Buscar

REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS DA FUNÇÃO PÚBLICA

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 10 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 10 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 10 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

ARAÚJO, Florivaldo Dutra de. Negociação coletiva dos servidores públicos.
Belo Horizonte: Fórum, 2011.
Raquel Dias da Silveira 
 
Sumário: 1 Apresentação do autor e da obra – 2 Estrutura da obra – 3 Fundamentos
de direito da função pública – 4 Teoria geral de direito da função pública – 5 Negociação
coletiva na função pública – 6 Conclusão
 
1 Apresentação do autor e da obra
Embora esteja certa de que não conseguirei realizar propriamente uma síntese, seja do ponto de
vista formal, pela extensão do texto, seja pela densidade de conteúdo que a obra contém, recebi
com grata satisfação a tarefa de elaborar a resenha acadêmica para o primeiro volume da Revista
Brasileira de Estudos da Função Pública – RBEFP, notadamente em se tratando de uma doutrina
que há muito me influencia e de um autor por quem guardo profunda admiração, gratidão e
estima.
Natural de Barbacena, pai de Laura e de Júlia e casado com Maristela,1 Florivaldo Dutra de Araújo,
cuja obra acadêmica mais importante havia sido Motivação e controle do ato administrativo,2 traz à
comunidade jurídica o resultado de sua tese de doutorado3 e alguns anos — apenas treze — de
amadurecimento.
Professor Florivaldo, como o chamamos e como é conhecido na Vetusta Casa de Afonso Pena,4  é
Professor Adjunto da Universidade Federal de Minas Gerais5 e foi meu professor na graduação em
direito, na disciplina Direito Administrativo I, ministrada no 6º período, e, mais tarde, na disciplina
optativa Direito Administrativo III, no 9º período. Ele e o Professor Paulo Neves de Carvalho6
foram os responsáveis por minha inclinação e escolha pelo direito administrativo. Também cursei
sua disciplina “Direito da Função Pública”, no Programa de Pós­Graduação estrito senso em Direito
da UFMG, quando cumpria os créditos do mestrado. Aquele semestre, em que me coube o estudo
do direito da função pública na França, foi fundamental para que eu compreendesse que estudar
função pública demandava mais que a simples leitura de estatutos jurídicos. Em seguida, no
doutorado, Professor Florivaldo assumiu minha orientação, quando nos deixou o Professor Paulo
Neves. Por essa razão, eu, que sempre fui afeta ao regime jurídico dos serviços públicos,
especialmente das telecomunicações, passei a me dedicar à sua principal temática de pesquisa e
investigação, qual seja, a função pública.7 Esse período coincidiu com o que fui assessora no
Superior Tribunal de Justiça e me vi às voltas com os mais de dois mil processos distribuídos por
mês, por gabinete, que estampavam a realidade do servidor público brasileiro. Os dois anos de
trabalho no STJ apenas corroboraram o que a “sala de aula” com Professor Florivaldo havia me
ensinado: inúmeros temas relacionados à função pública necessitavam de um pouco mais de
cuidado e atenção por parte da doutrina. O magistério do Professor Florivaldo, a experiência do
Superior Tribunal de Justiça e, por último, a feliz convivência com o Prof. Romeu Felipe Bacellar
Filho fizeram com que a profissionalização do servidor público me fosse o tema mais caro. Por
esses motivos, minha gratidão sempre, já que nunca é demais agradecer, porquanto mesmo o
autor inicia sua obra lembrando e agradecendo a Paulo Neves de Carvalho, de quem também foi
Revista Brasileira de Estudos da Função Pública ‐ RBEFP
Belo Horizonte,  ano 1,  n. 1,  jan. / abr.  2012 
 
