Logo Passei Direto
Buscar
Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.
left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

Prévia do material em texto

HISTÓRIA DA 
AMÉRICA
Professora Dra. Verônica Karina Ipólito
GRADUAÇÃO
Unicesumar
C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a 
Distância; IPÓLITO, Verônica Karina.
 
 História da América. Verônica Karina Ipólito. 
 Maringá-Pr.: UniCesumar, 2016. Reimpresso em 2021.
 224 p.
“Graduação - EaD”.
 
 1. História. 2. América. EaD. I. Título.
ISBN 978-85-459-0204-1
 CDD - 22 ed. 980
CIP - NBR 12899 - AACR/2
Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário 
João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828
Impresso por:
Reitor
Wilson de Matos Silva
Vice-Reitor
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de Administração
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de EAD
Willian Victor Kendrick de Matos Silva
Presidente da Mantenedora
Cláudio Ferdinandi
NEAD - Núcleo de Educação a Distância
Direção Operacional de Ensino
Kátia Coelho
Direção de Planejamento de Ensino
Fabrício Lazilha
Direção de Operações
Chrystiano Mincoff
Direção de Mercado
Hilton Pereira
Direção de Polos Próprios
James Prestes
Direção de Desenvolvimento
Dayane Almeida 
Direção de Relacionamento
Alessandra Baron
Head de Produção de Conteúdos
Rodolfo Encinas de Encarnação Pinelli
Gerência de Produção de Conteúdos
Gabriel Araújo
Supervisão do Núcleo de Produção de 
Materiais
Nádila de Almeida Toledo
Supervisão de Projetos Especiais
Daniel F. Hey
Coordenador de Conteúdo
Priscilla Campiolo Manesco
Design Educacional
Yasminn Zagonel
Projeto Gráfico
Jaime de Marchi Junior
José Jhonny Coelho
Arte Capa
Arthur Cantareli Silva
Editoração
Robson Yuiti Saito
Revisão Textual
Ana Caroline de Abreu 
Ilustração
André Luís Onishi
Viver e trabalhar em uma sociedade global é um 
grande desafio para todos os cidadãos. A busca 
por tecnologia, informação, conhecimento de 
qualidade, novas habilidades para liderança e so-
lução de problemas com eficiência tornou-se uma 
questão de sobrevivência no mundo do trabalho.
Cada um de nós tem uma grande responsabilida-
de: as escolhas que fizermos por nós e pelos nos-
sos farão grande diferença no futuro.
Com essa visão, o Centro Universitário Cesumar 
assume o compromisso de democratizar o conhe-
cimento por meio de alta tecnologia e contribuir 
para o futuro dos brasileiros.
No cumprimento de sua missão – “promover a 
educação de qualidade nas diferentes áreas do 
conhecimento, formando profissionais cidadãos 
que contribuam para o desenvolvimento de uma 
sociedade justa e solidária” –, o Centro Universi-
tário Cesumar busca a integração do ensino-pes-
quisa-extensão com as demandas institucionais 
e sociais; a realização de uma prática acadêmica 
que contribua para o desenvolvimento da consci-
ência social e política e, por fim, a democratização 
do conhecimento acadêmico com a articulação e 
a integração com a sociedade.
Diante disso, o Centro Universitário Cesumar al-
meja ser reconhecido como uma instituição uni-
versitária de referência regional e nacional pela 
qualidade e compromisso do corpo docente; 
aquisição de competências institucionais para 
o desenvolvimento de linhas de pesquisa; con-
solidação da extensão universitária; qualidade 
da oferta dos ensinos presencial e a distância; 
bem-estar e satisfação da comunidade interna; 
qualidade da gestão acadêmica e administrati-
va; compromisso social de inclusão; processos de 
cooperação e parceria com o mundo do trabalho, 
como também pelo compromisso e relaciona-
mento permanente com os egressos, incentivan-
do a educação continuada.
Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está 
iniciando um processo de transformação, pois quan-
do investimos em nossa formação, seja ela pessoal 
ou profissional, nos transformamos e, consequente-
mente, transformamos também a sociedade na qual 
estamos inseridos. De que forma o fazemos? Criando 
oportunidades e/ou estabelecendo mudanças capa-
zes de alcançar um nível de desenvolvimento compa-
tível com os desafios que surgem no mundo contem-
porâneo. 
O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de 
Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo 
este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens 
se educam juntos, na transformação do mundo”.
Os materiais produzidos oferecem linguagem dialó-
gica e encontram-se integrados à proposta pedagó-
gica, contribuindo no processo educacional, comple-
mentando sua formação profissional, desenvolvendo 
competências e habilidades, e aplicando conceitos 
teóricos em situação de realidade, de maneira a inse-
ri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais 
têm como principal objetivo “provocar uma aproxi-
mação entre você e o conteúdo”, desta forma possi-
bilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos 
conhecimentos necessários para a sua formação pes-
soal e profissional.
Portanto, nossa distância nesse processo de cres-
cimento e construção do conhecimento deve ser 
apenas geográfica. Utilize os diversos recursos peda-
gógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possi-
bilita. Ou seja, acesse regularmente o AVA – Ambiente 
Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns e en-
quetes, assista às aulas ao vivo e participe das discus-
sões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe de 
professores e tutores que se encontra disponível para 
sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de 
aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranqui-
lidade e segurança sua trajetória acadêmica.
Professora Dra. Verônica Karina Ipólito
Possui graduação em História e Pedagogia pela Universidade Estadual de 
Maringá. Mestre em História pelo Programa de Pós-Graduação em História 
da Universidade Estadual de Maringá (2009). Especialista em Concepções em 
Ética e Política pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Mandaguari 
(2010). Especialista em Gestão Escolar pela Universidade Estadual do Centro-
Oeste (2010). Trabalhou como professora colaboradora da Universidade 
Estadual de Maringá (UEM) entre os anos de 2010 e 2012. Atuou como docente 
em alguns cursos de especialização na Faculdade de Filosofia, Ciências e 
Letras de Mandaguari (Fafiman) e no Instituto Dimensão. Tutora presencial 
do curso de Pedagogia (EaD/UEM) entre os anos de 2014 e 2015. Doutora 
em História pelo Programa de Pós-Graduação em História da Universidade 
Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp-Assis). Possui experiência 
nos seguintes temas: DOPS, PCB, movimentos sociais e políticos.
A
U
TO
R
A
SEJA BEM-VINDO(A)!
Caro(a) acadêmico(a), é com satisfação que apresentamos a você este livro, o qual ser-
virá de base e suporte para o desenvolvimento dos conteúdos da disciplina de “História 
da América”, do curso de graduação em História. Apresentaremos uma série de con-
teúdos que visam fornecer a você uma abordagem holística e ampla sobre a história 
do continente americano, desde as civilizações pré-colombianas até as transformações 
sociais e a internacionalização da economia ocorrida ao longo do século XX.
O desafio que se apresenta é expor os conteúdos que compõem esta área do conheci-
mento de forma harmoniosa e coerente, versando sobre os temas de seu interesse e que 
contribua para a formação e informação no interior do curso ora em desenvolvimento. 
Foi realizado um esforço para trazer conteúdos atualizados, inseridos em debates histo-
riográficos recentes, discutidos pelos principais professores e pesquisadores da área, de 
forma a confeccionar um texto moderno e completo.
Assim, começamos nosso trabalho com o estudo das civilizações pré-colombianas da 
América Portuguesa, Hispânica e Saxônica. Esse tema permite aprofundar os conheci-
mentos dos povos nativos das Américas compreendendo-os como sujeitos históricos e 
agentes sociais. O estudo desses povos é relevante, pois a partir deles é que teremos a 
base para analisar as próximas unidades. Na sequência, analisaremos o Período Colonial 
na América Hispânica e Saxônica de forma a conhecer os conflitos culturais entre nativos 
e colonizadores, a organização econômica, política e social. Conduziremos nosso estudo 
de modo a compreender a crise do sistema colonialque derivou nos processos de inde-
pendência da América Espanhola e Inglesa. Posteriormente, analisaremos a formação e 
consolidação dos Estados Nacionais na América Latina e os fatores que transformaram 
os Estados Unidos em uma potência industrial em fins do século XIX.
Para tornar o estudo mais interessante, abordaremos a internacionalização da economia 
e as transformações sociais nas Américas durante o século XX, objetivando a compreen-
são de movimentos revolucionários, regimes de exceção e a influência estadunidense 
nas relações continentais. Também será discutido o desenvolvimento da redemocratiza-
ção, globalização e do neoliberalismo na América Latina.
Esperamos que você tenha êxito nesta nova caminhada e que possa, de forma autôno-
ma e objetiva, fazer bom uso deste material.
Sucesso e vamos ao estudo!
APRESENTAÇÃO
HISTÓRIA DA AMÉRICA
SUMÁRIO
09
UNIDADE I
AS CIVILIZAÇÕES PRÉ-COLOMBIANAS DA AMÉRICA PORTUGUESA, 
HISPÂNICA E SAXÔNICA
15 Introdução 
16 Os Povos Indígenas da América Portuguesa 
22 As Civilizações Pré-Colombianas da América Hispânica: Astecas, Incas e 
Maias
36 Os Povos Ameríndios da América Saxônica 
42 Considerações Finais 
UNIDADE II
O PERÍODO COLONIAL NA AMÉRICA HISPÂNICA E SAXÔNICA
51 Introdução 
52 O Conflito de Culturas Entre Espanha e América Durante o Período 
Colonial
72 A Colonização da América Hispânica: Economia, Governo e Sociedade 
78 A Colonização da América Inglesa: Economia, Governo e Sociedade 
84 Considerações Finais 
SUMÁRIO
UNIDADE III
AMÉRICA FRENTE À CRISE DO SISTEMA COLONIAL E OS 
MOVIMENTOS DE INDEPENDÊNCIA
93 Introdução 
95 A Crise do Sistema Colonial Espanhol e as Alterações do Século XVIII 
106 Os Processos de Emancipação Política na América Espanhola 
114 A Independência da América Portuguesa 
120 O Processo de Independência da América Inglesa 
125 Considerações Finais 
UNIDADE IV
A FORMAÇÃO E CONSOLIDAÇÃO DOS ESTADOS NACIONAIS
135 Introdução 
136 A Formação dos Estados Nacionais (1825-1860) 
148 A Consolidação dos Estados Nacionais (1860-1890) 
161 Os Estados Unidos em Fins do Século XIX 
164 Considerações Finais 
SUMÁRIO
11
UNIDADE V
SÉCULO XX: INTERNACIONALIZAÇÃO DA ECONOMIA E 
TRANSFORMAÇÕES SOCIAIS
173 Introdução 
174 As Nações Americanas em Princípios do Século XX (1914-1929) 
183 As Transformações Ocorridas entre a Grande Depressão à Segunda Guerra 
Mundial (1929-1945)
185 Os Movimentos Revolucionários de Primórdios da Guerra Fria na América 
Latina (1945-1961)
190 As Transformações Ocorridas com o Fim da Guerra Fria na América Latina 
(1961-1989) 
193 O Poder de Influência Estadunidense e as Relações Continentais 
197 Redemocratização, Globalização e Neoliberalismo 
201 Considerações Finais 
209 CONCLUSÃO
211 REFERÊNCIAS
217 GABARITO
U
N
ID
A
D
E I
Professora Dra. Verônica Karina Ipólito
AS CIVILIZAÇÕES PRÉ-COLOMBIANAS 
DA AMÉRICA PORTUGUESA, 
HISPÂNICA E SAXÔNICA
Objetivos de Aprendizagem
 ■ Conhecer os povos nativos da América Portuguesa, 
compreendendo-os como sujeitos históricos e agentes sociais.
 ■ Entender a importância histórica dos incas, maias e astecas na 
América Hispânica.
 ■ Analisar as especificidades dos povos pré-colombianos da América 
Saxônica.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
 ■ Os povos indígenas da América Portuguesa
 ■ As civilizações pré-colombianas da América Hispânica: incas, maias e 
astecas
 ■ Os povos ameríndios da América Saxônica
INTRODUÇÃO
Iniciamos a primeira unidade do livro apresentando as civilizações pré-colom-
bianas da América Portuguesa, Hispânica e Saxônica. Você irá notar que não 
houve a intenção de abordar todos os grupos nativos da América antes da con-
quista e colonização europeia.
A primeira finalidade é levá-lo(a) a refletir sobre os modos de vida e as dis-
tintas formas culturais existentes no continente americano. Em seguida, será 
detalhada a estrutura sociocultural dos povos ameríndios da América Portuguesa, 
recorrendo-se, para isso, a uma abordagem que compreenda o indígena como 
um sujeito histórico e agente social. Na sequência, analisaremos as chamadas 
altas culturas da América Hispânica (incas, astecas e maias), assim conhecidas 
por seu grau de complexidade. O objetivo é compreender a singularidade desses 
povos bem como o conjunto de instituições, regras e valores capazes de diferen-
ciá-los dos demais grupos ameríndios do continente.
Por fim, apreciaremos os povos pré-colombianos da América Saxônica, de 
maneira a conhecer suas formas de adaptação a diferentes tipos ambientais, 
muitas vezes inóspitos à presença humana. Acredito que, se você compreender 
a organização dos povos nativos localizados na América Portuguesa, Hispânica 
e Saxônica no período pré-conquista e colonização, poderá acompanhar melhor 
as outras unidades, cujas temáticas estão vinculadas a desdobramentos ocorri-
dos nessas regiões e estreitamente relacionados a tais grupos nativos abordados 
nesta unidade.
A intenção do conteúdo abordado nesta unidade é prepará-lo(a) de forma 
que entenda e contemple a História da América. Apesar disso, certamente haverá 
momentos nos quais você precise de materiais extras para auxiliá-lo(a). Isso é 
natural, uma vez que você está iniciando os estudos nessa disciplina!
Convido-o(a) a viajar pela América Pré-colombiana!
Uma excelente leitura!
Introdução
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
15
Figura 01: Índios Tupinambás no Brasil. Gravura do século XVI
©
W
ik
im
ed
ia
 C
om
m
on
s
AS CIVILIZAÇÕES PRÉ-COLOMBIANAS DA AMÉRICA PORTUGUESA, HISPÂNICA E SAXÔNICA
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IU N I D A D E16
AS CIVILIZAÇÕES PRÉ-COLOMBIANAS DA AMÉRICA 
PORTUGUESA, HISPÂNICA E SAXÔNICA
OS POVOS INDÍGENAS DA AMÉRICA PORTUGUESA
Você sabia que os grupos indígenas, independente da conjuntura, foram de 
suma importância para a implantação e manutenção do sistema colonial? Ainda 
assim, a sua participação não foi legitimamente considerada pela historiografia 
que versa sobre a América Portuguesa. Na maioria dos casos, prevaleceu a visão 
circunscrita da presença dos índios e o seu primeiro contato com os lusitanos 
e, na medida em que a colonização se tornava uma realidade concreta, explo-
rou-se a interpretação de indígenas vitimados por guerras, doenças variadas, 
excesso de trabalho e miscigenação com outras categorias sociais. Entretanto, 
Os Povos Indígenas da América Portuguesa
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
17
nas últimas décadas, a influência de conceitos teóricos provenientes, sobretudo 
da antropologia, sociologia e etno-história, contribuiu para que os pesquisado-
res do assunto deixassem para trás a ótica, até então predominante, da extinção 
física e cultural dos nativos e adotasse um olhar que compreendesse o indígena 
como um agente social e sujeito histórico.
Em 1500, quando os portugueses chegaram à América, havia uma imensi-
dão de povos nativos, alguns dos quais testemunharam a vinda dos lusitanos e 
estabeleceram os primeiros contatos com eles. De forma especial, o litoral, de 
onde hoje se encontra o Brasil, era ocupado por “povos semissedentários”, os 
quais sobreviviam da caça, da coleta, da pesca e da agricultura. Possuíam aldeias 
e campos cultiváveis, algo fundamental para a sua manutenção. No entanto os 
locais de cultivo não permaneciam os mesmos e as aldeias, consequentemente, 
mudavam com frequência de local. Enquanto os indivíduos inclusos em gru-
pos sedentários, independente do sexo, dedicavam sua vida à agricultura, entre 
os povos semissedentários havia uma divisão: as mulheres eram as principais 
responsáveis pela prática agrícola e os homens, muito embora também pudes-
sem contribuirna limpeza da terra, se destacavam como caçadores e guerreiros. 
Outras características apontadas por Stuart B. Schwartz e James Lockhart (2010, 
p. 75) dão maiores detalhes da organização desses povos semissedentários:
Mesmo no nível da aldeia, o pagamento de tributos e o trabalho co-
munitário rotativo não eram conhecidos, nem havia um chefe forte 
encarregado de exigir impostos; pode ter havido um líder em alguns 
casos, mas ele estava mais preocupado com cerimônias ou com a guer-
ra. Classes sociais especializadas não costumavam existir, nem nobres, 
plebeus ou dependentes, embora alguns povos tivessem cativos tem-
porários tomados dos inimigos, nem havia altos sacerdotes e templos 
especiais. Embora o senso de etnia fosse forte, a organização da aldeia 
era frouxa e instável; não só sua localização mudava de tempos em tem-
pos como, em muitos casos, as linhagens individuais constituintes iam 
e vinham à vontade. As confederações de aldeias eram efêmeras, para 
fins defensivos ou ofensivos específicos. Acima de tudo, não havia uma 
unidade provincial de bom tamanho com forte coesão, permanência e 
identificação com um território nuclear compacto e específico, ou seja, 
não havia base potencial para encomendas no sentido usual. Não só 
havia pouco excedente de produção como não existiam mecanismos 
capazes de entregar produção e mão-de-obra a um grupo conquistador, 
nem intermediários para canalizá-las.
AS CIVILIZAÇÕES PRÉ-COLOMBIANAS DA AMÉRICA PORTUGUESA, HISPÂNICA E SAXÔNICA
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IU N I D A D E18
No caso da América Portuguesa, sobretudo no que diz respeito ao litoral do que 
atualmente é o Brasil, e onde se iniciou o processo de colonização, estava locali-
zado o grupo cuja língua pertencia ao tronco linguístico Tupi-Guarani. Alguns 
estudiosos acreditam que os tupis-guaranis são oriundos da região amazônica. 
Inicialmente, os Tupis-Guaranis abandonaram as terras onde moravam para se 
fixarem em direção ao litoral. Esse deslocamento ocorreu em função do aumento 
populacional e da escassez da caça. Tal processo provocou a divisão em dois gran-
des grupos: os Tupis e os Guaranis.
Quando chegaram à América, os portugueses se depararam com os Tupis, 
ocupando quase que integralmente a imensa costa brasileira, sobretudo a região 
compreendida entre os atuais estados de São Paulo e do Ceará, ao passo que os 
Guaranis estavam concentrados ao sul, nas regiões aproximadamente onde hoje 
se localizam os litorais de São Paulo e Rio Grande do Sul. Além dos Tupis e dos 
Guaranis, havia outros povos, dentre os quais podemos destacar os Jê, Karib, 
Pano, Tukano e Aruák, situados mais no interior da América Portuguesa (con-
sultar o mapa 1). Todos esses povos possuíam costumes e cultura própria. Por 
se diferenciarem dos Tupis, foram denominados por eles, genericamente, de 
Tapuias. Entretanto, como você já deve ter notado, o primeiro contato dos por-
tugueses ocorreu com povos que residiam no litoral.
Os Tupis acreditavam que os povos que não falavam a sua língua (os 
Tapuias) eram considerados “bárbaros”. Entre eles, era nutrida a percep-
ção de que possuíam uma cultura superior aos demais povos. A ideia de um 
cosmos dividido entre “nós” e os “outros” estava relacionada ao espírito de 
guerra, pois os Tupis consideravam os Tapuias seus inimigos congênitos. O 
conflito era algo relativamente natural para os Tupis, tanto que era comum 
haver desentendimentos entre os membros da mesma aldeia. Não raro, mui-
tos desses se aliavam em torno de um objetivo comum, mas, tempos depois, 
se desuniam e, em alguns casos, lutavam entre si.
Entre os Tupis, a família era o centro da vida tribal e as atividades estavam, 
geralmente, articuladas de acordo com o sexo e laços de parentesco. Desse modo, 
os homens de uma mesma família caçavam, pescavam, guerreavam contra os 
inimigos e construíam moradias. Às mulheres competia o cultivo da terra, a 
Os Povos Indígenas da América Portuguesa
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
19
preparação dos alimentos, a confecção de utensílios de cerâmica, bem como o 
cuidado com as crianças. A produção era de subsistência, sendo dividida para 
os membros da tribo de acordo com as suas necessidades.
As aldeias tupis, conhecidas como tabas, estavam estruturadas de forma a 
proteger seus moradores em caso de guerra. Habitualmente eram cercadas por 
troncos de árvores e construídas de forma circular, disposição que oferecia maior 
segurança a seus membros. As ocas, edificadas por fibras vegetais e apoiadas por 
uma armação em madeira, possuíam o chão de terra batido, além de abrigarem 
dezenas de pessoas. Seu formato variava muito segundo a tradição e cultura de 
um povo. Os Tupis, por exemplo, construíam suas ocas em formato cilíndrico. 
Em cada uma dessas ocas, havia um líder (principal), os quais se reuniam perio-
dicamente para tomar decisões conjuntas sobre assuntos pertinentes à aldeia. 
Por mais que cada taba tivesse um chefe (morubixaba), podemos dizer que não 
havia um poder centralizado, pois os principais (líderes das ocas) se reuniam 
para discutir assuntos importantes das aldeias. Para se tornar um morubixaba, 
o aspirante à função deveria ser forte, provar valentia e ser fisicamente robusto.
As guerras Tupis estavam relacionadas a sentimentos como vingança e honra, 
não havendo registros de sua manutenção, estritamente por bens materiais. 
Depois de capturados, os inimigos eram, geralmente, mortos, esquartejados 
e devorados pelos guerreiros. Tal ritual antropofágico era necessário na sua 
cultura, pois acreditavam que a intrepidez e bravura do devorado seriam 
incorporadas a quem o consumiu.
Morubixaba vem do tupi-guarani e significa “grande líder”, ou seja, aquele 
que exerce a liderança “política” em uma taba (aldeia tupi). 
Fonte: a autora.
AS CIVILIZAÇÕES PRÉ-COLOMBIANAS DA AMÉRICA PORTUGUESA, HISPÂNICA E SAXÔNICA
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IU N I D A D E20
Você já deve ter notado que os habitantes do que se designou como América 
Portuguesa formavam uma população heterogênea, que variava entre 3 a 5 
milhões de pessoas, distribuídas entre múltiplos povos, tais como: Tupi, Guarani, 
Jê, Aruak, Karib, Pano, Tukano, Charrua, dentre outros, conforme podemos 
conferir no mapa 1. Apesar de muitas vezes estarem localizados próximos uns 
dos outros, tais povos falavam línguas diferentes e possuíam hábitos distintos. 
Mapa 01: Distribuição aproximada dos povos indígenas à época da chegada dos europeus
Fonte: Arruda (1996).
Os Tupis quase sempre se deslocavam em busca de locais que fornecessem 
caça e pesca em abundância, além de condições propícias para a prática da 
agricultura. Entretanto também estavam à procura da tão sonhada “Terra 
sem mal”, lugar ausente de sofrimento e onde os guerreiros que demons-
trassem bravura seriam automaticamente transportados após a morte. 
Fonte: a autora.
Os Povos Indígenas da América Portuguesa
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
21
Os europeus souberam da existência desses povos bem como a forma como 
viviam, por meio de relatos do século XVI. Missionários, náufragos e viajantes, 
os quais tiveram contato com as tribos litorâneas, sobretudo os Tupis, registraram 
os traços culturais de forma generalizada, fator que contribuiu para que durante 
muito tempo os indígenas fossem considerados todos semelhantes. Entretanto 
sabemos atualmente que os povos nativos não poderiam ser configurados como 
homogêneos, muito embora compartilhassem várias características entre si.
Residentes em locais hostis por conta de densas florestas, os indígenas pos-
suíam o conhecimento e domínio da natureza. Não era rara a utilização de várias 
plantas para a cura de determinadasdoenças bem como o uso de algumas espécies 
que tinham o poder de envenenamento. Era comum a aplicação dessas plan-
tas nos rios com o objetivo de intoxicar o peixe e facilitar a sua captura. Alguns 
venenos também eram usados na caça, a exemplo do curare, o qual era colo-
cado na ponta da flecha e poderia paralisar e matar por asfixia o animal ferido.
No âmbito artístico, os diferentes povos indígenas da América Portuguesa 
confeccionavam, em geral, objetos de uso cotidiano (como potes e urnas) e enfei-
tes para acompanhar os rituais (pinturas e plumas etc). Nas tribos, era comum a 
fabricação de esteiras, redes e cestos dos mais variados formatos.
Algumas cores, como o preto do pó de carvão, o vermelho do urucum, azul-
-escuro do jenipapo e o branco do calcário eram utilizadas nas pinturas corporais. 
As pinturas estavam, geralmente, associadas com o papel social do indivíduo ou 
com o ritual a ser praticado. Os desenhos possuíam formas geométricas, as quais 
também eram utilizadas em peças de cerâmica.
O conhecimento indígena bem como a sua familiaridade com a natureza 
foram inclusos na cultura que formou a difusão portuguesa na América, prin-
cipalmente nas primeiras décadas da colonização.
AS CIVILIZAÇÕES PRÉ-COLOMBIANAS DA AMÉRICA PORTUGUESA, HISPÂNICA E SAXÔNICA
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IU N I D A D E22
AS CIVILIZAÇÕES PRÉ-COLOMBIANAS DA AMÉRICA 
HISPÂNICA: ASTECAS, INCAS E MAIAS
A rica variedade de povos que ocuparam o que chamamos de América Espanhola 
chama a atenção por seus modos distintos de convivência: costumes, línguas, eco-
nomias, meio ambiente e sistemas sociopolíticos. Entretanto devemos suprimir a 
nossa análise ao momento do contato com os espanhóis de forma a compreender 
como alguns elementos que marcaram o encontro entre espanhóis e ameríndios 
tiveram desdobramentos em acontecimentos futuros.
Certamente você já ouviu falar das civilizações pré-colombianas, também 
referenciadas como altas culturas americanas. Dentre essas, as que mais apre-
sentaram uma organização socioeconômica e política invejável foram os incas 
e astecas, a ponto de alguns autores, a exemplo de Stuart B. Schwartz e James 
Lockhart (2010, p. 59), denominarem essas estruturas de “povos imperiais”. 
Tal designação se deve ao fato de que essas civilizações não se caracterizaram 
somente por sua vida sedentária, mas por se organizarem em meio a um con-
junto de instituições cujas regras e valores próprios eram indeléveis. Criaram um 
rígido sistema tributário e se alimentaram dele, além de suas fronteiras serem 
bem delimitadas, fatores que os diferenciavam dos demais povos que se fixaram 
na América antes da chegada dos espanhóis.
Os astecas ocupavam a região da Mesoamérica entre os séculos XIV e XVI 
(conferir o mapa 03) e se constituíram em uma importante civilização guerreira 
que consolidou o seu poderio mediante a submissão de diversos povos confede-
rados vizinhos. No século XIV, fundaram Tenochtitlán, atual Cidade do México 
(capital do México), em uma área pantanosa, próxima ao lago Texcoco.
As Civilizações Pré-Colombianas da América Hispânica: Astecas, Incas e Maias
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
23
Desde princípios do século XV, a área do México Central apresentava-
-se reunida por uma confederação de cidades-estados. Entre elas, destacava-se 
Tenochtitlán, território pertencente aos astecas, povo de língua nahuatl. Os aste-
cas, também conhecidos como mexicas, estabeleceram a hegemonia na região 
por volta de 1425, momento em que submeteram a cidade de Atzcapotzalco sob 
o seu domínio. A rígida hierarquização social entre os astecas é uma herança 
proveniente dos séculos I a VIII, período em que a região era controlada por 
Teotihuacán, outra cidade-estado e berço das grandes civilizações que se desen-
volveram no México pré-colombiano.
De forma geral, pode-se dizer que o tributo é o elemento central para a 
compreensão do império asteca bem como o sustentáculo de todo o aparato 
socioeconômico empregado na Mesoamérica (BARTRA, 1975, p. 214). Em cada 
uma das cidades-estados havia uma elite composta por burocratas, sacerdotes e 
guerreiros, os quais sobreviviam em função do sobretrabalho aldeão. Conforme 
Vainfas (1984, p. 24), a civilização asteca organizou-se por meio de uma rede de 
cidades-estados dominadas por Tenochtitlán. Para essa última, eram canalizados 
os impostos cobrados de camponeses e demais contribuições de outras cidades 
que estavam sob o seu poder. Em consonância com Schwartz e Lockhart (2010), 
havia um sistema de trabalho rotativo denominado de coatequitl (veremos que 
entre os incas havia uma prática similar chamada de mita). Essa obrigação “pas-
sava de distrito a distrito e de aldeia a aldeia, e os plebeus trabalhavam em suas 
unidades familiares sob a supervisão conjunta de seus próprios líderes e dos 
homens do governo” (SCHWART; LOCKHART, 2010, p. 61).
A região do México Central era uma das mais povoadas da América pré-co-
lombiana. Por meio da análise de fontes diversificadas, sobretudo de listagens 
relacionadas às cobranças de tributo, é possível estimar que a concentração 
demográfica dessa região fosse de 25 milhões de pessoas em 1519, momento 
em que o conquistador espanhol Hernán Cortez organizou a primeira expedi-
ção rumo a essa área. De forma significativa, Tenochtitlán concentrava 300 mil 
habitantes nesse mesmo ano, se configurando como uma cidade maior do que 
muitas da Europa.
AS CIVILIZAÇÕES PRÉ-COLOMBIANAS DA AMÉRICA PORTUGUESA, HISPÂNICA E SAXÔNICA
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IU N I D A D E24
Incas e astecas estavam representados não somente por governantes como 
também por uma nobreza, a qual pode ser definida como uma linhagem em 
que seus membros estavam acima da plebe. Entre seus privilégios, podemos 
destacar a vestimenta diferenciada, os deveres mais amenos, o desfrute de altos 
cargos governamentais e religiosos, bem como o controle de terras e seguido-
res. No caso específico do México pré-colombiano, onde o centro sociopolítico 
estava concentrado em Tenochtitlán, havia uma monarquia eletiva liderada por 
um soberano (Tlatoani) proveniente dos mais destacados guerreiros de origem 
asteca. O Tlatoani era auxiliado por um conselho tribal, denominado de Tlatocán, 
o qual era composto por chefes das aldeias e que formava a base para a escolha 
e sucessão do soberano. A partir do século XV, com o crescimento da influência 
de Tenochtitlán, o Tlatoacán foi paulatinamente deixado para segundo plano. A 
burocracia de Estado que cingia, ou seja, que rodeava o imperador, sofreu um 
aumento significativo nesse momento e assumiu as funções de assessoria até 
então designadas ao Tlatocán. De acordo com Vainfas (1984, p. 25), tal processo 
estimulou o afastamento entre os dirigentes e a população aldeã.
Uma das fontes para compreender as divisões sociais da sociedade asteca é a 
obra “Historia General de las Cosas de Nueva España”, escrita pelo frei Bernadino 
de Sahagún. Nela, o clérigo afirma que os membros da nobreza estavam dispen-
sados de trabalhos, além de exibirem distintivos e vestuários que indicavam a 
sua posição social. Estavam inclusos nesse grupo os cobradores de impostos, os 
chefes administrativos, os sacerdotes do sol e da chuva, além de algumas agre-
miações militares de elite, como os guerreiros-jaguar e guerreiros-águia.
As Civilizações Pré-Colombianas da América Hispânica: Astecas, Incas e Maias
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
25
Em sua “Breve y Sumaria relación de los señores y maneras y diferencias que 
había de ellos em la Nueva España” (1993), Alonso de Zurita, advogado e escri-
tor que se destacou pelas crônicas que produziu sobre o Novo Mundo, explicaque a elite asteca era sustentada pelos camponeses que trabalhavam em certas 
propriedades diante dos olhos fiscalizadores do império. Eram terras do palácio, 
do templo, da guerra e do próprio soberano. Havia casos em que o imperador 
concedia terras, em caráter vitalício ou hereditário, a funcionários ou guerrei-
ros que se destacavam em suas funções. Nos casos de concessões hereditárias, o 
trabalho era, geralmente, executado por camponeses que não possuíam direito 
a terra de subsistência, denominados de mayeques. Entretanto, em épocas de 
carestia, o império realizava a redistribuição de alimentos excedentes às popu-
lações camponesas.
Havia, ainda, os camponeses (macehualtin) que estavam organizados em 
comunidades conhecidas como calpullis. Considerado por alguns autores 
(CARDOSO, 1981; VAINFAS, 1984; SCHWARTZ; LOCKHART, 2010) como a 
unidade social básica dos astecas, o calpulli pode ser definido como um territó-
rio compartilhado com direitos comuns sobre a terra, além de contar com uma 
organização administrativa, militar, judiciária e fiscal própria. Em cada calpulli 
havia um chefe (calpullec), normalmente eleito pelos membros da comunidade, 
mas que nutria estreitos laços com o soberano asteca. O calpulli era formado por 
terras repartidas entre as famílias para o usufruto hereditário. Tais propriedades 
eram coletivas e utilizadas para a subsistência aldeã. Nelas, cultivavam os mais 
Ficou curioso sobre Bernadino de Sahagún? Saiba que ele era pertencente à 
ordem dos franciscanos, chegou à região asteca em 1529 e permaneceu na 
América até falecer, no ano de 1590. Sahagún escreveu um manual no qual 
pretendia descrever o universo cultural pré-hispânico na Mesoamérica, no 
intuito de que os demais missionários pudessem investigar a permanência 
de resquícios da antiga religião, podendo pregar contra ela, quando fosse 
necessário. 
Fonte: a autora.
AS CIVILIZAÇÕES PRÉ-COLOMBIANAS DA AMÉRICA PORTUGUESA, HISPÂNICA E SAXÔNICA
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IU N I D A D E26
diversos produtos alimentícios, como o milho, o feijão e legumes. Entre as téc-
nicas rudimentares de cultivo desses alimentos, estão a coivara, a irrigação por 
canais e as ilhas flutuantes (chinampas), as quais eram muito comuns no lago 
Texcoco. Além de darem conta de suas funções, os camponeses deveriam tra-
balhar nas terras do Estado e executar serviços públicos, como o recrutamento 
militar (cuatéquil) realizado periodicamente.
A sociedade asteca dos primeiros anos do século XVI não se reduzia a uma 
divisão entre camponeses e burocratas. No circuito das elites governantes, havia 
privilégios significativos, enquanto entre os camponeses surgiam novas catego-
rias sociais, contribuindo para tornar ainda mais complexa a compreensão dos 
desníveis característicos dos trabalhadores dessa natureza. Como já demons-
trado anteriormente, os mayeques se distinguiam dos demais camponeses por 
não possuírem terras e, para sobreviver, deveriam trabalhar nas propriedades 
dos burocratas astecas. Em Tenochtitlán, havia ainda os trabalhadores urbanos 
vinculados quase sempre a trabalhos artesanais, como tecelões, oleiros e ourives. 
Como se tratava de uma função exercida no interior da cidade, esses trabalha-
dores estavam, geralmente, desvinculados de suas comunidades de origem e se 
organizavam em corporações. Na configuração social asteca, os escravos (tla-
coili) eram utilizados como servos de altos funcionários e eram tratados como 
criados, não sendo incumbida a missão de lavorar nas propriedades agrícolas. 
Uma sociedade multifacetada e uma hierarquia rígida. Essas eram as característi-
cas sociais dos astecas às vésperas da conquista hispânica. A presença espanhola 
não apenas causou forte impacto na estrutura social dos mesoamericanos como 
aproveitou essa estrutura para estabelecer as bases do processo colonizador, um 
assunto que trataremos adiante.
No âmbito religioso, os astecas adoravam vários deuses oriundos de tradições 
mesoamericanas ancestrais, veneravam as forças naturais e dos astros, além de 
praticarem cultos familiares. Acreditavam que a origem do universo se baseava 
em um casal proveniente de uma força sobrenatural, sendo ambos os respon-
sáveis pela criação de todos os seres vivos e inclusive dos deuses! Esses, por sua 
vez, teriam realizado uma de suas mais importantes atitudes ao terem criado o 
sol, o qual, conforme reza a lenda, foi formado por uma casualidade dos deuses. 
Nanauatzin, um deles, teria se lançado em uma fogueira durante uma reunião 
As Civilizações Pré-Colombianas da América Hispânica: Astecas, Incas e Maias
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
27
de divindades realizada em Teotihuacán, ação que lhe rendeu a sua transforma-
ção em sol. Criou-se a ideia de que tal astro deveria se alimentar de sangue a 
fim de manter o seu fluxo contínuo. Diante dessa concepção, os próprios deuses 
teriam se sacrificado e ofertado o seu coração ao astro recém-nascido. A partir 
desse mito, os astecas acreditavam na necessidade de uma oferta sequencial de 
sacrifícios envolvendo sangue (VAINFAS, 1984, p. 27).
No panteão asteca, se destacava Huitzilopochtli, o deus sol, também con-
siderado a divindade dos guerreiros. Para estender seu manto protetor sobre a 
agricultura e, sequencialmente, sobre a fertilidade e os camponeses, os astecas 
renderam culto a Tláloc, o deus da chuva. Havia, ainda, o culto a Quetzalcóatl, 
serpente emplumada dos toltecas, povo ancestral dos astecas. Essa divindade 
era considerada o “herói civilizador”, a quem se atribuíam os costumes, a arte 
e a criação do calendário. Os astecas acreditavam no mito de que Quetzalcóatl 
retornaria pelo oeste e traria o fim dos tempos e o encerramento do império do 
Sol. Tal lenda coincidiu com a vinda dos conquistadores, os quais vieram pelo 
oeste, fator que, como veremos na unidade II, acelerou as instabilidades da civi-
lização asteca e provocou o seu declínio.
Diferente dos astecas que estavam concentrados na Mesoamérica, os incas 
localizavam-se na região andina e, embora não dispomos de estudos confiáveis 
sobre a concentração demográfica em seu império, é possível, de acordo com 
Vainfas (1984, p. 28), que a população estivesse estimada nos 20 milhões de habi-
tantes, dispersa pelas regiões que hoje compreendem o Equador, Bolívia, Peru, 
sul da Colômbia, parte do Chile e da Argentina. Em 1530, essas áreas estavam 
dominadas pelo Tahuantinsuyo, denominação também utilizada para se refe-
rir ao império inca, um dos mais centralizados da América Hispânica. Os incas 
falavam a língua quíchua e se expandiram significativamente por volta de 1438, 
portanto, antes da conquista espanhola, ocorrida na transição dos séculos XV ao 
XVI. Apesar disso, os incas não apresentavam uma organização urbana e esta-
tal de base sólida, como pudemos observar com os astecas na Mesoamérica. 
Tais condições facilitaram a unificação, promovida por Cusco, a qual se desta-
cou pela absorção de reinos, como o Tiahuanaco, Huari e Chimus. Entretanto é 
inegável que a ampliação territorial, bem como a significativa centralização polí-
tica e administrativa, rendeu ao império incaico uma singularidade especial na 
AS CIVILIZAÇÕES PRÉ-COLOMBIANAS DA AMÉRICA PORTUGUESA, HISPÂNICA E SAXÔNICA
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IU N I D A D E28
história andina.
O representante supremo e também responsável pelo governo do impé-
rio era o Inca. De acordo com a tradição, o Inca era o governante máximo das 
quatro regiões do império, denominadas suyos, além de ser considerado o filho 
do sol. Normalmente, as alianças políticas eram construídas por meio do casa-
mento de soberanos Incas com filhas de confederações vizinhas (FAVRE, 1987). 
Apesar disso, a sucessão do poder entre os incas não estava bem determinada. 
Por isso, eram comunsas disputas entre os supostos herdeiros dos tronos (filhos, 
irmãos, sobrinhos etc).
O império inca (Tahuantinsuyo) estava subdividido em quatro regiões, quais 
sejam: Chinchaysuyo (terra do norte), Antisuyo (terra do leste), Contisuyo (terra 
do oeste), Collasuyu (terra do sol), como podemos observar no mapa a seguir:
Mapa 02: As quatro regiões do Tahuantinsuyo (Império Inca) / Fonte: a autora.
As Civilizações Pré-Colombianas da América Hispânica: Astecas, Incas e Maias
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
29
Segundo alguns pesquisadores (VAINFAS, 1984; FAVRE, 1987), essas regiões 
eram governadas por parentes próximos ao Inca, os quais residiam em Cusco. 
A expansão de cada uma dessas regiões dependia da quantidade de reinos ou 
confederações anexadas. Tais territórios tinham como base da administração 
os ayllus, os quais podem, de forma geral, ser definidos como aldeias campone-
sas compostas por famílias ligadas por laços de parentesco e gerenciadas pelos 
Kuracas. Em consonância com Schwartz e Lockhart (2010, p. 60), essas comu-
nidades eram consideradas entre os incas como o “microcosmo da vida social”, 
ou seja, a representação de uma unidade local mínima que nos permite falar 
em sedentarização do povo incaico. Tal organização foi de suma importância 
no momento da conquista espanhola. A distribuição de vários ayllus e a forma 
como estavam dispostos em aldeias locais em um imenso império facilitou a 
manutenção da integridade territorial mesmo após a conquista. Os hispânicos 
fizeram uso da estrutura do ayllu por este manter a unidade e se apropriaram 
de sua composição para implantar os dispositivos que permitiram a concentra-
ção da influência e presença europeia.
As diferenças sociais do império podem ser mais bem compreendidas por 
meio da obra “Comentarios Reales acerca de los Incas”, escrita pelo cronista 
Garcilaso de la Vega e publicada em 1609. As funções próximas ao Inca, como 
os burocratas, sacerdotes e guerreiros especiais, eram sustentadas pelo sobretra-
balho aldeão e formavam o topo da hierarquia. Durante o século XV, os Kuracas 
(governantes dos ayllus) tiveram um reconhecimento diferenciado dos demais 
aldeões e foram realocados para o grupo dos dirigentes do império (kapa). A 
partir desse momento, foi atribuída aos Kuracas a função de administradores do 
Inca na esfera local e regional. Semelhante aos astecas, essa camada social não 
estava baseada na propriedade privada. Suas benesses, enquanto uma categoria 
prestigiada socialmente, eram oriundas da coerção militar que intermediava: o 
império concedia proteção aos aldeões e, em troca, realizava a redistribuição de 
excedentes agrícolas em momentos de escassez de alimentos.
AS CIVILIZAÇÕES PRÉ-COLOMBIANAS DA AMÉRICA PORTUGUESA, HISPÂNICA E SAXÔNICA
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IU N I D A D E30
A sustentação social do império era formada pelos ayllus. Considerada a orga-
nização comunitária aldeã nos Andes, os ayllus eram formados por meio da 
distribuição periódica de terras entre as famílias. Essa repartição era organizada 
pelo kuraca, o qual concedia áreas para o plantio de culturas de subsistência, bem 
como terras para o uso comum. Na produção, destacavam-se principalmente 
o milho e a batata, dentre outras variedades de tubérculos. Mesmo utilizando 
técnicas rudimentares no trato com a terra e com a presença de terrenos mon-
tanhosos que dificultavam ainda mais a prática agrícola, os incas desenvolveram 
habilidades para o cultivo de produtos agrícolas em terrenos extremamente incli-
nados. Uma dessas práticas foi a implantação de canais de irrigação, construídos 
por meio da colaboração aldeã.
No pastoreio, os incas se destacaram na criação da lhama, importante meio 
de transporte, além de abastecer a população andina com sua carne, couro e lã. 
Os camponeses trabalhavam nas terras que lhe foram distribuídas e, além disso, 
deveriam fornecer sua mão-de-obra ao Estado, seja prestando serviços nas ter-
ras pertencentes aos chefes reais ou aos Incas bem como contribuindo com a 
construção de obras de uso coletivo. A essa oferta de serviços periódicos dava-
-se o nome de mita. Conforme ressaltou Ciro F. Cardoso (1981), a vida agrícola 
dos incas estava fundamentada na ajuda mútua, não havendo outras formas de 
pagamentos de impostos in natura além do trabalho. O kuraka concentrava mais 
riqueza do que qualquer outro integrante do ayllu por meio desses trabalhos for-
çados (mita). Em períodos de apuros, ele deveria fazer uma repartição de seus 
Garcilaso de la Vega era um escritor de origem inca. Nasceu em 1539, na re-
gião do atual Peru e faleceu na Espanha, em 1616. Era filho do conquistador 
espanhol Sebastián Garcilaso de la Veja e da princesa inca Chimpo Ocllo, 
por isso recebeu a alcunha de “O Inca”. No século XVII, lançou um projeto 
historiográfico ambicioso que se baseava no passado americano, sobretudo 
da região andina. Entre os seus trabalhos mais relevantes está “Comentarios 
Reales acerca de los Incas”, cuja primeira parte foi publicada em Lisboa, no 
ano de 1609, e a segunda, definida como “História Geral do Peru”, foi publi-
cada postumamente na Espanha (1617).
Fonte: a autora.
As Civilizações Pré-Colombianas da América Hispânica: Astecas, Incas e Maias
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
31
bens. No entanto essa redistribuição era limitada, fator que confirmava a exis-
tência de um fosso social entre os homens comuns daqueles poderosos ou que 
ocupavam uma posição de destaque.
Em consonância com Vainfas (1984), apesar de sua divisão em quatro grandes 
províncias (Chinchaysuyo, Antisuyo, Contisuyo, Collasuyu), os incas consolidaram 
um império integrado e coerente, características as quais os astecas não conse-
guiram atingir. Construíram um sistema de estradas que unia todo o território 
(VAINFAS, 1984, p. 28-32). Havia o fornecimento de alguns serviços públicos, 
como correios, depósitos de alimentos e armas. Implantaram um sistema de con-
tabilidade registrado pelos quipos (cálculos com nós, feitos em cordas), por meio 
do qual controlavam o pagamento de tributos e a população de cada aldeia. No 
âmbito governamental, contavam com a chefia do Inca, filho do Sol e símbolo 
máximo da burocracia imperial, mas essa era dependente da burocracia local, 
representada pelos Kurakas regionais ou das aldeias (CARDOSO, 1981).
É importante enfatizar que os incas não se limitaram a cobrar o sobretrabalho 
aldeão. Investiram no aplainamento de terrenos inclinados, típicos das regiões 
montanhosas, contribuindo para a ampliação da área cultivável bem como para a 
divulgação de certos produtos alimentícios em áreas onde eram pouco conheci-
dos, a exemplo do milho nas regiões mais altas e da batata na costa peruana. Esse 
sistema agrícola funcionava por meio da mitmaq, ou seja, da mudança de aldeias 
inteiras de uma região para a outra, muito embora alguns autores defendessem 
que essa transmigração ocorria como punição para as comunidades aldeãs que 
resistissem ao poder do Inca (VAINFAS, 1984, p. 30).
Ao que parece, na região andina, o objetivo era que cada ayllu tivesse um 
conjunto de terras distribuídas em diversos microclimas. Em algumas áreas dos 
Andes, as variações de altitudes possibilitavam a existência de áreas diferentes, 
mas próximas umas das outras, cada qual com um clima propício para o cultivo 
de determinados alimentos necessários para a subsistência da civilização incaica. 
Como nos diz Schwartz e Lockhart (2010, p. 70), um grupo se fixava em terras 
baixas, próximas ao Pacífico, “para plantar algodão, terras de altitude mediana 
para o milho, terras ainda mais altas para batatas e produtos semelhantes, planal-
tos desolados para criar lhamas e alpacas e a terra úmida de encosta dos Andespara plantar coca”. Tal sistema de integração configurou-se no que John V. Murra 
AS CIVILIZAÇÕES PRÉ-COLOMBIANAS DA AMÉRICA PORTUGUESA, HISPÂNICA E SAXÔNICA
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IU N I D A D E32
(1978, p. 135-259) denominou de “andares ecológicos” e fazia parte da tradição 
andina de rotatividade e colonização. Mesmo com a sedentarização dos povos 
andinos e com a confirmação de sua territorialidade, as migrações não deixaram 
de ser uma prática usual diante do enorme desafio ambiental que assumiram e 
da aplicação de práticas agrícolas em áreas tão íngremes.
Segundo Vainfas (1984, p. 30-31), em princípios do século XVI, às véspe-
ras da conquista espanhola, a composição da sociedade incaica se tornou ainda 
mais complexa. Isso porque surgiram grupos ligados por relações pessoais de 
servidão, nos quais se incluíam indivíduos desligados das relações entre a buro-
cracia incaica (Kuraka, Inca etc) e camponeses aldeãos, além de artesãos. Entre 
esses grupos, estavam, por exemplo, os yanacona, reduzidos a “servos hereditá-
rios” da nobreza inca e, ainda, as “virgens do Sol” (aclla) formadas por tecelagens 
ligadas aos nobres e ao Inca. Não obstante, a essência da estrutura da civilização 
incaica continuava fundamentada nos tributos firmados entre o Estado e os ayllus, 
baseada no uso coletivo da terra e no aproveitamento de seus recursos naturais.
