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UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO – UCDB CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL ALESSANDRA COSTA GRAU MARIA DANIELE SANTOS BARBOSA CONCRETO AUTOCICATRIZANTE COM ESCÓRIA DE ALTO FORNO E ADITIVO POR CATALISADOR CRISTALINO Campo Grande – MS 2020 UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO – UCDB CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL Título do Trabalho: CONCRETO AUTOCICATRIZANTE COM ESCÓRIA DE ALTO FORNO E ADITIVO POR CATALISADOR CRISTALINO Autores: ALESSANDRA COSTA GRAU MARIA DANIELE SANTOS BARBOSA Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como exigência para a obtenção do grau de Bacharel em Engenharia Civil pela Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), sob a orientação do(a) Prof.(a). Dr.(a). Mariel Guerreiro da Fonseca Martins. Banca examinadora: Prof. Esp. Rutênio Cesar Cristaldo Engenheiro Civil Prof. Me. Willian De Araújo Rosa UCDB Profa. Me. Mariel Guerreiro Da Fonseca Martins Orientadora Campo Grande – MS 2020 AGRADECIMENTOS Agradecemos primeiramente a Deus por ter nos mantido na trilha certa durante este projeto de pesquisa com saúde e forças para chegar até o final, nos dando clareza e discernimento. Um agradecimento muito especial aos nossos pais e a todos os familiares que nos apoiaram durante toda a nossa caminhada, trazendo conforto e amparo nos momentos difíceis, sempre compreendendo a nossa ausência enquanto nos dedicávamos à realização deste trabalho. Por nunca terem medido esforços para nos proporcionar um ensino de qualidade durante todo o nosso período acadêmico. Aos nossos irmãos, pelo companheirismo, pela cumplicidade e pelo apoio em todos os momentos delicados da nossa vida. À nossa orientadora Mariel e professores que nos auxiliaram no desenvolvimento deste trabalho e dispuseram do seu escasso tempo para nos atender sempre que precisávamos. Que conduziu o trabalho com paciência e dedicação, sempre disponível a compartilhar todo o seu vasto conhecimento. À Universidade Católica Dom Bosco e a todos os professores do curso pela elevada qualidade do ensino oferecido. Agradecemos as pessoas que de algum modo nos ajudaram nesse processo, à técnica de laboratório de materiais Victória Araújo por auxiliar e sempre estar presente, à Professora Mestre Elisângela de Fátima Arruda Pereira, por ter disposto de seu tempo e colaboração no laboratório de Bio Saúde para a utilização do microscópio. Também um agradecimento à Professora Dra. Alexandra Sanae Maeda e ao técnico Demiciano Arce pela ajuda e paciência para nos orientar na utilização das lupas binoculares no Laboratório de Solos e Nutrição de Plantas localizado na Fazenda Escola da Universidade Católica Dom Bosco. Aos amigos, que sempre estiveram ao nosso lado, pela amizade incondicional e pelo apoio demonstrado ao longo de todo o período de tempo em que dedicamos a este trabalho. E também, a fabricante PENETRON que nos ofereceu uma amostra do ativo catalizador cristalino gratuitamente para que pudéssemos desenvolver o concreto autocicatrizante, enviando também alguns artigos de grande utilidade, o que foi de suma importância para esta pesquisa. RESUMO O concreto é um material de suma importância na construção civil, devido a isso vários estudos e pesquisas são feitos periodicamente com a intenção de melhorar suas propriedades físicas e mecânicas, a fim de obter um material mais resistente e com maior vida útil. Dentre esses estudos, um deles é sobre um concreto capaz de regenerar suas fissuras com abertura de até 0,5 mm, utilizando como componente principal o aditivo catalizador cristalino e fibras de vidro. Para verificar as propriedades desse novo conceito de concreto e atestar sua autocicatrização, foi desenvolvido em laboratório corpos de prova contendo o referido concreto e o concreto convencional para que comparações, quanto à resistência a compressão e absorção de água, pudessem ser feitas entre ambos os concretos. A dosagem da mistura foi feita a partir dos ensaios de granulometria dos agregados, o qual proporcionou dados para o cálculo do traço. Os dois tipos de concreto foram submetidos ao teste de resistência a compressão e aos 28 dias, não houve ganho de resistência considerável comparado ao concreto convencional também executado. Com o teste de absorção de água, os resultados mostraram que, o concreto autocicatrizante apresentou melhor comportamento, possuindo menor permeabilidade. Desta forma, é possível afirmar que o concreto em estudo proporciona uma redução de permeabilidade, aumentando a durabilidade e a vida útil do material. Palavras-chave: Concreto; Autocicatrização; Aditivo; Absorção de água; ABSTRACT Concrete is a material of great importance in civil construction, due to this several studies and researches are made periodically with the intention of improving its physical and mechanical properties in order to obtain a more resistant material with a longer useful life. Among these studies, one of them is about a concrete capable of regenerating its cracks with an opening of up to 0.5 mm, using as main component the crystalline catalyst additive and glass fibers. In order to verify the properties of this new concrete concept and to attest its self-healing, specimens containing this concrete and conventional concrete were developed in a laboratory so that comparisons could be made between both concrete. in terms of resistance to compression and water absorption. The mixture was dosed from the aggregate granulometry tests, which provided us with data for the calculation of the trace. The two types of concrete were submitted to the compression resistance test and at 28 days, there was no considerable resistance gain compared to conventional concrete also executed. With the water absorption test, the results showed that the self-healing concrete presented a better behavior, having less permeability. Thus, it is possible to affirm that the concrete under study provides a reduction in permeability, increasing the durability and useful life of the material. Key-words: Concrete; Self healing; Additive; Water absorption; LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 – Laje de subpressão finalizada.................................................................17 FIGURA 2 – Cobertura do Museu de Arte...................................................................18 FIGURA 3 – Laje de subpressão do Edifício Pontal do Estaleiro.................................18 FIGURA 4 – Imagem do domo “Opus Caementicium” do Panteão de Roma..............19 FIGURA 5 – Cicatrização autônoma baseada em cápsulas ou nos sistemas vasculares com agentes cicatrizantes bicomponentes...............................................23 FIGURA 6 – Efeitos de auto cicatrização (a) fissura antes e (b) após, a exposição à água, ampliação 1000x...............................................................................................24 FIGURA 7 – Gráfico de custo e desempenho em função do tempo para infra-estrutura de alta qualidade (curvas B) normal (curvas A) ..........................................................26 FIGURA 8 – Desempenho e custo em função do tempo para estruturas construídas com material autocicatrizante.....................................................................................27 FIGURA 9 – Abordagens de cicatrização autógenas. (A) restrição da abertura de fissura, (B) o fornecimento de água, e (C) hidratação contínua e a cristalização.........31 FIGURA 10 – Diferentes causas que podem levar à colmatação natural de uma fissura.........................................................................................................................31 FIGURA 11 – Micrografiasda pasta carbonatada com escória de alto-forno altamente porosa (esquerda) e da microestrutura mais densa incorporando monofluorofosfato de sódio (direita)..............................................................................................................33 FIGURA 12 – Fissuramento intenso visto pelo lado inferior do pavimento em concreto com aberturas entre 0,1 a 0,2 mm...............................................................................35 FIGURA 13 – Micrografias de cristais nas fissuras tratadas com o catalisador cristalino (A) e apenas a parede do gel nas amostras não tratadas (B)......................................37 FIGURA 14 – Gráfico para determinação da relação água/cimento (a/c) em função das resistências do concreto e do cimento aos 28 dias de idade.................................40 FIGURA 15 – Estimativa do consumo de água por metro cúbico de concreto em função do Diâmetro Máximo Característico do Agregado e do abatimento da mistura........................................................................................................................41 FIGURA 16 – Volume compactado seco (Vpc) de agregado graúdo por metro cúbico de concreto.................................................................................................................42 FIGURA 17 – Proporções entre britas que possibilitam o menor volume de vazios inter- grãos...........................................................................................................................43 FIGURA 18 – Cimento Portland CPIII 40 