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Unidade I

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Tratamento de Água
Material Teórico
Responsável pelo Conteúdo:
Prof. Dr. Fernando Freitas de Oliveira 
Revisão Textual:
Profa. Ms. Luciene Oliveira da Costa Santos
A água e os mananciais
• Propriedades da Água
• Mananciais: fontes de água
• Disponibilidade e demanda de água 
 · Conhecer as propriedades da água e sua disponibilidade para 
consumo, além de compreender o que é um manancial, qual sua 
importância, e como ocorre sua degradação por interferência das 
atividades humanas. A unidade aborda também os usos consunti-
vos de água no Brasil.
OBJETIVO DE APRENDIZADO
A água e os mananciais
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem 
aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua 
formação acadêmica e atuação profissional, siga 
algumas recomendações básicas: 
Assim:
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte 
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e 
horário fixos como o seu “momento do estudo”.
Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma 
alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo.
No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e 
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também 
encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua 
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados.
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, 
pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato 
com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem.
Mantenha o foco! 
Evite se distrair com 
as redes sociais.
Determine um 
horário fixo 
para estudar.
Aproveite as 
indicações 
de Material 
Complementar.
Não se esqueça 
de se alimentar 
e se manter 
hidratado.
Conserve seu 
material e local de 
estudos sempre 
organizados.
Procure manter 
contato com seus 
colegas e tutores 
para trocar ideias! 
Isso amplia a 
aprendizagem.
Seja original! 
Nunca plagie 
trabalhos.
UNIDADE A água e os mananciais
Contextualização
As imagens do nosso planeta feitas por satélites e sondas espaciais revelaram 
que a Terra na verdade tem grande parte de sua superfície coberta por água, 
uma vez que 75% da crosta terrestre está submersa. Além de ser relativamente 
abundante no planeta, a água também é considerada uma substância essencial 
ao surgimento e à manutenção da vida, sendo indiscutível sua importância para o 
desenvolvimento das sociedades e das diversas atividades humanas. Um exemplo 
de sua importância vital é que nós podemos ficar até vinte dias sem nos alimentar, 
mas apenas quatro dias sem beber água. 
Dentre suas propriedades, podemos destacar que a água constitui-se um 
solvente universal da maioria das substâncias, incluindo uma série de impurezas 
como algumas substâncias tóxicas. Desta forma, dependendo do uso consuntivo 
(irrigação, processamento industrial, dessedentação de animais e abastecimento 
público) e do estado de integridade do manancial onde a água é captada, se faz 
necessário o uso de um método adequado para o tratamento da água, conferindo 
a ela os padrões de qualidade necessários para o consumo. 
A crescente degradação dos mananciais, principalmente próximos às grandes 
cidades, devido a poluição pelo lançamento de efluentes domésticos e industriais, vem 
sendo considerado um fator de redução da disponibilidade de água, principalmente 
para usos mais nobres, como o abastecimento público, que requerem níveis mais 
restritivos de qualidade. Alguns tipos de poluentes que atualmente passaram a 
ser lançados nos corpos hídricos colocam em risco à saúde pública, e requerem 
métodos mais complexos de tratamento para serem removidos. Isto demanda um 
maior esforço, dedicação e inovação, principalmente por parte dos profissionais da 
área de engenharia ambiental e sanitária. 
Fonte: commons.wikimedia.org
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Propriedades da Água
A água é o principal componente dos seres vivos, que no curso da evolução foram 
se adaptando às propriedades físicas e químicas dessa substância. Essas propriedades, 
ou características próprias, é que diferenciam a água dos demais fluidos.
Dois átomos de hidrogênio e um átomo de oxigênio unidos por ligações 
covalentes compõem a molécula da água, que pode se dissociar formando dois 
produtos de ionização, H+ e OH-, que são reativos e influenciam a estrutura e 
propriedades de outros componentes químicos imersos em água. 
