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Fiel a sua missão de interiorizar o ensino superior no estado Ceará, a UECE, como uma instituição que participa do Sistema Universidade Aberta do Brasil, vem ampliando a oferta de cursos de graduação e pós-graduação na modalidade de educação a distância, e gerando experiências e possibili- dades inovadoras com uso das novas plataformas tecnológicas decorren- tes da popularização da internet, funcionamento do cinturão digital e massificação dos computadores pessoais. Comprometida com a formação de professores em todos os níveis e a qualificação dos servidores públicos para bem servir ao Estado, os cursos da UAB/UECE atendem aos padrões de qualidade estabelecidos pelos normativos legais do Governo Fede- ral e se articulam com as demandas de desenvolvi- mento das regiões do Ceará. Si st em as B io ló gi co s Física Física Antônio Miguel Furtado Leitão Janaína Leitão Vilar Renato de Almeida Sistemas Biológicos U ni ve rs id ad e Es ta du al d o Ce ar á - U ni ve rs id ad e A be rt a do B ra si l ComputaçãoQuímica Física Matemática Pedagogia Artes Plásticas Ciências Biológicas Geografia Educação Física História 9 12 3 Capa_Sistemas_Biologicos.indd 1 23/05/17 14:16 ComputaçãoArtesBiologiaQuímica Física Matemática Pedagogia Antônio Miguel Furtado Leitão Janaína Leitão Vilar Renato de Almeida Fortaleza 2013 Sistemas Biológicos Informática Artes Plásticas Ciências BiológicasQuímica Física Matemática Pedagogia Física Copyright © 2013. Todos os direitos reservados desta edição à SECRETARIA DE APOIO ÀS TECNOLOGIAS EDUCACIONAIS (SATE/UECE). Nenhuma parte deste material po- derá ser reproduzida, transmitida e gravada, por qualquer meio eletrônico, por fotocópia e outros, sem a prévia autorização, por escrito, dos autores. Presidente da República Dilma Vana Rousseff Ministro da Educação Aloizio Mercadante Presidente da CAPES Jorge Almeida Guimarães Diretor de Educação a Distância da CAPES João Carlos Teatini de Souza Climaco Governador do Estado do Ceará Cid Ferreira Gomes Reitor da Universidade Estadual do Ceará José Jackson Coelho Sampaio Pró-Reitora de Graduação Marcília Chagas Barreto Coordenador da SATE e UAB/UECE Francisco Fábio Castelo Branco Coordenadora Adjunta UAB/UECE Eloísa Maia Vidal Direção do CCT/UECE Luciano Moura Cavalcante Coordenação da Licenciatura em Física Carlos Jacinto de Oliveira Coordenação de Tutoria da Licenciatura em Física Emerson Mariano da Silva Coordenadora Editorial Rocylânia Isidio Projeto Gráfico e Capa Roberto Santos Diagramador Francisco Oliveira Sumário Apresentação .................................................................................................... 5 Parte 1 Seres Vivos - Características e Conceitos ........................................... 7 Capítulo 1 - Introdução à Biologia .................................................................... 9 1. Conceitos básicos em Biologia ............................................................... 9 2. Características dos seres vivos ............................................................12 Capítulo 2 - Hieraquia de organização ...........................................................21 1. Níveis de organização ...........................................................................21 2. Conceito de ecossistema ......................................................................22 3. Propriedades emergentes .....................................................................23 Capítulo 3 - Diversidade da vida .....................................................................27 1. Nomenclatura científica .........................................................................27 2. Classificação atual dos seres vivos ......................................................29 Parte 2 As moléculas dos sistemas biológicos ...............................................35 Capítulo 1 - Noções de Biologia Molecular e Bioquímica .............................37 1. Composição química dos seres vivos ..................................................37 2. Água e sua importância para os organismos vivos .............................39 3. Macromoléculas energéticas, estruturais, metabólicas e informacionais ................................................................43 4. Enzimas: catalisadores biológicos .........................................................56 5. O papel do DNA na transmissão das informações ..............................62 Parte 3 Da célula ao organismo completo ........................................................77 Capítulo 1 - Célula: estruturas e funções .......................................................79 1. A célula como unidade morfo-fisiológica dos seres vivos ...................79 2. Organização de células procarióticas e eucarióticas ..........................81 3. Membrana celular: permeabilidade seletiva .........................................83 4. Hialoplasma: um colóide especial .........................................................87 5. O citoesqueleto .......................................................................................87 6. O Sistema de endomembranas e o transporte e secreção de substâncias .........................................................................88 7. A mitocôndria e a produção de energia ................................................89 8. O cloroplasto e a fotossíntese ...............................................................93 9. A parede celular como suporte mecânico ............................................95 Parte 4 Noções de Ecologia e Temas Diversos .............................................101 Capítulo 1 - Ecologia e Ecossistemas ..........................................................103 1. Energia: 1ª e 2ª leis da termodinâmica ...............................................103 Capítulo 2 - Fluxo energético através dos ecosistemas .............................107 Modelo Universal de Fluxo de Energia ...................................................107 Cadeias e Redes Tróficas .......................................................................108 Pirâmides Ecológicas ...............................................................................109 Produtividade ............................................................................................109 Capítulo 3 - Matéria: ciclos biogeoquímicos .................................................111 Ciclos Biogeoquímicos Globais .............................................................. 112 Capítulo 4 - Interações ecológicas ............................................................... 117 Sobre os autores .......................................................................................131 Apresentação Caro estudante, esse Manual contém as diretrizes para o seu estudo dentro de uma ciência marcada pela diversidade, a Biologia. É importante compreender a dimensão da quantidade de conhecimentos com a qual es- tamos lidando para perceber que nenhuma obra escrita sobre esse tema é capaz de englobar todo o seu conteúdo. Entretanto, nossos objetivo e desafio foram trazer para esse Manual os tópicos que consideramos mais importantes para consolidar sua base de conhecimento para o estudo da Biologia e das demais Ciências. Por isso, esperamos que você possa tirar o máximo proveito desse material e, quem sabe, despertar sua vontade para extrapolar os limites dessas páginas. Os autores Sistemas Biológicos 7 PARTE 1 Seres vivos Características e conceitos Capítulo 1 Introdução à Biologia 1. Conceitos básicos em Biologia O ramo da Ciência que estuda todos os aspectos relacionados aos seres vivos é a Biologia (do grego bios = vida + logos = estudo, ou seja, o estudo da vida). Engloba os estudos sobre a vida desde o nível submolecular até o ecossistêmico, incluindo as análises populacionais e das interações entre os indivíduos, de mesma espécie oude espécies diferentes, e com o meio em que vivem. Diante da extensa gama de conhecimento que deve ser objeto de estudo da Biologia, fez-se necessária a criação de várias áreas acadêmicas, como: Zoologia, Botânica, Microbiologia, Biologia Molecular, Genética, Fisiolo- gia, Ecologia, Biotecnologia, entre outras. Diferente do que ocorre com a Física, que utiliza leis e teoremas para explicar de forma definitiva os fenômenos da natureza, a Biologia é baseada em determinados princípios e conceitos básicos, que estão sempre à prova e sofrem modificações à medida que novas descobertas são feitas pelas pes- quisas científicas. Como exemplo disso, temos a universalidade do código genético, a diversidade e evolução dos seres vivos. Todas as formas de vida compartilham algumas características e pro- cessos semelhantes, embora seja relativamente comum encontrarmos exce- ções para quase todas as regras. Um bom exemplo disso seria dizer que “a célula é unidade básica da constituição de um ser vivo”, o que é verdade para a quase totalidade das formas de vida que conhecemos. Entretanto, existem os vírus e os príons, que não são compostos por células, mas conseguem se reproduzir utilizando a metabolismo das células que parasitam, podendo causar doenças de gravidade variada. A necessidade de desenvolver conhecimentos relacionados à Biologia surgiu desde os primórdios da civilização humana, com o objetivo de conhe- cer o mundo em seu redor e de desenvolver técnicas que permitissem a so- brevivência. Os povos da antiguidade dominavam técnicas de fertilização de plantas, os egípcios registraram em papiros seus conhecimentos anatômicos do corpo humano e de alguns animais. Dentre os estudiosos da época, podemos citar Leitão, A. M. F.; Vilar, J. L.; Almeida R. de.10 Aristóteles, um dos mais influentes e importantes naturalistas, que estudou o comportamento e as características de animais e plantas, sendo o primeiro a elaborar um sistema de classificação para eles; Plínio, um dos imperadores da Roma