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Indaial – 2021 Teologia Prof. Jairo Demm Junkes Prof. Rafael Garcia dos Santos Prof. Teri Roberto Guérios 2a Edição inTrodução à Elaboração: Prof. Jairo Demm Junkes Prof. Rafael Garcia dos Santos Prof. Teri Roberto Guérios Copyright © UNIASSELVI 2021 Revisão, Diagramação e Produção: Equipe Desenvolvimento de Conteúdos EdTech Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech UNIASSELVI Impresso por: J95i Junkes, Jairo Demm Introdução à teologia. / Jairo Demm Junkes; Rafael Garcia dos Santos; Teri Roberto Guérios. – Indaial: UNIASSELVI, 2021. 175 p.; il. ISBN 978-65-5663-578-1 ISBN Digital 978-65-5663-577-4 1. Teologia - Estudo e ensino. - Brasil. I. Junkes, Jairo Demm. II. Santos, Rafael Garcia dos. III. Guérios, Teri Roberto. IV. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 211 Caro acadêmico, seja bem-vindo ao Livro Didático de Introdução à teologia. Ao longo do curso de teologia, em geral, o foco é proporcionar a formação sólida, para que o profissional, no exercício de seu ofício, seja capaz de se deparar com uma série de situações, que não necessariamente são perceptíveis em outros ramos de atuação. Na Unidade 1, abordaremos a origem da teologia, tendo a possibilidade de conhecer um pouco do percurso histórico que deu origem ao campo teológico, com ênfase na interpretação cristã. Também será possível compreender mais sobre a natureza dos estudos teológicos, bem como as definições próprias desse universo de conhecimento, além das divisões da teologia, seu escopo interpretativo e a função a qual a teologia se destina. Na Unidade 2, um elemento central é a relação entre a Teologia e a Filosofia. Nessa direção, será possível conhecer o contexto do pensamento filosófico grego e sua relação com o contexto pensamento cristão, tendo como grande nome Agostinho de Hipona. Ainda veremos como a racionalidade cristã permite a ocorrência de transformações internas, as reformas, sendo igualmente oportuno o contexto da Teologia Contemporânea, compreen- dendo a relação de uma teologia historicamente construída com o mundo contemporâneo. Na Unidade 3, compreenderemos como as escrituras se relacionam com o contexto teológico com as possibilidades interpretativas do contexto cristão, sendo relevante explorarmos o contexto cultural de momentos da história em que a teologia foi indispensável nas relações humanas em sociedade. Dessa forma, conheceremos alguns povos que tiveram uma grande representação na construção do conhecimento teológico, finalizando com as visões advindas do contexto profético, a fim de entendermos um pouco mais desse fascinante elemento da fé cristã. O objetivo deste livro e da disciplina não é transformar o acadêmico no maior especialista do contexto teológico, mas proporcionar uma noção geral da Teologia, provo- cando-o a buscar conhecer cada vez mais sobre a área. Esperamos que seja uma leitura enriquecedora a respeito dos diversos contextos que são as bases teológicas que co- nhecemos na contemporaneidade, bem como no sentido de levar à reflexão desse tema. É uma grande satisfação participarmos de sua formação acadêmica e esperamos que este livro seja uma motivação fascinante para a sua busca do saber! Bons estudos! Prof. Jairo Demm Junkes Prof. Rafael Garcia dos Santos Prof. Teri Roberto Guérios APRESENTAÇÃO Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você – e dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, nós disponibilizamos uma diversidade de QR Codes completamente gratuitos e que nunca expiram. O QR Code é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar essa facilidade para aprimorar os seus estudos. GIO QR CODE Olá, eu sou a Gio! No livro didático, você encontrará blocos com informações adicionais – muitas vezes essenciais para o seu entendimento acadêmico como um todo. Eu ajudarei você a entender melhor o que são essas informações adicionais e por que você poderá se beneficiar ao fazer a leitura dessas informações durante o estudo do livro. Ela trará informações adicionais e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto estudado em questão. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material-base da disciplina. A partir de 2021, além de nossos livros estarem com um novo visual – com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura –, prepare-se para uma jornada também digital, em que você pode acompanhar os recursos adicionais disponibilizados através dos QR Codes ao longo deste livro. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com uma nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página – o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Preocupados com o impacto de ações sobre o meio ambiente, apresentamos também este livro no formato digital. Portanto, acadêmico, agora você tem a possibilidade de estudar com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Preparamos também um novo layout. Diante disso, você verá frequentemente o novo visual adquirido. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar os seus estudos com um material atualizado e de qualidade. ENADE LEMBRETE Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conheci- mento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementa- res, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira, acessando o QR Code a seguir. Boa leitura! SUMÁRIO UNIDADE 1 - OS ELEMENTOS A TRANSFORMAÇÃO DA TEOLOGIA OCIDENTAL ................ 1 TÓPICO 1 - ORIGEM DA TEOLOGIA ........................................................................................3 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................3 2 A ORIGEM DO CONCEITO DE TEOLOGIA ............................................................................3 3 PLATÃO ................................................................................................................................5 3.1 OS PRÉ-SOCRÁTICOS E AS IDEIAS DE SÓCRATES QUE CONTRIBUÍRAM PARA A CONSTRUÇÃO DA TEORIA PLATÔNICA DO MUNDO DAS IDEIAS........................................... 5 3.2 PLATÃO: MUNDO DAS IDEIAS (OU TEORIA DAS FORMAS) ..........................................................7 4 ARISTÓTELES .....................................................................................................................8 4.1 O MOTOR IMÓVEL DE ARISTÓTELES ................................................................................................. 9 4.2 FILOSOFIA GREGA NA EUROPA CRISTÃ ........................................................................................ 10 5 PATRÍSTICA .......................................................................................................................105.1 SANTO AGOSTINHO .............................................................................................................................. 11 6 ESCOLÁSTICA ................................................................................................................... 12 7 VII PATRÍSTICA E ESCOLÁSTICA NO ADVENTO DA METAFÍSICA RELIGIOSA CRISTÃ .........14 8 A TEOLOGIA ANTES DE CRISTO ....................................................................................... 17 RESUMO DO TÓPICO 1 ......................................................................................................... 21 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 22 TÓPICO 2 - NATUREZA E DEFINIÇÃO DO UNIVERSO TEOLÓGICO ................................... 25 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 25 2 A TEOLOGIA COMO CIÊNCIA............................................................................................ 25 2.1 TEOLOGIA, FILOSOFIA E CIÊNCIA ....................................................................................................28 RESUMO DO TÓPICO 2 ........................................................................................................ 32 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 33 TÓPICO 3 - FUNÇÕES E DIVISÕES TEOLÓGICAS .............................................................. 35 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 35 2 A FUNÇÃO DA TEOLOGIA ................................................................................................. 35 3 AS DIVISÕES DA TEOLOGIA ............................................................................................ 38 3.1 TEOLOGIA BÍBLICA ..............................................................................................................................39 3.2 ENFOQUES E RECURSOS DA BÍBLIA ............................................................................................ 40 3.3 TEOLOGIA PRÁTICA E SEU ENFOQUE ........................................................................................... 41 3.4 TEOLOGIA HISTÓRICA ........................................................................................................................42 LEITURA COMPLEMENTAR ................................................................................................ 43 RESUMO DO TÓPICO 3 ........................................................................................................ 45 AUTOATIVIDADE ..................................................................................................................47 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 49 UNIDADE 2 — RAZÃO FILOSÓFICA DA TEOLOGIA ............................................................. 51 TÓPICO 1 — A FILOSOFIA TEOLÓGICA MEDIEVAL ............................................................. 