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APOSTILA - Relações étnico-raciais e atuação policial 3 ed

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Dirlene Brum

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Prévia do material em texto

1 
 
 
POLÍCIA CIVIL DE MINAS GERAIS 
ACADEMIA DE POLÍCIA CIVIL DE MINAS GERAIS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS NO BRASIL E ATUAÇÃO POLICIAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Belo Horizonte – 2024 
 
2 
 
RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS NO BRASIL E ATUAÇÃO POLICIAL 
 
 
Coordenação Geral 
Yukari Miyata 
 
Subcoordenação Geral 
Marcelo Carvalho Ferreira 
 
Coordenação Didático-Pedagógica 
Flávia Portes Teixeira 
 
Coordenação de Recrutamento e Seleção 
Robson Silva de Aguiar 
 
Conteudistas 
Guilherme Cardoso Vasconcelos 
Isabella Franca Oliveira 
Lydiane Maria Azevedo 
Lucas Eduardo Guimarães 
Nayara Ferreira de Souza Saraiva 
 
Revisão e Edição 
Equipe multidisciplinar da Acadepol / MG 
 
 
 
 
 
 
 
Reprodução Proibida 
 
 
Direitos exclusivos cedidos à Polícia Civil de Minas Gerais 
3 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
UNIDADE 1 ........................................................................................................ 4 
1. REFLEXÕES INICIAIS ................................................................................... 4 
2. CONCEITOS IMPORTANTES ....................................................................... 7 
3. QUESTÃO RACIAL NO BRASIL ................................................................ 20 
4. DADOS SOBRE RAÇA NO BRASIL CONTEMPORÂNEO ........................ 31 
UNIDADE 2 ...................................................................................................... 39 
5. MARCOS LEGAIS DO ANTIRRACISMO .................................................... 39 
6. CONDUTAS RELACIONADAS À RAÇA QUE SÃO CONSIDERADAS 
CRIMES NO BRASIL ....................................................................................... 51 
7. DIFERENCIAÇÃO ENTRE OS CRIMES DE RACISMO E DE INJÚRIA 
RACIAL ............................................................................................................ 64 
UNIDADE 3 ...................................................................................................... 75 
8. IMPLICAÇÕES DO RACISMO E DA DISCRIMINAÇÃO RACIAL NA 
ATUAÇÃO POLICIAL ...................................................................................... 75 
9. ALGUMAS REFLEXÕES ACERCA DA INTOLERÂNCIA RELIGIOSA NO 
BRASIL ............................................................................................................ 93 
UNIDADE 4 .................................................................................................... 104 
10. A IMPORTÂNCIA DE POLÍTICAS AFIRMATIVAS PARA IGUALDADE 
RACIAL .......................................................................................................... 104 
11. QUAIS PROVIDÊNCIAS DEVEM SER ADOTADAS EM CASO DE 
PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO DECORRENTES DA RAÇA .............. 112 
12. EQUIPAMENTOS EXISTENTES NA PROMOÇÃO DA IGUALDADE 
RACIAL .......................................................................................................... 116 
13. CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................... 121 
REFERÊNCIAS .............................................................................................. 123 
 
 
4 
 
UNIDADE 1 
 
1. REFLEXÕES INICIAIS 
 
Neste curso, teremos a oportunidade de abordar aspectos importantes 
ao entendimento das relações étnico-raciais em nosso país. Ainda que a Lei nº 
7.716, de 05 de janeiro de 1989, que define os crimes resultantes de 
preconceito de raça e cor, etnia, religião ou procedência nacional, tenha 
completado mais de 30 anos de existência, vivemos em uma nação que 
enfrenta um significativo cenário de desigualdade racial e de vulnerabilização 
da população negra. 
Segundo o Atlas da Violência, no ano de 2020, 76,2% das pessoas 
assassinadas no Brasil eram pretas ou pardas, sendo que, se contabilizarmos 
todas as pessoas negras mortas em uma década no país (408.605 pessoas), 
teremos um número que é superior à população da cidade de Palmas, capital 
do Tocantins, que é, conforme projeção do IBGE para 2022, composta por 
334.454 pessoas. 
 
Figura 01: Dados estatísticos sobre homicídio e população negra. 
 
Fonte: Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 2022. 
 
Assim, primeiramente conheceremos conceitos-chave utilizados em 
nosso país quando nos referimos a pretos e pardos, como: raça, etnia, racismo, 
preconceito e discriminação racial. Ademais, discutiremos como a questão 
racial delineou-se no Brasil e porque trata-se de um tema que não diz respeito 
exclusivamente ao povo negro. Em seguida, por meio do estudo de dados 
estatísticos sobre raça no Brasil, compreenderemos alguns dos obstáculos que 
desafiam o princípio da igualdade para uma representativa parcela da nossa 
5 
 
sociedade e a consequente violência que vitimiza a população negra. Depois, 
perpassaremos por alguns marcos legais contra o racismo no Brasil. Por fim, 
examinaremos o que diferencia o crime de racismo e o de injúria racial, bem 
como algumas orientações quanto às providências a serem adotadas caso a 
pessoa sofra, presencie ou tome conhecimento de algum ato de racismo. 
 
Figura 02: Quantitativo de pessoas negras assassinadas nos últimos 10 (dez) anos. 
 
Fonte: Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 2022. 
 
Diante da amplitude das definições que serão apresentadas, será 
bastante razoável parecer estranho a quem lê, o enfoque, quase exclusivo, nas 
relações étnico-raciais entre pessoas brancas e negras. E outros grupos 
discriminados e minoritários do ponto de vista da pertença racial, como ficam? 
Os indígenas, judeus, amarelos1? 
São questões sem dúvida pertinentes. Há sobretudo duas razões 
práticas para essa escolha – a primeira delas, quantitativa: as pessoas 
autodeclaradas brancas e negras compõem a imensa maioria da população 
brasileira. A segunda, que diríamos “acadêmica”, mas que ao fundo é também 
quantitativa, diz respeito à produção teórica existente sobre as relações 
racializadas: a variedade de materiais, enfoques e produções sobre a díade 
brancos e negros é muito maior do que as outras, certamente em razão da 
própria magnitude populacional. 
 
1 Aqui, repetimos a designação de cor/raça dada pelo IBGE, apesar de termos 
conhecimento de que há críticas a esse rótulo postuladas por grupos de japoneses, chineses, 
coreanos e seus descendentes no Brasil. Entretanto, em prol da clareza e da homogeneidade 
textual, nos limitamos ao nome atualmente estabelecido. 
6 
 
Apesar disso, os dispositivos legais, as normas e aparatos institucionais 
existentes não estão submetidos ao mesmo recorte. Em certa medida, 
resguardadas as particularidades de diferentes grupos étnico-raciais, boa parte 
do que se discutirá nas páginas a seguir pode ser usado por analogia para a 
análise de outros cenários de desigualdade racial. Nesse sentido, esperamos 
ter sido capazes de apresentar os temas e reflexões de maneira tal que esse 
aproveitamento se dê facilmente. 
Ademais, não é excessivo lembrar que este material não é, não pretende 
ser (e nem poderia ser) definitivo sobre o tema. Pelo contrário, ele é tão 
somente uma porta de entrada para um assunto sobre o qual ainda há muito 
por ser discutido. Esperamos que o conhecimento compartilhado neste curso 
possa contribuir para o entendimento do problema, que figura como pano de 
fundo de parte significativa das violências evidenciadas no Brasil, bem como os 
aspectos legais envolvidos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7 
 
2. CONCEITOS IMPORTANTES 
 
Antes de iniciarmos qualquer discussão acerca das relações étnico-
raciais no Brasil, é importante que tenhamos em mente qual a definição desse 
conceito e também de outros relacionados. Para isso utilizaremos, entre outras, 
as reflexões apresentadas pela professora Nilma Lino Gomes, no texto 
intitulado “Alguns termos e conceitos presentes no debate sobre relações 
raciais no Brasil: uma breve discussão”.Gomes (2005) dialoga com os 
movimentos sociais a fim de apresentar conceitos-chave utilizados em nosso 
país quando nos referimos a pretos e pardos. Lembrando que, conforme 
convencionado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no 
Brasil a população definida como negra é aquela composta pelas pessoas 
que se autodeclaram pretas ou pardas. 
 
Figura 03: Quadro pintado pela artista plástica Rita Vianna. 
 
 
Antes de falarmos em “identidade negra”, precisamos compreender o 
que o conceito de “identidade” define. Conforme descrito por Deschamps & 
Moliner (2014), a psicologia social contemporânea, no bojo das ciências 
sociais, entende a existência de dois processos identitários: de um lado, a 
identidade individual, que permite que um indivíduo reconheça a si mesmo ao 
longo do tempo (aquilo que ele expressa quando lhe perguntam quem ele é); e 
8 
 
a identidade social, que é marcada pelo reconhecimento dos grupos sociais 
aos quais os indivíduos fazem parte. Entretanto, esses processos não são 
isolados: há elementos na identidade pessoal (ou individual) que são oriundos 
das relações grupais, enquanto entre pessoas que compartilham uma mesma 
identidade social, são as identidades individuais que as diferenciam. 
Para apresentar o conceito de identidade negra, Gomes (2005) nos 
lembra que a identidade não é algo inato, vez que é decorrente de nossa 
interação com o mundo que nos cerca, se constrói e se expressa em larga 
medida por meio de práticas linguísticas, tradições e comportamentos. Esses 
traços assinalam pertencimentos, marcam nos sujeitos suas vinculações aos 
diferentes grupos que fazem parte: uma família específica, uma naturalidade, 
uma classe social, um sexo, um grupo étnico-racial. Nesses termos, as 
pessoas buscam alcançar a valorização de seus grupos de pertença, porque 
isso reflete, ao fim e ao cabo, na distinção positiva de si mesmo, como parte 
daquele grupo socialmente valorizado (MONTEIRO, 2013). Alguns grupos de 
nossa sociedade, como negros e indígenas, cuja história é marcada por 
subalternização e marginalidade, têm maior necessidade e dificuldade para 
valorizar suas diferenças em relação aos demais grupos. Inserida nesse 
cenário, a identidade negra, se manifesta como uma maneira de fortalecer do 
modo de existir dessas pessoas perante a sociedade (WOODS, 1987). 
 
Figura 04: Significado de subalternização. 
 
 
A construção da identidade do povo negro, assim como outros 
processos identitários, dá-se gradativamente sob a influência de fatores 
sociais, históricos e culturais diversos. Segundo Gomes (2005, p.43) 
“geralmente este processo se inicia na família e vai criando ramificações e 
desdobramentos a partir das outras relações que o sujeito estabelece.” A 
autora ressalta o quanto pode ser difícil construir uma identidade positiva em 
9 
 
uma sociedade que, desde muito cedo, ensina às pessoas negras que para ser 
aceito é preciso negar a si mesmo. 
 
Figura 05: Charge do artista Thyagão. 
 
 
A utilização do termo raça pode assumir vários sentidos, a depender do 
contexto no qual é aplicado, de quem fala, como e quando fala. Quando o 
Movimento Negro e especialistas da área, como sociólogos e psicólogos 
sociais, utilizam o conceito para dialogar sobre fenômenos como o racismo e a 
discriminação presentes na sociedade brasileira, o fazem baseando-se na 
dimensão social e política do termo e não alicerçados na ideia de superioridade 
e inferioridade biológica, como originalmente era usada no século XIX. Ou seja, 
o conceito é utilizado para retratar e compreender a realidade das pessoas 
racializadas. 
Ao investigar a questão da assim chamada “mestiçagem racial” na 
sociedade e no pensamento brasileiro, o antropólogo Kabengele Munanga 
inicia por discutir a própria concepção de raças humanas. Na definição do 
autor, as denominações raciais (negro, branco, amarelo, mestiço etc.), apesar 
de possuírem diferenças visualmente perceptíveis e, por meio dessa 
percepção, carregarem a crença de que são exclusivamente fundadas na 
biologia são, na verdade, uma “manipulação do biológico pelo ideológico” 
(MUNANGA, 2020, p. 24). Em outros termos, o que o autor demonstra ao 
10 
 
retomar o processo histórico de construção dessas diferenças, é que aquilo 
que nos parecem distâncias biológicas são, na verdade, distâncias culturais 
biologizadas: ou, como diria Silvio Almeida (2020), foi o racismo que inventou a 
raça, não o contrário. 
Naturalmente, isso não quer dizer que não existem diferenças 
biológicas, físicas, entre as pessoas. Como dissemos, essas diferenças 
existem e estão no campo do evidente. O que não existe, do ponto de vista 
biológico, é a definição de diferentes raças humanas. Estas são na realidade 
construções históricas, socioculturais e políticas, que emergem nas relações 
sociais e de poder. Cultural e socialmente nós aprendemos a enxergar as 
raças, ou seja, aprendemos a perceber as diferenças, a comparar e a 
classificar a partir de características físicas, como afirma Gomes (2005). O 
problema começa quando essa percepção da diferença resulta em 
estereotipização do outro e na hierarquização, a priori, dos grupos em razão de 
suas características fenotípicas. 
O emprego do termo etnia é preferido por algumas pessoas que 
acreditam que a utilização do conceito de raça, mesmo em uma dimensão 
social e política, pode significar um retorno à sua perspectiva biológica (e 
consequentemente, sua limitação a esta perspectiva). Além disso, é utilizado 
para referir-se a um grupo de pessoas que têm certo tipo de consciência 
acerca de suas origens e interesses em comum (GOMES, 2010). A identidade 
desse grupo define-se com base no compartilhamento de uma língua, de uma 
cultura, de tradições, de momentos históricos e territórios já habitados. Não se 
trata, assim, de um mero agrupamento de pessoas (GOMES, 2010). 
 
Figura 06: Fotografia de diferentes pessoas. 
 
 
A aplicação da expressão étnico-racial acaba significando que, para 
compreensão da realidade do negro em nossa sociedade é preciso considerar, 
11 
 
além da classificação racial pautada em características físicas, também a 
dimensão identitária (GOMES, 2010). Assim, chamamos de relações étnico-
raciais aquelas construídas – no processo histórico, social, político, 
econômico e cultural – em contextos nos quais a raça, em sua dimensão 
social e política, é utilizada como forma de demarcação das diferenças 
entre as pessoas. 
Conforme nos lembra Gomes (2010), para uma análise profunda das 
relações étnico-raciais é preciso ter em mente que os sujeitos vivem diferentes 
processos identitários, os quais interferem no modo como é construído seu 
pertencimento étnico-racial. Por exemplo, a identificação de uma criança negra 
com outras pessoas negras e com a cultura e história de seus antepassados 
pode ser influenciada pela maneira como a temática é trazida a ela, ou seja, 
como os aspectos étnico-raciais são vivenciados no dia a dia. 
Acerca do conceito de racismo, Almeida (2020, p. 32) o define como: 
 
uma forma sistemática de discriminação que tem a raça como 
fundamento, e que se manifesta por meio de práticas conscientes ou 
inconscientes que culminam em desvantagens ou privilégios para 
indivíduos, a depender do grupo racial ao qual pertençam. 
 
Gomes (2005) resume de maneira mais direta que o racismo é, por um 
lado, a aversão, até mesmo ódio, direcionado a pessoas nas quais se observa 
sinais de pertencimento racial (racializadas), tais como cor de pele e tipo de 
cabelo; e por outro lado, diz respeito a um conjunto de ideias de grupos que 
acreditam na existência de hierarquia entre as raças. 
O racismo pode ser concebido como um fenômeno de natureza 
individualista, institucional ou estrutural. Novamente, trata-se de uma 
distinção formal, de algo que efetivamente não se manifesta de maneiras tão 
desconectadas uma das outras, conformeveremos. Neste momento, nos basta 
uma distinção superficial de suas manifestações. Assim, a visão individualista 
do racismo, é aquela que se observa quando indivíduos cometem atos 
discriminatórios contra outros indivíduos, de maneira singular e dirigida. Esses 
atos podem se dar desde comportamentos de recusa da interação, até 
situações de agressão e violência física. Dois exemplos veiculados pela grande 
mídia são especialmente ilustrativos. No primeiro deles, uma consumidora 
enviou mensagem ao comércio no qual fizera um pedido com os seguintes 
dizeres: “Por favor mandem um entregador branco, não gosto de pretos nem 
12 
 
pardos [...]”, causando revolta nos funcionários (MARTINS, 2022). O segundo 
exemplo, certamente bastante cruel, foi vivido por uma criança de 10 anos em 
uma praia no estado do Rio de Janeiro. Enquanto realizava um ensaio 
fotográfico vestida com uma fantasia de sereia, a menina ouviu de um homem 
a frase “Nunca vi sereia preta” (CATRACA LIVRE, 2022). Nessa concepção, 
pode-se falar menos em racismo e mais em preconceito, posto que se 
manifesta na ação (comportamento) isolada de indivíduos ou grupos bem 
delimitados, e supostamente é fruto de uma patologia ou anormalidade, de 
ordem moral ou orgânica (ALMEIDA, 2020). 
Já na concepção institucional, o conceito de racismo diz respeito a 
práticas discriminatórias promovidas pelo Poder Público, pelo Estado ou por 
outros organismos (as instituições) com o apoio indireto ou chancela do 
Estado, como o isolamento de negros em determinados espaços; a concessão 
de privilégios ou desvantagens baseadas na raça; ou a permissividade ante a 
imagens estereotipadas de personagens negros em livros didáticos ou na 
publicidade (GOMES, 2005). Para o melhor entendimento dessa concepção, é 
imprescindível que compreendamos que o termo “instituição” não se refere 
exclusivamente a estruturas físicas, mas abarca também o funcionamento 
institucional (DOUGLAS, 1998), manifesto como “somatório de normas, 
padrões e técnicas de controle que condicionam o comportamento dos 
indivíduos”, conforme Almeida (2020, p.39). Assim, podemos perceber que o 
Poder Judiciário, as polícias, o sistema educacional, enfim, o próprio Estado 
em si, são exemplos de instituições. 
Figura 07: Propaganda racista. 
 
Fonte: https://economia.uol.com.br/listas/propagandas-acusadas-de-racismo.htm 
13 
 
 
A consideração do racismo de natureza institucional se apoia sobre a 
percepção de que, em diversos momentos da História humana, o racismo foi 
cometido com o aporte de leis ou do funcionamento regular das instituições. O 
Holocausto nazista, as leis de segregação nos Estados Unidos ou na África do 
Sul, para nos limitarmos a uns poucos exemplos, descrevem situações em que 
a discriminação étnico-racial representou o modo de funcionamento regular do 
Estado, legalmente amparado. 
Por fim, cabe discutir a perspectiva estrutural do racismo, conforme 
apresentada por Silvio Almeida (2020). Ainda que algumas vezes “racismo 
institucional” e “racismo estrutural” sejam tomados como sinônimos, de acordo 
com o autor, o racismo estrutural tem caráter mais amplo e transversal, já que 
“as instituições são racistas porque a sociedade é racista” (ALMEIDA, 2020, 
p.47). Ou seja, o conceito diz respeito à prática do racismo que decorre da 
própria estrutura social, a qual é consolidada nas relações cotidianas, políticas, 
econômicas, jurídicas etc. Conforme discutido pelo psiquiatra martinicano 
Frantz Fanon (2020), a subalternização das populações negras é tomada como 
um dado natural, fazendo-se presente, ainda que imperceptível de imediato, no 
funcionamento normal das sociedades contemporâneas. Fruto do colonialismo 
moderno (séculos XVIII e XIX, sobretudo), o racismo estrutural carrega consigo 
a noção de uma sub-humanidade do negro (CÉSAIRE, 2020), que faz da sua 
existência algo de menor valor, inclusive exterminável (MBEMBE, 2018). 
A manifestação da faceta estrutural do racismo torna-se evidente 
quando observamos, por exemplo, a maior pré-disposição ao uso desmedido 
da força por agentes de segurança contra indivíduos negros tomados, de 
partida, como agressores (FANTTI, 2023). Entretanto, o racismo estrutural não 
se encerra na ação individual de quem, como no caso citado, puxa o gatilho: 
está também na percepção coletiva desse ato, que o sopesa e normaliza, com 
frases como “mas será mesmo que ele não fez nada de ameaçador?” e outras 
semelhantes. Essa orientação discriminatória de nossa coletividade, marcada 
pela diferença racial, chega a criar zonas de permissividade ou, nas palavras 
do filósofo camaronês Achille Mbembe (2018), “espaços de exceção”, nos 
quais a lei funciona diferente e direitos fundamentais ficam indisponíveis 
(ADORNO, 2017). 
14 
 
 
Figura 07: Conceitos importantes sobre racismo estrutual. 
 
 
No entanto, Almeida (2020) também chama atenção que entender o 
fenômeno como estrutural não isenta quem comete atos racistas de sua 
responsabilidade individual quanto à intolerância praticada, pelo contrário: 
compreender que o racismo é parte de uma estrutura social e não um ato 
isolado torna todos ainda mais responsáveis pelo seu enfrentamento. Dito 
15 
 
numa metáfora, ainda que o racismo monte o palco e seja o material do qual é 
feito todo o cenário, ainda serão pessoas de carne e osso, os atores, que 
atuam sobre esse palco, que interagem nesse cenário. 
Na prática, o racismo estrutural está presente no nosso cotidiano na 
naturalização de muitas práticas, como por exemplo: 
 
● quando, independente do seu nível de instrução, a remuneração 
da população negra é inferior ao valor pago à população branca em igual 
posição; 
● quando não encontramos pessoas negras em cargos de 
liderança; 
● quando se constata que a população negra é mais atingida pela 
violência do que a população não-negra, inclusive em índices fatais; 
● ao nos depararmos com uma escassez de produções culturais 
(como filmes e novelas) em que há pessoas negras em papel de destaque, ou 
mesmo a sua sub-representação nessas mesmas produções, quando 
comparada à população geral; 
● no preconceito em relação às religiões de matriz africana (racismo 
religioso); 
● em nosso círculo social, quando fazemos e/ou toleramos piadas 
de cunho racial ou utilizamos frases que inferiorizam os grupos racializados; ou 
● quando, automaticamente, um homem negro se torna sinônimo de 
perigo e acaba sendo vítima de violência. 
 
Um ponto importante precisa ser colocado acerca daquilo que 
popularmente é rotulado como “racismo reverso”. Sua existência é tanto uma 
impossibilidade lógica quanto conceitual. Do ponto de vista lógico, afirmar a 
existência de um racismo reverso exige que se reconheça que há um “racismo 
normal” – no qual o negro é inferiorizado – e um racismo “incomum”, que 
inverte essa normalidade ao inferiorizar a população branca. Desnecessário 
chamar atenção de que não há racismo que possa ser tomado como natural ou 
normal, visto que não existe condição de subordinação de grupos humanos a 
priori, fora do contexto social de interação. 
16 
 
No que diz respeito à impossibilidade conceitual, lembremos que o 
racismo é um processo político de discriminação sistêmica que influencia a 
organização e funcionamento da sociedade (ALMEIDA, 2020). Ele é sofrido, 
enquanto tal, por quem não domina as posições de poder e mando. Ou seja, 
não é razoável pensar que negros (ou outro grupo étnico-racial subalternizado) 
tenham condições materiais de submeter brancos (ou outro grupo étnico-racial 
socialmente dominante) a processos de discriminação, em razão de sua 
própria condição como subalternizados. 
Abordaremos a seguir a distinção entre preconceito e discriminação 
racial, mas antes precisamos desatar um último nó que pode ter restado acerca 
do chamado “racismo reverso”. É possível que alguns de nós tenhamos 
vivenciado, ou até experienciado,atitudes discriminatórias ou de preconceito 
vindas de pessoas negras – seja dirigido a pessoas brancas ou até mesmo a 
outras pessoas negras (ED., 2023) – e, nos lembrando dessas situações, 
tenhamos dificuldade em compreender o racismo reverso como uma 
impossibilidade. Entretanto, o ponto fundamental diz respeito à efetividade e 
amplitude social desses atos discriminatórios. Novamente, nas palavras de 
Almeida: 
 
Há um grande equívoco nessa ideia porque membros de grupos 
raciais minoritários podem até ser preconceituosos ou praticar 
discriminação, mas não podem impor desvantagens sociais a 
membros de outros grupos majoritários, seja direta, seja 
indiretamente. Homens brancos não perdem vagas de emprego pelo 
fato de serem brancos, pessoas brancas não são "suspeitas' de atos 
criminosos por sua condição racial, tampouco têm sua inteligência ou 
sua capacidade profissional questionada devido à cor da pele. 
(ALMEIDA, 2020, p.53) 
 
Acerca dos demais conceitos, Gomes (2005) e Almeida (2020) 
diferenciam ainda preconceito e discriminação racial. 
O preconceito racial manifesta-se por meio de julgamento prévio, 
baseado em estereótipos (em geral negativos) sobre os indivíduos que 
compõem um grupo étnico-racial. Trata-se de uma opinião descolada da 
realidade, generalizante (“negros são preguiçosos”, “judeus são avarentos”, 
“mulheres brasileiras são fáceis”). 
É importante destacar que ninguém nasce preconceituoso, é um 
comportamento aprendido socialmente e que, a despeito de existir e ser 
disseminado, dificilmente veremos quem goste de assumir-se preconceituoso. 
17 
 
O conceito de discriminação racial, por sua vez, pode ser definido 
como a efetivação do preconceito racial e do racismo. Conforme nos ensina 
Gomes (2005, p.55), “enquanto o racismo e o preconceito encontram-se no 
âmbito das doutrinas e dos julgamentos, das concepções de mundo e das 
crenças, a discriminação é a adoção de práticas que os efetivam” ou, nos 
termos mais amplos de Almeida (2020, p.32) a discriminação racial é “a 
atribuição de tratamento diferenciado a membros de grupo racialmente 
identificados”. 
 
Figura 08: Afirmação importante. 
 
