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Aula 6- Mecanismo de Defesa Psicanálise

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MECANISMOS DE DEFESA 
AULA 6 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Profª Juliana Santos 
2 
 
 
CONVERSA INICIAL 
Antes de entrarmos propriamente no tópico desta etapa, destacamos 
alguns pontos do mecanismo de defesa que vai ser importante para a nossa 
compreensão sobre o tema de hoje: trata-se da angústia. Freud trabalhou com o 
tema da angústia em diversos textos e Lacan, seguindo os passos do seu mestre, 
reafirma que a angústia é o afeto que não engana. 
A angústia foi evidenciada na teoria freudiana levando-se em conta o 
desemparo, em função do qual Freud descreve que o bebê humano é lançado ao 
mundo mais inacabado que qualquer outro animal. Essa situação de excitação 
exterior, ao qual o neonatal está totalmente desprovido de elaboração psíquica, 
faz com que um estrutura primitiva do eu se constitua como um órgão de 
percepção. 
Émile Jalley (2009, p. 261), citando Freud, sublinha que o recém-nascido é 
incapaz de dominar por si próprio o afluxo das excitações externas e tensões 
internas: “o pequeno ser da primeiríssima infância, escreve Freud, não está 
efetivamente equipado para dominar psiquicamente as grandes quantidades de 
excitação que lhe chegam do exterior ou interior”. 
Assim, a situação de desamparo desemboca numa sensação de perigo, 
cuja reação é a angústia. Nesse sentido, Jalley (2009) declara que a imaturidade 
do eu, origem do desamparo psíquico, convoca a intervenção de um terceiro, ou, 
pelas palavras de Freud (1926), “uma ajuda alheia” que possa lhe proteger contra 
as formas externas e internas de perigo e que, por conta disso, esse outro será 
tomado como objeto de amor. (Jalley, 2009, p. 262) 
Portanto, é por meio da intervenção de um terceiro que essa situação de 
desamparo psíquico e medo pode ser ultrapassada, contudo Freud (1926), no 
texto Inibição, sintoma e angústia, ao retomar essa questão, aponta para o 
surgimento de uma nova situação de desamparo: trata-se da “dependência 
infantil”, que recobre os primeiros anos da infância, momento em que podemos 
situar o período pré-edipiano, em que entra em cena o perigo da perda do objeto 
de amor. 
Seguindo então os pensamentos freudianos, Jalley (2009) distingue a 
dependência infantil,como um desamparo diante dos pais: 
Tínhamos razão para temê-los, sobretudo nosso pai, mesmo que ao 
mesmo tempo estivéssemos certo da sua proteção contra o perigo [...] A 
relação com o 
3 
 
 
pai é afetada por uma ambivalência especial. O próprio pai constituía um 
perigo, talvez em virtude da relação primitiva com a mãe. Dessa maneira, 
ele inspira tanto temor quanto nostalgia e admiração. (Freud, citado por 
Jalley, 2009, p. 263) 
Freud (1926) aponta ainda para outras duas formas de angústia que 
seguem o processo do desenvolvimento infantil. Na fase fálica, o perigo da 
castração e na fase de latência a angústia frente ao supereu. Contudo, destaca 
que essas manifestações podem surgir de maneira sincrônica: 
Todas essas situações de perigo, escreve Freud, e todas essas 
condições que determinam a angustia podem persistir lado a lado e 
incitar o eu a reagir pela angustia até em períodos posteriores às épocas 
adequadas, em que várias delas podem entrar em ação 
simultaneamente. (Jalley, 2009, p. 24) 
É nesse sentido que o supereu encontra motivos para se constituir como 
uma instância específica da estrutura subjetiva do sujeito, dada as sucessivas 
vivências de angústia frente ao perigo. Portanto, para esta etapa, iremos 
apresentar a formação do supereu como essa categoria que surge em função da 
experiência do desamparo humano e da vivência edipiana, de forma a moldar a 
personalidade do sujeito ou, dito pelas palavras de Freud (1923, p. 61), o supereu 
é “o memorial da fraqueza e da dependência antiga do eu”. 