Antiga, escreveu um compêndio sobre todo o conhecimento de his- tória natural disponível naquela época; Galeno foi um pioneiro nos estudos da Medicina e da Anatomia. Durante a Idade Média, Alberto Magno afirmou que “o objetivo da ciên- cia natural não é simplesmente aceitar as informações de outros, mas inves- tigar as causas que operam na natureza” e fez desta o seu objeto de estudo intenso, utilizando meticulosamente o método científico. Apesar de, aparen- temente, não ter havido muitos avanços no âmbito das ciências biológicas nesse período, foram abertas várias universidades, que serviriam como ber- ço para a revolução científica promovida posteriormente por grandes nomes, como Galileu e Newton. Durante os séculos XVII e XVIII, Willian Harvey estudou a dinâmica do sistema circulatório, ressaltando o papel do coração no bombeamento do san- gue; Antony van Leeuwenhock inventou o microscópio, conseguindo obter a visualização de protozoários e bactérias; e Lineu, que foi o nome mais impor- tante desse período, desenvolveu o sistema taxonômico de nomenclatura bi- nomial em latim, baseado nas diferenças entre os seres vivos. No século seguinte, houve relevantes avanços nas áreas da Evolução, por cientistas como Lamarck (Lei do uso e do desuso), Darwin e Wallace (Se- leção Natural), da Genética, com Mendel (Leis da hereditariedade) e o surgi- mento da teoria celular, que identificou a célula como sendo a unidade mor- fofisiológica básica dos organismos vivos, bem como determinou que uma célula origina-se apenas de uma célula pré-existente, proposta por Mathias Schleiden e Schwann. Na Bacteriologia, Robert Koch começou a desenvolver técnicas de cultura e isolamento de microorganismos em laboratório e chegou a elaborar os “postulados de Koch”, dentre os quais afirmou que cada tipo de infecção é provocado por um microorganismo específico; e Louis Pasteur comprovou a veracidade da teoria da Biogênese através da sua famosa expe- riência com frascos de pescoço de cisne. Os processos de divisão celular fo- ram elucidados por Walter Flemming, que realizou a identificação das etapas da mitose em microscópio e afirmou que o número cromossomos das células- -filhas é idêntico ao da célula-mãe; e por August Weismann, cuja sugestão de que, na divisão celular para a produção de células reprodutivas (gametas), a quantidade de cromossomos das células-filhas corresponde à metade da encontrada na célula-mãe, foi confirmada com a descoberta da meiose. Charles Darwin Sistemas Biológicos 11 Contra capa da 1ª edição de “A Origem das Espécies” de Charles Darwin No século XX, foram produzidos diver- sos trabalhos nas áreas de Zoologia e Paleon- tologia, sendo proposta a Teoria Sintética da Evolução ou Neodarwi- nismo, porém, os holo- fotes da Ciência se vol- taram para a Biologia Molecular e a Genética, com a determinação da composição do material genético, o DNA, bem como sua estrutura em dupla-hélice e função na produção de prote- ínas, inclusive com a elucidação do código genético. O passo seguinte foi o desenvolvimento de técnicas que permitiram a manipulação do DNA, como a reação em cadeia da polimerase (PCR), culminando com o êxito obtido com as experiências de clonagem de diversas espécies de organismos. O ciclo celular também foi es- tudado com profundidade, sendo demonstrado o papel da telomerase, dando origem aos trabalhos com células totipotentes e células-tronco. Os estudos genéticos envolvendo a análise do RNA ribossomal e do DNA mitocondrial Moléculas de RNA e DNA Leitão, A. M. F.; Vilar, J. L.; Almeida R. de.12 proporcionaram uma investigação mais profunda e confiável sobre as rela- ções filogenéticas entre os organismos vivos e, desde então, foram propostas diversas novas classificações para os seres vivos. Abordaremos este assunto com mais detalhes no capítulo 3 desta unidade. 2. Características dos seres vivos Apesar da grande quantidade de seres vivos existente, é possível elencar um conjunto de características que diferem estes seres daqueles que não têm vida ou da matéria bruta: composição química mais complexa, organização celular, respostas a estímulos do ambiente, capacidade e necessidade de nu- trição, presença de metabolismo, crescimento, manutenção da homeostase, reprodução, capacidade de adaptação ao meio e evolução. Comentemos um pouco sobre cada uma delas. 2.1. Composição química Dalton descobriu experimentalmente que o átomo é o componente básico da matéria, embora não seja uma esfera indivisível e indestrutível, como imagi- nava o pesquisador. Depois dele, vários cientistas dedicaram-se ao estudo da Atomística, identificando mais de 200 tipos de átomos diferentes. O modelo atômico mais difundido pela comunidade científica atualmente, que aceita o átomo com núcleo composto por prótons e nêutrons, circundado por elétrons, que apresentam uma dualidade de comportamento (partícula ou onda), foi definido pelo conjunto de idéias de muitos cientistas, como Rutherford, De Broglie, Heisenberg, Schrödinger e Chadwick. A matéria orgânica, que é proveniente dos seres vivos, é composta prin- cipalmente pelos átomos de carbono (C), hidrogênio (H), oxigênio (O), nitro- gênio (N), fósforo (P) e enxofre (S), que se combinam em diferentes arranjos e proporções para formar moléculas complexas como proteínas, lipídios, car- boidratos e ácidos nucléicos. São essas moléculas, associadas a alguns com- ponentes inorgânicos, que formam a base para constituição dos seres vivos. Entre essas moléculas inorgânicas, devemos ressaltar a importância da água, que serve como meio para a ocorrência de todos os processos que viabilizam a existência da vida. A água é o componente encontrado em maior percentual nos organismos vivos: no humano, esse percentual é de aproxi- madamente 70%, variando com sexo e a idade, mas existem seres, como a água-viva, que apresentam mais de 90% de água em sua composição. A matéria bruta, embora disponha de uma grande diversidadede áto- mos, em geral, organiza-se em combinações e estruturas relativamente sim- ples, podendo existir em todos os estados físicos (gasoso, líquido, colóide e Sistemas Biológicos 13 sólido) e dimensões (desde um grão de areia formado por aglomerados de moléculas de sílica, até grandes cadeias de montanhas rochosas). 2.2. Organização celular As macromoléculas orgânicas e as substâncias inorgânicas seguem uma or- dem bastante complexa de estruturação para formar uma unidade morfológi- ca e funcional básica de um ser vivo: a célula, que é o menor fragmento do indivíduo que preserva todas as características da matéria viva. Existem, basicamente, dois tipos de células, a procarionte e a eucarionte. A célula procarionte apre- senta uma organização mais simples, sendo composta de parede celular (podendo ser envolta por uma cáp- sula), membrana plasmática e citoplasma, onde estão dispersos todos os componentes que fazem parte do metabolismo celular, inclusive ribossomos e o material genético, RNA e DNA. Este último é encontrado na for- ma de dupla-hélice, em um único cromossomo circu- lar, não associado a proteínas (histonas). Bactérias e cianobactérias são os seres procariontes formados por uma única célula, classificados como unicelulares. Ape- sar da simplicidade organizacional, existem milhões de espécies bacterianas e elas encontram-se bem adap- tadas aos mais diversos tipos de ambientes, desde a superfície do nosso corpo até crateras de vulcões em atividade. A célula eucarionte apresenta uma organização bastante complexa, sendo dotada de membrana plas- mática (podendo ser envolta por parede celular), citoplasma, citoesqueleto, ribossomos e uma série de organelas membranosas, como o núcleo, retículos endoplasmáticos, complexo de Golgi, mitocôndria e cloroplasto. Existem se- res eucariontes unicelulares, como protozoários e alguns fungos (leveduras), porém, a maioria é pluricelular, distribuindo-se nos reinos Protista, Fungi, Plan- tae e Animalia. Um ser pluricelular, geralmente, se forma quando células semelhan- tes unem-se para formar tecidos, que se associam formando órgãos, siste- mas e, finalmente, um organismo completo. Um bom exemplo dessa orga- nização são as células nervosas, que formam o tecido nervoso, que, aliado a outros tipos de tecido, são responsáveis pela estruturação dos nervos, da medula e do cérebro, componentes do sistema nervoso, que realiza a integração entre os outros sistemas e o meio ambiente. Essa escala de or- Estrutura da célula procarionte Leitão, A. M. F.; Vilar, J. L.; Almeida R. de.14 ganização dos seres vivos não pára por aí, ve- remos um detalhamento maior desse assunto quando abordarmos níveis de organização, no próximo capítulo. 2.3. Respostas a estímulos do ambiente Um ser vivo deve ser capaz de responder a es- tímulos ou alterações do meio em que se en- contra, embora essas reações ocorram em pro- porções diferentes, variando de um organismo para outro. As plantas, geralmente, apresentam as mesmas reações quando expostas aos mes- mos estímulos: o caule cresce em direção à luz, a raiz cresce em profundidade no solo e ainda existem aquelas que respon- dem a estímulos táteis, como a sensitiva e as plantas carnívoras. Nos animais, algumas respostas podem ser esperadas, como os refle- xos patelares e pupilares do ser humano, mas a grande maioria das reações não é tão previsível. Quando um animal é exposto ao uma situação adversa, ele pode reagir de muitas maneiras, fugindo, enfrentando ou buscando uma forma de adaptação. As diferentes formas de reagir aos estímulos do ambien- te podem levar a melhores chances de sobrevivência ou reprodução, interfe- rindo diretamente na perpetuação das espécies. 