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O B R A P R O D U Z I D A P O R A G R A R I S T A S D A U . B . A . U C O M I S S Ã O N A C I O N A L D A S M U L H E R E S A G R A R I S T A S D A U . B . A . U E M P R E E N D O R I S M O Liderança Networking Inovação Diversidade e Inclusão Negócios Agricultura Familiar Crédito Rural Questões Fundiárias Reflexos Tributários no Agronegócio Financiamento Rural Sucessão Familiar C O N H E C I M E N T O Estratégia Comunicação Empática Agronegócio do Futuro Inteligência de Mercado Protagonismo Feminino C O M P E T Ê N C I A ORGANIZAÇÃO E EDITORIAL Para maiores informações sobre a Comissão, patrocinar ou apoiar os projetos e atividades das Mulheres Agraristas da U.B.A.U entre em contato com secretaria.cnmau@gmail.com. A presente coletânea é composta por artigos e matérias de autoria das participantes da Comissão Nacional das Mulheres Agraristas da U.B.A.U, publicados entre março de 2020 e março de 2022, nas redes sociais vinculadas à CNMAU, cedidos voluntariamente por cada autora. É de responsabilidade exclusiva das autoras as informações constantes em seus artigos, quanto às opiniões expressadas, autenticidade, veracidade das informações, erros metodológicos, ortográficos e de formatação. Para ter acesso às redes sociais da Comissão Nacional das Mulheres Agraristas da U.B.A.U e sites parceiros confira abaixo ao clicar: Revista aEmpreendedora Revista Destaque Revista A Lavoura Edição Especial de Coletânea de Publicações da Comissão Nacional das Mulheres Agraristas da U.B.A.U APRESENTAÇÃO Heloísa Bagatin Cardoso Vanessa Alves dos Santos Ana Cristina Leinig de Almeida Fabiana Ribeiro Pereira Laís de Quevedo Canez Sipmann Site Oficial da U.B.A.U. Facebook da U.B.A.U. Instagram da CNMAU Jusbrasil da CNMAU Linkedin da CNMAU DIA INTERNACIONAL DA MULHER https://aempreendedora.com.br/ http://www.revistadestaque.com.br/ https://alavoura.com.br/ http://ubau.org.br/ http://ubau.org.br/ https://www.facebook.com/ubaubrasil/ https://www.instagram.com/cnmaubau/ https://cnmaubau.jusbrasil.com.br/ https://www.linkedin.com/company/cnmaubau/ Coletânea de Artigos & Matérias “A Voz Feminina no Agronegócio Brasileiro” 1 2022 by União Brasileira dos Agraristas Universitários Copyright da União Brasileira dos Agraristas Universitários. Coordenação da Obra: Heloísa Bagatin Cardoso, Vanessa Alves dos Santos, Ana Cristina Leinig de Almeida, Fabiano Ribeiro Pereira, Lais de Quevedo Canez Sipmann. DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP) Índice Para Catálogo Sistemático 1. Direito Agrário – 347.243 (81) C268c Cardoso, Heloísa Bagatin; Santos Vanessa Alves dos; Almeida, Ana Cristina Leinig de; Pereira, Fabiana Ribeiro; Sipmann, Lais de Quevedo Canez (Coord.). Coletânea de Artigos & Matérias: A Voz Feminina no Agronegócio Brasileiro / Coordenadores Heloisa Bagatin Cardoso; Vanessa Alves dos Santos; Ana Cristina Leinig de Almeida; Fabiana Ribeiro Pereira; Lais de Quevedo Canez Sipmann._____. Rio Grande do Sul: União Brasileira dos Agraristas Universitários, 2022. 217 p. 23 x 16 cm. ISBN: 978-65-997361-1-7 Esta obra faz parte das ações estratégicas de extensão de conhecimento da União Brasileira dos Agraristas Universitários (UBAU), através da Comissão Nacional das Mulheres Agraristas. 2 SUMÁRIO 1. HOMENAGEM ÀS MULHERES 9 2. APRESENTAÇÃO DA UBAU E CNMAU 13 Valores 14 Objetivos 15 3. POR ANA CRISTINA LEINIG DE ALMEIDA 16 3.1. A IMPORTÂNCIA DO PLANEJAMENTO FAMILIAR E SUCESSÓRIO 17 3.2. SELO + INTEGRIDADE 19 3.3. HERANÇA DIGITAL 21 3.4. AUTOCONHECIMENTO E EMPATIA SÃO A CHAVE PARA CONVIVÊNCIA HARMÔNICA 24 3.5. ASPECTOS RELEVANTES DO DIREITO SUCESSÓRIO. 28 4. POR ANA LUÍSA S. CÂNDIDO ROSA 33 4.1. OS EFEITOS DO CORONAVÍRUS PARA O AGRONEGÓCIO 34 4.2. A IMPORTÂNCIA DO PRODUTOR RURAL NESSE CENÁRIO DE CRISE 35 4.3. O QUE É CRÉDITO RURAL? 36 5. POR ANNA PAULA CECHELLA 38 5.1. O PAGAMENTO POR SERVIÇOS AMBIENTAIS (PSA) NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 39 3 6. POR ANDREA OLIVEIRA 42 6.1. REFLEXOS TRABALHISTAS DO COVID 19 NAS RELAÇÕES DE TRABALHO 43 7. POR CARMEN FARIAS 49 7.1. SEGURO RURAL E PSR 50 8. POR CAROLINE FENSTERSEIFER MATTIONI 52 8.1. (IN)SEGURANÇA JURÍDICA NO CAMPO 53 9. POR CRISLEY SCAPINI 55 9.1. UMA BREVE REFLEXÃO SOBRE ESSE PERÍODO DESAFIADOR 56 10. POR CRISTIANE MOREIRA ROSSONI 58 10.1. AGRONEGÓCIO: DESBRAVANDO A VISÃO DISTORCIDA IMPOSTA AO SEGMENTO 59 10.2. CADASTRO AMBIENTAL RURAL: ASPECTOS PRÁTICOS 60 10.3. IMPRESSÃO EM 3D: A REVOLUÇÃO NO AGRONEGÓCIO 63 11. POR CRISTIANE SANTOS 66 11.1. PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO NÃO É EVASÃO FISCAL! 67 12. POR DÉBORA MINUZZI 70 12.1. GARANTIAS ANEXAS AO CONTRATO DE ARRENDAMENTO 71 12.2. A RECUPERAÇÃO JUDICIAL DO PRODUTOR 72 4 13. POR ELIANE D. FORNARI 74 13.1. A IMPORTÂNCIA DO MAPEAMENTO PERFIL COMPORTAMENTAL NA LIDERANÇA NO SETOR DO AGRONEGÓCIO 75 14. POR EMANUELLE SERAFIN 77 14.1. CONTRATOS AGRÁRIOS DO DIREITO À RETENÇÃO POR BENFEITORIAS 78 15. POR GABRIELA BERTOLINI 80 15.1. TODO IMÓVEL RURAL PRECISA DE ÁREA DE RESERVA LEGAL? 81 16. POR GABRIELE BRAGHETO DE SOUZA NOGUEIRA 83 16.1. A INFORMAÇÃO A SERVIÇO DO PRODUTOR RURAL 84 16.2. O LEGADO DAS MULHERES PARA O AGRONEGÓCIO BRASILEIRO 85 17. POR HELOÍSA BAGATIN CARDOSO 88 17.1. 10 DESAFIOS E OPORTUNIDADES NO AGRONEGÓCIO 89 17.2. BANCO GENÉTICO: O BANCO MAIS VALIOSO DO BRASIL 92 17.3. IMPENHORABILIDADE DA PEQUENA PROPRIEDADE RURAL 95 17.4. CRÉDITO RURAL INSTRUMENTO DE POLÍTICA AGRÍCOLA 97 17.5. QUE NÃO NOS FALTE VINHO NESSA QUARENTENA 98 5 18. POR IRINI TSOUROUTSOGLOU 102 18.1. FIAGRO 103 19. POR JÉSSICA NOGUEIRA 105 19.1. CARNE DE FRANGO HALAL – PRODUÇÃO BRASILEIRA EM ALTA 106 19.2. A SECA SEVERA E A GEADA NO BRASIL 107 20. POR JULIA BASTOS 110 20.1. COMO RENEGOCIAR EM TEMPOS DE CORONAVÍRUS 111 20.2. MP DO AGRO É SANCIONADA 112 21. POR JULIA MACHADO 114 21.1. COBRANÇA DE IPTU E ITR SOBRE TERRAS INVADIDAS: O REAL PROPRIETÁRIO É RESPONSÁVEL? 115 21.2. A EXCLUSÃO DO ICMS DA BASE DE CÁLCULO DO PIS E DA COFINS E SEUS REFLEXOS NO AGRONEGÓCIO 116 22. POR LAÍS DE QUEVEDO CANEZ SIPMANN 119 22.1. DECLARAÇÃO DE APTIDÃO AO PRONAF: IMPORTÂNCIA E ESPECIFICIDADES 120 22.2. BARTER: A PRODUÇÃO AGRÍCOLA COMO MOEDA DO PRODUTOR RURAL 121 23. POR LARISSA BRIZOLA YARED 124 23.1. AS VANTAGENS DO PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO NO AGRONEGÓCIO 125 6 24. POR LILIANE CISOTTO 128 24.1. ALGUMAS MEDIDAS TRIBUTÁRIAS PARA MITIGAR OS IMPACTOS DO COVID-19 129 24.2. ASPECTOS ATUAIS SOBRE O PLANEJAMENTO PATRIMONIAL DO PRODUTOR RURAL 130 24.3. CROWDFUNDING PARA O AGRO: Investimentos alternativos, sob contrato coletivo. 133 25. POR MARCELA PITOMBO 136 25.1. SAÍDA VERDE: POLÍTICA NACIONAL DE PAGAMENTOS POR SERVIÇOS AMBIENTAIS 137 26. POR MARIANA MOTTA 140 26.1. RENOVAÇÃO AUTOMÁTICA DO CONTRATO DE ARRENDAMENTO: LIMITAÇÃO DA AUTONOMIA PRIVADA 141 27. POR MARINALDA ARBIGAUS 143 27.1. A IMPORTANCIA DAS SERVENTIAS EXTRAJUDICIAIS NA REGULARIZAÇÃO DE IMÓVEIS RURAIS 144 28. POR MIKAELI FONSÊCA DE SOUZA RUDENCO 146 28.1. A APOSENTADORIA DO TRABALHADOR RURAL E A DORMÊNCIA CAUSADA POR FALTA DE CONHECIMENTO. 147 29. POR NAIRE REI 150 29.1. USO DA MEDIAÇÃO OU ARBITRAGEM PARA DEFINIR VALORES INDENIZATÓRIOS NAS DESAPROPRIAÇÕES POR UTILIDADE PÚBLICA 151 7 29.2. VOCÊ SABE O QUE É USUCAPIÃO EXTRAJUDICIAL? 152 29.3. RECOMPRA DE TERRAS PÚBLICAS - ESTADO DO PARÁ 153 29.4. LOGÍSTICA REVERSA NA POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS: uma análise acerca das embalagens de agrotóxicos156 30. POR PATRÍCIA CRISTINA CECATTO BARILI 159 30.1. A AGRICULTURA E A PAZ SOCIAL 160 31. POR PATRÍCIA JABLONSKI 165 31.1. AUXÍLIO EMERGENCIAL PARA TRABALHADOR RURAL (SEGURADO ESPECIAL) 166 32. POR RAFAELA FRITZEN 168 32.1. INCRA PRORROGA VENCIMENTO DE DÉBITO E SUSPENSE PRAZOS DE PROCESSOS 169 32.2. TÍTULOS VERDES 170 33. POR ROBERTA MELO 173 33.1. AGRONEGÓCIO BRASILEIRO 174 34. POR SARAH LOPES 177 34.1. PLANEJAMENTO E SUCESSÃO DA FAMÍLIA RURAL 178 34.2. MEDIAÇÃO RURAL? OS BENEFÍCIOS DO USO DA MEDIAÇÃO NO AGRONEGÓCIO 180 34.3. GOVERNANÇA FAMILIAR – A IMPORTÂNCIA DO PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO 183 8 35. POR SHANA SERRÃO FENSTERSEIFER GULARTE 188 35.1. A RELEVÂNCIA DO SEGURO RURAL COMO INSTRUMENTO DE POLÍTICA AGRÍCOLA 189 36. POR SIBELE VEREMZUK XAVIER 192 36.1. GEORREFERENCIAMENTO 193 36.2. AS PEQUENAS FRUTAS NOS CAMPOS DE CIMA DA SERRA GAÚCHA 195 37. POR TATIANA LISBÔA 198 37.1. A IMPORTÂNCIA DO PRONAF – PROGRAMA NACIONAL DE FORTALECIMENTO DA AGRICULTURA FAMILIAR PARA PROMOÇÃO E AMPLIAÇÃO DA PARTICIPAÇÃO FEMININA NO CAMPO 199 38. POR THAYRINE PRADO 202 38.1. EDUCAÇÃO NO CAMPO 203 39. POR THAMIRIS BOTT 206 39.1. PRORROGAÇÃO DE CONTRATO BANCÁRIO RURAL 207 39.2. COVID-19 E AS MEDIDAS EMERGENCIAIS AOS PEQUENOS PRODUTORES RURAIS 208 39.3. CONTRATO DE SAFRA 209 40. POR VANESSA ALVES DOS SANTOS 211 40.1. A RECUPERAÇÃO JUDICIAL DO PRODUTOR RURAL 212 9 1. HOMENAGEM ÀS MULHERES O dia 08 de março é conhecido como o Dia Internacional da Mulher, a data foi oficializada pela ONU em 1975, a fim de celebrar as conquistas e avanços políticos e sociais das mulheres, bem como reivindicar melhorias nos problemas que ainda precisam ser superados. A Paridade de Gênero e políticas afirmativas fazem parte da Agenda 2030 de Desenvolvimento Sustentável aprovado pela ONU, em 2015. Foram estabelecidos 17 objetivos e 169 metas globais para erradicação da pobreza, promoção da prosperidade e paz mundial. O 5º objetivo de