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Aula 01 Formação do Estado-Nação

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DESCRIÇÃO
O Estado Nacional como objeto das preocupações do pensamento político moderno
ocidental e sua constituição histórica.
PROPÓSITO
O Estado, como aparelho burocrático-militar-institucional, é uma das invenções mais
importantes da modernidade ocidental, tendo sido difundido pelo mundo a partir das
experiências de colonização que os países europeus impuseram a outros territórios. Por
isso, é fundamental compreender, em suas dimensões teórica e prática, o Estado
Nacional Moderno.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Identificar como o “Estado” tornou-se a questão fundamental para os tratados filosóficos
que fundaram o pensamento político moderno
MÓDULO 2
Descrever a formação dos Estados Nacionais e do nacionalismo como ideologia política,
fenômenos típicos da experiência histórica que chamamos de “modernidade”
MÓDULO 3
Exemplificar as diversas revoluções sociais que, na modernidade, confrontaram a
estrutura do Estado-nação
INTRODUÇÃO
Entre os séculos XVI e XIX formou-se na Europa aquela que se tornou uma das
principais organizações institucionais da modernidade, estruturando nossas vidas até os
dias atuais: o Estado Nacional, entendido como aparelho burocrático-militar-institucional
mais ou menos centralizado e capaz de exercer soberania sobre determinado território.
Nosso conteúdo está dividido em três partes: primeiro, examinaremos as discussões
conceituais que definiram filosoficamente o Estado nos textos mais emblemáticos do
pensamento político moderno. Em seguida, analisaremos a história da construção do
Estado Moderno, tomando como estudos de caso algumas regiões da Europa. Por
último, estudaremos as revoluções sociais que, desde o final do século XVII, estão
confrontando o Estado.
MÓDULO 1
 Identificar como o “Estado” tornou-se a questão fundamental para os tratados
filosóficos que fundaram o pensamento político moderno
O CONCEITO DE ESTADO
Assista ao vídeo.
 The Course of Empire - Destruction, de Thomas Cole.
O conceito “Estado” costuma ser utilizado para definir o organismo institucional que
nasceu na Europa, na transição do século XIV para o século XV, sendo caracterizado
pela centralização administrativa, burocrática e militar e pela capacidade de exercer
soberania sobre um território delimitado por fronteiras.
Na próxima seção, estudaremos com mais detalhes a história da formação do Estado na
Europa. Por ora, é importante entender como essa organização política chamou a
atenção dos autores que, na época, tentavam interpretar as sociedades europeias.
Certamente, o intelectual florentino Nicolau Maquiavel (1469-1527) é um dos nomes
mais destacados entre os primeiros esforços de criação de uma teoria do Estado
Moderno, sendo conhecido como o fundador da Ciência Política. Maquiavel costuma ser
conhecido pelo livro O Príncipe, publicado postumamente em 1532, com a máxima os
“fins justificam os meios”, que, no senso comum, se tornou sinônimo de tolerância com a
perversidade política.
Fonte: Santi di Tito/Wikimedia commons/licença (CC BY 3.0...)
 Nicolau Maquiavel
Porém, se estudarmos com mais cuidado os escritos de Maquiavel, perceberemos que
seu interesse era desenvolver uma teoria de governo capaz de garantir a “virtude da
República”. A ideia de “República” que, segundo o historiador inglês Quentin Skinner,
Maquiavel herdou da tradição republicana, é fundamental para o pensamento político do
intelectual florentino e para o próprio pensamento político moderno.
Essa ideia de virtude foi desenvolvida, em um primeiro momento, na Grécia Clássica,
especialmente por Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.), sendo trabalhada também em Roma
por autores como Cícero (106 a.C.- 43 a.C.) e Tito Lívio (59 a.C. – 17 d.C.), chegando
até Maquiavel por uma série de debates políticos que estavam sendo travados na
Península Itálica desde o final do século XII.
Foi nesse momento, ainda segundo Quentin Skinner, que as estruturas políticas dos
principados medievais, comandados por monarcas com direito hereditário, começaram a
ser repudiadas no território que, no século XIX, passaria a ser chamado de “Itália”. As
sociedades italianas, ou regnum italicum, como eram chamadas na época, estavam
preocupadas em desenvolver formas de convivência coletiva capazes de resistir ao
despotismo monárquico e garantir a estabilidade interna e externa, proporcionando aos
seus cidadãos aquilo que Aristóteles chamava de “boa vida”.
Fronteira do Sacro Império
Caríntia
Hungria
Croácia
Principado de
Benevento
Ducado
de Espoleto
Principado
de Salerno
Emirado
da Sicília
Ducado
de Amalfi
Principado
de Cápua
Estados
Pontifícios
Córsega
Giudicado
da Sicília
Reino da
Lombardia
Borgonha Suábia
Baviera
Marquesado
de Verona
PentápolisMarquesado
de Toscana
República
de Veneza
Veneza
Zara
Espalato
Siracusa
Romanha
Roma
Gênova
Pisa
Itália
Itália
Mar Tirreno
Mar
Adriático
Bari
Catapanato da Itália
(Império Bizantino)
Brindisi
Tarento
Nápoles
Régio
(disputado com
os sarracenos)
(disputado por
Gênova e Pisa)
Palermo
Geta
Fonte: MapMaster/Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)
 Regnum Italiae (Localização de Reino Itálico)
Para isso, era necessário encontrar meios que impedissem, ou amenizassem, a
“corrupção” da República — outro conceito trazido do vocabulário político aristotélico.
Corrupção, disse Aristóteles no tratado da Política, é o efeito natural do tempo nos
governos, podendo, no máximo, ser atenuado por governantes virtuosos. Foi essa
atmosfera conceitual dentro da qual Maquiavel pensou, escreveu e atuou politicamente,
como analista, poeta, historiador e conselheiro do poder.
Tito Lívio, autor e historiador romano que registrou a história de Roma e seu significado
político, elaborou o texto Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio entre 1513 e
1521. Na obra, Maquiavel tem interesse de entender as leis, a liberdade e as instituições
políticas no funcionamento de uma República. Em sua discussão sobre política e
governos, Maquiavel parte da premissa de que os assuntos terrenos estão na alçada das
competências humanas, não restando espaço para a interferência divina.
REPÚBLICA
javascript:void(0)
República é uma ideia romana em que público e privado se separavam e a função
do governo era estabelecer a administração do que era público, além de zelar para
que os limites do privado não fossem ultrapassados.
REFLEXÃO
A boa vida comum, portanto, é da responsabilidade dos seres humanos, a eles cabendo
desenvolver mecanismos que tornem possível o convívio coletivo harmônico. A Ciência
Política elaborada por Maquiavel afirma a laicização da vida social.
LAICIZAÇÃO
É o processo pelo qual a sociedade se torna laica, sem os incentivos religiosos ou
o pragmatismo natural das religiões.
O NASCIMENTO DE UMA CIDADE SE DÁ PELA
AÇÃO DOS HOMENS. NÃO É, CONTUDO,
PRODUTO DE INDIVÍDUOS, MAS SIM DE POVOS
OU GRUPOS QUE VIVEM DISPERSOS E, DE
ALGUMA FORMA, DECIDEM UNIR-SE EM UMA
MESMA ÁREA, SEJA EM RAZÃO DE SUA
javascript:void(0)
SEGURANÇA OU DE QUALQUER OUTRO MOTIVO
[...] NO MOMENTO DA CONSTITUIÇÃO DO ESTADO,
OS INDIVÍDUOS JÁ ESTÃO REUNIDOS EM
GRUPOS. E É COMO TAL QUE SE ORGANIZAM
PARA FORMAR O ESTADO. A PROSPERIDADE E A
SEGURANÇA DA CIDADE NÃO SÃO MATÉRIA
INDIVIDUAL, DE FORO ÍNTIMO, MAS SIM ASSUNTO
DOS GRUPOS.
(MAQUIAVEL, 1982)
Temos, na citação, muitos elementos que nos permitem compreender o núcleo do
pensamento político de Maquiavel para além dos clichês compartilhados no senso
comum. Na época de Maquiavel, Florença era objeto de constantes assédios de
repúblicas vizinhas e impérios estrangeiros, o que colocou o tema da estabilidade do
governo no primeiro plano das preocupações do autor.
A cidade, que no texto de Maquiavel pode ser tomada como sinônimo de “Estado”, é
resultado de uma escolha racional, feita por grupos humanos, que antes viviam de forma
desagregada e esparsa. Não há em Maquiavel um “Estado natural”, pré-social, como
vamos encontrar em outros teóricos do Estado Moderno. A agregação social é um
“desde sempre”no pensamento do escritor florentino.
O Estado surge quando esses grupos, movidos por necessidade prática, decidem que é
melhor se unir e pactuar a organização de um poder relativamente centralizado que seja
capaz de defender os interesses de todos. A partir desse momento fundacional, o desafio
da comunidade política passa a ser a defesa da “virtude” da República, entendida como
a capacidade de prover o bem comum contra os assédios internos das facções e os
ataques dos inimigos estrangeiros.
É essa a discussão que Maquiavel desenvolve em O Príncipe, sem dúvida um dos livros
mais famosos da literatura política ocidental. O interesse do autor é aconselhar o
príncipe no melhor caminho para a conservação da República.
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O PRÍNCIPE
Um breve manual direcionado a governantes do momento em que Maquiavel viveu,
na busca de melhoria de sua condição social. Era influenciado pela tradição greco-
latina, bem como pelo seu contexto de observação do entorno, como no Império
Turco-Otomano.
DEVE, POIS, ALGUÉM QUE SE TORNE PRÍNCIPE
MEDIANTE O FAVOR DO POVO CONSERVÁ-LO
AMIGO, O QUE SE LHE TORNA FÁCIL, UMA VEZ
QUE NÃO PEDE ELE SENÃO NÃO SER OPRIMIDO.
PORÉM, QUEM SE TORNA PRÍNCIPE PELO FAVOR
DOS GRANDES, CONTRA O POVO, DEVE ANTES
DE MAIS NADA GANHAR ESTE PARA SI, O QUE SE
LHE TORNA FÁCIL QUANDO ASSUME SUA
PROTEÇÃO. E PORQUE OS HOMENS, QUANDO
RECEBEM O BEM DE QUEM ESPERAVAM
SOMENTE O MAL, OBRIGAM-SE MAIS AO SEU
BENFEITOR, TORNA-SE O POVO DESDE LOGO
MAIS SEU AMIGO DO QUE SE TIVESSE SIDO POR
ELE LEVADO AO PRINCIPADO.
(MAQUIAVEL, 2002)
O governante, diz Maquiavel, deve ser julgado por critérios específicos, diferentes
daqueles usados para avaliar o caráter dos homens comuns. Temos aqui a diferença
entre os governantes e os homens comuns, entre a vida política e a vida privada,
estabelecida por Maquiavel como “razão de Estado”.