2.4. Nutrição, Metabolismo e Crescimento As estruturas que compõem um organismo vivo se desgastam com o tempo, o que demanda uma substituição permanente de suas moléculas e muitas de suas células. A nutrição é fundamental à sobrevivência do ser vivo, permitindo a re- posição e reparação de estruturas desgastadas, e contribuindo com a renova- ção das células e tecidos nas fases de crescimento. Esse crescimento se dá pelo aumento do volume celular, chamado de crescimento por hipertrofia, ou pelo aumento do número de células, chamado de crescimento por hiperplasia. A matéria bruta também pode apresentar crescimento pela adição de novas moléculas à sua superfície. O organismo usa como fonte de energia os nutrientes obtidos atra- vés da síntese ou obtenção e digestão dos alimentos. Dentre a diversidade de moléculas orgânicas provenientes desses alimentos e passíveis de se- rem utilizadas como recurso energético, um açúcar, a glicose, é preferido Célula eucariótica animal Sistemas Biológicos 15 por sua utilização ser mais proveitosa para ser vivo. Através do processo de respiração celular, a molécula de glicose é quebrada, liberando energia armazenada na forma de ATP. Essa energia dá suporte às atividades do organismo, como o trabalho muscular, a termogênese, a transmissão do impulso nervoso, a produção de macromoléculas orgânicas para a renova- ção ou crescimento do corpo. Ao conjunto de todas as reações do organismo realizadas para a ma- nutenção da vida, damos o nome de metabolismo (metabole = mudar). Essas reações podem envolver a produção ou síntese de moléculas complexas a partir de moléculas mais simples para crescimento ou renovação do organis- mo, o que chamamos de anabolismo (do grego ana = para cima, através de + balien = arremessar), ou degradação e decomposição de elementos antigos ou moléculas energéticas, o que chamamos de catabolismo (kata = de cima para baixo + balien). Em relação ao padrão de nutrição, os seres vivos podem ser classifi- cados em duas grandes categorias: os autotróficos e os heterotróficos. Os organismos autotróficos (do grego autos = por si mesmo + trophe = alimento) são capazes de sobreviver exclusivamente de matéria inorgânica, água e al- guma fonte energética como a luz solar ou matéria quimicamente reduzida, enquanto os heterotróficos (do grego heteros = diferente + trophe) requerem moléculas orgânicas já formadas como alimento. 2.5. Homeostase Homeostase (do grego homos = mesmo + stasis = posição) é a manutenção de um estado de equilíbrio das condições ótimas para o metabolismo. Dessa forma, há organismos vivos que conseguem manter praticamente constantes a temperatura corpórea, a concentração de sais no sangue, o grau de hidra- tação dos tecidos, o pH dentro das células etc. Alterações nesse equilíbrio podem levar a alterações de funções orgânicas fundamentais, produzindo condições incompatíveis com a vida. 2.6. Reprodução A reprodução é uma das etapas da seqüência de eventos que deve ser per- corrida pelo ser vivo para a perpetuação da espécie. É através desse proces- so que os progenitores dão origem à prole semelhante a eles, ou seja, os filhos herdam as características dos pais. Os organismos podem-se reproduzir de duas maneiras: assexuada- mente ou sexuadamente. A reprodução assexuada ocorre quando um único indivíduo dá origem a um ou mais geneticamente idênticos, o que ocorre na Leitão, A. M. F.; Vilar, J. L.; Almeida R. de.16 bipartição ou cissiparidade, no brotamento, na regeneração etc. A reprodução sexuada ocorre, geralmente, entre dois indivíduos (pode acontecer em um mesmo indivíduo, caso seja um animal hermafrodita ou um vegetal monóico) através da ocorrência de três processos: a formação de gametas ou gameto- gênese, quando são produzidos os óvulos e os espermatozóides; o “acasala- mento”, incluindo nessa etapa todos os fenômenos que levam à aproximação dos gametas, desde a cópula até a polinização; e a fecundação, que repre- senta a união efetiva entre os gametas, levando à formação da célula-ovo ou zigoto, que se desenvolverá dando origem ao(s) novo(s) indivíduo(s). A realização de reprodução sexuada consiste em uma vantagem para espécie no sentido de que esse tipo de processo gera uma maior variabilidade genética entre a prole.Quanto maior a variabilidade genética, maior a quan- tidade de fenótipos disponíveis entre os indivíduos da população e, portanto, maior a possibilidade de adaptação da espécie ao ambiente em que vivem e a eventuais mudanças no mesmo. 2.7. Capacidade de adaptação ao meio e Evolução Grande parte dos seres vivos é capaz de produzir algum tipo de modifi- cação para se adaptar às condições do ambiente em que se encontra. Essa capacidade de adaptação pode facilitar e até determinar a sobrevivência do ser vivo. Entretanto, nem todas as características que tornam um organismo mais adaptado a um ambiente podem ser transmitidas para os seus descen- dentes. Embora seja o fenótipo que sofra as ações diretas do meio, apenas as características que são determinadas geneticamente, que estão presentes no genótipo, podem ser herdadas pelos filhos. Contudo, o material genético de um indivíduo pode apresentar alterações através de um processo denomi- nado mutação. Quando as mutações ocorrem em células germinativas, elas são passíveis de serem transmitidas às gerações futuras. Uma mutação pode ou não ser favorável à adaptação do ser vivo ao meio. A mutação, quando é vantajosa, mostra uma tendência a se difundir entre os indivíduos da população, enquanto aquela que determina uma ca- racterística desfavorável, geralmente, se torna escassa, podendo desapare- cer do pool genético. Quem determina quais mutações são favoráveis ou adaptativas é a seleção natural, também conhecida como “luta pela vida”, que representa o processo pelo qual o ambiente escolhe os organismos melhor adaptados e, portanto, com maior chance de sobrevivência. Este conceito foi proposto por Darwin e Wallace, sendo enriquecido por novos conhecimentos, que resultaram na Teoria Sintética da Evolução dos seres vivos. Fenótipo: Aparência geral do indivíduo em face as sua constituição genética (genótipo) e das influências do meio. Genótipo: Constituição ou composição genética de um indivíduo com relação a um ou mais caracteres. Mutação: Variação hereditária, repentina, espontânea ou induzida, irreversível, que se manifesta num indivíduo de determinada população ou espécie em consequência de alteração bioquímica na sequência de bases nitrogenadas de um ou mais genes (mutação gênica) ou anormalidades numéricas ou estruturais dos cromossomos (mutação cromossômica). Pool genético: Quadro geral de genes comuns aos indivíduos de uma população ou de uma raça. Sistemas Biológicos 17 Atividades de avaliação 1. Enuncie a idéia principal de duas teorias biológicas e comente como a pro- posição delas influenciou o rumo da ciência. 2. Cite que características são necessárias em um ser para que ele seja con- siderado vivo. Escolha duas delas para explicar com mais detalhes. Saiba mais Evolução da evolução Uma idéia simples resolveu o mais complexo dos mistérios: o sentido da vida. Ago- ra cientistas usam Darwin para desvendar mistérios maiores: da mente à origem do Universo. E o que eles encontraram é assustador. por Texto Alexandre Versignassi e Rodrigo Rezende (adaptado) E Charles Darwin criou o homem. Ou, pelo menos, inventou o que hoje nós co- nhecemos como homem. Antes dele, éramos o centro do Universo, a obra sublime da criação. Agora somos apenas mais uma entre milhões e milhões de espécies, um bicho de origem nada especial. Nada mesmo: a Teoria da Evolução deixou claro que todas as formas de vida que já pisaram na Terra são filhas da mesma tataravó – a história de como essa senhora, uma simples molécula, virou tudo o que existe hoje. Assim, mostrando como a vida evolui, Darwin dispensou Deus do cargo de criador. E agora seus seguidores do século 21 querem fazer algo ainda mais chocante: mostrar que não passamos de escravos a serviço dos verdadeiros donos deste planeta. A paisagem em Galápagos, onde aportaram em 15 de setembro de 1835, após quase 4 anos de expedição, era um paraíso para Darwin. Ele pintou e bordou com tudo o que pôde naquele lugar perdido no tempo. Pegou carona nas tartarugas (“Era difícil manter o equilíbrio.”), tirou onda com as iguanas (“Ela ficou olhando para mim como se quises- se dizer: Por que você puxou a minha cauda?”) e encheu o bucho de iguarias exóticas (“Tatu é um prato excelente quando assado em sua carapaça.”). De quebra tirou de lá a inspiração para a idéia mais importante e assustadora da história da ciência. O gatilho para esse pensamento veio quando ele percebeu diferenças ins- tigantes entre os bicos de uma espécie de passarinho das Galápagos, os tentilhões. Em uma ilha eles tinham bicos grossos, bons para quebrar no- zes. Em outra, longos e finos, ideais para arranjar comida em frestas. Darwin imaginou que aquelas aves deviam ter se adaptado de algum jeito. Por mágica? Não: por um processo de seleção que levou gerações. Em ambas as ilhas teriam nascido pássaros de bico fino e de bico grosso. Naquela onde havia nozes para comer, só estes últimos teriam sobrevivido. De volta à Inglaterra, aos 27 anos, Darwin estudou a fundo as 5 436 carcaças, peles e ossos que colecionara na viagem do Beagle e concluiu que TODAS as espécies do mundo tinham passado por processos de adaptação equivalentes ao dos tentilhões. Bem devagarzinho. Imagine as asas dos pássaros, por exemplo. Pela lógica de Darwin, elas não nasce- Leitão, A. M. F.; Vilar, J. L.; Almeida R. de.18 ram prontas. Em algum ninho dos ancestrais dos pássaros, que não voavam, surgiu um mutante, um “patinho feio”, com uma pequena membrana que lhe permitia planar de vez em quando. Essa característica deu-lhe alguma vantagem na luta pela sobrevivên- cia. E o bicho deixou mais descendentes que seus irmãos. A prole dele, que carregava a mesma mutação, também fez mais filhos, e por aí foi. Com o tempo, novos mutan- tes, novos patinhos feios, foram nascendo com asas cada vez melhores. E no fim das contas um novo tipo de animal se consolidava no planeta: os pássaros. Tudo às custas da extinção de outros bichos