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Monografia - MARCELO SANTOS GONÇALVES

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA 
MARCELO SANTOS GONÇALVES 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A SEGURANÇA PRIVADA COMO ALIADA DO SISTEMA NACIONAL DE 
SEGURANÇA PÚBLICA NO COMBATE À CRIMINALIDADE NO BRASIL 
 
 
 
 
 
 
 
Recife-PE 
2015 
 
MARCELO SANTOS GONÇALVES 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A SEGURANÇA PRIVADA COMO ALIADA DO SISTEMA NACIONAL DE 
SEGURANÇA PÚBLICA NO COMBATE À CRIMINALIDADE NO BRASIL 
 
 
 
Monografia apresentada ao Curso de Pós-Graduação Lato 
Sensu em Segurança Privada, da Universidade do Sul de 
Santa Catarina, como requisito à obtenção do título de 
Especialista em Segurança Privada. 
 
 
Orientação: Prof. João Schorne de Amorim, Msc. 
 
 
 
 
 
 
 
Recife-PE 
2015 
 
MARCELO SANTOS GONÇALVES 
 
 
 
 
 
 
A SEGURANÇA PRIVADA COMO ALIADA DO SISTEMA NACIONAL DE 
SEGURANÇA PÚBLICA NO COMBATE À CRIMINALIDADE NO BRASIL 
 
 
 
Esta Monografia foi julgada adequada à obtenção do título de 
Especialista em Segurança Privada e aprovada em sua forma 
final pelo Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Segurança 
Privada, da Universidade do Sul de Santa Catarina. 
 
 
 
 
 
 
Recife-PE, 16 de abril de 2015. 
 
_____________________________________________________ 
Professor orientador: João Schorne de Amorim, Msc. 
Universidade do Sul de Santa Catarina 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A minha querida e amada “filha” que me inspira 
a cada sorriso e que me orgulha a cada palavra. 
. 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Em primeiro lugar agradeço a Deus, por ter me dado saúde, forças e motivação 
para superar os obstáculos e atribulações que pairaram sobre o meu caminho durante o 
período de confecção deste trabalho. Só Ele sabe tudo o que enfrentei para conciliar a 
dedicação ao Curso, com os deveres da profissão e com a devida atenção à minha família. 
Não estaria aqui sem a ajuda das pessoas mais importantes na minha vida: meu 
pai Edmar e minha mãe Luzinete, responsáveis pelos fundamentos morais que carrego e que 
me “carregam”. 
Obrigado à minha esposa Ana Paula e à minha filha Marina pelo incentivo 
constante e pela paciência com os meus vários momentos de ausência ou falta de atenção. 
Aos meus tutores e professores, de todas as disciplinas do presente Curso, pelo 
esmero e dedicação no processo de ensino e aprendizagem e pela atenção dispensada a nós 
alunos. Com certeza, este foi um fator relevante para a minha motivação crescente ao longo 
Curso. 
Ao Prof. João Schorne de Amorim, meu orientador neste trabalho, pelas 
orientações precisas e objetivas, que muito me ajudaram em todo o processo de confecção do 
TCC. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
O presente trabalho de conclusão de curso, do Programa de Pós-Graduação em Segurança 
Privada da Universidade do Sul de Santa Catarina, apresenta como tema a Segurança Privada 
Como Aliada do Sistema Nacional de Segurança Pública no Combate à Criminalidade no 
Brasil. Por meio da metodologia da pesquisa bibliográfica, o trabalho tem o objetivo de 
apresentar possíveis soluções para o desenvolvimento da colaboração mútua entre os setores 
público e privado de segurança, visando maior eficácia na prevenção e no combate à violência 
no Brasil. O aumento constante da criminalidade no País, a partir do final do século XX, 
associado à ineficiência do Estado em cumprir o seu dever constitucional de prover a 
segurança à sociedade, por meio dos seus órgãos de segurança pública, tem gerado crescente 
sensação de insegurança nos cidadãos. Percebe-se neste cenário a principal justificativa para o 
crescimento dos serviços privados de segurança no País. Como prática comum e crescente, a 
sociedade e o próprio setor público recorrem às empresas de segurança privada com o intuito 
de garantir proteção mais eficaz para os seus ativos e patrimônios. A despeito do receio que 
ainda há sobre o ingresso da iniciativa privada no que antes era considerado monopólio estatal 
do uso legítimo da força, o Estado já reconhece a necessidade da complementariedade do 
setor. Ao longo da pesquisa são analisadas questões essenciais para a viabilização da 
contribuição mútua entre os setores, como a legislação vigente, o processo de formação dos 
profissionais de ambos os setores, a quebra de paradigmas culturais, o modelo de polícia 
utilizado no Brasil e os limites da abertura à privatização. A partir de iniciativas públicas, 
privadas ou oriundas do próprio seio da comunidade, como um exemplo mostrado neste 
trabalho, nota-se que há espaço para progressos na direção proposta - somatório de esforços - 
com a adoção de medidas eficientes, que podem proporcionar ganhos em segurança para os 
cidadãos, instituições e para o próprio Estado Brasileiro. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Palavras-Chave: Segurança Pública. Segurança Privada. Integração. 
 
ABSTRACT 
 
 
This working course completion, the Program of Graduate Studies in Private Security at the 
University of Southern Santa Catarina, has as its theme the Private Security As Allied's 
National Public Security System in Combating Crime in Brazil. Through bibliographical 
research methodology, the study aims to present possible solutions for the development of 
mutual cooperation between the public and private sectors of safety to more effectively in 
preventing and combating violence in Brazil. The steady increase in crime in the country, 
from the end of the twentieth century, associated with the inefficiency of the State to fulfill its 
constitutional duty to provide security to society, through its law enforcement agencies, has 
generated growing sense of insecurity in citizens. It can be seen in this scenario the main 
reason for the growth of private security services in the country. As a common and growing 
practice, society and the public sector itself resort to private security companies in order to 
ensure more effective protection for its assets and assets. Despite the fear that there is still 
about the entry of the private sector in what was considered state monopoly of the legitimate 
use of force, the state already recognizes the need for complementarity in the industry. During 
the research key issues are analyzed for the viability of the mutual contribution between 
sectors, such as the current legislation, the process of training of professionals of both sectors, 
the breaking of cultural paradigms, the police model used in Brazil and the limits opening to 
privatization. From public initiatives, private or coming from the community itself, as an 
example shown in this work, we note that there is room for progress in the direction proposed 
- sum efforts - with the adoption of efficient measures that can provide gains in security for 
citizens, institutions and the own Brazilian State. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Key-words: Public Safety. Private Security. Integration. 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................8 
2 A SEGURANÇA PÚBLICA E A PRIVADA NO BRASIL..............................................11 
2.1 A CRIMINALIDADE NO MUNDO E NO BRASIL........................................................11 
2.2 A SEGURANÇA E O PAPEL DO ESTADO....................................................................12 
2.3 A SEGURANÇA PRIVADA NO BRASIL........................................................................15 
 
3 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS .............................................22 
3.1 ASPECTOS LEGAIS E ESTRUTURAIS..........................................................................22 
3.2 A INTELIGÊNCIA NO COMBATE A CRIMINALIDADE............................................25 
3.3 CAMINHOS E OPORTUNIDADES PARA A INTEGRAÇÃO.......................................27 
3.4 A NECESSIDADE DE MUDANÇAS NO MODELO DE POLÍCIA...............................303.5 UMA INICIATIVA BEM SUCEDIDA.............................................................................32 
3.6 RISCO CONTROLADO - EXPERIÊNCIA AMERICANA..............................................34 
 