As moléculas da água associam-se entre si transitoriamente formando uma 
rede, devido à sua natureza polar, que consiste na capacidade de atrair cargas 
elétricas. A região do oxigênio tem uma carga levemente negativa e a região dos 
hidrogênios tem carga levemente positiva. Qualquer molécula que tenha esse tipo 
de distribuição desigual de cargas é chamada de molécula polar. Essa propriedade 
da água dá a ela a possibilidade de realizar até 4 pontes de hidrogênio, que 
constituem “ligações fracas”, ou seja, interações com força de atração entre cargas 
negativas e positivas das moléculas (Veja na figura 1). 
Figura 1. Formação de pontes de hidrogênio na água. Na molécula de água o átomo de oxigênio tem uma 
carga levemente negativa, e a parte contendo os átomos de hidrogênio tem uma carga levemente positiva (a). 
Na formação de pontes de hidrogênio (pontilhado), o hidrogênio de uma molécula é atraído pelo oxigênio de 
outra. Várias moléculas de água podem ser atraídas umas pelas outras por pontes de hidrogênio, sendo que cada 
molécula pode realizar ao mesmo tempo até 4 pontes de hidrogênio (b). 
Fonte: Tortora et al., 2012.
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UNIDADE A água e os mananciais
Por que a água é considerada um solvente universal?
Por qual motivo, na maior parte do planeta Terra, a água é encontrada no estado líquido?
Por que é raro o congelamento da água que flui pelas redes de distribuição em países com 
clima frio, quando em temperaturas abaixo de 0°C? 
Em regiões frias, com temperaturas abaixo de 0°C, a água das camadas mais profundas de 
rios, lagos e mares não congela. Por quê?
Como algumas microalgas que não possuem movimentação própria conseguem se sustentar 
em camadas mais superficiais da coluna d’água, onde há maior disponibilidade de luz?
Como alguns organismos conseguem se locomover sobre a água? 
Figura 2. Questões relacionadas à água
Fonte: Adaptado de commons.wikimedia.org
Essas questões estão relacionadas com algumas propriedades da água, conferidas pela sua 
estrutura molecular. Quer saber as respostas? Então leia os tópicos a seguir que descreve 
tais propriedades:
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Capacidade de dissolução
A natureza polar da água a torna um meio com grande capacidade de dissolução 
de substâncias, ou seja, um excelente solvente. Um composto que pode ser 
dissolvido em um solvente denomina-se soluto, sendo o Cloreto de Sódio um 
exemplo clássico de soluto que é facilmente dissolvido em água. No processo de 
dissolução, os compostos polares sofrem dissociação, ou separação, formando 
moléculas individuais que são rapidamente rodeadas pelas moléculas da água. Essa 
combinação das moléculas do soluto com as da água é denominada solvatação. 
A parte positiva do soluto atrai a parte negativa das moléculas de água, assim 
como ocorre a atração entre a parte negativa do soluto com a parte positiva das 
moléculas de água (veja na Figura 3).
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Figura 3. Processo pelo qual a água dissolve o cloreto de sódio. Na presença de água a ligação que une os íons 
deste sal são desfeitas, ocorrendo a solvatação do íon sódio (A) e do íon cloreto (B). 
Fonte: Tortora et al., 2012.
Importante!
A água pode carrear uma série de compostos, como a matéria dissolvida, que você 
viu no tópico anterior, e também a matéria particulada. Mas como se define o que é 
dissolvido e o que é particulado na água?
De acordocom Wotton (1994), nas áreas que estudam a água, essas duas classificações 
se deram por convenção, ou seja, por decisão entre pesquisadores, definindo que em 
meio líquido tudo que ficasse retido em um filtro com porosidade de 0.45 micrômetro 
seria matéria particulada e o que passasse pelo filtro seria matéria dissolvida. Se 1 
micrômetro é igual a 1 milímetro dividido por 1.000 (Lembre-se que 1 milímetro é a 
distância entre os menores tracinhos da régua!), então é possível imaginar que a matéria 
dissolvida constitui partículas muito pequenas. Como exemplo do que pode estar 
dissolvido na água temos íons de sais e metais, inseticidas, hormônios, antibióticos e até 
mesmo os vírus, que pelo seu pequeno tamanho também entram nessa classificação. 
Já as bactérias, outros microrganismos com tamanho maior, grãos de areia e flocos de 
matéria orgânica são classificados como materiais particulados.
Importante!
