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FUNDAMENTOS DA ENFERMAGEM OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM > Descrever o conceito de biossegurança em saúde. > Demonstrar a utilização da biossegurança aplicada à enfermagem. > Identificar as normas que garantem a segurança em saúde e enfermagem. Introdução A biossegurança é um campo multidisciplinar que surgiu na década de 1970, a partir do desenvolvimento da engenharia genética. A Conferência de Asilomar, em 1975, nos Estados Unidos, foi um marco nas discussões sobre medidas de biossegurança, quando ficou evidente a necessidade de desenvolver legisla- ções e regulamentações a respeito (PENNA et al., 2010). No Brasil, a primeira lei sobre o assunto é de 1988. A proteção à saúde humana, ambiental e animal exige a colaboração de diversas entidades, de cientistas, profissionais da saúde, órgãos reguladores e o Estado. Neste capítulo, você verá os conceitos da biossegurança aplicados à saúde, os cuidados que os profissionais de enfermagem devem adotar durante a assistência ao paciente, à família ou à coletividade, e conhecer as normas governamentais que buscam assegurar a segurança e a saúde dos profissionais da saúde no exercício de suas atividades laborais. Biossegurança em saúde e enfermagem Keylla Talitha Fernandes Barbosa Biossegurança em saúde O ambiente em que se promove a saúde pode apresentar diversos riscos ao trabalhador. A exposição diária aos riscos biológicos, químicos, físicos, ergonômico e, psicossociais demonstra a necessidade de adoção de medidas que contribuam para um ambiente seguro para profissionais e pacientes. A adoção de medidas preventivas resulta na melhoria da qualidade da as- sistência prestada. A biossegurança reúne um conjunto de precauções que buscam evitar a propagação de doenças e proteger a saúde dos profissionais, dos pacientes e do meio ambiente em diversos cenários e atividades, como a pesquisa, a produção, o ensino, o desenvolvimento tecnológico e a prestação de ser- viços. Com tais medidas, é possível prover um ambiente de trabalho seguro, minimizar a exposição aos riscos ocupacionais e reduzir a propagação de patógenos (PENNA et al., 2010). Embora exista farta legislação a respeito, ainda é grande o número de acidentes de trabalho na área de saúde, sobretudo envolvendo a exposição a microrganismos, tais como vírus, bactérias e fungos. Dados brasileiros demonstram que houve cerca de 609.344 casos de acidentes ocupacionais com material biológico entres os anos de 2012 a 2022 (TANNO et al., 2022). A Figura 1 descreve as principais características dos profissionais de saúde envolvidos nesses acidentes. Figura 1. Principais características dos indivíduos que sofreram acidentes ocupacionais com material biológico. Biossegurança em saúde e enfermagem2 Riscos ocupacionais O estabelecimento de medidas de biossegurança exige a identificação prévia dos riscos a que o trabalhador estará exposto no exercício de sua atividade. A portaria 25 do Ministério do Trabalho padronizou as medidas de segurança e estabeleceu regras para o empregador (BRASIL, [1995]). Os riscos ocupacionais envolvem as condições, situações ou substâncias presentes no ambiente de trabalho que podem causar danos à saúde ou à segurança dos trabalhadores, em função da sua natureza, concentração, intensidade ou tempo de exposição. Têm origem em diversas fontes e são classificados, segundo sua natureza, em cinco categorias: riscos físicos, químicos, biológicos, ergonômicos e de acidentes (BRASIL, [1995]). Compreender a natureza dos riscos ocupacionais é fundamental para permitir uma avaliação do ambiente laboral, estabelecer medidas de controle e proporcionar um ambiente seguro e saudável. As medidas de prevenção incluem procedimentos de segurança, treinamento adequado e rotineiro das equipes de trabalho, fiscalização do uso de