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LIVRO HISTÓRIA DA AMERICA

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Prévia do material em texto

HISTÓRIA DA 
AMÉRICA
Professora Dra. Verônica Karina Ipólito
GRADUAÇÃO
Unicesumar
C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a 
Distância; IPÓLITO, Verônica Karina.
 
 História da América. Verônica Karina Ipólito. 
 Maringá-Pr.: UniCesumar, 2016. Reimpresso em 2021.
 224 p.
“Graduação - EaD”.
 
 1. História. 2. América. EaD. I. Título.
ISBN 978-85-459-0204-1
 CDD - 22 ed. 980
CIP - NBR 12899 - AACR/2
Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário 
João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828
Impresso por:
Reitor
Wilson de Matos Silva
Vice-Reitor
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de Administração
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de EAD
Willian Victor Kendrick de Matos Silva
Presidente da Mantenedora
Cláudio Ferdinandi
NEAD - Núcleo de Educação a Distância
Direção Operacional de Ensino
Kátia Coelho
Direção de Planejamento de Ensino
Fabrício Lazilha
Direção de Operações
Chrystiano Mincoff
Direção de Mercado
Hilton Pereira
Direção de Polos Próprios
James Prestes
Direção de Desenvolvimento
Dayane Almeida 
Direção de Relacionamento
Alessandra Baron
Head de Produção de Conteúdos
Rodolfo Encinas de Encarnação Pinelli
Gerência de Produção de Conteúdos
Gabriel Araújo
Supervisão do Núcleo de Produção de 
Materiais
Nádila de Almeida Toledo
Supervisão de Projetos Especiais
Daniel F. Hey
Coordenador de Conteúdo
Priscilla Campiolo Manesco
Design Educacional
Yasminn Zagonel
Projeto Gráfico
Jaime de Marchi Junior
José Jhonny Coelho
Arte Capa
Arthur Cantareli Silva
Editoração
Robson Yuiti Saito
Revisão Textual
Ana Caroline de Abreu 
Ilustração
André Luís Onishi
Viver e trabalhar em uma sociedade global é um 
grande desafio para todos os cidadãos. A busca 
por tecnologia, informação, conhecimento de 
qualidade, novas habilidades para liderança e so-
lução de problemas com eficiência tornou-se uma 
questão de sobrevivência no mundo do trabalho.
Cada um de nós tem uma grande responsabilida-
de: as escolhas que fizermos por nós e pelos nos-
sos farão grande diferença no futuro.
Com essa visão, o Centro Universitário Cesumar 
assume o compromisso de democratizar o conhe-
cimento por meio de alta tecnologia e contribuir 
para o futuro dos brasileiros.
No cumprimento de sua missão – “promover a 
educação de qualidade nas diferentes áreas do 
conhecimento, formando profissionais cidadãos 
que contribuam para o desenvolvimento de uma 
sociedade justa e solidária” –, o Centro Universi-
tário Cesumar busca a integração do ensino-pes-
quisa-extensão com as demandas institucionais 
e sociais; a realização de uma prática acadêmica 
que contribua para o desenvolvimento da consci-
ência social e política e, por fim, a democratização 
do conhecimento acadêmico com a articulação e 
a integração com a sociedade.
Diante disso, o Centro Universitário Cesumar al-
meja ser reconhecido como uma instituição uni-
versitária de referência regional e nacional pela 
qualidade e compromisso do corpo docente; 
aquisição de competências institucionais para 
o desenvolvimento de linhas de pesquisa; con-
solidação da extensão universitária; qualidade 
da oferta dos ensinos presencial e a distância; 
bem-estar e satisfação da comunidade interna; 
qualidade da gestão acadêmica e administrati-
va; compromisso social de inclusão; processos de 
cooperação e parceria com o mundo do trabalho, 
como também pelo compromisso e relaciona-
mento permanente com os egressos, incentivan-
do a educação continuada.
Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está 
iniciando um processo de transformação, pois quan-
do investimos em nossa formação, seja ela pessoal 
ou profissional, nos transformamos e, consequente-
mente, transformamos também a sociedade na qual 
estamos inseridos. De que forma o fazemos? Criando 
oportunidades e/ou estabelecendo mudanças capa-
zes de alcançar um nível de desenvolvimento compa-
tível com os desafios que surgem no mundo contem-
porâneo. 
O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de 
Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo 
este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens 
se educam juntos, na transformação do mundo”.
Os materiais produzidos oferecem linguagem dialó-
gica e encontram-se integrados à proposta pedagó-
gica, contribuindo no processo educacional, comple-
mentando sua formação profissional, desenvolvendo 
competências e habilidades, e aplicando conceitos 
teóricos em situação de realidade, de maneira a inse-
ri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais 
têm como principal objetivo “provocar uma aproxi-
mação entre você e o conteúdo”, desta forma possi-
bilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos 
conhecimentos necessários para a sua formação pes-
soal e profissional.
Portanto, nossa distância nesse processo de cres-
cimento e construção do conhecimento deve ser 
apenas geográfica. Utilize os diversos recursos peda-
gógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possi-
bilita. Ou seja, acesse regularmente o AVA – Ambiente 
Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns e en-
quetes, assista às aulas ao vivo e participe das discus-
sões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe de 
professores e tutores que se encontra disponível para 
sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de 
aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranqui-
lidade e segurança sua trajetória acadêmica.
Professora Dra. Verônica Karina Ipólito
Possui graduação em História e Pedagogia pela Universidade Estadual de 
Maringá. Mestre em História pelo Programa de Pós-Graduação em História 
da Universidade Estadual de Maringá (2009). Especialista em Concepções em 
Ética e Política pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Mandaguari 
(2010). Especialista em Gestão Escolar pela Universidade Estadual do Centro-
Oeste (2010). Trabalhou como professora colaboradora da Universidade 
Estadual de Maringá (UEM) entre os anos de 2010 e 2012. Atuou como docente 
em alguns cursos de especialização na Faculdade de Filosofia, Ciências e 
Letras de Mandaguari (Fafiman) e no Instituto Dimensão. Tutora presencial 
do curso de Pedagogia (EaD/UEM) entre os anos de 2014 e 2015. Doutora 
em História pelo Programa de Pós-Graduação em História da Universidade 
Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp-Assis). Possui experiência 
nos seguintes temas: DOPS, PCB, movimentos sociais e políticos.
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SEJA BEM-VINDO(A)!
Caro(a) acadêmico(a), é com satisfação que apresentamos a você este livro, o qual ser-
virá de base e suporte para o desenvolvimento dos conteúdos da disciplina de “História 
da América”, do curso de graduação em História. Apresentaremos uma série de con-
teúdos que visam fornecer a você uma abordagem holística e ampla sobre a história 
do continente americano, desde as civilizações pré-colombianas até as transformações 
sociais e a internacionalização da economia ocorrida ao longo do século XX.
O desafio que se apresenta é expor os conteúdos que compõem esta área do conheci-
mento de forma harmoniosa e coerente, versando sobre os temas de seu interesse e que 
contribua para a formação e informação no interior do curso ora em desenvolvimento. 
Foi realizado um esforço para trazer conteúdos atualizados, inseridos em debates histo-
riográficos recentes, discutidos pelos principais professores e pesquisadores da área, de 
forma a confeccionar um texto moderno e completo.
Assim, começamos nosso trabalho com o estudo das civilizações pré-colombianas da 
América Portuguesa, Hispânica e Saxônica. Esse tema permite aprofundar os conheci-
mentos dos povos nativos das Américas compreendendo-os como sujeitos históricos e 
agentes sociais. O estudo desses povos é relevante, pois a partir deles é que teremos a 
base para analisar as próximas unidades. Na sequência, analisaremos o Período Colonial 
na América Hispânica e Saxônica de forma a conhecer os conflitos culturais entre nativos 
e colonizadores, a organização econômica, política e social. Conduziremos nosso estudo 
de modo a compreender a crise do sistema colonialque derivou nos processos de inde-
pendência da América Espanhola e Inglesa. Posteriormente, analisaremos a formação e 
consolidação dos Estados Nacionais na América Latina e os fatores que transformaram 
os Estados Unidos em uma potência industrial em fins do século XIX.
Para tornar o estudo mais interessante, abordaremos a internacionalização da economia 
e as transformações sociais nas Américas durante o século XX, objetivando a compreen-
são de movimentos revolucionários, regimes de exceção e a influência estadunidense 
nas relações continentais. Também será discutido o desenvolvimento da redemocratiza-
ção, globalização e do neoliberalismo na América Latina.
Esperamos que você tenha êxito nesta nova caminhada e que possa, de forma autôno-
ma e objetiva, fazer bom uso deste material.
Sucesso e vamos ao estudo!