 
Biblioteca Digital Fórum de Direito Público ­ Cópia da versão digital
aluno e se confessa discípulo.8
Devo dizer que, com o tempo, o jovem, sério e estudioso professor de direito administrativo da
UFMG tem se tornado cada vez mais parecido com o nosso querido, afável e bom Paulo Neves de
Carvalho, sabendo capitanear seus alunos e influenciando­os, sobretudo, pelo comportamento.
Florivaldo é hoje a doutrina a se estudar, o amigo a se ouvir e o colega que se quer ter sempre por
perto, sendo, inclusive, um misto de segurança e alento tê­lo como Presidente de Honra do
Instituto Brasileiro de Estudos da Função Pública.
Há, no entanto, algumas características muito peculiares na obra e vida de Florivaldo, entre as
quais, para situar o leitor, eu destacaria a seriedade acadêmica e o rigor científico.9 Professor
Florivaldo é pesquisador e cientista do direito nato, transitando naturalmente — porque a maioria
o faz com algum esforço — pelo método dialético do conhecimento jus­positivista. Isso se estende à
sua vida. Quem foi seu aluno sabe o quanto Florivaldo é exigente, porém coerente, como
professor,10 e quem ainda teve a honra de ser seu orientando se recorda de que não há uma
palavra nos textos redigidos e orientados pelo Professor Florivaldo que não tenha sido
rigorosamente pensada, examinada, refutada e, só depois, escrita.11
Certamente, foram a seriedade acadêmica e o rigor científico, presumivelmente redobrados com
seu próprio texto, que fizeram com que Florivaldo Dutra de Araújo levasse tanto tempo para
publicar sua tese de doutorado, orientada pelo Professor Paulo Neves de Carvalho e defendida em
26.06.1998 perante banca das mais incontestáveis, composta pelos Professores Doutores Celso
Antônio Bandeira de Mello (PUC­SP), Sérgio Ferraz (PUC­RJ), Pedro Paulo de Almeida Dutra (IBDA
e UFMG) e Antônio Álvares da Silva (TRT e UFMG), este último da disciplina de direito do trabalho
da UFMG, além do Professor Paulo Neves de Carvalho (PUC­MG e UFMG) — é claro —, que o
aprovaram com nota dez, com louvor.12
Para se debruçar sobre o estudo do tema, o autor teve o cuidado de buscar na Alemanha, país que,
junto com a França, fez germinar o estudo do direito da função pública, elementos para defender a
possibi l idade de negociação para solução de confl itos coletivos no trabalho público,
independentemente do regime jurídico aplicável ao servidor. Fez, mediante bolsa do Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, vinculado ao Ministério da Ciência,
Tecnologia e Inovação, o Doutorado Sanduíche na Hochschule für Werwaltungswissenschaften
Speyer (Escola Superior de Ciências da Administração), na cidade de Speyer, onde auferiu
aprofundamento teórico, coleta de dados e desenvolvimento parcial da tese.
Nesses exatos trezes anos que permeiam a defesa da tese (junho de 1998) e a publicação da obra
(junho de 2011), parte substancial foi alterada pelo autor, em relação ao texto original.
 
2 Estrutura da obra
A estrutura original da tese Conflitos coletivos e negociação na função pública continha na primeira
parte, composta de quatro capítulos, os conceitos fundamentais, a formação e a evolução, a
natureza e o regime jurídico da função pública, de forma geral, e o exame da função pública no
Brasil. Na segunda parte da tese, dedicada a analisar os conflitos coletivos de interesse na função
pública e sua solução, o autor tratava inicialmente dos conflitos coletivos de trabalho no direito do
Revista Brasileira de Estudos da Função Pública ‐ RBEFP
Belo Horizonte,  ano 1,  n. 1,  jan. / abr.  2012 
 
