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Prévia do material em texto

Prof. Raul Castro 1 
Casa de Pensão 
de Aluísio de Azevedo 
 
 
 
Análise da obra 
 
A obra foi baseada num fato real: a Questão Capistrano, 
crime que sensibilizou o Rio de Janeiro em 1876/77, envolvendo 
dois estudantes, em situação muito próxima à da narração de 
Aluísio 
Azevedo. Neste livro, o autor estuda as influências da 
sociedade sobre o indivíduo sem qualquer idealização 
romântica, retratando rigorosamente a realidade social trazendo 
para a literatura um Brasil até então ignorada. 
Autor fiel à tendência naturalista difundida pelo Realismo, 
Aluísio Azevedo focaliza, nesta obra, problemas como 
preconceitos de classe, de raças, a miséria e as injustiças 
sociais. Descreve a vida nas pensões chamadas familiares, onde 
se hospedavam jovens que vinham do interior para estudar na 
capital. Diferente do Romantismo, o Naturalismo enfatiza o lado 
patológico do ser humano, as perversões dos desejos e o 
comportamento das pessoas influenciado pelo meio em que 
vivem. 
Casa de Pensão é uma espécie de narrativa intermediária 
entre o romance de personagem (O Mulato) e o romance de 
espaço (O Cortiço). Como em O Mulato, todas as ações ainda 
estão vinculadas à trajetória do herói, nesse caso, Amâncio de 
Vasconcelos. Mas, como em O Cortiço, a conquista, ordenação 
e manutenção de um espaço é que impulsiona, motiva e ordena 
a ação. Espaço e personagem lutam, lado a lado, para evitar a 
degradação. 
As teses naturalistas, especialmente o Determinismo, 
alicerçam a construção das personagens e das tramas. 
Romance naturalista de 1884, em que o autor, de carreira 
diplomática bastante acidentada, move personagens que se 
coadunam perfeitamente com a análise dos críticos de que seus 
tipos são, via de regra, grosseiros, não se distinguem pela 
sutileza da compreensão, nem pela frescura dos sentimentos. 
São eixos de relações da estrutura da presente narrativa a 
Província -Maranhão, a Corte -Rio de Janeiro, a casa paterna e 
a casa de pensão. 
 
Estilo 
 
O Naturalismo está plenamente representado em Casa de 
Pensão desde a abertura do romance, quando Amâncio parece 
marcado fatalisticamente pela escola e pela família: uma e outra 
o encheram de revolta. Por causa de um castigo justo ou injusto, 
"todo o sentimento de justiça e da honra que Amâncio possuía, 
transformou-se em ódio sistemático pelos seus semelhantes...". 
O leite que o menino mamou na ama negra também está 
contagiado e irá marcá-lo. O médico dizia: "Esta mulher tem 
reuma no sangue e o menino pode vir a sofrer para o futuro." 
Amâncio é uma cobaia, um campo de experimentação nas mãos 
do romancista. Nele o fisiológico é muito mais forte do que o 
psicológico. É o determinismo que vai acompanhar toda a 
carreira do personagem. 
Está presente também na obra o sentido documental e 
experimental do romance naturalista, renunciando ao 
sentimentalismo e à evasão, procura construir tudo sobre a 
realidade. Como já mencionado, a estória do romance se baseia 
num caso real. 
 
Linguagem 
 
Uma técnica comum ao escritor naturalista é o abuso dos 
pormenores descritivo-narrativos de tal modo que a estória 
caminha devagar, lerda e até monótona. É a necessidade de 
ajuntar detalhes para se dar ao leitor uma impressão segura de 
que tudo é pura realidade. Essas minúcias se estendem a 
episódios, a personagens e a ambientes. Que obviamente serão 
colocados em segundo plano em nosso resumo. Num episódio, 
por exemplo, há minúcias de tempo, local e personagens. E 
móveis de uma sala até os objetos mais miúdos. 
Não se pode dizer que a linguagem do romance é 
regionalista; pelo contrário, o padrão da língua usada é geral e o 
torneio frasal, a estrutura morfossintática é completamente fiel 
aos padrões da velha gramática portuguesa. 
Como Machado de Assis, Aluísio Azevedo também usa 
alguns recursos desconhecidos da língua portuguesa do Brasil, 
principalmente na língua oral. Assim, por exemplo, o caso da 
apossínclise (é uma posição especial do pronome oblíquo que 
não escutamos no Brasil, mas é comum até na língua popular de 
Portugal). São exemplos de apossínclise: "Há anos que me não 
encontro com o amigo." (Há anos que não me...) 
"Se me não engano, você está certo." Em Casa de Pensão 
essa posição pronominal é um hábito comum. 
 
Elementos da Narrativa 
 
Foco narrativo 
 
O autor escolheu o seu ponto-de-vista narrativo: a terceira 
pessoa do singular, um narrador onisciente e onipotente, fora do 
elenco dos personagens. Como um observador atento e 
minucioso dentro das próprias fórmulas apertadas do 
naturalismo. No caso deste romance, Aluísio Azevedo trabalhou 
muito servilmente sobre os fatos absolutamente reais. 
 
Temática 
 
Como em O Cortiço, Aluísio de Azevedo se torna 
excepcionalmente rico na criação de personagens coletivos: a 
casa de pensão, tão comum ainda hoje, no Brasil inteiro, tem 
vida, uma vida estudante, nas páginas do romance. Aluísio 
conhecia, de experiência própria, esse ambiente feito de tantos 
quartos e tantos inquilinos, tão numerosos e tão diferentes, 
nivelados pela mediocridade e em fácil decadência moral. O 
autor faz alguns retratos com evidentes traços caricaturais (a sua 
velha mania ou vocação para a caricatura...), mas fiéis e 
verdadeiros. Tudo se movimenta diante do leitor: a casa de 
pensão é um mundo diferente, gente e coisas tomam aspectos 
novos, as pessoas adquirem outros hábitos, informadas ou 
deformadas por essa vida comunitária tão promíscua. Aí se 
encontram e se desencontram, se amontoam e se separam 
tantos indivíduos transformados em tipos, conhecidos, às vezes, 
apenas pelo número do quarto. Em O Cortiço o meio social é 
mais baixo; na Casa de Pensão é médio. 
Às doenças morais (promiscuidades, hipocrisia, 
desonestidades, sensualismos excitados e excitantes, ódios, 
baixos interesses, dinheiro...) se misturam também doenças 
físicas (o tuberculoso do quarto 7 que morre na casa de pensão, 
a loucura e histerismo de Nini...). Foi o que encontrou Amâncio 
na Casa de Pensão de Mme. Brizard. Fora para o Rio de 
Janeiro, para estudar. E, num ambiente como esse, quem seria 
capaz de estudar? É verdade que o rapaz já trazia a sua 
mentalidade burguesa do tempo: o que ele buscava não era uma 
 
 Prof. Raul Castro 2 
profissão, mas apenas um diploma e um título de doutor. Ele, 
sendo rico, não precisaria da profissão, mas, por vaidade, de um 
status, de um anel no dedo e de um diploma na parede. Essa 
mania de doutor, doença que pegou no Brasil, já foi 
magistralmente caricaturada em deliciosa carta de Eça de 
Queirós ao nosso Eduardo Prado: "A nação inteira se doutorou. 
Do norte ao sul do Brasil, não há, não encontrei senão doutores! 
Doutores com toda a sorte de insígnias, em toda a sorte de 
funções!! Doutores com uma espada, comandando soldados; 
doutores com uma carteira, fundando bancos: doutores com uma 
sonda, capitaneando navios; doutores com uma apito, 
comandando a polícia; doutores com uma lira, soltando carnes; 
doutores com um prumo, construindo edifícios; doutores com 
balanças, ministrando drogas; doutores sem coisa alguma, 
governando o Estado! Todos doutores..." O próprio Aluísio de 
Azevedo abandonou a Província para buscar sucessos na Corte 
(Rio de Janeiro) e, certamente também, um título de doutor... 
 
Tempo 
 
Em nenhum momento a história nos relata um tempo preciso, 
até porque pressupõe que sendo uma história baseada em fatos 
reais, o caso Capistrano, deduz que se passe em 1876, data 
precisa do ocorrido que abalou a cidade carioca. 
 
Personagens 
 
Os personagens, portando nomes fictícios, escondem 
pessoas reais: 
 
Os principais: 
 
Amâncio da Silva Bastos e Vasconcelos - (João 
Capistrano da Silva) estudante, acusado de sedução. Foi 
absolvido. 
Descrição: “Era de vinte anos, tipo do Norte, franzino, 
amornado, pescoço estreito, cabelos crespos e olhos vivos e 
penetrantes, se bem que alterados por um leve estrabismo. 
Vestia casimira clara, tinha um alfinete de esmeralda na 
camisa,um brilhante na mão esquerda e um grossa cadeia de 
ouro sobre o ventre. Ao pés, coagidos em apertados sapatinhos 
de verniz, desapareciam-lhe casquilhamente nas amplas 
bainhas da calça.” Pág. 13 
 
Amélia ou Amelita - (Júlia Pereira) a moça seduzida, pivô da 
tragédia. 
Descrição: 
“O cabelo, denso e castanho, prendia-se-lhe no toutiço por 
um laço de seda azul, formando um grande molho flutuante, que 
lhe caía elegantemente sobre as costas O vestido curto, muito 
cosido ao corpo, enluvava-lhe as formas, dando-lhe um ar 
esperto de menina que volta do colégio a passar férias com a 
família. 
Era muito bem feita de quadris e de ombros. Espartilhada, 
como estava naquele momento, a voltas enérgica da cintura e a 
suave protuberância dos seios produziam nos sentidos de quem 
a contemplava de perto uma deliciosa impressão artística. 
Sentia-se-lhe dentro das mangas do vestido a trêmula 
carnadura dos braços; e os pulsos apareciam nus muito brancos, 
chamalotados de veiazinhas sutis, que se prolongavam 
serpeando. Tinha as mãos finas e bem tratadas, os dedos 
longos e roliços, a palma cor- de – rosa e s a unhas curvas como 
um bico de papagaio. 
Sem ser verdadeiramente bonita de rosto, era muito 
simpática e graciosa. Tez macia de uma palidez fresca de 
camélia; olhos escuros, um pouco preguiçosos, bem 
guarnecidos e penetrantes; nariz curto, um nadinha arrebitado, 
beiços polpudos e viçosos, à maneira de uma fruta que provoca 
o apetite e dá vontade de morder, Usava o cabelo cofiado em 
franjas sobre a testa, e, quando queria ver ao longe, tinha de 
costume apertar as pálpebras e abrir ligeiramente a boca.” Pág. 
80 
 
Mme. Brizard - (D. Júlia Clara Pereira, mãe da moça e do 
rapaz, assassino) é uma viúva, dona da casa de pensão. 
Era mulher de cinquenta anos, viúva de uma afamado 
hoteleiro que lhe deixara muitas saudades e dúzia e meia de 
apólices da dúvida pública, nascida em Marselha, a francesa, 
casara aos quinze anos com um diplomata russo que morrera e 
não deixara filhos, estava viúva aos vinte. Depois apareceu Mr. 
Brizard, a subida de Luís Felipe ao trono fê-lo vir ao Brasil e se 
tornar hoteleiro, amava o Brasil. 
Após casar com João Coqueiro passa a ser a principal 
cúmplice nas tramoias para ludibriar o jovem Amâncio. 
 
