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Modelo de Artigo Cientifico IPOG (1)

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1
A legislação trabalhista no Brasil e a Pandemia: Uma reflexão sobre o trabalho em tempos de crise
Nome completo - e-mail do autor (fonte 12, negrito)
Nome do curso
Instituto de Pós-Graduação - IPOG
Cidade, UF, data completa (dia, mês e ano)
Resumo 
A presente pesquisa tem como objetivo principal estabelecer reflexões sobre a legislação brasileira trabalhista e a pandemia, criando pontes históricas e socias sobre como em momentos de crise os direitos trabalhistas são colocados sobre ataques em favor do benefício dos empregadores. Para isso é feito um breve histórico desde a criação da CLT, na Era Vargas até Reforma trabalhista no governo de Michael Temer. Em seguida vem uma serie de problematizações acerca da precarização do trabalho na pandemia e como a legislação trabalhista atua para remediar essas precarizações
Palavras-chave: Legislação Trabalhista. Pandemia. Precarização. CLT. Trabalho
1. Introdução
É quase que um consenso absoluto dizer que a pandemia do COVID-19, alterou de diversas formas a sociedade no Brasil e no restante do mundo. E com as relações de trabalho não seria diferente, já que em uma sociedade capitalista o trabalho é um dos pilares para manutenção e perpetuação do sistema (Marx, 2013)[footnoteRef:1]. Com diversos setores da vida social paralisados ou funcionando de maneira adaptada, muitas das relações de trabalho tiveram que ser alteradas, seja para home office[footnoteRef:2], sendo realizadas com quantidade mínima de funcionários presenciais ou funcionando com diversas medidas de segurança médica para uma realidade pandêmica. Pensando nisso esse trabalho tem por objetivo principal entender, refletir e problematizar as relações de trabalho e as leis criadas durante o período da pandemia do coronavírus. [1: É importante deixar claro que quando falamos de “trabalho” neste trecho e em quase todos outros que virão durante o presente texto, estamos nos referindo ao conceito de trabalho descrito por Marx em seu livro O Capital (2013), como um acordo mercadorial entre empregador e empregado, onde um trabalhador vende sua força de trabalho e produtividade por capital. Diferenciado de um conceito mais amplo do léxico trabalho.] [2: Termo vindo da Língua Inglesa que pode ser traduzido escritório em casa, trata-se de uma nomenclatura para especificar a relação de emprego onde o trabalhador não precisa estar de forma presencial na empresa para cumprir suas obrigações empregatícias.] 
Ao falar de legislação trabalhista se faz oportuno discutir brevemente como essas leis surgem no Brasil e como elas se estabelecem nos dias atuais. Os primeiros rascunhos de leis que garantem os direitos trabalhistas começaram a ser rabiscados no século XVIII, nas indústrias carvoeiras na Inglaterra. Leis essas que foram adquiridas através das reivindicações e organizações feitas pelos próprios trabalhadores, que buscavam por melhores condições de trabalho nas fábricas. O que corrobora com a afirmação feita pelo Dr. Silvano Alves Alcântara no livro “Legislação trabalhista e rotinas trabalhistas” onde o autor fala sobre o início das lutas trabalhistas no Inglaterra. 
Falando do Brasil, especificamente, quando se trata de leis trabalhistas temos três momentos importantes. O início dos direitos trabalhistas em terras brasileiras no governo Getúlio Vargas com a criação da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), que garantem a maiorias dos direitos que conhecemos hoje, como salário mínimo, jornada de 8 horas diárias, férias e liberdade sindical. Durante ditadura militar que vários desses direitos foram tomados, como o direito a greve. E o recente governo Temer que homologou uma reforma trabalhista. Discutiremos no desenvolvimento do texto qual é o papel de cada um desses momentos na formação identitária das relações trabalhista no nosso país. (ALCANTARA, 2006)
O trabalho a distância, remoto, home office, teletrabalho seja qual for a nomenclatura dada para essa forma de trabalho não se iniciou na pandemia, na verdade esse tipo de emprego vem ganhando seu espaço no mundo corporativo desde do final da década de 90, com a popularização dos computadores e com acesso à internet se tornando cada vez maior e mais comum. Porém, só em 2017, com a lei 13.467 essa pratica foi de fato regulamentada e entrou na CLT.
