Buscar

A_psicopatologia_psicanalitica_das_perve

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 21 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 21 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 21 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

I SSN 1808-4281 
Estudos e Pesquisas em Psicologia Rio de Janeiro v. 17 n. 2 p. 653-673 2017 
 
PSI COLOGI A CLÍ NI CA E PSI CANÁLI SE 
 
A psicopatologia psicanalít ica das perversões na 
atualidade: um a revisão sistem át ica 
 
 
The psychoanalyt ic psychopathology of perversions now adays: 
a system at ic review 
 
La psicopatología psicoanalít ica de las perversiones en la 
actualidade: um a revisión sistem át ica 
 
 
Cam illa Ferreira dos Santos* 
Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" - UNESP-Bauru, São Paulo, 
Brasil 
 
Érico Bruno Viana Cam pos* * 
Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" - UNESP-Bauru, São Paulo, 
Brasil. 
 
 
RESUMO 
O conceito de perversão sempre esteve im pregnado pela concepção da 
psiquiat r ia clássica de um desvio moral e sexual, e seu estatuto costuma ser 
mal compreendido na própria psicanálise. A presente pesquisa teve como 
objet ivo a discussão das perversões no âmbito da psicopatologia 
psicanalít ica. Trata-se de uma pesquisa teórico-conceitual, baseada na 
revisão bibliográfica sistemát ica da literatura nacional feita at ravés de um 
levantamento no portal da Biblioteca Virtual de Psicologia (BVS-PSI ) dos 
art igos de 10 anos (2003 – 2013) com os descritores psicanálise, perversão 
e psicopatologia. Chegou-se a um total de vinte e oito art igos, os quais 
foram resum idos e categorizados, e levados para a sistemat ização, a 
interpretação e discussão. Os resultados most ram que na caracterização 
psicopatológica a literatura PSI tende a privilegiar os m odelos pós-
freudianos da perspect iva lacaniana e da perspect iva das relações de objeto. 
Conclui-se que a literatura atual não tem avançado em novas propostas de 
const ructos teóricos acerca das perversões, demonst rando que o m odelo da 
formação do objeto- fet iche freudiano ainda predom ina como parâmetro para 
o seu entendim ento, e que as discussões psicodinâm icas e est ruturais têm 
dim inuído em det r imento de uma abordagem ampliada de crít ica sociológica 
e histór ica sobre a perversão como produto de uma ordem médico- jurídica 
própria da modernidade. 
Palavras- chave: perversão, psicopatologia, psicanálise. 
 
ABSTRACT 
The concept of perversion has always been steeped by the classic psychiat r ic 
concept ion of a sexual and moral deviance and its status is usually poorly 
understood in psychoanalysis itself. This research aim s at discussing the 
perversions within the psychoanalyt ic psychopathology. This is a theoret ic-
conceptual work, based on the Brazilian systemat ic literature review made 
Cam illa Ferreira dos Santos, Érico Bruno Viana Cam pos 
Estud. pesqui. psicol., Rio de Janeiro, v. 17, n. 2, p. 653-673, 2017. 6 5 4 
through a survey on the website of Vir tual Library of Psychology (BVS-PSI ) 
of art icles in 10 years (2003 – 2013) , with the descriptors psychoanalysis, 
perversion and psychopathology. I t was reached a total of twenty eight 
art icles, which were sum m arized and categorized, leading to a 
systemat izat ion, interpretat ion and discussion. The results show that 
regarding the psychopathological characterizat ion, literature tends to 
emphasize the Lacanian perspect ive and the object relat ions perspect ive 
post -Freudian m odels. The discussion often boils down to a historic 
resum pt ion or a general deconst ruct ion of the concept . I t can be concluded 
that the current literature has not progressed in propose new theoret ical 
const ructs about perversions, demonst rat ing that the Freudian model of the 
fet ish object format ion st ill predom inates as parameter for it s understanding 
and that psychodynam ic and st ructural discussions have decreased at the 
expense of broader sociological and historical cr it icism about the perversion 
as a medical- legal product of modernity. 
Keyw ords: perversion, psychopathology, psychoanalysis. 
 
RESUMEN 
El concepto de perversión siempre estaba llena de la concepción de la 
psiquiat ría clásica de una desviación moral y sexual y su estado es a 
menudo mal entendido en la psicoanálisis. Esta invest igación t iene como 
objet ivo la discusión de las perversiones dent ro de la psicopatología 
psicoanalít ica. Se t rata de una invest igación teórica y conceptual, basado en 
revisión bibliográfica sistemát ica de la literatura nacional realizada mediante 
de una encuesta en la página web de la Biblioteca Virtual de Psicología (BVS-
PSI ) de los art ículos de 10 años (2003-2013) con descriptores de 
Psicoanálisis, Perversión y Psicopatología. Llegamos a un total de veinte e 
ocho art ículos que fueron resum idos y categorizados, lo que lleva a una 
sistemat ización, interpretación y discusión. Los resultados m uest ran que 
sobre la caracterización psicopatológica, la literatura t iende a favorecer los 
modelos puesto freudianos de la perspect iva lacaniana y la perspect iva de 
las relaciones de objeto. Llegamos a la conclusión de que la literatura actual 
no ha avanzado en la propuesta de nueva const rucción teórica sobre las 
perversiones, lo que demuest ra que el modelo de la formación de freudiana 
fet iche a objetos aún prevalece como parámetro para su comprensión, y que 
las discusiones psicodinám icas y est ructurales han dism inuido en expensas 
de un enfoque más amplio a la crít ica sociológica e histórica sobre la 
perversión com o un producto de un sistema médico- legal de la propia 
modernidad. 
Palabras clave: perversión, psicopatología, psicoanálisis. 
 
 
I nt rodução 
 
O conceito de perversão carrega consigo m arcas do sent ido 
pejorat ivo do term o principalm ente por ter sido em pregado com o 
sinônim o de desvio sexual e m oral pela psiquiat r ia já no século XI X. A 
noção de perversão sem pre esteve associada, pr incipalm ente no que 
propaga o senso com um , com a própria ideia de um ser desum ano, 
dotado de natureza ant issocial - um sociopata ou psicopata - bem 
com o de condutas e hábitos sexuais bizarros. Assim , antes m esm o de 
estar vinculada a um a questão clínica, ela esteve m uito m ais 
Cam illa Ferreira dos Santos, Érico Bruno Viana Cam pos 
Estud. pesqui. psicol., Rio de Janeiro, v. 17, n. 2, p. 653-673, 2017. 6 5 5 
associada com a cr im inologia e com a degeneração m oral do 
indivíduo. 
A psicanálise se dispôs a t razer out ras significações para o conceito 
de perversão, propondo um novo olhar sobre esse assunto. Apesar 
disso, ainda hoje se vê m uito do discurso psiquiát r ico clássico 
contam inando as elaborações psicanalít icas sobre a perversão em 
várias esferas. Não obstante, a teorização sobre as perversões 
ganhou novos aportes a part ir das escolas pós- freudianas, 
convergindo para alguns m odelos em psicopatologia psicanalít ica. 
Além disso, o interesse pelas perversões foi renovado a part ir de 
discussões sobre as relações narcísicas e a perversão do laço social 
na contem poraneidade. 
Diante disso, propôs-se um a revisão sistem át ica da literatura PSI 
nacional com o form a de estudo exploratór io do cam po de discussões 
sobre essa tem át ica na atualidade. Assim , esta pesquisa teve com o 
objet ivo geral discut ir o estatuto do cam po das perversões no âm bito 
da psicopatologia psicanalít ica, propondo aprofundar a caracter ização 
das est ruturas e organizações perversas na atualidade. Tendo em 
vista o em basam ento teórico dos autores clássicos da psicanálise, 
podem os elencar alguns const ructos e m odelos iniciais e 
fundam entais de com preensão e descrição das perversões 
const ruídos histor icam ente, que servirão com o balizas e subsídios 
para a análise e discussão dos art igos selecionados para este estudo. 
Dent re as tendências básicas gerais, é possível notar que há quat ro 
perspect ivas abertas por Freud, que se polar izam ent re um a posição 
m ais genérica que tom a a perversão com o paradigm a para pensar o 
desejo, a sexualidade e a pulsão e, portanto, para afirm ar o próprio 
estatuto perverso do sujeito hum ano eout ra que tom a a perversão 
com o um possível arranjo est rutural específico e diferenciado, 
fortem ente em basado e apoiado no m ecanism o de form ação do 
objeto fet iche (Ferraz, 2010) . Dent re as perspect ivas pós- freudianas, 
a t radição lacaniana é responsável pela definição da perversão com o 
um a est rutura específica, dist inta da neurose e da psicose em sua 
saída diante da cast ração e tom ando o fet ichism o com o paradigm a. 
Essa perspect iva lacaniana de tom ar a perversão com o um a est rutura 
específica é bem representada na literatura de referência pelo 
t rabalho de Dor (1991) . Já a t radição das relações de objeto define as 
perversões com o um a saída diante de um a problem át ica de base 
psicót ica e, portanto, não const ituindo um arranjo est rutural 
específico ou m esm o um a ent idade nosográfica diferenciada. Essa 
tendência de diluição das perversões pode ser observada na literatura 
de referência na proposta de Bergeret et al. (2006) , que as situa no 
cam po das organizações lim ít rofes, refer idas à angúst ia de perda de 
objeto. 
 