João Coqueiro - Janjão - (Antônio Alexandre Pereira, irmão 
da moça Júlia Pereira e assassino de João Capistrano. Foi 
também absolvido). 
Descrição: “seus olhos, pequenos e de cor duvidosa, 
conservavam a mesma penetração e a mesma fixidez incisiva de 
ave de rapina; sua boca estreita, bem guarnecida e quase sem 
lábios, tinha o mesmo riso arqueado, mal seguro e frio, de quem 
escuta e observa. 
Era de altura regular, compleição ética, rosto comprido, de 
um moreno embaciado, pouca barba, pescoço magro , nariz 
agudo, mãos pálidas e secas, voz doce e cabelo muito crespo, 
de colorido incerto, entre castanho e fulvo. Tinha vinte e sete 
anos, mas aparentava, quando muito, vinte e dois.” Pág. 46 
... 
“O Coqueiro ,com a sua figurinha de tísico, o seu rosto 
chupado e quase verde, os seus olhos pequenos e penetrantes, 
de uma mobilidade de olho de pássaro, com a sua boca fria, o 
seu nariz agudo, o seu todo seco egoísta, desenganado da vida, 
não era das coisa que, mais o atraíssem.” Pág. 60 
 
Dr. Teles de Moura - (Dr. Jansen de Castro Júnior) 
advogado da família da moça, homem descrito na obra como um 
carniceiro advogado. 
Descrição: O Teles era um advogado velho, muito 
respeitado no foro; não pelo caráter, que o não mostrava nunca, 
nem pela sua ciência, que a não tinha; nem tampouco pelos 
seus cabelos brancos, que a estes nem ele próprio respeitava, 
invertendo-lhes a cor; mas sim pela sua proverbial sagacidade, 
pelas suas manhas de chicanista, pela sua terrível figura de 
raposa velha, pelos sues olhinhos irrequietos e matreiros, pelo 
seu nariz à bico de pássaro e pela sua boca sem lábios, donde a 
palavra saía seca e penetrante como uma bala. 
O passado do Teles era toda uma legenda de vitórias 
judiciais; atribuíam-lhe anedotas mais antigas de que ele; muito 
processo se anulou naquelas unhas aduncas e tamanduá; muito 
criminoso escapou às penas da lei por entre as malhas das sua 
astúcia; muito inocente foi parar à cadeia ensarilhado nas pontas 
de seus sofismas. Pág. 238 
 
Os Adjacentes: 
Manoel Pedro Vasconcelos – Pai de Amâncio, homem 
muito rude e severo com filho, começa a demonstrar afeto pelo 
filho em uma carta que lhe envia estando o rapaz na Corte, 
morre de Beriberi. 
 
D. Ângela – Mãe de Amâncio, ama-o perdidamente. 
 
Dr. Silveira – Advogado da família de Amâncio no Maranhão 
que se aproveita da situação da morte do chefe da família para 
extorquir dinheiro de D. Ângela. 
 
Pires – professor de Amâncio dos 7 aos 12 anos, homem 
carrasco e que batia nos alunos, era um ditador em sala, a 
personagem central possui um trauma muito grande em função 
dos maus tratos. 
 
 Prof. Raul Castro 3 
 
Luís Campos - Homem que comanda uma casa de negócios 
e hospeda inicialmente o jovem universitário, sempre correto e 
ético defende Amâncio quando é preso, mas ao descobrir que o 
rapaz assediava sua esposa se volta contra ele. 
 
D. Hortênsia – Esposa de Luís Campos, é assediada por 
Amâncio, que resiste e depois da prisão do rapaz, arrepende-se 
perdidamente, mas o rapaz agora a despreza. 
 
D. Carlota – irmã de Hortênsia. 
 
César e Nini – Filhos de Mme. Brizard, um de 12 anos e a 
outra tinha problemas mentais após a perda de um filho. 
 
Os Hóspedes: 
Um fator de extremo interesse é você saber os hóspedes da 
casa de pensão de João Coqueiro, vamos a eles: 
 
Nº 01: Dr. Tavares – Advogado, gostava de fazer discursos 
inflamados e epopeicos, interessa-se em defender Amâncio 
quando está preso e é um dos que ainda se mantem com a 
família de Coqueiro quando eles saem da casa de pensão para 
Santa Tereza. 
 
Nº 02: Fontes – Era um homem que havia ficado rico, mas 
perdera todo seu dinheiro, agora tentava se reerguer vendendo 
muamba pela cidade. 
 
Nº 03 Piloto – Repórter do jornal Gazeta. 
 
Nº 04 Campelo – Misterioso, pouco se sabe sobre ele. 
 
Nº 05 Paula Mendes e Catarina – O marido era rabequista e 
ela pianista, vendem o piano para quitar dívidas na casa de 
pensão. 
 
Nº 06 O guarda-livros – Homem que paga sempre em dias 
e troca com Amâncio pelo gabinete no meio do livro. 
 
Nº 07 Rapaz doente – Rapaz que definha dia após dia e 
morre nas mãos de Amâncio. 
 
Nº 08 Lúcia e Pereira – Lúcia era uma senhora interesseira 
que tentou seduzir Amâncio, e chegou até a delatar o plano dos 
donos da casa de pensão, mas João Coqueiro e Mme. Brizard 
mandaram-na embora. Pereira é um lento que só dorme, parece 
o Mr. Bean. Como se conheceram? Foi assim, essa história se 
encontra no capítulo X, desde os 10 anos Lúcia vivia a andar nos 
bailes, aos 15 já pensava na morte, aos 20 caiu na lábia de um 
primo que a engravidou e foi embora. 
Depois disso sua missão fora encontrar alguém que a 
assumisse, encontrou o Pereira, cujo tio diziam que tinha uma 
herança e seria o tal Pereira a herdá-la, a moça começou a dar 
indiretas e mais flertadas, e nada do rapaz perceber, como 
sempre, fora um lento, até que um dia ela chegou para ele 
obrigando-o a casar, o rapaz nada fez, só depois descobriu ela 
que ele já era casado com uma velha desde os dezoito anos no 
papel, mesmo assim Lúcia ficou amancebada com ele. 
Pouco tempo depois a tio morrera após ver Lúcia transando 
com um estudante, e no testamento, só dividas, com isso Lúcia 
passou a ser o homem da relação, e viviam de calote nas casas 
de pensão da cidade carioca. 
Chegara a um tempo a engravidar, acredite, do Pereira, 
Lúcia tentou abortar, mas não conseguiu, nascera dentro de um 
fábrica. 30 dias depois, felizmente, como diria o narrador, a 
criança morrera, como o pai, abriu o olho uma só vez, na hora de 
expirar. 
A casa de pensão do Coqueiro já era a sexta por onde 
percorriam com o seu suposto marido. 
 
Nº 09 Melinho – Funcionárioda Caixa. 
 
Nº 10 Lambertosa – o Gentleman, homem metido a 
intelectual. 
 
Nº 11 Dr. Correia – Médico, alugava o quarto só para 
estudar, mas não era bem isso... 
 
Enredo 
Autoria: Raul Castro. 
 
I 
Amâncio chegou à Corte (Rio de Janeiro) às onze da manhã, 
todo desajeitado a uma casa de comércio para entregar a Luís 
Campos uma carta de recomendação, de início o negociante não 
o reconheceu, entretanto, após melhor vê-lo, começou a traçar 
elogios à sua família, dizendo os favores que devia à família dos 
Vasconcelos. Depois de ser interrogado o que viera fazer o 
estudante disse que viera para cursar medicina, e entregou-lhe a 
carta. Após lida, Campos convidou-o para almoçar, mas 
Amâncio rejeitou o convite, pois tinha que entregar várias cartas 
que trouxera, então Luís emprestou seu carro a fim de que o 
motorista o ajudasse nas entregas. 
*** 
Em seguida vem uma longa descrição da pessoa de Luís 
Campos, inicialmente como pessoa: era homem ativo, 
caprichoso no serviço de que ser encarregava e 
extremamente suscetível em pontos de honra; quer se 
tratasse de sua individualidade privada, que de sua 
responsabilidade comercial. 
Não descia nunca ao armazém, ou simplesmente ao 
escritório, sem estar bem limpo e preparado. Caprichava no 
asseio do corpo: as unhas, os cabelos e os dentes 
mereciam-lhe bons desvelos e atenções. 
Entre os companheiros, passava por homem de vistas 
largas e espírito adiantado ; nos dias de descanso dava-se 
todo ao Figuier, ao Flammarion e ao Júlio Verne, outras 
vezes, poucas, atirava-se à literatura ; mas os verdadeiros 
mestres aborreciam-no e entreturbavam-no com os 
rigorismos da forma. 
- È um bom tipo ! diziam os estudantes à volta do jantar, 
e seguinte domingo lá estavam de novo. O “bom tipo” 
tratava-os muito bem, levava-os com a família para a sala, 
oferecia-lhes charutos, cerveja, e nunca exigia que lhe 
restituíssem os livros que lhes emprestava. Depois trata de 
explicar como enriquecera cedo, com apenas trinta e seis anos, 
era um homem rico, com muito crédito na praça e dono de um 
armazém, conseguira assim, logo ao chegar ao Maranhão fizera 
seus primeiros estudos e ingressara no comércio graças ao 
amigo de seu pai, depois da morte desse amigo fora ao Rio onde 
após ser ajudante de guarda-livros, consegue um emprego de 
gerente no armazém Garcia, Costa & Cia, quando o tal Garcia 
morreu, e depois Costa também, Campos chamara um sócio de 
fora e passou a ser a principal figura da firma. 
Encontrou depois D. Hortênsia com quem casa, mulher 
sempre asseada e isso o agradava, morava com eles 
Carlotinha, cunhada de Campos e irmã de Hortênsia. 
O fato é que Campos prosperava sempre, bem como 
também despertava os olhares de todos, desde os que torciam 
por sua fortuna como aqueles que desconfiavam de seu 
enriquecimento precoce. 
*** 
Amâncio chegou às quatro da tarde cansado e reclamando 
do calor, Campos convidou-o para jantar, Hortênsia reclama, 
mas Luís logo fala do quanto deve à família do rapaz, 
principalmente ao seu tio. Durante o jantar, o jovem não tira o 
olho de Hortênsia e começa a desejá-la. Depois o dono do 
armazém sempre solícito pediu que vá para sua casa e saisse 
do hotel onde fora se hospedar. O rapaz disse estar disposto a 
atender seu pedido. À noite, deitado em sua cama, começa a 
 
 Prof. Raul Castro 4 
imaginar Hortênsia vindo em sua direção a sorrir com seus 
braços palpitantes e carnudos. 
 
Curiosidades do capítulo I 
1 – Vasconcelos era o pai de Amâncio; 
2 – O pai de Vasconcelos tinha reumatismo; 
3 – Campos era cearense; 
4 – O armazém de Campo localizava-se na rua Direita. 
5 – Hortênsia chamava seu esposo sempre de Lulu, e Campos 
sempre chamava sua esposa de Neném. 
6 – Amâncio, antes de ir morar na casa do Luís Campos 
hospeda-se num hotel chamado Coroa de Ouro. 
 
