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ead.faminas.edu.br 1 ead.faminas.edu.br 2 Sumário OBJETIVOS ................................................................................................................. 3 APRESENTAÇÃO ........................................................................................................ 3 1. A Psicologia na Vara de Execuções Criminais .......................................................... 4 2. O Psicólogo na penitenciária / sistema prisional ....................................................... 7 3. A equipe multiprofissional e interdisciplinar do sistema prisional ............................... 4 4. Sugestões de Filmes .............................................................................................. 15 RESUMO .................................................................................................................... 16 ATIVIDADES DE FIXAÇÃO ........................................................................................ 17 GABARITO ................................................................................................................. 18 REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 19 file:///N:/Ana%20Carolina/EAD%20-%202020-1/Psicologia%20Juridica/PsicologiaJuridica_Unidade2.docx%23_Toc32315223 file:///N:/Ana%20Carolina/EAD%20-%202020-1/Psicologia%20Juridica/PsicologiaJuridica_Unidade2.docx%23_Toc32315224 file:///N:/Ana%20Carolina/EAD%20-%202020-1/Psicologia%20Juridica/PsicologiaJuridica_Unidade2.docx%23_Toc32315230 file:///N:/Ana%20Carolina/EAD%20-%202020-1/Psicologia%20Juridica/PsicologiaJuridica_Unidade2.docx%23_Toc32315231 file:///N:/Ana%20Carolina/EAD%20-%202020-1/Psicologia%20Juridica/PsicologiaJuridica_Unidade2.docx%23_Toc32315232 file:///N:/Ana%20Carolina/EAD%20-%202020-1/Psicologia%20Juridica/PsicologiaJuridica_Unidade2.docx%23_Toc32315233 ead.faminas.edu.br 3 UNIDADE V Pretendemos que ao final deste livro, sendo este o quinto capítulo, fique evidenciada a importância do diálogo entre essas duas disciplinas: Psicologia e Direito. O objetivo com esse estudo é promover a reflexão, visando contribuir para o exercício de uma prática profissional construída de modo respeitoso, empático e coletivo com outros campos do saber. É importante que a reflexão acerca da nossa responsabilidade no exercício profissional oriente a nossa prática cotidiana e que nos posicionemos a partir dos princípios éticos da nossa própria profissão e também respeitando os princípios éticos da profissão dos profissionais com os quais iremos trabalhar. Nesta unidade, a proposta é a reflexão acerca da interface entre a Psicologia Jurídica e o Sistema Prisional, conforme os objetivos apresentados acima. OBJETIVOS ▪ Apresentar o trabalho da Psicologia nas Varas de Execuções Criminais; ▪ Discorrer sobre o Psicólogo na penitenciária / sistema prisional; e, ▪ Apontar elementos acerca dos desafios para o trabalho interdisciplinar no sistema prisional. UNIDADE 5 – A INTERFACE DA PSICOLOGIA JURÍDICA COM AS VARAS DE EXECUÇÕES CRIMINAIS E COM O SISTEMA PRISIONAL APRESENTAÇÃO ead.faminas.edu.br 4 1. A Psicologia na Vara de Execução Criminal A Lei nº. 7.210, de 11 de julho de 1984 institui a Lei de Execução Penal - LEP. Nela encontramos o que está estabelecido a respeito do trabalho dos psicólogos em instituições penais. Vejamos alguns artigos: Art.1º A execução penal tem por objetivo efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado e do internado. Art.5º Os condenados serão classificados, segundo os seus antecedentes e personalidade, para orientar a individualização da execução penal. Art.6º A classificação será feita por Comissão Técnica de Classificação que elaborará o programa individualizador da pena privativa de liberdade adequada ao condenado ou preso provisório. (Redação dada pela Lei nº 10.792, de 2003). Art.7º A Comissão Técnica de Classificação, existente em cada estabelecimento, será presidida pelo diretor e composta, no mínimo, por 2 (dois) chefes de serviço, 1 (um) psiquiatra, 1 (um) psicólogo e 1 (um) assistente social, quando se tratar de condenado à pena privativa de liberdade. Art.8º O condenado ao cumprimento de pena privativa de liberdade, em regime fechado, será submetido a exame criminológico para a obtenção dos elementos necessários a uma adequada classificação e com vistas à individualização da execução. Art. 9º A Comissão, no exame para obtenção de dados reveladores da