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I SSN 1808-4281 Estudos e Pesquisas em Psicologia Rio de Janeiro v. 17 n. 2 p. 653-673 2017 PSI COLOGI A CLÍ NI CA E PSI CANÁLI SE A psicopatologia psicanalít ica das perversões na atualidade: um a revisão sistem át ica The psychoanalyt ic psychopathology of perversions now adays: a system at ic review La psicopatología psicoanalít ica de las perversiones en la actualidade: um a revisión sistem át ica Cam illa Ferreira dos Santos* Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" - UNESP-Bauru, São Paulo, Brasil Érico Bruno Viana Cam pos* * Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" - UNESP-Bauru, São Paulo, Brasil. RESUMO O conceito de perversão sempre esteve im pregnado pela concepção da psiquiat r ia clássica de um desvio moral e sexual, e seu estatuto costuma ser mal compreendido na própria psicanálise. A presente pesquisa teve como objet ivo a discussão das perversões no âmbito da psicopatologia psicanalít ica. Trata-se de uma pesquisa teórico-conceitual, baseada na revisão bibliográfica sistemát ica da literatura nacional feita at ravés de um levantamento no portal da Biblioteca Virtual de Psicologia (BVS-PSI ) dos art igos de 10 anos (2003 – 2013) com os descritores psicanálise, perversão e psicopatologia. Chegou-se a um total de vinte e oito art igos, os quais foram resum idos e categorizados, e levados para a sistemat ização, a interpretação e discussão. Os resultados most ram que na caracterização psicopatológica a literatura PSI tende a privilegiar os m odelos pós- freudianos da perspect iva lacaniana e da perspect iva das relações de objeto. Conclui-se que a literatura atual não tem avançado em novas propostas de const ructos teóricos acerca das perversões, demonst rando que o m odelo da formação do objeto- fet iche freudiano ainda predom ina como parâmetro para o seu entendim ento, e que as discussões psicodinâm icas e est ruturais têm dim inuído em det r imento de uma abordagem ampliada de crít ica sociológica e histór ica sobre a perversão como produto de uma ordem médico- jurídica própria da modernidade. Palavras- chave: perversão, psicopatologia, psicanálise. ABSTRACT The concept of perversion has always been steeped by the classic psychiat r ic concept ion of a sexual and moral deviance and its status is usually poorly understood in psychoanalysis itself. This research aim s at discussing the perversions within the psychoanalyt ic psychopathology. This is a theoret ic- conceptual work, based on the Brazilian systemat ic literature review made Cam illa Ferreira dos Santos, Érico Bruno Viana Cam pos Estud. pesqui. psicol., Rio de Janeiro, v. 17, n. 2, p. 653-673, 2017. 6 5 4 through a survey on the website of Vir tual Library of Psychology (BVS-PSI ) of art icles in 10 years (2003 – 2013) , with the descriptors psychoanalysis, perversion and psychopathology. I t was reached a total of twenty eight art icles, which were sum m arized and categorized, leading to a systemat izat ion, interpretat ion and discussion. The results show that regarding the psychopathological characterizat ion, literature tends to emphasize the Lacanian perspect ive and the object relat ions perspect ive post -Freudian m odels. The discussion often boils down to a historic resum pt ion or a general deconst ruct ion of the concept . I t can be concluded that the current literature has not progressed in propose new theoret ical const ructs about perversions, demonst rat ing that the Freudian model of the fet ish object format ion st ill predom inates as parameter for it s understanding and that psychodynam ic and st ructural discussions have decreased at the expense of broader sociological and historical cr it icism about the perversion as a medical- legal product of modernity. Keyw ords: perversion, psychopathology, psychoanalysis. RESUMEN El concepto de perversión siempre estaba llena de la concepción de la psiquiat ría clásica de una desviación moral y sexual y su estado es a menudo mal entendido en la psicoanálisis. Esta invest igación t iene como objet ivo la discusión de las perversiones dent ro de la psicopatología psicoanalít ica. Se t rata de una invest igación teórica y conceptual, basado en revisión bibliográfica sistemát ica de la literatura nacional realizada mediante de una encuesta en la página web de la Biblioteca Virtual de Psicología (BVS- PSI ) de los art ículos de 10 años (2003-2013) con descriptores de Psicoanálisis, Perversión y Psicopatología. Llegamos a un total de veinte e ocho art ículos que fueron resum idos y categorizados, lo que lleva a una sistemat ización, interpretación y discusión. Los resultados m uest ran que sobre la caracterización psicopatológica, la literatura t iende a favorecer los modelos puesto freudianos de la perspect iva lacaniana y la perspect iva de las relaciones de objeto. Llegamos a la conclusión de que la literatura actual no ha avanzado en la propuesta de nueva const rucción teórica sobre las perversiones, lo que demuest ra que el modelo de la formación de freudiana fet iche a objetos aún prevalece como parámetro para su comprensión, y que las discusiones psicodinám icas y est ructurales han dism inuido en expensas de un enfoque más amplio a la crít ica sociológica e histórica sobre la perversión com o un producto de un sistema médico- legal de la propia modernidad. Palabras clave: perversión, psicopatología, psicoanálisis. I nt rodução O conceito de perversão carrega consigo m arcas do sent ido pejorat ivo do term o principalm ente por ter sido em pregado com o sinônim o de desvio sexual e m oral pela psiquiat r ia já no século XI X. A noção de perversão sem pre esteve associada, pr incipalm ente no que propaga o senso com um , com a própria ideia de um ser desum ano, dotado de natureza ant issocial - um sociopata ou psicopata - bem com o de condutas e hábitos sexuais bizarros. Assim , antes m esm o de estar vinculada a um a questão clínica, ela esteve m uito m ais Cam illa Ferreira dos Santos, Érico Bruno Viana Cam pos Estud. pesqui. psicol., Rio de Janeiro, v. 17, n. 2, p. 653-673, 2017. 6 5 5 associada com a cr im inologia e com a degeneração m oral do indivíduo. A psicanálise se dispôs a t razer out ras significações para o conceito de perversão, propondo um novo olhar sobre esse assunto. Apesar disso, ainda hoje se vê m uito do discurso psiquiát r ico clássico contam inando as elaborações psicanalít icas sobre a perversão em várias esferas. Não obstante, a teorização sobre as perversões ganhou novos aportes a part ir das escolas pós- freudianas, convergindo para alguns m odelos em psicopatologia psicanalít ica. Além disso, o interesse pelas perversões foi renovado a part ir de discussões sobre as relações narcísicas e a perversão do laço social na contem poraneidade. Diante disso, propôs-se um a revisão sistem át ica da literatura PSI nacional com o form a de estudo exploratór io do cam po de discussões sobre essa tem át ica na atualidade. Assim , esta pesquisa teve com o objet ivo geral discut ir o estatuto do cam po das perversões no âm bito da psicopatologia psicanalít ica, propondo aprofundar a caracter ização das est ruturas e organizações perversas na atualidade. Tendo em vista o em basam ento teórico dos autores clássicos da psicanálise, podem os elencar alguns const ructos e m odelos iniciais