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<p>SÊNECA</p><p>CONSOLAÇÕES DE UM ESTOICO</p><p>"QUE A LEMBRANÇA DAQUELES QUE</p><p>PERDEMOS SE TORNE UMA AGRADÁVEL</p><p>LEMBRANÇA PARA NÓS"</p><p>Tradução, introdução e notas de</p><p>ALEXANDRE PIRES VIEIRA</p><p>http://www.montecristoeditora.com.br/</p><p>©2020 Copyright Montecristo Editora</p><p>CONSOLAÇÕES DE UM ESTOICO</p><p>"QUE A LEMBRANÇA DAQUELES QUE</p><p>PERDEMOS SE TORNE UMA AGRADÁVEL</p><p>LEMBRANÇA PARA NÓS"</p><p>Supervisão de Editoração/Capa</p><p>Montecristo Editora</p><p>Tradução</p><p>Alexandre Pires Vieira</p><p>Original em inglês</p><p>Internet Archive</p><p>Imagem da Capa</p><p>Pseudo-Seneca no Museu Arqueológico Nacional de Nápoles</p><p>ISBN:</p><p>978-1-61965-190-6 – Edição Digital</p><p>978-1-61965-191-3 – Edição Papel</p><p>Montecristo Editora Ltda.</p><p>e-mail: editora@montecristoeditora.com.br</p><p>Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)</p><p>Sêneca;Consolações de um Estoico</p><p>introdução, tradução e notas de Alexandre Pires Vieira – Montecristo Editora, 2020.</p><p>https://archive.org/details/cu31924026554281/page/n11/mode/2up</p><p>mailto:editora%40montecristoeditora.com.br?subject=consolocoes-Seneca</p><p>http://www.montecristoeditora.com.br/</p><p>ISBN: 978-1-61965-190-6</p><p>1. Filosofia antiga. 2.Sêneca 3. Estoicismo. 5. Ética 5. Moral 6. Consolação I.</p><p>Vieira, Alexandre Pires. II. Título</p><p>14-10335 CDD-188</p><p>Introdução</p><p>A arte de consolar quem sofre tem uma longa história. Textos de pensadores</p><p>estoicos, peripatéticos, epicuristas e platônicos tornaram-se uma referência</p><p>fundamental no Ocidente na tradição da medicina da alma. Na</p><p>Antiguidade, a carta de consolação era um gênero literário popular, sendo</p><p>essencialmente um veículo para apresentar aspectos cruciais de uma escola</p><p>filosófica e ao mesmo tempo dar conselhos reais sobre como lidar com a</p><p>perda e o luto.</p><p>Atualmente tal procedimento seria chamado de terapia ou aconselhamento</p><p>psicológico e seria praticado por psicólogos e religiosos. Naquele tempo, o</p><p>emprego do discurso, em forma de diálogo se chamava consolação e tinha o</p><p>objetivo de ensinar a superação racional das paixões e dores da alma. Essa</p><p>prática não se restringe apenas à antiguidade. George McClure oferece, no</p><p>livro Sorrow and Consolation in Italian Humanism, uma análise do papel da</p><p>consolação na cultura renascentista italiana, mostrando como o interesse</p><p>dos humanistas pelo tema sinalizou uma mudança em direção a uma</p><p>secularização acentuada no pensamento europeu.</p><p>O gênero literário Consolação foi cultivado por todas as grandes escolas,</p><p>nela, o filósofo procura entender a dor que abala a pessoa a ser consolada e,</p><p>ainda, compreender sua visão de mundo para assim expor sua filosofia, de</p><p>forma que seja melhor assimilada pelo espírito em luto. Sobre o estoicismo</p><p>romano, Cleonice van Raij1, diz:</p><p>Entre os filósofos e retores romanos o primeiro que se ocupou desse gênero</p><p>foi Cícero, por ocasião da morte de sua filha Túlia, quando escreveu uma</p><p>Consolação, a fim de abrandar a própria dor. Tal Consolação, infelizmente,</p><p>não chegou até nós, restando dela apenas alguns fragmentos conservados</p><p>nas Tusculanas. Sêneca, sem a menor dúvida, foi o mais fecundo escritor</p><p>latino de Consolações, se considerarmos não só os textos conhecidos sob</p><p>esse nome, mas também os vários tratados de alto teor consolatório, como</p><p>Sobre a brevidade da vida, Sobre a tranquilidade da alma, De remediis</p><p>fortuitorum2 (Sobre os remédios dos acontecimentos fortuitos) e as cartas</p><p>https://www.amazon.com.br/Consolation-Italian-Humanism-Princeton-Library/dp/0691606692/ref=as_li_ss_tl?ie=UTF8&linkCode=ll1&tag=montecristo0f-20&linkId=aa7752b3aa43a35903d2483e185ee14d&language=pt_BR</p><p>http://www.montecristoeditora.com.br/978161965125-8-sobre-a-brevidade-da-vida#wbStoreElementwb_element_instance7</p><p>http://www.montecristoeditora.com.br/9781619651784-sobre-a-tranquilidade-da-alma#wbStoreElementwb_element_instance7</p><p>que, em grande parte, pertencem a esse gênero, como as dirigidas a</p><p>Lucílio. No entanto, as genuínas Consolações, ou seja, aquelas que mais</p><p>respondem às exigências da tradição consolatória, são três: A Márcia, A</p><p>Hélvia e A Políbio.</p><p>O estilo consolação visava não apenas o seu destinatário declarado, mas</p><p>principalmente comunicar ao público em geral, havendo assim uma tensão</p><p>entre o particular e o universal na elaboração do texto. A experiência</p><p>pessoal descrita era construída como exemplo e servia de modelo para a</p><p>aplicação de preceitos filosóficos e morais, muitas vezes consagrados ao</p><p>senso comum. Veremos nas três cartas de Sêneca, que isso não significava a</p><p>desconsideração de aspectos particulares nem a análise do modo e tempo</p><p>oportunos para a consolação de cada caso. Ao consolar mulheres, Sêneca</p><p>ilustra o texto com exemplos femininos, ao abordar Políbio, a maior parte</p><p>das referências são de governantes e pessoas envolvidas com o estado</p><p>romano.</p><p>Este livro contém as três cartas de consolação assim nomeadas por Sêneca e</p><p>também três das cartas escritas a Lucílio cuja temática é relacionada ao</p><p>tema:</p><p>Consolação a Márcia</p><p>Consolação a Márcia é a primeira carta de consolação de Sêneca, escrita</p><p>aproximadamente no ano 40, sendo a obra conhecida mais antiga do</p><p>filósofo. A carta é endereçada a Márcia, filha do proeminente historiador</p><p>Aulo Cremúcio Cordo3. Sêneca lhe escreve porque seu luto pela morte de</p><p>seu filho Metílio parecia ter se tornado crônico, continuando três anos após</p><p>a tragédia. Sêneca adverte Márcia, desde o início, que ele não será gentil.</p><p>Esta admirável peça de consolação oferece argumentos da filosofia estoica e</p><p>sua visão de mundo, a fim de ajudar os enlutados e desolados a considerar</p><p>outros aspectos da perda e também reconhecer a inevitabilidade da morte.</p><p>Sêneca tenta transformar a tristeza paralisante de Márcia em belas e</p><p>agradáveis lembranças do tempo que passaram juntos. Sêneca reconhece a</p><p>humanidade da dor, nunca considera o luto de Márcia como insignificante,</p><p>mesmo três anos após a morte do filho. Ele emprega grande gama de</p><p>argumentos da escola estoica para convencê-la de que já passou tempo</p><p>suficiente, de que ela deveria voltar à sociedade como um membro</p><p>produtivo, enquanto transforma sua tristeza em doces lembranças de seu</p><p>filho. É difícil imaginar uma abordagem mais humana do luto.</p><p>Consolação a Minha Mãe Hélvia</p><p>No ano 41, Sêneca fora condenado ao exílio pelo imperador Cláudio, na</p><p>ilha mediterrânea da Córsega por um alegado caso com a irmã do</p><p>imperador Calígula. Do exílio ele escreveu carta de consolo para sua mãe,</p><p>Helvia, uma mulher cuja vida tinha sido marcada por uma perda</p><p>inimaginável. Sua própria mãe havia morrido enquanto ela a nascera, ela</p><p>havia enterrado seu marido, seu tio amado e três de seus netos. Vinte dias</p><p>depois que um de seus netos – o próprio filho de Sêneca – morrera em seus</p><p>braços, Helvia recebeu notícias de que Sêneca fora levado para a Córsega,</p><p>condenado à vida no exílio. Esta desgraça final, Sêneca sugere, fez</p><p>desmoronar a pilha perdas ao longo da vida o fez escrever a carta trazida</p><p>por esse livro.</p><p>Consolação a Políbio</p><p>Consolação a Políbio é a terceira carta de consolação de Sêneca, escrita no</p><p>ano 44 quando o filósofo se encontrava no exílio na ilha de Córsega. A obra</p><p>dirige-se a Políbio, secretário particular do Imperador Cláudio, para</p><p>consolá-lo sobre a morte de seu irmão. Embora seja sobre um assunto muito</p><p>pessoal, o ensaio em si não parece particularmente empático ao caso</p><p>específico de Políbio, dando uma visão mais ampla sobre a dor e o luto,</p><p>sem nunca citar o nome do irmão falecido. O texto é, sem dúvida, uma</p><p>tentativa de Sêneca de conseguir seu retorno do exílio, usando boa parte do</p><p>texto para lisonjear e vergonhosamente bajular o Imperador Cláudio. O</p><p>texto confirma aquilo que Sêneca reafirma inúmeras vezes em sua obra: ele</p><p>não é o sábio estoico ideal, mas alguém meramente humano, que precisa se</p><p>esforçar diariamente para trilhar o caminho da virtude. Por isso mesmo,</p><p>considero o mais autêntico e convincente dos filósofos estoicos.</p><p>Carta 63: Sobre sofrimento por amigos perdidos</p><p>Na carta é abordado o luto pela morte de pessoas amadas e recomendado</p><p>“que a lembrança daqueles que perdemos se torne uma agradável</p><p>lembrança para nós”. Para Sêneca é importante aproveitar a companhia</p><p>dos amigos e amados enquanto</p><p>aflige? É que seu filho morreu, ou que ele não viveu muito tempo? Se foi</p><p>sua morte, então você deveria sempre ter lamentado, pois sempre soube que</p><p>ele iria morrer.</p><p>4. Reflita que os mortos não sofrem males, que todas aquelas histórias que</p><p>nos fazem temer o mundo inferior são meras fábulas, que aquele que morre</p><p>não precisa temer nenhuma escuridão, nenhuma prisão, nenhum rio de fogo</p><p>ardente, nenhum rio de Lete60, nenhum tribunal diante do qual ele deve</p><p>aparecer, e que a morte é uma liberdade tão absoluta que ele não precisa</p><p>temer mais os déspotas. Tudo isso é uma fantasia dos poetas, que nos</p><p>aterrorizaram sem uma causa.</p><p>5. A morte é uma libertação e um fim de todas as dores: além dela, nossos</p><p>sofrimentos não podem se estender: ela nos restitui o descanso pacífico em</p><p>que nos encontrávamos antes de nascermos. Se alguém tem pena dos</p><p>mortos, deve também ter pena daqueles que não nasceram. A morte não é</p><p>nem uma coisa boa nem uma coisa ruim, pois só aquilo que é algo que pode</p><p>ser bom ou mau: mas aquilo que não é nada, e reduz todas as coisas a nada,</p><p>não nos entrega a nenhuma das duas fortunas, porque o bom e o mau</p><p>requerem algum material para trabalhar. A fortuna não pode se apoderar</p><p>daquilo que a Natureza deixou passar, nem um homem pode ser infeliz se</p><p>não for nada.</p><p>6. Seu filho passou da fronteira do país onde os homens são forçados a</p><p>trabalhar; ele alcançou a paz profunda e eterna. Ele não sente medo da</p><p>miséria, não sente ansiedade por suas riquezas, não sente ardor de luxúria</p><p>que rasga o coração sob a capa do prazer: ele não conhece a inveja da</p><p>prosperidade alheia, ele não se deixa abater pelo peso de sua própria</p><p>prosperidade; até mesmo seus ouvidos castos61 não são feridas por</p><p>nenhuma ribalta: ele não é ameaçado por nenhum desastre, nem para seu</p><p>país nem para si mesmo. Ele não se pendura, cheio de ansiedade, sobre a</p><p>questão dos acontecimentos, para colher uma incerteza ainda maior como</p><p>recompensa: ele finalmente assumiu uma posição da qual nada o pode</p><p>desalojar, onde nada o pode fazer ter medo.</p><p>XX</p><p>1. O quão pouco o homem entende sua própria miséria, que não elogia e</p><p>espera a morte como a melhor descoberta da Natureza, seja porque ela</p><p>envolve felicidade, seja porque afasta a miséria: porque põe um fim ao</p><p>cansaço satisfeito da velhice, corta a juventude em sua floração enquanto</p><p>ainda cheia de esperança de coisas melhores, ou ainda porque chama ao lar</p><p>a infância antes que as fases mais duras da vida sejam alcançadas62: é o fim</p><p>de todos os homens, um alívio para muitos, um desejo para alguns, e não</p><p>trata nenhum tão bem como aqueles a quem ela vem antes que eles a</p><p>invoquem.</p><p>2. A morte liberta o escravo, embora seu senhor não o queira, alivia as</p><p>correntes do cativo: conduz para fora da prisão aqueles a quem o poder</p><p>impetuoso proibiu de abandoná-la: mostra aos exilados, cujas mentes e</p><p>olhos estão sempre voltados para seu próprio país, que não faz diferença</p><p>sob o solo de que povo se está. Quando a Fortuna dividiu injustamente a</p><p>sorte comum e entregou um homem a outro, apesar de terem nascido com</p><p>direitos iguais, a Morte os torna todos iguais. Após a morte, ninguém mais</p><p>age a mando do outro: na morte, nenhum homem sofre mais com a</p><p>sensação de sua posição inferior. É aberta a todos: era o que seu pai,</p><p>Márcia, desejava: é isto, digo eu, que não faz nascer nenhuma miséria, o</p><p>que me permite enfrentar as ameaças de infortúnio sem hesitação, e manter</p><p>minha alma ilesa e capaz de comandar a si mesma. Tenho um último apelo.</p><p>3. Vejo diante de mim cruzes não todas iguais, mas diferentes feitas por</p><p>povos diferentes: algumas penduram a cabeça de um homem para baixo,</p><p>outras forçam um pau para cima através de sua virilha, outras esticam seus</p><p>braços em uma bifurcação. Eu vejo cordas, flagelos e instrumentos de</p><p>tortura para cada membro e cada articulação: mas vejo também a Morte. Há</p><p>inimigos sedentos de sangue, há compatriotas prepotentes, mas onde eles</p><p>estão, eu vejo também a morte. A escravidão não é dolorosa se um homem</p><p>pode ganhar sua liberdade por um passo assim que se cansa da escravatura.</p><p>4. A vida, é graças à morte que eu lhe tenho tanta estima. Pense como uma</p><p>grande bênção é uma morte oportuna, quantos foram lesados por viverem</p><p>mais tempo do que deveriam. Se a doença tivesse levado Cneu Pompeu em</p><p>Nápoles, ele que no momento era glória e apoio do império, ele teria</p><p>morrido a cabeça indubitável do povo romano, mas, como foi, um curto</p><p>prolongamento de tempo o lançou para baixo de seu pináculo de fama: ele</p><p>viu suas legiões massacradas diante de seus olhos: e que triste relíquia</p><p>daquela batalha, na qual o Senado formou a primeira linha, foi a</p><p>sobrevivência do general. Ele viu seu carniceiro egípcio, e ofereceu seu</p><p>corpo, santificado por tantas vitórias, à espada de um guarda, embora</p><p>mesmo se ele não tivesse sido ferido, ele teria lamentado sua segurança:</p><p>pois o que poderia ter sido mais infame do que um Pompeu dever sua vida à</p><p>clemência de um rei?</p><p>5. Se Marco Cícero tivesse caído no momento em que evitou aqueles</p><p>punhais que Catilina apontou igualmente para ele e para seu país, ele</p><p>poderia ter morrido como o salvador da República que ele havia libertado:</p><p>se sua morte tivesse mesmo seguido a de sua filha, ele poderia ter morrido</p><p>feliz. Ele não teria então visto espadas desembainhadas para a matança de</p><p>cidadãos romanos, os bens dos assassinados divididos entre os assassinos,</p><p>homens que poderiam pagar de seu próprio bolso o preço de seu sangue, o</p><p>leilão público do despojo do cônsul na guerra civil, o público deixando sair</p><p>o assassinato para ser feito, o ladrão, a guerra, a pilhagem, anfitriões de</p><p>Catilina.</p><p>6. Não teria sido uma coisa boa para Marco Catão se o mar o tivesse</p><p>engolido quando ele voltava de Chipre depois de sequestrar os bens</p><p>hereditários do rei, mesmo se o dinheiro que ele trazia para pagar os</p><p>soldados na guerra civil tivesse sido perdido com ele? Ele certamente teria</p><p>sido capaz de se vangloriar de que ninguém ousaria agir mal na presença de</p><p>Catão: como foi, o prolongamento de sua vida por muito poucos anos</p><p>forçou aquele que nasceu para a liberdade pessoal e política a fugir de César</p><p>e se tornar o seguidor de Pompeu. A morte prematura, portanto, não lhe fez</p><p>nenhum mal: de fato, pôs um fim ao poder de qualquer mal para magoá-lo.</p><p>XXI</p><p>1. “No entanto”, diz você, “ele morreu cedo demais e prematuramente”. Em</p><p>primeiro lugar, suponha que ele tenha vivido até a velhice extrema: deixe-o</p><p>continuar vivo até os limites extremos da existência humana: quanto é</p><p>afinal de contas? Nascido para um espaço de tempo muito breve, nós</p><p>consideramos esta vida como uma pousada que em breve deixaremos para</p><p>que possa estar pronta para o próximo convidado. Será que falo de nossas</p><p>vidas, que sabemos que evoluem incrivelmente rápido? Recorde os séculos</p><p>das cidades: você verá que mesmo aquelas que se vangloriam de sua</p><p>antiguidade não existem há muito tempo. Todas as obras humanas são</p><p>breves e fugazes; elas não ocupam qualquer parte do tempo infinito.</p><p>2. Tentados pelo padrão do universo, consideramos esta nossa Terra, com</p><p>todas as suas cidades, nações, rios e mares como um mero ponto: nossa vida</p><p>ocupa menos de um ponto quando comparada com todos os tempos, cuja</p><p>medida excede a do mundo, pois de fato o mundo está nele contido muitas</p><p>vezes. De que importância, então, pode ser o prolongamento daquilo que,</p><p>por mais que você acrescente, nunca será muito mais do que nada? Só</p><p>podemos tornar nossas vidas longas por um expediente, isto é, ficar</p><p>satisfeitos com sua duração.</p><p>3. Você pode me falar de homens de vida longa, cuja duração de dias foi</p><p>celebrada pela tradição, você pode atribuir-lhes cento e dez anos cada um:</p><p>no entanto, quando você permite que sua mente conceba a ideia de</p><p>eternidade, não haverá diferença entre a vida mais curta e a mais longa, se</p><p>você comparar o tempo durante o qual alguém esteve vivo com o tempo</p><p>durante o qual ele não esteve vivo.</p><p>4. Além disso, quando ele morreu sua vida estava completa: ele viveu o</p><p>tempo que precisou para viver: não havia mais nada para ele realizar. Todos</p><p>os homens não envelhecem com a mesma</p><p>idade, nem todos os animais:</p><p>alguns estão cansados pela vida aos catorze anos de idade63, e o que é</p><p>apenas a primeira etapa da vida do homem é seu limite extremo de</p><p>longevidade.</p><p>5. A cada homem foi atribuída uma duração variável de dias: ninguém</p><p>morre antes de seu tempo, porque ele não estava destinado a viver mais do</p><p>que vivia. O fim de todos é fixo, e sempre permanecerá onde foi colocado:</p><p>nem a indústria nem o favorecimento o moverão para mais longe. Acredite,</p><p>então, que você o perdeu devido a um plano superior: ele pegou tudo o que</p><p>era seu:</p><p>“E alcançou a meta atribuída a sua vida”64.</p><p>6. Por isso não precisa se incomodar com o pensamento: “Ele poderia ter</p><p>vivido mais tempo”. Sua vida não foi encurtada, nem o acaso encurta</p><p>nossos anos: cada homem recebe tanto quanto lhe foi prometido: os</p><p>destinos seguem seu próprio caminho, e não acrescentam nada nem retiram</p><p>nada do que um dia prometeram. Orações e esforços são todos em vão: cada</p><p>homem terá tanta vida quanto seu primeiro dia colocado em seu crédito:</p><p>desde o momento em que viu pela primeira vez a luz, entrou no caminho</p><p>que leva à morte, e está se aproximando de sua fatalidade: aqueles mesmos</p><p>anos que foram adicionados à sua juventude foram subtraídos de sua vida.</p><p>7. Todos nós caímos neste erro de supor que somente os homens velhos, já</p><p>em declínio de vida, estão se aproximando da morte, enquanto que nossa</p><p>primeira infância, nossa juventude, nossa meia-idade, de fato toda a vida</p><p>subitamente nos conduzem para lá. As Moiras65 exercem seu próprio</p><p>trabalho: elas nos tiram a consciência de nossa morte e, quanto melhor</p><p>esconder suas abordagens, mais a morte espreita sob os próprios nomes que</p><p>damos à vida: a infância se transforma em menino, a maturidade engole o</p><p>menino, a velhice o homem: estas etapas em si, os progressos, se você</p><p>considerar bem, são perdas.</p><p>XXII</p><p>1. Você se queixa, Márcia, de que seu filho não viveu tanto tempo quanto</p><p>ele poderia ter vivido? Como você sabe que foi vantajoso para ele viver</p><p>mais tempo? Se seu interesse não foi satisfeito com esta morte? Quem você</p><p>pode encontrar no momento presente, cuja sorte está fundamentada em</p><p>bases tão seguras que não têm nada a temer no futuro? Todos os assuntos</p><p>humanos são evanescentes e perecíveis, e nenhuma parte de nossa vida é</p><p>tão frágil e passível de acidentes como aquela de que desfrutamos em</p><p>especial. Devemos, portanto, rezar pela morte quando nossa sorte está no</p><p>seu melhor, porque é tão grande a incerteza e a agitação em que vivemos,</p><p>que não podemos ter certeza de nada além do que é passado.</p><p>2. Pense na bela pessoa de seu filho, que você guardou em perfeita pureza</p><p>entre todas as tentações de uma capital voluptuosa. Quem poderia ter se</p><p>comprometido a mantê-lo livre de todas as doenças, para que pudesse</p><p>preservar sua beleza de forma intacta até a velhice? Pense nos muitos</p><p>queixumes da alma: pois belas disposições nem sempre continuam até o fim</p><p>de suas vidas para cumprir a promessa de sua juventude, mas muitas vezes</p><p>se quebraram: ou a extravagância, ainda mais vergonhosa por ter sido</p><p>indulgente no final da vida, toma posse dos homens e faz com que suas</p><p>vidas bem-iniciadas acabem em desgraça, ou eles dedicam todo seu</p><p>pensamento às tabernas e à barriga, e não se interessam por nada além do</p><p>que devem comer e do que devem beber. 66</p><p>3. Acrescente a estas conflagrações, desmoronamentos, naufrágios, as</p><p>operações agonizantes dos cirurgiões, que cortam pedaços de osso dos</p><p>corpos vivos dos homens, mergulham suas mãos inteiras nas entranhas e</p><p>infligem mais de um tipo de dor para efetuar a cura de doenças infames.</p><p>Depois destas vem o exílio; seu filho não era mais inocente que Rutílio67:</p><p>prisão; ele não era mais sábio que Sócrates: a perfuração do peito por uma</p><p>ferida auto infligida; ele não era de vida mais íntegra que Catão. Ao olhar</p><p>estes exemplos, você perceberá que a natureza lida muito amavelmente com</p><p>aqueles que ela coloca rapidamente em um lugar seguro, porque era esse o</p><p>tributo que a vida lhes reservara. Nada é tão enganoso, nada é tão traiçoeiro</p><p>como a vida humana; por Hércules, se não fosse dada aos homens antes que</p><p>eles pudessem formar uma opinião, ninguém a aceitaria. Não nascer,</p><p>portanto, é o destino mais feliz de todos, e a coisa mais próxima a isto,</p><p>imagino, é que devemos terminar logo nossa luta aqui e ser restaurados ao</p><p>nosso descanso anterior.</p><p>4. Lembrem-se daquele tempo, tão doloroso para você, durante o qual</p><p>Sejano entregou seu pai como presente a seu cliente Sátrio Secundo68: ele</p><p>estava zangado por algo que ele havia dito com muita liberdade, porque não</p><p>era capaz de guardar silêncio e ver Sejano subindo para tomar seu lugar em</p><p>nossos pescoços, o que já teria sido ruim o suficiente se ele tivesse sido</p><p>colocado lá por seu mestre. Foi-lhe decretada a honra de uma estátua, a ser</p><p>colocada no teatro de Pompeu, que havia sido queimado e estava sendo</p><p>restaurado por César69. Cordo exclamou “Agora o teatro estava realmente</p><p>destruído!”.</p><p>5. Pois então? Não deveria ele explodir com despeito em um Sejano estar</p><p>sendo erguido sobre as cinzas de Pompeu, um soldado infiel sendo</p><p>homenageado dentro do memorial de um comandante magno A inscrição</p><p>foi colocada70: e aqueles cães de caça de faro intenso que Sejano costumava</p><p>alimentar de sangue humano, para torná-los mansos para consigo mesmo e</p><p>ferozes para todo o mundo ao seu lado, começaram a se atiçar em torno de</p><p>sua vítima e até mesmo a dar-lhe golpes prematuros.</p><p>6. O que ele deveria fazer? Se ele escolhesse viver, deveria obter o</p><p>consentimento de Sejano; se morresse, deveria obter o de sua filha; e</p><p>nenhum deles poderia ter sido persuadido a concedê-lo: portanto, ele</p><p>decidiu enganar sua filha, e tendo tomado um banho para enfraquecer-se</p><p>ainda mais, retirou-se para seu quarto, fingindo tomar uma refeição lá.</p><p>Depois de dispensar seus escravos, ele jogou uma parte da comida pela</p><p>janela, para que parecesse tê-la comido: então, não ceiou71, desculpando</p><p>que já tinha comido o suficiente em seu quarto. Isto ele continuou fazendo</p><p>no segundo e terceiro dias: o quarto traiu sua condição por sua fraqueza</p><p>corporal; assim, abraçando-a, “minha querida filha”, disse ele, “de quem eu</p><p>nunca escondi nada durante toda sua vida, senão isto, eu comecei minha</p><p>jornada rumo à morte, e já viajei meio caminho até lá. Você não pode e não</p><p>deve me chamar de volta”. Então, ao dizer isto ele ordenou que toda a luz</p><p>fosse excluída da sala e se fechasse na escuridão.</p><p>7. Quando sua determinação se tornou conhecida, houve um sentimento</p><p>geral de prazer com a presa sendo arrancada das mandíbulas daqueles lobos</p><p>devoradores. Seus promotores, no caso do Sejano, foram ao tribunal dos</p><p>cônsules, reclamaram que Cordo estava morrendo e imploraram aos</p><p>cônsules que interviessem para impedir que ele fizesse o que eles mesmos o</p><p>haviam levado a fazer; tão verdade era que Cordo parecia estar escapando:</p><p>uma questão importante estava em jogo, ou seja, se o acusado deveria</p><p>perder o direito de morrer. Enquanto este ponto estava sendo debatido, e os</p><p>promotores iam comparecer ao tribunal uma segunda vez, ele havia se</p><p>libertado deles.</p><p>8. Você vê, Márcia, como, de repente, os dias malignos se aproximam de</p><p>um homem? E você chora porque um de sua família não pôde evitar a</p><p>morte? Um de sua família esteve a um passo de não ter permissão para</p><p>morrer.</p><p>XXIII</p><p>1.Além do fato de que tudo o que é futuro é incerto, e a única certeza é que</p><p>é mais provável que venha a ficar doente do que bem, nossos espíritos</p><p>encontram o caminho para os Deuses mais fácil quando logo é permitido</p><p>deixar a sociedade da humanidade, porque ele assim contraiu menos</p><p>impurezas para torná-lo mais pesado: se forem libertados antes que se</p><p>tornem mundanos insensíveis, antes que as coisas terrenas se enterrem</p><p>demais neles, eles voam ainda mais levemente de volta para o lugar de onde</p><p>vieram, e ainda mais facilmente lavam as manchas e impurezas que possam</p><p>ter contraído.</p><p>2. As grandes almas nunca gostam de ficar muito tempo aprisionadas no</p><p>corpo: elas estão ansiosas para romper seus laços e fugir dele, elas se</p><p>irritam com a estreiteza de sua</p><p>prisão, tendo sido acostumadas a vaguear</p><p>pelo espaço, e do alto no ar para olhar para baixo com desprezo para os</p><p>assuntos humanos. Daí que Platão declara que a alma do homem sábio é</p><p>inteiramente entregue à morte, anseia por ela, contempla-a e, através de sua</p><p>ânsia por ela, está sempre lutando por coisas que estão além desta vida.</p><p>3. Por que, Márcia, quando você o viu ainda jovem exibindo a sabedoria da</p><p>idade, com uma alma que poderia elevar-se superior a todos os prazeres dos</p><p>sentidos, sem falhas e sem manchas, capaz de ganhar riquezas sem</p><p>ganância, cargo público sem ambição, prazer sem extravagância, você</p><p>supunha que seria seu destino mantê-lo a salvo ao seu lado? O que quer que</p><p>tenha chegado à perfeição, está maduro para a dissolução. A virtude</p><p>consumada foge e se perde de vista, e as coisas que chegam à maturidade na</p><p>primeira etapa de sua existência não esperam pela última.</p><p>4. Quanto mais brilhante o fogo brilha, mais cedo ele se apaga: ele dura</p><p>mais tempo quando é formado com combustível ruim e queimando</p><p>lentamente, e mostra uma luz fraca através de uma nuvem de fumaça: seu</p><p>ser mal alimentado faz com que ele se prolongue por mais tempo. Assim</p><p>também quanto mais brilhantes são as almas dos homens, mais curta é a sua</p><p>vida: pois quando não há espaço para mais crescimento, o fim está próximo.</p><p>5. Fabiano72 nos diz, o que nossos próprios pais viram, que havia em Roma</p><p>um rapaz de estatura gigantesca, excedendo a de um homem: mas ele logo</p><p>morreu, e toda pessoa sensata sempre dizia que logo morreria, pois não</p><p>podia viver para atingir a idade que havia assumido antes que ela fosse</p><p>devida. Assim é: a maturidade completa é uma prova de que a extinção está</p><p>próxima e o fim se aproxima quando o crescimento termina.</p><p>XXIV</p><p>1. Passe a contar sua idade, não por anos, mas por virtudes: viveu tempo</p><p>suficiente. Ele foi deixado órfão aos cuidados de seus tutores até o décimo</p><p>quarto ano, e nunca se afastou da de sua mãe: quando tinha uma casa</p><p>própria, ele não queria deixar a sua, e continuou a morar sob o teto de sua</p><p>mãe, embora poucos filhos possam suportar viver sob o teto de seus pais.</p><p>Embora fosse um jovem cuja altura, beleza e vigor de corpo o destinavam</p><p>ao exército, ele se recusava a servir, para que não fosse separado de você.</p><p>2. Considere, Márcia, como raramente as mães que vivem em casas</p><p>separadas veem seus filhos: considere como eles perdem e passam com</p><p>ansiedade todos aqueles anos durante os quais têm filhos no exército, e você</p><p>verá que desta vez, nenhum dos quais você perdeu, foi de considerável</p><p>extensão: ele nunca saiu de sua vista: foi sob seus olhos que ele se dedicou</p><p>ao cultivo de um intelecto admirável e que teria rivalizado com o de seu</p><p>avô, se não tivesse sido impedido pela timidez, que escondeu as realizações</p><p>de muitos homens.</p><p>3. Apesar de ser um jovem de beleza incomum, e de viver entre tais</p><p>multidões de mulheres que se dedicavam a seduzir os homens, ele</p><p>gratificou os desejos de nenhuma delas, e quando o descaramento de</p><p>algumas as levaram ao ponto de realmente tentá-lo, ele corou como se</p><p>encontrar favores nos olhos delas fosse sua culpa. Nesta santidade de vida o</p><p>fez que mesmo, ainda um menino, fosse considerado digno do sacerdócio, o</p><p>que sem dúvida devia à influência de sua mãe73; mas mesmo a influência de</p><p>sua mãe não teria tido peso se o candidato para quem ela fosse aplicada</p><p>tivesse sido inapto para o cargo.</p><p>4. Lembre-se destas virtudes e cuide de seu filho como se estivesse em seu</p><p>colo: agora ele está mais à vontade para responder às suas carícias, ele não</p><p>tem nada para chamá-lo para longe de você, ele nunca será uma ansiedade</p><p>ou uma tristeza para você. Você se entristeceu com a única tristeza que um</p><p>filho tão bom poderia lhe causar: tudo o mais está além do poder da fortuna</p><p>para prejudicá-lo, e está repleto de alegria, se você souber como fazer uso</p><p>de seu filho, se você souber qual era a qualidade mais preciosa dele.</p><p>5, É apenas a aparência exterior de seu filho que pereceu, sua figura, e que</p><p>não é muito boa; ele mesmo é imortal, e agora está em um estado muito</p><p>melhor, libertado do fardo de tudo o que não era seu, e deixado</p><p>simplesmente por si mesmo: todo este aparato que você vê sobre nós de</p><p>ossos e nervos, esta cobertura de pele, este rosto, estes nossos servos as</p><p>mãos, e todo o resto de nosso ambiente, são apenas correntes e escuridão</p><p>para a alma: eles a esmagam, a sufocam, a corrompem, a enchem de falsas</p><p>ideias, e a mantêm à distância de sua própria esfera verdadeira: ela tem que</p><p>lutar continuamente contra este fardo da carne, para que não seja arrastada</p><p>para baixo e afundada por ela. Ela se esforça para se elevar novamente ao</p><p>lugar de onde foi enviada na terra: lá o descanso eterno a espera, lá ela verá</p><p>o que é puro e claro, em vez do que é sujo e turvo.</p><p>XXV</p><p>1. Não é preciso, portanto, apressar o enterro de seu filho: o que está ali é</p><p>apenas a pior parte dele e o que lhe causou mais problemas, apenas ossos e</p><p>cinzas, que não são mais partes dele do que roupas ou outras coberturas de</p><p>seu corpo. Ele está completo, e sem deixar nenhuma parte de si mesmo para</p><p>trás na terra tomou asa e foi embora completamente: ele ficou um breve</p><p>espaço acima de nós enquanto sua alma estava sendo limpa e purificada dos</p><p>vícios e rugas que todas as vidas mortais devem contrair, e a partir daí ele se</p><p>elevou aos céus altos e se uniu às almas dos abençoados: uma companhia</p><p>santa o acolherá ali, Cipiões e Catões74; e entre os demais que, graças à</p><p>morte, consideraram a vida desprezível e se libertaram, embora todos sejam</p><p>parecidos, seu pai, Márcia, abraçará seu neto enquanto ele se regozija com a</p><p>luz não desejada, lhe ensinará o movimento das estrelas à sua volta, e o</p><p>introduzirá com alegria em todos os segredos da natureza, não por</p><p>adivinhações, mas pelo conhecimento real.</p><p>2. Mesmo como um estranho é grato a alguém que lhe mostra o caminho</p><p>em uma cidade desconhecida, assim também é um explorador das causas do</p><p>que ele vê nos céus, a ele será melhor: um de sua própria família poderá</p><p>explicá-las. Ele terá prazer em olhar no fundo da terra, pois é um deleite</p><p>olhar do alto para o que resta abaixo. Portanto, aguente-se, Márcia, como se</p><p>fosse colocada diante dos olhos de seu pai e de seu filho, mas não como se</p><p>os conhecesse, mas como seres muito mais elevados, colocados em uma</p><p>esfera mais elevada.</p><p>3. Portanto, ruborize-se diante de qualquer ação maldosa ou vulgar, nem</p><p>chore pelos seus parentes que foram transformados para melhor. Livres para</p><p>vaguear pelos reinos abertos e sem limites do universo sempre vivo, eles</p><p>não são impedidos em seu curso por mares intervencionistas, montanhas</p><p>altas, vales intransitáveis, ou pelas areias traiçoeiras dos Sirtes75: eles</p><p>encontram um caminho nivelado em todos os lugares, são rápidos e prontos</p><p>para o movimento, e são permeados, por sua vez, pelas estrelas e habitam</p><p>juntos com elas.</p><p>XXVI</p><p>1. Imagine então, Márcia, que seu pai, cuja influência sobre você era tão</p><p>grande quanto a sua sobre seu filho, não mais naquele estado de espírito no</p><p>qual ele deplorava as guerras civis, ou no qual ele proscrevia para sempre</p><p>aqueles que o teriam proscrito, mas num estado de espírito tão mais alegre</p><p>quanto sua morada agora é mais alta, está dizendo:</p><p>2. “Minha filha, por que esta tristeza a possui por tanto tempo? Por que</p><p>você vive em tal ignorância da verdade, a ponto de pensar que seu filho foi</p><p>tratado injustamente porque voltou para seus antepassados no auge, sem</p><p>decadência do corpo ou da mente, deixando sua família florescer? Você</p><p>não sabe com que tempestades a Fortuna desestabiliza tudo? Como ela se</p><p>mostra bondosa e obediente a ninguém, exceto àqueles que têm o menor</p><p>número possível de relações com ela? Preciso lembrá-la de reis que teriam</p><p>sido os mais felizes dos mortais se a morte os tivesse retirado mais cedo da</p><p>ruína que se aproximava? Ou de generais romanos, cuja grandeza, se lhes</p><p>tivessem tirado apenas alguns anos de vida, não teriam querido nada que a</p><p>tornasse completa? Ou de homens da mais alta distinção e do mais nobre</p><p>nascimento que ofereceriam calmamente o pescoço ao golpe</p><p>da espada de</p><p>um soldado?</p><p>3. Olhe para seu pai e seu avô: o último caiu nas mãos de um assassino</p><p>estrangeiro: Não permiti que nenhum homem tomasse quaisquer liberdades</p><p>comigo, e por abstinência de comida mostrei que meu espírito era tão</p><p>grande quanto meus escritos o tinham representado. Por que, então, aquele</p><p>membro de nossa casa que morreu mais feliz de todos deveria ser</p><p>lamentado nela por mais tempo? Todos nós nos reunimos e, não sendo</p><p>lançados na escuridão total, vemos que com vocês na Terra não há nada a</p><p>desejar, nada grandioso ou magnífico, mas tudo é mau, triste, ansioso e</p><p>quase não recebe uma parte fracionada da luz clara em que vivemos.</p><p>4. Não preciso dizer que aqui não há ataques frenéticos de exércitos rivais,</p><p>nenhuma frota naufragando, nenhum parricídio, real ou premeditado,</p><p>nenhum tribunal onde os homens tagarelam sobre ações judiciais durante</p><p>dias inteiros, aqui não há nada de desleal, todos os corações e mentes estão</p><p>abertos e revelados, nossa vida é pública e conhecida de todos, e</p><p>comandamos uma visão de todos os tempos e das coisas por vir.</p><p>5. Eu costumava ter prazer em compilar a história do que aconteceu em um</p><p>século entre algumas poucas pessoas no canto mais distante do mundo:</p><p>aqui eu gosto do espetáculo de todos os séculos, de toda a cadeia de</p><p>eventos de época em época, desde quando os anos têm existido. Posso ver</p><p>os reinos quando se levantam e quando caem, e contemplar a ruína das</p><p>cidades e os novos canais feitos pelo mar.</p><p>6. Se lhe servir de consolo em seu luto saber que é o destino comum de</p><p>todos, esteja certa de que nada continuará no lugar em que agora se</p><p>encontra, mas que o tempo colocará tudo abaixo e carregará consigo</p><p>mesmo: ele vai se divertir, não apenas com os homens – quão pequena</p><p>parte eles são do domínio da Fortuna? – mas com os distritos, províncias,</p><p>bairros do mundo: irá apagar montanhas inteiras, e em outros lugares irá</p><p>amontoar novas rochas no alto: secará os mares, mudará o curso dos rios,</p><p>destruirá as relações de nação com nação, e romperá a comunhão e a</p><p>amizade da raça humana: em outras regiões, engolirá cidades abrindo</p><p>vastos abismos na terra, sacudi-las-á com terremotos, expelirá pestilência</p><p>do mundo inferior, cobrirá todos os terrenos habitáveis com inundações e</p><p>destruirá todas as criaturas do mundo inundado, ou queimará todos os</p><p>mortais por uma enorme conflagração. Quando chegar a hora do fim do</p><p>mundo, para que ele possa recomeçar sua vida, todas as forças da natureza</p><p>perecerão em conflito umas com as outras, as estrelas serão destruídas</p><p>juntas, e todas as luzes que agora brilham em ordem regular em várias</p><p>partes do céu, arderão em um só fogo com todo o combustível queimando</p><p>de uma só vez.</p><p>7. Então nós também, as almas dos mais abençoados e os herdeiros da vida</p><p>eterna, sempre que Deus achar conveniente reconstruir o universo, nós</p><p>também, sendo um pequeno acessório do naufrágio universal, seremos</p><p>transformados em nossos antigos elemento.”</p><p>Feliz é seu filho, Márcia, pois ele já sabe disso.</p><p>NOTAS</p><p>2 Sêneca usa com frequencia metáforas do âmbito jurídico, apresentando aqui Márcia como juíza e a</p><p>Fortuna como a acusada que é defendida pelo autor. Ver também Consolação a Políbio, XVIII, 3</p><p>3 Nota de Stewart: Ver “História dos Romanos sob o Império” de Merivale, ch. xiv</p><p>4 Aulo Cremúcio Cordo (falecido em 25 d.C.) foi um historiador romano. Há muito poucos</p><p>fragmentos restantes de sua obra, principalmente cobrindo a guerra civil e o reinado de Augusto. Em</p><p>25 d.C. ele foi obrigado por Sejano, que foi chefe dos pretorianos sob Tibério, a tirar sua vida depois</p><p>de ser acusado de traição.</p><p>5 mir·mi·dão: (latim Myrmidon, -onis, Mirmidão, filho de Júpiter e de Eurimedusa) 1. Relativo a ou</p><p>indivíduo dos mirmídones, lendário povo tessálico. 2. [Figurado] Assistente ou subordinado leal. (do</p><p>Dicionário Priberam da Língua Portuguesa)</p><p>6 Lúcio Élio Sejano (Lucius Aelius Seianus) foi prefeito da guarda pretoriana e em dada altura o</p><p>homem mais influente na Roma Antiga, durante o reinado do imperador Tibério. De origem humilde,</p><p>Sejano subiu na hierarquia militar até se tornar líder dos pretorianos, a guarda de elite do imperador,</p><p>conhecida como a Guarda Pretoriana, da qual foi Prefeito de 14 até a sua morte em 31. Rapidamente</p><p>se tornou o braço armado das políticas de repressão impostas por Tibério, após seu auto-exílio em</p><p>Capri. Sejano tentou entrar para a família imperial ao casar com a viúva do filho do imperador, mas</p><p>foi impedido; passou então a alimentar rancor para com Tibério. Em 31, Sejano foi nomeado cônsul e</p><p>organizou uma conspiração contra o próprio imperador e tomar o seu lugar; Tibério, no entanto,</p><p>descobriu o plano por intermédio de Antônia, a Jovem, e mandou executá-lo.</p><p>7 Suas obras foram banidas e destruídas no reinado de Tibério. Suetonio afirma inequivocamente que</p><p>suas obras foram recolocadas em circulação durante o reinado de Calígula.</p><p>8 a reputação de Cordo era elevada no século I, e Quintiliano o insere entre os historiadores mais</p><p>importantes a serem estudados pelos aspirantes a advogado; nesse grupo incluía Tito Lívio e Salústio.</p><p>9 Ver seção VIII, 1. Ver Sêneca, Sobre a Ira</p><p>10 Otávia Júlia Turino, dita a Jovem (Octavia Iulius Thurinus Minor 69 a.C. – 11 a.C. ou 10 a.C.),</p><p>foi uma patrícia romana, sobrinha-neta de Júlio César, irmã de Augusto e esposa de Marco Antônio.</p><p>11 Lívia Drusa ou Lívia Drusila (em latim: Livia Drvsilla, 30 de janeiro de 58 a.C. – Roma, 29 de</p><p>setembro de 29), chamada de Júlia Augusta depois de 14 d.C., foi a primeira imperatriz-consorte</p><p>romana, esposa do imperador Augusto por todo seu longo reinado. Ela era a mãe do imperador</p><p>Tibério, de um casamento anterior, avó materna de Cláudio, bisavó paterna de Calígula e trisavó</p><p>materna de Nero. Lívia foi deificada por Cláudio.</p><p>12 Augusto (Gaius Iulius Caesar Octavianus Augustus) foi o fundador do Império Romano e seu</p><p>primeiro imperador, governando de 27 a.C. até sua morte em 14 d.C.</p><p>13 Marco Cláudio Marcelo (42 a.C. – 23 a.C.) foi sobrinho e genro de Augusto. Era filho de</p><p>Octávia a Jovem, irmã de Octávio, e de Caio Cláudio Marcelo Menor, descendente do cônsul de 222</p><p>a.C. Marco Cláudio Marcelo. Desde muito jovem acompanhava o imperador nos atos públicos e foi</p><p>designado o seu primeiro sucessor. Em 25 a.C. casou-se com Júlia, a Velha, a única filha de Octávio,</p><p>que teve com a sua primeira mulher, Escribônia. Elegido edil curul em 23 a.C., ofereceu uns</p><p>grandiosos jogos públicos em Roma, mas pouco depois enfermou e não pôde recuperar-se. Talvez</p><p>sofreu uma intoxicação ou um envenenamento. A sua morte foi lamentada por Virgílio na Eneida</p><p>(6.855).</p><p>14 Suspeitou-se de que Lívia tinha envenenado Marcelo para se desfazer de um possível concorrente</p><p>de Druso e Tibério, seus filhos.</p><p>15 Alusão ao sucesso da Eneida a que se refere Suetônio: a comoção de Octávia foi tal que desmaiou</p><p>ao escutar dos lábios do próprio poeta os versos consagrados a Marcelo (6.860 e seguintes), durante</p><p>uma declamação parcial da obra para Augusto e alguns familiares.</p><p>16 Nero Cláudio Druso Germânico (Nero Claudius Drusus Germanicus; 14 de janeiro de 38 a.C.–</p><p>verão de 9 a.C.), nascido Décimo Cláudio Druso e também conhecido como Druso Cláudio Nero ou</p><p>Druso, o Velho. Foi um político e comandante militar romano da gente Cláudia. Seu pai era um</p><p>patrício, mas sua avó materna era de família plebeia. Era filho de Lívia Drusila e enteado do segundo</p><p>marido dela, o imperador Augusto. Druso era também irmão do imperador Tibério, pai do imperador</p><p>Cláudio e do general Germânico, avô do imperador Calígula e bisavô materno do imperador Nero.</p><p>17 Nota de Stewart: Se é uma dor pensar em amigos perdidos, é claro que você não renova</p><p>continuamente a memória falando sobre eles.</p><p>18 Lívia.</p><p>19 Título recebido por Lívia por testamento de Augusto.</p><p>20 Ário Dídimo de Alexandria, foi um filósofo estoico e professor de Augusto (r. 27 a.C.–14 d.C.).</p><p>Era aberto às doutrinas acadêmicas e peripatéticas. Fragmentos de seus manuais sumarizando as</p><p>doutrinas estoicas e peripatéticas estão preservados nas obras de Estobeu e Eusébio de Cesareia.</p><p>Segundo</p><p>algumas fontes, entre as razões que Augusto apresentou para não destruir Alexandria estava</p><p>o fato de que Ário era proveniente de lá.</p><p>21 O primeiro tinha sido Marcelo, citado anteriormente.</p><p>22 Tibério Cláudio Nero César (Tiberius Claudius Nero Cæsar; 16 de novembro de 42 a.C. – 16 de</p><p>março de 37 d.C.) foi imperador romano de 18 de setembro do ano 14 d.C. até à sua morte, a 16 de</p><p>março do ano 37 d.C.. Era filho de Tibério Cláudio Nero e Lívia Drusa. Foi o segundo imperador de</p><p>Roma pertencente à dinastia júlio-claudiana, sucedendo ao padrasto Augusto. Foi durante o seu</p><p>reinado que, na província romana da Judeia, Jesus foi crucificado.</p><p>23 Sêneca aborda o comportamento que é permitido às pessoas comuns, mas vetado aos governantes.</p><p>Ver também Da Clemência</p><p>24 Alexandra Caroço afirma: “Séneca apresenta a ideia tradicional da Fortuna como divindade que</p><p>inveja os homens. Em nenhuma circunstância a inveja da fortuna é maior do que quando o espírito é</p><p>sereno. O equilíbrio interior do sapiens requer fortaleza contra as arbitrariedades da fortuna. Essa</p><p>fortaleza foi recolhida na dupla fórmula estóica: fortunae resistere e sustine et abstine. A fortuna é o</p><p>rosto mutável do fatum, o seu aspecto caprichoso e incontrolável, e actua como antagonista do</p><p>equilíbrio que o sábio persegue. É a dimensão irracional do destino de cada um à qual o sábio tem de</p><p>se opor porque perturba a racionalidade da sua vida. O sábio tem, por isso, um duelo constante com a</p><p>fortuna, a qual consegue vencer mediante o exercício da virtude.”</p><p>25 Sêneca pede que busque reconforto nas duas filhas vivas e nos netos que lhe dera Metílio, ver, à</p><p>frente, XVI,7-8.</p><p>26 Ver também Consolação a Políbio, II, 1.</p><p>27 Sêneca aborda nesse ponto a técnica estoica praemeditatio futurorum malorum, premeditação dos</p><p>males futuros, que protege-nos da dor, antecipando-se pelo pensamento todas as possíveis causas de</p><p>sofrimento. Ver mais em O Estoico</p><p>28 Ver também Consolação a Políbio, XI, 1. O cortejo fúnebre era um aspecto público da vida</p><p>romana.</p><p>29 Referência às ilusões e planos que os pais têm sobre o futuro de seus filhos. A concessão da toga</p><p>uirilis (toga branca) aos jovens, significava a entrada na juventude para os adolescentes e a</p><p>consequente assunção da condição de adulto e cidadão.</p><p>30 Ver também Consolação a Políbio, II, 2; Sobre a Tranquilidade da Alma, VIII,7 e Sobre os</p><p>Benefícios, I,IX, 1</p><p>31 Frase / Sententia de Publílio Siro. (Século 1 a.C.), escritor latino da Roma antiga. Era nativo na</p><p>Síria e foi feito escravo e enviado para a Itália, mas graças ao seu talento, ganhou o favor de seu</p><p>senhor, que o libertou e o educou. Original: “Cuivis potest accidere quod cuiquam potest!”</p><p>32 Ver também Cícero, Discussões Tusculanas e Sêneca Consolação a Políbio, X, 24-5 e XI, 3;</p><p>33 Ver também Cícero, Cartas a Amigos, V,16 e Sêneca Consolação a Políbio, XI.</p><p>34 Templo de Apolo (Delfos) Dentro estava o ádito, o centro do oráculo délfico e sede da Pítia. O</p><p>templo tinha a declaração “Conhece-te a ti mesmo”, uma das máximas de Delfos, esculpida nela (e</p><p>alguns escritores gregos modernos dizem que as outras foram inscritas nele), e as máximas foram</p><p>atribuídas a Apolo e dadas através do oráculo e/ou Sete Sábios da Grécia (“conhece-te a ti mesmo”</p><p>talvez também seja atribuído a outros filósofos famosos).</p><p>35 Trocadilho com o cognome Felix (feliz) auto-atribuido por Lúcio Sula.</p><p>36 Lúcio Cornélio Sula, foi um político da gente Cornélia da República Romana eleito cônsul por</p><p>duas vezes. Foi também eleito ditador em 82 a.C., o primeiro desde o final do século III a.C. Depois</p><p>de se destacar na Guerra contra Jugurta, na Guerra Címbrica e na Guerra Social, as tentativas de Caio</p><p>Mário de removê-lo do comando do exército, que seguia para combater Mitrídates VI do Reino do</p><p>Ponto, o levaram a marchar contra a própria Roma para restaurar o status quo anterior pela força das</p><p>armas: a primeira vez em toda a história que um exército romano invadiu a cidade. Em 84, voltou a</p><p>rebelar- e e invadir a Itália, auferindo apoio de muitos aristocratas e derrotando, em 83, os legalistas.</p><p>Reinstalado no poder, recebeu o título de ditador e promoveu uma grande revolução, implantando</p><p>reformas políticas e fazendo perseguições e massacres cruéis. Acreditando-se um predestinado,</p><p>atribuiu a si mesmo o cognome Felix (‘’Feliz’’)</p><p>37 Marco Horácio Púlvilo (Marcus Horatius Pulvillus) foi um político da gente Horácia da</p><p>República Romana eleito cônsul sufecto em 509 a.C., governando com Públio Valério Publícola.</p><p>Púlvilo consagrou o recém-construído Templo de Júpiter Estator Máximo, no monte Capitolino,</p><p>durante seu primeiro consulado em 509 a.C. Lívio, Dião Cássio e Plutarco afirmam que a honra</p><p>recaiu sob Púlvilo e não Publícola por sorteio. Segundo Lívio, os amigos de Publícolas ficaram</p><p>furiosos por ele ter perdido a honraria. Quando Púlvilo estava oferecendo a oração aos deuses pela</p><p>consagração dos templo, os amigos de Publícola anunciaram que o filho de Púlvilo havia morrido e</p><p>estava insepulto, o que desqualificava-o da assembleia. Púlvilo ainda assim ordenou que o corpo</p><p>fosse sepultado e completou a cerimônia</p><p>https://www.estoico.com.br/496/principio-estoico-6-pratique-o-infortunio-pergunte-se-o-que-poderia-dar-errado/</p><p>https://www.amazon.com.br/Obras-Completas-Marcus-Tullius-Cicero/dp/0341262560/ref=as_li_ss_tl?__mk_pt_BR=%C3%85M%C3%85%C5%BD%C3%95%C3%91&dchild=1&keywords=C%C3%ADcero+tusculanas&qid=1594063210&sr=8-2-fkmr0&linkCode=ll1&tag=montecristo0f-20&linkId=9fb855913cea1ad7e90fb2fc643c59e6&language=en_US</p><p>https://www.amazon.com.br/Complete-Illustrated-Ancient-Classics-English-ebook/dp/B00HSSRNJS/ref=as_li_ss_tl?__mk_pt_BR=%C3%85M%C3%85%C5%BD%C3%95%C3%91&dchild=1&keywords=cicero+complete&qid=1594067351&sr=8-1&linkCode=ll1&tag=montecristo0f-20&linkId=95222226c0b5a34713a3dd3469c47ea0&language=en_US</p><p>38 Perseu (em grego Περσεύς; 212 a.C. —165 a.C.) foi o último rei da dinastia antigônida. Foi o</p><p>último de sua linhagem, que começou após a morte de Alexandre, o Grande e terminou com a</p><p>Batalha de Pidna (168 a.C., quando a Macedónia tornou-se parte do Império Romano. Perseu se</p><p>rendeu ao general romano Lúcio Emílio Paulo Macedónico após sua derrota definitiva na Batalha de</p><p>Pidna e da prisão de seu meio-irmão Filipo em Roma.</p><p>39 Lúcio Emílio Paulo Macedônico (m. 160 a.C.; em latim: Lucius Aemilius Paullus Macedonicus)</p><p>foi um político da gente Emília da República Romana eleito cônsul por duas vezes, em 182 e 168</p><p>a.C.</p><p>40 Públio Cornélio Cipião Africano (Publius Cornelius Scipio Africanus Maior), mais conhecido</p><p>apenas como Cipião Africano, foi um político da família dos Cipiões da gente Cornélia da República</p><p>Romana eleito cônsul por duas vezes, em 205 e 194 a.C. Um dos maiores generais romanos de toda a</p><p>história, derrotou Aníbal na Batalha de Zama, encerrando a Segunda Guerra Púnica.</p><p>41 Nota de Stewart: “Pois ele teve quatro filhos, dois, como já foram parentes, adotados em outras</p><p>famílias, Cipião e Fábio; e dois outros, que ainda eram filhos, por sua segunda esposa, que vivia em</p><p>sua própria casa. Destes, um morreu cinco dias antes do triunfo de Emílio, aos 14 anos de idade, e o</p><p>outro, de 12 anos, morreu três dias depois: para que não houvesse nenhum romano que não</p><p>lamentasse por ele”, Plutarco, Vida de Emilio, cap. xxxv.</p><p>42 Sobre esse caso, ver Consolação a Políbio, XIV.</p><p>43 Marco Calpúrnio Bíbulo (Marcus Calpurnius Bibulus; 102 a.C. - 48 a.C., Córcira) foi um</p><p>político da gente plebeia Calpúrnia do fim da República Romana que esteve ativo nos conflitos</p><p>envolvendo Júlio César e o Primeiro Triunvirato. Em 59 a.C., Bíbulo tornar-se-ia cônsul ao lado de</p><p>César devido aos subornos realizados pelos Optimates, os aristocratas da república, em especial seu</p><p>sogro Catão, o Jovem, e neste função tentaria de todas as formas impedir a aprovação da legislação</p><p>agrária cesarina na qual propunha-se assentar os soldados veteranos de Pompeu. Durante seu</p><p>mandato como cônsul, Bíbulo confrontou-se inúmeras vezes com César e seus companheiros</p><p>triúnviros Pompeu e Crasso, o que lhe renderia um atentado diante do Templo de Castor</p><p>e Pólux e</p><p>depredação de sua residência pelos partidários deles, os populares.</p><p>44 Caio Júlio César.</p><p>45 Cneu Pompeu Magno (106–48 a.C.; em latim: Gnaeus Pompeius Magnus), conhecido</p><p>simplesmente como Pompeu. Seu imenso sucesso como general ainda muito jovem abriu caminho</p><p>para que ocupasse seu primeiro consulado sem seguir o caminho normal do cursus honorum, a</p><p>carreira esperada de um magistrado. Foi também um vitorioso comandante durante a Segunda Guerra</p><p>Civil de Sula, que conferiu-lhe o cognome “Magno” (“o Grande”). Celebrou três triunfos por conta</p><p>de suas vitórias. Em meados da década de 60 a.C., Pompeu se juntou a Crasso e a Júlio César na</p><p>aliança político-militar extra-oficial conhecida como Primeiro Triunvirato, selado com o casamento</p><p>de Pompeu com a filha de César, Júlia.</p><p>46 Augusto (Gaius Iulius Caesar Octavianus Augustus) foi o fundador do Império Romano e seu</p><p>primeiro imperador, governando de 27 a.C. até sua morte em 14 d.C.</p><p>47 Lúcio Élio Sejano (Lucius Aelius Seianus), referido anteriormente.</p><p>48 Lucrécia (c. 509 a.C.) foi uma lendária dama romana, filha de Espúrio Lucrécio Tricipitino,</p><p>prefeito de Roma, e mulher de Lúcio Tarquínio Colatino. Os historiadores Tito Lívio e Dionísio de</p><p>Halicarnasso referem que Lucrécia foi estuprada por Sexto, filho de Tarquínio, o Soberbo. Neste</p><p>drama pessoal teria estado o pretexto para o movimento que conduziu à revolução que derrubou o</p><p>regime monárquico e estabeleceu a república em Roma.</p><p>49 Lúcio Júnio Bruto (Lucius Iunius Brutus) foi um personagem lendário, considerado o fundador</p><p>da República, e um dos dois primeiros cônsules de Roma, em 509 a.C, juntamente com Lúcio</p><p>Tarquínio Colatino.</p><p>50 Clélia, uma jovem romana, entregue como refém pelos romanos a Porsena, rei etrusco que</p><p>pretendia restabelecer os Tarquínios em Roma (508 a.C.). Clélia, liderando várias jovens, também</p><p>reféns, escapou da vigilância dos sentinelas, cruzou o Tibre e devolveu-as sãs e salvas a Roma. Em</p><p>sua homenagem foi erigida uma estátua equestre na Via Sacra.</p><p>51 Tibério Semprônio Graco (Tiberius Sempronius Gracchus; c. 164 a.C.