Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Prof. Raul Castro 1 Casa de Pensão de Aluísio de Azevedo Análise da obra A obra foi baseada num fato real: a Questão Capistrano, crime que sensibilizou o Rio de Janeiro em 1876/77, envolvendo dois estudantes, em situação muito próxima à da narração de Aluísio Azevedo. Neste livro, o autor estuda as influências da sociedade sobre o indivíduo sem qualquer idealização romântica, retratando rigorosamente a realidade social trazendo para a literatura um Brasil até então ignorada. Autor fiel à tendência naturalista difundida pelo Realismo, Aluísio Azevedo focaliza, nesta obra, problemas como preconceitos de classe, de raças, a miséria e as injustiças sociais. Descreve a vida nas pensões chamadas familiares, onde se hospedavam jovens que vinham do interior para estudar na capital. Diferente do Romantismo, o Naturalismo enfatiza o lado patológico do ser humano, as perversões dos desejos e o comportamento das pessoas influenciado pelo meio em que vivem. Casa de Pensão é uma espécie de narrativa intermediária entre o romance de personagem (O Mulato) e o romance de espaço (O Cortiço). Como em O Mulato, todas as ações ainda estão vinculadas à trajetória do herói, nesse caso, Amâncio de Vasconcelos. Mas, como em O Cortiço, a conquista, ordenação e manutenção de um espaço é que impulsiona, motiva e ordena a ação. Espaço e personagem lutam, lado a lado, para evitar a degradação. As teses naturalistas, especialmente o Determinismo, alicerçam a construção das personagens e das tramas. Romance naturalista de 1884, em que o autor, de carreira diplomática bastante acidentada, move personagens que se coadunam perfeitamente com a análise dos críticos de que seus tipos são, via de regra, grosseiros, não se distinguem pela sutileza da compreensão, nem pela frescura dos sentimentos. São eixos de relações da estrutura da presente narrativa a Província -Maranhão, a Corte -Rio de Janeiro, a casa paterna e a casa de pensão. Estilo O Naturalismo está plenamente representado em Casa de Pensão desde a abertura do romance, quando Amâncio parece marcado fatalisticamente pela escola e pela família: uma e outra o encheram de revolta. Por causa de um castigo justo ou injusto, "todo o sentimento de justiça e da honra que Amâncio possuía, transformou-se em ódio sistemático pelos seus semelhantes...". O leite que o menino mamou na ama negra também está contagiado e irá marcá-lo. O médico dizia: "Esta mulher tem reuma no sangue e o menino pode vir a sofrer para o futuro." Amâncio é uma cobaia, um campo de experimentação nas mãos do romancista. Nele o fisiológico é muito mais forte do que o psicológico. É o determinismo que vai acompanhar toda a carreira do personagem. Está presente também na obra o sentido documental e experimental do romance naturalista, renunciando ao sentimentalismo e à evasão, procura construir tudo sobre a realidade. Como já mencionado, a estória do romance se baseia num caso real. Linguagem Uma técnica comum ao escritor naturalista é o abuso dos pormenores descritivo-narrativos de tal modo que a estória caminha devagar, lerda e até monótona. É a necessidade de ajuntar detalhes para se dar ao leitor uma impressão segura de que tudo é pura realidade. Essas minúcias se estendem a episódios, a personagens e a ambientes. Que obviamente serão colocados em segundo plano em nosso resumo. Num episódio, por exemplo, há minúcias de tempo, local e personagens. E móveis de uma sala até os objetos mais miúdos. Não se pode dizer que a linguagem do romance é regionalista; pelo contrário, o padrão da língua usada é geral e o torneio frasal, a estrutura morfossintática é completamente fiel aos padrões da velha gramática portuguesa. Como Machado de Assis, Aluísio Azevedo também usa alguns recursos desconhecidos da língua portuguesa do Brasil, principalmente na língua oral. Assim, por exemplo, o caso da apossínclise (é uma posição especial do pronome oblíquo que não escutamos no Brasil, mas é comum até na língua popular de Portugal). São exemplos de apossínclise: "Há anos que me não encontro com o amigo." (Há anos que não me...) "Se me não engano, você está certo." Em Casa de Pensão essa posição pronominal é um hábito comum. Elementos da Narrativa Foco narrativo O autor escolheu o seu ponto-de-vista narrativo: a terceira pessoa do singular, um narrador onisciente e onipotente, fora do elenco dos personagens. Como um observador atento e minucioso dentro das próprias fórmulas apertadas do naturalismo. No caso deste romance, Aluísio Azevedo trabalhou muito servilmente sobre os fatos absolutamente reais. Temática Como em O Cortiço, Aluísio de Azevedo se torna excepcionalmente rico na criação de personagens coletivos: a casa de pensão, tão comum ainda hoje, no Brasil inteiro, tem vida, uma vida estudante, nas páginas do romance. Aluísio conhecia, de experiência própria, esse ambiente feito de tantos quartos e tantos inquilinos, tão numerosos e tão diferentes, nivelados pela mediocridade e em fácil decadência moral. O autor faz alguns retratos com evidentes traços caricaturais (a sua velha mania ou vocação para a caricatura...), mas fiéis e verdadeiros. Tudo se movimenta diante do leitor: a casa de pensão é um mundo diferente, gente e coisas tomam aspectos novos, as pessoas adquirem outros hábitos, informadas ou deformadas por essa vida comunitária tão promíscua. Aí se encontram e se desencontram, se amontoam e se separam tantos indivíduos transformados em tipos, conhecidos, às vezes, apenas pelo número do quarto. Em O Cortiço o meio social é mais baixo; na Casa de Pensão é médio. Às doenças morais (promiscuidades, hipocrisia, desonestidades, sensualismos excitados e excitantes, ódios, baixos interesses, dinheiro...) se misturam também doenças físicas (o tuberculoso do quarto 7 que morre na casa de pensão, a loucura e histerismo de Nini...). Foi o que encontrou Amâncio na Casa de Pensão de Mme. Brizard. Fora para o Rio de Janeiro, para estudar. E, num ambiente como esse, quem seria capaz de estudar? É verdade que o rapaz já trazia a sua mentalidade burguesa do tempo: o que ele buscava não era uma Prof. Raul Castro 2 profissão, mas apenas um diploma e um título de doutor. Ele, sendo rico, não precisaria da profissão, mas, por vaidade, de um status, de um anel no dedo e de um diploma na parede. Essa mania de doutor, doença que pegou no Brasil, já foi magistralmente caricaturada em deliciosa carta de Eça de Queirós ao nosso Eduardo Prado: "A nação inteira se doutorou. Do norte ao sul do Brasil, não há, não encontrei senão doutores! Doutores com toda a sorte de insígnias, em toda a sorte de funções!! Doutores com uma espada, comandando soldados; doutores com uma carteira, fundando bancos: doutores com uma sonda, capitaneando navios; doutores com uma apito, comandando a polícia; doutores com uma lira, soltando carnes; doutores com um prumo, construindo edifícios; doutores com balanças, ministrando drogas; doutores sem coisa alguma, governando o Estado! Todos doutores..." O próprio Aluísio de Azevedo abandonou a Província para buscar sucessos na Corte (Rio de Janeiro) e, certamente também, um título de doutor... Tempo Em nenhum momento a história nos relata um tempo preciso, até porque pressupõe que sendo uma história baseada em fatos reais, o caso Capistrano, deduz que se passe em 1876, data precisa do ocorrido que abalou a cidade carioca. Personagens Os personagens, portando nomes fictícios, escondem pessoas reais: Os principais: Amâncio da Silva Bastos e Vasconcelos - (João Capistrano da Silva) estudante, acusado de sedução. Foi absolvido. Descrição: “Era de vinte anos, tipo do Norte, franzino, amornado, pescoço estreito, cabelos crespos e olhos vivos e penetrantes, se bem que alterados por um leve estrabismo. Vestia casimira clara, tinha um alfinete de esmeralda na camisa,um brilhante na mão esquerda e um grossa cadeia de ouro sobre o ventre. Ao pés, coagidos em apertados sapatinhos de verniz, desapareciam-lhe casquilhamente nas amplas bainhas da calça.” Pág. 13 Amélia ou Amelita - (Júlia Pereira) a moça seduzida, pivô da tragédia. Descrição: “O cabelo, denso e castanho, prendia-se-lhe no toutiço por um laço de seda azul, formando um grande molho flutuante, que lhe caía elegantemente sobre as costas O vestido curto, muito cosido ao corpo, enluvava-lhe as formas, dando-lhe um ar esperto de menina que volta do colégio a passar férias com a família. Era muito bem feita de quadris e de ombros. Espartilhada, como estava naquele momento, a voltas enérgica da cintura e a suave protuberância dos seios produziam nos sentidos de quem a contemplava de perto uma deliciosa impressão artística. Sentia-se-lhe dentro das mangas do vestido a trêmula carnadura dos braços; e os pulsos apareciam nus muito brancos, chamalotados de veiazinhas sutis, que se prolongavam serpeando. Tinha as mãos finas e bem tratadas, os dedos longos e roliços, a palma cor- de – rosa e s a unhas curvas como um bico de papagaio. Sem ser verdadeiramente bonita de rosto, era muito simpática e graciosa. Tez macia de uma palidez fresca de camélia; olhos escuros, um pouco preguiçosos, bem guarnecidos e penetrantes; nariz curto, um nadinha arrebitado, beiços polpudos e viçosos, à maneira de uma fruta que provoca o apetite e dá vontade de morder, Usava o cabelo cofiado em franjas sobre a testa, e, quando queria ver ao longe, tinha de costume apertar as pálpebras e abrir ligeiramente a boca.” Pág. 80 Mme. Brizard - (D. Júlia Clara Pereira, mãe da moça e do rapaz, assassino) é uma viúva, dona da casa de pensão. Era mulher de cinquenta anos, viúva de uma afamado hoteleiro que lhe deixara muitas saudades e dúzia e meia de apólices da dúvida pública, nascida em Marselha, a francesa, casara aos quinze anos com um diplomata