 
A discriminação pode ser ainda diferenciada como direta ou indireta, 
positiva ou negativa: a forma direta deriva de atos ostensivos de discriminação 
de uma pessoa, expressamente, em razão de sua cor – como no mencionado 
episódio de xingamento à criança de 10 anos no Rio de Janeiro. Já a forma 
indireta resulta de políticas públicas ou práticas administrativas que, apesar de 
aparentemente neutras do ponto de vista racial (numa lógica conhecida como 
color blindness, quando as diferenças objetivas entre os grupos raciais é 
desconsiderada, restringindo-se à igualdade formal), possuem potencial 
discriminatório. Isso porque as condições concretas de existência dos grupos 
minoritários impactam diretamente na existência desses grupos e nas 
possibilidades de seus indivíduos acessarem recursos coletivamente 
disponíveis. Sua manifestação afronta o Princípio da Igualdade da Pessoa 
Humana, conforme resumido pela máxima aristotélica: deve-se tratar 
igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na medida de sua 
desigualdade. Sua marca é percebida “quando os resultados de determinados 
indicadores socioeconômicos são sistematicamente desfavoráveis para um 
18 
 
subgrupo racialmente definido em face dos resultados médios da população” 
(GOMES, 2005, p. 56). 
Por fim, Almeida (2020) chama atenção para a possibilidade de uma 
discriminação racial indireta e positiva, em atenção restrita ao princípio da 
igualdade: é ela que destacamos quando pensamos no “tratamento desigual 
aos desiguais, na medida de sua desigualdade”. Sua existência se funda na 
lógica de color consciousness, qual seja, numa perspectiva que considera a 
existência das diferenças sociais entre os grupos raciais, e atua na medida 
dessas diferenças, instaurando um regime de igualdade material entre os 
grupos. Configuram discriminações positivas, por exemplo, programas de 
ações afirmativas como as cotas. 
Resumindo... 
 
Figura 09: Resumo de termos importantes do capítulo. 
 
 
Figura 10: Resumo de outros conceitos importantes para a compreensão do capítulo. 
19 
 
 
 
Uma vez tendo repassado conceitos fundamentais à compreensão da 
questão racial em nosso país, partimos ao estudo do percurso histórico do 
tema até os dias de hoje2. 
 
 
 
 
 
2 Antes de avançar, se faz necessário apontar uma nota em relação a figura 10: o termo 
“dororidade” foi cunhado pela pensadora Vilma Piedade e apresentado em 2017 em livro 
homônimo. Criando em complemento ao termo feminista “sororidade” (do latim soror – irmã e 
~eidade, conjunto irmandade feminina), dororidade visa destacar que há dores que unem as 
mulheres negras que vão além daquelas consequentes do machismo (MARIA, 2022). 
20 
 
3. QUESTÃO RACIAL NO BRASIL 
 
Para discutirmos a questão racial no Brasil é preciso voltarmos na 
História, a fim de compreender a razão do contexto brasileiro de racismo, 
preconceito e discriminação estar tão relacionado a acontecimentos que 
extrapolam o próprio território do país, bem como porque a discussão da 
temática racial não deve ser exclusiva do povo negro. Trata-se de uma questão 
social, política e cultural de todos/as os/as brasileiros/as e da comunidade 
internacional (GOMES, 2005). 
Segundo Carula (2016), o termo “raça” começa a ser utilizado na Europa 
durante o período da Reconquista da Península Ibérica pelos cristãos (entre 
718 e 1492). Supostamente, sua origem está no termo árabe “ra’s”, que 
designa o chefe de um clã ou grupo. No uso cristão, o uso de raça (como 
“raza”) servia para indicar a origem e descendência de alguém. Esse destaque 
tão remoto é particularmente importante para esclarecer que o termo, em 
princípio, não servia para designar separações humanas baseadas em 
características fenotípicas. Pelo contrário, antes do século XVII, o paradigma 
de distinção social mais relevante era o religioso: de um lado os cristãos 
(brancos) e do outro os não cristãos (pagãos, muçulmanos, judeus) – não-
brancos, portanto (CARULA, 2016). 
 
Figura 11: Atenção ao conceito de colonização. 
 
 
O uso do termo numa acepção mais próxima àquela da 
contemporaneidade se deu com a publicação de Nouvelle division de la terre, 
par les diferentes espèces ou races d'hommes qui l'habitent (“Nova divisão da 
21 
 
terra pelas diferentes espécies ou raças de homens que a habitam”, em 
tradução livre), de François Bernier, em 1684 (CARULA, 2016, p. 156). Nela, o 
autor defende a classificação da humanidade em quatro ou cinco raças de 
homens, conforme sua cor de pele, características físicas e dados geográfico-
espaciais. Isso trouxe consequências diretas para aquilo que nos acostumamos 
a chamar de “colonização do Novo Mundo”, que significou para as populações 
nativas (sobretudo ameríndios e africanos) a utilização das diferenças 
fenotípicas como elementos de segregação, bem como a violência das práticas 
aplicadas naquela época com base nessas distinções. O tráfico de pessoas 
negras de África para as Américas atrelava-os à noção de inferioridade 
decorrente da própria condição como escravizados. As pessoas negras eram 
coisificadas e comercializadas sob a justificativa de sua sub-humanidade, 
alicerçada em crenças religiosas e filosóficas. 
 
Figura 12: Atenção ao conceito de Novo Mundo. 
 
 
Conforme descreve Berkenbrock (2012), estimativas apontam que, no 
período em que perdurou o tráfico transatlântico de pessoas (encerrado 
oficialmente em 1852), aproximadamente 3.600.000 negros escravizados foram 
trazidos à força para o Brasil. Isso representou algo em torno de 38% do total 
de cativos tirados do continente africano em direção às Américas. Se levarmos 
em conta que esses números são imprecisos, possivelmente subestimados 
(sobretudo pela destruição dos documentos do períodoescravista pela 
República), e que muitos escravizados morriam na travessia do oceano, 
perceberemos que é real a possibilidade de que o número de pessoas 
efetivamente sequestradas de África seja ainda maior. 
É no século XIX que dois fatos históricos importantes ocorreram, e foram 
responsáveis por trazer ao centro do debate jurídico e científico de então o 
22 
 
conceito de raça e a prática do racismo: a consolidação dos Estados Nacionais 
como forma primordial de ordenamento político e territorial – o que transparecia 
a emergência do capitalismo e de um sistema de classes que exigia o 
reordenamento de grupos sociais; e o imperialismo europeu que, a partir de 
sua expansão moderna, intensificou as relações dos estados europeus com os 
outros povos e nações (HEILBORN et al, 2010). 
 
Figura 13: Atenção ao conceito de Imperialismo. 
 
 
A partir desse momento, os países, caracterizados como Estados 
Nacionais, precisavam solidificar suas bases culturais, bases estas que 
deveriam cumprir o papel de criar nas pessoas um sentimento de pertença à 
nação. Ou seja, elas deveriam reconhecer-se como pertencentes a um mesmo 
grupo, com os mesmos costumes. E foi nesse contexto que o conceito de raça 
assumiu uma gama de significados, os quais caracterizavam uma noção nova 
de “raça nacional” (HEILBORN et al, 2010). 
 
Figura 14: Atenção ao conceito de Estado-Nacional. 
 
23 
 
 
No entanto, como nos lembram Heilborn et al (2010), unificar povos 
implicava no fato de dar à nação uma origem comum, ratificada na História, e a 
definição de um Outro, o diferente que permite a afirmação da semelhança 
entre os nacionais. Esse movimento se consolida na ideia de que as raças 
europeias eram superiores às demais e deu força para teorias raciais que 
justificavam cientificamente tal superioridade. 
Desde a colonização das Américas, as discussões sobre o conceito de 
raça foram evoluindo por campos diversos. Durante muitos anos, o uso do 
termo nas ciências, na política ou na sociedade, esteve ligado de um modo 
geral à dominação político-cultural de povo e de nações, como a exemplo do 
domínio nazista da Alemanha no contexto da Segunda Guerra Mundial (1939-
1945) (GOMES, 2005). 
 
Figura 15: Atenção para o termo Segunda Guerra Mundial.
 
 
Fortemente apoiada nas propostas do chamado “racismo científico” do 
final do século XIX e início do século XX, a ideia vigente era a de que a raça 
ariana era superior às outras raças em termos biológicos, sociais e culturais 
(HISTÓRIA FM, 2023). Muitas atrocidades foram cometidas em nome dessa 
suposta hierarquização das raças. Entretanto, para autores como o martinicano 
Aimé Césaire (2020), o sul-africano Steve Biko (WOODS, 1987) e o camaronês 
Achille Mbembe (2018), o horror nazista vivenciado pelos europeus em seu 
próprio território foi a transposição do terror que colônias e ex-colônias nas 
24 
 
Américas, na África, na Ásia e na Oceania já conheciam desde o século XVI. 
Para Mbembe (2018), as torturas e execuções em massa, o Holocausto, foram 
o auge da aplicação de ferramentas de domínio que haviam sido aprimoradas – 
sem grande censura da comunidade internacional – nos espaços coloniais. Nas 
palavras de Aimé Césaire: 
 
[...] o que ele [o europeu típico do começo do século XX, “muito 
humanista e muito cristão”] não perdoa em Hitler não é o crime em si, 
o crime contra o homem, não é a humilhação do homem em si, é o 
crime contra o homem branco, é a humilhação do homem branco, é 
de haver aplicado à Europa os procedimentos colonialistas que 
atingiam até então apenas os árabes da Argélia, os coolies da Índia e 
os negros da África. (CÉSAIRE, 2020, p.18. grifos no original) 
 
Somente no final da Segunda Guerra Mundial as discussões ganharam 
alguma tração e assumiram definitivamente um viés político e sociológico. 
Criada pela Organização das Nações Unidas (ONU) para investigar as 
motivações raciais da guerra, a Organização das Nações Unidas para a 
Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) introduziu no campo científico 
estudos que comprovaram a diversidade de culturas humanas, bem como a 
legitimidade da existência das mesmas (HEILBORN et al, 2010). Falaremos 
sobre tais estudos mais adiante. 
A questão racial no Brasil só passou a ser de alguma forma tematizada a 
partir do século XIX, às vésperas da abolição da escravização. No final do 
século esteve em voga no mundo o darwinismo racial, cujo principal expoente 
brasileiro era o médico Raimundo Nina Rodrigues. Segundo essa corrente 
teórica, as raças biológicas, por corresponderem a espécies diferentes, não 
seriam passíveis de cruzamento, assim a miscigenação representaria a 
degradação humana (SCHWARCZ, 1998). Foi baseado nessa teoria 
pseudocientífica que se incentivou, por meio da massiva imigração europeia, o 
branqueamento da população brasileira a fim de purificar o país até então 
constituído por uma maioria negra, indígena e mestiça (HEILBORN et al, 2010). 
 
 
 
 
 
 
25 
 
Figura 16: Darwinismo racial. 
 
 
Outra vertente, de certo modo complementar, propunha a miscigenação 
como ferramenta de embranquecimento. O quadro “A redenção de Cam”3, 
pintado em 1895 pelo espanhol radicado brasileiro Modesto Brocos, resume a 
teoria cientificista do branqueamento. Essa obra ilustrou um artigo do médico, e 
então diretor do Museu Nacional, João Batista de Lacerda no Congresso 
Universal das Raças de 1911, em Londres. Na ocasião, João Batista descreveu 
a imagem como “O negro passando a branco, na terceira geração, por efeito do 
cruzamento de raças” (RONCOLATO, 2018). 
 
Figura 17: Quadro “A redenção de Cam”, de Modesto Brocos (1895). 
 
 
3 A obra de Modesto Broncos faz referência a trecho bíblico do livro do Gênesis (Gn 9, 
18-28), segundo o qual os negros seriam descendentes de Cam, filho de Noé que foi 
amaldiçoado pelo pai após vê-lo nu e embriagado (BERKENBROCK, 2012). 
26 
 
 
Transcorrido o ápice do ideal manifesto de branqueamento da nação, na 
década de 1930 o mestiço converteu-se em ícone nacional. O sincretismo 
cultural passa a ser valorizado, de forma que produtos como o samba, a 
capoeira – que foi de ato criminoso à modalidade esportiva nacional em 1937, 
bem como a feijoada, passaram de elementos marginais a manifestações da 
tipicidade brasileira (SCHWARCZ, 1998). Entretanto, como aponta Reis (1996), 
esse enaltecimento da mestiçagem e de elementos da herança cultural negra 
como representantes do verdadeiro Brasil foi também resultado de um discurso 
de embranquecimento – um embranquecimento simbólico. O samba, a 
capoeira, a feijoada, a percussão, entre outros, são desafricanizados: ao invés 
de construído sobre um passado também africano, o que sustenta o país é um 
passado mestiço (REIS, 1996, p.40). 
É nesse contexto que intelectuais começaram a propagar a ideia de uma 
harmonia entre grupos étnico-raciais, ou seja, uma “democracia racial” no país. 
A obra de Gilberto Freyre é um exemplo da produção da época. 
 
Figura 18: Capa da 51ª edição do livro Casa Grande e Senzala, editora Global. 
 
 
Em seu livro “Casa Grande & Senzala”, publicado no ano de 1933, o 
escritor pernambucano Gilberto Freyre defende a predominância no Brasil de 
uma democracia social pautada em uma democracia racial. O livro aborda o 
27 
 
cotidiano com manuscritos e documentos que descrevem os costumes e 
hábitos das pessoas durante a escravização e desloca, pela primeira vez, o 
foco da raça biológica para a raça social (BASTOS, 1999). 
Ao tematizar detalhes do cotidiano compartilhado por pessoas 
escravizadas e seus escravizadores, Freyre (2019) transporta o leitor ao 
microcrosmo talhado de minúcias sobre as quais, a partir de uma leitura crítica, 
se assentavam fazeres subalternizantes. O lugar do homem negro escravizado, 
por exemplo, era também o de entreter o homem branco em circos, coros e 
bandas, assim como, na presença dos escravizadores, a féobrigatoriamente 
professada era a Católica, com a sujeição a rezas diárias. 
Segundo Bastos (1999), na obra de Freyre, a miscigenação entre 
senhores e mulheres escravizadas – ocorrida durante a colonização, foi 
tomada como prova da aceitação de uma raça pela outra e, assim, 
miscigenação e democracia podiam ser relacionadas. Ademais, os negros 
escravizados cristianizados e que frequentavam a casa-grande foram 
compreendidos como parte da família e, nesse contexto, transmitiam suas 
próprias características culturais aos senhores. 
A propositura de Freyre, entretanto, esbarra na crueza da realidade 
historicamente conhecida. A miscigenação entre o senhor branco e a mulher 
escravizada negra é antes uma história de violência do que de amor e 
integração racial. Transitando pela casa-grande, os escravizados domésticos 
não eram compreendidos como “parte da família”, mas como “quase da 
família”. Apesar de transmitir saberes aos senhores, eles não se sentavam à 
mesa com eles, não dormiam nas mesmas camas. Conforme Nascimento 
(2021) a crença na “democracia racial”, que nasce do clássico “Casa-grande e 
Senzala” na verdade é um mito cujo objetivo é esconder a violência das 
relações raciais no Brasil – desde os tempos de colônia. 
Desse modo, ao longo das décadas, a negação do preconceito foi 
tamanha que era “como se as posições sociais desiguais fossem quase um 
desígnio da natureza, e atitudes racistas, minoritárias e excepcionais” 
(SCHWARCZ, 1998, p. 179). O racismo é negado ostensivamente, ainda que 
seja efetivo no dia a dia (SCHWARCZ; REIS, 1996). 
A partir dos anos de 1950 foram financiados pela UNESCO estudos 
acerca da suposta “democracia racial” no Brasil, vez que poderia servir de 
28 
 
modelo para outras partes do mundo (SCHWARCZ, 1998). Vários especialistas 
foram contratados para investigar a realidade racial brasileira, entre eles Thales 
de Azevedo e Florestan Fernandes. Os chamados “ciclos de estudos da 
UNESCO” diferenciavam-se dos estudos anteriores, sobretudo, por 
desprezarem a concepção biologizada de raça, em voga no século XIX nos 
países da Europa e considerarem o termo como um construto social, histórico e 
político, como ressaltam Heilborn et al (2010). Passava a ser descortinada a 
verdadeira realidade enfrentada pela população negra no país. 
Com base no argumento de que no país prevaleceria a equidade racial, 
o escritor e pesquisador Thales de Azevedo (1975) realizou estudos que 
evidenciaram o racismo em diversos âmbitos, tais como no mundo do trabalho 
– eram relegadas aos negros as funções mais subalternas –, e nas relações 
sociais – não era permitido ao negro entrar em certos hotéis ou encenar peças 
teatrais em grandes teatros, por exemplo. Assim, Azevedo (1975) acaba por 
concluir que apesar de normas democráticas que asseguravam a punição de 
atos discriminatórios (como a Lei Afonso Arinos), havia na sociedade uma forte 
estereotipagem contra as pessoas negras, o que favorecia uma discriminação 
velada, muito eficaz à manutenção do mito da “democracia racial". 
Também na contramão daqueles que afirmavam a equidade racial no 
Brasil, o sociólogo Florestan Fernandes (1972), em seu livro “O negro no 
mundo dos brancos”, ressaltou o peso do passado de escravização dos povos 
africanos no modo como a sociedade brasileira organizou-se anos depois. 
Segundo Schwarcz (1998), para Florestan, enquanto dissimulava-se o 
preconceito racial, negando o racismo verdadeiramente praticado nos lares e 
instituições, a sociedade brasileira assistia ao aumento de privilégios 
econômicos, sociais e culturais dos brancos. 
Naquele contexto, sem emprego, renda ou escolarização, restava ao 
negro o lugar de subalterno. Junto com as décadas de 1970 e 1980 vieram as 
contestações dos valores vigentes na política, na música e na literatura, bem 
como as análises das profundas desigualdades entre os negros e demais 
grupos raciais (SCHWARCZ, 1998). 
Ficou evidenciada a discriminação racial que impactava cotidianamente 
no acesso à educação, ao lazer e na distribuição desigual de renda. O senso 
demográfico realizado na década de 1960 comprovou, por exemplo, que a 
29 
 
renda média da população branca era o dobro da renda do restante da 
população (SCHWARCZ, 1998). 
A desigualdade racial podia ser percebida, ainda, nas práticas penais 
brasileiras. Pesquisa realizada pelo sociólogo Sergio Adorno (1996) constatou 
tratamento diferenciado conforme cor da pele, ou seja, o negro era considerado 
mais perigoso, sendo mais perseguido pela vigilância policial, enfrentando 
maiores obstáculos de acesso à justiça, bem como recebendo tratamento penal 
mais rigoroso. 
 
Figura 19: Charge do artista Maurício Pestana. 
 
 
O que se observa, então, é um país culturalmente diverso, com grande 
assimilação de traços culturais dos povos africanos colonizados, porém, 
bastante marcado por uma hierarquização social que promoveu, ao longo de 
séculos, a inferiorização da população negra. 
Pesquisas e estatísticas oficiais comprovam a lamentável existência do 
racismo em nossa sociedade, por mais que coletivamente insistamos em negá-
30 
 
lo. Quando comparadas as condições de vida, emprego, saúde, escolaridade e 
outros índices de desenvolvimento humano, os dados comprovam o abismo 
social entre negros e brancos (GOMES, 2005). A seguir, observaremos 
algumas informações que revelam a desigualdade socioeconômica que atinge 
a população negra no Brasil. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
31 
 
4. DADOS SOBRE RAÇA NO BRASIL CONTEMPORÂNEO 
 
Figura 19: Releitura em painel urbano da obra “Operários”, de Tarsila do Amaral (1933), pelo 
artista Mundano (OLIVIERA, 2020). 
 
 
Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 
Contínua (PNAD Contínua) do ano de 2019, pretos e pardos correspondem à 
maioria da população brasileira, representando 56,2% dos habitantes. E apesar 
de numericamente maior, essa representativa parcela da nossa sociedade 
convive diariamente com obstáculos resultantes de um duro processo histórico, 
que a confinam em posição minoritária no acesso a direitos, desafiando o 
princípio da igualdade. 
São exemplos claros da discriminação racial indireta, referida pela 
professora Nilma Lino Gomes (2005), que reverberam a estruturação racista da 
sociedade em que vivemos. 
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), 
pretos e pardos compõem a maior parte da força de trabalho do Brasil, o que 
pode ser observado especialmente em relação ao trabalho informal. 
Lembramos que a informalidade do trabalho pode expor o trabalhador a 
condições precárias de trabalho, além de dificultar o acesso aos direitos 
básicos, como aposentadoria e salário-mínimo (IBGE, 2019b). No ano de 2018, 
32 
 
enquanto 34,6% das pessoas ocupadas brancas estavam em ocupações 
informais, o percentual entre as pretas e pardas atingiu 47,3%. 
 
Figura 20: Dados estatísticos sobre pessoas em ocupações informais. 
 
Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua 2018. Nota: Pessoas de 
14 ou mais anos de idade. 
 
Se pararmos para observar a remuneração da população preta e parda 
em nosso país, chegamos à conclusão de que, independentemente do seu 
nível de instrução, ela é inferior ao valor pago à população branca, que é 45% 
maior (IBGE, 2019b). Em se tratando de cargos de chefia a situação de 
desigualdade se mantém. Ainda segundo levantamento realizado no ano de 
2018, apenas nas regiões Norte e Nordeste há uma maior proporção de pretos 
ou pardos em cargos de gerência (61,1%), nas demais há uma sub-
representação (29,9%). 
 
Figura 21: Dados sobre remuneração. 
 
33 
 
 
Figura 22: Dados sobre rendimento médio real habitual do trabalho principal das pessoas 
ocupadas. 
 
Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua 2018. Nota: Pessoas de 
14ou mais anos de idade. 
 
No que diz respeito às condições de moradia, pretos e pardos compõem 
a maioria da população que reside em condições precárias de saneamento 
básico, estando mais exposta a doenças: 12,5% em locais sem coleta de lixo, 
contra 6,0% da população branca; 17,9% sem abastecimento geral de água, 
contra 11,5% da população branca; 42,8% sem esgotamento sanitário por rede 
coletora ou pluvial, contra 26,5% da população branca (IBGE, 2019b). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
34 
 
 
Figura 23: Dados sobre condições de moradia. 
 
Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua 2018. 
 
Ao analisarmos os dados de 2018 do IBGE sobre educação, 
percebemos uma taxa de analfabetismo da população com 15 anos ou mais, 
de 9,1% para pretos e pardos contra 3,9% para brancos, expondo a 
desigualdade das oportunidades também nesse tema. Sendo a situação mais 
grave para aqueles que residem no campo (20,7%). Ademais, a proporção de 
jovens brancos de 18 a 24 anos de idade que frequentavam ou já haviam 
concluído o ensino superior (36,1%) é quase o dobro da observada entre 
aqueles pretos ou pardos (18,3%). 
 
Figura 24: Dados sobre analfabetismo. 
 
35 
 
Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua 2018. 
 
O levantamento de 2018 ainda revela que a proporção de pessoas 
negras de 18 a 24 anos de idade, com menos de 11 anos de estudo e que não 
frequentavam escola foi de 28,8%, enquanto a proporção de pessoas brancas 
na mesma situação era de 17,4%. Acerca dessa mesma faixa etária, 55,6% 
dos jovens negros puderam ser vistos cursando o ensino superior, contra a 
proporção de 78% de estudantes brancos. A diferença em relação a essa taxa 
pode ser explicada, justamente, pela parcela da população que não concluiu o 
ensino médio ou que o abandonou em razão da necessidade de se inserir no 
mundo do trabalho. No ano de 2018, 61,8% dos estudantes que precisaram 
entrar no mercado de trabalho após a conclusão do ensino médio eram pretos 
ou pardos. 
 
Figura 25: Dados sobre a taxa ajustada de frequência escolar. 
 
Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua 2018. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
36 
 
Figura 26: Dados sobre frequência escolar. 
 
Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua 2018. 
 
A desigualdade denunciada pelos dados, por si só, já pode ser 
considerada sob a perspectiva de violência racial, uma vez que, quando a 
sociedade nega e priva de oportunidades indivíduos, obedecendo a uma lógica 
racista, também perpetua sua condição de violência – conforme discutimos ao 
apresentar o conceito de racismo institucional. Trata-se de um fenômeno que 
constitui pano de fundo para outras violências infligidas à essa parcela da 
população brasileira. E se nos debruçarmos sobre os dados de violência fatal, 
chegaremos a conclusões alarmantes. 
 
Figura 27: Dados sobre a taxa de conclusão do ensino médio. 
 
Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua 2018. 
 
As populações preta e parda, quando somadas, são as mais vitimadas 
por mortes violentas intencionais no país. Segundo dados do Fórum Brasileiro 
de Segurança Pública – FBSP (FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA 
37 
 
PÚBLICA, 2022), no ano de 2022, os negros representaram 77,6% das 
vítimas de homicídio doloso, 67,6% das vítimas de latrocínio, 84,1% dos 
mortos em decorrência de atuação policial e, na outra face da moeda, 
67,7% dos policiais assassinados no período. Em termos comparativos, no 
referido ano a proporção de pessoas brancas vítimas de homicídio caiu 26,5%, 
enquanto esse índice para a população negra sofreu um aumento de 7,5%. 
Segundo o Atlas da Violência 2021, produzido pelo Instituto de Pesquisa 
Econômica Aplicada (IPEA) e Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), 
entre os anos de 2009 e 2019, a redução dos homicídios foi muito maior entre 
a população não negra. Houve uma redução de 15,5% entre negros e 30,5% 
entre não-negros. 
 
Figura 28: Nota sobre as vítimas de homicídio doloso no Brasil. 
 
 
Figura 29: Dados sobre a taxa de homicídios de negros e não negros. 2009 a 2019. 
 
Fonte: IBGE, Atlas da Violência (IPEA, 2021). 
 