desenvolvimento sustentável (ODS – 5) é a igualdade de gênero, a fim de empoderar mulheres e meninas. Desta forma, a ONU Mulher lançou a campanha global “Planeta 50-50 em 2030”, a fim de estimular novas políticas, leis e planos de ação para fortalecer direitos relativos à igualdade de gênero. Você sabia que mais de 40% dos trabalhadores e pessoas envolvidas com o agro são mulheres? A maior parte das mulheres trabalha nas agroindústrias ou agrosserviços, mas também cresce a participação feminina nas atividades dentro da porteira, àquelas que são feitas nas propriedades rurais e fazendas. Elas estão estudando e se especializando a fundo, seja para assumir postos de trabalho em propriedades e empresas rurais familiares ou até mesmo em cargos de relevância em grandes empresas e multinacionais do agro. Ocupam com desenvoltura cargos políticos e institucionais no agronegócio, a exemplo da Ministra da 10 Agricultura, Pecuária e Abastecimento Tereza Cristina ou da Presidente da Sociedade Rural Brasileira Teka Vendramini. E tantos outros exemplos femininos que podemos conferir na lista da Forbes sobre 100 mulheres poderosas do Agro. Vale destacar o trabalho pioneiro do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA), da Esalq/USP, que elaborou uma pesquisa específica sobre mulheres no agronegócio, levantando uma série de dados interessantes acerca da participação feminina no setor. De acordo com a pesquisa, cerca de 40% dos trabalhadores no agronegócio são mulheres, existindo um crescimento da presença feminina neste segmento em 8,3%, enquanto a participação masculina reduziu para 11,6%, ou seja, cerca de 384.582 mulheres assumiram novos postos de trabalho relacionados ao agronegócio e, em contrapartida, ocorreu a saída de aproximadamente 1,65 milhões de homens no setor do agro. O CEPEA apurou que a maior parte das mulheres atua nas agroindústrias (34,11%) ou nos agrosserviços (45,32%), e apenas 19,66% trabalham dentro da porteira, por consequência, isto tem relação com o fato de 80,94% das mulheres residirem na zona urbana – onde predominam os empregos agroindustriais e de serviços – e somente 19,06% morarem na zona rural. Nos últimos anos, observou-se um aumento do trabalho feminino com carteira assinada e também de mulheres que trabalham por conta própria. Além do mais, ocorreu um crescimento na qualificação formal das trabalhadoras rurais, existindo mais de 40% das mulheres com ensino médio, e com ensino superior o número saltou de 7,6% para 15%. Isto significa que as mulheres estão se qualificando mais no setor do agronegócio e conseguindo 11 ocupar mais postos de trabalho que não dependem necessariamente da força física, ainda mais com o avanço da tecnologia no campo. Quanto aos cargos de decisão e gestão no agronegócio, apesar de uma melhora nos números da participação feminina ao longo dos anos, a pesquisa apontou que ainda há grande desigualdade em relação aos homens, pois só 15,31% das mulheres administram propriedades agropecuárias. E, aproximadamente, 33,63% dos cargos de dirigentes e gerentes em agroindústrias são destinados para mulheres e 35,11% em agrosserviços. Deste modo, continua sendo um desafio no Brasil a equiparação salarial e a igualdade de oportunidades para as mulheres exercerem cargos de comando também no agronegócio. Da análise do conjunto de dados da pesquisa, foi possível traçar um perfil predominante das mulheres que trabalham atualmente no agronegócio: tem mais de 30 anos, possuem ensino médio ou superior completo, residem na área urbana, atuam na agroindústria ou agrosserviços, com carteira assinada ou de forma autônoma. Por outro lado, foram identificadas as características das mulheres com maior fragilidade econômica e que necessitam de apoio e proteção do Estado: são àquelas que tem mais de 30 anos, todavia não possuem estudo e nem vínculo empregatício formalizado, bem como residem na área rural, onde o acesso é mais difícil à infraestrutura estatal. Os dados coletados são importantes para que o Poder Público implemente direitos e garantias às mulheres, a fim de minimizar as desigualdades e 12 dificuldades que enfrentam no dia a dia, principalmente, no âmbito do mercado de trabalho. E para garantir que as normas legais sejam cumpridas, sabe-se que o Brasil é um dos países com mais advogados no mundo! São mais de 1.500 cursos de direito espalhados pelo território nacional e existem cerca de 1,2 milhão de profissionais da área jurídica. E, segundo o último Censo de Educação Superior do MEC, as mulheres já formam a maioria dos ingressos em cursos superiores, com destaque, para o direito. Alinhada com a iniciativa global, a advogada e conselheira Valentina Jungmann (OAB-GO) propôs projeto para paridade de gênero nas eleições da OAB, em dezembro de 2020, sendo publicada a Resolução nº 05/2020, em 14 de abril de 2021. Assim, não é difícil concluir que num futuro breve as mulheres serão a maioria tanto no agronegócio quanto no direito, sendo que as agraristas contribuirão de forma significativa para a formação e evolução do estudo do direito agrário e na defesa do agronegócio. Ciente desta tendência, a União Brasileira dos Agraristas Universitários (UBAU) instituiu a Comissão Nacional das Mulheres Agraristas da UBAU (CNMAU) para agregar mulheres da área jurídica e demais interessadas que se dedicam ao direito agrário e ao setor do agronegócio, a fim de disseminar os direitos e garantias das produtoras rurais e, conforme o lema da CNMAU, fortalecer “A voz feminina no agronegócio”! Por Heloísa Bagatin Cardoso Coordenadora Geral da União Brasileira dos Agraristas Universitários UBAU 13 2. APRESENTAÇÃO DA UBAU E CNMAU A União Brasileirados Agraristas Universitários – UBAU foi fundada para congregar os agraristas gaúchos e brasileiros de outros Estados da Federação. A UBAU é uma entidade similar à UMAU – União Mundial dos Agraristas Universitários, com sede em Pisa, na Itália. De acordo com o seu Estatuto Social, a UBAU é uma entidade associativa civil, sem fins lucrativos, com duração por tempo indeterminado, organização não- governamental, com sede administrativa e legal no Município de Porto Alegre-RS. A UBAU tem como objetivos sociais associar e congregar os agraristas brasileiros e aprofundar os estudos relativamente ao Direito Agrário, Ambiental e aos temas relativos ao agronegócio empresarial e familiar. Em reunião extraordinária realizada em 30/10/2019, a Diretoria da União Brasileira dos Agraristas Universitários (UBAU) aprovou a criação da Comissão Nacional das Mulheres Agraristas da UBAU (CNMAU), para congregar mulheres agraristas de todos os Estados da Federação. De acordo com o Estatuto Social a UBAU é uma entidade associativa civil, sem fins lucrativos, com duração por tempo indeterminado, sendo uma organização não-governamental, com sede administrativa e legal no município de Porto Alegre-RS. A CNMAU pretende unir as mulheres da UBAU, para que aprofundem o estudo do Direito Agrário, o Agrarismo e áreas correlatas, bem como incentivem e defendam a participação feminina no setor do agronegócio. Assim, a nossa missão pode ser resumida na 14 seguinte frase: “Fortalecer o agrarismo no Brasil, com a força e união das mulheres”. Deste modo, a CNMAU visa o reconhecimento nacional e internacional na defesa e promoção dos direitos da mulher atuante no agronegócio através do estudo e difusão do Direito Agrário, Agrarismo e matérias afins. Assim, a CNMAU possui por lema ser “A voz feminina no agronegócio”. Valores A CNMAU possui os seguintes valores que devem ser observados pelas associadas: Competência: conhecimento das normas legais que regem o Direito Agrário e suas vertentes. Dinamismo: atuação em todo território brasileiro, respeitando suas regionalidades. Comprometimento: conhecer os problemas do agronegócio e criar soluções jurídicas eficientes aos seus problemas; Paixão: defender com afinco o agrarismo e a mulher envolvida no setor; Valorização da mulher: ressaltar através de ações a função e perspectiva feminina sobre o agronegócio brasileiro; Comunicação e transparência: divulgar a toda sociedade a existência, planejamento e ações da comissão. 15 Objetivos Destacam-se os seguintes objetivos a serem desenvolvidos pela CNMAU: Organizar estudos, eventos, congressos, seminários e debates, incentivando a difusão do Direito Agrário e do agrarismo nas unidades federativas do Brasil e exterior que prestigiem a participação e perspectiva feminina; Estimular o desenvolvimento de informações no que se refere ao Direito Agrário e áreas correlatas ao Agronegócio; Apoiar o desenvolvimento científico e de inovação tecnológica e biotecnológica na área do Agronegócio; Defender os interesses do produtor e da produtora rural, garantindo a divulgação de seus direitos e garantias; Propugnar pela introdução no currículo acadêmico da disciplina de Direito Agrário e áreas relacionadas ao agronegócio nas Instituições de Ensino Superior e criação de cursos de pós-graduação; Promover a participação de mulheres agraristas de forma ativa, encaminhando às autoridades governamentais e demais entidades competentes estudos e sugestões para o fortalecimento do Direito Agrário e das políticas públicas de incentivo ao agronegócio; Incentivar a participação de mulheres agraristas em campanhas de mobilização da sociedade visando divulgar as atividades da UBAU; Manter intercâmbio de caráter cultural e informativo com outras associações e entidades afins no Brasil e Exterior, promovendo, quando for o caso, atividades conjuntas. 