e fundam entais de com preensão e descrição das perversões const ruídos histor icam ente, que servirão com o balizas e subsídios para a análise e discussão dos art igos selecionados para este estudo. Dent re as tendências básicas gerais, é possível notar que há quat ro perspect ivas abertas por Freud, que se polar izam ent re um a posição m ais genérica que tom a a perversão com o paradigm a para pensar o desejo, a sexualidade e a pulsão e, portanto, para afirm ar o próprio estatuto perverso do sujeito hum ano eout ra que tom a a perversão com o um possível arranjo est rutural específico e diferenciado, fortem ente em basado e apoiado no m ecanism o de form ação do objeto fet iche (Ferraz, 2010) . Dent re as perspect ivas pós- freudianas, a t radição lacaniana é responsável pela definição da perversão com o um a est rutura específica, dist inta da neurose e da psicose em sua saída diante da cast ração e tom ando o fet ichism o com o paradigm a. Essa perspect iva lacaniana de tom ar a perversão com o um a est rutura específica é bem representada na literatura de referência pelo t rabalho de Dor (1991) . Já a t radição das relações de objeto define as perversões com o um a saída diante de um a problem át ica de base psicót ica e, portanto, não const ituindo um arranjo est rutural específico ou m esm o um a ent idade nosográfica diferenciada. Essa tendência de diluição das perversões pode ser observada na literatura de referência na proposta de Bergeret et al. (2006) , que as situa no cam po das organizações lim ít rofes, refer idas à angúst ia de perda de objeto. Cam illa Ferreira dos Santos, Érico Bruno Viana Cam pos Estud. pesqui. psicol., Rio de Janeiro, v. 17, n. 2, p. 653-673, 2017. 6 5 6 Metodologia Esta pesquisa é de caráter teórico-conceitual, tendo com o delineam ento um a revisão sistem át ica da literatura cient ífica nacional sobre a tem át ica da perversão com o ent idade nosográfica da psicopatologia psicanalít ica. Para tanto, efetuou-se um a am ost ragem criter iosa de art igos publicados na área por m eio de um levantam ento bibliográfico no portal da Biblioteca Virtual de Psicologia (BVS-PSI ) dos últ im os 10 anos, de 2003 até 2013, com os descritores psicanálise, perversão e psicopatologia. A inclusão da palavra “psicopatologia” na sua busca foi em pregada, pois prezam os por um entendimento da questão das perversões a part ir de um referencial geral, o qual abarcasse, num a definição de est ruturas gerais de organização dos m ecanism os do aparelho psíquico que im plicam em m odalidades preponderantes de defesas, fantasias, lógicas de sim bolização, angúst ias e sintom as, tanto por psicopatologia psicodinâm ica quanto est rutural, incluindo nesse segundo aspecto a concepção de est ruturas clínicas da abordagem lacaniana. Trata-se, portanto, de um dos recortes que a pesquisa propõe para viabilizar seu objeto. Assim , dos 72 resultados obt idos, foram excluídos aqueles que se lim itavam a fazer análises de film es ou livros sobre o tem a, ou seja, que recaiam m ais no âm bito de um a psicanálise aplicada, e aqueles que focavam a dim ensão social e cultural das perversões na atualidade, ou seja, que recaiam m ais no âm bito de um a psicologia social psicanalít ica. Desse m odo, rest r ingim o-nos apenas aos art igos que discut iam as perversões a part ir da clínica e da psicopatologia psicanalít ica. Com isso, chegou-se a um total de 51 art igos. Em seguida, rest r ingiu-se a am ost ra aos art igos disponíveis na íntegra e gratuitam ente online, ou seja, em periódicos de acesso aberto. Essa escolha just ificou-se, para além da viabilidade da própria pesquisa, por se entender que esses art igos tendem a ter m aior visibilidade e alcance e, portanto, alcançarem m aior difusão na com unidade cient ífica da área. Por fim , depois de leitura com pleta e análise m ais apurada dos art igos, foi preciso descartar alguns deles da revisão sistem át ica já que não se encaixavam nos cr itér ios propostos para o cum prim ento dos objet ivos desta pesquisa, um a vez que estes art igos, em bora o t ítulo e resum o indicassem que haveria um a apresentação e discussão dos aspectos est ruturais e dinâm icos do aparelho psíquico na perversão, pouco m encionavam esses aspectos, acabando por const ituir m ais um a descrição clínica, focada em ilust rações de casos clínicos ou aspectos do m anejo técnico e não propriam ente os aspectos teóricos e psicopatológicos. Desse m odo, ao todo foram selecionados 28 art igos para const ituírem a am ost ra a ser sistem at icam ente revisada nesta pesquisa. Cam illa Ferreira dos Santos, Érico Bruno Viana Cam pos Estud. pesqui. psicol., Rio de Janeiro, v. 17, n. 2, p. 653-673, 2017. 6 5 7 Resultados e Discussão Os resultados m ost ram alguns dados im portantes que podem esclarecer certas perspect ivas pelas quais a literatura nacional tem abordado a perversão. A categorização inicial im aginada não pôde ser com pletam ente desenvolvida a part ir da leitura e análise dos textos, um a vez que os art igos em geral não abordam de form a propriam ente aprofundada a caracter ização psicodinâm ica e est rutural da perversão, m esm o sendo art igos selecionados justam ente por se aproxim arem e alinharem a um a perspect iva do âm bito da psicopatologia psicanalít ica. Desse m odo, os art igos em geral fazem um a caracter ização m ais am pla da perversão, que inclui alguns sintom as e m ecanism os que estão relacionados àquilo que os autores querem discut ir em suas com unicações. Mas, m esm o quando este é o caso, a descrição é pouco abrangente e clara. I sso tornou a categorização sistem át ica dos porm enores conceituais dos m ecanism os psicodinâm icos inviável, fazendo com que se procedesse apenas com um a caracter ização e ident ificação dos m odelos teóricos gerais. Em relação à abordagem psicopatológica psicanalít ica, dos 28 art igos lidos, 17 deles [ Albert i & Mart inho (2013) ; Barbier i (2007, 2009) ; Borges et al. (2004) ; Cam pos (2010) ; Cast ro & Rudge (2003) ; Cout inho et al. (2004) ; Jorge (2006) ; Lim a (2010) ; Lippi (2009) ; Marques (2010) ; Mello (2007) ; Perez et al. (2009) ; Pim entel (2010) ; Reis Filho et al. (2004) ; Rudge (2005) ; Sim oni & Souza (2010) ] podem ser enquadrados a part ir da abordagem lacaniana, o que equivale a 60,71% . Do total, apenas quat ro art igos estão com preendidos dent ro da abordagem das relações de objeto: um bioniano (Marques, 2007) , um winnicot t ino (Gurfinkel, 2007) , um kleiniano (Welldon, 2008) e um não especificado (Klein, 2011) . I sso dem onst ra que a propagação de ideias em relação a este assunto dent ro do âm bito acadêm ico é m ajoritar iam ente difundida a part ir do ponto de vista da psicanálise francesa lacaniana. Do total, 13 art igos [ Barbier i (2007) ; Borges et al. (2004) ; Cam pos (2010) ; Cast ro & Rudge (2003) ; Cout inho et al. (2004) ; Flores (2010) ; Jorge (2006) ; Marques (2010) ; Mello (2007) ; Muribeca (2009) ; Perez et al. (2009) ; Rudge (2005) ; Sim oni & Souza (2010) ] rem etem ao m odelo fet ichista em Freud para descrever a perversão, o que equivale a 46,42% deles. Sem contar que em m ais um art igo (Gurfinkel, 2007) aparece tam bém o m odelo fet ichista, porém a part ir de um a concepção especificam ente winnicot t inana. Em bora m uitos art igos refiram -se ao m odelo perverso-polim orfo em Freud, apenas dois rem etem -se especificam ente a este m odelo para explicar a perversão, am bos do m esm o autor [ Ceccarelli (2005; 2011) ] . Dent re todas as categorias de conceitos envolvidos em um a caracter ização psicopatológica psicodinâm ica, a do m ecanism o de Cam illa Ferreira dos Santos, Érico Bruno Viana Cam pos Estud. pesqui. psicol., Rio de Janeiro, v. 17, n. 2, p. 653-673, 2017. 