Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 35 DEFICIÊNCIA INTELECTUAL6 A deficiência mental (DM), ou deficiência intelectual, possui uma definição utilizada pela Associação Americana de Retardo Mental (AAMR) apresentada no DSM-IV – Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, que conside- ra a deficiência mental como: um funcionamen- to mental significativamente inferior à média, acompanhado de limitações significativas no funcionamento adaptativo – agora definido – em pelo menos duas das seguintes áreas: co- municação, autocuidados, vida doméstica, ha- bilidades sociais/interpessoais, uso de recursos comunitários, autossuficiência, habilidades acadêmicas, trabalho, lazer, saúde, seguran- ça; com início anterior aos 18 anos. E considera que a deficiência mental pode ser decorrente de diferentes processos patológicos que afetam o funcionamento cognitivo. Apesar de hoje tentar- mos utilizar o termo ‘deficiência intelectual’ que é menos pejorativo, ainda na literatura encontra- mos em muitos locais o termo ’deficiência men- tal’. Portanto, neste texto, utilizaremos esse termo quando a referência assim o fizer, mas em outros momentos iremos usar deficiência intelectual. A deficiência intelectual não pode ser carac- terizada somente pelo rebaixamento ou déficit intelectual, mas também deve ser caracterizada pela limitação no funcionamento adaptativo, e essas características devem estar presentes antes dos 18 anos de idade. Atualmente, existe uma discussão muito acirrada acerca dos níveis de deficiência mental, porém a área médica ainda se utiliza deles para realizar um diagnóstico. Quanto à classificação, o DSM-IV e a Organização Mundial da Saúde (OMS) classificam os deficientes mentais por meio de critérios quantitativos, utilizando para isso o coe- ficiente de inteligência (QI) para caracterizar a gra- vidade da deficiência. Vejamos essa classificação: �� DM profunda – 20>QI �� DM Severa – 20<QI<36 �� DM Moderada – 36<QI<50 �� DM Leve – 50<QI<70 Seguindo esse critério de classificação, pelo DSM-IV, a deficiência mental teria a seguinte dis- tribuição estatística: leve (85% dos casos de DM); moderada (10% dos casos); severa (4% dos casos); profunda (1% dos casos); ou com gravidade não especificada. Outro critério de classificação da DM seria por meio da avaliação da intensidade dos apoios – para o chamado funcionamento adaptativo – de que o indivíduo necessita. Aqui temos as se- guintes categorias (CARVALHO; MACIEL, 2002): 1. intermitente (natureza episódica do apoio); 2. limitado (apoio intensivo, mas por tem- po limitado); 3. extenso (caracteriza-se pela regularida- de do apoio em pelo menos uma área); 4. generalizado (apoio constante e inten- so). Esse tipo de classificação da deficiência mental, embora muito menos utilizado – prin- cipalmente no meio médico –, traz uma grande vantagem: o indivíduo deixa de ser avaliado pelo seu coeficiente de inteligência e passa a ser avaliado pela qualidade da sua relação com o meio ambiente (CARVALHO; MACIEL, 2002). A partir do final de 1995, a ONU alterou a termino- logia de ‘deficiência mental’ para ‘deficiência inte- lectual’. A justificativa é que o termo ‘intelectual’ é Marcia Regina Zemella Luccas Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 36 mais apropriado pelo fato de a deficiência mental referir-se ao funcionamento do intelecto espe- cificamente, e não ao funcionamento da mente 6.1 Níveis da Deficiência Intelectual como um todo. Embora essa seja uma boa mu- dança de nomenclatura, o termo ‘deficiência inte- lectual’ ainda é pouco usado nos dias atuais. AtençãoAtenção Deficiência Intelectual pode ser definida como: o funcionamento mental significativamente in- ferior à média, acompanhado de limitações sig- nificativas no funcionamento adaptativo – agora definido – em pelo menos duas das seguintes áreas: comunicação, autocuidados, vida domés- tica, habilidades sociais/interpessoais, uso de recursos comunitários, autossuficiência, habilida- des acadêmicas, trabalho, lazer, saúde, segurança; com início anterior aos 18 anos. Como classificado anteriormente, a OMS estabelece níveis de deficiência mental, são eles: leve, moderado, grave e profundo. �� Leve: sujeitos com este nível são co- nhecidos como “educáveis, ou limítro- fes”, desenvolvem habilidade social e