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Aperfeiçoamento em DIRETOR ESCOLAR 001 ADQUIRA AGORA MESMO SEU CERTIFICADO DE 120H RECONHECIDO o �� ,� ' • administração escolar é marcado pelo desenvolvimento urbano- industrial. Nessa época surgiram as primeiras diretrizes institucionais para regulamentação e formação da carreira do administrador escolar, além do concurso público para provimento do cargo de Diretor de Grupo Escolar. A administração escolar no Nacional Desenvolvimentismo trata da segunda fase da industrialização. As possibilidades escolares se ampliavam devido ao crescimento demográfico e as perspectivas de colocação no mercado de trabalho. Nessa época foi promulgada a primeira Lei de Diretrizes e bases da Educação; no ano de 1961. A administração escolar teve interferências capitalistas que passaram a requerer melhor qualificação para cargos nesta área. No período do Governo Militar (1964-1984) são apontados acordos MEC – USAID, sendo que as legislações levaram a uma nova direção para a educação brasileira. A Reforma do Ensino de 1º e 2º graus, Lei nº 5.692, de 1971, eliminou os Grupos Escolares, mudando a nomenclatura da função de Diretor de Grupo Escolar para Diretor de Escola. A Administração Escolar no contexto da Nova República e do Neoliberalismo foi marcada pela chamada “transição democrática” na década de 1980, dando origem ao agravamento dos movimentos sociais e a luta pela gestão democrática da educação. A terminologia do termo “administração” foi substituída por “gestão” pela perspectiva da administração escolar. 039 No decorrer da década de 1980, com o aprofundamento do processo de democratização política de nossa sociedade, aumentam as pressões para que o diretor revele sua face de educador. Segundo Nogueira (1995), a própria palavra “Diretor” começa a ser questionada. Ganha força a proposta de que a direção da Escola seja exercida não por um único indivíduo, mas por um colegiado, formado por representantes de todos os envolvidos no processo educativo. De acordo com Lombardi (2012): “a administração escolar deve ser entendida como resultado de um longo processo de transformação histórica, que traz as marcas das contradições sociais dos interesses políticos em jogo na sociedade”. Não se trata, portanto, de definir a administração abstraída de seus determinantes sociais, mas de compreender que esta só surgiu historicamente determinada pelas relações econômicas, políticas e sociais, que se verificam sob o modo de produção capitalista (PARO, 1999, p.18). A administração, tal como conhecemos, apareceu e desenvolveu-se de acordo com as mudanças no modo capitalista de produção. A palavra “administrar”, segundo seu significado etimológico, (do latim administrare), é o ato de dirigir negócios públicos ou privados, de governar, de gerir. Por “administração” (do latim administratione) entende- se pela própria ação de administrar. Segundo Paro: Nos meios políticos e governamentais, quando o assunto é a escola, uma das questões mais destacadas diz respeito à relevância de sua administração, seja para melhorar seu desempenho, seja para coibir desperdícios e utilizar mais racionalmente os recursos disponíveis. Também na mídia e no sendo comum acredita-se de modo geral que, se o ensino não está bom, grande parte da culpa cabe à má administração de nossas escolas, em especial daquelas mantidas pelo poder público. (2015, p.17) Ao limitar a administração ao cumprimento de normas e procedimentos relativos à organização e ao funcionamento da escola, o diretor acaba por ganhar uma valorização exagerada, pois o mesmo é visto como aquele que deve cumprir tais procedimentos, uma vez que de acordo com a lei, ele é o responsável para que isto aconteça de forma efetiva. Conforme DIAS: A administração não é um processo desligado da atividade educacional, mas, pelo contrário, acha-se inextricavelmente envolvido nela, de tal forma que o diretor precisa estar sempre atento às consequências educativas de suas decisões e de seus atos. Quando desempenha sua função, quando decide alguma coisa, o diretor é antes um educador preocupado com o bem-estar dos alunos, que um administrador em busca de eficiência. (1967, p.9) 040 Nesse conceito de administração como mediação, não se trata de opor o educador ao administrador, sendo que um buscaria o bem-estar e o outro a eficiência, mas sim pensar na eficiência pensando no bem-estar dos alunos, pois toda prática pedagógica está impregnada do administrativo, assim o diretor escolar deve ser um educador. Paro (2015) nos propõe uma discussão sobre diretor e direção, que de acordo com o autor quando se trata de direção de escola e do responsável por ela, o diretor é aquele que ocupa a mais alta hierarquia de poder. Conforme Paro: ...é o conceito de direção do senso comum, em que poucos exercem seu comando sobre muitos, que vige em nossos sistemas de ensino com relação ao papel do diretor de escola. Este é, em geral, não apenas o encarregado da administração escolar, ao zelar pela adequação de meios a fins – pela atenção ao trabalho e pela coordenação do esforço humano coletivo – mas também aquele que ocupa o mais alto posto na hierarquia escolar com a responsabilidade por seu bom funcionamento. (2015, p. 41) A direção está imbuída de uma política e de uma filosofia de educação, sendo relevante refletir acerca da prática do diretor da escola, explicitando formas alternativas de direção escolar que preconizem a especificidade político-pedagógica da escola. Luck (2005) relaciona habilidades e conhecimentos em áreas: administrativas; relacionamento interpessoal e pedagógica elencando as principais habilidades e conhecimentos que os profissionais da gestão, precisam refletir de modo que possam liderar de forma competente uma escola, independentemente do nível de escolaridade que esta ofereça. Na área pedagógica a autora sugere: Compreensão dos fundamentos e bases da ação educacional; Compreensão da relação entre ações pedagógicas e seus resultados na aprendizagem e formação dos alunos; Conhecimento sobre organização do currículo e articulação entre seus componentes e processos; Habilidade de mobilização da equipe escolar para a promoção dos objetivos educacionais da escola; habilidade de orientação e feedback ao trabalho pedagógico. (2005, p. 85) Luck (2005, p. 84) define para o gestor na área administrativa uma: Visão de conjunto e de futuro sobre o trabalho educacional e o papel da escola na comunidade; Conhecimento de política e da legislação educacional; Habilidade de planejamento e compreensão do seu papel na orientação do trabalho conjunto; Habilidade de manejo e controle do orçamento; habilidade de organização do trabalho educacional; habilidade de acompanhamento e monitoramento de programas, projetos e ações; habilidade de avaliação diagnóstica, formativa e somativa; habilidade de tomar decisões eficazmente; habilidade de resolver problemas criativamente e de emprego de grande variedade de técnicas. 041 O gestor escolar na dimensão política exerce o princípio da autonomia que requer vínculos mais estreitos com a comunidade educativa, os pais, as entidades e organizações paralelas à escola. (LIBÂNEO, 2001). Segundo Libâneo (2001) a tarefa dos gestores educacionais visa dirigir e coordenar o andamento dos trabalhos, o clima do trabalho, a eficácia na utilização dos recursos e os meios, em função dos objetivos da escola, sendo assim, o diretor (gestor) deve ser capaz de contribuir para formar na escola uma gestão coletiva sendo mais um articulador com os demais participantes do processo educativo. A gestão na Educação Infantil Percebe-se que a Escola de Educação Infantil demanda novo olhar frente à gestão, que leve em conta competências e habilidades, tanto técnicas quanto humanas de seus gestores, necessárias e imprescindíveis à condução das atividades escolares. O diretor deve conhecer a criança em idade pré-escolar o que requer do educador um agudo senso de observação, uma atenção constante a detalhes decomportamento com a preocupação de identificar o que lhe é peculiar. O funcionamento da Escola de Educação Infantil e a qualidade dos seus serviços, bem como de qualquer organização dependem do trabalho que cada pessoa realiza no seu interior. As atividades desenvolvidas são intercomplementares e, no conjunto, garantem as condições de funcionamento da Escola. Por isso nunca é demais destacar a importância do trabalho de cada um, bem como do seu conjunto e do diretor em particular. Segundo Huet, Fares e Benedetti (coords) (1992, p.16) “uma escola sem o diretor seria o mesmo que supor como um organismo regido por leis naturais, que prescinde da vontade e da intenção da pessoa humana”. As autoras salientam que: “[...] um diretor de Pré-Escola poderá ser um excelente administrador sem jamais ser um administrador da Educação se não tiver claro estes aspectos e se não conhecer a função precípua dessa unidade escolar” (HUET, et al., 1992, p.18). É preciso ter claro que todo e qualquer organização existe com uma finalidade e cumpre uma função social, econômica ou cultural em relação ao meio ao qual faz parte. Os debates mais amplos sobre esta questão e os pontos de vista expressos pelos diretores levaram os estudiosos do assunto a alguns entendimentos básicos que, segundo Huet, et al (1992) são os seguintes: 042 A Educação Infantil desempenha uma função social. Ela abriga e alimenta proporções significativas de crianças de zero a seis anos de idade, ou de zero aos cinco anos, dependendo do Estado ou do Município, constituindo importante espaço de socialização além das fronteiras da família. Em segundo lugar, ao abrigar e cuidar das crianças, liberta a mulher/mãe da função guardiã – facilita sua inserção no mercado de trabalho. Ela cumpre, portanto um papel importante na redefinição do papel social da mulher na sociedade atual. (HUET, 1992, p.17). Diante das discussões legais e paradigmáticas em relação à concepção de Educação Infantil e de gestão escolar, atribui-se a esses campos o seu caráter construtivo e transformador a que estava sendo sujeito. Chama-nos atenção, nessa trajetória de avanços e retrocessos, duas situações quando buscam sistematizar o pensamento em gestão, articulado à Educação Infantil. A primeira vem por meio da problematização do papel do diretor quanto à organização do trabalho pedagógico e administrativo nessas instituições educativas. A segunda nos remete aos esforços de superar embates e imposições políticas e sociais cujas divergências giram em torno dos critérios do atendimento para a Educação Infantil que transitam entre o caráter assistencial e educacional. Não se pode negar que com a transição das Creches da área da Assistência Social para a Secretaria de Educação evidencia-se a necessidade de mudança de atendimento oferecido. De uma atenção voltada aos cuidados com o corpo, saúde e integridade (higiene, banho, sono e alimentação) da criança, socialmente menos favorecida, para a valorização dessas práticas, articulando-as às educacionais em um ambiente que agora também é educativo. A orientação dessa transição busca construir uma nova identidade a partir da compreensão desses espaços institucionais como um direito de toda criança, bem como a possibilidade de práticas fragmentadas que se pautam apenas no cuidado (assistencialismo) ou em preparar a criança para a escolarização. No contexto de transição, as políticas públicas educacionais inserem-se e evidenciam propostas mais flexíveis e autônomas de organização dos espaços, tempos e ações na promoção de atividades que efetivem a aprendizagem e o desenvolvimento da criança como sujeito integral. Diante dessas discussões, o papel do diretor, da instituição infantil, também passa por um processo de ressignificação; por um lado temos a questão da relação de poder que geralmente é associada ao cargo de diretor e suas atribuições e, por outro, o desafio quanto ao fortalecimento de práticas pedagógicas que vão exigir uma revisão de concepção de crianças. 043 A complexidade da gestão em relação ao papel do diretor está na ressignificação da identidade da instituição de Educação Infantil, nas situações cotidianas em que estão envolvidas as questões de relacionamento, tais como: o convívio entre profissionais, famílias e crianças. Trata-se de uma dinâmica repleta de sentimentos, concepções e emoções inerentes às relações humanas as quais definem as ações desenvolvidas. Quando olhamos para gestão em Educação Infantil, observamos que fica mais difícil ainda transpor a concepção pautada no respeito às necessidades e às especificidades do ser humano para as relações vivenciadas, cotidianamente, entre os profissionais. Além da ausência de ações governamentais que realmente favoreçam experiências democráticas, ao diretor cabe a difícil tarefa de representar os objetivos de um grupo, a partir da construção de práticas realizadas cotidianamente em espaços em que se garanta o exercício dos direitos, bem como dos deveres, pautados no respeito ao outro. Assim, administrar democraticamente uma escola exige atenção sobre as concepções que os sujeitos possuem em relação às instâncias de tomada de decisão, de controle, de direitos individuais, coletivos e de diversidade de saberes. Entende-se que o papel dos gestores da Educação Infantil não se diferencia totalmente do papel dos gestores dos outros níveis de ensino. A diferença é que a Educação Infantil possui características específicas e particulares em relação, principalmente, à organização dos seus fazeres, tempos e espaços. Segundo Zabalza (1998) costuma-se dizer que uma das tarefas fundamentais de um(a) professor(a) de Educação Infantil é saber organizar um ambiente estimulante e possibilitar às crianças que assistem a essa aula terem inúmeras possibilidades de ação, ampliando, assim, as suas vivências de descobrimento e consolidação de experiências (de aprendizagem, afinal). O papel do diretor na gestão escolar na Educação Infantil sob a perspectiva da Revista Gestão Escolar Publicações sobre o diretor na Revista Gestão Escolar dos anos de 2009 a 2013: A hora de passar o bastão – essa reportagem fala sobre o processo de transição na troca de gestão, em que muitos diretores começam uma administração do zero, no caso de eleições conflituosas, onde as informações são apagadas da memória do computador para que o novo gestor não tenha acesso. A documentação 044 detalhada, o contato pessoal e uma boa conversa são decisivos para que o novo diretor (nova gestão) comece com sucesso. Feedback : A pauta é desempenho – o diretor escolar deve reservar um sua rotina momentos para dar retorno aos seus colaboradores, com o objetivo de avaliar o que está sendo feito e dar orientações sobre as atividade para serem realizadas. Esse procedimento não deve ser utilizado apenas em momentos de insatisfação, mas também para elogiar o trabalho. Avaliar faz parte de uma das virtudes da liderança. Essas conversas podem ser mensais, bimestrais ou trimestrais, dependendo das características da escola. Ética nas eleições exemplo de cidadania – no Brasil, os registros de eleições para diretores datam de 1985, contudo, com a inclusão do inciso V no artigo 14 da LDB, foi só em 2008 que surgiu a recomendação para que se façam, preferencialmente, eleições diretas para o preenchimento das vagas de diretores nas escolas de Educação Básica da rede pública. A reportagem fala sobre a escolha do diretor acompanhada de perto pelos alunos, professores, enfim, toda comunidade escolar; atitudes e condutas no processo de eleição, para evitar o mau exemplo, contribuindo para uma gestão democrática. Diretor e coordenador: aliança pela qualidade – a reportagem trata sobre a relação entre os gestores e o que fazer para garantir boas condições de trabalho, uma vez que uma relação harmoniosa entre ambos propicia um bom desenvolvimento das atividadesescolares. Apesar de cada um deles pensar a gestão escolar sob diferentes perspectivas, ambos são responsáveis pelo mesmo objetivo que é a aprendizagem. O diretor escolar tem responsabilidade sobre os assuntos pedagógicos, pois seu papel é justamente zelar pela qualidade oferecida aos alunos. Precisa de ajuda? Então peça – muitas vezes o peso da função de diretor e mesmo a vontade de que não saia nada errado, faz com que se tente abraçar o mundo acumulando funções. Fazer tudo sozinho pode parecer mais simples, rápido e seguro, mas isso é uma ilusão. O diretor deve saber delegar, distribuir tarefas, orientando, acompanhando a execução, definindo metas e prazos para conclusão. Vice-diretor: o braço direito do gestor – o vice-diretor não é só um substituto e pode ajudar o diretor em todas as áreas, basta delegar funções e dar autonomia a 045 ele. A reportagem mostra como estabelecer uma boa relação de trabalho entre o diretor e vice e as características de um candidato ao cargo, caso tenha que nomear um. Profissional, sim. Impessoal, nunca – a reportagem fala que o bom gestor conhece bem os funcionários e dá atenção a eles. A revista propõe algumas maneiras de se aproximar deles e valorizá-los. Um aspecto relevante na construção de uma boa gestão de equipe é demonstrar preocupação com as pessoas através de algumas conversas informais, além de cumprimentos, que muitas vezes são feitos para seguir algumas convenções. Essa relação que é estabelecida com os colaboradores influencia no desempenho do profissional, embora pareça não fazer diferença. Falar em falta de motivação – o envolvimento acontece quando há sentido no que se faz. Alguns gestores reclamam da falta de motivação da equipe, porém o “envolvimento de fato de uma dinâmica interna que tem a ver como o sentido que os homens dão as próprias ações”, segundo o filósofo francês Bernard Charlot. Para mobilizar a equipe o gestor precisa descobrir qual o aspecto do trabalho que desperta o desejo em cada professor e funcionário, pois algumas atitudes dos funcionários são reflexo da insatisfação dos gestores. O primeiro inspetor – no século 19, o gestor enfrentou problemas parecidos ao de hoje, onde cabia a eles dar unidade aos modelos de organização das aulas e aos métodos de ensino. Os inspetores foram os primeiros gestores escolares do país. O diretor deve ouvir quem está na escola – nessa entrevista o professor Vitor Paro defende a gestão coletiva como a forma de fazer com que todos sejam corresponsáveis pela aprendizagem. Um diretor que não decide tudo sozinho, mas que tem professores que trabalham em parceria e um currículo que considera o aluno sujeito do seu próprio aprendizado são fundamentais para a construção de uma escola democrática que estimula o trabalho coletivo, formando cidadãos críticos e autônomos. Diretor: presente em toda a escola – as decisões e ações cotidianas se refletem no bom funcionamento de cada um dos espaços de aprendizagem e através delas o diretor se materializa em todos os ambientes da escola. O diretor estimula o trabalho coletivo, influencia na organização do espaço, na relação entre as pessoas que circulam pela escola e também no atendimento prestado a comunidade. 046 Quem elege o gestor? – segundo essa reportagem não existe no Brasil uma lei que especifique como devem ser escolhidos os gestores das escolas públicas. Como definir se o gestor escolar é um cargo público, um cargo em comissão ou de confiança? O importante não é decidir a melhor ou a pior forma de acesso no cargo, mas as concepções sobre o papel desse educador, bem como, suas competências e habilidades para executar a função. Como estrear bem no cargo de diretor – a reportagem dá dicas e depoimentos de diretores que estão chegando ao cargo pela primeira vez ou a uma escola desconhecida. Com tantas atribuições ao cargo, como agir na transição? Esse processo inicial leva tempo e o gestor deve apresentar-se e conversar com todos de forma coletiva e individual, para que estes respondam perguntas acerca dos projetos, modificações, sugestões, desafios, ou seja, do trabalho como um todo. Nessa etapa o ex-diretor pode ser um grande parceiro, se ele aceitar dividir sua experiência e elencar os problemas mais urgentes. Toda a força para o líder – nessa reportagem a entrevistada Heloísa Luck afirma que somente uma escola bem dirigida obtém bons resultados. Para que os objetivos da escola sejam alcançados é necessária a presença de gestores que atuem como líderes, capazes de implementar ações direcionadas para esse foco. Ela também defende o estímulo à gestão compartilhada, onde se cria um ambiente favorável ao trabalho educacional, valorizando os talentos da equipe, fazendo com que todos compreendam seu papel e assumam novas responsabilidades. ...E surge o diretor escolar – o cargo nasceu para organizar o trabalho nos grupos escolares, que eram modelos criados através da proposta iluminista republicana com o intuito de racionalizar custos, exercer controle e oferecer acesso à Educação para todos. O grupo era formado por 4 a 10 alunos, organizados por classes seriadas de acordo com o nível de conhecimento; um professor tinha 40 alunos. No princípio essa instituição era fiscalizada a distância pelos inspetores, porém era preciso ter alguém dentro da escola e, assim, surgiu o cargo de diretor. Enem para diretores? – PNE para o período de 2011 a 2020 sugere priorizar repasse de verbas aos estados e municípios que criarem leis para o cargo de gestor. Não se propõe uma diretriz nacional para a escolha de diretores, mas a criação de leis pelos estados e municípios, o que quer dizer que quem não tiver lei pode perder dinheiro, uma vez que não receberá o repasse de verbas do MEC. O 047 governo realizaria a prova nacional ajudando na implementação das normas, como forma de controlar quem fez o dever direito. É hora de refletir sobre o seu trabalho – avaliar a própria postura e a prática, com a ajuda da comunidade, é uma maneira de crescer e se aprimorar como gestor. O fim do ano é uma ótima oportunidade de olhar para a trajetória percorrida pela escola naquele período. O gestor pode fazer um balanço dos projetos desenvolvidos, dos índices de aprendizagem, da formação docente e a relação com a comunidade. Fazer uma autoavaliação do seu papel como diretor, permitindo melhorar os processos para que a escola atinja os seus objetivos de aprendizagem. Quando o diretor se torna um gestor – a reportagem nos diz que a verdadeira missão do líder da escola é conciliar as demandas burocráticas e pedagógicas para garantir que os alunos progridam. Dessa forma, a rotina do diretor está cada vez mais complexa e o seu papel mais importante, pois diariamente ele tem que dar conta de diferentes gestões; do espaço, dos recursos financeiros, de questões legais, da interação com a comunidade, com a Secretaria de Educação, das relações interpessoais, com um objetivo maior que é a aprendizagem dos alunos. O diretor (gestor) deve ter uma visão global da instituição e, ao mesmo tempo, focada nos alunos, segundo afirma o professor Fernando Almeida da PUC de São Paulo. A Revista Gestão Escolar constrói um perfil de Gestor Escolar de acordo com alguns princípios que estão em relevância no momento atual e vai elencando nas suas matérias como o trabalho deste profissional deve corresponder à lógica social dominante. Em relação ao papel do diretor na gestão da Educação Infantil, a revista não aborda nenhuma matéria específica em nenhuma das vinte e seis edições durante os cinco anos de publicação. Considerações Finais As revistas são idealizadas de acordo com os objetivos da editoria, assim sendo, são espaços de poder da cultura conforme os projetos político-sociais e mercantis adequados aos projetos e expectativas da sociedade. Elas produzem um modo de conceber determinados assuntos, estabelecendo visões e concepções vigentes. Se expressadessa forma, segundo as colocações da própria Silva (2009, p. 20), a potencialidade das revistas como ferramenta para a divulgação e solidificação de ideias 048 em educação, já que a própria presença do professor na revista pedagógica que, além de ler, contribui para a construção de textos, e mesmo a circulação de teorias e divulgação de propostas inovadoras, transforma o periódico em um campo rico para a consolidação de ideias. Ainda segundo Silva (2009, p.22), ao mesmo tempo, além de atender aos objetivos da própria editora, essas publicações geralmente acatam os objetivos daqueles que nela investem. O fato de que a mesma se direciona a um público específico que se preocupa pela temática abordada pela publicação, desperta o interesse daqueles que buscam difundir ideias e propostas relacionadas. Nesse sentido, mesmo que implícitos, os desejos e interesses dos que investem são atendidos, fazendo com que elas possuam uma configuração cujos espaços atendem cada vez mais os objetivos que se encontram integrados às teorias educacionais e ideologias que marcam a história de cada período, pois são veículos capazes de conectarem o professor- leitor às práticas educativas e concepções em desenvolvimento. (SILVA, 2009, p.21) O perfil do gestor está sendo repensado para se adequar às necessidades destes novos tempos, por isso, a revista propõe o perfil de um gestor polivalente, além de competente quanto à efetivação de uma proposta pedagógica. Segundo a construção da Revista em relação ao perfil de Gestor Escolar é necessário que este profissional perceba a escola na sua amplitude e mesmo não atuando diretamente na sala de aula, suas decisões irão afetar cada ação da instituição. Em várias passagens é possível constatar o desejo de capturar o leitor e convencê-lo de que o papel do Gestor Escolar é ser estrategista, animador, incentivador e promotor de ações que afetam e contribuem positivamente com o todo da escola. A leitura das revistas que somaram cinco anos de publicações da Revista Gestão Escolar permitiu que ao destacar as citações e trechos das reportagens que tratavam do papel do gestor, em nenhum momento identificou-se algo específico para o diretor da Educação Infantil, revelando dessa forma que o tema não possui relevância para a revista, uma vez que não é abordado. Contudo, percebemos no percurso do estudo que as revistas de cunho pedagógico, corpus de nossa análise, podem influenciar a partir de seu discurso as concepções de educadores que utilizem as mesmas como meio de informação. Seria consideravelmente importante o desenvolvimento de pesquisas de campo que busquem analisar a forma 049 como esses materiais influenciam os professores em suas práticas, difundindo suas ideias e concepções. Referências bibliográficas BRASIL. Lei nº. 9394/96 de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília, DF: Congresso Nacional, 1996. FONSECA, J. J. S. Metodologia da pesquisa científica. Fortaleza: UEC, 2002. Apostila. HUET, Bernard Fares, Jacyra; Benetti, Maria Luiza C. (coordenadoras). Experiências de desenvolvimento na área do ensino pré – escolar. IDEAIS. São Paulo: FDE, 1992. LIBÂNEO, José Carlos. Organização e gestão da escola: teoria e prática.5 ed. Revista e ampliada. Goiânia: Editora Alternativa, 2004. LOMBARDI José Claudinei; A importância da abordagem histórica da gestão educacional. In: ANDREOTTI, Azilde L.; LOMBARDI, José Claudinei; MINTO, Lalo Watanabe (Org.). História da administração escolar no Brasil: do diretor ao gestor. 2. ed. Campinas: Alínea, 2012. p. 15-28. LUCK, Heloísa... [et al.].A escola participativa: o trabalho do gestor escolar. Petrópolis, RJ: Vozes, 2005. LUCK, Heloísa. Concepções e processos democráticos de gestão educacional. Petrópolis, RJ: Vozes, 2006. Série: Cadernos de Gestão. MINAYO, M. C. S. (Org.). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Petrópolis: Vozes, 2001. PARO, Vitor Henrique. Diretor escolar: educador ou gerente? São Paulo: Cortez, 2015. ______. Gestão democrática da escola pública. São Paulo: Ática, 1997. SILVA, D. A. B. M. A mídia a serviço da educação: a revista Nova Escola. (Dissertação de Mestrado) Marília: UNIMAR, 2009. Disponível em: Acesso em: 14 nov 2014. WITTMANN, Lauro Carlos. Práticas em gestão escolar. Curitiba: IBPEX, 2004. www.cesadufs.com.br/ORBI/.../09520520042012 Prática_de_Pesquisa_I_Aula_2.pdf ZABALZA. M. A. Qualidade em educação infantil. Porto Alegre: Artmed, 1998. 050 http://www.cesadufs.com.br/ORBI/.../09520520042012%20Prática_de_Pesquisa_I_Aula_2.pdf ADQUIRA AGORA MESMO SEU CERTIFICADO DE 120H RECONHECIDO o �� ,� ' • Educacional da Secretaria de Estado de Educação do Paraná – PDE. Apresenta como grande tema a gestão democrática e mais especificamente o papel do diretor escolar. Considerando que as grandes e contínuas transformações sociais, científicas e tecnológicas passaram a exigir um novo modelo de gestão para a escola e, consequentemente, um novo perfil de dirigente. O gestor de hoje, num princípio de gestão democrática, precisa ter habilidade de compreender o contexto e fazer diagnósticos, enxergar possibilidades e implementar soluções coletivamente, definir processos, seus desdobramentos, monitorar os resultados e acompanhar a equipe escolar com avaliações e propostas para desenvolvimento individual e coletivo que favoreçam avanços contínuos e sustentáveis nos campos da gestão pedagógica. A gestão escolar é reconhecida, hoje, como um dos elementos determinantes do desempenho de uma escola. De acordo com Libâneo (2004), “é importante destacar que a organização e os processos de gestão assumem diferentes modalidades, conforme a concepção que se tenha das finalidades sociais e políticas da educação em relação à sociedade e à formação dos alunos.”