar discutindo, se lamentando e cheio de culpa, é
muito melhor sobressair no poder. De fato, quanto melhor você lidar com
o poder, melhor você será como pessoa, amigo ou amiga, amante, marido
ou esposa. Seguindo os passos do perfeito cortesão (ver Lei 24) você
aprende a fazer os outros se sentirem melhor a respeito deles mesmos,
tornando-se uma fonte de prazer para eles. Eles se tornarão dependentes de
suas habilidades e desejarão a sua presença. Dominando as 48 leis deste
livro, você poupa aos outros a dor de não saber lidar com o poder – de
brincar com o fogo sem saber que ele queima. Se o jogo de poder é
inevitável, melhor ser um artista do que negar ou agir desastradamente.
Para aprender o jogo do poder é preciso ver o mundo de uma certa
maneira, mudar de perspectiva. É preciso esforço e anos de prática, pois
grande parte do jogo talvez não surja naturalmente. São necessárias certas
habilidades básicas, e uma vez dominando-as você será capaz de aplicar as
leis do poder com mais facilidade.
A mais importante, e fundamento crucial do poder, é a habilidade de
dominar as suas emoções. Reagir emocionalmente a uma situação é a
maior barreira ao poder, um erro que custará a você muito mais do que
qualquer satisfação temporária que possa obter expressando o que sente.
As emoções embotam a razão, e se você não consegue ver com clareza não
pode estar preparado e reagir com um certo controle da situação.
A raiva é a reação emocional mais destrutiva, pois é a que mais turva
sua visão. Também tem um efeito cascata que invariavelmente torna as
situações menos controláveis e acentua a decisão do seu inimigo. Se você
está tentando destruir um inimigo que o magoou, é bem melhor desarmá-
lo fingindo amizade do que mostrando que está com raiva.
Amor e afeto também são potencialmente destruidores, quando não
permitem que você enxergue os interesses quase sempre egoístas daqueles
de quem você menos desconfia de estar fazendo o jogo do poder. Você não
pode reprimir a raiva ou o amor, ou evitar sentir raiva ou amor, e nem
deve tentar. Mas cuidado com a maneira como você expressa esses
sentimentos e, o que é mais importante, eles não devem jamais influenciar
seus planos e estratégias.
Pensei comigo mesmo com que meios, com que trapaças, com quantas artes diversas, com que
habilidade um homem aprimora a sua inteligência para enganar outro e com estas variações o
mundo se faz mais belo.
FRANCESCO VETTORI, AMIGO E CONTEMPORÂNEO DE MAQUIAVEL, INÍCIO DO SÉC.
XVI
Relacionada com o controle das suas emoções está a habilidade para se
distanciar do momento presente e pensar de forma objetiva no passado e
no futuro. Como Janus, a divindade da mitologia romana com duas faces e
guardiã de todos os portões e entradas, você deve ser capaz de olhar em
ambas as direções ao mesmo tempo, para saber lidar melhor com o perigo,
seja lá de onde ele vier. É esse o rosto que você deve criar para si próprio –
um que olha sempre para o futuro e o outro, para o passado.
Para o futuro, o lema é “Sempre alerta, todos os dias”. Nada deve
apanhá-lo de surpresa, porque você está constantemente imaginando
problemas antes que eles surjam. Em vez de perder tempo sonhando com o
final feliz para o seu plano, você deve calcular todas as possíveis
combinações e armadilhas que possam surgir. Quanto melhor a sua visão,
quanto mais você planejar etapas com antecedência, mais poderoso se
tornará.
Não existem princípios; apenas fatos. Não existe o bem e o mal, apenas circunstâncias. O
homem superior apoia fatos e circunstâncias a fim de guiá-los. Se houvesse princípios e leis
fixas, as nações não as mudariam como mudamos de camisa, e não se pode esperar de um
homem que seja mais sábio do que uma nação inteira.
HONORÉ DE BALZAC, 1799-1850
A outra face de Janus olha constantemente para o passado – mas não
para lembrar de mágoas passadas ou guardar rancores. Isso só limitaria o
seu poder. A parte mais importante do jogo é aprender a esquecer essas
coisas que aconteceram no passado e que vão consumindo as suas energias
e turvando o seu raciocínio. O verdadeiro propósito do olho que espia para
trás é o de constantemente se educar – você olha para o passado para
aprender com quem viveuantes de você. (Os vários exemplos históricos
neste livro serão muito úteis nesse processo.) Depois, tendo visto o
passado, você olha mais perto as suas próprias ações e as dos seus amigos.
Esta é a escola mais importante para você, porque se baseia na experiência
pessoal.
Você começa examinando os erros que cometeu no passado, aqueles
que mais dolorosamente o impediram de progredir. Você os analisa de
acordo com os termos das 48 leis de poder, e extrai daí uma lição e um
juramento: “Nunca mais cometo esse erro; não caio mais nessa arapuca.”
Se você for capaz de se avaliar e observar assim, vai aprender a romper
com os modelos do passado – uma habilidade de enorme valor.
O poder requer a capacidade de jogar com as aparências. Com este
objetivo, você tem de aprender a usar muitas máscaras e ter uma cartola
cheia de truques. A fraude e o disfarce não devem ser vistos como feios e
imorais. Todas as interações humanas exigem que se trapaceie em muitos
níveis, e de certa forma o que distingue os humanos dos animais é a nossa
capacidade de mentir e enganar. Nos mitos gregos, no ciclo do
Mahabharata indiano, no épico de Gilgamesh do Oriente Médio, as artes
ilusórias são privilégio dos deuses; um grande homem, Ulisses por
exemplo, era julgado por sua capacidade de rivalizar com a astúcia dos
deuses, roubando parte do seu poder divino quando a eles se igualava na
esperteza e na trapaça. A fraude é uma arte que a civilização desenvolveu
e a arma mais potente no jogo do poder.