16 3. POR ANA CRISTINA LEINIG DE ALMEIDA Advogada familiarista e agrarista. Graduada em Direito na Faculdade de Direito de Curitiba. Pós-graduada em direito Civil e Empresarial pela PUC-PR. Cursando pós- graduação em Direito de Família e Sucessões pelo EBRADI. Sócia-fundadora da Kohl & Leinig Advogados Associados, com sede em Palmas/PR e atuação em todo o Brasil. Coordenadora da Escola de Agraristas. Associada do IBDFAM (Instituto Brasileiro de Direito de Família). Integrante da CNMAU (Comissão Nacional das Mulheres Agraristas da UBAU). Integrante da CMA (Comissão da Mulher Advogada) da OAB - subseção de Palmas/PR. Integrante da CDAA (Comissão de Direito Agrário e do Agronegócio) da OAB Estadual PR e da OAB - subseção de Palmas/PR. Colunista das revistas aEmpreendedora e Destaque. 17 3.1. A IMPORTÂNCIA DO PLANEJAMENTO FAMILIAR E SUCESSÓRIO A lei prevê a destinação automática dos bens do falecido, o que chamamos de princípio de Saisine, art. 1784 do Código de Processo Civil. Creio que seja por esse motivo que muitas vezes não se pensa em planejamento sucessório no Brasil. Mas porque fazer um planejamento sucessório? No nosso país vemos uma cultura de não planejamento familiar e sucessório. As pessoas, em geral, não se planejam, e os problemas advindos disso podem gerar brigas familiares, altos impostos e multas que não estavam previstas. Aí é que percebemos a importância do planejamento, com ele, esses problemas podem ser evitados ou minimizados. Acontece muito de famílias com um patrimônio enorme não conseguirem custear as taxas, honorários e impostos. Apesar de possuírem muitos bens, estão imobilizados, como é o caso dos produtores rurais, que muitas vezes têm uma quantidade grande de terras, com alto valor, porém, o patrimônio está imobilizado. Outro problema é a continuidade dos negócios desenvolvidos. Pois assim como há famílias que possuem pessoas capacitadas e que já trabalham junto à propriedade rural. Há herdeiros que foram para grandes centros estudar e não têm interesse em assumir a atividade desenvolvida e tampouco possuem conhecimento técnico para dar continuidade a tudo o que foi construído. Tal situação pode colocar em risco a continuidade do empreendimento. Para que sejam evitados todos esses dissabores é que precisamos pensar em planejamento sucessório. Para que 18 seu legado seja transmitido e respeitado. O legado é entendido como a vontade do proprietário do patrimônio, em conferir tal bem específico a tal herdeiro, seja ele necessário (art. 1.845, CC ascendentes, descendentes e cônjuge) ou seja ele um terceiro sem laço consanguíneo. Este herdeiro seria um herdeiro legatário. Como anteriormente dito, há um enorme tabu em torno deste assunto. Ele vem sendo desconstruído, mas ainda existe. O brasileiro não é preparado para falar da morte, para pensar na morte. Um dado interessante que devemos trazer para demonstrar essa quebra do tabu é que, nesta pandemia o número de testamentos públicos realizados em cartório aumentou em 134%. Isso demonstra que com as incertezas trazidas pela pandemia fizeram com que as pessoas tenham uma outra visão acerca do planejamento sucessório. Pois bem, há inúmeras formas de planejamento sucessório, vou citar as mais usuais: 1- testamento, 2- constituição de sociedade empresária (seriam por exemplo as famosas holdings); 3- doação, através do adiantamento de legítima (art. 544, CC) com reserva de usufruto (o que se assemelha ao pacta corvina – mas este não é permitido no ordenamento jurídico); 4-investimentos (PGBL e VGBL). A intenção nestes casos é o proprietário ter a liberalidade de dispor de seu patrimônio, pois no caso da realização do inventário da forma legal, a totalidade dosbens ficará para os herdeiros. Muito se discute a respeito da legítima (50% necessariamente destinados aos herdeiros necessários, art. 1.845, já citado), de sua 19 flexibilização ou até mesmo redução, porém, atualmente ela tem que ser respeitada e é 50% dos bens. Há outras maneiras de se realizar o planejamento sucessório, mas as mais utilizadas são as já citadas. A reflexão que deixo é a de que o brasileiro deve pensar mais no planejamento da sua sucessão. Não como uma morte antecipada - temos que superar esse pensamento - mas como uma maneira de que seu legado tenha continuidade e sua vontade seja respeitada. Além do que há uma previsibilidade de gastos e de que serão evitados muitos problemas futuros. Publicado em 21 de fevereiro de 2022 3.2. SELO + INTEGRIDADE Primeiramente precisamos entender o que é compliance. A palavra compliance deriva do termo anglo-saxônico to comply e significa cumprir, obedecer, estar de acordo. No Brasil, o compliance está sendo ainda ligado à palavra INTEGRIDADE. Do ponto de vista empresarial significa ter um conjunto de medidas e políticas com o objetivo de: 1. cumprir regras externas a que estejam sujeitas; 2. observar normas internas por parte de seus agentes, com o objetivo de trazer ética e integridade à empresa; e, 3. adequar-se a padrões éticos por ela estipulados ou exigidos pelo mercado onde atuam. No agronegócio e no mercado em geral cada vez mais surgem normas de atuação e certificações empresariais especialmente no que se referem a 20 atitudes anticorrupção, de preservação do meio ambiente, e de desburocratização. O programa de integridade Agro+ do MAPA surgiu em decorrência da assinatura de diversos acordos internacionais anticorrupção, inclusive a partir da Lei Anticorrupção brasileira, e tem como intuito de trazer mais integridade ao Ministério da Agricultora, promover mudanças para se evitar a corrupção, e desburocratizar e dar maior sustentabilidade aos procedimentos. A partir do programa Agro+ percebeu-se a necessidade de que as empresas ligadas ao MAPA também tivessem políticas de compliance/integridade, surgiu então o SELO AGRO+. O intuito é de incentivar a adesão a essa mudança cultural ao premiar empresas e cooperativas do agronegócio que desenvolvam práticas de integridade, responsabilidade social e sustentabilidade. Com regulamento próprio editado pelo MAPA o programa destaca-se por prever diversas medidas de compliance que vão ao encontro da criação da cultura ética e de respeitos às normas legais pelas empresas e cooperativas do agronegócio. O programa possui enfoque no combate à corrupção, mudança nas questões trabalhistas e de sustentabilidade. Publicado em 09 de março de 2021 21 3.3. HERANÇA DIGITAL Herança digital é algo que está muito em voga nos dias atuais, e tem dividido opiniões acerca de sua transmissão aos herdeiros. A herança digital é o conjunto dos seus bens digitais. Como exemplo podemos citar seus e-mails, suas redes sociais, Instagram, canal no YouTube, seus arquivos no seu computador, fotos, livros digitais, arquivos na nuvem, enfim, tudo que é digital. E por que se fala tanto em herança digital e como se dará sua transmissão aos seus herdeiros? Porque atualmente são inúmeros os perfis que são utilizados como forma de trabalho e possuem retorno pecuniário ao usuário, são os chamados digital influencers. Eles são influenciadores do mercado, o que significa que sua opinião é levada em consideração por um grande número de pessoas. E a consequência disso são as parcerias e contratos para divulgação de produtos em seus perfis com contrapartida financeira. Sem contar os canais no YouTube que conforme o número de visualizações e número de seguidores, a plataforma oferece pagamento diário para essa produção de conteúdo. Há perfis que geram milhões por dia. Os cursos oferecidos através de plataformas como a Hotmart, também são parte da herança digital que teria um retorno financeiro. Por conta desse valor pecuniário vultoso gerado por estes perfis é que se começou a discutir acerca 22 da transmissão desse conteúdo digital quando do falecimento de seu titular. Não podemos esquecer também dos demais arquivos digitais que não necessariamente possuem um retorno financeiro: e-mails, fotos, arquivos no dropbox, no icloud, arquivos em seu computador, livros digitais. Como mensurar quanto valem esses documentos? E o tratamento desses bens, perfis e documentos digitais, no que tange à sucessão, tem dividido opiniões tanto na doutrina quanto na jurisprudência (entendimentos dos tribunais). Há um entendimento de que a transmissão da herança digital é automática e serão utilizadas as legislações já existentes em nosso ordenamento jurídico sobre sucessão. Sem haver a necessidade de elaboração de leis específicas para se tratar do instituto. Aqui é interessante trazermos como se dá a transmissão dos bens físicos. Segundo o art. 1.784 do Código Civil com a morte, abre-se a sucessão e os bens são transmitidos diretamente aos herdeiros necessários e testamentários, é o que chamamos de Princípio de Saisine. Em não havendo disposição de última vontade* do de cujus (falecido), os bens serão transmitidos igualmente aos herdeiros necessários (art. 1.845, CC: são herdeiros necessários os descendentes, os ascendentes e o cônjuge). Deve-se ater ainda à ordem de vocação hereditária disposta no art. 1.829 do Código Civil. O problema que surge aqui é: como mensurar cada perfil nas redes sociais, como atribuir um valor pecuniário aos bens digitais? Sem saber qual é esse 23 valor, como conseguiríamos dividir igualmente aos herdeiros conforme determina a legislação vigente? Para que possamos nos utilizar da legislação já existente, uma alternativa que vejo seria a utilização de quinhões específicos e assemelhados a serem divididos entre os herdeiros. Mas entendo que é muito difícil transformar a herança digital em pecúnia, o que dificulta também a elaboração de quinhões específicos. Por isso também a dificuldade de utilizar a legislação vigente. Outro entendimento, que é o que me filio, é o que entende que para que haja a transmissão da herança digital aos herdeiros, deve haver uma disposição de última vontade. Essa disposição de última vontade seria livre de formalidades. Basta que o titular da herança forneça a senha de seu computador, de suas redes sociais, de seu e-mail ou dropbox a um herdeiro. Essa expressão da vontade poderia ser escrita até em uma folha de papel. Entendo que deve haver uma discussão mais profunda para que legislações específicas regulamentem a herança digital. Há muitas questões novas, questões que à época da promulgação do Código Civil, sequer existiam. Há que se estudar os conceitos, e o tratamento a ser adotado com os bens digitais. Até que se avance no estudo da herança digital, o conselho que dou é o seguinte: se você tem a vontade que seus bens digitais sejam transmitidos aos seus herdeiros, deve expressar em vida essa vontade. Publicado em 09 de julho de 2021. 