parecidos, só que menos adaptados à dureza da vida. “A produção de animais superiores é conseqüência da natureza, da fome e da morte”, escreveu Darwin. Nós mesmos, imaginou o inglês, não podíamos estar de fora. A diferença é que a evolução para a forma que temos hoje foi a partir de “macacos” (na verdade, animais parecidos com macacos) que foram desenvolvendo cérebros cada vez maiores, do mesmo jeito que os pássaros fizeram com as asas. E esses “macacos” vieram de outros bichos... Hoje sabemos de quem: de peixes mutantes que nasceram com a capacidade de respirar fora da água – nossos pulmões, por exemplo, vieram direto desses animais, que viviam em pântanos lamacentos. Aí não tinha mais jeito. Darwin já sabia que não éramos “a imagem e semelhança de Deus”. Agora responda: o que você faria ao perceber que na sua cabeça existe uma idéia que pode abalar as crenças mais profundas de quase toda a humanidade? Darwin sentiu o peso, e ficou aterrorizado. Demorou mais de 30 anos para publicar a idéia em seu livro A Origem das Espécies, de 1859. E ainda assim o livro só saiu quando ele leu um artigo de Alfred Russel Wallace, um biólogo inglês. O texto continha uma teoria bem similar à da seleção natural, porém menos abrangente. Com medo de ser passado para trás, Darwin autorizou seu amigo Thomas Huxley a expor a Teoria da Evolução ao mundo científico, pois ele mesmo não teve coragem. “Foi como confessar um assassinato”, escreveu. Por isso mesmo a teoria demorou para virar unanimidade entre os acadêmicos. Ela só foi aceita para valer quando outros cientistas, já no século 20, a refinaram com base na genética – a forma como os pais transmitem suas características aos filhos. Esse renascimento deu um gás novo à Teoria da Evolução. E na década de 1930 começava uma nova revolução: o neodarwinismo. Com ele, uma idéia aterradora começou a sair do forno: a de que você não passa de um robô. Era a Teoria do Gene Egoísta, que ganhou corpo nos anos 70. Origem das espécies 2.0 PlanetaTerra, 4 bilhões de anos atrás. Um mundo adolescente, infestado por vul- cões, meteoritos e tempestades violentas. No mar desse inferno, moléculas de carbono encontraram um porto seguro. E começaram a se juntar, formando cadeias cada vez mais longas e complexas. Uma hora, como quem não quer nada, apareceu um estranho nesse ninho. Um acidente da natureza. Era uma molécula capaz de se replicar, de su- gar matéria orgânica do ambiente e usar como matéria-prima para produzir cópias dela mesma. Motivo? Nenhum: ela fazia réplicas por fazer e pronto. Vai entender... Ainda mais porque arranjar matéria-prima, ou seja, “comida”, nesse oceano primiti- vo era fácil: bastava “pescar” nutrientes na água. Assim ela cresceu e se multiplicou. Mas tinha um problema: nem sempre as réplicas saíam perfeitas. Às vezes acontecia um erro de cópia aqui, outro ali. Surgiam aberrações. “Um livro e tanto escreveria o capelão do Diabo sobre os trabalhos desastrados, esbanjadores, ineficientes e terrivelmente cruéis da natureza!”, escreveria Darwin sobre esse processo bilhões de anos depois. Esses erros aconteciam bem de vez em quando: um a cada milhão de réplicas. Mas tempo é o que não falta nesse mundo. Então eles foram se acumulando mais e Sistemas Biológicos 19 mais. Só que alguns não davam em aberrações. Muito pelo contrário. Algumas réplicas nasciam com uma mutação que as fazia se multiplicar mais em menos tempo. E não demorou para essas mutantes mais férteis dominarem o mar. Só isso já é um tipo de seleção natural. Mas a regra de Darwin só deu as caras para valer quando aconteceu o inevitável: o mundo ficou pequeno para tantos replicadores. Com a superpopulação, os ingredientes de que eles precisavam para fazer suas cópias rarearam. Era a primeira crise de fome no planeta. A saída? Ir para a briga. Mas estamos falando de moléculas, que não têm lá muito poder de decisão. Foi aí que provavelmente surgiu uma mutação inédita, que permitia a algumas moléculas comer outros replicadores. Assim elas conseguiam eficiência to- tal: arranjavam almoço e eliminavam rivais ao mesmo tempo. Com o tempo surgiram mutantes com capa protetora natural. Com essa armadura, dava para comer os rivais sem o risco de ser comido. Nasciam as primeiras células do mundo. “Os replicadores deixavam de meramente existir e começavam a fazer contêineres para eles, veículos para que pudessem continuar vivos. Os que sobreviveram foram os que construíram ‘máquinas de sobrevivência’ para si”, escreveu o mais notório dos neodarwinistas, o zoólogo Richard Dawkins, da Universidade de Oxford, na Inglaterra. E o progresso nunca parou. Tanto que hoje boa parte dos replicadores vive em “ro- bôs” imensos, feitos de milhares de trilhões de células. Agora os chamamos de genes, e eles estão dentro de nós. Somos sua máquina de sobrevivência. O sentido da vida Genes mutantes e as pressões da seleção natural fizeram essa obra esplêndida que você vê no espelho todas as manhãs. Uma caminhada e tanto. Mas uma coisa não mu- dou desde os tempos da primeira molécula replicadora. Aquele objetivo irracional con- tinua intacto: tudo o que os genes querem é fazer cópias de si mesmos. Foi para isso que eles criaram nosso corpo e nossa mente. E agora nos comandam lá de dentro, por controle remoto, para que trabalhemos em nome de sua preservação. A razão da exis- tência? Lutar para que os genes façam cópias deles mesmos do melhor jeito possível. E, para os neodarwinistas, esse egoísmo dos genes é a chave para descobrir como a nossa mente funciona. O próprio Darwin tinha escrito, no final de A Origem das Espécies: “Agora a psicologia se assentará sobre um novo alicerce”. Demorou, mas aconteceu. Uma nova ciência da mente ganhou terreno no final do século 20. Foi a psicologia evolucionista, que usa Darwin e a mecânica dos genes para entender o que se passa aí dentro da sua cabeça. Sexo Ao criar esse tipo inovador de reprodução, a seleção natural tratou de dividir o tra- balho entre dois tipos de funcionários especializados. Um teria a função de tentar pôr seus genes em qualquer máquina de sobrevivência que cruzasse seu caminho. O outro selecionaria entre esses primeiros quais têm os melhores genes para compartilhar e cuidaria da cria que os dois tivessem juntos. Em outras palavras, o mundo se dividia entre machos e fêmeas (em algumas espécies, os papéis se invertem: os filhotes ficam a cargo dos machos, então eles é que são os mais paquerados). Enfim, ao ganhar o poder de decidir quais machos terão filhos e quais ficarão na prateleira, as fêmeas assumiram o controle da evolução na maioria das espécies. E, para a psicologia evolutiva, é isso que determina aquilo que mais importa na vida: a propagação dos nossos genes, coisa também conhecida como vida afetiva e sexual. O sexo, hoje, tem pouca relação com o ato de fazer filhos. Você sabe. Nenhum ado- lescente pensa em engravidar 10 meninas quando vai viajar para o Carnaval. Mas os Leitão, A. M. F.; Vilar, J. L.; Almeida R. de.20 genes dele não fazem idéia de que existem camisinhas e tudo o mais, então deixam o rapaz com vontade de transar com 10 garotas e pronto. Se tudo der certo, esses genes poderão instalar-se no útero de um monte de meninas e construir um monte de bebês (várias máquinas de sobrevivência novinhas em folha!). Mas não. O cérebro delas evo- luiu para selecionar os melhores parceiros, ter poucos (e bons) filhos, não para tentar a sorte com qualquer um. Psicólogos da Universidade Stanford, nos EUA, checaram isso com uma experiência simples. Contrataram homens e mulheres atraentes para abordar estudantes e dizer: “Você gostaria de ir para a cama comigo hoje?” Nenhuma mulher aceitou. Já as garo- tas tiveram resultados melhores: 75% dos homens toparam no ato. Dos 25% restantes, a maioria pediu desculpas, explicando que tinha marcado de sair com a namorada. Pois é: do ponto de vista da seleção natural, uma bela fêmea disponível é um bem valioso demais para ser desperdiçado. Nenhum homem se surpreende com isso (o pessoal da obra não está só brincando quando diz “ô, lá em casa!”), mas para as mu- lheres a verdade da psicologia evolucionista pode soar assustadora: “O desejo de va- riedade sexual nos homens é insaciável. Quanto maior for o número de mulheres com quem um homem tiver relações, mais filhos ele terá [pelo menos é o que “pensam” os genes]. Então demais nunca é o bastante”, escreveu outro guru do neodarwinismo, o psicólogo Steven Pinker, da Universidade Harvard, nos EUA. Sangue do meu sangue Você é uma máquina de sobrevivência dos seus genes, que o usam para se repro- duzir. Ok. Mas o que aconteceria se esses genes tivessem construído um cérebro capaz de detectar cópias deles em outro corpo? O seguinte: eles também lutariam pela so- brevivência desse corpo. Fariam você se sentir aliviado com bem-estar dele. O fato é que os genes construíram esse sistema de detecção. Todos os cérebros têm isso em algum grau. E o altruísmo puro é exatamente o que acontece quando dois animais são parentes próximos. Existe uma chance em duas de que qualquer um dos seus genes esteja no seu irmão ou no seu filho. E 1 em 8 de que esteja em um primo. Sendo assim, o que o neodarwinismo diz é: você não “ama” seus filhos e irmãos. São seus genes que vêem neles maneiras de se perpetuar. E é por isso que você os ajuda. O geneticista John Hal- dane (1892-1964), um dos pioneiros do neodarwinismo, quis deixar isso claro quando lhe perguntaram se ele daria a vida por um irmão. A resposta: “Não. Mas daria por 2 irmãos ou 8 primos”. Revista Superinteressante, Ed. 240, junho de 2007, disponível em http://super.abril.com.br/revista/240/ma- teria_revista_234211.shtml?pagina=1, acesso em 20/04/2010. Capítulo 2 Hieraquia de organização 1. Níveis de organização Denomina-se hierarquia a série contínua de graus ou escalas, em or- dem crescente ou decrescente. A vida também se dispõe hierarquicamente em várias escalas, as quais denominamos