6 5 8 defesa é a que m ais aparece na m aioria dos art igos, já que em 21 deles a recusa é descrita com o m ecanism o específico da perversão, o que equivale a 75% . Obviam ente, os autores referem -se a esse m ecanism o nas m ais diversas denom inações e suas interpretações a respeito dele é part icular a cada um , sendo que, com o já foi ressaltado acim a, geralm ente não tem os um a apresentação explícita da posição do autor. Em um art igo (Ceccarelli, 2005) encont rou-se que o m ecanism o de defesa tam bém é o recalque, o que é um aposição bastante part icular pois, em bora alguns out ros tam bém o citem , não o caracterizam com o específico para esta est rutura. Out ros dados gerais que sobressaem é que a subcategoria cisão do ego tam bém aparece em 46,42% art igos com o característ ica essencial presente na perversão, independente da abordagem a que os autores se referem , e que em 50% dos art igos a angúst ia própria da perversão apontada é a angúst ia de cast ração. Quanto a out ras angúst ias, aparecem tam bém a angúst ia de perda de objeto em t rês art igos [ Ceccarelli (2005) ; Klein (2011) ; Welldon (2008) ] , além da angúst ia de aniquilação em out ros t rês art igos [ Ceccarelli (2005; 2011) ; Gurfinkel (2007) ] e a angúst ia depressiva em um único art igo (Rudge, 2005) . Sobre a fantasia t ípica da perversão, a questão que m ais aparece é que o perverso fantasia deter o saber sobre o gozo ou saber sobre a verdade do gozo, de tal form a que a “ent rada do sujeito perverso no m undo do sim bólico se deu at ravés da fixação no out ro polo da fantasia, no polo pulsional, no polo de gozo. O perverso tem um a fantasia de com pletude de gozo” (Jorge, 2006, p.33) . Reitera-se assim a posição de que o perverso possui um saber sobre a verdade e um poder sobre o gozo, o que implica um a postura de sedução e subm issão do out ro a part ir da assunção de um a posição fálica. Observou-se que grande parte dos autores relata com o sintom atologia própria da perversão, pr incipalm ente, a t ransgressão [ Barbier i (2007) ; (Cam pos, 2010) ; (Cast ro & Rudge, 2003) ; (Rudge, 2005) ; (Ferraz, 2005) ; (Lippi, 2009) ] , o desafio [ (Barbier i, 2009) ; (Cam pos, 2010) ; (Cast ro & Rudge, 2003) ; (Cout inho et al., 2004) ; (Perez et al., 2009) ; (Reis Filho et al., 2004) ; (Rudge, 2005) ] e o act ing out ou passagem ao ato [ (Lim a, 2010) ; (Ferraz, 2005) ; (Klein, 2011) ; (Welldon, 2008) ] . De m odo geral, observou-se um a grande diversidade de tem as relacionados à perversão. Artes, m edicina legal, toxicom ania, laço conjugal, polít ica, ent re out ros são tem as que foram pert inentes para ou autores correlacionarem com a perversão. I sso dem onst ra a heterogeneidade com que este tem a é t ratado, colocando assim em questão o quão diverso é a com preensão dos autores sobre o tem a e o quanto se pode avançar sobre o tem a em diferentes abordagens. Apesar disso, no que diz respeito à caracter ização clínica e Cam illa Ferreira dos Santos, Érico Bruno Viana Cam pos Estud. pesqui. psicol., Rio de Janeiro, v. 17, n. 2, p. 653-673, 2017. 6 5 9 psicopatológica, observou-se um a carência de detalham ento dos pr incipais aspectos psicodinâm icos relacionados à perversão. As descrições dos autores em geral rem etem apenas aos aspectos m ais com uns e estabelecidos da teorização sobre o tem a. Desse m odo, o que fica de um a leitura m ais panorâm ica do conjunto dos art igos são algum as linhas gerais bem dem arcadas e constantes, a saber: a est ruturação da personalidade a part ir da recusa da cast ração produzindo um a cisão do ego que perm ite um a postura de perversão da lei sim bólica e m oral, tendo com o ilust ração exem plar o m ecanism o de form ação do objeto fet iche. As tendências secundárias não são suficientem ente consistentes e presentes para m arcar efet ivam ente um const ructo diferenciado na literatura e, pr incipalm ente, os autores que tentam discut ir para além desses parâm etros clássicos não parecem convergir para um conjunto de hipóteses ou referências com uns. I sso por si só const itui um dado im portante e tam bém preocupante, pois se observa a desconsideração por um a discussão e caracter ização m ais porm enorizada no âm bito da literatura especializada da área, já que m esm o nos relat ivam ente poucos art igos que objet ivam um a discussão especificam ente psicopatológica sobre a perversão, o nível de detalham ento sobre esses aspectos é rest r ito. Além disso, constatou-se que a m aior ia dos art igos tende a pr ivilegiar um a discussão m ais enfocada no laço social contem porâneo ou então num a desconst rução da própria abordagem psicopatológica em psicanálise, sugerindo um a noção m ais sim ples e fundam ental de que a perversão, assim com o qualquer out ro sintom a, deva ser entendida, antes de m ais nada, com o o arranjo possível que o sujeito pôde fazer em sua tentat iva de sobreviver psiquicam ente. Esta posição, que é a da psicanálise por excelência, m as que, por out ro lado não avança em um aprofundam ento teórico no âm bito m ais propriam ente psicopatológico e psicodinâm ico é a sustentada por Ceccarelli (2005; 2011) . Seus dois art igos cr it icam a psicopatologia e apontam cont ra o preconceito teórico e analít ico. Para o autor, escutar a variedade das m anifestações perversas da sexualidade a part ir de um a só referência teórico-clínica, adequando a escuta a um a categoria nosográfica rígida, atesta um em botam ento clínico que produz um m arasm o teórico e anula a r iqueza da descoberta freudiana. Em bora essa discussão seja válida, o autor não aponta com o podem os pensar e art icular essa pluralidade teórica. Além disso, o fato de haver um uso ideológico ou taxat ivo dos conceitos de um cam po não descarta a im portância de se ter m odelos teóricos que referenciem tam bém a prat ica clínica, um a vez que sem estes parâm etros, opera-se no escuro. Out ro texto que tam bém crit icou certa postura psicopatológica frente a perversão é o de Frota Neto & Rudge (2009) . Para esses autores, a Cam illa Ferreira dos Santos, Érico Bruno Viana Cam pos Estud. pesqui. psicol., Rio de Janeiro, v. 17, n. 2, p. 653-673, 2017. 