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Inserir Título Aqui Inserir Título Aqui Fundamentos da Engenharia Ambiental Conceitos Ecológicos Fundamentais Responsável pelo Conteúdo: Prof.ª Me. Daniela Debone Revisão Textual: Prof. Esp. Claudio Brites Nesta unidade, trabalharemos os seguintes tópicos: • Introdução e Níveis de Organização Biológica; • Ecossistemas; • Biomas Brasileiros; • Biosfera; • Ecologia Humana. Fonte: iStock/Getty Im ages Objetivos • Discutir os principais conceitos de Ecologia, abordando níveis de organização bio- lógica, ecossistemas, fatores bióticos, abióticos e limitantes, relações harmônicas e desarmônicas e biosfera; • Falar sobre características e distribuição de biomas brasileiros e a respeito de eco- logia humana. Caro Aluno(a)! Normalmente, com a correria do dia a dia, não nos organizamos e deixamos para o último momento o acesso ao estudo, o que implicará o não aprofundamento no material trabalhado ou, ainda, a perda dos prazos para o lançamento das atividades solicitadas. Assim, organize seus estudos de maneira que entrem na sua rotina. Por exemplo, você poderá escolher um dia ao longo da semana ou um determinado horário todos ou alguns dias e determinar como o seu “momento do estudo”. No material de cada Unidade, há videoaulas e leituras indicadas, assim como sugestões de materiais complementares, elementos didáticos que ampliarão sua interpretação e auxiliarão o pleno entendimento dos temas abordados. Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, pois estes ajudarão a verificar o quanto você absorveu do conteúdo, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem. Bons Estudos! Conceitos Ecológicos Fundamentais UNIDADE Conceitos Ecológicos Fundamentais Contextualização Nesta Unidade, abordaremos os aspectos fundamentais de Ecologia e, assim, com- preenderemos como os seres vivos se inter-relacionam e de que maneira interagem com o meio ambiente. Observaremos que, independente da definição que se dá para essa ciência, comparti- lha-se sempre uma mesma ideia, de que a Ecologia é o estudo dos fatores que explicam a distribuição e a abundância de organismos. Assim, discutiremos sobre os principais tópicos dessa ciência, que permitirão observar a complexidade dos sistemas ecológicos. Níveis de organização biológica, fatores bióticos, abióticos e limitantes, relações harmônicas e desarmônicas, características e componentes dos ecossistemas, biosfera e ecosfera serão os principais pontos abordados. Além disso, também exploraremos um pouco sobre a Ecologia Humana e discutire- mos os principais desafios desse campo de estudo ecológico. 6 7 Introdução e Níveis de Organização Biológica Após uma breve pesquisa, é possível observar que há diferentes definições para o que é ecologia, tais como: a ciência que estuda a estrutura e o funcionamento da natureza; o ramo científico do meio e suas relações com os organismos, que estuda as relações entre os seres vivos e o meio ambiente onde vivem; disciplina que analisa as interações entre as diferentes espécies que ocupam um mesmo ambiente; e muitas outras. Vemos que todas essas definições compartilham uma mesma ideia, de que a Ecologia é o estudo dos fatores que explicam a distribuição e a abundância de organismos. Além disso, todas corroboram com a origem da palavra, uma vez que ecologia é derivada da junção dos termos gregos “oikos” e “logos”, que significam casa e estudo, respectivamente. No século XIX, o biólogo, filósofo e naturalista alemão Ernst Haeckel aplicou a Eco- logia, pela primeira vez, ao estudo científico de organismos e meio ambiente: Por ecologia, nós queremos dizer o corpo de conhecimento referente à economia da natureza – a investigação das relações totais dos animais tanto com seu ambiente orgânico quanto com o seu ambiente inorgâ- nico; incluindo, acima de tudo, suas relações amigáveis e não amigáveis com aqueles animais e plantas com os