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ANAIS DO 61º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2019 – 61CBC2019 1 ANÁLISE DA INFLUÊNCIA DE TEORES DE SÍLICA ATIVA NO DESEMPENHO DO CONCRETO EM SIMULAÇÃO DA AGRESSIVIDADE MARINHA Analysis of the influence of silica fume contents on concrete performance in marine aggressiveness simulation André Carvalho (1); Luciano Reis (2); Reinan Santos (3) (1) Mestrando em Engenharia de Materiais do Instituto Federal do Maranhão. andre.luiz@acad.ifma.edu.br (2) Doutorando, Mestre, Professor do Instituto Federal do Maranhão. luciano.reis@ifma.edu.br (3) Doutorando, Mestre em Ciência e Engenharia de materiais da Universidade Federal de Sergipe. reinantiago@hotmail.com. Resumo O correto funcionamento das estruturas não decorre somente da resistência aos esforços mecânicos, mas também da influência do meio em que se encontram. Dentre os ambientes naturais, a atmosfera marinha é a que apresenta maior agressividade às estruturas de concreto, devido à simultaneidade de processos físicos e químicos de deterioração. A durabilidade das estruturas vem apresentando melhorias, em virtude do desenvolvimento de componentes adicionados ao concreto, como a sílica ativa, que, inicialmente, recebeu notoriedade do mercado devido ao ganho de resistência proporcionado no estado endurecido. Entretanto, a utilização desse resíduo ainda é uma incógnita, tal como a percentagem a ser adicionada de modo a não comprometer as propriedades da estrutura e a influência do meio ambiente sob o concreto com adição de sílica. Posto isso, a presente pesquisa visa estudar o comportamento do concreto com substituição parcial de cimento por sílica ativa submetido a simulação da agressividade marinha, por meio de ciclos de imersão e secagem em solução de cloreto de sódio. Para tanto, foram moldados corpos de prova cilíndricos e prismáticos (com barras de aço) de concreto com (teores de 4%, 8 e 10%) e sem sílica ativa (somente cimento CP I 40), com relações água/aglomerante de 0.40 e 0.50, analisando-se a resistência à compressão axial e índice de vazios nos exemplares cilíndricos e avaliação do potencial de corrosão das armaduras das amostras prismáticas conforme a ASTM C876–09. Os resultados mostram que o teor de 4% de sílica ativa não promove melhora do desempenho do concreto submetido à agressividade marinha, fato este somente observado nos teores de substituição de 8 e 10%. Palavras-Chave: sílica ativa; agressividade marinha; resistência à compressão; índice de vazios; corrosão. Abstract A proper behavior of the structures is not only due to resistance to mechanical stress, but also to the influence of the environment. Among the natural environments, the sea is the most aggressive to concrete structures because of complex deterioration processes. The structures durability has been improving, due to development of materials added to concrete, such as silica fume, which was noted by market owing to the increase strength in hardened state. However, use of this residue is not totally understand, for example, the content added in order not to compromise the mechanical properties and the influence of environment on blended concrete. Therefore, the aim of the current paper is examine the performance of concrete with silica fume subject to alternate wetting and drying in sodium chloride solution simulating marine aggressiveness. Cylindrical and prismatic (with rebars) specimens with (4%, 8% and 10% replacement of cement) and without (only cement CP I 40) silica fume were prepared by using water/binder ratios of 0.40 and 0.50. The compressive strength and voids tests were done in the cylindrical specimens and the corrosion potential of the prismatic specimens was evaluated according to ASTM C876-09. The results show that the silica fume content of 4% does not lead to performance improvement of concrete subjected to marine aggressiveness, fact only observed in the contents of 8 and 10%. Keywords: silica fume; marine aggressiveness; compressive strength; voids; corrosion potentials. ANAIS DO 61º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2019 – 61CBC2019 2 1 Introdução O concreto convencional é caracterizado pela mistura de agregados graúdos e miúdos unidos por