 
Biblioteca Digital Fórum de Direito Público ­ Cópia da versão digital
trabalho e dos conflitos coletivos de trabalho na função pública, trazendo, ao final, proposições
para a construção de um modelo jurídico­positivo de solução de conflitos coletivos na função
pública.
Algumas partes interessantes do texto original não foram publicadas, embora mereçam leitura
pelos que se dedicam a estudar o direito da função pública. Destaco, na primeira parte da tese, os
itens 1 e 3 do capítulo IV, que tratam, respectivamente, da evolução da função pública no Brasil,
em período anterior à Constituição de 1988, e de exame meticuloso do regime jurídico único,
inclusive de sua previsão nas Constituições estaduais, tema este de indubitável relevância,
notadamente enquanto se aguarda o julgamento de mérito da ADI nº 2.135­4/DF pelo Supremo
Tribunal Federal.
Quanto à estrutura da obra resenhada, o autor esclarece na Introdução que esta se divide em três
partes.13
A primeira contém a parte introdutória, com a Introdução e o capítulo 2, trazendo os conceitos
jurídicos essenciais à função pública. Por razões didáticas,que são o escopo desta resenha, essa
primeira parte será aqui tratada por fundamentos de direito da função pública.
Os dois grandes recortes da obra encontram­se às folhas 26. O autor trabalha com o significado de
função pública em sentido amplo, como o conjunto de profissionais a serviço da sociedade, sejam
de direito público, sejam de direito privado. No mesmo parágrafo, o autor esclarece que a obra
cuidará da negociação coletiva dos servidores regidos pelo direito administrativo, ditos
estatutários, eis que quanto aos servidores regidos pelo direito do trabalho o tema não implica
maiores problemas. Entretanto, no capítulo 9, o autor cuida de aprofundar no exame da
negociação coletiva dos servidores públicos trabalhistas, mostrando que, mesmo em relação a
estes, o emprego do instituto na função pública carece de considerações próprias do regime
constitucional dos servidores públicos e do regime jurídico administrativo.
A segunda parte da obra, composta pelos capítulos 3, 4 e 5, segundo o autor, “faz as vezes de um
diagnóstico, perscrutando a natureza e os traços essenciais da relação jurídica entre estado e
servidores”.
O autor acrescentou como capítulo 5, ao texto original, valiosa e aprofundada crítica da tradicional
concepção do regime jurídico estatutário pela doutrina administrativista, derrubando preconceitos
contra o contratualismo e deixando claro seu entendimento da função pública como relação de
trabalho, ainda quando derivado de norma legal o vínculo.14
A terceira e última parte, composta dos capítulos 6, 7, 8, 9 e 10, versa propriamente sobre a
negociação coletiva na função pública, tema a que o autor se propõe e consegue enfrentar, no
contexto da cidadania e da participação dos cidadãos, em que as relações de coordenação e não
mais de subordinação são, cada vez mais, caras ao direito.
A parte dedicada ao direito comparado passa a ser, em relação ao texto original, metodológica e
didaticamente melhor apresentada ao leitor no capítulo 8 da publicação, que traz o panorama
internacional da negociação coletiva na função pública, em que o autor analisa seu tratamento e
desdobramentos em França, Alemanha, Portugal (estudo que não constava do texto original),
Espanha e Itália. O direito comparado na tese havia sido realizado no bojo do capítulo VI, que na
Revista Brasileira de Estudos da Função Pública ‐ RBEFP
Belo Horizonte,  ano 1,  n. 1,  jan. / abr.  2012 
 
 
Biblioteca Digital Fórum de Direito Público ­ Cópia da versão digital
obra publicada foi suprimido.
A derradeira modificação refere­se ao capítulo 9 da obra, que corresponde, na verdade, à
atualização da tese, mostrando a negociação coletiva na função pública brasileira desde período
anterior à Constituição de 1988 até seu atual estágio, com a aprovação da Convenção 151 e da
Recomendação 159 da Organização Internacional do Trabalho pelo Decreto Legislativo nº 206, de
07.04.2010, que entraram em vigor em 15.6.2011, e os recentes julgados do Supremo Tribunal
Federal sobre a aplicação da Lei Federal nº 7.783/89 na função pública.
A presente resenha analisará o conteúdo da obra, tendo em vista essas três partes, as quais
passará a tratar como “fundamentos de direito da função pública”, “teoria geral da função pública”
e “negociação coletiva na função pública”.
A análise crítica far­se­á concomitante à síntese do conteúdo, assinalando, desde já, que maior
destaque será dado à segunda parte, indubitavelmente, o ponto alto de todo o texto.
 