Ponto de ebulição
A ebulição é uma vaporização rápida de uma substância, ou seja, a passagem 
do estado líquido para o estado gasoso. O ponto de ebulição é a temperatura em 
que ocorre esse fenômeno. Devido à atração das pontes de hidrogênio grande 
quantidade de calor é requerida para separar as moléculas de água umas das outras 
para formar vapor d’água. Portanto, a água tem um ponto de ebulição considerado 
alto (100°C). Por apresentar um ponto de ebulição tão elevado, é que na maior 
parte da superfície da Terra a água ocorre em estado líquido.
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UNIDADE A água e os mananciais
Calor específico 
O Calor específico é a quantidade de energia necessária, por unidade de massa, para 
elevar a temperatura de um fluido. No caso da água, uma caloria (cal) é a energia reque-
rida para elevar em 1,0°C a temperatura de um grama de água. O calor específico da 
água é considerado elevado e permite que ela seja capaz de absorver grande quantidade 
de calor sem apresentar significativa variação de sua temperatura. Isto explica o fato de 
serem raros os casos de congelamento da água que flui pelas redes de distribuição em 
países frios, mesmo quando a temperatura do ar chega a valores negativos.
Massa específica 
É comum a utilização do temo “densidade” para a representação da relação 
entre a massa e o volume de objetos sólidos, sejam eles ocos ou maciços. Para 
líquidos e outras substâncias, o termo massa específica é utilizado para representar 
esta relação. Quando comparada com outros líquidos a água apresenta uma 
particularidade interessante relacionada à sua massa específica, alcançando o valor 
máximo a uma temperatura de 4°C. Nesta temperatura a água pura é mais densa, 
e suas moléculas estão mais coesas (mais juntas) do que a 0°C, sua temperatura de 
congelamento. Isto ocorre porque no gelo as pontes de hidrogênio organizam as 
moléculas da água em uma forma cristalina, fazendo com que a forma sólida ocupe 
mais espaço. Como resultado, considerando um mesmo volume, o gelo tem menos 
moléculas do que a forma líquida da água. Como é menos denso o gelo flutua, 
podendo servir como uma camada isolante para lagos e rios.
Em temperaturas negativas do ar, a água em estado líquido mais densa ocupa 
camadas mais profundas na coluna d’água, sendo que apenas a superfície do 
corpo hídrico permanece congelada. Esta propriedade garante a preservação da 
comunidade aquática bem como o abastecimento público de água em situações de 
temperaturas abaixo de 0°C.
Viscosidade
O que você entende quando se diz que um líquido é mais ou menos viscoso? A 
viscosidade dinâmica ou absoluta significa uma medida da resistência de um líquido 
ao escoamento. Em uma comparação entre os líquidos a água pura possui uma 
viscosidade considerada baixa, sendo que a da gasolina é ainda mais baixa do que 
a da água. A viscosidade é inversamente proporcional à temperatura, uma vez que 
com o aumento da temperatura a coesão entre moléculas de um líquido diminui, 
reduzindo também a resistência ao escoamento.
A viscosidade da água se apresenta como uma estratégia de sobrevivência para 
algumas microalgas que habitam a coluna d’água. Muitos destes organismos não 
têm capacidade de locomoção própria, mas devido à viscosidade da água resistem 
ao processo de sedimentação e afundamento, podendo sustentar-se próximos à 
superfície, onde há maior disponibilidade de luz para a fotossíntese. Durante os 
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períodos mais quentes do ano, devido ao aumento da temperatura a viscosidade 
diminui e estes organismos tendem a afundar na coluna d’água. 
Tensão superficial 
A tensão superficial é um fenômeno que ocorre na camada superficial de um 
líquido, ou seja, na interface ar-água, levando essa superfície a se comportar como 
uma membrana elástica. Isto ocorre devido à maior força de atração entre as 
moléculas do líquido logo abaixo da superfície, gerando maior coesão entre elas.
Pela ação da tensão superficial é que as gotas tem um formato esférico (Figura 
4A). Se você deixou um termômetro cair alguma vez no chão e quebrar, deve ter 
percebido que o mercúrio se espalha formando algumas gotas bem evidentes. Isto 
ocorre porque na interface entre o ar e o mercúrio a tensão superficial é alta.