. Todas estas atividades visam atingir os objetivos da educação, que por sua vez tem sido chamada a produzir a qualidade necessária ao desenvolvimento social e cultural da população as transformações. Sendo assim, questionamos: Quais os limites e possibilidades do trabalho do Diretor Escolar no sentido de se promover uma escola de qualidade social pautada no princípio da gestão democrática? O presente trabalho tem como objetivo discutir sobre o papel do diretor escolar, considerando o princípio da Gestão Democrática expresso na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB 9394\96. Abordaremos sua atuação enquanto organizador do trabalho pedagógico, diante de todas as demandas sob sua responsabilidade e a articulação das áreas administrativa e pedagógica. Em termos de procedimentos metodológicos, inicialmente adotou-se uma 054 metodologia de pesquisa de caráter bibliográfico, baseado em autores como PARO (2005); LIBÂNEO (2001 – 2004); LIMA (2000); PIASSA (2006); Constituição de 1988 da República Federativa do Brasil e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei 9.394/96, seguido de uma pesquisa de campo, na qual foi empregado um questionário como instrumento de coleta de dados para diretores. Os questionamentos versaram sobre a percepção dos colaboradores da pesquisa no que tange a assuntos específicos da escola e relacionados às dimensões da Gestão Escolar Democrática, de Gestão Educacional e reflexões sobre a Qualidade da Educação Escolar. O texto foi organizado em três partes, sendo que a primeira aborda a gestão democrática como princípio, a segunda o papel do diretor em uma escola democrática e de qualidade social e a terceira apresenta a coleta e análise dos dados. A pesquisa possibilitou concluir preliminarmente que na organização da escola quanto aos aspectos administrativos e pedagógicos o trabalho coletivo é predominante. Todos os colaboradores demonstram muito empenho em realizar uma gestão escolar democrática, buscam estratégias para uma escola de qualidade social, mas pontuam as dificuldades presentes na gestão de pessoas, no comprometimento dos alunos, da família e na desmotivação dos profissionais da educação frente às políticas educacionais. 1 A gestão democrática enquanto princípio Toda década de 1980, período de transição democrática, foi marcada pelas lutas da sociedade e dos movimentos sociais, pelo intenso desejo e reivindicação de participação da sociedade nas diversas instâncias da vida social. No campo educacional, a gestão democrática, a participação da comunidade na escola e a qualidade da educação foram temas em pauta na luta dos educadores dos diferentes níveis de ensino, inseridos no debate educacional brasileiro no contexto das discussões sobre o processo de redemocratização do país. A partir dos anos de 1990, houve a consolidação de um processo de reforma do Estado e da gestão, centrado na minimização do papel do Estado no tocante às políticas públicas. Na área educacional, além de vários dispositivos legais na esfera Federal, nos Estados e Municípios se multiplicaram decretos e portarias inspiradas 055 em conceitos e práticas importadas da gerência empresarial. Nesse processo, até as associações de pais e mestres foram envolvidas como “parceiras da terceirização”. Quanto à trajetória do termo “gestão” nas instituições escolares, Gestão Democrática, Gestão Compartilhada e Gestão Participativa são termos que, embora não se restrinjam ao campo educacional fazem parte da luta de educadores e movimentos sociais organizados, em defesa de um projeto de educação pública de qualidade social e democrática. Os movimentos de educadores iniciaram um processo de luta pela democratização da escola pública. Este movimento está relacionado ao entendimento de que a participação se constitui uma expressão da democracia ao promover maior aproximação entre os membros da escola, buscando a responsabilidade social. A Constituição de 1988, em seu Art. 206 destaca que, o ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I igualdade de condições para acesso e permanência na escola; II liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber; III pluralidade de ideias e de instituição públicas e pedagógicas, e coexistência de instituição públicas e privadas de ensino; [...] VI gestão democrática do ensino público, na forma da lei; VII garantia de padrão de qualidade. Portanto, estabelece uma gestão democrática do ensino público como um dos princípios necessários para o funcionamento da escola em nosso país. Igualdade, liberdade, pluralidade, gratuidade, valorização dos profissionais de ensino e garantia de padrão de qualidade são princípios que a Constituição articula à gestão democrática de ensino. A gestão democrática requer a qualidade social da educação que deve ser garantida em todos os âmbitos do sistema, fundamentalmente na escola, assim como em todas as demais ações pedagógicas do trabalho coletivo. Seus princípios implicam em respeito às diversidades humanas e culturais e comprometimento com uma sociedade justa e igualitária, tendo por finalidade a formação humana e cidadã. Importante destacar que a democratização da educação não se limita ao acesso à escola. O acesso é, certamente, a porta inicial para o processo de democratização, mas torna-se necessário também garantir que todos que ingressam na escola tenham condições para nela permanecerem com sucesso. Assim, a 056 democratização da educação faz-se com acesso e permanência de todos no processo educativo, dentro do qual o sucesso escolar é reflexo de qualidade. (MEC- CONAE 2013). . A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.493/1996) consolida a gestão democrática, principalmente em três artigos: Artigo 3º - O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: (...) VIII – gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino; Artigo 14 – Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios: I – participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola; II – participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes; Artigo 15 – Os sistemas de ensino assegurarão às Unidades Escolares públicas de educação básica que os integram, progressivos graus de autonomia pedagógica e administrativa e de gestão financeira, observadas as normas gerais de direito financeiro público. A gestão democrática da escola pública está vinculada aos mecanismoslegais e institucionais e à coordenação de atitudes que propõem a participação social: no planejamento e elaboração de políticas educacionais; na tomada de decisões; na escolha de do uso de recursos e prioridades de aquisição; na execução das resoluções colegiadas; nos períodos de avaliação da escola e da política educacional. Esse princípio conjuga o exercício responsável e compartilhado da direção, a forma participativa da gestão e a responsabilidade individual de cada membro da equipe escolar. Sob a supervisão e responsabilidade do diretor, a equipe escolar formula o plano ou projeto político-pedagógico-curricular, toma as decisões por meio de discussão com a comunidade escolar mais ampla, aprova um documento orientador. A partir daí, entram em ação as funções do processo organizacional em que o diretor coordena, mobiliza, motiva, lidera, delega as responsabilidades decorrentes das decisões aos membros da equipe escolar conforme atribuições específicas, presta contas e submete à avaliação da equipe o desenvolvimento das decisões tomadas coletivamente. (LIBÂNEO, 2004) A Gestão Educacional se estabelece em um âmbito macro referentes aos órgãos superiores do sistema de ensino e as políticas públicas pertinentes à educação. A Gestão Escolar situa-se em nível micro, representa o trabalho 057 desenvolvido pela escola e que não se esgota no âmbito escolar, pois vinculada a gestão do sistema educativo e pressupõe a gestão democrática. Sobre isso, afirma Paro: A possibilidade de uma administração democrática no sentido de sua articulação, na forma e conteúdo, com os interesses da sociedade como um todo, tem a ver com os fins e a natureza da coisa administrada. No caso da Administração Escolar, sua especificidade deriva, pois: a) dos objetivos que se buscam alcançar com a escola; b) da natureza do processo que envolve essa busca. Esses dois aspectos não estão de modo nenhum desvinculados um do outro. A apropriação do saber e o desenvolvimento da consciência crítica, como objetivos de uma educação transformadora, determinam (...) a própria natureza peculiar do processo pedagógico escolar; ou seja, esse processo de produção material que tem lugar na empresa, mas deriva sua especificidade de objetivos (educacionais) peculiares, objetivos estes articulados com os interesses sociais mais amplos e que são, por isso, antagônicos aos objetivos de dominação subjacentes à atividade produtiva capitalista (1996 p.. 151). Desde a Constituição de 1988, na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996 e também em instrumentos normativos dos sistemas de ensino, o termo vem sendo empregado e representa o discurso político e administrativo no governo da coisa pública da educação. (IDEM) É importante que a gestão escolar seja organizada, refletindo a intencionalidade da ação educativa individual e coletiva dos envolvidos. Em relação a isso, é relevante a participação da comunidade e existe a necessidade de superar limites e avançar nesta participação. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9.394/96, lei máxima do nosso sistema educacional, reflete um processo e um projeto político para a educação brasileira, ao mesmo tempo em que assegura e aponta para a necessidade de repensar e lutar por uma autonomia verdadeira e que passe, entre outras, pela mudança de postura dos profissionais da educação. A escola, no cumprimento de sua função social, é chamada a estabelecer uma relação de compromisso com a comunidade, isto ocorre de diversas formas: por meio da participação de pessoas ou setores da sociedade na vida da unidade escolar numa relação horizontal e na construção coletiva de seu projeto pedagógico. (LIBÂNEO, 2004) É preciso considerar que o fato da lei determinar que cada escola construa seu Projeto Pedagógico não assegura o exercício da autonomia, nem a garantia de 058 uma educação de qualidade. A lei em si não constrói uma sociedade democrática, apenas dá condições jurídicas, considerando que nossa sociedade é técnico burocrática e totalmente administrada. Quando a escola é capaz de elaborar, implementar e avaliar seu Projeto Pedagógico, ela propicia o estabelecimento de um pacto comunitário na busca de uma educação de qualidade e dá um passo em direção a sua autonomia pedagógica: Mas a participação da comunidade na gestão da escola pública encontra um sem-número de obstáculos para concretizar-se, razão pela qual um dos requisitos básicos e preliminares para aquele que se disponha a promovê-la é estar convencido da relevância e da necessidade dessa participação, de modo a não desistir diante das primeiras dificuldades [...] (PARO 2005, p.16). Para Libâneo (2001), o conceito de participação fundamenta-se no princípio da autonomia, que significa a capacidade das pessoas e dos grupos para a livre determinação de si próprios, isto é, para a condução da própria vida. A construção e a conquista da autonomia, neste contexto, se constituem um princípio de gestão quando oportuniza a participação na tomada de decisões, fomentando a avaliação dos resultados e direcionando o olhar de todos os atores envolvidos nesse processo para o planejamento das ações, atividades e projetos a serem desenvolvidos pela escola. O que pressupõe uma necessidade de interação para participar e opinar sobre questões relativas à escola, ou seja, exige um aprendizado político e organizacional. Segundo Paro (2005, p.17), “é neste contexto que ganha maior importância a participação da comunidade na escola, no sentido de partilha do poder por parte daqueles, que se supõe serem os mais diretamente interessados na qualidade do ensino". A autonomia da escola não é a autonomia dos professores, ou a autonomia dos pais, ou a autonomia dos gestores. A autonomia, neste caso, é o resultado do equilíbrio de forças, numa determinada escola, entre diferentes detentores de influência (externa ou interna), dos quais se destacam: o governo os seus representantes, os professores, os alunos, os pais e outros membros da sociedade local (BARROSO, 1996, p. 186). A escola somente será fortalecida no processo democrático, quando o resultado for a soma dos esforços e houver a divisão de responsabilidades, isto 059 significa mais pessoas participando nas tomadas de decisões e consequentemente, colhendo os resultados. O que não pode é tomar os determinantes estruturais como desculpa para não se fazer nada, esperando-se que a sociedade se transforme para depois transformar a escola. Sem a transformação na prática das pessoas não há sociedade que se transforme de maneira consciente e duradoura. É aí, na prática escolar cotidiana, que precisam ser enfrentados os determinantes mais imediatos do autoritarismo enquanto manifestação, num espaço restrito, dos determinantes estruturais mais amplos da sociedade (PARO 2005, p.19). Assim, a gestão democrática e o diálogo amplo e transparente são, pois, os caminhos para mobilizar pessoas, garantir e efetivar a qualidade social da educação. Conforme Souza (2009), a gestão democrática é compreendida como um processo político no qual as pessoas que atuam na/sobre a escola identificam problemas, discutem, deliberam e planejam, encaminham, acompanham e avaliam o conjunto das ações voltadas ao desenvolvimento da própria escola na busca da solução daqueles problemas. Esse processo, sustentado no diálogo, na alteridade e no reconhecimento às especificidades técnicas das diversas funções presentes na escola, tem como base a participação efetiva de todos os segmentos da comunidade escolar, o respeito às normas coletivamente construídas para os processos de tomada de decisões e a garantia de amplo acesso às informações aos sujeitos da escola. Para Lima (2000), a gestão democrática é um fenômeno político, de governo, que está articulado diretamente com ações que se sustentam em métodos democráticos. Para o autor, não se trata apenas de ações democráticasou processos participativos de tomada de decisões, trata-se, antes de tudo, de ações voltadas à educação política, na medida em que ações que criam e recriam alternativas mais democráticas no cotidiano escolar, no que se refere, em especial, às relações de poder ali presentes. Ainda, segundo o mesmo autor, a instituição de conselhos de escola, eleições para dirigentes escolares ou outros mecanismos tidos como gestão democrática que atuam a partir da regra da maioria, per si, portanto, não representam a essência da democracia. Se os indivíduos que compõem essas instituições não pautarem suas ações pelo diálogo e pela alteridade, pouco restará 060 de democrático nessas ações coletivas. Diante disso, a busca da força do argumento parece ser a alternativa. Compreende-se a gestão democrática como um processo político no qual as pessoas que atuam na/sobre a escola identificam problemas, discutem, deliberam e planejam, encaminham, acompanham, controlam e avaliam o conjunto de ações voltadas ao desenvolvimento da própria escola na busca de solução daqueles problemas. O que se efetiva tendo por base a participação de todos os segmentos da comunidade escolar, o respeito às normas coletivamente construídas para os processos de tomada de decisões e a garantia de amplo acesso às informações e sujeitos da escola. Ser diretor num contexto democrático, como explicado anteriormente, supõe uma postura que priorize a participação, que a compreenda como condição de aprendizagem democrática para todos os sujeitos da escola. Pensar na democratização da escola pública pressupõe, portanto, a ampliação constante da participação das pessoas nessa gestão, isso significa que a mesma não pode se resumir aos processos de tomada de decisões. Nesse sentido, a participação democrática envolve uma ação reguladora, fiscalizadora, avaliadora, além de decisória sobre os rumos da vida política e social das instituições escolares e da sociedade. A participação só é efetiva quando as pessoas que são chamadas a participar são colocadas em condições adequadas para tal, pois não parece possível um sujeito participante avaliar o trabalho desenvolvido na escola se não tem acesso às informações que lhe permitam produzir tal avaliação. O diretor é o articulador deste diálogo. É preciso entender que o conceito de gestão democrática com aspectos de participação, ainda apresenta contradições nas formas coletivas de gestão, mas se constitui em processos de aprendizagem que pode ampliar as possibilidades de leitura das experiências concretas de democratização da organização e gestão escolar educacional. A comunidade escolar deve ser desafiada a repensar a cultura escolar e sua inserção no contexto através de um aprendizado político e organizacional. Focar a gestão escolar com ações democráticas significa a permanente absorção de fins pedagógicos para que a escola possa almejar a sua função social. É importante que a gestão escolar seja organizada, refletindo a intencionalidade da ação educativa individual e coletiva dos envolvidos. A promoção da articulação entre 061 gestão escolar, participação da comunidade e as práticas pedagógicas devem se dirigir à busca de uma aprendizagem significativa e uma escola de qualidade social. Assim, o diretor é o agente líder deste processo em que todos os sujeitos se comprometem individualmente com a totalidade. (PARO, 2005) Assim, o papel e a atuação do gestor no contexto educacional são contraditórios, são difíceis. Além das determinações do Estado, que deve cumprir como responsável pela instituição deve ter competência técnica, o que nem sempre é garantido em sua formação. Também deve compreender-se dentro de um sistema técnico burocrático em que prevalece a impessoalidade e a formalidade como forma de igualdade. Um sistema muitas vezes perverso. (PIASSA, 2006) Para efetivação da desejada gestão democrática, o gestor deve ser o articulador para, que na soma dos esforços, possa, com a comunidade, implantar e desenvolver práticas e ações oriundas de uma decisão coletiva. Muitas vezes tem de assumir o papel de mediador no sentido de questionar práticas instituídas e tradicionais que não contribuem para o desenvolvimento humano das pessoas envolvidas na escola. Um papel nem sempre aceito, valorizado ou compreendido. Liderar pessoas, ainda mais num contexto institucional público, é sempre um desafio. E em se tratando de educação, é um desafio não só pessoal, mas de caráter coletivo. Assim, pensar num cenário ideal para uma instituição de ensino, implica pensar no diretor escolar à sua frente, mantendo uma escola dentro das normas do sistema educacional, seguindo legislações, cumprindo prazos, efetivando o projeto político pedagógico, numa estrutura organizacional que busque a gestão democrática, a participação da comunidade e um fazer pedagógico que efetive a qualidade da educação. 2 O papel do diretor em uma escola democrática e de qualidade social Pensar num cenário ideal para uma instituição de ensino implica pensar no diretor escolar à sua frente, mantendo uma escola dentro das normas do sistema educacional, seguindo legislações, cumprindo prazos, efetivando o projeto político pedagógico, numa estrutura organizacional que nem sempre busca a gestão democrática, a participação da comunidade e um fazer pedagógico que efetive a qualidade da educação. Em conformidade com as Diretrizes Curriculares para Educação Básica, 062 O conceito de qualidade na escola, numa perspectiva ampla e basilar, remete a uma determinada ideia de qualidade de vida na sociedade e no planeta Terra. Inclui tanto a qualidade pedagógica quanto a qualidade política, uma vez que requer compromisso com a permanência do estudante na escola, com sucesso e valorização dos profissionais da educação. Trata-se da exigência de se conceber a qualidade na escola como qualidade social, que se conquista por meio de acordo coletivo. Ambas as qualidades – pedagógica e política – abrangem diversos modos avaliativos comprometidos com a aprendizagem do estudante, interpretados como indicações que se interpenetram ao longo do processo didático-pedagógico, o qual tem como alvo o desenvolvimento do conhecimento e dos saberes construídos histórica e socialmente. (BRASIL, 2013, p.26). O artigo 5º- inciso VIII do artigo 12 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB nº 9.394/96) dispõe quanto ao direito ao acesso e à permanência na escola de qualidade. Frequentar uma escola de qualidade, independentemente das condições pessoais, sociais, culturais e econômicas, é um direito da população e uma conquista histórica da sociedade brasileira expressa em vários dos seus instrumentos legais. No entanto, necessário se faz refletir sobre que concepção de qualidade permeia as práticas escolares e que relação há entre a repetência, a evasão, a distorção idade-série e o analfabetismo funcional e essas práticas. Os diretores escolares, considerando a autonomia das escolas, devem refletir junto às suas comunidades sobre as finalidades da educação escolar na atualidade, os conteúdos e valores que a escola e os sistemas educacionais vêm privilegiando e principalmente sobre as práticas pedagógicas desenvolvidas na escola. É preciso buscar meios para se ressignificar e reconstruir os saberes. de modo que este tenha um potencial transformado da sociedade. 3 Análise e coleta de dados Em uma segunda fase da pesquisa procedemos uma coleta de dados com diretores de escolas públicas estaduais vinculadas ao Núcleo Regional de Educação de Apucarana – Norte do Paraná. Participaram da pesquisa 10 diretores. O instrumento utilizado foi um questionário com questões abertas. Os questionários foram enviados e respondidos por meio digital e a seguir apresentamos a análise dos dados coletados. O perfil do grupo colaborador dentre os diretores é bastante variado em termos deformação. Em comum são todos licenciados com pelo menos uma 063 Especialização. Dois apresentam formação em nível de Mestrado. Em geral são profissionais experientes, com cerca de 5 a 25 anos de serviço na área de educação. Todos trabalham em regime de 40 horas semanais. Iniciamos o questionário indagando sobre a visão que os diretores tinham sobre o papel do gestor escolar. Dentre os colaboradores da pesquisa, tivemos como resposta geral que o diretor é o mediador, aquele que organiza, direciona, planeja e efetiva ações de forma democrática, justa e ética visando sempre a qualidade do ensino, a aprendizagem, o desenvolvimento e bem estar da comunidade escolar em geral. Ilustramos com algumas das respostas: D1- “Ser mediador do conhecimento, mediador dos conflitos, gerenciar o local de construção do conhecimento, oportunizando a todos os envolvidos no contexto escolar o desenvolvimento retilíneo de suas principais habilidades e competências”. D5- ”Eu considero que o principal papel do Gestor escolar é nortear o Projeto Político Pedagógico da escola construído de forma coletiva, democrática e realimentado constantemente”. D6 – ”Outro grande papel do gestor é administrar os recursos financeiros da instituição, definindo com a comunidade as prioridades, no entanto seu principal desafio é lidar com as pessoas democraticamente, ouvi-las e além de administrar os conflitos resgatar a auto estima destes profissionais”. No que diz respeito ao papel do diretor, LIBÂNEO, OLIVEIRA e TOSSCHI, 2003, p.335, afirmam: [...] o diretor coordena, mobiliza, lidera, delega aos membros da equipe escolar, conforme suas atribuições específicas, as responsabilidades decorrentes das decisões, acompanha o desenvolvimento das ações, presta contas e submete à avaliação da equipe o desenvolvimento das decisões tomadas coletivamente. 064 Numa segunda questão, indagamos sobre as maiores dificuldades no exercício da função. Os colaboradores apontam genericamente a gestão de pessoas, a administração de conflitos no ambiente escolar e a burocracia inerente à administração de todas as demandas. Veja algumas das respostas: D2 – ”A administração constante de conflitos é uma grande dificuldade pelo fato das pessoas não entenderem o processo democrático no ambiente escolar e não priorizarem o diálogo”. D6 – “... maior dificuldade encontrada foi mediar os conflitos com Recursos Humanos (Professores, Agentes Educacionais I e II), falta de comprometimento de alguns, faltas expressivas justificadas por atestados médicos, uso inadequado da hora-atividade”. D1 – “Adapta -se a sistemas e leis que não se encaixam na realidade da Escola.”. D5 – “A grande indisciplina de má educação de nossos alunos”. A este respeito, Santos explica que: A organização de uma escola é muito complexa: estruturas intervenientes como gestores (administrativos e técnicos), o corpo docente, os funcionários, o corpo discente, a comunidade, a gestão educacional dos órgãos superiores, a legislação etc. Tudo isso acarreta uma série de problemas, alguns já clássicos, como a deficiência de recursos humanos, materiais e financeiros. (SANTOS, 2013, p.31) A função do diretor é administrar a escola em todos os aspectos, mas de acordo com a pesquisa, o gerenciamento humano, a interação entre os envolvidos, a falta de comprometimento, são fatores que interferem no processo, na busca de uma escola de qualidade. Ao serem questionados quanto ao auxílio que recebem na administração dos aspectos administrativo/burocráticos e pedagógicos, foram unânimes em considerar um modelo de parceria entre os membros da equipe. Ressaltam o apoio da direção auxiliar, dos pedagogos, dos técnicos administrativos e para garantia das questões coletivas, a participação do Conselho Escolar e da APMF. D1- “Sim a direção auxiliar tem a função para isso, auxiliar, toda a equipe pedagógica tem a função e o dever em auxiliar. No direcionamento de ações bem como trabalhos conjuntos se faz necessário o envolvimento de todo corpo administrativo e pedagógico da escola para um trabalho que possa direcionar a busca da qualidade educacional”. 065 D5 – “Conta-se com auxílio dos técnicos administrativos e dos pedagogos, onde se dividem as ações, cada qual com suas responsabilidades, realizando reuniões trimestrais, planejando, direcionando, corrigindo erros de forma democrática e realizando anotações de planos de trabalho. D6 – “O Colégio onde estou Diretor, temos os Cursos Técnicos, Formação de Docentes e Ensino Médio. Na parte pedagógica, os Coordenadores de Curso e Estágios e os Pedagogos, dividem os trabalhos de orientação para os professores, acompanhamento do Livro de Registro Online, orientação e acompanhamento nos campos de estágio, suporte aos professores quanto aos alunos faltosos, avaliações abaixo da média e indisciplina. Os agentes administrativos ajudam a Direção no controle do patrimônio, prestação de contas, organização dos laboratórios, internet, rede lógica, suporte aos professores com os equipamentos eletrônicos...”. D2 - “Para garantia de decisões coletivas todos os aspectos passam por análise do Conselho escolar e APMF”. A secretária auxilia a Direção na documentação, recursos humanos e coordenação dos demais funcionários que são divididos por setores (Recursos humanos-folha ponto, financeiro, ADM local, APMF, Merenda escolar, patrimônio, processo de reconhecimento, biblioteca, documentação – histórico, bolsa família). No administrativo todos devem atender a comunidade e se inteirar do trabalho do colega para substituição se necessário. As funcionárias de Serviços Gerais além da limpeza auxiliam a Equipe pedagógica e são apoio com os alunos nos ambientes externos a sala de aula e controlam uniforme, atrasos, inclusive fornecendo estas informações as pedagogas e são apoio com os alunos nos ambientes externos a sala de aula e controlam uniforme, atrasos, inclusive fornecendo estas informações as pedagogas. Os professores readaptados são auxiliares pedagógicos, administrativos e da direção. A Direção auxiliar acompanha a administração. “Todos são cientes da sua responsabilidade e da necessidade de auxiliar os colegas”. A gestão escolar democrática presume uma construção coletiva que pressupõe discussão e participação nas tomadas de decisões. Para tanto, é fundamental que se tenha clareza em relação à participação: [...] No âmbito da unidade escolar, esta constatação aponta para a necessidade da comunidade participar efetivamente da gestão da escola de modo a que esta ganhe autonomia [...]. Não basta, entretanto, ter presente a necessidade de participação da população na escola. É preciso verificar em que condições essa participação pode tornar-se realidade (PARO, 2005, p.40). A questão seguinte versou sobre a avaliação do plano de ação, destacam-se respostas tais como: 066 D8 – “Na teoria perfeito, porém na prática bastante difícil conseguir pôr em prática fazer funcionar, colocar na real, tudo depende de diversos fatores, principalmente de ordem financeira, pois a comunidade nem sempre tem condições em auxiliar nas questões que envolvem dinheiro”. “D2 –” O meu plano de ação foi proposto com base em dados do PPP e com sugestões de vários segmentos da comunidade escolar. As metas foram propostas de acordo com a realidade da escola, no entanto avalio como “Bom” e acrescentaria outras metas inclusive na dimensão de acesso e permanência na escola”. D3 – “Acredito que consegui cumprir todo o meu plano de ação, tudo o que havia proposto e fui além em alguns aspectos, o mais relevante, a nota do IDEB, alcançamos a meta de 2015 em 2011”. D9 – “Dentro do Plano de Ações, as propostas são as mais variáveis, os objetivos pedagógicos, financeiros, de qualificar o ensino, demandam esforços, cuidados e constantes ajustes, ou porque não dizer por vezes total mudança, troca de estratégias, mas seguem umplano pautado na viabilidade e base para tal, pois foi elaborado, organizado na busca da execução mais fiel possível, pois envolve necessidades, expectativas propostas em razão da evolução da educação e aquisição de conhecimento, num ambiente propenso para esse fim. Um Plano sempre deve prever uma flexibilidade e ter meios definidos de controle e avaliação”. D6 – “Nosso trabalho está voltado a três eixos principais: aluno com êxito na escola; valorização do corpo docente, administrativo e serviços gerais que atuam no colégio, como ser humano e profissional; melhoramento das condições físicas do colégio”. Cabe explicar que o Plano de Ação é uma proposta de administração que os candidatos à direção das escolas públicas do Estado do Paraná são obrigados a apresentar no ato d candidatura. De acordo com o anexo XVII da Resolução nº 5390/2014 – GS/SEED, que regulamenta o Processo de Consulta à Comunidade Escolar para designação de Diretores e Diretores Auxiliares das Instituições de Ensino da Rede Estadual de Educação Básica do Paraná: A Proposta de Plano de Ação para a Escola é um instrumento dinâmico e flexível, que deve ser discutido com toda a comunidade escolar, uma vez que operacionaliza as medidas previstas no Regimento; propões ações para a execução do Projeto Político – Pedagógico da Escola em um determinado período letivo, norteando a gestão das atividades escolares; possibilita a equipe da direção apresentar proposta de trabalho, ressaltando prioridades, problemas, desafios e objetivos a alcançar; explicita, também, como, por quem e quando as ações serão realizadas, bem como, os critérios para acompanhamento, monitoramento e avaliação do trabalho desenvolvido [...]