de comunicação durante os anos pré-es- colares – zero a cinco anos –, têm com- prometimento mínimo em áreas sensó- rio-motoras, sendo indistinguíveis das crianças normais até idade mais avan- çada. Podem aprender as habilidades acadêmicas básicas na escola e, quando adultos, entram no mercado de traba- lho e vivem independentemente. �� Moderado: são aqueles sujeitos que aprendem a se comunicar durante os anos pré-escolares; podem ser bene- ficiados com treino vocacional, de- senvolvem habilidades de trabalho, habilidades sociais e, com moderada supervisão, conseguem cuidar de si mesmos. Durante a adolescência, po- dem apresentar dificuldades no relacio- namento interpessoal por apresenta- rem dificuldade de incorporar algumas convenções sociais. �� Grave: são aproximadamente 3 a 4% da população com esse tipo de deficiência; possuem desenvolvimento motor po- bre e linguagem escassa e com pouca intenção comunicativa. Podem desen- volver a fala e adquirir hábitos elemen- tares de higiene durante o período es- colar. Na idade adulta, são capazes de desempenhar tarefas simples sob es- treita supervisão. �� Profundo: são aproximadamente 1 ou 2% das pessoas com deficiência men- tal. Durante os primeiros anos de vida, exibem capacidade mínima de funcio- namento sensório-motor. São requeri- dos um ambiente altamente estrutura- do, com ajuda e supervisão constante, e um relacionamento individualizado, com dispensa de cuidados para desen- volvimento mais favorável. É importante ressaltar que essa classifica- ção é utilizada, principalmente, pela área médica e chega à educação por meio de laudos que os nossos alunos nos trazem, portanto é fundamen- tal conhecê-la; porém, é necessário que tenha- mos claro que essa classificação oportuniza um norte, e não deve determinar o que o aluno vai ter possibilidade de aprender ou não. Uma discussão fundamental que há na área médica e que faz uma importante contribuição na área educacional é o conceito da noção de neuroplasticidade. “A neuroplasticidade do cé- rebro refere-se a sua capacidade de estabelecer novas conexões no córtex cerebral e desta forma Fundamentos da Educação Especial Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 37 superar efeitos de alguns tipos de lesão” (SEESP, 2005, p. 16). Isso quer dizer que, mesmo que o deficiente mental tenha uma lesão no cérebro, a estimulação, principalmente nos primeiros anos 6.2 Causas da Deficiência Intelectual de vida, fará uma diferença significativa na sua possibilidade de aprendizagem, principalmente quando ingressar no ensino fundamental. Até a década de 1960, acreditava-se que a deficiência intelectual, ou também conhecida como deficiência mental, era causada somente por problemas biológicos. A partir da década de 1980, diversos trabalhos científicos apontaram que existem, aproximadamente, 50% de casos com mais de uma causa definida. Isso significa que devemos considerar fatores biológicos ou ambientais que podem afetar o parto ou o perío- do de desenvolvimento do sistema nervoso cen- tral, o que pode provocar anomalias prolongadas ou até permanentes. Podemos dizer que existem, como fatores de risco, as causas pré-natais, perinatais e pós- -natais, como segue (UOL, 2005): �� Causas pré-natais – são aquelas que vão incidir desde a concepção até o iní- cio do trabalho de parto, e podem ser: desnutrição materna; má assistência à gestante; doenças infecciosas, como sífilis, rubéola, toxoplasmose; proble- mas toxicológicos, como alcoolismo, consumo de drogas, efeitos colaterais de medicamentos, poluição ambiental, tabagismo; fatores genéticos, como al- terações cromossômicas(numéricas ou estruturais), por ex.: síndrome de Down, síndrome de Martin Bell; alterações gê- nicas, ex.: erros inatos do metabolismo (fenilcetonúria, entre outras), síndrome de Williams, esclerose tuberosa etc. �� Fatores perinatais – são os erros que vão incidir do início do trabalho de par- to até o 30º dia de vida do bebê, e po- dem ser divididos em: má assistência ao parto e traumas de parto como hipóxia ou anóxia (oxigenação cerebral insu- ficiente); prematuridade e baixo peso (PIG - Pequeno para Idade Gestacional); icterícia grave do recém-nascido; ker- nicterus (incompatibilidade RH/ABO). �� Fatores pós-natais – são os problemas que vão incidir do 30º dia de vida até o