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6º ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE RELAÇÕES INTERNACONAIS
25 A 28 DE JULHO DE 2017-BELO HORIZONTE
Área temática: ensino e pesquisa em Relações Internacionais
CINEMA E RELAÇÕES INTERNACIONAIS: UMA EXPERIÊNCIA PEDAGÓGICA SOBRE
O ENSINO DO TEMA APATRIDIA A PARTIR DO FILME “O TERMINAL”
Camila Soares Lippi
Universidade Federal do Amapá (docente)
Instituto de Relações Internacionais-Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
(doutoranda)
Resumo: Este trabalho busca tratar da experiência didática de se utilizar o cinema no
ensino de Relações Internacionais, mais especificamente em relação à temática da
condição dos apátridas, apresentando uma experiência pedagógica com discentes de
graduação desse campi do conhecimento na Universidade Federal do Amapá. A área de
Relações Internacionais por vezes tem objetos de pesquisa que estão distantes da realidade
que as alunas e os alunos desse curso vivenciam e, portanto, o cinema se torna um
importante recurso didático para aproximar certas temáticas ao corpo discente. A apatridia é
uma dessas temáticas que muitas vezes está distante dos estudantes. O filme “O Terminal”
retrata a história de um homem que se torna apátrida por problemas referentes à sucessão
de Estados. Ele tentava entrar nos Estados Unidos com o passaporte de seu Estado de
origem, que simplesmente tinha deixado de existir. Em virtude disso, lhe é vedado o
ingresso no país, e ele passa a residir no aeroporto. O filme permitiu suscitar com alunas e
alunos questões como: quais são as principais violações do regime internacional de
apatridia que as autoridades públicas dos Estados Unidos perpetuaram no filme? De que
forma o filme expõe as fragilidades do regime internacional de apatridia? 
Palavras-chave: Cinema; nacionalidade; apatridia.
1-Introdução
Este trabalho se trata de um relato de experiência didática em sala de aula
utilizando o cinema no ensino de Relações Internacionais, mais especificamente em relação
à temática da condição dos apátridas, apresentando uma experiência pedagógica com
discentes de graduação desse campi do conhecimento na Universidade Federal do Amapá.
Essa experiência se deu em 2016.2, no âmbito da disciplina de Direito
Constitucional, que, no curso de Relações Internacionais daquela universidade, tem como
conteúdo algumas noções básicas de Direito Constitucional e uma discussão mais
aprofundada sobre o Direito Constitucional Internacional, ou seja, sobre os aspectos
internacionais do Direito Constitucional e os aspectos constitucionais do Direito
Internacional. No seio desse debate, entra a temática da nacionalidade. E, ao trabalhar a
noção de nacionalidade, é necessário discutir a questão das pessoas apátridas, aquelas
sem nacionalidade, as causas da apatridia e as normas internacionais que as regem. Os
dois principais tratados a respeito dessa matéria são a Convenção sobre o Estatuto do
Apátrida (1954), que tem como objetivo não propriamente eliminar esse problema, e sim
prever um mínimo de direitos para pessoas desprovidas de nacionalidade, e a Convenção
para a Redução da Apatridia (1961), essa sim, como o próprio nome diz, com o objetivo de
reduzir os casos de apatridia. Apesar da aprovação desses tratados, o número de Estados-
parte de ambos é baixo: a Convenção de 1954 tem 89 Estados-parte, enquanto o número
de Estados que ratificaram a de 1961 é de 681. Um número baixo considerando-se que a
ONU tem 193 Estados-membros.
Algo que eu já vinha percebendo há alguns anos, desde que comecei a trabalhar
este conteúdo em sala de aula, é que normalmente os alunos daquela universidade para os
quais eu ministrava essa disciplina, todos dotados de nacionalidade brasileira, tinham
dificuldade em entender o que é um apátrida, como vivem, quais são seus direitos e quais
são as dificuldades pelos quais passam. Ou seja, havia dificuldade em compreender como
vivem, segundo estimativas do Alto Comissariado das Nações Unidas para refugiados
(ACNUR) pelo menos 3.469.250 pessoas, sendo que esse número pode ser ainda maior,
tendo em vista que poucos Estados reportam ao ACNUR suas estatísticas sobre apatridia,
e, dentre esses, alguns não têm dados confiáveis (UNHCR, 2013).
