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ENGENHARIA DE SOFTWARE Aline Zanin Conceitos da Engenharia de Software Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Reconhecer o histórico e os conceitos fundamentais da Engenharia de Software. � Analisar a evolução do desenvolvimento de software. � Identificar a importância da Engenharia de Software. Introdução Por muitos anos a Engenharia de Software foi utilizada com o objetivo de criar software de qualidade dentro dos custos e dos prazos estimados pelo cliente, evitando desperdícios de tempo, esforços, direções erradas e atrasos. A criação de software foi subestimada e realizada sem nenhuma metodologia, gerando erros em sistemas, como problemas de cálculos e perdas financeiras e de tempo. Nesse período, podemos dizer que houve a crise do software. Com isso, em 1967, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) designou o termo Engenharia de Software para adequar o processo de desenvolvimento de software com metodologias já utilizadas em outras Engenharias. Uma série de metodologias e técnicas passaram a ser utilizadas antes, durante e depois da criação de software. Dados históricos apontam que houve uma diminuição brutal nos problemas em software após a adoção dessas metodologias, fazendo com que a indústria de software pudesse entregar sistemas com maior qualidade, em menos tempo e com custos reduzidos de manutenção. Neste capítulo, você irá adquirir conhecimentos fundamentais para avançar no aprendizado sobre Engenharia de Software. Iremos abordar inicialmente conceitos básicos sobre o que é essa Engenharia, sua história e a importância na indústria. Histórico e conceitos fundamentais da Engenharia de Software A Engenharia de Software é uma disciplina da Engenharia, mais especifica- mente da Ciência da Computação, que estuda todos os processos envolvidos no desenvolvimento de software, uma atividade complexa que envolve a rea- lização conjunta de diversas atividades distintas, as quais exigem habilidades multidisciplinares e, por consequência, trabalho colaborativo de um grande grupo de profissionais (SOMMERVILLE, 2011). A Engenharia de Software é uma área de grande importância, uma vez que as pessoas e a sociedade como um todo estão a cada dia mais dependentes de software. Por isso, faz-se necessário que seja produzido software mais confiável e de forma mais rápida a cada dia. Além disso, para as empresas desenvolvedoras de sistemas, geralmente é mais barato, a longo prazo, usar métodos e técnicas da Engenharia de Software para o desenvolvimento de sistemas do que desenvolver os sistemas sem documentação e estruturação, uma vez que, desta forma, é desestruturada e dificultada a manutenção do software (SOMMERVILLE, 2011). Contudo, esta disciplina nem sempre foi alvo de atenção dos profissionais de Tecnologia da Informação. Por muito tempo, o desenvolvimento de sistemas foi realizado sem atenção a processos, metodologias e estruturas organizacio- nais no que diz respeito a tarefas, atividades e responsabilidades. Essa falta de controle sobre os processos fez com que, muitas vezes, o software fosse entregue aos clientes sem a devida qualidade e com grande número de erros, como problemas de cálculos e perdas financeiras e de tempo. Nesse período, podemos dizer que houve a crise do software. Com isso, em 1967, a OTAN designou o termo Engenharia de Software para adequar o processo de desen- volvimento de software com metodologias já utilizadas em outras engenharias. A partir desse momento, os profissionais e as empresas de Tecnologia da Informação passaram a preocupar-se mais com os diversos setores que envolvem o desenvolvimento de sistemas, como análise de requisitos, análise de sistemas, desenvolvimento, testes e implantação. Neste contexto, derivaram diversas metodologias, métodos e processos para auxiliar e guiar o trabalho de cada um desses segmentos. Conceitos da Engenharia de Software2 Evolução do desenvolvimento de software O desenvolvimento de software, bem como outras Ciências, empregou diversas mudanças e adaptações para melhorar, facilitar e adaptar-se ao cotidiano dos profissionais que realizam esse trabalho. As principais evoluções no desen- volvimento de software podem ser classificadas em dois grandes grupos: mudanças processuais e mudanças tecnológicas. Mudanças tecnológicas Embora atualmente, quando se fala em software, sejamos remetidos a lembrar de computadores modernos, smartphones, tablets, etc., o desenvolvimento de software começou muito antes desses dispositivos serem criados, sendo pro- gramado por volta de 1725, em cartões perfurados. Posteriormente, surgiram as primeiras linguagens de programação, tais quais as que existem hoje, sendo elas FORTRAN (1955), List Processor (LISP) e Common Business Oriented Language (COBOL). Posteriormente, surgiram linguagens de programação de alto nível, isto é, que se aproximam mais da linguagem humana, são exemplos: Java, JavaScript, Visual Basic, Object Pascal e PHP (PACIEVITCH, 2017). Junto com as linguagens de programação, foram sendo criados paradigmas para o desenvolvimento de sistemas. Um paradigma nada mais é do que a forma como um sistema é construído e seu desenvolvimento é organizado. Os paradigmas mais conhecidos são o paradigma estruturado e o paradigma orientado a objetos, sendo o paradigma orientado a objetos o mais utilizado atualmente. A programação orientada a objetos é um paradigma em que o software é construído considerando que tudo o que é inserido no programa é um objeto e que esse objeto pertence a uma classe e tem características (atributos) específicas sobre as quais podem ser feitas ações (métodos). Por outro lado, um princípio básico da programação estruturada é que um programa pode ser dividido em três partes que se interligam, sendo elas sequência, seleção e iteração (ABÍLIO, 2017). Na sequência, o código do programa é criado para ser executado de forma sequencial, seguindo estritamente a ordem na qual foi programado. Na seleção, o programa encontra locais onde pode seguir um ou mais caminhos distintos. Na interação, é permitido ao programa executar diversas vezes o mesmo trecho de código. 