Se acrescentarmos na análise o recorte de gênero, a perversidade dos 
índices se mantém: as mulheres negras são as mais assediadas (43,3%), as 
38 
 
mais vitimadas em estupros e estupros de vulnerável (52,2%), o maior 
percentual de vítimas de mortes violentas intencionais (70,7%) e de feminicídio 
(62%) (FBSP, 2022). 
Como já discutimos, tal disparidade estatística é um retrato nítido da 
vulnerabilidade socioeconômica da população negra do país, sustentada, 
mantida e potencializada por mecanismos institucionais e estruturais de 
discriminação racial. Juntos, fatores como os índices de pobreza, a baixa 
escolarização, o desemprego, as deficiências de políticas específicas (IPEA, 
2021), bem como a reprodução de estratégias baseadas em critérios raciais e 
em preconceitos sociais tornam essa população o alvo preferencial das ações 
das instituições da justiça criminal, como a polícia (SINHORETTO; BATITUTTI 
MOTA apud IPEA, 2021), reforçando o quadro discriminatório. 
Os dados são claros. Se pararmos para uma breve análise, chegaremos 
à conclusão que mais se desejaria evitar: a de que vivemos sim em uma 
sociedade racista, que a todos os anos assiste à perpetuação de práticas 
discriminatórias e, consequentemente, ao aumento e reiteração da violência 
dirigida às pessoas pretas e pardas. O que podemos fazer em relação a essa 
triste realidade? Cabe a todos nós assumirmos uma posição antirracista, ou 
seja, contrária à perpetuação de práticas prejudiciais baseadas na cor da pele, 
que inviabilizam a cidadania de tantas pessoas. 
A escritora Djamila Ribeiro (2019), no livro “Pequeno Manual 
Antirracista”, oferece ao leitor uma importante perspectiva quanto a práticas 
norteadoras de uma conduta antirracista. Entre outros aspectos, ressalta a 
necessidade de nos informarmos sobre o racismo praticado em nosso país e 
conversarmos sobre o tema na família, na comunidade e no trabalho, bem 
como refletirmos sobre o racismo que está internalizado em nós mesmos e que 
é expresso, por exemplo, na nossa tolerância a expressões racistas como “ela 
é negra, mas é bonita” ou “negro de alma branca”. 
A seguir, conheceremos algumas leis que integram o rol de ações 
afirmativas no campo do Direito. Elas representam marcos legais nacionais e 
internacionais para coibir e punir crimes baseados no racismo, e resultam da 
luta antirracista do Movimento Negro e dos demais grupos e organizações pela 
superação da desigualdade. 
 
39 
 
UNIDADE 2 
 
5. MARCOS LEGAIS DO ANTIRRACISMO 
 
“Ninguém nasce odiando o outro pela cor de sua pele, ou por sua 
origem, ou sua religião. Para odiar as pessoas precisam aprender, e 
se elas aprendem a odiar, podem ser ensinadas a amar.” (Nelson 
Mandela, “O longo caminho para a liberdade”, 1995) 
 
Figura 30: Recorte de matéria jornalista sobre o tratamento penal acerca do preconceito de 
raça ou cor. 
 
 
O primeiro diploma legal específico no Brasil a incluir a prática de atos 
resultantes de discriminação por raça ou cor entre as contravenções penais foi 
publicada em 3 de julho de 1951. Proposta pelo deputado federal Afonso 
Arinos (UDN-MG), cujo nome posteriormente apelidaria a lei, a proposição da 
Lei nº 1.390 se deu em razão do episódio de discriminação racial ocorrido em 
1950, quando a mundialmente famosa bailarina norte-americana Katherine 
Dunham foi impedida de se hospedar no Hotel Esplanada, em São Paulo, 
enquanto fazia turnê no Brasil (WESTIN, 2020). 
 
 
 
 
 
 
 
40 
 
Figura 31: A bailarina Katherine Dunham em imagem extraída de https://blackthen.com/flash-
black-photo-katherine-dunham-legends-dance-series/ (acesso em 04/02/2023). 
 
 
Antes de discutirmos de maneira mais detida esta e outras importantesleis com esse enfoque, precisamos lembrar que a história do enfrentamento 
institucional à discriminação racial no Brasil não começa, evidentemente, com a 
promulgação da Lei Afonso Arinos. Sejam as irmandades de escravizados e 
ex-escravidados do período colonial; o grupo de educação noturna e a atuação 
jurídica de gente como Luiz Gama (o “advogado de todos os tempos”, segundo 
a Ordem dos Advogados do Brasil – [BRAUS; SANTOS; OLIVEIRA, 2020]); 
entre tantos outros, marcam uma luta que é centenária e historicamente farta. 
Parafraseando o antropólogo Kabenguele Munanga (2021), pode parecer que 
tudo nasce junto com as inovações políticas, mas não, para que ocorram as 
inovações políticas, foi (e segue sendo) necessária a atuação de gerações dos 
movimentos sociais negros. 
Se nos focarmos especificamente no período republicano (1889 – 
atualmente), perceberemos o surgimento (já no pós-abolição de 1888) de 
diversos grupos de cunho assistencialista, artísticos, culturais e de lazer 
voltados à população negra, conduzidos por pessoas negras. Barbosa (2020) 
assinala o surgimento do Centro Cívico Palmares, em 1926 na cidade de São 
Paulo, com um dos primeiros a, além desses aspectos culturais, pautar 
também a participação política de negros e negras brasileiros. Em resposta às 
teses eugenistas e de branqueamento populares no período (e que discutimos 
no Capítulo 2), surge também em São Paulo a Frente Negra Brasileira (1931), 
https://blackthen.com/flash-black-photo-katherine-dunham-legends-dance-series/
https://blackthen.com/flash-black-photo-katherine-dunham-legends-dance-series/
41 
 
que aprofunda e expande os temas encampados pelo Centro Palmares. 
Segundo algumas fontes (BARBOSA, 2020, p.14), a Frente chegou a contar 
com 200 mil filiados das mais diversas partes do país, com sedes em diversos 
estados. Em 1936, a Frente se converteu em um partido político, o primeiro 
partido negro do Brasil, dissolvido no ano seguinte com o início da ditadura 
getulista. 
 
Figura 32: Arte do Movimento Negro Unificado atualizando a capa do jornal da entidade (1991) 
que endossava a consciência e auto-estima da população negra (Extraído de MNU, s.d.a, s.p.). 
 
 
Mesmo que marcada por contradições, típicas sobretudo de movimentos 
com algum pioneirismo como foi a Frente Negra Brasileira, o grupo nasceu do 
choque de Aristides Barbosa, seu fundador, com o estado de miserabilidade e 
carestia dos negros na capital paulista. Essa mesma percepção atiçará a 
juventude quase quarenta anos à frente, na década de 1970. Foi uma década 
importantíssima para os movimentos sociais não só no Brasil, mas no mundo: 
desde o protesto dos jovens estudantes franceses em maio de 1968, aos 
processos de independência de diversos países africanos, passando pelos 
movimentos de direitos civis nos Estados Unidos, configuram um frame 
alignment dos interesses vocalizados por diferentes grupos sociais 
(RODRIGUES, 2020, p.75). No caso específico do Brasil, a efervecência 
cultural dos jovens visava “descobrir a negritude, assumir-se com orgulho e se 
42 
 
lançar aos protestos contra a condição de cidadão e cidadão de segunda 
classe” (BARBOSA, 2020, p.17). Formalmente, buscava-se o resgate da 
cultura negra, importante bastião de sobrevivência da identidade negra, 
reinserida em seu contexto histórico, filosófico e de defesa do grupo (SILVA, 
2020). 
Essa “efervecência cultural” de que fala Márcio Barbosa (2020) ganhou 
mais e mais corpo à medida que se aproximavam os anos 1980 e a reabertura 
política dava seus primeiros sinais. Movimentos exclusivamente voltados à 
questão racial ou em que ela é um dos temas surgirão de norte a sul do país 
(RODRIGUES, 2020), e em certa medida culminarão com o surgimento do 
Movimento Negro Unificado (MNU), em 1978. 
Sobre o MNU, afirma o cientista social Cristiano Rodrigues: 
 
Sem negligenciar a pluralidade de identidades negras passíveis de 
serem politizadas, o MNU, já no seu ato de criação, tentou 
demonstrar como afro-brasileiros têm sido ao longo da história do 
país tratados como os outros, ainda que o discurso oficial de 
integração harmônica aponte para o lado oposto, e que as 
desigualdades sociais presentes no país poderiam – e deveriam – 
também ser traduzidas em termos raciais. (RODRIGUES, 2020, p.77) 
 
Essa não negligência à “pluralidade de identidades negras” de que fala 
Rodrigues pode soar contraditória com aquela que é uma das grandes 
conquistas do movimento, qual seja, o agrupamento sob a categoria “negro” de 
todos os brasileiros que possuem “na cor da pele, no rosto ou nos cabelos, 
sinais característicos dessa raça [negra]” (MNU, s.d.b, p.1). Longe de ser uma 
contradição, essa ação busca o reconhecimento, também de parte da vasta 
população mestiçoa brasileira, de seu lugar social como negros, e não eternas 
variações de “não-branco” que se colocavam como eufemismos de 
identificação (MUNANGA, 2020). 
Entendendo que todo esse esforço só encontra razão de ser na busca 
por uma sociedade livre de discriminação racial, o próprio Movimento encerra 
sua Carta de Princípios se afirmando “pela libertação do povo negro” e “por 
uma autêntica democracia racial” (MNU, s.d.b, p.2). 
Feito essa breve digressão temporal, podemos retomar a cronologia da 
legislação antirracista no Brasil. Como dissemos, a Lei nº 1.390/1951 (Lei 
Afonso Arinos) foi a primeira a criminalizar condutas discriminatórias. De 
acordo com ela, era considerada contravenção penal “a recusa, por parte de 
43 
 
estabelecimento comercial ou de ensino de qualquer natureza, de hospedar, 
servir, atender ou receber cliente, comprador ou aluno, por preconceito de raça 
ou de cor”. 
Como as condutas de racismo eram consideradas contravenções, as 
penalidades previstas na Lei nº 1.390/1951 eram baixas. Dessa forma, durante 
os 37 anos de sua vigência, nenhuma pessoa foi presa em razão da prática de 
tais delitos. Apesar disso, a importância social da lei não pode ser diminuída, 
tendo trazido à tona o tema do racismo e o definindo como comportamento 
reprovável. 
Particularmente relevante foi a justificativa apresentada por Afonso 
Arinos, um deputado conservador, para sua propositura. Nela, o parlamentar 
ataca diretamente as ideias do racismo científico que, conforme já discutido, 
defendiam a hierarquização dos grupos humanos e sua plena separação. 
Escreveu o deputado: 
 
A tese da superioridade física e intelectual de uma raça sobre outras, 
cara a certos escritores do século passado, como Gobineau, 
encontra-se hoje definitivamente afastada graças às novas 
investigações e conclusões da antropologia, da sociologia e da 
história. Atualmente ninguém sustenta a sério que a pretendida 
inferioridade dos negros seja devida a outras razões que não ao seu 
status social. Urge que o Poder Legislativo adote as medidas 
convenientes para que as conclusões científicas tenham adequada 
aplicação (ARINOS apud WESTIN, 2020, s.p.) 
 
Em 20 de dezembro de 1985 a Lei nº 1.390 foi alterada pela Lei nº 
7.437, que incluiu, entre as contravenções penais, a prática de atos resultantes 
de preconceito de raça, de cor, de sexo ou de estado civil. 
Em 1988, foi promulgada a Constituição Federal brasileira (CRFB), que 
estabelece a República Federativa do Brasil como um Estado Democrático de 
Direito e tem como um de seus fundamentos a dignidade da pessoa humana. 
Tendo contado com a participação de representantes do Movimento Negro 
entre os constituintes, a Carta Magna trouxe entre seus objetivos basilares 
construir uma sociedade livre, justa e solidária e promover o bem de 
todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer 
outras formas de discriminação. 
No artigo 4° da Constituição Federal há previsão de que a República 
Federativa do Brasil se rege em suas relações internacionais por diversos 
princípios, dentre eles o de repúdio ao racismo. Ademais, o art. 5º dispõe que 
44 
 
todos sãoiguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-
se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do 
direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, e prevê 
que a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, 
sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei. 
 
Figura 33: Imagem sobre o tratamento constitucional de 1988 acerca do racismo. 
 
 
No ano seguinte, em 5 de janeiro de 1989, entrou em vigor a Lei nº 
7.716, que define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor. A lei 
estabelece penalidades para diversas situações de discriminação, inclusive 
práticas de incitação à discriminação ou preconceito, que serão estudadas a 
seguir. Portanto, essa é a lei que prevê o crime de racismo, isto é, a 
discriminação racial praticada contra uma coletividade e que reitera o 
entendimento do racismo como crime imprescritível e inafiançável. 
A Lei nº 7.716/1989 foi posteriormente alterada pela Lei n° 9.459, de 
1997, que acrescentou a punição à discriminação e à incitação à discriminação 
por etnia, religião ou procedência nacional. A Lei nº 9.459/1997 ainda criou a 
injúria racial, um tipo qualificado de injúria no Código Penal. Neste ano, a Lei nº 
14.532, de 11 de janeiro de 2023, realizou novas e importantes alterações 
na concepção criminal do racismo. Particular que discutiremos em 
pormenores mais adiante. 
Já no ano de 2003, a Lei nº 10.639 modificou a Lei de Diretrizes de Base 
da Educação (Lei nº 9.394/1996), introduzindo a obrigatoriedade do ensino de 
história e cultura afro-brasileira e africana nas escolas de ensino fundamental e 
45 
 
médio. O conteúdo programático acrescentou o estudo da História da África e 
dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro 
na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro 
nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil. Além 
disso, foi incluído no calendário escolar o dia 20 de novembro como “Dia 
Nacional da Consciência Negra” (artigo 79-A da Lei nº 9.394/1996). 
 
Figura 34: Imagem sobre o Dia da Consciênia Negra. 
 
 
No ano de 2009, o Ministério da Saúde publicou a Portaria nº 992, que 
instituiu a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra. O 
objetivo geral da referida política é promover a saúde integral da população 
negra, priorizando a redução das desigualdades étnico-raciais, o combate ao 
racismo e à discriminação nas instituições e serviços do Sistema Único de 
Saúde (SUS). São algumas das diretrizes previstas na mencionada portaria: 
 
• a inclusão dos temas Racismo e Saúde da População Negra nos 
processos de formação e educação permanentes dos/as trabalhadores/as da 
saúde e no exercício do controle social da saúde; 
• o reconhecimento de saberes e práticas populares de saúde, 
incluindo aqueles preservados pelas religiões de matrizes africanas; e 
• o desenvolvimento de processos de informação, comunicação e 
educação, que desconstruam estigmas e preconceitos, fortaleçam uma 
identidade negra positiva e contribuam para a redução das vulnerabilidades. 
 
46 
 
Em 20 de julho de 2010, a Lei nº 12.288 instituiu o Estatuto da Igualdade 
Racial, “destinado a garantir à população negra a efetivação da igualdade de 
oportunidades, a defesa dos direitos étnicos individuais, coletivos e difusos e o 
combate à discriminação e às demais formas de intolerância étnica”. 
O Estatuto trouxe diversos conceitos relacionados à temática, quais 
sejam: 
 
I – discriminação racial ou étnico-racial: toda distinção, exclusão, 
restrição ou preferência baseada em raça, cor, descendência ou origem 
nacional ou étnica que tenha por objeto anular ou restringir o reconhecimento, 
gozo ou exercício, em igualdade de condições, de direitos humanos e 
liberdades fundamentais nos campos político, econômico, social, cultural ou em 
qualquer outro campo da vida pública ou privada; 
II – desigualdade racial: toda situação injustificada de diferenciação de 
acesso e fruição de bens, serviços e oportunidades, nas esferas pública e 
privada, em virtude de raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica; 
III – desigualdade de gênero e raça: assimetria existente no âmbito da 
sociedade que acentua a distância social entre mulheres negras e os demais 
segmentos sociais; 
IV – população negra: o conjunto de pessoas que se autodeclaram 
pretas e pardas, conforme o quesito cor ou raça usado pela Fundação Instituto 
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ou que adotam autodefinição 
análoga; 
V – políticas públicas: as ações, iniciativas e programas adotados pelo 
Estado no cumprimento de suas atribuições institucionais; 
VI – ações afirmativas: os programas e medidas especiais adotados 
pelo Estado e pela iniciativa privada para a correção das desigualdades raciais 
e para a promoção da igualdade de oportunidades. 
 
O Estatuto prevê que é dever do Estado e da sociedade garantir a 
igualdade de oportunidades, reconhecendo a todo cidadão brasileiro, 
independentemente da etnia ou da cor da pele, o direito à participação na 
comunidade, especialmente nas atividades políticas, econômicas, 
47 
 
empresariais, educacionais, culturais e esportivas, defendendo sua dignidade e 
seus valores religiosos e culturais. 
Esta lei é considerada o principal marco legal para o enfrentamento da 
discriminação racial e das desigualdades estruturais de raça aqui estudadas. 
Trata-se de um instrumento para garantia dos direitos fundamentais desse 
segmento, especialmente no que diz respeito à saúde, educação, cultura, 
esporte e lazer, comunicação, participação, trabalho, liberdade de consciência 
e de crença; acesso à terra e à moradia; além dos temas da proteção, do 
acesso à justiça e à segurança. 
O quadro abaixo, retirado da cartilha São Paulo contra o Racismo: 
Aspectos Legais e Ações Afirmativas, apresenta alguns direitos previstos no 
Estatuto: 
 
Figura 35: Quadro sobre direitos previstos no Estatuto a Igualdade Racial. 
SAÚDE Art. 6º. O direito à saúde da população negra será 
garantido pelo poder público mediante políticas 
universais, sociais e econômicas destinadas à 
redução do risco de doenças e de outros agravos. 
EDUCAÇÃO Art. 11. Nos estabelecimentos de ensinos 
fundamental e médio, públicos e privados. É 
obrigatório o estudo da história geral da África e 
da história da população negra no Brasil, 
observado o disposto na Lei n° 9.394, de 20 de 
dezembro de 1996. 
CULTURA Art. 17. O poder público garantirá o 
reconhecimento das sociedades negras, clubes e 
outras formas de manifestação coletiva da 
população negra, com trajetória histórica 
comprovada, como patrimônio histórico e cultural, 
nos termos dos arts. 215 e 216 da Constituição 
Federal. 
ESPORTE E LAZER Art. 21. O poder público fomentará o pleno acesso 
da população negra às práticas desportivas, 
consolidando o esporte e o lazer como direitos 
sociais. 
ACESSO À TERRA Art. 27. O poder público elaborará e implementará 
políticas públicas capazes de promover o acesso 
da população negra à terra e às atividades 
produtivas no campo. 
MORADIA Art. 35. O poder público garantirá a 
implementação de políticas públicas para 
assegurar o direito à moradia adequada da 
população negra que vive em favelas, cortiços, 
áreas urbanas subutilizadas, degradadas ou em 
processo de degradação, a fim de reintegrá-las à 
dinâmica urbana e promover melhorias no 
ambiente e na qualidade de vida. 
48 
 
TRABALHO Art. 38. A implementação de políticas voltadas 
para a inclusão da população negra no mercado 
de trabalho será de responsabilidade do poder 
público, observando-se: 
- o instituído neste Estatuto; 
- os compromissos assumidos pelo Brasil ao 
ratificar a Convenção Internacional sobre a 
Eliminação de Todas as Formas de Discriminação 
Racial, de 1965; 
- os compromissos assumidos pelo Brasil ao 
ratificara Convenção no 111, de 1958, da 
Organização Internacional do Trabalho(OIT), que 
trata da discriminação no emprego e na profissão; 
- os demais compromissos formalmente 
assumidos pelo Brasil perante a comunidade 
internacional 
MEIOS DE 
COMUNICAÇÃO 
Art. 43. A produção veiculada pelos órgãos de 
comunicação valorizará a herança cultural e a 
participação da população negra na história do 
País. 
Art. 44. Na produção de filmes e programas 
destinados à veiculação pelas emissoras de 
televisão e em salas cinematográficas, deverá ser 
adotada a prática de conferir oportunidades de 
emprego para atores, figurantes e técnicos negros, 
sendo vedada toda e qualquer discriminação de 
natureza política, ideológica, étnica ou artística. 
LIBERDADE DE CONSCIÊNCIA E DE 
CRENÇA E AO LIVRE EXERCÍCIO DOS 
CULTOS RELIGIOSOS 
Art. 23. É inviolável a liberdade de consciência e 
de crença, sendo assegurado o livre exercício dos 
cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a 
proteção aos locais de culto e a suas liturgias. 
Art. 24. O direito à liberdade de consciência e de 
crença e ao livre exercício dos cultos religiosos de 
matriz africana compreende: 
- a prática de cultos, a celebração de reuniões 
relacionadas à religiosidade e a fundação e 
manutenção, por iniciativa privada, de lugares 
reservados para tais fins; 
- a celebração de festividades e cerimônias de 
acordo com preceitos das respectivas religiões; 
- a fundação e a manutenção, por iniciativa 
privada, de instituições beneficentes ligadas às 
respectivas convicções religiosas; 
- a produção, a comercialização, a aquisição e o 
uso de artigos e materiais religiosos adequados 
aos costumes e às práticas fundadas na 
respectiva religiosidade, ressalvadas as condutas 
vedadas por legislação específica; 
- a produção e a divulgação de publicações 
relacionadas ao exercício e à difusão das religiões 
de matriz africana; 
- a coleta de contribuições financeiras de pessoas 
naturais e jurídicas de natureza privada para a 
49 
 
manutenção das atividades religiosas e sociais 
das respectivas religiões; 
- o acesso aos órgãos e aos meios de 
comunicação para divulgação das respectivas 
religiões; 
- a comunicação ao Ministério Público para 
abertura de ação penal em face de atitudes e 
práticas de intolerância religiosa nos meios de 
comunicação e em quaisquer outros locais. 
SINAPIR 
 
 
Art. 47. É instituído o Sistema Nacional de 
Promoção da Igualdade Racial (Sinapir) como 
forma de organização e de articulação voltadas à 
implementação do conjunto de políticas e serviços 
destinados a superar as desigualdades étnicas 
existentes no País, prestados pelo poder público 
federal. 
Art. 50. Os Poderes Executivos estaduais, distrital 
e municipais, no âmbito das respectivas esferas 
de competência, poderão instituir conselhos de 
promoção da igualdade étnica, de caráter 
permanente e consultivo, compostos por igual 
número de representantes de órgãos e entidades 
públicas e de organizações da sociedade civil 
representativas da população negra. 
OUVIDORIAS PERMANENTES E ACESSO 
À JUSTIÇA E À SEGURANÇA 
Art. 54. O Estado adotará medidas para coibir 
atos de discriminação e preconceito praticados por 
servidores públicos em detrimento da população 
negra, observado, no que couber, o disposto na 
Lei no 7.716, de 5 de janeiro de 1989. 
Art. 55. Para a apreciação judicial das lesões e 
das ameaças de lesão aos interesses da 
população negra decorrentes de situações de 
desigualdade étnica, recorrer-se-á, entre outros 
instrumentos, à ação civil pública, disciplinada na 
Lei no 7.347, de 24 de julho de 1985. 
 
O capítulo IV do Estatuto estabelece as instituições responsáveis pelo 
acolhimento de denúncias de discriminação racial e apresenta os mecanismos 
institucionais existentes que têm como finalidade assegurar a aplicação efetiva 
dos dispositivos previstos em lei. Com isso, exigiu-se a instituição de 
Ouvidorias Permanentes em Defesa da Igualdade Racial no âmbito do 
Executivo e do Legislativo federais, além de implicar o Ministério Público, a 
Defensoria Pública e o Poder Judiciário na garantia da igualdade de direitos 
para a população negra. Em especial, no art. 53 o Estado brasileiro se 
compromete a adotar “medidas especiais para coibir a violência policial 
incidente sobre a população negra”, bem como a realizar ações visando a 
“ressocialização e proteção da juventude negra em conflito com a lei e exposta 
a experiências de exclusão social”. 
50 
 
O Estatuto trouxe ainda diversas alterações na Lei nº 7.716/89, que 
serão abordadas a seguir. 
Em suma, o Estatuto da Igualdade Racial é a principal referência para 
enfrentamento ao racismo e a promoção da igualdade racial, ao atualizar e 
ampliar o alcance das leis antirracistas anteriores, além de embasar 
juridicamente políticas públicas direcionadas a diminuir as desigualdades 
raciais no acesso à plena cidadania. As políticas afirmativas existentes serão 
estudadas posteriormente. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
51 
 
6. CONDUTAS RELACIONADAS À RAÇA QUE SÃO CONSIDERADAS 
CRIMES NO BRASIL 
 
Figura 36: Reportagem sobre caso de racismo. 
 
Fonte: https://g1.globo.com/go/goias/noticia/2022/03/05/empresaria-se-indigna-com-pedido-
racista-de-cliente-por-aplicativo-mandem-entregador-branco-nao-gosto-de-pretos-nem-
pardos.ghtml. 
 
Diariamente a imprensa divulga casos graves de racismo e injúria racial 
que ocorrem no Brasil, o que reflete o quão nossa sociedade ainda é racista. 
Neste módulo, serão trazidos os principais crimes referentes à temática, com a 
pena prevista em cada um deles. A proposta deste curso é apresentar aos 
alunos as condutas que são consideradas crimes no Brasil e não fazer uma 
análise jurídica dos mesmos. 
A Cartilha de Direitos Humanos e Combate ao Racismo da Defensoria 
Pública do Rio Grande do Sul apresenta alguns exemplos de práticas que são 
consideradas racistas, quais sejam: 
 
• Apelidar negras e negros de acordo com as características físicas, 
a partir de elementos de cor e etnia da pessoa. 
• Inferiorizar as características estéticas de negras e negros. 
• Considerar uma negra ou um negro inferior intelectualmente, 
podendo até negar-lhe determinados cargos, funções ou empregos. 
• Desprezar seus costumes, hábitos e tradições, como na ofensa a 
religiões de matriz africana. 
• Duvidar da honestidade e competência da pessoa negra. 
https://g1.globo.com/go/goias/noticia/2022/03/05/empresaria-se-indigna-com-pedido-racista-de-cliente-por-aplicativo-mandem-entregador-branco-nao-gosto-de-pretos-nem-pardos.ghtml
https://g1.globo.com/go/goias/noticia/2022/03/05/empresaria-se-indigna-com-pedido-racista-de-cliente-por-aplicativo-mandem-entregador-branco-nao-gosto-de-pretos-nem-pardos.ghtml
https://g1.globo.com/go/goias/noticia/2022/03/05/empresaria-se-indigna-com-pedido-racista-de-cliente-por-aplicativo-mandem-entregador-branco-nao-gosto-de-pretos-nem-pardos.ghtml
52 
 
• Recusar-se a prestar serviços a negras e negros. 
• Fazer ou se divertir com piadas depreciativas da pessoa negra e, 
vestimenta e de suas pré-concepções sobre os papéis sociais ou profissionais 
que crê ser adequados a ela. 
 