 
Cam illa Ferreira dos Santos, Érico Bruno Viana Cam pos 
Estud. pesqui. psicol., Rio de Janeiro, v. 17, n. 2, p. 653-673, 2017. 6 5 6 
Metodologia 
 
Esta pesquisa é de caráter teórico-conceitual, tendo com o 
delineam ento um a revisão sistem át ica da literatura cient ífica nacional 
sobre a tem át ica da perversão com o ent idade nosográfica da 
psicopatologia psicanalít ica. Para tanto, efetuou-se um a am ost ragem 
criter iosa de art igos publicados na área por m eio de um levantam ento 
bibliográfico no portal da Biblioteca Virtual de Psicologia (BVS-PSI ) 
dos últ im os 10 anos, de 2003 até 2013, com os descritores 
psicanálise, perversão e psicopatologia. A inclusão da palavra 
“psicopatologia” na sua busca foi em pregada, pois prezam os por um 
entendimento da questão das perversões a part ir de um referencial 
geral, o qual abarcasse, num a definição de est ruturas gerais de 
organização dos m ecanism os do aparelho psíquico que im plicam em 
m odalidades preponderantes de defesas, fantasias, lógicas de 
sim bolização, angúst ias e sintom as, tanto por psicopatologia 
psicodinâm ica quanto est rutural, incluindo nesse segundo aspecto a 
concepção de est ruturas clínicas da abordagem lacaniana. Trata-se, 
portanto, de um dos recortes que a pesquisa propõe para viabilizar 
seu objeto. Assim , dos 72 resultados obt idos, foram excluídos 
aqueles que se lim itavam a fazer análises de film es ou livros sobre o 
tem a, ou seja, que recaiam m ais no âm bito de um a psicanálise 
aplicada, e aqueles que focavam a dim ensão social e cultural das 
perversões na atualidade, ou seja, que recaiam m ais no âm bito de 
um a psicologia social psicanalít ica. Desse m odo, rest r ingim o-nos 
apenas aos art igos que discut iam as perversões a part ir da clínica e 
da psicopatologia psicanalít ica. Com isso, chegou-se a um total de 51 
art igos. Em seguida, rest r ingiu-se a am ost ra aos art igos disponíveis 
na íntegra e gratuitam ente online, ou seja, em periódicos de acesso 
aberto. Essa escolha just ificou-se, para além da viabilidade da própria 
pesquisa, por se entender que esses art igos tendem a ter m aior 
visibilidade e alcance e, portanto, alcançarem m aior difusão na 
com unidade cient ífica da área. 
Por fim , depois de leitura com pleta e análise m ais apurada dos 
art igos, foi preciso descartar alguns deles da revisão sistem át ica já 
que não se encaixavam nos cr itér ios propostos para o cum prim ento 
dos objet ivos desta pesquisa, um a vez que estes art igos, em bora o 
t ítulo e resum o indicassem que haveria um a apresentação e 
discussão dos aspectos est ruturais e dinâm icos do aparelho psíquico 
na perversão, pouco m encionavam esses aspectos, acabando por 
const ituir m ais um a descrição clínica, focada em ilust rações de casos 
clínicos ou aspectos do m anejo técnico e não propriam ente os 
aspectos teóricos e psicopatológicos. Desse m odo, ao todo foram 
selecionados 28 art igos para const ituírem a am ost ra a ser 
sistem at icam ente revisada nesta pesquisa. 
 
Cam illa Ferreira dos Santos, Érico Bruno Viana Cam pos 
Estud. pesqui. psicol., Rio de Janeiro, v. 17, n. 2, p. 653-673, 2017. 6 5 7 
Resultados e Discussão 
 