3Conceitos da Engenharia de Software � Ao programar uma calculadora, quando cria-se um programa e o único fluxo que este pode seguir é receber dois números, somar esses números e mostrar o resultado, faz-se um programa utilizando apenas sequência. � Quando se insere neste programa a opção de selecionar se deve somar ou subtrair os números, se está programando uma seleção. � Quando, ao final do cálculo, pergunta-se para o usuário se deseja fazer novamente, se está programando uma interação. Mudanças de processo No desenvolvimento de sistemas, além das mudanças tecnológicas, foram ocorrendo mudanças na forma como as empresas se organizam e estruturam o trabalho. A forma tradicional de desenvolvimento de sistemas foi a primeira a ser criada, empregando o ciclo de vida em estrutura de cascata (1970), na qual as etapas são executadas de forma sequencial, sem que seja possível retornar de uma etapa posterior para uma etapa anterior. Figura 1. Modelo Cascata Fonte: Sommerville (2011, p. 20). De�nição de requisitos Projeto de sistema e software Implentação e teste unitário Integração e teste de sistema Operação e manutenção Conceitos da Engenharia de Software4 Posteriormente, falou-se em desenvolvimento iterativo e incremental. Nesse modelo, implementa-se pequenas partes entregáveis do software para que o cliente tenha um feedback mais rápido sobre o produto que está sendo desenvolvimento. Figura 2. Entrega Incremental. Fonte: Sommerville (2011, p. 31). De�nição esboço de requisitos Atribuir requisitos aos incrementos Validar incrementos Integrar incrementos Implantar incrementos Validar sistema Sistema incompleto? Sistema completo? Sistema �nal Projetar arquitetura de sistema Desenvolver incrementos de sistema O modelo emespiral se assemelha muito ao modelo iterativo e incremen- tal, uma vez que ele também considera pequenas entregas de software e a execução de todas as etapas espiralmente (várias vezes). Contudo, o ciclo de vida espiral considera a presença explícita da análise de riscos como uma das etapas de cada iteração. Nesse processo em espiral, o ciclo de vida do software é representado como uma espiral em que a volta na espiral representa uma fase do processo de software, sendo que a volta mais interna pode preocupar-se com a viabilidade do sistema, o ciclo seguinte, com definição de requisitos, o seguinte, com o projeto do sistema, e assim por diante. 5Conceitos da Engenharia de Software Figura 3. Modelo Espiral. Fonte: Sommerville (2011, p. 33). Determinar objetivos, alternativas e restrições Análise de riscos Protótipo operacionalProtótipo 3 Protótipo 2 Protó- tipo 1 Simulações, modelos, benchmarks Requisitos de S/W Projeto de produto Projeto detalhado Código Teste unitário Teste de integraçãoTeste de aceitação Projeto V&V Operação Validação de requisitos Conceito de operação Plano de requisitos Plano de ciclo de vida Plano de desenvolvimento Planejar próxima fase Plano de integração e testes Análise de riscos Análise de riscos Análise de riscos Avalir alternativas, identi�car, resolver riscos Desenvolver e veri�car próximo nível do produto Revisão No ano de 2001, um grupo de profissionais de tecnologia da informação lançou um documento chamado Manifesto Ágil para o Desenvolvimento de Sistemas. Deste então popularizaram-se os métodos ágeis de desenvolvimento de sistemas, sendo os mais conhecidos o método Scrun e o método XP. Todos eles têm em comum a aplicação dos valores propostos pelo Manifesto Ágil para o Desenvolvimento de Sistemas, sendo eles: indivíduos e interações são mais que processos e ferramentas, software em funcionamento é mais que documentação abrangente, colaboração com o cliente é mais que negociação de contratos e respostas a mudanças são mais que seguir um plano (BECK et al., 2001). Todos esses ciclos de vida, somados aos Métodos Ágeis de Desenvolvimento de Sistemas, apresentaram estrutura e organização maiores para o processo de desenvolvimento de sistemas, propiciando melhoria da comunicação entre os envolvidos no processo, seja entre os próprios profissionais de Tecnologia da Informação ou destes com o cliente. Com a adoção de processos e a atenção às evoluções tecnológicas, buscando sempre acompanhar aquilo que o mercado Conceitos da Engenharia de Software6 tem de melhor para oferecer, pode-se atingir maior excelência nos produtos entregues e atender melhor às necessidades do cliente. Importância da Engenharia de Software Conforme supracitado, a Engenharia de Software é uma disciplina de Enge- nharia cujo foco está em todos os aspectos da produção de software, desde os estágios iniciais da especificação do sistema até a sua manutenção, quando o sistema já está sendo usado (SOMMERVILLE, 2011). Neste contexto, é clara a importância fundamental da Engenharia de Software, uma vez que, se o processo de desenvolvimento de sistemas envolve diversas atividades distintas e a Engenharia de Software é a disciplina que preocupa-se em estudar e monitorar o bom andamento de todas essas atividades e a integração entre elas, é trivial notar que é baseado na Engenharia de Software o sucesso de um projeto no que tange a sua organização. Engenharia de Software envolve planejamento. Planejamento diz respeito também a pessoas e cronograma de trabalho. Pessoas porque divide as respon- sabilidades, de forma individual ou coletiva. Cronograma porque conforme o planejamento é que os gestores têm a possibilidade de mensurar o tempo necessário para o desenvolvimento de cada projeto. Engenharia de Software envolve também a preocupação com a qualidade do produto. Qualidade, neste contexto, não se refere apenas à entrega de produtos em funcionamento, mas também ao atendimento das necessidades do cliente, e, por isso, a área da Engenharia de Software, que trata de engenharia de requisitos ou análise de requisitos, tem importância fundamental, na medida em que é por meio dela que as equipes de desenvolvimento recebem a expectativa do cliente sobre o produto que está sendo desenvolvido para buscar atendê-la. Além disso, na fase de desenvolvimento da programação em si, a Enge- nharia de Software se faz presente, uma vez que a escolha do processo ideal irá influenciar diretamente no trabalho cotidiano de todos os envolvidos, incluindo a programação. Esse fator ganha relevância ainda maior em times que trabalham em horários distintos ou locais geograficamente distribuídos. Uma vez entregue o software para o cliente, a Engenharia de Software tem sua importância revelada no momento de realizar a manutenção nesse software. Isto porque, se o sistema tiver sido corretamente planejado, o código do sistema tende a estar mais limpo e com menos defeitos. Isso irá causar menos manutenção e facilitar as manutenções que precisam ser realizadas. 7Conceitos da Engenharia de Software Conceitos da Engenharia de Software8 ABÍLIO, I. Programação orientada a objetos versus programação estruturada. Disponí- vel em: <http://www.devmedia.com.br/programacao-orientada-a-objetos-versus- -programacao-estruturada/32813>. Acesso em: 17 ago. 2017. BECK, K. et al. Manifesto for agile software development. c2001. Disponível em:<http:// agilemanifesto.org/>. Acesso em: 17 ago. 2017. PACIEVITCH, Y. História da programação. Disponível em: <http://www.infoescola.com/ informatica/historia-da-programacao>. Acesso em: 17 ago. 2017. SOMMERVILLE, I. Engenharia de software. 9. ed. São Paulo: Pearson, 2011. Leituras recomendadas ENDEAVOR BRASIL. PDCA: a prática levando sua gestão à perfeição. 2015. Disponível em: <https://endeavor.org.br/pdca/>. Acesso em: 4 nov. 2016. PEQUENO, C. N.; CARVALHO, M. G. F.; FONTES, V. M. Redução do consumo de produto químico utilizado em uma linha de produção de uma indústria de pneus. 