RS...............................................................45 FIGURA 19 – Peneiras para a realização do ensaio...................................................46 FIGURA 20 – Ensaio da massa específica com o frasco de Chapman.....................48 FIGURA 21 – Pesagem do material retido na peneira.................................................49 FIGURA 22 – Aditivo superplastificante......................................................................50 FIGURA 23 – Aditivo Cristalizante..............................................................................51 FIGURA 24 – Fibra de vidro........................................................................................51 FIGURA 25 – Aditivos superplastificante e cristalizante e a fibra de vidro...................52 FIGURA 26 – Concreto sendo misturado na betoneira...............................................53 FIGURA 27 – Confecção dos corpos de prova............................................................53 FIGURA 28 – Molde metálico tronco-cônico, complemento de enchimento e placa metálica......................................................................................................................54 FIGURA 29 – Abatimento do tronco de cone..............................................................55 FIGURA 30 – Corpos de prova imersos na água saturada com cal para realização da cura.............................................................................................................................56 FIGURA 31 – Rompimento do corpo de prova............................................................57 FIGURA 32 – Estufa para a secagem dos corpos de prova.........................................58 FIGURA 33 – (a) Pesagem da amostra seca, (b) Pesagem da amostra saturada.......58 FIGURA 34 – a) Microscópio ótico, b) Microscópio eletrônico...................................59 FIGURA 35 – Análise granulométrica do agregado miúdo..........................................61 FIGURA 36 – Análise granulométrica do agregado miúdo..........................................64 FIGURA 37 – Gráfico comparando as resistências dos concretos..............................69 FIGURA 38 – Comparativo dos percentuais de ganho por idade do concreto.............70 FIGURA 39 - Índices de absorção de água dos tipos de concreto nos intervalos de 24, 48 e 72 horas..............................................................................................................75 FIGURA 40 - Índices de absorção de água dos tipos de concreto...............................76 FIGURA 41 – Superfície da amostra do Concreto autocicatrizante.............................77 FIGURA 42 – Superfície da amostra do Concreto Convencional................................78 LISTA DE GRÁFICO GRÁFICO 1 – A tendência à diminuição do volume de água passante das amostras tratadas evidencia a sua capacidade de auto cicatrização........................................36 LISTA DE TABELAS TABELA 1- Visão geral dos mecanismos que podem dispara a auto cicatrização de fissuras.......................................................................................................................28 TABELA 2- Visão geral dos agentes cicatrizantes que têm sido relatados na literatura......................................................................................................................29 TABELA 3 - Comparativo dos estudos de Sahmaran et al..........................................38 TABELA 4- Granulometria da Areia............................................................................60 TABELA 5 - Demonstração dos resultados provenientes do ensaio...........................61 TABELA 6 - Resultados do ensaio de massa específica............................................62 TABELA 7 - Granulometria do agregado graúdo........................................................63 TABELA 8 - Resultados da massa unitária do agregado graúdo................................64 TABELA 9- Resultados do ensaio de massa específica.............................................65 TABELA 10 - Resultado do quantitativo de uso do aditivo..........................................67 TABELA 11- Resultados do abatimento do concreto..................................................68 TABELA 12 - Demonstrativo dos valores obtidos no ensaio de compressão..............68 TABELA 13 - Porcentagem de Aumento das resistências..........................................69 TABELA 14 - Resultados apenas de 28 dias do concreto...........................................70 TABELA 15- Demonstrativo dos valores de massa da amostra do concreto autocicatrizante..........................................................................................................72 Tabela 16- Demonstrativo dos valores de massa da amostra do concreto convencional...............................................................................................................73 Tabela 17- Resultados do ensaio de absorção de água no concreto autocicatrizante em porcentagem.........................................................................................................74 Tabela 18 - Resultados do ensaio de absorção de água no concreto convencional em porcentagem...............................................................................................................74 Tabela 19 - Resultados do ensaio de absorção de água no concreto.......................76 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS a/c ABCP ABNT Fator água/cimento Associação Brasileira de Cimento Portland Associação Brasileira de Normas Técnicas CCE Compósitos cimentícios engenheirados CE CP CP III Condição de exposição Corpo de prova Cimento Portland de alto-forno EUA ITA Kg Estados Unidos Instituto Tecnológico da Aeronáutica Quilograma (10³ g) MF MPa NBR NBR NM RILEM Módulo de finura Mega Pascal (106 Pa) Norma Brasileira Registrada Norma MERCOSUL Réunion Internationale des Laboratoires et Experts des Matériaux (União Internacional dos Laboratórios e Especialistas em materiais) SUMÁRIO 1- INTRODUÇÃO .................................................................................................. 122- OBJETIVOS ..................................................................................................... 15 2.1 Objetivo Geral ................................................................................. 15 2.2 Objetivos Específicos ...................................................................... 15 3- REVISÃO DA LITERATURA ............................................................................ 17 3.1- História ........................................................................................... 17 3.2- Viabilidade econômico do Concreto Auto cicatrizante ............. 25 3.3- Diferentes tipos de mecanismos de gatilho da cicatrização ..... 27 3.4- Autocicatrização autógena do concreto ..................................... 30 3.4.1- Colmatação natural do concreto .................................................... 31 3.4.2- Cimentos com escória de alto forno como agentes cicatrizantes 32 3.4.3- Restrição por fibras como agente cicatrizante ............................. 33 3.4.4- Exposição à água como agente cicatrizante ................................ 33 3.5- Mecanismos da cicatrização autógena ....................................... 34 3.5-1. Mecanismo de cicatrização por hidratação contínua ................... 34 3.5-2. Estudo do catalisador cristalino em concretos auto cicatrizantes 35 3.5-3. Estudo das adições minerais nos concretos auto cicatrizantes ... 37 4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ................ Erro! Indicador não definido. 4.1- Fabricação dos corpos de prova ................................................. 39 4.2- Caracterizações do Cimento ........................................................ 44 4.2.1- Tipo de Cimento ............................................................................. 44 4.3- Caracterizações do Agregado Miúdo .......................................... 45 4.3.1- Granulometria ................................................................................ 45 4.3.2 - Massa Unitária .............................................................................. 46 4.3.3- Finura ............................................................................................. 47 4.3.4- Massa Específica ........................................................................... 47 4.4- Agregado Graúdo .......................................................................... 48 4.4.1- Granulometria ................................................................................ 48 4.4.2- Massa Unitária ............................................................................... 49 4.4.3- Massa Específica ........................................................................... 49 4.5- Aditivos .......................................................................................... 50 4.5.1- Especificação do Aditivo Superplastificante ................................... 50 4.5.2- Especificação do Aditivo Cristalizante da marca Penetron ............ 50 4.6- Fibras de vidro .............................................................................. 