No ambiente aquático a tensão superficial permite que alguns pequenos orga-
nismos sobrevivam na interface ar-água (Figura 4B), porém o despejo de efluen-
tes contendo sabões e detergentes pode afetar a tensão superficial desequilibrando 
este ambiente.
Figura 4. Formato esférico das gotas (A). Atração das moléculas na interface ar-água impedindo que o inseto 
afunde (B), ambos fenômenos ocorrem devido à tensão superficial.
Fonte: commons.wikimedia.org e hablandodeciencia.com
Mananciais: fontes de água
Sabe-se que quase toda a água do planeta Terra é salgada e está nos oceanos. 
Apenas cerca de 3% é água doce, que por sua vez está concentrada principalmente 
nos polos sob a forma de gelo. Uma outra parte da água doce é subterrânea, e 
menos de 1% de toda a água é superficial, ou seja, está nos rios, lagos e represas. 
Essas fontes de águas superficiais e alguns aquíferos subterrâneos são os nossos 
principais mananciais.
Manancial: 1. Mina de água, olho-d´água, nascente, fonte; 2. O que é considerado princípio ou fonte 
abundante de algo (“um manancial de ideias”); 3. Que jorra, mana incessantemente. Essas são as 
definições apresentadas nos dicionários Houaiss e Aurélio. Porém, manancial também pode ser definido 
como “corpos d’água, superficiais ou subterrâneos, utilizados para o abastecimento” (IBGE, 2004).
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UNIDADE A água e os mananciais
Figura 5. O Reservatório Cantareira é um importante manancial que abastece cerca de 7 milhões de pessoas na 
Região Metropolitana de São Paulo.
Fonte: cartacapital.com.br
Importante!
Que em regiões de clima árido e semi-árido, como nos países do Oriente Médio, a 
água do mar passa por um processo chamado dessalinização para atender o uso 
doméstico, industrial, entre outros? Só em Israel, 50% da água consumida já é pro-
veniente deste processo. Desta forma, nestes locais o mar passou a ser considerado 
um importante manancial.
Figura 6. À esquerda: O clima árido do Oriente Médio na paisagem do deserto da Judéia. 
À direita: A usina de dessalinização de Sorek, a 15 km de Tel-Aviv em Israel. Uma das maiores 
do mundo. 
Fonte: brasilescola.uol.com.br e knowledge.wharton.upenn.edu
Você Sabia?
Os níveis dos mananciais estão intimamente ligados ao ciclo hidrológico, uma 
prova disso é a drástica redução no volume da maioria dos reservatórios de água 
que abastecem a Região Metropolitana de São Paulo, registrada nos anos de 2014 
e 2015, em longos períodos de estiagem. 
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No ciclo hidrológico, as moléculas de água transitam pelos mais diversos 
ambientes, nos estados gasoso (vapor d’água), líquido e sólido. Isto ocorre devido 
à fenômenos governados pela temperatura como a evaporação, transpiração, 
condensação e precipitação. Mudanças climáticas podem influenciar este 
fenômenos, alterando o ciclo hidrológico.
O processo de infiltração da água que cai no solosob a forma de chuva também 
é um fator extremamente importante para a manutenção dos níveis dos aquíferos 
subterrâneos. Este processo pode ser prejudicado pela impermeabilização do 
solo, ocasionada principalmente em áreas urbanas pela construção de edificações 
e asfaltamento de ruas, que reduzem as zonas permeáveis de recarga de aquíferos. 
Isto também gera um aumento do escoamento superficial da água que associado 
a redução da permeabilidade do solo resultam principalmente em enchentes, 
aumento dos processos erosivos e assoreamento dos corpos hídricos. 
Condensação
Precipitação
In�ltração 
no solo
Água subterrâneaAbsorção
Escoamento 
Super�cial 
Transpiração
Evaporação
Figura 7. Ciclo hidrológico. 
Fonte: Adaptado de iStock/Getty Images
É indiscutível a importância ambiental dos mananciais, pois além do fornecimento 
de água também constituem um habitat para a vida aquática e equilibram o clima 
do planeta. Para o uso humano ainda é possível destacar a importância para a 
geração de energia, irrigação, navegação, entre outros. 