53 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 53 2 HELENISMO ...................................................................................................................... 53 3 PATRÍSTICA ...................................................................................................................... 56 3.1 ORÍGENES ..............................................................................................................................................58 3.2 TERTULIANO ........................................................................................................................................59 3.3 SANTO AGOSTINHO ...........................................................................................................................60 4 AS DIVISÕES DA ESCOLÁSTICA ..................................................................................... 63 4.1 PRÉ-ESCOLÁSTICA (PRÉ-TOMISTA) ...............................................................................................64 4.1.1 Duns Scoto (1265-1308) ...........................................................................................................65 4.1.2 Santo Anselmo ...........................................................................................................................66 4.2 ESCOLÁSTICA (TOMISTA) ................................................................................................................. 67 4.2.1 São Tomás de Aquino ............................................................................................................... 67 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 69 RESUMO DO TÓPICO 1 ......................................................................................................... 71 AUTOATIVIDADE ..................................................................................................................72 TÓPICO 2 - REFLEXÕES DA REFORMA ...............................................................................75 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................75 2 A REFORMA .......................................................................................................................75 2.1 AS CONSEQUÊNCIAS HISTÓRICAS DA REFORMA PROTESTANTE .......................................... 76 3 AS MUDANÇAS SOCIAIS E POLÍTICAS PRODUZIDAS PELA REFORMA ........................ 77 3.1 UMA NOVA REFLEXÃO SOBRE A TEOLOGIA E A VIDA CRISTÃ .................................................78 3.2 A RESSIGNIFICAÇÃO DA FÉ EM LUTERO .................................................................................... 80 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................................81 RESUMO DO TÓPICO 2 ........................................................................................................ 90 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................. 91 TÓPICO 3 - A TEOLOGIA DA CONTEMPORANEIDADE ....................................................... 93 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 93 2 TEÓLOGOS CONTEMPORÂNEOS ......................................................................................95 2.1 FRIEDRICH SCHLEIERMACHER (1768-1834) ................................................................................95 2.2 PAUL JOHANNES TILLICH (1866-1965) ........................................................................................96 2.3 RUDOLF BULTMANN (1884-1976) ...................................................................................................98 2.4 KARL BARTH (1886-1968) .............................................................................................................100 3 VERTENTES TEOLÓGICAS CONTEMPORÂNEAS ..........................................................102 3.1 TEOLOGIA LIBERAL ...........................................................................................................................103 3.2 TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO ............................................................................................................104 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...............................................................................................106 LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................107 RESUMO DO TÓPICO3 .......................................................................................................109 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................ 112 REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 114 UNIDADE 3 — A RELAÇÃO ENTRE A TEOLOGIA E AS ESCRITURAS .................................117 TÓPICO 1 — A RELAÇÃO ENTRE A TEOLOGIA E AS ESCRITURAS ................................... 119 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 119 2 OS PROFETAS E OS APÓSTOLOS ...................................................................................120 3 A VIDA DE JESUS ............................................................................................................123 4 VIVENDO A TEOLOGIA EVANGÉLICA .............................................................................125 5 PERIGOS QUE RONDAM A TEOLOGIA EVANGÉLICA .....................................................132 RESUMO DO TÓPICO 1 .......................................................................................................136 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................ 137 TÓPICO 2 - OS POVOS E CULTURAS DE RELEVÂNCIA TEOLÓGICA ................................ 141 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 141 2 ANTIGUIDADE ORIENTAL ...............................................................................................142 2.1 CIVILIZAÇÃO/CULTURA EGÍPCIA ................................................................................................... 142 2.2 CIVILIZAÇÃO/CULTURA MESOPOTÂMICA ...................................................................................144 2.3 CIVILIZAÇÃO/CULTURA HEBRAICA ............................................................................................. 145 2.4 CIVILIZAÇÃO/CULTURA FENÍCIA .................................................................................................. 147 2.5 CIVILIZAÇÃO/CULTURA PERSA ....................................................................................................148 3 ANTIGUIDADE CLÁSSICA ...............................................................................................149 3.1 CIVILIZAÇÃO/CULTURA GREGA ..................................................................................................... 149 3.1.1 Esparta e Atenas ...................................................................................................................... 149 3.1.2 Grécia Clássica .........................................................................................................................150 4 CIVILIZAÇÃO/CULTURA ROMANA ................................................................................. 151 4.1 EXPANSÃO ROMANA .........................................................................................................................151 4.2 O IMPÉRIO ROMANO ........................................................................................................................ 152 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...............................................................................................154 RESUMO DO TÓPICO 2 .......................................................................................................155 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................156 TÓPICO 3 - AS VISÕES PROFÉTICA DOS ANTIGO E NOVO TESTAMENTOS....................159 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................159 2 AS PROFECIAS ................................................................................................................160 3 PROFECIAS NO ANTIGO TESTAMENTO ......................................................................... 161 4 PROFECIAS NO NOVO TESTAMENTO .............................................................................163 5 CUMPRIMENTO DAS PROFECIAS ..................................................................................165 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................... 167 RESUMO DO TÓPICO 3 .......................................................................................................170 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................ 