Os resultados m ost ram alguns dados im portantes que podem 
esclarecer certas perspect ivas pelas quais a literatura nacional tem 
abordado a perversão. A categorização inicial im aginada não pôde ser 
com pletam ente desenvolvida a part ir da leitura e análise dos textos, 
um a vez que os art igos em geral não abordam de form a 
propriam ente aprofundada a caracter ização psicodinâm ica e 
est rutural da perversão, m esm o sendo art igos selecionados 
justam ente por se aproxim arem e alinharem a um a perspect iva do 
âm bito da psicopatologia psicanalít ica. Desse m odo, os art igos em 
geral fazem um a caracter ização m ais am pla da perversão, que inclui 
alguns sintom as e m ecanism os que estão relacionados àquilo que os 
autores querem discut ir em suas com unicações. Mas, m esm o quando 
este é o caso, a descrição é pouco abrangente e clara. I sso tornou a 
categorização sistem át ica dos porm enores conceituais dos 
m ecanism os psicodinâm icos inviável, fazendo com que se procedesse 
apenas com um a caracter ização e ident ificação dos m odelos teóricos 
gerais. 
Em relação à abordagem psicopatológica psicanalít ica, dos 28 art igos 
lidos, 17 deles [ Albert i & Mart inho (2013) ; Barbier i (2007, 2009) ; 
Borges et al. (2004) ; Cam pos (2010) ; Cast ro & Rudge (2003) ; 
Cout inho et al. (2004) ; Jorge (2006) ; Lim a (2010) ; Lippi (2009) ; 
Marques (2010) ; Mello (2007) ; Perez et al. (2009) ; Pim entel (2010) ; 
Reis Filho et al. (2004) ; Rudge (2005) ; Sim oni & Souza (2010) ] 
podem ser enquadrados a part ir da abordagem lacaniana, o que 
equivale a 60,71% . Do total, apenas quat ro art igos estão 
com preendidos dent ro da abordagem das relações de objeto: um 
bioniano (Marques, 2007) , um winnicot t ino (Gurfinkel, 2007) , um 
kleiniano (Welldon, 2008) e um não especificado (Klein, 2011) . I sso 
dem onst ra que a propagação de ideias em relação a este assunto 
dent ro do âm bito acadêm ico é m ajoritar iam ente difundida a part ir do 
ponto de vista da psicanálise francesa lacaniana. 
Do total, 13 art igos [ Barbier i (2007) ; Borges et al. (2004) ; Cam pos 
(2010) ; Cast ro & Rudge (2003) ; Cout inho et al. (2004) ; Flores 
(2010) ; Jorge (2006) ; Marques (2010) ; Mello (2007) ; Muribeca 
(2009) ; Perez et al. (2009) ; Rudge (2005) ; Sim oni & Souza (2010) ] 
rem etem ao m odelo fet ichista em Freud para descrever a perversão, 
o que equivale a 46,42% deles. Sem contar que em m ais um art igo 
(Gurfinkel, 2007) aparece tam bém o m odelo fet ichista, porém a 
part ir de um a concepção especificam ente winnicot t inana. Em bora 
m uitos art igos refiram -se ao m odelo perverso-polim orfo em Freud, 
apenas dois rem etem -se especificam ente a este m odelo para explicar 
a perversão, am bos do m esm o autor [ Ceccarelli (2005; 2011) ] . 
Dent re todas as categorias de conceitos envolvidos em um a 
caracter ização psicopatológica psicodinâm ica, a do m ecanism o de 
Cam illa Ferreira dos Santos, Érico Bruno Viana Cam pos 
Estud. pesqui. psicol., Rio de Janeiro, v. 17, n. 2, p. 653-673, 2017. 6 5 8 
defesa é a que m ais aparece na m aioria dos art igos, já que em 21 
deles a recusa é descrita com o m ecanism o específico da perversão, o 
que equivale a 75% . Obviam ente, os autores referem -se a esse 
m ecanism o nas m ais diversas denom inações e suas interpretações a 
respeito dele é part icular a cada um , sendo que, com o já foi 
ressaltado acim a, geralm ente não tem os um a apresentação explícita 
da posição do autor. Em um art igo (Ceccarelli, 2005) encont rou-se 
que o m ecanism o de defesa tam bém é o recalque, o que é um aposição bastante part icular pois, em bora alguns out ros tam bém o 
citem , não o caracterizam com o específico para esta est rutura. 
Out ros dados gerais que sobressaem é que a subcategoria cisão do 
ego tam bém aparece em 46,42% art igos com o característ ica 
essencial presente na perversão, independente da abordagem a que 
os autores se referem , e que em 50% dos art igos a angúst ia própria 
da perversão apontada é a angúst ia de cast ração. Quanto a out ras 
angúst ias, aparecem tam bém a angúst ia de perda de objeto em t rês 
art igos [ Ceccarelli (2005) ; Klein (2011) ; Welldon (2008) ] , além da 
angúst ia de aniquilação em out ros t rês art igos [ Ceccarelli (2005; 
2011) ; Gurfinkel (2007) ] e a angúst ia depressiva em um único art igo 
(Rudge, 2005) . 
Sobre a fantasia t ípica da perversão, a questão que m ais aparece é 
que o perverso fantasia deter o saber sobre o gozo ou saber sobre a 
verdade do gozo, de tal form a que a “ent rada do sujeito perverso no 
m undo do sim bólico se deu at ravés da fixação no out ro polo da 
fantasia, no polo pulsional, no polo de gozo. O perverso tem 
um a fantasia de com pletude de gozo” (Jorge, 2006, p.33) . Reitera-se 
assim a posição de que o perverso possui um saber sobre a verdade 
e um poder sobre o gozo, o que implica um a postura de sedução e 
subm issão do out ro a part ir da assunção de um a posição fálica. 
Observou-se que grande parte dos autores relata com o 
sintom atologia própria da perversão, pr incipalm ente, a t ransgressão 
[ Barbier i (2007) ; (Cam pos, 2010) ; (Cast ro & Rudge, 2003) ; (Rudge, 
2005) ; (Ferraz, 2005) ; (Lippi, 2009) ] , o desafio [ (Barbier i, 2009) ; 
(Cam pos, 2010) ; (Cast ro & Rudge, 2003) ; (Cout inho et al., 2004) ; 
(Perez et al., 2009) ; (Reis Filho et al., 2004) ; (Rudge, 2005) ] e o 
act ing out ou passagem ao ato [ (Lim a, 2010) ; (Ferraz, 2005) ; (Klein, 
2011) ; (Welldon, 2008) ] . 
De m odo geral, observou-se um a grande diversidade de tem as 
relacionados à perversão. Artes, m edicina legal, toxicom ania, laço 
conjugal, polít ica, ent re out ros são tem as que foram pert inentes para 
ou autores correlacionarem com a perversão. I sso dem onst ra a 
heterogeneidade com que este tem a é t ratado, colocando assim em 
questão o quão diverso é a com preensão dos autores sobre o tem a e 
o quanto se pode avançar sobre o tem a em diferentes abordagens. 
Apesar disso, no que diz respeito à caracter ização clínica e 
Cam illa Ferreira dos Santos, Érico Bruno Viana Cam pos 
Estud. pesqui. psicol., Rio de Janeiro, v. 17, n. 2, p. 653-673, 2017. 6 5 9 
psicopatológica, observou-se um a carência de detalham ento dos 
pr incipais aspectos psicodinâm icos relacionados à perversão. 
As descrições dos autores em geral rem etem apenas aos aspectos 
m ais com uns e estabelecidos da teorização sobre o tem a. Desse 
m odo, o que fica de um a leitura m ais panorâm ica do conjunto dos 
art igos são algum as linhas gerais bem dem arcadas e constantes, a 
saber: a est ruturação da personalidade a part ir da recusa da 
cast ração produzindo um a cisão do ego que perm ite um a postura de 
perversão da lei sim bólica e m oral, tendo com o ilust ração exem plar o 
m ecanism o de form ação do objeto fet iche. As tendências secundárias 
não são suficientem ente consistentes e presentes para m arcar 
efet ivam ente um const ructo diferenciado na literatura e, 
pr incipalm ente, os autores que tentam discut ir para além desses 
parâm etros clássicos não parecem convergir para um conjunto de 
hipóteses ou referências com uns. 
I sso por si só const itui um dado im portante e tam bém preocupante, 
pois se observa a desconsideração por um a discussão e 
caracter ização m ais porm enorizada no âm bito da literatura 
especializada da área, já que m esm o nos relat ivam ente poucos 
art igos que objet ivam um a discussão especificam ente psicopatológica 
sobre a perversão, o nível de detalham ento sobre esses aspectos é 
rest r ito. 
Além disso, constatou-se que a m aior ia dos art igos tende a pr ivilegiar 
um a discussão m ais enfocada no laço social contem porâneo ou então 
num a desconst rução da própria abordagem psicopatológica em 
psicanálise, sugerindo um a noção m ais sim ples e fundam ental de que 
a perversão, assim com o qualquer out ro sintom a, deva ser entendida, 
antes de m ais nada, com o o arranjo possível que o sujeito pôde fazer 
em sua tentat iva de sobreviver psiquicam ente. Esta posição, que é a 
da psicanálise por excelência, m as que, por out ro lado não avança 
em um aprofundam ento teórico no âm bito m ais propriam ente 
psicopatológico e psicodinâm ico é a sustentada por Ceccarelli (2005; 
2011) . Seus dois art igos cr it icam a psicopatologia e apontam cont ra o 
preconceito teórico e analít ico. Para o autor, escutar a variedade das 
m anifestações perversas da sexualidade a part ir de um a só referência 
teórico-clínica, adequando a escuta a um a categoria nosográfica 
rígida, atesta um em botam ento clínico que produz um m arasm o 
teórico e anula a r iqueza da descoberta freudiana. Em bora essa 
discussão seja válida, o autor não aponta com o podem os pensar e 
art icular essa pluralidade teórica. Além disso, o fato de haver um uso 
ideológico ou taxat ivo dos conceitos de um cam po não descarta a 
im portância de se ter m odelos teóricos que referenciem tam bém a 
prat ica clínica, um a vez que sem estes parâm etros, opera-se no 
escuro. 
Out ro texto que tam bém crit icou certa postura psicopatológica frente 
a perversão é o de Frota Neto & Rudge (2009) . Para esses autores, a 
Cam illa Ferreira dos Santos, Érico Bruno Viana Cam pos 
Estud. pesqui. psicol., Rio de Janeiro, v. 17, n. 2, p. 653-673, 2017. 6 6 0 
part ir de um a análise histór ica, o perverso é entendido com o o bode 
expiatór io, cuja periculosidade real ou fantasiada é elem ento 
fundam ental à sua eficiência em polar izar m ult idões em torno de e 
cont ra si. Sua figura rem ete a um dos m ais recentes desdobram entos 
desta ent idade do im aginário social e sua função é assum ir a culpa de 
todos e apresentar-se com o causa de um m al-estar colet ivo. 
A questão da desconst rução da perversão com o ent idade nosográfica 
é bastante discut ida, pr incipalm ente ent re os autores das teorias de 
gênero, os quais estão bastante preocupados em debater questões 
com o a diversidade e norm at ividade, posicionando-se cont ra um a 
postura preconceituosa. Preocupada com essas questões, Marques 
