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A HISTÓRIA DA JUSTIÇA NO BRASIL COLONIAL - Após um grande período marcado pelas disputas políticas locais, surgiram três formulações importantes: ESTADO: * É ainda um fruto de um Estado com características, mas com um novo sistema burocrático. * Ao invés das relações serem marcadas pela nobreza (ainda que as relações de privilégios e nobiliárquicas continuem fortes) passamos a ter a constituição de uma burocracia estatal. * Comando e sistemas de armas: sujeitos que receberam direitos de administrar setores distintos, formando dessa forma um corpo de servidores com uma força institucionalizada de apresentar o resultado de seus trabalhos. * O Estado Medieval evoluiu para o Estado Moderno centrado em funções que fossem administrativas e burocráticas e cada vez mais complexas. Tal monarquia envolvia- se em conflitos militares, mas também em cobranças de impostos e administração de uma parte do erário (conjunto dos recursos financeiros públicos, os dinheiros e bens do Estado) que passou a ser entendido como público. MERCANTILISMO: * Na modernidade passamos a perceber que há uma ação ainda mais direta do governo nas relações comerciais. * Ele não só cobrava imposto, como agora dirimia questões, atuava para fortalecer o seu corpo de comerciantes e usava de sua burocracia para controlar e fomentar as estruturas comerciais. Como, oferecendo parte do tesouro da própria Coroa para um empreendimento, na cessão de terras e direitos de exploração, facilitação de impostos e etc. TECNOLOGIAS: * Uma das características do século XV foi a mudança do papel da técnica. As corporações de ofícios ganharam peso nas cidades, criaram organizações e fomentaram novas invenções que permitiram a melhoria de seu trabalho. * Com as guerras, novos canhões, armas, pólvoras e combustíveis passaram a ser cada vez mais poderosas e necessárias. E a prensa se tornou outra tecnologia poderosa que ganhou força. * A tecnologia que antes era vista como algo poderoso, passa a ser uma busca necessária, como navios capazes de enfrentar os oceanos com certa segurança. As tecnologias trazidas do Oriente permitiram as navegações em grandes distâncias. A FORMAÇÃO DO SISTEMA COLONIAL - O motivo principal das coroas terem empreendido nas viagens marítimas foi a tentativa de retornar o lucrativo comércio que foi dominado por eles durante os séculos e também para se lançarem aos mares. - Os dois pequenos países foram pioneiros em construir impérios coloniais, ocupando primeiro o litoral, fazendo postos comerciais, e depois mergulhando no ideal colonialista, na exploração e no domínio de terras. ESTRUTURA JUDICIÁRIA PORTUGUESA: - A estrutura judiciária portuguesa nas colônias estava fortemente ligada ao sistema legal e administrativo do império português. - Após a expansão do Reino com a reconquista do território da Península Ibérica aos mulçumanos, e a uniformização das normas legais, consolidadas nas Ordenações do Reino, surgiu novas figuras que exerceram o cargo judicante como: * Juízes da Terra: eram eleitos pela comunidade, não sendo letrados, apreciavam mais as causas em que se aplicava o direito local, cuja jurisdição era simbolizada por um bastão vermelho que eles empunhavam. * Juízes de Fora: Eram nomeados pelo rei entre bacharéis letrados, com a finalidade ser o suporte do rei nas localidades, garantindo assim a aplicação das ordenações gerais do Reino. Juízes de órfãos possuem a função de serem os guardiões dos órfãos e de suas heranças, solucionando as questões sucessórias ligadas a eles. * Provedores: Eram considerados acima dos Juízes de órfãos, sendo responsáveis por cuidar das instituições de caridade como hospitais e irmandades, e legitimar os testamentos, que eram feitos na maioria das vezes de forma verbal, ocasionando conflitos. * Corregedores: Eram nomeados pelo rei com a responsabilidade investigatória e recursal, inspecionavam a administração da justiça nas cidades e vilas, julgando as causas em que os juízes