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ABRADA • 1 VOLTAR AO ÍNDICE VOLTAR AO ÍNDICE2 • ABRADA VOLTAR AO ÍNDICE A ABRADA - Academia Brasileira de Direito do Agronegócio - nasceu com o sonho de levar o Direito para a realidade do Agronegócio brasileiro - Como nunca. Foi um longo caminho até aqui. Hoje, a maior escola de Direito do Agronegócio no Brasil segue concretizando aquele sonho antigo, através da dedicação conjunta de cada um dos nossos mais de 800 membros, de todos os 26 estados do país, além do Distrito Federal. O nosso foco está na prática, nas soluções jurídicas aplicáveis, que fazem a diferença na vida do Produtor Rural, das Empresas do Agro, do Trabalhador Rural, do Agricultor Familiar, das Cooperativas Agrícolas, Associações, e Prestadores de Serviços que fazem o Agronegócio Brasileiro acontecer. Sabemos que toda colheita, tem o seu plantio. Foi assim, plantando, com o pé na terra, raízes fortes e sólidas, que nos tornamos a ABRADA que você vê hoje. Aqui, nunca foi sobre números. Essa colheita bonita que você já conhece bem é fruto de um plantio que sempre foi cultivado pensando nas pessoas. Seguimos com foco no nosso propósito em comum, que nos une em uma mesma direção: Valorizar, simplificar e compartilhar conhecimento com o intuito de proporcionar noites tranquilas de sono para aqueles que acordam na madrugada, faça chuva ou sol, para colocar comida na mesa de cada um de nós. O agro precisa de soma, e não divisão. Quebramos uma cultura inteira de um Direito distante, que fala mais sobre si mesmo do que sobre o outro, para seguir nesse plantio conjunto, de quem sabe que solução sem implementação, é só burocracia. Nossa essência? A crença absoluta de que conhecimento só é válido, se compartilhado - sem medo de entregar o ouro. Tudo que for feito pela ABRADA, será sempre feito para você, como se fosse para mim e para alguém da minha família. Aqui, a transparência é nosso principal pilar. Estamos prontos para sorrir cada um dos seus sorrisos e montar um palco para te aplaudir de pé. Não existe espaço para medo do sucesso na Família ABRADA, aqui, quando um ganha, todos ganham. Convido você a compartilhar um pouco do que é fazer parte da Família ABRADA, um pouco do nosso amor pelo agro, e de toda essa partilha de quem sabe que quando o bolo cresce, a fatia de todo mundo aumenta. Sinta-se em casa, somos família. APRESENTAÇÃO Luis Adriano Martins Romanni, sócio-fundador da Academia Brasileira de Direito do Agronegócio (ABRADA), sócio-fundador da Banca Martins Romanni Advogados Associados, advogado com atuação exclusiva no Agronegócio, especialista em Direito Cível/Empresarial, Mestre, Professor de cursos de Extensão e Pós-Graduação pelo Brasil e Produtor Rural. LUIS ADRIANO MARTINS ROMANNI Sócio fundador da ABRADA Lorrane Martins Romanni, sócia-fundadora da Academia Brasileira de Direito do Agronegócio (ABRADA), sócia da Banca Martins Romanni Advogados Associados, advogada com atuação especializada em Assessoria Trabalhista no Agronegó cio, especialista em Direito e Processo do Trabalho, graduada em Psicologia, MBA em Gestão Empresarial (FGV), mestranda, produtora rural. LORRANE MARTINS ROMANNI Sócia fundadora da ABRADA ABRADA • 3 4 • ABRADA ÍNDICE Clique no título do artigo e vá direto para a página correspondente Conheça a Abrada .................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................6 A importância do advogado do agronegócio no mundo das commodities ...........................................................................................................................................................................................................7 A quem é destinado o PRONAF? ..............................................................................................................................................................................................................................................................................................................7 A evolução da rastreabilidade de bovinos .........................................................................................................................................................................................................................................................................................8 Comprei a terra e não registrei, e agora? ............................................................................................................................................................................................................................................................................................9 O agronegócio: a sua inserção nas redes sociais e no mundo das tecnologias digitais ........................................................................................................................................................................... 10 A urgente e necessária reforma da legislação pátria que trata dos contratos agrários ..............................................................................................................................................................................11 Governança familiar no agronegócio ...................................................................................................................................................................................................................................................................................................12 Patrimônio rural em afetação e a cédula imobiliária rural ..................................................................................................................................................................................................................................................12 A importância dos investimentos para potencializar o desenvolvimento sustentável do campo .....................................................................................................................................................13 O que significa o termo “washout” e qual a viabilidade jurídica da renegociação contratual na impossibilidade de entrega em contratos de venda futura...................................................................................................................................................................14 Responsabilidade do arrendatário pelo mal uso do imóvel rural .................................................................................................................................................................................................................................. 15 A impossibilidade de penhor na pequena propriedade rural ........................................................................................................................................................................................................................................... 16 Quebra de contrato por falta de insumos: safra 2021/2022, quem está seguro juridicamente? ....................................................................................................................................................... 16 Advocacia preventiva nas relações rurais de trabalho ...........................................................................................................................................................................................................................................................17 A importância do esg no agronegócio ................................................................................................................................................................................................................................................................................................17Agricultura familiar x agricultura em família .................................................................................................................................................................................................................................................................................. 18 Aposentadoria do segurado especial rural: tenho direito? ................................................................................................................................................................................................................................................ 