Buscar

MORADIA PROVISÓRIA ENTRE BOLIVIANOS EM S

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 14 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 14 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 14 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

609
Fabio M. Serrano Pucci, Maura P. B. Véras
C
a
d
e
r
n
o
 C
r
H
, S
al
va
d
or
, v
. 3
2,
 n
. 8
7,
 p
. 6
09
-6
22
, S
et
./D
ez
. 2
01
9
MORADIA PROVISÓRIA ENTRE BOLIVIANOS EM SÃO PAULO: 
ambiguidade e contingência
Fabio M. Serrano Pucci*
Maura P. B. Véras**
* Universidade Federal de São Carlos. Departamento de 
Sociologia.
Rod. Whashington Luís 235. Monjolinho. Cep: 13565-905. 
São Carlos – São Paulo – Brasil. Caixa-postal: 676. 
fabiosop@msn.com
https://orcid.org/0000-0001-9817-7864
** Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Departa-
mento de Sociologia. Programa de Estudos Pós Graduados 
em Ciências Sociais.
Rua Monte Alegre, n. 984. Perdizes. Cep: 05014-001. São 
Paulo – São Paulo – Brasil.
mauraveras9@gmail.com / mmveras@pucsp.br
https://orcid.org/0000-0003-3927-6787
http://dx.doi.org/10.9771/ccrh.v32i87.25345
Este artigo tem como objetivo refletir sobre a questão da moradia entre imigrantes bolivianos em São Paulo, 
buscando investigar até que ponto existe uma correlação entre a “ilusão do provisório” – inerente à condi-
ção do imigrante (Sayad, 1998) – e as formas precárias de habitar na cidade. Tais formas podem ser defini-
das como moradias da pobreza e (ou) “nomadismo urbano” (Véras, 2003b; 2016a). A pesquisa, utilizando-se 
da combinação de método qualitativo, pelas entrevistas com bolivianos (nos bairros do Brás e Grajaú), e o 
quantitativo, por meio de levantamento dos dados de Censos Demográficos do IBGE, indica uma interde-
pendência entre as formas precárias de habitar dos bolivianos e a ideia de provisoriedade que eles têm de 
sua permanência no país. 
Palavras-chave: Imigração. Bolivianos. Cidade. Moradia. Provisoriedade.
INTRODUÇÃO
São Paulo é, em certa medida, uma cida-
de construída por imigrantes. Desde a segunda 
metade do século XIX, espanhóis, italianos e 
portugueses se firmaram ao longo das “orlas 
ferroviárias”, nos bairros de Belém, Brás, Bom 
Retiro, Pari, Mooca, Lapa e Ipiranga, inseridos 
no ciclo do café e de nossa primeira industria-
lização, ensejando quase uma nova fundação 
da cidade (Rolnik, 2001; Véras, 2003a). Por vol-
ta de 1900, dois terços da população residente 
na cidade eram estrangeiros (Véras, 2003a). 
Na segunda metade do século XX, após a se-
gunda grande guerra, como se sabe, diminuiu 
a imigração estrangeira e houve um aumen-
to no número de migrantes nacionais nesses 
bairros, especialmente nordestinos e mineiros. 
Em 1970, já ganhava importância o ramo da 
confecção no cenário econômico da capital, o 
qual era preenchido por imigrantes coreanos 
(Véras, 2000), embora, nas décadas de 1990 e 
2000, mais e mais bolivianos estivessem inse-
ridos nesse setor da costura. 
A imigração boliviana teve início na dé-
cada de 1950, formada por jovens que queriam 
estudar e trabalhar no Brasil (principalmente 
trabalhadores liberais). A partir de 1980, no en-
tanto, os bolivianos passam a constituir nume-
rosa mão de obra no ramo da costura, indo tra-
balhar para os coreanos (Silva, 1997). Depois, 
alguns bolivianos também acabam se tornando 
patrões e empregando seus compatriotas.
No Gráfico 1, observa-se que a maior 
frequência entre os imigrantes bolivianos é 
masculina, e as faixas etárias predominantes 
nesse subconjunto são de 20 a 34 anos. Para 
as mulheres, predominam as faixas de 20 a 
29 anos. No que se refere ao total da presen-
ça boliviana, há divergências e dificuldades 
de mensuração quanto ao seu número real na 
cidade, pois existem muitos indocumentados, 
além de retornos, idas e vindas, o que preju-
dica a elaboração de estimativas corretas. A 
610
MORADIA PROVISÓRIA ENTRE BOLIVIANOS EM SÃO PAULO ...
C
a
d
e
r
n
o
 C
r
H
, S
al
va
d
or
, v
. 3
2,
 n
. 8
7,
 p
. 6
09
-6
22
, S
et
./D
ez
. 2
01
9
Pastoral do Imigrante estimava que, em 2005, 
havia perto de 80 mil na cidade de São Paulo 
(Silva, 2005). Segundo consulta realizada com 
a Polícia Federal, durante o período de 2006 a 
2012, mais 73.377 bolivianos ingressaram no 
Brasil portando vistos. Em São Paulo, ainda se-
gundo a Polícia Federal, há 59.526 nacionais 
da Bolívia efetivamente registrados no Sistema 
Nacional de Cadastro e Registro de Estrangei-
ros (SINCRE). Segundo o censo demográfico 
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatís-
tica (IBGE) de 2010, os bolivianos constituem 
o segundo grupo de imigrantes na cidade de 
São Paulo, precedidos apenas pelo contingente 
de portugueses. São considerados oficialmen-
te como residentes no município paulistano 
21.680 pessoas oriundas da Bolívia, que re-
presentam 14,3% dos estrangeiros registrados 
nesse recenseamento, na primeira década do 
século XXI. 
Gráfico 1 – Pirâmide etária dos nascidos na Bolívia, 
residentes no Município de São Paulo
Fonte: IBGE (2010)
Em uma tentativa de resgatar o tema na 
literatura existente, o primeiro trabalho sobre 
bolivianos em São Paulo é de Sidney Antô-
nio da Silva (Silva, 1997), no qual ele analisa 
a diáspora boliviana na cidade, as condições 
precárias de trabalho, a difícil inserção cultu-
ral, entre outros dados. Em seguida, o autor 
estudou a religiosidade e as festas tradicionais 
desses imigrados (Silva, 2003). Além disso, há 
pesquisas que relacionam a subcontratação de 
mão de obra de bolivianos com a reestrutura-
ção produtiva que ocorre no setor das confec-
ções em São Paulo (Freire da Silva, 2008; Frei-
tas, 2009; Preturlan, 2012).
Outro grupo de trabalhos se debruça so-
bre os assuntos do tráfico de pessoas e da es-
cravização de bolivianos (Azevedo, 2005; Illes; 
Timóteo; Fiorucci, 2008; Timóteo, 2011). Ain-
da há um conjunto de pesquisas que focaliza 
a questão da territorialidade e das trajetórias 
residenciais dos bolivianos, procurando com-
preender sua mobilidade espacial e sua confi-
guração socioespacial na Região Metropolitana 
de São Paulo (Souchaud, 2011; Xavier, 2010). 
Quanto à questão da moradia, há o trabalho de 
Simone (2014), que versa sobre a relação entre 
o “encortiçamento” de imóveis nos bairros do 
Belenzinho e Brás, e a presença de imigrantes 
bolivianos em oficinas de costura. 
Pucci (2011) e Vidal (2012) abordam a 
presença dos bolivianos nos bairros do Bom 
Retiro, Brás e Pari sob a perspectiva da alte-
ridade, ou seja, a partir de como a vizinhança 
percebe a presença desses imigrados, por meio 
de reações muitas vezes preconceituosas e xe-
nófobas. Baeninger e Simai (2010) se aproxi-
mam dessa temática ao estudar o discurso de 
bolivianos e brasileiros sobre o preconceito. 
Este estudo identifica que os bolivianos aca-
bam internalizando um discurso de estigma-
tização produzido pelos brasileiros, encon-
trando-se também trabalhos que enfocam a 
questão da segunda geração de bolivianos e 
dos conflitos produzidos, tanto entre bolivia-
nos de primeira e segunda geração, como entre 
bolivianos de segunda geração e os brasileiros 
de mesma idade (Camargo de Oliveira, 2012; 
Huayhua, 2007; Paes, 2011). 
Outros estudos se voltam para a socia-
bilidade entre bolivianos e brasileiros nas es-
colas públicas, bem como no acesso deles às 
políticas de educação (Pucci, 2011; Pontedei-
ro Oliveira, 2012; Magalhães, 2010). Por fim, 
há um grupo de trabalhos cujo objetivo é es-
611
Fabio M. Serrano Pucci, Maura P. B. Véras
C
a
d
e
r
n
o
 C
r
H
, S
al
va
d
or
, v
. 3
2,
 n
. 8
7,
 p
. 6
09
-6
22
, S
et
./D
ez
. 2
01
9
tudar o acesso desses imigrantes à saúde, em 
São Paulo (Aguiar, 2013; Aguiar; Mota, 2014; 
Faleiros, 2012; Khouri, 2010; Martinez, 2010; 
Mascaro, 2014; Silveira et al., 2014).