Buscaremos ainda evidenciar a questão da adolescência, uma das fases 
da vida de maior desamparo, visto que toda a questão sobre o seu ser é 
recolocada e o sujeito tem que se confrontar com a falta do significante no Outro. 
Veremos que em Freud a questão da adolescência é trabalhada nos termos da 
puberdade no artigo Três ensaios sobre a sexualidade (1905), onde o autor 
descreve como sendo o momento da “organização sexual definitiva”. Alberti 
(2009, p. 26) descreve essa fase como um quadro evolução que “prepara o sujeito 
e o organismo para o ato sexual, que comporta a ereção do membro masculino 
nos rapazes e a umidificação da vagina nas moças”. Assim, pelo viés da clínica 
psicanalítica, buscaremos elucidar o desamparo infantil, o qual o homem se 
sentirá fadado a carregar para sempre. 
TEMA 1 – CONSTITUIÇÃO DO SUPEREGO 
O supereu é um conceito criado por Freud resultado de uma longa 
elaboração teórica que se inicia desde Introdução ao narcisismo (1914) até a 
4 
 
 
sua concepção no texto O eu e o Isso (1923), e até o final da obra freudiana o 
conceito de supereu seguiu tendo desdobramentos. 
Em Introdução ao narcisismo (1914), o supereu está alinhado à ideia de 
um ideal de eu que emerge substituindo o narcisismo infantil. Trata-se de um 
instrumento de medida utilizado pelo eu para observar a si mesmo, declaram 
Roudinesco e Plon (1998). 
No texto O eu e o isso (1923), o conceito do supereu é apresentado de 
forma mais consistente, assumindo seu estreito vínculo com o isso, isto é, seu 
lado pulsional, cuja matriz se constitui como herdeiro do complexo de Édipo, pois, 
segundo Freud, quando a criança supera a vivência edípica, ele encontra a 
solução para a sua angústia por meio da internalização dos seus pais, ou seja, a 
criança se identifica com eles e internaliza as interdições impostas pelos pais. 
Mas, como explica Zimerman (1999), essa identificação não é completa, de modo 
que a criança pode identificar-se com certos aspectos dos pais e não com outros. 
Assim, as exigências internas distinguem-se em: “deves ser assim...(como teu 
pai)”, como também impõe a proibição “não deves ser assim... (como o teu pai; 
não podes fazer tudo o que ele faz; muitas coisas são prerrogativas exclusivas 
dele; ai de ti se o desobedeceres...” (Zimerman, 1999, p. 134). Contudo, o supereu 
situado como herdeiro do complexo Édipo forma um aparente paradoxo, pois ele 
contribui para a dissolução deste, visto que é pela via das interdições e ameaças 
que o sujeito sai do complexo de Édipo. 
Zimerman (1999) ainda demarca dois fatores na obra freudiana, a respeito 
da formação do supereu: 
1. A severidade do supereu, também provinda da própria hostilidade da 
criança voltada contra si mesma (e, por isso, obriga o psiquismo a se 
proteger com uma instância fiscalizadora); 
2. As posteriores influências e exigências sociais, morais, educacionais e 
culturais. 
Contudo, Freud postula que “o supereu não é simplesmente um resíduo 
das primitivas escolhas objetais do isso; ele também representa uma formação 
reativa enérgica contra essas escolhas” (Freud, 1923, p. 47) 
Em Inibição, sintoma e angústia (1926), a tirania do supereu é sublinhada 
por Freud sob um aspecto sádico contra o eu, que promove um sentimento de 
culpa e resistência a análise. Nesse sentido, Rudge (2006, p. 4) em seu artigo 
declara: 
5 
 
 
 
Estamos agora no seio de uma construção metapsicológica bem mais 
complexa, liberta do apoio na biologia, e de acordo com o postulado 
psicanalítico fundamental de que, graças ao desamparo do infante, o 
psiquismo humano está na estrita dependência do que é construído a 
partir do campo social. 