3 Fundamentos de direito da função pública
Como institutos elementares para a compreensão da função pública, o autor estabelece as noções
de poder, função, órgão e a classificação de agentes públicos, para, enfim, apresentar seu próprio
conceito de servidores públicos como sendo “os agentes que mantêm com o poder público relação
de trabalho, em caráter profissional, de modo permanente ou temporário, vinculados a cargo,
emprego ou função pública pertencente a quadro de pessoal do estado ou da administração
indireta”.15
Além de lamentar o equívoco do constituinte derivado de não mais tratar os militares como
subespécie de agentes públicos e espécie de servidores públicos, o autor explica porque defende a
inclusão dos contratados temporariamente por excepcional interesse público, titulares de função,
como servidores públicos, explicando que a natureza temporária do vínculo não se confunde com a
eventualidade, própria dos particulares em colaboração com o estado.
Nesse último aspecto, peço venia ao meu professor porque, a despeito de compreender seus
argumentos quanto à necessária distinção entre temporariedade da necessidade e eventualidade
da prestação, não vejo como qualificar como profissionais do estado sujeitos que não integram o
quadro permanente da administração pública.
 
4 Teoria geral de direito da função pública
A segunda parte da obra é, sem nenhum exagero, o mais completo trabalho de direito da função
pública, teoria geral, já publicado no Brasil.
Também não é demasiado dizer que, só por ela, a obra merecia ser divida em duas: uma sobre
teoria geral de direito da função pública e a outra sobre negociação coletiva na função pública.
Digo isso porque muitos operadores do direito, não afeiçoados ao segundo tema, podem não
atentar para o rico arsenal teórico de direito da função pública que traz a obra de Florivaldo Dutra
de Araújo.
Revista Brasileira de Estudos da Função Pública ‐ RBEFP
Belo Horizonte,  ano 1,  n. 1,  jan. / abr.  2012 
 
 
Biblioteca Digital Fórum de Direito Público ­ Cópia da versão digital
Com forte suporte doutrinário, o autor traça o histórico da função pública desde a Antiguidade
Ocidental, mostrando que a noção de “funcionário público” estatutário tem raízes na Idade Média e
nas relações unilaterais de fidelidade da vassalidade. Por essa razão também, o pagamento devido
ao funcionário não tinha natureza salarial, mas o era feito como garantia de sustento, para que ele
pudesse dedicar sua vida a serviço de seu senhor (teoria da alimentação). Dessa forma, a
atribuição de um ofício era considerada honra, sendo o caráter honorífico incompatível com a ideia
de remuneração.
Mostra o autor que os estatutos contemporâneos ainda guardam simetria em relação ao direito
medieval, salientando a previsão de dedicação integral e pessoal do servidor, o dever de
obediência, a discrição e guarda de segredos de que tiver ciência no exercício da função pública, a
manutenção mesmo na vida privada de comportamento compatível com a função pública, o dever
de levar ao conhecimento da autoridade superior as irregularidades de que conhecer, entre outros.
A teoria ética dos servidores do príncipe, cuja conduta deve ser pautada pelo direito e pelo bem
comum, surge no período absolutista. Firma­se a partir do final do século XVIII a expressão
“servidor do estado”, que adquire segurança no cargo e obtém certos privilégios na sociedade. No
final do século XIX já se verificam na Alemanha regras precisas de seleção, divisão de pessoal em
categorias, organização de carreiras e procedimentos disciplinares. Com o aumento das atividades
do Estado Social de Direito, verifica­se a divisão entre funcionários superiores e funcionários
subalternos, com grande número de trabalhadores do estado exercendo atividades similares aos
trabalhadores da iniciativa privada, o que, por sua vez, faz com que o estado comece a lançar mão
de regras de direito do trabalho. Estas levam, por consequência, ao desenvolvimento do
sindicalismo no serviço público. Com o sindicalismo, advieram direitos de associação e de greve,
que demandaram algum tempo para serem reconhecidos na América Latina devido aos regimes
autoritários.
Em seguida o autor passa a analisar as teorias concernentes ao regime jurídico da função pública,
segundo a concepção unilateralista (de direito público) e a concepção contratualista (de direito
privado), chegando à conclusão de que ambas podem atender ou não ao interesse público, não se
podendo falar, em abstrato, que o regime próprio da função pública seja o estatutário.
Partindoda origem e dos fundamentos do poder político, o autor mostra o contratualismo como a
gênese da organização social, examinando­o até chegar a modalidades que levaram os autores a
repensar o conceito de contrato. Isso o faz para mostrar o equívoco da doutrina estatutária em não
reconhecer a natureza contratual do vínculo entre estado e servidor, desconhecendo o fato de que
muitos contratos são regulados por lei e que há um paralelo necessário entre o desenvolvimento
do estado e dos direitos individuais.16 Citando Durkheim, o autor defende que “quanto mais forte é
o Estado, tanto mais o indivíduo é respeitado”.17 O autor mostra ainda que a teoria da
subordinação é filha dileta do liberalismo clássico, tendo servido historicamente a seu projeto
político, dando origem às relações geral e especial de poder. Conclui que a concepção unilateralista
vem justificando a negativa de direitos de expressão coletiva aos servidores públicos, entre eles a
negociação das normas conformadoras do vínculo funcional. A recusa do estado em garantir tais
direitos contribui para o surgimento de estruturas paralelas, os parassistemas normativos, que
desencadeiam uma série de desfuncionalidades, com manifestos prejuízos ao interesse público.
Por outro lado, o autor aponta que há certos institutos presentes no contrato de trabalho com o
Revista Brasileira de Estudos da Função Pública ‐ RBEFP
Belo Horizonte,  ano 1,  n. 1,  jan. / abr.  2012 
 