(2010) foca seu art igo em opor-se à ideia de que a hom ossexualidade 
estar ia at relada a perversão, evidenciado que a escolha de est rutura 
não tem relação algum a com a escolha de objeto, m as sim , com a 
m aneira pela qual se nega a cast ração sim bólica que am eaça e 
angust ia o sujeito, seja ele hom em ou m ulher. 
Para os autores dessa corrente, a discussão gira em torno da 
const rução histór ica do sistem a binário dos gêneros, a qual encerra 
im plicitam ente a crença num a relação m im ét ica ent re gênero e sexo: 
dois sexos, logo, dois gêneros. Contestam -se assim o caráter 
im utável do sexo, olhando at ravés de escopo histór ico com o foi feita 
a const rução dos gêneros, haja vista que “há um a com plexidade das 
prát icas sexuais e dos posicionam entos psíquicos que não pode ser 
reduzida tão sim plesm ente ao desm ent ido da diferença dos sexos e 
às concepções binárias do m asculino e do fem inino” (Ayouch, 2014, 
p.94) , põe-se em questão grande parte da const rução psicanalít ica de 
est ruturas de personalidade, com o é o caso da perversão, que é 
fundam entada principalm ente na diferença de sexos. Assim , para eles 
é necessário o quest ionam ento da interação ent re perversão com a 
realidade social, discut indo as concepções culturais do gênero e as 
form ações discursivas próprias a um a época e um a cultura. 
Nesse contexto, a teoria queer aparece com o forte representante de 
um a posição militante, preocupando-se em descont ruir tudo o que já 
se escreveu sobre o tem a e const ruir um novo saber sobre o sexo. O 
art igo de Flores (2010) propõe que essa polít ica fem inista é um a 
form a contem porânea de laço social que se sustenta 
pr ivilegiadam ente, se não exclusivam ente, no m ecanism o perverso 
da Verleugnung, a recusa. Ao desm ent ir a cast ração m aterna, a 
Verleugnung desm ente sim ultaneam ente a diferença sexual. Ao 
afirm ar isso, a autora garante um a posição dist inta cent rada apenas 
na discussão do laço social e das crít icas das teorias de gênero, pois 
afirm a justam ente o que os out ros negam e, nesse sent ido, 
reabilitam a noção de perversão que é rechaçada por eles. 
A questão da ident idade de gênero e do fem inino é bastante discut ida, 
relacionada tam bém a perversão fem inina. Muito em bora este 
conceito não faça parte dos objet ivos específico da pesquisa e, 
Cam illa Ferreira dos Santos, Érico Bruno Viana Cam pos 
Estud. pesqui. psicol., Rio de Janeiro, v. 17, n. 2, p. 653-673, 2017. 6 6 1 
portanto, não nos caiba prom over propriam ente um a discussão e 
problem at ização da tem át ica m asculina/ fem inina das perversões, 
ressaltam os a descrição de com o, em geral, isso aparece na am ost ra 
estudada. Dois textos se propõem a discut ir exclusivam ente esse 
tem a. Welldon (2008) aponta que a razão pelas quais a perversão 
m asculina e a fem inina são tão diferentes poderia obedecer às 
diferenças básicas quanto ao desenvolvim ento sexual norm al dos dois 
sexos. Nesse sent ido, a pr incipal diferença que há ent re a ação 
perversa de um hom em e de um a m ulher estar ia no objeto. Nos 
hom ens, o ato é direcionado cont ra um objeto parcial externo e no 
caso das m ulheres, o ato geralm ente é dir igido cont ra si m esm as, 
seja cont ra seus corpos ou contra os objetos que elas entendem 
com o sendo suas próprias cr iações, ou seja, seus bebês, sendo 
am bos os casos t ratados com o sendo objetos parciais desum anizados. 
Assim , a m aternidade perversa é produto da instabilidade em ocional 
e da inadequada individuação, t ratando-se do produto final de um 
abuso em série ou de um a depravação infant il crônica. A posição da 
autora, fundam entada a pr incípio em um a posição kleiniana de desvio 
da ordem natural, m arca no corpo a diferença, num a posição m ais 
biológica, descartando, porém , a dim ensão sim bólica e im aginária. 
Para ela, as fantasias de gênero são determ inadas pelo seu corpo 
biológico e, por si só, isso seria caracter izante da perversão, 
retom ando assim a posição freudiana do bebê ser o falo m aterno. 
Já Cam pos (2010) insiste que o fet ichism o que se const itui nas 
m ulheres é m ais um fet ichism o “ relacional” , em que o próprio vínculo 
pr im ário m ãe- filha é fet ichizado do que propriam ente a const ituição 
de um objeto fet iche concreto e externalizado, com o é com um nas 
perversões m asculinas. De m odo geral, afirm a para as perversões 
fem ininas a m esm a posição est rutural que as m asculinas, que, 
em bora não se explique m uito bem com o se dá, consist ir ia em um a 
fixação na segunda etapa do com plexo de Édipo, na ident ificação 
narcísica com a m ãe fálica e com a posição de seu falo. Esta posição 
seria expressa por m eio da const rução de objetos/ relações fet ichistas, 
em que se assum e a posição de ter o objeto com o form a de 
perm anecer detentor do saber sobre o gozo do Out ro. 
Grande parte dos art igos revisados, ao ut ilizar-se de vinhetas ou 
descreverem casos clínicos para ilust rar o que se propõem a discut ir 
teoricam ente em seus textos, insistem em um a dim ensão 
t ransferencial com o característ ica da perversão. A perversão de 
t ransferência é part icularm ente discut ida no art igo de Klein (2011) , 
em que a autora discute a tendência do paciente perverso a erot izar 
a t ransferência e a ut ilizar as palavras e os silêncios para excitar o 
analista, assim com o sua passividade para provocar sua im paciência 
e levá- lo ao act ing out . Segundo a autora, esse t ipo de paciente 
exerce pressão sobre o analista para deslocá- lo de seu lugar e 
com prom etê- lo em enactm ents cont rat ransferenciais perversos, 
Cam illa Ferreira dos Santos, Érico Bruno Viana Cam pos 
Estud. pesqui. psicol., Rio de Janeiro, v. 17, n. 2, p. 653-673, 2017. 6 6 2 
tentando converter o analista num sócio perverso e cúm plice. Assim , 
a m odalidade t ransferência-cont rat ransferência está determ inada 
pela est rutura perversa do m undo objetal interno inconsciente do 
paciente, m as o analista, de m aneira inconsciente, tam bém se 
com prom ete. 
A prát ica clínica é tam bém abordada no texto de Cout inho e 
colaboradores (2004) , em que os autores se preocupam em fazer 
um a análise da posição subjet iva do perverso na relação analít ica e 
em desconst ruir a noção de que o perverso não procura a clínica e 
não possui sofr im ento psíquico, apontando inclusive possíveis 
recursos tát icos para o m anejo da t ransferência com perversos. 
No âm bito das opiniões do senso com um ainda propagadas nos 
art igos, encont ram os a respeito do sofr im ento psíquico um ponto 
im portante a ser destacado, posto que a m aior ia dos art igos não se 
refere ao sofr im ento psíquico perverso. Em bora os autores tendam a 
descartar a concepção generalizada de negação de que não haja 
sofr im ento no perverso, não chegam a aprofundar na caracter ização 
das m odalidades específicas de angúst ia e out ras dinâm icas 
defensivas e afet ivas próprias dessas est ruturas subjet ivas. 
Seguindo a tendência que já apontam os, cabe ressaltar que alguns 
art igos analisados t ratam do tem a da perversão de form a bastante 
superficial, calcadas pura e sim plesmente no aporte teórico freudiano, 
sem preocupar-se em t razer nenhuma cont r ibuição m ais atual para a 
discussão. Esse é o caso do art igo de Mello (2007) , t rabalho que faz 
som ente um a recapitulação do conceito de perversão e com o este se 
m odificou ao longo da obra freudiana até chegar ao fet ichism o, e do 
texto de Muribeca (2009) , o qual lim ita-se a t razer tudo o que Freud 
propôs sobre a perversão, só para apontar com o a própria concepção 
de perversão se m odificou com o advento do DSM- I V. 
Nessa linha tam bém seguem os textos de Borges (2004) , o qual 
endossa um a perspect iva clássica em psicanálise: a est rutura só se 
consolida diante da revivência do Édipo na puberdade; de Alves & 
Sousa (2004) , o qual se resum e a fazer um a caracter ização da 
Medicina Legal sobre a perversão e seu conflito com a psicanálise; e o 
de Pim entel (2010) , o qual, ao t razer a discussão sobre a psicopat ia, 
reitera o preconceito em sua caracter ização de “sintom as” , com o, por 
exem plo, t ranstorno de conduta. 
Out ros art igos t ratam de tem ais m ais específicos, com o é o caso de 
Ferraz (2005) , no qual são com paradas característ icas ent re a 
neurose obsessiva e a perversão com aspectos da religião e da gnose 
para defender que eles se organizam em um a relação ant itét ica. 
Em bora o texto se aprofunde m ais na questão neurót ica, não deixa 
de fazer sua cont r ibuição ao evidenciar as sim ilar idades ent re a gnose 
e a perversão. Já Barbier i (2009) , aborda o tem a pelo viés do hum or 
e da sublim ação, tentando responder à pergunta de com o podem os 
entender que o perverso o qual, supostam ente, desm ente e desafia a 
Cam illa Ferreira dos Santos, Érico Bruno Viana Cam pos 
Estud. pesqui. psicol., Rio de Janeiro, v. 17, n. 2, p. 653-673, 2017. 6 6 3 
lei civilizatór ia em sua busca de sat isfação, lança m ão desse desvio 
que corresponderia à sublim ação. A autora aponta que é justam ente 
por essa habilidade de desviar-se dos obstáculos à sat isfação 
pulsional, diante de um a im possibilidade de realizar o ato, que o 
perverso se vê obrigado a form ular em out ro ato sua recusa da 
cast ração enveredando por um a sat isfação subst itut iva,que acaba 
por revelar-se com o cr iação. Assim , o perverso ter ia de lidar com os 
lim ites da realidade e da lei, de tal form a que a sublim ação seria um a 
via subst itut iva igualm ente válida. 
Já no art igo de Reis Filho e colaboradores (2004) , a questão gira em 
torno de um t raum a não sim bolizado, o que, segundo eles, seria 
diferente da recusa da cast ração. Porém , curiosam ente os autores 
não caracter izam ou definem explicitam ente esses m ecanism os. Para 
eles, o t raum a, m esm o que não anule a percepção, não se inscreve 
sim bolicam ente na cadeia significante, perm anecendo no psiquism o 
sem pre pronto a fazer irrupções nos m om entos m enos esperados. 