Entre tantos assuntos abordados pe-
las teses e dissertações sobre bolivianos em 
São Paulo, nos interessa, especificamente, as 
questões relativas a territorialidade, moradia e 
alteridade. Este artigo se baseia em reflexões 
e em pesquisa de campo1 que estudou duas 
regiões paulistanas: um bairro central (Brás, 
por concentrar grande contingente de bolivia-
nos e abrigar um importante espaço de socia-
bilidade desse grupo, a Rua Coimbra), e um 
distrito periférico (Grajaú, por ter havidoum 
importante aumento de bolivianos na região, 
formando uma “ilha” com significativo con-
tingente deles.). Tal estudo objetivou analisar 
as condições de moradia dos bolivianos em 
São Paulo, a exclusão desse grupo das políti-
cas sociais (principalmente, as de habitação e 
saúde) e o seu envolvimento em movimentos 
de luta por moradia. Ao tratar da questão do 
acesso e condições de moradia desse grupo, 
pretende-se aqui, mais especificamente, obser-
var a questão de como a “ilusão do provisório” 
(Sayad, 1998) – inerente à própria condição 
do imigrante – predispõe esses imigrados a se 
deslocarem, tornarem-se “nômades urbanos” 
(Véras, 2003b), condição caracterizada pela 
rotatividade de residência em moradias muito 
precárias e, na maioria das vezes, provisória. 
PRINCIPAIS REFERÊNCIAS CON-
CEITUAIS
Apresenta-se, a seguir, o breve quadro te-
órico que fundamentou a pesquisa, ao enlaçar 
os temas da imigração, sua provisoriedade, ter-
1 A pesquisa empírica, para dissertação de mestrado, sob 
a orientação de Maura Véras, envolveu 22 entrevistas com 
imigrantes bolivianos nos dois bairros. Adotou-se como es-
tratégia de campo o estabelecimento de contato com orga-
nizações não-governamentais de assistência aos imigrantes 
e as governamentais. Foram realizadas entrevistas em duas 
Unidades Básicas de Saúde (UBSs) no município de São 
Paulo, uma no Grajaú e outra no Brás. Foi obtido o consen-
timento livre e esclarecido dos entrevistados. (Pucci, 2016)
ritorialidade, alteridade e segregação. A ques-
tão da habitação foi tomada como âncora de 
fixação dos bolivianos em um território e sua 
possibilidade de inserção na sociedade recep-
tora, observando-se o paradoxo de ser um imi-
grante. Tomou-se, como principal referência, a 
obra A Imigração ou os Paradoxos da Alterida-
de, de Sayad (1998), que resgata a ambiguidade 
de pertencer e não pertencer a nenhum lugar. 
Para o autor, a contradição constitutiva do imi-
grante se dá no sentimento de provisoriedade 
com que é vivida sua imigração: 
[...] não se sabe mais se se trata de um estado provi-
sório que se gosta de prolongar indefinidamente ou, 
ao contrário, se se trata de um estado mais duradou-
ro, mas que se gosta de viver com um intenso senti-
mento do [de] provisoriedade (Sayad, 1998, p. 45). 
Analisar-se-ão, neste artigo, as conse-
quências da ambiguidade em que vivem esses 
imigrados, suas formas de habitar em São Pau-
lo e suas escolhas contingentes.
No que se refere ao tema das migrações 
internacionais, em tempos de globalização, 
considera-se a teoria da transmigração, segun-
do a qual se superam as antigas categorizações, 
como as do imigrante “temporário”, “de retor-
no” ou “permanente”, uma vez que ele ainda 
mantém relações com a sociedade de origem 
(Sasaki; Assis, 2000). Além disso, busca-se le-
var em conta tanto a abordagem neoclássica, 
segundo a qual a motivação para migrar se ba-
seia em um cálculo individual racional, quan-
to a histórico-estrutural, pela qual o indivíduo 
vê as suas escolhas limitadas pelo contexto so-
cial mais amplo (Muniz, 2002; Patarra, 2006). 
Nesse sentido, é possível ainda optar por uma 
terceira alternativa, uma abordagem domici-
liar (ou familiar), que considera que as deci-
sões são tomadas por grupos de pessoas, como 
famílias e domicílios (Muniz, 2002). Já sobre a 
territorialidade, tomam-se Véras (2003a), San-
tos (1987) e Carneiro (2009) como referências. 
Os territórios, considerados como lugares em 
que há identificação de seus ocupantes (San-
tos, 1987), são “espaços de permanência e si-
612
MORADIA PROVISÓRIA ENTRE BOLIVIANOS EM SÃO PAULO ...
C
a
d
e
r
n
o
 C
r
H
, S
al
va
d
or
, v
. 3
2,
 n
. 8
7,
 p
. 6
09
-6
22
, S
et
./D
ez
. 2
01
9
multaneamente de passagem dos imigrantes 
que promovem sua adaptação às novas condi-
ções de vida” (Silveira et al., 2014, p. 97). Por 
isso, a moradia é de grande importância, pois 
fixa em um território, quer como opção, quer 
como contingência possível. 
Em seu amplo significado, morar vai 
além de ocupar uma edificação em si (teto, pa-
rede e piso), mas abrange o acesso ao solo urba-
no e suas benfeitorias de infraestrutura (abas-
tecimento de água, saneamento, serviços de 
eletricidade, transporte, sistema viário), equi-
pamentos sociais (principalmente educação, 
saúde e cultura) e paisagem. No capitalismo, as 
classes trabalhadoras precisam, com seus salá-
rios, buscar condições de vida e, em especial, 
o acesso à moradia e a reprodução da força de 
trabalho, representada pela habitação adequa-
da, que é obstaculizada pelos altos preços no 
mercado de terra e da construção civil. A casa, 
encarada como propriedade privada, torna-se 
mercadoria cara e custosa, e segmentos nume-
rosos necessitam de subsídios ou financiamen-
tos para sua aquisição ou mesmo locação. 
 O solo urbano, produzido coletivamen-
te, é apropriado individualmente e por quem 
pode pagar e se distribui por estratos sociais 
que dispõem ou não dos meios de consumo 
coletivo. Tais espaços são discriminados pelo 
preço da terra, apresentando contrastes entre 
bairros de excelentes localizações e outros 
vistos como malditos, jogados na subalterni-
dade. O jogo entre capital e Estado desempe-
nha grande papel nisso, resultando em cidades 
heterogeneamente divididas, geralmente pela 
renda de seus moradores, eventualmente se-
gregados por razões étnicas e culturais (Véras, 
1980, 2003b). 
O Estado, ao favorecer as condições 
necessárias ao capital, implanta os serviços 
e equipamentos urbanos de forma desigual, 
acentuando as desigualdades sociais e no ter-
ritório. Políticas sociais, no tocante à habitação 
popular no Brasil, sempre se mostraram anco-
radas em mecanismos seletivos e financeiros, 
exigindo estabilidade de emprego e de renda, o 
que alijou parcelas consideráveis da população 
que não dispunham de tais condições. Grande 
parte da demanda por habitações para a faixa 
de baixa renda não é atendida, e a saída des-
sa situação é a busca por soluções precárias, 
como favelas, cortiços, loteamentos irregula-
res de periferia, ocupações de áreas de risco e 
zona de mananciais, além de outras formas do 
mercado informal, constituindo-se uma cida-
de ilegal, ao arrepio das exigências e posturas 
municipais. Um quadro com estatísticas esti-
mativas sobre tais segmentos da precariedade 
em São Paulo, oscilando em cerca de 40% dos 
residentes no município, pode ser buscado em 
diversas fontes e na própria municipalidade 
(Pasternak, 2016; Véras, 1987, 2003b, 2016a).
Para tratar a questão da ausência de di-
reitos na cidade, especialmente no que tange à 
questão de moradia, Kowarick (2009) nos apon-
ta que se vive em um contexto de “fragilização 
da cidadania”, que pode ser entendido como a: 
[...] perda ou ausência de direitos e [...] precarização 
de serviços coletivos que garantiam uma gama mí-
nima de proteção pública para grupos carentes de 
recursos – dinheiro, poder, influência – para enfren-
tar intempéries nas assim denominadas metrópoles 
do subdesenvolvimento industrializado (Kowarick, 
2009, p. 76, grifos do autor).
A maior parcela da massa assalariada 
não consegue adquirir habitação no mercado 
regular. Disso decorre o fato de que a “crise de 
habitação”, ou o seu “déficit”, “nada mais é do 
que a existência de grandes faixas populacio-
nais sem meios para comprá-la” (Véras, 2003b, 
p. 327). Assim, o que leva a isso é a escassez da 
produção de moradia, o encarecimento do cus-
to de vida e o preço elevado da terra, acima do 
seu valor real (potenciado pela mercantiliza-
ção, financeirização e especulação imobiliária). 