quais vêm direta ou indiretamen- te a entrar em contato – em poucas palavras, ecologia é o estudo de todas as inter-relações complexas denominadas por Darwin como as condições de luta pela existência. Atualmente, a Ecologia é dividida em três grandes e principais ramos de estudo e pesquisa: • Autoecologia – Estuda as espécies separadamente, animal ou vegetal, a partir de suas respostas aos fatores do meio ambiente, em função de características fisioló- gicas e adaptativas. Parte de uma visão mecanicista, para a compreensão do todo é necessário o estudo das partes, a Autoecologia é considerada um ramo científico clássico, seguido por poucos pesquisadores; • Demoecologia – Conhecida como Dinâmica das Populações ou Ecologia das Populações, analisa as populações e suas dinâmicas, de maneira isolada. Taxa de mortalidade, migração e comportamento dos indivíduos são algumas ques- tões estudadas; • Sinecologia – Também conhecida como Ecologia Comunitária, estuda as rela- ções entre as comunidades biológicas e os ecossistemas. Entre os principais as- pectos estudados, podemos destacar a estrutura e produtividade de uma cadeia alimentar; dinâmica populacional e inter-relações entre predadores e presas; transferência de matéria e energia dentro dos ecossistemas. Na ecologia, o meio ambiente é composto por influências externas exercidas sobre os organismos, ou seja, é o conjunto de componentes físicos, químicos e biológicos capazes de causar impactos diretos ou indiretos, de curto ou longo prazo, sobre todos os seres vivos. 7 UNIDADE Conceitos Ecológicos Fundamentais Então, o meio ambiente pode ser considerado como todas as limitações e possibilida- des para uma dada espécie, ou para cada indivíduo, é o cenário em que se desenrola to- dos os estudos ecológicos. Assim, nesse “palco ecológico”, cada espécie possui endereço e profissão, melhor dizendo, habitat e nicho ecológico. Por serem conceitos fortemente relacionados, habitat e nicho ecológico são frequentemente confundidos. Habitat é o ambiente que propicia o conjunto de condições ótimas para o desenvolvi- mento de uma determinada espécie. O habitat não se limita a uma única espécie, diferentes espécies (aves, peixes, mamíferos, algas, vegetais) podem compartilhar um mesmo habitat. Por outro lado, nicho ecológico é a forma de vida das diferentes espécies. Pode-se dizer que é a função ecológica do indivíduo no espaço onde habita, que descreve o conjunto de atividades realizadas para satisfazer suas necessidades básicas, tais como nutrição, proteção e reprodução (Figura 1). Figura 1 – No Brasil, a onça-pintada pode ser encontrada desde fl orestas como Amazônica e Mata Atlântica, até em campos abertos como o Pantanal e o Cerrado (habitat). Territorialista, geralmente marca árvores com suas garras, a onça-pintada possui hábito noturno, é carnívora e alimenta-se de capivaras, macacos, antas, tamanduás, jacarés, serpentes e outros. No período reprodutivo, os machos encontram as fêmeas pelo odor e vocalizações (nicho ecológico) Fonte: iStock/Getty Images De maneira operacional, os estudos ecológicos procuram utilizar diversas abor- dagens para estudar o meio ambiente e as interações entre os indivíduos. A análise da ecologia de populações e comunidades é um exemplo de abordagem funcional das interações existentes entre os organismos, em um patamar populacional, e os fatores físicos, químicos e biológicos que os afetam ou que por eles são afetados, no nível de comunidade. A partir desse exemplo, observamos que o campo de estudo ecológico se baseia nos níveis de organização biológica dos seres vivos, arranjo hierárquico que agrupa os seres vivos, de acordo com a complexidade do sistema biológico, como mostra o esquema a seguir (Figura 2). 