4 CONCLUSÃO......................................................................................................................37 
REFERÊNCIAS......................................................................................................................39 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
Poucas questões no Brasil e no mundo atual atraem tantas preocupações quanto à 
violência e o avanço da criminalidade. O tema da segurança, no seu sentido mais amplo, 
envolvendo todos os atores responsáveis ou passíveis de contribuir para o controle social e o 
aumento do bem estar social, está no centro da agenda política da atual. A criminalidade está 
presente de forma indiscriminada em países de primeiro e de terceiro mundos, impondo às 
sociedades o desafio de descobrir maneiras eficientes para lidar com a questão de tamanha 
complexidade. Os índices referentes à criminalidade no Brasil vêm crescendo 
consideravelmente nas últimas décadas. Fatores como o aumento da desigualdade social, a 
grande concentração populacional nos grandes centros urbanos, somada a falta de 
infraestrutura de apoio, a expansão do tráfico de drogas e o desenfreado crescimento 
populacional, contribuem para este fenômeno. A criminalidade se multiplica, amplia suas 
modalidades e se infiltra por todos os setores e ambientes da sociedade, desafiando as 
instituições voltadas para o seu controle. 
No Brasil, para a sua segurança, a população depende da atuação do Estado, o 
qual possui o dever constitucional de promover ações e medidas que permitam o controle 
social de forma ampla, oferecendo estímulos positivos para que os cidadãos possam conviver 
em paz entre si. O monopólio da violência física é legitimado somente ao Estado. Apenas este 
pode usar da força para fornecer aos cidadãos a segurança necessária por meio da prevenção e 
repressão de comportamentos criminosos, lesivos ao próprio Estado e à integridade física, 
moral e patrimonial dos cidadãos. Todavia, as dificuldades que se apresentam aos Órgãos de 
Segurança Pública no Brasil são inúmeras e acabam por causar a ineficácia no controle da 
criminalidade. 
Fruto deste cenário, verifica-se no Brasil o elevado e o constante crescimento do 
setor privado de segurança, com a multiplicação de empresas voltadas para a segurança de 
pessoas, de patrimônios particulares, de instituições financeiras e de transporte de valores. 
Setores públicos e parcela crescente da população, influenciados pela sensação de 
insegurança, recorrem a estas empresas buscando garantir sua proteção. Entretanto, a 
segurança privada ainda é vista com grande preconceito, devido a fatores como a carência de 
atualização da normatização, a elevada atuação de empresas ilegais e ao baixo nível de 
profissionalização do setor. Nota-se, porém, que o efetivo de vigilantes (denominação 
8 
convencionada ao profissional da segurança privada) é consideravelmente superior ao do 
somatório de todos os profissionais dos órgãos de segurança pública do País, aspecto que 
também faz despertar sentimento de receio no Estado. Presentes por todo o País, as empresas 
de segurança privada são controladas e fiscalizadas pelo Estado através da Polícia Federal, e o 
setor é regulamentado a nível federal. 
A complexidade e os índices atuais da criminalidade não deixam dúvidas sobre a 
incapacidade do Estado em prover a segurança plena à sociedade brasileira, e fazem com que 
a atuação das empresas privadas de segurança seja não só desejada como necessária no 
presente cenário. As opiniões se divergem quanto ao incentivo ao setor, entretanto, percebe-se 
que não há outro caminho senão estudar a melhor forma de empregá-lo, de maneira que 
exerça eficiente complementariedade ao trabalho dos órgãos de segurança pública. 
Atualmente, as áreas e formas de atuação de cada setor estão bem definidas, haja vista evitar a 
sobreposição de responsabilidades e a garantir que os direitos constitucionais dos cidadãos 
não sejam feridos. Portanto, é neste ponto que se encontra o nosso problema: há no Brasil dois 
seguimentos voltados para garantir a segurança da sociedade, o público e o privado. Então, de 
quais maneiras a Segurança Privada no Brasil pode contribuir, de forma sistematizada, com os 
Órgãos de Segurança Pública no combate à criminalidade no Brasil? 
Portanto, considerando o cenário atual do Brasil, à organização, à regulamentação 
e o emprego dos Órgãos de Segurança Pública, e a crescente atuação das empresas privadas 
voltadas para a segurança, este trabalho de pesquisa tem o objetivo geral de apresentar 
possíveis soluções para o desenvolvimento da colaboração mútua entre os setores público e 
privado de segurança, visando maior eficácia na prevenção e no combate à violência no País. 
A pesquisa também apresenta análises sobre as características gerais e a legislação que regula 
os dois setores, aborda experiências já vivenciadas no Brasil e no exterior, com a finalidade de 
apresentar oportunidades de integração sistemática. A análise do conteúdo teórico com a 
intensão de transportá-lo para medidas práticas faz crescer a importância deste trabalho. Nota-
se que a presente pesquisa trata de tema de interesse direto da população, haja vista o seu 
anseio por medidas que conduzam a uma maior sensação de segurança. As pessoas almejam 
poder ir e vir com tranquilidade, conduzir seus empreendimentos comerciais sem medo de 
terem seu patrimônio roubado, de entrarem em instituições financeiras e sentirem protegidos, 
ou seja, de terem seus direitos constitucionais plenamente garantidos. Como o Estado, 
sozinho, não consegue cumprir com eficácia o seu dever previsto na Constituição Federal em 
vigor, outras soluções possíveis certamente atraem o interesse social. Portanto, este trabalho 
mergulha no impasse que existe entre a certeza sobre a importância da união de esforços entre 
9 
os setores público e privado de segurança no Brasil, e a forma de como e onde permiti-la, a 
fim de apresentar possíveis oportunidades. 
Com este intuito, a pesquisa trilhou uma sequência lógica de abordagens para 
alcançar o seu objetivo principal. Inicialmente, buscou-se realizar uma ambientação sobre o 
cenário atual da violência no Brasil e no mundo, focando na sua diversidade e complexidade. 
A partir de então, é analisado o papel do Estado Brasileiro como responsável pela condução 
das ações de controle social no País, expondo suas limitações e vulnerabilidades. Em seguida, 
passa-se a tratar sobre a evolução da segurança privada, com abordagens sobre suas 
características e particularidades no Brasil. Construída a fotografia do que já fato, inicia-se o 
estudo sobre os possíveis caminhos para a integração dos setores público e privado de 
segurança. Um caso real, prático e bem sucedido em uma comunidade, é explorado para 
mostrar uma possibilidade e a viabilidade de projetos neste sentido. Entretanto, com o intuito 
de mostrar que o assunto é muito mais complexo do que parece, é explorado o exemplo dos 
Estados Unidos da América, que abriram as portas para a privatização da segurança. Por fim, 
o trabalho mostra que o tema apresenta um campo fértil para discussões e possibilidades, mas 
que o caminho é longo e ávido por mudanças, adaptações e correções no sistema de segurança 
vigente no País. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
10 
2 A SEGURANÇA PÚBLICA E A PRIVADA NO BRASIL 
 
2.1 A CRIMINALIDADE NO MUNDO E NO BRASIL 
 
Poucas questões no mundo atual atraem tantas preocupações quanto à violência e 
o avanço da criminalidade. Este fenômeno é facilmente justificado haja vista a segurança ser 
uma das necessidades básicas mais importantes de qualquer sociedade. Desde os primórdios 
da humanidade o homem usa os meios disponíveisa sua época para conseguir se alimentar, se 
manter saudável e se proteger. O homem também é um ser essencialmente social e para sua 
sobrevivência necessita relacionar-se com o mundo que o cerca, ou seja, pessoas, natureza, 
grupos sociais e instituições. Entretanto, é sabido que nem sempre é harmônica a relação entre 
a vida em comunidade e a segurança. A disputa por espaço, por dinheiro, por condições 
privilegiadas, ou pela simples busca desesperada por melhores condições de sobrevivência, 
são alguns dos fatores causadores dos conflitos sociais do mundo moderno. 
A desigualdade social se mostra o problema central e causador de todas as 
vertentes e variedades de tipos de violência. Em busca de melhores condições devida, grandes 
contingentes populacionais deixaram a vida rural para superlotar cidades sem condições de 
infraestrutura para ampará-los. A falta de educação, de emprego, de condições sanitárias 
mínimas e de alimentação, leva milhares de pessoas ao limite da sobrevivência. Então, para 
muitos destes parece só haver soluções como, roubar, matar, traficar, etc. A criminalidade do 
mundo atual está cada vez mais complexa e impregnada em todos os setores da sociedade, 
entre os ricos e pobres. Está mais diversificada pelo tráfico de drogas e de pessoas, pela 
corrupção generalizada, indo até os conflitos violentos no trânsito, nas comunidades e nas 
famílias. No Brasil, um estudo apresentado por Júlio (2014), consolidado no Mapa da 
Violência 2014, mostra que entre 2002 e 2012, o número total de homicídios registrados pelo 
Ministério da Saúde passou de 49.695 para 56.337, sendo o maior registrado no País. Mostra, 
também, que nenhuma capital, em 2012, teve taxa de homicídio abaixo do nível epidêmico. 
Números como os apresentados por Júlio mostram que a criminalidade é uma tendência já 
confirmada é a disseminação da violência nas diferentes regiões e cidades. 
Martins (2014, p.1) contribui e acrescenta: 
 
“Diante de tanta insegurança temos o crescimento de outro elemento característico 
da modernidade: o individualismo. Um indivíduo amedrontado e inseguro tende a 
pensar somente no seu próprio bem-estar, separando a sociedade em vários 
indivíduos que pensam e agem para si próprios, excluindo aquele que lhes é 
11 
diferente. As desigualdades sociais e o crescimento da criminalidade aumentam 
ainda mais o medo e a sensação de insegurança na sociedade de risco. O bombardeio 
de notícias sobre a violência majorou a sensação de medo desenfreada na 
população” 
 
 
Percebe-se, então, um comprometimento crescente da paz social no mundo e no 
Brasil, repercutindo na rotina diária dos cidadãos e gerando nestes um sentimento de 
impotência e de falta de proteção. 
O tema segurança pública é carente de publicações acadêmicas, e talvez este seja 
o grande motivo da freqüente ocorrência no Brasil e no mundo, de tentativas imediatistas e 
pouco fundamentadas para tratar o assunto, muitas vezes contaminadas por manipulação 
política e com apresentação de objetivos e resultados questionáveis. Confrontos envolvendo 
medidas radicais como a de “tolerância zero” e propostas mais humanistas geram acaloradas 
discussões desprovidas de análises mais aprofundadas e fundamentadas. Mas afinal, com 
quem o cidadão brasileiro pode contar. De quem é a atribuição de zelar pela segurança 
pública no País? 
 
2.2 A SEGURANÇA E O PAPEL DO ESTADO 
 
Perante este cenário de insegurança crescente o cidadão brasileiro tem a sua 
disposição o braço do Estado, o qual tem a responsabilidade constitucional de zelar pelo 
controle social. Assim prevê a Constituição da República Federativa do Brasil (CF/88): 
 
“Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de 
todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das 
pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: 
I – polícia federal; 
II – polícia rodoviária federal; 
III – polícia ferroviária federal; 
IV – polícias civis; 
V – polícias militares e corpos de bombeiros militares.” 
 