19 Uma análise da gestão de riscos na pecuária de corte ........................................................................................................................................................................................................................................................20 A negociação e o agronegócio ..................................................................................................................................................................................................................................................................................................................21 Regularização fundiária rural e o desenvolvimento econômico ...................................................................................................................................................................................................................................22 A importância do alongamento da dívida rural ............................................................................................................................................................................................................................................................................23 A importância da adequação à LGPD por parte dos sindicatos e cooperativas rurais ...............................................................................................................................................................................23 A tributação no agronegócio – atividades rurais .......................................................................................................................................................................................................................................................................24 A cpr como instrumento hábil ao fortalecimento do crédito rural ..............................................................................................................................................................................................................................25 A importância da agricultura para erradicação da fome no mundo ...........................................................................................................................................................................................................................26 A importância do estudo do ganho de capital antes da alienação do imóvel rural ........................................................................................................................................................................................27 Seguro rural e a venda casada ..................................................................................................................................................................................................................................................................................................................27 Agronegócio 5.0: O alimentarismo e o direito alimentarista no sistema alimentar .......................................................................................................................................................................................28 Coffee coin, a criptomoeda brasileira lastreada em café ...................................................................................................................................................................................................................................................29 A moratória da soja ........................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................... 30 A nova NR 31: a norma que conversa com a realidade do campo ................................................................................................................................................................................................................................31 Contrato de arrendamento e o aspecto polêmico da determinação de prazo inferior a 3 anos........................................................................................................................................................32 Contratos agrários: retomada do imóvel ......................................................................................................................................................................................................................................................................................... 33 FIAGRO: uma visão geral dos fundos de investimento nas cadeias produtivas agroindustriais e seu potencial para a expansão do agronegócio nacional ............................................................................................................................................................................................................33 Holding: o sistema amigo do produtor rural .................................................................................................................................................................................................................................................................................. 34 A importância do plano safra para a análise de possíveis irregularidades nas contratações de crédito rural ................................................................................................................................................................................................................................... 35 Quem não registra não é dono! A importância do registro de títulos e documentos em cartório de imóveis para o agronegócio ................................................................................................................................................................................................................... 36 A importância da atuação preventiva e extrajudicial para o agronegócio ............................................................................................................................................................................................................37 A LGPD para o pequeno produtor rural ............................................................................................................................................................................................................................................................................................ 38 O produtor rural e a aplicabilidade do código de proteção e defesa do consumidor ................................................................................................................................................................................. 38 Contrato garantia guarda-chuva ............................................................................................................................................................................................................................................................................................................ 39 ABRADA • 5 Doações de produtores rurais para partidos políticose candidatos em campanha eleitoral: qual o limite? ......................................................................................................................... 40 Aposentadoria híbrida: quem se enquadra? ...................................................................................................................................................................................................................................................................................41 A segurança jurídica e a multidisciplinaridade da assessoria interna nas empresas ...................................................................................................................................................................................42 Governança familiar no agro: o sucesso para a empresa familiar rural ...................................................................................................................................................................................................................42 Recebi uma proposta de arrendamento mais vantajosa: como devo proceder? .......................................................................................................................................................................................... 43 CPR Verde: incentivo à preservação ambiental e renda ao produtor rural ......................................................................................................................................................................................................... 45 O que você precisa saber sobre sucessão, planejamento e impostos ................................................................................................................................................................................................................... 46 As 5 maiores dúvidas sobre fornecimento de moradia e alimentação no agro ...............................................................................................................................................................................................47 Dívida rural: como reverter a situação do produtor?...............................................................................................................................................................................................................................................................47 A agricultura familiar e sua importante relação com o direito previdenciário .................................................................................................................................................................................................. 48 Por que o produtor gira no CPF?............................................................................................................................................................................................................................................................................................................ 48 Agricola Romanni - Tradição ..................................................................................................................................................................................................................................................................................................................... 49 Arrendamento x locação: qual utilizar no meio rural? ...........................................................................................................................................................................................................................................................50 Crédito rural: renegociação ........................................................................................................................................................................................................................................................................................................................50 Aplicação da nova lei do superendividamento para o produtor rural ....................................................................................................................................................................................................................... 