8 9 Figura 2 – O esquema representa o arranjo hierárquico que agrupa os seres vivos. Cada nível na organização biológica representa um aumento da complexidade organizacional, do mais simples – o átomo– para o mais complexo – a biosfera A Ecologia estuda fundamentalmente as quatro mais complexas posições desse ar- ranjo – população, comunidade, ecossistema e biosfera –, que representam os níveis de organização de funcionamento e estrutura ecológicos. População pode ser definida como o grupamento de indivíduos da mesma espécie que habitam uma determinada região em um dado período. Esses indivíduos apresentam eleva- da probabilidade de cruzamentos entre si, em relação à probabilidade de cruzamentos com indivíduos de outra população. Como exemplos, podemos citar a população de preguiças do Parque Estadual da Serra do Mar ou a população de araucárias do Parque Estadual do Caracol no Rio Grande do Sul. Comunidade consiste no conjunto de todas as populações que ocupam uma determi- nada área em um determinado período e que que estão conectadas umas às outras por suas relações ecológicas. Ecossistema é entendido pelo conjunto resultante da interação entre comunidades de seres vivos que habitam uma determinada área e o ambiente físico, pelo fluxo de energia e a reciclagem de matéria. A homeostase (estado de equilíbrio dinâmico) é uma das carac- terísticas fundamentais dos ecossistemas. Biosfera representa a união de todos os ecossistemas que envolvem nosso planeta. Ecosfera inclui de maneira interligada todos os ambientes e organismos da Terra, assim corresponde ao conjunto de Biosfera, Atmosfera, Geosfera e Hidrosfera. 9 UNIDADE Conceitos Ecológicos Fundamentais Ecossistemas Os ecossistemas apresentam dimensões muito variáveis – a copa de uma árvore, um pequeno jardim ou uma floresta tropical de grandes proporções são considerados ecossis- temas. Entretanto, cada ecossistema é definido por características climáticas, pedológicas, topográficas, botânicas, zoológicas, hidrológicas e geoquímicas específicas. Em termos funcionais, o ecossistema é considerado a unidade básica da Ecologia. Nele, as comunidades interagem entre si e com o ambiente físico de forma equilibra- da, por meio da ciclagem de matéria e do fluxo de energia. Podemos considerar que são representados pela união entre biótipo e biocenose, que são os elementos necessários para as atividades dos organismos e o conjunto de seres vivos, respectivamente. Em outras palavras, os ecossistemas são constituídos por dois elementos básicos: os fatores bióticos e abióticos. Fatores Bióticos e Abióticos O biótipo dos ecossistemas é formado pelos fatores abióticos, determinam a com- posição físico-química do ambiente. Assim, representam toda a matéria inorgânica, que não possui vida, tais como as condições climáticas, edáficas e químicas. A temperatura, luminosidade, água, gases atmosféricos, solo, minerais e os macro e micronutrientes são alguns exemplos de fatores abióticos (Figura 3). A biocenose, biota ou comunidade biológica é composta pelos fatores bióticos, que são representados pelos diferentes tipos de organismos vivos e suas relações. Os fatores bióticos incluem todas as espécies vegetais, animais, bactérias e fungos, ou seja, todos os tipos de seres vivos de uma comunidade biológica, que interagem por meio das mais variadas relações ecológicas (Figura 3). Fatores Abióticos Fatores Bióticos Figura 3 – À esquerda, exemplos de fatores abióticos. O sol, luminosidade, água, chuvas, gases atmosféricos, solo, minerais e os macro e micronutrientes determinam a composição físico-química dos ecossistemas. À direita, exemplos de fatores bióticos. As diferentes espécies vegetais, animais, bactérias e fungos, ou seja, todos os tipos de seres vivos de uma comunidade biológica Fonte: Adaptado de iStock/Getty Images 10 11 Todo ecossistema procura um estado de equilíbrio dinâmico por meio de mecanis- mos de autocontrole, o que o torna capaz de resistir às variadas mudanças ambien- tais. No entanto, é importante saber que os diferentes fatores bióticos e abióticos podem atuar como fatores