Ainda segundo a CF/88 a polícia federal atua como polícia judiciária da União, 
sendo responsável pela apuração de infrações penais contra a ordem política e social ou em 
detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e 
12 
empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual 
ou internacional. A polícia rodoviária federal tem a função de realizar o patrulhamento 
ostensivo das rodovias federais e a polícia ferroviária federal encarrega-se do patrulhamento 
das ferrovias. As polícias civis, nos casos que não forem competência da União, atuam como 
polícia judiciária na apuração de infrações penais, exceto as militares. As polícias militares, 
como polícia administrativa, atuam como polícia ostensiva e na preservação da ordem 
pública. Já os bombeiros militares têm a incumbência das atividades voltadas à defesa civil. 
No âmbito dos municípios podem ser previstas, também, as guardas municipais, com o 
encargo de proteger os bens, serviços e instalações dos mesmos. 
O Estado, portanto, dispõe de um aparato de segurança organizado e que poderia 
estar suprindo os anseios por segurança da sociedade. Entretanto, não é o que se pode 
observar quando os cidadãos são questionados sobre assunto. O governo federal procura 
manter reserva e distância quando se trata do tema segurança pública no Brasil. Uma vez que, 
por determinação constitucional, o controle das polícias militar e civil fica a cargo dos 
estados, suspeita-se de que não há interesse por parte da União em mostrar maior 
responsabilidade sobre o assunto, trazendo para si a centralização do estudo para a adoção de 
medidas mais efetivas, as quais, normalmente, mostram resultados de longo prazo. 
Certamente, como se trata de assunto de difícil e demorada solução, é melhor para governo 
federal que os estados continuem com esta “mancha” de ineficiência. 
 
“O sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz é o responsável pela elaboração do Mapa da 
Violência no Brasil, um estudo detalhado sobre os índices de criminalidade em 
todos os municípios. Ele afirma que o governo federal deve ajudar a envolver 
municípios no combate à violência tomando a frente no trabalho de inteligência e 
mapeando os problemas regionais. “O combate tem que ser específico para cada tipo 
de região. Tem que haver diagnóstico. O primeiro passo da cura é a consciência da 
enfermidade. Difundiu-se entre nós a ideia de que a violência é um fenômeno quase 
natural, o que é um erro. Ela é um fenômeno determinado por fatores específicos 
que podem ser removidos” (WAISELFISZ apud MELLO, p. 1). 
 
Além da falta de engajamento efetivo do Estado, são vários os problemas 
elencados como fatores contribuintes para a ineficácia do Sistema de Segurança Pública no 
Brasil. Como exemplo, verifica-se a política da hiperostensividade policial, ou seja, a busca 
pelo aumento, cada vez maior, do número de policiais nas ruas, especialmente nos Estados, 
fundada na ideia de que a saturação evita o cometimento de crimes e reduz a criminalidade. 
13 
Entretanto, estudos mostram que a redução da criminalidade baseada preponderantemente na 
presença do policial não gera efeitos concretos na redução de forma efetiva e perene. Essa 
constatação se baseia principalmente no fato de que a presença da polícia ostensiva apenas 
evita a prática do crime momentaneamente, pois resulta apenas no deslocamento da 
criminalidade, sem evitar que o crime seja praticado. 
Outro aspecto a considerar é a necessidade de “sintonia fina” entre a polícia 
judiciária, onde o ciclo começa, e o Poder Judiciário, onde o ciclo se fecha com o julgamento. 
Considera-se esta uma grande resposta para se reduzir o número de crimes, pois apenas o 
criminoso preso ou que tenha a certeza de que o será deixa de praticar novos delitos. Portanto, 
é fundamental a existência de um sistema dejustiça criminal forte, aparelhado e equilibrado. 
A falta de organização e equilíbrio de efetivos e encargos faz com que policiais que deveriam 
estar trabalhando ostensivamente estejam envolvidos com processos investigativos e vice-
versa. E o resultado é a ineficiência no desenvolvimento do ciclo com a consequente punição 
aos criminosos. 
 
 
“[...] a redução da criminalidade depende essencialmente de investigação, de 
apuração dos crimes e dos autores, para que sejam levados a julgamento pelo Poder 
Judiciário, condição essencial para que sejam condenados. Porém, na contramão da 
relevante e indispensável função que exerce no contexto social e jurídico, a Polícia 
Judiciária está em evidente declínio, à beira do colapso, gerando severas críticas de 
alguns ‘especialistas’ ao modelo de investigação criminal existente no Brasil, [...]”. 
(COSTA, 2014). 
 
Portanto, a impunidade tem sido uma doença crônica, causadora de descrédito por 
parte da população sobre todo o sistema judiciário no País. Há grande necessidade do governo 
federal em desenvolver iniciativas, através do Ministério da Justiça, para as mudanças legais e 
nos aparatos da Justiça e execução penal para reduzir as brechas da impunidade e assegurar a 
punição ágil dos criminosos como instrumento de dissuasão. 
Verifica-se do exposto que a problemática do provimento do nível de segurança 
desejável pela população é um tema de grande complexidade, na medida em que são 
necessárias mudanças de monta, que vão desde a reorganização estrutural e funcional no 
âmbito órgãos de segurança pública, até a reformulação do sistema judiciário. Só assim, será 
possível ao Estado cumprir o seu dever constitucional de garantir a segurança da sua 
população. 
14 
2.3 A SEGURANÇA PRIVADA NO BRASIL 
 
O resultado de toda essa problemática envolvendo a atuação do Estado na 
promoção da segurança à sociedade brasileira, é a busca dos cidadãos e instituições de formas 
mais eficientes para garantir a sua proteção. Segundo AUSEC (2013), com o intuito de 
resolver a questão da segurança pública, [...] “já existem projetos de lei, que se propõem a 
evoluir o sistema, fazendo com que a morosidade e a ineficiência sejam peças do 
passado. Porém, até que chegue esse momento tão desejado por toda a sociedade, em que a 
polícia deixe de ser reativa e passe a atuar preventivamente de fato, precisamos de medidas 
alternativas.” 
A solução mais procurada, então, tem sido o pagamento às empresas privadas pela 
prestação de serviços de vigilância. Como forma alternativa, algumas empresas e instituições 
têm preferido adotar no quadro organizacional, o seu setor próprio de segurança, chamado de 
serviço orgânico de segurança. Entretanto, tudo tem o seu preço e nem todos têm condições 
de pagar. A sensação de insegurança tem sido o fator motivador do crescimento da segurança 
privada, criando o que muitos doutrinadores chamam de “indústria” da segurança, tamanha a 
expansão e a oferta de tal serviço. Portanto, na ausência de um serviço eficiente de segurança 
prestado pelo Estado, que o tem como obrigação, quem tem mais, gasta mais e se protege 
melhor, até por ser sempre um alvo mais visado pelos criminosos. 
Conforme a portaria nº 387/2006, do Departamento da Polícia Federal (DPF), são 
consideradas atividades de segurança privada: vigilância patrimonial, transporte de valores, 
escolta armada, segurança pessoal e cursos de formação. 
 
Vigilância patrimonial 
É exercida dentro dos limites dos estabelecimentos, urbanos ou rurais, públicos ou 
privados, com a finalidade de garantir a incolumidade física das pessoas e a 
integridade do patrimônio no local, ou nos eventos sociais. As empresas de 
vigilância patrimonial não poderão desenvolver atividade econômica diversa da que 
estejam autorizadas e somente poderá ser exercida dentro dos limites dos imóveis 
vigilados e, nos casos de atuação em eventos sociais, como show, carnaval, futebol, 
devem se ater ao espaço privado objeto do contrato. 
Transporte de valores 
A atividade de transporte de valores consiste no transporte de numerário, bens ou 
valores, mediante a utilização de veículos, comuns ou especiais. 
15 
Escolta armada 
A atividade de escolta armada visa a garantir o transporte de qualquer tipo de carga 
ou de valores. 
Segurança Pessoal 
A atividade de segurança pessoal é exercida com a finalidade de garantir a 
incolumidade física de pessoas. 
Curso de formação 
Os cursos de formação têm por finalidade formar, especializar e reciclar os 
vigilantes. 
 
Portanto, verifica-se que os serviços de segurança a serem prestados por empresas 
privadas são específicos, limitados e previstos em lei. No Brasil, o marco regulatório da 
segurança privada é, atualmente, legislado pela Lei n. 7.102, de 20 de junho de 1983, e pelos 
Decretos n. 89.056/83 e 1.592/95, complementados por decretos e portarias específicas que 
atribuíram novos requerimentos à regulação. De acordo com este ordenamento jurídico, a 
segurança privada é apresentada como subsidiária e complementar à segurança pública, sendo 
que, desde 1996, suas atividades são reguladas, controladas e fiscalizadas pelo Departamento 
da Polícia Federal, por meio de portarias e demais documentos legais emitidos pelo órgão. 
(ZANETIC, 2009). 
A legislação citada e as normas que a complementa deixam necessariamente clara 
a fronteira de atuação entre os setores público e privado de segurança. Deixa evidente, 
também, que para poder atuar no mercado, qualquer empresa tem que estar autorizada para 
tal, bem como a obrigação de todo vigilante estar vinculado a uma empresa regularizada. 
Zanetic
 
(2009) ressalta: 
 
“Embora haja uma clara distinção entre a polícia e as forças privadas que exercem 
policiamento, verificada em termos tanto dos poderes conferidos aos policiais (como 
por exemplo, o poder de prender) quanto das “vocações” das duas forças – vigilantes 
possuem características mais preventivas e voltadas ao controle e regulação de 
acesso, com seus objetivos definidos pelo contratante e seus interesses privados, 
enquanto a polícia tem perfil mais repressivo e punitivo, há uma importante tensão 
no sentido de ampliação do campo de ação dos agentes privados sobre a esfera de 
atuação da polícia, criando zonas por vezes pouco definidas de distinção entre os 
dois setores.” 
 
