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Maria Cristina Munhoz Araújo Maria de Nazareth Machado de Barros Vasconcellos Mariza Andrade Silva Teoria e Prática DA INSPEÇÃO ESCOLAR Te or ia e Pr át ic a D A IN SP EÇ ÃO E SC O LA R Teoria e Prática DA INSPEÇÃO ESCOLAR Fundação BibliotecaNacional ISBN 978-85-387-2944-0Código Logístico 30691 IESDE Brasil S.A. Curitiba 2012 Maria Cristina Munhoz Araújo Maria de Nazareth Machado de Barros Vasconcellos Mariza Andrade Silva Teoria e Prática da Inspeção Escolar © 2012 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais. Capa: IESDE Brasil S.A. Imagem da capa: Shutterstock CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ ______________________________________________________________________________ A687t Araújo, Maria Cristina Munhoz Teoria e prática da inspeção escolar / Maria Cristina Munhoz Araújo, Maria de Naza- reth Machado de Barros Vasconcellos, Mariza Andrade. - Curitiba, PR : IESDE Brasil, 2012. 176p. : 24 cm Inclui bibliografia ISBN 978-85-387-2944-0 1. Escolas - Organização e Administração. 2. Gestão de qualidade total na educação. 3. Democratização da educação. I. Título. 12-4806. CDD: 371.2 CDU: 371.2 10.07.12 24.07.12 037271 ______________________________________________________________________________ IESDE Brasil S.A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br Todos os direitos reservados. Pós-graduada em Administração Pública – Cipad Executivo – pela Funda- ção Getulio Vargas (FGV/RJ). Graduada em Pedagogia com Habilitação em Super- visão Escolar pela Fundação Educacional Unificada Campograndense (FEUC/RJ). Licenciada em Letras Português-Literatura pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Maria de Nazareth Machado de Barros Vasconcellos Mariza Andrade Silva Especialista em Deficiência em Audiocomunicação pelo Instituto de Educa- ção do Paraná e em Educação Infantil pela Universidade Federal do Paraná. Gradu- ada em Pedagogia pela Universidade Estadual do Oeste Paulista. Mestre em Educação pela PUCPR – Área de Gestão da Educação. Especialista em Tecnologia de Projetos Educacionais pela UFPR. Pedagoga com habilitação em Administração Escolar. Autora de material didático para pós-graduação em Gestão Educacional e para Educação Infantil. Professora de pós-graduação nas áreas de Gestão da Educação, Educação Infantil e Séries Iniciais. Sócio-fundadora (1995) e diretora (1997 a 2006) da Escola Cidadã (Curitiba-PR). Maria Cristina Munhoz Araújo Sumário Inspeção escolar ou como gerir a educação .................. 11 O fazer da inspeção escolar ................................................................................................... 13 Visão complementar ................................................................................................................ 15 O gestor escolar ........................................................................ 29 Quem é o gestor escolar? ....................................................................................................... 29 Qual o perfil desejado? ........................................................................................................... 30 O líder: características, estratégias e práticas .................................................................. 32 Do radicalismo do educador à realidade socioeconômica: como adaptar? .......... 39 Pensar e construir uma escola ............................................. 49 Concepção política e pedagógica ....................................................................................... 49 A educação é um ato político ............................................................................................... 50 Conhecer e buscar a construção de uma nova escola ................................................. 52 Organizando e estruturando a escola ............................... 63 Estrutura pedagógica .............................................................................................................. 68 Estrutura física ............................................................................................................................ 69 Estrutura administrativa e financeira ................................................................................. 71 Documentação legal e fluxo da informação ................. 89 Alguns princípios ....................................................................................................................... 89 Documentação e fluxo ........................................................................................................... 97 Participação da comunidade na gestão escolar .........111 Condicionantes da participação na gestão da escola ................................................112 A questão da liderança do diretor da escola .................................................................120 Gestão contemporânea: sistemas, escolas e projetos ..................................................................................129 Os papéis da administração, da supervisão e da orientação no plano pedagógico ............................................................................131 Gestão de projetos X gestão educacional ......................................................................138 Planejamento e avaliação institucionais ........................145 Princípios teóricos ...................................................................................................................146 Planejamento educacional ..................................................................................................147 Avaliação institucional: ferramenta para a tomada de decisão ..............................157 Apresentação Atualmente já é costumeira a afirmação de que estamos – tanto a so- ciedade como o indivíduo – em constante mudança. Há mesmo quem (acertadamente) sustente que o nosso único elemento permanente é a impermanência, é o fato de tudo estar em constante transformação: tudo muda o tempo todo no mundo. Isso vale inclusive para o mundo da educação. A escola se transforma juntamente com seus protagonistas – o aluno, o professor e os demais componentes da equipe tecnopedagógica. Assim, se em outras épocas a função do inspetor escolar era a de um mero fiscal, ainda que dotado de enorme poder (como um feitor), hoje ele tem sua atuação ampliada, integrando-se aos outros profissionais da equipe, em uma gestão escolar mais democrática. Ele está atento tanto ao cumprimento das leis educacionais como ao cotidiano do fazer peda- gógico, uma vez que todo sistema de ensino tem como preocupação pri- meira e finalidade última o aluno e o processo de ensino e aprendizagem, destinado justamente ao aluno. Se não for assim, o sistema de ensino não está cumprindo o seu papel, isto é, não está acontecendo esse evento, de tantas repercussões na sociedade, que chamamos de educação. Neste material, veremos a inspeção escolar no seu panorama histórico e em sua interface com outros aspectos da gestão escolar, o cuidado com a documentação legal da educação, a organização da escola, o diálogo do estabelecimento de ensino com a sua comunidade, gestão contemporâ- nea, planejamento e avaliação. Fundamentalmente, esta é uma obra sobre a identidade do inspetor escolar e seu papel na gestão da educação. Mariza Andrade Silva Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, Muda-se o ser, muda-se a confiança; Todo o mundo é composto de mudança, Tomando sempre novas qualidades.Luís de Camões A sociedade se transformou de maneira bastante intensa nas últimas décadas. Mudanças em vários sistemas, tais como a política, a tecnolo- gia, as comunicações, a saúde, as ciências, o clima, interferindo no coti- diano das cidades e das populações. Ainda, mudanças na forma de gerir os países, no sistema capitalista, na democracia, foram várias transforma- ções, que provocaram outro percurso social. Um novo caminhar social se fez e continua se fazendo em constantes modificações, que levam a novas consciências, inclusive sobre os assuntos mais arraigados, como a tradição e a cultura. Essas alterações também geraram reflexos no sistema de ensino e, consequentemente, na instituição escolar. Fala-se da qualidade e da pro- dutividade da escola pública. O discurso oficial assegura que atingimos a quantidade, restando atingir um patamar melhor de qualidade. Educação se faz com discernimento, trabalho participativo, pesquisa, determinação, visando dar aos alunos instrumentos necessários e importantes para a vida produtiva e o exercício da cidadania, sem falar no convívio harmo- nioso e fraternal. Isabel Alarcão nos faz refletir sobre outro prisma quanto às mudanças ao abordar o papel do educador reflexivo: Assiste-se hoje a uma forte inadequação da escola para fazer face às demandas da sociedade. Diante das rápidas convulsões sociais, a escola precisa abandonar os seus modelos mais ou menos estáticos e se posicionar, dinamicamente, aproveitando as sinergias oriundas das interações com a sociedade e com as outras instituições e fomentando, em seu seio, interações interpessoais. A mudança de que a escola precisa é uma mudança paradigmática. Porém, para mudá- -la é preciso mudar o pensamento sobre ela. É preciso refletir sobre a vida que lá se vive, em uma atitude de diálogo com os problemas e as frustrações, os sucessos e os fracassos, mas também em diálogo com o pensamento, o pensamento próprio e o dos outros. (ALARCÃO, 2001, p. 15) Inspeção escolar ou como gerir a educação 11 Vídeo 12 Inspeção escolar ou como gerir a educação Todos esses elementos nos levam a refletir sobre a função primordial da escola em um mundo que exige cada vez mais da educação: possibilitar o ensino e a aprendizagem dos alunos. Essa função é diretamente atrelada ao trabalho dos professores, que têm um papel fundamental, sendo a gestão do ensino consti- tuída por um corpo maior de atores. Diz-se que é a gestão da ensinança que leva ao desenvolvimento, ou não, da função social da escola e dos dispositivos das políticas educacionais, assim como se constitui importante fonte de subsídios para as novas políticas públicas. A gestão da educação constitui-se dimensão importantíssima do sistema de ensino, cujo objetivo final é a aprendizagem efetiva e significativa dos alunos, de modo que, entre muitas outras habilidades necessárias para a vida responsável (LÜCK, 2000), eles: � desenvolvam o pensar criativamente, o analisar informações e proposi- ções diversas de maneira contextualizada, o expressar ideias com clareza; � empreguem a aritmética e a estatística para resolver problemas; e � sejam capazes de tomar decisões fundamentadas e resolver conflitos. Assim, tornam-se mais encorpadas e importantes a gestão da escola e a atua- ção dos seus profissionais. Esse desafio só se torna ação quando todos os atores efetivam as funções necessárias nos vários campos da gestão. A base da escola está na equipe gestora e nela um papel fundamental é desempenhado pela ins- peção escolar. Ao falarmos em gestão, falamos de participação e de democracia, nos termos dos dispositivos constitucionais. A ideia de participação diz respeito ao trabalho conjunto de pessoas decidindo sobre o encaminhamento de situações e pro- postas, agindo sobre elas. Portanto, as instituições de ensino devem estabele- cer um relacionamento com a sociedade em geral e estar disponíveis para as demandas e anseios dessa comunidade. Para isso, devem buscar meios de par- ticipação, com cada segmento podendo expressar suas ideias e necessidades. Também cabe às instituições preparar a comunidade escolar para um modelo de gestão compromissada no qual o seu staff articule a participação de todos. A inspeção escolar faz parte da administração da educação e ao longo da histó- ria suas funções transitaram entre a fiscalização burocrática e a democrática, entre- meando-se nos fazeres escolares em consonância com as políticas educacionais.1 1 A inspeção como uma forma de controle surgiu no Ratio Studiorum, no Plano Geral dos jesuítas, e passou a vigorar em todos os colégios da Com- panhia de Jesus a partir de 1599 (SANTOS, 2009). Inspeção escolar ou como gerir a educação 13 Nota-se, historicamente, a polivalência da função do inspetor de ensino: [...] a inspeção passou a ser anunciada na fala do poder Executivo provincial como um meio capaz de solucionar os problemas do ensino público elementar. Assim, na década de 1840, o presidente da província anunciava que a inspeção escolar viria concorrer para a solução de questões como a negligência dos pais, da qual decorria a baixa frequência às aulas e a falta de respeito aos mestres. Continuando sua fala, afirmou que isso, somado à inspeção exercida sobre a conduta dos professores no ensino, muito concorreria para que não fosse inutilmente despendida a não pequena soma anualmente votada para esse ramo tão importante do serviço público. A fala oficial enaltecia a inspeção escolar anunciando que ela não poderia ser paga com dinheiro algum, declarando que o reconhecimento do país era o único galardão compatível com a importância desse serviço. [...] quando a legislação determinava que cabia aos encarregados da inspeção escolar dar aos professores todas as instruções [...] que necessitassem para o desempenho de suas funções, como também propor os métodos de ensino, [...] o regime e a disciplina a ser adotada nas escolas. (GONÇALVES, 2012) A palavra inspeção vem do latim ínspectìó, ónis – “ação de olhar; exame, observação”. Conforme o dicionário Houaiss (2009), inspeção é o “ato ou efeito de inspecionar; exame, vistoria, inspecionamento; ato ou efeito de fiscalizar; fiscalização, supervisão, observação (de algo) com o fim de verificar seu estado ou funcionamento; vistoriar, por extensão de sentido, observar com grande atenção; olhar minuciosamente”. Nessa esteira, a inspeção escolar tem hoje a função de supervisionar os as- pectos administrativos e pedagógicos e os entrelaçamentos entre o sistema de ensino2 e a instituição escolar. Suas atribuições são designadas pelos próprios sistemas de ensino e efetivadas por todos os profissionais da educação. Como a designação depende dos sistemas de ensino, a função pode variar para o campo mais administrativo ou mais pedagógico. O fazer da inspeção escolar O cargo de inspetor escolar compõe a equipe tecnopedagógica, seja dentro da instituição escolar ou na administração do ensino, como nas secretarias de educação. Tem a missão de colaborar no processo de ensino e aprendizagem, faz parte da gestão da educação escolar. A função precípua da inspeção escolar 2 O sistema de ensino compreende a organização e a articulação das instituições, dos órgãos e atividades de educação e ensino dos municípios, dos estados e do Distrito Federal e da União, conforme definido pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). 14 Inspeção escolar ou como gerir a educação é a de assessorar a gestão pedagógica quanto à metodologia do ensino e prestar contínua assistência didático-pedagógica aos docentes, quando o inspetor atua no interior da instituição escolar. O profissional da inspeção escolar foi reiterado pela Lei Federal 9.394/96, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), constando entre os profis- sionais da educação, junto com a administração, o planejamento, a orientação e a supervisão. Desse ponto em diante, os sistemas de ensino destinaram nova atenção à função e à posição do inspetorno quadro de gestão da educação, seja no estado ou no município: [...] com base na mesma Lei 9394/96, tendo em vista o processo de redemocratização do ensino e a autonomia que foi concedida às escolas, alguns estados brasileiros preferiram excluir de seus quadros, nas Secretarias de Educação, os cargos de inspetor escolar substituindo-os por supervisor de ensino, supervisor pedagógico, supervisor escolar, ou, simplesmente, deixando os serviços antes realizados por inspetores a cargo de profissionais lotados nas Secretarias de Educação e nomeados, temporariamente, sob o regime de cargo de confiança. (SANTOS, 2009) Pode-se afirmar que a supervisão e a inspeção são os dois lados de um mesmo cargo, tendo como amparo Dermeval Saviani (2002, p. 16), que aponta a função de supervisão3 como a atitude de cuidar, acompanhar, controlar e vigiar, que pode ser entendida como supervisionar os atos da criança. Portanto, o que a criança faz na escola é de responsabilidade da ação docente, que é levada a efeito pelo próprio docente. A função docente e o aparato para sua execução são da conta da inspeção escolar. Elucidando: a posição do inspetor está relacionada à história dos sujeitos que exercem esse papel. Seu status se firma pela luta empreendida por grupos de inspetores, que demarcaram e ainda demarcam seu posto e seu valor dentro dos sistemas de ensino. A história apresenta que aos inspetores do século XIX e XX cabia estritamente a fiscalização das ações educativas, que eram relatadas detalhadamente, sendo considerado um inspetor competente aquele que fosse mais minucioso em seu relatório (SANTOS, 2009). As principais atribuições eram vigiar, fiscalizar, com- parar resultados das escolas e relatar esses resultados ao órgão competente de maneira menos vinculada ao fazer pedagógico e mais obediente ao sistema na- cionalista, dentro do ideal das Luzes.4 3 Por meio da reforma universitária disposta pelo Parecer 252/69, com base na Lei Federal 5.540, de 28 de novembro de 1968, após o golpe militar de 1964 foram estabelecidas as habilitações técnicas, sendo chamados os especialistas em educação para as atribuições de supervisor, orientador, administrador e inspetor do sistema de ensino. Essa lei provocou mudanças profundas na formação de professores e especialistas em educação (FERREIRA; FORTUNATO, 2012). 4 Considerando-se a história europeia, o denominado Século das Luzes corresponde ao século XVIII, mas na historicidade brasileira foi no século XIX que as ideias da iluminação – as Luzes – ganharam espaço e força. Havia que se disseminar um ensino que civilizasse e concedesse cidadania, entendida como o direito civil de se reconhecer como brasileiro, pertencente a uma sociedade de classes, sujeito a leis e não a vontades individuais, com um espírito nacionalista, ou melhor, pertencendo à nação, ao Brasil. O desenvolvimento intelectual passaria pela moralização das pessoas, freando-lhes os instintos e lhes imprimindo costumes moderados, a tranquilidade pública se instalaria pelo equilíbrio e a sobriedade do povo ins- truído. A universalização da instrução era uma necessidade posta pela civilização à época de difusão das luzes, havendo a crença de que para não desencadear conflitos a instrução precisaria estar ligada ao cultivo da virtude. Inspeção escolar ou como gerir a educação 15 Destaca-se que no estado do Paraná o inspetor de ensino vigorou até a década de 1970. Atualmente, estados como Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Mato Grosso, entre outros, possuem em seu corpo administrativo inspetores/supervisores escolares nos atuais moldes da gestão democrática e participativa. Com a nova LDB, foram aprovadas as Diretrizes Curriculares para o Curso de Pedagogia.5 Além de dar ênfase à docência na Educação Infantil e nos primei- ros anos do Ensino Fundamental, elas ressaltam as habilitações, chamadas de campos de atuação do pedagogo: administração, planejamento, orientação, su- pervisão e inspeção. A inspeção escolar, hoje, relaciona-se com vários fatores do processo de- mocrático da comunidade escolar – mas nem sempre foi assim. Como vimos anteriormente, a expressão inspeção escolar nos remete à história, aos tempos coloniais, de modo que o ato de inspecionar nos lembra fiscalizar, observar, exa- minar, verificar, olhar, vistoriar, controlar, vigiar… Atualmente, agrega-se à função de inspetor escolar a estreita ligação entre outros órgãos do sistema de ensino, quer sejam secretarias ou regionais, para garantir a aplicação legal do regime democrático. Por isso, o inspetor deve ter uma visão abrangente de participação e democracia, bem como dos aspectos administrativos, financeiros e pedagógicos das escolas, atuando inclusive como agente social e político. E ainda cabe a ele, como agente produtivo no processo educacional, ser um pesquisador dentro do contexto escolar, fazendo com que todos se sintam integrados e responsáveis pelo sucesso escolar, detectando ne- cessidades e fomentando estudos para a melhoria do ensino. Visão complementar Considerando-se a importância da atuação do inspetor escolar, são neces- sárias ainda outras considerações sobre as funções desse profissional nas ins- tituições escolares. Cabe ao inspetor escolar verificar e acompanhar o pessoal docente e discente quanto à veracidade e à atualização da escrituração e da organização escolar. Destaca-se que seu papel na administração do sistema de ensino não foge da mesma premissa. Esses procedimentos promovem segurança no processo dos arquivos (fichas individuais, diários de classe, atas, relatórios, documentos legais da instituição e 5 O Parecer CNE/CP 03/2006 (Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/pcp003_06.pdf>) e a Resolução CNE/CP 01/2006 (Dispo- nível em: <http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/rcp01_06.pdf>), do Conselho Nacional de Educação, tratam das diretrizes curriculares para o curso de Pedagogia. 16 Inspeção escolar ou como gerir a educação de cursos, entre outros) e resguarda sua legalidade e sua integridade. Os arqui- vos devem servir de acervo para a situação funcional dos servidores e para as pesquisas científicas, as quais são muito disseminadas na academia atualmente. O mesmo deve acontecer com os documentos da vida escolar dos alunos, que devem estar organizados e disponíveis na instituição escolar de origem para servir aos interesses dos alunos sempre que necessário – como no caso de expe- dição de uma segunda via do histórico escolar. Em outro aspecto, as tarefas do inspetor não se limitam, evidentemente, à aplicação de normas, à guarda de documentos, pois também abrangem ações ligadas a revisões ou mudanças na legislação. Com uma visão crítica e global do sistema de ensino, a função de inspeção escolar deve contribuir para a administração do sistema educacional, dando conhecimento das consequências da aplicação das normas e leis educacionais, informando sobre a aplicação das reformulações das leis, fazendo com que o órgão normatizador legisle sob o ponto de vista da ensinança. Ou seja, o inspetor converte o conteúdo ideológico da legislação do ensino em diretrizes e instruções capazes de orientar a ação dos operadores do sistema. Portanto, o inspetor é um agente político. Dentro do processo democrático, é de fundamental importância social a função do inspetor, pois ele é a presença, representação ou ação do Estado, do órgão executivo ou normativo in loco, nas instituições escolares, sem a função fiscalizadora de antigamente. No processo democrático, ainda em construção no ambiente educacional, a função do inspetor é captar os efeitos da aplicação da norma com o objetivo de promover a adequação do legal para o real e vice-versa, tendo essa ação um cunho informativo sobre a aplicabilidade dos ditames legais e das orientações para as bases do sistema. Sabe-se que as transformações sociais têm reflexo imediato na escola. As ocorrências econômicas, estruturais e sociais geram mudanças na instituiçãoes- colar, como também no currículo, na ação docente e nas funções pedagógicas. Além do seu fazer pedagógico, muitas funções são delegadas à escola, que é instada a enfrentar muito mais: [...] hoje é uma escola de contradições: escola para todos, mas simultaneamente escola que não pode deixar de preparar elites, escola da igualdade, mas simultaneamente da competitividade, escola de massas, mas igualmente de apelo à qualidade, escola igualitária, mas seletiva, escola aberta à sociedade, mas trazendo para o seu seio os problemas da sociedade, escola com formando e formadores, mas em que os próprios formadores têm de assumir-se como formandos, escola de professores que não podem deixar de ter a autoridade Inspeção escolar ou como gerir a educação 17 que vem fundamentalmente de seu saber, mas que, por outro lado, têm de admitir que seus alunos possuem hoje capacidades que eles próprios não desenvolveram. São esses alguns dos dilemas que se colocam ao professor e à escola. (ALARCÃO, 2002, p. 32) É notório que os profissionais que atuam nessa escola multifuncional desem- penham também muitos papéis. A escola parece um mosaico, no qual os profes- sores são as pedras, que, mesmo diferentes, precisam estar articuladas, unidas pela mesma função que têm a desempenhar (ALARCÃO, 2002, p. 33). Questiona-se: a quem cabe realizar a liga, a articulação entre essas pedras? O responsável por essa função articuladora, além do gestor, é o inspetor es- colar, promovendo atividades coletivas de estudos, estimulando oportunidades, articulando o pedagógico e o administrativo com uma postura democrática, porém acentuando as questões pedagógicas. A inspeção escolar compõe a gestão democrática da educação, sendo igual- mente responsável pelo “controle” das políticas públicas que necessitam ser de- senvolvidas com qualidade e construídas coletivamente no espaço escolar. Texto complementar A transição da função do inspetor escolar é explicitada neste texto – que, na sua íntegra, apresenta vários aspectos do seu histórico em Minas Gerais. Tecendo algumas considerações sobre as mudanças na inspeção escolar (SANTOS, 2012) [...] as características da função da inspeção escolar, no Brasil, de fiscali- zar e controlar as ações pedagógicas e administrativas das escolas estive- ram presentes desde o período imperial até a década de 1970. Tratava-se, portanto, de uma forma de trabalho que atendia aos interesses do Estado, reproduzindo, assim, os ideais políticos de cada época. Com isso, a inspe- ção era considerada de suma importância, por representar os interesses político-educacionais, no que tange à implementação das inúmeras refor- mas educacionais que surgiram durante esse período. Os profissionais que assumiam esse cargo eram considerados de confiança do governo (esse era o principal critério) e, às vezes, ligados de alguma forma à educação. Assim, 18 Inspeção escolar ou como gerir a educação durante muito tempo, o inspetor foi considerado a autoridade máxima da escola, com uma atuação rígida e autoritária. Tais características baseavam- -se naquelas de criação dessa função em um período em que o Estado lutava pela centralização do poder, principalmente, no setor educacional. Observa-- -se que, mesmo não havendo uma sistematização do ensino, havia inspeto- res designados pelo Estado para fiscalizar e controlar as ações, diretamente no ensino público e indiretamente na educação privada. Nesse contexto, pode-se afirmar que o inspetor foi um dos primeiros agentes do Estado a fim de uniformizar as práticas educativas, implantar métodos importados da Europa e transferir o monopólio da educação para a esfera pública. Aos ins- petores cabia estritamente a fiscalização das ações educativas, o que pode ser comprovado por meio de registros e relatórios que, quanto mais minu- ciosos e detalhados, mais competente era considerado o inspetor que os redigia. Suas principais atribuições nesse período eram: observar, vigiar, fis- calizar, bem como comparar resultados das escolas e relatar esses resultados ao órgão competente. No Brasil República, várias reformas foram normatizando a educação su- perior, o ensino secundário e o elementar. Nessas normatizações a inspeção permanecia sendo vista como elemento fiscalizador e controlador das ações educacionais. Nota-se a diferenciação na atuação dos inspetores quanto ao tipo de ensino. Inicialmente, a inspeção do Ensino Superior nas escolas sub- vencionadas era feita por um inspetor geral, sendo este remunerado pela União. Nos municípios onde havia escolas subvencionadas, o inspetor esta- dual indicava uma pessoa idônea para inspecionar os municípios, em que o cargo era considerado de relevância, mas sem remuneração salarial. Dessa forma, pode-se observar um direcionamento maior nas atribuições dos IEs nesse início da República, que iam desde a análise da documentação relativa à escrituração escolar e funcionamento regular das instituições de ensino até a preocupação com a moralidade na distribuição de notas, o que sugere haver irregularidades nesse setor, necessitando da “vigilância” especializada de um inspetor. Além disso, as primeiras atribuições voltavam-se para a fis- calização das matérias constantes dos programas, o rigor de aplicação de provas, a forma de escolha do corpo docente e a elaboração de relatórios para a equiparação de escolas ao ensino oficial. Inspeção escolar ou como gerir a educação 19 A década de 1930 pode ser considerada um marco no desenvolvimento da educação e também na oficialização do cargo de inspetor escolar. Isso se deve especialmente a dois decretos: 19.890/31 (que organiza o ensino primário) e 21.241/32 (que consolida essa organização). O primeiro estabe- leceu uma posição fiscalizadora no serviço de inspeção, tendo em vista a ri- gidez que foi imposta aos inspetores: visitas frequentes às escolas; assistir às aulas dos professores; assistir aos exercícios e trabalhos práticos dos alunos; acompanhar a realização de provas parciais; de provas finais, podendo ainda arguir, atribuir notas aos alunos e até mesmo modificar questões, quando entendesse necessário. O segundo normatizou o serviço de inspeção, apre- sentando aquela que pode ser considerada a primeira organização ou plani- ficação da carreira. Por este decreto o cargo de inspetor é distribuído entre: inspetor de estabelecimento (observância dos dispositivos legais, meta re- lativa ao aperfeiçoamento do ensino, revisão das provas parciais e finais da instituição); inspetor-assistente (adaptação de programas, organização de testes, visita constante aos estabelecimentos da inspetoria regional); ins- petor regional (a ocupação principal era fiscalizar e orientar os serviços dos inspetores, manter em ordem e em dia os fichários da inspetoria, solucionar problemas, julgar provas parciais, visitar estabelecimentos da inspetoria re- gional, emitir mensalmente relatórios, prover cargos mediante concursos de provas, fixar residência na sede da Inspetoria Regional); e os assistentes e regionais (para quem eram distribuídos os serviços e o número de visitas às escolas de maneira conveniente às demandas existentes). A partir de 1942, com a Lei Orgânica do Ensino Primário, os estados e o Distrito Federal ficaram responsáveis pela criação e fiscalização do ensino pri- mário. Com as Leis 4.024/61 e 5.692/71 é estendida aos estados e ao Distrito Federal a responsabilidade de toda a Educação Básica, bem como a incumbên- cia de inspecionar e reconhecer os cursos mantidos por eles. Mais tarde, essa prerrogativa é ampliada, com os municípios tornando-se sistemas de ensino autônomos, a partir da publicação da Lei 9.394/96, passando a manter os seus próprios inspetores escolares. Ou seja, dessa forma, cada sistema de ensino passou a organizar o seu próprio serviço de inspeção escolar. Por outro lado, com base na mesma Lei 9.394/96, tendo em vista o pro- cesso de redemocratização do ensino e a autonomia que foi concedida às 20 Inspeçãoescolar ou como gerir a educação escolas, alguns estados brasileiros preferiram excluir de seus quadros, nas Secretarias de Educação, os cargos de inspetor escolar substituindo-os por supervisor de ensino, supervisor pedagógico, supervisor escolar, ou, simples- mente, deixando os serviços antes realizados por inspetores a cargo de pro- fissionais lotados nas Secretarias de Educação e nomeados, temporariamen- te, sob o regime de cargo de confiança. [...] Com o advento da Lei Federal 9.394/96, a inspeção aparece, ainda, lista- da entre os profissionais da educação. Com a aprovação das DCNs para o curso de pedagogia, Parecer CP/CNE 03/2006 e Resolução CEB/CNE 01/2006, a ênfase nos cursos de pedagogia passa a ser a docência na Educação Infantil e nos primeiros anos do Ensino Fundamental. Dessa forma, as habilitações específicas são diluídas no curso de pedagogia, agora chamadas de campos de atuação do pedagogo. As consequências da implantação das medidas constantes na legislação em vigor podem ser consideradas tanto positivas quando dificultadoras da permanência do inspetor escolar nos sistemas de ensino. Se por um lado, não havendo mais habilitações específicas, todo pedagogo está apto a ser um inspetor escolar, o que daria um perfil mais abrangente a esse profissio- nal, pois ele seria necessariamente um docente da Educação Infantil e das primeiras séries do Ensino Fundamental, por outro lado, essa junção reforça o papel dos cursos de pós-graduação lato sensu para essa formação, pois os profissionais da educação teriam que buscar nestes cursos a habilitação específica para a função de inspetor escolar. Tal fato pode comprometer a importância do trabalho dos IEs, uma vez que qualquer graduado pode se habilitar nessas especialidades através de um curso de pós-graduação, sem ter a formação básica obtida no curso de pedagogia. [...] Nessa época, o processo de democratização da educação estava em evi- dência, portanto, não cabia mais uma inspeção apenas fiscalizadora, ou seja, um profissional que somente visitava as escolas, mas tornava-se necessário um serviço de inspeção escolar, no qual os IEs participassem como educa- dores do cotidiano das instituições sob a sua responsabilidade. Tratava-se, portanto, de buscar reconstruir o perfil profissional dos inspetores tornando- Inspeção escolar ou como gerir a educação 21 -os mais críticos, democráticos e engajados na luta pela autonomia da escola, como mediadores do próprio sistema de ensino. Pode-se ressaltar que essa mudança é um processo lento e que não pode ser considerado pronto e acabado por meio apenas de alterações na legislação educacional, uma vez que a influência das posturas relacionadas ao inspetor burocrata, fiscalizador e temido, foram presentes ao longo de muitas décadas. Nesse sentido, para que tais mudanças aconteçam de fato, fazem-se necessárias muitas discussões, encontros, debates, para que, não só o inspetor, mas também o próprio sistema de ensino esteja voltado para ações mais democráticas pautadas nos interesses da escola, de acordo com a realidade de cada uma, atendendo, assim, aos interesses e demandas da comunidade educacional. [...] Observa-se que, hoje, o IE busca realizar o seu trabalho dentro de uma postura mais democrática, porém não perdeu, em sua totalidade, o caráter fiscalizador que, às vezes, o próprio sistema impõe. Segundo a fala dos pró- prios IEs, a forma como esse trabalho atualmente se desenvolve, já apresenta alguns diferenciais, pois não se pauta mais em apenas detectar os desvios e denunciá-los, mas também se preocupa com aspectos preventivos, correti- vos e de assessoramento. [...] Por outro lado, essa reorganização se faz carregada de conflitos e tensões, os quais são característicos do próprio grupo de inspeção escolar, tendo em vista as especificidades do cargo. Essas especificidades de trabalho e com- plexidades de perfil exigem dos inspetores uma visão ampliada dos assun- tos educacionais, assim como uma postura crítica, questionadora e estudio- sa das normas e das políticas públicas, para que possam exercer com eficácia e eficiência a sua função, dentro de uma postura ética e moral. [...] a permanência da palavra não significa a continuidade do simbolismo associado à função, assim como o simples acréscimo de adjetivos decretados por leis e portarias não fará dos IEs sujeitos mais democráticos, ou mais volta- dos para a discussão e para o planejamento de políticas educacionais direcio- nadas para os interesses da sociedade. É preciso muito mais do que isso. 22 Inspeção escolar ou como gerir a educação Dica de estudo BERGAMINI, Cecilia Whitaker. Motivação nas Organizações. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2006. Sugere-se a motivação acompanhada de liderança como um tema impres- cindível para a equipe de gestão da educação. Tal tema desperta interesse desde A República, de Platão, perpassando várias discussões ao longo dos séculos. A autora descreve a insatisfação motivacional quando os sujeitos são colocados em ridículo perante o grupo; precisam seguir normas e horários rígidos; sentem- -se socialmente colocados de lado e estão em um ambiente sério demais, em que as pessoas se atritam constantemente. De acordo com Bergamini, esses quatro estilos estão presentes ao mesmo tempo em todas as pessoas, sempre com a predominância de um deles. Atividades 1. No campo da educação, a gestão da ensinança leva ao desenvolvimento da fun- ção social da escola e dos dispositivos das políticas educacionais. Em que deve estar ancorada a gestão do ensino? Cite alguns elementos desse processo. 2. Segundo a abordagem histórica, nos séculos XIX e XX aos inspetores de ensino cabia unicamente relatar as ações educativas, em uma função fiscalizadora. Nomeie outras funções que o inspetor escolar desempenha atualmente. Inspeção escolar ou como gerir a educação 23 3. De que forma o inspetor escolar pode ser visto como um agente político da educação? Aponte alguns elementos desse paradigma. 24 Inspeção escolar ou como gerir a educação Referências AHMAD, Laila Azize Souto; TOMAZZETTI, Cleonice Maria. Supervisão Edu- cacional e a Educação Infantil: uma interlocução de ações para a infância. Disponível em: <http://editora.unoesc.edu.br/index.php/visaoglobal/article/ viewFile/511/253>. Acesso em: 13 fev. 2012. ALARCÃO, Isabel (Org.). Escola Reflexiva e a Nova Racionalidade. Porto Alegre: Artmed, 2001. _____. Do olhar supervisivo ao olhar sobre a supervisão. In: RANGEL, Mary (Org.). Supervisão Pedagógica: princípios e práticas. 3. ed. Campinas: Papirus, 2002. BARBOSA, Maria Rita Leal da Silveira. Inspeção Escolar: um olhar crítico. Uber- lândia: Composer, 2008. BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Conselho Pleno. 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Nos dias de hoje, não cabe apenas a função fiscalizadora da educação, mas, de modo democrático, o inspetor escolar também deve se inserir no fazer pedagógico da educação, estando vinculado aos órgãos do sistema de ensi- no, quer sejam secretarias ou regionais, visando à garantia da aplicação legal do regime democrático. Ao inspetor cabe manter uma visão abrangente de participação e democra- cia, bem como uma visão abrangente dos aspectos administrativo, financei- ro e pedagógico da escola, atuando inclusive como agente social e político. 