A Lei nº 7.716/1989 prevê uma série de condutas que são consideradas 
crimes, quando resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, 
religião ou procedência nacional. Serão analisados os crimes previstos na 
referida legislação. 
• Artigo 3° da Lei nº 7.716/89 
 
Impedir ou obstar o acesso de alguém, devidamente habilitado, a 
qualquer cargo da Administração Direta ou Indireta, bem como das 
concessionárias de serviços públicos. 
 
Pena: reclusão de dois a cinco anos. 
 
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, por motivo de 
discriminação de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional, 
obstar a promoção funcional. 
 
Este tipo penal criminaliza a conduta que impede ou obsta o acesso no 
serviçopúblico de pessoa habilitada ao cargo ou à promoção funcional. É 
necessário que o indivíduo esteja habilitado para executar o trabalho. 
• Artigo 4° da Lei nº 7.716/89 
 
Negar ou obstar emprego em empresa privada. 
 
Pena: reclusão de dois a cinco anos. 
 
§ 1º Incorre na mesma pena quem, por motivo de discriminação de 
raça ou de cor ou práticas resultantes do preconceito de 
descendência ou origem nacional ou étnica: 
 
 I - deixar de conceder os equipamentos necessários ao empregado 
em igualdade de condições com os demais trabalhadores; 
II - impedir a ascensão funcional do empregado ou obstar outra forma 
de benefício profissional; 
III - proporcionar ao empregado tratamento diferenciado no ambiente 
de trabalho, especialmente quanto ao salário. 
 
§ 2º Ficará sujeito às penas de multa e de prestação de serviços à 
comunidade, incluindo atividades de promoção da igualdade racial, 
quem, em anúncios ou qualquer outra forma de recrutamento de 
trabalhadores, exigir aspectos de aparência próprios de raça ou etnia 
para emprego cujas atividades não justifiquem essas exigências. 
 
53 
 
Verifica-se que o artigo 3º refere-se à negativa do acesso ao cargo ou à 
promoção funcional na administração pública e nas concessionárias de 
serviços públicos, enquanto o artigo 4º refere-se às empresas privadas. 
Negar ou obstar emprego, deixar de providenciar os equipamentos 
necessários a empregado, impedir a ascensão ou outro benefício funcional a 
empregado, tratar empregado de forma diferente dos demais e exigir aspectos 
de aparência próprios de raça ou etnia para emprego sem justificativa são 
condutas criminalizadas neste artigo. 
 
Figura 37: Reportagem sobre caso de racismo. 
 
Fonte: https://www.hypeness.com.br/2022/04/funcionarios-negros-revelam-cultura-de-racismo-
na-tesla-gigante-controlada-por-elon-musk/. 
 
• Artigo 5° da Lei nº 7.716/89 
 
Recusar ou impedir acesso a estabelecimento comercial, negando-se 
a servir, atender ou receber cliente ou comprador. 
 
Pena: reclusão de um a três anos. 
 
Este crime ocorre quando estabelecimentos comerciais negam servir, 
atender ou receber clientes em razão da raça, cor, etnia, religião ou 
procedência nacional. Para a configuração deste delito o autor pode então 
recusar ou impedir o acesso de pessoa a estabelecimento comercial, bem 
como não servir ou atender a vítima. 
https://www.hypeness.com.br/2022/04/funcionarios-negros-revelam-cultura-de-racismo-na-tesla-gigante-controlada-por-elon-musk/
https://www.hypeness.com.br/2022/04/funcionarios-negros-revelam-cultura-de-racismo-na-tesla-gigante-controlada-por-elon-musk/
54 
 
Um caso com grande repercussão foi quando uma delegada de polícia 
negra foi impedida de ingressar em uma loja de roupas em um shopping. 
Durante a investigação, apurou-se que a loja possuía um código para alertar 
quando clientes negros suspeitos estavam no local. O gerente da loja foi 
denunciado por racismo. 
 
Figura 38: Reportagem sobre caso de racismo. 
 
Fonte: https://g1.globo.com/ce/ceara/noticia/2021/12/02/gerente-da-loja-zara-onde-delegada-
negra-foi-barrada-e-denunciado-por-racismo.ghtml. 
 
Figura 39: Reportagem sobre caso de racismo. 
 
Fonte: https://g1.globo.com/ce/ceara/noticia/2021/09/24/adolescente-negra-e-barrada-em-
shopping-apos-seguranca-achar-que-a-garota-era-uma-pedinte-em-fortaleza.ghtml. 
 
• Artigo 6° da Lei nº 7.716/89 
 
Recusar, negar ou impedir a inscrição ou ingresso de aluno em 
estabelecimento de ensino público ou privado de qualquer grau. 
 
Pena: reclusão de três a cinco anos. 
 
Parágrafo único. Se o crime for praticado contra menor de dezoito 
anos a pena é agravada de 1/3 (um terço). 
 
https://g1.globo.com/ce/ceara/noticia/2021/12/02/gerente-da-loja-zara-onde-delegada-negra-foi-barrada-e-denunciado-por-racismo.ghtml
https://g1.globo.com/ce/ceara/noticia/2021/12/02/gerente-da-loja-zara-onde-delegada-negra-foi-barrada-e-denunciado-por-racismo.ghtml
https://g1.globo.com/ce/ceara/noticia/2021/09/24/adolescente-negra-e-barrada-em-shopping-apos-seguranca-achar-que-a-garota-era-uma-pedinte-em-fortaleza.ghtml
https://g1.globo.com/ce/ceara/noticia/2021/09/24/adolescente-negra-e-barrada-em-shopping-apos-seguranca-achar-que-a-garota-era-uma-pedinte-em-fortaleza.ghtml
55 
 
Este crime ocorre quando há a recusa de inscrever ou impedir o 
ingresso de aluno em estabelecimento de ensino, não importa se público ou 
privado, nem de que grau seja. O entendimento é de que escolas de dança, 
informática, dentre outras enquadram-se neste dispositivo. Busca-se garantir 
um dos bens de todo ser humano, a educação, sem distinção em razão de 
raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. 
A pena é aumentada quando a vítima é criança ou adolescente, 
protegendo-a e visando garantir a sua educação. 
 
Figura 40: Reportagem sobre caso de racismo. 
 
Fonte: https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2019/03/14/crianca-autista-tem-
matricula-escolar-recusada-por-usar-cabelo-black-power.htm. 
 
Figura 41: Reportagem sobre caso de racismo. 
 
Fonte: https://www.correiobraziliense.com.br/euestudante/educacao-basica/2022/04/4998823-
estudante-negra-e-proibida-de-entrar-na-escola-por-nao-ter-cabelo-liso.html. 
 
 
https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2019/03/14/crianca-autista-tem-matricula-escolar-recusada-por-usar-cabelo-black-power.htm
https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2019/03/14/crianca-autista-tem-matricula-escolar-recusada-por-usar-cabelo-black-power.htm
https://www.correiobraziliense.com.br/euestudante/educacao-basica/2022/04/4998823-estudante-negra-e-proibida-de-entrar-na-escola-por-nao-ter-cabelo-liso.html
https://www.correiobraziliense.com.br/euestudante/educacao-basica/2022/04/4998823-estudante-negra-e-proibida-de-entrar-na-escola-por-nao-ter-cabelo-liso.html
56 
 
• Artigo 7° da Lei nº 7.716/89 
 
Impedir o acesso ou recusar hospedagem em hotel, pensão, 
estalagem, ou qualquer estabelecimento similar. 
 
Pena: reclusão de três a cinco anos. 
 
O impedimento de acesso a hotéis, pensão, estalagem ou outros 
estabelecimentos simulares, bem como a recusa de hospedagem, configura o 
crime de racismo previsto no art. 7°. 
Interessante relembrar que a recusa de hospedagem a uma dançarina 
negra em São Paulo ensejou a criação da primeira lei antirracista no Brasil, a 
Lei Afonso Arinos, estudada anteriormente. 
 
Figura 42: Reportagem sobre caso de racismo. 
 
Fonte: https://www12.senado.leg.br/noticias/especiais/arquivo-s/brasil-criou-1a-lei-antirracismo-
apos-hotel-em-sp-negar-hospedagem-a-dancarina-negra-americana#gallery-1. 
 
 
 
 
 
 
https://www12.senado.leg.br/noticias/especiais/arquivo-s/brasil-criou-1a-lei-antirracismo-apos-hotel-em-sp-negar-hospedagem-a-dancarina-negra-americana#gallery-1
https://www12.senado.leg.br/noticias/especiais/arquivo-s/brasil-criou-1a-lei-antirracismo-apos-hotel-em-sp-negar-hospedagem-a-dancarina-negra-americana#gallery-1
57 
 
Figura 43: Reportagem sobre caso de racismo. 
 
Fonte: https://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2021/10/28/policia-investiga-racismo-
contra-hospede-de-hotel-em-caxias-do-sul-nao-doi-na-pele-doi-na-alma.ghtml. 
 
• Artigo 8° da Lei nº 7.716/89 
 
Impedir o acesso ou recusar atendimento em restaurantes, bares, 
confeitarias, ou locais semelhantes abertos ao público. 
 
Pena: reclusão de um a três anos. 
 
O crime se consuma quando há a recusa de atendimento ou o acesso 
negado em restaurantes, bares, confeitarias e locais semelhantes abertos ao 
público. Vale mencionar que o local dever ser público. 
 
Figura 44: Reportagem sobre caso de racismo. 
 
Fonte: https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2021/05/21/casal-acusa-restaurante-do-
tatuape-na-zona-leste-de-sp-de-racismo.ghtml. 
 
 
https://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2021/10/28/policia-investiga-racismo-contra-hospede-de-hotel-em-caxias-do-sul-nao-doi-na-pele-doi-na-alma.ghtml
https://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2021/10/28/policia-investiga-racismo-contra-hospede-de-hotel-em-caxias-do-sul-nao-doi-na-pele-doi-na-alma.ghtmlhttps://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2021/05/21/casal-acusa-restaurante-do-tatuape-na-zona-leste-de-sp-de-racismo.ghtml
https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2021/05/21/casal-acusa-restaurante-do-tatuape-na-zona-leste-de-sp-de-racismo.ghtml
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Figura 45: Reportagem sobre caso de racismo. 
 
Fonte: https://catracalivre.com.br/cidadania/menino-racismo-doceria/. 
 
• Artigo 9° da Lei nº 7.716/89 
 
Impedir o acesso ou recusar atendimento em estabelecimentos 
esportivos, casas de diversões, ou clubes sociais abertos ao público. 
 
Pena: reclusão de um a três anos. 
 
Este crime se configura quando algum desses estabelecimentos se 
negar a receber, em suas dependências, um indivíduo como associado ou 
convidado, por preconceito a raça, cor, religião ou procedência nacional. 
 
Figura 46: Reportagem sobre caso de racismo. 
 
Fonte: https://catracalivre.com.br/cidadania/menino-racismo-doceria/. 
 
• Artigo 10 da Lei nº 7.716/89 
 
Impedir o acesso ou recusar atendimento em salões de cabeleireiros, 
barbearias, termas ou casas de massagem ou estabelecimento com 
as mesmas finalidades. 
 
Pena: reclusão de um a três anos. 
https://catracalivre.com.br/cidadania/menino-racismo-doceria/
https://catracalivre.com.br/cidadania/menino-racismo-doceria/
59 
 
 
O legislador também determinou que é crime de racismo impedir o 
acesso ou recusar atendimento em salão de beleza e em locais similares e 
afins, atendendo-se à garantia de igualdade de tratamento nesses lugares. 
 
• Artigo 11 da Lei nº 7.716/89 
 
Impedir o acesso às entradas sociais em edifícios públicos ou 
residenciais e elevadores ou escada de acesso aos mesmos: 
 
Pena: reclusão de um a três anos. 
 
O crime consuma-se ao impedir qualquer pessoa de ter acesso a esses 
locais, determinando-lhe uma entrada específica e causando-lhe 
constrangimento e vergonha. Não há que impedir a um empregado, a 
empregada ou a um entregador de alimentos, por exemplo, o acesso pela 
entrada ou pelo elevador social, sob pena de, assim o fazendo, cometer o 
crime acima descrito. 
 
Figura 47: Reportagem sobre caso de racismo. 
 
Fonte: https://www.pragmatismopolitico.com.br/2012/02/vitima-de-racismo-universitario-e-
barrado-no-elevador-do-proprio-predio-onde-mora.html. 
 
• Artigo 12 da Lei nº 7.716/89 
 
Impedir o acesso ou uso de transportes públicos, como aviões, navios 
barcas, barcos, ônibus, trens, metrô ou qualquer outro meio de 
transporte concedido. 
 
Pena: reclusão de um a três anos. 
 
https://www.pragmatismopolitico.com.br/2012/02/vitima-de-racismo-universitario-e-barrado-no-elevador-do-proprio-predio-onde-mora.html
https://www.pragmatismopolitico.com.br/2012/02/vitima-de-racismo-universitario-e-barrado-no-elevador-do-proprio-predio-onde-mora.html
60 
 
O tratamento diferenciado em razão de discriminação também é 
repudiado nos meios de transporte. Há crime quando o autor impede o acesso 
ou o uso de qualquer meio de transporte, podendo ocorrer o impedimento no 
início, bem como no prosseguimento da viagem de quem já está dentro desse 
meio de transporte. 
 
Figura 48: Reportagem sobre caso de racismo. 
 
Fonte: https://g1.globo.com/mg/minas-gerais/noticia/2021/10/21/mulher-negra-denuncia-
motorista-por-ataques-racistas-em-bh-nao-carrego-preto-no-carro.ghtml. 
 
• Artigo 13 da Lei nº 7.716/89 
 
Impedir ou obstar o acesso de alguém ao serviço em qualquer ramo 
das Forças Armadas. 
 
Pena: reclusão de dois a quatro anos. 
 
O delito previsto no artigo 13 da Lei nº 7.716/89 tem como conduta típica 
impedir ou obstar o acesso de alguém ao serviço em qualquer ramo das Forças 
Armadas. 
 
• Artigo 14 da Lei nº 7.716/89 
 
Impedir ou obstar, por qualquer meio ou forma, o casamento ou 
convivência familiar e social. 
 
Pena: reclusão de dois a quatro anos. 
 
Este crime é praticado, em regra, por familiares, em especial pais, que 
impedem ou obstam o casamento ou convivência familiar e social com pessoa 
em razão da raça. Entende-se que o casamento pode ser civil ou religioso. Já 
a convivência familiar refere-se às relações de união estável, ou a convivência 
https://g1.globo.com/mg/minas-gerais/noticia/2021/10/21/mulher-negra-denuncia-motorista-por-ataques-racistas-em-bh-nao-carrego-preto-no-carro.ghtml
https://g1.globo.com/mg/minas-gerais/noticia/2021/10/21/mulher-negra-denuncia-motorista-por-ataques-racistas-em-bh-nao-carrego-preto-no-carro.ghtml
61 
 
de namoro, noivado ou amizade. A convivência social pode ser considerada 
qualquer relacionamento próximo, fora da relação familiar. 
 
Figura 49: Reportagem sobre caso de racismo. 
 
Fonte: https://www.opovo.com.br/noticias/mundo/2021/10/26/casal-impedido-de-namorar-por-
racismo-se-reencontra-39-anos-depois-e-resolve-casar.html. 
 
• Artigo 20 da Lei nº 7.716/89 
 
Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, 
cor, etnia, religião ou procedência nacional. 
 
Pena: reclusão de um a três anos e multa. 
 
§ 1º Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, 
emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz 
suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo. 
 
Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa. 
 
§ 2º Se qualquer dos crimes previstos no caput é cometido por 
intermédio dos meios de comunicação social ou publicação de 
qualquer natureza: 
 
Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa. 
 
§ 2º-A Se qualquer dos crimes previstos neste artigo for cometido no 
contexto de atividades esportivas, religiosas, artísticas ou culturais 
destinadas ao público: (Incluído pela Lei nº 14.532, de 2023) 
 
Pena: reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e proibição de 
frequência, por 3 (três) anos, a locais destinados a práticas 
esportivas, artísticas ou culturais destinadas ao público, conforme o 
caso. (Incluído pela Lei nº 14.532, de 2023) 
 
§ 2º-B Sem prejuízo da pena correspondente à violência, incorre nas 
mesmas penas previstas no caput deste artigo quem obstar, impedir 
ou empregar violência contra quaisquer manifestações ou práticas 
religiosas. (Incluído pela Lei nº 14.532, de 2023) 
 
§ 3º No caso do § 2º deste artigo, o juiz poderá determinar, ouvido o 
Ministério Público ou a pedido deste, ainda antes do inquérito policial, 
sob pena de desobediência: 
https://www.opovo.com.br/noticias/mundo/2021/10/26/casal-impedido-de-namorar-por-racismo-se-reencontra-39-anos-depois-e-resolve-casar.html
https://www.opovo.com.br/noticias/mundo/2021/10/26/casal-impedido-de-namorar-por-racismo-se-reencontra-39-anos-depois-e-resolve-casar.html
62 
 
 
I - o recolhimento imediato ou a busca e apreensão dos exemplares 
do material respectivo; 
II - a cessação das respectivas transmissões radiofônicas, televisivas, 
eletrônicas ou da publicação por qualquer meio; 
III - a interdição das respectivas mensagens ou páginas de 
informação na rede mundial de computadores. 
 
§ 4º Na hipótese do § 2º, constitui efeito da condenação, após o 
trânsito em julgado da decisão, a destruição do material apreendido. 
 
O caput do artigo 20 apresenta condutas diversas em relação à 
discriminação e ao preconceito, podendo ocorrer quando a pessoa pratica, 
induz ou incita esta prática tão condenável em nossa sociedade. 
Percebe-se que esse dispositivo foi elaborado para alcançar todos os 
tipos de preconceito e discriminação que não foram tipificados nos outros 
artigos citados, ampliando assim a eficácia da Lei de Racismo. Vale ressaltar 
que a maioria das condutas de preconceito e discriminação da lei em estudo 
acaba enquadrada nesse artigo. 
O § 2° prevê uma pena mais severa quando a prática, induzimento ou 
incitação do preconceito ou discriminação ocorre por meios de comunicação 
social ou publicação de qualquer natureza. Não há dúvidas de que o dano é 
maior quando os atos de preconceito e discriminação atingem um maior 
número de pessoas. 
Além disso, as formas que possibilitem a divulgação do nazismo são 
também condutas condenáveis pelo ordenamentojurídico brasileiro, conforme 
previsto no art. 20, § 1°. A lei determina que fabricar, comercializar, distribuir ou 
veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que 
utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo, é 
crime. 
Vale ressaltar que, em 13 de junho de 2019, o STF julgou a ADO 26 
(Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão) e o MI (Mandado de 
Injunção) 4733, reconhecendo a mora do Congresso Nacional em legislar 
sobre atos atentatórios sobre direitos fundamentais dos integrantes das 
comunidades LGBTQIA+, restando determinada a aplicação da Lei de Racismo 
(Lei nº 7.716/89) até que se edite a norma regulamentando sobre o assunto. 
Além dos crimes de racismo trazidos acima, há também a injúria racial, 
cujo tratamento foi recentemente alterado pela Lei nº 14.532/2023, que retirou 
63 
 
a regra prevista no art. 140, § 3°, do Código Penal, e passou a disciplinar tal 
conduta no art. 2º-A, da Lei nº 7.716/1989. 
 
Art. 2º- A Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro, em 
razão de raça, cor, etnia ou procedência nacional. 
 
Pena: reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. 
 
Parágrafo único. A pena é aumentada de metade se o crime for 
cometido mediante concurso de 2 (duas) ou mais pessoas. 
 
A injúria racial consiste na ofensa direcionada a uma pessoa, valendo-se 
de elementos referentes à raça, cor, etnia ou procedência nacional. 
 
Figura 50: Reportagem sobre caso de injúria racial. 
 
Fonte: https://g1.globo.com/df/distrito-federal/noticia/2020/11/23/jovem-registra-denuncia-de-
injuria-racial-e-agressao-contra-segurancas-de-bar-no-df.ghtml. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
https://g1.globo.com/df/distrito-federal/noticia/2020/11/23/jovem-registra-denuncia-de-injuria-racial-e-agressao-contra-segurancas-de-bar-no-df.ghtml
https://g1.globo.com/df/distrito-federal/noticia/2020/11/23/jovem-registra-denuncia-de-injuria-racial-e-agressao-contra-segurancas-de-bar-no-df.ghtml
64 
 
7. DIFERENCIAÇÃO ENTRE OS CRIMES DE RACISMO E DE INJÚRIA 
RACIAL 
 
Neste tópico, serão analisadas as diferenças existentes entre o crime de 
racismo e o crime de injúria racial, sem esquecer a recente decisão do 
Supremo Tribunal Federal em relação à prescrição do crime de injúria. 
Conhecer os instrumentos legais disponíveis é essencial ao abordar a 
questão da discriminação racial e do racismo. Por esta razão, esta seção trata 
de apontar as ferramentas, principalmente presentes no direito penal. De 
particular importância são as Declarações das Nações Unidas sobre a 
Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, a Convenção 
Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial 
(adotada pela Colômbia através da Lei 22 de 1981), a Recomendação nº XXXI 
sobre a prevenção da discriminação racial na administração e operação da 
justiça criminal do Comitê para a Eliminação da Discriminação Racial (CERD), 
órgão encarregado de fiscalizar a aplicação da Convenção Internacional sobre 
Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial e a Declaração da 
UNESCO sobre Raça e Preconceito Racial. Complementar a isso são 
instrumentos mais gerais de direitos humanos, sendo certa a relevância para o 
caso brasileiro a Convenção Americana sobre Direitos Humanos. 
Como dito até aqui, as ações de combate ao racismo abrangem diversos 
tipos de atuação com o propósito de estimular a reflexão sobre práticas e 
percepções discriminatórias culturalmente naturalizadas e repassadas de 
geração em geração. Trata-se de problema global que cada vez mais ganha 
repercussão e estimula ações de promoção da tolerância e do respeito à 
população negra. 
Por uma nova cultura direitos, o papel da educação para os direitos 
humanos ganha merecido destaque, haja vista ser caminho necessário para 
mudança cultural que reconheça plenamente os direitos fundamentais de 
pessoas negras. 
Entretanto, lamentavelmente, as ações de educação não são suficientes 
para a transformação social desejada. O combate ao racismo exigiu a criação 
normas penais específicas visando coibir, sob diversos aspectos, a 
discriminação racial. 
65 
 
No âmbito global, a Convenção Internacional sobre a Eliminação de 
todas as Formas de Discriminação Racial de 1965 dispõe que a expressão 
“discriminação racial” significa qualquer distinção, exclusão restrição ou 
preferência baseadas em raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica 
que tenha por objetivo ou efeito anular ou restringir o reconhecimento, gozo ou 
exercício num mesmo plano, de direitos humanos e liberdades fundamentais 
no domínio político econômico, social, cultural ou em qualquer outro domínio de 
vida pública (ONU, 1965). 
No Brasil, desde a abolição da escravização de pessoas negras, 
ocorrida em 13 de maio de 1888, a primeira norma de repressão ao racismo foi 
a Lei nº 1.390, de 3 de Julho de 1951, conhecida como Lei Afonso Arinos. Por 
meio dela, foi inserida na Lei de Contravenções Penais, que cuida 
exclusivamente de infrações de menor gravidade, tipos penais que visavam 
reprimir a discriminação racial em ambientes públicos e estabelecimentos 
comerciais. Considerada um passo pequeno no combate ao racismo, a referida 
lei teve pouco ou nenhuma efetividade, haja vista a gravidade do desafio 
histórico de construção da igualdade no país. 
Com a Constituição da República de 1988, o tratamento do racismo 
sofreu profunda transformação, ao menos no campo jurídico. O 
reconhecimento inédito do racismo como crime imprescritível e inafiançável 
pelo Constituinte, foi fundamental para a criação da Lei nº 7.716, de 1989, que, 
pela primeira vez na história brasileira, definiu os crimes resultantes de 
preconceito de raça ou cor. 
O referido diploma estabelece, casuisticamente, hipóteses de 
caracterização do crime de racismo, tendo como bem jurídico tutelado o direito 
à igualdade e a dignidade da pessoa humana. Nos termos da Lei nº 7.716/89, 
são consideradas condutas racistas, entre outras, impedir o acesso a emprego, 
estabelecimentos comerciais, hospedagem, restaurantes e transporte público, 
desde que resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, 
religião ou procedência nacional. 
Cabe destacar que as condutas previstas na Lei nº 7.716/89, embora 
direcionadas a uma ou várias pessoas, atingem toda a coletividade de 
determinada raça, cor, etnia. 
66 
 
Por opção do legislador, não constava originalmente na lei do racismo a 
tipificação de conduta específica relativa a ofensas contra a honra por meio da 
utilização de elementos de raça e cor, sendo aplicada as disposições do crime 
de injúria previstas no art. 140 do Código Penal. 
Somente em 1997, por meio da Lei nº 9.459, foi inserida no código penal 
a injúria racial, como qualificadora do art. 140, caracterizada pela “utilização de 
elementos referentes a raça, cor, etnia, religião ou origem” (Brasil, 1997). 
Destaca-se que enquanto as demais modalidades de injúria fixavam penas de 
detenção de um mês a um ano, a injúria racial estabeleceu pena de reclusão 
de um a três anos, evidenciando que o legislador compreendeu a gravidade da 
conduta e suas consequências para a população negra e para toda a 
sociedade. 
Assim, se estabeleceu uma distinção entre o crime de racismo e o de 
injúria racial. Enquanto o primeiro está previsto na Lei nº 7.716/89 e atinge uma 
coletividade indeterminada de pessoas, a segunda estava inserida no código 
penal e se direciona à pessoa ou pessoas determinadas. 
E as distinções não param por aí. O delito de injúria racial se caracteriza, 
entre outros, pela realização de ofensas relacionadas a cor do indivíduo por 
meio de expressões pejorativas que ataquem a honra subjetiva, ou seja, o juízo 
de valor que o indivíduo faz de si mesmo. Já as condutas previstas na Lei 
7.716/89, descrevem limitações ao exercício de direitos em virtude do 
preconceito de raça ou de cor,como já citado. 
Os diversos casos de discriminação racial ocorridos no Brasil e no 
mundo, além do reconhecimento da necessidade de adequações na lei penal 
sobre o tema, fomentaram a criação, pela câmara dos deputados, de uma 
comissão de juristas negros, presidida pelo Ministro do Superior Tribunal de 
Justiça (STJ) Benedito Gonçalves, com a relatoria do advogado Silvio de 
Almeida. 
Como resultado desse trabalho, o Deputado Paulo Paim (PT-RS) 
apresentou substitutivo ao projeto de lei nº 4.566, com proposta de alterações 
na lei do racismo e no código penal, o que foi aprovado pelo Congresso 
Nacional e remetido ao Poder Executivo em 27/12/2022. 
Entre as primeiras ações do mandato do Presidente da República Luiz 
Inácio Lula da Silva iniciado em 2023, está a sanção do referido projeto de lei, 
67 
 
o que deu origem à Lei nº 14.532, de 11 de janeiro de 2023, que por sua vez 
altera a Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989 (Lei do Crime Racial), e o 
Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), para tipificar 
como crime de racismo a injúria racial, prever pena de suspensão de direito em 
caso de racismo praticado no contexto de atividade esportiva ou artística e 
prever pena para o racismo religioso e recreativo e para o praticado por 
funcionário público. 
Com o advento da Lei nº 14.532/2023, o crime de injúria racial, que 
antes estava previsto no Código Penal, com pena fixada entre um e três anos 
de reclusão, agora está inserido na Lei nº 7.716/1989, conhecido como Lei do 
Racismo, eliminando a separação legislativa entre injúria racial e crime de 
racismo. Em outras palavras, injúria racial é um dos crimes de racismo no 
Brasil. Além disso, o legislador realizou alteração na pena prevista para a 
injúria racial, saindo do intervalo de um a três anos, para a previsão de pena de 
dois a cinco anos. 
Outro destaque importante é que os crimes previstos na Lei do Racismo 
são de ação pública incondicionada à representação, ou seja, se o estado tem 
conhecimento de fatos que possam caracterizar qualquer dos tipos previstos na 
Lei n º 7.716/1989, deverá atuar independentemente da vontade da vítima. Ou 
seja, caso a Polícia Civil seja procurada ou tenha conhecimento, por qualquer 
meio, de práticas racistas e discriminatórias coibidas pela legislação, deverá 
imediatamente iniciar a investigação, mesmo que a vítima não tenha interesse. 
Trata-se de passo importante para repressão aos crimes de racismo, 
além do reconhecimento de que a discriminação racial traz severos impactos à 
toda a coletividade e deve ser reprimida, nos termos da lei, em qualquer 
circunstância. 
Pois bem. Estabelecidas tais considerações, tem-se que o crime de 
injúria é crime contra a honra de uma pessoa. Ele acontece quando alguém 
ofende a dignidade ou o decoro de um indivíduo específico. A conduta exigida 
para o cometimento do crime de injúria qualificada é o animus injuriandi, 
consistente na vontade de ofender a honra subjetiva de outra pessoa. Neste 
caso, o agente profere palavras de cunho racista direcionadas somente à 
vítima. 
68 
 
Por outro lado, o crime de racismo, previsto na Lei nº 7.716/1989, 
implica em conduta discriminatória dirigida a um determinado grupo ou 
coletividade. Não há uma vítima identificada, pois a ofensa é contra, por 
exemplo, toda uma raça, não existindo a especificação do ofendido. 
 