–133 a.C.) foi um político</p><p>da gente Semprônia da República Romana no século II a.C.. Juntamente com seu irmão, Caio Graco,</p><p>foi um proeminente líder da facção dos populares. Como tribuno da plebe, provocou um grande</p><p>tumulto em Roma com suas propostas de leis agrárias que buscavam transferir um pouco da riqueza</p><p>dos patrícios mais ricos para a população mais pobre. Estas reformas provocaram uma grande tensão</p><p>social e política em Roma. Tibério foi acusado de pretender derrubar a República, para tornar-se rei.</p><p>Quando Tibério decidiu concorrer mais uma vez à eleição para o ano seguinte foi assassinado por</p><p>membros do Senado Romano e outros aliados da facção dos optimates.</p><p>52 Caio Semprônio Graco (Gaius Sempronius Gracchus; 154 a.C. – 121 a.C. ) foi um político da</p><p>época da República Romana, no século II a.C.. Sua eleição ao cargo de tribuno da plebe ocorreu em</p><p>122 a.C. Era um defensor de reformas políticas em favor da plebe. A política assistencialista de Caio</p><p>Graco levou o poeta satírico Juvenal, em suas Sátiras, cunhar a expressão Pão e Circo (panem et</p><p>circenses)</p><p>53 Marco Lívio Druso (m. 109 a.C.; Marcus Livius Drusus), dito o Censor, foi um político da gente</p><p>Lívia da República Romana eleito cônsul em 112 a.C. com Lúcio Calpúrnio Pisão Cesonino.</p><p>54 Ver também Sêneca, Sobre a providência divina</p><p>55 Trecho da Eneida de Virgílio, III, 418</p><p>56 Caríbdis (em grego: Χάρυβδις), na mitologia grega, era uma criatura marinha protetora de limites</p><p>territoriais no mar. Homero a chamava de “a divina Caríbdis”, usando o mesmo adjetivo aplicado à</p><p>bela ninfa das cavernas, Calipso. Na tradição mitológica grega, Caríbdis era habitualmente</p><p>relacionada a Cila, outro monstro marinho. Os dois moravam nos lados opostos do estreito de</p><p>Messina, que separa a península Itálica da Sicília, e personificavam os perigos da navegação perto de</p><p>rochas e redemoinhos. Caríbdis propriamente dita ficava fora da vista. Três vezes por dia, sorvia as</p><p>águas do mar e três vezes por dia tornava a cuspi-las.</p><p>57 Nota de Stewart: Ver nota de Mayor sobre Juvenal. i., e acima, XVI, 4.</p><p>58 Nota de Stewart: Lipsius aponta que esta ideia é emprestada do poeta cômico Antipbanes.</p><p>59 Referência aos “caçadores de testamentos” que cortejavam os homens ricos e sem herdeiros;</p><p>prática comum em Roma, ver também Sêneca, Sobre a Brevidade da Vida e Cartas de um estoico,</p><p>LX, 1</p><p>60 Na mitologia grega, Lete é um dos rios do Hades. Aqueles que bebessem de sua água ou, até</p><p>mesmo, tocassem na sua água experimentariam o completo esquecimento.</p><p>61 Referência à modestia de Metílio.</p><p>62 Ver Consolação a Políbio, XI, 4..</p><p>63 Para os romanos aos 14 anos era obtido a maioridade.</p><p>64 Virgílio, Eneida, X, 472</p><p>65 As moiras (em grego: Μοῖραι), na mitologia grega, eram as três irmãs que determinavam o</p><p>destino, tanto dos deuses, quanto dos seres humanos. Eram três mulheres lúgubres, responsáveis por</p><p>fabricar, tecer e cortar aquilo que seria o fio da vida de todos os indivíduos. Durante o trabalho, as</p><p>moiras fazem uso da Roda da Fortuna, que é o tear utilizado para se tecer os fios. As voltas da roda</p><p>posicionam o fio do indivíduo em sua parte mais privilegiada (o topo) ou em sua parte menos</p><p>desejável (o fundo), explicando-se assim os períodos de boa ou má sorte de todos. O mito grego foi</p><p>alterado entre os romanos a tal ponto que os nomes das divindades caíram em desuso. Entre eles</p><p>eram conhecidas por Parcas chamadas Nona, Décima e Morta, que tinham respectivamente as</p><p>funções de presidir a gestação e o nascimento, o crescimento e desenvolvimento, e o final da vida; a</p><p>morte; notar entretanto, que essa regência era apenas “sobre os humanos”.</p><p>66 Ver também Cartas de um estoico, LX, 2-4</p><p>67 Públio Rutílio Rufo despertou o ódio dos ordem equestre, à qual pertencia a maior parte dos</p><p>publicanos. Em 92 a.C., foi acusado de extorsão justamente por estes provincianos que havia tentado</p><p>proteger e, apesar de a acusação ser amplamente tida como falsa, o júri, composto quase que</p><p>inteiramente de equestres, o condenou. Rufo aceitou o veredito resignado, um comportamento</p><p>estoico esperado para um discípulo de Panécio. Cícero, Lívio, Veleio Patérculo e Valério Máximo</p><p>concordam em que era um homem honrado e íntegro e a sua condenação foi resultado de uma</p><p>conspiração.</p><p>68 Sátrio Secundo era um dependente de Sejano. Ele acusou Cordo, pai de Márcia em 25 DC. Depois</p><p>traiu seu mestre e deu informações a Tibério sobre a conspiração que Sejano tinha formado contra</p><p>ele.</p><p>69 Imperador Tibério.</p><p>70 Nota de Stewart: Creio ser este o significado do texto, mas Koch razoavelmente pressupõe que a</p><p>verdadeira leitura é a subscrittio editur “uma acusação foi feita contra ele”. Ver Sobre os benefícios,</p><p>III, 26.</p><p>71 Cena: Corresponde mais ao que hoje entendemos por “jantar”, sendo a refeição mais abundante e</p><p>principal dos Romanos.</p><p>72 Papírio Fabiano, discípulo de Quinto Sêxtio, foi professor de Sêneca e é muito elogiado por sua</p><p>vida, cultura e eloquência. Ver também Cartas de um estoico, XL, 12 e C, 9.</p><p>73 Não se sabe qual foi o sacerdócio que Metílio desempenhou: Alexandre caroço diz que pode ter</p><p>pertencido a um collegium dos Arvais, ou sacerdotes de Ceres, ou a um collegium de áugures.</p><p>74 Citados anteriormente: Cipião Africano e Cipião Emiliano, Catão-o-Censor e Catão de Útica.</p><p>75 areias movediças ao largo da costa do norte da África; situadas na costa entre Cartago e Cirene: a</p><p>Grande Sirte (Syrtes maior) a este, e a Pequena Sirte (Syrtes minor), a oeste.</p><p>Consolação a minha mãe Hélvia</p><p>I</p><p>1. Minha melhor das mães, muitas vezes me senti com vontade de consolar</p><p>você, e sempre controlei esse impulso. Eu pensei: talvez não consiga conter</p><p>suas lágrimas, mas que, se eu pudesse limpá-las, eu poderia me livrar de</p><p>todas as minhas próprias dores: então eu tinha certeza de que eu deveria</p><p>despertá-la de sua dor com mais autoridade se eu tivesse primeiro resolvido</p><p>meu problema. Enfim, temia que a fortuna, sobre a qual fui vitorioso,</p><p>pudesse vencer algum dos meus queridos; de qualquer</p><p>maneira, pondo a</p><p>mão sobre a minha chaga, era levado a querer curar suas feridas.</p><p>2. Muitas outras razões, de outro lado, afrouxavam esse meu propósito:</p><p>compreendia que não devia afrontar sua dor ainda recente e ardente, para</p><p>evitar que os confortos a exasperassem e a aumentassem, visto que também</p><p>nas doenças nada há mais danoso que um remédio fora de hora. Esperava,</p><p>portanto, que a violência da dor se abrandasse, e que, mitigada pelo tempo a</p><p>ponto de suportar os remédios, permitisse ser tocada e observada. Mais</p><p>ainda, ao rever todas as obras compostas pelos mais ilustres gênios para</p><p>consolar ou pelo menos aliviar as dores, não consegui encontrar exemplo</p><p>algum de alguém que tivesse consolado seus queridos enquanto ele mesmo</p><p>era por eles lastimado. De modo que a novidade do empreendimento me</p><p>fazia hesitar e temer que essa não fosse uma consolação, mas uma excitação</p><p>à dor.</p><p>3. Então, comigo estava o pensamento de que um homem que acabava de</p><p>levantar a cabeça depois de enterrar seu filho, e que desejava consolar seus</p><p>amigos, exigiria usar frases novas que não fossem as tiradas de nossas</p><p>palavras comuns de conforto: Toda dor que passa os limites do suportável</p><p>tira necessariamente a faculdade de escolher as palavras, já que geralmente</p><p>sufoca também a voz. No entanto, vou toda via fazer a tentativa, não</p><p>confiando em minha própria capacidade, mas porque o fato de que o</p><p>consolador seja eu mesmo poderá constituir a mais feliz das consolações. E</p><p>confio que a mim, a quem nunca negou nada, agora não negará por um</p><p>limite a suas lágrimas, por muito obstinada que seja a sua tristeza.</p><p>II</p><p>1. Olha quanta confiança tenho em sua indulgência: tenho certeza de que</p><p>serei mais forte do que sua dor, sendo que nada é mais forte do que ela entre</p><p>os sofredores. E para não a afrontar logo, dela me aproximarei antes, e</p><p>dentro porei tudo o que pode inflamá-la; observarei e reabrirei outra vez</p><p>todas as chagas já cicatrizadas.</p><p>2. Alguém pode dizer: "Que nova maneira de consolar é essa, lembrando os</p><p>males já sepultados e pondo o cúmulo de todas as suas desventuras frente a</p><p>uma alma que a muito custo consegue suportar só uma?" Mas reflita, esse</p><p>alguém, que os males que chegaram a esse ponto de gravidade, isto é, de</p><p>piorar não obstante o remédio, curam-se geralmente com o tratamento</p><p>oposto. Então, exibirei frente sua tristeza todas as suas aflições e misérias:</p><p>isso será efetuar uma cura, não por medidas calmantes, mas por</p><p>cauterização e faca. E que obterei? Que uma alma, que venceu tantas</p><p>misérias, enrubesça por não ter a força de suportar, sobre um corpo coberto</p><p>de cicatrizes, uma nova ferida.</p><p>3. Aqueles cujas mentes fracas tenham sido enfraquecidas por um longo</p><p>período de felicidade, chorem e se lamentem por muitos dias, e desmaiam</p><p>ao receber o menor golpe: mas aqueles cujos anos foram passados em meio</p><p>a catástrofes podem suportar as perdas mais severas com coragem e</p><p>inflexibilidade paciência. O infortúnio contínuo tem essa vantagem, que</p><p>acaba por tornar insensíveis aqueles que sempre estão a flagelar.</p><p>4. Descanso algum lhe concedeu a fortuna, entre os mais graves lutos; e</p><p>nem excetuou o dia de teu nascimento. Assim que nasceu, ou melhor,</p><p>enquanto nascia, perdeu sua mãe, e foi, por assim dizer abandonada à vida.</p><p>Cresceu sob o jugo que uma madrasta, que todavia obrigou, com um</p><p>respeito e um afeto que só se pode ver numa filha, a ser-lhe realmente mãe;</p><p>mas não há ninguém a quem uma madrasta mesmo ótima não tenha custado</p><p>sempre demasiado caro. Perdeu, enquanto esperava a sua chegada, um</p><p>amorosíssimo tio, homem bom e forte; e, pois, que a fortuna temia</p><p>apresentar-se muito pouco feroz, deixando-lhe um intervalo de repouso,</p><p>teve que sepultar no mesmo mês o marido bem-amado, que lhe tornara mãe</p><p>de três filhos; e esse luto lhe foi anunciado enquanto ainda chorava o outro,</p><p>enquanto seus filhos estavam longe, como se seus males tivessem sido</p><p>recolhidos todos propositalmente naquela época para que não tivesse nada</p><p>sobre o que sua dor pudesse reclinar-se.</p><p>5. Não falo dos perigos contínuos e dos sustos, de que sem interrupção</p><p>suportou os assaltos. Faz pouco tempo que recolheu os ossos de três netos</p><p>no mesmo seio em que foram criados; e vinte dias depois de celebrar o</p><p>enterro de meu filho, morto entre seus braços e seus beijos, recebeu a</p><p>notícia de meu exílio. Somente isso lhe faltava até agora: chorar os vivos.</p><p>III</p><p>1. Sim, é verdade: essa recente ferida é a mais grave de quantas já</p><p>agrediram seu corpo, porque não esfolou somente a pele, mas penetrou</p><p>profundamente em seu peito até o coração. Mas como os recrutas que</p><p>gritam mesmo quando levemente feridos, e temem a mão do médico mais</p><p>do que as espadas, enquanto os veteranos, por mais profundos que sejam os</p><p>golpes recebidos, suportam pacientemente e sem queixas que seus corpos</p><p>sejam limpos da podridão como se fossem de outro, assim você agora deve</p><p>submeter-se com firmeza à cura.</p><p>2. Afaste de você as lamúrias e os gemidos e as outras manifestações de dor</p><p>feminina: Todas as suas dores foram desperdiçadas se você ainda não</p><p>aprendeu a sofrer. Talvez pareça que lhe tratei com demasiada severidade,</p><p>não tirando nenhum de seus males, mas antes amontoando-os todos diante</p><p>de você?</p><p>IV</p><p>1. A isso me induziu um fim magnânimo: isto é, estabeleci vencer sua dor,</p><p>não iludi-la. E vencê-la-ei, creio eu, se conseguir demonstrar antes de tudo</p><p>que não sofro por uma razão a respeito da qual eu poderia ser chamado</p><p>infeliz e por causa da qual meus familiares poderiam tornar-se infelizes;</p><p>depois demonstrarei, passando a você, que nem sua fortuna, que em tudo</p><p>está unida à minha, se pode chamar infeliz.</p><p>2. Começarei dizendo, como seu afeto materno almeja ouvir, que eu não</p><p>tenho mal algum. Se puder, demonstrar-lhe-ei como também as coisas que</p><p>você pensa que me aniquilam com seu peso não são nem elas intoleráveis.</p><p>Se, enfim, nisso não for possível acreditar, terei pelo menos o orgulho de</p><p>estar contente nessas condições, que costumam tornar infelizes os homens.</p><p>Não creia nos outros, no que dizem a meu respeito: para que não seja</p><p>agitada por falsas opiniões, declaro a você que não sou em nada infeliz;</p><p>direi mais, para que tenha maior certeza: nunca poderei ser infeliz.</p><p>V</p><p>1. A natureza nos gerou em bom estado e nele estaríamos se dela não nos</p><p>afastássemos. Ela fez com que não precisássemos de muitas coisas para</p><p>viver prosperamente: cada um pode por si só tornar-se feliz. Pouca</p><p>importância têm as coisas circunstanciais, tanto que não têm poder, nem, se</p><p>favoráveis, de exaltar o sábio, nem, se contrárias, de abatê-lo: ele se esforça</p><p>sempre para pôr em si cada bem seu, para obter de si toda a sua alegria.</p><p>2. E com isso pensa talvez que eu queria dizer que sou um sábio? Não,</p><p>absolutamente; porque, se pudesse mesmo só afirmá-lo, isso significaria</p><p>que não só não seria infeliz, mas seria o mais felizardo de todos os homens</p><p>e quase um deus. Agora (e isso basta para suavizar qualquer miséria) me</p><p>entreguei aos sábios, e, ainda incapaz de defender-me por mim, encontrei</p><p>em campo alheio o abrigo, que facilmente protege a si mesmo e aos seus.</p><p>3. Eles me aconselharam que ficasse sempre atento e observasse qualquer</p><p>ataque, qualquer assalto da desgraça muito antes que me abatesse. A fortuna</p><p>é grave para aqueles a quem chega inesperadamente; facilmente a suporta</p><p>quem sempre a espera. Assim, também o ataque de um exército inimigo</p><p>dispersa os soldados tomados de surpresa; mas se preparados para a guerra</p><p>antes da guerra, treinados e prontos repelem a primeira investida, que é a</p><p>mais furiosa.</p><p>4. Nunca me entreguei à fortuna, mesmo quando parecia que estava em paz</p><p>comigo; todos os favores, dos quais muito generosamente me cercava</p><p>(riquezas, cargos, prestígio), coloquei-os em tal lugar de onde a mesma</p><p>fortuna pudesse retomá-los, sem me aborrecer. Deixei sempre grande</p><p>distância entre mim e eles: tirou-me os favores, portanto, não os arrancou.</p><p>A fortuna contrária não diminui senão os homens que se deixaram enganar</p><p>pela prosperidade.</p><p>5. Os homens que se agarram a seus presentes como a coisas das quais tem</p><p>perpétua propriedade, e que</p><p>por eles querem ser invejados pelos outros,</p><p>jazem prostrados e aflitos, quando os deleites falsos e fugazes abandonam</p><p>sua alma vil e pueril, que ignora qualquer prazer real; mas quem na</p><p>prosperidade não se orgulhou, não se abala se as coisas mudam. Contra um</p><p>e outro estado têm uma alma invicta, cheia de firmeza já experimentada,</p><p>porque experimentou na boa fortuna o que é útil contra a infelicidade.</p><p>6. Por isso, como nas coisas que todos almejam possuir, sempre pensei não</p><p>haver algum bem verdadeiro (e as achei vazias e cobertas de uma</p><p>maquilagem aparente e ilusória, sem nada que parecesse à sua aparência),</p><p>assim agora, nesses que são chamados males, não encontro nada que seja</p><p>tão horrível e duro como pode fazer temer a opinião comum. A própria</p><p>palavra "exílio" chega ao ouvido muito duramente e fere quem a ouve como</p><p>triste e execrável justamente por essa convicção presente em todos: assim</p><p>decidiu o povo. Mas o sábio rejeita em grande parte os decretos do povo.</p><p>VI</p><p>1. Sem dar importância, portanto, ao critério da maioria, que se deixa</p><p>transportar pela superficialidade e pela opinião corrente, vamos ver o que é</p><p>o exílio. É, na substância, uma mudança de lugar. Para que não pareça que</p><p>eu esteja atenuando sua aridez e tirando o que tem de pior, direi ainda os</p><p>aborrecimentos que derivam dessa mudança: pobreza, desonra, desprezo.</p><p>Com esses lutarei mais tarde: por enquanto, quero limitar-me a examinar</p><p>qual é a dor proveniente da pura e simples mudança de lugar.</p><p>2. "Viver longe da pátria é intolerável." Olha, pois, para a multidão, à qual</p><p>não são suficientes as casas da imensa Roma: a maior parte dela está longe</p><p>de sua pátria. Afluem de seus municípios, de suas colônias, de toda a terra,</p><p>quem levado pela ambição, quem pelo seu dever de magistrado, quem por</p><p>uma missão confiada, quem pelo afã de gozar em lugar mais apropriado e</p><p>rico de vícios, quem pelo desejo de estudos literários, quem pelos</p><p>espetáculos; alguns foram impelidos pela amizade, outros por uma</p><p>atividade que encontrou mais amplo teatro para demonstrar a própria</p><p>virtude; alguns levaram para lá sua venal beleza, outros sua venal</p><p>eloquência.</p><p>3. Nenhuma raça de homens falta na cidade, que oferece grandes prêmios às</p><p>virtudes e aos vícios. Suponhamos que todas essas pessoas sejam chamadas,</p><p>uma por uma; e se pergunte a cada uma onde nasceu: veremos que a</p><p>maioria é formada por gente que deixou sua residência para se estabelecer</p><p>numa cidade grandíssima e belíssima, realmente, mas não sua.</p><p>4. Em seguida, deixando essa cidade, que se pode chamar cosmopolita,</p><p>vamos para todas as outras: não existe nenhuma que não tenha sua</p><p>população em grande parte estrangeira. Deixemos as cidades que atraem as</p><p>multidões com sua posição amena e com suas campinas risonhas;</p><p>observemos os lugares mais desertos, as ilhas mais rochosas, Ciatos, Sérifo,</p><p>Giaro, Cossura1: não encontraremos lugar algum de exílio, onde alguém</p><p>não more por seu prazer.</p><p>5. Onde se poderá encontrar um rochedo mais desguarnecido do que este?</p><p>ou mais pobre para quem procure riqueza? ou mais selvagem para quem dê</p><p>atenção aos homens? ou mais horrível pela posição? ou mais inclemente</p><p>pelo clima? Apesar de tudo também aqui moram mais estrangeiros do que</p><p>naturais. A mudança de lugar não é. pois, tão grave, se esse lugar consegue</p><p>tirar alguém de sua pátria.</p><p>6. E há também quem afirme existir nas almas humanas uma certa</p><p>inclinação natural a mudar de sede e transferir a sua própria residência; pois</p><p>que o homem recebeu da natureza um intelecto móvel e inquieto, que nunca</p><p>para num lugar, mas anda de um lado para outro, levando seus próprios</p><p>pensamentos para qualquer coisa, ansioso de sossego e ávido de novidade.</p><p>7. Isso não pode admirar a quem reflita em sua primeira origem; pois que o</p><p>homem não é formado de pesada matéria terrena, mas deriva do sopro</p><p>divino: e as coisas celestes estão sempre em movimento; melhor, fogem em</p><p>veloz corrida. Olhe as estrelas, que iluminam o mundo: nenhuma delas fica</p><p>parada. O sol anda continuamente e vai de lugar em lugar e, embora</p><p>rodando com todo o universo, move-se em sentido contrário ao céu e passa</p><p>por todos os pontos das constelações e nunca para: seu movimento e seu</p><p>andar de um lugar a outro são eternos.</p><p>8. Todas as coisas rodam e passam: vão de um a outro ponto, como ordena a</p><p>inexorável lei do mundo; quando terão terminado, durante um determinado</p><p>período de tempo, sua volta, farão novamente o caminho percorrido.</p><p>Continue, agora, a pensar que a alma humana, formada pelas mesmas</p><p>partículas das quais são constituídos os astros, deseja viajar e migrar,</p><p>quando o próprio deus simpatiza ou talvez vive justamente pelo seu eterno</p><p>velocíssimo movimento?</p><p>VII</p><p>1. Agora, das estrelas volte para as coisas humanas: verá que todos os</p><p>homens e todos os povos, sem exceção alguma, mudaram suas sedes. Que</p><p>procuram as cidades gregas nos países dos bárbaros? E as colônias</p><p>macedônias no meio dos hindus e dos persas? Na Cítia e em todas as terras</p><p>daqueles povos ferozes e indômitos, veem-se cidades gregas fundadas nas</p><p>costas do Ponto: nem a rigidez do inverno perpétuo, nem a índole dos</p><p>habitantes, selvagens como seu clima, seguram os emigrantes.</p><p>2. Na Ásia Menor há uma multidão de gregos; Mileto fundou em todo o</p><p>mundo e deu habitantes a setenta e cinco cidades: todo o lado da Itália</p><p>banhado pelo mar Jônio tornou-se a "Magna Grécia". A Ásia deu origem</p><p>aos etruscos, os fenícios habitam a África, os cartagineses, a Espanha, os</p><p>gregos introduziram-se na Gália, os gauleses, na Grécia; os Pireneus não</p><p>impediram a passagem dos germanos:</p><p>3. A volúvel raça humana espalhou-se por todos os caminhos do mundo,</p><p>mesmo se desagradáveis e desconhecidos. Levaram consigo os filhos, as</p><p>esposas e os pais, mesmo se velhos; alguns, após terem sido jogados aqui e</p><p>acolá, não escolheram eles mesmos o lugar onde parar, mas pelo cansaço</p><p>pararam no mais próximo; outros conquistaram com as armas o direito de</p><p>apoderar-se das terras alheias; outros foram engolidos pelo mar, enquanto</p><p>iam para terras desconhecidas; outros pararam onde a falta do necessário os</p><p>obrigou a parar.</p><p>4. E, assim, também são diferentíssimas as causas que os levaram a</p><p>abandonar a própria e procurar outra pátria: quem, fugindo das armas</p><p>inimigas, foi expulso de sua terra e levado, despojado de tudo, para terra</p><p>estrangeira, pela destruição de sua cidade; quem foi expulso pela guerra</p><p>civil; quem foi mandado embora pela necessidade de diminuir a população</p><p>demasiadamente abundante; quem foi obrigado a fugir por uma epidemia</p><p>ou por frequentes terremotos, ou por qualquer outra causa que tornava o</p><p>país ruim e inabitável; outros foram seduzidos pela fama de uma região</p><p>fértil, exageradamente famosa.</p><p>5. Quem por uma causa, quem por outra se afastou de sua casa: isto, porém,</p><p>mostra claramente que nada ficou nunca no mesmo lugar em que nasceu.</p><p>Eterno é o mudar do gênero humano; todos os dias alguma coisa muda em</p><p>tão enorme esfera; põem-se os alicerces de novas cidades, surgem novos</p><p>nomes de povos, depois que os precedentes se extinguiram ou foram</p><p>absorvidos por povos mais fortes. Que mais são essas emigrações de povos,</p><p>senão públicos exílios?</p><p>6. Mas para que levar-te num tão longo discurso? Para que lembrar</p><p>Antenor, que fundou Pádua, e Evandro, que pôs o reino dos Árcades nas</p><p>margens do Tibre? E Diomedes e os outros que, vencidos ou vencedores, a</p><p>guerra de Tróia dispersou por terras alheias?</p><p>7. O Império Romano reconhece como seu fundador um exilado2, fugido</p><p>pela queda de sua cidade, à procura de terras longínquas por medo dos</p><p>vencedores, trazido à Itália pela fortuna com poucos companheiros</p><p>sobreviventes. E quantas colônias semeou, mais tarde, por todas as</p><p>províncias o povo romano! Ele mora aonde chegou vitorioso. A essas</p><p>mudanças de lugar muitos aderiram de boa vontade, e também os velhos,</p><p>abandonados os próprios altares, seguiam os colonos além-mar.</p><p>8. É inútil, por outra, citar mais exemplos: um ainda acrescentarei, que se</p><p>apresenta espontaneamente ao olhar: também esta mesma ilha (Córsega)</p><p>mudou de habitantes. Sem calcular os mais antigos, cujos nomes se</p><p>perdem</p><p>na noite dos tempos, os gregos da Fócida, que agora moram em Marselha,</p><p>pararam antes nesta ilha; não se sabe exatamente o que os fez fugir depois:</p><p>se o clima áspero ou a vizinhança da Itália muito poderosa, ou o mar sem</p><p>portos; não foi, certamente, a barbaridade dos habitantes, como aparece</p><p>pelo fato de que pararam no meio de povos gauleses, ferozes e incivis,</p><p>então, muito mais que todos os outros.</p><p>9. Depois passaram por essa ilha os ligúrios e depois também os iberos,</p><p>como se vê pela semelhança dos costumes: têm, de fato, chapéus e calçados</p><p>semelhantes àqueles dos cantábrios, e também algumas palavras: pois que a</p><p>língua deles, devido a suas relações com os gregos e os ligúrios, modificou-</p><p>se profundamente. Foram trazidas ainda duas colônias de cidadãos</p><p>romanos, uma por Mário e outra por Sila: tantas vezes mudaram os</p><p>habitantes desse árido e espinhoso rochedo!</p><p>10. A custo, enfim, se pode encontrar um recanto habitado ainda pelos</p><p>indígenas: tudo está misturado e transplantado. A cada um sucedeu um</p><p>outro; este desejou o que aquele achou aborrecido; esse foi expulso do</p><p>lugar, de onde antes expulsara os outros. Porque a fortuna quis que nada</p><p>ficasse sempre no mesmo lugar.</p><p>VIII</p><p>1. Não considerando os outros inconvenientes conexos com o exílio, contra</p><p>a mudança de lugar pareceu remédio suficiente a Varrão3, o mais douto</p><p>entre os romanos, pensar que, por toda parte onde formos, teremos ao nosso</p><p>redor a mesma natureza; e a Bruto4 pensar que quem parte pode levar</p><p>consigo suas virtudes.</p><p>2. E se alguém julga ineficaz para consolar o desterrado um só desses dois</p><p>remédios, deverá reconhecer que juntos são eficazes. De fato, quão pouco é</p><p>o que perdemos! Mas nos seguem em toda parte as duas coisas mais belas:</p><p>a natureza comum a todos e a virtude individual.</p><p>3. Creia em mim, isso foi feito por aquele que deu forma ao universo, seja</p><p>ele o Deus Senhor de Tudo, seja a incorpórea razão, artífice das maiores</p><p>obras, seja o divino espírito difundido com igual intensidade em todas as</p><p>coisas, máximas e mínimas, seja a fortuna e a série imutável das causas</p><p>ligadas uma à outra: isto, digo eu, foi feito para que não fiquem ao arbítrio</p><p>alheio senão as coisas de menor valor.</p><p>4. O que no homem há de melhor está além de toda a força humana e não</p><p>pode ser dado nem tirado. Esse céu, que é a coisa maior e mais bela que a</p><p>natureza criou, e a alma que o contempla e o admira — e dele é a parte mais</p><p>nobre — são nossos, sempre, e conosco ficarão enquanto vivermos.</p><p>5. Por isso, alegres e de cabeça erguida iremos com passo intrépido aonde</p><p>quer que a fortuna nos leve, percorreremos qualquer terra: entre os confins</p><p>do mundo não há exílio; porque nada daquilo que está dentro dos confins do</p><p>mundo é estranho ao homem. De qualquer parte o olhar levanta-se</p><p>igualmente para o céu, a mesma distância separa em qualquer parte as</p><p>coisas divinas das humanas.</p><p>6. Por isso, enquanto meus olhares não se afastarem do espetáculo que</p><p>nunca os farta; enquanto me for permitido olhar o sol e a lua, fixar os outros</p><p>planetas, deles observar o nascimento e o ocaso e as distâncias, e indagar as</p><p>causas que tornam seu curso mais veloz e mais lento, contemplar durante a</p><p>noite tantas estrelas brilhantes, uma imóvel, outra que se move em curto</p><p>espaço mas sempre sobre seu caminho, e algumas que aparecem de repente,</p><p>algumas que espiram centelhas, como se caíssem, tanto que ofuscam a</p><p>vista, ou brilhantes percorrem voando um grande espaço; enquanto estiver</p><p>com todas essas coisas e me confundir, tanto quanto é permitido ao homem,</p><p>com as coisas celestes; enquanto tiver sempre alta a alma, inclinada por sua</p><p>natureza à contemplação dos astros a ela semelhantes — que importa que</p><p>solo eu pise?</p><p>IX</p><p>1. "Mas esta terra não é rica de árvores frutíferas que alegrem a vista; não é</p><p>sulcada por rios grandes e navegáveis; nada produz que os outros povos</p><p>venham procurar, é fértil apenas o suficiente para nutrir os habitantes; nela</p><p>não se abrem pedreiras de mármores procurados, nela não se escavam</p><p>minas de ouro ou de prata."</p><p>2. Acanhada é a alma, que as coisas terrenas deleitam; e é preciso arrancá-la</p><p>dessas e levá-la para as que em toda parte aparecem igualmente e</p><p>igualmente resplandecem. Devemos refletir que esses bens terrenos são</p><p>obstáculos aos verdadeiros bens por causa das opiniões falsas e mentirosas:</p><p>quanto mais longos pórticos se constroem, quanto mais altas torres se</p><p>levantam, quanto mais amplos caminhos se abrem, quanto mais profundas</p><p>se escavam as grutas, quanto mais monumentais se erguem os tetos das</p><p>salas de jantar, tanto mais todas essas coisas nos esconderão o céu.</p><p>3. Embora o acaso lhe tenha atirado em tal lugar, em que a mais luxuosa</p><p>habitação seja uma choupana, teria na verdade uma alma vil e seria um</p><p>mesquinho confortador de si mesmo, se se resignasse a isso só, lembrando a</p><p>choupana de Rômulo. Deve antes dizer: "Esta humilde choupana hospeda</p><p>virtudes? E então é mais linda que todos os templos, pois que nela estão a</p><p>justiça, a moderação, a sabedoria, a piedade, a regra para justamente</p><p>cumprir todos os deveres, a ciência das coisas divinas e humanas. Lugar</p><p>nenhum é apertado, se pode conter tantas e tão grandes virtudes, nenhum</p><p>exílio é tão grave, se nele podemos ir com aquelas virtudes".</p><p>4. Bruto, em seu livro Das Virtudes, conta ter visto Marcelo5 desterrado em</p><p>Mitilene, e tê-lo encontrado feliz, o quanto pelo menos pode ser um</p><p>homem, e dedicado aos bons estudos como em nenhum outro período da</p><p>vida; e diz ainda que por tal motivo teve a sensação, partindo, de ir ele para</p><p>o exílio, porque voltava sem Marcelo, mais que de deixar Marcelo no</p><p>exílio.</p><p>5. Ó bem-aventurado Marcelo, teu exílio agradou a Bruto mais que teu</p><p>consulado teria agradado à República! Que homem deve ter sido ele se</p><p>obteve que um outro se considerasse um desterrado somente porque se</p><p>afastava dele, exilado! Que homem deve ter sido para ser admirado por</p><p>outro homem, que foi admirado, ele próprio, por Catão!</p><p>6. Conta ainda Bruto que Júlio César, passando por Mitilene, não parou,</p><p>porque não podia suportar a cena de um homem reduzido a tão míseras</p><p>condições. A Júlio César impetrou mais tarde a volta com públicas súplicas</p><p>o Senado, tão atencioso e meigo, que parecia que todos tivessem naquele</p><p>dia a alma de Bruto, e que pedissem não para Marcelo, mas para si próprios,</p><p>para não ficarem exilados, como teriam ficado sem ele; mas muito mais</p><p>glorioso foi para Marcelo o dia em que Bruto não suportou deixá-lo e César</p><p>não suportou vê-lo desterrado, porque teve a fortuna de ver o</p><p>reconhecimento de ambos: Bruto se sentiu magoado de voltar sem Marcelo,</p><p>César ficou envergonhado.</p><p>7. Não há dúvida de que um homem tão forte como Marcelo tenha exortado</p><p>inúmeras vezes a si mesmo a suportar o exílio de bom grado com estas</p><p>palavras: "Não é uma desventura que você esteja bem longe da pátria.</p><p>Apreendeu de seus estudos pelo menos o suficiente para saber que para o</p><p>sábio todo lugar é pátria. Por outro lado, o homem que lhe mandou ao exílio</p><p>não esteve ele mesmo dez longos anos longe da pátria? Esteve para estender</p><p>os domínios romanos, todavia esteve longe.</p><p>8. E agora chama-o a África, que ameaça uma nova guerra, chama-o a</p><p>Espanha, que consolida a sedição desordenada e abatida, chama-o o infiel</p><p>Egito, chama-o todo o mundo que espera das agitações do Império a</p><p>ocasião para revoltar-se. Aonde correrá antes? Contra que parte se voltará?</p><p>Sua vitória o arrastará para todas as terras. O vulgo pasmado e reverente</p><p>olhe para ele; você vive contente, porque Bruto lhe admirou!"</p><p>X</p><p>1. Portanto, Marcelo suportou bem seu exílio, e nada mudou em sua alma a</p><p>mudança de lugar, embora disso lhe derivasse a pobreza. Mas cada pessoa,</p><p>que não seja possuída pelo demônio da avareza e do luxo, que confunde a</p><p>ordem das coisas, sabe que a pobreza não é um mal. Quão pouco basta, de</p><p>fato, para sustentar um homem! E a quem pode faltar esse pouco, se tem</p><p>alguma virtude?</p><p>2. No que me diz respeito, tenho consciência de ter perdido preocupações,</p><p>não riquezas. As necessidades do corpo são poucas: pode subtrair-se do</p><p>frio, e tirar-se a fome e a sede;</p><p>tudo o que se deseja a mais procura-se para</p><p>os vícios e não para as necessidades. Não é preciso sondar todo o mar nem</p><p>encher o ventre com animais matados nem arrancar as ostras das praias</p><p>desconhecidas dos mares mais longínquos: que os deuses e as deusas</p><p>exterminem aqueles, cujo afã de coisas raras passa além dos confins de um</p><p>império, que suscita tantas invejas!</p><p>3. Querem que se apanhe para lá do Fásis6 alguma raridade para que</p><p>embeleze seu suntuoso banquete, e não têm vergonha de fazer vir aves</p><p>desde a Pártia7 partos, aos quais ainda não fizemos pagar a derrota de</p><p>Crasso. De toda parte do mundo acolhem alimentos, conhecidos e</p><p>ignorados, para sua gula enjoada; da extrema parte do oceano são trazidas</p><p>as iguarias que seu estômago, estragado pelas gulodices, pode aceitar;</p><p>vomitam para comer, comem para vomitar, e não se dignam a digerir nem</p><p>os petiscos que eles procuram por toda a terra. Quem despreza essas coisas,</p><p>que dano pode receber da pobreza? Além disso, se alguém as deseja, ela lhe</p><p>será útil. Sara, de fato, sem querer; e se, não forçado, toma um remédio,</p><p>pelo menos durante o tempo em que não pode querer, é como se não</p><p>quisesse.</p><p>4. Calígula (que a natureza degenerou, penso eu, para mostrar quanto pode</p><p>o máximo dos vícios no máximo da prosperidade) gastou em um dia só para</p><p>um almoço dez milhões de sestércios; e, embora ajudado pela fantasia de</p><p>seus cortesãos, pode a custo encontrar a maneira de converter o tributo de</p><p>três províncias num almoço.</p><p>5. Paupérrimos são aqueles cujo paladar não se excita senão perante</p><p>alimentos preciosos: preciosos não por algum excelente sabor ou doçura</p><p>mas pela raridade e dificuldade de encontrá-los! Caso contrário, se</p><p>readquirissem o bom senso, que necessidade haveria de tanto trabalho gasto</p><p>em servir o ventre, de iguarias de países longínquos, e de despovoar e de</p><p>sondar os abismos? Espalhados jazem os alimentos, que a natureza pôs por</p><p>toda parte; mas eles, como cegos, os relaxam e percorrem todas as regiões e</p><p>atravessam os mares para estimular a grande preço a fome, que com pouco</p><p>poderiam satisfazer.</p><p>6. Teríamos vontade de lhes dizer: "Para que faz descer ao mar os navios?</p><p>Para que arma as mãos contra as feras e contra os homens? Para que corre</p><p>aqui e acolá afanosamente? Para que acumula riquezas sobre riquezas? Não</p><p>queria refletir quão pequenos são seus corpos? Não lhes parece uma</p><p>loucura, até a mais solene das loucuras, desejar muito, quando o seu corpo</p><p>pode conter tão pouco? Poderia aumentar seu patrimônio, levar mais longe</p><p>os confins do Império, mas não dilatar seus corpos. Quando usas compras</p><p>tenham saído perfeitamente, e seus soldados lhes tenham trazido preciosos</p><p>manjares, e esses manjares de todas as partes da terra sejam recolhidos, não</p><p>terá onde por seus banquetes.</p><p>7. Para que procura tantas coisas? Na verdade, eram infelizes seus</p><p>antepassados (sobre cuja virtude se baseiam ainda hoje seus vícios), que</p><p>preparavam a comida com suas próprias mãos, dormiam no chão e tinham</p><p>casas ainda não resplandecentes de ouro e templos ainda não reluzentes de</p><p>pedras preciosas; e juravam religiosamente sobre divindades feitas de</p><p>argila; e aqueles que a essas divindades tinham implorado, embora certos de</p><p>morrer, para não faltar à fé jurada, voltavam para o inimigo!</p><p>8. E aquele nosso ditador8, que ouviu os embaixadores dos samnitas,</p><p>enquanto que com a mesma mão, com a qual muitas vezes abatera o</p><p>inimigo e pusera a coroa de louro sobre o altar de Júpiter Capitolino, virava</p><p>no fogo um modesto alimento, vivia talvez menos feliz do que viveu nosso</p><p>quase contemporâneo Apício, que na cidade, da qual certa vez foi obrigado</p><p>a partir pelos filósofos, teve escola de gulodice e contaminou seu tempo</p><p>com sua ciência?</p><p>9. Vale a pena saber como acabou: após dissipar cem milhões de sestércios</p><p>na cozinha, após gastar em cada orgia somas fabulosas iguais a muitas</p><p>dádivas de príncipes e às rendas dos tributos do Estado, por fim, oprimido</p><p>pelas dívidas, foi obrigado a examinar suas contas; e, calculando que lhe</p><p>teriam sobrado dez milhões de sestércios, como se viver com dez milhões</p><p>de sestércios fosse para ele viver sob o espectro da fome, envenenou-se.</p><p>10. Que necessidade louca de luxo havia nesse homem, para o qual ter dez</p><p>milhões de sestércios era pobreza! E agora pensa, se puder, que o que</p><p>importa é a quantidade de dinheiro, não a da alma... Houve quem se afligiu</p><p>de possuir dez milhões de sestércios e afastou-se, envenenando-se, daquilo</p><p>que tantos almejam possuir! Para homem tão estulto, a última bebida foi</p><p>salutar: os verdadeiros venenos ele os comia e bebia quando não se</p><p>deleitava somente, mas se vangloriava de banquetes imensos, ostentava</p><p>seus vícios, arrastava toda a cidade a imitar suas prodigalidades, e levava a</p><p>segui-lo por tal caminho a juventude, que mesmo sem maus exemplos é por</p><p>natureza mais inclinada para o mal que para o bem.</p><p>11. Isso acontece a quem não usa as riquezas conforme o bom senso, que</p><p>tem regras bem determinadas, mas conforme seus preciosos hábitos, cujo</p><p>capricho é demasiado grande para ser dominado. Para a cobiça nada é</p><p>suficiente, para a natureza basta pouco. Por isso a pobreza não traz nenhum</p><p>dano ao desterrado; porque lugar algum de exílio é tão pobre que não seja</p><p>bastante fértil para alimentar um homem.</p><p>XI — 1. "Mas o exilado sentirá a falta de suas vestes e de casa." Mesmo se</p><p>ele desejar essas coisas somente porque são necessárias, não lhe faltará nem</p><p>teto nem trapo para vestir. Como com pouco se nutre, assim com pouco se</p><p>veste: a natureza quis que as necessidades, que ela deu ao homem, não</p><p>fossem difíceis de satisfazer.</p><p>2. Mas se desejar vestes de púrpura repleta de muitas conchas, ou tecidas de</p><p>ouro, ou bordadas com várias cores e pontos, então este é pobre por culpa</p><p>não da fortuna mas sua. E se a esse homem devolver tudo o que perdeu,</p><p>nada obterá mesmo após a restituição, faltar-lhe-á, comparado com aquilo</p><p>que deseja, mais que quanto falta ao desterrado, comparado com o que</p><p>possuía.</p><p>3. Se deseja vasilhame de ouro e prata ilustrado pela assinatura de antigos</p><p>artesãos, e bronzes que se tornaram preciosos pela loucura dos amadores, e</p><p>um exército de escravos, tanto que se torne apertado a casa mais espaçosa, e</p><p>cavalos ocupados só em comer e engordar, e mármores de todas as regiões;</p><p>mesmo que todas essas coisas lhe sejam amontoadas na frente, nunca lhe</p><p>satisfarão sua insaciável alma, mais do que qualquer quantidade de água</p><p>poderia saciar o homem cuja sede provém não da falta de água mas do</p><p>queimar das vísceras: porque essa não é sede, mas doença.</p><p>4. Nem isso acontece só pelo dinheiro ou pela comida: todos os desejos, que</p><p>nascem não da necessidade mas do vício, têm a mesma natureza: por muito</p><p>que se acumule na frente de tais homens, a cobiça desses não terá fim,</p><p>sempre dará mais um passo. Quem, portanto, permanece contente entre os</p><p>limites marcados pela natureza, não conhece a pobreza: quem sair desses</p><p>limites é pobre mesmo entre as maiores riquezas. Às necessidades provêm</p><p>suficientemente também os lugares do exílio; às coisas supérfluas não</p><p>bastam os reinos.</p><p>5. É sua alma que torna os homens ricos: a alma segue-os no exílio; e</p><p>quando encontra quanto basta para sustentar o corpo, mesmo nas mais</p><p>ásperas solidões, é rica e goza de seus bens: à alma nada importa o dinheiro,</p><p>não mais do que importa aos deuses imortais.</p><p>6. Todas essas coisas que os tolos, escravos do próprio corpo, olham</p><p>admirando — mármores, ouros, pratas, grandes mesas redondas e polidas</p><p>— são pesos terrenos que não podem atrair uma alma pura e que lembra sua</p><p>natureza, imune de tal vício e pronta para voar ao céu assim que liberta do</p><p>corpo, e no entanto observa as coisas divinas com pensamento incansável,</p><p>quanto lhe permite o grave e importuno cargo dos membros, que a cercam.</p><p>7. Por isso não pode nem ser mandada ao exílio, pois que ê livre,</p><p>semelhante aos deuses, presente em todo o espaço e contemporânea a todo</p><p>o tempo: porque seu pensamento vaga em todos os céus e penetra o passado</p><p>e o futuro. É esse nosso corpo miserável, prisão e corrente da alma, que</p><p>pode ser jogado em qualquer lugar;</p><p>é possível e sempre ter em mente que somos</p><p>mortais.</p><p>Carta 93: Sobre a Qualidade da Vida quando contrastada com seu</p><p>Comprimento</p><p>Nesta carta, como o próprio título indica, Sêneca defende que uma boa vida</p><p>não é medida por sua duração, mas sim por sua virtude e uso da razão. Um</p><p>ano a mais para um sábio é um ano repetido.</p><p>Carta 107:. Sobre a Obediência à Vontade Universal</p><p>A carta 107 é voltada para o exercício estoico do “premeditatio malorum”,</p><p>ou seja, se preparar constantemente para as adversidades “vacinando” sua</p><p>alma mentes contra infortúnios estando preparado para coisas ruins que</p><p>podem (e irão) nos acontecer. Em suas palavras: “deixe o Destino nos</p><p>encontrar prontos e alertas. Aqui está uma grande alma – o homem que se</p><p>entregou ao destino; por outro lado, é um fraco e degenerado o homem que</p><p>luta e amaldiçoa a ordem do universo e prefere reformar os deuses do que</p><p>reformar-se”.</p><p>Sobre o autor</p><p>Lúcio Aneu Sêneca, em latim: Lucius Annaeus Seneca, é conhecido</p><p>também como Sêneca, o jovem ou o filósofo. Nasceu em Córdoba,</p><p>aproximadamente em 4 a.C. Era de família abastada, que se transferiu para</p><p>Roma quando ele ainda era criança. Muito jovem, Sêneca estudou com o</p><p>estoico Átalo e com os neopitagóricos Sótion de Alexandria e Papírio</p><p>Fabiano, discípulos do filósofo romano Quinto Séxtio.</p><p>Provavelmente por motivos de saúde, Sêneca mudou-se, por volta de 20</p><p>d.C., para Alexandria, no Egito, de onde retornou a Roma em 31. Aos</p><p>quarenta anos iniciou carreira como orador e político, tendo rapidamente</p><p>sido eleito para o senado. Em Roma, estabeleceu vínculos com as irmãs do</p><p>imperador Calígula: Livila, Drusila e Agripina Menor, mãe do futuro</p><p>imperador Nero. Sendo figura destacada no senado e no ambiente</p><p>palaciano, foi envolvido numa conjuração contra Calígula.</p><p>Sêneca diz que se livrou da condenação à morte por sofrer de uma doença</p><p>pulmonar (provavelmente asma). Assim, por intercessão de aliados,</p><p>Calígula foi convencido que ele estaria condenado a uma morte natural</p><p>iminente.</p><p>Com o assassinato de Calígula em 41, Sêneca tornou-se alvo de Messalina,</p><p>esposa do imperador Cláudio, num confronto entre esta e as irmãs de</p><p>Calígula. Acusado de manter relações adúlteras com Livila, foi condenado à</p><p>morte pelo Senado. Por intervenção do próprio imperador, a pena foi</p><p>comutada em exílio na ilha de Córsega. O exílio durou oito anos, período</p><p>em que o filósofo se dedicou aos estudos e à composição de inúmeras</p><p>obras.</p><p>Em 49 d.C. Agripina, então a nova esposa do imperador Cláudio,</p><p>possibilitou o retorno de Sêneca e o instituiu como preceptor de seu filho</p><p>Nero, então com doze anos. Após a morte de Cláudio em 54, Nero foi</p><p>nomeado seu sucessor e Sêneca tornou-se o principal conselheiro do jovem</p><p>imperador. No entanto, o conflito de interesses envolvendo, de um lado,</p><p>Agripina e seus aliados e de outro, conselheiros de Nero, os quais, por sua</p><p>vez, se opunham a Sêneca, levou a uma crise que resultou na morte de</p><p>Agripina e no gradual enfraquecimento político de Sêneca.</p><p>Em 62, Sêneca solicitou a Nero para se afastar totalmente das funções</p><p>públicas, contudo o pedido foi negado. De toda forma, alegando saúde</p><p>precária, Sêneca passou a se dedicar ao ócio, ou seja, à leitura e à escrita.</p><p>Sua relação com Nero deteriorou-se principalmente pelo prestígio do</p><p>filósofo no meio político e intelectual, onde era visto como um possível</p><p>governante ideal. No início de 65, foi envolvido em uma conjuração para</p><p>derrubar o imperador e foi condenado à morte por suicídio, morreu em 19</p><p>de abril.</p><p>Sêneca foi simultaneamente dramaturgo de sucesso, uma das pessoas mais</p><p>ricas de Roma, estadista famoso e conselheiro do imperador. Sêneca teve</p><p>que negociar, persuadir e planejar seu caminho pela vida. Ao invés de</p><p>filosofar da segurança da cátedra de uma universidade, ele teve que lidar</p><p>constantemente com pessoas não cooperativas e poderosas e enfrentar o</p><p>desastre, o exílio, a saúde frágil e a condenação à morte. Sêneca correu</p><p>riscos e teve grandes feitos.</p><p>OBRAS FILOSÓFICAS DE SÊNECA:</p><p>Cartas de um Estoico, Vol I (Epistulae morales ad Lucilium)</p><p>Cartas de um Estoico, Vol II</p><p>Cartas de um Estoico, Vol III</p><p>Sobre a Ira (De Ira)</p><p>Consolação a Márcia (Ad Marciam, De consolatione)</p><p>Consolação a Minha Mãe Hélvia (Ad Helviam matrem, De</p><p>consolatione)</p><p>Consolação a Políbio (De Consolatione ad Polybium)</p><p>Sobre a Brevidade da vida(De Brevitate Vitae)</p><p>Da Clemência (De Clementia)</p><p>Sobre Constância do sábio (De Constantia Sapientis)</p><p>A Vida Feliz (De Vita Beata)</p><p>Sobre os Benefícios (De Beneficiis)</p><p>Sobre a Tranquilidade da alma (De Tranquillitate Animi)</p><p>http://www.montecristoeditora.com.br/?sort=&list=list&filter%5Bname%5D=&filter%5B7%5D%5B0%5D=4#wbStoreElementwb_element_instance7</p><p>http://www.montecristoeditora.com.br/97816196511-7-cartas-de-um-estoico-volume-i#wbStoreElementwb_element_instance7</p><p>http://www.montecristoeditora.com.br/978161965115-9-cartas-de-um-estoico-volume-ii#wbStoreElementwb_element_instance7</p><p>http://www.montecristoeditora.com.br/978161965117-3-cartas-de-um-estoico-volume-iii#wbStoreElementwb_element_instance7</p><p>http://www.montecristoeditora.com.br/978161965126-5-sobre-a-ira#wbStoreElementwb_element_instance7</p><p>http://www.montecristoeditora.com.br/9781619651814-consola%C3%A7%C3%A3o-a-m%C3%A1rcia#wbStoreElementwb_element_instance7</p><p>http://www.montecristoeditora.com.br/978161965123-4-consola%C3%A7%C3%A3o-a-minha-m%C3%A3e-h%C3%A9lvia#wbStoreElementwb_element_instance7</p><p>http://www.montecristoeditora.com.br/9781619651821-consola%C3%A7%C3%A3o-a-pol%C3%ADbio#wbStoreElementwb_element_instance7</p><p>http://www.montecristoeditora.com.br/978161965125-8-sobre-a-brevidade-da-vida#wbStoreElementwb_element_instance7</p><p>http://www.montecristoeditora.com.br/978161965130-2-da-clem%C3%AAncia#wbStoreElementwb_element_instance7</p><p>http://www.montecristoeditora.com.br/9781619651791-sobre-a-const%C3%A2ncia-do-s%C3%A1bio#wbStoreElementwb_element_instance7</p><p>http://www.montecristoeditora.com.br/978161965129-6-a-vida-feliz#wbStoreElementwb_element_instance7</p><p>http://www.montecristoeditora.com.br/978161965164-7-sobre-os-benef%C3%ADcios#wbStoreElementwb_element_instance7</p><p>http://www.montecristoeditora.com.br/9781619651784-sobre-a-tranquilidade-da-alma#wbStoreElementwb_element_instance7</p><p>Sobre o Ócio (De Otio)</p><p>Sobre a Providência Divina (De Providentia)</p><p>Sobre a Superstição (De Superstitione) perdida, citada por Santo</p><p>Agostinho.</p><p>Além de filosofia, Sêneca escreveu também Tragédias e peças de teatro,</p><p>bastante populares em sua época:</p><p>Hércules furioso (Hercules furens)</p><p>As Troianas (Troades)</p><p>As Fenícias (Phoenissae)</p><p>Medeia (Medea)</p><p>Fedra (Phaedra)</p><p>Édipo (Oedipus)</p><p>Agamemnon</p><p>Tiestes (Thyestes)</p><p>Hércules no Eta (Hercules Oetaeus)</p><p>http://www.montecristoeditora.com.br/9781619651838-sobre-o-%C3%B3cio#wbStoreElementwb_element_instance7</p><p>http://www.montecristoeditora.com.br/9781619651845-sobre-a-provid%C3%AAncia-divina#wbStoreElementwb_element_instance7</p><p>Sobre a tradução</p><p>A tradução das consola para o português foi baseada na versão em inglês de</p><p>Aubrey Stewart publicada em 1889 por George Bell & Sons disponível no</p><p>Internet Archive. Ao texto de Stewart foram acrescentadas as notas de</p><p>rodapé esclarecendo nomes e personagens citados por Sêneca bem como</p><p>referências a livros de autores mencionados. A leitura das seguintes obras</p><p>foi fundamental para a conclusão da tradução:</p><p>'Omnia humana caduca sunt': A Consolação a Márcia de Séneca,</p><p>dissertação de mestrado de Alexandra Flôr Pauzinho Caroço;</p><p>'O ideal da consolação e a paixão pela morte', por Paulo José</p><p>Carvalho da Silva. (Rev. Latinoam. Psicopat. Fund., X, 1, 146-154);</p><p>'Reading Seneca: Stoic Philosophy at Rome' por Brad Inwood;</p><p>'A Guide to the Good Life: The Ancient Art of Stoic Joy' por</p><p>William Braxton Irvine;</p><p>'A Filosofia da dor nas consolações de Sêneca' por Cleonice Raij.</p><p>A tradução das cartas morais a Lucílio foi baseada em várias versões em</p><p>inglês mas principalmente na obra 'Moral Letters to Lucilius by Seneca' de</p><p>Richard Mott Gummere.</p><p>O texto em latim que consta deste volume é da Universidade de Tufts</p><p>disponível na Perseus Digital Library.</p><p>Poucas observações sobre a tradução</p><p>sobre ele têm poder os suplícios, os</p><p>roubos, as doenças: a alma é sagrada e eterna, e ninguém lhe pode fazer</p><p>violência.</p><p>XII</p><p>1. A fim de que você não creia que para aliviar os aborrecimentos da</p><p>pobreza (que é grave só para os homens que a creem assim) eu me sirva</p><p>unicamente de preceitos dos sábios, observe como são mais numerosos os</p><p>pobres; nem poderá dizer que eles são mais tristes ou mais preocupados do</p><p>que os ricos, porque até se diria que são mais felizes quanto menos possuem</p><p>os objetos que possam magoá-los.</p><p>2. Deixemos os pobres e vamos aos ricos; em quantas circunstâncias são</p><p>eles semelhantes aos pobres? Quando viajam, suas bagagens são só uma</p><p>parte daquilo que possuem; e, se a viagem impõe pressa, devem privar-se da</p><p>multidão de acompanhadores. Quando soldados, quanto da própria riqueza</p><p>levam consigo, visto que a rude vida da milícia impede todo luxo?</p><p>3. Os ricos são iguais aos pobres não somente em certas condições de</p><p>tempo ou por miséria de lugar: quando são tomados pelo tédio das riquezas,</p><p>escolhem alguns dias em que comem no chão e deixam seu vasilhame de</p><p>ouro e de prata, servindo-se de louças de barro. Loucos, temem sempre</p><p>aquilo que às vezes desejam! Imitam a pobreza para experimentar um</p><p>prazer; e, contudo, quanta escuridão e quanta ignorância daquilo que ela</p><p>realmente é ofende seus cérebros!</p><p>4. Quanto a mim, cada vez que volto com o pensamento aos antigos</p><p>tempos, tenho pudor de procurar confortos à pobreza: pois a corrupção de</p><p>nosso tempo chegou a tal ponto que o dinheiro, que se deixa aos exilados, é</p><p>maior do que aquilo que era uma vez o patrimônio dos ricos. É sabido que</p><p>Homero teve um só escravo; Platão, três; Zenão, de quem teve origem a</p><p>austera e viril escola estoica, nenhum; e quem poderá dizer que eles tiveram</p><p>uma vida infeliz, sem arriscar-se a parecer a todos por essa sua opinião</p><p>infelicíssimo ele mesmo? 5. Para o enterro de Agripa Menênio9, que foi</p><p>mediador de paz entre os nobres e a plebe, foi preciso fazer uma coleta.</p><p>Atílio Regulo10, depois de ter dispersado os cartagineses na África,</p><p>escreveu ao Senado que seu colono tinha ido embora, abandonado seu</p><p>campo; e o Senado estabeleceu que o campo fosse cultivado durante a</p><p>ausência de Atílio Regulo às expensas públicas. Não acha que valeria a</p><p>pena não ter um criado, para ter como colono o povo romano?</p><p>6. As filhas de Cipião receberam um dote do erário, porque o pai não lhes</p><p>deixara nada; e era lógico, por Hércules, que o povo romano pagasse ao</p><p>menos um tributo a Cipião, pois exigia um tributo anual de Cartago. Felizes</p><p>os maridos para os quais foi sogro o povo romano! Ou crê que aqueles</p><p>cujos filhos são casados com dançarinas, que têm um milhão de sestércios</p><p>de dote, sejam mais felizes que Cipião, cujos filhos receberam em dote do</p><p>Senado, seu tutor, uma pequena moeda?</p><p>7. Como pode queixar-se um desterrado de que lhe falte alguma coisa, se</p><p>para Cipião faltou o dote, para Regulo um colono, para Menênio o enterro,</p><p>e se para todos aquilo que faltava foi substituído tanto mais honrosamente,</p><p>justamente porque faltava? Com esses advogados a pobreza não só é</p><p>defendida, mas pode tornar-se até agradável.</p><p>XIII</p><p>1. Poderia responder: "Por que divide artificiosamente todas essas coisas,</p><p>que são toleráveis quando isoladas e não quando juntas? É tolerável mudar</p><p>de sede, se mudar somente a sede; é tolerável a pobreza, conquanto não se</p><p>junte a ela a desonra, que abate todas as almas por si só .</p><p>2. Às pessoas que me queiram assustar, acumulando diante de mim todos os</p><p>males, é preciso responder assim: se formos suficientemente fortes contra</p><p>uma só desgraça, o seremos igualmente contra todas. Como a virtude</p><p>robustece a alma, ela é por toda parte invulnerável.</p><p>3. Se lhe livrar da avareza, que é o mais violento flagelo da humanidade, a</p><p>ambição não retardará seu caminho; se considerar a morte não como uma</p><p>pena mas como uma lei da natureza, de modo que a alma fique</p><p>desembaraçada do medo dela, nenhum outro medo ousará vir aborrecê-la;</p><p>se está convencido de que a união dos sexos foi dada ao homem não para o</p><p>prazer mas para a continuação da espécie, estará imune a qualquer outro</p><p>desejo do prazer. A razão não vence os vícios um por um, mas os abate</p><p>todos conjuntamente: ela vence uma vez por todas.