II 
Amâncio foi para a casa de Campos de forma temporária até 
achar um cômodo definitivo. O jovem recém-chegado queria 
curtir a cidade, queria encontrar no Rio a velha Paris dos 
romances que lera, a viagem fora por várias vezes desejada e 
calculada, o que nos conduz a uma nítida conclusão que seu 
desejo real não era a faculdade de Medicina, e sim, os desejos 
de boêmia e curtição que nutria desde a infância. Antes de nos 
conduzir a essa parte, o autor faz questão de tratar da aparência 
do jovem frente ao seu desejo. Sua pequena testa, curta e sem 
espinhas, margeada de cabelos crespos, não denunciava o 
que naquela cabeça havia de voluptuoso e ruim. Seu todo 
acanhado, fraco e modesto não deixava transparecer a 
brutalidade daquele temperamento cálido e desensofrido. 
Daí o narrador nos remete a infância, sofrida, cheias de 
traumas e medos, a começar do pai, o Vasconcelos, seu nome 
era Manoel Pedro de Vasconcelos, detalhe esse que só nos 
será dito no capítulo XVIII, Amâncio temia o pai tanto quanto a 
própria morte só de ouvia seus passos ou sua voz, tratamento 
cordial só por conveniência. A mãe, D. Ângela era o oposto, era 
a válvula de escape do rapaz é descrita como uma santa de 
cabelos brancos e rosto de moça, sempre quando o pai ralhava 
com ele era ela que o socorria. 
Depois se lembrou de sua educação do professor que tanto o 
traumatizou, Pires, homem tirano que tratava os alunos como 
animais, ainda naquela educação tradicional da palmatória, hoje, 
se um professor chama um aluno de feio, aí já era... 
O autor aproveita para fazer uma crítica ao costume do 
brasileiro: Os pais ignorantes, viciados pelos costumes 
bárbaros do Brasil, atrofiados pelo hábito de lidar com 
escravos, entendiam que aquele animal era o único 
professor capaz de “endireitar os filhos”. 
O que deveria na visão dos pais consertar os filhos, no caso 
de Amâncio teve efeito contrário, Amâncio passou a ser atrevido 
e insubordinado sempre alimentando ódio mesclado com temor, 
a fama do rapaz se deve a um fato extraordinário quando 
Amâncio batera em um aluno que xingara sua mãe, o aluno, 
negou ter feito isso, o professor deu-lhe palmadas e mandara o 
aluno também repetir o feito do mestre, após Amâncio se 
recusar cerrando as mãos, o professor repetiu as ofensas ditas 
pelo aluno, isso rendeu nada mais nada menos que uma 
bofetada no mestre que caiu ao chão, fugiu, mas ao mando do 
mestre os alunos capturam-no. Novamente levou uma surra do 
Pires, ao chegar em casa, nova surra, sem se falar na 
humilhação de pedir posteriormente de joelhos perdão ao 
professor e ao aluno. 
Tal episódio modificará para sempre o caráter de Amâncio, 
que passa a agir de forma “domesticada”, contudo, tudo era 
fingimento. 
Desde logo habituou-se a fazer uma falsa idéia dos seus 
semelhantes; julgou os homens por seu pai, seu professor e 
seus condiscípulos. - E abominou-os. Principiou a aborrecê-
los secretamente, por uma fatalidade do ressentimento; 
principiou a desconfiar de todos, a prevenir-se contra tudo, 
a disfarçar, a fingir que era o que exigiam brutalmente que 
ele fosse. 
... 
E Amâncio, com medo da bordoada, fazia-se grave, e 
cada vez ia-se tornando mais hipócrita e reservado. Sabia 
afetar seriedade, quando tinha vontade de rir; sabia mostrar-
se alegre, quando estava triste; calar-se, tendo alguma 
recriminação a fazer; e, na igreja, ao lado da família, sabia 
fingir que rezava e sabia agüentar por mais de uma hora a 
máscara de um devoto. 
Em seguida conhecemos a ama de leite, depois de quinze 
anos de servidão, o pai, Vasconcelos, dera-lhe alforria, a preta 
velha não deixara de servir na casa, o menino dera-lhe trabalho, 
veja como era Amâncio na infância: 
Era muito feio em pequeno. Um nariz disforme, uma boca 
sem lábios e dois rasgões no lugar dos olhos. Não tinha um 
fio de cabelo e estava sempre a fazer caretas. 
A princípio - muito achacado de feridas, coitadinho! Os 
pés frios, o ventre duro constantemente. 
Levou muito para andar e custou-lhe a balbuciar as 
primeiras palavras :Ângela adorava-o com entusiasmo do 
primeiro parto ;por duas vezes supôs vê-lo morto e deu 
promessas aos santos da suadevoção. 
Conseguiram fazê-lo viver, mas sempre fraquinho, 
anêmico, muito propenso aos ingurgitamentos 
escrofulosos. 
As mesmas danadices se repetiam na casa da avó, morta de 
amores pelo menino. 
Aos doze anos fizera o exame da aula do Pires, passou, 
mesma sem nem saber ler direito, ia para o Liceu estudar 
Francês e Geografia, estava livre do tirano professor, isso sem 
dúvida era motivo de muita felicidade. 
Na festa dada pela sua aprovação, todos davam felicitações 
ao novo homem que se formaria, o pai e a avó lhes dão 
presentes. 
O jovem sabendo que a festa lhe pertencia aproveitou a 
ausência do pai para fazer um brinde aos convivas o que gerou 
bastante elogios. Ao final da festa vomitara, fora sua primeira 
bebedeira. 
*** 
Aos 14 anos prestou exame de Francês e Geografia e 
matriculou-se nas aulas de gramática geral e inglês, com as 
recomendações corretas, poderia enfim estar apto a entrar nas 
academias da Corte. 
Nessa idade já tinha namoros, dançava bem, fumava e 
prevaricava pela cidade. De madrugada, quando toda a família 
dormia saia com os amigos, Sabino era quem abria e fechava o 
portão para suas fugas. É aí onde inicia seus vícios, mesclados 
às aspirações românticas que o contagiava nos livros que lia. 
Daí a necessidade de viver esse sonho no Rio. 
Fez-se os planos para a viagem, o pai dizia que já ia tarde, 
aos vinte anos, Ângela ficou inconformada, até adoeceu no dia 
da partida do jovem rapaz. Na ida de navio se recordava de seu 
amores, mas a Corte seria onde iria lhe proporcionar grandes 
conquistas, ia principiar a vida. 
E nessa disposição, chegou ao Rio de Janeiro. 
 
Curiosidades do capítulo II 
1 – A casa da avó era localizada em São Bento; 
2 – Os presentes dados foram: o pai dera-lhe um relógio de 
ouro e a avó dera-lhe um escravo de nome Sabino, a quem o 
serviria sempre. 
3 – O desejo inicial de Amâncio aos doze anos era o de 
ingressar na marinha. 
4 – Os livros românticos que mais comovem o jovem é 
Graziella e Rafhael de Lamartine. 
5 – Uma curiosidade pertinente à ama é exatamente a 
questão do determinismo posto na obra, o determinismo que era 
gerado pelo meio social, ou seja, a educação traumática que 
adquirira, e o genético, o leite da escrava, o médico até adverte 
o Vasconcelos: “Esta mulher tem reuma no sangue – dizia ele -, 
e o menino pode vir a sofrer no futuro.” Como se a doença da 
 
 Prof. Raul Castro 5 
ama passasse para o menino, e isso é fato, pois após Amâncio 
se recuperar da Varíola, terá problemas com o Reumatismo. 
“Com semelhante esterco não podia desabrochar melhor no 
seu temperamento o leite escravo, que lhe deu de mamar uma 
preta da casa.” Assim conclui o narrador em uma visão 
determinista e zoomórfica. 
6 – Os amores colecionáveis de Amâncio denunciavam seu 
vício, atente a eles: a filha mais velha do Costa Lobo, a mulher 
de um comendador, amigo de seu pai, uma viúva de um oficial 
do exército, esses eram os principais, mas tinham outros: a 
Francisca de Vila do Paço, por exemplo, uma espanhola e uma 
senhora gorda amasiada de um boticário. 
 
III 
O narrador então retoma a narrativa, já há dois dias na casa 
de Luís Campos, e entregando cartas e mais cartas, com o 
Campos lhe aporrinhando com matrículas e aulas e sem amigos, 
não tinha tido ainda a oportunidade de conhecer as ruas da 
Corte. Isso o deixava cada vez mais irritado e triste. 
Um total desinteresse pela Medicina se apoderava dele. A 
Matemática fizera ele se afastar do desejo de ingressar na 
Marinha, a Medicina foi sua tábua de salvação para ir à Corte. 
Campos conseguiu matriculá-lo duas semanas depois de 
começado o semestre, tudo isso fazia ele pressentir que não 
seria um bom médico, tentava a muito custo estudar, decorar as 
vértebras, estudar as composições do bromo, enfim, de nada 
adiantava, quem sabe o Direito, ou quem abe as artes, não, 
aquilo não lhe dava posição social, era rico, o que importava no 
fundo era o título de doutor. 
Mas, neste caso, a questão muda muito de figura!...dizia-
lhe em resposta uma voz que vinha de dentro de seu próprio 
raciocínio Não se trata aqui de fazer um “médico”, trata-se 
de fazer um “doutor”, seja ele do que bem quiser !Não se 
trata de ganhar uma “profissão”, trata-se de obter um 
“título”. Tu não precisas de meios de vida, precisas é de 
uma posição na sociedade. 
Em meio aos seus devaneios recordou-se da mãe a quem 
sempre lembrará com saudades e passou a conjecturar o 
orgulho de sua mãe ao vê-lo doutor, planos mentais que se 
desfazem nos primeiros abrir de um livro. Você aluno que lê 
esse resumo agora deve saber o que a personagem central 
sofreu. 
Escreveu uma carta à mãe falando de seu isolamento, de 
sua dor e da saudade, na verdade, era para desabafar a 
chateação de estar na casa do Campos, debaixo de regras e 
normas, parecia sua casa. 
Tinha receio de conhecer a cidade sozinho, não sabia os 
preços das coisas, os nomes das ruas e temia os gatunos da 
noite. Sua companhia era o Luís Campos, que sempre polido e 
sóbrio não havia ali para ele brechas de uma boêmia efetivada. 
Entretanto, um belo dia, quando atravessava o beco do 
Cotovelo, mas não o de Sobral, que fique bem claro isso, 
encontrou um velho amigo da província que se matriculara com 
ele no Liceu, mas que já estava a três anos a frente dele. Era o 
Paiva Rocha. 
Conversaram sobre o Rio, Amâncio reclamou de como 
estava difícil, não só para se viver como para estudar. Paiva 
queria encurtar o assunto e ir embora, mas Amâncio tentava 
chamar-lhe atenção, Paiva se enraiveceu com a insistência do 
rapaz e lhe confessou as dificuldades financeiras, mas tudo se 
resolveu quando o provinciano convidou o amigo a um jantar, 
então o Paiva sem mais nenhum sinal de pressa levou-o ao 
Hotel dos Príncipes. 
*** 
Então uma italianinha toda de preto pediu-lhe uma esmola, 
Paiva tentou enxotá-la, sem sucesso, ele, já apiedado pela pena 
que a moça causara deu-lhe uma esmola de dois mil-réis. Paiva 
tenta orientá-lo, dizendo que ali não era o Maranhão, a conversa 
foi interrompida quando dois estudantes chegaram ao encontro 
dele. 
Eram eles, Salustino Simões e João Coqueiro, também 
estudantes de Medicina e descrito por Rocha como homens 
distintos, Amâncio os convidou logo em seguida para a janta no 
hotel sugerido por Paiva. 
Entraram no hotel e Paiva dominou o cardápio pedindo La 
Carte e vinhos caros, Coqueiro indagando o valor daquela farra 
é surpreendido com a fala de Amâncio que frente àquele prazer 
custearia o jantar, daí em diante a forma como ele será tratado 
pelos outros três já começaria a revelar o espírito interesseiro 
dos pseudo-amigos. Veja o comportamento do Paiva: 
E parecia querer provar que seus direitos sobre o 
comprovinciano eram muito mais legítimos que os dos 
outros dois; que Amâncio lhe pertencia quase 
exclusivamente, como um tesouro, como uma fortuna que 
se traz do berço. E, para deixar isso bem patente, fazia-se 
muito íntimo com ele: batia-lhe nas pernas; evocava 
recordações; lembrava-lhes as correrias da província: 
 Então seguiu uma longa conversa quando Coqueiro o 
convidou para sua casa conhecer sua família, Amâncio até se 
admirou quando soube que ele era casado, Salustino falou da 
indiferença para as mulheres, que só conhecia duas a hipócrita e 
a sínica. 
Coqueiro passou em secreto alguns conselhos sobre os 
perigos das mulheres na capital e que seria interessante se 
casar, pois se viveria mais, mandou também ter cuidado com as 
amizades, dos perigos de se ter amigos que só sabiam pedir 
comida cara, fazendo uma alusão ao Rocha Paiva. Amâncio 
falou de seus amores e do interesse na D. Hortênsia, todos 
bebiam, o único sóbrio era Coqueiro que espreitava a analisar o 
jovem provinciano, depois de algumas conversam fora Coqueiro 
reiterou o convite a sua casa, que não era hotel, era uma casa 
de família, na qual lá ele seria bem cuidado, Amâncio fica de 
visita-lo. 
Depois entrou no hotel uma loira sendo seguida por um velho 
gordo e quebra uma pratariadanada. Fizeram uma enorme 
balburdia. Paiva pensou em ataca-los com uma garrafa na mão, 
o gerente foi quem o impediu, dizendo não entender os motivos 
que levavam o Brás o ficar assim pelo demônio da Rita Baiana. 
Depois o velho Brás foi pedir desculpas, quando se deram 
conta já era três horas da manhã, Coqueiro e Salustino se 
despediram, Coqueiro novamente diz esperá-lo no domingo, 
Paiva mandou Amâncio pagar a conta e irem para a república 
onda ele morava, depois de pagar a conta, cara por sinal, saem, 
Amâncio passou mal logo depois da saída, e Paiva o convence a 
irem para a república, mas antes, claro, pede dinheiro para 
pagar um carro. 
 