3. Ao converter o conteúdo ideológico da legislação de ensino em diretrizes e instruções para as ações dentro do sistema de ensino, o inspetor se torna um agente político. Sua atuação se dá nas escolas, nas regionais e na secretaria de educação, sendo ele a presença do Estado – órgão executivo ou normati- vo – nas instituições escolares, direcionando as ações. Com uma visão crítica e global do sistema de ensino, o inspetor poderá contribuir para a adminis- tração desse sistema, dando conhecimento das consequências da aplicação das normas e leis educacionais, informando sobre reformulações legais, fa- zendo com que o órgão normatizador legisle para que o ensino seja efetivo. Ao articular o ensino, o inspetor escolar é um agente político. Inspeção escolar ou como gerir a educação 27 Maria Cristina Munhoz Araújo Quem é o gestor escolar? Dirigir uma escola, ainda há pouco tempo, era considerada uma tarefa administrativa e relativamente simples. O diretor tinha por incumbência zelar pelo bom funcionamento da escola, com base nas regras já estipu- ladas pelo regimento escolar e em regulamentos internos, trazendo para si todas as decisões. Para deixar bem claro, todo o processo decisório era centralizado, cabia apenas administrar com cautela e bom senso os raros imprevistos. Atualmente, mediante o contingente acelerado das constantes trans- formações sociais, científicas e tecnológicas, passou-se a exigir uma nova escola e, em decorrência, um novo diretor, um diretor-gestor. E, para isso, configura-se também um novo perfil desse profissional: visionário, utopis- ta, idealizador de uma transformação democrática, com formação e co- nhecimentos específicos do cargo e da função de diretor-gestor escolar. Vimos uma mudança significativa, não apenas de nomenclatura. A ques- tão, portanto, não é de semântica, “de administração escolar para gestão escolar”, trata-se de mudança de paradigma. Dá-se um novo enfoque à organização: � em um processo de gestão democrática, objetivando a construção da cidadania, esta só existirá na medida em que forem desenvol- vidas a autonomia e a participação de todos, em um clima e uma estrutura organizacional compatíveis com a prática democrática, visando à emancipação. Segundo Heloísa Lück (1998), “[...] a gestão não deprecia a administração, mas supera as suas limitações de en- foque dicotomizado, simplificado e reduzido, para atender às exi- gências de uma realidade cada vez mais complexa e dinâmica”; � da gestão como recurso crítico, estratégico para o avanço de qual- quer sociedade, não se admitindo mais um gestor administrativo, burocrático, guiado por manuais normativos, como relatamos ante- riormente. O gestor escolar 29 Vídeo 30 O gestor escolar A gestão ganha valorização social, pois se trata de gerir um processo perma- nente de mudança, no qual o gestor/educador passa a ser um articulador, um facilitador das relações, um promotor da participação ativa, enfim, um educador em que sua [...] formação passa a ser vista como instrumento fundamental para o desenvolvimento de competência, envolvendo valores, conhecimentos e habilidades para lidar com as mudanças aceleradas, contextos complexos diversos e desiguais, para aprender a compartilhar decisões envolvendo maior participação dos membros da sociedade e para adaptar-se permanentemente às novas circunstâncias e demandas institucionais. (MACHADO, 1998) Em decorrência, a gestão da educação exige um gestor, líder em sua essên- cia, com conhecimento e perfil que privilegie o aperfeiçoamento constante da escola nos dois aspectos: o educacional e o empresarial. Dessa forma, ao gestor, hoje, é imperioso implantar, como já o solicita a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) 9.394/96, o programa de educação continuada, não restrito ao aspecto educacional somente, mas também ao desconhecido campo empresarial para a grande maioria das escolas. Ao gestor incumbe formar a equipe compromissada com o bom desempenho da escola, tanto no sentido pedagógico quanto no empresarial. Assim, a equipe envolvida e comprometida com a organização, além de propostas e inovações pedagógi- cas, também as apresentará em nível empresarial, sugerindo redução de custos, representando a escola como um cartão de visitas, “vendendo” a imagem da instituição. No intuito de retratar de forma simples, e em poucas palavras, o papel e a importância do gestor escolar, retiramos o enfoque dado à questão no Relatório da Unesco da Comissão Internacional sobre a Educação para o Século XXI: A pesquisa e a observação empírica mostram que um dos principais fatores de eficiência escolar (senão o principal), reside nos órgãos diretivos dos estabelecimentos de ensino. Um bom administrador, capaz de organizar um trabalho de equipe eficaz e tido como competente e aberto consegue, muitas vezes, introduzir no seu estabelecimento de ensino grandes melhorias. É preciso, pois, fazer com que a direçãodas escolas seja confiada a profissionais qualificados, portadores de formação específica, sobretudo em matéria de gestão. Essa qualificação deve conferir aos gestores um poder de decisão acrescido de gratificações que compensem o bom exercício das suas delicadas responsabilidades. (DELORS, 1999, p. 163) Qual o perfil desejado? Para responder a essa pergunta, antes precisamos, obrigatoriamente, ques- tionar a respeito da gestão da educação, sobre sua dimensão, amplitude e im- O gestor escolar 31 portância na construção, acompanhamento e avaliação do projeto político-pe- dagógico da escola, cuja direção é dada segundo sua concepção de educação, ou seja, pela sua proposta educacional. Enfim, se a instituição de ensino tem como proposta a educação tradicional, evidentemente a escolha do diretor estará direcionada a um perfil tradicional, que aqui não cabe discutir, pois o nosso enfoque é outro, não só o de moder- nidade, mas, também, particularmente, de visão de gestão da educação e de humanidade. Segundo Bordignon e Gracindo (2000, p. 174), o perfil do gestor escolar deve conciliar duas dimensões essenciais da própria proposta educacional: a técnica e a política. � A qualificação técnica exige o conhecimento dos fundamentos da educa- ção e da pedagogia, acrescidos da necessária base docente, bem como dos processos de gestão de uma organização em nível micro (escola) e macro (sistema). � A qualificação política exige sensibilidade para perceber e antever todos os movimentos da realidade, capacidade dialética de negociação de confli- tos nas relações interpessoais, considerando as individualidades (diferen- ças individuais), e coordenando o potencial da instituição para atingir sua finalidade, vindo, então, a instituição a cumprir o seu papel social. Hoje, para que a escola realmente cumpra o seu verdadeiro papel social, com- pete a sua direção, em primeiro lugar, superar o enfoque de administração para construir o de gestão, com mudanças e transformações profundas, especialmen- te na sua concepção, o que quer dizer na sua essência, como: � da visão de processo fragmentado para uma visão de processo globaliza- do – a interação é a prática social da escola, e assim todos participam da sua organização; � de um processo burocrático e hierárquico, verticalizado, evidenciando o compromisso de uns para mandar e controlar o trabalho de outros autô- matos e dependentes, a um processo de coordenação, horizontalizado, no qual uns trabalham com os outros, com contribuições e responsabilidades individuais, mas com ações coordenadas em prol da organização coletiva; � do trabalho individual para o trabalho em equipe, pois reinam como prin- cípios norteadores na gestão educacional a democracia, a participação e o espírito de equipe. 32 O gestor escolar A gestão educacional está diretamente vinculada à democratização e à par- ticipação de toda a comunidade escolar no processo decisório, de forma cons- ciente e responsável, promovendo ações articuladas e conjuntas, na busca cons- tante da qualidade de ensino. O líder: características, estratégias e práticas Quem trabalha na área educacional, e mesmo que esse não seja seu campo de trabalho, diria, bastando apenas de certo conhecimento, ser capaz de fazer a leitura da aldeia globalizada em que vivemos a fim de perceber a necessidade de um novo tipo de líder para a escola que almejamos: a escola efetivamente como locus do conhecimento para todos os participantes da comunidade escolar. Assim, concebemos a escola como espaço de aprendizagem, a escola que aprende. Estamos cercados de diversas mudanças, convivemos com isso no nosso dia a dia e ainda demonstramos, no nosso fazer pedagógico na escola, a dificuldade em assumir essas mudanças e alterarmos nossa visão e concepção de escola e de líder. Sabemos que é preciso mudar, mas não agimos racional e cientificamente para que isso realmente aconteça, haja vista a estrutura e a organização escolar arraigada de termos e procedimentos antiquados oriundos da Revolução Indus- trial. Diversos sinais apontam na escola a cópia de instrumentos já ultrapassados nas indústrias, não mais por elas utilizados, e a escola, no discurso, ressalta uma gestão democrática e uma liderança condizente, mas basta perceber as relações interpessoais e rapidamente visualizar organogramas, fluxogramas, normas rígi- das e inflexíveis. Peter Senge ressalta que essa mudança na escola deve ser iniciada por um novo tipo de liderança, um novo líder educacional frente aos grandes desafios aos que trabalham em uma escola na criação de uma estrutura que realmente aprenda e que a transforme no que realmente deveria ser: uma comunidade de seres huma- nos voltados para o mesmo objetivo, agindo de forma inteligente e eficaz. Na verdade, Peter Senge (2005) fala para as escolas da necessidade em iden- tificar um novo tipo de líder, aliás, diz ele, três tipos de líder: � líderes de linha locais – para realizar experimentos organizacionais significa- tivos, objetivando averiguar se novas aptidões de aprendizado produzem O gestor escolar 33 resultados melhores (Entendo que a partir dessa proposta de Senge sur- ja a grande possibilidade de a escola organizar-se como empresa, apren- der pela sua própria especificidade e desenvolver teorias administrativas e organizacionais, que todos os empreendedores educacionais já têm a clareza necessária de que hoje o foco da gestão da educação deve estar voltado a dois aspectos: o educacional e o empresarial. Anteriormente, a grande preocupação dos gestores era tão somente com o educacional. Hoje, basta olhar e verificar na sociedade quantas escolas particulares sucumbiram e quantas federais, estaduais e municipais encontram-se su- cateadas, denotando, portanto, a extrema necessidade do conhecimento empresarial, e somente o desenvolvimento equilibrado entre as duas rea- lidades educacional e empresarial, levará ao sucesso e à continuidade do empreendimento – a escola.); � líderes executivos – desenvolvem infraestrutura de aprendizado e melhoria permanente, dando suporte aos líderes de linha, tendo por responsabili- dade desenvolver uma nova visão e, no acompanhamento do processo, buscar o aperfeiçoamento das normas e de uma cultura empresarial vol- tada ao aprender; � líderes criadores de comunidades – Senge coloca-os como os semeadores da nova cultura, os profissionais capazes de identificar e mobilizar pessoas predispostas a promover mudanças, sendo líderes que circulam livremente pela organização também para difundir novas aprendizagens e, ainda, au- xiliar nos experimentos organizacionais. Cabe aqui explicar por que trazer Peter Senge ao se trabalhar sobre lideran- ça em escola. Diretor do Centro de Aprendizado Organizacional do Instituto de Tecnologia de Massachusetts e autor dos livros A Quinta Disciplina: arte e prática da organização que aprende e Escolas que Aprendem, Senge (2005) sempre apre- sentou um interesse muito grande pela educação, baseando sua teoria orga- nizacional e de gerenciamento na concepção de que todos somos aprendizes, comparando inclusive uma empresa a uma escola: Não é preciso ensinar uma criança a aprender. Elas são intrinsecamente curiosas, excelentes aprendizes. Aprendem a andar, falar e viver por conta própria. A verdadeira aprendizagem chega ao âmago do que significa ser uma pessoa e é através dela que nos recriamos, tornamo- -nos capazes de fazer. Percebemos novamente o mundo e nossa relação com ele e ampliamos nossa capacidade de criar, de fazer parte do processo de criação da vida. Existe dentro de nós uma intensa sede para esse tipo de aprendizagem. O nosso discurso versa a todo momento sobre transformações e mudanças, pois é essa a nossa realidade, principalmente nos últimos 30 anos, em todas as 34 O gestor escolar áreas, especialmente da tecnologia e da comunicação. E, realmente, acontecem mudanças assustadoras na prática na área da saúde, por exemplo – algumas palavras-chave jános dão a dimensão da evolução: genoma e células-tronco. Entretanto, na educação ocorre muito no discurso, na teoria, inclusive na legis- lação, desde a Constituição de 1988, e na prática pouco e, infelizmente, muito pouco sofre alteração. Sabem por quê? Porque não aprendemos a mudar, pois não há nada que permaneça infinitamente, apenas as mudanças. A ideia da lide- rança também tem mudado muito nos últimos anos. O líder precisa atuar como o principal agente de transformação. Peter Senge, na citação anterior e acrescentando sua afirmativa “E aprender é mudar” (2005), leva-nos a perceber que, se uma escola ou uma empresa, in- dependentemente de sua mantenedora, quiser evoluir, crescer, fortalecer-se no mercado competitivo e não sucumbir, vai ter que aprender a mudar e a inovar para conviver com as constantes mudanças. São organizações que ousam, ex- perimentam o novo a partir de sua história, construindo no seu dia a dia, com planejamento, mas a surpresa do algo a mais vai estar sempre presente. Uma escola que aprende – deixando bem claro, todos aprendem, não a mesma aprendizagem dos alunos (conteúdos), a do aprender a aprender – é uma escola ou empresa que cria possibilidades, experimenta caminhos diferen- tes e novos, inspira e transpira a ânsia pela descoberta, pelo novo, pelo fazer diferente, sempre melhor. Cada pessoa ou profissional da comunidade escolar é estimulado a se desenvolver e desafiado a usar seu potencial para sempre fazer o melhor de si. Senge sugere às escolas que querem aprender as suas cinco co- nhecidas disciplinas. � Aprendizado em equipe – trata-se de questionar as verdades da escola ou da empresa. Todos os profissionais participam da tão conhecida e chama- da mesa-redonda e se desfazem, por um determinado tempo, das suas verdades sobre a organização para, em conjunto, refletir sobre a direção em que se caminha, aonde se quer chegar, buscando estratégias para o alcance do objetivo. � Construir uma visão compartilhada – compete ao líder construir essa visão, incentivando a participação de todos e destacando os resultados atingidos pela equipe e não pelo próprio líder, fazendo-os se sentirem orgulhosos e reconhecidos. O real papel do líder aqui é de inspirador: não depende de seu destaque, pode passar despercebido pela equipe, e deve também fazer com que as pessoas amem o que fazem, e por isso queiram fazê-lo. O gestor escolar 35 � Criação de modelos mentais – trata-se de uma crença coletiva, possível de ser realizada e alcançada por todos. O modelo mental retrata o desejo cons- tante de todos em poder e dever fazer diferente e melhor do que já con- seguiram antes. Enfim, um modelo mental é algo aparentemente abstrato, como se criasse algo, um caminho a trilhar, e a equipe acredita, enfrenta os obstáculos, vê como desafio e luta para tornar realidade. � Desafio pessoal – diferentemente das pessoas chamadas de perfeccionis- tas, trata-se do desafio de ultrapassar seus limites, fazer diferente e melhor, apaixonar-se pelo que faz. Como diz Senge (2005), é o trabalho do artista, impressionar-se e impressionar os outros: por menor que seja o trabalho, tratá-lo como uma obra-prima. � Pensamento sistêmico – esta é a quinta disciplina e tem por incumbência unir as quatro anteriores e garantir que, pela rotina escolar, elas não se- jam abandonadas, voltando aos velhos hábitos escolares. Cabe ao gestor, imbuído do espírito de uma gestão democrática, portanto participativa, zelar por esta quinta disciplina, pois ela dará suporte a todo o processo e principalmente será a grande porta para a distribuição do poder e das res- ponsabilidades. Ao contrário, o diretor tradicional não é compatível, não saberá lidar com a distribuição de poder. Nessa escola que aprende, todos se sentem compromissados, investindo no seu próprio desenvolvimento, nos dos seus colegas, na escola, buscando em seu dia a dia a inovação e o fazer melhor, orgulhosos de sua instituição, promovendo-a na comuni- dade pelo seu próprio modo de apresentá-la à sociedade. Vive, transpira e inspira, desejando para si e para os seus o desfrutar dessa aprendizagem. Tenho certeza de que, da mesma forma que ocorreu com você, ocorreu comigo a relação com Paulo Freire. A educação autêntica, repitamos, não se faz de A para B ou de A sobre B, mas de A com B, me- diatizados pelo mundo. Mundo que impressiona e desafia a uns e a outros, originando visões ou pontos de vista sobre ele. Visões impregnadas de anseios, de dúvidas, de esperanças ou desesperanças que implicitam temas significativos, à base dos quais se constituirá o conteúdo programático da educação. (FREIRE, 1987, p. 83-84) Críticas de teóricos educacionais radicais à tal comparação não me causam estranheza, pois assim também em um determinado período me comportava e porque assim compreendia a instituição escola com um único foco. Mas na gestão de escola, nos últimos dez anos, cada vez mais estudo e procuro estabe- lecer relações e aprender a fim de gerir uma empresa chamada escola, com fina- lidade educacional clara, voltada à construção da cidadania. Jamais deixarei os 36 O gestor escolar princípios que promovem o desenvolvimento do ser humano em benefício de qualquer princípio administrativo/financeiro, com vistas unicamente ao lucro, mas buscarei fontes coerentes, agregadoras de valores educacionais que tragam lucro ao bem do homem, nunca em detrimento deste. Acredito que a citação a seguir, de Vitor Paro (1997, p. 7), deve esclarecer melhor meu pensamento: Administração escolar é portadora de uma especificidade que a diferencia da administração especificamente capitalista, cujo objetivo é o lucro, mesmo em prejuízo da realização humana implícita no ato educativo. Se administrar é utilizar racionalmente os recursos para a realização de fins determinados, administrar a escola exige a permanente impregnação de seus fins pedagógicos na forma de alcançá-los. O que é ser realmente um bom líder? Como proceder? Existem diversas listas, algumas até chamadas de receitas para ser um bom líder. Na verdade, não há como se apropriar de regras ou de receitas prontas para se sobressair, obter sucesso como líder. Cada pessoa tem sua história própria, sua personalidade, defeitos e virtudes e mais ainda a considerar a equipe com que o líder trabalha, pois esta está diretamente ligada ao sucesso da liderança: Não posso entender os homens e as mulheres, a não ser mais do que simplesmente vivendo, histórica, cultural e socialmente existindo, como seres fazendo do seu caminho que, ao fazê- -lo, se expõem ou se entregam aos caminhos que estão fazendo e que assim os refaz também. (FREIRE, 1998, p. 97) Assim, cada líder, embasado em referências teóricas e no seu cotidiano, com seus erros, acertos e experiências, constrói suas estratégias para liderar. Jack Welch, americano, dedicou 40 anos de sua vida à General Electric, dos quais 20 como presidente. Lançou o livro Paixão por Vencer, no qual aponta os caminhos para empresas e líderes que querem vencer e alcançar o sucesso. Re- conhecidamente um bom líder, Welch desenvolveu suas estratégias e as repassa como lições do gestor que soube trilhar o caminho certo. O que os líderes fazem: � são incansáveis em melhorar a equipe, usando todos os encontros como oportunidades para avaliar, treinar e reforçar a autoconfiança; � se empenham-se para que as pessoas não só compreendam a visão, mas também para que a vivenciem e a respirem; � põem-se no lugar de todos, transpirando energia positiva e otimismo; O gestor escolar 37 � angariam confiança com franqueza, transparência e reconhecendo os mé- ritos alheios; � têm coragem para tomar decisões impopulares e agir com base no instinto; � questionam e instigam, por meio de uma curiosidade constante que se aproxima do ceticismo, esforçando-se para que suas perguntas sejam res- pondidas com ações; � inspiram a assunção de riscos e o aprendizado constante, dando o exemplo; � comemoram. O líder na instituiçãoescolar Trataremos agora especificamente do líder em uma gestão democrática dentro da instituição escolar, lembrando que esse modelo visa à democratização da escola. O líder para tal gestão deve ser capaz de ouvir e de se fazer ouvir, e não apenas aceitar a opinião do outro, mas, sobretudo, de incentivá-lo a envolver-se no pro- cesso, sendo seu participante. Não se resolve nada sozinho, mas se consideram as decisões responsabilidade de todos, porque se acredita que os funcionários podem dar o que têm, o que sabem e o que são. A responsabilidade das pessoas encarregadas da gestão educacional deverá ser a de liderar, coordenar e gerenciar os esforços de forma a se construir um ambiente no qual a criatividade, a busca de novas experiências, o trabalho em equipe, a predisposição em estar sempre aprendendo e o acompanhamento tranquilo das mudanças sejam uma constante. Para tal realidade se concretizar, é necessário que gestores valorizem todas as esferas da natureza humana e social: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos e aprender a ser. Tais necessidades exigem desse gestor moderno a valorização, não apenas dos recursos físicos e técnicos, mas, notavel- mente, da pessoa humana que caracteriza as organizações educacionais. Para tanto, é preciso uma visão administrativa com abordagem ao mesmo tempo in- terativa, sistêmica e com grande sensibilidade às diferenças pessoais ou singu- laridades dos sujeitos. 38 O gestor escolar Devemos ressaltar que, para uma boa gestão, não é suficiente a competência administrativa, mas, também, competência técnica, liderança intelectual e co- nhecimento humano. E a isso somam-se o dinamismo, a adaptação à realidade, conhecimento do meio de atuação, capacidade de análise e compreensão da comunidade escolar no que diz respeito aos seus anseios e necessidades. Sobre essa questão, vale a pena lembrar a importância de envolver todos os profissio- nais, por mais difícil que possa parecer. Para isso, é de fundamental importância saber estabelecer metas e objetivos, criar medidas de contingência antecipadas, usufruir de ferramentas para avaliação processual e estar sempre elaborando novos projetos de ação, valendo-se de dados concretos. A relação humana interpessoal deve ser encarada como parte importante do processo de transformação de gestão, propiciando um ambiente de trans- parência, confiança, com clima de cooperação e não competição. Dentro desse perfil, é preciso ter habilidades para planejar, organizar, avaliar, resolver confli- tos, ser líder, comunicativo, aberto às quebras de paradigmas e ao pioneirismo de novas criações. Os profissionais precisam firmeza, união, clareza e objetivi- dade da equipe técnica. Sabemos que toda e qualquer escola moderna deve ter uma missão bem de- finida e é essa filosofia que garantirá a identidade própria à organização, uma vez que, sem ela, instituir-se-ão as incoerências ou incompatibilidades de valo- res com as pessoas envolvidas direta ou indiretamente. Objetivos, valores e compromissos precisam ser compartilhados pelo conjun- to organizacional, pois, com certeza, ter-se-á uma equipe comprometida e não apenas envolvida, e essa tarefa deverá ser garantida pelo gestor. Outro aspecto que precisa ser considerado pelos gestores é a capacitação permanente de todos os profissionais, pois são eles que mantêm o bom e cres- cente funcionamento da escola. Enfim, o perfil do profissional responsável pela gestão de uma organiza- ção enfatiza a competência, que é resultante da combinação de habilidades técnicas e comportamentais responsáveis pela qualidade e pela definição do que se pretende alcançar de acordo com a proposta instituída pela escola. Cabe aqui uma ressalva: ser competente não significa simplesmente fazer benfeito, mas sim despertar nos outros a vontade de fazer benfeito e até mesmo conseguir estimular o seu grupo a se comprometer com o processo. É preciso uma ação muito mais direta de liderança e de processos grupais em uma interação contínua e permanente. O gestor escolar 39 Do radicalismo do educador à realidade socioeconômica: como adaptar? Ao estudar, deparei-me com um editorial de uma revista educacional da área de gestão, que em seu final coloca o que aqui reproduzo. Para ajudá-lo no lado negócio da educação. Controlar custos, aumentar faturamento, manter a equipe didática motivada e entusiasmada é uma forma de melhorar a educação, o que deve ser o objetivo final de toda missão de alguém que pensa em abrir uma escola. É sacerdócio. Mas também não podemos esquecer de pagar as contas. (CLEBSCH, 2005, p. 2) No mesmo dia, em reunião com o corpo tecnoadministrativo da escola, li esse editorial e discutimos a respeito. E, para minha surpresa, o semblante das coordenadoras pedagógicas era ao mesmo tempo de concordância com o texto, quanto a pagar as contas, e de indignação ao que impinge às escolas particulares – desde legislação a descaso de pais com carro último modelo, filho com tênis de marca absurdamente caro, e as parcelas da mensalidade também absurdamente atrasadas. Digo surpresa porque, tanto quanto eu fui radical na postura do que era de interesse do Estado, tudo pelo educacional, as coordenadoras mais ainda e, agora despertas por uma outra realidade pela qualidade do trabalho pedagó- gico, e porque este depende do administrativo e do financeiro. Denota-se o quê? Mudança de cultura. Em decorrência, a partir do corpo tecnoadministrativo, o corpo docente e os funcionários assumirão a mesma postura. Importante registrar a nossa discordância ao texto elegendo a educação como sacerdócio. Primeiro, por veementemente entender como profissões dís- pares, e o outro motivo, pelo reforço sempre dado que o sacerdócio é missão, é a mando de Deus, por isso não se cobra. Nós, educadores, pela história, prin- cipalmente da Igreja, sempre fomos altamente cobrados, trabalhando em três turnos, e de pouco ganho. Pergunto, então: a Igreja não cobra? Paga impostos? Também não quero imputar a culpa na Igreja, a intenção é de alertar para o pano de fundo, caso contrário não mudamos nada profundamente, apenas maquia- mos, e não nos posicionamos como profissionais competentes e reconhecidos na sociedade e a escola como instituição respeitada, cumprindo sua finalidade de formação de cidadãos, e seu papel social, inclusive recolhendo seus impostos e pagando condignamente seus profissionais. Perceberam o retorno em mudança? É isso mesmo que precisamos apren- der – a mudar, com maior profundidade e constância. Entretanto, não podemos perder o foco precisamos ter bem claro qual é o nosso negócio: o nosso negócio é educação, e de qualidade. 40 O gestor escolar Então, finalizando e considerando apenas ter iniciado a discussão, precisa- mos conciliar os dois aspectos: o educacional e o empresarial. Difícil? Sim. Im- possível? Não. Reconhecendo a importância da gestão democrática e que nela a adminis- tração se constitui em processo democrático de decisões. Diversos profissionais participam em todos os estágios do processo de planejamento, execução e ava- liação, não sobrecarregando e responsabilizando somente o gestor, tendo este o papel de liderança do processo educativo, razão de ser da escola. Antes de ser um administrador, o diretor deve ser um educador: Dificilmente pode surgir uma boa coletividade e uma situação criativa para o trabalho dos educadores, se à frente da escola está um homem que só sabe ordenar e mandar. O diretor é o principal educador da coletividade, o educador mais experimentado, com maior autoridade. (MAKARENKO apud PRAIS, 1996, p. 85) Assim, consideramos o gestor um educador por excelência, que saiba con- ciliar a competência técnica com a clareza política, na condução do conteúdo educativo e nas exigências burocrático-administrativas. Ora ele é educador, ora administrador, ora mestre de obras, o que não pode ser é um único, um ou outro, deve saber desempenhar todos os papéis, embrenhando-se, perpassando umpelo outro, e ser, fundamentalmente, humano. Texto complementar A liderança nível 5 Quem são os líderes excelentes? (CANDELORO, 2005, p. 24-25) Segundo Jim Collins (autor dos livros Feitas para Durar e Empresas Feitas para Vencer) há nas empresas hoje três tipos de líderes: os maus, os bons e os excelentes. Os maus obviamente não deveriam existir... pois, logo que iden- tificados, deveriam ser retirados do cargo. Os bons são os que fazem seu trabalho; não ajudam muito, mas também não atrapalham. Seguem dia após dia fazendo não mais do que a obrigação. E existem os líderes excelentes – indivíduos que aliam uma tremenda hu- mildade com uma enorme determinação profissional. São líderes que não O gestor escolar 41 medem esforços, fazendo o que precisa ser feito para o aprimoramento con- tínuo da instituição que representam. Em seu último livro intitulado Empresas Feitas para Vencer, Jim Collins classificou os líderes empresariais em 5 níveis: � Nível 5 – Líder excelente: constrói excelência através da humildade pessoal e determinação profissional. � Nível 4 – Líder eficiente: tem um alto grau de comprometimento, vi- são e estimula seus funcionários a produzirem mais. � Nível 3 – Gerente competente: organiza pessoas e recursos para que os resultados sejam atingidos. � Nível 2 – Membro da equipe que contribui: coopera com a sua ca- pacidade individual para que o grupo cresça e seja capaz de alcançar seus objetivos. � Nível 1 – Indivíduo altamente capaz: colabora individualmente atra- vés de seu talento, conhecimento e bons hábitos de trabalho. O nível 5 Em seus estudos, o autor identificou dualidades entre os líderes classifica- dos no nível 5: são modestos, mas determinados; humildes, mas corajosos. A sua ambição, como já colocado, é direcionada para a empresa e não para o seu lado pessoal – o líder excelente sabe que o sucesso pessoal/pro- fissional será resultado do sucesso da organização na qual está inserido. É uma consequência e não a meta principal. O maior objetivo desses líderes é realmente criar uma organização excelente. Os líderes nível 5 também estão extremamente preocupados em formar sucessores. Querem que a organização ganhe, cresça e vença. Querem que ela funcione exatamente dessa maneira vencedora, mesmo estando sob a liderança de outras pessoas, não necessariamente a dele. Do outro lado, neste estudo feito por Collins, em mais de 3/4 das organi- zações classificadas como “boas” foram encontrados líderes que torcem para que seus sucessores não alcancem os mesmos resultados obtidos por eles. 42 O gestor escolar Embora não seja do ramo educacional, vejamos o caso da empresa Rubbermaid, pois ele ilustra muito bem o que acontece na maioria das vezes. Na década de 1980, essa empresa saiu do anonimato para o primeiro lugar da lista das 500 empresas mais admiradas da revista Fortune. E tão rápido quanto cresceu, se desintegrou e teve de ser adquirida por outra empresa para sobreviver. Stanley Gault era o líder da Rubbermaid na sua época de crescimento. Ele era brilhante e carismático, mas em 312 artigos coletados por Jim Collins e sua equipe, Gault foi classificado como um chefe duro e egocêntrico. Uma vez ele respondeu a uma acusação sobre ser tirano: “Sim, eu sou. Mas sou um tirano sincero.” Nesses artigos coletados, a palavra “eu” aparece 44 vezes: “Eu fiz; eu criei; eu liderei; eu apresentei [...] ” Enquanto a palavra “nós” aparece apenas 16 vezes. Ele tem toda a razão para ser orgulhoso, pois o sucesso que alcançou e fez a Rubbermaid alcançar (a empresa teve 40 trimestres de crescimento e ganhos sob a sua liderança) foi uma grande performance. Mas, e este é ponto principal, ele não deixou para trás uma empresa que sabia sobreviver sem ele. Gault era um tremendo líder do nível 4, mas não é um líder nível 5 justa- mente por não deixar sucessores tão (ou mais) competentes do que ele, que fizessem com que a empresa continuasse a ter sucesso. Ela despencou após sua saída. Os líderes do nível 5 falam pouco sobre eles mesmos. Não se colocam em pedestais ou tentam se tornar heróis. São pessoas simples que produ- zem resultados extraordinários. Uma liderança excelente não é somente feita de humildade e modéstia. É também feita de uma imensurável deter- minação para fazer o que tem de ser feito. Esses líderes são guiados por uma alta necessidade de produzir resultados e não medem esforços para serem excelentes. Também os líderes desse nível 5 fazem questão de apontar para a sua equipe, de dar o mérito a ela, quando alcançam o sucesso. E quando algo dá errado, eles não ficam indecisos ao puxar para si toda a responsabilidade. Infelizmente, o mais comum é justamente o contrário: quantas vezes vemos líderes que, ao atingir ótimos resultados, pegam todo o crédito para si e, ao deixar de atingi-los, culpam a equipe? Um líder nível 5 faz justamente o oposto. O gestor escolar 43 Mas como se tornar um líder excelente? Jim Collins, em seu livro, avisa: “Eu não sei se para criar uma organização excelente você tem de necessariamente ser um líder excelente, do nível 5. O que tenho são os resultados obtidos ao estudar empresas excelentes: todas elas tinham líderes do nível 5. Talvez seja coincidência, talvez não.” O autor acredita que existem duas categorias de pessoas: aquelas que não têm talento para ser um líder do nível 5 e aquelas que têm. Na primei- ra categoria estão aquelas pessoas que não conseguem abrir mão das suas necessidades pessoais para criar algo maior e mais duradouro do que elas mesmas. Para elas, trabalho será sempre o que elas ganham: fama, fortuna e poder e não o que elas constroem, criam e contribuem. A segunda categoria é formada por aquelas pessoas que têm potencial para se tornarem líderes excelentes, basta apenas que estudem, aprendam, desenvolvam, criem e sejam determinadas. Devem buscar melhores resul- tados, crescimento e liderar para o sucesso da organização. Devem criar e deixar como legado uma cultura, um sistema e sucessores capazes. E você, em que nível da liderança está? Pense nisso. E se você ainda não está no nível 5, mude suas ações, pois o seu trabalho não é somente geren- ciar funcionários. Você é responsável pelo sucesso da sua organização e pela sua excelência. Cinco perguntas rápidas para descobrir se você é um líder do nível 5: 1. Qual é sua maior motivação: ajudar a construir uma organização exce- lente ou sua própria carreira? 2. O que você prefere: fama, fortuna e/ou poder; ou construir, criar e con- tribuir? 3. Quando um projeto é um sucesso, você diz “eu” ou “nós”? 4. Quando o projeto é falho, de quem é a culpa? 5. Você está servindo de mentor a alguém que vai substituí-lo? 44 O gestor escolar Pontos-chave da liderança de nível 5 Todas as empresas que foram de boas para excelentes, estudadas no livro Empresas Feitas para Vencer, tinham líderes do nível 5. � Líderes do nível 5 são humildes, porém, determinados. São ambicio- sos, mas para os objetivos da empresa e não para os pessoais. � Eles deixam sucessores capazes de fazer também um excelente trabalho. � Líderes excelentes têm uma necessidade de produzir resultados e não medem esforços para atingir objetivos. � Quando as coisas dão certo, eles dão o mérito a suas equipes. Quando dão errado, puxam a responsabilidade para si. � Muitos profissionais têm potencial para serem líderes excelentes, do nível 5. Dica de estudo SENGE, Peter. Escolas que Aprendem. Porto Alegre: Artmed, 2005. Peter Senge e a sua equipe da Quinta Disciplina escreveram Escolas que Aprendem, a pedido de educadores. O livro concentra-se especificamente nas escolas e na educação, para ajudar a recuperá-las. Um dos pontos fortes do livro é a descrição de práticas que estão tendo sucesso em todo o mundo em escolas que se reinventaram, usando princípios da aprendizagem organizacional. Com contribuições de pesquisadores como Howard Gardner e Jay Forrester, além de gestores escolares bem-sucedidos,professores, administradores, pais e alunos, o livro oferece uma riqueza de ferramentas práticas, experiências e orientações que podem ser usadas para ajudar as escolas a aprender a aprender. Atividades 1. A partir do texto da aula, explique o seu entendimento sobre as duas dimen- sões do perfil do gestor: a técnica e a política. O gestor escolar 45 2. Eleja três características para ser um bom líder, argumentando uma a uma. 3. Quais as competências necessárias a um gestor escolar? 46 O gestor escolar Referências BORDIGNON, Genuíno; GRACINDO, Regina Vinhaes. Gestão da educação: o muni- cípio e a escola. In: FERREIRA, Naura S. C.; AGUIAR, Márcia Ângela S. (Orgs.). Gestão da Educação: impasse, perspectivas e compromissos. São Paulo: Cortez, 2000. BRASIL, Presidência da República, Casa Civil, Subchefia para Assuntos Jurídi- cos. Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996: Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394. htm>. Acesso em: 31 jan. 2012. BRASIL, Presidência da República, Casa Civil, Subchefia para Assuntos Jurídi- cos. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constitui%C3%A7ao.htm>. Acesso em: 31 jan. 2012. CANDELORO, Raul. A liderança nível 5: quem são os líderes excelentes. Gestão Educacional, Curitiba, jul. 2005, p. 24-25. DELORS, Jacques. Educação: um tesouro a descobrir – Relatório para a Unesco da Comissão Internacional sobre a Educação para o século XXI. São Paulo: Cortez, 1999. FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. _____. Professora Sim, Tia Não. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1998. LÜCK, Heloísa. A Escola Participativa: o trabalho do gestor escolar. 2. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 1998. MACHADO, Maria Aglaê. Políticas e práticas integradas de formação de gestores educacionais. Revista Gestão em Rede, dez. 1998. PARO, Vitor Henrique. Gestão Democrática da Escola Pública. São Paulo: Ática, 1997. SENGE, Peter. A Quinta Disciplina: arte e prática da organização que aprende. 11. ed. São Paulo: Best Seller, 2005a. _____. Escolas que Aprendem. Porto Alegre: Artmed, 2005b. WELCH, Jack. Paixão por Vencer. São Paulo: Campus Elsevier, 2005. https://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/viwTodos/509f2321d97cd2d203256b280052245a?OpenDocument&Highlight=1,constitui%C3%A7%C3%A3o&AutoFramed O gestor escolar 47 Gabarito 1. O gestor escolar, em seu perfil, deve conciliar duas dimensões: a técnica e a política. A qualificação técnica exige do gestor o conhecimento dos fundamentos da Educação e da Pedagogia, considerando-se aí o conhecimento e a experiên- cia em docência como base imprescindível, não há como orientar, coordenar algo que não se tenha vivenciado. Além desses conhecimentos há que se conhecer os processos de gestão de uma organização educacional, isto em âmbito escolar e em âmbito de sistema. A qualificação técnica era a única exigida na administração de uma organiza- ção escolar tradicional. Hoje, além da qualificação técnica, numa proposta educacional progressis- ta, exige-se do gestor escolar a qualificação política, uma outra dimensão, vinculada às relações interpessoais. Assim, do gestor escolar exige-se sensi- bilidade para perceber e antever todos os movimentos da realidade, capaci- dade dialética de negociação de conflitos nas relações interpessoais, consi- derando as individualidades e coordenando o potencial da instituição para atingir sua finalidade para, então, a instituição cumprir o seu papel. 2. A primeira característica a ser eleita a um bom líder é a de que ele deve atuar como o principal agente de transformação, pois a gestão educacional só tem razão de ser se promover transformações na realidade que sejam condizentes ao ser feliz do homem, individual e coletivo. Assim, o gestor deve, na sua lide- rança, ser proativo, envolvente, respeitado pela sua comunidade escolar, deve ser capaz de abraçar a mudança e utilizá-la de forma socialmente benéfica. Outra característica do líder não deixa de estar intimamente ligada à primei- ra, a de um novo líder que transforme a escola em uma comunidade de seres humanos voltados para o mesmo objetivo, agindo de forma inteligente e efi- caz, transforma-se, assim, a escola em uma comunidade de aprendizagem. Há, ainda, outra característica importante a um bom líder, a visão de mundo; não ficar restrito a um espaço escolar cercado por muros e conteúdos alheio ao que ocorre no planeta, dessa forma o líder deve estar atento às questões sociais de proteger o meio ambiente e o planeta. 3. Cabem a um bom gestor as competências: administrativa, técnica, intelectual e de conhecimento humano. E a elas somam-se o dinamismo, a adaptação à realidade, o conhecimento do meio de atuação, a capacidade de análise e compreensão da comunidade escolar, no que diz respeito aos seus anseios e necessidades. Maria Cristina Munhoz Araújo Concepção política e pedagógica Pensar e construir uma escola: por que essa colocação, e, principal- mente, como tema da aula? Poderia talvez ser, somente, construir uma escola? A colocação que ressaltar a importância do pensar como estudo, aná- lise, reflexão, diálogo, pesquisa, tomada de decisão e construção coletiva. Entendemos, evidentemente, que na construção está implícito todo esse processo ora retratado, mas, mesmo assim, decidimos destacá-lo, porque construir uma escola não é simplesmente edificar um prédio ou reformá- -lo, ou, ainda, adaptá-lo. Mais do que isso, é pensar essa escola, e para isso indagamos: � Como concebemos o homem? � Que sociedade pretendemos ter? � Qual a nossa concepção de educação? � Que escola queremos? Vamos, coletivamente, construir o projeto político-pedagógico. Assim, pensar e construir uma escola [...] é colocar em prática uma concepção política e uma concepção pedagógica que se realimentam e se corporificam na sua proposta político-pedagógica. Concepção política, porque é ela que promove a ação transformadora da sociedade, e concepção pedagógica, porque é ela o substrato da função escolar. (BORDIGNON apud FERREIRA, 2000) A escola como um todo, sua estrutura, seus meios, seus recursos, serão todos definidos e organizados em função do projeto político- -pedagógico. Pensar e construir uma escola 49 Vídeo 50 Pensar e construir uma escola A educação é um ato político O ensino não foi o começo, o começo foi a aprendizagem. Foi aprendendo que a gente descobriu que era possível ensinar e aprender. Paulo Freire É possível educar desde que se queira educar. É possível facilitar, inspirar e conscientizar desde que a proposta pedagógica seja permeada de honestidade, de ética e de muito amor. É possível aprender, reconhecendo-se que o saber não se impõe: conquista-- -se, inspira-se, vive-se. Vivemos uma época social complexa e confusa, de despersonalização indivi- dual e coletiva, de relações humanas caracterizadas pelo poder de uns sobre os outros e de uma percepção da realidade muitas vezes falseada ideologicamente, na qual humanizar-se representa um desafio. Desafio esse que se torna instrumento da prática pedagógica de uma escola preocupada com o desenvolvimento integral do ser humano. Isso se faz por meio da abertura e presença da consciência ativa, direcionada e atenta na predomi- nância de ações dirigidas à realização do “nós”, respeitadas as individualidades e suas construções. A realidade de uma escola da contemporaneidade, na atual sociedade do co- nhecimento, é de uma escola progressista, inovadora, que tem seu trabalho nor- teado por um paradigma transcultural e democrático, garantindo uma mutação fundamental e significativa na educação, pois se trata de uma ruptura do esque- ma tradicional de ensino receptor e autoritário e desenvolve, de fato, o potencial cognitivo, ético, criativo e lúdico do aluno, sua liberdade e responsabilidade, sua capacidade social e democrática, buscando, enfim,concretizar os fins da educa- ção, preconizados na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) 9.394/96. Oportuno lembrar também a Constituição de 1988, conhecida como a Consti- tuição Brasileira Cidadã. Esta e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), além de instituírem a gestão democrática como princípio norteador para administração escolar pública, elegem como uma das finalidades da educação a construção para a cidadania. E ao refletir sobre a função social da escola, cabe a indagação: quais as articulações entre a escola e a cidadania? A afirmação de Canivez, a seguir, elucida a questão e ainda nos remete a outras indagações: Pensar e construir uma escola 51 Se toda comunidade política se caracteriza pela coexistência de várias tradições, a escolaridade tem significado particular. A escola, de fato, institui a cidadania. É ela o lugar onde as crianças deixam de pertencer exclusivamente à família para integrarem-se numa comunidade mais ampla em que os indivíduos estão reunidos não por vínculos de parentesco ou de afinidade, mas pela obrigação de viver em comum. A escola institui, em outras palavras, a coabitação de seres diferentes sob a autoridade de uma mesma regra. (CANIVEZ apud VIEIRA, 2000, p. 33) Percebe-se nessa colocação de Canivez a articulação entre as relações de convivência social constituídas pela escola e a cidadania. Segundo a professora Sofia Lerche Vieira, da Universidade Federal do Ceará, é no exercício da vivência entre os seres diferentes que se aprendem normas, sem as quais a sociedade não sobrevive. Entretanto, sabemos que a escola não está para a sociedade unicamente com vistas à socialização. Há que se observar o seu papel fundamental em se traba- lhar com o conhecimento acumulado pela humanidade, visando à sua continui- dade e principalmente aprimoramento, crescimento, ou seja, novas descobertas, construção de novos conhecimentos, novamente ressaltando o bem individual e social, no sentido de hominização. Outro aspecto a ser levantado: a temporalidade. O que significa isso? Pode- ríamos denominá-lo de período da escola na história ou historicidade da escola na sociedade, ou apenas compará-lo a como o homem vive em um determinado período na história da humanidade, e nesse período existe um modo que lhe é próprio de viver: costumes, alimentação, crenças, vestuário. Da mesma forma, na escola, a cada época, surgem novas pesquisas, novas descobertas, novos estu- diosos e pesquisadores da educação e, em decorrência, novas teorias atreladas a questões sociais e políticas, registrando suas marcas e características ao gosto e interesses da sociedade. No intuito de elucidar a nossa colocação, buscamos em Libâneo o referencial teórico que vem complementá-la e confirmá-la: A prática escolar consiste na concretização das condições que asseguram a realização do trabalho docente. Tais condições não se reduzem ao estritamente “pedagógico”, já que a escola cumpre funções que lhe são dadas pela sociedade concreta que, por sua vez, apresenta-se como constituída por classes sociais com interesses antagônicos. A prática escolar, assim, tem atrás de si condicionantes sociopolíticos que configuram diferentes concepções de homem e de sociedade e, consequentemente, diferentes pressupostos sobre o papel da escola, aprendizagem, relações professor-aluno, técnicas pedagógicas etc. (LIBÂNEO, 2004, p. 19) Claríssima a expressão do professor quanto à influência dos interesses das clas- ses sociais que vão refletir nas funções políticas e sociais da escola. Consideramos importante, ainda, trazer a você a referência à retomada dos estudos sobre as tendências pedagógicas, contidas em diversas publicações de autores brasileiros 52 Pensar e construir uma escola da área educacional, como Dermeval Saviani, Cipriano Luckesi, José Carlos Libâ- neo, Muzukami e outros. Elas delineiam as concepções da escola, bem como a sua função política e social na construção da cidadania. Conhecer e buscar a construção de uma nova escola Inicialmente, convido você a fazer um passeio por diversas instituições de ensino, naquelas em que estudamos, trabalhamos, nas que nossos filhos estu- dam e em outras que conhecemos, e ainda naquelas pertencentes ao campo do nosso imaginário, ou melhor, colocando em mente a escola dos nossos sonhos, a idealizada, a da utopia. Entende-se a utopia como algo ou lugar que não existe – entretanto, não quer dizer que não possa vir a existir: Na medida em que não existe, mas que ao mesmo tempo se coloca como algo de valor, algo desejável do ponto de vista da solução dos problemas da escola, a tarefa deve consistir, inicialmente, em tomar consciência das condições concretas, ou das contradições concretas, que apontam para a viabilidade de um projeto de democratização das relações no interior da escola. (PARO, 1997, p. 9) E por que não vamos nos mobilizar para sonhar, estudar, analisar, enfim, des- vendar a realidade e buscar as condições necessárias e as possibilidades para a viabilização e a realização do sonho? No entanto, nesse processo nos deparare- mos com a linha do horizonte sempre em movimento, a cada conquista busca- mos um novo desafio. Esse movimento, o caminhar da linha do horizonte, determina o nosso caminho e o jeito de caminhar. Entraríamos aqui, se quiséssemos, em um campo espiritual, de opção homem a homem, o conhecido livre-arbítrio. Apenas tocamos no assun- to, mas o objetivo realmente é de que você, gestor/empreendedor, seja desperto para buscar a essência da espiritualidade no ser humano (nenhuma aferência à religiosidade), uma vez que ao educador está imbuída a tarefa, neste mundo, de grande parcela de participação na construção da formação do ser humano. Isso nos mostra a evolução e a capacidade de crescimento da humanidade. No momento em que fomos chamados a lembrar e a refletir sobre escolas, rapidamente visualizamos diversas delas, significando quantidade e ao mesmo tempo diversidade na estrutura física, pedagógica, administrativa e financeira. Vimos escolas de pequeno, médio e grande porte. Escolas que ofertam somente Educação Infantil, outras apenas o Ensino Fundamental, outras, ainda, o Ensino Pensar e construir uma escola 53 Médio e a Educação Superior. Enfim, deparamo-nos com instituições de ensino atendendo de berçário à pós-graduação, em momentos e realidades distintas, desde a sua vinculação, ou seja, sua mantenedora (municipal, estadual, federal, de iniciativa privada, comunitária ou cooperada) até a sua filosofia educacional. Fazemos essa chamada para a reflexão e ao olhar da história da escola e do seu entorno na atualidade, uma vez que a estrutura organizacional da escola é determinada por sua finalidade, e em um regime democrático leva-se em consi- deração a comunidade na qual está inserida, o público a que se destina, a origem dos recursos financeiros, a proposta pedagógica e a política social e educacional colocada pelo Estado, principalmente expressa na legislação educacional, em nível federal, estadual e municipal. A esse respeito, a Constituição de 1988 e a LDB destacam a questão da cida- dania, estabelecendo que a educação, [...] inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. (LDB, art. 2.°) O desafio pode ser imenso, mas o sonho, o querer e o acreditar em uma edu- cação diferenciada da que está posta leva-nos à busca de uma administração escolar voltada à transformação social. A administração da escola, assim, só pode ser entendida em uma gestão democrática e fortemente educadora, ou seja, a partir dela todos os princípios norteadores da ação educativa são construídos e vivenciados no cotidiano. Para isso, entendemos a necessidade de um gestor com formação pedagógica, im- buído do espírito de educador e da convicção de que a concepção de socieda- de, de escola e de homem deve impregnaro trabalho em todas as dimensões: administrativa, jurídica, financeira e pedagógica. Formação essa para se garantir que o papel social da escola seja efetivado em seu compromisso fundamental de promover e possibilitar a formação de um cidadão que participe e atue conscien- temente na sociedade em transformação, viabilizando e concretizando a proposta da escola de educação para a cidadania. A ousadia reside justamente em vivenciar o cotidiano escolar no exercício da cidadania, contrariando os interesses meramente capitalistas, excludentes e de desvalorização do homem. Pois não há cidadania sem democracia: “É que a democracia, como qualquer sonho, não se faz com palavras desencarnadas, mas com reflexão e prática” (FREIRE, 1998, p. 91). 54 Pensar e construir uma escola Gestores e empreendedores, quando imbuídos do propósito de transforma- ção social, do exercício da cidadania e da democracia preconizados na filosofia educacional da maioria das escolas, deixam de ser vistos como produto formal, resultado conseguido em longo prazo, mas como processo a ser conquistado por todos no dia a dia. A concepção de educação que perpassa nos princípios dessa escola utiliza outra lógica organizativa, na qual a prática social passa a ser a fonte do conhe- cimento e a teoria se coloca a serviço da ação transformadora, em um processo que envolve o coletivo da escola, buscando constantemente coerência entre o discurso e a prática, em um processo dialético que remete à concepção de co- nhecimento, educação, homem e sociedade. Com uma história tradicionalista e administração autoritária, a pouca expe- riência democrática dos educadores traz limitações à transformação da escola – transformação da concepção de educação, dos atos e atitudes, das estratégias, especialmente das relações sociais internas e externas. Um grande aprendizado que demanda tempo, dedicação, seriedade e muito trabalho. Os meios e instru- mentos utilizados estão centrados nas pessoas com trabalhos coletivos. Se o foco é o sujeito no coletivo, a aprendizagem e a construção do conheci- mento só se justificam na realização de uma prática pedagógica voltada para o desenvolvimento humano como fator preponderante desse momento de tran- sição. Esse desenvolvimento humano [...] depende de nossa capacidade de reflexão, das habilidades de pensar e saber. Reflexão significa a tomada de consciência do próprio pensamento em vista de uma ação livre, cada vez mais adaptada. É a capacidade que permite ao ser humano, e somente a ele, perceber a si próprio como chave da compreensão da realidade, com base em seu saber e em seu fazer, ou seja, em sua ação. (CHARDIN, 1989, p. 24) A ação-reflexão propõe um repensar da educação centrada na adoção do enfoque reflexivo na prática pedagógica, valorizando as reflexões que ocorrem antes, durante e depois das experiências vividas. Uma pedagogia reflexiva envolve um pensamento mais complexo, não po- dendo ser mais linear, reducionista e fragmentado, mas que abarque aspectos sociais, históricos, econômicos, políticos e qualitativos, entre outros. É um pen- samento que busca a totalidade, as interações e a integração para o encontro de soluções para os problemas e os desafios apresentados no dia a dia. A nova educação pressupõe o alcance de um novo patamar na história da evo- lução da humanidade, no sentido de corrigir os inúmeros desequilíbrios existen- tes, com base na compreensão de que se está em uma jornada individual e ao Pensar e construir uma escola 55 mesmo tempo coletiva, o que requer o desenvolvimento de uma consciência rela- cional, pluralista, transdisciplinar e sistêmica, que traga maior abertura, uma nova visão da realidade a ser transformada, baseada na consciência da inter-relação e da interdependência essencial entre todos os fenômenos da natureza. Uma educação que favoreça a busca de diferentes alternativas, que � ajude as pessoas a aprenderem a viver e a conviver; � tenha como princípio a valorização do saber docente; � considere a escola como o locus fundamental da construção e a reflexão na e sobre sua ação; � construa um novo profissional capaz de produzir e transformar o seu con- texto e principalmente auxiliar o educando nessa transformação. Essa seria a lógica natural. Entretanto, ao que transparece na literatura es- pecífica mais recente e na nossa vivência no desenvolvimento de trabalhos tecnopedagógicos, em instituições de ensino variadas em todo o território na- cional, verifica-se a baixa relevância, na análise político-filosófica da educação, do contexto histórico, social, econômico e cultural das instituições de ensino. E, ainda, na maioria das escolas, há uma discrepância entre teoria e prática, um discurso pautado em uma teoria educacional progressista, e ao conhecer a escola, no seu espaço físico, nas relações interpessoais, no material didático, na produção dos alunos, há a demonstração de uma prática tradicional, distan- ciada da concepção de homem histórico, autônomo e livre, vivendo solidaria- mente entre iguais em um espaço e tempo determinados (BORDIGNON apud FERREIRA, 2000). Texto complementar Paradigma contemporâneo da educação: a construção do conhecimento (ZATTAR, 2012) A análise do processo de transição de paradigmas na prática pedagógica permite perceber que os mesmos foram sendo incorporados, não extintos 56 Pensar e construir uma escola totalmente. Não significa romper com o “velho”, pois “[...] incorpora alguns referenciais significativos do velho paradigma que ainda atende os anseios históricos da época” (BEHRENS, 2005, p. 26). As descobertas científicas, o inegável avanço tecnológico, assim como a diversidade cultural ocasionada pelo processo da globalização, também acabaram por impulsionar a chamada “sociedade do conhecimento”. Assim, passamos da Sociedade de Produção em Massa, na qual o conhecimento era sigiloso, para a “Sociedade do Conhecimento” (TOFLER, 1995), fins do século XX, na qual a informação está disponível pelas redes informatizadas. A situação que examinamos é inteiramente nova, não lhe podemos encontrar nenhum precedente, porque não provém, como se diz ainda muitas vezes, de um simples fenô- meno de crescimento quantitativo, mas de uma transformação qualitativa que atinge o homem nas suas características mais profundas, e que, de qualquer maneira, o renova no seu gênio. [...] Se abarcarmos num olhar de conjunto a evolução da vida educativa ao longo do tempo, verificamos facilmente que os progressos da educação acompanham os da economia, e, por consequência, a evolução das técnicas de produção, sem que seja sempre fácil distinguir as causalidades respectivas na complexidade das interações. (FAURE, 1972, p. 20) Essa evolução, retratada já em 1972 por Faure, atrelada aos processos de globalização, constitui-se um enorme desafio à própria sociedade, às nações e de forma mais particular à educação enquanto elemento fundamental nas sociedades democráticas. Na educação, o cenário que se apresenta sugere práticas educacionais que ressaltem a importância de uma educação contínua e permanente, su- gerindo a interminalidade do processo educativo, ou seja, uma educação além dos muros escolares, num contínuo aprender a ser e aprender a viver, preparando a pessoa para as incertezas do seu dia a dia. Nesse contexto, uma das competências básicas do docente, atualmen- te, está na capacidade de ser seletivo sobre a qualidade e a quantidade de informações, ideias, conceitos e princípios a serem explorados nas ativi- dades curriculares, estabelecendo uma relação intrínseca com a realidade social em que está inserido, contextualizando, assim, o ensino. A reflexão sobre as questões fundamentais e as premissas básicas para a educação do “futuro” apontam para a urgência de um novo paradigma da educação, pois o conservador, que tem como características fundamen- tais a reprodução do conhecimento, a ênfase no ensino e, em seu método Pensar e construir uma escola 57 único deaprendizagem, revela-se insuficiente para dar conta da exigência de uma educação para toda a vida, uma educação que prepare o aluno para fazer relações, tomar decisões, refletir, analisar, viver em sociedade, enfim, prepará-lo para a vida. Para tanto, preconiza-se o novo paradigma, em suas denominações – emergente, sistêmico, da complexidade – nos quais os pressupostos da aprendizagem tornam-se: aprender a conhecer; aprender a fazer; aprender a conviver e aprender a ser (DELORS, 2001). No relatório Aprender a Ser (FAURE, 1972), fazendo projeção futura sobre a educação para o século XXI, constata-se que ele revela a preocupação com o fato de que a evolução técnica, ocasionada pelo processo globalizador, pro- vocasse uma desumanização, apontando para dois riscos: – Risco de alienação da personalidade patente nas formas obsessivas de propaganda e publicidade, no conformismo dos comportamentos que podem ser impostos do exterior, em detrimento das necessidades autênticas e da identidade intelectual e afetiva de cada um. – Risco de expulsão pelas máquinas, do mundo do trabalho, no qual a pessoa pelo menos tinha a impressão de se mover livremente e de decidir por si própria. (FAURE, 1972) Delors (2001) mantém, em seu relatório, a preocupação com os riscos ex- postos no relatório Aprender a Ser (FAURE, 1972), quando considera funda- mental o papel da educação em Conferir a todos os seres humanos a liberdade de pensamento, discernimento, sentimentos e imaginação de que necessitam para desenvolver os seus talentos e permanecerem, tanto quanto possível, donos do seu destino. (DELORS, 2001, p. 100) Ao enfatizar que a aprendizagem acontece também nos espaços informais, como nas histórias de vida, nas experiências e nas vivências, esse cenário traz, também, novos desafios para a educação. Morin (2002, p. 72) afirma que: O problema crucial do nosso tempo é o da necessidade de um pensamento apto a enfren- tar o desafio da complexidade do real, isto é, de perceber as ligações, interações e implica- ções mútuas, os fenômenos multidimensionais, as realidades que são simultaneamente, solidárias e conflituosas. Podemos dizer que estamos vivendo a transição de paradigmas e as mu- danças provocam inquietações e resistência, o que não é diferente dentro do contexto educacional, o qual, neste momento, aponta-nos sobre a ne- cessidade do professor em rever sua prática, como propõe Behrens (2001, p. 73) ao dizer que “O desafio imposto aos professores (na atual sociedade) é mudar o eixo de ensinar para optar por caminhos que levem ao aprender”. 58 Pensar e construir uma escola Esse desafio, para essa autora, envolve o papel do professor, que exige uma postura reflexiva, que precisa provocar mudanças em sua metodologia e deve atuar como facilitador, questionador, mediador no processo ensino- -aprendizagem. Nesse sentido, Tescarolo (2005, p. 23) salienta que: Todavia, esse movimento não acontecerá espontaneamente. Antes, exigirá a assimilação, por parte dos agentes e sujeitos, bem como pela organização da escola, da nova cultura, que concebe uma realidade dinamicamente tecida. Nessa tentativa, tomamos como referencial, para uma ação docente re- flexiva, tendo como eixo central a produção do conhecimento, um entrela- çamento entre as premissas de uma abordagem progressista na educação (FREIRE, 1993) e os pressupostos do pensamento complexo (MORIN, 2000). Tal entrelaçamento torna-se possível por suas características em relação ao que se espera dos atores, da concepção, do contexto, da metodologia, enfim, do cenário educacional, as quais procuramos sistematizar para fins didáticos, pois como enfatiza Behrens (2005, p. 19), “[...] ensino precisa ser compatível com a nova leitura de mundo advindo da visão sistêmica e complexa do universo”. Dica de estudo NOGUEIRA. Marco Aurélio. Administrar e Dirigir: algumas questões sobre a escola, a educação e a cidadania. In: MACHADO, Lourdes M.; FERREIRA, naura S. (orgs.). Política e Gestão da Educação: dois olhares. Rio de Janeiro: DP&A, 2002. Esse texto ressalta a época de paradoxos e poucas certezas em que vivemos. O autor examina a escola, seu valor, suas dificuldades e seu descrédito, salientan- do a necessidade de “dirigir a escola”. Ainda ressaltando a necessidade de os ges- tores agirem como intelectuais, construtores e organizadores da escola, capazes de fixar parâmetros para sua construção. Atividades 1. Com base no texto, redija uma síntese, formulando um passo a passo para a construção de um projeto para uma escola. Pensar e construir uma escola 59 2. A escola conhecida pelo senso comum tem direcionamento para o peda- gógico, contudo se afirma: concepção política e pedagógica para a escola. Justifique, então, o porquê da afirmação de concepção política e pedagógica. Referências BORDIGNON, Genuíno; GRACINDO, Regina Vinhaes. Gestão da educação: o muni- cípio e a escola. In: FERREIRA, Naura S. C.; AGUIAR, Márcia Ângela S. (Orgs.). Gestão da Educação: impasse, perspectivas e compromissos. São Paulo: Cortez, 2000. 60 Pensar e construir uma escola BRASIL, Presidência da República, Casa Civil, Subchefia para Assuntos Jurídi- cos. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constitui%C3%A7ao.htm>. Acesso em: 31 jan. 2012. BRASIL, Presidência da República, Casa Civil, Subchefia para Assuntos Jurídi- cos. Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996: Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394. htm>. Acesso em: 31 jan. 2012. CHARDIN, Teilhard de. O Fenômeno Humano. São Paulo: Cultrix, 1989. LIBÂNEO, José Carlos. Organização e Gestão da Escola: teoria e prática. 5. ed. Goiânia: Alternativa, 2004. NOGUEIRA, Marco Aurélio. Administrar e dirigir: algumas questões sobre a escola, a educação e a cidadania. In: MACHADO, Lourdes M.; FERREIRA, Naura S. C. (Orgs.). Política e Gestão da Educação: dois olhares. Rio de Janeiro: DP&A, 2002. PARO, Vitor Henrique. Gestão Democrática da Escola Pública. São Paulo: Ática, 1997. ZATTAR, Simone. Aprender a Ser Reflexivo: um desafio na formação do pro- fissional professor universitário. Disponível em: <www.biblioteca.pucpr.br/ tede/tde_arquivos/2/TDE-2007-09-04T113541Z-631/Publico/Simone.pdf>. Acesso em: 26 jan. 2012. VIEIRA, Sofia Lerche. Escola: função social, gestão e política educacional. In: FER- REIRA, Naura S. C.; AGUIAR, Márcia Ângela S. (Orgs.). Gestão da Educação: im- passe, perspectivas e compromissos. São Paulo: Cortez, 2000. Gabarito 1. A construção de um projeto para uma escola em primeiro lugar vai exigir um estudo minucioso, detalhado, envolvendo pesquisa, reflexão, diálogo, aná- lise, tomada de decisão, com a participação de todos, objetivando a cons- trução coletiva do mesmo. E nesse pensar como estudo, antes de qualquer https://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/viwTodos/509f2321d97cd2d203256b280052245a?OpenDocument&Highlight=1,constitui%C3%A7%C3%A3o&AutoFramed Pensar e construir uma escola 61 outra situação que esteja relacionada à construção de uma escola, seja até mesmo a construção física, ele deve estar direcionado à construção humana, e então precisamos primeiro indagar: � Como concebemos o homem? � Que sociedade pretendemos ter? � Qual a nossa concepção de educação? � Que escola queremos? A partir desse estudo e com as suas possibilidades de respostas é que vamos construir coletivamente o Projeto Político Pedagógico da escola e nele esta- rão definidas: a estrutura física, pedagógica, administrativa e financeira os re- cursos e os meios. Enfim, a escola como um todo será definida e organizada em função do Projeto Político Pedagógico. 2. A escola progressista está comprometida com o ser humano em construção, portanto, com o seu desenvolvimento integral. Por isso fundamenta sua pro- posta educacional a partir de uma concepção política e pedagógica, pois a política é a que trabalhacom a conscientização e politização do homem, educando-o para uma realidade planetária possibilitadora de ações transfor- madoras da sociedade, e a pedagógica porque é ela o substrato, ou seja, a essência da função escolar. Maria Cristina Munhoz Araújo Atualmente, os estudos pertinentes ao sistema e às políticas educacio- nais têm considerado, com relevância, a escola como organização, como referência para a consecução dos objetivos e metas do sistema educativo. Nessa perspectiva, a escola é vista como um espaço, ou melhor, um am- biente educativo como espaço de formação, uma comunidade de apren- dizagem, constituída pelos seus integrantes, em que todos podem par- ticipar das discussões e construções, ou seja, participantes ativos das tomadas de decisão sobre o seu fazer, e, assim, estar em aprendizagem constante na sua profissão. Também há a valorização do estudo da escola como local de encontro das análises sociopolíticas globais e os conteúdos de sala de aula. Com isso, possibilita-se uma visão globalizada, de abordagens feitas em sala de aula vinculadas à estrutura social, mais ainda, à realidade social. A escola vista sob esse enfoque deixa de ser elemento de exclusão aos já excluídos pela sociedade, pela extrema pobreza e impossibilidade de participação na escola, passando a ser um instrumento, um meio altamente significa- tivo para a elevação do nível cultural, de possibilidades concretas de for- mação para a cidadania e de desenvolvimento de conhecimentos e de ca- pacidades, aos homens e mulheres, de transformação da realidade social, melhorando a qualidade de vida para a humanidade. O que significa essa colocação? Em que eu, empreendedor/gestor, posso interferir em condições adversas de vida para muitas e muitas pessoas? A resposta está no caminho escolhido e na forma ou no jeito de cami- nhar. Na verdade, está em nossas escolhas de vida, de amor, de respeito e, principalmente, nesse nosso empreendimento específico, chamado educa- ção. O que queremos para as nossas crianças e nossos adolescentes? Eles dependem da nossa orientação para a direção do caminho a percorrer e de como percorrê-lo: “É assim que as escolas, enquanto organizações educa- tivas, ganham dimensão própria, como um lugar onde também se tomam importantes decisões educativas, curriculares e pedagógicas” (NÓVOA, 1995). Organizando e estruturando a escola 63 Vídeo 64 Organizando e estruturando a escola Nessa visão de escola como espaço de aprendizagem, a forma dinâmica de ver a vida da escola, considerando-a como um organismo aberto, a organiza- ção e a estruturação da escola, evidentemente ligada à sua gestão, deixam de ser vistas apenas como questões administrativas e burocráticas. Assumem um papel significativo, uma vez que passam a ser entendidas como práticas educa- tivas, pois as atitudes, os valores, os modos de agir, exercem influência direta na aprendizagem dos alunos, dos professores e dos funcionários. Nesse entendi- mento, todas as pessoas que trabalham na escola participam de tarefas educa- tivas, de forma diferenciada pela especificidade do seu cargo ou função. Alguns exemplos poderão ajudar a entender melhor de que forma a escola funciona como prática educativa. � A recepção na escola – a forma como a criança/adolescente é recebida(o) na escola, de maneira agradável, com alegria, proporcionando o sentir-se acolhido, bem recebido. Isso deve ocorrer todos os dias, pois além dessa prática educativa carregada de valores há que se considerar a predisposi- ção à aprendizagem pelo importar-se com o aluno. � Os encontros pedagógicos, sob a supervisão da direção ou da coordena- ção, constituem-se em ambientes de participação, reflexão e crescimento pessoal e profissional de todos. � O modelo de gestão adotado pela escola reflete diretamente nas relações interpessoais, determinando as formas de relacionamento praticadas en- tre todos os profissionais e os alunos. � A organização da escola pode propiciar um ambiente no qual seja estimu- lada a comunicação, a cooperação, o compartilhar. Poderíamos apresentar aqui diversos exemplos de estruturação e organiza- ção da escola que levam ao seu funcionamento com práticas educativas. Entre- tanto, a nossa intenção é apenas demonstrar a importância de, ao se estruturar e organizar a escola, estabelecer obrigatoriamente a coerência com a proposta educacional. Nos exemplos acima, apresentamos a nossa crença em uma educa- ção progressista, voltada para a cidadania. Podemos pensar cada exemplo citado de forma diversa, o que não o exime de uma prática educativa, apenas o último deles: � a organização da escola pode propiciar um ambiente no qual seja estimu- lada a competição, o isolamento e a falta de comunicação. Organizando e estruturando a escola 65 Esta última colocação foi para mais uma vez chamar a sua atenção para a vivência no dia a dia da escola, pois dela resultam as aprendizagens para todos os que participam da organização escolar, assim como a organização também aprende com os seus componentes. Estabelecido esse cenário (pano de fundo), procuraremos, agora, estabelecer um passo a passo, no intuito de orientação, para chegarmos a uma estrutura organizacional condizente com uma escola de qualidade. Análise de paradigmas Alerto você, gestor e empreendedor, para a necessidade de, em primeiro lugar, fazer uma análise profunda dos paradigmas e eleger sob qual deles irá pautar todo o trabalho da escola, pois o paradigma escolhido que vai funda- mentar a construção de uma proposta educacional e em consequência o desen- volvimento de uma nova forma de gestão. Coerência com a proposta educacional Agora, uma vez estabelecida a escolha e a clareza do paradigma sob a égide de qual deles se vai trabalhar, é hora da construção da proposta educacional, e aqui volto a chamar a atenção para a importância da organização e estruturação da escola coerente à sua proposta educacional, contida no projeto político-pe- dagógico, entendendo este como o plano de ação global da instituição educa- cional, construído pela comunidade escolar. Adoção de um modelo de gestão Acresce-se a essa constatação o modelo de gestão adotado pela escola, pois daí será extraída a política, e a partir desta toda a organização e a estrutura- ção da escola. Evidentemente, seria até dispensável a colocação, mas o reforço não compromete – aliás, traz à tona nossa responsabilidade e nosso compro- misso enquanto empreendedores e gestores. Assim, ressaltamos: para definir o modelo de gestão, antes devemos ter a clareza de concepção de homem, de sociedade e de educação. 66 Organizando e estruturando a escola A Gestão Democrática A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) 9.394/96, ao tratar da gestão da educação, elege como um dos princípios a reger o ensino a gestão democrática. Na realidade, convivemos ainda décadas após a promulgação da lei, com instituições de ensino administradas nos moldes de uma gestão auto- crática, tornando a organização educacional burocrática e tecnocrática, poucas sendo as que estão em processo de mudanças. A questão principal é que não se trata apenas de mudanças nas estruturas organizacionais. Os entraves para uma transição lenta, de uma gestão autocrática para uma gestão democrática, são de fácil identificação: � país colonizado; � vivência ditatorial, por muitos anos; � regime militar; � educação para poucos; � educação para reprodução e servidão. Projeto de construção de cidadania Para os brasileiros, a democracia está ainda no nível de aprendizagem de construção de cidadania, ou seja, vivenciar no dia a dia, na sala de aula, no pátio, na sala dos professores, nas relações interpessoais, nas atitudes, enfim, em todos os ambientes e nos menores gestos, critérios determinantes de ci- dadania e democracia. Para os educadores também, apesar de reconhecerem como direito do cidadão viver democraticamente: por sua história pessoal e formação profissional, atuam muitas vezescom autoritarismo e não exercem o seu papel de autoridade, significando orientador da aprendizagem cidadã, o que implica responsabilidade e compromisso de aprendizagem, não somente vinculada à cognição, mas inclusive atrelada primeiramente à aprendizagem afetiva, acrescida da conativa e da ética. A postura e o perfil desse educador, necessários à construção da cidadania, precisam ser essencialmente de um � pesquisador crítico; � comunicativo e interativo; Organizando e estruturando a escola 67 � com segurança teórica; � comprometimento com a educação de qualidade para todos. Entendidas as correlações agora estabelecidas à organização e à estruturação da escola, no intuito de garantirmos a continuidade do nosso estudo com suces- so, vamos nos ater à busca do significado de estrutura organizacional, para depois estudarmos amiúde as estruturas pedagógica, administrativa e financeira. Estrutura organizacional “O termo estrutura tem aqui o sentido de ordenamento e disposição das fun- ções que asseguram o funcionamento de um todo, no caso, a escola” (LIBÂNEO, 2004, p. 127). A instituição escolar precisa de uma estrutura de organização in- terna, definida no seu regimento escolar. Normalmente, essa estrutura é repre- sentada graficamente em um organograma, demonstrando as inter-relações entre os diversos setores e as funções de uma organização. A leitura desse orga- nograma, ou seja, da representação das funções e suas inter-relações, remete- -nos à análise e constatação das diferentes estruturas organizacionais e de suas dinâmicas organizativas de escola para escola e, principalmente, às concepções de organização e de gestão. A grande questão na construção da estrutura organizacional da escola encon- tra-se na superação da concepção hierarquizada de poder e em consequência das relações verticais que se estabelecem nas organizações, deixando de ser pirami- dal, que representa funções e responsabilidades desvinculadas e demonstrando o poder, identificando quem manda e quem obedece. Mas como estruturar a escola representando os papéis, as funções, as res- ponsabilidades e as relações de poder, concebendo a escola como a descreve- mos neste texto, ou seja, uma escola que privilegie a participação e a autonomia como elementos fundamentais à prática educativa e à gestão democrática? Podemos encontrar diversos modelos de estrutura que retratam a organiza- ção e o funcionamento de escolas, desde as formas de organização e gestão altamente tradicionais até as mais atuais, pautadas no paradigma emergente. E aí nos deparamos com a impossibilidade de apresentar um modelo de estrutura a uma determinada escola, pois está implícito nesse paradigma – e, em decor- rência, na organização do trabalho pedagógico – a construção coletiva também da estrutura organizacional. 