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Tratamento de Água Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Dr. Fernando Freitas de Oliveira Revisão Textual: Profa. Ms. Luciene Oliveira da Costa Santos A água e os mananciais • Propriedades da Água • Mananciais: fontes de água • Disponibilidade e demanda de água · Conhecer as propriedades da água e sua disponibilidade para consumo, além de compreender o que é um manancial, qual sua importância, e como ocorre sua degradação por interferência das atividades humanas. A unidade aborda também os usos consunti- vos de água no Brasil. OBJETIVO DE APRENDIZADO A água e os mananciais Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como o seu “momento do estudo”. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo. No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados. Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Não se esqueça de se alimentar e se manter hidratado. Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE A água e os mananciais Contextualização As imagens do nosso planeta feitas por satélites e sondas espaciais revelaram que a Terra na verdade tem grande parte de sua superfície coberta por água, uma vez que 75% da crosta terrestre está submersa. Além de ser relativamente abundante no planeta, a água também é considerada uma substância essencial ao surgimento e à manutenção da vida, sendo indiscutível sua importância para o desenvolvimento das sociedades e das diversas atividades humanas. Um exemplo de sua importância vital é que nós podemos ficar até vinte dias sem nos alimentar, mas apenas quatro dias sem beber água. Dentre suas propriedades, podemos destacar que a água constitui-se um solvente universal da maioria das substâncias, incluindo uma série de impurezas como algumas substâncias tóxicas. Desta forma, dependendo do uso consuntivo (irrigação, processamento industrial, dessedentação de animais e abastecimento público) e do estado de integridade do manancial onde a água é captada, se faz necessário o uso de um método adequado para o tratamento da água, conferindo a ela os padrões de qualidade necessários para o consumo. A crescente degradação dos mananciais, principalmente próximos às grandes cidades, devido a poluição pelo lançamento de efluentes domésticos e industriais, vem sendo considerado um fator de redução da disponibilidade de água, principalmente para usos mais nobres, como o abastecimento público, que requerem níveis mais restritivos de qualidade. Alguns tipos de poluentes que atualmente passaram a ser lançados nos corpos hídricos colocam em risco à saúde pública, e requerem métodos mais complexos de tratamento para serem removidos. Isto demanda um maior esforço, dedicação e inovação, principalmente por parte dos profissionais da área de engenharia ambiental e sanitária. Fonte: commons.wikimedia.org 8 9 Propriedades da Água A água é o principal componente dos seres vivos, que no curso da evolução foram se adaptando às propriedades físicas e químicas dessa substância. Essas propriedades, ou características próprias, é que diferenciam a água dos demais fluidos. Dois átomos de hidrogênio e um átomo de oxigênio unidos por ligações covalentes compõem a molécula da água, que pode se dissociar formando dois produtos de ionização, H+ e OH-, que são reativos e influenciam a estrutura e propriedades de outros componentes químicos imersos em água. As moléculas da água associam-se entre si transitoriamente formando uma rede, devido à sua natureza polar, que consiste na capacidade de atrair cargas elétricas. A região do oxigênio tem uma carga levemente negativa e a região dos hidrogênios tem carga levemente positiva. Qualquer molécula que tenha esse tipo de distribuição desigual de cargas é chamada de molécula polar. Essa propriedade da água dá a ela a possibilidade de realizar até 4 pontes de hidrogênio, que constituem “ligações fracas”, ou seja, interações com força de atração entre cargas negativas e positivas das moléculas (Veja na figura 1). Figura 1. Formação de pontes de hidrogênio na água. Na molécula de água o átomo de oxigênio tem uma carga levemente negativa, e a parte contendo os átomos de hidrogênio tem uma carga levemente positiva (a). Na formação de pontes de hidrogênio (pontilhado), o hidrogênio de uma molécula é atraído pelo oxigênio de outra. Várias moléculas de água podem ser atraídas umas pelas outras por pontes de hidrogênio, sendo que cada molécula pode realizar ao mesmo tempo até 4 pontes de hidrogênio (b). Fonte: Tortora et al., 2012. 