2015. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Engenharia de Produção)–Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2015. REY, B. Como fazer um brainstorming eficiente. 2013. Disponível em: <http://exame.abril. com.br/carreira/como-fazer-um-brainstorming-eficiente/>. Acesso em: 4 nov. 2016. RODRIGUES, S. Crise: perigo, oportunidade e… papo furado. 2013. Disponível em: <http://veja.abril.com.br/blog/sobre-palavras/lendo-a-lenda/crise-perigo-oportu- nidade-e-papo-furado/>. Acesso em: 4 nov. 2016. SILVA, M. D. L. et al. Gestão da produção: estudo sobre a gestão da manutenção na geração de energia e vapor utilizando caldeiras de uma indústria. In: ENCONTRO PARAENSE DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO, 7., 2016, Belém. Anais... Belém: [s.n.], 2016. SLACK, N. et al. Gerenciamento de operações e de processos: princípios e práticas de impacto estratégico. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2013. SOUZA, T. de J. F. et al. Proposta de melhoria do processo de uma fábrica de polpas por meio da metodologia de análise e solução de problemas. In: ENCONTRO NACIO- NAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO, 35., 2015, Fortaleza. Anais... Fortaleza: ABEPRO, 2015. Disponível em: <http://www.abepro.org.br/biblioteca/TN_STP_207_228_27341. pdf>. Acesso em: 4 nov. 2016. esaito Retângulo Conteúdo: ENGENHARIA DE SOFTWARE Aline Zanin Izabelly Soares de Morais Revisão técnica: Jeferson Faleiro Leon Desenvolvimento de Sistemas Especialista em Formação Pedagógica de Professores Catalogação na publicação: Karin Lorien Menoncin CRB-10/2147 M827e Morais, Izabelly Soares de. Engenharia de software [recurso eletrônico] / Izabelly Soares de Morais, Aline Zanin ; revisão técnica : Jeferson Faleiro Leon. – Porto Alegre : SAGAH, 2017. ISBN 978-85-9502-253-9 Engenharia. 2. Engenharia de software auxiliada por computador. I. Zanin, Aline.II. Título. CDU 004.41 Modelo de análise de software (análise estruturada) Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Identificar os objetivos da análise estruturada. � Compreender os principais elementos de modelagem (diagrama de fluxo de dados e dicionário de dados). � Descrever as vantagens e desvantagens desse modelo. Introdução A análise estruturada é um dos métodos utilizados e presentes nas ca- madas da Engenharia de Software. As ferramentas de análise estruturada permitem que um profissional de software crie modelos de dados, mo- delos de fluxos e modelos comportamentais para possibilitar a análise de consistência, a continuidade, a fácil edição e a extensão. Os modelos criados, empregando tais ferramentas, fornecem ao en- genheiro de software uma visão da representação de análise e podem ajudar a eliminar erros antes que se propaguem pelo projeto ou, pior ainda, na própria implementação. A análise estruturada considera os dados e os processos que transfor- mam os dados como entidades separadas na modelagem de um sistema. Os objetos de dados são modelados de maneira a definir seus atributos e relações. Processos que manipulam objetos de dados são modelados para mostrar como transformam os dados à medida que objetos de dados fluem por meio do sistema. Neste capítulo, você vai adquirir conhecimentos fundamentais para avançar no aprendizado sobre análise estruturada. Vai ver também os principais elementos de modelagem e algumas vantagens e desvanta- gens desse modelo. Engenharia de software aplicada à análise estruturada de sistemas A Engenharia de Software nos traz metodologias que auxiliam no processo de desenvolvimento de um software, porém, só começou a ser vista como algo colaborativo durante este processo no início da década de 1970. Foi entre as décadas de 1970 e 1980 que ocorreram grandes progressos nas técnicas que já estavam sendo utilizados anteriormente. Um acontecimento muito relevante para o contexto computacional e do desenvolvimento de software foi o surgimento de um paradigma utilizado na análise de sistemas (que trazem um conjunto de elementos, que juntos têm o intuito de atingir algum propósito ou solucionar algum problema), que, inicialmente, foi definido como clássico, porém, posteriormente, passou a ser chamado também de estruturado. De acordo com Schach (2010, p. 40), uma das principais razões para o su- cesso limitado do paradigma clássico foi que as técnicas clássicas são orientadas a operações ou orientadas a atributos (dados), mas não a ambos ao mesmo tempo. Os componentes básicos de um produto de software são as operações do produto e os atributos sobre os quais essas operações agem. Algumas técnicas clássicas, quanto à análise de fluxo de dados, são orientadas a operações, ou seja, tais técnicas se concentram nas operações do produto; os atributos ficam em segundo plano. Diferentemente, técnicas como o desenvolvimento de sistemas são orientadas a atributos. A ênfase, nesse caso, é nos atributos; as operações que atuam sobre os atributos são menos significativas. Ainda sob a ótica do autor, esses atributos devem ser apresentados de forma explícita, assim como os principais objetivos e funcionalidades do sistema. Dessa forma, Schach (2010, p. 351) diz que “um documento de especificação deve satisfazer a duas exigências mutuamente contraditórias. De um lado, esse documento deve ser claro e inteligível para o cliente, que, provavelmente, não é um especialista em informática. [...] De outro lado, o documento de especificação deve ser completo e detalhado, pois é praticamente a única fonte de informações disponível para elaborar o projeto”. Modelo de análise de software (análise estruturada)2 A análise estruturada traz uma sequência de desenvolvimento, ou seja, uma fase que tanto depende dos resultados obtidos em suas fases anteriores quanto afeta as fases posteriores. Em razão da utilização de uma metodologia disciplinada, que exige certa sistematização de etapas e até do uso de técni- cas, faz-se necessária uma boa comunicação, clara e concisa, entre todos os envolvidos no projeto. Portanto, podemos concluir que “compõe-se de um conjunto de técnicas e ferramentas, em constante evolução. Seu conceito fundamental é a construção de um modelo lógico (não físico) de um sistema, utilizando técnicas gráficas capazes de levar usuários, analistas e projetistas a formarem um quadro claro e geral do sistema e de como suas partes se encaixam para atender às necessidades daquele que dele precisam. Antes do desenvolvimento dessas ferramentas de Análise Estruturada de Sistemas, todos os detalhes da implementação física eram perdidos” (GANE; SARSON, 1985). A Figura 1 a seguir traz alguns símbolos criados por Gane e Sarson para a realização da análise estruturada de software. Esta notação é vista como uma das mais utilizadas na prática da análise estruturada. Figura 1. Os símbolos da análise de sistemas estruturada de Gane e Sarson. Fonte: Schach (2010, p. 356). 