As regiões dominadas pelos incas tiveram de deixar de cultuar deuses locais 
para render culto ao Sol (Inti), considerado o deus soberano. Enquanto os aste-
cas buscavam expandir o poder de atuação de Teotihuacán e se consideravam 
legítimos herdeiros dele e, consequentemente, das áreas dominadas, os incas, 
de modo distinto, eram vistos pelos povos subordinados como organizadores 
do caos mundano. No testemunho de Garcilaso de la Vega, há indícios dessa 
“missão” supostamente designada aos incas: “Nosso pai, Inti, ordena-nos que 
fiquemos neste vale e aqui nos estabeleçamos e reinemos”. Nesse trecho, o cro-
nista transmite as palavras de Manco Capac, o primeiro inca, simbolizando a 
tarefa do chefe Inca, filho do Sol, em levar a civilização para áreas distantes de 
seus domínios. Como relata Vainfas (1984, p. 31), alguns estudiosos acreditam 
que Viracocha seria a divindade incaica de maior projeção e lhe concediam a 
função de criar os elementos da natureza, como a terra, o céu e, inclusive, o Sol.
As Civilizações Pré-Colombianas da América Hispânica: Astecas, Incas e Maias
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
33
A sobreposição do culto ao Sol em relação às divindades locais não eliminou o 
antigo hábito de cultuá-las. Os wakas ou huacas eram considerados uma força 
sobrenatural capaz de encarnar em um determinado objeto ou local. Sua adora-
ção continuou frequente e era, normalmente, realizada em locais considerados 
sagrados, como grutas, riachos, pedras, dentre outros. Os incas não viam essas 
divindades como concorrentes ao culto solar, muito pelo contrário, de forma geral, 
aceitaram a continuação dessas práticas em relação aos wakas a ponto de leva-
rem objetos que representassem essas crenças ancestrais para Cusco, centro do 
império. Tal prática era compreendida como uma submissão dessas divindades 
locais ao deus Sol. Toda essa organização fez com que as crenças dos antepassa-
dos, cultivadas desde antes da dominação incaica, não se perdessem no tempo, 
de modo que a sua força marcasse presença mesmo após a conquista hispânica, 
a ponto de se constituir como uma das formas de resistência cultural à coloni-
zação espanhola.
Os maias, por sua vez, era um povo pré-colombiano que habitou as regiões 
do atual sul do México, Guatemala, leste de Honduras, El Salvador, Belize e nor-
deste da Nicarágua. Algumas partes do território pertencente a esse povo viveram 
seu período áureo o século VII até aproximadamente o ano 1000. Alguns auto-
res, como Paul Gendrop (2005), por exemplo, defendem a ideia de que quando 
os espanhóis vieram para a América encontraram apenas vestígios dessa grande 
civilização, a qual teria finalizado o seu apogeu no século IX. Muitos arqueólo-
gos corroboram com essa ideia, pois acreditam que, no século XVI, momento da 
vinda de espanhóis para a América, os resquícios dos maias eram representados 
por singelos agricultores ligados por rituais religiosos ancestrais. Enquanto os 
maias entravam em decadência, por volta do século XII, os astecas, localizados 
mais ao norte do atual México (conferir o mapa 03), começavam a despontar 
como uma rica e promissora civilização.
“Pues soy indio, que en esta historia yo escriba como indio con las mismas 
letras que aquellas tales dicciones se deben escribir.”
Fonte: Vega (1609, p. 17).
AS CIVILIZAÇÕES PRÉ-COLOMBIANAS DA AMÉRICA PORTUGUESA, HISPÂNICA E SAXÔNICA
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IU N I D A D E34
Mapa 03: Localização aproximada das altas civilizações pré-colombianas da América Hispânica
Fonte: a autora.
A unidade entre os maias nem sempre foi a sua característica principal. Eles, por 
exemplo, não estavam unidos por um único idioma, tanto que os atuais remanes-
centes dos maias são identificados por falarem seis dialetos principais, os quais, 
às vezes, são similares entre si, mas, em muitos casos, apresentam variações sig-
nificativas. Entre os seus registros, merecem destaque as inscrições estampadas 
nas paredes de templos e palácios. Boa parte de tais textos já foi decifrada e des-
tacam, geralmente, a história das dinastias maias, as guerras e incursões contra 
as cidades rivais, bem como o sacrifício de inimigos como forma de agradeci-
mento aos deuses.
As cidades maias eram consideravelmente grandes para a época, com algu-
mas abrigando até 50 mil habitantes. Mesmo sendo consideradas independentes, 
algumas delas lideravam federações que tinham poder sobre vastos territórios. 
Dentre as cidades de maior destaque, estavam Palenque, Tikal e Copán. Apesar 
disso, havia diferenças sociais: os mais abastados residiam em palácios e tem-
plos construídos com pedras, enquanto os menos favorecidos moravam em 
cabanas de madeira.
A base da economia maia era a agricultura, principalmente o milho, que era 
considerado um alimento sagrado. Na prática agrícola, utilizavam instrumentos 
As Civilizações Pré-Colombianas da América Hispânica: Astecas, Incas e Maias
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
35
rústicos, sobretudo a queimada para limpar o terreno e torná-lo próprio para 
o cultivo.
Grande parte da população era composta de trabalhadores agrícolas, deno-
minados de mazehualob. Em termos políticos, a sociedade maia era representada 
por um monarca, o qual contava com vários auxiliares nas funções administra-
tivas, militares e religiosas. Tal monarquia tinha caráter hereditário e possuía 
forte apelo religioso.
Os maias acreditavam que a vida era gerida por deuses, os quais eram cul-
tuados em templos suntuosos. O pouco que se sabe sobre a religião maia é que 
esse povo acreditava que a maior parte dos deuses estava representada por ele-
mentos naturais, a exemplo do vento, da chuva ou do sol. Apesar disso, rendiam 
culto a Hunab, considerado o deus criador do mundo. 
De forma geral, os maias se destacaram ao desenvolverem avanços signi-
ficativos em cálculos matemáticos e observações astronômicas. Já sabiam, por 
exemplo, o conceito do número zero, compreendido pelos europeus apenas 
mais tarde. Além disso, organizaram o tempo por meio de um calendário com-
posto por 260 dias, orquestrados segundo os complexos movimentos de astros. 
Na arquitetura, construíram obras monumentais e elaboradas, a exemplo de 
cerca de 600 pirâmides edificadas na cidade de Teotihuacán. Em Tikal, outra 
cidade maia, foi erigido umtemplo de mais de 70 metros, considerado o maior 
da América pré-colombiana.
Mediante o que foi analisado até aqui, você deve ter notado que astecas e 
incas protagonizaram as cenas dos mais significativos e sólidos impérios pré-co-
lombianos. Em ambos, a centralização político-administrativa é surpreendente. 
Entretanto, entre os astecas, havia uma maior autonomia das cidades pertencen-
tes à confederação, fator que impossibilitou a unificação total da Mesoamérica. A 
preocupação principal residia em cobrar tributos em gêneros das cidades, além 
de fomentar o comércio a longas distâncias, fatores que deram certo prestígio à 
propriedade privada e atenderam aos anseios dos grupos dirigentes. Muito pro-
vavelmente as exigências em relação ao trabalho foram menos intensas do que 
no caso inca, o que facilitou a relativa liberdade das cidades que formavam a con-
federação asteca. De modo distinto, o império inca vivenciou a intensa presença 
governamental a partir de Cusco. Essa característica facilitou ao poder central 
AS CIVILIZAÇÕES PRÉ-COLOMBIANAS DA AMÉRICA PORTUGUESA, HISPÂNICA E SAXÔNICA
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IU N I D A D E36
expandir o trabalho coletivo sobre as comunidades aldeãs existentes em seu 
território de atuação, além de restringir o comércio em prol das práticas de redis-
tribuição e, consequentemente, obstruir a formação de propriedades particulares.
O culto ao sol era algo recorrente em ambas as civilizações e era represen-
tado por divindades, o que realçava ainda mais o poder atribuído a esse astro. 
Entre os astecas, Huitzilopochtli alimentava a sede pela guerra em nome de novas 
conquistas e do triunfo desse povo em relação às demais cidades da confede-
ração. No império inca, Inti era a sustentação do poder e base da autoridade e 
integração política. Ainda assim, é possível verificar a presença de tradições ances-
trais entre as duas civilizações. Na Mesoamérica, havia a lenda de Quetzalcóatl, 
enquanto que, nos Andes, reinava a figura mitológica de Viracocha. Em ambos, 
havia a relação profunda do homem em sintonia com a natureza, algo distante 
da pregação corpo/alma implantada pelo cristianismo no período da conquista.
OS POVOS AMERÍNDIOS DA AMÉRICA SAXÔNICA
Os povos pré-colombianos da América Saxônica (região compreendida onde, 
hoje, se localizam o Canadá e os Estados Unidos) também se destacaram por sua 
imensa diversidade cultural. Tal variedade se sobressai no âmbito da arte, da con-
fecção de instrumentos e utensílios, da religiosidade e dos padrões de alimentação.
Essa multiplicidade ganhou conotação em períodos consideravelmente 
adjacentes, pois, de acordo com Cardoso (1981), durante os anos de 8.000 e 
5.000 a. C., momento em que as geleiras retrocederam para o extremo norte 
da América, a região era ocupada tão somente por esquimós. Tais grupos resi-
diam em uma área que se estendia do Alasca à Groenlândia. A sua subsistência 
era feita por meio da caça e pesca. Utilizavam como vestimenta materiais como 
o couro e a pele, os quais ajudavam a suportar as baixas temperaturas a que 
eram expostos. Residiam em habitações chamadas iglus e no campo religioso 
eram adeptos do animismo.
Os Povos Ameríndios da América Saxônica
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
37
Durante os séculos XVI e XVII, momento em que os europeus colonizaram de 
forma mais sistemática a América, houve ampla utilização do cavalo e de armas 
de fogo, fator esse que contribuiu para a modificação das formas de subsistência 
dos índios que habitavam a região das pradarias localizadas na Grande Planície 
da América do Norte. Alguns povos nativos, a exemplo dos sioux, consumiam 
a carne do búfalo, capturado geralmente por meio da caça, além de cultivarem 
alguns alimentos, como o feijão, o milho e a abóbora.
A vegetação também sofreu alterações consideráveis. Em alguns locais, 
os campos deram lugar às florestas, ao passo que certas regiões bem irrigadas 
deram lugar a terrenos semidesérticos. O processo de sedentarização ganhou 
força com a exploração de moluscos no litoral e o recolhimento de sementes em 
locais semiáridos, atividades essas que se somaram com as já existentes (caça e 
coletas primitivas). O trabalho mais cuidadoso na confecção de instrumentos 
de pedra permitiu o aperfeiçoamento dessas ferramentas bem como a adoção 
do método de polimento.
Nas regiões cobertas por florestas, predominava a caça e a coleta. Era 
comum o consumo de carne de animais silvestres, a exemplo do veado e do 
coelho. O recolhimento da abóbora, do milho selvagem, dentre outros, era uma 
prática adotada na alimentação de povos nativos que habitavam essas áreas. 
Residentes nas florestas Orientais da América do Norte (atual Península do 
Labrador e Rio São Francisco), os iroqueses era um desses grupos da floresta. 
Suas vestimentas eram confeccionadas com tecidos a base de lã, moravam em 
casas de madeira localizadas em aldeias fortificadas, viviam da agricultura, da 
caça e da pesca e, no âmbito religioso, combinavam o animismo com práticas 
De forma geral, considera-se animismo toda a manifestação religiosa que 
atribui aos elementos dos cosmos (sol, lua, estrelas), a determinados seres 
vivos (como os animais, as árvores e as plantas) e aos fenômenos naturais (a 
exemplo da chuva, do dia e da noite) uma causa primária de característica 
vital e pessoal, chamada de “anima”. Esta, por sua vez, simboliza a energia 
que movimenta o cosmos, o qual, em uma visão antropológica, significa es-
pírito e, na teocêntrica, é associado à alma.
Fonte: a autora.
AS CIVILIZAÇÕES PRÉ-COLOMBIANAS DA AMÉRICA PORTUGUESA, HISPÂNICA E SAXÔNICA
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IU N I D A D E38
politeístas. Migraram para os Apalaches até chegarem ao litoral, onde prati-
cavam a caça, a pesca e a horticultura.
A irrigação, por sua vez, foi o elemento primordial para a difusão da agri-
cultura e indicou um perfilhamento mais complexo da organização social, 
como dos pueblos, grupo que habitava a região dos rios Colorado e Grande. 
Residiam em cavernas rochosas e em habitações semissubterrâneas, apoiadas 
por adobe ou pedra. De forma geral, tais abrigos possuíam um formato semi-
circular, em cujo centro havia uma praça na qual eram realizadas as cerimônias 
religiosas. Utilizavam técnicas de irrigação no cultivo do milho, além de con-
feccionarem a cerâmica e o tecido de algodão. Os navarros, assim como os 
pueblos, se fixaram nas regiões desérticas do Texas e da Califórnia. Praticavam 
a caça e a agricultura, além de confeccionarem vestimentas de couro e tecido 
de lã. Os navarros construíam suas cabanas com barro e, no âmbito religioso, 
comungavam do animismo e do politeísmo.
Em consonância com Betty J. Maggers (1985), havia pelo menos três mode-
los diferentes de habitat na América Saxônica, quais sejam: a floresta, o deserto 
e as grandes planícies. Apesar da distinção da oferta de recursos para a sobre-
vivência nesses ambientes, é imperativo reconhecer que em todos eles existe 
uma multiplicidade notável de alimentos, compostos por animais selvagens e 
plantas, além de proporcionar condições para o desenvolvimento da agricultura 
intensiva. Segundo Meggers (1985), nos três tipos de habitats existem pressões 
adaptativas que convergem no surgimento de configurações culturais, nas quais 
o desenvolvimento histórico e atributos gerais são especialmente similares. A 
exploração da potencialidade de cada um dos tipos ambientais está relacio-
nada aos vínculos estabelecidos com as áreas centrais, locais de onde vieram 
plantas que se adaptaram aos mais diversos climas. Também são provenientes 
dessas regiões algumas práticas e fundamentos religiosos bem como os mais 
diversos traços culturais adotados.
As regiões de floresta na América Saxônica, localizadas no leste dos EstadosUnidos e Canadá, abrigavam dois dos principais sistemas fluviais do hemisfério. 
Em tais zonas florestais, era comum a ocorrência de enchentes, as quais alagavam 
as terras mais baixas. Quando a inundação recuava, deixava para trás lagos rasos, 
algo que facilitou o encalhamento de peixes e a formação de pântanos. Havia a 
Os Povos Ameríndios da América Saxônica
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
39
predominância do clima temperado, caracterizado por invernos frios e verões 
quentes. Nesse ambiente, o solo era drenado e produtivo, não sendo necessária a 
utilização da irrigação. Nas florestas orientais, houve uma adaptação significativa 
à alimentação selvagem, fator que reforçou a segurança de grupos nativos depen-
dentes do cultivo agrícola. Há cerca de 10 mil a. C., a sobrevivência era garantida, 
sobretudo, com o cultivo do milho, da abóbora e do feijão. Além disso, as popu-
lações nativas já faziam uso de uma estrutura urbanizada embrionária e de uma 
política centralizada, fatores que evidenciavam uma clara organização social, 
muito provavelmente com a execução de práticas religiosas. Exemplo disso são 
os funerais: em cadáveres supostamente pertencentes a grupos abastados foram 
encontrados ornamentos de luxo, ao passo que, em outros, provavelmente per-
tencentes a grupos comuns, não há indícios de objetos dessa natureza.
Nesse universo, a difusão da cultura mississipiana representava o desba-
ratamento de um grupo cujas técnicas agrícolas eram consideradas superiores 
a de outras populações que habitavam as zonas florestais. De forma geral, nas 
florestas, a caça e a coleta eram práticas dominantes, principalmente com o 
consumo de carne de veado e coelho, a fartura de milho e abóboras selvagens. 
Dentre os grupos florestais, podemos destacar os iroqueses, os quais se fixaram 
nos Apalaches e região litorânea após se deslocarem de sua região de origem, ao 
oeste do Mississipi. Em suas terras, cultivavam práticas rudimentares de horti-
cultura, a pesca e a caça.
As regiões de desertos da América Saxônica apresentavam uma variedade 
considerável de áreas ecológicas, o que motivou o surgimento de uma multipli-
cidade de culturas. Os mongollon, por exemplo, residiam nas encostas e vales 
localizados a mais de 2.000 metros de altura. Onde atualmente se encontram os 
estados de Utah, Arizona, Novo México e Colorado era o habitat natural dos ana-
sazi. Os honokam, por sua vez, ocuparam o deserto do sul do Arizona e Novo 
México. É notável que o processo de sedentarização tenha ocorrido por volta de 
500 a. C., por meio do cultivo agrícola, mediante a irrigação. As concentrações 
populacionais somente se sedimentaram em razão desses avanços na tecnolo-
gia agrícola. Outras inovações incrementaram esse refinamento tecnológico, 
tais como a edificação de barragens de retenção, as quais canalizavam a água 
da chuva e dos rios para serem aproveitadas no processo de irrigação. Segundo 
AS CIVILIZAÇÕES PRÉ-COLOMBIANAS DA AMÉRICA PORTUGUESA, HISPÂNICA E SAXÔNICA
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IU N I D A D E40
alguns arqueólogos, esses indícios simbolizam a existência de uma organização 
sócio-política estratificada. Apesar da influência das altas culturas mesoameri-
canas, pode-se dizer que os grupos que habitavam as regiões dos rios Colorado 
e Grande desenvolveram uma sociedade e cultura próprias. Residiam em locais 
apoiados sobre rochas e em abrigos semissubterrâneos sustentados por cons-
truções de adobe e pedra. Era comum a existência de uma praça central, local 
onde se realizavam os cultos religiosos. Além de cultivarem o milho de forma 
intensiva, tais populações também confeccionavam tecidos, algodão e utiliza-
vam o sistema de irrigação.
Sobre o tipo ambiental das Grandes Planícies, o pouco que se sabe é que, 
neste período, o padrão de vida foi nômade, dada a existência de grupos caçado-
res e coletores. Com a introdução da cerâmica nas florestas do leste, aumentou 
consideravelmente a quantidade de registros, fator que permitiu detalhar as for-
mas como esses grupos viviam. Dessa forma, os pesquisadores concluíram que a 
caça e a pesca enriqueceram a alimentação desses povos, aliados à coleta de raí-
zes, sementes, amoras e frutos silvestres. Por volta de mil anos atrás, houve uma 
mudança significativa, o que provavelmente resultou na formação da cultura mis-
sissipiana. Aldeias compostas por cabanas de terra multiplicaram-se, indicando 
traços de uma comunidade mais sedentária, alicerçada no cultivo de feijão, milho 
e abóbora em vales próximos. A concentração populacional em áreas específicas 
ficou mais evidente há 15 mil anos atrás, quando algumas aldeias visivelmente 
maiores cresceram, enquanto as aldeias menores desapareceram. Muito prova-
velmente, a intensificação da agricultura foi fator pujante para esse fenômeno. 
Antes de conhecerem o cavalo, as caças eram realizadas em regiões circunvizi-
nhas e limitadas. Por esse motivo, os acampamentos eram mudados com certa 
frequência, no intuito de manter o acesso à caça.
Os Povos Ameríndios da América Saxônica
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
41
Anteriormente a vinda dos colonizadores, as caças eram realizadas com ins-
trumentos rústicos, a exemplo das pontas de projétil. Entretanto, nos séculos 
XVI e XVII, os europeus introduziram as armas de fogo e os cavalos, fatores que 
facilitaram a subsistência dos índios. Além de caçarem animais como os búfalos, 
esses grupos nativos se dedicavam ao plantio de abóbora, do milho e feijão. No 
século XIX, doenças europeias atingiram fatalmente essas populações e devas-
taram comunidades inteiras do oeste e norte da América Saxônica.
Pelo o que você aprendeu anteriormente, pode notar que os diversos povos 
que habitavam a América Saxônica eram semelhantes em seus modos de vida, 
apesar de se localizarem, muitas vezes, em tipos ambientais distintos (florestas, 
desertos e grandes planícies). As atividades mais recorrentes e executadas pela 
maioria dos grupos que habitavam essa região eram a agricultura, com o cultivo 
de milho principalmente, além da utilização da caça e pesca bem como a coleta 
de sementes para a manutenção das aldeias.
Muito embora tais grupos não tenham se estruturado de forma tão com-
plexa quanto às altas culturas que se desenvolveram na Mesoamérica e região 
andina, compartilhavam entre si uma organização sociopolítica e religiosa pare-
cida. Partilharam mudanças significativas, como a assimilação de técnicas, a 
exemplo do uso de irrigação, que favoreceram e aperfeiçoaram a agricultura.
Com o que você conheceu até aqui, pode-se afirmar que cada cultura vivenciou 
momentos de adaptação a um meio ambiente específico e com um pensamento 
próprio. De todas essas transformações, podemos compreender que as trocas 
culturais resultantes do contato entre os grupos sejam por meios amistosos ou 
das conquistas de um povo por outro, significam que tradições sociais distintas 
podem-se desdobrar em uma cultura mista, na qual possivelmente coexistem 
princípios das antigas e novas sociedades.
AS CIVILIZAÇÕES PRÉ-COLOMBIANAS DA AMÉRICA PORTUGUESA, HISPÂNICA E SAXÔNICA
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IU N I D A D E42
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na primeira unidade, conhecemos os povos pré-colombianos da América 
Portuguesa, Hispânica e Saxônica, os quais talvez você já tenha ouvido falar ou 
conhecido em sua formação. É importante lembrá-lo(a) que os conteúdos que 
vimos não tem como finalidade apenas a confecção de trabalhos acadêmicos, 
visto que em vários momentos do nosso cotidiano nos deparamos com notí-
cias relacionadas a remanescentes desses povos ou a descobertas científicas, 
mediante as quais se torna necessário analisá-lassobre um viés crítico baseado 
em um conhecimento de causa.
Na realidade, os seres humanos sempre dependeram, em maior ou menor 
grau, das organizações para a sua sobrevivência. Conforme analisamos ao longo 
dessa unidade, as estruturas dos povos pré-colombianos variavam de acordo 
com o tempo e espaço, adquirindo um nível de complexidade maior em algu-
mas regiões da América Hispânica. Nas demais regiões (América Portuguesa e 
Saxônica), a convivência de diversos grupos nativos, cada qual com seus hábi-
tos, cultura e liderança, revelou um caráter descentralizado e, de certa forma, 
independente de relações hierárquicas.
Evidentemente, os grupos humanos que compunham a América pré-colom-
biana eram múltiplos e cada qual possuía características próprias. De forma geral, 
podemos dizer que, durante o processo de conquista e colonização, os europeus 
concentraram suas ações de forma desproporcional e em áreas cuja população 
nativa estava praticamente sedentarizada. Os povos semissedentários desperta-
ram um interesse secundário, sendo que a tentativa de negociação com grupos 
móveis foi realizada apenas em últimos casos. Por isso, as terras ocupadas por 
povos sedentários, em razão de toda a sua estrutura complexa e organizacional, 
se constituíram em um terreno fértil para o crescimento da sociedade americana 
no século XVI, momento de conquista e colonização dessas áreas.
43 
A UNIDADE DAS ALTAS CULTURAS PRÉ-COLOMBIANAS
Entendemos por Altas Culturas Pré-colombianas as civilizações americanas localizadas 
no México atual, na região norte da América Central e na faixa que se estende desde a 
Colômbia até o Chile, acompanhando a orla marítima do Oceano Pacífico.
Um observador atento poderá perceber de imediato que as regiões acima assinaladas 
como Altas Culturas, compreendendo respectivamente a Confederação Asteca, as Cida-
des-Estado maias e o Império Inca, são zonas onde hoje impera o “subdesenvolvimento”, 
enquanto a América de língua inglesa, localizada fora desse mapa, parece ter-se “desen-
volvido”. Por que o norte se desenvolveu e o sul se subdesenvolveu? Por que as regiões 
outrora “ricas” são hoje as mais pobres? Ou, por que as regiões antes mais “pobres” são 
hoje as mais poderosas economicamente?
A ideologia colonialista resolveu aparentemente o problema, remetendo-o ao estigma 
da inferioridade racial do índio americano e do negro escravo, à miscigenação racial, 
aos impedimentos geográficos e a outras teorias mais ou menos exóticas. Essas teorias 
têm em comum a premissa de que o continente americano necessitou da presença do 
branco europeu para penetrar na história dos povos civilizados, e afirmam que quanto 
mais nos aproximamos desse modelo capitalista mais seremos “felizes”. Como os colo-
nos ingleses construíram na América do Norte uma sociedade “à imagem e semelhança” 
da europeia, seu desenvolvimento foi muito mais rápido do que o das regiões da Con-
federação Asteca, das Cidades-Estado maias e do Império Inca, reafirmam tais teorias.
Essa explicação leva a um raciocínio formal assustador: se no passado os povos america-
nos não foram capazes de se desenvolverem sem a tutela dos europeus, hoje, continu-
am precisando da tutela dos mais desenvolvidos para mostrarem o caminho da supera-
ção do subdesenvolvimento.
Mas a ciência moderna tem sido incapaz de provar efetivamente a suposta inferioridade 
americana, ou ainda de demonstrar que o fator geográfico é determinante para o desen-
volvimento econômico. Não podemos aceitar a existência de povos inferiores ou povos 
sem história (nós, latino-americanos) e povos com história (as sociedades capitalistas 
avançadas). Esse dualismo é artificioso e não explica a realidade.
A história tem demonstrado que o desenvolvimento de uns está condicionado ao sub-
desenvolvimento de outros (...).
Está claro para a história que todos os povos são potencialmente iguais, mas não bas-
ta dizer simplesmente isso. Para abandonar explicações metafísicas, devemos inserir os 
povos nas estruturas socioeconômicas, no terreno das particularidades regionais, nas 
diferentes formas de desenvolvimento, nas formações sociais.
Fonte: PEREGALLI, E. A unidade das altas culturas Pré-Colombianas. In: PINSKY, J. et al. 
História da América através de textos. 11. ed. São Paulo: Contexto, 2013, p. 9-11.
1. Em 1500, quando os portugueses chegaram à América, havia uma imensidão 
de povos nativos, alguns dos quais testemunharam a vinda dos lusitanos e esta-
beleceram os primeiros contatos com eles. De forma especial, o litoral de onde, 
hoje, se encontra o Brasil era ocupado por “povos semissedentários”, os quais 
sobreviviam da caça, da coleta, da pesca e da agricultura. Faça uma reflexão 
desse tema e assinale a alternativa correta sobre os povos pré-colombianos 
que habitavam a América Portuguesa:
a) Os únicos povos indígenas à época da chegada dos europeus eram os Tupis-
-Guaranis.
b) Quando chegaram à América, os portugueses se depararam com os Tupis, ocu-
pando quase que integralmente a região próxima à Linha do Equador, sobretu-
do a área compreendida entre os atuais estados de Amazonas, Roraima, Pará e 
Amapá.
c) Além dos Tupis e dos Guaranis, havia outros povos, dentre os quais podemos 
destacar, os Jê, Karib, Pano, Tukano e Aruák, situados no interior da América Por-
tuguesa.
d) Os Tapuias acreditavam que os povos que não falavam sua língua (os Tupis) eram 
considerados “bárbaros”.
e) Entre os Tupis, a hierarquia era o centro da vida tribal e as atividades estavam, 
geralmente, articuladas de acordo com a classe social que ocupavam.
2. Os maias estavam organizados de forma descentralizada, dividindo o poder políti-
co entre várias cidades-estados. Além disso, são lembrados por diversas inovações 
consideradas avançadas para a época. Sobre os maias, é correto afirmar que:
a) Era um povo pré-colombiano que habitou as regiões desérticas da América 
Saxônica.
b) Assim como os astecas e os incas, a unidade foi a característica principal dos 
maias.
c) Segundo informações recentes, fornecidas por arqueólogos, o topo da hierar-
quia da sociedade maia era ocupado por grupos de sacerdotes pacifistas e ob-
servadores de astros, sustentados por camponeses.
d) A organização militar era feita de acordo com a necessidade e por meio de recru-
tamentos. Os armamentos utilizados eram sofisticados para a época, compostos 
por canhões e armas de fogo.
e) Destacaram-se nos cálculos matemáticos e em observações astronômicas. Além 
disso, já sabiam o conceito do número zero, organizaram o tempo por meio de 
um calendário e construíram obras monumentais e elaboradas.
45 
3. Os povos pré-colombianos da América Saxônica (região compreendida onde, 
hoje, se localizam o Canadá e os Estados Unidos) se destacaram por sua imensa 
diversidade cultural. Tal variedade se sobressai no âmbito da arte, da confecção 
de instrumentos e utensílios, da religiosidade e dos padrões de alimentação. 
Sendo assim, analise as afirmações abaixo e assinale V para as opções verdadei-
ras e F para as falsas:
( ) Grande parte desses povos eram adeptos do animismo.
( ) Nas regiões cobertas por florestas, predominava a caça e a coleta. A irrigação, 
entretanto, foi o elemento principal para a difusão da agricultura.
( ) Entre os principais povos nativos que ocupavam a América Saxônica, podemos 
destacar: os Sioux, os Iroqueses, os Navarros, os Pueblos, os Mongollon, os Incas, os 
Anasazi e os Honokam.
( ) A pesquisadora Betty J. Maggers (1985) classificou os povos pré-colombianos da 
América Saxônica de acordo com os seus habitats, quais sejam: a floresta, o deserto 
e as grandes planícies.
( ) As atividades mais recorrentes entre esses grupos eram a agricultura, a caça, a 
pesca e a coleta de sementes para a manutenção das aldeias.
A sequência correta é:
a) V, V, V, F e V.
b) V, V, F, F e V.
c) V, V, F, V e V.
d) F, V, F, V e V.
e) V, V, V, F e F.
4. É correto afirmar que os Tupis-Guaranis exploravam o mesmo pedaço de terra 
por muitos anos? Analise e confronteas atitudes dos nativos no cultivo da terra 
com os seus hábitos de moradia.
5. Os astecas possuíam uma organização social vinculada pela posição política e 
econômica, mas que ao mesmo tempo se caracterizou por sua complexidade. 
Diante disso, explique por que, às vésperas da conquista hispânica, a sociedade 
asteca era considerada multifacetada e com uma hierarquia rígida.
6. A sustentação social do império inca era formada pelos ayllus, considerada a or-
ganização comunitária aldeã nos Andes. Assim sendo, reflita: por que, entre os 
incas, os ayllus eram considerados o “microcosmo da vida social”?
MATERIAL COMPLEMENTAR
Título: História dos índios no Brasil
Autor: Manuela Carneiro da Cunha (organizadora)
Editora: Companhia das Letras
Sinopse: A obra reúne 27 pesquisadores que atuam nas mais distintas 
áreas, como Antropologia, História, Linguística e Arqueologia. Trata-se 
de um esforço para divulgar os mais recentes conhecimentos sobre 
a história dos índios, com ênfase para a população indígena da 
Amazônia. Oferece, ainda, informações vinculadas à presença de 
povos indígenas no Brasil, a exemplo das novas teorias relacionadas 
à origem do homem americano.
Título: A conquista da América Latina vista pelos índios: relatos 
astecas, maias e incas
Autor: Miguel León-Portilla
Editora: Vozes
Sinopse: Trata-se de um clássico da historiografia sobre o assunto. 
A obra privilegia o ponto de vista dos povos pré-colombianos da 
América Hispânica, que foram conquistados e dizimados pelos 
europeus.
Título: Enterrem meu coração na curva do rio
Autor: Dee Brown
Editora: L&PM Editores
Sinopse: Trata-se de um clássico dos anos de 1970 que chocou 
a opinião pública nos Estados Unidos. A obra relata de forma 
sistemática a destruição dos índios na América do Norte. O 
autor fez uma pesquisa minuciosa e utilizou autobiografias, 
depoimentos, documentos oficiais e descrições para 
fundamentar a sua pesquisa.
Material Complementar
MATERIAL COMPLEMENTAR
Título: Aguirre, a cólera dos deuses
Ano: 1972
Sinopse: O filme relata a busca desenfreada de ouro por uma 
expedição espanhola no século XVI. A história se passa na região 
andina e mostra as dificuldades em enfrentar a floresta e como os 
europeus eram vulneráveis a ela.
Comentário: Trata-se de um filme importante para compreender a saga 
dos primeiros conquistadores espanhóis desejosos por encontrar ouro 
em terras americanas.
Título: A conquista do paraíso
Ano: 1992
Sinopse: O filme retrata vinte anos da vida de Colombo, 
perpassando as suas pesquisas que constataram que o mundo era 
redondo bem como a sua luta para conseguir convencer a Coroa 
Espanhola a financiar a sua expedição para a América. Além disso, 
é retratado o encontro de Colombo e seus acompanhantes com 
os nativos do Novo Mundo, sua luta pela colonização, até encerrar 
com sua decadência e velhice.
No documentário indicado a seguir, o líder indígena Ailton Krenak apresenta como 
vivem e pensam os índios de nove grupos dispersos pelo território brasileiro. Vale a 
pena assistir!
Índios do Brasil: quem são eles?
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=QQA9wuGgZjI>. Acesso em: 28 
set. 2015.
https://www.youtube.com/watch?v=QQA9wuGgZjI
U
N
ID
A
D
E II
Professora Dra. Verônica Karina Ipólito
O PERÍODO COLONIAL NA 
AMÉRICA HISPÂNICA E 
SAXÔNICA
Objetivos de Aprendizagem
 ■ Compreender as relações e conflitos culturais entre Espanha e 
América durante o Período Colonial.
 ■ Conhecer a forma de organização econômica, política e social 
durante o período de colonização da América Hispânica.
 ■ Analisar a configuração da economia, do governo e da sociedade 
durante a colonização da América Saxônica.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
 ■ O conflito de culturas entre Espanha e América durante o Período 
Colonial
 ■ A colonização da América Hispânica: economia, governo e sociedade
 ■ A colonização da América Inglesa: economia, governo e sociedade
INTRODUÇÃO
A segunda unidade do livro apresenta a conquista e colonização da América 
Hispânica e Inglesa. Você irá notar que não houve a intenção de abordar minu-
ciosamente os detalhes de tais processos em razão da quantidade limitada de 
páginas. No entanto houve um esforço para concentrar informações, bem como 
um debate historiográfico e indicações de leitura, filmes e materiais diversos 
sobre esse assunto.
O primeiro objetivo é conduzi-lo(a) a refletir sobre as versões da conquista e 
colonização da América Espanhola, seja na produção especializada mais recente 
ou por meio da utilização de documentos de época. Em seguida, será apresen-
tada a estrutura socioeconômica e política da América Hispânica, recorrendo-se, 
para isso, a uma abordagem voltada para as diferentes formas de relações de tra-
balho desenvolvidas entre espanhóis e nativos. Posteriormente, analisaremos 
a estrutura socioeconômica e política da América Inglesa. O objetivo é com-
preender as diferenças desses modelos de colonização: de um lado, a América 
Hispânica estava amarrada à burocracia da Coroa; por outro lado, a coloni-
zação da América Inglesa foi um trabalho articulado por particulares e pelas 
Companhias de Comércio, quase não havendo participação da Coroa. Acredito 
que, se você compreender o sistema de colonização da América Espanhola e 
Inglesa, poderá acompanhar melhor as outras unidades, cujas temáticas estão 
voltadas às crises do sistema colonial e aos movimentos de emancipação polí-
tica de suas metrópoles.
O objetivo dos temas trabalhados nesta unidade é conduzi-lo(a) a uma melhor 
compreensão sobre o período colonial na América Hispânica e Saxônica, muito 
embora seja imprescindível a pesquisa e leitura sobre o conteúdo proposto, bem 
como o acesso ao material. Espero que a viagem sobre esse conteúdo seja enri-
quecedora e prazerosa!
Vamos lá?!
Uma excelente leitura a você!
Introdução
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
51
Figura 02: Quetzalcoatl, divindade das culturas mesoamericanas 
©
W
ik
im
ed
ia
 C
om
m
on
s
O PERÍODO COLONIAL NA AMÉRICA HISPÂNICA E SAXÔNICA
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IIU N I D A D E52
O PERÍODO COLONIAL NA AMÉRICA HISPÂNICA E SAXÔNICA
O CONFLITO DE CULTURAS ENTRE ESPANHA E 
AMÉRICA DURANTE O PERÍODO COLONIAL
Você sabia que antes de iniciarmos o período colonial na América Hispânica e 
Saxônica tivemos, na maior parte dos casos, um processo de conquista de deter-
minados povos? Entretanto é importante lembrar que os colonizadores europeus 
traziam em sua bagagem anseios que faziam parte do contexto de expansão terri-
torial vigente na Europa dos séculos XIV, XV e XVI. Em suma, podemos dizer que 
conquista e colonização eram fenômenos que se completavam, pois, na medida 
em que os europeus iam conquistando determinada região, já eram implanta-
das ou reaproveitadas as bases para a materialização do sistema colonizador.
O Conflito de Culturas Entre Espanha e América Durante o Período Colonial
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
53
Para compreendermos o processo de conquista e colonização da América 
Hispânica, devemos refletir, inicialmente, sobre o que John H. Elliot (1998, p. 
135) chamou de “antecedentes”. O sentido da colonização e conquista da América 
Espanhola em fins do século XV pode ser visto como sinônimo de expansão da 
fé, tal como ressaltou Francisco López de Gómara, um dos primeiros relatores 
da conquista, ao afirmar que: “sem colonização não há uma boa conquista e se 
a terra não é conquistada, as pessoas não serão convertidas. Portanto, o lema do 
colonizador deve ser colonizar” (apud ELLIOT, 1998, p. 135).
O sentido da colonização também pode estar vinculado à obtenção de riquezas 
materiais, como deixou claro Hernán Cortés, conquistadordos astecas, quando 
canonizou sua ambição revelada na frase: “nós, espanhóis, sofremos de uma 
doença do coração cujo remédio específico consiste no ouro”. Diante dessa mul-
tiplicidade de fatores que motivaram o estabelecimento de espanhóis no Novo 
Mundo, podemos afirmar que a conquista não foi um hiato antes da coloniza-
ção, mas parte integrante e vital dela. Conquista e colonização foram processos 
simultâneos e dependentes entre si. Nesse sentido, Elliot (1998) afirma que os 
sentidos da conquista e colonização espanhola priorizavam a ocupação, explo-
ração da terra, concediam poder e riqueza (ouro, pilhagem de objetos fáceis de 
transportar...), além de ser um prato cheio para as possibilidades de elevação 
social, como o desejo de conquistar honras (títulos de fidalguia, nobreza...) e de 
“valer más” em uma sociedade fortemente ligada a uma hierarquia de posições 
e atenta a ideia de reputação. Tais anseios eram rapidamente conquistados com 
a espada, já que toda a honraria e valor se originavam de atos e serviços ao rei.
No entanto os sentidos de conquistar e colonizar se incluem em um con-
texto muito mais amplo e complexo, que remonta ao processo de Reconquista 
da Península Ibérica empreendida pelos cristãos contra os muçulmanos durante 
os séculos VIII ao XV. Foi nesse último século, marcado por importantes avan-
ços dos espanhóis na expansão ultramarina, que houve a consolidação do que 
Elliot (1998, p. 135) chamou de “Estado feudal renovado”, figurado na união entre 
Isabel de Castela e Fernando de Aragão, em 1469. Essa junção entre reinos repre-
sentou não somente o esboço de formação do estado espanhol como fomentou 
as expedições de exploração marítima em uma época em que acumular ouro e 
prata consistia em um dos principais objetivos dos estadistas. Em consonância 
O PERÍODO COLONIAL NA AMÉRICA HISPÂNICA E SAXÔNICA
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IIU N I D A D E54
com Elliot (1998), no caso específico da Espanha, essa questão vai ainda mais 
além quando consideramos que a Reconquista dos Reinos Cristãos para o sul foi 
uma guerra que ampliou os limites da fé e eliminou, durante séculos, a fronteira 
que dividia o cristianismo do Islã. É isso que justifica, em parte, a caracterização 
da Espanha como uma sociedade agressiva, sequiosa em expandir os limites de 
sua influência. Nesses moldes, à medida que a expansão interna se consolidou, 
as forças dinâmicas da sociedade ibérica medieval começaram a buscar novas 
fronteiras no além-mar, dentre as quais figuraria a América.
Perry Anderson (1985) também considera que o absolutismo espanhol, às 
vésperas da conquista e colonização da América, teve sua origem na união de 
Castela e Aragão, efetivada pelo casamento de Isabel I e Fernando II. O Estado 
tomou para si o controle dos benefícios eclesiásticos, separando o aparelho local 
da Igreja da competência do papado. O suprimento de imensas quantidades de 
prata das Américas tornou-se um importante meio para o enriquecimento do 
Estado espanhol em ambos os sentidos do termo, pois provia o absolutismo his-
pânico com um rendimento extraordinário e abundante que se situava totalmente 
fora do âmbito convencional das receitas estatais na Europa.
Ao tratar especificamente da concentração de poder espanhol entre os sécu-
los XIV e XV, Perry Anderson afirma que a monarquia hispânica tornou-se 
poderosa principalmente com a apropriação de metais preciosos retirados das 
colônias conquistadas. A pilhagem das Américas foi, para o autor, um dos atos 
mais espetaculares de acumulação de capital primitivo durante a Renascença. 
Assim, para Perry Anderson (1985), o absolutismo espanhol buscou forças tanto 
no legado interno do engrandecimento com a aquisição de territórios e influ-
ências pela dinastia dos Habsburgos1 – que acarretou um artefato supremo dos 
mecanismos feudais para a expansão política – como no saque ultramarino de 
capital extrativo.
1Que governou a Espanha de 1516 até 1700.
O Conflito de Culturas Entre Espanha e América Durante o Período Colonial
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
55
Em sintonia com as práticas mercantilistas, a monarquia espanhola tinha inte-
resse em concentrar tesouro em seu território (metalismo) e incentivar o comércio 
nacional, por meio do investimento nas manufaturas como uma forma de com-
petir com outras nações. Assim, a concentração econômica, o protecionismo e 
a expansão comercial engrandeceram o Estado feudal tardio, ao mesmo tempo 
em que beneficiaram a burguesia emergente. Por isso, Perry Anderson (1985) 
afirma que, a partir de 1560, o Novo Mundo passou cada vez mais a determi-
nar o futuro do absolutismo espanhol. Mas, apesar dessa circunstância, o caráter 
irredutivelmente feudal do absolutismo permanecia. 
Em resumo, para Perry Anderson (1985), a Espanha era um estado funda-
mentado na supremacia social da aristocracia e que buscava todas as formas para 
garantir os privilégios das classes tradicionais. Portanto, o absolutismo espanhol 
na época da conquista (fins do século XV a início do XVI) era, segundo Perry 
Anderson (1985), um estado feudal “reformado”, “recolocado”, pois teria surgido 
em substituição ao feudalismo com o objetivo de continuar garantindo que a 
aristocracia permanecesse no poder e submetesse aos seus interesses tanto cam-
poneses quanto a recém emergente burguesia. Foi esse “estado feudal renovado”, 
segundo Elliot, ou “reformulado”, na visão de Perry Anderson, que impôs con-
ceitos medievais à nova terra, como a afirmação da soberania, o estabelecimento 
da fé e pretensões de domínio amplo da terra e do povo.
A dinastia dos Habsburgos governou a Espanha de 1516 a 1700, porém sua 
origem é alemã e comandou a Áustria em fins do século XIII, até 1918. O po-
derio dos Habsburgos teve o seu momento áureo no século XVI, com Carlos 
V, então imperador do Sacro Império Romano-Germânico e rei da Espanha. 
Suas terras incluíam toda a Europa, exceto a Inglaterra, a França e a Rússia. 
Os soldados de Carlos V conquistaram ricos impérios na América (Incas e As-
tecas). Antes de falecer, Carlos repartiu seus domínios entre o irmão e o filho, 
criando-se dois ramos dos Habsburgos. Um deles governou a Espanha até 
1700, o outro comandou o restante do império. Em 1804, os domínios co-
mandados pelos Habsburgos ficaram conhecidos como Império Austríaco. 
Fonte: a autora.
O PERÍODO COLONIAL NA AMÉRICA HISPÂNICA E SAXÔNICA
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IIU N I D A D E56
A caracterização da sociedade hispânica como “feudal renovada” pode ser 
muito bem exemplificada na literatura da época, com destaque especial para as 
novelas de cavalarias, prosas típicas da Idade Média e presentes da Península 
Ibérica desde o século XI. As narrativas lendárias e de aventura expressas nesse 
estilo literário motivaram muitos homens no século XV e XVI a se lançarem 
na navegação marítima. Na Espanha, Miguel de Cervantes fez uma sátira bem 
humorada das novelas de cavalaria e criou o personagem Dom Quixote e seu 
escudeiro, Sancho Pança, na famosa obra Dom Quixote de La Mancha. Embora 
tenha sido escrita em princípios do século XVII, Cervantes denuncia o continu-
ísmo social pautado nas honrarias e no enriquecimento fácil, não dispensando 
uma leitura irônica do contexto espanhol dos séculos anteriores e apontando 
diversos comportamentos, figuras representativas e relatos históricos, como a 
guerra da Reconquista.
Na obra supracitada, o personagem Dom Quixote era um fidalgo, filho de 
pais ricos. No entanto, durante sua vida, perdeu toda a riqueza, pagando dívi-
das e comprando livros. Por isso, mergulha na literatura em busca da solução 
dessa dificuldade. Além de perder sua riqueza, Dom Quixote começa a agir 
como um cavaleiro em busca de uma mudança, uma nova vida. Ele já tinha 
uma idade relativamenteavançada e vivia muito só. Por isso, deixa-se levar 
pela imaginação e passa a viver em um mundo ilusório. Todas essas atribula-
ções vivenciadas pelo personagem mostram que ele próprio é um retrato da 
época representado, muitas vezes, pela nobreza decadente que vê na expan-
são ultramarina possibilidades de enriquecimento fácil e sonha em encontrar 
um “eldorado” por influência das frequentes leituras das novelas de cavalaria. 
A ilusão está presente em Dom Quixote, pois vê o mesmo mundo que todos, 
mas sob uma perspectiva muito própria e marcada pela medievalidade que se 
imprime nos contos de cavalaria que, de tão lidos, teriam o levado à loucura 
(tanto que seus livros foram queimados pelo padre, com apoio de sua família). 
Tais contos retratam de forma fantasiosa heróis épicos e míticos medievais. 
Assim, Dom Quixote pode ser considerado uma sátira à novela de cavalaria. 
Esse gênero literário foi mais desenvolvido na Idade Média e não existia mais 
O Conflito de Culturas Entre Espanha e América Durante o Período Colonial
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
57
na época de Cervantes, mas estaria marcado na subconsciência da sociedade, 
que não permitia avanços no pensamento crítico e “atrasava” a mentalidade 
espanhola. Na verdade, Quixote vive entre o delírio e sensatez e encarna em 
seus discursos a voz crítica de Cervantes e sua ironia, como, ao inventar nomes 
espetaculosos, ridicularizando muitos sobrenomes da fidalguia.
Sancho Pança, fiel escudeiro de Dom Quixote, era um trabalhador honesto que, 
às vezes, tentava lhe mostrar outra visão que fugisse da fantasia, contudo acaba 
acreditando em Quixote, que o convenceu a ser o governador de uma ilha ima-
ginária. A mentalidade frágil, porém honesta, representada na figura de Sancho 
Pança, e o desejo de ascensão social a partir de títulos de nobreza proveniente 
do domínio de terras, assim como a fama trazida por isso, também são, simbo-
licamente, aspirações essenciais do inconsciente coletivo do reino. Cervantes 
explora muito esses aspectos para criticar também os costumes reais. 
Esses “delírios queixotescos” eram comuns na época da conquista. Colombo, 
por exemplo, teve grande êxito em suas navegações pelo fato de haver encon-
trado um novo continente, mesmo que inconscientemente, pois morre sem saber 
do achado, acreditando apenas que tinha conseguido um novo caminho para 
as Índias. Quando chegou à região caribenha, interpretava à sua maneira todos 
os costumes e línguas dos indígenas, vendo só o que desejava ver e escutando 
apenas o que queria, chegava até a achar que os índios falavam certas palavras 
em sua língua.
“À força de tanto ler e imaginar, fui me distanciando da realidade ao ponto 
de já não poder distinguir em que dimensão vivo”. 
Fonte: Dom Quixote (1605).