No que tange à questão do significado da 
casa própria e sua matriz conservadora, segun-
do Bonduki (1998), resgata-se a origem: “para o 
trabalhador urbano, a casa própria simboliza-
va o progresso material. Ao viabilizar o acesso 
à propriedade, a sociedade estaria valorizando 
o trabalho, demonstrando que ele compensa, 
613
Fabio M. Serrano Pucci, Maura P. B. Véras
C
a
d
e
r
n
o
 C
r
H
, S
alva
d
or
, v
. 3
2,
 n
. 8
7,
 p
. 6
09
-6
22
, S
et
./D
ez
. 2
01
9
gera frutos e riqueza” (Bonduki, 1998, p. 84). 
Contudo a produção de moradia – sob a ótica 
capitalista – se conforma às leis de oferta e pro-
cura e enfoca a “demanda solvável”, ou seja, 
aquela parcela que, de fato, tem condições de 
quitar um imóvel em um período de tempo 
razoável (já que é um investimento de longo 
prazo). A ausência ou os vícios mercantis da 
intervenção do Estado causam um “estrangu-
lamento das condições de reprodução da força 
de trabalho” (Véras, 2003b, p. 329). 
“Em síntese, a cidade capitalista difi-
culta seu consumo para os pobres, pois é vis-
ta como capital constante pelos proprietários 
que usam o ‘ambiente construído’, assim como 
usaram a máquina na produção fabril” (Véras, 
2003b, p. 334).
Assim, surgem pessoas designadas pela 
condição precária em que vivem – favelados, 
encortiçados, moradores da periferia, além dos 
moradores de rua, “homeless, sansabris, under-
class” (Véras, 2003b, p. 332, grifos da autora). 
Ou ainda, segundo termo usado pela autora, 
constituem os “novos nômades urbanos”. Nes-
se conceito se abrigam os moradores da preca-
riedade, que costumam ser removidos, quer pe-
los chamados projetos de obras públicas, como 
no caso de favelados, de loteamentos irregula-
res, sem a legalidade da posse de um lote, quer 
para os inquilinos informais despejados dos 
cortiços. Há ainda a população moradora de 
rua – todos sem direito à raiz, ao território, con-
tinuamente expulsos, desalojados, removidos, 
relegados e vítimas de discriminação.
Marques (2005) reforça o conceito de “se-
gregação” como separação e desigualdade de 
acesso, destacando que quanto maior é a segre-
gação de um grupo, mais se reforça o discurso 
do racismo em relação a ele. No tema da alteri-
dade, considera-se a importância do outro em 
nossa própria formação identitária; há certa gra-
dação entre o outro próximo e o outro distante, 
e nesse caso, um “não-nós”. Assim, as relações 
com o “outro-nós” e o com o “outro-estranho” 
vêm sofrendo mudanças nas cidades de hoje, 
que nos apresentam uma diversidade de pesso-
as e possibilidades de conhecimento. O outro 
aparentemente vai se tornando comum, mas 
nem sempre acolhido e, mesmo que não inusi-
tado, quando esse estranho passa a frequentar 
espaços antes exclusivos de determinados gru-
pos, ou sua aparência não representar vanta-
gens aos dominantes, será visto como ameaça-
dor. No momento em que terminar o encontro 
espontâneo, o estigma irá se explicitar (Jodelet, 
1998). Ainda como referência importante, há os 
conceitos de estabelecidos e outsiders, que nos 
revelam como um grupo mantém o outro em 
condição de subalternidade por meio da estig-
matização (Elias; Scotson, 2000).
No que se refere ao conceito de “identi-
dade”, remete-se a Castells (1999), que formula 
o conceito de “identidade de resistência”, que 
é “criada por atores que se encontram em po-
sições/condições desvalorizadas e/ou estigma-
tizadas pela lógica da dominação” (Castells, 
1999, p. 24). Para Hall (2003), um tema caro 
na abordagem sobre imigrantes é a identidade 
cultural, ou as possibilidades de mudança, que 
se imbricam no “hibridismo” e se referem a 
“um processo de tradução cultural, agonístico, 
uma vez que nunca se completa”, mas que per-
manece sem uma decisão. (Hall, 2003, p. 74). 
Esse processo implica uma revisão por parte 
da cultura de seus próprios sistemas de refe-
rência, normas e valores. O reconhecimento 
das diferenças, ou a intolerância e, no limite, o 
racismo, surgem nesse contexto.
Atualmente, existe uma nova forma de 
estigmatizar, que Wieviorka (2006) denomina 
“novo racismo”:
[...] o “novo racismo” descreve diversos grupos a 
partir de suas particularidades culturais que os 
constituem como subconjuntos considerados inassi-
miláveis, perigosos e nocivos, prontos a espezinhar 
os valores morais da nação e a abusar dos sistemas 
que ela elaborou para assegurar a seus membros 
uma certa solidariedade (Wieviorka, 2006, p. 169).
Daí a necessidade de resgatar o conceito 
de “assimilação”, nos termos de Truzzi (2012), 
no que se refere à capacidade de recuperar a 
problemática de incorporação de imigrantes. 
614
MORADIA PROVISÓRIA ENTRE BOLIVIANOS EM SÃO PAULO ...
C
a
d
e
r
n
o
 C
r
H
, S
al
va
d
or
, v
. 3
2,
 n
. 8
7,
 p
. 6
09
-6
22
, S
et
./D
ez
. 2
01
9
No entanto, é necessário fazer isso sem incor-
rer no que esse conceito pode carregar de etno-
centrismo – quando considera que os imigran-
tes devem fatalmente ser assimilados a um pa-
drão cultural vigente na sociedade receptora. 
Esse conceito de “assimilação ressignificada” 
aborda a relação dos imigrantes com a socieda-
de receptora como uma via de mão dupla, na 
qual ambos os lados se influenciam reciproca-
mente; aponta subconjuntos que nunca serão 
assimilados totalmente, como a “segmentada”.
CONDIÇÕES DE MORADIA DOS BO-
LIVIANOS EM SÃO PAULO: proviso-
riedade, ambiguidade e contingência
Nesse conjunto, os imigrantes de baixa 
renda vêm convivendo historicamente com a 
precariedade (Véras, 2016a). Das 4.805 unida-
des domiciliares na cidade de São Paulo cujo 
responsável é boliviano, 77,3% são alugadas, 
enquanto 22,3% adquiriram ou financiaram a 
casa própria. A fonte (IBGE, 2010) não especi-
fica se esse aluguel é pago pelos próprios mo-
radores bolivianos ou se eles recebiam o valor 
do aluguel como parte integrante do salário2 
(IBGE, 2010).
Os indícios atuais apontam que os boli-
vianos vivem em condições habitacionais ina-
dequadas. A maioria reside de aluguel em mo-
radias coletivas mistas, com o uso de atividade 
da confecção de oficinas de costura, improvi-
sando adaptações nos imóveis, o que os torna 
inseguros. Segundo o IBGE (Censo Demográfi-
co de 2010), há diferentes variáveis que podem 
ser levadas em conta no momento de avaliar a 
adequação ou não de um domicílio.3 No Mu-
2 Segundo o IBGE, em suas notas metodológicas relativas 
ao Censo Demográfico de 2010, considerou-se o domicílio 
como “alugado” quando “o aluguel era pago por um ou 
mais moradores”, mas também quando “o empregador (de 
qualquer um dos moradores) pagava, como parte integran-
te do salário, uma parcela em dinheiro para o pagamento 
do aluguel.” (Grifos nossos). Disponível em:<ftp://ftp.ibge.
gov.br/Censos/Censo_Demografico_2010/Familias_e_Do-
micilios/censo_fam_dom.pdf>.
3 Segundo as notas técnicas do Censo Demográfico de 
2010, a moradia é considerada adequada quando atende 
“a todas as seguintes condições: até dois moradores por 
nicípio de São Paulo (MSP), dos 11.253.504 
habitantes em 2010, 7.237.446 (64,3%) vivem 
em moradias adequadas. Enquanto isso, do to-
tal de bolivianos que viviam na cidade de São 
Paulo em 2010 (21.680), apenas 8.988 (41,5%) 
estavam alojados em moradias adequadas. Isso 
revela uma porcentagem muito menor de bo-
livianos vivendo em moradias adequadas do 
que a média no MSP (41,5% contra 64,3%).
Segundo o Censo Demográfico de 2010, 
a média de moradores por dormitório nos do-
micílios dos bolivianos residentes no muni-
cípio de São Paulo é 2,62, enquanto a média 
no MSP é de 2,16 moradores por dormitório4. 