6 6 0 part ir de um a análise histór ica, o perverso é entendido com o o bode expiatór io, cuja periculosidade real ou fantasiada é elem ento fundam ental à sua eficiência em polar izar m ult idões em torno de e cont ra si. Sua figura rem ete a um dos m ais recentes desdobram entos desta ent idade do im aginário social e sua função é assum ir a culpa de todos e apresentar-se com o causa de um m al-estar colet ivo. A questão da desconst rução da perversão com o ent idade nosográfica é bastante discut ida, pr incipalm ente ent re os autores das teorias de gênero, os quais estão bastante preocupados em debater questões com o a diversidade e norm at ividade, posicionando-se cont ra um a postura preconceituosa. Preocupada com essas questões, Marques (2010) foca seu art igo em opor-se à ideia de que a hom ossexualidade estar ia at relada a perversão, evidenciado que a escolha de est rutura não tem relação algum a com a escolha de objeto, m as sim , com a m aneira pela qual se nega a cast ração sim bólica que am eaça e angust ia o sujeito, seja ele hom em ou m ulher. Para os autores dessa corrente, a discussão gira em torno da const rução histór ica do sistem a binário dos gêneros, a qual encerra im plicitam ente a crença num a relação m im ét ica ent re gênero e sexo: dois sexos, logo, dois gêneros. Contestam -se assim o caráter im utável do sexo, olhando at ravés de escopo histór ico com o foi feita a const rução dos gêneros, haja vista que “há um a com plexidade das prát icas sexuais e dos posicionam entos psíquicos que não pode ser reduzida tão sim plesm ente ao desm ent ido da diferença dos sexos e às concepções binárias do m asculino e do fem inino” (Ayouch, 2014, p.94) , põe-se em questão grande parte da const rução psicanalít ica de est ruturas de personalidade, com o é o caso da perversão, que é fundam entada principalm ente na diferença de sexos. Assim , para eles é necessário o quest ionam ento da interação ent re perversão com a realidade social, discut indo as concepções culturais do gênero e as form ações discursivas próprias a um a época e um a cultura. Nesse contexto, a teoria queer aparece com o forte representante de um a posição militante, preocupando-se em descont ruir tudo o que já se escreveu sobre o tem a e const ruir um novo saber sobre o sexo. O art igo de Flores (2010) propõe que essa polít ica fem inista é um a form a contem porânea de laço social que se sustenta pr ivilegiadam ente, se não exclusivam ente, no m ecanism o perverso da Verleugnung, a recusa. Ao desm ent ir a cast ração m aterna, a Verleugnung desm ente sim ultaneam ente a diferença sexual. Ao afirm ar isso, a autora garante um a posição dist inta cent rada apenas na discussão do laço social e das crít icas das teorias de gênero, pois afirm a justam ente o que os out ros negam e, nesse sent ido, reabilitam a noção de perversão que é rechaçada por eles. A questão da ident idade de gênero e do fem inino é bastante discut ida, relacionada tam bém a perversão fem inina. Muito em bora este conceito não faça parte dos objet ivos específico da pesquisa e, Cam illa Ferreira dos Santos, Érico Bruno Viana Cam pos Estud. pesqui. psicol., Rio de Janeiro, v. 17, n. 2, p. 653-673, 2017. 6 6 1 portanto, não nos caiba prom over propriam ente um a discussão e problem at ização da tem át ica m asculina/ fem inina das perversões, ressaltam os a descrição de com o, em geral, isso aparece na am ost ra estudada. Dois textos se propõem a discut ir exclusivam ente esse tem a. Welldon (2008) aponta que a razão pelas quais a perversão m asculina e a fem inina são tão diferentes poderia obedecer às diferenças básicas quanto ao desenvolvim ento sexual norm al dos dois sexos. Nesse sent ido, a pr incipal diferença que há ent re a ação perversa de um hom em e de um a m ulher estar ia no objeto. Nos hom ens, o ato é direcionado cont ra um objeto parcial externo e no caso das m ulheres, o ato geralm ente é dir igido cont ra si m esm as, seja cont ra seus corpos ou contra os objetos que elas entendem com o sendo suas próprias cr iações, ou seja, seus bebês, sendo am bos os casos t ratados com o sendo objetos parciais desum anizados. Assim , a m aternidade perversa é produto da instabilidade em ocional e da inadequada individuação, t ratando-se do produto final de um abuso em série ou de um a depravação infant il crônica. A posição da autora, fundam entada a pr incípio em um a posição kleiniana de desvio da ordem natural, m arca no corpo a diferença, num a posição m ais biológica, descartando, porém , a dim ensão sim bólica e im aginária. Para ela, as fantasias de gênero são determ inadas pelo seu corpo biológico e, por si só, isso seria caracter izante da perversão, retom ando assim a posição freudiana do bebê ser o falo m aterno. Já Cam pos (2010) insiste que o fet ichism o que se const itui nas m ulheres é m ais um fet ichism o “ relacional” , em que o próprio vínculo pr im ário m ãe- filha é fet ichizado do que propriam ente a const ituição de um objeto fet iche concreto e externalizado, com o é com um nas perversões m asculinas. De m odo geral, afirm a para as perversões fem ininas a m esm a posição est rutural que as m asculinas, que, em bora não se explique m uito bem com o se dá, consist ir ia em um a fixação na segunda etapa do com plexo de Édipo, na ident ificação narcísica com a m ãe fálica e com a posição de seu falo. Esta posição seria expressa por m eio da const rução de objetos/ relações fet ichistas, em que se assum e a posição de ter o objeto com o form a de perm anecer detentor do saber sobre o gozo do Out ro. Grande parte dos art igos revisados, ao ut ilizar-se de vinhetas ou descreverem casos clínicos para ilust rar o que se propõem a discut ir teoricam ente em seus textos, insistem em um a dim ensão t ransferencial com o característ ica da perversão. A perversão de t ransferência é part icularm ente discut ida no art igo de Klein (2011) , em que a autora discute a tendência do paciente perverso a erot izar a t ransferência e a ut ilizar as palavras e os silêncios para excitar o analista, assim com o sua passividade para provocar sua im paciência e levá- lo ao act ing out . Segundo a autora, esse t ipo de paciente exerce pressão sobre o analista para deslocá- lo de seu lugar e com prom etê- lo em enactm ents cont rat ransferenciais perversos, Cam illa Ferreira dos Santos, Érico Bruno Viana Cam pos Estud. pesqui. psicol., Rio de Janeiro, v. 17, n. 2, p. 653-673, 2017. 6 6 2 tentando converter o analista num sócio perverso e cúm plice. Assim , a m odalidade t ransferência-cont rat ransferência está determ inada pela est rutura perversa do m undo objetal interno inconsciente do paciente, m as o analista, de m aneira inconsciente, tam bém se com prom ete. A prát ica clínica é tam bém abordada no texto de Cout inho e colaboradores (2004) , em que os autores se preocupam em fazer um a análise da posição subjet iva do perverso na relação analít ica e em desconst ruir a noção de que o perverso não procura a clínica e não possui sofr im ento psíquico, apontando inclusive possíveis recursos tát icos para o m anejo da t ransferência com perversos. No âm bito das opiniões do senso com um ainda propagadas nos art igos, encont ram os a respeito do sofr im ento psíquico um ponto im portante a ser destacado, posto que a m aior ia dos art igos não se refere ao sofr im ento psíquico perverso. Em bora os autores tendam a descartar a concepção generalizada de negação de que não haja sofr im ento no perverso, não chegam a aprofundar na caracter ização das m odalidades específicas de angúst ia e out ras dinâm icas defensivas e afet ivas próprias dessas est ruturas subjet ivas. Seguindo a tendência que já apontam os, cabe ressaltar que alguns art igos analisados t ratam do tem a da perversão de form a bastante superficial, calcadas pura e sim plesmente no aporte teórico freudiano, sem preocupar-se em t razer nenhuma cont r ibuição m ais atual para a discussão. Esse é o caso do art igo de Mello (2007) , t rabalho que faz som ente um a recapitulação do conceito de perversão e com o este se m odificou ao longo da obra freudiana