Dito isso, o presente trabalho se concentrará em analisar as relações de direito, trabalho, pandemia e como essa adversidade que foi a COVID-19 alterou o mundo do trabalho e como essas alterações se refletem nesse período pós-pandêmico. Perpassando primeiramente por um histórico sobre a luta por direitos trabalhistas no nosso país, para em seguida conseguir fazer problematizações acerca das medidas tomadas no período pandêmico e como elas se mostram após o “fim” desse período.
2. Desenvolvimento 
Legislação Trabalhista no Brasil: Um Breve Histórico
Foi no controverso governo de Getúlio Vargas em 1934 que as primeiras leis trabalhistas foram criadas no Brasil, porém o verdadeiro marco aconteceu com a criação da CLT em 1943, que homologava todas leis referente aos direitos dos trabalhadores em um único documento, ao todo foram escritos 922 artigos. A CLT hoje ainda é o principal documento governamental que define leis e direitos dos trabalhadores no Brasil.
Figura 1 - Recorte do jornal impresso do Estadão sobre a criação da CLT
 Muito do que foi decretado nessa primeira versão de 1943 permanece inalterada até os dias de hoje, como a carga horaria de 8 horas diárias, o direito a férias remuneradas, a liberdade sindical. Contudo, é importante destacar que essas conquistas trabalhistas só aconteceram por que as organizações sindicais (não vinculadas ao estado), estavam cada vez mais fortes, e as organizações operarias inspiradas por movimentos estrangeiros cada vez mais próximos de greves e motins. E como era de comum no século XX, até mesmo nas periferias do capitalismo como é o caso do Brasil, o medo de ideologias comunistas. As historiadoras Heloisa Starling e Lilia Schwarz (2015) relatam que Vargas tinha um objetivo duplo com a criação da CLT.
Numa (das partes da proposta), Vargas criou as leis de proteção ao trabalhador – jornada de oito horas, regulação do trabalho da mulher e do menor; lei de férias, instituição da carteira de trabalho e do direito a pensões e à aposentadoria. Na outra, reprimiu qualquer esforço de organização dos trabalhadores fora do controle do Estado – sufocou, com particular violência, a atuação dos comunistas. Para completar, liquidou com o sindicalismo autônomo, enquadrou os sindicatos como órgãos de colaboração com o Estado e excluiu o acesso dos trabalhadores rurais aos benefícios da legislação protetora do trabalho. (STARLING, SCHWARZ, 2015. p. 3)
As medidas de Vargas de acordo com as historiadoras foram em muito inspiradas nas de Benito Mussolini, líder fascista italiano, que com a Carta del Lavoro[footnoteRef:3] reprimiu as organizações sindicais do operariado e manteve afastado qualquer sinal de ameaça de revolta comunista ou anarquista. No Brasil, durante o Estado Novo[footnoteRef:4] Vargas usou da CLT para controlar as massas trabalhadoras, junto com uma exaltação da sua personalidade nas rádios e a violência militar nas ruas, reprimindo qualquer sinal de ameaça ao governo vigente. (FAUSTO, 2001) [3: A Carta del Lavoro, que pode ser traduzida para Carta do Trabalho foi o documento decretado na Itália fascista de Mussolini que apresentava as orientações que guiariam as relações de trabalho na sociedade italiana em especial entre empregadores, trabalhadores e Estado] [4: Estado Novo, ou Terceira República Brasileira, foi um período histórico de uma ditadura brasileira cabeceada por Getúlio Vargas que se iniciou em 10 de novembro de 1937, se mantendo até 29 de outubro de 1945. Caraterizada pelo anticomunismo, a exaltação do nacionalismo e por seu truculento autoritarismo.] 