Curiosidades do capítulo III 
1 – Os gatunos da noite eram também conhecido como os 
capoeiras, eram geralmente os escravos que viviam de furtar os 
outros, ou porque eram alforriado e não queriam mais trabalhar 
ou às vezes era a mando do próprio dono. Aqui já se faz crítica à 
segurança da época. 
2 – Rita Baiana é a personagem também do O Cortiço na 
qual se envolverá carnalmente com Jerônimo. 
3 – A conta no Hotel dos Príncipes custou 85 mil-réis. 
4 – O carro que os levou para a república custou 60 mil-réis, 
o que pode se presumir que Paiva roubou de Amâncio. 
 
IV 
Ao chegarem, Amâncio continuou passando mal, o Paiva 
ficou reclamando dizendo que ele era fracote e se não 
aguentava beber que não mais fizesse isso. 
Acordou no dia seguinte de porre, levantou-se sem que fosse 
notado, saiu e foi pedir um café no bar, viu bem o estado em que 
se encontrava, começa a ponderar sobre as cobranças do 
Campos, sabia que não podia ficar naquela casa, entretanto não 
queria a república dos estudantes, tudo era desordem como o 
narrador nos descreve: 
 
 Prof. Raul Castro 6 
O quarto respirava todo um ar triste de desmazelo e 
boêmia. Fazia má impressão estar ali: o vômito de Amâncio 
secava-se no chão, azedando a ambiente; a louça, que 
servira ao último jantar, ainda coberta de gordura 
coalhada, aparecia dentro de uma lata abominável, cheia 
de contusões e comida de ferrugem. ... Num dos cantos 
amontoava-se roupa suja; em outro repousava uma máquina 
de fazer café, ao lado de uma garrafa de espírito de vinho. 
Nas cabeceiras das três camas e ao comprido das paredes, 
sobre jornais velhos e desbotados, dependuravam-se calças 
e fraques de casimira: ... Por aqui e por ali pontas 
esmagadas de cigarro e cuspalhadas ressequidas. ... 
A luz franca e penetrante da manhã dava a tudo isso um 
relevo ainda mais duro e repulsivo: ... 
Nisso reside uma imensa dúvida, ele necessitava dessa 
liberdade, daquela farra, mas também não queria viver com 
outros estudantes onde saberia que não seria cuidado, precisava 
de uma casa de família, dai começa a vir na sua mente o convite 
de João Coqueiro. 
Começou então a recordar a infância e suas danadices. 
As vezes, quando ia passear à casa de alguma família 
conhecida, arranjava-se com as moças, gostava de 
acompanha-las por toda parte, fazendo-se muito dócil e 
amigo de servir. Como era ainda perfeitamente criança e 
bonitinho, elas lhe faziam festa e davam-lhe doces, figurinos 
de papel recortado e caixinhas vazias. Algumas lhe 
perguntavam brincando se ele as queria para mulher, se 
queria “ser seu noivo”. Amâncio respondia que sim com um 
arrepio. E daí a pouco ficavam as moças muito 
surpreendidas quando o demônio do menino lhes saltava ao 
colo e principiava a beijar-lhes sofregamente o pescoço e os 
cabelos ou a meter-lhes a língua pelos ouvidos. 
Talvez uma das coisas que impedissem sua saída da casa 
do Campos fosse o desejo que nutria pela sua mulher. 
Chegou lá às oito horas decidido a não mais ali ficar, mas 
também não iria para a república do Paiva, quando chegou viu 
uma carta de João Coqueiro adiantando a sua visita para à tarde 
naquele mesmo dia. 
E como o família do Campos tinham toda ir passear no 
Jardim Botânico, decidiu ir. 
 
Curiosidades do capítulo IV 
1 – O endereço da Casa de Pensão de João Coqueiro 
localizava-se na rua do Resende. 
 
V 
Então, o narrador inicia um flashback da vida de João 
Coqueiro bem como também da própria casa de pensão que nos 
capítulos seguintes se tornará o espaço central da trama. 
João Coqueiro era fluminense, nascera na rua do Parto 
quando seus pais eram ricos. 
Era filho de Lourenço Camargo, um filho de fidalgo que 
após herdar a fortuna da avó, casa-se e logo se desgosta da 
mulher. 
Dessa união nasce João Coqueiro, meio lerdo e lento, o pai 
sempre bruto e áspero queria desde cedo tratá-lo como adulto e 
ele sempre se punha a chorar, mãe sempre o cercava tentando 
lhe proteger desse crescimento precoce. 
Tempos depois nasce Amélia, enquanto isso o pai 
continuava a tratar o filho único que nem homem, dava-lhe 
charutos e quando descobriu que o moleque queria fazer uma 
procissão quase enlouqueceu, o coisa que ele menos queria era 
filho devoto. 
O problema veio quando Lourenço morrera, a mão teve que 
vender uma das casas que possuíam para pagar os estudos do 
rapaz, e pegara a única casa para alugar a visitantes ilustres, a 
casa era grande então funcionara, a casa torna-se a mais 
requisitada do Rio. 
Para mais um infortúnio da família a mãe de João morre, 
vendo-se abandonado, vai embora com Amélia e fecham a casa 
temporariamente sem saber o que fazer. O jeito era arranjar um 
emprego e largar os estudos. 
E foi num dos empregos na estrada de ferro de Pedro II que 
conhecera Mme. Brizard (ver Mme. Brizard em Personagens) 
depois de muita tristeza da parte de João, Mme. Brizard lhe 
propõe casamento, o que este prontamente aceita, reformam a 
casa e reabrem a todo vapor, novamente a casa se torna 
referência na capital. 
 
 Curiosidades do capítulo V 
1 – O apelido de João Coqueiro era Janjão; 
2 – Janjão na infância tinha asma; 
3 – O pai de Janjão chega a lhe dar conhaque, que morre 
devido a lesões cardíacas. 
4 – A mãe de Janjão morre de pneumonia; 
5 – João estava no segundo ano da Politécnica e Amélia 
havia já se tornado mulher. 
 
VI 
Foi três anos depois disso que Amâncio chegou ao Rio 
de Janeiro. É com essa frase que o narrador retoma o assunto e 
a linearidade da história. A casa estava no seu apogeu, recebia 
os mais ilustres dos hóspedes. 
Vem em seguida uma breve quebra de linearidade quando o 
narrador passa a nos contar o que acontecera na noite em que 
João Coqueiro chegara depois da farra com os rapazes no Hotel 
dos Príncipes, Janjão chegou para Mme. Brizard, sua esposa, e 
contou o seu novo achado e pedindo um quarto para Domingo. 
- É um achado precioso! Ainda não há dois meses que 
chegou do Norte, anda às apalpadelas! Estivemos a 
conversar por muito tempo: - é filho único e tem a herdar 
uma fortuna! Ah! Não imaginas: só pela morte da avó, que é 
muito velha, creio que a coisa vai para além de quatrocentos 
contos!... 
Começou a conjecturar a possibilidade de vê-lo casado com 
Amélia, pois Amâncio era ilho único, tinha dinheiro e era tolo. 
Mme. Brizard disse que arranjaria o gabinete e foi até Amélia 
avisar de seu futuro. 
Amélia era moça sagaz, esperta e sabia que para se entregar 
a um homem deveria ser mediante casamento, enquanto 
Coqueiro lamentava tê-lo convidado somente para o Domingo, 
Mme.Brizard ordenou que seu esposo e a cunhada ajeitassem o 
gabinete que ele escreveria para Amâncio adiantar a visita. Daí o 
motivo de no Capítulo V vermos a carta que solicitava sua visita 
na parte da tarde. 
Então Amâncio chegou sendo bajulado de todas as formas 
pelo Coqueiro e Mme. Brizard, Amélia o cumprimentou com 
apenas a cabeça fingindo estar com vergonha, o jovem 
provinciano reparou na moça, a esposa de João passou a lhe 
contar histórias e mais histórias, apresentou os filhos, César de 
12 anos e Nini detentora de problemas mentais (ver Nini) 
Amâncio se enfastia e passa a reparar mais ainda em Amélia, 
achava-a deliciosa (ver Amélia), começou a se entregar em 
desejos ardentes pela moça. mas logo é interrompido, o anfitrião 
vai mostrar-lhe a casa, apresentaos hóspedes (ver Os 
hóspedes) na qual a maioria não almoçava em jantava lá, pois 
passavam o dia a trabalho. 
Então o Coqueiro convidou Amâncio para a janta e disse que 
ficaria feliz em tê-lo como hóspede e lhe ofereceu o gabinete, 
arrumado e belo. Era daquilo que Amâncio precisava, mal sabia 
o pobre rapaz que estava caminhando para uma arapuca. 
Coqueiro fez juras de amizade profunda e Amâncio principiou 
a vê-lo como tolo inda mais casado com a francesa, ridículo, 
mas de certa forma corresponderia àquela “amizade”. 
 