. 067 Portanto, um documento a ser revisto, avaliado pelo diretor e por toda comunidade escolar. (PARANÁ, 2016) A apresentação de um plano de trabalho de gestão escolar vai além de uma exigência legal no processo para realização de Eleição às funções de Diretores e Diretores Auxiliares da rede pública estadual. O Plano de Ação visa explicitar o diagnóstico da escola, a concepção de gestão democrática, as propostas de metas, ações e cronogramas que serão desenvolvidos, baseados, principalmente, nas reinvindicações de professores, alunos e funcionários. A avaliação da proposta é tão importante quanto o planejamento das ações escolares para se alcançar os resultados da ação educacional. A comunidade escolar deve acompanhar e avaliar as propostas sugerindo as mudanças e melhoramentos necessários. Considerando que, apesar de toda gama de atividades administrativas, o Diretor é antes de tudo um educador e seu papel está intimamente ligado ao grande objetivo de promover a aprendizagem dos estudantes, neste sentido inquirimos os diretores sobre a forma como acompanham os resultados da aprendizagem dos alunos. As respostas mostraram que o acompanhamento, na maioria, advém de relatórios elaborados pela equipe pedagógica que são discutidos em reuniões pedagógicas, pré conselhos e efetivamente em conselhos de classe. Como se vê o acompanhamento se dá de forma indireta. Vamos a algumas respostas: D2 – “Além de acompanhar os resultados das avaliações externas estou presente no Conselho de Classe e em momentos com a Equipe Pedagógica na orientação de professores”. No fechamento do bimestre um funcionário é responsável por imprimir e repassar um relatório de notas e frequência, inclusive com informação (destacada) dos casos graves. São realizadas reuniões individuais com os professores para que juntos Direção, Pedagogas e docentes façam uma análise dos índices de notas abaixo da média. D5- “Nos relatórios trimestrais das notas, fichas individuais, média no ENEM, resultado do IDEB, relatos dos professores”. D4 – “Essas informações somam-se de várias maneiras. Advém de relatórios da equipe pedagógica, leitura e análise dos pré conselhos, da efetiva participação nos conselhos de classe, em conversas formais ou informais com os familiares. Pessoalmente, faço a análise e comparação dos relatórios e 068 controles estatísticos fornecidos pela secretaria da escola (mapas de notas e faltas, médias por disciplinas e turmas, entre outros)”. De acordo com as respostas foi possível verificar que os gestores têm clareza dos indicadores de aprendizagem que são utilizados para realizar o monitoramento e avaliação da aprendizagem dos alunos em suas escolas. Os diretores demonstraram que fazendo parte desse processo, fortalecem a visão do grupo no alcance dos objetivos propostos. Paro (2001), destaca que os gestores, independentemente de suas atividades meio, não podem perder de vista o grande objetivo da escola: aprendizagem dos alunos. E devem criar estratégias para acompanhar este processo junto ao coletivo escolar. O autor ressalta que: a avaliação deve ser focalizada como um processo orientador e interativo que deve ser "a reflexão transformada em ação". “Na escola, a avaliação que educativa deve significar precisamente o cuidado com a qualidade do ensino". [...] avaliar é um momento de reflexão sobre a prática educativa do professor. Deve ser vista como instrumento que possibilite o aluno tomar consciência de suas dificuldades, como também de seus avanços e possibilidades. [...], faz-se necessário focalizar a avaliação da aprendizagem como um processo contínuo de pesquisas que visa interpretar os conhecimentos, habilidades e atitudes dos alunos, tendo em vista mudanças esperadas no comportamento, propostas nos objetivos, a fim de que haja condições de decidir sobre alternativas do planejamento do trabalho do professor e da escola como um todo”. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), que trata da questão da gestão da educação, ao determinar os princípios que devem reger o ensino, indica que um deles é a gestão democrática. Em seu Art. 14, define que os sistemas de ensino devem estabelecer normas para o desenvolvimento da gestão democrática nas escolas públicas de educação básica e que essas normas devem estar de acordo com as peculiaridades de cada sistema e, garantir a “participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola”, além da “participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes”. Considerando a referida Lei, foi questionado sobre a forma de efetivação da gestão democrática na escola. Os colaboradores responderam que: 069 D1 – “Com a consulta a comunidade escolar das ações que se fazem necessário por em prática, principalmente quando se refere a recursos financeiros, bem como trabalhos direcionados para as melhorias em aspectos físicos da escola. No controle da indisciplina participar a comunidade escolar ações e andamentos que devem ser adotados para que aja eficiência e contribua com a educação de nossos alunos”. D3 – “Através da APMF, Conselho escolar e Grêmio estudantil, nos momentos de reuniões, conselho de classe e pré conselho com os alunos”. D5 – “Todos os elementos envolvidos com os trabalhos, ações, proposições da escola, têm ampla abertura para se posicionarem, opinarem, participarem com ideias e sugestões relacionados a fatos, objetivos e efetivo andamento dos trabalhos, quando da necessidade promove-se reuniões, debates e conversas para tomada de decisões para solução das questões pertinentes”. D10 – “Com muito diálogo e ética, permitindo a participação de todos dentro da comunidade escolar, ouvindo muito e modificando ações conforme o consenso da maioria”. Nota-se que a efetivação da gestão democrática na escola, ainda é um longo caminho a ser percorrido. É necessário que o diretor, em parceria com o conselho escolar, crie um ambiente propício que estimule trabalhos conjuntos, que da comunidade escolar, devem ser observados os mecanismos de Políticas e Gestão na Educação e a garantia de financiamento das escolas pelo poder público. Sobre a postura do diretornuma gestão democrática, Paro afirma que: Há pessoas trabalhando na escola, especialmente em postos de direção, que se dizem democratas apenas porque são “liberais” com alunos, professores, funcionários ou pais, porque lhes “dão abertura” ou “permitem” que tomem parte desta ou daquela decisão. Mas o que esse discurso parece não conseguir encobrir totalmente é que, se a participação depende de alguém que dá abertura ou permite sua manifestação, então a prática em que tem lugar essa participação não pode ser considerada democrática, pois democracia não se concede, se realiza: não pode existir “ditador democrático”. (PARO, 2001, pp. 18-19) Na questão seguinte que objetivava saber sobre o tipo de apoio que o diretor recebe do NRE para o exercício de sua função, dentre o grupo, 01 (um) colaborador afirmou não receber nenhum apoio do NRE e a maioria pontuou que as contribuições são importantes: D10- “Apoio específico a que cada setor é determinado (instrução, orientação, materiais, recursos humanos, financeiros) Verifico que há divergência de setores para o atendimento das escolas, dou como exemplo a Equipe de Ensino propõe o que o Recursos humanos devido a questões legais não consegue atender. Na EJA os professores deveriam ter conhecimento da modalidade perfil para atendimento 070 dos jovens e adultos e evitar a rotatividade, no entanto o RH tem que seguir uma classificação. A distribuição de verbas para reparo ou reforma e patrimônio deveria ser democraticamente distribuída. D4 - “O NRE possibilita orientações e direcionamentos nas ações diárias”. “D6 –” Excelente o trabalho desenvolvido pelos profissionais que atuam no NRE junto com as escolas, principalmente na elaboração dos projetos para solicitação de novos cursos, apoio da Equipe de Ensino orientando os professores que estão com dificuldades em alguma disciplina, orientação do financeiro em como aplicar corretamente as verbas vindas através do Fundo Rotativo e PDDE, e de todos os outros setores.”. D8 – “NRE tem auxiliado com as práticas pedagógicas, fornecendo materiais que possam estimular oficinas para os educadores, bem como a prática em sala de aula”. “Apenas um diretor não respondeu a esse questionamento”. Segundo a SEED-Pr, a chefia do NRE representa oficialmente a Secretaria de Estado da Educação. Compete ao Nre divulgar e zelar pelo cumprimento da legislação, regulamentos, normas e diretrizes relativos à Educação e serviços administrativos. Os diversos setores e serviços: Documentação Escolar, Edificações Escolares, Educação Básica, Estrutura e Funcionamento, Formação, Gestão Escolar, Logística, Ouvidoria, Protocolo, Recursos Descentralizados, recursos Humanos, registro Escolar e Tecnologia Educacional, desempenham papel de orientação, emissão e encaminhamento de documentos, promoção de ações pedagógicas, assessoramento pedagógico, coordenação de programas, planejamento de turmas e matrículas, protocolos, distribuição de aulas, contratação de professores, procedimentos de aplicação de recursos e prestação de contas, formação e supervisão do trabalho pedagógico com tecnologias de informação, entre outros, em conformidade com as orientações da SEED – Pr. a todas as escolas sob sua jurisdição. Como é possível analisar, a grande maioria dos diretores colaboradores da pesquisa reafirma o que está presente nos documentos oficiais sobre as atribuições dos NRE junto ao trabalho de gerir as escolas. Analisando as demandas que estão sob a responsabilidade do diretor, questionamos sobre o cargo de chefia e as “pressões” inerentes ao mesmo procurando detectar de onde vem a maior pressão sobre direção escolar. D2 – “Da oposição na própria escola, maior desafio contentar a todos os professores, a equipe do contra nunca está de acordo, sempre prefere buscar novos obstáculos para que possa não contribuir e sim talvez oportunizar formas destrutivas para uma boa administração”. 071 D7 – “Em minha opinião a maior pressão é do Estado por uma qualidade que não condiz com o investimento que por ele deveria ser ofertado”. D1 – “Maior “pressão” é lidar com ego das pessoas no cotidiano escolar, muitas “picuinhas”, “fofocas”, “coisas inúteis” que acabam atrapalhando o desenvolvimento da gestão escolar”. D5 – “Pressão dos Governos (Federal e Estadual); pressão da SEED; pressão do NRE; pressão dos professores; pressão dos alunos. pressão dos funcionários; pressão de órgãos públicos; pressão da Imprensa; pressão da comunidade; pressão pessoal. A maior pressão vem da” Estatística “– face aos: “Resultados”,” Notas”, “Classificação”.” Aprovação”, „Frequência ““ Evasão”. “““ “IDEB”,” Enem”. Independente de condições são os resultados da Escola”. D6 – “Temos uma pressão do Governo através do NRE na questão das faltas de greve, cumprimento do calendário, denúncias anônimas na Ouvidoria sobre assuntos que a escola está agindo corretamente e perdemos tempo em dar explicações para alguém que não tem coragem de se identificar”. Os dados permitem visualizar que os diretores têm consciência de seu papel na escola democrática e também da limitação de poder na gestão democrática da escola pública. Evidenciam as dificuldades no exercício de sua função. Segundo Paro (2001): No sentido que quando eles tomarem consciência desta sua limitação de poder de decisão em relação ao Estado, pois eles são meros prepostos, quem tem realmente o poder é o cargo de diretor na hierarquia institucional, e não a sua pessoa como gestor. [...]. Porque é isso que vai permitir aos diretores, agindo como intelectuais orgânicos da sua classe trabalhadora, conseguir realmente mais autonomia de poder de gestão democrática na sua escola. Sem se contentar com migalhas de poder, para defender apenas os interesses do Estado em sua função gestora na escola, e traindo assim os interesses de sua verdadeira classe, a trabalhadora. O que o cargo tem valido a muitos diretores são preocupações, dores de cabeça, ulceras duodenais, tensões nervosas e quase nada de realização pessoal, quando percebem sua impotência para realizar, na escola, os objetivos de democracia e divulgação do saber com as quais por ventura sonharam e que esperavam concretizar com sua posição de comando na instituição escolar. (PARO, 2001, p. 24) CONSIDERAÇÕES PARCIAIS Esta pesquisa teve como objetivo refletir sobre os limites e possibilidades do trabalho do diretor no sentido de se promover uma escola de qualidade social, 072 pautada no princípio da gestão democrática que requer mais do que mudanças nas estruturas organizacionais, requer a qualidade social da educação. O que se espera na gestão democrática autônoma por meio da participação da comunidade escolar nos conselhos escolares, é uma prática educativa que subsidie os muitos enfrentamentos no cotidiano escolar. Percebe-se a necessidade de aprofundar e estudar o conceito que permeia a prática da gestão democrática na escola pública. Assim, o estudo proposto possibilita compreender as ações e os desafios na busca da gestão democrática na escola pública, principalmente no contexto em que vivemos, onde a escola acaba se distanciando do sentido real da democracia. De acordo com Paro (2006, p.25), “Não pode haver democracia plena sem pessoas democráticas para exercê-las”. Para Paro (2005), a gestão democrática da escola pública só vai mudar, democrática de fato, se a comunidade escolar estiver consciente da força da sua união, e exigindo a partir daí seus direitos como trabalhadores. Com esta intervenção identificamos alguns aspectos importantes sobre a gestão democrática e a credibilidade em desenvolvê-la, apesar da adversidade. Os desafios encontrados por gestores escolares devem ser superados com modificação da cultura escolar de “culpabilidade atribuída aos fatores externos” e inovação das práticas pedagógicas comumente utilizadas no ambiente escolar. Neste contexto, é essencial o envolvimentojunto ao poder publico, fortalece a democracia; ou seja; os agentes de uma comunidade são co-autores das ações de uma sociedade da qual fazem parte. De acordo com Ferreira: A gestão democrática da educação é hoje, um valor já consagrado no Brasil e no mundo, embora ainda não totalmente compreendido e incorporado à prática social global e à prática educacional brasileira e mundial. É indubitável sua importância como um recurso de participação humana e de formação para cidadania. É indubitável sua necessidade para a construção de uma sociedade mais justa, humana e igualitária. É indubitável sua importância com fim de humanização. (Ferreira, 1998, p.72). Assim o caráter democrático de uma gestão não pode estar descompromissado da emancipação humana. Trata-se de fortalecer os procedimentos de participação das comunidades escolares no governo da escola, a busca da descentralização do poder e tomada de decisão. Nesse contexto, a gestão democrática tem por objetivo envolver-se na construção de projetos, propostas 009 pedagógicas, projeto político pedagógico, entre outros. Com este olhar, o processo de gestão escolar deve ser democrático e vai além da gestão administrativa. 2.2 O gestor escolar e sua formação Os desafios enfrentados pela escola exigem maior preparo de sua gestão. Desta forma, a formação dos gestores escolares passa a ser um grande desafio para o sistema de ensino. Em geral, a formação básica dos dirigentes escolares não acontece em sua área específica de atuação. A maioria dos cursos de formação continuada tende a ser teórico e conceitual. Esta também é a característica dos cursos superiores de formação inicial em nível superior. A formação de gestores escolares, desde a reforma do curso de Pedagogia esteve vinculada à oferta de habilitação em administração escolar. O MEC propunha, na década de 70, que todos os cargos de diretores de escola viessem a ser ocupados por profissionais formados neste curso. Com a abertura política na década de 80 e o inicio da eleição para cargo de diretor/gestor, diminuiu significativamente o número de candidatos para esse curso que pela pouca procura, tornou-se inviável. Houve, no entanto, um sentido de ofertar cursos de especialização em gestão educacional como o que estamos realizando, muito procurado por profissionais já no exercício dessas funções, porém, com um número relativamente pequeno de vagas. Nas instituições de ensino superior, o que se observa é uma oferta de oportunidades para formação inicial de gestores escolares. Essa iniciativa, embora insuficiente, evidencia a necessidade de formação continuada, como complemento à formação inicial. Estas oportunidades garantem o processo de profissionalização de gestores, preparando-os para enfrentarem os novos desafios a que estão sujeitas as escolas e os sistemas de ensino. A qualidade de um sistema de ensino e de uma escola está relacionada, com a habilidade de seus profissionais e dirigentes. De pouco adiantam a melhoria do currículo formal, a introdução de métodos e técnicas inovadores, se os gestores não acompanham tais mudanças e reformas do ensino. A capacitação deve constituir-se em um processo aberto, de formação continuada e permanente, não somente para gestores escolares, como para todos os profissionais da educação. 010 Segundo Saviani: [...] é preciso dizer que o diretor de escola é antes de tudo, um educador; antes de ser um administrador ele é um educador. Mais do que isso: em termos típicos-ideias, ele deveria ser o educador por excelência dado que, no âmbito da unidade escolar, lhe compete a responsabilidade máxima em relação a preservação do caráter educativo da instituição escolar.(Saviani, 1986, p. 190). É inconseqüente esperar que os dirigentes escolares aprendam sua função em serviço, tentando acertar, através dos ensaios e dos erros. O trabalho da gestão escolar exige o exercício de múltiplas funções. A diversidade do trabalho do gestor é um enorme desafio. Cabe, no entanto, ao sistema educacional, organizar cursos de capacitação e formação continuada capazes de orientar os gestores no processo de gerir com qualidade sua unidade escolar. 2.3 A arte de ser gestor escolar Ser gestor escolar é arte. Arte em ter consciência de estar sempre inovando, representando estratégias e ações. O gestor escolar deve ser ativo, buscando a solução aos problemas da escola ao invés de esperar pela resposta. O gestor pode ser o coordenador, facilitador e mediador de todos os processos da escola. Os líderes fazem-se, não nascem feitos. E isto vale para os gestores. Com esta arte de se tornar capaz de gerir sua escola como um verdadeiro líder, que aprende continuamente e se comunica. Neste sentido ser gestor através da arte é amar e liderar. Enfim, temos que nos reportar sempre à função de líderes e gestores. Quando estão exercendo esta atribuição são chamados a doar-se, amar, servir ao outro. 2.4 Gestor escolar: sua função e importância O gestor escolar é o responsável pela organização e bom funcionamento de uma instituição de ensino. Para tanto este profissional precisa estar preparado profissionalmente, consciente de sua fundamental importância no processo político pedagógico da escola, na qual se encontra à frente. 011 A função deste profissional há alguns anos, era limitada à resolução dos problemas administrativos, principalmente quando emanados da administração pública. Sua administração era somente direcionada à responsabilidade pela escrituração e registro escolar, assinaturas de livro ponto dos professores e conservação do patrimônio da escola, tendo tudo registrado em livro ata. Atualmente, sua função vai além disto, direciona-se para a articulação das diversas variáveis que se apresentam na escola, como as relações entre professores, alunos e funcionários. Através de seu papel, procura garantir o bem estar da comunidade escolar. O gestor escolar é muito mais do que um mero administrador, é um agente articulador, que assume, perante a comunidade, o compromisso de oferecer um serviço de qualidade, com habilidade para lidar tanto com o administrativo-político quanto o pedagógico. E, nesse ponto, deve-se atentar para que um não se sobreponha ao outro. Vitor Paro (2000) descreve como essencial a participação do gestor escolar no processo político-pedagógico da escola, pois sua atuação pode ter implicações sobre transformação social, dentro e fora da escola. Nessa perspectiva, a escola é capaz de contribuir com sua parcela significativa de mudanças sociais, ou seja, em nível econômico, político e do grupo que detém os meios de produção sobre o restante da sociedade. Seria impossível o desenvolvimento da atividade administrativa voltada para a transformação social, na escola, se esta fosse, a priori, incapaz de contribuir para tal formação. Segundo Russo (2002, p. 35): O papel do diretor pode ser definido ou conduzido intencionalmente de fora para dentro, mas não pode ser determinado. Quem determina o papel do diretor é ele mesmo, podendo ser reprodutor da intencionalidade exterior ou crítico em relação a ela, dependendo das circunstâncias e do comprometimento político que tem em relação à escola e a educação. É importante que se determine como imprescindível a participação da escola na formação total do aluno como cidadão, consciente de seus direitos e deveres, e também de sua importância na transformação político-social do seu país. Neste sentido, para que as transformações na qualidade de ensino ocorram, é necessário que o gestor motive para a participação da comunidade escolar. Para 012 isso, o gestor precisa estar em contato permanente, fazendo com que cada profissional, aluno ou pai, sintam que a escola lhes pertence. Em sua função o gestor necessita estar preparado para apoiar e incentivar os professores, valorizando o seu desempenho, e extraindo o máximo de sua equipee a valorização do trabalho participativo de todos que buscam uma escola de qualidade social. 073 REFERÊNCIAS BRASIL, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional Lei 9.394/96. Rio de Janeiro: 1998. BRASIL, Constituição de 1988 da República Federativa do Brasil, promulgada em cinco de outubro de 1988: atualizada até a Ementa Constitucional n. 20, de 15- 12-1988. 21. Ed. São Paulo: Saraíva, 1999. SOUZA Angelo Ricardo de. Explorando e construindo um conceito de gestão escolar democrática. Educação em Revista. Belo Horizonte. V.25 N.03. p.123-140. Dez. 2009. Disponível em www.scielo.br/pdf/edur/v25n3/07.pdf Acesso em 25 mai 2016 PIASSA, Zuleika A. C. Política educacional brasileira: uma síntese. UNOPAR. Londrina, 2006. Mimeo __________________. Como Fênix renascida das cinzas: análise do processo histórico do Curso de Formação de Docentes. Dissertação. Londrina. UEL, 2006. Disponível em: www.uel.br/pos/.../2006%20%20PIASSA,%20Zuleika%20Aparecida%20Claro.pdf Acesso em. 10 mai. 2016 LIMA Antonio Bosco de./ PRADO Jeovandir Campos do./SHIMAMOTO Simone Vieira de Melo. Gestão Democrática, Gestão Gerencial e Gestão Compartilhada: Novos Nomes Velhos Rumos. 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A temática deste trabalho busca levar em consideração o papel do diretor gestor em busca da vinculação entre a escola e a comunidade escolar. Essa altercação torna-se necessária, pois ainda observa-se, nos dias atuais, algumas práticas autoritárias e anacrônicas, voltadas apenas para a parte administrativa e burocrática das atividades da escola. Sendo assim, a pesquisa objetiva analisar, em especial, o entendimento e as ações promovidas pelos diretores a respeito da gestão democrática, a fim de integrar a família e a escola em busca de um ensino qualitativo. Como problema de pesquisa questiona-se: os gestores municipais, os quais participaram do questionário, agem de maneira democrática nas escolas que atuam como diretores? Quais projetos desenvolvem para motivar a comunidade escolar a participar das atividades escolares? Para tentar abarcar o objetivo e o problema proposto nesta pesquisa, busca-se referendar teoricamente autores que tratam da temática como Oliveira (2010), Chiavenato (2003), Hora (2012), Andreotti (2010), Lück (1981), Libâneo (2004), Paro (2010), Drabach (2011). Em sua dimensão prática, a pesquisa parte da aplicação de um questionário com quatro gestores abrangendo questões referentes ao assunto. A partir das reflexões dos referenciais teóricos estudados e da análise do questionário aplicado, depreende- se que esses diretores reconhecem que uma gestão democrática possibilita um maior comprometimento de todos os envolvidos no processo educacional, buscando, assim, projetos na escola que visem englobar todas as questões sociais sempre firmando o compromisso com uma aprendizagem crítica e plena. No entanto, na prática, a condição complexa das diferentes demandas exigidas ao diretor e que precisa dar conta impede, muitas vezes, uma dimensão política de tais projetos, resumindo sua função a uma dimensão administrativa e de carátermais técnico. Palavras-chave: Gestão Democrática. Diretor. Integração Escola x Famílias. 078 LISTA DE ANEXOS Anexo A – [Questionário Aplicado ao Diretor A] Anexo B – [Questionário Aplicado ao Diretor B] Anexo C – [Questionário Aplicado ao Diretor C] Anexo D – [Questionário Aplicado ao Diretor D] 079 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 1 GESTÃO DEMOCRÁTICA: PERSPECTIVAS HISTÓRICAS 1.1 Administração Escolar na história da educação brasileira 1.2 Conceitos de Gestão: Administração Escolar X Gestão Escolar 2 ATRIBUIÇÕES DO GESTOR NA FIGURA DO DIRETOR FRENTE OS DESAFIOS DO COTIDIANO ESCOLAR 2.1 O gestor na figura do diretor em uma perspectiva democrática 2.2 Questionário com diretores de escolas. 3 ESCOLA DEMOCRÁTICA: IMPLICAÇÕES PARA UMA CONSTRUÇÃO COLETIVA 3.1 Análise dos dados coletados articulados com a figura do diretor segundo os princípios da gestão escolar democrática CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERÊNCIAS 080 INTRODUÇÃO Os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998) enfatizam que cabe à escola proporcionar aos seus alunos um ambiente capaz de mediar às diferenças sociais existentes. Sendo assim, a escola precisa ser um local em que todos os envolvidos atuem com ética, democracia e cidadania, ou seja, é preciso ter gestores democráticos. A Constituição Federal (1998) traz a incumbência de promover esses conhecimentos aos alunos e enfatiza que esse direito à educação deve ser assegurado e compete à escola e à sociedade fazer o possível para garanti-lo. Portanto, este trabalho pauta sua temática na gestão democrática, enfocando o olhar sobre a influência da gestão na integração da escola com a família. Muito se tem falado sobre como melhorar a educação em nosso país. No entanto, para que isso realmente ocorra é necessário repensar o papel crítico da escola e da sociedade na busca desse conhecimento. Acreditamos que frente aos desafios da sociedade atual, faz-se necessário uma gestão escolar participativa que busque o envolvimento de todos os segmentos da comunidade escolar nas decisões, atuando com criticidade diante das realidades complexas. Partindo desse princípio, nasce o papel da gestão escolar que busca promover o compromisso coletivo nas decisões que influem no corpo teórico e prático da escola, em projetos que buscam promover a transformação crítica, articulando tais propostas às opiniões da comunidade escolar. Dessa maneira, cabem alguns questionamentos pertinentes, os quais orientam a problematização de nossa pesquisa: O que realmente significa gestão democrática? Todos os envolvidos no âmbito escolar têm clareza sobre o que é ser gestor democrático e quais suas funções primordiais? Será que as Escolas Municipais de Parobé-RS têm gestores democráticos? Os gestores municipais de Parobé-RS procuram interagir e trazer a comunidade escolar para auxiliá-los e participarem nas escolas visando uma melhora no ensino e na aprendizagem? Essas são algumas inquietações que pretendemos desvendar ao longo de nossa pesquisa e, portanto, o presente trabalho justifica-se por ser de suma importância para que todos os envolvidos nesse processo de ensino e de aprendizagem compreendam o significado de um contexto em que haja uma gestão democrática e a influência desse agir para um melhor desempenho escolar dos educandos. 081 Assim sendo, temos como objetivo geral verificar se as escolas municipais de Parobé- RS têm uma gestão democrática e, se têm, como fazem para interagir com a comunidade escolar. O intuito da pesquisa é aprendermos a partir de exemplos significativos na educação pública para melhor agirmos em nossas escolas visando, também, um ensino qualitativo. Além disso, temos como objetivos específicos: avaliar se todos os sujeitos pesquisados compreendem o que significa gestão democrática; identificar nas escolas, em que há uma gestão democrática, quais são os aspectos positivos na relação existente entre escola e família e se há uma melhora na qualidade de ensino; conhecer os projetos que as escolas, com gestão democrática, desenvolvem para que ocorra o envolvimento e o comprometimento da comunidade com a escola. A metodologia adotada, inicialmente, foi uma pesquisa qualitativa de cunho bibliográfico, a qual foi realizada em livros, revistas, sites, entre outros, que abordam o assunto gestão democrática e qualidade de ensino. Em matéria de autores pesquisados que tratam da temática citamos: Chiavenato (2003), Hora (2012), Andreotti (2010), Lück (1981), Libâneo (2004), Paro (2010), Drabach (2011), entre outros. Essa pesquisa bibliográfica teve por objetivos conhecer e descrever o real significado do processo de gestão democrática, bem como mostrar o valor de uma educação em que escola e família andem unidas na busca do saber. Em um segundo momento, realizamos uma pesquisa qualitativa de caráter empírico. Para alcançar os propósitos lançados nessa pesquisa e as questões levantadas, elaboramos um questionário com perguntas sobre gestão escolar, qualidade do ensino, participação dos pais na escola e integração da escola com a comunidade. O objetivo era identificar se os gestores tinham consciência do papel que desempenham como diretores e se agem democraticamente em suas práticas diárias na escola. Do mesmo modo, também analisar se há integração da escola com a comunidade através de projetos que visem à socialização e a melhor qualidade do ensino. Optamos por aplicar o questionário a quatro diretores de escolas municipais, devido ao pouco tempo disponível para a análise e conclusão desse trabalho, a fim de conseguir analisá-los adequadamente. A escolha dos diretores levou em consideração as diferentes realidades sociais dentro da nossa cidade. Diante disso, distribuímos os questionários a diretores de escolas de bairros distintos, buscando verificar o trabalho que esses diretores realizam em sua comunidade. 