personalidade, observando a ética profissional e tendo sempre presentes peças ou informações do processo, poderá: I - entrevistar pessoas; II – requisitar, de repartições ou estabelecimentos privados, dados e informações a respeito do condenado; III – realizar outras diligências e exames necessários. “A Lei, portanto, determina o estudo da personalidade que, por sua vez, requer o exame das diversas áreas que deverá produzir um diagnóstico com vista ao plano individualizado de tratamento penal” (Ministério da Justiça, 2007, p. 28). https://www.jusbrasil.com.br/topicos/11703049/art-1-da-lei-de-execucao-penal-lei-7210-84 https://www.jusbrasil.com.br/topicos/11702899/art-5-da-lei-de-execucao-penal-lei-7210-84 https://www.jusbrasil.com.br/topicos/11702870/art-6-da-lei-de-execucao-penal-lei-7210-84 https://www.jusbrasil.com.br/topicos/11702830/art-7-da-lei-de-execucao-penal-lei-7210-84 https://www.jusbrasil.com.br/topicos/11702765/art-8-da-lei-de-execucao-penal-lei-7210-84 ead.faminas.edu.br 5 Vemos no final do primeiro artigo a expressão condenado e internado, pois essa lei se aplica àqueles a quem foi determinada uma pena e também àqueles inimputáveis que receberam uma medida de segurança, como já estudamos na Unidade 3. Nos artigos apresentados, destaca-se a necessidade de uma classificação com vistas à individualização da execução penal. E o psicólogo faz parte dessa equipe composta para essa classificação. É importante salientarmos que desde a aplicação da pena já deve ser respeitado o princípio constitucional da individualização da pena, previsto no art. 5º, inciso XLVI, da Constituição da República Federativa do Brasil. Ele garante aos indivíduos, no momento de uma condenação em um processo penal, que a sua pena seja individualizada, isto é, levando em conta as peculiaridades aplicadas para cada caso em concreto. [...] forma de olhar o indivíduo apartado dos demais. O indivíduo somente poderá responder no sistema penal na exata medida de seu comportamento, seja ele comissivo ou omissivo e, em virtude, deverá ter a responsabilização pelos seus atos recebidos da mesma forma de forma ajustada a si. (MOREIRA, 2015, p. 19) Ainda para auxiliar na compreensão a respeito leiamos: “De fato, a pena restritiva de direitos deve encontrar-se também adaptada ao condenado, respeitando- se as suas características, aptidões, dentre outros, a fim de que se consiga extrair o máximo de contribuição do apenado no cumprimento de suas obrigações” (MOREIRA, 2015, p.21). Para saber mais sobre a individualização da pena na execução penal acesse: https://lume.ufrgs.br/handle/10183/143619 A redação atual que lemos no art.6º alterou a anterior que atribuía à Comissão Técnica de Classificação o papel de propor, à autoridade competente, as progressões e regressões dos regimes, bem como as conversões de uma pena a Individualização da execução penal? Programa individualizador da pena privativa de liberdade adequada ao condenado ou presoprovisório? https://lume.ufrgs.br/handle/10183/143619 ead.faminas.edu.br 6 outra, exemplo, conversão da pena de multa em prisão. Cruces (2010) apresenta- nos elementos importantes que contextualizam essa mudança: Relatórios produzidos única e exclusivamente com o objetivo de responder a quesitos judiciais, de modo mecânico, com fundamentação técnica e ética discutível, passaram a ser criticados pelos juízes que os haviam pedido e pelas próprias pessoas avaliadas. Esses fatos contribuíram para que em 1º. de dezembro de 2003 fosse editada a Lei nº. 10.792/03, que modificou a Lei nº. 7.210, de 11 de julho de 1984, principalmente no que se refere a não obrigatoriedade do exame criminológico e do parecer da Comissão Técnica de Classificação (CTC) para a concessão de benefícios (p.144). Na interface do Direito com outros campos do conhecimento, como a Psicologia, é comprometedor quando essa se coloca no lugar de apenas responder às demandas jurídicas, desconsiderando os princípios técnicos e éticos em que deveria se embasar. Quando nos referimos às/aos psicólogas/os que atuam no campo da execução penal, esse compreende o Sistema Penitenciário, o Ministério Público, a Defensoria Pública e os Tribunais de Justiça, que atuam com a temática. Ao longo desta Unidade, compartilharemos alguns dados, incluindo depoimentos, de uma pesquisa realizada em 2019 pelo Conselho Federal de Psicologia - CFP. A pesquisa coletou informações de 500 profissionais de Psicologia que trabalham na execução penal. Os dados foram