9 UNIDADE A água e os mananciais Por que a água é considerada um solvente universal? Por qual motivo, na maior parte do planeta Terra, a água é encontrada no estado líquido? Por que é raro o congelamento da água que flui pelas redes de distribuição em países com clima frio, quando em temperaturas abaixo de 0°C? Em regiões frias, com temperaturas abaixo de 0°C, a água das camadas mais profundas de rios, lagos e mares não congela. Por quê? Como algumas microalgas que não possuem movimentação própria conseguem se sustentar em camadas mais superficiais da coluna d’água, onde há maior disponibilidade de luz? Como alguns organismos conseguem se locomover sobre a água? Figura 2. Questões relacionadas à água Fonte: Adaptado de commons.wikimedia.org Essas questões estão relacionadas com algumas propriedades da água, conferidas pela sua estrutura molecular. Quer saber as respostas? Então leia os tópicos a seguir que descreve tais propriedades: Ex pl or Capacidade de dissolução A natureza polar da água a torna um meio com grande capacidade de dissolução de substâncias, ou seja, um excelente solvente. Um composto que pode ser dissolvido em um solvente denomina-se soluto, sendo o Cloreto de Sódio um exemplo clássico de soluto que é facilmente dissolvido em água. No processo de dissolução, os compostos polares sofrem dissociação, ou separação, formando moléculas individuais que são rapidamente rodeadas pelas moléculas da água. Essa combinação das moléculas do soluto com as da água é denominada solvatação. A parte positiva do soluto atrai a parte negativa das moléculas de água, assim como ocorre a atração entre a parte negativa do soluto com a parte positiva das moléculas de água (veja na Figura 3). 10 11 Figura 3. Processo pelo qual a água dissolve o cloreto de sódio. Na presença de água a ligação que une os íons deste sal são desfeitas, ocorrendo a solvatação do íon sódio (A) e do íon cloreto (B). Fonte: Tortora et al., 2012. Importante! A água pode carrear uma série de compostos, como a matéria dissolvida, que você viu no tópico anterior, e também a matéria particulada. Mas como se define o que é dissolvido e o que é particulado na água? De acordocom Wotton (1994), nas áreas que estudam a água, essas duas classificações se deram por convenção, ou seja, por decisão entre pesquisadores, definindo que em meio líquido tudo que ficasse retido em um filtro com porosidade de 0.45 micrômetro seria matéria particulada e o que passasse pelo filtro seria matéria dissolvida. Se 1 micrômetro é igual a 1 milímetro dividido por 1.000 (Lembre-se que 1 milímetro é a distância entre os menores tracinhos da régua!), então é possível imaginar que a matéria dissolvida constitui partículas muito pequenas. Como exemplo do que pode estar dissolvido na água temos íons de sais e metais, inseticidas, hormônios, antibióticos e até mesmo os vírus, que pelo seu pequeno tamanho também entram nessa classificação. Já as bactérias, outros microrganismos com tamanho maior, grãos de areia e flocos de matéria orgânica são classificados como materiais particulados. Importante! Ponto de ebulição A ebulição é uma vaporização rápida de uma substância, ou seja, a passagem do estado líquido para o estado gasoso. O ponto de ebulição é a temperatura em que ocorre esse fenômeno. Devido à atração das pontes de hidrogênio grande quantidade de calor é requerida para separar as moléculas de água umas das outras para formar vapor d’água. Portanto, a água tem um ponto de ebulição considerado alto (100°C). Por apresentar um ponto de ebulição tão elevado, é que na maior parte da superfície da Terra a água ocorre em estado líquido. 11 UNIDADE A água e os mananciais Calor específico O Calor específico é a quantidade de energia necessária, por unidade de massa, para elevar a temperatura de um fluido. No caso da água, uma caloria (cal) é a energia reque- rida para elevar em 1,0°C a temperatura de um grama de água. O calor específico da água é considerado elevado e permite que ela seja capaz de absorver grande quantidade de calor sem apresentar significativa variação de sua temperatura. Isto explica o fato de serem raros os casos de congelamento da água que flui pelas redes de distribuição em países frios, mesmo quando a temperatura do ar chega a valores negativos. Massa específica É comum a utilização do temo “densidade” para a representação da relação entre a massa e o volume de objetos sólidos, sejam eles ocos ou maciços. Para líquidos e outras substâncias, o termo massa específica é utilizado para