Figura 51: Imagem sobre a diferença entre racismo e injúria racial. 
 
 
Nos crimes de racismo, a ação penal é pública incondicionada, ou seja, 
cabe ao Ministério Público a legitimidade para processar o ofensor. Trata-se de 
crime inafiançável e imprescritível, conforme está previsto no artigo 5º da 
Constituição Federal. 
Como se percebe, a injúria preconceituosa migrou do Código Penal para 
a Lei de Racismo. Portanto, a ofensa motivada pela “raça, cor e etnia” está 
expressa no art. 2º-A da Lei 7.716/89. Um outro detalhe importante: o termo 
“origem”, antes previsto no Código Penal, transmutou-se na expressão 
“procedência nacional”. Desse modo, fica a pergunta: qual a extensão da 
expressão “procedência nacional”? Abrande apenas as ofensas aos atributos 
pessoais baseados no preconceito regional (entre regiões do país) ou também 
o preconceito ao estrangeiro? Temos duas possibilidades de interpretação: O 
art. 140, § 3º do CP possuía a elementar típica “origem”, que abrangia as 
ofensas em razão da origem nacional ou internacional. Com a nova redação do 
art. 2º-A dada pela lei 14.532/2023, a expressão procedência “nacional” está 
69 
 
restrita à injúria preconceituosa de origem interna, ou seja, para pessoas 
pertencentes a determinados estados da federação. Eventual ofensa a 
atributos da pessoa em razão de sua condição estrangeira constituiria crime de 
injúria simples. A expressão “procedência nacional” constante no art. 2º-A 
abrange procedência interna e externa, ou seja, tutela pessoas de origem 
nacional e estrangeira. Ademais, a expressão “procedência nacional” não é 
nova na Lei nº 7.716/1989, pois consta do art. 20, que sempre puniu o racismo 
praticado contra pessoas de origem estrangeira. Essa segunda posição nos 
parece mais coerente, sob pena de proteção deficiente ao bem jurídico 
dignidade humana, não sendo razoável imaginar que apenas os nacionais 
estariam tutelados pela Lei de Racismo. Além disso, a própria Constituição 
Federal, em seu art. 5º, refere que todos são iguais perante a lei, sem distinção 
de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros 
residentes no País a inviolabilidade do direitos à vida, à liberdade, à igualdade, 
à segurança, dentre outros. 
Assim, considerando as previsões da Lei de Racismo, tem-se que 
ofender a honra subjetiva da vítima em razão de sua procedência nacional ou 
estrangeira constitui injúria punível segundo o art. 2º-A. Por outro lado, praticar, 
induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou 
procedência nacional constitui crime de racismo previsto no artigo 20 da Lei 
7.716/1989. A esse respeito, o Superior Tribunal de Justiça possui precedente 
de que quem emitir ofensa discriminatória a uma coletividade em razão da sua 
origem nacional, como por exemplo, o povo nordestino, estará incidindo em 
crime de racismo previsto no art. 20, § 2º da Lei 7.716/1989 (REsp n. 
1.569.850/RN, relator Ministro Sebastião Reis Júnior, Sexta Turma, julgado em 
24/4/2018, DJe de 11/6/2018). 
A injúria praticada em razão da religião, da condição de idoso ou 
deficiente permaneceu no Código Penal. Com isto, a opção do legislador foi no 
sentido de que as ofensas a atributos pessoais da vítima valendo-se de 
elementos referentes à religião não constituem crime de racismo. Até mesmo a 
pena do art. 140, § 3º permaneceu inalterada. O dolo do agente é de ofender a 
pessoa e, para isso, vale-se de elementos relacionados à religião. Contudo, é 
importante salientar a existência da figura típica do racismo religioso em suas 
figuras básica e equiparada. Segundo art. 20 da Lei nº 7.716/1989 (figura 
70 
 
básica), constitui racismo praticar, induzir ou incitar a discriminação ou 
preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. Ainda, sem 
prejuízo da pena correspondente à violência, incorre nas mesmas penas 
previstas no caput do art. 20 (figura equiparada) quem obstar, impedir ou 
empregar violência contra quaisquer manifestações ou práticas religiosas. 
Nesses casos, o dolo do agente é de demonstrar superioridade, menosprezar, 
diminuir, segregar, impedir ou obstar a existência, a prática ou manifestações 
religiosas. 
Dito isso, tem-se que a injúria praticada contra a pessoa em razão da 
raça, cor, etnia ou procedência nacional torna-se, legalmente, espécie de 
racismo. A recente alteração legislativa foi precedida de decisões judiciais das 
cortes superiores. Jurisprudencialmente, o Superio Tribunal de Justiça (AgRg 
no AREsp 686.965/DF)e o Supremo Tribunal Federal (HC 154.248) já haviam 
se manifestado, ainda que parcialmente, sobre a natureza da injúria racial 
como espécie de racismo. O Supremo assentou que o delito de injúria racial, 
em sendo espécie de crime de racismo, é imprescritível. 
Apesar dessa posição equiparatória, o STF silenciou sobre a 
equiparação da injúria ao racismo quanto à natureza da ação penal (já que o 
racismo é de ação pública incondicionada e a injúria, antes da presente 
alteração, era de ação condicionada à representação, sendo possível, portanto, 
a ocorrência da decadência). 
Outro ponto omisso na decisão do STF era definir se, apesar da 
equiparação, o delito de injúria racial continuaria afiançável, já que o crime-
parâmetro de racismo é inafiançável por mandado constitucional. A discussão, 
agora, está resolvida: a injúria racial é crime de ação pública incondicionada e, 
tendo sido inserida na Lei de Racismo, adota o mesmo regime jurídico quanto à 
inafiançabilidade e imprescritibilidade. A injúria racial, assim, é uma espécie de 
crime racial com dolo (animus injuriandi) diverso do crime de racismo previsto 
no art. 20 da Lei 7716/1989, que possui o dolo de diferenciar, segregar, 
diminuir, tratar de forma desigual, impedir ou restringir direitos, dentre outras 
formas de atuação. 
 
 
 
71 
 
Figura 52: Atenção para a mensagem. 
 
 
Com o objetivo de reforçar o conteúdo já trazido, segue quadro 
comparativo das principais diferenças entre o crime de racismo e de injúria 
racial. 
 
Figura 53: Quadro sobre a diferença entre racismo e injúria racial. 
 
Fonte: https://meusitejuridico.editorajuspodivm.com.br/2023/01/15/a-lei-14-532-2023-e-as-
mudancas-promovidas-na-legislacao-criminal-brasileira/ 
 
https://meusitejuridico.editorajuspodivm.com.br/2023/01/15/a-lei-14-532-2023-e-as-mudancas-promovidas-na-legislacao-criminal-brasileira/
https://meusitejuridico.editorajuspodivm.com.br/2023/01/15/a-lei-14-532-2023-e-as-mudancas-promovidas-na-legislacao-criminal-brasileira/
72 
 
Estabelecidas estas premissas, retomemos o ano de 2021, período em 
que Supremo Tribunal Federal decidiu, durante o julgamento de um habeas 
corpus, que o crime de injúria racial configura uma categoria dos tipos penais 
de racismo e é imprescritível. 
 
Figura 54: Arte desenvolvida pela Defensoria Pública da Bahia. 
 
 
O habeas corpus refere-se ao caso de uma mulher idosa de 72 anos, à 
época dos fatos, que foi condenada pela Justiça do Distrito Federal a um ano 
de reclusão e dez dias-multa pela prática de injúria racial ano de 2013. O crime 
ocorreu no ano de 2012 em um posto de gasolina, diante da recusa da 
frentista/vítima em aceitar cheque como forma de pagamento, ocasião em que 
a autora proferiu os seguintes dizeres “negrinha nojenta, ignorante e atrevida”. 
A defesa da autora solicitou a extinção da punibilidade em razão da 
prescrição do crime, considerando a idade da mesma. 
Segundo ministro Edson Fachin, com a alteração legal que tornou 
pública condicionada (que depende de representação da vítima) a ação penal 
para processar e julgar os delitos de injúria racial, o crime passou a ser 
equivalente ao de racismo e, portanto, imprescritível, conforme previsto na 
Constituição Federal (artigo 5º, inciso LXII). 
73 
 
Então, a partir desta decisão do STF, a injúria racial tem sido 
considerada também imprescritível. 
 
Figura 55: Arte sobre a decisão do STF. 
 
 
Como dito nas linhas acima, a Lei nº 14.532/2023, em vigor desde 11 de 
janeiro do corrente ano, incluiu a injúria racial à Lei do Racismo, retirando-a do 
Código Penal. A proposta estabeleceu o aumento de pena para casos de 
injúria, que antes era de um a três anos, para dois a cinco anos de prisão, além 
do pagamento de multa. O crime também passa a ser imprescritível e 
inafiançável. 
A novel legislação sobre o tema também prevê que a pena por injúria 
será aumentada pela metade se o crime for cometido por duas ou mais 
pessoas. 
De acordo com o regramento atual, os crimes de racismo, incluindo o de 
injúria, terão a pena aumentada em um terço até a metade se cometido em um 
contexto ou com o intuito de “descontração, diversão ou recreação” (art. 20-A). 
Também terá a pena aumentada em um terço até a metade quando praticado 
por funcionário público no exercício de suas funções ou a pretexto de exercê-
las (art. 20-B). 
E não é só! As alterações promovidas dispõem, ainda, que, quando o 
crime de racismo, previsto no art. 20, for praticado no contexto de atividades 
esportivas, religiosas, artísticas ou culturais destinadas ao público, a pena será 
de reclusão de dois a cinco anos mais a proibição de frequentar locais 
destinados a práticas esportivas, artísticas, culturais destinadas ao público, 
conforme o caso, por três anos (art. 20, § 2º-A). 
74 
 
Ademais, ao interpretar a lei, o juiz deve considerar como discriminatória 
qualquer atitude ou tratamento dado à pessoa ou a grupos minoritários que 
cause constrangimento, humilhação, vergonha, medo ou exposição indevida, e 
que usualmente não se dispensaria a outros grupos em razão da cor, etnia, 
religião ou procedência (art. 20-D). 
Verifica-se que as alterações almejam alinhar a lei ao entendimento do 
STF em relação ao crime de injúria, além de possibilitar uma repreensão mais 
eficaz e severa, inibindo, desta forma, a prática de atos de discriminação e 
preconceito. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
75 
 
UNIDADE 3 
 
8. IMPLICAÇÕES DO RACISMO E DA DISCRIMINAÇÃO RACIAL NA 
ATUAÇÃO POLICIAL 
 
É certamente clara a importância da discussão acerca de raça, racismo, 
discriminação e temas correlatos sob os enfoques conceitual, teórico e 
normativo. Entretanto, é igualmente evidente a importância de se apresentar e 
discutir estes esses temas sob o ângulo de sua implicação na prática do 
trabalho policial. 
A Matriz Curricular Nacional para ações formativas dos profissionais da 
área de segurança pública (SECRETARIA NACIONAL DE SEGURANÇA 
PÚBLICA - SENASP, 2014) prevê, no escopo das ações de formação de 
policiais civis e militares, uma disciplina especificamente voltada para questões 
de diversidade étnico-sóciocultural. Tal disciplina (2.7.2), descreve como seus 
objetivos construir e exercitar, nos policiais ingressantes, habilidades para: 
Desenvolver uma conduta pessoal e profissional destituída de preconceito e 
discriminação racial; e Aplicar as leis referentes à discriminação racial e outros 
documentos internacionais dos quais o Brasil é signatário (SENASP, 2014, 
p.188). Em sequência, estabelece a importância da capacitação como 
ferramenta de fortalecimento de atitudes que permitam aos policiais se 
tornarem conscientes e sensíveis acerca de sua importância como promotores 
da equidade étnico-social, bem como capazes de atuar adequadamente frente 
às situações de racismo e de violação dos direitos humanos dos grupos étnicos 
discriminados (SENASP, 2014, p.188). 
Além de todo o aspecto legal que coloca as polícias, enquanto órgãos de 
Estado, como agentes no combate à discriminação étnico-racial, o programa da 
Disciplina 2.7.2 da Matriz Curricular Nacional destaca que as forças policiais 
têm responsabilidades próprias quanto a este tema. Afinal, são as polícias 
instituições diretamente implicadas na garantia de direitos, sendo o direito à 
igualdade uma dessas garantias essenciais. 
Ainda na seara dos direitos fundamentais, Cerqueira e Dornelles (2001) 
chamam atenção para o fato de que é por meio de seus agentes que os 
Estados cumprem (ou deixam de cumprir) as exigências dos tratados 
76 
 
internacionais que são signatários – como é o caso do direito à não-
discriminação, abordado tanto em diplomas internacionais específicos quanto, 
de maneira transversal, em outros acordos. 
A declaração da Assembleia das Nações Unidas para a eliminação da 
discriminação racial é um destes importantes tratadosinternacionais. 
Proclamada em novembro de 1963, a Declaração sobre a eliminação de 
todas as formas de discriminação racial faz referência especificamente ao 
trabalho policial em seu artigo 2º (2), ao afirmar que Nenhum Estado deverá 
encorajar, defender ou prestar o seu apoio, através de ação policial ou outras 
medidas, a qualquer discriminação baseada na raça, cor ou origem étnica 
cometida por qualquer grupo, instituição ou indivíduo (ORGANIZAÇÃO DAS 
NAÇÕES UNIDAS, 1963). 
Faces de uma mesma moeda, o direito à igualdade (ou tratamento 
igualitário) e à não-discriminação caminham juntos e, no que tange mais 
especificamente à atuação policial, desembocam sobretudo no direito a um 
julgamento justo – ainda que por hábito tomemos “julgamento” como espaço 
exclusivo do sistema judicial do País. Entretanto, os aparatos judiciais 
funcionam em cadeia, e no caso da justiça penal, mais das vezes esta tem seu 
início no trabalho das polícias (CERQUEIRA; DORNELLES, 2001). Mais do 
que isso: Duarte, Muraro, Lacerda e Garcia (2014) demonstraram que os 
estamentos do sistema judiciário tendem a absorver o discurso policial – em 
resumo, processos de persecução penal iniciados de maneira discriminatória 
têm grandes chances de receber um segmento processual igualmente 
discriminatório. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
77 
 
Figura 56: Charge sobre o procedimento de reconhecimento e suas potencialidades para o 
processo criminal discriminatório. 
 
Fonte: Antonio Junião, 2020. Extraído de https://www.instagram.com/p/CFUtOwYnn-X/, em 
10/02/2023. 
 
Anteriormente, nos remetemos à racialização dos índices de letalidade 
policial (isto é, o quantitativo de pessoas mortas em decorrência da 
intervenção direta de uma força policial, seja em confronto ou não) para 
demonstrar o quão seletiva é a distribuição da violência no País. Inclusive, 
evocamos os dados de vitimização policial por raça/cor (ou seja, a definição 
racial do quantitativo de policiais mortos, em serviço ou não) para expor que 
não é em decorrência do suposto “status criminal” que negros são mais 
vitimizados pela violência do que brancos no Brasil. 
Ao analisar os índices de três capitais da região sudeste do País, a 
desproporção na vitimização letal de pessoas negras pela polícia foi resumida 
por Sinhoretto e seus colaboradores (2014), expondo seu caráter alarmante. 
Computadas as ocorrências registradas de 2008 aos nove primeiros meses de 
2013, a chance de uma pessoa morta pela polícia ser negra era de quatro 
para uma no Estado do Rio de Janeiro; três para uma em São Paulo; e duas 
para uma em Minas Gerais. O desequilíbrio acompanha o número geral de 
mortes por intervenção policial nos estados: o Rio de Janeiro detinha o maior 
índice de letalidade policial, seguido por São Paulo e, por último Minas Gerais4. 
 
4 No período em questão, o índice de letalidade policial em Minas Gerais era dez vezes 
menor do que o de São Paulo e vinte vezes menor que o do Rio de Janeiro (SINHORETTO et 
al., 2014). 
https://www.instagram.com/p/CFUtOwYnn-X/
78 
 
É sempre importante lembrar, porém, que este curso se dirige sobretudo 
a policiais. Sendo assim, ainda que reconheçamos existir um ordenamento 
racialmente discriminatório na sociedade brasileira, nos cabe discutir mais o 
cenário micro (da atuação policial) do que o contexto macro (da sociedade 
como um todo). Isto posto, precisamos rememorar que, a despeito de qualquer 
particularidade, atuações policiais com resultado morte não podem ser 
encaradas com naturalidade: seu aspecto extraordinário deve ser sempre 
mantido em destaque, não sendo razoável tomar sua ocorrência como medida 
suficiente para a compreensão da dinâmica social. 
 
Figura 57: Fotografia sobre encarceramento. 
 
Fonte: Fiocruz, 2020. Extraído de https://campusvirtual.fiocruz.br/portal/?q=palavra-chave-de-
documentos/encarceramento, acesso em 16/02/2023. 
 
Conforme apontam Duarte, Muraro, Lacerda e Garcia (2014), a utilidade, 
e consequentemente a efetividade do trabalho policial é popularmente medida 
pelo volume de encarceramento que produz. Não somente a atuação da 
polícia, mas também ela. Igualmente, a Justiça Penal é útil na medida em que 
condena o suspeito, e o Sistema Penal como um todo alcança seu valor 
quando leva ao encarceramento do condenado. 
A este respeito, dados do Conselho Nacional de Justiça apontam que 
45% da população carcerária do Brasil em 2022 era composta por presos 
provisórios (YAHOO! NOTÍCIAS, 2022), dos quais uma parte considerável 
decorre de prisões em flagrante. Sendo assim, analisar o aprisionamento, e de 
imediato aqueles em flagrante, parece-nos um indicador mais confiável para 
https://campusvirtual.fiocruz.br/portal/?q=palavra-chave-de-documentos/encarceramento
https://campusvirtual.fiocruz.br/portal/?q=palavra-chave-de-documentos/encarceramento
79 
 
discutirmos a prevalência de práticas discriminatórias no trabalho policial. Para 
tanto, antecipamos a conclusão antes de dissecá-la: conforme apontam 
Sinhoretto et al (2014), a qualificação dos presos em flagrante no Brasil 
demonstra que a atenção policial recai em especial sobre as populações 
negras. 
Como apresentam os autores, entre 2008 e 2012 no Estado de São 
Paulo, por exemplo, 54,1% das pessoas presas em flagrante eram negras – a 
título de referência, os dados do Censo de 2010 apontavam que toda a 
população negra do Estado era de 34,8% (SINHORETTO et al., 2014, p.126). 
No caso de Minas Gerais, em 2012 o percentual de presos em flagrante negros 
era de 68,4% - segundo os dados do IBGE 2010, a população geral de MG era 
composta de 53,5% de negros (pretos e pardos) (Idem, p.130). Nos dois casos, 
o que se observa é a sobre representação da população negra nas respectivas 
massas carcerárias. 
Ainda que de maneira sucinta, esses números apontam que o viés 
racializado das prisões em flagrante parece ser efetivamente uma realidade. 
Sendo assim, cabe-nos mais um passo atrás, na direção do que leva às 
prisões desse tipo. Barros (2008) e Duarte, Muraro, Lacerda e Garcia (2014) 
assinalam o efeito das abordagens policiais na realização de prisões em 
flagrante, ainda que apresentem enfoques diferentes para a questão. 
 
Figura 58: Charge sobre abordagem policial. 
 
Fonte: Extraído de https://laurochammacorreia.jusbrasil.com.br/artigos/388119560/busca-
pessoal-e-abordagem-policial-tem-previsao-legal, acesso em 16/02/2023. 
 
https://laurochammacorreia.jusbrasil.com.br/artigos/388119560/busca-pessoal-e-abordagem-policial-tem-previsao-legal
https://laurochammacorreia.jusbrasil.com.br/artigos/388119560/busca-pessoal-e-abordagem-policial-tem-previsao-legal
80 
 
Partindo da própria Matriz Curricular Nacional para formação de 
profissionais de segurança pública, Timbane (2013) destaca que 
discriminações por grupo social podem ocorrer desde o primeiro contato entre 
policiais e população, isto é, já no momento da abordagem desta por aquela. 
Entretanto, apesar de estar interessado nas formas como são verbalmente 
conduzidas as abordagens policiais, e de considerar que essas são palco de 
possíveis discriminações, Alexandre Timbane (2013) não se dedica a analisar 
especificamente as relações existentes entre abordagens policiais e a raça/cor 
dos abordados. Essas implicações serão consideradas em pesquisas 
realizadas em diversas partes do País, como os já citados (BARROS, 2008; e 
DUARTE; MURARO; LACERDA; GARCIA, 2014), mas também Sinhoretto et al 
(2014) e Trad et al (2016). Em resumo, esses estudos demonstram de maneira 
bastante sólida a presença de marcadores de raça/cor nos processos de 
fundamentação de suspeita e abordagem policial. 
O trabalho de Geová Barros (2008) fez parte de um conjunto de 
pesquisas sobre a presença de discriminação racial entre os policiais militares 
do Estado de Pernambuco (PMPE). Usando métodos diversos de investigação, 
o autor deparou-se com 65,05% de seus entrevistados (todosmilitares da 
ativa) dizendo que sim, pessoas negras são priorizadas em abordagens 
policiais. Entre alunos dos cursos de formação de soldados (CFSD) e de 
oficiais (CFO), esse índice saltou para 74% e 76,9% respectivamente. Usando 
de outro instrumento, Barros, ele próprio oficial da PMPE, apresentou a seus 
entrevistados (tanto policiais quanto ingressantes) uma situação hipotética de 
abordagem: no modelo, um trio de agentes está diante de dois homens 
suspeitos, um deles branco e o outro, negro. Tendo que escolher qual dos dois 
abordar primeiro, o pesquisador perguntou aos participantes o que eles fariam, 
se fossem eles em patrulha; e o que eles achariam que aconteceria, sendo o 
respondente apenas um observador. 
O resultado obtido pelo pesquisador reforçou algo já conhecido sobre as 
relações raciais no Brasil: as pessoas admitem tratar-se de um país racista, 
mas quando convidados a apontar quem é racista, este é sempre o outro, 
nunca ele mesmo. Assim, militares da ativa e ingressantes, quando na situação 
de observadores, disseram que na maioria dos casos o suspeito negro seria 
abordado primeiro (67,4% em média). Quando o respondente deveria imaginar-
81 
 
se realizando a abordagem, o índice muda radicalmente, e em média apenas 
27,2% afirmam que o suspeito negro seria abordado primeiro. No caso em que 
se imaginam atuando, os participantes da pesquisa preferiram uma saída 
intermediária: 56,9% deles, em média, disse que nem abordariam o suspeito 
negro primeiro, nem o suspeito branco, mas que optariam por outra estratégia 
(BARROS, 2008, p.141). Ou seja: quando perguntados se a polícia militar age 
de maneira racista, policiais militares e aspirantes à função disseram que sim. 
Quando questionados se eles próprios, policiais militares, atuam de maneira 
racista, disseram que não. O racista é sempre o outro. 
 
