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PSICOLOGIA-JURÍDICA-E-O-SISTEMA-PENAL

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ESPIRITO SANTO 
 
 
 
2 
SUMÁRIO 
INTRODUÇÃO .................................................................................................. 4 
1 CRIMINOLOGIA E PSICOLOGIA CRIMINAL ............................................. 5 
1.1 Análise psicológica do comportamento criminoso ................................ 6 
2 PSICOLOGIA JURÍDICA ............................................................................ 8 
2.1 Conceito de psicologia ......................................................................... 8 
2.2 A psicologia e o direito ......................................................................... 9 
2.3 Psicologia Jurídica No Brasil .............................................................. 10 
2.4 Principais áreas de atuação do psicólogo jurídico .............................. 11 
3 ASPECTOS DO CUMPRIMENTO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE 
NO BRASIL ............................................................................................................... 13 
3.1 Breve Histórico a Respeito da Evolução das Penas .......................... 14 
3.2 Teoria Geral da pena no Brasil ........................................................... 15 
3.3 Aspectos subjetivos e fatores que levam ao ato delituoso ................. 16 
3.4 A prisão no Brasil ............................................................................... 18 
3.5 O profissional de Psicologia no sistema prisional ............................... 21 
3.6 A História do trabalho da psicologia jurídica na instituição penal e a lei
 26 
4 O PAPEL DA PSIQUIATRIA E DA PSICOLOGIA NA EXECUÇÃO PENAL
 31 
4.1 Execução penal .................................................................................. 32 
4.2 O exame criminológico ....................................................................... 34 
4.3 Reforma psiquiátrica........................................................................... 36 
4.4 Os direitos humanos ante ao sistema prisional .................................. 38 
5 A CONTRIBUIÇÃO DOS PSICÓLOGOS JURÍDICOS JUNTO AO SISTEMA 
PRISIONAL ............................................................................................................... 39 
 
3 
5.1 A atuação do psicólogo jurídico no contexto das instituições prisionais
 39 
5.2 Psicologia E O Indivíduo Em Cumprimento De Pena Privativa De 
Liberdade 40 
5.3 Psicologia e a reintegração do egresso na sociedade ....................... 43 
6 O PAPEL DA PSICOLOGIA NA RESSOCIALIZAÇÃO ............................. 46 
6.1 A PSICOLOGIA .................................................................................. 46 
6.2 O INSTITUTO DA RESSOCIALIZAÇÃO ............................................ 49 
6.3 O papel da psicologia na ressocialização........................................... 51 
6.4 Trabalho dos psicólogos junto às demais pessoas envolvidas com o 
sistema carcerário ................................................................................................. 54 
7 BIBLIOGRAFIA ......................................................................................... 57 
 
 
 
4 
INTRODUÇÃO 
Prezado aluno! 
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante 
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - 
um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma 
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é 
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a 
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas 
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em 
tempo hábil. 
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa 
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das 
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que 
lhe convier para isso. 
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser 
seguida e prazos definidos para as atividades. 
 
Bons estudos! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
1 CRIMINOLOGIA E PSICOLOGIA CRIMINAL 
 
Fonte: www.emaze.com 
Segundo Nestor Sampaio Penteado Filho (2010 p.19) ‘“etimologicamente, 
criminologia vem do latim Crimino (crime) e do grego logos (estudo, tratado), 
significando o estudo do crime”. 
Como forma de melhorar os conceitos e contribuir para o estudo da mente do 
criminoso, seu surgimento se deu no ano de 1875, fundamentando-se na busca de 
fatores que contribuem para a conduta delitiva, e tendo como objeto as causas da 
criminalidade, a personalidade e o comportamento do criminoso: 
 Em sua tentativa para chegar ao diagnóstico etiológico do crime, e, assim, 
compreender e interpretar as causas da criminalidade, os mecanismos do 
crime e os móveis do ato criminal, conclui que tudo se resumia em um 
problema especial de conduta, que é a expressão imediata e direta da 
personalidade. Assim, antes do crime, é o criminoso o ponto fundamental da 
Criminologia contemporânea. (MACEDO,1977, apud in LEAL, 2008, p.173). 
Cabe assim, definir criminologia como conceitua Nestor Sampaio Penteado 
Filho (2010, p.19) em sua obra, Manual Esquemático de Criminologia: “A ciência 
empírica (baseado na observação e experiência) e interdisciplinar que tem por objeto 
de análise o crime, a personalidade do autor do comportamento delitivo, da vítima e o 
controle social das condutas criminosas”. 
 
6 
Podemos dizer que a ciência da criminologia surgiu pela necessidade de 
entender o crime como um fenômeno social e encontrar uma justiça mais humana e 
tornou-se fundamental para área criminal, já que não existe possibilidade de conhecer 
o criminoso sem estudar sua vida psíquica, esta por sua vez, é mais importante que a 
sua vida orgânica, uma vez que os atos correspondem ao comendo psíquico. 
Sendo assim, é importante que um crime não seja julgado somente pelo delito 
em si, mas é essencial compreender o motivo que levou o indivíduo a praticá-lo, uma 
vez que o homem é reflexo do meio em que vive e elementos socioeconômicos, 
discriminação, abandono, entre outros, podem influenciar em sua conduta. 
A psicologia criminal, por sua vez, tem por objetivo o estudo da personalidade, 
buscando entender os fatores que a influenciam, ou seja, biológicos, mesológicos 
(meio ambiente) ou social. 
Nestor Sampaio Penteado Filho (2014, p.167) descreve os transtornos de 
personalidade como: “Não são tecnicamente doenças, mas anomalias do 
desenvolvimento psíquico sendo consideradas perturbações da saúde mental”. 
As classificações de transtornos e comportamentos descrevem o transtorno 
específico de personalidade como uma perturbação grave, com tendências 
comportamentais. Tais transtornos revelam uma falta de harmonia de atitudes e 
condutas no relacionamento interpessoal do indivíduo. Esse tipo de transtorno 
específico é caracterizado por insensibilidade pelos sentimentos alheios. Quando o 
indivíduo não apresenta sensibilidade alguma – com ausência total de remorso ou 
arrependimento – ficando indiferente, isso pode levá-lo a um comportamento delituoso 
recorrente e seu diagnóstico é de psicopatia (transtorno de personalidade, antissocial, 
sociopatia, transtorno de caráter, transtorno sociopático ou transtorno dissocial). 
1.1 Análise psicológica do comportamento criminoso 
Segundo Penteado (2010), Um indivíduo que possui boa formação e princípios 
pode ter seu equilíbrio rompido e cometer um delito por reação. Essa conduta é 
psicologicamente atípica, chamado de crime eventual. 
A periculosidade ou personalidade perigosa apresentada é aquela que possui 
propensão para o delito por ser o indivíduo incapaz de assimilar as regras 
comportamentais e os padrões sociais. O delinquente que, do ponto de vista 
 
7 
criminológico, reincide emseus crimes no mínimo 3 vezes e com certo intervalo de 
tempo entre cada crime, este é conhecido como assassino em série (serial killer). 
Nestor Sampaio Penteado (2014, p.172) afirma ainda que: 
 A diferença entre o assassino em massa, que mata várias pessoas de uma 
só vez sem se preocupar com a identidade destas e o assassino em série, é 
que este elege cuidadosamente suas vítimas, selecionando na maioria das 
vezes pessoas do mesmo tipo e características (Apud AQUILINO, 2019.p.03) 
A análise de perfil de personalidade estabelece como estereótipos dos 
assassinos em série, na usa maioria, homens jovens de cor branca que atacam 
preferencialmente mulheres e cujo primeiro crime se deu antes dos 30 anos. Alguns 
possuem histórico de uma infância traumática devido a maus tratos físicos ou 
psíquicos, motivando os delinquentes a isolar-se da sociedade ou vingar-se dela. 
Tais frustrações induzem os delinquentes a um mundo imaginário, melhor que 
o real, onde eles revivem os maus tratos sofridos, identificando-se desta vez com o 
agressor. Por essa razão, sua forma de matar normalmente é através do contato direto 
com a vítima, utilizando armas brancas, estrangulamentos e golpes, quase nunca 
usando arma de fogo. 
Os crimes obedecem a uma série de rituais nos quais se misturam fantasias 
pessoais com a morte. Devido à capacidade do assassino de fingir emoções e de se 
apresentar extremamente sedutor, consegue sempre enganar as suas vítimas. 
Conforme reportagem feita no Manicômio Judiciário de Franco da Rocha 
(TAVOLARO, 2004, p. 76): 
 Há alguns traços característicos entre os pacientes. Um deles é referir-se 
aos delitos pelo artigo do Código penal em que foram processados ou para 
os quais apresentam sua versão. Outro sintoma da doença é figurar como 
vítima. A maioria, porém, foi condenada como medida de segurança, por ser 
considerada inimputável pela Justiça. O laudo de insanidade mental, nesses 
casos, comprovou que o preso teve a capacidade de entendimento e 
determinação abolida no momento do crime. Outra parte enlouqueceu 
enquanto cumpria pena nas cadeias do sistema penitenciário.(apud 
Marques,2004,p.7) 
Pode-se usar como exemplo, muitos crimes cometidos por pacientes detidos 
no Manicômio Judiciário Franco da Rocha, todos com justificativas alucinantes dos 
mesmos, mas sem sentirem qualquer culpabilidade: 
 Muitos pacientes andam na cela por 24 horas, inquietos, indo e vindo, 
reproduzindo a agitação dos funcionários fora das grades. Sacodem as 
 