final da adolescência. Podem ocorrer: desnutrição, desidratação grave, carên- cia de estimulação global; infecções: meningoencefalites, sarampo etc.; into- xicações exógenas (envenenamento): remédios, inseticidas, produtos quími- cos (chumbo, mercúrio etc.); acidentes: trânsito, afogamento, choque elétrico, asfixia, quedas etc.; infestações: neuro- cisticercose (larva da Taenia Solium). Como apontado, são diversos os fatores que podem levar à deficiência intelectual; além dos citados, existem várias crianças nas quais o diagnóstico não encontra “uma causa” para essa deficiência, são os casos classificados como “retar- do mental sem causa específica” (Código Interna- cional de Doenças, CID-10). O que fazer, então, para se prevenir ou dimi- nuir as consequências dessa deficiência? Têm-se como prevenção primária as ações que devem ocorrer antes do início da condição, como no caso de evitar a síndrome alcoólica fe- tal, ou sempre procurar serviços de saúde para realizar acompanhamento durante a gravidez, evitar visitar pessoas com doenças infecciosas durante esse período, evitar a utilização de dro- gas e remédios que não tenham sido receitados pelo médico. A prevenção secundária visa a diminuir a duração ou reverter o impacto de problemas Marcia Regina Zemella Luccas Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 38 existentes, por exemplo: pelo tratamento com medicamentos específicos para o hipotireoidis- mo congênito; realizar o teste do pezinho e, se necessário, seguir as orientações médicas para dieta, como no caso da fenilcetonúria. A prevenção terciária busca limitar as con- sequências adversas da condição existente ou melhorar o nível funcional do indivíduo (repre- sentado, por exemplo, pelo trabalho de estimu- lação precoce). A deficiência mental é uma condição so- ciologicamente determinada, a qual des- creve as relações entre as capacidades do indivíduo e as demandas e expectativas de seu ambiente. Não se obterá sucesso na prevenção se nos restringirmos unica- mente aos fatores biológicos envolvidos. É preciso, também, abandonar a idéia de que a prevenção só pode ocorrer antes do nascimento: a prevenção deve ser es- tabelecida durante toda a vida, pois sem- pre há algo a ser feito (EMMEL, 2001, p. 146). A prevenção é um fator muito importante, pois, em alguns casos, pode-se evitar uma perda cognitiva, e, em outros, por meio da utilização de serviços de apoio, é possível que as crianças de- senvolvam objetivos pessoais a fim de terem uma vida mais independente e satisfatória. Retomando a questão, a deficiência inte- lectual apresenta limitações significativas no seu funcionamento adaptativo. As habilidades adap- tativas são: comunicação; habilidades acadêmi- cas; vida doméstica; trabalho; autodeterminação; lazer; uso de recursos comunitários; saúde e se- gurança; habilidades sociais/interpessoais; e au- tocuidado. As habilidades adaptativas são (CARVALHO; MACIEL, 2002): a) Comunicação: apresenta dificuldade na capacidade de compreender e de expressar informações por meio de: • Condutas simbólicas: palavra falada, escrita (ortografia), símbolos gráfi- cos, linguagem de sinais. • Condutas não simbólicas: expressão facial, movimento corporal, gestos. b) Cuidado pessoal (autocuidado): habi- lidades relacionadas com a autonomia que o sujeito possui em relação: • asseio; • alimentação; • vestuário; • higiene e aparência pessoal. c) Habilidades da vida no lar (ativida- des cotidianas): habilidades relaciona- das com a autonomia com que realiza atividades de funcionamento dentro do lar, que incluem: • cuidados com a própria roupa; • tarefas do dia a dia; • manutenção adequada de seus ob- jetos e da casa; • preparo e cozimento dos alimentos; • planejamento e previsão de com- pras; • segurança cotidiana; • planejamento diário. d) Habilidades sociais: são as habilidades relacionadas com os intercâmbios so- ciais com outras pessoas, incluindo: • iniciar, manter e finalizar interação com os outros; • compreender e responder aos indí- cios situacionais pertinentes; 6.3 Quais as maiores Dificuldades do Deficiente Intelectual e como Auxiliar seu Desenvolvimento? Fundamentos da Educação Especial Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 39 • reconhecer os próprios sentimen- tos; • regular a própria conduta; • ser consciente dos