51 4.7- Dosagem do Concreto .................................................................. 52 4.8- Análise do Comportamento Físico-Mecânico do Concreto ....... 53 4.8.1- Determinação da Consistência ...................................................... 53 4.9 - Período de cura e cicatrização ...................................................... 55 4.10- Determinação da Resistência à Compressão Axial ................... 56 4.11- Determinação da Absorção de Água ........................................... 57 4.12 Utilização do microscópio ............................................................ 59 5- RESULTADOS E DISCUSSÕES ..................................................................... 60 5.1- Caracterizações do Agregado Miúdo ............................................... 60 5.1.1- Granulometria ................................................................................ 60 5.1.2- Massa Unitária ............................................................................... 61 5.1.3- Massa Específica ........................................................................... 62 5.2- Caracterizações do Agregado Graúdo ............................................. 62 5.2.1- Granulometria .............................................................................. 62 5.2.2- Massa Unitária ............................................................................. 64 5.2.3- Massa Específica ......................................................................... 64 5.3- Aditivos e Fibra de vidro .................................................................... 67 5.4- Comportamento Físico e Mecânico do Concreto ............................ 67 5.4.1- Determinação da Consistência ...................................................... 67 5.5- Resistência à Compressão ........................................................... 68 5.6- Determinação da Absorção de Água ........................................... 72 5.7- Utilização da Lupa binocular ............................................................. 77 6- CONCLUSÃO ................................................................................................... 79 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 81 12 1- INTRODUÇÃO Mesmo com os avanços tecnológicos e com os diversos métodos construtivos disponíveis no mercado, o sistema mais adotado ainda é o de concreto armado. Nesse sentido, deve-se dar grande importância a maneira na qual o concreto é preparado, visando uma maior vida útil e menos manutenções ao longo do tempo. O concreto pode ser definido como: “Qualquer produto ou massa produzido a partir do uso de um meio cimentante. Geralmente esse meio é o produto da reação entre um cimento hidráulico e água, mas atualmente mesmo essa definição pode cobrir uma larga gama de produtos” (NEVILLE, 2013, p. 2). De modo simples, o concreto é uma mistura homogênea de cimento, areia, água e brita, todavia, a mistura não se limita apenas a esses elementos. Atualmente, se faz presente o uso de aditivos, no qual trazem vantagens para a mistura, como a melhoria do manuseio, que não são obtidas de forma natural (NEVILLE, 2016). Segundo Cánovas (1984), os aditivos se tratam de produtos que adicionados aos aglomerantes, de maneira controlada e em situações adequadas, no qual se utiliza a dosagem correta, modifica ou implementa a mistura, de maneira positiva e de caráter permanente, certas propriedades que melhoram seu comportamento, seja em estado fresco ou endurecido. Segundo Neville (2016), as propriedades do concreto variam de acordo com os elementos que o compõem, por isso é necessário ter conhecimento prévio da dosagem da mistura, a fim de garantir um produto endurecido de boa qualidade e que atenda as especificações do projeto. Para chegar no produto final, o concreto passa por diversas etapas, sendo algumas delas: dosagem, mistura, transporte, lançamento, adensamento e cura. Essas por sua vez, devem ser realizadas com muita cautela, pois é por meio delas que o concreto atestará ou não as características definidas no projeto. (JÚNIOR, 2020). Durante as etapas do processo construtivo, o controle da qualidade é essencial. A etapa de concepção do projeto deve seguir as normas técnicas e legislações vigentes do país. Já a etapa de execução do empreendimento deve seguir as diretrizes constadas no projeto concebido. E para garantir isso, a realização das 13 tarefas deve ser fiscalizada de modo a impedir que desvios não programados ocorram e que futuras patologias possam vir a ocorrer. (GONÇALVES, 2015). De acordo com os autores Souzae Ripper (2009), as causas de deterioração das estruturas podem ser divididas em intrínsecas e extrínsecas. Onde as causas intrínsecas têm origem nos materiais e peças estruturais durante a fase de execução e utilização da obra. Já as causas extrínsecas, entende-se por determinação que não depende do corpo estrutural nem da composição dos materiais, as mesmas ocorrem no meio externo, avançando para o meio interno. As fissuras, uma das principais patologias no concreto, contribuem para diminuir a vida útil da estrutura, pois nessa região o aço fica mais suscetível à corrosão. Nos locais onde há fissuras, o concreto fica mais passível a carbonatação e a entrada de agentes agressivos, que em contanto com o aço causam sua oxidação. Segundo Neville (2016), as fissuras afetam negativamente a estanqueidade à água, além de permitir a entrada de sons, por isso, deve-se observar seus tipos e suas causas. Uma alternativa para conter o avanço das fissuras é fazer uso do chamado “concreto autocicatrizante”. A autocicatrização é geralmente definida como a capacidade de reparar ou curar os danos de material de forma autônoma (ZWAAG, 2007). Os autocicatrizantes são materiais que se enquadram na categoria de estruturas inteligentes, uma vez que contêm agentes de cura que são encapsulados e liberados quando ocorre a fissura, aumentando a vida funcional do material. Estudos de autocicatrização foram realizados em polímeros, revestimentos e compósitos (incluindo concreto). No entanto, essas ''estruturas'' dependem do conhecimento prévio dos mecanismos de fissuração a que estão suscetíveis (SCHLANGEN; JOSEPH, 2009). O concreto autocicatrizante tem como componente principal os aditivos impermeabilizantes por cristalização ou mesmo aditivos cristalizantes, os quais contribuem com a impermeabilização do concreto evitando a entrada de água e de outras substâncias agressivas. Segundo o site da Penetron (2013): “Os aditivos cristalinos consistem de cimento Portland, compostos químicos ativos e rastreador químico. Estes compostos químicos ativos reagem com a 14 umidade do concreto fresco e com os produtos da hidratação do cimento formando uma estrutura cristalina insolúvel nos poros e capilares do concreto. Dessa maneira o concreto se torna permanentemente selado contra a penetração de água ou de outros líquidos em qualquer direção. O concreto também é protegido da deterioração devido aos agentes agressivos da atmosfera” Ainda segundo o fabricante Penetron (2013), o aditivo impermeabilizante por cristalização integral possui diversas vantagens, tais como: melhora a durabilidade do concreto; aumenta a resistência a substâncias químicas agressivas; pode selar fissuras em até 0,5 mm; não é tóxico; entre outras. Outro elemento fundamental para a caracterização do concreto é o cimento contendo escórias de alto forno, as quais contribuem para o fenômeno de autocicatrização e ajudam a melhorar as propriedades do concreto. Esta pesquisa tem por finalidade desenvolver o concreto autocicatrizante no laboratório, a fim de observar suas características físico-mecânicas e comprovar ou não o seu poder de autocicatrização. Será feito o teste de absorção de água com o intuito de evidenciar a eficácia do concreto autocicatrizante em reduzir a passagem de fluidos e consequentemente contribuir com uma maior vida útil da estrutura. 15 2- OBJETIVOS 2.1 Objetivo Geral Desenvolver o concreto autocicatrizante, utilizando o cimento CP III, contendo escória de alto forno, a fibra de vidro, o aditivo catalizador cristalino e o aditivo superplastificante, a fim de observar suas características físico-mecânicas, suas propriedades relacionadas à resistência a compressão e comprovar ou não seu poder de autocicatrização. 