representar esta relação. Quando comparada com outros líquidos a água apresenta uma particularidade interessante relacionada à sua massa específica, alcançando o valor máximo a uma temperatura de 4°C. Nesta temperatura a água pura é mais densa, e suas moléculas estão mais coesas (mais juntas) do que a 0°C, sua temperatura de congelamento. Isto ocorre porque no gelo as pontes de hidrogênio organizam as moléculas da água em uma forma cristalina, fazendo com que a forma sólida ocupe mais espaço. Como resultado, considerando um mesmo volume, o gelo tem menos moléculas do que a forma líquida da água. Como é menos denso o gelo flutua, podendo servir como uma camada isolante para lagos e rios. Em temperaturas negativas do ar, a água em estado líquido mais densa ocupa camadas mais profundas na coluna d’água, sendo que apenas a superfície do corpo hídrico permanece congelada. Esta propriedade garante a preservação da comunidade aquática bem como o abastecimento público de água em situações de temperaturas abaixo de 0°C. Viscosidade O que você entende quando se diz que um líquido é mais ou menos viscoso? A viscosidade dinâmica ou absoluta significa uma medida da resistência de um líquido ao escoamento. Em uma comparação entre os líquidos a água pura possui uma viscosidade considerada baixa, sendo que a da gasolina é ainda mais baixa do que a da água. A viscosidade é inversamente proporcional à temperatura, uma vez que com o aumento da temperatura a coesão entre moléculas de um líquido diminui, reduzindo também a resistência ao escoamento. A viscosidade da água se apresenta como uma estratégia de sobrevivência para algumas microalgas que habitam a coluna d’água. Muitos destes organismos não têm capacidade de locomoção própria, mas devido à viscosidade da água resistem ao processo de sedimentação e afundamento, podendo sustentar-se próximos à superfície, onde há maior disponibilidade de luz para a fotossíntese. Durante os 12 13 períodos mais quentes do ano, devido ao aumento da temperatura a viscosidade diminui e estes organismos tendem a afundar na coluna d’água. Tensão superficial A tensão superficial é um fenômeno que ocorre na camada superficial de um líquido, ou seja, na interface ar-água, levando essa superfície a se comportar como uma membrana elástica. Isto ocorre devido à maior força de atração entre as moléculas do líquido logo abaixo da superfície, gerando maior coesão entre elas. Pela ação da tensão superficial é que as gotas tem um formato esférico (Figura 4A). Se você deixou um termômetro cair alguma vez no chão e quebrar, deve ter percebido que o mercúrio se espalha formando algumas gotas bem evidentes. Isto ocorre porque na interface entre o ar e o mercúrio a tensão superficial é alta. No ambiente aquático a tensão superficial permite que alguns pequenos orga- nismos sobrevivam na interface ar-água (Figura 4B), porém o despejo de efluen- tes contendo sabões e detergentes pode afetar a tensão superficial desequilibrando este ambiente. Figura 4. Formato esférico das gotas (A). Atração das moléculas na interface ar-água impedindo que o inseto afunde (B), ambos fenômenos ocorrem devido à tensão superficial. Fonte: commons.wikimedia.org e hablandodeciencia.com Mananciais: fontes de água Sabe-se que quase toda a água do planeta Terra é salgada e está nos oceanos. Apenas cerca de 3% é água doce, que por sua vez está concentrada principalmente nos polos sob a forma de gelo. Uma outra parte da água doce é subterrânea, e menos de 1% de toda a água é superficial, ou seja, está nos rios, lagos e represas. Essas fontes de águas superficiais e alguns aquíferos subterrâneos são os nossos principais mananciais. Manancial: 1. Mina de água, olho-d´água, nascente, fonte; 2. O que é considerado princípio ou fonte abundante de algo (“um manancial de ideias”); 3. Que jorra, mana incessantemente. Essas são as definições apresentadas nos dicionários Houaiss e Aurélio. Porém, manancial também pode ser definido como “corpos d’água, superficiais ou subterrâneos, utilizados para o abastecimento” (IBGE, 2004). Ex pl or 13 UNIDADE A água e os mananciais Figura 5. O Reservatório Cantareira é um importante manancial que abastece cerca de 7 milhões de pessoas na Região Metropolitana de São Paulo. Fonte: cartacapital.com.br Importante! Que em regiões de clima árido e semi-árido, como nos países do Oriente Médio, a água do mar passa por um processo chamado dessalinização para atender o uso doméstico, industrial, entre outros? Só em Israel, 50% da água consumida já é pro- veniente deste processo. Desta forma, nestes locais o mar passou a ser considerado um importante manancial. Figura 6. À esquerda: O clima árido do Oriente Médio na paisagem do deserto da Judéia. À direita: A usina de dessalinização de Sorek, a 15 km de Tel-Aviv em Israel. Uma das maiores do mundo. Fonte: brasilescola.uol.com.br e knowledge.wharton.upenn.edu Você Sabia? Os níveis dos mananciais estão intimamente ligados ao ciclo hidrológico, uma prova disso é a drástica redução no volume da maioria dos reservatórios de água que abastecem a Região Metropolitana de São Paulo, registrada nos anos de 2014 e 2015, em longos períodos de estiagem. 