Esses dados sugerem a presença de quartos su-
perlotados nos domicílios de bolivianos. Ainda 
para essa fonte, dos 15.812 bolivianos que têm 
alguma ocupação no município de São Paulo, 
dois terços (67,7%) trabalham no próprio do-
micílio. Segundo alguns autores de referência 
(Dornelas, 2009; Illes; Timóteo; Fiorucci, 2008; 
Silva, 1997), a conjugação dos espaços de tra-
balho com o de moradia gera promiscuidade, 
convivência forçada e, em alguns casos, até 
mesmo danos à saúde dos trabalhadores. 
É relevante destacar que o aluguel é um 
problema para os bolivianos, sendo os princi-
pais óbices encontrados a formalidade exigida 
pelos contratos, os altos preços cobrados e a 
resistência de alguns proprietários. Como con-
sequência, procuram por alternativas como o 
apoio dos parentes. No entanto, Xavier (2010) 
revela que esses imigradostêm o desejo de se 
tornar independentes de seus patrões e pa-
dormitório; abastecimento de água por rede geral de distri-
buição; esgotamento sanitário por rede geral de esgoto ou 
pluvial, ou por fossa séptica; e lixo coletado, diretamente 
por serviço de limpeza ou em caçamba de serviço de lim-
peza” (IBGE, 2010, p. 34).
4 O IBGE (2010) considera adequados os domicílios com 
até 02 moradores por dormitório. Entretanto, segundo a 
metodologia da Fundação João Pinheiro (FJP, 2018) – que é 
adotada oficialmente pelo Governo Federal do Brasil –, há 
“densidade excessiva de moradores por dormitório” quan-
do há, em média, mais de três moradores por dormitório. 
Já para a Organização Mundial da Saúde (WHO, 2018), 
esse número pode variar a depender do tamanho e do tipo 
de moradia, do tamanho dos quartos e das características 
de seus moradores (idade, gênero e tipo de relacionamento 
que estabelecem entre si). Assim, por exemplo, uma mo-
radia pode ser considerada com densidade excessiva caso 
haja dois moradores por dormitório, mas não será no caso 
de esses moradores serem cônjuges (WHO, 2018, p. 22). 
615
Fabio M. Serrano Pucci, Maura P. B. Véras
C
a
d
e
r
n
o
 C
r
H
, S
al
va
d
or
, v
. 3
2,
 n
. 8
7,
 p
. 6
09
-6
22
, S
et
./D
ez
. 2
01
9
rentes, ou seja, querem poder bancar a pró-
pria moradia. Como consequência, é cada vez 
maior a presença de bolivianos que residem 
em cortiços, favelas e ocupações (Pucci, 2011, 
2016; Xavier, 2010).
Muitas constatações apontam que os 
bolivianos podem ser considerados como “nô-
mades urbanos” (Véras, 2003b). A principal 
característica é o aluguel e a rotatividade. Os 
bolivianos relatam dificuldades de adquirir a 
casa própria e até mesmo de alugar imóveis. 
Tanto no bairro do Brás quanto no do Grajaú, 
eles sofrem uma “discriminação das imobiliá-
rias”. A fala seguinte ilustra bem esse fato:
Geralmente, aqui no Brasil, ou aluga uma casa para 
moradia ou aluga uma casa comercial. Ou é resi-
dencial ou é comercial. Mas nós, bolivianos, que 
trabalhamos em casa, alugamos a casa para traba-
lhar e para morar. Ou seja, que muitas imobiliárias, 
a maioria, não aceita isso. A discriminação começa 
em que eles pedem fiador. (Rodriguez, boliviano, 
dono de um empreendimento no Brás, há 33 anos 
no país)
Os bolivianos apresentam uma pecu-
liaridade com a qual as imobiliárias não estão 
acostumadas a lidar, que é a conjugação de 
trabalho com moradia. Muitos imigrantes pro-
curam alugar casa com o objetivo de montar 
um negócio, e não simplesmente morar. As 
imobiliárias, então, colocam como condição o 
pagamento de três a cinco aluguéis adiantados, 
para evitar que os locatários permaneçam me-
nos tempo do que isso. A alternativa, muitas 
vezes, é alugar um quarto de cortiço no mer-
cado informal, o que ocorre principalmente 
no bairro do Brás. A “discriminação das imo-
biliárias”, no entanto, é ainda maior quando 
se trata da aquisição de casa própria. Os boli-
vianos dificilmente possuem meios para com-
provar estabilidade no país, como um emprego 
registrado, que os permita adquirir um finan-
ciamento de longo prazo. A maior parte deles 
trabalha no ramo da costura, na informalidade. 
Os bancos não aceitam oferecer crédito imo-
biliário aos migrantes, uma vez que receiam 
decisão de não residir mais no país. 
Esse “descrédito” dificulta muito a 
aquisição da casa própria e impulsiona os bo-
livianos a praticarem todas as formas de “no-
madismo urbano”, seja a autoconstrução nas 
periferias (como o Grajaú), seja o aluguel de 
cortiços nos bairros centrais (como o Brás). Os 
altos preços dos aluguéis no Brás fazem com 
que muitos bolivianos acabem se mudando, 
assim que decidem montar a própria oficina 
e trabalhar por conta própria. Observe-se que, 
ao chegarem ao país, eles costumam morar na 
oficina de um patrão e, portanto, não necessi-
tam pagar um aluguel. As trajetórias residen-
ciais dos imigrantes – a partir desse primeiro 
impulso de sair da casa do patrão – são marca-
das por muitas inconstâncias, descontinuida-
des e incertezas. 
Mesmo no Grajaú, onde o aluguel é mais 
acessível do que no Brás,5 os preços fazem com 
que eles tenham de viver em regiões cada vez 
mais afastadas. Isso ocorreu com um casal de 
bolivianos residente no distrito do Grajaú, que 
só conseguiu adquirir uma casa própria próxi-
ma à represa Billings, no bairro do Jardim Bel-
cito, considerando-se que as áreas mais próxi-
mas do Terminal Grajaú da CPTM valorizaram 
muito, e se tornaram inviáveis financeiramen-
te. A seguinte fala exemplifica a dificuldade 
desse casal em adquirir a casa própria, devido 
ao “descrédito” dado aos bolivianos e à própria 
especulação imobiliária: 
Tem uma imobiliária aqui, no Parque América. As-
sim que a gente entrou, ele falou assim: “Você quer 
[o] que?”. Aí eu falei: “Eu to procurando casa”. [Ele 
respondeu:] “A gente só tem acima de 500 mil”. As-
sim, de cara, né? Assim, como pra falar pra gente, 
né, que a gente não poderia ceder a essa casa de 500 
mil, né? Mas ele não sabe o nosso potencial, não 
sabe como a gente faz para ganhar nosso dinheiro. 
Aí eles meio que barram a gente, né? Assim, que 
a gente não pode, ou não merece ganhar, ter uma 
casa bonita, né? (Tamires, boliviana, trabalha como 
salgadeira, há 8 anos no país, moradora do Jardim 
Belcito, no Grajaú)
5 Segundo os entrevistados, o aluguel de uma casa no Brás 
estava entre R$ 1.500,00 e R$ 2.000,00 em 2015, enquanto, 
no Grajaú, variava entre R$ 500,00 e R$ 700,00.
616
MORADIA PROVISÓRIA ENTRE BOLIVIANOS EM SÃO PAULO ...
C
a
d
e
r
n
o
 C
r
H
, S
al
va
d
or
, v
. 3
2,
 n
. 8
7,
 p
. 6
09
-6
22
, S
et
./D
ez
. 2
01
9
Nessa fala é possível perceber dois ele-
mentos. O primeiro é aquele, já mencionado, 
de que as imobiliárias não confiam crédito aos 
estrangeiros, uma vez que eles não possuem 
carteira registrada e, portanto, não conseguem 
comprovar que possuem meios para pagar 
um financiamento de longo prazo. O segundo 
elemento é o de que as empreiteiras só estão 
interessadas em oferecer casas de alto padrão, 
acima de R$ 500 mil, pois são mais rentáveis. 
Isso cria um gargalo no mercado, que não é 
preenchido pela iniciativa privada, gerando a 
já mencionada “demanda não solvável” (Véras, 
2003b). No entanto, para além desses dois ele-
mentos (de natureza lógica, econômica), há 
outro (de natureza subjetiva, qualitativa). É 
interessante destacar que a entrevistada cita-
da acima menciona que se sentiu subestimada 
pela imobiliária que procurou. Diz a entrevis-
tada que: “Mas ele [o vendedor da imobiliária] 
não sabe, o nosso potencial, não sabe como a 
gente faz para ganhar nosso dinheiro.”