Figura 2 - Getúlio Vargas assoma a CLT, em 1943
Foi em 1963, que o então presidente João Goulart sanciona a Lei 4.214/1963, o Estatuto do Trabalhador Rural (ETR), que estendia os direitosprevistos na CLT aos trabalhadores urbanos para os trabalhadores rurais como direito a sindicatos, salário mínimo, férias e repouso remunerados, aviso prévio e indenizações. Sendo a primeira lei que pensava em especifico nos camponeses, até então esquecidos das políticas públicas pelos líderes populistas. É importante ressaltar que nesse período as associações de trabalhadores do campo estavam cada vez mais fortes e organizadas, tendo como maior exemplo as ligas dos camponeses. Entretanto, em um movimento contracorrente após, a criação do ETR, grandes números de trabalhadores do campo foram mandados embora de seus trabalhos pelos fazendeiros que se recusavam a arcar com os novos direitos. Passando agora a contratar volantes (trabalhadores temporários), que não gozavam das mesmas leis que trabalhadores permanentes, assim isentando ruralistas de arcar com os adquiridos direitos do povo do campo. (FAUSTO, 2001)
Quando os militares em 1964 tomaram o poder através do golpe de estado, logo declaram que os direitos trabalhistas conquistados pelo povo permaneceriam sem alterações e a classe trabalhadora continuaria a gozar de tais direitos:
O Comando Supremo da Revolução, tendo tomado conhecimento de que indivíduos ligados ao peleguismo e que infestam os meios sindicais estão desenvolvendo campanhas e boatos para provocar inquietações nos meios operários, vem uma vez por todas esclarecer os seguintes pontos: 1 – A Revolução vitoriosa levada a cabo pelas Forças Armadas, com apoio do povo, considera irreversíveis as conquistas sociais legítimas contidas na legislação trabalhista em vigor; 2 – Os trabalhadores continuarão em pleno gozo de seus direitos, agora mais do que antes, porque estão livres da influência político-partidária; 3 – A Justiça do Trabalho permanece em pleno funcionamento em sua missão de defesa dos justos interesses e de harmonizar as divergências entre empregados e empregadores; 4 – O Comando Supremo da Revolução está certo de que os trabalhadores brasileiros saberão não dar ouvidos a estes boatos, desprezando os elementos perturbadores, saberão cumprir seus deveres e obrigações, inseparáveis que são dos direitos constantes da legislação trabalhista brasileira. (CESARINO, 1970, p. 88)
Entretanto, o que se vê durante regime militar é um desmonte de varias dessas leis. Salários estagnados, sindicatos passam a serem ilegais, assim como a Liga dos camponeses e a UNE (União Nacional dos Estudantes), o consagrado historiador brasileiro Boris Fausto aponta em seu livro “Trabalho Urbano e Conflito social” aponta que mais de 230 artigos da CLT foram modificados ou revogados logo nos 5 primeiros anos do regime, esse desmonte dos direitos trabalhistas foi justificada sob uma prerrogativa de “recuperar economia do país”. (FAUSTO, 1976)
Figura 3 - A Passeata dos Cem Mil em 26 de junho 1968
Após o fim da ditadura militar e a reorganização democrática do país, muitos dos decretos que foram alterados e revogados voltaram a serem oficiais. E o Brasil um grande período sem grandes alterações nos direitos trabalhistas. Até constituição de 1988, que com a pressão da sociedade civil fortaleceu os direitos trabalhistas e conquistou outros como: proteção contra demissões arbitrarias, piso salarial, licença maternidade.
Após a tomada do poder da então presidenta eleita Dilma Rousseff por meio de um impeachment, Michael Temer assume o poder em 2016 e logo começam as movimentações para uma reforma trabalhista, sob justificativa que a CLT está desatualizada e que uma reforma é essencial para “recuperar a economia e gerar empregos”, discurso similar com o que aconteceu no desmonte da CLT durante o regime militar. Amparado por um discurso neoliberalista, ideologia está que vem ganhando cada vez mais espaço no discurso político brasileiro, com a ideia que para geração de empregos os direitos dos trabalhadores devem ser retirados ou atenuados em favor dos empregadores.