082 O presente trabalho está composto por três capítulos. O primeiro capítulo traz uma definição sobre o que é gestão democrática e as perspectivas históricas, bem como qual é o papel dos gestores. No segundo capítulo, realiza-se a pesquisa com diretores, cuja finalidade consiste em mostrar as realidades existentes em algumas escolas municipais acerca do processo de gestão democrática e a socialização com a comunidade escolar, bem como perceber e expor os reflexos desses atos na educação dos alunos envolvidos. Também, nesse capítulo, abordamos as atribuições do gestor na figura do diretor democrático e relatamos a descrição da pesquisa realizada nas escolas com os respectivos diretores. O terceiro capítulo apresenta uma análise reflexiva das respostas obtidas com os diretores. A análise se volta para explicitar as implicações necessárias para uma escola ser democrática, bem como a tentativa de compreensão dos aspectos que estão por trás da prática dos diretores analisados nessa pesquisa e que, em muitos casos, impede a vivência de uma prática democrática na escola. Portanto, esta monografia tornar-se-á importante para nortear os gestores e demais interessados no desenvolvimento de um trabalho eficaz tendo como alicerce uma gestão democrática. 083 1 GESTÃO DEMOCRÁTICA: PERSPECTIVAS HISTÓRICAS 1.1 Administração Escolar na história da educação brasileira Compreendemos que uma gestão democrática e participativa nos remete à existência de uma estrutura organizacional com responsabilidade muito bem estabelecida e definida, posições dialógicas nas relações, e maneiras de promover trocas interativas, na qual todos participem das tomadas de decisões. Dessa forma, a gestão democrática e a qualidade do ensino, são temas que vêm ganhando cada vez mais atenção na atualidade, devido à necessidade de melhorarmos as relações existentesnas escolas entre toda a comunidade escolar: professores, equipe diretiva, pais, alunos, funcionários, visando uma melhora na qualidade do ensino em nosso país. Diante disso, todos nós gestores temos a necessidade de conhecermos um pouco do percurso da administração escolar em nosso país e compreendermos como ocorreu essa transferência de administração empresarial para gestão escolar, na busca de desenvolvermos da melhor maneira nosso trabalho nas escolas. Sendo assim, segundo Chiavenato (2003), ao longo da história da humanidade sempre houve de alguma forma administração. A população precisava organizar-se para suas atividades diárias e isso exigia de certa maneira a presença de uma pessoa com espírito de liderança para planejar a maneira de como aquela atividade seria realizada por todos. Por volta do século XIX, as organizações ainda eram poucas e de pequeno porte, como oficinas, alguns artesões independentes, escolas com poucos alunos e salas de aula, médicos que atendiam por conta própria, entre outros. Nesse cenário, vale lembrarmos que as primeiras teorias sobre administração escolar, no Brasil, apareceram por volta da década de 1930 e, segundo Lacombe (2008, p. 37), a primeira teoria administrativa, em termos cronológicos, foi a chamada escola da administração científica, teoria baseada na divisão do trabalho em tarefas elementares e praticamente indivisíveis e na especialização das pessoas na execução dessas tarefas, visando a obter ganhos de produtividade, que se iniciou com o engenheiro americano Frederick Winslow Taylor. 084 Dessa maneira, essas teorias administrativas visavam às relações econômicas, sociais e as preocupações vigentes na época em que foram estipuladas. Consequentemente, com o avanço industrial em nosso país, os governantes não viam mais sentido naquela organização de educação tradicional e estavam buscando suporte em uma educação progressista, a qual se defrontou com um sistema capitalista e não com uma ação destinada à autonomia e à criticidade. Desse modo, a instituição escolar emerge da necessidade da formação da mão-de- obra para o mercado de trabalho capitalista. Com isso, surge a administração escolar baseada nos princípios científicos dos modelos taylorista/fordista, inventado por Frederick W. Taylor e Henry Ford. O engenheiro Frederick Winslow Taylor observou os trabalhadores nas indústrias e criou o seu modelo de administração, no qual estabeleceu que eles deveriam seguir uma hierarquia e serem organizados, a fim de produzirem cada vez mais e mais rápido. Isso acabou gerando uma exploração da mão de obra barata dos operários, os quais pensavam estarem sendo premiados por sobressaírem-se aos colegas na quantidade e rapidez da produção. Nesse modelo de administração, o trabalhador não precisava ser criativo e não tinha autonomia nenhuma, já que precisa apenas produzir. Dessa forma, segundo Chiavenato (2003, p. 57) para Taylor, o operário não tem capacidade, nem formação, nem meios para analisar cientificamente seu trabalho e estabelecer racionalmente o método ou processo mais eficiente [...] Com a Administração Científica ocorre uma repartição de responsabilidade: a administração (gerência) fica com o planejamento [...] e a supervisão [...] enquanto o trabalhador fica somente com a execução do trabalho. A gerência pensa enquanto o trabalhador executa. Sendo assim, nos dias de hoje, ainda, vemos muitas escolas que repetem essa maneira de administrar quando os educadores, por exemplo, determinam o tempo para as tarefas em sala de aula como se os alunos fossem como os operários nas fábricas e tivessem que obter produção em massa e no menor tempo possível. Diante dessa realidade, parece-nos que todos os alunos devem saber realizar as tarefas igualmente e com o mesmo tempo que o “gerente”, ou seja, com o mesmo tempo que o professor realizaria a mesma. Outro aspecto em que as escolas, muitas vezes, assemelham-se a teoria de Taylor é na transmissão dos conteúdos dissociados do contexto social e histórico, tendo como preocupação a quantidade, o volume 085 de conteúdos dados, ou seja, apenas repassam os conteúdos sem a preocupação com o ensinar o aluno a refletir e a questionar o mundo que o cerca. Por sua vez, o norte-americano Henry Ford era dono de uma indústria automobilística e, baseado nas teorias de Taylor, começou a produzir em grandes quantidades e visava a um consumo em massa. De acordo com Chiavenato (2003, p. 65), “Ford inovou na organização do trabalho: a produção de maior número de produtos acabados com a maior garantia de qualidade e pelo menor custo possível”. Já o engenheiro francês Henri Fayol, fundador da teoria clássica, explica que “tanto o diretor, o gerente, o chefe, como o supervisor – cada qual em seu respectivo nível – desempenham atividades de previsão, organização, comando, coordenação e controle, como atividades administrativas essenciais” (CHIAVENATO, 2003, p. 81). Além disso, Fayol nos explica que cabe ao administrador conseguir atingir os resultados desejados através do trabalho de terceiros e para isso ele tem que coordenar as atividades para que elas realmente aconteçam como o planejado. Assim sendo, os padrões de comportamento nesse modelo eram modificados em prol do desenvolvimento capitalista (gestão de fábrica). Como na fábrica estava “dando certo”, automaticamente se transferiu esse modelo para a educação. Assim, de acordo com Hora (2012, p. 33-34) a teoria sobre administração do século XX seguiu três escolas, as quais se denominavam de clássica, psicossocial e de contemporânea. Deste modo, “a clássica [...] foi representada por três movimentos: a administração científica de Taylor, a administração geral de Fayol e a administração burocrática”. A mesma autora ainda afirma que no terceiro movimento da escola clássica da administração nasceu a administração burocrática, a qual mostrou-nos que essa escola visava à eficiência, ou seja, tinha por objetivo primordial produzir muito com poucos recursos, baixa energia e em pouco tempo. Ainda, segundo a autora, essa maneira de organizar o capital e o trabalho realizado “reforça a separação entre planejamento e execução, trabalho manual e intelectual, intensificando a dominação do capital sobre o trabalho”. (HORA, 2012, p. 35). Sendo assim, segundo Hora (2012), surge a escola psicossocial, a qual irá se contrapor a esses critérios de eficiência, explicando que a organização é algo natural e orgânico. Essa escola evolui de certa maneira ao que Taylor e Fayol sugerem, porém “continua insistindo na ordem, no equilíbrio, na harmonia, na integração, enfim, no consenso em função dos objetivos organizacionais da sociedade.” (HORA, 2012, p. 36). Portanto, percebe-se uma tentativa de fugir um pouco da 086 mera reprodução da teoria administrativa, porém continua a repetir certas etapas e acaba prejudicando a dimensão qualitativa do sistema educacional. Diante disso, segundo Antunes (2005), no final dos anos 60, a segunda geração de operários do modelo taylorista/fordista não concordou mais com a maneira administrativa das empresas e iniciaram uma série de manifestações, greves e invasões das fábricas para reivindicarem o direito de mostrar que têm inteligência e não apenas um braço forte para trabalhar. Assim, os capitalistas resolveram reavaliar suas técnicas administrativas tayloristas/fordistas para darem ênfase à capacidade individual dos trabalhadores com o objetivo de explorarem a imaginação e a organização deles em prol de mais lucro. Assim sendo, a partir dos anos 70, surge o modelo japonês de produção, o Toyotismo, inventado pelo engenheiro Taiichi Ohno, da fábrica Toyota. Segundo Antunes(2005, p. 52), esse modelo se fundamenta num padrão produtivo organizacional e tecnologicamente avançado, resultado da introdução de técnicas de gestão da força de trabalho próprias da fase informacional, bem como da introdução ampliada dos computadores no processo produtivo e de serviços [...] além de requerer, ao menos no plano discursivo, o “envolvimento participativo” dos trabalhadores, em verdade uma participação manipuladora e que preserva, na essência, as condições do trabalho alienado e estranhado. Desse modo, o modelo do toyotismo, ainda segundo o autor, refletiu no mundo do trabalho de maneira a mostrar a desregulamentação dos direitos do trabalhador, o aumento da fragmentação no interior da classe operária, a precarização e terceirização da força trabalhadora, a destruição do sindicalismo de classe e sua conversão num sindicalismo muito mais manso, etc. Diante disso, podemos ver que todos esses modelos administrativos objetivaram a exploração dos trabalhadores, sem a preocupação com a vida social deles e nem com a inteligência dos mesmos. Nesse contexto, a administração industrial foi desenvolvendo-se e juntamente com ela a administração escolar, a qual se baseou nas diferentes teorias administrativo-empresariais para ministrar suas escolas e comandar seu público. No entanto, sabemos que a administração 087 de uma escola precisa ser bem diferente da administração empresarial, já que esta visa apenas o lucro e a escola precisa preocupar-se com a questão social, a humanização das pessoas. Entretanto, segundo Hora (2012), no fim da década de 1970 e começo de 1980, devido à inconstância econômica e política internacional, iniciaram-se questionamentos sobre as teorias administrativas e, assim, surgiram as teorias administrativas críticas que têm sua base na fenomenologia, no existencialismo, no método dialético e nas abordagens de ação e que estabelecem como critério-chave na orientação dos atos e fatos administrativos a “relevância humana”, em que são analisados os critérios de eficiência, eficácia e efetividade na administração. (HORA, 2012, p. 37). Nesse aspecto, podemos compreender que a relevância humana consistia em duas realidades distintas, de um lado a administração e de outro a qualidade de vida dos integrantes, as quais se definem de acordo com as suas opções existenciais. Portanto, esse modelo de administração levava em consideração a experiência dos indivíduos e as suas emoções e, a partir disto, organizava-se. No entanto, ao nosso entendimento, essa teoria administrativa crítica continuou a privilegiar a dimensão técnica-produtiva e não a humana. Ainda segundo a autora acima citada, em nosso país sempre ouve a tendência de adotarmos os modelos de administração das empresas para conduzirmos nossas escolas. Isso fica evidente quando, um dos primeiros teóricos da administração escolar brasileira, José Querino Ribeiro, diz que: a complexidade alcançada pela escola, exigindo-lhe cada vez mais unidade de objetivos e racionalização do seu funcionamento, levou-a a que ela se inspirasse nos estudos de Administração em que o Estado e as empresas privadas encontraram elementos para renovar suas dificuldades decorrentes do progresso social. Sendo evidente a semelhança de fatores que criam a necessidade de estudos de administração pública ou privada, a escola teve apenas de adaptá-las à sua realidade. Assim, a Administração Escolar encontrava seu último fundamento nos estudos gerais de Administração. (RIBEIRO, 1978, p. 59 apud HORA, 2012, p. 39). 088 Diante disso, podemos ver claramente duas distintas teorias de administração escolar. De um lado os teóricos da administração das empresas, os quais tentavam criar uma teoria que se generalizasse e fosse possível de aplicação tanto nas fábricas quanto em qualquer outra organização. Do outro lado, podemos notar os teóricos da administração escolar que tentavam formular suas teorias a partir das hipóteses já existentes da administração das empresas para conseguirem obter a mesma eficácia e racionalização das mesmas. Nesse sentido, ao longo dos anos o povo brasileiro vem sofrendo as consequências de uma educação voltada para uma administração capitalista e empresarial. Além disso, sofremos os graves impactos gerados pela globalização, os quais levaram a população a ter um contato imediato e repentino com as tecnologias e inovações da ciência que potencializaram a capacidade dos indivíduos de acumulação. Assim, de acordo com Andreotti (2010), essa aquisição cada vez maior de capital gerou uma crise financeira no mundo, inclusive no Brasil que teve sua economia atingida, a dívida externa aumentada. Com isso, o governo brasileiro precisou “retirar das mãos dos trabalhadores não apenas o acesso aos recursos públicos como também o controle sobre eles.” (p. 178). Portanto, todas essas transformações na economia geraram mudanças no sistema educacional. Tal cenário conduzir, no fim dos anos 70, um aumento da luta pela democratização da sociedade brasileira e assim, surgiram algumas entidades e instituições muito importantes e que teriam um papel fundamental nas decisões pela luta da educação. Já nos primeiros anos da década de 1980 aconteceram grandes mobilizações em prol de uma sociedade mais justa, entre elas podemos destacar a luta pela implementação da gestão democrática da educação. Essas discussões tinham como foco o papel social da escola e, de acordo com Andreotti (2010), em relação à administração escolar, as exigências estavam relacionadas, sobretudo, à democratização da gestão. Sendo assim, as reivindicações mais importantes consistiam em: 1. Descentralização administrativa e pedagógica; 2. Gestão participativa na educação; 3. Eleições diretas (com voto secreto) para dirigentes de instituições de ensino; 4. Constituição de comissões municipais e estaduais de educação autônomas e amplamente compostas para acompanhamento e atuação nas políticas educativas; 089 5. Supressão do Conselho Federal de Educação, de cunho marcadamente privatista; 6. Instituição de colegiados escolares, eleitos pela comunidade, com o intuito de frear arbitrariedades perpetradas pela administração do sistema e da escola. (ANDREOTTI, 2010, p. 180-181) Assim sendo, essas ideias para a educação permaneceram na formulação da nova Constituição Federal, divulgada em 1988. A legislação começou a adotar a nomenclatura gestão em substituição ao termo administração. Além disso, segundo ainda Andreotti (2010), o termo gestão indicava que cabia ao gestor a realização de tarefas hierarquicamente estabelecidas pelos detentores do poder público e que ele deveria ser apenas um trabalhador que seguia ordens sem poder questioná-las. Portanto, a dificuldade em tornar a democracia uma lei nacional sempre esteve vinculada à tentativa constante de dominação das elites dirigentes. As mudanças econômicas, sociais e políticas que se constituíram após a década de 80, acarretaram o surgimento do neoliberalismo que defendia a diminuição da participação financeira do estado no fornecimento de serviços, entre eles a educação. Desse modo, essa tendência neoliberal estimulou a escola a formar cidadãos para ocuparem vagas de empregados capazes de serem uma mão-de-obra barata, ou seja, o neoliberalismo levou o “declínio da noção de educação como direito social e sua transposição para o campo da produção mercantil, isto é, subordinados aos critérios do mercado e do lucro capitalista.” (ANDREOTTI, 2010, p. 190). Logo, a política neoliberal apoiada pela globalização é contraditória e nos coloca num mundo de dúvidas, incertezas e inseguranças. Sepor um lado há avanços tecnológicos e científicos que promovem maior qualidade de vida, mesmo que seja para alguns privilegiados; por outro lado, promove o aviltamento das desigualdades sociais e, principalmente, a exclusão social para a maioria. (DALBERIO, 2009, p. 64) Diante dessa realidade, precisamos como gestores estar cientes que a forma de constituir as escolas carece ser bem diferente da administração das empresas, já que esta 090 precisar relacionar-se com a formação do ser humano de uma maneira plena, ou seja, precisa valorizar as suas experiências e ensiná-los a pensarem, a questionarem e interpretarem o mundo ao seu redor. 1.2 Conceitos de Gestão: Administração Escolar X Gestão Escolar Neste trabalho, procuramos dar uma maior ênfase para a gestão, em especial a gestão escolar democrática, a qual tem o diretor como um dos protagonistas dessa história. Sendo assim, é fundamental compreendermos e diferenciarmos administração escolar de gestão escolar. Assim, segundo Lück (2000), estamos diante de um novo paradigma e isso muda a maneira de pensarmos a educação em geral, bem como a maneira de administrarmos nossas escolas, ou seja, exige uma gestão democrática, a qual está apoiada pela Constituição Federal (1998) que estabeleceu como princípio básico a gestão democrática do ensino público. Essa lei também trouxe em seu artigo 206 outros princípios tão importantes quanto esse ao ensino de qualidade. Vejamos: Art. 206 – O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I – igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II – liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber; III – pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; IV – gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; V – valorização dos profissionais da educação escolar, garantidos, na forma da lei, planos de carreira, com ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos, aos das redes públicas; • (Inciso com redação dada pelo art. 1º da Emenda Constitucional nº 53, de 19/12/2006). VI – gestão democrática do ensino público, na forma da lei; VII – garantia de padrão de qualidade. VIII – piso salarial profissional nacional para os profissionais da educação escolar pública, nos termos de lei federal. Dessa maneira, a gestão democrática constitui um meio necessário para se atingir objetivos propostos pelos segmentos da escola e sua coletividade. Segundo Dalberio (2009), 091 em nosso país a forma de governar é amparada no direito de livre expressão, ou seja, na democracia. Sendo assim, denomina-se democracia (do grego demos, “povo”, e kratos, “poder”) uma forma de organização política que reconhece a cada sujeito membro da comunidade o direito de participar da direção e gestão dos assuntos públicos [...] democracia é um regime de governo no qual o poder de tomar importantes decisões políticas está com os cidadãos, que são os componentes da sociedade. Cabe ao povo ou à comunidade discutir, refletir, pensar e encontrar soluções e intervenções para os próprios problemas. (DALBERIO, 2009, p. 71) No entanto, sabemos que a nossa nação brasileira precisa evoluir muito para realmente agir democraticamente e cabe a todos nós gestores assumirmos nossas responsabilidades enquanto educadores para formarmos em nossas escolas pessoas capazes de pensarem criticamente e de questionarem os seus direitos. Assim, outra lei que objetiva uma gestão democrática é a LDB (1996). Essa lei, em seu artigo 14, mostra o caminho que os gestores escolares precisam seguir. Ela dispõe que: Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios: I – participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola; II – participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes. Sob a luz dessa lei, a gestão democrática precisa ter por objetivo envolver-se na construção de projetos, propostas pedagógicas, projeto político-pedagógico, entre outros. Desse modo, segundo Libâneo (2004), as nomenclaturas gestão, administração e organização possuem um significado muito próximo. Ele explica que “organizar significa dispor de forma ordenada, articular as partes de um todo, prover as condições necessárias para realizar uma ação.” (LIBÂNEO, 2004, p. 97). Já a administração, segundo Paro (2010), é entendida como “a utilização racional de recursos para a realização de fins determinados” (p. 25). De acordo 092 com Andreotti (2010), o conceito de administração surgiu historicamente cercado pelas relações sociais, políticas e econômicas. Em seu sentido epistemológico, a palavra administrar significa “o ato de gerir, de governar, de dirigir negócios públicos ou privados; por ‘administração’ (do latim administratione) deve-se entender a própria ação de administrar”. (ANDREOTTI, 2010, p. 23). De acordo com Dalberio (2009, p. 74) o termo gestão tem sua raiz etimológica em ger, que significa fazer brotar, germinar, fazer nascer. Dessa mesma raiz, originam-se os termos genitora, genitor, gérmen. Desse modo, gestão é a geração de um novo modo de administrar uma realidade, sendo então, por si mesma, democrática, pois traduz a ideia de comunicação, pelo envolvimento coletivo, por meio da discussão e do diálogo. Assim, ao longo do percurso da história da educação ocorreram grandes mudanças em relação à maneira como as escolas eram organizadas e como devem ser organizadas nos dias atuais. Desse modo, podemos perceber que estamos em um momento de transição do modelo centralizador do poder administrativo para uma visão mais ampla e atual, em que o diretor passa a ser entendido como gestor, assim como toda a comunidade escolar. Consequentemente, a sociedade e as leis que regem no país tentam modelá-lo para uma visão democrática. Assim, neste contexto, segundo Sander (1995) a descentralização só ocorrerá quando os membros da escola e toda a comunidade escolar puderem ter o direito de tomarem suas próprias decisões em relação ao que pensam ser proeminente nas questões pedagógicas e administrativas de suas escolas, sem precisarem seguir normas pré-estabelecidas hierarquicamente. Ao perguntar, onde procurar o democrático na gestão da educação, Bruno indaga: “na nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação, que recorre ao termo democrático e à ideia de descentralização, destacando a unidade escolar como o espaço da gestão da educação, por excelência?”, e responde: “Não acredito que seja por aí. Não é na lei que devemos buscar a garantia de tal prática. Como sintetizou Hobbes, ‘É a autoridade, não a verdade que faz a lei’” (2010, p. 39). E conclui afirmando que 093 é na auto-organização dos envolvidos no processo de educação das novas gerações da classe trabalhadora, pais, alunos e professores, que, criando seus próprios espaços públicos onde os interesses são debatidos naquilo que têm de comum e na diversidade em que se apresentam, que se poderá chegar à formulação de alternativas reais às hierarquias de comando do poder que nos é imposto, esteja este se configurando na sua forma convencional ou em rede, como se gosta tanto de apresentá-lo. (BRUNO, 2010, p. 40). Sob esse pano de fundo conclui-se que é na participação coletiva que se pauta a gestão escolar democrática, o que exige uma convivência humana, um diálogo pela busca do exercício coletivo e participativo de uma comunidade junto ao poder público, em que os agentes de uma comunidade são coautores das ações de uma sociedade da qual fazem parte. 094 2 ATRIBUIÇÕESDO GESTOR NA FIGURA DO DIRETOR FRENTE OS DESAFIOS DO COTIDIANO ESCOLAR 2.1 O gestor na figura do diretor em uma perspectiva democrática De acordo com o que estudamos até aqui, o gestor possui um papel muito importante. Sua função se volta para repensar e reorganizar o tempo e o espaço escolar em diálogo aberto e constante com seus pares. Sendo assim, com a escola não poderia ser diferente e o diretor no papel de gestor precisa estar ciente de que a direção escolar representa uma função da gestão que deverá ser realizado juntamente com o grupo de pessoas que englobam o sistema da escola. Isso implica compreender que além de sua função específica, ele trabalha em parceria com a comunidade escolar no anseio de cumprir com a função social crítica da escola. Assim, “basicamente, a direção põe em ação o processo de tomada de decisões na organização, e coordena os trabalhos, de modo que sejam executados da melhor maneira possível.” (LIBÂNEO, 2004. p. 101). Dessa forma, o diretor terá, entre suas atribuições, a responsabilidade de manter a organização do local de trabalho, juntamente com o seu grupo de educadores e, de maneira democrática, decidir as questões referentes ao ensino e a aprendizagem, bem como as questões sobre a parte administrativa e financeira da escola. Destarte, de acordo com Ribeiro (1968 apud PARO1 2010) a função de administrador é bem diferente da de diretor, já que esta requer um nível maior de desempenho e na própria terminologia já se subentende que envolve uma capacidade extra de liderança tanto para optar pela filosofia quanto pela política de ação da escola. Nesse sentido, podemos perceber que o gestor diretor possui muitos atributos e, segundo Lück (1981), a maneira como irá coordenar a escola com os demais envolvidos no processo escolar pode auxiliar a exercer influências positivas ou negativas sobre o ambiente e o processo de ensino e de aprendizagem. Portanto, suas funções vão da natureza administrativa para a pedagógica. Lück (1981) enfatiza que do ponto de vista administrativo compete ao diretor: 095 • Organização e articulação de todas as unidades componentes da escola; • Controle dos aspectos materiais e financeiros da escola; • Articulação e controle dos recursos humanos; • Articulação da escola com o nível superior de administração do sistema educacional; • Formulação de normas, regulamentos e adoção de medidas condizentes com os objetivos e princípios propostos; • Supervisão e orientação a todos aqueles a quem são delegadas responsabilidades. (LÜCK, 1981, p. 17) Desse modo, como podemos ver na citação acima, o papel do diretor na escola apresenta situações contraditórias. Por um lado, ele precisa envolver todas as pessoas nas tomadas de decisões e, por outro, deve agir sendo o líder2 na hierarquia institucional e dar sua palavra como sendo a final em relação ao controle das verbas destinadas à escola. Assim, a tão desejada democracia escolar, de acordo com Pereira (2009), passa a ser, na maioria das escolas, uma maneira centralizadora do poder por parte dos governantes, aos quais o diretor deve prestar contas. Diante desse contexto, a prática de uma gestão democrática nas escolas requer muito mais do que a atitude de introduzir a participação da comunidade escolar nas tomadas de decisões. Uma gestão democrática precisa ser vivida por todas as pessoas que fazem parte da escola e da vida dos alunos. Logo, ao falarmos em gestão democrática, não podemos não pensar em como são escolhidos os diretores em nosso país, já que vivenciamos, na grande maioria das cidades, uma “nomeação arbitrária [...] geralmente para atender conveniências e interesses político-partidários [...] inibindo seu papel de coordenador e articulador da equipe docente.” (LIBÂNEO, 2004, p. 113). Assim sendo, na maioria das vezes os diretores nomeados pelos representantes não têm autonomia para decidir o melhor para a sua escola, já que estão subordinados aos seus representantes políticos. Portanto, necessitamos mudar essa mentalidade ultrapassada em nossas escolas e ensinarmos os alunos a pensarem democraticamente e a agirem diante das injustiças sociais. Só assim conseguiremos ser uma sociedade democrática em que todos elegem seus diretores através da eleição direta para o cargo. Essa prática, segundo Pereira (2009), foi desejada a partir da abertura política da década de 1980 e interpretada pela população como uma maneira positiva porque, assim, o diretor estaria sendo um representante da comunidade escolar em diversas instâncias decisórias e não era mais visto como um privilegiado representante da 2 A autora Lück traz o conceito de liderança na caracterização do papel do gestor. No entanto, tal concepção, pode, em algumas realidades escolares, dar margem para que ele, o gestor “líder”, assuma ao fim e ao cabo, todas as decisões que deveriam ser decididas no coletivo. 