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escola
Publicado em NOVA ESCOLA Edição 315, 03 de Setembro | 2018
Interdisciplinar
Como trabalhar os agrotóxicos
na escola?
A discussão sobre o uso de pesticidas na agricultura é uma boa
oportunidade para os alunos aprenderem sobre diferentes modos de
produção de alimentos e os seus impactos
Tory Oliveira
DESAFIO: Em Porto Ferreira (SP), o professor Alan estimulou os alunos a aumentar a
produtividade da horta orgânica sem impactar o meio ambiente.Crédito: Milena Aurea
Agrotóxico faz mal? O Brasil é o país que mais consome a substância em suas lavouras? Aliás, o
termo correto é agrotóxico, pesticida ou defensivo agrícola? São muitas as perguntas que permeiam
a discussão sobre o uso de produtos químicos no cultivo de alimentos. A resposta, muitas vezes,
depende do ponto de vista. Os ambientalistas preferem a palavra agrotóxico e argumentam que
usamos o produto em excesso, o que nos expõe a riscos ambientais e de saúde – eles alertam que a
situação vai piorar se o “PL do Veneno”, como apelidaram, for aprovado. Os ruralistas e a indústria
química optam por defensivos agrícolas (ou fitossanitário) e defendem o PL 6299/2002 para
aumentar a produtividade no campo, já que o projeto de lei irá facilitar a regulação e a distribuição
das substâncias que, sim, são indiscutivelmente tóxicas.
Fato é que a discussão em sala de aula provoca observação e investigação científica, estimula a
capacidade crítica dos alunos e gera conhecimento ao transitar pelos componentes curriculares de
forma interdisciplinar, abordando, por exemplo, aspectos de Língua Portuguesa, Ciências e
Geografia. A escolha do termo (agrotóxico, pesticida ou defensivo agrícola), o porquê do uso de
agrotóxico e os modos de produção agrícola e seus resultados são bons disparadores.
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OS PESTICIDAS EM NÚMEROS
No Brasil, os compostos são amplamente usados na agricultura industrial e pouco
monitorados
CULTIVOS QUE MAIS CONSOMEM AGROTÓXICOS
 
FONTE: GEOGRAFIA DO USO DE AGROTÓXICOS NO BRASIL (LARISSA BOMBARDI)
Em Porto Ferreira, no interior de São Paulo, o professor Alan Roberto da Silva, responsável pela
turma do 4º ano da EMEF Nadir Zadra Ribaldo, discutiu o tema dos agrotóxicos, da relação campo-
cidade e da produção de alimentos por meio da criação de uma horta orgânica em um espaço
próximo à escola. A ideia era demonstrar na prática como funciona a rede de abastecimento
logístico de produtos agroindustriais, como os alimentos que chegam até a nossa mesa. O objetivo
principal era chamar a atenção dos alunos para o desafio de conciliar a necessidade de aumento da
oferta de produtos agrícolas sem desequilibrar o meio ambiente. Para nortear o projeto, Alan
discutiu com os alunos algumas questões: “Há território (terra/espaço) para começar nossa
agricultura?”, “Como captar recursos e investir?”, “O que é sustentabilidade?”.
O ponto de partida foi a criação de uma pequena horta orgânica na escola, cuja produção
abasteceria uma feira aberta aos pais e à comunidade. Para a surpresa dos alunos, a quantidade de
alimentos produzida foi menor do que o esperado. “Eles tomaram um susto quando a feira não
abasteceu a comunidade. Mas a intenção da atividade era justamente provocar essa reflexão”, conta
o professor, que desenvolveu a atividade entre abril e setembro de 2017, com 26 alunos.
Alan explica que, sem a realização das parcerias com outros produtores, seria impossível entregar
produtos suficientes para a comunidade escolar. Assim, seria necessário explorar e manter relações
com outros agentes do setor (cooperativismo). Além disso, era importante que os alunos
entendessem a necessidade de investir recursos financeiros e naturais para iniciar o negócio. 
Com isso em mente, a turma saiu em busca de um parceiro para viabilizar uma produção capaz de
suprir as necessidades da feira. Foi quando entrou em cena um produtor rural aposentado, dono de
um terreno vizinho à escola. “Entramos com os insumos e ele com o espaço e a mão de obra. Foi
muito legal ver um senhor de 70 anos no meio da criançada”, lembra Alan.