Do ponto de vista legal, os mananciais são bens jurídicos com sanções previstas 
para as condutas que degradem esses ambientes, como consta na Lei 9.605 de 
1998, que trata dos crimes ambientais. Desta forma, é que o Ministério do Meio 
Ambiente afirma que “as áreas contendo os mananciais devem ser alvo de atenção 
específica, contemplando aspectos legais e gerenciais”, por serem consideradas 
áreas de proteção.
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UNIDADE A água e os mananciais
Porém, a degradação ambiental devido as ações humanas, incluindo a ocupação 
urbana desordenada, as atividades industriais e agrícolas entre outras, geram 
poluição, comprometendo o abastecimento de água entre outros usos, além da 
preservação do hábitat aquático.
O termo poluição é derivado do verbo latino polluere, que significa sujar e 
está ligado a um agente poluidor, ou poluente, que pode ser qualquer matéria ou 
energia (ex. substâncias químicas, calor, radiação, etc.), que alteram as condições 
naturais do ambiente gerando um estado de degradação.
Os principais agentes poluidores do ambiente aquático são:
 · Matéria orgânica biodegradável (principalmente os esgotos domésticos);
 · Matéria orgânica não biodegradável, ou de difícil degradação (como pesticidas 
e detergentes);
 · Nutrientes, principalmente os que contém os elementos nitrogênio e fósforo, 
que favorecem o crescimento de algas e plantas aquáticas;
 · Patógenos (como bactérias, vírus e protozoários), que podem transmitir uma 
série de doenças de veiculação hídrica;
 · Metais tóxicos (ou metais pesados), que devido a sua toxicidade ao homem 
e à maioria dos seres vivos pode comprometer o abastecimento público e 
prejudicar o desenvolvimento da vida aquática. 
Figura 8. Imagem de uma criança nadando em um rio poluído na Índia
Fonte: pbs.org
Importante!
Você já parou para pensar na diferença entre os termos poluição e degradação ambiental? 
Muitas pessoas fazem confusão, porque a princípio parecem ser a mesma coisa, mas não 
são! A poluição como vimos é necessariamente ligada a um poluente, ou seja, algo que 
foi lançado no ambiente alterando as condições naturais, como todo material lançado 
no rio que vemos na foto acima (Figura 7). A poluição gera um estado de degradação 
ambiental, que pode ser definido como a perda da qualidade de um determinado 
ambiente. Mas a degradação pode acontecer também sem o lançamento de um 
poluente. Por exemplo, quando extraímos muita água de um lago ou represa, deixando 
um nível muito baixo, estamos degradando este ambiente, alterando sua qualidade 
ambiental. No caso dos rios podemos degradá-los removendo a mata-ciliar, que consiste 
na porção de vegetação que beira as margens, que serve de abrigo para vários animais, 
fornece matéria orgânica para o rio e impede o seu assoreamento.
Trocando ideias...
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Um ambiente aquático pode ser considerado “saudável” quando apresenta carac-
terísticas ecológicas bem desenvolvidas, como por exemplo, grande diversidade de 
organismos, uma cadeia alimentar extensa (com a presença de alguns predadores 
considerados topo de cadeia), um ciclo completo de elementos (quando o material 
que é eliminado por um organismos é rapidamente assimilado por outro), bem como 
um equilíbrio entre as atividades de fotossíntese e respiração.
Assim, a preservação e/ou recuperação das áreas de proteção dos mananciais têm 
grande importância para garantir a disponibilidade de água e um ambiente equilibrado, 
que é um direito de todos previsto na constituição. Também é importante ressaltar 
que diante da crescente poluição dos mananciais os métodos de tratamento de água 
para abastecimento público devem passar por um constante processo de aprimoramen-
to, visando remover contaminantes “emergentes” provenientes dos novos hábitos das 
populações e novos produtos industriais, que lançam no ambiente compostos que os 
métodos convencionais não são capazes de remover, tais como: produtos de higiene 
pessoal e limpeza, agrotóxicos, fármacos, hormônios, entre outros.