Você não consegue trapacear bem se não se distanciar um pouco de si
próprio – se não puder ser muitas pessoas diferentes, vestindo a máscara
que o dia e o momento exigem. Com essa abordagem flexível a todas as
aparências, inclusive a sua, você perde muito do peso interno que mantém
as pessoas presas ao chão. Faça com que seu rosto seja tão maleável
quanto o de um ator, trabalhe para esconder dos outros as suas intenções,
pratique atrair as pessoas para armadilhas. Jogar com as aparências e
dominar a arte da ilusão são um dos prazeres estéticos da vida. São
também os componentes-chave para conquistar o poder.
Se a fraude é a arma mais potente do seu arsenal, então a paciência em
tudo é o seu maior escudo. Ela impedirá que você cometa burrices. Como
o controle das suas emoções, a paciência é uma arte – ela não surge
naturalmente. Mas nada quando se trata de poder é natural; poder é a coisa
mais divina no mundo natural. E paciência é a suprema virtude dos deuses,
que nada possuem a não ser tempo. Tudo de bom acontecerá – a grama
crescerá de novo se você lhe der tempo e prever antecipadamente várias
etapas no futuro. A impaciência, por outro lado, só faz você parecer fraco.
É o principal empecilho ao poder.
O poder é essencialmente amoral e a principal habilidade a adquirir é a
de ver as circunstâncias, e não o bem ou o mal. O poder é um jogo – nunca
é demais repetir – e no jogo não se julgam os adversários por suas
intenções, mas pelo efeito de suas ações. Você mede a estratégia e o poder
deles pelo que pode ver e sentir. Quantas vezes as intenções de alguém
serviram apenas para perturbar e enganar! O que importa se outro jogador,
seu amigo ou rival, tinha boas intenções e só estava pensando no seu
interesse, se os efeitos das ações dele levaram a tanta ruína e confusão? É
natural que as pessoas disfarcem suas ações com todos os tipos de
justificativas, alegando sempre terem agido por generosidade. Você
precisa aprender a rir interiormente sempre que ouvir isto e jamais cair na
armadilha de avaliar os atos e intenções de alguém usando julgamentos
morais que são na verdade uma desculpa para o acúmulo de poder.
É um jogo. O seu adversário senta-se na sua frente. Ambos comportam-
se como damas ou cavalheiros, observando as regras do jogo e sem levar
nada para o lado pessoal. Você joga com a estratégia e observa os
movimentos do seu adversário com toda a calma possível. No final, você
aprecia a educação de quem está jogando com mais do que boas intenções.
Treine o seu olho para acompanhar os resultados dos movimentos dele, as
circunstâncias externas, e não se distraia com mais nada.
Metade do seu controle do poder vem do que você não faz, do que você
não se permite ser arrastado a fazer. Para isso, você deve aprender a julgar
todas as coisas pelo preço que terá que pagar por elas. Como Nietzsche
escreveu, “O valor de uma coisa às vezes não está no que se consegue com
ela, mas no que se paga por ela – o que ela nos custa”. Talvez você alcance
o seu objetivo, e um objetivo digno de ser alcançado, mas a que preço?
Use este critério para tudo, inclusive para saber se deve colaborar com
outras pessoas ou correr em seu auxílio. Afinal, a vida é curta, as
oportunidades são poucas, e a sua energia tem limite. E, neste sentido, o
tempo é tão importante quanto qualquer outro fator. Não desperdice tempo
valioso, ou paz de espírito, com assuntos alheios – o preço é muito alto.
O poder é um jogo social. Para aprender a dominá-lo, você deve
desenvolver a capacidade de estudar e compreender as pessoas. Como
escreveu o grande pensador e cortesão do século XVII, Baltasar Gracián,
“Muita gente gasta o seu tempo estudando as propriedades dos animais e
das ervas; muito mais importante seria estudar as características das
pessoas, com quem temos de viver e morrer!” Para ser um mestre no jogo
você deve ser também um mestre na psicologia. Deve reconhecer as
motivações e ver através da nuvem de poeira com que as pessoas cercam
suas ações. Compreender os motivos ocultos das pessoas é o maior
conhecimento de que se precisa para conquistar o poder. É o que abre
possibilidades sem fim de logro, sedução e manipulação.
As pessoas são de uma complexidade infinita e você pode passar a vida
inteira observando-as sem nunca chegar a entendê-las. Portanto, é
importantíssimo começar a aprender agora mesmo. E, ao fazer isso, você
também tem de ter em mente um princípio: Jamais discrimine quem você
estuda e em quem você confia. Jamais confie totalmente em alguém e
estude todos, inclusive amigos e pessoas queridas.
Finalmente, você precisa aprender sempre a pegar o caminho indireto
para chegar ao poder. Disfarce a sua astúcia. Como uma bola de bilhar que
ricocheteia várias vezes antes de acertar o alvo, seus movimentos devem
ser planejados e desenvolvidos da maneira menos óbvia possível.
Treinando para ser dissimulado, você prospera na corte moderna,
aparentando ser um modelo de decência enquanto está sendo um
consumado manipulador.
Considere As 48 leis do poder como uma espécie de manual das artes da
dissimulação. As leis baseiam-se nos escritos de homens e mulheres que
estudaram e dominaram o jogo do poder. Estes textos cobrem um período
de mais de mil anos e foram criados em civilizações tão díspares quanto a
antiga China e a Itália renascentista; e, no entanto, elas compartilham fios
e meadas, sugerindo em conjunto uma essência de poder que ainda tem de
ser plenamente formulada. As 48 leis do poder são uma destilação desta
sabedoria acumulada, reunida nos escritos dos mais ilustres estrategistas
(Sun-Tzu, Clausewitz), estadistas (Bismarck, Talleyrand), cortesãos
(Castiglione, Gracián), sedutores (Ninon de Lenclos, Casanova), e
charlatões (“Yellow Kid” Weil) da história.