russo que morrera e não deixara filhos, estava viúva aos vinte. Depois apareceu Mr. Brizard, a subida de Luís Felipe ao trono fê-lo vir ao Brasil e se tornar hoteleiro, amava o Brasil. Após casar com João Coqueiro passa a ser a principal cúmplice nas tramoias para ludibriar o jovem Amâncio. João Coqueiro - Janjão - (Antônio Alexandre Pereira, irmão da moça Júlia Pereira e assassino de João Capistrano. Foi também absolvido). Descrição: “seus olhos, pequenos e de cor duvidosa, conservavam a mesma penetração e a mesma fixidez incisiva de ave de rapina; sua boca estreita, bem guarnecida e quase sem lábios, tinha o mesmo riso arqueado, mal seguro e frio, de quem escuta e observa. Era de altura regular, compleição ética, rosto comprido, de um moreno embaciado, pouca barba, pescoço magro , nariz agudo, mãos pálidas e secas, voz doce e cabelo muito crespo, de colorido incerto, entre castanho e fulvo. Tinha vinte e sete anos, mas aparentava, quando muito, vinte e dois.” Pág. 46 ... “O Coqueiro ,com a sua figurinha de tísico, o seu rosto chupado e quase verde, os seus olhos pequenos e penetrantes, de uma mobilidade de olho de pássaro, com a sua boca fria, o seu nariz agudo, o seu todo seco egoísta, desenganado da vida, não era das coisa que, mais o atraíssem.” Pág. 60 Dr. Teles de Moura - (Dr. Jansen de Castro Júnior) advogado da família da moça, homem descrito na obra como um carniceiro advogado. Descrição: O Teles era um advogado velho, muito respeitado no foro; não pelo caráter, que o não mostrava nunca, nem pela sua ciência, que a não tinha; nem tampouco pelos seus cabelos brancos, que a estes nem ele próprio respeitava, invertendo-lhes a cor; mas sim pela sua proverbial sagacidade, pelas suas manhas de chicanista, pela sua terrível figura de raposa velha, pelos sues olhinhos irrequietos e matreiros, pelo seu nariz à bico de pássaro e pela sua boca sem lábios, donde a palavra saía seca e penetrante como uma bala. O passado do Teles era toda uma legenda de vitórias judiciais; atribuíam-lhe anedotas mais antigas de que ele; muito processo se anulou naquelas unhas aduncas e tamanduá; muito criminoso escapou às penas da lei por entre as malhas das sua astúcia; muito inocente foi parar à cadeia ensarilhado nas pontas de seus sofismas. Pág. 238 Os Adjacentes: Manoel Pedro Vasconcelos – Pai de Amâncio, homem muito rude e severo com filho, começa a demonstrar afeto pelo filho em uma carta que lhe envia estando o rapaz na Corte, morre de Beriberi. D. Ângela – Mãe de Amâncio, ama-o perdidamente. Dr. Silveira – Advogado da família de Amâncio no Maranhão que se aproveita da situação da morte do chefe da família para extorquir dinheiro de D. Ângela. Pires – professor de Amâncio dos 7 aos 12 anos, homem carrasco e que batia nos alunos, era um ditador em sala, a personagem central possui um trauma muito grande em função dos maus tratos. Prof. Raul Castro 3 Luís Campos - Homem que comanda uma casa de negócios e hospeda inicialmente o jovem universitário, sempre correto e ético defende Amâncio quando é preso, mas ao descobrir que o rapaz assediava sua esposa se volta contra ele. D. Hortênsia – Esposa de Luís Campos, é assediada por Amâncio, que resiste e depois da prisão do rapaz, arrepende-se perdidamente, mas o rapaz agora a despreza. D. Carlota – irmã de Hortênsia. César e Nini – Filhos de Mme. Brizard, um de 12 anos e a outra tinha problemas mentais após a perda de um filho. Os Hóspedes: Um fator de extremo interesse é você saber os hóspedes da casa de pensão de João Coqueiro, vamos a eles: Nº 01: Dr. Tavares – Advogado, gostava de fazer discursos inflamados e epopeicos, interessa-se em defender Amâncio quando está preso e é um dos que ainda se mantem com a família de Coqueiro quando eles saem da casa de pensão para Santa Tereza. Nº 02: Fontes – Era um homem que havia ficado rico, mas perdera todo seu dinheiro, agora tentava se reerguer vendendo muamba pela cidade. Nº 03 Piloto – Repórter do jornal Gazeta. Nº 04 Campelo – Misterioso, pouco se sabe sobre ele. Nº 05 Paula Mendes e Catarina – O marido era rabequista e ela pianista, vendem o piano para quitar dívidas na casa de pensão. Nº 06 O guarda-livros – Homem que paga sempre em dias e troca com Amâncio pelo gabinete no meio do livro. Nº 07 Rapaz doente – Rapaz que definha dia após dia e morre nas mãos de Amâncio. Nº 08 Lúcia e Pereira – Lúcia era uma senhora interesseira que tentou seduzir Amâncio, e chegou até a delatar o plano dos donos da casa de pensão, mas João Coqueiro e Mme. Brizard mandaram-na embora. Pereira é um lento que só dorme, parece o Mr. Bean. Como se conheceram? Foi assim, essa história se encontra no capítulo X, desde os 10 anos Lúcia vivia a andar nos bailes, aos 15 já pensava na morte, aos 20 caiu na lábia de um primo que a engravidou e foi embora. Depois disso sua missão fora encontrar alguém que a assumisse, encontrou o Pereira, cujo tio diziam que tinha uma herança e seria o tal Pereira a herdá-la, a moça começou a dar indiretas e mais flertadas, e nada do rapaz perceber, como sempre, fora um lento, até que um dia ela chegou para ele obrigando-o a casar, o rapaz nada fez, só depois descobriu ela que ele já era casado com uma velha desde os dezoito anos no papel, mesmo assim Lúcia ficou amancebada com ele. Pouco tempo depois a tio morrera após ver Lúcia transando com um estudante, e no testamento, só dividas, com isso Lúcia passou a ser o homem da relação, e viviam de calote nas casas de pensão da cidade carioca. Chegara a um tempo a engravidar, acredite, do Pereira, Lúcia tentou abortar, mas não conseguiu, nascera dentro de um fábrica. 30 dias depois, felizmente, como diria o narrador, a criança morrera, como o pai, abriu o olho uma só vez, na hora de expirar. A casa de pensão do Coqueiro já era a sexta por onde percorriam com o seu suposto marido. Nº 09 Melinho – Funcionárioda Caixa. Nº 10 Lambertosa – o Gentleman, homem metido a intelectual. Nº 11 Dr. Correia – Médico, alugava o quarto só para estudar, mas não era bem isso... Enredo Autoria: Raul Castro. I Amâncio chegou à Corte (Rio de Janeiro) às onze da manhã, todo desajeitado a uma casa de comércio para entregar a Luís Campos uma carta de recomendação, de início o negociante não o reconheceu, entretanto, após melhor vê-lo, começou a traçar elogios à sua família, dizendo os favores que devia à família dos Vasconcelos. Depois de ser interrogado o que viera fazer o estudante disse que viera para cursar medicina, e entregou-lhe a carta. Após lida, Campos convidou-o para almoçar, mas Amâncio rejeitou o convite, pois tinha que entregar várias cartas que trouxera, então Luís emprestou seu carro a fim de que o motorista o ajudasse nas entregas. *** Em seguida vem uma longa descrição da pessoa de Luís Campos, inicialmente como pessoa: era homem ativo, caprichoso no serviço de que ser encarregava e extremamente suscetível em pontos de honra; quer se tratasse de sua individualidade privada, que de sua responsabilidade comercial. Não descia nunca ao armazém, ou simplesmente ao escritório, sem estar bem limpo e preparado. Caprichava no asseio do corpo: as unhas, os cabelos e os dentes mereciam-lhe bons desvelos e atenções. Entre os companheiros, passava por homem de vistas largas e espírito adiantado ; nos dias de descanso dava-se todo ao Figuier, ao Flammarion e ao Júlio Verne, outras vezes, poucas, atirava-se à literatura ; mas os verdadeiros mestres aborreciam-no e entreturbavam-no com os rigorismos da forma. - È um bom tipo ! diziam os estudantes à volta do jantar, e seguinte domingo lá estavam de novo. O “bom tipo” tratava-os muito bem, levava-os com a família para a sala, oferecia-lhes charutos, cerveja, e nunca exigia que lhe restituíssem os livros que lhes emprestava. Depois trata de explicar como enriquecera cedo, com apenas trinta e seis anos, era um homem rico, com muito crédito na praça e dono de um armazém, conseguira assim, logo ao chegar ao Maranhão fizera seus primeiros estudos e ingressara no comércio graças ao amigo de seu pai, depois da morte desse amigo fora ao Rio onde após ser ajudante de guarda-livros, consegue um emprego de gerente no armazém Garcia, Costa & Cia, quando o tal Garcia morreu, e depois Costa também, Campos chamara um sócio de fora e passou a ser a principal figura da firma. Encontrou depois D. Hortênsia com quem casa, mulher sempre asseada e isso o agradava, morava com eles Carlotinha, cunhada de Campos e irmã de Hortênsia. O fato é que Campos prosperava sempre, bem como também despertava os olhares de todos, desde os que torciam por sua fortuna como aqueles que desconfiavam de seu enriquecimento precoce. *** Amâncio chegou às quatro da tarde cansado e reclamando do calor, Campos convidou-o para jantar, Hortênsia reclama, mas Luís logo fala do quanto deve à família do rapaz, principalmente ao seu tio. Durante o jantar, o jovem não tira o olho de Hortênsia e começa a desejá-la. Depois o dono do armazém sempre solícito pediu que vá para sua casa e saisse do hotel onde fora se hospedar. O rapaz disse estar disposto a atender seu pedido. À noite, deitado em sua cama, começa a Prof. Raul Castro 4 imaginar Hortênsia vindo em sua direção a sorrir com seus braços palpitantes e carnudos. Curiosidades do capítulo I 1 – Vasconcelos era o pai de Amâncio; 2 – O pai de Vasconcelos tinha reumatismo; 3 – Campos era cearense; 4 – O armazém de Campo localizava-se na rua Direita. 5 – Hortênsia chamava seu esposo sempre de Lulu, e Campos sempre chamava sua esposa de Neném. 