equipamentos de proteção individual e boas práticas de higiene e limpeza. Como exemplo de riscos ocupacionais, podemos citar: � Risco físico: relacionado a condições físicas do ambiente de trabalho, como ruídos, vibrações, temperaturas extremas, radiações ionizantes e não ionizantes e umidade. � Risco biológico: exposição de forma direta ou indireta a microrganismos que possam ocasionar doenças, como vírus, bactérias, fungos, parasitas e seus produtos, presentes principalmente em ambientes de saúde. � Risco químico: referem-se à exposição a substâncias químicas em qualquer estado físico, por meio de contato com a pele, inalação ou ingestão. Produtos como gases, vapores, fumos, poeiras, pesticidas e agentes cancerígenos ou multigênicos compõem esse grupo de risco. � Risco ergonômico: relacionados às condições de trabalho que podem afetar a integridade física ou mental. Exemplos: fadiga, estresse físico ou mental, posturas inadequadas, movimentos repetitivos, levanta- mento de cargas pesadas, mobiliário inadequado, jornada de trabalho prolongada, entre outros. � Risco de acidentes: são situações que podem culminar com acidentes e lesões, colocando em perigo o trabalhador ou afetando sua integridade física ou moral. Como exemplo, temos máquinas e equipamentos sem proteção, iluminação deficiente, choque elétrico, explosões e colisões. Biossegurança em saúde e enfermagem 3 Figura 2. Natureza dos riscos ocupacionais. Princípios da biossegurança aplicada à enfermagem A enfermagem, como ciência e profissão, tem o papel de cuidar do paciente, da família e da comunidade, reconhecendo suas demandas e provendo as- sistência adequada no âmbito da prevenção, promoção e reabilitação da saúde. O frequente contato com pacientes faz com que o profissional da enfermagem fique mais exposto a riscos inerentes à sua atividade laboral, seja em ambiente hospitalar, ambulatorial ou domiciliar. Os profissionais de enfermagem rotineiramente estão expostos a riscos ocupacionais, sobretudo de natureza biológica. O risco de contaminação por meio de objetos perfurocortantes, como agulha, cateteres agulhados e lâminas de bisturi, é alto. Ademais, outros objetos podem propagar microrga- nismos, como gazes contaminadas, instrumentais cirúrgicos, roupas de cama, além do próprio contato direto com o paciente. O conhecimento dos riscos ocupacionais é, assim, essencial para mudar comportamentos e desenvolver medidas eficazes de prevenção e de autoproteção. Com o intuito de alcançar esse objetivo, três práticas podem ser elencadas: higienização das mãos, descontaminação de produtos para saúde e antissepsia da pele e mucosa (GRAZIANO; CIOFI-SILVA; ALMEIDA, 2016). Higienização das mãos Uma das medidas mais simples e mais econômicas para diminuir as infecções relacionadas à assistência à saúde (IRAS) é a higienização das mãos. A medida foi estabelecida como obrigatória pela primeira vez em 15 de maio de 1847, por Ignaz Phillip Semmelweis, médico húngaro pioneiro dos procedimentos a antissépticos. Biossegurança em saúde e enfermagem4 Tal conduta surgiu após um estudo epidemiológico que retratou o aumento do número de óbitos entre as puérperas atendidas no hospital em que traba- lhava. Após observações, ele percebeu que o risco de morte era maior entre as mulheres atendidas por estudantes de medicina, se comparada àquelas que recebiam assistência de parteiras. Esse fato estava associado à prática dos estudantes de medicina de prestarem assistência após manejar corpos humanos na sala de necropsia, enquanto as parteiras não realizavam tais atividades. A obrigatoriedade de higienização das mãos fez o número de óbitos entre as puérperas diminuir consideravelmente, demonstrando a eficácia de um ato simples e acessível (HINRICHSEN et al., 2018). As mãos são o principal instrumento de trabalho dos profissionais da saúde. A pele é o maior órgão do corpo