24 3.4. AUTOCONHECIMENTO E EMPATIA SÃO A CHAVE PARA CONVIVÊNCIA HARMÔNICA O desenvolvimento de certas capacidades humanas propicia um relacionamento interpessoal mais pacífico. Autoconhecimento e empatia são duas qualidades importantes para termos relacionamentos em harmonia. Devemos buscar desenvolver essas capacidades. A pandemia me fez refletir muito sobre a humanidade e sobre a minha vivência aqui na Terra. Nos últimos dias cheguei à conclusão do que, para mim, seria o segredo para uma convivência em harmonia, e cheguei a seguinte frase: Autoconhecimento e empatia são a chave para uma convivênciaem harmonia. No meu trabalho me deparo diariamente com clientes e famílias inteiras que estão em total desarmonia, por não terem um entendimento de que muito poderia ser evitado se não agissem tão impulsivamente, se estivessem no controle de suas emoções e ações. Tudo seria mais fácil se houvesse autoconhecimento e se praticassem a empatia. Ao desenvolver essas capacidades, a convivência seria mais tranquila. O que percebo é que as pessoas apenas agem, agem conforme seus familiares sempre agiram, ou mesmo apenas reagem, sem pensar nas consequências de suas palavras e ações. 25 Uma palavra pronunciada pode causar danos emocionais maiores que uma agressão física. Sempre procuro analisar o cliente como um todo, não apenas reduzido ao seu problema jurídico. Minha atuação é também em direito das famílias e sucessões, e por isso, me deparo com muitos problemas que vão muito além do âmbito jurídico. Vejo o cliente através de uma visão sistêmica, atentando-me sempre ao problema jurídico, mas também, e principalmente ao todo, aos acontecimentos que o geraram ou às consequências de relações desarmônicas. Nesse sentido somos um pouco psicólogas também. E percebo o quão carente o ser humano é por atenção, por ter alguém que ouça seus problemas, mas os ouça com atenção, e, ao final, dê uma palavra de conforto, uma palavra de alento, ou apenas demonstre estar ali prestando atenção em suas palavras. Sinto que podemos com nosso trabalho mudar vidas. Se depender de mim, o cliente sempre sairá melhor do meu escritório que quando entrou. Parei para pensar o porquê de os relacionamentos interpessoais serem tão difíceis. Por relacionamentos interpessoais me refiro a todo e qualquer tipo de relacionamento, sejam eles entre familiares, entre colegas, amigos, enfim, relacionamento com pessoas. Tenho certeza que você já teve desentendimentos ao menos uma vez na vida, senão, muitas. Nós somos seres complexos, temos corpo, alma e mente. Temos medos, defeitos, frustrações, vícios, 26 hábitos que carregamos conosco e experiências de vida. Cheguei à conclusão de que a chave para termos uma convivência em harmonia com as pessoas ao nosso redor é desenvolver o autoconhecimento e a empatia. É primordial conhecermos a nós mesmos, é preciso autoconhecimento. As situações que vivenciamos nos geram sentimentos, que geram pensamentos e, consequentemente, geram ações. E através do autoconhecimento passamos a ser mais equilibrados, agimos com maior lucidez, e a convivência com o outro passa a ser mais tranquila. Nossas atitudes e palavras têm consequências. Para toda a ação corresponde uma reação. O que dizemos e fazemos, muitas vezes, diz mais sobre o que estamos sentindo - nossas frustrações, nossos medos, nossos pré conceitos, nossas experiências de vida - do que o que realmente está acontecendo. Muitas vezes é necessário colocar-se na posição como um terceiro observando a situação. Mas é fácil falar, o difícil é fazer na prática, em meio a uma situação de crise. Porém, como sempre digo, tudo nesta vida é treino. Precisamos nos entender e estudar a nós mesmos, mas temos que testar, experenciar, viver na prática para a total compreensão e o aprendizado. No campo das ideias é tudo perfeito, mas na vida real as coisas são mais difíceis e imprevisíveis. Quanto mais treinamos nosso cérebro a controlar nossas emoções e sentimentos, mais a convivência com os demais seres fica harmoniosa. 27 Muitas vezes exageramos na dose, mas no calor da emoção não percebemos, só entendemos que nossa reação foi exagerada depois que a poeira baixar, quando conseguimos analisar de fora a situação. O que entendemos a respeito do que o outro diz em uma conversa, é cheio de interferências, nossa interpretação é carregada de nossos registros anteriores, de nossas vivências, nossos problemas conosco mesmos. Por isso a importância de nos conhecermos, resolvermos nossos problemas pessoais, e, ao sentir, não tenhamos a reação automática que sempre tivemos, possamos pensar antes de agir e falar. O autoconhecimento é fundamental para conviver em paz com os demais seres humanos. Podemos nos conhecer de diversas maneiras: sessões de terapia com psicólogos e psicoterapeutas, meditação, Yôga, cursos, enfim, você escolherá o que mais te agrada. Mas o importante é buscar o autoconhecimento. Além disso precisamos ter empatia. Ao nos relacionarmos com o outro, devemos nos colocar no lugar dele, mas de forma efetiva, sem preconceitos, sem interferências. Ao entender o que o outro pensa e sente, temos como avaliar a sua reação, e suas palavras. Ao entender as palavras e ações do outro, ainda que talvez não tivéssemos a mesma atitude e comportamento - afinal estamos trabalhando o nosso autoconhecimento - não vamos simplesmente reagir a uma ação do outro. E evitamos a desarmonia. 28 Colocar-se no lugar do outro é tarefa árdua, e somente com sensibilidade e experiência é que conseguimos fazê-lo. Muito se fala em sermos mais humanos, atendermos nosso cliente de forma mais humanizada. Isso significa que devemos estar atentos aos detalhes, à expressão do outro, aos gestos e palavras, olhar nos olhos do outro. E para realizar esse cuidado mais humanizado nas relações, ter empatia é imprescindível. Por isso o grande segredo para uma convivência em harmonia é: trabalhar seus problemas pessoais, através do autoconhecimento e se colocar no lugar do outro, praticando a empatia. “Autoconhecimento e empatia são a chave para uma convivência em harmonia” (Ana Cristina Leinig de Almeida) Publicado em 11 de agosto de 2021. 3.5. ASPECTOS RELEVANTES DO DIREITO SUCESSÓRIO. A sucessão é um instituto do Direito que trata da transferência, total ou parcial de herança, por morte de alguém, a um ou mais herdeiros. O art. 1784, do Código Civil, nos traz um dos princípios do Direito sucessório que é o Princípio de “saisine” Aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e testamentários. 29 Pelo princípio de saisine, assim que a pessoa falece o patrimônio se transfere aos herdeiros legítimos e/ou aos herdeiros contidos no testamento (testamentários). Por este princípio os herdeiros têm o direito de posse. Para que os bens não fiquem sem dono. Porém, para que a propriedade dos imóveis seja passada aos herdeiros, o inventário deve ser realizado. Mais para frente veremos como isso será feito. Antes temos que saber que os herdeiros legítimos são aqueles previstos no art. 1829, do Código Civil, que nos traz também a ordem da vocação hereditária: A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte: I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este com o falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (cujas hipóteses são estabelecidas pelo art. 1.641); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado bens particulares; II - aos ascendentes, em linha reta (avós, bisavós, trisavós), em concorrência com o cônjuge; III - ao cônjuge sobrevivente; IV - aos colaterais. Caso você não saiba qual o regime de bens adotados na constância do casamento/união estável, deve procurar sua certidão de casamento, lá terá descrito qual foi o regime escolhido. Mas, nesse caso é muito provável que o regime seja o de comunhão parcial de bens. Porque digo isso? Se não houve a 30 opção por outro regime, através do pacto antenupcial, este é o regime legal desde 26/12/1977, quando promulgada a lei do divórcio (Lei n.6.515/1977). O regime legal aplica-se tanto ao casamento quanto à união estável. Informação importante a ser trazida é o temade repercussão geral, 809 do STF, que fez a