Assim, verificamos que o estado de desamparo confronta um eu fraco, que, 
por outro lado, faz tecer sob as rédeas do perigo das excitações externas e 
internas um supereu cruel em virtudes da face do isso. Desse modo, o eu imaturo é 
assediado, declara Jalley (2009), pelas tendências edipianas, e só por meio de 
um “poderoso recalque”, o eu poderá se defender da violência pulsional e 
ameaças do supereu. 
1.1 Da proibição ao imperativo do gozo 
Lacan, ao fazer a leitura dos textos freudianos, faz com que osupereu 
alcance uma nova dimensão, pois, para além das exigências de renúncia 
pulsional que caracterizou o supereu em Freud, ele passa a assumir um 
imperativo de gozo, cuja demanda ao eu é: goze! 
Se tomarmos o texto o Mal-estar da civilização (1927), verificamos que 
Freud declara que a civilização se funda não pela necessidade de regular as 
pulsões sexuais, mas sim pela necessidade de estabelecer uma proteção contra a 
agressividade do próximo e contra a agressividade do sujeito a si mesmo. Nesse 
sentido, Lacan, no Seminário 7, a ética da psicanálise (1959/60), declara que o 
gozo é incompatível com a moral. Diz assim: 
E o que me é mais próximo do que esse âmago em mim mesmo que é o 
de meu gozo, do que não me ouso aproximar? Pois assim que me 
aproximo - é esse o sentido do Mal-estar na Civilização - surge essa 
insondável agressividade diante da qual eu recuo, que retorno contra 
mim, e que vem, no lugar mesmo da Lei esvanecida, dar seu peso ao 
que me impele de transpor uma certa fronteira no limite da Coisa (Lacan, 
1959-1960/1988, p. 228). 
Fruto da pulsão de morte, o supereu é impelido mais pela agressividade do 
que propriamente pela lei. Assim, nos ensinos de Lacan, a lei perde seu estatuto 
proibitivo e regulador e passa a se articular com a lei do gozo. Trata-se da lei 
insensata do supereu. Cordeiro e Bastos (2011), em seu artigo, comentam: 
O supereu é uma instância distinta da lei reguladora; porém veicula uma 
lei insana, que não oferece uma medida a esse mesmo gozo. Desta 
forma, torna-se imprescindível definir como o supereu inclui tanto a voz 
que proíbe, a voz da lei, como a voz 
6 
 
 
do gozo. Enquanto instância repressora, há presença da lei, referência 
ao registro simbólico: o supereu se colocaria como um limite ao gozo. Ao 
pensá-lo como imperativo de gozo, não há mais o lado superegoico 
proibidor; trata-se do registro real, de uma lei louca, que incita ao gozo. 
Lacan, no seminário 1, “Os escritos técnicos de Freud” (1953), declara que 
as exigências do supereu efetuam uma cisão simbólica e essa cisão ocorre na 
relação do sujeito com a lei, diferenciando, assim, o que é da ordem do eu, registro 
Imaginário, do campo do supereu, contudo o supereu estende-se para além do 
simbólico, pois inclui o real, de modo que não se trata apenas de uma lei 
reguladora, mas uma lei que repete, insiste e se articula com a pulsão de morte. 
Um enunciado discordante, ignorado na lei, um enunciado promovido ao 
primeiro plano por um evento traumático, que reduz a lei a uma ponta 
cujo caráter é inadmissível, inintegrável – eis o que é essa instância 
cega, repetitiva, que definimos habitualmente pelo termo supereu. 