51 A importância de um planejamento patrimonial sucessório no agronegócio ...................................................................................................................................................................................................52 Possibilidades em relação ao planejamento sucessório no meio rural .................................................................................................................................................................................................................. 53 O direito à alimentação como direito fundamental e a importância da rastreabilidade para a segurança alimentar e a agricultura sustentável ................................................................................................................................................................ 54 Ambientais e a área rural consolidada no Vale do Ribeira ................................................................................................................................................................................................................................................ 55 Venda de imóvel rural sem a notificação prévia ao arrendatário................................................................................................................................................................................................................................. 55 A regularização fundiária prevista no decreto 62.504 de 1968 ................................................................................................................................................................................................................................... 56 A cultura de proteção de dados no agronegócio ..................................................................................................................................................................................................................................................................... 56 O direito de prorrogação de rurais após as alterações do manual de crédito rural .......................................................................................................................................................................................57 Panorama de oportunidades no agronegócio sob a ótica jurídica............................................................................................................................................................................................................................. 58 Ecoinovação no agronegócio e a proteção do meio ambiente .................................................................................................................................................................................................................................... 59 NR 31: questões culturais engessadas na sociedade ..........................................................................................................................................................................................................................................................60 Arbitragem no agronegócio: um caminho célere na resolução de conflitos ...................................................................................................................................................................................................... 61 Introdução do seguro rural: cuidados para não ter a indenização negada ..........................................................................................................................................................................................................62O planejamento sucessório e suas nuances ................................................................................................................................................................................................................................................................................ 63 IA: limítrofe ou extremo?............................................................................................................................................................................................................................................................................................................................... 63 Os impactos da ausência da regularização fundiária no agronegócio .................................................................................................................................................................................................................... 64 Regularização do imovel rural ................................................................................................................................................................................................................................................................................................................... 65 O regramento do arrendamento rural à pessoa estrangeira .......................................................................................................................................................................................................................................... 66 Rédito rural: dilemas vivenciados no dia a dia do produtor rural ...................................................................................................................................................................................................................................67 Cédula de crédito rural verde uma nova modalidade de crédito ................................................................................................................................................................................................................................68 Seria possível um ipva rural de máquinas agrícolas e tratores? ................................................................................................................................................................................................................................... 69 A contribuição do produtor rural na agenda 2030 da onu para o desenvolvimento sustentável .................................................................................................................................................... 69 Planejamento tributário e os benefícios fiscais para o agronegócio ....................................................................................................................................................................................................................... 70 A importância do pronaf (programa nacional de fortalecimento da agricultura familiar) para promoção e ampliação da participação feminina no campo .......................................................................................................................................................................71 Regularização fundiária rural: direito ou promessa? ...............................................................................................................................................................................................................................................................72 O papel da aviação agrícola para a produtividade agroindustrial .................................................................................................................................................................................................................................73 A função social da terra e o usucapião rural ..................................................................................................................................................................................................................................................................................74 Certidão de cadeia dominial .......................................................................................................................................................................................................................................................................................................................75 Holding rural: importante mecanismo para a preservação do legado .....................................................................................................................................................................................................................76 A segurança alimentar e nutricional e a agricultura familiar .............................................................................................................................................................................................................................................76 Especialidade de assessoria e consultoria jurídica para o produtor rural ..............................................................................................................................................................................................................77 A melhor pós-graduação em direito do agronegócio do brasil .....................................................................................................................................................................................................................................79 6 • ABRADA VOLTAR AO ÍNDICE A Academia Brasileira de Direito do Agronegócio é a maior escola de Direito do Agronegócio no Brasil, com foco na especialização constante de profissionais que buscam pelo aperfeiçoamento prático no Direito do Agro. O QUE