humano e possui múltiplas funções complexas, como a proteção em relação ao meio ambiente, a regulação de líquidos, a termorregulação, manutenção da sensibilidade e adaptação me- tabólica. É constantemente exposta a vários tipos de microrganismos, sendo entãocolonizada por fungos e bactérias. Para fins didáticos, a microbiota da pele pode ser dividida em: transitória, bactérias que colonizam a camada mais superficial da pele e são passíveis de remoção pela higienização das mãos com água e sabonete; e a microbiota residente, que está aderida às camadas mais profundas da pele, sendo então mais resistentes à remoção com água e sabonete (KAMPF; KRAMER, 2004). Os profissionais de saúde podem apresentar mãos persistentemente colo- nizadas por microrganismos patogênicos, suscitando riscos para pacientes em áreas críticas, como unidades de terapia intensiva e bloco cirúrgico, ou ainda para aqueles indivíduos imunocomprometidos. Dessa forma, a higienização das mãos deve ser realizada em cinco momentos: antes de tocar o paciente, antes de realizar procedimentos assépticos, após o risco de exposição das mãos a sangue ou outros fluidos corporais, após tocar o paciente e após tocar o ambiente em torno do paciente (ANVISA, 2018). A higienização das mãos pode ser feita com água, sabão, antisséptico ou preparação alcoólica (álcool 70%), como mostra Figura 3. Atualmente, a Anvisa preconiza o uso do produto alcoólico como preferencial, por apre- sentar uma maior eficácia germicida, menor ressecamento das mãos e fácil acesso. Contudo, quando as mãos estiverem visivelmente sujas, é necessário higienizá-las com água e sabonete. Já o uso do antisséptico é indicado prin- cipalmente no pré-operatório, antes de qualquer procedimento cirúrgico e invasivos (ANVISA, 2018). Biossegurança em saúde e enfermagem 5 Figura 3. Método para higienização das mãos com preparações alcoólicas e água e sabonete. Fonte: Opas, OMS e Anvisa (2021, documento on-line). Como fazer a fricção antiséptica das mãos com preparações alcoólicas? Como higienizar as mãos com água e sabonete? Aplique uma quantidade suficiente de preparação alcoólica em uma mão em forma de concha para cobrir todas as superfícies das mãos. Friccione as palmas das mãos entre si. Friccione a palma direita contra o dorso da mão esquerda entrelaçando os dedos e vice-versa. Entrelace os dedos e friccione os espaços interdigitais. Molhe as mãos com água. Aplique na palma da mão quantidade suficiente de sabonete líquido para cobrir todas as superfícies das mãos 40-60 seg. 20-30 seg. Friccione o dorso dos dedos de uma mão com a palma da mão oposta, segurando os dedos, com movimento de vai e vem e vice-versa. Friccione o polegar esquerdo, com o auxílio da palma da mão direita, utilizando-se de movimento circular e vice-versa. Enxágue bem as mãos com água. Quando estiverem secas, suas mãos estarão seguras. Agora, suas mãos estão seguras. Seque as mãos com papel toalha descartável. No caso de torneiras com contato manual para fechamen- to, sempre utilize papel toalha. Friccione as polpas digitais e unhas da mão direita contra a palma da mão esquerda, fazendo movimento circular e vice-versa. Infelizmente a adesão a higienização das mãos ainda é incipiente entre os profissionais de saúde, seja por excesso de trabalho, falta de insumos, como preparação alcoólica ou água e sabonete, a crença errônea que o uso de luvas de procedimentos substitui a higienização ou, ainda, a incompreensão do poder dessa simples ação na prevenção de agravos à saúde do paciente e da equipe assistencial. Biossegurança em saúde e enfermagem6 Descontaminação de produtos para a saúde Os produtos para a saúde (PPS), também denominados dispositivos médico- -hospitalares, utilizados durante assistência ao paciente, apresentam elevado potencial de transmissão de patógenos. É fundamental que trabalhadores de saúde saibam