A entrevistada está reclamando do fato de 
que as imobiliárias estão engessadas para suprir 
a demanda de apenas um estilo de vida, de uma 
forma de se habitar. Mas não estão preparadas 
para lidar com outras formas de se habitar, de 
se viver. Os bolivianos possuem outra lógica na 
forma de habitar, daí a denominação: “viver ou-
tramente”. As formas como as construtoras ou 
imobiliárias entendem que seus consumidores 
devem morar não se coadunam, entretanto, com 
esse “viver outramente” dos bolivianos (Pucci, 
2016). Eles possuem especificidades, como a 
conjugação de moradia e trabalho, e maior pre-
sença no mercado de trabalho informal. Mas 
isso não significa que sejam menos capazes de 
honrar com seus aluguéis ou com suas parcelas 
de financiamento da moradia.
O próprio significado que os bolivia-
nos atribuem à casa própria é muito diferen-
te do significado que dela têm os brasileiros, 
por exemplo. Isso tudo faz com que eles sejam 
vistos como inquilinos ou promitentes com-
pradores (de casa própria) indesejáveis pela 
maior parte de construtoras, imobiliárias ou 
locadores. Como afirma a entrevistada citada 
acima: “eles [construtoras, imobiliárias, loca-
dores] meio que barram a gente, né? Assim, 
que a gente não pode, ou não merece ganhar, 
ter uma casa bonita, né?”. Ou seja, segundo 
construtoras, imobiliáriase locadores, os bo-
livianos não merecem ter uma “casa bonita”, 
ou de alto padrão, uma vez que a relação deles 
com a moradia é outra, que não aquela imposta 
por essas entidades. Como os bolivianos não 
aceitam a forma padrão de lidar com a mora-
dia, então lhes é negada a possibilidade de ter 
uma “casa bonita”.
Esse padrão impositivo obstrui a possi-
bilidade de se aprender com esse “viver outra-
mente” dos bolivianos. Isso nos impede de:
[...] crescer através de processos de encontro com o 
desconhecido. Coisas e pessoas que são estranhas 
podem perturbar ideias familiares e verdades esta-
belecidas; o terreno não familiar tem uma função 
positiva na vida de um ser humano. Essa função é 
a de acostumar o ser humano a correr riscos, [...] [a] 
enriquecer as suas percepções, a sua experiência, e 
de aprender a mais valiosa de todas as lições huma-
nas: a habilidade para colocar em questão as condi-
ções já estabelecidas de sua vida. (Sennett, 1988, p. 
359-60, grifos nossos).
Ora, a atitude restritiva de construtoras, 
imobiliárias e locadores vai no sentido contrá-
rio, que é o de impedir a reflexão. O encontro 
com o estrangeiro nos oferece a oportunidade 
de colocar em questão nossas formas de morar 
e de lidar com a cidade. Ele nos permite ques-
tionar esses padrões e nos perguntar até que 
ponto existem outras formas de vida urbana e, 
mais especificamente, outras formas de habi-
tar (Silvestri, 2011). Segundo a autora, “o olhar 
estrangeiro é o da distância, mas essa distân-
cia, às vezes, nos revela coisas nas quais nem 
sequer pensávamos” (Silvestri, 2011, p. 484).
Ainda segundo Silvestri (2011), a forma 
de habitar dos estrangeiros – um tanto nôma-
de, sem ter uma residência fixa – pode ser ilus-
trada pela metáfora de um barco que viaja por 
um rio, sendo esse barco entendido como uma 
“pátria flutuante”. Na viagem de barco:
617
Fabio M. Serrano Pucci, Maura P. B. Véras
C
a
d
e
r
n
o
 C
r
H
, S
al
va
d
or
, v
. 3
2,
 n
. 8
7,
 p
. 6
09
-6
22
, S
et
./D
ez
. 2
01
9
[...] não se mede o espaço pelo relógio, mas pelas 
mudanças da luz ou do clima que anunciam dia e 
noite; pelas mínimas variações das margens ou pela 
qualidade da água que anunciam a proximidade de 
uma cidade; pela cor do horizonte que rapidamente 
pode ser apagada pelo nevoeiro ou nas nuvens de 
tormenta. Na viagem de barco se aprecia a verda-
deira distância das coisas (Silvestri, 2011, p. 485).
Essa metáfora propicia uma forma dis-
tinta de refletir sobre o que é habitar, por meio 
da experiência do tempo e do espaço. Pensar o 
barco como “pátria flutuante” permite imagi-
nar identidades menos rígidas do que as nacio-
nalidades fixadas ou endereços estabelecidos. 
Heráclito6 diz que não nos banhamos duas ve-
zes em um mesmo rio. E que é a própria cor-
rente que faz do rio o que ele é. Nesse sentido, 
importa mais o caminho do que o resultado. 
Assim, pátria, para o imigrante, é esse barco 
em que ele navega os rios de sua trajetória, 
uma metáfora para se pensar que importa me-
nos o resultado do percurso, mas, antes, o per-
correr do caminho.
Essa metáfora nos põe a refletir sobre as 
diferentes formas de habitar dos estrangeiros, 
a qual se denomina aqui de “viver outramen-
te”. Na cidade capitalista, indiferente a essas 
lógicas diversas, essas diferentes formas de 
habitar se traduzem em precariedade e provi-
soriedade. Os tripulantes da “pátria flutuante” 
(Silvestri, 2011) se convertem em “nômades 
urbanos” (Véras, 2003b): os moradores de cor-
tiços e também aqueles que improvisam suas 
moradias nas periferias por meio da autocons-
trução. 
Nesse sentido, Sayad (1998) atentou 
muito bem para o fato de que o imigrante vi-
vencia sua trajetória com um intenso senti-
mento de provisoriedade, ainda que ela seja 
definitiva, de fato. Segundo o autor, essa “ilu-
são do provisório” permite que o imigrante es-
teja contente com uma moradia degradante, ou 
seja, permite que ele se resigne à sua condição 
de “nômade urbano”:
6 Heráclito, filósofo grego pré-socrático, nascido em 535 
a. C.
[...] posto que o caráter provisório do imigrante e de 
sua imigração não passa de uma ilusão coletivamente 
mantida, ele permite a todos que se sintam contentes 
com a habitação precária degradada e degradante, 
que se atribui ao imigrante (Sayad, 1998, p. 78).
A maior parte dos bolivianos preten-
de vir ao país para trabalhar, juntar dinheiro 
e voltar a seu país de origem. Mesmo quando 
eles já estão muito bem estabelecidos no país 
– com filhos na universidade e morando em 
casa própria – a ideia do retorno não deixa de 
rondar suas mentes. A seguinte fala exemplifi-
ca bem esse fenômeno:
Como aqui não é meu país, a gente sempre se consi-
dera menos que os brasileiros. Porque não é minha 
terra aqui. Então sempre tenho esse pensamento de 
voltar. Mesmo eu estando bem aqui no país, meu 
pensamento sempre é de voltar. De eu voltar pra lá. 
Mas tem coisas que também não dá. Eu tenho meu 
filho, por que minha filha tem 18 anos, então não 
quer voltar. (Cláudio, boliviano, empresário, bairro 
do Grajaú, há 20 anos no país)
A questão da moradia, portanto, é uma 
dessas preocupações cotidianas e emergenciais 
na vida do imigrante. A “ilusão do provisório” 
(Sayad, 1998) faz com que ele não queira as-
sumir compromissos de longo prazo, como a 
aquisição de uma casa própria. Assim, os imi-
grantes vivem no país de destino “como um 
provisório que se eterniza e impede os projetos 
de alguma importância” (Champagne, 2012, p. 
105). A ideia de adquirir uma casa vai se arras-
tando, pois representaria um enraizamento que 
é ambíguo, desejado e indesejado ao mesmo 
tempo. Nesse sentido, a presença dos bolivia-
nos nos cortiços se justifica, entre outras difi-
culdades, por essa decisão pela casa própria:
A experiência da oficina-cortiço evidencia que o en-
raizamento (em terras brasileiras) não faz parte do 
projeto migratório dos bolivianos. O objetivo está 
em trabalhar no Brasil e em gastar o mínimo possí-
vel, de maneira a conseguir juntar o capital neces-
sário para algum projeto futuro, provavelmente em 
seu país. Neste sentido, o cortiço continua a atuar 
como habitação de transitoriedade, que se move e 
aglutina os tempos em sua materialidade e em sua 
biografia (Simone, 2014, p. 210).
618
MORADIA PROVISÓRIA ENTRE BOLIVIANOS EM SÃO PAULO ...
C
a
d
e
r
n
o
 C
r
H
, S
al
va
d
or
, v
. 3
2,
 n
. 8
7,
 p
. 6
09
-6
22
, S
et
./D
ez
. 2
01
9
A “ilusão do provisório” (Sayad, 1998) 
obstrui a fixação dos bolivianos em terras bra-
sileiras, que se consubstanciaria por meio da 
aquisição da casa própria. Há apenas uma ex-
ceção, na qual esse enraizamento passa a fazer 
parte do projeto do imigrante, quando passa a 
desejar uma estabilidade para seu filho. Vale 
dizer que, mediante o desejo de que seu filho 
se integre à sociedade receptora, o imigrante 
suspende por um instante o provisório, e passa 
a cogitar, então, do pertencimento. A seguinte 
fala ilustra bem esse fenômeno:
Aí, esse é trabalho de estilista. Aí, se cobra muito 
mais. O meu dia de estilista é 500 reais o dia. Então, 
aí, eu comecei a pensar. Eu estou fazendo trabalho 
de estilista? Então eu vou estudar para estilista. E 
seja o que Deus quiser, eu vou fazer isso. E com esse 
dinheiro vou comprar uma casa. Pra que minha fi-
lha tenha estabilidade (Maria, boliviana, modelista, 
há 15 anos no país, Brás).