 A pesquisadora social e professora de economia da USP (Universidade de São Paulo) Valquíria Padilha, alega que o conceito vendido pela reforma trabalhista, sustentado pelo discurso liberal, que os empregados podem negociar questões trabalhistas diretamente com os empregadores sem auxilio e aparato do estado é fantasioso, porque em um país com nível de desemprego tão alto como é o caso do Brasil, o empregado tem muito pouco o que barganhar, o que abre espaço para exploração, já que o trabalhador tem muito mais a perder do que o empresário. Como é o caso da lei aprovada na reforma sobre banco de horas extras. (HERMANSON, 2019)
Figura 4 – Parlamentares protestando contra reforma trabalhista de 2017
Neste sentido, essa reforma trabalhista foi discretamente desenhada para fortalecer empregadores, deixando os interesses do mercado acima das necessidades do proletariado. Com essa construção, no dia de 13 de julho de 2017 por meio da Lei no 13.467, a reforma trabalhista é aprovada.
O objetivo desse tópico não foi apenas resumir os quase 80 anos desde a criação da CLT, foi também apontar como direitos trabalhistas sempre foram conquistados através de organização e luta civil e como de tempos em tempos, esses direitos duramente conquistados são questionados decorrer da história, sempre com motivações muito parecidas.
Pandemia e a precarização do trabalho
A pandemia do COVID-19, também conhecida como pandemia de coronavírus, é uma pandemia ainda em curso[footnoteRef:5], causada pela doença SARS-CoV-2. Identificada pela primeira vez em Wuhan, na China em dezembro de 2019, o vírus em questão de meses se espalhou por todo o mundo. Causando mais de 6 milhões e meio de óbitos por todo globo e levando a sociedade a adotar severas medidas de isolamento e distanciamento social. Medidas essa que por sua vez impactou de forma severa o mundo do trabalho, aumentando o desemprego, por que vários setores tiveram que parar de funcionar ou funcionar com equipes reduzir, um aumento gigantesco da categoria de home office entre outras mudanças e adaptações que impactaram fortemente o mundo do trabalho. [5: Apesar de que o grande surto da doença já tenha passado e as medidas de isolamento estejam mais frouxas, devido a vacinação e outros fatores, o Covid-19 ainda é considerado uma pandemia pela OMS (Organização Mundial de Saúde). E justamente por se tratar de eventos que ainda estão em andamento, é importante ressaltar que apesar do esforço na autoria deste texto é impossível ter distanciamento histórico para analisar esses eventos com muita precisão, por ainda não existir uma distância cronológica dos fatos para analises e reflexões mais gerais. Dito isso, em qualquer momento que esta pesquisa se refere a pandemia do COVID-19 como algo que já passou trata-se de uma abstração teoria. ] 
Figura 5 – A Times Square, rua mais movimentada do mundo em 2020 em Nova Iorque
Falando especificamente sobre legislação brasileira o home office, trabalho remoto, trabalho à distância ou qualquer outra nomenclatura para serviços remunerados desenvolvidos fora das instalações dos empregadores é entendido como teletrabalho e foi em 2017 com a reforma trabalhista que surge nos decretos oficiais que leis que regulamentam essa modalidade de trabalho, mesmo que essa pratica de trabalho aconteça um tanto quanto a isso e de forma até expressiva, claro que não tanto quanto nesse momento “pós” COVID. A Lei 13.467/2017 define essa modalidade da seguinte forma “a prestação de serviços preponderantemente fora das dependências do empregador, com a utilização de tecnologias de informação e de comunicação que, por sua natureza, não se constituam como trabalho externo”. 