 
A definição dos limites citada por Zanetic e especificada em normas é 
fundamental para que não haja sobreposição de encargos, atuação de agentes em missões para 
16 
as quais não têm capacitação e consequentes embaraços judiciais. Observa-se, por exemplo, 
em casas de show e outros estabelecimentos privados, a atuação das empresas de segurança 
privada na segurança interna, somente dentro dos limites do estabelecimento. 
Segundo AUSEC (2013) o crescimento acelerado da segurança privada com a 
expansão e a oferta de tal serviço fez aumentar a concorrência empresarial no setor. Empresas 
cada vez buscam se aperfeiçoar e se modernizar, proporcionando serviços diferenciados, de 
forma a atender as demandas atuais, driblando os constantes aumentos da criminalidade. 
Entretanto, um grande problema é o fato de que ainda assim, existe no mercado um número 
altíssimo de empresas funcionando sem estarem regularizadas, empregando material 
inadequado e, principalmente, pessoal sem a devida formação. Na realidade, são empresas 
que oferecem um grande risco aos contratantes e se aproveitam das fragilidades das famílias e 
dos empresários, oferecendo serviços que nunca são entregues, se aproveitando das falhas do 
sistema. Cardoso (2011) afirma que “muitas empresas oferecem ao mercado, profissionais 
muitas vezes sem a mínima qualificação, tudo para atender à demanda e concorrer em tão 
atraente negócio. Como não é tão barato se proteger, a clandestinidade e seus preços atrativos 
cresceram paralelamente ao mercado regular.” Este certamente é o principal motivo dos 
corriqueiroscasos de abusos por partes dos vigilantes, das situações ilícitas originadas por 
suas condutas desmedidas e do cada vez maior número de demandas judiciais que envolvem 
algum ente da segurança privada, tanto na esfera cível quanto criminal. 
Zanetic
 
(2009) destaca que o setor tem sua demanda disseminada em diferentes 
setores da sociedade, sendo os principais contratantes dos serviços de segurança privada o 
setor público, os bancos, as indústrias e o setor de serviços, sendo o setor público o maior 
contratante. Na maioria dos países o contingente de vigilantes supera, em muito, o de 
policiais, formando um verdadeiro exército privado. No Brasil a situação é ainda pior, pois o 
policiamento sucateado faz a categoria privada ganhar ainda mais importância junto à 
sociedade. O sucateamento da polícia acaba gerando outro problema à sociedade brasileira, 
que é o do segundo emprego do policial, que diante de salários tão defasados se vê obrigado a 
compor sua renda trabalhando em seus horários de descanso, exercendo o chamado “bico”, o 
qual se dá principalmente com o exercício de atividades de segurança privada. 
 
“Em 2012, foram R$ 10 bilhões as despesas com vigilantes e sistemas eletrônicos, 
três vezes mais que há 10 anos. Naturalmente que a expansão da rede bancária 
cresceu exponencialmente para cerca de 35 mil agências, mas os assaltos recuaram 
para 422 em 2011, contra 1.903 no ano 2000. Em compensação, houve um aumento 
17 
expressivo nos arrombamentos dos terminais eletrônicos espalhados pelo país – 182 
mil, sendo 50 mil fora das agências, segundo relatório de 2011 – reconhece a 
Febraban, porém sem divulgar os números de ocorrências. Em relatório da 
Organização dos Estados Americanos (OEA), Segurança Cidadã das Américas, 
divulgado nos últimos dias, apontou o Brasil como tendo 4,9 seguranças privados 
em 2012 para cada policial. Só perde nas três Américas para a minúscula e pobre 
Guatemala, com 6,7.”(AUSEC, 2013). 
 
O grande efetivo existente no País de profissionais das empresas de segurança 
(vigilantes), o qual extrapola, de forma considerável, o número de agentes dos órgãos de 
segurança pública, é um dos aspectos que impactam na desconfiança e no preconceito para 
com o setor, haja vista a carência de controle eficiente sobre o seguimento. Segundo Coelho
 
(2011), no Brasil, para cada agente da segurança pública temos de dois até quatro vigilantes 
atuando na segurança privada, com um crescimento de 60%, entre 2006 e 2011, no 
contingente de profissionais cadastrados na Polícia Federal. 
Outro fator que faz aumentar o receio do cidadão para com o setor privado de 
segurança é o baixo nível de escolaridade exigido dos seus agentes. Atualmente, o vigilante 
precisa ter concluído somente o ensino fundamental. Este aspecto é considerado fundamental 
quando se questiona se este nível de formação é suficiente para que um agente de segurança 
corresponda ao que se espera dele, principalmente quanto ao seu nível de discernimento para 
agir em situações complexas envolvendo risco. 
 
Para CARDOSO (2011) “Em função disso [baixo nível de formação dos vigilantes], 
somos obrigados a estar em contato com profissionais despreparados, por exemplo, 
na entrada de um banco, ou então somos informados pela mídia da atuação irrespon-
sável de algum vigilante, como, por exemplo, a morte de uma pessoa que ele achava 
ser perigosa. Muitos destes vigilantes agem pensando que são policiais, pois estão 
embasados no status de autoridade que a profissão está ganhando [...]”. 
 
 
Consequência do problema apresentado por Cardoso é o grande número de ocor-
rências, envolvendo vigilantes, desenquadradas dos aspectos legais, atos que vão do mero 
constrangimento aos ilícitos penais como o homicídio, e que geram número crescente de de-
mandas judiciais envolvendo o setor. Portanto, verifica-se que a formação do vigilante é um 
aspecto que precisa ser revisto, pois interfere em diversos aspectos da sua atuação junto ao 
público como, a postura, a apresentação, a educação, o respeito, e principalmente o nível de 
resposta empreendido às situações problemáticas as quais estão sujeitos. 
18 
Entretanto, já não se enxerga mais a possibilidade da sociedade atual viver em se-
gurança sem a atuação da segurança privada. Embora sua existência precise ainda de muitos 
ajustes e continue causando implicações negativas, é impossível imaginar que o Estado vá 
assumir a responsabilidade pela segurança. No cenário de violência do mundo atual a inter-
venção da iniciativa privada acabou se configurando como um "mal necessário" diante do su-
cateamento dos serviços públicos de segurança. No entanto, segundo Cardoso (2011) é muito 
importante que a segurança privada fique adstrita à função de auxiliar da segurança pública. O 
Estado deve admitir a importância da segurança privada e a existência dos problemas ligados 
a ela, sendo mais efetivo em sua regulação e fiscalização, para que a prestação de serviços de 
segurança não acabe por produzir ainda mais danos à sociedade. 
Entretanto, a despeito dos números apresentados, os quais conferem à segurança 
privada um grau de importância considerável para fins de contribuição na manutenção do 
controle social, no Brasil as discussões sobre formas de adotar parceiras entre os setores 
público e privado caminham de forma lenta. Neste sentido, iniciativas de alguns estados já são 
percebidas nos últimos anos como, por exemplo, o primeiro simpósio sobre segurança privada 
ocorrido em Aracajú-SE, o qual teve como tema “As Relações da Segurança Privada e 
Pública Após a Copa do Mundo”.
 
(COELHO, 2011). De acordo com o presidente do 
Sindicato das Empresas de Segurança Privada do Estado de Sergipe (SINDESP/SE), durante 
o encontro foi discutido sobre o trabalho desenvolvido pela segurança pública e privada para 
o sucesso da Copa do Mundo de 2014. 
Coelho (2011) acrescentou: 
 
“O encontro tem o objetivo principal de esclarecer sobre o papel a ser 
desempenhado por ambos os setores. “É importante esse debate porque a sociedade 
passa a entender o papel da segurança pública e privada. Por vezes se tem eventos 
públicos com segurança do governo, quando na verdade deveria ser com segurança 
privada, cabendo apenas a Polícia Militar a parte que lhe compete à constituição que 
é a segurança das vias e não da segurança interna em eventos particulares”. 
 
A organização da segurança para a condução da Copa do Mundo no Brasil, em 
2014, deu mostras de que é possível caminhar para uma maior aproximação entre os setores. 
Foi uma experiência que obteve sucesso e que certamente servirá como laboratório para o 
estudo de possibilidades mais amplas e permanentes de emprego conjunto. Neste sentido, 
parece ser interessante de ser trabalhado o campo das informações. O mercado de segurança 
privada tem suas empresas distribuídas por todo território nacional. Os vigilantes estão 
presentes nas instituições financeiras, nos estabelecimentos comerciais, na defesa de 
19 
patrimônio de particulares, sobretudo nos mais variados tipos de órgãos públicos distribuídos 
pelo País. Já assim estão colaborando sobremaneira com os Órgãos de Segurança Pública, 
pois permite que estes possam dedicar maior atenção imediata às áreas externas. Além do 
fator presença, o vigilante dispõe de todo o aparato tecnológico de segurança disponível na 
atualidade, como os circuitos fechados de televisão, dispositivos eletrônicos de alarmes e 
sensores de presença, etc. Ora, então essa quantidade enorme de “agentes” da segurança 
privada, espalhados por todo “canto”, não poderiam participar como alimentadores do 
Sistema de Inteligência de Segurança Pública, de forma a contribuir na prevenção do crime, 
principalmente ajudando na montagem de cenários estatísticos a serem utilizados nos 
planejamentos do setor público? 
Mas uma questão é fundamental, será que o modelo de polícia adotado no Brasil 
atualmente favorecea aproximação com o setor privado de segurança? Este aspecto também 
deve ser considerado importante, pois parece essencial a quebra do modelo tradicional de 
polícia para que o terreno passe a ser fértil à contribuição mútua entre policiais, cidadãos e 
instituições. Neste sentido, é possível encontrar modelos de policiamento no exterior que 
facilitem o estudo sobre esta integração. É o caso do modelo de Policiamento Comunitário ou 
de Proximidade adotado no Japão (KOBAN), que utiliza estratégias de aproximação, ação de 
presença, permanência, envolvimento e comprometimento com o local de trabalho e com as 
comunidades na preservação da ordem pública, da vida e do patrimônio das pessoas. 
Segundo Rolim (2006) um modelo, proativo, de policiamento deve estar tão 
próximo e vinculado às comunidades quanto possível, inclusive com a retomada dos 
patrulhamentos a pé. A ideia central nesse caso é substancialmente diferente daquela 
direcionada para o número de prisões efetuadas ou taxa de resolução de crimes. Compartilha 
também o pressuposto de que uma intervenção racional das forças policiais, em parceria com 
entidades da sociedade civil, pode alterar várias das condições que são preditivas do crime e 
da violência. Iniciativas importantes adotadas também no Brasil serão abordadas como a 
criação das Unidades de Polícia Pacificadora, no Rio de Janeiro. Iniciativas no emprego do 
modelo de policiamento comunitário passaram a ser comuns nas nações democráticas e o 
interesse pela sua efetividade é cada vez maior. 
Rolim
 