As leis possuem uma premissa simples: Certas ações quase sempre
aumentam o poder de alguém (o cumprimento da lei), enquanto outras o
diminuem e até os arruínam (o desrespeito à lei). Estas transgressões e
obediências são ilustradas com exemplos históricos. As leis são eternas e
definitivas.
As 48 leis do poder podem ser usadas de várias maneiras. Lendo o livro
do princípio ao fim, você aprenderá sobre o poder em geral. Embora várias
leis possam não parecer diretamente ligadas à sua vida, com o tempo você
provavelmente descobrirá que todas têm alguma aplicação, e que de fato
elas estão inter-relacionadas. Com uma visão geral do assunto você será
capaz de avaliar melhor as suas próprias açõesno passado e alcançar um
grau maior de controle sobre seus problemas imediatos. A leitura
completa do livro vai continuar lhe inspirando ideias e reavaliações
durante muito tempo ainda.
O livro também foi projetado para consultas e exame da lei que no
momento lhe parecer mais pertinente ao seu caso. Digamos que você
esteja tendo problemas com um superior e não consiga entender por que
seus esforços não resultaram num sentimento maior de gratidão ou numa
promoção. Várias leis tratam especificamente do relacionamento entre o
chefe e o subalterno, e é quase certo você estar transgredindo uma delas.
Folheando os parágrafos iniciais sobre as 48 leis no sumário, você
identificará a lei pertinente.
Por fim, o livro pode ser folheado e lido ao acaso como diversão, como
um passeio agradável por entre as fraquezas e grandes feitos de nossos
antepassados no poder. Um aviso, entretanto, aos que usarem o livro com
este propósito: É melhor voltar atrás. O poder por si só é infinitamente
sedutor e ilusório. É um labirinto – sua mente se consumirá na solução de
problemas sem fim, e você logo perceberá que está agradavelmente
perdido. Em outras palavras, é muito divertido levá-lo a sério. Não seja
leviano com um assunto tão importante. Os deuses do poder desaprovam a
frivolidade; eles só satisfazem aos que estudam e refletem, e castigam os
que procuram se divertir nas espumas flutuantes.
O homem que tenta ser bom o tempo todo está fadado à ruína entre os
inúmeros outros que não são bons. Por conseguinte, o príncipe que
desejar manter a sua autoridade deve aprender a não ser bom, e usar
esse conhecimento, ou abster-se de usá-lo, segundo a necessidade.
O PRÍNCIPE, Nicolau Maquiavel, 1469-1527
LEI
1
NÃO OFUSQUE O BRILHO
DO MESTRE
JULGAMENTO
Faça sempre com que as pessoas acima de você se sintam
confortavelmente superiores. Querendo agradar ou
impressionar, não exagere exibindo seus próprios
talentos ou poderá conseguir o contrário – inspirar medo
e insegurança. Faça com que seus mestres pareçam mais
brilhantes do que são na realidade e você alcançará o
ápice do poder.
 
A LEI TRANSGREDIDA
Nicolas Fouquet, ministro das Finanças de Luís XIV nos primeiros anos do
seu reinado, era um homem generoso que gostava de festas pródigas,
mulheres bonitas e poesia. Gostava também de dinheiro, visto o seu estilo
de vida extravagante. Fouquet era inteligente e indispensável para o rei,
portanto, quando o primeiro-ministro, Jules Mazarin, morreu em 1661, o
ministro das Finanças esperava ser nomeado seu sucessor. Mas o rei
decidiu abolir esse posto. Este e outros sinais levaram Fouquet a
desconfiar de que estava perdendo prestígio, e ele então decidiu agradar ao
rei organizando a festa mais espetacular jamais vista no mundo.
Aparentemente, a festa era para comemorar o término da construção do
castelo de Fouquet, Vaux-le-Vicomte, mas a sua verdadeira função era
prestar uma homenagem ao rei, convidado de honra.
A nobreza mais ilustre da Europa e alguns dos grandes intelectuais da
época – La Fontaine, La Rochefoucauld, Madame de Sévigné – estavam
presentes. Molière escreveu uma peça para a ocasião, na qual ele mesmo
deveria representar no encerramento da noite. A festa começou com um
farto jantar com sete pratos, alguns vindos do Oriente e jamais provados
na França, assim como outros criados especialmente para aquela noite. A
refeição foi acompanhada de música encomendada por Fouquet para
homenagear o rei.
Depois do jantar, havia um passeio pelos jardins do castelo. Os pátios e
fontes de Vaux-le-Vicomte seriam a inspiração para Versalhes.
Fouquet acompanhou pessoalmente o jovem rei pelos canteiros de
flores e arbustos alinhados geometricamente. Chegando aos canais dos
jardins, eles assistiram a um espetáculo de fogos de artifício, seguido da
representação da peça de Molière. A festa entrou pela noite adentro e
todos concordaram que nunca tinham visto nada mais espantoso.
No dia seguinte, Fouquet foi preso pelo chefe dos mosqueteiros do rei,
D’Artagnan. Três meses depois foi a julgamento sob a acusação de ter
roubado o tesouro do país. (Na verdade, a maior parte do roubo de que
estava sendo acusado ele havia cometido em benefício do rei e com a sua
permissão.) Fouquet foi considerado culpado e enviado para a prisão mais
isolada da França, no alto dos Pirineus, onde passou os últimos vinte anos
da sua vida na solitária.
Interpretação
Luís XIV, o rei-sol, era um homem orgulhoso e arrogante que desejava ser
o centro das atenções sempre; não suportava ser superado em
prodigalidade por ninguém, e certamente não por seu ministro das
Finanças. Para o lugar de Fouquet, Luís escolheu Jean-Baptiste Colbert,
um homem famoso por sua parcimônia e por promover as festas mais
insípidas de Paris. Colbert garantiu que todo o dinheiro liberado do
tesouro fosse parar direto nas mãos de Luís. Com o dinheiro, Luís
construiu um palácio ainda mais magnífico do que o de Fouquet – o
glorioso palácio de Versalhes. Ele usou os mesmos arquitetos, decoradores
e paisagistas. E em Versalhes, Luís deu festas ainda mais extravagantes do
que aquela que custou a Fouquet a sua liberdade.