Maria, por exemplo, quer estudar para 
se tornar estilista e ganhar mais dinheiro, com 
o intuito de comprar uma casa própria e ofe-
recer estabilidade à sua filha. Segundo ela, a 
casa própria dá segurança e torna a vida mais 
simples. Ela diz que quer a casa própria para 
que nunca mais tenha de pensar em mudar de 
bairro, ou seja, para que nunca mais ela e a 
filha sejam deslocadas, em nomadismo cons-
tante. A ideia da fixação, da estabilidade, de 
aportar o barco e experimentar uma pátria me-
nos flutuante aparece apenas mediante o dese-
jo de integração da segunda geração.O mesmo 
fenômeno é ilustrado pela fala de um casal: 
Porque a gente tem um sonho né? [...] Um dia com-
prar uma residência pra gente, pelas crianças. Não 
por nós. Eles perguntam por que a gente se mudou. 
A gente começou a falar que era por causa do alu-
guel (Berenice, boliviana, costureira, há 17 anos no 
país, Grajaú).
Nesse depoimento está presente a ques-
tão do “nomadismo urbano”, pois o casal pro-
cura sair do aluguel, que faz com que eles te-
nham de se mudar. Percebe-se que eles dese-
jam esse enraizamento, não por eles, mas por 
causa dos filhos. Desvenda-se o mesmo desejo 
de integração de seus filhos na sociedade re-
ceptora, como na fala anterior. Portanto, ape-
nas mediante a preocupação com os filhos é 
que surge o desejo de se enraizar no país por 
meio da aquisição de uma moradia.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para concluir, constata-se que o sentido 
que a casa própria tem para esses imigrantes 
aponta para um desejo de que os seus filhos 
venham a “assimilar-se” (Truzzi, 2012). Ao di-
zerem que querem adquirir a casa para seus fi-
lhos, revelam que desejam a estabilidade para 
eles. A estabilidade é, nesse sentido, a motiva-
ção de que seus descendentes diretos venham 
a se integrar à sociedade receptora e sejam 
aceitos por essa sociedade. Ou seja, almejam 
que haja uma “mudança de fronteiras” (Truzzi, 
2012)7, que seus filhos se integrem plenamente 
à sociedade brasileira, e que esse processo não 
seja apenas uma “assimilação segmentada”8 
(Truzzi, 2012). Almejam para seus filhos algo 
que reconhecem que não poder atingir para si 
próprios. Nesse sentido, há um desejo de que 
seus filhos sejam vistos como brasileiros, não 
apenas como descendentes de bolivianos:
Pra minha filha [desejo] que ela seja aceita. Que 
ela se integre nessa sociedade. Ela é brasileira, pelo 
amor de Deus, discriminada em seu próprio país. 
Porque chamam a minha filha de boliviana. Bom, 
depreciativamente [pejorativamente]. (Maria, boli-
viana, modelista, há 15 anos no país, Brás).
Portanto, o significado que os bolivianos 
dão à casa própria demonstra que eles dese-
jam que seus filhos se integrem à sociedade 
receptora. Vale dizer, portanto, que a “ilusão 
do provisório” (Sayad, 1998) deixa de ter vi-
7 Uma “mudança de fronteiras” (Truzzi, 2012) ocorre quan-
do um grupo como um todo deixa de ser outsider para se 
tornar estabelecido (Elias; Scotson, 2000). É um processo 
lento e duradouro, que ocorre ao longo das gerações. 
8 A assimilação segmentada “enfatiza a consolidação de 
um determinado grupo como minoria prejudicada e mar-
ginal, impossibilitada de ascender socialmente” (Truzzi, 
2012, p. 547).
619
Fabio M. Serrano Pucci, Maura P. B. Véras
C
a
d
e
r
n
o
 C
r
H
, S
al
va
d
or
, v
. 3
2,
 n
. 8
7,
 p
. 6
09
-6
22
, S
et
./D
ez
. 2
01
9
gência quando a primeira geração de imigran-
tes bolivianos projeta uma estabilidade para a 
segunda geração. Estabilidade que não conse-
guem projetar para si mesmos (uma vez que 
a ideia do retorno está sempre presente), mas 
apenas para seus filhos, revelando a ambigui-
dade e a contingência de suas escolhas quanto 
a esse aspecto tão vital para sua sobrevivência 
na cidade.
Recebido para publicação em 12 de janeiro de 2018
Aceito em 27 de novembro de 2019
REFERÊNCIAS 
AGUIAR, M. E. Tecnologias e cuidado em saúde: a 
Estratégia Saúde da Família (ESF) e o caso do imigrante 
boliviano e coreano no bairro do Bom Retiro – SP. 2013. 
Dissertação (Mestrado em Ciências) - Faculdade de 
Medicina, Universidade de São Paulo.
AGUIAR, M. E.; MOTA, A. “Os imigrantes bolivianos e 
coreanos no bairro do Bom Retiro através das lentes do 
Programa Saúde da Família.” In: MOTA, A.; MARINHO, 
M. G. S. M. C. (Orgs.) Saúde e História de Migrantes e 
Imigrantes: direitos, instituições e circularidades. São 
Paulo: USP, Faculdade de Medicina: UFABC, 2014.
AZEVEDO, F. A. G. de. A presença de trabalho forçado 
urbano na cidade de São Paulo: Brasil/Bolívia. 2005. 
(Dissertação de Mestrado) - Programa de Pós-Graduação 
em Integração da América Latina (PROLAM), Universidade 
de São Paulo. 
BAENINGER, R.; SIMAI, S. Práticas discursivas da 
negação do racismo em São Paulo. In: ANPOCS, 35., 2010, 
Caxambu. Anais[...] Caxambu: ANPOCS, 2010.
BONDUKI, N. Origens da habitação social no Brasil: 
arquitetura moderna, Lei do Inquilinato e difusão da casa 
própria. São Paulo: Estação Liberdade: FAPESP, 1998. 
CAMARGO DE OLIVEIRA, G. A segunda geração de 
latino-americanos na Região Metropolitana de São Paulo. 
2012. Dissertação (Mestrado em Demografia) - Instituto 
de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade de 
Campinas.
CARNEIRO, S. de S. Tu mora onde? Território e produção 
de subjetividade no espaço urbano carioca. In: CARNEIRO, 
S. de Sá; SANT’ANNA, M. J. G. (Orgs.) Cidade, olhares e 
trajetórias. Rio de Janeiro: Garamond, 2009.
CASTELLS, M. O poder da identidade. São Paulo: Paz e 
Terra, 1999.
CHAMPAGNE, P. Uma família integrada. In: BOURDIEU, 
P. (Org.) A Miséria do mundo. Petrópolis: Vozes, 2012. p. 
103-16
DORNELAS, S. M. Para sair do confinamento: a experiência 
das visitas ás oficinas de costura de imigrantes bolivianos 
no quadro do projeto Somos Hermanos. Travessia – Revista 
do Migrante, São Paulo, n. 63, p. 20-25, 2009.
ELIAS, N.; SCOTSON, J. L. Estabelecidos e outsiders. São 
Paulo: Zahar, 2000.
FALEIROS, S. M. Universalidade e Políticas Públicas: 
a experiência dos imigrantes no acesso à saúde. 2012. 
Dissertação (Mestrado em Administração Pública e 
Governo) - Escola de Administração de Empresas de São 
Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO (FJP). Déficit habitacional 
no Brasil: 2015. Belo Horizonte: FJP, 2018.
FREIRE DA SILVA, C. Trabalho informal e redes de 
subcontratação: dinâmicas urbanas da indústria de 
confecções em São Paulo. 2008. (Dissertação de Mestrado)- 
Departamento de Sociologia, Universidade de São Paulo. 
FREITAS, P. T. Imigração e Experiência Social: o circuito 
de subcontratação transnacional de força-de-trabalho 
boliviana para o abastecimento de oficinas de costura 
na cidade de São Paulo. 2009. (Dissertação de Mestrado) 
- Departamento de Sociologia, Instituto de Filosofia e 
Ciências Humanas, Universidade de Campinas. 
HALL, S. Da diáspora: identidades e mediações culturais. 
Belo Horizonte: UFMG, Brasília: Representação da 
UNESCO no Brasil, 2003.