 
Biblioteca Digital Fórum de Direito Público ­ Cópia da versão digital
poder público que o aproximam do regime jurídico de direito administrativo. Hodiernamente, os
dois regimes se autoinfluenciam, não chegando a ser propriamente um de direito do trabalho e
nem genuinamente o outro de direito administrativo.
Trecho da obra evidencia como Florivaldo Dutra de Araújo é um estudioso a frente de seu tempo.
Já escutei dele que, no futuro, o direito da função pública não será nem direito administrativo nem
direito do trabalho. Esse pensamento está expresso na obra, quando o autor18 diz:
 
No processo de aproximação das regulações jurídicas dos setores público e privado,
podem os fenômenos de unificação e “osmose”, associados à manutenção de princípios
específicos para a administração pública, ter como resultado um campo específico do
direito do trabalho, tal como se dá na Grã­Bretanha, ou a formação de um “direito do
trabalho administrativo” ou “direito administrativo do trabalho”, tal como o denomina
Romero Pérez, ou, ainda, a conformação de um regime de direito público, mas com
marcadas características negociais e contratuais. (...) Em qualquer hipótese, o campo de
aplicação dos princípios do direito administrativo não deixará de existir. O ingresso na
função pública resguardando a impessoalidade e a isonomia, a ascensão na carreira com
observância do mérito, o regime disciplinar, com as especificidades necessárias, o
controle dos gastos com pessoal por meio de órgãos específicos (cortes de contas e
parlamentos) são aspectos inafastáveis na administração de pessoal no setor público.
 
E conclui que, respeitados tais limites, não há justificação material para rejeitar ab initio  a
contratualização coletiva na função pública.
 
5 Negociação coletiva na função pública
Transitando confortavelmente pelo direito do trabalho, o autor anuncia as bases jurídico­positivas
da negociação coletiva, passando a analisar o instituto na função pública, para o que, devido à
escassez de doutrina pátria, se torna necessário recorrer ao direito estrangeiro.
Importante subsídio é trazido do direito português, em que se encontra consolidada a figura do
servidor como trabalhador a serviço da sociedade, e do direito espanhol, em que os resultados das
mesas de negociação podem desencadear pactos ou acordos que, ao seu turno, tendem a
transformar­se em futuros regulamentos.
Além de Portugal e Espanha, o instituto da negociação coletiva na função pública é estudado na
França, Alemanha e Itália.
Na parte final da obra, o autor cuida de analisar a negociação coletiva na função pública brasileira,
fazendo importante retrospecto do julgamento da ADI nº 492­1­DF pelo Supremo Tribunal Federal
e da recente jurisprudência da mesma Corte quando dos julgamentos dos mandados de injunção
670, 708 e 712 sobre o direito de greve e a aplicação da Lei Federal nº 7.783/89 no serviço
público. Em julgados ainda mais recentes sobre a aplicação da lei de greve da iniciativa privada na
Revista Brasileira de Estudos da Função Pública ‐ RBEFP
Belo Horizonte,  ano 1,  n. 1,  jan. / abr.  2012 
 