A política teria moral própria e seu objetivo sempre é manter a “saúde cívica da
República”, ainda que para isso o governante precise fazer aquilo que seria considerado
inadequado para o homem comum, como matar. É fundamental que o governante,
continua Aristóteles, tenha sorte (fortu) e a capacidade de ser amado pela comunidade
(virtu). Um governante azarado e odiado pela maioria jamais conseguiria manter a
República saudável e capaz de exercer “soberania sobre territórios e corações”.
Fonte: Artist is Elihu Vedder/Santi di Tito/Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)
 Governo, 1896, de Elihu Vedder. Pintura exposta na Biblioteca do Congresso, em
Washington. Na placa, pode-se ler: "um governo das pessoas, pelas pessoas, para as
pessoas".
Se é fundamental ser “amigo do povo”, o governante precisa dosar os bons e os maus
atos. Os bons atos são executados em ritmo lento para “perpetuar a memória da
bondade”, enquanto os “maus atos” devem ser “executados de uma só vez para que sua
memória seja curta”.
Então, ao governante é permitido ser mau?
Para Maquiavel, sim, desde que isso seja necessário para garantir a integridade da
República. Não se trata da defesa da maldade em si, mas sim do reconhecimento de que
o governo da cidade demanda escolhas difíceis. Por isso, o governante deve ser “sábio,
ilustrado e corajoso”.
ESTADO E CONTRATO SOCIAL
Teoria do Estado bastante distinta da de Maquiavel foi aquela desenvolvida pelos autores
que costumamos agrupar na corrente dos “contratualistas”, que se desenvolveu na
Europa entre os séculos XVII e XVIII, encontrando em Thomas Hobbes (1588-1679) e
Jean Jacques Rousseau (1712-1778) seus principais expoentes.
Isso não significa que tenham abordado o tema do Estado da mesma maneira, pois há
diferenças substantivas entre os pensamentos políticos desenvolvidos pelos dois
autores. Em comum entre eles estão a sintaxe política e os conceitos acionados na
reflexão.
Então, o que é Estado na visão do contratualismo?
O contratualismo parte da premissa de que o Estado é o resultado de um contrato social,
de um acordo coletivo movido pela racionalidade humana no qual a maioria, deliberada
ou tacitamente, decide que viver em comunidade é melhor do que viver isoladamente.
Disso depreende-se que, diferentemente de Maquiavel e da tradição aristotélica, os
contratualistas reconhecem a possibilidade de existência de um momento pré-político, de
um “estado natural”, quando os seres humanos não viviam de forma gregária.
Thomas Hobbes é autor do Leviatã, publicado em 1651 e um dos mais famosos tratados
de filosofia política da modernidade, popularmente reconhecido pela máxima “o homem
é o lobo do homem”. Porém, da mesma forma como fizemos há pouco com Maquiavel,
é necessário entender o pensamento político de Hobbes para além dos clichês e como
um esforço de teorizar sobre a própria ontologia humana.
javascript:void(0)
javascript:void(0)
Fonte: Gustave Doré/Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)
 Destruição do Leviatã, 1865, Gustave Doré
GREGÁRIA
Que vivem em bandos ou em grupos. Em sentido mais amplo, aqueles que são
sociáveis, que vivem bem socialmente.
LEVIATÃ
O livro traz a ideia de um grande ser, monstruoso, mas que precisava ser
entendido para que o senso e o coletivo não permitissem ser o monstro que
era.
Fonte: Desconhecido/Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)
 Capa original de Leviatã, de Thomas Hobbes, no qual ele discute o
conceito de contrato social.
Toda a discussão que o autor propõe a respeito do Estado parte de uma premissa
ontológica, segundo a qual nós, seres humanos, somos naturalmente ruins e racionais.
Ou seja, nascemos perversos, egoístas e apetitosos, mas nascemos também capazes
de entender que nossa natureza é potencialmente destrutiva, e que é necessário domá-
la para que a própria vida seja possível.
O estado natural, então, é violento, selvagem, uma situação de “guerra de todos contra
todos”, como o próprio Thomas Hobbes afirmava.
ONTOLÓGICA
Reflexão a respeito do sentido abrangente do ser.
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SE DOIS HOMENS DESEJAM A MESMA COISA,
ELES PODEM TORNAR-SE INIMIGOS, SE FOR
IMPOSSÍVEL QUE AMBOS ALCANCEM O QUE
DESEJAM AO MESMO TEMPO. E NO CAMINHO
PARA SEU FIM (QUE É PRINCIPALMENTE SUA
PRÓPRIA CONSERVAÇÃO, E ÀS VEZES APENAS
SEU DELEITE), ESFORÇAM-SE POR SE DESTRUIR
OU SUBJUGAR UM AO OUTRO. DISSO SEGUE-SE
QUE, QUANDO UM INVASOR NADA MAIS TEM A
RECEAR DO QUE O PODER DE UM ÚNICO OUTRO
HOMEM, SE ALGUÉM PLANTA, SEMEIA, CONSTRÓI
OU POSSUI UM LUGAR CONVENIENTE, É
PROVAVELMENTE PARA ESPERAR QUE OUTROS
VENHAM PREPARADOS COM FORÇAS
CONJUGADAS, PARA DESAPOSSÁ-LOS E PRIVÁ-
LOS, NÃO APENAS DO FRUTO DE SEU
TRABALHO, MAS TAMBÉM DE SUA VIDA E DE SUA
LIBERDADE. POR SUA VEZ, O INVASOR FICARÁ
NO MESMO PERIGO EM RELAÇÃO AOS OUTROS.
(HOBBES, 1983)
Jean-Jacques Rousseau, autor de Contrato Social, publicado em 1762, parte de
premissa ontológica diametralmente oposta. Tal como Hobbes, Rousseau também afirma
a existência de um mundo pré-social, onde os homens viviam isolados. Porém, a
natureza humana, para Rousseau, é boa e generosa.
O estado de natureza é pacífico, harmonioso, é o “império da felicidade”.
NO PRINCÍPIO, QUANDO VIVIAM ENTREGUES AO
LIVRE-ARBÍTRIO DOS SEUS INSTINTOS, OS
HOMENS NÃO PRATICAVAM VILANIA, TIRANIA OU
ASSASSÍNIO. ERAM DOCES COMO ANIMAIS
DOMÉSTICOS, INOFENSIVOS COMO CRIANÇAS, E
A TERRA ABUNDAVA, DANDO O NECESSÁRIO
PARA TODOS VIVEREM COM FARTURA.
(ROUSSEAU, 1999)
Em Hobbes, o estado natural é o inferno na Terra. Em Rousseau, é o Éden.
Em comum entre eles está a ideia de que a saída da situação pré-social se deu por um
acordo, por um contrato estabelecido pela maioria e movido pelos imperativos da razão.
Diz Hobbes que os primeiros humanos perceberam que o estado de natureza, se
perpetuado, significaria a extinção da espécie. Pactuaram, então, que melhor seria abrir
mão das liberdades primitivas para submeterem-se a um poder externo, acima de todos,
e que fosse capaz de garantir a vida e a propriedade, tornando a própria existência
coletiva possível.
O FIM ÚLTIMO, CAUSA FINAL E DESÍGNIO DOS
HOMENS (QUE AMAM NATURALMENTEA
LIBERDADE E O DOMÍNIO SOBRE OS OUTROS),
AO INTRODUZIR AQUELA RESTRIÇÃO SOBRE SI
MESMOS SOB A QUAL OS VEMOS VIVER NOS
ESTADOS, É O CUIDADO COM SUA PRÓPRIA
CONSERVAÇÃO E COM UMA VIDA MAIS
SATISFEITA. QUER DIZER, O DESEJO DE SAIR
DAQUELA MÍSERA CONDIÇÃO DE GUERRA QUE É
A CONSEQUÊNCIA NECESSÁRIA (CONFORME SE
MOSTROU) DAS PAIXÕES NATURAIS DOS
HOMENS, QUANDO NÃO HÁ UM PODER VISÍVEL
CAPAZ DE OS MANTER EM RESPEITO,
FORÇANDO-OS, POR MEDO DO CASTIGO, AO
CUMPRIMENTO DE SEUS PACTOS E ÀQUELAS
LEIS DE NATUREZA QUE FORAM EXPOSTAS.
(HOBBES, 1983)
 RESUMINDO
Na teoria hobbesiana, então, o Estado nasce de uma situação original de caos e
violência e como produto da racionalidade humana. Em Rousseau, a decadência não é
original, intrínseca à natureza humana, mas sim resultado de uma escolha infeliz: a
invenção da propriedade privada, que se deu no momento em que o primeiro ser
humano “demarcou no chão um pedaço de terra para dizer que era seu, encontrando
outros inocentes o suficiente para acreditar nele”.
Começava aqui a guerra geral rousseauniana, porque, não havendo nenhum poder
externo capaz de regular os limites de cada propriedade, estabeleceu-se o “reino da
força”, que, no limite, não era proveitoso para ninguém, “pois nada garante que o mais
forte hoje se manterá forte amanhã, e a obrigação de se manter forte para sempre é
fardo tão pesado que ninguém pode carregar sobre os ombros” (ROUSSEAU, 1999).
Surge, então, o Estado, como um pacto no qual os homens abdicam de sua liberdade
original para dar aval à existência de um poder comum, responsável pela salvaguarda do
interesse coletivo.
Rousseau, no entanto, resguarda a possibilidade de ruptura com esse poder, desde que
ele não cumpra seu papel no contrato. Então, o contrato social para Rousseau poderia
ser rompido unilateralmente pela sociedade civil, em uma ação revolucionária.
A FIM DE QUE NÃO CONSTITUA, POIS, UM
FORMULÁRIO INÚTIL, O PACTO SOCIAL CONTÉM
TACITAMENTE ESTA OBRIGAÇÃO, A ÚNICA A
PODER DAR FORÇAS ÀS OUTRAS: QUEM SE
RECUSAR A OBEDECER À VONTADE GERAL, A
ISTO SERÁ CONSTRANGIDO PELO CORPO EM
CONJUNTO, O QUE APENAS SIGNIFICA QUE SERÁ
FORÇADO A SER LIVRE. ASSIM É ESTA
CONDIÇÃO: OFERECENDO OS CIDADÃOS À
PÁTRIA, PROTEGE-OS DE TODA DEPENDÊNCIA
PESSOAL; CONDIÇÃO QUE PROMOVE O
ARTIFÍCIO E O JOGO DA MÁQUINA POLÍTICA E
QUE É A ÚNICA A TORNAR LEGÍTIMAS AS
OBRIGAÇÕES CIVIS, AS QUAIS, SEM ISSO,
SERIAM ABSURDAS, TIRÂNICAS E SUJEITAS AOS
MAIORES ABUSOS.