8 
mãos em conversas imaginárias, intercaladas de risinhos nervosos. Outros 
permanecem agachados, estáticos, em absoluto silêncio. O psicótico 
conhecido como ““Furador de olhos, é assim: pacato, pouco conversa ou 
reclama, mas, quando começa a divagar sobre assuntos de japonês e ouro, 
o perigo torna-se iminente. Utiliza como forma de defesa para sua alucinação, 
a mania de furar os olhos das pessoas. Não importa quem esteja por perto, 
paciente, funcionário, ou visitante. Certa vez de traz da grade, roubou a 
caneta do bolso da camisa de um enfermeiro que se distraiu e por pouco não 
perfurou-lhe o olho. O dissimulado J.P. C é alto e raquítico. Diz ouvir vozes 
de três japoneses que o mandam matar para “recuperar o ouro”. E diz: Matei 
um, Não, matei dois... Matei cinco. Eu mato por causa do ouro. Os japoneses 
me mandam matar pelo ouro que tem no largo do Arouche[...]. (TAVOLORO, 
2004, p.93-94). 
Dessa forma, apesar de alguns comportamentos se mostrarem comuns em 
muitos criminosos. Para Bonger (apud in LEAL, p.174, 2008), não existe uma tipologia 
psicológica específica do delinquente, pois é possível encontrarmos entre os 
delinquentes todos os tipos humanos possíveis. 
2 PSICOLOGIA JURÍDICA 
 
Fonte: www.pt.slideshare.net 
2.1 Conceito de psicologia 
Como ponto inicial para que seja entendido o que é a psicologia jurídica, é 
necessária a análise da psicologia em sua essência. A palavra psicologia deriva da 
palavra grega psyque, que quer dizer psique, alma, mente. Assim sendo, a psicologia 
que outrora era o estudo da alma ou da consciência, hoje é definida como sendo a 
 
9 
ciência que estuda o comportamento e a mente humanos, o que deriva no estudo do 
que motiva o comportamento humano. 
Por isso, a psicologia tem contribuído em diversas áreas do conhecimento, 
justamente por possibilitar, através desta interdisciplinaridade, uma gama de 
possibilidades de análises do comportamento humano e da natureza humana nas 
mais diversas áreas, inclusive no direito. 
2.2 A psicologia e o direito 
A autora Sônia Altoé em seu artigo atualidade da psicologia jurídica traz que a 
primeira aproximação entre a psicologia e o direito ocorreu através da psicologia do 
testemunho. 
A história nos mostra que a primeira aproximação da psicologia com o direito 
ocorreu no final do século XIX e fez surgir o que se denominou psicologia do 
testemunho. Esta tinha como objetivo verificar, através do estudo experimental dos 
processos psicológicos, a fidedignidade do relato do sujeito envolvido em um processo 
jurídico. [...] Esta fase inicial foi muito influenciada pelo ideário positivista, importante 
nesta época, que privilegiava o método científico empregado pela ciências naturais. 
Contudo, não é fácil delimitar o início da psicologia jurídica justamente por não 
haver um marco histórico. Por outro lado, a publicação do livro Psychologie Naturelle 
do médico francês Prosper Despine, em que foi tratado do estudo de casos de 
criminosos daquela época, teria sido um acontecimento que determinou o surgimento 
da psicologia jurídica. 
Fato é que a interdisciplinaridade entre direito e psicologia se desenvolveu e 
deixou de se limitar a laudos frios que diagnosticavam o teor de verdade nos 
testemunhos e passou a ser uma importante ferramenta para estudar o 
comportamento não só do indivíduo envolvido na demanda, bem como, o 
comportamento daqueles que convivem e as circunstâncias que fazem parte do 
contexto histórico daquela pessoa. 
Sendo de suma importância essa interação, uma vez que, retiraria o direito da 
análise fria da lei, do simples deve ser e, nesse encontro com o a ciência do ser, que 
é a psicologia, passaria a ser levado em conta todo o contexto em que aquele 
indivíduo está inserido e os reflexos de uma decisão jurídica para a sua vida no futuro. 
 
10 
Importante ressaltar que no bojo do artigo reflexões sobre psicologia jurídica e 
seu panorama no brasil da psicóloga jurídica Fátima França, é enfatizado que a 
denominação psicologia jurídica apesar de ser a mais usada no brasil, não é a única 
denominação que se têm para denominar a área da psicologia que se relaciona com 
o direito, por exemplo, na argentina é utilizado o termo psicologia forense. 
Ao final, fica evidenciado que o direito e a psicologia convergem-se na 
preocupação de entender e analisar a conduta humana, ou seja, como explicar 
determinada atitude de um indivíduo para, a partir disso, chegar a uma conclusão que 
seja a melhor decisão, ou a menos danosa, para aquela pessoa. 
2.3 Psicologia Jurídica No Brasil 
A década de 60, com o reconhecimento da profissão, foi o início da atuação 
dos psicólogos frente ao judiciário brasileiro. Essa interação, contudo, não ocorreu de 
forma única e definitiva, pelo contrário, ocorreu gradualmente ao longo do tempo, e 
vem se desenvolvendo e se espalhando pelos diversos campos do direito ainda nos 
dias atuais. 
Os psicólogos jurídicos realizaram os primeiros trabalhos na área criminal tendo 
os estudos como foco adultos delinquentes, bem como, menores infratores. 
Essa primeira fase da psicologia jurídica é marcada basicamente por exames 
pericias e criminológicos. Ultrapassada essa primeira etapa os psicólogos começaram 
a atuar juntamente com os psiquiatras nos exames legais e no estudo da psique dos 
jovens. 
Mas a atuação do psicólogos não se limitou à área do direito penal, nos 
processos de direito civil, também se faz presençatal atuação, e vem aumentando 
com o passar do tempo até os dias de hoje. 
Neste ponto, importante destacar a atuação dos psicólogos ante aos direitos 
da infância e juventude. A implantação do estatuto da criança e adolescente (eca), fez 
com que a atuação dos psicólogos jurídicos fosse vista de uma outra maneira, no 
sentido de que houve uma maior abertura a debates sobre o comportamento humano, 
fez surgir uma interdisplinariedade que fez com que o campo de atuação dos 
psicólogos fosse aumentado, pois não estariam mais limitados aos laudos, relatórios 
e perícias. (Lago, 2009) 
 
11 
Nas palavras de Sônia Altoé essa mudança foi refletida da seguinte maneira: 
Esse novo campo de atuação que se abre, inclusive no sentido de novos 
cargos, novos empregos e cheio de inquietações, indagações e descobertas. 
Favorece e amplia o campo da pesquisa e do ensino universitário. E quando 
me refiro à pesquisa, é não somente à aquela realizada na academia, mas 
também na prática cotidiana de trabalho, onde o espírito do pesquisador é 
fundamental para manter o constante questionamento dos caminhos a serem 
abertos ou seguidos numa prática tão nova e cheia de desafios. As questões 
humanas tratadas no âmbito do direito e do judiciário são das mais complexas 
(apud LEAL,2008, p.181) 
No tocante à área acadêmica, deve ser mencionado o pioneirismo da 
universidade do estado do rio de janeiro, pois desde a década de 80, tem em suas 
disciplinas seja na forma de graduação ou de especialização um ramo focado em 
psicologia jurídica, ainda que tenha nomenclatura diferente, como foi o caso da 
especialização psicodiagnóstico para fins jurídicos. (Lago, 2009). 
Contudo, há que se lamentar o déficit que ainda existe, apesar de já haver um 
aumento, em relação à disponibilidade do ensino da psicologia jurídica. É o que se 
pode abstrair das palavras de Vivian de Medeiros lago: 
Esses dados acarretam uma deficiência na formação acadêmica dos 
profissionais, o que exige oferecimento, por parte das instituições jurídicas, 
de cursos de capacitação, treinamento e reciclagem. Os psicólogos sentem 
estar sempre “correndo atrás do prejuízo”, uma vez que as discussões 
sempre giram ao redor de noções básicas com as quais o psicólogo deveria 
ter tomado contato antes de chegar à instituição. Porém, essa realidade tem 
se modificado. Atualmente, são oferecidos cursos de pós-graduação em 
psicologia jurídica em universidades de estados brasileiros como alagoas, 
Bahia, Ceará, goiás, minas gerais, paraíba, Pernambuco, rio de janeiro, santa 
Catarina e São Paulo, o que revela a expansão da área no país. (apud LAGO 
et al., 2009) 
2.4 Principais áreas de atuação do psicólogo jurídico 
O psicólogo jurídico geralmente tem a sua atuação voltada para a produção de 
pareceres e relatórios, tendo a liberdade, inclusive de indicar qual seria a solução para 
o conflito em questão, o que não pode ser confundido, contudo, com a decisão judicial 
da lide, sendo este o papel do magistrado. 
 
 
12 
 
Fonte:jus.com.br 
Em seu artigo um breve histórico da psicologia jurídica no Brasil e seus campos 
de atuação Vivian de Medeiros lago elenca os campos de atuação da psicologia 
jurídica, em suma, nos seguintes termos: 
Psicólogo jurídico e o direito de família: nesse ramo do direito civil, destaca-se 
a atuação dos psicólogos nas ações de divórcio, disputa de guarda e regulamentação 
de visitas. 
Psicólogo jurídico e o direito da criança e adolescente: nota-se o trabalho dos 
psicólogos junto aos processos de adoção e destituição do poder familiar e também 
no que tange à aplicação de medidas socioeducativas aos adolescentes. 
Psicólogo jurídico e o direito civil: a atuação dos psicólogos é necessária em 
ações de indenização em decorrência de danos psíquicos e também nos casos de 
interdição judicial. 
Psicólogo jurídico e o direito penal: é importante a atuação dos psicólogos para 
atuarem como peritos para a análise da periculosidade, das condições de 
discernimento ou sanidade mental das partes em litígio ou em julgamento. Sendo 
neste ponto, importante a menção que a autora faz à atuação dos psicólogos junto ao 
sistema penitenciário e à lei de execução penal, temas que serão ainda tratados mais 
detalhadamente no presente estudo. 
Psicólogo jurídico e o direito de trabalho: mais uma vez a atuação dos 
psicólogos será na produção de pericias em processos trabalhistas. 
 
13 
A autora finaliza esta parte do seu artigo enfatizando algumas outras áreas de 
atuação do psicólogo jurídico, quais sejam, a vitimologia e a psicologia do testemunho. 
Superada esta primeira fase em que foi conceituada a psicologia jurídica e a 
sua interdisciplinaridade com o direito, o presente estudo passa a discorrer a respeito 
do sistema prisional. 
 