 
Biblioteca Digital Fórum de Direito Público ­ Cópia da versão digital
função pública, o Supremo Tribunal Federal vê como indispensável para legitimá­la o esgotamento
de tentativas de negociação prévia entre servidores e administração. Ademais, a Convenção 151
da OIT impôs ao poder público, em todos os níveis, adoção de instrumentos jurídicos adequados
para viabilizar a adoção da negociação coletiva na função pública, sob os cânones da boa­fé e da
responsabilidade.
Além da boa­fé e da responsabilidade, o autor busca no texto constitucional outras bases
principiológicas da negociação coletiva na função pública, entre elas o princípio da inafastabilidade
da negociação, princípio do acesso à informação, princípio da adequação, princípio do contraditório,
princípio da representação e da assistência, princípio da simplicidade das formas e princípio do
dever de influência.
Enfrentando e respondendo a temas importantes, como as implicações e consequências da
negociação coletiva com impacto na remuneração de servidores e aumento de despesa com
pessoal, o autor não sucumbe sequer aos mais ásperos deles, como o é a competência para
julgamento de dissídio envolvendo servidores estatutários.
 
6 Conclusão
De leitura obrigatória para os estudiosos do direito administrativo e do direito do trabalho, a obra é
verdadeiro marco no estudo da função pública no Brasil e certamente servirá de importante
subsídio a vários outros trabalhos.
 
De Curitiba para Belo Horizonte, 16 dezembro de 2011.
1 Certamente é pelas filhas e pela esposa, verdadeiros marcos divisores de sua vida, que — penso
— o autor gostaria de ser inicialmente apresentado.
2 ARAÚJO, Florivaldo Dutra de. Motivação e controle do ato administrativo. 2. ed. Belo Horizonte:
Del Rey, 2005.
3 ARAÚJO, Florivaldo Dutra de. Conflitos coletivos e negociação na função pública. 1998. Tese
(Doutorado) – Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 1998.
4 Nome pelo qual é carinhosamente chamada por professores, alunos, ex­alunos e funcionários da
Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais, criada em 1892, na cidade de Ouro
Preto, sob o nome “Faculdade Livre de Direito”. Seis anos depois transferida para Belo Horizonte, a
Instituição teve como fundador e primeiro diretor o Conselheiro Afonso Pena. A Faculdade de
Direito da UFMG foi berço intelectual de grandes políticos mineiros, entre eles, o próprio Presidente
Afonso Pena, Silviano Brandão, Francisco Salles, João Pinheiro da Silva, Raul Soares de Moura,
Artur Bernardes, Milton Campos, Tancredo Neves e o atual Governador do Estado de Minas Gerais,
Antonio Augusto Junho Anastasia, que é professor licenciado de direito administrativo daquela
Casa. Notáveis juristas se formaram na mesma faculdade, como Olavo Bilac Pinto, Caio Mário da
Revista Brasileira de Estudos da Função Pública ‐ RBEFP
Belo Horizonte,  ano 1,  n. 1,  jan. / abr.  2012 
 