</p><p>4. Pode acreditar-se, talvez, que o sábio seja perturbado pela infâmia, ele</p><p>que reúne tudo em si e está tão afastado das opiniões do povo? Mais ainda</p><p>do que a infâmia é uma morte infamante: contudo, Sócrates, com o mesmo</p><p>rosto, com o qual certa vez, único em Atenas, dominara os trinta tiranos,</p><p>entrou no cárcere, tornando-o com isso menos infamante: porque o cárcere</p><p>não é cárcere quando nele está um Sócrates.</p><p>5. Quem pode ser tão cego, perante a verdade, a ponto de achar desonrosa</p><p>para Marcos Catão a dupla recusa de suas candidaturas à pretoria e ao</p><p>consulado? Foi antes vergonha para a pretoria e para o consulado, os quais</p><p>não podiam senão ser honrados por um Catão.</p><p>6. Ninguém pode ser desprezado por outrem, se não se desprezou antes a si</p><p>mesmo. A esse tipo de desonra estão sujeitas as almas covardes e fracas;</p><p>mas para o homem que se eleva acima e contra os mais cruéis golpes da</p><p>fortuna, e domina os males que oprimem os outros, as desventuras são</p><p>como uma auréola. De fato, nós somos tais que nenhuma coisa desperta</p><p>nossa admiração tanto quanto um homem forte na desventura.</p><p>7. Quando, em Atenas, Aristides estava sendo levado ao suplício, quem</p><p>quer que o encontrasse baixava o olhos e gemia, como se tivesse sido</p><p>condenado não um homem justo mas a própria justiça: assim mesmo, houve</p><p>quem lhe cuspisse no rosto. Teria podido sentir indignação, sabendo que</p><p>ninguém que tivesse a boca pura teria ousado uma tal coisa: ele, ao</p><p>contrário, limpou o rosto, e sorrindo disse ao magistrado, que o</p><p>acompanhava: "Avise esse tal que de agora em diante não boceje mais tão</p><p>indecentemente". E foi esse o melhor modo de se fazer vilania à vilania.</p><p>8. Sei que alguns dizem que não há pior coisa que o desprezo e que</p><p>prefeririam a morte. A esses responderei que geralmente o exílio não</p><p>produz o desprezo: quando cai um grande homem (e contínua grande</p><p>mesmo no chão), ele não é desprezado mais do que quanto o sejam as</p><p>ruínas dos templos, que os devotos adoram igualmente como se estivessem</p><p>de pé.</p><p>XIV</p><p>1. Então, minha querida mamãe, não tem, pelo que me diz respeito, nenhum</p><p>motivo para se consumir em pranto: resta examinar, ainda, se podem</p><p>estimular-lhe motivos particulares; isto é, se pode lhe magoar a ideia de que</p><p>perdeu uma ajuda e uma defesa, ou a ideia de que não pode suportar minha</p><p>falta.</p><p>2. Para a primeira bastam poucas palavras, porque conheço sua alma, e sei</p><p>que ela, em seus entes queridos, não ama senão eles mesmos. Esta ideia se</p><p>refere às mães, que, com feminina incapacidade de controle, querem</p><p>controlar os poderes dos filhos; às mães que, como as mulheres não podem</p><p>exercer os cargos públicos, satisfazem à própria ambição por meio dos</p><p>filhos, pondo-a a serviço dos outros.</p><p>3. teve grande prazer nos bens de seus filhos, muito pouco gozou dos</p><p>mesmos, impôs sempre um limite à nossa generosidade, sem impor limite</p><p>algum a si mesma; quando ainda vivo seu pai, aumentou a riqueza que seus</p><p>filhos possuíam; administrou nossos haveres com o mesmo cuidado como</p><p>se fossem seus, com o mesmo escrúpulo como se fossem de outrem; não</p><p>procurou nenhuma vantagem de nossa influência, como se fosse coisa de</p><p>outrem, e de nossas honras não lhe foi dado mais do que o comprazimento e</p><p>as despesas: nunca seu afeto visou ao útil. Não pode, pois, lhe magoar,</p><p>porque ao filho, que lhe foi arrancado, faltem as coisas que quando ele se</p><p>encontrava no primitivo estado, nunca as achou necessárias a seu afeto.</p><p>XV</p><p>1. Para lhe dar conforto, devo bater sobre a verdadeira origem de sua grande</p><p>dor de mãe: "Tenho, então, que me privar do abraço de meu filho amado;</p><p>não posso ter a alegria de vê-lo e de falar-lhe! Onde está aquele em cuja</p><p>presença a tristeza desaparecia de meu rosto e no qual derramava qualquer</p><p>pensamento triste meu? Onde estão os colóquios, que não me saciavam, os</p><p>estudos dos quais participava com</p><p>maior interesse do que é de costume</p><p>entre as mulheres, com maior camaradagem do que é comum ver nas mães?</p><p>Onde estão os encontros, nos quais, ao ver sua mãe, ele se iluminava de um</p><p>riso de eterna criança?"</p><p>2. Junta a isso a vista dos lugares, onde gozamos e vivemos juntos, e,</p><p>necessariamente, a vista de todos os objetos, que lembram nossa recente</p><p>vida em comum, estímulo eficaz para azedar a dor: pois a fortuna quis</p><p>completar sua cruel maquinação contra você, fazendo com que se afastasse,</p><p>tranquila e sem nem a suspeita de um semelhante acontecimento, apenas</p><p>dois dias antes de me golpear.</p><p>3. Foi um bem a distância que nos manteve afastado um do outro; foi um</p><p>bem nossa separação de alguns anos para preparar-lhe a essa desgraça:</p><p>volte, ao contrário, não para ter a alegria de ver seu filho mas para perder o</p><p>costume de estar longe dele. Se tivesse partido muito tempo antes, teria</p><p>suportado com maior coragem o golpe, pois a longa separação teria</p><p>atenuado a saudade; se não lhe tivesse afastado novamente, teria tido pelo</p><p>menos o extremo prazer de ver seu filho dois dias mais. Ao contrário, a</p><p>fortuna cruel dispôs as coisas de modo que nem estivesse a meu lado na</p><p>desgraça, nem estivesse habituada à ausência.</p><p>4. Mas, quanto mais graves são essas dores tanto mais deve chamar em</p><p>socorro todas as suas forças, e enfrentar, por assim dizer, com maior ímpeto,</p><p>esse inimigo, que conhece e que muitas vezes já derrotou. O sangue que</p><p>agora derrama não brota de meu corpo invulnerado: a nova ferida lhe</p><p>alcançou através das cicatrizes precedentes.</p><p>XVI</p><p>1. Não é razoável que lhe desculpe dizendo que é mulher, porque às</p><p>mulheres é concedido o direito de chorar em demasia, mas não sem um</p><p>limite. Nossos antepassados estabeleceram dez meses de luto para as</p><p>mulheres que choravam o marido. Não proibiam o luto, mas lhe impunham</p><p>um termo; afligir-se sem medida, mesmo quando se perde alguém dos entes</p><p>mais queridos, é um gosto tolo, e não afligir-se em absoluto é dureza</p><p>desumana: entre o sentimento e a razão o meio-termo ideal é sentir a dor da</p><p>perda e reprimi-la.</p><p>2. Não é razoável que pense em certas mulheres a cuja dor só a morte põe</p><p>fim (e você conhece algumas que, pondo o luto pela morte de um filho,</p><p>nunca mais o tiraram). De você, ao contrário, pela energia que sua vida</p><p>exigiu desde o começo, temos o direito de esperar mais: não pode assumir</p><p>como desculpa ser mulher quem sempre foi imune aos defeitos das</p><p>mulheres.</p><p>3. Não lhe arrastou no número das demais o pior vício de nosso tempo, a</p><p>falta de pudor; não lhe dobraram nem as joias nem as pérolas; a riqueza</p><p>nunca conseguiu brilhar a seus olhos como o máximo bem do gênero</p><p>humano; a imitação dos piores, que é perigosa mesmo para os honestos, não</p><p>a afastou do caminho certo, você que foi criada numa casa antiga e austera;</p><p>nunca se envergonhou de sua fecundidade como se fosse coisa repreensível</p><p>no seu tempo; nunca escondeu, como se fosse um peso vulgar, seu ventre</p><p>prenhe, como fazem as outras, que se dedicam somente à beleza; nunca</p><p>suprimiu no ventre os filhos concebidos;</p><p>4. Não maculou o seu rosto de cosméticos; nunca lhe agradaram os vestidos</p><p>com os quais, quem os veste, está mais nua do que se estivesse nua: único</p><p>enfeite, beleza superior a qualquer outra e não vinculada a idade alguma,</p><p>máximo orgulho foi para você sempre a modéstia.</p><p>5. Não podemos, pois, para legitimar sua dor, servirmo-nos do pretexto de</p><p>seu sexo, do qual suas virtudes lhe afastaram: deve manter-se tão longe dos</p><p>prantos femininos quanto se mantive dos defeitos. Nem as mulheres lhe</p><p>deixarão consumir sobre sua ferida, se querem tomar como exemplo</p><p>aquelas cuja admirada virtude pôs entre o número dos grandes.</p><p>6. A fortuna reduziu a dois os doze filhos de Cornélia11: dez mortos (se</p><p>repararmos no número) e Gracos (se quisermos fazer a estimação da perda).</p><p>Contudo, às pessoas que ao redor dela choravam e imprecavam contra seu</p><p>destino impôs não acusar a fortuna, que lhe dera por filhos os Gracos. De</p><p>uma tal mulher é justo que nasceu aquele que na assembleia ousou dizer:</p><p>"Você ousas dizer mal de minha mãe, que gerou a mim?" Mas muito mais</p><p>corajosas me parecem as palavras da mãe: porque o filho mostrou ser</p><p>orgulhoso de sua estirpe, a mãe mostrou ser orgulhosa também da morte</p><p>dos filhos.</p><p>7. Rutília seguiu no exílio o filho Cota, e o afeto prendeu-a de modo que</p><p>preferiu enfrentar o exílio a enfrentar a dor de estar longe; e não voltou para</p><p>a pátria senão quando voltou o filho. Com a mesma coragem, com a qual o</p><p>seguira perdeu-o mais tarde, quando tinha voltado e já se sentia posto em</p><p>evidência na vida pública; e ninguém a viu chorar depois que o levaram</p><p>embora. No exílio mostrou sua força de alma, na morte sua sensatez, porque</p><p>nada conseguiu amedrontar seu amor materno, e nada a fez insistir numa</p><p>aflição inútil e tola. Quero que você esteja no número dessas mulheres, e</p><p>que siga, em dominar e reduzir seu desgosto, o magnânimo exemplo dessas</p><p>como sempre dessas imitou a vida.</p><p>XVII</p><p>1. Compreendo que isso não está em nosso poder, nem podemos dominar</p><p>nossas comoções: especialmente as comoções que se originam da dor e são</p><p>indomáveis e rebeldes a qualquer tratamento. Queremos sepultá-las e</p><p>sufocar os gemidos: ao contrário, as lágrimas escorrem pelo rosto que finge</p><p>estar calmo; queremos ocupar a mente nos jogos e nos espetáculos dos</p><p>gladiadores: ao contrário, mesmo no meio dos espetáculos, que nos</p><p>deveriam distrair, basta a sombra da saudade para reviver a paixão.</p><p>2. É melhor, pois, vencê-la do que enganá-la; porque das distrações, dos</p><p>prazeres e dos negócios ressurge, e toma vigor do descanso para tornar-se</p><p>cada vez mais áspera; ao contrário, se ceder à razão, acalma-se para sempre.</p><p>Por isso, não lhe recomendarei, como sei que muitos fazem, que faça uma</p><p>viagem longa que a ocupe, ou agradável que a divirta, nem que ocupe teu</p><p>tempo revendo diligentemente as contas e administrando o patrimônio; nem</p><p>que ocupe-se sempre com algum novo trabalho. Todas essas coisas são</p><p>apenas levemente úteis para a dor; e não quero que ela seja enganada, mas</p><p>que acabe.</p><p>3. Por isso incito-lhe a procurar refúgio onde todos os que procuram</p><p>conforto para suas mágoas deviam refugiar-se: nos estudos da filosofia.</p><p>Eles saberão sarar sua ferida, arrancando de você toda queixa. Você agora</p><p>os deveria cultivar mesmo se nunca tivesse tido familiaridade com eles; mas</p><p>você, porquanto lhe permitiu a austeridade de meu velho pai, abordou todas</p><p>as boas artes, embora sem aprofundar seu estudo.</p><p>4. Oh! se meu pai, que era o melhor dos homens, mas estava</p><p>demasiadamente preso aos costumes dos antepassados, tivesse desejado que</p><p>você fosse ensinada ao invés de informada somente dos preceitos da</p><p>sabedoria! Agora, contra os golpes da fortuna, precisaria não procurar</p><p>auxílios mas servir-se dos que teria. Mas meu pai não quis que você</p><p>seguisse sua inclinação para esses estudos por causa das mulheres que se</p><p>servem da cultura não para tirar regras de sabedoria e sim para enfeitar-se</p><p>com ela como com custosa joia. Todavia, graças à sua pronta inteligência,</p><p>assimilou mais que quanto pudesse fazer supor o tempo dedicado à cultura:</p><p>já lançou os alicerces de toda disciplina.</p><p>5. Volte para ela, agora: ela lhe protegerá. Ela lhe consolará, lhe deleitará;</p><p>se entrar em sua alma, acolhida com sincera fé, nela não entrará mais a dor,</p><p>nem as preocupações, nem o inútil tormento de uma vã aflição: para</p><p>nenhum desses males estará aberto seu peito, que para as outras fraquezas</p><p>está, há tempo, fechado. Ela é realmente o mais seguro castelo, e só ela</p><p>poderá lhe arrancar do arbítrio da fortuna.</p><p>XVIII</p><p>1. Mas, visto que, enquanto não entrar no porto que os estudos lhe</p><p>prometem, precisa de algum amparo onde apoiar, quero mostrar-lhe de que</p><p>alívios pode dispor. Dirija seu olhar para meus irmãos: se eles estão salvos,</p><p>não é justo que você acuse a fortuna.</p><p>2. Em um ou outro tem razões de alegria diferente: um, com sua atividade</p><p>alcançou as mais altas honras, outro sabiamente delas se manteve afastado.</p><p>Viva tranquila na dignidade do primeiro, na paz do segundo, no afeto de</p><p>ambos. Conheço os sentimentos</p><p>profundos de meus irmãos: o primeiro ama</p><p>as honras só para que ornem você, o outro fechou-se numa vida pacífica e</p><p>calma só para se dedicar a você.</p><p>3. A fortuna situou seus filhos da melhor maneira, para que lhe deem</p><p>auxílio e deleite: pode ser defendida pela autoridade de um, gozar do ócio</p><p>do outro. Disputarão entre eles as atenções para contigo, e a saudade de um</p><p>será compensada pelo afeto de dois filhos: poderá até afirmar sem erro que</p><p>não lhe falta nada em relação a seus filhos, senão a quantidade.</p><p>4. Desses dirige o olhar a seus netos: ao gracioso menino que é Marco12,</p><p>diante do qual nenhum aborrecimento pode durar, nenhuma dor, por grande</p><p>e recente que seja, pode arder no peito de ninguém: o menino vivaz tudo</p><p>alivia!</p><p>5. Que lágrimas não enxugaria seu riso? Que rugas de dor não estenderiam</p><p>suas carícias? Quem não seria convidado a brincar pela sua alegria? Quem</p><p>não se sentiria atraído e afastado de seus pensamentos, embora profundos,</p><p>por aquele seu conversar infantil do qual nunca nos cansaríamos?</p><p>6. Queiram os deuses conceder-nos que ele sobreviva a nós! Sobre mim</p><p>pare cansada toda a crueldade da fortuna; todas as dores de sua mãe, todas</p><p>as dores de sua avó, transfiram-se para mim: os outros gozem sempre de</p><p>seu estado atual. Nenhuma queixa farei sobre meu luto e sobre minha</p><p>condição, conquanto tenha sido eu o bode expiatório da família, de modo</p><p>que a ela não chegue nenhuma outra desgraça.</p><p>7. Pegue no colo Novatila, que logo lhe dará bisnetos, e cujo afeto eu</p><p>cultivava tanto, e que considerava tão minha que agora, por me ter perdido,</p><p>se pode chamar órfã, embora o pai esteja ainda vivo: ame-a também por</p><p>mim. A fortuna lhe arrancou a mãe, há pouco tempo: seu afeto pode fazer</p><p>com que ela se magoe pela perda, mas não sinta a falta da mamãe.</p><p>8. Agora é o momento de regularizar seus costumes, de formar seu caráter:</p><p>mais profundamente descem os preceitos que se imprimem nas almas de</p><p>tenra idade. Acostume-se a falar contigo, cresça como você a quer: dê-lhe</p><p>muito, mesmo que só lhe dê o exemplo. Este sagrado dever será para você</p><p>como um remédio, porque nada mais que a razão ou uma sábia ocupação</p><p>pode tirar da dor uma alma que se aflige por uma pessoa querida.</p><p>9. Contaria entre os maiores alívios seu pai, se não estivesse longe de você.</p><p>Todavia, pelos sentimentos que nutre para com ele, pense quais sejam os</p><p>seus para contigo: compreenderá quanto é mais justo que você se conserve</p><p>para eles antes que estar fixa sobre mim. Cada vez que lhe invadir a</p><p>violência sem limite da dor e ela lhe quiser arrastar consigo, pense em seu</p><p>pai. Você, dando-lhe tantos netos e bisnetos, não lhe pode considerar filha</p><p>única; todavia, depende de você que esse último período de sua vida seja</p><p>sereno como foi feliz a vida passada. Enquanto ele viver, não é justo que</p><p>você se queixe de viver.</p><p>XIX</p><p>1. Ainda não falei de seu maior conforto, de sua irmã13 daquele coração a</p><p>você mais que fiel, no qual passam indivisivelmente todas as suas mágoas,</p><p>daquela alma maternal para nós todos. Com ela você confunde suas</p><p>lágrimas, em seu seio retoma a viver.</p><p>2. Ela é sempre o eco fiel de seus sentimentos: só pelo que me diz respeito,</p><p>sua dor não é causada somente por sua dor. Suas mãos me levaram a Roma;</p><p>seus cuidados afetuosos e maternais me restabeleceram após longa doença;</p><p>para ser útil no meu cargo como questor14, ela, que antes não teria ousado</p><p>nem falar nem responder em voz alta aos cumprimentos, aumentou suas</p><p>relações, e por mim, pelo afeto que me dedicava, venceu a timidez. Sua</p><p>vida retirada, sua humildade no meio de tanta insolência de outras</p><p>mulheres, sua calma, seus costumes modestos e amante da paz familiar, não</p><p>impediram que se tornasse por mim até ambiciosa.</p><p>3. Esse é o alívio, minha querida mãe, pelo qual será acalmada: fique perto</p><p>da irmã o mais que puder, ligue-se a ela com apertados abraços. Quem está</p><p>aflito procura fugir daqueles que sobretudo ama e procura liberdade para</p><p>sua dor; você, ao contrário, com qualquer pensamento, aproxime-se dela:</p><p>caso queira continuar a ficar neste estado, caso queira afastar-se deste</p><p>estado, sua dor encontrará em tua irmã ou um fim ou uma companhia.</p><p>4. Mas. se não me engano, quanto à experiência dessa tão perfeita mulher,</p><p>ela não permitirá que se consuma numa estéril tristeza, e lhe porá diante seu</p><p>exemplo, do qual fui também um espectador. Ela perdera o esposo querido,</p><p>nosso tio (com o qual casara ainda jovem), mesmo durante a viagem por</p><p>mar; contudo, suportou ao mesmo tempo a dor e o medo e, vencendo a</p><p>tempestade, náufraga trouxe salvo o cadáver do marido.</p><p>5. Quantos admiráveis feitos de muitas mulheres jazem sepultados no</p><p>esquecimento! Se a ela fosse dado por fortuna viver nos tempos antigos, tão</p><p>simples em sua admiração pelas virtudes, quantos escritores, disputando</p><p>entre si, celebrariam essa esposa que, esquecendo ser uma fraca mulher,</p><p>esquecendo o mar, terrível mesmo para os corações mais fortes, expôs ao</p><p>perigo sua própria vida para sepultar o cadáver, e não temeu o perigo,</p><p>porque pensava no enterro do esposo.</p><p>É celebrada por Eurípides a mulher15 que se ofereceu em substituição ao</p><p>marido mas até mais querer dar-lhe sepultura com o perigo da vida, porque</p><p>maior é o amor que enfrenta um perigo igual para uma vantagem menor.</p><p>6. Depois disso, ninguém se admire de que ela não tenha sido vista em</p><p>público por dezesseis anos, durante os quais o marido governou o Egito, e</p><p>que não admitiu em casa nenhum habitante da província, e que nada pediu</p><p>ao marido, e que nunca permitiu a ninguém que lhe pedisse alguma coisa.</p><p>Por isso, aquela província mexeriqueira e hábil em dizer mal dos prefeitos,</p><p>onde também os que eram isentos de culpa foram atingidos pela</p><p>maledicência, admirou-a como exemplo único de santidade, e, coisa</p><p>dificílima para quem ama as indiretas mesmo se perigosas, conteve a seu</p><p>respeito toda liberdade de palavra, e hoje, sem esperança, deseja uma</p><p>prefeita a ela semelhante. Teria sido muito se aquela província durante</p><p>dezesseis anos a tivesse louvado; e, até mais, que a tenha ignorado.</p><p>7. Lembro esses fatos não para dizer seus louvores, que um acento tão breve</p><p>diminui, para que você entenda a magnanimidade dessa mulher, que não foi</p><p>vencida pela ambição e pela avareza, companheiras e peste de toda</p><p>potência, e que o medo da morte, quando o navio já quebrado lhe mostrava</p><p>iminente o naufrágio, não assustou a ponto de fazer com que desistisse,</p><p>presa ao marido morto, de procurar não uma salvação para ela mas o modo</p><p>de levar a salvo o cadáver para sepultá-lo. Você deve mostrar-se igual a ela</p><p>em força da alma e retomar coragem, e comportar-se de maneira que</p><p>ninguém possa pensar que se arrepende de ter tido a mim como filho.</p><p>XX</p><p>1. No entanto, uma vez que é necessário, o que quer que você faça, que seus</p><p>pensamentos às vezes revertem a mim e que eu devo agora estar presente</p><p>em sua mente com mais frequência do que seus outros filhos, não porque</p><p>eles são menos queridos para você, mas porque é natural colocar as mãos</p><p>com mais frequência em um lugar que dói uma; Aprenda como você deve</p><p>pensar em mim: estou tão alegre e animado quanto em meus melhores dias:</p><p>de fato, estes dias são meus melhores, porque minha mente está aliviada de</p><p>toda a pressão de negócios e está a vontade para atender aos seus próprios</p><p>assuntos, a um tempo se diverte com estudos mais leves, em outro pressiona</p><p>ansiosamente suas investigações sobre sua própria natureza e a do universo:</p><p>primeiro considera os países do mundo e sua posição: então o caráter do</p><p>mar que flui entre eles e o refluxos e fluxos alternativos de suas marés;</p><p>2. Em seguida, investiga todos os terrores que se encostam entre o céu e a</p><p>terra, a região despedaçada por trovões, relâmpagos, rajadas de vento,</p><p>vapor, chuvas de neve e granizo. Finalmente, tendo percorrido cada um dos</p><p>reinos abaixo, ela se aproxima do mais alto paraíso, goza do mais nobre de</p><p>todos os espetáculos, das coisas divinas e, lembrando-se de ser eterno,</p><p>analisa tudo o que foi e tudo o que será para sempre e sempre.</p><p>Consolação a Políbio</p><p>I.</p><p>1. Quanto às cidades e aos prédios públicos de pedra7,</p><p>se os compararmos</p><p>com nossa vida, são firmes e duradouros; mas se os transferirmos para o</p><p>domínio da Natureza, que destrói tudo e chama tudo de volta para o lugar</p><p>de onde veio, são transitórios. O que, de fato, já fez mãos mortais que</p><p>não seja mortal?</p><p>2. As sete maravilhas do mundo, e quaisquer maravilhas ainda maiores que</p><p>a ambição de eras posteriores tenha construído, serão vistas um dia</p><p>niveladas com o chão. Assim é: nada dura para sempre, poucas coisas</p><p>duram até mesmo por muito tempo: todas são suscetíveis de decadência, de</p><p>uma maneira ou de outra. As formas pelas quais as coisas chegam a um fim</p><p>são múltiplas, mas ainda assim tudo que tem um começo tem um fim</p><p>também. Alguns ameaçam o mundo com a morte e, embora você possa</p><p>pensar que o pensamento é ímpio, todo esse universo, contendo deuses e</p><p>homens e todas as suas obras, um dia será varrido e mergulhado uma</p><p>segunda vez em sua escuridão e caos originais.</p><p>3. Chore, se puder, depois disto, pela perda de qualquer vida individual!</p><p>Podemos chorar as cinzas de Cartago, Numantia, Corinto, ou qualquer</p><p>cidade que tenha caído de um estado elevado, quando sabemos que o</p><p>mundo deve perecer, embora não tenha lugar em que possa desabar. Chore,</p><p>se puder, porque a Fortuna não o poupou, ela que um dia se atreverá a</p><p>operar uma impiedade tão grande! Quem pode ser tão soberbo e tão</p><p>insensatamente arrogante a ponto de esperar que essa lei da natureza, pela</p><p>qual tudo termina, seja posta de lado no seu próprio caso, e que a sua</p><p>própria casa seja isenta da ruína que ameaça o mundo inteiro?</p><p>4. É, portanto, um grande consolo refletir que o que aconteceu conosco,</p><p>aconteceu a todos antes de nós e acontecerá a todos depois de nós. Na</p><p>minha opinião, a natureza fez com que seus atos mais cruéis atingissem</p><p>todos os homens, para que a generalidade de sua sorte os consolasse por</p><p>suas dificuldades.</p><p>II.</p><p>1. Também não será pequena ajuda para você refletir que a dor não pode</p><p>fazer bem nem àquele a quem você perdeu nem a si mesmo, e você não</p><p>gostaria de prolongar o que é inútil: pois, se pudéssemos ganhar alguma</p><p>coisa com a dor, eu não deveria recusar a dar a seus infortúnios as lágrimas</p><p>que os meus deixaram à minha disposição: Eu forçaria algumas gotas a fluir</p><p>destes olhos, exaustos como estão com o choro sobre as minhas próprias</p><p>aflições domésticas, se isso pudesse ser de alguma utilidade para você.</p><p>2. Por que hesita? lamentemos juntos, e eu mesmo farei minha essa querela:</p><p>- “Fortuna, a quem todos acham mais injusta, pareceu até agora ter-se</p><p>impedido de atacar alguém que, por seu favor, havia se tornado objeto de</p><p>tal respeito universal que - a rara distinção para qualquer um - sua</p><p>prosperidade não tinha despertado ciúmes; mas agora, eis que agora!</p><p>Infligiu a você a ferida mais cruel que, enquanto César8 viver, ele poderia</p><p>acolher, e depois de reconhecê-lo de todos os lados descobriu que só neste</p><p>ponto ele estava exposto aos seus golpes. Que mais lhe poderia ter feito?</p><p>3. Deveria tirar-lhe a riqueza? ele nunca foi seu escravo: agora ele a</p><p>afastou o máximo possível de si, e a principal coisa que ganhou com suas</p><p>inigualáveis facilidades para acumular dinheiro foi o seu desprezo.</p><p>4. Se você tirar seus amigos? você sabe que ele é de uma disposição tão</p><p>amável que poderia facilmente ganhar outros para substituir aqueles que</p><p>pudesse perder: pois de todos os poderosos oficiais da casa imperial ele me</p><p>parece ser o único que todos os homens desejam ter para seu amigo sem</p><p>considerar quão vantajosa seria sua amizade.</p><p>5. Se lhe tirasses a reputação? Ela está tão firmemente estabelecida, que</p><p>nem mesmo ela conseguiria abalá-la. Se lhe retirasse a saúde? você sabe</p><p>que sua alma está tão fundamentada em estudos filosóficos, em cujas</p><p>escolas ele nasceu e foi criado, que se elevaria superior a qualquer</p><p>sofrimento do corpo. Você deveria tirar-lhe a respiração?</p><p>6. Quão pequena seria para ele uma lesão? A fama prometeu ao seu gênio</p><p>uma das mais longas de suas vidas: ele mesmo cuidou para que sua melhor</p><p>parte permanecesse viva, e se precaveu contra a morte pela composição de</p><p>suas admiráveis obras de eloquência: enquanto a literatura for mantida em</p><p>qualquer honra, enquanto o vigor do latim ou a graça da língua grega</p><p>perdurar, ele florescerá junto aos seus maiores escritores, com cuja</p><p>genialidade se equiparou, ou, se a sua modéstia não me deixar dizer isto,</p><p>associou a sua.</p><p>7. Este, pois, era o único meio que se podia conceber para lhe fazer um</p><p>grande mal. Quanto melhor é um homem, mais frequentemente ele sofre</p><p>com a sua ira indiscriminada, você que deve ser temido, mesmo quando</p><p>está concedendo benefícios a alguém. Quão pouco lhe teria custado evitar</p><p>esse golpe de alguém a quem seus favores pareciam ser conferidos de</p><p>acordo com algum plano regular, e não ser jogado as cegas como é de</p><p>costume”!</p><p>III</p><p>1. Acrescentemos, por favor, a estes motivos de reclamação a disposição do</p><p>próprio jovem, cortada em meio ao seu primeiro crescimento. Ele era digno</p><p>de ser seu irmão: você certamente não merecia receber nenhuma dor através</p><p>de seu irmão, mesmo que ele não tivesse sido digno.</p><p>2. Todos os homens dão testemunho de seus méritos: ele se arrepende por</p><p>você, e é elogiado por seus próprios méritos. Ele não tinha qualidades que</p><p>você não teria o prazer de reconhecer. Você teria de fato sido bom para um</p><p>irmão pior, mas a ele seu amor fraterno foi dado de forma ainda mais livre</p><p>porque nele achou tão apropriado campo para seu exercício. Ninguém</p><p>jamais foi obrigado a sentir sua influência recebendo erros em suas mãos,</p><p>ele nunca usou o fato de você ser seu irmão para ameaçar ninguém: ele</p><p>tinha moldado seu caráter conforme o padrão de sua modéstia, e refletia</p><p>como você era uma grande glória e um grande fardo para sua família: o</p><p>fardo que ele era capaz de suportar;</p><p>3. mas, ó Fortuna impiedosa, sempre injusto à virtude - antes que seu irmão</p><p>pudesse saborear a felicidade de sua posição, ele foi chamado para longe.</p><p>Estou bem ciente de que expresso meus sentimentos de forma inadequada;</p><p>pois nada é mais difícil do que encontrar palavras que representem</p><p>adequadamente grande pesar: ainda assim, lamentemos novamente por ele,</p><p>se for de alguma utilidade fazê-lo:</p><p>4. “O que você quis dizer, Fortuna, por ser tão injusta e tão selvagem? você</p><p>se arrependeu tão cedo de seu favor? Que crueldade foi cair sobre irmãos,</p><p>romper um círculo tão amoroso por um ataque tão mortal; por que você</p><p>trouxe o luto para uma casa tão repleta de jovens admiráveis, na qual</p><p>nenhum irmão ficou aquém do alto padrão dos demais, e sem nenhuma</p><p>razão arrancou um deles?</p><p>5. Portanto, então, a inocência escrupulosa da vida, a frugalidade</p><p>antiquada, o poder de acumular vastas riquezas empunhadas com a maior</p><p>abnegação, um amor verdadeiro e imperecível pela literatura, uma mente</p><p>livre da menor mancha de pecado, tudo isso nada aproveita: Políbio está</p><p>em luto, e, advertido pelo destino de um irmão o que ele pode ter que temer</p><p>pelo restante, ele teme pelas próprias pessoas que suavizam sua dor. Ó</p><p>vergonha! Políbio está em luto e chora apesar de ainda gozar do favor de</p><p>César. Sem dúvida, Fortuna, o que você visou em sua raiva impulsiva foi</p><p>provar que ninguém pode ser protegido de seus ataques, nem mesmo pelo</p><p>próprio César”.</p><p>IV</p><p>1. Podemos continuar culpando o destino por muito mais tempo, mas não</p><p>podemos alterá-lo: ele permanece duro e inexorável: ninguém pode movê-lo</p><p>por reprovações, por lágrimas ou pela justiça. A fortuna nunca poupa</p><p>ninguém, nunca faz concessões a ninguém.</p><p>2. Abstenhamo-nos, então, de lágrimas não proveitosas: pois nossa dor nos</p><p>levará a juntar-nos a ele mais cedo do que nos trará de volta: e se ela nos</p><p>torturar sem nos ajudar, devemos deixá-la de lado o quanto antes, e</p><p>restaurar o tom de nossas almas após sua indulgência nessa vã consolação e</p><p>no amargo luxo do infortúnio: pois a menos que a razão ponha um fim às</p><p>nossas lágrimas, a Fortuna não o fará. Olhe em volta, para todos os mortais:</p><p>em todos os lugares há razões amplas e constantes para chorar: um homem</p><p>é levado ao trabalho diário pela miséria, outro é atormentado por uma</p><p>ambição que nunca</p><p>se abate, outro teme as riquezas que um dia desejou e</p><p>sofre com a concessão de sua própria oração: um homem é feito miserável</p><p>pela solidão, outro pelo trabalho, outro pelas multidões que sempre cercam</p><p>sua antecâmara. Este homem chora porque tem filhos, aquele porque os</p><p>perdeu. As lágrimas nos falharão mais cedo do que as causas para o seu</p><p>derramamento.</p><p>3. Você não vê que tipo de vida deve ser aquela que a Natureza prometeu a</p><p>nós homens quando ela nos faz chorar assim que nascemos? Começamos a</p><p>vida desta maneira, e toda a cadeia de anos que se sucedem estão em</p><p>harmonia. Assim passamos nossas vidas, e consequentemente devemos ser</p><p>parcimoniosos em fazer o que temos que fazer com frequência, e quando</p><p>olhamos para trás, para a massa de tristezas que paira sobre nós, devemos,</p><p>se não cessar nossas lágrimas, de qualquer forma, reservá-las. Não há nada</p><p>que deveríamos administrar com mais cuidado do que aquilo, que tantas</p><p>vezes somos obrigados a gastar.</p><p>V</p><p>1. Também não será pouca ajuda para você considerar que não há ninguém</p><p>a quem sua dor seja mais ofensiva do que aquele a quem é nominalmente</p><p>concedida: ou ele não deseja que você sofra ou não entende por que você</p><p>sofre.</p><p>2. Não há, portanto, razão para um serviço que é inútil se não for sentido</p><p>por aquele que é o objeto do mesmo, e que lhe desagradaria se o fosse.</p><p>Posso afirmar corajosamente que não há ninguém no mundo inteiro que</p><p>tenha qualquer prazer em tirar de suas lágrimas. O que então? você supõe</p><p>que seu irmão tem um sentimento contra você que ninguém mais tem, que</p><p>ele deseja que se magoe por sua própria tortura, que ele deseja separá-lo dos</p><p>negócios de sua vida, isto é, da filosofia e de César?</p><p>3. Isso não é provável: pois ele sempre rendeu a você como irmão, o</p><p>respeitou como um pai, o reverenciou como um superior. Ele deseja ser</p><p>lembrado carinhosamente por você, mas não para ser uma fonte de agonia a</p><p>você. Por que, então, você deveria insistir em se apegar a uma dor que, se</p><p>os mortos têm algum sentimento, seu irmão deseja pôr um fim? Se fosse</p><p>qualquer outro irmão sobre cujo afeto poderia haver qualquer dúvida, eu</p><p>poderia colocar tudo isso vagamente e dizer: “Se seu irmão desejasse que</p><p>você fosse torturado com um luto sem fim, ele não mereceria tal afeição: se</p><p>ele não o deseja, dispense a dor que os afeta a ambos: um irmão não natural</p><p>não deveria, um bom irmão não desejaria ser assim lamentado”, mas com</p><p>alguém cujo amor fraterno foi tão claramente provado, podemos estar bem</p><p>certos de que nada poderia magoá-lo mais do que você sofrer pela sua</p><p>perda, que isso lhe provocasse agonia, que seus olhos, por mais</p><p>imerecedores que sejam de tal destino, deveriam ser pela mesma causa</p><p>continuamente enchidos e drenados de lágrimas incessantes.</p><p>4. Nada, no entanto, restringirá sua natureza amorosa dessas lágrimas</p><p>inúteis tão eficazmente quanto a reflexão que você deveria mostrar a seus</p><p>irmãos um exemplo, suportando corajosamente esse ultraje da Fortuna.</p><p>Você deve imitar os grandes generais em tempos de desastre, quando eles</p><p>têm o cuidado de provocar um comportamento alegre e esconder as</p><p>desgraças por uma alegria manipulada, de modo que, se os soldados vissem</p><p>seu líder derrubado, eles mesmos ficariam desanimados. Isto deve agora ser</p><p>feito também por você.</p><p>5. Ponha um semblante que não reflita seus sentimentos e, se possível,</p><p>expulse-o e esconda-o dentro de você para que não seja visto, e cuide para</p><p>que seus irmãos, que acharão tudo de honrado que eles o virem fazendo, o</p><p>imitem nisto e tirem coragem da vista de sua aparência. É seu dever ser</p><p>tanto o conforto deles quanto o consolo deles; mas você não terá poder para</p><p>controlar o sofrimento deles se você ceder ao seu próprio sofrimento.</p><p>VI</p><p>1. Pode também mantê-lo longe do luto excessivo se você se lembrar que</p><p>nada do que você faz pode ser feito em segredo: todos os homens</p><p>concordam em considerá-lo como um personagem importante, e você deve</p><p>manter este caráter: você está envolvido por toda aquela multidão de</p><p>consoladores que estão espreitando em sua mente para aprender quanta</p><p>força tem para resistir ao luto, e se você apenas sabe como se valer</p><p>habilmente da prosperidade, ou se você também pode suportar adversidades</p><p>com um espírito viril: a expressão de seus próprios olhos é vigiada.</p><p>2. Aqueles que são capazes de esconder seus sentimentos, podem deixá-los</p><p>mais livres; mas você não é livre para ter qualquer segredo: sua sorte o</p><p>colocou numa posição tão brilhante, que nada do que você faz pode ser</p><p>escondido: todos os homens saberão como você suportou esta sua ferida, se</p><p>você depôs seus braços no primeiro golpe ou se você se manteve firme. Há</p><p>muito tempo, o amor de César o elevou, e suas próprias perseguições</p><p>literárias o levaram, ao mais alto nível do estado: nada vulgar, nada de mau</p><p>lhe convém: no entanto, o que pode ser mais mau ou mais feminino do que</p><p>fazer-se vítima da dor?</p><p>3. Embora sua tristeza seja tão grande quanto a de seus irmãos, ainda assim</p><p>você pode não se satisfazer tanto quanto eles: as ideias que o público</p><p>formou sobre seu aprendizado filosófico e seu caráter tornam muitas coisas</p><p>impossíveis para você. Os homens exigem muito, e esperam muito de você:</p><p>você não deveria ter atraído todos os olhos para si mesmo, se você</p><p>desejasse poder agir como quiser: como está, você deve fazer bem àquilo</p><p>que prometeu. Todos aqueles que elogiam as obras de seu gênio, que fazem</p><p>cópias delas, que precisam de seu gênio se não precisarem de sua riqueza,</p><p>são como guardas colocados sobre sua mente: você não pode, portanto,</p><p>nunca fazer nada indigno do caráter de um filósofo e sábio íntegro, sem que</p><p>muitos homens se arrependam de que alguma vez o admiraram.</p><p>4. Você não pode chorar além da razão: nem isso é a única coisa que você</p><p>não pode fazer: você não pode sequer permanecer adormecido após o</p><p>amanhecer, ou retirar-se dos ruidosos problemas dos negócios públicos para</p><p>o repouso pacífico do campo, ou refrescar-se com uma excursão de recreio</p><p>quando se cansa de assistir constantemente aos deveres de seu trabalho, ou</p><p>divertir-se vendo diferentes espetáculos, ou mesmo organizar seu dia de</p><p>acordo com seu próprio desejo. Muitas coisas são proibidas a você, que são</p><p>permitidas aos mendigos mais pobres que se encontram em buracos e</p><p>esquinas.</p><p>5. Uma grande fortuna é uma grande escravidão; você não pode fazer</p><p>nada de acordo com seu desejo: você deve dar audiência a todos esses</p><p>milhares de pessoas, você deve se encarregar de todas essas petições: você</p><p>deve se animar, a fim de que toda essa massa de negócios que flui até aqui</p><p>de todas as partes do mundo possa ser oferecida em devida ordem para a</p><p>consideração de nosso excelente imperador. Repito, você mesmo está</p><p>proibido de chorar, para que possa ouvir tantos peticionários que choram:</p><p>suas próprias lágrimas devem ser secas, a fim de que as lágrimas daqueles</p><p>que estão em perigo e desejam obter o amável perdão do bondoso coração</p><p>de César possam ser secas.</p><p>VII</p><p>1. Estas reflexões lhe servirão como remédios parciais para sua dor, mas se</p><p>você deseja esquecê-la completamente, lembre-se de César: pense com que</p><p>lealdade, com que indústria você está obrigado a exigir os favores que ele</p><p>lhe mostrou: verá então que você não pode mais afundar sob seu fardo do</p><p>que aquele de quem os mitos nos dizem, aquele cujos ombros sustentaram o</p><p>mundo.</p><p>2. Mesmo César, que pode fazer tudo, pode não fazer muitas coisas por esta</p><p>mesma razão: sua vigilância protege o sono de todos os homens, seu</p><p>trabalho garante seu lazer, seu trabalho garante seus prazeres, seu trabalho</p><p>preserva suas férias. No dia em que César dedicou seus serviços ao</p><p>universo, ele os perdeu para si mesmo, e, como os planetas que sempre</p><p>seguem seu curso de forma incansável, ele nunca pode parar ou atender a</p><p>qualquer caso seu.</p><p>3. De certa forma esta proibição é imposta a você também; você não pode</p><p>considerar seus próprios interesses, ou dedicar-se a seus próprios estudos:</p><p>enquanto César for dono do mundo, você não pode permitir nem alegria</p><p>nem tristeza, ou qualquer outra coisa ocupar qualquer parte de você: você</p><p>deve todo o seu ser a César.</p><p>4.</p><p>Acrescente a isto que, uma vez que você sempre declarou que César lhe é</p><p>mais caro que sua própria vida, você não tem o direito de reclamar de</p><p>infortúnio enquanto César estiver vivo: enquanto ele estiver seguro, todos</p><p>os seus amigos estão vivos, você não perdeu nada, seus olhos não só devem</p><p>estar secos, mas felizes. Nele está tudo, ele está no lugar de tudo o mais</p><p>para você: você não está suficientemente agradecido por seu atual estado</p><p>feliz se você se permitir chorar enquanto César estiver a salvo.</p><p>VIII</p><p>1. Vou agora apontar para você mais um remédio, de caráter mais</p><p>doméstico, embora não de caráter mais eficaz. Sua tristeza é mais temível</p><p>quando você se retirar para sua própria casa: enquanto sua divindade estiver</p><p>diante de seus olhos, ela não poderá encontrar nenhum meio de acesso a</p><p>você, mas César possuirá todo o seu ser; quando você tiver deixado sua</p><p>presença, o luto, como se então tivesse a oportunidade de atacar, cairá em</p><p>emboscada sobre você em sua solidão, e rastejará gradualmente sobre sua</p><p>mente enquanto descansa de seu trabalho.</p><p>2. Não deve, portanto, permitir que nenhum momento seja deixado</p><p>desocupado por perseguições literárias: em tais momentos, deixe que a</p><p>literatura lhe pague a dívida que seu longo e fiel amor lhe impôs, deixe que</p><p>ela o reclame para seu sumo sacerdote e adorador: em tais momentos, deixe</p><p>que Homero e Virgílio estejam muito em sua companhia9, esses poetas aos</p><p>quais a raça humana deve tanto quanto todos devem a você, e eles</p><p>especialmente, porque você os fez conhecer a um círculo mais amplo do</p><p>que aquele para o qual eles escreveram. Todo o tempo que você confiar à</p><p>guarda deles estará a salvo. Em tais momentos, na medida do possível,</p><p>compile um relato dos atos de seu César, para que possam ser lidos por</p><p>todas as idades futuras10 em um panegírico escrito por um de sua própria</p><p>casa: pois ele mesmo lhe dará tanto o mais nobre sujeito quanto o mais</p><p>nobre exemplo para montar e compor uma história.</p><p>3. Não ouso ir tão longe a ponto de aconselhá-lo a escrever em seu estilo</p><p>elegante habitual uma versão das fábulas de Esopo, uma obra que nenhum</p><p>intelecto romano tentou até agora. É difícil, sem dúvida, para uma mente</p><p>que recebeu um choque tão grosseiro, levar a si mesma tão rapidamente a</p><p>estas perseguições mais vivas: mas se ela é capaz de passar de estudos mais</p><p>sérios para estes mais leves, você deve considerá-la como uma prova de que</p><p>recuperou suas forças, e é ela mesma novamente.</p><p>4. No caso anterior, apesar de poder sofrer e se retrair, ainda assim será</p><p>levado pela seriedade do assunto em consideração a se interessar por ele:</p><p>mas, a menos que tenha se recuperado completamente, não suportará tratar</p><p>de assuntos que devem ser escritos com um espírito alegre. Portanto, é</p><p>preciso, primeiro, exercitar a mente sobre estudos sérios, e depois animá-la</p><p>com estudos mais aprazíveis.</p><p>IX</p><p>1. Também será de grande alívio para você se interrogar com frequência</p><p>assim: “sofro por minha causa ou por aquele que se foi? Se por minha</p><p>causa, morre a jactância da ternura e começa a dor, apenas desculpável</p><p>por ser honesta, mas, quando tem em vista a utilidade, degenerada do</p><p>justo; nada, porém, convém menos a um homem bom do que contabilizar a</p><p>morte do irmão.</p><p>2. Se sofro por causa dele, é preciso que uma ou outra destas considerações</p><p>dê a última palavra: se nenhum sentimento têm os mortos, meu irmão</p><p>livrou-se de todos os incômodos da vida, foi devolvido àquele lugar onde</p><p>estivera antes de nascer e, livre de todo mal, nada teme, nada deseja, nada</p><p>sofre: que loucura é essa, nunca deixar de sofrer por aquele que nunca</p><p>sofrerá?</p><p>3. Se os mortos têm algum sentimento, agora o espírito de meu irmão, como</p><p>que solto de uma longa prisão, enfim age por seu direito e arbítrio e usufrui</p><p>do espetáculo das coisas da natureza, olha de cima todas as humanas, as</p><p>divinas, de fato, cuja razão tão longamente procurara sem resultados,</p><p>observa mais de perto. Assim, por que sou afligido pela falta daquele que</p><p>está feliz ou não existe? Lamentar alguém feliz é inveja, quem não existe,</p><p>loucura.”</p><p>4. Acaso lhe comove o fato de que parece ter-se privado de coisas enormes</p><p>e especialmente cercadas de boas? Quando achar que há muitas coisas que</p><p>perdeu, pense que são mais as que não teme. A ira não o torturará, a doença</p><p>não o afligirá, a suspeita não o perturbará, a inveja voraz e sempre inimiga</p><p>do sucesso alheio não o perseguirá, o medo não o molestará, a leviandade</p><p>da sorte transferindo rápido os seus dons não o inquietará…</p><p>5. Se bem considerar, mais foi afastado dele que tomado. Não usufruirá de</p><p>riquezas, não usufruirá conjuntamente de sua posição e da dele; não</p><p>receberá benefícios, não dará: você o considera infeliz porque perdeu essas</p><p>coisas ou feliz porque não as deseja? Acredita em mim, aquele para quem a</p><p>sorte é supérflua é mais feliz do que aquele por quem foi alcançada. Todos</p><p>os bens que nos deleitam lisonjeando, embora falsamente prazerosos — o</p><p>dinheiro, o cargo, o poder e muitos outros, diante dos quais a cobiça cega</p><p>do gênero humano se encanta —, são possuídos com esforço e vistos com</p><p>inveja; os mesmos a que abrilhantam, por fim, também oprimem; mais</p><p>ameaçam do que são úteis; são arriscados e incertos, nunca seguros por</p><p>inteiro: ainda que nada se tema quanto ao futuro, a própria guarda de uma</p><p>grande felicidade é sem sossego.</p><p>6. Se quiser crer nos que veem a verdade mais profundamente, toda a vida é</p><p>um suplício; lançados nesse mar profundo e inquieto, com marés alternadas</p><p>que vêm e vão , ora erguendo-nos com progressos súbitos, ora destruindo-</p><p>nos com maiores danos e frequentemente chacoalhando, nunca paramos</p><p>num lugar estável: ficamos hesitantes e flutuamos, somos atirados uns</p><p>contra os outros, às vezes naufragamos, sempre tememos.</p><p>7. Nesse mar tão tempestuoso e exposto a todo clima, nenhum porto a não</p><p>ser a morte têm os navegantes. Assim, não inveje seu irmão: descanse.</p><p>Finalmente livre, finalmente, seguro, finalmente eterno.</p><p>8. Tem César, todos os filhos dele e a você sãos e salvos, além dos irmãos</p><p>comuns; antes que a sorte mudasse algo com respeito às suas graças,</p><p>deixou-a ainda de pé e empilhando dons com mão cheia. Usufrui agora de</p><p>um céu aberto e livre: elevou-se de um lugar humilde e humilde para</p><p>aquele, qualquer que seja ele, que recebe no seio ditoso as almas soltas das</p><p>amarras, e agora vaga ali livremente e enxerga todos os bens da natureza</p><p>das coisas com o maior prazer. Não: seu irmão não perdeu a luz, mas obteve</p><p>por sorte uma mais pura! Todos nós temos um caminho comum a esse.</p><p>9. Por que choramos o destino? Ele não nos deixou, mas antecedeu. É,</p><p>acredite em mim, grande a felicidade de morrer em meio à própria</p><p>felicidade. Nada há de certo sequer um dia inteiro. Quem pode dizer se a</p><p>morte veio a seu irmão por malícia ou por bondade?</p><p>X</p><p>1. Aquele que é tão justo em todas as coisas quanto você, deve encontrar</p><p>conforto no pensamento de que nenhum mal lhe foi feito pela perda de um</p><p>irmão tão nobre, mas que você recebeu um benefício por ter tido permissão</p><p>por tanto tempo para usufruir de seu afeto. 2. Aquele que não permite que</p><p>seu benfeitor escolha sua própria maneira de lhe dar um presente, é injusto:</p><p>aquele que não considera o que recebe como ganho, e ainda assim considera</p><p>o que devolve como perda, é ganancioso: aquele que diz que foi injustiçado,</p><p>porque seu prazer chegou ao fim, é ingrato: aquele que pensa que não</p><p>ganhamos nada com coisas boas além do prazer presente delas, é um tolo,</p><p>porque não encontra prazer em alegrias passadas, e não considera as que se</p><p>foram como seus bens mais certos, já que não precisa temer que elas</p><p>cheguem ao fim.</p><p>3. Um homem limita seus prazeres de forma muito restrita se acredita que</p><p>só gosta daquelas coisas que toca e vê, se conta que as desfrutou por nada:</p><p>pois todo prazer rapidamente nos deixa, vendo que ele flui para longe, flui</p><p>através de nossas vidas, e desaparece quase antes de ter chegado. Devemos,</p><p>portanto, fazer nossa mente viajar de volta no tempo passado, trazer de</p><p>volta o que um dia tivemos prazer, e frequentemente refletir sobre isso em</p><p>nossos pensamentos: a</p><p>lembrança dos prazeres é mais verdadeira e mais</p><p>digna de confiança do que sua realidade.</p><p>4. Considerem, então, entre suas maiores bênçãos, que você teve um</p><p>excelente irmão: você não precisa pensar por quanto tempo mais você</p><p>poderia tê-lo, mas por quanto tempo você o teve. A natureza o deu a você,</p><p>assim como dá outros a outros irmãos, não como uma propriedade absoluta,</p><p>mas como um empréstimo: depois, quando achou oportuno, o acolheu de</p><p>volta e seguiu suas próprias regras de ação, em vez de esperar até que você</p><p>tivesse entregado seu amor à saciedade.</p><p>5. Se alguém fosse ficar indignado por ter que pagar um empréstimo</p><p>em dinheiro, especialmente se lhe tivesse sido permitido usá-lo sem ter</p><p>que pagar nenhum juro, não seria considerado um homem irracional?</p><p>A Natureza deu sua vida a seu irmão, assim como ela lhe deu a sua:</p><p>exercendo seus legítimos direitos, ela escolheu pedir a um de vocês que</p><p>pagasse seu empréstimo antes do outro: ela não pode ser censurada por</p><p>isso, pois vocês sabiam as condições em que o receberam: vocês devem</p><p>censurar as esperanças gananciosas das mentes dos homens mortais, que de</p><p>vez em quando esquecem o que a Natureza é, e nunca se lembram de seu</p><p>próprio destino, a menos que sejam lembrados disso.</p><p>6. Alegre-se, então, por ter tido um irmão tão bom, e seja grato por ter tido</p><p>o uso e o prazer dele, embora tenha sido por um tempo mais curto do que</p><p>você desejava. Reflita que o que você teve dele foi muito agradável, que o</p><p>fato de tê-lo perdido é um fato comum à humanidade. Não há nada mais</p><p>incoerente do que um homem lamentar que um irmão tão bom não tenha</p><p>estado com ele o tempo suficiente, e não se regozijar que, mesmo assim, ele</p><p>tenha estado com ele.</p><p>XI</p><p>1. “Mas”, você diz, “ele foi levado inesperadamente”. Cada homem é</p><p>enganado por sua própria vontade de acreditar no que deseja, e opta por</p><p>esquecer que aqueles que ama são mortais: no entanto, a natureza nos dá</p><p>provas claras de que não suspenderá suas leis em favor de ninguém:</p><p>2. As procissões fúnebres de nossos amigos e de estranhos passam</p><p>diariamente diante de nossos olhos, mas não nos damos conta delas, e</p><p>quando acontece um evento que toda nossa vida nos adverte que um dia</p><p>acontecerá, chamamos isso de repentino. Isto não é, portanto, a injustiça do</p><p>destino, mas a perversidade e a insaciável avareza universal da mente</p><p>humana, que se indigna por ter que deixar um lugar para o qual só foi</p><p>admitido em sofrimento.</p><p>3. Quão mais justo era aquele que, ao ouvir a morte de seu filho, fez um</p><p>discurso digno de um grande homem, dizendo: “Quando eu o gerei, sabia</p><p>que ele iria morrer um dia”. De fato, você não precisa se surpreender com a</p><p>possibilidade do filho de tal homem morrer corajosamente. Ele não recebeu</p><p>como novidade a notícia da morte de seu filho: o que há de novo na morte</p><p>de um homem, quando toda sua vida é apenas uma viagem rumo à morte?</p><p>“Quando eu o gerei, eu sabia que um dia ele morreria”, disse ele: e então</p><p>acrescentou, o que mostrou ainda mais sabedoria e coragem: “Foi para isso</p><p>que eu o criei”.</p><p>4. Foi por isto que todos nós fomos educados: todos que são trazidos à vida</p><p>têm a meta de morrer. Aproveitemos o que nos é dado, e devolvamo-lo</p><p>quando for pedido: o destino impõe suas mãos sobre alguns homens em</p><p>alguns momentos, e sobre outros homens em outros momentos, mas eles</p><p>nunca passarão por nenhum deles por completo. Nossa mente deve estar</p><p>sempre em alerta, e embora nunca deva temer o que é certo acontecer, deve</p><p>estar sempre pronta para o que pode acontecer a qualquer momento. Por</p><p>que preciso falar-lhes dos generais e dos filhos dos generais, dos homens</p><p>enobrecidos por muitos consulados e triunfos, que sucumbiram a um</p><p>destino impiedoso? Reinos inteiros junto com seus reis, nações inteiras com</p><p>todas as tribos que as compõem, todos se submeteram à sua desgraça.</p><p>5. Todos os homens, não, todas as coisas anseiam pelo fim de seus dias: no</p><p>entanto, nem todos chegam ao mesmo fim: um homem perde sua vida no</p><p>meio de sua carreira, outro no início dela, outro parece pouco capaz de se</p><p>libertar dela quando desgastado com uma idade avançada, e ansioso por ser</p><p>libertado: vamos todos para o mesmo lugar, mas vamos todos para lá em</p><p>momentos diferentes. Não sei se é mais insensato não conhecer a lei da</p><p>mortalidade, ou mais presunçoso recusar-se a obedecê-la. Venha, tome em</p><p>suas mãos os poemas do seu agrado daqueles dois autores sobre os quais</p><p>seu gênio gastou tanto trabalho11, que você parafraseou tão bem, que</p><p>embora a estrutura do verso seja removida, seu encanto é preservado; pois</p><p>você os transferiu de uma língua para outra tão bem como para efetuar a</p><p>questão mais difícil de todas, a de fazer reaparecer todas as belezas do</p><p>original em um discurso estrangeiro: entre suas obras, você não encontrará</p><p>nenhum volume que não lhe ofereça inúmeros exemplos das vicissitudes da</p><p>vida humana, da incerteza dos acontecimentos, e das lágrimas derramadas</p><p>por vários motivos.</p><p>5. Leia com que fogo você trovejou suas frases incandescentes: você se</p><p>envergonhará de falhar de repente e ficar aquém da elevação de sua</p><p>magnífica linguagem. Não cometa a falha de fazer com que cada um, que</p><p>de acordo com sua capacidade admira seus escritos, se pergunte como uma</p><p>alma tão frágil pode ter formado ideias tão resistentes e bem relacionadas.</p><p>XII</p><p>1. Afaste-se desses pensamentos que o atormentam, e olhe mais para essas</p><p>numerosas e poderosas fontes de consolo que você possui: olhe para seus</p><p>excelentes irmãos, olhe para sua esposa e seu filho. É para garantir a</p><p>segurança de todos estes que a Fortuna o atingiu neste lugar: você ainda tem</p><p>muitos em quem você pode se consolar.</p><p>2. Proteja-se da vergonha de deixar que todos os homens pensem que um</p><p>único pesar tem mais poder sobre você do que estas muitas consolações.</p><p>Você vê todos eles lançados no mesmo desânimo que você, e sabe que eles</p><p>não podem ajudá-lo, não, que por outro lado eles olham para você a fim de</p><p>encorajar a si mesmos: portanto, quanto menos instrução e quanto menos</p><p>intelecto eles possuem, mais vigorosamente você deve resistir ao mal que</p><p>caiu sobre todos vocês. O próprio fato de a dor de alguém ser compartilhada</p><p>por muitas pessoas serve de consolo, porque se ela for distribuída entre um</p><p>número assim, a parte que recai sobre você deve ser pequena. Nunca</p><p>deixarei de recordar seus pensamentos a César.