coletados em junho e julho do ano mencionado e a publicação ocorreu em dezembro. Os depoimentos estarão identificados com a sigla CRP, ou seja, Conselho Regional de Psicologia, seguido da identificação numérica da região de abrangência do Conselho. É importante salientar que o trabalho com as medidas socioeducativas aplicadas aos adolescentes autores de ato infracional não faz parte do campo de execução penal. Como vimos na Unidade anterior, o trabalho com o adolescente integra o sistema socioeducativo, que prevê a sua proteção integral e uma maneira diferente de trabalho considerando que o adolescente está em desenvolvimento. Nos artigos que citamos da LEP, também encontramos a expressão Exame criminológico. Discorramos um pouco mais sobre: ead.faminas.edu.br 7 De acordo com o CFP (2019), esse exame consiste na análise que abrange questões de ordem psicológica e psiquiátrica do condenado, tais como grau de agressividade, periculosidade, maturidade, com o finco de prognosticar a potencialidade de novas práticas criminosas. O Exame Criminológico tornou-se prática única e cotidiana dos psicólogos. Estes eram convocados pelos juízes das Varas de Execuções Criminais a responderem se uma determinada pessoa tinha ou não condições de continuar cumprindo sua pena em um regime mais brando, se as causas que a levaram a cometer o delito haviam sido extintas ou se sua periculosidade havia diminuído (CRUCES, 2010, p. 143). Atualizando essa informação de 2010 de que o exame havia se tornado prática única dos psicólogos, na pesquisa realizada pelo CFP em 2019 consta que apenas 29,6% dos psicólogos realizam exame criminológico, ou seja, essa prática não é mais a que predomina. De acordo com o CFP (2019), as principais atividades realizadas pelos psicólogos no dia-a-dia de trabalho consistem em: Acolhimento, Atendimento de emergência, Avaliação Psicológica Acompanhamento individual, Aconselhamento, Encaminhamento para serviços especializados, Discussão de casos com a equipe do Serviço, Elaboração de laudos e pareceres, Atendimentos conjuntos em equipe, Psicoterapia individual, Grupos/oficinas de prevenção/educação. Continuaremos essa discussão apresentado as especificidades do trabalho do psicólogo na penitenciária / sistema prisional. 2. O Psicólogo na penitenciária / sistema prisional De acordo com Cruces (2010), o psicólogo vem trabalhando no sistema penitenciário brasileiro desde a década de setenta do século XX, todavia, até os dias atuais ainda encontramos inúmeros desafios na realização desse trabalho. O exame criminológico tem por objetivo a individualização da pena, e estabelece como o cumprimento da sentença será realizado, no sentido de buscar a melhor forma de inserir o reeducando na casa penal (Psicóloga, CRP 14). (CFP, 2019, p.35). ead.faminas.edu.br 8 “O ingresso dos primeiros psicólogos no sistema penal brasileiro ocorreu no Rio de Janeiro em meados da década de 60, logo após a regulamentação da profissão no Brasil (1962)” (Ministério da Justiça, 2007, p. 23). A Psicologia desenvolvida nas prisões é uma das primeiras práticas da Psicologia Jurídica. Segundo os dados da pesquisa realizada pelo CFP (2019), em relação à pergunta sobre quais são os principais desafios específicos enfrentados no cotidiano do trabalho, os psicólogos elencaram: ▪ carga de trabalho excessiva; ▪ massificação das demandas; ▪ fluxo de trabalho inadequado; ▪ equipe insuficiente; ▪ baixa remuneração; e, ▪ falta de infraestrutura (ausência de salas para atendimento que tenha isolamento acústico que zele pelo sigilo profissional, falta de mobiliário para guardar os materiais sigilosos, etc.). Ainda na pesquisa do CFP (2019), os profissionais apontam que um grande desafio vivenciado no trabalho é estabelecer o lugar da Psicologia, enquanto intervenção diferenciada dos demais dispositivos da justiça criminal, bem como com os colegas de trabalho. Esse desafio é resultado de um processo de reflexão pelo qual passou e ainda passa a Psicologia, questionando a sua prática na instituição prisional, possibilitando a construção de um novo posicionamento embasado no compromisso com o público atendido e não com os interesses da elite. Segundo Badaró (2005), citada pelo Ministério da Justiça (2007), objetiva-se buscar “uma prática psicológica comprometida com os princípios dos direitos humanos e com a ética profissional de modo a poder criar dispositivos que acionem novos processos de subjetivação que potencializem a vida das pessoas