(Lacan, 1953, p. 229) 
TEMA 2 – ADOLESCÊNCIA 
Para avançarmos em nossos estudos a respeito do mecanismo de defesa, 
quero levá-los agora a pensar sobre uma das fases mais conflituosas de nossas 
vidas, a adolescência. Em nossa sociedade, a concepção da adolescência 
equivale a uma passagem para a vida adulta, e a própria lei surge para impor 
esse limite, pois, de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), 
o sujeito adolescente é aquele entre 12 e 18 anos de idade – Art. 2º, Livro 1- Parte 
Geral, Título1- Das Disposições Preliminares, art. 2º (Brasil, 1990). 
Pela medicina a adolescência é marcada pelas mudanças corporais e 
fisiológicas. Na psicanálise, Freud abordou a adolescência sob a condição da 
puberdade em seus vieses estruturais no tradicional artigo Os três ensaios sobre a 
sexualidade (1905). Assim, com a chegada da puberdade, declara Freud, 
introduzem-se as mudanças que levam à vida sexual infantil a sua configuração 
normal definitiva (Freud, 1905, p. 196). 
Portanto, o sujeito adolescente se vê convocado por todas as mudanças 
corporais, crescimento na altura, peso e desenvolvimento de todas as 
características sexuais (maturação dos genitais e órgãos de reprodução), a 
responder por todas as suas escolhas que, de forma primitiva, foi levado a admitir. 
7 
 
 
Sabe-se que somente com a puberdade se estabelece a separação 
nítida entre os caracteres masculino e feminino, num contraste que tem, 
a partir daí, uma influência mais decisiva do que qualquer outro sobre a 
configuração humana. É certo que já na infância se reconhecem bem as 
disposições masculinas e femininas. (Freud 1905, p. 207) 
Então, diante de todas essas exigências, o que ocorre na subjetividade do 
sujeito adolescente? O que são os impulsos de rebeldia e violência que acabam 
caracterizando essa fase da vida? 
2.1 Sujeito adolescente 
A fase de latência que representa a calmaria do corpo é interrompida com a 
chegada da puberdade quando a excitação sexual ressurge com força total 
reivindicando as resoluções edipianas e uma mudança de posição, pois os pais, 
que até então estavam no centro de sua relação e eram fontes de saber, perdem o 
lugar de vez. A causa dessa perda de lugar pode ser explicada pela maturação 
psíquica do sujeito, que passa a comparar os signos familiares com outros signos 
familiares, além da própria rivalidade sexual, que emerge como resquício da 
passagem edipiana. O adolescente se afasta dos seus pais e passa a desejar sair 
de casa como resposta a uma fantasia de não pertencer àquela família. 
Essa dramatização não é sem sofrimento psíquico, pois se, por um lado, o 
adolescente se mostra pronto para a descoberta de um novo mundo, por outro 
lado, há um luto pela perda de prestígio dos seus pais. Freud (1905) enfatiza que o 
esforço psíquico empreendido pelo adolescente tem por finalidade desvencilhá-
lo do enredo familiar e promover condições de se envolver fisicamente e 
emocionalmente com outro. 
Contemporaneamente à subjugação ao repúdio dessas fantasias 
claramente incestuosas consuma-se uma das realizações mais 
significativas, porém mais dolorosas, do período da puberdade: o 
desligamento da autoridade dos pais, unicamente através do qual se 
cria a oposição, tão importante para o progresso da cultura, entre a nova 
e a velha geração”. (Freud, 1905, p. 127) 
Contudo, esse encontro com o outro não escapa de um encontro 
traumático, pois, mesmo que o encontro com a sexualidade seja singular a cada 
sujeito, a sexualidade é por princípio traumática. 
Assim, o sujeito adolescente tem que lidar com o seu desejo que lhe gera 
angústia frente à sexualidade. A solução buscada por cada sujeito adolescente 
8 
 
 
é vista no seu agir, pois a linguagem, aqui, não é suficiente, de modo que as 
palavras produzem mais mal-entendido do que comunicação. 