14 15 No ciclo hidrológico, as moléculas de água transitam pelos mais diversos ambientes, nos estados gasoso (vapor d’água), líquido e sólido. Isto ocorre devido à fenômenos governados pela temperatura como a evaporação, transpiração, condensação e precipitação. Mudanças climáticas podem influenciar este fenômenos, alterando o ciclo hidrológico. O processo de infiltração da água que cai no solosob a forma de chuva também é um fator extremamente importante para a manutenção dos níveis dos aquíferos subterrâneos. Este processo pode ser prejudicado pela impermeabilização do solo, ocasionada principalmente em áreas urbanas pela construção de edificações e asfaltamento de ruas, que reduzem as zonas permeáveis de recarga de aquíferos. Isto também gera um aumento do escoamento superficial da água que associado a redução da permeabilidade do solo resultam principalmente em enchentes, aumento dos processos erosivos e assoreamento dos corpos hídricos. Condensação Precipitação In�ltração no solo Água subterrâneaAbsorção Escoamento Super�cial Transpiração Evaporação Figura 7. Ciclo hidrológico. Fonte: Adaptado de iStock/Getty Images É indiscutível a importância ambiental dos mananciais, pois além do fornecimento de água também constituem um habitat para a vida aquática e equilibram o clima do planeta. Para o uso humano ainda é possível destacar a importância para a geração de energia, irrigação, navegação, entre outros. Do ponto de vista legal, os mananciais são bens jurídicos com sanções previstas para as condutas que degradem esses ambientes, como consta na Lei 9.605 de 1998, que trata dos crimes ambientais. Desta forma, é que o Ministério do Meio Ambiente afirma que “as áreas contendo os mananciais devem ser alvo de atenção específica, contemplando aspectos legais e gerenciais”, por serem consideradas áreas de proteção. 15 UNIDADE A água e os mananciais Porém, a degradação ambiental devido as ações humanas, incluindo a ocupação urbana desordenada, as atividades industriais e agrícolas entre outras, geram poluição, comprometendo o abastecimento de água entre outros usos, além da preservação do hábitat aquático. O termo poluição é derivado do verbo latino polluere, que significa sujar e está ligado a um agente poluidor, ou poluente, que pode ser qualquer matéria ou energia (ex. substâncias químicas, calor, radiação, etc.), que alteram as condições naturais do ambiente gerando um estado de degradação. Os principais agentes poluidores do ambiente aquático são: · Matéria orgânica biodegradável (principalmente os esgotos domésticos); · Matéria orgânica não biodegradável, ou de difícil degradação (como pesticidas e detergentes); · Nutrientes, principalmente os que contém os elementos nitrogênio e fósforo, que favorecem o crescimento de algas e plantas aquáticas; · Patógenos (como bactérias, vírus e protozoários), que podem transmitir uma série de doenças de veiculação hídrica; · Metais tóxicos (ou metais pesados), que devido a sua toxicidade ao homem e à maioria dos seres vivos pode comprometer o abastecimento público e prejudicar o desenvolvimento da vida aquática. Figura 8. Imagem de uma criança nadando em um rio poluído na Índia Fonte: pbs.org Importante! Você já parou para pensar na diferença entre os termos poluição e degradação ambiental? Muitas pessoas fazem confusão, porque a princípio parecem ser a mesma coisa, mas não são! A poluição como vimos é necessariamente ligada a um poluente, ou seja, algo que foi lançado no ambiente alterando as condições naturais, como todo material lançado no rio que vemos na foto acima (Figura 7). A poluição gera um estado de degradação ambiental, que pode ser definido como a perda da qualidade de um determinado ambiente. Mas a degradação pode acontecer também sem o lançamento de um poluente. Por exemplo, quando extraímos muita água de um lago ou represa, deixando um nível muito baixo, estamos degradando este ambiente, alterando sua qualidade ambiental. No caso dos rios podemos degradá-los removendo a mata-ciliar, que consiste na porção de vegetação que beira as margens, que serve de abrigo para vários animais, fornece matéria orgânica para o rio e impede o seu assoreamento. Trocando ideias... 