Curiosidade do capítulo VI 
1 – Amélia também é chamada de Amelita e está com vinte 
três anos de idade. 
 
 
 Prof. Raul Castro 7 
VII 
Seguiu-se aqui várias conversas, principalmente por causa 
do Gentleman, que era Lambertosa, sempre dando uma de 
intelectual, Lúcia e o esposo lá estavam. Lúcia conversou sobre 
poesia com Amâncio que quase pagou vexame quando 
interrogado sobre a poesia maranhense. 
Nini ficava fitando o visitante dando-lhe incômodos. 
Depois chegaram Paula Mendes e a esposa, sim, o Paula 
Mendes é homem e o Dr. Tavares. 
Frente a tantas delongas e diálogos enfadonhos de Coqueiro 
e Mme. Brizard, Amâncio é persuadido a dormir naquela noite, 
pois demorara novamente e não era mais conveniente voltar 
tarde da noite. 
 
VIII 
Amâncio estava aliviado e sossegado, enfim, 
confortavelmente aplumado em seus lençóis, no manhã que 
sucedeu ele decide se mudar para a casa de pensão de João 
Coqueiro, foi ao Campos dar o comunicado, o negociante 
aprovou e disse que ali era um bom lugar, casa decente e de 
boa família. 
O jovem se dirigiu à Hortênsia que parecia daquela vez mais 
solícita como se desse a entender que gostasse dele, ela então 
saiu arrependido, pois acreditava agora que se tivesse 
permanecido no Campos teria ganho através de muita 
insistência a carne de D. Hortênsia. 
Entretanto Amâncio deveria ir para um baile que ocorreria na 
casa do Melo, no Botafogo e ele deveria comparecer. 
Enquanto desfaziam as malas do provinciano, Mme. Brizard 
começava a dar conselhos à Amélia. 
- Como te enganas! Respondeu a velha- já compreendi 
bem esse sujeito: a sua corda sensível são as mulheres! 
Gosta que lhe falem nisso! Tu, do que precisas, é opor-lhe 
dificuldades, sem que o desenganes por uma vez; nega, 
mas promete, que obterás a vitória. Quando ele te pedir um 
beijo, dá-lhe um sorriso; e, quando quiser muito mais, dá-lhe 
então o beijo, contando que te mostres logo arrependida, 
envergonhada, chorosa, inconsolável, disposta a não lhe 
ceder mais nada, e disposta a nunca lhe pertenceres, a 
nunca lhe perdoares aquele atrevimento. E, se ele insistir, 
repele-o, insulta-o, jura que o desprezas e fá-lo acreditar que 
amas a outro. - É dessa forma que o hás de agarrar, 
percebes? 
E é assim que pretendem agarrar o mancebo. Em uma dada 
situação Amâncio tentou agarrar as mãos de Amélia, mas a 
mesma fugia como se tivesse pegado em brasa. Tudo 
fingimento. 
 
IX 
O baile começou e Amâncio fora recebido muito bem graças 
ao fato de Luís Campos ser íntimo da casa, o tal Melo. Todos 
começaram a reparar que Amâncio era um exímio dançarino e 
isso começou a despertar o interesse das damas, isso incluiu 
Maria Hortênsia. 
O jovem sabendo disso convidou a sua desejada para uma 
valsa, queria a todo custo tirá-la para uma dança, Hortênsia após 
muitas relutâncias aceitou o convite, a dança fora intensa. 
Foi então um rodar convulso, frenético: a casa, os 
móveis, as paredes, tudo girava em torno deles. 
Hortênsia dançava tão bem como o rapaz. Os dois 
pareciam não tocar no chão; os passos casavam-se como 
por encanto; as pernas gravitavam em volta uma das outras 
com precisão mecânica. 
Encheu-se a sala de pares. Amâncio fugiu com 
Hortênsia, sem interromper a valsa; pareciam empenhados 
numa conjuntura amorosa. Ela arfava sacudindo o colo com 
a respiração; os seus braços nus tinham uma frescura 
úmida; os olhos amorteciam-se defronte dos dele; não podia 
fechar a boca, e seu hálito misturava-se ao hálito fogoso do 
estudante. 
De repente, Amâncio parou exausto. Ouvia-se-lhe de 
longe as respirações. 
- Não! não! balbuciava ela, quase sem poder falar. - 
Ainda! Mais um pouco! 
E abraçaram-se de novo, freneticamente. 
Quando parou a música Hortênsia caiu sobre um divã 
pelos braços de Amâncio. 
Não podia dar uma palavra; não podia abrir os olhos. Sua 
respiração parecia longos suspiros contínuos e estalados. 
A posteriori o aspirante a médico encontrou Freitas que o 
aconselhou sobre a vida e perigos dos amores. 
Na saída, ao final de uma festa agitada, Hortênsia convidou 
para no domingo o jovem ir à sua casa almoçar, o jovem saiu 
delirando em conjecturas de amores e ilusões, estorvando as 
possibilidades de conquistar a mulher do Campos, pelo visto 
Freitas tinha razão, as mulheres não gostavam dos honestos e 
bons. 
 
Curiosidades do capítulo IX 
1 – Hortênsia não dançava porque o marido não deixava, 
pois tinha ciúmes. 
2 – O nome da valsa tocada na dança de Amâncio e 
Hortênsia foi Danúbio, de Strauss. 
 
X 
No dia seguinte, acordara tarde, muito fatigado, Mme. Brizard 
entregou um bilhete com um ramalhete na qual ele deduziu ser 
de Hortênsia. Em seguida Dr. Tavares tentou achar um meio de 
curar Nini convencendo a família de que ela deveria casar, a 
francesa se zanga, começou uma balbúrdia dos infernos, César 
chorava , todos se exaltavam e Amâncio aproveitou para fugir, 
nas suas reflexões já começava a achar aquilo estranho. 
- Que espécie de gente tão esquisita!... dizia ele em 
caminho do quarto. - Nada! Aqui ainda estou pior do que na 
casa do Campos! 
Para piorar a situação ele foi seguido por Nini, que o atacou 
nervosamente e ele tentando se livrar da louca a empurrou 
escada abaixo. 
Em seguida o narrador passa a nos contar como Lúcia e 
Pereira passaram a se conhecer e “casar” (ver Lúcia e Pereira 
em Os hóspedes). 
Uma semana se passou e Amâncio recebeu outo bilhete, que 
agora, pelo teor do conteúdo deduziu ser de Lúcia, passou então 
a desejá-la com urgência tirando até mesmo seu sono. 
Com tremenda insônia decidiu subir ao quarto de Lúcia, pois 
sabia que Pereira estava dormindo, subiu as escadas, mas 
acabou sendo interrompido pelo nº 11 que saiu com uma mulher, 
Amâncio lembrou dos conselhos de Coqueiro: Quanto a certas 
visitas...isso tem paciência...lá fora o que quiseres, mas 
daquela porta para dentro. Começou a pluralizar o 
comportamento de todos chamando-os de hipócritas. 
Mesmo assim não desistiu de sua empreitada, foi até o 
quarto nº 08, mas seu plano não dera certo, Catarina começou 
uma briga com o Paula Mendes, o doente do quarto 07 tossia 
ainda mais, começou a haver um inferno, e ele se recolheu ao 
seu quarto. 
 
Curiosidades do capítulo X 
1 – O bilhete dizia: “Ao dr. Amâncio de Vasconcelos – uma 
sua amiga.” 
2 – Lúcia e Pereira não eram casados, e sim, juntos. 
3 – O conteúdo do segundo bilhete era assim: “Não saibam 
nunca espíritos indiferentes, nem mesmo tu, adorado fantasista, 
quem te envia essas pobres flores. Não o procures descobrir; 
deixa que o meu segredo viceje e cresça na tepidez do mistério, 
‘semelhança das plantas melancólicas que reverdecem nas 
sombras ignoradas dos rochedos. Eu te amo!” 
 
 Prof. Raul Castro 8 
4 – O motivo da briga de deveu pelo fato de que Paula 
Mendes não queria desligar a luz do quarto, pois precisava 
compor, e Catarina sua esposa queria dormir. 
 
XI 
No dia seguinte, o guarda-livros declarou não querer mais o 
quarto, após tentativas frustradas de Coqueiro e Mme. Brizard, 
pois era bom pagador, Amâncio propõe ao guarda-livros uma 
troca. Ele iria para o quarto seis e o guarda-livros ficaria com o 
gabinete. A troca é posteriormente justificada com o pretexto de 
que não queria que Nini o visse, pois quando o viu tinha crises 
nervosas, mas o real motivo era para ficar mais perto do quarto 
de Lúcia. 
Depois recebeu uma carta da mãe e outra do pai, a carta 
tratava-o com carinho e lhedava conselhos amorosos, o que o 
fez chorar. Todo aquele carinho do pai já vinha tarde. Depois 
Campos foi até o pensionato, pois recebera uma carta do 
Vasconcelos pedindo que ele cuidasse de seu filho, aproveitado 
a visita, Campos o convida para sua festa de aniversário de 
casamento. Nesse período tentava estudar, de nada adiantava. 
Depois ao chegarem, todos se recolheram, Amâncio que 
começava a ter calafrios resolveu fazer café em baixo, mas 
quando estava a descer viu seu amigo Coqueiro com um castiçal 
indo ao encontro de uma mulata, aquilo fora para o provinciano, 
desiludiu-se profundamente. 
Voltou e começou a ter febre, no dia seguinte mal podia se 
por de pé. Todos começam a ficar preocupados, o trio dos 
metralhas (João, Amélia e Brizard) se poriam a serviço integral 
do enfermo, principalmente Amélia, às duas da tarde Lúcia o 
visitou e após a saída de Amélia do quarto ele, mesmo com 
febre a atacou de beijos, dizendo que a amava. Coqueiro chegou 
e desconfiou dos dois, nada fez. 
O estado clínico de Amâncio piorou, um médico fora 
chamado e eis o diagnóstico, bexigas, mediante o fato de ser 
uma doença contagiosa, os moradores da casa de pensão 
começam a quere ir embora, Coqueiro pediu conselhos de sua 
esposa que foi bem enfática ao dizer que o mais importante era 
Amâncio, ele era a butija de ouro. 
Lambertosa foi o primeiro a ir embora, Fontes planejava com 
a esposa também deixar a casa. Campos o visitou e interrogou 
os locandeiros se não era melhor deixa-lo em uma casa de 
saúde, mas eles logo protestaram, não podiam perder a sua 
fonte de riqueza. 
Lúcia o visitou de madrugada e novamente o jovem lhe fez 
juras de amor e a beija na boca, as visitas vão se repetido 
levando as suspeitas de Coqueiro, o estudante após voltar da 
academia conversou com a esposa e revelou suas 
desconfianças em relação à Lúcia, e claro pelo bem deles, 
deveriam pô-la para fora. E naquele mesmo instante Coqueiro foi 
ao encalço dos dois para que saldassem a dívida. Enquanto isso 
Amélia fazia vigília para que Lúcia não se aproximasse do quarto 
de sua propriedade. 
 