até chegar ao fet ichism o, e do texto de Muribeca (2009) , o qual lim ita-se a t razer tudo o que Freud propôs sobre a perversão, só para apontar com o a própria concepção de perversão se m odificou com o advento do DSM- I V. Nessa linha tam bém seguem os textos de Borges (2004) , o qual endossa um a perspect iva clássica em psicanálise: a est rutura só se consolida diante da revivência do Édipo na puberdade; de Alves & Sousa (2004) , o qual se resum e a fazer um a caracter ização da Medicina Legal sobre a perversão e seu conflito com a psicanálise; e o de Pim entel (2010) , o qual, ao t razer a discussão sobre a psicopat ia, reitera o preconceito em sua caracter ização de “sintom as” , com o, por exem plo, t ranstorno de conduta. Out ros art igos t ratam de tem ais m ais específicos, com o é o caso de Ferraz (2005) , no qual são com paradas característ icas ent re a neurose obsessiva e a perversão com aspectos da religião e da gnose para defender que eles se organizam em um a relação ant itét ica. Em bora o texto se aprofunde m ais na questão neurót ica, não deixa de fazer sua cont r ibuição ao evidenciar as sim ilar idades ent re a gnose e a perversão. Já Barbier i (2009) , aborda o tem a pelo viés do hum or e da sublim ação, tentando responder à pergunta de com o podem os entender que o perverso o qual, supostam ente, desm ente e desafia a Cam illa Ferreira dos Santos, Érico Bruno Viana Cam pos Estud. pesqui. psicol., Rio de Janeiro, v. 17, n. 2, p. 653-673, 2017. 6 6 3 lei civilizatór ia em sua busca de sat isfação, lança m ão desse desvio que corresponderia à sublim ação. A autora aponta que é justam ente por essa habilidade de desviar-se dos obstáculos à sat isfação pulsional, diante de um a im possibilidade de realizar o ato, que o perverso se vê obrigado a form ular em out ro ato sua recusa da cast ração enveredando por um a sat isfação subst itut iva,que acaba por revelar-se com o cr iação. Assim , o perverso ter ia de lidar com os lim ites da realidade e da lei, de tal form a que a sublim ação seria um a via subst itut iva igualm ente válida. Já no art igo de Reis Filho e colaboradores (2004) , a questão gira em torno de um t raum a não sim bolizado, o que, segundo eles, seria diferente da recusa da cast ração. Porém , curiosam ente os autores não caracter izam ou definem explicitam ente esses m ecanism os. Para eles, o t raum a, m esm o que não anule a percepção, não se inscreve sim bolicam ente na cadeia significante, perm anecendo no psiquism o sem pre pronto a fazer irrupções nos m om entos m enos esperados. Para com pensar, cr ia-se um a realidade que subst itui aquilo que falta, seja pelo fet iche, seja pelas posições m asoquista e sádica. Assim , a or igem está em um t raum a não sim bolizado e não em um a defesa cont ra a angúst ia de cast ração ou a perda do falo m aterno. Porém não chegam a especificar sobre out ra dim ensão da angúst ia com o fator cent ral ou caracter izam m elhor a natureza desse t raum át ico. Com o se pode observar, a am ost ra de art igos sobre o tem a é bastante variada em suas tentat ivas de art iculação das perversões com out ras tem át icas m ais gerais, quer seja no âm bito da teoria psicanalít ica, quer seja no de out ras teorizações m ais am plas sobre a cultura e a subjet ividade. No entanto, no que tange ao aprofundam ento da discussão de m odelos de com preensão da perversão a part ir dos parâm etros da psicopatologia psicanalít ica, a questão é um pouco m ais delicada. Em um a perspect iva m ais geral, com o já apontado, encont ram os reiteradam ente as m esm as balizas básicas. Porém , em um a abordagem m ais det ida e porm enorizada, conseguim os refinar e am pliar o quadro de m odelos em ut ilização na literatura. De m odo geral, podem os observar basicam ente t rês grandes grupos de m odelos na caracter ização das perversões: o freudiano, o lacaniano e o kleiniano. Poucos textos são est r itam ente freudianos e os art igos lacanianos tendem a se refer irem m ais det idam ente ao legado e percurso de Freud no m érito da questão. A grande m aior ia dos textos revisados segue a abordagem lacaniana, então foram as nuances de m odelos e abordagens dent ro dessa t radição que puderam ser m ais bem abordadas. Em geral, os textos tendem a rem eter aos fundam entos freudianos e indicar os dois polos da problem át ica que se anunciam em sua obra. Assim , os textos costum avam part ir de um a caracter ização geral da perversão com o polim orfia própria das pulsões e com o negat ivo da Cam illa Ferreira dos Santos, Érico Bruno Viana Cam pos Estud. pesqui. psicol., Rio de Janeiro, v. 17, n. 2, p. 653-673, 2017. 6 6 4 neurose para afirm ar a cent ralidade do tem a para a concepção de sujeito em psicanálise. O art igo de Lippi ilust ra bem essa posição ao afirm ar que a t ransgressão, com o posição exem plar da perversão, é um jogo que consiste em “um a astúcia, um est ratagem a para poder gozar, graças ao fantasm a” (2009, p. 182) , sendo tom ada com o um a característ ica fundam ental do sujeito e do desejo, justam ente para descolá- la da ident ificação com um a est rutura perversa, cont r ibuindo assim para um a descaracter ização da perversão com o est rutura e sua ident ificação com a natureza fundam ental do desejo. Trata-se de um art igo im portante para fundam entar a postura ontológica fundam ental da concepção de sujeito em Lacan e para caracter izar sua postura em que a perversão é a tônica do desejo e, portanto, de natureza generalizada. Em seguida, os art igos costum am abordar propriam ente a concepção de um a est rutura perversa, tom ada a part ir do m odelo da form ação do objeto fet iche. I sso quer dizer que os textos consultados da literatura não fazem jus à própria com plexidade do tem a na obra freudiana, reduzindo-a a seus dois polos m ais característ icos e antagônicos. Com isso desconsideram o potencial de out ras caracter izações perversas para além do fet ichism o para a com preensão do fenôm eno, pr incipalm ente a dinâm ica sado- m asoquista, que com parece sistem at icam ente na obra de Freud com o fonte de inspiração e discussão, m as que sim plesm ente parece não cont r ibuir em nada para o m odelo genérico da perversão com o um a ent idade psicopatológica específica que ficou com o legado para sua obra. Um a exceção pode ser encont rada no art igo de Cast ro & Rudge (2003) , em que aparece a caracter ização de que tanto o sádico com o o m asoquista se oferecem com o inst rum ento de gozo do Out ro, colocando-se em posição de objeto, sendo que o m asoquista se exibe abertam ente com o objeto, enquanto o sádico desem penha este papel de form a inconsciente. Tam bém afirm am que no sadism o o objet ivo de suscitar a angúst ia no out ro não é para causar sofr im ento, m as para radicalizar a divisão do out ro. I sto é bem m ais explícito do que no m asoquism o, que tam bém o busca, em bora de m aneira m enos óbvia, ao provocar o const rangim ento de seu algoz. Porém , observa- se, a caracter ização é m ais descrit iva e pouco avança na com preensão da est rutura da dinâm ica relacional ou rem ete aos seus m ecanism os geradores. Ainda no que tange à abordagem lacaniana, os m odelos que m ais se destacam são o da perversão com o est rutura e o da perversão com o expressão da natureza t ransgressora do desejo. Com o esses dois m odelos lacanianos reiteram os dois polos da abordagem freudiana, tem se que a abordagem lacaniana consolida a noção de duas leituras psicanalít icas para a perversão. A pr im eira é m ais geral, ligada ao desejo e à própria natureza da subjet ividade, que serve então com o Cam illa Ferreira dos Santos, Érico Bruno Viana Cam pos Estud. pesqui. psicol., Rio de Janeiro, v. 17, n. 2, p. 653-673, 2017. 