OS MEMBROS ABRADA RECEBEM? Os Membros da ABRADA têm acesso a um curso novo a cada mês, sempre com um especialista no Direito do Agronegócio. Todos os meses o curso aborda uma temática diferente e atual. Além do curso mensal, e todo o conteúdo anterior gravado, os membros têm acesso a uma pasta de material base completa, com diversos modelos de contratos, pareceres, peças, e também a comunidade secreta do facebook, exclusiva para Membros ABRADA. Muito mais do que um portal de cursos, dentro da ABRADA, somos uma família. A partilha é verdadeira, e é o nosso maior ativo. Para ser um membro, é um pré-requisito que você esteja pronto para compartilhar. QUAL O PROPÓSITO DA ABRADA? O crescimento profissional de cada Membro, através de uma comunidade integrada, no qual temos partilha, contribuição, conhecimento e crescimento contínuo, em um espaço livre de críticas e julgamentos. COMO FUNCIONA O ACESSO DOS MEMBROS? O Acesso da ABRADA é completamente online, do conforto da sua casa por meio de login e senha que são recebidos no seu e-mail a partir da confirmação do pagamento. QUEM PODE SER MEMBRO ABRADA? Advogados, bacharéis e estudantes que desejam se especializar no Direito do Agronegócio, sendo reconhecidos pelo seu trabalho. Para ser um Membro ABRADA, você precisa ser uma boa pessoa, estar comprometido com seu crescimento profissional e estar pronto para compartilhar. Na ABRADA somos Família, em um espaço onde um apoia o outro, sorri o sorriso do outro, sem julgamentos. Para fazer parte da ABRADA, você precisa estar alinhado com essa nossa essência. QUEM NÃO PODE SER MEMBRO? Profissionais que se incomodam com o sucesso alheio, que tenham dificuldade em compartilhar, que comemoram o erro do outro e que acreditam que de alguma forma são melhores do que o outro. Se você dói quando o outro sorri, se você quer crescer sozinho, ou está buscando apenas mais uma oportunidade para criticar um cole- ga… Nesse caso, desejamos sucesso na sua jornada, mas a nossa Família ABRADA não é paravocê. QUAIS AS OPÇÕES DE PAGAMENTO PARA ME ASSOCIAR? O pagamento para ser membro é realizado de forma anual, com renovação a cada 12 meses, podendo ser parcelado em até 12 x no cartão, ou no boleto bancário para pagamento à vista. Cada membro tem seu acesso liberado por 12 meses na família ABRADA a partir da data da sua assinatura, sendo renovado anualmente com a garan- tia de manutenção do mesmo valor pago na primeira anuidade do membro para renovações, independente dos reajustes. QUEM SÃO OS COLUNISTAS DA REVISTA ABRADA? Todos os colunistas são membros ABRADA, que podem enviar suas colunas para a publicação anual na Revista ABRADA - escrita ex- clusivamente por membros. FAMÍLIA ABRADA: • Um curso novo completo todos os meses; • Uma aula ao vivo mensal “tira dúvidas” com o mesmo professor do curso; • Mais de 150 horas de aulas e cursos; • Material base (modelos para suporte no dia a dia); • Acesso a comunidade fechada do facebook (você pode mandar suas dúvidas do dia a dia de trabalho e ajudar outros colegas com sua experiência); • Cursos anteriores gravados; • Curso “Marco Zero Digital ABRADA” com a prática do marketing jurídico; • Espaço para publicação na Revista Digital ABRADA (Exclusivo para membros); • Certificado de membro ABRADA na sua casa; • Oportunidade de aplicação para participação como palestrante em eventos ABRADA; • Café com Associado mensal - Roda de conversa ao vivo sobre o tema do mês, guiada por um dos membros convidado. • Faça agora sua inscrição e seja Associado ABRADA: www.abradaoficial.com.br CONHEÇA A ABRADA ABRADA • 7 VOLTAR AO ÍNDICE A IMPORTÂNCIA DO ADVOGADO DO AGRONEGÓCIO NO MUNDO DAS COMMODITIES Conheça quais são as principais commodities agrícolas, a importância de cada uma delas e como o Agro- negócio relaciona-se com o conceito. Como você deve saber, o termo commodity significa literalmente “mercadoria” em inglês. Contudo, trazendo para um contexto sobre o comércio internacional, usa- mos essa palavra para designar todos os produtos com qualidade e características semelhantes, desta- cando-se a importância do advogado nesse contexto. Pois é esse especialista que garante o êxito do negócio, oferecendo segurança jurídica para o produtor rural (fornecedor) e para o comprador, operando em conformidade com a legislação internacional e as normas do ICC. COMMODITIES: QUAIS SÃO AS PRINCIPAIS? Vale a pena ressaltar que existem diferentes variedades de commodities e que nem todas são agrícolas. Elas podem ser, por exemplo, produtos com características homogêneas, como o petróleo, ouro e o minério de ferro e denominadas como commodities minerais. Ainda existem as financeiras – como os títulos públicos do Governo Federal e as moedas, e as ambientais – como a água, a madeira e os créditos de carbono. Apesar de diferentes nomeações, existe uma semelhança significativa entre todos esses tipos de produtos: nenhum deles passa por processo de industrialização. QUAL A IMPORTÂNCIA DOS COMMODITIES AGRÍCOLAS? Assim, as commodities são consideradas produtos primários e são responsáveis pelo superávit na balança comercial. O Brasil, por exemplo, enquadra-se perfeitamente nesse contexto e depende diretamente da exportação das commodities para impulsionar sua economia. O país ocupa diversas posições elevadas no ranking inter- nacional de exportação e produção de diversas commodities agrícolas, minerais e ambientais. COMMODITIES E RELAÇÃO COM O AGRONEGÓCIO Desde os tempos coloniais, o Agronegócio possui um papel im- portante na economia brasileira. Contemplam diversas atividades produtivas associadas tanto à agricultura, quanto à pecuária. Hoje, o agronegócio é responsável por cerca de metade das exportações brasileiras e corresponde aproximadamente a 23% do PIB nacional. Importante salientar que os commodities são negociados nas bolsas de valores, como a de Chicago (soja) e a bolsa de Londres (açúcar), com cotações baseadas na oferta e demanda. No entanto, fatores políticos e econômicos, além de eventos climáticos, podem afetar o preço e impactar na economia dos países que dependem desse tipo de produto. O Agronegócio é o principal exportador de commodities do Brasil. Em 2020, o setor teve um saldo positivo de US$ 100,81 bilhões, de acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Conheça, então, as principais commodities brasileiras: Soja - O Brasil é o maior exportador de soja do mundo, respondendo pela produção da metade de todo o grão consumido globalmente. Cerca de 60% da soja embarcada pelo Brasil têm a China como des- tino. Açúcar - Atualmente, o país é o maior produtor e exportador mundial da commodity. O setor sucroalcooleiro, que engloba o adoçante, a cana e o álcool, responde por 10% das exportações do agronegócio. O Brasil é o maior produtor mundial de cana-de-açúcar e, na safra 2020/21, foi responsável pela produção de 654,5 milhões de toneladas destinados à produção de 41,2 milhões de toneladas de açúcar e 29,7 bilhões de litros de etanol. Carne Bovina - O Brasil é o maior exportador mundial, com cerca de 220 milhões de cabeças, o que representa cerca de 14% do total do planeta. A IMPORTÂNCIA DOS CONTRATOS ESCRITOS E O PA- PEL DO ADVOGADO Nesse contexto, é no contrato escrito que será possível pormeno- rizar os detalhes do negócio, evitando que o desconhecimento da lei, ou mesmo a má-fé dos contratantes prejudiquem direitos legais do produtor rural e, para tanto, mister se faz a contratação de um advogado especialista no Agronegócio e com grande conhecimento nas operações de commodities. A QUEM É DESTINADO O PRONAF? O Programa Nacional de Forta- lecimento da Agricultura Familiar (Pronaf ) foi criado em 1995, pelo Governo Federal, após fortes reivindi- cações, com o objetivo de valorizar a Agricultura Familiar e auxiliar na mel- horia de renda. Antes do Pronaf só existiam programas regionais que não ofereciam o devido amparo à ativi- dade desempenhada pelos pequenos agricultores. A criação do Pronaf inaugurou uma nova era para a Agricultura Familiar, com uma Política Pública Nacional que garante acesso ao crédito para investimento, custeio e industrialização em diferentes linhas oferecidas. PRISCILA PIMENTA Membro ABRADA ADALGIZA CORDEIRO Membro ABRADA 8 • ABRADA VOLTAR AO ÍNDICE O Pronaf veio com a proposta de fortalecer a Agricultura Familiar através de aporte financeiro, capacitação e apoio à infraestrutura social e econômica dos territórios rurais fortemente caracterizados pela Agricultura Familiar. Nos últimos anos, o Governo Federal vem adotando novas formas de suporte, principalmente na área de comercialização (estoques, compras, garantia de preços mínimos), assistência técnica e ex- tensão rural e seguro agrícola. Atualmente, o público-alvo do programa são os agricultores famili- ares que possuem parte da renda familiar proveniente da atividade agropecuária, detêm ou exploram estabelecimentos com área de até quatro módulos fiscais, ou até seis módulos quando se tratar de atividade pecuária, que exploram a terra na condição de propri- etário, meeiro, parceiro ou arrendatário, utilizam mão de obra pre- dominantemente familiar, residem no imóvel ou em aglomerado rural ou urbano próximo, possuem renda bruta familiar de até R$ 60 mil por ano, como os pescadores artesanais, pequenos extrativistas e pequenos aquiculturas. Ao longo dos anos, foram criados novos grupos dentro do Pronaf, com o objetivo de melhor atender os diferentes contextos sociais e a heterogeneidade de público que pode ser apoiada pelo crédito do programa. Além disso, as rendas para enquadramento e os valores limite de financiamento foram sendo atualizados. Hoje, temos uma variedade de subprogramas do Pronaf, que veremos adiante, com sua destinação: a) Pronaf Agroindústria: a agricultores e produtores rurais familiares, pessoas físicas e jurídicas e a cooperativas para investimento em beneficiamento, armazenagem, processamentoe