A precarização dos trabalhos vem sendo desenhada muito antes da pandemia, contudo foi com o surto do coronavírus que isso ficou ainda mais exposto. Um importante dado a se levar em conta quando muitos dos trabalhos que eram desenvolvidos nas dependências do empregador e com a pandemia se tornaram trabalhos remotos é que a maioria dos brasileiros não tem tecnologia adequada para realizar seus serviços em home office. 
Góes, Martins e Nascimento(2020) apontam baseados nos dados fornecidos pelo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplica (Ipea), que apenas 22,7% dos trabalhadores brasileiros tem acesso a material tecnológico para realizar o teletrabalho de suas casas e a lei do teletrabalho de 2017, exime os empregadores de fornecer esse material, deixando explicito apenas que caso o empregador ofereça esses recursos eles não podem ser inseridos como parte da remuneração. E com os serviços agora sendo feitos nas residências dos empregados parte dos gastos para os realizar como energia, acesso a internet, entre outros passam a ser do funcionário, já que na legislação que se refere ao teletrabalho os patrões são eximidos de qualquer obrigação de arcar ou auxiliar nestes custos (BRASIL, 2020). Outro fator importante a se destacar é que mesmo entre os 22,7% que dispõem de tecnologia adequada para desempenhar o teletrabalho, da forma inesperada que a realidade da pandemia os jogou para essa nova modalidade, sem preparação para tal impossibilita que a maioria possa desempenhar suas funções com a mesma eficácia que antes, já que não tiveram preparação para tal.
Figura 6 – O trabalho remoto na pandemia
 Esse movimento de precarização do trabalho e passar parte dos custos do trabalho para os próprios funcionários também ocorre em outro setor que teve grande crescimento nos últimos anos e com a pandemia, que são os serviços oferecidos por aplicativos, que em tese conecta servidores com consumidores de forma simples e rápida. Esse tipo de relação ganhou notoriedade em 2013, com a empresa Uber, que tem como proposta comercial unir motoristas a passageiros usando seu aplicativo. Contudo, esse tipo de relação não se resume a um serviço ou a uma empresa, sendo que atualmente existem uma variedade imensa de aplicativos que oferecem os mais variados trabalhos como motoristas, entregadores, professores, cuidadores, domesticas. Todos com a ideia que o próprio trabalhador vai gerir seu trabalho quando, em vias de fato essas empresas detentoras das tecnologias ficam com boa parte do lucro dos serviços realizados e eximem de obrigações com direitos trabalhistas e fiscais. (SLEE, 2017)
Figura 7 – Entregador de aplicativo de delivery 
durante pandemia em 2021
Em um artigo que relata exatamente sobre trabalhadores que foram demitidos na pandemia e começaram a trabalhar como entregadores nesses aplicativos, Lucila Bezerra escreve e expõe relato, exatamente sobre a questão discutida acima sobre esse movimento de transferir parte dos custos da realização do trabalho para o próprio trabalhador: 
Vale ressaltar que todos os equipamentos individuais de proteção, seja álcool em gel, máscara e luva, é tudo sob o custo do motoqueiro, ou ciclista. Não temos suporte. [...] Eu estava pilotando, tinha óleo na pista e eu acabei sofrendo um acidente. Como não estamos assegurados, quem custeou todos os gastos com as escoriações que tive fui eu mesmo (Bezerra, 2020).
Empresas de telemarketing, como a empresa de telefonia e internet Oi, também adotaram o teletrabalho na pandemia em grande escala e mesmo após fim do isolamento social e o afrouxamento das medidas de distanciamento, grande parte das equipes de telemarketing dessas empresas continuam trabalhando em modalidade de home office, deixando nítido como essas relações que de alguma forma passam custos que normalmente seriam dos empregadores para os funcionários são lucrativos para as empresas, mesmo que para isso o trabalhador seja cada vez mais explorado. E com o desemprego em níveis tão altos impendem que os empregados possam de fato negociar isso como o discurso liberal prega.