equiparação do casamento à união estável com relação ao art. 1.829. O tema fixou a seguinte tese: É inconstitucional a distinção de regimes sucessórios entre cônjuges e companheiros prevista no art. 1.790 do CC/2002, devendo ser aplicado, tanto nas hipóteses de casamento quanto nas de união estável, o regime do art. 1.829 do CC/2002. Portanto, onde se lê cônjuge no art. 1829, leia- se também companheiro/a. Quais são os tipos de inventário quando não há qualquer planejamento anterior? Temos o inventário Judicial e o inventário extrajudicial. Através deste instrumento serão apuradas as dívidas do falecido, bens a serem partilhados, e como se dará a partilha. O inventário Extrajudicial, aquele realizado em cartório, possui alguns requisitos para que seja realizado: 1) todos os herdeiros devem estar de acordo; 2) não pode haver menores envolvidos; 3) não pode haver testamento (faz-se a ressalva de que alguns Estados admitem a abertura e homologação do testamento em juízo, e o restante do inventário poderá ser realizado extrajudicialmente). Portanto, presentes os requisitos, o inventário poderá ser feito em Cartório (Tabelionato de Notas). Cabe aqui mencionar que o inventário extrajudicial 31 possui grandes vantagens, é muito mais célere, e com menos custos aos herdeiros, além de permitir que em pouco tempo se dê continuidade às atividades no imóvel rural, por exemplo. Mas ainda que estejam presentes os requisitos para realizá-lo em cartório, poderá ser realizado em juízo. Os atos extrajudiciais são uma opção mais célere, barata e com segurança jurídica conferida pela fé pública dos notários e registradores. Frisando que sempre deve ser realizado com a orientação de um advogado com experiência em questões extrajudiciais. Já o inventário judicial, é um modo muito mais desgastante, mais demorado, há inventários que chegam a durar 15, 20 anos. Não há como calcular os prejuízos para os herdeiros terem os bens indisponíveis (não podem ser transferidos a terceiros) por tanto tempo. Há um desgaste emocional muito grande, brigas familiares, que se arrastam muitas vezes por gerações. E ao final, corre-se o risco do magistrado apenas dividir a propriedade em frações ideais, ficando todos os herdeiros em condomínio. Portanto, não é efetivamente realizada a partilha. Aqui o advogado tem um papel relevante, pois ele pode propor alternativas para solucionar o problema com a composição de quinhões específicos, por exemplo, especificando os bens que compõem cada quinhão. E se mesmo assim os herdeiros não acordarem, o juiz pode definir a partilha por sorteio, conforme art. 817 do Código Civil: 32 O sorteio para dirimir questões ou dividir coisas comuns considera-se sistema de partilha ou processo de transação, conforme o caso. Neste processo, seja nas serventias extrajudiciais ou no Fórum, serão apresentados todos os bens do falecido e todas as dívidas. Logo após serão quitadas as dívidas, até o montante do patrimônio do falecido e, após, serão partilhados os bens restantes aos herdeiros. Este é o caminho para quem não faz um planejamento sucessório. A lei já prevê a destinação automática dos bens do falecido. É por isso que muitas vezes, no Brasil, não se pensa em planejamento sucessório. Além da morte em nosso país ainda ser um tabu. No Brasil vemos uma cultura de não planejamento familiar e sucessório. As pessoas, em geral, não se planejam, e os problemas advindos disso podem gerar brigas familiares e altos impostos e multas que não estavam no planejamento. Em geral, os gastos com o inventário giram em torno de 10 a 15% de todo o patrimônio. Em outro texto traremos as formas possíveis para se realizar o planejamento sucessório. Publicado em julho/agosto de 2021. 33 4. POR ANA LUÍSA S. CÂNDIDO ROSA Advogada (OAB/GO 41.402); pós graduada em Direito do Trabalho (CESUC/GO); pós graduada em Direito Agrário (PROORDEM /GO); pesquisadora da temática que envolve o Agronegócio e a Indústria da Moda e da Cosmética; sócia proprietária do escritório Cândido, Oliveira e Dourado Sociedade de Advogados; associada à União Brasileira dos Agraristas Universitários (UBAU) e à Comissão Nacional das Mulheres Agraristas da UBAU (CNMAU); produtora rural integrante do grupo Mulheres do Agro de Catalão e Região (GO). 34 4.1. OS EFEITOS DO CORONAVÍRUS PARA O AGRONEGÓCIO “Como sabido, nos últimos dias o Brasil tem enfrentando um risco iminente de um surto do novo coronavírus (COVID-19), neste cenário, a maioria das informações relatam sobre os efeitos dessa epidemia para a economia de maneira geral, mas, e o setor agropecuário especificamente, como fica diante dessa situação? Pois bem. Há duas principais considerações que precisam ser pontuadas, quais sejam: (I) o agronegócio é um setor determinante e de extrema relevância para a economia brasileira; e (II) a globalização faz com que os países “operem” como uma verdadeira teia, de modo que todos estão interligados, portanto, restrições comerciais e fechamento de fronteiras em decorrência do vírus, trazem impactos para todos os envolvidos na cadeia do agro. Logo, o vírus já impactou o dólar, e pode vir a impactar de forma determinante o fornecimento de fertilizantes, o preço dos defensivos agrícolas, das rações, das sementes, e a cotações das commodities, entre outros... Veja, o Brasil exporta grande parte da sua produção, portanto, com a quebra da confiança dos consumidores de maneira geral, há consequentemente diminuição dos volumes vendidos. Sigamos atentos às cenas dos próximos capítulos, observando como a doença poderá ou não se alastrar de maneira drástica nos próximos dias...”. Publicado em 18 de março de 2020 35 4.2. A IMPORTÂNCIA DO PRODUTOR RURAL NESSE CENÁRIO DE CRISE No presente contexto mundial em que se vive, inegável a importância de se VENERAR os profissionais da saúde, assim como se tem feito e visto na mídia. Todavia, outro segmento precisa e MUITO de notoriedade e reconhecimento, são os PRODUTORES RURAIS! Sejam eles pequenos, médios ou grandes, agricultores ou pecuaristas, são esses os responsáveis por colocar comida à mesa de milhões de brasileiros que nesse momento exercem seu “dever” de recolhimento social (#ficaemcasa). Importante ressaltar que a cadeia produtiva e de comercialização do alimento, é bastante ampla, com tantos outros envolvidos, como por exemplo, os colaboradores dos produtores rurais, os caminhoneiros, as transportadoras, a indústria que processa o alimento e os supermercados que os disponibilizam para a grande massa. Nesse sentido, para que não haja desabastecimento, todos os elos dessa corrente estão funcionando sem cessar, mesmo com tantos percalços, considerando-os como – serviços essenciais – de acordo com o Decreto nº 10.282, de 20 de março de 2020. Portanto, minhas SAUDAÇÕES a todos os envolvidos com a produção dos alimentos." Publicado em 23 de março de 2020 https://www.instagram.com/explore/tags/ficaemcasa/ 36 4.3. O QUE É CRÉDITO RURAL? O crédito rural tem um papel importantíssimo no contexto da Política Agrícola de nosso país, isso porque, é através dessa destinação de recursos para contratação de operações de crédito (R$) que o produtor rural tem incentivo à comercialização de seus produtos e a industrialização, além do que, tem acesso, por exemplo, a assistência técnica, a distribuição de sementes e mudas, a inseminação artificial, a mecanização agrícola, aos preços mínimos, a eletrificação rural, aos seguros agrícolas e até mesmo à extensão rural. Nesse sentido são classificadas por quatro finalidades,quais sejam: (I) custeio - para despesas correntes de um ou mais período de produção agrícola ou pecuária; (II) investimento - destinado a inversões em bens e serviços cuja utilização ocorra no curso de vários períodos; (III) comercialização – a fim de cobrir despesas próprias da fase sucessiva à coleta da produção, sua estocagem, transporte ou à monetização de títulos oriundos da venda pelos produtores; (IV) industrialização – dos produtos agropecuários, seja através das cooperativas, seja pelo próprio produtor em sua propriedade. (V) E ainda, os beneficiários se dividem nas seguintes categorias: 37 (I) Pronaf – para faturamento de até R$ 360,00 mil; (II) Pronamp - para faturamento de até R$ 1,76 milhão; (III) Demais produtores: para faturamento de até R$ 1,76 milhão. Diante disso, de forma sucinta, existem inúmeras linhas de crédito rural, sendo que a maioria delas conta com taxas fixas subvencionadas pelo Governo Federal e são operacionalizas pelos bancos integrantes do Sistema Nacional de Crédito Rural - SNCR. Publicado em 22 de abril de 2020 38 5. POR ANNA PAULA CECHELLA Advogada inscrita na OAB/RJ. Mestre em Direito Ambiental e da Sustentabilidade pela Universidade de Alicante - UA (San Vicente Del Raspeig, Alicante, Espanha). Pós-graduada em Direito Agrário e Ambiental aplicado ao Agronegócio pelo Instituto de Educação no Agronegócio - I-UMA (Porto Alegre, RS, Brasil) em parceria com a Universidade Paulista - UNIP (São Paulo, SP, Brasil). Graduada em Direito pela Universidade Cândido Mendes - UCAM (Centro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil). Integrante da Comissão de Direito Agrário da OAB/RJ; da União Brasileira dos Agraristas Universitários (UBAU); da Comissão Nacional das Mulheres Agraristas da UBAU; da Comissão Estadual da UBAU no RJ e da Comissão Nacional de Assuntos Fundiários da UBAU. 39 5.1. O PAGAMENTO POR SERVIÇOS AMBIENTAIS (PSA) NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO O pagamento por serviços ambientais (PSA) é um instrumento que se propõe a remunerar, monetariamente ou não, aqueles que promovem práticas de conservação ambiental de áreas cujos ecossistemas são considerados aptos a fornecer serviços ecossistêmicos. Sendo assim, em vez de reprimir e punir, o objetivo do PSA é incentivar a prática de condutas que visem a preservar o meio ambiente. Os serviços ecossistêmicos podem ser definidos como os benefícios que as pessoas recebem dos ecossistemas, como, por exemplo, os serviços de produção de alimentos; de regulação de secas; de suporte como a formação dos solos e os culturais como o recreio. Apesar dos serviços ecossistêmicos serem fundamentais para a sobrevivência humana, o uso descontrolado e abusivo dos recursos naturais, pelo homem, vem ameaçando a continuidade da prestação desses serviços. Na história, um fato importante que merece ser lembrado foi a desapropriação de fazendas, na cidade do Rio de Janeiro, para a reconstrução da Floresta da Tijuca, durante o reinado de Dom Pedro II, devido à escassez de água provocada pelo desmatamento desenfreado. Já os serviços ambientais diferenciam-se dos serviços ecossistêmicos por apresentarem um caráter mais genérico servindo para definir tanto os benefícios derivados de ecossistemas naturais como de ambientes alterados pelo homem. 