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Organizadores Thiago do Vale Machado Cinara Carneiro Neves 2023 Organizadores Thiago do Vale Machado Cinara Carneiro Neves ORGANIZADORES Thiago do Vale Machado Médico Médico intensivista pediátrico. Mestre em Saúde da Criança e Adolescente pela Universidade Estadual do Ceará (UECE). Especialista em Cuidados Paliativos Pediátricos pelo Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Sírio Libanês, em Cuidados Paliativos no Instituto Pallium - Argentina. Médico da equipe de Cuidados Paliativos Pediátricos do Hospital Infantil Albert Sabin (CPP-HIAS). Cinara Carneiro Neves Médica intensivista pediátrica. Mestre em Saúde da Criança e do Ado- lescente pela Universidade do Rio Grande do Sul (UFRGS). Especialista em Cuidado Paliativo Pediátrico pelo Hospital Sírio Libanês. Coordena- dora da Comissão de Cuidados Paliativos Pediátrico do Hospital Infantil Albert Sabin (HIAS), da Unidade de Cuidados Prolongados do HIAS e da Unidade de Tratamento Especial do Hospital Infantil SOPAI. Supervi- sora da Residência Medica de Pediatria da Escola de Saúde Pública do Estado Ceará (ESP-CE). Membro do Comitê de Dor e Cuidado Paliativo da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e do Comitê de Bioética da Academia Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP). Cuidados paliativos pediátricos Todos os direitos reservados Editoração: João Joaquim Freitas do Amaral Imagem da capa: Naiana Maria Leite Mesquita Projeto Gráfico: Maherle - maherle@gmail.com Cuidados paliativos pediátricos Todos os direitos reservados Editoração: João Joaquim Freitas do Amaral Imagem da capa: Naiana Maria Leite Mesquita Projeto Gráfico: Maherle - maherle@gmail.com Ficha catalográfica Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Cuidados paliativos pediátricos / organização Thiago do Vale Machado, Cinara Carneiro Neves. -- Campestre de Goiás, GO : Gráfica e Editora Aliança, 2023. Vários autores. Bibliografia. ISBN 978-65-997210-1-4 1. Cuidados paliativos 2. Cuidados paliativos em pediatria 3. Pediatria I. Machado, Thiago do Vale. II. Neves, Cinara Carneiro. 23-165365 CDD-616.029 Índices para catálogo sistemático: 1. Cuidados paliativos : Ciências médicas 616.029 Aline Graziele Benitez - Bibliotecária - CRB-1/3129 Cuidados Paliativos Pediátricos_07 junho 2023.indd 8Cuidados Paliativos Pediátricos_07 junho 2023.indd 8 01/08/2023 17:28:4901/08/2023 17:28:49 AUTORES Alexsandro Santos Pereira Enfermeiro. Ex-membro da Comissão de Cuidados Paliativos Pediátricos do Hospital Infantil Albert Sabin (HIAS). Enfermeiro da equipe de Cuidados Paliativos do Grupo Oto/Kora Saúde. Ana Valeska Siebra e Silva Enfermeira. Doutora em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo (USP). Mestre em Saúde Pública pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Professora do programa de Mestrado Acadêmico em Cuidados Clínicos da Universidade Estadual do Ceará (UECE) e Mestrado Profissional em Saúde da Criança e do Adolescente da UECE. Coordenadora do Time de Acesso Vascular (TAV) do Hospital Infantil Albert Sabin (HIAS). Cuidados paliativos pediátricos Todos os direitos reservados Editoração: João Joaquim Freitas do Amaral Imagem da capa: Naiana Maria Leite Mesquita Projeto Gráfico: Maherle - maherle@gmail.com Ficha catalográfica Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Cuidados paliativos pediátricos / organização Thiago do Vale Machado, Cinara Carneiro Neves. -- Campestre de Goiás, GO : Gráfica e Editora Aliança, 2023. Vários autores. Bibliografia. ISBN 978-65-997210-1-4 1. Cuidados paliativos 2. Cuidados paliativos em pediatria 3. Pediatria I. Machado, Thiago do Vale. II. Neves, Cinara Carneiro. 23-165365 CDD-616.029 Índices para catálogo sistemático: 1. Cuidados paliativos : Ciências médicas 616.029 Aline Graziele Benitez - Bibliotecária - CRB-1/3129 Cuidados Paliativos Pediátricos_07 junho 2023.indd 8Cuidados Paliativos Pediátricos_07 junho 2023.indd 8 01/08/2023 17:28:4901/08/2023 17:28:49 Anna Kelly Krislane de Vasconcelos Pedrosa Médica. Especialista em Cuidados Paliativos pela Universidade de Fortaleza (Unifor) e em Preceptoria Médica pelo PROADI-SUS/Oswaldo Cruz. Médica paliativista pediátrica do- Sistema Hapvida Fortaleza. Supervisora da Residência Medica de Pediatria Geral do Hospital Infantil Albert Sabin/ESP. Preceptora da Residência Médica em Pediatria Geral do Hospital Infantil Albert Sabin (HIAS). Benedita Beatriz Elias Dias Assistente Social. Especialista em Pediatria pela Escola de Saúde Pública do Ceará/Hospital Infantil Albert Sabin (ESP-CE/HIAS). Especialista em Gestão das Políticas Sociais pela Faculdade UniBF. Assistente Social da Comissão de Cuidados Paliativos Pediátricos do HIAS. Bruna Cunha de Alcântara Matos Médica oncologista pediátrica. Coordenadora médica do Serviço Paliativo Oncológico do Centro Pediátrico do Câncer do Hospital Infantil Albert Sabin (CPC-HIAS). Coordenadora médica do Serviço Paliativo Pediátrico do Hospital infantil Luís de França. César Augusto Ferreira Gomes de Andrade Médico intensivista pediátrico. Mestre em Saúde da Criança e Adolescente pela Universidade Estadual do Ceará (UECE). Especialista em Bioética e Cuidados Paliativos pela Universidade de Fortaleza (Unifor). Médico da Comissão de Cuidados Paliativos Pediátricos do Hospital Infantil Albert Sabin (HIAS). Cinara Carneiro Neves Médica intensivista pediátrica. Mestre em Saúde da Criança e do Ado- lescente pela Universidade do Rio Grande do Sul (UFRGS). Especialista em Cuidado Paliativo Pediátrico pelo Hospital Sírio Libanês. Coordena- dora da Comissão de Cuidados Paliativos Pediátrico do Hospital Infantil Albert Sabin (HIAS), da Unidade de Cuidados Prolongados do HIAS e da Unidade de Tratamento Especial do Hospital Infantil SOPAI. Supervi- sora da Residência Medica de Pediatria da Escola de Saúde Pública do Estado Ceará (ESP-CE). Membro do Comitê de Dor e Cuidado Paliativo da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e do Comitê de Bioética da Academia Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP). Clara Monte Arruda Psicóloga hospitalar. Especialista em Pediatria pela Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP-CE) e em Neuropsicologia pelo Centro Universitário Christus (Unichristus). Psicóloga do Hospital Infantil Albert Sabin (HIAS). Cristiane Rodrigues de Sousa Pediatra. Mestre em Saúde da Criança e Adolescente pela Universidade Estadual do Ceará (UECE). Docente do Curso de Medicina da Universidade de Fortaleza (Unifor). Coordenadora médica do Programa de Assistência Ventilatória Domiciliar do Hospital Infantil Albert Sabin (PAVD-HIAS). Fernanda Gomes Lopes Psicóloga. Doutoranda em Ética, Bioética e Saúde Coletiva pela Fiocruz. Mestre em Cuidados Continuados e Paliativos pela Universidade de Coimbra. Especialista em Cancerologia pela Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP-CE), em Psicologia Hospitalar, Psicologia da Saúde e Oncologia pelo Conselho Regional de Psicologia (CRP). Psicóloga do Centro Pediátrico do Câncer do Hospital Infantil Albert Sabin (CPC- HIAS). Flávia Dias Silveira Nefrologista pediátrica. Gerente da Unimed Lar e da Unimed Urgente. ex-coordenadora do Programa de Assistência Domiciliar ert Sabin (HIAS). Isabel Regiane Cardoso do Nascimento Psicóloga. Doutoranda e Mestre em Saúde Coletiva pela Universidade Estadual do Ceará (UECE). Docente da UECE e da Faculdade Ari de Sá. Especialista em Cancerologia na modalidade de Residência Multiprofissional pela Escola de Saúde Pública do Ceará/Instituto do Câncer do Ceará (ESP-CE/ICC). Jamile Silva de Oliveira Castro Queiroz Assistente Social. Especialista em Infectologia na modalidade de Residência Multiprofissional pela Escola de Saúde Pública do Ceará/Hospital São José (ESP-CE/HSJ). Preceptora da Residência Multiprofissional do Hospital Infantil Albert Sabin (HIAS). Coordenadora da Ouvidoria HIAS SUB-REDE SESA. Jamille Fernandes Carneiro Pediatra Geral. Médicado Hospital Infantil Albert Sabin (HIAS). Larissa Loiola Batista Assistente social. Mestre em Avaliação de Políticas Públicas pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Especialista em Pediatria pela Residência Multiprofissional do Hospital Infantil Albert Sabin (HIAS). Coordenadora da Residência Multiprofissional em Pediatria do HIAS. Maria Juliana Vieira Lima Psicóloga. Mestre em Psicologia pela Universidade Fortaleza (UFC). Especialista em Pediatria Escola de Saúde Pública do Ceará / Hospital Infantil Albert Sabin (ESP-CE/HIAS), em Psicologia da Saúde pelo Conselho Regional de Psicologia (CRP) e em Cuidados Paliativos Multiprofissionais pela Faculdade Farias Brito/Escutha (FFB/Escutha). Maria Líllian Maia Fernandes Enfermeira. Mestre em Fibrose Cística pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Especialista em Cuidados Paliativos, Auditoria em Enfermagem, Obstetrícia e Enfermagem do Trabalho. Enfermeira paliativista do Hospital Sopai, da Comissão de Controle e Infecção Hospitalar (CCIH) e Emergência do Hospital Infantil Albert Sabin (HIAS). Marta Maria Sampaio Serrano Médica pediatra. Ex-coordenadora da Unidade de Pacientes Especiais do Hospital Infantil Albert Sabin (UPE-HIAS). Natasha Simões Montenegro Mello Médica. Residente de Pediatria pela Unimed. Médica emergencista pediátrica da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Praia do Futuro. Plantonista da Emergência e Enfermaria Pediátrica no do Hospital Unimed Sul (HUS). Plantonista da Emergência Pediátrica do Hospital Otoclínica/Otosul. Thiago do Vale Machado Médico intensivista pediátrico. Mestre em Saúde da Criança e Adolescente pela Universidade Estadual do Ceará (UECE). Especialista em Cuidados Paliativos Pediátricos