estavam implicados. * Desembargadores: São da alta magistratura de 2° instância, eles apreciavam as apelações e os recursos de suplicação (eram usados para obter a clemência real). Recebiam esse nome porque desembargavam diretamente com o rei. - A partir de 1521, o Desembargo de Paço tornou-se um corte independente e especial, e em 1532, foi criada a Mesa de Consciência e Ordens para a resolução dos casos jurídicos e administrativos referentes às ordens militares e religiosas, que tinham foro privilegiado. Acabou exorbitando sua função, para julgar as causas eclesiásticas envolvendo os clérigos do Reino. - A Casa de Suplicação se tornou a Corte Suprema para Portugal e para suas colônias, com a instituição dos tribunais de Relação como cortes de segunda instância. * Foram criadas as relações do Porto, para Portugal, para o Brasil e de Goa para a Índia. * Dessa forma, a Casa de Suplicação passou a ser o intérprete máximo do direito português, constituindo suas decisões assentos que deveriam ser acolhidos pelas instâncias inferiores como jurisprudências vinculantes. ESTRTURA EM TRANSPOSIÇÃO: - A unidade básica do Sistema Judiciário no Brasil Colonial era o conselho que abrigava o meirinho e o tabelião. O funcionário mais importante era o juiz ordinário ou juiz da terra. Para ser eleito para essa função era necessário ser um homem bom da localidade, que misturava tanto atribuições judiciais como administrativas. - Normalmente eram escolhidos dois juízes ordinários para o conselho de cada cidade. Com o passar do tempo a Coroa notou que esses juízes sofriam ameaças constante ou utilizavam de suas posições para favorecimentos ou abusos, e então em 1352 foi criado o cargo de juiz de fora. - Os juízes de fora eram escolhidos pelo rei, tornando-os menos suscetíveis às pressões locais. Em 1580, já estavam presentes em mais de cinquenta cidades. Já os juízes de órfãos eram considerados funcionários de nível municipal, atuando em cidades com mais de 400 habitantes. - Quando as cidades possuíam uma habitação inferior a 400 habitantes, o juiz ordinário fazia a função de juiz dos órfãos: * Cadastrar os órfãos de sua jurisdição * Arrolar os bens e os móveis * Fazer inventários sempre que os herdeiros fossem menores de 25 anos * Autorizar casamentos * Velar os bens e a educação - Em nível superior a 400 habitantes, havia o provedor que era responsável também pelos hospitais e as irmandades leigas, legitimações de testamento e a coleta de alguns aluguéis e impostos. - As relações eram os tribunais de segunda instância para onde eram enviados as apelações e os agravos de sentença e despachos dos juízes ordinários e de órfãos. - A organização judiciária do império português incluía: Relação do Porto, 3 tribunais da Relação em além-mar (Goa, Bahia e Rio de Janeiro) e a Casa da Suplicação, que, além de funcionar como Relação de Lisboa, funcionava como tribunal de última instância, cuja organização interna e procedimentos foram utilizados de modelo para outros tribunais. - Desembargo do Paço: não era um tribunal, e sim um conselho governamental, cuja principal função era a assessoria para assuntos de justiça e administração. - Mesa de Consciência e Ordens: era análoga ao Desembargo de Paço, e era um conselho para assuntos relacionados à Igreja, consciência real e o Santo Ofício. - Relação de Goa: foi o primeiro tribunal de apelação a ser criado além do mar, e logo após ser instalado sofreu com reclamações sobre os seus magistrados. A ideia era propor uma forma de reduzir os processos e os litígios de um espaço como as colônias em que a distância do centro ampliava os embates políticos, gerando na maior parte das vezes a violência. - A Coroa Portuguesa detectou a necessidade de centralização após, em 1533, iniciar o estabelecimentodas capitanias hereditárias, e buscar estabelecer privilégios aos donatários, como isenções fiscais, não gerando nenhum aumento do poder real. ENTRE A ADMINISTRAÇÃO E A FUNDAÇÃO DE UM SISTEMA JUDICIÁRIO: - Com a ineficiência das