(ROUSSEAU, 1999)
Fonte: Maurice Quentin de La Tour/ Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)
Jean-Jacques Rousseau
Fonte: anónimo/ Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)
Thomas Hobbes
ESTADO E LIBERDADE
Outra tradição que, na modernidade, trouxe o Estado para o centro de suas
preocupações filosóficas foi o liberalismo político, um “fenômeno histórico pertencente à
história europeia e marcado pelos embates com o absolutismo monárquico e outras
formas de tirania política que existiram na Europa no início da modernidade” (MATEUCI,
2000).
Fonte: artistique7/Shutterstok.com
Entre os fundadores do liberalismo político estão nomes como:
Fonte: Godfrey Kneller/ Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)
John Locke (1632-1704)
Fonte: Laderer (graveur)/ Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)
Benjamin Constant (1767-1830)
Locke e Constant notabilizaram-se por delinear dimensões mais claras ao ideário político
liberal, escrevendo importantes tratados sobre a limitação institucional do poder do
Estado. Destacam-se aqui o Primeiro tratado sobre o governo civil e o Segundo tratado
sobre o governo civil, escritos por Locke e publicados em 1689, além de Sobre a
liberdade dos antigos comparada com a dos modernos, escrito por Constant e publicado
em 1819.
LIBERAL
Princípio filosófico que discute o sentido do ser, a capacidade de escolha e
liberdade, do seu corpo, das suas ações, entre outros.
Ambos os autores partem da premissa de que a boa vida em comunidade somente é
possível a partir de uma premissa: a existência de um Estado comprometido com o bem-
javascript:void(0)
estar coletivo e com a defesa da vida e da propriedade dos indivíduos (entendidas como
direitos naturais), sem que com isso se exerça tirania ou poder absoluto sobre a
sociedade.
A noção de “governo consentido” é fundamental para Locke, que acredita que os seres
humanos, dotados de racionalidade intrínseca, são perfeitamente capazes de idealizar
formas de governo que atendam às suas necessidades, ou seja, a defesa da vida e da
propriedade. Segundo Locke, portanto, a existência dos governos, e no limite do próprio
Estado, justifica-se pelas necessidades da sociedade civil e não pelos interesses
do próprio governo, ou do próprio Estado.
SE O HOMEM NO ESTADO DE NATUREZA É LIVRE
COMO SE DISSE, SE É SENHOR ABSOLUTO DA
SUA PRÓPRIA PESSOA E SUAS PRÓPRIAS
POSSES, IGUAL AO MAIS EMINENTE DOS
HOMENS E A NINGUÉM SUBMETIDO, POR QUE
HAVERIA ELE DE SE DESFAZER DESSA
LIBERDADE? POR QUE HAVERIA DE RENUNCIAR
A ESSE IMPÉRIO E SUBMETER-SE AO DOMÍNIO E
AO CONTROLE DE QUALQUER OUTRO PODER? A
RESPOSTA EVIDENTE É A DE QUE, EMBORA
TIVESSE TAL DIREITO NO ESTADO DE NATUREZA,
O EXERCÍCIO DO MESMO É MUITO INCERTO E
ESTÁ CONSTANTEMENTE EXPOSTO À VIOLAÇÃO
POR PARTE DOS OUTROS [...]. TAIS
CIRCUNSTÂNCIAS O FAZEM QUERER ABDICAR
DESSA CONDIÇÃO, A QUAL, CONQUANTO LIVRE,
É REPLETA DE TEMORES E PERIGOS
CONSTANTES. E NÃO É SEM RAZÃO QUE ELE
PROCURA E ALMEJA UNIR-SE EM SOCIEDADE
COM OUTROS QUE JÁ SE ENCONTRAM
REUNIDOS OU PROJETAM UNIR-SE, PARA A
MÚTUA CONSERVAÇÃO DE SUAS VIDAS,
LIBERDADES E BENS, AOS QUAIS ATRIBUO O
TERMO GENÉRICO DE PROPRIEDADE. O FIM
MAIOR E PRINCIPAL PARA OS HOMENS UNIREM-
SE EM SOCIEDADES POLÍTICAS E SUBMETEREM-
SE A UM GOVERNO É, PORTANTO, A
CONSERVAÇÃO DE SUA PROPRIEDADE.
(LOCKE, 1990)
Benjamin Constant, por sua vez, está interessado em entender as especificidades da
liberdade moderna quando comparada com a antiga, com o objetivo de teorizar formas
de governo adequadas às modernas sociedades de massa, em muitos aspectos
diferentes das sociedades antigas. O autor argumenta que, na Antiguidade, a liberdade
republicana era viável, pois garantia aos cidadãos participarem diretamente do governo.
Esse tipo de liberdade somente seria possível em pequenos territórios, ocupados por
populações pouco numerosas. Como na modernidade a situação é bastante diferente,
uma vez que as nações modernas costumam ser mais extensas e populosas do que as
repúblicas antigas, fez-se necessária a reconceituação das ideias de liberdade e de
participação política.
A LIBERDADE MODERNA CONSISTE NO DIREITO,
PARA CADA UM, DE INFLUIR SOBRE A
ADMINISTRAÇÃO DO GOVERNO, SEJA PELA
NOMEAÇÃO DE TODOS OU DE CERTOS
FUNCIONÁRIOS, SEJA POR REPRESENTAÇÕES,
PETIÇÕES, REIVINDICAÇÕES, ÀS QUAIS A
AUTORIDADE É MAIS OU MENOS OBRIGADA A
LEVAR EM CONSIDERAÇÃO. COMPARAI AGORA A
ESTA A LIBERDADE DOS ANTIGOS. ESTA ÚLTIMA
CONSISTIA EM EXERCER COLETIVA, MAS
DIRETAMENTE, VÁRIAS PARTES DA SOBERANIA
INTEIRA, EM DELIBERAR NA PRAÇA PÚBLICA
SOBRE A GUERRA E A PAZ, EM CONCLUIR COM
OS ESTRANGEIROS TRATADOS DE ALIANÇA, EM
VOTAR AS LEIS, EM PRONUNCIAR
JULGAMENTOS, EM EXAMINAR AS CONTAS, OS
ATOS, A GESTÃO DOS MAGISTRADOS; EM FAZÊ-
LOS COMPARECER DIANTE DE TODO UM POVO,
EM ACUSÁ-LOS DE DELITOS, EM CONDENÁ-LOS
OU EM ABSOLVÊ-LOS.
(CONSTANT, 2019)
Aqui o autor está formulando aquela que é uma das principais características do
liberalismo político: a defesa de uma democracia fundada em instituições
legislativas responsáveis por representar os interesses da população, que
participaria do governo de forma indireta. Assim, seria possível garantir direitos
políticos às populações numerosas, que periodicamente seriam convocadas ao debate
público, no período eleitoral, para escolher livremente seus representantes.
Outra filosofia política moderna que se preocupou em teorizar limites institucionais ao
poder do Estado foi o Constitucionalismo, principalmente com Montesquieu (1689-1756),
autor do tratado O espírito das leis, publicado em 1748 e considerado a matrizteórica
inspiradora das Constituições modernas. No texto, Montesquieu idealizou o sistema de
“freios e contrapesos”, segundo o qual o poder do Estado é dividido em três partes
independentes entre si:
PODER LEGISLATIVO
PODER EXECUTIVO
PODER JUDICIÁRIO
COMO A VIRTUDE É NECESSÁRIA EM UMA
REPÚBLICA E NA MONARQUIA A HONRA, O MEDO
É NECESSÁRIO EM UM GOVERNO DESPÓTICO,
POIS NELE A VIRTUDE NÃO É NECESSÁRIA E A
HONRA SERIA PERIGOSA. O IMENSO PODER DO
PRÍNCIPE PASSA INTEIRAMENTE ÀQUELES QUE
ELE CONFIA E SE TORNA PERIGOSO
INSTRUMENTO DE OPRESSÃO CONTRA A
LIBERDADE DE TODOS. MANTER O PODER DO
PRÍNCIPE RESTRITO A LEIS PACTUADAS
COLETIVAMENTE É A ÚNICA FORMA DE
GARANTIR AS LIBERDADES INDIVIDUAIS E
COLETIVAS.
(MONTESQUIEU, 1990)
Percebe-se claramente como a preocupação com a liberdade contra a tirania do Estado
pauta o pensamento político moderno desde o século XVI, junto com outras questões,
como a segurança territorial contra as invasões estrangeiras e a prosperidade econômica
da República.
ESTADO E A PRODUÇÃO DE RIQUEZA
A teoria política marxista, desenvolvida por Marx e Engels no século XIX, trouxe para a
discussão a agenda da libertação das classes oprimidas. No Manifesto comunista,
publicado em 1848, os autores argumentam que:
O ESTADO É UM ÓRGÃO ESPECIAL QUE SURGE
EM CERTO MOMENTO DA EVOLUÇÃO HISTÓRICA
DA HUMANIDADE, E QUE ESTÁ CONDENADO A
DESAPARECER NO DECURSO DA MESMA
EVOLUÇÃO. NASCEU DA DIVISÃO DA SOCIEDADE
EM CLASSES E DESAPARECERÁ NO MOMENTO
EM QUE DESAPARECER ESTA DIVISÃO. NASCEU
COMO INSTRUMENTO NAS MÃOS DA CLASSE
DOMINANTE, COM O FIM DE MANTER O DOMÍNIO
DESTA CLASSE SOBRE A SOCIEDADE, E
DESAPARECERÁ QUANDO O DOMÍNIO DESTA
CLASSE DESAPARECER.
(ENGELS; MARX, 2003)
 RESUMINDO
No vocabulário marxista, portanto, o Estado não é o resultado de uma racionalidade
humana intrínseca nem tampouco uma evolução em relação à situação das liberdades
primitivas. O Estado é resultado de uma realidade material e objetiva, na qual as classes
superiores desenvolvem aparelhos institucionais para dominar as classes inferiores.
Essa relação de dominação somente seria superada pela abolição da divisão de classes
e do próprio Estado, dando lugar a uma sociedade comunista em que as pessoas
viveriam solidariamente, consumindo o que produzem, sem se apropriarem da riqueza
produzida por outros.
No próximo módulo, nos debruçaremos sobre a realidade histórica que, na Europa, deu
origem ao Estado Nacional, buscando entender como foi forjada a estrutura de poder
que por tanto tempo tem sido o principal objeto do pensamento político ocidental.
VEM QUE EU TE EXPLICO!
O Estado e o Príncipe: a visão de Maquiavel
O Liberalismo e o Estado: entre Jhon Locke e Adam Smith
MAQUIAVEL
LIBERALISMO
Resumo da história de Maquiavel;
Defensor da separação de Estado x Igreja apresentado a ideia de que os homens é
quem deveriam resolver assuntos terrenos.
A creditava que o surgimento do estado se dá quando grupos se unem e organizam um
poder centralizado para defender os interesses de todos.
Para ter a estabilidade do governo, Maquiavel defendia a Razão do Estado, o governante
precisa fazer aquilo que o homem comum é inadequado.