 
Biblioteca Digital Fórum de Direito Público ­ Cópia da versão digital
Silva Pereira, Carlos Fulgêncio da Cunha Peixoto, Oscar Dias Correia, Sepúlveda Pertence, Carlos
Mário da Silva Velloso, Orozimbo Nonato da Silva, Carlos Maximiliano Pereira dos Santos,
Francisco Rezek, Mauricio Correa, entre tantos outros.
5 O currículo lattes completo do autor pode ser encontrado em: <http://lattes.cnpq.br/7962
143294679740>. Acesso em: 08 dez. 2011.
6 Professor Paulo Neves de Carvalho é Professor Emérito de direito administrativo da Universidade
Federal de Minas Gerais.Falecido em 2004, era PhD em Administração Pública pela Universidade
da Califórnia. E o dado mais relevante para os que não o conheceram: foi o melhor ser humano
com que já convivi. Como mencionou o Professor Vicente de Paula Mendes, em homenagem ao
Professor Paulo Neves de Carvalho, em 03.02.2010, no Tribunal Regional Eleitoral de Minas
Gerais, “falar de Paulo Neves é fazer poesia”. Sua obra é viva e seus alunos estão disseminados
pelos quatro cantos deste país, formando com orgulho a chamada Escola Paulo Neves de Carvalho.
7 A linha de pesquisa do autor é, entretanto, mais ampla: “Poder e cidadania no Estado
Democrático de Direito”, que tem por objetivo o “estudo das formas do exercício do poder, nas
vertentes da legislação, da administração e da jurisdição, bem como seus limites, particularmente
em face dos valores da cidadania, da dignidade humana e das novas relações entre a Sociedade e o
Estado”. Disponível em: <http://lattes.cnpq.br/7962143294679740>. Acesso em: 08 dez. 2011.
8 É importante, todavia, esclarecer o leitor que declarar­se “discípulo” de Paulo Neves de Carvalho
não é propriamente filiar­se a um ou outro pensamento, a uma ou outra doutrina. Ao contrário.
Paulo Neves de Carvalho simplesmente ensinou e — mais — ensinou­nos a arte de ensinar. Na
Faculdade Livre de Direito, ele formou homens de mentes livres e de coração cheio. O Professor
nos estimulava a ler de tudo, a conhecer de tudo e a, sem preconceitos, depreender o que
houvesse de bom em toda doutrina. Esse é o traço característico de sua Escola: homens de
pensamentos livres que continuam influenciando, pelo amor ao magistério, gerações de alunos.
“Paulo Neves é Escola e fez Escola”. Declarar­se discípulo de Paulo Neves é querer seguir seu
exemplo no magistério e na academia. Porque, assim, foi sua vida.
9 Prova do rigor científico de Florivaldo Dutra de Araújo é a opção por utilizar as palavras “direito”
e “estado” com iniciais minúsculas, ao contrário do que faz a maioria da doutrina, justificando ao
leitor, logo no início da obra, com supedâneo no Formulário ortográfico da Academia Brasileira de
Letras, que esses nomes se escrevem com inicial minúscula quando empregados em sentido
indeterminado. Ainda, como o autor sempre constrói suas posições balizadas por argumentos
formais e materiais, neste último sentido, ele observa que palavras tão importantes quanto
“Estado”, surgem sempre grafadas por iniciais minúsculas, como “sociedade” e “cidadão”, que
também representam altos conceitos políticos. E conclui, em nota de rodapé: “Pensamos que a
língua portuguesa não é um mero acaso ou uso arbitrário de signos. Portanto, essa deferência
prestada ao ‘Estado’, ainda que inconsciente, trai nossa tendência a dar mais relevo ao poder do
que àqueles a quem o poder deva servir, ou seja, à sociedade e aos cidadãos. Por isso, preferimos
tomar em conta a observação contida no Formulário ortográfico, utilizando “Estado”, com inicial
maiúscula, apenas quando nos referirmos a um Estado em particular (o Estado brasileiro, o Estado
francês etc.), ou a um tipo histórico, como o Estado Liberal e o Estado Social de Direito. A mesma
regra será observada em relação a expressões como poder público, administração pública,  poder
executivo, poder legislativo, poder judiciário. Nas citações, porém, serão preservados os critérios
Revista Brasileira de Estudos da Função Pública ‐ RBEFP
Belo Horizonte,  ano 1,  n. 1,  jan. / abr.  2012 
 