limitantes, uma vez que são capazes de limitar a oportu- nidade de sobrevivência, crescimento ou reprodução de um indivíduo ou mesmo de uma comunidade. De acordo com a Lei de Shelford, as diferentes espécies de uma comunidade bio- lógica possuem amplitudes de tolerância (com limites mínimos e máximos) aos fatores ecológicos, dentro das quais a existência é possível (Figura 4). Intolerância Intolerância EstresseEstresse Intensidade do fator (gradiente ambiental) Limite inferior de tolerância Po pu la çã o Faixa ótima Limite superior de tolerância Figura 4 – O gráfico representa a Lei de Shelford. As diferentes espécies de uma comunidade biológica possuem amplitudes de tolerância aos fatores ecológicos, que possibilitam sua existência, crescimento e reprodução Fonte: Adaptado de Cox et al., 1976 Quanto mais ampla for a faixa ótima de um organismo a um dado fator ecológico (biótico ou abiótico), maior a probabilidade de sobrevivência às variações relacionadas a esse fator e também maior será sua distribuição geográfica. Algumas espécies possuem faixa ótima muito estreita, uma pequena variação de oxigênio de um lago é capaz de eliminar uma comunidade inteira de peixes e crustáceos. Os principais fatores limitantes abióticos são a variação de temperatura, de lumi- nosidade, de nutrientes e disponibilidade de água. Podemos considerar como fatores limitantes bióticos algumas relações ecológicas presentes na comunidade ecológica, tais como competição, predação e parasitismo. Essas serão abordadas a seguir. Relações Harmônicas e Desarmônicas A biocenose, biota ou comunidade biológica é composta pelos fatores bióticos, que são representados pelos diferentes tipos de organismos vivos e suas interações. Essas interações, ou relações ecológicas, são de extrema importância para o equilí- brio dos ecossistemas. 11 UNIDADE Conceitos Ecológicos Fundamentais Observamos que essas interações podem ocorrer entre indivíduos da mesma es- pécie, denominada intraespecífica, ou entre indivíduos de espécies diferentes, nesse caso, interespecífica. Além disso, podemos classificá-las como relações harmônicas (positivas), quando nenhuma parte envolvida é prejudicada, ou desarmônicas (negativas), quando há pre- juízo para pelo menos uma das partes envolvida. Figura 5 – O esquema apresenta de maneira sintética as classifi cações das diferentes Interações Ecológicas Fonte: Acervo do Conteudista Sociedade ocorre quando indivíduos da mesma espécie vivem de maneira organi- zada e dividem tarefas entre si. Não estão unidos fisiologicamente ou anatomicamen- te, quando separados continuam desempenhando suas funções. Abelhas, formigas, cupins, peixes, gorilas e seres humanos são alguns exemplos de animais que vivem em sociedade. Colônia é formada por indivíduos que estão associados, fisiologicamente ou anato- micamente. Recifes de corais, algas e caravelas são alguns exemplos. Mutualismo é a relação de troca de benefícios entre as espécies envolvidas. Trata- -se de uma relação obrigatória, também denominada simbiose, as duas partes en- volvidas dependem da relação para sobreviver. Os líquens são um exemplo bastante conhecido de simbiose. Algas e fungos vivem intimamente unidos para promover a sobrevivência de ambas as partes. A alga atua fornecendo matéria orgânica por meia da fotossíntese; e o fungo promove a absorção de água e nutrientes para a alga. Outro exemplo de mutualismo é a associação de bactérias fixadoras de nitrogênio do gênero Rhizobium e as raízes das plantas leguminosas. 