Virtude - tomar as melhores decisões para o fortalecimento de seu poder.
Fortuna - está ligado a sorte. Nada poderia acontecer para limitar o poder do rei.
O motivo do homem abdicar de sua liberdade e se submeter a um governo é a
conservação da propriedade.
Locke defende a limitação institucional do poder do Estado se justifica pelas
necessidades da sociedade civil e não pelos interesses do próprio governo, ou seja, a
soberania não está no Estado, mas sim na população.
O bom governo devia estar comprometido com o bem-estar coletivo, defesa da vida e da
propriedade privada.
Princípio da divisão dos três poderes.
A não intervenção estatal na economia.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
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1. O INTELECTUAL FLORENTINO NICOLAU MAQUIAVEL COSTUMA
SER RECONHECIDO PELA MÁXIMA “OS FINS JUSTIFICAM OS
MEIOS”, QUE SE TORNOU SINÔNIMO DE LEGITIMAÇÃO DA
PERVERSIDADE POLÍTICA. NO ENTANTO, A OBRA DE MAQUIAVEL É
MUITO MAIS COMPLEXA. ASSINALE, ENTRE AS ALTERNATIVAS A
SEGUIR, AQUELA QUE MELHOR DEFINE A OBRA DE MAQUIAVEL.
A) Maquiavel estava interessado em discutir como seria possível defender a monarquia e
a tirania do príncipe, sendo assim o principal teórico do autoritarismo político na
modernidade.
B) Maquiavel estava interessado em discutir a abolição da propriedade privada e a
revolução social, sendo, por isso, o precursor do comunismo na modernidade e a fonte
onde beberia Karl Marx.
C) Maquiavel estava interessado em discutir formas de garantir a estabilidade interna e
externa da República, e, dessa maneira, atenuar os efeitos da corrupção, sendo o
republicanismo de Aristóteles sua principal referência.
D) Maquiavel estava interessado em afirmar a liberdade do mercado, sendo, portanto, o
precursor do liberalismo econômico, e a fonte onde a escola austríaca beberia.
E) Maquiavel estava interessado em defender a total abolição do Estado, sendo um dos
primeiros pensadores a formular o ideal anarquista.
2. THOMAS HOBBES E JEAN JACQUES ROUSSEAU SÃO OS
PRINCIPAIS EXPOENTES DA CORRENTE DE PENSAMENTO
POLÍTICO QUE COSTUMAMOS CHAMAR DE “CONTRATUALISTA”.
ASSINALE, ENTRE AS ALTERNATIVAS A SEGUIR, AQUELA QUE
MELHOR DEFINE A PREMISSA DO CONTRATUALISMO.
A) A premissa do contratualismo afirma a organização política como o resultado de um
acordo coletivo segundo o qual, racionalmente, os homens decidem que viver em
coletividade é melhor do que viver em situação de desagregação.
B) A premissa do contratualismo afirma que o homem é naturalmente gregário e, por
isso, a questão principal é desenvolver mecanismos de aprimoramento da sociedade
política, visto que a sua existência se confunde com a própria natureza humana.
C) A premissa do contratualismo afirma que o Estado Moderno é o resultado da vitória
política da burguesia, que acumulou poder suficiente para organizar uma estrutura de
dominação, cujo objetivo é a exploração do trabalho.
D) A premissa do contratualismo afirma que os homens estão naturalmente
vocacionados à liberdade, sendo o Estado o artifício criado pela tirania divina com o
objetivo de impedir a plena realização da natureza humana.
E) A premissa do contratualismo afirma que os seres humanos são naturalmente
gregários, logo o Estado é um “desde sempre” que não precisa ser necessariamente
explicado, mas apenas aprimorado.
GABARITO
1. O intelectual florentino Nicolau Maquiavel costuma ser reconhecido pela máxima
“os fins justificam os meios”, que se tornou sinônimo de legitimação da
perversidade política. No entanto, a obra de Maquiavel é muito mais complexa.
Assinale, entre as alternativas a seguir, aquela que melhor define a obra de
Maquiavel.
A alternativa "C " está correta.
Maquiavel é herdeiro do republicanismo aristotélico, sendo seu interesse, portanto,
discutir a ação do governo no sentido de preservar a “virtude” da República.
2. Thomas Hobbes e Jean Jacques Rousseau são os principais expoentes da
corrente de pensamento político que costumamos chamar de “contratualista”.
Assinale, entre as alternativas a seguir, aquela que melhor define a premissa do
contratualismo.
A alternativa "A " está correta.
Diferentemente do republicanismo maquiavélico de matriz aristotélica, o contratualismo
parte do princípio de que a organização política é o resultado de uma escolha racional, e
não a manifestação da natureza humana.
MÓDULO 2
 Descrever a formação dos Estados Nacionais e do nacionalismo como
ideologia política, fenômenos típicos da experiência histórica que chamamos de
“modernidade”
ESTADO NACIONAL
Assista ao vídeo.
O Estado Nacional, entendido como estrutura de poder centralizada e capaz de exercer
soberania burocrática, política e militar sobre um território delimitado por fronteiras, é
resultado da história europeia ocidental entre os séculos XIV e XVII.
Nesse período, entende-se por“Europa Ocidental”, segundo o historiador inglês Perry
Anderson (2004), a aproximação de França e Inglaterra com a Península Ibérica,
formada por Portugal e Espanha. Crises democráticas agudas, guerras civis religiosas,
início da laicização das mentalidades e dos costumes, modernização das relações
econômicas, urbanização. São essas as experiências que aconteceram em uma Europa
Ocidental plural e extremamente diversificada, e que serviram de pano de fundo para o
surgimento dos Estados Nacionais.
Começar a contar a história da origem dos Estados Nacionais nos convida, segundo Guy
Fourquin, a entender a dinâmica da prosperidade material vivida pela Europa no século
XI. O crescimento produtivo aumentou a quantidade de alimentos disponíveis para o
comércio, fazendo com que seus preços dos víveres alimentícios diminuíssem e a
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qualidade de vida aumentasse, resultando no crescimento demográfico e,
consequentemente, no crescimento das cidades e na intensificação da atividade
comercial.
GUY FOURQUIN
Professor na Universidade de Lille, Guy Fourquin foi um dos mais reconhecidos
especialistas franceses em matéria de História Medieval, seja no domínio da
história econômica, seja no da organização social e institucional.
E essa evolução também pode ser percebida nos âmbitos artístico e intelectual.
Na vida cultural, observou-se notória expansão das atividades artísticas e intelectuais,
com a difusão de universidades pelo continente. Tratava-se, portanto, de um ciclo
virtuoso experimentado em graus distintos em diversas regiões da Europa e que aponta
para um cenário de desenvolvimento econômico, prosperidade material e grandeza
cultural, bem diferente da imagem de uma Idade Média atrasada e decadente, que
muitas vezes modula o imaginário histórico coletivo.
Fonte: Etienne Collault/ Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)
 Manuscrito medieval mostrando uma reunião de doutores na Universidade de Paris
Um dos resultados desse cenário, ainda seguindo os estudos de Fourquin, foi o aumento
do custo de vida da aristocracia feudal, pois, com a Revolução Comercial, para
utilizarmos as palavras de Henri Pirenne (apud FOURQUIN, 1987), ficou mais caro
manter os signos de distinção tão importantes para alimentar o ethos aristocrático em
sociedades pré-modernas.
HENRI PIRENNE
Historiador, Henri Pirenne (1862-1935) fez grandes contribuições para o
entendimento sobre a formação do mundo ocidental, compreendendo a dinâmica
de ocupação maior do Norte após a expansão islâmica. A formação e o espírito das
cidades marcam um ideal de vida europeu, e a reestruturação do comércio
mercantilista é a base do fortalecimento da Europa nos séculos decorrentes.
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ETHOS
Conjunto de costumes e hábitos fundamentais no âmbito do comportamento
(instituições, afazeres etc.) e da cultura (valores, ideias ou crenças). Muitas vezes
traduzido por espírito, é mais intenso do que a ideia de cultura.
E, com isso...
A consequência dessa situação foi o endividamento em massa da nobreza europeia,
fenômeno detectado por Fourquin (1987) a partir da análise de inventários post mortem.
Ao estudar essas fontes, o autor detectou que os nobres europeus, em geral, estavam
morrendo endividados.
Temos aqui um impasse que, na racionalidade econômica moderna, capitalista, não seria
dos mais difíceis de se resolver. Bastaria que a nobreza diminuísse seus gastos ou
aumentasse os impostos cobrados sobre seus dependentes. No entanto, a racionalidade
econômica feudal funciona a partir de outras prioridades, como demonstra Witold Kula
(1974) no livro Teoria econômica do sistema feudal.
WITOLD KULA
Witold Kula (1916-1988) foi cientista social, historiador e economista polonês,
próximo da metodologia do materialismo histórico.
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Fonte: anonymous (Queen Mary Master)/ Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)
 Obrigações Feudais
O autor argumenta que a economia, entendida como o conjunto de atividades sociais
desenvolvidas com o objetivo de garantir a existência material das pessoas, não pode
ser pensada de forma separada dos valores culturais. A cultura feudal é fundada na
ideia da desigualdade natural, ou seja, na premissa de que as pessoas nascem
diferentes entre si, divididas em inferiores e superiores, e assim ficarão até morrer. Isso
não significa, entretanto, que essa mesma tradição não reconheça os direitos adquiridos
pelos “de baixo”.
O princípio da reciprocidade de direitos e deveres entre fortes e fracos, diz Kula, também
é basilar da cosmovisão feudal.
E O QUE SIGNIFICA ESSE PRINCÍPIO?
VERIFICAR
Se o menor deve obediência e impostos (em forma de serviços e produtos) ao seu
senhor, o aristocrata também tem suas obrigações, como proteger seus dependentes e
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não cobrar taxas abusivas. O endividamento da aristocracia colocava, então, um
impasse ao sistema.
Ou seja, se a nobreza não pode cortar gastos porque precisa manter seu estilo de vida
ostentatório, e os servos não aceitam impostos que consideram abusivos, o que fazer?
Essa situação é o ponto de partida para a famosa “crise do feudalismo”. A crise do
feudalismo, portanto, foi o resultado da disfunção do próprio sistema, pois suas causas
foram endógenas, isto é, internas. A epidemia de Peste Negra, que assolou a Europa
durante o século XIV, não foi a causa da crise, mas sim o seu agravante.
Pressionada e endividada, parte da nobreza começou a quebrar os acordos
consuetudinários (legitimados pelos costumes), o que provocou uma revolta geral junto
ao campesinato, dando início ao que alguns autores chamam de “anarquia feudal”. Em
alguns lugares da Europa Ocidental, os conflitos foram mais intensos do que em outros,
mas a realidade de colapso estrutural foi comum a todo o continente, de acordo com as
pesquisas desenvolvidas pelo historiador francês Georges Duby.