Diante dessa dificuldade em compreender o que é apatridia, o que é significa não
ter nacionalidade, resolveu-se apelar ao uso do cinema para aproximar esse tema dos
alunos da disciplina. Tanto a bibliografia sobre cinema e Relações Internacionais quanto
1 https://treaties.un.org/Pages/Treaties.aspx?id=5&subid=A&clang=_en. Acesso em 1º de maio de 
2017.
https://treaties.un.org/Pages/Treaties.aspx?id=5&subid=A&clang=_en
sobre cinema e Direito Internacional apontam a utilidade de se utilizar o cinema para trazer
objetos de estudo que muitas vezes estão distantes dos alunos para perto (afinal, ambas as
disciplinas têm a ambição de entender o mundo) (ALMEIDA, 2016, p. 256; NEVES JÚNIOR,
ZANELLA, 2016, p. 31). Além disso, como afirma PAIXÃO (2009, p. 70), o cinema aproxima
de uma forma diferente das outras artes. Ele é
“[…] muito diferente do teatro, das artes plásticas e da literatura, dos quais,
de alguma maneira descende. O cinema tem um poder muito maior de
proporcionar ao espectador a sensação de que ele está sendo testemunha
dos eventos, de fazer o espectador ser parte daquilo que ele está vendo, de
conferir uma aparência de realidade a algo que, de fato, é uma construção”.
Assim, optou-se por trabalhar, com os alunos, o filme “O Terminal”, estrelado por
Tom Hanks, no qual este ator representa um homem que se torna apátrida devido à
anexação do Estado do qual era nacional por outro e, que, em consequência disso, não
consegue entrar nos Estados Unidos e tem de viver no aeroporto JFK, em Nova Iorque.
Este trabalho está dividido em duas partes: uma sobre apatridia e outra sobre a
experiência didática de ter trabalhado com o filme “O Terminal” com discentes do curso de
Relações Internacionais da Universidade Federal do Amapá.
2. A apatridia, o Direito Internacional e o Direito Constitucional brasileiro
O termo “nacionalidade”, no Direito, significa o vínculo jurídico-político que liga um
indivíduo a um Estado, tornando-o sujeito de direitos e obrigações em relação a esse
mesmo Estado. Em muitos ordenamentos jurídicos o termo é utilizado como sinônimo para
cidadania, embora nas Américas (incluindo o Direito brasileiro) seja comum distinguir os dois
termos. No direito brasileiro, os direitos de nacionalidade são objeto do art. 12 da
Constituição de 1988. Em nosso ordenamento jurídico, o termo nacionalidade faz alusão a
esse vínculo jurídico-político entre indivíduo e Estado, ao passo que cidadão seria aquele
que está no gozo de direitos políticos neste Estado, como o direito de votar e ser votado
para cargos políticos. Os termos não necessariamente coincidem. É possível, no Direito
brasileiro, não ser nacional e ser cidadão, como no caso do português equiparado, previsto
no art. 12, § 1º da Constituição de 1988-a única hipótese de um estrangeiro ter direitos
políticos no ordenamento jurídico brasileiro (BATCHELOR, 1998; TIBÚRCIO, 2014).
Existem duas modalidades de apatridia: a apatridia jurídica (de jure) e a apatridia de
fato (de facto). A apatridia jurídica é aquela em que não há o tal vínculo jurídico-político entre
indivíduo e Estado. Já a apatridia de fato é aquela na qual esse vínculo existe, mas no qual
a nacionalidade resulta ineficaz, como no caso em que um indivíduo não consegue retornar
ao Estado do qual é nacional - situação essa que é muito limítrofe com a do refugiado ou a
refugiada (BATCHELOR, 1998).
Cada Estado é soberano para atribuir nacionalidade a indivíduos, e esses critérios
para atribuição de nacionalidade são estabelecidos pelas leis ou pelas Constituições de
cada Estado. No Brasil, os critériosde atribuição de nacionalidade são estabelecidos pelo
art. 12 da Constituição de 1988.