presas” (p. 31). Voltemos um pouco nessa história. De acordo com o Ministério da Justiça (2007) a partir do momento que passou a interessar às autoridades os aspectos históricos e circunstanciais de quem comete um crime, as condições de subjetividade se tornaram relevantes, sendo um campo de trabalho para a Psicologia. Todavia, ead.faminas.edu.br 9 nesse percurso, a Psicologia “vem exercendo função relevante e estruturante no processo prisional, relacionada à manutenção das relações de poder e dominação, na medida em que fundamenta mecanismos de controle, nomeia e classifica sujeitos” (p. 10-11). O conhecimento psicológico a respeito dos reclusos produziu elementos para melhor controlá-los. É preciso avançar quanto a isso, sendo necessário que o psicólogo transforme a sua prática, não deixando-a limitada a responder uma solicitação jurídica, mas sim buscando desenvolver ações orientadas à reintegração social, ao fortalecimento do indivíduo, ajudando-o a apropriar-se do cumprimento de sua pena e levá-lo à reflexão para a construção de um novo projeto de vida. A partir do que foi apresentado, o Ministério da Justiça (2007), juntamente com o Conselho Federal de Psicologia, apresentaram diretrizes para as atribuições dos psicólogos que atuam no sistema prisional. Citemos algumas: ▪ Atuar de forma a desconstruir o conceito de que o crime está relacionado unicamente à patologia ou história individual, ao biográfico, e enfatizar os dispositivos sociais que promovem a criminalização; ▪ Promover dispositivos junto às pessoas presas que estimulem a autonomia e a expressão de sua individualidade, disponibilizando recursos e meios que possibilitem sua participaçãocomo protagonista na execução da pena; ▪ Por meio da escuta e de intervenções, o psicólogo deve estimular a subjetividade das pessoas presas, buscando desconstruir estigmas (classe, gênero, etnia, raça, religião) e, dessa forma, impedir o incremento da criminalização e da punição (p. 78); ▪ Compreender os sujeitos na sua totalidade histórica, social, cultural, humana e emocional e atuar a partir desse entendimento; e, ▪ Identificar, analisar e interpretar as variáveis que compõem o fenômeno da violência social e da criminalidade (p. 82). Bem, após as informações que foram apresentadas, vamos discorrer acerca da relação entre Direito e Psicologia Jurídica nesse campo de trabalho, o sistema penitenciário. ead.faminas.edu.br 10 “Em relatos de psicólogos é comum a menção ao fato de o juiz, ao indeferir um benefício, citar trechos da avaliação psicológica como fundamento de sua decisão” (Ministério da Justiça, 2007, p. 44). Essa prática não pode expor o psicólogo? E o sigilo? É importante que compreendamos que está previsto no Código de Ética do psicólogo o dever de respeitar o sigilo, ponto que demarca condições e responsabilidades do exercício profissional do psicólogo. Art. 6º – O psicólogo, no relacionamento com profissionais não psicólogos: [...] b) Compartilhará somente informações relevantes para qualificar o serviço prestado, resguardando o caráter confidencial das comunicações, assinalando a responsabilidade, de quem as receber, de preservar o sigilo (CFP, 2005, p. 12). Art. 9º – É dever do psicólogo respeitar o sigilo profissional a fim de proteger, por meio da confidencialidade, a intimidade das pessoas, grupos ou organizações, a que tenha acesso no exercício profissional. (CFP, 2005, p.13) Conhecer o que regulamenta a atuação dos profissionais com os quais se trabalha viabiliza compreender e respeitar o trabalho realizado, bem como pode auxiliar que se tenha, na medida do possível, um posicionamento empático em relação a esses profissionais, buscando se colocar no lugar deles antes de tomar alguma atitude. Quando o juiz fundamenta sua decisão, contrária à solicitação feita, e cita trechos da avaliação psicológica realizada pelo psicólogo que trabalha na penitenciária ele o expõe, sobremaneira, ao risco em relação ao preso em questão, que pode atribuir ao psicólogo a responsabilidade pela negativa. Outro ponto também é que isso fere o Código de Ética do psicólogo. Diante de tudo isso podemos indagar: é possível que a psicologia desenvolvida nas prisões responda ao judiciário (juízes de execução e promotores) conforme suas expectativas? Com o objetivo de respondermos a essa pergunta, nos reportaremos à relação entre direito e psicologia jurídica. Segundo Popolo (1996), citado pelo Ministério da Justiça, 2007, uma modalidade de relação