12 13 Protocooperação, também conhecido de mutualismo facultativo, ocorre quando as espécies se beneficiam, porém, não são dependentes uma da outra para sobreviver. São alguns exemplos: o caranguejo-eremita e as anêmonas do mar; aves-palito e crocodilos. Comensalismo acontece quando uma espécie consome os restos de alimentares de outra espécie. Nesta interação, somente uma das partes é beneficiada, porém sem cau- sar prejuízo para a outra. Exemplos: hiena e leão; rêmora e tubarão. Canibalismo se dá quando uma espécie sealimenta de outros indivíduos da mesma es- pécie. Pode acontecer quando há superpopulação e falta de alimento, quando um animal sadio se alimenta de outro doente ou após a fecundação, quando a fêmea devora o macho. Exemplos: aranhas, ratos, louva-a-deus, alguns peixes. Competição intraespecífica acontece quando indivíduos da mesma espécie dispu- tam recursos limitados. Exemplo: competição por parceiros para a reprodução. Predatismo ocorre quando um indivíduo predador captura e mata um indivíduo de uma espécie diferente (presa) para obter os recursos necessários para sobrevivência. Exemplo: plantas carnívoras x insetos; gavião x cobra; corujas x pequenos mamíferos. Parasitismo ocorre quando a espécie parasita se beneficia do indivíduo hospedei- ro para alimentar-se. Carrapatos, pulgas e piolhos são ectoparasitas de animais e seres humanos. Há vermes nematódeos, platelmintos, protozoários e vírus que atu- am como endoparasitas, que se instalam dentro do corpo do hospedeiro, sugando- -lhe nutrientes como as tênias e lombrigas que parasitam seres humanos. Amensalismo ocorre quando um indivíduo inibidor libera substâncias tóxicas que im- pedem o crescimento ou a reprodução de indivíduos de outra espécie – essa que é pre- judicada denomina-se amensal. Exemplos: eucaliptos e gramíneas; mandioca e fungos; algas e peixes (maré vermelha). Competição interespecífica ocorre quando indivíduos de espécies diferentes dispu- tam recursos limitados. Exemplo: corujas, cobras e gaviões competem por recursos, uma vez que se alimentam de pequenos roedores. As competições intraespecífica e interespecífica são interações de extrema importância, regulam o tamanho das populações e contribuem para o processo de seleção natural. Para se aprofundar sobre as diferentes interações ecológicas, você pode ler a parte 3 do livro Ecologia, de Michael L. Cain, William D. Bowman, Sally D. Hacker, da Editora Artmed de Porto Alegre, 2011; disponível na biblioteca. Ciclagem de Matéria e Fluxo de Energia Na próxima unidade, discutiremos sobre como se dá a transferência de energia e a ciclagem de matéria nos ecossistemas. Entretanto, é importante saber que o sucesso desses processos está intimamente relacionado às estruturas das comunidades. 13 UNIDADE Conceitos Ecológicos Fundamentais Os seres vivos precisam de energia para assegurar sua sobrevivência, crescimento, reprodução etc. A alimentação fornece a energia necessária para os organismos, que se dividem em autótrofos (fotossintetizantes ou quimiossintetizantes), capazes de sinteti- zar seu próprio alimento, e os heterótrofos (herbívoros, carnívoros, onívoros, detritívo- ros), esses utilizam-se do alimento sintetizado pelos autótrofos. Entre os heterótrofos, existem os decompositores, que se alimentam ao lançar enzimas sobre matéria orgâni- ca morta, degradando-a e devolvendo-a ao meio na forma de compostos inorgânicos, que são utilizados pelos autótrofos na síntese de alimento. O fluxo de energia no ecossistema envolve todos esses níveis de seres vivos. Assim, nesse contexto, podemos definir a cadeia trófica ou cadeia alimentar, que é a estrutura de relações alimentares, como a sequência linear da transferência de matéria e energia de um ecossistema. Os vegetais fotossintetizantes absorvem a energia solar, armazenando-a como energia potencial, na forma de compostos químicos altamente energéticos. Os her- bívoros se alimentam dos vegetais e absorvem a energia neles contida. Logo, o her- bívoro é capturado por um carnívoro, que absorve a energia anteriormente adquirida pela presa. Esse predador pode ser presa de outro carnívoro e, dessa maneira, a energia vai seguindo seu caminho pelos níveis tróficos do ecossistema. Nessa cadeia, que se inicia pelos vegetais, podemos defini-los como produtores. Os herbívoros que se alimentam