Existem quatro situações em que pode ocorrer apatridia no sentido jurídico:
renuncia voluntária de nacionalidade, quando tal renuncia é admitida pelas leis de um
Estado; conflito negativo de leis de nacionalidade (como, por exemplo, uma criança nascida
num país cujo critério de atribuição de nacionalidade seja o jus sanguini, cujos pais sejam
nacionais de um Estado que adote o critério do ius soli); casos de sucessão de Estados em
que há inadequação dos tratados sobre povoamento (como ocorre no caso do filme “O
Terminal”, conforme trataremos mais adiante); e, finalmente, quando um Estado, de acordo
com suas próprias leis, priva um indivíduo de sua nacionalidade, sem que ele tenha
adquirido uma outra (TIBÚRCIO, 2014).
Ocorre que a apatridia pode ter uma série de consequências negativas na vida de
uma pessoa, como a impossibilidade de exercício de direitos políticos, dentre outras
consequências. Nas palavras de BATCHELOR (1998, p. 159): 
“Statelessness is not merely a legal problem, it is a human problem. Failure
to acquire status under the law can have a negative impact on many
important elements of life, including the right to vote, to own property, to
have health care, to send one's children to school, to work, and to travel to
and from one's country of residence. Many complications arise for those who
have no nationality or whose nationality status is unclear, including indefinite
detention in a foreign State when that State cannot determine the individual's
citizenship for purposes of expulsion and release on the territory is not
authorized”.
Devido a essas consequências da apatridia para a vida humana, emergiu no pós-
Segunda Guerra Mundial, sob os auspícios da Organização das Nações Unidas (ONU), um
regime internacional de proteção às pessoas apátridas, composto pelas duas Convenções já
citadas na introdução. Segundo JUSTO (2012, p. 83-84):
“A Convenção de 1954 procurou trazer melhorias para a situação dos
apátridas por meio da criação de um estatuto legal do apátrida que permite
a conferência de direitos. 
… devem receber um tratamento pelo menos equivalente ao que é dado
aos Estrangeiros que residam legalmente em um Estado. … esses direitos
incluem o acesso ao trabalho remunerado, à educação pública, ao sistema
público de saúde, aos direitos trabalhistas e à seguridade social. Especial
atenção deve ser dada aos direitos de identidade … e documentos de
viagem … que o Estado deve fornecer ao apátrida”.
Além disso, a Convenção de 1954 proíbe a expulsão de apátridas, e incentiva a
naturalização do mesmos.
Porém, essa Convenção tem algumas fraquezas. Uma delas é que as
prerrogativas nela previstas só podem ser atribuídas a apátridas que residam legalmente
dentro do território de um Estado. Portanto, apátridas que estejam numa situação irregular
dentro de um Estado parte da Convenção de 1954 não teriam o gozo desses direitos. Além
disso esse tratado não apresenta nenhum padrão para orientar os Estados na determinação
de quem é apátrida, permitindo uma ampla margem de discricionariedade estatal no
reconhecimento da apatridia. Portanto, esse tratado opera sob uma lógica estadocêntrica,
em que a figura central não é tanto o apátrida, e sim o Estado, que é quem define quem é
apátrida e quem não é.
A Convenção de 1961, por sua vez, entrou em vigor em 1975, Ela tem como
objetivo evitar novos casos de apatridia, embora debruce-se apenas sobre os casos de
apatridia jurídica, olvidando a apatridia de fato. Para JUSTO (2012, p. 86):
“A questão da desnacionalização, apesar de ter sido tratada em dois artigos,
um dos quais proíbe categoricamente a desnacionalização com base na
discriminação, não estaria completa sem igual atenção à recusa dos
Estados em conferir nacionalidade. Se esta recusa do Estado se
caracterizar por motivações discriminatórias [...], a apatridia continuará a ser
produzida. […] Já em relação à sucessão estatal, as provisões contidas no
único artigo que a abarca seriam muito vagas, sem especificar com precisão
o modo pelo qual os novos Estados que surgem da sucessão estatal
estariam vinculados à Convenção ou manter o direito de opção do indivíduo
que havia aparecido como recomendação em estudos anteriores. Em
adição, existem outras causas da apatridia que teriam escapado aos
negociadores da Convenção de 1961, como o registro do nascimento e a
relação da apatridia com a migração irregular ou o tráfico de pessoas”.