entre a psicologia Jurídica e o Direito é o modelo de subordinação, sendo que, nesse caso, se tornaria uma psicologia aplicada para atender à demanda jurídica e assim contribuir para o melhor exercício do Direito. Contudo, mesmo que a prática psicológica ocorra numa instituição jurídica, importa ao pensamento psicológico transcender às solicitações do mundo jurídico. Uma outra modalidade de relação entre a Psicologia Jurídica ead.faminas.edu.br 11 e o Direito é a de complementaridade, caracterizada pela interseção entre o conhecimento psicológico e o jurídico. Dessa forma, pode haver diálogo e interação entre os saberes (p. 44-45). Subordinação ou complementaridade? Na área penal, a modalidade de relação entre o judiciário e a psicologia é de subordinação. Citemos um exemplo em relação a isso: “Muitas vezes, juízes chegam a indicar o instrumento a ser utilizado numa avaliação psicológica” (Ministério da Justiça, 2007, p. 45). É preciso cuidado e respeito no exercício profissional na interface com outros campos do conhecimento, inclusive, o que foi salientado praticamente em todas as unidades do nosso material. A proposta é que façamos da interface entre o Direito e a Psicologia um bom encontro e que seja valioso para o destinatário desse trabalho conjunto. Abordaremos a seguir pontos importantes relacionados à equipe multiprofissional e interdisciplinar no sistema prisional. 3. A equipe multiprofissional e interdisciplinar do sistema prisional Para iniciar nossas considerações sobre a equipe multiprofissional e interdisciplinar do sistema prisional, retomemos a diferenciação entre essas duas formas de trabalho em equipe que apresentamos na Unidade 2: Interface entre Direito e Psicologia. Interdisciplinaridade Multidisciplinaridade - aproximação de diferentes disciplinas para a solução de problemas específicos. - aproximação de diferentes disciplinas para a solução de problemas específicos. - compartilhamento de metodologia. - diversidades de metodologias: cada disciplina fica com a sua metodologia. - geração de novas disciplinas após muita cooperação. - os campos disciplinares, embora cooperem, guardam suas fronteiras e ficam imunes ao contato. - intensidade das trocas entre os profissionais e integração real dos conhecimentos dessas diferentes profissões. - tem-se apenas uma simples coexistência, realizando apenas um agrupamento. ead.faminas.edu.br 12 A partir da retomada desses conceitos, salienta-se que a interdisciplinaridade é uma forma de trabalho em equipe de modo mais integrado e cooperativo do que na multidisciplinaridade. Vamos refletir como é realizado o trabalho no sistema prisional. Na perspectiva do trabalho em equipe, citemos algumas diretrizes para as atribuições dos psicólogos que atuam no sistema prisional: ▪ Atuar em âmbito institucional e interdisciplinar; ▪ Interagir com os demais profissionais das áreas técnicas com vistas à construção de projetos interdisciplinares voltados para a garantia de direitos, à autonomia, à promoção da saúde integral das pessoas presas, egressos e seus familiares, contribuindo, assim, para a reintegração social; ▪ Interagir com os demais profissionais das áreas técnicas com vistas à construção de projetos interdisciplinares voltados à saúde do trabalhador do sistema prisional; ▪ Facilitar relações de articulação interpessoal e interinstitucional; e, ▪ Constituir equipes diferenciadas para o trabalho com o dependente químico em consonância com as políticas públicas oficiais de saúde, acessando as redes de recursos existentes (Ministério de Justiça, 2007, p.77). Não há dúvida, então, de que há a previsão enquanto uma diretriz para que seja desenvolvido o trabalho em equipe e que a interdisciplinaridade ocorra. Na pesquisa realizada pelo Conselho Federal de Psicologia – CFP (2019) também foram abordados aspectos referentes ao trabalho em equipe. As respostas dadas pelos psicólogos destacaram a presença de relações difíceis da Psicologia com os demais operadores do sistema, sendo necessário que constantemente seja preciso negociar e reforçar o lugar da Psicologia com os colegas de trabalho, ou seja, esse lugar ainda não está consolidado. Outro aspecto citado foi o machismo que permeia o conjunto de relações entre os profissionais de psicologia (em sua maioria mulheres) e os demais profissionais. Citemos algumas respostas registradas na pesquisa mencionada que registram os desafios no trabalho interdisciplinar. Achamos importante citarmos as