Figura 59: Charge sobre cultura escravista. 
 
Fonte: Charge de Rico. Extraída de https://www.instagram.com/p/Cdg_rY-r8Oe/, acesso em 
14/02/2023. 
 
Trad e seus colaboradores (2016) também realizaram entrevistas e 
conduziram grupos focais com policiais, acrescentando à pesquisa a escuta a 
jovens negros, estatisticamente os mais afetados pelo racismo institucional dos 
órgãos de segurança. Retomaremos mais adiante este trabalho, mas no 
https://www.instagram.com/p/Cdg_rY-r8Oe/
82 
 
momento basta destacarmos a percepção dos jovens participantes, sobretudo 
de Fortaleza e Recife, sobre quais elementos são utilizados pelos policiais para 
decidir quem deve ser abordado ou não. Assim, indicadores de pertencimento 
social (nível socioeconômico); comportamentos como a forma de andar, 
gesticular e a linguagem utilizada; a aparência do indivíduo; a raça/cor ou 
outros traços étnicos; e, por fim, traços externos (como veículo que conduz ou 
trafega, se carrega pacotes ou mochilas), foram apontados pelos jovens 
participantes da pesquisa como critérios básicos da decisão, por parte dos 
policiais, de abordar alguém ou não (TRAD et al., 2016, p.55). 
As conclusões desses estudos apontam para o fato de que 
características raciais das pessoas são efetivamente utilizadas para decidir se 
alguém deve ser abordado ou não. A questão é, porém, mais profunda: 
definida pelo artigo 244 do Código de Processo Penal, a abordagem – termo 
popular para a busca pessoal – é assim descrita: 
 
Art. 244. A busca pessoal independerá de mandado, no caso de 
prisão ou quando houver fundada suspeita de que a pessoa esteja 
na posse de arma proibida ou de objetos ou papéis que constituam 
corpo de delito, ou quando a medida for determinada no curso de 
busca domiciliar. (BRASIL, 1941. Grifos nossos) 
 
A fundada suspeita é elemento essencial para oportunizar ou não o uso 
da abordagem/busca pessoal. Em certa medida, é a sua presença que 
converte um cidadão em suspeito. O interesse da nossa discussão, para a 
apreensão da discriminação racial no fazer policial, passa a ser identificar o 
que os agentes levam em conta para identificar uma situação de fundada 
suspeita e, consequentemente, o/a suspeito/a5. 
É vã a expectativa de definir, a priori, um rol de elementos capazes de 
compor um quadro de suspeição. Isso porque, como refere o manual Servir e 
Proteger, do Comitê Internacional da Cruz Vermelha – CICV (2020), aplicar a 
lei não é emitir respostas padronizadas para problemas igualmente 
padronizados. Os protocolos, que funcionam como norteadores, só conseguem 
dar diretivas genéricas a serem consideradas no momento e no espaço da 
ação. Isso cria uma separação: de um lado, o prescrito, o discurso institucional, 
 
5 A Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) considerou ilegal a busca pessoal 
ou veicular, sem mandado judicial, motivada apenas pela impressão subjetiva da polícia sobre 
a aparência ou atitude suspeita do indivíduo (RHC nº 158.580/BA). Vale também destacar, que 
em 01/03/2023, o STF começou a julgar validade de prova obtida em busca pessoal baseada 
na cor da pele (HC 208.240). 
83 
 
manifesto em protocolos, normas e códigos de conduta. Do outro, a atuação 
real, sujeita a variáveis diversas, discricionária (DUARTE; MURARO; 
LACERDA; GARCIA, 2014). 
O discurso institucional é diferente das práticas policiais. A racionalidade 
que rege a primeira não resume as ações da segunda, ainda que seja evocada 
no discurso dos policiais quando chamados a explicar os motivos de sua ação 
(TRAD et al., 2016). Se as abordagens policiais são discriminatórias, 
certamente esse traço não estará presente nos protocolos de atuação, mas sim 
no momento de tomada de decisão por parte dos agentes. 
Essa separação entre discurso e prática não é tão radical quando pode 
parecer. Trad et al (2016) deixam claro que a abordagem é definida por um 
misto de técnica (oriunda dos protocolos, do discurso institucional) e a 
discricionariedade do agente. A questão passa a ser, portanto, o que pesa na 
definição da fundada suspeita que orienta a abordagem. Do ponto de vista 
formal, “uma pessoa deverá ser considerada um suspeito em potencial com 
base em fatos claros e conclusões lógicas. Qualquer consideração desse tipo 
não deverá ser influenciada por questões de nacionalidade, raça, religião, 
género, classe social etc.” (CICV, 2020, p.162), conforme o princípio da não-
discriminação. 
Entretanto, como assinalam Duarte, Muraro, Lacerda e Garcia (2014), a 
construção do suspeito policial está atrelada a crimes ocorridos no espaço do 
visível – furtos, roubos, tráfico. São as características desses tipos de crimes 
que serão consideradas para se identificar quem é suspeito e quem não é, 
porque acredita-se que existe um perfil identificável da pessoa que comete 
esses crimes. Em contrapartida, delitos que ocorrem no espaço “invisível” – 
corrupção, violência doméstica, homicídio, violência sexual – não possuem 
características supostamente visíveis e, portanto, não geram um perfil do 
suspeito de cometer esse tipo de crime. 
Ainda segundo os mesmos autores (DUARTE; MURARO; LACERDA; 
GARCIA, 2014), toda essa discussão acerca do que fundamenta a parte 
prática, discricionária, da atuação policial é habitualmente reduzida a um termo: 
o tirocínio. Espécie de habilidade talhada pelos tempos de serviço, o tirocínio 
serve de explicação para tudo aquilo que não tem explicação – que se 
pergunte a um policial por que considera suspeito um homem negro dirigindo 
84 
 
um carro de luxo, mas não um homem branco com um carro semelhante, e a 
chance de ouvir “por experiência, tirocínio” é grande. A verdade porém é que, 
mais das vezes, o “tirocínio” não passa de um chavão: um argumento coringa 
utilizado sempre que os agentes não sabem racionalizar os passos que 
antecederam a tomada de decisão. 
 
Figura 60: Matéria jornalista sobre ação policial e tirocínio. 
 
Fonte: Extraído de https://patosagora.net/noticia/tirocinio-policial-ajuda-na-prisao-de-cinco-
homens-que-iam-assaltar-casa-de-avo-de-um-dos-envolvidos.,acesso em 16/02/2023. 
 
O tirocínio é o resultado de um espaço de ação mal delimitado e que, 
aliado à grande resistência das instituições policiais em discutir raça e racismo 
(TRAD et al., 2016), faz com que o processo de tomada de decisão seja 
fortemente sustentado por estereótipos – geográficos, de gênero, de classe, de 
raça (DUARTE; MURARO; LACERDA; GARCIA, 2014). 
Conforme demonstra Geová Barros, quando confrontados ou quando 
reconhecem o caráter racialmente orientado de alguma decisão que tomaram 
no exercício de sua atividade, os policiais o fazem de maneira constrangida. 
Assim, 21,9% dos entrevistados por Barros (2008, p.147) disseram que 
pessoas negras são priorizadas em abordagens porque “a maioria das pessoas 
presas/detidas é negra”, ou que “a maioria dos pretos/pardos mora em favelas” 
(14,3%). Um percentual não desprezível dos policiais ouvidos (22,6%) afirmam 
que a preferência de pessoas negras para abordagem se dá por “questões 
culturais”, somados aos outros 5,4% que afirmam que a preferência se dá “de 
maneira automática”, perceberemos que esse automatismo, essa prescrição 
cultural, essa criminalização da pobreza, se apoiam no já discutido racismo 
estrutural (ALMEIDA, 2020). Por sua vez, a explicação que atrela suspeição e 
https://patosagora.net/noticia/tirocinio-policial-ajuda-na-prisao-de-cinco-homens-que-iam-assaltar-casa-de-avo-de-um-dos-envolvidos
https://patosagora.net/noticia/tirocinio-policial-ajuda-na-prisao-de-cinco-homens-que-iam-assaltar-casa-de-avo-de-um-dos-envolvidos
85 
 
população carcerária diz muita coisa, é uma profecia autorrealizável: a maioria 
dos presos ser negra faz com que negros sejam mais abordados e, se mais 
abordados, mais chances têm de serem pegos em flagrante, aumentando a 
massa carcerária de pessoas negras, que orienta as preferências de 
abordagem... 
 
Figura 61: Ilustração sobre discriminação racial e ação policial. 
 
Fonte: Extraída de Cruz (2019). 
 
Ainda nesse sentido, se conforme já discutimos, a tradição do 
pensamento brasileiro embranquece elementos da cultura negra pra fazê-los 
nacionais (REIS, 1996), de maneira semelhante os discursos evocam traços 
socioeconômicos para justificar o que é, efetivamente, racial (TRAD et al, 
2016). Conforme Duarte, Muraro, Lacerda e Garcia (2014), ao justificarem a 
fundada suspeita que deu causa a uma abordagem, os policiais apresentam 
elementos econômicos e comportamentais, sobretudo para escamotear 
aspectos raciais. Surge assim um “tipo social criminoso” (SINHORETTO et al., 
2014, p.137), na forma do “kit peba” referido pelos policiais do Distrito Federal6, 
dos elementos do hip hop referidos pelos policiais de MG e SP, ou o estilo 
 
6 Na descrição dos policiais ouvidos pelos pesquisadores, no “kit peba” as roupas “[...] 
são largas, aparecem as cuecas, são acompanhadas de boné que esconde os olhos e a 
intenção da pessoa; possuem um jeito desleixado de andar, roupas com estampa, geralmente 
de marca, não sendo necessariamente originais.” (SINHORETTO et al, 2014, p.135). 
86 
 
funkeiro descrito pelos agentes do Rio de Janeiro – em síntese, elementos 
comuns na cultura das periferias, das favelas, passam a compor o perfil 
criminoso. 
Nos aspectos comportamentais tomados como indícios para a fundada 
suspeita, novamente o caráter autorrealizável das características levadas em 
conta: cidadãos marginalizados são mais abordados, o que os deixa mais 
apreensivos quando diante de policiais, o que acaba sendo tomado como 
elemento de suspeição (CRUZ, 2019). 
 
Figura 62: Ilustração sobre discriminação racial e ação policial. 
 
Fonte: Extraída de Cruz (2019). 
 
Pode ser que alguns considerem essa relação entre elementos de 
periferia e raça/cor uma metonímia exagerada. A esse respeito, é importante 
recuperarmos o que apresenta Oracy Nogueira (MUNANGA, 2020): a 
discriminação no Brasil é estruturada como racismo de marca, não de origem. 
Quer dizer, é mais discriminado aquele que se parece ser (ou é) 
fenotipicamente mais preto. O inverso é verdadeiro, e quanto menos preta uma 
pessoa se parece, menos sujeita à discriminação ela está. Quando os policiais 
87 
 
entrevistados apontam elementos socioeconômicos como marcadores de 
suspeição, o fator racial se faz presente, ainda que não declarado: há um 
emparelhamento em que negritude = pobreza/periferia/crime (“a maioria das 
pessoas negras mora em favelas”), do qual o elemento “negritude” é ocultado 
somente no discurso. De mais a mais, discriminação pode se dar em função da 
etnia real ou presumida (CICV, 2020, p.163): “periférico” e “negro” tornam-se 
concepções intercambiáveis, sinônimos do qual se presume o crime. 
Os versos de “Haiti”, canção de Caetano Veloso e Gilberto Gil, podem 
ser evocados para traduzir essa relação de maneira mais poética, menos 
técnica: 
 
Mas presos são quase todos pretos 
Ou quase pretos, ou quase brancos quase pretos de tão pobres 
E pobres são como podres 
E todos sabem como se tratam os pretos 
(VELOSO, 2003, p.190) 
 
Para a discriminação racista, estruturalmente organizada, a pobreza, os 
elementos típicos das periferias e sua cultura, as favelas, o hip hop, o funk são 
agentes enegrecedores. É em razão disso que podemos entender o que um 
policial quer dizer quando afirma que “algumas situações passam 
despercebidas porque a pessoa não tem essas características que a gente 
espera que ela tenha” (DUARTE; MURARO; LACERDA; GARCIA, 2014, p.95); 
ou quando uma juíza afirma que o réu “não possui o estereótipo padrão de 
bandido” (G1, 2019a). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
88 
 
Figura 63: Fragmento de decisão judicial. 
 
Fonte: Extraída de G1 (2019a). 
 
Ressaltar as razões raciais que subjazem as escolhas que são 
justificadas como baseadas exclusivamente em elementos socioeconômicos 
não equivale a dizer que elementos dessa natureza não compõem o quadro 
discriminatório, porque eles compõem, se somam. Não nos esqueçamos que o 
posicionamento das forças de segurança deve, conforme alguns de seus 
membros, variar de acordo com o lugar em que opera (DUARTE; MURARO; 
LACERDA e GARCIA, 2014; ADORNO, 2017). Existem várias cidades dentro 
de uma mesma cidade, com regras próprias de intervenção. Majoritariamente 
negras, as favelas, as periferias, vivem em um permanente “estado de 
exceção”, no qual a truculência e a violência racial são a linguagem 
socialmente aprovada (MBEMBE, 2018). 
 
• E a Polícia Civil? 
 
89 
 
É relativamente fácil para nós, policiais civis, nos eximirmos da 
responsabilidade ante a discussão que conduzimos até aqui. Afinal, é só muito 
raramente que a abordagem a suspeitos se faz presente em nossa atuação e, 
quando prendemos alguém, na maioria das vezes é como resultado de um 
processo investigativo que individualizou a responsabilidade pelo delito. 
Porém nada neste assunto é simples. Conforme aponta o manual de 
referência para policiais e forças de segurança da Cruz Vermelha (CICV, 
2020), uma técnica usual para se chegar à autoria de um delito é o 
perfilamento: a construção de uma hipótese sobre a identidade do suspeito 
potencial com base na natureza do crime, nas circunstâncias em que foi 
cometido e, espera-se, em outros indícios coletados. Uma vez considerados 
esses condicionantes, a busca pelo autor do crime é restrita às pessoas que 
correspondem ao perfil criado. 
Apesar do que mostram os filmes, o perfilamento (profiling) não 
necessariamente ocorre de maneira formal, com a confecção de um perfil 
criminal por escrito redigido por caricatos psicólogos ou psiquiatras forenses. 
Pelo contrário: de maneira intuitiva e informal, construímos perfis criminais o 
tempo todo, baseados nos indícios e em nossas experiências. É pertinente 
então que nos lembremos do que foi discutido acerca do recurso à “experiência 
profissional”, materializada no “tirocínio”, como fundamento da ação policial. 
 
Figura 64: Fragmento de decisãojudicial. 
 
Fonte: Extraído de https://www.guiadasprofissoes.info/profissoes/profiler-criminal-profiling/, 
acesso em 16/02/2023. 
 
https://www.guiadasprofissoes.info/profissoes/profiler-criminal-profiling/
90 
 
A definição prematura de um perfil a ser buscado, baseada somente em 
experiência ou sem informações e indícios sólidos, pode apontar na direção 
errada e impedir que indícios relevantes sejam percebidos e coletados. 
Ademais, situações como essa não raras vezes impedem completamente que 
o criminoso verdadeiro seja capturado, restando o delito insolúvel e o 
responsável sem a devida punição. 
Muitas vezes o autor de um crime é procurado a partir de impressões 
vagas de tipo físico ou região de residência (como uma determinada 
comunidade ou favela, por exemplo). Em decorrência disso, empenha-se 
grande esforço para abordar um grande número de pessoas em razão de um 
perfil impreciso e discriminatório. Isso pode fazer com que pessoas 
pertencentes ao grupo minoritário atingido sintam-se discriminadas e 
apresentem alto grau de desconfiança ao se relacionar com a polícia (CICV, 
2020, pp.164-165). Nesse cenário, esse grupo pode tornar-se 
 
[...] menos inclinado a denunciar crimes ou dar informações que 
poderiam ser relevantes às investigações policiais. No longo prazo, 
essa abordagem terá um efeito negativo sobre o trabalho e a eficácia 
policial. O fenômeno é frequentemente observado em bairros pobres, 
onde as pessoas se sentem discriminadas por sua baixa condição 
social, já que as forças policiais que investigam um crime específico 
imediatamente lançam amplas buscas pelo perpetrador nesses 
bairros sem qualquer informação ou prova adicional de que ele 
realmente de lá proceda. Consequentemente, as pessoas que moram 
nesses bairros tornam-se cada vez mais relutantes a denunciar 
crimes à polícia ou tendem a lidar com o crime por si mesmos e à sua 
própria – e com frequência violenta – maneira. (Idem, p.165) 
 
• Existe mesmo discriminação racial na minha atuação 
policial? 
 
Algumas pessoas, inclusive entre nós policiais, tendem a se colocar de 
maneira relutante diante de discussões como a que fizemos aqui. Não há nada 
de extraordinário nisso: conforme apresentamos anteriormente, o racismo, 
dada a sua forte crítica moral, é entendido como um comportamento 
condenável, vexatório – e de fato deve ser percebido assim. Entretanto, isso 
faz com que sejamos rápidos em negar qualquer possibilidade de que existam 
traços racistas em nós ou em nossas ações. Da mesma forma, somos 
igualmente velozes em apontar, no outro e em suas ações, a presença vil da 
discriminação racial. 
91 
 
Conforme Duarte, Muraro, Lacerda e Garcia (2014), existirão mesmo 
aqueles que negarão o fundo racista nos índices de mortes violentas ou de 
encarceramento, suspeitando de uma possível “mentira coletiva”. Oras, a estes 
teremos de dizer que os dados são muitos e oriundos de diversas fontes. 
Trabalhos que, como mostramos brevemente, lançaram mão das mais 
diferentes técnicas – entrevistas, grupos focais, situações simuladas, análise 
de dados estatísticos, análise de boletins de ocorrência policial e sentenças 
judiciais – para chegar à mesma infeliz conclusão. 
Outros, ainda, recorrerão à ausência de intenção, à ação inconsciente, 
automatizada, mecânica. A estes, Barros (2008) lembra que a intenção de 
discriminar é irrelevante para definir se ocorreu discriminação, porque os 
efeitos dela independem se quem discriminou agiu deliberadamente ou não. 
A fim de fugir à possibilidade de atuação discriminatória, algumas 
instituições estabelecem como padrão de resposta o aumento da repressão, de 
maneira indiscriminada – todos serão submetidos a abordagens, 
independentemente da existência de suspeição prévia. Além de não existir 
nenhuma tecnicidade nesse tipo de procedimento, ainda imporia a todos os 
cidadãos uma percepção antecipada de culpa, demolindo a presunção de 
inocência. A necessidade de tratamento igualitário não propõe que todos sejam 
igualmente tratados como criminosos, pelo contrário. Nas palavras de uma 
jovem negra do Distrito Federal: 
 
Quando a gente fala de tratamento igual não é de pensar que os 
brancos devem ser tratados assim, no sentido da polícia ser 
truculenta com eles. Mas no sentido de desnaturalizar que eu já sou 
um possível suspeito por eu ser negra ou por meu irmão ser negro. A 
questão caminha no sentido de sair do campo fenotípico ou até do 
cultural e passar por questões mais operacionais mesmo, de 
situação. A situação pede que eu aborde pessoas que estão aqui, 
independente de sejam brancos ou negros. (DUARTE; MURARO; 
LACERDA; GARCIA, 2014, p.97) 
 
Por fim, precisamos recordar que as polícias não são as únicas 
responsáveis pelo tratamento discriminatório que pessoas negras recebem do 
sistema penal. Se é de conhecimento geral que o racismo se faz presente nas 
ações ordinárias da segurança pública, a ausência de oposição firme ante esse 
estado de coisas por parte dos poderes Judiciário e Legislativo auxilia na sua 
manutenção (DUARTE; MURARO; LACERDA; GARCIA, 2014). Discutimos 
extensamente sobre a forma estrutural do racismo no Ocidente, em especial no 
92 
 
Brasil. Assim, temos consciência de que qualificar apenas a polícia para o 
enfrentamento das discriminações raciais não é o suficiente – ainda que seja 
necessário e inevitável. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
93 
 
9. ALGUMAS REFLEXÕES ACERCA DA INTOLERÂNCIA RELIGIOSA NO 
BRASIL 
 
Figura 66: Atenção a anotação abaixo. 
 
 
Nessa noite, fiquei ao lado das filhas de santo que o ajudavam a se 
trocar durante a celebração. Os trocadores aqueceram seus 
tambores na fogueira acesa no terreiro. A primeira a chegar, após a 
ladainha e a saraivada de fogos, foi justamente a dona da festa, santa 
Bárbara; a caixa trazida por dona Tonha continha a saia vermelha, o 
adê e a espada de Iansã, todos os adornos que a santa vestiria. O 
quarto dos santos, onde rezavam a ladainha, tinha velas acesas e 
uma profusão de cores das imagens e bonecas. Havia imagens de 
gesso e madeira de diferentes tamanhos e estados de conservação. 
São Sebastião, Cristo Crucificado, o Bom Jesus, são Lázaro, são 
Roque, são Francisco, padre Cícero. Havia pequenos quadros, uns 
de cores vivas, outros desbotados, de são Cosme e são Damião, 
Nossa Senhora Aparecida, santo Antônio. Havia fotografias de meus 
pais, da velha Donana, outras tantas, pequenas, de devotos. Havia 
flores de papel, algumas mais novas, outras pálidas. Sempre-vivas 
que colhíamos na estrada ou nas cercanias, entre as rochas. [Trecho 
do livro Torto arado, do escritor Itamar Vieira Junior (2019)] 
 
Nesse trecho da ficção criada por Vieira Junior (2018) e ambientada no 
sertão da Bahia, uma das filhas da personagem Zeca Chapéu Grande narra os 
instantes que antecedem os festejos de Santa Bárbara, Iansã, nas religiões 
afro-brasileiras. O descortinar do sincretismo religioso brasileiro, tão bem 
representado pelo escritor baiano em sua obra, não se trata de mero 
espetáculo ao leitor atento. O entremear de tradições religiosas é constituinte 
da identidade brasileira, sendo a sociedade, desde o início do seu processo 
94 
 
colonizador, predominantemente Católica, religião professada pelas nações 
colonizadoras. No entanto, estatísticas oficiais acerca das filiações religiosas 
tem apontado para a crescente alteração dessa realidade. No Censo 
Demográfico realizado no ano de 2010, 64,6% da população brasileira 
declarava-se católica, seguida de 22,2% de evangélicos, 2% de espíritas, 0,3% 
de Umbanda e Candomblé e de 2,7% de outras religiosidades. A estimativa é 
de que no ano de 2030 o Brasil não seja predominantemente de católicos, mas 
sim de evangélicos, em suas variações (SANTO, DIAS e SANTOS, 2023). 
Já falamos por aqui sobre os impactos do imperialismo europeu sobre os 
povos africanos, de como tiveram suasliberdades solapadas. Eles foram 
sequestrados e inseridos opressivamente em uma cultura diversa, na qual seus 
costumes mostravam-se tão inferiores quanto aos motivos que justificaram o 
tratamento desumano. O sociólogo Pierre Bourdieu (2005) ajuda-nos a 
compreender a dominação religiosa como recurso da manutenção de um 
arranjo social. 
Segundo Bourdieu (2005), sistemas simbólicos cumprem um papel 
político de legitimação da dominação. Acredita que todas as outras formas de 
poder estão transfiguradas no poder simbólico, ele é como um poder invisível 
“o qual só pode ser exercido com a cumplicidade daqueles que não querem 
saber que lhe estão sujeitos ou mesmo o exercem” (BOURDIEU, 2005, p.8), é 
o responsável por construir a realidade e estabelecer um sentido para o mundo 
social. Se tomamos a religião dominante como um sistema simbólico, 
compreendemos a mesma como capaz de produzir experiências, com 
legitimação e poder para influir nas normas sociais. 
Com o advento das transformações econômicas e sociais, a Igreja 
Católica tornou-se autônoma e desenvolvida no que tange a crenças e práticas. 
Papéis foram estabelecidos dentro da sociedade, restando à Igreja a função de 
guiar os indivíduos na construção de costumes religiosos (BOURDIEU, 2005). 
A necessidade da convivência em grupo, da relação de dependência e o 
corporativismo levaram à introdução de seus valores morais na sociedade. 
Houve uma “racionalização” das ações e da forma de encarar os costumes e 
ritos, o que inclui a passagem do mito à ideologia (BOURDIEU, 2005). Os 
sacerdotes passaram à condição de organizados e cientes de suas funções, 
contribuindo ainda mais para a solidificação do monoteísmo. 
95 
 
A justificação do poder de dominação pela religião passou a ser 
garantida, então, pela propriedade de capital religioso por parte de instâncias 
religiosas e de indivíduos que o exerciam (os sacerdotes), por esse motivo 
estes se diferenciavam dos demais (leigos), motivando uma separação entre o 
sagrado e o profano. Essa propriedade (a do capital religioso) deu à instância 
religiosa a capacidade de desenvolver nos leigos costumes religiosos, capazes 
de fazê-los agir dentro de normas e de acordo com preceitos que, por 
conseguinte, conformavam certa visão política de mundo social (BOURDIEU, 
2005). 
A partir desse entendimento, Bourdieu (2005) ajuda-nos a compreender 
que a manutenção da dominação pela religião está relacionada também à 
manutenção de uma ordem política. Nesse sentido, parte da tarefa de 
subalternizar os povos escravizados, utilizados como sustentáculos de um país 
em construção, era garantir também uma dominação simbólica por meio da 
imposição da religião do colonizador. As manifestações de intolerância às 
religiões de matriz africana que vemos ainda hoje derivam desse processo de 
silenciamento e expressam a contínua tentativa de silenciamento das camadas 
mais vulneráveis de nossa sociedade. Trata-se de um tipo de violência que foi 
substrato do processo colonial brasileiro e que se atualiza com o passar do 
tempo (CUNHA, 2023). 
 
Figura 67: Imagem do orixá Ogum. 
 