</p><p>3. Enquanto ele governa a terra, e mostra quão melhor um império pode ser</p><p>mantido por bondade do que por armas, enquanto ele preside os assuntos da</p><p>humanidade, não há perigo de que você sinta que perdeu alguma coisa: só</p><p>neste fato você encontrará ampla ajuda e amplo consolo; levante-se, e fixe</p><p>seus olhos em César sempre que as lágrimas se aproximarem deles; eles</p><p>ficarão secos ao contemplar aquela luz maior e mais brilhante; seu</p><p>esplendor os atrairá e os prenderá firmemente a si mesmo, de modo que eles</p><p>não possam ver mais nada.</p><p>4. Aquele a quem você vê tanto de dia como de noite, de quem sua mente</p><p>nunca se desvia para assuntos mais importantes, deve ocupar seus</p><p>pensamentos e ser sua defesa contra a Fortuna; de fato, tão bondoso e</p><p>gracioso como é para com todos os seus seguidores que já colocou muitos</p><p>bálsamos curativos sobre esta sua ferida, e lhe forneceu muitos antídotos</p><p>para sua tristeza. Por que, mesmo se ele não tivesse feito nada disso, não é a</p><p>mera visão e o pensamento de César em si o seu maior consolo?</p><p>5. Que os deuses e deusas o preservem por muito tempo na terra: que ele</p><p>rivalize com os feitos do imperador Augusto, e o ultrapasse em longos dias!</p><p>Enquanto ele permanecer entre os mortais, que nunca seja lembrado de que</p><p>qualquer de sua casa é mortal: que ele treine seu filho por um longo e fiel</p><p>serviço para ser o governante do povo romano, e o veja compartilhar o</p><p>poder de seu pai antes que ele o suceda: que o dia em que sua parentela o</p><p>reivindique para o céu seja muito distante, e que só nossos netos estejam</p><p>vivos para ver isso.</p><p>XIII</p><p>1. Fortuna, afaste-se dele e mostre seu poder sobre ele apenas fazendo-lhe</p><p>bem: deixe-o curar a longa doença de que a humanidade foi vítima;</p><p>substitua e restaure tudo o que foi</p><p>despedaçado pelo frenesi de nosso</p><p>falecido soberano: que esta estrela, que derramou seus raios sobre um</p><p>mundo derrubado e lançado na escuridão, brilhe sempre de forma brilhante.</p><p>2. Que ele possa dar paz à Germânia, abrir a Grã-Bretanha para nós, e</p><p>conduzir através da cidade triunfos, tanto sobre as nações que seus pais</p><p>conquistaram, como sobre as novas. Destes, sua clemência, a primeira de</p><p>suas muitas virtudes, me dá esperanças de ser um espectador: pois ele não</p><p>me derrubou de tal forma que nunca mais me levantará; não, ele não me</p><p>derrubou de forma alguma; ao contrário, ele me apoiou quando eu fui</p><p>atingido pela má sorte e estava cambaleando, e usou gentilmente sua mão</p><p>divina para frear minha queda de cabeça: ele suplicou ao Senado em meu</p><p>favor12, e não apenas me deu minha vida, mas até mesmo a implorou por</p><p>mim.</p><p>3. Ele cuidará de minha causa: que ele julgue minha causa como ele</p><p>desejaria; que sua justiça a pronuncie bem ou que sua clemência a</p><p>contemple: sua bondade para comigo será igual em ambos os casos, quer</p><p>ele saiba que eu sou inocente ou escolha que eu deva ser considerado como</p><p>tal. Entretanto, é para mim um grande conforto para minhas próprias</p><p>misérias ver seus perdões viajando pelo mundo: mesmo do canto em que</p><p>estou confinado, sua misericórdia foi desenterrada e restaurada para</p><p>iluminar muitos exilados que haviam sido enterrados e esquecidos aqui por</p><p>longos anos, e não tenho medo de que eu sozinho seja ignorado por ela. Ele</p><p>sabe melhor o momento em que deve mostrar favor a cada homem: Vou me</p><p>esforçar ao máximo para evitar que ele tenha que se corar quando ele vier</p><p>até mim.</p><p>4. Ó quão abençoada é sua clemência, César, que faz os exilados viverem</p><p>mais pacificamente durante seu reinado do que os príncipes viveram no</p><p>reinado de Caio13! Não trememos nem esperamos o golpe fatal a cada hora,</p><p>nem ficamos aterrorizados sempre que um navio se aproxima: o senhor</p><p>estabeleceu limites para a crueldade da Fortuna para conosco, e nos deu a</p><p>paz presente e as esperanças de um futuro mais feliz. Você pode realmente</p><p>ter certeza de que somente os relâmpagos são adorados até mesmo por</p><p>aqueles que são atingidos por eles.</p><p>XIV</p><p>1. Assim, este príncipe, que é o consolador universal de todos os homens, a</p><p>menos que eu esteja totalmente equivocado, já reanimou seu espírito e</p><p>aplicou remédios mais poderosos a uma ferida tão grave do que eu posso:</p><p>ele já o fortaleceu em todos os sentidos: sua memória excepcionalmente</p><p>poderosa já lhe forneceu todos os exemplos que produzirão tranquilidade:</p><p>sua eloquência praticada já mostrou diante de você todos os preceitos dos</p><p>sábios.</p><p>2. Ninguém, portanto, poderia consolá-lo tão bem quanto ele: quando ele</p><p>fala suas palavras têm maior peso, como se fossem palavras de um oráculo:</p><p>sua autoridade divina esmagará toda a força de sua dor. Pense, então, que</p><p>ele lhe fala da seguinte maneira: “A sorte não o escolheu como o único</p><p>homem no mundo a receber um golpe tão severo: não há casa em toda a</p><p>terra, e nunca houve uma, que não tenha algo por que lamentar”: Vou passar</p><p>por cima de exemplos retirados do plantel comum, que, embora sejam</p><p>menos importantes, também são em número infinito, e direcionarei sua</p><p>atenção para os fastos e anais públicos.</p><p>3. Você vê todas essas imagens que enchem o átrio dos Césares14? Não há</p><p>um desses homens que não tenha sido especialmente afligido por dores</p><p>domésticas: nenhum desses homens que brilham ali como o ornamento dos</p><p>tempos não foi torturado pela dor por alguns de sua família ou mais</p><p>amargamente lamentado por aqueles que ele deixou para trás.</p><p>4. Por que preciso lembrá-lo de Cipião Africano15, que ouviu a notícia da</p><p>morte de seu irmão quando ele mesmo estava no exílio? Aquele que salvou</p><p>seu irmão da prisão não pôde salvá-lo de seu destino. No entanto, todos os</p><p>homens viram como o afeto fraterno de Cipião Africano era de igual valor:</p><p>no mesmo dia em que Cipião Africano resgatou seu irmão das mãos do</p><p>aparidor16, ele, embora não ocupando nenhum cargo, protestou contra a</p><p>ação do tribunal do povo. Ele velou por seu irmão tão magnanimamente</p><p>quanto o havia defendido.</p><p>5. Por que preciso lembrá-lo de Cipião Emiliano17, que quase ao mesmo</p><p>tempo viu o triunfo de seu pai e o funeral de seus dois irmãos18? Ainda</p><p>assim, apesar de ser um rapaz e pouco mais do que um menino, ele</p><p>suportou o luto repentino que se abateu sobre sua família no momento do</p><p>triunfo de Paulo19 com toda a coragem que teve aquele que nasceu para que</p><p>Roma não ficasse sem um Cipião e para que ela não ficasse sem uma</p><p>Cartago.</p><p>XV</p><p>1. Por que eu deveria falar da intimidade dos dois Luculos, que foi quebrada</p><p>somente pela morte deles? Ou dos Pompeus? A quem a crueldade da</p><p>Fortuna não permitiu sequer perecer pela mesma catástrofe; pois Sexto</p><p>Pompeu20, em primeiro lugar, sobreviveu a sua irmã, por cuja morte foi</p><p>rompido o laço firme de paz no império romano, e sobreviveu também a</p><p>seu nobre irmão, a quem a Fortuna elevou tão alto a fim de que ela o</p><p>pudesse lançar de uma altura tão grande como ela já havia lançado abaixo</p><p>seu pai; no entanto, após esta grande desgraça, Sexto Pompeu foi capaz não</p><p>só de suportar sua dor, mas até mesmo de fazer guerra.</p><p>2. Inúmeros casos me ocorrem de irmãos que foram separados pela morte:</p><p>de fato, por outro lado, vemos muito poucos pares de irmãos envelhecendo</p><p>juntos: no entanto, vou me contentar com exemplos de minha própria</p><p>família. Ninguém pode ser tão desprovido de sentimento ou de razão a</p><p>ponto de reclamar que a Fortuna o jogou de luto quando fica sabendo que</p><p>ela própria desejou as lágrimas dos Césares.</p><p>3. O imperador Augusto perdeu sua querida irmã Octávia21, e embora a</p><p>natureza a destinasse ao céu, ela não relaxou suas leis para poupá-lo do luto</p><p>enquanto estava na terra: não, ele sofreu todo tipo de luto, perdendo o filho</p><p>de sua irmã22, que se destinava a ser seu herdeiro. Em suma, para não</p><p>mencionar suas tristezas em detalhes, ele perdeu seu genro, seus filhos e</p><p>seus netos e, enquanto ele permaneceu entre os homens, nenhum homem foi</p><p>mais frequentemente relembrado ser mortal. No entanto, sua alma, que era</p><p>capaz de suportar todas as coisas, suportou todas essas pesadas tristezas, e o</p><p>abençoado Augusto foi o conquistador, não apenas de nações estrangeiras,</p><p>mas também de suas próprias tristezas.</p><p>4. Gaio César, neto do abençoado Augusto, meu tio-avô materno, nos</p><p>primeiros anos de virilidade, quando Príncipe da Juventude Romana23,</p><p>enquanto se preparava para a guerra do Império Parta, perdeu seu querido</p><p>irmão Lúcio24, que também era Príncipe da Juventude, e sofreu mais com</p><p>isso em sua mente do que depois em seu corpo, embora suportasse as</p><p>aflições com a maior piedade e fortaleza.</p><p>5. Tibério César, meu tio paterno, perdeu seu irmão mais novo Druso</p><p>Germânico25, meu pai, quando ele estava desbravando a mais profunda face</p><p>da Germânia, e trazendo as tribos mais ferozes sob o domínio do império</p><p>romano; ele o abraçou e recebeu seu último beijo, mas, mesmo assim, ele</p><p>não só reprimiu sua própria dor, mas a dos outros, e quando todo o exército,</p><p>não apenas triste, mas de coração partido, reclamou o cadáver de seu Druso</p><p>para si mesmo, ele os fez lamentar apenas quando se tornou apropriado para</p><p>os romanos lamentarem-se, e os ensinou que eles devem observar a</p><p>disciplina militar não apenas na luta, mas também no luto. Ele não poderia</p><p>ter controlado as lágrimas dos outros se não tivesse primeiro reprimido as</p><p>suas próprias.</p><p>XVI</p><p>1. Marco Antônio26, meu avô, que não ficou atrás de ninguém senão de seu</p><p>conquistador, recebeu a notícia da execução de seu irmão no exato</p><p>momento em que o Estado estava à sua disposição, e quando, como</p><p>membro do triunvirato, não via ninguém no mundo superior a si mesmo no</p><p>poder, não, quando, com exceção de seus dois colegas, todos os homens</p><p>estavam subordinados a ele próprio.</p><p>2. Ó Fortuna arbitrária, que esporte você faz para si mesmo a partir das</p><p>dores humanas! Na mesma época em que Marco Antônio foi entronizado</p><p>com o poder de vida e morte sobre seus compatriotas, o irmão de Marco</p><p>Antônio estava sendo levado à morte: no entanto Antônio suportou esta</p><p>ferida cruel</p><p>com a mesma grandeza de espírito com a qual havia suportado</p><p>todas as outras cruzes; e chorou por seu irmão oferecendo o sangue de vinte</p><p>legiões a suas hostes.</p><p>3. Entretanto, para passar por todas as outras instâncias, para não falar das</p><p>outras mortes que ocorreram em minha própria casa, a Fortuna me assaltou</p><p>duas vezes pela morte de um irmão; ela aprendeu duas vezes que poderia</p><p>me ferir, mas não poderia me derrubar. Perdi meu irmão Germânico, que eu</p><p>amava de uma maneira que qualquer um entenderá se ele pensar o quanto</p><p>os irmãos carinhosos se amam; no entanto, contive minha paixão de luto a</p><p>ponto de não deixar de lado nada que um bom irmão pudesse ser chamado a</p><p>fazer, nem ainda fazer algo que um soberano pudesse ser culpado por fazer.</p><p>4. Pense, então, que nosso pai comum lhe cita estas instâncias, e que ele lhe</p><p>aponta como nada é respeitado ou considerado inviolável pela Fortuna, que</p><p>na verdade ousa enviar procissões fúnebres da própria casa em que ela terá</p><p>que procurar deuses: que ninguém se surpreenda por ela cometer qualquer</p><p>ato de crueldade ou injustiça; pois como ela poderia mostrar qualquer</p><p>humanidade ou moderação em suas relações com famílias particulares,</p><p>quando sua fúria impiedosa tem tantas vezes enforcado o próprio</p><p>pulvinar27?</p><p>5. Ela não mudará seus hábitos apesar de censurada, não apenas pela minha</p><p>voz, mas pela voz de toda a nação: ela manterá seu rumo apesar de todas as</p><p>orações e reclamações. Sempre foi assim a Fortuna, e assim ela estará</p><p>sempre em conexão com os assuntos humanos: nunca se abstém de atacar</p><p>qualquer coisa, e nunca deixa nada em paz: ela se enfurece em toda parte</p><p>terrivelmente, como sempre ousou fazer: ousará entrar para fins malignos</p><p>naquelas casas cuja entrada se encontra através dos templos dos deuses, e</p><p>pendurará sinais de luto em portas de louros.</p><p>6. No entanto, se ela ainda não tiver determinado destruir a raça humana: se</p><p>ela ainda olhar com favor para a nação romana, que nossas orações públicas</p><p>e privadas prevaleçam sobre ela para considerar sagrado de sua violência</p><p>este príncipe, que todos os homens consideram sagrado, que lhes foi</p><p>concedido por Deus para lhes dar descanso depois de seus infortúnios: que</p><p>ela aprenda com ele a clemência, e que o mais brando de todos os soberanos</p><p>lhe ensine a brandura.</p><p>XVII</p><p>1. Você deve, portanto, fixar seus olhos em todas as pessoas que acabo de</p><p>mencionar, que ou foram deificadas ou eram quase parentes daqueles que</p><p>foram deificados, e quando a Fortuna coloca suas mãos sobre você suporte</p><p>calmamente, vendo que ela não respeita nem mesmo aqueles por cujos</p><p>nomes nós juramos. É seu dever imitar a constância deles em perseverar e</p><p>triunfar sobre o sofrimento, na medida em que é permitido a um simples</p><p>homem seguir os passos dos imortais.</p><p>2. Embora em todos os outros assuntos o posto e o nascimento façam</p><p>grandes distinções entre os homens, a virtude está aberta a todos; ela não</p><p>despreza ninguém desde que ele se julgue digno de possuí-la. Certamente</p><p>não se pode fazer melhor do que seguir o exemplo daqueles que, embora</p><p>possam ter ficado zangados por não estarem isentos deste mal, decidiram,</p><p>no entanto, considerar isto como a única coisa que os leva ao nível de</p><p>outros homens, não como um mal feito a si mesmos, mas como a lei de</p><p>nossa natureza mortal, e suportar o que lhes sucede sem amargura e ira</p><p>indevidas, e ainda assim sem amargura ou espírito covarde: pois não é</p><p>humano não sentir nossas tristezas, e ao mesmo tempo não é humano não</p><p>suportá-las.</p><p>3. Quando olho através do rol de todos os Césares que o destino enlutou de</p><p>irmãs ou irmãos, não posso passar por cima daquele que é indigno de</p><p>figurar na lista dos Césares, a quem a Natureza produziu para ser a ruína e a</p><p>vergonha da raça humana, que destruiu completamente e destruiu o estado</p><p>que agora se recupera sob o governo gentil do mais benigno dos príncipes.</p><p>4. Ao perder sua irmã Drusila28, Caio César29, um homem que não podia</p><p>lamentar nem se regozijar como deveria um príncipe, absteve-se de ver e</p><p>falar com seus compatriotas, não esteve presente no funeral de sua irmã,</p><p>não lhe prestou o tributo convencional de respeito, mas tentou esquecer as</p><p>tristezas causadas por esta morte mais angustiante, jogando dados em sua</p><p>vila albanesa, e sentando-se no assento do juiz, e os compromissos usuais</p><p>similares. Que vergonha para o Império! um imperador romano se consolou</p><p>apostando por sua tristeza pela perda de sua irmã!</p><p>5. Este mesmo Gaio, com leviandade frenética, em um momento deixou</p><p>crescer sua barba e seus cabelos, em outro vagou sem rumo ao longo da</p><p>costa da Itália e da Sicília. Ele nunca se decidiu claramente se desejava que</p><p>sua irmã fosse enlutada ou adorada, e durante todo o tempo em que ele</p><p>erguia templos e santuários em sua honra punia aqueles que não</p><p>manifestavam tristeza suficiente com as torturas mais cruéis30: pois sua</p><p>mente era tão desequilibrada a ponto de cair na depressão tanto quanto ficar</p><p>eufórico e exultante com o sucesso.</p><p>6. Longe de todo romano seguir tal exemplo, seja para desviar sua mente de</p><p>sua dor por diversões despropositadas, seja para estimulá-la por uma</p><p>indecorosa sordidez e negligência, seja para ser tão desumano a ponto de</p><p>consolar a si mesmo por ter prazer no sofrimento dos outros.</p><p>XVIII</p><p>1. Você, entretanto, não precisa mudar nenhum de seus hábitos comuns,</p><p>uma vez que você se ensinou a amar aqueles estudos que, embora estejam</p><p>em posição preeminente para aperfeiçoar nossa felicidade, ao mesmo tempo</p><p>nos ensinam como podemos suportar o infortúnio de forma mais leve, e que</p><p>são ao mesmo tempo a maior honra e o maior conforto de um homem.</p><p>2. Agora, portanto, mergulhe ainda mais profundamente em seus estudos,</p><p>cerque agora sua mente com eles como fortificações, para que a dor não</p><p>encontre nenhum lugar em que possa ganhar entrada. Ao mesmo tempo,</p><p>prolongue a lembrança de seu irmão inserindo algumas memórias dele entre</p><p>seus outros escritos: pois esse é o único tipo de monumento que pode ser</p><p>erguido pelo homem que nenhuma tempestade pode ferir, nenhum tempo</p><p>destruir. Os outros, que consistem em pilhas de pedra, massas de mármore,</p><p>ou enormes montes de terra amontoados ao alto, não podem preservar sua</p><p>memória por muito tempo, porque eles mesmos perecem; mas os memoriais</p><p>que o gênio arquiteta são eternos. Esbanje estes sobre seu irmão,</p><p>embalsame-o neles: você fará melhor para imortalizá-lo por um trabalho</p><p>eterno de genialidade do que chorar por ele com uma dor inútil.</p><p>3. Quanto à própria Fortuna, embora eu não possa agora mesmo pleitear sua</p><p>causa diante de você, porque tudo o que ela nos deu agora é odioso para</p><p>você, porque ela lhe tirou algo, ainda assim eu pleitearei sua causa assim</p><p>que o tempo lhe tiver tornado um juiz mais imparcial de sua atuação:</p><p>4. De fato, ela concedeu muito a você para reparar o dano que lhe fez, e</p><p>dará mais no futuro por meio de expiação: e, afinal, foi ela mesma quem lhe</p><p>deu este irmão que lhe retirou. Tolere, então, a exibição de suas habilidades</p><p>contra si mesmo, ou a participação com sua dor contra si mesmo: sua</p><p>eloquência, pode, sem dúvida, fazer com que as ninharias pareçam grandes,</p><p>e, inversamente, pode desacreditar e depreciar grandes coisas até que elas</p><p>pareçam as mais insignificantes ninharias; mas deixe que ela reserve esses</p><p>poderes e os use em algum outro assunto, e, no momento presente, dedique</p><p>toda sua força à tarefa de consolá-lo.</p><p>5. No entanto, veja se mesmo esta tarefa não será desnecessária. A natureza</p><p>exige de nós uma certa quantidade de tristeza, nossa imaginação acrescenta-</p><p>lhe mais alguma coisa; mas eu jamais proibirei você de chorar em absoluto.</p><p>Eu sei, de fato, que há alguns homens, cuja inteligência é mais áspera do</p><p>que brava, que dizem que o homem sábio nunca choraria.</p><p>6. Parece-me que eles nunca podem ter estado na posição de enlutados,</p><p>pois, caso contrário, sua desgraça teria sacudido toda sua filosofia arrogante</p><p>e, por muito que fosse contra a vontade deles, os teria forçado a confessar</p><p>seu pesar. A razão terá feito o suficiente se ela cortar de nosso pesar tudo o</p><p>que for supérfluo e inútil: quanto a ela não nos</p><p>permitir o luto, não devemos</p><p>esperar nem desejar.</p><p>7. Deixem-na conter-nos dentro dos limites de uma dor de luto reprimido,</p><p>que não participa nem da indiferença nem da loucura, e deixem-na manter</p><p>nossa alma naquela atitude que se torna afeição sem excitação: deixe suas</p><p>lágrimas fluírem, mas deixe-as um dia parar de fluir: lamente tão</p><p>profundamente quanto você quiser, mas deixe seus lamentos cessarem um</p><p>dia: regule sua conduta de modo que tanto filósofos quanto irmãos possam</p><p>aprová-la.</p><p>8. Sinta prazer em pensar frequentemente em seu irmão, fale</p><p>constantemente dele e mantenha-o sempre presente em sua memória; o que</p><p>você não pode conseguir fazer a menos que faça a lembrança dele agradável</p><p>e não triste: pois é natural que a mente se retraia de um assunto que ela não</p><p>pode contemplar sem tristeza. Pense em sua disposição para a vida em</p><p>retiro, em suas habilidades para os negócios, em sua diligência em realizá-</p><p>los, em sua lealdade à sua palavra. Conte a outros homens todos os seus</p><p>ditos e feitos, e lembre-se dele: pense como ele era bom e como você</p><p>esperava que ele se tornasse grande: pois que sucesso existe que você</p><p>poderia não ter apostado com segurança que tal irmão conquistaria?</p><p>9. Juntei estas reflexões da melhor maneira que pude, pois minha mente</p><p>está obscurecida e estupefata com o tédio do meu longo exílio: se, portanto,</p><p>você as achar indignas da consideração de uma pessoa de sua inteligência,</p><p>ou incapazes de consolá-lo em sua dor, lembre-se como é impossível para</p><p>alguém que está cheio de suas próprias mágoas encontrar tempo para se</p><p>dedicar às dos outros, e como é difícil se expressar na língua latina, quando</p><p>ao redor não se ouve nada além de uma gíria estrangeira grosseira, que até</p><p>mesmo bárbaros do tipo mais civilizado consideram com repugnância.</p><p>NOTAS</p><p>7 A primeira frase, “Quanto às cidades e aos prédios públicos de pedra”, não faz parte da tradução de</p><p>Stewart, tendo sido traduzida diretamente do latim “Urbes ac monumenta saxo structa, si vitae” em</p><p>trecho inserida posteriormente no códex por Gertz. (ver versão em latim)</p><p>8 César: ver introdução. Salvo exceções, que serão explicitadas, César refere-se ao imperador</p><p>Cláudio, que havia condenado Sêneca ao exílio, e estava sendo objeto de bajulação pelo filósofo.</p><p>9 Nota de Stewart: Políbio, de origem grega, tinha feito uma tradução em prosa de Homero, e uma</p><p>paráfrase em prosa de Virgílio. Os romanos tinham quatro versões de Homero (Fabric, tom. i. 1. ii.</p><p>cap. 3, p. 297), porém, apesar dos elogios de Sêneca, eles parecem ter tido mais sucesso na imitação</p><p>do que na tradução dos poetas gregos - “Declínio e Queda”, cap. 41, ad init., nota.</p><p>10 Segundo narrado por Suetônio (Vita Claudii 41-42), o imperador Cláudio se dedicou à</p><p>composição de obras históricas.</p><p>11 Ver nota anterior: Políbio, de origem grega, tinha feito uma tradução em prosa de Homero, e uma</p><p>paráfrase em prosa de Virgílio</p><p>12 Sêneca havia sido condenado a morte, e por influencia do imperador Cláudio teve a pena</p><p>comutada para o exílio. Escreve pedindo clemência, solicitando poder retornar a Roma.</p><p>13 Calígula.</p><p>14 “imagines” eram bustos dos ancestrais, reverencialmente mantidos no átrio das casas das famílias</p><p>romanas abastadas.</p><p>15 Públio Cornélio Cipião Africano (Publius Cornelius Scipio Africanus Maior), mais conhecido</p><p>apenas como Cipião Africano, foi um político da família dos Cipiões da gente Cornélia da República</p><p>Romana eleito cônsul por duas vezes, em 205 e 194 a.C. Um dos maiores generais romanos de toda a</p><p>história, derrotou Aníbal na Batalha de Zama, encerrando a Segunda Guerra Púnica.</p><p>16 Aparidor (em latim: apparitor), na Roma Antiga, foi um servente civil cujo salário era pago com</p><p>o tesouro público. Os aparidores, divididos em quatro classes (decúrias) tinham como função auxiliar</p><p>os magistrados. O mais alto dos aparidores eram os escribas, os escriturários ou notários públicos,</p><p>seguidos pelos lictores, viadores (mensageiros ou invocadores) e pregões (anunciadores ou arautos).</p><p>O termo, portanto, se refere a um oficial de justiça designado para servir as intimações e prender uma</p><p>pessoa acusada.</p><p>17 Públio Cornélio Cipião Emiliano Africano (185–129 a.C.; Publius Cornelius Scipio</p><p>Aemilianus), conhecido também como Cipião Africano Menor ou Cipião Emiliano. Arrasou Ca</p><p>rtago, em 146 a.C., e Numância, esta, após um cerco de um ano e três meses, do inverno de 134 a.C.</p><p>ao verão de 133 a.C.</p><p>18 Nota de Stewart: Ver também Sobre os Benefícios, V, 16</p><p>19 Lúcio Emílio Paulo Macedônico (m. 160 a.C.; em latim: Lucius Aemilius Paullus Macedonicus)</p><p>foi um político da gente Emília da República Romana eleito cônsul por duas vezes, em 182 e 168</p><p>a.C.</p><p>20 Sexto Pompeu Magno Pio (em latim: Sextus Pompeius Magnus Pius), ou simplesmente Sexto</p><p>Pompeu (67 a.C. - Mileto, 35 a.C.), foi um general romano do período final da República Romana,</p><p>que representou o último foco de oposição ao poder ascendente do segundo triunvirato. Sexto era o</p><p>filho mais novo do general Cneu Pompeu e da sua terceira mulher, Múcia Terceira.</p><p>21 Octávia Júlia Turino, dita a Jovem (Octavia Iulius Thurinus Minor 69 a.C. — 11 a.C. ou 10 a.C.),</p><p>foi uma patrícia romana, sobrinha-neta de Júlio César, irmã de Augusto e esposa de Marco Antônio.</p><p>22 Nota de Stewart: Marcellus. Veja os versos de Virgílio, Eneida VI., 869. Ver também Sêneca:</p><p>Consolação à Marcia, II.</p><p>23 Príncipe da juventude (em latim: Princeps iuventius) aparece nas fontes do Império Romano</p><p>com constitucional significância após a reforma da “juventude” (iuventūs), ou seja a idade militar,</p><p>pelo imperador Augusto (r. 27 a.C.–14 d.C.). Provavelmente em 5 e 2 a.C. respectivamente a ordem</p><p>equestre deu escudos e lanças de prata para os netos de Augusto, Caio César e Lúcio César, e louvou-</p><p>os como “príncipes da juventude” ou “primeiros entre os jovens”. A mesma honra foi dada</p><p>informalmente a Germânico e Druso, filhos de Tibério (r. 14–37); em 37 a Tibério Gêmelo, filho de</p><p>Druso; em 51 a Nero (r. 54–68); a Tito (r. 79–81); Domiciano (r. 81–96) e Cômodo (r. 180–192).</p><p>24 Lúcio Júlio César (17 a.C. — Marselha, 20 de agosto de 2), mais conhecido como Lúcio César,</p><p>foi o segundo filho de Lúcio Vipsânio Agripa e Júlia (filha de Augusto).</p><p>25 Nota de Stewart: Druso morreu por uma queda de seu cavalo, 9 d.C. “Um monumento foi erguido</p><p>em sua homenagem em Moguntiacum (Mayence), e jogos e espetáculos militares foram exibidos lá</p><p>no aniversário de sua morte. Um altar já havia sido erguido em sua homenagem às margens do</p><p>Lippe”. Tac. Ann. ii. 7. “Os soldados começaram agora a se considerar como um povo distinto, com</p><p>ritos e heróis próprios. Augusto exigia que eles entregassem o corpo de seu amado chefe como uma</p><p>questão de disciplina”. Merivale, cap. 36.</p><p>26 Marco Antônio (83–30 a.C.; em latim: Marcus Antonius ), conhecido também apenas como</p><p>Antônio, foi um político da gens Antônia da República Romana nomeado cônsul por três vezes, em</p><p>44, 34 e 31 a.C. com Júlio César, Lúcio Escribônio Libão e Otaviano respectivamente. Foi ainda</p><p>mestre da cavalaria do ditador em 48 e 47 a.C.. Antônio era aliado de César e serviu com ele durante</p><p>a conquista da Gália e na guerra civil contra Pompeu. Foi nomeado administrador da Itália enquanto</p><p>César consolidava seu poder na Grécia, África e Hispânia. Depois do assassinato de César, em 44</p><p>a.C., Antônio se juntou a Marco Emílio Lépido, outro grande general de César, e a Otaviano, que era</p><p>seu sobrinho e filho adotivo, formando uma ditadura de três homens conhecida como Segundo</p><p>Triunvirato. Os triúnviros travaram uma guerra contra os liberatores, como eram chamados os</p><p>assassinos de César, e os derrotaram na Batalha de Filipos (42 a.C.), dividindo o comando da</p><p>República entre si a partir daí. Antônio recebeu as províncias orientais, incluindo o reino cliente do</p><p>Egito, governado na época por Cleópatra VII Filópator, e o comando da guerra contra os partas.</p><p>27 Nota de Stewart: O pulvinar (plural pulvinaria) era um sofá especial usado para exibir imagens</p><p>dos deuses, para que eles pudessem receber ofertas em cerimônias como o lectisternium ou</p><p>supplicatio. No famoso</p><p>são necessárias.</p><p>No latim, o uso da segunda pessoa é natural para expressar a relação de</p><p>proximidade e familiaridade. Nas traduções em português geralmente usa-</p><p>se a segunda pessoa (tu). Contudo, no português atual, principalmente no</p><p>Brasil, o uso da terceira pessoa (você) me parece mais adequado à intenção</p><p>de Sêneca, que ensinava filosofia a um amigo. Assim, toda a tradução foi</p><p>feita em terceira pessoa.</p><p>https://archive.org/details/cu31924026554281/page/n11/mode/2up</p><p>https://www.amazon.com.br/Reading-Seneca-Stoic-Philosophy-Rome-ebook/dp/B0029F1T0O/ref=as_li_ss_tl?s=books&ie=UTF8&qid=1516878101&sr=1-1&keywords=Reading+Seneca:+Stoic+Philosophy+at+Rome&linkCode=ll1&tag=montecristo0f-20&linkId=4e3dd1b76e908d8480a556678d459596&language=en_US</p><p>https://www.amazon.com.br/Guide-Good-Life-Ancient-Stoic-ebook/dp/B0040JHNQG/ref=as_li_ss_tl?s=books&ie=UTF8&qid=1516878135&sr=1-1&keywords=A+Guide+to+the+Good+Life:+The+Ancient+Art+of+Stoic+Joy&linkCode=ll1&tag=montecristo0f-20&linkId=7dee040966fa7305cfaeb2b29fbe2992&language=en_US</p><p>https://www.amazon.com.br/Letters-Lucilius-Lucius-Annaeus-Seneca/dp/1536965537/ref=as_li_ss_tl?s=books&ie=UTF8&qid=1516878038&sr=1-23&linkCode=ll1&tag=montecristo0f-20&linkId=2cf0ae2ca3b6ba58da8857ca3b67908a&language=en_US</p><p>https://www.tufts.edu/</p><p>http://www.perseus.tufts.edu/hopper/text?doc=Perseus%3atext%3a2007.01.0018</p><p>O termo “fortuna/fortunae”, para o autor latino, se assemelha à nossa</p><p>“sorte” ou “destino”, mas era também uma divindade. O nome comum e o</p><p>nome próprio são dificilmente distinguíveis no texto, portanto, usei sempre</p><p>“Fortuna”.</p><p>Que este livro o sirva como amigo, professor e companheiro.</p><p>Espero que gostem tanto quanto eu,</p><p>Alexandre Pires Vieira</p><p>Viena, verão de 2020</p><p>NOTAS</p><p>1 Raij, Cleonice. 1999. A Filosofia da dor nas Consolações de Sêneca. Letras Clássicas, nº 3</p><p>(outubro), 11-21. hts://doi.org/10.11606/issn.2358-3150.v0i3p11-21.</p><p>2 Este texto não é de Sêneca, mas falsamente atribuído a ele na idade média, assim como suas</p><p>supostas cartas a Paulo de Tarso (São Paulo)</p><p>3 Aulo Cremúcio Cordo (falecido em 25 d.C.) foi um historiador romano. Há muito poucos</p><p>fragmentos restantes de sua obra, principalmente cobrindo a guerra civil e o reinado de Augusto. Em</p><p>25 d.C. ele foi obrigado por Sejano, que foi chefe dos pretorianos sob Tibério, a tirar sua vida depois</p><p>de ser acusado de traição.</p><p>https://doi.org/10.11606/issn.2358-3150.v0i3p11-21</p><p>Consolação a Márcia</p><p>I.</p><p>1. Se eu não soubesse, Márcia, que você tem tão pouco da fraqueza de uma</p><p>mulher quanto de seus outros vícios, e que sua vida é vista como um padrão</p><p>de virtude antiga, eu não deveria ter ousado combater sua dor, que é uma</p><p>dor que um grande número de homens amam e abraçam com carinho, nem</p><p>deveria ter concebido a esperança de persuadi-la a defender inocência da</p><p>Fortuna, tendo que advogar por ela em um momento tão desfavorável,</p><p>diante de um juiz tão parcial, e contra uma acusação tão odiosa2. No</p><p>entanto, eu tenho confiança na força comprovada de sua mente e em sua</p><p>virtude, o que foi comprovada por um duro teste.</p><p>2. Todos os homens sabem o quanto você se comportou bem com seu pai, a</p><p>quem amava tanto quanto seus filhos em todos os aspectos, exceto que você</p><p>não desejava que ele sobrevivesse a você: de fato, por tudo o que sei, você</p><p>pode ter desejado isso também: pois grandes empreendimentos de afeto</p><p>quebram algumas das regras de ouro da vida. Você fez tudo o que estava em</p><p>seu poder para evitar a morte de seu pai, Aulo Cremúcio Cordo3 4; mas</p><p>quando ficou claro que, cercado como estava pelos mirmidões5 de Sejano6,</p><p>não havia outra maneira de escapar da escravidão, você não aprovou de fato</p><p>a resolução dele, mas desistiu de todas as tentativas de se opor a ela;</p><p>derramou lágrimas abertamente e abafou seus soluços, mas não os filtrou</p><p>atrás de um rosto sorridente; e fez tudo isso na atual época, quando não ser</p><p>desprezível para com os pais é considerado o auge do afeto filial.</p><p>3. Quando as mudanças de nosso tempo lhe deram uma oportunidade, você</p><p>restaurou o uso do homem aquele gênio de seu pai pelo qual ele havia</p><p>sofrido, e o fez na verdade imortal, publicando como um eterno memorial</p><p>dele aqueles livros que o homem mais corajoso havia escrito com seu</p><p>próprio sangue. Você tem prestado um grande serviço à literatura romana:</p><p>uma grande parte dos livros de Cordo tinha sido queimada7; um grande</p><p>serviço à posteridade, que receberá um verdadeiro relato dos</p><p>acontecimentos, que custaram ao seu autor tão querido; e um grande serviço</p><p>a si mesmo, cuja memória floresce e sempre florescerá, desde que os</p><p>homens valorizem os fatos da história romana, desde que qualquer um viva</p><p>para rever os feitos de nossos pais, para saber como era um verdadeiro</p><p>romano – um que ainda permaneceu inconquistável quando todos os outros</p><p>pescoços foram quebrados para receber o jugo de Sejano, um que era livre</p><p>em cada pensamento, sentimento e ato.</p><p>4. Por Hércules, o estado teria sofrido uma grande perda se você não o</p><p>tivesse tirado do esquecimento ao qual suas duas esplêndidas qualidades,</p><p>eloquência e independência, o haviam consignado: agora ele é lido, é</p><p>popular, é recebido nas mãos e nos seios dos homens, e não teme a velhice8:</p><p>mas quanto àqueles que o massacraram, em breve os homens deixarão de</p><p>falar até mesmo de seus crimes, as únicas coisas pelas quais eles são</p><p>lembrados.</p><p>5. Esta grandeza de espírito em você me proibiu de levar em consideração</p><p>seu sexo ou seu rosto, ainda nublado pela tristeza pela qual, há tantos anos,</p><p>de repente ficou nublado. Veja; não farei nada dissimulado, nem tentarei</p><p>roubar suas mágoas: Eu lhe lembrei de velhas mágoas, e para provar que</p><p>sua ferida atual pode ser curada, eu lhe mostrei a cicatriz de uma que foi</p><p>igualmente severa. Que outros usem medidas suaves e carícias; decidi lutar</p><p>com sua dor, e vou secar esses olhos cansados e exaustos, que já, para dizer</p><p>a verdade, choram mais por hábito do que por tristeza. Farei esta cura, se</p><p>possível, com sua boa vontade: se você desaprovar meus esforços, ou não</p><p>gostar deles, então você deve continuar abraçando e acariciando a dor que</p><p>você adotou como sobrevivente de seu filho.</p><p>6. O que, pergunto-lhe, será o fim disto? Todos os meios foram tentados em</p><p>vão: os consolos de seus amigos, que estão cansados de oferecê-los, e a</p><p>influência de grandes homens que estão ligados a você: a literatura, um</p><p>gosto que seu pai apreciou e que você herdou dele, agora encontra seu</p><p>coração cerrado, e lhe dá apenas um consolo fútil, que dificilmente envolve</p><p>seus pensamentos por um momento. Mesmo o próprio tempo9, o maior</p><p>remédio da natureza, que acalma o sofrimento mais amargo, perde seu</p><p>poder somente com você.</p><p>7. Três anos já se passaram, e ainda assim sua dor não perdeu nenhuma de</p><p>sua primeira pungência, mas se renova e se fortalece dia após dia, e agora</p><p>ficou tanto tempo com você que adquiriu um domicílio em sua alma, e</p><p>chegou a tal ponto que considera vergonhoso cessar. Todos os vícios</p><p>penetram em todo o nosso ser, se não os esmagamos antes que eles ganhem</p><p>uma posição; e da mesma forma, estes sentimentos tristes, lamentáveis e</p><p>discordantes terminam alimentando-se de sua própria amargura, até que a</p><p>alma infeliz toma uma espécie de mórbido deleite no pesar.</p><p>8. Eu gostaria, portanto, de ter tentado efetuar esta cura nos estágios iniciais</p><p>da desordem, antes que sua força estivesse totalmente desenvolvida; ela</p><p>poderia ter sido controlada por remédios mais suaves, mas agora que foi</p><p>confirmada pelo tempo, ela não pode ser vencida sem uma dura luta. Da</p><p>mesma forma, as feridas curam facilmente quando o sangue está fresco</p><p>sobre elas: elas podem então ser limpas e trazidas à superfície, e admitir que</p><p>foram sondadas pelo dedo: quando a doença as transformou em úlceras</p><p>malignas, sua cura é mais difícil. Não posso agora influenciar uma dor</p><p>tão forte por medidas educadas e suaves: ela deve ser destruída pela</p><p>força.</p><p>II</p><p>1. Estou ciente de que todos os que desejam dar qualquer conselho</p><p>começam com preceitos e terminam com exemplos: mas às vezes é útil</p><p>alterar esta forma, pois devemos lidar de forma diferente com pessoas</p><p>lectisternium de 217 a.C., por ordem dos autores Sibyline, seis pulvinaria</p><p>foram arranjados, cada um para um par divino macho-fêmea. Por extensão, pulvinar também pode</p><p>significar o santuário ou plataforma que abriga vários desses sofás e suas imagens.</p><p>28 Júlia Drusila foi uma das filhas de Germânico com Agripina Maior e irmã do imperador romano</p><p>Calígula. Drusila era, segundo os relatos, a favorita de Calígula. Havia rumores já na época de que</p><p>ela seria também a sua amante e que assim ela teria conseguido tanta influência sobre o irmão. Ainda</p><p>que as atividades dos dois possam ter parecido incestuosas na época, não se sabe se os dois de fato</p><p>eram ou não amantes. A própria Drusila tinha uma má reputação por conta da relação próxima e</p><p>chegou a ser comparada a uma prostituta por acadêmicos posteriores, que tentavam desacreditar</p><p>Calígula.Drusila morreu em 10 de junho de 38, provavelmente de uma “febre” que grassava em</p><p>Roma na época. Diz-se que Calígula não saiu do seu lado e, depois que ela morreu, não deixou que</p><p>ninguém levasse o corpo. Ele enterrou Drusila com honras de augusta, se portou como um viúvo e</p><p>fez com o senado a deificasse como uma representação da deusa romana Vênus (a grega Afrodite).</p><p>Drusila foi também consagrada como “Panthea” (“deusa de tudo”).</p><p>29 Calígula.</p><p>30 Nota de Stewart: Merivale, seguindo Suetonius e Dion Cassius, diz: “Ele declarou que se algum</p><p>homem ousasse lamentar a morte de sua irmã, ele deveria ser punido, pois ela havia se tornado uma</p><p>deusa: se alguém se aventurasse a se alegrar com sua deificação, ele deveria ser punido também, pois</p><p>ela estava morta”. A passagem do texto, observa ele, dá um toque menos extravagante à história.</p><p>Carta LXIII: Sobre sofrimento por amigos</p><p>perdidos</p><p>Saudações de Sêneca a Lucílio.</p><p>1. Estou triste por saber que seu amigo Flaco está morto, mas eu não</p><p>recomendaria a você tristeza a mais do que é adequado. Que você não deva</p><p>chorar eu não ousarei insistir; ainda que saiba que é a melhor maneira. Mas</p><p>qual homem será tão abençoado com essa firmeza ideal da alma, a menos</p><p>que já tenha se elevado muito acima do alcance da Fortuna? Mesmo esse</p><p>homem será atingido por um evento como este, mas será apenas uma</p><p>picada. Nós, no entanto, podemos ser perdoados por nos rebentar em</p><p>lágrimas, se apenas as nossas lágrimas não tenham fluido em excesso, e se</p><p>as tivermos controladas por nossos próprios esforços. Não deixe que os</p><p>olhos fiquem secos quando perdemos um amigo, nem os deixemos</p><p>transbordar. Podemos chorar, mas não devemos lamuriar.</p><p>2. Você acha que a lei que eu estabeleço para você é dura, enquanto o maior</p><p>dos poetas gregos estendeu o privilégio de chorar a um só dia, nas linhas em</p><p>que ele nos diz que Níobe4 até mesmo pensou em comer? Você deseja saber</p><p>o motivo de lamentações e choro excessivo? É porque buscamos as provas</p><p>de nosso luto em nossas lágrimas, e não damos lugar à tristeza, mas</p><p>meramente ao seu desfilar. Nenhum homem entra em luto por seu melhor</p><p>interesse. Vergonha essa nossa insensatez inoportuna! Há um elemento de</p><p>egoísmo, mesmo em nossa tristeza.</p><p>3. “O quê”, você diz, “vou esquecer meu amigo?” É seguramente uma</p><p>lembrança de curta duração que você lhe concede, se é para durar apenas</p><p>enquanto seu pesar; dentro em pouco, sua sobrancelha será suavizada em</p><p>risadas por alguma circunstância, por mais casual que seja. É para um</p><p>tempo curto que eu coloco o calmante de cada tristeza, o abrandamento de</p><p>até mesmo o mais amargo sofrimento. Assim que você deixar de se vigiar, a</p><p>imagem de tristeza que você contemplou desaparecerá; no momento você</p><p>está vigiando seu próprio sofrimento. Mas mesmo enquanto vigia, ele</p><p>escapa de você, e quanto mais agudo ele é, mais rapidamente chega ao fim.</p><p>4. Vamos cuidar para que a lembrança daqueles que perdemos se torne</p><p>uma agradável lembrança para nós. Nenhum homem devolve com prazer</p><p>qualquer assunto que ele não seja capaz de refletir sem dor. Assim também</p><p>não pode deixar de ser que os nomes daqueles a quem amamos e perdemos</p><p>voltem para nós com uma espécie de picada; mas há um prazer mesmo</p><p>nesta picada.</p><p>5. Como disse meu amigo Átalo5: “A lembrança de amigos perdidos é</p><p>agradável, da mesma forma que certos frutos azedos têm um gosto</p><p>agradável, ou como em vinhos extremamente antigos em que o próprio</p><p>amargor nos agrada. Depois de um certo lapso de tempo, todo pensamento</p><p>que deu dor é extinguido, e o prazer nos vem sem mistura”.</p><p>6. Se considerarmos a palavra de Átalo, “pensar em amigos que estão vivos</p><p>e bem é como desfrutar de uma refeição de bolos e mel, a lembrança de</p><p>amigos que passaram dá um prazer que não é sem um toque de amargor, no</p><p>entanto, quem negará que até mesmo essas coisas, que são amargas e</p><p>contêm um elemento de acidez, servem para despertar o estômago? ”</p><p>7. Por minha parte, eu não concordo com ele. Para mim, o pensamento de</p><p>meus amigos mortos é doce e atraente. Porque eu os tive como se eu os</p><p>pudesse perder; eu perdi-os como se eu os ainda tivesse. Portanto, Lucílio,</p><p>aja como convém a sua própria serenidade de espírito, e deixe de colocar</p><p>uma interpretação errada sobre os presentes da Fortuna. A fortuna tirou,</p><p>mas a fortuna deu.</p><p>8. Vamos gozar intensamente a companhia dos nossos amigos, porque</p><p>não sabemos quanto tempo esse privilégio será nosso. Pensemos quantas</p><p>vezes os deixaremos quando nos colocamos em viagens distantes, e quantas</p><p>vezes não os veremos mesmo quando ficarmos juntos no mesmo lugar;</p><p>compreenderemos assim que perdemos muito do tempo deles enquanto</p><p>estavam vivos.</p><p>9. Mas irá tolerar homens que são os mais descuidados com seus amigos, e</p><p>depois choram por eles mais abjetamente, e não amam ninguém a menos</p><p>que o tenham perdido? A razão pela qual se lamentam com tanta violência</p><p>nessas ocasiões é que temem que os homens duvidem se realmente amaram;</p><p>muito tarde eles procuram provas de suas emoções.</p><p>10. Se tivermos outros amigos, certamente mereceremos sofrer em suas</p><p>mãos e pensar mal deles, se eles são tão inconsiderados que não consigam</p><p>nos consolar pela perda. Se, por outro lado, não temos outros amigos, nos</p><p>ferimos mais do que a fortuna nos feriu; já que a fortuna nos roubou um</p><p>amigo, mas nós roubamos a nós mesmo de todos os amigos que não</p><p>fizemos.</p><p>11. Novamente, aquele que é incapaz de amar mais do que um, não tem</p><p>muito amor mesmo por este. Se um homem que perdeu sua única túnica por</p><p>roubo escolheu lamentar sua situação, em vez de olhar em torno por alguma</p><p>maneira de escapar do frio, ou para algo com que se cobrir os ombros, você</p><p>não o consideraria um tolo absoluto? Você sepultou alguém que amava;</p><p>procure para alguém amar. É mais importante encontrar um novo amigo</p><p>do que chorar pelo desaparecido.</p><p>12. O que vou acrescentar é, eu sei, uma observação muito simplória, mas</p><p>não a omitirei simplesmente porque é uma frase comum: um homem acaba</p><p>seu pesar com o simples passar do tempo, mesmo que ele não tenha</p><p>terminado por sua própria iniciativa. Mas a cura mais vergonhosa para a</p><p>tristeza, no caso de um homem sensato, é se entediar da tristeza. Eu prefiro</p><p>que abandone o sofrimento, em vez de deixar o sofrimento abandoná-lo; e</p><p>deve parar com o luto o mais rapidamente possível, uma vez que, mesmo se</p><p>quiser fazê-lo, é impossível mantê-lo por um longo tempo.</p><p>13. Nossos antepassados decretaram que, no caso das mulheres, um ano</p><p>deveria ser o limite para o luto; não que elas precisassem chorar por tanto</p><p>tempo, mas que elas não deviam chorar mais. No caso dos homens, não</p><p>foram estabelecidas regras, porque o luto não é considerado honroso. Por</p><p>tudo isso, qual mulher pode me mostrar, de todas essas pobres mulheres que</p><p>dificilmente poderiam ser arrastadas para longe da pira funerária ou</p><p>arrancadas do cadáver, cujas lágrimas duraram um mês inteiro? Nada se</p><p>torna ofensivo tão rapidamente quanto o sofrimento; quando fresco,</p><p>encontra alguém para consolá-lo e atrai um ou outro; mas depois de se</p><p>tornar crônico, é ridicularizado, e com razão. Pois é simulado ou tolo.</p><p>14. Quem lhe escreve estas palavras não é outro senão eu, que chorou tão</p><p>excessivamente pelo meu querido amigo Aneu Sereno6 que, apesar de meus</p><p>anseios, devo</p><p>ser incluído entre os exemplos de homens que foram</p><p>dominados pelo sofrimento. Hoje, no entanto, condeno este ato meu, e</p><p>entendo que a razão pela qual chorei tanto foi principalmente pois nunca</p><p>imaginei que sua morte pudesse preceder a minha. O único pensamento que</p><p>me ocorreu foi que ele era o mais novo, e muito mais novo – como se o</p><p>destino seguisse a ordem de nossos tempos!</p><p>15. Portanto, pensemos continuamente tanto sobre nossa própria</p><p>mortalidade como sobre a de todos aqueles que amamos. Em dias anteriores</p><p>eu poderia ter dito:“Meu amigo Sereno é mais jovem do que eu, mas o que</p><p>importa? Ele poderia morrer naturalmente depois de mim, mas ele também</p><p>poderia me preceder.” Foi apenas porque eu não fiz isso que estava</p><p>despreparado quando a Fortuna me deu o súbito golpe. Agora é o momento</p><p>para refletir, não só que todas as coisas são mortais, mas também que sua</p><p>mortalidade não está sujeita a lei fixa. O que quer que possa acontecer a</p><p>qualquer momento pode acontecer hoje.</p><p>16. Reflita, portanto, meu amado Lucílio, que logo chegamos a baliza que</p><p>este amigo, para a nossa própria tristeza, alcançou. E talvez, se somente a</p><p>fábula contada por homens sábios for verdadeira e houver um nirvana para</p><p>nos receber, então aquele que nós pensamos que nós perdemos foi enviado</p><p>somente em nossa frente.</p><p>Mantenha-se Forte. Mantenha-se Bem.</p><p>Carta XCIII: Sobre a Qualidade da Vida quando</p><p>contrastada com seu Comprimento</p><p>Saudações de Sêneca a Lucílio.</p><p>1. Ao ler a carta em que você estava lamentando a morte do filósofo</p><p>Metronax - como se ele pudesse, e de fato, devesse ter vivido mais - senti</p><p>falta do espírito de justiça que abunda em todas as suas discussões sobre</p><p>homens e coisas, mas falta a você quando se aproxima de um assunto falho</p><p>a todos nós. Em outras palavras, eu vi muitos que lidam justamente com</p><p>seus semelhantes, mas nenhum que lida de maneira justa com os deuses.</p><p>Nós circundamos todos os dias o destino, dizendo: “Por que A foi levado no</p><p>meio de sua carreira? Por que B não é levado? E aquele? Por que</p><p>prolongar sua velhice, que é um fardo para si mesmo, bem como para</p><p>outros?”</p><p>2. Mas diga-me, por favor, você considera mais justo que você deva</p><p>obedecer à Natureza ou que a Natureza deva obedecer a você? E qual</p><p>diferença faz quanto tempo você se afasta de um local para onde você</p><p>deverá partir mais cedo ou mais tarde? Devemos nos esforçar não para</p><p>viver muito, mas para viver com razão; para alcançar uma vida longa, você</p><p>só precisa do destino, mas para viver corretamente você precisa da alma.</p><p>Uma vida é muito longa se for uma vida plena; mas a plenitude não é</p><p>alcançada até que a alma tenha fornecido a si mesmo o bem próprio, isto é,</p><p>até assumir o controle sobre si mesmo.</p><p>3. Qual o benefício que este homem mais velho obtém dos oitenta anos em</p><p>que passou em ociosidade? Uma pessoa como ele não viveu; ele se atrasou</p><p>na vida. Nem ele morreu tarde na vida; ele simplesmente morreu por muito</p><p>tempo. “Ele viveu oitenta anos?” Isso depende da data a partir da qual você</p><p>considera sua morte! Seu outro amigo, no entanto, partiu na floração de sua</p><p>masculinidade.</p><p>4. Mas ele cumpriu todos os deveres de um bom cidadão, um bom amigo,</p><p>um bom filho; em nenhum caso, ele deixou a desejar. Sua idade pode ter</p><p>sido incompleta, mas sua vida foi completa. O outro homem viveu oitenta</p><p>anos? Não, ele existiu oitenta anos, a não ser que, por acaso, você quis dizer</p><p>com “ele viveu” o que queremos dizer quando dizemos que uma árvore</p><p>“vive ”. Por favor, vamos nos certificar, meu querido Lucílio, que nossas</p><p>vidas, como joias de grande preço, sejam dignas de nota, não por seu</p><p>tamanho, mas por sua qualidade. Deixe-nos medi-la pelo desempenho dela,</p><p>não pela duração dela. Você saberia onde está a diferença entre este homem</p><p>robusto que, desprezando a Fortuna, serviu através de cada batalha da vida</p><p>e alcançou o Bem Supremo da vida, e aquela outra pessoa sobre cuja cabeça</p><p>passaram muitos anos? O primeiro existe mesmo depois da morte dele; o</p><p>último morreu antes mesmo de morrer.</p><p>5. Devemos, portanto, louvar, e considerar em companhia do bem-</p><p>aventurado, aquele homem que investiu bem sua parcela do tempo, por</p><p>menor que tenha sido atribuída a ele; pois essa pessoa viu a verdadeira luz.</p><p>Ela não foi um entre a multidão comum. Ela não só viveu, mas também</p><p>floresceu. Às vezes, ela desfrutava de céus limpos; às vezes, como muitas</p><p>vezes acontece, era apenas através das nuvens que via o resplendor da</p><p>poderosa estrela7. Por que você pergunta: “Quanto tempo ele viveu?” Ele</p><p>ainda vive! Em um passo ele atravessou para a posteridade e se entregou à</p><p>guarda da memória.</p><p>6. E, no entanto, eu não negaria a mim alguns anos adicionais; embora, se o</p><p>espaço da minha vida for encurtado, não direi que tenha faltado qualquer</p><p>coisa que seja essencial para uma vida feliz. Pois não planejei viver até o</p><p>último dia prometido pelas minhas esperanças gananciosas; não, eu olhei</p><p>todos os dias como se fossem o meu último. Por que pedir a data do meu</p><p>nascimento, ou se eu ainda estou inscrito na lista dos homens mais jovens8?</p><p>O que eu tenho é meu.</p><p>7. Assim como alguém de pequena estatura pode ser um homem perfeito,</p><p>da mesma forma uma vida curta pode ser uma vida perfeita. Idade se</p><p>classifica entre as coisas externas. Quanto tempo eu vou existir não é minha</p><p>decisão, mas quanto tempo eu vou continuar a existir no meu jeito atual está</p><p>sob meu controle. Esta é a única coisa que você tem o direito de exigir de</p><p>mim, – que eu deixe de medir anos sem glória, como se estivessem na</p><p>escuridão, e que me dedique a viver em vez de ser carregado ao longo da</p><p>vida.</p><p>8. E qual, você pergunta, é o máximo da envergadura da vida? É viver até</p><p>você possuir sabedoria. Aquele que alcançou a sabedoria alcançou, não o</p><p>mais longínquo, mas o mais importante objetivo. Tal pessoa pode realmente</p><p>exultar com ousadia e dar graças aos deuses – sim e a si mesmo também – e</p><p>ela pode considerar-se credora da natureza por ter vivido. Ela certamente</p><p>terá o direito de fazê-lo, pois ela lhe retribuiu com uma vida melhor do que</p><p>recebeu. Ela estabeleceu o padrão de um homem bom, mostrando a</p><p>qualidade e a grandeza de um homem bom. Tivesse mais um ano</p><p>adicionado, seria apenas como o passado.</p><p>9. E ainda quanto tempo devemos continuar vivendo? Tivemos a alegria de</p><p>aprender a verdade sobre o universo. Sabemos de que origens a natureza</p><p>surge; como ela regula o curso dos céus; por mudanças sucessivas que ela</p><p>invoca o ano; como ela acabou com todas as coisas que já existiram e</p><p>estabeleceu-se como o único fim de seu próprio ser. Sabemos que as</p><p>estrelas se movem por sua própria direção, e que nada, exceto a terra,</p><p>permanece imóvel, enquanto todos os outros corpos correm com rapidez</p><p>ininterrupta9. Sabemos como a lua ultrapassa o sol; por que é que, o mais</p><p>lento, deixa o mais rápido atrás; de que maneira ela recebe a luz, ou a perde</p><p>de novo; O que traz a noite e o que traz de volta o dia. Para esse lugar você</p><p>deve ir para que tenha uma visão mais próxima de todas essas coisas.</p><p>10. “E, no entanto”, diz o sábio:“Eu não partirei mais valentemente por</p><p>causa dessa esperança – porque julgo que está claro diante de mim o</p><p>caminho para meus próprios deuses. Certamente, ganhei a admissão à</p><p>presença deles e, de fato, já estive em suas companhias, eu enviei minha</p><p>alma para eles como eles já tinham enviado a deles para mim. Mas</p><p>suponha que eu seja totalmente aniquilado, e que, após a morte, não</p><p>subsista nada mortal, não tenho menos coragem, mesmo que quando eu</p><p>parta, meu curso leve a nenhum lugar”. “Mas ”, você diz, “ele não viveu</p><p>tantos anos quanto poderia ter vivido”.</p><p>11. Existem livros que contêm poucas linhas, admiráveis e úteis, apesar do</p><p>tamanho deles; e também existem os Anais de Tanúsio10 – você sabe o</p><p>volume do livro e o que os homens dizem dele. Este é o caso da longa vida</p><p>de certas pessoas, um estado que se assemelha aos Anais de Tanúsio!</p><p>12. Você considera mais afortunado o gladiador que é morto no último</p><p>dia dos jogos do que aquele que morreu no meio das festividades? Você</p><p>acredita que alguém é tão estupidamente apegado pela vida que preferiria</p><p>ter sua garganta cortada no camarim do que no anfiteatro? Não é mais um</p><p>intervalo do que isso que precedemos um ao outro. A morte visita cada um</p><p>e todos; o assassino logo segue o morto. É uma bagatela insignificante,</p><p>afinal, que as pessoas discutem com tanta preocupação. E de qualquer</p><p>forma, o que importa por quanto tempo você evita aquilo do qual você não</p><p>pode escapar?