(2006) ainda afirma: 
 
[...] “alguns dos cuidados básicos a serem observados na viabilização operacional de 
um projeto de policiamento comunitário envolvem a elaboração de estratégias de 
mobilização da comunidade que estimulem a participação e a definição de objetivos 
20 
gerais pelos residentes. Ao mesmo tempo, o policial comunitário deve desempenhar 
uma função básica para o sistema de inteligência policial – a coleta das informações 
necessárias à prevenção do crime”.
 
 
Não se teria neste ponto, então, uma forte possibilidade de contribuição dos 
vigilantes? É certo que muito é preciso mudar para que haja a integração desejada entre os 
órgãos de segurança pública e as empresas de segurança privada. As necessidades de 
adaptações começam pela mentalidade de segurança e policiamento, percorrem a formação 
dos profissionais de ambos os setores, e a adequação da legislação e dos sistemas de controle, 
particularmente referentes a setor privado. É um caminho longo a ser percorrido, com muito a 
ser estudado. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
21 
3 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 
 
3.1 ASPECTOS LEGAIS E ESTRUTURAIS 
 
Na medida em que a criminalidade aumenta, se diversifica e se enraíza pelos 
variados setores e classes da sociedade brasileira, é preciso unir esforços com inteligência e, 
sobretudo, de forma fundamentada. É de suma importância a aproximação entre os órgãos de 
segurança pública, principalmente na troca de dados de inteligência. Neste mesmo diapasão, 
percebe-se também a possibilidade de abertura de portas de acesso ao setor privado de 
segurança. A Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), criada em 2007, a qual faz 
parte da estrutura organizacional do Ministério da Justiça, tem a incumbência de assessorar 
este na implantação e no acompanhamento da Política Nacional de Segurança Pública. 
Art. 12. À Secretaria Nacional de Segurança Pública compete: 
[...] 
III - elaborar propostas de legislação e regulamentação em assuntos de segurança 
pública, referentes ao setor público e ao setor privado; 
IV - promover a integração dos órgãos de segurança pública; 
V - estimular a modernização e o reaparelhamento dos órgãos de segurança pública; 
[...] 
VIII - estimular e propor aos órgãos estaduais e municipais a elaboração de planos e 
programas integrados de segurança pública, objetivando controlar ações de 
organizações criminosas ou fatores específicos geradores de criminalidade e 
violência, bem como estimular ações sociais de prevenção da violência e da 
criminalidade; 
[...] 
X - implementar, manter, modernizar e dirigir a Rede de Integração Nacional de 
Informações de Segurança Pública, Justiça e Fiscalização - Rede Infoseg; 
[...] 
 
Verifica-se do exposto que é a partir da Política Nacional de Segurança Pública 
que se pretende criar oportunidades para maior integração entre as diversas instituições de 
segurança do País, por meio da elaboração de planos e programas integrados. Consequência 
deste Plano, em 2007, por meio da PL 1937, o Sistema Único de Segurança Pública (Susp), 
22 
com a finalidade geral de integrar as ações policiais no âmbito da União, dos Estados e dos 
municípios. 
 
Em seu Art. 2º, apresenta 8 (oito) objetivos do SUSP, que resumidamente consistem 
em: 
I - Estabelecer condições adequadas à integração sistêmica para viabilizar a 
cooperação inter-institucional e potencializar, em escala nacional, as competências 
institucionais, regionais ou locais dos órgãos de segurança pública; 
II - Criar um ciclo básico comum, com currículo mínimo uniforme; 
III - Organizar e difundir dados policiais, tornando possível a permuta de 
informações e o trabalho cooperativo entre as polícias brasileiras; 
[...] 
VII - Instalar, em cada Estado e no Distrito Federal (DF), um Gabinete de Gestão 
Integrada para discussão das prioridades a serem compartilhadas na provisão de 
segurança pública e estratégias cooperativas; e, 
[...] 
 
 
A operacionalização deste Sistema é feita por meio da instalação dos Gabinetes de 
Gestão Integrada (GGI) nos Estados participantes do programa. Os GGI são fóruns 
deliberativos constituídos pelo secretário estadual de segurança pública, e representantes da 
Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Civil, Polícia Militar, Corpo de 
Bombeiros Militar e guardas municipais. Verifica-se, portanto, que os GGI são a “ponta da 
linha” do sistema para fins de integração. Esta mudança de paradigma na forma de se pensar 
segurança no Brasil é recente e carece de amadurecimento. Há muito que se evoluir para 
conseguir vencer os inúmeros obstáculos que interferem no caminho da integração entre 
órgãos públicos, dentre eles: históricos, culturais, estruturais e legais. 
O Plano Nacional de Segurança Pública também apresenta considerações e 
limitações do setor privado de segurança no Brasil e, para estas, propõe dentre suas soluções a 
criação de mecanismos voltados à integração entre a segurança pública e a privada: 
 
Para enfrentar os problemas diagnosticados na segurança privada, as seguintes me-
didas devem ser adotadas: 
 
[...] 
23 
3) descentralizar e desburocratizar os processos de credenciamento e cancelamento 
de autorizações para empresas de segurança privada; transferir essa atribuição, assim 
como a responsabilidade direta pela fiscalização e controle, aos estados e municí-
pios, com clara divisão de tarefas entre os dois níveis de governo. O Ministério da 
Justiça, por intermédio do Departamento de Polícia Federal (DPF), manteria sua 
função reguladora e coordenadora da atividade no país, responsabilizando-se dire-
tamente, porém, apenas pela fiscalização dos serviços particulares prestados a ór-
gãos públicos federais e em áreas sob jurisdição da União; 
 
Estima-se provável que esta opção, por descentralizar o controle e a fiscalização 
do setor para os estados e municípios, além de outros benefícios, permitiria maior 
aproximação do setor privado, das iniciativas de integração já existentes no âmbito público, 
como a instalação dos GGI no âmbito dos estados. No nível estadual, a discussão sobre 
formas do setor privado de segurança poder contribuir com o SUSP fica facilitada, podendo, 
inclusive, ser estudada a participação de representantes na composição dos GGI. 
 
[...] 
5) criar um banco de dados nacionalmente integradoe totalmente informatizado 
sobre as empresas de segurança, vigilância, transporte de valores e segurança 
orgânica, que permita cruzar informações do DPF, das Secretarias de Segurança 
estaduais, da Receita Federal, do INSS, do Cadastro Geral de Atividade Econômica 
(CAGED), da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD), do Relatório 
Anual de Informações Sociais (RAIS), do Diário Oficial, das Juntas de Comércio 
estaduais e de outras fontes. Além de reunir todos os dados disponíveis sobre as 
empresas e os trabalhadores, o banco deveria incluir informações sobre armas 
furtadas/roubadas de firmas e/ou agentes de segurança particular; 
[...] 
 
Esta medida certamente aumentaria a eficiência no controle das empresas de segu-
rança privada. Naturalmente, a desconfiança sobre o setor tenderia a ser diminuída incenti-
vando a abertura de portas para a integração. 
O Plano Nacional de Segurança Pública chega a propor medidas práticas que po-
deriam começar a estreitar os laços entre os agentes públicos e privados. 
 
[...] 
 
12) criar mecanismos legais e transparentes de colaboração entre a vigilância parti-
cular e a segurança pública, como parte de programas integrados de controle da 
criminalidade. Canais de comunicação (rádios, celulares, pagers , intranets, alarmes 
conectados a postos policiais, entre outros) e protocolos de troca de informações en-
tre vigilantes e policiais poderão potencializar os recursos e aumentar a eficácia de 
ambos os serviços de segurança. 
 
Percebe-se que ações como estas, de simples operacionalização, poderiam 
começar a criar uma cultura de ação conjunta e apoio mútuo. O ganho seria muito grande para 
24 
ambos os lados - os vigilantes poderiam contribuir com os órgãos de segurança pública 
servindo como acionadores e informantes treinados - em contrapartida, o maior entrosamento 
entre os setores poderia proporcionar uma resposta mais rápido aos alarmes dos vigilantes. 
Considerando a grande quantidade de vigilantes distribuídos pelos mais variados setores do 
comércio, de transportes, de estabelecimentos financeiros e empenhados na proteção de 
patrimônios e pessoas, ter-se-ia uma ampla cobertura de vigilância oferecida por estes agentes 
privados. 
 