 
Biblioteca Digital Fórum de Direito Público ­ Cópia da versão digital
dos respectivos autores” (ARAÚJO, op. cit., p. 24).
10 É impossível ler sua obra sem se recordar de suas aulas. A página 222, por exemplo, em que
Florivaldo Dutra de Araújo mostra a diferença entre função administrativa, legislativa e judicial,
em sentido formal e material, em Seabra Fagundes, é exatamente a primeira aula que leciona em
Direito Administrativo I, lições que também hoje procuro transmitir a meus alunos, talvez porque
essa distinção me ajudou muito a compreender importantes institutos de direito administrativo,
como o poder regulamentar, o ato coator do mandado de segurança, a atividade regulatória das
agências reguladoras, entre tantos outros.
11 Lembro­me que, na orientação de minha tese de doutoramento, o Professor Florivaldo chegou a
ficar seis horas seguidas, sentado comigo, analisando frase por frase de um dado capítulo e, às
vezes, quando eu imaginava como superada a demonstração de determinada assertiva, ele
retomava a mesma discussão, fazendo­me reunir de imediato outros elementos que lograssem seu
convencimento. Não foi fácil. Contudo, o depósito do trabalho e a espera pela banca foram
verdadeiros alívios de quem já se julgava submetida a vários meses de arguição, num exemplo
incomum de dedicação do orientador.
12 Disponível em: <http://www.pos.direito.ufmg.br/tese_detalhes.asp?aluno=939>. Acesso em: 08
dez. 2011.
13 O texto original, conforme dito, era dividido em apenas duas.
14 Brilhante síntese desta ideia, cerne de toda a obra, consta desde logo da Introdução, quando o
autor assevera: “Neste contexto, a gestão de pessoal exige do estado o reconhecimento da
condição de que, por serem servidores, os indivíduos não perdem, por isto, a condição de cidadãos
e trabalhadores, pessoas com direitos e interesses próprios, que não se dissolvem na organicidade
do estado, como se pensou outrora” (ARAÚJO, Florivaldo Dutra de. Negociação coletiva dos
servidores públicos. Belo Horizonte: Fórum, 2011. p. 25).
15 ARAÚJO, op. cit., p. 34.
16 Notável exposição dessa mesma ideia encontra­se na obra de PINTO E NETO, Luísa Cristina. A
contratualização da função pública. Belo Horizonte: Del Rey, 2005, fruto de sua dissertação de
mestrado orientada por Florivaldo Dutra de Araújo, posição com a qual concordo integralmente,
acreditando que, independentemente da natureza do vínculo, se legal ou contratual, o servidor só
é órgão em suas relações com o cidadão e é pessoa, ou melhor, trabalhador, titular de relação de
trabalho com o poder público.
17 ARAÚJO, op. cit., p. 130.
18 Ibid., p. 176.
Como citar este conteúdo na versão digital:
Conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto
científico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma:
Revista Brasileira de Estudos da Função Pública ‐ RBEFP
Belo Horizonte,  ano 1,  n. 1,  jan. / abr.  2012 
 
 
Biblioteca Digital Fórum de Direito Público ­ Cópia da versão digital
ARAÚJO, Florivaldo Dutra de. Negociação coletiva dos servidores públicos. Belo Horizonte: Fórum,
2011. Resenha de: SILVEIRA, Raquel Dias da. Revista Brasileira de Estudos da Função Pública –
RBEFP,   B e l o   H o r i z o n t e ,   a n o   1 ,   n .   1 ,   j a n . / a b r .   2 0 1 2 .  D i s p o n í v e l   e m :
<http://www.bidforum.com.br/bid/PDI0006.aspx?pdiCntd=78147>. Acesso em: 20 nov. 2017.
Como citar este conteúdo na versão impressa:
Conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto
científico publicado em periódico impresso deve ser citado da seguinte forma:
ARAÚJO, Florivaldo Dutra de. Negociação coletiva dos servidores públicos. Belo Horizonte: Fórum,
2011. Resenha de: SILVEIRA, Raquel Dias da. Revista Brasileira de Estudos da Função Pública –
RBEFP, Belo Horizonte, ano 1, n. 1, p. 235­245, jan./abr. 2012.
Revista Brasileira de Estudos da Função Pública ‐ RBEFP
Belo Horizonte,  ano 1,  n. 1,  jan. / abr.  2012 
 
 
Biblioteca Digital Fórum de Direito Público ­ Cópia da versão digital

Outros materiais