172 REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 174 1 UNIDADE 1 - OS ELEMENTOS A TRANSFORMAÇÃO DA TEOLOGIA OCIDENTAL OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • compreender o contexto de origem da teologia e das civilizações antigas até o advento do cristianismo; • conhecer alguns pensadores que dão à teologia o contexto que se conhece na contemporaneidade; • entender a relação entre a teologia e outras áreas do conhecimento, como a Filosofia, bem como a atividade teológica realizada de maneira científica; • estudar os recursos e a divisão estrutural dos textos bíblicos. A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – ORIGEM DA TEOLOGIA TÓPICO 2 – NATUREZA E DEFINIÇÃO DO UNIVERSO TEOLÓGICO TÓPICO 3 – FUNÇÕES E DIVISÕES TEOLÓGICAS Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 CONFIRA A TRILHA DA UNIDADE 1! Acesse o QR Code abaixo: 3 ORIGEM DA TEOLOGIA 1 INTRODUÇÃO Neste tópico, abordaremos o conceito de teologia, com a finalidade de compreendermos melhor tal conceito, percorreremos o contexto histórico da sua origem. A formação de um teólogo tem como interesse uma interpretação ampla do universo teológico, bem como toda uma caminhada que fez com que se chegasse ao que se conhece na contemporaneidade como teologia. A relação do sujeito com o sagrado remonta a milênios da história da humanidade, datada desde os primeiros registros escritos, em placas de argila, conhecidos como escrita cuneiforme. À medida que a humanidade conseguiu compreender com mais clareza o mundo ao seu redor, também passou a ocorrer algo que podemos chamar, para fins didáticos e sem conotação pejorativa, de uma maturidade espiritual. Essa caminhada de milênios fez com que se configurasse todo um universo de concepção racional e espiritual, que gerou a interpretação que temos na contemporaneidade. Nesse sentido, esta unidade busca dar um panorama de todo esse complexo contexto, em que os estudos sugerem uma busca cada vez maior de conhecimentos, visto que, apesar do esforço de dar uma interpretação introdutória consistente, se pode deduzir que ainda há muito mais por se conhecer. TÓPICO 1 - UNIDADE 1 2 A ORIGEM DO CONCEITO DE TEOLOGIA A palavra teologia é formada por termos advindos do latim (Theologia) e também do grego (Theologos, em que theos significa “deus” e logia ou logos, “estudo”), sendo entendida como um estudo sobre a existência de Deus, das questões referentes ao conhecimento da divindade, assim como de sua relação com o mundo e com os homens. A palavra teologia não tem sua origem no mundo cristão; já na Grécia clássica, encontramos esse termo ligado à filosofia. A conceituação do termo teologia surgiu, pela primeira vez, no pensamento grego, no famoso livro A República, do filósofo grego Platão, o qual fez referência à compreensão da natureza divina por meio da razão, em oposição à compreensãoliterária própria da poesia grega. A filosofia de Platão adquiriu força e espalhou-se pela Europa graças ao Império Romano e aos padres cristãos, que, após sorverem avidamente as ideias de Platão, fundindo-as com o cristianismo, num período histórico da filosofia chamado de 4 Helenismo, caracterizado pela fusão e harmonização dos pensamentos greco-romano e judaico-cristão. Assim, surgiu o movimento chamado de Patrística, no qual o seu mais eminente representante foi Santo Agostinho. Aliás, a Teoria da Formas de Platão serviu de maneira perfeita para que os vindouros filósofos cristãos medievais a adaptassem à ideia de céu, de Deus e das almas que habitam o paraíso, como veremos mais adiante. Posteriormente, com a invasão dos árabes na Península Ibérica, as ideias de Aristóteles, preservadas e trazidas por eles, popularizaram-se na Europa. Nesse ambiente, Tomás de Aquino, padre católico dominicano italiano do século XIII, erigiu sua portentosa filosofia. Em sua obra mais famosa, a Suma Teológica, Aquino, imbuído da concepção bíblica de Deus como criador do Universo, e tendo ele profundo conhecimento da filosofia de Aristóteles, simplesmente reinterpretou a concepção aristotélica de Motor Imóvel como sendo este motor o Deus Judaico-Cristão, como também será visto mais adiante. Aristóteles não usou o termo teologia ou debateu sua origem de maneira direta, mas, valendo-se de suas conceituações filosóficas e atinentes ao, por ele, definido Motor Imóvel, permitiu que os vindouros filósofos medievais, como Tomás de Aquino, o mais eminente escolástico, erigissem sua Filosofia baseada na fé cristã e calcada em um Deus único e criador de tudo. FIGURA 1 – O MOTOR IMÓVEL FONTE: <https://bit.ly/3psZjAE>. Acesso em: 15 set. 2020. Assim, é possível entendermos que teologia não é estudar as religiões ou a história das religiões, pois elas se referem à tradição religiosa ou à fé a partir da perspectiva de alguém; a teologia busca definir Deus e sua expressão na fé pessoal desde uma perspectiva interna. 5 3 PLATÃO Platão foi um filósofo grego, discípulo de Sócrates, fundador da Academia Platônica e mestre de Aristóteles. Acredita-se que seu nome verdadeiro tenha sido Arístocles, sendo Platão um apelido que, provavelmente, fazia referência a sua característica física, tal como o porte atlético ou os ombros largos, ou ainda a sua ampla capacidade intelectual de tratar de diferentes temas. Platão ocupou-se de vários temas, como ética, política e teoria do conhecimento. Por volta dos 20 anos, encontrou o filósofo Sócrates e tornou-se seu discípulo até a morte deste. Platão também é considerado o pai da Metafísica, devido à conceituação conhecida como Mundo das Ideias ou Teoria das Formas, a qual erigiu numa tentativa de conectar ideias advindas de filósofos pré-socráticos com outras ideias advindas de seu mestre Sócrates. Em viagens em terras fora da Grécia, buscou implantar seus ideais políticos, mas não obteve sucesso. Então, retornou à Atenas, onde fundou a Academia Platônica, instituição que logo adquiriu prestígio e foi procurada por muitos jovens e, até mesmo, homens ilustres, a fim de debater ideias. Seu aluno mais conhecido foi Aristóteles; Platão permaneceu na direção da Academia até a sua morte. FIGURA 2 – PLATÃO (NASCIDO EM ATENAS EM 428/427 A.C., FALECIDO EM ATENAS EM 348/347 A.C.) FONTE: <https://bit.ly/3zaTXOM>. Acesso em: 6 set. 2020. 3.1 OS PRÉ-SOCRÁTICOS E AS IDEIAS DE SÓCRATES QUE CONTRIBUÍRAM PARA A CONSTRUÇÃO DA TEORIA PLATÔNICA DO MUNDO DAS IDEIAS Para explicar a Teoria das Formas ou Mundo das Ideias, como concebido por Platão, deve-se revisitar as teorias de outros filósofos que o precederam. Sobre os conceitos erguidos por filósofos anteriores, Platão conseguiu se apossar e combinar essas teorias, para moldar a sua famosa teoria Metafísica do Mundo das Ideias. 6 Por exemplo, seu melhor amigo de infância, por acaso, cruzou o seu caminho após dez anos, mas você o reconheceu, mais gordo ou magro, alto ou baixo; a essência do seu amigo, a qual você conheceu, em linhas gerais, é a mesma – portanto, você o reconhece. Assim, o ser é, não interessando o que virá a ser. GIO Alguns dos filósofos que inspiraram Platão foram: • Parmênides, filósofo grego pré-socrático natural da cidade de Eleia, que viveu entre 530 e 460 a.C. Foi o autor da conhecida frase “o ser é, o não ser não é”, o que o tornou o primeiro pré-socrático a intuir a natureza das nossas percepções a respeito das coisas humanas, visto que os filósofos pré-socráticos, até então, haviam filosofado apenas sobre coisas do mundo (ou physis, a palavra para Mundo, em grego). Essa famosa frase basicamente condensa a ideia da capacidade humana de conhecer. Assim, ele quis dizer que o que importa é o conhecimento básico e essencial que temos a respeito de algo, não interessando como esse algo foi ou virá a ser. Nosso conhecimento se apoia na essência da coisa (para os gregos, a coisa, cada coisa ou objeto ou corpo é um ser). • Heráclito, também filósofo grego pré-socrático da cidade de Éfeso, viveu entre 500 e 450 a.C. e foi o autor da conhecida ideia de que “a gente nunca entra duas vezes no mesmo rio, pois nós e o rio estamos em constante mudança”. Ele afirmou que o mundo está em constante devir (ou vir a ser). Ou não conseguimos conhecer verdadeiramen- te o ser, pois este está em constante vir a ser. Portanto, ele defendia que o conheci- mento absoluto das coisas jamais seria alcançado. Por exemplo, após o dia da compra de um carro, no dia seguinte, valendo-se da conceituação de Heráclito, esse carro não seria o mesmo do dia em que foi comprado; ele estará mais sujo e desgastado. Assim, dizia Heráclito, todo o mundo e tudo nele. A cada fração de tempo, as coisas deixam de ser como eram e adquirem uma nova realidade, mas que imediatamente também muda. Tudo muda pela ação física, química e biológica do universo. Portanto, o ser não nos é possível de ser conhecido e alcançado, pois tudo está em vir a ser. • Sócrates viveu entre 496 e 399 a.C. Também conceituando sobre a capacidade do homem conhecer, defendia a ideia de que, em vez de nos preocuparmos com a apresentação geral de um problema, como a ética, por exemplo, deveríamos nos centrar na essência da ideia que constrói esse problema. Por exemplo, quando pensamos sobre o que fazemos para sermos felizes, inúmeras respostas encontramos. Mas, essencialmente, o que podemos fazer na busca da felicidade (em grego, eudaimonia)? Poder ou riqueza, ou bens materiais, ou reconhecimento. Inúmeras respostas seriam possíveis, mas Sócrates, buscando a essência do conceito felicidade, define que esta só é atingida ao se ter uma vida virtuosa. 7 Somente pelas virtudes e cultivando-as, qualquer homem, seja rico ou pobre, preto ou branco, qualquer tipo de vida, só gerará uma pessoa completa se ela o conduzir, por meio das virtudes, para a felicidade. Ainda exemplificando e usando exemplos mais conhecidos, outros famosos questionamentos de Sócrates foram “O que é o bem? O que é o belo?”, que remetem ao centro do pensamento socrático. Claro que sabemos definir o que é belo ou bem, mas o que, em comum, nossas definições têm? Em geral, o bem é ajudar aos necessitados e ser justo com todos, mas o que existe de comum nesses “bens”? Sócrates, buscando a essência das coisas, definiu que a essência do bem é a realização de algo que culmine em gerar a felicidade. 