APRESENTAÇÃO
HISTÓRIA DA AMÉRICA
SUMÁRIO
09
UNIDADE I
AS CIVILIZAÇÕES PRÉ-COLOMBIANAS DA AMÉRICA PORTUGUESA, 
HISPÂNICA E SAXÔNICA
15 Introdução 
16 Os Povos Indígenas da América Portuguesa 
22 As Civilizações Pré-Colombianas da América Hispânica: Astecas, Incas e 
Maias
36 Os Povos Ameríndios da América Saxônica 
42 Considerações Finais 
UNIDADE II
O PERÍODO COLONIAL NA AMÉRICA HISPÂNICA E SAXÔNICA
51 Introdução 
52 O Conflito de Culturas Entre Espanha e América Durante o Período 
Colonial
72 A Colonização da América Hispânica: Economia, Governo e Sociedade 
78 A Colonização da América Inglesa: Economia, Governo e Sociedade 
84 Considerações Finais 
SUMÁRIO
UNIDADE III
AMÉRICA FRENTE À CRISE DO SISTEMA COLONIAL E OS 
MOVIMENTOS DE INDEPENDÊNCIA
93 Introdução 
95 A Crise do Sistema Colonial Espanhol e as Alterações do Século XVIII 
106 Os Processos de Emancipação Política na América Espanhola 
114 A Independência da América Portuguesa 
120 O Processo de Independência da América Inglesa 
125 Considerações Finais 
UNIDADE IV
A FORMAÇÃO E CONSOLIDAÇÃO DOS ESTADOS NACIONAIS
135 Introdução 
136 A Formação dos Estados Nacionais (1825-1860) 
148 A Consolidação dos Estados Nacionais (1860-1890) 
161 Os Estados Unidos em Fins do Século XIX 
164 Considerações Finais 
SUMÁRIO
11
UNIDADE V
SÉCULO XX: INTERNACIONALIZAÇÃO DA ECONOMIA E 
TRANSFORMAÇÕES SOCIAIS
173 Introdução 
174 As Nações Americanas em Princípios do Século XX (1914-1929) 
183 As Transformações Ocorridas entre a Grande Depressão à Segunda Guerra 
Mundial (1929-1945)
185 Os Movimentos Revolucionários de Primórdios da Guerra Fria na América 
Latina (1945-1961)
190 As Transformações Ocorridas com o Fim da Guerra Fria na América Latina 
(1961-1989) 
193 O Poder de Influência Estadunidense e as Relações Continentais 
197 Redemocratização, Globalização e Neoliberalismo 
201 Considerações Finais 
209 CONCLUSÃO
211 REFERÊNCIAS
217 GABARITO
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Professora Dra. Verônica Karina Ipólito
AS CIVILIZAÇÕES PRÉ-COLOMBIANAS 
DA AMÉRICA PORTUGUESA, 
HISPÂNICA E SAXÔNICA
Objetivos de Aprendizagem
 ■ Conhecer os povos nativos da América Portuguesa, 
compreendendo-os como sujeitos históricos e agentes sociais.
 ■ Entender a importância histórica dos incas, maias e astecas na 
América Hispânica.
 ■ Analisar as especificidades dos povos pré-colombianos da América 
Saxônica.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
 ■ Os povos indígenas da América Portuguesa
 ■ As civilizações pré-colombianas da América Hispânica: incas, maias e 
astecas
 ■ Os povos ameríndios da América Saxônica
INTRODUÇÃO
Iniciamos a primeira unidade do livro apresentando as civilizações pré-colom-
bianas da América Portuguesa, Hispânica e Saxônica. Você irá notar que não 
houve a intenção de abordar todos os grupos nativos da América antes da con-
quista e colonização europeia.
A primeira finalidade é levá-lo(a) a refletir sobre os modos de vida e as dis-
tintas formas culturais existentes no continente americano. Em seguida, será 
detalhada a estrutura sociocultural dos povos ameríndios da América Portuguesa, 
recorrendo-se, para isso, a uma abordagem que compreenda o indígena como 
um sujeito histórico e agente social. Na sequência, analisaremos as chamadas 
altas culturas da América Hispânica (incas, astecas e maias), assim conhecidas 
por seu grau de complexidade. O objetivo é compreender a singularidade desses 
povos bem como o conjunto de instituições, regras e valores capazes de diferen-
ciá-los dos demais grupos ameríndios do continente.
Por fim, apreciaremos os povos pré-colombianos da América Saxônica, de 
maneira a conhecer suas formas de adaptação a diferentes tipos ambientais, 
muitas vezes inóspitos à presença humana. Acredito que, se você compreender 
a organização dos povos nativos localizados na América Portuguesa, Hispânica 
e Saxônica no período pré-conquista e colonização, poderá acompanhar melhor 
as outras unidades, cujas temáticas estão vinculadas a desdobramentos ocorri-
dos nessas regiões e estreitamente relacionados a tais grupos nativos abordados 
nesta unidade.
A intenção do conteúdo abordado nesta unidade é prepará-lo(a) de forma 
que entenda e contemple a História da América. Apesar disso, certamente haverá 
momentos nos quais você precise de materiais extras para auxiliá-lo(a). Isso é 
natural, uma vez que você está iniciando os estudos nessa disciplina!
Convido-o(a) a viajar pela América Pré-colombiana!
Uma excelente leitura!
Introdução
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Figura 01: Índios Tupinambás no Brasil. Gravura do século XVI
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AS CIVILIZAÇÕES PRÉ-COLOMBIANAS DA AMÉRICA PORTUGUESA, HISPÂNICA E SAXÔNICA
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
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AS CIVILIZAÇÕES PRÉ-COLOMBIANAS DA AMÉRICA 
PORTUGUESA, HISPÂNICA E SAXÔNICA
OS POVOS INDÍGENAS DA AMÉRICA PORTUGUESA
Você sabia que os grupos indígenas, independente da conjuntura, foram de 
suma importância para a implantação e manutenção do sistema colonial? Ainda 
assim, a sua participação não foi legitimamente considerada pela historiografia 
que versa sobre a América Portuguesa. Na maioria dos casos, prevaleceu a visão 
circunscrita da presença dos índios e o seu primeiro contato com os lusitanos 
e, na medida em que a colonização se tornava uma realidade concreta, explo-
rou-se a interpretação de indígenas vitimados por guerras, doenças variadas, 
excesso de trabalho e miscigenação com outras categorias sociais. Entretanto, 
Os Povos Indígenas da América Portuguesa
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nas últimas décadas, a influência de conceitos teóricos provenientes, sobretudo 
da antropologia, sociologia e etno-história, contribuiu para que os pesquisado-
res do assunto deixassem para trás a ótica, até então predominante, da extinção 
física e cultural dos nativos e adotasse um olhar que compreendesse o indígena 
como um agente social e sujeito histórico.
Em 1500, quando os portugueses chegaram à América, havia uma imensi-
dão de povos nativos, alguns dos quais testemunharam a vinda dos lusitanos e 
estabeleceram os primeiros contatos com eles. De forma especial, o litoral, de 
onde hoje se encontra o Brasil, era ocupado por “povos semissedentários”, os 
quais sobreviviam da caça, da coleta, da pesca e da agricultura. Possuíam aldeias 
e campos cultiváveis, algo fundamental para a sua manutenção. No entanto os 
locais de cultivo não permaneciam os mesmos e as aldeias, consequentemente, 
mudavam com frequência de local. Enquanto os indivíduos inclusos em gru-
pos sedentários, independente do sexo, dedicavam sua vida à agricultura, entre 
os povos semissedentários havia uma divisão: as mulheres eram as principais 
responsáveis pela prática agrícola e os homens, muito embora também pudes-
sem contribuirna limpeza da terra, se destacavam como caçadores e guerreiros. 
Outras características apontadas por Stuart B. Schwartz e James Lockhart (2010, 
p. 75) dão maiores detalhes da organização desses povos semissedentários:
Mesmo no nível da aldeia, o pagamento de tributos e o trabalho co-
munitário rotativo não eram conhecidos, nem havia um chefe forte 
encarregado de exigir impostos; pode ter havido um líder em alguns 
casos, mas ele estava mais preocupado com cerimônias ou com a guer-
ra. Classes sociais especializadas não costumavam existir, nem nobres, 
plebeus ou dependentes, embora alguns povos tivessem cativos tem-
porários tomados dos inimigos, nem havia altos sacerdotes e templos 
especiais. Embora o senso de etnia fosse forte, a organização da aldeia 
era frouxa e instável; não só sua localização mudava de tempos em tem-
pos como, em muitos casos, as linhagens individuais constituintes iam 
e vinham à vontade. As confederações de aldeias eram efêmeras, para 
fins defensivos ou ofensivos específicos. Acima de tudo, não havia uma 
unidade provincial de bom tamanho com forte coesão, permanência e 
identificação com um território nuclear compacto e específico, ou seja, 
não havia base potencial para encomendas no sentido usual. Não só 
havia pouco excedente de produção como não existiam mecanismos 
capazes de entregar produção e mão-de-obra a um grupo conquistador, 
nem intermediários para canalizá-las.
AS CIVILIZAÇÕES PRÉ-COLOMBIANAS DA AMÉRICA PORTUGUESA, HISPÂNICA E SAXÔNICA
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IU N I D A D E18
No caso da América Portuguesa, sobretudo no que diz respeito ao litoral do que 
atualmente é o Brasil, e onde se iniciou o processo de colonização, estava locali-
zado o grupo cuja língua pertencia ao tronco linguístico Tupi-Guarani. Alguns 
estudiosos acreditam que os tupis-guaranis são oriundos da região amazônica. 
Inicialmente, os Tupis-Guaranis abandonaram as terras onde moravam para se 
fixarem em direção ao litoral. Esse deslocamento ocorreu em função do aumento 
populacional e da escassez da caça. Tal processo provocou a divisão em dois gran-
des grupos: os Tupis e os Guaranis.
Quando chegaram à América, os portugueses se depararam com os Tupis, 
ocupando quase que integralmente a imensa costa brasileira, sobretudo a região 
compreendida entre os atuais estados de São Paulo e do Ceará, ao passo que os 
Guaranis estavam concentrados ao sul, nas regiões aproximadamente onde hoje 
se localizam os litorais de São Paulo e Rio Grande do Sul. Além dos Tupis e dos 
Guaranis, havia outros povos, dentre os quais podemos destacar os Jê, Karib, 
Pano, Tukano e Aruák, situados mais no interior da América Portuguesa (con-
sultar o mapa 1). Todos esses povos possuíam costumes e cultura própria. Por 
se diferenciarem dos Tupis, foram denominados por eles, genericamente, de 
Tapuias. Entretanto, como você já deve ter notado, o primeiro contato dos por-
tugueses ocorreu com povos que residiam no litoral.