capitanias hereditárias, a Coroa Portuguesa decidiu centralizar o governo do Brasil na criação de um cargo de governador-geral e do fornecimento de oficiais de justiça. - Em 1549, foi criado esse cargo, com Tomé de Sousa sendo o seu ocupante, sua vinda marcou a chegada de homens incumbidos de ocupar diversas funções administrativas na colônia. - Durante as primeiras décadas de colonização do Brasil, a Justiça era algo muito distante da realidade, a força judicial, por força das ordenações era algo muito lento e a atuação da Ouvidora-geral quase se anulara. - As causas se eternizavam, as reclamações dirigidas a Casa da Suplicação eram contínuas e o Conselho Ultramarino não ligava para elas. - No final do século XVI, com o aumento do comércio do açúcar, a população da colônia cresceu, provocando o aumento no número de litígios. - Em Portugal, 1580 marca o início da União Ibérica, fortalecendo a necessidade de reformas no sistema judicial, incluindo os problemas com a Justiça Colonial. Quando o governo português pensou em rever a política central do Brasil, um dos principais problemas que exigiam preferência era aquele dizia respeito à Justiça, cuja reforma se mostrava necessária à administração do governador-geral, mas que precisava ser processada sem provocar conflitos com os donatários. - Com a Ascenção de Felipe II ao trono português foi tomada a decisão de criar um tribunal na América Portuguesa. No entanto, o Tribunal da Relação da Bahia de 1588 fracassou devido a um problema com a embarcação que transportava os desembargadores designados para instalar o tribunal nas terras brasileiras. - Com o passar dos anos, esses assuntos de criar um tribunal no Brasil acabou ficando parado, mas conforme as reclamações sobre as condutas dos oficiais de justiça da colônia só aumentavam esse assunto voltou à tona, culminando na instalação da Relação da Bahia em 1609. AS INSTITUIÇÕES BRASILEIRAS JURÍDICAS E SEU CONTEXTO: - Todos os tribunais portugueses seguiam o mesmo modelo de organização e o Tribunal da Relação no Brasil era subjugado à Casa da Suplicação, o regimento promulgado em 7 de março de 1609 determinava a composição da Relação da Bahia, com 10 desembargadores: * 1 chanceler * 3 desembargadores de agravos * 1 ouvidor-geral * 1 juiz de feitos da Coroa, Fazenda e Fisco e promotor da Justiça * 1 Procurador dos feitos da Coroa, Fazenda e Fisco * 1 Provedor dos feitos da Coroa, Fazenda e Fisco * 1 provedor dos defuntos e resíduos * 2 desembargadores extravagantes - O primeiro período da Relação da Bahia durou de 1609 até a supressão pelo alvará de 5 de abril de 1626, A invasão holandesa afetou a vida dos magistrados, então o chanceler Antão de Mesquita foi eleito líder da resistência para ser afastado pelo bispo Marcos Teixeira dias depois. A disputa do tribunal com o clero foi marcada por disputas de poder e entre as razões para a extinção da Relação da Bahia estaca à existência de inimizades na colônia, sendo o bispo um deles. - Além do próprio clero, a Câmara de Salvador sempre apresentou uma dubiedade em relação ao Tribunal de Relação, formando um relacionamento de cordialidade formal e hostilidade. A câmara não confiava na Relação, temendo que em algum momento seus poderes pudessem ser subtraídos ou que esse elemento jurídico pudesse atrapalhar os negócios das pessoas ali representadas. - Foi um clima de desagrado geral com o sistema judicial e a guerra contra os holandeses selou o destino da Relação da Bahia, fazendo a Coroa optar por encerrar o tribunal e alocar os vencimentos dos desembargadores para o sustento do Presídio da Gente de Guerra da Bahia de Todos os Santos. CONSELHO ULTRAMARINO - A criação do conselho ultramarino marcou uma nova etapa para as reformas administrativas e uma possibilidade: a volta da Relação na Bahia, com a Câmara de Salvador que antes teve um papel na sua extinção, agora teve um novo papel para o seu renascimento. O preâmbulo da lei de 12 de setembro de 1652, que a restaurou, deixou claro que havia um pedido