pelo Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Sírio Libanês, em Cuidados Paliativos no Instituto Pallium - Argentina. Médico da equipe de cuidados Paliativos Pediátricos do Hospital Infantil Albert Sabin (CPP-HIAS). Vanilla Oliveira Alencar Psicóloga hospitalar. Especialista em Pediatria pela Escola de Saúde Pública do Ceará do Ceará (ESP-CE), em Cuidados Paliativos Multiprofissionais pela Faculdade Farias Brito/Escutha (FFB/Escutha). Psicóloga do Hospital Infantil Albert Sabin (HIAS) e do Hospital Otoclinica Aldeota. Prefácio “A morte deveria ser assim: um céu que pouco a pouco anoiteces- se e a gente nem soubesse que era o fim…” Como dizia Mário Quinta- na, bem que a morte poderia chegar repentina, sem sofrimento, sem ansiedades, sem omissões, sem exageros, sem traumas, sem dor. No entanto, quando cuidamos de crianças com doenças crônicas e amea- çadoras à vida, temos que encarar nossas próprias angústias e assistir ativamente, nas dimensões de seu corpo, mente e espírito, bem como ao suporte oferecido à sua família. O objetivo dos Cuidados Paliativos é garantir, tanto quanto pos- sível, o conforto e o bem-estar da criança e da família, mesmo que a criança tenha uma condição que não possa ser curada e que, em última instância, resulte em um fim prematuro de sua vida. Seu objetivo não é apressar ou retardar a morte, mas melhorar a qualidade de vida expe- rienciada pela criança e pela família durante o processo de morte. Para a organização desse livro, somou-se a experiência de mais de 5 anos do serviço de Cuidados Paliativos pediátricos no Hospital In- fantil Albert Sabin (HIAS) e quase 10 anos no Centro Pediátrico do Cân- cer (CPC). Estão reunidos profissionais de diversas áreas que durante sua integração com a equipe de cuidados paliativos engajaram-se ati- vamente nesse cuidado. Tem sido um privilégio trabalhar ao lado de tantos que escolhe- ram aplicar suas habilidades profissionais e pessoais para acompanhar as famílias nos piores momentos de suas vidas. Neste contexto, o pre- sente livro foi elaborado, tendo em vista que o aumento na demanda por cuidados paliativos representa um avanço e uma oportunidade de educação continuada. Ressaltamos que a formação de uma equipe pa- recerista foi essencial no vínculo com a equipe assistencial, onde expe- riências e conhecimentos vêm sendo semeados e contribuindo para a formação paliativista de novos profissionais. Os quatro primeiros capítulos trazem o conceito e os princípios dos Cuidados Paliativos Pediátricos (CPP), as preocupações bioéticas e morais no contexto paliativista, além da história, formação e apre- sentação da equipe de CPP no HIAS e no CPC. Adiante, apresenta-se o processo de trabalho dos cuidados paliativos (conferência familiar, plano de cuidados e controle de sintomas) e posteriormente a organi- zação e funcionalidade da equipe multiprofissional. Em seguida, estão contemplados a organização dos serviços de assistência domiciliar (PAD e PAVD), os quais solidificam a continuidade do cuidado. Por fim, o capítulo de Cuidados de Final de Vida ampara os profissionais numa melhor assistência nas últimas horas. Infelizmente, ainda não conseguimos prever o tempo, muito me- nos evitar a morte. Em referência a nossa precursora Cicely Saunders, continuaremos cuidando: “continuaremos nos importando pelo fato de você ser você até o último momento de sua vida e, faremos tudo que estiver ao nosso alcance, não somente para ajudá-lo a morrer em paz, mas também para você viver até o dia de sua morte. ” Dr. Thiago do Vale Machado 1 Conceitos e princípios de Cuidados Paliativos Pediátricos ..............................................................19 Cinara Carneiro Neves Anna Kelly Krislane de Vasconcelos Pedrosa 2 Bioética em Cuidados Paliativos Pediátricos ..........................24 Cinara Carneiro Neves Thiago do Vale Machado 3 Cuidados Paliativos Pediátricos do HIAS.................................29 Alexsandro Santos Pereira César Augusto Ferreira Gomes de Andrade Isabel Regiane Cardoso do Nascimento Jamile Silva de Oliveira Castro Queiroz 4 Cuidados Paliativos no Centro Pediátrico do Câncer ...............45 Bruna Cunha de Alcantara Matos 5 A Conferência Familiar ........................................................... 58 Larissa Loiola Batista Maria Juliana Vieira Lima Fernanda Gomes Lopes 6 Plano de Cuidados .................................................................. 66 Thiago do Vale Machado Maria Líllian Maia Fernandes 7 Controle de Sintomas ..............................................................71 Thiago do Vale Machado Ana Valeska Siebra e Silva Sumário 8 A Atuação em equipe nos Cuidados Paliativos Pediátricos ............................................. 87 Larissa Loiola Batista Maria Juliana Vieira Lima Fernanda Gomes Lopes Maria Líllian Maia Fernandes 9 Aspectos Psicológicos nos Cuidados Paliativos Pediátricos ..............................................91 Maria Juliana Vieira Lima Vanilla Oliveira Alencar Clara Monte Arruda 10 Aspectos sociais em Cuidados Paliativos Pediátricos ........................................... 100 Larissa Loiola Batista Benedita Beatriz Elias Dias Jamile Silva de Oliveira Castro Queiroz 11 Desospitalização pelo PAD ....................................................103 Flávia Dias Silveira Natasha Simões Montenegro Mello 12 Desospitalização pelo PAVD .................................................. 110 Cristiane Rodrigues de Sousa Jamille Fernandes Carneiro Marta Maria Sampaio Serrano 13 Terminalidade em Cuidados Paliativos Pediátricos ................ 117 Bruna Alcântara Thiago do Vale Machado 19Cuidados Paliativos Pediátricos Conceitos e princípios de Cuidados Paliativos Pediátricos1 Cinara Carneiro Neves Anna Kelly Krislane de Vasconcelos Pedrosa O conceito de Cuidados Paliativos foi atualizado no decorrer dos anos, mas mantendo seu sentido primário: aliviar e cuidar. O termo pa- liativo advém do verbo paliar, do latim palliare (cobrir com um manto) e de palliatus (aliviar sem chegar a curar) cujo significado seria aliviar, atenuar.1,2 Assim, esta prática médica nos remete ao texto de Hipócra- tes3, que pode ser assim traduzido: “Quanto à medicina, tal como eu a concebo, pensoque o seu ob- jetivo, em termos gerais, é o de afastar os sofrimentos do doente e di- minuir a violência das suas doenças, abstendo-se de tratar os doentes graves para os quais a medicina não dispõe de recursos”. Desse modo, salienta-se a importância de aliviar os sofrimentos do paciente e diminuir a intensidade com a qual a doença o agride. Nes- te ínterim, compreende-se que cuidados paliativos abrange o exercício do cuidado ampliado do paciente e de sua família, envolvendo corpo, mente e espírito, visando qualidade de vida durante o todo o processo, da doença ao luto e não apenas durante a terminalidade.4-6 Conforme definição mais atual da OMS (2018).2,6 “Cuidados Paliativos consistem na assistência promovida por uma equipe multidisciplinar, que objetiva a melhoria da qualidade de vida do paciente e seus familiares, diante de uma doença que ameace a vida, por meio da prevenção e alívio do sofrimento de pacientes adultos e pe- 20 Cuidados Paliativos Pediátricos diátricos e suas famílias que enfrentam problemas associados a doen- ças potencialmente fatais, incluindo o sofrimento físico, psicológico, social e espiritual dos pacientes e de seus familiares”. Assim, é considerado elegível para tais cuidados ampliados todo paciente portador de doença ameaçadora da vida, estando ou não em estágio de fim de vida.7 A Sociedade Brasileira de Pediatria - SBP (2021) confirmando o que fora anteriormente publicado pela OMS, organizou em seis grupos as crianças com perfil para tais cuidados (Quadro 1).1,2 21Cuidados Paliativos Pediátricos Quadro 1 - Grupos de situações envolvidas elegíveis a Cuidados Paliativos. Grupos Situações Envolvidas Exemplos de doenças e condições Grupo 1 Crianças com condições agudas de risco de vida, das quais a recuperação pode ou não ser possível Qualquer doença ou lesão crítica, desnutrição grave Grupo 2 Crianças com condições crônicas de risco de vida que podem ser curadas ou controladas por um longo período, mas que também podem morrer Malignidade, tuberculose multirresistente, HIV / AIDS Grupo 3 Crianças com condições progressivas de risco de vida para as quais não há tratamento curativo disponível Atrofia Muscular Espinhal, Distrofia Muscular de Duchenne Grupo 4 Crianças com condições neurológicas graves que não são progressivas, mas podem causar deterioração e morte Encefalopatia estática, tetraplegia espástica, espinha bífida Grupo 5 Recém-nascido que são gravemente prematuros ou têm anomalias congênitas graves Prematuridade grave, anencefalia, hérnia diafragmática congênita, trissomia do 13 ou 18 Grupo 6 Membros da família de um feto ou criança que morre inesperadamente Morte fetal, encefalopatia hipóxico-isquêmica, sepse avassaladora em criança previamente saudável, trauma por acidente de veículo motorizado, queimaduras, etc. Fonte: Cuidados Paliativos Pediátricos: O que são e qual sua importância? Cuidando da criança em todos os momentos. SBP, 2021¹ 22 Cuidados Paliativos Pediátricos Os princípios norteadores do cuidado paliativo estão muito bem definidos e foram adaptados para a população pediátrica, uma vez que está claro que não se pode extrapolar para o paciente pediátrico todos os conceitos e estratégias utilizadas em adultos. A SBP então organi- zou tais princípios em 20211,6: 1. Os cuidados devem ser dirigidos à criança ou adolescente, orien- tados para a família e baseados na parceria. 2. Devem ser dirigidos para o alívio dos sintomas e para a melhora da qualidade de vida. 3. São elegíveis todas as crianças ou adolescentes que sofram de doenças crônicas, terminais ou que ameacem a sobrevida. 