Para com pensar, cr ia-se um a realidade que subst itui aquilo que falta, 
seja pelo fet iche, seja pelas posições m asoquista e sádica. Assim , a 
or igem está em um t raum a não sim bolizado e não em um a defesa 
cont ra a angúst ia de cast ração ou a perda do falo m aterno. Porém 
não chegam a especificar sobre out ra dim ensão da angúst ia com o 
fator cent ral ou caracter izam m elhor a natureza desse t raum át ico. 
Com o se pode observar, a am ost ra de art igos sobre o tem a é 
bastante variada em suas tentat ivas de art iculação das perversões 
com out ras tem át icas m ais gerais, quer seja no âm bito da teoria 
psicanalít ica, quer seja no de out ras teorizações m ais am plas sobre a 
cultura e a subjet ividade. No entanto, no que tange ao 
aprofundam ento da discussão de m odelos de com preensão da 
perversão a part ir dos parâm etros da psicopatologia psicanalít ica, a 
questão é um pouco m ais delicada. Em um a perspect iva m ais geral, 
com o já apontado, encont ram os reiteradam ente as m esm as balizas 
básicas. Porém , em um a abordagem m ais det ida e porm enorizada, 
conseguim os refinar e am pliar o quadro de m odelos em ut ilização na 
literatura. 
De m odo geral, podem os observar basicam ente t rês grandes grupos 
de m odelos na caracter ização das perversões: o freudiano, o 
lacaniano e o kleiniano. Poucos textos são est r itam ente freudianos e 
os art igos lacanianos tendem a se refer irem m ais det idam ente ao 
legado e percurso de Freud no m érito da questão. A grande m aior ia 
dos textos revisados segue a abordagem lacaniana, então foram as 
nuances de m odelos e abordagens dent ro dessa t radição que 
puderam ser m ais bem abordadas. 
Em geral, os textos tendem a rem eter aos fundam entos freudianos e 
indicar os dois polos da problem át ica que se anunciam em sua obra. 
Assim , os textos costum avam part ir de um a caracter ização geral da 
perversão com o polim orfia própria das pulsões e com o negat ivo da 
Cam illa Ferreira dos Santos, Érico Bruno Viana Cam pos 
Estud. pesqui. psicol., Rio de Janeiro, v. 17, n. 2, p. 653-673, 2017. 6 6 4 
neurose para afirm ar a cent ralidade do tem a para a concepção de 
sujeito em psicanálise. O art igo de Lippi ilust ra bem essa posição ao 
afirm ar que a t ransgressão, com o posição exem plar da perversão, é 
um jogo que consiste em “um a astúcia, um est ratagem a para poder 
gozar, graças ao fantasm a” (2009, p. 182) , sendo tom ada com o um a 
característ ica fundam ental do sujeito e do desejo, justam ente para 
descolá- la da ident ificação com um a est rutura perversa, cont r ibuindo 
assim para um a descaracter ização da perversão com o est rutura e sua 
ident ificação com a natureza fundam ental do desejo. Trata-se de um 
art igo im portante para fundam entar a postura ontológica 
fundam ental da concepção de sujeito em Lacan e para caracter izar 
sua postura em que a perversão é a tônica do desejo e, portanto, de 
natureza generalizada. 
Em seguida, os art igos costum am abordar propriam ente a concepção 
de um a est rutura perversa, tom ada a part ir do m odelo da form ação 
do objeto fet iche. I sso quer dizer que os textos consultados da 
literatura não fazem jus à própria com plexidade do tem a na obra 
freudiana, reduzindo-a a seus dois polos m ais característ icos e 
antagônicos. Com isso desconsideram o potencial de out ras 
caracter izações perversas para além do fet ichism o para a 
com preensão do fenôm eno, pr incipalm ente a dinâm ica sado-
m asoquista, que com parece sistem at icam ente na obra de Freud com o 
fonte de inspiração e discussão, m as que sim plesm ente parece não 
cont r ibuir em nada para o m odelo genérico da perversão com o um a 
ent idade psicopatológica específica que ficou com o legado para sua 
obra. 
Um a exceção pode ser encont rada no art igo de Cast ro & Rudge 
(2003) , em que aparece a caracter ização de que tanto o sádico com o 
o m asoquista se oferecem com o inst rum ento de gozo do Out ro, 
colocando-se em posição de objeto, sendo que o m asoquista se exibe 
abertam ente com o objeto, enquanto o sádico desem penha este papel 
de form a inconsciente. Tam bém afirm am que no sadism o o objet ivo 
de suscitar a angúst ia no out ro não é para causar sofr im ento, m as 
para radicalizar a divisão do out ro. I sto é bem m ais explícito do que 
no m asoquism o, que tam bém o busca, em bora de m aneira m enos 
óbvia, ao provocar o const rangim ento de seu algoz. Porém , observa-
se, a caracter ização é m ais descrit iva e pouco avança na 
com preensão da est rutura da dinâm ica relacional ou rem ete aos seus 
m ecanism os geradores. 
Ainda no que tange à abordagem lacaniana, os m odelos que m ais se 
destacam são o da perversão com o est rutura e o da perversão com o 
expressão da natureza t ransgressora do desejo. Com o esses dois 
m odelos lacanianos reiteram os dois polos da abordagem freudiana, 
tem se que a abordagem lacaniana consolida a noção de duas leituras 
psicanalít icas para a perversão. A pr im eira é m ais geral, ligada ao 
desejo e à própria natureza da subjet ividade, que serve então com o 
Cam illa Ferreira dos Santos, Érico Bruno Viana Cam pos 
Estud. pesqui. psicol., Rio de Janeiro, v. 17, n. 2, p. 653-673, 2017. 6 6 5 
um princípio ontológico e ét ico geral da psicanálise cont ra o 
m oralism o e a norm at ividade. A segunda é m ais específica e 
propriam ente psicopatológica, pois rem ete às perversões um arranjo 
est rutural característ ico, que se opõe à neurose e à psicose. Essa 
posição pode ser claram ente constatada no art igo de Rudge (2005) , 
que, apesar de falar de um discurso perverso, ainda se rem ete ao 
m odelo est rutural clássico lacaniano, ou seja, fala do discurso no 
sent ido est rutural e não com o form a de laço social. 
De qualquer form a, a abordagem lacaniana vem consolidar um 
m odelo que era incipiente em Freud, tornando-se um a proposta 
bastante difundida na psicopatologia psicanalít ica. Podem os afirm ar 
que esse acoplam ento ent re os m odelos freudianos e lacanianos 
acabou cont r ibuindo para a tendência m ais forte e consagrada de 
abordagem e com preensão das perversões no senso com um da 
psicanálise contem porânea. 
Contudo, a revisão dos textos lacanianos m ost rou que a problem át ica 
da perversão não é tão sim ples nessa t radição psicanalít ica. I sso se 
dá pr incipalm ente porque a abordagem est rutural se torna um a 
perspect iva ult rapassada no últ im o m om ento da obra de Lacan. 
Contudo, não encont ram os textos suficientem ente esclarecedores na 
definição do estatuto das perversões no cam po do gozo ou na clínica 
do real em Lacan, o que m ost ra que a literatura nacional sobre o 
tem a, m esm o que m ajor itar iam ente alinhada a essa t radição, não 
conseguiu avançar m uito em relação aos m odelos m ais consagrados. 
O m ínim o que se diz a respeito disso pode ser constatado no art igo 
de Albert i & Mart inho (2013) , que conclui que o gozo perverso não 
pertence exclusivam ente à est rutura perversa, podendo o sujeito 
gozar perversam ente or ientado, quando neurót ico. O que dist ingue 
fundam entalm ente o neurót ico do perverso é a posição desejante, 
haja vista que ele está no lugar da vontade de gozo, de inst rum ento 
que suplem entao Out ro com gozo, dividindo seu parceiro, fazendo 
dele sujeito. 
Por fim , o que podem os encont rar com o um a terceira via ent re os 
dois m odelos lacanianos foi a discussão da perversão com o um t raço 
ou m ontagem . Nessa perspect iva, se afirm a a perversão não a part ir 
de um a est rutura subjet iva específica, m as a part ir de certas 
característ icas m ais pontuais e rest r itas presentes com o um “ t raço” 
no âm bito m ais geral da est rutura ou m esm o no âm bito de um a 
“m ontagem ” relacional intersubjet iva. Desse m odo, o t raço perverso 
pode aparecer em qualquer uma das est ruturas e ilust ra o 
fundam ento da perversão original, ou seja, após a consolidação da 
personalidade, algum t raço da perversão ficar ia recalcado 
perm anecendo com o t raços que em ergem em act ing outs ou 
passagens ao ato. Esta característ ica estar ia associada a algo m ais 
circunscrito, de ordem propriam ente de um sintom a que seria 
Cam illa Ferreira dos Santos, Érico Bruno Viana Cam pos 
Estud. pesqui. psicol., Rio de Janeiro, v. 17, n. 2, p. 653-673, 2017. 6 6 6 
dissonante em relação às out ras form ações sintom át icas de um 
sujeito. 
Barbier i (2007) destaca em seu art igo que o t raço perverso seria da 
ordem de um com portam ento sexual m ontado sobre um a fantasia 
que veicula um gozo. É um efeito de gozo im plicado na finalidade do 
ato, que é de provocar a divisão subjet iva do out ro. Esta perm ite ao 
sujeito gozar, resguardado da angúst ia de cast ração e tam bém tem 
por finalidade chocar o out ro. O segundo efeito é ét ico e perm eia o 
argum ento at ravés do recurso à m oralidade. Tal argum ento propõe o 
direito de gozar do corpo do out ro. A vontade de gozo fica então 
inst ituída com o lei natural. Assim o sujeito – colocando-se em posição 
de objeto – opera um a inversão da relação com o out ro, denunciando 
a verdade sobre o seu desejo e a sua falta. O out ro é que desejou e 
provocou seu ato, não ele. Ainda para essa autora, esta im postura se 
presta ao aliciam ento do neurót ico “desprevenido” que, fisgado ent re 
esses efeitos de gozo e a sua verdade recalcada, part icipa dela do 
m esm o m odo que no chiste, onde um diz a verdade e os out ros dela 
desfrutam , const ituindo um a m anobra que favorece um a sat isfação 
perversa. 
Esse t ipo de m anobra, em um a dim ensão m ais abrangente, é o que 
está em jogo nas cham adas m ontagens perversas. Em seu art igo, 
Perez e colaboradores (2009) propõem que há um a m ontagem 
perversa, a qual está m ais ligada a um a posição frente ao gozo, 
refer indo-se a posição discursiva lacaniana. Podem ent rar num a 
m ontagem perversa quaisquer sujeitos a part ir de um a circunstância 
relacional, os quais, em conjunto, adent ram no m esm o fantasm a, 
num a tentat iva de chegar a um m odo específico de gozo, ut ilizando-