2.2 Objetivos Específicos • Realizar a caracterização dos agregados para a determinação do traço do concreto, a partir do método de dosagem da Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP). A resistência característica do concreto (fck) a ser adotada será de 30 MPa, pois foram utilizados como exemplos outros artigos, os quais usaram essa mesma resistência; • Desenvolver o concreto autocicatrizante no laboratório de materiais de construção da Universidade Católica Dom Bosco, para posteriormente avaliar sua resistência, por meio do ensaio de resistência à compressão, de acordo com a NBR 5738 e também, realizar o teste de absorção de água, conforme a NBR 9778; • Desenvolver o concreto convencional, também no laboratório, a fim de fazer- se os mesmos testes abordados no item anterior, para compará-los com o concreto autocicatrizante; • Após realizar o teste de compressão, tanto para o concreto convencional quanto para o autocicatrizante, será feita uma análise dos resultados obtidos, a fim de comprovar ou não a capacidade do concreto autocicatrizante em ser mais resistente do que o convencional; • Será feito o ensaio de absorção de água, tanto para o concreto autocicatrizante, como para o convencional, a fim de, através dos resultados obtidos, observar se a autocicatrização ocorreu, pois espera-se que o concreto autocicatrizante absorva menos água já que, com a cicatrização, terá menos fissuras que o convencional; • Utilizar o microscópio para observar e comparar as fissuras existentes nos dois tipos de concreto; 16 • Ao todo serão realizados 48 corpos de prova, sendo 24 para o concreto autocicatrizante e 24 para o concreto convencional. Desses 24, 15 serão usados para realização do teste de resistência a compressão e o restante para o teste de absorção de água, tanto para o concreto autocicatrizante como para o convencional; 17 3- REVISÃO DA LITERATURA 3.1- História O concreto auto cicatrizante é especialmente preparado e reparado, e as fissuras com uma largura de 0,5 mm são regeneradas de maneira automática ou autônoma, com um nível de confiabilidade de pelo menos 95%. O princípio efetivo do auto reparo é o aditivo cristalino, relacionado ao uso de fibras sintéticas, além do pó de alumínio, também de polipropileno, aço, vidro e outros materiais. Quando esses elementos são penetrados pela água, o catalisador de cristalização pode atuar como um gatilho para o processo de cicatrização (UNIVERSIDADE TRISUL, 2017). Segundo estimativas de Emílio Takagi, mestre em ciências do Instituto de Tecnologia Aeronáutica (ITA), a vida útil desse concreto é estimada entre 50 e 60 anos. Além de ser usado em estruturas que exigem estanqueidade ("sem vazamento") ou proteção química, o custo é 15% a 25% maior que o concreto comum. No entanto, o custo pode ser compensado, oferecendo melhor desempenho em termos de vedação e proteção química (às vezes atribuindo sistemas à prova d'água) (UNIVERSIDADE TRISUL, 2017). Entre as obras que utilizaram o concreto autocicatrizante destacam-se a laje de subpressão do Museu da Imagem e do Som (Figura 1) e a cobertura fluida do Museu de Arte do Rio (Figura 2). A mais recente fica em Porto Alegre – a laje de subpressão (Figura 3) de 20.000 m² do complexo multiuso do Edifício Pontal do Estaleiro, a 3,3 metros abaixo do nível do Lago Guaíba (UNIVERSIDADE TRISUL, 2017). Figura 1 - Laje de subpressão finalizada. Fonte: IBRACON (2013). 18 Figura 2 - Cobertura do Museu de Arte. Fonte: Concrejato Engenharia. Figura 3 - Laje de subpressão do Edifício Pontal do Estaleiro. Fonte: Revista ArqXP. Em 1994, a pesquisadora Dra. Carolyn M. Dry da Universidade de Illinois foi a primeira a propor a introdução intencional de propriedades autocicatrizantes no concreto.Dry começou a trabalhar em um concreto autocicatrizante que pudesse ser melhorado com a adição de fibras ocas de polipropileno preenchidas com adesivo de metil metacrilato, como agente cicatrizante, à medida que a rachadura se espalha, a fibra quebra e libera o adesivo, curando ativamente a rachadura (DRY, 1994). Mas até 2001, o Dr. Scott R. White (apud VAN TITTELBOOM e DE BELIE; 2013) pesquisador do Departamento de Engenharia Aeroespacial da Universidade de Illinois, publicou os resultados da pesquisa sobre autocura na revista Nature. Em materiais poliméricos, o interesse acadêmico na autocura. Em 2005, foi criado um 19 comitê técnico para o estudo dos “Fenômenos de autocicatrização em materiais de base cimentícea”, inspirados nas antigas estruturas centenárias (Figura 4) que tem sobrevivido durante séculos, o adesivo usado para unir esses blocos de construção possui uma capacidade de ligação natural (RILEM, 2005). Figura 4 - Imagem do domo “Opus Caementicium” do Panteão de Roma. Fonte: Imagem de Eugen Kleen (2012). Desde a criação do Comitê Técnico Rilem SHC 221, vários métodos foram desenvolvidos para estudar um novo tipo de concreto que pode reparar suas próprias trincas. A autocura em materiais cimentícios geralmente pode ser dividida em duas categorias: autocura e autocura (VAN TITTELBOOM, SNECK et al., 2013). O fato do concreto ser um dos materiais mais utilizados no mundo da construção é devido, em grande parte, a sua versatilidade e durabilidade, mantendo a sua forma original e a qualidade quando exposto ao ambiente. Em estruturas de concreto, a durabilidade pode ser considerada como uma propriedade essencial, sendo primordial que as estruturas de concreto tenham a capacidade de suportar as condições para as quais foram projetadas, durante a vida útil (MEDEIROS, ANDRADE e HELENE, 2011). Face ao aumento do número de obras precocemente degradadas, em escala mundial, cresce o interesse do setor em soluções de ampliação da durabilidade em estruturas de concreto. A durabilidade do concreto fabricado à partir do cimento Portland é determinada 20 pela sua capacidade de resistir à ação de intempéries, ao ataque químico, à abrasão, ou qualquer outro processo de deterioração (ACI 201.2R, 2008), sendo que a definição de durabilidade não pode ser baseada apenas na relação água/cimento, no consumo de cimento ou na especificação de uma resistência mínima à compressão (LEMA, 2015). Os problemas de patologia em estruturas, em sua grande maioria, teriam sido solucionados pelo uso dos concretos de alto desempenho, caso este não fossem submetidos à flexão, tendo em vista que o concreto possui uma baixa resistência à tração. Logo, quando o material é submetido a esse tipo de solicitação, é desencadeada a formação de fissuras. A presença destas fissuras proporciona um caminho preferencial para a difusão dos agentes agressivos e da umidade, aumentando significativamente sua permeabilidade (SILVA, 2007). Contudo, uma elevada resistência do concreto não garante a durabilidade da estrutura. Neville (2016) menciona que um concreto é considerado durável quando é capaz de suportar o processo de deterioração a que estará exposto. Mantendo uma resistência necessária e uma condição de utilização durante um tempo especificado ou uma vida útil tradicionalmente esperada. Com a publicação da ABNT NBR 6118 (2014) foi previsto a utilização de concreto com classe de resistência de até 90 MPa. Este tipo de concreto apresenta uma baixa relação água/cimento, um alto consumo de material cimentício e uma microestrutura refinada, proporcionando grandes vantagens econômicas e estruturais como: alta resistência aos esforços mecânicos, baixa porosidade e permeabilidade, elevada resistência a agentes agressivos e, consequentemente, um menor tempo e custo para a manutenção. Por outro lado, isso pode gerar desvantagens como um elevado grau de retração autógena e térmica, e maiores deformações e mudanças volumétricas no concreto nas primeiras idades, tornando o concreto propício a fissuração e vulnerável aos agentes de degradação (LEMA, 2015). A autocura refere-se a uma capacidade de cura, na qual a cura é inerente, causada pela composição do material de cimento, e também pode existir quando o concreto não é adicionado especificamente para a autocura. A base da cura espontânea é a formação de vasos sanguíneos cheios de agentes terapêuticos em microcápsulas ou tubos ocos que bombeiam agentes terapêuticos em fraturas (VAN TITTELBOOM, DE BELIE et al., 2011). 21 Embora a visão futura mais interessante do concreto de autocura seja a pesquisa, recomenda-se focar no método de cura autônomo de agentes de cura de dois componentes em cápsulas ou sistemas vasculares. A abordagem mais próxima da aplicação prática ainda é a autocura (VAN TITTELBOOM; DE BELIE, 2013). Existem alguns mecanismos de autocura em concreto. Por exemplo, a ponte natural do concreto, o preenchimento e a selagem de fissuras devido à reação química inerente ao concreto (como hidratação e carbonização residual) ou o bloqueio mecânico da superfície interna da fissura (EDVARDSEN, 1999). Cura de fissuras causadas pela adição de minerais no concreto, cujos componentes mais famosos são escória de alto forno (SAHMARAN; YILDIRIM e ERDEM, 2013), cinzas volantes (SAHMARAN; KESKIN, et al, 2008), micropó de silício (ELHAKAM, MOHAMED e AWAD, 2012) e metacaulim. Para controlar trincas, misturam-se aço, polietileno (PE) (HOMMA; MIHASHI e NISHIWAKI, 2009), polipropileno (PP) (DRY, 2000) e fibras sintéticas de vidro resistente à corrosão Juntos álcalis (TAKAGI; LIMA e HELENE, 2012). A preparação do concreto de autocura pelo método autogerado é um avanço tecnológico e também incorpora a tecnologia de concreto autoadensável (CAA) (SAHMARAN, KESKIN et al., 2008), resultado de uma pesquisa sobre o uso de aditivos superplastificantes e aditivo modificador de viscosidade, combinados com alto teor de finos, sejam, adições minerais, fíllers ou mesmo cimentos comerciais compostos com adições minerais. Para promover o conhecimento do concreto autocurativo, este artigo selecionou o método de autocura como procedimento experimental. Este estudo comparativo de concreto autocicatrizantes autoadensáveis utilizando cimentos comerciais com diferentes teores de escórias de alto-forno, catalisador cristalino, fibras de vidro e aditivos químicos, e visa caracterizar as propriedades reológicas, de resistência e de vedação desses concretos e o potencial de auto-reparo dessas trincas. A primeira vez que Carolyn M. Dry da Universidade de Illinois propôs o uso de polímeros encapsulados para obter o concreto autocicatrizante foi em 1994, e continuou ativa dentro deste campo até 2003 (VAN TITTELBOOM, SNOECK, et al., 2013). 