dos produtores são os consumidores primários; os carnívoros que se alimentam dos herbívoros são os consumidores secundários. Assim, teremos ainda os consumidores terciários, os consumidores quaternários, e assim por diante. Algumas cadeias iniciam-se por detritos vegetais e animais; nessa, os consumidores primários são denominados detritívoros, tais como fungos, bactérias e invertebrados. Teia Alimentar Figura 6 – Observe que as cadeias alimentares não ocorrem de maneira isolada, uma vez que estão fortemente interligadas, formando teias alimentares. Na fi gura, podemos ver que a cenoura (produtor) possui mais de um consumidor primário (coelho e rato), e a serpente pode pertencer a níveis trófi cos diferentes: consumidora terciária, quando se alimenta do sapo, ou consumidora secundária, quando se alimenta do rato Fonte: Adaptado de iStock/Getty Images 14 15 Para se aprofundar nessa definição, estrutura, distribuição e funcionamento dos ecossiste- mas, você pode ler o capítulo 3 do livro Introdução à Engenharia Ambiental: o Desafio do Desenvolvimento Sustentável, de Benedito Braga et al. (2005). Biomas Brasileiros Muitas vezes, Bioma é visto como sinônimo de ecossistema. Considerando seus com- ponentes e abrangência, são diferentes, porém, são complementares. De acordo com Odum (1988), bioma é o termo utilizado “para denominar um grande Biossistema regio- nal ou subcontinental caracterizado por um tipo principal de vegetação ou outro aspecto identificador da paisagem”. Então, por um lado, temos a definição de ecossistema, unidade ecológica de menor di- mensão que considera principalmente as interações que ocorrem na comunidade biológi- ca. E, por outro lado, temos a definição de bioma, unidade ecológica de maior dimensão, que leva em consideração principalmente condições geoclimáticas, solo e grupamento de tipos de vegetação contíguos. Portanto, trata-se de regiões de grande extensão formadas por um complexo de ecos- sistemas com características homogêneas, identificáveis em escala regional. Nesse con- texto, o Ministério do Meio Ambiente considera que o Brasil é constituído pelos seguintes biomas: Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal. No mundo, foram identificadas 34 áreas de alta biodiversidade conhecidas como “hotspots” de biodiversidade. Essas áreas foram definidas basicamente por dois cri- térios: presença de, pelo menos, 1500 espécies endêmicas de plantas vasculares e por serem áreas ameaçadas de destruição, tenham perdido mais de 3/4 de sua vegetação original. No Brasil, há dois “hotspots”: a Mata Atlântica e o Cerrado. A Amazônia representa o maior bloco remanescente de florestas tropicais do mun- do, com mais de 6 milhões de km2. Além de sua rica diversidade, também representa a maior bacia hidrográfica do mundo. Localiza-se ao norte da América do Sul, atinge parte do território de 9 países, Brasil, Venezuela, Colômbia, Peru, Bolívia, Equador, Su- riname, Guiana e Guiana Francesa. No Brasil, abrange os estados do Pará, Amazonas, Maranhão, Goiás, Mato Grosso, Acre, Amapá, Rondônia e Roraima. A caatinga domina a região semiárida brasileira, possui mais de 800 mil km2, 11% do Brasil é ocupado por esse bioma. Abrange os estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Ma- ranhão, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Piauí, Sergipe e o norte de Minas Gerais. É bastante conhecida pela presença de xerófitas (cactos). Localizado na região central do Brasil, o cerrado é a segunda maior formação vege- tal brasileira, superado apenas pela Floresta Amazônica, apresenta aproximadamente 2 milhões de km2, ocupa os estados de Goiás, Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Bahia, Maranhão, Piauí, Rondônia e Distrito Federal. Cada vez 15 UNIDADE Conceitos Ecológicos Fundamentais mais ameaçado por queimadas, para a prática da atividade agropecuária, apresenta extrema abundância de espécies endêmicas, grande