se da posição de inst rum ento e de detentor do saber sobre esse gozo, 
cum prindo um fim ut ilitár io. Os autores apontam o laço social com o 
definidor dos m ecanism os específicos da perversão. O objeto parcial 
no fantasm a apresenta-se com o uma regra absolutam ente universal. 
Nesse sent ido, qualquer est rutura pode ser regida at ravés de um a 
solução perversa, num a m ontagem colet iva. Basta o m ínim o de 
inst rum entalização dos sujeitos e a consequente redução de 
possibilidade sim bólica or iunda daí, para que um a relação perversa se 
instale. Assim , nas m ontagens ocorre um a form a de captura que é da 
ordem intersubjet iva. 
Avançando um pouco m ais em relação aos dem ais textos que 
abordam a questão, Lim a (2010) , apoiando-se fundam entalm ente no 
term o Zeichen com o ele aparece nos prim eiros textos de Freud ( t raço 
ou signo de percepção com o o parâm et ro indicat ivo para o teste de 
realidade do ego) discute a possibilidade de que os sintom as das 
psicopatologias assim com o os próprios processos defensivos 
operariam a part ir da falha na t ranscrição sucessiva desses regist ros. 
Desse m odo, essa falha operaria um a im possibilidade de elaboração 
sim bólica da experiência, ficando em um regist ro im agét ico pr im it ivo. 
Cam illa Ferreira dos Santos, Érico Bruno Viana Cam pos 
Estud. pesqui. psicol., Rio de Janeiro, v. 17, n. 2, p. 653-673, 2017. 6 6 7 
Assim , o autor propõe que o m ecanism o de defesa que opera é da 
ordem de um a recusa da realidade, portanto, da ordem de um 
m ecanism o perverso. Esse m ecanismo produzir ia então as condições 
para passagens ao ato que não se caracter izariam com o atuações no 
sent ido m ais t radicional, m as sim seriam , na verdade, a irrupção de 
um gozo da ordem do real, abrindo um a brecha na organização 
sim bólica e fálica predom inante na est rutura dos sujeitos. A 
apresentação feita pelo autor de um m odelo para pensar o t raço 
est rutural perverso é um a questão pert inente e poucas vezes 
t rabalhada. A recusa descrita é m ais específica, operando um a falha 
de t radução de algum as m arcas de sim bolização prim it ivas. 
Basicam ente, não se t rata de um a operação est rutural, m as apenas 
pontual. Já Sim oni & Souza (2010) salientam que a questão da 
m ontagem perversa deve ser analisada a part ir do ponto de vista 
lógico, um a vez que é a part ir desse lugar que se encont ra com a 
posição perversa dent ro da clínica e não a part ir de um ponto de vista 
psicopatológico est rutural. Desse m odo, esses autores afirm am que o 
sujeito, independentem ente da est rutura, pode apresentar um a 
m ontagem ou t raço perverso para solução do problem a edipiano ou 
com o form a de evitar a dor psíquica. De qualquer form a, quer seja a 
part ir do t raço ou da m ontagem , alguns autores avançam em relação 
a um a perspect iva est r itam ente est rutural para pensar os fenôm enos 
perversos. Contudo, observou-se que a dist inção ent re um t raço ou 
um a m ontagem não fica m uito bem delim itada pelos autores que se 
propõem a t ratar sobre o tem a. 
Já no âm bito da t radição das relações de objeto, t ivem os, com o já 
apontado, poucos art igos, m as eles cham am a atenção por sua 
diversidade. Em bora apenas um texto específico ilust re o m odelo 
clássico dessa t radição sobre a perversão com o o negat ivo da psicose 
(Klein, 2011) , tam bém encont ram os referências a um a perspect iva 
m ais especificam ente bioniana sobre o tem a (Marques, 2007) e 
tam bém a out ra winnicot t iana (Gurfinkel, 2007) . Em todos, para além 
da negação das angúst ias psicót icas, evidencia-se um a concepção 
m ais propriam ente t raum át ica para a gênese das dinâm icas 
perversas, em que a dim ensão da autent icidade no vínculo com o 
objeto ganha destaque. Assim , os autores dessa t radição teórica 
postulam que t raum a e autent icidade são dim ensões essenciais para 
descrever a gênese da perversão. 
Klein (2011) retom a a consideração da hum ilhação e os m aus- t ratos 
na infância com o um fator et iológico significat ivo, entendendo que a 
perversão é um a form a de luta cont ra experiências t raum át icas 
infant is e cont ra am eaças à ident idade egoica e de gênero. O ato 
perverso se dá com a finalidade de vingar e t r iunfar sobre os t raum as 
e o objeto t raum at izante. Assim , além da constelação essencial do 
t r iunfo narcísico, a essência da perversão é a conversão de um 
t raum a infant il num t r iunfo adulto. Além disso, resgata a sugestão de 
Cam illa Ferreira dos Santos, Érico Bruno Viana Cam pos 
Estud. pesqui. psicol., Rio de Janeiro, v. 17, n. 2, p. 653-673, 2017. 6 6 8 
que a perversão surge do ódio, produto da relação com um a m ãe 
frust radora derivada da fixação ao t raum a e não se t ratando apenas 
de um gozo. 
Gurfinkel (2007) apresenta um esboço do que seria a perversão na 
perspect iva winnicot t iana. Para ele, é na dist inção ent re o eu e o 
out ro, e, portanto, na desconfiguração do fenôm eno t ransicional que 
se fixa o conflito est ruturante. Assim , seria nesse contexto de 
patologizaçãodos fenôm enos t ransicionais que se configura o fet iche. 
I sso se daria porque observa-se um exagero no uso do objeto 
t ransicional, um a espécie de hiperinvest im ento, com o tentat iva de 
negação de que haja am eaça do objeto se tornar sem sent ido. A 
função do objeto t ransicional se m odifica de m eio de com unicação 
para negação da separação, tornando-se coisa em si, com o est ratégia 
defensiva diante de um a am eaça de aniquilam ento. Esta est ratégia 
cr istaliza o indivíduo no instante da im inência do colapso. Assim 
evita-se pelo m ecanism o de negação a queda no vazio do 
desinvest im ento, tanto do objeto com o do self. Portanto, há um 
adoecim ento fundam ental da relação do sujeito com a realidade, que 
conduz ao uso fet ichizado dos objetos e à inversão potencial ent re 
sujeito e objeto. 
Já o art igo de Marques (2007) , propõe caracter izar certos elem entos 
m entais que configurariam um a form a de ação em ocional de cunho 
perverso que não se rest r ingir ia a um a est rutura ou m anifestação 
psicopatológica específica, m as que se evidenciar ia nos m ais diversos 
m om entos da vida cot idiana. A hipótese pr incipal é que as ações 
perversas são m ovim entos de distorção do pensam ento, os quais 
produzem um descolam ento da realidade vital e anim ada do vínculo 
hum ano de form a a produzir um a existência paralela que se sobrepõe 
e im ita o hum ano, porém em um a condição existencial inautênt ica, 
im possibilitando assim a realização sim bólica propriam ente hum ana. 
O que se nota da leitura dos poucos art igos nessa t radição, em 
especial pelas referências citadas pelos autores, é que as discussões 
nessa área tendem a se organizar em torno de um a noção genérica 
de t raum a. Contudo, os textos estudados que abordam as perversões 
sob um a perspect iva da psicanálise contem porânea e, portanto, para 
além das grandes escolas t radicionais, foram poucos e tam bém pouco 
elucidat ivos em um a visão m ais sistem át ica ou m esm o um m odelo 
m ais característ ico e definido das perversões que pudesse cont rastar 
com o lacaniano da est rutura perversa e com o kleiniano da defesa 
cont ra a psicose. O que se pôde notar é um a certa convergência geral 
na referência de autores com o Stoller, McDougall, Winnicot t e 
Kernberg em torno de um t raum a am biental com o fator et iológico, 
m as a caracter ização m ais específica fica a desejar. 
A perspect iva t raum át ica para pensar as relações de objeto iniciais 
tam bém está presente na proposta m ais contem porânea de Bergeret 
(2006) . Esse autor considera que o fator et iológico pr im ário do 
Cam illa Ferreira dos Santos, Érico Bruno Viana Cam pos 
Estud. pesqui. psicol., Rio de Janeiro, v. 17, n. 2, p. 653-673, 2017. 6 6 9 
cham ado t ronco com um das organizações lim ít rofes é da ordem de 
um t raum a que antecipa dinâm icas para as quais o aparelho psíquico 
infant il ainda não está preparado, com o um a form a de int rusão que 
produz um a desorganização precoce e um a resposta com pensatória 
que é m ais frágil e lábil. Nesse sent ido, sua visão geral se alinha a 
perspect ivas de autores que versam sobre a inautent icidade na 
const ituição do núcleo da personalidade, tais com o McDougall e 
Winnicot t o que é, adem ais, um a tendência de autores m ais 
contem porâneos na linhagem das relações de objeto. 
Porém , no que diz respeito a esse m odelo, constatam os que nenhum 
dos art igos estudados da literatura nacional t rabalha ou m esm o cita 
de form a m ais det ida o m odelo psicopatológico de Bergeret (2006) , 
um dos poucos autores contem porâneos que se preocupou com a 
sistem at ização de um m odelo psicopatológico geral em psicanálise e 
que é um a referência im portante no Brasil, j á que consiste 
prat icam ente no único m anual sobre psicopatologia psicanalít ica na 
literatura nacional. Essa ausência nos parece m uito significat iva e 
pode indicar um certo descom passo ent re a produção cient ífica de 
art igos e os livros de referência do cam po. I sso pode se dar porque 
se considera o livro um m ero “m anual” com objet ivos didát icos e, 
portanto, referência secundária que em nada cont r ibui para o avanço 
da pesquisa propriam ente inovadora que vem da clínica e dos autores 
pr im ários, ou porque realm ente um a psicanálise que pretenda 
produzir um m odelo psicopatológico sistem át ico e abrangente é algo 
que está em desacordo com os interesses de pesquisa e m esm o a 
visão geral de sujeito e de prát ica psicanalít ica. 
Em todo caso, a análise m ais det ida dos m odelos ut ilizados pelos 
autores da am ost ra revelou que tanto na t radição lacaniana com o na 
t radição das relações de objetos há tendências secundárias que se 
distanciam de seus m odelos básicos e clássicos de com preensão das 
perversões. Contudo, essas tendências estão m inoritar iam ente 
representadas e pouco sistem at izadas, de form a que ainda não 
aparecem de form a consistente com o um cont raponto às posições 
m ais ortodoxas. 
 