3Modelo de análise de software (análise estruturada) Para utilizar esse tipo de análise, devemos inicialmente determinar as necessidades do sistema, para que, depois, o fluxo de dados lógico determine “o que” deverá ser feito e o fluxo de dados físicos determine “como” será realizado. A representação gráfica facilita a visualização de todo o sistema, tanto para a equipe de desenvolvimento quanto para o cliente, que geralmente é leigo nos assuntos que norteiam o ciclo de desenvolvimento de um sistema computacional. Para isso, trataremos no próximo tópico sobre os principais elementos de modelagem utilizados neste modelo de análise. O uso de elementos gráficos para especificar software foi uma técnica importante dos anos 1970. Três técnicas que utilizam elementos gráficos tornaram-se particularmente populares: as técnicas de DeMarco (1978), Gane e Sarson (1979) e Yourdon e Constantine (1985). Todas elas são igualmente satisfatórias e, basicamente, equivalentes (SCRACH, 2010). Elementos de modelagem Um sistema computacional tem três estágios básicos: entrada, processamento e saída de dados. Para isso, o uso de uma análise de software estruturada requer que haja o estudo da viabilidade do projeto e a análise e as especifi- cações dos requisitos e do projeto, para que possa ocorrer a implementação, os testes e a manutenção do sistema que será desenvolvido. Um elemento ligado à modelagem que podemos destacar é o uso dos gráficos, que trazem simbologias conceituais e que seguem uma sequência lógica de execução, permitindo que tanto os clientes quanto a equipe desenvolvedora compreenda as especificações do sistema. As metodologias que utilizam este princípio foram desenvolvidas para auxiliar os desenvolvedores neste processo. Para isso, diversas ferramentas e metodologias foram predefinidas. Selecionamos aqui o diagrama de fluxo de dados (DFD) e o dicionário de dados (DD). Modelo de análise de software (análise estruturada)4 Diagrama de fluxo de dados (DFD) O diagrama de fluxo de dados (DFD), assim como os demais diagramas, tem como função principal expor informações vistas antes como abstratas, tais como os processos que compõem o sistema. É visto como a principal ferramenta utilizada para a análise estruturada, pois deixa em evidência todo o fluxo de entrada e saída de dados. Dessa forma, este tipo de diagrama “é construído identificando-se os fluxos de dados contidos no documento de levantamento de necessidades ou no protótipo rápido. Cada fluxo de dados inicia e termina em uma origem, um destino de dados (representado por um quadrado duplo), ou um repositório de dados (representado por um retângulo com um lado aberto). Os dados são transformados por um ou mais processos (representados por um retângulo com cantos arredondados). A cada refinamento gradual sucessivo é acrescentado um novo fluxo de dados ao DFD, ou um fluxo de dados existenteé refinado pelo acréscimo de outros detalhes” (SCHACH, 2010). Esses recursos gráficos podem ser visualizados na Figura 1, mostrada anteriormente, na qual os símbolos da análise de sistemas estruturada propostos por Gane e Sarson foram expostos. Conforme Oliveira (2011), os autores Yourdon e Constantine (1985) apre- sentam, em sua obra, alguns conceitos sobre os componentes do diagrama de fluxo de dados. Mais tarde, outros autores acrescentaram mais algumas representações gráficas e que são retratadas a seguir no Quadro 1. Componentes do DFD Funções Regras Bolha de processos Representa um processo, uma atividade ou uma função. É o componente ativo que realiza a transformação no sistema. - Todo nome de processo deve indicar uma ação a ser feita, ou seja, deve conter um verbo infinitivo mais um complemento. Exemplo: emitir cobrança, gerar relatório, cadastrar cliente; - Todo processo deve estar devidamente numerado, levando em consideração o número e o nível em que ele se encontra. Quadro 1. Componentes gráfico do diagrama de fluxos de dados. (Continua) 5Modelo de análise de software (análise estruturada) Componentes do DFD Funções Regras Processos São as várias atividades realizadas no sistema. Deve conter: - Identificação: é um número atribuído ao processo, exclusivamente para identificá-lo, não tendo, portanto, outro significado. Geralmente, esses números são colocados da esquerda para a direita no diagrama de fluxo de informações; - Descrição: é uma frase imperativa, formada por um verbo referente a uma ação (registro, controle, preencha, etc.), seguido por um objeto. Exemplo: “remeta pagamento atraso”; - Localização física: é o nome da unidade organizacional responsável pela atividade, no caso de o sistema ser implementado (DUQUE DE CAXIAS, 2017). Fluxo de Dados Representa os insumos ou produtos dos processos, ou seja, representa dados trafegando entre processos ou entre processos e o mundo externo. As setas indicam o sentido do fluxo, e devem vir com o nome do fluxo ao qual estão associadas. - Todo fluxo de dados deve ter nome; - Fluxo de dados não tem ação, somente representam os dados; - Não podem existir nomes repetidos de fluxo de dados. Quadro 1. Componentes gráfico do diagrama de fluxos de dados. (Continuação) (Continua) Modelo de análise de software (análise estruturada)6 (Continuação) Componentes do DFD Funções Regras Entidade Externa Representa o processo de entrada ou recebimento de dados, que são denominados respectivamente de fontes e terminadores. - Entidade externa não se comunica com outra entidade; - Entidade externa não acessa depósito de dados. Depósito de Dados ou Arquivos Elementos que representam um arquivo ou um local onde as informações são depositadas para uso posterior por qualquer processo dentro do escopo do sistema. Exemplo: pastas, ficheiros, dentre outros. - Não podem existir depósitos de dados somente com entrada ou somente com saídas dentro do sistema. Convenções Adicionais É utilizado quando o cruzamento de linhas de fluxos deve ser minimizado e/ ou quando o cruzamento for inevitável (TEIXEIRA, 2003, p. 69). Quadro 1. Componentes gráfico do diagrama de fluxos de dados. 