3.2 PLATÃO: MUNDO DAS IDEIAS (OU TEORIA DAS FORMAS) De posse das concepções advindas dos dois pré-socráticos supracitados mais a busca das essências advindas de Sócrates, e ciente de que, apesar de todas estarem corretas, e, em certo grau, até mesmo se contradizerem, Platão conceituou o chamado Mundo das Ideias, Teoria das Ideias ou Teoria das Formas, que o tornou o fundador da Metafísica (apesar de este nome ter surgido apenas cinco séculos após Platão). No Livro XII da obra A República, Platão expos a sua ideia de como aprendemos as coisas, explicandode que maneira, para ele, o ser humano é capaz de aprender. Para Platão, nosso espírito existia num plano acima deste em que estamos, onde o espírito existia e tinha contato com toda e qualquer forma ou ideia ou conhecimento existente no mundo. Nesse plano em que o espírito se encontrava, as formas ou ideias de todas as coisas do mundo são perfeitas. Quando estamos prontos para o nascimento, o espírito encarna trazendo toda essa carga de conhecimento. Entretanto, ao nascermos, não nos lembramos de nada; nas- cemos como um papel em branco. Conforme somos colocados diante das coisas e das ex- periências da vida e do mundo, nos lembramos paulatinamente de tudo, ao que entendemos como “conhecer”. Tudo de real ou irreal que conhecemos já nos era conhecido previamente, mas na sua forma perfeita. No nosso mundo, porém, as coisas não estão nunca na sua for- ma perfeita; o que captamos, com nossos sentidos, são as formas imperfeitas. Essa cons- trução teórica de Platão consegue somar a ideia de ser, de Parmênides, de vir a ser e as imperfeições deste, de Heráclito, e ainda o conceito das essências das coisas, de Sócrates. FIGURA 3 – O MITO DA CAVERNA FONTE: <https://bit.ly/3psrdNb>. Acesso em: 10 set. 2020. 8 Portanto, podemos deduzir que, para Platão, nascemos com todo o arcabouço do conhecimento, de forma inata, mas inconscientes disso. Sob a égide da Teoria do Conhecimento, Platão é chamado de inatista (ou racionalista). A alegoria da caverna pode ajudar a demonstrar isso: em uma caverna profunda, com uma única abertura para o mundo exterior e por onde a luz do sol passa, sentado no fundo dessa caverna, acorrentados de costas para a entrada e de frente para o fundo, existe um grupo de homens, que sempre esteve assim, sendo a única realidade deles a projeção das sombras das coisas que passavam pela abertura da caverna, que se delineavam no fundo. Portanto, qualquer ideia sobre as coisas do mundo se faria pelas suas formas projetadas no fundo da caverna. Por exemplo, esses homens não conheciam um cavalo real, mas, por cavalo, entendiam a sombra projetada no fundo da caverna. A ideia de cavalo, para eles, é essa sombra, pois é apenas isso que eles conhecem. Entretanto, um dia um desses homens conseguiu escapar das correntes e dos grilhões que o prendiam e saiu da caverna. Lá fora, ele ficou maravilhado, ao descobrir que o mundo que eles conheciam era apenas uma projeção da realidade, e a realidade é muito mais complexa e linda. Ele resolveu voltar e contar para os outros homens que ainda estavam acorrentados. Quando retornou e contou aos seus companheiros que o mundo deles é apenas uma projeção da realidade, os outros não acreditaram. A história continua, mas, até aqui, já temos elementos suficientes para elucidar o que essa maravilhosa estória nos ensina. Através dessa alegoria do Mundo das Formas, Platão conseguiu juntar tanto Parmênides e seu “ser é, não ser não é”, Heráclito e seu “devir” ou “vir a ser” e Sócrates e suas “essências” em uma teoria que a todos abarca, para explicar como o homem é capaz de obter conhecimento sobre o mundo. INTERESSANTE 4 ARISTÓTELES Aristóteles também foi um filósofo grego, nascido na cidade de Estagira, no que, hoje, chamamos de Grécia, mas que, na época, era pertencente à Macedônia. Todos os aspectos da filosofia de Aristóteles continuam sendo objeto de estudos acadêmicos. Embora Aristóteles tenha escrito muitos tratados e diálogos preparados para publicação, somente um terço de sua produção original sobreviveu. Acredita-se que tudo o que hoje conhecemos seja, de fato, anotações feitas por seus alunos e outras anotações que eram usadas por ele mesmo para ensinar. Apesar disso, sua produção foi profícua; escreveu sobre inúmeros temas do conhecimento humano, sendo que muitas áreas, como lógica, biologia, física, ótica, astronomia, psicologia, ética, política, entre outras, o consideram seu estudioso ou até mesmo seu fundador. Após a morte de Platão, com quem sempre esteve junto, abriu sua própria escola, chamada de Liceu, onde seguiu os estudos de seu mestre. Muitas vezes, ele se contrapôs totalmente às ideias de Platão, inclusive erigindo teorias totalmente diversas. 9 FIGURA 4 – ARISTÓTELES (NASCIDO EM ESTAGIRA EM 384 A.C., FALECIDO EM ATENAS EM 322 A.C.) FONTE: <https://bit.ly/3w2efbg>. Acesso em: 6 set. 2020. 4.1 O MOTOR IMÓVEL DE ARISTÓTELES Por meio de sua mente filosófica e partindo da observação do mundo e da vida, Aristóteles facilmente percebeu, como já havia dito anos antes o filósofo pré- socrático Heráclito, que tudo está em movimento, entendendo movimento como o envelhecimento de uma pessoa, o enferrujamento do ferro ou o esfriamento de uma xícara de café. Tudo isso como um movimento que ia do mais novo para o mais velho, do metálico ao enferrujado ou do quente para o frio – ir de um estado físico a outro estado físico é, por ele, entendido como um movimento. Para Aristóteles e sua filosofia, então, movimento pode ser o deslocamento físico ou o deslocamento de um estado a outro. Aristóteles também definiu, partindo do mesmo raciocínio, que um movimento só ocorre em decorrência de um movimento anterior que o preceda e o gere – algo ocorre, sempre, se outro algo o causar. Isso é chamado de causalidade. Por exemplo, uma xícara de café esfria na medida em que o calor se “movimenta” e se dissipa do café quente para o meio, mais frio. Usando um exemplo mais afeito à atualidade, mas que pode demonstrar isso mais facilmente: impulsionados pela energia gravitacional, a Via Láctea se movimenta em relação às demais Galáxias do Universo, o Sistema Solar gira em relação a outros sistemas locais, os planetas giram em torno do Sol, a lua gira em torno da Terra, os átomos que compõem as coisas da Terra são formados por partículas que giram ao redor de outras partículas, e assim repetindo esse movimento indefinidamente. Portanto, um movimento se segue outro movimento; um movimento causa o outro movimento. Entendemos, assim, que só haverá um movimento se outro o preceder, o causar. Se fizermos o raciocínio reverso, ou seja, um movimento só ocorreu porque outro o precedeu, e este que o precedeu só ocorreu porque um anterior o gerou, e assim por diante, inexoravelmente deve-se ter algo que origine um primeiro movimento a partir do qual os outros continuam e por ele foram causados. A essa origem do primeiro movimento, Aristóteles nominou de Motor Imóvel ou a Causa Primeira. Assim, existe 10 um gerador do primeiro movimento, o primeiro motor, um Motor Imóvel e que imprimiu o movimento inicial, o qual, então, pôs todo o Universo em movimento perpétuo: “É necessário chegar a um primeiro motor, não movido por nenhum outro, e este, todos entendem: é Deus” (AQUINO, 1984, p. 130). CONCEPÇÃO DE MOTOR IMÓVEL OU CAUSA PRIMEIRA Aristóteles argumenta nos livros 8 da Física e 12 da Metafísica “que deve haver um ser imortal e imutável, responsável por toda a integridade e ordem no mundo sensível”. O estagirita (modo muito usado em filosofia para se referir a Aristóteles, que nasceu em Estagira) parte de uma premissa geral de que tudo o que existe possui uma causa. O Universo existe e teve um começo. Nem sempre existiu. Portanto, se antes não existia e passa a existir, sempre se pensa que, para isso ocorrer, houve e há uma causa, pois não existe a possibilidade de, do nada, vir algo (do não ser, é impossível o ser). Percebemos facilmente que cada ser, ou ente, possui uma causa, que esta que o causou também possui uma causa, e assim por diante. Contudo, não é possível recuar infinitamente numa série de causa; ou seja, o retorno ao infinito é impossível, pois, senão, o Universo nem existiria, pois não teria um começo. Portanto, é lógico que deve haver uma causa primeira, a qual é necessariamente incausada, ou seja, algo que não teve algo anterior que a causasse. Essa causa incausada gerou tudo o mais, pois desse ser seguiu- se outro, do qual seguiu-se outro, e assim continuadamente atésurgirem todos os seres que compõe o Universo. Inclusive você. IMPORTANTE 5 PATRÍSTICA A Patrística é o período de aproximação entre as concepções teológicas semitas/ cristãs e a filosofia platônica. Coube a Santo Agostinho, o maior filósofo cristão desse período, o papel de transformar os conceitos, até então existentes na Patrística, em algo 4.2 FILOSOFIA GREGA NA EUROPA CRISTÃ Os passos da Filosofia advinda da Grécia Antiga para o mundo cristão foram construídos pelo cultivo de escritos filosóficos que passaram a ser popularizados por vários pontos do Império Romano. Platão e sua filosofia foram vastamente estudados no início da era cristã, assim como muitos outros, como os escritos dos filósofos conhecidos como Estoicos ou Epicuristas, ou Cínicos, e muitos outros. Nos primeiros anos da era cristã, Aristóteles era um autor praticamente desconhecido na Europa. Suas ideias só chegaram à Europa pelos escritos de filósofos árabes, como Avicena e Averróis, após a invasão e a colonização da Península Ibérica (atual Espanha e Portugal) pelos árabes. Esses filósofos trouxeram a filosofia aristotélica que, apesar de perdida na Europa, havia sido mantida e estudada no mundo árabe. 