 
Conclusão 
 
Diante da análise da am ost ra selecionada da literatura psi no Brasil 
em um período de 10 anos (2003-2013) , pudem os constatar que no 
que diz respeito à com preensão psicopatológica da perversão, a 
abordagem lacaniana é a que predom ina dent re todas as out ras. I sso 
dem onst ra um déficit de produção acadêm ica de out ras abordagens 
psicanalít icas sobre o tem a e tam bém ilust ra a força do m ovim ento 
lacaniano no Brasil. 
Cam illa Ferreira dos Santos, Érico Bruno Viana Cam pos 
Estud. pesqui. psicol., Rio de Janeiro, v. 17, n. 2, p. 653-673, 2017. 6 7 0 
Com o cont r ibuição pert inente desta pesquisa para o cam po da 
psicopatologia psicanalít ica, podem os apontar que se observou que os 
textos elaborados raram ente t razem algo significat ivo de novo, 
evidenciando que a psicanálise se encont ra em pobrecida de seu pleno 
potencial. No âm bito da am ost ra estudada na revisão de literatura 
em preendida, pode-se afirm ar que a literatura atual da área não tem 
avançado em term os de novas propostas de const ructo teórico acerca 
das perversões, dem onst rando que o m odelo da form ação do objeto 
fet iche freudiano ainda predom ina com o parâm et ro para o seu 
entendim ento. Do m esm o m odo, até m esm o dent ro de um a 
circunscrição do âm bito da perversão com o herdeira da t radição 
m édico-psiquiát r ica, a discussão encerra-se tão som ente num a 
dim ensão geral com foco na perversão sexual a part ir do m odelo do 
fet ichism o e raram ente os autores se propõem t ratar ou fazer 
referência à perversão m oral da psiquiát r ica clássica em seus art igos, 
no caso a psicopat ia e sociopat ia. Tal fato tam bém dem onst ra o 
quanto ainda se está por avançar na caracterização das perversões 
além dos m odelos clássicos. Dos m odelos recenseados pela pesquisa, 
o que houve de m ais consistente foi a art iculação ent re as 
perspect ivas de Freud e de Lacan na afirm ação de duas polar idades 
para pensar a tem át ica: (1) a perversão com o t ransgressão e desvio 
or iginário próprio do desejo e da sexualidade; e (2) a perversão com o 
est rutura subjet iva específica calcada na recusa da cast ração e na 
form ação do objeto fet iche. Na t radição da psicanálise das relações 
de objeto, por sua vez, há apenas um indicat ivo m uito genérico e 
incipiente para a com preensão das perversões a part ir de um a teoria 
do t raum a. Além disso, observou-se um a grande falta de art iculação 
ent re os diferentes m odelos e perspect ivas sobre a perversão. 
Esta pesquisa tam bém observou que a preocupação com a 
caracter ização psicopatológica está em baixa dent ro do am biente 
acadêm ico em função de um a m aior preocupação com um a 
com preensão m ais social sobre o tem a da perversão. Se as 
discussões propriam ente psicodinâm icas e est ruturais têm dim inuído 
em det r im ento dessa abordagem m ais am pla de crít ica sociológica e 
histór ica sobre aperversão com o produto de um a ordem m édica e 
jurídica própria da m odernidade, ela não exclui a necessidade de um a 
elaboração teórica no cam po específico da psicopatologia psicanalít ica. 
Além disso, tam bém pudem os notar falta de aprofundam ento e 
m esm o de teorização na discussão do contexto social e cultural das 
perversões, que m uitas vezes se resum e a um a retom ada histór ica 
do conceito ou a um a desconst rução geral da própria noção de 
norm at ividade m oral e sexual. 
Muito em bora a pesquisa tenha prezado em seus objet ivos por fazer 
um recenseam ento de caráter exploratór io e descrit ivo do que 
atualm ente se publica no cam po das perversões, um a vez que fora 
delineada dent ro dos parâm etros de um a revisão de literatura, julga-
Cam illa Ferreira dos Santos, Érico Bruno Viana Cam pos 
Estud. pesqui. psicol., Rio de Janeiro, v. 17, n. 2, p. 653-673, 2017. 6 7 1 
se que essa circunscrição tenha lim itado um fecundo aprofundam ento 
em questões bastante pert inentes ao tem a e que não foram m uito 
explorados por out ros autores, com o é o caso da questão das 
perversões m asculina/ fem inina e das perversões m orais/ sexuais 
m encionadas no art igo. Assim , seria cabível um aprofundam ento 
tanto dessas linhas de invest igação com o de possíveis out ras em 
novas pesquisas. Além disso, ainda que a questão sobre a escolha da 
palavra “psicopatologia” para fazer o levantam ento bibliográfico 
possa parecer rest r it iva, após diversas reflexões sobre o tem a, tanto 
por fazer parte do recorte proposto pela pesquisa, reflet indo um a 
abordagem específica à subjet ividade, com o em função dos 
descritores catalogados na base de descritores em psicologia m ant ida 
pelo próprio portal de pesquisas, que são inclusive referência para o 
estabelecim ento de palavras-chave em publicações e t rabalhos 
acadêm icos, entende-se que, m esm o que seja um a lim itação dos 
próprios inst rum entos de pesquisa e um a circunstância da área de 
psicologia, a ut ilização do term o tenha, de certa form a, conferido um 
viés na pesquisa. Seria cabível um a possível m odificação dos term os 
chave ut ilizados na base de dados para pesquisas futuras. 
Diante do exposto, concluím os que, dent ro dos lim ites do presente 
estudo, a caracter ização psicopatológica das perversões ainda é um a 
questão a ser am adurecida e sistem at izada na psicanálise da 
atualidade. 
 