6 – Amâncio, antes de ir morar na casa do Luís Campos hospeda-se num hotel chamado Coroa de Ouro. II Amâncio foi para a casa de Campos de forma temporária até achar um cômodo definitivo. O jovem recém-chegado queria curtir a cidade, queria encontrar no Rio a velha Paris dos romances que lera, a viagem fora por várias vezes desejada e calculada, o que nos conduz a uma nítida conclusão que seu desejo real não era a faculdade de Medicina, e sim, os desejos de boêmia e curtição que nutria desde a infância. Antes de nos conduzir a essa parte, o autor faz questão de tratar da aparência do jovem frente ao seu desejo. Sua pequena testa, curta e sem espinhas, margeada de cabelos crespos, não denunciava o que naquela cabeça havia de voluptuoso e ruim. Seu todo acanhado, fraco e modesto não deixava transparecer a brutalidade daquele temperamento cálido e desensofrido. Daí o narrador nos remete a infância, sofrida, cheias de traumas e medos, a começar do pai, o Vasconcelos, seu nome era Manoel Pedro de Vasconcelos, detalhe esse que só nos será dito no capítulo XVIII, Amâncio temia o pai tanto quanto a própria morte só de ouvia seus passos ou sua voz, tratamento cordial só por conveniência. A mãe, D. Ângela era o oposto, era a válvula de escape do rapaz é descrita como uma santa de cabelos brancos e rosto de moça, sempre quando o pai ralhava com ele era ela que o socorria. Depois se lembrou de sua educação do professor que tanto o traumatizou, Pires, homem tirano que tratava os alunos como animais, ainda naquela educação tradicional da palmatória, hoje, se um professor chama um aluno de feio, aí já era... O autor aproveita para fazer uma crítica ao costume do brasileiro: Os pais ignorantes, viciados pelos costumes bárbaros do Brasil, atrofiados pelo hábito de lidar com escravos, entendiam que aquele animal era o único professor capaz de “endireitar os filhos”. O que deveria na visão dos pais consertar os filhos, no caso de Amâncio teve efeito contrário, Amâncio passou a ser atrevido e insubordinado sempre alimentando ódio mesclado com temor, a fama do rapaz se deve a um fato extraordinário quando Amâncio batera em um aluno que xingara sua mãe, o aluno, negou ter feito isso, o professor deu-lhe palmadas e mandara o aluno também repetir o feito do mestre, após Amâncio se recusar cerrando as mãos, o professor repetiu as ofensas ditas pelo aluno, isso rendeu nada mais nada menos que uma bofetada no mestre que caiu ao chão, fugiu, mas ao mando do mestre os alunos capturam-no. Novamente levou uma surra do Pires, ao chegar em casa, nova surra, sem se falar na humilhação de pedir posteriormente de joelhos perdão ao professor e ao aluno. Tal episódio modificará para sempre o caráter de Amâncio, que passa a agir de forma “domesticada”, contudo, tudo era fingimento. Desde logo habituou-se a fazer uma falsa idéia dos seus semelhantes; julgou os homens por seu pai, seu professor e seus condiscípulos. - E abominou-os. Principiou a aborrecê- los secretamente, por uma fatalidade do ressentimento; principiou a desconfiar de todos, a prevenir-se contra tudo, a disfarçar, a fingir que era o que exigiam brutalmente que ele fosse. ... E Amâncio, com medo da bordoada, fazia-se grave, e cada vez ia-se tornando mais hipócrita e reservado. Sabia afetar seriedade, quando tinha vontade de rir; sabia mostrar- se alegre, quando estava triste; calar-se, tendo alguma recriminação a fazer; e, na igreja, ao lado da família, sabia fingir que rezava e sabia agüentar por mais de uma hora a máscara de um devoto. Em seguida conhecemos a ama de leite, depois de quinze anos de servidão, o pai, Vasconcelos, dera-lhe alforria, a preta velha não deixara de servir na casa, o menino dera-lhe trabalho, veja como era Amâncio na infância: Era muito feio em pequeno. Um nariz disforme, uma boca sem lábios e dois rasgões no lugar dos olhos. Não tinha um fio de cabelo e estava sempre a fazer caretas. A princípio - muito achacado de feridas, coitadinho! Os pés frios, o ventre duro constantemente. Levou muito para andar e custou-lhe a balbuciar as primeiras palavras :Ângela adorava-o com entusiasmo do primeiro parto ;por duas vezes supôs vê-lo morto e deu promessas aos santos da suadevoção. Conseguiram fazê-lo viver, mas sempre fraquinho, anêmico, muito propenso aos ingurgitamentos escrofulosos. As mesmas danadices se repetiam na casa da avó, morta de amores pelo menino. Aos doze anos fizera o exame da aula do Pires, passou, mesma sem nem saber ler direito, ia para o Liceu estudar Francês e Geografia, estava livre do tirano professor, isso sem dúvida era motivo de muita felicidade. Na festa dada pela sua aprovação, todos davam felicitações ao novo homem que se formaria, o pai e a avó lhes dão presentes. O jovem sabendo que a festa lhe pertencia aproveitou a ausência do pai para fazer um brinde aos convivas o que gerou bastante elogios. Ao final da festa vomitara, fora sua primeira bebedeira. *** Aos 14 anos prestou exame de Francês e Geografia e matriculou-se nas aulas de gramática geral e inglês, com as recomendações corretas, poderia enfim estar apto a entrar nas academias da Corte. Nessa idade já tinha namoros, dançava bem, fumava e prevaricava pela cidade. De madrugada, quando toda a família dormia saia com os amigos, Sabino era quem abria e fechava o portão para suas fugas. É aí onde inicia seus vícios, mesclados às aspirações românticas que o contagiava nos livros que lia. Daí a necessidade de viver esse sonho no Rio. Fez-se os planos para a viagem, o pai dizia que já ia tarde, aos vinte anos, Ângela ficou inconformada, até adoeceu no dia da partida do jovem rapaz. Na ida de navio se recordava de seu amores, mas a Corte seria onde iria lhe proporcionar grandes conquistas, ia principiar a vida. E nessa disposição, chegou ao Rio de Janeiro. Curiosidades do capítulo II 1 – A casa da avó era localizada em São Bento; 2 – Os presentes dados foram: o pai dera-lhe um relógio de ouro e a avó dera-lhe um escravo de nome Sabino, a quem o serviria sempre. 3 – O desejo inicial de Amâncio aos doze anos era o de ingressar na marinha. 4 – Os livros românticos que mais comovem o jovem é Graziella e Rafhael de Lamartine. 5 – Uma curiosidade pertinente à ama é exatamente a questão do determinismo posto na obra, o determinismo que era gerado pelo meio social, ou seja, a educação traumática que adquirira, e o genético, o leite da escrava, o médico até adverte o Vasconcelos: “Esta mulher tem reuma no sangue – dizia ele -, e o menino pode vir a sofrer no futuro.” Como se a doença da Prof. Raul Castro 5 ama passasse para o menino, e isso é fato, pois após Amâncio se recuperar da Varíola, terá problemas com o Reumatismo. “Com semelhante esterco não podia desabrochar melhor no seu temperamento o leite escravo, que lhe deu de mamar uma preta da casa.” Assim conclui o narrador em uma visão determinista e zoomórfica. 6 – Os amores colecionáveis de Amâncio denunciavam seu vício, atente a eles: a filha mais velha do Costa Lobo, a mulher de um comendador, amigo de seu pai, uma viúva de um oficial do exército, esses eram os principais, mas tinham outros: a Francisca de Vila do Paço, por exemplo, uma espanhola e uma senhora gorda amasiada de um boticário. III O narrador então retoma a narrativa, já há dois dias na casa de Luís Campos, e entregando cartas e mais cartas, com o Campos lhe aporrinhando com matrículas e aulas e sem amigos, não tinha tido ainda a oportunidade de conhecer as ruas da Corte. Isso o deixava cada vez mais irritado e triste. Um total desinteresse pela Medicina se apoderava dele. A Matemática fizera ele se afastar do desejo de ingressar na Marinha, a Medicina foi sua tábua de salvação para ir à Corte. Campos conseguiu matriculá-lo duas semanas depois de começado o semestre, tudo isso fazia ele pressentir que não seria um bom médico, tentava a muito custo estudar, decorar as vértebras, estudar as composições do bromo, enfim, de nada adiantava, quem sabe o Direito, ou quem abe as artes, não, aquilo não lhe dava posição social, era rico, o que importava no fundo era o título de doutor. Mas, neste caso, a questão muda muito de figura!...dizia- lhe em resposta uma voz que vinha de dentro de seu próprio raciocínio Não se trata aqui de fazer um “médico”, trata-se de fazer um “doutor”, seja ele do que bem quiser !Não se trata de ganhar uma “profissão”, trata-se de obter um “título”. Tu não precisas de meios de vida, precisas é de uma posição na sociedade. Em meio aos seus devaneios recordou-se da mãe a quem sempre lembrará com saudades e passou a conjecturar o orgulho de sua mãe ao vê-lo doutor, planos mentais que se desfazem nos primeiros abrir de um livro. Você aluno que lê esse resumo agora deve saber o que a personagem central sofreu. Escreveu uma carta à mãe falando de seu isolamento, de sua dor e da saudade, na verdade, era para desabafar a chateação de estar na casa do Campos, debaixo de regras e normas, parecia sua casa. Tinha receio de conhecer a cidade sozinho, não sabia os preços das coisas, os nomes das ruas e temia os gatunos da noite. Sua companhia era o Luís Campos, que sempre polido e sóbrio não havia ali para ele brechas de uma boêmia efetivada. Entretanto, um belo dia, quando atravessava o beco do Cotovelo, mas não o de Sobral, que fique bem claro isso, encontrou um velho amigo da província que se matriculara com ele no Liceu, mas que já estava a três anos a frente dele. Era o Paiva Rocha. Conversaram sobre o Rio, Amâncio reclamou de como estava difícil, não só para se viver como para estudar. Paiva queria encurtar o assunto e ir embora, mas Amâncio tentava chamar-lhe atenção, Paiva se enraiveceu com a insistência do rapaz e lhe confessou as dificuldades financeiras, mas tudo se resolveu quando o provinciano convidou o amigo a um jantar, então o Paiva sem mais nenhum sinal de pressa levou-o ao Hotel dos Príncipes. *** Então uma italianinha toda de preto pediu-lhe uma esmola, Paiva tentou enxotá-la, sem sucesso, ele, já apiedado pela pena que a moça causara deu-lhe uma esmola de dois mil-réis. Paiva tenta