096 escola. Assim sendo, Paro (2010) salienta que o diretor escolhido pela comunidade escolar e não pelo Estado terá maior vontade de buscar a concretização dos interesses destes e, também, “a ganhar maior legitimidade nas reivindicações junto ao Estado, porque estará representando a vontade dos que o legitimam e não exercendo o papel de mero “funcionário burocrático” ou de apadrinhado político.” (PARO, 2010, p. 776). Nesse sentido, de acordo com Dalberio (2009), a democracia nas escolas não se faz somente com a escolha por voto de seus diretores, mas também com a criação de conselhos colegiados que sejam compostos pela comunidade escolar em geral. Esses conselhos podem incentivar a elaboração do Conselho Escolar, do Conselho de Classe, do Grêmio Estudantil e da Associação de Pais e Mestres. Assim sendo, Cury (2014) enfatiza que uma das primeiras iniciativas de um gestor, nos dias atuais, é de elaborar um projeto pedagógico coletivo que oportunize aos educandos um ensino e uma aprendizagem de qualidade. Além disso, o autor ressalta que o diretor necessita compreender de contas públicas já que, agora, o dinheiro vem direto para as escolas e cabe a ele ser um gestor de recursos. Cury salienta ainda que o gestor deve relacionar-se com as demais realidades dessa escola , como por exemplo, com ONGs e o Conselho Tutelar. Portanto, de acordo com o autor “o bom gestor sai dos meios, do papelatório, e volta-se para os fins”. Assim, segundo o escritor, o gestor tem que estar preparado para o cargo, precisa reconhecer quais são as necessidades e os seus limites, bem como atuar, sempre, coletivamente. Contudo, Cury deixa bem especificado em sua entrevista à Revista Abril que “o diretor tem de se qualificar. Não dá mais para usar só bom senso ou lábia para chegar ao cargo. Ele precisa adquirir estratégias, habilidades e competências para exercer a função”. Sendo assim, a escola não necessita apenas de um gestor diretor, mas sim de uma comunidade escolar gestora e comprometida com as tomadas de decisões que refletirão no progresso de seus alunos e na formação de uma sociedade brasileira mais justa e igualitária. 2.2 Questionário com diretores de escolas da cidade de Parobé-RS Diante da realidade da educação em nosso país, a qual de acordo com Oliveira (2005) defronta-se, diariamente, com o neoliberalismo e a pós-modernidade3 presente nas tecnologias 3 De acordo com Oliveira (2005) a Pós-Modernidade refere-se à capacidade da sociedade vigente em colocar a educação como um serviço comercial e muitas vezes a terceirizando, sempre pensando apenas em lucrar e nem um pouco preocupados com a qualidade do ensino oferecido à população. 097 digitais e de comunicação, não podemos mais concordar com certas atitudes presentes nas instituições escolares brasileiras. Sendo assim, compete aos gestores terem como eixo norteador o princípio democrático que visa, entre muitosaspectos, assegurar a valorização da cultura nacional, bem como a da escola. Assim, a mesma autora destaca que não devemos mais permitir que a escola tenha a vivência de uma educação influenciada pelos organismos financeiros internacionais e pela Organização Mundial do Comércio (OMC), os quais objetivam a terceirização da administração escolar sem apresentarem nenhuma preocupação com a participação dos sujeitos na tomada de decisões nas escolas. Diante disso, o diretor democrático tem um papel primordial de motivar toda a comunidade escolar para participarem e a começarem a ver a escola como uma extensão das suas casas. Ou seja, compreenderem que a escola e a família estão presentes em suas vidas para auxiliá-los a formarem-se cidadãos capazes de participarem ativamente da vida em sociedade. Assim, para melhor aprofundarmos o assunto desta monografia aplicamos um questionário para quatro diretores de Escolas Municipais da cidade de Parobé-RS. Nosso objetivo com o questionário era verificar se as escolas municipais têm uma gestão democrática e, se têm como fazem para interagir com a comunidade escolar. Além disso, queríamos saber se os diretores compreendem, realmente, o que significa gestão democrática, assim como averiguar se têm clareza sobre o que é ser gestor diretor democrático e quais suas funções. Além destas inquietações, gostaríamos de descobrir se eles concordam ou não que uma gestão democrática pode auxiliar para que ocorra um melhor resultado na aprendizagem dos alunos. O caminho percorrido da pesquisa iniciou com a minha visita às escolas e explicação sobre o trabalho que eu estava realizando para a conclusão da minha especialização no Curso de Pós-Graduação a Distância Especialização Lato Sensu em Gestão Educacional, no Centro de Educação, da Universidade Federal de Santa Maria/RS. Na interação com os sujeitos colaboradores da pesquisa foi realizado um questionário com questões semi-estruturadas. O propósito era analisar, sob a perspectiva da gestão democrática, de que maneira eles compreendem as suas funções enquanto diretores das instituições escolares, bem como que ações realizam a fim de agregar e trazer a comunidade local para interagir e atuar com a escola buscando uma melhor qualidade do ensino. Com base nos questionários realizados destacamos, a seguir, os perfis dos participantes da pesquisa, os quais serão identificados por letras para, assim, mantermos o anonimato dos mesmos. 098 A diretora A tem 37 anos de idade, atua na modalidade do Ensino Fundamental e sua formação é em Licenciatura em Geografia. Trabalha como professora há 15 anos e ocupa o cargo de diretora há 5 meses. A diretora B tem 40 anos de idade, atua na modalidade de Ensino Fundamental como professora há 18 anos. Sua formação é em Licenciatura em Geografia e é Pós-graduada em Gestão Escolar. Atua como diretora há 6 meses. A diretora C tem 33 anos de idade, atua como diretora na Educação Infantil há sete meses e há nove anos como professora. Ela é formada em Pedagogia e tem Pós-graduação em Gestão, Psicopedagogia, Neuropsicopedagogia inclusiva. O último questionário foi aplicado a uma diretora de 32 anos que trabalha com a modalidade do Ensino Fundamental. A diretora D é formada em Educação Física- Licenciatura Plena. Ela atua há quatro anos no município de Parobé e há seis meses como diretora. A partir do conhecimento dos pesquisados fizemos uma análise reflexiva de suas respostas e podemos enfatizar que em relação as suas funções e deveres enquanto diretora foi possível elencar aspectos importantes sobre a compreensão que eles trazem sobre as funções do diretor/gestor. Assim, a diretora A registrou que é o fato de ser um “elo integrador” articulando entre os segmentos internos e externos da escola, cuidando da gestão das atividades e repassando as verbas onde se deve investir, através do consenso de todos (ou da maioria). Sob esse aspecto, Silva (2006), explica-nos que as instituições escolares possuem diversas características que as aproximam como escola, bem como muitas questões que as diferenciam e fazem-nas terem a sua própria cultura escolar. Essa cultura tem como atores os alunos, os pais, educadores e demais envolvidos nesse processo de ensino e de aprendizagem e, também, “os discursos e as linguagens (modos de conversação e comunicação), as instituições (organização escolar e o sistema educativo) e as práticas (pautas de comportamento que chegam a se consolidar durante um tempo).” (SILVA, 2006, p. 202). Assim sendo, a escola reflete sobre a vivência que os alunos trazem consigo e que devem ser respeitados para que haja, realmente, uma integração entre ambas com o intuito final de integrar esses alunos com a sociedade contemporânea vigente. Desse modo, a diretora B comentou que as suas funções eram: “Administrativa, financeira e ações pedagógicas. Também estar a serviço das necessidades de aprendizagem dos alunos buscando a melhoria”. Já a diretora C anotou que suas funções são: organização do quadro funcional, bem como 099 assegurar a Proposta Pedagógica, administrar seu pessoal e seus recursos materiais e financeiros, além de velar pelo cumprimento do planejamento de trabalho de cada docente, etc. Sobre a sua função como diretora, a diretora D anotou que são: funções administrativas como: orçamentos, compras e, funções pedagógicas como: reuniões pedagógicas juntamente com a coordenação. Dessa maneira, podemos perceber que as diretoras compreendem que têm muitas funções dentro das instituições e que necessitam interagir com o grupo de funcionários e com as famílias para melhor organizarem a escola. Portanto, a escola é uma instituição da sociedade, que possui suas próprias formas de ação e de razão, construídas no decorrer da sua história, tomando por base os confrontos e conflitos oriundos do choque entre as determinações externas a ela e as suas tradições, as quais se refletem na sua organização e gestão, nas suas práticas mais elementares e cotidianas, nas salas de aula e nos pátios e corredores, em todo e qualquer tempo, segmentado, fracionado ou não. (SILVA, 2006, p. 206). Dessa maneira, o gestor no papel de diretor precisa conhecer e valorizar a cultura social da escola e buscar o auxílio de todos na escola, assim como fora dela. Por conseguinte, somente com a efetiva participação dos pais na vida escolar de seus filhos, bem como na organização e realização das tarefas escolares, teremos uma escola democrática. Contudo, para que isso ocorra a escola precisa conhecer o público que atende e colocá-los como sendo sua principal meta, ou seja, a escola deve conhecer a cultura em que está inserida e, a partir daí, atuar em busca da ampliação dos conhecimentos. 100 3 ESCOLA DEMOCRÁTICA: IMPLICAÇÕES PARA UMA CONSTRUÇÃO COLETIVA Nos capítulos anteriores analisamos como ocorreu a transferência da administração escolar para a gestão escolar e, consequentemente, para a democracia nas escolas, a qual de acordo com Drabach (2011) sofreu inúmeras resistências por parte do grupo ligado aos interesses privatistas. De um lado, estavam os defensores da educação que apresentaram a abertura da gestão democrática no Fórum Nacional da Escola Pública, os quais tinham por objetivo exigir a democracia em todas as instituições do país, fossem elas públicas ou privadas, bem como em todos os níveis de ensino. Por outro lado, estavam os representantes da elite brasileira, os quais dominaram o país por longos períodos históricos e, assim, eram contra qualquer questionamento sobre democracia, quem diria nas escolas. Na linha ambígua dessa discussão, somente em 1996, com a promulgação da Lei de Diretrizese Bases da Educação foi possível, de acordo com Drabach (2011), começarmos a redefinirmos muitas práticas desenvolvidas através da participação de todos, bem como redimensionarmos a função do diretor da escola. Assim sendo, a concepção da administração escolar dava-se através do controle do trabalho em que o diretor tomava as decisões, enquanto, agora, na gestão escolar “a unidade é alcançada através da participação de todos na construção consciente da proposta que norteará as atividades educativas no ambiente escolar.” (DRABACH, 2011, p.57). Diante desse cenário, passaremos, nesse capítulo a dar mais ênfase para a elaboração coletiva da gestão democrática na construção de uma escola para que realmente possamos começar a compreender as mudanças positivas que ocorreram e ainda podem acontecer em nossa sociedade. Em termos teóricos, “o conceito de participação se fundamenta no de autonomia, que significa a capacidade das pessoas e dos grupos de livre determinação de si próprios, isto é, de conduzirem sua própria vida.” (LIBÂNEO, 2004, p. 102). Portanto, para formar uma comunidade democrática e comprometida é necessário que o grupo veja a escola e o ensino, bem como suas ações como essenciais para as mudanças que todos nós almejamos em nosso país, principalmente em relação à educação. Esse trabalho em equipe prevê algumas práticas escolares, tais como: “uma estrutura organizacional sólida, processos de gestão definidos e eficazes, práticas participativas, projeto pedagógico-curricular, formas de avaliação da escola 101 e da aprendizagem, formação continuada.” (LIBÂNEO, 2004, p. 103). Dessa maneira, a instituição necessita estar muito bem coordenada, mas isso não significa que o diretor tem a responsabilidade, sozinho, do sucesso ou não da escola. Ele irá coordenar, juntamente com os demais membros da sociedade escolar, as decisões e as verbas, como outras atividades que lhe cabe em seu cargo, para que tudo funcione da melhor maneira possível e que os alunos tenham seus direitos garantidos. Por isso, nesse capítulo, vamos tratar de analisar as respostas dos diretores pesquisados tentando verificar se em suas práticas agem democraticamente, buscando a conexão com a comunidade escolar local. 3.1 Análise dos dados coletados articulados com a figura do diretor segundo os princípios da gestão escolar democrática Nos dias de hoje cada vez mais notamos a necessidade de trabalharmos em conjunto, o que, para Vieira (2003), consiste em um objetivo de formação imposto para todas as pessoas nas diferentes instituições de trabalho, especialmente nas escolas. Assim, a educação e a gestão devem ser compreendidas como sendo um processo humano e, portanto, plausível de erros e diversas tentativas de mudanças. No entanto, temos como perspectiva que uma gestão democrática tem mais probabilidade de acertos do que uma administração, já que a escola tem como público alvo seres humanos em contínuo processo de aprendizagem. Sendo assim, pensando nessa democracia, fizemos uma análise teórica e reflexiva das questões respondidas por alguns diretores municipais de Parobé-RS, em relação a maneira como atuam nas escolas e como interagem com a comunidade escolar, com o objetivo de aprendermos cada vez mais a partir de métodos expressivos. Nesse contexto, segundo Libâneo (2004) a participação é a principal maneira de garantirmos a gestão democrática na instituição escolar e essa ação deve ser no sentido de ouvir as diversificadas ideias, opinar na tomada de decisões e agir para que todos os projetos propostos se concretizem. Diante disso, ao considerarmos as respostas dos quatro diretores analisados podemos constatar que eles estão tentando iniciar um trabalho participativo com a comunidade, a fim de germinar uma possível cultura democrática na escola. Assim sendo, podemos citar como 102 exemplo a diretora A que demonstra compreender que sua função enquanto diretora pautada na gestão democrática deve servir como um “elo integrador” entre as pessoas que atuam dentro da escola e com a comunidade em geral. Além disso, podemos constatar que todos os pesquisados tentam desenvolver um trabalho baseado em uma atuação democrática, onde os educadores, funcionários, alunos, pais de alunos e comunidade em geral têm consciência que precisam agir na escola como agentes e não meros telespectadores. No entanto, percebemos muitas atitudes em suas práticas que necessitam serem aperfeiçoadas, como por exemplo, podemos citar a questão dos pais estarem apenas sendo convidados a participem dos eventos escolares pré-estipulados pelo grupo escolar. Essa questão ficou bem clara quando as diretoras A, B e D responderam que a comunidade escolar participa na escola quando há eventos, como: São João, Família na escola, Feira do Livro, entre outros, os quais são, de acordo com a nossa interpretação, deliberados pelo grupo escolar, em reuniões pedagógicas e apenas comunicado aos pais. Isso ocasiona uma gestão que não condiz com uma prática democrática, mas não deixa de ser, em um primeiro momento, uma tentativa inicial de trazer os pais até às escolas e, posteriormente, esperamos que esses eventos e suas finalidades, também, sejam decididos em conjunto com esses familiares. Apesar disso, a diretora C mostrou-nos que a participação dos pais em sua escola de atuação vai um pouco além das anteriores, já que ela mencionou a participação através do Conselho de Pais e Mestres. Com isso, podemos perceber que, nessa escola, alguns pais ajudam a decidir os eventos que serão realizados, assim como auxiliam a colocá-los em prática. Portanto, conseguimos compreender que os diretores analisados nessa pesquisa estão tentando aproximar as famílias das escolas, porém essa tentativa ainda precisa melhorar significativamente. Sendo assim, de acordo com Libâneo (2004) a escola não pode mais ser vista como uma instituição isolada, distante da realidade social dos alunos e suas famílias. No entanto, os pesquisadores não conseguiram definir quais seriam as formas concretas dessa participação. Contudo, para a grande maioria dos estudiosos a maneira mais adequada seria que os pais participassem de forma delegada, ou seja, apenas no que a escola precisasse como Conselho Escolar, Associação de Pais e Mestres, entre outros órgãos colegiados. Entretanto, ao nosso entender, esse pensar de alguns pesquisadores não condiz com o significado da palavra democracia, a qual prevê o diálogo e participação em conjunto, não apenas estabelecida por uma elite dominante. Desse modo, essa gestão descrita pelos pesquisadores está longe de ser 103 democracia em seu sentido pleno. O mesmo também pode ser exposto ao analisarmos a maneira como os diretores são escolhidos no município de Parobé-RS. Os quatro pesquisados afirmaram que a seleção é feita pela Secretaria Municipal de Educação, a qual se baseia em questões políticas, entrosamento pessoal, indicações profissionais, entre outros. Apesar disso, as diretoras A, B e D pensam que a maneira democrática seria a eleição de diretores, enquanto a diretora C pensa que seria através de concurso público. Outro aspecto analisado com essa pesquisa foi tentar compreender o que pensam os diretores em relação à influência dos pais na vida escolar dos seus filhos. Constatamos que todos concordam que a presença da família na vida escolar influencia positivamente na aprendizagem dos educandos, porque estes se sentem valorizados e, consequentemente, motivam-se a melhorar seu desempenho escolar. Portanto, como diretores, pautados na gestão democrática, necessitamos incumbir nas famílias de nossos alunos essa tarefa de participar das atividades na escola,bem como opinar e ajudar nas escolhas, já que a participação conjunta e a autonomia são ações indispensáveis na prática de uma gestão democrática. Convém expor que essa não é uma tarefa fácil de ser realizada, principalmente nos dias atuais em que a grande maioria da população visa à conquista de bens materiais e o individualismo quase sempre predomina. No entanto, precisamos tentar mudar essas atitudes através de bons e possíveis exemplos de atividades democráticas em nossas escolas. Desse modo, não podemos esquecer de mencionarmos que esses diretores, os quais participaram dos questionários, devido a recente permuta de prefeito em nosso município, são educadores no papel de diretores pela primeira vez e há poucos meses. Isso nos leva a compreendermos que são inexperientes nessa prática, mas percebemos, também, que todos estão tentando fazer o melhor possível pelas suas escolas, a fim de retribuírem a confiança a eles destinada. No entanto, os diretores pesquisados nessa pesquisa, afirmam que o maior obstáculo que enfrentam nas atividades do cotidiano da escola, toca nas muitas tarefas administrativas que precisam cumprir. Na busca de atender as muitas demandas que lhes são apresentadas – seja pelos novos marcos legais, seja pelos prazos fixados pelas Secretarias da Educação ou do aparelho do Estado -, sua função fica restrita ou concentrada ao âmbito administrativo, 104 enquanto que a esfera pedagógica fica, muitas vezes, deixada de lado, sem a devida atenção que mereceria. Esse cenário sinaliza, de acordo com Oliveira (2010), para a perda de uma importante dimensão que deveria objetivar a escola, que é a sua função política. Ao refletir sobre os encargos dos diretores ela esboça uma importante análise, e que ajuda a compreender as causas que levam muitos diretores a reduzirem sua função enquanto diretores engajados na gestão democrática. Para ela, as demandas atuais impostas as escolas, principalmente aos diretores das escolas, os conduz a cumprirem quase que exclusivamente tarefas administrativas. Com isso, deixam de exercer as demandas exigidas pela sociedade que os cerca, o que ocasiona uma interpretação incorreta de sua atuação enquanto diretor e dificulta a probabilidade de criação de um espaço para politizar e não só administrar o trabalho. Ainda segunda a autora, a sobrecarga desse trabalho dos diretores tem resumido suas atividades a um trabalho mais técnico, tendo em vista as inúmeras demandas ligadas ao âmbito administrativo que precisam dar conta. Assim, essa intensificação dos encargos administrativos reflete-se nas atividades que são exigidas pela rotina da própria escola, mas que não são correspondidas nas condições materiais da escola, por exemplo. Desse modo, os diretores sentem-se, na maioria das vezes, inseguros, também não têm tempo e nem preparo para certas tomadas de decisões e muitas vezes temem em serem taxados de autoritários, já que [...] aumentaram as exigências de que o diretor conseguisse fazer render os recursos recebidos pela escola, ou mesmo os multiplicasse buscando contribuições junto à comunidade e às empresas ou, ainda, procurando soluções criativas para burlar os orçamentos e melhor redistribuí-los segundo as necessidades específicas [...]. As tarefas administrativas [...] vêm absorvendo quase todo o tempo do diretor, esvaziando de conteúdo crítico e analítico suas atitudes, reduzindo-o à função de gerente, de controlador de força de trabalho e de administrador de recursos escassos. (OLIVEIRA, 2010, p. 140-142). Tal quadro configura, portanto, a sobrecarga da tarefa do diretor e, consequentemente, a ênfase nas atividades administrativas em detrimento das outras dimensões que permeiam o campo escolar, como a esfera pedagógica, por exemplo. Isso porque sobra pouco tempo, quando sobra, para dar conta dessas questões importantes e que também fazem parte da agenda do diretor. Nesse caso, questões como “adotar os Parâmetros Curriculares Nacionais, 105 optar entre as formas de organização escolar em ciclos ou séries, repensar suas formas de avaliação, elaborar seu projeto político-pedagógico, entre outros” são deixadas em segundo plano, pois “os diretores correm o risco de não conseguir responder às demandas mais imediatas por absoluta falta de tempo e preparo” (OLIVEIRA, 2010, p. 143-144). Tal abandono tem acarretado em uma perda da dimensão política da função do diretor, o que inibe os diretores a obterem tempo para muitas questões sociais da escola em relação às famílias. Sendo assim, cabe-nos aqui destacar a resposta da diretora A, a qual enfatiza que suas funções estão relacionadas ao ato de integrar a escola internamente e externamente e, também, “cuidar da gestão das atividades e repassar as verbas onde deve-se investir”. Além disso, a diretora explicou que entre seus deveres estão os de “gerir as verbas destinadas à escola e promover o bom andamento do ano letivo”. Destarte, podemos perceber que a questão do administrar as documentações e as verbas são preocupações diárias desta diretora, o que, provavelmente, faz com que ela deixe outras tarefas pedagógicas, também fundamentais, de lado. Do mesmo modo, também, a diretora B, enfatizou suas funções como sendo administrativas, financeira e pedagógica, bem como seus deveres estarem relacionados à “buscar a participação de toda a comunidade escolar”, mas se restringiu a especificar que apenas “a coordenadora pedagógica” a auxilia nas atividades realizadas na escola. Portanto, parece-nos que a cultura da participação coletiva ainda precisa amadurecer nesse ambiente. Ao buscarmos apontar as razões, as quais levam muitos diretores a desempenharem uma função apenas administrativa em detrimento da política, por exemplo, não queremos alimentar a ideia de que essa sobrecarga deva amparar a sua função. Porém, queremos sinalizar para a importância de políticas públicas que atentam para o fato de que a atividade do diretor, como do professor, exige passar por uma valorização mais aguda, sob pena de ficar à margem da função crítica que deve cumprir. Dito de outro modo, não é o caso de se acomodar ou de se apoiar a essa justificativa e se reduzir a ela, mas buscar compreender as razões que conduzem a tal prática, a fim de encaminhar a discussão para uma outra interpretação, isto é, para aquela que compreende o quão árduo, mas também fundamental é a tarefa da escola. Desse modo, Drabach (2011), lembra que o gestor deve iniciar sua atuação na escola baseado no Projeto Político Pedagógico e a partir dele pensar, juntamente com os demais envolvidos, em quais são as questões político-econômicas que envolvem a sociedade que cerca a realidade da escola, bem como quais cidadãos querem formar para essa sociedade. Só assim, o gestor conseguirá conduzir a escola em sua legitimidade. 106 Portanto, a partir do momento que o grupo escolar elaborar o Projeto Político Pedagógico da escola, juntamente com os pais e os alunos, caberá ao gestor diretor conduzir suas tarefas a fim de buscar a qualidade do ensino e a realização pessoal dos profissionais e alunos. Assim sendo, o gestor poderá contar com o auxílio do Conselho Escolar que consiste em “uma instância colegiada com a participação de todos os segmentos da escola, o conselho escolar atua nos aspectos pedagógicos, administrativos e financeiros.” (DRABACH, 2011, p. 86). Contudo, o que podemos orientar aos gestores diretores para que consigam a presença dos pais na escola é, primeiramente, segundo Drabach (2011), fazer com que a escola participe da comunidade escolar da mesma forma que deseja essa participação deles. A autora explica-nos que o escritor Paro fezuma pesquisa e concluiu que: a falta dessa aproximação, dessa postura de ouvir o outro, parece explicar em grande parte o fracasso de iniciativas paternalistas de gestão colegiada e de participação que, por mais bem-intencionadas que sejam, procuram agir “em nome da comunidade”, sem antes ouvir as pessoas e os grupos pretensamente favorecidos com o processo e sem dar-lhes acesso ao questionamento da própria forma de “participação.” (PARO 2000, apud DRABACH 2011, p. 86) Consequentemente, a escola que não participa da vida de sua comunidade não tem como exigir ou querer a participação desta dentro da escola. Sendo assim, o gestor diretor precisa estar ciente da função da escola em preparar os indivíduos para atuarem em nossa coletividade e, para isso, carece conhecer essas pessoas e o meio em que estão inseridas. Em seguida, necessita transformar o ambiente escolar em um lugar onde os alunos sintam-se motivados a aprenderem, a partir da valorização dos conhecimentos que trazem de suas vivências familiares. Só assim estaremos integrando-os com a escola e seus familiares se sentirão aptos a interagirem. 107 CONSIDERAÇÕES FINAIS A presente pesquisa foi desempenhada com o objetivo basal de mostrar como alguns diretores de escolas municipais atuam nas escolas para que ocorra a participação da comunidade escolar, desde as tomadas de decisões até a execução das atividades escolares. Sendo assim, concluímos que devido às grandes modificações do mundo globalizado, é imprescindível que o diretor, juntamente com a comunidade escolar, oportunize espaços para que a sociedade atue de forma consciente no cotidiano escolar. No entanto, sabemos que não é uma atividade fácil de ser inserida em nossa sociedade, a qual, ainda, tem muito presente resquícios da antiga administração escolar. Assim, os mecanismos de participação de muitas escolas contemporâneas ainda não são suficientes para afirmarmos que há a prática de uma gestão democrática em todos os ambientes escolares. Isso se configura, conforme destacamos na pesquisa, que a própria condição do diretor na escola alinhado as inúmeras demandas solicitadas na atualidade, impede, muitas vezes, que seu trabalho se articule a uma dimensão política e não só administrativa. Desse modo, confirmamos através dessa pesquisa que o clássico modelo de administração escolar não é hábil para atender às reais necessidades e interesses da formação reflexiva e crítica de seus sujeitos, os quais estão em busca constante de transformação social. Sendo assim, esperamos que, com essa pesquisa, os gestores: diretores, educadores e comunidade em geral, compreendam a importância da construção da democracia no espaço escolar e elevem o diálogo crítico entre escola e sociedade para que possamos construir, juntos, um país que tenha escolas com gestão democrática em seu sentido pleno não apenas na palavra, mas também perceptível em sua prática. Portanto, ao final dessa pesquisa, findamos que, embora inovadora, a administração escolar participativa não é irreal, já que uma escola conduzida sob os princípios democráticos proporciona uma atmosfera aberta, interativa, diligente e de livre ascensão a toda a comunidade escolar. 108 REFERÊNCIAS ANDREOTTI, A. L.; LOMBARDI, J. C.; MINTO, L. W. História da Administração Escolar no Brasil: do diretor ao gestor. Campinas, SP: Editora Alínea, 2010. ANTUNES, Ricardo. Os sentidos do trabalho: Ensaio sobre a afirmação e a negação do trabalho. Editorial Boitempo, São Paulo, 7º reimpressão, 2005. 