</p><p>Mantenha-se Forte. Mantenha-se Bem.</p><p>Carta CVII: Sobre a Obediência à Vontade</p><p>Universal</p><p>Saudações de Sêneca a Lucílio.</p><p>1. Onde está esse seu bom senso? Onde está aquela habilidade em examinar</p><p>as coisas? A grandeza de alma? Você se viu atormentado por pouco? Seus</p><p>escravos consideraram seu interesse nos negócios como uma oportunidade</p><p>para fugir. Bem, se seus amigos o enganaram (deixe-os ter o nome que nós</p><p>incorretamente lhes concedemos, e assim os chamemos, para que possam</p><p>incorrer em mais vergonha por não serem tais amigos)...11 mas o fato é que</p><p>seus assuntos foram liberados para sempre e também todas as pessoas em</p><p>quem todos os seus problemas estavam sendo desperdiçados e que o</p><p>consideraram insuportável.</p><p>2. Nenhuma dessas coisas é incomum ou inesperada. É tão absurdo se</p><p>abater por tais eventos como por queixar-se de ser respingado no balneário,</p><p>ser empurrado na multidão ou ficar sujo de lama na rua. O programa da</p><p>vida é o mesmo que o de um estabelecimento de banho, uma multidão ou</p><p>uma jornada: às vezes as coisas serão jogadas em você, e às vezes elas vão</p><p>lhe atacar por acidente. A vida não é um negócio delicado. Você começou</p><p>uma longa jornada; você é obrigado a escorregar, colidir, cair, ficar cansado</p><p>e gritar, sem sinceridade: “Ó morte! ” – Ou, em outras palavras, contar</p><p>mentiras. Em um estágio você vai deixar um camarada atrás de você, em</p><p>outro você vai enterrar alguém, em outro você ficará apreensivo. É em meio</p><p>a problemas deste tipo que você deve viajar nesta jornada acidentada.</p><p>3. Alguém deseja morrer? Deixe a alma estar preparada para encontrar</p><p>tudo; Deixe-a saber que alcançou as alturas em torno das quais o trovão</p><p>toca. Deixe-a saber que chegou onde</p><p>O sofrimento e o cuidado vingativo estabeleceram seu acento,</p><p>E a doença pálida habita, e escura idade avançada. 12</p><p>Com esses problemas, você deve passar seus dias. Evitá-los, não pode, mas</p><p>desprezá-los sim. E você vai desprezá-los, se você costuma pensar e</p><p>antecipar o futuro.</p><p>4. Todo mundo se aproxima corajosamente de um perigo ao qual se</p><p>preparou para encontrar muito antes, e resiste mesmo às dificuldades se já</p><p>praticou como encontrá-las. Mas, ao contrário, os despreparados entram em</p><p>pânico, mesmo com as coisas mais insignificantes. Precisamos nos preparar</p><p>para que nada venha sobre nós de imprevisto. E uma vez que as coisas são</p><p>ainda mais sérias quando não são familiares, reflexão contínua lhe dará o</p><p>poder, não importa o que o mal possa ser, para não fazer o papel de recruta</p><p>ignorante13.</p><p>5.“Meus escravos fugiram de mim!” Sim, outros homens foram roubados,</p><p>chantageados, mortos, traídos, massacrados, atacados por veneno ou pela</p><p>calúnia; não importa o problema que você mencione, aconteceu com</p><p>muitos. Novamente, existem vários tipos de dardos que são lançados contra</p><p>nós. Alguns são espetados em nós, alguns estão sendo brandidos e neste</p><p>momento estão a caminho, alguns que foram destinados a outros homens</p><p>nos atingem.</p><p>6. Não devemos manifestar surpresa em qualquer tipo de condição a que</p><p>estamos destinados, condição que não deveria ser lamentada por ninguém,</p><p>simplesmente porque é igualmente ordenada para todos. Sim, eu digo,</p><p>igualmente ordenada; pois um homem pode ter experimentado até mesmo o</p><p>que ele escapou. E uma lei uniforme consiste, não daquilo que todos usam,</p><p>mas do que é garantido para uso de todos. Certifique-se de prescrever a sua</p><p>mente essa sensação de equidade; devemos pagar sem reclamar o imposto</p><p>de nossa mortalidade.</p><p>7. O inverno traz frio; E devemos tremer. O verão volta, com seu calor; e</p><p>devemos suar. O clima extemporâneo perturba a saúde; e devemos nos</p><p>adoecer. Em certos lugares, podemos nos encontrar com animais selvagens,</p><p>ou com homens que são mais destrutivos que qualquer animal. Inundações</p><p>ou incêndios nos causarão perda. E não podemos mudar essa ordem de</p><p>coisas; mas o que podemos fazer é adquirir corações fortes, dignos de</p><p>homens bons, corajosamente suportar a Fortuna e colocar-nos em harmonia</p><p>com a natureza.</p><p>8. E a Natureza modera este reino terrestre que você vê, por suas estações</p><p>em mudança: o tempo limpo segue o nublado; depois de uma calmaria, vem</p><p>a tempestade; os ventos sopram em turnos; o dia sucede a noite; alguns dos</p><p>corpos celestes se elevam, e alguns se põe. A eternidade consiste em</p><p>opostos.</p><p>9. É a esta lei que nossas almas devem se ajustar, essa é que devem seguir,</p><p>que devem obedecer. Seja lá o que aconteça, suponha que isso estava</p><p>determinado a acontecer e não esteja disposto a lutar contra a natureza. O</p><p>que você não pode reformar, é melhor suportar sem reclamar a Deus quem</p><p>tudo comanda; pois é um soldado ruim quem resmunga ao seguir seu</p><p>comandante.</p><p>10. Por esta razão, devemos receber as nossas ordens com energia e vigor,</p><p>nem devemos deixar de seguir o curso natural deste mais belo universo, no</p><p>qual todos os nossos sofrimentos futuros são tecidos. Vamos falar a Júpiter,</p><p>o piloto desta massa mundial, assim como o nosso grande Cleantes nas</p><p>linhas mais eloquentes – linhas que eu me permitirei escrever em latim,</p><p>com o exemplo do eloquente Cícero. Se você gostar delas, aproveite-as ao</p><p>máximo; se elas lhe desagradarem, você entenderá que eu simplesmente</p><p>seguia a prática de Cícero:</p><p>11. Ligue-me, ó Mestre dos céus,</p><p>Meu Pai, onde quer que deseje .</p><p>Não devo hesitar, mas obedecer com rapidez.</p><p>E, embora não o deseje, eu irei e sofrerei, Em pecado e tristeza, o que</p><p>eu poderia ter feito</p><p>Em virtude nobre. Sim, a alma disposta</p><p>O Destino lidera, mas o relutante se arrasta.14</p><p>12. Vivamos assim, e falemos assim; deixe o Destino nos encontrar prontos</p><p>e alertas. Aqui está uma grande alma – o homem que se entregou ao</p><p>destino; por outro lado, é um fraco e degenerado o homem que luta e</p><p>amaldiçoa a ordem do universo e prefere reformar os deuses do que</p><p>reformar-se.</p><p>Mantenha-se Forte. Mantenha-se Bem.</p><p>NOTAS</p><p>4 Relatado por Homero. Níobe é uma personagem da Mitologia Grega, que por ser muito fértil, teve</p><p>catorze filhos (sete homens e sete mulheres). O povo de sua cidade se reuniu para render tributo a</p><p>deusa Leto. Eis que Níobe aparece insultando a deusa, que só teve dois filhos, Apolo e Ártemis. Leto</p><p>indignou-se com a audácia da mortal, e implorou vingança a seus filhos, que eram arqueiros. Apolo e</p><p>Ártemis, então, mataram todos os sete filhos de Níobe.</p><p>5 Professor de Sêneca. Átalo foi um filósofo estoico atuante no reinado de Tibério. Ele foi</p><p>defraudado de sua propriedade por Sejano, e exilado onde foi reduzido a cultivador do solo. Sêneca,</p><p>o velho, o descreve como um homem de grande eloquência e, de longe, o filósofo mais acérrimo de</p><p>sua época. Ele ensinou a filosofia estoica a Sêneca, o Jovem, que o cita com frequência e fala dele</p><p>nos mais altos termos. Veja também carta 108.</p><p>6 Um amigo íntimo de Sêneca, provavelmente um parente, que morreu no ano 63 por comer</p><p>cogumelos envenenados. Sêneca dedicou a Sereno três de seus ensaios filosóficos: Sobre a</p><p>Constância do Sábio, Sobre o ócio e Sobre a tranquilidade da alma.</p><p>7 Isto é, o Sol.</p><p>8 Referência ao comitia centuriata, Assembleia das centúrias, dividida em Juniores homens com</p><p>idade entre 17 e 46 e Seniores com idade entre 46 e 65.</p><p>9 A tese do geocentrismo era uma ideia contestada também na época de Sêneca como pode ser visto</p><p>no seu livro Questões Naturais no livro VII em que discute o movimento dos cometas.</p><p>10 Tanúsio Geminus foi um historiador. Chegou a se mencionado por Suetônio.</p><p>11 lacuna no texto original, aparentemente Sêneca estabelece uma diferença entre amigos e escravos.</p><p>Escravos fugirem ou traírem seria caso sem gravidade, o previsível.</p><p>12 Trecho de Eneida, de Virgílio.</p><p>13 “Tiro” soldado que acabou de ingressar nas fileiras, inexperiente.</p><p>14 Em Epicteto estes versos são atribuídos</p><p>a Cleantes (omitindo a última linha); Enquanto Santo</p><p>Agostinho os cita como de Sêneca. Cícero traduziu muitos textos gregos para o latim.</p><p>http://www.montecristoeditora.com.br/9781619651791-sobre-a-const%C3%A2ncia-do-s%C3%A1bio#wbStoreElementwb_element_instance7</p><p>http://www.montecristoeditora.com.br/9781619651838-sobre-o-%C3%B3cio#wbStoreElementwb_element_instance7</p><p>http://www.montecristoeditora.com.br/9781619651784-sobre-a-tranquilidade-da-alma#wbStoreElementwb_element_instance7</p><p>Original Latim: Ad Marciam, De Consolatione</p><p>I</p><p>1. Nisi te, Marcia, scirem tam longe ab infirmitate muliebris animi quam a</p><p>ceteris vitiis recessisse et mores tuos velut aliquod antiquum exemplar</p><p>aspici, non auderem obviam ire dolori tuo, cui viri quoque libenter haerent</p><p>et incubant, nec spem concepissem tam iniquo tempore, tam inimico iudice,</p><p>tam invidioso crimine posse me efficere, ut fortunam tuam absolveres.</p><p>Fiduciam mihi dedit exploratum iam robur animi et magno experimento</p><p>approbata virtus tua.</p><p>2. Non est ignotum, qualem te in persona patris tui gesseris, quem non</p><p>minus quam liberos dilexisti, excepto eo quod non optabas superstitem. Nec</p><p>scio an et optaveris; permittit enim sibi quaedam contra bonum morem</p><p>magna pietas. Mortem A. Cremuti [p. 4] Cordi parentis tui quantum poteras</p><p>inhibuisti; postquam tibi apparuit inter Seianianos satellites illam unam</p><p>patere servitutis fugam, non favisti consilio eius, sed dedisti manus victa</p><p>fudistique lacrimas palam et gemitus devorasti quidem, non tamen hilari</p><p>fronte texisti; et haec illo saeculo, quo magna pietas erat nihil impie facere.</p><p>3. Ut vero aliquam occasionem mutatio temporum1 dedit, ingenium patris</p><p>tui, de quo sumptum erat supplicium, in usum hominum reduxisti et a vera</p><p>illum vindicasti morte ac restituisti in publica monumenta libros, quos vir</p><p>ille fortissimus sanguine suo scripserat. Optime meruisti de Romanis studiis</p><p>: magna illorum pars arserat ; optime de posteris, ad quos veniet incorrupta</p><p>rerum fides auctori suo magno imputata ; optime de ipso, cuius viget</p><p>vigebitque memoria, quam diu in pretio fuerit Romana cognosci, quam diu</p><p>quisquam erit, qui reverti velit ad acta maiorum, quam diu quisquam qui</p><p>velit scire, quid sit vir Romanus, quid subactis iam cervicibus omnium et ad</p><p>Seianianum iugum adactis indomitus, quid sit homo ingenio, animo, manu</p><p>liber.</p><p>4. Magnum me hercules detrimentum res publica ceperat, si illum ob duas</p><p>res pulcherrimas in oblivionem coniectum, eloquentiam et libertatem, non</p><p>eruisses. Legitur, floret, in manus hominum, in pectora receptus vetustatem</p><p>nullam [p. 6] timet; at illorum carnificum cito scelera quoque, quibus solis</p><p>memoriam meruerunt, tacebuntur.2</p><p>5. Haec magnitudo animi tui vetuit me ad sexum tuum respicere, vetuit ad</p><p>vultum, quem tot annorum continua tristitia, ut semel obduxit, tenet. Et</p><p>vide, quam non subrepam tibi nec furtum facere affectibus tuis cogitem.</p><p>Antiqua mala in memoriam reduxi et, ut scires hanc quoque plagam esse</p><p>sanandam, ostendi tibi aeque magni vulneris cicatricem. Alii itaque molliter</p><p>agant et blandiantur ; ego confligere cum tuo maerore constitui et defessos</p><p>exhaustosque oculos, si verum vis, magis iam ex consuetudine quam ex</p><p>desiderio fluentis continebo, si fieri potuerit, favente te remediis tuis, si</p><p>minus, vel invita, teneas licet et amplexeris dolorem tuum, quem tibi in filii</p><p>locum superstitem fecisti. Quis enim erit finis ?</p><p>6. Omnia in supervacuum temptata sunt. Fatigatae adlocutiones amicorum,</p><p>auctoritates magnorum et adfinium tibi virorum; studia, hereditarium et</p><p>paternum bonum, surdas aures irrito et vix ad brevem occupationem</p><p>proficiente solacio transeunt; illud ipsum naturale remedium temporis, quod</p><p>maximas quoque aerumnas componit, in te una vim suam perdidit.</p><p>7. Tertius iam praeterit annus, cum interim nihil ex primo illo impetu cecidit</p><p>; renovat se et corroborat cotidie luctus et iam sibi ius mora fecit [p. 8]</p><p>eoque adductus est, ut putet turpe desinere. Quem- admodum omnia vitia</p><p>penitus insidunt, nisi, dum surgunt, oppressa sunt, ita haec quoque tristia et</p><p>misera et in se saevientia ipsa novissime acerbitate pascuntur et fit infelicis</p><p>animi prava voluptas dolor.</p><p>8. Cupissem itaque primis temporibus ad istam cura- tionem accedere.</p><p>Leniore medicina fuisset oriens adhuc restringenda vis ; vehementius contra</p><p>in- veterata pugnandum est. Nam vulnerum quoque sanitas facilis est, dum</p><p>a sanguine recentia sunt; tunc et uruntur et in altum revocantur et digitos</p><p>scrutantium recipiunt, ubi corrupta in malum ulcus verterunt. Non possum</p><p>nunc per obsequium nec molliter adsequi tam durum dolorem ; frangendus</p><p>est.</p><p>II</p><p>1. Scio a praeceptis incipere omnis, qui monere aliquem volunt, in exemplis</p><p>desinere. Mutari hunc interim morem expedit; aliter enim cum alio</p><p>agendum est. Quosdam ratio ducit, quibusdam nomina clara opponenda</p><p>sunt et auctoritas, quae liberum non relinquat animum ad speciosa stupenti.</p><p>2. Duo tibi ponam ante oculos maxima et sexus et saeculi tui exempla:</p><p>alterius feminae, quae se tradidit ferendam dolori, alterius, quae pari adfecta</p><p>casu, maiore damno, non tamen dedit longum in se malis suis dominium,</p><p>sed cito animum in sedem suam reposuit.</p><p>3. Octavia et [p. 10] Livia, altera soror Augusti, altera uxor, amiserant filios</p><p>iuvenes, utraque spe futuri principis certa. Octavia Marcellum, cui et</p><p>avunculus et socer incumbere coeperat, in quem onus imperii reclinare,</p><p>adulescentem animo alacrem, ingenio potentem, sed frugalitatis</p><p>continentiaeque in illis aut annis aut opibus non mediocriter admirandae,</p><p>patientem laborum, voluptatibus alienum, quantumcumque imponere illi</p><p>avunculus et, ut ita dicam, inaedificare voluisset, laturum ; bene legerat</p><p>nulli cessura ponderi fundamenta.</p><p>4. Nullum finem per omne vitae suae tempus flendi gemendique fecit nec</p><p>ullas admisit voces salutare aliquid adferentis ; ne avocari quidem se passa</p><p>est, intenta in unam rem et toto animo adfixa. Talis per omnem vitam fuit,</p><p>qualis in funere, non dico non ausa consurgere, sed adlevari recusans,</p><p>secundam orbitatem iudicans lacrimas amittere. Nullam habere imaginem</p><p>filii carissimi voluit, nullam sibi de illo fieri mentionem. Oderat omnes</p><p>matres et in Liviam maxime furebat, quia videbatur ad illius filium transisse</p><p>sibi promissa felicitas. Tenebris et solitu- dini familiarissima, ne ad fratrem</p><p>quidem respiciens, carmina celebrandae Marcelli memoriae composita</p><p>aliosque studiorum honores reiecit et aures suas adversus omne solacium</p><p>clusit. A sollemnibus officiis seducta et ipsam magnitudinis fraternae [p.</p><p>12] nimis circumlucentem fortunam exosa defodit se et abdidit.</p><p>Adsidentibus liberis, nepotibus lugubrem vestem non deposuit, non sine</p><p>contumelia omnium suorum, quibus salvis orba sibi videbatur.</p><p>III</p><p>1. Livia amiserat filium Drusum, magnum futurum principem, iam magnum</p><p>ducem; intraverat penitus Germaniam et ibi signa Romana fixerat,5 ubi vix</p><p>ullos esse Romanos notum erat. In expeditione decesserat ipsis illum</p><p>hostibus aegrum cum veneratione et pace mutua prosequentibus nec optare</p><p>quod expediebat audentibus. Accedebat ad hanc mortem, quam ille pro re</p><p>publica obierat, ingens civium provinciarumque et totius Italiae desiderium,</p><p>per quam effusis in officium lugubre municipiis coloniisque usque in urbem</p><p>ductum erat funus triumpho simillimum.</p><p>2. Non licuerat matri ultima filii oscula gratumque extremi sermonem oris</p><p>haurire. Longo itinere reliquias Drusi sui prosecuta tot per omnem Italiam</p><p>ardentibus rogis, quasi totiens illum amitteret,irritata, ut primum tamen</p><p>intulit tumulo, simul et illum et dolorem suum posuit, nec plus doluit quam</p><p>aut honestum erat Caesare aut aequom Tiberio salvo.6 Non desiit [p. 14]</p><p>denique Drusi sui celebrare nomen, ubique illum sibi privatim publiceque</p><p>repraesentare, libentissime de illo loqui, de illo audire : cum memoria illius</p><p>vixit; quam nemo potest retinere et frequentare, qui illam tristem sibi</p><p>reddidit.</p><p>3. Elige itaque, utrum exemplum putes probabilius. Si illud prius sequi vis,</p><p>eximes te numero vivorum : aversaberis et alienos liberos et tuos ipsumque</p><p>quem desideras ; triste matribus omen occurres ; volup- tates</p><p>honestas,</p><p>permissas, tamquam parum decoras fortunae tuae reicies ; invisa haerebis in</p><p>luce et aetati tuae, quod non praecipitet te quam primum et finiat,</p><p>infestissima eris ; quod turpissimum alienissimumque est animo tuo in</p><p>meliorem noto partem, ostendes te vivere nolle, mori non posse.</p><p>4. Si ad hoc maximae feminae te exemplum apphcueris moderatius, mitius,</p><p>non eris in aerumnis nec te tormentis macerabis ; quae enim, malum,</p><p>amentia est poenas a se infelici- tatis exigere et mala sua novo augere !</p><p>Quam in omni vita servasti morum probitatem et verecundiam, in hac</p><p>quoque re praestabis ; est enim quaedam et dolendi modestia. Illum ipsum</p><p>iuvenem, dignissimum qui te laetam semper nominatus cogitatusque [p. 16]</p><p>faciat, meliore pones loco, si matri suae, qualis vivus solebat, hilarisque et</p><p>cum gaudio occurrit.</p><p>IV</p><p>1. Nec te ad fortiora ducam praecepta, ut inhumano ferre humana iubeam</p><p>modo, ut ipso funebri die oculos matris exsiccem. Ad arbitrum tecum</p><p>veniam ; hoc inter nos quaeretur, utrum magnus dolor esse debeat an</p><p>perpetuus. Non dubito quin Iuliae Augustae, quam familiariter coluisti,</p><p>magis tibi placeat exemplum ; illa te ad suum consilium vocat.</p><p>2. Illa in primo fervore, cum maxime impatientes ferocesque sunt miseri,</p><p>accessum Areo, philosopho viri sui, praebuit et multum eam rem profuisse</p><p>sibi confessa est, plus quam populum Romanum, quem nolebat tristem</p><p>tristitia sua facere, plus quam Augustum, qui subducto altero adminiculo</p><p>titubabat nec luctu suorum inclinandus erat, plus quam Tiberium filium,</p><p>cuius pietas efficiebat, ut in acerbo et defleto gentibus funere nihil sibi nisi</p><p>numerum deesse sentiret. Hic, ut opinor, aditus 1111</p><p>3. fuit, hoc principium apud feminam opinionis suae custodem</p><p>diligentissimam : “Usque in hunc diem, Iulia, quantum quidem ego sciam—</p><p>adsiduus viri tui comes, cui non tantum quae in publicum emittuntur nota,</p><p>sed omnes sunt secretiores animorum vestrorum motus—dedisti operam, ne</p><p>quid esset quod in te quisquam reprenderet ;</p><p>4. nec id in maioribus modo [p. 18] observasti, sed in minimis, ne quid</p><p>faceres, cui famam, liberrimam principum iudicem, velles ignoscere. Nec</p><p>quicquam pulchrius existimo quam in summo fastigio collocatos multarum</p><p>rerum veniam dare, nullius petere. Servandus itaque tibi in hac quoque re</p><p>tuus mos est, ne quid committas, quod minus aliterve factum velis.</p><p>V</p><p>1. Deinde oro atque obsecro, ne te difficilem amicis et intractabilem</p><p>praestes. Non est enim quod ignores omnes hos nescire, quemadmodum se</p><p>gerant, loquantur ahquid coram te de Druso an nihil, ne aut obhvio</p><p>clarissimi iuvenis illi faciat iniuriam aut mentio tibi.</p><p>2. Cum secessimus et in unum convenimus, facta eius dictaque quanto</p><p>meruit suspectu celebramus ; coram te altum nobis de illo silentium est.</p><p>Cares itaque maxima voluptate, filii tui laudibus, quas non dubito quin vel</p><p>impendio vitae, si potestas detur, in aevum omne sis prorogatura.</p><p>3. Quare patere, immo accerse sermones, quibus ille narretur, et apertas</p><p>aures praebe ad nomen memoriamque filii tui; nec hoc grave duxeris</p><p>ceterorum more, qui in eiusmodi casu partem mali putant audire solacia.</p><p>4. Nunc incubuisti tota in alteram partem et oblita meliorum fortunam tuam</p><p>qua deterior est aspicis : non convertis te ad convictus filii tui occursusque</p><p>iucundos, [p. 20] non ad pueriles dulcesque blanditias, non ad in- crementa</p><p>studiorum ; ultimam illam faciem rerum premis ; illi, tamquam si parum</p><p>ipsa per se horrida sit, quidquid potes congeris. Ne, obsecro te, concupieris</p><p>perversissimam gloriam, infelicissima videri!</p><p>5. Simul cogita non esse magnum rebus prosperis fortem gerere, ubi</p><p>secundo cursu vita procedit; ne gubernatoris quidem artem tranquillum</p><p>mare et obsequens ventus ostendit, adversi ahquid incurrat oportet, quod</p><p>animum probet.</p><p>6. Proinde ne summiseris te, immo contra fige stabilem gradum et quicquid</p><p>onerum supra cecidit sustine, primo dumtaxat strepitu conterrita. Nulla re</p><p>maior invidia fortunae fit quam aequo animo.</p><p>” Post haec ostendit illi filium in- columem, ostendit ex amisso nepotes.</p><p>VI</p><p>1. Tuum ilhc, Marcia, negotium actum, tibi Areus adsedit ; muta personam</p><p>—te consolatus est. Sed puta, Marcia, ereptum tibi amplius quam ulla</p><p>umquam mater amiserit—non permulceo te nec extenuo calamitatem tuam.</p><p>2. Si fletibus fata vincuntur, conferamus ; eat omnis inter luctus dies,</p><p>noctem sine somno tristitia consumat ; ingerantur lacerato pectori manus et</p><p>in ipsam faciem impetus fiat atque omni se genere saevitiae profecturus</p><p>maeror exerceat. Sed si nullis planctibus defuncta revocantur, si sors</p><p>immota et in aeternum fixa nulla miseria mutatur et mors tenuit quicquid</p><p>abstulit, desinat dolor qui perit. [p. 22] Quare regamur nec nos ista vis</p><p>transversos auferat!</p><p>3. Turpis est navigii rector, cui gubernacula fluctus eripuit, qui fluvitantia</p><p>vela deseruit, permisit tempestati ratem ; at ille vel in naufragio laudandus</p><p>quem obruit mare clavum tenentem et obnixum.</p><p>VII</p><p>1. “At enim naturale desiderium suorum est.” Quis negat, quam diu</p><p>modicum est ? Nam discessu, non solum amissione carissimorum</p><p>necessarius morsus est et firmissimorum quoque animorum contractio. Sed</p><p>plus est quod opinio adicit quam quod natura imperavit.</p><p>2. Aspice mutorum animalium quam concitata sint desideria et tamen quam</p><p>brevia: vaccarum uno die alterove mugitus auditur, nec diutius equarum</p><p>vagus ille amensque discursus est ; ferae cum vestigia catulorum</p><p>consectatae sunt et silvas pervagatae, cum saepe ad cubilia expilata</p><p>redierint, rabiem intra exiguum tempus extinguunt ; aves cum stridore</p><p>magno inanes nidos circum- fremuerunt, intra momentum tamen quietae</p><p>volatus suos repetunt ; nec ulli animali longum fetus sui desiderium est nisi</p><p>homini, qui adest dolori suo nec tantum, quantum sentit, sed quantum</p><p>constituit, adficitur.</p><p>3. Ut scias autem non esse hoc naturale, luctibus frangi, primum magis</p><p>feminas quam viros, magis barbaros quam placidae eruditaeque gentis</p><p>homines, magis indoctos quam doctos eadem orbitas vulnerat. Atqui ea,</p><p>quae a natura vim acceperunt, eandem in [p. 24] omnibus servant ; apparet</p><p>non esse naturale quod varium est.</p><p>4. Ignis omnes aetates omniumque urbium cives, tam viros quam feminas</p><p>uret ; ferrum in omni corpore exhibebit secandi potentiam. Quare ? quia</p><p>vires illi a natura datae sunt, quae nihil in personam constituit. Paupertatem,</p><p>luctum, ambitionem alius aliter sentit, prout illum consuetudo infecit, et</p><p>imbecillum impatientemque reddit praesumpta opinio de non timendis</p><p>terribilis.</p><p>VIII</p><p>1. Deinde quod naturale est non decrescit mora; dolorem dies longa</p><p>consumit. Licet contumacissimum, cotidie insurgentem et contra remedia</p><p>effervescentem, tamen illum efficacissimum mitigandae ferociae tempus</p><p>enervat.</p><p>2. Manet quidem tibi, Marcia, etiamnunc ingens tristitia et iam videtur</p><p>duxisse callum, non illa concitata, qualis initio fuit, sed pertinax et obstinata</p><p>; tamen hanc quoque tibi aetas minutatim eximet. Quotiens aliud egeris,</p><p>animus relaxabitur. Nunc te ipsa custodis ;</p><p>3. multum autem interest, utrum tibi permittas maerere an imperes. Quanto</p><p>magis hoc morum tuorum elegantiae convenit, finem luctus potius facere</p><p>quam expectare, nec illum opperiri diem, quo te invita dolor desinat ! Ipsa</p><p>illi renuntia !</p><p>IX</p><p>1. “Unde ergo tanta nobis pertinacia in deplora- [p. 26] tione nostri, si id</p><p>non fit naturae iussu ? “ Quod nihil nobis mali, antequam eveniat,</p><p>proponimus, sed ut immunes ipsi et aliis pacatius ingressi iter alienis non</p><p>admonemur casibus illos esse communes.</p><p>2. Tot praeter domum nostram ducuntur exsequiae : de morte non cogitamus</p><p>; tot acerba funera : nos togam nostrorum infantium, nos militiam et</p><p>paternae hereditatis successionem agitamus animo; tot divitum subita</p><p>paupertas in oculos incidit : et nobis numquam in mentem venit nostras</p><p>quoque opes aeque in lubrico positas. Necesse est itaque magis corruamus :</p><p>quasi ex inopinato ferimur ; quae multo ante provisa sunt, languidius</p><p>incurrunt.</p><p>3. Vis tu scire te ad omnis expositum ictus stare et illa quae alios tela</p><p>fixerunt circa te vibrasse! Velut murum aliquem aut obsessum multo hoste</p><p>locum et arduum ascensu</p><p>semermis adeas, expecta vulnus et illa superne</p><p>volantia eum sagittis pilisque saxa in tuum puta librata corpus. Quotiens</p><p>aliquis ad latus aut pone tergum ceciderit, exclama: “ Non decipies me,</p><p>fortuna, nec securum aut neglegentem opprimes. Scio quid pares ; alium</p><p>quidem percussisti, sed me petisti.”</p><p>4. Quis umquam res suas quasi periturus aspexit ? Quis umquam nostrum</p><p>de exilio, de egestate, de luctu cogitare ausus est ? Quis non, si admoneatur</p><p>ut cogitet, tamquam dirum omen [p. 28] respuat et in capita inimicorum aut</p><p>ipsius in- tempestivi monitoris abire illa iubeat ? “ Non putavi futurum.”</p><p>5. Quicquam tu putas non futurum, quod scis posse fieri, quod multis vides</p><p>evenisse ? Egregium versum et dignum qui non e pulpito exiret :</p><p>Cuivis potest accidere quod cuiquam potest!</p><p>Ille amisit liberos; et tu amittere potes. Ille damnatus est ; et tua innocentia</p><p>sub ictu est. Error decipit hic, effeminat, dum patimur quae numquam pati</p><p>nos posse providimus. Aufert vim praesentibus malis qui futura prospexit.</p><p>X</p><p>1. Quicquid est hoc, Marcia, quod circa nos ex adventicio fulget, liberi,</p><p>honores, opes, ampla atria et exclusorum clientium turba referta vestibula,</p><p>clarum nomen,12 nobilis aut formosa coniux ceteraque ex in- certa et</p><p>mobili sorte pendentia alieni commodatique apparatus sunt; nihil horum</p><p>dono datur. Conlaticiis et ad dominos redituris instrumentis scaena</p><p>adornatur; alia ex his primo die, alia secundo referentur, pauca usque ad</p><p>finem perseverabunt.</p><p>2. Itaque non est quod nos suspiciamus tamquam inter nostra positi; mutua</p><p>accepimus. Usus fructusque noster est, cuius tempus ille arbiter muneris sui</p><p>temperat; nos oportet in promptu habere quae in incertum diem data sunt et</p><p>[p. 30] appellatos sine querella reddere : pessimi debitoris est creditori</p><p>facere convicium.</p><p>3. Omnes ergo nostros, et quos superstites lege nascendi optamus et quos</p><p>prae- cedere iustissimum ipsorum votum est, sic amare de- bemus,</p><p>tamquam nihil nobis de perpetuitate, immo nihil de diuturnitate eorum</p><p>promissum sit. Saepe admonendus est animus, amet ut recessura, immo</p><p>tamquam recedentia. Quicquid a fortuna datum est, tamquam exempto</p><p>auctore possideas.</p><p>4. Rapite ex liberis voluptates, fruendos vos in vicem liberis date et sine</p><p>dilatione omne gaudium haurite ; nihil de hodierna nocte promittitur—nimis</p><p>magnam advocationem dedi—, nihil de hac hora. Festinandum est, instatur</p><p>a tergo. Iam disicietur iste comitatus, iam contubernia ista sublato clamore</p><p>solventur. Rapina rerum omnium est ; miseri nescitis in fuga vivere !</p><p>5. Si mortuum tibi filium doles, eius temporis quo natus est crimen est ;</p><p>mors enim illi denuntiata nascenti est; in hanc legem erat satus,14 hoc illum</p><p>fatum ab utero statim prosequebatur.</p><p>6. In regnum fortunae et quidem durum atque invictum pervenimus, illius</p><p>arbitrio digna atque indigna passuri. Corporibus nostris impotenter,</p><p>contumeliose, crudeliter abutetur. Alios ignibus peruret vel in poenam</p><p>admotis vel in remedium; alios vinci et : id nunc hosti licebit, nunc civi ;</p><p>alios [p. 32] per incerta nudos maria iactabit et luctatos cum fluctibus ne in</p><p>harenam quidem aut litus explodet, sed in alicuius immensae ventrem</p><p>beluae decondet ; alios morborum varis generibus emaceratos diu inter</p><p>vitam mortemque medios detinebit. Ut varia et libi- dinosa mancipiorumque</p><p>suorum neglegens domina et poenis et muneribus errabit.</p><p>XI</p><p>1. Quid opus est partes deflere ? Tota flebilis vita est; urgebunt nova</p><p>incommoda, priusquam veteribus satis feceris. Moderandum est itaque</p><p>vobis maxime, quae immoderate fertis, et in multos dolores humani pectoris</p><p>vis dispensanda. Quae deinde ista suae publicaeque condicionis oblivio est</p><p>? Mortalis nata es, mortales peperisti. Putre ipsa fluidumque corpus et</p><p>causis morborum repetita sperasti tam imbecilla materia solida et aeterna</p><p>gestasse ?</p><p>2. De- cessit filius tuus ; id est, decucurrit ad hunc finem, ad quem quae</p><p>feliciora partu tuo putas properant. Hoc omnis ista quae in foro litigat,</p><p>spectat in theatris, in templis precatur turba dispari gradu vadit; et quae</p><p>diligis, veneraris et quae despicis unus exaequabit cinis. Hoc videlicet dicit</p><p>illa Pythicis oraculis ad- scripta vox 19: NOSCE TE. Quid est homo ?</p><p>3. Quolibet [p. 34] quassu vas et quolibet fragile iactatu. Non tempestate</p><p>magna, ut dissiperis, opus est; ubicumque arietaveris, solveris. Quid est</p><p>homo ? Imbecillum corpus et fragile, nudum, suapte natura inerme, alienae</p><p>opis indigens, ad omnis fortunae contumelias proiectum; cum bene lacertos</p><p>exercuit, cuiuslibet ferae pabulum, cuiuslibet victima, ex infirmis fluidis-</p><p>que contextum et lineamentis exterioribus nitidum, frigoris, aestus, laboris</p><p>impatiens, ipso rursus situ et otio iturum in tabem, alimenta metuens sua,</p><p>quorum modo inopia deficit, modo copia rumpitur; anxiae sol- licitaeque</p><p>tutelae, precarii spiritus et male haerentis, quem pavor repentinus aut</p><p>auditus ex improviso sonus auribus gravis excutit; sollicitudinis semper sibi</p><p>nutrimentum, vitiosum et inutile.</p><p>4. Miramur in hoc mortem, quae unius singultus opus est ? Numquid enim,</p><p>ut concidat, magni res molimenti est ? Odor illi saporque et lassitudo et</p><p>vigilia et umor et cibus et sine quibus vivere non potest mortifera sunt; quo-</p><p>cumque se movit, statim infirmitatis suae conscium, non omne caelum</p><p>ferens, aquarum novitatibus flatuque non familiaris aurae et tenuissimis</p><p>causis atque offensionibus morbidum, putre, causarium, fletu vitam [p. 36]</p><p>auspicatum, cum interim quantos tumultus hoc tam contemptum animal</p><p>movet ! in quantas cogitationes oblitum condicionis suae venit !</p><p>5. Immortalia, aeterna volutat animo et in nepotes pronepotesque disponit,</p><p>cum interim longa conantem eum mors opprimit et hoc, quod senectus</p><p>vocatur, paucissimorum est circuitus annorum.</p><p>XII</p><p>1. Dolor tuus, si modo ulla illi ratio est, utrum sua spectat incommoda an</p><p>eius qui decessit ? Utrum te in amisso filio movet, quod nullas ex illo</p><p>voluptates cepisti, an quod maiores, si diutius vixisset, percipere potuisti ?</p><p>Si nullas percepisse te dixeris, tolerabilius efficies detrimentum tuum ;</p><p>minus enim homines de- siderant ea, ex quibus nihil gaudi laetitiaeque per-</p><p>ceperant. Si confessa fueris percepisse magnas voluptates, oportet te non de</p><p>eo quod detractum est queri, sed de eo gratias agere quod contigit.</p><p>2. Pro- venerunt enim satis magni fructus laborum tuorum ex ipsa</p><p>educatione, nisi forte ii, qui catulos avesque et frivola animorum</p><p>oblectamenta summa diligentia nutriunt, fruuntur aliqua voluptate ex visu</p><p>tactuque et blanda adulatione mutorum, liberos nutrientibus non fructus</p><p>educationis ipsa educatio est. Licet itaque nil tibi industria eius contulerit,</p><p>nihil diligentia custodierit, nihil prudentia suaserit, ipsum quod habuisti,</p><p>quod amasti, fructus est. [p. 38] “ At potuit longior esse, maior.”</p><p>3. Melius tamen tecum actum est quam si omnino non contigisset, quoniam,</p><p>si ponatur electio, utrum satius sit non diu felicem esse an numquam,</p><p>melius est discessura nobis bona quam nulla contingere. Utrumne malles</p><p>de- generem aliquem et numerum tantum nomenque filii expleturum</p><p>habuisse, an tantae indolis, quantae tuus fuit, iuvenis cito prudens, cito pius,</p><p>cito maritus, cito pater, cito omnis officii curiosus, cito sacerdos, omnia</p><p>tamquam properans 24</p><p>4. ? Nulli fere et magna bona et diuturna contingunt ; non durat nec ad</p><p>ultimum exit nisi lenta felicitas. Filium tibi dii immortales non diu daturi</p><p>statim talem dederunt, qualis diu effici potest. Ne illud quidem dicere potes</p><p>electam te a dis, cui frui non liceret filio. Circumfer per omnem notorum,</p><p>ignotorum frequentiam oculos, occurrent tibi passi ubique maiora.</p><p>Senserunt ista magni duces, senserunt principes ; ne deos quidem fabulae</p><p>immunes reliquerunt, puto, ut nostrorum funerum levamentum esset etiam</p><p>divina concidere. Circumspice, inquam, omnis; nullam tam miseram</p><p>nominabis domum, quae non inveniat in miseriore solacium.</p><p>5. Non me hercules tam male de moribus tuis sentio, ut putem posse te [p.</p><p>40] levius pati casum tuum, si tibi ingentem lugentium numerum</p><p>produxero. Malivolum solacii genus est turba miserorum ; quosdam</p><p>tamen</p><p>referam, non ut scias hoc solere hominibus accidere—ridiculum est enim</p><p>mortalitatis exempla colligere—, sed ut scias fuisse multos, qui lenirent</p><p>aspera placide ferendo. A felicissimo incipiam.</p><p>6. L. Sulla filium amisit, nec ea res aut malitiam eius et acerrimam virtutem</p><p>in hostes civesque contudit aut effecit, ut cognomen illud usurpasse falso</p><p>videretur, quod amisso filio adsumpsit nec odia hominum veritus, quorum</p><p>malo illae nimis secundae res constabant, nec invidiam deorum, quorum</p><p>illud crimen erat, Sulla tam felix. Sed istud inter res nondum iudicatas</p><p>abeat, qualis Sulla fuerit—etiam inimici fatebuntur bene illum arma</p><p>sumpsisse, bene posuisse. Hoc de quo agitur constabit, non esse maximum</p><p>malum quod etiam ad felicissimos pervenit.</p><p>XIII</p><p>1. Ne nimis admiretur Graecia illum patrem, qui in ipso sacrificio nuntiata</p><p>fili morte tibicinem tantum iussit tacere et coronam capiti detraxit, cetera</p><p>rite perfecit, Pulvillus effecit pontifex, cui postem tenenti et Capitolium</p><p>dedicanti mors filii nuntiata est. Quam [p. 42] ille exaudisse dissimulavit et</p><p>sollemnia pontificii carminis verba concepit gemitu non interrumpente</p><p>precationem et ad filii sui nomen Iove propitiato.</p><p>2. Putasne eius luctus aliquem finem esse debere, cuius primus dies et</p><p>primus impetus ab altaribus publicis et fausta nuncupatione non abduxit</p><p>patrem ? Dignus me hercules fuit memorabili dedicatione, dignus</p><p>amplissimo sacerdotio, qui colere deos ne iratos quidem destitit. Idem</p><p>tamen ut redit domum, et implevit oculos et aliquas voces flebiles misit et</p><p>peractis, quae mos erat praestare defunctis, ad Capitolinum illum redit</p><p>vultum.</p><p>3. Paulus circa illos nobilissimi triumphi dies, quo vinctum ante currum egit</p><p>Persen, incliti regis nomen, duos filios in adoptionem dedit, duos quos sibi</p><p>servaverat extulit. Quales retentos putas, cum inter commodatos Scipio</p><p>fuisset ? Non sine motu vacuum Pauli currum populus Romanus aspexit.</p><p>Contionatus est tamen et egit dis gratias, quod compos voti factus esset ;</p><p>precatum enim se, ut, si quid ob ingentem victoriam invidiae dandum esset,</p><p>id suo potius quam publico damno solveretur.</p><p>4. Vides quam magno animo tulerit ? Orbitati suae gratulatus est. Et [p. 44]</p><p>quem magis poterat permovere tanta mutatio ? Solacia simul atque auxilia</p><p>perdidit. Non contigit tamen tristem Paulum Persi videre.</p><p>XIV</p><p>1. Quid nunc te per innumerabilia magnorum virorum exempla ducam et</p><p>quaeram miseros, quasi non difficilius sit invenire felices ? Quota enim</p><p>quae- que domus usque ad exitum omnibus partibus suis constitit? in qua</p><p>non aliquid turbatum est 28? Unum quemlibet annum occupa et ex eo</p><p>magistratus cita : Lucium si vis Bibulum et C. Caesarem—videbis inter</p><p>collegas inimicissimos concordem fortunam.</p><p>2. L. Bibuli, melioris quam fortioris viri, duo simul filii interfecti sunt,</p><p>Aegyptio quidem militi ludibrio habiti, ut non minus ipsa orbitate auctor</p><p>eius digna res lacrimis esset. Bibulus tamen, qui toto honoris sui anno ob</p><p>invidiam collegae domi latuerat, postero die quam geminum funus</p><p>renuntiatum est, processit ad solita imperii officia. Quis minus potest quam</p><p>unum diem duobus filis dare ? Tam cito liberorum luctum finivit, qui</p><p>consulatum anno luxerat.</p><p>3. C. Caesar cum Britanniam peragraret nec oceano continere felicitatem</p><p>suam posset, audit decessisse filiam publica secum fata ducentem. In oculis</p><p>erat [p. 46] iam Cn. Pompeius non aequo laturus animo quemquam alium</p><p>esse in re publica magnum et modum impositurus incrementa, quae gravia</p><p>illi videbantur, etiam cum in commune crescerent. Tamen intra tertium diem</p><p>imperatoria obit munia et tam cito dolorem vicit quam omnia solebat.</p><p>XV</p><p>1. Quid aliorum tibi funera Caesarum referam ? Quos in hoc mihi videtur</p><p>interim violare fortuna, ut sic quoque generi humano prosint ostendentes ne</p><p>eos quidem, qui dis geniti deosque genituri dicantur, sic suam fortunam in</p><p>potestate habere quemadmodum alienam.</p><p>2. Divus Augustus amissis liberis, nepotibus, exhausta Caesarum turba</p><p>adoption desertam domum fulsit ; tulit tamen tam fortiter quam cuius iam</p><p>res agebatur cuiusque maxime intererat de dis neminem queri. Ti.</p><p>3. Caesar et quem genuerat et quem adopta- verat amisit ; ipse tamen pro</p><p>rostris laudavit filium stetitque in conspectu posito corpore, interiecto</p><p>tantummodo velamento, quod pontificis oculos a funere arceret, et flente</p><p>populo Romano non flexit vultum ; experiendum se dedit Seiano ad latus</p><p>stanti, quam patienter posset suos perdere.</p><p>4. Videsne quanta copia virorum maximorum sit, quos a The Latin</p><p>expression is reminiscent of Virgil, Aeneid, ix. sq: Macte nova virtute, puer;</p><p>sic itur ad astra, dis genite et geniture deos. b An allusion to the later</p><p>apotheosis of Augustus. c Germanicus, his nephew. d Drusus, who was</p><p>poisoned by Sejanus, the imperial favourite, in A.D. 23. (Tacitus, Annals,</p><p>iv. 8.) e i.e., the emperor in his capacity of Pontifex Maximus. f A veiled</p><p>allusion to the spectacular overthrow of Sejanus himself, eight years later.</p><p>[p. 48] non excepit hic omnia prosternens casus, et in quos tot animi bona,</p><p>tot ornamenta publice privatimque congesta erant ? Sed videlicet it in</p><p>orbem ista tempestas et sine dilectu vastat omnia agitque ut sua. Iube</p><p>singulos conferre rationem ; nulli contigit im- pune nasci.</p><p>XVI</p><p>16. Scio quid dicas : “ Oblitus es feminam te con- solari, virorum refers</p><p>exempla.” Quis autem dixit naturam maligne cum mulierum ingeniis egisse</p><p>et virtutes illarum in artum retraxisse ? Par illis, mihi crede, vigor, par ad</p><p>honesta, libeat, facultas est ; dolorem laboremque ex aequo, si consuevere,</p><p>patiuntur.</p><p>2. In qua istud urbe, di boni, loquimur ? In qua regem Romanis capitibus</p><p>Lucretia et Brutus deiecerunt : Bruto libertatem debemus, Lucretiae Brutum</p><p>; in qua Cloeliam contempto et hoste et flumine ob in- signem audaciam</p><p>tantum non in viros transcripsimus : equestri insidens statuae in sacra via,</p><p>celeberrimo loco, Cloelia exprobrat iuvenibus nostris pulvinum</p><p>escendentibus in ea illos urbe sic ingredi, in qua etiam feminas equo</p><p>donavimus.</p><p>3. Quod si tibi vis exempla referri feminarum, quae suos fortiter</p><p>desideraverint, non ostiatim quaeram ; ex una tibi familia duas Cor- [p. 50]</p><p>nelias dabo : primam Scipionis filiam, Gracchorum matrem. Duodecim illa</p><p>partus totidem funeribus recognovit. Et de ceteris facile est, quos nec editos</p><p>nec amissos civitas sensit ; Tiberium Gaiumque, quos etiam qui bonos viros</p><p>negaverit magnos fatebitur, et occisos vidit et insepultos. Consolantibus</p><p>tamen miseramque dicentibus : “ Numquam,” inquit, “ non felicem me</p><p>dicam, quae Gracchos peperi.”</p><p>4. Cornelia Livi Drusi clarissimum iuvenem inlustris in- genii, vadentem</p><p>per Gracchana vestigia imperfectis tot rogationibus intra penates</p><p>interemptum suos, amiserat incerto caedis auctore. Tamen et acerbam</p><p>mortem filii et inultam tam magno animo tulit, quam ipse leges tulerat.</p><p>5. Iam cum fortuna in gratiam, Marcia, reverteris, si tela, quae in Scipiones</p><p>Scipionumque matres ac filias exegit, quibus Caesares petit, ne a te quidem</p><p>conti- nuit ? Plena et infesta variis casibus vita est, a quibus nulli longa pax,</p><p>vix indutiae sunt. Quattuor liberos sustuleras, Marcia. Nullum aiunt frustra</p><p>cadere telum, quod in confertum agmen inmissum est: mirum est tantam</p><p>turbam non potuisse sine invidia damnove praetervehi ? At hoc 31</p><p>6. iniquior fortuna fuit, quod non tantum eripuit filios, sed elegit. Numquam</p><p>[p. 52] tamen iniuriam dixeris ex aequo cum potentiore di- videre ; duas tibi</p><p>reliquit filias et harum nepotes. Et ipsum, quem maxime luges prioris oblita,</p><p>non ex toto abstulit ; habes ex illo duas filias, si male fers, magna onera, si</p><p>bene, magna solacia. In hoc te perduc, ut illas cum videris, admonearis filii,</p><p>non doloris !</p><p>7. Agri- cola eversis arboribus, quas aut ventus radicitus evulsit aut</p><p>contortus repentino impetu turbo praefregit, subolem ex illis residuam fovet</p><p>et in amissarum vicem semina statim plantasque disponit ; et momento</p><p>(nam ut ad damna, ita ad incrementa rapidum veloxque tempus est)</p><p>adolescunt amissis laetiora.</p><p>8. Has nunc Metilii tui filias in eius vicem substitue et vacantem locum</p><p>exple et unum</p><p>dolorem geminato solacio leva ! Est quidem haec natura</p><p>mortalium, ut nihil magis placeat quam quod amissum est ; ne- quiores</p><p>sumus adversus relicta ereptorum desiderio. Sed si aestimare volueris, quam</p><p>valde tibi fortuna, etiam cum saeviret, pepercerit, scies te habere plus quam</p><p>solacia ; respice tot nepotes, duas filias. Dic illud quoque, Marcia : “</p><p>Moverer, si esset cuique fortuna pro moribus et numquam mala bonos</p><p>sequerentur ; nunc video exempto discrimine eodem modo malos bonosque</p><p>iactari.”</p><p>XVII</p><p>1. “Grave est tamen, quem educaveris, iuvenem, [p. 54] iam matri iam patri</p><p>praesidium ac decus, amittere.” Quis negat grave esse ? Sed humanum est.</p><p>Ad hoc genitus es, ut perderes, ut perires, ut sperares, metueres, alios teque</p><p>inquietares, mortem et timeres et optares et, quod est pessimum, numquam</p><p>scires, cuius esses status.</p><p>2. Si quis Syracusas petenti diceret: “ Omnia incommoda, omnes voluptates</p><p>futurae peregrinationis tuae ante cognosce, deinde ita naviga. Haec sunt,</p><p>quae mirari possis : videbis primum ipsam insulam ab Italia angusto</p><p>interscissam freto, quam continenti quondam cohaesisse constat ; subitum</p><p>illo mare irrupit et</p><p>Hesperium Siculo latus abscidit.</p><p>Deinde videbis (licebit enim tibi avidissimum maris verticem perstririgere)</p><p>stratam illam fabulosam Charybdin, quam diu ab austro vacat, at, si quid</p><p>inde vehementius spiravit, magno hiatu profundoque navigia sorbentem.</p><p>3. Videbis celebratissimum carminibus fontem Arethusam, nitidissimi ac</p><p>perlucidi ad imum stagni, gelidissimas aquas profundentem, sive illas ibi</p><p>primum nascentis invenit, sive inlapsum terris flumen integrum subter tot</p><p>maria et ab confusione peioris undae servatum reddidit.</p><p>4. Videbis portum quietis- simum omnium, quos aut natura posuit in</p><p>tutelam classium aut adiuvit manus, sic tutum, ut ne maxi- [p. 58] tamen et</p><p>tantae futuros turpitudinis, ut ipsi maledicta sint. Nihil vetat illos tibi</p><p>suprema praestare et laudari te a liberis tuis, sed sic te para tamquam in</p><p>ignem impositurus vel puerum vel iuvenem vel senem; nihil enim ad rem</p><p>pertinent anni, quoniam nullum non acerbum funus est, quod parens</p><p>sequitur.” Post has leges propositas, si liberos tollis, omni deos invidia</p><p>liberas, qui tibi nihil certi spoponderunt.</p><p>XVIII</p><p>1. Hanc imaginem agedum ad totius vitae in- troitum refer. An Syracusas</p><p>viseres deliberanti tibi quicquid delectare poterat, quicquid offendere, ex-</p><p>posui ; puta nascenti me tibi venire in consilium :</p><p>2. “ Intraturus es urbem dis, hominibus communem, omnia complexam,</p><p>certis legibus aeternisque devinctam, indefatigata caelestium officia</p><p>volventem. Vide- bis illic innumerabiles stellas micare, videbis uno sidere</p><p>omnia implere solem,35 cotidiano cursu diei noctisque spatia signantem,</p><p>annuo aestates hiemesque aequalius quidem dividentem. Videbis nocturnam</p><p>lunae successionem, a fraternis occursibus lene remissum- que lumen</p><p>mutuantem et modo occultam modo toto ore terris imminentem,</p><p>accessionibus damnisque mutabilem, semper proximae dissimilem.</p><p>3. Videbis quinque sidera diversas agentia vias et in contrarium [p. 60]</p><p>praecipiti mundo nitentia : ex horum levissimis motibus fortunae</p><p>populorum dependent et maxima ac minima proinde formantur, prout</p><p>aequum iniquumve sidus incessit. Miraberis conlecta nubila et cadentis</p><p>aquas et obliqua fulmina et caeli fragorem.</p><p>4. Cum satiatus spectaculo supernorum in terram oculos deieceris, excipiet</p><p>te alia forma rerum aliterque mira- bilis : hinc camporum in infinitum</p><p>patentium fusa planities, hinc montium magnis et nivalibus surgentium</p><p>iugis erecti in sublime vertices ; deiectus fluminum et ex uno fonte in</p><p>occidentem orientemque diffusi amnes et summis cacuminibus nemora</p><p>nutantia et tantum silvarum cum suis animalibus aviumque concentu</p><p>dissono ;</p><p>5. varii urbium situs et seclusae nationes locorum difficultate, quarum aliae</p><p>se in erectos sub- trahunt montes, aliae ripis lacubus vallibus pavidae</p><p>circumfunduntur ; adiuta cultu seges et arbusta sine cultore feritatis ; et</p><p>rivorum lenis inter prata dis- cursus et amoeni sinus et litora in portum</p><p>recedentia ; sparsae tot per vastum insulae, quae interventu suo maria</p><p>distinguunt.</p><p>6. Quid lapidum gemmarumque fulgor et inter rapidorum torrentium aurum</p><p>harenas interfluens et in mediis terris medioque rursus mari aeriae ignium</p><p>faces et vinculum terrarum oceanus, [p. 62] continuationem gentium triplici</p><p>sinu scindens et in- genti licentia exaestuans ?</p><p>7. Videbis hic inquietis et sine vento fluctuantibus aquis innare excedenti</p><p>ter- restria magnitudine animalia, quaedam gravia et alieno se magisterio</p><p>moventia, quaedam velocia et concitatis perniciora remigis, quaedam</p><p>haurientia undas et magno praenavigantium periculo efflantia. Videbis hic</p><p>navigia quas non novere terras quaerenda; videbis nihil humanae audaciae</p><p>intemptatum erisque et spectator et ipse pars magna conantium ; disces</p><p>docebisque artes, alias quae vitam instruant, alias quae ornent, alias quae</p><p>regant.</p><p>8. Sed istic erunt mille corporum, animorum pestes, et bella et latrocinia et</p><p>venena et naufragia et intemperies caeli corporisque et carissimorum acerba</p><p>desideria et mors, incertum facilis an per poenam cruciatumque. Delibera</p><p>tecum et perpende, quid velis : ut ad illa venias, per illa exeundum est.”</p><p>Respondebis velle te vivere ? Quidni ? immo, puto, ad id non accedes, ex</p><p>quo tibi aliquid decuti doles ! Vive ergo ut convenit. “ Nemo,” inquis, “ nos</p><p>consuluit.” Consulti sunt de nobis parentes nostri, qui cum condicionem</p><p>vitae nossent, in hanc nos sustulerunt.</p><p>XIX</p><p>1. Sed ut ad solacia veniam, videamus primum quid curandum sit, deinde</p><p>quemadmodum. Movet [p. 64] lugentem desiderium eius quem dilexit. Id</p><p>per se tolerabile esse apparet ; absentis enim afuturosque, dum vivent, non</p><p>flemus, quamvis omnis usus nobis illorum cum aspectu ereptus sit. Opinio</p><p>est ergo, quae nos cruci at, et tanti quodque malum est, quanti illud</p><p>taxavimus. In nostra potestate remedium habe- mus. Iudicemus illos abesse</p><p>et nosmet ipsi fallamus, dimisimus illos, immo consecuturi praemisimus.</p><p>2. Movet et illud lugentem : “ Non erit qui me defendat, qui a contemptu</p><p>vindicet.” Ut minime probabili sed vero solacio utar, in civitate nostra plus</p><p>gratiae orbitas confert quam eripit, adeoque senectutem solitudo, quae</p><p>solebat destruere, ad potentiam ducit, ut quidam odia filiorum simulent et</p><p>liberos eiurent, orbitatem manu faciant. Scio quid dicas :</p><p>3. “ Non movent me detrimenta mea; etenim non est dignus solacio, qui</p><p>filium sibi decessisse sicut mancipium moleste fert, cui quicquam in filio</p><p>re- spicere praeter ipsum vacat.” Quid igitur te, Marcia, movet ? utrum quod</p><p>filius tuus decessit, an quod non diu vixit ? Si quod decessit, semper</p><p>debuisti dolere ; semper enim scisti moriturum.</p><p>4. Cogita nullis defunctum malis adfici, illa, quae nobis inferos faciunt</p><p>terribiles, fabulas esse, nullas imminere mortuis tenebras nec carcerem nec</p><p>flumina [p. 66] igne flagrantia nec Oblivionem amnem nec tribunalia et</p><p>reos et in illa libertate tam laxa ullos iterum tyrannos : luserunt ista poetae</p><p>et vanis nos agitavere terroribus.</p><p>5. Mors dolorum omnium exsolutio est et finis, ultra quem mala nostra non</p><p>exeunt, quae nos in illam tranquillitatem, in qua antequam nasceremur</p><p>iacuimus, reponit. Si mortuorum aliquis miseretur, et non natorum</p><p>misereatur. Mors nec bonum nec malum est ; id enim potest aut bonum aut</p><p>malum esse, quod aliquid est ; quod vero ipsum nihil est et omnia in</p><p>nihilum redigit, nulli nos fortunae tradit ; mala enim bonaque circa aliquam</p><p>versantur materiam. Non potest id fortuna tenere, quod natura dimisit, nec</p><p>potest miser esse qui nullus est.</p><p>6. Excessit filius tuus terminos, intra quos servitur, excepit illum magna et</p><p>aeterna pax. Non paupertatis metu, non divitiarum cura, non libidinis per</p><p>voluptatem animos carpentis stimulis incessitur; non invidia felicitatis</p><p>alienae tangitur, non suae premitur, ne conviciis quidem ullis verecundae</p><p>aures verberantur ; nulla publica clades prospicitur, nulla privata ; non</p><p>sollicitus futuri pendet ex eventu semper incertiora rependenti. Tandem ibi</p><p>constitit, unde nil eum pellat, ubi nihil</p><p>terreat.</p><p>XX</p><p>1. O ignaros malorum suorum, quibus non mors ut optimum inventum</p><p>naturae laudatur expectaturque, sive felicitatem includit, sive calamitatem</p><p>repellit, [p. 68] sive satietatem ac lassitudinem senis terminat, sive iuvenile</p><p>aevom dum meliora sperantur in flore deducit, sive pueritiam ante duriores</p><p>gradus revocat, omnibus finis, multis remedium, quibusdam votum, de</p><p>nullis melius merita quam de is, ad quos venit antequam invocaretur ! Haec</p><p>servitutem invito domino remittit ; haec captivorum catenas levat ;</p><p>2. haec e carcere educit quos exire imperium impotens vetuerat ; haec</p><p>exulibus in patriam semper animum oculosque tendentibus ostendit nihil</p><p>interesse, infra quos quis iaceat ; haec, ubi res communis fortuna male</p><p>divisit et aequo iure genitos alium alii donavit, exaequat omnia ; haec est,</p><p>post quam nihil quisquam alieno fecit arbitrio ; haec est, in qua nemo</p><p>humilitatem suam sensit ; haec est, quae nulli non patuit ; haec est, Marcia,</p><p>quam pater tuus concupit; haec est, inquam, quae efficit, ut nasci non sit</p><p>supplicium, quae efficit, ut non concidam adversus minas casuum, ut</p><p>servare animum salvum ac potentem sui possim : habeo quod appellem.</p><p>3. Video istic cruces non unius quidem generis sed aliter ab aliis fabricatas :</p><p>capite quidam conversos in terram suspendere, alii per obscena stipitem</p><p>egerunt, alii brachia patibulo ex- plicuerunt ; video fidiculas, video verbera,</p><p>et membris singulis articulis singula nocuerunt machinamenta. At video et</p><p>mortem. Sunt istic hostes cruenti, cives superbi; sed video istic et mortem.</p><p>Non est molestum [p. 70] servire, ubi, si dominii pertaesum est, licet uno</p><p>gradu ad libertatem transire. Caram te, vita, beneficio mortis habeo !</p><p>4. Cogita quantum boni opportuna mors habeat., quam multis diutius</p><p>vixisse nocuerit. Si Gnaeum Pompeium, decus istud firmamentumque</p><p>imperii, Neapoli valetudo abstulisset, indubitatus populi Romani princeps</p><p>excesserat. At nunc exigui temporis adiectio fastigio illum suo depulit. Vidit</p><p>legiones in conspectu suo caesas et ex illo proelio, in quo prima acies</p><p>senatus fuit,—quam infelices reliquiae sunt !