22 Dry mostra numa aplicação prática em obras de pavimentos de ponte, onde um concreto é melhorado com adição de fibras ocas preenchidas com adesivos e conforme a fissura se propaga, A fibra quebra e libera adesivos que podem curar essas rachaduras, que são armazenados por um ano a temperaturas abaixo de zero a 38ºC no centro de Illinois (DRY, 2000). Neste período, Li (apud VAN TITTELBOOM, SNOECK, et al., 2013), a pesquisa sobre concreto autorrecuperável reforçado com fibra começou na Universidade de Michigan. A partir de 2000, os seguintes pesquisadores , tais como : Hirozo Mihashi e Tomoya Nishiwaki et al, no Japão; Ahmed Loukili e Sébastien Granger et al, na França; Joseph et al, no Reino Unido e Nynke Ter Heide e Erik Schlangen et al, na Holanda começaram suas pesquisas sobre os materiais autocicatrizantes cimentícios (apud VAN TITTELBOOM, SNOECK, et al., 2013). Em 2001, o experimentode White relatou um composto de polímero estrutural que pode reparar rachaduras de forma independente. O material incorpora um agente de cura microencapsulado, que é liberado após a rachadura ser quebrada. Em seguida, por contato com o catalisador incorporado, é iniciada a polimerização do agente de cura, o que leva à adesão da superfície interna da fissura e restaura a resistência elétrica do polímero estrutural em uma média de 75% (WHITE; SOTTOS et al., 2001). A pesquisa de White produziu maior confiabilidade em materiais de autocura, resultado de uma iniciativa iniciada pela NASA em instituições de ensino superior selecionadas nos Estados Unidos em 1996 e, desde então, foi realizada em outras áreas da ciência dos materiais. Pesquisa de autocura. Este campo está se desenvolvendo rapidamente. O auto-reparo de materiais cimentados pode ser basicamente dividido em duas categorias: auto-reparo (auto-reparo intrínseco) e auto-reparo autônomo (baseado em cápsulas e auto-reparo vascular), semelhante ao método estabelecido por White, que é o auto-reparo de polímeros Research (BLAISZIK; KRAMER et al., 2010). No passado, muitas pesquisas eram dedicadas à autocura. Até o momento, o método de cura autóloga ainda é considerado secundário. A primeira razão é que a 23 autocura sempre estará limitada a rachaduras estáticas menores, a segunda razão é que a confiabilidade da autocura é menor,uma vez que sempre depende das possíveis reações de hidratação, no momento da formação da fissura (VAN TITTELBOOM; DE BELIE, 2013). O ponto de vista mais interessante e específico do futuro da autocura sugere pesquisas que sugerem o foco em métodos de tratamento autônomo baseados em cápsulas com agentes agentes cicatrizantes que reajam com um segundo componente (Figura 5B) ou nos sistemas vasculares (Figura 5C) (VAN TITTELBOOM; DE BELIE, 2013). Figura 5 - Cicatrização autônoma baseada em cápsulas ou nos sistemas vasculares com agentes cicatrizantes bicomponentes. Fonte: Adaptado de Van Tittelboom e de Belie ( 2013). As investigações sobre a cura autônoma dos compósitos cimentícios receberam menos atenção em relação aos processos de cicatrização autógena. Embora, as perspectivas futuras mais interessantes para o concreto autocicatrizante sejam as pesquisas que sugiram com foco na abordagem pela cicatrização autônoma, como agentes cicatrizantes bicomponentes em cápsulas ou sistemas vasculares, a abordagem que está mais próxima da aplicação prática ainda é a autocicatrização autógena (TITTELBOOM; DE BELIE, 2013). Para que ocorra a autocicatrização autônoma vários tipos de materiais podem ser adicionados ao concreto, como por exemplo, os polímeros superabsorventes (PSA), os aditivos redutores de permeabilidade ou as bactérias calcinogênicas. Na Figura 6 usando um Microscópio Eletrônico de Varredura - MEV, investigações adicionais em fissuras, antes e depois da exposição à água, revelaram a formação de novas estruturas cristalinas, que preencheram as fissuras. A Figura 2.8a mostra uma 24 fissura original com uma largura de 20µm antes do contato com a água. E na Figura 2.8b, a condição de uma fissura semelhante após os ensaios de permeabilidade de água com duração de 21 a 35 dias. De fato, pode-se observar que grande parte da fissura foi colmatada devido ao depósito de carbonato de cálcio (calcita) (MECHTCHERINE et al., 2011). Figura 6 – Efeitos de autocicatrização (a) fissura antes e (b) após, a exposição à água, ampliação 1000x. Fonte: Mechtcherine e Lieboldt (2011). Ainda de acordo com a Figura 6, outro exemplo de cicatrização autônoma seria a partir da hidratação contínua promovida pelas pozolanas, tal como a cinza volante, durante quatro semanas a 40°C, o que demonstra que a inclusão de deste material ao cimento pode apresentar um alto potencial de cicatrização no concreto. Alguns exemplos de adições realizadas no concreto para a obtenção de autocicatrização autônoma serão apresentados com maior detalhe nas próximas seções. O potencial de autocicatrização de materiais cimentícios podem ser estimulados substituindo parte do cimento por cinzas volantes ou por escória de alto forno. Considerando que as cinzas volantes continuam a hidratar após 28 dias, é possível que os produtos desta hidratação modifiquem a microestrutura. E, através deste fenômeno químico pode ocorrer o selamento da fissura (EDVARDSEN, 1996). A habilidade de autocicatrização, a partir da cinza volante foi testado por Termkhajornkit et al. (2009). Neste estudo, o potencial de autocura de materiais a base de cimento foi estimulado através da variação da composição da mistura e do tipo de cimento. No total foram preparadas oito amostras de argamassas de composições diferentes. A 25 partir de três tipos diferentes de cimentos: cimento Portland (CEM I) contendo 100% de clínquer; cimento Portland composto (CEM II / B-M) contendo 65 - 80% de clínquer e 20 - 35% de uma mistura com escória de alto forno e cinzas e de calcário; cimento de alto-forno (CEM III / B), contendo 20 - 35% de clínquer e 65 - 80% de escória de alto forno. 3.2- Viabilidade econômico do Concreto Auto cicatrizante A introdução intencional de propriedades de autocura no concreto pode ser muito benéfica, pois pode economizar os custos diretos de mão-de-obra de produtos e serviços de reparo, além de custos indiretos, porque essas estruturas precisam ser interrompidas durante o reparo e a manutenção. Apesar de seu alto custo inicial, ele pode reduzir os custos de manutenção, prolongar a vida útil dessas estruturas e reparar danos imediatamente (VAN TITTELBOOM; DE BELIE, et al., 2011). No entanto, a manutenção e a inspeção da estrutura requerem muitos recursos financeiros, e no caso de estruturas usadas continuamente (como estradas e túneis), a tarefa pode ser mais desafiadora (WU et al., 2012). Nesse caso, o uso intencionalmente sob as seguintes condições, as propriedades de autocura do concreto mostram benefícios consideráveis pela perspectiva econômica. Para Takagi (2013), além de reduzir os custos de material e mão-de-obra relacionado a técnicas de processamento convencionais - geralmente via injeção de resina. Considerar o auto-reparo também pode reduzir custos indiretos porque elimina Intercepte para disponibilizá-lo durante as atividades de manutenção. Conforme apontado por Wu et al. (2012), a localização e o tamanho ou a escala do dano, a condição é de custo muito alto, praticamente proibindo a prática de diagnóstico e manutenção, embora inicialmente esses procedimentos fossem aplicáveis no âmbito da tecnologia. Sob essas premissas, esses autores também recomendam o reparo automático ou o reparo de trincas como uma alternativa estrutural muito atraente. Além dos benefícios técnicos e econômicos, os materiais de autocura também enfrentam os principais desafios de hoje na promoção do desenvolvimento sustentável do planeta. Segundo a pesquisa de Schlangen e Joseph (2009), a melhoria do desempenho possível através da autocura deve reduzir a demanda por 26 novas estruturas, reduzindo o consumo de matérias-primas originais, principalmente o consumo de cimento, e a produção de cimento requer muita água da torneira. A energia é responsável por 5-7% das emissões totais de dióxido de carbono. A rigor, nem todas as rachaduras são ativas ou passivas durante todo o ciclo de vida da estrutura. alguns As trincas podem ser temporariamente classificadas como trincas ativas e depois se tornarem trincas passiva. Um exemplo são as trincas por contração a seco, que tendem a estabilizar À medida que a água efetiva na matriz de cimento diminui, ela aumenta gradualmente. De acordo com Figuerredo(1989), neste caso, o crack deve ser considerado ativo devido a medidas corretivas Isso aconteceu nesta fase. Para o autor, adiar a intervenção em uma situação semelhante não é Recomende, porque mesmo se não houver tratamento eficaz, o crack é ainda pequeno Espalhe e cause problemas mais complexos e caros. No contexto da arquitetura civil, os inúmeros benefícios dessa nova abordagem incluem redução de custos e melhoria da sustentabilidade. Exibidos gráficos facilmente compreensíveis por Van Breugel (2007) as curvas A e B mostram o desempenho de duas estruturas tradicionais (Figura 7). Segundo ele, a primeira descrição é a degradação gradual até o primeiro reparo, após o qual os reparos contínuos começam em intervalos cada vez mais curtos. No segundo caso, o período sem manutenção será mais longo e o primeiro grande reparo poderá ser geralmente atrasado por muitos anos. Para ele, inicialmente gastou mais dinheiro garantir maior qualidade geralmente compensa. Figura 7- Gráfico de custo e desempenho em função do tempo para infraestrutura de alta qualidade (curvas B) normal (curvas A). Fonte: Adaptado de Van Breugel (2007). Segundo ele, a autocura provavelmente chegará a uma situação extrema em que nenhum custo de manutenção e reparo precisa ser considerado, pois esse 27 material é capaz de autocura (Figura 8). Figura 8 - Desempenho e custo em função do tempo para estruturas construídas com material autocicatrizante. Fonte: Adaptado de Van Breugel (2007). 