 
 
Fonte: www.taopsi.com.br 
3 ASPECTOS DO CUMPRIMENTO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE NO 
BRASIL 
 
 
14 
Fonte:ebradi.jusbrasil.com.br 
Tania Kolker ao escrever a atuação no psicólogo no sistema penal diz que a 
prisão surgiu juntamente com o capitalismo, que inicialmente não era tida como uma 
pena pós-condenação, pois era utilizada apenas como um local em que os criminosos 
mais perigosos eram deixados à espera do julgamento, em que poderiam ser 
condenados a penas de trabalhos forçados, por exemplo. 
3.1 Breve Histórico a Respeito da Evolução das Penas 
Antes que o sistema prisional seja estudado em sua essência é importante que 
seja analisada a evolução das penas até os dias atuais. 
A penalização aos transgressores dos costumes e leis tem o seu início já antes 
da sociedade organizada. Uma vez que, desde os agrupamentos mais antigos, já 
havia as penas relacionadas aos descumprimentos dos preceitos divinos, podendo 
chegar inclusive à morte. 
No princípio, as penas eram tidas como uma forma de vingança coletiva contra 
aquele indivíduo da sociedade que cometesse algum crime. Momentos em que 
predominava a prática dos mais arbitrários tipos de pena e que eram aceitas como 
normalidade pela sociedade em que eram praticadas, como por exemplo, tortura, 
penas de morte, prisões desumanas, banimentos, acusações secretas. 
Contrário a essa vertente foi o livro dos delitos e das penas de Cesare Beccaria, 
que trouxe para a época um novo pensamento a respeito das penas, que pode ser 
sintetizado nas seguintes palavras externadas pelo autor em seu livro: 
É melhor prevenir os crimes do que ter de puni-los; e todo legislador sábio deve 
procurar antes impedir o mal do que repará-lo, pois uma boa legislação não é senão 
a arte de proporcionar aos homens o maior bem estar possível e preservá-los de todos 
os sofrimentos que se lhes possam causar, segundo o cálculo dos bens e dos males 
da vida. 
A publicação do livro influenciou demasiadamente a execução penal, uma vez 
que o estado sentiu a necessidade de centralizar em si a aplicação das penas, para 
que fossem evitadas penas que tinham um caráter meramente vingativo. 
 
15 
Contudo, ainda durante muito tempo o estado punia de forma exagerada e 
arbitrária àquele que cometesse algum delito. As sanções desvinculavam-se de um 
ordenamento jurídico que, em tese, tinha como objetivo a busca pela justiça. Com o 
passar dos anos, a pena começou a ter um caráter maior de sanção legal, apesar de 
ainda guardar em sua essência um cunho retributivo ao ato praticado pelo ofensor. 
A partir século XVIII, já com uma percepção mais aguçada do estado 
democrático de direito pelos povos e com os ideais iluministas aflorando por toda a 
sociedade, passou a trocar o desejo por penas severas, como a tortura, pela defesa 
dos direitos fundamentais dos acusados. Momento em que também começa a surgir 
os princípios constitucionais do contraditório, ampla defesa e devido processo legal. 
Surgindo, então, a pena privativa de liberdade criada por Bentham que vem se 
aprimorando ao longo dos anos e é hoje uma das adotadas pelo código penal 
brasileiro. Contudo, desde a suacriação há de se reconhecer que dificilmente ela 
atende ao fim em que se funda, que é o de recuperar o indivíduo. 
3.2 Teoria Geral da pena no Brasil 
O estudo da teoria geral da pena consiste em analisar uma série de regras que 
vão nortear a aplicação da sansão penal. O art. 32 do código penal traz em seu bojo, 
as três grandes modalidades de penas que existem no ordenamento jurídico 
brasileiro. Sendo elas, a privativa de liberdade, a restritiva de direito e a de multa, 
assim, no brasil são três as espécies das penas. 
Especificamente, as penas privativas de liberdade se subdividem em outras 
duas espécies, quais sejam, reclusão e detenção. Consistindo a diferença entre elas, 
nas palavras de Nestor Távora: 
A principal diferença de uma para outra é quanto aos limites deferidos ao juiz 
para a fixação do regime de cumprimento de pena. Daí que a pena de 
reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semiaberto ou aberto, 
enquanto que a detenção, em regime semiaberto, ou aberto, salvo 
necessidade de transferência a regime fechado. (apud SANTOS, 2015) 
Como foi visto, são três os tipos de regimes, sendo o fechado, que deverá ser 
cumprido em estabelecimentos de segurança máxima ou média, o regime semiaberto 
será cumprido em estabelecimento, industrial ou similar, regime aberto, a pena será 
cumprida em casa de albergado ou estabelecimento similar. Cabendo ao magistrado 
 
16 
definir qual deve ser o regime que deverá ser adotado no início do cumprimento da 
pena. 
O instituto jurídico brasileiro contempla a figura da progressão de regime, que 
em respeito ao princípio da individualização da pena, a pena privativa de liberdade 
será cumprida em forma progressiva com a transferência para regime menos rigoroso, 
a ser determinado pelo juiz, quando o preso tiver cumprido ao menos um sexto da 
pena no regime anterior e ostentar bom comportamento carcerário, comprovado pelo 
diretor do estabelecimento, atendidas as normas que vedam a progressão, nos termos 
do art. 112 da lei 7.210 de 1984. 
A partir deste estudo a respeito da teoria geral da pena conclui-se necessária 
se faz a participação dos psicólogos jurídicos, não só na aplicação da pena, bem como 
na evolução do instituto punitivo. 
3.3 Aspectos subjetivos e fatores que levam ao ato delituoso 
O ato delituoso tem se tornado cada vez mais complexo, haja vista que, com o 
passar dos anos surgem diferentes e variadas práticas delituosas, o que leva os 
legisladores a uma constante reformulação das leis e os operadores do direito a uma 
interpretação ainda mais pormenorizada da legislação no momento de aplicar a 
sanção penal. 
 
Fonte:tribunalarbitralbrasileiro.org 
 
17 
Sendo necessário um estudo das entrelinhas do que leva ao indivíduo cometer 
o crime. Lombroso em sua teoria defendia que o criminoso já nascia assim, entretanto, 
os novos estudos convergem para o fato de haver uma série de fatores que podem 
levar um criminoso a cometer um delito. 
Fiorelli defende que devem ser observados dois tipos de fenômenos, sendo 
eles o condicionamento, que se relaciona com o reforço positivo, ou seja, um indivíduo 
que está sempre exposto a determinado tipo de situação tende a repeti-la, e a 
observação de modelos, em que consiste em observar as formas do comportamento 
agressivo, para mais tarde repeti-las. Para Fiorelli esses fatores são adquiridos na 
infância. 
Ainda por essa vertente, surge a figura da imputabilidade, que é quando um 
indivíduo comete um fato delituoso e tem a capacidade entender a sua conduta, por 
outro lado, aquele que pratica uma conduta tida como crime e não é capaz de fazer o 
julgamento daquele ato que cometeu, é considerado inimputável. Devendo também 
ser mencionada a figura da semi-imputabilidade, em que a culpabilidade é diminuída 
em casos de o indivíduo apresentar transtornos de intensidade leve. 
Enfim, fato é que indivíduos que praticam delitos fazem parte da sociedade 
desde os tempos mais remotos, contudo, a percepção, o estudo do que motiva o crime 
vem evoluindo, em busca das verdades presentes nas entrelinhas de uma atitude 
delituosa. 
Por fim, cabe salientar as palavras de Fiorelli à luz de Foucault, em que é 
apontado o fato discriminatório na aplicação das penas, sendo elas mais severas ante 
os menos favorecidos, muitas vezes devido a uma visão viciada da sociedade como 
um todo. 
Essa percepção viciosa faz com que as pessoas naturalmente percebam 
comportamentos indicadores de delitos que se ajustam às suas crenças arraigadas a 
respeito dos prováveis praticantes. Uma mentira que veste armani não passa de um 
lapso de memória ou uma inocente confabulação que Freud explica, enquanto o 
esquecimento do desdentado Sebastião, receptador de autopeças no popular 
desmanche da periferia, é visto como uma estratégia ingênua para burlar a polícia e 
falsear o testemunho. 
A psiquiatria forense é uma subespecialidade da psiquiatria atuante na interface 
psiquiatria e Direito. Sua função é proporcionar o diálogo técnico entre a Medicina e o 
 
18 
Direito com a tradução dos significados dos termos de uma das ciências para a outra. 
Nesta interface faz-se mister que o perito médico tenha conhecimento técnico em 
psiquiatria, além de ser imprescindível o conhecimento jurídico. Somados estes dois 
quesitos, o psiquiatra forense deverá fazer as conversões de linguagem médica para 
que os operadores do Direito possam exercer suas funções legais. 
3.4 A prisão no Brasil 
Do ponto de vista historiográfico, temos importantes contribuições de vários 
pesquisadores. Pedroso (1997, p. 121), no seu texto Utopias penitenciárias, projetos 
jurídicos e realidade carcerária no Brasil, no que se refere ao sistema de segregação 
no Brasil Colônia, diz: 
“[...] A instalação da primeira prisão brasileira é mencionada na Carta Régia 
de 1769, que manda estabelecer uma casa de correção no Rio de Janeiro [...] 
as casas de recolhimento de presos no início do século XIX mostravam 
condições deprimentes [...] Um relatório de uma comissão nomeada para 
visitar as prisões [...] apontou o aspecto maltrapilho e subnutrido dos presos. 
[...]” 
“[...] A primeira menção à prisão no Brasil foi dada no Livro V das Ordenações 
Filipinas do Reino, código de leis portuguesas que foi implantado no Brasil 
durante o período colonial. O código decretava a Colônia como presídio de 
degredados. A pena era aplicada aos alcoviteiros, culpados por ferimentos 
por arma de fogo, duelo, entrada violenta ou tentativa em casa alheia, 
resistência às ordens judiciais, falsificação de documentos, contrabando de 
pedras e metais preciosos”. (Ordenações Filipinas, 1870, p. 91 apud 
CANÊDO,2010). 
Ficam patentes o descaso e as condições desumanas da instituição penal 
desde a sua origem. 
O suplício dos corpos como técnica de sofrimento, aos poucos, cedeu lugar a 
novas formas de punição. A Justiça criminal, utilizando-se de outros saberes, técnicas 
e discursos “científicos” do pensamento positivista do século XIX, passou a deslocar 
o foco da criminologia do crime para o criminoso, estabelecendo, assim, um novo 
regime de verdades sobre a pessoa do criminoso, sobre sua subjetividade. Era preciso 
transformá-los, disciplinar seus corpos e suas almas. Sob essa ótica, as legislações 
foram se modificando ao longo dos anos, para dar conta de uma outra forma de 
punição mais “humanizada”.(FOUCAULT, 1975). Guimarães (2002), num outro estudo 
sobre o histórico das prisões, apresenta a evolução das penas e das legislações ditas 
 