O PERÍODO COLONIAL NA AMÉRICA HISPÂNICA E SAXÔNICA
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IIU N I D A D E58
Indo para além da crítica social, Sérgio Buarque de Holanda (1995) afirma 
que a América, como um todo, é produto de uma conquista do “aventureiro”, 
cabendo ao “trabalhador” papel muito limitado, “quase nulo”. Em se tratando 
da diferença da colonização portuguesa na América espanhola, o autor escreve 
o capítulo “O semeador e o ladrilhador”. Nessa parte do ensaio, Holanda critica 
o desleixo dos portugueses para com a colônia, pois estes, tal como um seme-
ador, realizavam suas tarefas sem uma organização necessária. Somente após 
encontrarem ouro no Brasil é que decidiram efetivar a colonização e explorar 
ao máximo as matérias-primas e mão-de-obra, o que acabou gerando diversas 
revoltas por exploração, seja por poder e/ou por reconhecimento social. Ainda 
assim, segundo Holanda, as construções das vilas e cidades não seguem um 
projeto colonizador, sendo formadas de acordo com a conveniência e, despro-
vidas de planejamento, seguem o curso dos rios e das minas. Mesmo com essa 
maior presença do Estado, os colonizadores buscavam lucros imediatos sem 
uma maior organização.
Como você deve ter notado até aqui, Holanda (1995) defende a tese de que 
o processo de conquista e colonização na América orquestrada pela Espanha 
foi mais organizado se comparado com Portugal. Tal como “ladrilhadores”, 
os espanhóis costuraram a conquista e a colonização apoiando-se nas cidades 
como centro administrativo sistemático. No Novo Mundo, os espanhóis tiveram 
como meta transplantar e consolidar as estruturas que compunham a organi-
zação social na Espanha para a América, desenvolvendo uma espécie de “nova 
Espanha”. Organizaram-se em cidades, construíram universidades e o ensino 
era basicamente cristão. 
Holanda (1995) argumenta ainda sobre a diferença da postura colonizadora 
dos países ibéricos na América. O autor cita que os espanhóis adotaram um 
método mais severo, possivelmente pelo fato de encontrarem rapidamente muita 
prata e terem que organizar um sistema de controle mais rigoroso na extração. 
Depararam-se também com sociedades portadoras de estruturas mais comple-
xas, que exigiram um maior controle e “mão forte” da Igreja com a Inquisição. 
Já os portugueses eram conservadores e prezavam pelo desleixo, pelo ócio, não 
pelo trabalho. Eram desprovidos de planejamento e não arquitetavam o futuro. 
Holanda faz essa distinção tratando com certo desprezo a colonização lusitana, 
O Conflito de Culturas Entre Espanha e América Durante o Período Colonial
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
59
pois, segundo ele, o que a sociedade brasileira tem de malefícios é devido às raí-
zes portuguesas perpetradas no país.
Em relação às altas culturas e o processo de conquista, podemos dizer que 
as regiões do México e do Peru eram estratégicas, pois eram formadas por povos 
centrais e completamente sedentários. Além do mais, essas áreas também abri-
gavam grandes depósitos de metais preciosos, mercadoria americana que tinha 
maior demanda na Europa da época. Dessa forma, essas duas regiões receberam 
a maior parte da imigração europeia do século XVI, seguidas da criação rápida 
de redes sociais, econômicas e institucionais de estilo europeu, enquanto a imi-
gração, para todas as outras áreas, era pequena e a mudança mais lenta até um 
período posterior. Por isso, para Schwartz e Lockhart (2002, p. 155), os espanhóis 
foram “os primeiros a levar a América a sério e, por isso, foram eles que ocupa-
ram o México e o Peru e que construíram estruturas complexas e de grande escala 
que atingiram a maturidade precoce bem antes do final do século XVI”. Nesse 
sentido, os autores concordam com Sérgio Buarque de Holanda, para quem os 
espanhóis teriam instalado toda uma estrutura colonial eficaz e produtiva. No 
entanto Schwartz e Lockhart (2002) vão ainda mais longe ao destacar que os 
espanhóis se empenharam no processo de conquista e colonização em lugares 
onde havia índios sedentários e riqueza mineral; todo o resto de seu território 
permaneceu abandonado, ainda mais que a América portuguesa.
Em consonância com Schwartz e Lockhart (2002), por mais que a conquista 
fosse um episódio espetacular, ela também contou com alguns componentes 
importantes, como o estímulo ao capitalismo comercial e de colonização per-
manente. Os grupos de conquistadores transmitiram os costumes de sua área de 
base para a nova área, onde se tornaram encomenderos mais antigos e podero-
sos, tendo o poder de impor sua vontade aos recém-chegados da Espanha. Ações 
como a fundação de grandes cidades e a instalação de jurisdições foram reali-
zadas pelos conquistadores no curso normal de suas atividades. Por isso, para 
Schwartz e Lockhart (2002, p. 156), “a conquista não foi um hiato antes da colo-
nização, mas parte integrante e vital da colonização”, pois, ao mesmo tempo em 
que se descobriam e dominavam novos povose terras, estabelecia-se toda uma 
estrutura colonial, baseada no reconhecimento da soberania espanhola.
O PERÍODO COLONIAL NA AMÉRICA HISPÂNICA E SAXÔNICA
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IIU N I D A D E60
Em “Os mecanismos da conquista colonial: os conquistadores” (1973), o 
historiador Ruggiero Romano trabalha com as formas, a evolução e a herança 
da conquista hispanoamericana, se preocupando em demonstrar as estruturas 
segundo as quais tais acontecimentos se desenvolveram, se inter-relacionaram e 
que choques provocaram. Sem querer abraçar a “lenda negra”, o autor afirma com 
precisão que as formas, os métodos, as maneiras da conquista “não continham em 
si nenhum germe de desenvolvimento positivo, pois estavam destinados a mais 
completa involução” (ROMANO, 1973, p. 12), cujas consequências teriam afe-
tado tanto vencidos quanto vencedores. Nesse sentido, Romano difere de Serge 
Gruzinski (2003) (ver a indicação de livros ao final desta unidade), para quem, 
a conquista não deve ser vista como uma luta entre “perdedores” e “vencedo-
res”, mas como um processo de “trocas culturais”, em que houve contribuição e 
participação tanto de indígenas quanto de espanhóis.
A “leyenda negra” (lenda negra) da conquista da América Hispânica foi inau-
gurada pelo Frei Bartolomé de Las Casas, que, na primeira metade do século 
XVI, lutou contra o modo pelo qual os indígenas estavam sendo tratados 
pela administração colonial. Os escritos de Las Casas denunciavam as atroci-
dades dos conquistadores contra os índios e encontraram grande eco entre 
os opositores do colonialismo praticado pela Espanha no continente ame-
ricano.
Fonte: a autora.
Figura 03: Pintura de Theodor de Bry (1528-1598) inspirada nos 
relatos de Bartolomé de Las Casas 
©
W
ik
im
ed
ia
 C
om
m
on
s
Figura 04: O encontro entre Cortés e Montezuma (Artista Desconhecido − século XVIII) 
©
LO
C 
− 
Li
br
ar
y 
O
f C
on
gr
es
s
O Conflito de Culturas Entre Espanha e América Durante o Período Colonial
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
61
Para Romano (1973, p. 79), 
a vitória dos espanhóis em 
relação aos indígenas vai 
além de explicações psicoló-
gicas, de superioridade bélica 
e até mesmo do uso de cães 
especialmente treinados para 
eliminar o inimigo. Segundo 
o autor, esquece-se muito 
facilmente o fato de que os 
espanhóis ao se baterem con-
tra grandes exércitos puderam 
contar com a ajuda de numerosos “colaboradores”. Assim, por exemplo, a vitó-
ria de Cortés sobre Montezuma (e o “império” mexica (como também eram 
chamados os astecas)) só pode ser compreendida se lembrarmos da aliança do 
conquistador com o chefe dos Tlaxtaltecas, inimigos tradicionais dos mexicas.
O PERÍODO COLONIAL NA AMÉRICA HISPÂNICA E SAXÔNICA
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IIU N I D A D E62
Além do mais, Romano (1973) pondera que a falência da religião indígena aju-
dou na disseminação do cristianismo. Alega ainda que a descrença da religião 
indígena tornou-se um fato consumado e foi facilitada na medida em que, para 
os nativos, a autoridade religiosa e a autoridade política estavam frequentemente 
confundidas em uma mesma pessoa física, acarretando a queda do poder leigo, o 
desmoronamento do poder religioso e dos valores que este representava, muito 
embora o autor reconheça que a penetração da nova religião tenha ocorrido de 
“maneira formal e superficial”. Muitas vezes, como apregoa ele, a religião resul-
tou em fracasso, pois, em vários casos, utilizou-se a violência na evangelização.
Portanto, na visão de Romano (1973), o que constituiu o quadro dos elemen-
tos perturbadores da conquista foram a carga tributária, a desordem e a injustiça. 
Concordando com Alonso de Zorita (pequeno colonizador fracassado de fins 
do século XVI), esse autor diz que para uma melhor exploração dos índios, teria 
sido preciso não quebrar a sua ordem: não os tirar de seu meio natural, de seu 
ritmo de trabalho e de seus critérios de alimentação. Para o autor, não podemos 
conceber aculturação como algo que fez parte da conquista, pois, nesse caso, 
não houve um encontro, mas um choque entre dois mundos muito diferentes. 
Quando as diferenças são grandes demais, ao nível da organização política, social 
e econômica, no plano da “cultura material, ao nível cosmogônico etc., não se 
dá aculturação, mas somente a predominância de uma cultura sobre a outra” 
(ROMANO, 1973, p. 22). Nesse sentido, para Romano, a conquista é na reali-
dade um mecanismo extremamente complexo, no qual, em proporções distintas, 
entraram em combinação alguns elementos (psicológicos, proféticos, superiori-
dade bélica, epidemias, sobrecarga de trabalho ao nativo etc).
O autor supracitado destaca também a herança negativa deixada pela con-
quista. Citando acontecimentos envolvendo brancos e índios no século XX 
– quando, em 1969, três antropólogos escandinavos denunciavam inutilmente às 
Nações Unidas a exterminação de índios do Peru, da Venezuela e da Colômbia 
– ele quer mostrar que certas constantes que existem na América do século 
XVI persistem até o momento em que ele escreve (década de 1970), inclusive 
de maneira até mais enriquecida. Não se trata, segundo o autor, de identificar os 
brancos como “malvados” e os índios como os “bons”. O problema para Romano 
O Conflito de Culturas Entre Espanha e América Durante o Período Colonial
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
63
(1973) não é o da bondade ou da maldade, mas do contraste entre forças de dois 
tipos de economia e, portanto, de sociedades estruturalmente distintas.
A primeira falha no sistema de conquista, segundo o autor, foi forçar rude-
mente os índios ao trabalho. Como consequência, o índio se recusa a trabalhar 
mais porque acha que não tem necessidade de produzir um esforço superior ao 
que está habituado a produzir “no quadro de sua civilização ancestral” (ROMANO, 
1973, p. 24). O Estado, por sua vez, com o desejo exclusivo de satisfazer os inte-
resses privados, oferece a possibilidade de reequilibrar a situação obrigando os 
índios a trabalhar. Outro mecanismo particular, portanto, o do endividamento, 
foi posto em ação. Primeiro, para obrigar os índios a continuar a trabalhar, e 
depois, a labutar praticamente sem salário, uma vez que as dívidas, em sua maio-
ria, se não em sua totalidade, jamais são contraídas em dinheiro, mas em gêneros 
alimentícios. O endividamento se torna, assim, um instrumento de fixação a 
terra para uma importante massa de homens. Não era permitido afastar-se de 
uma zona determinada e nem mesmo prestar serviços a outro proprietário da 
mesma zona enquanto o índio estivesse endividado. O endividamento acabou 
por representar o caráter verdadeiro da economia imposta pelos descendentes 
dos conquistadores. Em suma, para o autor, a conquista lançou premissas de 
um sistema econômico do qual todos os defeitos, inconsistências e contradições 
ainda são sentidas atualmente.
Em consonância com Marianne Mahn-Lot (1990, p. 11), três fatores favore-
ceram a conquista da América espanhola: 1) os “traumas biológicos” (em função 
das doenças que os invasores trouxeram) e “mentais” (algumas civilizações, como 
os astecas e incas, apreenderam inicialmente os “brancos” como mensageiros de 
divindades, o que não tardou a ser desmistificado de modo violento); 2) a superio-
ridade das armas (já que os espanhóis contavam com “espadas, lanças, balestras, 
arcabuzes e cavalos”, e os nativos, por outro lado, não dispunham montaria e com-
batiam com “flechas e frondas”); 3) as “cumplicidades indígenas com o invasor”.
Indo mais além nessa questão, Héctor Bruit (1992), em seu capítulo intitu-
lado “O visível e o invisível na conquista hispânica da América”, publicadoem 
1992, por ocasião dos quinhentos anos da “descoberta” da América, afirma que 
a conquista, no seu sentido mais amplo de dominação total, de substituição de 
O PERÍODO COLONIAL NA AMÉRICA HISPÂNICA E SAXÔNICA
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IIU N I D A D E64
uma cultura por outra, de aculturação, de eliminação dos vencidos, não chegou 
a realizar-se. Esse fracasso do vencedor, o qual Bruit chama de “o processo invi-
sível da conquista”, é representado pela questão da miscigenação, que permitiu 
o nascimento de uma nova sociedade, o que significa repensar que a conquista 
hispânica concretizou-se plenamente. Dentre os objetivos dos colonizadores do 
século XVI, como civilizar os índios de acordo com os padrões peninsulares; 
evangelizá-los a fim de extinguir as religiões americanas; transformá-los em ver-
dadeiros vassalos do rei e conseguir todo o metal precioso possível. De acordo 
com Bruit (1992), na prática, só o último objetivo foi alcançado, pois os outros 
se realizaram de forma precária. Esse relativo fracasso não pode ser visto ape-
nas como obra dos conquistadores, segundo a ideia muito difundida de que só 
se preocuparam em extrair o ouro e explorar os índios. Muito se deve também 
a ação dos nativos, que opuseram diversas formas de resistência, como a militar 
e até mesmo no boicote em relação à comunicação verbal.
Divergindo de Ruggiero Romano (1973), para Héctor Bruit (1992), o fator 
mais importante não é discutir se a conquista foi positiva ou negativa, se o colo-
nialismo, em função da superioridade técnica, cultural, religiosa e política – o 
que pode ser questionado – foi uma forma de integração e comunicação entre os 
povos. É mais relevante, para o autor, mostrar que mesmo conquistados e colo-
nizados, os índios não perderam sua condição de agentes sociais ativos, capazes 
de inibir os valores impostos pelos vencedores. Desse modo, retira-se da análise 
a visão negativa projetada sob o indígena pela maior parte dos cronistas, a come-
çar por Bartolomé de Las Casas (1984). Assim, o eclesiástico espanhol Francisco 
López de Gómara dizia que os índios eram preguiçosos e bêbados, visto que eles 
estavam também revelando uma forma de resistência à conquista. Em contrapar-
tida, quando Las Casas (1984) afirmava que eram muito humildes e obedientes, 
querendo impedir o massacre, no fundo sugere que essa postura não era mais 
que um disfarce. Os índios, segundo Las Casas (1984), mentiam ao conquista-
dor para defenderem-se; para confundi-lo, simulavam obediência, ingenuidade 
e passividade. Isso ilustra, de acordo com Bruit (1992), o processo invisível na 
história da conquista, ou, parafraseando o autor, a “dialética do visível e do invi-
sível” praticada pelos indígenas.
O Conflito de Culturas Entre Espanha e América Durante o Período Colonial
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
65
Para Bruit (1992), os índios não foram tão pacíficos e obedientes, tal como 
retratados por Las Casas (1984). Na verdade, a destruição e a mortandade foi 
resultado, dentre outras causas, de uma relação de guerra que se desenvolveu 
porque existiam combatentes de um lado e de outro. Porém, após essa fase de 
confrontos, os índios praticaram o que Bruit denominou de uma “resistência 
camuflada”. A primeira arma dessa resistência foi o silêncio. Desde a época do 
governador Bobadilla, na Hispaniola, os índios se negavam a falar com os espa-
nhóis. A rainha Isabel ordenou ao governador que obrigasse os índios a conversar 
com os espanhóis. Por seu lado, Las Casas (1984, p. 157) se mostrou partidário 
do silêncio, alegando que “para viver, ser cristãos e de bons costumes, convi-
nha que não conversassem com os espanhóis, primeiro pelos vexames, roubos e 
danos que sempre lhes fizeram (...); segundo, por suas obras más e desordeiras”.
Portanto, a conquista em seu sentido mais amplo, de dominação total, de 
aculturação e de uma eliminação dos vencidos, de acordo com Bruit (1992), não 
chegou a realizar-se. Mesmo derrotados, explorados, usurpados de suas terras, 
os nativos tornaram, até certo ponto, o processo de colonização instável. Para o 
autor, apesar da destruição e do genocídio, os índios ainda sobrevivem física e 
culturalmente, e a sua presença é, de algum modo, marcante em quase todas as 
sociedades do continente americano.
Partindo para as análises de documentos de época, representados inicial-
mente pelas cartas e relatos do navegador genovês Cristovão Colombo (1998), 
principalmente os diários da segunda viagem (1493-1496), e pelos relatos do 
chefe de expedição que dominou os astecas, Hernan Cortés (1985; 1996), escri-
tos na primeira metade do século XVI, podemos observar que ambos possuíam 
um objetivo de conquista das terras do novo mundo e da difusão da fé cristã, no 
entanto diferenciavam-se no modo, na escolha de prioridades e na competência 
de execução de seus respectivos objetivos. Em Colombo (1998), evidencia-se o 
deslumbramento diante das terras que encontrou e, desse modo, é compreen-
sível certo sentido de preservação dos lugares, como quando afirma que os reis 
católicos não consentiam que naquelas terras viessem estrangeiros, salvo cató-
licos cristãos, com o objetivo de preservar a natureza e o índio, inserindo este 
último, contudo, no projeto de cristianização.
O PERÍODO COLONIAL NA AMÉRICA HISPÂNICA E SAXÔNICA
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IIU N I D A D E66
Colombo, ao contrário de Cortés, não lucrou em efetivar os seus objetivos. 
Prejudicou-se talvez pelo pioneirismo e pelas inúmeras possibilidades que as 
terras americanas pareciam dispor (considerando-as um “paraíso terrestre”), tor-
nando sua administração um tanto sobrecarregada. Tudo somado, não manteve 
o prestígio adquirido na primeira viagem. Isso também pode ser compreendido 
pelo fato de Colombo ser genovês. Tendo em vista que a aversão ao estrangeiro na 
sociedade espanhola era uma marca profunda (como na perseguição aos judeus 
e muçulmanos) e que ia além da questão religiosa, é compreensível que, em um 
segundo momento, Colombo tenha sido desprezado pela Coroa.
Já Cortés pôde ser mais efetivo que Colombo, embora tenha se beneficiado 
das descobertas anteriores. Dirigiu-se à América Espanhola determinado a sobre-
viver pela conquista e descoberta de ouro, metas ocultadas por uma suposta 
evangelização daqueles povos, circunstâncias que nunca foram de seu interesse. 
Nota-se que sua tentativa mais evidente de fazer prevalecer a fé cristã é questio-
nável: narrou, em sua segunda carta (de 30 de outubro de 1520), que, na visita 
à grande mesquita, derrubou os ídolos astecas dos seus assentos e os fez des-
cer por escada abaixo, limpando o lugar do sangue dos sacrifícios e mandando 
colocar imagens de Nossa Senhora e de outros santos (CORTÉS, 1985). Na ver-
dade, pelo relato de Bernal Dias de Castillo (1998, p. 46), conquistador e cronista 
espanhol que o acompanhou durante a conquista dos astecas, Cortés apenas 
insinuou a Montezuma que os deuses ali expostos eram “cosas malas que se lla-
man diablos...” e sugeriu fixar uma cruz e a imagem de Nossa Senhora em um 
oratório do templo. Tais sugestões, aliás, foram logo rebatidas por Montezuma, 
que afirmou que seus deuses eram bons e lhe davam saúde e boas colheitas. 
Todo o episódio, a mentira relatada ao rei Carlos V (que governou a Espanha 
de 1516 a 1556) é representativa da determinação de Cortés em vencer e con-
vencer a qualquer custo, pois o suposto ato de derrubar ídolos, limpar o sangue 
dos sacrifícios humanos e cristianizar “bárbaros” demonstraria ao rei o quanto 
era válida a sua empreitada por aquelas terras e o fato de ele ser o chefe militar 
adequado para consumá-las.
O Conflito de Culturas Entre Espanha e América Durante o Período Colonial
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
digo
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
67
Se observarmos a descrição feita de Tenochtitlán, antiga cidade asteca, por Cortés 
(1985), veremos que sua visão de mundo traz, em essência, uma mentalidade de 
poder, ligada a então recente formação da Espanha como país representante da fé 
cristã e baseada na expulsão dos mouros do território espanhol, que deixam evi-
dentes dois objetivos principais, os quais estão presentes em todas as suas cartas: 
a conquista das terras americanas e a legalização desse feito pelo rei espanhol. 
É explícita em seus relatos a descrição das conquistas das terras, visando 
o convencimento e, sobretudo, o apoio do rei nessa empreitada. Isso pode ser 
exemplificado quando Cortés (1985) fala dos templos astecas, chegando mesmo 
a compará-los às mesquitas muçulmanas e os deuses daqueles povos, à ídolos 
desencadeadores da barbárie e sacrifícios humanos. No pensamento de Cortés, 
as descrições de templos e ídolos, deslocadas para o universo das guerras santas 
medievais, promoveriam uma reação, um impulso, por uma nova expansão da 
fé cristã empreitada pela Espanha.
O convencimento do rei pode ser captado também nas comparações que 
Cortés (1985) fez da cidade asteca com cidades espanholas: Tenochtilán era tão 
grande como Sevilha e Córdoba; a mesquita principal possuía uma torre maior 
que a torre da igreja principal de Sevilha. Essas comparações provocariam talvez 
um medo pelo estranho, uma ameaça contra a grandeza da Espanha e a qual o 
rei Carlos V certamente deveria combater. Ainda havia o ouro, a disponibilidade 
do metal e joias, prata e cobre também tinha a intenção de firmar o convenci-
mento do rei pela facilidade e abundância de riquezas.
“Primeiro, porque estávamos lutando contra um povo bárbaro para espalhar 
nossa fé; segundo, para servir a Vossa Majestade; terceiro, nós tínhamos que 
proteger nossas vidas; e por último, muitos dos nativos eram nossos aliados 
e nos auxiliaram”.
Fonte: Hernan Cortés (1985).
O PERÍODO COLONIAL NA AMÉRICA HISPÂNICA E SAXÔNICA
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IIU N I D A D E68
Por fim, havia o convencimento pela beleza da cidade, e Cortés não deixou 
de sugerir que a suntuosidade dos lugares era digna da realeza. Porém o aspecto 
da beleza da cidade foi o menos considerado e não evitou a sua destruição, 
embora Cortés (1985, p. 67), em alguns momentos, lamente a destruição, como 
quando, na terceira carta, afirma que, para assustar os índios, “mandei pôr fogo 
nas suas casas e templos, embora isto me causasse grande pesar, pois em algu-
mas dessas casas Montezuma cultivava todas as espécies de aves”. Cortés (1985) 
caracteriza a capital dos astecas como uma rica cidade dominada por bárbaros. 
Uma cidade com características idênticas aquelas dos idólatras muçulmanos e, 
como estes últimos, deveria ser submetida à grandeza da Espanha e à fé cristã, 
representadas na figura do rei espanhol que manifestava o seu poder mediante 
o seu maior enviado, ou seja, o próprio Cortés.
A descrição apresentada por Cortés (1985) confirma, entre outras coisas, a 
intenção da conquista pela desqualificação do nativo. A cultura asteca também 
é vista sobre a ótica da dominação a ser praticada e, dentro desse aspecto, tor-
nou-se objeto de trama e questionamento. Um exemplo que ilustra essa questão 
foi o uso da profecia que previa a volta do Deus Quetzalcóatl, um dos quatro 
criadores do mundo. Cortés (1985), que foi confundido com o Deus, soube da 
perspectiva criada e usou essa agitação em seu benefício. Por fim, a própria cidade 
Tenochtilán foi pensada como uma forma de, mais do que legitimar, coroar o 
projeto da conquista, que se efetivaria na derrubada da cidade. 
A obra “Historia verdadera de la conquista de la Nueva España”, concluída 
provavelmente em 1568, de Bernal Díaz Del Castillo (1998), testemunha os acon-
tecimentos e exalta a figura dos soldados de Hernan Cortés, que conquistaram o 
México. Bernal Diaz Del Castillo escreveu seu livro como forma de reparar par-
cialidades publicadas na “Historia general de las Indias y conquista de México”, do 
eclesiástico espanhol Francisco López de Gómara, em 1552. A obra de Gómara 
enaltecia Cortés e deixava de lado os soldados que o ajudaram na empreitada. 
Díaz del Castillo deu seu testemunho, desmentindo afirmações de Gómara, que 
classificava de exageradas.
É importante ressaltar que tanto Cortés quanto Bernal Diaz del Castillo 
(1998) – que o serviu e relatou a conquista espanhola no México liderada por 
Cortés – acreditavam na predestinação para a conquista da região asteca, sem 
O Conflito de Culturas Entre Espanha e América Durante o Período Colonial
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
69
descartar o sentimento de heroísmo nesse empreendimento. Mesmo servindo 
Cortés, Del Castillo (1998) diverge em vários pontos em relação às descrições 
feitas pelo chefe da expedição que dominou os astecas. 
Del Castillo (1998) apresenta a lógica das reações humanas diante de situa-
ções limites, expondo que a ação dos espanhóis não foi tomada sem perplexidade. 
Essa reação, aliás, foi sentida até mesmo por Cortés (1985), como no episódio 
da decisão sobre a prisão de Montezuma, momento em que percebeu o tama-
nho do atrevimento ao aprisionar o imperador asteca. Na realidade, segundo 
Del Castillo (1998), Cortés teria sido convencido da necessidade do enclausu-
ramento do líder asteca por pressão de outros capitães que o acompanhavam.
O relato de Bernal Diaz Del Castillo (1998) demonstra que Cortés não deter-
minou sozinho o rumo da guerra e que algumas passagens, narradas nas cartas 
do conquistador, foram inventadas, como a derrubada dos ídolos astecas na mes-
quita maior. Aborda ainda que os espanhóis, inclusive Cortés, tinham simpatia 
por Montezuma, como descrito no trecho “esto digo que em aquel tiempo todos 
nosotros e aun el mismo Cortés, cuando parábamos delante del gran Montezuma 
le hacíamos reverencia com los bonestes de armas” (CASTILLO, 1998, p. 134), 
o que torna mais incompreensível a destruição da cidade de Tenochtilán, ocor-
rida nos meses seguintes. Na verdade, o relato de Bernal Dias Del Castillo (1998) 
termina por comprovar que o caminho da história não é feito, muitas vezes, por 
atos conscientes. A história se manifesta pelo imprevisível (como a varíola, que 
eliminou grande parte dos astecas), sendo questionável atribuir a alguém o papel 
de protagonista de qualquer acontecimento.
“Essa doença era desconhecida (...) e quando as varíolas atingiram os índios, 
foi tamanha a moléstia e tal a pestilência em toda a terra que, na maioria das 
províncias, metade da população morreu (...).”
Fonte: Toríbio de Motolínia (1540).
O PERÍODO COLONIAL NA AMÉRICA HISPÂNICA E SAXÔNICA
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IIU N I D A D E70
Em contrapartida com Bernal Diaz Del Castillo (1998) e Hernan Cortés (1985), 
podemos notar em Bartolomé de Las Casas (1984), um frade dominicano que 
relatou em várias obras o processo de conquista, uma visão bastante diferenciada 
entre índios e espanhóis. “Brevisima relación de la destruición de las Índias” foi 
escrita por Las Casas, em 1542, provavelmente como reação ao fato de que nesse 
mesmo ano foram publicadas as “Leis Novas”, as quais, embora determinassem 
as restrições das encomiendas e a escravidão de índios, não agradaram plena-
mente o frade dominicano. Nessa obra, Las Casas (1984) descreve os espanhóis 
como cruéis e ambiciosos e os índios como seres simples e sem maldades. As 
conquistas do Novo Mundo são relatadas praticamente por um único prisma: 
o da destruição. O religioso buscou, por meio disso, afastar qualquer relação 
entre os indígenas dos bárbaros e escravos naturais, associando-os a exemplos 
expressivos da perfeição divina. Essa crença permitiucom que Las Casas (1984) 
relacionasse o novo continente ao paraíso terrestre, os indígenas aos inocentes 
que habitavam as terras agradáveis e prazerosas e os espanhóis aos terríveis des-
truidores do paraíso descrito.
A encomienda era, em síntese, uma forma de trabalho compulsório indíge-
na, realizado nas zonas rurais, no qual a força de trabalho era trocada pela 
evangelização. Devemos lembrar que naquela época a forma de trabalho 
escravo era proibida pela Igreja (para os não-negros). Ao receberem ensina-
mentos religiosos, a Igreja se contentava e dizia que eles estariam ganhando 
a cristianização em troca de seu trabalho.
Fonte: SlidePlayer (online).
O Conflito de Culturas Entre Espanha e América Durante o Período Colonial
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
71
Nos relatos da “Brevíssima relação da destruição das Índias”, frei Bartolomé de 
Las Casas (1984) imprime certa homogeneidade nas descrições das novas terras, 
dos indígenas, com destaque aos astecas e seus conquistadores. Os indígenas, 
independentemente da região em que vivem, apresentam sempre as mesmas 
características: não conhecem a guerra, recebem os espanhóis com muita felici-
dade, vivem em grande pobreza e não dão valor ao ouro nem aos bens materiais. 
As descrições paradisíacas das novas terras repetem-se ao longo da narrativa, 
estas sempre são descritas como férteis, com abundância de frutas, sempre muito 
prósperas, além de clima ameno. Já os conquistadores são apresentados como 
cruéis, sem piedade e gananciosos pelo ouro.
Diferentemente do objetivo de Las Casas (1984) de exaltar os nativos ameri-
canos, Cortés (1985) pretendia convencer o rei Carlos V a validar a sua investida 
militar no México, convencendo-o ainda de que ele, Cortés, era o homem ade-
quado para completá-la. Assim, para que seu objetivo fosse aceito pelo rei, os 
relatos precisavam esconder a crueldade dos atos do conquistador (muito embora, 
em alguns momentos, ela tenha sido exposta) e ressaltar não o lado guerreiro, 
mas a possível glória da coroa espanhola em sua tentativa de expandir a fé cristã. 
Las Casas (1984), embora deixe claro nos relatos de horror e desumanidade em 
seus escritos, ao denunciar o extermínio dos índios, também acreditava na pos-
sibilidade de cristianização daqueles nativos como uma saída possível para a 
salvação daquelas almas.
“Os espanhóis, esquecendo que eles eram homens, trataram essas inocen-
tes criaturas com crueldade digna de lobos, de tigres e de leões famintos.”
Fonte: Frei Bartolomeu de Las Casas, O Paraíso Destruído (1552).
O PERÍODO COLONIAL NA AMÉRICA HISPÂNICA E SAXÔNICA
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IIU N I D A D E72
Se compararmos Las Casas (1984) com Colombo (1998) notaremos que, para 
ambos, o índio americano possuía uma docilidade para a fé, uma alma pura, sem 
violência − nem armas conheciam, afirmou Colombo, logo que os encontrou. 
No entanto, para Colombo (1998), o índio poderia ser inserido como escravo 
em um projeto de exploração econômica das Índias, embora a hipótese devesse 
ser aplicada apenas a supostos canibais (como os caraíbas). Essa possibilidade, 
sugerida aos reis espanhóis em sua segunda viagem para a América, seria inad-
missível para Las Casas, não só pelo preceito cristão de respeito ao próximo, mas 
também por julgar que a natureza do índio era outra: algo delicado, não desti-
nado ao trabalho.
A COLONIZAÇÃO DA AMÉRICA HISPÂNICA: 
ECONOMIA, GOVERNO E SOCIEDADE
O sistema colonial implantado na América Espanhola estava vinculado a uma 
economia de exportação. Os principais produtos comercializados estavam restri-
tos à produção de gêneros tropicais ou metais preciosos, mercadorias de procura 
intensa no mercado europeu.
Cada região da América Hispânica destacava-se por fornecer produtos tro-
picais diversos. O México, por exemplo, fornecia a cochonilha e o açúcar a partir 
do século XVI. A América Central, sobretudo a região de El Salvador, disponi-
bilizava o anil. Desde fins do século XVI, o algodão passou a ser cultivado na 
costa peruana e em algumas áreas do continente. No século XVIII, as Antilhas, 
principalmente Cuba, especializaram-se na produção açucareira. Durante esse 
mesmo período, aumentaram as exportações do cacau da Venezuela e do tabaco 
da Colômbia para os portos espanhóis.
Um fator de peso durante o período colonial foram os metais preciosos oriun-
dos de diversas regiões da América Hispânica. O ouro foi extraído das Antilhas 
até 1530, em partes da Venezuela, no Peru, no Chile e em algumas minas da 
A Colonização da América Hispânica: Economia, Governo e Sociedade
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
73
Colômbia. Muito embora o ouro tivesse um valor de mercado maior, o metal 
mais produzido na América Hispânica, desde meados do século XVI, foi a prata. 
Os dois polos principais de extração foram o México e o Peru, regiões que se 
tornaram essenciais na manutenção do sistema colonial hispano-americano.
É importante ressaltar que a economia colonial da América Hispânica não 
ficou restrita à produção exportadora. Havia, internamente, a necessidade de 
manutenção da população local. Nesse sentido, existiam núcleos subsidiários 
ligados à produção de mantimentos e criação de gado. No caso da América 
Espanhola, tal produção era facilmente encontrada em comunidades indígenas 
localizadas na região andina e no México. Esses povoados se destacaram como 
núcleos de abastecimento, sobretudo durante o século XVI.
O emprego da mão-de-obra perpassava diferentes modalidades, quais sejam: 
servidão pessoal, escravidão plena e, em menor medida, o trabalho livre. As 
diferentes formas de trabalho compulsório (servidão pessoal, escravidão plena, 
dentre outras) foram as mais utilizadas por conta da própria logística do sis-
tema colonial. Assim, uma das principais atitudes dos espanhóis, ao submeter as 
populações autóctones aos seus interesses, foi explorar o trabalho desses nativos. 
Nas Antilhas e em outras áreas cujos habitantes pertenciam a grupos nôma-
des ou seminômades, a providência tomada foi a escravização dos índios. Nas 
regiões centrais (Andes e Meso-América), houve a adaptação à economia de 
mercado de tributos praticados até então, já que, nessas áreas, o nível de organi-
zação das comunidades agrícolas se apresentava de forma mais elaborada. Nos 
locais onde a população nativa foi praticamente dizimada ou a densidade demo-
gráfica era menor antes da conquista, os colonizadores espanhóis implantaram 
a escravidão africana, caso a região apresentasse atributos comerciais.
Você deve ter notado, conforme exposto anteriormente, que a organização 
socioeconômica da América Hispânica variou de acordo com os recursos natu-
rais disponíveis em cada região e em consonância com os grupos populacionais 
que foram acometidos pela conquista. Em razão dessa diversidade, iremos nos 
concentrar nas áreas mais complexas e que se configuraram como centros do 
império colonial espanhol: a Meso-América e os Andes centrais.
O PERÍODO COLONIAL NA AMÉRICA HISPÂNICA E SAXÔNICA
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IIU N I D A D E74
Dentre as estruturas socioeconômicas que se desenvolveram na América 
Hispânica, é inegável que a mais relevante e, portanto, lucrativa, foi a minera-
ção, principalmente a extração da prata. Tal atividade impulsionou a colonização 
de forma a expandi-la no espaço, seja por meio da construção de cidades ou da 
diversificação da economia colonial.
Pode-se dizer que, a princípio, a economia mineradora da América Espanhola 
não estava baseada integralmente na propriedade privada, pois todo o territó-
rio era considerado domínio da Coroa hispânica. O sistema de ocupação para 
fins produtivos dessas terrasestava baseado em concessões perpétuas realizadas 
pelo poder régio a investidores mineiros. Estes, por sua vez, se localizavam em 
diversos setores sociais, podendo ser o rei e funcionários do primeiro escalão 
até grupos de colonos compostos por homens simples e índios. A partir de fins 
do século XVI, a exploração mineradora exigiu uma tecnologia capaz de con-
centrar e aprofundar as escavações. Dentre os mecanismos que mais lograram 
êxito no processo de extração da prata, está a introdução do amálgama de mer-
cúrio. Esse sistema, porém, resultou na hierarquização entre os mineradores, ou 
seja, os pequenos e médios produtores de metais vendiam o minério explorado 
de suas minas para os empresários de grande porte, os quais monopolizavam o 
processo do amálgama.
A extração da prata era controlada de forma mais intensa pelo capital comer-
cial, isso significa que sua produção era, geralmente, direcionada para a Europa, 
sobretudo Espanha e, posteriormente, drenada para outros centros financeiros 
europeus. Além disso, a Coroa Hispânica cobrava, na forma de imposto, 20% 
de toda a produção de prata (o quinto).
Apesar de a extração da prata ser um dos vetores da economia colonial his-
pano-americana, é importante ressaltar que não foi o único. No setor agrícola, 
por exemplo, predominaram dois sistemas diferenciados: a hacienda e a comu-
nidade indígena. Apesar de coexistirem durante todo o período colonial, houve 
a predominância da primeira em relação à segunda, sobretudo para manter o 
abastecimento na medida em que as comunidades indígenas declinavam. A 
A Colonização da América Hispânica: Economia, Governo e Sociedade
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
75
agricultura nativa carregou o quanto pôde a dupla tarefa da economia colonial, 
que exigia os mantimentos para o abastecimento interno. Sem trabalhadores, a 
agricultura aldeã sucumbiu e se deslocou do mercado mantendo-se apenas para 
a subsistência. Em meio a esse processo, a hacienda assumiu a função de abas-
tecedora monopolizando a unidade de produção da colônia. De forma geral, 
pode-se dizer que a hacienda abrigava diversos tipos de produção, desde uma 
agricultura de subsistência até um subsistema de agricultura/criação vincula-
dos a mercados locais.
Em síntese, podemos dizer que a hacienda foi uma unidade produtiva que 
atendia aos interesses do mercado. Dessa forma, era responsável pela produção 
de mercadorias para o consumo local. Algumas vezes sua produção destinava-
-se a produtos exportáveis, como o açúcar. Em consonância com Vainfas (1984, 
p. 60), a hacienda foi uma importante ferramenta de “monopolização fundiária” 
e simbolizou “uma solução socioeconômica para o desequilíbrio entre a oferta 
de terras (abundante) e a oferta de trabalho (escassa) capaz de garantir a dispo-
nibilidade de mão-de-obra para o conjunto da economia colonial”. Além disso, 
convém frisar que a mineração foi responsável pelo surgimento de relevantes 
núcleos de produção artesanal e manufatureira.
A economia colonial hispano-americana era composta por várias formas 
de trabalho, dentre as quais: o trabalho compulsório na maioria dos casos e, de 
forma reduzida, o trabalho livre e assalariado, caso aplicado a alguns setores 
especializados (a exemplo dos mestres do açúcar e técnicos do amálgama), e a 
certos núcleos artesanais urbanos, e a atribuições intermediárias de administra-
dor ou feitor (mayordomo). 
No que se refere ao trabalho escravo, é importante frisar que essa moda-
lidade não foi utilizada por longos períodos, sendo adotada apenas durante o 
“ensaio antilhano”, em princípios do século XVI. A escravidão indígena foi um 
recurso utilizado em regiões habitadas por “índios bravos” (a exemplo dos arau-
canos e chichimecas) que eram reduzidos à escravidão quando eram capturados. 
O PERÍODO COLONIAL NA AMÉRICA HISPÂNICA E SAXÔNICA
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IIU N I D A D E76
Em outro caso, a escravização do gentio era utilizada quando este revelava um 
comportamento rebelde, não aceitando, por exemplo, a doutrina cristã imposta 
pelos colonizadores. Nesse caso, o índio era submetido à escravidão por meio 
da “guerra justa”, uma das únicas maneiras de legitimar a escravidão indígena, já 
que desde cedo a Coroa e a Igreja optaram pela condenação de tal modalidade 
de trabalho aplicada aos nativos. Entretanto é importante ressaltar que tal polí-
tica obteve êxito pelo fato de já existirem sistemas de extração do sobretrabalho 
aldeão sem recurso a escravidão nos núcleos centrais (região do México, América 
Central e Andes). A escravidão africana, por sua vez, se manteve presente em 
diversas áreas, sobretudo em partes do Peru, Venezuela, Cuba, Colômbia, den-
tre outras regiões. De acordo com Ciro F. Cardoso (1975, p. 79), durante todo o 
período em que vigorou o trabalho africano, a América Espanhola recebeu ape-
nas 1/15 dos escravos enviados para as colônias.
Um dos sistemas de trabalho adotado pelos colonizadores espanhóis foi a enco-
mienda. Criada no período da Reconquista Ibérica, a encomienda é genuinamente 
uma instituição hispânica que sofreu mudanças ao ser implantada nas colônias. No 
caso da América Espanhola, tal prática foi regulamentada no século XVI entre os 
povos sedentários. De forma geral, a encomienda consistia no processo de divisão 
das aldeias entre os conquistadores, os quais passaram a explorar o sobretraba-
lho dos nativos sem, entretanto, condicioná-los à escravidão. Normalmente, os 
“Ensaio antilhano” é um termo que se refere ao modelo espanhol implanta-
do por Cristóvão Colombo, em 1492.
Fonte: a autora.
A Colonização da América Hispânica: Economia, Governo e Sociedade
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
77
encomendeiros exigiam impostos em gêneros ou em prestações de trabalho, mas, 
na maioria dos casos, não tinham direito à terra dos índios. Essa relação entre 
os encomendeiros e as aldeias era estabelecida graças à intermediação das chefias 
comunitárias. Todavia, durante o século XVI, a Igreja e a Coroa se posiciona-
ram contra a encomienda, impedindo as prestações de trabalho e submetendo 
as aldeias ao controle da administração colonial.
A decadência da encomienda, na segunda metade do século XVI, foi acom-
panhada pela alteração das aldeias indígenas, colocando-as na condição de 
“corregimientos de índios”, situados próximos às minas e cidades. Tais comuni-
dades passaram a ofertar mão-de-obra por meio de outro sistema, denominado 
repartimiento. De acordo com essa metodologia de trabalho, cada comunidade 
iria ofertar, de tempos em tempos, uma quantidade de trabalhadores para se 
dedicarem a atividades coloniais. Em consonância com Vainfas (1984, p. 62), 
“pelo trabalho no repartimiento, cujo tempo variava de semanas a meses, os 
índios deveriam receber um salário, parte do qual obrigatoriamente em moeda 
(ou metal) a fim de que pudessem pagar o tributo régio” (VAINFAS, 1984, p. 
62-63, grifo nosso).
Embora variasse de uma região a outra, pode-se afirmar que o repartimiento 
transformou-se na forma de trabalho predominante na América Hispânica até 
meados do século XVII, principalmente na mineração.
Outra prática utilizada, sobretudo na hacienda, foi a peonaje, sistema pelo 
qual os trabalhadores criavam uma dívida no armazém da propriedade a fim 
de retê-los nela. As contas eram controladas de forma a torná-las iliquidáveis, 
ficando o trabalhador obrigado a pagar com o seu trabalho.
Assim, as relações de trabalho atuantes na América Hispânica eram múlti-
plas e complexas, agregando formas tributárias, práticas frágeis de assalariamento 
no sentido de sujeitar pessoalmente os trabalhadores, criando, em alguns casos, 
vínculos que mais se aproximavam da “servidão”.
O PERÍODO COLONIAL NA AMÉRICAHISPÂNICA E SAXÔNICA
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IIU N I D A D E78
A COLONIZAÇÃO DA AMÉRICA INGLESA: ECONOMIA, 
GOVERNO E SOCIEDADE
A América Inglesa, composta pelo Canadá e Estados Unidos, foi colonizada 
pelos ingleses em princípios do século XVII, muito provavelmente com a fun-
dação da colônia de Virgínia. Com essa informação, você pode refletir sobre a 
premissa de que os ingleses não foram os pioneiros na América. Além disso, de 
modo distinto da colonização portuguesa e espanhola no Novo Mundo, a Coroa 
não foi responsável pela colonização, pois esse trabalho foi articulado por par-
ticulares e pelas Companhias de Comércio. Por isso, para Leandro Karnal, Sean 
Purdy, Luiz Estevam Fernandes e Marcos Vinícius de Morais (KARNAL, 2007, 
p. 35), ao contrário da América Ibérica, houve na América Inglesa “uma colo-
nização de empresa, não de Estado”.
Mas o que levou os ingleses a aceitarem abandonar sua terra de origem e se 
aventurarem a ocupar regiões que mal conheciam? É importante destacar que, 
nesse momento, a Inglaterra passava por crises conjunturais: por um lado, as per-
seguições políticas e religiosas e, de outro, as implicações da expropriação dos 
camponeses, um processo que ficou conhecido como “cercamentos”.
Diante da intensificação das perseguições religiosas do século XVI e os 
encalços políticos do século XVII, momento em que figuraram conflitos entre o 
Parlamento e os reis Stuart, os ingleses viram o fato de migrarem para a América 
como uma das alternativas. A prática dos cercamentos e a situação de miséria 
instalada em razão desse processo apenas agravou o cenário caótico da Inglaterra 
seiscentista. Tal fenômeno resultou na expulsão e confisco de terras do campe-
sinato inglês, fator que os levou a migrarem forçosamente para a América em 
busca de melhores condições de vida. O processo de migração de ingleses para 
o Novo Mundo serviu de combustível para fomentar a colonização na região 
setentrional do continente. Quanto à organização do sistema colonial na América 
Inglesa, existem divergências na literatura especializada sobre o assunto. Alguns 
historiadores falam na organização de três áreas principais (as colônias do norte, 
centro e sul), ao passo que outros insistem na existência de duas regiões colo-
nizadas de forma distinta (as colônias do norte e sul). Vamos aqui optar pela 
segunda interpretação.
A Colonização da América Inglesa: Economia, Governo e Sociedade
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
79
Mapa 04: Distribuição geográfica das treze colônias inglesas na América
Fonte: Wikimedia Commons (online).
As colônias do norte são: Pensilvânia, Nova Jersey, Nova York, Delaware, 
Connecticut, Rhode Island, Massachussets e Nova Hampshire. As colônias do 
sul, por sua vez, são classificadas na seguinte ordem: Maryland, Virginia, Carolina 
do Norte, Carolina do Sul e Geórgia. 
As colônias do norte foram destinadas ao povoamento de refugiados enqua-
drados nos casos citados anteriormente. Essa região, banhada pelo Oceano 
Atlântico, apresenta o clima temperado, similar ao europeu. Tais características 
facilitaram o desenvolvimento de um núcleo de povoamento baseado na policul-
tura de subsistência e no mercado interno, já que não foram encontrados metais 
preciosos e nem produtos agrícolas em abundância para o mercado europeu.
O PERÍODO COLONIAL NA AMÉRICA HISPÂNICA E SAXÔNICA
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IIU N I D A D E80
O trabalho familiar, concentrado em pequenas propriedades, foi predo-
minante. Alguns cereais, como o milho, foram cultivados por esses grupos. 
Além disso, na região setentrional dessas colônias, mais conhecida como Nova 
Inglaterra, desenvolveu-se uma produção de navios significativa. Esses estalei-
ros foram bem sucedidos em razão da abundância de madeiras existentes na 
região e tais grupos familiares confeccionavam embarcações destinadas aos mais 
diferentes fins, bem como para o comércio triangular (KARNAL, 2007, p. 47).
No caso das colônias do norte, o comércio triangular era muito utilizado na 
compra de cana e melado das Antilhas, os quais seriam transformados em rum. 
Tal bebida era transportada para a África por meio de embarcações provenien-
tes da Nova Inglaterra. Nesse continente, era usualmente trocada por escravos. 
Esses cativos eram comercializados pelos proprietários de terras das Antilhas e 
Colônias do Sul. Seguido desse processo de venda de mão de obra escrava, nova-
mente os navios retornavam para a Nova Inglaterra carregados de melado e cana 
para a produção de rum. Tal comércio envolvia geralmente a Europa para onde 
rumavam os navios com açúcar das Antilhas, os quais retornavam com produ-
tos manufaturados para serem comercializados nas colônias inglesas na América 
(KARNAL, 2007, p. 47).
Além dessas atividades, as Colônias do Norte adotaram a pesca para comple-
mentar a economia local. Localizadas próximas a um dos maiores pesqueiros do 
mundo (Terra Nova), tais colônias tiveram condições de explorar fartamente as 
atividades pesqueiras bem como a venda de peles, as quais eram adornos funda-
mentais nos vestuários da época, além de proteger do rigoroso inverno europeu.
Ficou curioso para saber o que foi o comércio triangular? Saiba que esse tipo 
de comércio interligava três pontos que envolviam um conjunto de interes-
ses e negociações entre África, América e Europa.
Fonte: a autora.
A Colonização da América Inglesa: Economia, Governo e Sociedade
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
81
Em termos políticos, a região da Nova Inglaterra se mostrou bastante orga-
nizada, apresentando governos com larga participação popular. Mesmo com as 
proibições da população, cada colônia possuía relativa autonomia e chegaram 
a construir pequenas manufaturas, além de realizarem o comércio entre outras 
regiões que não fossem a metrópole e não possuíam o seu aval.