da Câmara e dos moradores para que a Relação fosse reinstalada. - Uma das mudanças no regimento de 1652 foi a mudança no número de desembargadores, que passou a contar somente com 8, reduzindo: * 1 desembargador de agravos * 1 desembargador extravagante Outra mudança ocorrida foi o desmembramento do posto de ouvidor-geral para a criação de um ouvidor-geral do crime ouvidor-geral do cível. - Chanceleres: * Viam as cartas e as sentenças que foram dadas pelos desembargadores da Relação, seguindo a maneira feita pelo Chanceler da Casa da Suplicação. * Conheciam as suspeições postas aos desembargadores e demais oficiais. * Faziam audiências * Faziam uso do regimento entregue ao Chanceler de legislação extravagante quando pudessem ser aplicadas. - Desembargadores de Agravos: * Conheciam os agravos e as apelações das sentenças definitivas que o ouvidor-geral do cível e provedor deram aos defuntos e resíduos dos casos cíveis que não couberam em suas alçadas. * Conheciam as apelações dos casos criminais que saiam do ouvidor-geral e dos juízes ordinários e dos órfãos e de qualquer outro julgador da cidade de Salvador, dos ouvidores das capitanias e todas as sentenças de casos cíveis dadas por qualquer outro julgador do Brasil, que excederem a alçada deles. * Conheciam todas as apelações de casos criminais que vinham de todos os julgadores do Estado do Brasil. - Ouvidor-Geral do Crime: * Conheciam por ação nova os delitos que fossem cometidos na cidade de Salvador e em cada um dos lugares onde fosse a sua jurisdição. * Conheciam todos os instrumentos de agravo ou cartas testemunháveis ou feitos crimes nos casa em que se puder remeter, que vierem de quaisquer partes do Estado do Brasil. * Passavam as cartas de seguro * Advogavam por petição os feitos crimes. - Ouvidor-Geral do Cível: * Conheciam por ação nova todos os feitos cíveis da cidade de Salvador e dos lugares que forem da jurisdição. * Faziam as sentenças interlocutórias, e o regimento determinava também os valores de alçada. - Juízes dos Feitos da Coroa, Fazenda e Fisco: * Conheciam todos os feitos da Coroa e Fazenda por ação nova e por petição de agravo, fora de salvador, eles conheciam por apelação, por instrumento de agravo ou por cartas testemunháveis. * Serviam juntamente ao juiz do fisco e usavam em tudo o regimento dado ao juiz de fisco da Casa de Suplicação. * Conheciam todas as apelações e agravos que saiam do provedor-mor em casos que não couberam em suas alçadas. - Provedor das Fazendas dos Defuntos, Ausentes e Resíduos: * Conheciam por ação nova em Salvador e em toda a jurisdição dando o agravo nos casos que não couberem em sua alçada; deviam usar os regimentos e a legislação extravagante dos provedores dos órfãos e resíduos da cidade de Lisboa. * Tomavam cuidado de saber quando as naus e os navios do reino chegavam em Salvador e aos outros portos, se falecia alguma pessoa neles e o modo como se procedeu o inventário de suas fazendas, fazendo uma boa arrecadação. * Tinham particular cuidado de mandar todos os anos por letras nas naus e navios do Reino todo o dinheiro que houver em seu juízo proveniente dos defuntos, para ser entregue as pessoas a quem perceber. - Em adição aos desembargadores, a Relação da Bahia contava com mais oficiais, sendo esses um escrivão para a ouvidoria, outro para a ouvidoria cível, outro pra servir no Juízo da Coroa, Fazenda, Fisco e Chancelaria, um meirinho das cadeiras e um guarda da Relação. - As obrigaçõesdo governador na Relação da Bahia estavam definidas no título 1 do regimento de 1652, no primeiro parágrafo o governador deveria ir à Relação “às vezes que lhe parecer”, sem votar ou assinar sentenças, usando apenas o regimento usado pelo regedor da Casa de Suplicações, podendo usar leis extravagantes onde elas pudessem ser aplicadas. - O reestabelecimento não mudou nada significativo no papel do governador geral, a Coroa queria somente uma administração colonial que funcionasse tranquilamente, mas sem que existissem relações próximas entre