68 Organizando e estruturando a escola Entretanto, podemos indicar pistas para essa construção: [...] estabelecer relações circulares, situando diferentes esferas de poder na horizontalidade das relações intersubjetivas. Essa estrutura teria como fundamento e princípio articulador da organização do trabalho pedagógico, assentada nos eixos da interação, cooperação e solidariedade. Dela decorreriam formas de ação, em que seriam privilegiadas as relações de poder, estabelecendo processos cooperativos no plano de reconhecimento dos diferentes espaços de poder, com igual compromisso institucional e social. (BORDIGNON; GRACINDO, 2000, p. 172) Sob esse enfoque, Libâneo apresenta a estrutura básica das funções que expressam a organização do trabalho em uma escola, destacando, contudo, as diferenças entre as estruturas organizacionais das escolas em função da legisla- ção dos estados e municípios e ainda conforme as concepções de organização e gestão adotadas pelas escolas. Organograma básico de escolas Conselho de escola Direção – Assistente de direção ou Coordenador de turno Setor pedagógico – Conselho de classe – Coordenação pedagógica – Orientação educacional Professores – Alunos Pais e comunidade – APM Setor tecnoadministrativo – Secretaria escolar – Serviços de zeladoria, limpeza, vigilância – Multimeios (biblioteca, laboratórios, videoteca etc.) Estrutura pedagógica A estrutura pedagógica de uma organização escolar é determinada por sua finalidade educacional, entendendo que a educação realiza sua finalidade nas dimensões individual e social. Individual porque a educação escolar realiza sua finalidade no espaço das consciências humanas. E social porque vive e se con- cretiza no espaço coletivo, na relação com o outro, em um tempo e espaço de- terminados. A escola, portanto, tem sua finalidade definida na filosofia da edu- Organizando e estruturando a escola 69 cação, uma vez que concebe o homem em suas dimensões individual e social, e ainda na sociologia, que situa a escola no tempo e espaço social (BORDIGNON; GRACINDO, 2000). A escola progressista precisa, portanto, ter uma estrutura pedagógica defini- da por sua finalidade. Independentemente até da perspectiva ou tendência ou, ainda, linha pedagógica, o que queremos aqui deixar muito claro é que cabe a qualquer organização educacional a definição de sua estrutura pedagógica con- dizente com sua finalidade, ou seja, pelos fins da educação. A escola tradicional define sua estrutura de forma burocrática, priorizando, na maioria das vezes, os meios, tornando-os mais importantes que os fins. A exem- plo, podemos citar a escola que adota o programa de qualidade total, a burocra- cia, o controle, gráficos etc., com grande preocupação na qualidade extrema de atendimento ao cliente, transformando a escola em empresa. E a finalidade da organização educacional, pelos fins da educação, em que espaço foi parar? A qualidade deve existir e ser exigida pela população, mas de forma proces- sual, ocorrendo no dia a dia, na construção da formação do ser humano e, vol- tando a repetir, no intuito de reforçar: “[...] a finalidade da escola, nos regimes democráticos, se fundamenta na concepção de homem histórico, autônomo e livre, vivendo solidariamente entre iguais num espaço e tempo determinados” (BORDIGNON; GRACINDO, 2000). Estrutura física A estrutura física das escolas brasileiras permite uma leitura parcial da realida- de sobre as condições de cada instituição de ensino, no que concerne ao próprio espaço físico, ao prédio escolar, às instalações e aos equipamentos. Um Brasil constituído de diversos Brasis, não só por sua dimensão territorial, mas especialmente por suas diferenças e riquezas de linguagem, de caracterís- ticas físicas do homem e da mulher, climáticas, históricas, culturais, sociais, polí- ticas, econômicas e educacionais. Uma diversidade imensa, e aí aparece a nossa argumentação da escola inserida e convivendo em um contexto histórico, social, econômico, político e cultural. A partir dessa constatação, já podemos concluir pela impossibilidade de se padronizar a escola, principalmente a título de qualidade em educação, ainda que neste momento estejamos nos referindo apenas à estrutura física. 70 Organizando e estruturando a escola Segue um relato verídico para ilustrar o tema. A história Por um determinado período, na TV, um programa elegia escolas que, não sei por meio de que critérios, eram destacadas como escolas diferen- ciadas pela qualidade de ensino que promoviam. Ao assistir a proposta de um determinado município, interessei-me em conhecê-la, fiz contato com a Secretaria Municipal de Educação e fui até lá. Primeiramente, na Secretaria de Educação conheci toda a estrutura or- ganizada para atender ao Projeto de Qualidade em Educação. E então tive minha primeira decepção: uma equipe de profissionais voltada ao planeja- mento e à elaboração do material didático, “estilo apostila”, demonstrando que o poder de planejar, construir, criar a partir do conhecimento e da reali- dade dos seus alunos não se fazia presente, pois o professor estava na escola como mero executor/reprodutor. Calculema despesa para o município com profissionais contratados para realizar o que é inerente ao professor, inclusi- ve descaracterizando-o. Mas, e a elaboração da apostila? Livros didáticos são muito mais apropriados, além de possibilidades de escolhas diversas a serem feitas pelos professores, e sem falar em custos. Na visita a uma das unidades escolares, situada na periferia da cidade, o cenário era assombroso: um prédio escolar excelente, maravilhoso, com salas especiais para cada área do conhecimento, em meio a uma favela, na qual os alunos residiam. À primeira vista, você pode questionar: pobre não tem di- reito a um prédio escolar novo, bonito, com recursos? Não é essa a questão. É possível ter um prédio novo, simples e com uma pedagogia coerente, que ofereça melhoria de qualidade de vida à comunidade na qual a escola está inserida e não um castelo, onde o pobre será preparado para reproduzir e servir, diferente de uma educação para a autonomia, emancipatória. Grande parte do recurso financeiro gasto na construção de uma escola de luxo pode ser aplicado na urbanização da favela, na alfabetização dos adultos. De maneira alguma estou a renegar direitos das crianças e dos ado- lescentes, apenas procurando o que seria melhor para uma comunidade, pensando em todos. A escola era composta de salas-ambiente por área do conhecimento, para dispor de muitos recursos, viajar pelo mundo das descobertas e também Organizando e estruturando a escola 71 estabelecer relações, ampliando o seu conhecimento e ainda poder levar para a sua vida, sua família e sua comunidade. Qual o gestor que não gosta- ria de contar com essa estrutura física? Entretanto, ela só tem sentido se for para apropriação e construção do conhecimento, e ainda para construir e criar em benefício do homem. Agora você vai entender mais o porquê da minha indignação: as crianças, com a apostila na mão, a cada cinquenta minutos mudavam de sala-ambien- te e de professor, todos usando a mesma metodologia – a tradicional. Final da história: o castelo desfez-se. A estrutura física deve ser condizente com a proposta pedagógica. Não depen- de somente da estrutura física para se ter qualidade de educação, pois se pode ter excelente estrutura física e péssimo trabalho pedagógico, comprometendo a formação dos alunos. Ideal seria conciliar os dois. O pedagógico podendo contar com uma estru- tura física coerente e esta a serviço do pedagógico. A questão principal está na visão das pessoas. Há uma colocação assim: tenho computadores de última geração, com di- versos programas, banda larga, possibilidades mil e na aula de matemática vou usá-los para questionar os alunos – tenho dois computadores aqui e mais dois ali. Quantos computadores tenho? A simplicidade, ou complexidade do recurso, depende estritamente da forma como o usamos. Tenho ainda uma outra história contada pela professora Maria Cândida Moraes, autora do livro O Paradigma Emergente. Ela foi convidada para conhecer uma superescola, com equipamentos jamais vistos, um computador por aluno e mais e mais... Ao ser perguntada sobre sua impressão, respondeu que para ela não serviria, pois escola é um espaço de interações, especialmente entre homens e não entre homem e máquina. Lembrou-se também das carteiras fixas, que impossibilitariam os trabalhos coletivos. Estrutura administrativa e financeira A estrutura administrativa e financeira de uma escola deve ser estruturada e organizada para que se tenha um desempenho eficiente, objetivando oferecer o 72 Organizando e estruturando a escola necessário suporte administrativo/financeiro à estrutura pedagógica. Necessá- rio se faz o entendimento de que o administrativo e o financeiro estão a serviço do pedagógico para lhe dar condições de vida saudável e longevidade, pois o pedagógico é a essência da instituição de ensino, assim como a medicina está para um hospital. Dessa maneira, a escola deve ter uma proposta pedagógica exemplar, elogiável, de extrema qualidade educacional: trabalho em equipe, e esta detentora de competências e habilidades requisitadas pela sociedade do conhecimento. Todavia, temos que ter sempre em mente, não somente os em- preendedores e gestores, mas todos os educadores: a escola, preservada sua es- pecificidade enquanto organização escolar, deve ser gerida empresarialmente. A escola é reconhecida na sociedade enquanto instituição ou organização detentora do poder de apropriação e construção do conhecimento acumulado pela humanidade – portanto, tem o papel de locus do conhecimento na socieda- de. Hoje, altamente questionada pela sua qualidade, traz insegurança à comu- nidade escolar, do que ressaltamos uma das razões: o não reconhecimento da escola enquanto empresa. Vamos esclarecer, que empresa não para funcionar como tal e qual. A escola tem sua especificidade e a ela deve estar voltada sua organização e estruturação. Quando falamos em escola e empresa, estamos nos referindo à preparação da escola para ter visão, além da educacional, empresa- rial, independentemente da sua entidade mantenedora, de iniciativa privada ou não. Comumente, nas escolas há a preocupação em ter profissionais qualificados e habilitados para a área pedagógica, e de fato não poderia ser diferente. Contu- do, quando se pensa na área administrativa e financeira, rapidamente nos vêm à mente a secretaria escolar e o escritório de contabilidade, sem dar muita impor- tância ao pessoal da zeladoria. É indiscutível a quantidade de profissionais da área pedagógica, muito supe- rior à da administrativa e financeira, mas que qualitativamente devem receber a mesma graduação. Queremos na coordenação pedagógica um profissional de nossa inteira confiança, que possa ser respeitado e admirado por sua competên- cia por todos os envolvidos no processo – professores, pais, alunos. Da mesma forma, precisamos de um profissional para coordenar as ações administrativas e financeiras da escola que proporcione segurança, tranquilidade e principalmen- te organização à instituição. Normalmente, quando isso acontece, dizemos que o pedagógico flui. Organizando e estruturando a escola 73 Necessário se faz entender que o administrativo e o financeiro devem ser encarados tão seriamente quanto o pedagógico, pois este depende daqueles e aqueles só têm razão de existir se de inteiro compromisso com a finalidade da educação, com a preservação da qualidade e a serviço do pedagógico, pois a essência da organização escolar está centrada no pedagógico. Imperam, no meio educacional, o desconhecimento, o receio do erro e a di- ficuldade das escolas em trabalhar com o financeiro. Historicamente, há uma explicação: educação está ligada a missão, a sacerdócio, e isso não se cobra. E, ainda hoje, a legislação sobre anuidade escolar, conhecida também por Lei do Calote, não apoia a escola, não a vê como empresa com responsabilidades de pagamentos de salários, encargos, energia elétrica, impostos etc., mas a cobra como a qualquer outra empresa, sem qualquer distinção. Oposto a isso, a forma- ção do educador não privilegia conhecimentos da área financeira. Recentemen- te, surgiram cursos para os gestores escolares, trazendo em seu currículo a dis- ciplina gestão financeira. Os gestores não podem mais se dar ao luxo de apenas delegar ao contador, até porque este vai se ater à documentação contábil e não à análise financeira, que se diferenciam em sua natureza. A recomendação para o estudo e a busca constante do aperfeiçoamento nessa área, para nós inusitada até agora, é questão premente – de sobrevivência para alguns e de crescimento para outros. Financeiro A instituição deve contar com um programa financeiro específico, contendo planilhas de previsões e de realizações financeiras, para receitas e despesas, por período diário, mensal e anual. O programa partirá do lançamento do movimento de caixa do dia (entrada e saída). Inicialmente, esse é o trabalho a ser realizado pelo profissional financeiro e todo o processamentodesses dados será efetuado pelo programa. Assim, ao profissional financeiro e ao gestor cabe a análise de resultados para planejamen- to e consequentes tomadas de decisão, possibilitando o acompanhamento e a intervenção – se necessário, diariamente. Objetivando apenas exemplificar, a seguir apresentamos algumas planilhas com dados fictícios, que demonstram para o gestor e para o coordenador finan- ceiro a história de vida financeira da organização. 74 Organizando e estruturando a escola Planilhas financeiras PLAFON – novembro (escola X dados fictícios) Descrição Valor previsto % Valor realizado % Diferença Receita 130.000,00 123.534,36 –6.465,64 Salários 42.700,00 32,85% 42.310,00 34,25% –390,00 Adiantamentos 0,00 0,00% 1.020,00 0,83% 1.020,00 Provisão 13.º salário 3.881,82 2,99% 3.881,82 3,14% 0,00 Provisão férias 1.293,67 1,00% 1.293,67 1,05% 0,00 Pró-labore 5.200,00 4,00% 5.200,00 4,21% 0,00 Aluguel + IPTU 4.600,00 3,54% 4.600,00 3,72% 0,00 Telefones 1.020,00 0,78% 1.138,00 0,92% 118,00 Cadastros 850,00 0,65% 850,00 0,69% 0,00 Água/Luz/Gás 1.200,00 0,92% 1.132,00 0,92% –68,00 Impostos e taxas 50,00 0,04% 50,00 0,04% 0,00 Refeições 4.200,00 3,23% 3.980,00 3,22% –220,00 Material de escritório 1.500,00 1,15% 1.428,00 1,16% –72,00 Material de consumo 800,00 0,62% 928,00 0,75% 128,00 Combustível 150,00 0,12% 150,00 0,12% 0,00 Estacionamento 15,00 0,01% 15,00 0,01% 0,00 Provisões festas 500,00 0,38% 500,00 0,40% 0,00 Correios 20,00 0,02% 5,50 0,00% –14,50 Consertos e reparos 900,00 0,69% 860,00 0,70% –40,00 Marketing/ propaganda/eventos 1.000,00 0,77% 1.050,00 0,85% 50,00 Despesas financeiras 350,00 0,27% 321,00 0,26% –29,00 Organizando e estruturando a escola 75 Descrição Valor previsto % Valor realizado % Diferença Vale-transporte 2.600,00 2,00% 2.664,00 2,16% 64,00 INSS 3.236,72 2,49% 3.236,72 2,62% 0,00 FGTS 3.384,80 2,60% 3.384,80 2,74% 0,00 Simples 6.000,00 4,62% 5.880,00 4,76% –120,00 ISS 1.200,00 0,92% 1.200,00 0,97% 0,00 IRPJ 0,00 0,00% 0,00 0,00% 0,00 Manutenção máquinas 500,00 0,38% 480,00 0,39% –20,00 Comissões e prêmios 0,00 0,00% 0,00 0,00% 0,00 Despesas com copa 620,00 0,48% 615,00 0,50% –5,00 Despesas com viagens 950,00 0,73% 985,00 0,80% 35,00 Despesas jurídicas 0,00 0,00% 0,00 0,00% 0,00 Material didático – produtos 1.000,00 0,77% 1.000,00 0,81% 0,00 Investimento imobilizado 0,00 0,00% 0,00 0,00% 0,00 Honorários 550,00 0,42% 550,00 0,45% 0,00 Diversos 800,00 0,62% 736,00 0,60% –64,00 Fotocópias 500,00 0,38% 552,00 0,45% 52,00 Comemorações 800,00 0,62% 854,00 0,69% 54,00 Transportadora 0,00 0,00% 0,00 0,00% 0,00 Despesas com gráfica 300,00 0,23% 280,00 0,23% –20,00 Rescisões 0,00 0,00% 0,00 0,00% 0,00 Informática 350,00 0,27% 320,00 0,26% –30,00 Extracurriculares 2.600,00 2,00% 2.600,00 2,10% 0,00 Segurança 150,00 0,12% 150,00 0,12% 0,00 Despesas com telecentral 200,00 0,15% 200,00 0,16% 0,00 76 Organizando e estruturando a escola Descrição Valor previsto % Valor realizado % Diferença Total das despesas 95.972,00 73,82% 96.400,51 78,04% 428,51 Royalties 0,00 0,00% 0,00 0,00% 0,00 Retirada diretor 3.000,00 2,31% 3.000,00 2,43% 0,00 Total participação 3.000,00 2,31% 3.000,00 2,43% 0,00 Subtotal 98.972,00 76,13% 99.400,51 80,46% 428,51 Entrada (repasse) 1.750,00 1,35% 1.525,00 1,23% –225,00 Saída (repasse) 1.750,00 1,35% 1.835,00 1,49% 85,00 Total (repasse) 0,00 0,00% –310,00 –0,25% –310,00 Total geral 98.972,00 76,13% 99.090,51 80,21% 118,51 Total de receita 123.534,36 Total de despesas 99.090,51 Saldo 24.443,85 Procure colocar os dados da sua escola nessas planilhas e com os resultados você terá em mãos uma ferramenta valiosíssima para orçar e tomar decisões, questionando e constatando se existe lucro ou não, se compensa manter deter- minado setor ou não. Exemplo: o integral de 5.ª a 8.ª série é deficitário, entretanto um percentual significativo dos alunos somente ficaria na escola com a oferta do integral. Aqui cabe o estudo e a análise financeira: é válido manter o integral, pensando em ci- frões, estabelecendo a relação custo-benefício? Se definido que sim, o que pode ser feito para melhorar a receita do integral? Cativar alunos para participarem do integral, sem dele precisarem por contingência familiar, mas pelo prazer, pelas atividades e projetos ofertados. O nosso pensamento deve passar por transformações profundas e realmen- te ousar, inovar, com os pés no chão, com base nos dados reais e concretos da organização e no comportamento do mercado. Essa mudança no nosso pensar consiste em acreditarmos que a cada problema encontrado, e de posse de dados e análise histórica sobre eles, seremos capazes de encontrar diversas possibilidades de solução. Organizando e estruturando a escola 77 Texto complementar A organização escolar: o processo de gestão (SANTOS, 2008) A organização de uma escola é muito complexa: estruturas e intervenien- tes como os gestores (administrativos e técnicos), o corpo docente, os fun- cionários, o corpo discente, a comunidade, a gestão educacional dos órgãos superiores, a legislação etc. Tudo isso acarreta uma série de problemas, alguns já clássicos, como a deficiência de recursos humanos, materiais e finan- ceiros. Para efeito de comparações, citaremos um autor português, Brito (1994, p. 12), que aponta os principais problemas com que as escolas de Portugal se defrontam. Incrível, mas, “lá como cá”, as coisas se assemelham em muitos aspectos. Herança maldita? � falta de autonomia na resolução dos problemas; � ausência de dignificação dos órgãos de gestão escolar; � inexistência de incentivos e apoio na execução de acordos institucionais; � normativos de regulamentação dos órgãos de gestão desajustados com a realidade e com princípios de eficácia; � falta de incentivos materiais para os órgãos pedagógicos, administra- tivos, executivos e outros cargos de órgãos de apoio; � excesso de normativos, desajustados, desarticulados; � excesso de responsabilidade sobre o órgão de direção e gestão da es- cola; � excesso e repetição/sobreposição de pedidos externos sobre estatísti- cas, desligados do interesse e das necessidades da organização escolar; � desequilíbrio da rede escolar (distribuições de alunos/áreas pedagógi- cas/edifícios escolares); � falta de correspondência teórico-prática em determinada legislação por impedimentos externos à escola. 78 Organizando e estruturando a escola Para o mesmo autor (1994, p. 12), a “organização da escola” tem trés áreas fundamentais de gestão: a) a pedagógico-didática; b) a funcional e dos espa- ços; e c) a administrativo-financeira. Em Portugal ocorre a supervalorização da área administrativo-burocrático-financeira em detrimento da pedagógico-di- dática (qualquer semelhança...). A supervalorização de uma área pode degra- dar os serviços das outras, com prejuízo para o trabalho educativo integral. [...] Para Freitas e Girling (1999, p. 31), [...] dentre os aspectos percebidos como capazes de mudar esse cená- rio estão: o tipo de liderança exercida pelo gestor educacional e a capaci- dade da comunidade escolar de atuar de modo participativo e autônomo. envolvendo-se com o planejamentos a execução e a avaliação de todas as ações da escola tanto do ponto de vista administrativo-financeiro quanto pedagógico. [...] A escola que todos desejamos não deve ser uma utopia, mas uma reali- dade democrática e de qualidade, devidamente organizada para atender às características diferenciadas de crianças, jovens e adultos, com materiais e equipamentos suficientes. A proposta pedagógica deve valorizar a cultura do sucesso no ensino-aprendizagem e na vida profissional, social e familiar de todos. Para implantar essa escola de sucesso, é necessária uma gestão mais eficiente e moderna, e que novos papéis sejam atribuídos aos gesto- res para que o Estado possa cumprir o preceito constitucional de garantir a todos educação com qualidade e equidade. [...] Buscando efetivara gestão democrática, os órgãos administrativos e técnicos dos vários sistemas de ensino devem agir dentro dos princípios de coerência e equidade, incentivando a corresponsabilidade da comunidade escolar na organização e na prestação dos serviços educacionais. Para isso, a escola, como uma organização, exige dos gestores um planejamento ade- quado e atitudes dinâmicas e empreendedoras para orientar o seu pessoal administrativo, técnico e docente. [...] Organizando e estruturando a escola 79 As mudanças devem ser embasadas nas modernas teorias de gestão com ênfase na liderança, na tomada de decisões, nas estratégias, na flexibilidade e na autonomia da escola. O humanismo organizacional, a gestão de qualidade e a liderança situacional podem provocar as mudanças necessárias no interior da escola. No novo tipo de gestão, devem prevalecer a liderança, a partici- pação, a criatividade, a iniciativa, a cooperação, e a motivação. A educação escolar é algo muito sério para ser gerido com autoritarismo, improvisação, o que a leva para a estagnação, para o conformismo e para a inutilidade. A Gestão Educacional e Escolar, como função atípica e diferente de qualquer outra atividade ou profissão, depende da filosofia e das políticas educacionais do país e da postura pedagógica assumida nas escolas. Se a concepção da instituição social parte do conceito do instituído e, portan- to, da educação como transmissora do passado, tende-se a reforçar o papel da escola como repassadora de valores e padrões. Ao contrário, partindo-se de uma concepção de instituição social inspirada na dialética do instituído- -instituinte, a escola, mais do que uma função de transmissão, tem também uma função de vivência. O novo modelo de Gestão Educacional e Escolar enfatiza a liderança, não mais realizada como no passado, por gente talentosa, com características de personalidade que induzem as pessoas ao trabalho e à participação. Hoje o líder busca, intencionalmente, influenciar os outros para utilizarem todo o seu potencial, realizarem bem as tarefas e atingirem objetivos e metas, ma- ximizando o desenvoIvimento organizacional e pessoal. As características principais do líder são expressas pelos conhecidos “sete cês”: credibilidade, convicção, caráter, cuidado, coragem, compostura e competência. O líder será o grande animador (animador: de anima = alma) para que se tenha bom êxito e se crie uma nova cultura organizacional. Nesse contexto, pode-se afirmar que: � a autoridade hierárquica clássica não favorece a mudança; � mudanças significativas exigem imaginação, perseverança, diálogo, cuidados e disposição para mudar; � toda mudança é um grande desafio que deve ser enfrentado por pes- soas diferentes, em diferentes posições, que lideram de maneiras dife- rentes, mas nunca como heróis. 80 Organizando e estruturando a escola Ferreira et al. (1997, p. 239-240) apontam dois elementos que devem estar presentes em qualquer modelo de gestão. 1. Contextualização – qualquer paradigma de gestão não tem sentido se considerado fora da realidade em que surgiu. Desde os primórdios da civilização humana, qualquer empreendimento espelha o grau de desenvolvimento e os anseios da sociedade em que se insere: suas li- mitações tecnológicas, o nível de abertura cultural de seu povo, o grau de ingerência do Estado na vida econômica, a autoridade e austerida- de de seus políticos, sua riqueza e a qualificação de seus recursos. [...] Um modelo de administração não pode ser analisado de forma estan- que desvinculado de seu contexto. 2. Necessidade de mudanças – as organizações são sempre foco e alvo de mudanças pela utilização da tecnologia ou pelas transformações impostas pela sociedade. Mudança contínua é uma característica in- trínseca do universo. A finalidade desse propósito de permanente es- tado de mutação é uma questão em torno da qual cientistas e filósofos constroem hipóteses e teorias para explicar o fenômeno. Para a orga- nização, mudança é a única constante. [...] A única coisa que diferencia nossa época das anteriores é a velocidade das mudanças, que se tor- nam cada vez maiores. Qualquer transformação gera resistência, especialmente interna. A grande tarefa dos gestores é fazer com que a resistência seja vencida de maneira construtiva. É preciso considerar os riscos envolvidos ao liderar as mudanças, levando em conta a taxa normal de erros e acertos. Ao gestor cabe prever as mudanças e se antecipar a elas, porque a organização, como parte do am- biente, é composta de três elementos: � a estrutura: em que se define o papel da organização no ambiente, do indivíduo na organização e dos relacionamentos entre os elementos; � a tecnologia: com a qual as pessoas encontrarão os recursos de que ne- cessitam para cumprir o seu papel e as especificidades das atribuições; � o comportamento das pessoas: seu conhecimento e sua competência para realizar um trabalho. As empresas são constituídas por pessoas, estrutura e tecnologia, sem vis- lumbre de alterações de paradigma. As novas teorias e práticas de gestão pro- Organizando e estruturando a escola 81 vocarão transformações, e os gestores devem ter consciência de que técnicas e modelos ficam ultrapassados à medida que desaparecem as necessidades para as quais foram criados. Devem ter sempre em mente que mudança é a única ideia constante, e que a transitoriedade é uma verdade que precisa estar presente nas políticas educacionais, e que a escola é uma instituição de natu- reza mutante por excelência, conforme nos ensina Ferreira (1997). [...] A mudança é fruto do desenvolvimento tecnológico – gerando altera- ções demográficas que refletem fatos sociais e econômicos mais amplos – e de decisões políticas, de ações administrativas ou de desenvolvimento pro- fissional. Conforme Glatter (1992), qualquer mudança educacional significa- tiva exige uma gestão atuante, e esta, sendo uma atividade necessária, mas complexa, demanda um conhecimento profissional profundo, capacidade de apreciação e um vasto leque de outras competências pessoais. O impor- tante é não perder de vista que o objetivo principal da gestão escolar é criar as condições para que os docentes desenvolvam bem o processo ensino- -aprendizagem, pois a boa gestão escolar é uma característica significativa de escolas bem-sucedidas. [...] Para Lück (1998), o termo gestão, para substituir o antigo administração escolar, tem sido utilizado de forma equivocada, pois o que parece é que se trata de simples mudança de terminologia das antigas noções de como conduzir as atividades-meio da escola. Para a autora, a gestão é mais abran- gente e dinâmica, envolvendo a dimensão política e social, a ação para a transformação, a globalização, a participação, a práxis, a cidadania etc. A ad- ministração científica (Taylor e seus seguidores) não tem mais vez em orga- nizações onde ocorrem processos sociais caracterizados pela diversificação e pluralidade de interesses, em que as pessoas não podem ser consideradas componentes de uma máquina manejada e controlada de fora para dentro. Mas nem tudo da administração clássica deve ser desprezado. Alguns princípios e práticas muito difundidos da administração geral, devidamente adaptados, poderiam ser aplicados à gestão educacional e escolar: 1. As escolas devem ser planejadas para se transformar em centros co- munitários permanentes. 82 Organizando e estruturando a escola 2. A integração escola-comunidade-família deve ser amplamente aplicada. 3. Pais, professores e alunos devem estar satisfeitos com a escola. 4. Não esquecer que entre a clientela há diferentes características de in- teligência e, por isso, devem existir diversos estilos de aprendizagem. 5. Usar boas e novas técnicas de ensino que sugiram distintas formas de aprendizagem. 6. Não se esquecer do recurso-chave do processo de ensino-aprendiza- gem: o professor. Investir em sua formação, atualização e em seu aper- feiçoamento. 7. Planejarbem o currículo da escola, visando ao crescimento pessoal, às habilidades de vida e ao aprender a aprender. 8. A educação continuada deve ser uma constante entre alunos e profes- sores. 9. Adotar critérios diferentes e eficazes de avaliação do processo educati- vo; lembrar-se de que o que sabemos hoje poderá estar obsoleto ama- nhã. Se pararmos de aprender, estaremos condenados à estagnação. 10. Usar tecnologia moderna e dar a todos o direito de escolher a técnica que lhes pareça mais adequada para aprender. Dica de estudo LIBÂNEO, José Carlos. Organização e Gestão da Escola: Teoria e prática. 5. ed. Goiânia: Alternativa, 2008. O autor preocupa-se em proporcionar a todos os que trabalham na escola, assim como aos seus usuários, o conhecimento da organização escolar, das formas de gestão e de tomadas de decisão, assim como das competências e pro- cedimentos necessários à participação eficaz na vida da escola. Apresenta a organização escolar como um organismo aberto, cuja estrutura e pro- cessos de organização e gestão são construídos sistematicamente por todos os que nela trabalham e pela comunidade escolar (alunos, pais e comunidade próxima). Organizando e estruturando a escola 83 Atividades 1. Relacione três ou mais formas de organização da escola, entendendo-as como prática educativa, elegendo para elas uma perspectiva de uma educa- ção progressista. 84 Organizando e estruturando a escola 2. Para a construção da estrutura organizacional de uma instituição educacio- nal condizente com uma escola de qualidade há que se trilhar um percurso. Estabeleça um passo a passo para assegurar essa construção. Organizando e estruturando a escola 85 Referências BORDIGNON, Genuíno; GRACINDO, Regina Vinhaes. Gestão da educação: o mu- nicípio e a escola. In: FERREIRA, Naura S. C.; AGUIAR, Márcia Ângela S. (Orgs.). Gestão da Educação: impasse, perspectivas e compromissos. São Paulo: Cortez, 2000. BRASIL, Presidência da República, Casa Civil, Subchefia para Assuntos Jurídi- cos. Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996: Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394. htm>. Acesso em: 31 jan. 2012. LIBÂNEO, José Carlos. Organização e Gestão da Escola: teoria e prática. 5. ed. Goiânia: Alternativa, 2004. MORAES, Maria Cândida. O Paradigma Educacional Emergente. Campinas: Pa- pirus, 1997. NÓVOA, António (Org.). As Organizações Escolares em Análise. Lisboa: Dom Quixote, 1995. SANTOS, Clóvis Roberto dos. A Gestão Educacional e Escolar para a Moderni- dade. São Paulo: Cengage Learning, 2008. Gabarito 1. a) A recepção na escola: a forma como a criança/adolescente é recebida(o) na escola, de forma agradável, com alegria, proporcionando o sentir-se acolhido, bem recebido. Isso deve ocorrer todos os dias, pois além dessa prática educativa, carregada de valores, há que se considerar a predispo- sição à aprendizagem pelo importar-se com ele (o aluno). b) Os encontros pedagógicos, sob a coordenação da direção ou da coorde- nação, constituem-se em espaços de participação, reflexão e crescimen- to pessoal e profissional de todos. c) O modelo de gestão adotado pela escola reflete diretamente nas rela- ções interpessoais, determinando as formas de relacionamento pratica- das entre todos os profissionais e os alunos. 86 Organizando e estruturando a escola d) A organização da escola pode propiciar um ambiente em que seja esti- mulada a comunicação, a cooperação e o compartilhar. 2. Análise de paradigmas Escolha do paradigma, tradicional ou emergente, pois é ele que vai dar respaldo ao trabalho da escola, bem como fun- damentar a proposta educacional e, em decorrência, a forma de gestão. Coerência com a proposta educacional A partir do paradigma escolhido, é hora da construção da proposta educacional, coerente com a organização e estrutu- ração da escola contida no Projeto Político Pedagógico. Adoção de um modelo de gestão Do modelo de gestão adotado pela escola é que será extraída a política e, a partir desta, toda a organização e a estrutura- ção da escola. Evidente que esse modelo vai ser definido pela concepção de homem, sociedade e educação que se tem. A Gestão Democrática A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) 9.394/96 ao tratar da Gestão da Educação, elege como um dos princípios a reger o ensino, a Gestão Democrática. Projeto de construção de cidadania A democracia está inteiramente ligada à vivência da cidada- nia. E, para os brasileiros a democracia está ainda no nível de aprendizagem de construção de cidadania, ou seja, vivenciar no dia a dia, na sala de aula, no pátio, na sala dos professo- res, nas relações interpessoais, nas atitudes, enfim, em todos os ambientes e nos menores gestos, critérios determinantes de cidadania e democracia. Também, para o educador, signi- ficando orientador da aprendizagem cidadã, o que implica responsabilidade e compromisso de aprendizagem não so- mente vinculada à cognição, esta inclusive está atrelada pri- meiramente à aprendizagem afetiva, acrescida da conativa e da ética. Organizando e estruturando a escola 87 Mariza Andrade Silva Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado. Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por ela, isto é, velar por ela, isto é estar acordado por ela, isto é, estar por ela ou ser por ela. Por isso melhor se guarda o voo de um pássaro do que pássaros sem voos. Antonio Cícero Alguns princípios O atual contexto educacional brasileiro, a exemplo de outros países, vem atribuindo forte ênfase ao componente da gestão, tanto dos sistemas de ensino como das instituições escolares. Esse enfoque passou a ter relevância com a lei educacional de 1996, respaldada pela Constituição Federal de 1988. À medida que esse modelo foi implantado, as competências e responsabilidades foram mais bem distribuídas entre as diferentes esferas administrativas, aumentando as exigências para os gestores das redes e das instituições escolares. Nesse quadro, a autonomia é conferida para as diferentes instâncias, ocasionan- do outras responsabilidades. Destaca-se que a educação formal se firma pela institucionalização da educação e supõe um conjunto de órgãos intencionalmente organizados para viabilizar o desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem, que também recebe influências do meio social e da nova competência da educação, que é a gestão participativa. Com a Constituição Federal, foram estabelecidos os princípios da edu- cação nacional e a sua organização está explicitada na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), a Lei 9.394/96, que atribui responsabi- lidades aos entes federados para a sua implementação e aplicação, dessa forma redefinindo o processo regulatório. Documentação legal e fluxo da informação 89 Vídeo 90 Documentação legal e fluxo da informação É importante destacar que a LDB dispõe sobre as várias instâncias do ensino e as possibilidades para sua organização. Essas variáveis são dispostas com base nas peculiaridades de cada ente federado (estado ou município) e de cada co- munidade, e por isso cada sistema de ensino1 deve normatizar as alternativas que considera mais adequadas, privilegiando sempre as que melhor servirem aos interesses do processo de aprendizagem. Segundo o artigo 8.