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- LHOS E NOVOS MUNDOS: da conquista da .Atnérica ao domínio do espaço cósmico Sobre heróis e tumbas s livros de cavalaria foram escritos na Europa, mas foram vividos na América, porque, embora as aventu ras de Amadis de Gaula tenham sido escritas na Europa, é Bemal Diaz dei Cas tillo quem nos apresenta o primeiro livro autêntico de cavalaria. com sua Historia de la conquista de la Nut!Va Espana (Carpen tier, 1984:122). Na América, de acordo com a proposta do escritor e crít'ico cubanoAlejo Carpentier, a fantasia européia se transfor ma em vivência. O verbo se encama no Novo Mundo. Deslizamos territorial mente da idéia à corporalidade, do romance ao enfrentamento e da ficção à história. Da figura do Ulisses medieval, retratado por Dante A1ighieri na Divina commedia (In ferno, XXVI), que, com sua travessia ocidental à procura de um mundo desco nhecido encerra poeticamente a Idade Média, transferimo-nos à santa trindade dos descobridores-cronistas da Renascença: NO/a: Este artiio foi lraduzido por Gloria Rodrfguez. Estwdos Hist6ricos. Rio de Janeiro, \/01.4, n. 7, 1991. p. 3·18 Guillermo Giucci Cristóvão Colombo, Pero Vaz de Caminha e América Vespúcio. De Francesco Pelrar ca, poeta laureado, que em 26 de abril de 1336 conquista epistolarmente o monte Ventoso para inaugurar, com sua carta ao professor de teologia Francesco Dionigi d'Roberti, a Renascença italiana, passa mos, quase dois séculos mais tarde, a Hemán Cortés e Francisco Pizarro, mode los do guerreiro, conquistadores dos impérios asteca e inca. Dante e Petrarca privilegiam, também, o âmbito do conheci mento e da visão. Descobrir um outro mundo desabitado, que se encontraria se guindo o Sol, é a motivação explícita do navegante medieval; escalar a montanha mais alta da região, para observar do seu cume a beleza da natureza, é a razão decla rada do alpinista. Mas nem o conhecimento nem o esteticismo se movem no plano res trito do desejo. Pretender decifrar os enigmas do planeta transfonna-se em posse no contexto do expansionismo europeu. Foi o que aconteceu em 12 de outubro de 1492. Cristóvão Colombo, afirmando 4 ES1UDOS H1STÓRlCXJS - 199lf1 encontrar-se nas costas do extremo oriente , da Asia, desembarca na ilha de Guanabani, no arquipélago das Bahamas, e imediata mente toma posse do seu território em nome dos reis católicos. Ocorre um caso seme lhante em 22 de abril de 1500, data do descobrimento do Brasil (Terra de Vera Cruz). O cronista português Pero Vaz de Caminha, membro da esquadra de Pedro , Alvares Cabral e escrivão da feitoria de Calicut declara - na primeira frase de sua carta ao rei d. Manuel de Portugal - que escreve para dar "notícia do achamento desta Vossa terra nova, que agora nesta navegação se achou" (Castro, 1985:75), e anuncia a posse que ocorreria de modo for mal e ritualizado poucos dias depois. Nos dois exemplos mencionados, a denomina çao das terras funciona como um marco que consolida o poder peninsuJar. As coroas ibéricas se consideram as novíssimas e le gítimas proprietárias de territórios estra nhos, e cumpre redefinir sua identidade. Desde então, os emissários de ambas as coroas intitulam os domínios ibéricos na América a partir de critérios hagiológicos, de gêneros comerciais, de semelhanças na turais ou do transplante do conhecido para regiões recõnditas (no estilo da Nova Espa nha), negando autonomia a um quarto con tinente que surgia, de forma contraditória qualificado de Novo Mundo. O fato da denominação, como fonna simbólica de domínio sobre as novas terras, nos conduz a um horizonte mágico. É evi dente que os expedicionários passarão rapi damente da palavra oral ao ritual escrito, numa teatralização da conquista, dirigida, em parte, a índios nus que não podiam compreender, nem sequer imaginar, o sig nificado agressivo das declarações escritas dos estranhos, e, em parte, a legitimar pe rante as demais �otências européias rivais o direito à posse. A seguir, examinaremos as implicações da relação de posse mágica estabelecida entre os expedicionários e as terras desco- bertas, forma de relação com o vislumbrado que anuncia o irracionalismo que presidiu a conquista da América espanhola, para passar depois à análise do discurso dos as tronautas sobre o empreendimento do do mínio do espaço cósmico. A varinha de condão de Próspero resolve os problemas de uma das últimas obras de Shakespeare, A tempestade (1611), comé dia cujo marco de referência hispano-ame ricano é evidente. Na ilha do desterro, gra ças ao estudo das ciências ocultas, Próspero vence seu innão Antônio, usurpador do du cado de Milão. Mas antes de retomar à Europa, renuncia à magia negra, rompe sua varinha fantástica e sepulta, muitos palmos debaixo da terra, o livro dos feitiços. No navio que o conduz de volta à metrópole,já desfeitos seus encantos de mágico, Próspe ro sente-se um homem simples, reduzido a suas forças, acossado pela fraqueza huma na. Era como se fora de seu ambiente habi tuai, em regiões ignotas, se revelassem os lados reprimidos de sua personalidade. E com isso voltamos à citação de Alejo Car pentier sobre a atualização dos livros de cavalaria na América: ser um viajante em terras recônditas implicaria a metamorfose da fantasia em ação, da lenda em luta cor poral e das extraordinárias andanças do ca valeiro errante das ('histórias mentirosas" nas aventuras "real-maravilhosas" do expe dicionário da conquista das Índias Ociden tais. Se no Novo Mundo americano os guer reiras castelhanos se internaram em'regiões desconhecidas com uma audácia excessiva, se não atroz, isso foi porque perseguiam nas fronteiras do vislumbrado ou desconhe cido o princípio alquímico da conversão das imagens em ouro. Ao transfonnar a terra em espaço metálico, procederam co mo se tivessem na mão a varinha mágica com a qual a personagem de Gonçalo opri mia Calibã na ilha enfeitiçada deA tempes tade. A busca obsessiva do ouro por parte de aventureiros e conquistadores sacramen- VEUlOS E NOVOS MUNDOS , tou a irracionalidade da magia negra e tes temunhou a flexibilidade do conceito de idolatria. Por causa da adoração de metal ou antes, de sua imagem -, o soldado entre gou I alma ao diabo contra o qual pretendia lutar no Novo Mundo. Sem dúvida, o expe dicionário castelhlno apoiou-se emsua c1a R superioridade temológica e na cumplici dade dos próprios indígenas para subjugar o desconhecido; mas também se valeu da "onipot!ncia dls idéias", do desejo e do voluntarismo que, segundo Freud, caracte rizam tanto IS sociedades primitivas quanto os neuróticos obsessivos. O conquistador se dirigiu para metas precisas - com freqüên cia inexistentes - como uma máquina; e como um autômato impiedoso subjugou o nativo e o ambiente natural e cultural que o cercava. Um outro elemento secundou, afiançou e completou a irracionalidade voluntarista d. magia negra: o poder da palavra. Tanto a transformação das imagens em ouro quanto I confiança