De forma distinta, as colônias do sul desenvolveram uma economia mais 
condizente com os interesses europeus. Desde cedo, cultivaram o tabaco e o 
fumo, sendo que o primeiro exigia uma expansão agrícola contínua, tamanha 
a sua capacidade de esgotamento do solo. Muito embora a mão de obra servil 
branca fosse muito utilizada no século XVII, é fato que o aumento da área de 
tabaco exigiu um número significativo de mão de obra escrava (KARNAL, 2007, 
p. 49). Como consequência, a sociedade ficou marcada por ampla desigualdade 
e resistiu mais ao pensamento de independência por estar vinculada a interes-
ses externos, isso porque os latifundiários meridionais temiam que uma ruptura 
com a Inglaterra significasse um corte com a sua estrutura econômica.
Era comum algumas pessoas reafirmarem a dependência das colônias do 
sul com a Inglaterra, como no fato de que quase todas as roupas eram prove-
nientes de lá, mesmo o sul sendo o grande responsável por produzir linho e 
algodão. Outras, por sua vez, não escondiam o espanto de que mesmo a região 
sendo rica em madeira houvesse a importação de cadeiras, bancos e cômodas 
(KARNAL, 2007, p. 49).
As colônias centrais estariam mais vinculadas à agricultura, com enfoque na 
produção de cereais e, assim como o norte, desenvolveram pequenas proprieda-
des e manufaturas. Essas colônias surgiram posteriormente, já que, a princípio, 
esse território era utilizado para separar as colônias do norte e do sul. Dentre 
essas, podemos destacar a Pensilvânia, fundada pelos quackers, um grupo que 
surgiu após a Reforma e que se baseava na igualdade entre homens e eram con-
trários a toda e qualquer forma de violência, sobretudo as guerras. Em função 
dessa plêiade de ideias, os quackers sofreram perseguições diversas na Inglaterra 
e viram na América uma forma de fugir da violência. Como umdos grupos que 
surgiram após a Reforma, suas ideias estavam voltadas para a igualdade entre os 
homens, se opondo a qualquer tipo de tratamento coercivo, fator que lhe rende-
ram inúmeras perseguições na Inglaterra.
O PERÍODO COLONIAL NA AMÉRICA HISPÂNICA E SAXÔNICA
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IIU N I D A D E82
De forma distinta dos ingleses, a colonização francesa na América ocorreu de 
forma tardia, ficando restrita, em um primeiro momento, a viagens e conquistas. 
Apesar de os franceses se fazerem presentes na América ao longo do século XVI, 
tal ação não significou uma atitude sistemática e precisa desenvolvida pela Coroa. 
A sua atuação no Novo Mundo estava mais restrita à participação de corsários 
e aventureiros, como em incursões na América do Norte e em outras regiões ao 
sul da América, a exemplo de ocupações de parte do litoral brasileiro no intuito 
de encontrar pau-brasil e em algumas visitas mais ousadas, como quando ten-
taram fundar a chamada França Antártica, no Rio de Janeiro, em 1555.
Outra tentativa de inaugurar uma colônia francesa na América do Sul ocor-
reu no século XVII, quando implantaram a França Equinocial ou Equatorial, no 
Maranhão, de onde foram expulsos. Foi somente nesse mesmo século, durante 
o reinado de Luís XIII e de seu primeiro ministro Richelieu, que a colonização 
da América pelos franceses assume um caráter mais incisivo. A ocupação do 
Canadá e de algumas ilhas da América Central, a exemplo de Guadalupe, Haiti 
e Martinica, sinaliza a fase decisiva da colonização francesa no Novo Mundo 
(MORTON, 1989, p. 9). No Canadá, os franceses se dedicaram à prática de uma 
agricultura de subsistência e ao comércio de peles, com ampla procura no mer-
cado europeu. Nas Antilhas, por sua vez, a produção açucareira tornou-se a base 
da economia de exploração e gerou uma substancial acumulação de capitais, 
principalmente por utilizarem a mão de obra escrava africana.
Tais conquistas, porém, não permaneceram por muito tempo nas mãos dos 
franceses. A rivalidade com os ingleses aumentou de forma significativa e esse 
fator conduziu os franceses a perderem Martinica, Guadalupe e o Canadá, em 
função da Guerra dos Sete Anos (1756-1763), para os britânicos.
Das colônias francesas na América, restaram somente o Haiti, a Guiana 
Francesa e a Luisiana (parte central da América do Norte, mas que foi vendida 
aos norte-americanos no século XIX).
A Colonização da América Inglesa: Economia, Governo e Sociedade
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
83
Pelo o que você viu até aqui, pôde notar que a colonização inglesa na América 
desenvolveu-se à parte da Coroa britânica. As treze colônias gozavam de um 
grau de independência considerável entre si, estando cada uma delas, também, 
autônomas, em certa medida, da metrópole. Conforme salientamos, a coloni-
zação ocorreu a partir da iniciativa privada, o que explica o desenvolvimento 
de um elevado grau administrativo, econômico e político, caracterizado, sobre-
tudo, pela ideia do autogoverno.
Você sabia que a Guerra dos Sete Anos foi uma série de conflitos interna-
cionais, ocorridos entre 1756 e 1763? Esses confrontos envolveram diversos 
reinos europeus e também se estenderam para as colônias da Ásia, África e 
América do Norte. O atrito que resultou nesse evento bélico foi liderado por 
dois blocos: de um lado, os franceses e seus aliados (Reino da Suécia, Reino 
da Saxônia, Reino da Espanha, Reino de Nápoles, Ducado de Württemberg, 
Império Austríaco e Império Russo); por outro lado, liderados pela Inglater-
ra, estavam o Reino da Prússia, Reino de Portugal, Reino de Hanôner, Duca-
do de Brunsvique e Estado de Hesse-Cassel.
Fonte: a autora.
O PERÍODO COLONIAL NA AMÉRICA HISPÂNICA E SAXÔNICA
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IIU N I D A D E84
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na segunda unidade, estudamos a conquista e a colonização da América Hispânica 
e Saxônica durante o período compreendido, “grosso modo”, entre os séculos 
XVI e XVIII. O assunto analisado teve como objetivo a conscientização dos pro-
cessos de conquistas e da formação de estruturas coloniais que se firmaram na 
América. Quase sempre ouvimos ou lemos em noticiários e periódicos diversos 
temas vinculados a esse período, seja no âmbito de descobertas científicas ou 
nos mais diversos setores de atuação da vida social, mediante as quais se torna 
necessário lançar um olhar crítico.
Foi possível notar que vários países americanos experimentaram, ao longo 
de sua trajetória histórica, processos socioeconômicos e políticos semelhantes, 
apesar das singularidades pertinentes a cada processo. A América se apresenta 
dessa forma: terra de contrastes, contestações e antagonismos que se desenvol-
veram de norte a sul.
Você pôde conhecer as múltiplas versões da conquista e colonização da 
América Espanhola, seja por meio da produção especializada mais recente ou 
pela utilização de documentos de época. Posteriormente, trabalhamos a estru-
tura socioeconômica e política da América Hispânica, recorrendo-se, para isso, 
a uma abordagem voltada para as diferentes formas de relações de trabalho 
desenvolvidas entre espanhóis e nativos. Por fim, foi analisada a estrutura socio-
econômica e política da América Inglesa. Tais informações são relevantes para 
compreendermos a formação socioeconômica e política atual dos países que 
compreendem tais regiões.
As nações que formam, nos dias de hoje, as regiões conquistadas e coloni-
zadas pelos espanhóis e ingleses possuem uma singularidade própria, mas que 
encontra raízes no passado. Tal fato nos permite compreender porque existem 
diferenças culturais, sociais, econômicas e políticas tão gritantes no continente 
americano. Em muitos casos, como o de algumas regiões da América Espanhola, 
é possível notar que os laços de colonização não foram efetivamente apagados.
85 
Bartolomé de las Casas e a simulação dos vencidos: ensaio sobre a conquista his-
pânica da América
(...) seria possível um comportamento tão passivo, tão destituído de caráter, tão servil, 
por parte dos ameríndios, perante a invasão de seus territórios? (...)
Em outras palavras, a imagem acerca dos índios contém duas vertentes aparentemente 
contraditórias, mas que se juntam numa concepção surpreendente do processo histó-
rico da conquista. Por um lado, os índios aparecem derrotados e conquistados com re-
lativa facilidade, e sua passividade lhes tira a condição de sujeitos ativos e centrais do 
processo, ficando assim fundada a ideia de que o processo social do continente, já desde 
o início de sua modernidade, foi feito pelas minorias. No entanto a ideia da simulação 
nos apresenta uma maioria que age por vias diferentes das comuns, que resiste silencio-
samente à dominação e acaba distorcendo o processo como um todo. (...)
Dessa maneira, podemos recuperar, como formas históricas da resistência indígena à 
invasão, fenômenos sociais como a embriaguez, a indolência, a mentira etc.
O que mais chama a atenção em todo esse processo da conquista americana é a atitude 
dos indígenas em relação ao cristianismo. Documentos diversos atestam que os índios 
simulavam ser cristãos por meio dos significados das formas, rituais e gestos da nova 
religião, mas no fundo a simulação lhes permitia encobrir suas crenças idolátricas (...).
Como defensor dos índios e denunciante das atrocidades dos conquistadores, frei Bar-
tolomé de Las Casas desenvolveu a imagem da “destruição das Índias”, que era produto 
da preocupação do frade com o futuro da sociedade que se organizava: a nova socie-
dade começava distorcida, prenhe de desequilíbrios e de injustiças, carente dos mais 
elementares direitos.
Com exceção de Las Casas, no século XVI prevaleceu a visão otimista da conquista: acre-
ditava-se que a nova sociedade era inteiramente benéfica paraos aborígenes, pois se 
partia da premissa de que a civilização europeia era superior à civilização americana. O 
importante era o resultado final, a propagação de valores cristãos e a organização de 
uma sociedade alicerçada nesses valores.
Fonte: adaptado de BRUIT, H. H. Bartolomé de las Casas e a simulação dos vencidos: 
ensaio sobre a conquista hispânica da América. Campinas, SP: Editora da Unicamp; São 
Paulo: Iluminuras, 1995, p. 14-17, 55.
1. Durante o texto, você deve ter notado que existem múltiplas interpretações so-
bre a conquista da América Espanhola. Estabeleça uma comparação do olhar 
da conquista feita por Hernan Cortés, Bartolomé de Las Casas e Cristóvão 
Colombo.
2. Uma das principais estruturas socioeconômicas que se desenvolveram na Amé-
rica Hispânica foi a mineração, principalmente a extração da prata. A partir dessa 
assertiva, descreva sobre a economia mineradora na América Espanhola.
3. A organização do sistema colonial da América inglesa estava baseada na exis-
tência de duas regiões colonizadas de forma distinta (as colônias do norte e sul). 
Com base na leitura desta unidade, analise a estrutura socioeconômica de 
cada uma dessas áreas.
4. A encomienda foi um dos sistemas de trabalho adotado pelos colonizadores es-
panhóis na América. De forma geral, a encomienda tinha como objetivo:
a) A divisão de cidades e vilas entre os conquistadores, os quais passaram a explo-
rar a mão de obra escrava do nativo. Normalmente, os encomendeiros exigiam 
impostos em trabalhos pesados e, na maioria dos casos, tinham direito à terra 
dos índios.
b) A divisão de grupos de indígenas entre os conquistadores, os quais passaram a 
explorar o sobretrabalho dos nativos sem, entretanto, condicioná-los à escravi-
dão. Normalmente, os encomendeiros exigiam impostos em dinheiro e, na maio-
ria dos casos, tinham direito à terra dos índios.
c) A divisão de trabalhos entre os conquistadores, os quais deixaram os nativos li-
vres, sem submetê-los a qualquer contrato de trabalho ou servidão. Normalmen-
te, os encomendeiros trabalhavam por conta e tinham direito à terra dos índios.
d) A subtração das terras dos nativos e a sua distribuição aos colonizadores espa-
nhóis. Em relação aos nativos, os encomendeiros exigiam impostos em gêneros 
ou em prestações de trabalho e tinham direito às suas terras.
e) A divisão das aldeias entre os conquistadores, os quais passaram a explorar o 
sobretrabalho dos nativos sem, entretanto, condicioná-los à escravidão. Normal-
mente, os encomendeiros exigiam impostos em gêneros ou em prestações de 
trabalho, mas, na maioria dos casos, não tinham direito à terra dos índios.
87 
5. No processo de colonização da América Inglesa, a Coroa não foi responsável pela 
colonização, pois esse trabalho foi articulado por particulares e pelas Companhias 
de Comércio. Dentre os fatores que levaram os ingleses a abandonarem sua 
terra de origem e se aventurarem a ocupar regiões do Novo Mundo estão:
a) As perseguições políticas, religiosas e as implicações da expropriação dos cam-
poneses em um processo que ficou conhecido como “cercamentos”.
b) As perseguições culturais, religiosas e as implicações da expropriação dos bur-
gueses em um processo que ficou conhecido como “aburguesamento”.
c) As batalhas políticas, econômicas e as implicações das mortes de mulheres e 
crianças no episódio conhecido como Noite dos Cristais.
d) O genocídio decorrente de perseguições políticas, econômicas e a expropriação 
de bens da nobreza.
e) As batalhas religiosas em busca de novas terras e a mortandade de ingleses nas 
guerras travadas com o Oriente.
6. A “leyenda negra” (lenda negra) da conquista da América Hispânica foi inaugura-
da pelo frei Bartolomé de Las Casas na primeira metade do século XVI. Assinale 
a alternativa correta com relação a esse tipo de pensamento:
a) Hernan Cortés e Cristóvão Colombo podem ser considerados adeptos desse tipo 
de pensamento, pois criticavam a colonização desenfreada em busca do ouro e 
tinham como objetivo proteger os nativos.
b) Os escritos do frei Bartolomé de Las Casas denunciavam as atrocidades dos con-
quistadores contra os índios e encontraram grande eco entre os opositores do 
colonialismo praticado pela Espanha no continente americano.
c) Similar à lenda rosa, a lenda negra afirmava a importância da colonização espa-
nhola como base para a instalação do cristianismo na América a qualquer custo.
d) A lenda negra tinha como objetivo legitimar o poderio da Coroa espanhola entre 
os nativos. Por isso, os adeptos desse pensamento eram favoráveis à implanta-
ção do trabalho forçado, bem como a cobrança de impostos, dentre eles, o “quin-
to”, tributo retirado de metais preciosos encontrados na América Espanhola.
e) A lenda negra tinha como objetivo construir aldeias para onde deveriam se re-
fugiar os nativos que sofressem com a atuação da colonização espanhola. O seu 
objetivo, portanto, não era de denúncia das atrocidades acometidas em relação 
aos índios, mas de efetivar, na prática, medidas que inibissem a exploração de-
corrente do processo de colonização.
MATERIAL COMPLEMENTAR
Título: A conquista da América: a questão do outro
Autor: Tzvetan Todorov
Editora: Litoral Edições
Sinopse: o autor toma como exemplo o encontro entre os europeus e os 
nativos americanos desde 1492, procurando analisar a influência cultural 
entre as duas sociedades, e também minimizar a ideia de que somente 
os nativos foram aculturados. Todorov retrata momentos históricos 
vivenciados por essas sociedades, como, as dificuldades encontradas por 
Colombo durante a viagem (a partir da análise do seu diário de bordo) 
e o primeiro contato com os nativos, a visão que cada um constrói do 
outro etc. O choque do exótico com o convencionalmente determinado 
padrão tradicional do viver, ver e conviver.
Título: Uma nova história dos Estados Unidos: a era colonial
Autor: Herbert Aptheker
Editora: Civilização brasileira
Sinopse: a obra faz uma análise a respeito da hegemonia comercial 
britânica e o choque de interesses com as colônias americanas. Além 
disso, é abordado o momento de transição do capitalismo mercantil ao 
industrial e o que essas mudanças trouxeram na esfera política.
Título: A colonização do imaginário: sociedades indígenas e 
ocidentalização do México espanhol (séculos XVI-XVIII)
Autor: Serge Gruzinski
Editora: Companhia das Letras
Sinopse: a proposta do livro não se concentra em relatar a 
destruição, nem resistência, mas apreender os variados processos de 
transformação cultural que caracterizam o mundo colonial. O autor 
buscou, portanto, ressaltar o México colonial no que considera como 
“aspectos positivos”. Gruzinski parte do princípio de que, no momento 
histórico de mudanças espetaculares e violentas, a conquista da 
América hispânica não pode ser sintetizada apenas como ruína de ricas 
culturas pré-colombianas, nem como o embrião de sociedades europeias muito menos 
decadentes e de difícil localização, pelo contrário, o mundo colonial mexicano aparece 
como “mesclado” ou “mestiço”, palavra usualmente empregada pelo autor. 
Material Complementar
MATERIAL COMPLEMENTAR
Neste documentário, é retratada a conquista dos astecas pelos espanhóis, com 
destaque para a vida pessoal de Hernan Cortés e Montezuma. O trabalho foi baseado 
nas cartas escritas por Cortés e enviadas à Coroa espanhola. Vale a pena conferir!
Hernan Cortés: a crônica de uma conquista
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=aOx6j5jv-h8>. Acesso em: 29 set. 
2015.
Título: A conquista do oeste
Ano: 1962
Sinopse: o filme descreve os perigos e aventuras vividos pelos 
desbravadores pioneiros do Oeste americano. Esta saga é contada 
por intermédio da história de três gerações da família Prescott.
Comentário: um filme relevante para compreendermos os anos 
de expansão americana em direção ao Oeste, entre 1830 e 1880, 
a corrida pelo ouro, a guerra civil americana e a construção de 
ferrovias.
Título: A letra escarlate
Ano: 1995
Sinopse: o filme descreve a buscapela liberdade das pessoas que 
fugiam da perseguição religiosa na Inglaterra durante o domínio do rei 
Carlos II. Mostra principalmente os detalhes da situação da mulher na 
sociedade vigente.
Comentário: um material importante para auxiliar na compreensão da 
perseguição religiosa ocorrida na Inglaterra durante o século XVII.
https://www.youtube.com/watch?v=aOx6j5jv-h8
U
N
ID
A
D
E III
Professora Dra. Verônica Karina Ipólito
AMÉRICA FRENTE À CRISE 
DO SISTEMA COLONIAL 
E OS MOVIMENTOS DE 
INDEPENDÊNCIA
Objetivos de Aprendizagem
 ■ Compreender a crise do sistema colonial que derivou nos processos 
de independência da América Espanhola.
 ■ Analisar os acontecimentos que resultaram na emancipação política 
da América Portuguesa.
 ■ Conhecer os fatores que aceleraram a independência da América 
Inglesa.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
 ■ A crise do sistema colonial espanhol e as alterações do século XVIII
 ■ Os processos de emancipação política na América Espanhola
 ■ A independência da América Portuguesa
 ■ O processo de independência da América Inglesa
INTRODUÇÃO
Caro(a) leitor(a), a terceira unidade do livro aborda os processos de indepen-
dência das Américas Hispânica, Portuguesa e Inglesa do jugo dos domínios 
metropolitanos. Não foi nossa intenção trabalhar minuciosamente os detalhes 
que resultaram nas emancipações políticas no Novo Mundo, em razão da quanti-
dade limitada de páginas. Entretanto procuramos filtrar as informações e elencar 
o que julgamos imprescindível para o conhecimento desse tema.
O primeiro objetivo é conduzi-lo(a) a refletir sobre a crise no sistema colo-
nial da América Espanhola no contexto de transição do século XVIII para o XIX. 
Em seguida, serão apresentados os múltiplos e variados processos de indepen-
dência hispano-americanos. Posteriormente, analisaremos a conjuntura social, 
política e econômica que resultou na emancipação da América Portuguesa. Na 
sequência, serão exploradas as mudanças contextuais que aceleraram a indepen-
dência dos Estados Unidos.
O objetivo é compreender que, salvo exceções, o domínio metropolitano 
foi substituído pelo domínio da elite colonial, quase sempre atrelada ao capital 
estrangeiro e a interesses próprios, sendo a principal responsável ao fornecimento 
de matérias-primas para o mercado mundial e consumidora de produtos manu-
faturados, provenientes da Grã-Bretanha. Acredito que, se você compreender o 
contexto de fins do século XVIII e início do XIX, que resultou nos processos de 
independência das Américas Hispânica, Portuguesa e Inglesa, poderá acompa-
nhar melhor a próxima unidade, cujas temáticas estão voltadas para a formação 
e consolidação dos Estados Nacionais entre os séculos XIX e XX.
A intenção do conteúdo abordado nesta unidade é prepará-lo(a) de forma 
que entenda e aprecie a História da América. Convido-o(a) a conhecer as inde-
pendências da América!
Pronto(a) para mais uma viagem rumo ao conhecimento?! 
Desejo-lhe uma leitura prazerosa!
Introdução
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
93
©
W
ik
ip
éd
ia
Figura 05: Documento da Declaração de Independência dos Estados Unidos
AMÉRICA FRENTE À CRISE DO SISTEMA COLONIAL E OS MOVIMENTOS DE INDEPENDÊNCIA
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IIIU N I D A D E94
AMÉRICA FRENTE À CRISE DO SISTEMA COLONIAL E OS 
MOVIMENTOS DE INDEPENDÊNCIA
A Crise do Sistema Colonial Espanhol e as Alterações do Século XVIII
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
95
A CRISE DO SISTEMA COLONIAL ESPANHOL E AS 
ALTERAÇÕES DO SÉCULO XVIII
Durante os séculos XVII e XVIII, a Europa sofreu mudanças significativas que 
resultaram em transformações nas mais distintas áreas e influências substanciais 
em todo o mundo ocidental. 
John Lynch (2001) retrata as causas que propiciaram a independência da 
América Hispânica, atribuindo um papel especial às reformas bourbônicas e 
suas consequências como uma das forças propulsoras que incentivou o pro-
cesso de independência na América Hispânica. Assim, analisaremos agora esse 
assunto em questão.
Na segunda metade do século XVIII, a Espanha bourbônica pretendia refor-
mular as estruturas existentes ao invés de criar outras novas. Inicialmente, as 
colônias eram praticamente um reflexo da metrópole, porém as duas economias 
diferenciavam-se em uma atividade fundamental: a produção de metais preciosos 
pela colônia. Houve um grande crescimento populacional, que, somado a uma 
demanda crescente por produtos agrícolas – na Espanha e mercado internacio-
nal –, aumentou a procura por terra nas colônias. Era vital melhorar as técnicas, 
comercializar a produção e remover os obstáculos ao crescimento. Foram fei-
tas leis – por exemplo, a Lei do Milho de 1765 –, uma limitada distribuição de 
terras e regulamentação do comercio libre. Tais medidas contribuíram para um 
crescimento econômico, o que não significou mudança social, de forma que o 
próprio comercio libre foi questionado sobre quais benefícios realmente traziam 
as colônias – ele realmente estimulava uns poucos setores da produção colonial, 
porém deixava o monopólio legalmente intacto, de forma que as barreiras ao 
comércio internacional permaneciam as mesmas. 
Enquanto a Espanha permanecia com uma economia essencialmente agrá-
ria, a economia inglesa passava por mudanças revolucionárias devido à revolução 
industrial. A principal consequência desse processo foi que o comércio inglês com 
as colônias aumentou muito. O mercado da América espanhola era importante 
de ser expandido sempre que possível, porém não era tão vital a ponto de ser 
incorporado ao Império Britânico. De qualquer forma, o visível contraste entre 
Inglaterra e Espanha, representado pelas antíteses de crescimento e estagnação, 
AMÉRICA FRENTE À CRISE DO SISTEMA COLONIAL E OS MOVIMENTOS DE INDEPENDÊNCIA
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IIIU N I D A D E96
teve um efeito poderoso na mente dos colonos. Apesar disso, eles não eram con-
sultados sobre a política exterior espanhola, tendo que pagar na forma de taxas 
os custos da guerra contra a Inglaterra. A partir de 1765, a resistência à taxação 
imperial se tornou constante e, às vezes, violenta.
Politicamente, o império espanhol na América se baseava em uma balança de 
poder entre grupos poderosos divididos na administração, igreja e elite local. Os 
Bourbons centralizaram os mecanismos de controle e modernizaram a burocracia, 
criando novos vice-reinos e outras unidades de administração (intendentes). O 
que a metrópole achava que era um desenvolvimento racional, as elites coloniais 
interpretavam como um ataque aos interesses locais. A ordenança de intenden-
tes foi um instrumento básico de reforma bourbônica, ocasionando mudanças 
estruturais e uma nova legislação. Mesmo havendo essa reforma administrativa, 
isso não necessariamente funcionou na América Espanhola. Os colonos acharam 
essa nova política inibidora e resistiram à intervenção da metrópole.
Dessa forma, ficou explícito que a metrópole apenas se preocupava con-
sigo mesma e com o seu próprio crescimento. O papel da América permaneceu 
o mesmo, consumindo exportações espanholas, produzindo minerais e alguns 
produtos tropicais. Nessas condições, o comercio libre era o elo de dependência 
entre a metrópole e a colônia. Todos esses fatores juntos, adicionados à profunda 
crise de 1808, criaram na América uma crise de legitimidade política e poder. 
Também houve a ausência do monarca espanhol durante determinado período, 
o que agravou ainda mais a crise política. O progresso feito pela reforma bour-
bônica da Espanha regrediu devido a Revolução Francesa, dando às colônias 
mais um motivo concreto parase tornarem independentes.
A Crise do Sistema Colonial Espanhol e as Alterações do Século XVIII
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
97
Na opinião de Lynch (2001), era claro o subdesenvolvimento da Espanha em uma 
Europa cada vez mais ciente da Revolução Industrial. Além disso, novas ideias 
mercantilistas e político-filosóficas fermentavam na Europa, fazendo com que os 
Bourbons resolvessem revitalizar suas colônias na América a partir de meados 
do século XVIII, seguindo seus próprios preceitos, ou seja, invocando as ideias 
dos fisiocratas para reafirmar o papel do Estado e garantir a agricultura como 
base econômica, recorrendo-se ao mercantilismo para justificar uma explora-
ção mais eficiente dos recursos coloniais e buscando no liberalismo econômico 
uma base para eliminar as restrições ao comércio e à indústria. 
A crise de 1808 advém da invasão das tropas napoleônicas a alguns paí-
ses europeus, como Portugal e Espanha, em virtude da guerra que ocorria 
naquele continente, durante a qual a França decretou o Bloqueio Conti-
nental contra a Inglaterra. A ocupação do território espanhol pelas tropas 
de Napoleão Bonaparte favoreceu o movimento de independência das 
colônias da América porque enfraqueceu o poder da metrópole. Em 1808, 
Napoleão ocupou Madri, destronou o rei espanhol Fernando VII e colocou 
em seu lugar o irmão José Bonaparte. Com a deposição de Fernando VII, 
os hispano-americanos experimentaram uma nova fase política, que abriu 
caminhos para os movimentos de independência na América Espanhola. 
Também em 1808, a família real portuguesa precisou fugir da Europa em 
virtude das ameaças de invasão das forças napoleônicas. Os lusitanos não 
poderiam aderir ao Bloqueio por causa de suas relações econômicas com o 
reino britânico.
Fonte: a autora.
AMÉRICA FRENTE À CRISE DO SISTEMA COLONIAL E OS MOVIMENTOS DE INDEPENDÊNCIA
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IIIU N I D A D E98
Em consonância com Lynch (2001), o alto crescimento demográfico na 
Espanha gerou uma nova procura por terras. As taxas de arrendamento da terra 
na Espanha subiram muito mais que o preço dos produtos, em razão da alta 
taxa de natalidade. A resolução bourbônica foi criar as regras do comercio libre 
y protegido, em 1778, em Buenos Aires, Chile e Peru e, em 1789, na Venezuela e 
México, acabando com muitas das restrições do comércio da própria Espanha 
com a América Hispânica em favorecimento dos primeiros. Isto é, para Lynch 
(2001), o principal intuito do comercio libre era o de desenvolver a Espanha e 
não a América. Gaspar de Jovellanos (apud LYNCH, 2001, p. 33), um econo-
mista liberal espanhol, por exemplo, elogiou o decreto de 1778, por dar maiores 
oportunidades à agricultura e à indústria espanholas, em um mercado que jus-
tificava sua existência, mediante o consumo de produtos espanhóis, ao dizer que 
“as colônias são úteis na medida em que oferecem um mercado seguro para a 
produção excedente da metrópole”.
Ficou curioso para saber o que foi a fisiocracia? Saiba que os fisiocratas 
afirmavam que toda a riqueza era proveniente da terra, da agricultura. São 
considerados membros da primeira escola de economia científica, que sur-
giu antes até mesmo da teoria clássica de Adam Smith. Foi criada no século 
XVIII, o seu idealizador foi François Quesnay, médico da corte do rei francês 
Luís XV. Trata-se, portanto, de uma teoria econômica criada para fazer opo-
sição ao mercantilismo.
Fonte: a autora.
A Crise do Sistema Colonial Espanhol e as Alterações do Século XVIII
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
99
Conforme Lynch (2001), foram feitas muitas restrições e exigências à América 
espanhola, muitas impossíveis de serem realizadas, contudo, inicialmente, não 
geraram qualquer tipo de insatisfação. Isso porque, na visão de Lynch (2001), a 
América hispânica era semelhante à sua metrópole. Assim, os produtos expor-
tados pela Espanha, muitas vezes, já competiam com os próprios produtos 
existentes na América, por serem, em sua maioria, de procedência agrícola. Em 
outras palavras, os dois mercados já competiam entre si e a influência do comer-
cio libre tardou a ser percebida. 
Embora encontremos o desenvolvimento de manufaturas em Barcelona, a 
produção espanhola era essencialmente agrícola. Por isso, para Lynch, as dife-
renças entre a Espanha e suas colônias eram poucas ou praticamente nulas. Se, 
em um primeiro momento, esse fator não causou insatisfações, posteriormente, 
foi sendo um motivador para tensões coloniais que começam a insurgir. O novo 
impulso dado ao comércio espanhol logo saturou esses mercados, de modo que 
as colônias se defrontaram com um problema frequente: lucrar o suficiente para 
pagar as crescentes importações. No entanto as falências no Novo Mundo se repe-
tiam: a indústria local declinou; mesmo os produtos agrícolas, como o vinho e 
o conhaque, estavam sujeitos à concorrência das importações e os metais pre-
ciosos se escoaram nessa luta desigual.
Nesse sentido, segundo Lynch (2001), o comercio libre era favorável à Espanha 
em todos os sentidos, em detrimento de uma América abandonada e cada vez 
mais ciente da necessidade de ser independente. Essa autonomia pretendida se 
via invadida pela ação espanhola contra, até mesmo, o desenvolvimento de indús-
trias na América. Existiam manufaturas já em Puebla, Quito e Querétaro, obrajes 
em Cuzco e Tucumán. Todas entraram em decadência em razão das imposições 
da metrópole que, não bastando, era incapaz de abastecer a América de produ-
tos industriais próprios. 
AMÉRICA FRENTE À CRISE DO SISTEMA COLONIAL E OS MOVIMENTOS DE INDEPENDÊNCIA
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IIIU N I D A D E100
A Espanha, mesmo adotando uma política de reexportação de produtos 
industriais, enfrentava alguns dilemas. Um exemplo seria o caso das oficinas 
têxteis do México e de Puebla, que produziam o suficiente para pôr em alerta 
os manufatureiros de Barcelona, os quais, frequentemente se queixavam dos 
efeitos da concorrência local sobre suas exportações e tentavam, junto a Coroa, 
ordens mais rigorosas para a imediata destruição das fábricas têxteis instala-
das nessas colônias. Cedendo às pressões, foram lançados os decretos reais de 
novembro de 1800 e outubro de 1801, que proibiam a constituição de fábricas 
na América espanhola.
Para a Espanha, era muito mais importante que a colônia se voltasse à pro-
dução agrícola e extração de minérios do que para o desenvolvimento de uma 
indústria ou aperfeiçoamento do mercado. A guerra da Espanha com a Inglaterra 
entre 1796 e 1802 favoreceu os têxteis americanos, já que isolou as colônias his-
pano-americanas da Espanha. O retorno das atividades dos manufatureiros 
americanos se deu a partir de 1804, enfrentando a oposição dos manufaturei-
ros localizados na Espanha.
Os embates entre a Espanha e a Inglaterra demonstraram a superioridade 
no comércio marítimo britânico, superando a Espanha no momento de seu 
embate (a partir de 1796) no comércio com a América. O comércio da América 
Espanhola com estrangeiros era impossível de ser evitado, já que a Marinha espa-
nhola encontrava-se completamente debilitada. Novos mercados se abriam para 
a América espanhola no momento dos embates: Estados Unidos e outros países 
neutros aproveitaram-se dessa oportunidade, reexportando até mesmo produtos 
manufaturados na Inglaterra. A Paz de Amiens, em 1802, ofereceu uma opor-
tunidade de recuperação das exportações espanholas, mas 54% dos produtos 
enviados à América eram de procedência estrangeira.
Para Lynch (2001), a situação se complicou ainda mais em 1804, quando 
houve uma nova declaração de guerra por parte da Inglaterra contra a Espanha. 
De acordo com o autor,a Grã-Bretanha estava sedenta pelo mercado ameri-
cano, principalmente após o fechamento dos portos europeus e o impedimento 
da entrada de produtos britânicos ao mercado europeu por Napoleão. É nesse 
ponto que, segundo Lynch (2001), o controle político espanhol entrava em crise. 
A Crise do Sistema Colonial Espanhol e as Alterações do Século XVIII
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
101
Os dados demográficos eram favoráveis aos criollos, em detrimento dos penin-
sulares. Lynch (2001) suscita dúvidas com relação à igualdade legal entre esses 
dois grupos, mas é certo que nas colônias a Espanha desconfiava dos americanos 
enquanto seus administradores. Em razão disso, os excluiu dos postos de respon-
sabilidade, da ocupação dos mais altos cargos ou do comércio transatlântico na 
América. O objetivo espanhol era o de desamericanizar a América, com medo 
de perdê-la e, ao mesmo tempo, garantir lucro aos cofres reais. Daí a nomeação 
dos peninsulares para todos os cargos de confiança em que se exige liderança.
Os peninsulares se consideravam superiores aos brancos (descendentes de euro-
peus) nascidos na América, como podemos observar na análise de Alexander 
von Humboldt (apud LYNCH, 2001, p. 46): “O europeu mais baixo e com menos 
educação e cultura acredita ser superior ao branco nascido no Novo Mundo.” 
Mas, de certa forma, a moderna historiografia em muitos momentos encontra 
alianças entre peninsulares e criollos em torno de interesses, funções e paren-
tesco, diminuindo em certos aspectos a dicotomia apontada por Humboldt.
Os problemas enfrentados pela Espanha eram muitos. Não havia uma estrutu-
ração com relação ao desenvolvimento industrial tardio, nem mesmo motivação. 
Não havia interesse em acumular capital para se implantar na indústria. O obje-
tivo maior era o de adquirir mais terras e artigos luxuosos importados. Não 
havia um mercado nacional para a indústria: o sistema de transportes em fins 
do século XVII na Espanha não comportava a demanda populacional nem tam-
pouco a transferência de produtos de um lado a outro do país. Por mar, era muito 
mais simples adquirir-se um produto (ultramarino) do que por terra, como nas 
Criollos eram descendentes de espanhóis nascidos na América. Peninsula-
res, por sua vez, eram espanhóis nascidos na metrópole e viviam tempora-
riamente nas colônias. Também eram conhecidos como chapetones.
Fonte: a autora.
AMÉRICA FRENTE À CRISE DO SISTEMA COLONIAL E OS MOVIMENTOS DE INDEPENDÊNCIA
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IIIU N I D A D E102
cidades do interior da Espanha. Isso deixava cidades litorâneas, como Barcelona 
e Cádiz, mais estruturadas e receptivas ao comércio do que Castela, localizada 
no interior da Espanha.
Com isso, a Espanha perdia inúmeras oportunidades comerciais de expor-
tação em razão dessa limitação estrutural. Apesar de o interior espanhol ser 
autossuficiente no gênero alimentício, muitas das cidades do litoral tinham que 
importar seus cereais e alimentos em geral. Cuba é um exemplo de colônia que 
se volta aos EUA em razão da deficiência espanhola em abastecê-los com fari-
nha de trigo.
Carlos III (que governou de 1759 a 1788) é o primeiro dos Bourbons a se 
encarregar das políticas de modernização comercial e colonial da Espanha. O 
comércio marítimo seria um essencial exportador do excedente agrícola da 
Espanha (embora encontremos uma estruturação das manufaturas de Barcelona). 
No governo de Carlos IV (1788-1808), a Revolução Francesa foi responsável por 
gerar temor na Monarquia espanhola, ocasionando uma reação sem preceden-
tes na Espanha e, consequentemente, nas colônias americanas. A nomeação do 
Primeiro-Secretário, Manuel Godoy, por Carlos IV, é um sintoma do retorno à 
velha Casa dos Habsburgos: Godoy considerava a América Latina uma mera fonte 
de metais preciosos e de pagamento de tributos. A prata da América Hispânica, 
importante dizer, também interessava à Inglaterra, que vivia o auge da Revolução 
Industrial (com exportação de 1/3 de sua produção).
A partir da receptividade dos colonos, nota-se o quanto a Espanha era frá-
gil perante à Inglaterra e seus produtos, além dos britânicos encontrarem um 
campo propício para a disseminação de seus ideais de liberalismo econômico.
No período anterior às reformas bourbônicas, havia um equilíbrio de poder 
na América entre a administração (que detinha o poder político, mas não o 
poder militar), a Igreja (que possuía uma hegemonia econômica e jurídica) 
e a elite local (formada de uma minoria de peninsulares e de uma maioria de 
criollos). Porém essa organização não foi bem recebida pelos Bourbons, a quem 
era comum a compra e troca de cargos. Sua política de reformas administra-
tivas pôs em xeque toda a estrutura oficial até então. O afastamento da classe 
governante local fora uma das primeiras ações de Carlos III. Criaram-se Vice-
Reinados e novas ordenações administrativas, pois uma vigilância mais rigorosa 
A Crise do Sistema Colonial Espanhol e as Alterações do Século XVIII
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
103
sobre os hispano-americanos era fundamental nessa nova política. A partir de 
tal modificação, os intendentes substituíram os corregidores. Os corregidores se 
viram prejudicados, pois apesar de se dedicarem por anos a conciliar diversos 
setores na América, se viram alijados, de uma hora para a outra, de todo o pro-
cesso administrativo.
Por meio do repartimiento de comercio, pretendia-se atender diversos grupos 
de interesse na América Latina, principalmente a comerciantes e governadores 
locais. Os índios foram libertos, mas incentivados a pegarem dinheiro empres-
tado com tais repartimientos, no intuito de plantar para exportação (ou apenas 
consumir). Esse fato, bem como a intervenção da metrópole, tal como veremos 
na sequência, motivou a rebelião indígena de 1780, no Peru. Em 1784, no Peru, 
e em 1786, no México, a Ordenação dos Intendentes põe fim aos repartimien-
tos, substituindo-se os corregidores por intendentes.
Conforme dito anteriormente, a intervenção direta da metrópole na administra-
ção colonial, por meio das reformas bourbônicas, gerou grandiosa insatisfação 
entre muitos criollos e peninsulares na América Latina. Breves períodos de agi-
tação na América geraram sabotagens à política dos Bourbons em suas colônias. 
Emergiram insatisfações de todos os setores sociais.
O repartimiento de comercio, também conhecido como o reparto de mer-
cancías, foi uma das práticas mais abusivas do colonialismo espanhol nos 
Andes. Governadores provinciais (corregedores) forçavam os índios a com-
prar bens de qualidade duvidosa a preços abusivos.
Fonte: a autora.
AMÉRICA FRENTE À CRISE DO SISTEMA COLONIAL E OS MOVIMENTOS DE INDEPENDÊNCIA
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IIIU N I D A D E104
Após quase duzentos anos de restrições espanholas sob a dinastia dos 
Habsburgos (que governou a Espanha de 1516 a 1700), as colônias america-
nas adentraram o século XVIII em um novo período da sua história, que viria 
se estruturar a partir do “absolutismo ilustrado” implantado com a ascensão da 
dinastia dos Bourbons ao trono espanhol. Por isso, os Bourbons realizaram uma 
série de reformas, entre as quais podemos destacar: criação de companhias de 
comércio para monopolizarem certos produtos coloniais, intervenção maior da 
metrópole nos assuntos coloniais, criação das intendências para tornar a adminis-
tração colonial eficiente, expulsão dos jesuítas para tornar o Estado e a educação 
laicas, aumento de impostos e das forças militares (BRADING, 1997). 
À medida que a nova política, de cunho reformador e inspiração ilumi-
nista, ia sendo aplicada, aumentava o processo de enfrentamento com o clero, 
quepassava pela ruptura de privilégios e imunidades. A Coroa, interessada nos 
bens da Igreja, passou a confiscar as riquezas que esta havia acumulado com as 
doações dos fiéis e das autoridades. No reinado de Carlos III, os jesuítas tinham 
seus privilégios suprimidos na Espanha e, em 1767, eram expulsos da América 
Espanhola. Para os Bourbons, a Igreja tinha um poder que representava uma 
força paralela ao governo imperial, representava um perigo iminente que a Coroa 
precisava controlar (PEREIRA, 2007). 
Muitos jesuítas nascidos na América e exilados na Europa tornaram-se pro-
pagandistas da América Espanhola, divagando em suas obras sobre as riquezas 
de sua terra de origem. A posse de haciendas no Paraguai e diversas posses na 
América conferiam aos jesuítas certa independência econômica. Suas vastas e 
ricas terras, além de outras propriedades, foram vendidas (ou leiloadas) para os 
grupos sociais mais ricos da colônia, como os criollos. Ainda assim, a expulsão 
dos jesuítas foi vista por muitos hispano-americanos como a expulsão de com-
patriotas de seus próprios países.
Aos reformadores Bourbons não interessava uma reformulação da doutrina 
Católica, mas a diminuição de seu poder econômico como fator essencial para 
a sua política de centralização econômica. Esperavam pôr as mãos nos bens da 
Igreja após seu enfraquecimento. Houve reações, pois muitos súditos “(...) opu-
seram-se à política da Coroa e em muitos casos receberam o apoio de leigos 
devotos” (LYNCH, 2001, p. 27). 
A Crise do Sistema Colonial Espanhol e as Alterações do Século XVIII
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
105
O Exército era outro exemplo de desarticulação espanhola na América. As 
milícias coloniais eram formadas por americanos, sendo reforçadas por peninsu-
lares. A partir de 1760, com a instituição do fuero militar, muitos criollos e mesmo 
mestiços que estavam a procura dos benefícios fornecidos a um militar torna-
ram-se a maioria entre a milícia e geraram futuros problemas à Espanha. Em 
janeiro de 1780, quando eclodiu a rebelião indígena no Peru, a milícia não ofe-
receu nenhum tipo de resistência, gerando críticas à sua ação. A Espanha notou, 
a partir desse episódio, o risco que representava incluir entre os combatentes 
grupos insatisfeitos de criollos e mestiços. Para arrefecer os rebeldes índios, foi 
enviada ao litoral uma tropa real formada por peninsulares, índios leais, negros 
e mulatos fiéis aos Bourbons. A partir de então, formou-se um Exército regu-
lar na América, barrando os criollos de promoções militares (a cargo dos fiéis 
peninsulares), evitando-se rebeliões.
Fuero militar eram privilégios corporativos, com tribunais especiais, adquiri-
dos pelos militares. 
Fonte: a autora.
AMÉRICA FRENTE À CRISE DO SISTEMA COLONIAL E OS MOVIMENTOS DE INDEPENDÊNCIA
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IIIU N I D A D E106
OS PROCESSOS DE EMANCIPAÇÃO POLÍTICA NA 
AMÉRICA ESPANHOLA
Os séculos XV e XVI foram marcados pela conquista e colonização de nações 
europeias em solo americano. A Espanha, principalmente, foi responsável por 
essas ações na maior parte da América, seguida por Portugal. A França, Inglaterra 
e Holanda chegaram anos mais tarde, ocupando áreas da América do Norte ou 
disputando pontos de ações táticas na região do Caribe.
Os acontecimentos na Espanha da segunda metade do século XVIII e pri-
meiros anos do século XIX influenciaram diretamente a situação na América 
Hispânica. A ocupação do território espanhol pelas tropas de Napoleão Bonaparte 
favoreceu o movimento de independência das colônias da América porque enfra-
queceu o poder da metrópole. Em 1808, Napoleão ocupou Madri, destronou o 
rei espanhol Fernando VII e colocou em seu lugar o irmão José Bonaparte. Todo 
esse contexto provocou reações não somente na Espanha como também em sua 
colônia americana. Com a deposição de Fernando VII, os hispano-americanos 
experimentaram uma nova fase política, que abriu caminhos para a construção 
de novos conceitos, palavras e projetos. 
Os movimentos de independência na América Espanhola se manifesta-
ram rapidamente e simultaneamente no ano de 1810, dois anos após a invasão 
francesa ao território espanhol. Esses movimentos se propagaram do México 
(vice-reino da Nova Espanha) a Buenos Aires (vice-reino do Rio da Prata), ape-
sar das distâncias geográficas e das anêmicas condições de comunicação. Essa 
dinâmica não foi somente influenciada por acontecimentos internos e revelou 
o surgimento de vários posicionamentos no interior da elite colonial que bus-
cava colocar em prática seus respectivos projetos políticos, visando administrar 
o território espanhol na América.
Em fins do período colonial, a sociedade da América Hispânica contem-
plava uma divisão estamental: dos 18 milhões de habitantes em 1810, cerca de 
oito milhões eram índios, um milhão de negros e cinco milhões de mestiços. Em 
menor parte estavam os brancos, que contabilizavam cerca de quatro milhões 
e se subdividiam em peninsulares e criollos. Ao contrário dos peninsulares, os 
criollos estavam excluídos de plena participação no poder político e ocupavam 
o escalão inferior no governo e na Igreja.
Os Processos de Emancipação Política na América Espanhola
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
107
Após vivenciar um período considerável de gestação de um projeto polí-
tico, ilustrado durante a segunda metade do século XVIII e os primeiros anos 
do século XIX, como a liberdade de pensamento, igualdade e representação 
constitucional, o que se via na colônia era justamente o contrário. A prática de 
monopólios, controle econômico e restrições administrativas e sociais exercidas 
pelos espanhóis representava as fontes de queixas, principalmente dos criollos. 
Estes ainda estavam descontentes com a ausência de mobilidade social e reivin-
dicavam a abolição da diferença existente entre eles e os peninsulares.
A abdicação forçada de Fernando VII fez com que americanos e peninsulares 
assumissem o poder, dando oportunidade a esses de discutirem conceitos como 
soberania, concepção de nação, representatividade e a possibilidade de redação 
a uma nova constituição de punho liberal. Logo, esses homens redefiniram o 
ideário monárquico ao darem corpo a uma nova modernidade política que resul-
taria em ideias e ações empregadas em uma nova prática política nas colônias.
Entre os processos de emancipação política que ocorreram na América 
durante os séculos XVII e XIX, um particularmente chamou a atenção: o Haiti, 
um pequeno país do Caribe. Inicialmente, a região foi colonizada pelos espa-
nhóis e, posteriormente, pelos franceses, os quais fundaram na área a Colônia 
de São Domingos. 
O Haiti contou com a influência do Iluminismo e dos ideais de Revolução 
Francesa (liberdade, igualdade e fraternidade) para ser o primeiro país latino-a-
mericano a se tornar independente. No final do século XVIII, a região abrigava 
cerca de 80% de negros, os quais, em sua maioria, trabalhavam como escravos. 
Muitos desses lideraram a rebelião que pôs fim ao jugo francês na ilha. 
A insurreição iniciou-se em São Domingos, no ano de 1791, no mesmo 
momento em que a França debatia a possibilidade de abolição da escravidão em 
suas colônias. O ex-escravo Toussaint Louverture comandou os rebeldes e liderou 
várias ações arquitetadas pelos revoltosos, como a destruição de plantações, os 
saques a engenhos e assassinatos de colonos. O conflito se pulverizou em outras 
partes da ilha, principalmente após a decisão de abolir a escravidão das colônias 
francesas, por meio de uma resolução decretada pelo governo jacobino durante 
o episódio conhecido como Terror da Revolução Francesa.
AMÉRICA FRENTE À CRISE DO SISTEMA COLONIAL E OS MOVIMENTOS DE INDEPENDÊNCIA
Reprodução proibida.A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IIIU N I D A D E108
A liberdade conquistada pelos haitianos foi ameaçada quando Napoleão Bonaparte 
tomou o poder na França. Como consequência, o exército napoleônico invadiu 
a ilha em 1802 e capturou Toussaint, o qual foi levado como prisioneiro para a 
França, onde faleceu em 1803. A declaração de independência veio apenas em 
1 de janeiro de 1804, sob a liderança do ex-escravo Jean-Jacques Dessalines, o 
qual, após o processo de emancipação, tornou-se o primeiro chefe de Estado do 
país. A França reconheceu a independência haitiana somente em 1825, mediante 
o pagamento de uma alta indenização. 