Os Tupis acreditavam que os povos que não falavam a sua língua (os 
Tapuias) eram considerados “bárbaros”. Entre eles, era nutrida a percep-
ção de que possuíam uma cultura superior aos demais povos. A ideia de um 
cosmos dividido entre “nós” e os “outros” estava relacionada ao espírito de 
guerra, pois os Tupis consideravam os Tapuias seus inimigos congênitos. O 
conflito era algo relativamente natural para os Tupis, tanto que era comum 
haver desentendimentos entre os membros da mesma aldeia. Não raro, mui-
tos desses se aliavam em torno de um objetivo comum, mas, tempos depois, 
se desuniam e, em alguns casos, lutavam entre si.
Entre os Tupis, a família era o centro da vida tribal e as atividades estavam, 
geralmente, articuladas de acordo com o sexo e laços de parentesco. Desse modo, 
os homens de uma mesma família caçavam, pescavam, guerreavam contra os 
inimigos e construíam moradias. Às mulheres competia o cultivo da terra, a 
Os Povos Indígenas da América Portuguesa
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preparação dos alimentos, a confecção de utensílios de cerâmica, bem como o 
cuidado com as crianças. A produção era de subsistência, sendo dividida para 
os membros da tribo de acordo com as suas necessidades.
As aldeias tupis, conhecidas como tabas, estavam estruturadas de forma a 
proteger seus moradores em caso de guerra. Habitualmente eram cercadas por 
troncos de árvores e construídas de forma circular, disposição que oferecia maior 
segurança a seus membros. As ocas, edificadas por fibras vegetais e apoiadas por 
uma armação em madeira, possuíam o chão de terra batido, além de abrigarem 
dezenas de pessoas. Seu formato variava muito segundo a tradição e cultura de 
um povo. Os Tupis, por exemplo, construíam suas ocas em formato cilíndrico. 
Em cada uma dessas ocas, havia um líder (principal), os quais se reuniam perio-
dicamente para tomar decisões conjuntas sobre assuntos pertinentes à aldeia. 
Por mais que cada taba tivesse um chefe (morubixaba), podemos dizer que não 
havia um poder centralizado, pois os principais (líderes das ocas) se reuniam 
para discutir assuntos importantes das aldeias. Para se tornar um morubixaba, 
o aspirante à função deveria ser forte, provar valentia e ser fisicamente robusto.
As guerras Tupis estavam relacionadas a sentimentos como vingança e honra, 
não havendo registros de sua manutenção, estritamente por bens materiais. 
Depois de capturados, os inimigos eram, geralmente, mortos, esquartejados 
e devorados pelos guerreiros. Tal ritual antropofágico era necessário na sua 
cultura, pois acreditavam que a intrepidez e bravura do devorado seriam 
incorporadas a quem o consumiu.
Morubixaba vem do tupi-guarani e significa “grande líder”, ou seja, aquele 
que exerce a liderança “política” em uma taba (aldeia tupi). 
Fonte: a autora.
AS CIVILIZAÇÕES PRÉ-COLOMBIANAS DA AMÉRICA PORTUGUESA, HISPÂNICA E SAXÔNICA
Reprodução proibida. A
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IU N I D A D E20
Você já deve ter notado que os habitantes do que se designou como América 
Portuguesa formavam uma população heterogênea, que variava entre 3 a 5 
milhões de pessoas, distribuídas entre múltiplos povos, tais como: Tupi, Guarani, 
Jê, Aruak, Karib, Pano, Tukano, Charrua, dentre outros, conforme podemos 
conferir no mapa 1. Apesar de muitas vezes estarem localizados próximos uns 
dos outros, tais povos falavam línguas diferentes e possuíam hábitos distintos. 
Mapa 01: Distribuição aproximada dos povos indígenas à época da chegada dos europeus
Fonte: Arruda (1996).
Os Tupis quase sempre se deslocavam em busca de locais que fornecessem 
caça e pesca em abundância, além de condições propícias para a prática da 
agricultura. Entretanto também estavam à procura da tão sonhada “Terra 
sem mal”, lugar ausente de sofrimento e onde os guerreiros que demons-
trassem bravura seriam automaticamente transportados após a morte. 
Fonte: a autora.
Os Povos Indígenas da América Portuguesa
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Os europeus souberam da existência desses povos bem como a forma como 
viviam, por meio de relatos do século XVI. Missionários, náufragos e viajantes, 
os quais tiveram contato com as tribos litorâneas, sobretudo os Tupis, registraram 
os traços culturais de forma generalizada, fator que contribuiu para que durante 
muito tempo os indígenas fossem considerados todos semelhantes. Entretanto 
sabemos atualmente que os povos nativos não poderiam ser configurados como 
homogêneos, muito embora compartilhassem várias características entre si.
Residentes em locais hostis por conta de densas florestas, os indígenas pos-
suíam o conhecimento e domínio da natureza. Não era rara a utilização de várias 
plantas para a cura de determinadasdoenças bem como o uso de algumas espécies 
que tinham o poder de envenenamento. Era comum a aplicação dessas plan-
tas nos rios com o objetivo de intoxicar o peixe e facilitar a sua captura. Alguns 
venenos também eram usados na caça, a exemplo do curare, o qual era colo-
cado na ponta da flecha e poderia paralisar e matar por asfixia o animal ferido.
No âmbito artístico, os diferentes povos indígenas da América Portuguesa 
confeccionavam, em geral, objetos de uso cotidiano (como potes e urnas) e enfei-
tes para acompanhar os rituais (pinturas e plumas etc). Nas tribos, era comum a 
fabricação de esteiras, redes e cestos dos mais variados formatos.
Algumas cores, como o preto do pó de carvão, o vermelho do urucum, azul-
-escuro do jenipapo e o branco do calcário eram utilizadas nas pinturas corporais. 
As pinturas estavam, geralmente, associadas com o papel social do indivíduo ou 
com o ritual a ser praticado. Os desenhos possuíam formas geométricas, as quais 
também eram utilizadas em peças de cerâmica.
O conhecimento indígena bem como a sua familiaridade com a natureza 
foram inclusos na cultura que formou a difusão portuguesa na América, prin-
cipalmente nas primeiras décadas da colonização.
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AS CIVILIZAÇÕES PRÉ-COLOMBIANAS DA AMÉRICA 
HISPÂNICA: ASTECAS, INCAS E MAIAS
A rica variedade de povos que ocuparam o que chamamos de América Espanhola 
chama a atenção por seus modos distintos de convivência: costumes, línguas, eco-
nomias, meio ambiente e sistemas sociopolíticos. Entretanto devemos suprimir a 
nossa análise ao momento do contato com os espanhóis de forma a compreender 
como alguns elementos que marcaram o encontro entre espanhóis e ameríndios 
tiveram desdobramentos em acontecimentos futuros.
Certamente você já ouviu falar das civilizações pré-colombianas, também 
referenciadas como altas culturas americanas. Dentre essas, as que mais apre-
sentaram uma organização socioeconômica e política invejável foram os incas 
e astecas, a ponto de alguns autores, a exemplo de Stuart B. Schwartz e James 
Lockhart (2010, p. 59), denominarem essas estruturas de “povos imperiais”. 
Tal designação se deve ao fato de que essas civilizações não se caracterizaram 
somente por sua vida sedentária, mas por se organizarem em meio a um con-
junto de instituições cujas regras e valores próprios eram indeléveis. Criaram um 
rígido sistema tributário e se alimentaram dele, além de suas fronteiras serem 
bem delimitadas, fatores que os diferenciavam dos demais povos que se fixaram 
na América antes da chegada dos espanhóis.
Os astecas ocupavam a região da Mesoamérica entre os séculos XIV e XVI 
(conferir o mapa 03) e se constituíram em uma importante civilização guerreira 
que consolidou o seu poderio mediante a submissão de diversos povos confede-
rados vizinhos. No século XIV, fundaram Tenochtitlán, atual Cidade do México 
(capital do México), em uma área pantanosa, próxima ao lago Texcoco.
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Desde princípios do século XV, a área do México Central apresentava-
-se reunida por uma confederação de cidades-estados. Entre elas, destacava-se 
Tenochtitlán, território pertencente aos astecas, povo de língua nahuatl. Os aste-
cas, também conhecidos como mexicas, estabeleceram a hegemonia na região 
por volta de 1425, momento em que submeteram a cidade de Atzcapotzalco sob 
o seu domínio. A rígida hierarquização social entre os astecas é uma herança 
proveniente dos séculos I a VIII, período em que a região era controlada por 
Teotihuacán, outra cidade-estado e berço das grandes civilizações que se desen-
volveram no México pré-colombiano.
De forma geral, pode-se dizer que o tributo é o elemento central para a 
compreensão do império asteca bem como o sustentáculo de todo o aparato 
socioeconômico empregado na Mesoamérica (BARTRA, 1975, p. 214). Em cada 
uma das cidades-estados havia uma elite composta por burocratas, sacerdotes e 
guerreiros, os quais sobreviviam em função do sobretrabalho aldeão. Conforme 
Vainfas (1984, p. 24), a civilização asteca organizou-se por meio de uma rede de 
cidades-estados dominadas por Tenochtitlán. Para essa última, eram canalizados 
os impostos cobrados de camponeses e demais contribuições de outras cidades 
que estavam sob o seu poder. Em consonância com Schwartz e Lockhart (2010), 
havia um sistema de trabalho rotativo denominado de coatequitl (veremos que 
entre os incas havia uma prática similar chamada de mita). Essa obrigação “pas-
sava de distrito a distrito e de aldeia a aldeia, e os plebeus trabalhavam em suas 
unidades familiares sob a supervisão conjunta de seus próprios líderes e dos 
homens do governo” (SCHWART; LOCKHART, 2010, p. 61).