comercialização agrícola, extrativista, artesanal e de produtos florestais e para apoio à exploração de turismo rural. b) Pronaf Mulher: à mulher agricultora integrante de unidade familiar de produção enquadrada no Pronaf, independentemente do estado civil. c) Pronaf Agroecologia: financiamento a agricultores e produtores rurais familiares, pessoas físicas, para investimento em sistemas de produção agroecológicos ou orgânicos, incluindo-se os custos rela- tivos à implantação e manutenção do empreendimento. d) Pronaf Bioeconomia: agricultores e produtores rurais familiares, pessoas físicas, para investimento na utilização de tecnologias de energia renovável, tecnologias ambientais, armazenamento hídrico, pequenos aproveitamentos hidroenergéticos, silvicultura e adoção de práticas conservacionistas e de correção da acidez e fertilidade do solo, visando sua recuperação e melhoramento da capacidade produtiva. e) Pronaf Mais Alimentos: a agricultores e produtores rurais familiares, pessoas físicas, para investimento em sua estrutura de produção e serviços, visando ao aumento de produtividade e à elevação da renda da família. f) Pronaf Jovem: agricultores e produtores rurais familiares, pessoas físicas, para investimento nas atividades de produção, desde que beneficiários sejam maiores de 16 e menores de 29 anos, entre outros requisitos. g) Pronaf Microcrédito (Grupo "B"): agricultores e produtores rurais familiares, pessoas físicas, que tenham obtido renda bruta familiar de até R$ 20 mil, nos 12 meses de produção normal que anteceder- am a solicitação DAP. h) Pronaf Cotas-Partes: para integralização de cotas partes por beneficiários do Pronaf associados a cooperativas de produção rural; e aplicação pela cooperativa em capital de giro, custeio, investimento ou saneamento. Ao atender os requisitos do programa, o produtor deverá se dirigir à Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), ou ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais para o preenchimento da Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP), bem como comparecer à Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater) de seu município para a elaboração do Projeto Técnico de Financiamento. Este documento descreve a finalidade do crédito, prazos e taxas de juros, e é preciso contar com a participação da família. Por fim, é preciso entregar os documentos em uma agência bancária que seja parceira financeira. Assim que o projeto for aprovado, o empréstimo é liberado e o produtor já poderá investir em seu negócio. A EVOLUÇÃO DA RASTREABILIDADE DE BOVINOS A rastreabilidade de bovinos foi insti- tuída no Brasil em 2002, por forças influenciadoras advindas da União Europeia, por ser um dos principais mercados exportadores de carnes brasileiras, exigiu do Brasil a criação de sistemas capazes de rastrear a procedência animal, bem como as características físicas e intercorrên- cias do animal ao longo da vida, ou seja, desde o nascimento até o abate. A rastreabilidade foi, então, instituída, por meio da Instrução Normativa nº 1, de 09 de janeiro de 2002, com a criação do Sistema Brasileiro de Identificação e Certificação de Origem Bovi- na e Bubalina, o SISBOV (BRASIL, 2002). ADRIANA SOARES Membro ABRADA ABRADA • 9 VOLTAR AO ÍNDICE Só depois, foi aprovada a Lei da Rastreabilidade da Cadeia Produtiva das Carnes de Bovinos e de Búfalos (Lei nº 12.097/2009), isso para satisfazer as exigências de uma das principais exportadoras de carnes brasileiras, a União Europeia. A rastreabilidade bovina era regida pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), mas em 2018, a gestão da rastreabilidade de bovinos e bubalinos passou a ser confiada à Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Tal sistema, em comento, deve ser encarado como uma forma de contribuir para assegurar a saúde animal, a saúde humana e a qualidade do alimento. Pois dessa forma, passa-se a ter mais controle da qualidade da carne que está sendo levada para mesa da população, isso porque a informação da carne deve estar disponível ao consumidor, proporcionando confiabil idade do produto consumido pela população. Mormente, a rastreabilidade do animal é feita por meio de um chip eletrônico colocado no animal externo ou internamente; o referido chip carrega toda a informação de vida do bovino ou bubalino os dados são armazenados por um programa, são acessados por um sistema instalado, capaz de identificar o animal quando está próximo. Nisso, é importante ressaltar que a maioria dos consumidores brasileiros não tem conhecimento a respeito da rastreabilidade da carne consumida, sabe por quê? Porque trata-se de um sistema relativamente novo, voltado para cumprir exigências normativas globais de exportação! Deste modo, apesar da grande importân- cia da rastreabilidade em registrar e identificar o rebanho, desde a desmama até o abate, a adesão ao serviço de rastreabilidade pelos produtores rurais é voluntária. Sendo obrigatória apenas em caso de comercialização para mercados que exijam a rastreabilidade. Nota-se que não há penalidades aos produtores que não aderirem à rastreabilidade de animais, mas aquele que aderir recebe uma bon- ificação na venda dos animais, pois há uma valoração de até 4%, no valor da arroba. Assim, essa valoração acaba incentivando os produtores a aderir o rastreio, desse modo, as vantagens de rastrear até o momento são unicamente a pequena valorização no preço do animal em relação a venda para o abate. Mas ainda não há incentivo governamental para que mais produ- tores se adequem ao sistema de rastreamento, pois todo processo de sistematização para o rastreio e profissionais habilitados para operar os sistemas eletrônicos, possui valor elevado e os pecuaris- tas têm arcado com custo o que acaba sendo inviável aos pequenos produtores aderir ao sistema de rastreabilidade. Por fim, é importante para a população ter conhecimento da quali- dade da carne que está consumindo. Ao passo que a rastreabilidade de vegetais que se tornou obrigatória em meados deste ano, a ra- streabilidade de bovinos está longe de seguir os mesmos passos, pois ainda não é obrigatória, ficando os pecuaristas livres para de- cidir se adere ou não a rastreabilidade dos seus animais. COMPREI A TERRA E NÃO REGISTREI, E AGORA? O brasileiro, mais do que nenhum outro povo, tem uma relação muito próxima aos imóveis. É difícil encontrar um homem ou mulher de bem neste país que não tenha o sonho de comprar um novo imóvel, seja ele residencial para dar mais conforto à família, seja rural/comercial, no intuito de aumen- tar as possibilidades de investimento e retorno. Assim, pode ser por puro lazer, afinal de contas, um apartamento novo em Balneário Camboriú para aproveitar as próximas férias, certamente não seria má ideia. Bem, a questão é que diversas obrigações jurídicas se relacionam com a compra de um imóvel. Importante considerar que, o direito que o comprador busca defend- er quando o assunto é aquisição de imóveis, obviamente, refere-se a propriedade sobre o bem. Quer dizer, não é preciso ser um doutor jurista para chegar a tal conclusão, entretanto, o grande melindre da questão que causa confusão é a dúvida sobre qual documento que, de fato, resguarda a propriedade. Desde já, antecipo que o documento que garante propriedade é o REGISTRO DO IMÓVEL no cartório competente. Temos, então, que nenhum outro documento substitui o registro, assim, a escritura pública de compra e venda, por si só, não garante propriedade, o registro feito nas prefeituras e no Incra não garante propriedade. Tal questão é bem delimitada no art. 1.227 e art. 1.245 do Código Civil, onde fica claro que a transferência de propriedade se dá pelo regis- tro do título translativo no Registro de Imóveis. Assim, o registro do imóvel é o registro de direito, enquanto que o registro das prefeitu- ras e do Incra dizem respeito a registro meramente administrativo ou fiscal. Pois bem, você leitor deve estarpensando: “se o que garante a pro- priedade é o registro de imóvel, por que eu tenho que fazer a escri- tura pública de compra e venda?” Bem, o art. 108 do Código Civil atribui a escritura pública como quesito essencial para a validade de negócio jurídico que envolva imóvel com valor superior a 30 (trinta salários mínimos). Sintetizando, no Direito brasileiro, a escrit- ura pública é o instrumento que permite e viabiliza a constituição do direito real sobre imóvel que se dará pelo registro no cartório. O registro do imóvel, portanto, é obrigatório. A questão que fica: “qual a sanção caso não registre meu imóvel?”