Convidamos você a assistir um trecho da série Planeta Água que foi exibida pela Rede Globo no 
programa Fantástico. No vídeo você encontrará alguns exemplos da poluição dos mananciais e 
verá que a presença da água muitas vezes não reflete sua disponibilidade para o consumo.
Documentário sobre a Poluição das Águas
https://youtu.be/qszsmTyMAd0
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Disponibilidade e demanda de água 
Com base nos relatos históricos, é possível constatar que a água foi um fator 
crucial para o desenvolvimento humano, uma vez que as civilizações em diversas 
regiões do planeta se estabeleceram e se desenvolveram às margens dos cursos 
d’água. Porém, com o crescimento da população mundial e de atividades agrícolas 
e industriais, a água passou a ser consumida como se fosse um recurso abundante e 
infinito, comprometendo sua disponibilidade futura.
Os princípios 1 e 2 da Conferência Interna-
cional sobre Água e Meio Ambiente das Nações 
Unidas, realizada em Dublin, Irlanda em 1992, 
estabelecem que “a água é um recurso finito 
e vulnerável, essencial para a manutenção da 
vida, do desenvolvimento e do meio ambiente” 
e “a água tem valor econômico para todos os 
seus usos e deve ser considerada como um bem 
econômico...”. Segundo Hespanhol (2008), 
esses dois princípios, além de dar à água a co-
notação de commodity, também estimulam o 
seu uso racional.
Figura 9. Charge sobre o valor da água.
Fonte: iStock/Getty Images
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UNIDADE A água e os mananciais
No Brasil, a Política Nacional dos Recursos Hídricos instituída pela lei 9.433 
de 1997, definiu a água como um bem de domínio público, sendo um recurso 
natural limitado e dotado de valor econômico. Esta mesma lei estabeleceu 
mecanismos de controle da captação e consumo de água, bem como a cobrança 
pelo seu uso.
De acordo com a Agência Nacional de Águas (ANA, 2013), no Brasil, soman-
do todas as regiões do País, a disponibilidade de água superficial consiste em 
91.271 m3/s (sem contar a água subterrânea dos aquíferos brasileiros), e a vazão 
de retirada de água representa apenas 2,6% deste total. Em termos de números, 
poderíamos dizer que temos atualmente uma situação confortável de disponibi-
lidade de água, obviamente se a distribuição dos recursos hídricos no País fosse 
naturalmente igual em todas regiões. Mas sabemos que a disponibilidade hídrica 
no Brasil é desigual. Basta compararmos, por exemplo, regiões como o Norte 
e Nordeste. É importante considerar que a degradação ambiental crescente é 
uma ameaça para a disponibilidade de água até mesmo em regiões com recursos 
hídricos abundantes. 
Quanto à demanda, grande parte da água captada no Brasil é destinada à 
irrigação na agricultura, representando 54% da vazão total de água retirada dos 
mananciais, seguido do abastecimento humano urbano (22%), industrial (17%), 
animal (6%) e humano rural (1%). Comparando os gráficos apresentados nas 
figuras 8 e 9 é possível verificar que nem toda a água retirada para atenderos 
diferentes usos é de fato consumida. Parte dessa água é devolvida ao ambiente 
por meio da vazão de retorno, que é obtida a partir da vazão de retirada, 
multiplicada por um coeficiente de retorno, que difere dependendo do tipo de 
uso. A água não devolvida, ou vazão de consumo, é calculada pela diferença 
entre a vazão de retirada e a vazão de retorno.
 
Figura 10. Distribuição das vazões de retirada de água para diferentes usos. 
Fonte: ANA, 2013.
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Figura 9. Distribuição das vazões de água consumidas nos diferentes usos.
Fonte: ANA, 2013.