º da LBD, os sistemas de ensino da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios irão se organizar em regime de colaboração, cabendo à União definir as políticas educacionais. A LDB organiza a educação em dois níveis: educação básica e educação superior. Esses níveis possuem as modalidades: � Educação Especial; � Educação a Distância; � Educação de Jovens e Adultos; � Educação Indígena; � Educação Profissional de Nível Técnico; � Educação no Campo. Outras modalidades foram dispostas recentemente: Educação Quilombola e Educação Ambiental. A educação básica possuias etapas: � Educação Infantil; � Ensino Fundamental; � Ensino Médio. No contexto da democracia e da autonomia dos sistemas de ensino e das instituições educacionais, ganha corpo e importância a gestão e a atuação dos profissionais que a promovem. Assim, a ação de fato se efetiva mediante a exe- cução das funções necessárias nos vários campos da gestão, sejam os órgãos 1 O sistema de ensino se efetiva pelo conjunto de estabelecimentos da educação no ente federado: secretaria, regionais, Conselho de Educação e demais setores para a sua manutenção. Documentação legal e fluxo da informação 91 executores ou o órgão normativo.2 A base da educação está na equipe gestora, papel fundamental cabendo ao gestor estadual ou municipal, às direções, à ins- peção escolar e à supervisão, e ativamente aos docentes. É essencial a habilita- ção dos profissionais da educação como um todo e o investimento na formação em serviço e continuada. Portanto, tratar da documentação escolar é conhecer o funcionamento dos sistemas de ensino e seus órgãos, bem como os atos regulatórios que organizam a existência e dão legalidade a esses sistemas. Organização da educação No Brasil, a lei da educação nacional apresenta, como citado anteriormente, os dispositivos para a organização da educação, respeitando, no entanto, as pe- culiaridades de cada segmento: Art. 8.º A União, os estados, o Distrito Federal e os municípios organizarão, em regime de colaboração, os respectivos sistemas de ensino. § 1.º Caberá à União a coordenação da política nacional de educação, articulando os diferentes níveis e sistemas e exercendo função normativa, redistributiva e supletiva em relação às demais instâncias educacionais. § 2.º Os sistemas de ensino terão liberdade de organização nos termos desta Lei. Após a LDB, os estados e municípios se organizaram instituindo novas normas para o funcionamento de seus sistemas de ensino. Alguns municípios preferiram continuar funcionando em parceria com os estados, utilizando as normas ema- nadas do conselho estadual, nos termos do artigo 11: Art. 11. Os municípios incumbir-se-ão: [...] Parágrafo único. Os municípios poderão optar, ainda, por se integrar ao sistema estadual de ensino ou compor com ele um sistema único de educação básica. Sistema de ensino Etimologicamente, a palavra sistema vem do latim systéma, átis, “reunião, juntu- ra, sistema”; do grego sustéma, atos, “conjunto, multidão, corpo de tropas, conjun- 2 O órgão normativo e deliberativo de um sistema de ensino é o conselho de educação. No Brasil, temos o Conselho Nacional de Educação, os conselhos estaduais e alguns municipais. 92 Documentação legal e fluxo da informação to de doutrinas” (HOUAISS, 2009). Um sistema é constituído de vários elementos que se inter-relacionam de maneira dinâmica e possuem objetivos comuns. Todo sistema pressupõe uma cadeia de subsistemas e, ao mesmo tempo, insere-se em um sistema hierarquicamente superior. No caso da educação, o sistema nacional. No Brasil, os sistemas de ensino (nacional, do Distrito Federal, estaduais e mu- nicipais) têm trabalhado para regulamentar os princípios constitucionais, nos li- mites de sua competência e de acordo com as necessidades internas, a partir do princípio da descentralização. Sistemas de ensino � O sistema federal de ensino, que age de maneira supletiva nos estados e municípios, avalia e normatiza o ensino superior das instituições fe- derais e privadas. � Os estados atuam de maneira autônoma, organizando e normatizan- do as instituições de ensino superior estaduais e municipais e ainda as escolas públicas e privadas de educação básica e profissional. � Os municípios organizam e normatizam, de maneira autônoma ou em parceria com o sistema estadual de ensino, as suas escolas de Educação Infantil e de ensino fundamental, e as particulares de educação infantil. Esses sistemas de ensino têm de refletir a legislação e normatizar, nos moldes do Conselho Nacional de Educação, o funcionamento do ensino. Isso desenca- deia um processo de estudos e de elaboração de normas e de instruções pelo órgão normativo dos sistemas de ensino.3 Esse órgão normativo é o conselho de educação, presente nas três esferas – nacional, estadual e municipal. Hoje, poucos são os municípios que instituíram um sistema próprio e o seu conselho, mas todos os estados possuem um conselho de educação, cada um com carac- terísticas diferentes em seu funcionamento. Conselho de Educação O Conselho de Educação é um órgão de Estado com a finalidade de discipli- nar as atividades do ensino público e privado no âmbito de seu sistema (nacio- nal, estadual ou municipal), exercendo funções normativas, deliberativas, legis- 3 O órgão normativo e deliberativo (isto é, o conselho) elabora as normas para o funcionamento do ensino que serão executadas pela secretaria da educação, por meio das instituições escolares, públicas e privadas, que compõem as redes de ensino da unidade federativa. Documentação legal e fluxo da informação 93 lativas, fiscalizadoras e consultivas dos serviços educacionais. Sua organização e seu funcionamento devem estar previstos em regimento interno, com base em uma lei estadual ou municipal, conforme o caso. Atualmente, os conselhos estão divididos em câmaras da educação (básica e superior), nos moldes do Conselho Nacional de Educação. A partir da Lei 9.394/96, a ação dos conselhos é também de acompanhamen- to, avaliação e controle da qualidade da educação, o que os torna de extrema importância para a melhoria do sistema de ensino, e em especial para a melhoria do funcionamento das instituições. A composição de um conselho se dá pela indicação ou eleição dos conselhei- ros, que devem ser profissionais da educação, prioritariamente, possuir notório saber4 na área da educação e ensino, além de merecimento para assumir o posto. O conselho é um órgão vinculado à secretaria de educação, mas não é seu de- pendente, pois deve ter autonomia administrativa e orçamentária para atuar na regulamentação, orientação, avaliação e supervisão do processo de gestão edu- cacional e no cumprimento de suas funções normativas – portanto, sem vínculo com o órgão executor. Via de regra, os conselhos emitem deliberações, resolu- ções e pareceres, sempre levando em conta as orientações do sistema nacional e as propostas do Ministério da Educação. Cabe destacar que a elaboração de uma norma surge em face de uma deman- da da sociedade, geralmente detectada no interior das instituições escolares. O movimento social apresenta a necessidade e o órgão normativo estabelece uma norma que orienta o procedimento em relação a essa demanda. Pode-se citar, como exemplos, a demanda de um grupo de ribeirinhos que, para avançar nos estudos, reivindicaram um ensino próprio, assim como os ciganos, ou a deman- da do nome social (isto é, o nome que adotaram socialmente e não o que consta no registro civil) para os transexuais, entre outros. O conselho de educação (nacional, estadual ou municipal) deve elaborar o conjunto de normas que orientam o funcionamento do sistema de ensino. Esses atos, assim como os pareceres e as deliberações, são da alçada do estudo e da homologação dos conselhos, que elaboram as normas definidoras dos critérios para a implantação e o funcionamento de cursos de educação superior e básica. Destaca-se que a função fiscalizadora da inspeção escolar é responsável pelo levantamento de muitas necessidades sociais que serão normatizadas e, depois disso, atendidas pela oferta das escolas, como é o caso da inclusão de alunos com deficiências na aprendizagem. 4 Notório saber: aquele que é notado, conhecido, referido, respeitado e aplaudido. 94 Documentação legal e fluxo da informação Outro exemplo é o Parecer 11/2010 CNE/CEB, que define as Diretrizes Curri- culares Nacionais para o Ensino Fundamental de 9 (nove) anos, de relatoria de Cesar Callegari, membro do Conselho Nacional de Educação. Essa necessidade tem um cunhomaior: a equiparação dos anos de estudo com o que ocorre nos demais países da América do Sul. São atos emanados pelos conselhos: � deliberações e/ou resoluções (cada sistema denomina de uma maneira); � pareceres; e � instruções. Atos oficiais São documentos expedidos por autoridade competente, contendo de- terminações para ordenar seu funcionamento. São atos oficiais o decreto, a resolução, o parecer, a portaria e o ato administrativo. Esses atos oficiais fazem parte da vida legal das instituições de ensino e são usados para expedição de documentação escolar dos alunos, devendo ser arquivados para consulta, no estabelecimento de ensino, em local de fácil acesso ao público. Atos regulatórios Resolução ou deliberação É uma reflexão tendo em vista a resolução de um problema com planejamen- to de uma atitude, constituindo um ato deliberativo de assunto restrito, emana- do por um órgão colegiado. Uma deliberação tem número e indicação do ano. Exemplo: Deliberação 02/2012 CEE/CEB – Conselho Estadual de Educação/Câmara de Educação Básica. Documentação legal e fluxo da informação 95 Parecer É um texto redigido por relator de uma comissão ou de uma câmara de ensino para esclarecimento de matéria submetida a estudo. Em geral, sua estru- tura apresenta: � histórico do processo ou assunto; � manifestação da opinião do relator; � documentação dessa opinião com a citação de leis e praxes estabelecidas (comumente, esta parte é denominada mérito do parecer); � citação de argumentos dignos de ponderação. O parecer tem número e indicação do ano. Exemplo: Parecer CNE/CEB 15/2007. Assunto: Orientação nos termos do artigo 24 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). Instrução É uma soma de atos e diligências elucidadores que devem ser praticados, no curso de um processo, para determinar o encaminhamento e a validação de tal processo. Também recebe número e a indicação do ano. Exemplo: Instrução 14/99. Define procedimentos para análise das Propostas Pedagógicas. Atos regulatórios específicos Outro nível de atuação dos textos normativos exarados pelos órgãos norma- tivos diz respeito à organização e ao funcionamento das instituições escolares e dos cursos. Entre os procedimentos, podem ser citados os atos de criação e de credenciamento de instituições escolares, bem como atos de autorização para 96 Documentação legal e fluxo da informação o funcionamento de cursos, ou a cessação, a regulação de funcionamento, as sanções, o reconhecimento da qualidade, entre outros, que definem os critérios para o funcionamento de cada curso e modalidade.5 Todos esses atos são defini- dos em resoluções e/ou pareceres. Entre os atos regulatórios, que definem critérios para o funcionamento das instituições de ensino e de cursos, destacam-se os ato de criação, credenciamen- to, autorização, reconhecimento e cessação. Criação Introduz uma instituição nova no sistema de ensino, sendo um ato expresso e específico pelo qual o instituidor, pessoa física ou jurídica de direito privado, ou o poder público expressa a disposição de manter uma instituição de ensino em conformidade com a legislação em vigor. Credenciamento Pelo credenciamento, o poder público vincula a instituição de ensino ao sis- tema, com vistas à habilitação legal para oferta da educação nas etapas e mo- dalidades previstas na legislação vigente. Conforme estipulado na deliberação, pode ser solicitada a renovação do credenciamento. Autorização Esse ato é utilizado para o funcionamento de curso, programa ou experimen- to pedagógico, ou, ainda, para a descentralização de um curso. Pela autorização, após processo específico, o poder público permite o funcionamento de ativida- des escolares em instituições de ensino integradas ao sistema de ensino ou que irão integrar-se a ele. A autorização possui prazo limitado, definido conforme a legislação vigente e as normas próprias de cada modalidade ou etapa de ensino (Ensino Superior, Educação Infantil, Ensino Fundamental e Médio, Educação de Jovens e Adultos, Educação Especial, Educação a Distância, Educação Profissional Técnica e outras modalidades). Após expirado esse prazo, a instituição deve solicitar a renovação da autorização. 5 Os procedimentos citados estão contidos na Deliberação 02/2010, do Conselho Estadual de Educação do Paraná (CEE/PR). Documentação legal e fluxo da informação 97 Reconhecimento Pelo ato de reconhecimento, o poder público atesta a qualidade pedagógi- ca e educativa das atividades escolares desenvolvidas e permite a continuidade da oferta de cursos ou programas já autorizados. O reconhecimento possui um prazo de validade definido, findo este, será solicitada sua renovação, caso a man- tenedora deseje. Esses atos regulatórios (criação, credenciamento, autorização e reconheci- mento) são precedidos de uma análise por uma comissão de verificação in loco, que deve ser indicada pelo órgão competente pela supervisão do ensino na uni- dade da federação, sendo geralmente designada pela secretaria de educação. Não é permitido que um profissional da instituição requerente faça parte da co- missão de verificação, que em geral possui três profissionais da educação. Faz parte dos processos citados a análise da documentação necessária, tal como o regimento escolar, a proposta pedagógica, a habilitação dos docentes, a matriz curricular. Acerca das condições estruturais dos espaços escolares, devem ser verificadas as condições de segurança e salubridade, bem como os alvarás ex- pedidos pela prefeitura municipal, pela vigilância sanitária e o corpo de bombei- ros. Cada uma dessas instâncias tem normativas próprias a serem obedecidas. Cessação Este é o ato para quando as atividades são interrompidas, de modo a salva- guardar os direitos dos alunos e proceder à guarda e à expedição da documen- tação escolar. O estabelecimento pode, por falta de condições e/ou clientela, solicitar a cessação de suas atividades educacionais. Se for uma situação tempo- rária, o ato oficial deve indicar o período de vigência da cessação das atividades, que pode ser por dois anos, prorrogáveis por mais dois anos. Quando o estabe- lecimento de ensino deixar de oferecer algum curso, ou cessar definitivamente suas atividades educacionais, deve encaminhar solicitação de cessação definiti- va, por meio de processo, para emissão do ato oficial. Toda cessação é autorizada após a conclusão do período letivo em andamento. Documentação e fluxo A documentação legal básica apresentada para conhecimento daqueles que trabalham com inspeção do ensino pode ser ampliada, pois cada estado ou mu- nicípio define os seus atos para regulação. 98 Documentação legal e fluxo da informação Além daqueles já explicitados no rol da documentação e dos textos legais podem ser agregados atos como leis, regimentos, portarias e regulamentos. Os textos legais imprescindíveis para quem trabalha com documentação e cuida da sua validade são: � Constituição Federal; � LDB; � os pareceres que tratam dos níveis e modalidades de educação aos quais atende; � as normas de seu sistema de ensino, emanadas pelo conselho de educa- ção local; � as leis estaduais e municipais que expressem opinião sobre os níveis de ensino. Apresenta-se abaixo uma pequena explicação para cada um desses textos legais. Lei Lei é a norma geral, obrigatória, uma prescrição escrita que emana da autori- dade soberana de uma dada sociedade e impõe a todos os indivíduos a obriga- ção de submeter-se a ela, sob pena de sanções. Votada pelo poder Legislativo e sancionada pelo Executivo, resulta de um projeto de lei. Exemplo: Lei Federal 11.274/2006, que dispõe sobre a duração de anos para o Ensino Fundamental, com matrícula obrigatória a partir dos seis anos de idade. Regimento É um conjunto de normas disciplinadoras e regedoras, estabelecendo direi- tos e obrigações, regendo finalidades. Pode ser usado em diversas atividades, nos mais variados campos, seja dopoder público, seja da iniciativa privada, de modo a regulamentar como se dará o funcionamento desse órgão, visando ao cumprimento de sua função pública regularmente instituída. Nada impede que qualquer organização, com ou sem fins lucrativos, estabeleça um regimento (ou Documentação legal e fluxo da informação 99 regulamento) interno para estabelecer regras a serem obedecidas em seu in- terior. É uma norma interna, não sendo aplicável a pessoas não pertencentes a essa organização, pois não tem caráter de lei, não é de cumprimento obrigatório para todos. São exemplos desse documento o regimento escolar ou o regimento de um grupo de escoteiros. Portaria É um documento emitido por autoridade administrativa contendo ordens, instruções sobre aplicação de leis, recomendações, normas de execução de ser- viços, nomeações, demissões, autorizações, transferências, licenças, instruções, ordens de serviço, punições etc. A portaria tem data e número. Regulamento Este documento oficial explica o modo de executar um ato baixado, consti- tuindo-se em um conjunto de normas cujo fim é esclarecer um texto legal, facili- tando-lhe a execução. O regulamento é assemelhado a uma instrução. Regimento escolar Por tratar-se de documento da área educacional, apresentamos algumas con- siderações sobre o regimento escolar, que é o documento legal, a “lei da institui- ção”, abrigando todos os dados do estabelecimento de ensino: � cursos ofertados; � objetivos gerais e específicos; � regras para matrícula, avaliação, promoção e retenção; � obrigações, direitos e deveres da equipe pedagógica, dos professores e dos educandos. O regimento constitui uma síntese do projeto político-pedagógico da escola. Deve ser construído de forma participativa, envolvendo toda a comunidade escolar – corpo docente, corpo discente, pais de alunos, direção, equipe pedagó- gica, todos os profissionais da escola ou seus representantes, o Conselho Escolar e Associações. 100 Documentação legal e fluxo da informação O regimento da escola deve estar embasado nestes textos legais: � Constituição Federal; � LDB (Lei 9.394/96); � Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/90). Em um processo democrático de gestão da educação, as regras devem passar pelo crivo de todos os envolvidos, o que é fundamental para a sua efetividade. A efetivação de tais regras organiza e coloca em funcionamento as instituições e os cursos, sendo legais e válidos os seus certificados, que, em última instância, validam os documentos escolares de toda a população estudantil, que por sua vez forma cidadãos e profissionais. Todas as regras e normas geradas no interior dos sistemas de ensino formam um volume considerável de documentos que devem ser armazenados e equa- cionados. Tais documentos regulam o funcionamento da rede de ensino. O mo- vimento dessa documentação gera um fluxo que transmite as informações ne- cessárias para o funcionamento do sistema de ensino. Uma das funções do inspetor escolar é organizar o processo de legalização da escola junto ao sistema de ensino ao qual ela pertence, orientando e zelando pelo armazenamento, guarda e fluxo das informações. Alguns exemplos: creden- ciamento de colégio novo, autorização de curso técnico em colégio que oferta apenas Ensino Médio, abertura de pré-escola. Destaca-se que, normalmente, o curso não pode iniciar atividades sem estar devidamente autorizado, e o pro- cesso de autorização é de responsabilidade do inspetor escolar. Em geral, uma função como essa é definida pelas secretarias de educação. Em face das mudanças tecnológicas, o cada vez mais dinâmico contexto atual exige o aumento de prioridades como a responsabilidade e a flexibilidade, vi- sando à eficiência da gestão da informação. O uso da tecnologia para o fluxo das informações e o seu armazenamento, bem como a manipulação das informa- ções, são extremamente necessários. O registro, a memória e a documentação têm uma dimensão pública de infor- mação e serviço à comunidade e isso deve ser garantido, bem como a sua publici- dade, como direito daqueles que fazem uso das instituições de ensino. O objetivo final é a validade da documentação escolar dos alunos. Também cabe destacar que, em última instância, a circulação dessas informações vai ser a geradora de recursos para a educação por meio das estatísticas e formas de controle, como o censo escolar e o índice de desenvolvimento da educação básica (Ideb). Documentação legal e fluxo da informação 101 Outro ponto importante para quem lida com a informação é o resguardo dessa memória, pois, por várias contingências, as normas se alteram muito ra- pidamente – o que, ao longo do tempo, gera dificuldades caso não ocorra um adequado armazenamento. Guardar as alterações legais e suas implicações nos documentos faz parte da função daquele que lida com esses setores, seja o ins- petor escolar, o secretário escolar, os conselhos ou as secretarias de educação: Um dos setores componentes da unidade escolar responsável pela documentação sistematizada dos fatos e dados relativos à instituição é a secretaria da escola, que deve documentar e registrar a vida do corpo docente e não docente, bem como as atividades administrativas e pedagógicas são competências deste setor, sendo que a documentação é um fator importante, pois possibilita o registro organizado das atividades da escola, resguardando sua história e sua memória. (BAHIA, 2012) As constantes mudanças tornam imprescindível o registro e a documentação de todas as ocorrências que se processam no âmbito das unidades de ensino, buscando o equilíbrio e a viabilidade do seu funcionamento administrativo e pe- dagógico, garantindo-lhe a legalidade e a validade dos atos e da gestão, reitera o Manual do Secretário da Bahia. Texto complementar O texto explicita o sistema de informação elaborado por inspetores da educa- ção de Portugal, cuja experiência é muito rica. Informação e gestão escolares numa perspectiva sistêmica (ROQUE; COSTA, 2012) [...] um sistema de informação consiste num “conjunto organizado de pro- cedimentos que, quando executados, produzem informação para apoio à tomada de decisão e ao controle das organizações.” Transparece nesta definição a clara interdependência entre o sistema de in- formação e os outros sistemas da organização, muito em particular o sistema de gestão. De fato, a função primeira do sistema de informação, enquanto com- ponente essencial da organização, é criar e disponibilizar informação fiável, se- letiva e oportuna, que alimente o processo de tomada de decisão e que, além disso, assegure um feedback adequado do impacto dessas decisões. [...] 102 Documentação legal e fluxo da informação Daqui se infere que a implementação de um sistema de informação, como forma de apoio à decisão, tem, no caso das escolas públicas, um âmbito de aplicação muito restrito, uma vez que muitos dos poderes de decisão es- capam aos órgãos de gestão e administração escolar. Aliás, este aspecto é comum à generalidade das organizações públicas, as quais se encontram sujeitas a uma estrutura de poder muito hierarquizada e centralizada. Esta realidade não nos impede, contudo, de procurar dar conta do sistema de gestão escolar, pois que, não obstante todas as restrições, é inegável que nas escolas se desenvolve todo um sistema de processamento da informação. O clima organizacional da escola, nomeadamente ao nível das pessoas e do seu grau de satisfação, repercute-se diretamente no tratamento que é dado ao recurso informação. O sistema de informação da escola abarca os saberes especializados, as bases de dados, os documentos, as diretivas, enfim, todos os saberes neces- sários à execução das tarefas organizacionais. Do responsável pelo labora- tório ao coordenador de departamento curricular, do diretor de turma ao professor, todos os atores da organização escola gerem informação. Mais do que os dados, o sistema de informação abrange todo o processo de informa-ção, ou seja, as relações entre as fontes de informação e os seus utilizadores, a definição de objetivos e as práticas do desempenho que se instituem para alcançá-los, incluindo a própria prática de avaliação e controle. Por isso, ele representa de fato a intelligentia da organização. Compete-lhe, acima de tudo, apoiar a interligação entre os vários subsis- temas que constituem a organização, vista como um sistema global, e os seus sistemas envolventes, permitindo, portanto, processar os dados provenien- tes de várias fontes, auxiliar a gestão e o processo de tomada de decisão. Assim concebido, o sistema de informação pressupõe um suporte tecno- lógico, isto é, tecnologias com capacidade de disponibilizar a informação, como sejam as bases de dados, as comunicações, os computadores, bem como a arquitetura associada a todos estes elementos. Situando-nos numa óptica sistêmica, a escola, como sistema complexo que é, pode ser vista como um conjunto de sistemas (ou subsistemas) or- ganizacionais básicos, em que o sistema de informação mantém interfaces com variados sistemas, como seja, o sistema cultural, o sistema social, o sis- tema tecnológico, o sistema de estrutura (administrativa e pedagógica) e o sistema de gestão. Documentação legal e fluxo da informação 103 O sistema cultural, numa perspectiva abrangente, integra os valores, os objetivos, as representações sociais, as motivações, enfim, tudo quanto afeta e orienta o comportamento das pessoas nas organizações bem como o papel destas na sociedade. O sistema social abrange o conjunto de regras que regulam os comporta- mentos e interações entre os membros das organizações. No âmbito deste sistema integra-se, por exemplo, a relação entre alunos, professores e funcio- nários, a responsabilização e participação dos pais, o clima social etc. O sistema tecnológico, no sentido aqui usado, integra a organização de espaços e tempos, o edifício escolar, o número de turmas, os processos de ensino/aprendizagem adotados e, de um modo geral, o uso de tecnologias para realizar funções tendo em vista as finalidades educativas. O sistema de estrutura diz respeito ao modo como são divididas, organiza- das e controladas as funções educativas, tendo em vista o prosseguimento das finalidades da educação. Integra, por um lado, as estruturas administra- tivas que visam afetar os recursos físicos, humanos e financeiros; por outro lado, integra também as estruturas pedagógicas, isto é, aquelas que visam organizar as funções educativas propriamente ditas de modo que a escola atinja, de forma eficaz e eficiente, as suas finalidades. Esse sistema abarca aspectos como o pessoal docente, os grupos disciplinares, o pessoal auxiliar, os currículos, os programas, a participação das comunidades, a relação com as autoridades centrais e locais etc. Por fim, o sistema de gestão, ao qual cabe abarcar todos os processos de tomada de decisão relativos à organização das ações coletivas das pessoas ou dos grupos que integram a organização. A permanente dinâmica destes sistemas traduz, por um lado, a capacida- de de a escola evoluir e adaptar-se a novas realidades econômicas, sociais e culturais e, por outro lado, a eficácia e eficiência do funcionamento da escola enquanto sistema complexo, sistema este que pode ser representado como a resultante de uma interação de sistemas. Ainda que se possa objetar que estes sistemas não têm uma existência pró- pria e autônoma e que portanto não são suscetíveis de uma apresentação indi- vidualizada, é nossa convicção que esse tipo de representação tem a vantagem de nos ajudar a obter facilmente uma percepção da complexidade subjacente à organização escolar, bem como da variedade de fatores e aspectos que envol- vem os fenômenos e problemas que preenchem o cotidiano de uma escola. 104 Documentação legal e fluxo da informação Dicas de estudo LÜCK, Heloísa. A liderança na escola com foco na promoção da aprendizagem. Gestão em Rede, Brasília, n. 81, out. 2007, p. 11-18. PARO, Vitor Henrique. Gestão Democrática da Escola Pública. 3. ed. São Paulo: Ática, 2005. Atividades 1. A Constituição Federal e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) pretenderam dar maior agilidade ao sistema de ensino por meio da descentra- lização e da autonomia dos entes federados. As competências e responsabili- dades foram distribuídas entre as diferentes esferas administrativas, aumen- tando as exigências para os gestores. Considerando que a educação formal se firma pela institucionalização da educação e supõe um conjunto de órgãos intencionalmente organizados, como é organizado um sistema de ensino no Brasil e qual a atividade de um conselho de educação? Documentação legal e fluxo da informação 105 2. O órgão máximo da educação no Brasil é o Conselho Nacional de Educação, que dispõe sobre o funcionamento da educação no país e, em efeito cascata, determina as regras para os demais conselhos. Quais as outras características de um conselho? 3. Com um fluxo de informações ágil e seguro, em um mundo globalizado com grande circulação do conhecimento e das informações, qual é o papel do inspetor escolar? 106 Documentação legal e fluxo da informação Referências AZEVEDO, Neroaldo Pontes de. Desafios da Organização e Gestão Escolar. Dis- ponível em: <www.abmp.org.br/textos/145.htm>. Acesso em: 17 jan. 2012. BAHIA. Secretaria da Educação. Manual do Secretário Escolar. Disponível em: <www.homologacao.php.ba.gov.br/educacao/sites/default/files/canal_institu- cional/arquivos/Publicacoes_Manual_do_Secretario_Escolar.pdf>. 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Um sistema de ensino é implantado por uma lei e organizado pelo conjunto de estabelecimentos da educação do ente federado, incluindo uma secre- taria de educação, suas regionais, um conselho de educação, as escolas e colégios, e os demais órgãos ou setores para a sua manutenção. http://rabci.org/rabci/sites/default/files/Fontanelli-Memoria.pdf http://rabci.org/rabci/sites/default/files/Fontanelli-Memoria.pdf http://revistas.udesc.br/index.php/linhas/article/viewFile/1332/1141 http://revistas.udesc.br/index.php/linhas/article/viewFile/1332/1141http://web03.unicentro.br/especializacao/Revista_Pos/P%C3%A1ginas/Escola de Governo/Edi%C3%A7%C3%A3o 5/PDF/4-Ed5_EG-Gesta.pdf http://web03.unicentro.br/especializacao/Revista_Pos/P%C3%A1ginas/Escola de Governo/Edi%C3%A7%C3%A3o 5/PDF/4-Ed5_EG-Gesta.pdf http://web03.unicentro.br/especializacao/Revista_Pos/P%C3%A1ginas/Escola de Governo/Edi%C3%A7%C3%A3o 5/PDF/4-Ed5_EG-Gesta.pdf http://www.anped.org.br/reunioes/26/posteres/adrianasilvaturqueti.rtf http://www.anped.org.br/reunioes/26/posteres/adrianasilvaturqueti.rtf 108 Documentação legal e fluxo da informação O conselho de educação é o órgão normativo e deliberativo de um sistema de ensino, e que, em consonância com o Conselho Nacional de Educação, determina a forma de funcionamento do ensino. No Brasil, temos o Conselho Nacional de Educação, os conselhos estaduais e alguns municipais. 2. O Conselho de Educação é um órgão de Estado com a finalidade de discipli- nar as atividades do ensino público e privado no âmbito de seu sistema (na- cional, estadual ou municipal), exercendo funções normativas, deliberativas, legislativas, fiscalizadoras e consultivas acerca dos serviços educacionais. Sua organização e seu funcionamento devem estar previstos em regimen- to interno, com base em uma lei estadual ou municipal, conforme o caso. Atualmente, os conselhos estão divididos em câmaras da educação (básica e superior), nos moldes do Conselho Nacional de Educação. A partir da Lei 9.394/96, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a ação dos conse- lhos é também de acompanhamento, avaliação e controle da qualidade da educação, o que os torna de extrema importância para a melhoria do siste- ma de ensino, e em especial para a melhoria do funcionamento das institui- ções. 3. A esse profissional cabe orientar os processos que levam ao funcionamento das escolas e dos cursos; organizar o processo de legalização da escola junto ao sistema de ensino ao qual ela pertence, orientando e zelando pelo arma- zenamento, guarda e fluxo das informações. Destaca-se que, normalmente, um curso não pode iniciar suas atividades sem estar devidamente autoriza- do, com o inspetor escolar sendo o responsável pelo processo de autoriza- ção. Em geral, tal função é definida pelas secretarias de educação. Em face das mudanças tecnológicas, é cada vez mais dinâmico o contexto atual, exigindo que se priorizem ainda mais a responsabilidade e a flexibilidade, vi- sando à eficiência da gestão da informação. O uso da tecnologia para o fluxo das informações e o seu armazenamento, bem como a manipulação das in- formações, são extremamente necessários. O registro, a memória e a docu- mentação têm uma dimensão pública de informação e serviço à comunidade e isso deve ser garantido, bem como a sua publicização, como direito daque- les que fazem uso das instituições de ensino. O objetivo final é a validade da documentação escolar dos alunos, e também cabe destacar que, em última instância, a circulação dessas informações será a geradora dos recursos para a educação, por meio das estatísticas e sistemas de controle como o censo esco- lar e o índice de desenvolvimento da educação básica (Ideb). Documentação legal e fluxo da informação 109 Participação da comunidade na gestão escolar Maria de Nazareth Machado de Barros Vasconcellos É sabido que a Constituição Federal (art. 206, inciso VI) e a Lei de Di- retrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9.394/96, art. 14) asseguram a participação da comunidade na gestão da escola, por meio da “gestão democrática do ensino público”. No entanto, as duas leis maiores do país no campo da educação não garantem, por elas mesmas, a exequibilidade dessa participação. José Clóvis de Azevedo afirma que [...] a gestão pública da educação está [...] comprometida pelas concepções políticas e administrativas predominantes que, por sua vez, estão relacionadas a um conjunto de mecanismos de dominação. A sua capacidade reprodutiva está longe da superação. (AZEVEDO, 2001, p. 103) Durante séculos, a humanidade viveu sob as concepções teórico-filo- sóficas do autoritarismo, das hierarquias rígidas. O acesso ao poder e à informação eram privilégio de poucos. Como diz Azevedo, há todo um conjunto de mecanismos de dominação. Tentar desfazer tais mecanismos, há muito enraizados, não constitui tarefa simples: as mudanças organiza- cionais são, sempre, extremamente difíceis e complexas. No entanto, estamos no século XXI. Vivenciamos a quebra de paradig- mas: queiramos ou não, novos paradigmas têm surgido. Eles existem. Eles estão. Ou, ainda melhor, eles são. Precisamos, urgentemente, adaptarmo-nos a esse novo mundo, em que tecnologia e informação se constituíram nos mais poderosos fatores de mudança, tanto na vida do ser humano como nas estruturas sociais. Im- portante a assimilação rápida de que “na vida só há uma constante, que é o estado de mudanças. Há 500 anos a. C., Heráclito já sustentava: nada é per- manente, exceto as mudanças. Alvin Tofler, no final do século XX, afirma: “O conhecimento é mudança... e acelerar a aquisição de conhecimentos [...] significa acelerar mudanças” (apud SILVA,1991, p. 25). 