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A Constituição Federal - CF de 1988, assim como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB (Lei nº 9.394/1996), indicam a liberdade de ensinar e aprender, o pluralismo de ideias e concepções pedagógicas, a valorização dos profissionais da educação escolar, a gestão democrática do ensino público, a garantia de um padrão de qualidade, entre outros, como princípios sobre os quais a educação brasileira se edifica. A condução da escola, sob a inspiração e determinaçãode profissionais. Por isso, o gestor, no processo educativo, agrega a função de coordenar a ação pedagógica da escola. É necessário que o gestor escolar saiba envolver sua equipe na realização de projetos que resolvam a situação, de forma que esta transformação faça com que os profissionais compreendam melhor a realidade educacional em que atuam. Ao se resolver tais problemas, a comunidade escolar adquire consciência de seu poder de mudar a realidade, com os recursos disponíveis. Como já foi afirmado, a função do gestor escolar vai além do simples ato de administrar. Ele assume uma série de funções, tanto de natureza administrativa quanto pedagógica, desempenhando as funções de organização, administração e supervisão. Desta forma, a direção deve participar de todos os assuntos escolares, descentralizando o poder e dividindo as tarefas com toda comunidade escolar. Dessa maneira, permite um equilíbrio entre os aspectos materiais e pedagógicos da escola. Para Hora (1997) “a principal função é realizar, por intermédio da administração uma liderança política, cultural e pedagógica, a fim de garantir atendimento das necessidades educacionais de sua clientela, cuidando da elevação do nível cultural das massas”. Neste olhar, a principal missão do gestor está em oportunizar o desenvolvimento do potencial humano, suas habilidades, capacidades, conhecimentos, com autodisciplina decorrente de uma gestão autônoma e responsável. Assim vemos que o gestor é aquele que não apenas administra, mas coordena e articula a participação dos envolvidos no processo pedagógico, almejando a equidade e inclusão dos atores escolares. O objetivo da educação está na formação de cidadãos capazes de elaborar uma visão crítica sobre a realidade social, cultural e econômica. Neste sentido não cabe ao gestor uma autoridade burocrática, encerrada em ordens manejadas pelo 013 sistema. Cabe-lhe, sim levar em conta a realidade de sua comunidade e assumir uma práxis educacional socialmente comprometida. 2.5 Ações práticas de um gestor escolar Segundo Buss (2008) o gestor escolar, além das habilidades técnicas, deve ter sensibilidade às questões e necessidades humanas. Desta forma, conseguirá multiplicar a participação de todos no processo de gerir a escola. Na visão de Lück (1996), é imprescindível o processo de consultoria como via para atuação do gestor e demais profissionais da escola, pois é através dela que haverá um consenso das ideias, opiniões e informações sobre determinada problemática. Para tal, o gestor deverá estar aberto às novas ideias, opiniões e propostas de resolução dos problemas referentes à escola. O gestor escolar assume uma condição muito próxima a de um líder, pois congrega objetivos e ações plurais de um grupo, o corpo da escola manifestados pelos conflitos e consensos da rede de relações entre estudantes, educadores, pessoal de apoio, pais e comunidade do seu entorno. Equivale dizer que há uma relação dialógica a ser cultivada, construída e vivida de forma histórica entre os agentes da gestão a ser empreendida pela escola com caminhos previstos no projeto pedagógico escolar. De acordo com o Manual do MEC (2007) Escola de Gestores, o gestor escolar efetiva um verdadeiro exercício de liderança, na medida em que integra e modifica os aspectos encontrados na administração geral da escola e a articulação com os sistemas de ensino, bem como na administração pedagógica e no acompanhamento da proposta educacional. Para a construção de uma identidade própria, é indispensável ao gestor desenvolver instrumentos que qualifiquem os processos e procedimentos da gestão escolar e identifique e compreenda a função social de sua escola na comunidade em que está inserida. É importante também que ele proponha e coordene a participação na elaboração do projeto político pedagógico bem como se envolva no processo de avaliação institucional e de aprendizagem propiciando assim a estimulação e elaboração de projetos com a comunidade tornando a aprendizagem dos alunos mais significativa. 014 2.6 Responsabilidades do gestor escolar É o gestor que estabelece, juntamente com sua equipe escolar, as finalidades da ação educativa de determinada escola, por que articula as deliberações e encaminhamentos necessários para que essa ação ocorra. Estabelece e procura preservar uma rede de relações administrativas, pedagógicas, sociais e afetivas, capazes de impulsionar uma gestão partilhada e solidária. Essas são demandas atuais presentes em uma educação emancipadora. Uma gestão escolar tem sentido de acontecer quando realizamos a ligação desse processo à educação emancipadora. Uma educação atinge esse sentido na medida em que constrói, para além dos conteúdos, uma formação ética e cidadã de seus envolvidos, principalmente aqueles a quem denominamos alunos. A nossa compreensão sobre este aspecto pode ser resumida da seguinte maneira: a gestão escolar está para emancipação humana assim como a emancipação humana contribui para que ela se desenvolva. Significa dizer que, entre tantas funções, a escola contribui para que as pessoas que nela convivem, construam e socializem saberes por meio de ações educativas organizadas. Para isso é indispensável que os sujeitos envolvidos na instituição escolar encontrem oportunidades para decidir, pensar, compartilhar e responsabilizar-se, desenvolvendo suas autonomias. Uma educação emancipadora se faz presente no cotidiano escolar quando este lugar privilegiado de diferentes saberes oportuniza o intercâmbio entre todos os envolvidos na comunidade escolar e desta com a comunidade em que está inserida. Percebemos, com isso que o objetivo da educação é contribuir para a construção do ser histórico. O cumprimento desta função exige o envolvimento de todos os atores, comunidade escolar e comunidade local, com participação efetiva das condições que garantam a qualidade da educação oferecida. É oportuno lembrar que a educação não é apenas forjada pela prática social, mas também pela história cultural das sociedades, por isso ela é sócio-histórica. É um produto da cultura que vem se transformando ao longo do tempo, acompanhando os momentos diferentes da história dos homens. As práticas escolares dependem tanto das condições internas para a realização do ato educativo, como do funcionamento da gestão e das condições externas a elas, oriundas das expectativas e interesses dos grupos que interagem com a escola. 015 Equivale dizer que a interação entre as pessoas, propiciada pela gestão, e dos vários grupos externos e internos à escola que elas pertencem, por sua vez, mantém expectativas em relação ao trabalho previsto, proposto e desenvolvido pela prática escolar. As mudanças ocorrem quando essas mesmas pessoas participam e deliberam das decisões acerca do que deve mudar e de como isso acontecerá. 2.7 O gestor escolar frente ao planejamento Além das ações que um gestor deve adotar diante das necessidades dos seus funcionários e colaboradores também é tarefa do mesmo estimular sua equipe para que ocorra o processo de construção do conhecimento em sua escola. Para isso ele deve: concentrar-se nas pessoas, e não no sistema, encontrar tempo para aprender a aprender, fazer as pessoas acreditarem na possibilidade de mudar seus ambientes de trabalho, procurando diversificar atividades, adotar uma visão global dos problemas que surgem, estimular uma comunicação aberta e franca, acreditar no trabalho em equipe e principalmente o da sua equipe, ser um líder acessível capaz de compreender as necessidades do outro, equilibrar o interesse de todos os envolvidos, sem ter colaborador predileto. Nessa perspectiva, abrimos precedentes para uma nova forma de gestão escolar, não mais submissa e hierarquizada. Segundo Lück (1996, p. 28) Em virtude da necessidade de reordenação do sistema educacional, não se concebedesses princípios, cabe ao diretor, o qual, entre muitas outras, tem as atribuições de coordenar a elaboração e execução da proposta pedagógica, garantir o cumprimento do plano de trabalho de cada docente, articular a escola com as famílias e a comunidade, conduzindo-a a estabelecer ações destinadas à promoção da cultura de paz, tornando-a um ambiente seguro e pedagogicamente rico. Para tanto, respeitando e ajudando a elaborar as normas da gestão democrática da rede ou sistema de ensino no qual atue, deve garantir a participação dos profissionais da escola na elaboração do projeto político-pedagógico, bem como a participação das comunidades escolar e local no conselho escolar. Portanto, seu papel é determinante na garantia de uma escola pública de qualidade para todos. O escopo da Matriz apresentada neste documento é o de parametrizar os diversos aspectos concernentes à função do diretor escolar, auxiliando com isto a definição de políticas nacionais, estaduais e municipais de escolha, de acompanhamento e de avaliação do trabalho dos diretores escolares, bem como de sua qualificação, em termos de formação inicial e continuada nas redes e sistemas públicos de ensino. Esse objetivo geral se traduz em Competências, organizadas em dimensões, atribuições, práticas e ações que integram um conjunto mínimo de expectativas em âmbito nacional. Neste sentido, propõe-se a noção de uma Matriz 111 Comum que destaca os aspectos mais relevantes e importantes da função do diretor escolar no contexto brasileiro. A relevância do diretor escolar A atuação do diretor escolar concorre diretamente para a qualidade do trabalho realizado na escola e é destacada em diversas pesquisas sobre gestão e liderança escolar, a partir de diferentes abordagens e contextos. Importantes pesquisadores deste campo consideraram recentemente que: A liderança escolar tem efeito significativo nas características da organização escolar o que influencia positivamente a qualidade do ensino e da aprendizagem. Embora moderado, esse efeito de liderança é vital para o sucesso da maioria dos esforços de melhoria escolar (LEITHWOOD; HARRIS; HOPKINS, 2020, p. 6, tradução nossa). Desde a última década, os organismos internacionais têm dedicado especial atenção ao trabalho do diretor destacando sua relevância para o sucesso do trabalho escolar. Entendemos que os relatórios de pesquisas e documentos publicados neste período sobre o tema têm funcionado como importantes indutores de políticas nacionais para a definição de Competências esperadas para o trabalho do diretor escolar. Assim, selecionamos alguns deles para a discussão introdutória. Em 2010, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico - OCDE publicou o documento “Improving School Leadership” (OECD, 2010), “Melhorando a Liderança Escolar” em tradução livre. Tendo como referência os estudos anteriores sobre a Liderança Escolar (Improving School Leadership, v. 1 e 2, 2008), este documento teve como foco o desenvolvimento profissional de diretores escolares. De acordo com a apresentação do material, ele foi elaborado para ajudar os decisores políticos, profissionais e outros interessados a analisarem políticas e práticas de liderança escolar. O material reforça a importância do trabalho do diretor em criar um ambiente propício na escola para a melhora das práticas de sala de aula e para a aprendizagem escolar. Para isso, chama atenção a atuação do diretor em: 112 I) Apoiar, avaliar e possibilitar o desenvolvimento do trabalho docente (avaliação e monitoramento dos professores, investimento no desenvolvimento profissional de professores, manutenção de culturas colaborativas de trabalho); II) Definir metas, avaliações e responsabilidades (destaca-se a autonomia/discricionariedade do diretor para estabelecer metas e planejar, além do uso de dados para beneficiar os estudantes); III) Gestão estratégica dos recursos (uso estratégico dos recursos humanos e financeiros, alinhando-os aos propósitos pedagógicos); IV) Sistema de Liderança (atuação para além dos limites da escola, estabelecendo relações com outras escolas para a troca de experiências e boas práticas). Em 2013, a OCDE lançou o “Learning standards, teaching standards and standards for school Principals: a comparative study”, em tradução livre “Padrões de aprendizagem, padrões de ensino e padrões para o Diretor Escolar: um estudo comparativo”. O documento traz um relatório de pesquisa desenvolvido pelo Centro de Estudos para Políticas e Práticas em Educação - CEPPE, do Chile, sobre as iniciativas governamentais de alguns países para estabelecer padrões para a aprendizagem, o trabalho docente e o trabalho dos diretores escolares. O Brasil está entre os 11 países1 do levantamento, mas não apresentava dados para os dois últimos temas (OECD, 2013, p. 48-60). Destaca-se a relevância que o documento traz para o estabelecimento de padrões como referência para o trabalho do diretor escolar, abordando o processo de implementação destes referenciais. A partir de um estudo com os dados do Teaching and Learning International Survey - TALIS 2013, que em tradução livre significa: Pesquisa Internacional sobre o Ensino e Aprendizado, a OCDE apresentou em 2016 um relatório que sumariza os principais resultados encontrados sobre a relação entre características da liderança escolar e os resultados dos estudantes, destacando a importância de aperfeiçoar os processos de preparação, seleção, indução, formação e avaliação de diretores escolares. Ainda que considere que as especificidades de cada país e suas características contextuais sejam determinantes para a definição do perfil de 1 Para alguns casos foram acrescentados estados/províncias como referência. 113 liderança e das estratégias adotados pelos diretores escolares, o estudo aponta algumas recomendações a partir dos achados nos dados dos 38 países envolvidos (incluindo Brasil). Em especial, destaca a relevância da liderança do diretor para os resultados escolares, estabelecendo ambientes colaborativos para as equipes, o que favorece a aprendizagem dos estudantes. A partir desse resultado, o documento recomenda que os sistemas de ensino considerem a questão da liderança na escola para a formação – inicial e continuada – de diretores escolares. Publicado pela Unesco em 2018, o relatório "Activating Policy Levers for Education 2030: The Untapped Potential of Governance, School Leadership, and Monitoring and Evaluation Policies" (em tradução nossa: “Ativando dispositivos políticos para Educação 2030: o potencial inexplorado de governança, liderança escolar, de monitoramento e avaliação de políticas”), propõe uma agenda de políticas públicas educacionais que considere cinco áreas relacionadas às características do trabalho do diretor: a) as metas e responsabilidades dos diretores; b) seleção e recrutamento de diretores; c) avaliação de diretores; d) preparação e desenvolvimento profissional de diretores; e) condições de trabalho e carreira docente dos diretores escolares. O texto ainda destaca que a definição do primeiro item – metas e responsabilidades dos diretores – é fundamental para a coerência interna na definição e organização das outras áreas mencionadas. Assim, considerando esse contexto em que as pesquisas e agências internacionais apontam tanto a relevância do trabalho do diretor escolar quanto a necessidade de definição de parâmetros locais para esse profissional da educação, realizamos um levantamento em 13 países2 dos cinco continentes sobre as iniciativas encaminhadas nessa direção. A pesquisa, conduzida através de documentos oficiais de cada país, teve como objetivo levantar insumos para a produção deste documento nacional de referência para a Matriz de Competências do Diretor Escolar. Também promovemos uma busca na legislação dos estados brasileiros, do DistritoFederal e dos municípios capitais, para verificar se e como tratam a questão das Competências do diretor escolar. Dos 53 entes federados (26 estados, 26 2 África do Sul, Austrália, Canadá (Ontário), Chile, Costa Rica, Escócia, Estados Unidos, França, Inglaterra, Israel, México, Moçambique e Singapura. 114 municípios capitais e o Distrito Federal), encontramos legislação que trata da questão em 29 deles (54,7%) e percebemos uma proximidade grande entre os casos, mas observamos que a maioria busca listar atribuições e responsabilidades do cargo/função e pouco propõem sobre as Competências para o exercício profissional do diretor escolar. E, ainda, realizamos uma busca na legislação nacional, em particular na Constituição Federal, de 1988, no Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA (Lei nº 8.069/1990), na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB (Lei nº 9.394/1996) e no Plano Nacional de Educação - PNE (Lei nº 13.005/2014), em documentos de referência nacional, bem como em políticas e programas nacionais que potencialmente oferecessem indicações sobre as formas como vem se operando e definindo as Competências do diretor escolar. Portanto, esses levantamentos foram pontos de partida, com a finalidade de contribuir com a construção desta Matriz Nacional, cuja leitura cuidadosa e crítica auxiliou-nos na produção das dimensões que organizam as Competências do diretor escolar. Buscou-se verificar se as proposições feitas correspondem às demandas e à realidade escolar e, de outro lado, analisou-se as insuficiências e as ausências de atribuições, responsabilidades ou dimensões do trabalho do diretor escolar. Essa incursão nacional e internacional em pesquisas e marcos legais sobre as competências e atribuições dos diretores escolares resultou em uma primeira versão do documento que foi apresentada para a discussão e validação inicial. Tal discussão foi realizada com dois grupos compostos de uma amostra de diretores escolares das redes municipais e estaduais de ensino de todas as regiões brasileiras, além de representantes das secretarias municipais e estaduais de educação, do Conselho Nacional de Secretários de Educação - Consed e da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação - Undime. Em duas reuniões técnicas planejadas e mediadas para promover a discussão reflexiva sobre o documento (recebido com antecedência pelos participantes), destacou-se a relevância da proposição e os ajustes, as sugestões foram consideradas a partir das diversas experiências dos participantes. Assim, fruto de um amplo trabalho de pesquisa e de diálogo, este documento traduz uma reflexão aprofundada e se propõe como uma referência para os debates 115 e para a normatização da temática no país. Destaca-se aqui a relevância desta Matriz Nacional Comum de Competências para o Diretor Escolar, no sentido de estabelecer parâmetros e referências para as políticas que norteiam o trabalho deste profissional, considerando desde os processos de escolha de diretores até o acompanhamento de sua rotina, passando pela formação inicial e continuada. Reforça-se, então, o caráter sistêmico que este documento pretende, considerando, também, os aspectos relacionados à estrutura e equipe de trabalho e à formação desses profissionais. Estrutura, Equipe e Formação O trabalho escolar é essencialmente coletivo. A escola de educação básica é uma instituição que atende e forma crianças, adolescentes, jovens e adultos, nas suas três etapas (educação infantil, ensino fundamental e ensino médio) e nas distintas modalidades (educação escolar indígena, educação escolar quilombola, educação do campo, educação especial, educação de jovens e adultos, educação profissional, educação a distância). Nessa instituição educativa, as pessoas trabalham desempenhando funções profissionais específicas, mas operam coletivamente. Assim, entendemos que os resultados da escola são o produto dos esforços de toda a equipe de profissionais, de seus estudantes e familiares envolvidos no processo educativo. A coordenação desse processo cabe ao diretor escolar, o qual necessita, para que possa desempenhar suas funções apropriadamente, ter consigo uma equipe de gestão escolar condizente com a responsabilidade da função, a complexidade, o tamanho e a localização da escola. A segurança no ambiente escolar é determinante. As pessoas que estudam e trabalham na escola necessitam se sentir acolhidas e protegidas durante toda a trajetória (diária) escolar, assim, é preciso que o poder público constitua as condições de segurança adequadas e compatíveis com os desafios e problemas sociais e territoriais que a contemporaneidade coloca à escola. Isto implica desde apoio à segurança patrimonial e, principalmente, às pessoas, chegando a toda estrutura da rede de proteção à criança e ao adolescente. 116 As chances de melhor desempenho escolar e maior sucesso no processo educativo são diretamente proporcionais também às condições de trabalho que as escolas dispõem, neste sentido, a função social da escola para ser bem desenvolvida demanda uma estrutura de condições materiais e estruturais adequadas ao trabalho pedagógico, com ambientes limpos e arejados, espaços adequados às práticas pedagógicas, equipamentos atualizados e com boas condições de funcionamento, materiais apropriados ao projeto formativo, entre outras diversas condições. O diretor escolar também necessita de um ambiente compatível com o exercício da sua função. Finalmente, a escola é o lugar onde docentes ensinam, mas também aprendem, seja por meio das experiências profissionais e pessoais, seja por meio de ações de formação continuada. É da condição docente a permanente atualização, a busca pelo conhecimento, pelos novos saberes e abordagens e pelas novas metodologias de ensino. O mesmo se estende ao diretor escolar, que também deve constantemente buscar saber mais e melhor sobre a educação como um todo, sobre gestão e a organização escolar e sobre o processo educativo em particular. Para ambos, professores e diretores, além dos demais profissionais da educação, as oportunidades de formação continuada devem constantemente ser buscadas pelos próprios profissionais, mas devem, antes de tudo, ser asseguradas pelo sistema ou rede de ensino. Tendo destacado alguns dos aspectos concernentes ao contexto de trabalho do diretor escolar, iniciamos a apresentação da Matriz pela definição de “Competências” adotada neste trabalho. Breves notas sobre a noção de Competências Tanto a literatura especializada, quanto as peças normativas, passando pelos currículos dos programas de formação inicial e continuada e, ainda, a própria prática cotidiana nas escolas, redes e sistemas de ensino, têm formas distintas de compreender a ideia de Competências, inclusive na perspectiva terminológica, alcançando variações que vão de atribuições, responsabilidades, funções, padrões, habilidades, fatores, etc. 117 Reconhecendo que as palavras ganham significados distintos a depender do contexto da comunicação e das pessoas envolvidas, vimos como necessário discutir, ainda que brevemente, a noção de Competências que utilizamos nesta matriz. Inicialmente, tratando do mundo corporativo, ALLES (2002) discute a instituição e o exercício de uma “gestão por competências” e de uma “avaliação por competências”. A autora opta pela definição de SPENCER e SPENCER (1992, apud ALLES, 2002, p.78, nossa tradução): “competência é uma característica subjacente ao indivíduo que está casualmente relacionada com um padrão de efetividade e/ou a uma performance superior em um trabalho ou situação.”. De acordo com os mesmos autores, as Competências podem ser de cinco tipos: Motivação, Características, Autoconceito, Conhecimento e Habilidades. Na literatura francesa sobre o tema, LEVY-LEBOYER (1992, apud ALLES 2002, p. 84) define Competênciascomo: “uma série de comportamentos que certas pessoas possuem mais que outras, que as transformam em mais eficazes para uma situação dada”. A autora apresenta uma lista de Competências que seriam universais em quatro grandes áreas: Intelectuais, Interpessoais, Adaptabilidade e Orientação a resultados. Outra autora francesa, JOLIS (1998, apud ALLES, 2002) destaca que as Competências são diferentes entre si, mas se correlacionam, e as agrupa em quatro tipos: Teóricas, Práticas, Sociais e de Conhecimento. Entendendo que as três primeiras convergem no último tipo. Aplicando a proposta de escalas de Competências de ALLES (2002) no campo educacional, VILELA-TROVINO e TORRES-ARCADIA (2015) propõem um modelo para avaliação de diretores escolares para o contexto mexicano. Também em referência à definição de Competências para o trabalho de diretores escolares, a Universidade de Virgínia, nos EUA, produziu o documento “Using competencies to improve school turnaround principal success” (STEINER; HASSEL, 2011), “Usando competências para melhorar o sucesso de diretor escolares em recuperação” em português, com tradução livre. O documento utiliza a mesma definição de Competências de SPENCER e SPENCER citada por ALLES (2002). STEINER e HASSEL (2011) destacam a importância de se conhecer os tipos e níveis de Competências esperados para o trabalho de diretor escolar e para o sucesso do 118 trabalho na escola, especialmente para a garantia da aprendizagem de seus estudantes. De acordo com STEINER e HASSEL (2011), as Competências definidas a partir de evidências ajudariam não só a selecionar diretores de forma mais adequada, mas também a avaliá-los e ajudá-los a melhorar onde precisam. Na literatura educacional nacional, MARINHO-RABELO e ARAÚJO (2015, p. 448) propõem: Compreender a noção de competência em uma dimensão ampla, contemplando não só aspectos racionais, cognitivos ou mentais, mas também processos intersubjetivos, afetivos, socioculturais, torna-se premente em um cenário no qual as subjetividades perpassam processos educativos e por eles são transformados. Os autores destacam que atualmente, com mais ênfase nas organizações e empresas, “o termo competência foi sendo associado a uma variedade de atributos como capacidades, aptidões, qualificações que seriam adequados e esperados à execução de determinadas atividades profissionais” (MARINHO-RABELO e ARAÚJO, 2015, p. 449). Os autores criticam a tendência ao termo ser aplicado para se referir ou definir atributos pessoais e individuais, sem levar em conta a coletividade e contexto em que são construídos. Assim, estudos mais recentes têm indicado que o desenvolvimento/manifestação de Competências envolve mais do que conhecimentos e habilidades, mas também recursos subjetivos “entendidos tanto como capacidades cognitivas, afetos, desejos quanto saberes, conceitos, posturas, atitudes” (MARINHO-RABELO e ARAÚJO, 2015, p. 450). Assim, ser competente caracteriza-se por, diante de uma situação- problema, mobilizar esses recursos, comportamentos e conhecimentos disponíveis e articulá-los aos pontos críticos identificados, para que seja possível tomar decisões e fazer encaminhamentos adequados e úteis ao enfrentamento da situação (ARAUJO, 2003, apud MARINHO-RABELO e ARAÚJO, 2015, p. 451). Ao tratar especificamente sobre a construção de Matrizes de Referência para a avaliação de Competências, MARINHO-RABELO e ARAÚJO (2015) destacam que, operacionalmente, esta matriz deve ser construída tendo como base fundamental o perfil de formação esperado. O perfil pode ser elaborado a partir da literatura ou de análises, estudos e categorizações originadas em documentos, projetos, legislação. 119 Entrevistas, observações e outras metodologias podem também subsidiar a construção do perfil (MARINHO-RABELO e ARAÚJO, 2015, p. 458). Tais leituras são fundamentais para uma compreensão crítica do conceito e seu uso apropriado. Neste documento, entendemos a direção escolar como uma função3 “de coordenação político-pedagógica e institucional [...] da escola. Normalmente, é desempenhada por um profissional da educação [...]” (GOUVEIA & SOUZA, 2010, p. 175), cujas responsabilidades demandam Competências que se traduzem em um conjunto de conhecimentos, de habilidades e de atitudes que geram impactos no trabalho do diretor e na condução da gestão escolar. Estas Competências possibilitam desempenhos profissionais compatíveis com as necessidades educacionais da escola, na garantia do direito à educação para todos, conforme art. 205 da Constituição Federal de 1988. Elas incluem o domínio de conceitos e procedimentos, habilidades práticas, cognitivas e socioemocionais e, ainda, atitudes e procedimentos direcionados à coordenação geral da escola. Portanto, adotamos o termo Competências na produção desta Matriz considerando sua característica multidimensional, que abrange as dimensões citadas acima que são reconhecidas através de práticas e ações profissionais. Cabe destacar a natureza “inter-relacional” e interdependente das dimensões considerando que algumas práticas e ações transitam entre mais de uma dimensão. Este documento propõe um desenho da Matriz de Competências em quadros que expressam quatro dimensões, nos quais as Competências são listadas, descritas e correlacionadas às atribuições, práticas e ações esperadas. Tais dimensões estão organizadas em blocos que sinalizam aspectos do contexto institucional e político da escola; da função pedagógica, elemento central na escola; dos aspectos administrativos e financeiros da gestão escolar; das Competências pessoais e relacionais do diretor. A ordem de organização das dimensões não foi aleatória. Iniciamos apresentando a dimensão Político-Institucional considerando a instituição escola 3 A direção escolar, na esfera pública brasileira, é tratada como um cargo ou como uma função. Essa questão tem um componente legal e é evidentemente complexa, pois se localiza no centro das discussões sobre a (in)constitucionalidade da legislação sobre os processos de escolha de diretores. Em nosso entendimento, ela se configura mais como uma função do que como um cargo. 120 em seu papel social, dando relevância às competências do diretor na liderança da escola na direção da garantia do direito fundamental à educação. Em seguida, apresentamos a dimensão Pedagógica, destacando a função primeira e específica da escola e considerando o papel do diretor na efetivação de aprendizagens de qualidade. Na sequência, apresentamos a dimensão Administrativo-Financeira, abordando os requisitos técnicos e operacionais que viabilizam a realização do trabalho escolar. Por fim, a dimensão das competências Pessoais e Relacionais, definindo, mais do que um perfil esperado, uma referência de atitudes e posicionamentos que favorecem o trabalho do diretor escolar. REFERÊNCIAS ALLES, M. Desempeño por competencias: Evaluación de 360º. Buenos Aires: Granica, 2002. BOLÍVAR, A. La planificación por competencias en la reforma de Bolonia de la educación superior: un análisis crítico. ETD - Educação Temática Digital, Campinas, SP, v. 9, p. 68-94, 2008. DOI: 10.20396/etd.v9in.esp.728. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/etd/article/view/728. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: texto constitucional promulgado em 5 de outubro de 1988, com as alterações adotadas pelas emendas constitucionais nos 1/1992 a 108/2020. Brasília: Palácio do Planalto. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. 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Constituir espaços coletivos de participação, tomada de decisões, planejamento e avaliação. Ampliar a participação dos sujeitos da escola, incentivando, valorizando e dando visibilidade à participação nos espaços institucionais, enquanto canais de informação, diálogo e troca abertos a toda a comunidade escolar. Garantir pleno acesso às informações sobre as atividades, ocorrências e desafios da escola para as pessoas que trabalham, estudam ou têm seus filhos/tutelados na escola. Ter a democracia como eixo fundamental da ação da escola, tanto em seus princípios, quanto metodologicamente, incluindo as questão de ensino- aprendizagem e de garantia do direito à educação. Incentivar e apoiar os colegiados da escola, inclusive a organização estudantil, quando couber. Estabelecer mecanismos de elaboração, consulta e validação do projeto político-pedagógico da escola, junto à comunidade escolar. Garantir a publicidade nas prestações de contas e disponibilizar informações, tomando a iniciativa de tornar públicos os documentos de interesse coletivo, ainda que não solicitados. Prestar aos pais ou responsáveis informações sobre a gestão da escola e sobre a aprendizagem e o desenvolvimento dos estudantes. Realizar avaliação institucional, com a participação de todos os segmentos da comunidade escolar. 126 A. DIMENSÃO POLÍTICO-INSTITUCIONAL Competências Descrição Atribuições/Práticas/Ações esperadas A.4) Responsabilizar- se pela escola O diretor é o responsável geral pela escola, garantindo as condições de funcionamento adequado à sua função social. Representar a escola no plano interno e externo. Zelar pelo direito à educação e à proteção integral da criança e do adolescente. Promover estratégias de monitoramento da permanência dos estudantes. Cumprir e fazer cumprir a legislação vigente, o Regimento Escolar e o calendário escolar. Produzir ou supervisionar a produção e atualização de relatórios, registros e outros documentos sobre a memória da escola e das ações realizadas. A.5) Relacionar-se com a administração do sistema/rede de ensino O diretor deve relacionar-se articuladamente com as instâncias de administração do sistema/rede de ensino, bem como com outras instituições e instâncias que mantêm algum grau de relacionamento com o desenvolvimento das funções da escola. Contribuir para a integração e funcionalidade da escola no âmbito da rede de ensino. Zelar pela fidedignidade dos dados e informações fornecidas ao sistema/rede de ensino. Conhecer a legislação concernente à educação, e pautar-se por ela nas relações com a administração do sistema/rede de ensino. Atuar em consonância com a política educacional. A.6) Coordenar as ações que promovem a segurança na escola O diretor deve zelar pela segurança e pela integridade física, psicológica e moral das pessoas que trabalham e estudam na escola. Desenvolver mecanismos para prevenção a todas as formas de violência. Manter articulação com as instituições da rede de proteção à criança e ao adolescente. Implementar as disposições legais relativas à segurança do estabelecimento de ensino. Divulgar instruções de segurança, zelando para sua efetiva compreensão e promovendo a corresponsabilidade dos agentes escolares nesse âmbito. Realizar ações preventivas relacionadas à segurança de todos e da escola. A.7) Desenvolver uma visão sistêmica e estratégica O diretor precisa ser capaz de pensar a escola de forma sistêmica, criativa e antecipatória, analisar contextos emergentes, tendências e aspectos- chave para determinar suas implicações e Conhecer e analisar o contexto local, político, social e cultural, sabendo que esse terá impacto na sua atividade. 127 A. DIMENSÃO POLÍTICO-INSTITUCIONAL Competências Descrição Atribuições/Práticas/Ações esperadas possíveis resultados em uma perspectiva local e global. Conduzir a criação e o compartilhamento da visão estratégica, ethos e objetivos para o estabelecimento de metas para a comunidade escolar que considere altas expectativas de aprendizagem para todos. Desenvolver raciocínio estratégico para o planejamento escolar. Elaborar e colocar em ação um Plano de Gestão alinhado ao Projeto Político- Pedagógico. Promover avaliação da gestão escolar de forma participativa, adequando e aprimorando estratégias e planos de ações. B. DIMENSÃO PEDAGÓGICA Competências Descrição Atribuições/Práticas/Ações esperadas B.1) Focalizar seu trabalho no compromisso com o ensino e a aprendizagem na escola O diretor tem a responsabilidade fundamental no desenvolvimento de uma cultura de ensino- aprendizagem eficaz e efetiva, realizando os objetivos acadêmicos e educacionais da escola. Cabe a ele liderar, coordenar e conduzir o trabalho coletivo e colaborativo para garantir a qualidade do ensino e da aprendizagem dos estudantes em todos os aspectos de seu desenvolvimento. Conhecer as características pedagógicas próprias das etapas e modalidades de ensino que a escola oferece. Incentivar práticas pedagógicas ligadas à melhoria da aprendizagem nas etapas e modalidades de ensino ofertadas, bem como sua disseminação. Conhecer a Base Nacional Comum Curricular para as etapas e modalidades de ensino ofertadas na escola. Conhecer os fatores internos e externos à escola que afetam e influenciam a aprendizagem dos estudantes. Coordenar a construção de consensos – especialmente do corpo docente – em torno de expectativas altas e equânimes da aprendizagem para toda a escola. Incentivar e apoiar a formação continuada do corpo docente da escola, focalizada no ensino e aprendizagem de qualidade. B.2) Conduzir o planejamento pedagógico O diretor promove, lidera e articula a construção coletiva da proposta pedagógica e do plano de gestão da escola. Conduzir a elaboração de uma proposta pedagógica colaborativa e consistente para a escola. 128 B. DIMENSÃO PEDAGÓGICA Competências Descrição Atribuições/Práticas/Ações esperadas Coordenar e participar da criação de estratégias de acompanhamento e avaliação permanente do aprendizado e do desenvolvimento integral dos estudantes. Garantir a centralidade do compromisso de todos com a aprendizagem, como concretização do direito à educação com equidade. Assegurar um calendário de reuniões pedagógicas, mobilizando todos em direção à participação e ao compartilhamento de objetivos e responsabilidades. B.3) Apoiar as pessoas diretamente envolvidas no ensino e na aprendizagem O diretor deve garantir apoio e formação continuada para os professores e empenhar-se na busca de condições adequadas para o ensino- aprendizagem. Cabe ao diretor também estimular a avaliação continuada das atividades docentes e de suas eventuais necessidades de formação. Coordenar estratégias para assegurar a aprendizagem e o desenvolvimento de todos os estudantes. Prover, com apoio do sistema/rede de ensino, as condições necessárias para o atendimento aos estudantes com necessidades especiais, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação. Propor e incentivar estratégias para o desenvolvimento do projeto de vida dos estudantes, valorizando a importância da escola nas suas escolhas e trajetórias, quando couber. Garantir, na rotina da escola, momentos de troca, planejamento e avaliação entre os professores. Criar estratégias para encorajar o envolvimento dos pais ou responsáveis no processo de aprendizagem e desenvolvimento dos estudantes. B.4) Coordenar a gestão curricular e os métodos de aprendizagem e avaliação O diretor e a equipe técnico-pedagógica coordenam a implementação geral das Bases Curriculares e dos programas de estudos e monitoram a aprendizagem dos estudantes. Esse aspecto da gestão pedagógica da escola deve searticular com o compromisso com os processos democráticos e participativos internos, no sentido Coordenar a equipe técnico-pedagógica para definir as diretrizes pedagógicas comuns e a estratégia de implementação efetiva do currículo em colaboração com o corpo docente. Apoiar os professores, junto com a equipe técnico-pedagógica, na condução das aulas e na elaboração de materiais pedagógicos. Apoiar a implementação do currículo, metodologias de ensino e formas de avaliação para promover a aprendizagem. 129 B. DIMENSÃO PEDAGÓGICA Competências Descrição Atribuições/Práticas/Ações esperadas do desenvolvimento de uma comunidade de aprendizagem. Promover estratégias de acompanhamento e avaliação do ensino- aprendizagem prevendo sempre a colaboração dos docentes e a transparência dos processos também para estudantes e seus pais. Conhecer, divulgar e monitorar os indicadores de desempenho acadêmico dos estudantes em avaliações de larga escala e internas, as taxas de abandono e reprovação. Utilizar os dados de desempenho e fluxo da escola na orientação e planejamento pedagógico em colaboração com os demais agentes escolares, em particular o corpo docente. B.5) Promover um clima propício ao desenvolvimento educacional O diretor deve assegurar na escola um ambiente educativo de respeito às diferenças, acolhedor e positivo, apoiado em valores democráticos, como condição de promoção da aprendizagem, do desenvolvimento e do bem-estar dos estudantes, contribuindo significativamente para reduzir as desigualdades educacionais. Desenvolver ação formativa na convicção de que todos os estudantes podem aprender e incentivar atitudes e comportamentos progressivamente responsáveis e solidários. Desenvolver habilidades de resolução de conflitos e construção de consensos com todos os agentes escolares. Desenvolver estratégias com educadores e famílias, discutindo e buscando caminhos seguros para evitar comportamentos de risco entre os estudantes. Promover e exigir um ambiente de respeito, colaboração e solidariedade entre todos os membros da comunidade escolar. Prevenir qualquer tipo de preconceito e discriminação. Definir rotinas e procedimentos organizacionais para facilitar o desenvolvimento das atividades pedagógicas. Garantir o cumprimento das regras e princípios de convivência, com vistas à promoção de um clima propício ao desenvolvimento educacional. Promover medidas de conscientização, de prevenção e de combate à intimidação sistemática (bullying e formas especificas de assédio) na escola. B.6) Desenvolver a inclusão, a equidade, a aprendizagem ao longo da vida e a O diretor deve ampliar seu conhecimento sobre inclusão, equidade, aprendizagem ao longo da vida e as estratégias para promovê-los, bem como a compreensão das políticas educacionais nesta matéria, como condição para garantir o Garantir um ambiente escolar propício e o efetivo acesso de todos às oportunidades educacionais promovendo o sucesso acadêmico e o bem-estar de cada estudante. Garantir experiências de ensino adequadas para estudantes com necessidades educacionais específicas, sua inclusão nos processos de aprendizagem, sua participação no contexto da escola e o máximo desenvolvimento das suas 130 B. DIMENSÃO PEDAGÓGICA Competências Descrição Atribuições/Práticas/Ações esperadas cultura colaborativa desenvolvimento equânime e a aprendizagem integral de todos os estudantes. potencialidades, bem como o acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um. Garantir e acompanhar o desenvolvimento dos Planos de Ensino Individualizado - PEI adequados aos estudantes com necessidades educacionais especiais. C. DIMENSÃO ADMINISTRATIVO-FINANCEIRA Competências Descrição Atribuições/Práticas/Ações esperadas C.1) Coordenar as atividades administrativas da escola O diretor assina a documentação, de acordo com os dispositivos legais do sistema/rede de ensino, relativa à vida escolar dos estudantes, bem como assina declarações, ofícios e outros documentos, responsabilizando-se pela sua atualização, expedição, legalidade e autenticidade. O diretor deve saber utilizar novas tecnologias de informação e comunicação, enquanto recursos importantes para a gestão escolar. Conhecer princípios e práticas de desenvolvimento organizacional da escola. Coordenar a matrícula na unidade escolar, com transparência e impessoalidade. Acompanhar e monitorar os processos de vida funcional dos trabalhadores da educação e a vida escolar dos estudantes. Elaborar com a equipe e comunidade, respeitando as regras do sistema/rede de ensino, os horários e rotinas de funcionamento da escola e garantir seu cumprimento por todos. Supervisionar o fornecimento da alimentação escolar, do transporte escolar e demais serviços prestados à escola, quando couber. Utilizar ferramentas tecnológicas e aplicativos que promovam uma melhor gestão escolar, tanto no planejamento e uso dos recursos, quanto na prestação de contas. C.2) Zelar pelo patrimônio e pelos espaços físicos O diretor se responsabiliza pela manutenção e conservação do espaço físico, pela segurança do patrimônio escolar e pela manutenção atualizada do tombamento dos bens públicos sob a guarda da instituição que dirige. Garantir ou cobrar dos canais competentes que os serviços, materiais e patrimônios sejam adequados e suficientes às necessidades das ações e dos projetos da escola. Coordenar a utilização dos ambientes e patrimônios da escola. 131 C. DIMENSÃO ADMINISTRATIVO-FINANCEIRA Competências Descrição Atribuições/Práticas/Ações esperadas Elaborar orientações sobre os usos dos espaços, dos equipamentos e dos materiais da escola de acordo com o Projeto Político-Pedagógico. C.3) Coordenar as equipes de trabalho O diretor escolar organiza o quadro de pessoal da escola com a devida distribuição de funções, construindo coletivamente critérios de atribuições de turmas aos docentes, priorizando as necessidades dos estudantes. Acompanha o desenvolvimento profissional e estimula o comprometimento das pessoas e das equipes. Conduz o trabalho de forma colaborativa com a equipe, promovendo sua motivação, proatividade, resiliência, sensibilidade e ética. Trabalhar em equipe. Delegar atribuições e dividir responsabilidades. Motivar a equipe com foco em melhorias e resultados. Coordenar e articular professores e funcionários em equipes de trabalho com compromisso, objetivos e metas comuns, previamente discutidos e acordados. Definir com a equipe de gestão e sem perder de vista o projeto político- pedagógico, critérios de distribuição de professores e estudantes nas turmas e séries/anos, considerando as definições legais locais quando for o caso. Identificar soluções para os problemas detectados em diálogo e acordo com os profissionais da escola. Controlar a frequência dos profissionais da escola. Monitorar e comunicar às instâncias superiores a necessidade de substituições temporárias ou definitivas de docentes e demais profissionais da escola, evitando o prejuízo para as atividades letivas e escolares. Aplicar ou coordenar a aplicação, quando couber, de sanções disciplinares regimentais a professores, servidores e estudantes, garantindo amplo direito de defesa. Conduzir a avaliação de desempenho da equipe, dando retorno aos avaliados e discutindo os aspectos coletivos nas instâncias participativas, como o conselho escolar. Instituir ações de reconhecimento e valorização dos profissionais da escola. Criar condições para a viabilização da formação continuada dos profissionais da escola. 132 C. DIMENSÃO ADMINISTRATIVO-FINANCEIRA Competências Descrição Atribuições/Práticas/Ações esperadas C.4) Gerir, junto com as instâncias constituídas, os recursos financeiros da escolaO diretor se responsabiliza pela administração financeira e pela prestação de contas dos recursos materiais e financeiros recebidos. Deve incentivar a participação da comunidade, na indicação de elementos que possam tornar o plano de aplicação de recursos financeiros consistente com os anseios da comunidade e do projeto político-pedagógico da escola. Informar-se sobre legislações e normas referentes ao uso e à prestação de contas dos recursos financeiros da escola. Elaborar orçamentos com base nas necessidades da escola, monitorar as despesas e registros, de acordo com as normas vigentes e com a participação do Conselho Escolar. Elaborar com o Conselho Escolar, planos de aplicação dos recursos financeiros e prestação de contas, divulgando à comunidade escolar de forma transparente e efetiva os balancetes fiscais. Manter dados e cadastros da escola devidamente atualizados junto aos órgãos oficiais para recebimento de recursos financeiros. Identificar, conhecer e buscar programas e projetos que oferecem recursos materiais e financeiros para a escola. D. DIMENSÃO PESSOAL & RELACIONAL Competências Descrição Atribuições/Práticas/Ações esperadas D.1) Cuidar e apoiar as pessoas O diretor escolar promove e constrói respeito e confiança por meio de seu comportamento ético, promovendo relacionamentos positivos e uma colaboração efetiva entre os membros da comunidade escolar. Inspira confiança, devido à sua capacidade de ser profissionalmente imparcial, justo e respeitoso. Comprometer-se com a aprendizagem e o bem-estar dos estudantes. Promover a convivência escolar respeitosa e solidária. Acionar as instituições da rede de apoio e proteção à criança e ao adolescente, sempre que necessário. D.2) Agir democraticamente O diretor deve ser o principal promotor do diálogo na comunidade escolar, onde a escuta e o incentivo à conversa com todos são decisivos para um projeto educativo democrático e de qualidade. Propor a constituição ou ampliação dos espaços e momentos de diálogo na escola, encorajando as pessoas a apresentarem seus pontos de vista, ideias e concepções sobre a escola e o trabalho pedagógico. 133 D. DIMENSÃO PESSOAL & RELACIONAL Competências Descrição Atribuições/Práticas/Ações esperadas Estimular a participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto político-pedagógico da escola, bem como a participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares. D.3) Desenvolver alteridade, empatia e respeito as pessoas O diretor deve respeitar e promover o respeito mútuo entre os agentes escolares e da comunidade, em relações de alteridade e empatia. Assegurar o respeito aos direitos, opiniões e crenças entre a equipe de gestão, os estudantes, seus familiares e os profissionais da educação que atuam na escola. Tratar todos de forma equitativa e com respeito. Valorizar a cultura de sua comunidade. D.4) Agir orientado por princípios éticos, com equidade e justiça O diretor orienta sua atuação pela ética, integridade, transparência, imparcialidade e justiça, garantindo o respeito ao direito à educação e em favor da superação das desigualdades educacionais, com ênfase na promoção da cidadania. Fazer cumprir as normas e regras da escola, de forma justa e consequente, no sentido de garantir o direito à educação para todos. Agir com transparência e imparcialidade no cotidiano da escola. Buscar a superação das desigualdades educacionais. Garantir o respeito ao direito à educação, com ênfase na promoção da cidadania. Pautar suas ações pela ética profissional. D.5) Saber comunicar-se e lidar com conflitos O diretor busca sempre a melhor forma de se expressar. Busca compreender a origem dos problemas e conflitos, mediando a construção de soluções alternativas em diálogo com todas as partes interessadas, mostrando capacidade de escuta ativa e argumentação. Estabelecer formas de comunicação claras e eficazes com todos, articulando argumentos conectados ao contexto e consistentes com sua responsabilidade à frente da escola. Usar a comunicação e o diálogo lidando com as situações e conflitos no cotidiano escolar e educacional. Mediar crises ou conflitos interpessoais na escola. D.6) Ser proativo O diretor precisa ter capacidade de atuar nas mais diversas circunstâncias, buscando soluções adequadas, oportunas e inovadoras, contextualizadas, demonstrando talento criativo e proatividade. Lidar com situações e problemas inesperados e discernir como poderá enfrenta-los e os caminhos para encontrar os recursos necessários. Analisar o contexto, identificar problemas ou ameaças possíveis e agir de forma antecipada e preventiva. 134 D. DIMENSÃO PESSOAL & RELACIONAL Competências Descrição Atribuições/Práticas/Ações esperadas Considerar no plano de gestão a necessidade de adequação de estratégias às diferentes situações e desafios do contexto. D.7) Comprometer-se com o seu desenvolvimento profissional O diretor escolar busca ampliar e atualizar seus conhecimentos gerais e especialmente sobre a educação, a escola, seus sujeitos e processos. Ter predisposição para o estudo e o desejo de melhoria constante, planejando e buscando momentos de qualificação profissional. Avaliar continuamente, corrigir e aperfeiçoar seu próprio trabalho. 135 ADQUIRA AGORA MESMO SEU CERTIFICADO DE 120H RECONHECIDO o �� ,� ' • mais dentro da escola uma ação partidária, unilateral e autocrática por parte do gestor. Busca-se a descentralização do trabalho de uma redefinição de papeis a fim de proporcionar resultados satisfatórios às pessoas que praticam par consolidar uma ação progressista no desenvolvimento de todas as atividades dentro da escola. Com isso a atuação do gestor é decisiva para o dinamismo da escola, uma vez que a mesma não pode afastar-se da realidade e desvincular-se do meio. Longe de desempenhar uma função meramente burocrática, cabe ao gestor estabelecer um relacionamento entre meios e fins para equacionar, na escola problemas educacionais e administrativos. Ao gestor compete envolver o grupo que dirige não só na execução, mas também no planejamento ou programação, e na avaliação das atividades 016 desenvolvidas. Assim, o gestor deve promover uma criação de ambiente favorável para a autorrealização do seu pessoal, designando-os para funções que permitam a utilização do seu potencial. É nessa perspectiva que deve pautar a condução do planejamento participativo por parte do gestor, buscando sempre o envolvimento dos diversos segmentos que compõem a comunidade escolar a opinar, planejar, avaliar, e programar a proposta de educação a ser efetivada na escola, ampliando-se, assim, a possibilidade de sucesso do referido planejamento. No entanto, tal planejamento não pode se reduzir em uma simples integração escola-famíla-comunidade e, sim, visar a realização das pessoas envolvidas em todo o processo e, por conseguinte, a transformação da comunidade na qual a escola está inserida. A figura do gestor escolar, neste processo de planejamento, é de grande importância, pois cabe ao gestor escolar dar esclarecimentos teóricos a toda comunidade no que diz respeito ao planejar coletivamente, incentivar as potencialidades para se tornarem ações criativas e inovadoras e garantir o diálogo no processo, a fim de que todas as decisões sejam de acordo com a realidade escolar. Assim, torna-se possível uma educação mais humana e democrática. A existência da liberdade, do respeito, da fraternidade e companheirismo no processo de planejamento participativo são fatores preponderantes para a realização de uma ação conjunta e coerente. Por conseguinte, atingiremos a conscientização, sendo esta a melhor maneira de conseguir mudanças de atitudes, com relação a inúmeras ideologias impostas pelo sistema dominante, pois caso contrário, permaneceria a comunidade com a visão alienada em que vive. Como já tive experiência em direção escolar sei que promover um clima favorável e manter o interesse da comunidade escolar não são tarefas fáceis. No entanto, de uma ou outra forma. O gestor é desafiado a desenvolver situações que permitam o encontro e o diálogo. Haja vista que, muitas vezes, na própria escola há pessoas que participam da realização do trabalho apenas por obrigação ou que visam somente a garantia de permanêcia no emprego, ao invés de compartilharem objetivos, valores, crenças, expectativas comuns, embora estejam unidas por uma dependência recíproca. Sem contar com aqueles que, só por estarem presentes em determinados momentos, já acham que estão participando. Dalmás (1994, p. 45) destaca a questão do clima escolar: 017 Em uma escola não pode haver hostilidade, individualismo, irresponsabilidade e omissões, pois este clima compromete o andamento do planejamento participativo. Em contrapartida, um ambiente de acolhida, aceitação mútua e interesse um pelo outro, proporcionam um clima favorável ao trabalho coletivo, compartilhado e democrático. Desta forma para que haja de fato um processo participativo é necessário que haja responsabilidade nas etapas de elaboração e execução do planejamento. Tal participação no processo global de planejamento repercutirá na vida da escola, modificando relações e influenciando positivamente o processo de tomada de decisões. Ainda no decorrer da construção coletiva do planejamento, reafirma-se a necessidade da democratização das decisões e da própria gestão escolar. Com isso, vemos o quanto é necessário que tal ação democrática seja provocada, procurada e aprendida por todos, uma vez que a gestão democrática possibilita o caráter mais humano voltado para o aluno e para o seu bem estar, objetivando a qualidade do ensino. Fica claro que esse caminho deve ser trilhado e descoberto por cada escola, e a mesma precisa despertar para o que assegura e regulamenta a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, 9394/96, que, no artigo 14, apresenta os seguintes princípios: Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios: I - participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola; II - participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes. Assim, percebe-se que se torna necessária e imprescindível a participação dos professores e especialistas na elaboração do projeto pedagógico da escola, na perspectiva de que as decisões antes centralizadas no gestor cedem lugar a um processo de resgate da efetiva função social de um trabalho de construção coletiva entre todos os agentes da escola e, destes, com a comunidade. De certa forma, até o estatuto da criança e do adolescente lei nº 8069/90, procura apoiar a gestão participativa na escola, quando reforça a ideia da participação das crianças e adolescentes na tomada de decisão no que diz respeito à sua vida e de seu direito a liberdade de opiniões e expressão, atribuindo também o 018 direito aos pais ou responsáveis de estarem a par do processo pedagógico, bem como participar da definição das propostas educacionais. Com efeito, verificamos que a partir do momento que se concebe uma escola diferente, ou seja, saindo de uma estrutura antiga de administração centralizadora para uma descentralização de poder, assumida pela postura revolucionária do gestor. Agindo desta maneira, o gestor estará contribuindo na formação do tipo de indivíduo ideal para interagir na sociedade, capaz se opinar, avaliar e socializar as decisões. A gestão democrática representa uma nova forma de administração, que rompe com a concepção de organização burocrática, assumindo a concepção de administração compartilhada e integrada totalmente à esfera pedagógica, com a finalidade maior de desenvolver um ensino e aprendizagem que possa compor a vida do educando em todos os aspectos. Pressupondo um trabalho coletivo e compartilhado, em que os envolvidos sintam-se à vontade e comprometidos com as ações educativas. Com isso, integra-se escola e comunidade, permitindo que todos os membros participem, contribuindo assim para a construção do trabalho educativo. Enfim, a gestão democrática significa a conquista da autonomia por parte do aluno, da escola, da família e da comunidade. Daí, a vantagem de uma gestão escolar participativa, pois as decisões tomadas coletivamente não se referem apenas na ótica de democratizar a escola internamente, mas também fortalecer a unidade escolar externamente. 019 CAPITULO 3 Caminho metodológico e análise das Informações A fundamentação teórica deste estudo teve como base o uso da abordagem qualitativa porque esta busca conhecer os significados da ação pedagógica no cotidiano das pessoas que ali convivem durante a realização de atividades na escola. Assim de acordo com Minayo (2001) ela responde a questões muito particulares, ao se preocupar com um nível de realidade que não pode ser quantificado, de modo a garantir a sua subjetividade. Na mesma direção que Demo (2005) entende a pesquisa qualitativa ao dizer que ela “caracteriza-se pela abertura de perguntas, rejeitando-se toda resposta fechada, dicotômica, fatal. Mais do que o aprofundamento por análise(...) busca o aprofundamento por familiaridade, convivência, comunicação”. O autor destaca: Fenômenos qualitativos caracterizam-se por marcas como profundidade, plenitude, realização, o que aponta para sua perspectiva mais verticalizada do que horizontalizada. No contraponto, aparecem fenômenos que primam pela mera extensão, rotina, repetição, superficialidade, trivialidade. A qualidade aponta para o “melhor”, não para o “maior” (DEMO, 2005, p.146). Utilizou-se do estudo de caso como modalidade do fazer investigativo, o qual delimita o contexto, tornando-o particular e representativo de uma prática a ser estudada e aprofundada. O estudo de caso se integra aos interesses deste trabalho por se tratar de um aprofundamento no contexto especifico em que se originam as questões levantadas da temática proposta. Além disso, deixa transparente a preocupação com o processo vivido pelos gestores, sujeitos deste trabalho de especialização, numa visão de totalidade e contradição. Algumas das características fundamentais do estudo de caso são identificadas por Lüdke e André (1986), as quais se resumem em um tipo de pesquisa que está sempre aberta a descoberta. Para coleta dos dados foram utilizados questionários semi-estruturados utilizando-se de questões abertas, as quais foram usadas no sentido de que o indivíduo fica à vontade para dialogar com o entrevistador. Em busca de compreender e analisar as responsabilidades e ações necessárias para o gestor atuar no cotidiano escolar escolheu-se duas gestoras que 020 assumem o cargo de diretoras; uma de escola particular e outra de escola pública municipal, ambas do município de Sarandi-RS. A escolha das mesmas se deu devido à atuação das duas profissionais no campo em estudo e pela disponibilidades das mesmas, sendo que a cidade de Sarandi não comporta muitas escolas limitando assim as escolhas. Após a coleta dos dados, os mesmos foram analisados. Analisar os dados significa trabalhar todo material obtido durante a elaboração desta monografia. É preciso que a análise não se restrinja ao que está explícito no material, mas procure ir mais a fundo, desvelando mensagens implícitas, dimensões contraditórias e temas sistematicamente “silenciosos” (Ludke e André, 1986). Para interpretar o texto na pesquisa qualitativa, Alves (1991, p.60) reforça: ...