os vários funcionários. TRIBUNAIS DA RELAÇÃO DO RIO DE JANEIRO E DA BAHIA - Por um século, a relação da Bahia foi o único tribunal no Brasil, na metade do século 18, a colonização do território brasileiro adquiriu novos contornos geográficos e econômicos, e a descoberta de ouro na região das Minas Gerais aumentou a relevância da região sul. Por isso, as vilas ao redor da zona de mineração passaram a exigir a Coroa um tribunal da relação no Rio de Janeiro. - Tal região foi ganhando importância econômico durante as primeiras décadas do século 18. Conforme a população aumentava, os volumes dos recursos enviado ao Tribunal da Relação também cresciam, fazendo com que a Coroa estabelecesse um novo tribunal que complete lasse as capitanias do sul, o que aconteceu em 1751, quando foi instituído a Relação do Rio de Janeiro. - Os principais motivos que de instituíram e deram regimento ao Tribunal do Rio de Janeiro foram as razões de distâncias, demoras, despesas e perigos, que foram citadas no preâmbulo da lei de 13 de outubro de 1751. * Essa norma também alega que a criação do novo tribunal estaria promovendo uma boa administração da Justiça, pois a população já havia requerido uma criação de uma nova Relação na cidade, e embora esses tenham sido os motivos oficiais para a sua instalação. * A criação desse tribunal no Rio de Janeiro representou um avanço significativo no reconhecimento da importância política da cidade, que em 1763 teria uma elevação à capital do vice reinado. - Porém, o fato do Rio de Janeiro possuir capitalidade a partir do século 18 não significou que houve um esgotamento dessa capitalidade, e dentre um dos motivos para isso não ter ocorrido foi o crescimento da economia da capitania e a influência política do D. Fernando José de Portugal e Castro, que governou a Bahia durante 1788 e 1801 e foi vice-rei do Brasil durante 1801 e 1806. * A economia de exportação da Bahia tece um crescimento real durante 1780 a 1860 devido ao aumento no volume de exportações e nas receitas em termos reais. - No âmbito do exercício da Justiça na colônia, pode parecer que a Relação da Bahia perdeu importância com a inauguração de um tribunal no Rio de Janeiro, mas não foi o que aconteceu, os únicos efeitos que afetaram a Relação da Bahia foram: a jurisdição e a quantidade dos desembargadores. * Embora o tribunal do Rio tenha recebido a jurisdição das capitanias do sul, a Relação da Bahia continuou com o norte- nordeste, e em 1753 recebeu a jurisdição do golfo da Guiné. A jurisdição da Relação da Bahia nas ilhas de São Tomé e Príncipe gerou um episódio controverso no tribunal no final século XVIII. - Quanto ao número de desembargadores vemos que houve uma diminuição, passando de 10 para 8. Em 1752, os outros dois foram realocados do Tribunal da Bahia para o do Rio de Janeiro afim de ajudar o inicio das atividades do novo tribunal. Com a partida deles a relação da Bahia ficou desfalcada e operando com apenas quatro ministros, o que fez com que o vice-rei informasse ao secretário do Estado da Marinha e dos Negócios Ultramarinos, Diogo de Mendonça Corte Real, que a falta a de desembargadores na Relação da Bahia comprometia a boa administração da Justiça. - Posteriormente, os desembargadores que foram transferidos, foram repostos entre 1752 e 1755. 14 magistrados ingressaram no tribunal e no decorrer da segunda metade do século XVIII o número de desembargadores na Relação da Bahia passou de 8 para 11. A Coroa conseguiu preservar a relevância da Relação da Bahia com dois tópicos: - O aumento do número de desembargadores - Inclusão dos territórios do Golfo da Guiné na jurisdição do tribunal. CONJURAÇÃO BAIANA DE 1798: - Ao chegar na cidade da Bahia em 1788, D. Fernando José de Portugal e Castro ficou encarregado de corrigir os desvios da malha burocrática da capitania que até 1763 tinha sido a sede do vice-reinado. Em relação à Justiça, o governador pediu para o secretário de Estado e Governo do Brasil, José Pires de Carvalho e Albuquerque que indicasse