heterogeneidade animal e vegetal e é conhecido pela presença de arbustos esparsos. Originalmente, a Mata Atlântica estendia-se por quase toda costa brasileira, ocu- pava mais de 1,3 milhões de km². Sua composição original representa um mosaico devegetações, composta por formações nativas, tais como floresta ombrófila densa, ombrófila mista, ombrófila aberta, floresta estacional decidual e semidecidual. Devi- do à ocupação e atividades antrópicas, atualmente restam aproximadamente 9% de remanescentes florestais. O pampa ocupa aproximadamente 60% do estado do Rio Grande do Sul e tam- bém abrange os territórios do Uruguai e Argentina. Esse bioma é caracterizado pelo predomínio de campos nativos e arbustos, afloramentos rochosos e fauna expressiva, tais como o lobo-guará, beija-flor-de-barba-azul e o sapinho-de-barriga-vermelha. O Pantanal é uma planície inundável, situada na bacia do Paraguai, abrange apenas 1,76% da área total do território brasileiro, porém representa uma das maiores exten- sões úmidas contínuas do mundo. O ciclo das inundações é responsável pelo equilíbrio ecológico do bioma. É bastante conhecido por sua beleza e pela presença de tuiuiús, jacarés e araras azuis. Brasil é constituído pelos seguintes biomas: Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal, que estão representados no mapa. Disponível em: https://goo.gl/sfjsbT. Biosfera A biosfera representa a união de todos os ecossistemas que envolvem nosso planeta. Essa esfera ecológica não só define todos os organismos vivos que habitam a Terra, mas também as condições que permitem a vida, tais como luz e calor (provenientes do sol), água, solo, correntes de vento e elementos químicos (oxigênio, nitrogênio, gás carbônico). Portanto, podemos caracterizar a biosfera pela sua complexidade, uma vez que sua composição resulta dos processos físico-químicos associados à própria atividade dos or- ganismos, e pela inter-relação de todos os ecossistemas existentes, dado que a unidade das regiões mais remotas ocorre pelo fluxo de nutrientes e energia que são levados por correntes de vento, pelos diferentes ciclos da água (chuvas, enxurradas, marés) água e pela locomoção dos organismos. Não podemos discutir sobre essa interligação sem falar de ecosfera, abordagem ecoló- gica que inclui de maneira conectada todos os ambientes e organismos da Terra, corres- ponde ao conjunto de biosfera, atmosfera, geosfera e hidrosfera. Podemos definir essas esferas ambientais de acordo com as camadas da superfície da Terra: • Biosfera – seres vivos e seus habitats; • Atmosfera – camada gasosa (ar que envolve o planeta); • Geosfera – camada sólida (solos e rochas); • Hidrosfera – camada de água do planeta (rios, lagos, oceanos). 16 17 Desde o aparecimento das primeiras formas de vida, os processos ecológicos que ocorrem nas diferentes esferas ambientais as modificam de maneira equilibrada, tor- nando possível a vida há milhões de anos. Levando em consideração as modificações que ocorrem na ecosfera, ao longo da evo- lução dos seres vivos, podemos incluir outra esfera ambiental, a antroposfera, uma vez que os seres humanos são componentes significativos e dominantes da biosfera (Figura 7). Ecosfera Antroposfera Biosfera Geosfera Atmosfera Hidrosfera Figura 7 – Considerando a rápida expansão da população e as diferentes atividades humanas, podemos definir a antroposfera como uma esfera ambiental dominante Fonte: Acervo do Conteudista Ecologia Humana Há muito tempo, as atividades antrópicas vêm mudando o equilíbrio da ecosfera. O crescimento exponencial da população, o consumo insustentável de recursos na- turais, consumo energético, produção de rejeitos agrícolas, industriais e residenciais, poluição e degradação do meio ambiente são algumas consequências do domínio humano sobre a natureza. A influência humana nos últimos 250 anos mudou o equilíbrio dinâmico do nosso pla- neta, uma vez que se aumenta