11 mais maduro, vinculado à filosofia. Essa união de cristianismo e filosofia foi conseguida por Agostinho com tal êxito que a Patrística assumiu seu verdadeiro arcabouço apenas após a revolução conceitual por ele perpetrada. FIGURA 5 – CULTURA MEDIEVAL FONTE: <https://bit.ly/3g0WS5o>. Acesso em: 20 set. 2020. A Patrística conseguiu êxito total ao aproximar o conceito metafísico de Platão e seu Mundo das Ideias com o conceito religioso judaico-cristão de Paraíso Celeste. Se existiu uma forte influência da filosofia pagã (grega) na teologia cristã, também o oposto se deu; não havia, na época, como chegar aos conceitos filosóficos gregos sem enten- dê-los como embebidos com a terminologia das Escrituras. Essa aproximação da filoso- fia com o cristianismo foi de tal magnitude, na Patrística, que o filósofo neoplatônico Nu- mêncio disse: “Platão é um Moisés falando em grego” (HEBECHE; DUTRA, 2008, p. 27). 5.1 SANTO AGOSTINHO Santo Agostinho, ou Agostinho de Hipona, nasceu em Tegasta, em 354, e faleceu em Hipona (Hippos) em 430, mas viveu como um romano, mesmo não residindo na cidade de Roma, pois sempre esteve em terras pertencentes ao Império, tendo, inclusive, um cargo de orador dentro do império, na cidade de Milão. Antes pagão, tornou-se, posteriormente, um dos maiores pensadores e filósofos cristãos, ajudando a espalhar através das fronteiras do vasto Império Romano a doutrina cristã, a qual, de bagagem, levava a filosofia grega, pela fusão dessa doutrina religiosa (cristianismo) com as ideias do filósofo grego Platão. Essa fase da História da Filosofia é conhecida por Helenismo, quando ocorre a fusão da filosofia grega e da teologia semita, e emerge a Patrística, período caracterizado pela manutenção e pela interpretação do pensamento filosófico grego por padres e pensadores cristãos. Agostinho, antes de se tornar um religioso cristão, era, então, um funcionário, um orador a serviço do Rei de Milão. Tinha mulher e um filho. Também vivia com sua mãe que, diferentemente dele, era cristã. Ele se declarava um Maniqueísta (uma espécie de up grade do Gnosticismo, que se iniciou na Pérsia). 12 Já padre cristão influente, foi nomeado Bispo de Hipona. Naquele período histórico, o Império Romano do Ocidente estava entrando em crise, principalmente pelas constantes invasões bárbaras. Num determinado momento desse bispado, a Cidade de Hipona foi sitiada pelo líder bárbaro germânico Vândalo, chamado de Genserico. Vendo a cidade em situação irreversível, Agostinho foi até o líder germano e ofereceu-se em troca da fuga dos inocentes. No entanto, foi poupado e, ao retornar à cidade, Agostinho proferiu um discurso em que começou a explanar sobre a igualdade dos homens a despeito da origem, pois enxergou em Genserico a mesma essência de humanidade do povo ao qual ele próprio pertencia. FIGURA 6 – SANTO AGOSTINHO (NASCIDO EM TEGASTA EM 354, FALECIDO EM HIPONA EM 430) FONTE: <https://bit.ly/2SjnxRD>. Acesso em: 6 set. 2020. Na época de Agostinho, o cristianismo já era a religião oficial do Império Romano. Entretanto, não havia uma unificação da religião, existindo inúmeras correntes cristãs: Gnosticismo, Montanismo, Monarquianismo, Valentianismo, Marcianismo e Patrologia Grega. Além disso, inúmeros pensadores, como Orígenes, Contra Celso etc., também conduziram as suas próprias versões do cristianismo. Coube ao esforço e ao pensamento de Agostinho e sua obra mais famosa, Cidade de Deus, a defesa de uma verdadeira Igreja Católica Apostólica Romana. Entre as inúmeras designações cristãs antes existentes, ela foi a que se tornou oficial e majoritariamente única, até a Reforma Protestante. ATENÇÃO 6 ESCOLÁSTICA A harmonização dos preceitos cristãos e as definições e as ideias de Aristóteles fundaram o movimento filosófico cristão chamado de Escolástica. Tomás de Aquino, com quem esse movimento filosófico/religioso começou, fez isso sob inúmeros aspectos, mas, principalmente, sempre apoiando e se valendo da definição de quatro tipos de leis: 13 • I- Lei eterna ou a razão reguladora de Deus. • II- Lei divina ou os mandamentos revelados. • III- Lei natural ou a parte da lei eterna em que razão de Deus é aplicada às criaturas racionais. • IV- Lei humana ou a lei natural própria das específicas comunidades, sendo esta a lei epistêmica primeira. Essas leis, maiormente as leis III e IV, compilam que o ponto central da Filosofia Moral tomista, ou a lei natural, proclama que se faça o bem e evite-se o mal. Esse é, sem dúvida, o princípio ético primeiro de Tomás de Aquino, para o qual tanto as leis naturais como as morais podem ser igualmente apreendidas pela razão. Mesmo corroborando com Aristóteles e sua observação de que a felicidade é o fim último e o bem completo, Aquino considera que o fim último só pode estar atrelado ao que seria tido como a perfeição – esta só pode ser atingida com a contemplação de Deus após a morte, na vida eterna ao lado de Deus. Em vida, salienta que o bem da alma é viver segundo a razão e as virtudes a ela atreladas. Sobre isso, Aquino considera as virtudes como hábito operativo, ou meios em busca de um fim, esclarecendo que, entre os hábitos operativos, alguns visam sempre ao mal, como os vícios, outros ora o bem ou o mal, como opiniões que podem ser, de acordo com a circunstância, verdadeiras ou falsas. Entretanto, ele define que as virtudes não são hábitos operativos cujo fim é, inexoravelmente, o bem. Como em Aristóteles, ele elege as Virtudes Cardeais: Sabedoria, Justiça, Coragem e Temperança (Prudência). FIGURA 7 – ESTUDO TEOLÓGICO FONTE: <https://bit.ly/3x1xMbX>. Acesso em: 5 set. 2020. Tomás de Aquino apresenta, ampliando o que os gregos haviam definido, as chamadas virtudes teológicas ou teologais, distinguindo-as das demais e tendo-as como as mais perfeitas. Ele reforça que, antes de elas se relacionarem com a felicidade humana, estão vinculadas com o supra-humano, ordenada por Deus; ou seja, estão vinculadas com a felicidade sobrenatural, beatitude (felicidade e paz eterna, fim maior de qualquer virtude). 14 Das virtudes teologais, em Aquino, temos, em primeiro lugar, a fé como geradora das outras duas – a esperança e a caridade (aqui, como a caridade implica amor a Deus e a todas as criaturas, pode-se trocar ou definir caridade por amor). Assim, estando a caridade/amor vinculada a um amor incondicional a Deus e aos outros homens, além de todas as criaturas que são frutos da obra criadora de Deus, a caridade passa a ser a mais perfeita das virtudes teológicas. Portanto, diferentemente da ordem de geração das virtudes teologais, quando se analisa sob a ótica da perfeição, a caridade/amor precede a fé, seguida pela esperança. SÃO TOMÁS DE AQUINO Tomás de Aquino nasceu na Itália, em Roccasecca,em 1225, e faleceu em Fassanova, em 1274. Foi um filósofo cristão medieval do século XIII, tendo sido o representante maior da linha filosófica cristã conhecida como Escolástica, na qual a fusão do pensamento judaico- cristão e as ideias filosóficas de Aristóteles começaram a emergir e ser ensinadas em inúmeros mosteiros da Europa. As leis divinas cristãs, a virtude grega e sua racionalidade são harmonizadas e se complementam em Aquino. NOTA TOMÁS DE AQUINO (1225-1274) FONTE: <https://bit.ly/3prSxLz>. Acesso em: 6 set. 2020. 7 VII PATRÍSTICA E ESCOLÁSTICA NO ADVENTO DA METAFÍSICA RELIGIOSA CRISTÃ A Patrística, como já vimos, foi o movimento dos primeiros padres católicos, cujo maior representante foi Santo Agostinho. A Patrística recebeu esse nome por abrigar os primeiros padres, “pais”, da Igreja Católica. Em seu início, essa fase da filosofia serviu ao pensamento cristão por meio das apologias do cristianismo, pois o pensamento cristão, ainda no século III d.C., não era bem difundido na Europa. Coube à Patrística fundir a Metafísica Grega com a teologia Judaica e as primeiras escolas cristãs. A essa nova roupagem advinda dessa fusão entre a Metafísica Filosófica Grega 15 e a Metafísica Religiosa Judaico-Cristã apoia o aparecimento do que chamamos de Helenismo. Segundo Paul Tillich, foi o Helenismo o movimento que mais influenciou os novos teólogos e, principalmente, os pensamentos de Platão formaram as bases da fase do pensamento cristão, os componentes da chamada Patrística. O mesmo Paul Tilich aponta cinco elementos fundamentais nessa linha: • o primeiro é o conceito de transcendência; • o segundo é a desvalorização da existência; • o terceiro é a doutrina da queda da alma da eterna participação no mundo essencial ou espiritual, sua degradação terrena num corpo físico, que procura se livrar da escravidão desse corpo, para, finalmente, se elevar acima do mundo material; • o quarto é a ideia da providência divina; • o quinto elemento presente na teologia cristã vem de Aristóteles, que aponta o divino como forma sem matéria, perfeito em si mesmo (HEBECHE; DUTRA, 2008, p. 37). A Escolástica, também já citada anteriormente, foi um movimento iniciado no século XIII, quando as escrituras sagradas cristãs passaram a ser lidas pelos escritos filosóficos de Aristóteles. Nessa época, pela invasão árabe ocorrida na Península Ibérica, os ensinamentos de Aristóteles se popularizaram na Europa. A concepção de Deus, inicialmente sob o viés platônico (Patrística) e, posteriormente, aristotélico (escolástica), entrou na igreja cristã e exerceu enorme influência, sobretudo na formulação da teologia medieval. Assim como a filosofia, a teologia também parte da mesma concepção de algo que não existe no mundo físico. Foi pelas mãos dos filósofos medievais cristãos que surgiu a comparação e o paralelismo da teologia Cristã e a Metafísica Platônica (Patrística) e, posteriormente, a Metafísica Aristotélica (Escolástica). Daí, o entendimento de Deus e das demais entidades não físicas e atreladas ao cristianismo passam a ser abordadas e entendidas sob a mesma ótica presente no pensamento platônico e aristotélico. Hoje, a Metafísica, como disciplina de estudo, pode se dividir em Metafísica Teológica, Metafísica Filosófica (Ontologia), Metafísica Psicológica, entre outras. No entanto, em qualquer abordagem, seja teológica, filosófica etc., a concepção de algo pertencente a uma definição advinda de outro mundo, que não se faz presente fisicamente no mundo que habitamos, está sempre presente. 