níveis de organização. Emboraexistam níveis de organização inferiores, na Biologia, utilizamos o nível mole- cular como ponto de partida da escala hierárquica, sendo seguido por orga- nelas, células, tecidos, órgãos, sistemas, organismos, populações, comunida- des, ecossistemas e biosfera. • Molécula: nível organizacional mais básico; os organismos vivos são for- mados por combinações complexas de moléculas inorgânicas, em espe- cial a água, e moléculas orgânicas, que são, principalmente, proteínas, lipí- dios, carboidratos e ácidos nucléicos. • Organela: estrutura intracelular compartimentalizada com funções especí- ficas, como a respiração realizada pela mitocôndria e a fotossíntese, pelos cloroplastos; presentes em células eucariontes. • Célula: unidade morfológica e funcional dos seres vivos; alguns indivíduos são formados por uma única célula (unicelulares) e outros por várias célu- las (pluricelulares); existem células de vários tipos, com as mais diversas especializações. Exemplos: miócito, neurônio, osteócito. • Tecido: conjunto de células com especializações semelhantes, que se unem para realizar a mesma função. Exemplos: tecido epitelial, tecido mus- cular, tecido nervoso. • Órgão: junção de tecidos em uma estrutura única para realizar uma ou mais funções complexas. Exemplos: estômago, rim, cérebro. • Sistema: seqüência de órgãos com ação coordenada, que desempenham funções vitais para o organismo. Exemplos: sistema digestório, sistema ner- voso, sistema urinário. • Organismo: ser vivo completo, que seja unicelular ou pluricelular, quando é formado por um conjunto integrado de sistemas. • População: conjunto de indivíduos da mesma espécie, que convivem compartilhando o mesmo nicho ecológico. Espécie: dizemos que pertencem à mesma espécie indivíduos entre os quais há fluxo gênico, que conseguem se reproduzir na natureza, gerando descendentes semelhantes e férteis. Leitão, A. M. F.; Vilar, J. L.; Almeida R. de.22 • Comunidade: conjunto de populações de espécies diferentes que vivem em um mesmo habitat; ou conjunto dos fatores bióticos do ambiente. • Ecossistema: conjunto de interações entre os indivíduos de uma comuni- dade, entre si e com os fatores abióticos do meio; um ecossistema pode ser estudado em várias escalas e dimensões, por exemplo, uma gota de água do mar, um aquário, uma floresta etc. • Biosfera: conjunto de todos os ecossistemas da Terra; ou camada do pla- neta que sofre interferência dos fatores bióticos. Nicho ecológico: Localização e função física de um organismo num ecossistema. 2. Conceito de ecossistema Como vimos, um ecossistema corresponde ao conjunto de interações existentes entre os fatores bióticos (seres vivos) e abióticos de uma determinada área ou habitat. Entendem-se como fatores abióticos todos aqueles relaciona- dos apenas à matéria não-viva, como a concentração de sais minerais no solo, a temperatura, a pluviosidade, a umidade do ar, a incidência da luz etc. É difícil dizer onde começa ou termina um ecossistema, ou seja, qual ou quais os seus limites. Para efeito de estudo, geralmente, são determinadas dimensões que não existem naturalmente. Assim, um ecossistema pode ter desde alguns cm² até milhares de km². Entretanto, para uma melhor compre- ensão e mesmo para possibilitar as investigações científicas, existem algu- mas convenções adotadas, como a separação entre os ecossistemas aquá- ticos e terrestres. Os grandes ecossistemas brasileiros, por exemplo, são tradicionalmen- te divididos em: floresta amazônica, mata dos cocais, caatinga, complexo Exemplo de Ecossistema Habitat: Lugar onde um animal ou planta vive ou se desenvolve normalmente, geralmente diferenciado por características físicas ou por plantas dominantes. Sistemas Biológicos 23 do pantanal, cerrado, mata de araucárias, campos e ecossistemas litorâne- os (restinga, dunas, manguezal etc.). Além disso, a costa brasileira pode ser tratada como um vasto ecossistema marinho. Nesse momento, é importante deixar claro que os ecossistemas não apresentam uma fronteira, um limite definido. Entre um ecossistema e outro existe uma zona de transição cha- mada de ecótono. Algumas vezes, o ecótono pode possuir características singulares a ponto de ser tratado como um ecossistema, como é o caso da mata dos cocais, que é um ecossistema de transição entre floresta amazônica e a caatinga. Ecossistemas Brasileiros 3. Propriedades emergentes Uma propriedade emergente pode surgir quando certo número de enti- dades simples interage em um ambiente e, coletivamente, obtêm característi- cas ou desempenham tarefas mais complexas. A propriedade emergente em si pode ser muito previsível ou imprevisível e inesperada, o que é mais comum, representando um novo nível de evolução do sistema. Uma propriedade emer- gente complexa não está presente em nenhuma das entidades simples, nem pode ser facilmente previsível ou deduzida a partir do comportamento de enti- dades de níveis inferiores: elas são irredutíveis. Por exemplo, nenhuma proprie- Leitão, A. M. F.; Vilar, J. L.; Almeida R. de.24 dade física de uma única molécula de gás levaria alguém a pensar que uma grande quantidade dessas moléculas seria capaz de transmitir ondas sonoras. Uma razão que demonstra a dificuldade de prever uma propriedade emergente é a quantidade de interações que pode existir entre os compo- nentes de um sistema, que aumenta exponencialmente com o aumento do número de componentes, o que potencializa a emergência súbita de novas propriedades. A observação desse fato é tão importante que não é possível, nem mesmo para um computador, determinar o número de arranjos existen- tes em um pequeno sistema de 20 moléculas. Entretanto, não é só o número de conexões entre os componentes que favorece a emergência, mas também a organização estabelecida na formação dessas conexões. Através dos níveis da hierarquia de organização dos seres vivos sur- gem diversas propriedades emergentes, que podem parecer padronizadas, mas que não seguem uma regra e não são criadas por um evento isolado. Nada comanda um sistema para o surgimento de um padrão, pelo contrário, a interação de cada componente com o meio ao seu redor inicia uma comple- xa cadeia de eventos que geram alguma ordem. Pode-se concluir que uma propriedade emergente representa mais do que o somatório das propriedades dos componentes do sistema, pois ela não surge apenas da coexistência des- ses componentes, e sim da interação entre eles. Sistemas com propriedades emergentes parecem desafiar os princí- pios da entropia e da segunda lei da termodinâmica, porque eles formam e aumentam a ordem apesar da ausência de um comando ou controle central. Isso pode ocorrer, pois sistemas abertos podem trocar (receber e transmitir) informações com o ambiente. Podemos encontrar propriedades emergentes em muitos fenômenos natu- rais, desde o contexto físico até o biológico. Retomando o exemplo dos níveis de organização da vida, podemos encontrar a seguinte seqüência: uma combinação de átomos dando origem a moléculas como as cadeias polipeptídicas, que se do- bram e enovelam formando proteínas, que podem adquirir uma estrutura espacial complexa ou interagir com outras moléculas para executar funções biológicas mais elaboradas e, eventualmente, fazer parte de um novo organismo. Ana- lisando o outro extremo da escala organizacional, todas as comunidades do mundo unem-se, compondo a biosfera, onde os seres humanos participam formando as sociedades, onde existem interações complexas de onde emer- gem diversas propriedades, como os sistemas de governo e o mercado. Outro exemplo biológico, mais simples, é a formação de grupos orga- nizados de animais, como uma sociedade de formigas ou de outros insetos sociais, um cardume de peixes, um rebanho de mamíferos, uma colméia de abelhas ou um bando de pássaros. Você já observou que muitas espécies de pássaros organizam-se durante o vôo formando um V e que eles alternam as posições durante o percurso? Esse comportamentoé uma propriedade que emerge da formação do bando. Ecótono: Área de transição entre dois ou mais habitats ou ecossistemas distintos, que pode ter características de ambos ou próprias. Os limites de uma floresta, perto de um campo ou gramado, é um ecótono, do mesmo modo que as savanas entre florestas e pastagens. Sistemas Biológicos 25 Na física, também podemos observar propriedades emergentes como, por exemplo, a formação das cores: partículas sem cor, prótons e elétrons organizam-se para formar um átomo e, por conta desse arranjo específico, é possível que um elétron movimente-se entre as camadas da elestrosfera, emitindo fótons coloridos. Atividades de avaliação 1. A partir de uma célula eucariótica, crie uma série de níveis de organização integrados até ecossistema. 2. Tendo como base as informações deste Manual, utilizando suas palavras, conceitue ecossistemas e cite três novos exemplos. 