19 
“mais humanizadas”, desde o século XIX até a Lei de Execução Penal, de 1984. 
Segundo o autor: 
“[...] Em 1808, foi inaugurada a Prisão Aljurbe, com capacidade para 20 
presos, mas que abrigava 390. A Cadeia Velha, na capital imperial, foi criada 
em 1812. Em 1824, era conhecida como lugar de infecção e morte. Em 1841, 
foi desativada. Em 1824, o Império aboliu os castigos bárbaros. Em 1830, o 
Código Criminal Imperial determinouos limites das punições, cadeias limpas 
e arejadas e separação do réu de acordo com a natureza de seu crime. Em 
1890, surgiu o Código Penal da República. Em 1940, foi introduzido o regime 
progressivo de penas. Em 1984, surge a Lei de Execução Penal”. 
As mudanças ao longo dos anos não se deram apenas no campo jurídico, mas 
também nas características socioculturais da população carcerária e dos tipos de 
delito. O perfil dos presos, segundo as estatísticas do Instituto Brasileiro de Geografia 
e Estatística – IBGE (1901 a 2000), apresenta diferenças discrepantes nos respectivos 
períodos, revelando também o contexto histórico das diferentes épocas. Os registros 
de 1907 fazem as seguintes referências quanto aos dados levantados sobre os 
presos: 
“[...] 69% dos condenados eram filhos legítimos; 12%, ilegítimos; 1% eram os 
chamados ‘expostos’ (crianças encontradas) e 18% tinha filiação ignorada; 
54% foram educados em casa materna, e o restante dividia-se entre: casa 
estranha, colégios, internatos e estabelecimentos análogos, asilos e 
estabelecimentos congêneres e lugares ignorados. Quanto à profissão, 
38,5% trabalhavam na agricultura, 70% eram analfabetos e 28% mal sabiam 
ler e escrever. Referente aos antecedentes jurídicos dos condenados, 96% 
eram primários. Dos 2.833 condenados na época, 2.422 tinham cometido 
homicídio; 53, tentativa de homicídio; 223, lesão corporal; e 135, ‘violência 
carnal’[...]” 
Em termos comparativos, observa-se, no início do século XX, o predomínio 
absoluto de crimes contra a pessoa, enquanto, em 1985, as estatísticas do IBGE 
indicam que 57,8% foram condenados por crimes contra o patrimônio, delito que 
começa a aparecer a partir do anuário de 1943. Já o problema do tráfico e do uso de 
drogas tem início na década de 60, e, no período entre 1965 e 1985, o número de 
condenados por esses delitos triplicou, explodindo, mesmo, a partir do ano 2000. 
Outro dado que compromete seriamente o sistema penal, no momento atual, refere-
se às taxas de reincidência. Segundo o criminalista Zippin (2006), designado pelo 
Conselho Nacional de Justiça para estudar a população carcerária no Brasil, a média 
de reincidência no crime é de 85%. 
 
20 
Salla (2003, p.8), pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da 
Universidade de São Paulo, constata uma impressionante escalada nas taxas de 
encarceramento no Brasil: em, a taxa por 100 mil habitantes era de 65,2; em 1993, de 
83,2; em 2000, sobe para 134,9; em 2002, aumenta para 146,5; em 2003, foi para 
181,5; e, em 2005, a elevação foi para 196,2 por 100 mil habitantes. 
Os professores Soares e Guindani (2006), também comentando a respeito do 
elevado número de presos no Brasil, dizem que: 
“[...] São Paulo tem 144 mil presos. Isso equivale a 360 por 100 mil habitantes. 
Em 1995, havia 150 mil presos no Brasil, o que representava 95 por 100 mil 
habitantes. Os números nos dizem que o Brasil tem encarcerado muito e de 
forma acelerada, e que São Paulo tem sido mais voraz no encarceramento 
do que os demais estados [...]” (apud FRANÇA,2007, p.22) 
A realidade, portanto, é preocupante. Segundo o INFOPEN – Sistema de 
Informações Penitenciárias, em 2005, havia 381.402 mil presos nos 1021 
estabelecimentos cadastrados no sistema penitenciário e nas instâncias policiais do 
país. A situação das prisões no Brasil é tão grave que um dos maiores estudiosos 
sobre a temática, Loïc Wacquant (2001), chama a atenção para o sistema carcerário 
brasileiro, referindo-se a uma “verdadeira ditadura sobre os pobres”. Diz ele: 
“[...] É o estado apavorante das prisões do país, que se parecem mais com 
campos de concentração para pobres, ou com empresas públicas de depósito 
industrial dos dejetos sociais, do que com instituições judiciárias que servem para uma 
função penalógica [...]” 
 
Diante do quadro estarrecedor, é importante destacar que os legisladores e os 
operadores dos mecanismos de controle social, em nome da ordem e da Justiça, 
implementam medidas que não têm contribuído para amenizar ou inibir o grave 
problema da criminalidade, ou seja, a crença na punição através das penas de prisão 
é cada vez mais reforçada, apesar de falaciosa, como demonstram os altos índices 
de reincidência. 
 
21 
3.5 O profissional de Psicologia no sistema prisional 
 
Fonte:exame.abril.com.br 
Segundo informações contidas no trabalho Resgate histórico da Psicologia no 
Sistema Penitenciário do estado do Rio de Janeiro, realizado pelos psicólogos do 
sistema penitenciário desse estado, o ingresso dos primeiros psicólogos no sistema 
penal brasileiro ocorreu no Rio de Janeiro, em meados da década de 60, logo após a 
regulamentação da profissão no Brasil (1962). No Manicômio Judiciário Heitor 
Carrilho, no período de 1967 a 1976, esses profissionais faziam suas residências 
acadêmicas integrando o corpo técnico que trabalhava com os chamados “loucos 
infratores”, considerados inimputáveis diante da lei, e que cumpriam, naquele 
estabelecimento hospitalar, a medida de segurança. 
Entretanto, nos estabelecimentos prisionais do país, a presença de psicólogos 
ocorreu em diferentes épocas, conforme as políticas e as estruturas administrativas 
de cada estado. 
Segundo Badaró (2006), no Rio de Janeiro, por exemplo, ingressaram no fim 
da década de 1970, expandindo suas ações do âmbito das medidas de segurança 
(manicômio judiciário) para o campo das penas privativas de liberdade 
(estabelecimentos prisionais), participando de projetos que visavam à individualização 
do cumprimento das penas por meio de atividades de classificação dos apenados e 
acompanhamento de seu “tratamento penitenciário”. 
Nesse mesmo trabalho, fazem referência à Exposição de Motivos da Nova 
Parte Geral do Código Penal: 
 
22 
“[...] De acordo com a Exposição de Motivos da Nova Parte Geral do Código 
Penal, de 09 de maio de 1983, o tratamento penitenciário consistia na 
aplicação individualizada do regime progressivo da pena – fechado/semi-
aberto/aberto – consoante as ‘condições personalíssimas do agente’ 
auferidas por meio de exame criminológico bem como na atribuição de 
trabalho ‘segundo as aptidões ou ofício anterior do preso’. Esse tratamento 
visava à redução da reincidência por meio da ‘outorga progressiva de 
parcelas da liberdade suprimida’ e baseava-se no ‘mérito’ do condenado e 
em uma ‘prognose’ de sua ‘presumida adaptabilidade social’. Posteriormente, 
a Lei de Execução Penal, lei nº 7210, de 11.07.1984, instituiu um sistema de 
direitos e deveres, sanções e recompensas que regulamentava a aplicação 
da disciplina bem como os dispositivos de apuração e avaliação da reação 
dos condenados a esse ‘tratamento’. Definiu também as assistências a que o 
preso fazia jus (assistência material, à saúde, jurídica, educacional, social e 
religiosa). Esse tratamento penitenciário não consiste, portanto, em uma 
abordagem clínica ou de saúde, termo em geral associado à expressão 
‘tratamento’, mas, sim, em uma expectativa de alteração da conduta dos 
sujeitos por meio da própria regulação da pena e da disciplina penitenciária 
[...]” 
Em 1984, com a promulgação da Lei de Execução Penal, fundamentada, 
portanto, no princípio da individualização da pena, o exame criminológico foi 
efetivamente implementado e instituída a Comissão Técnica de Classificação – CTC 
como dispositivos para o acompanhamento individualizado da pena. 
Esse exame, realizado por psiquiatra, psicólogo e assistente social, tinha por 
objetivo identificar, no início do cumprimento da pena, as múltiplas causas que, na 
história dos indivíduos, constituiriam fatores geradores da conduta delituosa, traçando, 
assim, um perfil psicológico com vistas ao tratamento penitenciário, e, por ocasião do 
livramento condicional ou progressão de regime, permitir a avaliação das mudanças 
ocorridas ao longo da pena no sentido de sua superação, apontando o juiz da Vara 
de Execuções Penais um “prognóstico psicológico” quanto a um possívelretorno ou 
não à delinquência. 
À CTC (comissão multidisciplinar composta por um psicólogo, uma assistente 
social, um psiquiatra, dois chefes de serviço e presidida pelo diretor do 
estabelecimento prisional), caberia elaborar o programa individualizador e 
acompanhar a execução das penas privativas de liberdade, além de elaborar 
pareceres nos quais deveria “propor as progressões e regressões de regime, bem 
como as conversões” (art.6º da LEP). 
A prática do psicólogo na área da execução penal foi se dando empiricamente 
ao longo dos anos, sem uma formação específica nesse campo de intervenção, já que 
não era uma discussão privilegiada nos meios acadêmicos. Cada um, ao seu estilo 
próprio, seu potencial criativo e as condições institucionais de sua inserção nos 
 