depositada na palavra integram um mesmo fenômeno de dignifi cação das esperanças, processo que sofreria posteriormente na América um violento desprestígio, após a seqüência de fracassos dos expedicionários. Os indígenas cativos se apoiaram no poder da palavra para esti- • mular falazmente as esperanças dos con- quistadores. Ao se referir à figura do cativo indígena durante a conquista espanhola do sudeste dos atuais Estados Unidos, Beatriz Pastor (1988:18) afirma que "de Lucas Vázquez de Ayllon até o próprio Vázquez de Coronado foi-se repetindo a presença de uma fonte de informação que corroborava mitos existentes, inventava outros novos e estimulava, em empreendimentos condena dos ao fracasso, uma longa série de explo radores e conquistadores, cujo objetivo se identificava com algum dos reinos míticos • respeito dos quais circulavam notícias e rumores insistentes em toda a colônia. Tra �-se da figura do cativo indígena".Também se apoiaram nas palavras e em pequenas amostras de metais preciosos aqueles náufragos abandonados que, com suas versões das riquezas do interior da América do Sul, consolidaram as expecta tivas de novas tropelias de expedicionários e os induziram a penetrar em terras desco nhecidas, em empreendimentos despropo sitados. Em seu livro Bistoria crEtica de /os mitos de Ia conquirta americana, Enrique de Gandia narra como um náufrago da es quadra de Solís, Henrique Montes, faméli co e esfarrapado, chorava de emoção ao relatar a Sebastião Gaboto • história da serra da Prata (Gandia, 1929:145-96). Ga boto deixou de lado o objetivo declarado de sua expedição e se internou - tendo como guia o emocionado Montes - em busca da encantada serra da Prata. Não a encontrou, mas isso não foi motivo suficiente para desarticular a esperança coletiva de encon trar o monte argênteo que, segundo os ru mores, era dominado das alturas por um rei branco. Em outras ocasiões, onde também inter veio o poder da persuasão da palavra, é preferível ampliar o espectro teórico para além da disputa "mito versus realidade".É o caso dos tesouros dos impérios asteca e inca e de histórias como as do rei Dourado (ElDorado) ou da serra da Pra ta antes men cionada. Nesses exemplos, da afluência de discursos forjou-se, temporariamente, uma imagem maravilhosa. A brevidadebistórica do atrativo dessas imagens, pois seu valor se limitou, sobretudo, ao século XVI, espe cialmente aos setenta primeiros anos, de veu-se principalmente ao rato de que, origi nadas no desconhecido e viveneiadas como extraordinArias durante o intervalo do seu consumo - caso dos tesouros asteca e inca - ou como simples riquezas - caso do EI Dorado e da Serra da Prata - elas não con seguiram conter o avanço corrosivo da ha bituação. Logicamente, essas imagens fa bulosas se transformaram, reforçando uma frase absurda do cotidiano, "no que são": o • ES11JDOS msTORlaJS -1991/7 impenldor Carlos V mandou fundir a maior parte da ourivesaria peruana para financiar as despesas militares na Europa; EI DOnldo, após conduzir muita gente l morte, e à riqueza os poucos que acharam as areias dos afluentes auriferos do Cauca, transmu tou-se num simbolo de emigração esperan çosa dos europeus nos stculos XIX e XX para a América; e até boje a expressão "vale um PotosV'lembnl a cobiça de um grupo de aventureiros e colonos que preseguiu até a morte a prata boliviana e que, uma vez exauridas as minas que proporcionavam as riquezas, sem mais nem menos as abando naram. Mais que a vitória do mito ou da realidade, a linguagem dupla que envolve toda possível descrição do ignoto tomou conta dos exemplos mencionados, até que a habituação acabou por desencaná-Ios, assim como açabou com aquelas pedras asiáticas negras e fumegantes que, para Marco Polo, eram ainda um exemplo de pedns extIaordinárias e que para nós não passam de um simples carvão. Aquiles reagia unicamente aos senti mentos. Abandonou a luta em Tróia por se sentir ofendido e retomou as annas quando Pátroclo, seu amigo Intimo, morreu em mãos de Heitor. O grande ponto de apoio de Aquiles, mais que na vontade dos deuses e na sua coragem, tem origem na força cor poral. Aquiles é o protótipo do gueneiro épico que, soliário, enfrenta os adversários até a morte. A epopéia homérica o situa inevitavelmente entre os pólos do repouso e da ação. Quando em combate, descansa nas tendas; quando não descansa,luta como o furacão que anasa tudo à sua passagem. Em contraposição, o Ulisses de Homero tncama o guerreiro da reflexão: simuJa, mente, desinfonna, fantasia-se, oculta sua identidade, mas nunca se entrega ao chama do do imediato. Acompanhar o impulso dos sentimentos significa panl Odisseo o cami nho mais direto rumo lO fracasso e à perdi ção. Ele estuda a psicologia do adversário, o examina; decifra e depois derrota, assim como derrotou o ciclope Polifemo, duplo monstruoso e primitivo de Aquiles. São precisamente as astúcias de Aquiles que o • eternizam na memória do tempo. O cavalo de Tróia tem sua marca, I do personagem opaco, ambíguo, que transfonua a retórica em arma, que se desloca brilhantemente pelo plano da representação. Cabe ao enge nho di razão e à implacável duplicidade das palavras, desde a epopéia bomérica, o lu gar de honra na lista dos triunfos inesque cíveis da civilização. A Castela quinhentista combate os ín dios americanos com idtias procedentes da Reconquista, com aistãos velhos, cavalos, arcabuzes, espadas, intimações e romances de cavalaria. A dimensão tpica das vitórias castelhanas no Novo Mundo apagou o fatg de que a conquista dos impérios asteca e inca constitui uma exceção para os inúme ros infortúnios que marcaram o domínio dos territórios americanos. Vista em con junto, I conquisti da América bispinica esá tecida·de fracassos e desastres, de múl tiplas pequenas Armadas Invencíveis. Ape sar da conlgem demonstrada pelos guenei ros castelhanos nas Índias, em genll quem os denotou foram calamidades natunlis ou militares, assim como foram castigados pe lo· caráter ilusório das metas inexistentes. Por outro lado, a ambição de riquezas vol tou-se contra OS próprios conquistadores como um bumerangue descontrolado, ge rando deserções, enfrentamentos, rebeliões e guenas civis. Um a um, até os objetivos auríferos mais resistentes, desgastaram-se. E, paralelamente ao esgotamento das metas maravilhosas, os guerreiros foram perecen do. Até um chefe vitorioso como Fnlncisco Pilarro morreu assassinado em mãos de almagristas (partidários de Diego de A1ma gro) em sua residêncil, na cidade de Lima. Nas fases iniciais das conquistas impe riais, não houve batalha no sentido estrito. Apesar da evidente superioridade numtrica dos astecas, o IIder Moctezuma foi feito prisioneiro por Cortés de fonul anti-herói- - VEllIOS E NOVOS MUNDOS 7 ca.E O impendor inca Atahualpa deixou-se captunr por Pizuro de maneira tíio infantil que - quase um s6culo depois - o inca Garcilazo de la Vega se veria forçado a argumentar em seus Comentarios reales de los incas, que a conquista do Peru era um fato inexplicável se não fosse considerada a interferência da mão do Deus cristíio no golpe de Cajamarca. Os impérios americanos sofrenm lI1lgi camente sua inadequação no que diz respei to ao mundo do impreviito. 