16 SE DEUS EXISTE Pensamento filosófico de Aquino – Metafísica da divindade Essa questão, ainda tão pujante em nossos dias, também habitava as mentes desde o aparecimento desse ser inteligente, chamado de Homo sapiens sapiens. Isso não seria diferente na Europa cristã do século XIII, época do auge da Escolástica. Dessa época, partiram as demonstrações (tidas, então, como inequívocas) da existência de Deus. Esse escrito baseia-se no material fornecido sob a forma de livro-texto da matéria História da Filosofia II, Se Deus existe e Anexo IV – Aquino, disponíveis no site de Ensino a Distância (EAD) da Filosofia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). À época de Aquino, o maior intento da doutrina cristã, além de tentar transmitir a “boa nova” do cristianismo e toda a benevolência, magnificência e grandeza do Deus cristão, seria tornar a existência dele ser de maneira in contesti. Daí, partindo-se da essência desse Deus, formulam-se algumas hipóteses, conforme explicado a seguir. Se Deus existe a) Se a existência de Deus é por si mesma conhecida: • Qualquer homem percebe através de seu intelecto o todo em sua volta e consegue definir as partes deste todo. Também consegue apreender as maravilhas e a perfeição desse mesmo todo em volta. Se as partes podem ser identificadas como maravilhosas, perfeitas, o todo é de tal grandeza repleto de predicados belos que só pode ser domínio de algo maior, mais belo e perfeito. Como facilmente se apreende no mesmo intelecto de algo tido como o maior, faz-se impossível algo ainda maior. E este algo maior é Deus. • A verdade existe a despeito de conceder-se ou não esse predicado (verdade) a um fato. Ora se essa verdade existe a despeito de seu reconhecimento e “Deus é a própria verdade” (Jô, 14:6), então, Deus existe. Considerando-se que Deus não é autoevidente, e em sendo Deus, por exemplo, a felicidade, não se pode atrelar diretamente o fato de se sentir feliz com Deus. Entretanto, deve-se entender que a verdade, apesar de existir por si, é fruto da existência de “uma primeira verdade”, e isso não pode ser, de fato por si, sem essa “primeira verdade” ter sido erigida – esse arquiteto que a erigiu é Deus. b) Se é demonstrável a existência de Deus: • Questionamento: por sua existência ser artigo puro da fé, a existência de Deus é indemonstrável, de maneira direta; poder-se-ia fazê-lo através de seus atos por nós detectados e a Ele atribuídos. º Resposta: as coisas existentes e de origem inexplicável existem por si, e necessariamente precisam de um criador, conectando a existência de “algo” (alegoricamente chamado de efeito) à existência de “algo que a criou” (causa) –assim, demonstra-se a existência de um Deus pela ideia causa × efeito. • Questionamento: sem a possibilidade de se definir algo em relação a Ele, não se pode constatar sua existência. Deus é indefinível e, portanto, improvável. º Resposta: ao demonstrar algo através de seu efeito, necessariamente, deve-se empregar o efeito na definição da causa. • Questionamento: porém, pode-se alegar que atos são finitos, mas o citado Deus é infinito, gerando aí uma incongruência que fala a favor da não existência deste Deus. º Resposta: a isso alegar-se-ia que, a despeito de conhecermos seus atos e podermos demonstrá-Lo através desses mesmos atos, Deus não se faz possível em se conhecer em sua essência. IMPORTANTE 17 c) Se Deus existe: • Pode-se questionar, ainda, a existência de Deus: a) Se por Deus se apreende o bem infinito, como pode existir o mal? b) A existência de Deus faz-se desnecessária na medida em que, recorrendo-se a princípios outros, como o natural, a natureza e o proposital, representado pela ação voluntariosa do homem, poder-se-ia explicar tudo o que no mundo a nós aparece. º A resposta a isso se dá em cinco vias, formuladas por Tomás de Aquino: I- O movimento, pois sempre, quando ocorre, se deve a uma ação de outro. Esse outro, atuando sobre o objeto a ser movido, imprime a este “um ato” que gera o segundo ato, o de mover-se. E qual é o ato que gera o calor do fogo que virá a consumir a madeira, ou o ato que gera o movimento do sol ou da lua, senão Deus? Melhor explicando: poder-se-ia aventar uma sequência de movimentos que geram outros movimentos, e que geram outros, e assim indefinidamente. Entretanto, mesmo nesse raciocínio, o primeiro movimento tem que ser necessariamente gerado por um antecedente movimento,e, imaginando-se que este último movimento citado é o primeiro da sequência, algo deve ter sido o responsável por colocá-lo em movimento, por gerá-lo, e este algo é Deus. II- A perfeição do mundo, a eficiência das coisas, a correta ordenação e combinação dos elementos só podem ser oriundas de um criador – uma relação causa × efeito. Contudo, só ocorrerá o efeito se, e somente se, houver um ser causador, uma causa. E esse causador é Deus. III- Obviamente, se algo existe, em dado momento iniciou sua existência. Nem que esse algo exista sempre e tenha se originado de outra coisa, e esta coisa de outra, e assim indefinidamente, houve uma primeira coisa. E se essa primeira coisa, hipotética, existiu, ela obrigatoriamente iniciou-se a partir de algo que a criou. Este algo é Deus. Novamente, poder-se-ia aventar sobre o que o surgimento de Deus é, e a isso prontamente se responde que Deus existe em si e é a causa de todos os outros seres existirem. IV- O grau em que os predicados se apresentam são uma prova contundente da existência de Deus. Os predicados variam de intensidade de apresentação em diferentes indivíduos; se usarmos, por exemplo, a bondade, o máximo da bondade a que se possa examinar, o que nunca pode ser atribuído a nada existente no planeta, só pode ser atribuído a Deus. V- A aparente ordenação do mundo – e aparentemente essa ordenação tem sempre um objetivo – parece ter controle inteligente. Animais, mesmo os simples, sempre operam de maneira intencional, mas não racional, como que ordenados por algo intelectualmente superior. Esse algo intelectualmente superior, que ordena o mundo natural e dos homens, se chama Deus. 8 A TEOLOGIA ANTES DE CRISTO O termo teologia já existia antes de Cristo, embora tenha surgido em Platão, o conceito estava presente desde os pré-socráticos. Platão, certamente, foi o mais permanente e influente pensador grego. Em sua obra Timeu, ele disse: “Tudo o que se gera é necessário que seja gerado por alguma coisa sem a qual não é possível que alguma coisa seja gerada [...]” (PLATÃO, 2000, p. 28). Aqui, abertamente, Platão conjectura sobre algo como criador do todo. Esse conceito foi, posteriormente, mais bem apresentado pelo seu discípulo Aristóteles. 18 Como esmiuçado no Mundo das Ideias, visto anteriormente em Platão, ele acreditava que, ao nascimento, o corpo é encarnado por uma alma advinda do Mundo das Ideias, e que essa alma traz consigo o conhecimento de todas as coisas do mundo. Nesse momento da encarnação da alma no corpo, esquecemos de tudo o que a nossa alma sabe e conhece. Platão, então, define que conhecer algo, na verdade, é relembrar desse algo que já era previamente conhecido pela alma. Portanto, em Platão, conhecer é uma anamnese, que é o oposto de amnésia, que sabemos se referir a não conseguir lembrar de nada. Anamnese é relembrar, é algo como, confrontados a uma situação, fato ou objeto, nosso cérebro ter que relembrar o que aquilo é. Platão escreveu em Fédon: “E isto não poderia ser, se a nossa alma não tivesse vivido em outro lugar, antes de haver entrado nesta forma de homem; pelo que, ainda por esta razão, se torna evidente que a alma é algo imortal” (PLATÃO, 2000, p. 72-73). Um conceito advindo também dele e que foi apreendido pelo cristianismo é de que as almas puras voltam para o lugar de onde vieram, o paraíso das almas, o Mundo das Ideias, o lugar divino (PLATÃO, 2000, p. 248). A alma boa “irá para o que lhe assemelha, para o que é invisível, para o que é eterno, divino, intelectual e imortal, aonde, chegando, será bem-aventurada, livre dos erros, da insensatez, dos temores dos selvagens amores e das outras desgraças humanas, passando todo o seu tempo com os deuses” (PLATÃO, 2000, p. 81). “As outras sofrerão o juízo” (PLATÃO, 2000, p. 249). Coube ao filósofo Andrônico de Rodes, tabulando e organizando os escritos de Aristóteles, pela primeira vez, usar o termo Metafísica para nominar um escrito de Aristóteles que, até hoje, é conhecido por esse nome. O termo se referiria à alguma ciência que não era a Ética, a Lógica, a Física, ou qualquer outro pensamento de Aristóteles compilado por Andrônico. Esse volume era composto por escritos que não se encaixavam em nenhum dos anteriores. Como era o volume que ocupava, na coleção, o espaço que ficaria depois da física, Andrônico chamou-o de após física, ou meta física, ou metafísica. A ideia dessa natureza Metafísica já era presente em Platão e seu Mundo das Ideias, que, inclusive, é tido como o pai da Metafísica. Sobre o conceito de Metafísica, explicaremos mais uma vez usando um exemplo que remete à Teoria das Formas, ou Mundo das Ideias, de Platão: quando