16 17 Um ambiente aquático pode ser considerado “saudável” quando apresenta carac- terísticas ecológicas bem desenvolvidas, como por exemplo, grande diversidade de organismos, uma cadeia alimentar extensa (com a presença de alguns predadores considerados topo de cadeia), um ciclo completo de elementos (quando o material que é eliminado por um organismos é rapidamente assimilado por outro), bem como um equilíbrio entre as atividades de fotossíntese e respiração. Assim, a preservação e/ou recuperação das áreas de proteção dos mananciais têm grande importância para garantir a disponibilidade de água e um ambiente equilibrado, que é um direito de todos previsto na constituição. Também é importante ressaltar que diante da crescente poluição dos mananciais os métodos de tratamento de água para abastecimento público devem passar por um constante processo de aprimoramen- to, visando remover contaminantes “emergentes” provenientes dos novos hábitos das populações e novos produtos industriais, que lançam no ambiente compostos que os métodos convencionais não são capazes de remover, tais como: produtos de higiene pessoal e limpeza, agrotóxicos, fármacos, hormônios, entre outros. Convidamos você a assistir um trecho da série Planeta Água que foi exibida pela Rede Globo no programa Fantástico. No vídeo você encontrará alguns exemplos da poluição dos mananciais e verá que a presença da água muitas vezes não reflete sua disponibilidade para o consumo. Documentário sobre a Poluição das Águas https://youtu.be/qszsmTyMAd0 Ex pl or Disponibilidade e demanda de água Com base nos relatos históricos, é possível constatar que a água foi um fator crucial para o desenvolvimento humano, uma vez que as civilizações em diversas regiões do planeta se estabeleceram e se desenvolveram às margens dos cursos d’água. Porém, com o crescimento da população mundial e de atividades agrícolas e industriais, a água passou a ser consumida como se fosse um recurso abundante e infinito, comprometendo sua disponibilidade futura. Os princípios 1 e 2 da Conferência Interna- cional sobre Água e Meio Ambiente das Nações Unidas, realizada em Dublin, Irlanda em 1992, estabelecem que “a água é um recurso finito e vulnerável, essencial para a manutenção da vida, do desenvolvimento e do meio ambiente” e “a água tem valor econômico para todos os seus usos e deve ser considerada como um bem econômico...”. Segundo Hespanhol (2008), esses dois princípios, além de dar à água a co- notação de commodity, também estimulam o seu uso racional. Figura 9. Charge sobre o valor da água. Fonte: iStock/Getty Images 17 UNIDADE A água e os mananciais No Brasil, a Política Nacional dos Recursos Hídricos instituída pela lei 9.433 de 1997, definiu a água como um bem de domínio público, sendo um recurso natural limitado e dotado de valor econômico. Esta mesma lei estabeleceu mecanismos de controle da captação e consumo de água, bem como a cobrança pelo seu uso. De acordo com a Agência Nacional de Águas (ANA, 2013), no Brasil, soman- do todas as regiões do País, a disponibilidade de água superficial consiste em 91.271 m3/s (sem contar a água subterrânea dos aquíferos brasileiros), e a vazão de retirada de água representa apenas 2,6% deste total. Em termos de números, poderíamos dizer que temos atualmente uma situação confortável de disponibi- lidade de água, obviamente se a distribuição dos recursos hídricos no País fosse naturalmente igual em todas regiões. Mas sabemos que a disponibilidade hídrica no Brasil é desigual. Basta compararmos, por exemplo, regiões como o Norte e Nordeste. É importante considerar que a degradação ambiental crescente é uma ameaça para a disponibilidade de água até mesmo em regiões com recursos hídricos abundantes. Quanto à demanda, grande parte da água captada no Brasil é destinada à irrigação na agricultura, representando 54% da vazão total de água retirada dos mananciais, seguido do abastecimento humano urbano (22%), industrial (17%), animal (6%) e humano rural (1%). Comparando os gráficos apresentados nas figuras 8 e 9 é possível verificar que nem toda a água retirada para atenderos diferentes usos é de fato consumida. Parte dessa água é devolvida ao ambiente por meio da vazão de retorno, que é obtida a partir da vazão de retirada, multiplicada por um coeficiente de retorno, que difere dependendo do tipo de uso. A água não devolvida, ou vazão de consumo, é calculada pela diferença entre a vazão de retirada e a vazão de retorno. Figura 10. Distribuição das vazões de retirada de água para diferentes usos. Fonte: ANA, 2013. 