2 Sua férrea estnllUI1l teocnltica e as múltiplas hostilida des regionais contnbuiram pan seu exter minio. A verdadeira batalha entre os caste lhanos e os astecas só se lI1lvou depois que Moctezuma, que, apesar das vacilações es pirituais, acolheu Cortés como um Deus e se resignou il fatalidade anunciada pelas profecias, perdendo de fato sua posição de lfder indiscutlvel. Quando Cauahtémoc as sumiu o poder, conseguiu dizimar IS tropas de Conés, que deixou de lado a auréola da divindade manipulável e empreendeu a re tinda protegido pela escuridão, num episó dio conhecido atualmente como" a Noite Triste" (19 de junho de 1520). Mas, um ano depois, o exército de Cortés, acrescido por um poderoso contingente Uaxcalteca, cóm plice dos invasores, retomou lO lugar da batalha. E a guerra só chegou ao fim com uma espécie de suicídio coletivo do povo asteca, que resistiu até a morte il tomada de Tenochtitlán pelas tropas indo-castelhanas. Paralelamente, em 15 de novembro de 1532, o analfabeto Pizarro capturou, com apenas 160 soldados, na emboscada de Ca jamarca, o orgulhoso impendor Atahualpa. Este óltimo chegou ao encontro dos espa nhóis precedido por servidores que varriam o caminho real. Ele vinha numa Iiteira sus tentada por oitenta senhores e sentado nu ma pequena cadeira com um coxim de ouro. Chegou com uma coroa na cabeça, um grande colar de esmeraldas no pescoço e protegido por um contingente de uns cinco mil combatentes semidesarmados. Enquan- to isso, a poucos quilômetros de Cajamarca, outros 45 mil soldados incas permaneciam de prontidão, sob ocomando do cacique Ruminagui. E ante da iminência do encon tro com 50 mil incas, os 160 castelhanos sentiram-se perdidos em nzão da i. nferiori dade numérica, conforme relato de protago nistas. do golpe de Cajamarca. Miguel de Estete narra em sua Noticia dei Perú que, na manhã de 15 de novembro os espanhóis assistiram i. missa e se encomendaram lO Senhor "suplicando-lhe que nos sustentasse com sua mão". O seaetário de Pizano, Francisco de Jeréz, que tenta ocultar o pi nico castelhano, registra o esforço do capi tão para infundir coragem em seus solda dos, "dizendo a todos que de seus corações ftzessem fortalezas, pois não tinham outras, nem outro socono senão o de. Deus, que socorre nas maiores necessidades quem es tá a seu serviço" (Verdadera relación de la conquista dei Perú). Pedro Pizarro é muito mais direto. Em sua Relación dei descubri miemo y conquista dei Perú assinala que o "índio dizia a verdade, porque ouvi muitos espanhóis que sem o perceber urinavam nas calças de puro temor". E o cronista Francis co López de Gómara, que fundamenta seu relato em fontes orais e informações escri tas, chega ao extremo de afirmar que "Pi zarro falou aos espanhóis, porque a alguns se soltava o ventre por verem de tíio peno tantos !ndios de guerra, estimulando-os il batalha com o exemplo da vitória de Tum bes e Puná" (Historia general de las [ndias, "Prisión de Atabaliba'} Diz� lenda que Francisco Pizarro jamais conheceu o medo. Seja como for, o fato t que no momento em que considerou opor tuno ou necessário, deu o grito de guerra e se lançou diretamente sobre o inca a fim de derrubá-lo da litein. Com a queda do Uder, o império dos incas paralisou-se. Todas as testemunhas presentes que narraram o evento da emboscada de Cajamarca coinci dem em afirmor que os Indios nio opuseram resistSncia. E no espaço de duas horas • ESlUDOS HlSTóRI<X>S - 199lí1 Umorreram" (versão espanhola da carnifici na de Cajamarca) <nlre dois mil e Irês mil soldados incas - cifra que o Anônimo Sevi lhano aumenta, em sua Conquista dei Perú, para seis mil ou sete mil -, mas nenhum espanhol. Somente uns anos depois, na ca pital, Cuzco, aconteceria a rebelião dos in cas comandada por Manco lI, apelidado de I�O Fugitivo", rebelião que, apesar das hos tilidades existentes entre os bandos dos par tidários de Pizarro e de A1magro, os espa nhóis se encarregariam de dominar. A ambição doviajante quinhentista foi o enriquecimento, Mas nas Índias Ociden tais, as aspirações dos expedicionários, as sim como seus códigos de guerra, desloca ram-se com freqüência para o terreno do inesperado, onde produziram exemplos no táveis de "improvisação do poder' e de "manipulação do sagrado", Stephen Green blatt, que cunhou a expressão "improvisa ção do poder", define-a como a "dupla ba bilidade de capitalizar sobre o imprevisto e de transformar os materiais dados dentro do cenbio de si mesmo". E acrescenta que o essencial da improvisação dos europeUs é sua habilidade de, "vez por outra, insinua rem-se dentro de estruturas preexistentes dos nativos - políticas, religiosas e mesmo psíq\licas - e transformarem essas estrutu ras em beneficio próprio",3 Em situações vantajosas para o europeu, essa ronna de conquista manifestou-se alravés da capaci dade do viajante de Iransfigurar a coação ideológica em vontade própria do nativo, Na Newen Zeytung aus BresiJlg Landt (No va Gazeta da Terra do Brasil), opúsculo escrito em alemão por volta de 1515 e onde se narra uma viagem comercial ao Brasil, o autor informa que os indígenas embarca ram nos navios portugueses certos de que seriam levados à terra prometida, Que o destino dos nativos fosse a escravidão. s6 demonstra a vitória da improvisação, que triunfa, como afirma GreenblaU, quando Iransforma a realidade do outro, percebida por este como fIxa e estável. numa fi�o manipulável. Situação diferente ocorreu quando os expedicionários europeus se acharam em inferioridade de condições com respeito aos indígenas, geralmente isolados de seus companheiros e submetidos à vontade dos captores. Apelaram então para uma moda lidade singular de improvisação de poder, estratagema a que chamamos de "manipu lação do sagrado", Confundida às vezes com os milagres, a manipulação do sagrado foi a arma dos europeus escravos. nas rans ocasiões em que conseguiram utilizA-la pa- , ra fugir do cativeiro. O expedicionário ca. tivo contou na América com a vantagem de perceber na natureza um objeto sem espíri to, sem aquela "virtude" que os índios da , . ilha do Mal Hado atribuíam aos objetos, segundo consta na relação dos Naufragiós de A1var Núôez Cabeza de Vaca, e que os antropólogos designam com o nome de "mana", Forçado pelas circunstâncias, e numa série de atos que assinalam o cadter consciente da elaboração das ficções, A1var Núôez usufruiu da distinção entre o objeto e o sujeito em beneficio próprio: redivini zou a natureza desdivinizada para ameaçar os chefes, dividir a comunidade e infundir um temor coletivo entre os índios. Entretan to, a meta do cativo já não era a conquista - como aconteceu também no caso da his tória do arcabuzeiro alemão Hans