iguais e da acei- tação destes; • ajudar os outros; • fazer e manter amizades; • controlar os impulsos; • mostrar um comportamento sócio- -sexual adequado. e) Utilização de recursos da comuni- dade: habilidades relacionadas com a utilização adequada dos recursos da comunidade, que incluem: • transporte; • compras em lojas e supermercados; • obter serviços da comunidade: ofi- cinas, dentistas, médicos etc.; • utilizar os serviços: frequentar esco- las, livrarias, parques etc.; • assistir a teatro ou ir a centros cul- turais. f) Autodeterminação: habilidades rela- cionadas com: • eleger, aprender e seguir um horá- rio; • iniciar atividades adequadas a si- tuações, condições, horários e inte- resses pessoais; • acabar as tarefas exigidas ou neces- sárias; • buscar ajuda quando necessitar; • resolver problemas em situações novas e familiares. g) Saúde e segurança: habilidades rela- cionadas com a manutenção da própria saúde em termos de: • alimentação; • reconhecer quando está doente; • tratamento e prevenção das doen- ças; • primeiros cuidados; • sexualidade; • estado físico; • considerações básicas sobre segu- rança. h) Habilidades acadêmicas funcionais: habilidades cognitivas e habilidades re- lacionadas com as aprendizagens esco- lares que têm uma aplicação direta na vida pessoal (leitura, escrita, conceitos matemáticos etc.). É muito importante adquirir habilidades acadêmicas visan- do à vida independente. i) Lazer: habilidade de desenvolvimento de interesses variados por lazer e ativi- dades recreativas que refletem as esco- lhas pessoais: • escolher e seguir os próprios inte- resses; • utilizar e desfrutar os lazeres no lar e na comunidade, só e com outras pessoas; • comunicar as preferências e neces- sidades; • participar da interação social. Essas áreas devem ser avaliadas, e, a partir da funcionalidade que for verificada, podemos dizer o grau de comprometimento do indivíduo. É importante observar que, muitas vezes, o de- sempenho nas habilidades adaptativas pode ser muito “fraco”, pela impossibilidade de o deficiente intelectual desempenhar tais tarefas por insegu- rança da família ou dos profissionais que traba- lham com ele. Salientamos que é necessário sem- pre educar para a independência, acreditando na possibilidade que o indivíduo possui; se não dermos oportunidades para que ele desenvolva as próprias habilidades, ele nunca as terá. Pensando, então, na questão da plastici- dade cerebral e nas informações que possuímos acerca da construção do conhecimento, verifica- mos que somente vivendo situações reais e na convivência com outros diferentes é que teremos a possibilidade de um desenvolvimento pleno. Marcia Regina Zemella Luccas Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 40 Podemos dizer que essa divisão didática e conceitual que observamos anteriormente nos auxilia a pensar que nem tudo que parece ser causadopor uma deficiência é consequência direta dela ou so- mente dela. Ou seja, muitas coisas que consideramos serem causadas pela deficiência são, na verdade, causadas pela forma como nos relacionamos com a deficiência ou com a pessoa que a possui. Vamos, agora, avaliar a sua aprendizagem. Sugestão de filmes: Forrest Gump; Uma lição de amor; Meu nome é Rádio. MultimídiaMultimídia 6.4 Resumo do Capítulo 6.5 Atividades Propostas Agora, responda: 1. Como podemos definir deficiência intelectual? 2. Quais são os fatores de risco que podem causar a deficiência intelectual? 3. Quais são as áreas de funcionamento adaptativo em que o deficiente intelectual possui maior dificuldade? Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 41 [...] Ora, não percebeis que com os olhos alcançais toda a beleza do mundo? O olho é o senhor da astronomia e o autor da cosmografia; ele desvenda e corri- ge toda a arte da humanidade; conduz os homens às partes mais distantes do mundo; é o príncipe da matemática, e as ciências que o têm por fundamento são perfeitamente corretas. O olho mede a distância e o tamanho das estrelas; en- contra os elementos e suas localizações; ele [...] deu origem à arquitetura, à pers- pectiva, e à divina arte da pintura. [...] Que povos, que línguas poderão descrever completamente sua função! O olho é a ja- nela do corpo humano pela qual ele abre os caminhos e se deleita com a beleza do mundo. Leonardo Da