7Modelo de análise de software (análise estruturada) Algumas boas práticas são indicadas para que um diagrama de fluxo de dados seja concebido de maneira correta, no sentido de que todas as informa- ções inseridas irão retornar o resultado esperado. Para isso, Teixeira (2003, p. 72), destacam-se as seguintes diretrizes: � escolher nomes significativos para os processos, fluxos, depósitos e terminadores. � numerar os processos. � produzir o DFD seguindo a organização visual de seus elementos. � evitar trazer complexidade ao DFD. � verificar a consistência interna do DFD e de seu relacionamento com outros DFDs. Dicionário de dados (DD) A concepção de um software envolve diversas operações. Para isso, os recur- sos tecnológicos nos auxiliam durante esse processo. Além de metodologias, existem diversas formas práticas de se desenvolver algo. Para tanto, podemos fazer uso das chamadas ferramentas “CASE”, que nada mais são do que a uti- lização do computador como recurso para aplicação de práticas da Engenharia. Uma importante categoria das ferramentas CASE são os dicionários de dados (DD), uma lista informatizada de todos os dados definidos no produto. Um produto grande contém dezenas (talvez centenas) de milhares de dados, e o computador é ideal para armazenar informações, como nomes e tipos de variáveis e o local em que cada uma delas é definida, bem como nomes de procedimento e de parâmetros e seus tipos. Uma parte importante de toda a entrada de um dicionário de dados é a descrição do item O poder dos dicionários de dados pode ser ampliado combinando-o com um verificador de consistência, uma ferramenta para verificar se cada dado no documento de especificações está refletido no projeto e, ao contrário, se cada dado no projeto foi definido no documento de especificações O dicionário de dados pode ser visto como um parâmetro que traz informações sobre todos os elementos do sistema. Para isso, ele possui algumas informações relevantes, como os dados elementares, que estão envolvidos no contexto do usuário, por exemplo, quando vamos preencher o endereço de um usuário, geralmente essa informação requer diversos dados, ou seja, é um elemento de dados composto, pois para ficar completo temos que inserir, além do nome da rua ou avenida, o número, o CEP e até outras informações (SCHACH, 2010). Modelo de análise de software (análise estruturada)8 Com o uso do DD, podemos detalhar os seguintes itens: depósito de dados, fluxo de dados e dados que são elementares e constituem fluxos e depósito de dados. De acordo com o material disponibilizado pela Universidade Estadual Paulista (UNESP, 2015), cada entrada é constituída por um identificador e sua respectiva descrição. Esta descrição deve ser composta por: � O seu significado; � O seu conteúdo (utilizado apenas em dados compostos); � Os valores permitidos e as unidades (utilizados apenas para dados elementares); � A chave primária (apenas para depósito de dados). O material ainda traz a notação utilizada no dicionário de dados, que será apresentada no Quadro 2 a seguir: UNESP, 2015. Símbolo Significado = é constituído por ou é definido por + e (conjunção ou concatenação) ( ) enquadram componentes opcionais [ ] enquadram componentes que são utilizadas alternativamente | separam componentes alternativas enquadradas por [ ] { } enquadram componentes que se repetem 0 ou mais vezes * * enquadram comentários @ identifica a chave primária de um depósito Quadro 2. Notação do dicionário de dados (DD). A descrição de alguns dados elementares é necessária apenas quando as informações dos elementos de dados não ficam claras e podem gerar entendi- mentos dúbios. O ideal é que o sistema retorne sempre mensagens confirmando se os procedimentos foram concluídos e/ou realizados com sucesso, como a 9Modelo de análise de software (análise estruturada) confirmação de que um cadastro foi finalizado. Geralmente, a descrição dos dados informa o modo correto de se preencher alguns campos. Um exemplo clássico é o CPF, que pode conter ou não os caracteres, como pontos e hífen. Dessa forma, deve haver uma sinalização informando como o usuário deve preencher este campo, ou seja, se é ou não para utilizar os caracteres ou apenas números para informar o CPF. Os elementos de modelagem visam oferecer um suporte maior para a realização da análise estruturada de sistemas. Além dos elementos da modelagem utilizados em uma análise estruturada de software, podemos citar também a existência dos fluxogramas, que também trazem represen- tações gráficas ao processo de produção de um software. De acordo com Manzano (2012), a análise estruturada é uma ferramenta usada e desenvolvidapelos profissionais da área de análise de sistemas. Tem como finalidade descrever o fluxo de ação de um determinado trabalho lógico, seja manual ou mecânico, especificando os suportes usados para os dados e para as informações. Usa símbolos convencionais (norma ISO 5807:1985), permitindo poucas variações. Vantagens e desvantagens da análise estruturada De acordo com Schach (2010), entre as técnicas que formavam o paradigma clássico havia a análise de sistemas estruturada, a análise de fluxo de dados, a programação estruturada e os testes estruturados. Inicialmente, quando usadas, essas técnicas pareciam extremamente promissoras. Entretanto, à medida que o tempo foi passando, constatou-se que elas ficaram aquém do esperado em dois aspectos, os quais são expostos pelo autor a seguir: 1. Algumas vezes, as técnicas eram incapazes de lidar com o tamanho cada vez maior dos produtos de software, isto é, as técnicas clássicas eram adequadas para elaborar produtos de escala pequena (tipicamente com 5 mil linhas de código) ou até mesmo produtos de escala média, com cerca de 50 mil linhas de código. Atualmente, entretanto, produtos de larga escala, com 500 mil linhas de código, são relativamente comuns. Modelo de análise de software (análise estruturada)10 Até mesmo produtos com 5 milhões ou mais de linhas de código não são considerados raros. Entretanto, as técnicas clássicas normalmente não conseguem ser ampliadas de forma a conseguir lidar com o desen- volvimento dos produtos atuais de maior porte. 2. O paradigma clássico não estava à altura das expectativas iniciais durante a manutenção pós-entrega. Um importante agente propulsor do paradigma clássico há 30 anos foi que, em média, dois terços do orçamento para software eram destinados à manutenção pós-entrega. Infelizmente, o paradigma clássico não havia resolvido esse problema, várias organizações ainda despendem de 70% a 80% ou mais de seu tempo e esforços em manutenção pós-entrega (YOURDON, 1992; HATTON, 1998 apud SCHACH, 2010). Diante das informações trazidas pelo autor, podemos concluir que a análise estruturada nos traz conceitos tradicionais e iniciais sobre a prática, quando inserida no processo de desenvolvimento de um software. Porém, não se tornou menos importante, pois traz a base de outras metodologias de análise, sendo, dessa forma, utilizada até os dias de hoje. Ela é indicada diante de contextos simples, já o diagrama de fluxo de dados, pode ajudar a esboçar uma visão do sistema, fazendo com que seja necessário o uso de metodologias mais concisas e que possam abranger qualquer tipo de contexto, até mesmo porque atualmente vivemos em uma era tecnológica que exige cada vez mais sistemas computacionais complexos. Acesso o link a seguir e leia o artigo Need for systems analysis and design, que aborda a importância da realização da análise de sistemas. https://goo.gl/yYX9ss 11Modelo de análise de software (análise estruturada) Figura 2. Diagrama de fluxo de dados com todos os elementos gráficos. Fonte: Schach (2010, p. 357) DEMARCO, T. Structured Analysis and System Specification. New York: Yourdon Press, 1978. DUQUE DE CAXIAS. Secretaria Municipal de Educação. Análise Estruturada: diagrama de Fluxo de Dados. Duque de Caxias: SME, 2017. Disponível em: <http://smedu- quedecaxias.rj.gov.br/nead/Biblioteca/Forma%C3%A7%C3%A3o%20Continuada/ Tecnologia/cursos/programacao/analise%20e%20logica/metodo%20integrado/ DFD.pdf>. Acesso em: 13 ago. 2017. GANE, C. P.; SARSON, T. Análise Estruturada de Sistemas. São Paulo: LTC, 1985. KENDALL, J. E.; KENDALL, K. E. Systems Analysis and Design. Upper Saddle River: Pren- tice Hall, 2002. MANZANO, J. A. N. G.; OLIVEIRA, J. F. Algoritmos: lógica para desenvolvimento e programação de computadores. 