Staden, aprisionado pelos índios tupinambás -, mas a simples sobrevivência e a volta à civiliza ção européia, Está suficientemente provado que a con quista da América foi de uma violência brutal. Como descrevê-la se não por meio do pesadelo do sangue, com suas desditas, prantos, lamentos, mortes, suicídios e as sassinatos? No Novo Mundo, o enfrenta mento de subjetividades não pressupôs o verdadeiro reconhecimento da alteridade dos indígenas, Os europeus lutaram conin o aborígene e, em raras ocasiões, a favor dele, como no caso do frade dominicano VELHOS E NOVOS MUNDOS 9 Bartolomé de las Casas. Contudo, até a luta ideológica levada a cabo na península e na América refletiu a elasticidade das aspira ções dos espanhóis; a disputa dos letrados sobre a justeza da guerra situou-se entre os pólos da violência épica e da colonização pacífica. Essa ânsia de incorporar o nativo americano ao âmbito da cultura eurocristã foi concretizada com um duplo resultado: o etnocídio cultural americano e o genocídio indígena, ambos ferozmente acelerados na América pela difusão das epidemias viróti cas provenientes do contato, amiúde beli coso, das cul turas. Se algo consegue chocar a sensibilidade moderna é essa presença excessiva do corpo e do som nas guerras quinhentistas. A busca de metais preciosos, o domínio a todo custo, o escravismo e as matanças percorrem estrondosamente os reinos e províncias das índias Ocidentais. Na ação, os viajantes prescindiram da suti leza; contudo, na reelaboração narrada dos eventos apresentaram uma elevada cons ciência da importâucia da palavra escrita e do lugar de destaque que ela ocupa no mu seu da fama. . Operação conquista do espaço O submetimento da alteridade pelas ar mas e pelo verbo divino, a improvisação do poder, a manipulação do sagrado, as figuras do cativo indígena, de náufrago abandona do e de índio-intérprete, nada disso existe na conquista moderna, a do sistema solar. Em compensação, pennanecc a valorização da ação e da palavra escrita, numa busca da fama talvez mais peremptória que a de an tigamente. Mas hoje nos remetemos a uma forma de subjugação que se distancia pro gressivamente do marco de referência hu mano, pois persegue a eliminaç.ão do corpo e do som. É a conquista c1ean, infonnatiza da, robotizada, que denuncia o anacronis mo da fumaça industrial, que desloca a transparência terrenal das hierarquias do poder rumo ao misterioso plano da abstra ção cósmica. Para começar, os instrumentos abertos e contaminados foram substitllÍdos pelos her méticos e higienizados. Do navio ao cavalo, essência na conquista do Novo Mundo, pas 'samos para o avião e o foguete, annas in dispensáveis que visam a exploração do espaço. Enquanto a armadura do soldado o protegiadas flechas e dos ataques do inimi go, a proteção da roupa do astronauta tam bém serve para isolá-lo do ambiente que o ameaça. E das descrições dos cosmonautas se deduzem sistematicamente dois fatores comuns: o silêncio sepulcral do espaço e a perda do peso corporal. Todos percebem essa espécie de euforia proveniente da au sência da gravidade. Presume-se que Santo Tomás de Aquino pesava mais de 150 kg, mas Dante teve a ousadia de representá-lo dançando no paraíso. Falando em termos históricos -e não nos de nossas biografias individuais -não está distante o dia em que o papa e os líderes das potências mundiais se reúnam como plumas flutuantes numa plataforma espacial para disputaras proble mas que afetam a Terra; tampouco aquele dia anunciado da utilização de subúrbios satelizados que servirão para distanciar os ricos das massas ou para forjar a nova fron teira da esperança dos imigrantes em sua busca de uma segunda terra prometida. O encontro pacífico dos supersatélites russo e americano no espaço já é uma realidade, desde julho de 1975, evento que recapitula a reunião de espanhóis e portugueses na ilha de Tidoro, no arquipélago das Malucas, em 1521. Assim como as diversas regiões do planeta ficaram interligadas a partir de 1521, pois, devido a travessias opostas (oci dental e oriental) os navegantes ibéricos convergiam na mesma minúscula ilha das especiarias, o sistema solar anora, desde julho de 1975, como o novíssimo laborató rio de experimentação dos países de van guarda. 10 FS11JIX)S HlSTÓRICDS -199m No projeto de colonização dos mistérios solares despontam os primeiros sintomas da dissolução da medida humana que' im pregna os empreendimentos colonizadores anteriores. Cristóvão Colombo concebeu o projeto de atravessar o Atlântico pela rota ocidental, para encadear o ouro dos asiáti cos aos interesses da Coroa de Castela. Bastava, na concepção geográfica do almi rante, atravessar o mar Tenebroso (Atlânti co) para atingir, pelas costas, os súbditos do Grão-Cã. A interferência de uma massa continental desconhecida seria um golpe violento para os ideais de enriquecimento imediato de Colombo e da Coroa castelha na. Embora de dimensões muito maiores que as imaginadas pelo navegante genovês, a primeira circunavegação do mundo pela expedição de Magalhães-Elcano (1519- 1522) demonstraria que o globo terrestre era acesslvel ao domlnio humano: tratava se de um formidãvel empório de riquezas . para a Europa Ocidental, que coroava sua ambição descobridora com o butim plane tário e consolidava, dessa fonna, sua posi· ção de pantolcrator do poder e da moderni dade. E quando, em meados do século XIX, Sarrniento proclamava em seu Facundo que o mal que assola a república Argentina é a extensão, propõe resolver o problema do despovoamento com a emigração européia. A imensidão da planlcie, das florestas, dos rios, do pampa, da selva e do horizonte "sempre incerto" preserva uma relação de intimidade com o esforço do colonizador. Nem a realidade das megalópoles moder nas, apesar dos fenômenos da desterritoria· Iização e da desintegra' ção dos limites urba °nos alegados pelos crlticos, conseguiu reduzir a persistente diminuição do planeta às dimensões do corpo, ao circulo leonardi no, embora tenha contribuído para sacudi la. Ao mesmo tempo que o corpo humano constitui ainda para nós a medida de todas as coisas, a positividade conferida desde os anos 60 à diversidade cultural contnbuiu para tornar válida uma multiplicidade de referentes estéticos. Evidentemente, con ceitos como simetria, proporção e harmonia ainda perduram como coordenadas que re gem o cotidiano, embora entrem em contra dição com a demanda de originalidade exi gida por contextos sociais de acelerada competitividade. Este fenômeno de cance lamento da unicidade dos referentes estéti cos, cuja fase preliminar é levada a cabo com a substituição - no século XX - de gosto novecentista francês pela estética de massas dos Estados Unidos, consolidou-se durante a segunda metade deste século com o triunfo da instituição do exotismo. Mas os modelos que favoreceram o gosto pelo exó tico, corrente que se desenvolveu paralela mente à redescoberta da alteridade (espe cialmente nas décadas de 