3. Identifique e explique com detalhes conceituais dois exemplos de proprie- dades emergentes na física. Capítulo 3 Diversidade da vida 1. Nomenclatura científica A Taxonomia (do grego taxis = ordem, arranjo + nomos = lei, ciência) é a ciência que estuda e pratica a classificação dos seres vivos, distribuindo-os em grupos de acordo com suas características e nomeando-os de maneira que possam ser reconhecidos em todos os lugares do planeta. Atualmente, a taxonomia também é conhecida como Sistemática Biológica. Embora a definição pareça simples, muitos cientistas já tentaram criar um esquema prático para o agrupamento dos seres vivos, mas nenhuma das classificações existentes até hoje é considerada perfeita. Tipicamente, são usadas unidades taxonômicas conhecidas como táxon (no plural, táxons), organizadas em uma estrutura hierárquica que expressa as relações existentes entre os seres vivos. A seqüência básica de táxons inicia-se, no seu nível mais baixo, com a categoria de Espécie, seguida de Gênero, Fa- mília, Ordem, Classe, Filo e, por fim, Reino. Ainda podem existir sub-táxons ou super-táxons, como super-Classe e sub-Filo. A distribuição dos animais e plan- tas até a categoria de super-Família está sob a regulamentação dos Códigos Internacionais de Nomenclatura Zoológica e Botânica, respectivamente, porém, para os demais organismos e as categorias superiores, não é estabelecido ne- nhum controle oficial. Contudo, as propostas de alterações das classificações taxonômicas são feitas por cientistas, após pesquisas detalhadas. Há alguns anos, a pesquisa científica na taxonomia vem sofrendo mudanças expressivas, pois os avanços nas áreas de Genética e Biologia Molecular permitiram o estu- do das relações entre os organismos em nível de DNA e RNA. Os primeiros passos para a classificação dos organismos foram dados, provavelmente, pelo filósofo grego Aristóteles, separando as plantas dos ani- mais, subdividindo estes de acordo com o meio em que se moviam (terra, água ou ar) e introduzindo os primeiros termos classificatórios, que foram re- modelados conceitualmente e utilizados por Lineu em seus trabalhos, desen- volvidos no século XVIII. Nesse interstício, muitos sábios, filósofos, pensado- res, naturalistas, botânicos e zoólogos comentaram e propuseram métodos de classificação para os seres vivos, mas a maior contribuição desses cientis- Nas regras de nomenclatura científica, as palavras devem ser escritas em Latim ou latinizadas, através de uso de sufixos convencionados. O Latim foi escolhido para a nomenclatura científica por ser uma língua morta, que não é falada oficialmente em nenhum país, e por ser antiga e tradicional. Entretanto, alguns termos de uso frequente sofreram alteração de sua origem do latim, como é o caso da palavra taxum, cujo plural é taxa, que foram, ao longo do tempo, substituídas, respectivamente, por táxon e táxons. Leitão, A. M. F.; Vilar, J. L.; Almeida R. de.28 tas, chamados de metodistas por Lineu, foi a criação de diversas coleções de organismos, com descrições detalhadas de suas estruturas, inclusive análises microscópicas. Em 1735, Karl von Linnée, Carolus Linnaeus, ou simplesmente Lineu, publicou a primeira das 12 edições da obra “Systema Naturae”, que dividiu a natureza em três reinos: mineral, vegetal e animal; e criou cinco táxons: classe, ordem, gênero, espécie e variedade. Além disso, a Taxonomia sofreu modifi- cações profundas, tornando-se mais acessível e prática, pois aboliu os longos nomes descritivos, criou chaves de classificação detalhadas (characteres na- turales) para os gêneros e integrou as variedades dentro de suas respectivas espécies, evitando a criação constante de um grande número destas. Entre- tanto, a maior contribuição de Lineu foi o estabelecimento da nomenclatura binomial das espécies, que foi baseada nas características que ele conside- rou mais relevantes entre as contidas nas frases descritivas de cada espécie. Esse trabalho foi refinado ao longo dos anos até a publicação das últimas edições das obras “Systema Naturae” e “Species Plantarum”, que servem de referência para a nomenclatura de animais e plantas, respectivamente. A nomenclatura binomial, hoje conhecida como nomenclatura biológi- ca, apresenta um conjunto de normas para a criação dos nomes científicos, como especificado abaixo: Deve ser composto por duas palavras: a primeira, iniciada com letra maiúscula, referente ao gênero (nome genérico ou epíteto genérico) e a se- gunda, toda em letras minúsculas, referente à espécie (nome específico ou epíteto específico). Deve ser escrito em latim ou as palavras que o compõem devem ser latinizadas. Deve ser destacado do texto onde são escritos, aparecendo em itálico ou sublinhados, se manuscrito. Para Lineu, o epíteto específico deve ser um nome pequeno, único (ao menos dentro de um mesmo gênero) e fixo (que não varie independente das mudanças de classificação). Isso permitiu a difusão da nomenclatura cientí- fica dentro da comunidade acadêmica, tendo uma excelente aceitação nos dias atuais, permitindo que as espécies e, inclusive, as variedades, sejam re- conhecidas pelo mesmo nome em qualquer lugar do planeta, independente da língua e do nome comum (ou nome vulgar) pelo qual ela seja conhecida no local. É possível encontrar epítetos específicos iguais em espécies perten- centes a gêneros diferentes, como Arthemisia vulgaris e Strongylus vulgaris. Embora não seja uma regra, é usual que o nome científico de uma es- pécie seja escrito por inteiro quando citado pela primeira vez em um texto, podendo ser abreviado nas demais ocasiões. Para algumas espécies muito Sistemas Biológicos 29 corriqueiras, a abreviatura é utilizada sem maiores esclarecimentos. A técnica para abreviar um nome científico é simples: escrever a primeira letra do epíteto genérico seguida de um ponto e grafar o epíteto específico inteiro. Mesmo abreviado, o nome deve aparecer destacado no texto, como explicado ante- riormente. Exemplificando, os nomes científicos do homem e do cão domésti- co são, respectivamente, Homo sapiens e Canis familiaris, abreviando, temos H. sapiens e C. familiaris. O nome específico pode ser acrescido do nome de seu primeiro autor, grafado com caracteres iguais ao do texto como um todo (não destacado) e iniciado com letra maiúscula. Alguns cientistas foram importantes autores dentro da nomenclatura científica e seus nomes têm abreviaturas aceitas uni- versalmente, como é o caso de L., que significa Lineu. Caso o nome de uma espécie sofra alterações, a citação do primeiro autor deve ficar entre parênte- sis, sucedida pela citação do segundo autor. Também existem regras de nomenclatura para alguns dos outros tá- xons. Contudo, essas regras são mais simples, consistindo apenas no acrés- cimo de desinências (sufixos) aos nomes, de forma que seja possível reco- nhecer o táxon que está sendo referido. Verifique alguns exemplos dessas terminações características na tabela abaixo (Tabela 1): Tabela 1 Exemplos de desinências para táxonssuperiores a espécie Táxon Desinência / Exemplo Plantas Animais Divisão / Filo - phyta / Anthophyta - Classe - opsida / Lycopodiopsida - Ordem - ales / Asparagales - Família - aceae / Cactaceae - idae / Hominidae 2. Classificação atual dos seres vivos A classificação biológica atual tem suas raízes nos trabalhos desenvol- vidos por Lineu, que se baseou nas características físicas dos organismos para agrupá-los em diferentes categorias ou táxons. Embora as categorias hierárquicas mais tradicionais sejam Reino, Filo, Classe, Ordem, Família, Gê- nero e Espécie, é comum que o termo Filo seja substituído por Divisão na no- menclatura dos vegetais. Além disso, um táxon superior a Reino, o Domínio, tem sido cada vez mais aceito e utilizado, e as categorias Subespécie e Va- riedade ainda não são consideradas táxons inferiores a espécie, mas também possuem ampla utilização. Observe o diagrama a seguir para compreender melhor como foram idealizadas e quais são as mais importantes classificações propostas. Diante Leitão, A. M. F.; Vilar, J. L.; Almeida R. de.30 da diversidade de seres vivos existentes, é fácil admitir que não exista um consenso sobre como eles devem ser agrupados, e, portanto, não há uma classificação perfeita e definitiva. Agregados a essa diversidade, temos os avanços da ciência, que permitem a comparação dos seres vivos não apenas através de suas características físicas, mas também pela semelhança entre o material genético. Principais classificações dos seres vivos. * As dimensões das quadrículas que representam cada categoria correspondem à diversidade de seres vivos que elas englobam. A comunidade científica ainda recebe com melhores olhos a classifi- cação dos cinco Reinos (de Whittaker, 1969), embora já admita que o Reino Monera necessite ser divido. Esta divisão foi proposta por Woese e colabora- dores em dois momentos, 1977 e 1990, quando sugeriu, respectivamente, a criação de um sexto Reino, dividindo Monera em Bacteria e Achaebacteria; e a criação de três Domínios, dividindo o Reino Monera nos Domínios Bacteria e Archaea e agrupando todos os seres eucariontes em um grande Domínio chamado Eucarya. Whittaker baseou sua classificação na organização do corpo dos seres vivos, de forma que eles poderiam ser procariontes ou eucariontes, unice- lulares ou pluricelulares, e ainda subdividiu os eucariontes pluricelulares de acordo com as formas de nutrição, quais fossem fotossíntese, absorção ou ingestão de alimentos. Woese e sua equipe desenvolveram seus trabalhos a partir da década de 70, o que lhes permitiu utilizar uma série de recursos tecnológicos que não estavam disponíveis para os seus antecessores, especialmente, as técnicas de manipulação e análise do material genético dos seres vivos. Então, com- parando o RNA que compõe os ribossomos (RNAr), eles puderam determinar Autor principal Lineu Haeckel Chatton Copeland Whittaker Woese Margullis Woese Ano 1735 1866 1925 1938 1969 1977 1988 1990 Nº de catego- rias* 2 Reinos 3 Reinos 2 Impérios 4 Reinos 5 Reinos 6 Reinos 5 Reinos 3 Domínios Se re s viv os (Não inclusos na classifi- cação) Protista Prokaryota Monera Monera Eubacteria Monera Bacteria Archaebacteria Archaea Eukaryota Protista Protista Protista Protoctista Eucarya Fungi Fungi Fungi Vegetabilia Plantae Plantae Plantae Plantae Plantae Animalia Animalia Animalia Animalia Animalia Animalia Sistemas Biológicos 31 a semelhança genética existente entre os principais representantes dos seres vivos, criando a classificação em três Domínios. Com base nos dados obti- dos, esse grupo de pesquisadores propôs ainda a reorganização dos Reinos, dividindo o Domínio Eucarya nos reinos Fungi, Animalia, Plantae, Strameno- pila e Alveolata. As subdivisões de Woese não foram bem recebidas pelos taxonomis- tas e estimularam Lynn Margullis e Karlene Schwartz a defender, em 1988, a retomada do sistema de cinco Reinos de Whittaker, com uma única modifica- ção, a substituição