Talvez os mais afetados com a precarização do trabalho na pandemia sejam os profissionais da saúde, que são a linha de frente em combate ao vírus. O Brasil é o país com o maior número de trabalhadores da enfermagem mortos por Covid-19 no mundo. Com Hospitais com superlotação, enfermeiros trabalhando muito além das 40 horas semanais e muitas vezes em condições extremas, evitar a contaminação é uma tarefa quase impossível como denúncia o jornalista Dondossola (2020) em sua pesquisa que reúne relatos sobre profissionais da saúde, usando fraudas para evitar idas no banheiro, dormindo em colchonetes no chão.
Como os profissionais de saúde são o grupo de risco com mais contato com o vírus, acabam que mesmo que quando não estão no trabalho se cria um distanciamento da própria família por medo de levar o vírus para casa, assim criando um medo constante e um sentimento de solidão nesses trabalhadores, que na maioria não tem acesso a apoio psicológico profissional para orientar e tratar essas questões. 
Poderíamos citar e discorrer sobre outras profissões que que foram altamente precarizadas durante a pandemia, como é o caso dos professores, principalmente os do ensino básico regular, que se nenhum preparo tiveram que se adaptar ao trabalho remoto, o que causou roubos gigantescos na educação brasileira que estudiosos teorizam que só vão poder serem de fato observados com alguma precisão daqui anos. 
Expostas problemáticas advindas com a pandemia, pode ser observado que desde a criação dos direitos trabalhistas, que por sua vez foi criada como uma alternativa para conter o descontentamento da sociedade civil, a CLT vem momentos e momentos históricos sendo colocada sob dúvida, mas nunca em favor de melhores condições trabalhistas para os empregados. Mas, sempre apoiados em discursos falaciosos sobre recuperação da economia nacional e criação de empregos, mas o percentual de desemprego não desce e desde a reforma trabalhista em 2017, que se apoiou nesse discurso, o desemprego no Brasil só aumentou. O que corrobora com a problemática levanta no decorrer do artigo que o nível auto de desemprego é bom para os empregadores, por que deixa os trabalhadores sem opção de escolha, ou é explorado e aceita ter seus direitos negligenciados ou são mandados embora e subsistidos pelo enorme numero de pessoas que procuram emprego. A pandemia deixou claro essa precarização do trabalho que já vem sendo desenhada há tempos, jogando luz sobre contradições e falácias.
3. Conclusão
Pensar em direitos trabalhistas, é pensar nos trabalhadores, ou ao menos em tese deve ser. Dito isso, é curioso como desde o inicio dos direitos trabalhistas no Brasil com a criação da CLT no governo de Getúlio Vargas, o interesse principal parece não ser o trabalhador. Se desdobrando para pandemia a precarização do trabalho acentua um desmonte de relações trabalhistas concretas e com aparato dos diretos conquistados, para relações de trabalho que cada vez mais benéficas para os empregadores, mesmo que isso aumente a exploração da classe trabalhadora e as impeça de ascender economicamente.
 No todo destas construções, se estendendo-se com a pandemia, nas mais diversas modalidades: os canais de trabalho e os contratos empregatícios precarizados adquirem maior dimensão em uma conjuntura de reforma trabalhista calcadas em ideologias liberais, que por sua vez refletem nas políticas negativas do governo durante a pandemia na questão trabalhista, isto é, a exploração do trabalhador é um projeto. 