A região do México Central era uma das mais povoadas da América pré-co-
lombiana. Por meio da análise de fontes diversificadas, sobretudo de listagens 
relacionadas às cobranças de tributo, é possível estimar que a concentração 
demográfica dessa região fosse de 25 milhões de pessoas em 1519, momento 
em que o conquistador espanhol Hernán Cortez organizou a primeira expedi-
ção rumo a essa área. De forma significativa, Tenochtitlán concentrava 300 mil 
habitantes nesse mesmo ano, se configurando como uma cidade maior do que 
muitas da Europa.
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Incas e astecas estavam representados não somente por governantes como 
também por uma nobreza, a qual pode ser definida como uma linhagem em 
que seus membros estavam acima da plebe. Entre seus privilégios, podemos 
destacar a vestimenta diferenciada, os deveres mais amenos, o desfrute de altos 
cargos governamentais e religiosos, bem como o controle de terras e seguido-
res. No caso específico do México pré-colombiano, onde o centro sociopolítico 
estava concentrado em Tenochtitlán, havia uma monarquia eletiva liderada por 
um soberano (Tlatoani) proveniente dos mais destacados guerreiros de origem 
asteca. O Tlatoani era auxiliado por um conselho tribal, denominado de Tlatocán, 
o qual era composto por chefes das aldeias e que formava a base para a escolha 
e sucessão do soberano. A partir do século XV, com o crescimento da influência 
de Tenochtitlán, o Tlatoacán foi paulatinamente deixado para segundo plano. A 
burocracia de Estado que cingia, ou seja, que rodeava o imperador, sofreu um 
aumento significativo nesse momento e assumiu as funções de assessoria até 
então designadas ao Tlatocán. De acordo com Vainfas (1984, p. 25), tal processo 
estimulou o afastamento entre os dirigentes e a população aldeã.
Uma das fontes para compreender as divisões sociais da sociedade asteca é a 
obra “Historia General de las Cosas de Nueva España”, escrita pelo frei Bernadino 
de Sahagún. Nela, o clérigo afirma que os membros da nobreza estavam dispen-
sados de trabalhos, além de exibirem distintivos e vestuários que indicavam a 
sua posição social. Estavam inclusos nesse grupo os cobradores de impostos, os 
chefes administrativos, os sacerdotes do sol e da chuva, além de algumas agre-
miações militares de elite, como os guerreiros-jaguar e guerreiros-águia.
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Em sua “Breve y Sumaria relación de los señores y maneras y diferencias que 
había de ellos em la Nueva España” (1993), Alonso de Zurita, advogado e escri-
tor que se destacou pelas crônicas que produziu sobre o Novo Mundo, explicaque a elite asteca era sustentada pelos camponeses que trabalhavam em certas 
propriedades diante dos olhos fiscalizadores do império. Eram terras do palácio, 
do templo, da guerra e do próprio soberano. Havia casos em que o imperador 
concedia terras, em caráter vitalício ou hereditário, a funcionários ou guerrei-
ros que se destacavam em suas funções. Nos casos de concessões hereditárias, o 
trabalho era, geralmente, executado por camponeses que não possuíam direito 
a terra de subsistência, denominados de mayeques. Entretanto, em épocas de 
carestia, o império realizava a redistribuição de alimentos excedentes às popu-
lações camponesas.
Havia, ainda, os camponeses (macehualtin) que estavam organizados em 
comunidades conhecidas como calpullis. Considerado por alguns autores 
(CARDOSO, 1981; VAINFAS, 1984; SCHWARTZ; LOCKHART, 2010) como a 
unidade social básica dos astecas, o calpulli pode ser definido como um territó-
rio compartilhado com direitos comuns sobre a terra, além de contar com uma 
organização administrativa, militar, judiciária e fiscal própria. Em cada calpulli 
havia um chefe (calpullec), normalmente eleito pelos membros da comunidade, 
mas que nutria estreitos laços com o soberano asteca. O calpulli era formado por 
terras repartidas entre as famílias para o usufruto hereditário. Tais propriedades 
eram coletivas e utilizadas para a subsistência aldeã. Nelas, cultivavam os mais 
Ficou curioso sobre Bernadino de Sahagún? Saiba que ele era pertencente à 
ordem dos franciscanos, chegou à região asteca em 1529 e permaneceu na 
América até falecer, no ano de 1590. Sahagún escreveu um manual no qual 
pretendia descrever o universo cultural pré-hispânico na Mesoamérica, no 
intuito de que os demais missionários pudessem investigar a permanência 
de resquícios da antiga religião, podendo pregar contra ela, quando fosse 
necessário. 
Fonte: a autora.
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diversos produtos alimentícios, como o milho, o feijão e legumes. Entre as téc-
nicas rudimentares de cultivo desses alimentos, estão a coivara, a irrigação por 
canais e as ilhas flutuantes (chinampas), as quais eram muito comuns no lago 
Texcoco. Além de darem conta de suas funções, os camponeses deveriam tra-
balhar nas terras do Estado e executar serviços públicos, como o recrutamento 
militar (cuatéquil) realizado periodicamente.
A sociedade asteca dos primeiros anos do século XVI não se reduzia a uma 
divisão entre camponeses e burocratas. No circuito das elites governantes, havia 
privilégios significativos, enquanto entre os camponeses surgiam novas catego-
rias sociais, contribuindo para tornar ainda mais complexa a compreensão dos 
desníveis característicos dos trabalhadores dessa natureza. Como já demons-
trado anteriormente, os mayeques se distinguiam dos demais camponeses por 
não possuírem terras e, para sobreviver, deveriam trabalhar nas propriedades 
dos burocratas astecas. Em Tenochtitlán, havia ainda os trabalhadores urbanos 
vinculados quase sempre a trabalhos artesanais, como tecelões, oleiros e ourives. 
Como se tratava de uma função exercida no interior da cidade, esses trabalha-
dores estavam, geralmente, desvinculados de suas comunidades de origem e se 
organizavam em corporações. Na configuração social asteca, os escravos (tla-
coili) eram utilizados como servos de altos funcionários e eram tratados como 
criados, não sendo incumbida a missão de lavorar nas propriedades agrícolas. 
Uma sociedade multifacetada e uma hierarquia rígida. Essas eram as característi-
cas sociais dos astecas às vésperas da conquista hispânica. A presença espanhola 
não apenas causou forte impacto na estrutura social dos mesoamericanos como 
aproveitou essa estrutura para estabelecer as bases do processo colonizador, um 
assunto que trataremos adiante.
No âmbito religioso, os astecas adoravam vários deuses oriundos de tradições 
mesoamericanas ancestrais, veneravam as forças naturais e dos astros, além de 
praticarem cultos familiares. Acreditavam que a origem do universo se baseava 
em um casal proveniente de uma força sobrenatural, sendo ambos os respon-
sáveis pela criação de todos os seres vivos e inclusive dos deuses! Esses, por sua 
vez, teriam realizado uma de suas mais importantes atitudes ao terem criado o 
sol, o qual, conforme reza a lenda, foi formado por uma casualidade dos deuses. 
Nanauatzin, um deles, teria se lançado em uma fogueira durante uma reunião 
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de divindades realizada em Teotihuacán, ação que lhe rendeu a sua transforma-
ção em sol. Criou-se a ideia de que tal astro deveria se alimentar de sangue a 
fim de manter o seu fluxo contínuo. Diante dessa concepção, os próprios deuses 
teriam se sacrificado e ofertado o seu coração ao astro recém-nascido. A partir 
desse mito, os astecas acreditavam na necessidade de uma oferta sequencial de 
sacrifícios envolvendo sangue (VAINFAS, 1984, p. 27).
No panteão asteca, se destacava Huitzilopochtli, o deus sol, também con-
siderado a divindade dos guerreiros. Para estender seu manto protetor sobre a 
agricultura e, sequencialmente, sobre a fertilidade e os camponeses, os astecas 
renderam culto a Tláloc, o deus da chuva. Havia, ainda, o culto a Quetzalcóatl, 
serpente emplumada dos toltecas, povo ancestral dos astecas. Essa divindade 
era considerada o “herói civilizador”, a quem se atribuíam os costumes, a arte 
e a criação do calendário. Os astecas acreditavam no mito de que Quetzalcóatl 
retornaria pelo oeste e traria o fim dos tempos e o encerramento do império do 
Sol. Tal lenda coincidiu com a vinda dos conquistadores, os quais vieram pelo 
oeste, fator que, como veremos na unidade II, acelerou as instabilidades da civi-
lização asteca e provocou o seu declínio.
Diferente dos astecas que estavam concentrados na Mesoamérica, os incas 
localizavam-se na região andina e, embora não dispomos de estudos confiáveis 
sobre a concentração demográfica em seu império, é possível, de acordo com 
Vainfas (1984, p. 28), que a população estivesse estimada nos 20 milhões de habi-
tantes, dispersa pelas regiões que hoje compreendem o Equador, Bolívia, Peru, 
sul da Colômbia, parte do Chile e da Argentina. Em 1530, essas áreas estavam 
dominadas pelo Tahuantinsuyo, denominação também utilizada para se refe-
rir ao império inca, um dos mais centralizados da América Hispânica. Os incas 
falavam a língua quíchua e se expandiram significativamente por volta de 1438, 
portanto, antes da conquista espanhola, ocorrida na transição dos séculos XV ao 
XVI. Apesar disso, os incas não apresentavam uma organização urbana e esta-
tal de base sólida, como pudemos observar com os astecas na Mesoamérica. 
Tais condições facilitaram a unificação, promovida por Cusco, a qual se desta-
cou pela absorção de reinos, como o Tiahuanaco, Huari e Chimus. Entretanto é 
inegável que a ampliação territorial, bem como a significativa centralização polí-
tica e administrativa, rendeu ao império incaico uma singularidade especial na 
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história andina.