4. Devem ser adequados à criança e/ou à sua família de forma inte- grada. 5. Ter uma proposta terapêutica curativa não se contrapõe à intro- dução de cuidados paliativos. 6. Os cuidados paliativos não se destinam a abreviar a etapa final de vida. 7. Podem ser coordenados em qualquer local (hospital, hospice, do- micílio etc.). 8. Devem ser consistentes com crenças e valores da criança ou ado- lescente e de seus familiares. 9. A abordagem por grupo multidisciplinar é encorajada. 10. A participação dos pacientes e dos familiares nas tomadas de de- cisão é obrigatória. 11. A assistência ao paciente e à sua família deve estar disponível du- rante todo o tempo necessário. 12. Determinações expressas de “não ressuscitar” não são necessá- rias. 13. Não se faz necessário que a expectativa de sobrevida seja breve. 23Cuidados Paliativos Pediátricos REFERÊNCIAS 1. Departamento Científico de Medicina da Dor e Cuidados Paliati- vos. Cuidados Paliativos Pediátricos: O que são e qual sua impor- tância? Cuidando da criança em todos os momentos. Sociedade Brasileira de Pediatria, 2021;1:1-9. 2. World Health Organization. Integrating palliative care and symp- tom reliefinto paediatrics: a WHO guide for healthcare planners, implementers and managers. Geneva: World Health Organization; 2018. Licence: CC BY-NC-SA 3.0 IGO. 3. Hipócrates. The art. Hippocrates. Trad. W. H. S. Jones. (The Loeb Classical Library.) Cambridge, Havard University Press, 1972; II:193. 4. Pinho AAA et al. Repercussões dos cuidados paliativos pediátri- cos: revisão integrativa. Rev. Bioética [online]. 2020 [Acessado 23 Novembro 2021]; 28(4):710-717. Disponível em: https://doi. org/10.1590/1983-80422020284435 5. Piva JP, Garcia PCR, Lago PM. Dilemas e dificuldades envolven- do decisões de final de vida e oferta de cuidados paliativos em pediatria. Rev. Bras. de Terapia Intensiva [online]. 2011 [Acessa- do 23 Novembro 2021]; 23(1):78-86. Disponível em: https://doi. org/10.1590/S0103-507X2011000100013 6. Iglesias SBO, Zollner ACR, Constantino CF. Cuidados paliativos pe- diátricos. Resid Pediatr. 2016;6(0 Supl.1):46-54. 7. Ministério da Saúde. Manual de Cuidados Paliativos. Coord. D’Alessandro MPS, Pires CT, Forte DN et al. São Paulo: Hospital Sí- rio Libanês; 2020. 175p. 24 Cuidados Paliativos Pediátricos Bioética em Cuidados Paliativos Pediátricos Cinara Carneiro Neves Thiago do Vale Machado INTRODUÇÃO Em pacientes criticamente doentes, o intenso desenvolvimento tecnológico no processo de intervenção médica levou ao aumento da expectativa de vida tal como o aumento da taxa de sobrevida. Diante da presença de uma doença crônica complexa, e em fase de final de vida, o fascínio da tecnologia com inúmeras possibilidades terapêuticas para um investimento técnico podem não ser efetivos e ocasionar mais sofrimento e dor ao paciente e sua família.1 Muitos dilemas éticos podem surgir nesse processo. Isso pode ser decorrente das incertezas científicas em relação à evolução do paciente, da falta de consenso médico e social sobre os padrões éticos no tratamento e a necessidade de adequar recursos técnicos e sociais para atender ao paciente crônico doente.2 A bioética tem como finalidade indicar os limites e as finalidades da intervenção do homem sobre a vida, identificar os valores referencialmente propostos, denunciar os riscos das possíveis aplicações.2,3 2 25Cuidados Paliativos Pediátricos PRINCÍPIOS DA BIOÉTICA Os princípios que norteiam a bioética e são importantes no contexto dos cuidados paliativos pediátricos são: beneficência, não maleficência, justiça e autonomia.3 A beneficência infere que as ações devem ser para o bem e o respeito do outro. Os limites são a dignidade do ser humano e o bem geral da humanidade. Para a não maleficência, a arte médica não deve ser usada para causar males. E todo tratamento deve ser para aliviar ao doente, melhorar o seu bem-estar e se possível, reverter seu estado de saúde.2,4 No âmbito da justiça, os recursos disponíveis devem ser ajustados conforme demanda, oferecendo a cada pessoa o que é necessário, conforme sua necessidade. Os custos do tratamento devem beneficiar somente o paciente e gastos inúteis ou fúteis devem ser evitados.2-4 A autonomia também deve ser respeitada e reforça a capacidade de o paciente fazer suas próprias escolhas.Na pediatria, o poder decisório, em geral, está segurado aos pais e responsáveis. Embora no Brasil, a autonomia esteja designada a partir dos 18 anos, conforme a idade e a capacidade intelectual, o desenvolvimento cognitivo e emocional, a criança ou adolescente muitas vezes em conciliação médica com a família, podem participar e persuadir no processo de tomada de decisões.3,4 OUTROS PRINCÍPIOS Quando o paciente é “incapacitado” para demonstrar seus valores morais e preferências, os pais podem tomar o direito de decisão, deste que a decisão possa sempre buscar o bem. O princípio em questão seria o do melhor interesse. O poder pátrio pode ser removido e o Estado passa a intervir quando pode colocar uma criança em risco significativo 26 Cuidados Paliativos Pediátricos de sérios danos, podendo ser iminente e exigindo medidas imediatas para preveni-lo.4 Quando uma decisão é tomada com a participação da equipe multidisciplinar e da família, podemos inferir o princípio da decisão compartilhada. Nesse processo, devem ser tomadas antes de crises ou emergências, com a elaboração do Plano de Cuidados. Dessa forma, temos o princípio das diretrizes antecipadas de cuidado, em que poderão ser estabelecidas metas e objetivos de cuidados com avaliação conjunta da família respeitando-se o princípio da beneficência e não- maleficência para esse paciente: “Vamos ganhar algum benefício em continuar esse tratamento? Não estamos causando mais prejuízos ou malefícios? Não seria cruel, indigno ou desumano continuar insistindo nesse tratamento? 4 Ademais, temos ainda o princípio do duplo efeito em que uma determinada ação pode ser boa ou neutra (não causa o mau), mas podendo acontecer efeito negativo. Esse princípio pode ser usado para justificar eticamente o uso de sedação paliativa no tratamento de dor ou de sintomas intoleráveis em pacientes de final de vida.4,5 Eutanásia X Distanásia X Ortotanásia A eutanásia é uma ação ou omissão cujo objetivo é provocar ou antecipar a morte, motivada por compaixão. 5,6 No Brasil, é um crime previsto pelo código penal, termos do §1º, do art. 121.4 A distanásia é uma morte lenta às custas de muito sofrimento com prolongamento de vida por meios artificiais e desproporcionais. O ato de fazer distanásia é uma obstinação terapêutica, o que desrespeita à dignidade humane e fere o princípio ético da não-maleficência.2,4,6 Segundo o atual Código de Ética Médica (CFM, 2019) estabelece que é dever ético do médico propiciar os cuidados paliativos aos pacientes, vítimas de doença incurável, indicando que evitará a realização de 27Cuidados Paliativos Pediátricos procedimentos diagnósticos e terapêuticos desnecessários, evitando a futilidade de tratamentos.6 A ortotanásia é o que objetiva os cuidados paliativos, preservando o direito à morte digna, evitando tratamentos e procedimentos fúteis e o sofrimento injustificado em situações de irreversibilidade. Permitir que a morte aconteça no seu tempo, respeitando o processo de evolução natural da doença.2,4,6 DILEMAS ÉTICOS Todo tipo de tratamento que possa prolongar a vida do paciente crônico precisa ser analisado e considerado o benefício que tal terapia pode ter em relação às preferências da família e da criança. Em situações de irreversibilidade, muitas vezes as famílias en- contram-se desamparadas e o intenso sofrimento pode dificultar a to- mada de decisões. Isso pode ser decorrente de dúvidas em relação ao diagnóstico, prognóstico e tratamento proposto, pelas dificuldades de compreensão clínica do paciente e dificuldades emocionais (estresse, depressão, ansiedade) ou por questões religiosas que possam interfe- rir. 5,7,8 Nesse contexto, almeja-se que algumas situações adversas que possam ocorrer possam ser minimizadas através das diretrizes antecipadas de cuidado, mostrando aos cuidadores como é o processo de evolução da doença e quais dificuldades poderão ser encontradas. Assim, a família terá tempo hábil para definir vantagens e desvantagens de cada possibilidade, além de decisões seguras e éticas que possam ser tomadas de forma compartilhada, minimizando conflitos e permitindo a construção de um melhor plano de cuidados.2,4,5,8 Caso não haja um consenso tais questões podem ser discutidas pelo Comitê de Ética do Hospital, permitindo defender o melhor interesse da criança.2,4 28 Cuidados Paliativos Pediátricos REFERÊNCIAS 1. Lago, P. M. et al. Cuidados de final de vida em crianças: perspectiva no Brasil e no mundo. Jornal de Pediatria, 2007, v. 83, n. 2, 109-116. 2. Barbosa S; Zoboli I; Iglesias, S. Cuidados Paliativos: na prática pediátrica. Rio de Janeiro: Atheneu, 2019. 3. Silva JS; Jouan CE, Junior PM (org.). Bioética em Pediatria. São Paulo, SP: Memnon, 2021. 4. Rubio AV, Souza JL. Cuidado paliativo: pediátrico e perinatal. Rio de Janeiro: Atheneu, 2019 5. Macauley R, Hain R. ‘Children are notsmalladults’ - thedistinctivenessofethics in children. In: Goldman A; Hain, R; Liben (ed.). Oxford textbook of palliative care for children. Oxford University press,3ª ed., 2021. 6. CFM-Conselho Federal de Medicina. Código de Ética Médica: Resolução CFM nº 2.217, de 27 de setembro de 2018, modificada pelas Resoluções CFM nº 2.222/2018 e 2.226/2019. Brasília: Conselho Federal de Medicina, 2019. 