Curiosidade do capítulo XI 
1 – Bexigas naquela época seria o mesmo que Catapora, 
prima da Varíola, Catapora naquela época matava muita gente, 
nessa época não se tinha vacina, pois o Brasil só irá conhecê-la 
em 1904, na tão conhecida Revolta da Vacina. 
 
XII 
Amâncio estava curado da catapora, de noite, após várias 
tentativas de Lúcia, ela conseguiu entrar no quarto nº 06 e lhe 
revelou. 
- Pois não percebes, filho, que toda esta gente quer fazer 
de ti uma propriedade sua; que esta gente te considera um 
tesouro precioso e teme que lho furtem? Não percebes, meu 
Amâncio, que há aqui um plano velho, tramado para te fazer 
casar com Amelinha, isso porque és rico e, na tua qualidade 
de homem de espirito, pouca importância ligas ao 
dinheiro?!... 
- Não! Dou-te a minha palavra em como, até aqui nada 
percebia de tudo isto!... 
- Pois fica, então sabendo que há uma grande 
conspiração contra ti ou, por outra, contra os teus bens! 
- Ora essa! disse ele em voz baixa. 
- Todos esses carinhos que eles ostentam, todos esses 
cuidados e desvelos artísticos, são laços armados à tua 
ingenuidade! 
E começou mediante isso a pressionar o rapaz, que só 
poderia se deitar com ele se fizesse dela sua esposa, que seria 
sua mulher, sua escrava, tudo, mas o jovem recua, vendo ela 
suas tentativas frustradas, deu a cartada final, contou de seu 
despejo e que estava desesperada, que o jovem nunca mais a 
veria e fazia tudo isso assim. 
E sacudia todo o corpo, com uma obstinação 
provocadora e canalha. 
Amâncio olhava para ela , mordendo os beiços. 
... 
E Lúcia, agitando romanticamente os cabelos, que ela 
por cálculo trazia soltos essa noite, perguntou com ímpeto: 
- Compreendes agora a minha reserva?! Compreendes 
que , apesar de minhas recusas, eu te adoro, meu Amâncio, 
meu amor, minha vida?! 
Entregou-lhe a carta de cobrança do Coqueiro, e Amâncio 
não querendo perdê-la de vista se propôs a quitar a dívida. 
A bomba veio quando a conta da quitação chegou, Coqueiro 
se desesperou, Mme. Brizard ordenou que mesmo assim a 
pusesse para fora sobre a justificativa de conduta desenfreada 
na tão “nobre casa de família”. 
Logo pela manhã, Coqueiro discutiu com Amâncio a respeito 
das promiscuidades que ocorriam dentro do seu pensionato, 
dizendo ele que não permitiria as imoralidades dele e de Lúcia, o 
provinciano respondeu a altura com o exemplo do dr. Correia e o 
do próprio João. 
Coqueiro para se vingar e desviar o assunto contou a 
verdade, dizendo que a Lúcia não era casada, só junto, Amâncio 
passa a odiá-la, mas nada dirá, pois seu intuito será apenas usá-
la. 
Então Lúcia foi expulsa com o marido que foram para outra 
casa de pensão, na verdade, ela já tinha uma lista de todos os 
pensionatos prontinhos para dar calote. 
 
XIII 
O pensionato sofreu com a doença de Amâncio, sendo que 
restou apenas seis, dos quatorze primitivos. Alguns saíram até 
sem pagar, como o Melinho, morador do quarto nº 09 e o Fontes 
e a sua esposa, no nº 02. 
Amâncio ainda estava acamado proibido ás sete chaves de 
sair de casa, recebera então uma carta de Lúcia, pedindo ao 
mancebo que quando saísse fosse atrás dela, e lá estava o 
endereço da nova casa de pensão. 
Com tantos dissabores na casa de João Coqueiro a única 
saída era Amélia conquistar Amâncio, mas isso era mais difícil. A 
moça chegou ao ponto de ir ao eu quarto e cobrir-lhe de beijos, o 
moço tentou prendê-la, no entanto a rapariga fugiu. 
*** 
Para piorar os infortúnios do rapaz, uma crise de reumatismo 
o atacou, Nini caiu da escada e partiu a cabeça em duas partes, 
e acreditem, melhorou das ideias. Só não podia ver Amâncio, 
então o médico proibiu que ela saísse do quarto, ficaria presa 
desde então. 
Campos o visitou sugerindo que comprasse uma presente 
para Amélia, pois eles tinham feito muitos favores ao rapaz, 
Amâncio logo o contesta dizendo que quem já estava pagando 
as contas da casa era ele. 
Mas o estudante, em voz discreta e abafada, confessou 
ao Campos que a brincadeira não lhe havia saído tão de 
graça, como parecia à primeira vista: Só no mês passado 
gastara perto de seiscentos mil-réis, sem contar que o 
 
 Prof. Raul Castro 9 
Sabino vivia numa dobadoura, de casa para a botica e da 
botica para a casa, e eram remédios para Nini, remédios 
para o tísico do n.º 7, água de flor de laranja para Mme. 
Brizard, xaropes para o Coqueiro; um inferno!...E que toda 
essa droga caía na sua conta! - E os dinheiros 
emprestados?...E as fitas, os botões, as linha, as tiras 
bordadas, que Amelinha estava sempre a lhe pedir que 
mandasse buscar nos armarinhos sem nunca dar dinheiro 
para isso?...Não! O Sr. Luís Campos não lhe podia calcular o 
que havia! - Hoje cinco mil-réis, amanhã vinte! 
Campo lhe ofereceu novamente morada e aconselhou sair de 
lá, Amâncio concordou, a decisão enlouqueceu o trio, Mme. 
Brizard chegou a dizer que para onde o jovem fosse eles iriam 
também, como única tentativa, Amélia subiu ao quarto do 
provinciano chorando e declarou amá-lo perdidamente. 
 
Curiosidades do capítulo XIII 
1 – Piloto é o único que três dias depois de fugir volta para 
pagar a conta. 
2 – Amélia ao fazer os serviços de quarto não entrava, 
apenas entreabria a porta e lá deixava o chá, somente quando 
ela percebe que pode perdê-lo ela passa a entrar no quarto. 
 
XIV 
O rapaz doente do quarto nº 07 estava à beira da morte, 
Amâncio agora já melhor, mas ainda medicado, visitou-o e deu-
lhe remédio, e ainda deixou Sabino cuidando do doente. 
Porém mal Amâncio estava em seu quarto, alguém bateu à 
porta, era o doente, caiu em seus braços, no seu quarto e ali 
morrera, agonizante, pedindo que encontrasse seus pais e 
dissesse que o filho amado deles morrera. 
Baseado neste evento, Amâncio viu que não havia condições 
para continuar ali. 
Coqueiro chegou para Amâncio dizendo que internariam Nini, 
tudo na tentativa de mantero rapaz ali com eles, mas de nada 
adiantou, ele estava decidido a ir embora. 
Vendo a situação se complicar, Mme. Brizard obrigou a todos 
a quitarem suas dívidas para se mudarem junto com Amâncio e 
fecharem temporariamente a casa de pensão. 
*** 
Amélia na nova casa se desmanchava em favores e serviços 
demonstrando até ciúmes. João, empolgado com a nova casa, 
sugeriu-o que comprasse nova mobília, mas não deixou a sua 
propriedade viva sair só. 
Fizeram as compras, e na vinda, reencontrou Paiva que o 
convidou para beber, Coqueiro fora na frente com os móveis, 
Amâncio aproveitou a liberdade e saiu com o velho “amigo” há 
tanto tempo não visto. 
Na conversa, Amâncio contou-lhe os recentes ocorridos, 
Paiva disse que ele estava sendo explorado, mas cegamente o 
jovem estava convencido que ele era trabalhoso, e claro no final 
da conversa aproveitou para pedir dinheiro emprestado, mas ele 
não lhe deu. 
*** 
Estava solto na rua, aproveitou para ir até a Lúcia, indo até lá 
tentou agarrá-la e novamente a senhora reiterou que só poderia 
fazer isso se casasse com ela. Isso despertou sua fúria e disse 
saber que ela não era casada, trocam xingamentos e o jovem 
saiu em plena fúria. 
 
Curiosidades do capítulo XIV 
1 – O nome do rapaz doente é João. 
2 – Amâncio acordou Sabino com um murro por não vigiar o 
rapaz. 
3 – O dr. Eiras é quem cuida do caso de Nini. 
4 – Campelo vende o piano para quitar a dívida, Campelo 
também quita com muito mau gosto. 
5 – O guarda-livros e dr. Tavares são os únicos que se 
mudam com Amâncio e a família do Coqueiro. 
6 – Eles se mudam para Santa Tereza, bairro nobre na 
época. 
 
XV 
Amâncio, o perseverante, continuou suas investidas, e dessa 
vez Amélia cederia, combinaram um encontro, às escuras, em 
seu quarto, o que ocorreu lá dentro? Nem o narrador nem eu 
precisamos dizer. 
O fato é que agora sim, o negócio estava bom, a alegria dele 
era radiante, e ele começou a gostar desses prazeres dados 
pela moça. 
Ela parecia viver exclusivamente para lhe dar carinhos e 
afagos. Era como se fora sua esposa; deixava tudo de mão 
para só cuidar do amante. - Ele estava em primeiro lugar! 
Agora a pequena lhe fazia a cama; levava-lhe ao quarto o 
moringue d’água, penteava-lhe os cabelos, e exigia que o 
rapaz lhe dissesse os passos que dava, por onde estivera, 
com quem falara e o dinheiro que gastara. Revistava-lhe 
conjugalmente as algibeiras, lia-lhe as cartas e, sempre 
desconfiada, cheirava-lhe as roupas. 
Amâncio sorria de tais ciúmes, com o ar seguro de quem 
desfruta em paz uma felicidade legítima e abençoada por 
todos. Já não furtava beijinhos assustados por detrás das 
portas; não roçavam os joelhos por debaixo da mesa, e não 
se serviam das mãos como instrumentos de amor; 
guardavam-se para as liberdades da noite, para a 
independência do quarto. Na ocasião, porém, em que ele 
saia para as aulas ou à noite para o passeio, beijocavam-se, 
sempre, como dois bons casados. 
Daí você deve se perguntar, e a faculdade de Medicina? Pois 
bem, os exames finais do período estavam se aproximando, 
Amâncio havia perdido muitas aulas, e não conseguia estudar 
como sempre. 
Entretanto, outro fato o pega de surpresa, o pai de Amâncio, 
o Vasconcelos, morreu, apesar da tristeza era o momento que 
Amâncio precisava para fugir dali, a família ficou desesperada ao 
saber que ele poderia lhes escapar dos seus domínios, ainda 
mais porque Amâncio não recebia mais mesada, e sim, a 
herança do pai, estava riquíssimo, sem se falar na herança da 
mãe e da avó. Com isso a família passou a explorá-lo mais 
ainda. 
Os carinhos e as solicitudes da família Coqueiro 
inflamaram-se, já se vê, com os últimos acontecimentos. O 
estudante era cada vez mais adulado e em compensação 
mais explorado. Agora, o irmão de Amélia não punha o 
menor escrúpulo lhe aceitar os obséquios e a casa ia 
ficando a pouco e pouco às costas do provinciano. 
Era sempre por intermédio de Amélia que ele sofria a 
cardadura. Hoje tratava-se do aluguel da casa, amanhã seria 
a conta do Eiras, depois a dos fornecedores; se entrava um 
barril de vinho para a despensa, ou um saco de feijão; se 
aparecia um novo aparelho de porcelana à mesa do almoço 
ou do jantar, Amâncio ficava à espera da fatura que, à noite, 
impreterivelmente, passava as mãos da rapariga para as 
suas. 
Amelinha, essa então, já não procurava rodeios para lhe 
arranjar as coisas. Quando precisava de um vestido, de uma 
jóia, de um chapéu, dizia-lhe secamente:” Deixe-me tanto, 
que amanhã tenho de fazer compras”. 
Para piorar, o guarda-livros foi embora e as contas caíram 
por completo em cima do jovem. 
Amélia pediu-lhe então um absurdo, que ele comprasse um 
chalé nas Laranjeiras, aquilo fora o cúmulo, o moça ainda pediu 
o casamento como forma de prova que ele a amava. Negando 
os dois pedidos imediatamente, Amélia o ameaça, dizendo que 
irá contar ao irmão sobre a sua situação de amante e ainda fez 
greve de sexo. 
O jovem ficou louco, não pela ameaça, mas pela falta que a 
moça lhe fazia, frente a isso no dia seguinte decidiu comprar a 
casa nas Laranjeiras. 
 