Vamos examinar a situação. Na noite da festa, quando Fouquet ia
apresentando a Luís um espetáculo após outro, cada um mais imponente
do que o anterior, ele imaginava estar demonstrando a sua lealdade e
devoção ao rei. Não só ele achava que a festa o faria cair de novo nas
graças do rei, como pensava que ela mostraria o seu bom gosto, as suas
relações e popularidade, tornando-o uma figura indispensável ao rei e
provando que ele seria um excelente primeiro-ministro. Mas, cada novo
espetáculo, cada sorriso de apreço dos convidados dirigido a Fouquet,
fazia Luís achar que seus próprios amigos e súditos estavam mais
encantados com o ministro das Finanças do que com o próprio rei, e que
Fouquet estava na verdade ostentando a sua riqueza e poder. Em vez de
lisonjear Luís XIV, a sofisticada festa de Fouquet ofendeu a vaidade do
rei. Luís não reconheceria isso diante de ninguém, é claro – pelo contrário,
ele encontrou uma desculpa conveniente para se livrar do homem que,
inadvertidamente, o fizera se sentir inseguro.
É este o destino, de uma forma ou de outra, de todos aqueles que
desestabilizam a noção de identidade do mestre, cutucam a sua vaidade, ou
o fazem desconfiar da própria superioridade.
No início da noite, Fouquet estava no topo do mundo. Quando ela
terminou, ele estava no chão.
Voltaire, 1694-1778
A LEI OBSERVADA
No início do século XVII, o matemático e astrônomo italiano Galileu se
viu numa situação precária. Ele dependia da generosidade dos grandes
governantes para apoiar a sua pesquisa e, portanto, como todos os
cientistas do Renascimento, às vezes presenteava com suas invenções e
descobertas os principais patronos da época. Certa ocasião, por exemplo,
ele ofereceu uma bússola militar que havia inventado ao duque de
Gonzaga. Depois dedicou um livro explicando o uso da bússola aos
Medici. Ambos os governantes ficaram gratos, e por intermédio deles
Galileu conseguiu arranjar mais alunos. Mas, não importava o tamanho da
descoberta, seus patronos costumavam lhe pagar com presentes, não com
dinheiro. Isto resultava numa vida de constante insegurança e
dependência. Devia haver um jeito mais fácil, ele pensou.
Galileu achou uma nova estratégia em 1610, quando descobriu as luas
de Júpiter. Em vez de dividir a descoberta entre seus patronos como havia
feito no passado – dando a um o telescópio que havia usado, dedicando a
outro um livro, e assim por diante –, ele decidiu se concentrar
exclusivamente nos Medici. Ele os escolheu por um motivo: pouco depois
de estabelecer a dinastia dos Medici, em 1540, Cosimo I tinha escolhido
Júpiter, o mais poderoso dos deuses, como seu símbolo – um símbolo de
poder que ia além da política e dos bancos, um símbolo que estava
associado à Roma Antiga e às suas divindades.
Galileu transformou a sua descoberta das luasde Júpiter num
acontecimento cósmico homenageando a grandiosidade dos Medici. Logo
após a descoberta, ele anunciou que “as estrelas brilhantes [as luas de
Júpiter] se apresentaram nos céus” ao seu telescópio ao mesmo tempo em
que Cosimo II era entronizado. Ele disse que o número de luas – quatro –
se harmonizavam com o número dos Medici (Cosimo II tinha três irmãos)
e que as luas giravam em torno de Júpiter como estes quatro filhos
giravam em torno de Cosimo I, fundador da dinastia. Mais do que uma
coincidência, isto mostrava que os próprios céus refletiam a ascendência
da família Medici. Depois de dedicar a descoberta aos Medici, Galileu
encomendou um emblema representando Júpiter sentado numa nuvem
com as quatro estrelas girando em torno dele, e o presenteou a Cosimo II
como um símbolo do seu vínculo com as estrelas.
Em 1610, Cosimo II nomeou Galileu filósofo e matemático oficial da
corte, com um ótimo salário. Para um cientista este era o golpe da sua
vida. Os dias de mendicância por um patrocínio tinham chegado ao fim.
Interpretação
De uma só tacada, Galileu ganhou mais com sua nova estratégia do que
com todos os anos de mendicância. A razão é simples: todos os mestres
querem brilhar mais do que os outros.
Eles não estão preocupados com a ciência ou a verdade empírica, ou a
mais recente invenção; estão interessados é no seu próprio nome e na sua
própria glória. Galileu deu aos Medici infinitamente mais glória
associando o nome deles a forças cósmicas do que fazendo-os patronos de
alguma nova engenhoca ou descoberta científica.
Os cientistas não estão livres dos caprichos da vida na corte e da
proteção de um patrono. Eles também precisam servir a senhores que
controlam os cordões da bolsa. E os seus grandes poderes intelectuais
podem fazer o senhor se sentir inseguro, como se estivesse ali apenas para
suprir fundos – uma tarefa feia, ignóbil. O produtor de uma grande obra
quer sentir que é mais do que apenas o financiador. Ele quer parecer
criativo e poderoso, e também mais importante do que a obra produzida
em seu nome. Em vez de insegurança, você deve lhe dar glória. Galileu
não desafiou a autoridade intelectual dos Medici com a sua descoberta, ou
os fez se sentirem inferiores de alguma forma; ao associá-los com as
estrelas, ele os fez resplandecer fulgurantes entre as cortes italianas. Ele
não ofuscou o brilho do seu senhor, ele o fez brilhar mais do que todos.