uma pasta aglutinante, tipicamente composta de cimento Portland e água (KOSMATKA, et al., 2011). Entretanto, as evoluções do cálculo estrutural, associadas a uma maior compreensão do comportamento do concreto, possibilitaram aos projetistas a especificação de estruturas cada vez mais arrojadas e complexas. Nesse cenário, o concreto convencional não corresponde aos parâmetros requisitados, sendo necessário o desenvolvimento de misturas especiais, com propriedades superiores aos concretos comuns, em que são utilizados aditivos e adições minerais (TUTIKIAN et al., 2011). Aditivos são materiais adicionados durante a mistura do concreto em quantidade não superior a 5% da massa de cimento, a fim de modificar suas propriedades no estado fresco e/ou endurecido (ABNT, 2015). Dentre os aditivos utilizados, os superplastificantes visam melhorar a consistência, sem aumentar a demanda de água, e elevar as propriedades mecânicas e de durabilidade da mistura (TUTIKIAN et al., 2011). Esses aditivos, ao envolverem os grãos de cimento, fornecem carga altamente negativa, ocasionando repulsão, que resulta em defloculação e dispersão das partículas do cimento, liberando-as para novas reações de hidratação (NEVILLE, 2011). Adições são materiais empregados em conjunto com cimento Portland ou composto, que contribuem para as propriedades do concreto através de atividade hidráulica, pozolânica ou ambas; um material hidráulico reage quimicamente com água para formar compostos cimentícios, enquanto as pozolanas, materiais silicosos ou silicoaluminosos finamente divididos, reagem quimicamente com o hidróxido de cálcio, na presença de umidade, para formar compostos com propriedades aglomerantes (KOSMATKA, et al., 2011). A sílica presente nos materiais pozolânicos deve ser amorfa, pois a estrutura cristalina apresenta baixa reatividade e, portanto, pozolanas naturais, cinza volante, cinzas de casca de arroz, metacaulim e sílica ativa correspondem a essa categoria (NEVILLE, 2011). A sílica ativa é um resíduo da produção do silício e de ligas de ferrosilício em fornos a arco elétrico, em que são imersos quartzo, carvão e pedaços de madeira, sendo gerados arcos elétricos a temperaturas próximas de 2000ºC (SILICA FUME ASSOCIATION, 2005). Neste processo, é produzido um gás denominado óxido de silício (SiO), que, ao se deslocar para regiões mais altas do forno, resfria, formando dióxido de silício (SiO2) em estado amorfo, coletado em filtros para remoção de impurezas (KOSMATKA, et al., 2011). A sílica ativa quando adicionada ao concreto, beneficia o sistema através de dois modos essenciais: do aumento da resistência mecânica, através da interação com o hidróxido de cálcio do cimento, e do aumento da compacidade devido a diminuição da porosidade, conhecido como efeito microfíler (SILICA FUME ASSOCIATION, 2005). O hidróxido de cálcio, ou Ca(OH)2, é o produto da reação entre o silicato tricálcico (C3S) ou bicálcico (C2S), existente no clínquer, e a água de amassamento (NEVILLE, 2011). O hidróxido de cálcio é encontrado excessivamente ao redor dos agregados, originando a zona de transição, considerada o elo fraco do conjunto devido a orientação perpendicular do hidróxido de cálcio em relação ao agregado, que cria planos preferenciais de ruptura (MEHTA e MONTEIRO, 2008). Durante a hidratação, as partículas de sílica ativa reagem com o hidróxido de cálcio, transformando-o em silicato de cálcio hidratado (C-S-H), composto responsável pela resistência dos concretos (TUTIKIAN et al., 2011). ANAIS DO 61º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2019 – 61CBC2019 3 A ocorrência da sílica ativa como microesferas, com diâmetro aproximado de 0.50μm, permite o preenchimento dos vazios entreos grãos do cimento, que possuem diâmetro médio de 45μm, agindo, desse modo, como material de preenchimento, fenômeno conhecido como efeito microfíler (SILICA FUME ASSOCIATION, 2005). A sílica ativa é normalmente utilizada em teores que variam entre 5 e 10% da massa do material cimentício total para confecção de concretos de alta resistência, conforme relatado por KOSMATKA, et al. (2011) e NEVILLE (2011) ou entre 4 e 15% de acordo com a SILICA FUME ASSOCIATION (2005). Embora a sílica ativa seja normalmente incorporada na mistura no