6 6 5 um princípio ontológico e ét ico geral da psicanálise cont ra o m oralism o e a norm at ividade. A segunda é m ais específica e propriam ente psicopatológica, pois rem ete às perversões um arranjo est rutural característ ico, que se opõe à neurose e à psicose. Essa posição pode ser claram ente constatada no art igo de Rudge (2005) , que, apesar de falar de um discurso perverso, ainda se rem ete ao m odelo est rutural clássico lacaniano, ou seja, fala do discurso no sent ido est rutural e não com o form a de laço social. De qualquer form a, a abordagem lacaniana vem consolidar um m odelo que era incipiente em Freud, tornando-se um a proposta bastante difundida na psicopatologia psicanalít ica. Podem os afirm ar que esse acoplam ento ent re os m odelos freudianos e lacanianos acabou cont r ibuindo para a tendência m ais forte e consagrada de abordagem e com preensão das perversões no senso com um da psicanálise contem porânea. Contudo, a revisão dos textos lacanianos m ost rou que a problem át ica da perversão não é tão sim ples nessa t radição psicanalít ica. I sso se dá pr incipalm ente porque a abordagem est rutural se torna um a perspect iva ult rapassada no últ im o m om ento da obra de Lacan. Contudo, não encont ram os textos suficientem ente esclarecedores na definição do estatuto das perversões no cam po do gozo ou na clínica do real em Lacan, o que m ost ra que a literatura nacional sobre o tem a, m esm o que m ajor itar iam ente alinhada a essa t radição, não conseguiu avançar m uito em relação aos m odelos m ais consagrados. O m ínim o que se diz a respeito disso pode ser constatado no art igo de Albert i & Mart inho (2013) , que conclui que o gozo perverso não pertence exclusivam ente à est rutura perversa, podendo o sujeito gozar perversam ente or ientado, quando neurót ico. O que dist ingue fundam entalm ente o neurót ico do perverso é a posição desejante, haja vista que ele está no lugar da vontade de gozo, de inst rum ento que suplem entao Out ro com gozo, dividindo seu parceiro, fazendo dele sujeito. Por fim , o que podem os encont rar com o um a terceira via ent re os dois m odelos lacanianos foi a discussão da perversão com o um t raço ou m ontagem . Nessa perspect iva, se afirm a a perversão não a part ir de um a est rutura subjet iva específica, m as a part ir de certas característ icas m ais pontuais e rest r itas presentes com o um “ t raço” no âm bito m ais geral da est rutura ou m esm o no âm bito de um a “m ontagem ” relacional intersubjet iva. Desse m odo, o t raço perverso pode aparecer em qualquer uma das est ruturas e ilust ra o fundam ento da perversão original, ou seja, após a consolidação da personalidade, algum t raço da perversão ficar ia recalcado perm anecendo com o t raços que em ergem em act ing outs ou passagens ao ato. Esta característ ica estar ia associada a algo m ais circunscrito, de ordem propriam ente de um sintom a que seria Cam illa Ferreira dos Santos, Érico Bruno Viana Cam pos Estud. pesqui. psicol., Rio de Janeiro, v. 17, n. 2, p. 653-673, 2017. 6 6 6 dissonante em relação às out ras form ações sintom át icas de um sujeito. Barbier i (2007) destaca em seu art igo que o t raço perverso seria da ordem de um com portam ento sexual m ontado sobre um a fantasia que veicula um gozo. É um efeito de gozo im plicado na finalidade do ato, que é de provocar a divisão subjet iva do out ro. Esta perm ite ao sujeito gozar, resguardado da angúst ia de cast ração e tam bém tem por finalidade chocar o out ro. O segundo efeito é ét ico e perm eia o argum ento at ravés do recurso à m oralidade. Tal argum ento propõe o direito de gozar do corpo do out ro. A vontade de gozo fica então inst ituída com o lei natural. Assim o sujeito – colocando-se em posição de objeto – opera um a inversão da relação com o out ro, denunciando a verdade sobre o seu desejo e a sua falta. O out ro é que desejou e provocou seu ato, não ele. Ainda para essa autora, esta im postura se presta ao aliciam ento do neurót ico “desprevenido” que, fisgado ent re esses efeitos de gozo e a sua verdade recalcada, part icipa dela do m esm o m odo que no chiste, onde um diz a verdade e os out ros dela desfrutam , const ituindo um a m anobra que favorece um a sat isfação perversa. Esse t ipo de m anobra, em um a dim ensão m ais abrangente, é o que está em jogo nas cham adas m ontagens perversas. Em seu art igo, Perez e colaboradores (2009) propõem que há um a m ontagem perversa, a qual está m ais ligada a um a posição frente ao gozo, refer indo-se a posição discursiva lacaniana. Podem ent rar num a m ontagem perversa quaisquer sujeitos a part ir de um a circunstância relacional, os quais, em conjunto, adent ram no m esm o fantasm a, num a tentat iva de chegar a um m odo específico de gozo, ut ilizando- se da posição de inst rum ento e de detentor do saber sobre esse gozo, cum prindo um fim ut ilitár io. Os autores apontam o laço social com o definidor dos m ecanism os específicos da perversão. O objeto parcial no fantasm a apresenta-se com o uma regra absolutam ente universal. Nesse sent ido, qualquer est rutura pode ser regida at ravés de um a solução perversa, num a m ontagem colet iva. Basta o m ínim o de inst rum entalização dos sujeitos e a consequente redução de possibilidade sim bólica or iunda daí, para que um a relação perversa se instale. Assim , nas m ontagens ocorre um a form a de captura que é da ordem intersubjet iva. Avançando um pouco m ais em relação aos dem ais textos que abordam a questão, Lim a (2010) , apoiando-se fundam entalm ente no term o Zeichen com o ele aparece nos prim eiros textos de Freud ( t raço ou signo de percepção com o o parâm et ro indicat ivo para o teste de realidade do ego) discute a possibilidade de que os sintom as das psicopatologias assim com o os próprios processos defensivos operariam a part ir da falha na t ranscrição sucessiva desses regist ros. Desse m odo, essa falha operaria um a im possibilidade de elaboração sim bólica da experiência, ficando em um regist ro im agét ico pr im it ivo. Cam illa Ferreira dos Santos, Érico Bruno Viana Cam pos Estud. pesqui. psicol., Rio de Janeiro, v. 17, n. 2, p. 653-673, 2017. 