Por exemplo, sendo:
Q retirada = vazão de retirada 
Q retorno = vazão de retorno
Q consumo = vazão de consumo
c = coeficiente de retorno 
Considerando, Q retirada = 522 m
3/s e c = 0,8 ; as vazões de retorno e consumo 
no abastecimento urbano seriam:
Q retorno = Q retirada . c 
Q retorno = 522 . 0,8 
Q retorno = 417,6 m
3/s
Q consumo = Q retirada - Q retorno 
Q consumo = 522 – 417,6 
Q consumo = 104,4 m
3/s
Para os diferentes usos é importante levar em consideração que a demanda de 
água está relacionada à vazão de retirada. Os dados acima demonstram que no 
abastecimento urbano retiramos a cada segundo dos mananciais 522 m3, sendo 
que deste volume 417,6 m3 retornam ao ambiente e 104,4 m3 são efetivamente 
consumidos. Neste caso, o coeficiente de retorno corresponde a fração de água 
fornecida que adentra a rede de coleta de esgotos, podendo variar entre 60% a 
100%. Geralmente se utiliza o coeficiente de retorno de 80% (c = 0,8), adotado 
pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). 
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UNIDADE A água e os mananciais
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
 Livros
Fundamentos de qualidade e tratamento de água
LIBÂNIO, M. Fundamentos de qualidade e tratamento de água, 3ª ed. Campinas, 
SP: Editora Átomo, 2010.
Coordenadoria de Educação Ambiental
SÃO PAULO (Estado). Secretaria do Meio Ambiente. Coordenadoria de Educação 
Ambiental. Billings: Cadernos de educação ambiental – Edição especial mananciais, 
vol. 1. São Paulo: SMA/CEA, 2010.
 Vídeos
Água e ciclo hidrológico
https://goo.gl/bfOqbE
Água um recurso cada vez mais limitante 
https://goo.gl/P73wUZ
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Referências
BRASIL. Lei 9.433 de 08 de janeiro de 1997. Institui a Política Nacional de 
Recursos Hídricos, cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, 
regulamenta o inciso XIX do art. 21 da Constituição Federal, e altera o art. 1º da 
Lei nº 8.001, de 13 de março de 1990, que modificou a Lei nº 7.990, de 28 de 
dezembro de 1989. Diário Oficial da União, Brasilia, DF, 09 de janeiro de 1997.
BRASIL. Lei 9.605 de 12 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre as sanções penais 
e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá 
outras providências. Diário Oficial da União, Brasilia, DF, 13 de fevereiro de 1998.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Coordenação-
Geral de Vigilância em Saúde Ambiental. Vigilância e controle da qualidade da 
água para consumo humano. Brasília: Ministério da Saúde, 2006.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Agência Nacional de Água. Conjuntura 
dos recursos hídricos no Brasil: 2013. Brasilia: ANA, 2013. 
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Mananciais. Disponível em: http://www.
mma.gov.br/cidades-sustentaveis/aguas-urbanas/mananciais
HESPANHOL, I. Um novo paradigma para a gestão de recursos hídricos. 
Estudos Avançados, v. 22, n. 63, 2008.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Coordenação 
de Recursos Naturais e Meio Ambiente. Vocabulário básico de recursos naturais 
e meio ambiente. 2ª ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2004.
LIBÂNIO, M. Fundamentos de qualidade e tratamento de água, 3ª ed. Campinas, 
SP: Editora Átomo, 2010.
MAYS, L. W. Water resources: an introduction. In: Water resources handbook. 
New York: McGraw-Hill, 1996.
MIERZWA, J. C.; HESPANHOL, I. Água na Indústria: uso racional e reúso. São 
Paulo: Oficina de Textos, 2005.
NELSON, D. L.; COX, M. M. Lehninger princípios de bioquímica. 3ª ed. São 
Paulo: Artmed, 2002.
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UNIDADE A água e os mananciais
SOARES, A. F. S.; LEÃO, M. M. D. Contaminação dos mananciais por 
micropoluentes e a precária remoção desses contaminantes nos tratamentos 
convencionais de água para potabilização. Assuntos Gerais Doutrina 
Internacional, v. 14, n. 24, 2015.
SÃO PAULO (Estado). Secretaria do Meio Ambiente. Coordenadoria de Educação 
Ambiental. Billings: Cadernos de educação ambiental – Edição especial manan-
ciais, vol. 1. São Paulo: SMA/CEA, 2010.
TORTORA, G.J.; FUNKE, B.R.; CASE, C. L. Microbiologia. 10. ed. Porto Alegre: 
Artmed, 2012.
WOTTON, R. S. The classification of particulate and dissolved matter. In: WOTTON, 
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