a razão entre seres humanos e biocapacidade (habilidade de repor os recursos naturais). Nesse contexto, Herman Daly, um conceituado economista ecológico dos EUA, argumenta que o crescimento econômico está ficando “deseconômi- co” e a natureza degradada já não fornece tantos serviços ecossistêmicos. Em 1921, a Ecologia Humana foi classificada como um campo de estudo da Ge- ografia. Já em 1925, o sociólogo Luther L. Bernard iniciou a visão moderna dessa 17 UNIDADE Conceitos Ecológicos Fundamentais área, apresentando uma definição de ecossistemas, que considera fatores biossociais e psicossociais. Na década de 1970, o começo da preocupação ambiental e das dis- cussões sobre degradação ambiental global favoreceram o crescimento de seu campo de estudo e pesquisa. Assim, de forma geral, a Ecologia Humana estuda o ser humano a partir de uma visão biológica, fisiográfica, social e ecológica. Analisa as relações entre as diferentes comuni- dades da espécie humana, bem como as suas interações com o meio ambiente, incluindo sua interação com os indivíduos de outras espécies. Questões de saúde pública, qualidade ambiental, mudanças climáticas, características das diferentes populações e infraestrutura urbana são alguns tópicos muito estudados nesse campo ecológico. No entanto, o principal desafio da Ecologia Humana é contribuir na construção do conhecimento de vulnerabilidades e potencialidades sociais e ambientais, atuando nas áreas de educação ambiental, desenvolvimento sustentável, avaliação de impac- tos ambientais, proposição de soluções de mitigação e outras. Assim, a Ecologia Humana deve manter-se integrada ao desenvolvimento da ci- ência e tecnologia, para dialogar com as diferentes áreas de atuação da engenharia ambiental e auxiliar no exercício da profissão. Para saber mais sobre as diferenças entre ecossistemas naturais e ecossistema humanos, veja a tabela do site da polícia militar ambiental. Acesse o link: https://goo.gl/1f7uji. 18 19 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites Instituto Humanistas Unisinos Mundo cheio e decrescimento, por José Eustáquio Diniz Alves. https://goo.gl/QEQZdi Vídeos Biomas do Brasil - Amazônia - Helder Queiroz - Instituto de Desenvolvimento Susten- tável Mamir https://youtu.be/Egk-5q8RhCE Biomas do Brasil - Caatinga - Bráulio Almeida Santos - UFPB https://youtu.be/SzQGQT9WrgY Biomas do Brasil - Mata Atlântica - André Victor Freitas - Unicamp https://youtu.be/soyw8aiLkPI Biomas do Brasil - Pampa - Ilsi Boldrini - UFGRS https://youtu.be/QfREzhAnRTM Biomas do Brasil - Pantanal - José Sabino - Universidade Anhanguera / Uniderp https://youtu.be/xWV4qNYal0k Leitura Demografia e Ecologia Humana Demografia e Ecologia Humana, por J. Manuel Nazareth. https://goo.gl/KXmkjv 19 UNIDADE Conceitos Ecológicos Fundamentais Referências ALVES J. E. D. Mundo Cheio e Decrescimento. Disponível em: <http://www.ihu.unisinos. br/78-noticias/555935-mundo-cheio-e-decrescimento>. Acesso em: 11 abr. 2018. BARSANO, P. R. Biologia Ambiental. 1. ed. São Paulo: Érica, 2014. BEGON, M.; HARPER, J. Fundamentos em ecologia. 3. ed. São Paulo: Artmed, 2010. BRAGA, B. et al. Introdução à Engenharia Ambiental: o desafio do desenvolvimento sustentável. 2. ed. São Paulo: Pearson, 2005. DICIONÁRIO AMBIENTAL. O que é um Ecossistema e um Bioma. ((o))eco, Rio de Ja- neiro, jul. 2014. Disponível em: <http://www.oeco.org.br/dicionario-ambiental/28516- -o-que-e-um-ecossistema-e-um-bioma/>. Acesso em: 10 abr. 2018. MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Biomas. Disponível em: <http://www.mma.gov. br/biomas>. Acesso em: 10 abr. 2018. NAZARETH, J. M. Demografia e Ecologia Humana. Análise Social, v. XXVIII, p. 123-124. 1993. Disponível em: <http://analisesocial.ics.ul.pt/documentos/12232 92810L7vCS1nq7Nm73HI5.pdf>. Acesso em: 10 abr. 2018. NUNES, T. Bioma e ecossistema são a mesma coisa? 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