111 Vídeo 112 Participação da comunidade na gestão escolar É neste universo difuso que transita a gestão escolar contemporânea. Embora as leis exijam a participação da comunidade nessa gestão, a realidade ainda não se configura dessa forma. Embora o discurso democrático esteja presen- te no cotidiano escolar, a prática da liderança não combina com o discurso. Tal participação se dá muito mais pela vontade política da gestão da escola que pelas diretrizes emanadas das leis maiores do país. Muito mais pela vontade política da liderança da escola que pelas determinações dos níveis superiores de hierarquia dos sistemas educacionais. São as concepções teórico-filosóficas da gestão que configuram o perfil da escola (mais ou menos democrático). Aliás, a sabedoria popular sempre afirmou que a escola tem a “cara” do diretor. Condicionantes da participação na gestão da escola Lobrot propôs, em seus estudos, a autogestão política e uma pedagogia insti- tucional que modificasse as instituições pedagógicas existentes. Diz ele : Para que um controle popular eficaz se possa exercer, é preciso, evidentemente, que a massa queira atuar e se una para o conseguir. Isto pressupõe, portanto, uma mudança radical de mentalidade, de atitude e da atividade da massa. Para falar mais concretamente, um dado conjunto, por exemplo, uma escola – mas isto é também válido para a sociedade inteira – não pode funcionar de uma maneira nova se a grande maioria de seus membros não estiver disposta a fazê-la funcionar dessa maneira. (apud GADOTTI, 2006, p. 185) Aproveitando os estudos de Lobrot, é possível afirmar que a grande respon- sabilidade da liderança que verdadeiramente acredita na gestão democrática e participativa é promover a articulação dos diferentes segmentos da comunida- de escolar – pais, alunos, professores, funcionários em geral – em torno de um projeto de escola que se constitui em um projeto de trabalho que apresenta, como objetivo, o alcance de um fim determinado. Na abordagem dos condicionantes da participação na gestão da escola (se considerarmos a palavra condicionante do ponto de vista unicamente semânti- co) ficaremos presos a antigas concepções, relativas à centralidade do poder e ao caráter eminentemente hierárquico na tomada de decisões. O professor Aurélio Buarque de Holanda assim define o vocábulo condicio- nante: “que condiciona [...] imposição, resultante de circunstâncias ou de decisão prévia, que deve ser observada na solução de um problema; restrição” (CONDI- CIONANTE,1999). Participação da comunidade na gestão escolar 113 Se concordamos com a necessidade de mudanças, se percebemos este mundo em permanente ebulição, temos consciência de que a escola do século XXI preci- sa atender aos anseios de crianças e adolescentes deste novo milênio e, portan- to, não podemos aceitaras expressões condicionante, imposição, restrição. A participação inclui discussão e divergência. Inclui construção coletiva e tra- balho conjunto. Inclui o saber ouvir e o respeito aos pontos de vista diferencia- dos dos diferentes segmentos da comunidade escolar. Esse cenário desafiador é que levará a gestão da escola a novos patamares democráticos de inclusão: Sem dúvida, a autogestão da escola [...] é a condição de democratização escolar. Sem escola democrática, não há regime democrático; portanto, a democratização da escola é fundamental e urgente, pois ela forma o homem, o futuro cidadão. (TRAGTENBERG, 1985, p. 45) Espaços de participação O trabalho em rede, no mundo da informática, encontra semelhança, nos dias de hoje, na ênfase dada à busca de parcerias pelas instituições educacio- nais. Cada vez mais caminha-se para a tomada de decisões coletivas. As escolas reconhecem a importância do trabalho em equipe, da flexibilidade, do sinergis- mo – competências exigidas da gestão atual. O gestor não é mais o detentor do saber e do poder. Deve se tornar o mediador, o articulador, o orientador das situ- ações que envolvem a gestão escolar. Deve apostar na escola inclusiva, na qual caibam todos e se respeitem as diferenças. É portanto nesta visão prospectiva que tensão e conflitos são vistos pela gestão da escola como oportunidades de crescimento coletivo. Não é sem razão que, atualmente, congressos e seminários debatem a da gestão compartilhada. Quando a escola discute, coletivamente, seu projeto pe- dagógico, também existe um motivo: pode-se dizer que há uma nova sociedade em construção, altamente complexa e interativa, em que o imprevisível, o inusi- tado, o inesperado estão presentes. E é nessa interatividade imprevisível que a sociedade vai se delineando. A participação da família Considerando a família como célula básica da organização social, talvez tenha sido a dissolução familiar um dos fatores que mais sobrecarregou a escola no seu fazer pedagógico: 114 Participação da comunidade na gestão escolar O processo acelerado de comunicação de massa, sem qualquer base filosófica coerente, destrói toda a hierarquia de valores sociais. Isso agrava a desagregação da família, dos amigos e de toda a sociedade. Esta desagregação se deve, principalmente, à falta de consenso quanto a princípios, valores, comportamentos, interesses e objetivos de vida. (SILVA, 1991, p. 84) Por esta razão, a escola, cada vez mais, tem incentivado a participação dos pais no seu cotidiano. Encontros não apenas para reclamar do aluno que não foi bem nas provas e testes, mas para compartilhar dificuldades e avanços, ouvir e sugerir – estar junto. Pais e escola isolados sabem que não darão conta de tantos desafios. A soli- dariedade e o respeito mútuo são valores necessários para o enfrentamento de um mundo ainda desconhecido e surpreendente. Nesse contexto, o primeiro e principal parceiro da escola deve ser a família. É um vínculo que precisa ser mantido e no qual deve haver investimento efetivo por todo o período escolar, especificamente no Ensino Fundamental. Cabe à escola fortalecê-lo e estimular sua manutenção – grande facilitador do processo de aprendizagem dos alunos. Encontros, seminários, palestras de interesse dos pais, eventos, torneios, festas comemorativas são motivos para trazer os responsáveis à escola. Os pais representantes de turma, os alunos representantes e, especialmente, os grêmios estudantis devem receber incentivo da gestão escolar. Os Conselhos de Escola Duas citações de Norberto Bobbio, que tratam dos fundamentos dos direitos do homem, são importantes quando se fala, de maneira tão enfática, de uma escola cidadã. A compreensão do que significa a existência dos Conselhos, em uma nova era, encontra, em Bobbio, a explicação pertinente e necessária: Direitos do homem, democracia e paz são três momentos necessários do mesmo momento histórico: sem direitos do homem reconhecidos e protegidos, não há democracia; sem democracia, não existem as condições mínimas para a solução pacífica dos conflitos. Em outras palavras, a democracia é a sociedade dos cidadãos, e os súditos se tornam cidadãos quando lhes são reconhecidos alguns direitos fundamentais. [...] No Estado moderno, passou-se da prioridade dos deveres dos súditos à prioridade dos direitos do cidadão. [...] (1996, p. 3) Bobbio afirma ainda que [...] a verdade não é uma. A verdade tem muitas faces. Vivemos não num universo, mas num multiuniverso. Num multiuniverso, a tolerância não é apenas um método de convivência, não é apenas um dever moral, mas uma necessidade inerente à própria natureza da verdade. (1996, p. 210) Participação da comunidade na gestão escolar 115 Conceitos diversos estão contidos nessas duas assertivas. Algumas indaga- ções, no entanto, fazem-se pertinentes quando se trata de gestão participativa e o consequente investimento na criação de Conselhos Escolares: � Os direitos do homem são respeitados quando lhe são negados vez e voz? � Se democracia e paz constituem um todo indissociável, as relações inter- pessoais podem ser harmoniosas em uma escola autoritária, excludente e elitista? � Se a prioridade do Estado moderno, segundo Bobbio, são os direitos do cidadão, a escola deve priorizar apenas os direitos de um segmento da comunidade? � Se não existem verdades absolutas, há relevância no ouvir os diferentes segmentos da comunidade escolar? � Essa relevância nos remete aos vocábulos multiuniverso e tolerância, utili- zados por Bobbio? Analisadas essas indagações, passemos às certezas e convicções, provenien- tes das duas assertivas desse mestre do pensamento do século XX, certezas e convicções advindas do uso das expressões tolerância, direitos, convivência, dever moral, paz e democracia. São aspectos relevantes que ratificam os cami- nhos a serem percorridos pela gestão da escola antenada com seu tempo, que prioriza a justiça social e disponibiliza o conhecimento para todos, sem distinção de origem, raça, sexo, cor, idade, como assinala a Constituição Federal. Os Conselhos Escolares, característicos da gestão democrática e participativa, funcionam como sinalizadores desse compromisso, já que deles fazem parte os diferentes segmentos da comunidade escolar. Por meio deles, o multiuniverso educacional pode ser percebido e compreendido pela gestão da escola. O cor- porativismo, nos seus aspectos negativos, perde espaço, e o senso do coletivo ocupa lugar de destaque. Ao valorizar cada segmento, a gestão escolar exercita o compromisso com a igualdade e, principalmente, dilui o confronto entre o poder e o saber, frequente no cotidiano escolar e grande dificultador do processo de democratização do conhecimento. 116 Participação da comunidade na gestão escolar Finalmente, os Conselhos Escolares são exemplos significativos de que é pos- sível conviver com as diferenças e com os diferentes, que é possível construir um espaço em que o interesse coletivo esteja acima do interesse individual. Cabe à li- derança da escola o gerenciamento desse processo democrático, de interatividade entre os diferentes segmentos que compõem a comunidade. A gestão da escola [...] deve ter como meta a constituição [...] de um novo trabalhador coletivo que, sem os constrangimentos da gerência capitalista e da parcelarização desumana do trabalho, seja uma decorrência do trabalho cooperativo de todos os envolvidos no processo escolar, guiados por uma “vontade coletiva”, em direção ao alcance dos objetivos verdadeiramente educacionais da escola. (PARO, 2001, p. 160) O Artigo 14 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional enfatiza a “partici- pação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes”. Interessante registrar que o Conselho Municipal da Cidade do Rio de Janeiro possui, entre seus representantes, dois pais de alunos e um professor da rede pública de ensino, escolhidos por seus pares, juntamente com o Sindicato dos Professoresda Rede Particular (Sinpro), o Sindicato Patronal (Sinepe) e a Univer- sidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Outros conselhos, estruturados de maneira semelhante, já foram criados pelas diferentes instâncias do poder público – federal, estadual e municipal – e sempre dependerão da “vontade política” dos seus dirigentes. Vide Conselho do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), Conselho de Alimentação Escolar, Conse- lhos Comunitários, todos constituídos por diferentes representantes da socieda- de civil e governamental. Projeto político-pedagógico Obviamente, o lócus da construção do projeto político-pedagógico é a escola. Por meio dele se articulam as prioridades, objetivos e metas da instituição. A liderança da escola, por sua vez, é a responsável por sua concepção e im- plementação. Embora a equipe tecnopedagógica e os professores alavanquem as discussões, é muito importante solicitar a parceria dos demais segmentos. Se todos sabem para onde vão e o porquê da existência da instituição, os obstácu- los serão menores e as dificuldades, minimizadas. Coletivamente, a comunidade escolar terá a oportunidade de aprender a construir seu caminho. O projeto da escola, antes de ser pedagógico, é político. E é na construção co- letiva que se percebe o viés político, importantíssimo nessa construção coletiva. Participação da comunidade na gestão escolar 117 Político no sentido de “habilidade no trato das relações, com vistas à obtenção dos resultados desejados” (POLÍTICO, 1999). Essa habilidade política constitui-se em uma das competências da gestão educacional. Segundo Bobbio, “uma das definições possíveis de democracia é a que põe em particular evidência a substituição das técnicas da força pelas técni- cas da persuasão como meio de resolver conflitos [...]. Se o outro deve chegar à verdade, deve fazê-lo por convicção íntima e não por imposição” (1996, p. 209). Este é o grande desafio da gestão da escola: transformar, por meio da cons- cientização. A mudança de posturas e valores deve acontecer por meio da au- tocoerção, por meio da autoeducação. A persuasão de Bobbio (1996) deve ser o móvel do fazer educacional da liderança. Merecem registro alguns pressupostos do projeto político-pedagógico: � deve estar centrado no aluno (a atividade-fim da escola é a aprendizagem de todos os alunos); � deve conter os aspectos principais e imprescindíveis para que seja acom- panhado e avaliado por todos os interessados; � deve ser simples e objetivo. No projeto político-pedagógico, a diagnose é fundamental em relação � ao aluno (índices de evasão e repetência, relação idade-série, dificuldades mais significativas em relação ao currículo); � ao corpo docente (formação, concepções teórico-filosóficas, procedimen- tos pedagógicos, avaliação); � à escola (infraestrutura, recursos tecnológicos); � à configuração do cenário externo e das parcerias existentes ou a serem estabelecidas. Muito importantes, ainda: � a agenda da realização de encontros periódicos, para acompanhamento e avaliação; � a avaliação externa (a isenção e o distanciamento do processo trazem sempre indicadores pertinentes), pois o olhar de quem vivencia cotidia- namente o processo acaba ficando “viciado”, uma vez que a carga afetiva é muito grande; 118 Participação da comunidade na gestão escolar � os registros (fundamentais em todo o processo – nós, educadores, não temos o hábito do registro, e precisamos, urgentemente, adquiri-lo, introjetá-lo). Assim, O Projeto Educativo é, claramente, um documento de planificação escolar que poderíamos caracterizar do seguinte modo: de longo prazo quanto à sua duração; integral quanto à sua amplitude, na medida em que abarca todos os aspectos da realidade escolar; flexível e aberto; democrático porque elaborado de forma participada e resultado de consensos.” (DIOGO, 1998, p. 17) Grêmio estudantil Os grêmios estudantis, do ponto vista da legislação, foram criados no gover- no José Sarney, por meio da Lei Federal 7.398, de 04 de novembro de 1985. O Estatuto da Criança e do Adolescente, datado de 1999 – Lei 8.069 –, em seu artigo 53, inciso IV, registra o “direito de organização e participação em entida- des estudantis”. Do ponto de vista pedagógico, os grêmios estudantis enriquecem o fazer co- tidiano da escola porque exercitam vários aspectos inerentes à educação deste novo milênio, como, por exemplo, a postura crítica, a autonomia, a expressão oral relativa às diferentes situações de comunicação (escolares, extraescolares, informais e formais), a iniciativa, a criatividade etc.: Não há saída para uma pedagogia que fica fechada em si mesma, na sua estruturação e organização lógica. Na metodologia dialética, a significação, por exemplo, abre-se às necessidades do sujeito, que estão relacionadas às necessidades de classe; a práxis pedagógica abre-se à práxis social. Não dá para pensar a construção do conhecimento fora da relação com o concreto social. O pedagógico, para ser eficaz, pede esta articulação com a concretude do sujeito e do real. (VASCONCELLOS, 1997, p. 31) Podemos afirmar, por conseguinte, que os grêmios estudantis, assim como os projetos de escola, são também, na sua essência, político-pedagógicos. Do ponto de vista político, investem na formação do cidadão dinâmico, ativo, na interação social, no gerenciamento dos processos de negociação e conflito entre diferen- tes interesses etc. Eleição de diretores Quando se discute a gestão democrática nos sistemas públicos de ensino, a escolha dos diretores das unidades escolares constitui um dos temas recorren- tes, pela sua pertinência e efetividade. Participação da comunidade na gestão escolar 119 Durante muitos anos, as direções foram indicadas pelas lideranças políticas. Embora ainda hoje, em muitos estados e municípios brasileiros, a situação não se tenha modificado, já há espaços públicos em que a direção ou é selecionada por concurso ou por meio do voto direto. O movimento em torno da realização de eleições para diretores de escola ocorreu no final dos anos 1970 e início dos anos 1980, quando o país estava ávido por eleições. A repressão havia deixado a população sem direito a voto para presidente da República por 29 anos. A Confederação dos Professores do Brasil (CPB) cobrava insistentemente, das autoridades, a votação para a eleição de diretores de escola. Toda a comunidade escolar estaria envolvida no processo – pais, alunos, professores e funcionários em geral. Em algumas cidades, inclusi- ve, até representantes das associações de moradores teriam direito ao voto. No entanto, apenas a eleição não garantiria o êxito na educação do país, o que, aliás, vem sendo comprovado: as avaliações externas, realizadas pelo Go- verno Federal, ao final de 2007, demonstram que a educação pública do país não deu conta do seu fazer – ensinar a todos os alunos. Os índices de repetência e evasão ainda são preocupantes. Por outro lado, existem outras questões que precisavam acompanhar o pro- cesso de escolha do diretor. Uma delas, certamente, seria a necessidade de ca- pacitação e atualização permanentes do diretor de escola. Essa função, ao longo dos anos, profissionalizou-se de tal forma que, antigamente, falava-se em admi- nistração da escola. Nos dias de hoje, é a busca pela gestão de qualidade que tem invadido espaços universitários e não universitários, empresas e instituições educacionais, sejam elas públicas ou privadas. Outra questão importante é a percepção imprescindível de que o diretor, na sua candidatura, traz consigo o projeto de escola que a comunidade precisa e deseja, assim como as suas crenças a respeito da escola que também precisa e deseja. Esse talvez seja o maior desafio da gestão contemporânea: conciliar os di- ferentes interesses de uma comunidade que, em sua maioria, não mais aceita imposições e determinações. O diretor, nessa perspectiva, constitui-se emmais um parceiro na construção coletiva de um projeto educacional. Importante ressaltar que, durante o processo de escolha do diretor, as rela- ções de poder existentes na escola, de modo geral, ficam expostas, e vêm à tona. Muitas vezes, os resultados das urnas, em uma escola em que as relações de poder estão expostas, provocam uma cisão que interfere, inclusive, no processo 120 Participação da comunidade na gestão escolar pedagógico, mesmo após as eleições. É que frequentemente reproduzimos, no cotidiano da escola, as relações de poder que permeiam as disputas político- -partidárias: No processo histórico que implica o desenvolvimento e transformação da sociedade [...], educação e política se articulam cumprindo, entretanto, cada uma das funções específicas e inconfundíveis. Por ser uma relação que se trava fundamentalmente entre antagônicos, a política supõe a divisão da sociedade em partes inconciliáveis. Por isso a prática política não pode não ser partidária. Em contrapartida, a educação, sendo uma relação que se trava fundamentalmente entre não antagônicos, supõe a união e tende a se situar na perspectiva da universalidade. Por isso ela não pode ser partidária. Em outros termos: a prática política se apoia na verdade do poder; a prática educativa no poder da verdade. (SAVIANI, 2000, p. 87) A questão da liderança do diretor da escola É do diretor da escola a responsabilidade máxima quanto à consecução eficaz da política educacio- nal do sistema e desenvolvimento pleno dos objetivos educacionais [...] o desempenho de seu papel exerce forte influência (tanto positiva, como negativa) sobre todos os setores e pessoas da escola. Heloísa Lück O educador português João Barroso, professor catedrático da Universidade de Lisboa e especialista em gerenciamento e administração pública, em uma en- trevista a jornais brasileiros, afirmou que “gerir é educar” e que, na Europa, assim como no Brasil, existe uma tendência bastante significativa de valorizar a ação pedagógica no trabalho do diretor da escola. O gestor atual precisa ter liderança, entender de gestão de recursos humanos e saber negociar, “Mas o grande desa- fio é que ele consiga construir um projeto educacional. O diretor é um gestor de situações educativas. Na escola, gerir é educar” (NA ESCOLA, 2005). O desenvolvimento de competências e habilidades gerenciais faz-se neces- sário por conta da responsabilidade imensa que está sobre os ombros do gestor e que é inerente à sua função. Cabe ressaltar que, ao assumirmos qualquer atividade profissional, devemos sempre pesar o ônus e o bônus da empreitada, a fim de que, posteriormente, não coloquemos nossa insatisfação nos ombros de terceiros que, em nenhum momento, foram responsáveis por nossas escolhas. Somos, sempre, os únicos responsáveis por elas. Podemos, após esta observação, apresentar alguns comportamentos relati- vos à liderança no novo milênio e que constituem ações proativas, isto é, evitam a maximização do problema: Participação da comunidade na gestão escolar 121 � responder, com presteza, às demandas da comunidade, esclarecendo a respeito das opções realizadas; � concentrar tempo e energia na missão da organização e nas metas de lon- go prazo; � incentivar a criatividade e a iniciativa; � investir nas potencialidades de cada um dos companheiros de equipe; � valorizar as relações interpessoais; � definir prioridades, possibilitando a alocação eficiente e eficaz de recursos humanos e financeiros; � instituir a concepção de integralidade e de interdependência nas diversas atividades da organização. Atualmente, quando se fala de liderança, o vocábulo traz, embutida, a con- cepção de formação de equipes. A expressão usada pelos estudiosos é team leader. O líder da equipe tem como objetivos � criar confiança e inspirar o trabalho em equipe; � facilitar e apoiar as decisões da equipe; � expandir a capacidade da equipe; � criar uma identidade da equipe; � antecipar e influenciar as mudanças. (VALERIANO, 1998, p. 154) Finalmente, percebendo a escola, na sua essência, como o lócus privilegia- do do conhecimento, considerando que a direção da escola realiza uma função eminentemente educativa, nada mais significativo do que encerrar com Platão e um trecho de sua “Alegoria da caverna”: No Mundo das Ideias, a própria ideia do Bem é que dá origem à verdade e à inteligência. Considero que é necessário contemplá-la, caso se queira agir com sabedoria, tanto na vida particular como na política. (apud GADOTTI, 2006, p. 37) Fica a reflexão de Platão, deixada em 347 a.C., e a triste constatação de que, infelizmente, a sociedade, de modo geral, ainda não encontrou tempo, durante tanto tempo, para contemplar a ideia do Bem. Cabe ao gestor, que busca a ex- celência, encontrar esse tempo para si e para toda a sua equipe. Somente dessa forma a educação poderá fazer diferença neste mundo ainda bem distante da contemplação da cidadania plena. 122 Participação da comunidade na gestão escolar Texto complementar (MARINI, 2003, p. 15) “Gostaria de iniciar refletindo com vocês sobre algumas questões que, de certa forma, conformam o debate atual sobre a administração pública. Proponho uma primeira questão: que temas, na visão de vocês, fazem parte da agenda e alimentam o debate sobre a gestão pública contemporânea? Uma segunda questão seria: como vocês qualificariam uma boa gestão pública? Na verdade, há uma certa tendência de vincular os movimentos de refor- ma às ideias de mudança, de renovação. Mas talvez um dos grandes desafios seja trabalhar um pouco a perspectiva do equilíbrio entre o que mudar e o que preservar – o que nem sempre é trivial. A natureza não muda simples- mente substituindo o velho pelo novo, como sugere a lógica mecanicista. Peter Senge, inspirado nas ideias do importante biólogo chileno Humber- to Maturana, tem escrito muito sobre o tema. Ao examinar o processo de evolução da natureza, ele diz que se trata de um processo que mescla trans- formação e preservação. Quando a natureza evolui, ela transforma algumas coisas, mas preserva outras. Esta metáfora pode ser aplicada aos processos de renovação da administração pública, em que o grande desafio é a sele- ção entre o que transformar e o que preservar. A natureza faz isso: trans- forma para evoluir, mas preserva o que é importante ser preservado. Assim, precisamos pensar menos como gerentes e mais como biólogos, ou mesmo como jardineiros, que conseguem compreender a dinâmica da evolução da natureza, o que inibe e o que estimula a mudança [...]. Administração, como disciplina, é tipicamente situacional, diferentemen- te de outras disciplinas (as exatas, por exemplo). Normalmente, a melhor res- posta a uma boa pergunta formulada sobre gestão é: “Depende.” Isso quer dizer que não há verdades absolutas nesse tema que vamos estar aqui tra- balhando. Quando se fala em administração em geral e administração pú- blica em particular, não há respostas generalizáveis. Um modelo que deu certo na Inglaterra, na Austrália, na Nova Zelândia e no Chile, se aplicado ao Brasil, pode não dar os mesmos resultados. Muitas vezes, não dá o mesmo Participação da comunidade na gestão escolar 123 resultado nem dentro do mesmo país. [...] às vezes, até na mesma região, mas num momento distinto, pode não dar o mesmo resultado. Assim, o “depen- de” parece ser, quase sempre, a melhor resposta. Entretanto – aí entra o lado perverso da brincadeira – como administrar é decidir, isto impõe, cotidiana- mente, ao gestor, a necessidade de fazer escolhas: qual é o melhor conceito, o melhor princípio, o melhor instrumento, o melhor modelo de gestão ou o mais adequado? Mesmo sabendo que uma escolha pode não ser a mais adequada, ainda assim temos que escolher [...]. Dicas de estudo PARO, Vitor. Gestão Democrática da Escola Pública. Rio de Janeiro: Ática, 2001. Leitura importante para aprofundamento das questões relativas à gestão educacional nos sistemas públicosde ensino. RIBEIRO, Jorge Cláudio. Platão: ousar a utopia. São Paulo: FTD, 1988. Aborda a atualidade das ideias platônicas e a importância das suas reflexões a fim de que seja possível uma releitura do ser humano. GLAT, Rosana. A Integração Social dos Portadores de Deficiência: uma re- flexão. Rio de Janeiro: Ed. 7 Letras, 1995. Em uma escola realmente inclusiva, o portador de necessidades especiais tem lugar. A leitura dessa obra propiciará ao educador uma reflexão a respeito da importância do acolhimento dos diferentes e das diferenças no cotidiano dos sistemas educacionais. Atividades 1. Estabeleça relações entre a eleição de diretores, a questão da liderança do di- retor da escola e o seguinte pensamento de Aristóteles: “Somos o que repeti- damente fazemos. A excelência, portanto, não é um feito, mas um hábito.” 2. Comente, de acordo com os estudos apresentados nesta unidade: 124 Participação da comunidade na gestão escolar a) “Você pode comprar o trabalho de uma pessoa, mas não pode comprar o seu coração. O entusiasmo e a lealdade encontram-se no coração. Você pode comprar a força, mas não pode comprar o cérebro. E a criatividade, a engenhosidade e o potencial são encontrados no cérebro.” (Stephen Covey) b) “Lembrai-vos que a finalidade da educação é formar seres aptos para go- vernarem a si mesmos e não para serem governados pelos outros.” (Her- bert Spencer) Participação da comunidade na gestão escolar 125 Referências AZEVEDO, José Clóvis. Estado, Planejamento e Democratização da Educação. Rio de Janeiro: Editora DP&A, 2001. BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. Rio de Janeiro: Campus, 1996. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado Fede- ral/Centro Gráfico, 1988. BRASIL. Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/ L9394.htm>. Acesso em: 28 abr. 2008. BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente: Lei 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e da outras providên- cias. São Paulo: Saraiva, 1999. BRASIL. Presidência da República. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei 7.398, de 4 de novembro de 1985. Dispõe sobre a organização de entidades represen- tativas dos estudantes de 1.º e 2.º graus e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L7398.htm>. Acesso em: 22 maio 2012. CONDICIONANTE. In: HOLANDA, Aurélio Buarque de. Novo Aurélio Século XXI. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999. DIOGO, Fernando. Por um Projeto Educativo de Rede. Lisboa: Asa, 1998. GADOTTI, Moacir. História das Ideias Pedagógicas. 8. ed. São Paulo: Ática, 2006. GLAT, Rosana. A Integração Social dos Portadores de Deficiência: uma refle- xão. Rio de Janeiro: 7 Letras, 1995. LÜCK Heloísa. Ação Integrada: administração, supervisão e orientação educa- cional. Petrópolis: Vozes, 2007. MARINI, Caio. Gestão Pública: o debate contemporâneo. Salvador: Cadernos Flem, 2003. NA ESCOLA gerir é educar. Folha de S.Paulo, 23 maio 2005. 126 Participação da comunidade na gestão escolar PARO, Vitor. 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É importante que o gestor desenvolva competências e habilidades inerentes à sua função. 2. a) Importante que o gestor: � invista na participação da comunidade e na exequibilidade da auto- gestão; � construa coletivamente o projeto da escola; � operacionalize os pressupostos de Bobbio, relativos ao multiuniverso e à tolerância; � busque, através das capacitações, tornar-se um team leader; � e, finalmente, que encontre tempo para a disseminação das concep- ções teórico-filosóficas de Platão, dando-lhes concretude. Todas essas questões demonstram a importância da integração, com- petência técnica – dimensão humana, encontradas em Covey, mos- trando ainda que a força e o poder não formam equipes vitoriosas. Participação da comunidade na gestão escolar 127 b) “Formar seres aptos para governarem a si mesmos” mantém relação dire- ta com Bobbio quando afirma: “Se o outro deve chegar à verdade, deve fazê-lo por convicção e não por imposição”. Você também poderá esta- belecer outras relações entre a aula e a citação. Gestão contemporânea: sistemas, escolas e projetos Maria de Nazareth Machado de Barros Vasconcellos Para estudarmos as questões relativas às mudanças organizacionais dos sistemas brasileiros – educacionais ou não educacionais –, faz-se ne- cessário traçar um cenário da realidade brasileira e internacional, a fim de que nos situemos, enquanto cidadãos, e procuremos o entendimento e as razões dessas mudanças: Após a Segunda Guerra Mundial houve uma reafirmação dos valores burocráticos, mas, ao mesmo tempo, a influência da administração de empresas começou a se fazer sentir na administração pública. As ideias de descentralização e de flexibilização administrativa ganharam espaço em todos os governos. Entretanto, a reforma da administração pública só ganharia força a partir dos anos 1970, quando teve início a crise do Estado, que levaria a crise também a sua burocracia. Em consequência, nos anos 1980 iniciou--se uma grande revolução na administração pública dos países centrais em direção a uma nova administração [...] Era a administração pública gerencial que estava surgindo, inspirada nos avanços realizados pela administração de empresas [...]: a- descentralização do ponto de vista político, transferindo-se recursos e atribuições para os níveis políticos regionais e locais; b- descentralização administrativa, através da delegação de autoridade aos adminis- tradores públicos transformados em gerentes cada vez mais autônomos; c- organizações com poucos níveis hierárquicos, ao invés de piramidais; d- pressuposto da confiança limitada e não da desconfiança total; e- controle a posteriori, ao invés do controle rígido, passo a passo, dos processos administrativos; f- administração voltada para o atendimento do cidadão, ao invés de autorreferida. (BRESSER, 1998, p. 242) É possível, após os esclarecimentos iniciais, compreendermos o efeito dominó, ou seja, como as modificações, ocorridas nos macrossistemas da gestão pública, contaminaram todos os demais sistemas, inclusive, é claro, os sistemas educacionais, chegando até o seu ponto central e essencial – a gestão da escola. A questão da descentralização na tomada de decisões, sinalizada por Bresser, tanto é inerente à equipe tecnopedagógica (direção, supervisão e orientação educacional), como à gestão democrática e participativa, no seu todo. 129 Vídeo 130 Gestão contemporânea: sistemas, escolas e projetos Os níveis hierárquicos da escola, em uma gestão participativa, são mais flui- dos e não mais piramidais como também assinalou Bresser (1998). É recorrente nas lideranças contemporâneas, e merece registro, a expressão hie- rarquia reverencial, isto é, eu reverencio o seu conhecimento. O que isso significa? Cada profissional, dentro das suas atribuições e competências, é hierarquica- mente superior a outro profissional, mesmo que realize as atividades mais sim- ples da organização. O seu conhecimento específico contribui na tomada de de- cisões do grupo. Por exemplo: se há necessidadede corte de despesas e se decide pela economia de combustível, os motoristas deverão ser os primeiros a serem ouvidos. Suas sugestões terão peso na tomada de decisão da empresa. Neste mo- mento, concretiza-se a hierarquia reverencial – a gestão da empresa reverencia a equipe de motoristas – e o conhecimento deste grupo se constitui em liderança efetiva. Quando a gestão educacional abre espaço para a discussão coletiva das questões inerentes ao cotidiano escolar, ouvindo todos os segmentos, ou quando incentiva a organização de conselhos escolares, está diluindo a pirâmide hierár- quica e construindo as relações horizontais, sinalizadas por Bresser (1998). Outro aspecto relevante é a preocupação com o atendimento ao cidadão. Quando o gestor educacional dá vez e voz a pais e alunos, quando busca resulta- dos exitosos para a aprendizagem do corpo discente, o atendimento ao cidadão está sendo concretizado. Na verdade, o cliente, ou melhor, o usuário da escola, é o cidadão a ser atendido. A realização do projeto pedagógico também, por sua vez, contempla todos os pressupostos apresentados. Sua construção coletiva traz as seguintes concepções: � descentralização; � hierarquia fluida; e � atendimento às necessidades do cidadão. A gestão educacional, no entanto, tem a sua especificidade, que não pode ser esquecida ou abandonada e que [...] a torna um tipo de organização especial, diferente das empresas industriais e comerciais: as características dos seus profissionais e daqueles que são a razão de ser de sua existência, os alunos. Os principais viabilizadores dos objetivos da escola, os profissionais da educação, bem como o objeto de suas ações, os alunos, são ao mesmo tempo agentes e pacientes, meios e fins dos resultados que a escola deve alcançar: a formação dos seres humanos. (FALCÃO, 1997, p. 314, grifo nosso) Gestão contemporânea: sistemas, escolas e projetos 131 Enquanto nas empresas industriais e comerciais o cidadão a ser atendido não está incorporado ao cotidiano da empresa, nas organizações educacionais o cidadão a ser atendido é o mesmo cidadão que participa, cotidianamente, do trabalho realizado. Alunos e professores, obviamente seres humanos, estão em aprendizagem permanente, todos em formação contínua. Este diferencial é que faz da gestão educacional uma gestão especial. No universo escolar, a interação, o diálogo, a construção coletiva do conhecimen- to contribuem, diariamente, para a construção de um mundo mais igualitário e mais fraterno, já que busca, na essência do seu fazer, a formação de seres huma- nos mais completos. Os papéis da administração, da supervisão e da orientação no plano pedagógico Explicitadas as questões maiores, que permeiam a gestão contemporânea – descentralização, hierarquia reverencial e atendimento ao cidadão – e registrada a especificidade da gestão educacional, é possível discutir os papéis da adminis- tração, supervisão e orientação na execução do plano pedagógico de sistemas, de escolas, de projetos. As três áreas de atuação (administração, supervisão e orientação) no âmbito dos espaços educacionais constituem áreas significativas, relevantes e impres- cindíveis para a excelência dos serviços oferecidos à população. Elas precisam estar imbricadas, inter-relacionadas. Por serem interinfluentes, qualquer ação mal conduzida, em uma dessas áreas afetará as demais e, em consequência, toda a organização. Ao pensar os espaços educacionais, em uma concepção sistêmica, a dimen- são física e os recursos humanos, materiais e financeiros existentes poderão ma- ximizar ou minimizar as situações de conflito relativas à divisão de tarefas e à diversidade na formação profissional. A tomada de decisões conjuntas poderá ser mais ou menos complexa e a concretude da concepção sistêmica mais ou menos problemática. Essa equipe tecnopedagógica e administrativa terá como prioridade buscar permanentemente, por essas razões, a unanimidade no que se refere às suas concepções teórico-filosóficas, adotar posturas semelhantes na tomada de deci- 132 Gestão contemporânea: sistemas, escolas e projetos sões e, principalmente, viabilizar a operacionalização do projeto institucional. So- mente dessa forma a equipe gestora passará credibilidade a todos os liderados. Nessa concepção sistêmica, embora cada profissional da equipe gestora tenha atribuições específicas, a visão do todo não pode ser diluída, nem coloca- da em segundo plano. O sinergismo deve ser sua marca principal. O papel da administração Durante muito tempo, o diretor foi responsável apenas pelas funções adminis- trativas e burocráticas das instituições educacionais. A burocracia administrativa emperrava as questões pedagógicas, que não eram consideradas prioritárias para o diretor. Daí a terminologia tradicional – administração. O redimensionamento das organizações, a partir dos anos 1980, valorizou o aspecto gerencial da direção, por conta das experiências exitosas na área empresarial. No entanto, a liderança maior da instituição educacional será sempre a direção. Será ela a responsável pela articulação do projeto da instituição. O clima organizacional, o desempenho dos profissionais, a qualidade dos serviços estarão sob a responsabilidade da direção. Mas não cabe mais ao diretor apenas os aspectos administrativos: a concepção macro das questões pedagógicas e o investimento efetivo nas relações interpes- soais são também inerentes ao seu fazer. O termo administração vem perdendo lugar. Está sendo substituído, na atualidade, por gestão e liderança. Existem, atualmente, universidades que oferecem o curso de pós-graduação em gestão escolar, que habilita o profissional em administração, supervisão e orientação. O curso está em consonância com a concepção sistêmica das orga- nizações educacionais e dá ao gestor a visão macro dessas organizações. A atividade-fim da educação é a aprendizagem de todos os alunos. É a uni- versalização do conhecimento. O diretor, portanto, não pode ficar alienado das discussões pedagógicas. Os conhecimentos de supervisão educacional são rele- vantes para o fazer cotidiano da direção. Também costurar as relações interpes- soais se constitui em mais uma atribuição do diretor. Os saberes da orientação são, portanto, importantes para a gestão educacional contemporânea. Para efeitos didáticos e de sistematização, podemos dividir as atribuições da direção nas três áreas de atuação. Vejamos as mais representativas. Gestão contemporânea: sistemas, escolas e projetos 133 Funções administrativas � Mobilização, organização e articulação das condições materiais e huma- nas como suporte às ações socioeducativas. � Articulação com as instâncias educacionais superiores. � Elaboração de normas e regulamentos, de acordo com o projeto institu- cional. � Decisões relacionadas à vida funcional da equipe de trabalho. � Facilitação da capacitação e autodesenvolvimento dos funcionários. � Gerenciamento do desempenho dos funcionários. � Acompanhamento dos indicadores de eficácia da gestão. Funções pedagógicas � Articulação com os profissionais da instituição a fim de que os objetivos e metas propostos sejam alcançados. � Valorização da criatividade, iniciativa, inovação, objetivando avanços pe- dagógicos significativos, que realmente ocupem todo o espaço educacio- nal e melhorem a aprendizagem dos alunos. � Busca de parcerias para o enriquecimento pedagógico. � Foco nas competências básicas do letramento e do domínio matemático, principalmente no Ensino Fundamental. � Investimento na superação de metas relativas aos indicadores de qualida- de da aprendizagem, com acompanhamento efetivo. � Construção de uma identidade própria da instituição. Funções de orientação Nesse aspecto, há que se clarificar as atribuições da orientação. Segundo Heloísa Lück, 134 Gestão contemporânea: sistemas, escolas e projetos [...] uma ação educativa relevante e um currículo positivo unem, em uma associação harmoniosa,os conhecimentos, habilidades e sentimentos. Consideram equilibradamente tanto as necessidades individuais como as de grupo, as pessoais e as institucionais. A educação sob esse ângulo traduz o ponto de vista da orientação educacional. (LÜCK, 2007, p. 18) Visto pela óptica da professora Heloísa Lück, podemos considerar todas as questões, relativas à gestão participativa como questões de orientação educa- cional, já que buscam atender às necessidades de toda a comunidade, por meio do consenso. Está implícita, na definição anterior, a importância do investimento nas re- lações interpessoais, em toda a sua dimensão humana e social – necessidades individuais, de grupo, pessoais e institucionais. Desse modo, podemos registrar, como funções de orientação: � prevenção e administração de conflitos; � articulação e negociação com os diferentes segmentos, sempre em dire- ção à negociação ganha-ganha, utilizada na resolução de problemas na gestão empresarial e que deve ser incorporada à gestão educacional – o conceito propõe que as partes interessadas, envolvidas no conflito, [...] concluam a negociação de forma satisfatória e que atendam as suas expectativas iniciais (eu ganhei e você também). Essa posição geralmente é adotada por aqueles que se preocupam com resultados duradouros ou quando as negociações tendem a se repetir durante muito tempo. (SAKAI, 2002, p. 39) � busca de estratégias que conciliem debates ideológicos e conflitos de in- teresse; � ênfase na comunicação, mantendo todos os envolvidos bem informados; � investimento na descoberta de valores e interesses de todos os segmen- tos da organização; � demonstração efetiva de comprometimento com toda a sua equipe de trabalho; � promoção do sentido de colaboração, já que está consciente de que não é o único detentor do saber e do poder. Por último, vale a pena registrar a definição do que sejam gestores eficazes: As mudanças estruturais na organização [...] são produzidas mais pelo desempenho do gestor do que pela sua personalidade. Gestores eficazes solucionam problemas e articulam os saberes e competências dos membros da equipe em situações específicas para gerar as modificações necessárias. (GESTÃO, 2001, p. 13) Gestão contemporânea: sistemas, escolas e projetos 135 O papel da supervisão A supervisão também constitui uma liderança efetiva nas organizações edu- cacionais. Ao lado da direção, é corresponsável pela tomada de decisões, espe- cificamente nas questões relativas ao pedagógico. Importante reiterar que a afi- nidade ideológica e de ação (diretor-supervisor) se apresenta como referencial básico para o sucesso da organização. Enquanto a direção tem como foco estabelecer vínculos com toda a comu- nidade organizacional, a supervisão tem como parceiros os responsáveis pelas ações pedagógicas, ou seja, os profissionais da educação (corpo docente). Desse grupo, emanam as atividades que visam à aprendizagem, ao conheci- mento sistematizado. Cabe à supervisão a assistência efetiva à equipe docente no que se refere a esses aspectos. A supervisão precisa ser, e é, o suporte neces- sário ao fazer pedagógico do professor. É a proximidade supervisão-professor que dará concretude à atividade-fim das organizações educacionais, que é a uni- versalização do conhecimento. A negociação ganha-ganha também deve constituir uma das competências da supervisão, já que o supervisor terá que lidar, permanentemente, com o ge- renciamento conflituoso de interesses e de ideologias. A cultura das instituições educacionais ainda preserva e valoriza aspectos burocráticos, autoritários e pa- ternalistas que precisam ser, urgentemente, redimensionados e rediscutidos –, papel este da equipe gestora (diretores, supervisores e orientadores). Uma das questões mais frequentes e que caracteriza a cultura, bastante tra- dicional, das organizações educacionais refere-se à postura do professor que se coloca apenas como mediador entre o livro didático e o aluno, perdendo, dessa forma, a sua condição de construtor do conhecimento, condição essa que se dá a partir da relação efetiva professor-aluno. O investimento em treinamentos e ca- pacitações, a realização de consultorias – individuais ou coletivas – para a busca de soluções eficazes, assim como reuniões e encontros periódicos, também indi- viduais ou coletivos, fazem parte das atribuições da supervisão. Constituem prioridades desse trabalho o acompanhamento e a observação do fazer pedagógico do professor, a fim de que as contribuições da supervisão possam atendê-lo em suas dificuldades no gerenciamento de seu trabalho em sala de aula. A supervisão tem a responsabilidade de promover mudanças signi- ficativas na postura da equipe docente, visando ao sucesso escolar, sempre com o apoio da direção. 