orientá-lo, dizendo que ali não era o Maranhão, a conversa foi interrompida quando dois estudantes chegaram ao encontro dele. Eram eles, Salustino Simões e João Coqueiro, também estudantes de Medicina e descrito por Rocha como homens distintos, Amâncio os convidou logo em seguida para a janta no hotel sugerido por Paiva. Entraram no hotel e Paiva dominou o cardápio pedindo La Carte e vinhos caros, Coqueiro indagando o valor daquela farra é surpreendido com a fala de Amâncio que frente àquele prazer custearia o jantar, daí em diante a forma como ele será tratado pelos outros três já começaria a revelar o espírito interesseiro dos pseudo-amigos. Veja o comportamento do Paiva: E parecia querer provar que seus direitos sobre o comprovinciano eram muito mais legítimos que os dos outros dois; que Amâncio lhe pertencia quase exclusivamente, como um tesouro, como uma fortuna que se traz do berço. E, para deixar isso bem patente, fazia-se muito íntimo com ele: batia-lhe nas pernas; evocava recordações; lembrava-lhes as correrias da província: Então seguiu uma longa conversa quando Coqueiro o convidou para sua casa conhecer sua família, Amâncio até se admirou quando soube que ele era casado, Salustino falou da indiferença para as mulheres, que só conhecia duas a hipócrita e a sínica. Coqueiro passou em secreto alguns conselhos sobre os perigos das mulheres na capital e que seria interessante se casar, pois se viveria mais, mandou também ter cuidado com as amizades, dos perigos de se ter amigos que só sabiam pedir comida cara, fazendo uma alusão ao Rocha Paiva. Amâncio falou de seus amores e do interesse na D. Hortênsia, todos bebiam, o único sóbrio era Coqueiro que espreitava a analisar o jovem provinciano, depois de algumas conversam fora Coqueiro reiterou o convite a sua casa, que não era hotel, era uma casa de família, na qual lá ele seria bem cuidado, Amâncio fica de visita-lo. Depois entrou no hotel uma loira sendo seguida por um velho gordo e quebra uma pratariadanada. Fizeram uma enorme balburdia. Paiva pensou em ataca-los com uma garrafa na mão, o gerente foi quem o impediu, dizendo não entender os motivos que levavam o Brás o ficar assim pelo demônio da Rita Baiana. Depois o velho Brás foi pedir desculpas, quando se deram conta já era três horas da manhã, Coqueiro e Salustino se despediram, Coqueiro novamente diz esperá-lo no domingo, Paiva mandou Amâncio pagar a conta e irem para a república onda ele morava, depois de pagar a conta, cara por sinal, saem, Amâncio passou mal logo depois da saída, e Paiva o convence a irem para a república, mas antes, claro, pede dinheiro para pagar um carro. Curiosidades do capítulo III 1 – Os gatunos da noite eram também conhecido como os capoeiras, eram geralmente os escravos que viviam de furtar os outros, ou porque eram alforriado e não queriam mais trabalhar ou às vezes era a mando do próprio dono. Aqui já se faz crítica à segurança da época. 2 – Rita Baiana é a personagem também do O Cortiço na qual se envolverá carnalmente com Jerônimo. 3 – A conta no Hotel dos Príncipes custou 85 mil-réis. 4 – O carro que os levou para a república custou 60 mil-réis, o que pode se presumir que Paiva roubou de Amâncio. IV Ao chegarem, Amâncio continuou passando mal, o Paiva ficou reclamando dizendo que ele era fracote e se não aguentava beber que não mais fizesse isso. Acordou no dia seguinte de porre, levantou-se sem que fosse notado, saiu e foi pedir um café no bar, viu bem o estado em que se encontrava, começa a ponderar sobre as cobranças do Campos, sabia que não podia ficar naquela casa, entretanto não queria a república dos estudantes, tudo era desordem como o narrador nos descreve: Prof. Raul Castro 6 O quarto respirava todo um ar triste de desmazelo e boêmia. Fazia má impressão estar ali: o vômito de Amâncio secava-se no chão, azedando a ambiente; a louça, que servira ao último jantar, ainda coberta de gordura coalhada, aparecia dentro de uma lata abominável, cheia de contusões e comida de ferrugem. ... Num dos cantos amontoava-se roupa suja; em outro repousava uma máquina de fazer café, ao lado de uma garrafa de espírito de vinho. Nas cabeceiras das três camas e ao comprido das paredes, sobre jornais velhos e desbotados, dependuravam-se calças e fraques de casimira: ... Por aqui e por ali pontas esmagadas de cigarro e cuspalhadas ressequidas. ... A luz franca e penetrante da manhã dava a tudo isso um relevo ainda mais duro e repulsivo: ... Nisso reside uma imensa dúvida, ele necessitava dessa liberdade, daquela farra, mas também não queria viver com outros estudantes onde saberia que não seria cuidado, precisava de uma casa de família, dai começa a vir na sua mente o convite de João Coqueiro. Começou então a recordar a infância e suas danadices. As vezes, quando ia passear à casa de alguma família conhecida, arranjava-se com as moças, gostava de acompanha-las por toda parte, fazendo-se muito dócil e amigo de servir. Como era ainda perfeitamente criança e bonitinho, elas lhe faziam festa e davam-lhe doces, figurinos de papel recortado e caixinhas vazias. Algumas lhe perguntavam brincando se ele as queria para mulher, se queria “ser seu noivo”. Amâncio respondia que sim com um arrepio. E daí a pouco ficavam as moças muito surpreendidas quando o demônio do menino lhes saltava ao colo e principiava a beijar-lhes sofregamente o pescoço e os cabelos ou a meter-lhes a língua pelos ouvidos. Talvez uma das coisas que impedissem sua saída da casa do Campos fosse o desejo que nutria pela sua mulher. Chegou lá às oito horas decidido a não mais ali ficar, mas também não iria para a república do Paiva, quando chegou viu uma carta de João Coqueiro adiantando a sua visita para à tarde naquele mesmo dia. E como o família do Campos tinham toda ir passear no Jardim Botânico, decidiu ir. Curiosidades do capítulo IV 1 – O endereço da Casa de Pensão de João Coqueiro localizava-se na rua do Resende. V Então, o narrador inicia um flashback da vida de João Coqueiro bem como também da própria casa de pensão que nos capítulos seguintes se tornará o espaço central da trama. João Coqueiro era fluminense, nascera na rua do Parto quando seus pais eram ricos. Era filho de Lourenço Camargo, um filho de fidalgo que após herdar a fortuna da avó, casa-se e logo se desgosta da mulher. Dessa união nasce João Coqueiro, meio lerdo e lento, o pai sempre bruto e áspero queria desde cedo tratá-lo como adulto e ele sempre se punha a chorar, mãe sempre o cercava tentando lhe proteger desse crescimento precoce. Tempos depois nasce Amélia, enquanto isso o pai continuava a tratar o filho único que nem homem, dava-lhe charutos e quando descobriu que o moleque queria fazer uma procissão quase enlouqueceu, o coisa que ele menos queria era filho devoto. O problema veio quando Lourenço morrera, a mão teve que vender uma das casas que possuíam para pagar os estudos do rapaz, e pegara a única casa para alugar a visitantes ilustres, a casa era grande então funcionara, a casa torna-se a mais requisitada do Rio. Para mais um infortúnio da família a mãe de João morre, vendo-se abandonado, vai embora com Amélia e fecham a casa temporariamente sem saber o que fazer. O jeito era arranjar um emprego e largar os estudos. E foi num dos empregos na estrada de ferro de Pedro II que conhecera Mme. Brizard (ver Mme. Brizard em Personagens) depois de muita tristeza da parte de João, Mme. Brizard lhe propõe casamento, o que este prontamente aceita, reformam a casa e reabrem a todo vapor, novamente a casa se torna referência na capital. Curiosidades do capítulo V 1 – O apelido de João Coqueiro era Janjão; 2 – Janjão na infância tinha asma; 3 – O pai de Janjão chega a lhe dar conhaque, que morre devido a lesões cardíacas. 4 – A mãe de Janjão morre de pneumonia; 5 – João estava no segundo ano da Politécnica e Amélia havia já se tornado mulher. VI Foi três anos depois disso que Amâncio chegou ao Rio de Janeiro. É com essa frase que o narrador retoma o assunto e a linearidade da história. A casa estava no seu apogeu, recebia os mais ilustres dos hóspedes. Vem em seguida uma breve quebra de linearidade quando o narrador passa a nos contar o que acontecera na noite em que João Coqueiro chegara depois da farra com os rapazes no Hotel dos Príncipes, Janjão chegou para Mme. Brizard, sua esposa, e contou o seu novo achado e pedindo um quarto para Domingo. - É um achado precioso! Ainda não há dois meses que chegou do Norte, anda às apalpadelas! Estivemos a conversar por muito tempo: - é filho único e tem a herdar uma fortuna! Ah! Não imaginas: só pela morte da avó, que é muito velha, creio que a coisa vai para além de quatrocentos contos!... Começou a conjecturar a possibilidade de vê-lo casado com Amélia, pois Amâncio era ilho único, tinha dinheiro e era tolo. Mme. Brizard disse que arranjaria o gabinete e foi até Amélia avisar de seu futuro. Amélia era moça sagaz, esperta e sabia que para se entregar a um homem deveria ser mediante casamento, enquanto Coqueiro lamentava tê-lo convidado somente para o Domingo, Mme.Brizard ordenou que seu esposo e a cunhada ajeitassem o gabinete que ele escreveria para Amâncio adiantar a visita. Daí o motivo de no Capítulo V vermos a carta que solicitava sua visita na parte da tarde. Então Amâncio chegou sendo bajulado de todas as formas pelo Coqueiro e Mme. Brizard, Amélia o cumprimentou com apenas a cabeça fingindo estar com vergonha, o jovem provinciano reparou na moça, a esposa de João passou a lhe contar histórias e mais histórias, apresentou os filhos, César de 12 anos e Nini detentora de problemas mentais (ver Nini) Amâncio se enfastia e passa a reparar mais ainda em Amélia, achava-a deliciosa (ver Amélia), começou a se entregar em desejos ardentes pela moça. mas logo é interrompido, o