Os processos revolucionários que conduziram os processos de independên-
cia na América Hispânica se organizaram entre fins do século XVIII e início do 
século XIX, em sua maioria influenciados pelos ideais oriundos da Revolução 
Francesa e das emancipações políticas do Haiti e Estados Unidos. Geralmente, tais 
processos foram comandados por setores dominantes, aborrecidos pela impos-
sibilidade de conseguirem desfrutar das regras do sistema colonial.
O Terror da Revolução Francesa ou, simplesmente, O Terror foi uma fase 
compreendida entre os anos de 1792 a 1794. Durante esse período, o go-
verno revolucionário dos jacobinos suspendeu as garantias civis, além de 
perseguir e assassinar muitos de seus opositores. Apesar da imprecisão dos 
números, estima-se que foram guilhotinadas entre 16 a 40 mil pessoas.
Fonte: a autora.
Os Processos de Emancipação Política na América Espanhola
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
109
Mapa 05: Independências dos países latino-americanos
Fonte: Wikimedia Commons (online).
No caso da América Espanhola, a figura protagonista dos processos de inde-
pendência foi a elite criolla, influenciada pelo pensamento liberal importado da 
Europa. Entretanto, de forma distinta do Velho Mundo, o projeto adotado pela 
elite criolla não previa alterações profundas na sociedade. Salvo alguns casos 
raros, o intuito era conseguir a autonomia em relação à metrópole e solidificar 
o poder da elite política e econômica nos países recém-libertos. 
AMÉRICA FRENTE À CRISE DO SISTEMA COLONIAL E OS MOVIMENTOS DE INDEPENDÊNCIA
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IIIU N I D A D E110
Como você já deve ter notado, nesse ponto os liberais e conservadores comunga-
vam de um mesmo objetivo: a continuidade da subordinação e dependência das 
camadas mais pobres aos setores dominantes. Os grupos majoritários, compostos 
pelos mais humildes, lutavam muitas vezes pela emancipação, pois acreditavam 
que, por meio de sua consolidação, iriam conquistar o direito a terra e o tér-
mino do trabalho forçado. Para estes, o que importava era conseguir mudanças 
substanciais em sua vida, mais do que implantar um projeto político que sepa-
rasse as colônias da metrópole. 
A elite criolla, composta em sua maioria por grandes proprietários rurais, 
ansiava por uma maior liberdade em relação ao comércio exterior, eliminando 
a interferência das companhias de comércio metropolitanas. Entretanto, apesar 
de empunharem a bandeira do liberalismo e incorporarem muitos dos ideais ilu-
ministas, ignoravam as reivindicações dos setores mais humildes. 
Desde fins do século XVIII a princípios do século XIX, os criollos organiza-
vam várias manifestações contrárias ao regime colonial e, para isso, contavam 
com o apoio irrestrito da Inglaterra. Interessados em ampliar o comércio com 
a América para escoar as mercadorias produzidas durante a era industrial, os 
britânicos não mediram esforços para incentivarem movimentos de caráter 
emancipacionista. 
“O Haiti saiu do mercado mundial do açúcar (...). De colônia mais produtiva 
das Américas passou a país independente pauperizado e fora de um inter-
câmbio favorável na economia internacional” (JACOB GORENDER, 2004, p. 
300). A revolução de escravos ocorrida no Haiti em 1804 e que culminou 
com a independência deste do jugo francês parecia sorrir aos haitianos. En-
tretanto as nações do mundo todo boicotaram a nova república, alegando 
não concordar com esse modelo revolucionário. O país ficou impedido de 
importar e exportar. De 1915 a 1938, o Haiti ficou sob o domínio estaduni-
dense, os quais, mesmo tendo abandonado o território na década de 1930, 
financiaram governos violentos e corruptos. Estes estavam mais preocupa-
dos em reprimir do que em investir em indicadores sociais. Isso contribuiu 
para que o Haiti nutrisse índices alarmantes de pobreza e educação. De “joia 
das Antilhas” durante o período colonial, o Haiti aparece hoje como o país 
mais pobre da América Latina.
Fonte: a autora.
Os Processos de Emancipação Política na América Espanhola
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
111
A resistência da Coroa espanhola à proliferação dos ideais de liberdade indivi-
dual e política nas colônias sofreu um golpe em 1808, quando Napoleão Bonaparte 
confiscou o trono espanhol, até então pertencente à dinastia dos Bourbons, e 
entregou-o aos cuidados de seu irmão, José Bonaparte. Como forma de resisti-
rem a essa usurpação de poder, as autoridades hispano-americanas se negaram 
a acatar as ordens provenientes do governo espanhol. Tal cenário foi utilizado 
pelos criollos como justificativa para se rebelarem contra a metrópole. Por isso, 
os processos de emancipação da América Espanhola ocorreram quase ao mesmo 
tempo e contaram com ampla participação dos cabildos, unidades administrati-
vas similares às câmaras municipais de hoje.
Na região que compreende o atual México, o movimento de independência 
assumiu, a princípio, um caráter popular, fator que o diferenciou dos processos 
de emancipação das demais colônias espanholas na América (ANNA, 2001). 
A independência foi liderada pelos padres Miguel Hidalgo e José Maria 
Morelos, a partir de 1810. Inicialmente, Hidalgo formou um Exército de rebel-
des, composto por homens livres, pobres, mestiços e indígenas. Entretanto os 
revoltosos foram derrotados por tropas a serviço da Coroa e o seu líder (Hidalgo) 
foi preso e executado. 
Assumindo a liderança do movimento, o padre Morelos declarou a indepen-
dência do México e implantou um governo popular. Meses mais tarde, forças 
em nome da Coroa e de colonos abastados retiraram Morelos do poder e deter-
minaram sua execução. Por isso, alguns historiadores classificam essa fase mais 
como revolução social do que uma luta anticolonial.
A luta contra o domínio espanhol foi retomada uma década mais tarde e 
passou a ser liderada pela elite colonial. O militar Augustín de Iturbide assumiu 
a liderança do movimento quando, em 1821, apresentou o Plano de Iguala aos 
setores mais ricos da sociedade mexicana. O projeto propôs a criação de uma 
monarquia católica independente, fator que agradou tanto a Igreja quanto a elite 
criolla. Nesse mesmo ano, o México conseguiu sua independência e Iturbide foi 
nomeado imperador, permanecendo nesse cargo por dois anos, momento em 
que foi deposto por uma república proclamada no país. 
AMÉRICA FRENTE À CRISE DO SISTEMA COLONIAL E OS MOVIMENTOS DE INDEPENDÊNCIA
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IIIU N I D A D E112
As independências na América do Sul, por sua vez, contaram com o prota-
gonismo de duas lideranças militares: José de San Martín (1778-1850) e Simón 
Bolívar (1783-1830). O primeiro, apesar de prestar serviços à Coroa espanhola, 
foi responsável pelos processos emancipacionistas dos territórios que hoje com-
preendem a Argentina, o Chile e o Peru. 
A independência do que se convencionou chamar de Províncias Unidas 
do Rio da Prata foi decretada em 9 de julho de 1816, por um Congresso reu-
nido em Tucumán (Argentina). Aproveitandoa ocasião, San Martín arrebanhou 
apoio para a independência do Chile, ocorrida em abril de 1818, após a Batalha 
de Maipú. Dois anos mais tarde, San Martín se retirou do Chile para liberar o 
território peruano do jugo espanhol. No Peru, conseguiu apoio popular e pro-
clamou a independência em 28 de julho de 1821. 
Simón Bolívar, como representante da elite criolla, concentrou suas ações na 
região setentrional da América do Sul. Em dezembro de 1819, conseguiu procla-
mar a independência da República da Colômbia (Grã-Colômbia) após a vitória 
de suas tropas na fronteira da atual Colômbia com a Venezuela. A Grã-Colômbia 
permaneceu coesa até 1830, quando houve o desmembramento em três países: 
a Venezuela, o Equador e a Colômbia.
Bolívar e seu exército ainda lutaram no Peru, em 1824, a fim de assegurar a 
independência peruana, e se dirigiram para a Bolívia, contribuindo para o seu 
processo de emancipação que ocorreu em 1825. Como reconhecimento de suas 
ações, Bolívar se tornou o líder político das repúblicas da Grã-Colômbia e do 
Peru, além de ser considerado, após a sua morte, um símbolo nacional da eman-
cipação política, sobretudo na Venezuela, onde até hoje é tratado pela alcunha 
A denominação Províncias Unidas do Rio da Prata foi utilizada até 1826, ano 
em que a Argentina adotou o nome de República Argentina.
Fonte: a autora.
Os Processos de Emancipação Política na América Espanhola
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
113
de “libertador”. Seu legado inclui a defesa de uma América livre e unificada em 
uma confederação que compreendia os atuais territórios que se estendem da 
Bolívia ao Panamá. 
A independência cubana, por sua vez, pode ser considerada mais traumá-
tica, pois se iniciou efetivamente em 1868 e somente se concretizou após duas 
guerras estabelecidas contra a Espanha. A primeira durou dez anos e encontrou 
forte resistência da metrópole, disposta a lutar para evitar a emancipação de sua 
última colônia americana. Com o triunfo espanhol nesse primeiro momento, a 
retomada pela independência ocorreu somente na década de 1890 e contou com 
o apoio de José Martí. Enrijecidos pelas ideias de autonomia, amplos setores da 
sociedade cubana (negros libertos, profissionais liberais e trabalhadores rurais) 
saíram às ruas em prol da independência. O confronto com as forças hispâni-
cas contou com várias baixas, dentre as quais temos a de José Martí, morto em 
combate, em 19 de maio de 1895.
O movimento pela emancipação política ganhou novo fôlego com a interfe-
rência estadunidense a partir de 1898. O motivo para essa ação seria o naufrágio, 
por forças hispânicas, de um navio de guerra norte-americano ancorado no porto 
de Havana, em Cuba. Após um curto período de conflitos, as forças beligerantes 
assinavam um tratado de paz em Paris, por meio do qual os espanhóis reconhe-
ceram a independência de Cuba ao mesmo tempo em que cederam algumas 
possessões aos Estados Unidos.
No acordo assinado em Paris, os espanhóis cederam Porto Rico (América 
Central) e Guam (Micronésia), além do controle das Filipinas aos Estados 
Unidos.
Fonte: a autora.
AMÉRICA FRENTE À CRISE DO SISTEMA COLONIAL E OS MOVIMENTOS DE INDEPENDÊNCIA
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IIIU N I D A D E114
A maioria dos países recém-independentes da América Espanhola adotou o 
regime republicano, com exceção do México, que conviveu com um curto perí-
odo de regime monárquico (1821-1823). 
De forma geral, o domínio metropolitano foi substituído pelo jugo da elite 
criolla, aliada ao capital estrangeiro e principal responsável pelo fornecimento 
de matérias-primas ao mercado mundial e consumidora dos produtos manufa-
turados oriundos da Inglaterra. 
Em síntese, os processos de independência da América Espanhola não trou-
xeram, no seu bojo, mudanças profundas na esfera social, política e econômica, 
pois houve um continuísmo do modelo colonial pactuado no abastecimento do 
mercado externo com matérias primas provenientes dessas regiões. 
A INDEPENDÊNCIA DA AMÉRICA PORTUGUESA
O século XVIII pode ser caracterizado como um período de grandes dificuldades 
econômicas para Portugal. A descoberta de ouro e diamantes não foi suficiente 
para contornar essa situação, uma vez que parte substancial desse produto era 
destinada a quitar dívidas que a Coroa lusitana havia contraído com a Inglaterra. 
O ouro restante era gasto na manutenção do luxo e opulência da nobreza ou era 
guardado em cofres particulares. Assim, o ouro escorria pelas mãos da Coroa 
portuguesa sem ao menos ser investido na metrópole, fato que caracterizava o 
quanto o reino lusitano era muito dependente de suas colônias. 
O quadro caótico da economia portuguesa pode ser mais bem compreen-
dido quando, no século XVII, os portugueses perderam o monopólio comercial 
das Índias e várias possessões coloniais no Oriente. Como se isso não bastasse, 
o preço do açúcar sofreu quedas drásticas no mercado internacional em função 
da concorrência com o açúcar produzido nas Antilhas. 
A fim de engordar seus cofres, a Coroa portuguesa adotou, na segunda 
metade do século XVIII, uma série de medidas, dentre as quais estavam inclu-
sas a ampliação da fiscalização e controle de sua colônia na América. Para isso 
A Independência da América Portuguesa
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
115
foi estipulado um conjunto de medidas que visavam combater o contrabando, 
ampliar os lucros por meio do comércio e mineração e conseguir aumentar a 
receita do governo português. 
Em 1750, o rei D. José I nomeou Sebastião José de Carvalho e Melo, his-
toricamente conhecido como Marquês de Pombal, ao cargo de Ministro dos 
Negócios Estrangeiros e da Guerra. Tal nomeação veio reforçar, de forma rigo-
rosa, o controle da política colonial portuguesa. As reformas de Pombal tiveram 
como pressuposto a modernização da economia portuguesa. Dentre as medi-
das tomadas, estavam a criação das companhias de comércio, a execução de 
mudanças educacionais a fim de retirar o ensino do controle do clero, o estí-
mulo a implantação de fábricas no reino bem como a articulação de uma classe 
manufatureira e mercantil por todo o Império Português. 
A queda na produção de ouro na América Portuguesa ocorreu em meio à 
administração pombalina. Em função disso, Pombal dedicou total atenção à 
região mineira. A maioria de suas medidas desagradou os colonos portugueses, 
tais como a derrama e a cobrança de 100 arrobas anuais de ouro em 1750. Além 
disso, em 1759, o ministro expulsou os jesuítas de todo o Império Português e 
optou, em 1763, por transferir a capital da América Portuguesa de Salvador para 
Rio de Janeiro. 
A derrama foi um imposto colonial criado em meados do século XVIII. “Cada 
região deveria pagar 100 arrobas de ouro por ano para a corte portuguesa”. 
No caso de alguma região não conseguir “arrecadar essa quantidade, solda-
dos entravam nas casas das pessoas que moravam na região e retiravam a 
força, objetos de valor até completar o imposto devido”. 
Fonte: Melo (online).
AMÉRICA FRENTE À CRISE DO SISTEMA COLONIAL E OS MOVIMENTOS DE INDEPENDÊNCIA
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IIIU N I D A D E116
Pombal administrou os domínios lusitanos até 1777, ano em que D. José I faleceu. 
Mesmo com essas reformas, a economia portuguesa continuou frágil. A crise na 
produção aurífera desacelerou a arrecadação das 100 arrobas anuais estipulada 
pelo governo português. Além disso, a Coroa portuguesa decretou uma série de 
medidas restritivas na colônia. 
A crise se tornou ainda mais caótica em 1788, momento em que Luís Antônio 
Furtado Mendonça, o Visconde de Barbacena, ocupou o cargo de governador 
da capitania de Minas Gerais com a missão de ampliara receita e aumentar o 
controle da Coroa portuguesa na colônia. Competiria ao governador, ainda, 
aplicar a derrama e a cobrança do quinto em atraso. Tais medidas soaram de 
forma negativa entre os habitantes da capitania, gerando um clima propício para 
um movimento insurgente, que ficou conhecido como Conjuração Mineira ou 
Inconfidência Mineira.
Em grande parte, os conjurados eram membros da elite colonial. Entre os 
rebeldes, havia mineradores, funcionários públicos, padres, fazendeiros, militares 
de alta patente e advogados. Dentre os conjurados, podemos destacar os poetas 
Inácio José de Alvarenga Peixoto, o jurista Claudio Manuel da Costa, os padres 
José da Silva de Oliveira Rolim e Luís Vieira da Silva, o advogado José Alvares 
Maciel, os contratadores João Rodrigues de Macedo e Joaquim Silvério dos Reis e 
o alferes Joaquim José da Silva Xavier, popularmente conhecido como Tiradentes. 
Tais revoltosos estavam influenciados pelos ideais iluministas e pretendiam 
tirar a vida do governador e proclamar uma república na capitania de Minas 
Gerais. No entanto Joaquim Silvério dos Reis delatou os seus companheiros em 
troca do cancelamento de sua dívida com a Coroa e uma premiação por sua 
lealdade. Denunciados por Silvério, os insurgentes foram presos e transferidos 
para a capital da colônia (Rio de Janeiro), onde aguardaram seus julgamentos. 
A expulsão dos jesuítas dos domínios portugueses em 1759 garantiu, de 
fato, a laicização do Estado tal como almejavam as reformas pombalinas?
Fonte: a autora.
A Independência da América Portuguesa
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
117
Em 1790, o processo contra os conspiradores foi aberto. Os acusados foram 
considerados culpados pelo crime de lesa-majestade e onze dos réus foram sen-
tenciados à morte. Somente Tiradentes foi executado e esquartejado. Partes do 
seu corpo ficaram expostas pela região como uma forma de intimidação. Os 
outros condenados obtiveram a conversão de pena para o exílio perpétuo para 
o continente africano, além do confisco temporário dos bens. 
Além da Inconfidência Mineira, destacaram-se outros movimentos sepa-
ratistas, como a Conjuração Baiana, também conhecida por Conjuração dos 
Alfaiates (Bahia, 1798), e a Insurreição Pernambucana (1817). 
Apesar dessas agitações, costuma-se atribuir o início do processo de inde-
pendência do Brasil a chegada da família real portuguesa ao Rio de Janeiro, em 
1808. Essa mudança atribuiu ao Brasil uma transferência de papéis: de simples 
colônia ao principal centro de decisões da Coroa portuguesa. 
Embora preparada, a vinda da família real portuguesa para o Brasil foi ante-
cipada em função da invasão do exército napoleônico no território português. D. 
João não aceitou o Bloqueio Continental à Inglaterra, proposto por Napoleão, o 
qual, como forma de se vingar, ordenou a invasão do território lusitano.
Protegido pela marinha britânica, o príncipe regente D. João, a corte por-
tuguesa e a família real deixaram Lisboa em novembro de 1807 e chegaram ao 
Rio de Janeiro em 1808, após uma escala em Salvador. 
No Brasil, D. João adotou algumas medidas que mudaram radicalmente 
a política e a economia da colônia. Dias depois ao chegar à Bahia, D. João 
decretou a abertura dos portos às nações amigas, pondo fim ao pacto colonial. 
Posteriormente, já no Rio de Janeiro, o príncipe cancelou o Alvará de 1785, o qual 
impedia a instalação de manufaturas na colônia, e em 1810 aprovou dois acordos 
com a Grã-Bretanha: o de Aliança de Amizade e o de Comércio e Navegação. 
Esses tratados davam aos comerciantes ingleses tarifas alfandegárias em 
condições especiais. Dessa forma, a taxa de importação aos produtos ingleses 
seria de 15%, 16% para os produtos portugueses e 24% de mercadorias de outras 
nações. Além disso, a Coroa portuguesa se comprometia a extinguir paulatina-
mente o tráfico de escravos para o Brasil, em conformidade com as exigências 
feitas pelos britânicos. 
AMÉRICA FRENTE À CRISE DO SISTEMA COLONIAL E OS MOVIMENTOS DE INDEPENDÊNCIA
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IIIU N I D A D E118
Com a estadia da família real no Rio de Janeiro, uma série de medidas foram 
tomadas no intuito de substituir a máquina administrativa colonial por um ver-
dadeiro aparelho de Estado, uma vez que a sede da monarquia portuguesa havia 
se estabelecido naquela cidade. Foi instalada, por exemplo, a Biblioteca Real, 
com o material oriundo da Real Biblioteca de Lisboa, implantaram-se gráfica e 
demais serviços até então inexistentes. Além disso, foi fundado o primeiro jor-
nal editado no Brasil, a Gazeta do Rio de Janeiro.
Tais transformações não resolveram os problemas da cidade carioca. A ausên-
cia de um planejamento urbano contribuía para o aumento do mau cheiro e a 
proliferação de doenças, em razão da inexistência de um sistema de esgoto. Para 
complicar ainda mais a situação, a falta de água e alimentos era recorrente, fator 
que pode ser compreendido graças ao intenso aumento populacional.
A mudança da família real portuguesa para o Brasil e, consequentemente, a 
transferência da sede administrativa do Império Lusitano de Lisboa para o Rio 
de Janeiro trouxe insatisfações para os portugueses. Após a derrota do Exército 
napoleônico pelas tropas luso-brasileiras, Portugal passou a ser administrado 
por uma junta de governo britânico que prestava satisfações a D. João. A maior 
parte dos portugueses não escondia o seu descontentamento, principalmente 
pelo fato de eles terem sido relegados a um papel secundário no momento em 
que o Brasil foi elevado, durante o Congresso de Viena (1814-1815), a categoria 
de Reino Unido de Portugal e Algarves. 
Diante desse clima, foi iniciado um movimento revolucionário na cidade do 
Porto, por meio do qual se exigia a volta imediata do príncipe regente D. João 
para a Europa e a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte, res-
ponsável por elaborar uma nova Constituição para Portugal e decretar o fim do 
absolutismo monárquico. 
Tal movimento ganhou forte apoio da sociedade lusitana a ponto de formar 
um Governo Provisório disposto a convocar as Cortes para dar início à redação 
da Carta Magna. Conhecido como a Revolução Liberal do Porto, essa insurrei-
ção possibilitou, de forma contraditória, a emancipação política do Brasil, isso 
A Independência da América Portuguesa
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
119
porque, ao dar início ao processo de redução do Brasil à categoria de colônia, 
as Cortes iniciaram um projeto que pôs fim a dominação lusitana na América. 
Mediante tanta pressão das Cortes e dos portugueses, D. João VI voltou para 
Portugal em 25 de abril de 1821, deixando o seu filho D. Pedro como príncipe 
regente do Brasil. Contudo, assim que chegou a Portugal, D. João foi cada vez 
mais pressionado pelas Cortes para tomar providências enérgicas em relação ao 
Brasil. Dentre outras coisas, determinou-se o encerramento das atividades de 
importantes órgãos públicos, além do retorno imediato de D. Pedro a Portugal. 
Temerosos em perder muitos dos privilégios conquistados em 1808, a aristo-
cracia brasileira manifestou a sua opinião, sendo contrária às ordens provenientes 
de Lisboa. Nesse cenário, formaram-se, no Brasil, dois grupos com ideários dis-
tintos, os quais não podem ser considerados partidos políticos da forma como 
entendemos uma organização como essa nos dias de hoje. 
Por um lado, havia o Partido Português, formado por comerciantes lusita-
nos e demais pessoas interessadas nos privilégios garantidos pela manutenção da 
estrutura colonial. Dentre os adeptos dessa vertente, havia aqueles que defendiam 
a volta de D. Pedro a Portugal e a reimplantação de práticas colonizadoras. Por 
outro lado, organizou-se o Partido Brasileiro, oqual reunia comerciantes pro-
prietários de terras, investidores urbanos, advogados e burocratas, nascidos no 
Brasil ou em Portugal. Tal grupo era composto, no geral, por pessoas que usu-
fruíam de privilégios com a vinda da família real portuguesa ao Brasil. Além da 
redução de impostos e liberdade de comércio, os adeptos a essa tendência luta-
vam pela manutenção da igualdade jurídica e políticas, conquistadas em 1815, 
por ocasião da elevação do Brasil a Reino Unido. Posteriormente, alguns aderen-
tes a esse grupo fundaram o Partido Liberal Radical, defensor da ruptura com 
Portugal e a implantação de uma república em terras tupiniquins.
Os interesses dos liberais brasileiros confrontariam com a intenção das 
Cortes portuguesas. De início, os primeiros tinham considerado a Revolução do 
Porto como um movimento em defesa de maior liberdade econômica e política. 
Figura 06: Independência ou morte, de Pedro Américo (óleo sobre tela, 1888)
©
W
ik
im
ed
ia
 C
om
m
on
s
AMÉRICA FRENTE À CRISE DO SISTEMA COLONIAL E OS MOVIMENTOS DE INDEPENDÊNCIA
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IIIU N I D A D E120
Diante desse quadro de interesses conflitantes, D. Pedro recebeu, em 9 de janeiro 
de 1822, uma petição pública composta por 8 mil assinaturas. O objetivo do docu-
mento era pedir para que o príncipe regente permanecesse no Brasil e fizesse 
parte do projeto de independência. Firmando um compromisso com os brasilei-
ros, D. Pedro determinou que nenhuma ordem proveniente das Cortes lusitanas 
fosse cumprida sem a sua autorização. Mediante a agitação crescente no Rio de 
Janeiro, D. Pedro finalmente oficializou a emancipação política do Brasil em 7 de 
setembro de 1822, sendo Coroado em dezembro desse mesmo ano como impe-
rador do país recém-independente.
O PROCESSO DE INDEPENDÊNCIA DA AMÉRICA 
INGLESA
Na segunda metade do século XVIII, as treze colônias inglesas iniciaram um 
movimento que resultou na sua emancipação em relação à Coroa britânica. Tal 
processo se multiplicou por toda a América, segundo as especificidades de cada 
local. A crise nas treze colônias iniciou-se principalmente por conta de medidas 
coercitivas adotadas pela Inglaterra. Os colonos gozavam de certa autonomia, 
O Processo de Independência da América Inglesa
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
121
todavia as ações da Coroa britânica, para tentar controlar a sua possessão ameri-
cana, causaram discórdia, a exemplo do controle metropolitano sobre o comércio 
colonial. Tal iniciativa foi adotada para subsidiar a Revolução Industrial inglesa, 
a qual implantou um modelo de desenvolvimento capitalista cujo objetivo prin-
cipal era expandir o mercado consumidor. Diante desse cenário, as colônias 
representavam um importante celeiro de venda de mercadorias manufaturadas. 
Além do mencionado desgaste oriundo do controle comercial metropoli-
tano, a Guerra dos Sete Anos (1756-1763), responsável por envolver diversas 
metrópoles europeias e suas colônias, também contribuiu para os processos de 
emancipação ocorridos no Novo Mundo.
Na América, o reflexo substancial da Guerra dos Sete Anos ocorreu por meio 
da concorrência entre os colonos franceses residentes no Canadá e os colonos 
ingleses das treze colônias, ambos dependentes do mercado de peles e pesca. 
O conflito cessou com a vitória dos britânicos. Entretanto, mesmo tendo sido 
beneficiada pelo resultado do confronto, sobretudo com a anexação de territó-
rios franceses, a Inglaterra saiu desse episódio enfraquecida financeiramente. 
Em razão dos gastos com a guerra, os cofres ingleses se esvaziaram e a recu-
peração das finanças dependia do aumento da arrecadação tributária, medida 
tomada na época.
De forma geral, as treze colônias foram uma das que mais se beneficiaram 
com a Guerra dos Sete Anos, pois, além de anexarem o Canadá, até então per-
tencente aos franceses, conseguiram se armar, adquirir munição e experiência 
bélica. A assinatura do Tratado de Paris, em 1763, entre os britânicos e france-
ses, transformou esses últimos em aliados, na causa separatista norte-americana, 
fator que foi visto como uma revanche contra os britânicos.
A fim de repor os gastos com a Guerra dos Sete Anos, o governo inglês impôs 
uma série de tributos para ampliar sua receita. Dentre os mais conhecidos estão: 
a Lei do Açúcar (Sugar Act) – destinado a aumentar a taxa em relação ao café, 
açúcar e outros produtos – e a Lei do Selo (Stamp Act) – o qual estabelecia que 
as correspondências, sobretudo os documentos legais e oficiais, fossem obriga-
das a ser seladas. Tal cobrança gerou tensão entre os colonos, que alegavam ser 
cidadãos ingleses, mas sem representatividade.
AMÉRICA FRENTE À CRISE DO SISTEMA COLONIAL E OS MOVIMENTOS DE INDEPENDÊNCIA
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IIIU N I D A D E122
Em 1767, a carga tributária inglesa aumentou significativamente com o lan-
çamento dos Atos Townshend, um conjunto de leis que objetivava aumentar as 
taxas de importação do vidro, papel, chumbo e chá. Essa medida não tardou para 
se tornar impopular, a ponto de a Coroa ter de invalidar a aplicação desses novos 
tributos, com exceção dos impostos destinados ao chá. Para complicar ainda 
mais a situação, o governo inglês concedeu à Companhia das Índias Orientais 
o monopólio da venda de chá para as colônias, em 1773. Ao fim desse mesmo 
ano, um grupo de colonos, disfarçados de índios, despejaram no mar cargas de 
chá trazidas pela Companhia das Índias Orientais, um episódio que passou para 
a história como a Festa do Chá de Boston (Boston Tea Party).
Como reação, a metrópole optou por decretar as Leis Intoleráveis. Dentre 
essas, destacavam-se o fechamento do Porto de Boston até o pagamento total 
do chá lançado ao mar e a obrigação das autoridades de abrigarem os soldados 
ingleses.
Essa plêiade de medidas fez com que as treze colônias da América Inglesa se 
unissem contra o poderio colonial britânico, por mais que não compartilhassem 
o mesmo modelo socioeconômico e nem defendessem o mesmo projeto político.
A primeira iniciativa dos colonos ocorreu em 1774, quando foi organizado 
o Primeiro Congresso Continental da Filadélfia. Tal evento solicitou o término 
das medidas que impediam o desenvolvimento das treze colônias. Nesse pri-
meiro momento, os colonos almejavam a ruptura com o Império Britânico, mas 
tencionavam fazer um acordo para diminuir a exploração dos colonos ingleses.
Contrariando as visões mais otimistas, a metrópole aumentou a repressão e, 
como forma de reagir a tal medida, os setores conservadores do sul, composto 
geralmente de latifundiários e escravocratas, concordaram que a única saída era 
apoiar a independência. Após esse ato de resistência da Coroa Britânica, ocor-
reu o Segundo Congresso Continental da Filadélfia, ocasião em que foi redigida 
a Declaração de Independência. Sob a liderança de Thomas Jefferson, tal docu-
mento foi inspirado nos ideais iluministas de John Locke e foi finalizado em 4 
de julho de 1776, data que simboliza historicamente a independência estaduni-
dense do jugo britânico.
O Processo de Independência da América Inglesa
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
123
George Washington foi designado ao cargo de comandante das tropas insur-
gentes. Para não perder as treze colônias, a resistência britânica resultou em lutas 
que se estenderam até 1783, momento em que a Coroa reconheceu a indepen-
dência dos Estados Unidos da América por meio do Tratado de Paris.
Mesmo com a emancipação, as lutas continuaram, mas dessa vez estavam 
restritas a projetos políticos a serem implantados pelo Estado recém-fundado. 
As propostas estavam divididas basicamente em duas: a federalista e a antife-
deralista. Osfederalistas defendiam um executivo forte e centralizado, capaz de 
representar diplomaticamente os anseios do povo e responsável pela criação e a 
prática de leis. Em oposição, os antifederalistas defendiam a atuação do governo 
somente como administrador, sem interferir na criação de leis ou nas relações 
comerciais de cada região. 
O dilema sobre essas duas propostas foi encerrado em 1787, por meio da 
aprovação da Constituição dos Estados Unidos, ocasião em que o projeto fede-
ralista foi eleito como a melhor opção, permanecendo até hoje na organização 
política dos Estados Unidos. Além disso, a Carta Magna de 1787 garantia a divi-
são do Estado em três poderes (legislativo, judiciário e executivo) e estabeleceu 
a república presidencialista como regime governamental, além de primar pelas 
liberdades individuais. Porém, apesar de incluir o ideário iluminista na organi-
zação do Estado, optou-se pela continuidade do trabalho escravo no país, o qual 
somente foi abolido em 1 de janeiro de 1863, apesar de ter sido oficialmente proi-
bido por meio da 13ª Emenda Constitucional, de dezembro de 1865.
AMÉRICA FRENTE À CRISE DO SISTEMA COLONIAL E OS MOVIMENTOS DE INDEPENDÊNCIA
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IIIU N I D A D E124
Você sabia que surgiram grupos especializados em exterminar os negros? 
Saiba que o Ku Klux Klan foi uma dessas organizações. Criado em 1866, no 
Tennessee (EUA), tal grupo se caracterizou por seu caráter racista e secreto. 
Seus primeiros integrantes eram soldados que lutavam ao lado do Sul na 
chamada Guerra Civil Americana (1861-1865), justamente o lado derrota-
do do conflito. O KKK, como ficou conhecido, empunhou uma bandeira de 
resistência à política liberal, levada a cabo pelos representantes do Norte 
após a Guerra Civil, a qual defendia, dentre outras coisas, o cumprimento da 
abolição da escravatura. O grupo visava manter a supremacia branca no país 
e, para isso, seus membros promoviam atos de violência, dentre os quais se 
destacavam a perseguição e intimidação de negros libertos. A fim de atingir 
esse objetivo, adotaram trajes fantasmagóricos, no intuito de esconder sua 
identidade e amedrontar as vítimas.
Fonte: a autora.
“Não haverá (...) sossego na América enquanto o negro não tiver garantidos 
os seus direitos de cidadão. A luta dos negros (...) ainda está longe do fim.” 
Fonte: Martin Luther King, um século após o fim da escravidão (1963).
Considerações Finais
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
125
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Chegamos ao fim de mais uma jornada!
Nesta unidade, conhecemos os processos de independência das Américas 
Hispânica, Portuguesa e Inglesa, ocorridos, em sua maioria, durante o século 
XIX, como resultado de crises coloniais que se multiplicaram ao longo do século 
XVIII por todo o continente. O assunto analisado não teve como objetivo somente 
a conclusão de uma unidade do livro da disciplina, mas a conscientização dos 
processos de emancipação política e o estabelecimento de estruturas que resul-
taram na formação e consolidação dos Estados Nacionais entre os séculos XIX 
e XX, assuntos tratados na próxima unidade.
Você teve a oportunidade de conhecer os variados processos de independência 
das Américas Hispânica, Portuguesa e Inglesa, cada qual com sua particulari-
dade e vinculado a sua conjuntura. Analisamos a crise do sistema colonial que 
resultou na emancipação política da América Espanhola, bem como as pecu-
liaridades de inúmeros casos que compunham essa região. Posteriormente, foi 
apresentado o complexo processo que resultou na independência do Brasil e 
dos Estados Unidos, recorrendo-se, para isso, a uma abordagem dialógica e de 
fácil compreensão, com o objetivo de facilitar a identificação dos atores sociais 
envolvidos e de seus respectivos interesses. Tais informações são relevantes para 
compreendermos a formação e consolidação dos Estados Nacionais entre os 
séculos XIX e XX, que será tema de nossa próxima unidade.
Evidentemente, as emancipações políticas nas Américas não trouxeram trans-
formações profundas na esfera social, política e econômica, pois se constatou 
que, na maioria dos casos, houve um continuísmo do modelo colonial baseado 
no abastecimento do mercado externo com matérias-primas provenientes do 
próprio território americano.
Espero que tenha gostado de nossa viagem!
Até a próxima!
‘Deem-me a liberdade ou deem-me a morte!’. Essa frase foi dita por um (...) americano 
(...). Ela representa muito do crescente estado de espírito que as leis inglesas iam provo-
cando nas colônias.
(...) É importante lembrar que não havia na América do Norte, de forma alguma, uma 
nação unificada contra a Inglaterra. Na verdade, as treze colônias não se uniram por 
um sentimento nacional, mas por um sentimento antibritânico. Era o crescente ódio 
à Inglaterra, não o amor aos Estados Unidos (...) que tornava forte o movimento pela 
independência. Mesmo assim, esse sentimento a favor da independência não foi unâ-
nime desde o princípio. (...) O sul era mais resistente à ideia da separação. E tanto entre 
as elites do norte como as do sul, outro medo era forte: O de que um movimento pela 
independência acabasse virando um conflito interno incontrolável, em que negros ou 
pobres interpretassem os ideais de liberdade como aplicáveis também a eles. (...)
As sociedades secretas foram uma das primeiras reações dos colonos contra as medidas 
inglesas. A mais famosa delas foi Os Filhos da Liberdade, que estabeleceu uma grande 
rede de comunicações, em muito facilitando a articulação entre os colonos. Os Filhos da 
Liberdade também eram uma escola de política, pois seus membros liam as principais 
obras políticas (...) para darem base intelectual ao movimento.
Houve também um grupo feminino intitulado Filhas da Liberdade, com o mesmo pro-
pósito. As mulheres também organizaram Ligas do Chá com o objetivo de boicotar a 
importação de chá inglês. Nas grandes cidades como Nova York e Boston, mulheres en-
cabeçavam campanhas contra produtos elegantes importados da Inglaterra e incenti-
vavam produtos feitos em casa (...). Na Carolina do Norte, um grupo de mulheres chegou 
a elaborar um documento chamado Proclamação Edenton, dizendo que o sexo femini-
no tinha todo o direito de participar da vida política. Mais tarde, quando a guerra entre 
colônias e a Coroa britânica começou, as colonas demonstraram mais uma habilidade: 
foram administradoras das fazendas e negócios enquanto os maridos lutavam.
Fonte: KARNAL, L. A formação da nação. In: KARNAL, L. et al. História dos Estados Uni-
dos: das origens ao século XXI. São Paulo: Contexto, 2008, p. 82-83.
127 
1. A conjuntura espanhola da segunda metade do século XVIII para os primeiros 
anos do século XIX influenciou os processos de emancipação política na Améri-
ca Hispânica. A partir dessa informação, produza um texto dissertativo apon-
tando as mudanças desse contexto e relacionando-as com os processos de 
emancipação política na América Espanhola.
2. Alguns historiadores costumam atribuir o início do processo de independência 
do Brasil a chegada da família real portuguesa ao Rio de Janeiro, em 1808. Diante 
dessa constatação, explique a conjuntura que resultou na elevação do Brasil 
em simples colônia para o centro de decisões da Coroa portuguesa.
3. Mesmo com a emancipação das Treze Colônias inglesas, as lutas não cessaram, 
mas dessa vez estavam restritas a projetos políticos divergentes que disputavam 
a preferência como alternativa a ser adotada pelo Estado recém-fundado. Com 
base na leitura desta unidade, apresente e explique as duas propostas políti-
cas que surgiram após a independência das colônias britânicas na América.
4. Alguns ideários estimularam os processos de independência na América. De for-
ma geral, os pensamentos que instigaram a emancipação política no Novo 
Mundo estão vinculados:a) Aos ideais da Guerra do Vietnã e Revolução Praieira.
b) Aos ideais iluministas e da Revolução Francesa.
c) Aos ideais da Revolução Científica e da Primavera Árabe.
d) Aos ideais do Stalinismo e das Revoluções Comunistas.
e) Aos ideais da Revolução Bolivariana e Revolução Hoplítica.
5. Na segunda metade do século XVIII, as treze colônias inglesas iniciaram um mo-
vimento que resultou na sua emancipação em relação à Coroa britânica. Sobre a 
independência dos Estados Unidos, em 1776, é correto afirmar:
a) Ampliou os direitos políticos de índios e mulheres, que se igualaram aos grandes 
proprietários de terras.
b) Caracterizou-se por ser uma revolução política e econômica que alterou profun-
damente as bases da sociedade.
c) Simbolizou a liberdade para toda a população, incluindo a abolição da escravi-
dão africana.
d) Resultou no genocídio decorrente de perseguições políticas, econômicas e a ex-
propriação de bens da nobreza.
e) Processou-se como a primeira revolução que acabou com a dominação colonial 
na América.
6. Mesmo se valendo de um discurso que proclamava a libertação dos povos ame-
ricanos da dominação espanhola, salientando que haveria melhoria nas condi-
ções de vida e liberdade, os líderes das independências ocorridas na América His-
pânica defendiam, na realidade, a manutenção das antigas estruturas coloniais 
de modo a beneficiar apenas as elites coloniais. Qual das alternativas abaixo 
indica, de forma correta, o nome pelo qual ficaram conhecidas essas elites?
a) Peninsulares.
b) Chapetones.
c) Índios.
d) Criollos.
e) Burgueses.
Material Complementar
MATERIAL COMPLEMENTAR
Título: Estados Unidos: a formação da nação. Da colônia à 
independência
Autor: Leandro Karnal
Editora: Contexto
Sinopse: trata-se de uma obra com linguagem acessível que aborda 
desde a formação dos Estados Unidos durante o período colonial até o 
processo de independência.
Título: A formação das nações latino-americanas
Autora: Maria Lígia Prado
Editora: Atual
Sinopse: a obra aborda a formação dos Estados nacionais da América 
Latina, englobando o seu processo de independência.
Título: A viagem marítima da família real: a transferência da corte 
portuguesa para o Brasil
Autor: Kenneth Light
Editora: Zahar
Sinopse: resultado de dez anos de pesquisa, a obra em tela retrata a 
transferência da corte portuguesa para o Brasil, detalhando os fatos 
corriqueiros, embarcações, os alimentos e o cotidiano da viagem.
MATERIAL COMPLEMENTAR
Título: O Patriota
Ano: 2000
Sinopse: o filme retrata que, depois de muito sofrimento e 
batalhas, os colonos recebem ajuda do exército francês impondo a 
derrota aos ingleses. O conflito entre ingleses e colonos, liderados 
por Benjamin Martin, ocorre dentro do contexto da guerra pela 
independência das Treze Colônias, mostrando a participação da 
região da Carolina do Sul na guerra de independência. O resultado 
de todo esse fato histórico no qual está inserido o filme é o 
surgimento dos Estados Unidos da América.
Comentário: este filme apresenta, de forma clara, um conflito 
entre ingleses e os colonos que resultou no processo de 
emancipação que deu origem aos Estados Unidos.
Título: Independência ou Morte
Ano: 1972
Sinopse: o filme inicia com a fuga da corte portuguesa para o Brasil 
provocada pela invasão das tropas de Napoleão Bonaparte, depois que 
Portugal aliou-se a Inglaterra. O povo, não satisfeito com tudo o que 
Portugal estava fazendo, pediu a independência. Este filme traz uma 
visão heroica do processo de emancipação política do Brasil.
Comentário: apesar de importante para a compreensão de mudanças 
que ocorreram durante o século XIX, o filme atribui a apenas um 
homem (D. Pedro I) o feito da independência do Brasil. Ainda assim, é 
um clássico relacionado ao tema da emancipação brasileira.
Material Complementar
MATERIAL COMPLEMENTAR
Título: Carlota Joaquina, princesa do Brasil
Ano: 1995
Sinopse: retrata, de forma irônica e humorada, os 
acontecimentos que resultaram na vinda da família real 
portuguesa ao Brasil, enfatizando o comportamento e 
costumes da princesa e de seu marido D. João durante sua 
estadia na América.
Comentário: apesar dos exageros relacionados aos hábitos 
da família real portuguesa, este filme é importante para 
compreender o processo que resultou na vinda da família real 
portuguesa no Brasil, em 1808.
Neste portal, há várias informações culturais sobre a América Latina. O internauta 
possui acesso às publicações do site, como a Revista “Nossa América”, a qual traz 
uma coletânea de artigos sobre arte, economia, política e história dos países latino-
americanos. Venha conferir você também!
Memorial da América Latina
Disponível em: <https://www.memorial.org.br>. Acesso em: 01 out. 2015.
https://www.memorial.org.br
U
N
ID
A
D
E IV
Professora Dra. Verônica Karina Ipólito
A FORMAÇÃO E 
CONSOLIDAÇÃO DOS 
ESTADOS NACIONAIS
Objetivos de Aprendizagem
 ■ Compreender a formação dos Estados Nacionais na América Latina 
entre os anos de 1825 a 1860.
 ■ Analisar a consolidação dos Estados Nacionais entre as décadas de 
1860 a 1890.
 ■ Conhecer os fatores que transformaram os Estados Unidos em uma 
potência industrial, em fins do século XIX.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
 ■ A formação dos Estados Nacionais (1825-1860)
 ■ A consolidação dos Estados Nacionais (1860-1890)
 ■ Os Estados Unidos em fins do século XIX
INTRODUÇÃO
A quarta unidade do livro apresenta a formação e consolidação dos Estados 
nacionais latino-americanos bem como os Estados Unidos, em fins do século 
XIX. Não foi nosso objetivo abordar todos os inúmeros casos dos países latino-
-americanos, contudo houve um esforço para concentrar informações e reflexões 
sobre tal assunto.
O primeiro objetivo é levá-lo(a) a refletir sobre o processo de definição dos 
territórios e da soberania dos países recém-emancipados, bem como de suas 
relações com o mundo exterior, outorgando-lhes uma identidade nacional que 
foi construída ao longo desse processo histórico. Além disso, é necessário com-
preender que as primeiras décadas foram marcadas pela disputa interna entre 
diferentes elites regionais, econômicas, sociais e políticas (exemplos: caudilhos 
no Rio da Prata, disputas regionais na América Central...), incluindo a onipre-
sença de várias potências estrangeiras, como Inglaterra, Estados Unidos e, em 
menor medida, França. Em seguida, analisaremos os processos de consolidação 
dos Estados latino-americanos, os quais, como na dinâmica internacional, figu-
ravam como países exportadores de matéria-prima e importadores de produtos 
manufaturados, comandados por oligarquias locais. Por fim, conheceremos a 
estabilização dos Estados Unidos como uma superpotência industrial em fins 
do século XIX. O objetivo é compreender que, apesar da conjuntura, cada país 
tem suas particularidades, mesmo pelo fato de nutrirem pontos em comum.
Penso que se você compreender a formação e consolidação dos Estados 
Nacionais melhor entenderá a hegemonia exercida até os dias de hoje por alguns 
países.
O intuito é contribuir no entendimento do período pós-independência até 
fins do século XIX. Para contribuir com os seus estudos, é necessária a consulta 
de materiais (livros e filmes) recomendados ao fim desta unidade.
Vamos visitar o século XIX latino-americano? Aguardo a sua visita!
Uma excelente leitura a você!
Introdução
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
135
Figura 07: Soldado paraguaio de sentinela durante a Guerra da Tríplice 
Aliança, também chamada de Guerra do Paraguai (1864-1870)
©
W
ik
im
ed
ia
 C
om
m
on
s
A FORMAÇÃO E CONSOLIDAÇÃO DOS ESTADOS NACIONAIS
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IVU N I D A D E136
A FORMAÇÃO E CONSOLIDAÇÃO DOS ESTADOS NACIONAIS
A FORMAÇÃO DOS ESTADOS NACIONAIS (1825-
1860)
A formação estruturaldos Estados nacionais na América Latina foi um pro-
cesso espinhoso e violento. A derrota empunhada aos países metropolitanos na 
primeira metade do século XIX não foi suficiente para limitar as fronteiras dos 
territórios recém-independentes, muito menos foi capaz de estabelecer e legi-
timar regimes políticos duradouros. Muitos escritores de caráter nacionalista 
espalhados pelo continente buscaram ignorar tais problemas e reforçaram o pen-
samento de que a identificação das nacionalidades já era consistente no final do 
período colonial. Essas interpretações representam um olhar dos processos de 
independência, vinculando-o à sua realidade.
A Formação dos Estados Nacionais (1825-1860)
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
137
A visão de união pintada por essa historiografia pode ser mais bem exempli-
ficada pelo escritor argentino Ricardo Rojas, o qual, em sua obra Blason de Plata 
(1910), dissertou que “índios, negros, gaúchos e mulatos todos marcharam com 
o criollo burguês contra a oligarquia exótica – fundidos em multidão, fundidos 
em exército, fundido em povo, fundidos em nação, pelo fogo sagrado do india-
nismo” (ROJAS, 1946, p. 119). Os autores desse período consagraram a ideia de 
“nação” como um dos elementos em construção no momento de confecção e 
execução do projeto autonomista. Entretanto a noção de identidade embutida 
no ideário emancipacionista deve ser vista de forma múltipla e diversa, muito 
distinta, portanto, da unanimidade pregada por Rojas e em conformidade com 
a citação supracitada. 
A pluralidade da América Hispânica era visível desde a sua organização polí-
tica. A colônia americana devia, teoricamente, obediência à Coroa espanhola. 
Tal confiança foi abalada por meio da crise gerada com a prisão de Fernando VII 
pelas tropas napoleônicas. Diante desse cenário, os governos locais da América 
argumentaram que mediante a ausência de uma soberania política legítima, 
como no caso do governo monárquico, o poder retroagia aos súditos, no caso, 
aos representantes municipais da América Hispânica. A reclusão de Fernando 
VII pode ser considerada, portanto, como uma primeira ação que resultou nas 
declarações de autonomia. No entanto a ausência de um governo centralizado, 
ainda que sediado na metrópole, resultou em outro problema: a fragmentação 
sem fim da legitimidade política, pois cada cidade tinha autorização, na falta de 
um poder legal, de se declarar como um organismo político soberano, uma vez 
que o pacto estabelecido com a coroa espanhola havia se rompido mediante a 
captura do rei. Cidades menores e algumas províncias não concordavam com a 
autoridade delegada às antigas capitais vice-reinais (cabeceras) quando da ausên-
cia do poder imperial e, como consequência, esses fatores abriram espaço para 
a pulverização da guerra entre cidades e províncias durante processos de inde-
pendência e mesmo após o seu encerramento.