60 e 70), não resistiram ao embate modernizador e hoje abandonam seu antigo lugar de honra para abrir espaço a um novo tnbuto visual que, seguindo o rastro do ouro, imita sem a menor dor de consciência desde os pop stars e os pilotos de corridas de automóvel até milion' rios de toda espécie e os insossos apologistas da ecologia. Considerado da perspectiva da dimen são cultural, o fenômeno da reeducação e da bifurcação do gosto estético constitui um sinal inequívoco da desvalorização do mo delo que depositava sobre as "obras imor tais" o acúmulo total do conhecimento. A explosão da unidade estética é o outro lado do fim do antigo conceito de "cultura", Mas já não se entende por cultura uma entidade homogênea integrada pelos clássicos euro peus, e sim uma saudável diversidade de expressões espirituais e materiais.4 Entre tanto, o problema de fundo é muito mais grave. Porque também a fase da diversidade cultural se precipita no abismo, sepultada pelo avanço da tecnologia, cultura moderna e tecnologia coincidem, associação que ameaça reintegrar e centralizar num só pIa no a realidade referencial da modernidade. • • VELHOS E NOVOS MUNOOS It Por trás da agonia dos antigos valores, que se deslocam rapidamente para a museifica ção neutralizadora, perfila·se - de forma cada vez mais perturbadora - a gênese de uma transformação profunda e dificil de captar: o cancelamento da intimidade do ser humano com o ambiente natural ou artifi cial que o cerca. A participação do micro cosmo no macrocosmo, do criador em sua obra planetária monumental, está longe de ser uma característica da conquista do espa ço c6s�ico, pois o projeto solar se abre para o infinito como a aventura intenninável dos séculos, sob a regência absoluta da mente e da tecnologia, no interior de um vazio onde as noções de fronteira e de corporalidade parecem diluir-se e carecem de substância. Ao contrário da conquista da América, que perseguiu o ouro e o acrescentamento da mensagem de Cristo em terras férteis, as m'ttas da exploração do sistema solar não são nem transparentes, nem imediatas. De fato, a militarização do espaço, que assegu ra amplas vantagens em termos de informa ção e controle sobre o adversário, explica em parte sua vitalidade, meta primária à qual seria necessário adicionar a importân cia crescente do componente econômico e ecológico de corte multinacional. Já num plano mais abstrato, a pesquisa solar expri me'concomitantemente a curiosidade infa tigável do ser bumano por decifrar o além desconhecido e seu desejo de domínio ab soluto. A travessia do Plus Ultra, emblema soberbo da curiosidade científica no fron tispício da Instauratio Magno (1620) de Franeis Bacon, estava acompanhada, na versão terrestre e marítima da viagem da curiosidade, pela chegada do aparelho coercitivo. Apossar-se das índias Ociden tais significou, além do domínio territorial castelhano, a imposição do modelo político e cultural ibérico. Mas os expedicionários europeus quinhentistas mostraram escasso interesse por subjugar o tempo. Ao contr.\ rio do que se cosruma algumentar, a impor tância do substrato utópico na construção dos remotos reinos e províncias de ultramar indianos foi insignificante. Pelo contrário, em nenhuma etapa da história os porta-vo zes das mudanças manifestaram de forma tão taxativa a consciência de se encontra rem no limiar de um novo mundo de caráter utópico quanto durante a segunda metade do sécu10 XX. E nesse caso, próximo ao início do terceiro milênio, os porta-vozes da mudança são os astronautas. Para a humanidade, a consciência da transcendência da época espacial supera amplamente a reflexão históricados huma nistas italianos do Irecento e do quaurocen· to. O conceito de Renascença implicava uma ressurreição do modelo de Antiguida de e uma comparação com ele, indepen· dentemente da seletividade e do utilitaris mo que reagiam o processo das analogias. Termos como 'Ireposição", uredescoberta", "restauração" e "devolução" abundam nos textos dos humanistas italianos, tennos que parecem ligados à influência dos modelos clássicos. E é conhecido o fato de que Pe trarca criou a noção da unova era" a part'ir de suas caminhadas pelas rumas da antiga Roma.S Outro descobridor de um novo mundo, Cristóvão Colombo, sustentou até , sua morte, em 1506, que atingira a Asia pelo caminho do Ocidente. E o Mundis Novus de Américo Vespúcio teve como contrapartida o apocalipse das culruras in dígenas. A revolução científica também não gerou, em sua época, uma visão co1eti va da profundidade da mudança. As teorias que destacam a passagem do "mundo fe cbado para o universo infmito", assim co mo o trânsito da fisica aristotélica e da mosofia escolástica medieval para a ciên cia moderna, são - salvo raras exceções - conceitualizaçõts do século XX. Com freqüência os cosmonautas ligam explicitamente a experiência da descoberta da América à exploração do sistema solar. Marc Garneau, o primeiro astronauta cana dense a passar oito dias no espaço (5/10/1984), realizando experiências do 12 ESTUDOS IIISTÓRlOOS -199117 programa espacial canadense, compara am bos os eventos e sustenta que a etapa do descobrimento que se inicia será semelhan te à de Colombo ao partir do porto de PaIos, quinhentos anos atrás. Segundo Gameau, Colombo começou o movimento do "Let's explore lhe reSI Df our world" - "Vamos explorar o resto do nosso mundo" -, propi ciador do aluvião de pessoas que se expan diu para explorar o mundo além das costas - da Europa e da Asia. E mesmo em 110SS0 século, acrescenta o astronauta canadense, seriam descobertos lugares desconhecidos. (White, 1987:255). A simplicidade da analogia de Gameau é de arripiar. Em todo caso, não supõe um retomohist6rico. Implica a incorporação de um modelo que é conhecido para o leitor, pois a conquista espacial carece de prece dentes. Contrariamente à reação dos caste lhanos diante da descoberta do quarto con tinente, o americano, depositando durante considerável espaço de tempo em seu inte rior vislumbrado maravilhas dignas de es panto, a colonização do espaço tende a des valorizar com pavorosa rapidez o exotismo dos lugares "a fastados" do planeta, pois sair da Terra significa que já se controla uma sofisticada máquina de diminuir os obstá culos da distância. Bali, Afeganistão ou Ti bete encontram-se, para o astronauta mór mon e físico D. L. Lind, "jusl around IIU! corner" - "logo ali na esquina" (While, 1987:278). E com o acesso semi-imediato (instantâneo no caso da televisão) às mais distantes regiões do Morbe, dilui-se O en canto derivado do imaginado ou vislumbra do. A onipresença dos meios de comunica ção que limitam seu comentário aos rituais de transição e aos desastres de todo tipo conseguiu trans(onnar aqueles lugares que antigamente estavam envolvidos pelos véus do mistério em pouco mais que peri ferias pobres e desgraçadas. Enquanto a descoberta de regiões inex ploradas as desmistifica, o enfrentamento inicial do viajante