Assim, pela concepção lacaniana, a puberdade é um reencontro com a 
falta, pois, nesse momento da vida, a construção fantasmática construída frente 
ao desejo do Outro falha. Zanotti (2006) detalha esse acontecimento: 
A puberdade é um desses momentos em que aparece nitidamente o que 
Lacan diz em “A terceira” (1975) “a angústia é justamente algo que se 
situa alhures em nosso corpo, é o sentimento que surge dessa suspeita 
que nos vem de nos reduzirmos ao nosso próprio corpo”. Frente a isso 
a resposta do sujeito é o agir, para efetuar uma transferência da angústia 
(Lacan, 1962-1963). “Talvez seja da angústia que a ação retira sua 
certeza” [...]. Agir é arrancar da angústia a própria certeza. Agir é efetuar 
uma transferência de angústia” (Zanotti, 2006, p. 113) 
É na passagem ao ato que vemos, portanto, o adolescente agir na tentativa 
de aplacar a sua angústia, mesmo sendo um ato falho ele é um ato que inaugura 
um atravessamento. 
TEMA 3 – AGRESSIVIDADE 
Em nossa sociedade atual, podemos verificar que o senso de coletividade 
se encontra totalmente empobrecido, contribuindo para o enfraquecimento dos 
ritos de passagem para adolescência, pois, se no passado os jovens estavam 
submetidos às leis e aos ritos do grupo social, na contemporaneidade eles se 
deparam com a perda de referências de significantes. Levisky (1998, p. 24) 
demarca essa perda de referência na própria historicidade da sociedade: 
Nopassado o jovem estava submetido às leis impostas e aceitas pelo 
grupo social. As rebeldias eram vividas nas frentes de batalha, na 
infantaria vivida por jovens destemidos, imberbes muitas vezes, 
sacrificados pelos adultos e que com orgulho morriam em nome da 
pátria amada. 
Hoje se matam no asfalto e se enebriam no perfume da droga que corre 
pelas suas veias. (Levisky, 1998, p. 24) 
Assim, pelo entendimento desse autor, os adolescentes dos dias de hoje 
vivem sua rebeldia como membro atuante e transformador da sociedade, porém 
altamente sugestionável, tendo como maior representante a mídia que, para 
atingir seus interesses, oferta engodos de estados de plenitudes e independência. 
9 
 
 
Sob a ótica de Lacan (1938), a desestabilização da imagem do corpo que 
foi garantida pelo olhar da mãe e o confronto com o Outro sexo forma um impasse 
para o sujeito adolescente, pois segundo o autor, ao se apropriar de um corpo 
simbólico, parte de um gozo vivenciado inicialmente na relação mãe-bebê se 
perde, contudo o sujeito se aliena a essa unidade corporal para constituir seu eu 
antes mesmo de produzir uma identidade. Lacan (1938, p. 49) declara assim: “a 
unidade que ela introduz nas tendências irá contribuir, portanto, para a formação 
do eu. Mas, antes que se possa afirmar sua identidade, o sujeito se confundirá 
com essa imagem que o forma, mas que também o aliena primordialmente”. 
Nesse sentido, Catroli e Rosa (2013) explicam assim: 
É, então, essa conta do gozo perdido e prometido que vem o 
adolescente cobrar. Mas qual será sua surpresa? A de que não há, no 
campo do Outro, esse significante que dê provas de sua verdade 
enquanto sujeito, e que esse Outro não detém a chave para o seu 
encontro singular com o sexual. Nas palavras de Poli (2005), não haveria 
um significante pleno que garanta a significação do sujeito, ele falta 
também ao campo do Outro. Segundo a autora, o sujeito se desloca, na 
adolescência, de uma promessa de gozo fálico (masculino) para cair no 
impossível da satisfação sexual do Outro sexo, representado como falta, 
como feminino. 