anfitrião vai mostrar-lhe a casa, apresentaos hóspedes (ver Os hóspedes) na qual a maioria não almoçava em jantava lá, pois passavam o dia a trabalho. Então o Coqueiro convidou Amâncio para a janta e disse que ficaria feliz em tê-lo como hóspede e lhe ofereceu o gabinete, arrumado e belo. Era daquilo que Amâncio precisava, mal sabia o pobre rapaz que estava caminhando para uma arapuca. Coqueiro fez juras de amizade profunda e Amâncio principiou a vê-lo como tolo inda mais casado com a francesa, ridículo, mas de certa forma corresponderia àquela “amizade”. Curiosidade do capítulo VI 1 – Amélia também é chamada de Amelita e está com vinte três anos de idade. Prof. Raul Castro 7 VII Seguiu-se aqui várias conversas, principalmente por causa do Gentleman, que era Lambertosa, sempre dando uma de intelectual, Lúcia e o esposo lá estavam. Lúcia conversou sobre poesia com Amâncio que quase pagou vexame quando interrogado sobre a poesia maranhense. Nini ficava fitando o visitante dando-lhe incômodos. Depois chegaram Paula Mendes e a esposa, sim, o Paula Mendes é homem e o Dr. Tavares. Frente a tantas delongas e diálogos enfadonhos de Coqueiro e Mme. Brizard, Amâncio é persuadido a dormir naquela noite, pois demorara novamente e não era mais conveniente voltar tarde da noite. VIII Amâncio estava aliviado e sossegado, enfim, confortavelmente aplumado em seus lençóis, no manhã que sucedeu ele decide se mudar para a casa de pensão de João Coqueiro, foi ao Campos dar o comunicado, o negociante aprovou e disse que ali era um bom lugar, casa decente e de boa família. O jovem se dirigiu à Hortênsia que parecia daquela vez mais solícita como se desse a entender que gostasse dele, ela então saiu arrependido, pois acreditava agora que se tivesse permanecido no Campos teria ganho através de muita insistência a carne de D. Hortênsia. Entretanto Amâncio deveria ir para um baile que ocorreria na casa do Melo, no Botafogo e ele deveria comparecer. Enquanto desfaziam as malas do provinciano, Mme. Brizard começava a dar conselhos à Amélia. - Como te enganas! Respondeu a velha- já compreendi bem esse sujeito: a sua corda sensível são as mulheres! Gosta que lhe falem nisso! Tu, do que precisas, é opor-lhe dificuldades, sem que o desenganes por uma vez; nega, mas promete, que obterás a vitória. Quando ele te pedir um beijo, dá-lhe um sorriso; e, quando quiser muito mais, dá-lhe então o beijo, contando que te mostres logo arrependida, envergonhada, chorosa, inconsolável, disposta a não lhe ceder mais nada, e disposta a nunca lhe pertenceres, a nunca lhe perdoares aquele atrevimento. E, se ele insistir, repele-o, insulta-o, jura que o desprezas e fá-lo acreditar que amas a outro. - É dessa forma que o hás de agarrar, percebes? E é assim que pretendem agarrar o mancebo. Em uma dada situação Amâncio tentou agarrar as mãos de Amélia, mas a mesma fugia como se tivesse pegado em brasa. Tudo fingimento. IX O baile começou e Amâncio fora recebido muito bem graças ao fato de Luís Campos ser íntimo da casa, o tal Melo. Todos começaram a reparar que Amâncio era um exímio dançarino e isso começou a despertar o interesse das damas, isso incluiu Maria Hortênsia. O jovem sabendo disso convidou a sua desejada para uma valsa, queria a todo custo tirá-la para uma dança, Hortênsia após muitas relutâncias aceitou o convite, a dança fora intensa. Foi então um rodar convulso, frenético: a casa, os móveis, as paredes, tudo girava em torno deles. Hortênsia dançava tão bem como o rapaz. Os dois pareciam não tocar no chão; os passos casavam-se como por encanto; as pernas gravitavam em volta uma das outras com precisão mecânica. Encheu-se a sala de pares. Amâncio fugiu com Hortênsia, sem interromper a valsa; pareciam empenhados numa conjuntura amorosa. Ela arfava sacudindo o colo com a respiração; os seus braços nus tinham uma frescura úmida; os olhos amorteciam-se defronte dos dele; não podia fechar a boca, e seu hálito misturava-se ao hálito fogoso do estudante. De repente, Amâncio parou exausto. Ouvia-se-lhe de longe as respirações. - Não! não! balbuciava ela, quase sem poder falar. - Ainda! Mais um pouco! E abraçaram-se de novo, freneticamente. Quando parou a música Hortênsia caiu sobre um divã pelos braços de Amâncio. Não podia dar uma palavra; não podia abrir os olhos. Sua respiração parecia longos suspiros contínuos e estalados. A posteriori o aspirante a médico encontrou Freitas que o aconselhou sobre a vida e perigos dos amores. Na saída, ao final de uma festa agitada, Hortênsia convidou para no domingo o jovem ir à sua casa almoçar, o jovem saiu delirando em conjecturas de amores e ilusões, estorvando as possibilidades de conquistar a mulher do Campos, pelo visto Freitas tinha razão, as mulheres não gostavam dos honestos e bons. Curiosidades do capítulo IX 1 – Hortênsia não dançava porque o marido não deixava, pois tinha ciúmes. 2 – O nome da valsa tocada na dança de Amâncio e Hortênsia foi Danúbio, de Strauss. X No dia seguinte, acordara tarde, muito fatigado, Mme. Brizard entregou um bilhete com um ramalhete na qual ele deduziu ser de Hortênsia. Em seguida Dr. Tavares tentou achar um meio de curar Nini convencendo a família de que ela deveria casar, a francesa se zanga, começou uma balbúrdia dos infernos, César chorava , todos se exaltavam e Amâncio aproveitou para fugir, nas suas reflexões já começava a achar aquilo estranho. - Que espécie de gente tão esquisita!... dizia ele em caminho do quarto. - Nada! Aqui ainda estou pior do que na casa do Campos! Para piorar a situação ele foi seguido por Nini, que o atacou nervosamente e ele tentando se livrar da louca a empurrou escada abaixo. Em seguida o narrador passa a nos contar como Lúcia e Pereira passaram a se conhecer e “casar” (ver Lúcia e Pereira em Os hóspedes). Uma semana se passou e Amâncio recebeu outo bilhete, que agora, pelo teor do conteúdo deduziu ser de Lúcia, passou então a desejá-la com urgência tirando até mesmo seu sono. Com tremenda insônia decidiu subir ao quarto de Lúcia, pois sabia que Pereira estava dormindo, subiu as escadas, mas acabou sendo interrompido pelo nº 11 que saiu com uma mulher, Amâncio lembrou dos conselhos de Coqueiro: Quanto a certas visitas...isso tem paciência...lá fora o que quiseres, mas daquela porta para dentro. Começou a pluralizar o comportamento de todos chamando-os de hipócritas. Mesmo assim não desistiu de sua empreitada, foi até o quarto nº 08, mas seu plano não dera certo, Catarina começou uma briga com o Paula Mendes, o doente do quarto 07 tossia ainda mais, começou a haver um inferno, e ele se recolheu ao seu quarto. Curiosidades do capítulo X 1 – O bilhete dizia: “Ao dr. Amâncio de Vasconcelos – uma sua amiga.” 2 – Lúcia e Pereira não eram casados, e sim, juntos. 3 – O conteúdo do segundo bilhete era assim: “Não saibam nunca espíritos indiferentes, nem mesmo tu, adorado fantasista, quem te envia essas pobres flores. Não o procures descobrir; deixa que o meu segredo viceje e cresça na tepidez do mistério, ‘semelhança das plantas melancólicas que reverdecem nas sombras ignoradas dos rochedos. Eu te amo!” Prof. Raul Castro 8 4 – O motivo da briga de deveu pelo fato de que Paula Mendes não queria desligar a luz do quarto, pois precisava compor, e Catarina sua esposa queria dormir. XI No dia seguinte, o guarda-livros declarou não querer mais o quarto, após tentativas frustradas de Coqueiro e Mme. Brizard, pois era bom pagador, Amâncio propõe ao guarda-livros uma troca. Ele iria para o quarto seis e o guarda-livros ficaria com o gabinete. A troca é posteriormente justificada com o pretexto de que não queria que Nini o visse, pois quando o viu tinha crises nervosas, mas o real motivo era para ficar mais perto do quarto de Lúcia. Depois recebeu uma carta da mãe e outra do pai, a carta tratava-o com carinho e lhedava conselhos amorosos, o que o fez chorar. Todo aquele carinho do pai já vinha tarde. Depois Campos foi até o pensionato, pois recebera uma carta do Vasconcelos pedindo que ele cuidasse de seu filho, aproveitado a visita, Campos o convida para sua festa de aniversário de casamento. Nesse período tentava estudar, de nada adiantava. Depois ao chegarem, todos se recolheram, Amâncio que começava a ter calafrios resolveu fazer café em baixo, mas quando estava a descer viu seu amigo Coqueiro com um castiçal indo ao encontro de uma mulata, aquilo fora para o provinciano, desiludiu-se profundamente. Voltou e começou a ter febre, no dia seguinte mal podia se por de pé. Todos começam a ficar preocupados, o trio dos metralhas (João, Amélia e Brizard) se poriam a serviço integral do enfermo, principalmente Amélia, às duas da tarde Lúcia o visitou e após a saída de Amélia do quarto ele, mesmo com febre a atacou de beijos, dizendo que a amava. Coqueiro chegou e desconfiou dos dois, nada fez. O estado clínico de Amâncio piorou, um médico fora chamado e eis o diagnóstico, bexigas, mediante o fato de ser uma doença contagiosa, os moradores da casa de pensão começam a quere ir embora, Coqueiro pediu conselhos de sua esposa que foi bem enfática ao dizer que o mais importante era Amâncio, ele era a butija de ouro. Lambertosa foi o primeiro a ir embora, Fontes planejava com a esposa também deixar a casa. Campos o visitou e interrogou os locandeiros se não era melhor deixa-lo em uma casa de saúde, mas eles logo protestaram, não podiam perder a sua fonte de riqueza. Lúcia o visitou de madrugada e novamente o jovem lhe fez juras de amor e a beija na boca, as visitas vão se repetido levando as suspeitas de Coqueiro, o estudante após voltar da academia conversou com a esposa e revelou suas desconfianças em relação à Lúcia, e claro pelo bem deles, deveriam pô-la para fora. E naquele mesmo instante Coqueiro foi ao encalço dos dois para que saldassem