O representante supremo e também responsável pelo governo do impé-
rio era o Inca. De acordo com a tradição, o Inca era o governante máximo das 
quatro regiões do império, denominadas suyos, além de ser considerado o filho 
do sol. Normalmente, as alianças políticas eram construídas por meio do casa-
mento de soberanos Incas com filhas de confederações vizinhas (FAVRE, 1987). 
Apesar disso, a sucessão do poder entre os incas não estava bem determinada. 
Por isso, eram comunsas disputas entre os supostos herdeiros dos tronos (filhos, 
irmãos, sobrinhos etc).
O império inca (Tahuantinsuyo) estava subdividido em quatro regiões, quais 
sejam: Chinchaysuyo (terra do norte), Antisuyo (terra do leste), Contisuyo (terra 
do oeste), Collasuyu (terra do sol), como podemos observar no mapa a seguir:
Mapa 02: As quatro regiões do Tahuantinsuyo (Império Inca) / Fonte: a autora.
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Segundo alguns pesquisadores (VAINFAS, 1984; FAVRE, 1987), essas regiões 
eram governadas por parentes próximos ao Inca, os quais residiam em Cusco. 
A expansão de cada uma dessas regiões dependia da quantidade de reinos ou 
confederações anexadas. Tais territórios tinham como base da administração 
os ayllus, os quais podem, de forma geral, ser definidos como aldeias campone-
sas compostas por famílias ligadas por laços de parentesco e gerenciadas pelos 
Kuracas. Em consonância com Schwartz e Lockhart (2010, p. 60), essas comu-
nidades eram consideradas entre os incas como o “microcosmo da vida social”, 
ou seja, a representação de uma unidade local mínima que nos permite falar 
em sedentarização do povo incaico. Tal organização foi de suma importância 
no momento da conquista espanhola. A distribuição de vários ayllus e a forma 
como estavam dispostos em aldeias locais em um imenso império facilitou a 
manutenção da integridade territorial mesmo após a conquista. Os hispânicos 
fizeram uso da estrutura do ayllu por este manter a unidade e se apropriaram 
de sua composição para implantar os dispositivos que permitiram a concentra-
ção da influência e presença europeia.
As diferenças sociais do império podem ser mais bem compreendidas por 
meio da obra “Comentarios Reales acerca de los Incas”, escrita pelo cronista 
Garcilaso de la Vega e publicada em 1609. As funções próximas ao Inca, como 
os burocratas, sacerdotes e guerreiros especiais, eram sustentadas pelo sobretra-
balho aldeão e formavam o topo da hierarquia. Durante o século XV, os Kuracas 
(governantes dos ayllus) tiveram um reconhecimento diferenciado dos demais 
aldeões e foram realocados para o grupo dos dirigentes do império (kapa). A 
partir desse momento, foi atribuída aos Kuracas a função de administradores do 
Inca na esfera local e regional. Semelhante aos astecas, essa camada social não 
estava baseada na propriedade privada. Suas benesses, enquanto uma categoria 
prestigiada socialmente, eram oriundas da coerção militar que intermediava: o 
império concedia proteção aos aldeões e, em troca, realizava a redistribuição de 
excedentes agrícolas em momentos de escassez de alimentos.
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A sustentação social do império era formada pelos ayllus. Considerada a orga-
nização comunitária aldeã nos Andes, os ayllus eram formados por meio da 
distribuição periódica de terras entre as famílias. Essa repartição era organizada 
pelo kuraca, o qual concedia áreas para o plantio de culturas de subsistência, bem 
como terras para o uso comum. Na produção, destacavam-se principalmente 
o milho e a batata, dentre outras variedades de tubérculos. Mesmo utilizando 
técnicas rudimentares no trato com a terra e com a presença de terrenos mon-
tanhosos que dificultavam ainda mais a prática agrícola, os incas desenvolveram 
habilidades para o cultivo de produtos agrícolas em terrenos extremamente incli-
nados. Uma dessas práticas foi a implantação de canais de irrigação, construídos 
por meio da colaboração aldeã.
No pastoreio, os incas se destacaram na criação da lhama, importante meio 
de transporte, além de abastecer a população andina com sua carne, couro e lã. 
Os camponeses trabalhavam nas terras que lhe foram distribuídas e, além disso, 
deveriam fornecer sua mão-de-obra ao Estado, seja prestando serviços nas ter-
ras pertencentes aos chefes reais ou aos Incas bem como contribuindo com a 
construção de obras de uso coletivo. A essa oferta de serviços periódicos dava-
-se o nome de mita. Conforme ressaltou Ciro F. Cardoso (1981), a vida agrícola 
dos incas estava fundamentada na ajuda mútua, não havendo outras formas de 
pagamentos de impostos in natura além do trabalho. O kuraka concentrava mais 
riqueza do que qualquer outro integrante do ayllu por meio desses trabalhos for-
çados (mita). Em períodos de apuros, ele deveria fazer uma repartição de seus 
Garcilaso de la Vega era um escritor de origem inca. Nasceu em 1539, na re-
gião do atual Peru e faleceu na Espanha, em 1616. Era filho do conquistador 
espanhol Sebastián Garcilaso de la Veja e da princesa inca Chimpo Ocllo, 
por isso recebeu a alcunha de “O Inca”. No século XVII, lançou um projeto 
historiográfico ambicioso que se baseava no passado americano, sobretudo 
da região andina. Entre os seus trabalhos mais relevantes está “Comentarios 
Reales acerca de los Incas”, cuja primeira parte foi publicada em Lisboa, no 
ano de 1609, e a segunda, definida como “História Geral do Peru”, foi publi-
cada postumamente na Espanha (1617).
Fonte: a autora.
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bens. No entanto essa redistribuição era limitada, fator que confirmava a exis-
tência de um fosso social entre os homens comuns daqueles poderosos ou que 
ocupavam uma posição de destaque.
Em consonância com Vainfas (1984), apesar de sua divisão em quatro grandes 
províncias (Chinchaysuyo, Antisuyo, Contisuyo, Collasuyu), os incas consolidaram 
um império integrado e coerente, características as quais os astecas não conse-
guiram atingir. Construíram um sistema de estradas que unia todo o território 
(VAINFAS, 1984, p. 28-32). Havia o fornecimento de alguns serviços públicos, 
como correios, depósitos de alimentos e armas. Implantaram um sistema de con-
tabilidade registrado pelos quipos (cálculos com nós, feitos em cordas), por meio 
do qual controlavam o pagamento de tributos e a população de cada aldeia. No 
âmbito governamental, contavam com a chefia do Inca, filho do Sol e símbolo 
máximo da burocracia imperial, mas essa era dependente da burocracia local, 
representada pelos Kurakas regionais ou das aldeias (CARDOSO, 1981).
É importante enfatizar que os incas não se limitaram a cobrar o sobretrabalho 
aldeão. Investiram no aplainamento de terrenos inclinados, típicos das regiões 
montanhosas, contribuindo para a ampliação da área cultivável bem como para a 
divulgação de certos produtos alimentícios em áreas onde eram pouco conheci-
dos, a exemplo do milho nas regiões mais altas e da batata na costa peruana. Esse 
sistema agrícola funcionava por meio da mitmaq, ou seja, da mudança de aldeias 
inteiras de uma região para a outra, muito embora alguns autores defendessem 
que essa transmigração ocorria como punição para as comunidades aldeãs que 
resistissem ao poder do Inca (VAINFAS, 1984, p. 30).
Ao que parece, na região andina, o objetivo era que cada ayllu tivesse um 
conjunto de terras distribuídas em diversos microclimas. Em algumas áreas dos 
Andes, as variações de altitudes possibilitavam a existência de áreas diferentes, 
mas próximas umas das outras, cada qual com um clima propício para o cultivo 
de determinados alimentos necessários para a subsistência da civilização incaica. 
Como nos diz Schwartz e Lockhart (2010, p. 70), um grupo se fixava em terras 
baixas, próximas ao Pacífico, “para plantar algodão, terras de altitude mediana 
para o milho, terras ainda mais altas para batatas e produtos semelhantes, planal-
tos desolados para criar lhamas e alpacas e a terra úmida de encosta dos Andespara plantar coca”. Tal sistema de integração configurou-se no que John V. Murra 
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(1978, p. 135-259) denominou de “andares ecológicos” e fazia parte da tradição 
andina de rotatividade e colonização. Mesmo com a sedentarização dos povos 
andinos e com a confirmação de sua territorialidade, as migrações não deixaram 
de ser uma prática usual diante do enorme desafio ambiental que assumiram e 
da aplicação de práticas agrícolas em áreas tão íngremes.
Segundo Vainfas (1984, p. 30-31), em princípios do século XVI, às véspe-
ras da conquista espanhola, a composição da sociedade incaica se tornou ainda 
mais complexa. Isso porque surgiram grupos ligados por relações pessoais de 
servidão, nos quais se incluíam indivíduos desligados das relações entre a buro-
cracia incaica (Kuraka, Inca etc) e camponeses aldeãos, além de artesãos. Entre 
esses grupos, estavam, por exemplo, os yanacona, reduzidos a “servos hereditá-
rios” da nobreza inca e, ainda, as “virgens do Sol” (aclla) formadas por tecelagens 
ligadas aos nobres e ao Inca. Não obstante, a essência da estrutura da civilização 
incaica continuava fundamentada nos tributos firmados entre o Estado e os ayllus, 
baseada no uso coletivo da terra e no aproveitamento de seus recursos naturais.