AS CHAVES DO PODER
Todos têm as suas inseguranças. Quando você se expõe ao mundo e mostra
os seus talentos, é natural que isso desperte todos os tipos de
ressentimentos, invejas e outras manifestações de insegurança. É de se
esperar que isto aconteça. Você não pode passar a vida se preocupando
com os sentimentos mesquinhos dos outros. Mas, com quem está acima de
você, é preciso adotar outra abordagem: quando se trata de poder, brilhar
mais do que o mestre talvez seja o maior erro.
Não se iluda pensando que a vida mudou muito desde a época de Luís
XIV e dos Medici. Quem conquista um alto status na vida é como os reis e
as rainhas: quer se sentir seguro da sua posição e superior aos que o
cercam em inteligência, perspicácia e charme. É uma falha de percepção
mortal, porém comum, acreditar que exibindo e alardeando os seus dons e
talentos você está conquistando o afeto do senhor. Ele pode fingir apreço,
mas na primeira oportunidade vai substituir você por alguém menos
brilhante, menos atraente, menos ameaçador, assim como Luís XIV
substituiu o reluzente Fouquet pelo apagado Colbert. E, como no caso de
Luís XIV, ele não admitirá a verdade, mas arranjará uma desculpa para se
livrar da sua presença.
Esta Lei implica duas regras que você precisa entender. Primeiro, é
possível inadvertidamente brilhar mais do que o senhor sendo
simplesmente você mesmo. Existem senhores que são mais inseguros do
que outros, monstruosamente inseguros; você pode naturalmente brilhar
mais do que eles com seu charme e a sua graça.
Ninguém possuía mais talentos naturais do que Astorre Manfredi,
príncipe de Faenza. O mais belo de todos os jovens príncipes da Itália, ele
cativava seus súditos com sua generosidade e espírito liberal.
Em 1500, César Bórgia sitiou Faenza. Quando a cidade se rendeu, os
cidadãos esperaram o pior do cruel Bórgia, que, entretanto, resolveu
poupá-la: ele simplesmente ocupou a sua fortaleza, não executou nenhum
dos seus cidadãos e permitiu que o príncipe Manfredi, com dezoito anos
na época, permanecesse com a sua corte em total liberdade.
Mas, poucas semanas depois, os soldados arrastaram Astorre Manfredi
para uma prisão romana. Passou-se um ano e o seu corpo foi pescado no
rio Tibre, com uma pedra amarrada no pescoço. Bórgia justificou o ato
terrível com uma história inventada de traição e conspiração, mas o
verdadeiro problema foi que ele era notoriamente fútil e inseguro. O
jovem brilhava mais do que ele sem fazer nenhum esforço. Devido aos
talentos naturais de Manfredi, a sua simples presença fazia Bórgia parecer
menos atraente e carismático. A lição é simples: se não for possível evitar
ser charmoso e superior, você deve aprender a evitar esses monstros de
vaidade. É isso, ou descobrir um jeito de apagar as suas boas qualidades
quando estiver na companhia de um César Bórgia.
Segundo, não imagine que pode fazer tudo que quiser porque o senhor
gosta de você. Livros inteiros poderiam ser escritos sobre favoritos que
caíram em desgraça por considerar garantido o seu status, por ousar
brilhar. No Japão do final do século XVI, o favorito do imperador
Hideyoshi era um homem chamado Sem no Rikyu. Principal artista da
cerimônia do chá, que tinha se tornado uma obsessão da nobreza, ele era
um dos conselheiros de maior confiança de Hideyoshi, tinha o seu próprio
apartamento no palácio e era homenageado por todo o Japão. Mas, em
1591, Hideyoshi mandou prendê-lo e condenou-o à morte. Rikyu preferiu
se suicidar. A causa desta repentina mudança de sorte foi descoberta mais
tarde: parece que Rikyu, antes um camponês e depois favorito da corte,
tinha mandado esculpir uma estátua de madeira retratando-o de sandálias
(sinal de nobreza) e com uma pose arrogante. Ele tinha mandado colocar a
estátua no templo mais importante dentro dos muros do palácio, bem à
vista da realeza que costumava passar por ali. Para Hideyoshi, isto
significava que Rikyu não tinha senso de limite. Presumindo ter os
mesmos direitos da mais alta nobreza, ele se esqueceu de que a sua
posição dependia do imperador, e chegou a acreditar que a havia
conquistado por si próprio. Este foi um erro de cálculo imperdoável, e ele
pagou com a vida. Lembre-se do seguinte: não considere garantida a sua
posição e jamais deixe que um favor recebido lhe suba à cabeça.
Sabendo dos perigos de brilhar mais do que o seu senhor, você pode
tirar vantagem desta Lei. Primeiro, você precisa elogiar e cortejar o seu
senhor. A bajulação explícita pode ser eficaz, mas tem seus limites; é por
demais direta e óbvia, e causa má impressão nos outros cortesãos. Cortejar
discretamente é muito mais eficaz. Se você é mais inteligente do que o seu
senhor, por exemplo, aparente o oposto: deixe que ele pareça mais
inteligente do que você. Mostre ingenuidade. Faça parecer que você
precisa da habilidade dele. Cometa erros inofensivos que não afetarão
você a longo prazo, mas lhe darão chance de pedir a sua ajuda. Os
senhores adoram essas solicitações. O mestre que não conseguir presenteá-
lo com a sua experiência pode deixar cair sobre você a sua ira e a sua má
vontade.
Se as suas ideias são mais criativas do que as do seu mestre, atribua-as
a ele, da maneira mais pública possível. Deixe claro que o seu conselho
está simplesmente repetindo um conselho dele.