respostas na íntegra, considerando a riqueza apresentada, bem como a complementaridade entre elas. Lembremos que as respostas foram coletadas em 2019, a partir do registro da prática de vários profissionais da Psicologia em todo o Brasil. As respostas podem ser encontrada das páginas 54 à 62 do relatório descritivo da pesquisa. ead.faminas.edu.br 13 Para saber mais e ler o texto na íntegra acesse: https://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2019/12/BR84-CFP-Rel-SisPenalBrasileiro_web_vs3.pdf O maior desafio é superar a incredulidade dos colegas de trabalho que enxergam o profissional de Psicologia como “amigo” dos presos e não como um agente transformador a trabalho e em busca da ressocialização do interno. Lidar com esta situação exige paciência e muitas vezes é necessário que nos esforcemos mais para atingir um objetivo somente para provar que estamos no caminho certo (Psicóloga, CRP-14). Uma das maiores dificuldades encontradas está relacionada à cultura organizacional de algumas categorias profissionais do ambiente penitenciário (Agentes Penitenciários), que apesar da LEP e outras legislações, insistem em um sistema punitivo e descrente da ressocialização (Psicóloga, CRP-18). Ser garantidora de direitos humanos trabalhando na prisão para mim é o maior desafio. Disso decorre os múltiplos impasses das psicólogas com a segurança e também com o sistema de justiça como um todo. Haja visto que a prisão é para segregar “os indesejáveis” é difícil o trabalho educativo demonstrando a importância de propagar o fim do recurso à prisão junto às instâncias de justiça e controle (Psicóloga, CRP-07). É inegável a importância do trabalho interdisciplinar neste âmbito, olhar o ser humano como ser biopsicossocial é imprescindível para que a ressocialização se torne real e não uma utopia (Psicóloga, CRP-14). É importantíssima. Para mim não existe trabalho no sistema penal que não seja interdisciplinar. Não se trata de perder a singularidade ou especificidade do seu saber, mas sim conectar ele [sic] a outros saberes e assim ver o sujeito na sua integralidade (Psicóloga, CRP- 07). Fundamental. Somos uma engrenagem dentro do sistema. Tanto o setor de saúde, com o de assistência social, jurídico, segurança... Todos fazemos parte de uma engrenagem, precisamos uns dos outros. Se todos compreendessem a importância de trabalharmos unidos, em equipe, talvez evitássemos problemas de desajustamento ou tentativas de suicídio, agressões entre reeducandos (Psicóloga, CRP-12). É tão difícil quanto necessária. A prisão é uma instituição que produz segregação e, dessa forma, coloca todos contra todos, individual e coletivamente (Psicóloga, CRP-04). Ainda está longe de ocorrer de forma efetiva, pois existe uma cultura punitiva muito robusta por parte de categorias que fazem parte da equipe do sistema prisional e execução penal (Psicóloga, CRP-18). https://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2019/12/BR84-CFP-Rel-SisPenalBrasileiro_web_vs3.pdf https://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2019/12/BR84-CFP-Rel-SisPenalBrasileiro_web_vs3.pdf ead.faminas.edu.br 14 A interdisciplinaridade é bastante restrita pelo modo como o trabalho é desenvolvido. As práticas profissionais são em sua maioria em atendimento individual ou com projetos pontuais a partir do profissional. A superlotação, a segurança e a tendência em fragmentar ações acabam atingindo o trabalho de atenção à pessoa privada de liberdade dentro de uma perspectiva ampliada (Psicóloga, CRP-07). A prisão é uma instituição que separa ao invés de unir (Psicóloga, CRP-07) (P.70). Acho importante e necessária, porém o sistema prisional está enraizado na cultura da verticalização. Cada um fica com o seu conhecimento, não há momentos de discussão em equipe, a conversa fica fragmentada. É necessário promover essa interdisciplinaridade, para ampliar a compreensão de várias situações que poderiam ser evitadas (Psicóloga, CRP-06). Entre a Psicologia e o Serviço Social esta prática ocorre de forma natural. Com as demais profissões ainda a muito que fortalecer/formar (Psicóloga, CRP-07) (CFP, 2019, p.72). Nos depoimentos, observamos a abertura dos profissionais de Psicologia ao trabalho interdisciplinar. “A interdisciplinaridade é vista como uma ferramenta para prestar um serviço mais amplo na execução penal, visto que possibilitaria uma atenção às diversas problemáticas que atravessam os sujeitos aprisionados” (CFP, 2019, p.68). Contudo, a