Como não era possível os alunos cuidarem da horta todos os dias, foi feito um cronograma e, com a
ajuda do produtor, eles plantaram alimentos como cenoura, tomate, beterraba, berinjela, rúcula,
alface, quiabo e mandioca. “Para os alunos, foi tudo novo! Eles aprenderam na prática que a
beterraba é uma raiz”, conta o docente, ressaltando a importância da troca de saberes entre as
crianças e o produtor rural. “A experiência dele era prática, de vida, ele dava dicas de manejo e os
alunos traziam para a horta o que ouviam em sala de aula. Por exemplo, eles sabiam que os
produtos seriam orgânicos, então ali não usaríamos pesticidas”, afirma. A ideia era trabalhar com
produtos orgânicos, que não utilizam agrotóxicos. O pesticida entrou no momento do plantio, no
qual o professor explicou os benefícios e malefícios dos agrotóxicos. “Aproveitei para falar sobre a
logística reversa, sobre como as embalagens de agrotóxicos devem ser descartadas e devolvidas
legalmente”, conta.
Assim, foi realizada uma nova feira com os alimentos plantados e, dessa vez, a demanda conseguiu
ser suprida. Uma visita à feira da cidade ajudou as crianças a definirem os valores cobrados pelos
produtos, bem como técnicas de venda aprendidas com os feirantes. Ao longo do projeto, os
estudantes aprenderam sobre o território geográfico e seus limites, a relação entre o campo e a
cidade, confrontaram as técnicas tradicionais e modernas de cultivo, além de estudar o agronegócio
no contexto da divisão dos setores primário, secundário e terciário.
FORMAS DE ABORDAR
Como trabalhar o tema dos agrotóxicos sem cair em extremismos? Para Sueli Furlan, doutora em
Geografia pela USP, o primeiro passo é apresentar os diversos lados da questão. “Depois de debater
essas narrativas conflitantes, pode-se levar um agricultor orgânico e outro que trabalhe de maneira
mais industrial para conversar com os alunos”, sugere Sueli.
É essencial discutir iniciativas individuais e coletivas para a solução de problemas ambientais da
cidade ou da comunidade. “O interessante em trabalhar o tema é ajudar o aluno a desenvolver
ferramentas cognitivas que lhe permitam fazer escolhas na hora de consumir ou não determinado
tipo de alimento”, afirma Rodrigo Mendes, professor de Biologia do Colégio Mobile.
Interdisciplinar, o assunto pode ser discutido em Geografia, Língua Portuguesa e
Ciências. Veja: 
COMO TRABALHAR OS AGROTÓXICOS
Geografia 
É possível estudar o modelo fundiário brasileiro e pesquisar sobre a
contaminação dos solos. Outra sugestão é apresentar as alternativas ao
modelo agrícola hegemônico, como a produção de orgânicos, os
desafios desse modelo, como o preço, que pode ser mais elevado.
Língua Portuguesa
Já nas aulas de português, pode-se aproveitar o tema para trabalhar a
argumentação: estudar posições contra e a favor ao PL 6299/2002,
trabalhar a seleção dos argumentos e até a das palavras mais
adequadas para expressar esta ou aquela ideia.
Ciências
A abordagem principal é questionar o porquê do uso do agrotóxico na
agricultura. O que significa colocar produtos que matam insetos e plantas
na agricultura? A turma pode investigar, por exemplo, quais são os tipos
de insetos combatidos pelos agrotóxicos.
TIRA DÚVIDAS DOS AGROTÓXICOS
Veja três questões recorrentes na discussão sobre os pesticidas e como elas são usadas no debate 
Crédito: Milena Aurea
Agrotóxico faz mal à saúde? 
Os estudos são mais assertivos quando focam nos trabalhadores rurais expostos aos agrotóxicos
diretamente. Para essa população, há indícios de aumento do risco de diversas formas de câncer e
malformações na gestação. Para os consumidores, há vários estudos que mostram os malefícios a
saúde e intoxicações. A exposição a uma série de outros produtos potencialmente tóxicos – de níveis
naturais de radiação à fumaça de carros ou de cigarros– podem confundir as análises.
Qual é o termo correto: agrotóxico, pesticida ou defensivo?
As três palavras estão certas, mas seu uso está associado ao posicionamento de quem as emprega.
Agrotóxico é o termo utilizado pela legislação brasileira e também pela Anvisa. Já as empresas que
vendem ou usam esses produtos preferem o termo defensivo agrícola ou fitossanitário, pois, na
visão delas, as substâncias protegem a produção agrícola. O termo pesticida significa “o que mata
pestes”, agentes patogênicos daninhos para os vegetais.
O Brasil é o maior consumidor mundial de agrotóxicos?
Depende dos cálculos usados para chegar a esse número. Se for apenas em quantidade, a maior
parte dos estudo mostra que, desde 2008, o Brasil ocupa o primeiro lugar no ranking de consumo
de pesticidas. Atualmente, consumimos 20% de todo o agrotóxico comercializado no mundo. Já
pesquisas que consideram o uso por kg/hectare/ano colocam o Brasil em 51º.
	COMO TRABALHAR OS AGROTÓXICOS

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