fazer a manutenção e descontaminação de equipamentos, sendo instruídos permanentemente a respeito e seguindo as instruções afixadas em locais estratégicos. Os PPS podem ser lavados, desinfetados ou esterilizados, sendo obrigatório a lavagem rigorosa antes do processo de desinfecção ou esterilização, visto que a presença de matéria orgânica inibe o contato do agente esterilizante ou desinfetante. Os materiais e equipamentos utilizados na assistência ao paciente podem ser classificados, segundo Spaulding (1968), em três níveis de risco, conforme exposto no Quadro 1. Quadro 1. Níveis de risco de contaminação segundo a natureza dos produtos para a saúde NÍVEL DE RISCO DESCONTAMINAÇÃO EXEMPLOS Material crítico Todo material que entra em contato com tecidos do corpo humano estéreis, como em procedimentos cirúrgicos invasivos. Esterilização por autoclavação ou por meio do gás de óxido de etileno, vapor a baixa temperatura e formaldeído. Implantes e instrumentos cirúrgicos. Material semi-crítico Todo material que entra em contato com mucosas íntegras colonizadas, como durante a intubação orotraqueal. Devem sofrer desinfecção de alto nível com formulações químicas germicidas, como glutaraldeído ou esterilizados. Lâminas de laringoscópio e endoscópios. Material não crítico Todo material que entra em contato com a pele íntegra ou não entra em contato com paciente. Devem sofrer limpeza e/ ou desinfeção de baixo nível, com álcool 70% e hipoclorito de sódio na concentração 0,5 a 1%. Braçadeiras, mesas de apoio, termômetro, oxímetro de pulso e garrote para punção venosa. Fonte: Adaptado de Spaulding (1968). Biossegurança em saúde e enfermagem 7 Antissepsia no preparo da pele e mucosa A antissepsia é um conjunto de medidas utilizadas para reduzir a carga de microrganismos presentes na superfície da pele e mucosas íntegras antes de realizar um procedimento invasivo, como punção venosa, inserção de cateteres e cirurgias. Com isso, pretende-se reduzir o risco de infecções, evitando a introdução de microrganismos patogênicos no corpo humano no momento da quebra da integridade da pele (GRAZIANO; SILVA; BIANCHI, 2000). Por meio da antissepsia, usando produtos com baixa causticidade e hipo- alergênicos, há inibição da reprodução microbiana. Os princípios ativos mais utilizados no Brasil são o álcool etílico a 70%, o gluconato de clorexidina e a polivinilpirrolidona iodo 1% (PVPI). As formulações são escolhidas de acordo com os procedimentos a serem realizados. Por exemplo, em uma punção venosa periférica, o profissional de saúde poderá utilizar o álcool a 70%. Ao introduzir, porém, um cateter venoso central de inserção periférica, o enfermeiro lava o local com degermante antisséptico e, em seguida, utiliza antisséptico em tintura à base de clorexidina. Já o preparo de medicamentos ofertados por via oral ou sondas gástricas requer apenas técnica limpa, com uso de recipientes limpos, sem necessidade de desinfecção. É fundamental, portanto, que o enfermeiro conheça as técnicas de antissepsia e limpeza para cada procedimento (GRAZIANO; CIOFI-SILVA; ALMEIDA, 2016). Medidas de proteção à segurança e à saúde Como forma de prevenir os acidentes e o adoecimento, o Ministério do Trabalho e Emprego publicou a norma regulamentadora 32 (NR-32), que estabelece diretrizes para proteção e segurança dos trabalhadores de saúde, qualquer que seja o local de atuação: hospitais, clínicas, escolas, faculdades ou ainda no campo da pesquisa. A legislação recomenda para cada situação de risco estratégias preventivas e a capacitação dos empregados. A NR-32 aborda diversas situações que podem ocorrer no ambiente de trabalho envolvendo riscos biológicos, químicos, físicos e ergonômicos (BRASIL, [2022]). É oportuno destacar que a responsabilidade pelo cumprimento das normas estabelecidas é solidária, ou seja, de trabalhadores e de empregadores. O