cultura de segmentação, machista e verticalizada do sistema penitenciário dificulta, até o presente momento, que esse trabalho seja uma realidade entre todos os profissionais das diferentes áreas de formação. Foi relatada uma dificuldade significativa entre os psicólogos e os profissionais mais voltados para a segurança da penitenciária. Quando há atuações em conjunto com outros profissionais, dá-se com as equipes técnicas, principalmente com as assistentes sociais. “A parceria com assistentes sociais é aquela com a qual a Psicologia trabalha interdisciplinarmente de forma mais sólida e abrangente. Quase não há articulação com os demais atores do sistema prisional, os quais, segundo as falas das psicólogas, demonstram-se mais refratários à articulação” (CFP, 2019, p75- 76). Enfim, há um percurso a ser trilhado ainda para se avançar no trabalho interdisciplinar, considerando todas as questões presentes no contexto do sistema prisional. ead.faminas.edu.br 15 4. Sugestões de Filmes 4.1 UM SONHO DE LIBERDADE 4.2 SEM PENA Participa do elenco, Luiz Eduardo Soares (antropólogo, cientista político e escritor brasileiro. Considerado como um dos mais importantes especialistas em segurança pública do Brasil). Disponível no YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=b6RDgB8GVW8 Descrição: Andy Dufresne é condenado a duas prisões perpétuas consecutivas pelas mortes de sua esposa e de seu amante. Porém, só Andy sabe que ele não cometeu os crimes. No presídio, durante dezenove anos, ele faz amizade com Red, sofre as brutalidades da vida na cadeia, se adapta, ajuda os carcereiros, etc. Direção: Frank Darabont https://g.co/kgs/eYTSPb Disponível no YouTube para alugar: https://www.youtube.com/watch?v=o1axrUg2hlU Descrição: A população carcerária brasileira é uma das maiores do mundo e só aumenta. O filme investiga a precária vida nas prisões do país e os medos, preconceitos e equívocos que assombram o tema. https://g.co/kgs/Shj1y3. Direção: Eugenio Puppo https://www.google.com.br/search?sa=X&q=Luiz+Eduardo+Soares&stick=H4sIAAAAAAAAAONgFuLVT9c3NEwqr0wpL86qUuLSz9U3ME5Ot8gz1OLxzS_LTA3Jd0wuyS9axCrsU5pZpeCaUppYlJKvEJyfWJRavIOVEQChybJsRAAAAA&ved=2ahUKEwje8fecnNToAhUnLLkGHTBdA7sQxA0wIXoECBEQBQ https://www.google.com.br/search?sa=X&q=Luiz+Eduardo+Soares&stick=H4sIAAAAAAAAAONgFuLVT9c3NEwqr0wpL86qUuLSz9U3ME5Ot8gz1OLxzS_LTA3Jd0wuyS9axCrsU5pZpeCaUppYlJKvEJyfWJRavIOVEQChybJsRAAAAA&ved=2ahUKEwje8fecnNToAhUnLLkGHTBdA7sQxA0wIXoECBEQBQ https://www.youtube.com/watch?v=b6RDgB8GVW8 https://www.google.com.br/search?q=um+sonho+de+liberdade+dire%C3%A7%C3%A3o&stick=H4sIAAAAAAAAAOPgE-LQz9U3MM_KK9ESy0620k_LzMkFE1YpmUWpySX5RYtY5UtzFYrz8zLyFVJSFXIyk1KLUhKBLJCCw8sPL84HAO9LbbVGAAAA&sa=X&ved=2ahUKEwjtr6r5ntToAhVzCrkGHQ3vAj4Q6BMoADAfegQIDhAC https://www.google.com.br/search?q=Frank+Darabont&stick=H4sIAAAAAAAAAOPgE-LQz9U3MM_KK1HiBLFMDC0LyrXEspOt9NMyc3LBhFVKZlFqckl-0SJWPreixLxsBZfEosSk_LySHayMABhPJgtDAAAA&sa=X&ved=2ahUKEwjtr6r5ntToAhVzCrkGHQ3vAj4QmxMoATAfegQIDhAD https://g.co/kgs/eYTSPb https://www.youtube.com/watch?v=o1axrUg2hlU https://g.co/kgs/Shj1y3 https://www.google.com.br/search?sa=X&q=sem+pena+dire%C3%A7%C3%A3o&stick=H4sIAAAAAAAAAOPgE-LVT9c3NEwqr0wpL86q0hLLTrbST8vMyQUTVimZRanJJflFi1iFilNzFQpS8xIVQGKHlx9enA8AaE38vj4AAAA&ved=2ahUKEwje8fecnNToAhUnLLkGHTBdA7sQ6BMoADAdegQIDRAC https://www.google.com.br/search?sa=X&q=Eugenio+Puppo&stick=H4sIAAAAAAAAAOPgE-LVT9c3NEwqr0wpL86qUuLSz9U3yDUxja9K1xLLTrbST8vMyQUTVimZRanJJflFi1h5XUvTU_My8xUCSgsK8newMgIAh-FZoUgAAAA&ved=2ahUKEwje8fecnNToAhUnLLkGHTBdA7sQmxMoATAdegQIDRAD ead.faminas.edu.br 16 Nesta Unidade, trabalhamos a interface entre Psicologia Jurídica e o Sistema Prisional. Apresentamos alguns artigos da Lei nº 7.210, Lei de Execução Penal, destacando a importância da construção de um plano individualizado de tratamentopenal, de responsabilidade também do psicólogo, princípio já previsto na Constituição. Citamos uma mudança importante ocorrida nessa Lei retirando a condição da Comissão Técnica de Classificação propor progressos e regressos de regime, bem como conversões de pena. Foi salientado que os profissionais de psicologia não devem se preocupar somente em responder às demandas jurídicas, mas embasar sua prática em princípios técnicos e éticos. Conceituamos exame criminológico e apresentamos sua finalidade, ressaltando através dos dados de uma pesquisa realizada pelo Conselho Federal de Psicologia, em 2019, que atualmente menos de 30% dos psicólogos do sistema prisional