Vinci DEFICIÊNCIA VISUAL7 O termo ‘deficiência visual’ refere-se a uma situação irreversível de diminuição da resposta visual, em virtude de causas congênitas ou he- reditárias, mesmo após tratamento clínico e/ou cirúrgico e uso de óculos convencionais. A dimi- nuição da resposta visual pode ser leve, modera- da, severa, profunda (categorias que compõem o grupo de visão subnormal ou baixa visão) e au- sência total da resposta visual (cegueira). O indiví- duo com baixa visão ou visão subnormal é aquele que apresenta diminuição das suas respostas vi- suais, mesmo após tratamento e correção óptica convencional, e uma acuidade visual menor que 6/18 à percepção de luz, um campo visual menor que 10 graus do seu ponto de fixação. É aquele que usa ou é potencialmente capaz de usar a vi- são para o planejamento e/ou execução de uma tarefa (BRASIL, 2005). 7.1 Como Funciona a Visão A visão funciona com a formação da ima- gem a partir de uma série de redes das quais os olhos são somente uma parte. A capacidade de ver e interpretar a imagem depende fundamen- talmente da função cerebral de reconhecer, de- codificar, armazenar e associar essas imagens a experiências anteriores. As imagens visuais formam-se pela excita- ção pela luz das moléculas fotossensíveis, desen- cadeando reações químicas e gerando impulsos nervosos que são conduzidos pelo nervo óptico ao córtex cerebral, responsável pela decodifica- ção, interpretação e associação da imagem. A imagem binocular acontece quando as duas imagens se fundem em uma única imagem pelas células corticais conecta- das às vias ópticas de ambos os olhos. Qualquer tipo de dificuldade de conver- gência (desvios) ou por erro de refração deve ser corrigido. A não correção faz com que o sujeito utilize o melhor olho suprimindo a imagem do outro ou fixan- do alternadamente, podendo gerar a bai- xa visão (BRASIL, 2005, p. 13). Marcia Regina Zemella Luccas Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 42 �� O olho �� Desenvolvimento da visão Idade Características Visuais 0 mês Não responde a qualquer estímulo no campo visual, exceto à luz. Algum grau de fixação. 1 mês Segue movimento lento de objetos. Começa a coordenação binocular. 2 meses Atenção a objetos a 20 cm ou mais. 3 meses Aperfeiçoa movimento dos olhos. Aperfeiçoa visão binocular. Reage a cores diferentes. Atenção nos objetos somente quando os manipula. 4 meses Fixa os olhos sobre a mão e permanece. Manifesta interesse por objetos pequenos e brilhantes. Tenta mover-se em direção ao objeto no seu campo visual. 5 meses Desenvolve coordenação olho-mão: esforços sucessivos de agarrar. Procura intencionalmente os objetos com os olhos, mesmo que seja apenas para brin- car com a luz. 6 meses Reconhece pessoas. Vira os olhos para a direita e esquerda. 7-8 meses Tenta pegar objetos além do alcance. Convergência dos olhos. 9 meses Observa a expressão das pessoas próximas e tenta fazer o mesmo. 1 ano Boa acuidade visual para perto e longe. Visão binocular. Focalização e acomodação. Fundamentos da Educação Especial Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 43 3 anos Desenvolvimento anatômico do olho está completo. Junta formas simples, faz contorno de formas simples, monta quebra-cabeças e ainda utiliza pistas táteis. 4-5 anos Distinção de cores é estabelecida. Visão de profundidade. Apto para leitura. 6 anos Acuidade visual 20/20 (1.0). Maturação do sistema visual. 8 anos Globo ocular do tamanho de adulto. AtençãoAtenção Deficiência visual refere-se a uma situação ir- reversível de diminuição da resposta visual. Pode ter basicamente duas possibilidades: a ce- gueira, ausência total da visão, ou pessoas com baixa visão ou visão subnormal, ou seja, pessoas que mesmo com correção óptica não conse- guem enxergar corretamente. Como explicamos, qualquer “erro” na visão deve ser corrigido. Quando isso não é possível, deve-se procurar saber qual é o problema e a me- lhor forma de lidar com ele. Os problemas ocu- lares indicados a seguir foram apontados como mais frequentes no livro Saberes e práticas da in- clusão: deficiência visual: Os erros de refração, ou seja, deficiên- cias visuais, passíveis de serem corrigidas com lentes corretivas apropriadas. São elas: miopia, hipermetropia e astigmatis- mo. Patologias oculares: as principais pato- logias