23 
estabelecimentos prisionais, buscou a sua forma de atuar, mesmo tendo como função 
principal realizar perícia, ou seja, elaborar laudos e/ou pareceres psicológicos para 
integrar o exame criminológico. Apesar das diferenças regionais, a presença dos 
psicólogos nas prisões tem sido marcada por muitas lutas e confrontos diários, diante 
da cultura prisional imposta, e por questionamentos sobre a prática pericial do exame 
criminológico. 
A concepção positivista e determinista que fundamenta o exame criminológico 
busca investigar o ser humano, estudá-lo, percebê-lo, sondá-lo e identificá-lo em toda 
a sua história de vida de modo que se possa prever o comportamento “apto” a viver 
na sociedade. Em outras palavras, a crença nas essências (boa ou má), que emerge 
no contexto histórico de meados do século XX, permeia o pensamento científico nos 
diversos campos do conhecimento, inclusive na Psicologia, como aponta Coimbra 
(2003). Diz ela: 
“[...] A Psicologia se pergunta: quem é esse homem? Como e qual é o seu 
mundo interno? E o seu íntimo? Acreditando que tem possibilidade de atingir o âmago 
do ser – nomeado sujeito-, a Psicologia vai produzindo um determinado modo de ser 
humano”. 
No campo do Direito, os doutrinários analisam os equívocos da criminologia 
clássica refutando todo o determinismo biológico, o método positivista, que buscava, 
nas essências, as causas do comportamento criminoso, e desconsiderava “a 
importância das práticas sociais na produção dos objetos, saberes e sujeitos” 
(COIMBRA, 2003). 
Alessandro Baratta, um defensor da Criminologia Crítica, alega que o Direito é 
desigual por excelência e que: 
“[...] o cárcere seria o momento culminante de mecanismos de criminalização, 
inteiramente inútil para a reeducação do condenado – porque a educação 
deve promover a liberdade e o auto respeito; o cárcere produz degradação, 
despersonalização; portanto, se a pena não pode transformar homens 
violentos em indivíduos sociáveis, institutos penais não podem ser institutos 
de educação[...]”(apud COSTA SANTOS; SOEIRO BARROS; VIANA, 2007) 
A questão do exame criminológico tem sido um dos pontos mais polêmicos 
entre os técnicos que dele participam, principalmente os psicólogos. De um lado, há 
os que questionam a sua importância no contexto penal, e, de outro, os que acreditam 
na permanência da função de peritos e indagam a quem interessa o seu 
 
24 
desaparecimento. Será que uns poderiam atuar somente como peritos, realizando o 
exame criminológico, e outros, buscando novas alternativas de atuação? 
As experiências foram se somando aos questionamentos, às reflexões, às 
inquietações da própria prática profissional, acrescidas dos embates contra um 
cotidiano repressor e punitivo que passa por cima dos direitos fundamentais do ser 
humano. 
 
Fonte: www2.ma.gov.br 
As lutas não são apenas contra esse sistema, mas ocorrem também entre os 
próprios psicólogos, uns assumindo papel similar ao do policial fascista, do inquisidor, 
do carrasco, tornando naturais as práticas normativas e reguladoras do 
comportamento humano; outros, mais acomodados, aceitando e repetindo tarefas, 
sem o espírito crítico necessário ao contexto prisional. 
Outra parcela, inquieta diante de seu papel na prisão, busca saídas, escapes, 
“linhas de fuga”, campos de criação e de invenção, pois acredita que, “por 
mais submetido que ele (o psicólogo) seja às regras de controle e disciplina, 
poderá também ser um foco de luta e resistência”. (BADARÓ, 2005, apud 
FRANÇA,2007, p.40). 
Como dissemos anteriormente, o campo da Psicologia Jurídica, especialmente 
o da execução penal, não foi abarcado pelas universidades nos respectivos cursos de 
Psicologia. É possível que o período crítico da ditadura, principalmente no tocante às 
liberdades acadêmicas, tenha prejudicado o rumo dessas discussões, daí a 
importância de se realizar uma pesquisa sobre o legado dessa área de atuação, 
 
25 
coletando trabalhos de merecida importância, para que compreendamos, 
criticamente, esse campo de intervenção. 
Pesquisas sobre a prática da Psicologia no Brasil, segundo Gomes (2003), 
foram iniciadas por Plínio Olinto (1944), Anita Cabral (1950), Lourenço Filho 
(1955/1971, 1969/1971) e Pessotti (1975), que retomou os trabalhos pioneiros de 
Anita Cabral e Lourenço Filho. Pessotti (1988, p. 22) cita ainda que, no período entre 
1840 e 1900, foram defendidas 43 teses por médicos psicólogos com temas 
relacionados à Psicologia. Entretanto, diz Gomes, foi na Bahia que a pesquisa se 
voltou “à aplicação social da Psicologia, através da Criminologia, da psiquiatria 
forense e da higiene mental”. 
Na primeira década do século XXI, autoras como as psicólogas Cristina Rauter 
e Fernanda Otoni, bem como a psiquiatra Tania Kolker e outros, apresentam 
contribuições importantes sobre a temática do sistema prisional, que polemizam e 
problematizam as controvertidas práticas da Psicologia na prisão, uma vez que o 
cativeiro não pode ensinar a ser livre e incita reações contrárias ao poder que oprime, 
segrega e deixa marcas indeléveis da perversidade da instituição em si, provando que 
a prisão não é o laboratório da construção da cidadania, da transformação e da 
inclusão social. Muito pelo contrário, é o espaço da humilhação, da segregação e da 
exclusão social, da produção de novos criminosos. Como diz Foucault, em Microfísica 
do Poder (1979, p. 131-132): “Desde 1820, constata-se que a prisão, longe de 
transformar os criminosos em gente honesta, serve apenas para fabricar novos 
criminosos ou para afundá-los ainda mais na criminalidade”. 
As medidas recentes de revogação dos crimes hediondos, da aplicação das 
penas alternativas para usuários e dependentes de drogas, as campanhas e as 
cobranças para que o Poder Judiciário não adote penas privativas de liberdade, e sim, 
medidas e penas alternativas, sem a necessidade de segregação social, são 
respostas que podem começar a diminuir a superpopulação carcerária e o caos em 
que se transformaram os presídios, resultado patente, principalmente após a criação 
da lei dos crimes hediondos. 
 
 
26 
3.6 A História do trabalho da psicologia jurídica na instituição penal e a lei 
 
Fonte: sites.usp.br 
Como vimos, a doutrina positivista marcou o início da prática do psicólogo na 
prisão através da “observação científica” da personalidade, sendo, portanto, à época, 
o pilar de sustentação do tratamento penal. Embora a dicotomia seja perene entre o 
que determina a lei e o que acontece na prática, cabe esclarecer o que diz o texto da 
Lei de Execução Penal no que se refere ao trabalho do psicólogo: 
Capítulo I 
Da classificação 
Art. 5º. Os condenados serão classificados segundo os seus antecedentes e 
personalidade, para orientar a individualização da execução penal. 
Art. 6º. A classificação será feita por comissão técnica de classificação que 
elaborará o programa individualizador e acompanhará a execução das penas 
privativas de liberdade e restritivas de direitos, devendo propor, à autoridade 
competente, as progressões e regressões dos regimes, bem como as conversões. 
Art. 7º. A comissão técnica de classificaçãoexistente em cada estabelecimento 
será presidida pelo diretor e composta no mínimo por dois chefes de serviço, um 
psiquiatra, um psicólogo e um assistente social, quando se tratar de condenado à 
pena privativa de liberdade. 
Parágrafo único. Nos demais casos, a comissão atuará junto ao Juízo da 
Execução, e será integrada por fiscais do serviço social. 
Art. 8º. O condenado ao cumprimento de pena privativa de liberdade, em 
regime fechado, será submetido a exame criminológico para obtenção dos elementos 
 
27 
necessários a uma adequada classificação e com vistas à individualização da 
execução. 
Parágrafo único. Ao exame de que se trata este artigo poderá ser submetido o 
condenado ao cumprimento da pena privativa de liberdade em regime semiaberto. 
Art. 9º. A comissão, no exame para obtenção de dados reveladores da 
personalidade, observando a ética profissional e tendo sempre presentes peças ou 
informações do processo, poderá: 
I - entrevistar pessoas; 
II – requisitar, de repartições ou estabelecimentos privados, dados e 
informações a respeito do condenado; 
III – realizar outras diligências e exames necessários. 
A Lei, portanto, determina o estudo da personalidade que, por sua vez, requer 
o exame das diversas áreas que deverão produzir um diagnóstico com vista ao plano 
individualizado de tratamento penal. Em 1º de dezembro de 2003, a Lei nº10.792 
alterou alguns artigos da Lei de Execução Penal, dentre os quais o que se refere à 
prática do exame criminológico (art. 112), o que causou diferentes entendimentos 
quanto à obrigatoriedade da realização de tal exame para os benefícios legais de 
livramento condicional e progressão de regime. Para muitos operadores do Direito e 
especialistas em Direito Penal, o exame criminológico não foi abolido, permanecendo, 
porém, segundo Mirabete (2004, p. 254), “a possibilidade de realização do exame 
quando o juiz da execução o considerar indispensável, amparado no art. 96, § 2º, LEP, 
que dispõe sobre a viabilidade de produção de prova, inclusive pericial, nos 
procedimentos relativos à execução da pena”. Argumenta, inclusive, que um atestado 
de conduta carcerária assinado pelo diretor do estabelecimento penal, conforme 
dispõe o novo texto do artigo 112 da Lei nº10.79210, não pode oferecer importantes 
subsídios, como uma análise mais profunda da personalidade e de outros aspectos 
subjetivos existentes, para embasar o pronunciamento do juiz ao deferir ou indeferir 
um pedido de benefício do preso. Tal entendimento tem sido acatado na maioria dos 
estados, e, por isso, permanece a prática do exame criminológico. 
Acredita-se que os motivos que resultaram na alteração do art. 112 estejam 
voltados para os entraves do sistema penal: o aumento das taxas de encarceramento, 
que produzem as superlotações e a morosidade das Varas de Execuções Penais. 
 