3.3- Diferentes tipos de mecanismos de gatilho da cicatrização Para obter a cura de fissuras, é necessário um mecanismo de disparo para ativar o efeito de cura. Até o momento, existem relatos na literatura daqueles causados pela penetração de líquidos ou gases, fornecimento de calor ou formação de trincas (Tabela 1). 28 Tabela 1 – Visão geral dos mecanismos que podem dispara a autocicatrização de fissuras. Fonte: Adaptado de VAN TITTELBOOM e DE BELIE, 2013). Diferentes tipos de agentes de cura foram propostos para aprimorar a capacidade de autocura do concreto. A Tabela 2 fornece um resumo, onde o atributo mais importante para cada agente são mencionadas para verificar a sua eficiência. Mecanismo de gatilho Resultado In g re s s o d e l íq u id o s e g a s e s água + CO2 Cristalização por catalisador com precipitação de fases fibrosas de calcita água Cicatrização autógena por hidratação contínua água + CO2 Cicatrização autógena por precipitação de CaCO3 água Expansão, intumescência e precipitação de aditivos água Intumescência de polímeros superabsorventes e cicatrização autógena umidade relativa alta Intumescência de polímeros superabsorventes e cicatrização autógena solução de cloretos Degradação do revestimento de tubos porosos de PP e liberação de Ca(NO2)2 através dos poros água + O2 Ativação de esporos e precipitação bacteriana de CaCO3 água Precipitação bacteriana de CaCO3 CO2 Degradação do revestimento envolto em partículas de argilas expandidas e liberação de Na2PFO3. Mecanismo de gatilho Resultado F o rn e c im e n to d e c a lo r 90 °C + água Fechamento de fissuras por fitas retráteis de polietileno de tereftalato (PET) seguido pela cicatrização autógena 100 ° C Derretimento do revestimento de cera envolto em cápsulas porosas de PP e liberação de Metil Metacrilato 150 °C Derretimento de partículas de copolímeros de acetato de vinil- etileno VAE 48 °C Derretimento do revestimento de parafina e agentes retardadores de hidratação 93 °C Derretimento de filmes de copolímeros de VAE ao redor de arames espiraradas e liberação de resinas epóxi F o rm a ç ã o d e fi s s u ra s + água Fechamento de fissuras por as fibras superelásticas de ligas metálicas com memória de forma seguido pela cicatrização autógena + água Rompimento das cápsulas e liberação de agentes cicatrizantes + água Delaminação de fibras vegetais e liberação de agentes cicatrizantes + água Atuação do bombeamento e injeção de agentes cicatrizantes para dentro de camada de concreto poroso 29 Tabela 2 - Visão geral dos agentes cicatrizantes que têm sido relatados na literatura. Fonte: Adaptado de Van Tittelboom e de Belie (2013). Agente cicatrizante Número de componentes Viscosidade (mPa.s) Agente de cura Tempo de cura Expansivo Resistência (MPa) 1 > 2 Sim Não Catalisador cristalino √ - Umidade + CO2 21 dias √ - Cianoacrilato √ < 10 Umidade segundos √ 20 Epóxi √ 250-500 umidade e ar < 100 min. √ 25 Epóxi √ 80-360 Contato 30 min-1 h √ 45 Metil Metacrilato √ - Calor - √ - Metil Metacrilato √ 1-34 Contato 30 min-1 h √ 50-75 Silicone √ - Ar - √ - Poliuretano √ 7200 Umidade 40-80 min √ - - Poliuretano √ 600 Contato 50-300 s √ - Poliacrilato √ 7 Contato 40 s √ - Óleo de tungue √ - Ar - √ - Solução alcalina de sílica √ - Ar - √ - Solução de Ca(OH)2 √ - CO2 do ar - √ - Solução de NaSiO3 √ - Ca(OH)2 - √ - Solução de NaFPO3 √ - Hidratação 28 dias √ - Solução de Ca(NO2)2 √ - Matriz - √ - Poliuretano + bactérias √ 600 Contato - √ - Solução bacteriana √ - água + O2 100 dias √ - Solução bacteriana √ - Água √ - 30 3.4- Autocicatrização autógena do concreto O termo “fenômeno de autocicatrização” tem intrigado pesquisadores há mais de cem anos. Na maioria dos estudos, a aparente redução na permeabilidade é atribuída erroneamente aos efeitos de autocura.. Este erro é especialmente comum em investigações onde é medida apenas a penetração da água, e o fluxo através da amostra permanece desconhecido. O último é o mais importante, porque o fenômeno de autocura não é o resultado de um teste específico, mas o resultado da interação entre a microestrutura e o revestimento e o fluido que a permeia (EDVARDSEN, 1999). O fenômeno de autocura deve-se principalmente à dissolução e deposição de hidratos induzidos pelo catalisador ativo, que deve ser diferenciado do fenômeno de colmatação espontâneo, devido à hidratação contínua de materiais não hidratados com a nucleação de calcita CaCO3 e, em seguida, crescimento de cristais. As duas principais diferenças são: (a) um efeito de autocura é observado mesmo em um sistema fechado de CO2, no qual o hidróxido de cálcio Ca (OH) 2, que é impossível de dissolver no concreto, é carbonizado, e (b) o fenômeno de autocura Se for óbvio após uma forte microfissura, geralmente é causada por retração por secagem e / ou carga cíclica durante a vida útil da estrutura do concreto. Ambos dependem da exposição à água e o fenômeno da hidratação contínua sob condições potenciais continuará (HEARN, 1998). Torna-se claro que a colmatação natural pode ser melhorada, sendo mais eficaz quando as larguras das fissuras são restritas ou pode ser provocado o fechamento da fissura (Figura 9A). Como a água é sempre necessária para ocorrer a colmatação autógena, a retenção de água pode ser outro fator de melhoria (Figura 9B). Melhorando a possibilidade de hidratação ou cristalização contínua (Figura 9C) promove a melhoria da colmatação autógena. Concluindo, pode-se então chamar este processo de cicatrização autógena (VAN TITTELBOOM; DE BELIE, 2013). 31 Figura 9– Abordagens de cicatrização autógenas. (A) restrição da abertura de fissura, (B) o fornecimento de água, e (C) hidratação contínua e a cristalização. Fonte: Van tittelboom e de Belie (2013). 3.4.1- Colmatação natural do concreto Devido ao bloqueio natural do concreto, a penetração de água através das rachaduras diminuigradualmente com o passar do tempo e, em alguns casos, as rachaduras podem ser completamente seladas. No passado, não havia pesquisas técnicas sérias sobre bloqueios naturais, porque o próprio fenômeno e os processos físico-químicos envolvidos são pouco compreendidos (EDVARDSEN, 1999). Todos os estudos químicos e mineralógicos realizados na superfície fraturada de fendas de ponte mostraram que a formação de carbonato de cálcio cristalino é realmente a única causa de ponte espontânea (EDVARDSEN, 1999). Embora existam visões diferentes sobre os principais mecanismos que causam bloqueios espontâneos (Figura 10), os pesquisadores concordam que, para qualquer mecanismo, a presença de água é essencial. Figura 10 - Diferentes causas que podem levar à colmatação natural de uma fissura. Fonte: RILEM (2013). 32 3.4.2- Cimentos com escória de alto forno como agentes cicatrizantes Com foco na sustentabilidade, o uso de subprodutos industriais (como escória de alto forno) em componentes de cimento tornou-se uma tendência cada vez mais comum. Aumente o nível de substituição sem efeitos negativos e atinja o objetivo de melhorar determinadas propriedades do concreto. Porém, o efeito positivo da hidratação contínua de partículas de escória no concreto auto-reparável da escória de alto forno deve ser considerado. A vulnerabilidade do cimento de escória de alto forno à carbonização do concreto pode ser atribuída à sua alta permeabilidade ao dióxido de carbono (CO2) e ao baixo teor de hidróxido de cálcio (Ca (OH) 2). Entretanto, o baixo teor de Ca(OH)2 e uma estrutura de poros mais refinada do concreto com escória de alto forno pode contribuir para uma maior resistência química destes concretos (DE BELIE, VERSELDER, et al., 1996). No estudo de Van Tittelboom, Gruyaert, Heede e de Belie (2013), com o teste acelerado de carbonização foi realizado em concreto com diferentes conteúdos de escória de alto-forno (50%, 70% e 85%), foi considerado o efeito da hidratação contínua da escória e a profundidade da carbonatação estimada em 50 anos. Testes mostraram que, embora a resistência à carbonatação do concreto de escória de alto forno seja menor que a do cimento Portland comum, em circunstâncias normais, a estimativa da profundidade de carbonatação desse concreto ao final de sua vida útil de 50 anos é aceitável. Na pesquisa de autocorreção, a microscopia de fluorescência ajuda a medir com precisão as características dimensionais e a frequência de ocorrência de trincas. Os autores Ter Heide et al., Copuroglu e Sisomphon (apud RILEM, 2013) para observar a cicatrização de fissuras, um microscópio de fluorescência foi utilizado com sucesso. Qualquer alteração na porosidade do material de autocura também pode ser facilmente controlada por microscopia de fluorescência. Copuroglu e Sisomphon usaram microscopia de fluorescência para documentar a eficiência do agente de cura monofluorophosphate sódio contra a carbonatação em sistemas de cimento escória de alto forno (Figura 11). 