6 6 7 Assim , o autor propõe que o m ecanism o de defesa que opera é da ordem de um a recusa da realidade, portanto, da ordem de um m ecanism o perverso. Esse m ecanismo produzir ia então as condições para passagens ao ato que não se caracter izariam com o atuações no sent ido m ais t radicional, m as sim seriam , na verdade, a irrupção de um gozo da ordem do real, abrindo um a brecha na organização sim bólica e fálica predom inante na est rutura dos sujeitos. A apresentação feita pelo autor de um m odelo para pensar o t raço est rutural perverso é um a questão pert inente e poucas vezes t rabalhada. A recusa descrita é m ais específica, operando um a falha de t radução de algum as m arcas de sim bolização prim it ivas. Basicam ente, não se t rata de um a operação est rutural, m as apenas pontual. Já Sim oni & Souza (2010) salientam que a questão da m ontagem perversa deve ser analisada a part ir do ponto de vista lógico, um a vez que é a part ir desse lugar que se encont ra com a posição perversa dent ro da clínica e não a part ir de um ponto de vista psicopatológico est rutural. Desse m odo, esses autores afirm am que o sujeito, independentem ente da est rutura, pode apresentar um a m ontagem ou t raço perverso para solução do problem a edipiano ou com o form a de evitar a dor psíquica. De qualquer form a, quer seja a part ir do t raço ou da m ontagem , alguns autores avançam em relação a um a perspect iva est r itam ente est rutural para pensar os fenôm enos perversos. Contudo, observou-se que a dist inção ent re um t raço ou um a m ontagem não fica m uito bem delim itada pelos autores que se propõem a t ratar sobre o tem a. Já no âm bito da t radição das relações de objeto, t ivem os, com o já apontado, poucos art igos, m as eles cham am a atenção por sua diversidade. Em bora apenas um texto específico ilust re o m odelo clássico dessa t radição sobre a perversão com o o negat ivo da psicose (Klein, 2011) , tam bém encont ram os referências a um a perspect iva m ais especificam ente bioniana sobre o tem a (Marques, 2007) e tam bém a out ra winnicot t iana (Gurfinkel, 2007) . Em todos, para além da negação das angúst ias psicót icas, evidencia-se um a concepção m ais propriam ente t raum át ica para a gênese das dinâm icas perversas, em que a dim ensão da autent icidade no vínculo com o objeto ganha destaque. Assim , os autores dessa t radição teórica postulam que t raum a e autent icidade são dim ensões essenciais para descrever a gênese da perversão. Klein (2011) retom a a consideração da hum ilhação e os m aus- t ratos na infância com o um fator et iológico significat ivo, entendendo que a perversão é um a form a de luta cont ra experiências t raum át icas infant is e cont ra am eaças à ident idade egoica e de gênero. O ato perverso se dá com a finalidade de vingar e t r iunfar sobre os t raum as e o objeto t raum at izante. Assim , além da constelação essencial do t r iunfo narcísico, a essência da perversão é a conversão de um t raum a infant il num t r iunfo adulto. Além disso, resgata a sugestão de Cam illa Ferreira dos Santos, Érico Bruno Viana Cam pos Estud. pesqui. psicol., Rio de Janeiro, v. 17, n. 2, p. 653-673, 2017. 6 6 8 que a perversão surge do ódio, produto da relação com um a m ãe frust radora derivada da fixação ao t raum a e não se t ratando apenas de um gozo. Gurfinkel (2007) apresenta um esboço do que seria a perversão na perspect iva winnicot t iana. Para ele, é na dist inção ent re o eu e o out ro, e, portanto, na desconfiguração do fenôm eno t ransicional que se fixa o conflito est ruturante. Assim , seria nesse contexto de patologizaçãodos fenôm enos t ransicionais que se configura o fet iche. I sso se daria porque observa-se um exagero no uso do objeto t ransicional, um a espécie de hiperinvest im ento, com o tentat iva de negação de que haja am eaça do objeto se tornar sem sent ido. A função do objeto t ransicional se m odifica de m eio de com unicação para negação da separação, tornando-se coisa em si, com o est ratégia defensiva diante de um a am eaça de aniquilam ento. Esta est ratégia cr istaliza o indivíduo no instante da im inência do colapso. Assim evita-se pelo m ecanism o de negação a queda no vazio do desinvest im ento, tanto do objeto com o do self. Portanto, há um adoecim ento fundam ental da relação do sujeito com a realidade, que conduz ao uso fet ichizado dos objetos e à inversão potencial ent re sujeito e objeto. Já o art igo de Marques (2007) , propõe caracter izar certos elem entos m entais que configurariam um a form a de ação em ocional de cunho perverso que não se rest r ingir ia a um a est rutura ou m anifestação psicopatológica específica, m as que se evidenciar ia nos m ais diversos m om entos da vida cot idiana. A hipótese pr incipal é que as ações perversas são m ovim entos de distorção do pensam ento, os quais produzem um descolam ento da realidade vital e anim ada do vínculo hum ano de form a a produzir um a existência paralela que se sobrepõe e im ita o hum ano, porém em um a condição existencial inautênt ica, im possibilitando assim a realização sim bólica propriam ente hum ana. O que se nota da leitura dos poucos art igos nessa t radição, em especial pelas referências citadas pelos autores, é que as discussões nessa área tendem a se organizar em torno de um a noção genérica de t raum a. Contudo, os textos estudados que abordam as perversões sob um a perspect iva da psicanálise contem porânea e, portanto, para além das grandes escolas t radicionais, foram poucos e tam bém pouco elucidat ivos em um a visão m ais sistem át ica ou m esm o um m odelo m ais característ ico e definido das perversões que pudesse cont rastar com o lacaniano da est rutura perversa e com o kleiniano da defesa cont ra a psicose. O que se pôde notar é um a certa convergência geral na referência de autores com o Stoller, McDougall, Winnicot t e Kernberg em torno de um t raum a am biental com o fator et iológico, m as a caracter ização m ais específica fica a desejar. A perspect iva t raum át ica para pensar as relações de objeto iniciais tam bém está presente na proposta m ais contem porânea de Bergeret (2006) . Esse autor considera que o fator et iológico pr im ário do Cam illa Ferreira dos Santos, Érico Bruno Viana Cam pos Estud. pesqui. psicol., Rio de Janeiro, v. 17, n. 2, p. 653-673, 2017. 6 6 9 cham ado t ronco com um das organizações lim ít rofes é da ordem de um t raum a que antecipa dinâm icas para as quais o aparelho psíquico infant il ainda não está preparado, com o um a form a de int rusão que produz um a desorganização precoce e um a resposta com pensatória que é m ais frágil e lábil. Nesse sent ido, sua visão geral se alinha a perspect ivas de autores que versam sobre a inautent icidade na const ituição do núcleo da personalidade, tais com o McDougall e Winnicot t o que é, adem ais, um a tendência de autores m ais contem porâneos na linhagem das relações de objeto. Porém , no que diz respeito a esse m odelo, constatam os que nenhum dos art igos estudados da literatura nacional t rabalha ou m esm o cita de form a m ais det ida o m odelo psicopatológico de Bergeret (2006) , um dos poucos autores contem porâneos que se preocupou com a sistem at ização de um m odelo psicopatológico geral em psicanálise e que é um a referência im portante no Brasil, j á que consiste prat icam ente no único m anual sobre psicopatologia psicanalít ica na literatura nacional. Essa ausência nos parece m uito significat iva e pode indicar um certo descom passo ent re a produção cient ífica de art igos e os livros de referência do cam po. I sso pode se dar porque se considera o livro um m ero “m anual” com objet ivos didát icos e, portanto, referência secundária que em nada cont r ibui para o avanço da pesquisa propriam ente inovadora que vem da clínica e dos autores pr im ários, ou porque realm ente um a psicanálise que pretenda produzir um m odelo psicopatológico sistem át ico e abrangente é algo que está em desacordo com os interesses de pesquisa e m esm o a visão geral de sujeito e de prát ica psicanalít ica. Em todo caso, a análise m ais det ida dos m odelos ut ilizados pelos autores da am ost ra revelou que tanto na t radição lacaniana com o na t radição das relações de objetos há tendências secundárias que se distanciam de seus m odelos básicos e clássicos de com preensão das perversões. Contudo, essas tendências estão m inoritar iam ente representadas e pouco sistem at izadas, de form a que ainda não aparecem de form a consistente com o um cont raponto às posições m ais ortodoxas. Conclusão Diante da análise da am ost ra selecionada da literatura psi no Brasil em um período de 10 anos (2003-2013) , pudem os constatar que no que diz respeito à com preensão psicopatológica da perversão, a abordagem lacaniana é a que predom ina dent re todas as out ras. I sso dem onst ra um déficit de produção acadêm ica de out ras abordagens psicanalít icas sobre o tem a e tam bém ilust ra a força do m ovim ento lacaniano no Brasil. Cam illa Ferreira dos Santos, Érico Bruno Viana Cam pos Estud. pesqui. psicol., Rio de Janeiro, v. 17, n. 2, p. 653-673, 2017. 