As regiões dominadas pelos incas tiveram de deixar de cultuar deuses locais 
para render culto ao Sol (Inti), considerado o deus soberano. Enquanto os aste-
cas buscavam expandir o poder de atuação de Teotihuacán e se consideravam 
legítimos herdeiros dele e, consequentemente, das áreas dominadas, os incas, 
de modo distinto, eram vistos pelos povos subordinados como organizadores 
do caos mundano. No testemunho de Garcilaso de la Vega, há indícios dessa 
“missão” supostamente designada aos incas: “Nosso pai, Inti, ordena-nos que 
fiquemos neste vale e aqui nos estabeleçamos e reinemos”. Nesse trecho, o cro-
nista transmite as palavras de Manco Capac, o primeiro inca, simbolizando a 
tarefa do chefe Inca, filho do Sol, em levar a civilização para áreas distantes de 
seus domínios. Como relata Vainfas (1984, p. 31), alguns estudiosos acreditam 
que Viracocha seria a divindade incaica de maior projeção e lhe concediam a 
função de criar os elementos da natureza, como a terra, o céu e, inclusive, o Sol.
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A sobreposição do culto ao Sol em relação às divindades locais não eliminou o 
antigo hábito de cultuá-las. Os wakas ou huacas eram considerados uma força 
sobrenatural capaz de encarnar em um determinado objeto ou local. Sua adora-
ção continuou frequente e era, normalmente, realizada em locais considerados 
sagrados, como grutas, riachos, pedras, dentre outros. Os incas não viam essas 
divindades como concorrentes ao culto solar, muito pelo contrário, de forma geral, 
aceitaram a continuação dessas práticas em relação aos wakas a ponto de leva-
rem objetos que representassem essas crenças ancestrais para Cusco, centro do 
império. Tal prática era compreendida como uma submissão dessas divindades 
locais ao deus Sol. Toda essa organização fez com que as crenças dos antepassa-
dos, cultivadas desde antes da dominação incaica, não se perdessem no tempo, 
de modo que a sua força marcasse presença mesmo após a conquista hispânica, 
a ponto de se constituir como uma das formas de resistência cultural à coloni-
zação espanhola.
Os maias, por sua vez, era um povo pré-colombiano que habitou as regiões 
do atual sul do México, Guatemala, leste de Honduras, El Salvador, Belize e nor-
deste da Nicarágua. Algumas partes do território pertencente a esse povo viveram 
seu período áureo o século VII até aproximadamente o ano 1000. Alguns auto-
res, como Paul Gendrop (2005), por exemplo, defendem a ideia de que quando 
os espanhóis vieram para a América encontraram apenas vestígios dessa grande 
civilização, a qual teria finalizado o seu apogeu no século IX. Muitos arqueólo-
gos corroboram com essa ideia, pois acreditam que, no século XVI, momento da 
vinda de espanhóis para a América, os resquícios dos maias eram representados 
por singelos agricultores ligados por rituais religiosos ancestrais. Enquanto os 
maias entravam em decadência, por volta do século XII, os astecas, localizados 
mais ao norte do atual México (conferir o mapa 03), começavam a despontar 
como uma rica e promissora civilização.
“Pues soy indio, que en esta historia yo escriba como indio con las mismas 
letras que aquellas tales dicciones se deben escribir.”
Fonte: Vega (1609, p. 17).
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Mapa 03: Localização aproximada das altas civilizações pré-colombianas da América Hispânica
Fonte: a autora.
A unidade entre os maias nem sempre foi a sua característica principal. Eles, por 
exemplo, não estavam unidos por um único idioma, tanto que os atuais remanes-
centes dos maias são identificados por falarem seis dialetos principais, os quais, 
às vezes, são similares entre si, mas, em muitos casos, apresentam variações sig-
nificativas. Entre os seus registros, merecem destaque as inscrições estampadas 
nas paredes de templos e palácios. Boa parte de tais textos já foi decifrada e des-
tacam, geralmente, a história das dinastias maias, as guerras e incursões contra 
as cidades rivais, bem como o sacrifício de inimigos como forma de agradeci-
mento aos deuses.
As cidades maias eram consideravelmente grandes para a época, com algu-
mas abrigando até 50 mil habitantes. Mesmo sendo consideradas independentes, 
algumas delas lideravam federações que tinham poder sobre vastos territórios. 
Dentre as cidades de maior destaque, estavam Palenque, Tikal e Copán. Apesar 
disso, havia diferenças sociais: os mais abastados residiam em palácios e tem-
plos construídos com pedras, enquanto os menos favorecidos moravam em 
cabanas de madeira.
A base da economia maia era a agricultura, principalmente o milho, que era 
considerado um alimento sagrado. Na prática agrícola, utilizavam instrumentos 
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rústicos, sobretudo a queimada para limpar o terreno e torná-lo próprio para 
o cultivo.
Grande parte da população era composta de trabalhadores agrícolas, deno-
minados de mazehualob. Em termos políticos, a sociedade maia era representada 
por um monarca, o qual contava com vários auxiliares nas funções administra-
tivas, militares e religiosas. Tal monarquia tinha caráter hereditário e possuía 
forte apelo religioso.
Os maias acreditavam que a vida era gerida por deuses, os quais eram cul-
tuados em templos suntuosos. O pouco que se sabe sobre a religião maia é que 
esse povo acreditava que a maior parte dos deuses estava representada por ele-
mentos naturais, a exemplo do vento, da chuva ou do sol. Apesar disso, rendiam 
culto a Hunab, considerado o deus criador do mundo. 
De forma geral, os maias se destacaram ao desenvolverem avanços signi-
ficativos em cálculos matemáticos e observações astronômicas. Já sabiam, por 
exemplo, o conceito do número zero, compreendido pelos europeus apenas 
mais tarde. Além disso, organizaram o tempo por meio de um calendário com-
posto por 260 dias, orquestrados segundo os complexos movimentos de astros. 
Na arquitetura, construíram obras monumentais e elaboradas, a exemplo de 
cerca de 600 pirâmides edificadas na cidade de Teotihuacán. Em Tikal, outra 
cidade maia, foi erigido umtemplo de mais de 70 metros, considerado o maior 
da América pré-colombiana.
Mediante o que foi analisado até aqui, você deve ter notado que astecas e 
incas protagonizaram as cenas dos mais significativos e sólidos impérios pré-co-
lombianos. Em ambos, a centralização político-administrativa é surpreendente. 
Entretanto, entre os astecas, havia uma maior autonomia das cidades pertencen-
tes à confederação, fator que impossibilitou a unificação total da Mesoamérica. A 
preocupação principal residia em cobrar tributos em gêneros das cidades, além 
de fomentar o comércio a longas distâncias, fatores que deram certo prestígio à 
propriedade privada e atenderam aos anseios dos grupos dirigentes. Muito pro-
vavelmente as exigências em relação ao trabalho foram menos intensas do que 
no caso inca, o que facilitou a relativa liberdade das cidades que formavam a con-
federação asteca. De modo distinto, o império inca vivenciou a intensa presença 
governamental a partir de Cusco. Essa característica facilitou ao poder central 
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expandir o trabalho coletivo sobre as comunidades aldeãs existentes em seu 
território de atuação, além de restringir o comércio em prol das práticas de redis-
tribuição e, consequentemente, obstruir a formação de propriedades particulares.
O culto ao sol era algo recorrente em ambas as civilizações e era represen-
tado por divindades, o que realçava ainda mais o poder atribuído a esse astro. 
Entre os astecas, Huitzilopochtli alimentava a sede pela guerra em nome de novas 
conquistas e do triunfo desse povo em relação às demais cidades da confede-
ração. No império inca, Inti era a sustentação do poder e base da autoridade e 
integração política. Ainda assim, é possível verificar a presença de tradições ances-
trais entre as duas civilizações. Na Mesoamérica, havia a lenda de Quetzalcóatl, 
enquanto que, nos Andes, reinava a figura mitológica de Viracocha. Em ambos, 
havia a relação profunda do homem em sintonia com a natureza, algo distante 
da pregação corpo/alma implantada pelo cristianismo no período da conquista.
OS POVOS AMERÍNDIOS DA AMÉRICA SAXÔNICA
Os povos pré-colombianos da América Saxônica (região compreendida onde, 
hoje, se localizam o Canadá e os Estados Unidos) também se destacaram por sua 
imensa diversidade cultural. Tal variedade se sobressai no âmbito da arte, da con-
fecção de instrumentos e utensílios, da religiosidade e dos padrões de alimentação.
Essa multiplicidade ganhou conotação em períodos consideravelmente 
adjacentes, pois, de acordo com Cardoso (1981), durante os anos de 8.000 e 
5.000 a. C., momento em que as geleiras retrocederam para o extremo norte 
da América, a região era ocupada tão somente por esquimós. Tais grupos resi-
diam em uma área que se estendia do Alasca à Groenlândia. A sua subsistência 
era feita por meio da caça e pesca. Utilizavam como vestimenta materiais como 
o couro e a pele, os quais ajudavam a suportar as baixas temperaturas a que 
eram expostos. Residiam em habitações chamadas iglus e no campo religioso 
eram adeptos do animismo.
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Durante os séculos XVI e XVII, momento em que os europeus colonizaram de 
forma mais sistemática a América, houve ampla utilização do cavalo e de armas 
de fogo, fator esse que contribuiu para a modificação das formas de subsistência 
dos índios que habitavam a região das pradarias localizadas na Grande Planície 
da América do Norte. Alguns povos nativos, a exemplo dos sioux, consumiam 
a carne do búfalo, capturado geralmente por meio da caça, além de cultivarem 
alguns alimentos, como o feijão, o milho e a abóbora.