à medida que os dados são coletados, o pesquisador vai procurando tentativamente identificar temas e relações, construindo interpretações e gerando novas questões e ou aperfeiçoando as anteriores o que por sua vez o leva a buscar novos dados, complementares ou mais específicos que testem suas interpretações, num processo de “sintonia fina” que vai até a análise final. Para a interpretação dos questionários utilizou-se a análise de conteúdo, que segundo Bardin (1977) representa um conjunto de técnicas para analisar comunicações, que buscam desvendar através de procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicativos que possibilitem a inferência de conhecimentos relativos às condições de reais destas mensagens. Destaca ainda que, “enquanto esforço de interpretação, a análise de conteúdo oscila entre dois pólos: do rigor da objetividade à fecundidade da subjetividade” (BARDIN, 1977, p.9). Antes de adentrarmos especificamente na análise relacionada ao objetivo do estudo, apresento uma breve caracterização das escolas e dos participantes da pesquisa. A primeira escola visitada foi uma escola particular do município de Sarandi (RS) que atende alunos desde o maternal até a oitava série. A outra escola participante do estudo é uma escola pública municipal de educação infantil também do município de Sarandi (RS) que atende alunos de 0 a 5 anos de idade. Para não expor as escolas e suas diretoras respectivamente e também por questões éticas, seus nomes foram substituídos pelos seguintes: Escola Particular Margarida e sua diretora Sol, Escola Pública Municipal Rosa e sua diretora Lua. 021 A diretora Sol tem 43 anos de idade e 21 anos de trabalho no magistério, é formada em pedagogia, tem especialização em psicopedagogia e gestão escolar. Já está há 15 anos à frente da direção da escola particular Margarida. Hoje está cursando Administração de empresas o que, segundo ela, deverá auxiliar na ampliação da escola e organização administrativa da mesma. A escola conta hoje com 13 turmas do maternal até a oitava série contando com cerca de 350 alunos. A diretora Lua tem 36 anos dos quais 16 são dedicados ao magistério, é formada em pedagogia anos iniciais e há pouco tempo fez especialização em gestão escolar. Há dois anos que vem atuando como diretora e anteriormente trabalhou com a educação infantil em diversos níveis. A escola em que ela atua atende alunos em turno integral desde os 4 meses até os 5 anos de idade sendo estes distribuídos em 5 turmas e contando com cerca de 110 alunos. A atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), no título VI, dos profissionais da educação, trata especificamente do assunto em seu artigo 64: A formação de profissionais da educação para a administração, planejamento, inspeção, supervisão e orientação educacional, para a educação básica, será feita em cursos de graduação em Pedagogia ou em nível de pós-graduação, a critério da instituição de ensino, garantida, nesta formação, a base comum nacional. Posteriormente, pela Resolução CNE/CP nº 1/2006, foi regulamentada a referida formação. Diz o artigo 14: A Licenciatura em Pedagogia, nos termos dos Pareceres CNE/CP nos 5/2005 e 3/2006 e desta Resolução, assegura a formação de profissionais da educação prevista no artigo 64, em conformidade com o inciso VIII do artigo 3o da Lei no 9.394/96. § 1o – Esta formação profissional também poderá ser realizada em cursos de pós-graduação, especialmente estruturados para este fim e abertos a todos os licenciados. Desta forma, podemos afirmar que para ser gestor de escola hoje é indispensável que sua formação esteja ligada ao papel que desempenha então além da graduação faz-se necessário também uma especialização nesta área, pois os desafios enfrentados pela escola exigem maior preparo de sua gestão. Segundo as diretoras entrevistadas a especialização em gestão que elas fizeram auxiliou muito suas práticas cotidianas dentro da escola. 022 3.1 Responsabilidades e ações dos gestores escolares Quanto à tomada de decisões as duas participantes foram enfáticas em dizer que procuram sempre, em primeiro lugar, pensar no aluno para proporcionar a ele uma educação de qualidade. Sendo que na escola Margarida percebeu-se nas colocações da diretora Sol que as decisões em algumas ocasiões em sua escola estão atreladas aos desejos e anseios dos pais, limitando muitas vezes as ações dos professores. Na escola Rosa a diretora Lua não ofereceu maiores detalhes quanto a tomada de decisões nem a que interesses ela atende em primeiro lugar, somente frisou varias vezes que o aluno está em primeiro lugar ao ter que decidir sobre algo. Podemos relacionar o exposto por elas com o que Lück destaca sobre ética e transparência. “Aumentado-se o poder de decisão das pessoas, aumenta-se o poder de ação, de aprendizagem e de transformação das práticas e, portanto, o poder da educação” (Lück, 2008, p. 48). O gestor necessita ter consciência de que as ações que ele realiza na sua instituição escolar não limita-se a alunos, professores e demais funcionários internos da instituição. Uma equipe escolar participativa também é composta pelos pais dos alunos e por toda a comunidade de forma geral, que deve ser movimentada para que juntos possam promover o principal objetivo de todo grupo escolar: a aprendizagem dos alunos. Na questão do planejamento pedagógico, Sol destaca que, geralmente, os professores se reúnem e planejam juntos os projetos que serão trabalhados e que, há muita união e disposiçãopor parte dos professores Segundo ela “é um grupo muito unido, dinâmico e que desenvolve um excelente trabalho na escola”. A diretora Sol também destacou que sempre que possível está ofertando aos seus professores disponibilidade de participarem de cursos e encontros para que assim estejam em constante formação. De acordo então com Luce (2006, p. 182). Para que a escola seja de fato este local que contribui para o avanço profissional do educador, deve-se contar com uma direção que promova o intercambio entre os educadores e torne a escola um ambiente socializador sejam do saber e do fazer. Que as reuniões pedagógicas aconteçam e sejam o momento em que os docentes possam compartilhar suas pesquisas e descobertas. 023 Já na escola Rosa, Lua destacou que vem sentindo dificuldades para conseguir reunir seus professores e fazer com que eles socializem em grupo e planejem juntos, pois algumas professoras concursadas sentem-se asseguradas de seu cargo e, desta forma, não buscam participar e interagir com as demais colegas acomodam-se, criando assim um clima um pouco desconfortável. Além disso, a escolha da direção em escolas municipais neste município são cargos de confiança do prefeito o dificulta ainda mais esta interação devido às divergências políticas de cada uma. Mas, segundo Lua, ela vêm buscando amenizar essas diferenças e proporcionar ao seu corpo docente um ambiente de acolhida, favorável ao trabalho coletivo. O Gestor escolar deve agir como líder, utilizar-se de ações que auxiliem no progresso de todos que fazem parte de sua equipe. Um gestor escolar líder é capaz de desenvolver o potencial de trabalho de toda sua equipe, fazendo com que esta sinta-se capaz de transformar e realizar com sucesso todos os projetos desenvolvidos pela instituição de ensino. Para conduzir sua equipe o gestor competente necessita um propósito a ser concretizado e uma estratégia de ação para conquistar seus objetivos. Esse é o ponto de partida para que as ações da equipe escolar sejam bem sucedidas e quando uma de suas estratégias falha, o gestor educacional deve procurar incentivar sua equipe a descobrir o que é necessário fazer para dar um passo à diante. Ao falarmos sobre as ações e áreas prioritárias da gestão destas escolas, Sol destacou: “busco sempre em minhas ações dentro da escola dialogar e expressar-me com toda minha equipe, alunos e pais, além de procurar sempre agir com a razão e não somente com a emoção. Não tenho uma área prioritária somente busco gerir minha escola com competência para uma educação de qualidade aos meus alunos”. Sobre o que considera fundamental e indispensável nas ações de um gestor Wittmann (2006) destaca: O gestor competente deve desenvolver instrumentos que qualifiquem os processos e procedimentos da gestão escolar, identificar e compreender a função social de sua escola na comunidade em que está inserida, propor e coordenar a participação na elaboração do projeto pedagógico, envolver-se no processo a avaliação institucional e de aprendizagem, propiciar a estimulação e elaboração de projetos com a comunidade escolar, considerar na gestão da escola aspectos que tornem a aprendizagem dos alunos mais significativa, motivar as competências pessoais de professores e funcionários além de coordenar ações de valorização profissional. 024 A diretora Lua destaca: “as ações diárias que realizo na escola estão sempre voltadas aos educandos, proporcionado a eles uma educação de qualidade e para todos, busco também unir o educar e o cuidar, pois na faixa etária em que atuo estes dois termos tem que caminhar juntos. Acredito que hoje a minha área prioritária de atuação como gestora de escola seria criar um clima de mais companheirismo e comprometimento por parte dos professores para assim tornar a escola mais participativa e democrática”. Podemos relacionar o que a diretora Lua falou com o que Lück (2008, p. 63) nos diz: “quanto mais nos dedicamos a atuar em nosso meio participativamente, mais nos conduzimos para nossa realização como seres humanos.” Desta forma, a partir da implementação do processo de democratização nas escolas, como novo modelo paradigmático, é possível se conceber o movimento de descentralização da gestão escolar. O projeto Político pedagógico, por exemplo, é um item em cuja construção este exercício de democracia deveria e pode ser efetivado. Nesta perspectiva, o gestor escolar assume o papel de mediador das atividades gerais da escola, e nesse sentido passa a assumir um conjunto de responsabilidades a serem partilhadas com os diferentes segmentos da escola. Com relação às decisões tomadas referentes a problemas com os diversos segmentos escolares as duas afirmaram que procuram sempre dialogar com todos os envolvidos acalmar a situação e buscar de forma harmoniosa esclarecer fatos e encontrar a melhor forma de resolver a situação. De acordo com Sani (2009), é fundamental ao gestor a habilidade em gerenciar conflitos, pois toda instituição escolar, assim como qualquer outra instituição muitas vezes se depara com conflitos que podem ser ocasionados por fatores externos ou internos ao ambiente de trabalho. A maneira mais sensata de tomar decisões é saber dialogar, distinguir entre o que se sabe e o que se pensa que se sabe. É dialogando, realizando muitas perguntas e refletindo seriamente sobre a situação que iremos entender as coisas que nos rodeiam. Assim percebe-se que o gestor escolar necessita refletir bastante, ponderar e acima de tudo dialogar, pois somente assim suas ações serão eficazes e atendidas pela sua equipe escolar. Sobre essas relações de participação e integração com toda equipe e comunidade escolar as duas destacaram que geralmente são procuradas pelas famílias para alguma reclamação e desacordo com algo trabalhado pela escola e 025 que quando solicitada a participação da família na escola Margarida ela acontece de maneira mais satisfatória, pois uma minoria somente desperdiça a oportunidade de participar da educação de seu filho na escola. Podemos evidenciar assim que escola e família devem ter os mesmos objetivos: oportunizar o desenvolvimento das crianças em todos os aspectos e a terem sucesso na aprendizagem. Essa parceria é muito importante, para diminuir os índices de evasão e de violência e melhorar o rendimento das turmas de forma significativa. Na escola Rosa a participação dos pais é mínima, segundo Lua: “são sempre os mesmos que participam e na maioria delas os com menos “dificuldades” em casa. Acredito que um fato que talvez justifique a ausência dos pais é que a clientela da escola está distribuída por todos os bairros do município sendo que alguns ficam a uma distância muito grande da escola e como as reuniões ou apresentações acontece sempre à noite somente um pequeno número participa. Já tentamos realizar no turno diurno, mas aí esbarramos no trabalho diário dos pais”. Nota-se que, muitas vezes, a causa da abstenção dos pais na vida escolar dos filhos passa pelos seus horários de trabalho inflexíveis e desta forma acompanhar o percurso escolar do aluno, torna-se bastante difícil, nestas circunstâncias. É cada vez mais importante sensibilizar os pais para participarem ativamente na vida escolar dos seus filhos. A escola faz parte do quotidiano do aluno e os pais devem estar envolvidos em todo o processo de aprendizagem. Pode-se dizer que a escola é um prolongamento do lar, onde o aluno se socializa com os outros e partilha o seu dia-a-dia. Nogueira (1998) explica que a participação dos pais na vida escolar dos seus filhos, pode influenciar, de modo efetivo, o desenvolvimento escolar dos filhos. O envolvimento das famílias melhora o sentimento de ligação à comunidade. Este envolvimento Escola-Família contribuirá significativamente para uma educação de sucesso, com sucesso, para o sucesso. E, ao entrarmos no assunto da escolaparticipativa Sol destaca que o perfil do gestor democrático “é aquele que tem uma visão global do processo social, que divide e convida a participar toda comunidade escolar para ampliar a qualidade de ensino ofertada. Gestor democrático procura inovar e compartilhar sempre”. 026 Para Lua, a gestão participativa ou democrática é em muitas vezes deixada de lado pelo seu cargo ser político, e, desta forma, não poder realizar um trabalho mais compartilhado como gostaria. Mas que para ela é de fundamental importância a participação e o envolvimento de toda equipe e comunidade escolar. Entendemos desta forma que uma gestão democrática e participativa é aquela que se constitui como um espaço plural de partilha de poder e negociação de acordos e consensos. A gestão democrática é caracterizada como um processo em permanente construção, que tenha objetivos e práticas democráticas, com a existência de espaços e mecanismos que possibilitem a discussão entre os segmentos na conclusão dos rumos da escola de forma sustentável. De acordo com Demo (2001), a participação é conquista, e como tal não pode ser entendida como dádiva, concessão ou como algo pré-existente. Podemos entender então que a gestão participativa ou democrática é algo que se constrói continuamente pelos sujeitos que fazem parte do meio educativo. Portanto, com relação às dificuldades encontradas como gestoras até agora as duas apontaram que são em adaptação e organização do quadro de professores e funcionários principalmente na escola Rosa a qual segundo a diretora Lua depende muito do quadro de funcionários para poder gerir bem a escola, pois a idade das crianças é pequena necessitando então uma maior atenção e mais profissionais para trabalhar com elas, e também destacaram como dificuldade enfrentada a participação e envolvimento dos pais e comprometimento com o estudo por parte de alguns alunos segundo a diretora Sol. Ao finalizarmos as entrevistas as direções das duas escolas destacaram as possibilidades de transformar o cotidiano escolar como dirigente. A direção da escola Margarida coloca que busca sempre oferecer aos alunos um ensino de qualidade com profissionais qualificados e com amplo espaço físico e material diversificado para que haja verdadeiramente um ensino de qualidade e com futuros profissionais preparados para enfrentar sua vida social sem maiores dificuldades. A direção da escola Rosa destaca que busca sempre estar participando e se envolvendo com as atividades desenvolvidas pela escola a fim de conhecer o que se está trabalhando e desta forma poder direcionar e aprimorar o ensino ofertado em sua escola. 027 Monica Almeida destaca que o novo paradigma da administração escolar traz, junto com a autonomia, a ideia e a recomendação de gestão participativa, com responsabilidades compartilhadas pelas comunidades interna e externa da escola. Desta forma, a qualidade da educação nas escolas é interesse tanto da equipe escolar, quanto dos alunos e de suas famílias, enfim de toda comunidade inserida neste meio educativo. Portanto a sua melhoria depende da busca de harmonia da escola com ela mesma e com seus usuários. Uma escola de qualidade têm toda sua comunidade escolar unida, pensando e caminhando juntas, isto é democrática. Para finalizar esta análise trago uma citação de Heloisa Lück (2008) que vem sintetizar o exposto acima: “A participação que se fecha em si mesma constitui ativismo. A participação que se espraia por todas as dimensões do processo social na intenção de enriquecê-las, constitui-se em transformação. 028 CAPÍTULO 4 Conclusão No decorrer deste estudo, tivemos como propósito compreender e analisar as responsabilidades e ações necessárias para o gestor atuar no cotidiano escolar. Para tanto nos pautamos nas referências teóricas expostas ao longo do trabalho e na interlocução com as entrevistas realizadas. A investigação se apoiou em pressupostos teóricos que envolveram o tratamento de alguns conceitos: formação, função do gestor, ações e responsabilidades, participação e planejamento. A organização do trabalho pedagógico é uma estratégia educacional para democratizar o processo ensino-aprendizagem, então é de suma relevância para um gestor implementar novas ações e formas de gestão em que a comunicação e o diálogo estejam inseridos na prática pedagógica do docente. Assim, ao falarmos das suas responsabilidades percebemos que o gestor em seus desafios diários de gerir a instituição educacional precisa dispor de muitas ações. Ao assumir esse papel, o gestor deve necessariamente buscar a articulação dos diferentes atores em torno de uma educação de qualidade, o que implica uma liderança democrática, capaz de interagir com todos os segmentos da comunidade escolar. A liderança do gestor requer uma formação pedagógica crítica e autônoma dos ideais neoliberais. Nesse sentido, o objetivo é construir uma verdadeira educação com sensibilidade e também com destrezas para que se possa obter o máximo de contribuição e participação dos membros da comunidade. A organização e a gestão do trabalho escolar requerem o constante aperfeiçoamento profissional, político, científico, pedagógico de toda a equipe escolar. Dirigir uma escola implica conhecer bem seu estado real, observar e avaliar constantemente o desenvolvimento do processo de ensino, analisar com objetividade os resultados, e fazer compartilhar as experiências docentes bem- sucedidas. Nessas condições, fica evidente que a organização pedagógica necessita de uma gestão qualificada que garanta a qualidade do ensino e o trabalho em conjunto torna-se indispensável para desenvolver capacidades que permitam realmente aprender com o outro e construir de forma participativa a democratização da escola pública. 029 A participação fortalece a gestão democrática, contudo, há uma necessidade de descentralização e democratização da educação para que venha provocar mudanças pedagógicas no processo ensino-aprendizagem Como afirma Lück (2008), ”o entendimento do conceito de gestão já pressupõe, em si, a idéia de participação, isto é, do trabalho associado de pessoas analisando situações, decidindo sobre seu encaminhamento e agir sobre elas em conjunto”. Como pesquisadora pude observar que a direção na escola Margarida é atrelada muitas vezes aos interesses dos pais dos alunos e a mesma por ser particular, apresente poucos sinais da gestão democrática ou participativa. E na escola Rosa ela gira em torno de questões político-partidárias, até na escolha dos professores e funcionários que trabalham na instituição desta forma discutir gestão democrática em contextos tão desfavoráveis ainda é complexo, pois em uma sociedade em que o gestor deveria ser democrático e competente em suas ações que visem o aprimoramento dos trabalhos escolares, o sucesso de sua instituição, além de exercer sua liderança administrativa e pedagógica, visando à valorização e desenvolvimento de todos na escola, nos deparamos ainda com o paradigma da gestão centralizada. Desta forma observa-se o esforço de alguns sistemas de ensino, no sentido de desenvolver nas escolas os conceitos de democratização e autonomia, mas de modo centralizado, o que implica uma contradição paradigmática muito comum, que faz com que os esforços se anulem. Isso porque é comum a prática de se incentivar a promoção de mudanças na hierarquia escolar, de modo que a mudança pretendida é proposta para a escola, não sendo absorvida e praticada por quem a propõe. 030 REFERÊNCIAS APPLE, M.; BEANE, J. (Org.). Escolas democráticas. São Paulo: Cortez, 1997. BARDIN, L. Tradução de Luis Antero Neto e Augusto Pinheiro. Análise de conteúdo. Lisboa, Edições 70, 1977. ARROYO, M. G. Administração da Educação, poder e participação. Educação e Sociedade, São Paulo, v. 1, n. 2, jan. 1979. AZEVEDO, J.M.L. A educação comopolítica pública. 3. ed. Campinas: Autores Associados, 2004. BRASIL. Lei n° 9.394. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília: Congresso Nacional, 1996. BRASIL. Programa Nacional de fortalecimento dos conselhos escolares. Ministério da Educação. Secretaria de educação Básica. Brasília, 2004, v.1. DEMO, P. Metodologias da investigação em Educação. Curitiba: Iboex, 2005. DEMO, P. Participação é conquista. São Paulo: Cortez, 2001. 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Curitiba: IBPEX, 2004. 032 ADQUIRA AGORA MESMO SEU CERTIFICADO DE 120H RECONHECIDO o �� ,� ' • muito parecidos. Organizar significa dispor de forma ordenada, articular as partes de um todo, prover condições necessárias para realizar uma ação; administrar é o ato de governar, de pôr em prática um conjunto de normas e funções; gerir é administrar, gerenciar, dirigir. Assim, com estes documentos legais que refletem em parte a busca pela democracia no país, no contexto da educação brasileira, emerge um conceito novo, gestão da escola, que vem superar o enfoque limitado de administração, a partir do entendimento que os problemas educacionais são complexos e que demandam uma ação articulada e conjunta na superação dos problemas cotidianos das escolas. A gestão da escola sob essa nova perspectiva surge como orientação e liderança competente, exercida a partir de princípios educacionais democráticos e como referencial teórico para a organização e orientação do trabalho em educação, afinado com as diretrizes e políticas educacionais públicas para a implementação das políticas educacionais e o Projeto Político Pedagógico das escolas. Para Luck (2005, p.17): O conceito de gestão está associado à mobilização de talentos e esforços coletivamente organizados, à ação construtiva conjunta de seus componentes, pelo trabalho associado, mediante reciprocidade que cria um “todo” orientado por uma vontade coletiva. O movimento da gestão em educação reconhece a necessidade de unir algumas mudanças estruturais e de procedimentos que, de acordo com Luck (2006) são os seguintes: a) participação da comunidade escolar na seleção dos diretores da escola; b) criação de um colegiado/ Conselho Escola que tenha tanto autoridade deliberativa quanto 036 poder decisório; c) repasse de recursos financeiros as escolas e consequentemente aumento de sua autonomia. A administração escolar nos remete as ações utilizadas para organizar a escola. Conforme Libâneo, as tarefas de um gestor englobam: gerir, organizar, dirigir, tomar decisões. Nesse sentido, a seguinte definição aborda de forma clara este conceito: Em seu sentido geral, podemos afirmar que a administração é a utilização racional de recursos para a realização de fins determinados [...] Os recursos [...] envolvem, por um lado, os elementos materiais e conceptuais que o homem coloca entre si e a natureza para dominá-la em seu proveito; por outro, os esforços despendidos pelos homens e que precisam ser coordenados com vistas a um propósito comum. [...] A administração pode ser vista, assim, tanto na teoria como na prática, como dois amplos campos que se interpenetram: “a racionalização do trabalho” e a “coordenação do esforço humano coletivo” (Ibid, p.76). A gestão de uma escola visa fornecer meios, condições e recursos indispensáveis para o funcionamento da escola e do trabalho em sala de aula, além de estimular o envolvimento das pessoas através da participação, como o objetivo na aprendizagem, garantindo que esta seja adquirida por todos os alunos. Conforme a concepção que se tenha dos objetivos da educação no que se refere a sociedade, bem como, a formação dos alunos, a gestão escolar assume diferentes significados. Segundo Libâneo (2001), as concepções podem ser: Na concepção técnico-científica de escola basta se cumprir um planejamento elaborado antecipadamente, sem a participação dos professores e da comunidade escolar; a direção é centralizada numa pessoa e as decisões de cima para baixo. Numa concepção democrático-participativa a tomada de decisões ocorre de forma coletiva, ou seja, através da participação de todos. A direção pode estar centralizada no indivíduo ou no coletivo. Nesse modelo de gestão o trabalho se faz em equipe, onde um grupo de pessoas trabalha junto de forma solidária e colaborativa em prol da aprendizagem e formação dos alunos. A concepção científico-racional evidencia-se uma compreensão burocrática e tecnicista de escola, onde existe uma definição severa de funções e cargos, da estrutura organizacional, da direção centralizadora com pouca participação das pessoas na tomada de decisões. Na concepção sociocrítica prevalecem formas democráticas na gestão e na tomada de decisões, sendo que estas se dão coletivamente. A organização escolar é construída pela comunidade escolar, ou seja, pais, alunos, professores. Suas ações tem caráter intencional, interagindo na escola, nos grupos, no contexto sociocultural e político. 037 A concepção autogestionária fundamenta-se na participação igualitária de todos os membros da escola através da responsabilidade coletiva. Recusa-se a normas e sistemas de controle e utiliza formas de autogestão no plano político. A ênfase está mais nas relações pessoais do que nas tarefas. Na concepção interpretativa entende-se que a escola tem uma realidade social subjetiva que é socialmente construída, onde os valores e as práticas são compartilhados, destacando o caráter humano; percepções, subjetividades e interpretações pessoais. Conforme Libâneo (2001, p.125): As concepções de gestão escolar refletem diferentes posições políticas e concepções do papel da escola e da formação humana na sociedade. Portanto, o modo como uma escola se organiza e se estrutura tem um caráter pedagógico, ou seja, depende de objetivos mais amplos sobre a relação da escola com a conservação ou transformação social. Contudo, essas formas de gestão escolar caracterizam estilos de gestão de maneira ampla, isso quer dizer que não se apresentam de forma única nas situações concretas, ou seja, as características de uma gestão podem ser encontradas e identificadas nas escolas através de um estilo mais dominante, mas também, pode ocorrer que se opte por determinada concepção que na prática não é reproduzida. O surgimento do cargo de Diretor Escolar Segundo Andreotti (2012) na Primeira República, mais especificamente com a criação dos Grupos Escolares, foram instituídos o cargo e a função de diretor escolar. Já a administração escolar no Brasil advém do período colonial com a educação dos jesuítas. A administração escolar e do diretor de um grupo escolar do passado, passou por transformações de imagem até se tornar a função atual de gestor escolar desse profissional. Esse percurso abrange a administração escolar nos seguintes períodos: Colônia, desde o século XVI, com a educação jesuítica; as Reformas Pombalinas, do fim do século XVIII; a fase joanina, do início do século XIX e a educação por todo o Império; no século XX a Primeira República; da era Vargas; do Nacional Desenvolvimentismo e da Ditadura Militar e com a Nova República, de 1984 até os nossos dias. No Brasil Colônia a administração era centralizada e portuguesa, onde são abordadas as primeiras investidas em educação na recém-colônia. A educação jesuítica caracteriza-se por um trabalho de conversão dos indígenas a fé católica e de formação 038 para os descentes dos colonizadores. Nessa época foram criados igrejas e colégios para difundir um sistema sólido de educação, conduzido pelo Ratio Studiorum, que eram experiências fundamentadas no Colégio Romano que tinham como objetivo instruir os docentes jesuítas acerca das obrigações do seu cargo, bem como, da natureza e da extensão do mesmo. No Período Imperial ocorreu a criação da Escola Normal em São Paulo e também dois Liceus, onde aparece pela primeira vez o cargo de diretor, com muitas funções e em curso de nível secundário. Evidenciam-se através das legislações sobre educação, tentativas para que seja institucionalizada uma instrução pública. A administração escolar na Primeira República abrange o surgimento dos Grupos Escolares; um projeto republicano de educação popular em que os poderes públicos possibilitaram o “novo cidadão”. O diretor do Grupo Escolar passa exercer um papel primordial na ação pedagógica, cabia a ele fazer a interlocução junto ao governo e determinar as diretrizes administrativas e pedagógicas dos grupos. Na Era Vargas a