33 Figura 11 - Micrografias da pasta carbonatada com escória de alto-forno altamente porosa (esquerda) e da microestrutura mais densa incorporando monofluorofosfato de sódio (direita). Fonte: Copuroglu e Fraaij (2011) 3.4.3- Restrição por fibras como agente cicatrizante Quando as fibras são misturadas no concreto, a fim de controlar a abertura das fissuras, em vez de formar uma única fenda, várias fendas aparecem após o carregamento. Li e seus colaboradores (apud RILEM, 2013), foram os primeiros a propor o uso de fibras em compósitos cimentados de engenharia endurecidos por deformação (SCC), com o objetivo de limitar a abertura de fissuras e promover a autocura. Compararam a eficiência das fibras de aço, polipropileno, nylon e PVA para induzir a cicatrização autóloga. (Apud VAN TITTELBOOM e DE BELIE, 2013), fibras de PVA são as fibras com maior eficiência de cura por indução, o que pode ser atribuído ao fato de que as fibras de PVA podem promover a deposição de produtos cristalinos (como grupos hidroxila) conectados à estrutura da fibra, atraindo assim os íons cálcio. 3.4.4- Exposição à água como agente cicatrizante As condições expostas à água (CE) desempenham um papel importante no processo de autocura. Geralmente, sob condições alternadas de exposição a ciclo seco e úmido (CE3), ele mostra recuperação mecânica ideal, enquanto em condições somente de ar (CE4), não são observados sinais de cicatrização. Sob a condição de exposição à água regularmente atualizada (CE2), sob a condição de exposição contínua à água (CE1), sua taxa de recuperação mecânica é um pouco maior. Em 34 geral, a recuperação das propriedades mecânicas segue a ordem de CE4 < CE1 < CE2 < CE3 (SISOMPHON; COPUROGLU; KOENDERS, 2012). Sob diferentes condições expostas à água, as condições de exposição alternadas do ciclo úmido / seco (CE3), mostrando a recuperação máxima do desempenho mecânico, podem promover a interação da água com o CO2 e materiais cimentícios não hidratados. Pode-se supor que, durante a fase de secagem, conforme o excesso da água vai evaporando, as concentrações de íons presente na água dentro das fissuras são aumentadas. Nesse caso, a quantidade de reagente deve ser totalmente concentrada para que outra reação possa ocorrer, enquanto a quantidade de água na solução ainda é suficiente. Este fenômeno aumentará a reação química da precipitação e hidratação contínua. Além disso, a penetração de CO2 na fissura, durante o período de secagem, conduziria na formação de adicional de carbonatos que são úteis para o selamento das fissuras (SISOMPHON; COPUROGLU; KOENDERS, 2012). 3.5- Mecanismos da cicatrização autógena Obviamente, o mecanismo mais autocurativo é que a hidratação contínua é o principal mecanismo de cura do concreto jovem. Em idades mais avançadas, a precipitação de carbonato de cálcio (CaCO3) torna-se o principal mecanismo (VAN TITTELBOOM, SNOECK, et al., 2013) 3.5-1. Mecanismo de cicatrização por hidratação contínua A literatura de pesquisa sobre a influência de aditivos minerais na capacidade de autocura é limitada, portanto, a substituição parcial do cimento Portland por aditivos minerais pode reduzir o custo do material, reduzir o impacto ambiental e melhorar a sustentabilidade, uma vez que a produção destas adições necessita de menos energia e provocam menos emissões de CO2 do que o do cimento. As tentativas de estimular a autocura se concentraram na adição de minerais que podem promover a deposição de cristais nas fraturas. Alguns pesquisadores substituíram parte do cimento por cinzas volantes ou escória de alto forno, que são pozolanas hidráulicas e materiais latentes, respectivamente. Como o estado não- hidratado de uma grande quantidade desses adesivos é mantido mesmo em idade 35 avançada, a cura autóloga é promovida devido à hidratação contínua (SAHMARAN; YILDIRIM; ERDEM, 2013). No entanto, escórias e cinzas consomem hidróxido de cálcio (Ca (OH) 2) durante sua reação, portanto a possibilidade de formar carbonato de cálcio pode ser reduzida e elas não parecem melhorar a precipitação de cristais. Mas, demonstrou-se a partir das experiências de Tittelboom, Gruyaert, et al. (2012), comparado a rachaduras menores, as rachaduras menores são mais completas e fecham mais rapidamente. Em geral, pode-se concluir que a substituição por cimento de escória de alto forno ou cinzas volantes pode melhorar a cicatrização espontânea e aumentar ainda mais a hidratação, mas não afeta a precipitação de carbonato de cálcio. Quando a escória de alto forno é usada como substituto do cimento, seu efeito benéfico é mais óbvio (TITTELBOOM; GRUYAERT et al.,2012). 3.5-2. Estudo do catalisador cristalino em concretos auto cicatrizantes Estudou-se o efeito do catalisador de cristalização na superfície inferior da calçada de concreto armado após 1 ano de construção. O pavimento apresentou rachaduras fortes, causadas pela carga repetida de 40.000 caminhões por dia, em média, 40% do Japão (Figura 12). Figura 12 – Fissuramento intenso visto pelo lado inferior do pavimento em concreto com aberturas entre 0,1 a 0,2 mm. Fonte: (MORI, KURAMOTO, et al., 1996). Os resultados do ensaio de resistência à compressão axial mostram um aumento médio de 28 % da resistência à compressão comparados com as amostras 36 não tratadas, embora MORI, KURAMOTO, et al. (1996), não julguem que a diferença é resultado do resultado exclusivo do catalisador de cristalização. Os resultados do ensaio de permeabilidade foi apresentado no gráfico 1, onde o grupo das amostras tratadas com o catalisador cristalino apresenta um volume inicial mais baixo que as amostras não tratadas, e a tendência à diminuição do volume de água passante das amostras tratadas evidenciam a sua capacidade de autocicatrização. Gráfico 1 – A tendência à diminuição do volume de água passante das amostras tratadas evidencia a sua capacidade de autocicatrização. Fonte: (MORI, KURAMOTO, et al., 1996). Foram retiradas amostras para microscopia eletrônica de varredura e nas micrografias com uma ampliação de 1000 vezes, pode ser observada um crescimento de cristais de cimento nos vazios das fissuras das amostras tratadas com o catalisador cristalino (Figura 13A). Nas amostras não tratadas (Figura 13B), apenas a parede do gel pode ser observada. 37 Figura 13 – Micrografias de cristais nas fissuras tratadas com o catalisador cristalino (A) e apenas a parede do gel nas amostras não tratadas (B). Fonte: (MORI, KURAMOTO, et al., 1996). 3.5-3. Estudo das adições minerais nos concretos auto cicatrizantes Os parâmetros dos estudos de 2008 e 2013 de Sahmaran et al. são apresentados comparativamente na Tabela 3. Vários componentes minerais, desde cinzas vulcânicas altas até quase cimento, são usados para representar vários componentes químicos: cinzas volantes com baixo teor de cálcio, cinzas volantes com alto teor de cálcio e escória de alto forno. 38 Tabela 3 – Comparativo dos estudos de Sahmaran et al. Parâmetros (SAHMARAN, KESKIN, et al., 2008) (SAHMARAN, YILDIRIM e ERDEM, 2013) Agente cicatrizante Cinzas volantes de baixo teor de cálcio Cinzas volantes de baixo teor de cálcio cinzas volantes de alto teor de cálcio escórias de alto forno Tipo de concreto Concreto autoadensável (CAA) Compósito cimentício com endurecimento por deformação (CCED) Condição de exposição à água Submersa em água saturada com cal à 23 ± 2 °C por 28 dias Submersa em água saturada com cal à 23 ± 2 °C por 60 dias Pré- fissuramento Compressão axial com 0%, 70% e 90% da carga de ruptura Compressão diametral com níveis de deformação de 1,00 mm, 1,25 mm e ruptura Período de cicatrização Submersa em água saturada com cal à 23 ± 2 °C por 15 e 30 dias Continua à água, contínua ao ar e ciclos de gelo e degelo por 30 e 60 dias Parâmetros (SAHMARAN, KESKIN, et al., 2008) (SAHMARAN, YILDIRIM e ERDEM, 2013) Propriedades mecânicas Resistência à compressão axial velocidade de propagação de ultrassom - Propriedades permeabilidade Taxa de absorção migração de cloretos Difusão de cloretos Corpos de prova por ensaio 3 CPs cilíndricos Ø100 x 200 mm 28, 28 + 15 e 28 + 30 dias de idade 4 CPs cilíndricos Ø100 x 50 mm 60, 60 + 30 e 60 + 60 dias de idade Resultados A diferença inicial de 27% na resistência dos CPs fissurados com os CPs virgens, e cai para 7% após 30 dias de cicatrização. CPs com escória exibem maior resistência à penetração de íons cloretos 468 C e maior capacidade de cicatrização em fissuras com abertura de 100 µm Fonte: SAHMARAN; KESKIN, et al., (2008). 39 4 METODOLOGIA Para cumprir com os objetivos deste trabalho, os métodos de análise abordaram ensaios laboratoriais para caracterização dos materiais constituintes, dosagem experimental dos traços e análise dos comportamentos físico-mecânico. 