não cumprimento das diretrizes estabelecidas pode resultar em penalida- des e sanções legais por parte de auditores fiscais do trabalho e vigilância sanitária (BRASIL, [2022]). Biossegurança em saúde e enfermagem8 Riscos biológicos O principal risco ocupacional a que o trabalhador da saúde, sobretudo os profissionais de enfermagem, estão expostos é o biológico. A NR-32 considera risco biológico a probabilidadeda exposição ocupacional a agente biológicos, como os microrganismos, geneticamente modificados ou não, as culturas de células, os parasitas, toxinas e os príons (BRASIL, [2022]). Nessa seção iremos abordar as principais recomendações para a proteção do trabalhador. Parte significativa dos acidentes de trabalho na área de saúde estão rela- cionados ao manuseio dos perfurocortantes, principalmente na administração de medicamentos ou coleta de amostra sanguínea. Esses acidentes podem trazer consequências imediatas e a longo prazo, destacando-se, entre elas, a possibilidade de desenvolver doenças infectocontagiosas, como hepatite B e C e aids. Dessa forma, a NR-32 veda o reencape e a desconexão manual de agulhas e estabelece que os trabalhadores que utilizarem objetos perfurocortantes devem ser responsáveis pelo seu descarte. Esses materiais devem ser descar- tados em recipientes de paredes rígidas, resistentes a ruptura e vazamentos, com tampa, identificados com o símbolo de risco biológico e obedecendo ao limite de enchimento. Além disso, o recipiente para acondicionamento deve ser mantido em suporte exclusivo, em uma altura que permita a visualização da abertura para o descarte (BRASIL, [2022]). A norma estabelece ainda que é obrigatório um lavatório exclusivo para hi- giene das mãos, com água corrente, sabonete líquido, papel toalha descartável e lixeira com sistema de abertura sem contato manual. Essas recomendações são destinadas aos locais em que exista a possibilidade da exposição ao agente biológico. Caso o serviço de saúde disponha de enfermarias ou quartos de isolamento para portadores de doenças infectocontagiosas, estes devem contar com um lavatório em seu interior. Por sua vez, os trabalhadores de saúde com algum tipo de ferida ou lesão nos membros superiores só poderão iniciar suas atividades laborais após avaliação médica obrigatória documentada. O empregador tem a importante responsabilidade de implementar e fis- calizar as medidas estabelecidas pela NR-32. Desse modo, algumas condutas são preconizadas, como destacado a seguir (BRASIL, [2022]): � proibição das pias de trabalho para fins diversos do previsto; � proibição do consumo e armazenamento de alimentos e bebidas em locais não destinados para este fim, como por exemplo, nos postos de trabalho; Biossegurança em saúde e enfermagem 9 � proibição de fumar ou manusear lentes de contato nos postos de trabalho; � proibição do uso de adornos, como alianças, anéis, pulseiras, relógios, colares, brincos, broches, piercings expostos, assim como crachás pendurados com cordão e gravatas; � vedação do uso de calçados abertos – todos aqueles que exponham a região do calcâneo, dorso e laterais do pé. Em razão disso, o empregador deve fornecer, gratuitamente, calçados adequados; � uso de roupas adequadas e confortáveis por todos os trabalhadores que possam se expor aos agentes biológicos. Tais roupas, incluindo trajes completos e peças como aventais, jalecos e capotes, devem igualmente ser fornecidas pelo empregador; � o empregador deverá garantir o acesso aos equipamentos de proteção individual (EPI) em número suficiente nos postos de trabalho; � os trabalhadores não devem deixar o local de trabalho com equipamen- tos de proteção individual e as roupas utilizadas em suas atividades laborais; � caso o profissional da saúde trabalhe em centros cirúrgicos, obstétrico, tratamento intensivo e unidades de pacientes acometidos por doenças