dosador, em alguns países são comercializados cimentos compostos com teores de sílica que variam de 6.5 a 8%. Além da utilização da sílica ativa com a finalidade de produzir concretos de alta resistência, sua aplicação advém ainda da baixa permeabilidade do conjunto, comumente associada a durabilidade, pois o ingresso de substâncias químicas agressivas no concreto e danos a armadura é postergado (NEVILLE, 2011). O desempenho das estruturas de concreto não se limita somente a resistência mecânica; compreende também a trabalhabilidade, a estética, o acabamento, a integridade, e, principalmente, a durabilidade (TUTIKIAN et al., 2011). A durabilidade é definida como a capacidade que a estrutura possui em resistir às influências ambientais previstas e definidas no início da elaboração do projeto (ABNT, 2014). As influências ambientais, ou agressividade ambiental, são as ações físicas e químicas que agem sobre as estruturas, independentemente das ações previstas no dimensionamento (ABNT, 2014). As estruturas inseridas em ambientes marinhos estão expostas a diversos mecanismos químicos e físicos de deterioração, tornando-se um meio de alta complexidade para os estudos de durabilidade. Mesmo aquelas que não estão em contato direto com o meio marinho estão submetidas a sua agressividade (MEHTA e MONTEIRO, 2008). O ataque químico da água marinha no concreto surge do fato do alto número de sais dissolvidos, cerca de 3.5%, ou seja, 35g/l, sendo as principais concentrações iônicas de Na+ e Cl- (MEHTA e MONTEIRO, 2008). A penetração dos íons cloreto no concreto, ao alcançar a armadura na presença de água e oxigênio, causa a destruição da película passivadora, iniciando o processo de corrosão (NEVILLE, 2011). Os ataques físicos podem se manifestar através da cristalização de sais nos poros, devido a ciclos de molhagem e secagem, ou de processos erosivos (MEHTA e MONTEIRO, 2008). O ambiente marinho é caracterizado como nível III ou IV de agressividade, sendo a primeira no caso da estrutura parcialmente submersa e, a segunda, quando sujeita a respingos de maré (ABNT, 2014). É recomendada a utilização de fatores água/cimento inferiores a 0.55 e 0.45 para os níveis III e IV, respectivamente (ABNT, 2015). 2 Programa experimental 2.1 Caracterização do material 2.1.1 Aglomerante O cimento exigido para a pesquisa não deveria possuir outras adições em sua composição, devido a possibilidade de alteração dos resultados da adição da sílica ativa. Atendendo a este requisito, deu-se preferência a utilização do cimento tipo CP I 40 (cimento Portland comum), cuja caracterização é apresentada na Tabela 1. ANAIS DO 61º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2019 – 61CBC2019 4 Tabela 1 – Resultado de ensaio de caracterização do Cimento Portland CP I 40. Ensaio Resultado Método de ensaio Massa específica (g/cm³) 3.06 NBR 16605:2017 2.1.2 Agregado miúdo O agregado miúdo (areia) utilizado para a produção do concreto foi obtido no comércio local. Suas propriedades físicas são apresentadas na Tabela 2. Tabela 2 – Resultados de ensaios de caracterização do agregado miúdo. Ensaio Resultado Método de Ensaio Módulo de finura 1.40 NBR NM 248:2003 Massa específica (g/cm³) 2.66 NBR NM 52:2009 2.1.3 Agregado graúdo O agregado graúdo (pedra britada) utilizado para a produção do concreto foi obtido no comércio local. Suas propriedades físicas são apresentadas na Tabela 3. Tabela 3 – Resultados de ensaios de caracterização do agregado graúdo. Ensaio Resultado Método de Ensaio Dimensão máxima característica (mm) 19.0 NBR NM 248:2003 Massa específica (g/cm³) 2.81 NBR NM 53:2009 Massa unitária no estado compactado (kg/m³) 1650.0 NBR NM 45:2006 2.1.4 Sílica ativa A adição mineral (sílica ativa não densificada) foi doada por uma empresa de concretagem localizada em São Luís. As características físicas e químicas fornecidas pelo fabricante são apresentadas na Tabela 4. Tabela 4 – Resultados de caracterização física e química da sílica ativa. Parâmetros físicos Parâmetros químicos Densidade (g/cm³) 2.22 Equivalente alcalino, em Na2O (%) 0.7 Perda ao fogo (%) 3,7 pH 7.9 SiO2 (%) 93.0 Na2O (%) 0.2 Umidade (%) 0.1 Fe2O3 (%) 0.5 CaO (%) 0.5 Retido 45mm (#325) (%) 3.7 MgO (%) 0.4 Al2O3 (%) 0.2 K2O (%) 0.9 Fonte: Dow Corning Silício do Brasil, 2016. 