3.2 A INTELIGÊNCIA NO COMBATE A CRIMINALIDADE 
 
O general, estrategista e filósofo chinês Sun Tzu (544 - 496 a.C.), na sua famosa 
obra A Arte da Guerra afirma “Se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo, não precisa 
temer o resultado de cem batalhas. Se você se conhece mas não conhece o inimigo, para cada 
vitória ganha sofrerá também uma derrota. Se você não conhece nem o inimigo nem a si 
mesmo, perderá todas as batalhas [...]”. Neste livro, possuidor de ensinamentos sobre 
estratégias militares que ainda hoje são estudados por exércitos do mundo inteiro, o autor 
dedica várias linhas à importância das informações para o sucesso das operações. Essa 
premissa está cada vez mais presente também no mundo empresarial, variando-se apenas 
aquilo que é considerado “o inimigo”. Retornando ao foco do tema estudado, propõe-se como 
o inimigo a própria criminalidade. Vários são os fatores que a constroem, a sustentam, a 
tornam complexa e mutável. Conforme expõe Muniz (2001) não é possível se discutir 
soluções de polícia e segurança pública sem se fazer o uso da ciência. As pesquisas ajudam na 
correção de rumos, na percepção das demandas, e na compreensão da problemática de cada 
ambiente ou cenário. As informações são, portanto, as peças formadoras destes grandes 
cenários. O trabalho eficiente de um sistema de inteligência permite, através do estudo de 
dados, informações e conhecimentos, a montagem de cenários prospectivos, fundamentais no 
planejamento operacional e administrativo de qualquer organização. 
 
 “Uma previsão busca identificar novos atores que poderão atuar e os possíveis 
efeitos de suas atuações. Assim, o sucesso na previsão daquilo que é provável que 
aconteça e a eficiência da estimativa decorrente dependerão da adoção, por parte do 
analista, de uma metodologia prospectiva de eficácia comprovada e do estudo do 
problema de forma multidisciplinar. Esta “previsão” deve basear-se na construção 
de cenários prováveis, o que possibilitará a identificação de novos atores, 
acompanhar suas trajetórias, imaginar eventos prováveis, as interdependências entre 
os atores e entre estes e os eventos. Com a elaboração de cenários, pode-se, ainda, 
identificar fatores críticos em qualquer evolução de situação, possibilitando a 
25 
antecipação aos fatos, e permitindo minimização de uma possível ameaça ou a 
exploração, ao máximo, de uma oportunidade potencial. É o que se chama construir 
o futuro.” (FERNANDEZ, p. 15, 2006) 
 
A atividade de inteligência no Brasil evoluiu muito e continua a sofrer 
transformações com o objetivo de diminuir a visão preconceituosa com a qual era percebida, 
certamente decorrente da forma como era concebida nas suas origens. Cada vez mais ela vem 
sendo considerada como um meio fundamental de apoio aos gestores de toda natureza, por 
meio do fornecimento de informações e conhecimentos para apoio a processos decisórios 
baseados em análises criminais. Assim também vem ocorrendo no âmbito da segurança 
pública, como prova a criação da Lei n
o
 9.883, de 7 de dezembro de 1999, que instituiu o 
Subsistema de Inteligência de Segurança Pública (SISP). O Subsistema possui a finalidade de 
coordenar e integrar as atividades de inteligência de segurança pública em todo o País. Outro 
fator importante é o avanço tecnológico que, com a diversificação e a modernização dos 
meios de tecnologia da informação (TI), tem contribuído muito para a aplicabilidade das 
atividades de inteligência em apoio às de segurança, bem como na integração dos OSP com 
outros órgãos afins. 
A atividade de inteligência também vem se expandindo no âmbito do setor 
privado de segurança, porém ainda muito voltado para o viés da Inteligência Competitiva, 
hoje intensamente aplicada no mundo empresarial. Entretanto, trata-se de um importante 
início, na medida em que o perfeito entendimento sobre as finalidades da inteligência pode 
ajudar na construção futura da mentalidade de compartilhamento de informações. Percebe-se 
que a relação inteligência – setor privado ainda é vista com bastante receio. Basta que faça 
uma observação sobre o ocorrido nos últimos anos nos Estados Unidos, onde boa parte da alta 
cúpula de inteligência e investigação era privatizada. O vazamento de informações sensíveis 
do Governo causou sérios problemas diplomáticos ao País. No entanto, trata-se neste trabalho 
do apoio da segurança privada no seu nível elementar, ou seja, “na ponta da linha”, 
enxergando-se o vigilante como um agente de inteligência. A Copa do Mundo de 2014, no 
Brasil, foi um grande laboratório para se comprovar a importância do contato aproximado 
entre as empresas de segurança privada e os órgãos públicos. Por ocasião deste evento, 
verificava-se que as missões e os limites de cada setor estavam claramente definidos, porém, 
o contato sistematizado entre eles foi fundamental para o sucesso da segurança de uma 
maneira geral. 
Naturalmente, considerando as especificidades e as motivações profissionais de 
cada setor de segurança, o público e o privado, não se pode esperar que seja desenvolvido, a 
26 
curto prazo, um grande interesse por este caminho de aproximação, principalmente ao se 
tratar da área de inteligência. É necessário compreender a prioridade comercial das empresas 
privadas. Afinal, estas existem devido ao retorno financeiro que obtêm dos contratos 
estabelecidos, portanto, quanto mais deles melhor – este é o principal objetivo. Outra 
consideração relevante é o fato de que elas tiveram origem e vêm ganhando cada vez mais 
espaço justamente devido à incapacidade do setor público de proporcionar a segurança 
necessária à sociedade. Ora, então se torna fundamental, primeiramente,um trabalho de 
mudanças de paradigmas em ambos os setores - uma mudança cultural que desperte a 
consciência sobre como pode ser vantajoso para os dois lados o resultado do apoio mútuo que 
resulte no ganho de segurança de uma maneira geral. O agente de segurança, independente de 
ser público ou privado, precisa pensar e agir como tal e, ao mesmo como tempo, como um 
cidadão que almeja, nos momentos em que se encontra despido da farda, se sentir seguro ao 
sair às ruas com sua família. 
 
3.3 CAMINHOS E OPORTUNIDADES PARA A INTEGRAÇÃO 
 
Nota-se, portanto, a necessidade de um trabalho de base a ser executado nas 
escolas e cursos de formação. É preciso também despertar nos bancos acadêmicos o interesse 
de se aprofundar estudos nesta área. A iniciativa da implantação das discussões poderia partir 
dos estados, com o apoio do governo federal. Não parece muito provável que o estímulo de 
estudos no meio acadêmico dos órgãos de segurança pública, no sentido de se perceber 
medidas práticas e pontuais de apoio mútuo entre os OSP e os vigilantes privados, poderia 
originar excelentes ideias. Coordenações no campo das comunicações seria um campo fértil. 
Poderia se estudar o estabelecimento de redes rádio específicas por meio das quais os 
vigilantes teriam acesso rápido à polícia militar estadual. Outra possibilidade estaria na 
sistematização do intercâmbio de informações – as empresas de segurança privada não 
poderiam ter acesso, mesmo que limitado em alguns aspectos, ao banco de dados referentes à 
criminalidade em determinada região de interesse? Em contrapartida, estas mesmas empresas 
não poderiam contribuir na alimentação destes bancos de dados, com as observações e 
impressões diuturnas coletadas pelos seus vigilantes? Naturalmente, tais medidas implicariam 
em uma série de padronizações e uniformizações de conhecimentos e procedimentos no 
âmbito dos setores. 
Tudo isso estaria em perfeita consonância com os objetivos do Estado quando em 
20 de junho de 2000 colocou em vigor o Plano Nacional de Segurança Pública (PNSP), com o 
27 
principal objetivo de fomentar a integração de políticas de segurança, políticas sociais e ações 
comunitárias, aperfeiçoando o Sistema de Segurança Pública brasileiro como um todo. O 
PNSP foca na importância da discussão conjunta de soluções para a criminalidade, com a 
participação do maior número possível de atores afins a segurança. 
 
Nesse sentido, participação não é uma palavra vazia, um slogan demagógico, uma 
retórica populista, nem uma fórmula mágica. É condição efetiva da elaboração 
competente e do monitoramento racional de toda política pública de segurança que 
se pretenda consistente e conseqüente. Esse novo ângulo de abordagem exige que as 
proposições estejam em sintonia com a complexidade do problema a ser enfrentado 
e, portanto, se traduzam em projetos multidimensionais, que mobilizem recursos 
multissetoriais, que envolvam atores públicos e privados de diferentes tipos e que se 
inspirem em conhecimentos interdisciplinares. 
 
[...] 
 
Será muito importante que, ato contínuo, a sociedade civil seja também convocada 
para uma grande mobilização nacional pela construção social da paz, em cujo âmbi-
to as entidades não-governamentais, as associações, os sindicatos, as instituições re-
ligiosas, as universidades e os representantes da iniciativa privada serão chamados a 
participar de um amplo mutirão, a ser desenvolvido em múltiplos níveis, simultane-
amente, visando integrar a juventude excluída. 
 