7. Piva JP, Garcia PCR, Lago PM. Dilemas e dificuldades envolvendo decisões de final de vida e oferta de cuidados paliativos em pediatria. Revista Brasileira de terapia intensiva, São Paulo, 2011, v. 23, n. 1, 78-86. 8. Carvalho RT, Parsons VER (org.). Manual de Cuidados Paliativos da ANCP. Porto Alegre: Sulina; 2012. 29Cuidados Paliativos Pediátricos Alexsandro Santos Pereira César Augusto Ferreira Gomes de Andrade Isabel Regiane Cardoso do Nascimento Jamile Silva de Oliveira Castro Queiroz Entre os hospitais pediátricos disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS) do município de Fortaleza-CE, o Hospital Infantil Albert Sabin (HIAS) oferece tratamento em várias especialidades pediátricas e disponibiliza uma estrutura composta por centro de urgência e emergência, enfermarias, unidades de terapia intensiva pediátrica e neonatal, centro cirúrgico destinado a cirurgias eletivas e de urgência, ambulatórios, serviço de atendimento domiciliar, dentre outros. Além de equipe médica especializada, o hospital conta com equipe multiprofissional formada por enfermeiros, assistentes sociais, psicólogos, terapeutas ocupacionais, odontólogos, fisioterapeutas, nutricionistas, farmacêuticos e fonoaudiólogos. A instituição é referência para a região Nordeste no diagnóstico de doenças raras, oferece apoio do ambulatório de genética médica e suporte de tecnologia terciária para melhorar a qualidade de vida de crianças e adolescentes em condições crônicas complexas (CCC), auxiliando na sobrevivência até a idade adulta de muitas crianças com patologias pediátricas raras. Cuidados Paliativos Pediátricos do HIAS 3 30 Cuidados Paliativos Pediátricos Algumas das CCC apresentam-se sem possibilidade de cura e quando chegam à fase avançada, avolumam-se as fragilidades e complexidades de sintomas físicos, vulnerabilidades sociais, emocionais, sofrimento psíquico e questões espirituais nos pacientes e seus familiares. Muitos casos que envolviam tomadas de decisões difíceis, eram discutidos no âmbito do comitê de bioética da instituição, entretanto, considerando o crescente número de pacientes com CCC atendidos no hospital, emergiram muito mais dilemas bioéticos no cotidiano dos profissionais de saúde da instituição. Esse cenário exigia que a intervenção dos profissionais de saúde deveria envolver um diagnóstico precoce e condutas terapêuticas antecipadas, dinâmicas e ativas, respeitando-se os limites do próprio paciente. Frente a essa realidade, foi constatada a necessidade de organizar o serviço de cuidados paliativos no HIAS. Inicialmente, no processo de planejamento do serviço, ocorreram reuniõesda gestão hospitalar com a comissão de bioética, corpo clínico e equipes de saúde do hospital, administração, unidade de epidemiologia e os profissionais com expertise em CPP. Foram pesquisados protocolos e literaturas científicas nacionais e internacionais na área que apontassem a construção do serviço mais adequado ao perfil de pacientes do HIAS. Ao mesmo tempo que se planejava o serviço, existia uma preocupação com a formação e treino dos profissionais que iriam compor o serviço. Esta formação não poderia restringir-se aos aspectos médicos (controle de sintomas), deveria abarcar igualmente as áreas da ética, comunicação e apoio no luto. As reuniões foram importantes para apontar quais os recursos humanos com formação acadêmica e profissional adequadas para compor a equipe que ofereceria os serviços, os materiais e logísticas disponíveis, o perfil de morbidade e mortalidade dos pacientes atendidos no hospital, as unidades hospitalares onde ocorriam predominância de óbitos, quais cuidados eram disponibilizados 31Cuidados Paliativos Pediátricos a família, a modalidade de serviço que melhor se enquadraria na instituição, o investimento financeiro proposto para montar o serviço e os obstáculos e resistências que envolveriam as equipes de saúde para “aceitar” os cuidados paliativos nas unidades hospitalares. A preocupação inicial era que o serviço deveria ser integrado na prestação de cuidados de saúde em parceria com as equipes assistenciais, fosse financeiramente sustentável e apropriado à idade dos pacientes, diagnóstico, cultura e condição socioeconômica das famílias. A partir dessas reflexões, no ano de 2017, o HIAS organizou o seu próprio serviço de Cuidados Paliativos Pediátricos (CPP). Trata-se de uma equipe multidisciplinar mínima, composta por médico paliativista, enfermeiro, psicóloga e assistente social, acionada conforme a percepção do médico assistente através de solicitação de parecer. O serviço foi instituído pela diretoria hospitalar vigente por meio de portaria administrativa caracterizando o serviço como consultivo e volante, para oferecer retaguarda assistencial e suporte técnico- pedagógico nas diversas unidades de internação do hospital, exceto a unidade de oncopediatria, pois já contavam com uma equipe de cuidados paliativos especializada nas necessidades dos pacientes oncológicos. Foi definido que o plano de cuidado terapêutico seria discutido e elaborado por meio da conferência familiar (abordado no tópico a seguir), uma ferramenta de abordagem sistêmica mais sofisticada de manejo comunicacional e envolvimento com a família. Esse arranjo organizacional permite produzir o cuidado compartilhado com as equipes assistenciais de referência, complementando a atenção às complexas necessidades do paciente e seus familiares. Vale ressaltar que a equipe consultora do serviço de CPP não assume a coordenação dos cuidados, servindo como um grupo de suporte que orienta condutas paliativas. 32 Cuidados Paliativos Pediátricos FORMULÁRIO DA SOLICITAÇÃO DE PARECER E DA CONFERÊNCIA FAMILIAR A equipe dos cuidados paliativos pediátricos recebe solicitação das enfermarias e UTIs para avaliação dos pacientes de várias especialidades médicas. O parecer é solicitado por meio de formulário específico (Anexo 1), que foi elaborado pelo serviço de CPP e validado pelo escritório de gestão da qualidade do hospital. O formulário é diferente do documento disponível para solicitação de parecer das demais especialidades médicas, pois, faz-se necessário incluir informações para melhor manejo de complicações, sintomas estressantes e entendimento relacionado ao momento que o paciente está vivendo e a evolução da doença. Inicialmente, o serviço de CPP pretendia responder às solicitações de parecer num prazo de 48 a 72 horas. Porém, devido à grande demanda do hospital, isso não foi possível. A partir de um processo de constante aprendizado, desde o início da atuação da equipe dos cuidados paliativos pediátricos até os dias atuais, o formulário de solicitação de parecer foi aprimorado. Após ações educativas realizadas com as equipes das unidade, o prazo de devolutiva foi melhor cumprido, pois foram traçados critérios de elegibilidade para admissão nos cuidados paliativos pediátrico: 1) conflito bioético, 2) tratamento de sintomas refratários, 3) vulnerabilidades sociais, 4) cuidados de fim de vida, 5) sofrimento intenso da família e do paciente relacionado ao diagnóstico e ao prognóstico, 6) conflitos intrafamiliares que interfiram na tomada de decisão e 7) limitação terapêutica. Nos casos em que paciente não se enquadre nesses critérios, serão ofertados cuidados paliativos primários e as condutas serão de competência da equipe médica assistente. Em alguns casos, os planos terapêuticos exigem a implementação de programas de transição para outras instituições de cuidados paliativos para adultos. 33Cuidados Paliativos Pediátricos Quando o paciente atender aos requisitos de inclusão supracita- dos, após avaliação e feedback do parecer da equipe médica assistente, a família é abordada e posteriormente agendada uma conferência fami- liar. Neste momento, devem estar presentes membros da equipe assis- tente da unidade onde o paciente está internado, familiares, responsá- veis ou cuidadores do paciente e a multiprofissional de CPP do HIAS. A data para realização da conferência familiar fica dependendo de muitas variáveis, tais como: distância e meio de deslocamento do endereço residencial da família (se é na capital ou cidade do interior do Estado do Ceará), e a disponibilidade dos familiares de participar. Infelizmente, em alguns casos não é possível realizar a conferência. O objetivo dessa conferência é construir um plano de cuidado para o paciente em parceria com a família e a equipe de saúde assis- tente. Para isso, nesse momento, é importante conhecer a estrutura familiar do paciente, aspectos econômicos, religiosos e espirituais, a rede de proteção social disponível, a habilidade da família para cuidar da criança (com ou sem dispositivos médicos) no domicílio, esclarecer dúvidas sobre a patologia, tais como a evolução da doença e o prognós- tico do paciente. PERFIL DOS PACIENTES ATENDIDOS O perfil dos pacientes na pediatria com internações hospitalares, no decorrer dos últimos anos, vem se modificando, sendo cada vez mais frequente a necessidade de assistência a crianças que são diagnosticadas com doenças crônicas e que ameaçam a vida.1 O número global estimado de pacientes pediátricos que necessitam de cuidados paliativos (CP) no final da vida é de quase 1,2 milhão. As doenças congênitas e genéticas são as maiores responsáveis pela indicação deste tipo de cuidado, seguidas das condições neurológicas crônicas, depois pelas onco-hematológicas. Existe uma proporção ligeiramente maior de meninos do que de meninas. Entre 34 Cuidados Paliativos Pediátricos os diferentes grupos que podem receber a indicação da abordagem paliativa, observa-se uma gama importante de crianças que serão acompanhadas por longos períodos, muitas até a vida adulta.1-3 Doenças como fibrose cística, epidermólise bolhosa, cardiopatias graves, anemia falciforme, e