2.1.5 Aditivo plastificante O aditivo utilizado foi o polifuncional redutor de água Polykem™ 805, que melhora a trabalhabilidade do concreto. Esse aditivo se fez necessário nas misturas com adição de sílica ativa, visto que essa aumenta o consumo de água devido a finura das partículas. ANAIS DO 61º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2019 – 61CBC2019 5 2.1.6 Barras de aço As barras de aço utilizadas para o ensaio de potencial de corrosão foram do tipo CA 50, com 10mm de diâmetro e 10cm de comprimento. Para padronização inicial e, consequentemente, redução da variabilidade dos resultados, a armadura passou por um processo de limpeza química e mecânica, baseado na ASTM G1:2011. Inicialmente, imersão das barras em solução de ácido clorídrico e água destilada em proporção de 1:1, acrescido de 3.5 g/l (de solução) de hexametilenotetramina, durante 10 minutos. Em seguida, efetuou-se lavagem individual em água corrente com escova de cerdas plásticas e, por fim, secagem com papel toalha. Após o procedimento, os espécimes foram mantidos em estufa até o momento da moldagem. Na Figura 1 é mostrada as etapas de imersão e lavagem das barras de aço, enquanto na Figura 2 possível ver uma comparação entre duas amostras no estado inicial (superior) e após os processos descritos anteriormente (inferior). Figura 1 – Imersão em solução de HCl, água destilada e C6H12N4; lavagem em água corrente. Figura 2 – Comparação visual entre as barras antes e após as etapas de limpeza química/mecânica. ANAIS DO 61º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2019 – 61CBC2019 6 2.2 Propriedades estudadas Para melhor compreensão do programa experimental, detalhou-se na Tabela 5 as propriedades estudadas, assim como a quantidade de amostras, idades e normas utilizadas. Tabela 5 - Ensaios e métodos utilizados. Ensaios Informações Metodologia Caracterização mecânica Resistência à compressão 03 amostras para cada idade de cada grupo Idades: 07, 28, 49 e 56 dias NBR 5739:2007 Caracterização física Índice de vazios 02 amostras para cada grupo Idade: 28 dias NBR 9778:2005 Caracterização eletroquímica Potencial de corrosão 02 amostras para cada grupo Idade: 56 dias ASTM C876-09 2.3 Definição do programa experimental O programa experimental foi planejado de forma a verificar a influência da substituição de sílica ativa em relação a massa de cimento em uma simulação da agressividade marinha. Três teores de substituição foram selecionados, 4%, 8% e 10%. Além destes, corpos de prova contendo apenas cimento Portland foram moldados para fins de referência. Os teores estabelecidos se encontram próximos ou dentro do intervalo que apresenta resultados mais significativos em relação a ganhos de resistência e durabilidade. Os fatores água/aglomerante, de 0.40 e 0.50, foram baseados nas recomendações da NBR 6118:2014 de utilização de fatores de, no máximo, 0.45 para concretos sob agressividade marinha. Desse modo, o fator 0.40 está dentro do valor sugerido. O fator 0.50 se dá pela tentativade uso de um valor acima do recomendado, reduzindo o consumo de cimento para verificar o seu potencial de aplicação com sílica ativa. Nesta etapa foram definidas ainda as dimensões dos corpos de prova a serem utilizados. Para os cilíndricos, optou-se pela utilização de moldes de 10cm de diâmetro e 20cm de altura; para os prismáticos, moldes com dimensões de 15x15x10cm, em que internamente são dispostas quatro barras de aço, com cobrimentos de 25mm, 30mm, 40mm e 50mm com 2cm expostos do corpo de prova. 2.4 Dosagem Para definição do traço, foi utilizado o método de dosagem da ABCP/ACI, por se tratar de um método racional, fundamentado nas propriedades físicas dos constituintes do concreto. Nesse procedimento, um traço base foi determinado, no qual o cimento foi substituído nos teores citados anteriormente, tendo slump fixado em 80±10mm. Para os grupos em que o abatimento inicial observado estava fora do intervalo definido, houve a necessidade de utilização do aditivo. A Tabela 6 apresenta os traços bases encontrados para cada relação a/c, enquanto a Tabela 7 apresenta o resultado dos abatimentos. Tabela 6 – Traço unitário base do concreto. Relação a/c Traço unitário base (em massa) 0.40 1.00:0.95:2.44 0.50 