26. ed. São Paulo: Érica, 2012. OLIVEIRA. R. C. Engenharia de Software. Uberlândia: UFU, 2011. Disponível em: < http:// www.facom.ufu.br/~ronaldooliveira/aps-2017-2.html#material>. Acesso em: 13 ago. 2017. SCHACH, S. R. Engenharia de software: os paradigmas clássicos e orientado a objetos. 7. ed. Porto Alegre: AMGH, 2010. Modelo de análise de software (análise estruturada)12 TEIXEIRA, M. N. Análise estruturada de sistemas. 3M Soluções, São Paulo, 2003. Dis- ponível em: http://www.3msolucoes.com.br/adm/downloads/AE_Aulas_final.pdf. Acesso em: 13 ago. 2017. UNESP. Dicionário de dados (DD): análise estruturada. São Paulo: UNESP, 2015. Disponível em: <https://moodle.unesp.br/ava/pluginfile.php/24935/mod_resource/content/2/4- -DicionarioDados.pdf>. Acesso em : 16 out. 2017. YOURDON, E.; CONSTANTINE, L. L. Structured Design: fundamentals of a Discipline of Computer Program and Systems Design. Englewood Cliffs: Prentice Hall, 1979. Leituras recomendadas JONES, M. P. Projeto Estruturado de Sistemas. Nova Iorque: McGraw-Hill, 1988. MARTIN, J.; MCCLURE, C. Técnicas Estruturadas e CASE. São Paulo: Makron Books,1991. PRESSMAN, R. S.; MAXIM, B. R. Engenharia de Software: uma abordagem profissional. 8. ed. Porto Alegre: AMGH, 2016. SOMMERVILLE, I. Engenharia de software. 9. ed. São Paulo: Pearson, 2011. SLACK, N.; CHAMBERS, S.; JOHNSTON, R.; BETTS, A. Gerenciamento de operações e de pro- cessos: princípios e práticas de impacto estratégico. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2013. 13Modelo de análise de software (análise estruturada) Conteúdo: ENGENHARIA DE SOFTWARE Izabelly Soares de Morais Modelo de análise de software (orientada a objetos) Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Identificar os objetivos da análise orientada a objetos. � Aplicar os principais elementos de modelagem (diagramas da UML). � Avaliar as vantagens e as desvantagens deste modelo. Introdução A análise orientada a objetos, diferentemente do enfoque tradicional, sugere que um sistema é uma coletânea de objetos que interagem entre si, com características próprias, representadas por atributos e operações. Neste tipo de análise, os atributos representam os dados de um objeto e servem para expressar características e informações. Já as operações são as ações que podem ser realizadas pelo objeto. O mais interessante é a possibilidade de modelar o sistema usando objetos que representam elementos do mundo real. Isso permite que sistemas complexos sejam facilmente modelados e implementados, além de facilitar o seu cresci- mento e a manutenção. Neste capítulo, você vai adquirir conhecimentos fundamentais para avançar no aprendizado sobre análise orientada a objetos. Explore concei- tos básicos sobre o modelo, suas ferramentas, vantagens e desvantagens. Engenharia de software aplicada à análise de software orientada a objetos A era tecnológica almeja por softwares cada vez mais complexos. Essa com- plexidade está ligada diretamente à grande quantidade de informações que devem ser processadas simultaneamente. Com o tempo, os recursos tecno- lógicos passaram por diversas mudanças, tanto em seus dispositivos físicos quanto lógicos. A Engenharia de Software surgiu devido à necessidade de haver técnicas que norteassem o processo de desenvolvimento do software. Diante dos diversos conceitos, métricas e ferramentas que regem a Engenha- ria de Software, foram desenvolvidas maneiras de realizar a análise de software. Primeiramente, o modelo mais utilizado foi o modelo de análise estruturada, que ficou conhecido também como um modelo clássico. Por ser clássico, ele traz conceitos de base para se realizar a análise de um software. Porém, como citado anteriormente, vivemos em uma era em que os artefatos tecnológicos devem ser cada vez mais robustos e compatíveis às novas tecnologias. A OOA (análise orientada a objetos, em inglês object-oriented analysis,) é uma técnica de análise semiformal para o paradigma de orientação a obje- tos. A análise orientada a objetos é um componente-chave do paradigma de orientação a objetos. Quando esse fluxo de trabalho é realizado, as classes são extraídas. Os casosde uso e as classes são a base de um produto de software orientado a objetos a ser desenvolvido (SCHACH, 2010, p.395). Dessa forma, “concentra-se na definição de classes e na maneira como colaboram entre si para atender aos requisitos dos clientes” (PRESSMAN; MAXIM, 2016, p. 172). Uma classe traz um conceito do mundo real, representa algum conceito, um objeto, que tem comportamento e características e que executa ações. Assim como as diversas vertentes da Engenharia de Software, a metodologia de análise de software também requer técnicas específicas para que todos os detalhes observados sejam documentados, seja por meio da escrita de uma documentação específica, seja pelo uso de recursos gráficos. Veremos quais elementos são utilizados pela análise orientada a objetos no próximo tópico. Uma das metodologias existentes na Engenharia de Software é a meto- dologia ágil e que pode ser aplicada na análise de software. No The Official Agile Modeling Site, Scott Ambler (apud PRESSMAN; MAXIM, 2016, p. 81), descreve modelagem ágil (AM) da seguinte maneira: Modelagem ágil (AM) consiste em uma metodologia prática, voltada para a modelagem e documentação de sistemas baseados em software. Simplificando, modelagem ágil consiste em um conjunto de valores, princípios e práticas voltados para a modelagem do software que podem ser aplicados a um projeto de desenvolvimento de software de forma leve e eficiente. Os modelos ágeis são mais eficientes do que os tradicionais pelo fato de serem simplesmente bons, pois não têm a obrigação de ser perfeitos. Modelo de análise de software (orientada a objetos)2 Elementos da modelagem orientada a objetos O modelo de análise de software estruturado faz uso do diagrama de fluxo de dados e do dicionário de dados, não se limitando a nenhum desses elementos, até mesmo porque o uso de uma metodologia ou ferramenta irá depender do contexto ao qual ela será inserida. Dessa forma, para a realização da análise de software orientado a objetos, se faz comum o uso da linguagem de modelagem unificada (do inglês UML – unified modeling language) como elemento de representação gráfica e informacional de dados e informações de um software. Linguagem de modelagem unificada (UML) A UML nos permite visualizar