A vegetação também sofreu alterações consideráveis. Em alguns locais, 
os campos deram lugar às florestas, ao passo que certas regiões bem irrigadas 
deram lugar a terrenos semidesérticos. O processo de sedentarização ganhou 
força com a exploração de moluscos no litoral e o recolhimento de sementes em 
locais semiáridos, atividades essas que se somaram com as já existentes (caça e 
coletas primitivas). O trabalho mais cuidadoso na confecção de instrumentos 
de pedra permitiu o aperfeiçoamento dessas ferramentas bem como a adoção 
do método de polimento.
Nas regiões cobertas por florestas, predominava a caça e a coleta. Era 
comum o consumo de carne de animais silvestres, a exemplo do veado e do 
coelho. O recolhimento da abóbora, do milho selvagem, dentre outros, era uma 
prática adotada na alimentação de povos nativos que habitavam essas áreas. 
Residentes nas florestas Orientais da América do Norte (atual Península do 
Labrador e Rio São Francisco), os iroqueses era um desses grupos da floresta. 
Suas vestimentas eram confeccionadas com tecidos a base de lã, moravam em 
casas de madeira localizadas em aldeias fortificadas, viviam da agricultura, da 
caça e da pesca e, no âmbito religioso, combinavam o animismo com práticas 
De forma geral, considera-se animismo toda a manifestação religiosa que 
atribui aos elementos dos cosmos (sol, lua, estrelas), a determinados seres 
vivos (como os animais, as árvores e as plantas) e aos fenômenos naturais (a 
exemplo da chuva, do dia e da noite) uma causa primária de característica 
vital e pessoal, chamada de “anima”. Esta, por sua vez, simboliza a energia 
que movimenta o cosmos, o qual, em uma visão antropológica, significa es-
pírito e, na teocêntrica, é associado à alma.
Fonte: a autora.
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politeístas. Migraram para os Apalaches até chegarem ao litoral, onde prati-
cavam a caça, a pesca e a horticultura.
A irrigação, por sua vez, foi o elemento primordial para a difusão da agri-
cultura e indicou um perfilhamento mais complexo da organização social, 
como dos pueblos, grupo que habitava a região dos rios Colorado e Grande. 
Residiam em cavernas rochosas e em habitações semissubterrâneas, apoiadas 
por adobe ou pedra. De forma geral, tais abrigos possuíam um formato semi-
circular, em cujo centro havia uma praça na qual eram realizadas as cerimônias 
religiosas. Utilizavam técnicas de irrigação no cultivo do milho, além de con-
feccionarem a cerâmica e o tecido de algodão. Os navarros, assim como os 
pueblos, se fixaram nas regiões desérticas do Texas e da Califórnia. Praticavam 
a caça e a agricultura, além de confeccionarem vestimentas de couro e tecido 
de lã. Os navarros construíam suas cabanas com barro e, no âmbito religioso, 
comungavam do animismo e do politeísmo.
Em consonância com Betty J. Maggers (1985), havia pelo menos três mode-
los diferentes de habitat na América Saxônica, quais sejam: a floresta, o deserto 
e as grandes planícies. Apesar da distinção da oferta de recursos para a sobre-
vivência nesses ambientes, é imperativo reconhecer que em todos eles existe 
uma multiplicidade notável de alimentos, compostos por animais selvagens e 
plantas, além de proporcionar condições para o desenvolvimento da agricultura 
intensiva. Segundo Meggers (1985), nos três tipos de habitats existem pressões 
adaptativas que convergem no surgimento de configurações culturais, nas quais 
o desenvolvimento histórico e atributos gerais são especialmente similares. A 
exploração da potencialidade de cada um dos tipos ambientais está relacio-
nada aos vínculos estabelecidos com as áreas centrais, locais de onde vieram 
plantas que se adaptaram aos mais diversos climas. Também são provenientes 
dessas regiões algumas práticas e fundamentos religiosos bem como os mais 
diversos traços culturais adotados.
As regiões de floresta na América Saxônica, localizadas no leste dos EstadosUnidos e Canadá, abrigavam dois dos principais sistemas fluviais do hemisfério. 
Em tais zonas florestais, era comum a ocorrência de enchentes, as quais alagavam 
as terras mais baixas. Quando a inundação recuava, deixava para trás lagos rasos, 
algo que facilitou o encalhamento de peixes e a formação de pântanos. Havia a 
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predominância do clima temperado, caracterizado por invernos frios e verões 
quentes. Nesse ambiente, o solo era drenado e produtivo, não sendo necessária a 
utilização da irrigação. Nas florestas orientais, houve uma adaptação significativa 
à alimentação selvagem, fator que reforçou a segurança de grupos nativos depen-
dentes do cultivo agrícola. Há cerca de 10 mil a. C., a sobrevivência era garantida, 
sobretudo, com o cultivo do milho, da abóbora e do feijão. Além disso, as popu-
lações nativas já faziam uso de uma estrutura urbanizada embrionária e de uma 
política centralizada, fatores que evidenciavam uma clara organização social, 
muito provavelmente com a execução de práticas religiosas. Exemplo disso são 
os funerais: em cadáveres supostamente pertencentes a grupos abastados foram 
encontrados ornamentos de luxo, ao passo que, em outros, provavelmente per-
tencentes a grupos comuns, não há indícios de objetos dessa natureza.
Nesse universo, a difusão da cultura mississipiana representava o desba-
ratamento de um grupo cujas técnicas agrícolas eram consideradas superiores 
a de outras populações que habitavam as zonas florestais. De forma geral, nas 
florestas, a caça e a coleta eram práticas dominantes, principalmente com o 
consumo de carne de veado e coelho, a fartura de milho e abóboras selvagens. 
Dentre os grupos florestais, podemos destacar os iroqueses, os quais se fixaram 
nos Apalaches e região litorânea após se deslocarem de sua região de origem, ao 
oeste do Mississipi. Em suas terras, cultivavam práticas rudimentares de horti-
cultura, a pesca e a caça.
As regiões de desertos da América Saxônica apresentavam uma variedade 
considerável de áreas ecológicas, o que motivou o surgimento de uma multipli-
cidade de culturas. Os mongollon, por exemplo, residiam nas encostas e vales 
localizados a mais de 2.000 metros de altura. Onde atualmente se encontram os 
estados de Utah, Arizona, Novo México e Colorado era o habitat natural dos ana-
sazi. Os honokam, por sua vez, ocuparam o deserto do sul do Arizona e Novo 
México. É notável que o processo de sedentarização tenha ocorrido por volta de 
500 a. C., por meio do cultivo agrícola, mediante a irrigação. As concentrações 
populacionais somente se sedimentaram em razão desses avanços na tecnolo-
gia agrícola. Outras inovações incrementaram esse refinamento tecnológico, 
tais como a edificação de barragens de retenção, as quais canalizavam a água 
da chuva e dos rios para serem aproveitadas no processo de irrigação. Segundo 
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alguns arqueólogos, esses indícios simbolizam a existência de uma organização 
sócio-política estratificada. Apesar da influência das altas culturas mesoameri-
canas, pode-se dizer que os grupos que habitavam as regiões dos rios Colorado 
e Grande desenvolveram uma sociedade e cultura próprias. Residiam em locais 
apoiados sobre rochas e em abrigos semissubterrâneos sustentados por cons-
truções de adobe e pedra. Era comum a existência de uma praça central, local 
onde se realizavam os cultos religiosos. Além de cultivarem o milho de forma 
intensiva, tais populações também confeccionavam tecidos, algodão e utiliza-
vam o sistema de irrigação.
Sobre o tipo ambiental das Grandes Planícies, o pouco que se sabe é que, 
neste período, o padrão de vida foi nômade, dada a existência de grupos caçado-
res e coletores. Com a introdução da cerâmica nas florestas do leste, aumentou 
consideravelmente a quantidade de registros, fator que permitiu detalhar as for-
mas como esses grupos viviam. Dessa forma, os pesquisadores concluíram que a 
caça e a pesca enriqueceram a alimentação desses povos, aliados à coleta de raí-
zes, sementes, amoras e frutos silvestres. Por volta de mil anos atrás, houve uma 
mudança significativa, o que provavelmente resultou na formação da cultura mis-
sissipiana. Aldeias compostas por cabanas de terra multiplicaram-se, indicando 
traços de uma comunidade mais sedentária, alicerçada no cultivo de feijão, milho 
e abóbora em vales próximos. A concentração populacional em áreas específicas 
ficou mais evidente há 15 mil anos atrás, quando algumas aldeias visivelmente 
maiores cresceram, enquanto as aldeias menores desapareceram. Muito prova-
velmente, a intensificação da agricultura foi fator pujante para esse fenômeno. 
Antes de conhecerem o cavalo, as caças eram realizadas em regiões circunvizi-
nhas e limitadas. Por esse motivo, os acampamentos eram mudados com certa 
frequência, no intuito de manter o acesso à caça.
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Anteriormente a vinda dos colonizadores, as caças eram realizadas com ins-
trumentos rústicos, a exemplo das pontas de projétil. Entretanto, nos séculos 
XVI e XVII, os europeus introduziram as armas de fogo e os cavalos, fatores que 
facilitaram a subsistência dos índios. Além de caçarem animais como os búfalos, 
esses grupos nativos se dedicavam ao plantio de abóbora, do milho e feijão. No 
século XIX, doenças europeias atingiram fatalmente essas populações e devas-
taram comunidades inteiras do oeste e norte da América Saxônica.
Pelo o que você aprendeu anteriormente, pode notar que os diversos povos 
que habitavam a América Saxônica eram semelhantes em seus modos de vida, 
apesar de se localizarem, muitas vezes, em tipos ambientais distintos (florestas, 
desertos e grandes planícies). As atividades mais recorrentes e executadas pela 
maioria dos grupos que habitavam essa região eram a agricultura, com o cultivo 
de milho principalmente, além da utilização da caça e pesca bem como a coleta 
de sementes para a manutenção das aldeias.