1.00:1.40:3.05 ANAIS DO 61º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2019 – 61CBC2019 7 Tabela 7 – Resultados dos slump tests. Grupo Teor de sílica (%) Relação a/ag Teor de aditivo (%)* Abatimento (mm) I 0 0.40 0.20 80 II 4 0.25 90 III 8 0.70 80 IV 10 0.75 80 V 0 0.50 – 120 VI 4 – 100 VII 8 – 80 VIII 10 – 70 *Em função da massa do aglomerante 2.5 Métodos de ensaio 2.5.1 Resistência à compressão axial O procedimento para determinação da resistência à compressão axial simples foi auxiliado pela NBR 5739:2015 “Concreto - Ensaios de compressão de corpos-de-prova cilíndricos”. Os corpos de prova cilíndricos foram submetidos ao ensaio nas idades de 07 e 28 dias. Os corpos de prova submetidos à simulação da agressividade marinha também foram rompidos, nas idades de 49 e 56 dias. 2.5.2 Índice de vazios O processo utilizado de determinação do índice de vazios dos corpos de prova foi assistido pela NBR 9778:2005 “Argamassa e concreto endurecidos - Determinação da absorção de água, índice de vazios e massa específica”. Após os 28 dias em cura saturada, são determinadas a massa seca após 72h em secagem em estufa, ms, e massas saturada e aparente imersa, msat e mi, respectivamente, após 72h em imersão em água. O valor adotado é a média de duas determinações, sendo cada uma destas calculada pela fórmula: (Equação 1) 2.5.3 Potencial de corrosão A metodologia adotada para avaliação de uma provável deterioração das barras de aço foi o potencial de corrosão. Para tanto, foram seguidas as orientações da norma ASTM C876-09 “Standard test method for corrosion potentials of uncoated reinforcing steel in Concrete”. O aparato requerido é composto por uma meia célula de cobre/sulfato de cobre, dispositivo de junção elétrica, solução de contato elétrico, voltímetro e fios condutores elétricos. O eletrodo de referência de cobre/sulfato de cobre confeccionado, consiste em um tubo PVC no qual seu interior é formado por uma haste de cobre imersa em solução aquosa saturada de sulfato de cobre, com pequenos furos na extremidade inferior para proporcionar a continuidade elétrica do eletrodo de referência com o eletrodo de trabalho (barra de aço do concreto). Ao conectar os eletrodos, surge um fluxo de elétrons da armadura em direção ao eletrodo de referência, passando pelo voltímetro, indicando uma ANAIS DO 61º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2019 – 61CBC2019 8 diferença de potencial. O valor obtido apenas é válido caso se apresente em uma faixa de ±0.02V por, no mínimo, cinco minutos. Caso haja variação, a amostra de concreto deve ser umedecida até que haja estabilização. O ensaio de potencial de corrosão foi realizado nos corpos de prova prismáticos, em duas amostras para a idade de 56 dias. Na Figura 3 são mostrados os equipamentos utilizados para o ensaio. Na Tabela 8 é mostrada a interpretação dos resultados. Figura 3 – Materiais utilizados para realização do ensaio de potencial de corrosão. Tabela 8 – Interpretação dos resultados do potencial de corrosão para eletrodo cobre-sulfato de cobre. Valor Interpretação Mais positivo que -0.20V Baixa probabilidade de corrosão (≤ 10%) No intervalo de -0.20 a -0.35V Corrosão incerta. Mais negativo que -0.35V Alta probabilidade de corrosão (≥ 90%) Fonte: Adaptado de American Society for Testing and Materials, 2011. 2.6 Simulação da agressividade marinha A reprodução da agressividade do ambiente marinho, em especial, a zona de variação e respingos de maré, fora realizada por ciclos de imersão e secagem dos corpos de prova. Após o período de cura saturada de 28 dias, os espécimes foram expostos a umidade ambiente por quatro dias e, posteriormente, imersos em solução de 5% de cloreto de sódio por três dias, constituindo assim, um ciclo de sete dias. O tempo total de simulação foi de 28 dias, totalizando quatro ciclos de sete dias. A metodologia e concentração de NaCl utilizadas foram baseadas em estudos anteriores (LIMA, 2017; SANTOS, 2016). 