outras, fazem parte desse nicho importante do paciente, e são classificadas como "situações que exigem longos períodos de tratamento intensivo, visando prolongar a vida, mas existindo sempre o risco de morte prematura". Ao mesmo tempo, crianças que apresentam distúrbios meta- bólicos, doenças neurodegenerativas e alterações cromossômicas (Síndrome de Edwards ou Trissomia do 18) se encaixam nas "situações progressivas, sem opção curativa, nas quais o tratamento é paliativo desde o diagnóstico", evidenciando-se a necessidade do cuidado a lon- go prazo, visto tratar-se de um adoecimento crônico e complexo. Doenças genéticas, paralisia cerebral e encefalopatias são condições comuns, classificadas no grupo de "situações irreversíveis não progressivas, acompanhadasde incapacidade grave, tornando a criança vulnerável ao desenvolvimento de complicações de saúde", em que se beneficiaram grandemente do suporte de uma equipe de CP. Não obstante, crianças com câncer, sepses, algumas doenças cardíacas, renais e hepáticas, encontram-se no grupo de “Situações que podem comprometer a vida, em que o tratamento curativo pode ser possível, mas, ainda assim, pode falhar”.4,5 Não há um perfil definido em relação às condições elegíveis para CP na neonatologia, mas de modo geral elencam-se algumas condições elegíveis como:6 1) Recém-nascido (RN) no limite da viabilidade, com extremo baixo peso e idade gestacional muito prematura, como os menores de 24 semanas ou 500 g se não houver retardo de crescimento. E aqueles com peso < 750 g ou IG < 27 semanas, que tenham desenvolvido complicações sérias, que limitem a vida com o passar do tempo; 35Cuidados Paliativos Pediátricos 2) Malformações congênitas múltiplas, que impliquem em limitação da vida; 3) Problemas genéticos, como as trissomias do 13, 15 e 18 ou a osteogenesis imperfecta e ainda erros inatos do metabolismo, cuja evolução seja desfavorável, mesmo quando há terapia disponível; 4) Problemas renais como síndrome de Potter, agenesia ou hipoplasia renal bilateral importante, insuficiência renal grave, alguns casos de rins policísticos, com necessidade de diálise; 5) Alterações do sistema nervoso central como anencefalia, acrania, holoprosencefalia, encefalocele gigante, hidroanencefalia, doen- ça neurodegenerativa que exija ventilação mecânica; 6) Problemas cardíacos, como a acardia ou cardiopatias complexas inoperáveis; 7) RN que não respondam ao tratamento apesar de todos os esforços para ajudá-lo a se recuperar: sobreviventes de paradas cárdio-respiratória (PCR) de repetição; injúrias cerebrais severas, como a hemorragia intracraniana grave com leucomalácia; asfixia perinatal severa com encefalopatia hipóxico-isquêmica; disfunção de múltiplos órgãos; enterocolite necrotizante ou vólvulo com perda de grandes extensões do intestino (síndrome do intestino curto). O perfil dos pacientes acompanhados no primeiro semestre (setembro de 2017 a abril 2018) de implantação do Serviço de Cuidados Paliativos Pediátricos (CPP) evidenciou que a maioria dos pacientes (n=50) eram do sexo feminino (54%), com média de idade de 6 anos e procedentes do Interior (62%). Verificou-se uma maior frequência dos pedidos dos pareceres provenientes das Unidades mais críticas e fechadas (UTI), com 51%. Identificou-se, também, que 47% dos pacientes admitidos estavam em Ventilação Mecânica Invasiva, 34% possuíam traqueostomia e 36% estavam sob tubo orotraqueal. 36 Cuidados Paliativos Pediátricos Uma quantidade significativa dos pacientes em seguimento pelo serviço de CPP era diagnosticada com anormalidades cromossômicas (36%), dentre elas a mais frequente foi a Síndrome de Edwards (45%). Destaca-se que durante esse período, 54% das crianças em seguimento evoluíram a óbito, 16% receberam alta com acompanhamento ambulatorial e 8% receberam alta com acompanhamento do Serviço de Assistência Domiciliar do Hospital. Ressalta-se que o número expressivo de pacientes acompanhados nos seis primeiros meses de implantação do Serviço sugere uma mudança da perspectiva do modelo assistencial centrado na doença para uma compreensão ampliada do cuidado. A prática do profissional da saúde volta-se para a integralidade do paciente, onde os aspectos psicossociais e espirituais são integrados à prática desenvolvida no serviço, limitando-se não somente à doença em si, mas com foco no paciente e sua família. A demanda do serviço aumentou consideravelmente nos últimos anos, principalmente em relação a quantidade de pareceres solicitados. Dessa forma, a estratégia foi a construção de um fluxograma que pudesse analisar critérios de elegibilidade prioridade para o agendamento de conferências familiares (Anexo 2). ORGANIZAÇÃO ATUAL DO SERVIÇO, FUNÇÃO DOS PROFISSIONAIS E ABRANGÊNCIA DE ATUAÇÃO A equipe de cuidados paliativos pediátricos do HIAS é constituída por psicólogo (a), assistente social, médico (a) e enfermeiro, compondo uma equipe multiprofissional, que atua com objetivo de minimizar o sofrimento na perspectiva da qualidade de vida de pacientes com diagnósticos que ameaçam a vida. Busca-se conhecer além do diagnóstico, o paciente, sua família e percurso terapêutico, com foco no cuidado integral, lançando olhar para a rede de apoio familiar e comunitário, no sentido de intervir em conjunto com equipe e família. 37Cuidados Paliativos Pediátricos O trabalho da equipe interdisciplinar de CPP está voltado prioritariamente para os princípios e a dimensão bioética, educativa, com intervenção planejada, atenta aos sujeitos envolvidos no processo de saúde-doença, desenvolvendo um trabalho integral nos aspectos físicos, emocionais, sociais e espirituais. Destarte, infere-se que a abrangência de atuação da equipe de CPP do referido hospital estabelece um processo de atenção totalitária ao paciente e à família. Tal cuidado é resultado de um trabalho implementado segundo reflexões coletivas – família e equipe, sendo estas fundamentadas a partir das múltiplas demandas apresentadas pela equipe e o núcleo familiar. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS)7, cuidado paliativo é uma abordagem que melhora a qualidade de vida dos pacientes e suas famílias que enfrentam os problemas associados a doenças que ameaçam a vida, por meio da prevenção e alívio do sofrimento, da identificação precoce, avaliação impecável e tratamento da dor e outros problemas, físicos, psicossociais e espirituais. Nesse sentido, durante seu surgimento, a equipe de cuidados pa- liativos pediátricos do HIAS vivenciou desafios e avanços em sua imple- mentação, tornando a realidade da sua atuação mais complexa dentro da unidade hospitalar. Com viés consultivo e matricial, buscou oferecer suporte às equipes para intervenções de alívio para dor e demais sin- tomas, ajustes de medicações e compartilhamento de conhecimento com a equipe assistencial sobre o novo modelo de cuidado, integrando os aspectos emocionais e sociais ao processo de cuidado. Alguns desafios foram identificados, à medida que havia a compreensão equivocada sobre o conceito de cuidados paliativos por parte da equipe assistencial, possibilitando o não reconhecimento da indicação de cuidados paliativos durante a assistência, formando barreiras consideráveis para a intervenção e diagnóstico precoce. A singularidade da pediatria no que diz respeito ao enfrentamento da morte8, dificuldades emocionais, resistência às mudanças também foram alguns dos desafios que foram identificados nesse processo. 38 Cuidados Paliativos Pediátricos Historicamente, os cuidados paliativos foram associados apenas às doenças incuráveis e irreversíveis, seu propósito sendo utilizado apenas para cuidados finais de vida. Essa ideia contribuiu para a solicitação de parecer em momentos de terminalidade e fechamento de ciclo de vida, principalmente envolvendo limitação de suporte de vida (LSV), configurando indicação tardia.9 Desse modo, a atuação da equipe também está voltada para a clarificação e democratização de informações junto à equipe assistencial, acerca dos conceitos de cuidados paliativos e o objetivo do modelo de cuidado, considerando que a família necessita de tempo e de informações para compreender as possíveis vantagens dos cuidados paliativos e, dependendo de como a equipe apoia esse processo, percebe as motivações do cuidado e progressivamente desenvolve confiança e cumplicidade, possibilitando a compreensão de que o tratamento curativo e paliativo devem ser complementares e integrados, aplicados em conjunto durante a evolução da doença.9 Destarte, conforme Manual de Cuidados Paliativos da ANCP10 e do Ministério da Saúde em conjunto com Hospital Sírio Libanês11, sintetiza a abrangência de atuação da equipe de cuidados paliativoscom alguns princípios norteadores: • Início precoce do acompanhamento em cuidados paliativos junto a tratamentos modificadores da doença. Incluir toda a investigação necessária para compreender qual o melhor tratamento e manejo dos sintomas apresentados; • Reafirmação da vida e a importância desta; • Compreensão da morte como processo natural, não antecipando nem postergando a mesma; • Promoção e avaliação, reavaliação e alívio impecável da dor e de outros sintomas geradores de desconforto; • Percepção do indivíduo em integralidade; 39Cuidados Paliativos Pediátricos • Suporte ao paciente, com enfoque na melhora da qualidade de vida; • Compreensão dos familiares como parte importante do processo de adoecimento do paciente e também no processo de luto após o óbito do paciente. Sob a perspectiva da Bioética, salientamos que a atuação dos cuidados paliativos pediátricos deve ter também como princípios norteadores a beneficência, não maleficiência, autonomia e justiça, tais direcionamentos representam a forma mais abrangente de atuação.12 Percebe-se, portanto, que a abrangência de atuação dos cuidados paliativos tem como base para intervenção a equipe, paciente e família, tendo como norteador o conhecimento de saúde ampliada, que fortalece a assistência, possibilitando resultados efetivos nos cuidados em saúde. REFERÊNCIAS 1. Castilho RK, Silva VCS, Pinto CS. Manual de cuidados paliativos da Academia Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP). Rio de Janeiro: Atheneu; 2021. 