Diante da real possibilidade da destruição física e do desaparecimento do estamento
social, a aristocracia europeia aceitou fazer algo que, em condições normais, jamais
aceitaria: abnegar de sua autonomia, inclusive militar, para permitir que uma família
aristocrática centralizasse o poder, dominando todas as outras e, dessa maneira,
reunisse condições políticas, econômicas e militares para o restabelecimento das
hierarquias feudais, ameaçadas pelas guerras camponesas.
GEORGES DUBY
Georges Duby (1919-1996) foi um dos grandes medievalistas de seu tempo,
teve foco principal sobre as dinâmicas da organização política da França,
decorrentes da formação do Estado francês.
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Fonte: Rob Bogaerts (ANEFO)/Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)
ESTAMENTO SOCIAL
O estamento constitui uma forma de estratificação social com camadas mais
fechadas do que as classes sociais, e mais abertas do que as castas, ou seja,
possui maior mobilidade social do que o sistema de castas, e menor mobilidade
social do que o sistema de classes sociais.
Aconteceu, nesse momento, aquilo que Perry Anderson, no livro Linhagens do Estado
Absolutista, chama de Revolução Militar, que marcou o nascimento dos exércitos
modernos, formados não mais por servos que pagavam o “tributo de sangue”, mas sim
por soldados profissionais, remunerados e subordinados ao Estado centralizado,
personificado na pessoa do rei, o “primeiro entre iguais, o primus inter pares”, como se
costumava dizer na época.
A ideia de monarquia precede a de República, mas a ideia de noção de identidade
nacional remete diretamente às dinâmicas da construção da identidade monárquica.
 EXEMPLO
No Brasil, a identidade monárquica é tão forte, que, mesmo na tentativa de ruptura
republicana, as cores e muitos dos símbolos foram mantidos.
Agora, uma casa aristocrática específica detinha o poder sobre as outras e sobre o
território. Surgiu, assim, o Estado Nacional, impulsionado pela tentativa de salvar as
hierarquias tradicionais da destruição, preservandoo máximo possível a ordem social
feudal. Para isso, entretanto, foi necessário mudar, e a nobreza perdeu suas antigas
liberdades, passando a estar subordinada ao rei.
Desse jeito foi possível impor ao campesinato a “segunda servidão”, novamente
utilizando as palavras de Perry Anderson. Essa foi a contradição que caracterizou a
formação dos Estados Nacionais. Para salvar a ordem feudal, o novo arranjo político
deixou aquele que era um dos seus valores fundamentais: a autarquia aristocrática.
Surgiu, junto com o Estado, um novo tipo de nobreza. Não mais aquela que vivia no
campo, com hábitos rústicos e no controle de seu exército particular. O nobre deixou de
ser o “senhor da guerra” para tornar-se o cortesão, sedentarizado, desarmado, vivendo
na corte, sob controle do trono.
 Retrato do "Tratados de Münster", um dos caminhos percorridos para a Paz de
Vestfália, onde o conceito de Estado-nação foi criado.
FORMAÇÃO DOS ESTADOS
MODERNOS: PORTUGAL
Fonte: Zulske heraldry/Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)
Portugal foi o primeiro caso de modernidade política na Europa, no pleno sentido do
termo, com sistema fiscal, exército e burocracia em dimensão centralizada, supralocal.
Tal como aconteceu no restante da Europa, o Estado surgiu em Portugal como um dos
resultados de experiências de intensa movimentação militar e guerra civil provocadas
pelo cenário geral da crise feudal, que estudamos anteriormente.
Foi a chamada Revolução de Avis, iniciada em 1383 e terminada em 1385, que levou D.
João (1385-1433), chefe da casa de Avis, ao trono português, com o título de D. João I. A
partir de então, todos os empreendimentos da sociedade portuguesa, inclusive a
expansão marítima e comercial a partir do final do século XIV, seriam coordenados pela
autoridade central do Estado. Comparado com o restante da Europa, Portugal tinha
vantagem em termos de eficiência e rapidez, o que explica a dianteira que tomou na
geopolítica continental na época.
Fonte: Jean d'Wavrin (Chronique d'Angleterre)/Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)
 Batalha de Aljubarrota, de Jean de Wavrin.
Para entender como se deu a construção da modernidade em Portugal, é importante,
segundo Luiz Felipe Tomaz, estudar o processo de recristianização da Península Ibérica,
pois, somente mais tarde — a partir do século XI —, o território foi incorporado à
cristandade. Desde a Idade Média, argumenta Tomaz, Portugal contava com uma
estrutura política e militar relativamente centralizada. Quem comandou a reconquista
cristã (avanço da cristandade sobre os mouristas) foi a monarquia.
Fonte: unknown, uploaded by en:User:Muriel_Gottrop or de:User:Rhino/Wikimedia
commons/licença(CC BY 3.0...)
 D. Afonso Henriques, fundador da nação e da dinastia borgonhesa
Entre os séculos VII e XI, a Península Ibérica foi controlada pelos muçulmanos. Nesse
momento, a cristandade resumia-se a senhorios que se encontravam ao norte da
península. Um dos principais senhorios era o Condado Portucalense, onde vigorava a
família de Borgonha (origem francesa), sendo Afonso Henriques (1110-1185) o principal
líder. A princípio, o Condado Portucalense estava subordinado ao Reino de Leão.
Esse condado, juntamente com os outros senhores do norte, manifestou o desejo de
ampliar seus domínios (autoridade e riqueza) por meio da expansão militar e da guerra
com os muçulmanos. Nesse momento, as cidades do Porto e de Viana eram
extremamente importantes para o contato comercial com Flandres, atual Bélgica e centro
comercial da época. A aliança com essas cidades, que eram chefiadas por uma
oligarquia mercantil, permitiu à coalizão cristã a aquisição de recursos para a formação
de exércitos.
Nessas cidades tinha-se grande autonomia municipal, pois as câmaras detinham forte
poder em relação aos senhores do norte. Essas câmaras eram governadas pelos
homens bons (elite local), que tinham interesse em garantir sua autonomia, que estava
sendo contestada pelos senhores do norte.
Afonso Henriques surgiu nesse contexto para oferecer proteção militar a fim de que
essas cidades mantivessem sua autonomia. Em troca, essas cidades ofereceriam
dinheiro a Afonso Henriques.
Por meio da aliança com as cidades, Afonso Henriques acumulou dinheiro e, com os
nobres, otimizou a atividade militar. Tal fato conferiu notória força militar ao Condado
Portucalense, a ponto de outras casas aristocráticas reconhecerem sua ascendência
sobre elas. A partir do século XII, essas casas aristocráticas proclamaram a família dos
Bourbon como dinastia real.
Surge, assim, a monarquia feudal em Portugal, liderada por um grande senhor de terras,
que se sobrepõe aos demais.
A expansão marítima e comercial portuguesa, portanto, foi potencializada por uma
monarquia com longo histórico de centralização administrativa, que gerenciou a nobreza
com ethos militar e que efetivamente se lançou aos mares.
 RECOMENDAÇÃO
Fonte: Luís Vaz de Camões/Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)
Para entender melhor esses acontecimentos históricos, leia os textos de Luís Vaz de
Camões, em especial Os Lusíadas, obra de poesia épica da epopeia portuguesa.
FORMAÇÃO DOS ESTADOS
MODERNOS: ESPANHA
Fonte: Heralder/Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)
O caso do Estado Nacional espanhol remete à principal experiência imperialista dos
primeiros anos da modernidade, visto o poder que a Espanha exerceu sobre grande
parte do continente americano e sobre o extenso território na própria Europa. Mais do
que qualquer outro país europeu, a Espanha beneficiou-se da política de alianças
matrimoniais/diplomáticas característica das sociedades monárquicas.
No século XIV, pressionados pela crise estrutural que assolava as sociedades europeias
e pela ocupação muçulmana, alguns reinos ibéricos decidiram unir-se com o objetivo de
centralizar esforços para a superação da crise e a reconquista cristã do território. Entre
esses reinos, os maiores eram o de Castela e o de Aragão, que se uniram por meio do
casamento de Isabel I e Fernando II, em 1649.
Fonte: Alexandre Vigo/Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)
 Localização de Castela
Fonte: Unidentified painter/Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)
ISABEL I
Fonte: Michel Sittow/Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)
FERNANDO II
Perry Anderson mostra como, durante a escassez de mão de obra provocada pela crise
geral do feudalismo, Castela mostrou-se sede de uma lucrativa economia lanífera (Que
produz lã.) . Enquanto isso, Aragão, que já era potência territorial e comercial com
capacidade de controlar territórios mediterrânicos, como a Sicília e a Sardenha, garantia
o fluxo comercial para abastecer o Estado espanhol.
O DINAMISMO POLÍTICO E MILITAR DO
NOVO ESTADO LOGO SE REVELARIA
DRAMATICAMENTE EM UMA VASTA SÉRIE
DE CONQUISTAS EXTERNAS.
VERIFICAR
Granada, o último reduto mouro, foi destruída, completando a reconquista.
Nápoles foi anexada.
Navarra, absorvida.
E, acima de tudo, as Américas foram descobertas e subjugadas.
O Império espanhol chegou ao apogeu, em 1519, com Carlos I (1550-1558), que foi
também o Carlos V do Sacro Império Romano-Germânico. Devido a uma complexa teia
de relações dinásticas, Carlos, ao mesmo tempo um Bourbon e um Habsburgo, acabou
herdando aqueles que na época eram os maiores impérios do mundo: o espanhol,
voltado ao Atlântico, e o Habsburgo, continental, voltado ao centro da Europa. Surgiu
assim, comandado a partir de Madri, o maior império da era moderna.
 RECOMENDAÇÃO
A transição espanhola é muito bem explorada na literatura de Dom Quixote, que fala
sobre um novo mundo e os grupos apegados. No grande livro de Miguel de Cervantes
(1547-1616), é trabalhada a “confusão” de ideias entre um velho e um novo mundo, com
a transição da mentalidade e a confusa relação entre o ideal de cavalaria e a velha
aristocracia.
FORMAÇÃO DOS ESTADOS
MODERNOS: FRANCESES X INGLESES
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Na França, o Estado Nacional formou-se na transição do século XIV para o século XV, a
partirda sobreposição de duas situações de crise: a crise estrutural do feudalismo e a
famosa Guerra dos Cem Anos (1339-1453) contra a Inglaterra. Em desvantagem na
guerra e pressionada pela crise das hierarquias feudais, a nobreza francesa permitiu que
o rei Carlos VII concentrasse em si a talha, que era o imposto de sangue que o
campesinato pagava à aristocracia em forma de serviços militares esporádicos. Nasceu
assim a “talha real”, que direcionou à dinastia a prerrogativa de apropriar-se do serviço
militar dos camponeses.