 
Referências 
 
Albert i, S. & Mart inho, M. H. (2013) Sexuação, desejo e gozo: ent re 
neurose e perversão. Psicologia USP, 24(1) , 119-142. 
Alves, K. C. & Sousa, S. P. de. (2004) A perversão sob a ót ica da 
Medicina Legal. Reverso, 26(51) , 85-89. 
Ayouch, T. (2014) . Quest ionando a Teoria Psicanalít ica das 
Perversões. I n Mouam m ar, C. C. E. & Cam pos, E. B. V. 
Psicanálise e questões da contem poraneidade, Volum e I I . (1ª 
ed, pp. 81-96) . Curit iba: CRV. 
Barbier i, C. P. (2007) A postura perversa é a im postura. Estudos de 
Psicanálise, 30, 35-41. 
Barbier i, C. P. (2009) . Perversão, hum or e sublim ação. Estudos de 
Psicanálise, 32, 39-44. 
Biblioteca Virtual de Psicologia (BVS-PSI ) I n ht tp: / / www.bvs-
psi.org.br/ php/ index.php 
Bergeret , J., Bécache, A., Boulanger, J.-J., Chart ier, J.-P., Dubor, P., 
Houser, M., Lust in, J.-J. (2006) . Psicopatologia: teoria e clínica 
(9ª ed) . Porto Alegre: Artm ed. 
Cam illa Ferreira dos Santos, Érico Bruno Viana Cam pos 
Estud. pesqui. psicol., Rio de Janeiro, v. 17, n. 2, p. 653-673, 2017. 6 7 2 
Borges, J. M. C., Soares, M. M. G. B., Pinheiro, M. L. E., Buzinari, M., 
Mendes, S. G., Galvão, S. G., & Santoro, V. C. (2004) . 
Perversão e infância e adolescência. Reverso, 26(51) , 109-113. 
Cam pos, D. T. F. (2010) . A perversão fem inina e o laço social na 
atualidade. Tem po Psicanalít ico, 42(2) , 287-311. 
Cast ro, S. L. S. & Rudge, A. M. (2003) . Perversão e ét ica na clínica 
psicanalít ica. Revista Mal-Estar e Subjet ividade, 3(1) , 78-95. 
Ceccarelli, P. R. (2011) . As possíveis leituras da perversão. Estudos 
de Psicanálise, 36, 135-148. 
Ceccarelli, P. R. (2005) . Perversões e suas versões. Reverso, 27(52) , 
43-50. 
Cout inho, A. H. A., Salles, A. C. T. C, Silva, B. R., Delfino, E. M., Silva, 
E. M., Moraes, G., Morais, M. B. L., & Drum m ond, S. B. (2004) . 
Perversão: um a clínica possível. Reverso, 26(51) , 19-27. 
Dor, J. (1991) . Est ruturas e clínica psicanalít ica. Rio de Janeiro: 
Taurus Tim bre. 
Ferraz, F. C. (2010) . Perversão. São Paulo: Casa do Psicólogo. 
Ferraz, F. C. (2005) . Perversão e neurose obsessiva: notas 
com parat ivas. Reverso, 27(52) , 11-20. 
Flores, V. M. P. (2010) . A perversão e a teoria queer . Tem po 
Psicanalít ico, 42(1) , 131-148. 
Frota Neto, E. H. & Rudge, A. M. (2009) . Da perversão à expiação: 
um a m udança de perspect iva. Revista Lat ino-am ericana de 
Psicopatologia Fundam ental, 12(1) , 31-44. 
Gurfinkel, D. (2007) . Adicções: da perversão da pulsão à patologia 
dos objetos t ransicionais. Psyche, 11(20) , 13-28. 
Jorge, M. A. C. (2006) . A t ravessia da fantasia na neurose e na 
perversão. Estudos de Psicanálise, 29, 29-37. 
Klein, R. T. (2011) . Perversão de t ransferência e enactm ent : um caso 
clínico. Jornal de Psicanálise, 44(81) , 163-173. 
Lim a, C. R. (2010) . Um a "brecha" na fantasia: o t raço de perversão. 
Clínica Psicanalít ica, 4(10) , 1-13. 
Lippi, S. (2009) . Os percursos da t ransgressão (Bataille e Lacan) . 
Agora, 12(2) , 173-183. 
Marques, M. (2007) . A perversão nossa de cada dia. Revista 
Brasileira de Psicanálise, 41(2) , 149-167. 
Marques, L. R. (2010) . As hom ossexualidades na psicanálise. Trivium , 
2(2) , 467-484. 
Mello, C. A. A. (2007) . Um olhar sobre o fet ichism o. Reverso, 29(54) , 
71-76. 
Muribeca, M. (2009) . As diferenças que nos const ituem e as 
perversões que nos diferenciam . Estudos Psicanalít icos, 32, 
117-128. 
Perez, M. T., Prochno, C. C. S. C. & Paravidini, J. L. L. (2009) . 
Perversão: um a est rutura, um a m ontagem ou out ra coisa? 
Revista Mal-Estar e Subjet ividade, 9(1) , 187-207. 
Cam illa Ferreira dos Santos, Érico Bruno Viana Cam pos 
Estud. pesqui. psicol., Rio de Janeiro, v. 17, n. 2, p. 653-673, 2017. 6 7 3 
Pim entel, D. (2010) . Psicopat ia da vida cot idiana. Estudos de 
Psicanálise, 33, 13-20. 
Reis Filho, J. T., Oliveira, L. M. L., Sanches, N. R. A., Ceccarelli, P. R., 
Ferreira, R. M., Abras, R. M. G., & Foscarini, S. R. G. (2004) . 
Traum a, perversão e laço conjugal. Reverso, 26(51) , 77-84. 
Rudge, A. M. (2005) . Notas sobre o discurso perverso. I nterações, 
10(20) , 35-44. 
Sim oni, A. C. R. & Souza, P. M. de. (2010) . Do encont ro com a 
m ontagem perversa: desdobram entos ét icos para o fazer do 
analista. Tem po Psicanalít ico, 42(2) , 257-267. 
Welldon, E. V. (2008) . O m ito da m aternidade glor ificada. Revista 
Brasileira de Psicanálise, 42(4) , 113-123. 
 
 
Endereço para correspondência 
Cam illa Ferreira dos Santos 
Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" – UNESP 
Faculdade de Ciências de Bauru - Departamento de Psicologia 
Av. Eng. Luiz Edm undo Carr ijo Coube, 14-01, CEP 17033-360, Bauru – SP, Brasil 
Endereço elet rônico: km illa182@hotmail.com 
Érico Bruno Viana Cam pos 
Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" – UNESP 
Faculdade de Ciências de Bauru - Departamento de Psicologia 
Av. Eng. Luiz Edm undo Carr ijo Coube, 14-01, CEP 17033-360, Bauru – SP, Brasil 
Endereço elet rônico: ebcam pos@fc.unesp.br 
 
Recebido em : 06/ 30/ 2015 
Reform ulado em: 10/ 21/ 2015 
Aceito em : 05/ 05/ 2016 
 
Notas 
* Estudante de graduação em Psicologia pela Universidade Estadual Paulista 
(UNESP) no Cam pus de Bauru e bolsista de I niciação Cient ífica pela FAPESP. 
* * Professor assistente doutor do Departamento de Psicologia da Faculdade de 
Ciências de Bauru da Universidade Estadual Paulista (UNESP) . Psicólogo, Mest re e 
Doutor em Psicologia pelo I nst ituto de Psicologia daUniversidade de São Paulo 
(USP) .

Outros materiais