 Prof. Raul Castro 10 
 
XVI 
Os exames estavam prestes a acontecer, Amâncio nas 
vésperas tivera um pesadelo, a prova era oral, ele fora e pegara 
um bom ponto, o único que conseguira estudar superficialmente. 
*** 
E a nota foi excelente. O jovem conseguira concluir seus 
primeiros estudos. Expediram um telegrama para o Maranhão, 
Campos convidou a todos para uma festa, que seria mais um 
jantar em comemoração em sua casa. 
*** 
Tudo fluía bem quando o jovem, depois de beber muito licor, 
decidiu frente aos seus impulsos e euforia declarar todo seu 
amor para Hortênsia, educadamente a esposa do Campos o 
rejeitou para a frustração completa do rapaz. 
 
Curiosidades do capítulo XVI 
1 – O sonho fora assim: Amâncio sonhou que seu falecido 
pai era juiz e condenava o filho à morte em função de ter matado 
Amélia. 
2 – O ponto que caiu na prova foi hidrogênio. 
3 – Amâncio em função da ansiedade frente aos resultados 
do exame adquiriu algumas superstições. 
 
XVII 
Amâncio logo de manhã cedo recebeu uma segunda carta da 
mãe alegando que Dr. Silveira poderia estar roubando a família, 
o jovem foi até o Campos que recomendou que fosse para a 
capital o mais rápido possível. Amélia após ver a carta disse que 
não permitiria sua partida, ao menos que casasse com ela. 
O jovem alegou total impossibilidade, pediu à moça que 
esperasse ele se formar, a moça fica revoltada. 
O Dr. Tavares vai embora a mando de Mme. Brizard, Amélia 
mandou Amâncio comprar móveis novos para o chalé, as 
reconciliações estavam ficando caras demais. 
A moça sabia da paixão ardente por Hortênsia e disse para o 
jovem que ela tinha um amante, um tal de Sousa Antunes, mas 
ninguém sabe se a informação procede. 
O fato é que o rapaz passou a frequentar mais a casa do 
Campos tentando novas investidas, mas falha, então resolveu 
escrever uma carta, em plena noite, depois que Amélia se 
deitou, no entanto, ela apenas o vigiava espertamente vendo o 
seu feito, e na calada da noite, quando Amâncio terminara de 
escrever a carta, Amélia fora lá e tirou de onde ele tinha 
guardado e a escondeu. 
*** 
No dia seguinte o desespero foi grande, ele a todo custo 
querendo encontrar a carta e ela nada de entregar, remexeu o 
lugar várias vezes sem sucesso. Amélia chegou a ler a carta. 
Como forma de vingança a moça mostrou a carta ao irmão que 
ficou horrorizado com o conteúdo, mas nada fez. 
 
XVIII 
João Coqueiro na altura do negócio acreditava que a irmã já 
estivesse grávida, com isso, as bajulações aumentaram. O irmão 
de Amélia não sabia mais o que fizesse, pediu então conselhos 
à sua esposa que disse que deixasse o rapaz quieto, que ele 
não ia largar o osso (Amélia), que faria a tal justiça para com a 
irmã. 
Então João Coqueiro aconselhou a irmã dizendo que a 
mesma esperasse, pois só Amâncio era capaz de dar-lhe 
posição de respeito e status social.Atrelado a isso Coqueiro nomeia um empregado para 
reformar a casa de pensão e cobrar os alugueis, o leitor, a partir 
dessas reformas começa a perceber que ela transformou-se em 
um cortiço. Amâncio, claro, pagaria as despesas tornando-se 
sócio, mas nunca veria a cor desse dinheiro. 
Nessa nova reforma ia todo tipo de gente. E claro, só dos 
piores, uma hora eram beberrões, prostitutas, desempregados, 
enfim, ali estava longe de ser a outrora casa de pensão mais 
requisitada do Rio de Janeiro. 
Resolveu escrever para D. Hortênsia uma segunda via, a 
esposa do Campos mais uma vez o dispensou ameaçando que 
se ele continuasse assim avisaria ao seu marido. 
O jovem provinciano mostrou a carta de sua mãe alegando 
que era necessário ir para o Maranhão. Amélia disse que não 
permitiria a menos que casasse, o rapaz então fingiu desistir da 
ideia só para enganá-la; ela não caiu na armadilha e avisou ao 
irmão. 
 
Curiosidades do capítulo XVIII 
1 – O homem que cuidou da casa de pensão foi Damião. 
 
XIX 
O jovem estava desesperado, decidiu então procurar o Paiva, 
e o colega, óbvio, ofereceu-lhe ajuda, deveria enviar as malas 
para o Paiva e que comprasse a passagem que o resto ele 
resolvia. 
Entretanto, no dia da fuga foi preso, Amâncio começou a 
soluçar. Então o autor faz uma leve pausa para nos contar o que 
Coqueiro fez, na verdade ele seguiu todos os passos do 
provinciano, desde sua ida até o Paiva até a compra da 
passagem para o Norte, o Maranhão, e narra a sua ida até o Dr. 
Teles de Moura (ver Dr. Teles de Moura, em Personagens) que 
só aceitou processar o rapaz após saber que era rico e enviou a 
notificação de comparecimento para o juiz, por isso que a 
personagem central é presa no começo desse capítulo. 
O julgamento ocorreu de forma dramática, para piorar a 
situação, encontraram testemunhas que alegaram ver e ouvir a 
moça, no dia 16 de junho sendo forçada a ter relações sexuais 
com Amâncio, e que a moça não havia nada dito por que ele 
havia prometido tê-la por esposa, o que não ocorreu. 
Amâncio partiu para a defesa dizendo que não conhecia as 
testemunhas, que não havia ocorrido o que relataram, que não 
usou de violência para com ela, e que não prometera casamento 
a ela. Entretanto afirmou que no dia 20 de junho manterá 
relações carnais com a moça, que o encontro fora marcado por 
ideia da moça, e que tudo isso não teria acontecido se ela não 
tivesse por várias vezes o seduzido com juras de amor flertes. 
Ainda alegou que a família se utilizara de má fé por deixar as 
despesas nas suas costas e que ele era o mantenedor da casa. 
 
XX 
Frente ao julgamento, na cidade era o comentário, e todos se 
punham a favor do jovem provinciano, diziam que Coqueiro era 
um hipócrita, um dissimulado, e nisso Amâncio estava preso. 
Campos ficara abismado com a notícia, inicialmente queria 
reprender o rapaz, mas ponderando pensou bem e viu que o 
rapaz era de fato vítima, começou a procurar advogados, até 
mesmo largara os negócios, e o boato crescia mais ainda. 
E o escândalo, como um líquido derramado, ia 
escorrendo pelas ruas, pelos becos, penetrando por aqui e 
por ali, invadindo as repartições públicas, os escritórios 
comerciais, as redações das folhas e as casa particulares. 
Os jornais começavam a explorá-lo. 
Os ataques a João Coqueiro se intensificam. 
Toda essa má vontade contra o João o coqueiro 
redundava em benefício de Amâncio, por quem alguns 
estudantes pareciam sentir verdadeiro entusiasmo. Na 
faculdade de Medicina não se encontrava um sé rapaz em 
favor daquele; ao passo que este tinha por si quase toda a 
Politécnica. Nas duas escolas falava-se muito em 
“exploração, em roubo, em piratagem”. 
Com isso Campos prosseguia em provar a inocência do 
rapaz, era mais também por culpa, pois se achava culpado por 
no começo permitiu que Amâncio fosse para aquele covil de 
cobras. Entretanto, tudo muda, Coqueiro enviou a carta roubada 
por Amélia endereçada à Hortênsia, Campos se rebelou contra o 
 
 Prof. Raul Castro 11 
rapaz, e antes, os chifres de demônio colocados na cabeça do 
Coqueiro agora estão na cabeça do Amâncio. 
Hortênsia ficou se sentindo culpada e resolveu escrever ao 
rapaz, ele recebeu duas cartas, uma de Hortênsia e outra de 
Campos dizendo que escrevera à sua mãe. Amâncio afligiu-se. 
 
XXI 
Três meses se passaram, ele fora absorvido, a festa fora 
grande, uma verdadeira comemoração. 
As portas das casas comerciais atulhavam-se de gente; 
pelas janelas os dentistas, das costureiras e dos hotéis, 
surgiam com o mesmo alvoroço, cabeças femininas de 
todas as graduações: - senhoras que andavam em compras, 
raparigas que estavam no trabalho, professoras de piano, 
atrizes, cocotes; e, em todas igual sorriso de pasmo, olhares 
incendiados, bocas entreabertas a balbuciar o nome de 
Amâncio. Baraços de carne branca apontavam para ele num 
tilintar nervoso de braceletes. 
- É aquele! Diziam. - Aquele moreno, de cabelo crespo, 
que ali vai! 
- Mamãe! Mamãe! Gritavam doutro lado, - venha ver o 
moço rico que saiu hoje da prisão! 
E flores desfolhadas choviam-lhe sobre a cabeça, e os 
lenços de renda borboleteavam e iam cair-lhe aos pés, como 
uma provocação, e olhares de amor entornavam-se das 
janelas entre o ruidoso e pitoresco catassol das mulheres 
em grupo. 
E Amâncio, tonto de prazer, caminhava no meio dos 
amigos, abraçado a um grande ramo de flores naturais, que 
um preto lhe acabava de entregar e em cuja larga fita 
pendente via-se o nome dele em letras de ouro. Era uma 
lembrança de Hortênsia. 
E o bando crescia sempre. O Largo de São Francisco já 
estava cheio e ainda a Rua do Ouvidor não se tinha 
esvaziado. 
Ao passar pela Escola Politécnica, ouviram-se estalar 
foguetes e os vivas a Amâncio e à Liberdade reproduziram-
se com mais veemência. Os músicos alemães responderam 
da porta do hotel com a Marselhesa. - A vertigem chegou 
então ao seu cúmulo, inflamada pela vibração corajosa dos 
instrumentos de metal. A Rua do Teatro, o Rocio e todos os 
becos e travessas circunvizinhas já se achavam tolhidas de 
povo; as janelas do Hotel Paris destacavam-se 
embandeiradas e cheias de gente, como nos dias de 
carnaval. 
Coqueiro saiu do fórum ouvindo os gritos de viva e os delírios 
da população, chegou desmoralizado, humilhado, arrasado, 
Mme. Brizard passou na sua cara os erros cometidos, era muita 
humilhação, 
À noite muitos estudantes chegaram a jogar coisas na janela 
da sua casa, Coqueiro então pegou um arma, pensou em 
suicídio, mas era muito covarde para isso, então pediu um carro, 
fora até o Hotel e o assassinou a queima roupa, Amâncio morreu 
falando o nome da mãe. 
 