Fonte: Virgil Master and his atelier/ Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)
 Soldados ingleses que desembarcaram na Normandia, c. 1380–1400, durante a
Guerra dos Cem Anos
GUERRA DOS CEM ANOS
Guerra travada na transição do medievo e da modernidade. O objetivo era, pelas
relações consanguíneas, o pleito inglês ao trono francês. Depois de uma primeira
fase de vitórias ingleses a partir de Calais, os franceses retomaram as terras
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continentais. O trajeto também é mitológico, com representações como a de Joana
D’Arc (1412-1431).
Fonte: Alonso de Mendoza/ Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)
 Joana D’Arc
Temos aqui, também segundo Perry Anderson, o evento que fundou o exército moderno,
ao centralizar no rei o direito exclusivo de convocar e coordenar a força militar. A nobreza
foi, então, desarmada, sedentarizada, em um ato voluntário, consentido, por uma
questão de sobrevivência. Como se diz popularmente: “entregou os anéis para não
perder os dedos”.
Já na Inglaterra...
A formação do Estado Nacional deu-se de maneira distinta quando comparada à
situação dos países continentais (Portugal, Espanha e França). Para entender essas
particularidades, precisamos conhecer a situação de quase colapso na qual se
encontrava a Inglaterra na segunda metade do século XV.
Após perder a guerra para os franceses, a Inglaterra, que tinha tradição de
descentralização político-administrativa, foi dividida por uma guerra civil travada entre
duas de suas principais casas aristocráticas.
Foi a chamada Guerra das Duas Rosas (1450-1485), envolvendo os York e os Lancaster.
A guerra foi tão longa e sangrenta que praticamente extinguiu as duas casas, abrindo um
vazio de poder que foi ocupado por outra dinastia, a dos Tudor.
Fonte: Unknown Derivative/Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)
 Guerra das Duas Rosas
Henrique VII (1457-1509) foi o primeiro rei da dinastia Tudor, diante da fragilidade das
outras casas aristocráticas, sempre rivais potenciais da dinastia. O projeto de
centralização político-administrativa liderado por Henrique VII, na avaliação do
historiador Perry Anderson, teve três movimentos:
PRIMEIRO MOVIMENTO
Desarmar a nobreza, fragilizando-a ainda mais e concentrando, na autoridade central, o
poder de convocar e formar exércitos.
SEGUNDO MOVIMENTO
Mais complexo, consistiu no esvaziamento político da nobreza.
TERCEIRO MOVIMENTO
Como consequência direta, foi o rompimento com a tradição que orientava o monarca a
delegar cargos para a aristocracia, nomeando em seu lugar novas famílias emergentes e
enriquecidas em virtude do comércio de lã.
Assim, a monarquia feudal menos centralizada da Europa Ocidental fortaleceu sua
autoridade central em virtude do profundo esgotamento da aristocracia, e não por causa
dos esforços do grupo em sobreviver à crise estrutural do feudalismo, como aconteceu
no continente.
Fonte: https://futurehistory.wikia.org/es/wiki/Guerra_civil_francesa
 O irrestrito amor à nação como elemento formador de uma nova visão política
O processo de construção do Estado Nacional, no entanto, não envolve apenas
centralização política, administrativa e militar, mas também representações simbólicas
que sejam capazes de construir vínculos identitários entre as pessoas.
 RESUMINDO
Trata-se de convencer todos os que nasceram no território controlado por determinado
Estado de que fazem parte de uma comunidade, de que existem vínculos afetivos que os
irmanam.
Para isso, foi fundamental o “nacionalismo”, um ambiente político-cultural que teve seu
lugar na Europa e nas Américas durante o século XIX.
Os diversos nacionalismos mobilizaram os estudos históricos, geográficos, e os rituais da
cultura popular com o objetivo de inventar ritos e tradições capazes de fomentar
sensações de pertencimento à nação que, antes de ser o território e seu aparato de
poder institucional, é uma “comunidade imaginada”, nas palavras do historiador norte-
americano Benedict Anderson (2008).
Fonte: EdgarFabiano/ Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)
 Mural nacionalista irlandês, em Belfast, mostrando solidariedade com o nacionalismo
basco.
A nação é um tipo de comunidade imaginada socialmente, construída de modo a fazer as
pessoas pensarem sobre si próprias como parte de um grupo. A invenção da nação é de
interesse direto do Estado, pois não há poder que consiga se sustentar apenas pela
repressão, sem contar com nenhum consentimento.
A afetividade e a identidade fomentadas pela simbologia identitária, nesse sentido, são
fundamentais para a própria efetividade do poder público. Por isso, e essa foi uma das
principais caraterísticas da história política do século XIX, o Estado investe tanto na
“invenção de tradições”, como dizem os historiadores ingleses Eric Hobsbawm (1917-
2012) e Terence Ranger (1929-2015).
POR “TRADIÇÃO INVENTADA” ENTENDE-SE UM
CONJUNTO DE PRÁTICAS, NORMALMENTE
REGULADAS POR REGRAS TÁCITA OU
ABERTAMENTE ACEITAS; TAIS PRÁTICAS, DE
NATUREZA RITUAL OU SIMBÓLICA, VISAM
INCULCAR CERTOS VALORES E NORMAS DE
COMPORTAMENTO ATRAVÉS DA REPETIÇÃO, O
QUE IMPLICA, AUTOMATICAMENTE, UMA
CONTINUIDADE EM RELAÇÃO AO PASSADO.
ALIÁS, SEMPRE QUE POSSÍVEL, TENTA-SE
ESTABELECER CONTINUIDADE COM UM
PASSADO HISTÓRICO APROPRIADO.
(HOBSBAWM; RANGER, 2004)
VEM QUE EU TE EXPLICO!
Nação e Nacionalismo: caminhos diversos
Estados em conflito: a era dos extremos
NAÇÃO E NACIONALISMO
A ERA DOS EXTREMOS
Foi necessário a criação de vínculos identitários entre as pessoas como a criação de
tradições, ícones e sentimento de pertencer.
Revolução inglesa como ponto de partida para a descentralização do poder real,
formação da monarquia parlamentarista.
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Com a Revolução francesa o conceito de nação se torna mais próximo de todos, o poder
sai das mãos de uma elite e o estado passa a ser comandado por parte da população;
Fazer com que as pessoas se sintam parte daquela luta e anseiem em defender os
interesses do seu grupo gera um sentimento de pertença que ajuda a construir a ideia de
nação.
Os discursos nacionalistas são usados não mais para unir o povo, agora é necessário
atacar os adversários, provar a superioridade da nação.
O belicismo como consequência dos conflitos entre nações;
Durante o século XX regimes como Nazismo e Fascismo usaram do discurso
nacionalista para atacar inimigos e promover a guerra.
ATIVIDADE
VAMOS REFLETIR SOBRE O QUE
APRENDEMOS?
Para isso, complete as frases com as palavras do quadro.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. A ANARQUIA FEUDAL, CARACTERÍSTICA DA CRISE DO
FEUDALISMO, FOI O PONTO DE PARTIDA PARA A FORMAÇÃO DOS
ESTADOS NACIONAIS NA EUROPA OCIDENTAL. ASSINALE ENTRE
AS OPÇÕES A SEGUIR AQUELA QUE JUSTIFICA CORRETAMENTE
ESSA AFIRMAÇÃO.
A) As guerras camponesas (a anarquia feudal) levaram ao estabelecimento de uma
aliança entre o campesinato e a aristocracia, que juntos derrotaram a burguesia e
mantiveram a estrutura político-administrativa descentralizada. Nasceu, assim, o Estado
Nacional Moderno.
B) As guerras camponesas (a anarquia feudal) levaram ao estabelecimento de uma
aliança entre as famílias aristocráticas, que favoreceram o fortalecimento de uma delas
para centralizar os esforços de repressão ao campesinato. Nasceu, assim, o Estado
Nacional Moderno centralizado.
C) As guerras camponesas (a anarquia feudal) levaram ao estabelecimento de uma
aliança entre as frações da burguesia comercial, que favoreceram o fortalecimento deuma delas para centralizar os esforços de repressão ao campesinato. Nasceu, assim, o
Estado Nacional Moderno centralizado.
D) As guerras camponesas (a anarquia feudal) levaram ao estabelecimento de uma
aliança entre a Igreja Católica e as frações da burguesia comercial, que favoreceram o
fortalecimento de uma delas para centralizar os esforços de repressão ao campesinato.
Nasceu, assim, o Estado Nacional Moderno centralizado.
E) As guerras camponesas (a anarquia feudal) levaram ao estabelecimento de uma
aliança entre a Igreja Católica e as famílias aristocráticas, que favoreceram o
fortalecimento de uma delas para centralizar os esforços de repressão ao campesinato.
Nasceu, assim, o Estado Nacional Moderno centralizado.
2. PORTUGAL FOI O PRIMEIRO CASO DE MODERNIDADE POLÍTICA
NA EUROPA. ASSINALE ENTRE AS OPÇÕES A SEGUIR AQUELA
QUE MELHOR EXPLICA POR QUÊ.
A) Portugal foi o primeiro caso de modernidade política na Europa porque já vinha
desenvolvendo relações comerciais no campo desde o século XI, o que potencializou a
formação de um Estado burguês.
B) Portugal foi o primeiro caso de modernidade política na Europa porque precisou
formar um exército nacional e centralizado pra lutar contra a França no conflito que ficou
conhecido como Guerra dos Cem Anos.
C) Portugal foi o primeiro caso de modernidade política na Europa porque já contava
com situação de relativa centralização militar e administrativa desde a Idade Média,
quando a aristocracia cristã formou uma coalizão pra reconquistar o território ibérico,
então ocupado pelos muçulmanos.
D) Portugal foi o primeiro caso de modernidade política na Europa porque a expansão
marítima comercial forneceu recursos para a burguesia portuguesa, que se articulou
politicamente e fundou o primeiro Estado capitalista do mundo.
E) Portugal foi o primeiro caso de modernidade política na Europa porque a guerra com a
Espanha fortaleceu a nobreza, que derrotou a burguesia incipiente, fundando assim o
primeiro Estado aristocrático do mundo.
GABARITO
1. A anarquia feudal, característica da crise do feudalismo, foi o ponto de partida
para a formação dos Estados Nacionais na Europa Ocidental. Assinale entre as
opções a seguir aquela que justifica corretamente essa afirmação.
A alternativa "B " está correta.
As guerras camponesas travadas entre os séculos XIII e XIV colocaram a hierarquia
feudal em perigo, o que fez com que a nobreza europeia pactuasse que casas
aristocráticas específicas centralizariam os esforços para o restabelecimento da ordem.
2. Portugal foi o primeiro caso de modernidade política na Europa. Assinale entre
as opções a seguir aquela que melhor explica por quê.
A alternativa "C " está correta.
Portugal já havia centralizado esforços administrativos e militares na época da
reconquista, sob o comando de Afonso Henriques, chefe do Condado Portucalense.