a dívida. Enquanto isso Amélia fazia vigília para que Lúcia não se aproximasse do quarto de sua propriedade. Curiosidade do capítulo XI 1 – Bexigas naquela época seria o mesmo que Catapora, prima da Varíola, Catapora naquela época matava muita gente, nessa época não se tinha vacina, pois o Brasil só irá conhecê-la em 1904, na tão conhecida Revolta da Vacina. XII Amâncio estava curado da catapora, de noite, após várias tentativas de Lúcia, ela conseguiu entrar no quarto nº 06 e lhe revelou. - Pois não percebes, filho, que toda esta gente quer fazer de ti uma propriedade sua; que esta gente te considera um tesouro precioso e teme que lho furtem? Não percebes, meu Amâncio, que há aqui um plano velho, tramado para te fazer casar com Amelinha, isso porque és rico e, na tua qualidade de homem de espirito, pouca importância ligas ao dinheiro?!... - Não! Dou-te a minha palavra em como, até aqui nada percebia de tudo isto!... - Pois fica, então sabendo que há uma grande conspiração contra ti ou, por outra, contra os teus bens! - Ora essa! disse ele em voz baixa. - Todos esses carinhos que eles ostentam, todos esses cuidados e desvelos artísticos, são laços armados à tua ingenuidade! E começou mediante isso a pressionar o rapaz, que só poderia se deitar com ele se fizesse dela sua esposa, que seria sua mulher, sua escrava, tudo, mas o jovem recua, vendo ela suas tentativas frustradas, deu a cartada final, contou de seu despejo e que estava desesperada, que o jovem nunca mais a veria e fazia tudo isso assim. E sacudia todo o corpo, com uma obstinação provocadora e canalha. Amâncio olhava para ela , mordendo os beiços. ... E Lúcia, agitando romanticamente os cabelos, que ela por cálculo trazia soltos essa noite, perguntou com ímpeto: - Compreendes agora a minha reserva?! Compreendes que , apesar de minhas recusas, eu te adoro, meu Amâncio, meu amor, minha vida?! Entregou-lhe a carta de cobrança do Coqueiro, e Amâncio não querendo perdê-la de vista se propôs a quitar a dívida. A bomba veio quando a conta da quitação chegou, Coqueiro se desesperou, Mme. Brizard ordenou que mesmo assim a pusesse para fora sobre a justificativa de conduta desenfreada na tão “nobre casa de família”. Logo pela manhã, Coqueiro discutiu com Amâncio a respeito das promiscuidades que ocorriam dentro do seu pensionato, dizendo ele que não permitiria as imoralidades dele e de Lúcia, o provinciano respondeu a altura com o exemplo do dr. Correia e o do próprio João. Coqueiro para se vingar e desviar o assunto contou a verdade, dizendo que a Lúcia não era casada, só junto, Amâncio passa a odiá-la, mas nada dirá, pois seu intuito será apenas usá- la. Então Lúcia foi expulsa com o marido que foram para outra casa de pensão, na verdade, ela já tinha uma lista de todos os pensionatos prontinhos para dar calote. XIII O pensionato sofreu com a doença de Amâncio, sendo que restou apenas seis, dos quatorze primitivos. Alguns saíram até sem pagar, como o Melinho, morador do quarto nº 09 e o Fontes e a sua esposa, no nº 02. Amâncio ainda estava acamado proibido ás sete chaves de sair de casa, recebera então uma carta de Lúcia, pedindo ao mancebo que quando saísse fosse atrás dela, e lá estava o endereço da nova casa de pensão. Com tantos dissabores na casa de João Coqueiro a única saída era Amélia conquistar Amâncio, mas isso era mais difícil. A moça chegou ao ponto de ir ao eu quarto e cobrir-lhe de beijos, o moço tentou prendê-la, no entanto a rapariga fugiu. *** Para piorar os infortúnios do rapaz, uma crise de reumatismo o atacou, Nini caiu da escada e partiu a cabeça em duas partes, e acreditem, melhorou das ideias. Só não podia ver Amâncio, então o médico proibiu que ela saísse do quarto, ficaria presa desde então. Campos o visitou sugerindo que comprasse uma presente para Amélia, pois eles tinham feito muitos favores ao rapaz, Amâncio logo o contesta dizendo que quem já estava pagando as contas da casa era ele. Mas o estudante, em voz discreta e abafada, confessou ao Campos que a brincadeira não lhe havia saído tão de graça, como parecia à primeira vista: Só no mês passado gastara perto de seiscentos mil-réis, sem contar que o Prof. Raul Castro 9 Sabino vivia numa dobadoura, de casa para a botica e da botica para a casa, e eram remédios para Nini, remédios para o tísico do n.º 7, água de flor de laranja para Mme. Brizard, xaropes para o Coqueiro; um inferno!...E que toda essa droga caía na sua conta! - E os dinheiros emprestados?...E as fitas, os botões, as linha, as tiras bordadas, que Amelinha estava sempre a lhe pedir que mandasse buscar nos armarinhos sem nunca dar dinheiro para isso?...Não! O Sr. Luís Campos não lhe podia calcular o que havia! - Hoje cinco mil-réis, amanhã vinte! Campo lhe ofereceu novamente morada e aconselhou sair de lá, Amâncio concordou, a decisão enlouqueceu o trio, Mme. Brizard chegou a dizer que para onde o jovem fosse eles iriam também, como única tentativa, Amélia subiu ao quarto do provinciano chorando e declarou amá-lo perdidamente. Curiosidades do capítulo XIII 1 – Piloto é o único que três dias depois de fugir volta para pagar a conta. 2 – Amélia ao fazer os serviços de quarto não entrava, apenas entreabria a porta e lá deixava o chá, somente quando ela percebe que pode perdê-lo ela passa a entrar no quarto. XIV O rapaz doente do quarto nº 07 estava à beira da morte, Amâncio agora já melhor, mas ainda medicado, visitou-o e deu- lhe remédio, e ainda deixou Sabino cuidando do doente. Porém mal Amâncio estava em seu quarto, alguém bateu à porta, era o doente, caiu em seus braços, no seu quarto e ali morrera, agonizante, pedindo que encontrasse seus pais e dissesse que o filho amado deles morrera. Baseado neste evento, Amâncio viu que não havia condições para continuar ali. Coqueiro chegou para Amâncio dizendo que internariam Nini, tudo na tentativa de mantero rapaz ali com eles, mas de nada adiantou, ele estava decidido a ir embora. Vendo a situação se complicar, Mme. Brizard obrigou a todos a quitarem suas dívidas para se mudarem junto com Amâncio e fecharem temporariamente a casa de pensão. *** Amélia na nova casa se desmanchava em favores e serviços demonstrando até ciúmes. João, empolgado com a nova casa, sugeriu-o que comprasse nova mobília, mas não deixou a sua propriedade viva sair só. Fizeram as compras, e na vinda, reencontrou Paiva que o convidou para beber, Coqueiro fora na frente com os móveis, Amâncio aproveitou a liberdade e saiu com o velho “amigo” há tanto tempo não visto. Na conversa, Amâncio contou-lhe os recentes ocorridos, Paiva disse que ele estava sendo explorado, mas cegamente o jovem estava convencido que ele era trabalhoso, e claro no final da conversa aproveitou para pedir dinheiro emprestado, mas ele não lhe deu. *** Estava solto na rua, aproveitou para ir até a Lúcia, indo até lá tentou agarrá-la e novamente a senhora reiterou que só poderia fazer isso se casasse com ela. Isso despertou sua fúria e disse saber que ela não era casada, trocam xingamentos e o jovem saiu em plena fúria. Curiosidades do capítulo XIV 1 – O nome do rapaz doente é João. 2 – Amâncio acordou Sabino com um murro por não vigiar o rapaz. 3 – O dr. Eiras é quem cuida do caso de Nini. 4 – Campelo vende o piano para quitar a dívida, Campelo também quita com muito mau gosto. 5 – O guarda-livros e dr. Tavares são os únicos que se mudam com Amâncio e a família do Coqueiro. 6 – Eles se mudam para Santa Tereza, bairro nobre na época. XV Amâncio, o perseverante, continuou suas investidas, e dessa vez Amélia cederia, combinaram um encontro, às escuras, em seu quarto, o que ocorreu lá dentro? Nem o narrador nem eu precisamos dizer. O fato é que agora sim, o negócio estava bom, a alegria dele era radiante, e ele começou a gostar desses prazeres dados pela moça. Ela parecia viver exclusivamente para lhe dar carinhos e afagos. Era como se fora sua esposa; deixava tudo de mão para só cuidar do amante. - Ele estava em primeiro lugar! Agora a pequena lhe fazia a cama; levava-lhe ao quarto o moringue d’água, penteava-lhe os cabelos, e exigia que o rapaz lhe dissesse os passos que dava, por onde estivera, com quem falara e o dinheiro que gastara. Revistava-lhe conjugalmente as algibeiras, lia-lhe as cartas e, sempre desconfiada, cheirava-lhe as roupas. Amâncio sorria de tais ciúmes, com o ar seguro de quem desfruta em paz uma felicidade legítima e abençoada por todos. Já não furtava beijinhos assustados por detrás das portas; não roçavam os joelhos por debaixo da mesa, e não se serviam das mãos como instrumentos de amor; guardavam-se para as liberdades da noite, para a independência do quarto. Na ocasião, porém, em que ele saia para as aulas ou à noite para o passeio, beijocavam-se, sempre, como dois bons casados. Daí você deve se perguntar, e a faculdade de Medicina? Pois bem, os exames finais do período estavam se aproximando, Amâncio havia perdido muitas aulas, e não conseguia estudar como sempre. Entretanto, outro fato o pega de surpresa, o pai de Amâncio, o Vasconcelos, morreu, apesar da tristeza era o momento que Amâncio precisava para fugir dali, a família ficou desesperada ao saber que ele poderia lhes escapar dos seus domínios, ainda mais porque Amâncio não recebia mais mesada, e sim, a herança do pai, estava riquíssimo, sem se falar na herança da mãe e da avó. Com isso a família passou a explorá-lo mais ainda. Os carinhos e as solicitudes da família Coqueiro inflamaram-se, já se vê, com os últimos acontecimentos. O estudante era cada vez mais adulado e em compensação mais explorado. Agora, o irmão de Amélia não punha o menor escrúpulo lhe aceitar os obséquios e a casa ia ficando a pouco e pouco às costas do provinciano. Era sempre por intermédio de Amélia que ele sofria a cardadura. Hoje