infectocontagiosas, a higienização das vestimentas é responsabilidade do empregador. Riscos químicos Os riscos químicos estão relacionados à exposição a substâncias químicas que podem causar danos à saúde humana ou ao meio ambiente. Esses produtos podem se apresentar como líquido, sólido, plasma, vapor, névoa, neblina, poeira, gás ou fumo. Os compostos químicos podem penetrar no organismo por via digestiva, respiratória, mucosa, parenteral ou cutânea. A NR-32 orienta para a necessidade de o empregador prover capacitação aos trabalhadores que manuseiam produtos químicos. Os rótulos originais do fabricante devem ser mantidos na embalagem, mesmo daqueles produtos que foram fracionados. Os recipientes de produtos químicos devem estar etiquetados, de forma legível, com as seguintes informações: nome do pro- duto, composição química, concentração, data de envase e validade, assim como o nome do responsável pela manipulação. A norma proíbe também a reutilização das embalagens dos produtos químicos (BRASIL, [2022]). Biossegurança em saúde e enfermagem10 A NR-32 enfatiza a proteção ao trabalhador que manuseia as substâncias quimioterápicas antineoplásicas, produtos utilizados no tratamento do câncer. O manuseio inadequado de quimioterápicos pode levar à inalação, absorção ou ingestão acidental, com danos à saúde em razão da alta toxicidade e efeitos que vão desde irritação na pele e nas mucosas até danos ao sistema renal, hematológico e hepático (BRASIL, [2022]). Os quimioterápicos antineoplásicos devem ser preparados em área ex- clusiva e com acesso restrito aos profissionais diretamente envolvidos. Para garantir a segurança, devem ser desenvolvidos manuais de procedimentos relativos à limpeza, descontaminação e desinfecção de todas as áreas en- volvidas no preparo. Mais medidas de proteção estão descritas a seguir (BRASIL, [2022]): � É proibido fumar, comer ou beber, bem como portar adornos ou maquiar-se. � É obrigatório afastar as gestantes e nutrizes. � O empregador deve fornecer avental confeccionado em material imper- meável, com frente resistente e fechado nas costas, manga comprida e punho justo para os trabalhadores que preparam ou administram os quimioterápicos antineoplásicos, conforme a Figura 5. � Os EPI devem ser avaliados diariamente quanto ao estado de conser- vação e segurança, além de estar disponível em quantidade suficiente. � É vedado iniciar qualquer atividade na ausência de EPI. É obrigatório fornecer aos trabalhadores dispositivos de segurança que minimizem a geração de aerossóis e acidentes durante a manipulação ou administração dos medicamentos. Em caso de acidente, o vestuário deve ser removido imediatamente; quando houver contaminação, as áreas atingidas devem ser lavadas com água e sabão; e quando houver contato com olhos ou outras mucosas, estas devem ser lavadas com água ou solução isotônica em abundância. Para esses casos, é imprescindível o acompanhamento médico. Quando o acidente envolve o ambiente, a área deve ser restrita e a descon- taminação será realizada por um profissional treinado. Biossegurança em saúde e enfermagem 11 Riscos físicos O risco físico provém de diferentes formas de energia e afetam a saúde e segurança do trabalhador. Exemplo disso é a radiação ionizante, presente nos serviços de saúde pelos aparelhos de raios x e raios gamas, equipamentos de radioterapia e radiografia. Todos os serviços de saúde que dispõe de equipamentos que possam gerar riscos físicos deve elaborar um plano de proteção radiológica, identificando o profissional responsável pelo setor, bem como seu eventual substituto. As salas em que são realizadas as radiografias deve dispor de sinalização visível nas portas de acesso, contendo o símbolo de radiação ionizante e frases de alerta. O trabalhador que exerce atividades em áreas em que há exposição a radiações ionizantes deve permanecer nos