2. Carvalho RT, Souza MRB, Franck EM, Polastini RTV, Crispim DH, Jales SMCP, Barbosa SMM, Torres SHB. Manual da residência de cuidados paliativos. São Paulo: Manole; 2018. 3. Worldwide Hospice Palliative Care Alliance. World Health Organization. Global Atlas of Palliative Careatthe Endof Life. Genebra: WHO; 2020. 4. Ferreira EAL, Gramasco H, Iglesias SBO. Reumatologia infantil e cuidados paliativos pediátricos: conceituando a importância desse encontro. Resid. Pediatr. 2019;9(2):189-92. doi: 10.25060/ residpediatr-2019.v9n2-21 40 Cuidados Paliativos Pediátricos 5. Silvia RS, Amaral JB, Malagutti W. Enfermagem em Cuidados Pa- liativos: cuidando para uma boa morte. São Paulo: Martinari; 2019. 6. Iglesias SBO, Zollner ACR, Constantino CF. Cuidados paliativos pediátricos. Resid. Pediatr. 2016;6(0 Supl.1):46-54. doi: https:// doi.org/10.25060/residpediatr-2016.v6s1-10 7. World Health Organization. Nationalcancercontrolprogrammes: policies andmanagerialguidelines. 2nd ed. Genebra: WHO; 2002. 8. Organização Mundial da Saúde. Integração de cuidados paliativos e alívio de sintomas em pediatria: um guia da OMS para planejadores, implementadores e gestores de saúde. Brasília: Organização Mundial da Saúde; 2018. 9. Lima SF, Lamy ZC, Motta VBR, Roma TM, Gomes CMRP, Souza TP. Dinâmica da oferta de cuidados paliativos pediátricos: estudo de casos múltiplos. Cad. Saúde Pública.2020;36(9):1-13. doi: https:// doi.org/10.1590/0102-311X00164319 10. Carvalho RT, Parsons HA. Manual de Cuidados Paliativos. Disponível em https://cuidadospaliativos.org/uploads/2020/12/ Manual-Cuidados-Paliativos.pdf. Acesso 20/03/23. 41Cuidados Paliativos Pediátricos SISTEMA DE GESTÃO DA QUALIDADE Tipo de documento: FORMULÁRIO FOR.CPP.001 Título do documento: SOLICITAÇÃO DE PARECER À COMISSÃO DE CUIDADO PALIATIVO PEDIÁTRICO ELABORAÇÃO: 10/02/2020 REVISÃO: 26/06/2022 VERSÃO: 02 COMISSÃO DE CUIDADOS PALIATIVOS PEDIÁTRICOS – CUIDANDO JUNTOS Data do Pedido de Parecer: ___/____/20___ Prontuário: __________________ Data de Internação no Hospital: ___/____/___ Setor do Pedido de Parecer/Leito: ________/_______ Nome Paciente: _______________________________________________ Data de Nascimento: ___/____/___ Município de Origem: ______________________________ Sexo: ( ) M ( ) F Familiar/Responsável: ______________________________ Contato: (____) __________________ CONDIÇÕES ELEGÍVEIS PARA CUIDADOS PALIATIVOS EM CRIANÇAS Grupos Situações envolvidas Exemplos de doenças e condições Grupo 1 Crianças com condições agudas de risco de vida, das quais a recuperação pode ou não ser possível Qualquer doença ou lesão crítica, desnutrição grave Grupo 2 Crianças com condições crônicas de risco de vida que podem ser curadas ou controladas por um longo período, mas que também podem morrer Malignidades, tultirresistente, HIV/AIDS Grupo 3 Crianças com condições progressivas de risco de vida para as quais não há tratamento curative dispnível Atrofia muscular espinhal, Distrofia muscular de Duchenne Grupo 4 Crianças com condições neurológicas graves que não são progressivas, mas podem causar deteriorização e morte Encefalopatia estática, tetraplegia espástica, espinha bífida Grupo 5 Recém-nascidos que são gravemente prematuros ou têm anomalias congênitas graves Prematuridade grave, anencefalia, hernia diafragmática congênita, trissomia do 13 ou 18 Grupo 6 Membro da família de um feto ou criança que more inesperadamente Morte fetal, encefalopatia hipóxico-isquêmica, sepse avassaladora em criança previamente saudável, trauma por acidente de veículo motorizado, queimaduras, etc. Diagnóstico principal: ___________________________________________________________________________ Doença Neurológica Doença genética Doença Pulmonar Doença cardiológica Doença da Gastro-Hepato Doença autoimune / hematológica Doença Renal Doença ligada a prematuridade Você ficaria surpreso se este paciente morresse nos próximos 6 meses: ( ) Sim ( ) Não Parecer do(s) Especialista(s): ( ) Sim ( ) Não Patologia irreversivel confirmada em parecer? ( ) Sim ( ) Não Obs.: __________________________________________________________________________________________________ Dispositivos invasivos: Sim ( ) Não ( ) Cateterismo intermitente Sonda de alimentação Traqueostomia VNI / VMI Sonda vesical de demora Gastrostomia Oxigenioterapia Acesso Venoso Central / PICC Qual a demanda para a Comissão de Cuidado Paliativo Pediátrico? Conflito bioético Tratamento de sintomas refratários Pendência social Cuidado de fim de vida Sofrimento intenso da família/paciente diante do diagnóstico e prognóstico Conflito intrafamiliar que interfira na tomada de decisão Limitação terapêutica Outro: ________________________________________________________________________ Informações essenciais ao caso (Não citadas acima): ______________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________ Fo nt e: C ui da do s Pa lia tiv os P ed iá tri co s: O q ue s ão e q ua l s ua im po rtâ nc ia ? C ui da nd o da c ria nç a em to do s os m om en to s. SB P, 2 02 1. _________________________ Solicitante Parecer ANEXO 1 42 Cuidados Paliativos Pediátricos RESPOSTA AO PEDIDO DE PARECER COMISSÃO DE CUIDADOS PALIATIVOS PEDIÁTRICOS – CPP – CUIDANDO JUNTOS Data Resposta do Parecer: ___/____/20___ Data do recebimento do parecer: ___/____/20___ Setor atual de internação do paciente: ______ Paciente internado desde o nascimento? ( ) Sim ( ) Não Número de internações nos últimos 6 meses: _________ Admitido em UTI/Rea nesta internação? ( ) Sim ( ) Não Paciente internado na UPE? ( ) Sim ( ) Não Paciente acompanhado em domicilio? ( ) Sim ( ) Não Qual programa: _______________________________ Paciente com episódio de Parada Cardiorespiratória nesta internação? ( ) Sim ( ) Não Detalhes do episódio de Parada Cardiorespiratória: _______________________________________________________________________________ Informações adicionais: _______________________________________________________________________________________________ Índice(%) LANSKY (menores de 16 anos) KARNOFSKY (maiores de 16 anos) 100 Sem nenhuma restrição, normal Sem nenhuma restrição, normal 90 Restrições mínimas em atividades físicas extenuantes Atividade normal, pequenos sinais ou sintomas de doença 80 Ativo, cansando-se facilmente Atividade normal com esforço, alguns sinais e sintomas da doença 70 A maior parte do tempo restrito, poucas brincadeiras ativas Toma conta de si próprio, não consegue manter atividade normalmente ou trabalhar. 60 Consegue caminhar, envolve-se pouco com brincadeiras ativas. Ocupa-se com atividades tranquilas. Requer assistência ocasional, mas está habilitado a tomar conta do que precisa e dos frequentes cuidados médicos. 50 Consegue se vestir, mas passa a maior parte do dia na cama, não brinca ativamente. Envolve-se em brincadeiras e atividades passivas. Requer considerável assistência e frequentes cuidados médicos. 40 Maior parte do tempo na cama, participa de atividades passivas. Incapacitado, necessita de cuidado e assistências especiais. 30 Acamado, necessita de assistência mesmo em brincadeiras passivas. Incapacidade severa, hospitalização está indicada, mas a morte não está iminente. 20 Maior parte do tempo dormindo. Muito doente, necessitando de hospitalização e cuidados de suporte. 10 Não brinca e não sai da cama. Moribundo. 0 Não responsivo. Morte. Físico:_______________________________________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________________________________ Social/Familiar:________________________________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________________________________ Psicológico:___________________________________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________________________________ Espiritual:____________________________________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________________________________ _ La ns ky S B, Li st M A, La ns ky LL , R itt er -S te rr C, M ill er D R. T he m ea su re m en t o f p er fo rm an ce in ch ild ho od ca nc er p at ie nt s. Ca nc er . 