uma relação de advogados que tinham apresentado documentos probatórios de suas formações para continuarem exercendo a advocacia. - Dos 28 advogados presentes na capital da Bahia, apenas 16 apresentaram seus documentos probatórios, e os demais constavam na lista como “advogados por provisão” que significava a ausência de documentação e a falta de habilitação para a advocacia. Mesmo sem documentos, alguns advogados continuaram advogando na capitania por “provisão”. - Dos vários conflitos que José Pires de Carvalho e Albuquerque se envolveu, Antônio Barbosa de Oliveira testemunhou a seu favor na maioria deles. - Em 12 de agosto de 1798, Salvador foi surpreendida com vários boletins fixados em prédios públicos convocando o povo baiano para uma revolução, as autoridades agiram rapidamente, iniciando uma duvidosa investigação para descobrirem os autores desse ato. - Para dar inicio as investigações o secretário do Estado lembrou o governador do jeito atrevido de falar e o modo livre que o pardo Domingos da Silva Lisboa tinha, sugerindo a sua participação no ato revolucionário. Dias depois foram encontradas na Igreja do Carmo dois boletins com a autoria expressa de Domingos. Após isso, Fernando José pediu para o desembargador Avellar que fizesse um exame de comparação nas letras dos bilhetes, que revelou que a letra dos bilhetes era de Luiz Gonzaga das Virgens e Veiga, um homem pardo e soldado do Primeiro Regimento de Linha de Salvador e Quarta Companhia de Granadeiros. - O mesmo pediu para que D. Fernando o nomeasse Ajudante do quarto Regimento de Milícias desta Cidade, que seria composto por homens pardos, e também deveriam ser atendidos igual aos brancos. O desembargador ao ler os panfletos sediciosos notou que eles promoviam uma igualdade racial, indo contra a ordem social que foi estabelecida na época. - O governador mandou soltar Domingos da Silva Lisboa no dia 10 de novembro de 1798, comunicando o desembargador Avellar para prendê-lo novamente em 24 de fevereiro de 1799. PROCESSO: - O governador recebeu uma denúncia de uma reunião na madrugada do dia 25 de agosto de 1798 onde os participantes planejavam dar início a um levante e libertar Luiz Gonzaga, desse momento em diante, as autoridades estavam com dois problemas: * Descobrir os autores dos pasquin sediciosos * Os participantes do levante que se intitulariam como República Bahiense. - Em ambas as devassas que ocorreram, o secretário José Pires inegavelmente interferiu as investigações, desde o exame comparativo das letras nos boletins até o episódio em que o secretário entregou para a Justiça 4 de seus escravos e outros cativos com o objetivo de corroborar com as denúncias formuladas por 2 proprietários de escravos do mesmo grupo contra os milicianos presos. - Embora as autoridades não tivessem averiguado as informações recebidas, por mais de um ano de investigação, tais denúncias chegaram a Lisboa. Francisco Agostinho Gomes era um homem rico e influente na Bahia durante o período em questão. Inicialmente suspeito de envolvimento nas manifestações de 1798, ele conseguiu se tornar um aliado da coroa portuguesa. Isso sugere que os desembargadores do Tribunal da Relação da Bahia tinham relações complexas com o poder locale eram capazes de manipular as investigações para proteger ou beneficiar certos indivíduos, dependendo de seus interesses políticos e econômicos. - Ele teve seu nome citado constantemente pelas testemunhas e foi denunciado inúmeras vezes por cartas que foram enviadas da Bahia para a Corte entre 1797 e 98, por ser simpatizante das ideias de francezia. Não sendo benquisto por algumas pessoas de Salvador, suas denúncias não pararam de chegar à Lisboa, D. Rodrigo de Souza ficou irritado com uma denúncia afirmando que o padre tinha por hábito dar jantares com carne em dias santos. O ministro mandou que D. Fernando instaurasse uma nova devassa para verificar a procedência do fato mencionado, sendo instaurada no dia 15 de janeiro de 1799. - O desembargador Manuel de