. Na verdade, não existe sanção, não tem prazo para se registrar um imóvel depois da lavratura da escritura pública de compra e venda, e o ônus se encontra no risco de não se fazer o registro. Exemplo claro: cliente que, no momento da compra não recaia sobre AFONSO CORRÊA Membro ABRADA 10 • ABRADA VOLTAR AO ÍNDICE o imóvel qualquer ônus, lavrou-se a escritura, mas o cliente não registrou. Veio uma execução judicial sobre o antigo dono que acabou penhorando o imóvel. Com isso, tornou-se proprietário de um imóvel penhorado. Outro caso, o cliente comprou um imóvel sem qualquer ônus, lavrou-se a escritura, mas também não registrou. Pois bem, foi interposto por um dos ex-proprietários ação de rescisão de contrato em face do vendedor, determinando o juiz pelo bloqueio da matrícula do imóvel impedindo novos registros, ou seja, quando o cliente comprador foi registrar, ficou impossibilitado por restrição que não existia no momento da compra. Problemas no registro do imóvel ficam mais evidentes quando se analisa os efeitos econômicos sobre isso, ou seja, um imóvel com entrave na documentação fica limitado, na medida em que não é possível dar em garantia para empréstimos bancários, além de desvalorizado, na medida em que a falta de justo título deprecia o valor do bem podendo, inclusive, afastar possíveis compradores. É possível verificar que existem diversos riscos ao comprar um imóvel, justamente por essa falsa sensação de segurança que o comprador tem no momento da tradição, ou seja, depois da entrega das chaves tudo fica bem. Não caia nessa, meu caro amigo leitor. Avalie os riscos, consulte um advogado e sempre registre seu imóvel. O AGRONEGÓCIO E A SUA INSERÇÃO NAS REDES SOCIAIS E NO MUNDO DAS TECNOLOGIAS DIGITAIS Considerando a sociedade da infor- mação que rege o mundo atual, as Redes Sociais modificaram a forma de trabalho tradicional, dinamizando as relações. Utilizadas por grande parte da população, elas se tornaram imprescindíveis para fins comerciais e de acesso à informação. Assim, o trabalho junto às redes sociais e lojas virtuais, além de gerar lucros astronômicos para a empresas como Google e Facebook, chegando na casa dos bilhões de dólares por ano, também oportuniza muitas pessoas a investirem em perfis e se sustentarem desses. Não resta dúvida , as redes sociais são mais assistidas e acompanhadas que os meios de comunicação tradicionais, como rádio e televisão. A Lei 12.965/2014, que estabelece princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da Internet no Brasil, tem como exemplo seu art. 4º, que em síntese, versa ser seu objetivo a promoção da internet a todos, acesso ao conhecimento, inovação, difusão de novas tecno- logias e adesão a padrões tecnológicos abertos que permitam a comunicação, a acessibilidade e a interoperabilidade entre aplicações e bases de dados. Sendo que a transformação digital é uma realidade capaz de alavan- car ainda mais o agronegócio. Com o advento da Agricultura 4.0, que é a inserção das tecnologias de ponta capazes de potencializar a produção, o trabalho no campo torna-se mais colaborativo, criativo e circular, abrindo mais espaço para reutilização de recursos, resíduos e otimização de insumos. A utilização das redes sociais no Agronegócio gera a possibilidade de mais visibilidade, fazendo com que o produtor possa divulgar e vender seus produtos sem a necessidade de intermediários, através de seu perfil ou seu próprio Marketplace, momento em que se torna imprescindível a assessoria jurídica. A exemplo disso, é importante frisar que apesar da dúvida de muitos sobre a validade jurídica do contrato digital, ele já é uma realidade prevista, inclusive, desde 2001, com a edição da Medida Provisória 2.200-2. Os contratos digitais são extremamente simples e facilitam as nego- ciações pela sua enorme abrangência, agilidade e segurança, garan- tidos pela criptografia dos certificados digitais, mais seguros que os contratos manuscritos. Com as redes sociais, a exemplo do WhatsApp, Instagram dentre outras, é possível formalizar contratos válidos; são os chamados Contratos Eletrônicos Interpessoais, que levam em conta a vontade humana pela simples troca de mensagens que demonstram a proposta, o aceite e as condições da negociação. Nasce, então, em conjunto com a tecnologia e as redes sociais, a possibilidade da utilização de diversos contratos eletrônicos, como o Contrato Eletrônico Interativo, aquele utilizado pelas lojas virtuais, consistindo na aderência por um simples clique no site ou aplicativo, após aceitação das condições pré definidas. Nessa forma contratual, temos de um lado, uma automação, ou seja, um site ou aplicativo, e de outro, um sujeito de direito, ou seja, uma pessoa, que ao finalizar a compra, fazer o pagamento e autorizar a transferência de seus da- dos, firma o chamado Contrato Eletrônico Interativo. Nesse sentido, a utilização das redes sociais no Agronegócio é uma realidade incontestável. Um estudo realizado no ano de 2020, pela MCKINSEY, revela que 85% dos produtores rurais utilizam as redes sociais para resolver questões ligadas à agricultura e mesmo nos grupos de menor alfabetização, 1 a cada 3 produtores rurais já considera a venda de parte da produção online. ALEX RISKI Membro ABRADA ABRADA • 11 VOLTAR AO ÍNDICE Há, então, muito potencial para o crescimento da utilização das re- des sociais e demais ferramentas tecnológicas no Agronegócio, minimizando, assim, custos e riscos e maximizando consideravel- mente os ganhos financeiros, se inserindo, desse modo, a assesso- ria jurídica digital, fundamental para a segurança desse novo modelo de relação no campo. A URGENTE E NECESSÁRIA REFORMA DA LEGISLAÇÃO PÁTRIA QUE TRATA DOS CONTRATOS AGRÁRIOS O Agronegócio brasileiro abastece a mesa do consumidor no país e ain- da exporta para cerca de 170 países, sendo um dos responsáveis pela se- gurança alimentar mundial. Mas todo esse resultado não surgiu da noite para o dia. A tenacidade e de- terminação dos produtores rurais em enfrentar barreiras e desestímulos foram fatores determinantes para o desenvolvimento da atividade. Assim, não há como negar a evolução do Agronegócio brasileiro nos últimos anos. Infelizmente, não se pode dizer o mesmo da legislação que regula o setor. Os produtores rurais enfrentam no dia a dia um grande número de controle em suas ações, frutos das limitações impostas, principal- mente, pelas disposições da Lei 4.504 de 30/11/64 (Estatuto da Terra), e do Decreto nº 59.566 de 14/11/66, que acabam por atravancar as relações jurídicas, principalmente no que se refere a intervenção do Estado nos contratos agrários mais utilizados por quem utiliza a terra, notadamente o arrendamento e a parceria rural. A regulação trazida pelo Estatuto da Terra e pelo Decreto 59.566/66 evidenciam o dirigismo estatal no sentido de tutelar o direito dos mais hipossuficientes, limitando a liberdade de contratar. No entanto, se na época da promulgação destas leis, a necessidade era a proteção da pequena agricultura, hoje, há uma realidade total- mente diversa em que o arrendatário não é mais, necessariamente, a parte vulnerável da relação jurídica. O problema é que ao tentar proteger o pequeno produtor, a legis- lação atual engessa também o médio e o grande, que se vêem tolhidos de sua autonomiaem negócios corriqueiros que envolvem o arrendamento e a parceria, já que são normas de ordem pública, que não podem ser contornadas pela autonomia da vontade. Entre os entraves trazidos pela legislação estão a fixação de prazos mínimos, a impossibilidade de fixar o preço do arrendamento em produto e o Direito de preferência. Ao fixar o prazo mínimo de 03 anos para a vigência dos contratos, a legislação impede a realização de acordos conforme o modelo de negócio das partes, que poderiam entender, dadas as condições da área o tipo de exploração, pela possibilidade de um prazo menor para a avença. Outro problema trazido pela legislação diz respeito à proibição de se fixar o preço do arrendamento em produto, já que a maioria das negociações no meio rural são realizadas com o preço fixado em quantidade de produto, pois essa é a real moeda do produtor. É im- portante apontar que o ambiente de negócios do Agro é, em regra, calculado em produto, assim, sacas, cabeças, arrobas, bushel, etc, pois são termos corriqueiros nas mesas de negociação. Além disso, a fixação do preço em produto é bom tanto para o pro- prietário/arrendador, que poderá barganhar e vender o produto recebido quando achar conveniente, quanto para o produtor/arren- datário, que não vai precisar transformar a produção em dinheiro para pagar o arrendamento. Por fim, temos o Direito de preferência, que pode levar ao absurdo de que talvez o arrendador nunca mais consiga tirar o arrendatário da área em razão de que, mesmo que as partes pactuem ao con- trário, poderá ser alegada a nulidade da cláusula para que de fato se estabeleça uma relação jurídica, talvez, infindável, pois a moro- sidade do poder judiciário pode levar o arrendatário a ficar o dobro, ou até três vezes mais na área, enquanto as partes estão discutindo em juízo não só o direito de preferência mas também a questão do direito de retenção pelas benfeitorias. Estas imposições trazidas pela legislação são tão controvertidas que não há um consenso nem mesmo na doutrina e jurisprudência pátri- as, com posições que apontam para lados absolutamente diversos, umas ratificando o que está na lei, e outras, flexibilizando a norma, o que gera, sem dúvidas, uma total insegurança jurídica. Não é aceitável que o setor da economia brasileira que mais cresce, fique a mercê de entendimentos doutrinários e jurisprudenciais. Portanto, passou da hora de se revisar a atual legislação agrária, no sentido de torná-la compatível com os fatos sociais existentes. Do ponto de vista prático, o Estatuto da Terra e o Decreto 59.566/66, da forma como estão vigentes, inviabilizam um ambiente de negócios saudáveis, gerando absoluta insegurança jurídica e uma sobrecarga de judicialização de contratos plenamente adequados com a reali- dade do Agronegócio. ALINE FICAGNA Membro ABRADA 12 • ABRADA VOLTAR AO ÍNDICE GOVERNANÇA FAMILIAR NO AGRONEGÓCIO Nos últimos anos, observou-se uma mudança radical no campo, com re- flexos na economia e na esfera social em todo o mundo. A pergunta que se faz é: o que o mundo espera do futuro do Agronegócio? Para a FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação) e a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), o Brasil será responsável pela dis- tribuição de alimentos no mundo em 41%, até 2050, isso se dá pela disponibilidade de solo, luminosidade, pelas reservas hídricas, mão de obra e inovação. Este crescimento pujante está ligado à grande agricultura, que en- volve famílias (na grande maioria), as quais desenvolvem projetos de grande e médio porte, e sem dúvidas, a gestão transparente, a clare- za e a cooperação estão dentre os pilares desta Agricultura Familiar. No entanto, poucas famílias do Agronegócio se preocupam com o futuro, estima-se que somente 19% das famílias se atentam a profis- sionalização e a capacitação dos herdeiros, prejudicando a transpar- ência e a abertura para a perpetuidade dos negócios. Para