Curiosidades do capítulo XXI 
1 – Amâncio fora assassinado no Hotel Paris. 
2 – O revólver que Coqueiro pegou era de seu falecido pai. 
3 – Amâncio estava no dia da morte com uma moça de nome 
Jeanete. 
 
XXII 
No ultimo capítulo o final é apurado, o enterro de Amâncio 
tivera a mesma proporção de sua absolvição, e depois de uns 
dias chegou D. Ângela, pois ela havia sido informada da prisão 
de seu filho pelo Campos, ao chegar, viu num jornal, o corpo de 
Amâncio, seu filho, estendido numa mesa de necrotério, ela riu 
ao mesmo tempo que chorava loucamente. 
 
 
 
A Questão Capistrano 
Fonte de pesquisa: 
http://www.passeiweb.com/saiba_mais/fatos_historicos/brasil_america/questao_capistrano 
 
Fato real que deu origem ao romance de Aluísio Azevedo, 
Casa de Pensão. 
O emocionante caso de polícia, logo conhecido e 
popularizado sob a epígrafe de "Questão Capistrano", envolve 
dois jovens e estudantes da Escola Politécnica, antes da 
tragédia, grande e inseparáveis amigos: João Capistrano da 
Cunha e Antônio Alexandre Pereira. 
O tão debatido "Affaire Capistrano", que o povo e os jornais 
da época consagram, divide o público e nascem então acesas 
polêmicas. O carioca da época não fala noutra coisa, não discute 
outro assunto, não se preocupa senão com os dois processos 
criminais apesar de rotineiros, em que se misturama honra de 
uma moça e o homicídio do seu sedutor. 
O caso principia trivialmente assim: dona Júlia Clara Pereira 
é modesta professora de piano, que, naquele ano de 1875, mora 
com os dois filhos Antônio Alexandre Pereira, estudante de 
engenharia, e Júlia Pereira, de 20 anos, em pequena casa da 
Rua Silva Manuel, nº 10. A pobre viúva baiana luta com inauditas 
dificuldades para prover a pequena família. As aulas de piano é 
que lhes mantêm as despesas da casa e dos estudos. A 
habitação apresenta-se em péssimo estado e resolvem alugar 
outra, no ano seguinte, bem maior e mais cômoda, na Rua do 
Alcântara, nº 71, e que, além do pavimento térreo, tem o sótão 
em forma de chalé. 
Como a nova moradia possui alguns quartos a mais, 
deliberam alugá-los, montando assim uma casa de pensão, 
muito comum naqueles tempos. Dessa maneira podem auferir 
outros lucros para os gastos sempre crescentes. Os dois 
primeiros pensionistas são colegas do filho: Mariano de Almeida 
Torres e João Capistrano da Cunha, rapazes procedentes do 
Paraná, tidos e havidos como de bom comportamento e 
acolhidos no seio da família Pereira sob o maior carinho e 
confiança. 
Em pouco, no convívio diário, nasce o namoro entre o 
estudante Capistrano e a jovem Júlia. O idílio pega fogo... Voraz 
concupiscência encarrega-se do resto... Uma noite – naquela de 
13 para 14 de janeiro de 1876 – acontece o imprevisto: o rapaz 
não se contém e demanda o quarto da moça, violentado-a 
brutalmente. 
Na manhã seguinte, a jovem, entre lágrimas, conta à mãe o 
que lhe acontecera. A viúva não tem dúvidas: vai às falas com o 
moço. Este, como sói acontecer em casos desse jaez, dá um 
pretexto qualquer, procura adiar o compromisso do enlace para 
data bem remota, quando, então, reparará o dano causado. 
Enquanto isso, dias e meses decorrem sem nenhuma atitude do 
namorado, frio e indiferente ao cumprimento da palavra 
empenhada. 
Quando menos se espera, sai de casa e não volta mais. 
Some de uma vez. Todos ignoram-lhe o paradeiro. Deixa, 
apenas, na pensão a roupa, os livros, a mala. A mãe e o tutor da 
vítima apressam-se em procurar a delegacia de polícia mais 
próxima para a respectiva queixa. Comparecem acompanhados 
do advogado dr. Jansen de Castro Júnior, e exigem 50 contos de 
indenização pelos danos causados! 
 
http://www.passeiweb.com/saiba_mais/fatos_historicos/brasil_america/questao_capistrano
 
 Prof. Raul Castro 12 
O inquérito tem o seu seguimento natural. Concluído, é 
enviado a Juízo. Os jornais se encarregam de divulgá-lo num 
noticiário pormenorizado e profuso, enchendo colunas e colunas, 
dias e dias seguidos, a explorar morbidamente a curiosidade 
pública. A população apaixona-se pelo caso, tornado assim de 
repente, para conseguir fácil casamento... Outros, mais 
exaltados, são de opinião contrária, julgam-no digno de pena 
severíssima. 
O indiciado João Capistrano da Cunha, acolitado por três 
bons advogados, drs. Busch Varela e Duque Estrada Teixeira e 
conselheiro Saldanha Marinho, comparece à barra do Tribunal, 
no dia 17 de novembro. Figura como promotor público interino o 
dr. Ferreira de Oliveira, que produz veemente acusação. A 
colossal massa popular, que enche o salão, vibra. Contradita-se 
o defensor do réu, dr. Busch Varela. À réplica do promotor, 
respondem os outros dois patronos: dr. Duque Estrada Teixeira 
e conselheiro Saldanha Marinho, que conseguem a absolvição 
do seu constituinte, após calorosos debates, ovacionando os 
diversos advogados, e, à saída, prorrompe em palmas ao 
absolvido, carregado em triunfo pelos colegas. Oferecem-lhe 
ainda um banquete em regozijo, no Hotel Paris 
O desfecho tem viva repercussão na sociedade fluminense. 
A viúva e o irmão da vítima não se conformam com tão injustiça 
e iníqua sentença. Desesperado, o jovem Antônio Alexandre 
Pereira passa três dias pensando no que deve fazer. 
Precisa tomar atitude. A ideia fixa aflige-o, mortifica-o: 
necessita lavar a honra da família tão rudemente ofendida. 
Resolve fazer justiça com as próprias mãos. Impõe-se uma lição 
de mestre ao impune autor da desgraça da irmã, que chora, dia 
e noite, envergonhada e entre a profunda prostração. 
O acadêmico adquire uma arma de 25 cápsulas por 22$000 
– uma tragédia atrai outra tragédia – e sai à procura do amigo da 
véspera. Encontra-o em olena na Rua da Quitanda, fronteiro ao 
nº 128, cerca das 10 da manhã, quando se dirige à casa do seu 
correspondente, um negociante da Rua de São Pedro. Pelas 
costas alveja-o com cinco tiros e fere-o gravemente com apenas 
um no pulmão esquerdo. O rapaz corre para o interior do 
armazém, fugindo a novo disparo e logo cai sem forças ao chão. 
Está morto! 
O agressor tenta, em vão, escapar, quando é preso em 
flagrante por Augusto César de Mascarenhas, que passa na 
ocasião, e entrega-o à Justiça. 
O pulmão da vítima achava-se atrofiado, podendo morrer em 
breve tempo, constataram os médicos na autópsia. 
A rapaziada da Politécnica exalta-se e promove uma série de 
homenagens ao colega morto: veste-se de luto, chora, vai 
incorporada ao enterro, que se transforma em apoteose pública, 
carregado a mão, por estudantes e políticos que comparecem 
concitados pela astúcia partidária de Saldanha Marinho, um dos 
advogados do morto. O próprio Visconde do Rio Branco, diretor 
da Escola, suspende as aulas por dois dias. 
O processo de homicídio corre os trâmites legais. O 
acadêmico Antônio Alexandre Pereira senta-se no banco dos 
réus a 20 de janeiro de 1877. É defendido pelo mesmo 
advogado que figurara no caso da irmã, o dr. Jansen de Castro 
Júnior. Os debates atraem mais gente que no episódio anterior 
do defloramento. Agora a coisa é outra: as antipatias populares, 
até ontem contra a família Pereira, transforma-se então em 
simpatias pelo assassino... O mesmo júri, que absolve o 
primeiro, absolve o segundo! Inocenta-o por unanimidade de 
votos! Também uma salva de palmas acolhe o veredictum no 
Tribunal. É o acusado carregado em triunfo pelos mesmos 
colegas, que ovacionaram o morto da véspera... 
 
Casa de Pensão - Exercícios 
 
1. “Defronte dele, com uma gravidade oficial, empilhavam-se 
grandes livros de escrituração mercantil. Ao lado, uma prensa de 
copiar, um copo d água, sujo de pó, e um pincel chato; mais 
adiante, sobre um mocho de madeira preta, muito alto, via-se o 
Diário deitado de costas e aberto de par em par. 
 Tratava-se de fazer a correspondência para o Norte. Mal, 
porém, dava começo a uma nova carta, lançando 
cuidadosamente no papel a sua bonita letra, desenhada e 
grande,[...] (p.01) ” Nesse trecho do livro Casa de Pensão, pode-
se afirmar que: 
 
a) existe um desprezo pela técnica descritiva. 
b) predomina a descrição sobre a narração no trecho 
“Tratava-se de fazer a correspondência para o Norte.” 
c) é clara na passagem “Ao lado, uma prensa de copiar, 
um copo d’ água, sujo de pó, e um pincel chato” a 
presença da zoomorfização. 
d) o fragmento é revestido pela técnica narrativa-
descritiva, característica marcantenos textos 
Realistas/Naturalistas. 
e) predomina a narração sobre a descrição no trecho “Ao 
lado, uma prensa de copiar, um copo d água, sujo de 
pó, e um pincel chato”. 
 
2. “Era de vinte anos, tipo do Norte, franzino, amornado, pescoço 
estreito, cabelos crespos e olhos vivos e penetrantes, se bem 
que alterados por um leve estrabismo.”(p. 01-02) No livro Casa 
de Pensão, essa é a primeira descrição que se tem sobre: 
 
a) o antagonista João Coqueiro. 
b) o protagonista Sr. Campos. 
c) o antagonista Amâncio Vasconcelos. 
d) o protagonista João Coqueiro. 
e) o protagonista Amâncio Vasconcelos. 
 
3. “- Foi há seis anos, observou o moço, limpando o suor que lhe 
corria abundantemente pelo rosto.” (p. 02). A oração sublinhada: 
 
a) faz parte da fala da personagem. 
b) trata-se de uma oração intercalada, referindo-se a 
onisciência do narrador. 
c) trata-se de uma oração reduzida, referindo-se a 
onisciência do narrador. 
d) trata-se da fala do narrador

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