A FORMAÇÃO E CONSOLIDAÇÃO DOS ESTADOS NACIONAIS
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IVU N I D A D E138
Esse ambiente de conflitos generalizados perdurou durante quase todo o 
século XIX, trazendo a tona diversas limitações durante o processo de cons-
trução dos Estados nacionais, como: a ausência de tropas regulares na América 
hispânica; a formação de rivalidades regionais; a persistência de velhas práticas 
e estruturas corporativas; a falta de organização fiscal dos Estados ainda em fase 
de formação; dificuldades de acesso aos locais mais isolados; relutância quanto 
à institucionalização de práticas políticas, mesmo com a elaboração de consti-
tuições em muitos casos; isolamento de comunidades indígenas de participação 
política e a ausência de uma aceitação de autoridade política.
Apesar de caótico, esse quadro estimulou debates a respeito de uma organiza-
ção formal no pós-independência. A princípio, defendeu-se um regime político 
que pregava pela autonomia local (confederação). Tal modelo foi proposto nos 
primeiros anos de pós-independência, atendendo, principalmente, às cidades e 
províncias menores como forma de se defenderem do poderio das cidades maio-
res, a exemplo de Buenos Aires e Caracas. Em algumas regiões, como no Rio da 
Prata, os delegados provinciais eram enviados mais como representantes de um 
Estado do que propriamente como membro de uma “nação”; a “nação” em si era 
um termo muito difícil de ser definido. Essa conjuntura explica a fragilidade das 
tentativas de construção dos Estados nacionais sob os auspícios de um governo 
central. As tentativas de organização de projetos federalistas encontravam grande 
resistência provincial, pois tais planos eram associados a conspirações voltadas 
para o domínio de cidades maiores. 
Se o quadro era instável politicamente, o que dizer então da cultura naciona-
lista? Encontrar práticas e representações que se aproximassem do que se pode 
chamar de “nacional” era uma tarefa árdua, baseada, geralmente, em histórias 
compartilhadas. Por outro lado, encontrar esse elemento na trajetória histórica 
de muitos desses países tornou-se uma tarefa complexa, sobretudo por parte 
das elites culturais e políticas, principais interessados a desenvolver um movi-
mento dessa natureza.
Dentre os países recém-emancipados na América hispânica, podemos con-
siderar que o México tenha tido uma tarefa bem sucedida sobre esse assunto, 
quando houve um resgate do passado indianista como forma de criar uma cul-
tura identitária singular, muito embora estivesse atrelada a retomada do passado 
A Formação dos Estados Nacionais (1825-1860)
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
139
pré-colombiano para reforçar os valores do cristianismo em terras mexicanas. 
Talvez, com exceção do México, os outros países não possuíam lideranças locais 
que se sentissem atraídos pela utilização da memória indígena como forma de 
embasar um projeto de nação. Muitos desses líderes estavam alinhados ao pen-
samento iluminista e, como tal, defendiam um projeto de nação em sintonia 
com os ditames do progresso e da modernidade, enxergando o passado ameri-
cano como obsoleto e turbulento.
Um dos líderes com maior participação nas lutas emancipacionistas, Simón 
Bolívar, por exemplo, condenava o passado pré-colombiano e não conseguia filtrar 
lições positivas dele para as futuras nações, opinião que contribuiu para semear 
dúvidas sobre o papel das populações mestiças nos novos regimes políticos. Em 
sua visão, era mais proveitoso inspirar-se no sistema republicano europeu do que 
se espelhar no passado de opressão e colonização. O fosso gerado com as ten-
tativas de praticar algumas teorias importadas, muitas delas incoerentes com a 
realidade social americana, dificultou ainda mais a construção de um imaginá-
rio nacionalista que se popularizasse.
O exemplo clássico da dificuldade de construir um ideário voltado para o 
sentido de nação foi a Argentina. Os conflitos emancipacionistas foram mais 
acirrados nessa região em virtude de disputas localizadas pela soberania, além 
da população mestiça e dos índios nômades serem alijados de qualquer decisão, 
prevalecendo a vontade das elites modernizadoras em primeiro plano. Alguns 
autores revelam a frustração sobre a possibilidade de gaúchos e índios argentinos 
construírem uma nação republicana. Dois dos mais conhecidos que comparti-
lhavam esse pensamento foram os escritores Domingo Sarmiento, cuja principal 
obra foi “Facundo”, e Juan Bautista Alberdi. Ambos são considerados autores 
clássicos do liberalismo platino e afirmavam, apesar de suas peculiaridades, o 
homem interiorano (gaúcho), geralmente nômade, como incapaz de conviver 
com regras e instituições, por ser classificado por tais escritores como indivi-
dualista e ameaçador a estabilidade de um projeto de nação. Para essa visão, o 
gaúchonão tinha condições de assumir um papel representativo da nação, pois 
não atendia às características idealizadas por essa perspectiva romântica de se 
transformar em um típico personagem nacional.
A FORMAÇÃO E CONSOLIDAÇÃO DOS ESTADOS NACIONAIS
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IVU N I D A D E140
Apesar de atualmente associarmos o homem dos pampas com a representa-
ção nacional argentina, torna-se relevante compreender como foi árdua a decisão 
de sua aceitação como componente simbólico da paisagem portenha. A produ-
ção cultural platina do século XIX, entre as quais se incluem “Facundo” e diversas 
obras de arte de pintores itinerantes, censura a figura do gaúcho, retratando-o, 
muitas vezes, como um nômade das planícies árabes, de forma a transmitir a 
ideia de que ele não era integrante do que consideravam como modelo irrefu-
tável de nação. O fato de ignorarem o gaúcho levou a solução imigratória como 
um requisito para edificarem uma nação nos moldes europeus. Os adeptos a essa 
perspectiva acreditavam que populações transplantadas de países modernos tra-
riam energia e civilidade necessárias para a formação de uma nação saudável. 
É importante ressaltar que os processos de independência tinham como 
principal objetivo a libertação dos americanos e não de nações previamente cons-
tituídas. Diante dessa constatação, podemos considerar natural o processo árduo 
de formação das nações com seus símbolos, práticas e representações. A propa-
gação de elementos que constituíram o imaginário social (hinos, bandeiras etc) 
somente foi empregada após décadas de lutas contra a hegemonia espanhola. 
Mesmo com a rápida delimitação fronteiriça, é fato que o reconhecimento 
dos governos centralizados se configurou em um longo processo de aceitação, o 
qual foi alcançado apenas no fim do século XIX em alguns casos. Buenos Aires, 
por exemplo, somente foi definida como capital argentina em 1880. Durante anos 
após as lutas emancipacionistas, muitos argentinos faziam referência ao local 
onde nasceram em vez de relacionar o seu nascimento com a “nação” argentina. 
Tal exemplo ilustra como a elite política nacionalista, de forma contraditória, 
estruturou uma nação com base no projeto imigratório, em vez de valorizar as 
particularidades da história local. Nesse cenário, o critério de nacionalidade 
prevaleceu como um requisito forte na inclusão ou não de pessoas no projeto 
político. Esses fatores devem ser levados em conta para melhor compreender-
mos o significado de Estado nacional após as lutas emancipacionistas. 
A Formação dos Estados Nacionais (1825-1860)
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
141
Os movimentos de independência trouxeram a necessidade de reconhecimento. 
Em alguns casos, foram enviados representantes à Europa no intuito de pressio-
nar a Espanha a reconhecer a emancipação de suas colônias americanas. Além 
disso, fazia-se necessário conseguir ajuda econômica e reestruturar as relações 
produtivas e comerciais que foram abaladas com a guerra. No plano interno, os 
novos países tiveram que escolher seus sistemas de governo, estabilizar a produ-
ção, reestabelecer o comércio local e externo, bem como resolver conflitos para 
definir suas fronteiras. 
O período caracterizado pela formação dos Estados nacionais (1825-1860) 
foi marcado por constantes lutas civis, resultado de distintos projetos políticos 
que não lograram êxito. O cenário que se desnudou nos recém-formados Estados 
nacionais americanos estava ilustrado por uma série de instabilidades políticas. 
Uma dessas posições políticas antagônicas foi o chamado projeto bolivariano.
Após a independência da Bolívia e do Peru, Simón Bolívar se preocupou em 
concretizar um sonho que nutria desde 1821: o de formar uma aliança defen-
siva. Em 1824, convocou todas as nações para um Congresso com o objetivo de 
unir os territórios em confederações. A Grã-Bretanha foi convidada, pois dela 
dependia a sustentabilidade política e econômica desses países. Tal evento, conhe-
cido como o Congresso do Panamá (1826), contou com a ausência da maioria 
dos países latino-americanos, como Argentina, Chile, o Paraguai, a Bolívia, o 
Brasil e o Uruguai. Compareceram a esse evento a Grã-Colômbia, Peru, México 
e América Central. 
O processo de formação dos Estados nacionais na América Latina, salvo suas 
peculiaridades, é acompanhado pela aparição do sentimento de pertenci-
mento a uma “nação”? 
Fonte: a autora.
A FORMAÇÃO E CONSOLIDAÇÃO DOS ESTADOS NACIONAIS
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IVU N I D A D E142
Menos de quinze dias após o início do Congresso foi emitido um Tratado 
de União, Liga e Confederação Perpétua, por meio do qual os países assinantes 
se comprometiam a oferecer ajuda mútua. No entanto o Congresso teve mais 
efeito simbólico do que prático, tendo em vista a difícil e quase impossível mis-
são de unir esses países em um momento em que nem eles próprios conseguiam 
manter a unidade interna de seus territórios. Contudo o projeto de defesa de 
seus interesses econômicos mantém-se até os dias de hoje e considerou o ano de 
1810 como referência do reconhecimento das independências. 
O processo de formação dos Estados nacionais no Rio da Prata, por sua vez, 
contou com uma disputa acirrada e conflituosa de distintas posições políticas. 
Nessa área, os primeiros países a se libertarem do jugo metropolitano foram o 
Paraguai e o Rio da Prata. Tal região contava com rios navegáveis e boa comuni-
cação, todavia esses rios desembocavam na Prata, onde estava localizada Buenos 
Aires. Em função de sua localização, Buenos Aires controlava todo o comércio 
exterior, gerando alguns conflitos. 
No atual Paraguai, por exemplo, José Gaspar Rodriguez de Francia foi desig-
nado Ditador Perpétuo em 1814, optando pelo isolamento, implantação de uma 
economia de subsistência e por uma política exterior direcionada apenas para 
entrada e saída de estrangeiros. 
Francia se dizia liberal, mas aplicava como método de governo o Catecismo Pátrio. 
Nesse sistema, Francia aparecia como ditador, justificando seu poder absoluto, pois 
acreditava que os paraguaios ainda não estavam prontos para um governo participativo. 
Em consequência, a economia estava sob controle quase exclusivo do Estado: 
monopólio com propriedade de terra e dos escravos, quase inexistência de 
comércio exterior, predominância do comércio regional de venda de erva-mate 
e maiores gastos militares. 
Províncias Rio-pratenses, próximas aos rios Paraná e Uruguai, reclamavam 
pela abertura do comércio exterior, mas adotavam, ao mesmo tempo, práticas 
protecionistas. No entanto a existência de chefes locais (caudilhos) acabaria com 
as divergências de opinião existentes entre uma região e outra, tanto que, entre 
1820 e 1862, a região da atual Argentina, formada por estados paralelos, se uni-
ram a partir de 1862. No Uruguai, ao contrário, os caudilhos marcaram disputas 
que dividiram historicamente o país entre dois partidos: Branco e Colorado. 
A Formação dos Estados Nacionais (1825-1860)
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
143
De forma geral, após as lutas de independência, os países da América Latina 
buscaram incentivar a produção de matérias-primas para a exploração, sobretudo 
para a Inglaterra. O Brasil, por exemplo, continuou a tradicional aliança com os 
britânicos e a monarquia viu-se diante de diversas manifestações de desconten-
tamento. Surgiram vários movimentos separatistas, dos quais o mais intenso foi 
a Revolução Farroupilha (1835-1845). 
Na região andina, além das instabilidades políticas, o período entre os anos de 
1825 a 1860 foi marcado pela tentativa de reuniões de diferentes Estados, os quais 
visavam se unir para setornarem mais fortes no âmbito político e econômico. 
Diante desse quadro, o Peru, logo após a independência, em 1824, destacou-se 
por brigas sucessivas, evidenciando a instabilidade existente (conservadores ver-
sus liberais/ monarquistas versus republicanos). Após a sua independência em 
1825, a Bolívia, por sua vez, se declarou autônoma tanto do Peru quanto do Rio da 
Prata, adotando um ano mais tarde o sistema republicano como regime político.
Entre os anos de 1836 a 1839, foi firmada a Confederação Peruano-Boliviana, 
uma iniciativa de Santa Cruz, então presidente da Bolívia. O objetivo era con-
cretizar a unidade política de uma grande região andina, que compreendia os 
atuais Estados do Peru, Bolívia e norte do Chile. Apesar da existência efêmera, 
a Confederação fundou bases administrativas e jurídicas de seus territórios, 
superando em parte a anarquia administrativa consequente da guerra da inde-
pendência e substituindo a legislação espanhola por novos códigos. 
O Chile, por sua vez, via a união entre a Bolívia e o Peru como uma forte 
ameaça a seus interesses econômicos e políticos. Por esse motivo, declarou 
guerra, em 1836, alegando incidentes fronteiriços e acusações de interferên-
cias, mas acabou sendo derrotado. Três anos antes desse incidente, o Chile 
promulgou sua Constituição, o que lhe garantiu estabilidade capaz de solidi-
ficar as bases políticas, econômicas e militares, que transformaram o Chile no 
país mais forte da região andina. 
Situação contrária estava ocorrendo na Grã-Colômbia, Venezuela e Nova 
Granada, onde houve, em 1830, um período de desintegração definitiva. Os moti-
vos para essa fragmentação foram as guerras de independência e desencontros 
entre as propostas centralistas e federalistas. 
A FORMAÇÃO E CONSOLIDAÇÃO DOS ESTADOS NACIONAIS
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IVU N I D A D E144
Em 1847, o governo peruano convocou vários países sul-americanos para 
um Congresso de Lima. Na ocasião, apenas Brasil, Argentina e Venezuela não 
compareceram. Os países andinos assinaram um Tratado de Confederação e 
Navegação, com o propósito de formar uma liga defensivo-ofensiva dos países 
do Pacífico, mas a proposta não passou de lei morta. 
A América Central, por sua vez, sofreu um processo de fragmentação após 
a independência, em 1821. No ano seguinte, uniu-se ao México, mas optou pela 
separação em 1823. Em 1824, foi iniciada a Constituição Federal da Confederação 
Centro-Americana, porém a inexistência de comunicações internas dificultava 
uma verdadeira união dos interesses das elites regionais. Todo esse contexto foi 
palco de disputas internas, marcadas principalmente pela oposição entre os dois 
grupos: conservadores centralistas versus liberais federalistas. 
Em 1839, houve a desintegração, em definitivo, da Confederação Centro-
americana em vários países: El Salvador, Guatemala, Nicarágua, Costa Rica e 
Honduras. Com a pulverização da América Central, a presença inglesa tornou-
-se constante, o que não foi visto com bons olhos pelos Estados Unidos. 
Durante o século XIX e início do XX, imperava nos Estados Unidos duas 
noções básicas: primeiro, o Destino Manifesto, voltado para a expansão territorial; 
segundo, a Doutrina Monroe, pautada na defesa dos Estados latino-americanos 
contra a intromissão de forças extracontinentais. 
A Doutrina Monroe foi promovida pelo presidente James Monroe (1817-
1825) por meio de uma mensagem enviada ao Congresso, no dia 2 de de-
zembro de 1823. A síntese do documento está baseada na famosa frase “A 
América para os americanos”. Seu pensamento estava fundamentado em 
três aspectos principais: primeiro, o impedimento de criação de novas co-
lônias nas Américas; segundo, a não intervenção em assuntos internos dos 
países americanos e, por fim, a proibição da interferência dos Estados Uni-
dos em confrontos relacionados aos países europeus, como guerras entre 
suas colônias e países. 
Fonte: a autora.
Figura 08: Tela de John Ghast conhecida como “Progresso Americano” (American Progress) 
©
W
ik
ip
éd
ia
A Formação dos Estados Nacionais (1825-1860)
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
145
A imagem de número 08 retrata alegoricamente o Destino Manifesto. O progresso 
representado pela mulher angelical (identificada por alguns como “Colúmbia”, 
uma referência aos Estados Unidos do século XIX) segura um livro e suposta-
mente conduz a “civilização” até o oeste, acompanhada de colonos americanos 
e instalando fios telegráficos. Em contraste, animais e indígenas fogem, como se 
estivessem sendo expulsos de um lugar que era deles. 
As interferências internacionais e disputas por territórios da América Central 
entre Estados Unidos e Inglaterra resultaram no Tratado Clayton-Bulwer. Assinado 
em 1850 entre os dois países em tela, esse documento firmou o comprometi-
mento e a convivência com o equilíbrio de forças na região. 
A América Central em meados do século XIX encontrava-se dividida em 
vários Estados, disputados pela Inglaterra e os Estados Unidos para a constru-
ção de uma passagem que comunicasse os oceanos com o comércio de ultramar. 
De modo semelhante, o Caribe também sofreu disputas pelas potências 
mundiais. Cuba era um dos alvos perfeitos para esses países por ser uma região 
de posição estratégica e também pelo fato de se tornar um importante centro de 
produção açucareira. Alguns expansionistas estadunidenses viam no Caribe uma 
extensão natural dos Estados Unidos, tanto que em duas oportunidades (1848 
e 1854) os norte-americanos ofereceram à Espanha a compra da ilha. Os sulis-
tas estadunidenses visavam incorporar Cuba como reduto escravista, ao passo 
que os nortistas norte-americanos preferiram manter as negociações diplomá-
ticas com a Espanha. 
A FORMAÇÃO E CONSOLIDAÇÃO DOS ESTADOS NACIONAIS
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IVU N I D A D E146
A presença constante dos Estados Unidos na formação dos Estados nacio-
nais também atingiu o México. Esse país tornou-se independente em 1821, 
momento em que os Estados Unidos atravessavam um período de estabilidade 
político-econômica. Aproveitando a inexperiência das autoridades mexicanas, 
os estadunidenses reconheceram a independência do México em 1822, mas com 
o intuito de expandir os seus territórios. Foi realizada uma política de migração 
de cidadãos norte-americanos para o estado mexicano do Texas. 
O México ratificou esse acordo no qual eram dadas terras aos colonos e em 
troca estes deveriam respeitar as leis mexicanas, como a proibição da escravidão, 
por exemplo. Contrariando a proposta, os colonos entraram no território mexicano 
em grande número, estabeleceram suas leis e implantaram o sistema escravista.
Em 1830, o novo presidente do México, Anastásio Bustamante, quis impor 
uma política nacionalista na economia e na sociedade. Para fazer isso, Bustamante 
limitou a imigração de estadunidenses. Essa medida foi tomada porque os colonos 
estrangeiros predominavam e seus hábitos estavam se sobrepondo aos costumes 
dos nativos mexicanos. Entretanto, já em 1831, os colonos americanos nutriam 
uma consciência separatista, arquitetando estratégias para a emancipação do 
Texas. Como reação à imposição dos estadunidenses, o governo mexicano decre-
tou a abolição da escravidão, em 1835. Um ano depois, os mexicanos protestaram 
contra a medida do governo e proclamaram a independência. Para a manutenção 
da emancipação, os colonos texanos contaram com o apoio dos Estados Unidos, 
o qual anexou o território do Texas. Como ônus da incorporação do Texas pelos 
Estados Unidos, o México resolveu romper as relações diplomáticas com esse país, 
o que resultou em uma declaração de guerra por parte dos norte-americanos.
Em 1848, o México reconheceu a perda do Texas e sua anexação aos Estados 
Unidos. Como consequência da derrota,o México foi obrigado a vender parte 
do seu território (do oeste do Texas até o Pacífico) para os estadunidenses, além 
de ter que aceitar a proposta americana de estabelecimento das fronteiras, resul-
tando na perda de metade de seu território.
A Formação dos Estados Nacionais (1825-1860)
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
147
Mapa 06: Perda do Texas para os Estados Unidos
Fonte: Mexican History (online).
Conforme você pôde notar, durante a primeira metade do século XIX e logo 
após os processos de emancipação política, a América Latina estava formando 
os seus Estados nacionais, fator que trouxe uma série de instabilidades e indefi-
nições territoriais, bem como a precariedade nas relações econômicas e políticas 
com o resto do mundo. Em contraste, na segunda metade do século XIX, a esta-
bilidade se instala aos poucos, ao passo que o controle das finanças vai sendo 
retomado e as administrações vão se reestabelecendo.
A FORMAÇÃO E CONSOLIDAÇÃO DOS ESTADOS NACIONAIS
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IVU N I D A D E148
A CONSOLIDAÇÃO DOS ESTADOS NACIONAIS 
(1860-1890)
Como você deve ter aprendido até aqui, as guerras pelas independências se 
caracterizaram por serem longas e árduas. Além disso, as consequências para os 
novos Estados foram lastimáveis e marcadas por grandes prejuízos, tais como: 
economia instável, endividamento e desarticulação da produção agrícola. Vários 
estudiosos sobre o assunto relataram as dificuldades da América Latina durante 
o período de formação de seus Estados nacionais. 
Sem dúvida, uma leitura considerada indispensável sobre o assunto são os 
escritos de Maria Lígia Prado (1999), nos quais estão retratadas as desilusões do 
período pós-emancipação. 
Na concepção dos letrados liberais, a liberdade, a justiça, o progresso 
e a riqueza deveriam florescer na América. Entretanto, a guerra nas 
colônias espanholas foi longa e cruel, e o sofrimento e empobrecimento 
visíveis. Assistia-se ao espetáculo da ruína econômica e da devastação 
geral. Muitas das riquezas produzidas tinham sido destruídas: planta-
ções, criação de gado, minas. Os tesouros públicos encontravam-se es-
gotados, os líderes políticos disputavam o poder, divididos em facções. 
De repente, tudo parecia ter sido em vão, especialmente para aqueles 
que haviam se empenhado tanto nas lutas (PRADO, 1999, p. 68-69).
Além disso, a militarização da sociedade e do poder político constituiu-se como 
uma herança das guerras de emancipação. Túlio Halperin Donghi (1975) afirma 
que essa militarização não é resultado de poder e prestígios oriundos de líderes 
militares, mas das elites civis que não dispensaram o apoio dos militares para a 
preservação da ordem que era mais conveniente e atendia aos ditames desse grupo. 
O peso das forças das armas (...) é inicialmente um aspecto do proces-
so de democratização, mas, bem cedo, transforma-se numa garantia 
contra uma extensão excessiva desse processo. Por isso (e não porque 
pareça inevitável) é que mesmo os que deploram algumas de suas ma-
nifestações fazem pouco para acabar com eles (DONGHI, 1975, p. 99).
A Consolidação dos Estados Nacionais (1860-1890)
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
149
Muitos daqueles que se diziam liberais e que estavam encabeçando o movimento 
pela emancipação política foram designados como líderes das recém-criadas 
repúblicas da América Latina. A exclusão das massas no processo econômico 
social de seus governos contribuiu para a instalação da desordem infraestrutu-
ral, sobretudo após séculos de colonização e do destrutivo período das guerras 
de independência. Na visão de John Charles Chasteen (2001), a herança colo-
nial inviabilizou a implantação de governos liberais. 
Os sonhos liberais de novos países prósperos e progressivos logo se 
dissolveram em frustração e fracasso econômico. Esperanças de verda-
deira democracia foram esmagadas pelos velhos hábitos da hierarquia 
conservadora. Padrões recorrentes de violência política e corrupção 
alienaram a maioria do povo dos governos que supostamente o repre-
sentavam. A política tornou-se, acima de tudo, uma busca dos benefí-
cios pessoais dos cargos públicos. Em suma, a primeira geração pós-co-
lonial (1825-1850) não viu a América Latina progredir em nenhuma 
direção (CHASTEEN, 2001, p. 101-102).
De forma geral, os liberais, normalmente compostos por membros das elites 
crioulas, vinculados ao comércio exterior, foram golpeados por caudilhos mili-
tares. Esses caudilhos eram, grosso modo, proprietários rurais que haviam posto 
à disposição suas corporações privadas para engrossarem as fileiras dos exérci-
tos de libertação. Por essa atitude, foram designados a assumir os altos cargos 
da hierarquia militar. No período da pós-independência, adotaram medidas que 
tornaram evidentes suas manobras para permanecerem no poder. Em alguns 
casos, optaram pela usurpação do trono de governos eleitos e a revogação de 
constituições liberais, quando não tiravam vantagens da fragilidade institucio-
nal que os novos regimes republicanos possuíam, utilizando, para isso, o “voto 
de cabresto” para se eleger. Tais ações demonstram como o personalismo foi (e 
ainda é) uma das marcas centrais da cultura dessas sociedades. 
A FORMAÇÃO E CONSOLIDAÇÃO DOS ESTADOS NACIONAIS
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IVU N I D A D E150
De forma semelhante, multiplicaram-se as guerras ao longo do século XIX e no 
início do século XX. A região do Rio da Prata é um exemplo de conflitos dessa 
natureza. Em 1825, os portenhos entraram em confronto com o Império bra-
sileiro disputando o controle sobre o Uruguai (mais conhecido como Província 
Cisplatina ou Banda Oriental), em um episódio conhecido como Guerra Cisplatina 
(1825-1828), o qual resultou na independência do Uruguai do poder imperial 
brasileiro, em 1827.
Entre os anos de 1851 e 1852, novamente portenhos e brasileiros lutaram pelo 
domínio na região. O fim do confronto coroou na vitória brasileira, a qual acabou 
com os planos do caudilho Juan Manoel de Rosas de unir os países da área, com 
o objetivo de reintegrar o antigo Vice-Reinado sob o controle de Buenos Aires.
Anos mais tarde, entre 1865-1870, ocorreu a Guerra da Tríplice Aliança, 
na qual estiveram envolvidos três países (Brasil, Argentina e Uruguai) contra 
o Paraguai. Tal acontecimento marcou para a história a Guerra do Paraguai, 
responsável por aniquilar a população paraguaia e arrasar a economia do país, 
destinando-o ao subdesenvolvimento. 
Ficou curioso para saber o que foi o voto de cabresto? Saiba que essa mo-
dalidade de voto recebeu esse nome por se tratar de um sistema no qual há 
forte controle de poder político, seja por meio da compra de votos, do abu-
so de autoridade ou utilização do poder público para favorecimento pessoal 
ou de simpatizantes.
Fonte: a autora.
Portenhas são pessoas nascidas ou originárias de Buenos Aires, capital da 
Argentina.
Fonte: a autora.
A Consolidação dos Estados Nacionais (1860-1890)
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
151
Além desses, outros confrontos agitaram a região sul-americana, a exemplo da 
Guerra da Confederação Peruano-Boliviana (1836-1839), marcada pelo fato de 
o Chile não aceitar a união do Peru com a Bolívia, os quais voltaram a se separar 
após o episódio; e a Guerra do Pacífico (1879-1883), por meio da qual o Chile 
derrotou o Peru e a Bolívia, que disputavam uma área ao norte do Chile, resul-
tando na vitória deste último; por fim, a Guerra do Chaco (1932-1935), a qual 
envolveu o Paraguai e a Bolívia, sendo este último derrotado e forçado a ceder 
a região do Chaco.Mapa 07: Conflitos ocorridos na América Latina durante os séculos XIX e XX: Guerra do Pacífico (1879 a 
1883), Guerra do Chaco (1932-1935) e a Guerra do Paraguai ou Guerra da Tríplice Aliança (1864-1870)
Fonte: Chasteen (2001, p. 145-146).
A FORMAÇÃO E CONSOLIDAÇÃO DOS ESTADOS NACIONAIS
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IVU N I D A D E152
Passado o período de instabilidade do pós-independência, houve algumas trans-
formações nos países latino-americanos. Os sonhos que apregoava o pensamento 
liberal não pareciam estar mais tão distantes. De forma geral, os governos con-
servadores não encontravam mais argumentos convincentes que os mantivessem 
no poder. A esfera social caracterizou-se pela ascensão dos mestiços aos setores 
médios quase sempre atraídos pelas promessas dos liberais. No âmbito econômico, 
constatou-se certo crescimento em razão da reorganização das atividades econô-
micas, bem como de oportunidades que surgiram por meio de laços comerciais 
abertos pelos investidores estrangeiros. A Inglaterra estava disposta a investir na 
América Latina em função de capitais excedentes adquiridos por meio da indús-
tria. Diante desse cenário, os liberais se tornaram a opção mais aceitável, fator 
que proporcionou avanços econômicos durante a segunda metade do século 
XIX e a primeira do século XX.
Em conformidade com Rubim Aquino (2000, p. 296-297), houve a persistên-
cia da herança colonial no sentido econômico, ou seja, manteve-se na América 
Latina uma economia produtora de gêneros alimentícios e matérias primas para 
o mercado externo. A divisão de mercados mundiais entre os países capitalistas 
desenvolvidos (Estados Unidos, França e Inglaterra) resultou na formação de eco-
nomias periféricas e/ou dependentes na América Latina. Esse quadro estimulou a 
criação de grupos capitalistas, responsáveis por instigar a agricultura de exporta-
ção e a exploração de recursos minerais, fator que ativou o comércio de exportação 
e importação, criação de companhias de seguros, redes ferroviárias, bancos etc. 
Podemos afirmar que, em fins do século XIX a início do século XX, houve na 
América Latina o predomínio dos liberais, que haviam derrotado as forças 
conservadoras (Igreja). Os liberais defendiam, dentre outras questões, a le-
gitimação da propriedade privada como direito do indivíduo.
Fonte: Hale (1991).
A Consolidação dos Estados Nacionais (1860-1890)
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
153
Paralelo a isso, alguns países haviam sido reduzidos a uma economia de subsis-
tência, o que gerou um quadro de empobrecimento. Tal desigualdade econômica, 
em consonância com Aquino (2000, p. 296-297), era uma estratégia necessária 
do capitalismo internacional, ao qual não interessava que os países latino-ame-
ricanos tivessem condições de um desenvolvimento capitalista autossustentado. 
Essas características impediram a modernização e, consequentemente, o surgi-
mento de uma burguesia nacional nesses países. Os poucos grupos capitalistas 
que surgiram eram muito frágeis e, por isso, não conseguiram impor domínio 
político à região. De acordo com Aquino:
A massa da população, majoritariamente camponesa e analfabeta, vivia 
sob um sistema de relações pré-capitalistas, uma espécie de semi-ser-
vidão, e não constituía mercado consumidor apreciável para artigos in-
dustrializados. As classes dominantes eram formadas pelas oligarquias 
agroexportadoras cada vez mais dependentes da aliança com o impe-
rialismo – e pela burguesia mercantil – esta localizada em centros bem 
definidos, como as cidades portuárias de Montevidéu, Buenos Aires, 
Valparaíso (AQUINO, 2000, p. 297).
De acordo com esta citação, as contradições do liberalismo latino-americano 
eram moldadas e estavam destinadas a alimentar o capitalismo central. A con-
centração de terras era evidente. O século XIX evidenciou avanços sobre as terras 
da Igreja e das comunidades agrícolas. A princípio, os liberais viam nas comu-
nidades um símbolo de atraso, o que os levou a dividir as terras comunais em 
pequenas propriedades familiares, as quais foram incorporadas pelos latifúndios, 
fator que levava o indígena a um quadro de servidão por dívidas. Os latifúndios 
que exploravam essa mão de obra estavam vinculados a uma produção para o 
mercado externo. Por essas características, podemos dizer que o neocolonialismo 
encontrou, na América Latina, um campo propício para o seu desenvolvimento. 
O período de consolidação dos Estados nacionais, também conhecido como 
neocolonialismo latino-americano, foi marcado pela incorporação da região ao 
capitalismo mundial. Caracterizou-se ainda por transformações que, de forma 
mais intensa ou não, modernizaram a infraestrutura e inauguraram os pilares 
da industrialização na primeira metade do século XX. Algumas dessas mudan-
ças foram retratadas por Chasteen: 
A FORMAÇÃO E CONSOLIDAÇÃO DOS ESTADOS NACIONAIS
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IVU N I D A D E154
Ocorreram mudanças verdadeiras e maciças, que afetaram a vida de 
todos, ricos e pobres, urbanos e rurais. As grandes cidades latino-ame-
ricanas perderam as pedras de cantaria coloniais, as paredes do embo-
ço branco e os telhados de telhas vermelhas, tornando-se metrópoles 
modernas, comparáveis aos gigantes urbanos de qualquer parte (...). 
As ferrovias multiplicaram-se fabulosamente, assim como as exporta-
ções de açúcar, café, cobre, cereais, nitrato, estanho, cacau, borracha, 
bananas, carne, lã e tabaco. As instalações portuárias totalmente ina-
dequadas de Buenos Aires e outras partes foram substituídas. Os pro-
prietários rurais e a classe média urbana prosperaram, mas a vida da 
maioria rural latino americana melhorou pouco, se é que melhorou. 
Pelo contrário, o capitalismo agrário devastou o interior e destruiu mo-
dos de vidas tradicionais, empobrecendo a população rural espiritual 
e materialmente. E o progresso trouxe uma nova espécie de imperia-
lismo da Grã-Bretanha e dos Estados Unidos. Os mesmos países que 
serviriam de modelo para o Progresso da América Latina ajudaram a 
estabelecê-lo ali e, às vezes, foram seus praticantes diretos. A influência 
estrangeira foi tão disseminada e poderosa que os historiadores latino-
-americanos chamam os anos de 1880 a 1930 de seu período neocolo-
nial (CHASTEEN, 2001, p. 149). 
Dessa forma, grandes centros, como Rio de Janeiro, Salvador, Buenos Aires, 
Lima, Caracas, Cidade do México, Havana, para não citar outras, se desenvol-
veram e muitas delas adotaram traçados semelhantes aos das grandes cidades 
europeias. Tal mudança urbana acompanhou os anseios das elites liberais, que 
buscavam imitar a arquitetura europeia e norte-americana. Em contraste, o 
interior não se desenvolveu, mesmo com a capitalização do campo, a qual, na 
realidade, somente foi aplicada em áreas exportadoras. As linhas férreas ligavam 
as regiões produtoras aos portos e não eram construídas para ligar uma cidade a 
outra. Por isso, não houve integração nacional, já que a modernidade ficou res-
trita apenas a alguns núcleos centrais.
A Consolidação dos Estados Nacionais (1860-1890)
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
155
Se antes espanhóis e portugueses peninsulares desembarcavam com 
seus ares irritantes de superioridade e suas nomeações reais firmemen-
te na mão, agora era um mister de língua inglesa que chegava com ares 
semelhantes de superioridade e somas vultuosas para emprestar ou in-
vestir em bancos, ferrovias, ou instalações portuárias (...) Em última 
instância, o próprio status e prosperidade das pessoas respeitáveis es-
tavam associados aos forasteiros e eles sabiam disso. Noventa por cen-
to de sua riqueza advinha do que vendiam nos mercados europeus e 
norte-americanos,e suas próprias pretensões sociais, seu próprio ar de 
superioridade em casa advinham da tez portuguesa, dos cristais austrí-
acos, da familiaridade dos filhos com Paris. O neocolonialismo, além 
de uma relação entre países, também era um fenômeno interno e fami-
liar, na América Latina (CHASTEEN, 2001, p. 150).
A imigração de europeus empobrecidos para o novo mundo tornou-se uma prática 
recorrente. Como afirma Chaunu (1983), tal movimento acontecia porque esses imi-
grantes tinham esperanças de construir uma vida próspera no continente americano. 
A América Latina foi profundamente modificada na sua estrutura huma-
na. Era um continente índio e negro até o meio do século XIX. Depois, o 
fluxo da imigração branca submergiu a sua zona temperada: a Argentina, 
o Uruguai e o Brasil receberam uma massa de imigrantes que modifi-
cou a natureza das suas populações. O fluxo de imigrantes que deixou 
a Europa a partir de 1850 dirigiu-se sobretudo para os Estados Unidos 
(26.180.000 fixam-se aí entre 1820 e 1930) e depois para a América Lati-
na (cerca de 6.000.000). Diferentemente da ida para os Estados Unidos, 
esta imigração é essencialmente proveniente dos países latinos do sul da 
Europa, menos da Espanha e Portugal que da Itália, a qual forneceu os 
maiores batalhões. Esta segunda conquista humana da América Latina 
pela Europa afeta em cheio os países temperados: a Argentina, o Uru-
guai, o Sul do Brasil e, em menos escala, o Chile, precisamente a fração 
do Continente que a conquista ibérica, ávida de metais e de especulações 
agrícolas, negligenciara (CHAUNU, 1983, p. 101). 
A FORMAÇÃO E CONSOLIDAÇÃO DOS ESTADOS NACIONAIS
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IVU N I D A D E156
Mapa 08: Mapa da imigração na América Latina / Fonte: Chaunu (1983, p. 102).
A Consolidação dos Estados Nacionais (1860-1890)
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
157
Os regimes liberais, em sua maioria, comemoram essas ondas migratórias de 
fins do século XIX, pois acreditavam que esse movimento teria forças suficien-
tes para “embranquecer” os países. Aliás, os discursos pregados pelo liberalismo 
político se esvaíram, mantendo apenas o seu conteúdo econômico por intermédio 
da implantação de governos corruptos e mesmo ditatoriais. Tais elites usavam a 
estrutura estatal no intuito de defender os seus interesses, já que o patrimonia-
lismo foi uma das marcas deixadas pela herança colonial ibérica.
A exportação de matérias-primas realizadas por grande parte das economias 
latino-americanas propiciou a ampliação da burocracia e do setor de serviços: 
funcionários públicos bem como profissionais liberais (médicos, advogados, 
engenheiros etc) se resguardavam para usufruir de parte da riqueza oriunda do 
solo de seus países. 
O liberalismo político teve como base o discurso liberal clássico, mas foi 
acrescido por debates entre o pensamento radical e reformista durante o sé-
culo XIX. As críticas resultantes dessas discussões destacavam a necessidade 
de contemplar com direitos políticos todos os grupos sociais, rompendo, 
assim, com o elitismo defendido pela tradição liberal clássica. O resultado 
desse processo foi a formação da liberal-democracia, sistema político que 
fundamentou os Estados democráticos ao longo do século XX. O liberalis-
mo econômico, por sua vez, visa a liberdade na aquisição de bens, garanti-
do pelo direito à propriedade privada.
Fonte: a autora.
A FORMAÇÃO E CONSOLIDAÇÃO DOS ESTADOS NACIONAIS
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IVU N I D A D E158
A grande demanda de exportações de fins do século XIX e primeiras déca-
das do XX fez com que os países se dedicassem a produtos específicos: no Brasil, 
principalmente o café, a borracha e o cacau; no México, prata, açúcar, café e 
petróleo; no Peru, o guano ; em Cuba, o açúcar; na Bolívia, o estanho; no Chile, 
o nitrato, o cobre e o ferro; na Bolívia, o estanho; na Argentina, trigo, carne e 
couros; na América Central, as bananas e o café e assim por diante. Sem exce-
ção, todos os países experimentaram, cada qual com o seu sabor, o grande fluxo 
de exportações do período. 
O crescimento das exportações levou cada vez mais os grandes proprietá-
rios a adquirirem novos lotes, geralmente oriundos de camponeses, indígenas ou 
pequenos proprietários, os quais se sentiam pressionados em razão da hipervalo-
rização das terras, ou sendo expulsos legal ou ilegalmente de suas propriedades. 
Portanto, podemos afirmar que parte significativa dos latifúndios estava nas mãos 
de estrangeiros ou de grandes companhias. 
Não raro, os trabalhadores de monoculturas ou mineração ganhavam salá-
rios baixos, sem direitos e em péssimas condições. Não havia mais como viverem 
independentes desse sistema, pois a concentração de terras nas mãos de poucos 
impedia o acesso ao solo que antes era responsável por garantir-lhes a subsistência. 
A associação das elites governamentais a fraudes ou por interesses fazia com que 
as autoridades fechassem os olhos diante desse quadro de exploração estrangeira. 
Um exemplo foi a United Fruit Company, considerada a maior exportadora 
latino-americana de bananas, concentrando suas atividades principalmente na 
América Central. Sua grande projeção econômica deu margem para que atuasse 
incisivamente na política, depondo ou nomeando governantes em consonância 
com os seus próprios interesses. Agia subornando opositores para que derru-
bassem presidentes julgados inconvenientes pela exportadora. 
A Consolidação dos Estados Nacionais (1860-1890)
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
159
Mapa 09: Economia de exportação e investimentos estrangeiros na América Latina (início do século XX)
Fonte: Atlas da História do Mundo (1995, p. 222).
A FORMAÇÃO E CONSOLIDAÇÃO DOS ESTADOS NACIONAIS
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IVU N I D A D E160
Apesar disso, podemos dizer que a política latino-americana na transição do 
século XIX para o XX caracterizou-se por momentos estáveis que contrastavam 
com um conjunto de golpes e mandonismos locais. Alimentados pelo comércio 
exterior, muitos países equiparam forças armadas que mantiveram os oposito-
res afastados do cenário de disputas políticas.
Um exemplo foi a ditadura de Porfírio Diaz (1876-1911), no México. Seu 
governo, mais conhecido como Porfiriato, sustentava um conselho técnico res-
ponsável por administrar e estimular a economia exportadora. As classes médias 
foram inclusas no projeto socioeconômico do Estado, uma vez que o governo con-
tava com generosos recursos para mantê-las em uma zona de conforto. Algumas 
concessões foram feitas para grupos estrangeiros, como o consentimento dado 
à empresa norte-americana Standart Oil de explorar o petróleo que abastecia a 
industrialização nos EUA. 
Os camponeses foram alijados desse processo. Estavam proibidos de participar 
da política, pois havia restrições censitárias e a exigência de serem alfabetizados, 
requisitos que a maioria esmagadora do campesinato não conseguia cumprir. A 
corrupção e manipulação dos votos concedia ao Porfiriato uma imagem “demo-
crática” e simultaneamente auxiliava na sua perpetuação no poder.
Mesmo com essa estrutura, Porfirio Diaz não conseguiu industrializar o 
México, o qual permaneceu atrelado aos laços de dependência característicos da 
herança colonial e a reboque de uma economia dependente do exterior, sobre-
tudo dos grandes centros europeus e dos Estados Unidos. 
Em alguns países, como o México, Argentina e o Brasil, o sistema embrio-
nário da industrialização ocorreu no início do século XX, principalmente pela 
impossibilidade de grandes economias oferecerem seus produtos na época da 
Primeira Guerra Mundial(1914-1918) pelo fato de esses países estarem envolvi-
dos no conflito. Tal contexto propiciou o surgimento da chamada industrialização 
por substituições de importações, todavia esse processo já anunciava o des-
moronamento do sistema nacional ou pelo menos a criação de certa autonomia 
das economias latino-americanas. Como nos diz Stein (1976, p. 106), “não será 
assim, surpreendente constatar que a América Latina não logrou iniciar a moder-
nização de sua economia via industrialização um século após a independência”. 
Os Estados Unidos em Fins do Século XIX
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
161
A formação bem como a consolidação dos Estados nacionais latino-a-
mericanos, durante os séculos XIX e XX, trouxeram, no seu bojo, traços de 
exclusão e dependência em meio a um cenário que prometia o oposto dessas 
características. Esse quadro de contradições dará suporte para a eclosão de 
insurreições nacionalistas e anti-imperialistas que sacudiram a América Latina 
durante todo o século XX. 
OS ESTADOS UNIDOS EM FINS DO SÉCULO XIX
A primeira metade do século XIX marcou para os Estados Unidos um momento 
de prosperidade econômica, expansão territorial e crescimento populacional, em 
razão dos fluxos migratórios ao longo do século XIX e das taxas crescentes de 
natalidade. Todos esses aspectos contribuíram para formar uma cultura estadu-
nidense diversa, vista como símbolo do progresso, da expansão de oportunidades 
e do local onde o espírito capitalista protestante conseguiu transformar a socie-
dade agrária do século XVIII em uma potência industrial durante o século XIX.
O período posterior à Guerra de Secessão (1861-1865) foi marcado por 
amplo desenvolvimento econômico. O término do conflito acelerou a industria-
lização e estimulou a necessidade de interligar as novas terras ao Oeste por meio 
de linhas férreas. Para se ter uma ideia, durante a década de 1860, foi constru-
ída uma imensa ferrovia que ia da costa do Atlântico a do Pacífico. Tal fator era 
de suma importância para o escoamento da produção, bem como para a expan-
são fabril, sobretudo nos setores de metalurgia e siderurgia.
A FORMAÇÃO E CONSOLIDAÇÃO DOS ESTADOS NACIONAIS
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IVU N I D A D E162
O fim da Guerra de Secessão incentivou a mecanização fabril, fator que bene-
ficiou economicamente os industriais que dispunham de capitais. Também se 
tornou recorrente a fusão de empresas, elemento que fortaleceu a expansão de 
grandes grupos industriais, dispostos a reconstruírem as áreas destruídas pela 
guerra e a adquirirem pequenas empresas, estimulando investimentos em tec-
nologia e a procura por mercados externos.
Do quinto lugar como potência industrial, em 1840, os EUA, que até 
a Guerra de Secessão foram um país de pequenos negócios, saltaram 
para o quarto em 1860 e para o segundo em 1870, quando o processo 
de concentração e centralização da economia, impulsionado pelo crack 
de 1873, começou a produzir novas formas de associação empresarial 
– pools, trustes, cartéis e sindicatos – com o objetivo de monopolizar 
mercados e fontes de matérias-primas, bem como controlar preços e 
exportar capitais. Em tais circunstâncias, com as forças produtivas do 
capitalismo desbordando os limites do estado nacional, a América Lati-
na, agrícola e atrasada, se configurava como a continuidade natural do 
seu espaço econômico (BANDEIRA, 1998, p. 24).
A Guerra de Secessão (1861-1865) foi um confronto entre os estados do nor-
te e do sul dos Estados Unidos. Conforme analisamos anteriormente, ambas 
as regiões possuíam características socioeconômicas distintas. De um lado, 
os sulistas defendiam a permanência do latifúndio como unidade de produ-
ção e a continuidade da mão de obra escrava. Por outro, os habitantes do 
norte, cuja principal função econômica era o desenvolvimento industrial, 
descartavam a escravidão como caminho para o crescimento econômico. 
A divergência de projetos para orientar o progresso econômico no país foi 
fundamental para a eclosão do conflito. O término da guerra civil foi mar-
cado pela vitória do norte, garantindo a emancipação dos escravos e a he-
gemonização econômica da “União”, seguindo o modelo socioeconômico e 
político da burguesia industrializante do norte.
Fonte: a autora.
Os Estados Unidos em Fins do Século XIX
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
163
Desse modo, a ampliação do capitalismo nacional estadunidense estava intima-
mente vinculada à expansão territorial. Quanto mais terras fossem incorporadas, 
mais matérias-primas iriam abastecer o setor industrial norte-americano, mais 
empregos seriam gerados e mais imigrantes seriam atraídos para fornecerem sua 
mão de obra e, assim, contribuir com o crescimento desse segmento.
Conscientes de seu desenvolvimento, os estadunidenses assistiram a uma 
conjuntura favorável ao seu crescimento durante o século XIX. Por isso, ini-
ciaram o século XX como uma das superpotências mundiais e utilizaram esse 
rótulo para exercer hegemonia política e econômica em grande parte do conti-
nente americano.
“Ao eclodir a Guerra de Secessão, o crescimento econômico dos Estados 
Unidos havia sido estimulado (...) a Guerra de Secessão abrira o caminho 
para a industrialização norte-americana”.
Fonte: Stein (1976, p. 101).
A FORMAÇÃO E CONSOLIDAÇÃO DOS ESTADOS NACIONAIS
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IVU N I D A D E164
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta unidade, foi possível conhecer o processo de definição dos territórios e 
da soberania dos países recém-emancipados, bem como de suas relações com o 
mundo exterior, de modo a outorgar-lhes uma identidade nacional que foi cons-
truída ao longo desse processo histórico.
Além disso, compreendemos que as primeiras décadas foram marcadas pela 
disputa interna entre diferentes elites regionais, econômicas e políticas, incluindo 
a onipresença de algumas potências estrangeiras, como os Estados Unidos. 
Também foi possível explorar os processos de consolidação dos Estados latino-a-
mericanos e como, na dinâmica internacional, figuravam os países exportadores 
de matéria-prima e importadores de produtos manufaturados, comandados por 
oligarquias locais. Por fim, apreciamos a estabilização dos Estados Unidos como 
uma superpotência industrial em fins do século XIX. O objetivo foi compreen-
der que, apesar da conjuntura, cada país tem suas particularidades, mesmo pelo 
fato de nutrirem pontos em comum.
A configuração da América atual, rica em diversidades, culturas, histórias, 
ambientes, povos e línguas, é fruto de seu passado colonial, bem como está além 
dos movimentos pela independência, da formação e consolidação dos territórios 
nacionais, momentos nos quais cada país estruturou sua economia, governo e 
sociedade. Em meio a esses processos, muitas nações obtiveram êxitos e outras 
não foram tão bem sucedidas.