almejarmos os ganhos, temos que preparar a eficiência. A pro- priedade é uma empresa, mas se não tiver um conjunto de pessoas capacitadas no trabalho, não teremos o êxito esperado. Portanto, o trabalho mais importante, atualmente, é “abrir a mente” dos produtores para a sucessão familiar, transformando os herdeiros em verdadeiros sucessores, objetivando a perpetuação dos negócios de forma centenária. Um exemplo de sucessão é da empresa familiar Gerdau (120 anos), a qual sempre teve sucesso no planejamento dos negócios, e so- mente hoje, investiu em um executivo para dar continuidade aos negócios, da mesma forma, ocorre no comércio em geral, onde ex- istem diversos casos de longevidade de empresas familiares. Mas no campo, quais são as referências que falam em sucessão? Quem pode assumir e quem for assumir, como vai se preparar? Quem trabalha no improviso, não gera renda e não consegue se desenvolver. A história e o entendimento científico sobre as culturas envolvidas é essencial para o sucesso longevo no Agronegócio, e fazer gestão e inovação dentro de todos os setores, é basilar. Assim, é preciso levar informações e conhecimento, não apenas em relação ao setor e na atividade que cada um desempenha na ter- ra, mas sim, em relação ao que envolve tudo isso, olhar a frente de quem vai continuar fazendo isso melhor. Na linha de melhorar a sociedade familiar através da governança corporativa, temos 6 (seis) pilares: a ética e integridade, diversidade e inclusão, ambiente e social, inovação e transformação, transparên- cia e prestação de contas e conselhos do futuro. O objetivo é que a harmonia envolva os fundadores e sucessores, como um processo de ganha ganha, pois ganha a empresa, os em- pregados, a família e o negócio, que reflete em perenidade. Podemos simplificar a Governança Familiar em ferramentas, estru- turas e processos que organizam os membros da família entre si, gerando coordenação e sincronização, desenvolvendo os mesmos objetivos, de forma pacificada, resultando, então, em um negócio uníssono e coordenado. Assim, a Governança Familiar se traduz como um ambiente para gerenciar conflitos, relacionamentos, preparar a sucessão, propor- cionando a perenidade nas empresas, tudo isso sem oposição dos fundadores e gestores. Desse modo, a família estruturada e organizada no Agronegócio poderá colher frutos por longos anos, usufruindo tudo o que o setor tem a oferecer, concluindo com as palavras de Francisco Sérgio Turra, ex-ministro da agricultura: “Vai haver um tempo em que os homens voltarão a terra porque ela lhes dará vida.” PATRIMÔNIO RURAL EM AFETAÇÃO E A CÉDULA IMOBILIÁRIA RURAL O Patrimônio rural em afetação foi criado pela lei n°13.986, de 07 de abril de 2020, sendo conceituado como o imóvel rural, ao todo ou em parte, dado em garantia em operações fi- nanceiras, garantia que só é possível com a emissão de uma cédula imo- biliária rural. Logo, a lei criou um instituto capaz de garantir novos créditos com o imóvel ou parte dele, dando ao Produtor rural uma opção parcial, visto que, anteriormente, só seria possível a garantia do imóvel completo, pon- do em risco todo o bem do Produtor, ainda que com valores maiores ALLAN PAISANI Membro ABRADA ANA CAROLINA PORTELA Membro ABRADA ABRADA • 13 VOLTAR AO ÍNDICE ao recebidos por ele a título de financiamento. Porém, a Cédula Imobiliária Rural não é proteção somente à parte do bem do Produtor, visto que em caso de não pagamento do débito, procede-se a transferência do imóvel afetado imediatamente, com o procedimento semelhante ao de uma alienação fiduciária de bem imóvel rural e, portanto, mais célere para o Banco, podendo o produ- tor perder a parte dada em garantia em 60 dias. O procedimento de transferência do imóvel afetado, em caso de não pagamento da cédula imobiliária é, segundo a legislação, imediato, podendo ser feita diretamente no cartório. Portanto, o Produtor rural deve fazer um planejamento antes de emitir o título em questão,visto que, põe em risco seu patrimônio em todo ou em parte, facilitando a execução pela instituição credora em caso de inadimplemento. A produção no meio rural, normalmente, é regida pela imprevisibili- dade, seja nas condições climáticas, disponibilidade de insumos ou demanda do mercado consumidor e no início do ano de 2020, con- tou com mais um agravante: a Pandemia de Covid-19. Neste mesmo ano, foi criada a lei n°13.986, que facilitou a obtenção de crédito por meio da garantia da disposição de parte do imóvel rural. Logo, a lei criou um instituto capaz de garantir novos créditos com o imóvel ou parte dele, dando ao Produtor rural uma opção par- cial, visto que, anteriormente, só seria possível a garantia do imóvel completo, pondo em risco todo o bem do Produtor, ainda que com valores maiores ao recebidos por ele a título de financiamento. No entanto, a facilitação de créditos deve ser questionada, estudada e analisada de maneira profunda por um profissional competente, antes de qualquer contratação, para que não afete de maneira sig- nificativa o patrimônio do Produtor Rural, visto que, o imóvel rural, ainda que parte dele, é de suma importância ao Produtor, que tem a terra como gerador de renda. Logo, qualquer perda de terra é signif- icativa ao seu patrimônio. Podemos concluir que a criação do Patrimônio de Afetação como instrumento facilitador de obtenção de crédito é, na verdade, mais burocrática e de maior risco do que a hipoteca, visto que na hipote- ca, apesar de recair sobre o imóvel inteiro, a inadimplência do título não implica necessariamente e imediatamente na perda do imóvel. Pois há que passar por um processo judicial, enquanto na CIR, a transferência do imóvel é imediata, tendo esse título maior execu- toriedade. Assim, a CIR é um facilitador ao banco e não ao produtor rural. A IMPORTÂNCIA DOS INVESTIMENTOS PARA POTENCIALIZAR O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DO CAMPO Inicialmente, o Plano Safra se carac- teriza como um importante incentivo governamental ao desenvolvimento sustentável, beneficiando a Agricultu- ra Familiar e a Agropecuária brasileira, ampliando as práticas do campo e introduzindo novas tecnologias, que auxiliam tanto no maior aproveita- mento da matéria-prima quanto na redução do impacto ambiental, no entanto, sem tais incentivos, entra o cenário da agricultura brasileira. O Plano Safra 2020/21 segue em vigor até 30 de junho de 2021, tem como objetivo principal incentivar os pequenos e médios produ- tores rurais por meio do acesso aos créditos, visando a ampliação de práticas sustentáveis. O Plano 2021/22 contará com algumas modificações e implementações, como o fortalecimento do Pro- grama ABC, Inovagro e Proirriga, financiando bioinsumos, energia renovável e a adoção de práticas conservacionistas de uso. Essas iniciativas são de extrema importância para a economia brasileira, tendo em vista que a agricultura de pequenos e médios produtores representam grande parte da produção nacional de insumos, além de impulsionar o desenvolvimento tecnológico local. Historicamente, houve diversas iniciativas de incentivo ao campo em diferentes perspectivas para impulsionar a produção brasileira e competir com o mercado internacional. No entanto, o Plano Safra se destaca no montante investido, em que 2020, foram disponibili- zados R$ 236,3 bilhões para a nova safra, R$ 13,5 milhões a mais que no ano passado e nas características de serviço exigidas para que o crédito seja concedido, o que impulsiona uma modalidade de pro- dução em ascensão mundial; a economia sustentável e ecológica. Ao observar os diversos problemas em que a intensa globalização e degradação ambiental trouxe, como as mudanças climáticas e, atualmente, a crise hídrica e elétrica vivenciada pelo país, o que impacta toda a economia brasileira, bem como, a qualidade de vida de sua população e a biodisponibilidade de recursos. Tendo em vista estes agravantes, esta iniciativa tem por objetivo somar esforços para reverter ações de degradação e promover a preservação ambiental, sendo uma alternativa bastante viável, vis- to que o incentivo financeiro potencializa estas mudanças, sendo evidenciado uma boa adesão a este modelo de crédito, em que 2020/2021 ( julho a novembro), somaram R$ 108,75 bilhões, um au- mento de 19% em comparação com igual período da safra anterior 2019/20. Desse modo, a nova aposta para a Agricultura e para o modelo de ANDRÉIA FERREIRA C. A. DIAS Membro ABRADA 14 • ABRADA VOLTAR AO ÍNDICE produção rural, tem se baseado em uma produção sustentável e os créditos tem sido uma forma inovadora de incentivo à estas práti- cas, com uma boa adesão por parte dos produtores rurais e com a possibilidade de mudar o cenário da Agricultura brasileira para uma produção ecológica e sustentável. O QUE SIGNIFICA O TERMO “WASHOUT” E QUAL A VIABILIDADE JURÍDICA DA RENEGOCIAÇÃO CONTRATUAL NA IMPOSSIBILIDADE DE ENTREGA EM CONTRATOS DE VENDA FUTURA No ano de 2020, mais intensamente, em 2021, pipocaram no cenário bra- sileiro notícias de que o país vinha an- tecipando a comercialização da safra (especialmente soja em 2020 e milho em 2021), superando, em muito, a média de vendas dos anos anteriores. Grande parte delas ocorreu em mo- mento extremamente favorável aos produtores, uma vez que o preço de venda e os custos dos insumos eram inversamente proporcionais, facilitando tanto a própria desova das commodities quanto a manutenção da produção. Já no início de 2021, patamares recordes de preço das sacas de soja foram alcançados, ocasião em que as especulações sobre a chama- da “quebra de contrato” começaram a se alastrar pela cadeia agro. A saca do grão passou de R$ 70,00 (setenta) reais em maio/2020, para históricos R$ 170,00 (cento e setenta reais). Sabemos que o Agronegócio é uma sequência concatenada de pro- dutos e serviços e que a fragilização de qualquer dos seus liames pode impactar a cadeia como um