setores o menor tempo possí- vel, ter conhecimento e estar capacitado de forma continuada em proteção radiológica, além de usar os EPIs adequados para a minimização dos riscos, como o avental radiológico. Para fins de controle, o profissional deve estar sob monitoração da dose de radiação e caso engravide, deve ser afastada das atividades e realocada para outro setor compatível com sua formação e experiência. Após a avaliação dos riscos existentes no ambiente de trabalho, devem ser implementadas medidas de proteção aos trabalhadores, na tentativa de diminuir ou eliminar os riscos ocupacionais.Essas diretrizes devem ser pre- vistas no Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA). Este programa deve ser construído de forma participativa, com apoio dos empregadores e trabalhadores e deve ser avaliado, no mínimo, uma vez por ano, ou sempre que houver uma mudança nas condições de trabalho. A legislação vigente fornece subsídios para o empregador e o profissional de saúde adotarem medidas para a proteção da saúde, segurança e bem-estar. Porém, ainda há lacunas na adoção das diretrizes recomendadas de forma rotineira, como é observado no exemplo fictício abaixo. Frederica, enfermeira há dois anos, trabalha em uma unidade de pronto atendimento. No dia 14 de junho esqueceu que estava em uma escala extra e se dirigiu rapidamente ao serviço de saúde. Ao chegar, percebeu que havia esquecido o seu jaleco de uso pessoal, assim como o sapato fechado, estando disponíveis apenas sapatilhas e o capote descartável permeável. Tam- bém esqueceu retirar os anéis, o brinco e o colar. Biossegurança em saúde e enfermagem12 Ao chegar ao setor, percebeu que havia diversas seringas usadas sobre o balcão. No intuito de organizar, reencapou todas elas para realizar o descarte no local recomendado. Ao descartá-las na caixa rígida, viu que estava com volume superior ao recomendado. Para agilizar o trabalho, desconectou a agulha e descartou as seringas usadas em um saco de lixo comum, enquanto o material perfurocortante foi acomodado na caixa rígida destinada para esse fim. Duas horas após o início do plantão, conseguiu diminuir a demanda de trabalho e lembrou que não havia se alimentado. Cansada, sentou-se na cadeira e abriu um armário próximo, pegando uma pequena maçã que havia guardado. Dirigiu- -se ao lavatório dentro do setor, lavou com água e sabonete líquido a fruta, enxugando-a com papel toalha e descartando em uma lixeira aberta, próxima à pia. Após o lanche, recebeu um telefonema da enfermaria destinada aos pacientes com doenças infectocontagiosas, solicitando a sua presença no local. Ao chegar à enfermaria, pegou próximo ao lavatório um par de luvas e, então, realizou a coleta da amostra sanguínea. Descartou as luvas ao chegar no seu setor de origem e continuou envolvida em demandas administrativas até o final do turno. Frederica então se dirigiu ao carro, removendo no estacionamento o capote descartável, o gorro e a máscara. Sentou-se e agradeceu por mais um dia vencido. Diante do caso e conforme as normas estabelecidas pela NR-32, quais con- dutas da enfermeira devem ser revistas? 1) Ausência do seu jaleco de uso pessoal e sapato fechado 2) Uso de sapatilhas e o capote descartável permeável 3) Uso de joias no local de trabalho 4) Reencape de seringas 5) Caixa rígida para perfuro cortantes com volume superior ao recomendado 6) Descarte de seringas usadas em um saco de lixo comum 7) Lavagem do alimento no lavatório dentro do setor 8) Descarte das luvas que manuseou doente infectocontagioso no lixo do setor 9) Removendo o capote descartável, o gorro e a máscara no estacionamento Embora as noções de biossegurança estejam consolidadas há décadas, dados científicos demonstram que o número de acidentes ocupacionais envol- vendo profissionais da saúde, sobretudo àqueles que compõem a equipe de enfermagem, ainda é