Fonte: O orixá Ogum (CORSI, 2023). 
96 
 
 
Acerca desse fazimento, Santos e Gino (2023, p. 182) afirmam que: 
 
A intolerância religiosa no Brasil faz parte de um processo dicotômico 
construído pela dominação social, política europeia que passou a 
dividir o que representava a “boa” e a “má” religião. Tal visão e 
representação religiosa foi construída no período colonial, a partir do 
encontro entre a religião cristã e as religiosidades africanas em solo 
brasileiro, onde os adeptos das religiões africanas, com suas culturas 
e suas representações, configuram um mal a ser combatido pelos 
não adeptos a estas religiosidades. 
 
Segundo Dias e Santos (2023, p.170), podemos definir a intolerância 
religiosa “como a dominação de uma vertente religiosa sobre as demais, sendo 
caracterizada pela perseguição explícita, concreta e objetiva em relação a 
instituições, símbolos e centros religiosos de determinada religião”. O que se 
observa é que “fomentados pelo racismo e pelo preconceito, os processos de 
colonização religiosa nas Américas ajudaram na construção de uma ideia e 
identidade não positiva das religiões e culturas de matriz africana” (SANTOS e 
GINO, 2023, p. 183) a ponto de que na tradição religiosa vivida pela sociedade 
brasileira, a qual tem reverberado no crescimento dos grupos religiosos 
evangélicos, as religiões de matriz africana estejam situadas no elo mais fraco 
do acirramento das guerras espirituais (SANTOS e GINO, 2023). Nesse 
sentido, nem mesmo os aparatos estatais são capazes de pôr fim a essa 
questão. 
Desde o fim do período ditatorial (1964-1985), vivemos todos em um 
Estado democrático de direitos no qual é assegurado, pela Constituição 
Federal de 1988, o livre exercício da religiosidade. Conforme se vê definido no 
artigo 5º, VI, “é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo 
assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a 
proteção aos locais de culto e a suas liturgias”. Porém, alguns anos depois da 
promulgação do documento que chancelava nossa democracia, novos 
acontecimentos convocavam a sociedade à luta por uma velha demanda 
renovada, o direito à re-existir enquanto povo brasileiro. Explicamos melhor. 
Grandes transformações políticas e sociais marcaram os anos de 1990. 
Segundo Cunha (2023), embora as demandas por direitos humanos 
ganhassem força, os anos de 1990 foram protagonizados por grandes 
catástrofes sociais responsáveis por desvelar violências (religiosa, de gênero, 
97 
 
contra a infância e de classe por exemplo) praticadas em desfavor de minorias 
políticas e por colocar o país na mídia e tribunais nacionais e internacionais. 
Entre eles, vale citar o "Massacre do Carandiru" (1992) e a "Chacina da 
Candelária" (1993). 
 
Figura 68: Relembre. 
 
 
 
 
Figura 69: Relembre. 
 
 
No que diz respeito especificamente à violência religiosa, o episódio 
conhecido como o “chute da santa” escancarou um contexto de violência 
religiosa antes não evidenciado na sociedade brasileira (CUNHA, 2023): 
 
Foi durante o programa matutino Despertar da Fé, transmitido pela 
TV Record, que Sérgio Von Helder, ex-bispo da Igreja Universal do 
Reino de Deus, em 12 de outubro de 1995, proferiu chutes e palavras 
ofensivas em direção a uma imagem de Nossa Senhora de 
Aparecida. Esta, proclamada padroeira do Brasil, teve o seu dia de 
comemoração na Igreja Católica decretado como feriado nacional por 
lei em 1980. (CUNHA, 2023, p. 207) 
 
Em reação ao evento, exemplo da “guerra santa” instaurada no país, 
grupos e lideranças religiosas em defesa da liberdade de crença, como o 
Centro de Articulação de Populações Marginalizadas (CEAP), o Movimento 
Inter-Religioso (MIR), a Mãe Beata de Iemanjá e o babalaô Ivanir dos Santos, 
puseram-se em um ativismo que acabou por consolidar a questão como um 
problema de toda a sociedade (CUNHA, 2023). 
Recentemente foi divulgado o II Relatório sobre intolerância religiosa: 
Brasil, América Latina e Caribe. O documento resulta do esforço de grupos da 
sociedade civil, como Centro de Articulação de Populações Marginalizadas 
98 
 
(CEAP), com o apoio da UNESCO, em reunir dados acerca do fenômeno no 
país e em defesa da liberdade religiosa, incluindo dados do Disque Direitos 
Humanos (Disque 100). A seguir, acessamos alguns casos de intolerância às 
religiões de matriz africana apresentados no ano de 2021 à Comissão de 
Combate a Intolerância Religiosa do Estado do Rio de Janeiro e relatados no 
referido relatório (SANTOS, DIAS e SANTOS, 2023, s.p.): 
 
Região Metropolitana, capital: (Ilha do Governador): Adepto do 
Candomblé de 77 anos sofre traumatismo craniano quando cumpria 
rito religioso, na rua, em 04/01, na primeira segunda-feira do ano, 
após seis dias a vítima veio a falecer. 
Região Baixada Fluminense(Duque de Caxias, Saracaruna): Vizinho 
evangélico destrói um Terreiro de Umbanda, com vandalismo e 
incêndio. Aos gritos de “o pastor deu ordem para quebrar todos os 
demônios que visse pela frente”, tentou fugir para residência de outro 
membro da igreja que frequenta, mas foi detido. 
Região Baixada Fluminense (Japeri, Engenheiro Pedreira): Padre se 
recusa a batizar filho de casal que segue o Candomblé. Todo o 
processo para a celebração foi parado, e os pais da criança ouviram 
que “estou aqui para a igreja não virar bagunça”. 
Região Baixada litorânea (Cabo Frio): Terreiro de Umbanda que 
estava em construção e, dessa forma, sem teto, foi invadido e 
depredado, após culto. O sacerdote umbandista tentou suicídio após 
o ocorrido. 
 
Das 47 denúncias recebidas pela Comissão no ano de 2021, 43 diziam 
respeito às religiões de matriz africana, 03 à religião judaica e 01 à católica. Do 
total de casos, a maior parte (26%), representa injúria religiosa direcionada a 
pessoas, 23,9% dizem respeito às injúrias voltadas à comunidade religiosa e 
21,7% dos casos está relacionado a vandalizações dos templos religiosos 
(SANTOS, DIAS e SANTOS, 2023). 
Segundo levantamento realizado por Santos, Dias e Santos (2023) a 
partir de dados obtidos junto ao Disque 100, responsável por receber 
denúncias relacionadas a violações de direitos humanos no país, o número de 
denúncias de intolerância religiosa foi de 477 em 2019, 353 em 20207 e 966 em 
2021. No que diz respeito aos dados apresentados para o ano de 2021, as 
evidências apontam que as religiões de matriz africana, apesar de representar 
minoria no país, estão envolvidas na maior parte das denúncias. Das 966 
denúncias, 244 envolviam religiões de matriz africana, 234 não definia 
especificamente a religião envolvida, 186 de matriz evangélica, 160 denúncias 
 
7 No ano de 2020, o número de denúncias sofreu uma queda (353), fato que tem como 
hipótese explicativa o afastamento social imposto pela pandemia de COVID-19, o qual acabou 
por contribuir para um menor número de ocorrências de intolerância religiosa (SANTOS, DIAS 
e SANTOS, 2023). 
99 
 
diziam respeito às demais religiões, 125 à católica e 17 a denúncias 
envolveram pessoas sem religião. Nesse ano, a relação entre vítima e suspeito 
era de vingança (226 denúncias), assim, em sua maioria, a natureza jurídica da 
vítima era de pessoa física (743 denúncias) e a maior parte das vítimas era do 
sexo feminino (628 denúncias), ao passo que os suspeitos foram em sua 
maioria do sexo masculino (434 denúncias). 
O Relatório apresentado por Santos, Dias e Santos (2023) 
disponibilizou, ainda, um levantamento por Estado acerca de casos de 
intolerância religiosa de maior repercussão via Internet. 
Fizemos algo semelhante, o que nos levou a algumas das principais 
manchetes sobre intolerância religiosa no Estado de Minas Gerais no ano de 
2022: 
02 de maio de 2022: Casos de intolerância religiosa crescem 23% 
em Minas Gerais. Praticantes do candomblé e umbanda reclamam da 
sensação de impunidade pelos crimes cometidos, conforme dados da 
Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp-MG). 
Segundo a secretaria, somente em 2021 foram 96 registros de crimes 
com causa presumida de preconceito religioso contra 78 casos em 
2020. As religiões de matrizes africanas são alvos dos ataques, em 
sua maioria. (FÓRNEAS, 2022) 
 
09 de maio de 2022: Pai de santo denuncia intolerância religiosa 
contra casa de umbanda O sacerdote fez boletim de ocorrência 
contra uma pessoa da vizinhança que coloca música alta a fim de 
evitar que os cultos ocorram. A denúncia foi feita pelo pai de santo e 
terapeuta Bruno Vieira. Ele alega que uma pessoa da vizinhança liga 
som alto com músicas de louvor para atrapalhar as atividades no 
centro. (CAIXETA, 2022) 
 
12 de maio de 2022: Casa de candomblé é alvo de ataques em 
Esmeraldas. Donos do local acreditam que o crime se trata de 
intolerância religiosa. Uma casa de candomblé em construção foi alvo 
de ataques, em Esmeraldas, na Região Metropolitana de Belo 
Horizonte. Portas, vigas e muros foram derrubados. Além disso, 
criminosos quebraram e furtaram Ibás, objetos que representam 
fisicamente os orixás. (BOM DIA MINAS, 2022) 
 
14 de junho de 2022: Em Minas Gerais, mulher perde guarda da filha 
após levá-la a ritual de Umbanda. Uma mãe de Ribeirão das Neves, 
na Região Metropolitana de Belo Horizonte, em Minas Gerais, está 
impedida desde o último dia 20 de maio de conviver com sua filha de 
14 anos. O motivo do impedimento, veja só, é o fato dela ter levado a 
adolescente para participar de um ritual umbandista. (CENARIUM 
AMAZÔNIA, 2022) 
 
20 de outubro de 2022: Umbandistas denunciam intolerância 
religiosa após depredação em terreiro de BH. Um terreiro de 
umbanda foi depredado na madrugada dessa terça-feira (18), no 
bairro Jardim Montanhês, na região Noroeste de BH. Umbandistas 
denunciam que a motivação da destruição no local seja por 
100 
 
intolerância religiosa e a Polícia Civil investiga o caso. (FERNANDES, 
2022) 
 
No Estado de Minas Gerais, segundo dados disponibilizados pela 
Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp-MG) e 
divulgados pelo Portal O Tempo, o registro de crimes com motivação 
presumida de preconceito religioso subiu de 78 em 2019, para 92 em 2021. 
 
Figura 70: Dados sobre registros envolvendo preconceito religioso. 
 
 
Ao analisar as queixas de intolerância religiosa nos boletins de 
ocorrências registrados no Estado de Minas Gerais entre os anos de 2016 e 
2018, Nicácio (2021) pode verificar 101 ocorrências que indicam a existência 
de crime ou contravenção penal relacionada a violência e intolerância religiosa. 
Nessas, os episódios estão presentes nos mais diversos ambientes: 
vizinhanças, locais de trabalho, rua, escolas e igrejas, por exemplo. Porém, a 
maior parte das violências cometidas tem como contexto as relações de 
vizinhança (37 casos, 36,6%) e entre pessoas conhecidas (12 casos, 11,9%). 
Segundo Nicácio (2021), os dados também indicam que os episódios de 
violência são em desfavor de diversas matrizes religiosas: cristianismo, 
protestantismo, espiritismo, umbanda e candomblé, por exemplo, e, embora em 
101 
 
números absolutos haja uma predominância de atos violentos contra o 
cristianismo evangélico (35 casos, 34,6%), as religiões de matriz africana são 
afetadas de modo preocupante (31 casos, 30,7%). Bem menos numerosa na 
sociedade brasileira, essas estão mais expostas à intolerância religiosa 
(NICÁCIO, 2021), confirmando a tendência apontada por Santos, Dias e 
Santos (2023) no II Relatório sobre intolerância religiosa: Brasil, América Latina 
e Caribe. 
Dito isso, compreendemos que a intolerância religiosa tem sido utilizada 
como mecanismo de exclusão operacionalizado, principalmente, em desfavor 
daquelas(es) que professam a fé herdada da ancestralidade africana. Herança 
é a palavra de ordem. Por meio do sincretismo, herdamos as religiões de 
matriz africana, por meio do colonialismo europeu, herdamos, enquanto 
sociedade, a noção de uma superioridade religiosa (SANTOS e GINO, 2023). 
E, apesar de compreendemos que tanto o racismo, como o fenômeno aqui 
abordado, têm raízes na escravização de povos africanos, é preciso ter em 
mente que a intolerância religiosa não está relacionada a questões fenotípicas, 
como a cor da pele, mas “tem a ver com a cultura que ela representa e que 
está ligada às ‘africanidades’ que nos apresentam uma identidade religiosa 
destoante da religiosidade vigente” (SANTOS e GINO, 2023, p.188). 
No ano de 2022, a Lei Federal 11.635, de 27 de dezembro de 2007, que 
instituiu 21 de janeiro como o Dia de Combate à Intolerância Religiosa no 
Brasil, completou 15 anos e, desde então, acompanhamos a criação de frentes 
parlamentares, conselhos, grupos de trabalho e políticas públicas em defesa da 
liberdade religiosa e combate à intolerância (CUNHA, 2023), mas, como bem 
vimos, há muitoa ser feito. 
Nesse trilhar, é possível afirmar que a identificação dos casos relativos à 
intolerância religiosa representa uma dimensão importante para pensar os 
processos de reconhecimento de direitos e, principalmente, sobre o papel do 
órgão estadual de investigação criminal na responsabilização de infratores, 
notadamente em razão da liberdade religiosa e da laicidade que constituem-se 
como paradigmas fundantes do Estado de Direito moderno. 
Estudos sociológicos e antropológicos têm demonstrado que a ideia de 
um Estado impessoal e laico não se realizou nem plenamente, nem de maneira 
uniforme, seja porque se observou o surgimento de movimentos de contra 
102 
 
secularização, seja porque a laicização se deu de formas variadas e com 
efeitos distintos nas sociedades, em especial, no que se refere às formas 
político-jurídicas de tratar a diversidade de manifestações religiosas no espaço 
público. 
Como recomendação para enfrentar a questão, avulta a importância de 
que policiais civis estejam atentos no trabalho de investigar tais fatos. Como 
primeiro passo, no desempenho de suas atribuições, o servidor da polícia civil 
(das carreiras policial e administrativa) deve possuir cuidado meticuloso na 
formalização dos atos de apuração, desde o registro do fato (por meio do 
boletim de ocorrência: aqui em Minas Gerais, o Registro de Evento de Defesa 
Social) até oitivas, comunicações de serviço, termos ordinatórios, laudos 
periciais, representações por medidas cautelares e relatórios de investigação. 
Em pesquisa relevante, aponta Camila Nicácio (2021, p. 573-575): 
 
A inconsistência de relatos observada em minha abordagem aponta 
para um problema persistente no padrão de preenchimento de um 
documento teoricamente fundante da formalização: o registro de 
ocorrências. Somados, relatos contendo condutas atípicas (35) e 
relatos inconsistentes (32) se aproximam da metade do total 
encontrado (168), estando prejudicados para efeito de análise. 
Atipicidade e inconsistência não se confundem, e o agente policial 
não pode inventar um delito, ainda que participe de sua reconstrução. 
De todo modo, é interessante se perguntar até que ponto a falta 
de qualidade do preenchimento não produz, de algum modo, a 
própria atipicidade. Tal indagação ganha um contorno irônico se 
associada ao fato de que policiais têm a convicção de que o 
“destino penal” de um caso depende, definitivamente, do 
trabalho que eles realizam (Lévy, 1985: 421). 
Menciono igualmente a ausência de informações relevantes. Refiro-
me aqui, por exemplo, a dados como a relação entre as vítimas, ou a 
religião delas, ou às características centrais da própria situação 
pretensamente ofensiva relatada. Nesse sentido, em 18 ocorrências 
(17,8%) não se informou a religião da vítima. Aproximando-se de 1/5 
do universo de condutas típicas, tal dado desperta interesse quando 
pensamos não somente na sequência da formalização (com 
investigações e procedimentos judiciais posteriores), mas também na 
formatação de políticas públicas para enfrentar o problema da 
intolerância religiosa. Exemplos do que estou indicando seguem 
abaixo: 
(...) 
Nota-se, nesse conjunto, falta flagrante de informações essenciais 
para uma investigação posterior, se se leva em conta o fato de que 
inquéritos carecem de um mínimo de informações para se determinar 
uma linha de investigação, e que “quanto mais detalhada for a 
circunstância do crime em um primeiro momento, melhor será 
desenvolvido o trabalho policial no processo de elucidação” (Miranda; 
Oliveira; Paes, 2010: 25). 
Pergunta-se, então, para o caso mineiro: o destino de boa parte dos 
REDS não seria a inutilização? Quantos deles embasariam 
inquéritos, precocemente arquivados por falta de elementos 
mínimos? Se o crime em questão é o preconceito ou discriminação 
103 
 
por motivo religioso, que lugar reservar à religião da vítima no 
conjunto dos dados, sobretudo tendo em vista a complementaridade 
das ações do Estado para enfrentar um problema determinado? De 
algumas dessas questões tratarei na próxima seção. 
Antes de avançar, insiro um dado que me parece importante na 
correlação entre mise en forme e problemas públicos: a visibilidade 
da categoria “intolerância religiosa” nos registros. A expressão 
aparece em apenas 14 de um total de 168 ocorrências, das quais 
101 representaram o universo de ocorrências típicas sobre o qual 
trabalhei. Foram encontradas nada menos do que 20 naturezas de 
crime ou conflito motivados por intolerância religiosa. Dentre esse 
“emaranhado normativo”, encontram-se violências de várias ordens, 
cujo bem violado é a integridade física e o patrimônio aqui, a honra e 
liberdade acolá, aos quais o sentimento religioso parece se 
amalgamar não como ator principal, mas como coadjuvante. Noto 
que a Lei do Racismo, nº 7.716/1989, não foi mobilizada nem uma 
vez. Não se trata aqui, como nas hipóteses anteriores, de um 
problema de formalização, mas algo que a formalização capta: 
uma possível relação entre a relativa baixa incidência de 
violência ligada à intolerância religiosa e um relativo 
desconhecimento ou confusão sobre o que ela abarca (Nicácio, 
2020). Como vimos, os números estatísticos são tímidos; a 
questão de fundo, qualitativa, é que desperta a atenção. (sem 
destaques no original). 
 
Portanto, fundamental o papel do servidor da PCMG na implementação 
concreta da investigação criminal enquanto política pública, caso contrário 
contribuirão para ocultar e tornar “invisível” (para o sistema de justiça criminal) 
o problema da intolerância religiosa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
104 
 
UNIDADE 4 
 
10. A IMPORTÂNCIA DE POLÍTICAS AFIRMATIVAS PARA IGUALDADE 
RACIAL 
 
Figura 71: Imagem sobre a Lei de Cotas. 
 
Fonte: Extraído de UFJF (2022). 
 
As ações afirmativas, ou políticas afirmativas, constituem medidas que 
têm por objetivo garantir igualdade de direitos a grupos da sociedade que são 
oprimidos ou sofrem com as consequências de passados de opressão. Em que 
pese a Constituição Federal estabelecer que todos os brasileiros têm direitos 
iguais, tais direitos não são cumpridos efetivamente em todas as camadas 
sociais, sendo necessária a efetivação de políticas afirmativas para se alcançar 
a efetiva igualdade, a material. 
O ex-ministro Joaquim Barbosa conceitua ações afirmativas como 
“políticas públicas voltadas à concretização do princípio constitucional da 
igualdade material e à neutralização dos efeitos perversos da discriminação 
racial, de gênero, de idade, de origem nacional e de compleição física” 
(PORTAL GELEDÉS, 2012, s.p.). Ademais, destacou que por meio delas “a 
igualdade deixa de ser simplesmente um princípio jurídico a ser respeitado por 
todos, e passa a ser um objetivo constitucional a ser alcançado pelo Estado e 
pela sociedade” (BARBOSA apud PORTAL GELEDÉS, 2012, s.p.). 
Conforme registra o ex-ministro, as ações afirmativas podem ser 
desenvolvidas pelos entes estatais bem como por entes não estatais, visto que 
não se trata de ação típica de governo (SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, 
105 
 
2012). Existem ações afirmativas desenvolvidas por instituições da sociedade 
civil com autonomia suficiente para decidir a respeito de seus procedimentos 
internos, tais como partidos políticos, centrais sindicais e sindicatos, escolas, 
igrejas, empresas (MALAR, 2021; BRITO, 2022), dentre outras. 
Assim, por meio de ações pontuais e por tempo determinado, as ações 
afirmativas têm como objetivo diminuir as desigualdades históricas vivenciadas 
por grupos sociais, como as populações negras e indígenas no Brasil. 
De acordo com Campos (2016, p.16, grifos no original), as “ações 
afirmativas raciais em vigor no Brasil visam, por exemplo, modificar o viés 
racista de uma determinada estrutura social alterando as posições 
historicamente destinadas aos negros e reconduzindo-os a espaços de 
privilégio e poder”. Conforme o mesmo autor, a expectativa de açõesdesse 
tipo é que, sendo bem-sucedidas, contribuam para dissociar negritude e 
pobreza, gerando efeitos – ideológicos e práticos – diversos. 
Como já mencionado, o Estatuto da Igualdade Racial incentiva a adoção 
de políticas afirmativas, de modo a atingir a igualdade material entre os 
indivíduos. São dois exemplos que serão tratados neste curso, a Lei de Cotas, 
Lei nº 12.711, de 29 de agosto de 2012, que reserva vagas nos cursos de 
graduação das universidades federais para estudantes de escolas públicas, 
negros, indígenas e quilombolas, e a Lei nº 12.990, de 9 de junho de 2014, que 
estabelece cotas para negros e pardos em concursos federais. 
A Lei 12.711/2012, regulamentada pelo Decreto 7.824, de 10 de outubro 
de 2012, dispõe sobre o ingresso nas universidades federais e nas instituições 
federais de ensino técnico de nível médio: 
 
Art. 1º As instituições federais de educação superior vinculadas ao 
Ministério da Educação reservarão, em cada concurso seletivo para 
ingresso nos cursos de graduação, por curso e turno, no mínimo 50% 
(cinquenta por cento) de suas vagas para estudantes que tenham 
cursado integralmente o ensino médio em escolas públicas. 
 
Parágrafo único. No preenchimento das vagas de que trata o caput 
deste artigo, 50% (cinquenta por cento) deverão ser reservados aos 
estudantes oriundos de famílias com renda igual ou inferior a 1,5 
salário-mínimo (um salário-mínimo e meio) per capita. 
 
Art. 3º Em cada instituição federal de ensino superior, as vagas de 
que trata o art. 1º desta Lei serão preenchidas, por curso e turno, por 
autodeclarados pretos, pardos e indígenas e por pessoas com 
deficiência, nos termos da legislação, em proporção ao total de vagas 
no mínimo igual à proporção respectiva de pretos, pardos, indígenas 
e pessoas com deficiência na população da unidade da Federação 
106 
 
onde está instalada a instituição, segundo o último censo da 
Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. 
 
Parágrafo único. No caso de não preenchimento das vagas segundo 
os critérios estabelecidos no caput deste artigo, aquelas 
remanescentes deverão ser completadas por estudantes que tenham 
cursado integralmente o ensino médio em escolas públicas. 
 
Essa distribuição é resumida no fluxograma a seguir, de elaboração do 
Ministério da Educação: 
 
Figura 72: Fluxograma sobre distribuição de vagas. 
 
Fonte: Extraído de Ministério da Educação (2012). Convém destacar que esse infográfico é 
anterior à promulgação da Lei nº 13.409, de 28 de dezembro de 2016, que incluiu a categoria 
“pessoas com deficiência” no caput do art. 3º da Lei nº 12.711/2012. 
 
As disposições da Lei nº 12.711/2012, já tratam de demonstrar a 
inviabilidade de uma das principais críticas populares ao modelo de cotas 
aplicado no Brasil, qual seja, de que ele deveria ser baseado em critérios 
107 
 
sociais, e não raciais, de demarcação. Como se vê, essa inviabilidade está já 
no caput do art. 3º, que inicia a distribuição de vagas a partir da reserva de 
metade delas para candidatos oriundos de escolas públicas – independente da 
raça/cor declarada. Ademais, segundo define Kabengele Munanga (2021, 
p.117) “todos os problemas da sociedade são sociais, mas como o social é 
complexo e diverso, as políticas sociais têm de ser específicas e focadas, não 
genéricas. É preciso nomear os beneficiados para não deixar margem à 
indefinição.” 
Por ocasião dos dez anos de promulgação da Lei (que por força de seu 
art. 7º, deveria ser revista quando decorrido esse período), a Agência Senado 
(BAPTISTA, 2022) apresentou dados da pesquisa “Desigualdades Sociais por 
Cor ou Raça no Brasil”, do IBGE, na qual constatou-se que o número de 
matrículas de estudantes pretos e pardos nas universidades e faculdades 
públicas no Brasil em 2018 alcançou pela primeira vez a marca de mais da 
metade dos matriculados (50,3%). Apesar de maioria em termos puramente 
numéricos, esse grupo ainda assim se encontrava subrepresentado, já que na 
ocasião correspondia a 55,8% da população brasileira (BAPTISTA, 2012). 
 
Figura 73: Dados sobre a distribuição de pessoas que frequentam o ensino superior. 
 
Fonte: Extraído de Baptista (2012). 
 