todo. Por essa razão, muito se tem falado, no meio agro, do “washout”, termo em inglês que, na tradução literal significa “esmaecimento”. Trata-se de uma manobra que visa, acima de tudo, buscar o ressar- cimento de um possível dano ou prejuízo frente à inadimplência de uma das partes da relação contratual. Os contratos a termo (sumariamente falando, aqueles negociados para entrega futura dos produtos), por vezes, acabam se tornando de cumprimento impossível ou inviável, diante das bruscas alterações no mercado do Agronegócio. Quando, por exemplo, o preço de certa commodity é brutalmente impactado pela oscilação mercadológica, as partes do contrato pre- cisam buscar formas de reequilibrar a relação contratual, de maneira que nenhuma delas sofra prejuízos capazes de desestabilizar fi- nanceiramente seu negócio ou que, ao menos, esses impactos sejam amenizados. Assim, no momento da celebração do contrato, podemos dizer, em linhas gerais, que ocorre a “hedge” do preço, ou seja, o seu conge- lamento, de forma que a trading ou a cooperativa que negociou os grãos para recebimento futuro do produto possa proteger quer os seus custos, quer a sua margem de lucro, possibilitando o equilíbrio financeiro e a continuidade do negócio. Nesse tipo de negociação, caso o produtor se negue a honrar com a entrega nos termos pactuados (seja porque almeja maior lucra- tividade frente à valorização das sacas, seja porque percebe que a entrega lhe acarretará prejuízos imprevisíveis à época da celebração contratual). E, pode a parte contrária buscar a aplicação da chamada “washout”, ocasião em que, simplificadamente falando, calcula-se quanto a trading ou a cooperativa pagariam, pelo mesmo produto, qualidade e quantidade, no mercado à época da entrega combinada, reclamando do produtor essa diferença. No exemplo real acima, a trading cobraria a diferença de R$ 100,00 (cem reais) por saca de soja (diferença entre os setenta reais nego- ciados à época da celebração do contrato e os cem reaispraticados no mercado à época em que se daria a entrega da oleaginosa). Esse cálculo se faz necessário porque, tão logo a trading assina o contrato com o produtor, ela negocia as commodities objeto desse contrato firmado. Ou seja, ela conta com o efetivo recebimento daquele produto em data certa e determinada para que possa honrar seu compromisso assumido com a parte seguinte da cadeia (seu cliente). Assim, das duas uma: a trading compra do mercado os grãos que não lhe foram entregues pelo produtor, para entregar ao cliente, ou ela não entrega o bem e paga as multas também previstas no seu contrato com o cliente. Na maior parte das vezes, ela opta pela pri- meira opção para que não tenha seu negócio e imagem maculados. Assim, ela acaba procurando pela manobra do washout, a fim de que não incorra em maiores prejuízos. O washout nasce, na verdade, de uma busca pelo reequilíbrio da relação, defendendo alguns operadores a sua aplicabilidade e se colocando, outros, em discordância à prática. Em que pese a divisão de opiniões, uma coisa se pode afirmar: o washout deve obedecer aos ditames legais brasileiros, pautando-se no Código Civil e demais normas vigentes, observando-se acima de tudo, os princípios da ética, da boa-fé e da vedação do enriqueci- mento ilícito. Em certas situações, as partes abandonam o próprio contrato orig- inário e repactuam os prazos de entrega, as multas e indenizações previstas para o caso do inadimplemento. Em outros, aplica-se, além das multas previstas no instrumento contratual por ocasião da não ANDREZA APRILE Membro ABRADA ABRADA • 15 entrega dos grãos na data aprazada, o pagamento da diferença entre o preço “congelado” à época da assinatura do contrato e da efetiva entrega do bem. A busca da renegociação contratual pelo produtor, por outro lado, se pauta, sobretudo, na teoria da imprevisão, uma vez que o produtor, por vezes, alega impossibilidade de prever enormes variações de preço, o que implicaria em onerosidade excessiva e prejuízos incal- culáveis. Algo semelhante a alegações de caso fortuito e força maior. Casos de busca pela quebra contratual têm chegado aos tribunais brasileiros, de onde partem entendimentos, inclusive, de inaplicab- ilidade da revisão contratual, condenando o produtor autor da ação ao pagamento das multas previstas no pacto. Por tal ótica, o con- trato de compra e venda de safra futura é contrato aleatório por sua própria natureza, de maneira que eventual ocorrência de caso fortuito ou força maior (a exemplo de seca regional), não afastaria a responsabilidade do produtor pela entrega do produto negociado ou, à sua falta, pelas penalidades contratualmente previstas. Segundo esse julgamento, tais eventos fazem parte do risco da atividade agrária, devendo eventuais diferenças entre o preço pac- tuado e o preço praticado à época da entrega dos grãos ser supor- tadas pelo vendedor. Assim, nunca é demais ressaltar que o que se deve cogitar à época da celebração dos contratos de compra e venda de commodities para entrega futura é a relação como um todo, não a curto prazo, mas considerando que a cadeia que envolve os contratos a termo abarca inúmeras partes e variáveis, a exemplo dos fatores climáticos e políticos envolvidos, bem como da oscilação mercadológica das commodities. O produtor deve ter em mente que precisa, necessariamente, con- duzir seus contratos e se valer favoravelmente dos recursos de curto e longo prazo, considerando a flutuabilidade do mercado no Agronegócio. Na dúvida, sempre consulte um advogado. A orientação sobre o caso concreto é sempre de fundamental importância para o bom desenvolvimento do seu negócio. RESPONSABILIDADE DO ARRENDATÁRIO PELO MAL USO DO IMÓVEL RURAL O contrato de arrendamento, sem dúvidas, é um dos contratos agrários mais utilizados no Agronegócio, pois proporciona a expansão da produção sem a necessidade da aquisição de uma porção de terra, podendo ser economicamente uma opção mais viável para exploração agropecuária. Se em algum tempo a terra foi vista como meio inesgotável de riqueza, sendo explorada indiscriminadamente, a legislação vigente coloca o arren- dador e arrendatário em pé de igualdade, com objetivo central de preservar a exploração do imóvel de forma inteligente, com emprego adequado de manejo do solo, tecnologia, inovação e mecanização. O Estatuto da Terra (Lei 4.504/64) e o Decreto 56.566/66 consagram uma proteção especial ao uso e gozo da terra, conservação dos re- cursos naturais e a proteção social e econômica dos arrendatários, o que reflete nas cláusulas dos contratos de arrendamento, que devem sempre ser observadas pelas partes. Primeiramente, cabe ao arrendatário estar ciente que deve usar o imóvel rural, conforme o convencionado, ou presumido, e a tratá-lo com o mesmo cuidado como se fosse seu, não podendo mudar sua destinação contratual (art. 41, inciso II, Decreto 56.566/66). Assim, ao firmar o contrato, as partes devem descrever detalhada- mente todas as questões inerente a exploração, pagamento, docu- mentação do imóvel, finalidade, se objetiva contratação de crédito rural, tudo que cercará o negócio entabulado que poderá futuramente ser alvo de discussão judicial, a exemplo disso, as situações que o ar- rendamento vem acompanhado de edificações (casa, curral, galpões etc) e infraestrutura para o desenvolvimento da atividade. Estando tudo detalhado nas cláusulas contratuais, podendo também estar registrado por meio de fotos e vídeos, caso o arrendatário não haja com o cuidado e zelo necessário sobre o imóvel, poderá o ar- rendador requerer a reparação dos danos. Mas desde que provado o dolo e a culpa do arrendatário, sendo cabível, nesta situação, a ação de despejo, para que o imóvel seja desocupado imediatamente, para que cesse o dano. O pedido de despejo do arrendatário está consagrado no art. 32, do Decreto 56.566/66, onde estão discriminadas as hipóteses de despejo, sendo uma delas o “dano causado à gleba arrendada ou às colheitas, provado o dolo ou culpa do arrendatário”, frisa-se aqui o dolo e a culpa do arrendatário, pois este só será responsabilizado pelos danos que deu causa, excluído aqueles decorrentes do uso regular do imóvel e natural do tempo. Como pode ser observado, recai ao arrendatário a obrigação de cuidar do imóvel “como se fosse seu”. Desta forma, se este age de forma contrária à proteção especial ao uso e gozo da terra, conser- vação dos recursos naturais e a proteção social e econômica, causando deterioração e prejuízos, este deve sofrer com a responsabilização pela reparação dos danos causados e pena de despejo. BRUNA SILVA FAGUNDES Membro ABRADA VOLTAR AO ÍNDICE 16 • ABRADA VOLTAR AO ÍNDICE A IMPOSSIBILIDADE DE PENHOR NA PEQUENA PROPRIEDADE RURAL O Agronegócio brasileiro se rodeia de riscos constantemente, tendo em vis- ta que a realização das atividades não dependem somente da mão de obra do agricultor, pecuaristas e pessoas necessárias para o desenvolvimento da laboração, mas pode ser afetada por questões climáticas, moeda, entre outras. Sendo assim, visando a segu- ridade para o retorno do investimento, muitos utilizam garantias, como hipo- teca, penhor, alienação fiduciária, aval e fiança (REIS, 2021). Diante disso, considerando os altos riscos que os produtores sofrem, principalmente os pequenos produtores, em razão da dependência climática favorável, a possibilidade de haver mais prejuízo do que lu- cro é alta, logo, diante dessas situações, os mesmos procuram por meios solucionadores, como dar em garantia parte de sua propriedade. No entanto, a Constituição Federal de 1988 preceitua em seu artigo 5º, inciso XXVI, que se tratando de pequena propriedade rural, des- de que trabalhada pela família é bem impenhorável, havendo fun- damentação legal também no Código Civil brasileiro no artigo 833, inciso VIII. De modo, que a Lei Maior apresenta requisitos para que seja con- ferido a impenhorabilidade