136 Gestão contemporânea: sistemas, escolas e projetos Pertinentes as observações a seguir, relativas às atribuições da supervisão: A falta de uma assistência ao professor quanto a seu desempenho em sala de aula é considerada [...] uma das importantes causas de embaraço do processo educativo. Portanto, parece crucial que o supervisor escolar preste ao professor uma assistência sistemática, no sentido de melhoria contínua de seu desempenho. (LÜCK, 2007, p. 22) Mais do que técnicos frios e distantes, devem ser profissionais que se comprometem e se inserem com os professores e a comunidade na solução dos problemas educacionais. (QUAGLIO, 2000, p. 50) Em algumas instâncias de poder – federal, estadual, municipal – e em alguns entes federativos existe a supervisão de ensino que faz a mediação entre as es- colas e o nível central. Helia Sonia Raphael, supervisora de ensino no estado de São Paulo, dimensiona o trabalho da supervisão nesta instância de poder: A reflexão conjunta traz uma saudável osmose entre diferentes instâncias da educação, desde a sala de aula até a administração central. Na medida em que a supervisão se coloca a serviço de um projeto da escola, assume um compromisso conjunto com a unidade escolar, contribuindo para que ele seja fruto de reflexão e ação coletiva. (RAPHAEL, 2000, p. 12, grifos nossos) Percebe-se a importância da interação dos diferentes níveis de poder para que a educação atinja patamares significativos, seja em relação à aprendizagem dos alunos, a melhoria dos índices de evasão, ou a correção do fluxo escolar (re- lação idade-série) – dificultadores preocupantes da educação brasileira. Refle- xão e ação coletiva, mais uma vez, são sinalizadas como fatores de eficácia. O papel da orientação Do ponto de vista histórico-cultural da educação brasileira, enquanto a su- pervisão mantém vínculo estreito com o corpo docente, a orientação deve es- tabelecer o mesmo vínculo com os alunos, seja em relação às questões socio- afetivas, seja em relação à orientação vocacional/profissional. Atualmente, essa lógica da orientação educacional tem sido objeto de refle- xão no que se refere � ao número de alunos e à capacidade de atendimento do orientador; e � à concepção tradicional de que cabe, exclusivamente, à orientação a res- ponsabilidade da melhoria de postura dos alunos indisciplinados. Tomando como referencial os estudos de Heloísa Lück (2007), é possível concluir que nos encontros de aconselhamento e de sondagem de aptidões, o Gestão contemporânea: sistemas, escolas e projetos 137 atendimento individualizado, faz com que o orientador não dê conta do atendi- mento macro do corpo discente. Por outro lado, demonstram que o orientador, sem a parceria da escola como um todo, não soluciona os problemas daqueles alunos que, por condições diversas, não se enquadram nas normas disciplinares da instituição. Esses estudos demonstram ainda que, muitas vezes, cabe ao professor rever suas posturas pedagógicas. No entanto, a cultura organizacional acumulada ao longo dos anos assevera que o aluno é o único responsável pela insubordinação às normas previamente estabelecidas. Porém, [...] o professor é figura centralna formação dos educandos. É ele quem forma no aluno o gosto ou o desgosto pela escola; a motivação ou não pelos estudos; o entendimento da significância ou insignificância das áreas e objetos de estudo; a percepção de sua capacidade de aprender, de seu valor como pessoa etc. Da qualidade do relacionamento interpessoal professor-aluno, de responsabilidade do primeiro, depende, entre outras coisas, o ajustamento emocional do aluno na sala de aula e na escola. (LÜCK, 2007, p. 28) Percebe-se, dessa maneira, a importância da parceria professor-orientador- -aluno para o êxito no trabalho da orientação. Se ainda acreditamos na concep- ção sistêmica da gestão da escola, é possível depreender que, o aluno sendo da escola, é de responsabilidade de toda a escola o seu desempenho educacional. É ainda em consonância com a visão sistêmica organizacional que o trabalho da orientação, nos dias de hoje, está voltado para a escola como um todo. A atu- ação do orientador não se restringe ao aluno, mas se expande para toda a comu- nidade escolar, principalmente para a família. A discussão e o estudo conjunto de como lidar com crianças, jovens e adolescentes visando ao atendimento às suas necessidades em todos os aspectos constitui a concepção atual da orienta- ção educacional. Vale revisitar o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/90) e perce- ber o quanto a escola está ainda distante das concepções teórico-filosóficas que embasam as leis da atualidade: Art. 53: [...] II - direito de ser respeitado por seus educadores; III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias escolares superiores. [...] Parágrafo único. É direito dos pais ou responsáveis ter ciência do processo pedagógico, bem como participar da definição das propostas educacionais. 138 Gestão contemporânea: sistemas, escolas e projetos Gestão de projetos X gestão educacional A gestão de projetos, do ponto de vista empresarial, não possui os mesmos pressupostos da gestão do projeto político-pedagógico da escola. Quando se fala na gestão de projetos do ponto de vista empresarial, percebe-se, frequente- mente, que a organização se estrutura por projetos ou em função de determina- do projeto de duração temporária. Enquanto o gestor de projetos é responsável apenas por um projeto deter- minado, o gestor educacional é responsável por toda a instituição e por todos os projetos nela realizados. Essas considerações iniciais deixam claras as diferenças estruturais das duas organizações. Os gerentes de projeto são responsáveis pelo planejamento, supervisão e controle do projeto, enquanto os gestores educacionais dividem, com outros profissionais, as diversas etapas que constituem os projetos pertinentes à escola. Os gerentes de projeto realizam várias atividades de liderança ao mesmo tempo, e são responsáveis por um único projeto. Nas instituições educacionais, há delegação de atribuições, sendo o gestor educacional responsável pela delegação de poderes. A presença da supervisão e da orientação configuram essa delegação. Na verdade, essas lideranças são co- gestoras no processo educacional. Importante ainda dissociar o projeto pedagógico da escola dos projetos empre- sariais e da organização por projetos. O projeto de escola não é temporário, embora seja flexível e esteja permanentemente sendo avaliado, reavaliado, replanejado. O projeto de escola contém a identidade da escola. É discutido e conta com a par- ticipação de todos os intervenientes educacionais. Reflete o eixo de preocupação da instituição, o rumo de sua ação pedagógica, define prioridades, refletindo o compromisso político da coletividade do sistema ou da própria instituição, respei- tando a especificidade histórica e os sujeitos que nela interagem. É importante que o gestor educacional assimile o que existe de positivo nos es- tudos relativos à gestão de projetos e possa ser incorporado à gestão da escola ou dos sistemas educacionais. No entanto, que haja clareza no sentido de que gerente de projeto não significa gestor educacional. Há diferenças essenciais, especialmente de concepção, que não se devem perder de vista. É possível afirmar que a diferença de concepção mais significativa está no fato de o gestor educacional, antes de tudo e principalmente, ser corresponsável pela formação de uma nova sociedade. Tarefa complexa, já que implica mudanças paradigmáticas profundas. Gestão contemporânea: sistemas, escolas e projetos 139 Podemos encerrar com Paulo Freire quando assevera que “uma das qualida- des mais importantes do homem novo e da mulher nova é a certeza que tem de que não podem parar de caminhar e a certeza de que cedo o novo fica velho se não se renovar” (2006, p. 86). Texto complementar Espaço de trabalho coletivo (VASCONCELLOS, 2000, p. 161) Vivemos numa sociedade que desagrega o homem nas suas várias di- mensões: trabalho, relacionamento afetivo, consciência, religião etc. Sabe- mos que a fragmentação da vida e do saber é uma das estratégias da classe dominante para sua perpetuação. Trabalhadores que não se comunicam horizontalmente, para a reflexão de sua prática profissional, tendem a uma visão parcial, truncada, do pro- cesso de trabalho, perdendo a possibilidade de controle sobre este processo ( MURAMOTO, 1991 p. 41). A transformação educacional deverá partir de um processo de reagrega- ção deste homem. Uma nova estrutura de escola deve permitir o encontro, a reflexão, a ação sobre a realidade, numa práxis libertadora. Enquanto não houver uma mudança mais radical na forma de organiza- ção da sociedade, não podemos sair totalmente da alienação, mas podemos combatê-la, criar espaços de desalienação, onde as pessoas possam tomar consciência e ter uma experiência de uma forma alternativa de relacionamen- to (ainda que limitada). Os sujeitos vão sendo despertados para uma nova consciência pela convivência reflexiva, e isto permite a cada um assumir uma tarefa num nível cada vez mais profundo e crítico. Essa prática vai minando a corrente da alienação e prepara um movimento maior de mudança. A escola deve perder o medo burocrático de perder tempo. Parece que estudar é perder tempo. Qualquer instituição que necessita inovar, para e pensa as possíveis mudanças. Por que a escola não pode parar para pensar as inovações necessárias? (MENOGOLLA. Revista Mundo Jovem). 140 Gestão contemporânea: sistemas, escolas e projetos Ninguém aguenta lutar por um mundo novo sem viver um pouco este novo. “O conteúdo essencial da esperança não é a esperança; é exatamente por sua recusa de ver tal esperança frustrada que este conteúdo é o Estar-Ali não distanciado, o presente” (HABERMAS, 1993 p. 56). Temos que ter condições de, desde logo, ensaiar uma convivência demo- crática, alicerçada na justiça e na participação. Temos de resgatar o valor do trabalho, já que a dimensão do trabalho humano vai desde a realização pes- soal até a realização do bem comum. Devemos nos empenhar para conse- guir este espaço revolucionário que é o encontro, a reunião, a possibilidade de reflexão conjunta, pois desta forma há condições para ir se criando uma nova prática e um novo relacionamento. Dicas de estudo KLEIN, David. A Gestão Estratégica do Capital Intelectual: recursos para a economia baseada em conhecimento. Qualitymark, 1998. Apresenta aspectos relevantes quanto à importância do capital intelectual para o sucesso da organização antenada com o século XXI. BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069 de 13/07/90), 1990. Atribui à criança e ao adolescente prioridade no atendimento aos seus direi- tos e no acompanhamento ao cumprimento de seus deveres. MAQUIAVEL. O Príncipe. Ed. L&PM Pocket, 2008. A questão do poder do ponto de vista de Maquiavel e sua influência na cul- tura das organizações. Atividades Comente, de acordo com os estudos apresentados nesta aula: 1. Paulo Freire diz: “para mim seria impossível engajar-me num trabalho de me- morização mecânica dos ba-be-bi-bo-bu,dos la-le-li-lo-lu. [...] Pelo contrário, Gestão contemporânea: sistemas, escolas e projetos 141 enquanto ato de conhecimento e ato criador, o processo de alfabetização tem no alfabetizando o seu sujeito” (2006, p. 19). Como você percebe o papel da supervisão para reverter o processo de alfabetização, criticado por Paulo Freire e ainda presente em algumas unidades escolares? 2. “Muito mais seguro é fazer-se temido que amado [...] que o poder de um outro perde o seu” (MAQUIAVEL, cap. 17). 3. “O dirigente procura controlar mais e liberar menos; prender-se mais às nor- mas do que a valores da missão organizacional, e confiar mais nas estruturas do que nas pessoas” (MOTTA). 142 Gestão contemporânea: sistemas, escolas e projetos Referências BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente: Lei 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e da outras providên- cias. São Paulo: Saraiva, 1999. BRESSER, Luiz Carlos. Reforma do Estado e Administração Pública Gerencial. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1998. FALCÃO, José Leão. A Qualidade na Escola. Rio de Janeiro: Fundação Cesgran- rio, 1997. FREIRE, Paulo. A Importância do Ato de Ler. São Paulo: Cortez, 2006. 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Planejamento: projeto de ensino aprendiza- gem e projeto político pedagógico. Cadernos Pedagógicos do Libertad, São Paulo, v. 1, 2000. Gestão contemporânea: sistemas, escolas e projetos 143 Gabarito 1. Importante destacar a afinidade direção-supervisão na tomada de decisões, principalmente quando se busca a mudança de paradigmas. Com o suporte da direção, o supervisor será o responsável pelas mudanças pedagógicas conside- radas pertinentes, com a participação efetiva do corpo docente e dos alunos. 2. A negociação ganha-ganha demonstra a inviabilidade dos pressupos- tos de Maquiavel na gestão que busca a excelência na modernidade. Para Maquiavel, somente ganham os detentores do poder. Na negociação ganha- ganha, como o próprio nome diz, todos são contemplados. 3. Tal postura está em desacordo com a importância que deve ser dada ao for- talecimento das relações interpessoais no cotidiano da escola. Maria Cristina Munhoz Araújo O planejamento e a avaliação institucionais têm relevância significativa no contexto das políticas e da gestão da educação no Brasil, especialmen- te no campo das pesquisas educacionais, como categoria pesquisada. Isso devido ao entendimento, ou seja, à concepção que se tem do planeja- mento como um instrumento de implantação das políticas estabelecidas e a avaliação como o mecanismo de verificação e julgamento de planos, programas e projetos, entendida também “como um dos componentes do processo de planejamento e uma forma técnica que possibilita à gestão analisar e julgar todas as fases deste processo” (KIPNIS; ALGARTE apud WIT- TMANN; GRACINDO, 2001). Passam, assim, o planejamento e a avaliação a serem ferramentas tecno-operacionais possibilitadoras de concretização de ideias e proposições em educação. Dessa forma, o planejamento e a avaliação, vistos como ação prática, constituem caminhos metodológicos, congregando duas bases do co- nhecimento: o ideal das concepções teóricas e o objetivo da realização concreta. Tornando-se, portanto, o planejamento e a avaliação imprescin- díveis à construção de propostas, pois se integram aos processos político e gerencial da educação, dando-lhes o sentido da exequibilidade. Bernardo Kipnis e Roberto Algarte, no texto “Planejamento e avaliação educacionais”, constante no livro O Estado da Arte em Política e Gestão da Educação no Brasil, posicionam-se em relação ao tema de acordo com o que acima descrevemos e, ainda, completam seu pensamento argumen- tando sobre a necessária fundamentação em princípios teóricos, objeti- vando a mediação dos movimentos criativos da política e as realizações efetivas dessa criação: a dialogicidade, a participação e a diretividade (WITTMANN; GRACINDO, 2001). Vamos agora a um breve relato desses três princípios, uma vez que isso nos proporcionará melhor embasamento para o estudo mais detalhado do planejamento e da avaliação. Planejamento e avaliação institucionais 145 Vídeo 146 Planejamento e avaliação institucionais Princípios teóricos Dialogicidade Este princípio está ligado à teoria da argumentação. A dialogicidade [...] designa várias formas de raciocínio que não se deixam enquadrar nas regras da lógica convencional e que implicam um relacionamento entre pelo menos dois interlocutores, um deles procurando convencer o outro ou refutar seus argumentos. (THIOLLENT, 1986) Evidencia o envolvimento da comunicação, especialmente da comunicação social na dialogicidade. A partir do entendimento de planejamento e de ava- liação, constata-se que ambos são ações comunicativas e, portanto, dialógicas, “no sentido específico de produzir conhecimento do outro para si, e de si para o outro” (DEMO, 1996). Participação Este princípio constitui um dos mais importantes pontos da fundamentação teórica do planejamento e da avaliação. Em uma perspectiva dialógica e cons- trutivista do conhecimento, o planejamento e a avaliação constituem instrumen- tos metodológicos, uma vez que levam ao envolvimento consciente e crítico de todos os participantes, ou seja, de todos os que planejam e avaliam. Segundo Ludke e André (1986), a participação representa [...] uma ocasião privilegiada, reunindo o pensamento e a ação de uma pessoa, ou de um grupo, no esforço de elaborar o conhecimento de aspectos da realidade que deverão servir para a composição de soluções propostas aos seus problemas. Diretividade Ao que chamo de intencionalidade, como princípio de fundamento, do plane- jamento e da avaliação, leva para a especificidade do objeto pesquisado, com o objetivo de conhecê-lo e transformá-lo. É a condução dos processos de planejar e avaliar para a consecução dos objetivos previamente estabelecidos. Retrata a função operacional do planejamento e da avaliação da educação, pois são parte de planos e ações direcionadas ao estudo e transformação da realidade social, na busca de sua formação democrática e cidadã. Planejamento e avaliação institucionais 147 As características tecnometodológica e operacional do planejamento e da avaliação educacional, que ocorrem durante o processo simultaneamente e inter-relacionadas, destacam-se na sustentação teórico-prática, uma vez que levam à sistematização de ideias e concepções propositivas, bem como ao su- porte para implantação e acompanhamento das ideias e proposições na realida- de educacional. Com esse entendimento, vamos agora ao estudo mais detalhado do plane- jamento e da avaliação, abordando-os separadamente, por uma opção didática, objetivando o aprofundamento dos temas e maior clareza. Planejamento educacional Concepção e organização Historiando, brevemente, a exemplo da administração escolar, também o planejamento educacional enveredou no respaldo teórico da administração e do planejamento empresarial, objetivando organização racional e racionalidade financeira com desempenho.Surgiram os técnicos de planejamento, importan- do, copiando e sofisticando os modelos das empresas privadas, altamente capi- talistas. Dessa forma, os atores do processo tornaram-se meramente executores – distanciados, portanto, da elaboração e da avaliação, pois o planejamento não é visto como processo, a avaliação ocorre no final e é de interesse da administra- ção. Agrava-se o quadro ao se detectar a não discussão do significado social e político da ação que é objeto do planejamento. O planejamento é um processo social, com opções filosófico-políticas, esta- belecendo os fins de uma determinada ação, visando ao alcance de objetivos em períodos previamente determinados. Não há, portanto, neutralidade. Aos que assim querem entendê-lo, usam-no apenas como instrumento técnico, a serviço da reprodução da sociedade. O ato de planejar é um ato axiológico e ideológico, comprometido com a sociedade. O planejamento sem comprometimentos, tecnocrático, reduz os homens à condição de objetos e valor de produção e não sujeitos da ação planejadora. 148 Planejamento e avaliação institucionais O planejamento participativo [...] constitui um processo político, um contínuo propósito coletivo, na deliberada e amplamente discutida construção do futuro da comunidade, na qual participa o maior número possível de membros de todas as categorias que a constituem. Significa, portanto, mais do que na atividade técnica, um processo político à decisão da maioria, tomada pela maioria, em benefício da maioria. (CORNELY apud ZAINKO, 1998, p. 89) Baseado na pedagogia da libertação de Paulo Freire, parte da crença [...] no potencial humano propõe que o povo seja encarado como o sujeito da história, como ator e não como mero espectador e aceita que o desenvolvimento não é um pacote de benefícios dados à população necessitada, mas um processo através do qual a população adquire maior domínio sobre seu próprio destino. (CORNELY apud ZAINKO, 1998, p. 89) Assim, ao assumir como valor principal e essencial a pessoa, os sujeitos envol- vidos, seres com histórias singulares, com conhecimentos próprios, agentes dos processos, valoriza-se uma educação mais humana, justa e participativa. As relações verticais que ocorrem no processo tecnocrático passam a ser, no planejamento participativo, relações horizontalizadas, valorizadas e assumidas. A participação é altamente considerada e, além disso, na prática, o planeja- mento participativo consegue integrar o operacional e o estratégico, organizan- do-os em um todo, ao que Freire denomina processo de reflexão-ação. A transformação social propalada teoricamente entretanto ausente da práti- ca (talvez por comodismo, resistência às mudanças, recusa a lidar com desafios e conflitos), eleva o planejamento participativo à condição de instrumento viável de execução e renovação das estruturas e das relações na educação: [...] ser o planejamento participativo um desafio para os verdadeiros educadores, exigindo daqueles que pretendem realizá-lo muita disponibilidade, coragem, persistência, tenacidade, garra, espírito de luta. Não é trabalho impossível, mas plenamente viável, apesar de todos os empecilhos colocados pelo sistema e por educadores descompromissados com a tarefa que abraçam como profissão: educar as novas gerações de brasileiros conscientes e livres. (VIANNA apud DALMÁS, 1994, p. 30) Ao assumir o planejamento participativo, é necessário ter a clareza de que planejar consiste em um processo para alcançar determinados objetivos, sig- nificando transformação, revolução. E para essa opção da escola é importante previamente a consciência das dificuldades a serem encontradas, principalmen- te pela formação das pessoas, tradicionalmente sem vivência democrática, mas acreditando primeiramente no potencial humano, no diálogo, no debate, na dis- cussão e no sonho, na utopia, na busca do impossível, no desejo de crescimento pessoal e comunitário: “Fazer hoje o possível de hoje para amanhã fazer o impos- sível de hoje” (FREIRE apud GADOTTI, 1999, p. 32). Planejamento e avaliação institucionais 149 A gestão democrática impõe-se como condição à participação. São interde- pendentes, ou seja, não é possível uma sem a outra. Hoje, em discussões sobre formas de administrar, a participação está sempre presente, tomando espaço, apesar de muito lentamente, junto a valores atuais como flexibilidade, tolerân- cia com as diferenças, relações mais igualitárias, justiça e cidadania. (GUTIERREZ; CATANI, 2001, p. 60). Ao tratar da participação, precisamos ter certeza do que se entende por parti- cipar, pois há os que pensam que as pessoas devem participar para estarem bem integradas, harmonicamente, sem conflitos. Isso significa apenas apoiar, traba- lhar, colaborar, fazer o que está previsto que se faça. Também é permitido dar sugestões, não reclamar, estar presente às programações da direção, ou seja, a velha expressão “vestir a camisa”, de acordo com Gandin e Gandin (1999, p. 56). Essa é, ainda, a visão conservadora da reprodução, da manutenção, do deixa tudo como está. Não existe intenção de transformar. Buscando o entendimento em Habermas (apud GUTIERREZ; CATANI, 2001, p. 62), “ participar significa que todos podem contribuir com igualdade de oportu- nidades nos processos de formação discursiva da vontade”. Gutierrez e Catani (2001, p. 62) explicam que “participar consiste em ajudar a construir comunicati- vamente o consenso quanto a um plano de ação coletiva”. Riscos e conflitos constituem um desafio constante na vivência da participa- ção da comunidade escolar no processo educativo. O projeto político-pedagógico O projeto político-pedagógico constitui-se no plano global da instituição. Pode ser entendido como a sistematização, nunca definitiva, de um processo de plane- jamento participativo, que se aperfeiçoa e se concretiza na caminhada, que define claramente o tipo de ação educativa que se quer realizar. É um instrumento teóri- co-metodológico para a transformação da realidade. É um elemento de organiza- ção e integração da atividade prática nesse processo de transformação. Tem, portanto, esse valor de articulação da prática, de memória do signifi- cado da ação, de elemento de referência para a caminhada. O projeto político- -pedagógico é também a construção coletiva de um conhecimento. 150 Planejamento e avaliação institucionais O projeto político-pedagógico, quando elaborado de forma ética, é um instru- mento de transformação na medida em que expressa o compromisso do grupo com uma caminhada. Dessa forma, o dirigente pode cobrar coerência tanto do dirigente como dos companheiros entre si. Havendo, um projeto há maior facili- dade em não se tomar as críticas como pessoais; as críticas devem fazer parte do cotidiano se queremos superar as contradições. Temos, então, como finalidades do projeto político-pedagógico: � aglutinar pessoas em torno de uma causa comum; � dar um referencial para a caminhada; � ser um instrumento de transformação da realidade; e � colaborar na formação dos participantes. O projeto necessita ser político pelo compromisso com a formação do cida- dão, e pedagógico pela efetivação da função da escola nesse cidadão. Portanto, o projeto político-pedagógico é a forma de organização do trabalho pedagógico que supere conflitos, elimine relações competitivas, corporativas e autoritárias, para que romper com o tradicional, diminuindo a fragmentação na escola. Organizando a escola como um todo, não como um simples rearranjo formal, mas tendo uma nova qualidade de trabalho, partindo dos seguintes princípios norteadores: � igualdade (igualdade não quer dizer uniformidade - ao contrário, é a única autêntica diversidade); � qualidade para todos; � gestão democrática; � liberdade versus autonomia; e � valorização do magistério, formação continuada, no que se refere ao levan- tamento de necessidades de formação, e com a elaboração de programas. No entanto, o projeto não pode ser idealizado como panaceia,como solução para todos os problemas. Antes de qualquer coisa, precisamos de uma matéria- -prima fundamental: as pessoas que buscam, sonham, pensam, interrogam, de- sejam. Sujeitos, projeto e organização devem se articular a partir do fundamen- tal, que são as pessoas, construtoras e destinatárias da transformação social. Planejamento e avaliação institucionais 151 O que dá vida a uma escola? Seria o projeto político-pedagógico? Não podemos ter essa ilusão. O que dá vida à escola são as pesso- as, os sujeitos que historicamente assumem a construção de uma prática transformadora. E para que isso aconteça é necessário considerar a estrutura organizacional da escola, o seu currículo, o seu tempo escolar, o processo de decisão, as relações de trabalho e a avaliação que nela é feita, ou seja, conhecer as situações concretas da escola para assim poder criar outras condições, que geram uma outra forma de trabalho, iniciando com a reorganização de dentro para fora, pois o projeto político-pedagógico é uma reflexão do cotidiano, visando a uma continuidade no processo do conhecimento, democratizando-o. O referencial teórico a respeito da construção do projeto político-pedagógico é vasto. Entretanto, a prática, as pessoas, os elementos a serem considerados, o processo de construção trazem dificuldades para os educadores. Assim, apenas para elucidar ou, ainda, visualizar, e por que não dizer vislumbrar possibilidades reais de construção do projeto político-pedagógico, traremos, a seguir, indicati- vos do processo ocorrido em uma escola. Na elaboração do projeto político-pedagógico da escola X ocorreram estu- dos prévios pela equipe tecnodocente, reuniões, organização de comissões, elaboração e distribuição do questionário à comunidade escolar, envolvendo professores e funcionários, pais e comunidade (vizinhos), estudo dos resultados para embasamento e formulação do projeto. A coleta de dados para a construção do projeto político-pedagógico abordou assuntos que remetem à reflexão e a compreensão do mundo atual, incluindo movimentos de melhoria de qualidade de vida e dificultadores do bem-estar comum. Dessa visão inicial, foram levantadas as finalidades, o papel, os desejos para a escola X: reavaliação das opções teóricas para embasamento e estrutura- ção da escola, encaminhamentos de objetivos, conteúdos, metodologia, avalia- ção e disciplina, e as relações que se estabelecem. Atividades culturais, estrutura e organização da escola, gestão, participação, condições objetivas de trabalho, gerenciamento de recursos financeiros, parti- cipação da escola X na comunidade, relacionamentos professor/aluno, escola/ família, escola/comunidade, participação e orientação de aluno, educação re- ligiosa, atividades esportivas e culturais, coerência da proposta pedagógica e a 152 Planejamento e avaliação institucionais prática, bem como item aberto a qualquer outra opinião ou comentário fizeram parte do instrumento de pesquisa direcionado aos professores e funcionários. O instrumento utilizado na pesquisa para a coleta de dados para a construção do projeto político-pedagógico, como já colocamos, foi bastante amplo, sendo destinado aos profissionais da escola. Entretanto, para os pais e para a comuni- dade, pela especificidade da escola e o necessário conhecimento pedagógico, foram retiradas algumas questões, permanecendo as outras situações questio- nadoras de total pertinência para pais e comunidade. Esses instrumentos procuraram envolver o todo da escola, no intuito de de- mocratizar a construção da escola X, e esse é o planejamento participativo. Sugestões foram dadas, opiniões e debates foram realizados, houve leitu- ra conjunta de todos os itens e a estruturação do projeto político-pedagógico tornou-se não “um projeto”, mas processo, em um continuum realizado, revisto e debatido por todos que constituem a comunidade escolar. Retratamos a seguir, em síntese, alguns elementos relevantes colhidos dos questionários relativos ao projeto político-pedagógico. Finalidade e papel da escola X De extrema importância, a definição primeira a ser construída, a finalidade e o papel da escola X, que são geradores e embasadores das ações pedagógi- cas e administrativas foram amplamente discutidos durante a elaboração do projeto político-pedagógico, e os resultados foram definidos pelos sujeitos en- volvidos, sendo apresentados, principalmente, na filosofia e princípios didático- -pedagógicos. Opções teóricas da escola X em relação ao campo de ação e à instituição, nos níveis pedagógico, comunitário e administrativo O processo de planejamento “[...] elaborado de forma a servir de referencial para o trabalho reflexivo e crí- tico.... aberto e flexível ...”. “[...] orientar o trabalho em sala de aula”. Planejamento e avaliação institucionais 153 “[...] discussões com a equipe de trabalho para uma maior participação dos alunos e professores”. “[...] realidade e necessidade do grupo”. “[...] dinâmico, fruto de pesquisa e atualizações, feito no coletivo”. “[...] realizado no conjunto, levando em consideração uma proposta inova- dora”. “democrático”. “maior interdisciplinaridade”. “participativo”. Um planejamento participativo, portanto democrático, construído para servir de referencial, orientador de um trabalho reflexivo e crítico, devendo ser aberto e flexível, atendendo e voltado aos interesses, às necessidades e à realidade dos alunos. Dinâmico, fruto de pesquisas e atualizações, levando em consideração uma proposta inovadora, visando também à interdisciplinaridade. A definição dos objetivos, dos conteúdos, da metodologia e da avaliação “[...] que façam relações com o cotidiano do aluno”. “[...] os conteúdos e objetivos são definidos de acordo com a realidade social”. “[...] com a participação e opinião de todos os professores”. “A metodologia deve ser empregada com o máximo de tecnologia, na forma de despertar o interesse do aluno.” “Que o aluno seja capaz de compreender a cidadania como exercício de di- reitos e deveres, que tenham atitudes de solidariedade, cooperação e respei- to ao outro e a si mesmo. Os conteúdos devem ser determinados por uma seleção das mais significativas. Quanto à metodologia e avaliação poderiam ser mais discutidas. Em algumas vezes nota-se uma falta de sintonia entre disciplinas e turmas.” A elaboração e a definição dos objetivos, conteúdos, metodologia e avaliação devem ser feitas com a participação de todos, de acordo com o cotidiano e a realidade social, com metodologia inovadora e avaliação processual e contínua, e os conteúdos devem ser selecionados pelo seu valor de significância. 154 Planejamento e avaliação institucionais A disciplina e a relação professor/aluno/coordenador/diretor “[...] o diálogo como principal ferramenta para que as dificuldades sejam re- solvidas”. “[...] direta, aberta, afetuosa, respeitosa, cumplicidade, trocas”. “[...] relação de respeito mútuo”. “Sem barreiras de comunicação, de forma aberta e direta, com bom nível de relacionamento e seus devidos limites.” A disciplina e a relação entre todos deve ocorrer pelo diálogo, franco e aberto, em uma relação de respeito mútuo, no qual haja cumplicidade e trocas, com afe- tividade e limites. Participação e organização dos alunos “Desejamos a participação e organização dos alunos de forma que eles se po- sicionem de maneira crítica e responsável, utilizando o diálogo como forma de medir conflitos e tomar decisões.” “Inserida no processo ensino-aprendizagem e estruturada pelo professor para que isso faça parte do cotidiano do aluno.” “Incentivando e acreditando no potencial e criatividade dos alunos.” “Que a participação seja uma constante troca de conhecimentos e experiên- cias.” “De forma a combater os elementos que excluam uns aos outros, interferindo de forma consciente, buscando harmonia entre eles.” Ideias, sugestões e reflexão da atual condição de participação e organização dos alunos foram a maior constante.A participação deve ser constantemente incentivada e motivada, tendo o professor como organizador e disponibilizador de recursos, em um clima de respeito, bem como ele deve sempre acreditar no potencial e criatividade dos alunos. Planejamento e avaliação institucionais 155 As atividades culturais “Significativas para os alunos e contando com a participação e presença dos pais e, quando possível, da comunidade.” “Estimular a leitura, passeios culturais, visitas a museus.” “Com a participação da família e comunidade.” “Voltadas para a necessidade e interesse de todo grupo, com a participação de todos, valorizando a nossa cultura.” Participação e significância são aspectos que fazem proliferar o estímulo pelo conhecimento, pela cultura e pelo engajamento do sujeito, e que, vinculados à necessidade e interesse do aluno, estarão voltados ao exercício da cidadania. Estrutura e organização da escola “De forma que haja um ambiente de trabalho onde todos desempenhem suas funções com prazer”. “Com democracia”. “Buscando no coletivo soluções conjuntas, bem como ações de ordem indivi- dual que cada um ofereça, visando concretizar o objetivo da escola”. “Que seja compromissado com a educação (como já é)”. “Estruturada democraticamente, produzindo um ambiente de colaboração, de participação, de integração, e prazeroso, no qual o compromisso para com o processo de aprendizado transpire em todas as suas ações e atuações junto aos alunos, pais, colaboradores e comunidade”. Direção e equipe técnica “Democrático”. “Abertos a sugestões e críticas construtivas”. “Devem estar atentos e dispostos a colaborar para resolver situações com os professores e com os alunos, dando ideias, gerenciando recursos e manten- do-se acessíveis”. 