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SAIBA MAIS LINGUAGENS & SEUS DIÁLOGOS ANA LÚCIA MACHADO Quando uma obra é poética... Olá, aluno, é com prazer que lançamos outro Saiba Mais em nosso curso “Linguagens & Seus Diálogos”. É uma proposta da aluna Elayne Rodrigues (RA 2135851) do Curso de Português-Inglês a quem agradecemos pela ideia. Este Saiba Mais abrange mundos de diálogos: Um texto literário com outro(s) texto(s) literário(s). Literatura nacional com literatura estrangeira. Literatura com outras artes: música, pintura, HQ etc. Pintura, música, HQ etc., entre outras artes. Moda, carro, livro como suporte, linguagem, signo, arte. Grafite, slam e outras artes de rua. Design, corporeidade e outros movimentos culturais. Tantos outros diálogos não apontados aqui. Deixo algumas indicações de autores que já vêm estudando esses diálogos: BRAITH, B. Literatura e outras linguagens. São Paulo: Contexto, 2010. KIFFER, A.; GARRAMUÑO, F. (org.). Expansões contemporâneas: literatura e outras formas. Belo Horizonte: UFMG, 2014. OLIVEIRA, V. S. Poesia e pintura: um diálogo em três dimensões. São Paulo: UNESP, 1999. WALTY, I. L. C. Palavra e imagem: leituras cruzadas. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2006. WILLMS, E. E.; BECCARI, M.; ALMEIDA, R. (org.). Diálogos entre arte, cultura & educação. São Paulo: FEUSP, 2019. Vamos à nossa primeira degustação! Em 2022 foi lançado o livro A Rosa e o poeta do morro, de Janaína de Figueiredo, com ilustração de Paulica Santos. Destinado ao público infantil, o tema é o compositor Cartola e uma homenagem ao samba. FIGUEIREDO, J. A Rosa e o poeta do morro. Higienópolis: Pallas, 2022, capa. A obra estabelece um diálogo com a poesia em mais de uma linguagem. Entendemos poesia como uma experiência com a linguagem com palavras (em poema, por exemplo) ou sem palavras (na dança, por exemplo), em que se destacam o sensível e a potencialidade das formas. A poesia já é marcada no título “A Rosa e o poeta do morro”, referenciando metonimicamente o clássico “As rosas não falam”, do icônico cantor e compositor Angenor de Oliveira, mais conhecido como Cartola, e o próprio Cartola. A poesia está presente na base textual do livro. A autora faz diálogo com as letras de música de Cartola, tais como “Corra e Olhe o Céu”, “Alvorada” e “O Mundo é um Moinho”. As letras de música são consideradas poéticas, de maneira geral, não apenas pelas imagens e ritmo, mas também pela estrutura em estrofes e versos. Assim, no livro de Janaína de Figueiredo, a parte verbal é construída em versos. FIGUEIREDO, J. A rosa e o poeta do morro. Higienópolis: Pallas, 2022. No trecho exemplificado, os recursos poéticos são, entre outros: Três estrofes e 5 versos (na 1ª estrofe), 2 versos (na 2ª estrofe) e 4 versos (na 3ª estrofe). Sem rima: versos brancos. Onomatopeia: “tum tum, tum tum...”. Assonância: repetição de /e/ em “O meu coração bateu mais forte, como”. Aliteração: repetição da consoante /s/ em “solo de surdo”. Imitação de ruído: “Xiuuuu!”. Imagens metafóricas: “O meu coração bateu mais forte, como/ um solo de surdo”; “a poesia raiou em mim/ Explodiu como a alvorada do morro”. O trecho poético exemplificado faz referência à Rosa e ao fato de o poeta, cuja “poesia raiou em mim”, estar “debaixo do sol e em cima da mangueira”. Os termos “Rosa” e “mangueira”, no contexto acima, referem-se a uma mulher e a uma árvore; referentes corroborados pelas figuras desenhadas da mulher à janela (no fundo do quadro) e da árvore (à frente). No entanto, esses termos são polissêmicos, pois, no contexto geral da história, rosa faz referência à mulher Rosa, à letra de música “As rosas não falam” e à escola de samba G.R.E.S. Estação Primeira de Mangueira, que é representada pelas cores rosa e verde. A palavra mangueira, por sua vez, também é polissêmica, porque é sobre a árvore, mas também à escola de samba. Assim, a poesia se faz presente no livro também por meio do diálogo com a música – o samba – e o carnaval, em especial, com a escola da Mangueira. Esse diálogo estende-se à linguagem das cores. FIGUEIREDO, J. A rosa e o poeta do morro. Higienópolis: Pallas, 2022. As ilustrações têm cores fortes com destaque à cor-de-rosa e ao verde, que são da escola Mangueira. Em síntese, “A Rosa e o Poeta do Morro” é um maravilhoso exemplo de relação entre linguagens do mundo da arte. A obra é arte literária, carregada de poesia, dialoga e leva para ela, em sua forma e conteúdo, o poema, a música (o samba), a dança (escola de samba), as cores e a linguagem das histórias em quadrinho.
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