alguém pergunta “o que é uma árvore?”, obviamente respondemos que sim. Ao escutar essa pergunta, imediatamente vem à mente a ideia de árvore. Não uma árvore específica, mas uma árvore qualquer, em geral, ou o ser (ou ente) árvore, que não existe necessariamente no mundo físico, mas existe na sua ideia. E isso é chamado de Metafísica em Filosofia. Isso pode ser entendido como imaginação: imaginar a essência de uma árvore, ou ter a posse da “arvidade” daquela forma captada por seus olhos e enviada para sua mente. Em outra situação, ao andar num deserto, isolado, sabendo que se está perdido, bem ao longe, de 19 repente, é possível avistar uma imagem de um ser em pé, com braços, pernas, um tronco e uma cabeça, ou seja, um contorno bastante conhecido; imediatamente, seu cérebro, buscando os arquivos conhecidos, compara e identifica aquela imagem com a de um ser humano, mesmo estando longe, não sabendo quem é, se é amigo ou hostil, as formas que estão na mente remetem à ideia de um ser humano, a “humanidade” daquela forma. Com a expansão do Império Romano e a conquista da Grécia, a sociedade intelectual Romana sorveu avidamente a cultura Grega (inclusive as divindades romanas e gregas eram as mesmas, mas com nomes diferentes), expandindo-se fortemente por todo o Império Romano. Após a conquista do Meio Oriente, surgiu o cristianismo. Essa nova religião espalhou-se paulatinamente pelo Império, até ser oficializada em 313 d.C., por Constantino, e finalmente oficializada em 390 d.C. por Teodósio. Essa expansão encontrou uma sociedade embebida nos conceitos filosóficos advindos dos gregos. Ao definirmos o homem, podemos aceitar que existiu sempre a capacidade imaginativa de lidar e criar com ideias e conceitos não físicos e, portanto, Metafísica. As imagens pintadas pelo Homo sapiens na caverna de Lascaux, na França, com pictogramas de animais e homens em uma caçada, por exemplo, permitem facilmente concluir que, para fazer uma representação como aquela, o homem deveria imaginar, ter a ideia de, por exemplo, um cavalo. Ou seja, o homem que fez aquelas pinturas conseguia ter uma imagem Metafísica, dentro de sua mente, do mundo físico. Também nessa época da história humana, observa-se que os mortos eram enterra- dos com algum tipo de ornamento ou pintura, o que demonstra que aqueles homens reve- renciavam seus parentes mortos e pensavam em dar a eles algum conforto numa pós-morte. Aqui, também, temos nitidamente um sinal de uma crença em uma vivência humana após a existência física, ou metafísica. De posse dessa habilidade mental, aquele Homo sapiens, quando se deparava com fatos do mundo que não sabia explicar, com situações com as quais ficava apreensivo ou alegre, além de ser consciente de sua finitude, certamente desenvolveu uma Metafísica Religiosa, certamente mais primitiva, longe da maturidade e riqueza dos conceitos metafísicos que sustentam a cristandade. FIGURA 8 – PINTURAS RUPRESTES DA CAVERNA DE LASCAUX (CERCA DE 17 MIL ANOS) FONTE: <https://bit.ly/3vZxtOX>; <https://bit.ly/3z69YFP>. Acesso em: 6 set. 2020. 20 Dessa forma, é possível compreender o contexto vasto, mesmo que abordado de modo breve, de todo um gigantesco universo teológico que foi se moldando com o passar dos anos, e que, desde as primeiras imagens em rocha,até o período em que se passa a encontrar um desenvolvimento maior do cristianismo. Assim, foi possível conhecer um pouco sobre o início de um universo que, hoje, se reconhece como teologia. 21 Neste tópico, você aprendeu: • Platão, valendo-se dos conhecimentos adquiridos pelo estudo dos filósofos pré- socráticos, desenvolveu a chamada Teoria do Mundo das Ideias. Além disso, partiu de Platão, e até antes dele dos filósofos gregos pré-socráticos, a definição e o uso das palavras teologia e teólogo. • A Teoria do Motor Imóvel foi criada por Aristóteles e, posteriormente, usada pelos filósofos e teólogos medievais, tendo grande importância na história da Filosofia e da teologia. • Várias foram as contribuições filosóficas de Santo Agostinho, tanto para a Filosofia quanto para a teologia cristãs, relacionando suas interpretações filosóficas, amparadas na filosofia grega de Platão, e o impacto desse pensamento na estrutura da teologia. • A Patrística, ramo da Filosofia Medieval que foi desenvolvida por Agostinho, é o período de aproximação entre as concepções teológicas semitas/cristãs e a filosofia platônica. • São Tomás de Aquino, seu papel filosófico e teológico na história do Cristianismo, sendo o grande nome de outra grande estrutura de interpretação da Filosofia Medieval, na qual os teólogos eram estudantes dos textos bíblicos e de sua interpretação, o que recebeu o nome de Escolástica. • A Patrística conseguiu êxito total ao aproximar o conceito metafísico de Platão e seu Mundo das Ideias com o conceito religioso judaico-cristão de Paraíso Celeste. • Tanto a Patrística quanto a Escolástica foram formas de estruturação para a interpretação da Metafísica Religiosa Cristã. • O termo teologia já existia antes de Cristo, embora tenha surgido em Platão, o conceito estava presente desde os pré-socráticos. RESUMO DO TÓPICO 1 22 AUTOATIVIDADE 1 Quando pensamos na origem da teologia, conhecer e estudar o filósofo grego Platão é fundamental. Para explicar essa afirmação, analise as sentenças a seguir: I- Platão criou a concepção metafísica chamada de Teoria das Formas ou Mundo das Ideias, usada pelos filósofos e pensadores como uma teoria para explicar o Paraíso do Deus Cristão. II- A criação do Mundo das Ideias, por Platão, surgiu quando ele tentou associar, numa única ideia, uma concepção que explicasse e validasse tanto a concepção atinente ao filósofo Parmênides quanto a do filósofo Heráclito e a de seu mestre Sócrates. III- A importância de Platão para a teologia se dá por ter partido dele a ideia de céu, inferno e purgatório. IV- O famoso Mito da Caverna foi uma maneira genial de Platão tentar fazer sua Metafísica ser entendida, uma vez que defendia que o homem teria apenas contato com as formas perfeitas das coisas do mundo antes de nascer e que, após o nascimento, seu contato se dá apenas com as formas imperfeitas do mundo. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As assertivas I e II estão corretas. b) ( ) As assertivas I, II e III estão corretas. c) ( ) As assertivas I, II e IV estão corretas. d) ( ) Todas as assertivas estão corretas. 2 A construção filosófica de Aristóteles, conhecida como Motor Imóvel, tem enorme importância para a teologia por demonstrar que algo deve ter gerado o início da existência, uma vez que, assim, do nada, não pode vir tudo. Considerando a denominação Motor Imóvel, analise as afirmativas a seguir: I- Motor Imóvel refere-se a um hipotético motor sem combustível e do qual o homem surge. II- Partindo de que algo necessariamente surge de outro algo, ou seja, é impossível algo surgir de nada, Aristóteles raciocina que se tudo tem uma origem, então o primeiro componente desse “tudo” foi originado por alguém ou algo. Deve ter algo que o originou, mas que ele mesmo, este algo, não foi originado por ninguém; esse algo não foi originado do nada. O movimento de criação, para esse algo, nunca se fez, daí ele é chamado de Motor Imóvel. III- A teoria do Motor Imóvel, de Aristóteles, casou muito bem com o conceito teológico judaico-cristão de um Deus criador de tudo no Universo. Deus como primeiro motor. IV- Aristóteles foi bem anterior a Platão. 23 Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As afirmativas I e II estão corretas. b) ( ) As afirmativas II e III estão corretas. c) ( ) As afirmativas III e IV estão corretas. d) ( ) As afirmativas I, II e IV estão corretas. 3 Santo Agostinho, padre cristão que viveu no início do Cristianismo, sorveu avidamente os escritos de Platão, do Helenismo e da chamada Patrística, tornando-se um eminente normatizador do Cristianismo, de seus ritos e de sua teologia. Já no século XIII, São Tomás de Aquino, valendo-se dos escritos de Aristóteles, deu início a uma corrente filosófico cristã chamada de Escolástica. Classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) Agostinho foi o mais eminente representante da Patrística, uma corrente filosófica que se caracteriza pela fusão e pela harmonização das concepções Teológicas Cristãs e o pensamento filosófico de Platão. ( ) A Patrística absorveu tanto as ideias de Platão que um pensador, Numêncio, afirmou que “Platão é um Moisés falando em grego”. ( ) Coube ao esforço e pensamento de Agostinho e sua obra mais famosa, Cidade de Deus, a defesa de uma verdadeira Igreja Católica Apostólica Romana. ( ) Tomás de Aquino teve sua filosofia caracterizada pela não harmonização dos preceitos cristãos e as definições e ideias de Aristóteles, mantendo-se fiel às ideias de Platão. ( ) No famoso escrito “Se Deus Existe”, Tomás de Aquino apresenta o que é chamado de “prova Metafísica (Ontológica) de que Deus existe”. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) F – F – V – F – F. b) ( ) V – V – F – F – F. c) ( ) V – V – V – F – V. d) ( ) V – V – V – V – V. 4 Apesar de a palavra teologia imediatamente remeter à ideia de teologia do Cristianismo, trata-se de um termo que surgiu muito antes da crença cristã. Dessa forma, analise as sentenças a seguir: I- Apesar de o termo teologia surgir pela primeira vez com Platão, sua concepção já estava presente nos pré-socráticos e na humanidade muito antes do início do Cristianismo. II- Advém dos escritos de Platão, na cultura grega, e, posteriormente, incorporada ao Cristianismo, a noção de um criador de tudo e também a concepção de um mundo acima deste, em que habitam as almas que já existiam antes mesmo dos nossos 24 corpos, que encarnam, de maneira tal que, ao nascermos, somos seres humanos com corpo e alma. III- O filósofo Aristóteles criou o termo Metafísica para designar alguns de seus escritos compilados. IV- O poder de imaginar e criar ou conjecturar um mundo com figuras não físicas, ou metafísicas, só apareceu no Homo sapiens quando este fez contato com a realidade atinente ao Cristianismo. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As assertivas I e II estão corretas. b) ( ) As assertivas II e III estão corretas. c) ( ) As assertivas III e IV estão corretas. d) ( ) As assertivas I, II e IV estão corretas. 5 Platão foi importante não somente na Filosofia, mas também na teologia. Nesse sentido, seu universo de interpretação foi indispensável para a formulação de conceitos cristãos na teologia. Disserte sobre a relação do Mundo das Ideias de Platão com a noção de Deus, do Cristianismo. 25 NATUREZA E DEFINIÇÃO DO UNIVERSO TEOLÓGICO 1 INTRODUÇÃO No sentido de reforçar o que foi visto no tópico anterior, a palavra teologia (de theós + logia) é de origem grega, não só no nome, pois supõe o desenvolvimento específico do pensamento que se deu na época clássica grega e que deu origem à filosofia ocidental. Originalmente, portanto, ela vem da filosofia, mesmo que, nessa época, as distinções não fossem tão severas como hoje, supondo um determinado modo de pensar, de colocar questões e de buscar respostas. O encontro entre o modo grego de pensar e a pregação do cristianismo não se deusem tensões. A pregação cristã surgiu de dentro de um universo caracterizado por um modo de pensar bastante distinto, o da cultura judaica. Interferindo nesses modos de pensar distintos, encontramos alguns conceitos que dialogam entre si, mas, por vezes, se contradizem. Trata-se de perspectivas distintas sobre a mesma coisa. Entretanto, se levarmos todos os aspectos em conta, resta margem para que não possamos analisar os dois modos com a distinta clareza. Essa tensão já tinha sido experimentada dentro do próprio judaísmo nos séculos anteriores ao advento do cristianismo, além de textos do Novo Testamento advindos do cristianismo. Em suma, a teologia é reflexão que se pauta no tempo e na cultura; é dinâmica e viva. Portanto, é um tipo de saber que se desenvolve a partir das perguntas que o teólogo faz. UNIDADE 1 TÓPICO 2 - 2 A TEOLOGIA COMO CIÊNCIA Frequentemente, surge a dúvida se a teologia tem lugar na academia, na comunidade científica, com a filosofia, a história, a sociologia, mas também a física, a biologia e a matemática. 26 FIGURA 9 – LEITURA E VISÃO DE MUNDO FONTE: <https://bit.ly/34UVtqz>. Acesso em: 2 set. 2020. Ciência é o conhecimento que inclui, em qualquer forma ou medida, uma garantia da própria validade. Segundo o conceito tradicional, a Ciência inclui garantia absoluta de validade, sendo, portanto, como conhecimento, o grau máximo da certeza. O oposto da Ciências é a opinião, caracterizada pela falta de garantia acerca de sua validade. As diferentes concepções de Ciência podem ser distinguidas conforme a garantia de validade que se lhes atribui. FONTE: CIÊNCIA. In: Só Filosofia. Virtuous Tecnologias da Informação, Porto Alegre, c2021. Disponível em: https://bit.ly/3z7pgKy. Acesso em: 19 maio 2021. NOTA Enquanto teologia acadêmica, é necessário que a teologia dialogue com as de- mais searas do conhecimento científico. Precisamente, teologia sistemática procura muito mais do que afirmar um corpo fixo de proposições, precisa destrinchar os meios de comu- nicação da fé, através de um compilado de normas, regras e símbolos que norteiam nosso imaginário (DALFERTH, 1978). Isso produz identidade na fé cristã, pois segura a coerência nas variadas tentativas de traduzir as narrativas bíblicas em ensinamentos teológicos. Não é por uma compreensão (supostamente) literal, direta, que nega a diferença de tempo e contexto entre o momento da escrita e da leitura, como sustenta Schleiermacher. FIGURA 10 – LEITURA TEOLÓGICA FONTE: <https://bit.ly/3x312iO>. Acesso em: 15 set. 2020. 27 Epistemologia (do grego episteme, que significa “ciência”, e logos, “teoria”) é uma disciplina que toma as ciências como objeto de investigação tentando reagrupar: • a crítica do conhecimento científico (exame dos princípios, das hipóteses e das conclusões das diferentes ciências, tendo em vista determinar seu alcance e seu valor objetivo); • a filosofia das ciências (empirismo, racionalismo etc.); • a história das ciências. O simples fato de hesitarmos, hoje, entre duas denominações (epistemologia e filosofia das ciências) já é sintomático. Segundo os países e os usos, o conceito de “epistemologia” serve para designar, seja uma teoria geral do conhecimento (de natureza filosófica), seja estudos mais restritos concernentes à gênese e à estruturação das ciências. No pensamento anglo-saxão, epistemologia é sinônimo de teoria do conhecimento (ou gnoseologia), sendo mais conhecida pelo nome de “philosophy of science”. Nesse sentido, fala-se de epistemologia a propósito dos trabalhos de Piaget, versando sobre os processos de aquisição dos conhecimentos na criança. O fato é que um tratado de epistemologia pode receber títulos tão diversos como: “A lógica da pesquisa científica”, “Os fundamentos da tisica”, “Ciência e sociedade”, “Teoria do conhecimento científico”, “Metodologia científica”, “Ciência da ciência”, “Sociologia das ciências” etc. Por essa simples enumeração, podemos ver que a epistemologia é uma disciplina proteiforme que, segundo as necessidades, se faz “lógica”, “filosofia do conhecimento”, “sociologia”, “psicologia”, “história” etc. Seu problema central, e que define seu estatuto geral, consiste em estabelecer se o conhecimento poderá ser reduzido a um puro registro, pelo sujeito, dos dados já anteriormente organizados, independentemente dele no mundo exterior, ou se o sujeito poderá intervir ativamente no conhecimento dos objetos. Em outras palavras, o interesse é voltado para o problema do crescimento dos conhecimentos científicos. Por isso, podemos defini-la como a disciplina que toma por objeto não mais a ciência verdadeira de que deveríamos estabelecer as condições de possibilidade ou os títulos de legitimidade, mas as ciências em via de se fazerem, em seu processo de gênese, de formação e de estruturação progressiva. FONTE: JAPIASSÚ, H.; MARCONDES, D. Dicionário básico de Filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar; 2001. IMPORTANTE É possível, então, assumir que a teologia é uma atividade com responsabilidade metodológica para falar sobre Deus, em uma abordagem que proclama a boa nova e objetiva difundi-la. Não deve se restringir a teólogos academicamente formados, mas é, fundamentalmente, dever deles apresentar e desenvolver argumentos de natureza teológica sobre a fé. É nesse sentido que, sob o prisma epistemológico, podemos afirmar que a teologia é ciência, uma vez que se dedica a investigar o que se concebe no campo da fé como verdade, além de apresentar o que dela apreende, por meio de argumentos que podem ser postos à prova (BARTH, 2000). Isso não significa dizer que a teologia se reduz ao aspecto acadêmico. É possível que todos nós, em dado momento, sejamos teólogos, uma vez que sejamos cristãos, como afirmava Lutero (MOLTMANN, 2004). 28 A teologia tem como objetivo mais propriamente discutir, proclamar e abordar Deus do que Deus por si só. Analisa como a fé se manifesta e é explicitada em diversos meios do cotidiano, principalmente no que diz respeito a aspectos relevantes para o contexto contemporâneo em determinado lugar. Sem, de modo algum, querer desrespeitar a última, que é de alta importância para o esclarecimento do fenômeno religioso, a teologia se distingue claramente em que enfoca a religião cristã e trata de questões normativas, além de descritivas (BRANDT, 2006). 2.1 TEOLOGIA, FILOSOFIA E CIÊNCIA Mesmo que teologia e filosofia/ciência compartilhem, de modo direto, de um ter- reno de fronteira em que se busca aprimorar o ser humano e sua condição, cada uma o faz a seu modo: o elemento filosófico/científico no exercício teológico é o da filosofia/ ciência, mas que, ao ser colocado em relação ao olhar teológico, passa por certa transfor- mação; já o elemento teológico no exercício filosófico/científico é o da teologia, mas que, ao ser colocado em relação ao olhar filosófico/científico, passa por certa transformação. Assim, temos o principal ponto, tanto da riqueza como das tensões desse debate. FIGURA 11 – LEITURA E FÉ FONTE: <https://ftsa.edu.br/home/images/teologia.png>. Acesso em: 2 set. 2020. Tanto a teologia como a filosofia falam, cada qual a seu modo, a partir de uma interpretação dual acerca da realidade e do aprimoramento humano. A filosofia, por mais que tenha demonstrado tal interesse, não consegue promover uma interpretação metafísica, a qual pode estar pautada num horizonte atemporal, como na visão do mundo platônico; ou buscado uma dimensão de exaltação do ser. A teologia tem como grande tarefa uma fala à luz da condição humana e de seu aprimoramento. Essa análise teológica da realidade é feita no horizonte da crítica radical introduzida pela revelação da palavra de Deus em juízo e graça – “juízo” é a radicalização da krísis, da crítica, que só pode se dar radicalmente à luz da graça e da esperança. Só a esperança permite a crítica radical. 29 Mais do que o objeto da teologia, seu objetivo máximo é, em última análise, a realidade. A teologia fica atenta
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