Como vimos, os processos de formação e consolidação dos Estados nacio-
nais nas Américas não trouxeram transformações profundas, pois se constatou 
que, ao longo do século XX, novos mecanismos ideológicos, arquitetados pelos 
Estados Unidos, possibilitaram o continuísmo do modelo colonial baseado no 
abastecimento do mercado externo com matérias-primas provenientes do pró-
prio território americano.
Espero que você tenha gostado de aprender um pouco mais sobre a forma-
ção e consolidação dos Estados nacionais latino-americanos! Estude, pesquise, 
questione e explore mais sobre o assunto!
165 
Muitas das análises correntes sobre o imperialismo tendem a mostrá-lo como força ex-
tremamente poderosa, que a tudo domina e subordina. Para essas análises, o centro 
econômico e determinante de todos os acontecimentos está fora da América Latina, eesta, humilde e passiva, não tem outra opção senão ceder e obedecer.
Diversas e variadas críticas têm sido feitas a essa interpretação. Do ponto de vista his-
tórico, como entender então as revoluções cubana e nicaraguense? Como esses paí-
ses puderam ‘livrar-se’ do domínio do imperialismo norte-americano? Se existem forças 
externas que tudo determinam, não há como fugir a seus efeitos. Se o imperialismo 
norte-americano tomou e continua tomando posições claramente contrárias a essas re-
voluções, ‘eles’ não teriam ‘permitido’ nem mesmo que ‘elas’ acontecessem. É evidente 
também que o imperialismo tem tentado por todos os meios derrubar os regimes que 
lhes são contrários, mas o êxito não tem sido o único resultado.
Estou me referindo a essas revoluções – que não pretendo analisar aqui – como tendo 
um evidente caráter anti-imperialista, porque nesses dois países, Cuba e Nicarágua, a 
penetração dos interesses imperialistas e, mais que isso, a intervenção armada de forças 
norte-americanas atingiu níveis raras vezes observados na América Latina. Uma aborda-
gem do tema da formação desses Estados nacionais pode trazer elementos interessan-
tes para a reflexão sobre a problemática das relações entre o imperialismo e as forças 
sociais internas.
Ao analisar as relações entre as forças econômico-políticas externas e internas, não se 
pode reduzi-las a uma simplificação mecânica ou a uma visão unilateral dos fenômenos. 
De modo geral, durante o século XIX, os interesses ingleses foram os predominantes na 
América Latina, enquanto, no século XX, os capitais norte-americanos suplantaram os 
ingleses e tornaram-se hegemônicos. Mas esses predomínios não foram iguais em todos 
os países, nem se fizeram sem oposições internas e sem divergências de interesses.
Um exemplo interessante é o do Brasil no começo do século XIX. Tendo em vista as rela-
ções econômicas entre a Inglaterra e Portugal, com a subordinação dos interesses por-
tugueses aos ingleses, estes obtiveram grande facilidade para estabelecer tratados de 
comércio e ‘amizade’ com o Brasil antes mesmo da independência política. Com a Espa-
nha, a Inglaterra mantinha relações de inimizade secular, e as tentativas de invasão de 
Buenos Aires em 1806 e 1807 mostraram esse antagonismo. Ainda que depois da inde-
pendência da América espanhola houvessem sido estabelecidos tratados de comércio e 
‘amizade’ com os novos países independentes, esses tratados nunca tiveram as mesmas 
facilidades que as encontradas no Brasil.
Passando a discutir a questão da formação do Estado Nacional e das forças econômicas 
e políticas externas, temos algumas questões centrais a serem apresentadas. Os Estados 
nacionais mais bem organizados, que traduziam assim interesses de grupos econômi-
cos homogêneos, puderam afirmar sua soberania sem fazer muitas concessões. Mas, 
quando tomamos países como Cuba e Porto Rico, no Caribe, ou Nicarágua, na América 
Central, a situação muda de figura.
Fonte: PRADO, M. L. A formação das nações latino-americanas. 11. ed. São Paulo: Atu-
al, 1994, p. 57-58.
1. A formação dos Estados nacionais na América Latina não trouxe consigo a ideia 
de pertencimento a uma “nação”. A partir da leitura desta unidade, escreva so-
bre a fragilidade das tentativas de construção dos Estados nacionais sob os 
cuidados de um governo central. 
2. O período de consolidação dos Estados nacionais também ficou conhecido 
como neocolonialismo latino-americano. A partir da leitura desta unidade, ca-
racterize esse período.
3. Durante todo o século XIX, os Estados Unidos assistiram a uma conjuntura fa-
vorável a seu desenvolvimento. A partir dessa assertiva, caracterize os Estados 
Unidos de fins do século XIX.
4. Sobre o “catecismo pátrio”, método utilizado pelo ditador paraguaio José Gaspar 
Rodriguez de Francia, é correto afirmar que:
a) Era um misto de poder divino com nuances de sentimentos de amor à pátria.
b) Era uma forma de o ditador justificar o seu poder absoluto, já que acreditava que 
os paraguaios ainda não estavam prontos para um governo participativo.
c) Era uma forma de o ditador justificar o seu poder republicano, já que acreditava 
que os paraguaios ainda estavam prontos para exercerem a democracia.
d) Era uma forma de o ditador justificar o seu poder monárquico, já que acreditava 
que os paraguaios ainda não estavam prontos para um governo participativo.
e) Era uma forma de o ditador justificar o seu poder teocrático, já que acreditava 
que os paraguaios ainda não estavam prontos para um governo participativo.
5. No período pós-independência, vários confrontos sacudiram a região sul-ameri-
cana. Tais conflitos ocorreram, geralmente, por questões territoriais. Assinale a 
alternativa que contenha os confrontos dessa conjuntura:
a) Revolta dos Cravos, Guerra do Ópio e Revolução Cultural.
b) Revolução Mexicana, Guerra de Secessão e Guerra de Fronteiras.
c) Guerras Púnicas, Guerra do Peloponeso e Guerra dos Trinta Anos.
d) Revolução Mexicana, Guerra de Secessão e Revolução Chilena.
e) Guerra da Confederação Peruano-Boliviana, Guerra do Pacífico e Guerra do Chaco.
167 
6. A Guerra de Secessão (1861-1865) foi um confronto entre os estados do norte e 
os do sul dos Estados Unidos. Sobre esse conflito, é corretor afirmar que:
a) Os sulistas defendiam a permanência do latifúndio como unidade de produção 
e a continuidade da mão de obra escrava. 
b) Os nortistas defendiam a permanência do latifúndio como unidade de produção 
e a continuidade da mão de obra escrava.
c) Os sulistas, cuja principal função econômica era o desenvolvimento industrial, 
descartavam a escravidão como caminho para o crescimento econômico.
d) Os nortistas, cuja principal função econômica era agroexportadora, apoiavam a 
escravidão como caminho para o crescimento econômico. 
e) Os nortistas, cuja principal função econômica era alimentar os mercados de es-
cravos, apoiavam a escravidão como caminho para o crescimento econômico. 
MATERIAL COMPLEMENTAR
Título: Maldita Guerra: nova história da Guerra do Paraguai
Autor: Francisco Doratioto
Editora: Companhia das Letras
Sinopse: trata-se de uma obra que desvenda muitos mitos da Guerra do 
Paraguai, além de defender que a guerra seria essencialmente produto da 
formação e definição do caráter dos Estados nacionais.
Título: A Guerra de Secessão (1861-1865)
Autora: Farid Ameur
Editora: Edições 70
Sinopse: retrata a guerra civil norte-americana, destacando a formação 
da nação americana na segunda metade do século XIX, bem como as 
divergências existentes entre nortistas e sulistas.
Título: Marcha dos Heróis
Ano: 1959
Sinopse: filme inspirado em fatos reais com base na Guerra de 
Secessão. O longa-metragem conta a história de uma tropa de 
soldados da União que vai até o território sulista para destruir a 
fortaleza de Newton Station. 
Comentário: apesar da narração heroica, o filme retrata o contexto 
da Guerra de Secessão (1861-1865), conflito ocorrido entre os 
estados do norte e estados do sul dos Estados Unidos.
Material Complementar
MATERIAL COMPLEMENTAR
Neste site, está hospedado o documentário “A Saga dos EUA – Guerra Civil”, o qual 
retrata o confronto entre nortistas e sulistas que sacudiu os Estados Unidos durante 
os anos de 1861 a 1865. Convido você a prestigiar essa produção que mescla narrativa 
histórica com cenas cinematográficas! Vamos assistir?!
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=TlW_mJcWTIw>. Acesso em: 02 
out. 2015.
Título: Conspiração Americana
Ano: 2010
Sinopse: o filme traz como pano de fundo a Guerra de Secessão e o 
assassinato de Abraham Lincoln em 1865, por meio do qual sete homens 
e uma mulher foram presos e acusados de conspiração para matar o 
presidente.
Comentário: um material importante para compreender o assassinato 
do então presidente Abraham Lincoln logo após o fim da Guerra de 
Secessão, em 1865.
https://www.youtube.com/watch?v=TlW_mJcWTIw
U
N
ID
A
D
E V
Professora Dra. Verônica Karina Ipólito
SÉCULO XX: 
INTERNACIONALIZAÇÃO DA 
ECONOMIAE TRANSFORMAÇÕES 
SOCIAIS
Objetivos de Aprendizagem
 ■ Compreender as mudanças que ocorreram nas nações americanas 
em princípios do século XX.
 ■ Analisar as transformações ocorridas entre o período conhecido 
como Grande Depressão até a Segunda Guerra Mundial.
 ■ Conhecer os movimentos revolucionários de primórdios da Guerra 
Fria na América Latina.
 ■ Entender a instalação de ditaduras militares na América Latina.
 ■ Avaliar o poder de influência estadunidense e as relações 
continentais.
 ■ Compreender o período de redemocratização, globalização e o 
neoliberalismo na América Latina.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
 ■ As nações americanas em princípios do século XX (1914-1929)
 ■ As transformações ocorridas entre a Grande Depressão à Segunda 
Guerra Mundial (1929-1945)
 ■ Os movimentos revolucionários de primórdios da Guerra Fria na 
América Latina (1945-1961)
 ■ As transformações ocorridas com o fim da Guerra Fria na América 
Latina (1961-1989)
 ■ O poder de influência estadunidense e as relações continentais
 ■ Redemocratização, globalização e neoliberalismo (1989-2000)
INTRODUÇÃO
A quinta e última unidade do livro explora as transformações ocorridas nas 
Américas durante o século XX. Infelizmente, não temos condições de abordar 
a história de todos os países ao longo desse período, contudo foi realizado um 
esforço para concentrar informações e reflexões sobre esse conteúdo.
O primeiro objetivo é levá-lo(a) a refletir sobre as mudanças que ocorreram 
nas nações americanas em princípios do século XX. Em seguida, analisaremos 
as transformações ocorridas entre o período conhecido como Grande Depressão 
até o término da Segunda Guerra Mundial. Posteriormente, conheceremos os 
movimentos revolucionários que ocorreram em princípios da Guerra Fria na 
América Latina. Na sequência, entenderemos a instalação e o enraizamento de 
ditaduras militares no continente americano. Após isso, serão avaliados o poder 
de influência estadunidense e as relações continentais.
 Subsequentemente, você será convidado(a) a analisar o período de rede-
mocratização, de globalização e desenvolvimento do neoliberalismo na América 
Latina. O objetivo é compreender a ingerência direta ou indireta dos Estados 
Unidos sobre a América Latina na maior parte do século XX. Entretanto as décadas 
finais desse século assistiram um revigoramento de movimentos sociais, tama-
nha a pressão que exerceram por uma luta pelo desenvolvimento autônomo e 
contra a desigualdade social. Penso que, se você compreender as transformações 
ocorridas nas Américas ao longo do século XX, poderá acompanhar melhor as 
discussões sócio-políticas ocorridas atualmente.
A intenção do conteúdo abordado nesta unidade é de conduzi-lo(a) a uma 
melhor compreensão e entendimento da História da América. Apesar disso, 
certamente haverá momentos nos quais você precise de materiais extras para 
auxiliá-lo(a). Por isso, a consulta de materiais diversos, tais como filmes e livros, 
é de extrema relevância para enriquecer ainda mais os seus conhecimentos.
Vamos lá?!
Uma excelente leitura a você!
Introdução
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
173
Figura 09: Greve geral realizada em 1969 como forma de protesto contra as decisões 
políticas e econômicas da ditadura militar em Córdoba, na Argentina
©
W
ik
im
ed
ia
 C
om
m
on
s
SÉCULO XX: INTERNACIONALIZAÇÃO DA ECONOMIA E TRANSFORMAÇÕES SOCIAIS
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
VU N I D A D E174
SÉCULO XX: INTERNACIONALIZAÇÃO DA ECONOMIA E 
TRANSFORMAÇÕES SOCIAIS
AS NAÇÕES AMERICANAS EM PRINCÍPIOS DO 
SÉCULO XX (1914-1929)
O regime de exceção na Argentina foi implantado em 1966 e permaneceu até 
1973, se configurando em um dos mais violentos da América Latina, com a esti-
mativa de 30 mil civis mortos.
Conforme analisamos na unidade anterior, os recém-formados Estados 
latino-americanos foram marcados por duas características: a permanência das 
relações de trabalho herdadas do período colonial e o ajustamento das econo-
mias desses países aos interesses e determinações da lógica de circulação de 
produtos do capitalismo no final do século XIX. Nesse contexto, novos vínculos 
de dependência se formaram, sobretudo com os Estados Unidos, e em menor 
medida com a Inglaterra. 
As Nações Americanas em Princípios do Século XX (1914-1929)
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
175
Pelo fato de não haver mais a intervenção da Espanha, as elites locais se 
mobilizaram de forma a buscarem mais espaço no mercado mundial. As condi-
ções eram propícias para atingir esse objetivo: mão de obra abundante e barata, 
fartas terras próprias para o cultivo, produtos agrícolas de grande aceitação e ins-
tituições políticas anêmicas. Nessas condições, as novas economias atendiam às 
necessidades dos principais centros do Ocidente: a Inglaterra e os Estados Unidos.
Empresas das duas potências instalaram-se na América Latina, a qual fornecia 
matérias-primas e consumia os produtos industrializados, porém esse conjunto 
de regras e princípios não impediu que alguns países conhecessem um robusto 
crescimento econômico no período.
Um dos casos mais extremos de expansão econômica, entre fins do século 
XIX até as primeiras décadas do século XX, ocorreu na Argentina. Composta 
de comerciantes e criadores de gado, a elite de Buenos Aires desejava ampliar as 
exportações, expandir o mercado interno e a oferta de mão de obra. Empregou, 
com esse objetivo, uma prática econômica de incentivo à produção e firmou acor-
dos internacionais que ampliavam a sua participação no mercado de grãos e no 
fornecimento de carne dos pampas argentinos para o mercado internacional. 
Tal política econômica foi bem sucedida. Assegurou o fortalecimento da pro-
dução nacional de cereais (trigo e milho, principalmente) e o aprimoramento da 
pecuária (ovinos e bovinos), ainda entre as décadas de 1870 e 1880. Ao mesmo 
tempo, a Argentina acolhia um fluxo significativo de imigrantes, especialmente 
italianos, os quais aumentaram em quatro vezes a população entre os anos de 
1869 e 1914. Esse cenário possibilitou à Argentina tornar-se uma das maiores 
economias do mundo, no início do século XX, a ponto de ser considerada como 
uma das fortes candidatas ao cargo de futura potência internacional. 
O processamento de matérias-primas e a mecanização da agricultura fez 
progredir a capacidade de produção e estimular a entrada de recursos e tecno-
logia estrangeira no país. A intensificação e disponibilidade de capitais tornaram 
possível a criação de fábricas e um avanço significativo no setor industrial, na 
primeira década do século XX. 
Figura 10: Multidão reunida em Wall Street após a crise no mercado 
de ações em outubro de 1929
©
W
ik
im
ed
ia
 C
om
m
on
s
SÉCULO XX: INTERNACIONALIZAÇÃO DA ECONOMIA E TRANSFORMAÇÕES SOCIAIS
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
VU N I D A D E176
Mudanças foram sentidas também no âmbito social. A modernização eco-
nômica deu condições para o crescimento do operariado, o qual se organizou 
em federações e sindicatos que contavam com influência anarquista, socialista 
e sindicalista revolucionária. Tais instituições lutavam basicamente pela amplia-
ção de salários e melhores condições de trabalho. 
A modernização, contudo, era limitada, uma vez que se concentrava na 
intensificação da produção e movimentação de mercadorias as quais não eram 
acompanhadas por renovação tecnológica ou melhorias sociais. A legislação tra-
balhista criada nesse período não foi suficiente para garantir estabilidade aos 
trabalhadores, o que demonstrou a pouca vontade das elites em dividir os lucros 
obtidos com a expansão econômica.Esse crescimento, no entanto, era dependente de países ricos, uma vez que 
a economia argentina tinha como base de sustentação a agropecuária exporta-
dora. A quebra da Bolsa de Valores de Nova York, ocorrida em 1929, desencadeou 
uma crise financeira sem precedentes, o que impediu de forma brusca o cres-
cimento da maioria dos países condicionados aos Estados Unidos. A redução 
do mercado internacional, 
por sua vez, afetou dire-
tamente a Argentina, que 
sofreu com as bruscas que-
das na exportação, fator 
que abalou profundamente 
sua economia (GAGGERO; 
MANTIÑAN; GARRO, 
2004).
A queda da Bolsa de Valores de Nova York é parte integrante da Crise de 
1929 ou Grande Depressão e causou muitos prejuízos tanto para investi-
dores como para pessoas que dependiam direta ou indiretamente da eco-
nomia. Durante a década de 1920, os americanos compraram muitas ações 
de empresas. Repentinamente, essas ações começaram a declinar, gerando 
desespero nos investidores que queriam vendê-las, sem, no entanto, não ter 
ninguém para comprá-las. Esse cenário caótico desembocou na chamada 
“Quinta-feira negra” (24/10/1929), momento em que a bolsa sofreu a maior 
baixa da história. 
Fonte: a autora.
As Nações Americanas em Princípios do Século XX (1914-1929)
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
177
O México, por sua vez, sofreu com as disputas políticas entre liberais e conserva-
dores durante quase todo o século XIX. Por um lado, os conservadores, formados 
por grandes proprietários rurais, representavam os interesses da Igreja. De outro 
lado, estavam os liberais, defensores de um projeto que incluía a liberdade de 
comércio, de expressão e igualdade jurídica. Além disso, se opunham aos lati-
fúndios, declarando-se favoráveis a uma extensa reforma agrária, bem como à 
modernização no trabalho e na produção. 
Tanto os liberais quanto os conservadores lutaram contra os Estados Unidos e 
amargaram uma derrota que resultou na perda de 40% do México em 1848. Dois 
anos mais tarde, os liberais chegaram ao poder e aprovaram uma Constituição em 
1857, que legitimava a laicidade do Estado mexicano, além de expropriar as ter-
ras indígenas e da Igreja. O intuito era criar um grupo de pequenos proprietários, 
objetivando inovar a agricultura e, desse modo, implantar o capitalismo moderno. 
Mesmo com essa iniciativa, a crise política de anos posteriores anulou a 
Carta Magna e fez com que a Igreja preservasse a sua força e suas propriedades. 
Em contraste, as aldeias indígenas foram paulatinamente eliminadas e suas ter-
ras, incorporadas aos latifúndios, ampliando o poderio político e econômico dos 
grandes proprietários rurais. 
SÉCULO XX: INTERNACIONALIZAÇÃO DA ECONOMIA E TRANSFORMAÇÕES SOCIAIS
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
VU N I D A D E178
No ano de 1876, Porfírio Diaz se tornou presidente, cargo que ocupou por 35 
anos seguidos, em um período que ficou conhecido como porfiriato. Tal regime 
destacou-se pela intensa concentração de terras, entrada de capitais estrangei-
ros e renovação dos meios de transportes e comunicação, além da inauguração 
de ferrovias em grande parte do território. 
O México de Porfírio integrava o quadro de divisão internacional do tra-
balho, processo pelo qual o país oferecia matérias-primas e comprava produtos 
industrializados, conservando um modelo baseado na concentração agrária, na 
articulação entre Igreja Católica e latifundiários, além da violência exercida con-
tra os movimentos camponeses. 
A abertura ao capital estadunidense, a ampliação do setor industrial e o 
estímulo das atividades mineradoras concederam ao México setentrional carac-
terísticas que o distinguiu do restante do país, principalmente da região central, 
onde os camponeses se mostravam mais ativos, e também do sul, área composta 
por aldeias indígenas que ainda mantinham as propriedades coletivas como base 
de sua subsistência. 
Trabalhadores, indígenas e camponeses não eram muito receptivos às medi-
das de controle social e repressões adotadas por Porfírio Diaz. De forma geral, 
os movimentos trabalhistas ao norte do país eram contidos por tropas federais. 
No restante do país, explodiam insurreições camponesas e indígenas duramente 
reprimidas pelos rurales, grupos que agiam nos campos de forma truculenta. 
O sistema eleitoral fraudulento mexicano garantia a perpetuação de Porfírio 
Diaz na presidência. Em 1910, Porfirio Diaz, então com 80 anos, se candida-
tou novamente às eleições. Francisco Madero, seu opositor político, conquistou 
grande apoio popular, fator que o levou à prisão, pois foi acusado pelas forças 
do porfiriato de incitação à rebelião. A prisão do opositor e um sistema eleito-
ral fraudulento deram a vitória a Porfírio. 
Figura 11: José de la Cruz Porfirio Díaz Mori (Oaxaca, 15 
de setembro de 1830 − Paris, 02 de julho de 1915)
©
W
ik
im
ed
ia
 C
om
m
on
s
As Nações Americanas em Princípios do Século XX (1914-1929)
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
179
Na imagem, Porfírio, que 
Governou o México em 1876-1911. 
A pintura em tela não foi bem suce-
dida, pois as honras militares estão 
no lado errado do uniforme. 
Após a eleição, Madero foi liber-
tado e decidiu exilar-se nos Estados 
Unidos, local em que escreveu o 
Plano de San Luis Potosí, documento 
em que conclamava os mexicanos a 
se rebelarem contra o governo porfi-
rista. Em 1910, uma série de levantes 
estourou por todo o país. Ao norte, 
uniram-se à causa madeirista o líder 
camponês Pancho Villa e o general 
Pacual Orozco. 
Villa se tornou um dos principais 
líderes da Revolução e se manteve ao 
lado de Madero durante toda a luta. 
Seu exército, organizado ao norte do 
país, resistiu bravamente até 1915. 
Figura 12: Os chefes da Divisão do Norte (Pancho Villa) e do Exército do Sul (Emiliano Zapata), 
acompanhados do general Urbina, Rodolfo Fierro, Rafael Buelna e outros, em 06 de dezembro de 1914, na 
Cidade do México.
©
W
ik
im
ed
ia
 C
om
m
on
s
SÉCULO XX: INTERNACIONALIZAÇÃO DA ECONOMIA E TRANSFORMAÇÕES SOCIAIS
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
VU N I D A D E180
O grande Pancho Villa foi recrutado pelos homens de Madero durante a 
Revolução Mexicana, tornando-se um temido general dos exércitos revo-
lucionários (...). Quando os emissários de Madero o visitaram, ele se deixou 
persuadir prontamente, principalmente porque era o único bandido local 
que desejavam recrutar para a causa (...). Sendo o próprio Pancho Villa um 
homem do povo, um homem honrado, e cuja posição no banditismo era 
exaltada com aquele convite, como poderia hesitar em colocar seus homens 
e suas armas a serviço da revolução? Bandidos menos eminentes podem 
ter aderido à causa da revolução por motivos muito semelhantes. Não por-
que compreendessem as complexidades da teoria democrática, socialista 
ou mesmo anarquista (...), mas porque a causa do povo e dos pobres era 
obviamente justa e porque os revolucionários demonstravam serem dignos 
de confiança através (...) do sacrifício e da devoção.
Fonte: Hobsbawm (2010, p. 137).
As Nações Americanas em Princípios do Século XX (1914-1929)
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
181
No sul do país, outra frente insurrecional foi montada. Comandada por Emiliano 
Zapata, um líder indígena, tal frente somou-se às forças oposicionistas da dita-
dura de Porfírio Diaz com o objetivo de retomar as terras indígenas que haviam 
sido expropriadas. Essa questão trouxe para o núcleo da revolução um debate 
sobre a terra e a importância de reorganizar as propriedades rurais no México, 
algo que não aparecia como ponto relevante no Plano de San LuisPotosí. A mul-
tiplicação dos levantes em todo o país impossibilitou a ação das tropas porfiristas, 
levando-o à renúncia e, posteriormente, ao exílio, em 1911. 
Na sequência, foi instalado um governo provisório até a realização de nova 
eleição. Madero saiu vitorioso no pleito, entretanto divergências conflitantes 
sobre a terra não agradavam a massa camponesa. O então presidente mostrava-
-se favorável a reforma agrária, mas não estava disposto a realizá-la de forma tão 
ampla como almejavam os setores insurgentes camponeses e indígenas. 
Alguns desentendimentos entre Zapata e Madero ficaram evidentes. Em 1911, 
Zapata difundiu o Plano Ayala, no qual afirmava que Madero não se importava 
com a reforma agrária e fomentava o prolongamento da luta. No norte do país, 
alguns anarquistas e grupos camponeses se reorganizaram e entraram em con-
fronto com as tropas federais.
Apesar desse cenário, os levantes não contribuíram para a deposição de 
Madero. O então presidente do México foi destituído e fuzilado por porfiris-
tas em 1913, os quais contavam com o apoio dos Estados Unidos. O retorno 
dos representantes de Porfírio ao poder marcou a existência de duas revoluções 
simultâneas: de um lado, a Revolução dos Liberais, comandada, nesse momento, 
por Venustiano Carranza, defendia a diversificação econômica e a aceleração do 
capitalismo no México; por outro, havia a Revolução Popular, sob a liderança 
de Villa e Zapata, a qual ambicionava a reforma agrária, a reorganização de alde-
amentos indígenas e a reelaboração nas relações trabalhistas. 
SÉCULO XX: INTERNACIONALIZAÇÃO DA ECONOMIA E TRANSFORMAÇÕES SOCIAIS
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
VU N I D A D E182
Em 1914, o novo porfirismo foi desbaratado, ou seja, dissipado, pela forte 
participação das massas trabalhadoras, tanto camponesas quanto operárias, des-
contentes com o regime político de então. Carranza passou a comandar as forças 
federais e deu início a um processo de constitucionalização do país. Com essa 
atitude, objetivava finalizar as lutas armadas e delegar à Assembleia Constituinte 
a responsabilidade pelos rumos que o país tomaria. Villa e Zapata entenderam 
que essa manobra iria derrotar as suas propostas, por isso, recusaram e perma-
neceram na luta. 
Um ano depois, as forças de Carranza derrotaram as tropas do norte e des-
falcaram as forças de Villa. Outras derrotas aconteceram nos meses posteriores, 
culminando com a rendição de Villa, em 1920. No sul, as tropas zapatistas resis-
tiram até 1919, momento em que Zapata foi assassinado. 
Dois anos antes, uma Constituição havia sido implantada. Era o resultado das 
demandas das revoluções populares de Villa e Zapata. Entre as suas principais 
propostas, havia a expropriação de terras da Igreja e a restrição de seu exército. 
Além disso, a Carta Magna de 1917 determinava que a utilização da terra devesse 
considerar o interesse público e permitia a distribuição de terras às comuni-
dades e cidadãos. Tal Constituição garantiu ainda alguns direitos trabalhistas, 
como o descanso semanal remunerado, a jornada máxima de trabalho, o direito 
de greve, o salário mínimo e a regulamentação do trabalho feminino e infan-
til. Tais características demonstram que esse documento foi a concretização dos 
anseios de setores populares em luta na Revolução Mexicana (CORREA, 1983).
As Transformações Ocorridas entre a Grande Depressão à Segunda Guerra Mundial (1929-1945)
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
183
AS TRANSFORMAÇÕES OCORRIDAS ENTRE 
A GRANDE DEPRESSÃO À SEGUNDA GUERRA 
MUNDIAL (1929-1945)
Além das mudanças ocorridas no início do século XX, surgiu entre os latino-
-americanos um sentimento de pertencimento à nação. Esse pensamento deu 
lugar às ideias que defendiam os elementos europeus como superiores. Desde 
princípios do século XX, houve uma valorização do mestiço como parte inte-
grante da estrutura étnica regional. Esse discurso atraiu a maioria da população 
como nunca o neocolonialismo havia feito. 
A apreciação do nacionalismo incentivou a formação de um discurso anti-
-imperialista, o qual tinha a capacidade de emocionar os latino-americanos 
diante do ressentimento à dominação estrangeira, sobretudo em relação às inter-
venções militares, às dívidas contraídas e à exploração trabalhista realizada por 
proprietários ou empresas estrangeiras. A luta em comum contra o imperialismo 
resultou em um senso de unidade, de integração a uma comunidade, ou seja, a 
uma nação. Tal identidade foi gestada como reação a invasões, humilhações e 
agressões empregadas por forças externas.
Conforme analisamos anteriormente, a Revolução Mexicana adotou um 
viés nacionalista, já que a força exercida pelos Estados Unidos forçou os mexi-
canos a adotarem a postura da luta armada, uma vez que os interesses do povo 
somente poderiam ser atendidos se os estrangeiros fossem contrariados, o que 
acabou ocorrendo. No entanto esse não foi o único caso: 
No final da década de 1920, fuzileiros navais norte-americanos trava-
ram uma guerra quente contra os guerrilheiros patriotas nicaraguen-
ses. O líder dos guerrilheiros, César Augusto Sandino, acusou os Es-
tados Unidos de “imperialismo”. Ele se tornou um herói para muitos 
latino-americanos (como Fidel Castro mais tarde) precisamente por 
resistir os Estados Unidos. Várias intervenções norte-americanas insta-
laram líderes que se tornaram ditadores por longos períodos, tiranetes 
corruptos, famosos pela cobiça e obediência à política norte-americana 
(CHASSTEEN, 2001, p. 69). 
SÉCULO XX: INTERNACIONALIZAÇÃO DA ECONOMIA E TRANSFORMAÇÕES SOCIAIS
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
VU N I D A D E184
Muitas vezes, tal como na Nicarágua, as forças estadunidenses interpunham sua 
autoridade de forma direta. Entretanto essa intervenção militar ianque não podia 
ser levada a cabo em países maiores ou distantes, a exemplo do Brasil, Argentina 
e Uruguai, os quais experimentaram movimentos de cunho nacionalista que 
pregavam a autodeterminação dos povos, como foi o caso do Getulismo (1930-
1945) no Brasil. Esses movimentos eram encabeçados, geralmente, por setores 
urbanos, os quais passaram a quebrar a hegemonia neocolonial das oligarquias. 
Nesse sentido, a Grande Depressão de 1929 colaborou para a ruína do 
liberalismo neocolonial na América Latina. Os anos de 1930 sofreram um desa-
parelhamento dos setores exportadores em consequência da queda dos preços e 
da demanda por produtos latino-americanos no mercado mundial. Esse quadro 
enfraqueceu as oligarquias que dependiam das exportações ao mesmo tempo 
em que contribuiu para elevar o índice de desempregados. Por outro lado, essa 
crise contribuiu para a implantação de sistemas industriais próprios, uma vez 
que os latino-americanos não possuíam condições financeiras confortáveis para 
ficarem importando produtos industrializados. 
Nessas condições, podemos dizer que a década de 1930 já foi um período 
relevante para a consolidação da industrialização na América Latina. A indus-
trialização deu origem a dois processos que ajudaram a eliminar os vestígios 
neocoloniais ainda existentes: a ascensão política de setores da burguesia nacional 
e a urbanização. Além disso, a onda nacionalista favoreceu a extensão de direitos 
políticos e trabalhistas a outros setores. Entre as décadas de 1930 e 1940 (e em 
alguns locais nos anos de 1950) foram inseridas cada vez mais pessoas na cena 
política, principalmente com a inclusão do voto feminino. Tal processo ampliou 
a quantidade de eleitores e trouxe vantagens aos nacionalistas e, posteriormente, 
aos populistas, aos quais tinham nas populações citadinas suas áreas de influência. 
O fim da Segunda Guerra Mundial (1930-1945) coroou, por sua vez, uma 
mudança substancial. Os nacionalistas caíram na preferência das massas popu-
laresdiante do triunfo do liberalismo incorporado na vitória dos aliados. Além 
disso, um novo fluxo de pressão estadunidense abalou a região. Segundo o pre-
sidente estadunidense George Washington, os movimentos de viés nacionalista 
na América Latina eram ameaçadores, pois necessitavam garantir para si a vei-
culação das políticas externas da região, assegurada como área de influência. 
Os Movimentos Revolucionários de Primórdios da Guerra Fria na América Latina (1945-1961)
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
185
Dessa forma, as transformações ocorridas entre a Grande Depressão (1929) até 
o término da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) na América Latina impul-
sionaram a industrialização e o nacionalismo. Contudo este último sofreu uma 
crise a partir de meados dos anos de 1940, fator que dará margem a nova onda 
de pressão e intervenções estadunidenses, conforme analisaremos em profun-
didade a seguir. 
OS MOVIMENTOS REVOLUCIONÁRIOS DE 
PRIMÓRDIOS DA GUERRA FRIA NA AMÉRICA LATINA 
(1945-1961)
As ingerências dos Estados Unidos na América Latina impossibilitaram, mui-
tas vezes, que movimentos nacionalistas continuassem na liderança política de 
muitos países no momento posterior a 1945. Em alguns casos, os nacionalistas 
abraçaram o socialismo como forma de implantar a nacionalização de sua eco-
nomia. Tal guinada visava avançar na luta anti-imperialista, bem como garantir 
igualdades sociais, buscando superar séculos de exploração, bem como comba-
ter as desigualdades herdadas desse processo. Durante os anos marcados pela 
Guerra Fria, muitos líderes buscavam fugir das investidas estadunidenses a fim 
de encontrar alguma alternativa que estivesse em concordância com seus anseios 
e os mantivessem livres do imperialismo ianque. Diante desse quadro, os lati-
no-americanos tornaram-se cada vez mais atraídos por outra potência: a União 
Soviética. 
A presença marcante das propostas soviéticas na América Latina visava 
não somente combater o imperialismo ianque, mas seguir o modelo de desen-
volvimento levado a cabo pelos soviéticos. A rápida industrialização da União 
Soviética, a qual saiu de um quadro de declínio socioeconômico nos anos 1920 
para uma potência industrial, vinte anos mais tarde impressionou muitos lati-
no-americanos inspirados pelo modelo soviético. Alguns partidos comunistas 
foram fundados a partir da década de 1920 (como o Partido Comunista do 
SÉCULO XX: INTERNACIONALIZAÇÃO DA ECONOMIA E TRANSFORMAÇÕES SOCIAIS
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
VU N I D A D E186
Brasil, criado em 1922), mas sua composição e representatividade eram peque-
nas. Divulgar os ideais do comunismo em área cuja maioria da população era 
católica, residentes no campo e analfabetos, era um desafio nem sempre muito 
bem sucedido. Cultivar o nacionalismo não era sinônimo de ser esquerdista, 
tal como evidenciou muitos movimentos reacionários dos anos de 1960 e 1970. 
A fim de manter o ideal nacionalista, muitos grupos políticos utilizaram 
duas táticas distintas: o populismo e o socialismo (ou algo semelhante a este, já 
que nem todas as coisas que o Departamento de Estado estadunidense enxer-
gava como comunista o era de fato). 
Um exemplo claro de suspeitas de adoção às medidas socializantes ocor-
reu na Guatemala. Entre os anos de 1944 e 1954, o país vivenciou um período 
democrático em que os governantes José Arévalo e Jacobo Arbenz adotaram 
transformações de cunho social, como a melhoria salarial para os trabalhadores 
e assistência social. Para as autoridades estadunidenses, um dos eleitos (Arbenz) 
tomou medidas exageradas, tais como a reforma agrária, contato com comunis-
tas, expropriações de ferrovias e compra de armamentos da Tchecoslováquia. 
Para os Estados Unidos, essas atitudes eram inaceitáveis, uma vez que a United 
Fruit Company possuía muitas plantações de bananas no país. Como consequ-
ência, forças estadunidenses invadiram a Guatemala e orquestraram um golpe 
militar que culminou na deposição de Arbenz do cargo de presidente. No caso 
boliviano, a ingerência estadunidense foi mais flexível. O programa adotado pelo 
Movimento Nacional Revolucionário (MNR), que assumiu o poder entre 1952 
a 1964, não se inspirou efetivamente nos Estados Unidos, os quais continuaram 
envolvidos com a política desenvolvida no país. Como o estanho era a principal 
riqueza, tornou-se mais proveitoso aos Estados Unidos uma aproximação do que 
uma intervenção direta (GAGGERO; MANTIÑAN; GARRO, 2004).
O caso mais emblemático ocorreu em Cuba. É fato que a vitória da Revolução 
Cubana, em 1959, foi um divisor de águas. O exemplo cubano motivou os revo-
lucionários nacionalistas dissidentes do marxismo a organizarem movimentos 
insurrecionais nos moldes da guerrilha vitoriosa em Cuba. Contudo, na dire-
ção oposta, o triunfo de Fidel Castro e seus companheiros marcou um avanço 
substancial do apoio estadunidense a forças conservadoras de países da região, 
objetivando podar a ação de grupos guerrilheiros. 
Os Movimentos Revolucionários de Primórdios da Guerra Fria na América Latina (1945-1961)
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
187
O ideário que servia de combustível para grupos dessa natureza ficou res-
trito a um público geralmente jovem e universitário, que fomentaram grupos 
revolucionários por toda a América Latina.
Um exemplo foram as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) 
e o Exército de Libertação Nacional (ELN) na Colômbia. As atividades desses 
dois movimentos começaram nos anos de 1960, quando ambos inauguraram 
suas ações guerrilheiras pelo interior ao definir territórios, porém sem sucesso. 
É comum hoje em dia ouvir nos noticiários o enfrentamento entre guerrilhei-
ros e paramilitares de direita na Colômbia.
Outro caso de movimento revolucionário foi a Frente Sandinista de Libertação 
Nacional (FSLN), ocorrida no Nicarágua, em 1961. Formado em Havana, tal 
grupo objetivou derrotar os ditadores nicaraguenses, oriundos, em sua maioria, 
da família Somoza, aliada aos Estados Unidos. Por duas décadas os sandinistas 
combateram os Somoza, mas foi somente em 1978, diante da comoção gerada 
com o assassinato do jornalista Joaquim Chamorro, que direita e esquerda se 
uniram contra a ditadura e, um ano depois, derrubaram os Somoza, em 1979.
É fato que a ampliação da presença estadunidense no combate a movimentos 
ou governos divergentes intensificou a repressão a grupos armados com temor 
de que mais países latino-americanos seguissem o exemplo de Cuba.
Antes de 1959, Cuba vivia uma excessiva exploração das camadas mais pobres, 
comandada pelas elites nacionais em conjunto com o capital estrangeiro. O fatí-
dico período dos anos de 1920 e a década de 1950 representou, para a maioria 
dos cubanos, um período de retrocesso que culminou com a revolução de 1959. 
A ditadura do General Gerardo Machado (1925-1933) foi marcada pela 
intensificação de ações populares, como greves e a ampliação dos grupos de 
esquerda. Todo esse cenário preocupou os Estados Unidos, o qual decidiu inter-
vir. Machado foi derrubado e Fulgencio Batista tornou-se uma figura de destaque 
no novo governo.
O movimento de cunho popular e de resistência à ditadura e ao capital 
americano cresceu nos anos de 1950 com a articulação de três notórios líderes 
guerrilheiros: Fidel Castro, Ernesto Guevara (Che Guevara) e Camilo Cienfuegos. 
Tais lideranças reuniram na luta armada para depor Fulgêncio Batista. 
©
W
ik
im
ed
ia
 C
om
m
on
s
Figura 13: Revolucionários durante a guerrilha em Cuba
SÉCULO XX: INTERNACIONALIZAÇÃO DA ECONOMIA E TRANSFORMAÇÕES SOCIAIS
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
VU N I D A D E188
O processo de luta armada foi de 1953 até 1959, iniciando-se coma iniciativa 
de doze guerrilheiros, os quais, escondendo-se na selva, na região de Sierra 
Maestra, se organizaram em um grupo armado conhecido como Exército Rebelde. 
Ajudados pela população local composta em sua maioria por camponeses, os 
rebeldes infundiram várias derrotas às forças governamentais, as quais tentaram 
enfraquecer a coalizão revolucionária.
 Batista renunciou ao governo em 1958 e Cuba vivenciou, a partir de então, 
um período de reorganização do Estado, o qual não se definiu como comunista 
nos primeiros meses. A princípio, reformas julgadas emergenciais foram aprova-
das pelos revolucionários, muito embora, em um primeiro momento, não fosse 
definido quem ficaria no poder. Entre as leis aprovadas pelo governo revolucio-
nário estava a criação de empregos, a prisão de civis e militares que apoiaram a 
ditadura de Batista, a diminuição dos preços de serviços básicos (aluguéis, ener-
gia elétrica etc) e o aumento dos salários.
Contudo a situação ficou crítica quando, em maio de 1959, mediante apro-
vação da lei da reforma agrária, as elites estadunidenses e cubanas decidiram 
reagir. Diante desse cenário, os Estados Unidos optaram por cancelar a impor-
tação de açúcar cubano, o principal sustentáculo da economia nacional. Isso 
tudo ocorreu em meio à Guerra Fria. Naturalmente, após os estadunidenses sus-
penderem a compra do açúcar cubano, os soviéticos se ofereceram como novos 
compradores do produto.
Os Movimentos Revolucionários de Primórdios da Guerra Fria na América Latina (1945-1961)
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
189
Assustados com a ousadia soviética em influenciar um país tão próximo do 
seu território, os Estados Unidos decidiu romper as relações diplomáticas com 
Cuba, em 1961. Em abril desse mesmo ano, uma força militar composta por sol-
dados estadunidenses e contrarrevolucionários cubanos desembarcou na Baía 
dos Porcos, no intuito de ocupar a Ilha e depor Fidel Castro. Os Estados Unidos 
afirmava que a União Soviética estava instalando, em Cuba, mísseis voltados 
para o solo estadunidense.
A ingerência americana não foi bem sucedida a ponto de a população local 
apoiar o seu governo. Esse fracasso coroou na Revolução Cubana e consolidou 
o prestígio de Fidel Castro como governante de Cuba (HOBSBAWM, 1995).
Desafiando ainda mais os estadunidenses, o governo de Havana promoveu uma 
ampla nacionalização da economia e concretizou a reforma agrária. Em 1962, 
Cuba foi expulsa da Organização dos Estados Americanos (OEA) e os Estados 
Unidos decretaram o bloqueio econômico ao governo de Fidel. Após esses acon-
tecimentos, Cuba declarou-se socialista e aliada dos soviéticos, aos poucos, a 
conjuntura da América Latina começava a mudar. 
“Os mexicanos e os argentinos que saem de seus países são chamados de 
imigrantes. Todos os que saem de Cuba são exilados”.
Fonte: Fidel Castro (2004).
Figura 14: Mobilização contra a ditadura argentina em 1982
©
W
ik
im
ed
ia
 C
om
m
on
s
SÉCULO XX: INTERNACIONALIZAÇÃO DA ECONOMIA E TRANSFORMAÇÕES SOCIAIS
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
VU N I D A D E190
AS TRANSFORMAÇÕES OCORRIDAS COM O FIM DA 
GUERRA FRIA NA AMÉRICA LATINA (1961-1989) 
As décadas de 1960 e 1970 foram marcadas por mudanças radicais na estrutura 
política da América Latina. Os chamados regimes populistas entraram em crise 
e foram sucedidos por sistemas articulados por forças reacionárias e conservado-
ras, multiplicando os governos de exceção por toda a América Latina. Observe a 
série de golpes militares executados a partir de 1964 em solo latino americano:
 ■ 1964: militares depõem João Goulart, no Brasil.
 ■ 1968: na Bolívia, o General Juan Jorres assume a liderança; no Peru, os 
militares usurpam o poder; no Panamá, assume o poder o General Omar 
Herrera Torrijos. 
 ■ 1973: o General Augusto Pinochet comanda o Golpe Militar sobre o 
governo eleito de Salvador Allende, no Chile. 
 ■ 1976: militares ocupam o cargo do presidente Juan Bordaberry, o qual 
mantinha um regime ditatorial no Uruguai desde 1973; na Argentina, o 
General Rafael Videla comandou o grupo militar que depôs a então pre-
sidente Isabelita Perón. 
A Aliança para o Progresso foi um projeto político elaborado pelos Estados 
Unidos durante o governo de John F. Kennedy (1961-1963). O intuito era 
integrar os países da América Latina nos aspectos político, econômico, cul-
tural e social contra a ameaça soviética no continente.
Fonte: a autora.
“O governo Kennedy preparou o caminho para o golpe militar no Brasil em 
1964, ajudando a derrubar a democracia brasileira, que se estava tornando 
independente demais.”
Fonte: Noam Chomsky (1999, p. 14).
As Transformações Ocorridas com o Fim da Guerra Fria na América Latina (1961-1989) 
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
191
Até então a região nunca havia sofrido qualquer tentativa de resistência à influ-
ência estadunidense. Porém, conforme analisamos anteriormente, a Revolução 
Cubana de 1959 demonstrou o quanto essa área de influência norte-americana 
poderia se tornar frágil. Fidel Castro, Che Guevara e Camilo Cienfuegos fortale-
ceram a capacidade de união das camadas populares historicamente desprezadas 
da esfera do poder e, com essa atitude, ganharam aliados importantes na luta 
contra o imperialismo estadunidense. 
A fim de demonstrar o poderio estadunidense, o presidente John Kennedy 
tornou público, em 1961, a Aliança para o Progresso. No entanto a morte do 
presidente e a ruína da Aliança deram margem para o início de uma série de 
ditaduras e repressões na América Latina.
SÉCULO XX: INTERNACIONALIZAÇÃO DA ECONOMIA E TRANSFORMAÇÕES SOCIAIS
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
VU N I D A D E192
Se você, leitor(a), olhar para a história da América Latina, certamente não 
encontrará um modelo de continuidade democrática. As emancipações políticas, 
ocorridas no século XIX, fomentaram o surgimento dos caudilhos (conforme 
analisamos na unidade IV), protagonistas políticos aliados ao poder militar.
Seguindo essa tradição militar, o Pentágono criou a escola das Américas em 
1949, na região do Canal do Panamá. O propósito dessa iniciativa era treinar 
e doutrinar militares latino-americanos no pensamento favorável aos Estados 
Unidos. Entre as táticas usadas no treinamento estavam a guerra psicológica, a 
repressão antiguerrilha e o combate à subversão. 
Com objetivos similares, surgiu, no início dos anos de 1960, a Doutrina de 
Segurança Nacional (DSN). Em consonância com essa teoria, a luta em opo-
sição ao comunismo era extremamente necessária e deveria englobar todas as 
esferas sociais. Dessa forma, o período em que golpes militares se multiplica-
ram foi acompanhado da perpetuação de ditaduras e marcado por tentativas de 
contenção da União Soviética pelos Estados Unidos, além de eleger novos alvos: 
os inimigos internos (subversivos, estudantes, líderes camponeses e sindicais). 
Os países que sofreram processos ditatoriais considerados mais truculentos (tais 
como Chile, Argentina, Uruguai e Brasil) tiveram prejuízos irreparáveis: um 
número elevado de pessoas presas, torturadas, mortas ou desaparecidas pelo 
Estado. O argumento mais usual para justificar tamanha violência era a de uma 
A Doutrina de Segurança Nacional foi confeccionada nos Estados Unidos 
durante o pós-Segunda Guerra Mundial, momento em que a União Soviéti-
ca passou a ser considerada como rival irreconciliável. Seus teóricos afirma-
vam que o marxismo partia de dogmas messiânicos e objetivava dominar 
todos os povos da terra. Essa concepção fundamentou várias intervenções 
militares na América Latina como forma de frear os movimentos de esquer-
da, acusados de propagandear o socialismo.
Fonte: a autora.O Poder de Influência Estadunidense e as Relações Continentais
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
193
ação de combate aos guerrilheiros. Bastava uma suspeita, muitas vezes infun-
dada, para confirmar a ligação ou participação com órgãos opositores ao regime 
militar, fator suficiente para que um suspeito fosse condenado (MOREIRA; 
QUINTEIROS, 2010).
O PODER DE INFLUÊNCIA ESTADUNIDENSE E AS 
RELAÇÕES CONTINENTAIS
Conforme analisamos anteriormente, as intervenções da cultura imperialista 
estadunidense empregada em solo latino-americano levam a crer que os Estados 
Unidos consideravam sua investida como natural e objetivavam ampliar sua pre-
sença nos vários países que compunham a América Latina. 