—ipsum imperatorem</p><p>superfuisse ; vidit Aegyptium carnificem et sacrosanctum victoribus corpus</p><p>satelliti praestitit, etiam si incolumis fuisset, paenitentiam salutis acturus :</p><p>quid enim erat turpius quam Pompeium vivere beneficio regis ?</p><p>5. M. Cicero si illo tempore, quo Catilinae sicas devitavit, quibus pariter</p><p>cum patria petitus est, concidisset, si liberata re publica servator eius, si</p><p>denique filiae suae funus secutus esset, etiamtunc felix mori potuit. Non</p><p>vidisset strictos in civilia capita mucrones nec divisa percussoribus</p><p>occisorum bona, ut etiam de suo perirent, non hastam consularia spolia [p.</p><p>72] vendentem nec caedes locatas publice nec latrocinia, bella, rapinas,</p><p>tantum Catilinarum.</p><p>6. M. Catonem si a Cypro et hereditatis regiae dispensatione redeuntem</p><p>mare devorasset vel eum illa ipsa pecunia, quam adferebat civili bello</p><p>stipendium, nonne illi bene actum foret ? Hoc certe secum tulisset,</p><p>neminem ausurum coram Catone peccare. Nunc annorum adiectio</p><p>paucissimorum virum libertati non suae tantum sed publicae natum coegit</p><p>Caesarem fugere, Pompeium sequi. Nihil ergo illi mali immatura mors</p><p>attulit ; omnium etiam malorum remisit patientiam.</p><p>XXI</p><p>1. “ Nimis tamen cito perit et immaturus.” Primum puta illi superfuisse—</p><p>comprende quantum plurimum procedere homini licet : quantum est ? Ad</p><p>brevissimum tempus editi, cito cessuri loco venienti in pactum hoc</p><p>prospicimus hospitium. De nostris aetatibus loquor, quas incredibili</p><p>celeritate aevum volvit ? Computa urbium saecula ; videbis quam non diu</p><p>steterint etiam quae vetustate gloriantur. Omnia humana brevia et caduca</p><p>sunt et infiniti temporis nullam partem occupantia.</p><p>2. Terram hanc cum urbibus populisque et fluminibus et ambitu maris</p><p>puncti loco ponimus ad universa referentes ; minorem portionem aetas</p><p>nostra quam puncti habet, si omni tempori comparetur, cuius maior est</p><p>mensura quam [p. 74] mundi, utpote cum ille se intra huius spatium totiens</p><p>remetiatur. Quid ergo interest id extendere, cuius quantumcumque fuerit</p><p>incrementum non multum aberit a nihilo ? Uno modo multum est quod</p><p>vivimus, si satis est.</p><p>3. Licet mihi vivaces et in memoriam traditae senectutis viros nomines,</p><p>centenos denosque percenseas annos : cum ad omne tempus dimiseris</p><p>animum, nulla erit illa brevissimi longissimique aevi differentia, si inspecto</p><p>quanto quis vixerit spatio comparaveris quanto non vixerit.</p><p>4. Deinde sibi maturus decessit ; vixit enim quantum debuit vivere, nihil illi</p><p>iam ultra supererat. Non una hominibus senectus est, ut ne animalibus</p><p>quidem. Intra quattuordecim quaedam annos defetigavit, et haec illis</p><p>longissima aetas est quae homini prima ; dispar cuique vivendi facultas data</p><p>est. Nemo nimis cito moritur, quia victurus diutius quam vixit non fuit.</p><p>5. Fixus est cuique terminus ; manebit semper, ubi positus est, nec illum</p><p>ulterius diligentia aut gratia promovebit. Sic habe, te illum ex consilio</p><p>perdidisse. Tulit suum Metasque dati pervenit ad aevi.</p><p>6. Non est itaque quod sic te oneres : “ Potuit diutius vivere.” Non est</p><p>interrupta eius vita nec umquam se annis casus intericit. Solvitur quod</p><p>cuique pro- missum est ; eunt via sua fata nec adiciunt quicquam [p. 76] nec</p><p>ex promisso semel demunt. Frustra vota ac studia sunt ; habebit quisque</p><p>quantum illi dies primus adscripsit. Ex illo quo primum lucem vidit, iter</p><p>mortis ingressus est accessitque fato propior et illi ipsi qui adiciebantur</p><p>adulescentiae anni vitae de- trahebantur. In hoc omnes errore versamur, ut</p><p>non putemus ad mortem nisi senes inclinatosque iam ver- gere, cum illo</p><p>infantia statim et iuventa, omnis aetas ferat. Agunt opus suum fata ; nobis</p><p>sensum nostrae necis auferunt, quoque facilius obrepat mors, sub ipso vitae</p><p>nomine latet ; infantiam in se pueritia convertit, pueritiam pubertas,</p><p>iuvenem senex abstulit. In- crementa ipsa, si bene computes, damna sunt.</p><p>XXII</p><p>1. Querens, Marcia, non tam diu filium tuum vixisse quam potuisset ? Unde</p><p>enim scis an diutius illi expedient vivere ? an illi hac morte consultum sit ?</p><p>Quemquam invenire hodie potes, cuius res tam bene positae sunt</p><p>fundataeque, ut nihil illi procedent! tempore timendum sit ? Labant humana</p><p>ac fluunt neque ulla pars vitae nostrae tam obnoxia aut tenera est quam quae</p><p>maxime placet, ideoque felicissimis optanda mors est, quia in tanta</p><p>inconstantia turbaque rerum nihil nisi quod praeterit certum est.</p><p>2. Quis tibi recipit illud fili tui pulcherrimum corpus et summa pudoris</p><p>custodia inter luxuriosae urbis oculos con- [p. 78] servatum potuisse tot</p><p>morbos ita evadere, ut ad se- nectutem inlaesum perferret formae decus ?</p><p>Cogita animi mille labes ; neque enim recta ingenia qualem in adulescentia</p><p>spem sui fecerant usque in senectutem pertulerunt, sed interversa</p><p>plerumque sunt ; aut sera eoque foedior luxuria invasit coepitque</p><p>dehonestare speciosa principia, aut in popinam ventremque pro- cubuerunt</p><p>toti summaque illis curarum fuit, quid essent, quid biberent.</p><p>3. Adice incendia, ruinas, naufragia lacerationesque medicorum ossa vivis</p><p>legentium et totas in viscera manus demittentium et non simplici cum</p><p>dolore pudenda curantium ; post haec exilium (non fuit innocentior filius</p><p>tuus quam Rutilius), carcerem (non fuit sapientior quam Socrates),</p><p>voluntario vulnere transfixum pectus (non fuit sanctior quam Cato). Cum</p><p>ista perspexeris, scies optime cum is agi, quos natura, quia illos hoc</p><p>manebat vitae stipendium, cito in tutum recepit. Nihil est tam fallax quam</p><p>vita humana, nihil tam insidiosum ; non me hercules quis- quam illam</p><p>accepisset, nisi daretur inscientibus. Ita- que si felicissimum est non nasci,</p><p>proximum est, puto, brevi aetate defunctos cito in integrum restitui.</p><p>4. Propone illud acerbissimum tibi tempus, quo Seianus patrem tuum clienti</p><p>suo Satrio Secundo con- [p. 80] giarium dedit. Irascebatur illi ob unum aut</p><p>alterum liberius dictum, quod tacitus ferre non potuerat Seianum in cervices</p><p>nostras ne imponi quidem, sed escendere. Decernebatur illi statua in</p><p>Pompei theatro ponenda,</p><p>quod exustum Caesar reficiebat ; exclamavit</p><p>Cordus tunc vere theatrum perire. Quid ergo ? Non rumperetur supra</p><p>cineres Cn.</p><p>5. Pompei constitui Seianum et in monimentis maximi impera- toris</p><p>consecrari perfidum militem ? Consecratur subscriptio, et acerrimi canes,</p><p>quos ille ut sibi uni mansuetos, omnibus feros haberet, sanguine humano</p><p>pascebat, circumlatrare hominem etiam illum iam pedica captum incipiunt.</p><p>Quid faceret ?</p><p>6. Si vivere vellet, Seianus rogandus erat, si mori, filia, uterque inexorabilis.</p><p>Constituit filiam fallere. Usus itaque balineo, quo plus virium poneret, in</p><p>cubiculum se quasi gustaturus contulit et dimissis pueris quaedam per</p><p>fenestram, ut videretur edisse, proiecit ; a cena deinde, quasi iam satis in</p><p>cubiculo edisset, abstinuit. Altero quoque die et tertio idem fecit ; quartus</p><p>ipsa infirmitate corporis faciebat indicium. Complexus itaque te: “</p><p>Carissima,” inquit, “ filia et hoc unum [p. 82] tota celata vita, iter mortis</p><p>ingressus sum et iam medium fere teneo; revocare me nec debes nec potes.”</p><p>Atque ita iussit lumen omne praecludi et se in tene- bras condidit.</p><p>7. Cognito consilio eius publica voluptas erat, quod e faucibus</p><p>avidissimorum luporum educeretur praeda. Accusatores auctore Seiano</p><p>adeunt consulum tribunalia,queruntur mori Cordum, ut interpellarent quod</p><p>coegerant ; adeo illis Cordus videbatur effugere. Magna res erat in</p><p>quaestione, an mortis ius rei perderent ; dum deliberatur, dum accusatores</p><p>iterum adeunt, ille se absolverat. Videsne, Marcia, quantae iniquorum</p><p>temporum vices ex inopi- nato ingruant ? Fles, quod alicui tuorum mori</p><p>necesse fuit ? Paene non licuit !</p><p>XXIII</p><p>1. Praeter hoc quod omne futurum incertum est et ad deteriora certius,</p><p>facillimum ad superos iter est animis cito ab humana conversatione dimissis</p><p>; minimum enim faecis, ponderis traxerunt. Ante quam obdurescerent et</p><p>altius terrena conciperent liberati leviores ad originem suam revolant et</p><p>facilius quicquid est illud obsoleti inlitique eluunt.</p><p>2. Nec umquam magnis ingenis cara in corpore mora est ; exire atque</p><p>erumpere gestiunt, aegre has angustias [p. 84] ferunt, vagi per omne,</p><p>sublimes et ex alto adsueti humana despicere. Inde est quod Platon clamat :</p><p>sapientis animum totum in mortem prominere, hoc velle, hoc meditari, hac</p><p>semper cupidine ferri in exteriora tendentem.</p><p>3. Quid ? tu, Marcia, cum videres senilem in iuvene prudentiam, victorem</p><p>omnium voluptatium animum, emendatum, carentem vitio, divitias sine</p><p>avaritia, honores sine ambitione, voluptates sine luxuria adpetentem, diu</p><p>tibi putabas illum sospitem posse contingere ? Quicquid ad summum</p><p>pervenit, ab exitu prope est. Eripit se aufertque ex oculis perfecta virtus, nec</p><p>ultimum tempus expectant quae in primo maturuerunt. Ignis quo clarior</p><p>fulsit, citius extinguitur;</p><p>4. vivacior est, qui cum lenta ac difficili materia commissus fumoque</p><p>demersus ex sordido lucet ; eadem enim detinet causa, quae maligne alit.</p><p>Sic ingenia quo inlustriora, breviora sunt; nam ubi in- cremento locus non</p><p>est, vicinus occasus est.</p><p>5. Fabianus ait, id quod nostri quoque parentes videre, puerum Romae</p><p>fuisse statura ingentis viri ; sed hic cito decessit, et moriturum brevi nemo</p><p>prudens non ante dixit ; non poterat enim ad illam aetatem pervenire, quam</p><p>praeceperat. Ita est : indicium imminentis exitii nimia maturitas est ; adpetit</p><p>finis ubi in- crementa consumpta sunt.</p><p>XXIV</p><p>1. Incipe virtutibus illum, non annis aestimare ; satis diu vixit. Pupillus</p><p>relictus sub tutorum cura [p. 86] usque ad quartum decimum annum fuit,</p><p>sub matris tutela semper. Cum haberet SUOS penates, relinquere tuos noluit</p><p>et in materno contubernio, eum vix paternum liberi ferant, perseveravit.</p><p>Adulescens statura, pulchritudine, certo corporis robore castris natus</p><p>militiam recusavit ne a te discederet.</p><p>2. Computa, Marcia, quam raro liberos videant quae in diversis domibus</p><p>habitant; cogita tot illos perire annos matribus et per sollicitudinem exigi,</p><p>quibus filios in exercitu habent: scies multum patuisse hoc tempus, ex quo</p><p>nil perdidisti. Numquam e conspectu tuo recessit ; sub oculis tuis studia</p><p>formavit excellentis ingeni et aequaturi avum, nisi obstitisset verecundia,</p><p>quae multorum profectus silentio pressit.</p><p>3. Adulescens rarissimae formae in tam magna feminarum turba viros</p><p>corrumpentium nullius se spei praebuit, et cum quarundam usque ad</p><p>temptandum pervenisset improbitas, erubuit quasi peccasset, quod</p><p>placuerat. Hac sanctitate morum effecit, ut puer admodum dignus</p><p>sacerdotio videretur, materna sine dubio suffragatione, sed ne mater quidem</p><p>nisi pro bono candidato valuisset.</p><p>4. Harum contemplatione vir- tutum filium gere quasi sinu ! Nunc ille tibi</p><p>magis vacat, nunc nihil habet, quo avocetur; numquam [p. 88] tibi</p><p>sollicitudini, numquam maerori erit. Quod unum ex tam bono filio poteras</p><p>dolere, doluisti; cetera, exempta casibus, plena voluptatis sunt, si modo uti</p><p>filio scis, si modo quid in illo pretiosissimum fuerit intellegis.</p><p>5. Imago dumtaxat fili tui perit et effigies non simillima; ipse quidem</p><p>aeternus melioris- que nune status est, despoliatus oneribus alienis et sibi</p><p>relictus. Haec quae vides circumdata nobis, ossa nervos et obductam cutem</p><p>vultumque et ministras manus et cetera quibus involuti sumus, vincula</p><p>animorum tenebraeque sunt. Obruitur his, offocatur, inficitur, arcetur a veris</p><p>et suis in falsa coiectus. Omne illi cum hac gravi carne certamen est, ne</p><p>abstrahatur et si dat ; nititur illo, unde demissus est. Ibi illum aeterna</p><p>requies manet ex confusis crassisque pura et liquida visentem.</p><p>XXV</p><p>1. Proinde non est quod ad sepulcrum fili tui curras ; pessima eius et ipsi</p><p>molestissima istic iacent, ossa cineresque, non magis illius partes quam</p><p>vestes aliaque tegimenta corporum. Integer ille nihilque in terris relinquens</p><p>sui fugit et totus excessit; paulumque supra nos commoratus, dum</p><p>expurgatur et inhaerentia vitia situmque omnem mortalis aevi excutit,</p><p>deinde ad excelsa sublatus inter felices currit animas.</p><p>2. Excepit illum coetus sacer, Scipiones [p. 90] Catonesque, interque</p><p>contemptores vitae et veneficio liberos parens tuus, Marcia. Ille nepotem</p><p>suum— quamquam illic omnibus omne cognatum est— applicat sibi nova</p><p>luce gaudentem et vicinorum siderum meatus docet, nec ex coniectura sed</p><p>omnium ex vero peritus in arcana naturae libens ducit ; utque ignotarum</p><p>urbium monstrator hospiti gratus est, ita sciscitanti caelestium causas</p><p>domesticus interpres. Et in profunda terrarum permittere aciem iubet ; iuvat</p><p>enim ex alto relicta respicere.</p><p>3. Sic itaque te, Marcia, gere, tamquam sub oculis patris filique posita, non</p><p>illorum, quos noveras, sed tanto excelsiorum et in summo locatorum.</p><p>Erubesce quicquam humile aut volgare cogitare et mutatos in melius tuos</p><p>flere ! Aeternarum rerum per libera et vasta spatia dimissi sunt ; non illos</p><p>interfusa maria discludunt nec alti- tudo montium aut inviae valles aut</p><p>incertarum vada Syrtium: omnia ibi plana et ex facili mobiles et expediti et</p><p>in vicem pervii sunt intermixtique sideribus.</p><p>XXVI</p><p>1. Puta itaque ex illa arce caelesti patrem tuum Marcia, cui tantum apud te</p><p>auctoritatis erat quantum tibi apud filium tuum, non illo ingenio, quo civilia</p><p>bella deflevit, quo proscribentis in aeternum ipse proscripsit, sed tanto</p><p>elatiore, quanto est ipse sub- [p. 92] limior, dicere ;</p><p>2. “Cur te, filia, tam longa tenet aegri- tudo ? Cur in tanta veri ignoratione</p><p>versaris, ut inique actum eum filio tuo iudices, quod integro domus statu</p><p>integer ipse se ad maiores recepit suos ? Nescis quantis fortuna procellis</p><p>disturbet omnia ? Quam nullis benignam facilemque se praestiteris nisi qui</p><p>minimum cum illa contraxerant ? Regesne tibi nominem felicissimos</p><p>futuros, si maturius illos mors instantibus subtraxisset malis ? an Romanos</p><p>duces, quorum nihil magnitudini deerit, si aliquid aetati detraxeris ? an</p><p>nobilissimos viros clarissimosque ad ictum militaris gladi composita</p><p>cervice curvatos ?</p><p>3. Respice patrem atque avum tuum : ille in alieni percussoris venit</p><p>arbitrium ; ego nihil in me cuiquam permisi et cibo prohibitus ostendi tam</p><p>magno me quam uidebar animo scripsisse.54 Cur in domo</p><p>diferentes. Alguns são guiados pela razão, outros devem ser confrontados</p><p>com a autoridade e os nomes de pessoas famosas, cujo brilho deslumbra sua</p><p>mente e destrói seu poder de livre julgamento.</p><p>2. Colocarei diante de seus olhos dois dos maiores exemplos pertencentes a</p><p>seu gênero e a seu século: um, o de uma mulher que se deixou levar</p><p>inteiramente pela dor; o outro, uma que, embora afligida por uma desgraça</p><p>semelhante, e uma perda ainda maior, não permitiu que suas mágoas</p><p>reinassem sobre ela por muito tempo, mas rapidamente restituiu à sua</p><p>mente a estrutura acostumada.</p><p>3. Otávia10 e Lívia11, a primeira irmã de Augusto12, esta última sua esposa,</p><p>perderam ambos seus filhos quando eram jovens, e quando tinham a certeza</p><p>de que iriam suceder ao trono. Octávia perdeu Marcelo13, do qual tanto seu</p><p>sogro como seu tio começaram a depender, e a colocar sobre seus ombros o</p><p>peso do império - um jovem de inteligência aguçada e caráter firme, frugal</p><p>e moderado em seus desejos a ponto de merecer uma admiração especial</p><p>em um tão jovem e tão rico, forte para suportar o trabalho, avesso à</p><p>indulgência, e capaz de suportar qualquer fardo que seu tio pudesse</p><p>escolher colocar, ou posso dizer para empilhar sobre seus ombros. Augusto</p><p>o escolheu como alicerce, pois ele não teria cedido sob nenhum peso, por</p><p>mais excessivo que fosse.</p><p>4. Sua mãe nunca deixou de chorar e soluçar durante toda sua vida, nunca</p><p>suportou ouvir conselhos salutares, nunca sequer permitiu que seus</p><p>pensamentos fossem desviados de sua tristeza. Ela permaneceu durante toda</p><p>sua vida, assim como durante o funeral, com toda a força de sua mente</p><p>intencionalmente fixada sobre um assunto. Não digo que lhe faltou coragem</p><p>para se livrar de sua dor, mas ela se recusou a ser consolada, pensou que</p><p>seria um segundo luto perder suas lágrimas.</p><p>5. Não teria nenhum retrato de seu querido filho, nem permitiria que se</p><p>fizesse qualquer alusão a ele. Ela odiava todas as mães, e se enfurecia com</p><p>especial fúria contra Lívia, porque parecia que a perspectiva brilhante que</p><p>um dia aguardava para seu próprio filho fora então transferida para o filho</p><p>de Lívia14. Passando todos os seus dias em quartos escuros e sozinha, sem</p><p>conversar nem com seu irmão, ela se recusou a aceitar os poemas que foram</p><p>compostos em memória de Marcelo15, e todas as outras honras que lhe</p><p>foram pagas pela literatura, e fechou seus ouvidos contra todo consolo. Ela</p><p>vivia soterrada e escondida da vista, negligenciando seus deveres habituais,</p><p>e na verdade revoltada com o esplendor excessivo da prosperidade de seu</p><p>irmão, na qual ela partilhava. Embora rodeada por seus filhos e netos, ela</p><p>não deixava de lado seu traje de luto, embora ao retê-lo ela parecesse</p><p>colocar um pouco sobre todos os seus parentes, ao considerar-se enlutada</p><p>apesar deles estarem vivos.</p><p>III</p><p>1. Lívia perdeu seu filho Druso16, que teria sido um grande imperador, e já</p><p>era um grande general: ele tinha marchado longamente para a Germânia, e</p><p>tinha plantado os estandartes romanos em lugares onde a própria existência</p><p>dos romanos era pouco conhecida. Ele morreu na marcha, seus próprios</p><p>inimigos tratando-o com respeito, observando uma trégua recíproca, e não</p><p>tendo o ânimo de desejar o que lhes faria melhor serviço. Além de sua</p><p>morte assim no serviço de seu país, grande tristeza por ele foi expressa</p><p>pelos cidadãos, pelas províncias e por toda a Itália, através da qual seu</p><p>cadáver foi visitado pelo povo das cidades e colônias livres, que afluíram</p><p>para realizar os últimos tristes ofícios a ele, até chegar a Roma em uma</p><p>procissão que parecia um triunfo.</p><p>2. Sua mãe não pôde receber seu último beijo e recolher as últimas palavras</p><p>carinhosas de seus lábios moribundos: ela seguiu as relíquias de seu Druso</p><p>em sua longa jornada, embora cada uma das piras funerárias com as quais</p><p>toda a Itália brilhava parecesse renovar seu pesar, como se ela o tivesse</p><p>perdido tantas vezes. Quando, no entanto, ela finalmente o colocou no</p><p>túmulo, deixou sua tristeza lá com ele, e lamentou não mais do que aquilo</p><p>adequado a um César ou devido a um filho. Ela não deixou de fazer</p><p>frequentes menções ao nome de seu Druso, de colocar seu retrato em todos</p><p>os lugares, tanto públicos quanto privados, e de falar dele e ouvir enquanto</p><p>outros falavam dele com o maior prazer: ela vivia com sua memória, que</p><p>ninguém pode abraçar e consolar com quem o fez doloroso para si</p><p>mesmo17.</p><p>3. Escolha, portanto, qual destes dois exemplos você acha mais louvável: se</p><p>preferir seguir o primeiro, você se afastará do círculo dos vivos; desviará a</p><p>vista tanto dos filhos de outras pessoas quanto dos seus, e até daquele cuja</p><p>perda você deplora; será vista pelas mães como um presságio do mal;</p><p>recusar-se-á a participar de prazeres honrosos e permissíveis, achando-os</p><p>impróprios para alguém tão atribulado; estará relutante em permanecer</p><p>acima do chão, e estará especialmente zangada com sua idade, porque ela</p><p>não acabará abruptamente com sua vida. Eu aqui coloco a melhor</p><p>construção sobre o que é realmente mais desprezível e estranho ao seu</p><p>caráter. Quero dizer que você se mostrará pouco disposta a viver, e incapaz</p><p>de morrer.</p><p>5. Se, por outro lado, mostrando um espírito mais ameno e melhor regulado,</p><p>você tentar seguir o exemplo da senhora mais excelsa18, você não estará na</p><p>miséria, nem desgastará sua vida com sofrimento. Que loucura é essa,</p><p>castigar a si mesma porque é infeliz, e não para diminuir, mas para</p><p>aumentar seus males! Você deve mostrar, também neste assunto, aquele</p><p>comportamento decente e modéstia que tem caracterizado toda a sua vida:</p><p>pois existe algo como autodomínio no luto também. Você demonstrará mais</p><p>respeito pelo próprio jovem, que bem merece que se alegre em falar e</p><p>pensar nele, se você o fizer capaz de encontrar sua mãe com um semblante</p><p>alegre, como ele costumava fazer quando estava vivo.</p><p>IV</p><p>1. Não vou lhe convocar para praticar o tipo de máximas mais rígidas, nem</p><p>vou lhe pedir que carregue a humanidade com mais do que filosofia</p><p>humana; nem vou tentar secar os olhos de uma mãe no próprio dia do</p><p>enterro de seu filho. Eu irei me apresentar diante de um árbitro: o assunto</p><p>sobre o qual iremos nos unir é, se o luto deve ser profundo ou incessante.</p><p>2. Não duvido que você prefira o exemplo de Julia Augusta19, que era sua</p><p>amiga íntima: ela o convida a seguir seu método: ela, em seu primeiro</p><p>paroxismo, quando o pesar é especialmente agudo e difícil de suportar, se</p><p>empenha para consolo com Ário20, professor de filosofia de seu marido, e</p><p>declara que isso lhe fez muito bem; mais bem do que o pensamento do povo</p><p>romano, a quem ela não estava disposta a entristecer com seu luto; mais do</p><p>que Augusto, que, cambaleante sob a perda de um de seus dois principais</p><p>apoiadores21, não deveria estar ainda mais abatido pela dor de seus</p><p>familiares; mais até do que seu filho Tibério22, cujo afeto durante aquele</p><p>inoportuno enterro de um por quem nações inteiras choraram a fez sentir</p><p>que ela havia perdido apenas um membro de sua família.</p><p>3. Esta foi, imagino, sua introdução e fundamentação na filosofia de uma</p><p>mulher peculiarmente perseverante de sua própria opinião: “Até hoje, Julia,</p><p>até onde posso dizer – e eu era a companheira constante de seu marido, e</p><p>sabia não apenas o que todos os homens podiam saber, mas todos os</p><p>pensamentos mais secretos de seu coração – você teve o cuidado de que</p><p>ninguém encontrasse nada a julgar em sua conduta”; não apenas em</p><p>assuntos importantes, mas até mesmo em ninharias você se esforçou para</p><p>não fazer nada que pudesse deixar a desejar a fama comum, que o juiz mais</p><p>franco dos atos dos príncipes, não pudesse deixar de ver.</p><p>4. Nada, penso eu, é mais admirável do que aqueles que estão em altos</p><p>cargos, do que perdoar muitas falhas em outros, e que não têm que solicitar</p><p>perdão de nenhuma de suas próprias falhas23. Portanto, também nesta</p><p>questão de luto, você deve agir de acordo com sua máxima de não fazer</p><p>nada que você possa desejar que seja desfeito, ou feito de outra forma.</p><p>V</p><p>1. “Em seguida, oro e lhe suplico para não ser obstinada e intratável com</p><p>seus amigos. Você deve estar ciente de</p><p>nostra diutissime</p><p>lugetur qui felicissime moritur ? Coimus omnes in unum videmusque non</p><p>alta nocte circumdati nil apud vos, ut putatis, optabile, nil excelsum, nil</p><p>splendidum, sed humilia cuncta et gravia et anxia et quotam partem luminis</p><p>nostri cernentia!</p><p>4. Quid dicam nulla hic arma mutuis furere concursibus nec classes</p><p>classibus frangi nec parricidia aut fingi aut cogitari nec fora litibus strepere</p><p>dies perpetuos, [p. 94] nihil in obscuro, detectas mentes et aperta praecordia</p><p>et in publico medioque vitam et omnis aevi prospectum venientiumque?</p><p>5. Iuvabat unius me saeculi facta componere in parte ultima mundi et inter</p><p>paucissimos gesta. Tot saecula, tot aetatium contextum, seriem, quicquid</p><p>annorum est, licet visere ; licet surrectura, licet ruitura regna prospicere et</p><p>magnarum urbium lapsus et maris novos cursus.</p><p>6. Nam si tibi potest solacio esse desideri tui commune fatum, nihil quo stat</p><p>loco stabit, omnia sternet abducetque secum vetustas. Nec hominibus solum</p><p>(quota enim ista fortuitae potentiae portio est?), sed locis, sed regionibus,</p><p>sed mundi partibus ludet. Totos supprimet montes et alibi rupes in altum</p><p>novas exprimet; maria sorbebit, flumina avertet et commercio gentium</p><p>rupto societatem generis humani coetumque dissolvet ; alibi hiatibus vastis</p><p>subducet urbes, tremoribus quatiet et ex infimo pestilentiae halitus mittet et</p><p>inundationibus quicquid habitatur obducet necabitque omne animal orbe</p><p>submerso et ignibus vastis torrebit incendetque mortalia. Et cum tempus</p><p>advenerit, quo se mundus renovaturus extinguat, viribus ista se suis caedent</p><p>et sidera sideribus incurrent et omni flagrante materia [p. 96] uno igni</p><p>quicquid nunc ex disposito lucet ardebit.</p><p>7. Nos quoque felices animae et aeterna sortitae, cum deo visum erit iterum</p><p>ista moliri, labentibus cunctis et ipsae parva ruinae ingentis accessio in</p><p>antiqua elementa vertemur.”</p><p>Felicem filium tuum, Marcia, qui ista iam novit !</p><p>Original Latim: Ad Helviam matrem, De</p><p>Consolatione</p><p>I.</p><p>1. Saepe iam, mater optima, impetum cepi consolandi te, saepe continui. Vt</p><p>auderem multa me inpellebant: primum uidebar depositurus omnia</p><p>incommoda, cum lacrimas tuas, etiam si supprimere non potuissem, interim</p><p>certe abstersissem; deinde plus habiturum me auctoritatis non dubitabam ad</p><p>excitandam te, si prior ipse consurrexissem; praeterea timebam ne a me</p><p>uicta fortuna aliquem meorum uinceret. Itaque utcumque conabar manu</p><p>super plagam meam inposita ad obliganda uulnera uestra reptare. 2. Hoc</p><p>propositum meum erant rursus quae retardarent: dolori tuo, dum recens</p><p>saeuiret, sciebam occurrendum non esse ne illum ipsa solacia inritarent et</p><p>accenderent — nam in morbis quoque nihil est perniciosius quam inmatura</p><p>medicina; expectabam itaque dum ipse uires suas frangeret et ad sustinenda</p><p>remedia mora mitigatus tangi se ac tractari pateretur. Praeterea cum omnia</p><p>clarissimorum ingeniorum monumenta ad compescendos moderandosque</p><p>luctus composita euoluerem, non inueniebam exemplum eius qui consolatus</p><p>suos esset, cum ipse ab illis comploraretur; ita in re noua haesitabam</p><p>uerebarque ne haec non consolatio esset sed exulceratio. 3. Quid quod nouis</p><p>uerbis nec ex uulgari et cotidiana sumptis adlocutione opus erat homini ad</p><p>consolandos suos ex ipso rogo caput adleuanti? Omnis autem magnitudo</p><p>doloris modum excedentis necesse est dilectum uerborum eripiat, cum</p><p>saepe uocem quoque ipsam intercludat. 4. Vtcumque conitar, non fiducia</p><p>ingenii, sed quia possum instar efficacissimae consolationis esse ipse</p><p>consolator. Cui nihil negares, huic hoc utique te non esse negaturam, licet</p><p>omnis maeror contumax sit, spero, ut desiderio tuo uelis a me modum</p><p>statui.</p><p>II.</p><p>1. Vide quantum de indulgentia tua promiserim mihi: potentiorem me</p><p>futurum apud te non dubito quam dolorem tuum, quo nihil est apud miseros</p><p>potentius. Itaque ne statim cum eo concurram, adero prius illi et quibus</p><p>excitetur ingeram; omnia proferam et rescindam quae iam obducta sunt. 2.</p><p>Dicet aliquis: 'quod hoc genus est consolandi, obliterata mala reuocare et</p><p>animum in omnium aerumnarum suarum conspectu conlocare uix unius</p><p>patientem?' Sed is cogitet, quaecumque usque eo perniciosa sunt ut contra</p><p>remedium conualuerint, plerumque contrariis curari. Omnis itaque luctus</p><p>illi suos, omnia lugubria admouebo: hoc erit non molli uia mederi, sed urere</p><p>ac secare. Quid consequar? ut pudeat animum tot miseriarum uictorem</p><p>aegre ferre unum uulnus in corpore tam cicatricoso. 3. Fleant itaque diutius</p><p>et gemant, quorum delicatas mentes eneruauit longa felicitas, et ad</p><p>leuissimarum iniuriarum motus conlabantur: at quorum omnes anni per</p><p>calamitates transierunt, grauissima quoque forti et inmobili constantia</p><p>perferant. Vnum habet adsidua infelicitas bonum, quod quos semper uexat</p><p>nouissime indurat. 4. Nullam tibi fortuna uacationem dedit a grauissimis</p><p>luctibus, ne natalem quidem tuum excepit: amisisti matrem statim nata,</p><p>immo dum nasceris, et ad uitam quodam modo exposita es. Creuisti sub</p><p>nouerca, quam tu quidem omni obsequio et pietate, quanta uel in filia</p><p>conspici potest, matrem fieri coegisti; nulli tamen non magno constitit etiam</p><p>bona nouerca. Auunculum indulgentissimum, optimum ac fortissimum</p><p>uirum, cum aduentum eius expectares, amisisti; et ne saeuitiam suam</p><p>fortuna leuiorem diducendo faceret, intra tricesimum diem carissimum</p><p>uirum, ex quo mater trium liberorum eras, extulisti. 5. Lugenti tibi luctus</p><p>nuntiatus est omnibus quidem absentibus liberis, quasi de industria in id</p><p>tempus coniectis malis tuis ut nihil esset [haberes] ubi se dolor tuus</p><p>reclinaret. Transeo tot pericula, tot metus, quos sine interuallo in te</p><p>incursantis pertulisti: modo modo in eundem sinum ex quo tres nepotes</p><p>emiseras ossa trium nepotum recepisti; intra uicesimum diem quam filium</p><p>meum in manibus et in osculis tuis mortuum funeraueras, raptum me</p><p>audisti: hoc adhuc defuerat tibi, lugere uiuos.</p><p>III.</p><p>1. Grauissimum est ex omnibus quae umquam in corpus tuum descenderunt</p><p>recens uulnus, fateor; non summam cutem rupit, pectus et uiscera ipsa</p><p>diuisit. Sed quemadmodum tirones leuiter saucii tamen uociferantur et</p><p>manus medicorum magis quam ferrum horrent, at ueterani quamuis</p><p>confossi patienter ac sine gemitu uelut aliena corpora exsaniari patiuntur, ita</p><p>tu nunc debes fortiter praebere te curationi. 2. Lamentationes quidem et</p><p>eiulatus et alia per quae fere muliebris dolor tumultuatur amoue; perdidisti</p><p>enim tot mala, si nondum misera esse didicisti. Ecquid uideor non timide</p><p>tecum egisse? nihil tibi subduxi ex malis tuis, sed omnia coaceruata ante te</p><p>posui.</p><p>IV.</p><p>1. Magno id animo feci; constitui enim uincere dolorem tuum, non</p><p>circumscribere. Vincam autem, puto, primum si ostendero nihil me pati</p><p>propter quod ipse dici possim miser, nedum propter quod miseros etiam</p><p>quos contingo faciam; deinde si ad te transiero et probauero ne tuam</p><p>quidem grauem esse fortunam, quae tota ex mea pendet. 2. Hoc prius</p><p>adgrediar quod pietas tua audire gestit, nihil mihi mali esse. Si potuero,</p><p>ipsas res quibus me putas premi non esse intolerabiles faciam manifestum;</p><p>sin id credi non potuerit, at ego mihi ipse magis placebo, quod inter eas res</p><p>beatus ero quae miseros solent facere. 3. Non est quod de me aliis credas:</p><p>ipse tibi, ne quid incertis opinionibus perturberis, indico me non esse</p><p>miserum. Adiciam, quo securior sis, ne fieri quidem me posse miserum.</p><p>V.</p><p>1. Bona condicione geniti sumus, si eam non deseruerimus. Id egit rerum</p><p>natura ut ad bene uiuendum non magno apparatu opus esset: unusquisque</p><p>facere se beatum potest. Leue momentum in aduenticiis rebus est et quod in</p><p>neutram partem magnas uires habeat: nec secunda sapientem euehunt nec</p><p>aduersa demittunt; laborauit enim semper ut in se plurimum poneret, ut a se</p><p>omne gaudium peteret. 2. Quid ergo? sapientem esse me dico? Minime;</p><p>nam id quidem si profiteri possem, non tantum negarem miserum esse me,</p><p>sed omnium fortunatissimum et in uicinum deo perductum praedicarem:</p><p>nunc, quod satis est ad omnis miserias leniendas, sapientibus me uiris dedi</p><p>et nondum in auxilium mei ualidus in aliena castra confugi, eorum scilicet</p><p>qui facile se ac suos tuentur.</p><p>3. Illi me iusserunt stare adsidue uelut in</p><p>praesidio positum et omnis conatus fortunae, omnis impetus prospicere</p><p>multo ante quam incurrant. Illis grauis est quibus repentina est: facile eam</p><p>sustinet qui semper expectat. Nam et hostium aduentus eos prosternit quos</p><p>inopinantis occupauit: at qui futuro se bello ante bellum parauerunt,</p><p>compositi et aptati primum qui tumultuosissimus est ictum facile excipiunt.</p><p>4. Numquam ego fortunae credidi, etiam cum uideretur pacem agere; omnia</p><p>illa quae in me indulgentissime conferebat, pecuniam honores gratiam, eo</p><p>loco posui unde posset sine motu meo repetere. Interuallum inter illa et me</p><p>magnum habui; itaque abstulit illa, non auulsit. Neminem aduersa fortuna</p><p>comminuit nisi quem secunda decepit. 5. Illi qui munera eius uelut sua et</p><p>perpetua amauerunt, qui se suspici propter illa uoluerunt, iacent et maerent</p><p>cum uanos et pueriles animos, omnis solidae uoluptatis ignaros, falsa et</p><p>mobilia oblectamenta destituunt: at ille qui se laetis rebus non inflauit nec</p><p>mutatis contrahit. Aduersus utrumque statum inuictum animum tenet</p><p>exploratae iam firmitatis; nam in ipsa felicitate quid contra infelicitatem</p><p>ualeret expertus est. 6. Itaque ego in illis quae omnes optant existimaui</p><p>semper nihil ueri boni inesse, tum inania et specioso ac deceptorio fuco</p><p>circumlita inueni, intra nihil habentia fronti suae simile: nunc in his quae</p><p>mala uocantur nihil tam terribile ac durum inuenio quam opinio uulgi</p><p>minabatur. Verbum quidem ipsum persuasione quadam et consensu iam</p><p>asperius ad aures uenit et audientis tamquam triste et execrabile ferit: ita</p><p>enim populus iussit, sed populi scita ex magna parte sapientes abrogant.</p><p>VI.</p><p>1. Remoto ergo iudicio plurium, quos prima rerum species, utcumque</p><p>credita est, aufert, uideamus quid sit exilium. Nempe loci commutatio. Ne</p><p>angustare uidear uim eius et quidquid pessimum in se habet subtrahere,</p><p>hanc commutationem loci sequuntur incommoda, paupertas ignominia</p><p>contemptus. Aduersus ista postea confligam: interim primum illud intueri</p><p>uolo, quid acerbi adferat ipsa loci commutatio. 2. 'Carere patria intolerabile</p><p>est.' Aspice agedum hanc frequentiam, cui uix urbis inmensae tecta</p><p>sufficiunt: maxima pars istius turbae patria caret. Ex municipiis et coloniis</p><p>suis, ex toto denique orbe terrarum confluxerunt: alios adduxit ambitio,</p><p>alios necessitas officii publici, alios inposita legatio, alios luxuria</p><p>opportunum et opulentum uitiis locum quaerens, alios liberalium studiorum</p><p>cupiditas, alios spectacula; quosdam traxit amicitia, quosdam industria</p><p>laxam ostendendae uirtuti nancta materiam; quidam uenalem formam</p><p>attulerunt, quidam uenalem eloquentiam. 3. Nullum non hominum genus</p><p>concucurrit in urbem et uirtutibus et uitiis magna pretia ponentem. Iube</p><p>istos omnes ad nomen citari et 'unde domo' quisque sit quaere: uidebis</p><p>maiorem partem esse quae relictis sedibus suis uenerit in maximam quidem</p><p>ac pulcherrimam urbem, non tamen suam. 4. Deinde ab hac ciuitate discede,</p><p>quae ueluti communis potest dici, omnes urbes circumi: nulla non magnam</p><p>partem peregrinae multitudinis habet. Transi ab iis quarum amoena positio</p><p>et opportunitas regionis plures adlicit, deserta loca et asperrimas insulas,</p><p>Sciathum et Seriphum, Gyaram et Cossuran percense: nullum inuenies</p><p>exilium in quo non aliquis animi causa moretur. 5. Quid tam nudum inueniri</p><p>potest, quid tam abruptum undique quam hoc saxum? Quid ad copias</p><p>respicienti ieiunius? Quid ad homines inmansuetius? Quid ad ipsum loci</p><p>situm horridius? Quid ad caeli naturam intemperantius? Plures tamen hic</p><p>peregrini quam ciues consistunt. Vsque eo ergo commutatio ipsa locorum</p><p>grauis non est ut hic quoque locus a patria quosdam abduxerit. 6. Inuenio</p><p>qui dicant inesse naturalem quandam inritationem animis commutandi</p><p>sedes et transferendi domicilia; mobilis enim et inquieta homini mens data</p><p>est, nusquam se tenet, spargitur, et cogitationes suas in omnia nota atque</p><p>ignota dimittit, uaga et quietis inpatiens et nouitate rerum laetissima. 7.</p><p>Quod non miraberis, si primam eius originem aspexeris: non est ex terreno</p><p>et graui concreta corpore, ex illo caelesti spiritu descendit; caelestium</p><p>autem natura semper in motu est, fugit et uelocissimo cursu agitur. Aspice</p><p>sidera mundum inlustrantia: nullum eorum perstat. <Sol> labitur adsidue et</p><p>locum ex loco mutat et, quamuis cum uniuerso uertatur, in contrarium</p><p>nihilo minus ipsi mundo refertur, per omnis signorum partes discurrit,</p><p>numquam resistit; perpetua eius agitatio et aliunde alio commigratio est. 8.</p><p>Omnia uoluuntur semper et in transitu sunt; ut lex et naturae necessitas</p><p>ordinauit, aliunde alio deferuntur; cum per certa annorum spatia orbes suos</p><p>explicuerint, iterum ibunt per quae uenerant: i nunc et humanum animum,</p><p>ex isdem quibus diuina constant seminibus compositum, moleste ferre</p><p>transitum ac migrationem puta, cum dei natura adsidua et citatissima</p><p>commutatione uel delectet se uel conseruet.</p><p>VII.</p><p>1. A caelestibus agedum te ad humana conuerte: uidebis gentes populosque</p><p>uniuersos mutasse sedem. Quid sibi uolunt in mediis barbarorum regionibus</p><p>Graecae urbes? Quid inter Indos Persasque Macedonicus sermo? Scythia et</p><p>totus ille ferarum indomitarumque gentium tractus ciuitates Achaiae</p><p>Ponticis inpositas litoribus ostentat: non perpetuae hiemis saeuitia, non</p><p>hominum ingenia ad similitudinem caeli sui horrentia transferentibus</p><p>domos suas obstiterunt. 2. Atheniensis in Asia turba est; Miletus quinque et</p><p>septuaginta urbium populum in diuersa effudit; totum Italiae latus quod</p><p>infero mari adluitur maior Graecia fuit. Tuscos Asia sibi uindicat; Tyrii</p><p>Africam incolunt, [in] Hispaniam Poeni; Graeci se in Galliam inmiserunt, in</p><p>Graeciam Galli; Pyrenaeus Germanorum transitus non inhibuit — per inuia,</p><p>per incognita uersauit se humana leuitas. 3. Liberos coniugesque et graues</p><p>senio parentes traxerunt. Alii longo errore iactati non iudicio elegerunt</p><p>locum sed lassitudine proximum occupauerunt, alii armis sibi ius in aliena</p><p>terra fecerunt; quasdam gentes, cum ignota peterent, mare hausit, quaedam</p><p>ibi consederunt ubi illas rerum omnium inopia deposuit. 4. Nec omnibus</p><p>eadem causa relinquendi quaerendique patriam fuit: alios excidia urbium</p><p>suarum hostilibus armis elapsos in aliena spoliatos suis expulerunt; alios</p><p>domestica seditio summouit; alios nimia superfluentis populi frequentia ad</p><p>exonerandas uires emisit; alios pestilentia aut frequentes terrarum hiatus aut</p><p>aliqua intoleranda infelicis soli uitia eiecerunt; quosdam fertilis orae et in</p><p>maius laudatae fama corrupit. 5. Alios alia causa exciuit domibus suis: illud</p><p>utique manifestum est, nihil eodem loco mansisse quo genitum est.</p><p>Adsiduus generis humani discursus est; cotidie aliquid in tam magno orbe</p><p>mutatur: noua urbium fundamenta iaciuntur, noua gentium nomina extinctis</p><p>prioribus aut in accessionem ualidioris conuersis oriuntur. Omnes autem</p><p>istae populorum transportationes quid aliud quam publica exilia sunt? 6.</p><p>Quid te tam longo circumitu traho? Quid interest enumerare Antenorem</p><p>Pataui conditorem et Euandrum in ripa Tiberis regna Arcadum</p><p>conlocantem? Quid Diomeden aliosque quos Troianum bellum uictos simul</p><p>uictoresque per alienas terras dissipauit? 7. Romanum imperium nempe</p><p>auctorem exulem respicit, quem profugum capta patria, exiguas reliquias</p><p>trahentem, necessitas et uictoris metus longinqua quaerentem in Italiam</p><p>detulit. Hic deinde populus quot colonias in omnem prouinciam misit!</p><p>ubicumque uicit Romanus, habitat. Ad hanc commutationem locorum</p><p>libentes nomina dabant, et relictis aris suis trans maria sequebatur colonos</p><p>senex. 8. Res quidem non desiderat plurium enumerationem; unum tamen</p><p>adiciam quod in oculos se ingerit: haec ipsa insula saepe iam cultores</p><p>mutauit. Vt antiquiora, quae uetustas obduxit, transeam, Phocide relicta</p><p>Graii qui nunc Massiliam incolunt prius in hac insula consederunt, ex qua</p><p>quid eos fugauerit incertum est, utrum caeli grauitas an praepotentis Italiae</p><p>conspectus an natura inportuosi maris; nam in causa non fuisse feritatem</p><p>accolarum eo apparet quod maxime tunc trucibus et inconditis Galliae</p><p>populis se interposuerunt. 9. Transierunt</p><p>deinde Ligures in eam, transierunt</p><p>et Hispani, quod ex similitudine ritus apparet; eadem enim tegmenta</p><p>capitum idemque genus calciamenti quod Cantabris est, et uerba quaedam;</p><p>nam totus sermo conuersatione Graecorum Ligurumque a patrio desciuit.</p><p>Deductae deinde sunt duae ciuium Romanorum coloniae, altera a Mario,</p><p>altera a Sulla: totiens huius aridi et spinosi saxi mutatus est populus! 10.</p><p>Vix denique inuenies ullam terram quam etiamnunc indigenae colant;</p><p>permixta omnia et insiticia sunt. Alius alii successit: hic concupiuit quod illi</p><p>fastidio fuit; ille unde expulerat eiectus est. Ita fato placuit, nullius rei</p><p>eodem semper loco stare fortunam.</p><p>VIII.</p><p>1. Aduersus ipsam commutationem locorum, detractis ceteris incommodis</p><p>quae exilio adhaerent, satis hoc remedii putat Varro, doctissimus</p><p>Romanorum, quod quocumque uenimus eadem rerum natura utendum est;</p><p>M. Brutus satis hoc putat, quod licet in exilium euntibus uirtutes suas secum</p><p>ferre. 2. Haec etiam si quis singula parum iudicat efficacia ad consolandum</p><p>exulem, utraque in unum conlata fatebitur plurimum posse. Quantulum</p><p>enim est quod perdimus! duo quae pulcherrima sunt quocumque nos</p><p>mouerimus sequentur, natura communis et propria uirtus. 3. Id actum est,</p><p>mihi crede, ab illo, quisquis formator uniuersi fuit, siue ille deus est potens</p><p>omnium, siue incorporalis ratio ingentium operum artifex, siue diuinus</p><p>spiritus per omnia maxima ac minima aequali intentione diffusus, siue</p><p>fatum et inmutabilis causarum inter se cohaerentium series — id, inquam,</p><p>actum est ut in alienum arbitrium nisi uilissima quaeque non caderent. 4.</p><p>Quidquid optimum homini est, id extra humanam potentiam iacet, nec dari</p><p>nec eripi potest. Mundus hic, quo nihil neque maius neque ornatius rerum</p><p>natura genuit, <et> animus contemplator admiratorque mundi, pars eius</p><p>magnificentissima, propria nobis et perpetua et tam diu nobiscum mansura</p><p>sunt quam diu ipsi manebimus. 5. Alacres itaque et erecti quocumque res</p><p>tulerit intrepido gradu properemus, emetiamur quascumque terras: nullum</p><p>inueniri exilium intra mundum <potest; nihil enim quod intra mundum> est</p><p>alienum homini est. Vndecumque ex aequo ad caelum erigitur acies,</p><p>paribus interuallis omnia diuina ab omnibus humanis distant. 6. Proinde,</p><p>dum oculi mei ab illo spectaculo cuius insatiabiles sunt non abducantur,</p><p>dum mihi solem lunamque intueri liceat, dum ceteris inhaerere sideribus,</p><p>dum ortus eorum occasusque et interualla et causas inuestigare uel ocius</p><p>meandi uel tardius, <dum> spectare tot per noctem stellas micantis et alias</p><p>inmobiles, alias non in magnum spatium exeuntis sed intra suum se</p><p>circumagentis uestigium, quasdam subito erumpentis, quasdam igne fuso</p><p>praestringentis aciem, quasi decidant, uel longo tractu cum luce multa</p><p>praeteruolantis, dum cum his sim et caelestibus, qua homini fas est,</p><p>inmiscear, dum animum ad cognatarum rerum conspectum tendentem in</p><p>sublimi semper habeam, quantum refert mea quid calcem?</p><p>IX.</p><p>1. 'At non est haec terra frugiferarum aut laetarum arborum ferax; non</p><p>magnis nec nauigabilibus fluminum alueis inrigatur; nihil gignit quod aliae</p><p>gentes petant, uix ad tutelam incolentium fertilis; non pretiosus hic lapis</p><p>caeditur, non auri argentique uenae eruuntur.' 2. Angustus animus est quem</p><p>terrena delectant: ad illa abducendus est quae ubique aeque apparent,</p><p>ubique aeque splendent. Et hoc cogitandum est, ista ueris bonis per falsa et</p><p>praue credita obstare. Quo longiores porticus expedierint, quo altius turres</p><p>sustulerint, quo latius uicos porrexerint, quo depressius aestiuos specus</p><p>foderint, quo maiori mole fastigia cenationum subduxerint, hoc plus erit</p><p>quod illis caelum abscondat. 3. In eam te regionem casus eiecit in qua</p><p>lautissimum receptaculum casa est: ne [et] tu pusilli animi es et sordide se</p><p>consolantis, si ideo id fortiter pateris quia Romuli casam nosti. Dic illud</p><p>potius: 'istud humile tugurium nempe uirtutes recipit? iam omnibus templis</p><p>formosius erit, cum illic iustitia conspecta fuerit, cum continentia, cum</p><p>prudentia, pietas, omnium officiorum recte dispensandorum ratio,</p><p>humanorum diuinorumque scientia. Nullus angustus est locus qui hanc tam</p><p>magnarum uirtutium turbam capit; nullum exilium graue est in quod licet</p><p>cum hoc ire comitatu.' 4. Brutus in eo libro quem de uirtute composuit ait se</p><p>Marcellum uidisse Mytilenis exulantem et, quantum modo natura hominis</p><p>pateretur, beatissime uiuentem neque umquam cupidiorem bonarum artium</p><p>quam illo tempore. Itaque adicit uisum sibi se magis in exilium ire, qui sine</p><p>illo rediturus esset, quam illum in exilio relinqui. 5. O fortunatiorem</p><p>Marcellum eo tempore quo exilium suum Bruto adprobauit quam quo rei</p><p>publicae consulatum! Quantus ille uir fuit qui effecit ut aliquis exul sibi</p><p>uideretur quod ab exule recederet! Quantus uir fuit qui in admirationem sui</p><p>adduxit hominem etiam Catoni suo mirandum! 6. Idem Brutus ait C.</p><p>Caesarem Mytilenas praeteruectum, quia non sustineret uidere deformatum</p><p>uirum. Illi quidem reditum inpetrauit senatus publicis precibus, tam</p><p>sollicitus ac maestus ut omnes illo die Bruti habere animum uiderentur et</p><p>non pro Marcello sed pro se deprecari, ne exules essent si sine illo fuissent;</p><p>sed plus multo consecutus est quo die illum exulem Brutus relinquere non</p><p>potuit, Caesar uidere. Contigit enim illi testimonium utriusque: Brutus sine</p><p>Marcello reuerti se doluit, Caesar erubuit. 7. Num dubitas quin se ille</p><p>[Marcellus] tantus uir sic ad tolerandum aequo animo exilium saepe</p><p>adhortatus sit: 'quod patria cares, non est miserum: ita te disciplinis inbuisti</p><p>ut scires omnem locum sapienti uiro patriam esse. Quid porro? hic qui te</p><p>expulit, non ipse per annos decem continuos patria caruit? propagandi sine</p><p>dubio imperii causa; sed nempe caruit. 8. Nunc ecce trahit illum ad se</p><p>Africa resurgentis belli minis plena, trahit Hispania, quae fractas et adflictas</p><p>partes refouet, trahit Aegyptus infida, totus denique orbis, qui ad</p><p>occasionem concussi imperii intentus est: cui primum rei occurret? cui parti</p><p>se opponet? Aget illum per omnes terras uictoria sua. Illum suspiciant et</p><p>colant gentes: tu uiue Bruto miratore contentus.'</p><p>X.</p><p>1. Bene ergo exilium tulit Marcellus nec quicquam in animo eius mutauit</p><p>loci mutatio, quamuis eam paupertas sequeretur; in qua nihil mali esse,</p><p>quisquis modo nondum peruenit in insaniam omnia subuertentis auaritiae</p><p>atque luxuriae intellegit. Quantulum enim est quod in tutelam hominis</p><p>necessarium est! et cui deesse hoc potest ullam modo uirtutem habenti? 2.</p><p>Quod ad me quidem pertinet, intellego me non opes sed occupationes</p><p>perdidisse. Corporis exigua desideria sunt: frigus summoueri uult, alimentis</p><p>famem ac sitim extinguere; quidquid extra concupiscitur, uitiis, non usibus</p><p>laboratur. Non est necesse omne perscrutari profundum nec strage</p><p>animalium uentrem onerare nec conchylia ultimi maris ex ignoto litore</p><p>eruere: di istos deaeque perdant quorum luxuria tam inuidiosi imperii fines</p><p>transcendit! 3. Vltra Phasin capi uolunt quod ambitiosam popinam instruat,</p><p>nec piget a Parthis, a quibus nondum poenas repetimus, aues petere.</p><p>Vndique conuehunt omnia nota fastidienti gulae; quod dissolutus deliciis</p><p>stomachus uix admittat ab ultimo portatur oceano; uomunt ut edant, edunt</p><p>ut uomant, et epulas quas toto orbe conquirunt nec concoquere dignantur.</p><p>Ista si quis despicit, quid illi paupertas nocet? Si quis concupiscit, illi</p><p>paupertas etiam prodest; inuitus enim sanatur et, si remedia ne coactus</p><p>quidem recipit, interim certe, dum non potest, illa nolenti similis est. 4. C.</p><p>Caesar [Augustus], quem mihi uidetur rerum natura edidisse ut ostenderet</p><p>quid summa uitia in summa fortuna possent, centiens sestertio cenauit uno</p><p>die; et in hoc omnium adiutus ingenio uix tamen inuenit quomodo trium</p><p>prouinciarum tributum una cena fieret. 5. O miserabiles, quorum palatum</p><p>nisi ad pretiosos cibos non excitatur! Pretiosos autem non eximius sapor aut</p><p>aliqua faucium dulcedo sed raritas et difficultas parandi facit. Alioqui, si ad</p><p>sanam illis mentem placeat reuerti, quid opus est tot artibus uentri</p><p>seruientibus? quid mercaturis? quid uastatione siluarum? quid profundi</p><p>perscrutatione? Passim iacent alimenta quae rerum natura omnibus locis</p><p>disposuit; sed haec uelut caeci transeunt et omnes regiones peruagantur,</p><p>maria traiciunt et, cum famem exiguo possint sedare, magno inritant. 6.</p><p>Libet dicere: 'quid deducitis naues? Quid manus et aduersus feras et</p><p>aduersus homines armatis? Quid tanto tumultu discurritis? Quid opes</p><p>opibus adgeritis? Non uultis cogitare quam parua uobis corpora sint? Nonne</p><p>furor et ultimus mentium error est, cum tam exiguum capias, cupere</p><p>multum? Licet itaque augeatis census, promoueatis fines, numquam tamen</p><p>corpora uestra laxabitis. Cum bene cesserit negotiatio, multum militia</p><p>rettulerit, cum indagati undique cibi coierint, non habebitis ubi istos</p><p>apparatus uestros conlocetis. 7. Quid tam multa conquiritis? Scilicet</p><p>maiores nostri, quorum uirtus etiamnunc uitia nostra sustentat, infelices</p><p>erant, qui sibi manu sua parabant cibum, quibus terra cubile erat, quorum</p><p>tecta nondum auro fulgebant, quorum templa nondum gemmis nitebant;</p><p>itaque tunc per fictiles deos religiose iurabatur: qui illos inuocauerant, ad</p><p>hostem morituri, ne fallerent, redibant. 8. Scilicet minus beate uiuebat</p><p>dictator noster qui Samnitium legatos audit cum uilissimum cibum in foco</p><p>ipse manu sua uersaret — illa qua iam saepe hostem percusserat</p><p>laureamque in Capitolini Iouis gremio reposuerat — quam Apicius nostra</p><p>memoria uixit, qui in ea urbe ex qua aliquando philosophi uelut corruptores</p><p>iuuentutis abire iussi sunt scientiam popinae professus disciplina sua</p><p>saeculum infecit.' Cuius exitum nosse operae pretium est. 9. Cum sestertium</p><p>milliens in culinam coniecisset, cum tot congiaria principum et ingens</p><p>Capitolii uectigal singulis comisationibus exsorpsisset, aere alieno</p><p>oppressus rationes suas tunc primum coactus inspexit: superfuturum sibi</p><p>sestertium centiens computauit et uelut in ultima fame uicturus si in</p><p>sestertio centiens uixisset, ueneno uitam finiuit. 10. Quanta luxuria erat cui</p><p>centiens sestertium egestas fuit! i nunc et puta pecuniae modum ad rem</p><p>pertinere, non animi. Sestertium centiens aliquis extimuit et quod alii uoto</p><p>petunt ueneno fugit. Illi uero tam prauae mentis homini ultima potio</p><p>saluberrima fuit: tunc uenena edebat bibebatque cum inmensis epulis non</p><p>delectaretur tantum sed gloriaretur, cum uitia sua ostentaret, cum ciuitatem</p><p>in luxuriam suam conuerteret, cum iuuentutem ad imitationem sui</p><p>sollicitaret etiam sine malis exemplis per se docilem. 11. Haec accidunt</p><p>diuitias non ad rationem reuocantibus, cuius certi fines sunt, sed ad uitiosam</p><p>consuetudinem, cuius inmensum et incomprensibile arbitrium est.</p><p>Cupiditati nihil satis est, naturae satis est etiam parum. Nullum ergo</p><p>paupertas exulis incommodum habet; nullum enim tam inops exilium est</p><p>quod non alendo homini abunde fertile sit.</p><p>XI.</p><p>1. 'At uestem ac domum desideraturus est exsul.' Haec quoque ad usum</p><p>tantum desiderabit: neque tectum ei deerit neque uelamentum; aeque enim</p><p>exiguo tegitur corpus quam alitur; nihil homini natura quod necessarium</p><p>faciebat fecit operosum. 2. Sed desiderat saturatam multo conchylio</p><p>purpuram, intextam auro uariisque et coloribus distinctam et artibus: non</p><p>fortunae iste uitio sed suo pauper est. Etiam si illi quidquid amisit</p><p>restitueris, nihil ages; plus enim restituto deerit ex eo quod cupit quam</p><p>exsuli ex eo quod habuit. 3. Sed desiderat aureis fulgentem uasis</p><p>supellectilem et antiquis nominibus artificum argentum nobile, aes</p><p>paucorum insania pretiosum et seruorum turbam quae quamuis magnam</p><p>domum angustet, iumentorum corpora differta et coacta pinguescere et</p><p>nationum omnium lapides: ista congerantur licet, numquam explebunt</p><p>inexplebilem animum, non magis quam ullus sufficiet umor ad satiandum</p><p>eum cuius desiderium non ex inopia sed ex aestu ardentium uiscerum oritur;</p><p>non enim sitis illa sed morbus est. 4. Nec hoc in pecunia tantum aut</p><p>alimentis euenit; eadem natura est in omni desiderio quod modo non ex</p><p>inopia sed ex uitio nascitur: quidquid illi congesseris, non finis erit</p><p>cupiditatis sed gradus. Qui continebit itaque se intra naturalem modum,</p><p>paupertatem non sentiet; qui naturalem modum excedet, eum in summis</p><p>quoque opibus paupertas sequetur. Necessariis rebus et exilia sufficiunt,</p><p>superuacuis nec regna. 