3. Apatridia e o filme “O Terminal”: uma experiência pedagógica
O filme “O Terminal”, como dito anteriormente, relata a história de Viktor Navorski, o
protagonista, proveniente da Krakozhia, país fictício, que viajava aos Estados Unidos. Há
alguns textos que circulam na internet de que o filme foi inspirado na vida de um refugiado
iraniano, Mehran Nasseri, que viveu no Terminal 1 do Aeroporto Charles de Gaulle, na
França, após ter seus documentos de refugiado roubados (PARREIRA, SILVA, 2012), mas
isso não é confirmado pelo diretor do filme, Steven Spilberg.
Ao passar pela imigração no aeroporto JFK, o oficial de imigração lhe comunica que
há um problema com seu passaporte, e Viktor é levado a uma sala. Viktor, sem saber falar
inglês no começo do filme, não entende o por quê, mas o acompanha. Lá, é perguntando
sobre os motivos de sua viagem, mas como não entende inglês, responde “táxi amararelo.
Leve-me para o Ramadda In” (SPIELBERG, 2004), e seu passaporte e sua passagem de
volta são retidos. 
Em seguida, Frank Dixon, Diretor da Alfândega e Controle de Fronteiras, seu país
suspendeu os privilégios de passaporte emitidos pelo seu governo, e os Estados Unidos
anularam seu visto, porque estava acontecendo uma guerra civil na Krakozhia. A única
palavra entendida por Viktor foi o nome de seu país de origem. Ao perceber que Viktor não
entendia, tentou explicar por mímica, mais sem muito sucesso. Até que em algum momento
diz a Viktor: “No momento, você não é cidadão de lugar nenhum. [...] Neste momento, você
é simplesmente inaceitável”. (SPIELBERG, 2004) Dixon lhe avisa que não pode deixá-lo
entrar nos Estados Unidos, porque seu passaporte e visto não eram mais válidos, nem
voltar para a Krakozhia, porque ela tecnicamente não existia mais, e que agora ele ficaria no
lounge do aeroporto até a situação ser resolvida, o que não é compreendido por Viktor.
Posteriormente, o protagonista vê uma televisão mostrando imagens da guerra civil
na Krakozhia. Embora não entenda as palavras da âncora do jornal que fala em inglês, nem
a manchete em inglês, vê a palavra “Krakozhia” na manchete, e chora ao ver que as
imagens daquela guerra civil eram de seu Estado de origem. Nesse momento, Viktor parece
perceber o que está acontecendo.
O filme não deixa muito claro o motivo pelo qual Viktor se tornou apátrida. Como a
Krakozhia atravessava uma guerra civil no filme, fica-se com a impressão de que trata-se de
um caso de apatridia devido à sucessão de Estados, sem adequação dos tratados de
sucessão (e, por se estar em guerra civil, provavelmente sem tratado de sucessão de
Estado). Essa hipótese é confirmada por Spilberg no bônus do DVD do Filme “O Terminal”
(que foi exibido aos alunos e às alunas da disciplina na mesma aula em que o filme foi
exibido), que afirma que ocorreu a anexação da Krakozhia durante o filme, e que se optou
por usar um país fictício no Leste Europeu, mas que retrata os muitos problemas que
surgiram naquela região no pós-Guerra Fria, com secessões e anexações de Estados
naquela região.
É possível explicar o por quê de Viktor ter se tornado apátrida por falhas nos
próprios tratados internacionais de proteção dos apátridas. JUSTO (2012, p. 86) aponta que
existem falhas nesses tratadosque fazem com que pessoas se tornem apátridas devido à
secessão de Estados (tema que ocupa um único artigo da Convenção de 1961). Para a
autora, 
“as provisões contidas no único artigo que a abarca seriam muito vagas,
sem especificar com precisão o modo pelo qual os novos Estados que
surgem da sucessão estatal estariam vinculados à Convenção ou manter o
direito de opção do indivíduo que havia aparecido como recomendação em
estudos anteriores”.
Ou seja, a indefinição da própria Convenção de 1961 em especificar como os novos
Estados que surgem da sucessão estatal estariam vinculados à Convenção. A autora
argumenta ainda que os redatores da Convenção de 1961 não buscaram eliminar a
apatridia, e sim reduzir os casos de apatridia, tanto é que os mesmos existem até hoje. Além
disso, a principal preocupação desse tratado são os casos de apatridia produzidos por
conflitos negativos de leis de nacionalidade, que ocupam 6 artigos, enquanto as demais
causas de apatridia são um pouco negligenciadas, como é o caso de apatridia produzida por
falhas nos tratados de sucessão de Estados, que ocupam apenas um artigo que é
extremamente vago, o que explica porque casos como o de Viktor ainda existem. Além
disso, a liberdade de locomoção de Viktor é afetada, não podendo o mesmo nem voltar para
seu Estado de origem, que não existia mais, nem entrar nos Estados Unidos, gerando assim
uma violação de seus direitos humanos.