com a diferença, antes s6 imaginada ou esperada, pode provocar um profundo impacto de transformação. Edgar D. Mitchell participou da terceira alunissa gem como piloto do Apolo 14, mas abando nou logo a NASA e fundou o Instituto de Ciências Noéticas, orientado para a pesqui sa da consciência humana. Segundo Mit cbeH, a experiência lunar gera a mudança de perspectiva mais importante da história. "11 is precisely IJUs shift in viewpoint and whal it implies for lhe capability of lhe human being and for our view of lhe universe IIIal makes it so powerful. Un l i l t h e last t w e n l y years, ali plrUosophers, tllinkers, scientists and poets IIave been Earlllbound. Tlley IIad an Earlllbound point of view. Space· fUgiu is one of IIU! more powerful expe riences tlral Immans can lzave, and the lecllnological event of breaking IIU! bonds of Earlh is far more IIIan IIIe te c/mology Ihal went into it, beca use of IIIis perspective" (White, 1987:219). ("É precisamente essa mudança de pers pectiva e o que ela implica para a capa cidade do serbumano e para nossa visão do universo o que a toma tâo poderosa. Até os últimos vinte anos, todos os filó sofos, pensadores, cientistas e poetas es tiveram atados à Terra. Eles tinham um ponto de vista amarrado à Terra. A via gem espacial é uma das experiências mais fortes que os seres humanos podem ter, e o evento tecnológico de romper o laço da terra é muito mais importante que a tecnologia que entrou nele, por causa dessa perspectiva. ") Nesse sentido, a experiência da conver são de perspectivas distancia-se do signifi cado da ascensão de Petrarca ao monte Ven t o s o . Persiste a fluidez d a relação exterior/interior que distingue a peregrina ção da simples viagem; e preserva-se a transferência de sentido que vai do impacto VEl..J{OS E NOVOS MUNOOS 13 com a exterioridade A transcendência da interioridade, das coisas corpóreas às incor póreas. Mas o poeta sofre a conversão pela palavra. "Os homens viajam" -lê Petrarca numa passagem do livro 10 das ConfISsões de Santo Agostinho, justo no momenlo em que o poeta se encontra no cume do monte Ventoso e precisamente após expressar sua admiração pelo espetáculo extasiante da natureza -upor admirar as alturas dos mon tes, e as grandes ondas do mar, e as largas correntes dos rios, e a imensidão do oceano, e o girar dos astros, e se esquecem de si mesmos".6 Evidentemente. a citação nos remete a uma história anterior de conversões letra das que o poeta laureado recapitula e de passagem aproveita para reinterpretar, da perspecliva do humanismo emergenle. Pois enquanto Santo Agostinho e Santo Antônio lêem trechos da Bíblia e, guiados pela luz da palavra divina, abandonam o mundo dos prazeres terrestres para se entregarem ao serviço de Deus, Petrarca lê a frase de Agoslinho e a interpreta como apoio à Epís tola 8.5 de Sêneca, na qual o filósofo roma no exalta a nobreza da mente: "nada é ad mirável ao lado da mente; comparado com sua grandeza nada é grande". O trãnsilo do sagrado ao profano está nos primórdios de sua legitimação. Por outro lado, no exem plo da conversão dos astronautas, corpori ficado por Mitchell, a mediação da palavra carece de valor e a dimensão profana está firmemente arraigada em qualquer rilual de Iransição. Éa visão orbilal do planeta como uno, pequeno e homogêneo, que sacode a consciência do ser e se incrusta na artificia Iidade da heterogeneidade cultural, com um caráter marcadamente universal. Em ter mos estritos, não se trata de uma conversão religiosa ou política. O conflilo que se insi nua tem raízes na inadequação do sistema de valores e crenças ao contexto da acele ração científica dos países de vanguarda. Quem não se emociona, por exemplo, dian le do episódio da Díada em que o filho Heitor se assusta e chora de medo ao ver seu pai com o capacete de guerra? Imagino que qualquer criança de hoje teria uma reação similar diante da visão diabólica de seus pais usando uma máscara antigás, como as utilizadas recenlemenle na guerra do Golfo Pérsico. A mesma comparação, em tennos de tecnologia militar, hoje nos parece sim plesmente absurda. Quem compararia, a não ser d. Quixote (nem sequer Rambo o faria), o poder da furiosa espada de Aquiles com a infernal tecnologia m�dema? Em conseqüência, se for verdade que as viagens espaciais são a metáfora para a tecnologia do século XX, como sustenta MitcbeU, en tão seu projeto universal de integração en tre a consciência e a matéria exigirá vários séculos até tornar-se efetivo. O que chama a atenção nas apreciaçõesdos asl'ranautas é sua consciência de estar criando o futuro. Assistimos, Connulada em tennos ideais, à busca de realização da uto pia. O espaço projeta em tela cósmica a imagem especular de nossos sonhos de fu turo. O ser humano nunca esteve tão próxi mo dos dons divinos da criação: novas so ciedades em lugares remotos, inventadas ex-nihilo, planejadas pela razão e levadas à prálica pela lêcnica. Ainda "não há tal lu gar". Mas no fim do século XX, numa épo ca em que a aceleração tecnológica cancela a categoria do inconcebível, a percepção do caráter imaginário da ciência-ficção perde força minulo a minulo. A exploração e a ocupação do sislema solar é um fenômeno irreversível; sua atualização é questão de tempo. Se as sociedades agroindustriais ainda estão longe de participar desse novo mundo anunciado, isso se deve a quatro motivos: primeiro, a pesquisa científica res tringe-se a um círculo de nações tecnologi camente avançadas; segundo, essa restrição tecnológica exclui o imaginário solar do imaginário cotidiano; terceiro, a tecnologia aparece simplesmente como um instrumen to da cultura moderna, e não como sua expressão mais vital; quarto, os problemas 14 ES1UOOS InsTÓRICOS -1991/7 das sociedades agroindustriais, tanto em sua vertente estrutural quanto na conjuntu· ral, são de lal gravidade que as preocupa ções coletivas dirigem-se necessariamente ao âmbito do imediato. Ao longo da história, e de modo inevitá vel, as utopias refletiram os problemas e as esperanças próprias de seu tempo e ambien te. Os princípios que regulam a Comissão Nacional sobre o Espaço (National Com mission 00 Space) são testemunha do sonho ordenador dos atuais senhores do planeia. Integrada por nortc- americanos, essa co missão considera o sistema solar como a 'lCasa da Humanidade", sobretudo como unossa" casa. E a exploração do sistema solar tem por objetivo dcc1arado o estabelecimento de novas sociedades em novos mundos. "The seu/ement of Norlh America and olher conlinems was a prelude 10 humanily's grealer challenge: lhe space frontier. As we deve/op new /ands of opporlUniJ.y for ourselves and our des· cendants, we mllsl carry with llS lhe gua· ranlees expressed in OI/r Bill of Righls: lO IIIink, comml/nicale, and /ive in free dom. We muSI stimulate individual ini· lialive and free enterprise in space" (National Commissioll 011 Spacc, 1986:3-4). ("A colonização da América do Norte e de outros continentes foi um prelúdio de um desafio maior para a humanidade: a fronteira do espaço. A medida que de senvolvemos novas tcrras em nosso be nefício e de nossos descendentes, devemos transportar conosco as garan tias que constam em nossa Declaração de Direitos: pensar, comunicar e viver em liberdade. Devemos estimular a ini ciativa privada e a livre empresa no es paço.") Por baixo da utopia desponta o fantasma das relaçõcs de poder. Uma das virtudes insubstituíveis da utopia insular da Renas cença consistia em que os utopistas eram invisíveis para o resto do mundo, enquanto os adversários estavam ao alcance dos uto pislas. A utopia modem a do poder pennite a visibilidade, mas não o alcance. Ser ina tingível para os outros enquanto estes per manecem a nosso alcance: tal será, se ainda não é, o sonho máximo dos ditadores do futuro. Durante a década de 50, o soviético K. Guilzine, em seu livro Viagem aos mundos distantes, referia-se à época extraordinária que cabia à humanidade viver. 