A falta de um significante que o represente é reivindicada sem sucesso, o 
excesso de estímulos e a falta de representantes internos e externos levam, 
então, o adolescente a uma perda de controle da realidade e uma busca de 
adrenalina para conter sua angústia. Levisky (1998, p. 30) conclui assim: 
Quando a violência é banalizada ou não é identificada como sintoma da 
patologia social, corre-se o risco de transformá-la num valor cultural que 
pode ser assimilada pela criança e pelo jovem como forma de ser, um 
modo de auto-afirmação. Durante as transformações da adolescência 
os jovens buscam novos modelos para a sua formação de sua 
identidade adulta; período altamente vulnerável e suscetível às 
influências ambientais construtivas e destrutivas. 
A agressividade que gera violência na adolescência tem, por fim, um grito de 
socorro, um apelo à lei, um pedido de ajuda frente ao seu desamparo. 
TEMA 4 – COMENTÁRIOS SOBRE O TEXTO A NEGATIVA 
No texto A Negativa (1926), Freud articula a questão da negação 
(Verneinung), como sendo uma operação em uma frase para se negar alguma 
coisa e, assim, ser aceito na consciência. Trata-se, portanto, de uma defesa, em 
que o sujeito se protege contra o seu desejo recalcado. 
No texto, Freud (1925, p. 142) nos apresenta um relato de um paciente, que 
10 
 
 
para admitir algo, ele o nega, pois só assim o conteúdo pode ser aceito: 
Agora você pergunta, quem pode ser essa pessoa do sonho. A mãe não 
é. Nós retificamos: “então é a mãe”. Ao interpretar, tomamos a liberdade 
de deixar de lado a negação e escolher o conteúdo puro da ideia. É como 
se o paciente tivesse dito: “Certo, me ocorreu que essa pessoa é a mãe, 
mas não me apraz admitir essa ideia”. 
Nesse apontamento, Freud nos chama a atenção para o equívoco do pensar 
neurótico, que o captura e o aliena em seu pensamento que atua como uma 
defesa contra a sua ação e o encontro faltoso com o Outro. Contudo, o sentido 
exato deve ser apreendido pelo psicanalista: é a mãe! 
Nesse sentido, a negação coloca em suspenso a operação do recalque, 
haja vista que o não afasta o sujeito do seu desejo. Mas vale lembrar que se trata 
apenas de uma suspensão e não uma eliminação do recalque. Pimenta Filho 
(2010), sobre essa suspensão do recalque, faz o seguinte esclarecimento: 
O termo aqui utilizado é o de uma Aufhebung do recalque, como sendo 
a suspensão temporária do recalque. O que ocorre, por exemplo, com o 
chiste – quando há uma flexibilização, uma suspensão ou 
franqueamento da censura. Esse franqueamento opera possibilitando 
que o recalcado penetre na consciência sem afetar o trabalho do 
recalque. Permanece, portanto, a divisão subjetiva – o $ –, com a 
separação entre pensamento e afeto; este, um resíduo ou descarga 
inassimilável, que redundará na conversão histérica ou nas 
intermináveis dúvidas e ruminações obsessivas. 
Portanto, pela operação da negativa, usando as palavras de Freud (1926, 
p. 142): “o conteúdo recalcado de uma ideia ou pensamento pode penetrar na 
consciência, sob a condição de que se deixe negar. Isso porque a negativa é um 
modo de tomar conhecimento do recalcado em um plano apenas intelectual”.Para 
Freud, o que entra em jogo por meio da negação é a “suspensão do recalque”, 
não naturalmente pela a sua aceitação, mas, com isso, o conteúdo recalcado 
pode chegar à consciência, sem com isso alterar o recalcado. 