1 98 7 Ka rn of sk y DA , B ur ch en al JH : T he cl in ica l e va lu at io n of ch em ot he ra pe ut ic ag en ts in ca nc er , i n M ac Le od C M (e d) : E va lu at io n of C he m ot he ra pe ut ic Ag en ts . N ew Y or k, NY , C ol um bi a Un ive rs ity Critério de Elegibilidade para acompanhamento: __________________________________________________________________________ Avaliação da Performance (Prévia / Atual): Lansky: _____/_______ Karnosky: _____/_______ Avaliação da Comissão de Cuidado Paliativo Pediátrico no caso: Equipe de Cuidados Paliativos 43Cuidados Paliativos Pediátricos Solicitar Parecer Médico Assistente - Prestar orientações à equipe - Registrar parecer no prontuário Médico ao CPP** - Realizar conferência familiar - Estabelecer plano de cuidados Equipe da CPP** - Realizar visitas - Fortakecer vínculos - Acompanhar evolução - Acolher luto Equipe da CPP** - Responder parecer aplicando os critérios de elegibilidade*** - Emitir parece em até 72 horas Equipe do CPP** ** CPP - Comissão de Cuidados Paliativos Pediátricos (Médicos, Enfermeiros, Psicólogos e Assistentes sociais - Revisar história; - Aplicar escala de funcionalidade; - Agendar a conferência familiar conforme critério de prioridade***; - Alinhar plano com equipe assistente e família fortalecendo vínculo; Registrar parecer em prontuário. Equipe do CPP, equipe assistencial e familiar Diagnóstico de doença crônica, limitante e ameaçadora a vida* Atende aos critérios de elegibilidade para inserção no CPP? SIM NÃO ANEXO 2 44 Cuidados Paliativos Pediátricos ***Critérios de prioridade para realização da conferência familiar 1 Proximidade do fim de vida com pacientes já vinculados 2 Agravamento do quadro clínico, conforme critério de elegibilidade 3 Pacientes já vinculados evoluindo com limitação de terapia 4 Pacientes não vinculados evoluindo com limitação de terapia 5 Proximidade de fim de vida com pacientes sem vinculação 6 Conflitos com equipe assistente que iterferiram na tomada de decisão e no processo de cuidados 7 Conflito intrafamiliar que interfira na tomada de decisão e no pprocesso de cuidados 8 Acolhimento de intenso sofrimento relacionado a diagnóstico e prognóstico 9 Dificuldade no processo de desospitalização Obsrvação 1: Prioridade da UTI em detriment da enfermaria, em todos os critérios ****Critérios de elegibilidade ara inserção no CPP (Crianças e adolescentes com doença crônica limitante e ameaçadora a continuidade de vida que estejam videnciando: 1 Conflito Bioético 2 Tratamento de sintomas refratórios 3 Pendências sociais 4 Cuidados de fim de vida 5 Sofrimento intenso da família do paciente em relação ao diagnósticos e prognósticos 6 Conflitos intrafamiliar que interfira na tomada de decisão 7 Limitação tarapêutica 45Cuidados Paliativos Pediátricos Bruna Cunha de Alcântara Matos INTRODUÇÃO O Hospital Infantil Albert Sabin (HIAS), inscrito junto ao Ministério da Saúde (MS) como Unacon Exclusivo de Oncologia Pediátrica, operacionaliza a assistência oncológica pediátrica no anexo denominado Centro Pediátrico do Câncer (CPC) desde 2010. Ainda em 2009, foi implantada com base no “modelo mais frequente” (Academia Nacional Cuidados Paliativos-ANCP) e viabilizada por meio da parceria entre o corpo profissional do CPC com a Associação Peter Pan (APP) através do Programa Raio de Sol, o serviço de Cuidados Paliativos Pediátricos Oncológicos do Ceará. CONCEITO PARA O SERVIÇO A perspectiva da filosofia dos CP de conferir mais dignidade ao tempo de vida e da clínica ampliada como importante diretriz da Política Nacional de Humanização, com sua máxima de desenvolver as potencialidades da pessoa para ela viver com e apesar da doença, a unidade de cuidados paliativos conta com uma equipe plural e com o apoio de um importante segmento que é o voluntariado (Quadro 1). Cuidados Paliativos no Centro Pediátrico do Câncer4 46 Cuidados Paliativos Pediátricos Quadro 1 - Equipe de cuidados paliativos oncológicos pediátricos do CPC Profissionais Especialidades 1 Médico oncologista pediátrico e paliativista 2 Médico paliativista, especialista em dor 3 Psicóloga 4 Enfermeira 5 Assistente Social 6 Terapeuta Ocupacional 7 Fisioterapeuta 8 Nutricionista 9 Fonoaudióloga 10 Coordenadora de Voluntariado 11 Coordenadora de Programas Sociais Fonte: pesquisa direta Os profissionais acima listados são representantes das suas profissões e são aqueles diretamente envolvidos com a unidade de cuidados paliativos. Além disso, outros profissionais colaboram e participam de forma mais pontual e indireta com os objetivos das ações de CP. Esta equipe conta, ainda, com o apoio efetivo de uma estagiária de psicologia, dos residentes do programa da Residência Integrada em Saúde das ênfases de Pediatria e da Cancerologia que tem o CPC como cenário das suas práticas.A abrangência da unidade envolve enfermaria, unidade de terapia intensiva, hospital-dia e atendimento domiciliar. A admissão se dá por encaminhamento do médico assistente, reunião médica semanal e via discussão de casos na reunião semanal interdisciplinar de CP, baseada no prognóstico reservado e refratário ao tratamento curativo. 47Cuidados Paliativos Pediátricos Os diagnósticos prevalentes são leucemia linfóide e mielóide aguda, neuroblastoma, tumores do sistema central e ósseos. O tempo de seguimento dos pacientes varia por patologia e condições clínicas que podem ser entre um mês e dois anos. O fator disparador para a inclusão das demais profissões é a confirmação do caso na reunião semanal de CP e pelos atendimentos no ambulatório de suporte. Os serviços ofertados são: atendimento médico de suporte; controle da dor; cuidados de enfermagem; atendimento psicológico; assistência fisioterápica, odontológica, de terapia ocupacional e nutricional para manutenção da qualidade de vida; assistência social, atividades lúdicas e programa de realização de sonhos. Os usuários do programa são os pacientes e seus familiares. OBJETIVOS DO CUIDADO O serviço tem como objetivo alcançar a melhor qualidade de vida para os pacientes e suas famílias quando ocorre uma progressão da doença sem resposta às terapias curativas. Definir um plano de cuidado sistematizado que enfoque o controle de sintomas físicos, assim como assuntos de ordem psicológica, social e espiritual. Realizar cuidado multimodal ao paciente e seus cuidadores e familiares. Após a identificação de critérios de inclusão ou elegibilidade para os Cuidados Paliativos, é realizada uma ampla avaliação do doente, buscando os parâmetros que apoiem de forma cuidadosa o diagnóstico do processo de cuidado final de vida. A avaliação clínica do doente deve conter elementos fundamentais que possibilitem a compreensão de quem é a pessoa doente. Deve-se identificar suas preferências e dificuldades, a cronologia da evolução de sua doença e os tratamentos já realizados, quais as suas necessidades atuais e sintomas, o exame físico, os medicamentos propostos, as demais decisões clínicas e a impressão a respeito da evolução, além do prognóstico e as expectativas com relação ao tratamento proposto. 48 Cuidados Paliativos Pediátricos A abordagem dos Cuidados Paliativos valoriza a história natural da doença, a história pessoal de vida e as reações fisiológicas, emocionais e culturais dos pacientes e familiares diante do adoecer, o que faz com que o plano de cuidados seja altamente individualizado e variável ao longo do tempo. Com o intuito de facilitar a comunicação entre os diversos profissionais da equipe e orientar as linhas gerais do plano de cuidados do paciente em um determinado momento, utilizamos a seguinte estratégia de estratificação, dividindo as ações paliativas nas seguintes fases, baseado também nas escalas de avaliação funcional que poderá ser a escala de Lansky ou Escore de ECOG ou de Zubrod: Cuidado paliativo precoce O paciente é portador de doença que ameaça sua vida e apresenta bom status funcional. Nesse momento é improvável que a morte ocorra em decorrência de sua doença de base. Em caso de instabilidade clínica aguda, deve ser encaminhado para UTI e receber suporte avançado de vida em caso de PCR. A prioridade é o tratamento curativo ou restaurativo, utilizando os princípios da beneficência e autonomia. Prognóstico estimado em meses a anos. Cuidado paliativo complementar O paciente é portador de doença que ameaça sua vida e apresenta status funcional intermediário. Nesse momento é improvável que o paciente possa responder de maneira completa ou satisfatória ao tratamento curativo. No entanto, pode se beneficiar de procedimentos ou tratamentos invasivos que 49Cuidados Paliativos Pediátricos proporcionem melhora de sintomas e qualidade de vida, respeitando o desejo do paciente ou de seus representantes legais. Em caso de instabilidade clínica aguda, a transferência para UTI deve ser ponderada, levando-se em consideração as condições potencialmente reversíveis, podendo ser definido limite de esforço terapêutico. Prognóstico estimado em semanas a meses. Cuidado paliativo pleno O paciente é portador de doença que ameaça a vida e apresenta baixo status funcional. Todas as ações devem buscar a melhor qualidade de vida possível e o controle de sintomas desconfortáveis (tratamento de infecções, correção de distúrbios hidroeletrolíticos, analgesia, etc.), utilizando os princípios da autonomia e não maleficência. Não adicionar ou manter terapias fúteis. Não deve ser encaminhado para UTI, respeitando o desejo do paciente ou de seus representantes legais. Prognóstico estimado em dias a algumas semanas. Cuidado paliativo de fim de vida O paciente é portador de doença que ameaça a vida, com baixo status funcional e declínio rápido e irreversível do estado geral. Esta piora acentuada pode ser evidenciada pelo comprometimento do nível da consciência e instabilidade cardiopulmonar. Suspender todas as terapias fúteis, focando exclusivamente no controle de sintomas. Não deve ser encaminhado para UTI, respeitando o desejo do paciente ou de seus representantes legais. Prognóstico estimado em horas a poucos dias. 50 Cuidados Paliativos Pediátricos Em todas as fases, deve ser prestado apoio aos pacientes e familiares, abordando os diagnósticos, condutas e prognóstico, além do controle rígido da dor e outros sintomas desconfortáveis e assistência psicossocial e espiritual. Após definição da indicação do paciente e modalidade, o caso clínico é apresentado em reunião clínica semanal que ocorre às terças, quartas e quintas pela manhã na sala dos médicos do primeiro andar do CPC, sob coordenação da chefia médica e de todos os médicos do CPC, para discussão dos casos clínicos da enfermaria e UTI, dos casos mais graves do ambulatório, incluindo pacientes sob tratamento curativo e paliativo. O grupo reunido também delibera sobre rotinas do serviço, problemas gerais do CPC, soluções e encaminhamento de demandas cabíveis para setores e órgãos responsáveis dentro e fora do HIAS. É possível