HUAYHUA, G. L. Primeira e segunda geração de jovens 
imigrantes argentinos, bolivianos e peruanos em São Paulo: 
um estudo psicossocial da identidade e aculturação. 2007. 
Tese (Doutorado em Psicologia Social) - Programa de Pós-
Graduação em Psicologia Social, Pontifícia Universidade 
Católica de São Paulo.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICa 
(IBGE): Censo demográfico: 2010 : famílias e domicílios : 
resultados da amostra. Rio de Janeiro, 2010. Disponível 
em: https://servicodados.ibge.gov.br/Download/Download.
ashx?http=1&u=biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/
periodicos/97/cd_2010_familias_domicilios_amostra.pdf. 
Acesso em: 02. 12. 2019.
ILLES, P.; TIMÓTEO, G. L. S.; FIORUCCI, E. da S. Tráfico 
de pessoas para fins de exploração do trabalho na cidade 
de São Paulo. In: Cadernos Pagu, Universidade de São 
Paulo, n.31, 2008.
JODELET, D.”Alteridade como produto e processo 
psicossocial”. In: ARRUDA, A. (Org). Representando a 
alteridade. Petrópolis: Vozes, 1998.
KHOURI, S. Mulheres bolivianas em um Hospital 
Público em São Paulo. 2010. Monografia (Especialização 
em Serviço Social) - Instituto de Ciências Humanas, 
Universidade de Brasília (UnB).
KOWARICK, L. Viver em risco: sobre a vulnerabilidade 
socioeconômica e civil. São Paulo: Editora 34, 2009.
MAGALHÃES, G. M. Fronteiras do direito humano à 
educação: um estudo sobre os imigrantes bolivianos 
nas escolas públicas de São Paulo. 2010. (Dissertação de 
Mestrado) - Faculdade de Educação, Universidade de São 
Paulo. 
MARQUES, E. Elementos conceituais da segregação, da 
pobreza urbana e da ação do Estado. In: MARQUES, E.; 
TORRES, H. (Orgs.) São Paulo:segregação, pobreza e 
desigualdades sociais, São Paulo: Editora Senac São Paulo, 
2005.
MARTINEZ, V. N. Equidade em saúde: o caso da 
tuberculose na comunidade de bolivianos no município 
de São Paulo. 2010. Dissertação (Mestrado em Saúde 
Pública)- Faculdade de Saúde Pública, Universidade de 
São Paulo.
MASCARO, L. D. M. “Imigrantes bolivianos: abordagem 
de direitos humanos ao direito ao desenvolvimento.” 
In: MOTA, A.; MARINHO, M. G. S. M. C. (Org.) Saúde e 
História de Migrantes e Imigrantes: direitos, instituições e 
circularidades. São Paulo: USP, Faculdade de Medicina: 
UFABC, Universidade Federal do ABC: CD.G Casa de 
Soluções e Editora, 2014.
MUNIZ, J. O. Um ensaio sobre as causas e características 
da migração. In: UFMG/Cedeplar/Demografia– Avaliação 
(Componentes de Dinâmica Demográfica), 2002. 
620
MORADIA PROVISÓRIA ENTRE BOLIVIANOS EM SÃO PAULO ...
C
a
d
e
r
n
o
 C
r
H
, S
al
va
d
or
, v
. 3
2,
 n
. 8
7,
 p
. 6
09
-6
22
, S
et
./D
ez
. 2
01
9
Disponível em http://www.ssc.wisc.edu/~jmuniz/ensaio_
migracao.pdf. Acesso em: 08. 05. 2014.
PAES, V. G. Trânsito de identidades e estratégias de 
negociação familiar:deslocamentos populacionais entre a 
Bolívia e o Brasil. 2011. Dissertação (Mestrado em História 
Social)- Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas 
(FFLCH), Universidade de São Paulo.
PASTERNAK, S. “Favelas: fatos e boatos”. In: KOWARICK, 
L.; FRUGOLI JUNIOR, H. (Orgs.) Pluralidade urbana em 
São Paulo, vulnerabilidade, marginalidade, ativismos. São 
Paulo: Editora 34/FAPESP, 2016 .
PATARRA, N. L. Migrações internacionais: teorias, políticas 
e movimentos sociais. Revista Estudos Avançados, São 
Paulo, v. 20, n. 57, p. 7-24, 2006.
PONTEDEIRO OLIVEIRA, L. R. Encontros e confrontos na 
escola: um estudo sobre as relações sociais entre alunos 
brasileiros e bolivianos em São Paulo. 2013. Dissertação 
(Mestrado em Educação) - Programa de Estudos Pós-
Graduados em Educação, Pontifícia Universidade Católica 
de São Paulo.
PRETURLAN, R. B. Mobilidade e classes sociais: o fluxo 
migratório boliviano para São Paulo. 2012. Dissertação 
(Mestrado em Sociologia) - Faculdade de Filosofia, Letras 
e Ciências Humanas (FFLCH), Universidade de São Paulo.
PUCCI, F. M. S. A Inserção dos Bolivianos nos bairros do 
Bom Retiro, Brás e Pari e a Produção da Alteridade: como 
são vistos pela vizinhança. Relatório Científico, São Paulo, 
CNPq. 316p, 2011.
_______. Bolivianos em São Paulo: redes, territórios e 
a produção da alteridade. 2013. Disponível em: http://
biblioteca.clacso.edu.ar/gsdl/collect/clacso/index/assoc/
D8902.dir/Pucci_trabajo_final.pdf. Acesso em: 12. 03. 
2014.
_______. Os bolivianos nos bairros do Bom Retiro, Brás, 
Pari e a produção da alteridade: como são vistos pela 
vizinhança. In: GRIMSON, A. (Org.) Culturas políticas y 
políticas culturales. Buenos Aires: Böll, 2014. v. 1, p. 47-
56.
_______. Viver “outramente”: moradia, condições de 
vida e a produção da alteridade dos bolivianos em São 
Paulo. 2016. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais)- 
Faculdade de Ciências Sociais, PUC-SP.
ROLNIK, R. São Paulo. São Paulo: Publifolha, 2001.
SANTOS, M. O espaço do cidadão. São Paulo: NOBEL, 
1987.
SASAKI, E.; M.; ASSIS, G. O. Teorias das migrações 
internacionais. In: ENCONTRO NACIONAL DA ABEP, 
XII., Anais[...], Caxambu, out. 2000. Disponível em: http://
www.abep.nepo.unicamp.br/docs/anais/pdf/2000/Todos/
migt16_2.pdf. Acesso em 11. 05. 2014.
SAYAD, A. A Imigração ou os Paradoxos da Alteridade. São 
Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1998.
SENNETT, R. O Declínio do homem público: as tiranias da 
intimidade. São Paulo: Cia. Das Letras, 1988.
SILVA, S. A. da. Costurando Sonhos – Trajetória de um 
grupo de imigrantes bolivianos em São Paulo. São Paulo: 
Paulinas, 1997.
________ . Clandestinidade e Intolerância: O caso dos 
Bolivianos em São Paulo. Travessia, São Paulo, n. 30, jan./
abr. 1998.
________ . Virgem/Mãe/Terra: festas e tradições bolivianas 
na metrópole. São Paulo: HUCITEC/ FAPESP, 2003.
________ . Bolivianos: A presença da cultura andina. São 
Paulo: Companhia Editora Nacional, 2005.
SILVEIRA, C. et al. Processos Migratórios e Saúde: uma 
breve discussão sobre abordagens teóricas nas análises 
em saúde dos imigrantes no espaço urbano. In: MOTA, 
A.; MARINHO, M. G. S. M. C. (Orgs.) Saúde e história 
de migrantes e imigrantes: direitos, instituições e 
circularidades. São Paulo: USP, Faculdade de Medicina; 
UFABC, 2014.
SILVESTRI, G. O caminho para a cidade: viagem e a 
condição estrangeira em relação ao transcurso espacial. In: 
LANNA, A. L. D. et al. (Orgs.) São Paulo, os estrangeiros e a 
construção das cidades. São Paulo: Alameda, 2011.
SIMONE, A. dos S. Os cortiços na paisagem do Brás 
e Belenzinho, São Paulo: um estudo de caso. 2014. 
Dissertação (Mestrado em Geografia Física) - Programa de 
Pós-Graduação em Geografia Física, Universidade de São 
Paulo.
SINGER, P. I. Desenvolvimento econômico e evolução 
urbana: análise da evolução econômica de São Paulo, 
Blumenau, Porto Alegre, Belo Horizonte e Recife. São 
Paulo: Editora Nacional, 1977.
SOUCHAUD, S. “Presença estrangeira na indústria das 
confecções e evoluções urbanas nos bairros centrais de 
São Paulo” In: LANNA, A. L. D. et al. (Orgs.) São Paulo, 
os estrangeiros e a construção das cidades. São Paulo: 
Alameda, 2011.