oculares que mais afetam a visão das crianças são: • Toxoplasmose Ocular Congênita: doença infecciosa causada por agen- tes transmissores que estão presentes nas fezes do cachorro, gato, aves e na 7.2 As Patologias da Visão e suas Características carne de porco. A mãe infesta-se du- rante a gravidez e pode passar a infes- tação para seu filho. • Glaucoma Congênito: aumento da pressão interna do olho. A criança apresenta aumento do globo ocular, muita sensibilidade à luz, lacrimeja- mento e coceira. A cirurgia deve ser de- cidida o mais depressa possível, pois a perda visual pela hipertensão é rápida na criança. Nos casos mais avançados, existe o perigo de perfuração. Pode ge- rar cegueira. • Catarata Congênita: opacificação do cristalino, desenvolvida logo após o nascimento. Pode ser ocasionada por uma infecção durante a gestação, ser hereditária ou por trauma durante o parto. Conforme a intensidade da cata- rata, a cirurgia é indicada nas primeiras semanas de vida. Fonte: Perez Alves (2011). Marcia Regina Zemella Luccas Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 44 • Doenças hereditárias: Albinismo, Anomalias na Retina, Córnea, Íris, Má- cula, Nervo Óptico e Altas Miopias. • Retinopatia da Prematuridade: ocor- re em bebês prematuros expostos à aplicação de oxigênio. Provoca o apa- recimento de uma massa fibrosa na região da retina que pode levar ao seu descolamento. • Retinose Pigmentar: é uma doença hereditária, que ocasiona degenera- ção da retina que começa na periferia e, lentamente, compromete também a visão central. Não há cura até o mo- mento e pode levar à cegueira. • Conjuntivite Gonocócica: ocorre quando a mãe apresenta uma doença venérea (a gonorréia) e a transmite ao filho durante o parto normal. • Neurite Óptica: inflamação do nervo ótico do recém-nascido, associada, ge- ralmente, à presença na mãe de ane- mia, subnutrição, diabetes ou uso de drogas. OBS: algumas crianças com baixa vi- são podem ter movimentos rápidos nos olhos, de um lado para o outro. Esses movimentos são chamados de ‘nistag- mo’, que quase sempre é um problema de ordem neurológica e indica que o seu portador deve ter também desordens no sistema visual.(BRASIL, 2005, p. 24-32). Todas as patologias citadas podem gerar problemas oculares sérios para o sujeito que as tem. No caso dessas patologias, é necessário um trabalho diferenciado com os alunos, utilizando diferentes estratégias de ensino para que eles possam desenvolver as habilidades necessárias de orientação e locomoção, bem como as de lei- tura e escrita (BRASIL, 2005). Segundo a OMS, cerca de 1% da população mundial apresenta algum grau de deficiência vi- sual. Mais de 90% encontram-se nos países em desenvolvimento. Nos países desenvolvidos, a população com deficiência visual é composta por cerca de 5% de crianças, enquanto os idosos são 75% desse contingente. Podemos apontar algumas causas da de- ficiência visual. De maneira genérica, podemos considerar que nos países em desenvolvimento as principais causas são infecciosas, nutricionais, traumáticas e devido a sequelas ocasionadas por doenças como a catarata. Nos países desenvol- vidos, são mais importantes as causas genéticas e degenerativas. As causas podem ser divididas também em congênitas ou adquiridas. �� Causas congênitas: amaurose congê- nita de Leber, malformações oculares, glaucoma congênito, catarata congê- nita. 7.3 Causas da Deficiência Visual �� Causas adquiridas: traumas oculares, catarata, degeneração senil de mácula, glaucoma, alterações retinianas relacio- nadas à hipertensão arterial ou ao dia- betes. Fatores de Risco �� Histórico familiar de deficiência visual por doenças de caráter hereditário: por exemplo, glaucoma. �� Histórico pessoal de diabetes, hiperten- são arterial e outras doenças sistêmicas que podem levar a comprometimento visual, por exemplo: esclerose múltipla. �� Senilidade: catarata, degeneração senil de mácula. �� Não realização de cuidados pré-natais e pré-maturidade. �� Não utilização de óculos de proteção durante a realização de determinadas Fundamentos da Educação Especial Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 45 tarefas (por exemplo, durante o uso de solda elétrica). �� Não imunização contra rubéola da po- pulação feminina em idade reproduti- va, o que pode levar a uma maior chan- ce