5. Animus est qui diuites facit; hic in exilia sequitur,</p><p>et in solitudinibus asperrimis, cum quantum satis est sustinendo corpori</p><p>inuenit, ipse bonis suis abundat et fruitur: pecunia ad animum nihil pertinet,</p><p>non magis quam ad deos inmortalis. 6. Omnia ista quae imperita ingenia et</p><p>nimis corporibus suis addicta suspiciunt, lapides aurum argentum et magni</p><p>leuatique mensarum orbes, terrena sunt pondera, quae non potest amare</p><p>sincerus animus ac naturae suae memor, leuis ipse, expeditus, et quandoque</p><p>emissus fuerit ad summa emicaturus; interim, quantum per moras</p><p>membrorum et hanc circumfusam grauem sarcinam licet, celeri et uolucri</p><p>cogitatione diuina perlustrat. 7. Ideoque nec exulare umquam potest, liber et</p><p>deis cognatus et omni mundo omnique aeuo par; nam cogitatio eius circa</p><p>omne caelum it, in omne praeteritum futurumque tempus inmittitur.</p><p>Corpusculum hoc, custodia et uinculum animi, huc atque illuc iactatur; in</p><p>hoc supplicia, in hoc latrocinia, in hoc morbi exercentur: animus quidem</p><p>ipse sacer et aeternus est et cui non possit inici manus.</p><p>XII.</p><p>1. Ne me putes ad eleuanda incommoda paupertatis, quam nemo grauem</p><p>sentit nisi qui putat, uti tantum praeceptis sapientium, primum aspice</p><p>quanto maior pars sit pauperum, quos nihilo notabis tristiores</p><p>sollicitioresque diuitibus: immo nescio an eo laetiores sint quo animus</p><p>illorum in pauciora distringitur. 2. Transeamus [a pauperibus, ueniamus] ad</p><p>locupletes: quam multa tempora sunt quibus pauperibus similes sint!</p><p>Circumcisae sunt peregrinantium sarcinae, et quotiens festinationem</p><p>necessitas itineris exegit, comitum turba dimittitur. Militantes quotam</p><p>partem rerum suarum secum habent, cum omnem apparatum castrensis</p><p>disciplina summoueat! 3. Nec tantum condicio illos temporum aut locorum</p><p>inopia pauperibus exaequat: sumunt quosdam dies, cum iam illos diuitiarum</p><p>taedium cepit, quibus humi cenent et remoto auro argentoque fictilibus</p><p>utantur. Dementes! hoc quod aliquando concupiscunt semper timent. O</p><p>quanta illos caligo mentium, quanta ignorantia ueritatis * * * exercet, quam</p><p>uoluptatis causa imitantur! 4. Me quidem, quotiens ad antiqua exempla</p><p>respexi, paupertatis uti solaciis pudet, quoniam quidem eo temporum</p><p>luxuria prolapsa est ut maius uiaticum exulum sit quam olim patrimonium</p><p>principum fuit. Vnum fuisse Homero seruum, tres Platoni, nullum Zenoni, a</p><p>quo coepit Stoicorum rigida ac uirilis sapientia, satis constat: num ergo</p><p>quisquam eos misere uixisse dicet ut non ipse miserrimus ob hoc omnibus</p><p>uideatur? 5. Menenius Agrippa, qui inter patres ac plebem publicae gratiae</p><p>sequester fuit, aere conlato funeratus est. Atilius Regulus, cum Poenos in</p><p>Africa funderet, ad senatum scripsit mercennarium suum discessisse et ab</p><p>eo desertum esse rus, quod senatui publice curari dum abesset Regulus</p><p>placuit: fuitne tanti seruum non habere ut colonus eius populus Romanus</p><p>esset? 6. Scipionis filiae ex aerario dotem acceperunt, quia nihil illis</p><p>reliquerat pater: aequum mehercules erat populum Romanum tributum</p><p>Scipioni semel conferre, cum a Carthagine semper exigeret. O felices uiros</p><p>puellarum quibus populus Romanus loco soceri fuit! Beatioresne istos putas</p><p>quorum pantomimae deciens sestertio nubunt quam Scipionem, cuius liberi</p><p>a senatu, tutore suo, in dotem aes graue acceperunt? 7. Dedignatur aliquis</p><p>paupertatem, cuius tam clarae imagines sunt? Indignatur exul aliquid sibi</p><p>deesse, cum defuerit Scipioni dos, Regulo mercennarius, Menenio funus,</p><p>cum omnibus illis quod deerat ideo honestius suppletum sit quia defuerat?</p><p>His ergo aduocatis non tantum tuta est sed etiam gratiosa paupertas.</p><p>XIII.</p><p>1. Responderi potest: 'quid artificiose ista diducis quae singula sustineri</p><p>possunt, conlata non possunt? Commutatio loci tolerabilis est, si tantum</p><p>locum mutes; paupertas tolerabilis est, si ignominia abest, quae uel sola</p><p>opprimere animos solet.' 2. Aduersus</p><p>hunc, quisquis me malorum turba</p><p>terrebit, his uerbis utendum erit: 'si contra unam quamlibet partem fortunae</p><p>satis tibi roboris est, idem aduersus omnis erit. Cum semel animum uirtus</p><p>indurauit, undique inuulnerabilem praestat. Si auaritia dimisit,</p><p>uehementissima generis humani pestis, moram tibi ambitio non faciet; si</p><p>ultimum diem non quasi poenam sed quasi naturae legem aspicis, ex quo</p><p>pectore metum mortis eieceris, in id nullius rei timor audebit intrare; 3. si</p><p>cogitas libidinem non uoluptatis causa homini datam sed propagandi</p><p>generis, quem non uiolauerit hoc secretum et infixum uisceribus ipsis</p><p>exitium, omnis alia cupiditas intactum praeteribit. Non singula uitia ratio</p><p>sed pariter omnia prosternit: in uniuersum semel uincitur.' 4. Ignominia tu</p><p>putas quemquam sapientem moueri posse, qui omnia in se reposuit, qui ab</p><p>opinionibus uulgi secessit? Plus etiam quam ignominia est mors</p><p>ignominiosa: Socrates tamen eodem illo uultu quo triginta tyrannos solus</p><p>aliquando in ordinem redegerat carcerem intrauit, ignominiam ipsi loco</p><p>detracturus; neque enim poterat carcer uideri in quo Socrates erat. 5. Quis</p><p>usque eo ad conspiciendam ueritatem excaecatus est ut ignominiam putet</p><p>Marci Catonis fuisse duplicem in petitione praeturae et consulatus</p><p>repulsam? ignominia illa praeturae et consulatus fuit, quibus ex Catone</p><p>honor habebatur. 6. Nemo ab alio contemnitur, nisi a se ante contemptus est.</p><p>Humilis et proiectus animus est isti contumeliae opportunus; qui uero</p><p>aduersus saeuissimos casus se extollit et ea mala quibus alii opprimuntur</p><p>euertit, ipsas miserias infularum loco habet, quando ita adfecti sumus ut</p><p>nihil aeque magnam apud nos admirationem occupet quam homo fortiter</p><p>miser. 7. Ducebatur Athenis ad supplicium Aristides, cui quisquis</p><p>occurrerat deiciebat oculos et ingemescebat, non tamquam in hominem</p><p>iustum sed tamquam in ipsam iustitiam animaduerteretur; inuentus est</p><p>tamen qui in faciem eius inspueret. Poterat ob hoc moleste ferre quod</p><p>sciebat neminem id ausurum puri oris; at ille abstersit faciem et subridens</p><p>ait comitanti se magistratui: 'admone istum ne postea tam inprobe oscitet.'</p><p>Hoc fuit contumeliam ipsi contumeliae facere. 8. Scio quosdam dicere</p><p>contemptu nihil esse grauius, mortem ipsis potiorem uideri. His ego</p><p>respondebo et exilium saepe contemptione omni carere: si magnus uir</p><p>cecidit, magnus iacuit, non magis illum contemni quam aedium sacrarum</p><p>ruinae calcantur, quas religiosi aeque ac stantis adorant.</p><p>XIV.</p><p>1. Quoniam meo nomine nihil habes, mater carissima, quod te in infinitas</p><p>lacrimas agat, sequitur ut causae tuae te stimulent. Sunt autem duae; nam</p><p>aut illud te mouet quod praesidium aliquod uideris amisisse, aut illud quod</p><p>desiderium ipsum per se pati non potes. 2. Prior pars mihi leuiter</p><p>perstringenda est; noui enim animum tuum nihil in suis praeter ipsos</p><p>amantem. Viderint illae matres quae potentiam liberorum muliebri</p><p>inpotentia exercent, quae, quia feminis honores non licet gerere, per illos</p><p>ambitiosae sunt, quae patrimonia filiorum et exhauriunt et captant, quae</p><p>eloquentiam commodando aliis fatigant: 3. tu liberorum tuorum bonis</p><p>plurimum gauisa es, minimum usa; tu liberalitati nostrae semper inposuisti</p><p>modum, cum tuae non inponeres; tu filia familiae locupletibus filiis ultro</p><p>contulisti; tu patrimonia nostra sic administrasti ut tamquam in tuis</p><p>laborares, tamquam alienis abstineres; tu gratiae nostrae, tamquam alienis</p><p>rebus utereris, pepercisti, et ex honoribus nostris nihil ad te nisi uoluptas et</p><p>inpensa pertinuit. Numquam indulgentia ad utilitatem respexit; non potes</p><p>itaque ea in erepto filio desiderare quae in incolumi numquam ad te</p><p>pertinere duxisti.</p><p>XV.</p><p>1. Illo omnis consolatio mihi uertenda est unde uera uis materni doloris</p><p>oritur: 'ergo complexu fili carissimi careo; non conspectu eius, non sermone</p><p>possum frui. Vbi est ille quo uiso tristem uultum relaxaui, in quo omnes</p><p>sollicitudines meas deposui? Vbi conloquia, quorum inexplebilis eram? Vbi</p><p>studia, quibus libentius quam femina, familiarius quam mater intereram?</p><p>Vbi ille occursus? Vbi matre uisa semper puerilis hilaritas?' 2. Adicis istis</p><p>loca ipsa gratulationum et conuictuum et, ut necesse est, efficacissimas ad</p><p>uexandos animos recentis conuersationis notas. Nam hoc quoque aduersus</p><p>te crudeliter fortuna molita est, quod te ante tertium demum diem quam</p><p>perculsus sum securam nec quicquam tale metuentem digredi uoluit. 3.</p><p>Bene nos longinquitas locorum diuiserat, bene aliquot annorum absentia</p><p>huic te malo praeparauerat: redisti, non ut uoluptatem ex filio perciperes,</p><p>sed ut consuetudinem desiderii perderes. Si multo ante afuisses, fortius</p><p>tulisses, ipso interuallo desiderium molliente; si non recessisses, ultimum</p><p>certe fructum biduo diutius uidendi filium tulisses: nunc crudele fatum ita</p><p>composuit ut nec fortunae meae interesses nec absentiae adsuesceres. 4. Sed</p><p>quanto ista duriora sunt, tanto maior tibi uirtus aduocanda est, et uelut cum</p><p>hoste noto ac saepe iam uicto acrius congrediendum. Non ex intacto</p><p>corpore tuo sanguis hic fluxit: per ipsas cicatrices percussa es.</p><p>XVI.</p><p>1. Non est quod utaris excusatione muliebris nominis, cui paene concessum</p><p>est inmoderatum in lacrimis ius, non inmensum tamen; et ideo maiores</p><p>decem mensum spatium lugentibus uiros dederunt ut cum pertinacia</p><p>muliebris maeroris publica constitutione deciderent. Non prohibuerunt</p><p>luctus sed finierunt; nam et infinito dolore, cum aliquem ex carissimis</p><p>amiseris, adfici stulta indulgentia est, et nullo inhumana duritia: optimum</p><p>inter pietatem et rationem temperamentum est et sentire desiderium et</p><p>opprimere. 2. Non est quod ad quasdam feminas respicias quarum tristitiam</p><p>semel sumptam mors finiuit (nosti quasdam quae amissis filiis inposita</p><p>lugubria numquam exuerunt): a te plus exigit uita ab initio fortior; non</p><p>potest muliebris excusatio contingere ei a qua omnia muliebria uitia</p><p>afuerunt. 3. Non te maximum saeculi malum, inpudicitia, in numerum</p><p>plurium adduxit; non gemmae te, non margaritae flexerunt; non tibi diuitiae</p><p>uelut maximum generis humani bonum refulserunt; non te, bene in antiqua</p><p>et seuera institutam domo, periculosa etiam probis peiorum detorsit</p><p>imitatio; numquam te fecunditatis tuae, quasi exprobraret aetatem, puduit,</p><p>numquam more aliarum, quibus omnis commendatio ex forma petitur,</p><p>tumescentem uterum abscondisti quasi indecens onus, nec intra uiscera tua</p><p>conceptas spes liberorum elisisti; 4. non faciem coloribus ac lenociniis</p><p>polluisti; numquam tibi placuit uestis quae nihil amplius nudaret cum</p><p>poneretur: unicum tibi ornamentum, pulcherrima et nulli obnoxia aetati</p><p>forma, maximum decus uisa est pudicitia. 5. Non potes itaque ad</p><p>optinendum dolorem muliebre nomen praetendere, ex quo te uirtutes tuae</p><p>seduxerunt; tantum debes a feminarum lacrimis abesse quantum <a> uitiis.</p><p>Ne feminae quidem te sinent intabescere uulneri tuo, sed ~leuior~</p><p>necessario maerore cito defunctam iubebunt exsurgere, si modo illas intueri</p><p>uoles feminas quas conspecta uirtus inter magnos uiros posuit. 6. Corneliam</p><p>ex duodecim liberis ad duos fortuna redegerat: si numerare funera Corneliae</p><p>uelles, amiserat decem, si aestimare, amiserat Gracchos. Flentibus tamen</p><p>circa se et fatum eius execrantibus interdixit ne fortunam accusarent, quae</p><p>sibi filios Gracchos dedisset. Ex hac femina debuit nasci qui diceret in</p><p>contione, 'tu matri meae male dicas quae me peperit?' Multo mihi uox</p><p>matris uidetur animosior: filius magno aestimauit Gracchorum natales,</p><p>mater et funera. 7. Rutilia Cottam filium secuta est in exilium et usque eo</p><p>fuit indulgentia constricta ut mallet exilium pati quam desiderium, nec ante</p><p>in patriam quam cum filio rediit. Eundem iam reducem et in re publica</p><p>florentem tam fortiter amisit quam secuta est, nec quisquam lacrimas eius</p><p>post elatum filium notauit. In expulso uirtutem ostendit, in amisso</p><p>prudentiam; nam et nihil illam a pietate deterruit et nihil in tristitia</p><p>superuacua stultaque detinuit. Cum his te numerari feminis uolo; quarum</p><p>uitam semper imitata es, earum in coercenda comprimendaque aegritudine</p><p>optime sequeris exemplum.</p><p>XVII.</p><p>1. Scio rem non esse in nostra</p><p>potestate nec ullum adfectum seruire, minime</p><p>uero eum qui ex dolore nascitur; ferox enim et aduersus omne remedium</p><p>contumax est. Volumus interim illum obruere et deuorare gemitus; per</p><p>ipsum tamen compositum fictumque uultum lacrimae profunduntur. Ludis</p><p>interim aut gladiatoribus animum occupamus; at illum inter ipsa quibus</p><p>auocatur spectacula leuis aliqua desiderii nota subruit. 2. Ideo melius est</p><p>uincere illum quam fallere; nam qui delusus et uoluptatibus aut</p><p>occupationibus abductus est resurgit et ipsa quiete impetum ad saeuiendum</p><p>colligit: at quisquis rationi cessit, in perpetuum componitur. Non sum itaque</p><p>tibi illa monstraturus quibus usos esse multos scio, ut peregrinatione te uel</p><p>longa detineas uel amoena delectes, ut rationum accipiendarum diligentia,</p><p>patrimonii administratione multum occupes temporis, ut semper nouo te</p><p>aliquo negotio inplices: omnia ista ad exiguum momentum prosunt nec</p><p>remedia doloris sed inpedimenta sunt; ego autem malo illum desinere quam</p><p>decipi. 3. Itaque illo te duco quo omnibus qui fortunam fugiunt</p><p>confugiendum est, ad liberalia studia: illa sanabunt uulnus tuum, illa</p><p>omnem tristitiam tibi euellent. His etiam si numquam adsuesses, nunc</p><p>utendum erat; sed quantum tibi patris mei antiquus rigor permisit, omnes</p><p>bonas artes non quidem comprendisti, attigisti tamen. 4. Vtinam quidem</p><p>uirorum optimus, pater meus, minus maiorum consuetudini deditus</p><p>uoluisset te praeceptis sapientiae erudiri potius quam inbui! non parandum</p><p>tibi nunc esset auxilium contra fortunam sed proferendum. Propter istas</p><p>quae litteris non ad sapientiam utuntur sed ad luxuriam instruuntur minus te</p><p>indulgere studiis passus est. Beneficio tamen rapacis ingenii plus quam pro</p><p>tempore hausisti; iacta sunt disciplinarum omnium fundamenta: nunc ad</p><p>illas reuertere; tutam te praestabunt. 5. Illae consolabuntur, illae</p><p>delectabunt, illae si bona fide in animum tuum intrauerint, numquam</p><p>amplius intrabit dolor, numquam sollicitudo, numquam adflictationis inritae</p><p>superuacua uexatio. Nulli horum patebit pectus tuum; nam ceteris uitiis iam</p><p>pridem clusum est. Haec quidem certissima praesidia sunt et quae sola te</p><p>fortunae eripere possint.</p><p>XVIII.</p><p>1. Sed quia, dum in illum portum quem tibi studia promittunt peruenis,</p><p>adminiculis quibus innitaris opus est, uolo interim solacia tibi tua ostendere.</p><p>2. Respice fratres meos, quibus saluis fas tibi non est accusare fortunam. In</p><p>utroque habes quod te diuersa uirtute delectet: alter honores industria</p><p>consecutus est, alter sapienter contempsit. Adquiesce alterius fili dignitate,</p><p>alterius quiete, utriusque pietate. Noui fratrum meorum intimos adfectus:</p><p>alter in hoc dignitatem excolit ut tibi ornamento sit, alter in hoc se ad</p><p>tranquillam quietamque uitam recepit ut tibi uacet. 3. Bene liberos tuos et in</p><p>auxilium et in oblectamentum fortuna disposuit: potes alterius dignitate</p><p>defendi, alterius otio frui. Certabunt in te officiis et unius desiderium</p><p>duorum pietate supplebitur. Audacter possum promittere: nihil tibi deerit</p><p>praeter numerum. 4. Ab his ad nepotes quoque respice: Marcum</p><p>blandissimum puerum, ad cuius conspectum nulla potest durare tristitia;</p><p>nihil tam magnum, nihil tam recens in cuiusquam pectore furit quod non</p><p>circumfusus ille permulceat. 5. Cuius non lacrimas illius hilaritas</p><p>supprimat? Cuius non contractum sollicitudine animum illius argutiae</p><p>soluant? Quem non in iocos euocabit illa lasciuia? Quem non in se</p><p>conuertet et abducet infixum cogitationibus illa neminem satiatura</p><p>garrulitas? Deos oro, contingat hunc habere nobis superstitem! 6. In me</p><p>omnis fatorum crudelitas lassata consistat; quidquid matri dolendum fuit, in</p><p>me transierit, quidquid auiae, in me. Floreat reliqua in suo statu turba: nihil</p><p>de orbitate, nihil de condicione mea querar, fuerim tantum nihil amplius</p><p>doliturae domus piamentum. 7. Tene in gremio cito tibi daturam pronepotes</p><p>Nouatillam, quam sic in me transtuleram, sic mihi adscripseram, ut possit</p><p>uideri, quod me amisit, quamuis saluo patre pupilla; hanc et pro me dilige.</p><p>Abstulit illi nuper fortuna matrem: tua potest efficere pietas ut perdidisse se</p><p>matrem doleat tantum, non et sentiat. 8. Nunc mores eius compone, nunc</p><p>forma: altius praecepta descendunt quae teneris inprimuntur aetatibus. Tuis</p><p>adsuescat sermonibus, ad tuum fingatur arbitrium: multum illi dabis, etiam</p><p>si nihil dederis praeter exemplum. Hoc tibi tam sollemne officium pro</p><p>remedio erit; non potest enim animum pie dolentem a sollicitudine auertere</p><p>nisi aut ratio aut honesta occupatio. 9. Numerarem inter magna solacia</p><p>patrem quoque tuum, nisi abesset. Nunc tamen ex adfectu tuo qui illius in te</p><p>sit cogita: intelleges quanto iustius sit te illi seruari quam mihi inpendi.</p><p>Quotiens te inmodica uis doloris inuaserit et sequi se iubebit, patrem cogita.</p><p>Cui tu quidem tot nepotes pronepotesque dando effecisti ne unica esses;</p><p>consummatio tamen aetatis actae feliciter in te uertitur. Illo uiuo nefas est te</p><p>quod uixeris queri.</p><p>XIX.</p><p>1. Maximum adhuc solacium tuum tacueram, sororem tuam, illud</p><p>fidelissimum tibi pectus, in quod omnes curae tuae pro indiuiso</p><p>transferuntur, illum animum omnibus nobis maternum. Cum hac tu lacrimas</p><p>tuas miscuisti, in huius primum respirasti sinu. 2. Illa quidem adfectus tuos</p><p>semper sequitur; in mea tamen persona non tantum pro te dolet. Illius</p><p>manibus in urbem perlatus sum, illius pio maternoque nutricio per longum</p><p>tempus aeger conualui; illa pro quaestura mea gratiam suam extendit et,</p><p>quae ne sermonis quidem aut clarae salutationis sustinuit audaciam, pro me</p><p>uicit indulgentia uerecundiam. Nihil illi seductum uitae genus, nihil</p><p>modestia in tanta feminarum petulantia rustica, nihil quies, nihil secreti et</p><p>ad otium repositi mores obstiterunt quominus pro me etiam ambitiosa fieret.</p><p>3. Hoc est, mater carissima, solacium quo reficiaris: illi te quantum potes</p><p>iunge, illius artissimis amplexibus alliga. Solent maerentes ea quae maxime</p><p>diligunt fugere et libertatem dolori suo quaerere: tu ad illam te, quidquid</p><p>cogitaueris, confer; siue seruare istum habitum uoles siue deponere, apud</p><p>illam inuenies uel finem doloris tui uel comitem. 4. Sed si prudentiam</p><p>perfectissimae feminae noui, non patietur te nihil profuturo maerore</p><p>consumi et exemplum tibi suum, cuius ego etiam spectator fui, narrabit.</p><p>Carissimum uirum amiserat, auunculum nostrum, cui uirgo nupserat, in ipsa</p><p>quidem nauigatione; tulit tamen eodem tempore et luctum et metum</p><p>euictisque tempestatibus corpus eius naufraga euexit. 5. O quam multarum</p><p>egregia opera in obscuro iacent! Si huic illa simplex admirandis uirtutibus</p><p>contigisset antiquitas, quanto ingeniorum certamine celebraretur uxor quae</p><p>oblita inbecillitatis, oblita metuendi etiam firmissimis maris, caput suum</p><p>periculis pro sepultura obiecit et, dum cogitat de uiri funere, nihil de suo</p><p>timuit! Nobilitatur carminibus omnium quae se pro coniuge uicariam dedit:</p><p>hoc amplius est, discrimine uitae sepulcrum uiro quaerere; maior est amor</p><p>qui pari periculo minus redimit. 6. Post hoc nemo miretur quod per sedecim</p><p>annos quibus Aegyptum maritus eius optinuit numquam in publico</p><p>conspecta est, neminem prouincialem domum suam admisit, nihil a uiro</p><p>petit, nihil a se peti passa est. Itaque loquax et in contumelias praefectorum</p><p>ingeniosa prouincia, in qua etiam qui uitauerunt culpam non effugerunt</p><p>infamiam, uelut unicum sanctitatis exemplum suspexit et, quod illi</p><p>difficillimum est cui etiam periculosi sales placent, omnem uerborum</p><p>licentiam continuit et hodie similem illi, quamuis numquam speret, semper</p><p>optat. Multum erat, si per sedecim annos illam prouincia probasset: plus est</p><p>quod ignorauit. 7. Haec non ideo refero ut laudes eius exequar, quas</p><p>circumscribere est tam parce transcurrere, sed ut intellegas magni animi</p><p>esse feminam quam non ambitio, non auaritia, comites omnis potentiae et</p><p>pestes, uicerunt, non metus mortis iam exarmata naue naufragium suum</p><p>spectantem deterruit quominus exanimi uiro haerens non quaereret</p><p>quemadmodum inde exiret sed quemadmodum efferret. Huic parem</p><p>uirtutem exhibeas oportet et animum a luctu recipias et id agas ne quis te</p><p>putet partus tui paenitere.</p><p>XX.</p><p>1. Ceterum quia necesse est, cum omnia feceris, cogitationes tamen tuas</p><p>subinde ad me recurrere nec quemquam nunc ex liberis tuis frequentius tibi</p><p>obuersari, non quia illi minus cari sunt sed quia naturale est manum saepius</p><p>ad id referre quod dolet, qualem me cogites accipe: laetum et alacrem uelut</p><p>optimis rebus. Sunt enim optimae, quoniam animus omnis occupationis</p><p>expers operibus suis uacat et modo se leuioribus studiis oblectat, modo ad</p><p>considerandam suam uniuersique naturam ueri auidus insurgit. 2. Terras</p><p>primum situmque earum quaerit, deinde condicionem circumfusi maris</p><p>cursusque eius alternos et recursus; tunc quidquid inter caelum terrasque</p><p>plenum formidinis interiacet perspicit et hoc tonitribus fulminibus uentorum</p><p>flatibus ac nimborum niuisque et grandinis iactu tumultuosum spatium; tum</p><p>peragratis humilioribus ad summa perrumpit et pulcherrimo diuinorum</p><p>spectaculo fruitur, aeternitatis suae memor in omne quod fuit futurumque</p><p>est uadit omnibus saeculis.</p><p>NOTAS:</p><p>1 Ilhas do mar Egeu. Cossura é a moderna ilha de Pantelleria, entre a Sicília e a Tunísia.</p><p>2 Enéias, que teve como descendentes Rômulo e Remo</p><p>3 Marco Terêncio Varrão (em latim Marcus Terentius Varro, 116 a.C. — 27 a.C.), é o famoso</p><p>historiador e filólogo.</p><p>4 Marco Júnio Bruto (em latim: Marcus Junius Brutus;), foi um líder político de orientação</p><p>conservadora republicana romana, e militar romano, tendo sido um dos assassinos de Júlio César.</p><p>5 Marco Cláudio Marcelo (m. 46 a.C.; em latim: Marcus Claudius Marcellus) Partidário de Pompeu</p><p>na luta civil, ficou em voluntário exílio quando Júlio César subiu ao poder. Cícero, para agradecer a</p><p>César que perdoara a Marcelo, pronunciou uma notável oração (Pro Marcello).</p><p>6 Rio da Ásia Menor.</p><p>7 Pártia é o nome dado a uma região do nordeste do atual Irã.</p><p>8 Ditador era o título de um magistrado da Roma Antiga apontado pelo senado romano para governar</p><p>o estado em tempo de emergências. Os ditadores romanos eram geralmente apontados por um cônsul</p><p>e eram investidos de avassaladora autoridade sobre os cidadãos, mas eram originalmente limitados</p><p>por um mandato de seis meses e não possuíam poderes sobre as finanças públicas.</p><p>9 Agripa Menênio Lanato (em latim: Agrippa Menenius Lanatus; 493 a.C.), chamado também de</p><p>Menênio Agripa, foi um cônsul dos primeiros anos da República Romana em 503 a.C.,</p><p>10 Marco Atílio Régulo (299 a.C. – 246 a.C.; em latim: Marcus Atilius Regulus) foi um político</p><p>eleito cônsul por duas vezes, em 267 e 256 a.C.</p><p>11 Cornélia Africana (em latim Cornelia Scipionis Africana; ca. 190 a.C. — 100 a.C.) era filha de</p><p>Cipião Africano, foi mãe dos irmãos Gracos, conhecida pela sua virtude e força de caráter.</p><p>12 Provavelmente Marco Aneu Lucano (em latim: Marcus Annaeus Lucanus), também conhecido em</p><p>português como Lucano, foi um poeta romano, nascido na província da Bética. Apesar de sua vida</p><p>curta, é tido como uma das figuras de maior destaque do período dito clássico do latim. Assim como</p><p>seu tio Sêneca, também foi envolvido na conspiração contra a vida do imperador Nero, e obrigado a</p><p>se suicidar.</p><p>13 provavelmente irmã da mãe somente pelo lado materno.</p><p>14 Questor (do latim quaestor, procurador) era o primeiro passo na hierarquia romana. O cargo, que</p><p>implicava funções administrativas, era geralmente ocupado por membros da classe senatorial com</p><p>menos de 32 anos. O mandato como questor dava acesso direto ao colégio do senado romano.</p><p>15 Alusão a Alceste, que sacrificou sua vida para salvar a do marido Admeto; mas Hércules,</p><p>agradecido pela hospitalidade que este lhe dera, tirou-a dos Infernos, restituindo-a ao esposo.</p><p>Eurípides tratou desse assunto na célebre tragédia Alcestis</p><p>Original em Latim: Ad Polybium, De</p><p>Consolatione</p><p>I</p><p>1. Urbes ac monumenta saxo structa, si vitae31 nostrae compares, firma sunt</p><p>; si redigas ad condicionem naturae omnia destruentis et unde edidit eodem</p><p>revocantis, caduca sunt. Quid enim immortale manus mortales fecerunt ?</p><p>Septem illa miracula et si qua his multo mirabiliora sequentium annorum</p><p>extruxit ambitio aliquando solo aequata visentur. Ita est : nihil perpetuum,</p><p>pauca diuturna sunt; aliud alio modo fragile est, rerum exitus variantur,</p><p>ceterum quicquid coepit et desinit.</p><p>2. Mundo quidam minantur interitum et hoc uni- versum, quod omnia</p><p>divina humanaque complectitur, si fas putas credere, dies aliquis dissipabit</p><p>et in confusionem veterem tenebrasque demerget. Eat nunc aliquis et</p><p>singulas comploret animas. Carthaginis ac Numantiae Corinthique cinerem</p><p>et si quid aliud altius [p. 358] cecidit lamentetur, cum etiam hoc quod non</p><p>habet quo cadat sit interiturum ; eat aliquis et fata tantum aliquando nefas</p><p>ausura sibi non pepercisse con- queratur.</p><p>3. Quis tam superbae impotentisque arrogantiae est, ut in hac naturae</p><p>necessitate omnia ad eundem finem revocantis se unum ac suos seponi velit</p><p>ruinaeque etiam ipsi mundo imminenti aliquam domum subtrahat ?</p><p>4. Maximum ergo solacium est cogitare id sibi accidisse, quod omnes ante</p><p>se passi sunt omnesque passuri; et ideo mihi videtur rerum natura, quod</p><p>gravissimum fecerat, commune fecisse, ut crudelitatem fati consolaretur</p><p>aequalitas.</p><p>II</p><p>1. Illud quoque te non minimum adiuvent, si cogitaveris nihil profuturum</p><p>dolorem tuum nec illi, quem desideras, nec tibi; noles enim longum esse,</p><p>quod irritum est. Nam si quicquam tristitia profecturi sumus, non recuso</p><p>quicquid lacrimarum fortunae meae superfuit tuae fundere ; inveniam</p><p>etiamnunc per hos exhaustos iam fletibus domesticis oculos quod effluat, si</p><p>modo id tibi futurum bono est.</p><p>2. Quid cessas ? Conqueramur, atque adeo ipse hanc litem meam faciam : “</p><p>Iniquissima omnium iudicio fortuna, adhuc videbaris sinu eum hominem</p><p>continuisse32, qui munere tuo tantam venerationem receperat, ut, quod raro</p><p>ulli contigit, felicitas eius effugeret invidiam. Ecce eum dolorem illi, quem</p><p>salvo Caesare accipere [p. 360] maximum poterat, impressisti, et cum bene</p><p>illum undique circuisses, intellexisti hac parte tantummodo patere ictibus</p><p>tuis. Quid enim illi aliud faceres ?</p><p>3. Pecuniam eriperes ? Numquam illi obnoxius fuit; nunc quoque, quantum</p><p>potest, illam a se abigit et in tanta facilitate adquirendi nullum maiorem ex</p><p>ea fructum quam contemptum eius petit.</p><p>4. Eriperes illi amicos ? Sciebas tam amabilem esse, ut facile in locum</p><p>amissorum posset alios substituere ; unum enim hunc ex eis, quos in</p><p>principali domo potentes vidi, cognovisse videor, quem omnibus amicum</p><p>habere eum expediat, magis tamen etiam libet.</p><p>5. Eriperes illi bonam opinionem ? Solidior est haec apud eum, quam ut a te</p><p>quoque ipsa concuti possit. Eriperes bonam valetudinem ? Sciebas animum</p><p>eius liberalibus disciplinis, quibus non innutritus tantum sed innatus est, sic</p><p>esse fundatum, ut supra omnis corporis dolores emineret. Eriperes spiritum</p><p>?</p><p>6. Quantulum nocuisses ! Longissimum illi ingeni aevum fama promisit ; id</p><p>egit ipse, ut meliore sui parte duraret et compositis eloquentiae praeclaris</p><p>operibus a mortalitate se vindicaret. Quam diu fuerit ullus litteris honor,</p><p>quam diu steterit aut Latinae linguae potentia aut Graecae gratia, vigebit</p><p>cum maximis viris, quorum se ingeniis vel contulit vel, si hoc verecundia</p><p>eius recusat, applicuit.</p><p>7. Hoc [p. 362] ergo unum excogitasti, quomodo maxime illi posses nocere</p><p>; quo melior est enim quisque, hoc saepius ferre te consuevit sine ullo</p><p>dilectu furentem et inter ipsa beneficia metuendam. Quantulum erat tibi</p><p>immunem ab hac iniuria praestare eum hominem, in quem videbatur</p><p>indulgentia tua ratione certa pervenisse et non ex tuo more temere incidisse</p><p>! “</p><p>III</p><p>1. Adiciamus, si vis, ad has querellas ipsius adulescentis interceptam inter</p><p>prima incrementa indolem ; dignus fuit ille te fratre. Tu certe eras</p><p>dignissimus, qui ne ex indigno quidem quicquam doleres fratre. Redditur</p><p>illi testimonium aequale omnium hominum ; desideratur in tuum honorem,</p><p>laudatur in suum.</p><p>2. Nihil in illo fuit, quod non libenter adgnosceres. Tu quidem etiam minus</p><p>bono fratri fuisses bonus, sed in illo pietas tua idoneam nacta materiam</p><p>multo se liberius exercuit. Nemo potentiam eius iniuria sensit, numquam</p><p>ille</p><p>te fratrem ulli minatus est. Ad exemplum se modestiae tuae formaverat</p><p>cogitabatque, quantum tu et ornamentum tuorum esses et onus ; suffecit ille</p><p>huic sarcinae.</p><p>3. O dura fata et nullis aequa virtutibus ! Antequam felicitatem suam nosset</p><p>frater tuus, exemptus est. Parum autem me indignari scio ; nihil est enim</p><p>difficilius quam magno dolori paria verba reperire. Etiamnunc tamen, si</p><p>quid proficere [p. 364] possumus, conqueramur :</p><p>4. “ Quid tibi voluisti, tam iniusta et tam violenta fortuna ? Tam cito te</p><p>indulgentiae tuae paenituit ? Quae ista crudelitas est, in medios fratres</p><p>impetum facere et tam cruenta rapina concordissimam turbam imminuere ?</p><p>Tam bene stipatam optimorum adulescentium domum, in nullo fratre</p><p>degenerantem, turbare et sine ulla causa de- libare voluisti33</p><p>5. ? Nihil ergo prodest innocentia ad omnem legem exacta, nihil antiqua</p><p>frugalitas, nihil felicitatis summae potentia summa conservata abstinentia,</p><p>nihil sincerus et tutus litterarum amor, nihil ab omni labe mens vacans ?</p><p>Luget Polybius, et in uno fratre quid de reliquis possit metuere admonitus</p><p>etiam de ipsis doloris sui solaciis timet. Facinus indignum ! Luget Polybius</p><p>et aliquid propitio dolet Caesare ! Hoc sine dubio, impotens fortuna,</p><p>captasti, ut ostenderes neminem contra te ne a Caesare quidem posse</p><p>defendi.”</p><p>IV</p><p>1. Diutius accusare fata possumus, mutare non possumus. Stant dura et</p><p>inexorabilia ; nemo illa convicio, nemo fletu, nemo causa movet ; nihil</p><p>umquam ulli parcunt nec remittunt. Proinde pareamus lacrimis nihil</p><p>proficientibus ; facilius enim nos inferis dolor iste adiciet quam illos nobis</p><p>reducet. Qui si nos torquet, non adiuvat, primo quoque tempore deponendus</p><p>est et ab inanibus solaciis atque amara quadam libidine delendi animus</p><p>recipiendus est. [p. 366]</p><p>2. Nam lacrimis nostris nisi ratio finem fecerit, fortuna non faciet. Omnis</p><p>agedum mortalis circumspice, larga ubique flendi et adsidua materia est.</p><p>Alium ad cotidianum opus laboriosa egestas vocat, alium ambitio numquam</p><p>quieta sollicitat, alius divitias, quas optaverat, metuit et voto laborat suo,</p><p>alium solitudo torquet,34 alium semper vestibulum obsidens turba ; hic</p><p>habere se dolet liberos, hic perdidisse. Lacrimae nobis deerunt ante quam</p><p>causae dolendi.</p><p>3. Non vides, qualem nobis vitam rerum natura promiserit, quae primum</p><p>nascentium hominum fletum esse voluit ? Hoc principio edimur, huic omnis</p><p>sequentium annorum ordo consentit. Sic vitam agimus, ideoque moderate id</p><p>fieri debet a nobis, quod saepe faciendum est, et respicientes, quantum a</p><p>tergo rerum tristium immineat, si non finire lacrimas, at certe reservare</p><p>debemus. Nulli parcendum est rei magis quam huic, cuius tam frequens</p><p>usus est.</p><p>V</p><p>1. Illud quoque te non minimum adiuvent, si cogitaverit nulli minus gratum</p><p>esse dolorem tuum quam ei, cui praestari videtur; torqueri ille te aut non</p><p>vult aut non intellegit. Nulla itaque eius officii ratio est, quod ei, cui</p><p>praestatur, si nihil sentit, super- [p. 368] vacuum est, si sentit, ingratum est.</p><p>2. Neminem esse toto orbe terrarum, qui delectetur lacrimis tuis, audacter</p><p>dixerim. Quid ergo ? Quem nemo adversus te animum gerit, eum esse tu</p><p>credis fratris tui, ut cruciatu tui noceat tibi, ut te velit abducere ab</p><p>occupationibus tuis, id est a studio et a Caesare ? Non est hoc simile veri.</p><p>Ille enim indulgentiam tibi tamquam fratri praestitit, venerationem</p><p>tamquam parenti, cultum tamquam superiori ; ille desiderio tibi esse vult,</p><p>tormento esse non vult. Quid itaque iuvat dolori intabescere, quem, si quis</p><p>defunctis sensus est, finiri frater tuus cupit ?</p><p>3. De alio fratre, cuius incerta posset voluntas videri, omnia haec in dubio</p><p>ponerem et dicerem : “ Sive te torqueri lacrimis numquam desinentibus</p><p>frater tuus cupit, indignus hoc affectu tuo est ; sive non vult, utrique</p><p>vestrum inhaerentem dolorem dimitte ; nec impius frater sic desiderari</p><p>debet nec pius sic velit.” In hoc vero, cuius tam explorata pietas est, pro</p><p>certo habendum est nihil esse illi posse acerbius, quam si tibi hic casus eius</p><p>acerbus est, si te ullo modo torquet, si oculos tuos, indignissimos hoc malo,</p><p>sine ullo flendi fine et conturbat idem et exhaurit.</p><p>4. Pietatem tamen tuam nihil aeque a lacrimis tam inutilibus abducet, quam</p><p>si cogitaveris fratribus te tuis exemplo esse debere fortiter hanc fortunae in-</p><p>[p. 370] iuriam sustinendi. Quod duces magni faciunt rebus affectis, ut</p><p>hilaritatem de industria simulent et adversas res adumbrata laetitia</p><p>abscondant, ne militum animi, si fractam ducis sui mentem viderint, et ipsi</p><p>collabantur, id nunc tibi quoque faciendum est.</p><p>5. Indue dissimilem animo tuo vultum et, si potes, proice omnem ex toto</p><p>dolorem, si minus, introrsus abde et contine, ne appareat, et da operam, ut</p><p>fratres tui te imitentur, qui honestum putabunt, quod- cumque te facientem</p><p>viderint, animumque ex vultu tuo sument. Et solacium debes esse illorum et</p><p>consolator ; non poteris autem horum maerori obstare, si tuo indulseris.</p><p>VI</p><p>1. Potest et illa res a luctu te prohibere nimio, si tibi ipse renuntiaveris nihil</p><p>horum, quae facis, posse subduci. Magnam tibi personam hominum</p><p>consensus imposuit ; haec tibi tuenda est. Circumstat te omnis ista</p><p>consolandum frequentia et in animum tuum inquirit ac perspicit quantum</p><p>roboris ille adversus dolorem habeat et utrumne tu tantum rebus secundis</p><p>uti dextere scias, an et adversas possis viri- liter ferre. Observantur oculi tui.</p><p>2. Liberiora sunt omnia iis, quorum affectus tegi possunt ; tibi nullum</p><p>secretum liberum est. In multa luce fortuna te posuit; omnes scient,</p><p>quomodo te in isto tuo gesseris vulnere, utrumne statim percussus arma</p><p>summiseris an in gradu steteris. Olim te in altiorem ordinem et amor</p><p>Caesaris extulit et tua studia eduxerunt. Nihil [p. 372] te plebeium decet,</p><p>nihil humile. Quid autem tam humile ac muliebre est quam consumendum</p><p>se dolori committere ?</p><p>3. Non idem tibi in luctu pari quod tuis fratribus licet ; multa tibi non</p><p>permittit opinio de studiis ac moribus tuis recepta, multum a te homines</p><p>exigunt, multum expectant. Si volebas tibi omnia licere, ne convertisses in</p><p>te ora omnium; nunc tantum tibi praestandum est, quantum promisisti.</p><p>Omnes illi, qui opera ingenii tui laudant, qui describunt, quibus, eum</p><p>fortuna tua opus non sit, ingenio opus est, custodes animi tui sunt. Nihil</p><p>umquam ita potes indignum facere perfecti et eruditi viri professione, ut</p><p>non multos admirationis de te suae paeniteat.</p><p>4. Non licet tibi flere immodice, nec hoc tantummodo non licet ; ne</p><p>somnum quidem extendere in partem diei licet aut a tumultu rerum in otium</p><p>ruris quieti confugere aut assidua laboriosi officii statione fatigatum corpus</p><p>voluptaria peregrinatione recreare aut spectaculorum varietate animum</p><p>detinere aut ex tuo arbitrio diem disponere. Multa tibi non licent, quae</p><p>humillimis et in angulo iacentibus licent. Magna servitus est magna fortuna</p><p>; non licet tibi quicquam arbitrio tuo facere.</p><p>5. Audienda sunt tot hominum milia, tot disponendi libelli; tantus rerum ex</p><p>orbe toto coeuntium congestus, ut possit per ordinem suum principis</p><p>maximi animo subici, exigendus est. Non licet tibi, inquam, [p. 374] flere ;</p><p>ut multos flentes audire possis, ut periclitantium et ad misericordiam</p><p>mitissimi Caesaris pervenire cupientium lacrimas siccare35, lacrimae tibi</p><p>tuae adsiccandae sunt.</p><p>VII</p><p>1. Haec tamen etiamnunc levioribus te remediis adiuvabunt; eum voles</p><p>omnium rerum oblivisci, Caesarem cogita. Vide, quantam huius in te</p><p>indulgentiae fidem, quantam industriam debeas ; intelleges non magis tibi</p><p>incurvari licere quam illi, si quis modo est fabulis traditus,36 cuius umeris</p><p>mundus in- nititur.</p><p>2. Caesari quoque ipsi, cui omnia licent, propter hoc ipsum multa non</p><p>licent. Omnium somnos illius vigilia defendit, omnium otium illius labor,</p><p>omnium delicias illius industria, omnium vacationem illius occupatio. Ex</p><p>quo se Caesar orbi terrarum dedicavit, sibi eripuit, et siderum modo, quae</p><p>irrequieta semper cursus suos explicant, numquam illi licet subsistere nec</p><p>quicquam suum facere.</p><p>3. Ad quendam itaque modum tibi quoque eadem necessitas iniungitur; non</p><p>licet tibi ad utilitates</p><p>tuas, ad studia tua respicere. Caesare orbem terrarum</p><p>possidente impertire te nec voluptati nec dolori nec ulli alii rei potes ; totum</p><p>te Caesari debes.</p><p>4. Adice nunc quod, cum semper praedices cariorem tibi spiritu tuo</p><p>Caesarem esse, fas tibi non est salvo Caesare de fortuna queri. Hoc</p><p>incolumi salvi tibi sunt tui, nihil perdidisti; non tantum siccos oculos tuos</p><p>esse sed etiam laetos oportet ; in hoc tibi omnia sunt, hic pro omnibus est.</p><p>[p. 376] Quod longe a sensibus tuis prudentissimis37 piissimisque abest,</p><p>adversus felicitatem tuam parum gratus es, si tibi quicquam hoc salvo flere</p><p>permittis.</p><p>VIII</p><p>1. Monstrabo etiamnunc non quidem firmius remedium sed familiarius. Si</p><p>quando te domum receperis, tune erit tibi metuenda tristitia. Nam quam diu</p><p>numen tuum intueberis, nullum illa ad te inveniet accessum, omnia in te</p><p>Caesar tenebit ; eum ab illo discesseris, tune velut occasione data</p><p>insidiabitur solitudini tuae dolor et requiescenti animo tuo pau- latim</p><p>irrepet.</p><p>2. Itaque non est quod ullum tempus vacare patiaris a studiis. Tunc tibi</p><p>litterae tuae tam diu ac tam fideliter amatae gratiam referant, tunc te illae</p><p>antistitem et cultorem suum vindicent, tunc Homerus et Vergilius tam bene</p><p>de humano genere meriti, quam tu et de illis et de omnibus meruisti, quos</p><p>pluribus notos esse voluisti quam scripserant, multum tecum morentur;</p><p>tutum id erit omne tempus, quod illis tuendum commiseris. Tunc Caesaris</p><p>tui opera, ut per omnia saecula domestico narrentur praeconio, quantum</p><p>potes, compone ; nam ipse tibi optime formandi condendique res gestas et</p><p>materiam dabit et exemplum.</p><p>3. Non audeo te eo usque producere, ut fabellas quoque et Aesopeos logos,</p><p>intemptatum Romanis ingeniis opus, solita tibi venustate conectas. Difficile</p><p>est quidem, ut ad haec hilariora studia tam vehementer perculsus animus</p><p>tam cito possit accedere ; [p. 378] hoc tamen argumentum habeto iam</p><p>corroborati eius et redditi sibi, si poterit a severioribus scriptis ad haec</p><p>solutiora procedere.</p><p>4. In illis enim quamvis aegrum eum adhuc et secum reluctantem avocabit</p><p>ipsa rerum, quas tractabit, austeritas ; haec, quae remissa fronte</p><p>commentanda sunt, non feret, nisi eum iam sibi ab omni parte constiterit.</p><p>Itaque debebis eum severiore materia primum exercere, deinde hilariore</p><p>temperare.</p><p>IX</p><p>1. Illud quoque magno tibi erit levamento, si saepe te sic interrogaveris : “</p><p>Utrumne meo nomine doleo an eius qui decessit ? Si meo, perit indulgentiae</p><p>iactatio et incipit dolor hoc uno excusatus, quod honestus est, eum ad</p><p>utilitatem respicit, a pietate desciscere; nihil autem minus bono viro</p><p>convenit quam in fratris luctu calculos ponere.</p><p>2. Si illius nomine doleo, necesse est alterutrum ex his duobus esse iudicem.</p><p>Nam si nullus defunctis sensus superest, evasit omnia frater meus vitae</p><p>incommoda et in eum restitutus est locum, in quo fuerat antequam</p><p>nasceretur, et expers omnis mali nihil timet, nihil cupit, nihil patitur. Quis</p><p>iste furor est pro eo me numquam dolere desinere, qui numquam doliturus</p><p>est ?</p><p>3. Si est aliquis defunctis sensus, nunc animus fratris mei velut ex diutino</p><p>carcere emissus, tandem sui iuris et arbitrii, gestit et rerum naturae</p><p>spectaculo fruitur et humana omnia ex [p. 380] loco superiore despicit,</p><p>divina vero, quorum rationem tam diu frustra quaesierat, propius intuetur.</p><p>Quid itaque eius desiderio maceror, qui aut beatus aut nullus est ? Beatum</p><p>deflere invidia est, nullum dementia.”</p><p>4. An hoc te movet, quod videtur ingentibus et cum maxime circumfusis</p><p>bonis caruisse ? Cum cogitaveris multa esse, quae perdidit, cogita plura</p><p>esse, quae non timet. Non ira eum torquebit, non morbus affliget, non</p><p>suspicio lacesset, non edax et inimica semper alienis processibus invidia</p><p>consectabitur, non metus sollicitabit, non levitas fortunae cito munera sua</p><p>transferentis inquietabit. Si bene computes, plus illi remissum quam</p><p>ereptum est.</p><p>5. Non opibus fruetur, non tua simul ac sua gratia ; non accipiet beneficia,</p><p>non dabit. Miserum putas, quod ista amisit, an beatum, quod non desiderat ?</p><p>Mihi crede, is beatior est, cui fortuna supervacua est, quam is, cui parata38</p><p>est. Omnia ista bona, quae nos speciosa sed fallaci voluptate delectant,</p><p>pecunia, dignitas, potentia aliaque complura, ad quae generis humani caeca</p><p>cupiditas obstupescit, cum labore possidentur, eum invidia conspiciuntur,</p><p>eos denique ipsos, quos exornant, et premunt ; plus minantur quam prosunt.</p><p>Lubrica et incerta sunt, numquam bene tenentur ; nam ut nihil de tempore</p><p>futuro timeatur, ipsa tamen magnae felicitatis tutela sollicita est.</p><p>6. Si velis credere altius [p. 382] veritatem intuentibus, omnis vita</p><p>supplicium est. In hoc profundum inquietumque proiecti mare, alternis</p><p>aestibus reciprocum et modo allevans nos subitis incrementis, modo</p><p>maioribus damnis deferens assidueque iactans, numquam stabili</p><p>consistimus loco, pendemus et fluctuamur et alter in alterum illidimur et</p><p>aliquando naufragium facimus, semper timemus;</p><p>7. in hoc tam procelloso et ad omnes tempestates exposito mari</p><p>navigantibus nullus portus nisi mortis est. Ne itaque invideris fratri tuo;</p><p>quiescit. Tandem liber, tandem tutus, tandem aeternus est. Superstitem</p><p>Caesarem omnemque eius prolem, superstitem te cum communibus habet</p><p>fratribus. Antequam quicquam ex suo favore fortuna mutaret, stantem</p><p>adhuc illam et munera plena manu congerentem reliquit.</p><p>8. Fruitur nunc aperto et libero caelo, ex humili atque depresso in eum</p><p>emicuit locum, quisquis ille est, qui solutas vinculis animas beato recipit</p><p>sinu, et nunc libere illic vagatur omniaque rerum naturae bona eum summa</p><p>voluptate perspicit. Erras : non perdidit lucem frater tuus, sed sinceriorem</p><p>sortitus est. Omnibus illo nobis commune est iter.</p><p>9. Quid fata deflemus ? Non reliquit ille nos sed antecessit. Est, mihi crede,</p><p>magna felicitas in ipsa necessitate moriendi. Nihil ne in totum quidem diem</p><p>certi est. Quis in tam obscura et involuta veritate divinat, utrumne fratri tuo</p><p>mors inviderit an consuluerit ?</p><p>X</p><p>1. Illud quoque, qua iustitia in omnibus rebus es, necesse est te adiuvet</p><p>cogitantem non iniuriam tibi [p. 384] factam, quod talem fratrem amisisti,</p><p>sed beneficium datum, quod tam diu tibi pietate eius uti fruique licuit.</p><p>2. Iniquus est, qui muneris sui arbitrium danti non relinquit, avidus, qui non</p><p>lucri loco habet, quod accepit, sed damni, quod reddidit. Ingratus est, qui</p><p>iniuriam vocat finem voluptatis, stultus, qui nullum fructum esse putat</p><p>bonorum nisi praesentium, qui non et in praeteritis adquiescit et ea iudicat</p><p>certiora, quae abierunt, quia de illis ne desinant non est timendum.</p><p>3. Nimis angustat gaudia sua, qui eis tantummodo, quae habet ac videt, frui</p><p>se putat et habuisse eadem pro nihilo ducit ; cito enim nos omnis voluptas</p><p>relinquit, quae fluit et transit et paene ante quam veniat aufertur. Itaque in</p><p>praeteritum tempus animus mittendus est et quicquid nos umquam</p><p>delectavit reducendum ac frequenti cogitatione pertractandum est ; longior</p><p>fideliorque est memoria voluptatum quam praesentia. Quod habuisti ergo</p><p>optimum fratrem, in summis bonis pone!</p><p>4. Non est quod cogites, quanto diutius habere potueris, sed quam diu</p><p>habueris. Rerum natura illum tibi sicut ceteris fratres suos non mancipio</p><p>dedit, sed commodavit; cum visum est deinde repetit nec tuam in eo</p><p>satietatem secuta est sed suam legem.</p><p>5. Si quis pecuniam creditam solvisse se moleste ferat, eam [p. 386]</p><p>praesertim, cuius usum gratuitum acceperit, nonne iniustus vir habeatur ?</p><p>Dedit natura fratri tuo vitam, dedit et tibi. Quae suo iure usa si a quo voluit</p><p>debitum suum citius exegit ; non illa in culpa est, cuius nota erat condicio,</p><p>sed mortalis animi spes avida, quae subinde, quid rerum natura sit,</p><p>obliviscitur nec umquam sortis suae meminit, nisi cum admonetur.</p><p>6. Gaude itaque habuisse te tam bonum fratrem et usum fructumque eius,</p><p>quamvis brevior voto tuo fuerit, boni consule. Cogita iucundissimum esse,</p><p>quod habuisti, humanum, quod perdidisti. Nec enim quicquam minus inter</p><p>se consentaneum est quam aliquem moveri, quod sibi talis frater parum diu</p><p>contigerit, non gaudere, quod tamen contigerit.</p><p>XI</p><p>1. “At</p><p>inopinanti ereptus est.” Sua quemque credulitas decipit et in eis, quae</p><p>diligit, voluntaria mortalitatis oblivio. Natura nulli se necessitatis suae</p><p>gratiam facturam esse testata est. Cotidie praeter oculos nostros transeunt</p><p>notorum ignotorum- que funera, nos tamen aliud agimus et subitum id</p><p>putamus esse, quod nobis tota vita denuntiatur futurum. Non est itaque ista</p><p>fatorum iniquitas, sed mentis humanae pravitas insatiabilis rerum omnium,</p><p>quae indignatur inde excidere, quo admissa est precario.</p><p>2. Quanto ille iustior, qui nuntiata fili morte dignam magno viro vocem</p><p>emisit: “ Ego cum genui, tum moriturum scivi.” Prorsus non [p. 388]</p><p>mireris ex hoc natum esse, qui fortiter mori posset. Non accepit tamquam</p><p>novum nuntium filii mortem ; quid enim est novi hominem mori, cuius tota</p><p>vita nihil aliud quam ad mortem iter est ? “ Ego eum genui, tum moriturum</p><p>scivi.”</p><p>3. Deinde adiecit rem maioris et prudentiae et animi : “Et huic rei sustuli.”</p><p>Omnes huic rei tollimur ; quisquis ad vitam editur, ad mortem destinatur.</p><p>Gaudeamus ergo39 eo, quod dabitur, reddamusque id, cum reposcemur.</p><p>Alium alio tempore fata comprehendent, neminem praeteribunt. In</p><p>procinctu stet animus et id quod necesse est numquam timeat, quod</p><p>incertum est semper expectet.</p><p>4. Quid dicam duces ducumque progeniem et multis aut consulatibus</p><p>conspicuos aut triumphis sorte defunctos inexorabili ? Tota eum regibus</p><p>regna populique eum regentibus40 tulere fatum suum; omnes, immo omnia</p><p>in ultimum diem spectant. Non idem universis finis est ; alium in medio</p><p>cursu vita deserit, alium in ipso aditu relinquit, alium in extrema senectute</p><p>fatigatum iam et exire cupientem vix emittit; alio quidem atque alio</p><p>tempore, omnes tamen in eundem locum tendimus. Utrumne stultius sit</p><p>nescio mortalitatis legem ignorare, an impudentius recusare.</p><p>5. Agedum illa, quae multo ingenii tui labore celebrata sunt, in manus sume</p><p>utriuslibet auctoris carmina, quae tu ita resolvisti, ut quamvis structura [p.</p><p>390] illorum recesserit, permaneat tamen gratia—sic enim illa ex alia lingua</p><p>in aliam transtulisti, ut, quod difficillimum erat, omnes virtutes in alienam</p><p>te orationem secutae sint : — nullus erit in illis scriptis liber, qui non</p><p>plurima varietatis humanae incertorumque casuum et lacrimarum ex alia</p><p>atque alia causa fluentium exempla tibi suggerat.</p><p>6. Lege, quanto spiritu ingentibus intonueris verbis ; pudebit te subito</p><p>deficere et ex tanta orationis magnitudine desciscere. Ne commiseris, ut</p><p>quisquis exemplaris modo41 scripta tua mirabatur quaerat quomodo tam</p><p>grandia tamque solida tam fragilis animus conceperit.</p><p>XII</p><p>1. Potius ab istis te, quae torquent, ad haec tot et tanta, quae consolantur,</p><p>converte ac respice optimos fratres, respice uxorem, filium respice ; pro</p><p>omnium horum salute hac tecum portione fortuna decidit. Multos habes, in</p><p>quibus adquiescas. Ab hac te infamia vindica, ne videatur omnibus plus</p><p>apud te valere unus dolor quam haec tam multa solacia.</p><p>2. Omnis istos una tecum perculsos vides nec posse tibi subvenire, immo</p><p>etiam ultro expectare, ut a te subleventur, intellegis ; et ideo quanto minus</p><p>in illis doctrinae minusque ingenii est, tanto magis obsistere te necesse est</p><p>communi malo. Est autem hoc ipsum solacii loco, inter multos dolorem</p><p>suum dividere ; qui quia dispensatur inter plures, exigua debet apud te parte</p><p>subsidere. [p. 392] Non desinam totiens tibi offerre Caesarem.</p><p>3. Illo moderante terras et ostendente quanto melius beneficiis imperium</p><p>custodiatur quam armis, illo rebus humanis praesidente42 non est periculum,</p><p>ne quid perdidisse te sentias ; in hoc uno tibi satis praesidi, solaci est.</p><p>Attolle te et, quotiens lacrimae suboriuntur oculis tuis, totiens illos in</p><p>Caesarem derige ; siccabuntur maximi et clarissimi conspectu numinis ;</p><p>fulgor eius illos, ut nihil aliud possint aspicere, prae- stringet et in se</p><p>haerentes detinebit.</p><p>4. Hic tibi, quem tu diebus intuens ac noctibus, a quo numquam deicis</p><p>animum, cogitandus est, hic contra fortunam advocandus. Nec dubito, cum</p><p>tanta illi adversus omnes suos sit mansuetudo tantaque indulgentia, quin</p><p>iam multis solaciis tuum istud vulnus obduxerit, iam multa, quae dolori</p><p>obstarent tuo, congesserit. Quid porro ? Ut nihil horum fecerit, nonne</p><p>protinus ipse conspectus per se tantummodo cogitatusque Caesar maximo</p><p>solacio tibi est ?</p><p>5. Dii illum deaeque terris diu commodent! Acta hic divi Augusti aequet,</p><p>annos vincat! Quam diu inter mortales erit, nihil ex domo sua mortale esse</p><p>sentiat ! Rectorem Romano imperio filium longa fide approbet et ante</p><p>illum43 consortem patris quam successorem aspiciat! Sera et nepotibus</p><p>demum nostris dies nota sit, qua illum gens sua caelo asserat !</p><p>XIII</p><p>1. Abstine ab hoc manus tuas, fortuna, nec in isto potentiam tuam nisi ea</p><p>parte, qua prodes, [p. 394] ostenderis ! Patere illum generi humano iam diu</p><p>aegro et affecto mederi, patere quicquid prioris principis furor concussit in</p><p>suum locum restituere ac reponere ! Sidus hoc, quod praecipitato in</p><p>profundum et demerso in tenebras orbi refulsit, semper luceat !</p><p>2. Hic Germaniam pacet, Britanniam aperiat, et patrios triumphos ducat et</p><p>novos ; quorum me quoque spectatorem futurum, quae ex virtutibus eius</p><p>primum optinet locum, promittit clementia. Nec enim sic me deiecit, ut</p><p>nollet erigere, immo ne deiecit quidem, sed impulsum a fortuna et cadentem</p><p>sustinuit et in praeceps euntem leniter divinae manus usus moderatione</p><p>deposuit ; deprecatus est pro me senatum et vitam mihi non tantum dedit</p><p>sed etiam petit. Viderit : qualem volet esse, existimet causam meam.</p><p>3. Vel iustitia eius bonam perspiciat vel clementia faciat bonam ; utrumque</p><p>in aequo mihi eius beneficium erit, sive innocentem me scierit esse, sive</p><p>voluerit. Interim magnum miseriarum mearum solacium est videre</p><p>misericordiam eius totum orbem pervagantem ; quae cum ex ipso angulo, in</p><p>quo ego defixus sum, complures multorum iam annorum ruina obrutos</p><p>effoderit et in lucem reduxerit, non vereor ne me unum transeat. Ipse autem</p><p>optime novit tempus, quo cuique debeat succurrere ; ego omnem operam</p><p>dabo, ne pervenire ad me erubescat.