TIMÓTEO, G. L. S. Os trabalhadores bolivianos em 
São Paulo: uma abordagem jurídica. 2011. Dissertação 
(Mestrado em Direito) - Faculdade de Direito, Universidade 
de São Paulo.
TRUZZI, O. M. S. Redes em processos migratórios. In: 
LANNA, A. L. D. et al. (Orgs.) São Paulo, os estrangeiros e 
a construção das cidades. São Paulo: Alameda, 2011.
___________. Assimilação ressignificada: novas 
interpretações de um velho conceito. Dados, Rio de 
Janeiro, v. 55, n. 2, p. 517-553, 2012. Disponível em: http://
www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0011-
52582012000200008&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 
23. 12. 2015. Doi: http://dx.doi.org/10.1590/S0011-
52582012000200008.
VÉRAS, M. P. B. A vida em conjunto: um estudo da política 
da habitação popular. 1980. Dissertação (Mestrado em 
Ciências Sociais) - Pontifícia Universidade Católica de São 
Paulo.
___________.” Os impasses da crise habitacional em São 
Paulo ou os nômades urbanos no limiar do século XXI”. 
Revista São Paulo em Perspectiva, São Paulo, Fundação 
SEADE, v.1, n. 1, 1987.
__________. (Coord.) Da diáspora: identidades e mediações 
culturais. Estrangeiros na Metrópole: espacialização, 
trajetórias e redes de sociabilidade dos imigrantes em São 
Paulo. Relatório de Andamento. São Paulo: CNPq, 2000. 
346 p.
_________.Diver Cidade: territórios estrangeiros como 
topografia da alteridade em São Paulo. São Paulo: EDUC, 
2003a.
________. Novos nômades urbanos na cidade 
contemporânea: desigualdade e exclusão sociais. In: 
CHAIA, M.; SILVA, A.A. da (Org.) Sociedade, cultura e 
política: ensaios críticos. São Paulo: EDUC, 2003b. p. 323- 
367.
_________ (Coord.) Estrangeiros na metrópole: a produção 
da alteridade, cultura e territórios em São Paulo. Relatório 
de Andamento da Pesquisa. São Paulo: CNPq, 2003c.
___________. Alteridade e Segregação em São Paulo: 
habitações da pobreza e a produção do “OUTRO”. 
Vínculos e Rupturas. Projeto de Pesquisa aprovado pelo 
CNPq, período 2010-2014. 2009.
____________. Dimensões sociais das desigualdades 
urbanas: moradias da pobreza, segregação e alteridade 
em São Paulo. Revista Brasileira de Sociologia, Sociedade 
Brasileira de Sociologia, v.4, n.07, p.186-210, 2016a.
621
Fabio M. Serrano Pucci, Maura P. B. Véras
C
a
d
e
r
n
o
 C
r
H
, S
al
va
d
or
, v
. 3
2,
 n
. 8
7,
 p
. 6
09
-6
22
, S
et
./D
ez
. 2
01
9
_____________. “Segregação e alteridade na metrópole: 
novas e velhas questões sobre cortiços em São Paulo”. In: 
KOWARICK, L.; FRUGOLI, H. (Orgs.) Pluralidade urbana 
em São Paulo, vulnerabilidade, marginalidade, ativismos. 
São Paulo: Editora 34/FAPESP, 2016b. p. 111-140.
VIDAL, D. “Convivência,alteridade e identificações: 
brasileiros e bolivianos nos bairros centrais de São 
Paulo”. In: BAENINGER, R. (Org.) Imigração Boliviana no 
Brasil. Campinas: Núcleo de Estudos de População-Nepo/ 
Unicamp; Fapesp; CNPq; Unfpa, 2012. 316p. Disponível 
em: http://www.nepo.unicamp.br/textos/publicacoes/
livros/bolivianos/livro_bolivianos.pdf#page=10. Acesso 
em: 27. 08. 2014.
WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). Housing and 
health guidelines. Geneva: World Health Organization, 
2018.
WIEVIORKA, M. Em que mundo viveremos? São Paulo: 
Perspectiva, 2006. 
XAVIER, I.R. A Cidade de El Alto e os Fluxos de Bolivianos 
para São Paulo. Travessia, São Paulo, ano XXII, n. 63, jan./
abr. 2009.
___________. Projeto migratório e espaço: os bolivianos 
na região metropolitana de São Paulo. 2010. Dissertação 
(Mestrado em Demografia) - Instituto de Filosofia e 
Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas.
622
MORADIA PROVISÓRIA ENTRE BOLIVIANOS EM SÃO PAULO ...
C
a
d
e
r
n
o
 C
r
H
, S
al
va
d
or
, v
. 3
2,
 n
. 8
7,
 p
. 6
09
-6
22
, S
et
./D
ez
. 2
01
9
Fabio M. Serrano Pucci – Doutorando em Sociologia pela UFSCar, com bolsa FAPESP. Atua principalmente 
nos seguintes temas: alteridade, bolivianos, sírios, imigração, refúgio, racismo e segregação. Publicou, 
entre outros textos, o artigo “Bolivianos em São Paulo: territórios e alteridade”, na Revista PLURAL, Revista 
do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da USP, São Paulo, v. 24.2, 2017; e o capítulo de livro 
“Bolivianos: inserção desigual, territórios e alteridade”, no livro Constelações urbanas: Territorialidades, 
fluxos, manifestações estético-política, pela EDUC - Editora da PUC-SP, em 2018, ambos em coautoria 
com a Profa. Dra. Maura Pardini Bicudo Véras.
Maura P. B. Véras – Doutora em Ciências Sociais (Sociologia Política). Realizou seu Pós Doc, com 
apoio CAPES, junto ao Institut d’Études Politiques de Paris, Science Po, França. Professora Titular do 
Departamento de Sociologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Coordenadora do Programa 
de Estudos Pós Graduados em Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Líder do 
Núcleo de Estudos e Pesquisas Urbanos (NEPUR), certificado junto ao CNPq e membro do Observatório 
das Metrópoles-São Paulo, desenvolvendo pesquisas na linha de pesquisa Dinâmica Urbano-Regional, 
Planejamento e Políticas Públicas, na área de Sociologia da Cidade, Imigração, Alteridade, Habitação 
Social, Segregação, Desigualdades Sociais. Publicações recentes: Desigualdades urbanas, segregação, 
alteridade e tensões em cidades brasileiras. Jundiaí, Paco editorial, 2018; Desigualdades urbanas: algum 
marco conceitual?”. In VERAS, M: Desigualdades urbanas, op.cit. 2018; VÈRAS Maura; DINIZ, Luciano. 
Reestruturação metropolitana e dinâmicas imobiliárias: transformações recentes na região administrativa 
Venda Nova de Belo Horizonte-MG”, Cadernos Metrópole, v. 21, n. 44.São Paulo, Observatório das 
Metrópoles, EDUC, 2019. 
LOGEMENT PROVISOIRE PARMIS LES BOLIVIENS 
À SÃO PAULO: ambiguité et contingence
Fabio M. Serrano Pucci
Maura P. B. Véras
Cet article vise à refléchir sur la question du 
logement parmi les immigrés boliviens à São Paulo, 
cherchant à déterminer dans quelle mesure il existe 
une corrélation entre “l’illusion du provisoire” 
inhérente à la condition de l’immigré (Sayad, 
1998) et les formes précaires du logement dans la 
ville – des formes qui peuvent être définies comme 
des habitations de pauvreté et (ou) “ nomadisme 
urbain” (Véras, 2003b, 2016a). La recherche, en 
utilisant la combinaison de la méthode qualitative, 
des entretiens avec des Boliviens (dans les quartiers 
de Brás et Grajaú), et l’enquête quantitative des 
données du recensement démographique de l’IBGE, 
indique une interdépendance entre les formes 
précaires d’habiter des Boliviens et l’idée de leur 
présence provisoire ou temporaire dans le pays.
Mots clés: Immigration. Boliviens. Ville. Logement. 
Provisoire.
TEMPORARY HOUSING AMONG BOLIVIANS IN 
SÃO PAULO: ambiguity and contingency
Fabio M. Serrano Pucci
Maura P. B. Véras
This article approaches the housing conditions 
of Bolivian immigrants in São Paulo, inquiring 
to what extent there is a correlation between the 
“illusion of the provisional” – which is inherent to 
the immigrant’s condition (Sayad, 1998) – and the 
precarious housing solutions of these immigrants in 
the city, which can be defined as home of poverty 
and (or) “urban nomadism” (Véras, 2003b; 2016a). 
Both qualitative methods (mainly composed by 
interviews conducted with Bolivians in the districts 
of Brás and Grajaú) and quantitative methods 
(mainly composed by the study of the Demographic 
Census of IBGE) were used. The research findings 
show interdependence between the precarious 
housing solutions of these immigrants and the idea 
that they will only stay provisionally in this country. 
Keywords: Immigration. Bolivians. City. Housing. 
Provisional.

Outros materiais