MÓDULO 3
 Exemplificar as diversas revoluções sociais que, na modernidade,
confrontaram a estrutura do Estado-nação
ESTADO NACIONAL: REAFIRMAÇÃO E
REVOLUÇÕES
Assista ao vídeo.
O período compreendido entre os séculos XVII e XIX foi, ao mesmo tempo, o momento
de consolidação e crise dos Estados Nacionais. Foi nessa época que o modelo de
Estado centralizado, originado na Europa Ocidental no século XIV, se espalhou pelo
mundo, mas foi também quando a sociedade civil questionou e confrontou a autoridade
centralizada.
Estudaremos aqui o ciclo de rebeliões sociais e políticas que aconteceu na Europa e nas
Américas nesse período. Foram experiências tão transformadoras que chegaram a
modificar o vocabulário político, como demonstra a filósofa alemã Hannah Arendt (1998),
que identificou aquela que teria sido a principal transformação político-semântica trazida
pela modernidade: a mudança no sentido do conceito “revolução”.
Se antes “revolução” era uma palavra associada ao movimento circular dos corpos
celestes, agora passa a ser um sinônimo de ruptura social e política drástica, que
transforma para melhor as sociedades, que acelera a marcha da história rumo ao futuro,
como, por exemplo:
Fonte: William Shakespeare Burton/ Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)
Alegoria da Guerra Civil Inglesa, por William Shakespeare Burton.
REVOLUÇÃO INGLESA
Fonte: E. Percy Moran /Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)
Os britânicos avançam em Bunker Hill, por Percy Moran.
A INDEPENDÊNCIA DOS ESTADOS UNIDOS
Fonte: Eugène Delacroix/Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)
A Liberdade guiando o povo, por Eugène Delacroix.
A REVOLUÇÃO FRANCESA
Foi assim que se construiu uma memória positiva desse conjunto de rebeliões sociais e
políticas que aprendemos a chamar de “Revoluções Burguesas”.
Vamos começar pela Revolução Inglesa!
INGLATERRA
Ainda no século XVII, a Inglaterra foi desestabilizada por um conjunto de revoltas sociais
que acabaram por instituir aquele que se tornaria um dos valores mais sagrados das
democracias liberais modernas: o Constitucionalismo, que, como vimos no módulo 1,
está fundado na premissa de que o poder do Estado deve ser limitado pela lei.
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CONSTITUCIONALISMO
É o exercício de estruturar a sociedade a partir da lei e da submissão de todos às
suas regras, públicas e claras por meio de Constituições nacionais.
 SAIBA MAIS
A Revolução Inglesa foi bastante estudada na bibliografia especializada, que apresenta
diferentes, e por vezes conflitantes, interpretações do evento. Certamente, as duas
principais referências para o assunto são os livros O mundo de ponta cabeça: ideias
radicais durante a Revolução Inglesa de 1640, de Christopher Hill, publicado em 1987, e
o livro As causas da Revolução Inglesa, de Lawrence Stone, publicado em 1988.
Enquanto Christopher Hill, em perspectiva marxista, afirma que a Revolução Inglesa foi o
evento de inauguração da fase moderna da luta de classes, ao decretar a primeira
grande vitória da burguesia sobre a aristocracia; Stone argumenta que o processo de
aburguesamento da Inglaterra se deu pela modernização da própria nobreza rural, a
gentry.
Seja como for, apesar das diferenças, ambos os autores interpretam as revoluções
inglesas do século XVII como o momento de fundação da ordem capitalista, que passaria
a estruturar a vida social e política no mundo ocidental.
A Revolução Inglesa (1640-1688) foi um processo plural, cheio de idas e vindas e
atravessado por diversas guerras civis. Desde o século XVI, a burguesia inglesa (famílias
ricas, mas sem signos aristocráticos de distinção) era um grupo influente devido ao
processo de cercamento dos campos, que pioneiramente passou a subordinar o espaço
rural às demandas comerciais e industriais urbanas.
Fonte: Desconhecido/ Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)
 Guerra Civil Inglesa durante a Revolução Inglesa
O campo inglês especializou-se em criar ovelhas para servirem como fonte de matéria-
prima para a incipiente indústria têxtil. Esse foi o “cercamento dos campos”, enclosures,
aquilo que Karl Marx (1818-1883) chamou de “acumulação primitiva do capital”.
Entretanto, essa burguesia ascendente estava sub-representada na estrutura da
monarquia aristocrata inglesa. Podemos dizer que essa situação de sub-representação
foi um dos principais focos de tensão que implodiram o sistema político inglês. No
processo, o rei Carlos I foi morto, em janeiro de 1649, no primeiro regicídio, ou seja,
assassinato do rei, moderno da história.
 VOCÊ SABIA
Regicídios são normais nas monarquias, pois é comum que o trono seja objeto de desejo
e alvo de conspirações, quase sempre envolvendo grupos aristocráticos próximos ao
monarca.
No caso da morte de Carlos I, o regicídio não foi conspiratório, mas sim realizado em
execução pública, em nome da “autoridade do povo”. O povo, então, empoderou-se a
ponto de condenar o rei à morte, o mesmo monarca que até então era visto como o
portador de um direito divino.
Depois da execução de Carlos I, a Inglaterra viu, ainda, a formação de uma ditadura
comandada por um lídermilitar chamado Oliver Cromwell (1599-1658). A monarquia foi
restaurada com a dinastia dos Stuart, e uma nova guerra civil, a Revolução Gloriosa, em
1688, instituiu a primeira monarquia constitucional da história.
Agora, a verdadeira soberania não pertencia ao rei, mas sim à lei, entendida como a
manifestação da vontade do “povo”.
É a máxima que diz que “o rei reina, mas não governa”.
Em todo esse período, o trono esteve em conflito com o parlamento, disputando a quem
caberia o controle político da monarquia. O parlamento venceu. O parlamentarismo
sobrepôs-se ao absolutismo.
INDEPENDÊNCIA DOS ESTADOS
UNIDOS
Na segunda metade do século XVIII, o mundo inglês protagonizaria outro evento que
seria reconhecido como um dos momentos de fundação da cultura democrática
moderna. Foi a independência das treze colônias inglesas, ou a Revolução Americana,
que trouxe ao mundo a novidade de um país independente na América.
 COMENTÁRIO
A formação dos Estados Unidos nunca contou com uma organização única, tendo cada
uma das colônias estruturas singulares. Sua unidade nunca feriu esse princípio, não à
toa foi ali que se consolidou o modelo de federalismo.
 Declaração da independência dos Estados Unidos.
Diferentemente das revoluções inglesas do século XVII, a Revolução Americana não
questionou a monarquia ou a autoridade do rei, mas sim o parlamento, acusado de violar
direitos coloniais adquiridos. Até o fim do processo, as elites coloniais insurgentes
pediram a proteção do rei contra a espoliação feita pelo parlamento britânico. Por isso,
como afirma John Pocock, a independência dos EUA deve ser inserida no contexto mais
amplo das transformações das instituições britânicas que vinham se processando desde
o século XVII.
SÉCULO XVII
Entre os períodos de 1641 a 1660 e entre 1688 a 1689, ocorreram crises nas
relações entre a Coroa inglesa e a classe inglesa proprietária de terras, das quais o
King-in-Parliament saiu fortalecido, embora profundamente transformado. A
capacidade da Inglaterra de criar e consolidar a “Grã-Bretanha” e seguir em busca
de um império atlântico foi um dos subprodutos de 1688. Porém, em 1776, ou mais
propriamente entre 1764 e 1801, a capacidade do parlamento de exercer o governo
sobre as províncias — e, em menor grau, a maneira como ele agora governava a
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sociedade inglesa — foi severamente desafiada. Nas colônias americanas teve
lugar a revolução contra o parlamento (POCOCK, 2003).
E como os conflitos começaram?
 Guerra dos Sete Anos
Os conflitos entre as colônias e o parlamento começaram na década de 1760, logo após
o fim da Guerra dos Sete Anos (1756-1763).
 Brasão de Armas (Parlamento britânico)
Tendo saído da guerra com as contas desequilibradas, o parlamento britânico, que, como
sabemos, governava o Império desde a Revolução Gloriosa (1688), apertou o rigor em
suas relações mercantis com as colônias.
 Caricatura britânica representando as leis como uma violação de Boston
Entre 1764 e 1774, o parlamento criou dura legislação que pressionou os interesses
econômicos coloniais.
 O primeiro congresso continental, 1774.
Em 1774, as lideranças coloniais organizaram o I Congresso da Filadélfia, quando
redigiram um manifesto pedindo proteção e apresentando suas reclamações ao rei
George III.
A Inglaterra era o parceiro governante e as raízes do parlamento estavam na sociedade
inglesa comercial e de proprietários de terra. Era isso o que “tornaria a conciliação com
as colônias, em última instância, impossível” (POCOCK, 2003).
Diante da recusa do parlamento inglês em atender às reivindicações das colônias, os
representantes coloniais reuniram-se novamente em 1776, quando Thomas Jefferson
(1743-1826) redigiu a Declaração de Independência dos EUA. Começou, então, um ciclo
de conflitos que se arrastaria até 1783, mostrando ao mundo o caso inédito de colônias
que confrontaram a autoridade de sua metrópole e venceram.
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THOMAS JEFFERSON
Um dos mais importantes intelectuais norte-americanos. Notabilizou-se como um
defensor da República pela atuação na Constituição, e foi presidente dos Estados
Unidos.
Para Bernard Bailyn (2003), o que alimentou a insatisfação das colônias foi a convicção
de que seus direitos tradicionais estavam sendo atacados, de que suas liberdades
adquiridas corriam risco. O algoz não era a monarquia centralizada. Era o parlamento.
NO FIM, CHEGUEI À CONCLUSÃO DE QUE O MEDO
DE UMA CONSPIRAÇÃO AMPLA CONTRA A
LIBERDADE NO MUNDO DE LÍNGUA INGLESA –
UMA CONSPIRAÇÃO QUE SE ACREDITAVA TER
SIDO ALIMENTADA NA CORRUPÇÃO E SOBRE A
QUAL SE SENTIA QUE A OPRESSÃO NA AMÉRICA
DO NORTE ERA APENAS A PARTE MAIS
IMEDIATAMENTE VISÍVEL – ESTAVA NO CORAÇÃO
DO MOVIMENTO REVOLUCIONÁRIO.
(BAILYN, 2003)
Sem dúvida alguma, as revoltas sociais que desestabilizaram o mundo francês durante
as décadas de 1780 e 1790, e que posteriormente ficariam conhecidas como Revolução
Francesa, tornaram-se o evento simbolicamente mais importante da cultura política
moderna. Já tendo sido objeto de diversos estudos especializados, a Revolução
Francesa precisa ser pensada como um processo complexo, cheio de idas e vindas e
não restrito apenas ao território europeu francês, visto que se manifestou também em
terras coloniais, como na ilha caribenha de Santo Domingo, palco da mais radical e
violenta revolução social dos primeiros anos da modernidade.