6 7 0 Com o cont r ibuição pert inente desta pesquisa para o cam po da psicopatologia psicanalít ica, podem os apontar que se observou que os textos elaborados raram ente t razem algo significat ivo de novo, evidenciando que a psicanálise se encont ra em pobrecida de seu pleno potencial. No âm bito da am ost ra estudada na revisão de literatura em preendida, pode-se afirm ar que a literatura atual da área não tem avançado em term os de novas propostas de const ructo teórico acerca das perversões, dem onst rando que o m odelo da form ação do objeto fet iche freudiano ainda predom ina com o parâm et ro para o seu entendim ento. Do m esm o m odo, até m esm o dent ro de um a circunscrição do âm bito da perversão com o herdeira da t radição m édico-psiquiát r ica, a discussão encerra-se tão som ente num a dim ensão geral com foco na perversão sexual a part ir do m odelo do fet ichism o e raram ente os autores se propõem t ratar ou fazer referência à perversão m oral da psiquiát r ica clássica em seus art igos, no caso a psicopat ia e sociopat ia. Tal fato tam bém dem onst ra o quanto ainda se está por avançar na caracterização das perversões além dos m odelos clássicos. Dos m odelos recenseados pela pesquisa, o que houve de m ais consistente foi a art iculação ent re as perspect ivas de Freud e de Lacan na afirm ação de duas polar idades para pensar a tem át ica: (1) a perversão com o t ransgressão e desvio or iginário próprio do desejo e da sexualidade; e (2) a perversão com o est rutura subjet iva específica calcada na recusa da cast ração e na form ação do objeto fet iche. Na t radição da psicanálise das relações de objeto, por sua vez, há apenas um indicat ivo m uito genérico e incipiente para a com preensão das perversões a part ir de um a teoria do t raum a. Além disso, observou-se um a grande falta de art iculação ent re os diferentes m odelos e perspect ivas sobre a perversão. Esta pesquisa tam bém observou que a preocupação com a caracter ização psicopatológica está em baixa dent ro do am biente acadêm ico em função de um a m aior preocupação com um a com preensão m ais social sobre o tem a da perversão. Se as discussões propriam ente psicodinâm icas e est ruturais têm dim inuído em det r im ento dessa abordagem m ais am pla de crít ica sociológica e histór ica sobre aperversão com o produto de um a ordem m édica e jurídica própria da m odernidade, ela não exclui a necessidade de um a elaboração teórica no cam po específico da psicopatologia psicanalít ica. Além disso, tam bém pudem os notar falta de aprofundam ento e m esm o de teorização na discussão do contexto social e cultural das perversões, que m uitas vezes se resum e a um a retom ada histór ica do conceito ou a um a desconst rução geral da própria noção de norm at ividade m oral e sexual. Muito em bora a pesquisa tenha prezado em seus objet ivos por fazer um recenseam ento de caráter exploratór io e descrit ivo do que atualm ente se publica no cam po das perversões, um a vez que fora delineada dent ro dos parâm etros de um a revisão de literatura, julga- Cam illa Ferreira dos Santos, Érico Bruno Viana Cam pos Estud. pesqui. psicol., Rio de Janeiro, v. 17, n. 2, p. 653-673, 2017. 6 7 1 se que essa circunscrição tenha lim itado um fecundo aprofundam ento em questões bastante pert inentes ao tem a e que não foram m uito explorados por out ros autores, com o é o caso da questão das perversões m asculina/ fem inina e das perversões m orais/ sexuais m encionadas no art igo. Assim , seria cabível um aprofundam ento tanto dessas linhas de invest igação com o de possíveis out ras em novas pesquisas. Além disso, ainda que a questão sobre a escolha da palavra “psicopatologia” para fazer o levantam ento bibliográfico possa parecer rest r it iva, após diversas reflexões sobre o tem a, tanto por fazer parte do recorte proposto pela pesquisa, reflet indo um a abordagem específica à subjet ividade, com o em função dos descritores catalogados na base de descritores em psicologia m ant ida pelo próprio portal de pesquisas, que são inclusive referência para o estabelecim ento de palavras-chave em publicações e t rabalhos acadêm icos, entende-se que, m esm o que seja um a lim itação dos próprios inst rum entos de pesquisa e um a circunstância da área de psicologia, a ut ilização do term o tenha, de certa form a, conferido um viés na pesquisa. Seria cabível um a possível m odificação dos term os chave ut ilizados na base de dados para pesquisas futuras. Diante do exposto, concluím os que, dent ro dos lim ites do presente estudo, a caracter ização psicopatológica das perversões ainda é um a questão a ser am adurecida e sistem at izada na psicanálise da atualidade. Referências Albert i, S. & Mart inho, M. H. (2013) Sexuação, desejo e gozo: ent re neurose e perversão. Psicologia USP, 24(1) , 119-142. Alves, K. C. & Sousa, S. P. de. (2004) A perversão sob a ót ica da Medicina Legal. Reverso, 26(51) , 85-89. Ayouch, T. (2014) . Quest ionando a Teoria Psicanalít ica das Perversões. I n Mouam m ar, C. C. E. & Cam pos, E. B. V. Psicanálise e questões da contem poraneidade, Volum e I I . (1ª ed, pp. 81-96) . Curit iba: CRV. Barbier i, C. P. (2007) A postura perversa é a im postura. Estudos de Psicanálise, 30, 35-41. Barbier i, C. P. (2009) . Perversão, hum or e sublim ação. Estudos de Psicanálise, 32, 39-44. 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Luiz Edm undo Carr ijo Coube, 14-01, CEP 17033-360, Bauru – SP, Brasil Endereço elet rônico: km illa182@hotmail.com Érico Bruno Viana Cam pos Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" – UNESP Faculdade de Ciências de Bauru - Departamento de Psicologia Av. Eng. Luiz Edm undo Carr ijo Coube, 14-01, CEP 17033-360, Bauru – SP, Brasil Endereço elet rônico: ebcam pos@fc.unesp.br Recebido em : 06/ 30/ 2015 Reform ulado em: 10/ 21/ 2015 Aceito em : 05/ 05/ 2016 Notas * Estudante de graduação em Psicologia pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) no Cam pus de Bauru e bolsista de I niciação Cient ífica pela FAPESP. * * Professor assistente doutor do Departamento de Psicologia da Faculdade de Ciências de Bauru da Universidade Estadual Paulista (UNESP) . Psicólogo, Mest re e Doutor em Psicologia pelo I nst ituto de Psicologia daUniversidade de São Paulo (USP) .
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