110 que hoje é impossível amanhâ será possível", assina la a epígrafe do primeiro capítulo de seu livro, onde o autor associa a conquista in terplanetária aos avanços materiais e mo rais do comunismo soviético. Se o poder sobre a natureza aumentou de maneira for midável, em contrapartida refinou nosso distanciamento com respeito a ela. Hork heimer e Adorno também notaram, no exí lio norte-americano e no contexto da ascen são dos regimes total itári os, q u e a triunfante dialética da Ilustração consolida va a alienação do sujeito social com relação aos poderosos e incentivava a atrofia da imaginação. Suprimido o mana dos primi tivos, esfumava-se o âmbito do desconhe cido espiritual. O extennínio do fantasma górico, que signi ficava para Freud um indício inequívoco do progresso da civili zação, ameaça transferir-se do círculo da intimidade à totalidade do universo. Seja como for, a exploração das regiões desco nhecidas do espaço ser.! uma das tarefas insubstituíveis do futuro próximo. Louvar a ordem interna mas transgredir os limites do conhecido revela a marca do espírito do fim do século. Nada mais sofisticado, organiza do e ordenado do que uma nave espacial; nada mais transgressor. Nossa época assis te, em tela panorâmica, à duplicidade que marcou o processo civilizador desde suas VEl.JiOS E NOVOS MUNDOS origens: conquistar poder sobre a a"sência de sentido. Por uexperiência" , Maquiavel se referia à trajetória da vida política, à acumulação de êxitos e fracassos do homem público, sucessos que lhe permitiam delinear uma teoria sobre a natureza do ser humano e esboçar uma série de regras político-morais visando maximizar a efidcia do governo e a manutenção dos principados, por parte do príncipe. Sua fonte de reflexão preferida, além da observação dos dramas políticos de seu tempo, foi a leitura dos historiadores antigos. E a análise do presente histórico surgia diante de seus olhos como a confIr mação do substrato psicol6gico inerente ao ser humano, que os antigos se encarregaram de registrar e o escritor florentino de inter pretar e explicar. A "nova rota" da qual fala Maquiavel no pr610go de seus Discors; edetenninei entrar pela via que, não segui da até agora por ninguém, ser-me-á dil'ícil e trabalhosa'1, constitui a expressão de um pensamento revolucionário diante do an daime ideol6gico de omissões eocultações de uma realidade política flagelada pelo desejo de conquista e pelo exercício do poder. NeSse sentido, a ruptura se consagra, o discurso sagrado cede seu trono ao profa no e a análise da realidade política adquire um estatuto científico. Mas a ruptura deve ser entendida em relação às distorções ha bituais dos ide61ogos, e não à tradição, pois Maquiavel extrai desta última a maior parte do material teórico que contribui para con solidar sua visão pouco romântica da natu reza do ser humano. Apesar da referência ao usempre tão pe rigoso descobrir novos e originais procedi mentos como mares e terras desconheci das", assinalada à maneira de desafio no pr610go dos Discors;, nem a descoberta do Novo Mundo - como seu corolário, a cons ciência da diversidade - nem a invasão da ciência matemática na redução do planeta a coordenadas numéricas e abstratas - como seu corolário, a tecnificação do conheci- mento -integra de fonna substancial o pen samento de Maquiavel. Por um lado, a experiência decorrente da • conquista da América criou tensões no vín culo entre o mundo renascentista e I Anti guidade. Aampliação do limite das frontei ras territoriais lançou o europeu contra realidades até então insuspeita das. No fim do século XVI, manifestam-se indícios ine quívocos da ascensão da importlincia da descoberta do Novo Mundo para a Europa, não só em termos econômicos como tam bém espirituais. Um pensador como Mon taigne, embora de formação clássica e exí mio conhecedor dos antigos, j á não consegue conceitual izar a noção de "expe riência" a partir do estudo da hist6ria e da observação de seu próprio meio social. Em seu famoso ensaio Sobre a experiência, ele inclui como parâmetro de referência os ín dios tupinambás, que lhe servem de instru mento demonstrador da historicidade das f6rrn.ulas culturais européias. A América cump�e, em relação ao pensamento ordena dor do século XVI, um papel semelhante ao que a antropologia do século XX desempe nha com respeito às teorias psicanaHticas de Freud: desmascara sua historicidade. . Por outro lado,e com uma repercussão muito mais profunda que o reconhecimento da diversidade e do questionamento da frá gil solidez do mundo, perfila-se na segunda metade de século XVI a ascensão do com ponente científico-tecnol6gico, embora es te ainda não se estenda à vida cotidiana. Atualmente, a proliferação de mecanismos cada vez mais sofisticados para encurtar as distâncias tempo-espaciais tende a apagar o contexto de precariedade no qual se origi naram as antigas invenções tecnológicas que possibilitaram a transgressão das fron teiras geográficas. As primeiras caravelas, os primeiros aeroplanos e foguetes espl ciais mais parecem brinquedos infantis do que verdadeiras obras de arte. Se há um elemento a distinguir entre I contempora neidade e a Renascença· de Maquiavel, é o \6 ESTIJDOS HISTÓRICDS - 199V1 nosso vago sentimento de que uma parcela da humanidade, guiada pela infonnática, ingressou, de fonna irreversível, num Mun do Novo, fenômeno cujos primeiros sinais despontam em meados do século XVI e se acentuam notavelmente nas últimas déca das do século XX. Nada expressa melhor esse sentimento de "novomundismo" que a crença genera lizada da inutilidade dos pensadores pré iluministas para a compreensão das socie dades pós-industriais e para o conhecimen to dos seres humanos que as habitam. De fato, argumentou-se que a aceleração verti ginosa das inovações científico-tecnológi cas produziu profundas mudanças nos paí ses de vanguarda, dando lugar, ali, a uma era pós-industrial que fonnou sociedades