trabalham na realização desse exame, contrariando que anteriormente essa era uma prática prioritária. Apresentamos os principais desafios que os psicólogos enfrentam no trabalho no sistema prisional e os pontos chave na interface do Direito e da Psicologia Jurídica nesse campo de trabalho. Por último, apresentamos os desafios para a realização do trabalho interdisciplinar, salientando que há um percurso a ser trilhado ainda para se avançar nessa perspectiva, considerando todas as questões presentes no sistema prisional. RESUMO ead.faminas.edu.br 17 1. Marque (V) para a alternativa verdadeira e (F) para a falsa, fazendo a correção das alternativas falsas: a) ( ) O trabalho com as medidas socioeducativas faz parte do campo de execução penal. b) ( ) O exame criminológico tem como objetivo a individualização da pena. c) ( ) No Código de Ética do psicólogo está previsto o sigilo. 2. Cite alguns desafios no trabalho interdisciplinar no sistema prisional? ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ 3. Comente acerca da mudança do artigo 6º da Lei de Execução Penal e em que isso contribuiu para uma mudança no trabalho do psicólogo? _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ ATIVIDADES DE FIXAÇÃO ead.faminas.edu.br 18 1. Marque (V) para a alternativa verdadeira e (F) para a falsa, fazendo a correção das alternativas falsas: a) ( F ) O trabalho com as medidas socioeducativas faz parte do campo de execução penal. b) ( V ) O exame criminológico tem por objetivo a individualização da pena. c) ( V ) No Código de Ética do psicólogo está previsto o sigilo. Correção da alternativa F. O trabalho com as medidas socioeducativas não faz parte do campo de execução penal. 2) Incredulidade dos colegas em relação ao trabalho do psicólogo; cultura organizacional punitiva, descrente da ressocialização e verticalizada; segregação presente na prisão; fragmentação de ações. 3) A redação atual que lemos no art.6º alterou a anterior que atribuía à Comissão Técnica de Classificação o papel de propor, à autoridade competente, as progressões e regressões dos regimes, bem como as conversões de uma pena a outra, exemplo, conversão da pena de multa em prisão. Isso viabilizou que os psicólogos pudessem realizar outras atividades e não apenas o exame criminológico. GABARITO ead.faminas.edu.br 19 BADARÓ, Maria Márcia. Linhas de fuga - uma breve reflexão da prática do psicólogo na prisão. Revista Diálogos. Conselho Federal de Psicologia. Ano 2, Nº 2, março de 2005. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. (Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em 31 de mar. de 2020). BRASIL. Lei n.º 7.210 de 11 de julho de 1984. Institui a Lei de Execução Penal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7210.htm>. Acesso em: 28 de jan. 2020. Conselho Federal de Psicologia. Resolução CFP Nº 010/05. Aprova o Código de Ética Profissional do Psicólogo. Brasília, julho de 2005. Disponível em: <https://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2012/07/codigo-de-etica-psicologia-1.pdf>. Acesso em: 04 abr. de 2020. Conselho Federal de Psicologia. 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A individualização da pena na execução penal. (Monografia do Curso de Especialização em Direito Penal e Política Criminal da Faculdade de Direito, Universidade Federal do Rio Grande do Sul). Porto Alegre, 2015. 64 p. Disponível em: < https://lume.ufrgs.br/handle/10183/143619>. Acesso em: 08 de abr. 2020. POPOLO, Juan H. del. Psicologia Judicial. Mendonza: Ediciones Juridicas Cuyo, 1996. 475p. REFERÊNCIAS http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%2013.105-2015?OpenDocument http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%2013.105-2015?OpenDocument http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7210.htm https://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2012/07/codigo-de-etica-psicologia-1.pdf https://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2019/12/BR84-CFP-Rel-SisPenalBrasileiro_web_vs3.pdf https://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2019/12/BR84-CFP-Rel-SisPenalBrasileiro_web_vs3.pdf https://www.redalyc.org/pdf/946/94615157010.pdf http://www.crpsp.org.br/sistemaprisional/cartilhas/Diretrizes_atuacao_psi_do_sistema_prisional.pdf http://www.crpsp.org.br/sistemaprisional/cartilhas/Diretrizes_atuacao_psi_do_sistema_prisional.pdf https://lume.ufrgs.br/handle/10183/143619
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