40 Este ano, finalmente, foi aprovada a Lei n°. 14.119/2021, que instituiu a Política Nacional de Pagamento por Serviços Ambientais; e alterou as Leis nos 8.212/1991, 8.629/1993, e 6.015/1973, para adequá-las à nova política. No Estado do Rio de Janeiro, desde 2011, vigora o Decreto Estadual nº 42.029, que criou e regulamentou o Programa Estadual de Pagamentos por Serviços Ambientais (PRO-PSA), que representou um grande avanço na proteção do meio ambiente fluminense. De acordo com o art. 2° do decreto, são considerados serviços ambientais, as práticas prestadas por possuidores, a qualquer título, de área rural situada no Estado do Rio de Janeiro, que favoreçam a conservação, manutenção, ampliação e restauração dos ecossistemas. E que se enquadrem em uma dessas modalidades: conservação e recuperação das águas, da biodiversidade e das faixas marginais de proteção, ou, ainda, sequestro de carbono originado de reflorestamento das matas ciliares, nascentes e olhos d´água. Segundo o Instituto Estadual do Ambiente (INEA), o Estado do Rio de Janeiro vem apresentando um aumento significativo no número de projetos de PSA. De 2011 a 2019, este passou de 1 (um) para 9 (nove) projetos de PSA, abrangendo 18 municípios, com investimentos de mais de 40 milhões de reais. No Projeto Conexão Mata Atlântica, por exemplo, que abrange vários Municípios fluminenses, 285 produtores rurais prestadores de serviços ambientais já foram beneficiados, o que representa vários hectares de áreas conservadas, restauradas e convertidas ¹. 41 Referência: 1 Instituto Estadual do Ambiente (INEA). Disponível em: https://inea.maps.arcgis.com/apps/MapSeries/index.h Thaytml?appid=68ed6955a37e4c4a8ebda9f5c3eb4b2f. Acesso em: 19 de agosto de 2021. Publicado em 03 de setembro de 2021 42 6. POR ANDREA OLIVEIRA Advogada há 21 anos, inscrita na OAB/MG 81.473. Atua na advocacia e consultoria para o segmento do agronegócio MBA em gestão de negócios pela USP Esalq. Associada do IBGC, UBAU e CNMAU. Sócia das empresas Agroresultys Gestão avançada e The Coffee. 43 6.1. REFLEXOS TRABALHISTAS DO COVID 19 NAS RELAÇÕES DE TRABALHO Quais os reflexos trabalhistas do COVID 19 nas relações de trabalho, sobretudo na seara saúde e segurança do trabalho no segmento do agronegócio, já que o gricultor não pode deixar de produzir? Tedros Adhanom Ghebreyesus, QU Dongyu e Roberto Azevedo, respectivamente diretores-gerais da OMS, FAO e OMC, reuniram-se em 31/03/2020 e emitiram a seguinte declaração em razão da epidemia de COVID 19, que pode ser lida na íntegra no site abaixo, da qual destaco o seguinte: Agora é a hora de mostrar solidariedade, agir com responsabilidade e aderir ao nosso objetivo comum de aumentar a segurança alimentar, a nutrição e melhorar o bem-estar geral das pessoas em todo o mundo. Devemos garantir que nossa resposta ao COVID-19 não crie intencionalmente escassez injustificada de itens essenciais e exacerba a fome e a desnutrição. E o artigo 6º da CF/88 dispõe que são direitos sociais “a alimentação”. O artigo 5º, XXIII da CF/88, dispõe que “a propriedade atenderá a sua função social”. Os artigos 186 e 170, III da CF/88, rezam sobre a função social da propriedade rural. E o Estatuto da Terra ensina que função social da propriedade é quando ela é explorada de forma sustentável, utiliza adequadamente os recursos naturais e respeita a legislação trabalhista. Em consonância a todo o exposto acima, a atividade da agricultura não pode parar, mesmo diante de uma epidemia sem precedentes no mundo, sob pena de desabastecimento de alimentos. Não se tem notícia sobre proibição da atividade agrícola durante este período de quarentena, pois se trata de uma atividade essencial à sociedade e à economia. Em razão da pandemia, foi criada 44 a Lei n. 13.979/2020, que determinou as medidas para enfrentamento do coronavírus e trouxe os conceitos de afastamento, quarentena e restrição de circulação. A partir disso, vários conflitos nas relações de trabalho surgiram, especialmente na atividade rural, que pode ser demasiadamente complexa por conta das diversas frentes de trabalho existentes. Por causa desse cenário, em vários estados e municípios brasileiros foram expedidos decretos declarandoEstado de Calamidade Pública e determinando a vários estabelecimentos empresariais seus fechamentos e a reclusão das pessoas em suas casas. Sendo assim, as relações trabalhistas continuaram diuturnamente e suas dúvidas também. Claro é que os trabalhadores em grupo de risco devem ser afastados do trabalho, sendo esses os maiores de 60 anos, portadores de doenças crônicas, pessoas imunocomprometidas e gestantes. Com base nas normas regulamentares de saúde e segurança do trabalho, principalmente a NR 31 e na nova legislação surgida após o COVID-19, várias medidas de prevenção foram tomadas pelos empregadores, como disponibilização de lavatórios com sabonetes líquidos, álcool gel, toalhas de papel, intensificação da higienização das áreas de trabalho, distanciamento mínimo de 1 metro de uma pessoa para outra, dentre outras. Em 22 de março de 2020 nasceu a Medida Provisória n. 927, que dispôs sobre as medidas trabalhistas para enfrentamento do estado de calamidade pública. Contudo, essa mesma MP perdeu sua vigência, pois não foi convertida em lei. A primeira consideração a ser feita é que essa MP prevalece enquanto estivermos em estado de calamidade pública, constituindo hipótese de força 45 maior. Por isso, várias medidas excepcionais foram aduzidas para o fim de preservar o emprego e equilibrar a economia brasileira. É importante destacar que a MP determina categoricamente que ela é aplicada inclusive para a Lei n. 5.889/73, que é a Lei do Trabalho Rural, não deixando qualquer dúvida. A mais importante das medidas é a constante do artigo 2º, que estabelece a possibilidade de acordo escrito individual entre empregador e empregado, com o objetivo de garantir a permanência da relação de trabalho. Dispõe ainda que esse acordo tem preponderância sobre todas as regras trabalhistas, inclusive acordo e convenção coletiva. Porém, deve-se respeitar a Constituição Federal. Neste estado de emergência não deverá prevalecer o princípio da primazia da norma mais favorável ao trabalhador, mas princípios da prevalência da saúde pública sobre o individual, prevalência do coletivo sobre o particular, dentre outros. O artigo 3º traz várias ferramentas que podem ser usadas para manutenção dos empregos, flexibilizando as relações de trabalho. Contudo, destaco a “suspensão de exigências administrativas em segurança e saúde no trabalho” como a mais importante por ser, a meu ver, inoportuna por estarmos vivendo em estado de calamidade pública. Flexibilizar tais exigências pode colocar o trabalhador em risco, bem como sujeitar o empregador à responsabilidade indenizatória caso o empregado fique doente no local de trabalho, podendo a justiça considerar que ele agiu com negligência, imprudência ou imperícia, portanto, é importante continuar obedecendo às regras 46 contidas nas normas regulamentares, como a NR 31, e as praticadas neste momento de contágio. Em 1º de abril de 2020 foi publicada a medida provisória n. 936, que instituiu o Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda e dispôs sobre medidas trabalhistas complementares para enfrentamento do estado de calamidade pública. O art. 3º traz as medidas do Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda, que são: I - o pagamento de Benefício Emergencial de Preservação do Emprego e da Renda; II - a redução proporcional de jornada de trabalho e de salários; e III - a suspensão temporária do contrato de trabalho. Já o artigo art. 19, que dispõe sobre o disposto no Capítulo VII da Medida Provisória nº 927/2020, não autoriza o descumprimento das normas regulamentadoras de segurança e saúde no trabalho pelo empregador, aplicando-se as ressalvas ali previstas apenas nas hipóteses excepcionadas. Contudo, foram mantidas as exceções que, a meu ver, são negativas para evitar o contágio do COVID-19. Por fim, a MP 936 não excluiu a incidência dela sobre a lei 5.889/73 (Lei