Se você for mais esperto do que o seu mestre, tudo bem em representar
o papel do bobo da corte, mas não o faça parecer frio e mal-humorado em
comparação. Apague um pouco o seu senso de humor, se necessário, e
descubra como fazer parecer que é ele queestá divertindo e alegrando os
outros. Se você for naturalmente mais sociável e generoso do que seu
senhor, atenção para não ser a nuvem que vai toldar o seu brilho aos olhos
dos outros. Ele deve parecer como o sol em torno do qual todos giram,
irradiando poder e brilho, o centro das atenções. Se você for responsável
por distraí-lo, a exibição dos seus meios limitados conquistará a simpatia
dele. Qualquer tentativa de impressioná-lo com a sua graça e generosidade
pode ser fatal; aprenda com Fouquet ou arque com as consequências.
Em todos estes casos, não é fraqueza disfarçar a sua força se, no final,
eles o levarem ao poder. Deixando que os outros empanem o seu brilho,
você permanece no controle da situação, em vez de ser vítima da
insegurança deles. Isto será muito útil no dia em que você decidir elevar o
seu status inferior. Se, como Galileu, você conseguir que o seu senhor
brilhe ainda mais aos olhos dos outros, então você é um enviado dos
deuses e será imediatamente promovido.
Imagem: As Estrelas no Céu. Só pode haver um sol de cada
vez. Não ofusque a luz do sol, ou rivalize com seu brilho;
pelo contrário, vá desaparecendo no céu e descubra como
tornar mais intensa a luz do mestre.
Autoridade: Evite brilhar mais do que o senhor. Toda
superioridade é odiosa, mas a superioridade de um súdito com
relação ao seu príncipe não só é estúpida como fatal. Esta é
uma lição que as estrelas no céu nos ensinam – elas podem
ser aparentadas com o sol, e tão brilhantes quanto ele, mas
nunca aparecem em sua companhia. (Baltasar Gracián, 1601-
1658)
O INVERSO
Você não pode ficar se preocupando em não aborrecer todas as pessoas
que cruzam o seu caminho, mas deve ser seletivamente cruel. Se o seu
superior é uma estrela cadente, não há perigo nenhum em brilhar mais do
que ele. Não tenha misericórdia – seu senhor não teve escrúpulos na sua
própria ascensão a sangue-frio até o topo. Calcule a força dele. Se for
fraco, apresse discretamente a sua queda: supere-o, seja mais encantador,
mais inteligente do que ele nos momentos-chave. Se ele for muito fraco e
estiver prestes a cair, deixe a natureza seguir o seu curso. Não arrisque
brilhar mais do que um superior frágil – pode parecer crueldade ou
despeito. Mas se o seu senhor está firme na sua posição, e você sabe que é
mais capaz do que ele, tenha paciência e espere o momento mais propício.
O curso natural das coisas é o poder acabar enfraquecendo. O seu senhor
cairá um dia e, se jogar direito, você vai sobreviver e, um dia, brilhar mais
do que ele.
LEI
2
NÃO CONFIE DEMAIS NOS
AMIGOS, APRENDA A
USAR OS INIMIGOS
JULGAMENTO
Cautela com os amigos – eles o trairão mais
rapidamente, pois são com mais facilidade levados à
inveja. Eles também se tornam mimados e tirânicos.
Mas contrate um ex-inimigo e ele lhe será mais �el do
que um amigo, porque tem mais a provar. De fato, você
tem mais o que temer por parte dos amigos do que dos
inimigos. Se você não tem inimigos, descubra um jeito de
tê-los.
 
A LEI TRANSGREDIDA
Em meados do século IX, um jovem chamado Miguel III assumiu o trono
do Império Bizantino. Sua mãe, a imperatriz Teodora, fora banida para um
convento, e seu amante, Teoctisto, assassinado; encabeçando a
conspiração para depor Teodora e colocar no trono Miguel estava o tio de
Miguel, Bardas, homem inteligente e ambicioso. Miguel era agora um
jovem e inexperiente soberano, rodeado de conspiradores, assassinos e
devassos. Neste momento de perigo, ele precisava de alguém em quem
pudesse confiar para seu conselheiro, e pensou em Basílio, seu melhor
amigo. Basílio não tinha nenhuma experiência em governo e política – de
fato, ele era o chefe dos estábulos reais – mas tinha provado o seu amor e
gratidão diversas vezes.
Para um bom inimigo, escolha um amigo. Ele sabe onde atacar.
DIANE DE POITIERS, 1499-1566, AMANTE DE HENRIQUE II, DA FRANÇA
Os dois haviam se conhecido há poucos anos, quando Miguel estava
visitando os estábulos na hora em que um cavalo selvagem se soltou.
Basílio, jovem cavalariço de uma família de camponeses da Macedônia,
salvou a vida de Miguel. A força e a coragem do rapaz impressionaram
Miguel, que imediatamente elevou Basílio da sua função obscura de
treinador de cavalos para a de chefe dos estábulos. Ele cobriu o amigo de
presentes e favores e os dois se tornaram inseparáveis. Basílio foi
mandado para a melhor escola de Bizâncio, e o rude camponês se
transformou num cortesão culto e sofisticado.
Sempre que ofereço um posto vago, faço centenas de descontentes e um ingrato.
LUÍS XIV, 1638-1715
Agora Miguel era imperador e precisava de alguém fiel. A quem mais
ele poderia confiar o posto de camareiro-mor e conselheiro-chefe senão ao
jovem que lhe devia tudo?
Basílio poderia ser treinado para a função e Miguel o amava como a
um irmão. Ignorando os conselhos de quem recomendava Bardas, muito
mais qualificado, Miguel preferiu o amigo.
Assim, eu mesmo já fui mais de uma vez iludido pela pessoa a quem mais amava e em cujo amor,
acima de qualquer outra pessoa, eu mais confiava. Acredito, portanto, que seja certo amar e
servir a uma pessoa mais do que a todas as outras, segundo o mérito e o valor, porém jamais
confiar tanto nesta tentadora armadilha da amizade a ponto de ter de se arrepender mais tarde.