28 
Com a extinção do exame criminológico, seria possível dar mais agilidade e 
objetividade à condução dos benefícios. 
Outros motivos agravam a problemática penitenciária e dizem respeito à não-
valorização da área das assistências previstas na Lei de Execução Penal (Capítulo II): 
assistência material, à saúde, à educação, assistência jurídica, social e religiosa bem 
como a assistência aos egressos. Os investimentos financeiros dos governos 
priorizam a construção de presídios e equipamentos de segurança sem uma política 
séria voltada para o cumprimento da Lei e dos direitos humanos, principalmente no 
que tange a trabalho e estudo. 
A ociosidade produz efeitos nocivos à subjetividade, desqualificando e 
despotencializando qualquer possibilidade de redirecionamento de suas vidas fora do 
mundo do crime. 
O governo brasileiro, atendendo à recomendação do Comitê Permanente de 
Prevenção do Crime e Justiça Penal da ONU, fundamentado na Declaração Universal 
dos Direitos do Homem, estabeleceu, através do Conselho Nacional de Política 
Criminal e Penitenciária, as Regras Mínimas para o Tratamento do Preso no Brasil, 
dispostas na Resolução nº 14, de 11 de novembro de 1994, que visa a um tratamento 
mais digno e mais humano para os presos. Em seus artigos 1º e 3º, respectivamente, 
diz: 
“[...] As normas que se seguem obedecem aos princípios da Declaração 
Universal dos Direitos Humanos e daqueles inseridos nos tratados, convenções e 
regras Internacionais de que o Brasil é signatário [...] art. 3º. [...] é assegurado ao 
preso o respeito a sua individualidade, integridade física e dignidade pessoal [...]”. 
A Lei de Execução Penal, portanto, acatando tais recomendações, elencou as 
assistências a que os presos fazem jus, de modo a garantir, principalmente, a 
dignidade pessoal. Entretanto, o que se observa no cenário das prisões é a total falta 
de cumprimento de tais assistências a uma população já excluída dos direitos 
constitucionais de preservação da vida. Os espaços prisionais, na verdade, foram 
construídos para abrigar os filhos da pobreza, da indigência, da exclusão social. 
Conforme apontam Guindani e Soares: 
“Se o país está encarcerando mais e não cumpre a Lei de Execução Penal, 
está jogando lenha na fogueira [...] Não se pode prender aos milhares e 
despejar essa multidão no inferno [...] um Estado que desrespeita a lei comete 
 
29 
crime. Em o fazendo, estimula a violência dos presos[...]” (apud 
FRANÇA,2007, p.30) 
Por outro lado, a falência do sistema diante do discurso da recuperação é 
evidente, tendo em vista o caos que temos presenciado decorrente das altas taxas de 
reincidência e o grave processo de exclusão social, decorrentes da ideologia 
neoliberal que privilegia o capital financeiro e aumenta de forma absurda a distância 
entre ricos e pobres. 
A massa carcerária, procedente das camadas mais pobres da sociedade, é mal 
escolarizada, despreparada para o mercado de trabalho, excluída do processo de 
produção e, para agravar, é, na grande maioria, usuária de drogas ilícitas, o que a 
torna mais vulnerável ao tráfico de drogas e aos ataques da polícia. 
A grande influência e o marco das reflexões inquietantes, que atingem não só 
os estudiosos das ciências criminais mas também os profissionais que atuam no 
interior das prisões, está na obra de Foucault, que nos permite fazer uma nova leitura 
sobre a dinâmica prisional e sobre a Psicologia que, durante muito tempo, funcionou, 
ou ainda funciona, como um instrumento disciplinar a serviço do poder. Para Foucault 
(1979, p. 73): 
“[...] O que é fascinante nas prisões é que nelas o poder não se esconde, não 
se mascara cinicamente, mostra-se como tirania levada aos mais ínfimos 
detalhes, e, ao mesmo tempo, é puro, é inteiramente ‘justificado’, visto que 
pode inteiramente se formular no interior de uma moral que serve de adorno 
a seu exercício: sua tirania brutal aparece então como dominação serena do 
Bem sobre o Mal, da ordem sobre a desordem [...]” (apud WEIZENMANN, 
2013) 
 
30 
 
Fonte: www2.ma.gov.br 
O autor, em sua clássica obra Vigiar e Punir, escrita em 1975, faz um profundo 
estudo sobre o sistema de prisão, que surge em substituição aos espetáculos públicos 
das práticas de suplícios. 
Com a prisão, o controle e o adestramento do corpo passam a ser feitos pelo 
uso de métodos sutis e dissimulados; os suplícios se dão de forma velada, com a 
instalação de táticas disciplinares individualizadas. Sobre a prisão, diz Foucault (2001, 
p. 197-198): 
“[...] sua ação sobre o indivíduo deve ser ininterrupta: disciplina incessante. 
Enfim, ela dá um poder quase total sobre os detentos; tem seus mecanismos 
internos de repressão e castigo: disciplina despótica. Leva à mais forte 
intensidade todos os processos que encontramos nos outros dispositivos de 
disciplina. Ela tem que ser a maquinaria mais potente para impor uma nova 
forma de indivíduo pervertido; seu modo de ação é a coação de uma 
educação total [...]” 
Portanto, ao evidenciar a questão do poder, Foucault desvela os mecanismos 
de sujeição dospresos, pois, para conseguirem benefícios, devem obedecer 
cegamente às normas instituídas para, assim, obterem o mérito, ou seja, o 
reconhecimento dos operadores da máquina penal. Então, o mascaramento e a 
artificialidade fazem parte do jogo de poder. É preciso representar para ser 
reconhecido e aprovado, fazer de conta que acata a cultura prisional para não se 
prejudicar. 
 
31 
Sem essa capacidade de discernimento e autocontrole emocional, fatalmente 
estará incorrendo em faltas disciplinares por infração às normas institucionais, sendo 
por isso julgado e penalizado pela CTC ou pelo Conselho Disciplinar, instrumentos de 
controle previstos legalmente. Diante de tamanha sujeição, a prisão produz uma 
grande diversidade de sentimentos despotencializadores: ódio, humilhação, 
hostilidade, mágoa, rancor, temor e desesperança. Perguntamo-nos como trabalhar 
com um sujeito que precisa forjar uma identidade e viver em regime de extrema 
obediência e disciplina, que precisa ser dócil, submisso e educado? 
Em muitos estados brasileiros, outras medidas disciplinares, como andar de 
mãos para trás, ficar de frente para as paredes quando parado, ainda são preservadas 
como demonstração de respeito e obediência, quando não são utilizadas práticas de 
tortura conforme denúncias publicadas no livro de Execuções Sumárias no Brasil 
1997-2003, da ONG Justiça Global. 
A pretensão de trazer novos elementos, de questionar e refletir sobre o que 
consiste a atuação do psicólogo nesse campo de intervenção, já é um passo 
importante para pensarmos em uma prática para além dos laudos e pareceres. É 
necessário que a Psicologia desvincule-se do modo essencialista de ver o homem, a 
histórico e descontextualizado, produzido pela sociedade capitalista, tão bem 
chamada por Foucault de sociedade disciplinar (2001, p.173). 
 Segundo Badaró (2005), buscar “uma prática psicológica comprometida com 
os princípios dos direitos humanos e com a ética profissional, de modo a poder criar 
dispositivos que acionem novos processos de subjetivação que potencializem a vida 
das pessoas presas”, é o nosso grande desafio, pois nós, psicólogos, também 
estamos sujeitos às armadilhas e capturas produzidas pelas contradições da própria 
prisão. 
4 O PAPEL DA PSIQUIATRIA E DA PSICOLOGIA NA EXECUÇÃO PENAL 
A psicologia forense corresponde à área da psicologia que atua com os 
sistemas da Justiça. No caso da psicologia que trabalha justamente com execução 
das penas restritivas de liberdade e restritivas de direito nomeia-se Psicologia 
Penitenciária ou Carcerária. Nesta área do conhecimento e da atuação profissional é 
papel do psicólogo a realização de estudos sobre condenados, intervenção junto ao 
 
32 
recluso, prevenção de doenças sexualmente transmissíveis em população carcerária, 
trabalho com agentes de segurança, ações com o stress em agentes de segurança 
penitenciária, labor com egressos, penas alternativas (penas de prestação de serviço 
à comunidade), entre outros. 
 