Verifica-se, então que há espaço para avançar no propósito da integração, o que 
pode ainda faltar é a plena confiança dos setores públicos sobre o privado. O receio de que 
este possa se tornar uma ameaça em potencial ao Estado democrático de direito, por ser 
vulnerável às conjunções políticas, parece difícil de ser vencido. Segundo ANDERLE (2007) 
tamanha força, “fora de controle, corre-se o risco de se perder de vista a distinção entre o 
público e o privado no domínio da segurança interna, bem como poderão surgir milícias 
populares, para grupos divergentes defenderem interesses próprios ou uns contra os outros, 
“exércitos particulares” para guardar áreas de domínio do crime, ou o combate da 
criminalidade por iniciativa privada”. 
Entretanto, até mesmo neste sentido, não seria mais interessante buscar a 
proximidade entre os setores? – não seria esta uma forma de dissuadir a ameaça de se ter uma 
força de segurança cada vez maior, distante de qualquer vínculo de comprometimento com as 
forças públicas? 
Outro ponto que precisa ser priorizado com urgência é o nível de formação do 
vigilante, a começar pela escolaridade mínima exigida para o ingresso na atividade. 
Atualmente, o cidadão interessado em ser um profissional da segurança privada precisa ter 
cursado até a 4ª série do ensino fundamental. Cada vez mais se espera mais dos vigilantes – 
que saibam atuar com firmeza e precisão, mas com a devida educação e cordialidade; que 
28 
saibam agir conforme as leis que regulam o setor e atentos aos direitos dos cidadãos; que 
saibam usar os meios modernos à disposição; que possam se tornar veículos de informação 
para sistemas de inteligência; dentre outras expectativas. Ora, não se trata de muita 
responsabilidade para pouca formação? Não são atribuições que necessitam de poder de 
discernimento, muitas vezes com pouco de tempo para reação? 
Entretanto, segundo ZANETIC
 
(2009) esse quadro vem sendo aos poucos 
modificado, embora ainda se verifique a baixa profissionalização do setor, principalmente no 
que se refere ao perfil dos vigilantes, com um nível de qualificação, escolaridade e renda 
bastante inferior ao dos policiais, este quadro vem se alterando significativamente ao longo do 
tempo. Por meio de dados extraídos da Pesquisa Nacional de Amostragem Domiciliar, do 
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (PNAD/IBGE), Zanetic afirma que é possível se 
verificar importantes mudanças no perfil socioeconômico e profissional da população 
empregada tanto na segurança pública quanto na atividade de vigilância e guarda, nas 
diferentes regiões do Brasil. O nível de escolaridade dos vigilantes privados é, ainda hoje, 
consideravelmente menor do que o dos policiais, porém vem melhorando aceleradamente, 
assim como entre os profissionais das forças públicas. 
É muito provável que o crescimento natural do nível de escolaridade no universo 
dos vigilantes empregados seja decorrente do aumento na demanda por profissionais mais 
qualificados na área de segurança. Verifica-se atualmente a imperiosa necessidade do 
vigilante se adequar e se adaptar ao uso de meios tecnológicos avançados e que se encontram 
à disposição do setor. É comum hoje, por exemplo, a utilização de equipamentos rádio 
providos de recursos facilitadores para a exploração segura, rápida e com possibilidades de 
integração entre diferentes redes. O vigilante está inserido em um sistema de segurança 
composto por diversos meios que se complementam e suplementam com o objetivo de 
fornecer ao cliente um serviço com a menor vulnerabilidade a falhas possível. Naturalmente, 
neste sistema, o fator humano [o vigilante] é considerado a peça chave, pois possui a 
responsabilidade de saber utilizar com eficiência todos os outros meios, sabendo tirar o 
melhor proveito destes. 
Verifica-se, então, do exposto, que o aumento do nível de escolaridade exigido 
para o profissional da segurança privada precisa ser formalizado, para que o próprio vigilante 
receba a credibilidade necessária por parte dos cidadãos e empregadores, oferecendo com 
isso, maior confiança também para o setor. Outro aspecto, diretamente relacionado ao perfil 
do vigilante, que pode influenciar no processo de aproximação entre os setores público e 
29 
privado de segurança, criando oportunidades de atuação conjunta, é o modelo de polícia 
adotado no País. 
 
3.4 A NECESSIDADE DE MUDANÇAS NO MODELODE POLÍCIA 
 
A forma de atuação dos órgãos de segurança pública do País carrega hoje traços 
predominantes e decorrentes das motivações das suas origens, principalmente dos órgãos 
encarregados pelas atividades de polícia. A polícia nasceu com a missão de combater a 
criminalidade que vem se tornando mais complexa com o passar do tempo. Conforme já 
apresentado neste trabalho, verifica-se a grande dificuldade do poder público em reduzir os 
crescentes índices de criminalidade na maioria dos estados do País e muitas são as 
justificativas: a falta de efetivo, a omissão do Estado, a necessidade de reestruturação das 
polícias, a necessidade de mudanças na legislação penal, etc. Entretanto, verifica-se que 
criminalidade e segurança são assuntos que sempre geraram acaloradas discussões nos mais 
diversos setores e ambientes da sociedade. 
Considerando apenas o que se espera das forças policiais, porém, há grande 
dificuldade em definir o que se quer. Há correntes que defendem a necessidade de enfatizar a 
prisão dos culpados, fazendo com que a polícia opere como um braço da justiça criminal. 
Outras defendem que sejam priorizadas as ações voltadas para a redução da criminalidade. 
Segundo Rolim (2006) tais correntes apresentam o seguinte conflito – prevenir o crime é um 
objetivo que pode ser alcançado mediante a presença ostensiva dos policiais nas ruas, de tal 
forma que se crie uma sensação de onipresença policial para que os eventuais delinquentes 
mudem de ideia quanto a realização de atos criminosos. Esta última medida, talvez por ser 
mais visível politicamente, venha sendo mais empregada e destacada em detrimento de ações 
voltadas para atuar nas causas do problema. 
Entretanto, cada vez mais, países desenvolvidos e democráticos vêm percebendo 
as vantagens de se adotar modelos de polícia que se caracterizam pela proximidade entre o 
policial e o cidadão. Este modelo, denominado policiamento comunitário, quebra o paradigma 
da polícia que causa medo aos cidadãos. Pelo contrário, objetiva o estreitamento do contato 
com estes com o intuito de aumentar a confiança mútua. O policial passa a ser reconhecido 
como um amigo, pacificador e interessado nos problemas individuais e coletivos da 
comunidade onde atua. 
Ainda segundo Rolim (2006) na viabilização operacional de um projeto de polícia 
comunitária nota-se como primordial a elaboração de estratégias que estimulem a participação 
30 
da comunidade na elaboração dos planos de ação para os problemas locais. Em tais projetos, 
vislumbra-se o estabelecimento de formas coletivas de vigilância e de colaboração dos 
cidadãos com a polícia. Observam-se exemplos neste sentido com o estabelecimento de canais 
diretos de comunicação entre os moradores e os policiais, inclusive com o uso de 
equipamentos rádio. Outra forma de atuação tem sido a implantação de conselhos 
comunitários de segurança pública que funcionam como órgãos de controle e que contribuem 
na orientação do trabalho policial. 
 
Ao mesmo tempo, o policial comunitário deverá desempenhar uma função básica 
para o sistema de inteligência policial – a coleta de informações necessárias à 
prevenção do crime. Em contato direto com a comunidade, ele passará a reconhecer 
as principais ameaças que ela enfrenta e saberá repassar à instituição não apenas a 
natureza desses problemas, mas outros dados imprescindíveis a respeito do perfil e 
do modus operandi daqueles que violam a lei na região. Aliás, pode-se esperar que 
os policiais comunitários desenvolvam uma capacidade maior do que a dos 
patrulheiros que circulam por toda a cidade, exatamente por conta do grau de 
conhecimento que passam a acumular sobre a região sob sua responsabilidade. 
(ROLIM, p. 81, 2006). 
 
Percebe-se, então, que o modelo favorece o trabalho de inteligência por parte dos 
policiais no âmbito das comunidades onde atuam. Desta forma, a polícia conseguiria 
consolidar as informações sobre a criminalidade e violência na região, com as finalidades de 
identificar com mais precisão as tendências presentes, informar a população sobre os riscos de 
vitimização e identificar os grupos mais vulneráveis à ação dos infratores. 
Ora, do exposto no cenário do policiamento comunitário, não se pode deduzir que 
os profissionais da segurança privada poderiam ser amplamente aproveitados como 
contribuintes neste projeto. Os vigilantes, principalmente os que atuam na segurança 
patrimonial e de pessoas, atuam de maneira mais fixa e em espaços físicos de amplitude mais 
limitada do que cobertos pelo patrulhamento policial. Portanto, têm condições de serem 
aproveitados como agentes preparados para coletar informações no ambiente onde atuam e 
nas áreas vizinhas. Tais informações poderiam ser aproveitadas pelo setor público na 
montagem do cenário da criminalidade local, o qual por sua vez, poderia ser utilizado, 
também, em proveito do setor privado, na medida em que auxiliariam no planejamento das 
medidas de segurança a serem adotadas pelas empresas em determinado espaço, face às 
informações e a interpretação dos dados estatísticos disponíveis. Conforme afirma Rolim 
(2006) uma parte considerável dos crimes é cometida em decorrência de situações 
consideradas favoráveis aos infratores, os quais analisam o esforço exigido para a prática do 
crime, o risco concreto que se corre ao praticá-lo e o tamanho da recompensa oferecida pela 
31 
sua realização. Então, considerando estes fatores, é possível planejar ações preventivas com 
vistas a defender melhor os alvos de crime, dificultando aos infratores a aproximação, bem 
como é possível de se desenvolver políticas que estimulem as pessoas a agir de forma correta 
e educada, evitando o cometimento de delitos. 
Portanto, o modelo de policiamento comunitário tende a facilitar o estreitamento 
do contato dos policiais com os vigilantes de determinado setor, formando uma rede de 
colaboradores com a finalidade comum de proporcionar um ambiente mais seguro para todos. 
Verifica-se, mais uma vez, que há espaço a ser explorado na criação de um ambiente de apoio 
mútuo entre os setores públicos e privados de segurança. Para tanto, é fundamental que o 
crescimento de iniciativas nesta direção seja acompanhado da devida regulamentação de 
amparo e que defina limites de forma precisa, tudo para que se possa obter o melhor proveito 
da contribuição do setor privado para com a segurança pública sem, entretanto, colocar em 
risco a segurança de áreas sensíveis do Estado. 
 