156 Planejamento e avaliação institucionais “Cooperativos”. “Pessoas abertas à discussão profissional, compreendendo que atitudes de- verão ser tomadas, se necessário, de forma ética, e levando todos a uma cons- ciência de que nada é pessoal”. “Compromissados com a educação, dispostos e abertos a opiniões e críticas”. “[...] competência”. A vivência em um ambiente mais democrático e participativo remete à re- visão das posturas dos educadores, neste caso, equipe técnica e direção. Nessa vivência, os comportamentos passivos, reprodutores, cerceados pela direção, já não cabem mais, exige-se competência, compromisso, participação, orientação, incentivo, ou seja, uma postura de líder, receptivo a discussões e democratização das relações. Que professor? “Professores atualizados, humanos, preocupados com as características indi- viduais de cada aluno, aptos a mudanças, criativos, amigos e conscientes do seu papel na formação dos alunos.” “Professores amorosos, que valorizem cada aluno como eles são. Professores mais amigos do que julgadores e juízes injustos. Professores firmes que não deixam os alunos mandarem, mas que buscam um relacionamento de res- peito mútuo [...]”. “Que tenham capacidade para aproveitar todo o potencial do aluno, e que possam explorar ao máximo a criatividade das crianças.” Os pais, hoje, não desejam mais a postura de um professor de concepção tra- dicional, na qual impera o autoritarismo e a inflexibilidade. Os pais mostram-se desejosos de professores afetivos, participativos, criativos e capacitados, e que sua autoridade seja baseada no respeito mútuo e sua visão de mundo seja coe- rente com as necessidades da sociedade. Participação e organização dos alunos “Compartilhar responsabilidades: o aluno pode e deve participar das ativi- dades escolares e até decidir em grupos por essas atividades, respeitando- -se um currículo-base e a orientação do professor. Ele quer se sentir corres- ponsável pela sua educação.” Planejamento e avaliação institucionais 157 “Participação ativa, porém com ordem. Organização em grupos.” “Que debatam os assuntos e criem espírito de corpo e união.” “Alunos responsáveis, conhecedores de seus deveres e da importância de participar na sociedade. Alunos com pensamento crítico, que busquem solu- ções e tenham as dúvidas respondidas.” A expectativa de formarem alunos conscientes e críticos, tanto quanto par- ticipativos e envolvidos em grupos, norteia os desejos de pais preocupados em educar formal e informalmente filhos/alunos-cidadãos. Emerge o desejo de que os alunos se organizem em grupos e equipes, debatendo desde questões do cotidiano do sujeito até a sua própria construção no que concerne ao conhe- cimento e à cidadania, tendo sempre como bússola o respeito ao ser humano (limites, organização, diálogo, criatividade, criticidade). À proposta dessa escola realmente não caberia outro modelo e metodologia de planejamento senão o participativo, pois, segundo Gandin (1994, p. 57), Aí se pode construir um processo de planejamento em que todos, com seu saber próprio, com sua consciência, com sua adesão específica, organizam seus problemas, suas ideias, seus ideais, seu conhecimento da realidade, suas propostas e suas ações. Todos crescem juntos, transformam a realidade, criam o novo, em proveito de todos e com o trabalho coordenado. Avaliação institucional: ferramenta para a tomada de decisão O dia a dia da humanidade, desde os tempos remotos, está permeado de ações que levam os indivíduos a medir, comparar, analisar e valorar, assim emi- tindo um juízo de valor. Hoje, as instituições de ensino – senão na prática, ainda na teoria – assumem no seu cotidiano o tema da democratização. Assim, a avaliação institucional tor- na-se preocupação essencial para a melhoria dos serviços e para a conquista de maior autonomia. Dessa forma, a avaliação institucional não é mais vista como um instrumen- to burocrático de controle e centralizador em conflito com a autonomia. Ela está sendo vista como um processo necessário da administração do ensino, como condição para a melhoria do ensino e como exigência da democratiza- ção. Mesmo assim, a avaliação encontra resistências e não constitui uma prática constante nas instituições e nos sistemas de ensino. 158 Planejamento e avaliação institucionais A avaliação formal ou informal, sistemática ou assistemática, faz parte de um processo de reflexão do cotidiano sobre toda e qualquer atividade humana, sendo o instrumental de orientação ou reorientação das ações dos indivíduos e organizações sociais. Usamos Bertold Brecht para, com seu pensamento, percebermos que a ava- liação poderá ser utilizada tanto em uma perspectiva diagnóstica e orientado- ra do trabalho pedagógico quanto concebida como processo e instrumento de desvelamento da realidade – ou de maneira mais enfática, da vida. Nós vos pedimos com insistência Não digam nunca – isso é natural. Sob o familiar, descubram o insólito. Sob o cotidiano, desvelem o inexplicável. Que tudo o que é considerado habitual provoque inquietação. Na regra, descubram o abuso e sempre que o abuso for encontrado, encontrem o remédio. Bertold Brecht E, por fazer parte da permanente reflexão sobre a atividade humana, a ava- liação constitui um processo com intencionalidade, auxiliado por diversas ci- ências e aplicável em qualquer prática (GADOTTI apud DEMO, 2002, prefácio). A avaliação, além de ser um processo técnico, é também uma questão polí- tica, pois pode ser usada apenas para julgar e então constitui um instrumento do poder (autoritário), ou pode se constituir em um processo ou projeto em que os participantes, avaliadores e avaliados, tendo o propósito da transformação, procuram e sofrem mudanças qualitativas: A avaliação institucional visa ao aperfeiçoamento da qualidade da educação, isto é, do ensino, da aprendizagem e da gestão institucional, com a finalidade de transformar a escola atual em uma instituição comprometida com a aprendizagem de todos e com a transformação da sociedade. (BELLONI apud FERNANDES, 2002, p. 114) A avaliação institucional deverá ser dentro de um processo sistemático, utili- zando procedimentos do método científico e realizando um estudo com obje-tivos definidos acerca de elementos da realidade. Ainda, a avaliação vista como Planejamento e avaliação institucionais 159 processo que julga implica o necessário conhecimento do objeto a ser avaliado, com base em dados e informações pertinentes e relevantes. Há que se destacar também a avaliação como guia para a tomada de decisão. Esses pontos essenciais levantados estão claramente explicitados na defini- ção elaborada, a partir de diversos conceitos pesquisados por Aquilar e colabo- radores (apud FREITAS; SILVEIRA, 1997, p. 19-20): A avaliação é uma forma de pesquisa social aplicada, sistemática, planejada e dirigida; destinada a identificar, obter e proporcionar de maneira válida e confiável dados e informação suficiente e relevante para apoiar um juízo sobre o mérito e o valor dos diferentes componentes de um programa (tanto na fase de diagnóstico, programação ou execução), ou de um conjunto de atividades específicas que se realizam, foram realizadas ou se realizarão, com o propósito de produzir efeitos e resultados concretos: comprovados à extensão e o grau em que se deram as conquistas, de forma tal que sirva de base ou guia para uma tomada de decisão racional e inteligente entre cursos de ação, ou para solucionar problemas e promover o conhecimento e a compreensão dos fatores associados ao êxito ou fracasso de seus resultados. [...] a necessidade de avaliação se explica porque permite uma retroalimentação sobre o que se está fazendo e os erros que se cometem ou foram cometidos, a fim de poder ir sanando, melhorando ou evitando passo a passo. Da mesma forma, embasados em vários conceitos de diferentes autores e correntes, Flores e colaboradores. (apud FREITAS; SILVEIRA, 1997) chegaram ao conceito de que La evaluación es el processo sistemático y permanente que permite captar información sobre el objeto evaluada para contrastarlo com un marco de referência y a partir de esta contrastación emitir juicios de valor y proporner alternativa para mejorar dicho objeto. Conceitos outros, constituídos por diversos autores, em sua síntese, acabam por refletir a definição dada por Luckesi (1984), citado como elemento introdu- tório deste breve registro sobre avaliação institucional. A avaliação, principalmente no campo educacional, remonta aos primórdios dos bancos escolares. Evidente que em sua trajetória sofre alterações de acordo com sua concepção. Entretanto, em termos de avaliação institucional, trata-se de assunto relativamente novo no cenário educacional brasileiro, gerando po- lêmicas nesse meio. A literatura a respeito de avaliação educacional está na maioria voltada à ava- liação da aprendizagem. Acresce-se a isso a preparação dos educadores para proceder somente a avaliação da aprendizagem dos alunos. Avaliar a escola como um todo, sua gestão, seu funcionamento, as atividades que são desenvolvidas, leva realmente à formação conforme apregoa a filosofia da escola? 160 Planejamento e avaliação institucionais E como está a atuação dos professores? A participação dos pais e da comunidade é significativa? E o papel e a função da escola na comunidade? O que está bem e o que precisa melhorar? São diversos os questionamentos que podem ser respondidos mediante a avaliação institucional, que assim se constitui como ferramenta fundamental de percepção, de investigação e de construção. A avaliação institucional ainda é uma área bastante restrita, são poucas as experiências e a tradição em avaliação sistemática de instituições, bem como sua literatura, e em consequência ela ainda é carente em sua conceituação e metodologia. Apesar de recente, destaca-se com relevância o tema, deixando de lado a dis- cussão sobre a realização ou não da avaliação institucional, na busca da melhor metodologia que levará à qualidade e à eficiência. Reconhece-se, assim, a avaliação institucional como instrumento de gestão que permite repensar o compromisso da escola com a sociedade na qual está inserida. A avaliação institucional é hoje vista como necessária, pois é um instrumen- to de grande valia que pode ser construído e implantado por uma instituição de ensino para produzir um conhecimento da realidade, daquilo que se deseja, bem como do indesejável no interior da organização, no intuito de fornecer sub- sídios ao planejamento para a melhoria da qualidade. Assim, a avaliação institucional não é mais vista somente como um instrumento de controle burocrático e centralizador, em conflito com a autonomia. Na verdade, ela está sendo concebida como um processo necessário da administração educa- cional e como exigência da democratização, segundo Moacir Gadotti (2000). Freitas e Silveira (1997) destacam pontos fundamentais sobre a avaliação na universidade, que aqui generalizamos para toda e qualquer instituição de ensino: � clareza da concepção da educação e da realidade social; � compromisso da instituição com o avanço da sociedade, no sentido de transformação ou, pelo menos, interpretação da realidade; � definição do projeto político-pedagógico da instituição. Planejamento e avaliação institucionais 161 Como conclusão, a partir de considerações e conceitos diversos, Freitas e Sil- veira (1997, p. 22) colocam que [...] a melhor definição que representa o significado da avaliação institucional na universidade é aquela que contemple os aspectos básicos, tais como: um processo sistemático de reflexão, acompanhamento e aperfeiçoamento das atividades acadêmico-administrativas; um instrumento necessário para a tomada de decisões de forma racional, servindo também para comparar o real com o ideal e, por fim, tendo como objeto a qualidade dos serviços oferecidos, no cumprimento de sua missão como organização social. Nesse contexto, a avaliação institucional deve ser concebida como um processo sistemático de análise, informação, acompanhamento e orientação das atividades desenvolvidas, cujo objeto é a qualidade do ensino, da pesquisa, da extensão e de sua gestão. (FREITAS; SILVEIRA, 1997) Dissemos que avaliar é um ato que exercemos no nosso dia a dia, pois sempre que precisamos tomar uma decisão fazemos avaliação dos aspectos positivos e negativos e nesse processo estamos ao mesmo tempo atribuindo valores. Além desse entendimento, o que levantamos para ressaltar, especialmen- te os gestores, é que, ao instituir a avaliação institucional como instrumental à gestão, voltamos à concepção de educação e aos objetivos que se desejam atin- gir porque evidentemente ela será correspondente à concepção educacional e, portanto, a avaliação institucional poderá acontecer por meio: � de um diálogo construtivo e reflexivo, em uma visão de educação huma- nizadora; ou � de autoritarismo e repressão, com finalidade classificatória e competitiva. Como já existe a clareza de nossa postura educacional, salta aos olhos de você, leitor, até porque colocamos a conceituação também de avaliação, princi- palmente quando a vemos de forma processual, a nossa opção por uma avalia- ção institucional em um enfoque humanizador, reflexivo e construtivo: Nesse sentido, o processo de avaliação institucional é profundamente formativo e, atualmente, vem desempenhando um destacado papel “proativo e construtivo” [...] na reestruturação de universidades, escolas e sistemas de ensino. Através dele é possível compreender melhor os processos que produzem a instituição para poder melhorar a qualidade de seus serviços e produtos. (GADOTTI, 2000, p. 197) Assim, a avaliação institucional pode ser promotora de qualidade no interior da escola, melhorando as relações sociais, humanas e interpessoais e aperfei- çoando sistematicamente todos os participantes, bem como e, principalmente, em decorrência desse acontecimento, ocorre também a melhoria dos serviços educacionais prestados pela escola. 162 Planejamento e avaliação institucionais Gadotti (2000, p. 199) refere-se à colocação de Genuíno Bordignon ao dizer que a avaliação institucional constitui num “processo de autoconsciênciainstitu- cional”, desvelando causas e determinantes dos seus avanços, seus retrocessos, seus sucessos e insucessos. A avaliação de desempenho das instituições de ensino tem como objetivo geral a revisão e o aperfeiçoamento do seu projeto pedagógico, promovendo a continuada melhoria da qualidade e o propósito das atividades desenvolvidas. Dessa forma, a utilização eficiente e eficaz, a ética e a relevância dos recur- sos humanos e materiais da instituição transformam-se em compromissos científicos e sociais, afiançando a qualidade e a importância dos seus serviços à comunidade. Enfim, o processo de avaliação deve ser contínuo e sistemático, visando a promover e manter o aperfeiçoamento institucional, incentivando uma siste- mática de reflexão, redefinição de objetivos e priorização científica e social da instituição educacional. Verifica-se que os processos de avaliação possuem objetivos que, para além de qualquer preocupação classificatória, buscarão apontar – entre os elementos considerados determinantes – pontos necessários de superação e pistas de en- caminhamentos para isso. Assim, um processo de avaliação precisará necessariamente da adesão dos participantes, pois a coleta, tabulação e análise dos dados não terão sentido se não forem acompanhadas de um plano de superação das dificuldades constata- das e de promoção de mudanças, pois a avaliação institucional possibilita, como vimos, o aprofundamento do conhecimento da instituição, assim como a análise de sua trajetória e de seu projeto político-pedagógico. Qual é a nossa pretensão maior com este texto? Poderíamos simplesmente deixar que vocês respondessem, mas vamos pensar juntos? Primeiramente, vamos destacar a necessidade premente de se realizar a ava- liação institucional de forma séria e competente, pesquisando e buscando a me- todologia mais adequada à instituição, que é objeto da avaliação. Segundo, a avaliação deve constituir um processo contínuo na instituição, com desvelamento, aperfeiçoamento, aprofundamento, crescimento quantitativo, qualitativo e mudanças, tendo em vista sempre a melhoria e a transformação. Planejamento e avaliação institucionais 163 Terceiro, imprimir a visão da possibilidade de se fazer avaliação de manei- ra diferenciada: democrática, participativa, reflexiva e construtiva, tendo como referencial o projeto político-pedagógico e, por isso, com a avaliação, sempre se promoverá o enriquecimento deste projeto e da escola, na realização de seu papel de transformação social. Texto complementar Planejamento e avaliação como subsídios para a melhoria da ação docente (CARON, 2009) O planejamento tem servido como instrumento de melhoria da quali- dade e da eficiência das mais variadas instituições, inclusive nas de ensino superior. Os resultados do planejamento podem ser verificados a partir da avaliação institucional, como processo de mudança da ação e da formação continuada do docente e, consequentemente, apontadas em seu instrumen- to técnico que direciona o plano, no caso, o Projeto Pedagógico Institucional e do Projeto Pedagógico Curso. O referencial teórico trabalhado neste capí- tulo busca mostrar a relação entre Avaliação Institucional e o Projeto Peda- gógico Institucional que articula e orienta a ação e a formação continuada do professor. Considerações sobre o projeto pedagógico A educação é um desafio permanente na análise do contexto das políti- cas públicas. É fator fundamental debater a questão curricular, perceber a re- lação entre Avaliação Institucional e o Projeto Pedagógico Institucional que articula e orienta a ação do professor na melhoria da educação superior. O Projeto Pedagógico Institucional é uma proposta de educação, é um instrumento político, filosófico e teórico-metodológico que se articula no currículo da lES que norteia as práticas acadêmicas. Deve nascer com propó- sitos próprios, resultado do contexto social no qual está inserido. 164 Planejamento e avaliação institucionais O Projeto Pedagógico Institucional deve ser elaborado de forma partici- pativa, deve ser democrático quando se refere ao processo de tomada de decisões e demonstra a intencionalidade educacional da lES para a formação do cidadão. Eyng (2007, p. 164) referendada em Antúnez enfatiza que no processo ar- ticulado de planejamento, efetivação e avaliação do PPI, é vital que se tenha clareza de sua finalidade e funções: � Apresentar a instituição à comunidade interna – gestores, professores, funcionários e alunos, e à comissão externa – futuros alunos, organizações parceiras e empregadoras. � Promover um consenso em torno dos princípios e diretrizes que fundamentam a ação institucional. � Orientar a construção e a atualização dos projetos pedagógicos de cursos de Gradu- ação e Pós-Graduação. � Orientar e servir de guia para qualquer ação individual ou coletiva de ensino, pes- quisa, extensão e gestão que se desenvolva na instituição ou em outro espaço da comunidade por seus colaboradores. � Articular o conjunto das ações institucionais de ensino, pesquisa, extensão e gestão. � Ser referência nos processos de avaliação institucional. � Orientar o processo decisório na gestão institucional. O Projeto Pedagógico Institucional, portanto, direciona os ideais da insti- tuição de ensino com o objetivo de formar para a cidadania. A construção do Projeto Pedagógico Institucional é a intervenção na realidade diária, é a cria- ção de estruturas a partir de ideais que se pretende atingir, exige visão críti- ca, conscientização, integração, abertura e entrosamento (conforme citado acima Art.12 da LDB 9394/96) motivação, conhecimento, envolvimento, es- trutura, boa vontade, portanto, autonomia com responsabilidade, voltado para os interesses e perfil da clientela. Faz-se necessária, porém, uma organização desses elementos básicos. Cabe à instituição de ensino adequar essas orientações de forma a concre- tizá-las, delineando seu caminho para promover, de forma competente, o ensino. Assim, cada instituição tem a possibilidade de definir seu Projeto Pe- dagógico Institucional. Ao ocupar seu espaço de autonomia para realizar o trabalho educativo, a instituição faz mais do que seguir as normas estabele- cidas pela lei, com seu projeto, o caminho escolhido tem a sua marca, tem feição própria, tem personalidade. Planejamento e avaliação institucionais 165 Segundo Eyng (2002, p. 26) sobre a autonomia na construção do projeto: A possibilidade de cada instituição construir seu Projeto Político Pedagógico lhe confere autonomia na construção de sua identidade. Essa construção, contudo, exige de todos os profissionais o envolvimento, no sentido de assumir seu compromisso de educador e de cidadão na construção de uma sociedade mais democrática, crítica e consciente. É um desafio que deve ser enfrentado com ousadia. Assim, construir um Projeto Pedagógico Institucional que esteja apto a enfrentar os desafios externos à lES e ainda contemplar as finalidades da educação e sua relação com a sociedade, se faz por meio de uma avaliação que supere a visão de mercado que impõe a submissão, o individualismo, a fragmentação, a quantificação, o Projeto Pedagógico Institucional acabado e imediatista. O Projeto Pedagógico Institucional deve ser discutido e pensado demo- crática e constantemente para organizar as ações diárias da instituição. O caminho a seguir é registrar os pontos de chegada, as ações que serão de- senvolvidas, a organização dessas ações e seus responsáveis, o tempo, os resultados esperados. Independente do tipo de registro feito, o importante é que seja completo, preciso e, ao mesmo tempo, fácil de consultar. Nele não cabem adereços; deve ser um documento substantivo que de- lineie os caminhos da instituição educacional; ter caráter permanente, du- radouro. Deve ser, assim, o eixo norteador da instituição educacional. Não pode e não deve ser substituído a cada momento, conforme Franco (2004), “na busca da identidade do ensinosuperior”. Deve estabelecer a missão, a vocação, os objetivos, os princípios e as diretrizes de uma instituição educa- cional de ensino; revelar as características da instituição, de tal maneira que se torne um instrumento permanente de pesquisa. A avaliação, como o planejamento e a organização do Projeto Pedagógico Institucional, é direcionada por diretrizes gerais, estabelecidas para orientar a formação comum a ser assegurada a toda a população. Essas diretrizes tra- duzem-se em políticas de atendimento e de funcionamento do sistema edu- cacional, conforme as possibilidades de cada realidade. Assim, é necessário detalhar a importância do currículo e sua relação com o Projeto Pedagógico Institucional para dar continuidade à discussão em torno do conhecimento pedagógico. Construir o projeto da instituição de ensino requer planejamento e ava- liação em uma construção coletiva, continuada e contextualizada. Conforme 166 Planejamento e avaliação institucionais afirma Veiga (2000, p. 11-13) mesmo que para a educação básica, contudo com fundamentação inclusive para o ensino superior: [...] É refletir acerca da construção do projeto político pedagógico, entendido como a própria organização do trabalho pedagógico da escola como um todo [...] A escola é o lugar de concepção, realização e avaliação de seu projeto educativo, uma vez que necessita organizar seu trabalho pedagógico com base em seus alunos. [...] O projeto ao se constituir em processo democrático de decisões, preocupa-se em instaurar uma forma de organização de trabalho pedagógico que supere os conflitos, buscando eliminar as relações competitivas, corporativas e autoritárias, rompendo com a rotina e a racionalização da burocracia que permeia as relações no interior da escola, diminuindo os efeitos da divisão do trabalho que reforça as diferenças e hierarquiza os poderes de decisão. (VEIGA, 2000, p. 13) Planejar faz parte das rotinas diárias, devendo superar a obrigação, a rotina burocrática, e é um momento de troca, de construção, de visão de futuro. Construir o Projeto Pedagógico Institucional é objetivar a transforma- ção da realidade de forma reflexiva, consciente e crítica. Mas o que é tudo isso senão o planejamento participativo, que busca uma atitude prática re- flexiva, permitindo que o agir e o pensar se interliguem conscientemente para alcançar o conhecimento. Veiga (2000, p. 133) chama a atenção para o planejamento articulado com a vivência da instituição de ensino: [...] As temáticas do planejamento participativo e do projeto pedagógico da escola, referenciando-as a uma proposta concreta de planejamento que vem sendo construída ao mesmo tempo em que é vivenciada por coletivos humanos singulares, incluindo-se, entre eles, grupos e instituições que interatuem numa comunidade escolar também singular. A reflexão sobre o planejamento participativo deverá percorrer os pressupostos da proposta referenciada; a construção teórico-metodológica do objeto do planejamento; fazer considerações sobre os sujeitos que o projeto integra e descrever alguns instrumentos técnicos que ajudarão a viabilizar o plano, no caso, o projeto político pedagógico da escola. O eixo da reflexão estará em torno da capacidade de um planejamento participativo e seu produto – o projeto político pedagógico da escola – possibilitar a vivência da prática reflexiva, democrática e democratizante e, com isso, atuarem no sentido da construção de identidades, da escola e dos sujeitos que ela congrega. O planejamento participativo permite o envolvimento de todos os sujei- tos do processo. Essa vivência com a realidade do outro vai proporcionar um conhecimento da organização, da instituição e de suas minúcias, enquanto prática e teoria, conflitos, discussões, trocas de opinião geram um processo de democratização nas tomadas de decisões coletivamente. Segundo Dalmás (1994, p. 27) o planejamento ideal é: Planejamento e avaliação institucionais 167 [..] O planejamento que envolve as pessoas como sujeitos a partir de sua elaboração, e com presença constante na execução e avaliação, não apenas como indivíduos, mas sujeitos de um processo que envolve como grupo, visando ao desenvolvimento individual e comunitário. O homem é visto como ser social envolto em realizações pessoais e que, na convivência e participação comunitária, desenvolve a ação das suas vi- vências, experiências, consciência crítica da realidade, obtendo coerência e eficácia no processo de ação/reflexão/ação do planejamento. É preciso juntar objetividade e sonho para poder ver o trabalho como ele é hoje, mas que pertence ao futuro. “Se não posso, de um lado, estimular os sonhos impossíveis, não devo, de outro, negar a quem sonha o direito de sonhar” (FREIRE, 1996, p. 144). Sonhar, aqui, se destaca no planejamento par- ticipativo como a utopia do que se quer alcançar, bem como no diagnóstico, quando se analisa a distância para alcançar esse objetivo, ou seja, prepara- ção, avaliação e efetivação. A ousadia de aceitar não ser uma instituição perfeita, de acreditar que pode melhorar e se adequar, de analisar suas potencialidades e suas defici- ências e permitir, na ação, que esses itens sejam direcionados para um futuro melhor, entender que a utopia cabe dentro do Projeto Pedagógico Institu- cional e que esse é o meio para se deixar de ser utópico. Não há receitas prontas, mas há aspectos importantes que não podem ser deixados de lado nesse processo coletivo. Ter clareza de aonde se quer chegar (metas), conhecer a instituição (alunos, comunidade, recursos inter- nos e externos, corpo administrativo, estrutura física etc.); decidir e preparar ações que serão executadas com acompanhamento e avaliação constantes. Quando a equipe se reunir na organização da ação geral do projeto, o planejamento estará voltado para o funcionamento dos setores da institui- ção, as atividades que cada um desenvolve, as relações internas e externas, as atividades dos alunos, entre outros fatores, ou seja, todos estarão pensan- do, em grupo, em uma maneira de operacionalizar as metas da instituição, tendo a aquisição do conhecimento como pano de fundo. O acompanha- 168 Planejamento e avaliação institucionais mento por meio da avaliação, enquanto crítica do percurso visa à melhoria do processo formativo e consolidação da identidade da instituição. A relação projeto e avaliação é fundamental quando se visa alterar a rea- lidade existente, quando se quer transformar a instituição. A avaliação forne- cerá informações relevantes sobre a sua estrutura e funcionamento e leva a um projeto possível. Tudo isso significa que para compreender o sentido do Projeto Pedagógico Institucional será necessário ter em mente uma teoria da ação humana que articule a reflexão e a ação, a teoria e a prática, o trabalho material e o político, o econômico e o cultural, e assim por diante. Segundo Rabelo (1998, p. 21): Uma avaliação só é produtivamente possível se realizada como um dos elementos de um processo de ensino e de aprendizagem, que estejam claramente definidos por um projeto pedagógico. Somente ao refletir e organizar a ação pedagógica como um todo é possível refletir sobre cada um deles. É necessário analisar a avaliação de maneira interligada com os demais elementos que compõem o planejamento pedagógico, por se tratar de temas – avaliação e Projeto Pedagógico Institucional – nada imparciais, por traduzirem uma concepção de mundo, de sociedade e de indivíduos que formam a lES. A avaliação institucional, enquanto rigorosa, confiável e objetivamente discutida, visando ser o horizonte de superação de limitações, obterá uma visão global do todo, não fechado em si mesmo, mas de forma ativa. A avaliação do Projeto Pedagógico Institucional é assim entendida por Veiga (2000, p. 32): A avaliação do Projeto Político Pedagógico, numa visão crítica, parte da necessidade de se conhecer a realidade escolar, busca explicar e compreender criticamente as causas da existênciade problemas, bem como suas relações, suas mudanças e se esforça para propor ações alternativas (criação coletiva). Esse caráter criador é conferido pela autocrítica. Portanto, quando há discussão sobre o Projeto Pedagógico Institucio- nal, a avaliação institucional é fator imprescindível, pois é ela que impul- siona as ações que visam alcançar todos os ideais pretendidos, a continui- dade e a emancipação da educação nesse processo contínuo em busca do aperfeiçoamento. Planejamento e avaliação institucionais 169 Considerações sobre relação avaliação e formação do docente Hoje o papel do docente vai além da mediação do processo de conhecimen- to do discente e do interior da instituição de ensino. O professor ensina e parti- cipa da gestão institucional, suas atividades estão cada vez mais complexas. É ao professor que cabe o trabalho de interpretar, criticar e contextualizar os conteúdos disponibilizados pelo currículo da melhor forma para obter os benefícios para a formação intelectual dos alunos. Portanto, o docente está sempre refletindo, atento, em constante aperfeiçoamento em relação aos alunos e em relação às questões de sua ação. Embora os professores recorram a processos para ensinar, planejar um determinado conteúdo, avaliar uma determinada aprendizagem ou gerir uma determinada situação, o processo nunca está pronto e acabado, pois imprevistos acontecem. Os processos, na realidade, são meios que o profes- sor usa para colocar os conhecimentos ao alcance dos alunos. Explicam Mellouki e Gauthier (2004, p. 7) sobre o papel do docente: É nessa tarefa de mediação que se revela o papel de intelectual do professor, papel não só de portador, intérprete e crítico de uma cultura, mas também de produtor e de divulgador de conhecimentos, técnicas e procedimentos pedagógicos, e de agente de socialização, de intérprete e de guardião responsável pela consolidação das regras de conduta e daquelas maneiras de ser, valorizadas pela sociedade e pela escola. Dica de estudo GADOTTI, Moacir. Avaliação Institucional: necessidade e condições para a sua re- alização. In: _____. Perspectivas Atuais da Educação. Porto Alegre: Artmed, 2000. Esse texto, escrito por Moacir Gadotti, serviu de roteiro para uma telecon- ferência organizada pela Assessoria de Avaliação Institucional da Secretaria de Estado da Educação do Rio de Janeiro, no dia 6 de abril de 1999. Trata-se de um texto rico e conciso, situando o tema historicamente, ao mesmo tempo em que apresenta seus reflexos no meio educacional. Expõe a necessida- de da avaliação educacional, aliada às concepções e os princípios. Fornece, ainda, orientações para a realização da avaliação institucional. 170 Planejamento e avaliação institucionais Atividades 1. Registre o seu entendimento de Planejamento Participativo. Planejamento e avaliação institucionais 171 2. Planejamento e Avaliação: ferramentas indispensáveis para uma boa gestão educacional. Justifique. 172 Planejamento e avaliação institucionais Referências CARON, Sheila Cristina. Planejamento e Avaliação como Subsídios para a Me- lhoria da Ação Docente. Disponível em: <http://www.biblioteca.pucpr.br/tede/ tde_arquivos/2/TDE-2008-11-01T163955Z-963/Publico/Sheila%20Caron.pdf>. Disponível em: 31 maio 2009. _____. Políticas de Planejamento e Avaliação Institucional como Subsídios para a Ação Docente. Disponível em: <http://www.biblioteca.pucpr.br/tede/ tde_arquivos/2/TDE-2008-11-01T163955Z-963/Publico/Sheila%20Caron.pdf>. Acesso em: 31 maio 2009. DALMÁS, Ângelo. Planejamento Participativo na Escola: elaboração, acompa- nhamento e avaliação. 7. ed. Petrópolis: Vozes, 1994. DEMO, Pedro. Pesquisa: princípio científico e educativo. 4. ed. São Paulo: Cortez, 1996. _____. Avaliação Qualitativa. 7. ed. Campinas: Autores Associados, 2002. FERNANDES, Maria Estela Araújo. Avaliar a escola é preciso. Mas... que avaliação? In: DAVIS, Cláudia et al. Gestão da Escola. Rio de Janeiro: DP&A, 2002.´ FREITAS, Ieda Maria C.; SILVEIRA, Amélia. Avaliação da Educação Superior. Flo- rianópolis: Insular, 1997. GADOTTI, Moacir. Escola Cidadã. 5. ed. São Paulo: Cortez, 1999. GADOTTI, Moacir et al. Perspectivas Atuais da Educação. Porto Alegre: Artmed, 2000. GANDIN, Danilo; A Prática do Planejamento Participativo: na educação e em outras instituições, grupos e movimentos dos campos cultural, social, político, religioso e governamental. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 1994. _____. GANDIN, Luís Armando. Temas para um projeto Político Pedagógico. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 1999. GUTIERREZ, Gustavo Luís; CATANI, Afrãnio Mendes. Participação e gestão esco- lar: Conceitos e potencialidades. In: FERREIRA, Naura S. C. Gestão Democrática da Educação: atuais tendências, novos desafios. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2001. Planejamento e avaliação institucionais 173 KIPNIS, Bernardo; ALGARTE, Roberto. Planejamento e avaliação educacionais. In: WITTMANN, Lauro Carlos; GRACINDO, Regina Vinhaes (Orgs.). O Estado da Arte em Política e Gestão da Educação no Brasil: 1991 a 1997. Campinas: Autores Associados, 2001. LUCKESI, Cipriano C. Avaliação da Aprendizagem Escolar. São Paulo: Cortez, 1995. LUDKE, Menga; ANDRÉ, Marli E. D. 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Na prática, o planejamento participativo consegue integrar o operacional e o estratégico, organizando- -os num todo, ao que Freire denomina processo de reflexão-ação. A escola ao eleger o planejamento participativo tem que ter a clareza de que planejar consiste em um processo para alcançar determinados objetivos, significan- do transformação, revolução. 2. O planejamento e a avaliação educacionais têm relevância significativa no contexto das políticas e da Gestão da Educação. Isso devido à concepção que se tem do planejamento, como um instrumento de implantação das po- líticas estabelecidas e a avaliação como o mecanismo de verificação e julga- mento de planos, programas e projetos. 174 Planejamento e avaliação institucionais A avaliação institucional é considerada como um dos integrantes importan- tes do processo de planejamento, constituindo-se em uma forma técnica possibilitadora à gestão da análise e julgamento de todas as fases do proces- so de planejamento. Com esse entendimento, planejamento e avaliação passam a ser ferramen- tas técnico-operacionais possibilitadoras de concretização de ideias e pro- posições em educação. Dessa forma, o planejamento e a avaliação são vistos como ação prática, constituem-se em caminhos metodológicos, congregando duas bases do conhecimento: o ideal das concepções teóricas e o objetivo da realização concreta. Tornando-se ambos imprescindíveis à construção de propostas, pois se integram aos processos político e gerencial da educação, dando-lhes o sentido da exequibilidade. Planejamento e avaliação institucionais 175 Maria Cristina Munhoz Araújo Maria de Nazareth Machado de Barros Vasconcellos Mariza Andrade Silva Teoria e Prática DA INSPEÇÃO ESCOLAR Te or ia e Pr át ic a D A IN SP EÇ ÃO E SC O LA R Teoria e Prática DA INSPEÇÃO ESCOLAR Fundação BibliotecaNacional ISBN 978-85-387-2944-0Código Logístico 30691 Página em brancoPágina em branco