 
Fonte:www.g1.globo.com 
4.1 Execução penal 
A individualização da pena não se encerra quando a sentença é proferida. É 
necessário também que sejam feitas adaptações durante o cumprimento da pena. 
Para tanto, o juízo da execução pode contar com diversos mecanismos apresentados 
na Lei de Execução Penal (LEP), como o exame de personalidade, o exame 
criminológico e o parecer da Comissão Técnica de Classificação (CTC).4, 5 
A LEP, Lei 7.210, promulgada em 1984, prevê a individualização da pena, 
oferecendo ao sentenciado maiores possibilidades de recuperação e reinserção 
social.6 Para isso, define a existência da CTC em cada estabelecimento de execução 
penal.5, 6 
A CTC deve ser presidida pelo diretor e composta, no mínimo, por dois chefes 
de serviço, um psiquiatra, um psicólogo e um assistente social, quando se tratar de 
condenado à pena privativa de liberdade. (LEP, art. 7º) 
A CTC tinha como função, segundo a LEP, artigo 6º,elaborar um programa 
individualizado e acompanhar a execução das penas privativas de liberdade e 
 
33 
restritivas de direitos, devendo propor, à autoridade competente, as progressões e 
regressões dos regimes, bem como as conversões. 
Este artigo citado previamente, alterado em 1º de dezembro de 2003, dava à 
CTC a incumbência de propor as progressões. Para Sá & Alves, a CTC, 
diferentemente da equipe de perícia, ao dever tomar a iniciativa nos procedimentos 
de progressão de pena, traria a possibilidade de uma execução de pena realmente 
dinâmica e humana, em prol da própria paz na população carcerária. 
Com a alteração na LEP citada anteriormente, foi suspendida a avaliação do 
sentenciado para a progressão de regime realizada pela CTC: 
Art. 6o A classificação será feita por Comissão Técnica de Classificação que 
elaborará o programa individualizador da pena privativa de liberdade adequada ao 
condenado ou preso provisório. 
Sá & Alves apontam que as modificações trazidas pela Lei 10.792/03 
representaram um retrocesso. Segundo os autores, o resultado é que hoje os 
benefícios prisionais estão lastreados em mero atestado de boa conduta fornecido 
pelo diretor do presídio. Por outro lado, de nada adiantará modificar novamente a lei 
se os estabelecimentos prisionais não possuírem CTC com infraestrutura adequada 
para a elaboração de pareceres interdisciplinares, humanos, de qualidade, e não 
mecanizados, padronizados. 
 
 
Fonte: enviarsolucoes.jusbrasil.com.br 
O parecer de CTC deve avaliar o histórico prisional e a conduta do indivíduo de 
forma global e justa. Representa uma avaliação das respostas que o preso vem dando 
 
34 
às propostas terapêutico-penais que lhe têm sido disponibilizadas. Para tanto, há que 
se oferecer um programa que dê oportunidade ao preso, minimamente planejada e 
adequada à sua pessoa, para que nela ele possa se encontrar, conhecer-se melhor, 
conhecer seus interesses, aptidões e pensar melhor em seu futuro, e que ele seja 
acompanhado, humanamente observado, e estimulado. Esse trabalho de 
planejamento de oportunidades adequadas ao perfil dos presos é especificamente a 
função da CTC. 
A partir do exposto, pode-se observar o importante papel desempenhado pelos 
médicos e pelos psicólogos na execução penal. 
4.2 O exame criminológico 
Art. 8º O condenado ao cumprimento de pena privativa de liberdade, em regime 
fechado, será submetido a exame criminológico para a obtenção dos elementos 
necessários a uma adequada classificação e com vistas à individualização da 
execução. (LEP, art. 8º) 
O exame criminológico é caracterizado como perícia e deve ser feito e assinado 
somente por psiquiatras, psicólogos e assistentes sociais. Por se tratar de perícia, o 
Manual de Tratamento Penitenciário Integrado para o Sistema Penitenciário Federal 
coloca que o exame criminológico deve ser realizado, sempre que possível, por 
profissionais sem envolvimento com o dia-a-dia do preso. 
 
 
 
35 
Fonte: www.estrategiaoab.com.br 
Devido ao envolvimento diário com o presídio e seus programas, uma relação 
interessada com o cotidiano do cárcere e dos presos, o parecer de CTC não tem as 
características para ser perícia, e, portanto, exame criminológico deve ser feito. 
Este exame visa avaliar as condições pessoais, das funções mentais, corpo, e 
fatores sócio familiares do preso; e as circunstâncias que o envolveram; o que, de 
alguma forma, podem explicar sua conduta criminosa anterior. Esta avaliação 
possibilita a verificação sobre a adaptação do preso ao cárcere, oferecendo subsídios 
para a individualização da execução de sua pena. Ou ainda, possibilita uma aferição 
sobre possíveis desdobramentos futuros de sua conduta, em termos de probabilidade 
de recidiva e obviamente nunca apresentar certeza. 
Portanto, outros profissionais designados pelo Ministério da Justiça e Poder 
Judiciário devem fazer o exame criminológico, ainda que a Portaria 2.065/2007 
indique a possibilidadede o exame criminológico ser feito pelos mesmos profissionais 
da CTC. Deve-se também a motivos teóricos e éticos e das Classes Profissionais de 
Psicologia, Serviço Social, ser importante que sejam feitos por profissionais 
especialmente designados para o exame. 
Atualmente o Conselho Federal de Psicologia, de acordo com a Resolução CFP 
12/2011, coloca que:8 
Art. 4º. Em relação à elaboração de documentos escritos para subsidiar a 
decisão judicial na execução das penas e das medidas de segurança: 
a) A produção de documentos escritos com a finalidade exposta no caput deste 
artigo não poderá ser realizada pela(o) psicóloga(o) que atua como profissional de 
referência para o acompanhamento da pessoa em cumprimento da pena ou medida 
de segurança, em quaisquer modalidades como atenção psicossocial, atenção à 
saúde integral, projetos de reintegração social, entre outros; 
b) A partir da decisão judicial fundamentada que determina a elaboração do 
exame criminológico ou outros documentos escritos com a finalidade de instruir 
processo de execução penal, excetuadas as situações previstas na alínea 'a', caberá 
à (ao) psicóloga (o) somente realizar a perícia psicológica, a partir dos quesitos 
elaborados pelo demandante e dentro dos parâmetros técnico-científicos e éticos da 
profissão. 
 
36 
§ 1º Na perícia psicológica realizada no contexto da execução penal ficam 
vedadas a elaboração de prognóstico criminológico de reincidência, a aferição de 
periculosidade e o estabelecimento de nexo causal a partir do binômio delito 
delinquente. 
4.3 Reforma psiquiátrica 
 
Fonte:bemblogado.com.br 
O Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, em 30 de julho de 
2010, dispôs quanto à substituição do modelo manicomial de cumprimento de medida 
de segurança para o modelo antimanicomial, no que tange à atenção aos pacientes 
judiciários e à execução da medida de segurança. Essa substituição deve ser 
implantada e concluída no prazo de 10 anos. 
A partir de então, fica determinado a mudança do modelo assistencial de 
tratamento e cuidado em saúde mental, que deve acontecer de modo antimanicomial; 
em serviços substitutivos em meio aberto; buscando a intersetorialidade como forma 
de abordagem; o acompanhamento psicossocial contínuo, realizado pela equipe 
interdisciplinar; a individualização da medida; a inserção social; o fortalecimento das 
habilidades e capacidades do sujeito em responder pelo que faz ou deixa de fazer. 
A adoção do modelo antimanicomial traz funções importantes ao psiquiatra 
forense e ao psicólogo jurídico, como a elaboração de projeto individualizado de 
 
37 
atenção integral; o acompanhamento psicológico do paciente judiciário; perícias 
criminais nos casos em que houver exame de sanidade mental e cessação de 
periculosidade; emitir relatórios e pareceres ao juiz competente sobre o 
acompanhamento do paciente judiciário nas diversas fases processuais; sugerir à 
autoridade judicial medidas processuais pertinentes, com base em subsídios advindos 
do acompanhamento clínico social; prestar ao Juiz competente as informações clínico 
sociais necessárias à garantia dos direitos do paciente judiciário. 
 
 
Fonte:www.uepb.edu.br 
A psicologia e a psiquiatria forense são áreas do conhecimento em saúde com 
estudo em interface com as Ciências Jurídicas que auxiliam as tomadas de decisões 
da Justiça. Possuem importante participação na matéria das execuções penais, como 
na elaboração de programa individualizador da pena, exame criminológico e 
abordagens antimanicomiais. 
 
38 
4.4 Os direitos humanos ante ao sistema prisional 
 
Fonte:www.radionoticiamaranhao.com.br 
Neste último ponto deste capítulo, necessário se faz discorrer a respeito dos 
direitos humanos, haja vista, os objetivos de valorização dos seres humanos e 
proporcionar uma sociedade mais igualitária, diminuindo assim com disparidades 
sociais. 
Passando por esse norte a lei de execução penal, em seu bojo, contempla não 
só a individualização das penas dos condenados como também assegura os direitos 
humanos, como assistência médica, social, religiosa, dentre outros, à aqueles que 
cumprem as penas restritivas de liberdade. O que proporcionaria uma real 
reintegração, após o cumprimento da pena, do condenado na sociedade. 
Contudo, essa ainda é uma realidade distante das prisões brasileiras, pois ainda 
há problemas como superlotação, violência entre os próprios apenados, além de 
abuso de autoridade, podendo chegar até a tortura. 
Nesta mesma vertente, não se pode virar as costa também para o entendimento 
do conselho federal de psicologia, é facilmente percebido nos estabelecimentos 
prisionais, onde o perfil dos apenados são geralmente de pessoas de baixa 
escolaridade e de pouco poder aquisitivo, que o aquele que corrobora com o ditado 
quem tem dinheiro não fica preso. 
 