Dessa forma, entendendo que o filme provoca a reflexão sobre apatridia e sobre os
limites dos tratados sobre esse tema, aproximando estudantes da temática, decidi que seria
interessante utilizá-lo para uma experiência pedagógica com estudantes de graduação em
Relações Internacionais no segundo semestre de 2016 (que aconteceu em um período
atípico, começando em novembro de 2016, devido às greves que tem ocorrido em
instituições públicas devido a diversas precariedades pelas quais as mesmas passam, e que
só tem se agravado).
A dinâmica foi a seguinte: dentre os vários temas que foram trabalhados, houve
uma aula dedicada exclusivamente à temática da nacionalidade, na qual abordou-se o
tratamento da questão da nacionalidade pela Constituição de 1988 e pelas Convenções
internacionais relativas ao tema. Posteriormente, o filme foi exibido. É importante mencionar
que isso não ocorreu sem dificuldades. Uma delas é que não há disponibilidade de filmes na
biblioteca da universidade. A atividade pedagógica somente ocorreu porque o filme estava
no acervo pessoal da minha mãe, que gentilmente me emprestou para que o mesmo fosse
exibido às minhas alunas e aos meus alunos. A outra é que o DVD Player instalado no
computador que a própria universidade me cede apresentou falhas técnicas no dia marcado
para a exibição do filme. Assim, tive que adiar a exibição do filme para a aula seguinte, na
qual a falha já tinha sido resolvida. Além disso, houve uma greve no meio do semestre (por
motivos justos, contra a PEC 55, atualmente EC nº 95/2016, mas que interrompeu o ritmo de
estudos dos estudantes).
Após assistir ao filme, os estudantes tiveram como atividade avaliativa, conforme já
lhes havia sido informado no começo do semestre, um relatório, a ser redigido
individualmente, de pelo menos 5 páginas (contando para o cômputo do número de laudas
apenas as partes textuais) ligando o filme à matéria vista em sala de aula. Para isso, foram
disponibilizadas aos estudantes algumas leituras obrigatórias sobre o tema, outras leituras
complementares, além de ter encorajado fortemente que os mesmos utilizassem bancos de
dados de periódicos, de teses e dissertações, bibliotecas, físicas ou virtuais, para que
buscassem mais artigos, livros, monografias, dissertações e teses sobre o tema.
Após a exibição do filme, percebi que os alunos ficaram, de forma geral, um pouco
perdidos com a proposta do trabalho, não sabendo exatamente por onde começar. Foram
muitas perguntas, dúvidas, sobre o trabalho. Por isso, sugeri que no trabalho tentassem
responder às seguintes perguntas sobre o filme, embora não precisassem ficar presos
nelas: quais são as principais violações do regime internacional de apatridia que as
autoridades públicas dos Estados Unidos perpetuaram no filme? De que forma o filme expõe
as fragilidades do regime internacional de apatridia?
A maioria dos trabalhos tentaram responder a essas perguntas, e creio que a
maioria as respondeu muito bem, embora de forma muito diversa. Alguns apontaram o
estadocentrismo das convenções, muito mais pautadas na definição dos Estados sobre
quem é o nacional, quem é o apátrida, e sobre qual apátrida pode residir legalmente em
seus respectivos territórios, que propriamente na autonomia e agência das pessoas
apátridas. Outros tiveram um raciocínio um pouco mais formalista e responderam que os
Estados Unidos não violaram as Convenções sobre apatridia porque simplesmente não as
ratificaram ou aderiram. O importante é que o filme aproximou o corpo discente da temática,
e os encorajou a pesquisar mais, a saber mais sobre ela
4. Conclusão
A emergência do Estado soberano, ressignificada pela distinção entre “eu” e “outro”,
que faz surgir a figura do apátrida, daquele que é cidadão de lugar algum. Embora tratados
a respeito da temática tenham sido aprovados na segunda metade do século XX, ainda há
um grande número de apátridas no mundo.