tratava-se do aluguel da casa, amanhã seria a conta do Eiras, depois a dos fornecedores; se entrava um barril de vinho para a despensa, ou um saco de feijão; se aparecia um novo aparelho de porcelana à mesa do almoço ou do jantar, Amâncio ficava à espera da fatura que, à noite, impreterivelmente, passava as mãos da rapariga para as suas. Amelinha, essa então, já não procurava rodeios para lhe arranjar as coisas. Quando precisava de um vestido, de uma jóia, de um chapéu, dizia-lhe secamente:” Deixe-me tanto, que amanhã tenho de fazer compras”. Para piorar, o guarda-livros foi embora e as contas caíram por completo em cima do jovem. Amélia pediu-lhe então um absurdo, que ele comprasse um chalé nas Laranjeiras, aquilo fora o cúmulo, o moça ainda pediu o casamento como forma de prova que ele a amava. Negando os dois pedidos imediatamente, Amélia o ameaça, dizendo que irá contar ao irmão sobre a sua situação de amante e ainda fez greve de sexo. O jovem ficou louco, não pela ameaça, mas pela falta que a moça lhe fazia, frente a isso no dia seguinte decidiu comprar a casa nas Laranjeiras. Prof. Raul Castro 10 XVI Os exames estavam prestes a acontecer, Amâncio nas vésperas tivera um pesadelo, a prova era oral, ele fora e pegara um bom ponto, o único que conseguira estudar superficialmente. *** E a nota foi excelente. O jovem conseguira concluir seus primeiros estudos. Expediram um telegrama para o Maranhão, Campos convidou a todos para uma festa, que seria mais um jantar em comemoração em sua casa. *** Tudo fluía bem quando o jovem, depois de beber muito licor, decidiu frente aos seus impulsos e euforia declarar todo seu amor para Hortênsia, educadamente a esposa do Campos o rejeitou para a frustração completa do rapaz. Curiosidades do capítulo XVI 1 – O sonho fora assim: Amâncio sonhou que seu falecido pai era juiz e condenava o filho à morte em função de ter matado Amélia. 2 – O ponto que caiu na prova foi hidrogênio. 3 – Amâncio em função da ansiedade frente aos resultados do exame adquiriu algumas superstições. XVII Amâncio logo de manhã cedo recebeu uma segunda carta da mãe alegando que Dr. Silveira poderia estar roubando a família, o jovem foi até o Campos que recomendou que fosse para a capital o mais rápido possível. Amélia após ver a carta disse que não permitiria sua partida, ao menos que casasse com ela. O jovem alegou total impossibilidade, pediu à moça que esperasse ele se formar, a moça fica revoltada. O Dr. Tavares vai embora a mando de Mme. Brizard, Amélia mandou Amâncio comprar móveis novos para o chalé, as reconciliações estavam ficando caras demais. A moça sabia da paixão ardente por Hortênsia e disse para o jovem que ela tinha um amante, um tal de Sousa Antunes, mas ninguém sabe se a informação procede. O fato é que o rapaz passou a frequentar mais a casa do Campos tentando novas investidas, mas falha, então resolveu escrever uma carta, em plena noite, depois que Amélia se deitou, no entanto, ela apenas o vigiava espertamente vendo o seu feito, e na calada da noite, quando Amâncio terminara de escrever a carta, Amélia fora lá e tirou de onde ele tinha guardado e a escondeu. *** No dia seguinte o desespero foi grande, ele a todo custo querendo encontrar a carta e ela nada de entregar, remexeu o lugar várias vezes sem sucesso. Amélia chegou a ler a carta. Como forma de vingança a moça mostrou a carta ao irmão que ficou horrorizado com o conteúdo, mas nada fez. XVIII João Coqueiro na altura do negócio acreditava que a irmã já estivesse grávida, com isso, as bajulações aumentaram. O irmão de Amélia não sabia mais o que fizesse, pediu então conselhos à sua esposa que disse que deixasse o rapaz quieto, que ele não ia largar o osso (Amélia), que faria a tal justiça para com a irmã. Então João Coqueiro aconselhou a irmã dizendo que a mesma esperasse, pois só Amâncio era capaz de dar-lhe posição de respeito e status social.Atrelado a isso Coqueiro nomeia um empregado para reformar a casa de pensão e cobrar os alugueis, o leitor, a partir dessas reformas começa a perceber que ela transformou-se em um cortiço. Amâncio, claro, pagaria as despesas tornando-se sócio, mas nunca veria a cor desse dinheiro. Nessa nova reforma ia todo tipo de gente. E claro, só dos piores, uma hora eram beberrões, prostitutas, desempregados, enfim, ali estava longe de ser a outrora casa de pensão mais requisitada do Rio de Janeiro. Resolveu escrever para D. Hortênsia uma segunda via, a esposa do Campos mais uma vez o dispensou ameaçando que se ele continuasse assim avisaria ao seu marido. O jovem provinciano mostrou a carta de sua mãe alegando que era necessário ir para o Maranhão. Amélia disse que não permitiria a menos que casasse, o rapaz então fingiu desistir da ideia só para enganá-la; ela não caiu na armadilha e avisou ao irmão. Curiosidades do capítulo XVIII 1 – O homem que cuidou da casa de pensão foi Damião. XIX O jovem estava desesperado, decidiu então procurar o Paiva, e o colega, óbvio, ofereceu-lhe ajuda, deveria enviar as malas para o Paiva e que comprasse a passagem que o resto ele resolvia. Entretanto, no dia da fuga foi preso, Amâncio começou a soluçar. Então o autor faz uma leve pausa para nos contar o que Coqueiro fez, na verdade ele seguiu todos os passos do provinciano, desde sua ida até o Paiva até a compra da passagem para o Norte, o Maranhão, e narra a sua ida até o Dr. Teles de Moura (ver Dr. Teles de Moura, em Personagens) que só aceitou processar o rapaz após saber que era rico e enviou a notificação de comparecimento para o juiz, por isso que a personagem central é presa no começo desse capítulo. O julgamento ocorreu de forma dramática, para piorar a situação, encontraram testemunhas que alegaram ver e ouvir a moça, no dia 16 de junho sendo forçada a ter relações sexuais com Amâncio, e que a moça não havia nada dito por que ele havia prometido tê-la por esposa, o que não ocorreu. Amâncio partiu para a defesa dizendo que não conhecia as testemunhas, que não havia ocorrido o que relataram, que não usou de violência para com ela, e que não prometera casamento a ela. Entretanto afirmou que no dia 20 de junho manterá relações carnais com a moça, que o encontro fora marcado por ideia da moça, e que tudo isso não teria acontecido se ela não tivesse por várias vezes o seduzido com juras de amor flertes. Ainda alegou que a família se utilizara de má fé por deixar as despesas nas suas costas e que ele era o mantenedor da casa. XX Frente ao julgamento, na cidade era o comentário, e todos se punham a favor do jovem provinciano, diziam que Coqueiro era um hipócrita, um dissimulado, e nisso Amâncio estava preso. Campos ficara abismado com a notícia, inicialmente queria reprender o rapaz, mas ponderando pensou bem e viu que o rapaz era de fato vítima, começou a procurar advogados, até mesmo largara os negócios, e o boato crescia mais ainda. E o escândalo, como um líquido derramado, ia escorrendo pelas ruas, pelos becos, penetrando por aqui e por ali, invadindo as repartições públicas, os escritórios comerciais, as redações das folhas e as casa particulares. Os jornais começavam a explorá-lo. Os ataques a João Coqueiro se intensificam. Toda essa má vontade contra o João o coqueiro redundava em benefício de Amâncio, por quem alguns estudantes pareciam sentir verdadeiro entusiasmo. Na faculdade de Medicina não se encontrava um sé rapaz em favor daquele; ao passo que este tinha por si quase toda a Politécnica. Nas duas escolas falava-se muito em “exploração, em roubo, em piratagem”. Com isso Campos prosseguia em provar a inocência do rapaz, era mais também por culpa, pois se achava culpado por no começo permitiu que Amâncio fosse para aquele covil de cobras. Entretanto, tudo muda, Coqueiro enviou a carta roubada por Amélia endereçada à Hortênsia, Campos se rebelou contra o Prof. Raul Castro 11 rapaz, e antes, os chifres de demônio colocados na cabeça do Coqueiro agora estão na cabeça do Amâncio. Hortênsia ficou se sentindo culpada e resolveu escrever ao rapaz, ele recebeu duas cartas, uma de Hortênsia e outra de Campos dizendo que escrevera à sua mãe. Amâncio afligiu-se. XXI Três meses se passaram, ele fora absorvido, a festa fora grande, uma verdadeira comemoração. As portas das casas comerciais atulhavam-se de gente; pelas janelas os dentistas, das costureiras e dos hotéis, surgiam com o mesmo alvoroço, cabeças femininas de todas as graduações: - senhoras que andavam em compras, raparigas que estavam no trabalho, professoras de piano, atrizes, cocotes; e, em todas igual sorriso de pasmo, olhares incendiados, bocas entreabertas a balbuciar o nome de Amâncio. Baraços de carne branca apontavam para ele num tilintar nervoso de braceletes. - É aquele! Diziam. - Aquele moreno, de cabelo crespo, que ali vai! - Mamãe! Mamãe! Gritavam doutro lado, - venha ver o moço rico que saiu hoje da prisão! E flores desfolhadas choviam-lhe sobre a cabeça, e os lenços de renda borboleteavam e iam cair-lhe aos pés, como uma provocação, e olhares de amor entornavam-se das janelas entre o ruidoso e pitoresco catassol das mulheres em grupo. E Amâncio, tonto de prazer, caminhava no meio dos amigos, abraçado a um grande ramo de flores naturais, que um preto lhe acabava de entregar e em cuja larga fita pendente via-se o nome dele em letras de ouro. Era uma lembrança de Hortênsia. E o bando crescia sempre. O Largo de São Francisco já estava cheio e ainda a Rua do Ouvidor não se tinha esvaziado. Ao passar pela Escola Politécnica, ouviram-se estalar foguetes e os vivas a Amâncio e à Liberdade reproduziram- se com mais veemência. Os músicos alemães responderam da porta do hotel com a Marselhesa. - A vertigem chegou então ao seu cúmulo, inflamada pela vibração corajosa dos instrumentos de metal. A Rua do Teatro, o Rocio e todos os becos e travessas circunvizinhas já se achavam tolhidas de povo; as janelas do Hotel Paris destacavam-se embandeiradas e cheias de gente, como nos dias de carnaval. Coqueiro saiu do fórum ouvindo os gritos de viva e os delírios da população, chegou desmoralizado, humilhado, arrasado, Mme. Brizard passou na sua cara os erros cometidos, era muita humilhação, À noite muitos estudantes chegaram a jogar coisas na janela da sua casa, Coqueiro então pegou um arma, pensou em suicídio, mas era muito covarde para isso, então pediu um carro, fora até o Hotel e o assassinou a queima roupa, Amâncio morreu falando o nome da mãe. Curiosidades do capítulo XXI 1 – Amâncio fora assassinado no Hotel Paris. 