3 Resultados 3.1 Resistência à compressão axial simples Os resultados do ensaio de resistência à compressão axial simples são apresentados nos gráficos das Figuras 4 e 5 para as relações água/aglomerante de 0.40 e 0.50, respectivamente. Conforme recomendações da NBR 12655:2015, tomou-se como resistência do exemplar o maior dos valores obtidos no ensaio de resistência à compressão. ANAIS DO 61º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2019 – 61CBC2019 9 40 45 50 55 60 65 70 75 80 0 7 14 21 28 35 42 49 56 R e s is tê n c ia à c o m p re s s ã o a x ia l (M P a ) Idade (dias) 0% 4% 8% 10% Figura 4 – Resistência à compressão axial simples dos corpos de prova com relação a/ag 0.40. 30 35 40 45 50 55 60 0 7 14 21 28 35 42 49 56R e s is tê n c ia à c o m p re s s ã o a x ia l (M P a ) Idade (dias) 0% 4% 8% 10% Figura 5 – Resistência à compressão axial simples dos corpos de prova com relação a/ag 0.50. A análise do período de cura saturada, correspondente às idades de 07 e 28 dias, revela que o uso da sílica ativa, bem como a relação água/aglomerante, possui grande influência na resistência à compressão. Nos grupos com relação a/ag 0.40, aos 07 dias, o maior ganho de resistência foi observado nas amostras com adição, fato também observado aos 28 dias. Os teores de 8 e 10% apresentaram os melhores resultados, como esperado, devido à ação pozolânica e ao efeito microfíler, juntamente com a ação defloculadora do ANAIS DO 61º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2019 – 61CBC2019 10 aditivo nas partículas de cimento. O teor de 4% também apresentou resultados bastantes significativos em relação ao concreto referência. Para a relação a/ag de 0.50, no mesmo período, aos 07 dias, todos os corpos de prova com sílica ativa apresentaram resistência à compressão superior em relação ao concreto de referência. No entanto, aos 28 dias, contrariamente ao esperado, o grupo com teor de 4% apresentou melhores resultados em comparação aos demais. A ausência do aditivo plastificante explica esse fato. NEVILLE (2011) cita que as propriedades mecânicas do concreto podem ser melhoradas reduzindo a relação água/cimento; no entanto, essa possui um valor limite para que ocorram as reações de hidratação. Assim, quanto maior o teor de sílica utilizado acima de 4%, menor a resistência alcançada aos 28 dias devido à indisponibilidade de água para as reações de hidratação em consequência da não utilização do aditivo redutor de água. A segunda análise é pertinente ao período de simulação da agressividade marinha, correspondente aos 49 e 56 dias. O concreto referência, em ambas relações a/ag, apresentou ganho deresistência contínua nas duas idades testadas. Nos grupos com teor de 4%, para as duas relações a/ag e idades, houve decréscimo na resistência, fato este esperado, dado que o uso de sílica ativa entre 5 e 12% é efetivo na redução da penetração de cloretos (SUGAMOSTO, 2007) e, consequentemente, no ataque pela cristalização do sal. Para o teor de 8%, com relação 0.40, houve uma pequena queda na resistência aos 49 dias, praticamente insignificante estatisticamente, e aumento aos 56 dias, como esperado. Entretanto, para esse mesmo fator a/ag com teor de sílica de 10%, houve diminuição da resistência nas duas idades testadas, o que pode ser explicado por falhas no capeamento ou no processo de ruptura, que ocorre muito rapidamente. O processo não pôde ser refeito devido ao cronograma de pesquisa. Por outro lado, os resultados observados nos teores de 8 e 10% com o fator a/ag 0.50 mostram ganho de resistência, como esperado. 3.2 Índice de vazios Os resultados do ensaio de determinação do índice de vazios dos corpos de prova cilíndricos são apresentados na Tabela 9. Conforme recomendações da NBR 9778:2005, tomou-se como resultado final, a média dos valores obtidos. Tabela 9 – Resultados do índice de vazios aos 28 dias. Os resultados apresentados são semelhantes para as duas famílias de concreto. Para os teores de 8 e 10% de sílica, o índice de vazios diminui em relação ao concreto referência. Esse resultado é uma consequência da presença da sílica ativa que, devido às dimensões Relação a/ag Teor de sílica ativa Índice de vazios médio (%) 0,40 0% 10,20 4% 12,78 8% 9,31 10% 9,63 0,50 0% 11,62 4% 13,23 8% 11,36 10% 11,53 ANAIS DO 61º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2019 – 61CBC2019 11 microscópicas de suas partículas, preenche os vazios não alcançados pelos demais componentes do concreto. Entretanto o mesmo não é observado para o teor de 4%, em ambas relações a/ag. Isso ocorre porque uma quantidade de sílica inferior a 5% sob a massa do material cimentício não é adequada para cobrir toda a superfície dos agregados graúdos (NEVILLE, 2011). Acredita-se que o aumento da resistência tenha sido ocasionado pelas reações pozolânicas, explicando ainda a queda de resistência nos corpos de prova submetidos a simulação da agressividade marinha. 