Como o cinema aproxima estudantes de Relações Internacionais e de Direito
Internacional de objetos de estudo que muitas vezes estão distantes, optou-se por exibir o
filme “O Terminal” para aproximá-los da temática da apatridia e fazê-los compreender melhor
o que é ser um apátrida, o que é ter condições de sobrevivência, liberdade de locomoção e
capacidade de exercício de direitos políticos negadas devido a um sistema internacional
estadocêntrico.
Ao final, depois de ler os trabalhos dos estudantes, percebi que, em sua maioria, os
mesmos conseguiram enxergar, através do filme, quais são as dificuldades pelas quais um
apátrida passa, quais falhas dos tratados internacionais permitem que a apatridia se
perpetue. Também notei que o filme aguçou a curiosidade das minhas alunas e meus alunos
acerca do tema, que pesquisaram mais a respeito em bases de dados de periódicos, não se
contentando apenas com as leituras obrigatórias e leituras complementares que eu
disponibilizei.
Referências bibliográficas:
ALMEIDA, Paula Wojcikiewicz. Direito Internacional e cinema: uma experiência
didática. BADIN, Michelle Raton Sanchez; BRITO, Adriane Santis de; VENTURA, Deisy de
Freitas Lima. Direito global e suas alternativas metodológicas. São Paulo: FGV Direito SP,
2016, p. 255-288.
BATCHELOR, Carol A. Statelessness and the Problem of Resolving Nationality
Status. International Journal of Refugee Law, V. 10, n° 1/2, 1998, p. 157-183.
GODOY, Gabriel Gualano de. O direito do outro, o outro do direito: cidadania,
refúgio e apatridia. Revista Direito e Práxis, Rio de Janeiro, Vol. 07, N. 15, 2016, p. 53-79.
JUSTO, Nathália. O regime internacional de proteção às pessoas apátridas em dois
momentos: contribuições para uma análise sobre a relação entre apatridia, cidadania e
ordem internacional. Dissertação (Mestrado em Relações Internacionais). Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro, 2012.
MELLO, Celso D. de Albuquerque. Direito Constitucional Internacional – uma
introdução. 2ª edição. Rio de Janeiro: Editora Renovar, 2000.
NEVES JÚNIOR, Edson José; ZANELLA, Christine Koheker. O cinema e a
extensão em relações internacionais: métodos, trajetórias e resultados. Revista de Extensão
da UFRGS, nº 13, outubro de 2016, p. 30-37.
OTTONI, David Niemann; MENDES, Bárbara Fiuza. Perda do direito de
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Percurso Acadêmico, Belo Horizonte, V. 5, nº 9, jan./jun. 2015, p. 118-123.
PAIXÃO, Cristiano. Cinema, direito e resgate histórico: a construção da memória in:
NEUENSCHWANDER MAGALHÃES, Juliana; PIRES, Nádia; MENDES, Gabriel; CHAVES,
Felipe; LIMA, Eric (orgs). Construindo memória: seminários direito e cinema 2006 e 2007.
Rio de Janeiro: Faculdade Nacional de Direito, 2009, pp. 65-78. 
PARREIRA, Carolina Genovêz; SILVA, Nádia Teixeira Pires da. Os Apátridas à Luz
de “O Terminal”. 2012. Disponível em: http://www.publicadireito.com.br/artigos/?
cod=1134ac57b5b1d38b Acesso em: 14 fev. 2017.
SPILBERG, Steven. O TERMINAL (The terminal), EUA, 128 min, 2004. 
http://www.publicadireito.com.br/artigos/?cod=1134ac57b5b1d38b
http://www.publicadireito.com.br/artigos/?cod=1134ac57b5b1d38b
TIBÚRCIO, Carmen. Nacionalidade à luz do Direito Internacional e brasileiro. 
Cosmopolitan Law Journal, v. 2, n. 1, jun. 2014, p. 131-167. 
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http://www.unhcr.org/protection/statelessness/546e01319/statistics-stateless-persons.html.
Acesso em: 3 jun. 2017. 
http://www.unhcr.org/protection/statelessness/546e01319/statistics-stateless-persons.html
	6º ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE RELAÇÕES INTERNACONAIS
	Camila Soares Lippi

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