4.1- Fabricação dos corpos de prova O concreto utilizado foi fabricado de acordo com o método de dosagem da Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP). O método é representado pelas seguintes etapas: • Resistência de dosagem do concreto mostrado na Equação (1): 𝑓𝑐28 = 𝑓𝑐𝑘 + 1,65 ∗ 𝑆𝑑 Equação (1) Onde: fc28 = resistência a compressão de dosagem a 28 dias de idade fck = resistência característica do concreto Sd = desvio padrão de dosagem Sd = 4,0 MPa = Produção do concreto em massa com controle rigoroso da umidade dos agregados e com equipe bem treinada. • Fixação do Fator água cimento (a/c) A fixação deste parâmetro foi feita tomando como referência os critérios de durabilidade e a resistência mecânica requerida pelo concreto nas idades de interesse. A resistência à compressão foi o principal parâmetro da resistência mecânica a ser considerado. O valor da relação água/cimento foi estimado com base na curva de Abrams mostrado na figura 14 que por sua vez, deve ser determinado em função do tipo de cimento. 40 Figura 14 - Gráfico para determinação da relação água/cimento (a/c) em função das resistências do concreto e do cimento os 28 dias de idade. Fonte: Rodrigues (1998). • Estimativa do Consumo de Água do Concreto (Ca) A quantidade de água necessária para que a mistura fresca adquira uma determinada consistência, medida pelo abatimento do tronco de cone, segundo Rodrigues (1998), depende basicamente da granulometria, da forma e textura dos grãos, mais especificamente, da área específica do agregado total da mistura. Considerando a dificuldade em expressar o consumo de água na mistura por meio de uma lei matemática, este autor apresenta como estimativa inicial do consumo de água por metro cúbico de concreto, os valores constantes mostrados na figura 15. 41 Figura 15 – Estimativa do consumo de água por metro cúbico de concreto em função do Diâmetro Máximo Característico do Agregado e do abatimento da mistura. Fonte: Rodrigues (1998). • Estimativa do Consumo de Cimento (Cc) Feita a estimativa do consumo de água por metro cúbico de concreto e adotada a relação água/cimento, a estimativa do consumo de cimento pode foi obtida pela equação (2). 𝐶𝑐 = 𝐶𝑎 (𝑎/𝑐) Equação (2) Onde: Cc = Consumo de Cimento Ca = Consumo de água a/c = Relação água/cimento • Estimativa do Consumo de Agregados O método permite a obtenção de misturas com uma determinada consistência aliada ao menor volume de vazios inter-grãos possíveis. Assim, determinou-se um teor ótimo do agregado graúdo na mistura por meio de uma proporção adequada entre a relação dos agregados graúdo/miúdo, partindo-se do princípio de colocar na mistura o máximo volume de agregado compactado seco por metro cúbico de concreto. Na figura 16 podem-se observar os valores que foram determinados experimentalmente pela Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP), apresenta os volumes compactados a seco de agregado graúdo, por metro cúbico de concreto, em função 42do Diâmetro Máximo característico do agregado graúdo (φmáx.) e do Módulo de Finura (MF) do agregado miúdo. Figura 16 – Volume compactado seco (Vpc) de agregado graúdo por metro cúbico de concreto. Fonte: Rodrigues (1998). A estimativa do Consumo do agregado graúdo (Cb) por metro cúbico de concreto foi dada pela equação (3). 𝐶𝑏 = 𝑉𝑏 ∗ 𝑀𝑢 Equação (3) Onde: Cb = Consumo de agregado graúdo por metro cúbico; Vb = Volume do agregado graúdo (brita) seco por metro cúbico de concreto; Mu = Massa unitária compactada do agregado graúdo (brita). No caso de misturas que utilizem dois ou mais agregado graúdo, Rodrigues (1998) recomenda que adote uma proporção entre os agregados graúdos que permita o menor volume de vazios. Isso é obtido quando os agregados são compactados em uma proporção tal que se obtenha a máxima massa unitária na condição compactada dos agregados. A figura 17 apresenta as proporções entre as britas que permitiram o menor volume de vazios, segundo experimentos desenvolvidos na ABCP. 43 Figura 17 – Proporções entre britas que possibilitam o menor volume de vazios inter-grãos. Fonte: Rodrigues (1998). A estimativa do consumo do agregado miúdo (Cm), quando já determinados os consumos do cimento, água e agregado graúdo, é imediato. Isso se deve ao fato que por princípio, o volume de concreto é formado pela soma dos volumes absolutos dos materiais que o constituem. Assim, para 1,0 metro cúbico de concreto, o volume do agregado miúdo é dado pela equação (4). 𝑉𝑚 = 1 − ( 𝐶𝑐 𝛾𝑐 + 𝐶𝑏 𝛾𝑏 + 𝐶𝑎 𝛾𝑎 ) Equação (4) Onde: Vm = Volume de areia por metro cúbico de concreto; Cc = Consumo de cimento; Cb = Consumo de Brita; Ca = Consumo de água; γc = Massa específica do cimento; γb = Massa específica da brita; γa = Massa específica da água; γm = Massa específica da areia. O consumo de areia por metro cúbico de concreto foi obtido pela equação (5). 𝐶𝑚 = 𝛾𝑚 ∗ 𝑉𝑚 Equação (5) Onde: 44 Cm = Consumo de areia; γm = Massa específica da areia; Vm = Volume de areia por metro cúbico de concreto. • Apresentação do traço de concreto A representação do traço, com relação ao unitário do cimento, é apresentada segundo a expressão (6). 𝐶𝑐 𝐶𝑐 ∶ 𝐶𝑚 𝐶𝑐 ∶ 𝐶𝑏 𝐶𝑐 ∶ 𝐶𝑎 𝐶𝑐 Equação (6) Onde: Cc = Consumo de cimento; Cm = Consumo de areia; Cb = Consumo de Brita; Ca = Consumo de água. 4.2- Caracterizações do Cimento 4.2.1- Tipo de Cimento Para o concreto autocicatrizante foi utilizado o cimento Portland CP III 40 RS (Figura 18) e para o concreto convencional foi utilizado o Cimento Portland CP II 32. A composição do cimento CP III 40 RS contém 35-70% de partículas de escória de alto-forno, essenciais para a construção do concreto autocicatrizante. 45 Figura 18 - Cimento Portland CPIII 40 RS. Fonte: Cimentec (2020). 4.3- Caracterizações do Agregado Miúdo 4.3.1- Granulometria Para determinar a análise granulométrica dos agregados, foi utilizada como referência a NBR NM 248 – Agregados – Determinação da composição granulométrica, de 2003. Neste ensaio foram utilizadas as peneiras da série intermediária (Figura 20) com as seguintes aberturas em mm: 38; 25; 19; 12,5; 9,5; 6,3;4,8; 2,4; 1,2; 0,6; 0,3; 0,15. Conforme especificado por norma, para o agregado com dimensão máxima característica < 4,8 mm, aplicou-se duas amostras de 500 g cada, nomeadas de M1 e M2 para a realização do ensaio. Inicialmente, as amostras foram secas em estufa por 24 horas e ao retirar, após as mesmas estarem em temperatura ambiente, foi estabelecida suas massas. Foram colocados sobre o conjunto de peneiras e agitados mecanicamente as amostras pelo período de 4 minutos, para que haja a separação dos diferentes tamanhos de grãos. Ao término, o material retido foi pesado em cada peneira. Da mesma forma foi procedido a amostra m2, para que ao concluir o ensaio possam ser calculados os valores médios das porcentagens retidas e acumuladas. 46 Figura 19 – Peneiras para a realização do ensaio. Fonte: Autoria própria, 2020. 4.3.2 - Massa Unitária A massa unitária é a relação entre a massa do agregado lançado no recipiente e o volume deste recipiente. Para comprovar esta relação, foram seguidos os métodos da NBR NM 45 – Agregados – Determinação da massa unitária e do volume de vazios, de 2006. O método escolhido da norma foi o C, pois é utilizado para determinar a massa unitária de material no estado solto. Deste modo, foram estabelecidas a massa do recipiente utilizado e então colocado o agregado, com o auxílio de uma concha, até ultrapassar o limite disponível. Com uma haste de aço retirou-se a quantidade em excesso do agregado com o arrasamento e determinado a massa do mesmo e do recipiente. A fim de chegar mais próximo dos resultados exatos, os ensaios foram realizados em duas amostras para assim obter uma média aritmética. Sendo assim, a massa unitária das amostras foi calculada pela seguinte equação (7): ρap = mar − mr V Equação (7) Onde: ρap= massa unitária do agregado (kg/m³); mar= massa do recipiente mais agregado (kg); 47 mr= massa do recipiente vazio (mm); V= volume do recipiente (m³). 4.3.3- Finura A mesma norma, NBR 7217, apresenta o método para definir o módulo de finura do agregado. O cálculo foi feito com base nas somas de porcentagens retidas acumuladas em massa, nas peneiras de série normal, dividido por cem, mostrado na equação (8): Mf = ∑ % retida acumulada 100 Equação (8) Onde: Mf = Módulo de finura 4.3.4- Massa Específica Para este experimento, foi aplicado um dos métodos mais utilizados para esta determinação, a NBR 9776 – Agregados – Determinação da massa específica de agregados miúdos por meio do frasco de Chapman, de 1987. Os resultados deste ensaio não apresentaram totalidade em precisão, porém determinado por norma, são aceitáveis para as aplicações em tecnologia do concreto. Deste modo, foi pesada uma amostra de 500 g do agregado miúdo e colocado em uma estufa a 100 ºC por 24 horas para que seque. Logo após, foi preenchido o frasco de Chapman até a marca de 200 ml com água e posteriormente colocado uma parcela da amostra do agregado. Para fazer este processo de forma correta utilizou- se o auxílio de um funil cano longo com a finalidade de não umedecer demasiadamente as paredes do frasco e consequentemente, evitar que o material fosse perdido. Em seguida, com movimentos circulares, o frasco foi agitado com o intuito de eliminar os vazios presentes na mistura água e agregado. Foi feito o mesmo procedimento adicionando a outra parcela da amostra. 48 Para finalizar o ensaio a leitura final do nível de água foi realizada, sendo o volume de água deslocado pelo agregado. O procedimento foi realizado duas vezes para que analise uma média aritmética
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