do Reino Protista pelo Protoctista, que passaria a incluir, além dos seres eucarióticos unicelulares heterotróficos, as algas (eucarióticos autotróficos fotossintetizantes, unicelulares ou multicelulares) e os fungos uni- celulares flagelados. As informações sobre os seres pertencentes ao Reino Protista ainda são bastante controversas, existindo propostas de subdivisão dos Protistas em até doze Reinos diferentes. É muito provável que as pesquisas científicas nos próximos anos determinem profundas mudanças de classificação para essa categoria. Na classificação atual mais utilizada dos seres vivos temos, portanto, os Reinos: • Monera: todos os procariontes (unicelulares heterótrofos e autótrofos). • Protista: protozoários (eucariontes unicelulares heterótrofos) e algas (eu- cariontes, unicelulares ou multicelulares, fotossintetizantes não formadores de tecidos). • Fungi: fungos em geral (eucariontes heterótrofos, unicelulares ou multice- lulares, de nutrição por absorção). • Plantae: algas superiores e plantas (eucariontes pluricelulares autótrofos formadores de tecidos verdadeiros). • Animalia: todos os animais (eucariontes pluricelulares heterótrofos de nu- trição por ingestão). Os sistemas de classificação biológica moderna têm sofrido alterações motivadas por estudos genéticos e, também, por estudos evolucionistas, prin- cipalmente baseados nos pensamentos darwinianos sobre seleção natural. Os cientistas acreditam que a maneira mais comum para a criação de novas espécies se dá pelo aumento da diversidade entre os indivíduos ao longo do tempo, até o momento em que as diferenças são tão pronunciadas a ponto de caracterizar uma nova espécie. A esse tipo de especiação, damos o nome de cladogênese (do grego kládos = ramo + génesis = origem). Essa diferen- ciação entre os indivíduos de mesma espécie seria determinada por um iso- lamento geográfico ou distanciamento físico entre grupos ou populações de Leitão, A. M. F.; Vilar, J. L.; Almeida R. de.32 uma espécie, que passariam a habitar ambientes diferentes e, portanto, sofrer pressões seletivas diferentes, levando ao acúmulo de características adapta- tivas diversas, de forma progressiva, culminando com a impossibilidade de re- produção entre os dois grupos (isolamento reprodutivo), sendo considerados de espécies distintas. A Taxonomia Cladística ou, simplesmente, Cladística, organiza os gru- pos em árvores filogenéticas especiais, de acordo com novas características (apomorfias) que foram surgindo a partir de um ancestral comum. A repre- sentação do resultado de uma análise cladística também é conhecida como cladograma e os grupos gerados a partir dela são chamados de clados. É comum que haja correspondência entre os táxons e os clados, fazendo com que essas duas unidades, embora determinadas por métodos diferentes, re- cebam o mesmo nome. A montagem de um cladograma é feita a partir de um ancestral comum, que apresenta uma característica primitiva que origina duas características derivadas e, conseqüentemente, dois novos ramos no cladograma. O ponto de surgimento das novas características é chamado de “nó” e representa um momento no tempo evolutivo. Os novos clados possuem suas próprias ca- racterísticas primitivas, que podem dar origem a novas apomorfias, gerando novos clados e assim por diante. Cladograma elaborado por Woese quando criou os Domínios Bacteria, Archaea e Eucarya De acordo com a Cladística, a seqüência de surgimento dos seres vivos atuais a partir dos primitivos é: Monera, Protista, Plantas, Fungos e Animais. As plantas estão, portanto, filogeneticamente mais relacionadas aos protistas que os fungos, os quais se assemelham mais aos animais. Fora de qualquer sistema de classificação dos seres vivos, ainda exis- tem os vírus, que são seres acelulares compostos por ácido nucléico (DNA Sistemas Biológicos 33 ou RNA) circundado por moléculas de proteínas, embora se acredite que eles possam ter sido originados a partir de diferentes organismos celulares.A ori- gem evolutiva dos vírus sucederia a origem das células, que hoje compõem os seres vivos. Isoladamente, os vírus não são capazes de se reproduzir, po- rém, quando se encontram no interior de uma célula hospedeira, são capazes de dominar o maquinário celular, desviando o metabolismo para a produção de novas cópias virais. Atividades de avaliação 1. Crie um novo nome científico para a espécie humana e justifique suas es- colhas com base na classificação dos seres vivos e nas regras de nomen- clatura científica. 2. Pesquise um cladograma e identifique os critérios utilizados em sua montagem. Síntese da Parte 1 Ao longo da Unidade 1, você foi apresentado aos conceitos básicos da Biologia, conhecendo suas áreas e objetos de estudo, bem como as principais descobertas relacionadas ao conhecimento científico com implicações bioló- gicas. Caracterizamos os seres vivos com base em composição química, or- ganização celular, respostas a estímulos do ambiente, nutrição, metabolismo, crescimento, homeostase, reprodução, capacidade de adaptação ao meio e evolução. Também vimos como os seres vivos podem ser distribuídos em ní- veis de organização hierárquica e que novas propriedades e características podem emergir de cada um desses níveis. Além disso, estudamos como os cientistas buscam classificar e nomear os organismos vivos e as dificuldades encontradas diante da grande diversidade da vida. Leituras, filmes e sites @ Criação Sinopse: Charles Darwin (Paul Bettany) revolucionou toda a história da humanidade com sua extraordinária obra - A Origem das Espécies. Suas idéias chocaram a todos, mas foi dentro de sua família, em especial, sua es- posa Emma (Jennifer Connely), onde ele encontrou os maiores desafios a sua teoria. Darwin viveu um dilema entre fé e razão, amor e verdade. Leitão, A. M. F.; Vilar, J. L.; Almeida R. de.34 Ficha Técnica Título no Brasil: Criação - Título Original: Creation - País de Origem: Rei- no Unido - Gênero: Drama - Tempo de Duração: 108 minutos - Ano de Lança- mento: 2009 - Estréia no Brasil: 19/03/2010 - Estúdio/Distrib.: Imagem Filmes - Direção: Jon Amiel Referências PURVES, W. K. et al. Vida: a ciência da biologia. Porto Alegre: Artmed, 2009. 3v. CURTIS, H. Biologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2009. ODUM, E. P. Ecologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007. RAVEN, P. H.; EVERT, R. F.; EICHHORN, S. E. Biologia vegetal. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007. ALBERTS, B. et al. Biologia molecular da célula. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2004. PARTE As moléculas dos sistemas biológicos 2 Capítulo 1 Noções de Biologia Molecular e Bioquímica 1. Composição química dos seres vivos Para compreender de maneira mais ampla os mecanismos da fisiolo- gia, bem como a organização e o metabolismo dos seres vivos, é fundamental estudar a composição desses organismos. Os seres vivos são compostos por um conjunto de moléculas e áto- mos, e, portanto, assim como a matéria não-viva, encontram-se submetidos às leis naturais do universo. Entretanto, os elementos químicos constituintes da matéria viva estão presentes em proporções diferentes, formando molé- culas específicas. Os elementos químicos mais comuns nos seres vivos são carbono (C), hidrogênio (H), oxigênio (O), nitrogênio (N), fósforo (P) e enxofre (S), além de outros elementos que aparecem em menor quantidade, como os sais minerais, e formam moléculas e substâncias complexas, representadas especialmente pelos compostos orgânicos, como carboidratos, lipídios, prote- ínas e ácidos nucléicos. A composição química aproximada da matéria viva, tendo como refe- rência a célula eucariótica animal, é de 75 a 85% de água, 1% de sais mine- rais, 1% de carboidratos, 2 a 3% de lipídios, 10 a 15% de proteínas e 1% de ácidos nucléicos. O conhecimento acerca da composição química dos organismos vivos também pode ser utilizado para realizar a identificação de indivíduos. Esse método é comumente utilizado para classificar microorganismos com base na análise de suas características físicas e bioquímicas. A análise das caracterís- ticas físicas envolve uma grande variedade de fatores que não se alteram com a morte do microorganismo, já a análise bioquímica atualmente utilizada nos laboratórios requer microorganismos vivos, pois os critérios avaliados incluem produtos do metabolismo, reações antigênicas e enzimáticas, e até mesmo alterações na taxa de crescimento ou na morfologia induzidas quimicamente. Leitão, A. M. F.; Vilar, J. L.; Almeida R. de.38 Como nos próximos tópicos dessa unidade discorreremos sobre a água e as moléculas orgânicas, abriremos um espaço para ressaltar a importância de alguns compostos inorgânicos: os sais minerais. Apesar de serem encon- trados em uma proporção muito pequena nos seres vivos, a presença dos sais minerais é fundamental para a manutenção da vida. Podemos encontrar sais minerais dissolvidos na água que compõe o organismo na forma de íons e também constituindo estrututuras rígidas, como o esqueleto, nesse caso, sendo insolúveis. Na tabela abaixo, encontraremos informações relevantes sobre esse elementos. Sais Minerais Funções Fontes Deficiência Excesso Fósforo (P) Atua no sistema de tampão, faz parte da estrutura das membranas celulares, é componente essencial dos ácidos nucléicos. queijos, gema de ovo, leite, carnes, peixes, aves, cereais de trigo integral, legumes, castanhas. manifestações neuro- musculares, esqueléticas, hematológicas e renais. Não conhecido. Magnésio (Mg) síntese protéica, contrati- lidade muscular, excitação dos nervos. cereais de trigo integral, castanhas, carnes, leite, vegetais verdes, legumes. anorexia, falta de crescimento, alterações eletrocardiográficas e neu- romusculares, tetania. Não há referências. Sódio (Na) regulação do fluído extracelular e do volume plasmático, condução do impulso nervoso e controle da contração muscular. sais