</p><p>4. O [p. 396] felicem clementiam tuam. Caesar, quae efficit, ut quietiorem</p><p>sub te agant vitam exules, quam nuper sub Gaio egere principes ! Non</p><p>trepidant nec per singulas horas gladium expectant nec ad omnem navium</p><p>conspectum pavent ; per te habent ut fortunae saevientis modum ita spem</p><p>quoque melioris eiusdem ac praesentis quietem. Scias licet ea demum</p><p>fulmina esse iustissima, quae etiam percussi colunt.</p><p>XIV</p><p>1. Hic itaque princeps, qui publicum omnium hominum solacium est, aut</p><p>me omnia fallunt aut iam recreavit animum tuum et tam magno vulneri</p><p>maiora adhibuit remedia. Iam te omni confirmavit modo, iam omnia</p><p>exempla, quibus ad animi aequitatem compellereris, tenacissima memoria</p><p>rettulit, iam omnium praecepta sapientum assueta sibi facundia explicuit.</p><p>2. Nullus itaque melius has adloquendi partes occupaverit. Aliud habebunt</p><p>hoc dicente pondus verba velut ab oraculo missa ; omnem vim doloris tui</p><p>divina eius contundet auctoritas. Hunc itaque tibi puta dicere : “ Non te</p><p>solum fortuna desumpsit sibi, quem tam gravi afficeret iniuria ; nulla domus</p><p>in toto orbe terrarum aut est aut fuit sine aliqua comparatione. Transibo</p><p>exempla vulgaria, quae etiam si minora, tamen innumera sunt, ad fastus te</p><p>et annales perducam publicos.</p><p>3. Vides omnes has imagines, quae implevere Caesarum atrium ? Nulla non</p><p>harum aliquo suorum incommodo insignis est ; nemo non ex istis [p. 398]</p><p>in ornamentum saeculorum refulgentibus viris aut desiderio suorum tortus</p><p>est aut a suis cum maximo animi cruciatu desideratus est.</p><p>4. “ Quid tibi referam Scipionem Africanum, cui mors fratris in exilio</p><p>nuntiata est ? Is frater, qui eripuit fratrem carceri, non potuit eripere fato. Et</p><p>quam impatiens iuris aequi pietas Africam fuerit, cunctis apparuit; eodem</p><p>enim die Scipio Africanus, quo viatoris manibus fratrem abstulerat, tribuno</p><p>quoque plebis privatus intercessit. Tam magno tamen fra- trem desideravit</p><p>hic animo, quam defenderat.</p><p>5. Quid referam Aemilianum Scipionem, qui uno paene eodemque tempore</p><p>spectavit</p><p>que nenhum deles sabe como se</p><p>comportar, seja mencionando o Druso em sua presença ou não, pois eles</p><p>não desejam injustiçar um jovem nobre, esquecendo-o, nem feri-lo ao falar</p><p>dele.</p><p>2. Quando a deixamos e nos reunimos a sós, falamos livremente de seus</p><p>ditos e feitos, tratando-os com o respeito que merecem: em sua presença se</p><p>observa um profundo silêncio sobre ele, e assim você perde aquele maior</p><p>dos prazeres, o ouvir os elogios a seu filho, que não duvido que você</p><p>estaria disposta a entregar a todas as idades futuras, os quais não tenho</p><p>dúvidas que, se tal poder lhe fosse concedido, mesmo à custa de sua</p><p>própria vida.</p><p>3. Por isso, persista em ouvir, ou melhor, encoraje a conversa da qual ele é</p><p>o assunto, e deixe que seus ouvidos estejam abertos ao nome e à memória</p><p>de seu filho. Você não deve considerar isto doloroso, como aqueles que em</p><p>tal caso pensam que parte de seu infortúnio consiste em ouvir o consolo.</p><p>4. Como é, você se precipitou totalmente no outro extremo e, esquecendo os</p><p>melhores aspectos de sua sorte, olha apenas para o seu pior lado: você não</p><p>presta atenção ao prazer que teve na sociedade de seu filho e seus</p><p>encontros alegres com ele, as doces carícias de sua infância, o progresso de</p><p>sua educação: você fixa toda sua atenção naquela última cena de todas: e a</p><p>isto, como se não fosse chocante o suficiente, você acrescenta todo o horror</p><p>que puder. Não tenha, imploro-lhe, um orgulho perverso de parecer a mais</p><p>infeliz das mulheres: e reflita também que não há grande crédito em</p><p>comportar-se corajosamente em tempos de prosperidade, quando a vida</p><p>desliza facilmente com uma corrente favorável: nem um mar calmo e um</p><p>vento suave exibem a arte do piloto: algum mau tempo é desejado para</p><p>provar sua coragem.</p><p>5. Como ele, então, não ceda, mas se instale com firmeza, e suporte</p><p>qualquer carga que possa cair sobre você; embora você tenha ficado com</p><p>medo do primeiro rugido da tempestade. Nada é mais odioso para a</p><p>Fortuna24 do que um espírito resignado”. Depois disso, ele aponta para ela</p><p>o filho que ainda está vivo: fez-lhe ver os netos que lhe dera o filho</p><p>perdido25.</p><p>VI</p><p>1. É o seu problema, Márcia, que tem sido tratado aqui: é ao lado de seu</p><p>sofá de luto que Ário tem estado sentado: mude os personagens, e é você</p><p>quem ele tem consolado. Mas, por outro lado, Márcia, suponha que você</p><p>tenha sofrido uma perda maior do que jamais sofreu qualquer mãe antes de</p><p>você: veja, não estou lhe menosprezado nem fazendo pouco de seu</p><p>infortúnio:</p><p>2. Se o destino pode ser vencido pelas lágrimas, traga as lágrimas para cima</p><p>dele26: que cada dia seja passado em luto, cada noite seja passada em</p><p>tristeza ao invés no sono: que seu peito seja rasgado por suas próprias mãos,</p><p>seu próprio rosto atacado por elas, e todo tipo de crueldade seja praticada</p><p>por seu pesar, se isso lhe for benéfico. Mas se os mortos não podem ser</p><p>trazidos de volta à vida, por mais que possamos bater nossos seios, se o</p><p>destino permanece fixo e imutável para sempre, para não ser mudado por</p><p>qualquer tristeza, por maior que seja, e a morte não cede o controle de nada</p><p>que uma vez tenha tomado, então que nosso luto fútil termine.</p><p>3. Vamos, então, seguir nosso próprio rumo e não mais nos deixar levar pela</p><p>força de nossa infelicidade. É um piloto lamentável quem deixa as ondas</p><p>arrancar o leme de sua mão, que deixa as velas soltas e abandona o navio à</p><p>tempestade: mas aquele que ousadamente agarra o leme e se empunha dele</p><p>enquanto o mar se fecha, merece elogios mesmo que naufrague.</p><p>VII</p><p>1. “Mas”, diz você, “a tristeza pela perda dos próprios filhos é natural”.</p><p>Quem o nega? Desde que seja razoável! Pois não podemos deixar de sentir</p><p>uma pancada, e os mais corajosos de nós são lançados para baixo não</p><p>apenas na morte daqueles que nos são mais queridos, mas mesmo quando</p><p>nos deixam em uma viagem. No entanto, o luto que a opinião pública</p><p>prescreve é mais do que a natureza exige.</p><p>2. Observe quão intensas e ainda assim breves são as tristezas dos animais</p><p>brutos: ouvimos uma vaca mugir por um ou dois dias, nem éguas</p><p>perseguem seus galopes selvagens e sem sentido por mais tempo: feras</p><p>selvagens depois de terem rastreado por toda a floresta seus filhotes</p><p>perdidos, e muitas vezes visitavam seus covis pilhados, saciam sua raiva em</p><p>um curto espaço de tempo. As aves circulam em torno de seus ninhos</p><p>vazios com gritos altos e piedosos, mas quase imediatamente retomam seu</p><p>vôo habitual em silêncio; nem qualquer criatura passa longos períodos de</p><p>dor pela perda de sua prole, exceto o homem, que encoraja seu próprio luto,</p><p>cuja medida não depende de seu sofrimento, mas de sua vontade.</p><p>3. Talvez você saiba que ser totalmente destruído pelo luto não é natural,</p><p>observando que o mesmo luto inflige uma ferida mais profunda nas</p><p>mulheres do que nos homens, nos bárbaros do que nas pessoas civilizadas e</p><p>cultivadas, nos iletrados do que nos eruditos: no entanto, aquelas paixões</p><p>que derivam sua força da natureza são igualmente poderosas em todos os</p><p>homens: portanto, é claro que uma paixão de força variável não pode ser</p><p>uma paixão natural.</p><p>4. O fogo queimará todas as pessoas igualmente, homens e mulheres, de</p><p>todas as classes e idades: o aço exibirá seu poder de corte em todos os</p><p>corpos da mesma forma: e por quê? Porque estas coisas derivam sua força</p><p>da natureza, que não faz distinção de pessoas. A pobreza, a dor e a</p><p>ambição[4] são sentidas de maneira diferente por pessoas diferentes,</p><p>segundo o hábito: um preconceito enraizado sobre os terrores destas coisas,</p><p>embora não sejam realmente temíveis, torna um homem fraco e incapaz de</p><p>suportá-las.</p><p>VIII</p><p>1. Em segundo lugar, aquilo que é natural não diminui com o tempo: um dia</p><p>longo consome a dor. Ainda que ela seja muitíssimo pertinaz, insurgindo-se</p><p>e impacientando-se contra os remédios, o tempo enfraquece-a, o mais eficaz</p><p>remédio para acalmar a agressividade.</p><p>2. Certamente, mesmo agora subsiste em você, Márcia, uma profunda</p><p>tristeza e, além disso, parece já ter formado uma calosidade, não aquela</p><p>tristeza apaixonada como era de início, mas pertinaz e obstinada; desta,</p><p>todavia, também o tempo a livrará pouco a pouco. Todas as vezes que se</p><p>ocupar de outra coisa, o seu espírito descuidará.</p><p>3. Neste momento, aprisiona-se a si própria; mas há uma grande diferença</p><p>entre se se permite ou se se impõe a tristeza. Quanto mais é conveniente à</p><p>elegância dos seus costumes antes pôr fim à mágoa do que esperar, e não</p><p>aguardar aquele dia em que a dor cessará contra a sua vontade! Renuncie</p><p>você mesma a ela.</p><p>IX</p><p>1. “Por que então”, pergunta você, “mostramos tanta persistência no luto</p><p>por nossos amigos, se não é a natureza que nos obriga a fazer isso”? É</p><p>porque nunca esperamos que qualquer mal nos suceda antes que ele venha,</p><p>não nos será ensinado, vendo os infortúnios dos outros, que eles são a</p><p>herança comum de todos os homens, mas se imagina que o caminho que</p><p>começamos a trilhar está livre deles e menos atormentado pelos perigos do</p><p>que o de outras pessoas27.</p><p>2. Quantos funerais passam por nossas casas28? Ainda assim, não pensamos</p><p>na morte. Quantas mortes prematuras? Pensamos apenas na toga de nosso</p><p>filho29, no seu serviço no exército ou na sucessão de seu pai. Quantos</p><p>homens ricos de repente se afundam na pobreza diante de nossos próprios</p><p>olhos, sem que nunca nos ocorra que nossa própria riqueza esteja exposta</p><p>exatamente aos mesmos riscos? Quando, portanto, o infortúnio nos cai, não</p><p>podemos evitar o colapso ainda mais completo, porque somos atingidos</p><p>como que de surpresa: um golpe há muito previsto recai muito mais leve</p><p>sobre nós.</p><p>3. Você deseja saber o quanto está completamente exposta a cada golpe do</p><p>destino, e que os mesmos dardos que transfixaram outros estão se movendo</p><p>ao seu redor? Então imagine que você está montada sem armadura</p><p>suficiente para atacar alguma muralha da cidade ou alguma posição forte e</p><p>sublime comandada por um grande exército, espere uma ferida, e suponha</p><p>que todas aquelas pedras, flechas e dardos que enchem a parte superior do</p><p>ar estejam apontados para seu corpo: sempre que alguém cair ao seu lado ou</p><p>nas suas costas, exclame: “Fortuna,</p><p>patris triumphum duorumque fratrum funera ? Adulescentulus</p><p>tamen ac propemodum puer tanto animo tulit illam familiae suae super</p><p>ipsum Pauli triumphum concidentis subitam vastitatem, quanto debuit ferre</p><p>vir in hoc natus, ne urbi Romanae aut Scipio deesset aut Carthago</p><p>superesset.</p><p>XV</p><p>1. “Quid referam duorum Lucullorum diremptam morte concordiam ? Quid</p><p>Pompeios ? quibus ne hoc quidem saeviens reliquit fortuna, ut una</p><p>eademque conciderent ruina. Vixit Sextus Pompeius primum sorori</p><p>superstes, cuius morte Optime cohaerentis Romanae pacis vincula resoluta</p><p>sunt, idemque hic [p. 400] vixit superstes optimo fratri, quem fortuna in hoc</p><p>evexerat, ne minus alte eum deiceret, quam patrem deiecerat ; et post hunc</p><p>tamen casum Sextus Pompeius non tantum dolori, sed etiam bello suffecit.</p><p>2. Innumerabilia undique exempla separatorum morte fratrum succurrunt,</p><p>immo contra vix ulla umquam horum paria conspecta sunt una senescentia.</p><p>Sed contentus nostrae domus exemplis ero; nemo enim tam expers erit</p><p>sensus ac sanitatis, ut fortunam ulli queratur luctum intulisse, quam sciet</p><p>etiam Caesarum lacrimas concupisse,</p><p>3. Divus Augustus amisit Octaviam sororem carissimam et ne ei quidem</p><p>rerum natura lugendi necessitatem abstulit, cui caelum destinaverat, immo</p><p>vero idem omni genere orbitatis vexatus sororis filium successioni</p><p>praeparatum suae perdidit ; denique ne singulos eius luctus enumerem, et</p><p>generos ille amisit et liberos et nepotes, ac nemo magis ex omnibus</p><p>mortalibus hominem esse se, dum inter homines erat, sensit. Tamen tot</p><p>tantosque luctus cepit rerum omnium capacissimum eius pectus victorque</p><p>divus Augustus non gentium tantummodo externarum, sed etiam dolorum</p><p>fuit.</p><p>4. Gaius Caesar, divi Augusti, avunculi mei magni nepos, circa primos</p><p>iuventae suae annos Lucium fratrem carissimum sibi princeps iuventutis</p><p>principem eiusdem iuventutis amisit in apparatu Parthici belli [p. 402] et</p><p>graviore multo animi vulnere quam postea corporis ictus est ; quod</p><p>utrumque et piissime idem et fortissime tulit.</p><p>5. Ti.44 Caesar patruus meus Drusum Germanicum patrem meum, minorem</p><p>natu quam ipse erat fratrem, intima Germaniae recludentem et gentes</p><p>ferocissimas Romano subicientem imperio in complexu et in osculis suis</p><p>amisit. Modum tamen lugendi non sibi tantum sed etiam aliis fecit ac totum</p><p>exercitum non solum maestum sed etiam attonitum corpus Drusi sui sibi</p><p>vindicantem ad morem Romani luctus redegit iudicavitque non militandi</p><p>tantum disciplinam esse servandam sed etiam dolendi. Non potuisset ille</p><p>lacrimas alienas compescere, nisi prius pressisset suas.</p><p>XVI</p><p>1. M. Antonius avus meus, nullo minor nisi eo a quo victus est, tunc cum</p><p>rem publicam constitueret et triumvirali potestate praeditus nihil supra se</p><p>videret, exceptis vero duobus collegis omnia infra se cerneret, fratrem</p><p>interfectum audivit.</p><p>2. Fortuna impotens, quales ex humanis malis tibi ipsa ludos facis ! Eo ipso</p><p>tempore, quo M. Antonius civium suorum vitae sedebat mortisque arbiter,</p><p>M. Antonii frater duci iubebatur ad supplicium ! Tulit hoc tamen tam triste</p><p>vulnus eadem magnitudine animi M. Antonius, qua omnia alia adversa</p><p>toleraverat, et hoc fuit eius lugere viginti legionum sanguine fratri</p><p>parentare. [p. 404]</p><p>3. Sed ut omnia alia exempla praeteream, ut in me quoque ipso alia taceam</p><p>funera, bis me fraterno luctu aggressa fortuna est, bis intellexit laedi me</p><p>posse, vinci non posse. Amisi45 Germanicum fratrem, quem quomodo</p><p>amaverim, intellegit profecto quisquis cogitat, quomodo suos fratres pii</p><p>fratres ament ; sic tamen affectum meum rexi, ut nec relinquerem</p><p>quicquam, quod exigi deberet a bono fratre, nec facerem, quod reprehendi</p><p>posset in principe.</p><p>”</p><p>4. Haec ergo puta tibi parentem publicum referre exempla, eundem</p><p>ostendere, quam nihil sacrum in- tactumque sit fortunae, quae ex eis</p><p>penatibus ausa est funera ducere, ex quibus erat deos petitura. Nemo itaque</p><p>miretur aliquid ab illa aut crudeliter fieri aut inique ; potest enim haec</p><p>adversus privatas domos ullam aequitatem nosse aut ullam modestiam,</p><p>cuius implacabilis saevitia totiens ipsa funestavit pulvi- naria ?</p><p>5. Faciamus licet illi convicium non nostro tantum ore sed etiam publico,</p><p>non tamen mutabitur ; adversus omnis se preces omnisque querimonias</p><p>exiget. Hoc fuit in rebus humanis fortuna, hoc erit. Nihil inausum sibi</p><p>reliquit, nihil intactum relinquet ; ibit violentior per omnia, sicut solita est</p><p>semper, eas quoque domos ausa iniuriae causa intrare, in quas per templa</p><p>aditur, et atram laureatis foribus induet vestem.</p><p>6. Hoc unum obtineamus ab illa votis ac precibus publicis, si nondum illi</p><p>genus humanum [p. 406] placuit consumere, si Romanum adhuc nomen</p><p>propitia respicit : hunc principem lapsis hominum rebus datum, sicut</p><p>omnibus mortalibus, sibi esse sacratum velit! Discat ab illo clementiam</p><p>fiatque mitissimo omnium principum mitis !</p><p>XVII</p><p>1. Debes itaque eos intueri omnes, quos paulo ante rettuli, aut adscitos caelo</p><p>aut proximos, et ferre aequo animo fortunam ad te quoque porrigentem</p><p>manus, quas ne ab eis quidem, per quos iuramus, abstinet ; debes illorum</p><p>imitari firmitatem in perferendis et evincendis doloribus, in quantum modo</p><p>homini fas est per divina ire vestigia. Quamvis sint46</p><p>2. in aliis rebus dignitatum ac nobilitatum magna discrimina, virtus in</p><p>medio posita est; neminem dedignatur, qui modo dignum se illa iudicat.</p><p>Optime certe illos imitaberis, qui eum indignari possent non esse ipsos</p><p>exsortes huius mali, tamen in hoc uno se ceteris exaequari hominibus non</p><p>iniuriam sed ius mortalitatis iudicaverunt tuleruntque nec nimis acerbe et</p><p>aspere, quod acciderat, nec molliter et effeminate ; nam et non sentire mala</p><p>sua non est hominis et non ferre non est viri.</p><p>3. Non possum tamen, cum omnes circumierim Caesares, quibus fortuna</p><p>fratres sororesque eripuit, hunc praeterire ex omni Caesarum numero</p><p>excerpendum, quem rerum natura in exitium opprobriumque humani [p.</p><p>408] generis edidit, a quo imperium adustum atque eversum funditus</p><p>principis mitissimi recreat clementia.</p><p>4. C. Caesar amissa sorore Drusilla, is homo, qui non magis dolere quam</p><p>gaudere principaliter posset, conspectum conversationemque civium</p><p>suorum profugit, exsequis sororis suae non interfuit, iusta sorori non</p><p>praestitit, sed in Albano suo tesseris ac foro et pervolgatis47 huiusmodi aliis</p><p>occupationibus acerbissimi funeris elevabat mala. Pro pudor imperii!</p><p>Principis Romani lugentis sororem alea solacium fuit !</p><p>5. Idem ille Gaius furiosa inconstantia modo barbam capillumque</p><p>summittens modo tondens48 Italiae ac Siciliae oras errabundus permetiens</p><p>et numquam satis certus, utrum lugeri vellet an coli sororem, eodem omni</p><p>tempore, quo templa illi constituebat ac pulvinaria, eos qui parum maesti</p><p>fuerant, crudelissima adficiebat animadversione ; eadem enim intemperie</p><p>animi adversarum rerum ictus ferebat, qua secundarum elatus eventu super</p><p>humanum in- tumeseebat modum.</p><p>6. Procul istud exemplum ab omni Romano sit viro, luctum suum aut</p><p>intempestivis sevocare lusibus aut sordium ac squaloris foeditate irritare aut</p><p>alienis malis obiectare minime humano solacio.</p><p>XVIII</p><p>1. Tibi vero nihil ex consuetudine mutandum est tua, quoniam quidem ea</p><p>instituisti amare studia, quae et optime felicitatem extollunt et facillime</p><p>minuunt calamitatem eademque et ornamenta [p. 410] maxima homini sunt</p><p>et solacia. Nunc itaque te studiis tuis immerge altius, nunc illa tibi velut</p><p>munimenta animi circumda, ne ex ulla tui parte inveniat introitum dolor.</p><p>2. Fratris quoque tui produc memoriam aliquo scriptorum monimento</p><p>tuorum ; hoc enim unum est in49 rebus humanis opus, cui nulla tempestas</p><p>noceat, quod nulla consumat vetustas. Cetera, quae per constructionem</p><p>lapidum et marmoreas moles aut terrenos tumulos in magnam eductos</p><p>altitudinem constant, non propagant longam diem, quippe et ipsa intereunt ;</p><p>immortalis est ingeni memoria. Hanc tu fratri tuo largire, in hac eum</p><p>conloca ; melius illum duratura semper consecrabis ingenio quam irrito</p><p>dolore lugebis.</p><p>3. Quod ad ipsam fortunam pertinet, etiam si nunc agi apud te causa eius</p><p>non potest—omnia enim illa, quae nobis dedit, ob hoc ipsum, quod</p><p>você não vai me enganar, ou me pegar</p><p>confiante e desatenta: Eu sei o que você está se preparando para fazer:</p><p>você derrubou outro, mas você apontou para mim”!30</p><p>4. Quem olha para seus próprios assuntos como se estivesse à beira da</p><p>morte? quem de nós ousa pensar em desterro, carência ou luto? quem, se</p><p>aconselhado a meditar sobre estes assuntos, não rejeitaria a ideia como um</p><p>mau presságio, e a mandaria afastar-se dele e incitar à cabeça de seus</p><p>inimigos, ou mesmo à de seu inoportuno conselheiro? “Eu nunca pensei</p><p>que isso acontecesse”!</p><p>5. Como você pode pensar que nada vai acontecer, quando você sabe que</p><p>isso pode acontecer a muitos homens, e já aconteceu a muitos? Esse é um</p><p>verso nobre, e digno de uma fonte mais nobre do que o palco:</p><p>“O que atingiu um, pode atingir a todos!”31.</p><p>Aquele homem perdeu seus filhos: você pode perder os seus. Aquele</p><p>homem foi condenado: sua inocência está em perigo. Somos enganados e</p><p>debilitados por esta ilusão, quando sofremos o que nunca previmos que</p><p>poderíamos sofrer; mas ao antecipar a chegada de nossas mágoas, tiramos o</p><p>ferrão delas quando chegam.</p><p>X</p><p>1. Minha Márcia, todas essas circunstâncias fortuitas que brilham ao nosso</p><p>redor, tais como crianças, cargo no estado, riqueza, grandes salões,</p><p>vestíbulos lotados de clientes que buscam em vão a admissão, um nome</p><p>nobre, uma esposa bem nascida ou bela, e tudo o mais que depende</p><p>inteiramente da fortuna incerta e mutável, são apenas mobiliário que não é</p><p>nosso, mas nos é confiado por empréstimo: nenhuma destas coisas nos é</p><p>dada diretamente: a etapa de nossas vidas é adornada com propriedades</p><p>reunidas de várias fontes, e logo serão devolvidas aos seus vários</p><p>proprietários: algumas delas serão tiradas no primeiro dia, outras no</p><p>segundo, e poucas permanecerão até o final.</p><p>2. Não temos, portanto, motivos para nos considerarmos com</p><p>condescendência, como se as coisas que nos rodeiam fossem nossas: elas</p><p>são apenas emprestadas: temos o uso e o gozo delas por um tempo</p><p>regulamentado pelo credor, que controla seu próprio presente: é nosso dever</p><p>sempre poder colocar nossas mãos sobre o que nos foi emprestado sem data</p><p>fixa para sua devolução, e restaurá-lo quando chamado sem um murmúrio:</p><p>o tipo mais detestável de devedor é aquele que ameaça seu credor32.</p><p>3. Daí que todos os nossos parentes, tanto aqueles que pela ordem de seu</p><p>nascimento esperamos que vivam mais do que nós mesmos, como aqueles</p><p>que mais propriamente desejam morrer antes de nós, devem ser amados por</p><p>nós como pessoas que não podemos ter certeza de ter conosco para sempre,</p><p>nem mesmo por tanto tempo. Devemos frequentemente nos lembrar que é</p><p>preciso amar as coisas desta vida exatamente como o faríamos com o que</p><p>em breve nos deixará, ou mesmo no próprio ato de nos deixar.</p><p>4. Qualquer que seja o presente que a Fortuna dê a um homem, deixe-o</p><p>pensar enquanto ele o desfruta, que ele provará ser tão inconstante quanto a</p><p>deusa de quem ele veio. Tire o gozo que puder de seus filhos, permita que</p><p>seus filhos, por sua vez, tenham prazer em sua convivência e drene sem</p><p>demora todos os prazeres às borras. Não podemos contar com esta noite,</p><p>não, eu permiti um atraso muito longo, não podemos contar com esta hora:</p><p>temos que nos apressar: o inimigo pressiona atrás de nós: logo a sua</p><p>sociedade será desmembrada, aquela companhia agradável será tomada por</p><p>assalto e dispersa. A pilhagem é a lei universal: criaturas infelizes, não</p><p>sabem que a vida é apenas uma fuga?</p><p>5. Se você chora a morte de seu filho, a culpa é da época em que ele nasceu,</p><p>pois no seu nascimento foi-lhe dito que a morte era sua perdição: é a lei sob</p><p>a qual ele nasceu, o destino que o persegue desde que ele deixou o ventre de</p><p>sua mãe.</p><p>6. Estamos sob o domínio da Fortuna, e é um domínio duro e</p><p>inconquistável: em seu capricho, devemos sofrer todas as coisas,</p><p>merecendo-as ou não. Ela maltrata nossos corpos com raiva, insulto e</p><p>crueldade: alguns ela queima, o fogo sendo às vezes aplicado como castigo</p><p>e às vezes como remédio: alguns ela prende, permitindo que isso seja feito</p><p>em um momento por nossos inimigos, em outro por nossos compatriotas:</p><p>ela atira outros nus nos mares em agitados, e depois da luta deles com as</p><p>ondas nem sequer os joga na areia ou na costa, mas os enterra na barriga de</p><p>uma enorme monstruosidade marinha: ela definha outros num esqueleto por</p><p>diversos tipos de doenças, e os mantém muito tempo em suspense entre a</p><p>vida e a morte: ela é tão caprichosa em suas recompensas e punições como</p><p>uma senhora inconstante, caprichosa e descuidada é com os seus escravos.</p><p>XI</p><p>1. Por que precisamos chorar sobre partes de nossa vida? o todo exige</p><p>lágrimas: novas misérias nos assaltam antes de nos libertarmos das antigas.</p><p>Você, portanto, que permite que elas a incomodem de forma irracional,</p><p>deveria especialmente se conter e reunir todos os poderes do peito humano</p><p>para combater seus medos e suas dores. Além disso, que esquecimento de</p><p>sua própria posição e a da humanidade é este?33 Você nasceu mortal e deu à</p><p>luz aos mortais: você mesmo um corpo fraco e frágil, sujeito a todas as</p><p>doenças, pode ter esperança de produzir algo forte e duradouro a partir de</p><p>materiais tão instáveis?</p><p>2. Seu filho morreu: em outras palavras, ele atingiu aquele objetivo para o</p><p>qual aqueles que você considera mais afortunados que seu filho ainda estão</p><p>se esforçando: este é o ponto para o qual se movem em ritmos diferentes</p><p>todas as multidões que estão brigando nos tribunais, sentadas nos teatros,</p><p>rezando nos templos. Aqueles que você ama e aqueles que você despreza,</p><p>serão ambos iguais nas mesmas cinzas.</p><p>3. Este é o significado dessa ordem, CONHEÇA-SE A SI MESMO, que</p><p>está escrita no santuário do oráculo Pítico34. O que é o homem? um vaso de</p><p>cerâmica, que se quebra pelo menor abalo ou golpe: não é preciso uma</p><p>grande tempestade para despedaçá-lo: cai-se em pedaços onde quer que se</p><p>atinja. O que é o homem? um corpo fraco e frágil, nu, sem qualquer</p><p>proteção natural, dependente da ajuda de outros, exposto a todo o desprezo</p><p>da Fortuna; mesmo quando seus músculos estão bem treinados, ele é a presa</p><p>e o alimento do primeiro animal selvagem que encontra, formado de</p><p>substâncias fracas e instáveis, belo na aparência, mas incapaz de suportar o</p><p>frio, o calor ou o trabalho, e ainda assim caindo na ruína se mantido em</p><p>preguiça e ociosidade, temendo seus próprios mantimentos, pois está</p><p>faminto se não os tem, e rebenta se tem em demasia. Ele não pode ser</p><p>mantido a salvo sem cuidados ansiosos, sua respiração só permanece no</p><p>corpo em sofrimento, e não tem nenhum controle real sobre ele; ele se</p><p>assusta a cada perigo repentino, cada barulho alto e inesperado que chega a</p><p>seus ouvidos.</p><p>4. Sempre uma causa de ansiedade para nós mesmos, doentes e inúteis</p><p>como somos, podemos nos surpreender com a morte de uma criatura que</p><p>pode ser morta por um único soluço? É um grande empreendimento pôr um</p><p>fim a nós? Já que, cheiros, gostos, fadiga e falta de sono, comida e bebida, e</p><p>as próprias necessidades da vida, são mortais. Para onde quer que ele se</p><p>mova, se torna imediatamente consciente de sua fraqueza, não podendo</p><p>suportar todos os climas, adoecendo depois de beber água estrangeira,</p><p>respirando um ar ao qual não está acostumado, ou de outras causas e razões</p><p>do tipo mais trivial, frágil, doentio, entrando em sua vida com o pranto: no</p><p>entanto, que perturbação faz esta desprezível criatura!</p><p>5. Que ideias ela concebe, esquecendo sua condição humilde! Ela exercita</p><p>sua mente sobre assuntos que são imortais e eternos, e organiza os assuntos</p><p>de seus netos e bisnetos, enquanto a morte a surpreende no meio de seus</p><p>esquemas de longo prazo, e o que chamamos de velhice é apenas a jornada</p><p>de poucos anos.</p><p>XII</p><p>1. Supondo que sua tristeza tenha algum método, será que seu próprio</p><p>sofrimento ou o dele que se foi é que tem em vista? Por que você lamenta</p><p>seu filho perdido? É porque você não tem recebido nenhum prazer dele, ou</p><p>porque você teria recebido mais se ele tivesse vivido mais tempo?</p><p>2. Se você responde que não recebeu nenhum prazer dele, você torna sua</p><p>perda mais suportável: pois os homens perdem</p><p>menos quando perdem o que</p><p>não lhes dá prazer ou alegria. Se, mais uma vez, você admite que recebeu</p><p>muito prazer, é seu dever não reclamar da parte que perdeu, mas devolver-</p><p>lhe o agradecimento por aquilo que desfrutou. Sua criação, por si só,</p><p>deveria ter lhe trazido um retorno suficiente para seu trabalho, pois</p><p>dificilmente aqueles que se esforçam ao máximo para criar filhotes,</p><p>pássaros e objetos de divertimento tão insignificantes conseguem um certo</p><p>prazer com a visão e o toque e carícias bajuladoras dessas criaturas brutas, e</p><p>ainda assim, aqueles que criam crianças não devem encontrar sua</p><p>recompensa ao fazê-lo.</p><p>3. Assim, mesmo que seu empenho não tenha lhe dado nada, seu cuidado</p><p>pode não lhe ter poupado nada, sua previdência pode não lhe ter dado</p><p>nenhum conselho, mas você encontrou recompensa suficiente por tê-lo</p><p>possuído e o ter amado. “Mas”, diz você, “poderia ter durado mais tempo”.</p><p>É verdade, mas você foi melhor tratada do que se nunca tivesse tido um</p><p>filho, pois, supondo que lhe foi dada sua escolha, o que é o melhor, ser feliz</p><p>por pouco tempo ou não ser feliz de forma alguma? É melhor desfrutar de</p><p>prazeres que logo nos deixam do que não desfrutar de nenhum. O que você</p><p>escolheria, novamente? Ter tido um que fosse uma desgraça para você, e</p><p>que apenas preenchesse o cargo e fosse possuidor do nome de seu filho, ou</p><p>um de caráter tão nobre como o de seu filho? Um jovem que rapidamente</p><p>cresceu discreto e obediente, logo se tornou um marido e um pai, logo se</p><p>tornou ávido de honras públicas, e logo obteve o sacerdócio, ganhando seu</p><p>caminho para todas essas coisas admiráveis com a mesma velocidade</p><p>admirável. Dificilmente alguém tem a sorte de gozar de grande</p><p>prosperidade, e também de desfrutá-la por muito tempo: somente uma</p><p>felicidade monótona pode durar muito tempo e nos acompanhar até o final</p><p>de nossas vidas. Os deuses imortais, que não tinham a intenção de lhe dar</p><p>um filho por muito tempo, lhe deram um que era imediatamente o que outro</p><p>teria exigido um longo treinamento para se tornar.</p><p>4. Você não pode nem mesmo dizer que foi especialmente marcada pelos</p><p>deuses para o infortúnio, porque não teve prazer com seu filho. Olhe para</p><p>qualquer grupo de pessoas, sejam elas conhecidas ou não: em todos os</p><p>lugares você verá algumas que sofreram maiores infortúnios do que os seus.</p><p>Grandes generais e príncipes sofreram como lutos: a mitologia nos diz que</p><p>os próprios deuses não estão isentos deles, sendo seu objetivo, suponho,</p><p>aliviar nossa tristeza de morte pelo pensamento de que até mesmo as</p><p>divindades estão sujeitas a ela. Olhe em volta, repito, para cada um deles:</p><p>não se pode mencionar nenhuma casa tão miserável a ponto de não</p><p>encontrar conforto no fato de outro ser ainda mais miserável.</p><p>5. Eu não penso, por Hércules, tão mal de seus princípios a ponto de supor</p><p>que você suportaria sua tristeza com mais leveza se eu lhe mostrasse uma</p><p>enorme companhia de enlutados: esse é um tipo de consolo rancoroso que</p><p>derivamos do número de nossos companheiros de luto: No entanto, citarei</p><p>alguns exemplos, não para lhe ensinar que isso acontece com frequência</p><p>com os homens, pois é absurdo multiplicar os exemplos de mortalidade do</p><p>homem, mas para lhe dizer que houve muitos que aliviaram seus infortúnios</p><p>pela paciência de sua resistência.</p><p>6. Começarei com o homem mais feliz de todos35. Lúcio Sula36, perdeu seu</p><p>filho, mas isso não prejudicou nem o ressentimento nem o valor reluzente</p><p>que ele demonstrou às custas de seus inimigos e de seus compatriotas, nem</p><p>o fez parecer ter assumido seu bem conhecido título indevidamente após a</p><p>morte de seu filho, não temendo nem o ódio dos homens, por cujos</p><p>sofrimentos foi adquirida a excessiva prosperidade dele, nem a má vontade</p><p>dos deuses, a quem foi uma reprovação o fato de Sula ser tão</p><p>verdadeiramente afortunado. O que, no entanto, o verdadeiro caráter de</p><p>Sula pode passar entre questões ainda não decididas: mesmo seus inimigos</p><p>admitirão que ele pegou armas com honra, e as colocou de lado com honra:</p><p>seu exemplo prova o ponto em questão, que um mal que se abate até mesmo</p><p>o mais próspero não pode ser um dos de primeira magnitude.</p><p>XIII</p><p>1. Que a Grécia não fique tão orgulhosa deste pai que, sabendo com muito</p><p>sacrifício da morte de seu filho, limitou-se a fazer com que o flautista se</p><p>calasse e tirou a coroa de sua cabeça, terminando a cerimônia: temos o</p><p>pontífice Pulvilo37, que procedia, com a mão sobre o batente da porta, a</p><p>dedicatória do Capitólio, quando foi anunciado que seu filho morrera. Ele</p><p>fez como se não tivesse escutado: recitou as fórmulas do ritual sem que a</p><p>menor lamentação interrompesse suas orações e, apesar de lhe falarem</p><p>sobre seu filho, persistia a invocar a proteção de Júpiter.</p><p>2. Poderíamos crer que ele tivesse que abafar sua dor, este pai que a</p><p>violência da primeira emoção não desviara dos altares em que realizava seu</p><p>ministério e não sendo impedido de pronunciar as palavras propiciatórias?</p><p>Não foi ele digno, oh deuses!, da dedicatória memorável de que era</p><p>encarregado e de seu alto sacerdote, este homem que a própria cólera dos</p><p>deuses não desencorajou de adorá-los? E, no entanto, quando voltou para</p><p>casa, seus olhos transbordaram de lágrimas: algumas palavras queixosas lhe</p><p>escaparam, depois, tendo-se desvencilhado dos deveres ordinários relativos</p><p>aos mortos, retomou sua expressão do Capitólio.</p><p>3. Para a época do famoso triunfo em que recebeu a glória de levar Perseu38</p><p>acorrentado diante de seu carro, Paulo Emílio39, que vinha dar em adoção</p><p>dois de seus filhos, levou ao túmulo aqueles a quem havia mantido. Como</p><p>eram os filhos que ele havia se reservado, quando entre aqueles que havia</p><p>cedido figurava Cipião40! Não foi sem uma viva compaixão que o povo</p><p>romano viu passar vazio o carro de Paulo Emílio41. Ele, no entanto,</p><p>discursou para a multidão e rendeu graças aos deuses por suas orações</p><p>terem sido atendidas: não havia ele pedido que, se sua magnífica vitória</p><p>tivesse um preço, fosse antes à sua custa do que em detrimento da</p><p>república?42</p><p>4. Pense na sua força de alma: ele se felicitava de sua infelicidade. E quem</p><p>mais além dele teria o direito de estar perturbado por tal catástrofe? Ele</p><p>perdia ao mesmo tempo os apoios e as consolações de sua vida. Perseu, no</p><p>entanto, não sentiu a alegria ao ver Paulo Emílio aflito.</p><p>XIV</p><p>1. Por que eu deveria guiá-la através da série interminável de grandes</p><p>homens e escolher os infelizes, como se não fosse mais difícil encontrar os</p><p>felizes? Pois quão poucos lares permaneceram possuídos de todos os seus</p><p>membros até o final? qual é aquele que não sofreu alguma perda? Escolha</p><p>um ano e nomeie os cônsules: se quiser, o de Lúcio Bíbulo43 e Júlio César;</p><p>verá que, embora esses colegas fossem os inimigos mais amargos um do</p><p>outro, ainda assim sua sorte coincidiu.</p><p>2. Lúcio Bíbulo, um homem mais notável pela bondade do que pela força</p><p>de caráter, teve seus dois filhos assassinados ao mesmo tempo, e até</p><p>insultados pelos soldados egípcios, de modo que o agente de seu luto foi</p><p>tanto um motivo de lágrimas quanto o próprio luto. Entretanto, Bíbulo, que</p><p>durante todo o seu ano de mandato havia permanecido escondido em sua</p><p>casa, para lançar censura sobre seu colega César no dia seguinte àquele em</p><p>que ouviu falar da morte de seus dois filhos, saiu e passou pela rotina de sua</p><p>magistratura. Quem poderia dedicar menos de um dia ao luto por dois</p><p>filhos? Assim, logo ele terminou seu luto por seus filhos, embora tivesse</p><p>estado de luto um ano inteiro por seu consulado.</p><p>3. Caio César44, depois de ter atravessado a Grã-Bretanha, e não ter</p><p>permitido que nem mesmo o oceano estabelecesse limites para seus</p><p>sucessos, ouviu falar da morte de sua filha, que precipitou uma crise</p><p>política. Já Cneu Pompeu45 estava diante de seus olhos, um homem que</p><p>suportaria mal que qualquer outro além de si mesmo se tornasse uma</p><p>grande potência no Estado, e que provavelmente iria colocar um travão em</p><p>seu avanço, o que ele havia considerado oneroso mesmo quando cada um</p><p>ganhava com a ascensão do outro: no entanto, dentro de três dias ele</p><p>retomou suas funções como general, e conquistou</p><p>sua dor tão rapidamente</p><p>quanto costumava conquistar tudo o mais.</p><p>XV</p><p>1. Por que preciso lembrá-los das mortes dos outros Césares, que às vezes</p><p>me parece que a fortuna lhes causou ultraje para que, mesmo com suas</p><p>mortes, pudessem ser úteis à humanidade, provando que nem mesmo eles,</p><p>embora fossem chamados de “filhos de deuses” e “pais dos deuses</p><p>vindouros”, poderiam exercer o mesmo poder sobre sua própria fortuna que</p><p>exerciam sobre a dos outros?</p><p>2. O imperador Augusto46, perdeu seus filhos e seus netos, e depois de toda</p><p>a família de César ter perecido foi obrigado a sustentar sua casa vazia</p><p>adotando um filho: no entanto ele suportou suas perdas tão corajosamente</p><p>como se já estivesse pessoalmente preocupado com a honra dos deuses, e</p><p>como se fosse especialmente do seu interesse que ninguém se queixasse da</p><p>injustiça do céu.</p><p>3. Tibério César perdeu tanto o filho que ele gerou quanto o filho que</p><p>adotou, mas ele mesmo pronunciou um panegírico sobre seu filho a partir</p><p>da Rostra, e ficou em plena vista do cadáver, que apenas tinha uma cortina</p><p>de um lado para impedir que os olhos do sumo sacerdote descansassem</p><p>sobre o cadáver, e não mudou seu semblante, embora todos os romanos</p><p>chorassem: ele deu a Sejano47, que ficou ao seu lado, uma prova de quão</p><p>pacientemente ele poderia suportar a perda de seus parentes.</p><p>4. Não vê que número de homens mais eminentes houve, nenhum deles foi</p><p>poupado por esta praga que nos prostra a todos: homens também, adornados</p><p>com toda graça de caráter, e toda distinção que a vida pública ou privada</p><p>pode conferir. Parece que esta praga se move em uma órbita regular, e</p><p>espalha a ruína e a desolação entre todos nós sem distinção de pessoas,</p><p>sendo todos igualmente suas presas. Convide qualquer número de</p><p>indivíduos a contar a história de suas vidas: você descobrirá que todos</p><p>pagaram alguma penalidade por terem nascido.</p><p>XVI</p><p>1. Sei o que você vai dizer: “Você cita os homens como exemplos: você</p><p>esquece que é uma mulher que está tentando consolar”. No entanto, quem</p><p>diria que a natureza tem tratado com rancor as mentes das mulheres, e</p><p>atrofiado suas virtudes? Acredite, elas têm o mesmo poder intelectual que</p><p>os homens, e a mesma capacidade de ação honrada e generosa. Se treinadas</p><p>para isso, elas são igualmente capazes de suportar a tristeza ou o trabalho.</p><p>2. Bons deuses, digo isto mesmo naquela mesma cidade em que Lucrécia48</p><p>e Bruto49 tiraram o jugo dos reis dos pescoços dos romanos? Devemos</p><p>liberdade a Bruto, mas devemos Bruto a Lucrécia – na qual Clélia50, pela</p><p>sublime coragem com que ela desprezou tanto o inimigo quanto o rio, foi</p><p>quase considerada como um homem. A estátua de Clélia, montada a cavalo,</p><p>naquela rua mais movimentada, a Via Sacra, censura continuamente a</p><p>juventude dos dias atuais, que nunca montou nada além de um assento</p><p>almofadado em uma carruagem, percorrendo de tal maneira aquela mesma</p><p>cidade na qual inscrevemos até mesmo mulheres entre nossos cavaleiros.</p><p>3. Se você quiser que eu lhe aponte exemplos de mulheres que suportaram</p><p>corajosamente a perda de seus filhos, não irei longe para procurá-las: em</p><p>uma família posso citar duas Cornélias, uma filha de Cipião, e a mãe de</p><p>Graco, que agradeceu o nascimento de seus doze filhos, enterrando-os a</p><p>todos: nem foi tão difícil fazer isso no caso dos outros, cujo nascimento e</p><p>morte eram igualmente desconhecidos do público, mas ela viu os corpos</p><p>assassinados e não sepultados de Tibério Graco51 e Caio Graco52, que</p><p>mesmo aqueles que não os chamarão de bons devem admitir que eram</p><p>grandes homens. No entanto, àqueles que tentaram consolá-la e a chamaram</p><p>de infeliz, ela respondeu: “Nunca deixarei de me chamar de feliz, porque</p><p>sou a mãe dos Gracos”.</p><p>4. Cornélia, a esposa de Lívio Druso53, perdeu pelas mãos de um assassino</p><p>desconhecido um jovem filho de grande distinção, que estava seguindo os</p><p>passos dos Gracos, e foi assassinado em sua própria casa justamente quando</p><p>ele tinha tantos projetos a meio caminho de se tornarem lei: no entanto, ela</p><p>suportou a morte prematura e sem precedentes de seu filho com um espírito</p><p>tão sublime como ele havia demonstrado ao adotar suas leis.</p><p>5. Você não vai perdoar a fortuna, Márcia, porque ela não se absteve de</p><p>atacá-la com os dardos com os quais ela lançou nos Cipiões, e nas mães e</p><p>filhas dos Cipiões, e com os quais ela mesma atacou os Césares? A vida é</p><p>cheia de infortúnios; nosso caminho está comprometido com eles: ninguém</p><p>pode fazer uma longa paz, não, nem mesmo um armistício com fortuna.</p><p>Você, Márcia, teve quatro filhos: agora dizem que nenhum dardo que é</p><p>lançado contra uma coluna fechada de soldados pode falhar em acertar um -</p><p>o que há de admirável em que uma tão grande família não tenha podido</p><p>passar sem a inveja e a perda?</p><p>6. “Mas”, diz você, “a Fortuna me tratou injustamente, pois ela não só me</p><p>enlutou de meu filho, mas escolheu o meu melhor amado para privar de</p><p>mim”. No entanto, você nunca pode dizer que foi injustiçada, se dividir as</p><p>apostas igualmente com um antagonista que é mais forte do que você: A</p><p>sorte lhe deixou duas filhas, e seus filhos: ela nem sequer lhe tirou de perto</p><p>aquele por quem você agora chora, esquecendo-se de seu irmão mais velho:</p><p>você tem duas filhas por ele, que se você as educar mal se revelarão um</p><p>grande fardo, mas se bem, um grande conforto para você. Quando as vir,</p><p>deve prevalecer sobre si mesmo, para que elas lhe lembrem de seu filho, e</p><p>não de sua dor.</p><p>7. Quando as árvores de um lavrador são arrancadas, raízes e tudo mais,</p><p>pelo vento, ou quebradas pela força de um furacão, ele cuida do que resta</p><p>de seu estoque, planta diretamente sementes ou mudas no lugar daquelas</p><p>que perdeu, e em um momento - o tempo é tão rápido em reparar perdas</p><p>quanto em causá-las - árvores mais frutíferas estão crescendo do que antes.</p><p>8. Tome, então, o lugar de seu Metílio estas duas filhas, e por sua dupla</p><p>consolação alivie seu único pesar. É verdade, a natureza humana é tão</p><p>constituída a ponto de não amar nada quanto aquilo que perdeu, e nosso</p><p>anseio por aqueles que foram tirados de nós nos faz julgar injustamente</p><p>aqueles que nos são deixados: no entanto, se você escolher calcular quão</p><p>misericordiosa foi a Fortuna para você mesmo em sua raiva, você sentirá</p><p>que tem mais do que o suficiente para se consolar. Olhe para todos os seus</p><p>netos e suas duas filhas: e diga também, Márcia: “De fato, eu deveria estar</p><p>abatida, se a sorte de cada um seguisse seus destinos, e se nenhum mal</p><p>jamais acontecesse aos homens bons: mas como é perceptível que nenhuma</p><p>distinção é feita, e que o mau e o bom são ambos molestados de igual</p><p>modo”54.</p><p>XVII</p><p>1. “Ainda assim, é uma coisa triste perder um jovem que você criou,</p><p>quando estava se tornando um amparo e orgulho tanto para sua mãe</p><p>quanto para seu país”. Ninguém nega que é triste: mas é o destino comum</p><p>dos mortais. Você nasceu para perder os outros, para se perder, para ter</p><p>esperança, para ter medo, para destruir sua própria paz e a dos outros, para</p><p>temer e ainda assim desejar a morte e, pior de tudo, nunca saber qual é sua</p><p>verdadeira condição.</p><p>2. Se você estivesse prestes a viajar para Siracusa, e alguém dissesse:</p><p>“Aprenda de antemão todos os desconfortos, e todos os prazeres de sua</p><p>próxima viagem, e depois zarpe. Os pontos turísticos que você irá desfrutar</p><p>serão os seguintes: primeiro, você verá a própria ilha, agora separada da</p><p>Itália por um estreito, mas que, nós sabemos, já fez parte do continente. O</p><p>mar atravessou de repente, e</p><p>Dos flancos da Itália, tirou a Sicília55.</p><p>Em seguida, como você poderá navegar perto de Caríbdis56, do qual os</p><p>poetas já cantaram, você verá aquele mais guloso dos redemoinhos,</p><p>bastante suave se não soprar vento sul, mas sempre que houver um</p><p>vendaval daquele quadrante, sugará os navios para um enorme e profundo</p><p>abismo.</p><p>3. Você verá a fonte de Aretusa, tão famosa no canto, com suas águas</p><p>brilhantes e iluminadas até o fundo, e vertendo um riacho gelado que ou se</p><p>encontra no local ou então afunda no chão, e conduz para lá como um rio</p><p>separado sob tantos mares, livre de qualquer mistura de água menos pura,</p><p>e lá o traz novamente à superfície.</p><p>4. Você verá um porto que está mais protegido do que todos os outros no</p><p>mundo, sejam eles naturais ou aperfeiçoados pela técnica humana para a</p><p>proteção da navegação; tão seguro, que mesmo as tempestades mais</p><p>violentas são impotentes para incomodá-lo. Você verá o lugar onde o poder</p><p>de Atenas foi quebrado, onde aquela prisão natural, escavada entre</p><p>precipícios de rocha, recebeu tantos milhares de cativos: você verá a</p><p>própria grande cidade, ocupando um lugar mais amplo do que muitas</p><p>capitais, um resort extremamente quente no inverno, onde não passa um</p><p>único dia sem sol.</p><p>5. Mas quando você tiver observado tudo isso, você deve lembrar que as</p><p>vantagens de seu clima de inverno são contrabalançadas por um verão</p><p>quente e pestilento: que ali estará o tirano Dionísio, o destruidor da</p><p>liberdade, da justiça e da lei, que é ganancioso de poder mesmo depois de</p><p>conversar com Platão, e da vida mesmo depois de exilado; que queimará</p><p>uns, açoitará outros e decapitará outros por pequenos delitos; que</p><p>exercitará sua luxúria sobre ambos os sexos. Agora você já ouviu tudo o</p><p>que pode atraí-la para lá, tudo o que pode dissuadi-la de ir: agora, então,</p><p>ou zarpa ou fique em casa!”</p><p>6 .Se, após esta declaração, alguém dissesse que desejava ir a Siracusa, não</p><p>poderia culpar ninguém a não ser ele mesmo pelo que lhe acontecer lá, pois</p><p>não encontraria o que lhe acontece sem conhecimento de causa, mas teria</p><p>ido até lá com plena consciência do que estava diante de si.</p><p>7. Para todos, a natureza diz: “Eu não engano nenhuma pessoa. Se você</p><p>escolher ter filhos, eles podem ser bonitos, ou podem ser deformados;</p><p>talvez nasçam idiotas”. Um deles pode talvez provar-se o salvador de seu</p><p>país, ou talvez seu traidor. Você não precisa se desesperar por terem sido</p><p>elevados a tal honra que, por causa deles, ninguém ousará falar mal de</p><p>você: no entanto, lembre-se de que eles podem chegar a um nível de</p><p>infâmia tão grande que se tornem maldições para você.</p><p>8. Não há nada que impeça que eles desempenhem os últimos ofícios para</p><p>você, e que seu panegírico seja proferido por seus filhos: mas mantenha-se</p><p>preparado para colocar um filho como menino, homem, ou velho, sobre a</p><p>pira funerária: pois os anos não têm nada a ver com o assunto, já que todo</p><p>tipo de funeral em que um pai enterra seu filho deve ser igualmente</p><p>intempestivo57. Se você ainda optar por criar filhos, depois de eu lhe ter</p><p>explicado estas condições, você se torna incapaz de culpar os deuses, pois</p><p>eles nunca lhe garantiram nada.</p><p>XVIII</p><p>1. Você pode fazer com que este simulacro se aplique a toda sua passagem</p><p>pela vida. Eu lhe expliquei que atrações e que desvantagens haveria se você</p><p>estivesse pensando em ir para Siracusa: agora suponha que eu viesse e lhe</p><p>desse conselhos quando você fosse nascer. “Você faz sua entrada na cidade</p><p>ordinária dos deuses e dos homens, cidade que compreende todo o universo,</p><p>que obedece a leis constantes e eternas, em que os corpos celestes realizam</p><p>suas incansáveis revoluções.</p><p>2. Aí você verá milhares de estrelas brilharem de todos os lados, um astro</p><p>único encher com seus raios todo o espaço. Você verá este sol, cujo curso</p><p>cotidiano traça os limites do dia e da noite, e cujo curso anual regula o</p><p>retorno periódico dos verões e dos invernos. Você verá a lua substituí-lo</p><p>durante a noite e receber sua doce e suave luz, quer escondida, quer</p><p>cobrindo a terra com sua face cheia, crescente e minguante ciclicamente, e</p><p>cada vez diferente do que foi na véspera.</p><p>3. Você verá cinco estrelas seguirem um rota oposta à de outros astros e</p><p>progredir em sentido inverso do movimento geral do céu: de suas mínimas</p><p>variações dependem os destinos dos povos, e as maiores assim, como as</p><p>menores coisas são diferentemente influenciadas quer um astro propício ou</p><p>funesto domine quando ela se produzir. Você admirará as nuvens que se</p><p>aglomeram, as chuvas que caem, os raios e o barulho do trovão.</p><p>4. Quando, saciada dos espetáculos celestes, seu olhar descerá sobre a terra,</p><p>outros objetos irão lhe esperar, com igual maravilha: aqui vastos planos se</p><p>desenrolam e se estendem ao infinito, além cadeias de montanhas elevando</p><p>ao mais alto dos cumes coroados de neve; rios que precipitam suas águas,</p><p>córregos que, vindos de um mesmo ponto, se espalham na nascente e na</p><p>vazante; bosques que se abalam sobre os mais altos cimos, e estas mil</p><p>florestas que povoam animais tão diversos, que alegram os cantos de tantos</p><p>pássaros.</p><p>5. Cidades em arranjos variados, nações separadas por fronteiras</p><p>invencíveis, umas defendidas por montanhas, outras passivamente</p><p>envolvidas por rios com leitos profundos; colheitas dobrando-se sob os</p><p>espinhos, árvores frutificando sem cultura; corredeiras que serpenteiam</p><p>suavemente entre os prados, rios que se cruzam em forma de portos;</p><p>inumeráveis ilhas semeadas aqui e ali sobre a imensidão das vagas, cuja</p><p>monotonia rompem.</p><p>6. Também as pedras preciosas, o esplendor das pérolas, do ouro</p><p>efervescente que os impetuosos cursos de água carregam com suas areias,</p><p>das colunas de fogo que se lançam do seio da terra e por vezes do meio dos</p><p>mares, e deste Oceano, envolvendo a terra, cujos três golfos separam as</p><p>partes do mundo umas das outras e cujas ondas se levantam com um</p><p>borbulhar formidável?</p><p>7. Verá ali, nadando sob as ondas sempre agitadas, animais muito maiores</p><p>do que os animais terrestres, uns tão pesados que se fazem rebocar para</p><p>avançar, outros tão ágeis que se afastam dos melhores remadores; alguns</p><p>absorvem enormes quantidades de água e a jogam com violência, para</p><p>grande risco dos barcos que passam. Você verá navios indo à procura de</p><p>terras que não conhecem. Você verá que nada desconcerta a audácia</p><p>humana; testemunha de suas empresas, você mesma terá nela um papel</p><p>ativo: você aprenderá e ensinará artes, das quais umas servem como</p><p>entretenimento, outras para adornar, outras para conduzir a vida.</p><p>8. Mas você encontrará também sobre a terra mil pragas, tanto do corpo</p><p>quanto da alma: guerras, assassinatos, venenos, naufrágios, intempéries,</p><p>doenças, lutos prematuros e a morte, da qual não podemos saber se será</p><p>doce ou precedida de terríveis torturas. Se você deseja desfrutar destas</p><p>bênçãos, deve passar por estas dores. Você responde que escolheu viver?</p><p>“Claro que sim”. Não, eu pensei que você não entraria naquilo de que a</p><p>menor diminuição causa dor. Viva, então, como foi combinado. Você diz:</p><p>“Ninguém pediu minha opinião”. A opinião de nossos pais foi tomada a</p><p>nosso respeito, quando, sabendo quais são as condições da vida, eles nos</p><p>trouxeram para dentro dela.</p><p>XIX</p><p>1. Mas, para chegar a tópicos de consolação, em primeiro lugar, considere</p><p>quais remédios devem ser aplicados, e em seguida, de que forma. É de</p><p>lamentar a ausência de seu ente querido que causa o luto de um enlutado:</p><p>no entanto, é claro que isto em si já é bastante suportável; pois não</p><p>choramos por eles estarem ausentes ou com intenção de estarem ausentes</p><p>em vida, embora quando eles deixam nossa vista não tenhamos mais prazer</p><p>neles. O que nos tortura, portanto, é uma ideia. Agora todo mal é tão grande</p><p>quanto nós o julgamos ser: temos, portanto, o remédio em nossas próprias</p><p>mãos. Suponhamos que eles estejam em viagem e nos enganemos: nós os</p><p>mandamos embora, ou melhor, os enviamos antecipadamente para um lugar</p><p>onde logo os seguiremos58.</p><p>2.Além disso, os enlutados estão acostumados a sofrer com o pensamento:</p><p>“Não terei ninguém para me proteger, ninguém para me vingar quando eu</p><p>for menosprezado”. Para usar um modo de consolo muito desonesto mas</p><p>muito verdadeiro, posso dizer que em nosso país a perda de crianças dá</p><p>mais influência do que tira, e a solidão, que costumava arruinar os idosos,</p><p>agora os torna tão poderosos que alguns homens velhos fingiram brigar com</p><p>seus filhos, renegaram seus próprios filhos, e se tornaram sem herdeiros por</p><p>seu próprio ato59.</p><p>3. Eu sei o que você vai dizer: “Minhas próprias perdas não me</p><p>entristecem” e, de fato, um homem não merece ser consolado caso lamente</p><p>a morte de seu filho como seria a de um escravo, que é capaz de ver</p><p>qualquer coisa em seu filho além de si mesmo. O que então, Márcia, é que a</p>