Em seguida, Freud traz um importante apontamento a respeito do juízo, 
questão que foi recolocada por Lacan (1956) para se localizar o mecanismo da 
psicose, mas não entraremos nesse mérito nesse momento, pois o que queremos 
destacar para agora é uma função de atribuição de juízo que caracteriza o sujeito 
do inconsciente, pois ela está conjugada às pulsões originais: 
A função de juízo tem que tomar duas decisões: deve atribuir ou negar 
uma qualidade a uma coisa e deve conceder ou impugnar a existência 
de uma representação da realidade. A qualidade sobre a qual deve 
decidir-se poderia ser originalmente boa ou má, proveitosa ou nociva. 
Expresso na linguagem das mais antigas moções pulsionais orais: (Eu) 
quero comer isto ou quero cuspi-lo, e numa mais ampla transferência: 
(Eu) quero introduzir isto em mim e quero expulsar isto de mim. Assim: 
11 
 
 
Isso deve estar em mim ou fora de mim. O eu-prazer originário quer 
introjetar-se todo o bom, lançar fora de si todo o mau. O mau, o estranho 
ao eu, o que se encontra fora, lhe é em princípio idêntico. (Freud, 1926, 
p. 142). 
Portanto, nesse sentido de juízo que caracteriza o discurso, afirmar ou 
negar algo vai compor a primeira manifestação pulsional que vai determinar a 
estrutura subjetiva do sujeito, isto é, ele afirma (Behajung), ou ele nega, não no 
sentido da Verneinung, de negar o que ele afirmou inicialmente, mas no sentido 
da Verwerfung, uma negação que é anterior à afirmação. Portanto, vemos que a 
negação é uma proteção que se ascende de forma bem arcaica no psiquismo. 
TEMA 5 – DEFESAS EM UM FINAL DE ANÁLISE 
Para concluir o nosso breve percurso neste estudo, trago a questão da 
defesa no final de uma análise. Freud, no texto Análise terminável e interminável 
(1937), questiona-se sobre o que poderia ser considerado um final de análise. 
Verificamos que, inicialmente, para Freud, o final de uma análise é 
caracterizado na transformação do conteúdo inconsciente para consciência, 
numa integração das pulsões ao eu, que levará o paciente a uma suspensão dos 
sintomas e ao fim da transferência. Nesse sentido, Freud aponta para uma nova 
posição do sujeito, em que acredita que o próprio paciente passará a ter um 
reconhecimento de si, evitado novos sofrimentos psíquicos. Contudo, questiona a 
ambição terapêutica preventiva de modo que, “se um conflito pulsional não está 
presentemente ativo, se não está manifestando-se, não podemos influenciá-lo, 
mesmo pela análise”(Freud, 1937, p. 247) 
Seguindo a sequência do seus pensamentos, Freud (1937) sublinha que, 
na segunda tópica, foi possível tomar conhecimento de que a resistência é própria 
da formação do aparelho psíquico. Assim, declara que, “se avançarmos um passo 
adiante em nossa experiência analítica, nos deparamos com resistências de outro 
tipo, que não mais podemos localizar e que parecem depender de condições 
fundamentais do aparelho psíquico” (Freud, 1937, p. 258). Nesse sentido, Freud 
(1937, p. 255) aponta para um conteúdo inalisável, visto que não há como eliminar 
por completo as resistências. “Há uma resistência contra a revelação das 
resistências”. 
Portanto, diante do núcleo das resistências, a saída do processo analítico 
caminha para uma construção em análise, um trabalho que caminha na direção 
de “completar aquilo que foi esquecido a partir dos traços que deixou atrás de si, 
ou, mais corretamente, construí-lo” (Freud, 1937, p. 276). Silva e Fontenele 
12 
 
 
(2013), citando Freud, a respeito desse tema, declaram assim: 
O quadro final freudiano da técnica psicanalítica aponta para a missão 
analítica de “garantir as melhores condições psicológicas possíveis para 
as funções do ego” (Freud, 1937a, p.267), ambição mais modesta se 
comparada a da primeira tópica. A despeito de haver resistência no eu, 
é com ele que o analista faz um pacto através do comprometimento em 
relação à obediência da regra fundamental e, em compensação, o 
analista busca devolver ao eu do paciente “o domínio sobre regiões 
perdidas de sua vida mental” (1940, p. 188). (Silva; Fontenele, 2013, 
p.14) 
Assim, as defesas que sempre participam das resistências levaram sempre 
o pai da psicanálise a formular novas formas de manejo no tratamento 
psicanalítico, que pudesse contornar as resistências, sem com isso combater as 
defesas, pois elas sempre foram entendidas como parte do funcionamento do 
psiquismo, mesmo que nunca seja manifestado uma patologia. 