MODERNIDADE
A independência de uma parte da ilha conhecida atualmente como Haiti, liderada
pelos negros locais, gerou uma intensa reação dos senhores do restante da ilha,
Santo Domingo, além de desestabilizar o governo revolucionário haitiano.
Nos diversos momentos dos conflitos, em alguns de forma mais aguda, em outros de
maneira mais pálida, a “tirania” do Estado monárquico foi questionada pela sociedade. O
historiador francês Albert Soboul (1914-1982) divide o processo revolucionário em três
momentos, cada qual apresentando níveis diferentes de radicalismo disruptivo e projetos
distintos para a organização político-institucional do Império francês.
Entre 1789 e 1791, o projeto vitorioso foi o girondino, marcado pelo objetivo de
transformar a monarquia absolutista comandada pelos Bourbons em uma monarquia
constitucional, à moda inglesa. A propriedade privada foi defendida e a desigualdade
social não foi pautada como problema estrutural da sociedade francesa.
FOI UM MOMENTO DE COMPROMISSO ENTRE A
BURGUESIA E OS SETORES MAIS
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PROGRESSISTAS DA ARISTOCRACIA E DA
IGREJA. O OBJETIVO DO PACTO ERA ABOLIR A
FEUDALIDADE, AMPLIAR O ACESSO AOS
DIREITOS POLÍTICOS, NUMA REVOLUÇÃO
PACÍFICA QUE NÃO ALMEJAVA QUESTIONAR A
PROPRIEDADE PRIVADA E A AMPLIAÇÃO DE
DIREITOS SOCIAIS.
(SOBOUL, 1995)
REVOLUÇÃO FRANCESA
 Revolução Francesa
A partir de 1792 até 1795, começaria o momento de maior radicalidade do conflito,
quando a própria estrutura da sociedade francesa foi posta em questão pelo projeto
jacobino, comandado pela aliança entre operariados urbanos e a pequena burguesia
liderada por Maximilien François Marie Isidore de Robespierre (1758-1794). Esses
grupos situavam-se mais à esquerda do espectro político francês e demandavam mais
do que apenas o fim da monarquia absolutista e o fim da feudalidade. Desejavam
questionar a estrutura fundiária, a divisão de terras, a miséria dos trabalhadores urbanos.
Mas, politicamente, quem eram os jacobinos?
Politicamente, os jacobinos eram republicanos e não estavam dispostos a negociar com
a estrutura monárquica. O resultado foi o acirramento dos conflitos sociais e a
militarização efetiva da crise francesa, dando início àquilo que já na época ficou
conhecido como “terror”, quando o tribunal revolucionário executou milhares de pessoas,
incluindo o rei Luís XVI e o próprio Robespierre.
Os efeitos da guerra revolucionária atravessaram o oceano Atlântico, chegando à ilha de
Santo Domingo, colônia francesa na América. Santo Domingo era uma sociedade
escravocrata, em que a minoria branca comandavauma economia agroexportadora,
movida pelo trabalho escravo da maioria negra.
Nos anos da Revolução Pacífica girondina, como explica Eugene Genovese, a elite
colonial manifestou o desejo de ser representada na Assembleia dos Estados Gerais e
gozar da ampliação dos direitos políticos. Porém, com a radicalização jacobina, a
escravidão foi abolida em todo o império colonial francês.
Nesse momento, as forças revolucionárias eram lideradas pelo comandante e
governador de Santo Domingo Toussaint Bréda (1743-1803), e o objetivo era defender
a Revolução, o que significava defender a abolição da escravidão, tanto dos ataques
restauradores internos como dos externos.
Fonte: Desconhecido/ Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)
 Toussaint Bréda
O termo “revolucionário” provocou a formação de um amplo arco de forças, que passou a
ter o objetivo de derrotar a agenda social e republicana dos jacobinos. Nobreza, clero,
potências internacionais e alta burguesia juntaram-se para atacar a Revolução Jacobina
e retroceder o processo ao estágio do capitalismo monárquico liberal, tal como era o
objetivo na fase jacobina do processo.
Em Santo Domingo, a reação colocou a emancipação política na agenda dos
revolucionários, agora comandados J. J. Dessalines (1758-1806), outra importante
liderança militar negra. Os conflitos foram sangrentos e a minoria branca foi quase
completamente exterminada naquela que foi a primeira revolução moderna a trazer a
discussão racial para o centro da pauta dos conflitos.
Em 1º de janeiro de 1804 foi proclamada a independência da República do Haiti, que se
tornou o segundo país independente das Américas, logo depois dos EUA. Na França, a
monarquia foi restaurada, a propriedade privada respeitada e as demandas jacobinas por
direitos sociais sufocadas. Napoleão Bonaparte (1769-1821) tornou-se a principal
liderança política do Império francês.
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NAPOLEÃO BONAPARTE
Comandante militar do Egito e convocado para comandar a França Revolucionária
ao fim do processo relatado.
Fonte: Jacques-Louis David / Wikimedia commons/licença(CC BY 3.0...)
 Napoleão Bonaparte
Os questionamentos ao Estado Moderno continuariam no século XIX, novamente nas
duas margens do Atlântico: dezenas de processos emancipacionistas decretaram o fim
da dominação colonial europeia nas Américas, novas revoluções sociais
desestabilizaram a França, em 1830, 1848 e 1871, apresentando amplo leque de
projetos políticos, indo do liberalismo burguês ao comunismo.
Se, entre os séculos XIV e XVI, a Europa construiu o Estado Moderno, com sua estrutura
política, administrativa e militar centralizada e com seu espírito aristocrático, os séculos
XVIII e XIX questionaram tanto a centralização como a dimensão feudal dos Estados
Nacionais, dando origem a uma série de disputas ideológicas que marcariam a história
humana no século XX.
VEM QUE EU TE EXPLICO!
Estados Modernos e a invenção do capitalismo
ESTADOS MODERNOS
A consolidação dos Estados também se da quando se tem a transição do mercantilismo
para o capitalismo;
Monetização das relações entre Estados;
Revolução industrial como fato acelerador da implementação do capitalismo nos
Estados;
A busca por mercados não é só econômica é também por influência política em outros
territórios;
Partilha da África como símbolo desse momento da história, onde a busca por mercados,
matéria prima e poder de influência vai fazer com que Estados europeus subjuguem o
continente africano a sua vontade;
ATIVIDADE
VAMOS REFLETIR SOBRE O QUE
APRENDEMOS?
Para isso, complete as frases com as palavras do quadro.
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VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. A REVOLUÇÃO AMERICANA GUARDA ALGUMAS
PARTICULARIDADES QUANDO COMPARADA COM AS
REVOLUÇÕES INGLESAS DO SÉCULO XVII. ASSINALE ENTRE AS
ALTERNATIVAS A SEGUIR AQUELA QUE MELHOR APRESENTA
ESSAS PARTICULARIDADES.
A) Diferentemente das revoluções inglesas do século XVII, que questionaram o poder
político da burguesia, a Revolução Americana questionou o poder político da Igreja,
considerada responsável pelo endurecimento das relações coloniais a partir da década
de 1760.
B) Diferentemente das revoluções inglesas do século XVII, que questionaram o poder
político da Igreja, a Revolução Americana questionou o poder político da burguesia,
considerada responsável pelo endurecimento das relações coloniais a partir da década
de 1760.
C) Diferentemente das revoluções inglesas do século XVII, que questionaram a
autoridade do rei, a Revolução Americana questionou o poder do parlamento,
considerado responsável pelo endurecimento das relações coloniais a partir da década
de 1760.
D) Diferentemente das revoluções inglesas do século XVII, que questionaram a
autoridade do parlamento, a Revolução Americana questionou o poder do rei,
considerado responsável pelo endurecimento das relações coloniais a partir da década
de 1760.
E) Diferentemente das revoluções inglesas do século XVII, que questionaram a
autoridade do rei, a Revolução Americana questionou o poder da Igreja, considerada
responsável pelo endurecimento das relações coloniais a partir da década de 1760.
2. A REVOLUÇÃO FRANCESA FOI UM PROCESSO HISTÓRICO
COMPLEXO, HETEROGÊNEO E CHEIO DE IDAS E VINDAS, QUE NO
FINAL DO SÉCULO XVIII DESESTABILIZOU O MUNDO FRANCÊS.
ASSINALE ENTRE AS ALTERNATIVAS A SEGUIR AQUELA QUE
MELHOR DEFINE A REVOLUÇÃO FRANCESA.
A) A Revolução Francesa não ficou restrita apenas ao território europeu, chegando
também à América, e a partir disso surgiu o segundo país independente das Américas: a
República do Haiti, fundada em janeiro de 1804.
B) A Revolução Francesa ficou restrita ao território europeu francês, chegando às
Américas apenas no plano das ideias políticas, levando o continente a restaurar as
relações coloniais, abolidas desde a independência dos EUA, na década de 1770.
C) A Revolução Francesa não ficou restrita apenas ao território europeu, chegando
também à América, e a partir disso surgiu o segundo país independente das Américas,
os EUA, fundado em janeiro de 1804.
D) A Revolução Francesa não ficou restrita apenas ao território europeu, chegando
também à América, e a partir disso surgiu o primeiro país independente das Américas, os
EUA, fundado em janeiro de 1804.
E) A Revolução Francesa ficou restrita ao território europeu francês, chegando às
Américas apenas no plano das ideias políticas, levando o continente a adotar o
comunismo, tal como havia sido pregado em Paris, na década de 1780.
GABARITO
1. A Revolução Americana guarda algumas particularidades quando comparada
com as revoluções inglesas do século XVII. Assinale entre as alternativas a seguir
aquela que melhor apresenta essas particularidades.
A alternativa "C " está correta.
A rebelião das Treze Colônias inglesas aconteceu pela insatisfação com o parlamento, e
não com o rei, ou seja, o alvo da revolta colonial não foi a monarquia centralizada, mas
sim as políticas fiscais mercantis desenvolvidas pelo parlamento britânico.
2. A Revolução Francesa foi um processo histórico complexo, heterogêneo e cheio
de idas e vindas, que no final do século XVIII desestabilizou o mundo francês.
Assinale entre as alternativas a seguir aquela que melhor define a Revolução
Francesa.
A alternativa "A " está correta.
A Revolução Francesa foi um processo histórico intercontinental vivenciado no império
colonial francês, tanto na Europa como na América. Um de seus principais
desdobramentos foi a independência do Haiti, que em 1804 tornou-se a segunda nação
autônoma das Américas.
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como aprendemos, estudar a história dos Estados Nacionais nos convida e entender a
heterogeneidade dos processos históricos que, em diversos lugares da Europa, levaram
à formação de estruturas políticas centralizadas, cujo objetivo foi salvar o feudalismo da
experiência de crise que começou no século XIV.
O tempo passou e, nos séculos XVIII e XIX, os Estados Nacionais tornaram-se alvo de
contestações das sociedades

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