2 – O revólver que Coqueiro pegou era de seu falecido pai. 3 – Amâncio estava no dia da morte com uma moça de nome Jeanete. XXII No ultimo capítulo o final é apurado, o enterro de Amâncio tivera a mesma proporção de sua absolvição, e depois de uns dias chegou D. Ângela, pois ela havia sido informada da prisão de seu filho pelo Campos, ao chegar, viu num jornal, o corpo de Amâncio, seu filho, estendido numa mesa de necrotério, ela riu ao mesmo tempo que chorava loucamente. A Questão Capistrano Fonte de pesquisa: http://www.passeiweb.com/saiba_mais/fatos_historicos/brasil_america/questao_capistrano Fato real que deu origem ao romance de Aluísio Azevedo, Casa de Pensão. O emocionante caso de polícia, logo conhecido e popularizado sob a epígrafe de "Questão Capistrano", envolve dois jovens e estudantes da Escola Politécnica, antes da tragédia, grande e inseparáveis amigos: João Capistrano da Cunha e Antônio Alexandre Pereira. O tão debatido "Affaire Capistrano", que o povo e os jornais da época consagram, divide o público e nascem então acesas polêmicas. O carioca da época não fala noutra coisa, não discute outro assunto, não se preocupa senão com os dois processos criminais apesar de rotineiros, em que se misturama honra de uma moça e o homicídio do seu sedutor. O caso principia trivialmente assim: dona Júlia Clara Pereira é modesta professora de piano, que, naquele ano de 1875, mora com os dois filhos Antônio Alexandre Pereira, estudante de engenharia, e Júlia Pereira, de 20 anos, em pequena casa da Rua Silva Manuel, nº 10. A pobre viúva baiana luta com inauditas dificuldades para prover a pequena família. As aulas de piano é que lhes mantêm as despesas da casa e dos estudos. A habitação apresenta-se em péssimo estado e resolvem alugar outra, no ano seguinte, bem maior e mais cômoda, na Rua do Alcântara, nº 71, e que, além do pavimento térreo, tem o sótão em forma de chalé. Como a nova moradia possui alguns quartos a mais, deliberam alugá-los, montando assim uma casa de pensão, muito comum naqueles tempos. Dessa maneira podem auferir outros lucros para os gastos sempre crescentes. Os dois primeiros pensionistas são colegas do filho: Mariano de Almeida Torres e João Capistrano da Cunha, rapazes procedentes do Paraná, tidos e havidos como de bom comportamento e acolhidos no seio da família Pereira sob o maior carinho e confiança. Em pouco, no convívio diário, nasce o namoro entre o estudante Capistrano e a jovem Júlia. O idílio pega fogo... Voraz concupiscência encarrega-se do resto... Uma noite – naquela de 13 para 14 de janeiro de 1876 – acontece o imprevisto: o rapaz não se contém e demanda o quarto da moça, violentado-a brutalmente. Na manhã seguinte, a jovem, entre lágrimas, conta à mãe o que lhe acontecera. A viúva não tem dúvidas: vai às falas com o moço. Este, como sói acontecer em casos desse jaez, dá um pretexto qualquer, procura adiar o compromisso do enlace para data bem remota, quando, então, reparará o dano causado. Enquanto isso, dias e meses decorrem sem nenhuma atitude do namorado, frio e indiferente ao cumprimento da palavra empenhada. Quando menos se espera, sai de casa e não volta mais. Some de uma vez. Todos ignoram-lhe o paradeiro. Deixa, apenas, na pensão a roupa, os livros, a mala. A mãe e o tutor da vítima apressam-se em procurar a delegacia de polícia mais próxima para a respectiva queixa. Comparecem acompanhados do advogado dr. Jansen de Castro Júnior, e exigem 50 contos de indenização pelos danos causados! http://www.passeiweb.com/saiba_mais/fatos_historicos/brasil_america/questao_capistrano Prof. Raul Castro 12 O inquérito tem o seu seguimento natural. Concluído, é enviado a Juízo. Os jornais se encarregam de divulgá-lo num noticiário pormenorizado e profuso, enchendo colunas e colunas, dias e dias seguidos, a explorar morbidamente a curiosidade pública. A população apaixona-se pelo caso, tornado assim de repente, para conseguir fácil casamento... Outros, mais exaltados, são de opinião contrária, julgam-no digno de pena severíssima. O indiciado João Capistrano da Cunha, acolitado por três bons advogados, drs. Busch Varela e Duque Estrada Teixeira e conselheiro Saldanha Marinho, comparece à barra do Tribunal, no dia 17 de novembro. Figura como promotor público interino o dr. Ferreira de Oliveira, que produz veemente acusação. A colossal massa popular, que enche o salão, vibra. Contradita-se o defensor do réu, dr. Busch Varela. À réplica do promotor, respondem os outros dois patronos: dr. Duque Estrada Teixeira e conselheiro Saldanha Marinho, que conseguem a absolvição do seu constituinte, após calorosos debates, ovacionando os diversos advogados, e, à saída, prorrompe em palmas ao absolvido, carregado em triunfo pelos colegas. Oferecem-lhe ainda um banquete em regozijo, no Hotel Paris O desfecho tem viva repercussão na sociedade fluminense. A viúva e o irmão da vítima não se conformam com tão injustiça e iníqua sentença. Desesperado, o jovem Antônio Alexandre Pereira passa três dias pensando no que deve fazer. Precisa tomar atitude. A ideia fixa aflige-o, mortifica-o: necessita lavar a honra da família tão rudemente ofendida. Resolve fazer justiça com as próprias mãos. Impõe-se uma lição de mestre ao impune autor da desgraça da irmã, que chora, dia e noite, envergonhada e entre a profunda prostração. O acadêmico adquire uma arma de 25 cápsulas por 22$000 – uma tragédia atrai outra tragédia – e sai à procura do amigo da véspera. Encontra-o em olena na Rua da Quitanda, fronteiro ao nº 128, cerca das 10 da manhã, quando se dirige à casa do seu correspondente, um negociante da Rua de São Pedro. Pelas costas alveja-o com cinco tiros e fere-o gravemente com apenas um no pulmão esquerdo. O rapaz corre para o interior do armazém, fugindo a novo disparo e logo cai sem forças ao chão. Está morto! O agressor tenta, em vão, escapar, quando é preso em flagrante por Augusto César de Mascarenhas, que passa na ocasião, e entrega-o à Justiça. O pulmão da vítima achava-se atrofiado, podendo morrer em breve tempo, constataram os médicos na autópsia. A rapaziada da Politécnica exalta-se e promove uma série de homenagens ao colega morto: veste-se de luto, chora, vai incorporada ao enterro, que se transforma em apoteose pública, carregado a mão, por estudantes e políticos que comparecem concitados pela astúcia partidária de Saldanha Marinho, um dos advogados do morto. O próprio Visconde do Rio Branco, diretor da Escola, suspende as aulas por dois dias. O processo de homicídio corre os trâmites legais. O acadêmico Antônio Alexandre Pereira senta-se no banco dos réus a 20 de janeiro de 1877. É defendido pelo mesmo advogado que figurara no caso da irmã, o dr. Jansen de Castro Júnior. Os debates atraem mais gente que no episódio anterior do defloramento. Agora a coisa é outra: as antipatias populares, até ontem contra a família Pereira, transforma-se então em simpatias pelo assassino... O mesmo júri, que absolve o primeiro, absolve o segundo! Inocenta-o por unanimidade de votos! Também uma salva de palmas acolhe o veredictum no Tribunal. É o acusado carregado em triunfo pelos mesmos colegas, que ovacionaram o morto da véspera... Casa de Pensão - Exercícios 1. “Defronte dele, com uma gravidade oficial, empilhavam-se grandes livros de escrituração mercantil. Ao lado, uma prensa de copiar, um copo d água, sujo de pó, e um pincel chato; mais adiante, sobre um mocho de madeira preta, muito alto, via-se o Diário deitado de costas e aberto de par em par. Tratava-se de fazer a correspondência para o Norte. Mal, porém, dava começo a uma nova carta, lançando cuidadosamente no papel a sua bonita letra, desenhada e grande,[...] (p.01) ” Nesse trecho do livro Casa de Pensão, pode- se afirmar que: a) existe um desprezo pela técnica descritiva. b) predomina a descrição sobre a narração no trecho “Tratava-se de fazer a correspondência para o Norte.” c) é clara na passagem “Ao lado, uma prensa de copiar, um copo d’ água, sujo de pó, e um pincel chato” a presença da zoomorfização. d) o fragmento é revestido pela técnica narrativa- descritiva, característica marcantenos textos Realistas/Naturalistas. e) predomina a narração sobre a descrição no trecho “Ao lado, uma prensa de copiar, um copo d água, sujo de pó, e um pincel chato”. 2. “Era de vinte anos, tipo do Norte, franzino, amornado, pescoço estreito, cabelos crespos e olhos vivos e penetrantes, se bem que alterados por um leve estrabismo.”(p. 01-02) No livro Casa de Pensão, essa é a primeira descrição que se tem sobre: a) o antagonista João Coqueiro. b) o protagonista Sr. Campos. c) o antagonista Amâncio Vasconcelos. d) o protagonista João Coqueiro. e) o protagonista Amâncio Vasconcelos. 3. “- Foi há seis anos, observou o moço, limpando o suor que lhe corria abundantemente pelo rosto.” (p. 02). A oração sublinhada: a) faz parte da fala da personagem. b) trata-se de uma oração intercalada, referindo-se a onisciência do narrador. c) trata-se de uma oração reduzida, referindo-se a onisciência do narrador. d) trata-se da fala do narrador
Compartilhar