de cozinha, alimentos do mar, alimentos de origem animal, leite, ovos. normalmente não há. hipertensão arterial. Potássio (K) manutenção do equilíbrio hídrico normal, equilíbrio osmótico e equilíbrio ácido-básico normais, regulação da atividade neuromuscular, cresci- mento celular. frutas, leite, carnes, cereais, vegetais, legumes. fraqueza muscular, apatia mental, insuficiência cardíaca. confusão mental, dormência nas extremidades, respiração fraca e enfraquecimento da ação cardíaca. Cálcio (Ca) crescimento, gestação, lactação, construção e manutenção dos ossos e dentes, formação do coágulo, transporte nas membranas celulares, transmissão nervosa e regulação dos batimentos cardíacos. leite e derivados, sardinha, mariscos, ostras, repolho cre- spo, folhas de nabo, folhas de mostarda, brócolis. raquitismo, osteomalácia, osteoporose, escorbuto, tetania. hipercalcemia, calcificação intensa nos tecidos delica- dos (rins, pulmões). Ferro (Fe) componente da hemo- globina e mioglobina, importante na transferên- cia de O 2 . fígado, carnes, gema de ovo, legumes, grãos integrais ou enriquecidos, veg- etais verde-escuros, melaço escuro, camarão, ostras. anemia ferropriva, perdas sangüíneas não habituais, parasitas e má absorção. lesão tecidual, ulceração de mucosas, acidose metabóli- ca, dano hepático e alveolar e insuficiência renal (doses de 3 a 10g/dia). Sistemas Biológicos 39 Zinco (Zn) constituinte de diversas enzimas e insulina, impor- tante no metabolismo dos ácidos nucléicos. leite, fígado, molus- cos, arenque, farelo de trigo. alterações na gustação, diarréia, depressão mental, paranóias, dermatites oral e perioral, alopecia. irritação gastrointestinal ou vômitos, deficiência de cobre. Cobre (Cu) constituinte de enzimas de ceruroplasmina e ritrocu- preína no sangue; pode ser parte integral da molécula de DNA e RNA. fígado, moluscos, grãos integrais, cerejas, legumes, rins, aves, ostras, choco- lates, castanhas, cereais, frutassecas, mariscos, tecidos animais. não há ocorrência. doença de Wilson. Iodo (I) integrante dos hormônios da tireódie. sal de cozinha iodado, alimentos do mar, água e vegetais de regiões não boci- ogênicas. bócio simples ou endêmico. não há referências. Manganês (Mn) ativador de diversas enzimas. folha de beter- raba, amora, grãos integrais, castanhas, legumes, frutas, chá. esterilidade, anomalias es- queléticas e ataxia de prole de mães deficientes. sintomas semelhantes às doenças de Parkinson e Wilson. Flúor (F) reduz cáries dentárias e pode minimizar a perda óssea. água potável, chá, café, arroz, soja, espinafre, gelatina, cebola, alface. aumento da incidência de cáries dentárias. hipocalcemia e pos- sível hiperparatireoidismo secundário. Selênio (Se) antioxidante, associado ao metabolismo de gorduras e de vitamina E. grãos, cebola, carne, leite. músculos flácidos, miopatia cardíaca, aumento de fragilidade das células vermelhas sangüíneas e degeneração protéica. aumento da incidência de cáries dentárias. 2. Água e sua importância para os organismos vivos A água é uma substância química encontrada nos mais diversos am- bientes, composta por hidrogênio (H) e oxigênio (O), sendo uma molécula imprescindível a todas as formas de vida conhecidas. Por exemplo, uma bac- téria contém 70% de água, o corpo humano de 60 a 70%, uma planta mais de 90% e uma água-viva, 94 a 98% de água. Na Terra, a maior concentração de água está nos oceanos, correspon- dendo a 97% da água do planeta; 2,4% correspondem às formações glaciais e às calotas polares; e o restante é representado por outras coleções de água superficiais, como lagos e rios. A água cobre 71% da superfície da Terra, mas ainda podemos encontrar aquíferos subterrâneos e, na atmosfera, na forma de vapor ou formando nuvens. Uma quantidade muito pequena de água fica concentrada nos organismos vivos. Em pressão e temperatura ambiente, a água é um líquido inodoro, Leitão, A. M. F.; Vilar, J. L.; Almeida R. de.40 insípido (sem gosto) e, em pequenas quantidades, incolor. É a transparên- cia da água que permite a vida de seres aquáticos fotossintetizantes como algas, já que a luz do sol pode alcançá-los. A molécula de água é formada por um átomo central de oxigênio as- sociado a dois de hidrogênio, compartilhando com cada um deles um par de elétrons em ligação covalente. A diferença de eletronegatividade entre O e H faz com que os elétrons de ligação aproximem-se mais do O, deixando-o com uma carga parcial negativa, enquanto os de H ficam com uma carga parcial positiva, tornando a molécula polarizada. A natureza polar da água favorece sua adesão a várias outras moléculas. Além de ser mais eletro- negativo, o oxigênio ainda apresenta dois pares de elétrons não ligantes, que se organizam de maneira que as forças de repulsão entre os elétrons (inclusive os da ligação com H) sejam mínimas. Isso faz com que os pares de elétrons assumam uma disposição geométrica tetraédrica, onde o ângulo entre os pares de elétrons é de 109,5º. Entretanto, os pares de elétrons não ligantes exercem uma força maior de repulsão sobre aqueles que formam a ligação com o O, o que resulta em uma aproximação entre ligações O-H, que passam a formar um ângulo de 104,5º. Por isso, dizemos que a molécu- la de água tem geometria angular. (Fig.1) Essa estrutura da molécula da água confe- re a ela uma série de propriedades. A capilaridade se refere à tendência de a água líquida ascender em um tubo contra a força da gravidade, propor- cionada pela aderência entre moléculas de água e destas com as paredes do tubo. Essa proprie- dade auxilia a subida da seiva bruta das raízes em direção às folhas nas plantas vasculares. As dimensões reduzidas e a polaridade da molécula da água permitem que ela seja um bom solvente, sendo considerada o “solvente univer- sal”. As substâncias polares como sais, açúcares, alcoóis, além de gases são solúveis em água, enquanto as apolares como alcanos, óleos e gor- duras são insolúveis em água. Aquelas substâncias que misturadas com a água formam um líquido com uma única fase, chamamos de miscíveis; quando a mistura forma mais de uma fase, chamamos imiscíveis. Ainda po- demos classificar as substâncias de acordo com a afinidade com a água, denominando de hidrofílicas as substâncias que possuem afinidade e hidro- fóbicas aquelas que não possuem afinidade com a água. A água pura apre- senta baixa condutividade elétrica, porém, quando existem íons em solução, a condutividade aumenta expressivamente. A maioria dos componentes ce- lulares encontra-se dissolvida em água. Fig. 1: molécula da água e suas ligações. Sistemas Biológicos 41 Outras propriedades da água são os pontos de fusão (0ºC, a 1 ATM) e ebulição (100ºC, a 1 ATM), além do alto calor específico (1cal/g ºC). São essas características que permitem a existência de água líquida em quase todos os ambientes terrestres e impedem as grandes oscilações de tempe- ratura, o que é essencial para existência de vida. O ciclo da água O ciclo da água, ou ciclo hidrológico compreende um processo contí- nuo de troca de água entre a atmosfera, o solo, as águas superficiais (oce- anos, rios, lagos etc.), as águas subterrâneas e os seres vivos. A todos os locais onde existe água na Terra e, portanto, entre os quais ocorre o ciclo da água, chamamos de hidrosfera.O movimento da água entre esses ambien- tes é feito através da evaporação, da precipitação e da transferência de água. A evaporação ocorre em todas as águas superficiais ou presentes no solo, bem como na superfície de todos os seres vivos que apresentam transpiração (animais e plantas); nesse processo, a água passa do estado físico líquido para o gasoso, na forma de vapor d’água, que se acumula na atmosfera, formando nuvens. À medida que as nuvens acumulam vapor d’água, tornam-se mais densas, até ocorrer a condensação e a precipita- ção (chuva), que devolve a água ao solo, aos oceanos, rios, lagos etc. O aporte de água para o oceano não se deve apenas à precipitação; o volu- me de água que evapora nos oceanos é, em grande parte, reposto pela transferência de água da terra para o mar, através do escoamento de água pelo solo e da desem- bocadura de rios que, geral- mente, correm para o mar. (Fig. 2) Do ponto de vista bio- lógico, a água tem um papel crucial, visto que todas as formas de vida conhecidas dependem dela, seja como solvente dos vários compo- nentes orgânicos, seja como participante essencial em muitos processos metabólicos nos seres vivos. Metabolismo é o conjunto de todas as rea- Leitão, A. M. F.; Vilar, J. L.; Almeida R. de.42 ções anabólicas e catabólicas. Nas sínteses anabólicas, a água é retirada das moléculas em reações catalisadas por enzimas (síntese por desidratação) com o objetivo de formar moléculas maiores, que participarão da estrutura ou de outras reações do organismo. No catabolismo, a água é usada para quebrar li- gações (reações de hidrólise), com o intuito de formar moléculas menores, para liberação de energia para as reações do organismo ou para degradar partícu- las estranhas e componentes velhos do organismo. Portanto, sem água, esses processos metabólicos cessariam, inviabilizando a vida como a conhecemos. A água também tem seu papel central na fotossíntese e na respiração. Células fotossintéticas utilizam a energia proveniente do sol para separar o oxigênio dos hidrogênios da água, que são combinados com o CO2 absorvido do ar ou da água ambiente para formar glicose, liberando oxigênio (O2) para a atmosfera. Já na respiração, moléculas energéticas de origem carbônica, pre- ferencialmente, a glicose são utilizadas como combustível, sendo oxidadas até recompor a água e o CO2. A energia contida nessas moléculas que, primaria- mente, corresponde à energia absorvida no processo de fotossíntese é captu- rada e armazenada transitoriamente em moléculas especiais como o ATP, que é responsável por fornecer energia
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