muito elevado. A dificuldade em reconhecer a importância da adoção de medidas de biossegurança advém principalmente da falta de capacitação e sensibilização sobre o tema, seja por parte dos profissionais de saúde ou gestores. Dessa forma, a ampliação do conhecimento sobre riscos ocupacionais e métodos para combatê-los é primordial para manutenção da segurança do trabalhador e redução das doenças e acidentes ocupacionais. Biossegurança em saúde e enfermagem 13 Referências AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (ANVISA). Nota Técnica nº 1/2018 GVIMS/ GGTES/Anvisa: orientações gerais para higiene das mãos em serviços de saúde. Brasília: Anvisa, 2018. BRASIL. Ministério do Trabalho. NR 32 – Segurança e saúde no trabalho em serviços de saúde. Brasília: Ministério do Trabalho, [2022]. Disponível em: https://www.gov.br/ trabalho-e-emprego/pt-br/acesso-a-informacao/participacao-social/conselhos-e- -orgaos-colegiados/comissao-tripartite-partitaria-permanente/arquivos/normas- -regulamentadoras/nr-32-atualizada-2022-2.pdf. Acesso em: 4 jul. 2023. BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Portaria nº 25, de 29 de dezembro de 1994. Brasília: Ministério do Trabalho e Emprego, [1995]. Disponível em: http://acesso.mte. gov.br/data/files/FF8080812BE914E6012BEA44A24704C6/p_19941229_25.pdf. Acesso em: 4 jul. 2023. GRAZIANO, K. U.; CIOFI-SILVA, C. L.; ALMEIDA, A. G. C. S. Biossegurança na atuação da enfermagem. In: HIRATA, M. H.; MANCINI FILHO, J.; HIRATA, R. D. C. (org.). Manual de biossegurança. 3. ed. Barueri: Manole, 2016. p. 435-446. GRAZIANO, K. U.; SILVA, A.; BIANCHI, E. R. F. Limpeza, desinfecção, esterilização de artigos e anti-sepsia. In: FERNANDES, A.T. et al. (ed.). Infecção hospitalar e suas interfaces na área de saúde. São Paulo: Atheneu, 2000. p. 266-308. HINRICHSEN, S. L. et al. Higienização das mãos. In: HINRICHSEN, S. L. (org.). Biossegurança e controle de infecções: risco sanitário hospitalar. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018. p. 31-36. KAMPF, G.; KRAMER, A. Epidemiologic background of hand hygiene and evaluation of the most important agents for scrubs and rubs. Clinical Microbiology Reviews, v. 17, n. 4, p. 863-893, 2004. ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE (OPAS); ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS); AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (ANVISA); [Cartaz informativo para higienização das mãos com preparações alcoólicas, água e sabonete]. 2021. Disponível em: https://www.gov.br/anvisa/pt-br/centraisdeconteudo/publicacoes/servicosde- saude/cartazes/cartaz-a3-laranja-e-azul-modificado.pdf. Acesso em: 4 jul. 2023. PENNA, P. M. M. et al. Biossegurança: uma revisão. Arquivos do Instituto Biológico, v. 77, n. 3, p. 555-565, 2010. SPAULDING, E. H. Chemical disinfection of medical and surgical materials. In: LAWRENCE, C.; BLOCK, S. S. (ed.). Disinfection, sterilization and preservation. Philadelphia: Lea & Febiger, 1968. p. 517-531. TANNO, G. et al. Acidentes de trabalho com exposição a material biológico entre pro- fissionais da enfermagem e medicina no Brasil. Research, Society and Development, v. 11, n. 15, p. 1-8, 2022. Leituras recomendadas FERREIRA, A. L.; GOMES, E. F.; FERREIRA, S. K. L. Biossegurança do enfermeiro no manuseio dos quimioterápicos antineoplásicos. Revista Multidisciplinar em Saúde, v. 2, n. 4, 2021. SILVA, O. M. et al. Biosafety measures to prevent COVID-19 in healthcare professionals: an integrative review. Revista Brasileira de Enfermagem, v. 75, n. 1, p. 1-11, 2022. Biossegurança em saúde e enfermagem14 Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu funcionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os edito- res declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. Biossegurança em saúde e enfermagem 15
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