BALDASSARE CASTIGLIONE, 1478-1529
Basílio aprendeu bem e em breve estava aconselhando o imperador em
todas as questões de Estado. O único problema parecia ser o dinheiro –
Basílio nunca tinha o suficiente. A exposição aos esplendores da corte
bizantina o tornaram ávido pelos privilégios do poder. Miguel dobrou,
depois triplicou o seu salário, deu-lhe um título de nobreza e o casou com
sua própria amante, Eudóxia Ingerina. Um amigo e conselheiro tão
confiável valia qualquer preço. Mas os problemas não pararam por aí.
Bardas estava chefiando o exército, e Basílio convenceu Miguel de que o
homem era ambicioso demais. Com a ilusão de que poderia controlar o
sobrinho, Bardas havia conspirado para colocá-lo no trono, e poderia
conspirar novamente, desta vez para se livrar de Miguel e assumir ele
mesmo a coroa. Basílio destilou veneno nos ouvidos de Miguel até que o
imperador concordou em mandar assassinar o tio. Durante uma importante
corrida de cavalos, Basílio se acercou de Bardas no meio da multidão e
matou-o com uma punhalada. Logo depois, Basílio pediu para substituir
Bardas no posto de chefe do exército, de onde poderia controlar o reino e
sufocar as rebeliões. Isso lhe foi concedido.
Ora, o poder e a riqueza de Basílio só aumentavam e, passado algum
tempo, Miguel, em dificuldades financeiras por causa das suas próprias
extravagâncias, pediu ao amigo que lhe devolvesse parte do dinheiro que
durante vários anos lhe emprestara. Para espanto de Miguel, Basílio
recusou com tamanha desfaçatez que o imperador percebeu de repente a
encrenca em que se metera: o ex-cavalariço tinha mais dinheiro, mais
aliados no exército e no senado e, no final, mais poder do que o próprio
imperador. Passadas algumas semanas, depois de uma noitada bebendo
muito, Miguel acordou cercado de soldados. Basílio ficou assistindo
enquanto eles matavam a punhaladas o imperador. E aí, proclamando-se
imperador, ele atravessou a cavalo as ruas de Bizâncio, brandindo a cabeça
do seu ex-benfeitor e melhor amigo espetada numa lança.
A SERPENTE, O FAZENDEIRO E A GARÇA
Uma serpente perseguida pelos caçadores pediu a um fazendeiro que salvasse a sua vida. Para
escondê-la de seus perseguidores, o fazendeiro se agachou e permitiu que a serpente rastejasse
para dentro da sua barriga. Mas, quando o perigo passou e o fazendeiro pediu para a serpente
sair, ela se recusou. Estava quente e seguro lá dentro. No caminho de casa, o fazendeiro viu uma
garça, aproximou-se dela e lhe contou baixinho o que tinha acontecido. A garça lhe disse para se
agachar e fazer força para botar o bicho para fora. Assim que a serpente espichou a cabeça, a
garça agarrou-a com o bico e, puxando-alá de dentro, matou-a. O fazendeiro ficou preocupado,
com medo de que o veneno da serpente ainda estivesse na sua barriga, e a garça lhe disse que
para curar veneno de cobra era preciso cozinhar e comer seis aves brancas. “Você é uma ave
branca”, disse o fazendeiro. “Para começar, serve.” Agarrou a garça, colocou-a numa sacola e a
levou para casa, onde a pendurou enquanto contava para a mulher o que tinha acontecido. “Você
me surpreende”, disse a mulher. “A ave é boa com você, o livra de uma coisa ruim dentro da sua
barriga, na verdade salva a sua vida, e você a traz até aqui para matá-la.” E imediatamente soltou
a garça, que saiu voando. Mas, no caminho, lhe bicou os olhos. Moral: Se você vir o rio subindo
o morro, é sinal de que alguém está retribuindo uma gentileza.
CONTO FOLCLÓRICO AFRICANO
Interpretação
Miguel III apostou o seu futuro na gratidão que ele achava que Basílio
deveria sentir por ele. Sem dúvida, Basílio lhe serviria melhor; ele devia
ao imperador a sua fortuna, a sua educação e a sua posição. Depois, uma
vez Basílio no poder, tudo que ele precisasse era melhor lhe dar,
reforçando os vínculos entre os dois homens. Só naquele dia fatídico, ao
ver o sorriso descarado no rosto de Basílio, é que o imperador percebeu o
erro fatal que tinha cometido.
Havia criado um monstro. Tinha permitido que um homem visse o
poder de perto – um homem que depois quis mais, que pediu tudo e
conseguiu, que se sentiu carregando o peso da caridade que recebera e
simplesmente fez o que muita gente faz nessa situação: esqueceu os
favores que recebeu e imaginou ter conquistado o sucesso por seus
próprios méritos.
No momento da revelação, Miguel ainda poderia ter salvo a sua vida,
mas a amizade e o amor cegam os homens e eles não enxergam o que é do
seu próprio interesse. Ninguém acredita que um amigo possa trair. E
Miguel continuou não acreditando até o dia em que a sua cabeça foi parar
na ponta de uma lança.
Senhor, proteja-me dos meus amigos; que dos meus inimigos, cuido eu.
Voltaire, 1694-1778
A LEI OBSERVADA
Durante vários séculos após a queda da dinastia Han (222 d.C.), a história
da China seguiu o mesmo modelo de violência e golpes sangrentos, um
após o outro. O exército conspirava para matar um imperador fraco, depois
o substituía no Trono do Dragão por um general forte. O general iniciava
uma nova dinastia e se coroava imperador; para garantir a própria
sobrevivência ele matava os generais, seus companheiros. Alguns anos
depois, entretanto, o modelo voltava a funcionar: novos generais se
sublevavam e o matavam, ou matavam seus filhos. Ser imperador da
China era ser uma pessoa solitária, cercada por um bando de inimigos –
era o posto de menos poder, de menos segurança do reino.