Magalhães Pinto de Avellar ouviu 22 brancos e 1 pardo entre 19 e 23 de janeiro, dentre elas, 21 pessoa tinham ouvido dizer que o padre deu o jantar. Ele descobriu que D. Fernando tinha consciência dos jantares, e no intuito de limpar algumas das informações obtidas nos depoimentos, o desembargador Barbedo deu fim a devassa 3 dias depois. O “ ouvido dizer” foi motivo suficiente para a acusação de 4 milicianos pardos, por terem participado das reuniões de conteúdo sedicioso e serem os autores dos boletins, fazendo com que Fernando Agostinho fosse inocentado das acusações. - Após a devassa o padre foi para Lisboa solicitando a concessão do monopólio de exploração de uma mina de ferro e cobre na serra da Borracha. Foi agraciado com a mercê-regia referente a concessão das sesmarias, com monopólio da exploração das terras em que se descobrissem minérios de ferro e cobre. - D. Fernando José e o desembargador Barbedo limparam as evidências contra Francisco José sob o argumento de não haverem provas contra o padre, contudo, os quatro homens pardos livres foram inquiridos por mais de um ano. Mesmo que a composição social dos réus tenha sido circunscrita no início das investigações, os processos foram formalizados e os ritos preservados e sete meses após a deflagrada revolta o bacharel “formado” José Barbosa foi nomeado defensor e curador dos réus, permitindo que outros advogados também pudesses fazer outras alegações em defesa dos réus. DEFESA: - A defesa dos réus só começou em 12 de junho de 1799 e José Barbosa iniciou a defesa com a formalidade do moderno direito natural que estabelecia que a pena de morte era naturalmente cruel, expondo logo depois o seu argumento central que era devido à gravidade do delito, é necessário garantir que as acusações e as formalidades legais sejam tratadas com extrema seriedade. Mesmo que as acusações pareçam suficientes para condenar os réus, é fundamental observar as formalidades legais para evitar a imposição injusta de penas. Portanto, quanto mais grave o crime, maior deve ser a rigorosidade na investigação para identificar corretamente o verdadeiro culpado, sem ser influenciado por opiniões que possam levar à imposição de penas baseadas em provas insuficientes. - 3 questões importante foram pautadas na argumentação de José Barbosa, dentre elas tivemos: - A ausência de provas para o crime político contra a Coroa. Para ele não faria sentido um grupo fazer um crime desses, pois sem armas, como eles tomariam a cidade mais populosas das Américas? - A segunda questão era que as denúncias foram formalizadas por testemunhas menos legares, já que elas afirmaram que tinham ouvido conversas das pessoas naquela área mas que não conseguiam interpretar o que estavam dizendo. E umas das testemunhas afirmaram que após a intervenção judicial as atividades suspeitas pararam, o argumento do advogado sugere que esses relatos não são confiáveis para a existência dessas reuniões conspiratórias. - José Barbosa conclui seu argumento afirmando que os réus nunca poderiam ter tido a intenção de promover uma revolta contra o Estado objetivando um governo democrático, isso porque os réus eram de origem humilde e não teriam o conhecimento necessário para estabelecer e governar um governo democrático, para esse tipo de governo são requeridas leis especiais e uma condição social que os réus não possuíam, tornando improvável a formação e a liderança esse empreendimento. - A peça final da defesa reitera a necessidade que as provas concluam com a maior exatidão possível, destacando que testemunhas não confiáveis não são suficientes para condenar os réus, reiterando que é necessário um processo solene e rigoroso para determinar corretamente os culpados, haja vista que as investigações não foram suficientes para determinar a culpa dos réus, descobrindo apenas depoimentos de notoriedade pública, gerando apenas um indício remoto que foi insuficiente para impor a pena máxima ou até a tortura.
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