18 19 Figura 9. Distribuição das vazões de água consumidas nos diferentes usos. Fonte: ANA, 2013. Por exemplo, sendo: Q retirada = vazão de retirada Q retorno = vazão de retorno Q consumo = vazão de consumo c = coeficiente de retorno Considerando, Q retirada = 522 m 3/s e c = 0,8 ; as vazões de retorno e consumo no abastecimento urbano seriam: Q retorno = Q retirada . c Q retorno = 522 . 0,8 Q retorno = 417,6 m 3/s Q consumo = Q retirada - Q retorno Q consumo = 522 – 417,6 Q consumo = 104,4 m 3/s Para os diferentes usos é importante levar em consideração que a demanda de água está relacionada à vazão de retirada. Os dados acima demonstram que no abastecimento urbano retiramos a cada segundo dos mananciais 522 m3, sendo que deste volume 417,6 m3 retornam ao ambiente e 104,4 m3 são efetivamente consumidos. Neste caso, o coeficiente de retorno corresponde a fração de água fornecida que adentra a rede de coleta de esgotos, podendo variar entre 60% a 100%. Geralmente se utiliza o coeficiente de retorno de 80% (c = 0,8), adotado pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). 19 UNIDADE A água e os mananciais Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Livros Fundamentos de qualidade e tratamento de água LIBÂNIO, M. Fundamentos de qualidade e tratamento de água, 3ª ed. Campinas, SP: Editora Átomo, 2010. Coordenadoria de Educação Ambiental SÃO PAULO (Estado). Secretaria do Meio Ambiente. Coordenadoria de Educação Ambiental. Billings: Cadernos de educação ambiental – Edição especial mananciais, vol. 1. São Paulo: SMA/CEA, 2010. Vídeos Água e ciclo hidrológico https://goo.gl/bfOqbE Água um recurso cada vez mais limitante https://goo.gl/P73wUZ 20 21 Referências BRASIL. Lei 9.433 de 08 de janeiro de 1997. Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, regulamenta o inciso XIX do art. 21 da Constituição Federal, e altera o art. 1º da Lei nº 8.001, de 13 de março de 1990, que modificou a Lei nº 7.990, de 28 de dezembro de 1989. Diário Oficial da União, Brasilia, DF, 09 de janeiro de 1997. BRASIL. Lei 9.605 de 12 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasilia, DF, 13 de fevereiro de 1998. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Coordenação- Geral de Vigilância em Saúde Ambiental. Vigilância e controle da qualidade da água para consumo humano. Brasília: Ministério da Saúde, 2006. BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Agência Nacional de Água. Conjuntura dos recursos hídricos no Brasil: 2013. Brasilia: ANA, 2013. BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Mananciais. Disponível em: http://www. mma.gov.br/cidades-sustentaveis/aguas-urbanas/mananciais HESPANHOL, I. Um novo paradigma para a gestão de recursos hídricos. Estudos Avançados, v. 22, n. 63, 2008. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Coordenação de Recursos Naturais e Meio Ambiente. Vocabulário básico de recursos naturais e meio ambiente. 2ª ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2004. LIBÂNIO, M. Fundamentos de qualidade e tratamento de água, 3ª ed. Campinas, SP: Editora Átomo, 2010. MAYS, L. W. Water resources: an introduction. In: Water resources handbook. New York: McGraw-Hill, 1996. MIERZWA, J. C.; HESPANHOL, I. Água na Indústria: uso racional e reúso. São Paulo: Oficina de Textos, 2005. NELSON, D. L.; COX, M. M. Lehninger princípios de bioquímica. 3ª ed. São Paulo: Artmed, 2002. 21 UNIDADE A água e os mananciais SOARES, A. F. S.; LEÃO, M. M. D. Contaminação dos mananciais por micropoluentes e a precária remoção desses contaminantes nos tratamentos convencionais de água para potabilização. Assuntos Gerais Doutrina Internacional, v. 14, n. 24, 2015. SÃO PAULO (Estado). Secretaria do Meio Ambiente. Coordenadoria de Educação Ambiental. Billings: Cadernos de educação ambiental – Edição especial manan- ciais, vol. 1. São Paulo: SMA/CEA, 2010. TORTORA, G.J.; FUNKE, B.R.; CASE, C. L. Microbiologia. 10. ed. Porto Alegre: Artmed, 2012. WOTTON, R. S. The classification of particulate and dissolved matter. In: WOTTON, R. S. (Editor). The Biology of particles in aquatic systems. 2ª ed. New York: CRC, 1994. 22
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