NA PRÁTICA 
A título de exemplo, apresento-lhes um breve recorte de um caso clínico 
de um jovem adolescente, cujo nome, fictício, é João. 
João chegou à clínica, por intermédio de sua irmã, pois quando ela entrou 
em contato comigo, disse que ele estava muito depressivo e tinha medo de que 
ele lhe fizera algum dano, pois estava agressivo com a família. 
João é um adolescente de 16 anos, com uma história de abandono pelo 
pai, pois nunca o conheceu. Vive com sua mãe, irmã e cunhado, mas passa boa 
parte do tempo apenas com a irmã, que cuida da casa e do filho pequeno. 
Em sua análise, João fala de seus relacionamentos. A cada sessão vive 
um amor eterno, de uma semana, com uma menina. Desvela-se para o outro de 
uma forma que logo é deixado, pois não deixa nada para o imaginário do outro a 
não ser a nudez do real. Fica triste e decepcionado toda vez que é deixado, mas 
logo empreende uma nova relação e começa tudo de novo… Horas de conversa 
no WhatsApp, vídeos durante o decorrer do dia, noites mal dormidas pensando 
no amor da sua vida, até que ela vai embora. 
Na análise, João fica atento a cada intervenção da analista, parece esperar 
que daí venha o significante que lhe falta, mas o vazio que lhe é devolvido como 
interrogação faz João extrair de si um novo dizer sobre seu próprio ser, fazendo 
com que, diante de sua angústia, se desvele algo que o enlace no seu discurso 
como sujeito… João fica meses sem aparecer, mas, de tempo em tempo, volta 
em busca de uma nova elaboração sobre o seu ser que sempre falta a ser. 
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A questão do abandono do pai nunca surgiu em seu discurso e nunca foi 
associado a nada e talvez nunca apareça, mas algo desse inassimilável está 
sempre presente nas relações de João e isso sim faz diferença para ele. 
FINALIZANDO 
O desamparo infantil é fonte de todos os conflitos psíquicos. Compreender 
esse fundamento psíquico nos ajuda na compreensão sobre o modo de escolhas 
subjetivas. Com base no que estudamos nesta etapa, verificamos que: 
• A constituição do supereu se dá em tempos bem primitivos, pois ele tem 
sua inscrição numa fase arcaica, quando o bebê vivencia a experiência do 
desamparo e, no decorrer da maturação psíquica, vai se identificar com as 
proibições morais e civilizatórias da sociedade, sendo sua primeira 
identificação ao final do complexo de Édipo, cuja lei e interdição dos pais 
são internalizadas; 
• A adolescência é, então, esse conflito psíquico, que reivindica do Outro um 
gozo, do qual ele se dá conta, sem querer saber que é impossível de 
alcançar pois o outro também falta; 
• A agressividade surge como um pedido de ajuda e anseio de lei, que barra 
esse gozo desgovernado, pela falta de referências em nossos tempos; 
• No texto A negativa, Freud (1925) apreende o não do neurótico, como 
forma de termos conhecimento do conteúdo recalcado; 
• Por fim, as defesas no final de análises permanecerão aí, pois é o modo 
como cada sujeito se constitui, portanto não se trata de eliminar as defesas, 
mas ultrapassar as resistências que buscam manter as defesas num estado 
de gozo destrutivo. 
 
 
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