do Trabalho Rural). Sendo assim, como a MP 927 explicitamente a recepcionou, subentende-se que a MP 936 também é válida para o meio rural. O Ministério da Economia, Paulo Guedes, emitiu em 27 de março de 2020 orientações aos trabalhadores e empregadores em razão da pandemia do COVID-19, cujo trecho destaco abaixo: 47 Especificamente em relação às exigências de Segurança e Saúde no Trabalho, destaca-se que as medidas adotadas não significam qualquer supressão ou autorização para o descumprimento das Normas Regulamentadoras de Segurança e Saúde no Trabalho, sendo imperativo que trabalhadores e empregadores mantenham foco na prevenção, evitando ocorrência de acidentes de trabalho e doenças ocupacionais. Um levantamento feito pelo jornal “O Globo” indica que cerca de 18 milhões de trabalhadores possuem risco “significativo” de contágio da COVID-19 por conta das funções que executam. As principais funções no trabalho rural são: a) Operador de máquinas de beneficiamento de produtos agrícolas, no setor da agropecuária e pesca, tem como índice de risco 36,7 e está na categoria risco baixo. b) Trabalhador volante da agricultura, no setor da agropecuária e pesca, tem como índice de risco 21,7 e está na categoria risco baixo. c) Trabalhador agropecuário em geral, no setor agropecuária e pesca, tem como índice de risco 21,7 e está na categoria risco baixo. d) Tratorista agrícola, no setor da agropecuária e pesca, tem como índice de pesca 36,7 e está na categoria risco baixo. e) Trabalhador da cultura de cana-de-açúcar, no setor agropecuária e pesca, tem como risco 21,7 e está na categoria de risco baixo. f) Trabalhador da pecuária (bovinos de corte), no setor agropecuária e pesca, tem como risco 60 e está na categoria de risco significativo. 48 Por todo o exposto, não restam dúvidas de que a atividade do agronegócio não pode parar em decorrência desta epidemia. Contudo, deve-se obedecer a todas as regras de saúde e segurança do trabalho, sob pena, inclusive, de ter o produtor seu estabelecimento fechado e a atividade agrícola paralisada. Publicado em 30 de março de 2020. 49 7. POR CARMEN FARIAS Especialista em Direito Ambiental pela UNISINOS MBA em Gestão Ambiental pela FGV. Especialista em Direito Negocial e Imobiliário | EBRADI. Membro da UBAU/CNMAU. Integrante do Comitê Sinos | Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica Do Rio Dos Sinos. Advogada dedicada ao Agronegócio, atua na defesa do produtor rural junto aos Órgãos Ambientais, Ministério Público e Judiciário | Multas, Embargos, Inquéritos, Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), Ação Civil Pública, Crimes Ambientais. Assessora a regularização ambiental da propriedade - Reserva Legal, Área de Preservação Permanente, Outorga do uso da água, estudos e Licenças ambientais. Viabiliza e implementa Projetos Ambientais, tais quais, compensação ambiental de Reserva Legal, Reposição Florestal Obrigatória (RFO), instituição de Servidão Ambiental e demais aplicações do Código Florestal. Assessora transações imobiliárias rurais: Compra e Venda, Permuta, Doação. Posse & Propriedade. Elaboração de contratos e due diligencie imobiliária. 50 7.1. SEGURO RURAL E PSR É indiscutível a relevância do Seguro Rural enquanto ferramenta de gestão de riscos, apto a minimizar os prejuízos de eventual quebra de safra, sendo um importantíssimo mecanismo de Política Agrícola. O Plano safra 2020/2021 (de R$ 236,3 bi) prestigia o Seguro Rural e a subvenção destinada à sua contratação, permitindo maior cobertura em nº de apólices e extensão de área cobertas. O cronograma de liberação para Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR) está disposto na Resolução Nº74/2020. Cabe ressaltar que o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) fomentou o PSR, inclusive, no âmbito do PRONAF, através da Resolução Nº 75 de 22/06/2020 que aprovou o projeto-piloto de subvenção ao prêmio do seguro rural (PSR) - custeio 2020/2021. Historicamente, as dificuldades para a contratação de uma apólice são evidentes, a saber: custos, coberturas, subsídio – PSR. O Mapa sinalizou interesse de novas Seguradoras nesse mercado, o que seria positivo, trazendo mais competitividade, em tese. Assim, aumentar a base de contratações contribuiria enormemente para essa dinâmica. Vale lembrar que o produtor rural deve prestigiar sua liberdade de escolha na hora de contratar o Seguro Rural. Eventual imposição da instituição financeira por ocasião do crédito rural constituiria ilegalidade, podendo comprometer a contratação de produto mais adequado às 51 reais necessidades do produtor, tanto em custos quanto em coberturas e demais aspectos técnicos que são determinantes no momento da indenização. O Plano Safra deste ano contemplou aumento de 30% para o PSR 2021, totalizando 1,3 bilhões de reais, o que merece ser comemorado. Na oportunidade, foi lançado o aplicativo PSR a fim de conectar o produtor ao mercado segurador, fomentar a cultura desta modalidade de seguro e mantê-lo informado. Disponível para Android e IOS. Importante dizer que todas as Seguradoras habilitadas podem operar com o PSR. A subvenção pode ser pleiteada por qualquer produtor pessoa física ou jurídica, cujo valor (%) será de acordo com a cultura e o produto contratado. Outro aspecto relevante diz respeito a Resolução Nº 73/2020 do Comitê Gestor Interministerial do Seguro Rural, que definiu novas regras operacionais para as Seguradoras, estabelecendo prazos para avisos e vistorias de campo quando da ocorrência de um sinistro. Nesse sentido, a partir de Janeiro de 2021 as seguradoras serão obrigadas a enviar ao Mapa “os dados referentes às apólices beneficiadas pelo PSR com ocorrência de sinistros avisados e/ou liquidados”. Com isso haverá maior transparência e conforto quando da ocorrência de um evento de perdas na lavoura. Ainda que ajustes possam ser necessários, para além do valor de subvenção, tais ações impactam positivamente o mercado, a fim de que a oferta de produtos e serviços sigam evoluindo em favor do produtor rural. Publicado em 10 de agosto de 2020 52 8. POR CAROLINE FENSTERSEIFER MATTIONI Advogada. Especialista em Direito Agrário e Direito Ambiental aplicado ao Agronegócio (I-UMA) e em Direito Processual Civil (UFRGS). Membro da União Brasileira da Advocacia Ambiental (UBAA), da União Brasileira dos Agraristas Universitários (UBAU) e da Comissão Nacional de Mulheres Agraristas da UBAU (CNMAU). 53 8.1. (IN)SEGURANÇA JURÍDICA NO CAMPO Uma das características mais marcantes da atividade agrária é a extensão dos riscos aos quais está exposta. É muito comum associarmos tais riscos a problemas climáticos ou às variações do mercado, mas existe uma série de outros fatores que afetam diretamente o setor. A insegurança jurídica é um deles. A infinidade e a complexidade de leis, a sua constante alteração, a ambiguidade e a falta de objetividade do texto normativo, bem como as constantes mudanças nas interpretações jurídicas acerca de direitos e obrigações são alguns dos motivos pelos quais os produtores rurais não conseguem confiar no sistema jurídico e ter conhecimento adequado daquilo que as normas estabelecem. Inusitadamente, a maior ameaça à segurança jurídica no Brasil parte justamente daqueles a quem foi dada a função de garanti-la: os órgãos jurisdicionais, em especial, o Supremo Tribunal Federal (STF). Citando-se apenas dois exemplos, após ter declarado inconstitucional a cobrança da contribuição social do empregador rural pessoa física (Funrural) por unanimidade em 2010, o STF adotou entendimento contrário em 2017, acarretando um passivo bilionário aos produtores. Mais recentemente, o mesmo tribunal decidiu (sem amparo em lei alguma) que a pretensão à reparação dos danos ao meio ambiente não está sujeita à prescrição. Com isso, todo dano ao meio ambiente cometido desde o início dos tempos até hoje, e os que ocorram de hoje em diante, 54 permanecem perpetuamente em aberto, podendo o então proprietário da área ser acionando a qualquer tempo. Não existe ambiente favorável ao crescimento com relações jurídicas instáveis e imprevisíveis. Ignorando isso, o cenário brasileiro apresenta um amplo e complexo (muitas vezes até contraditório) arcabouço normativo, jurisprudência instável e falta de confiança nas instituições. Apesar de todas as adversidades, há tempos o agronegócio é o setor da economia brasileira que vem apresentando os melhores resultados. Mas, para continuar se desenvolvendo, precisa de um elemento vital: a segurança jurídica. Publicado em 14 de dezembro de 2020 55 9. POR CRISLEY SCAPINI Advogada formada pela Universidade de Passo Fundo - UPF; Especialista em Direito dos Contratos e Responsabilidade Civil pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos - Unisinos; Especialista em Direito Agrário e Agronegócio pela Fundação do Ministério Público - FMP; Autora da Obra Coletiva Direito Agrário na Prática: Casos Jurídicos Reais sob a Percepção das Mulheres Agraristas; Integrante da União Brasileira dos Agraristas Universitários - UBAU; Integrante da Comissão Nacional das Mulheres Agraristas da UBAU - CNMAU; Sócia Administradora da empresa Scapini Negócios Agrícolas; Sócia Proprietária do Escritório de Advocacia Scapini Advogadas; Advogada Associada do Escritório Muxfeldt & Duarte Advogados. 