e especificar detalhes de um software em desenvolvimento por meio de uma linguagem específica. Ela permite que elementos, relacionamentos e diagramas sejam modelados. Esses elementos podem ser estruturais, comportamentais e, até, simples anotações sobre os artefatos do software, que são compostos por classes, componente, interações, pacotes, dentre outros. Os relacionamentos entre as classes, ou seja, entre os objetos dentro de um contexto de orientação a objetos, ocorrem por meio de dependências, associações, implementações e até generalizações. Cada relacionamento é estabelecido conforme o problema a ser solucionado. Para Larman (2007, p. 39), a palavra visual na definição é um ponto-chave. A UML é a notação diagramática padrão, de fato, para desenhar ou apresentar figuras (com algum texto) relacionadas a software – principalmente software orientado a objetos (OO). Em Fowler (2003 apud Larman, 2007), três modos pelos quais as pessoas aplicam UML são apresentados: � UML como rascunho: diagramas incompletos e informais (frequente- mente rascunhados à mão em quadros brancos) criados para explorar partes difíceis do problema ou espaço de soluções, explorando o poder das linguagens visuais. � UML como planta de software: diagramas de projeto relativamente detalhados, usados seja em Engenharia reversa, para visualizar e melhor entender o código existente em diagramas UML; ou geração de código (Engenharia avante). ■ Em Engenharia reversa: uma ferramenta UML lê o código fonte ou o código binário e gera (tipicamente) diagramas UML de pacotes, de 3Modelo de análise de software (orientada a objetos) classes e de sequência. Essas “plantas de software” podem ajudar o leitor a entender os elementos, a estrutura e as colaborações globais. ■ Antes da programação, alguns diagramas detalhados podem fornecer diretrizes para a geração de código (por exemplo, em Java), quer manualmente, quer automaticamente, com uma ferramenta. É comum que os diagramas sejam usados para uma parte do código e outra parte seja preenchida por um desenvolvedor que esteja codificando (talvez também aplicando rascunhos UML). � UML como linguagem de programação: especificação executável com- pleta de um sistema de software em UML. Código executável será automaticamente gerado, mas não é normalmente visto ou modificado por desenvolvedores; trabalha-se apenas na “linguagem de programa- ção” UML. Esse uso da UML requer um modo prático de diagramar todo o comportamento ou a lógica (provavelmente usando diagramas de interação ou estado) e está ainda em desenvolvimento em termos de teoria, ferramentas robustas e usabilidade. Ainda sob o ponto de vista do autor, “a UML descreve tipos de esboço de diagramas, tais como diagramas de classe e diagramas de sequência. Ela não superpõe a eles uma perspectiva de modelagem. Por exemplo, a mesma notação UML de diagrama de classes pode ser usada para desenhar imagens de conceitos do mundo real ou de classes de software em Java” (LARMAN, 2007, p. 40). Diagrama de classe O diagrama de classe “fornece um conjunto inicial de elementos de notação que todos os outros diagramas de estrutura usam. A representação UML de uma classe é um retângulo contendo três compartimentos empilhados verticalmente [...]. O compartimento superior mostra o nome da classe. O compartimento do meio lista os atributos da classe. O compartimento inferior lista as operações da classe. Ao projetar um elemento de classes em um diagrama de classes, deve-se usar o compartimento superior, e os dois compartimentos inferiores são opcionais (os dois inferiores seriam desnecessários em um diagrama que ilustrasse um nível mais alto de detalhes, no qual o propósito fosse mostrar somente o relacionamento entre os classificadores (BELL, 2016, p. 3). Modelo de análise de software (orientada a objetos)4 A Figura 1 a seguir traz um exemplo da notação gráfica do diagrama de classes. Figura 1. Notação de um diagrama de classe. O contexto que envolve a manipulação de objetos traz também a questão da herança, a qual permite que uma classe herde outras funcionalidades e até outros atributos. A representação gráfica desse conceito é realizada pela ligação entre as classes por meio de uma ponta de seta, já que o “traço” re- presenta apenas uma associação. Neste caso, essa ponta de seta não deve ser preenchida e deve apontar, da classe que está disponibilizando, seus atributos e operações. Chamamos essa classe de superclasse (Figura 2). Figura 2. Representação de uma herança no diagrama de classe. 5Modelo de análise de software (orientada a objetos) De acordo com Pressman e Maxim (2016, p. 895), qualquer alteração nos atributos ou nas operações contidas dentro de uma superclasse é imediatamente herdada por todas as subclasses. Portanto, a hierarquia de classes torna-se um mecanismo pelo qual alterações (em altos níveis) podem ser imediatamente propagadas em um sistema. É importante notar que, em cada nível de hierarquia de classe, novos atributos e operações podem ser acrescentados àqueles que foram herdados de níveis mais altos na hierarquia. As operações que envolvem o diagrama de classes podem ser contempladas também com outros tipos de eventos. Para isso, Bell (2016) descreve as seguintes associações que podem ser utilizadas com o diagrama de classes: � Associação bidirecional (padrão): Uma associação é uma ligação entre duas classes. As associações são sempre consideradas bidirecionais. Isso significa que ambas as classes estão cientes de cada uma e do relacionamento que têm, a menos que você qualifique a associação como algum outro tipo. � Associação unidirecional: em uma associação unidirecional, duas classes sãore- lacionadas, mas somente uma classe reconhece que o relacionamento existe. � Uso de pacotes, interfaces e outros tipos de associações. Casos de uso O caso de uso é outro diagrama da UML, e Alistair Cockburn (2001, apud PRESSMAN; MAXIM, 2016, p. 149) observa que “um caso de uso captura um contrato [...] [que] descreve o comportamento do sistema sob várias con- dições, à medida que o sistema responde a uma solicitação de um de seus envolvidos”. Para Pressman e Maxim (2016, p. 149), basicamente, um caso de uso conta uma jornada estilizada sobre como um usuário (desempenhando um de uma série de papéis possíveis) interage com o sistema sob um conjunto de circunstâncias específicas. De acordo com Schach (2010, p. 290), outra forma de interpretar um caso de uso é que ele mostra a interação entre o produto de software e o ambiente no qual ele opera, isto é, o ator é o membro do mundo externo ao produto de software, ao passo que o retângulo no caso de uso representa o produto de software. Normalmente, é mais fácil identificar um ator. Modelo de análise de software (orientada a objetos)6 � Frequentemente, ator é um usuário de produto de software. No caso de um produto de software para a área bancária, os usuários desse produto de software são os clientes