Em 959 d.C., o general Chao K’uang-yin se tornou imperador Sung. Ele
sabia das suas chances, da probabilidade de em um ano ou dois ser
assassinado; como romper com esse modelo? Logo depois de se tornar
imperador, Sung ordenou um banquete para comemorar a nova dinastia e
convidou os comandantes mais poderosos do exército. Depois de beberem
muito vinho, ele dispensou os guardas e todos os outros, exceto os
generais, que agora temiam que ele os assassinasse a todos de um só
golpe. Em vez disso, ele falou: “Passo o dia inteiro com medo, e me sinto
infeliz tanto à mesa quanto na minha cama. Pois quem de vocês não sonha
em subir ao trono? Não duvido da sua aliança, mas se por acaso seus
subordinados, em busca de riqueza e posição, insistirem em colocar sobre
seus ombros o manto amarelo, como vocês poderiam recusar?” Bêbados e
temendo por suas vidas, os generais proclamaram sua inocência e
fidelidade. Mas Sung tinha outras ideias: “A melhor maneira de viver é
usufruir pacificamente de riquezas e homenagens. Se vocês estiverem
dispostos a renunciar aos seus comandos, estou pronto para lhes dar as
melhores terras e as moradias mais belas, onde poderão ter o prazer da
companhia de cantores e de moças.”
Muita gente pensa que um príncipe sábio deveria, tendo oportunidade, incentivar
astuciosamente uma inimizade, de forma que, ao eliminá-la, ele possa aumentar a sua grandeza.
Os príncipes, especialmente os novos, encontraram mais fé e utilidade naqueles homens a quem,
no início do seu poder, viam com suspeita, do que naqueles em quem começaram confiando.
Pandolfo Petrucci, príncipe de Siena, governou seu Estado mais com aqueles de quem
desconfiava do que com os outros.
NICOLAU MAQUIAVEL, 1469-1527
Os atônitos generais perceberam que, em vez de uma vida de lutas e
ansiedades, Sung estava lhes oferecendo riqueza e segurança. No dia
seguinte, todos os generais entregaram os seus pedidos de demissão, e se
retiraram para as terras que Sung lhes deu.
De um só golpe, Sung transformou um bando de “lobos”, que se diziam
amigos mas provavelmente o teriam traído, num grupo de dóceis ovelhas,
afastados de todo o poder.
Nos anos seguintes, Sung continuou a campanha para garantir o seu
governo. Em 971 d.C., o rei Liu de Han do Sul finalmente se rendeu,
depois de anos de rebelião. Para espanto de Liu, Sung lhe ofereceu um
posto na corte imperial e o convidou a ir até o palácio para selarem com
vinho a nova amizade. Segurando o copo que Sung lhe oferecia, o rei Liu
hesitou, com medo de que estivesse envenenado. “Os crimes de seus
súditos certamente merecem a morte”, gritou ele, “mas eu imploro a Sua
Majestade que poupe a vida do seu súdito. Na verdade, não ouso beber este
vinho.” O imperador Sung riu, pegou o copo de Liu e bebeu. Não estava
envenenado. A partir daí, Liu se tornou o seu amigo mais leal e confiável.
Um brâmane, grande especialista nos Vedas e que também foi um ótimo arqueiro, oferece os
seus serviços ao seu bom amigo, que agora é o rei. O brâmane grita ao ver o rei, “Reconheça-
me, meu amigo!” O rei lhe responde com desprezo e depois explica: “Sim, já fomos amigos, mas
nossa amizade se baseava no poder que tínhamos… eu era seu amigo, bom brâmane, porque
era do meu interesse. Nenhum pobre é amigo do rico; nenhum tolo, do sábio; nenhum covarde,
do corajoso. Um velho amigo – quem precisa dele? Só dois homens de igual riqueza e berço
ficam amigos e se juntam, não um homem rico e outro pobre… Um velho amigo – quem precisa
dele?”
MAHABARATA, C. SÉCULO III a.C.
Na época, a China se dividira em muitos reinos menores. Quando
Ch’ien Shu, rei de um deles, foi derrotado, os ministros de Sung
aconselharam o imperador a trancafiar este rebelde. Eles apresentaram
documentos provando que ele ainda conspirava para matar Sung. Quando
Ch’ien Shu foi visitar o imperador, entretanto, em vez de prendê-lo, Sung
o homenageou. Deu-lhe também um pacote, que disse para o ex-rei abrir
no caminho de casa. Ch’ien Shu abriu o pacote na viagem de volta e viu
que continha todos os documentos sobre a sua conspiração. Percebeu que
Sung sabia dos seus planos assassinos, mas mesmo assim o havia poupado.
Esta generosidade o conquistou, e ele também passou a ser um dos súditos
mais leais de Sung.
Interpretação
Um provérbio chinês compara os amigos aos dentes e mandíbulas de um
animal perigoso: se você não tomar cuidado, eles acabam mastigando
você. O imperador Sung conhecia as mandíbulas por entre as quais estava
passando ao assumir o trono: seus “amigos” no exército o mastigariam
como um pedaço de carne e, se ele conseguisse sobreviver, seus “amigos”
no governo o jantariam. O imperador Sung não quis saber de truques com
“amigos” – subornou os colegas generais com esplêndidas terras e os
manteve afastados. Esse foi um jeito bem melhor de enfraquecê-los sem
os matar, o que só levaria os outros generais a buscar vingança. E Sung
não quis nada com ministros “amistosos”. Com mais frequência, eles
acabariam bebendo o seu famoso copo de vinho.
Em vez de confiar em amigos, Sung usou seus inimigos, um após o
outro, transformando-os em súditos muito mais confiáveis. Enquanto um
amigo espera receber cada vez mais favores, e ferve de inveja, esses
antigos inimigos

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