3.3 Potencial de corrosão Os resultados do ensaio de potencial de corrosão dos corpos de prova prismáticos são apresentados na Tabela 10. Tabela 10 – Resultados do ensaio de potencial de corrosão. Teor de sílica ativa (%) Cobrimento (mm) Relação a/ag 0.40 Relação a/ag 0.50 Potencial (-V) Potencial (-V) 0 25 0.22 0.24 0.23 0.25 30 0.27 0.23 0.22 0.21 40 0.29 0.22 0.22 0.21 50 0.20 0.19 0.21 0.20 4 25 0.21 0.22 0.33 0.35 30 0.25 0.23 0.23 0.25 40 0.23 0.23 0.24 0.25 50 0.22 0.24 0.21 0.22 8 25 0.16 0.18 0.15 0.13 30 0.18 0.18 0.13 0.19 40 0.15 0.17 0.13 0.13 50 0.15 0.16 0.13 0.12 10 25 0.19 0.19 0.12 0.13 30 0.18 0.18 0.12 0.14 40 0.17 0.16 0.13 0.13 50 0.16 0.16 0.12 0.12 A análise dos resultados mostra que teores de 8 e 10%, independente do cobrimento e da relação a/ag, apresentaram baixo risco de corrosão (leituras mais positivas que -0.20V). Entretanto, a análise das amostras do concreto referência e com teor de sílica de 4%, em ambas relações a/ag, com exceção do cobrimento de 5cm, apresentaram leituras incertas, podendo ou não haver corrosão naquele momento e naquela região estudada. Os resultados obtidos neste procedimento vão ao encontro do ensaio do índice de vazios, dado que os grupos com maiores resultados de porosidade, ou seja, o concreto referência e com teor de sílica ativa de 4%, apresentaram resultados inferiores em comparação aos demais. 4 Conclusão A análise dos resultados obtidos mostra que, nas idades iniciais, em ambiente propício, todos os teores de sílica ativa, independente da relação água/aglomerante, proporcionaram maiores resistências às amostras de concreto em relação ao concreto referência. Esta situação decorre das reações pozolânicas entre a sílica ativa e o ANAIS DO 61º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2019 – 61CBC2019 12 hidróxido de cálcio, reduzindo a zona de transição. Aliado a esse fato, há o efeito microfíler, um refinamento dos poros devido às dimensões microscópicas das partículas do resíduo industrial. Ressalta-se ainda a maior eficácia da utilização da sílica ativa em conjunto com aditivos redutores de água, devido a sua ação defloculante sobre as partículas de cimento. Entretanto, a exposição à simulação da agressividade marinha mostrou que a simples utilização da sílica ativa no concreto não beneficia seu desempenho neste ambiente, sendo necessária a utilização de teores mínimos. Nesta pesquisa, os teores de sílica ativa que apresentaram melhor eficácia no ambiente marinho simulado foram de 8 e 10%, para a relação a/ag de 0.50 e 8% para relação a/ag de 0.40, sendo observados resultados fora do esperado para o teor de substituição de 10% na última relação. Além disso, a porosidade foi dada como um fator essencial para o desempenho do concreto, dado que as maiores quedas de resistência ocorreram nas amostras mais porosas. A porosidade também influenciou de maneira significativa nos ensaios de potencial de corrosão, posto que os concretos com menores índices de porosidade de cada relação água/aglomerante apresentaram os melhores resultados de probabilidade de corrosão. 5 Referências AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS. ASTM G1-03: Standard practice for preparing, cleaning and evaluating corrosion test specimens. In: Annual Book of ASTM Standards. Philadelphia, 2011. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5739: Concreto - Ensaios de compressão de corpos-de-prova cilíndricos. Rio de Janeiro: ABNT, 2007. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6118: Projeto de estruturas de concreto — Procedimento. Rio de Janeiro: ABNT, 2014. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9778: Argamassa e concreto endurecidos - Determinação da absorção de água, índice de vazios e massa específica. Rio de Janeiro: ABNT, 2005. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. 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