39 
Após tudo o que foi visto até aqui, imprescindível se faz a presença do psicólogo 
jurídico nesta área do direito penal, uma vez que é um campo que não pode ficar ao 
crivo puro e seco da lei, devendo todas as subjetividades que passam desde os 
condenados até os direito humanos serem objetos que necessitam da atenção da 
psicologia jurídica, o que será detalhado no próximo capítulo. 
5 A CONTRIBUIÇÃO DOS PSICÓLOGOS JURÍDICOS JUNTO AO SISTEMA 
PRISIONAL 
 
Fonte: www.psicologiamsn.com 
5.1 A atuação do psicólogo jurídico no contexto das instituições prisionais 
Inicialmente, necessário pontuar que a intervenção dos psicólogos no âmbito do 
sistema prisional não se restringe às pessoas em execução de pena privativa de 
liberdade, muito pelo contrário. Com efeito, tais profissionais atuam em prol de todo o 
sistema, sempre em busca de promover mudanças satisfatórias, capazes de torná-lo 
mais eficiente na resolução de seus problemas. 
Retratando os diversos campos de atuação dos psicólogos, vale trazer a lume a 
seguinte colocação da psicóloga Karine Belmont Chaves, atuante no sistema 
prisional: 
A psicologia está inserida dentro deste contexto jurídico, desempenhando 
papéis de avaliação e tratamento, desenvolvendo, além do polêmico exame 
criminológico, atividades psicoterapêuticas e, ainda no que se refere à 
psicologia criminal, estudando e analisando intervenções possíveis, perante 
 
40 
as pessoas presas e a instituição prisional como um todo. (Chaves, 2010, p.5 
apud MARQUES; OLIVEIRA,2014, p.05) 
O trabalho dos psicólogos frente ao sistema carcerário brasileiro foi reconhecido 
oficialmente em 1984, com a promulgação da lei de execuções penais (LEP), 
proporcionando inúmeros debates pelo brasil a respeito do assunto. No entanto, nota-
se que eles já atuavam há mais de quarenta anos, seja mediante trabalho informal, 
seja através de serviços voluntários. 
A relevância desta atuação dos psicólogos também é evidenciada nos debates 
travados em parceria pelo conselho federal de psicologia (CFP), departamento 
penitenciário nacional (DEPEN) e o ministério da justiça (MJ). 
O conselho federal de psicologia, por meio da resolução CPF 012/2011, ressalta 
que os psicólogos deverão ter sempre em vista a observância dos direitos humanos 
daqueles encarcerados, os quais deverão ser reinseridos na vida social. Em outras 
palavras, os profissionais deverão atuar em prol da construção da cidadania, 
afastando a cultura relativa à ideia de vingança. (Silva, 2007, p. 104). 
Nesse diapasão, percebe-se como é abrangente o campo de atuação do 
psicólogo jurídico nas prisões, notadamente em razão da grande demanda por seus 
serviços, os quais podem ser efetivados junto aos detentos, familiares, comunidade, 
bem como junto aos próprios profissionais que ali trabalham. 
5.2 Psicologia E O Indivíduo Em Cumprimento De Pena Privativa De Liberdade 
Cumpre agora tratar do trabalho dos psicólogos frente às pessoas que cumprem 
pena privativa de liberdade. 
Ao chegar no estabelecimento prisional, os detentos são submetidos àscomissões técnicas de classificação (CTC’S), criada pela LEP no afã de intervir da 
forma mais adequada, aprimorando a execução penal. Para tanto, incumbe às CTC’S 
estudar e propor medidas que conduzam a uma redução nos prejuízos de convivência 
e contribuindo para capacitação dos reclusos para o convívio em sociedade. (Kolker, 
2004). 
A propósito, chaves (2010) assim estabelece: 
Os casos dos presos que dão entrada na unidade para cumprir sua pena 
passam pela reunião da CTC, em que são analisados os históricos pessoais, 
 
41 
criminais, familiares e comportamentais e são feitas sugestões de 
encaminhamento para intervenções necessárias e disponíveis. Por exemplo: 
se o preso é analfabeto, encaminha-se para alfabetização; se não tem 
profissão, para curso profissionalizante; se tem hipótese de transtorno 
mental, encaminha-se para avaliação psiquiátrica pelo sus; se tem alguma 
doença, passará por avaliação médica detalhada; se tem histórico de abuso 
de drogas, poderá participar de grupo específico com a psicologia, e assim 
por diante. 
O conselho federal de psicologia prevê como atenção individualizada ao recluso 
o atendimento psicológico, psicoterapêutico, diálogo, acolhimento, acompanhamento, 
orientação, psicoterapia breve, psicoterapia de apoio, atendimento ambulatorial entre 
outros” (Conselho Federal de Psicologia, 2009, p. 19). Em outras palavras, tais 
atendimentos têm por escopo avaliar o preso quanto a sua saúde mental, acolhê-lo, 
escutar suas angústias, orientá-lo sobre as dificuldades impostas pelo cumprimento 
da pena, como também defender os seus direitos com base nas suas subjetividades. 
A demanda pelos serviços especializados pode se dar em várias circunstâncias, 
como em casos de indisciplina do preso, ocasião em que o psicólogo irá auxiliá-lo na 
busca por soluções, no intuito de que tal comportamento não o prejudique na 
execução da pena, inibindo a concessão de benefícios e a progressão de regime. 
Outra hipótese de demanda é quando a família ou o próprio detento solicita o 
acompanhamento psicológico. Neste último caso, há um atendimento melhor quanto 
aos resultados, na medida em que o preso está disposto a aceitar a intervenção. 
De todo modo, os tratamentos devem sempre estar pautados pela observância 
dos direitos humanos, pelo princípio da humanização das relações. Assim, devemos 
observar até a forma de chamar os presos, deixando de chamá-los por números ou 
por ladrão. Afinal, a volta do detento à vida social sem agredir ao próximo depende de 
um conjunto de ações, desde aquelas mais pequenas. (Chaves, 2010). 
Ocorre que é muito difícil colocar em prática tamanhas medidas individualizadas, 
em razão da notória fragilidade dos presídios brasileiros: 
Muitas vezes faltam até salas específicas para os atendimentos, bem como 
para outras atividades que podem acontecer dentro do sistema, pois não raro 
a construção física das unidades penais desconsidera os espaços para 
intervenções numa perspectiva de humanização, estando focadas na 
questão da segurança. 
(...)Desconsideram qualquer necessidade de “setting terapêutico”. Muitas 
vezes a “necessidade” de acompanhamento por agentes, em prol da 
segurança, limita o estabelecimento de um vínculo genuíno, visto que não 
conseguimos lhes fornecer condições éticas de confidencialidade e sigilo. 
(Chaves, 2010, p.11/12) 
 
42 
Outra mazela é a superlotação que acomete os estabelecimentos prisionais. 
Dados do sistema de informações penitenciárias (INFOPEN) do ministério da justiça 
revelam que a população carcerária no brasil no final de 2012 era de 548 mil pessoas. 
Contraditoriamente, os presídios dispõem apenas de 310,6 mil vagas, ou seja, um 
défit de 237,4 mil vagas. 
Lago (2009) afirma que: 
As avaliações psicológicas individualizadas, previstas em lei, são inviáveis 
nos presídios brasileiros em razão das superpopulações existentes. Pelo 
mesmo motivo, proporcionar um “tratamento penal” aos apenados ou 
estabelecer outro tipo de relações institucionais com os demais funcionários, 
internos e/ou seus familiares são tarefas difíceis para os psicólogos que 
trabalham junto ao sistema carcerário. 
Lado outro, também existe a possibilidade dos trabalhos serem realizados em 
grupo, oportunizando as relações interpessoais entre os enclausurados, mas sempre 
se observando as medidas de segurança necessária caso a caso. Neste ponto, o CFP 
enumera várias técnicas a serem utilizadas, como oficinas terapêuticas, psicoterapia 
e reflexões em grupo. Além de possibilitar a convivência e a troca de experiências 
entre os apenados, os trabalhos em grupo proporcionam uma atuação mais 
abrangente no que se pertine à quantidade de beneficiados com o atendimento, pois 
é sabido que poucos são os profissionais face ao número de pacientes. 
 
 
Fonte:www.grupoopcao.com.br 
 
43 
Chaves (2010) evidencia sobremaneira a importância desse trabalho grupal 
entre os detentos, pontuando que pode ser uma forma de resgatá-los, trazendo-os de 
volta para a sociedade de uma forma mais saudável, na medida em que, por exemplo, 
evita a contaminação do indivíduo encarcerado por eventuais companheiros de cela 
entrelaçados com a cultura do crime. 
Como exemplos de grupos, podem ser citados aqueles voltados para 
dependentes químicos, os de prevenção a DST/aids e os grupos terapêuticos. Cada 
projeto em grupo possui objetivos específicos, como a busca pelo diálogo, orientação 
e informação, o resgate de histórias de vida, proporcionar reflexões, apoio e 
autoestima, bem como intervir para que os enclausurados reincidentes repensem 
sobre os seus projetos de vida. 
Assim, embora seja de suma importância o que é previsto na LEP, no sentido de 
que deve ser feito acompanhamento dos apenados desde a sua chegada até a 
completa reinserção na sociedade, tem-se que sua realização prática resta em parte 
comprometida, mormente aquelas individualizadas. 
5.3 Psicologia e a reintegração do egresso na sociedade 
Um outro trabalho de suma importância realizado pelos psicólogos é aquele feito 
frente aos egressos do sistema prisional, notadamente em razão do grau de 
vulnerabilidade dos mesmos. 
Para tanto, a lei de execuções penais (LEP) dispõe que deverá ser estendida ao 
egresso a assistência prevista ao preso. O artigo 26 deste diploma legal define que 
egressos são as pessoas liberadas definitivamente da prisão, até o lapso de um ano 
após a sua colocação em liberdade, bem como aquelas liberadas condicionalmente, 
durante o período de prova. 
Neste contexto, a LEP prevê em seu artigo 25 que os egressos do sistema 
prisional sejam assistidos, orientados e apoiados na reintegração para a vida em 
liberdade, inclusive, sendo necessário, deverá ser disponibilizado a eles alojamento e 
alimentação durante o prazo de dois meses, o qual é prorrogável, período para que 
obtenha emprego e moradia. 
No entanto, o Conselho Federal de Psicologia (2009, p. 32) pontua que: 
 
44 
Como regra, nenhuma dessas indicações legais é observada no Brasil. Os 
egressos retornam, assim, ao convívio social sem que, muitas vezes, tenham 
recursos para adquirir uma passagem de ônibus à saída do presídio. Essa 
realidade contrasta fortemente com a experiência dos países mais 
desenvolvidos – notadamente as nações da europa ocidental – que mantêm 
há décadas projetos consistentes de apoio ao egresso. (Apud MARQUES; 
OLIVEIRA,2014, p.12) 
 
Como solução, este mesmo conselho propõe a criação de um programa 
nacional de apoio aos egressos, abarcando várias medidas, dentre outras, a atenção 
psicossocial. 
Na medida em que um programa de assistência a esses egressos é implantado, 
estar-se-á promovendo a reintegração do indivíduo na sociedade e, 
consequentemente, diminuindo os índices de reincidência. Isso evidencia ainda mais 
a enorme contribuição da psicologia para o sistema prisional, reforçando a 
necessidade desta constante interação. 
Um bom exemplo é contribuir para que o egresso

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