também a participação de residentes médicos. Quanto aos CP, esta é uma etapa decisiva, quando a equipe estabelece consenso sobre a progressão da doença e acerca das evidências de falha dos protocolos determinativos. A documentação de base são os prontuários, os protocolos, as evidências científicas e a lista de pacientes, que é elaborada por qualquer médico da equipe. Ao final é lavrada ata. 51Cuidados Paliativos Pediátricos Início da Definição de Seguimento do Paciente PACIENTE EQUIPE MULTIDISPLINAR Tratamento de suporte de toda a equipe para controle de sintomas Tratamentos curativos Óbito do paciente i) prognóstico reservado: ii) refratariedade aos protocolos Comunicação com o acompanhamento de um psicólogo Evolução do quadro Evolução do quadro Ambulatório de suporte Protocolos curativos Suporte a família Suporte a família • Os casos são discutidos pela equipe multidisciplinar, levando-se em consideração seu estado clínico, psicológico e inclusive a rede familiar e social que o assiste de forma sistêmica • Suporte amplido para a família, oferecendo atendimento psicológico e permitindo a presença d mais dum acompanhante quando os pacientes encontra-se internado. Caso clínico Intervenções 52 Cuidados Paliativos Pediátricos PLANOS DE CUIDADO Esse plano é iniciado pelo planejamento da Conferência Familiar, estratégia por meio da qual a família dos pacientes em CP é convocada para se reunir com a equipe no sentido de ser acolhida em seu sofrimento e ajudada nos níveis emocional, cognitivo e social a se confrontar com a complexa tarefa de enfrentamento e planejamento de otimizar qualidade de vida, mediante uma doença ameaçadora da vida, até explicar sobre a morte e morrer de um filho. Por meio dela se conhece melhor a configuraçãofamiliar e seu sofrimento, ouve- se seus pontos de vistas, crenças, medos, angústias e dúvidas, bem como se fortalecem o vínculo e a confiança com a equipe. Os dias preferenciais para estes encontros são a segunda e a quarta-feira, que são agendados de acordo com a demanda dos casos críticos, podendo se repetir sempre que precisar. Persegue-se a meta de que pelo menos três profissionais se façam presentes em cada reunião, preferencialmente, médico, assistente social e psicólogo. As pessoas da família que são convidadas a participar podem variar em cada caso, de acordo com o vínculo com o paciente. A equipe inicia viabilização da Conferência Familiar seguindo Protocolo de Comunicação utilizando como ferramenta o modelo SPIKES, protocolo de comunicação em seis passos, criado e coordenado por um grupo de oncologistas norte-americanos, que sintetiza as principais diretrizes a serem seguidas pelos profissionais de saúde. Nessa reunião são definidos o cuidador e os familiares da rede de cuidados. Nesse fluxo é esclarecido sobre a falta de resposta ao tratamento curativo proposto e esclarecer dúvidas sobre possíveis tratamentos alternativos. Além disso, é viabilizado o significado de cuidado de suporte. A equipe avalia a unidade de seguimento em que será possível a intervenção e inclusão como regime domiciliar, 53Cuidados Paliativos Pediátricos ambulatorial e hospitalar. Após a finalização do plano são definidas a equipe multidisciplinar, planejamento de cuidado total e identificação do prontuário. Segue abaixo, resumo do fluxo de Plano de cuidado após inclusão do paciente e definição de modalidade: Definir Atendimento Sinalizar Equipe Conferência Familiar Durante a semana, há o encontro interdisciplinar que acontece todas as quartas-feiras pela manhã no auditório ou sala de Psicologia, com a equipe da unidade de CP, podendo contar com a presença de outros profissionais do CPC e residentes devidamente autorizados, voltada para a discussão dos casos apontados na reunião do corpo clínico, sobretudo os que estão evoluindo com franca progressão da doença e os que já foram comunicados sobre cuidados paliativos complementar ou plenos. Seguida à discussão, são construídos consensos em torno de condutas a serem efetivadas, respeitando-se a singularidade dos envolvidos. A reunião também está aberta para que os participantes discutam sobre possível inclusão de novos casos, implementação de ações e checagem das ações em curso. Os documentos que apoiam essa reunião são a lista de casos informada pelos médicos de CP, os casos em acompanhamento interdisciplinar e seus protocolos, constando pacientes novos e antigos. Ao final é lavrada ata com assinatura dos presentes. 54 Cuidados Paliativos Pediátricos SEGUIMENTO PELA UNIDADE DE ATENDIMENTO Seguimento ambulatorial O paciente indicado é encaminhado para o Ambulatório de SUPORTE em que se realiza atendimento médico, objetivando controle de sintomas e/ou definindo a necessidade de recursos terapêuticos com quimioterapia ou radioterapia paliativa – na tentativa de evitar progressão acelerada da doença, sempre priorizando a qualidade de vida, respeitando a beneficência e não maleficiência. Nessa unidade, é definido projeção de seguimento com qualidade de vida. Nesse momento, provemos a realização dos desejos do paciente e realização de sonhos. Otimizamos a clarificação dessa indicação de cuidado para melhor aceitação e adesão do Suporte Multidisciplinar. Acionamos o Programa de Assistência Domiciliar, Programa Melhor em Casa ou Equipe de Unidade de Saúde do município residente, para atendimento e insumos para seguimento em regime ambulatorial quando necessário, de acordo da demanda do paciente. Utilizamos protocolos de suporte: PROTOCOLO DE DOR; PROTOCOLO QUIMIOTERAPIA E RADIOTERAPIA PALIATIVA DE ACORDO COM A PATOLOGIA; PROTOCOLO INTERVENÇÃO MULTIPROFISSIONAL. Seguimento Domiciliar O cuidado com os pacientes de CP em domicílio abrange os pacientes que residem em um raio de localização de até 60 km de distância do CPC e que, diante de necessidades identificadas na reunião interdisciplinar, recebem visita das assistentes sociais do CPC e do médico paliativista para cuidados com a dor. De acordo com a demanda do caso e com a disponibilidade dos outros profissionais, estes podem se somar aos que comumente vão assistir os pacientes. Esta ação tem apoio do HIAS e da ONG Peter Pan (APP), por meio do projeto Visita Amiga que disponibiliza o transporte, o 55Cuidados Paliativos Pediátricos motorista e diversos itens de mobiliário, eletrodomésticos e utensílios de acordo com a disponibilidade do estoque de doações. A APP também chega a viabilizar pequenas e médias reformas da estrutura física do lar para a melhoria das condições de higiene e cuidados do paciente. O material hospitalar é fornecido pelo HIAS/ CPC e inclui cadeiras higiênicas, cadeiras de rodas, cama hospitalar, sondas de aspiração, concentrador de oxigênio e medicações simples. O intuito é melhorar a atuação do plano terapêutico, modificando-se quando possível o domicílio. A melhor adaptação do paciente ao seu lar reduz os índices de reinternação e diminui os óbitos hospitalares. A documentação que serve de base é a agenda do serviço social e os prontuários dos pacientes, mediante relatórios médicos. Seguimento hospitalar Nesse momento, dentro da evolução clínica do paciente, poderá haver a necessidade da intervenção hospitalar que pode ser definida por dois status: Estabilidade Clínica ou Cuidados Final de Vida. Na internação, intensificamos a Empatia da Equipe, realizando uma nova Conferência Familiar para definir seguimento de Cuidados Final de Vida e início do Luto. A equipe inicia o trabalho de suporte de enfrentamento da evolução para terminalidade. A partir dessa evolução, iniciamos o PROTOCOLO DE ANALGESIA CONTÍNUA e dependendo da evolução iniciamos o PROTOCOLO SEDAÇÃO PALIATIVA. O Suporte Familiar devido ao medo e angústias apresentados pelo Paciente e Familiares é intensificado com toda equipe multiprofissional junto ao serviço de Medicina Integrativa. A equipe inicia o PROTOCOLO DE DIRETRIZES ANTECIPADAS adaptada ao paciente e seu entendimento mediante a avaliação da equipe de Psicologia, e iniciamos os últimos desejos e sonhos, preparando a uma Morte Tranquila e segura. 56 Cuidados Paliativos Pediátricos CONSIDERAÇÕES FINAIS Os pacientes devem ser incluídos na paliação durante todo o curso da doença, desde o seu diagnóstico, porque assim consegue-se proporcionar sobrevida com qualidade, incluindo previsão de suporte para a família. REFERÊNCIAS 1. Academia Nacional de Cuidados Paliativos. Manual de Cuidados Paliativos. Rio de Janeiro: Diagraphic;2009. 2. American Academy of Pediatrics. Committee on Bioethics and Committee on Hospital Care. Palliative care for children. Pediatrics.2000; 106(2Pt1):351-7. DOI: http://dx.doi.org/10.1542/ peds.106.2.351. 3. Informed consent, parental permission, and assent in pediatric practice. Committee on Bioethics, American Academy of Pediatrics. Pediatrics. 1995;95(2):314-7. 4. Baile WF, Buckman R, Lenzi R, Glober G, Beale EA, Kudelka AP. SPIKES-A six-step protocol for delivering bad news: application to the patient with cancer. Oncologist. 2000;5(4):302-11. DOI: http:// dx.doi.org/10.1634/theoncologist.5-4-302 5. Constantino CF, Barros JCR, Hirschheimer MR, eds. Cuidando de Crianças e Adolescentes sob o olhar da Ética e Bioética. Rio de Janeiro: Atheneu; 2009. 6. Barbosa SMM, Lecussan P, Oliveira FFT. Particularidades em Cuidados Paliativos: Pediatria. In: Oliveira RA, ed. Cuidado Paliativo. 57Cuidados Paliativos Pediátricos 7. Davies B, Brenner P, Orloff S, Sumner L, Worden W. Addressing spirituality in pediatric hospice and palliative care. J Palliat Care. 2002;18(1):59-67. 8. Dussel V, Bernadá M, Bustamante M, Blanco MC, García WG, Grunauer M, Jerez C, Barbosa SMM, Nespral A. Versión Educación en Cuidados Paliativos
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