Podemos identificar várias formas de intervenção estadunidense ao longo da 
história. Desde antes da doutrina Monroe (1823), posteriormente pela Doutrina 
do Destino Manifesto, no século XIX, até chegar ao término do século, os Estados 
Unidos cristalizaram uma imagem não muito amistosa dos latino-americanos:
A crença na inferioridade latino-americana é o núcleo essencial da 
política dos Estados Unidos em relação à América Latina, porque ele 
determina os passos precisos que os Estados Unidos assumem para 
proteger seus interesses na região. Uma vez que existiu desde o início, 
uma maneira de entender a política atual e suas suposições subjacentes 
é voltar ao século XVIII e examinar como o pensamento hegemônico 
de hoje começou a evoluir como corolário lógico de crenças sobre o 
caráter dos latino-americanos (...) procurando provas de um sutil mais 
poderoso mind-set [estrutura mental que guia o olhar estadunidense, a 
forma como pensar a América Latina e compreender a cultura latino-
-americana] que impediu uma política baseada no respeito mútuo (...). 
Despido de nuanças, o processo é razoavelmente simples. Por exemplo, 
quando um funcionário do Departamento de Estado abre uma reunião 
com o comentário “temos um problema com o governo do Peru”, em 
menos de um segundo é evocada uma imagem mental de um Estado 
estrangeiro que é completamente diferente daquela que teria sido lem-
brada se o funcionário em questão tivesse dito, em contraste, “temos 
um problema com o governo da França” (SCHOULTZ, 2000, p. 13-14). 
SÉCULO XX: INTERNACIONALIZAÇÃO DA ECONOMIA E TRANSFORMAÇÕES SOCIAIS
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
VU N I D A D E194
É com esse pensamento carregado de “pré-conceitos” que os estadunidenses 
vão atuar na América Latina. Essa estrutura mental (mind-set) político-cultural 
vai assumindo tonalidades econômicas na medida em que a intervenção para 
fins materiais vai se concretizando na região. Para se ter uma ideia, somente em 
1929, torno de 40% dos investimentos estadunidenses no exterior se concentra-
vam na América Latina.
 Para Octávio Ianni (1988), há um conjunto de interesses políticos e econô-
micos nas táticas estadunidenses e na forma de exercitar a sua hegemonia, fatores 
que resultam em uma “diplomacia total” (IANNI, 1988, p. 23). Conforme vimos, 
intervenções militares localizadas bem como as manifestações de apoio para quem 
defendesse os negócios neocoloniais estadunidenses foram recorrentes nas pri-
meiras décadas do século XX. Porém, no período entre guerras, a probabilidade 
de um grande confronto motivou o Presidente Franklin D. Roosevelt a anunciar, 
em 1933, durante o seu discurso de posse, uma “Política de Boa Vizinhança”, por 
meio do qual os Estados Unidos se comprometiam em não mais intervir mili-
tarmente nos demais países latino-americanos.
Após a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos e a União Soviética 
triunfaram como superpotências, fator que balizou as relações internacionais a 
partir de então. A emersão da Guerra Fria exigiu uma nova abordagem chamada 
de “Doutrina da Segurança Hemisférica”. Ianni (1988) listou uma série de rela-
ções exteriores americanas no pós-Segunda Guerra Mundial, são elas:
Ata de Chapultepec, sobre a agressão externa e problemas de pós-
-guerra das repúblicas americanas, México, março de 1945; Discurso 
de Winston Churchill, em Fulton de 1946, sobre as tarefas mundiais 
Criada no século XIX, a Doutrina do Destino Manifesto parte do pressuposto 
de que os estadunidenses foram eleitos por Deus para civilizar a América. 
Nesse sentido, o expansionismo americano seria o resultado de uma von-
tade divina.
Fonte: a autora.
O Poder de Influência Estadunidense e as Relações Continentais
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
195
dos Estados Unidos; Doutrina Truman, Washington, março de 1947, 
sobre as responsabilidades políticas econômicas e militares dos Estados 
Unidos para com os povos que esse país considerasse ameaçados pelo 
comunismo; Tratado Interamericano de Assistência Recíproca, ou De-
fesa Hemisférica, Rio de Janeiro, setembro de 1947; Carta da Organi-
zação dos Estados Americanos (OEA), Bogotá, maio de 1848; Tratados 
Americanos de Soluções Pacíficas (Pacto de Bogotá), Bogotá, maio de 
1948; Ponto IV, para assistência aos povos das áreas subdesenvolvidas, 
Washington, janeiro de 1949; Declaração de Solidariedade pela Pre-
servação da Integridade Política das Américas, contra a Intervenção 
do Comunismo Internacional, Caracas, março de 1954; Deposição do 
governo Jacobo Arbenz Guzmán, Guatemala, 1954; Deposição do go-
verno de Perón, Argentina, 1955; Vitória da Revolução liderada por 
Fidel Castro, Cuba, 1959; Criação do Banco Interamericano de Desen-
volvimento (BID), 1959; Criação da Associação Latino-Americana de 
Livre Comércio (ALALC), 1960; Criação do Mercado Comum Centro 
Americano (MCCA), 1960; Invasão da Baía dos Porcos, Cuba, abril 
de 1961; Carta de Punta Del Este, agosto de 1961; Expulsão de Cuba 
socialista da Organização dos Estados Americanos (OEA), janeiro de 
1962; Deposição do presidente João Goulart, Brasil, 1964; Deposição 
do presidente Víctor Paz Estenssoro, Bolívia, 1946; Intervenção Militar 
na República Dominicana, liderada pelo governo dos Estados Unidos, 
1965; Declaração dos Presidentes da América, Punta Del Este, abril de 
1967; Deposição do presidente Balaúnde e início do governo de Velas-
co Alvarado, Peru, 1968; Consenso Latino-Americano de Viña del Mar, 
Chile, maio de 1969; Relatório Rockefeller sobre “A qualidade de vida 
nas Américas”, agosto de 1969; O presidente Nixon anuncia a política 
de seu governo para o hemisfério, Washington, outubro de 1969; Vitó-
ria de Salvador Allende, candidato socialista da Unidade Popular nas 
eleições presidenciais chilenas de setembro de 1970; Golpe de Estado 
contra o governo Allende, 1973; invasão de Granada em 1983; e a con-
tra-revolução [sic] em marcha na América Central, em 1906 (IANNI, 
1988, p. 28-29). 
Essa citação retrata os episódios que marcaram as relações interamericanas e 
cuja maioria deles ocorreu por intervenção dos Estados Unidos em oposição à 
soberania dos povos latino-americanos.
Os Estados Unidos atuou interferindo nas questões internas dos países lati-
no-americanos na chamada Doutrina de Segurança Hemisférica, por meio da 
qual também conseguiram institucionalizar órgãos que possibilitassem o seu 
domínio. Dentre esses, a Organização dos Estados Americanos (1948) foi a que 
ganhou maior notoriedade, pois sua missão era organizar o anticomunismo.
SÉCULO XX: INTERNACIONALIZAÇÃO DA ECONOMIA E TRANSFORMAÇÕES SOCIAIS
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
VU N I D A D E196
Um coro de ditadores objetos como Rafael Trujillo na República Domi-
nicana, “Papa Doc” Duvalier no Haiti e Anastásio Somoza na Nicará-
gua seguiam a linha norte-americana na OEA, sobrepujando qualquer 
oposição (em um sistema de cada país, um voto) de nações maiores 
como o México, Brasil e Argentina. Em 1954, a OEA emitiua Decla-
ração de Caracas, sustentando que toda ideologia revolucionária mar-
xista era necessariamente “antiamericana” (CHASTEEN, 2001, p. 211).
A vitória da Revolução Cubana evidenciou a fragilidade das políticas estaduni-
denses. Por esse motivo, o governo de Washington implantou o plano de ajuda 
aos países latino-americanos, com o objetivo de barrar o avanço de revoluções 
de cunho socialista no continente por meio de concessão financeira aos países 
adeptos da política anticomunista.
As diversas frentes contrarrevolucionárias bem como a instalação de regi-
mes autoritários na América Latina durante as décadas de 1960 a 1980 receberam, 
em grande parte, o apoio dos norte-americanos interessados em manter sua área 
de influência e extirpar do solo americano qualquer ideologia exótica, tal como o 
comunismo. Além disso, o desenvolvimento industrial estadunidense nesse perí-
odo era dependente, em parte, das matérias-primas latino-americanas, mais um 
motivo para os Estados Unidos desejar manter uma presença constante nessa área. 
Por isso, quando falamos ou ouvimos dizer algo a respeito da onda de instau-
ração de regimes militares, é necessário compreender o contexto internacional em 
conjunto com os interesses internos das elites dominantes, afinadas não apenas 
com o anticomunismo, mas contra, também, a aplicação do liberalismo político, 
ou seja, o aumento da participação política nas eleições democráticas, condições 
que ameaçavam os seus monopólios na condução das nações. 
Redemocratização, Globalização e Neoliberalismo
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
197
REDEMOCRATIZAÇÃO, GLOBALIZAÇÃO E 
NEOLIBERALISMO
A redemocratização dos países latino-americanos pode ser compreendida como 
um conjunto de “aberturas políticas” que ocorreu entre os fins dos anos 1970 até 
o início da década de 1990. Nesse período, o temor ao comunismo bem como as 
ameaças provenientes da “anarquia trabalhista” deixaram de existir. Tais elemen-
tos se consagraram como os principais fatores que justificaram a instalação de 
regimes autoritários por toda a América Latina. Com a extinção dessas ameaças 
e sem o apoio popular, os militares optaram, na maioria das vezes, por devol-
ver o poder aos civis.
No Brasil, um “milagre econômico” de fins dos anos de 1970 deu apoio aos 
militares, todavia a ausência do “perigo comunista” motivou os militares a inicia-
rem o processo de abertura em 1979, sendo este concretizado, em definitivo, no 
ano de 1985. De forma geral, o movimento popular insistia em eleições diretas, 
por meio da mobilização conhecida como “Diretas Já”, porém os militares e auto-
ridades conservadoras optaram por eleições indiretas neste primeiro momento.
No caso brasileiro, é importante ressaltar o papel fundamental dos movi-
mentos sociais no processo de redemocratização. O movimento das “Diretas Já” 
teve início em 1983, durante o governo de João Batista Figueiredo. O movimento 
ganhou amplitude e adesão da maioria da população, ao propor eleições dire-
tas para o cargo de presidente da República. Apesar da resistência de militares 
e setores conservadores, a mobilização de cunho social ganhou força, contri-
buindo, de forma ímpar, para o fim da ditadura militar.
Na Argentina, os militares abandonaram o poder no mesmo ano em que 
amargaram a derrota contra os ingleses na guerra das Malvinas (1983). Além 
disso, o movimento “Mães da Praça de Maio” já denunciava as atrocidades come-
tidas pelo regime, contribuindo para torná-lo impopular.
No Paraguai, o ditador Alfredo Stroessner, há mais de 35 anos no poder, 
renunciou ao governo em 1989 e exilou-se no Brasil. 
O Chile, um dos países que vivenciou uma das mais fortes tendências auto-
ritárias da América Latina, assistiu uma abertura política lenta durante os anos 
de 1990, acompanhada por reformas liberais no âmbito econômico.
SÉCULO XX: INTERNACIONALIZAÇÃO DA ECONOMIA E TRANSFORMAÇÕES SOCIAIS
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
VU N I D A D E198
Entre os anos de 1980 a 1990, vários regimes militares latino-americanos 
foram perdendo legitimidade e passaram a ser substituídos por sistemas democrá-
ticos, com a possibilidade de participação dos civis no poder. Contudo o retorno 
à democracia decepcionou a muitos que haviam lutado por ela. Marcadas pela 
imaturidade democrática, muitas nações padeceram com presidentes corruptos 
ou que sofriam forte pressão por parte de seus opositores. 
No Brasil, por exemplo, a eleição para presidente de Fernando Collor de 
Mello foi sucedida pelo impedimento de continuar no governo, em 1992, em 
razão da corrupção empreendida por ele e seus comparsas. Já no Peru, a eleição 
de Alberto Fujimori marcou o equilíbrio inflacionário, alegando, entretanto, a 
existência de forças oposicionistas sufocantes, Fujimori dissolveu o Congresso 
em abril de 1992 e instaurou uma ditadura até o ano 2000.
Apesar desses desequilíbrios, naturais em países inexperientes democrati-
camente, a América Latina deveria se preparar para a pressão do capitalismo 
neoliberal. 
A década de 1980, mais conhecida como “década perdida”, ficou marcada 
por uma crise generalizada, resultante, basicamente, do endividamento externo 
e do fracasso dos projetos de desenvolvimento independente.
No intuito de salvar suas economias, muitos países latino-americanos recor-
reram ao Fundo Monetário Internacional (FMI) para amenizar seu saldo devedor. 
Em troca, o FMI estipulou a subordinação das elites econômicas e políticas às 
regras do neoliberalismo. Tal intervenção ficou conhecida como Consenso de 
Washington (1989) e determinou que os países latino-americanos deveriam 
equilibrar suas finanças cortando despesas com políticas sociais e investimen-
tos, abrir o comércio e liberar a atuação de capitais estrangeiros.
O neoliberalismo prevaleceu na década de 1990, pois o colapso da URSS e 
dos regimes socialistas do Leste Europeu abriu margem para a manutenção de 
apenas uma superpotência: os Estados Unidos. A fragilidade dos regimes socia-
listas europeus deu a impressão de que a única saída para o desenvolvimento 
seria o capitalismo, a ponto de a ideologia neoliberal fundamentar o processo 
de globalização.
Redemocratização, Globalização e Neoliberalismo
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
199
A modernização dos países latino-americanos dependia de sua inserção, a 
qualquer custo, no quadro da nova economia globalizada, ainda que em uma 
condição periférica.
Seguindo o Consenso de Washington, tais países concordavam em abrir suas 
economias ao comércio mundial, principalmente por meio da supressão de suas 
barreiras alfandegárias. Como consequência, a abertura dos mercados oportuni-
zou a uma miríade de investimentos internacionais na América Latina, ao sabor 
das circunstâncias e em consonância com a disponibilidade de capitais no mer-
cado mundial. Esse processo de abertura da economia latino-americana, mais 
conhecido como liberalismo, coloca fim na participação do Estado em privati-
zações de empresas, aumenta os índices de informalidade dos trabalhos, além 
de desestabilizar os sindicatos.
Inclusos nas tendências neoliberais, muitos governos assumiram a direção 
em países latino-americanos. Na Argentina, Carlos Menem (1989-2001) abriu 
a economia e privatizou algumas estatais, como a YPF, responsável pela explo-
ração de petróleo. 
Seguindo os mesmos passos de Menem, no Brasil, o governo de Fernando 
Henrique Cardoso (1994-2002) controlou a inflação mantendo a equivalência 
do dólar ou real (moeda nacional) até 1998, manobra que por pouco não levou 
a economia brasileira à falência. Como forma de salvar o Brasil dessa situação, o 
presidente solicitou ajuda financeira ao FMI, o qual, em troca, exigiu a inserção 
do país na lógica neoliberal. De forma semelhanteao caso argentino, o governo 
brasileiro privatizou a maior parte das empresas estatais, vendendo-as a grupos 
econômicos de outros países.
No âmbito do comércio internacional, formaram-se blocos comerciais na 
América, tais como: o MERCOSUL (Mercado Livre do Cone Sul), o NAFTA (North 
America Free Trade Agreement ou Tratado de Livre Comércio da América do 
Norte) e a proposta de criação da ALCA (Área de Livre Comércio das Américas). 
SÉCULO XX: INTERNACIONALIZAÇÃO DA ECONOMIA E TRANSFORMAÇÕES SOCIAIS
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
VU N I D A D E200
Em razão do aumento dos índices de desemprego, crescimento econômico 
pífio e endividamento dos Estados que a fragilidade das políticas neoliberais, na 
América Latina, durante os anos de 1990, ocasionou, os Estados latino-ameri-
canos vieram a buscar novos projetos políticos para amenizar essa crise. Como 
resposta, elegeram governantes declaradamente oposicionistas do projeto neoli-
beral, como: Nestor Kirchner, na Argentina (2003); Hugo Chaves, na Venezuela 
(1998); Luís Inácio Lula da Silva, no Brasil (2002); Tabaré Vasquez, no Uruguai 
(2004) e Evo Morales, na Bolívia (2005). Apesar de suas particularidades, tais 
governos deram novos rumos para a região. 
Esse período marcou o revigoramento de movimentos sociais, tamanha 
a pressão que exerceram por uma luta de igualdade social e desenvolvimento 
autônomo. Todavia um novo período de instabilidades parece ter se instalado 
nas esferas política e econômica da América Latina, contribuindo para o alas-
tramento de uma onda de insatisfações popular, pondo em risco uma década 
de avanços sociais e econômicos (MOREIRA; QUINTEROS, 2010). O crescente 
movimento, marcado, sobretudo, pela rejeição aos presidentes, deixou evidente 
a sua intolerância com a corrupção e má governança. Resta-nos acompanhar os 
próximos desdobramentos da crise que se arrasta pelos países latino-america-
nos a fim de fazermos uma avaliação consistente sobre esse período. 
Considerações Finais
Re
pr
od
uç
ão
 p
ro
ib
id
a.
 A
rt
. 1
84
 d
o 
Có
di
go
 P
en
al
 e
 L
ei
 9
.6
10
 d
e 
19
 d
e 
fe
ve
re
iro
 d
e 
19
98
.
201
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Chegamos ao fim da última unidade!
Nesta unidade, pudemos explorar as transformações ocorridas nas Américas 
ao longo do século XX. O assunto analisado não teve como objetivo somente a 
conclusão de uma etapa, mas a conscientização sobre as instabilidades políti-
cas, movimentos sociais, ditaduras militares, a interferência estadunidense nos 
países latino-americanos, bem como os processos de redemocratização, globa-
lização e desenvolvimento do neoliberalismo na América Latina. Muitas vezes, 
temos acesso a temas relacionados a esse período, seja em razão das descobertas 
científicas ou relacionado ao nosso cotidiano, o que torna necessário analisá-los 
sobre um olhar crítico.
Você pôde conhecer alguns dos diversos movimentos revolucionários ou 
ditatoriais que abalaram a América Latina durante o século XX. Analisamos as 
mudanças ocorridas nos países latino-americanos durante o intervalo entre a 
Grande Depressão até a Segunda Guerra Mundial. 
Posteriormente, foram apresentados os movimentos revolucionários que 
ocorreram entre princípios da Guerra Fria, as ditaduras militares, o poder de 
influência dos Estados Unidos, bem como os processos de redemocratização e 
liberalismo ocorridos na América Latina. Para isso, recorremos a uma aborda-
gem dialógica e de fácil compreensão, com o objetivo de facilitar a identificação 
dos atores sociais envolvidos e de seus respectivos interesses. Tais informações 
são relevantes para compreendermos as particularidades das nações que inte-
gram as Américas.
É claro que as transformações ocorridas ao longo do século XX no conti-
nente americano contribuíram para avanços significativos na esfera social, muito 
embora tenha reafirmado o poder de liderança e influência dos Estados Unidos 
nas relações que estabelece com a América Latina.
Espero que tenha gostado de nossa viagem! Até a próxima!
Fidel Castro, a Revolução Cubana e a América Latina
Quando o ditador Fulgêncio Batista, sem mais condições de manter-se no poder, renun-
ciou durante o reveillon de 1959 e, secretamente, fugiu de Cuba para a República Domi-
nicana, não foi só o seu governo que caiu. Todo o Estado cubano se havia desintegrado 
e 1959 tornou-se um ano realmente novo. Dias depois, centenas de guerrilheiros bar-
budos, grande parte de guajiros (trabalhadores do campo), sujos, uniformes rasgados, 
entraram em Havana, sob o comando de Fidel Castro, Ernesto Che Guevara e Camilo 
Cienfuegos. Era o clímax de uma epopeia, iniciada por apenas 16 sobreviventes, dos 82 
que desembarcaram do iate Granma, no litoral de Cuba, em 2 de dezembro de 1956 (...).
A revolução cubana foi o fato político mais poderoso e o que maior impacto causou na 
América Latina, ao longo do século XX, não por causa do seu caráter heroico e romântico 
ou porque o regime implantado por Fidel Castro evoluiu posteriormente para o comu-
nismo, mas porque ela exprimiu dramaticamente as contradições não resolvidas entre 
os Estados Unidos e os demais países da região. Não foram os comunistas que promove-
ram a revolução cubana, no contexto da Guerra Fria. Conquanto alguns de seus líderes, 
como Ernesto Che Guevara e o próprio Fidel Castro, em pequena medida, acolhessem 
ideias marxistas, eles não pertenciam a nenhum partido comunista e não era inevitável 
que a revolução cubana se desenvolvesse a tal ponto de identificar-se com a doutrina 
comunista e instituísse a sua forma de governo (...). Com efeito, a revolução cubana foi 
autóctone, teve um caráter nacional e democrático (...).
Em abril de 1960, quando estive em Havana, acompanhando Jânio Quadros, então can-
didato à presidência do Brasil, vi Fidel Castro mostrar-lhe um crucifixo que trazia pendu-
rado no pescoço, indicando que não era comunista e que respeitava a Igreja. Mas, um 
ano depois, em 16 de abril de 1961, após o bombardeio dos aeroportos de San Antonio 
de los Baños, Santiago e Havana pelos aviões da CIA, Fidel Castro, após compará-lo, com 
justo motivo, ao ataque pérfido e traiçoeiro do Japão a Pearl Harbor, em 1941, declarou 
que os Estados Unidos não perdoavam Cuba porque ‘esta es la revolución socialista y 
democrática de los humildes, con los humildes y para los humildes’.
Ao fazer essa declaração, Fidel Castro buscou comprometer a União Soviética na defesa 
de Cuba. Ele jogou com o conflito político e ideológico que então eclodira entre Moscou 
e Pequim e dividira o Bloco Socialista, pois temia que Nikita Kruchev, na linha da coe-
xistência pacífica e em entendimento com John Kennedy, trocasse Cuba por Berlim Oci-
dental, em prol de melhores relações com os Estados Unidos. A proclamação do caráter 
socialista da revolução cubana, porém, representou igualmente duro golpe nos dogmas 
cristalizados por Joseph Stalin e outros líderes comunistas, sob o rótulo de marxismo-
-leninismo, uma vez que ela fora realizada não por um partido supostamente operário, 
constituído sob as normas do chamado centralismo-democrático e rotulado de comu-
nista, mas pelo Movimento 26 de Julho, uma organização composta, sobretudo, por ele-
mentos das classes médias, que, no curso da guerra de guerrilhas, passaram a incorporar 
camponeses e trabalhadores rurais, os guajiros, ao Exército Rebelde, em benefício dos 
quais realizaram a reforma agrária.
203 
De conformidade com a ortodoxia stalinista, Cuba não tinha condições materiais senão 
para realizar uma revolução agrária e democrática, mediante a instalação de um ‘gover-
no patriótico’, de união com a burguesia progressista, que se propusesse a impulsionar 
o processo de industrialização e, libertando o país do domínio imperialista, promover o 
desenvolvimento econômico e a emancipação nacional. Os dirigentes comunistas, que 
visitavam Havana, consideravam a revolução em Cuba estranha ao modelo, por eles re-
conhecido, dadolá não existir um operariado industrial, e julgavam Fidel Castro e seus 
companheiros um ‘grupo inexperiente, com formações ideológicas diversas e pouco 
definidas’, orientados pelo que qualificaram como ‘marxismo amador, ou melhor ainda, 
como cubanismo’. Ouvi quando Luiz Carlos Prestes, então secretário-geral do PCB, qua-
lificou Fidel Castro como ‘aventureiro’, em entrevista à imprensa do Rio de Janeiro, em 
1959.
A revolução cubana assim produziu profundas consequências na América Latina, onde 
a tendência das Forças Armadas para intervir, como instituição, no processo político, a 
partir de 1960, não decorreu apenas de fatores endógenos e constituiu muito mais um 
fenômeno de política internacional continental do que de política nacional, argentina, 
equatoriana, brasileira etc., uma vez que fora determinada, em larga medida, pela mu-
tação que os Estados Unidos estavam a promover na estratégia de segurança do he-
misfério, redefinindo as ameaças, com prioridade para o inimigo interno, e difundindo, 
através, particularmente, da Junta Interamericana de Defesa, as doutrinas de contra-in-
surreição e da ação cívica. Tanto isto é certo que a intervenção das Forças Armadas, a 
princípio, visou, sobretudo, a ditar decisões diplomáticas, a modificar diretrizes de polí-
tica exterior, e ocorreu, geralmente, nos países cujos governos se recusavam a romper 
relações com Cuba. E daí o surto militarista, com a propagação dos golpes de Estado, 
que tinham como principal fonte de inspiração a Junta Interamericana de Defesa, visan-
do a impedir que outro Fidel Castro surgisse na América Latina.
Fidel Castro foi o mais importante líder da América Latina, no século XX, e o fato de que 
permaneceu quase meio século no poder, apesar do bloqueio e de todas as pressões, 
inclusive dezenas tentativas de assassinato pela CIA, representou a maior derrota políti-
ca que os Estados Unidos sofreram, apesar de seu enorme poderio econômico e militar.
Fonte: BANDEIRA, L. A. M. Fidel Castro, a Revolução Cubana e a América Latina. Revista 
Espaço Acadêmico, n. 82, mar. 2008.
1. Iniciada em 1910, a Revolução Mexicana foi responsável por grandes transfor-
mações no México, caracterizando-se por ser um movimento de cunho popular, 
anti-imperialista e antilatifundiário. Diante disso, faça uma análise do processo 
dessa Revolução, enquadrando-a no contexto nacionalista latino-america-
no da primeira metade do século XX.
2. Desde antes da doutrina Monroe (1823), posteriormente, pela Doutrina do Desti-
no Manifesto, no século XIX, até chegar ao término do século, os Estados Unidos 
cristalizaram uma imagem não muito amistosa dos latino-americanos. A partir 
dessa informação, analise a mentalidade norte-americana em relação aos la-
tino-americanos. Registre suas conclusões.
3. Após a Revolução Cubana de 1959, várias ditaduras militares surgiram nos países 
latino-americanos. Diante dessa constatação, disserte sobre a influência dos 
Estados Unidos na ocorrência de regimes militares na América Latina.
4. A partir dos anos de 1960, vários regimes militares instalaram-se pela América 
Latina. Com relação à implantação da ditadura militar no Brasil, é correto 
afirmar que o seu início foi marcado por:
a) Eleições democráticas que levaram ao poder os militares.
b) Um acordo ocorrido entre o presidente João Goulart e comandantes das forças 
armadas brasileiras.
c) Uma sangrenta guerra civil em que os militares tomaram o poder a força, após a 
morte de milhares de brasileiros.
d) Um plebiscito realizado após a saída de Getúlio Vargas do poder.
e) Um golpe militar, ocorrido em 31 de março de 1964, que tirou o presidente João 
Goulart do poder.
5. A redemocratização dos países latino-americanos pode ser compreendida como 
um conjunto de “aberturas políticas” que ocorreram entre os anos de 1979 até 
o início da década de 1990. Após esse período, um novo modelo econômico foi 
implantado na maioria dos países latino-americanos. Assinale a alternativa que 
melhor indica a denominação desse sistema econômico: 
a) Comunismo.
b) Ditadura militar.
c) Teocracia.
d) Neoliberalismo.
e) Balança Comercial.
205 
6. No ano de 1876, Porfírio Diaz se tornou presidente, cargo que ocupou por 35 
anos seguidos, em um período que ficou conhecido como porfiriato. Sobre esse 
regime, é correto afirmar que:
a) Foi um período de intensa abertura democrática, distribuição de terras, intro-
dução de manufaturas e investimento em tecnologia, além da inauguração de 
rodovias em grande parte do território. 
b) Destacou-se pela intensa concentração de terras, a entrada de capitais estrangei-
ros e a renovação dos meios de transportes e comunicação, além da inauguração 
de ferrovias em grande parte do território. 
c) Caracterizou-se pela intensa publicação de direitos, a entrada de imigrantes e 
a renovação dos meios de transportes e comunicação, além da inauguração de 
aerovias em grande parte do território. 
d) Diferenciou-se pela intensa concentração imobiliária, a entrada de empresas es-
trangeiras e a estabilização da economia, além da inauguração de hidrovias em 
grande parte do território. 
e) Identificou-se com o movimento anarco-sindicalista, promovendo movimentos 
sociais e reivindicações de direitos trabalhistas em todo o território mexicano, 
além de inaugurar sindicatos em grande parte do território.
MATERIAL COMPLEMENTAR
Título: Breve História de Cuba
Autor: Julio Le Riverend
Editora: Editorial de Ciencias Sociales
Sinopse: trata-se de uma obra que explica o processo 
de formação de Cuba. O autor procura relatar a história 
de Cuba, inserindo-a em um contexto mundial.
Título: A Revolução Mexicana
Autora: Mariza de Carvalho Soares
Editora: FTD
Sinopse: a obra faz uma breve análise da Revolução 
Mexicana, uma das insurreições mais violentas e de 
maior amplitude ocorrida nas Américas no início do 
século XX. Tal conflito contou com a adesão maciça 
da população, principalmente dos camponeses. 
Título: Brasil: nunca mais
Autor: Paulo Evaristo Arns e Jaime Wright
Editora: Vozes
Sinopse: é uma das principais obras que fala sobre 
a ditadura militar no Brasil. Nela são abordadas as 
formas de atuação do sistema repressor durante 
esse período, bem como são apresentados os nomes 
dos principais torturadores dos porões da ditadura.
Material Complementar
MATERIAL COMPLEMENTAR
Título: Manhã Cinzenta
Ano: 1968
Sinopse: o filme foi lançado no ano em que vigorava o 
Ato Institucional n. 5 (AI-5). O longa-metragem mostra 
de forma clara o que se passava em uma fictícia ditadura 
latino-americana. Um casal de estudantes que participou 
de uma passeata é preso, torturado e interrogado por um 
robô. O filme chegou a sair de circulação por determinação 
do regime ditatorial então em vigor no Brasil, porém uma 
cópia foi salva e permaneceu escondida por 25 anos. 
Comentário: trata-se de um filme rico em detalhes sobre 
a ditadura militar no Brasil, porém pouco conhecido.
Título: Pra frente Brasil
Ano: 1982
Sinopse: o filme mostra um homem comum que, ao 
voltar para casa, é confundido com um “subversivo” 
e submetido a sessões de tortura para confessar seus 
supostos crimes.
Comentário: este filme retrata as torturas a que 
presos políticos eram submetidos. Em razão desse 
tratamento, muitos confessavam crimes que não 
haviam cometido.
Título: Desaparecido: um grande mistério
Ano: 1982
Sinopse: retrata a história de um jovem idealista que 
desaparece de sua casa em Santiago após o golpe 
de estado de Augusto Pinochet. Sua família, que 
se mudou dos Estados Unidos para o Chile, tenta 
descobrir seu paradeiro e vive uma verdadeira odisseia, 
visitando instituições e se deparando com burocracias 
incontroláveis. 
Comentário: o filme retrata a ditadura chilena de 
Augusto Pinochet (1973-1990) e revela como esse 
regime de exceção ocultava informações sobre mortos 
e desaparecidos.
MATERIAL COMPLEMENTAR
Título: O segredo dos seus olhos
Ano: 2009
Sinopse: o filme tem como objetivo mostrar a 
ditadura militar na Argentina e seus métodoscruéis e fraudulentos, como o de conceder 
liberdade a brutais assassinos e condenados 
por crimes altamente violentos em troca de que 
torturassem os presos políticos. 
Comentário: este filme apresenta a intolerância 
da ditadura argentina (1966-1973) e os métodos 
duvidosos e bárbaros utilizados pelos militares 
para se manterem no poder.
O portal indicado a seguir oferece um acervo riquíssimo (depoimentos, documentos 
etc) sobre as descobertas recentes relacionadas à ditadura militar no Brasil (1964-
1985). Faça uma visita!
Comissão Nacional da Verdade
Disponível em: <http://www.cnv.gov.br/todos-volume-1.html>. Acesso em: 02 out. 
2015.
http://www.cnv.gov.br/todos-volume-1.html
CONCLUSÃO
209
Chegamos ao final de mais uma disciplina!
Juntamente com esta unidade, encerramos o conteúdo de História da América. Es-
pero que você tenha aprofundado os seus conhecimentos com os temas abordados 
neste material.
Nossa preocupação foi ofertar instrumentos teóricos que contribuíssem com sua 
formação e aperfeiçoamento. Apresentamos, neste livro, conhecimentos que po-
dem ser adaptados à sua realidade escolar ou combinados com outros para o seu 
enriquecimento pessoal.
Discutimos sobre a História da América desde as civilizações pré-colombianas, per-
passando pela análise do Período Colonial na América Hispânica e Saxônica, bem 
como a crise do sistema colonial que derivou nos processos de independência das 
Américas. Além disso, discorremos sobre a formação e consolidação dos Estados 
Nacionais na América Latina e os fatores que transformaram os Estados Unidos em 
uma potência industrial em fins do século XX. Por fim, conhecemos sobre a interna-
cionalização da economia e as transformações sociais nas Américas durante o sécu-
lo XX. Certamente, esses conteúdos possuem reflexos até os dias de hoje em meio 
ao contexto de mudanças atuais que inundam o continente americano.
Você deve ter notado que utilizamos de vasta discussão historiográfica e trechos 
de documentos de época para orientar as nossas discussões. Essa escolha é funda-
mental para a formação do profissional da área de História, uma vez que permite o 
confronto e a contextualização de ideias.
Para os futuros professores apaixonados por história fica como sugestão a leitura 
dos livros mencionados e dos filmes recomendados ao longo da obra, os quais serão 
úteis se adaptados e utilizados em sala de aula.
Espero que você tenha apreciado a nossa viagem pela História da América e que os 
conteúdos analisados contribuam para a sua formação no curso de graduação em 
História!
Sucesso em sua trajetória acadêmica e profissional!
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
211
A CONQUISTA Espanhola e a colonização Espanhola na América e as atividades eco-
nômicas na colônia Cortés. SlidePlayer. Disponível em: <http://slideplayer.com.br/
slide/298456/>. Acesso em: 22 set. 2015.
AMEUR, F. A Guerra de Secessão (1861-1865). Lisboa: Edições 70, 2005.
ANDERSON, P. Linhagens do Estado Absolutista. São Paulo: Brasiliense, 1985. 
ANNA, T. A independência do México e da América Central. In: BETHELL, L. (org.). 
História da América Latina. São Paulo: Edusp, 2001, v. 3, p. 73-118.
AQUINO, R. S. L. de. História das sociedades americanas. Rio de Janeiro: Record, 
2000.
ARRUDA, J. J. de A. Atlas Histórico Básico. São Paulo: Scipione, 1996.
ATLAS da História do Mundo. São Paulo: Publifolha/Times, 1995, p. 222.
BANDEIRA, L. A. M. Fidel Castro, a Revolução Cubana e a América Latina. Revista 
Espaço Acadêmico, n. 82, mar. 2008.
______. O expansionismo brasileiro e a formação dos estados na Bacia do Pra-
ta: da colonização à guerra da Tríplice Aliança. Brasília, DF: Ed. da UnB, 1995.
BARTRA, R. (org.). El modo de producción asiático. 3. ed. México: Editora Era, 1975.
BARTRA, R. Tributo y tenência de la tierra en la sociedade azteca. In: BRADING, D. A. 
A Espanha dos Bourbons e seu império americano.
BETHELL, L. (org.). História da América Latina. Edusp; Brasília: Fundação Alexandre 
Gusmão, 1997, p. 391-445.
BRUIT, H. H. Bartolomé de las Casas e a simulação dos vencidos: ensaio sobre a 
conquista hispânica da América. Campinas, SP: Editora da Unicamp; São Paulo: Ilu-
minuras, 1995, p. 14-17, 55.
BRUIT, H. O visível e o invisível na conquista hispânica da América. In: VAINFAS, R. 
(org.). América em tempo de conquistas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1992.
CARDOSO, C. F. S. América pré-colombiana. São Paulo: Brasiliense, 1981.
CASTILLO, B. D. del. Historia verdadera de la conquista de Nueva España. Editora 
Guillermo Seres, 1998.
CHASTEEN, J. C. América Latina: uma história de sangue e fogo. Rio de Janeiro: 
Campus, 2001, p. 145-146.
CHAUNU, P. História da América Latina. São Paulo: Difel, 1983, p. 102.
CHOMSKY, N. O que o Tio Sam realmente quer. Brasília: UnB, 1999.
COLOMBO, C. Diários da descoberta da América: as quatro viagens e o testamen-
to. Porto Alegre: Editora L&PM, 1998.
REFERÊNCIAS
REFERÊNCIAS
CORRÊA, A. M. M. A Revolução Mexicana (1910-1917). São Paulo: Brasiliense, 1983.
CORTÉS, H. A conquista do México. Porto Alegre: L&PM, 1996.
______. Cartas de la conquista do México. Madri: Sarpe, 1985.
DONGHI, T. H. História da América Latina. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1975.
DORATIOTO, F. Maldita guerra: nova história da Guerra do Paraguai. São Paulo: 
Companhia das Letras, 2002.
ELLIOT, J. H. A conquista Espanhola e a Colonização da América. In: BETHEL, L. (org). 
América Latina Colonial. São Paulo: Edusp, 1998, v. 1, p. 135-194.
FAVRE, H. A civilização inca. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1987.
GAGGERO, H.; GARRO, A.; MANTIÑAN, S. Historia de América en los siglos XIX y XX. 
Buenos Aires: Aique, 2004.
GENDROP, P. A Civilização Maia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 2005.
GORENDER, J. O épico e o trágico na história do Haiti. SciELO, Estudos Avançados, 
São Paulo, jan./abr. 2004. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pi-
d=S0103-40142004000100025&script=sci_arttext>. Acesso em: 20 ago. 2015.
GRUZINSKI, S. A Colonização do Imaginário. Editora: Companhia das Letras, 2003.
HALE, C. Ideias políticas y sociales em America Latina, 1870-1930. In: BETHELL, L. 
Historia de America Latina. Barcelona: Crítica, 1991, v. 8.
HOBSBAWM, E. Bandidos. São Paulo: Paz e Terra, 2010, p. 137.
______. Era dos extremos. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
HOLANDA, S. B. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
HUBER, S. O segredo dos Incas. 5. ed. Belo Horizonte: Itatiaia, [s.d.].
IANNI, O. Imperialismo na América Latina. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 
1988.
KARNAL, L. A formação da nação. In: KARNAL, L. et al. História dos Estados Unidos: 
das origens ao século XXI. São Paulo: Contexto, 2008, p. 82-83.
KARNAL, L. Estados Unidos: a formação da nação. Da colônia à independência. São 
Paulo: Contexto, 2001.
KARNAL, L. et al. História dos Estados Unidos: das origens ao século XXI. São Paulo: 
Contexto, 2007.
LAS CASAS, B. de. Brevíssima relação da destruição das Índias: o paraíso destruí-
do. 2. ed. Porto Alegre: LPM, 1984.
REFERÊNCIAS
213
LIGHT, K. A viagem marítima da família real: a transferência da corte portuguesa 
para o Brasil. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.
LOC – Library Of Congress. The Meeting of Cortés and Montezuma. Disponível em: 
<http://www.loc.gov/exhibits/kislak/kislak-exhibit.html>. Acesso em: 15 ago. 2015.
LYNCH, J. As Origens da Independência na América Espanhola. In: BETHEL, L. (org.). 
História da América Latina: da Independência a 1870. São Paulo/Brasília: EDUSP/
Imprensa Oficial do Estado, 2001, v. 3, p. 19-72.
MAHN-LOT, M. A conquista da América espanhola. Campinas: Papirus, 1990.
MEGGERS, B. J. América Pré-Histórica. 2. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1985, p. 137 
-183.
MELO, E. O. Causas internas da Conjuração Mineira. Disponível em: <http://
webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:AMh1TMKrapoJ:https://
publicacao.uniasselvi.com.br/index.php/JOIA/article/view/143+&cd=1&hl=p-
t-BR&ct=clnk&gl=br>. Acesso em: 22 set. 2015.
MOREIRA, L. F. V.; QUINTEROS, M. C.; SILVA, A. L.R. da. As relações internacionais da 
América Latina. Petrópolis: Vozes, 2010.
MORTON, D. Breve História do Canadá. São Paulo: Alfa-Omega, 1989.
MURRA, J. V. La organización económica del Estado Inca. México: Siglo XXI, 1978.
PEREGALLI, E. A unidade das altas culturas Pré-Colombianas. In: PINSKY, J. et al. His-
tória da América através de textos. 11. ed. São Paulo: Contexto, 2013, p. 9-11.
PEREIRA, F. I. O liberalismo espanhol na América Latina. Revista Espaço Acadêmico, 
Maringá, PR, n. 78, nov. 2007. Disponível em: <http://www.espacoacademico.com.
br/078/78pereira.htm>. Acesso em: 22 set. 2015.
PRADO, M. L. A formação das nações latino-americanas. 11. ed. São Paulo: Atual, 
1994, p. 57-58.
______. América Latina no século XIX: tramas, telas e textos. São Paulo: Edusp, 
1999.
ROJAS, R. Blasón de plata. Buenos Aires: Losada, 1946, p. 119.
ROMANO, R. Mecanismos da conquista colonial. São Paulo: Perspectiva, 1973.
SANTOS, C. M. dos. O Atlântico e o Comércio Triangular: Lisboa. In: IV CONGRESSO 
LUSO-AFRO-BRASILEIRO, 1996, Rio de Janeiro: Edit. da UFRJ.
SCHOULTZ, L. Estados Unidos: poder e submissão. Bauru: Edusc, 2000.
REFERÊNCIAS
SCHWARTZ, S. B.; LOCKHART, J. A América Latina na época colonial. 2. ed. Rio de 
Janeiro: Civilização Brasileira, 2010.
STEIN, S. J. A herança colonial na América Latina: ensaios de dependência econô-
mica. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976, p. 101.
THE Border Question. MexicanHistory.org. Disponível em: <http://mexicanhistory.
org/mexicanamericanwar1.htm>. Acesso em: 03 set. 2015.
VAINFAS, R. Economia e sociedade na América espanhola. Rio de Janeiro: Graal, 
1984.
VEGA, G. de la. Primeira parte de los commentarios reales. Lisboa: Oficina de 
Pedro Crasbeeck, 1609, p. 17. Disponível em: <http://shemer.mslib.huji.ac.il/lib/W/
ebooks/001531300.pdf>. Acesso em: 04 maio 2015.
WIKIMEDIA Commons. File: Brazil 16 thc tupinamba.gif. Disponível em: <https://
commons.wikimedia.org/wiki/File:Brazil_16thc_tupinamba.gif?uselang=pt-br>. 
Acesso em: 15 set. 2015.
WIKIMEDIA Commons. File: Cordobazo.jpg. Disponível em: <https://commons.wiki-
media.org/wiki/File:Cordobazo.jpg>. Acesso em: 15 set. 2015.
WIKIMEDIA Commons. File: Cuba Libre (6938236123).jpg. Disponível em: <https://
commons.wikimedia.org/wiki/File:Cuba_Libre_(6938236123).jpg#filelinks>. Acesso 
em: 07 set. 2015.
WIKIMEDIA Commons. File: De Bry 1c.JPG. Disponível em: <https://commons.wiki-
media.org/wiki/File:De_Bry_1c.JPG?uselang=pt-br>. Acesso em: 13 ago. 2015.
WIKIMEDIA Commons. File: Depression-stock-market-crash-1929.jpg. Disponí-
vel em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Depression-stock-market-
-crash-1929.jpg>. Acesso em: 10 set. 2015.
WIKIMEDIA Commons. File: Guerra do Paraguai – Soldado Paraguaio de Guarda. JPG. 
Disponível em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Guerra_do_Paraguai_-_
Soldado_Paraguaio_de_Guarda.JPG>. Acesso em: 15 set. 2015.
WIKIMEDIA Commons. File: Independência ou Morte. jpg. Disponível em: <https://
commons.wikimedia.org/wiki/File:Independ%C3%AAncia_ou_Morte.jpg?uselan-
g=pt-br>. Acesso em: 23 ago. 2015.
WIKIMEDIA Commons. File: Latin American independence countries.png. Disponí-
vel em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Latin_American_independen-
ce_countries.png?uselang=pt-br>. Acesso em: 23 ago. 2015. 
WIKIMEDIA Commons. File: Movilizacion contra dictadura 1982.jpg. Disponível em: 
<https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Movilizacion_contra_dictadura_1982.
jpg?uselang=pt-br>. Acesso em: 05 set. 2015.
REFERÊNCIAS
215
WIKIMEDIA Commons. File: Pancho Villa y Emiliano Zapata2.jpg. Disponível em: <ht-
tps://commons.wikimedia.org/wiki/File: Pancho_Villa_y_Emiliano_Zapata2.jpg?u-
selang=pt-br>. Acesso em: 08 set. 2015.
WIKIMEDIA Commons. File: Quetzalcoatl, a Major Deity of the Cholula People 
WDL6756.png. Disponível em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Quet-
zalcoatl,_a_Major_Deity_of_the_Cholula_People_WDL6756.png?uselang=pt-br>. 
Acesso em: 16 ago. 2015.
WIKIMEDIA Commons. Porfirio Díaz. Disponível em: <https://commons.wikimedia.
org/wiki/Porfirio_D%C3%ADaz#/media/File:Porfirio_diaz002.jpg>. Acesso em: 09 
set. 2015.
WIKIMEDIA. Disponível em: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/com-
mons/8/84/13colonias.jpg>. Acesso em: 15 set. 2015.
WIKIPÉDIA. Declaração da Independência dos Estados Unidos. Disponível em: <ht-
tps://pt.wikipedia.org/wiki/Declara%C3%A7%C3%A3o_da_Independ%C3%AAn-
cia_dos_Estados_Unidos#/media/File:United_States_Declaration_of_Independen-
ce.jpg>. Acesso em: 23 ago. 2015.
WIKIPÉDIA. Doutrina do destino manifesto. Disponível em: <https://pt.wikipedia.
org/wiki/Doutrina_do_destino_manifesto#/media/File:American_progress.JPG>. 
Acesso em: 02 set. 2015.
ZURITA, A. de. Breve y Sumaria relación de los señores y maneras y diferencias 
que había de ellos em la Nueva España. 3. ed. México: Universidad Nacional Au-
tónoma de Mexico, 1993.
GABARITO
217
UNIDADE I
1. A opção correta é a C.
2. A opção correta é a E.
3. A opção correta é a C.
4. Espera-se que o(a) acadêmico(a) compreenda que os Tupis-Guaranis se carac-
terizavam por serem povos semi-sedentários, isso porque os locais de cultivo 
não permaneciam os mesmos e as aldeias, consequentemente, mudavam com 
frequência de local. Entre esses grupos, havia uma divisão: as mulheres eram as 
principais responsáveis pela prática agrícola e os homens, muito embora tam-
bém pudessem contribuir na limpeza da terra, se destacavam como caçadores 
e guerreiros. Os Tupis, por exemplo, quase sempre se deslocavam em busca de 
locais que fornecessem caça e pesca em abundância, além de condições propí-
cias para a prática da agricultura. Entretanto também estavam à procura da tão 
sonhada “Terra sem mal”, lugar ausente de sofrimento e onde os guerreiros que 
demonstrassem bravura seriam automaticamente transportados após a morte.
5. Espera-se que o(a) acadêmico(a) compreenda que a sociedade asteca não estava 
reduzida a uma divisão entre camponeses e burocratas. No circuito das elites 
governantes, havia privilégios significativos, enquanto entre os camponeses sur-
giam novas categorias sociais, contribuindo para tornar ainda mais complexa a 
compreensão dos desníveis característicos dos trabalhadores dessa natureza. Os 
mayeques, por exemplo, se distinguiam dos demais camponeses por não possu-
írem terras e, para sobreviver, deveriam trabalhar nas propriedades dos burocra-
tas astecas. Em Tenochtitlán, havia ainda os trabalhadores urbanos vinculados 
quase sempre a trabalhos artesanais, como tecelões, oleiros e ourives. Como se 
tratava de uma função exercida no interior da cidade, esses trabalhadores esta-
vam, geralmente, desvinculados de suas comunidades de origem e se organiza-
vam em corporações. Na configuração social asteca, os escravos (tlacoili) eram 
utilizados como servos de altos funcionários e eram tratados como criados, não 
sendo incumbida a missão de lavorar nas propriedades agrícolas. Em razão des-
ses desníveis sociais, a sociedade asteca pode ser considerada multifacetada e 
detentora de uma hierarquia rígida.
6. Espera-se que o(a) acadêmico(a) compreenda que os ayllus eram aldeias campo-
nesas compostas por famílias ligadas por laços de parentesco e gerenciadas pe-
los Kuracas. Em consonância com Schwartz e Lockhart (2010, p. 60), essas comu-
nidades eram consideradas entre os incas como o “microcosmo da vida social”, 
ou seja, a representação de uma unidade local mínima que nos permite falar 
em sedentarização do povo incaico. Tal organização foi de suma importância 
no momento da conquista espanhola. A distribuição de vários ayllus e a forma 
como estavam dispostos em aldeias locais em um imenso império facilitou a 
manutenção da integridade territorial mesmo após a conquista. Os hispânicos 
fizeram uso da estrutura do ayllu por este manter a unidade e se apropriaram de 
GABARITO
sua composição para implantar os dispositivos que permitiram a concentração 
da influência e presença europeia.
UNIDADE II
1. O intuito é que o(a) aluno(a) compreenda que

Mais conteúdos dessa disciplina