terciário-cibernéticas. As repúblicas ideais de Pia tio, as consolações pela filosofia de Boécio, as cidades divinas ou profanas de Santo Agostinho, as histórias calamitosas de Pedro Abelardo, as sumas teológicas de São Tomás de Aquino, os cavaleiros quixo tescos ou sanchopancescos de Cervantes, esse passado pré-industrial, em certas oca siões e o pr6prio passado industrial, pare cem sofrer o impacto da tecnologia e serem postos de lado, junto com a roca e o tear. A ciência, na paráfrase da orgulhosa frase de Arnstrong, deu um passo gigantesco quan do o astronauta pousou a bota norte-ameri cana na lua. Ela apregoa, com seus triunfos aterradores, o fim do diálogo com a autori dade da letra, seja sagrada ou secular. Abelardo, São Tomás de Aquino e Lute ro dialogavam, com mestria e originalida de, com a tradição clássica. as Sagradas Escrituras ou Agostinho; Maquiavel, com Aristóteles e Tito Lívio, entre outros. Inde pendentemente das críticas à tradição, suas visões do ser humano e da história não pressupunham a supressão dos ensinamen tos do passado. Todavia, assim como os cronistas quinhentistas espanhóis foram forçados a revisar e ajustar sua cosmovisão a partir da descoberta e da conquista da América, os pensadores do século XXI não poderão deixar de relletir sobre a relação do ser humano com a divindade e com a socie dade a partir de um fenômeno radicalmente novo: a conquista do espaço cósmico. Ca berá às que chamamos de "filosofias nu cleares" - em uma época terciária-ciberné tica tão extraordinária que não se poderá companr com nenhum período do passado - a tarefa da ordenação teórica do sentido do Novo Mundo. Paradoxalmente, se forem confinnadas as tendências sociais em as censão - em especial a da substituição da busca do ser pela prova de seus limites - a maioria dos habitantes deverá ajoelhar-se diante do empobrecimento espiritual. Des providas de interesse pela experiência an cestral, presas à simultaneidade sem vincos da imagem, submetidas pela suplantação incansável dos heróis da indústria cultural. angustiadas pela aceleração do rilmo histó rico e pela vertigem das inovações da tec nologia, as novas gerações que aOoram fa zem u m alarde patético de sua mediocridade vivencial. A etapa que se ini cia para a humanidade - a etapa interplane tária -, que o viajante norte-americano do espaço Amslrong confunde com o progres so da ciência e da tecnologia, pode não ser agradável nem justa, mas irrompe no cená rio da história sem se preocupar com os matizes e possuída de uma vontade férrea de cxtenninar, não s6 Deus e o passado, como o próprio planeta Terra. Notas l.a. T. Todorov, La conquêu: de I'Améri que. Editions du Seuil, 1982� Grcenblatt, "Ma ravilhosas possessóes", em Estudos Históricos. trad. F. de Castro Azevedo, Rio de Janeiro. 1989, v. 2, n.3, p. 43-62. Em 1507, a partir da homena gem por parte de um obscuro grupo de humanis tas da rorte do duque de Lorena ao piloto e VEUlOS E NOVOS MUNOOS 17 cartógrafo América Vcspúdo. autor da epístola Mundus no\IUS, .de 1503 - e como resultado direto do expansionismo mercantil europeu - inicia sua trajetória triunfal o vocábuloAmérica. ou terras de Amirico. O termo América Latina SÓ surgirá no século XIX, no contexto do expan sionismo francês, cuidando de seus interesses diante da ameaça do avanço anglo-saxão. 2. Para uma análise das desvantagens da estabilidade hierárquica no que diz respeito à conquista do império asteca por Cortês, ver T. Todorov, op. dI. capo 2. 3. a. Stephen Grecnblatt, Renaissallce se/F lashioning: from More toShakespeare, Chicago, University af Chicago Press, Chicago, 1980, p. 227. "I shall call lha I mode improvisation, by which I mean lhe ability bolh to capitalizeon lhe unrorcsccn and to lransform given materiais into onc's own sccnaria ( ... ) What is essencial in lhe Europeans' ability again and again to insinua te themselves into the preexisting political, reli gious, even psychic struClures of lhe natives and lO tum those structurcs to lheir advantage." 4. Em seu famoso ensaio Ariel. de 1900, o esaitor uruguaio José Enrique Rodó proclama va que a cultura latino-americana estava integra da por uma estética grega e uma ética cristã. De um modo geral, os filhos da geração de 20 não fugiram à noção de que a cultura letrada exce desse os limites do compêndio nominal dos au tores considerados "clássicos", lista que passou a incluir entre eles os consagrados ao marxismo leninismo e que encerrava sua ilustre genealogia com o desespero k.alliano (ruptura diferencial que é, no exemplo particular dos nasddos na geração de 20, ainda muito mais taxativa no caso da pintura e da música). Também os defensores do nativismo, inclusive os '"calibanistas"'. não tiveram a suficiente lucidez crítica para estabe lecer a diferença entre mitificação e cultura mo d e r n a . S u a c o n t r i b u ição hi stórica no reconhecimento do valor da cultura 18Iino-ame� ricana foi um passo indispensável para que sua modernidade emergisse. Hoje constitui um obs� táculo injustificável para sua evolução. Mas, no âmbito da discussão deste trabalho, a controvér sia latino�americana entre arielistas e calibanis tas não tem a menor importância, e revela somente a inadequação das partes às condições do mundo contemporâneo. 5. Ver, por exemplo, o artigo de Erwin Pa� norsky, -Renacimiento, autodcrinicHHI " ;IU- toengaflo?" em Renacimiento y renacimi�nlos en eI arle occidenta� trad. M. L. Balseiro, Ma drid,AJianza Universidad, 1975 (título original: Renawance and rena.scenas in Western art, Slockhol m, 1960). 6. '"Letter to Francesco Dionigi de'Roberti dei Borgo San Sepolcro, professor of theology in Paris. Malaucene, April 26,1336". em The Renawance phi/osoplry 01 man, Oticago, 1be Unive",ilY o[ Oliaogo Press, 1971, p. 44. A versão em espanhol citada provém das Confesio nes de San Agustín, X, 8. 15, Madri, Biblioteca de A utores Cristianos, 1974, p. 402. O original em latim diz o seguinte: "Et cunt homines mirari alta montium et ingentes nuetus maris et latissi mos lapsus numinum et oceani ambitum el gyros sidcrum et relinquunl se ipsos" (id. ibid.). Bibliografia ADORNO & HORKHEIMER. 1969. DialektiJc der Aufklarung - Philosophisch� Fragmen te. Frankfurt am Main, S. Fischer Verlag GmbH. (1' cd., New Yorlc, 1944.) ALLEN, Joseph P. 1984. Entering space: an asrronaut'sodyssey. New York., Stewart. Ta bori & Cha ng. CABEZA DE VACA, Alvar Núiiez. 1985. Nau fragios, Madrid, A1ianza Editorial. CARPENTER, M . 50011, etalii. 1962. lV .. e ..... : by the aslronauls themselves. New York. Simon and Schusler. CAl\PENllER, Alejo. 1984. "Lo barrooo y lo real maraviI loso",em Ensayos. Cuba, Letras Cubanas. CASlRO, Silvio, 00. 1985.A carta de Pero Vaz de Caminha. O descobrimento do Brasil. São Paulo, L & PM. COLLlNS, Michael. Carryi.g lhe fir<o 1974. New York, Farrar. Slraus and Giroux. COLÓN, CristóbaJ. Textos y documentos com pletos. 1982. 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