3.5 UMA INICIATIVA BEM SUCEDIDA 
 
Criada no ano 2000, a Associação Comunitária Chácara Santo Antônio surgiu da 
decisão de um grupo de empresas da região sobre a necessidade de somar esforços para o 
enfrentamento dos problemas relacionados à violência no local, o qual apresentava elevados 
índices de roubo, furto de carros e sequestros-relâmpago. O sentimento de insegurança na 
comunidade era muito grande. Segundo (Muller, 2014), um grupo de empresários se reuniu 
para financiar um projeto ousado de segurança para o bairro, em que as empresas 
considerassem não somente o conceito de segurança intramuros, mas também o bem-estar 
daqueles que circulavam pela região e que, de uma maneira ou de outra, estavam contribuindo 
para o desenvolvimento econômico da área. O projeto vislumbrava a participação não apenas 
de empresários, mas também do poder público e da comunidade, e consistia na busca da 
integração das informações de segurança das empresas, escolas, associações comunitárias e 
comércio da região com a segurança privada das ruas e a segurança pública desenvolvida 
pelas Polícias Civil e Militar. Muller (2014) explica que o Projeto consistia na criação de uma 
equipe de vigilância privada ostensiva, uniformizada, bem equipada e treinada, que 
trabalharia em estreita parceria com os porteiros e vigilantes das empresas e condomínios da 
região, reportando-se sempre à Polícia Militar, que também se comprometeria a cederpoliciais para auxiliar no policiamento ostensivo. Além disso, haveria uma coordenação 
executiva, que organizaria as informações coletadas, disseminando-as para as polícias e as 
32 
empresas, e monitoraria os dados de segurança na região. Os custos do projeto seriam 
compartilhados pelas empresas participantes, mediante aprovação da proposta de orçamento. 
 
Para se ter uma ideia de como funciona o trabalho da Ação Comunitária, talvez seja 
mais útil citar um exemplo. Supondo-se que a câmera de vigilância de uma das 
empresas instaladas no bairro tenha filmado um sequestro-relâmpago, esta filmagem 
é enviada imediatamente à equipe da Ação Comunitária, que registra o local, hora, 
carro e dados dos criminosos, como vestimentas e traços físicos. Estas informações 
são repassadas para a vigilância privada, Polícias Militar e Civil e sistemas de 
segurança das empresas da região. Ou seja, o crime e os criminosos são mapeados 
em seus detalhes. A partir disso, é possível não apenas pensar em formas de 
melhorar a segurança no local do crime – melhorar a iluminação ou o policiamento 
ou realizar a poda de árvores, para tornar o local mais visível –, mas também alertar 
os participantes quanto à presença daqueles criminosos. (MULLER, 2014). 
 
Conforme expõe o coordenador executivo da Ação Comunitária, a implementação 
das ações já resultou na apreensão de diversos criminosos que atuavam na área. Como o 
monitoramento ocorre durante as 24 horas do dia, a Ação consegue acompanhar quais são os 
criminosos que mais atuam no bairro, podendo planejar ações estratégicas orientadas ao 
problema (Muller, 2014). Portanto, verifica-se que o projeto mudou consideravelmente o 
quadro da criminalidade na região, ao mesmo tempo em que proporcionou o aumento da 
sensação de segurança dos moradores locais. 
 
Todos os participantes do projeto, contribuintes ou não, o veem de forma muito 
positiva. Os policiais entendem que a ação conjunta proporcionada pelas atividades 
da Ação Comunitária promovem a colaboração, a solidariedade entre as polícias e, 
em última instância, o bem comum. Os membros do poder público se sentem 
partícipes do projeto, pois notam que, ao colaborarem, também colhem os frutos da 
ação. Os empresários, por sua vez, sabem bem que escolheram o caminho mais lento 
para empreender mudanças, que é o da organização e ação coletiva, mas reconhecem 
que se trata do caminho mais eficiente para obtenção de resultados. Por isso, é 
mantido o canal de diálogos sempre aberto com a comunidade, até porque é ela 
quem identifica mais rapidamente as zonas de perigo. (MULLER, 2014) 
 
Verifica-se na iniciativa implementada na região da Chácara Santo Antônio, um 
exemplo de envolvimento do setor empresarial de segurança, mais que simplesmente na 
melhoraria das estatísticas de criminalidade no bairro, mas como participantes ativos e 
desejosos da mudança de mentalidade acerca da maneira como resolver questões relacionadas 
à segurança. Percebe-se o sentimento de corresponsabilidade pelo que ocorre na comunidade 
e de que o controle da criminalidade não depende somente do poder público. A Ação 
Comunitária Chácara Santo Antônio deu prova de que é possível a sociedade se organizar e 
envolver o poder público em parcerias com o objetivo de proporcionar benefícios para os 
próprios cidadãos em suas comunidades. 
33 
3.6 RISCO CONTROLADO - EXPERIÊNCIA AMERICANA 
 
Um exemplo de País que deu grande ênfase ao setor privado de segurança foram 
os Estados Unidos da América. Segundo Lopes (2011) a partir do início do século XXI, em 
um curto espaço de tempo, a segurança privada nos EUA aumentou em tamanho e 
importância. Esse crescimento surgiu como decorrente de uma mudança de mentalidade com 
relação ao setor. Estudos realizados nas décadas de 70 e 80 conferiram maior confiabilidade 
ao setor, na medida em que ofereceram à imagem de que a segurança privada não tratava de 
uma tropa de choque privada, mas uma indústria como outra qualquer do setor de serviços. Os 
assuntos relacionados à segurança passaram a ser considerados como uma questão de política 
e soberania, com análises focadas em economia e eficiência, e abordagens em termos de 
equilíbrio, proporção e grau. Lopes (2011) inclui que “essa mudança de mentalidade surgida 
nos EUA foi completada com a ideia de que a segurança privada era um ‘parceiro júnior’ das 
forças policiais, pois desempenhava tarefas simples de autodefesa (vigiar espaços, relatar 
crimes, controlar acessos e prevenir perdas) que a polícia não tinha nem a vocação e nem os 
recursos para realizar.” 
A segurança privada ganhava nos EUA, cada vez mais espaço e amplitude: 
 
“Se no começo do século XX, a segurança privada era vista com desconfiança pelo 
governo americano, no começo do século XXI, ela passou a ser vista não apenas 
como uma parceira no combate à criminalidade, mas também como uma parceira 
fundamental na promoção da segurança interna. Essa percepção orientou um extenso 
programa de reformas visando a engajar o setor de segurança privada na luta contra 
o crime, especialmente através de parcerias com a polícia. Paralelamente, essa 
concepção também orientou um programa de terceirização junto às Forças Armadas 
e agências do Departamento de Defesa, o que levou ao envolvimento de empresas 
militares privadas em atividades que até o final dos anos 80 eram desempenhadas 
com exclusividade por agências estatais.” (LOPES, 2011). 
 
 
Com a ocorrência dos atentados terroristas às Torres Gêmeas, em 11 de setembro 
de 2001, houve consideráveis mudanças no cenário interno americano. A segurança privada 
que era, até então, considerada como parceira da segurança pública no combate ao crime, foi 
rapidamente elevada à condição de parceira chave para a promoção da segurança interna. Essa 
mudança ocasionaram diversas implicações e desafios para a governança da segurança 
doméstica dos EUA. As alterações não se restringiram ao ambiente interno. Externamente, 
observa-se que os EUA têm feito uso de empresas militares privadas para prover a segurança 
de seus recursos materiais e humanos em zonas de conflito, especialmente no Iraque e no 
34 
Afeganistão. Internamente, então, as ameaças de ataques terroristas contra a infraestrutura dos 
EUA alçaram o setor de segurança privada à condição de parceiro chave na promoção da 
segurança interna. 
 
Esse novo papel atribuído à segurança privada desafia o modo como 
tradicionalmente pensamos assuntos de segurança nacional, abordados pelas 
disciplinas de Ciência Política e Relações Internacionais a partir de perspectivas 
teóricas centradas no Estado. O novo papel atribuído à segurança privada também 
desafia as políticas de segurança interna dos EUA. (LOPES, 2011). 
 
Verifica-se, então, que os EUA abriram largo espaço e incentivaram o 
crescimento do setor privado de segurança, sem a devida profundidade em estudos sobre os 
riscos que tal decisão poderia causar à segurança do Estado. Entretanto, eventos recentes 
como o vazamento de informações sensíveis do governo americano, de setores controlados 
também por agentes privados, têm reforçado a intensão de regulamentar melhor o setor. Até 
então, acreditava-se por lá que o suposto alinhamento de interesses fosse o suficiente para 
garantir a devida participação da segurança privada na governança da segurança interna. 
Porém, segundo Lopes (2011) diversos fatores passaram a conspirar para que a segurança 
privada não seja empregada de acordo com o interesse público de promover a segurança 
interna. Diante desse quadro de risco, o governo americano tem proposto mais regulação na 
tentativa de fazer com que o setor de segurança privada aja de acordo com as prioridades de 
segurança dos EUA. Por motivos diversos, essa mesma tendência para mais regulação já está 
em curso em vários países da Europa. 
Ainda segundo Lopes (2011), independentemente da tendência para mais 
regulação governamental

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