Muito embora tais grupos não tenham se estruturado de forma tão com-
plexa quanto às altas culturas que se desenvolveram na Mesoamérica e região 
andina, compartilhavam entre si uma organização sociopolítica e religiosa pare-
cida. Partilharam mudanças significativas, como a assimilação de técnicas, a 
exemplo do uso de irrigação, que favoreceram e aperfeiçoaram a agricultura.
Com o que você conheceu até aqui, pode-se afirmar que cada cultura vivenciou 
momentos de adaptação a um meio ambiente específico e com um pensamento 
próprio. De todas essas transformações, podemos compreender que as trocas 
culturais resultantes do contato entre os grupos sejam por meios amistosos ou 
das conquistas de um povo por outro, significam que tradições sociais distintas 
podem-se desdobrar em uma cultura mista, na qual possivelmente coexistem 
princípios das antigas e novas sociedades.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na primeira unidade, conhecemos os povos pré-colombianos da América 
Portuguesa, Hispânica e Saxônica, os quais talvez você já tenha ouvido falar ou 
conhecido em sua formação. É importante lembrá-lo(a) que os conteúdos que 
vimos não tem como finalidade apenas a confecção de trabalhos acadêmicos, 
visto que em vários momentos do nosso cotidiano nos deparamos com notí-
cias relacionadas a remanescentes desses povos ou a descobertas científicas, 
mediante as quais se torna necessário analisá-lassobre um viés crítico baseado 
em um conhecimento de causa.
Na realidade, os seres humanos sempre dependeram, em maior ou menor 
grau, das organizações para a sua sobrevivência. Conforme analisamos ao longo 
dessa unidade, as estruturas dos povos pré-colombianos variavam de acordo 
com o tempo e espaço, adquirindo um nível de complexidade maior em algu-
mas regiões da América Hispânica. Nas demais regiões (América Portuguesa e 
Saxônica), a convivência de diversos grupos nativos, cada qual com seus hábi-
tos, cultura e liderança, revelou um caráter descentralizado e, de certa forma, 
independente de relações hierárquicas.
Evidentemente, os grupos humanos que compunham a América pré-colom-
biana eram múltiplos e cada qual possuía características próprias. De forma geral, 
podemos dizer que, durante o processo de conquista e colonização, os europeus 
concentraram suas ações de forma desproporcional e em áreas cuja população 
nativa estava praticamente sedentarizada. Os povos semissedentários desperta-
ram um interesse secundário, sendo que a tentativa de negociação com grupos 
móveis foi realizada apenas em últimos casos. Por isso, as terras ocupadas por 
povos sedentários, em razão de toda a sua estrutura complexa e organizacional, 
se constituíram em um terreno fértil para o crescimento da sociedade americana 
no século XVI, momento de conquista e colonização dessas áreas.
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A UNIDADE DAS ALTAS CULTURAS PRÉ-COLOMBIANAS
Entendemos por Altas Culturas Pré-colombianas as civilizações americanas localizadas 
no México atual, na região norte da América Central e na faixa que se estende desde a 
Colômbia até o Chile, acompanhando a orla marítima do Oceano Pacífico.
Um observador atento poderá perceber de imediato que as regiões acima assinaladas 
como Altas Culturas, compreendendo respectivamente a Confederação Asteca, as Cida-
des-Estado maias e o Império Inca, são zonas onde hoje impera o “subdesenvolvimento”, 
enquanto a América de língua inglesa, localizada fora desse mapa, parece ter-se “desen-
volvido”. Por que o norte se desenvolveu e o sul se subdesenvolveu? Por que as regiões 
outrora “ricas” são hoje as mais pobres? Ou, por que as regiões antes mais “pobres” são 
hoje as mais poderosas economicamente?
A ideologia colonialista resolveu aparentemente o problema, remetendo-o ao estigma 
da inferioridade racial do índio americano e do negro escravo, à miscigenação racial, 
aos impedimentos geográficos e a outras teorias mais ou menos exóticas. Essas teorias 
têm em comum a premissa de que o continente americano necessitou da presença do 
branco europeu para penetrar na história dos povos civilizados, e afirmam que quanto 
mais nos aproximamos desse modelo capitalista mais seremos “felizes”. Como os colo-
nos ingleses construíram na América do Norte uma sociedade “à imagem e semelhança” 
da europeia, seu desenvolvimento foi muito mais rápido do que o das regiões da Con-
federação Asteca, das Cidades-Estado maias e do Império Inca, reafirmam tais teorias.
Essa explicação leva a um raciocínio formal assustador: se no passado os povos america-
nos não foram capazes de se desenvolverem sem a tutela dos europeus, hoje, continu-
am precisando da tutela dos mais desenvolvidos para mostrarem o caminho da supera-
ção do subdesenvolvimento.
Mas a ciência moderna tem sido incapaz de provar efetivamente a suposta inferioridade 
americana, ou ainda de demonstrar que o fator geográfico é determinante para o desen-
volvimento econômico. Não podemos aceitar a existência de povos inferiores ou povos 
sem história (nós, latino-americanos) e povos com história (as sociedades capitalistas 
avançadas). Esse dualismo é artificioso e não explica a realidade.
A história tem demonstrado que o desenvolvimento de uns está condicionado ao sub-
desenvolvimento de outros (...).
Está claro para a história que todos os povos são potencialmente iguais, mas não bas-
ta dizer simplesmente isso. Para abandonar explicações metafísicas, devemos inserir os 
povos nas estruturas socioeconômicas, no terreno das particularidades regionais, nas 
diferentes formas de desenvolvimento, nas formações sociais.
Fonte: PEREGALLI, E. A unidade das altas culturas Pré-Colombianas. In: PINSKY, J. et al. 
História da América através de textos. 11. ed. São Paulo: Contexto, 2013, p. 9-11.
1. Em 1500, quando os portugueses chegaram à América, havia uma imensidão 
de povos nativos, alguns dos quais testemunharam a vinda dos lusitanos e esta-
beleceram os primeiros contatos com eles. De forma especial, o litoral de onde, 
hoje, se encontra o Brasil era ocupado por “povos semissedentários”, os quais 
sobreviviam da caça, da coleta, da pesca e da agricultura. Faça uma reflexão 
desse tema e assinale a alternativa correta sobre os povos pré-colombianos 
que habitavam a América Portuguesa:
a) Os únicos povos indígenas à época da chegada dos europeus eram os Tupis-
-Guaranis.
b) Quando chegaram à América, os portugueses se depararam com os Tupis, ocu-
pando quase que integralmente a região próxima à Linha do Equador, sobretu-
do a área compreendida entre os atuais estados de Amazonas, Roraima, Pará e 
Amapá.
c) Além dos Tupis e dos Guaranis, havia outros povos, dentre os quais podemos 
destacar, os Jê, Karib, Pano, Tukano e Aruák, situados no interior da América Por-
tuguesa.
d) Os Tapuias acreditavam que os povos que não falavam sua língua (os Tupis) eram 
considerados “bárbaros”.
e) Entre os Tupis, a hierarquia era o centro da vida tribal e as atividades estavam, 
geralmente, articuladas de acordo com a classe social que ocupavam.
2. Os maias estavam organizados de forma descentralizada, dividindo o poder políti-
co entre várias cidades-estados. Além disso, são lembrados por diversas inovações 
consideradas avançadas para a época. Sobre os maias, é correto afirmar que:
a) Era um povo pré-colombiano que habitou as regiões desérticas da América 
Saxônica.
b) Assim como os astecas e os incas, a unidade foi a característica principal dos 
maias.
c) Segundo informações recentes, fornecidas por arqueólogos, o topo da hierar-
quia da sociedade maia era ocupado por grupos de sacerdotes pacifistas e ob-
servadores de astros, sustentados por camponeses.
d) A organização militar era feita de acordo com a necessidade e por meio de recru-
tamentos. Os armamentos utilizados eram sofisticados para a época, compostos 
por canhões e armas de fogo.
e) Destacaram-se nos cálculos matemáticos e em observações astronômicas. Além 
disso, já sabiam o conceito do número zero, organizaram o tempo por meio de 
um calendário e construíram obras monumentais e elaboradas.
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3. Os povos pré-colombianos da América Saxônica (região compreendida onde, 
hoje, se localizam o Canadá e os Estados Unidos) se destacaram por sua imensa 
diversidade cultural. Tal variedade se sobressai no âmbito da arte, da confecção 
de instrumentos e utensílios, da religiosidade e dos padrões de alimentação. 
Sendo assim, analise as afirmações abaixo e assinale V para as opções verdadei-
ras e F para as falsas:
( ) Grande parte desses povos eram adeptos do animismo.
( ) Nas regiões cobertas por florestas, predominava a caça e a coleta. A irrigação, 
entretanto, foi o elemento principal para a difusão da agricultura.
( ) Entre os principais povos nativos que ocupavam a América Saxônica, podemos 
destacar: os Sioux, os Iroqueses, os Navarros, os Pueblos, os Mongollon, os Incas, os 
Anasazi e os Honokam.
( ) A pesquisadora Betty J. Maggers (1985) classificou os povos pré-colombianos da 
América Saxônica de acordo com os seus habitats, quais sejam: a floresta, o deserto 
e as grandes planícies.
( ) As atividades mais recorrentes entre esses grupos eram a agricultura, a caça, a 
pesca e a coleta de sementes para a manutenção das aldeias.
A sequência correta é:
a) V, V, V, F e V.
b) V, V, F, F e V.
c) V, V, F, V e V.
d) F, V, F, V e V.
e) V, V, V, F e F.
4. É correto afirmar que os Tupis-Guaranis exploravam o mesmo pedaço de terra 
por muitos anos? Analise e confronte

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