As oportunidades de trabalho inclinam-se a se tornarem cada vez mais distantes de empregos que estejam associados aos direitos trabalhistas decretados na CLT, principalmente o trabalho remoto (home office) e os empregos via aplicativos de serviços (Uber, 99 Pop, Ifood, Rapii, GetNinja, etc.). Neste sentido, esse estudo também se coloca como uma alerta para que mais estudos e pesquisas para criar um arcabouço teórico que evidencie cada vez mais a necessidade de que essas modalidades de trabalho, sejam amplamente regulamentadas de acordo com a CLT e que os trabalhadores que nela desejem atuar possam ser amparados pelos direitos que foram conquistados pelo povo. Pensando assim, é importante ressaltar que esse estudo não tem como foco e nem se conclui que esses tipos de trabalho devam deixar de existir ou serem extintos de alguma forma, mas que eles se adequem a moldes que atendem necessidades dos trabalhadores e dos consumidorese não só dos empregadores e detentores das tecnologias (no caso dos apps). E não só as politicas publicas dessas modalidades devem ser inseridas, como as já existentes devem ser ainda mais fortalecidas. Para assim de vez combater o desemprego e aumentar o poder aquisitivo da população em geral, que beneficia tanto o trabalhador com qualidade de vida, quanto os empresários fazendo o capital girar e o estado com arrecadação maior de impostos. E superar essa ideia de idiocrata de periferia do capitalismo que só funciona se explorar a população trabalhadora a exaustão e a recompensando monetariamente com salários que mão dão para necessidades básicas.
Este artigo, então conclui-se que há um movimento cilício de ataques e desmonte as leis trabalhistas, se embasando sempre em benefício dos interesses econômicos dos empregadores, mesmo que isso force uma exploração trabalhadora. Que a pandemia foi sim um evento sem precedentes, que fez que os empregos precarizados aumentassem em níveis antes jamais vistos, mas ela não é a única culpada por esse aumento da precarização dos trabalhos e que já vinha sendo organicamente desenhado a algum tempo esse desmonte das leis trabalhistas, mas o surto de coronavírus no mundo acelerou o processo, jogando luz sobre a questão. E deixando claro que nestes momentos de crise que os trabalhadores e os pequenos empreendedores são os mais afetados, principalmente aqueles de situação econômica mais fragilizada.
Referências
ALCANTARA, Silvano Alves. Legislação trabalhista e rotinas trabalhistas. São Paulo, 2006.
ANTUNES, Ricardo. Riqueza e miséria do trabalho no Brasil II. São Paulo: Boitempo, 2013
ASSIS, Denise. Home Office promete ser um dos principais legados da pandemia do coronavírus. In: AUGUSTO, Cristiane B.; SANTOS, Rogério D. Pandemia e pandemônio no Brasil. São Paulo: Tirant Lo Blanch, 2020.
BEZERRA, Lucila. Precarização: trabalhadores demitidos na pandemia se tornaram entregadores de apps. Brasil de fato, Seção Geral, São Paulo.
BRASIL. Decreto n° 13.467/2017. Brasília: Diário Oficial da União, 2020.
BRASIL. Ministério Público do Trabalho. Procuradoria Geral do Trabalho. Nota técnica: GT COVID 19:11/2020. Brasília: MPT/PGT, 2020.
CESARINO, Junior. Direito Social, 1970.
DONDOSSOLA, Edivaldo. Imagens mostram profissionais da saúde dormindo no chão do Hospital do Maracanã. G1, Seção Rio de Janeiro, Rio de Janeiro
FAUSTO, Boris. História concisa do Brasil. São Paulo: Edusp/Imprensa Oficial do Estado, 2001.
FAUSTO, Boris. Trabalho Urbano e Conflito Social. São Paulo: Difel, 1976.
HERMANSON, Marcos. O que mudou em 76 anos de CLT? Conheça as principais alterações desde a Era Vargas, passando pela Constituição de 88 e a reforma trabalhista. São Paulo: Brasil de Fato, 2019.
LAKATOS, Eva Maria. Metodologia Científica. São Paulo: Atlas, 1997.
MARX, K. O Capital - Livro I – crítica da economia política: O processo de produção do capital. Tradução Rubens Enderle. São Paulo: Boitempo, 2013.
ROCHAEL, Nasciutti, J. (2020). PANDEMIA E PERSPECTIVAS NO MUNDO DO TRABALHO. Caderno De Administração , 28, 82-88.
SCHAWRCZ, Lilia; STARLING, Heloisa. Brasil: Uma Biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. 
SLEE, Tom. Uberização: a nova onda do trabalho precarizado. São Paulo: Editora Elefante, 2017.

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