e os funcionários do banco, como caixas e gerentes. � Em geral, o ator desempenha um papel em relação ao produto de sof- tware, que poderia ser como usuário deste. Entretanto, o iniciador de um caso de uso, ou alguém que desempenhe um papel crítico em um caso de uso, também desempenha um papel, portanto, é considerado um ator, independentemente de essa pessoa também ser um usuário do produto de software (Figura 3). Figura 3. Representação do diagrama de caso de uso. Assim como no diagrama de classe, o caso de uso também traz associações, que relacionam os autores, os casos de uso, e até outros autores que podem estar envolvidos no mesmo contexto. Para Jacobson (1992 apud PRESSMAN; MAXIM, 2016, p. 150), algumas perguntas que devem ser respondidas por um caso de uso: � Quais são as metas do ator? � Que precondições devem existir antes de uma jornada começar? � Que tarefas ou funções principais são realizadas pelo ator? � Que exceções poderiam ser consideradas à medida que uma jornada é descrita? � Quais são as variações possíveis na interação do ator? � Que informações de sistema o ator adquire, produz ou modifica? � O ator terá de informar o sistema sobre mudanças no ambiente externo? � Que informações o ator deseja do sistema? � O ator gostaria de ser informado sobre mudanças inesperadas? 7Modelo de análise de software (orientada a objetos) Diversos mecanismos podem ser utilizados na concepção de um caso de uso. Geralmente, as informações contidas nesse tipo de diagrama são oriun- das de uma completa documentação de requisitos, os quais devem trazer os requisitos funcionais do sistema. Dessa forma, todos devem trazer mais clareza e consistência ao sistema, pois demonstram visualmente alguns de seus mais importantes aspectos, que são suas funcionalidades. A UML tem muitos tipos de diagramas e, dessa forma, apoia a criação de diferentes modelos de sistema. No entanto, uma pesquisa em 2007 (ERICKSON; SIAU, 2007 apud SOMMERVILLE, 2011, p. 83) mostrou que a maioria dos usuários de UML acredita que cinco tipos de diagramas podem representar a essência de um sistema: � diagramas de atividades, que mostram as atividades envolvidas em um processo ou no processamento de dados; � diagramas de casos de uso, que mostram as interações entre um sistema e seu ambiente; � Diagramas de sequência, que mostram as interações entre os atores e o sistema, e entre os componentes do sistema; � Diagramas de estado, que mostram como o sistema reage aos eventos internos e externos. Vantagens e desvantagens da análise orientada a objetos A demanda social trouxe diversas versões da UML. Dessa forma, suas co- notações buscaram sempre acompanhar a necessidade dos desenvolvedores de software. Com isso, uma das vantagens em utilizar a UML na análise de software orientada a objetos é que sempre há alguma atualização nova, para que sua usabilidade não fique obsoleta. Ela também traz facilidades que visam à melhor compreensão das funcionalidades de um sistema, deixando todos os detalhes mais claros, não só para os desenvolvedores, mas também para os clientes, que na maioria das vezes são leigos no assunto. Modelo de análise de software (orientada a objetos)8 A desvantagem se encontra no tempo, o qual deve ser dedicado ao desen- volvimento dos diagramas e, consequentemente, de uma vasta documentação. Dessa forma, só é indicado dar início ao processo de implementação após todo o sistema ter sido especificado nos diagramas. Outro fator atrelado à desvantagem do uso da UML na análise de software orientado a objetos é a familiaridade da equipe desenvolvedora com as notações dos diagramas e com as ferramentas utilizadas para desenvolvê-los, um fato que acaba atrelado ao tempo – e sabemos que para obter lucro no desenvolvimento de um software o custo-benefício deve estar ligado diretamente ao investimento de tempo, ferramentas e uma equipe especializada. De qualquer forma, a Engenharia de Software traz métodos que podem ser adaptáveis a qualquer projeto. O importante é sabermos que temos diversas opções. Porém, para realizarmos a melhor escolha, devemos conhecer todas as técnicas disponíveis e sabermos como elas operam em um ciclo de desen- volvimento de software. A UML começou como um esforço de Booch e Rumbaugh, em 1994, não apenas com o intuito de criar uma notação comum, mas de combinar seus dois métodos: o de Booch e o OMT. Assim, o primeiro rascunho público do que hoje é a UML foi apresentado como o Método Unificado (Unified Method). Ivar Jacobson, o criador do Método Objectory, se juntou a eles na Rational Corporation e, já formando um grupo, vieram a ser conhecidos como “os três amigos”. Foi nesse ponto que eles decidiram reduzir o escopo do seu esforço e enfocar em uma notação comum de diagramação a UML em vez de um método comum (LARMAN, 2007, p. 43). 9Modelo de análise de software (orientada a objetos) Veja a seguir um exemplo prático de um diagrama de caso de uso que traz o contexto de uma empresa da área de segurança residencial. Na imagem deste diagrama de caso de uso, podemos identificar os atores: proprietário e administrador do sistema, e os casos de uso: arma/desarma o sistema, acessa o sistema via internet, dentre outros (Figura 4). Figura 4. Exemplo de diagrama de casos de uso e seus atores. Fonte: Pressman e Maxim (2016, p. 153) Modelo de análise de software (orientada a objetos)10 BELL, D. Fundamentos básicos de UML: o diagrama de classes. Uma introdução aos diagramas de estrutura em UML 2. IBM developerWorks, Nova York, 2016. Disponível em: <https://www.ibm.com/developerworks/br/rational/library/content/RationalEdge/ sep04/bell/index.html>. Acesso em: 16 ago. 2017. COCKBURN, A. Writing Effective Use-Cases. Reading: Addison-Wesley, 2001. FOWLER, M. UML Distilled. 3. ed. Reading: Addison-Wesley.2003. JACOBSON, I. Object-Oriented Software Engineering. Reading: Addison-Wesley, 1992. LARMAN, C. Utilizando UML e padrões: uma introdução à análise e ao projeto orien- tados a objetos e ao desenvolvimento iterativo.3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2007. PRESSMAN, R. S.; MAXIM, B. R. Engenharia de Software: uma abordagem profissional. 8. ed. Porto Alegre: AMGH, 2016. SCHACH, S.R. Engenharia de software: os paradigmas clássicos e orientado a objetos. 7. ed. Porto Alegre: AMGH, 2010. SOMMERVILLE, I. Engenharia de software. 9. ed. São Paulo: Pearson, 2011. Leituras recomendadas DEMARCO, T. Structured Analysis and System Specification. New York: Yourdon Press, 1978. SLACK, N.; CHAMBERS, S.; JOHNSTON, R.; BETTS, A. Gerenciamento de operações e de processos: princípios e práticas de impacto estratégico. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2013. YOURDON, E.; CONSTANTINE,L. L. Structured Design: fundamentals of a Discipline of Computer Program and Systems Design. Englewood Cliffs: Prentice Hall, 1979. 11Modelo de análise de software (orientada a objetos)
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