56 9.1. UMA BREVE REFLEXÃO SOBRE ESSE PERÍODO DESAFIADOR Estamos vivendo um período muito desafiador, na saúde humana e na economia global. Em vez de promover uma análise em perspectiva nacional, volto os meus olhos, por um instante, para o que é regional. Enquanto a maioria dos Estados do Brasil se encaminham para juntos somarem a maior safra de soja do país que, segundo dados do IBGE, divulgados no site da Exame Abril em fevereiro deste ano, prevê um aumento na produção de 8,7% somente para a soja, o nosso estado do Rio Grande do Sul luta contra uma quebra de, pelo menos, 32,3% da sua safra, conforme dados divulgados em 11 de março de 2020 pela Emater-RS, ou seja, essa baixa ainda pode aumentar. Somado ao cenário de dificuldade de safra devido à forte estiagem que assolou grande parte dos municípios gaúchos, enfrentamos algo histórico no setor de saúde pública global: a pandemia do Corona Vírus (Covid19) que, como todos já sabem, vem afetando diretamente a economia global.Para se ter ideia da dimensão, hoje, o Senado aprovou o PDL 88/2020, que reconhece o Estado de Calamidade Pública no país em virtude da pandemia causada pelo Corona Vírus (Covid19). Atualmente, alguns estados brasileiros têm editado decretos a fim de evitar a circulação de pessoas na ruas, determinando, inclusive, o fechamento do comércio, permitindo, unicamente, o funcionamento de serviços considerados essenciais, 57 tais como: mercados, farmácias, lavanderias, postos de combustível, hospitais e clínicas e restaurantes no sistema delivery. Dá para perceber que tudo parou e o que ainda não parou, talvez deverá parar, como já aconteceu em outros países. Mas e o que resta para o setor produtivo/industrial do país que, como todo o resto do mundo, também está em meio a uma pandemia histórica? Aquele mesmo setor que em tempos de glória global costuma ser criticado pela população, sob argumentos de maior poluidor e destruidor do meioambiente. Como bem dito pela Ministra da Agricultura, Tereza Cristina, o Brasil é realmente fantástico e não teremos risco de desabastecimento. Mas peço para que lembre-se disso enquanto estiver fazendo as suas compras no mercado ou em busca de álcool gel nas farmácias. Devemos sempre caminhar juntos para o crescimento do nosso país, principalmente em tempos de dificuldade, onde voltamos a acreditar no engajamento da humanidade por determinadas causas. Contudo, não esqueça que em tempos de pandemia e de recolhimento ao aconchego e segurança do seu lar, um setor não parou de produzir, seja dentro da porteira ou fora dela, tudo para e por você, também! Então, minha “salva de palmas na janela” vai para aqueles que colocam em risco sua vida cuidando dos seres humanos nos hospitais, mas também para aqueles que não podem parar de produzir e que, em tempos de estiagem e pandemia, não desistem de alimentar o mundo. Publicado em 20 de março de 2020 58 10. POR CRISTIANE MOREIRA ROSSONI Advogada inscrita na OAB/RS n. 111.947, especialista em Direito Ambiental, especializanda em Agronegocio; integrante da Comissão das Mulheres Agraristas (CNMAU); Integrante da UBAU; Integrante da Comissão das Mulheres Advogadas OAB RS; Facilitadora do Cadastro Ambiental Rural; Escritora de livros e artigos, envolvendo Direito do Agronegócio e Direito Ambiental. 59 10.1. AGRONEGÓCIO: DESBRAVANDO A VISÃO DISTORCIDA IMPOSTA AO SEGMENTO Agronegócio diz respeito a um segmento criticado por muitos, e desconhecido por boa parte da população, motivo pelo qual há de ser desbravado. Engana-se quem acredita que agronegócio diz respeito a plantações longínquas, isto é, a uma realidade distante dos nossos olhos. Ele está presente no café da manhã, almoço e jantar de cada cidadão, e ninguém se dá conta. Para parcela da população, o setor corresponde à atividade que tem por fim tão somente a geração de lucro, sem preservação ao meio ambiente, indiferente se, por exemplo, isso acarretou erosão ao solo ou contaminação das águas ou do ar. Frise-se que essa visão é levantada pelo marketing ou jornalismo negativo, que influencia, da mesma intensidade, países e nações, interferindo nas negociações internacionais. Ao contrário do sopesado, agronegócio envolve o pequeno, médio agricultor e latifundiário, e significa exercer a atividade de agricultura ou agropecuária, porém utilizando-se de meios alternativos e não prejudiciais ao habitat. Denomina- se isso de desenvolvimento sustentável. Trata-se de agricultura equilibrada, ecológica. Obviamente, não prejudicial ao meio ambiente. Empresas também aderiram a esta evolução, exercendo suas atividades baseadas na responsabilidade ambiental e social. 60 Setor de peso na economia brasileira, o agronegócio sustentável, ainda aderido por poucos, é cenário promissor para a expansão e desenvolvimento do Brasil, uma nação potência composta por solos, climas, e consequentemente plantio de produtos diversificados. Como efeitos dessa adoção, brasileiros tem cada vez mais qualidade de vida e segurança alimentar, dentre outros, a nível unitário ou nacional. Sugestões para a efetiva inclusão da agricultura sustentável no Brasil, e alteração da imagem desta nação para com outras, passando pela exploração detalhada do assunto, acesse a live “Enfrentando a visão distorcida sobre o agronegócio”. Publicado em 01 de fevereiro de 2021 10.2. CADASTRO AMBIENTAL RURAL: ASPECTOS PRÁTICOS Impasse que perdura por longas décadas no cenário brasileiro é o acerca do registro público eletrônico dos imóveis rurais, sejam eles privados, ou não, eis uma questão que ainda dispende incógnitas, como sobre sua importância/necessidade, benefícios e malefícios de tal prática, e que padece de enfrentamento. Dentre as ferramentas governamentais criadas para fins de promover esses registros, impulsionando-os, aborda-se o Cadastro Ambiental Rural, mais conhecido como CAR. Trata-se de mecanismo eletrônico para coleta de dados das áreas rurais, posses ou propriedades, 61 captando informações como Área de Preservação Permanente (APP) e Reserva Legal (RL). Todavia, a coleta de dados tem importância ímpar, mais do que apenas compor a base de dados, visa a consequente regularização ambiental e o cumprimento das metas brasileiras de biodiversidade, restauração da vegetação nativa e redução de emissão de gases de efeito estufa. No Código Florestal, mais precisamente no Capitulo VI, esse instrumento está atrelado ao Sistema Nacional de Informação sobre o Meio Ambiente (SINIMA), e é definido como obrigatório, integrando informações para controle, monitoramento, planejamento ambiental e econômico e combate ao desmatamento. A incessante prorrogação do prazo para inserção do CAR é um dos fatores que causa receio na população, uma verdade insegurança jurídica, que, de um instrumento obrigatório, vem se transformando em um de caráter volitivo, sem penalização direta pela não adesão, o que enseja dada reação. Em que pese seja conhecido no meio rural, vários proprietários, posseiros, e até mesmo profissionais que optam por realizar o CAR dentre suas atividades, possuem indagações, a exemplo acerca da necessidade de realiza- lo. Há agricultores que cogitam corresponder o CAR em uma alternativa de o governo ter conhecimento sobre seus bens, e nisso muitos acabam indicando informações equivocadas, apenas para suprir essa obrigação legal, já outros deixam de fazê-lo acreditando ser desnecessário, alegando que isso não gerará reflexos positivos para com o meio ambiente. 62 Porém, a inscrição no CAR é essencial para dar continuidade/obter aprovação de financiamentos e empréstimos de crédito rural, para ter direito aos benefícios do Programa de Regularização Ambiental (PRA), acesso a taxas menores de juros ao solicitar crédito, bem como para alienar, doar, ceder, desmembrar, ou praticar quaisquer atos de registro ou averbação perante o cartório de registro de imóveis. Inclusive, em alguns estados, como o de São Paulo, fora realizada parceria entre órgãos públicos, inclusive entre a Secretaria do Meio Ambiente e a Associação dos Registradores do Estado, celebrando o chamado Acordo de Cooperação Técnica, visando a implantação de um sistema de compartilhamento de dados e informações. Incide aqui a possibilidade de a averbação da inscrição no CAR ser realizada de ofício pelo próprio Cartório de Registro de Imóveis, sem a cobrança de emolumentos. Observa-se, contudo, que tal sistema unificado ainda não foi implantado, dependendo da região a qual o imóvel está situado. Entretanto importante frisar que a realização do cadastramento não significa, por si só, que a propriedade está legalmente registrada, sendo necessária promover a averbação junto ao Registro de Imóveis pertinente. Trata- se, a inscrição, apenas, e tão somente, de disposições cadastrais, mas que jamais suprem esse registro. Perceptível o forte entrelace de dados entre os órgãos públicos, de modo que a ausência de inscrição ocasionará efeitos nefastos quando da celebração de negócios jurídicos, em especial nos Registros de Imóveis, quiçá a impossibilidade de realizar naquele momento em que se espera. 63 Assim como o georreferenciamento, o Cadastro Ambiental assegura o desenvolvimento social e econômico de um país, e como tal deve ser fortemente desmistificado, e levado, de modo pleno, a conhecimento de toda população, nos mais diversos rincões. Fontes de consulta: BRASIL, Lei nº 12.651, de 25 de maio de 2012. Dispõe sobre a proteção da vegetação nativa; altera as Leis nºs 6.938, de 31 de agosto de 1981, 9.393, de 19 de dezembro de 1996, e 11.428, de 22 de dezembro
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