de rubéola congênita e consequente acometimento visual. Portanto, podemos entender que as causas citadas podem gerar a baixa visão ou cegueira. A baixa visão é caracterizada por pessoas que apresentam desde condições de indicar pro- jeção de luz até o grau em que a redução de sua acuidade visual interfere ou limita seu desempe- nho. Podemos didaticamente dividir em 2 grupos: �� Aquelas que podem ver objetos a pou- cos centímetros (2 ou 3 cm) e utilizam a visão para ler e escrever, com ou sem auxílios ópticos. �� Aquelas que em algum grau estão limi- tadas no uso de sua visão, mas utilizam- -na predominantemente no processo ensino/aprendizagem, necessitando, muitas vezes, de iluminação especial, auxílios ópticos etc. Quando a pessoa tem uma perda total da visão, até a ausência de projeção de luz, utiliza o Sistema Braille como principal veículo de comu- nicação e escrita no processo ensino/aprendiza- gem. Alguns sinais característicos da presença da deficiência visual na criança são: �� desvio de um dos olhos; �� não seguimento visual de objetos; �� não reconhecimento visual de familia- res; �� baixo aproveitamento escolar; �� atraso de desenvolvimento. No adulto, pode ser o “borramento” súbito ou paulatino da visão. Em ambos os casos, são vermelhidão, mancha branca nos olhos, dor, lacri- mejamento, flashes, retração do campo de visão que podem provocar esbarrões e tropeços em móveis. Em todos os casos, deve ser realizada avalia- ção oftalmológica para diagnóstico do processo e possíveis tratamentos, em caráter de urgência. 7.4 Como Trabalhar com estas Crianças? O Ministério da Educação e Cultura (BRA- SIL, 2005) indica algumas práticas que podem ser adotadas em classes regulares com alunos que apresentem baixa visão ou cegueira. É sempre importante ressaltar que os serviços de educação especial existem para auxiliar o professor no tra- balho com esses alunos e devem ser acionados, porém nós também podemos tomar algumas providências visando ao melhor desenvolvimen- to do aluno. �� Deixe os alunos se sentarem em locais onde possam ver (e ouvir) melhor. �� Identifique-se antes de falar, para bene- fício das crianças com dificuldades vi- suais, por exemplo: “Aqui é a Maria”, ou “O meu nome é...”. �� Escreva no quadro com letra grande e clara. �� Leia as instruções; nunca parta do prin- cípio de que todos conseguem ler no quadro. �� Especifique o que está ilustrado nos suportes visuais (por exemplo, do lado esquerdo está... e do lado direito está...). �� Reduza e, se possível, elimine o ruído de fundo para permitir que haja concen- tração total no que o professor(a) está dizendo, e para evitar que haja distra- ção de outros sons. Marcia Regina Zemella Luccas Unisa | Educação a Distância | www.unisa.br 46 �� Deixe as crianças tocarem nos suportes de ensino se não os puderem ver; os mapas, por exemplo, podem ser deli- neados com um fio. �� Os alunos com baixa visão poderão ain- da beneficiar-se da utilização de letras grandes, lupas, uso de iluminação apro- priada; suportes de leitura ou pranche- tas. �� Os alunos com cegueira poderão se be- neficiar da utilização de formação em Orientação e Mobilidade para se movi- mentarem com independência e segu- rança, de preferência com uma bengala. Devem ser ensinados a utilizar o Braille e podem gravar as aulas para facilitar seu acesso às informações. Sugestão de filmes: Perfume de mulher; À primeira vista. MultimídiaMultimídia 7.5 Resumo do Capítulo Aprendemos, neste capítulo da apostila, alguns aspectos da deficiência visual. É importante res- saltar que muitas pessoas utilizam lentes corretivas, óculos ou lentes de contato, mas essas pessoas não são consideradas como deficientes visuais. Os deficientes visuais são aquelas pessoas que, mesmo que utilizem a melhor correção óptica possível, não conseguem ter uma visão plena. Tivemos a oportunidade de verificar que existem várias formas de auxiliar o deficiente visual na sala de aula, de forma que ele não seja prejudicado no seu desenvolvimento cognitivo. Vamos, agora, avaliar a sua aprendizagem. 7.6 Atividades Propostas Agora, responda: 1. Como podemos definir deficiência visual? 2. Quais as diferenças entre cegueira e baixa visão? 3. Cite alguns recursos dos quais os alunos com baixa visão podem se beneficiar na classe regu- lar.
Compartilhar