Citamos acima a prescrição legal de revisão da Lei de Cotas, uma vez 
passados dez anos de sua publicação. Entretanto, vencido o prazo, tal revisão 
108 
 
não ocorreu. Antes de discutirmos o status atual da Lei nº12.711/2012, 
precisamos compreender o que se entende por revisá-la. 
Apesar de relativamente pouco discutido, o processo de revisão é 
medida essencial para aferição da eficácia e da efetividade de uma política 
pública. Nas palavras do professor Wallace Corbo, “o prazo de 10 anos não é 
para que a Lei de Cotas perca os efeitos. Ela não deixará de valer. É só para 
criar a obrigação de o governo avaliar quais foram as consequências da política 
nesse período e, se necessário, promover alguma mudança (CORBO apud 
TENENTE, 2022, s.p.). Ou seja, o processo de revisão serve que se verifique 
os resultados alcançados no período já cumprido de funcionamento da lei. 
Nesse sentido, três eram as possibilidades, vislumbradas no ano 
passado, de posicionamento do Congresso brasileiro ante a Lei nº 
12.711/2012: 1) deixá-la fora da pauta, permanecendo válido integralmente o 
texto atual (a lei não “caduca” por falta de revisão); 2) a prorrogação do prazo 
de revisão; e 3) a discussão efetivamente acontecer, gerando alguma mudança 
na lei (por exemplo, restringindo seu alcance a menos grupos ou para incluir 
novos mecanismos, como recursos anti-fraude) (TENENTE, 2012). 
Findado o ano legislativo, a discussão não ocorreu, valendo a primeira 
hipótese acima. O Projeto de Lei nº 5.384/2020 sugeria que o caráter 
permanente da política de cotas passe a constar no texto legal, mas desde 14 
de junho de 2022 aguarda no Plenário da Câmara para ser votado. O deputado 
federal Bira do Pindaré (PSB-MA) foi designado seu relator, e propôs que a 
revisão seja adiada por cinco anos, prevista então para ocorrer em agosto de 
20278 (MUGNATTO, 2022). 
Em paralelo, pesquisa desenvolvida por Godoi e Santos (2021) com 
vistas a auxiliar o processo de revisão, demonstrou que a lei alcançou 
resultados substanciais e positivos, mas que sua implantação se encontra 
aquém de suas possibilidades. Ademais, destacou a necessidade de 
desenvolvimento de mecanismos eficazes de monitoramento e avaliação; bem 
como a previsão explícita das bancas de heteroidentificação, a fim de coibir 
fraudes; entre outras. 
 
8 Na data de redação deste tópico, fevereiro de 2023, a revisão não havia acontecido, 
tampouco seu (eventual) adiamento. 
109 
 
Outra importante política afirmativa no âmbito federal é a Lei 
12.990/2014, que reserva aos negros 20% (vinte por cento) das vagas 
oferecidas nos concursos públicos para provimento de cargos efetivos e 
empregos públicos no âmbito da administração pública federal, das autarquias, 
das fundações públicas, das empresas públicas e das sociedades de economia 
mista controladas pela União. 
De acordo com a legislação, poderão concorrer às vagas reservadas a 
candidatos negros aqueles que se autodeclararem pretos ou pardos no ato da 
inscrição no concurso público, conforme o quesito raça/cor utilizado pelo IBGE. 
Na hipótese de constatação de declaração falsa, o candidato será eliminado do 
concurso e, se houver sido nomeado, ficará sujeito à anulação da sua 
admissão ao serviço ou emprego público, após procedimento administrativo em 
que lhe sejam assegurados o contraditório e a ampla defesa, sem prejuízo de 
outras sanções cabíveis. 
A citada legislação entrou em vigor no ano de 2014 e tem vigência pelo 
período de dez anos. 
Em 2017 foi julgado pelo Supremo Tribunal Federal uma Ação Direta de 
Constitucionalidade (ADC 41/DF) em relação à Lei 12.990/2014, que declarou 
a legislação constitucional, conforme trecho da decisão: 
 
A constitucionalidade da instituiçãode sistema de reserva de vagas, 
com base em critério étnico-racial, foi exaustivamente apreciada pelo 
Supremo Tribunal Federal, por ocasião do julgamento da arguição de 
descumprimento de preceito fundamental 186/DF. Assentou a Corte a 
compatibilidade de tais políticas públicas com os princípios e valores 
consagrados na Constituição da República de 1988, sobretudo com a 
garantia constitucional da isonomia, em sua acepção material ou 
substancial (CR, art. 5º, caput), e com os objetivos gerais do estado 
democrático de direito e fundamentais da República Federativa do 
Brasil, voltados à construção de sociedade solidária, fraterna e 
pluralista, à redução das desigualdades sociais e à promoção do bem 
de todos, sem preconceitos de origem, raça, cor, idade e quaisquer 
formas de discriminação (CR, preâmbulo e arts. 1º, V, e 3º, I, III e IV). 
Ressaltou o tribunal a importância da adoção de políticas de ação 
afirmativa como instrumentos jurídicos aptos a conferir 
efetividade a direitos e garantias fundamentais e a corrigir 
distorções decorrentes da aplicação meramente formal do 
princípio da igualdade, aplicação esta insuficiente para superar 
situações de desigualdade que sofrem grupos historicamente 
excluídos. 
[...] 
Os mecanismos legais em foco são, portanto, não apenas 
juridicamente corretos e compatíveis com a Constituição da 
República como sociologicamente justos e desejáveis, na direção de 
construir uma sociedade livre, justa e solidária; garantir o 
desenvolvimento nacional; erradicar a pobreza e a marginalização; 
110 
 
reduzir as desigualdades sociais e regionais e promover o bem de 
todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e outras 
formas de discriminação. Todos esses são objetivos fundamentais da 
República Federativa do Brasil, definidos de forma expressa no art. 3º 
da Constituição nacional. (Procuradoria-Geral da República, 2016, 
p.11; p. 27. Grifos nossos) 
 
Citadas anteriormente como medida de controle cuja existência deve ser 
prevista em lei (GODOI; SANTOS, 2021), as bancas de heteroidentificação. 
Como afirma Munanga (2021), o princípio de admissibilidade inicial dos 
candidatos a programas de cotas é o da autodeclaração, estabelecida nos 
termos de identificação “racial” estabelecidos pelo IBGE (branco, preto, 
amarelo, indígena e pardo). De partida, evitou-se a opção por rótulos que 
poderiam gerar ambiguidade e manipulação, tais como “negro” ou 
“afrodescendente”. 
Nas palavras do autor, essa definição seria o bastante “em regimes nos 
quais a cidadania funciona plenamente, o que não é o caso nos países em 
construção democrática, nos quais as fraudes podem ocorrer até em algumas 
das maiores instâncias do país, inclusive nos meios judiciários” (MUNANGA, 
2021, p.127). Entretanto, a categoria “pardo” podia – e foi – manipulada de má-
fé por pessoas brancas de fenótipo caucasiano RÁDIO ESCAFANDRO, 2022; 
G1, 2019b), tornando a autodeclaração, sozinha, insuficiente. 
Como o sistema brasileiro não considera teorias como a chamada one-
drop-rule9 (MUNANGA, 2021) para definir a raça dos sujeitos, mas a sua 
condição fenotípica, é possível que indivíduos de traços caucasianos, que em 
condições normais se identificariam como brancos, evoquem um caráter 
mestiço (pardo) em situações de competição – sem que estejam efetivamente 
mentindo. Entretanto, essa assunção se dá por razões oportunistas: o 
indivíduo, em tudo lido e posicionado como branco, “assume uma identidade 
que nunca carregou na vida” (MUNANGA, 2021, p.128). 
Dessa forma, conclui o mesmo autor que: 
 
O princípio, ou melhor, o critério de controle defendido é aquele que 
combina a autodeclaração com a heterodeclaração. Quando a 
autodeclaração confere com a iconografia da pessoa, graças a uma 
 
9 Segundo a lógica da one-drop-rule (ou “Regra da Gota de Sangue”), basta que um 
indivíduo tenha um ascendente negro, qualquer e a qualquer distância, para ser considerado 
negro. A teoria, usual nos Estados Unidos da América, define que a racialização independe do 
fenótipo, de modo que mesmo indivíduos fenotipicamente caucasianos, tendo ascendente(s) 
negro(s), é considerado negro. Como demonstra Munanga (2021) essa lógica assinala o 
racismo dito “de origem”. 
111 
 
fotografia colorida incontestável onde aparece a cor da pele e outros 
traços morfológicos que remetem à negritude, o candidato ou a 
candidata não é barrado(a) pela Comissão. Mas quando há um 
desencontro entre a autodeclaração e o fenótipo de um candidato que 
se autoidentifica como pardo, mas que tem um fenótipo claramente 
caucasiano, a autodeclaração teria de ser contestada pela Comissão 
[...]. Esse candidato não pode ser simplesmente barrado sem 
averiguação [...]. (Munanga, 2021, p.128) 
 
Figura 74: Reportagem sobre fraude em cota racial. Servidor exonerado por fraude em cota 
racial. 
 
Fonte: G1 (2019b, s.p.). 
 
Não se discute que a política de ações afirmativas vigente no Brasil pode 
ser aperfeiçoado – melhor seria, sem dúvidas, que houvesse igualdade de 
condições sociais entre os cidadãos, mas infelizmente essa não é a realidade. 
Sendo necessárias ações dessa natureza, que sejam constantemente 
revisadas, aperfeiçoadas e transparentes ao escrutínio público, até o momento 
em que, esperamos, deixem de ser necessárias. 
Até lá, muito ainda há para ser feito nessa seara. Os dispositivos legais 
apresentados não resumem todas as ações desse tipo, apenas ilustram as 
mais importantes. Há muitas outras ações conduzidas por entes privados e 
instituições estaduais, distritais e municipais. 
 
 
112 
 
11. QUAIS PROVIDÊNCIAS DEVEM SER ADOTADAS EM CASO DE 
PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO DECORRENTES DA RAÇA 
 
Ao sofrer ou presenciar alguma conduta preconceituosa ou de 
discriminação que se enquadra nos crimes de racismo ou injúria racial 
estudados ao longo deste curso, existem providências que devem ser adotadas 
para possibilitar a identificação e responsabilização do autor dos fatos. 
Caso o fato tenha ocorrido naquele momento, sendo possível a prisão 
em flagrante do autor, a Polícia Militar deve ser acionada por meio do número 
de telefone 19010. 
Uma viatura irá deslocar até o local dos fatos e poderá realizar a prisão 
em flagrante do autor, encaminhando-o até a Delegacia de Polícia para as 
medidas cabíveis no âmbito da Polícia Civil. 
No caso de prisão em flagrante, a vítima também será ouvida e deve 
narrar com detalhes como ocorreu a prática criminosa, indicando testemunhas, 
caso existam, que prestarão depoimento. 
Nas demais situações, quando o crime tiver ocorrido em outro momento 
(num passado distante do estado flagrancial) ou a discriminação é resultado da 
prática de atos repetitivos, a orientação é procurar a Delegacia de Polícia Civil 
mais próxima e formalizar o registro do fato. 
Antes do registro da ocorrência policial, orienta-se que a vítima busque o 
maior número de informações acerca do agressor, caso o conheça, bem como 
nome, telefone e endereço de eventuais testemunhas que tenham presenciado 
o crime. A vítima deverá narrar os fatos na íntegra e com a maior riqueza de 
detalhes possível. 
Caso o crime tenha sido gravado, esta informação também deverá ser 
levada ao conhecimento do policial responsável pelo registro, pois será mais 
um meio de prova do fato delituoso. 
Outra informação que merece constar na ocorrência policial é o 
interesse da vítima em processar criminalmente o agressor, caso seja o seu 
desejo. 
 
 
10 Neste momento preambular, face a caracterização do flagrante delito, é dever 
imperativo a atuação imediata da PCMG. 
113 
 
 
Figura 75: Imagem da cartilha de orientação. 
 
Fonte: Sofri racismo, o que fazer? Cartilha de orientação à população no combate ao racismo. 
 
Várias cidades já possuem órgãos especializados de combate ao 
racismo como Delegacias de Polícia, Defensoria Pública e Ministério Público. 
A vítima poderá solicitar ao policial responsável pelo seu atendimentouma cópia do Boletim de Ocorrência feito na Delegacia. 
 
Figura 76: Atenção. 
 
114 
 
 
Após o registro do fato por meio da ocorrência policial, uma das 
hipóteses é a instauração do Inquérito para apuração dos fatos, com a 
produção dos elementos informativos (v.g., oitiva de todos os envolvidos, 
elaboração de laudos periciais conforme o caso e a realização de outras 
diligências cabíveis para apuração). Finda a etapa policial investigativa, o 
procedimento concluído será encaminhado à justiça para análise do Ministério 
Público. 
A vítima poderá buscar orientação jurídica, que pode ser realizada pela 
Defensoria Pública ou por advogado. Poderá ainda acompanhar todas as fases 
do inquérito policial e processo judicial. 
Além da investigação criminal, a vítima poderá ingressar com ações 
cíveis através de advogado/defensor público, solicitando indenizações, quando 
cabível. 
Noutro pórtico, é possível, ainda, registrar denúncias de forma 
identificada ou anônima, através de serviços existentes com esta finalidade, 
como o Disque 100 ou 181. 
Cita-se o caso do jornalista Manoel Soares que foi vítima de racismo 
através de publicações realizadas em uma rede social. Após a investigação, foi 
possível identificar o autor do delito, que reside em Belo Horizonte, o qual 
confirmou ter realizado as postagens. 
 
Figura 77: Reportagem sobre caso apurado pela PCMG. 
 
Fonte: https://g1.globo.com/mg/minas-gerais/noticia/2022/02/04/homem-e-indiciado-em-bh-por-
comentario-racista-contra-jornalista-manoel-soares.ghtml. 
 
 
 
https://g1.globo.com/mg/minas-gerais/noticia/2022/02/04/homem-e-indiciado-em-bh-por-comentario-racista-contra-jornalista-manoel-soares.ghtml
https://g1.globo.com/mg/minas-gerais/noticia/2022/02/04/homem-e-indiciado-em-bh-por-comentario-racista-contra-jornalista-manoel-soares.ghtml
115 
 
 
Figura 78: Atenção. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
116 
 
12. EQUIPAMENTOS EXISTENTES NA PROMOÇÃO DA IGUALDADE 
RACIAL 
 
Atualmente, existem diversos mecanismos e programas de proteção dos 
direitos das pessoas vítimas de preconceito e discriminação. A articulação e a 
parceria das três esferas do Governo (âmbito federal, estadual e municipal) 
constituem as chamadas redes proteção. 
Não pretendemos aqui esgotar o tema, apenas elencar alguns dos 
principais equipamentos de proteção e promoção da igualdade racial. 
 
• Disque Direitos Humanos (Disque 100) 
 
O Disque Direitos Humanos recebe denúncias sobre as violações de 
direitos humanos contra a população negra em geral e contra comunidades 
quilombolas, de terreiros, ciganas e religiões de matriz africana. Funciona 24 
horas por dia, todos os dias, inclusive aos sábados, domingos e feriados, 
podendo receber denúncia, inclusive anônima, de qualquer pessoa através de 
ligação gratuita de qualquer telefone fixo ou celular. As denúncias ainda 
poderão ser recebidas através do aplicativo Proteja Brasil e através da 
ouvidoria online. 
Este serviço está vinculado ao Ministério dos Direitos Humanos e da 
Cidadania, e tem como objetivo receber e encaminhar denúncias para os 
órgãos competentes para que assim seja devidamente investigado. 
Caso sofra ou presencie situações de racismo ou qualquer outra forma 
de discriminação e violação de direitos humanos é possível denunciar através 
do Disque 100. 
 
 
 
 
 
 
 
 
117 
 
Figura 79: Imagem do canal Disque 100. 
 
 
• Coordenadoria Estadual de Políticas de Promoção de 
Igualdade Racial 
 
A Coordenadoria Estadual de Políticas de Promoção de Igualdade 
Racial é uma das coordenadorias que compõem a estrutura da Secretaria de 
Estado de Desenvolvimento Social (SEDESE) do Governo de Minas Gerais. 
O órgão tem por objetivo planejar, coordenar, supervisionar, orientar, 
articular e avaliar as ações de promoção da igualdade étnica e racial. Dentre as 
principais atribuições está a de articular e acompanhar e supervisionar a 
execução de planos estaduais e políticas públicas para a promoção da 
igualdade racial, promoção e proteção dos direitos da população negra, 
indígenas, quilombolas, ciganos e demais povos e comunidade tradicionais, em 
consonância com a Lei 21.147/2014. 
 
• Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial – 
CONEPIR 
 
O Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial – 
CONEPIR/MG, foi criado pela Lei nº 18.251, de 7 de julho de 2009, e 
regulamentado pelo Decreto n.º 45.156, de 26 de agosto de 2009. Órgão 
colegiado de caráter consultivo, deliberativo, tem por finalidade propor políticas 
que promovam a igualdade racial no que concerne aos segmentos étnicos 
minoritários do Estado, com ênfase na população negra, indígena e cigana, 
118 
 
para combater a discriminação racial, reduzir as desigualdades sociais, 
econômicas, financeiras, políticas e culturais e ampliar o processo de 
participação social. 
 
• Ministério Público do Estado de Minas Gerais (MPMG) 
 
 Criada pela Resolução PGJ nº 5, de 10 de fevereiro de 2021, a 
Coordenadoria de Combate ao Racismo e Todas as Outras Formas de 
Discriminação (CCRAD), órgão auxiliar da atividade funcional do Ministério 
Público, vinculado ao Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça 
de Defesa dos Direitos Humanos, Controle Externo da Atividade Policial e 
Apoio Comunitário (CAO-DH), que tem por finalidade o enfrentamento do 
racismo estrutural e todas as discriminações contra minorias através da 
interlocução e articulação entre os(as) Promotores(as) de Justiça, instituições 
públicas e sociedade civil organizada, para implementação de políticas 
afirmativas de igualdade racial e de promoção da diversidade, bem como de 
enfrentamento às discriminações étnico-raciais ou de gênero e orientação 
sexual. 
Compete à CCRAD desenvolver, no âmbito do MPMG, ações destinadas 
à promoção da diversidade e da igualdade étnico-racial, bem como de proteção 
dos direitos de indivíduos e grupos, afetados por discriminação e demais 
formas de intolerância; acompanhar a formulação e a implementação das 
políticas nacional, estadual e municipal afetas à área; – fiscalizar a aplicação 
das leis referentes ao enfrentamento das desigualdades étnico-raciais e 
promoção da diversidade; e identificar as demandas sociais de atuação do 
Ministério Público na área da defesa dos direitos das minorias, com especial 
atenção à discriminação em razão de origem, raça, cor, etnia, religião, sexo, 
orientação sexual ou identidade de gênero, provocando a atuação dos órgãos 
de execução com atribuição. 
 
• Defensoria Pública do Estado de Minas Gerais 
 
A Defensoria Pública é um órgão público presente nos diversos estados 
do país que cumpre o dever constitucional do Estado de prestar assistência 
119 
 
jurídica integral e gratuita à população que não tenha condições financeiras de 
pagar as despesas relativas ao ajuizamento de ações. A assistência jurídica 
integral é mais do que uma assistência judiciária, pois também abrange, além 
de elaboração e encaminhamento de requerimentos ou defesa em processos 
judiciais, o amparo na esfera extrajudicial e consultorias jurídicas. Ou seja, a 
orientação e o aconselhamento jurídicos. 
 A Defensoria Pública do Estado de Minas Gerais possui a 
Defensoria Especializada em Direitos Humanos, Coletivos e Socioambientais 
(DPDH), que atua, dentre outras funções, no combate e na proteção dos 
Direitos Humanos. 
 
• Delegacia Especializada em Repreensão aos crimes de 
Racismo, Xenofobia, LGBT fobia e intolerâncias correlatas/DECRIN 
 
A Delegacia Especializada em Repreensão aos crimes de Racismo, 
Xenofobia, LGBT Fobia e intolerâncias correlatas foi criada pela Polícia Civil do 
Estado de Minas Gerias, através da Resolução nº 8.004/2018, e integra o 
Departamento de Investigação, Orientação e Proteção à família – DEFAM. Tem 
atribuição para investigação criminal quando a motivação decorrer de 
preconceito,intolerância ou qualquer outro ato de discriminação, excluindo os 
delitos de homicídio consumado, cuja atribuição será do Departamento de 
Investigação de Homicídios e Proteção à pessoa. 
Atualmente a Delegacia Especializada funciona no prédio da Divisão de 
Atendimento à Mulher em Belo Horizonte e recebe todas as vítimas de 
intolerância, seja em virtude da orientação sexual, da religião, da raça, cor, 
etnia. 
Nas cidades onde não houver delegacias especializadas, qualquer 
delegacia poderá fazer o registro de ocorrência. 
 
• Diretoria de Reparação e Promoção da Igualdade Racial 
 
A Diretoria de Políticas de Reparação e Promoção da Igualdade Racial 
(DPIR), vinculada à Subsecretaria de Direitos de Cidadania (SUDC), que 
compõe o quadro da Secretaria Municipal de Assistência Social, Segurança 
120 
 
Alimentar e Cidadania (SMASAC), é responsável pela coordenação da Política 
Municipal de Promoção da Igualdade Racial, criada pela Lei 9.934/2010. O 
principal objetivo da DPIR é enfrentar o racismo e promover a igualdade racial 
como premissa e pressuposto das políticas de governo, as quais terão caráter 
intersetorial, de modo a descentralizar e regionalizar as ações na execução das 
políticas públicas de promoção da igualdade racial, enfrentamento dos 
racismos. 
 
• Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial 
(COMPIR) 
 
O Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial (COMPIR) foi 
criado em 2010, pela da Lei Municipal nº 9.934, e configura-se, desde então, 
como órgão estimulador da participação da sociedade civil na definição da 
Política Municipal de Promoção Igualdade Racial em Belo Horizonte. Está 
vinculado à Subsecretaria de Direitos de Cidadania e à Secretaria Municipal de 
Assistência Social, Segurança Alimentar e Cidadania. 
Sua finalidade era, inicialmente, colaborar com a Secretaria Municipal de 
Políticas Sociais e com a Coordenadoria Municipal de Promoção da Igualdade 
Racial na elaboração e no desenvolvimento de políticas de promoção da 
igualdade racial, com ênfase na população negra e em outros segmentos 
étnicos da população brasileira, com o objetivo de combater o racismo, o 
preconceito, a discriminação, a xenofobia e de reduzir as desigualdades raciais 
nos campos econômico, social, político e cultural. 
Atualmente, o COMPIR, junto à Diretoria de Promoção da Igualdade 
Racial, vem trabalhando na construção de uma política articulada que atenda a 
todos os grupos étnicos que compõem a cidade, tais como indígenas, ciganos, 
povos de tradição e quilombos. 
O conselho é formado por representantes do governo municipal e da 
sociedade civil, que contribuem e configuram o controle social das políticas 
públicas para a definição dos planos de ação da cidade, através de reuniões 
plenárias periódicas e discussões extraordinárias quando necessário. 
 
 
121 
 
13. CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Ao longo do curso, foram trazidos conceitos importantes referentes às 
relações étnico-raciais, bem como o contexto histórico no Brasil da pessoa 
negra, em especial a sua exploração por meio da escravidão. 
Os dados estatísticos demonstram que a população negra é a mais 
afetada pela desigualdade e pela violência em nosso país, sendo consequência 
do passado de opressão, exploração e discriminação. 
Com o objetivo de reparar essas desigualdades, é imprescindível a 
adoção de ações afirmativas pelo poder público, de modo a permitir o ingresso 
de pessoas negras em universidades e cargos públicos através de cotas 
específicas. 
Além disso, é necessário conscientizar a população da existência do 
racismo, que muitas vezes é negado no Brasil, e demonstrar como o racismo 
se manifesta, uma vez que existem condutas preconceituosas que estão, em 
alguns casos, naturalizadas e são reproduzidas pelos indivíduos, como em 
piadas e nas diversas expressões demonstradas neste curso. 
Ao analisar a legislação referente à criminalização do racismo, o 
Estatuto da Igualdade Racial, as ações afirmativas, dentre outras, podemos 
afirmar que, nas últimas décadas, houve conquistas nas políticas raciais no 
país, contudo, ainda existe uma série de desafios para superação do 
racismo em nossa sociedade, seja nas relações familiares, na escola, nas 
mídias, no trabalho, entre outros espaços e suas instituições. 
A conscientização da população sobre a natureza criminosa das 
condutas racistas é essencial. Toda a sociedade que presencia essas práticas, 
bem como as pessoas que são vítimas de racismo devem noticiar os crimes 
raciais às autoridades competentes, de forma a possibilitar a investigação do 
delito e permitir a responsabilização do autor, evitando, assim, que a 
impunidade prevaleça. 
Importante mencionar que quando uma ofensa racial é proferida, há 
sempre um dano psicológico irreversível. Não devemos tolerar qualquer ato 
de preconceito e discriminação em razão da raça, sendo de 
responsabilidade de todos nós buscarmos uma sociedade igualitária e 
sem qualquer forma de racismo. 
122 
 
Neste contexto, tendo em conta as obrigações constitucionais e 
internacionais (decorrentes das normas de Direitos Humanos) impostas ao 
Estado brasileiro em matéria de discriminação racial, são necessárias medidas 
oportunas e eficazes. Primeiro, no que diz respeito ao dever de respeitar o 
direito à igualdade de todas as pessoas, o Estado deve realizar ações 
destinadas a capacitar os servidores das instituições encarregadas de fornecer 
segurança aos cidadãos e, assim, tais agentes possam realizar o seu trabalho 
de forma civilizada, respeitosa e garantidora. Como componente dessa 
obrigação, é essencial que as instituições policiais (e, também, as outras que 
compõem o sistema de Justiça Crimianal) cumpram o dever de transparência 
da informação sobre a situação particular da população negra no sistema 
penal, especialmente ao nível da ação policial. Em segundo lugar, no que diz 
respeito à garantia do direito à igualdade e à não discriminação, a PCMG, por 
meio de seus servidores, deve estabelecer procedimentos cientificamente 
construídos e transparentes para o desencadeamento de atos de investigação 
e de atendimento ao público. 
Finalmente, como medida geral, é fundamental a promoção do diálogo 
entre as instituições policiais e os líderes e organizações comunitárias dos 
diferentes setores da sociedade civil. Os servidores da PCMG podem não só 
facilitar a construção de relações mutuamente respeitosa entre a polícia e os 
cidadãos, mas também podem estabelecer passos seguros para a contribuição 
do importante esforço conjunto de redução dos índices de violência e 
criminalidade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
123 
 
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https://g1.globo.com/politica/noticia/2022/10/02/massacre-do-carandiru-30-anos-da-maior-chacina-numa-prisao-brasileira.ghtml
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